Você está na página 1de 14

TENHO MEDO DE QUÊ?

: AGUÇANDO O OLHAR DO/A


PROFESSOR/A DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Aline Grisa
Adriana Lemes

RESUMO

O medo é um fator de proteção biológico, podendo ser um instrumento de defesa do


ser humano. Durante o desenvolvimento de todo o indivíduo, ele pode estar presente e é na
infância que esses são despertados. Saber lidar com os medos das crianças não se constitui
em uma tarefa fácil, porém cada um de nós é responsável por ajudar a superação de
nossas crianças, quando no contexto escolar. O objetivo deste artigo é poder contribuir
nos estudos de educadores, pais e pessoas que se sintam interessadas pelo assunto: os
medos infantis. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica sobre a temática, na
busca de compreender representações gráficas que consolidassem os estudos realizados.
As conclusões são baseadas em análises de desenhos, levando em conta que o ato de
desenhar está relacionado diretamente à construção mental de categorias cognitivas e às
representações que a criança faz com o meio social e cultural em que a cerca. Este artigo
serve como suporte pedagógico e está embasado em grandes nomes citados em psicologia
e psiquiatria, como Jean Piaget e outros. Enfim, os resultados nos permitem concluir que
as crianças concebem no desenho o que está relacionado ao seu pensamento, exprimindo
várias de suas frustrações e medos através dele. Analisando-os atentamente, podemos
chegar a situações de intervenção para que o medo não se torne patologias e traumas
levados à vida adulta.

Palavras-chave: medos infantis – desenho – representações – etapas de desenvolvimento -


crianças.

INTRODUÇÃO

O processo do desenvolvimento humano e suas relações nos remetem a reflexões


diversas levando em conta todas as suas peculiaridades e grandezas. Se pensarmos na base
desse desenvolvimento, acena-nos a Educação Infantil, trazendo assim as concepções e
amplitudes da infância.
Torna-se imprescindível, para isso, a valorização dos conhecimentos socioculturais
e a identificação das suas práticas cotidianas, no que se refere aos cuidados, às interações
sócio-afetivas e à educação, pois o meio em que a criança está vinculada a faz sentir e
deixar florescer seus desejos, vontades, características, gostos e todos os seus medos.
Conforme Berryman (2002), o desenvolvimento moral refere-se aos processos pelos quais
as crianças adotam princípios que levam a julgar determinados comportamentos como
certos e outros como errados, governando suas próprias ações. Em relação a esses
princípios, podemos perceber, então, mais uma vez, que o meio estabelece vínculos para
que as crianças possam deixar claro o que sentem.
Em inúmeras vezes, os adultos não sabem identificar ou, até mesmo, reagir quando
uma criança demonstra alguns de seus sentimentos. Isso ocorre em relação, principalmente,
ao medo infantil, e quando essas situações emergem, várias dúvidas sobre como lidar com
essas crianças surgem. Nesse sentido, o presente artigo vem em busca de esclarecimentos
para tais inquietações que surgem em nosso dia-a-dia e que devemos enfrentar, a respeito
de medo infantil e suas representações através do desenho infantil.
O presente artigo pretende aprofundar os estudos sobre essa temática, visando a
contribuir para que os educadores da educação infantil tenham subsídios necessários para
conhecer e poder lidar melhor com essas situações.

1 O MEDO

No dicionário Aurélio (1990), encontramos que medo é “o sentimento de viva


inquietação ante a noção de perigo real ou imaginário, de ameaça, pavor, temor, receio”. E
receio, conforme o mesmo, refere-se “à dúvida com temor, apreensão”.
O medo é uma das principais forças motivadoras da conduta humana; é um fator
biológico de defesa e proteção relacionado ao instinto de conservação. Ele é extremamente
necessário para proteger a criança dos perigos. Os medos na infância nem sempre são
previsíveis, se levarmos em conta as diferenças individuais quanto à suscetibilidade. O
mesmo estímulo pode ser ameaçador para uma criança e deixar outra indiferente (PISANI,
2007).
É importante notar que a palavra medo, na linguagem do dia-a-dia, pode significar
uma variedade de preocupações que vão desde um temor extremo a perigos evidentes, até
uma inquietação como a preocupação de falar em público ou ser acarinhado pela
professora.
Diante de informações em que o foco está direcionado às finalidades de explicações
clínicas, de pesquisas e de fontes educacionais em que estejam em uma ampla base
empírica, o medo pode ser desencadeador de doenças clinicamente diagnosticadas. Essas
patologias podem servir de coleta de informações para o aperfeiçoamento de estudantes e
professores que encaram o medo infantil como um assunto de extrema importância no
desenvolvimento da criança, pois, como explicita Mlynarz (2001),
Os temores são influenciados também pela aprendizagem. Em virtude de uma
experiência penosa, de ter sido assustada ou dominada, a criança poderá "aprender" a temer
algo que antes não a incomodava.

2 O MEDO INFANTIL

O Bicho-papão, a bruxa, o fantasma, o homem do saco, esses personagens que tanto


amedrontaram as crianças no passado, aos poucos vão sendo substituídos por temores reais,
como seqüestros, assaltos ou outras situações de violência presentes em qualquer
sociedade. Esses acontecimentos desencadeiam medo, uma sensação fundamental para
evitar o perigo e que faz parte da vida, a exemplo de outras, como o calor, a fome e o frio.
Na verdade não existe faixa etária fixa nem motivos para os medos aparecerem na vida de
todo ser humano, porém devem ser tratados naturalmente e encarados como fatos
característicos, principalmente na infância.
As crianças de hoje estão vulneráveis a acontecimentos do dia-a-dia, como a
presença dos animais ou a separação dos pais, por exemplo. Nesses dois casos mais uma
característica dos medos reais. Todo ser humano tende a demonstrar afetos e a criar
vínculos, no caso das figuras maternas ou paternas. Essas figuras são extremamente
importantes para as crianças e é nelas que se apóiam e canalizam seus afetos e ternura,
portanto são figuras que jamais aparecem separadas. Quando a separação acontece, as
crianças têm dificuldade de entendimento da situação ou condição agora presente na vida
delas. Nesse caso o afastamento não é significativo somente na presença física, mas
também afetiva e, a criança sente uma sensação de abandono.
Com base em Papalia& Olds (2000), podemos agrupar os medos, a partir de idades,
dependendo das diversas fases do desenvolvimento da criança:
Tabela 1
Idades Medos
0-6 meses Perda de apoio, quedas, ruídos fortes.
7-12 meses Estranhos, alturas, objetos inesperados, repentinos e indistintos.
1 ano Separação de um dos pais, banheiro, ferimento, estranhos.
2 anos Uma variedade de estímulos, incluindo ruídos fortes (aspiradores, sirenes e
alarmes, caminhões e trovões), animais, escuro, separação do pai ou da mãe,
objetos ou máquinas grandes, mudanças no ambiente pessoal, companheiros
estranhos.
3 anos Máscaras, escuro, animais, separação do pai ou da mãe.
4 anos Separação do pai ou da mãe, animais, escuro, ruídos (inclusive uivos à noite)
5 anos Animais, separação do pai ou da mãe, lesões corporais, pessoas “más”.
6 anos Seres sobrenaturais (fantasmas, bruxas), trovões e relâmpagos, escuro, dormir
ou estar sozinho, separação do pai ou da mãe.
Seres sobrenaturais, escuro, acontecimento da mídia (notícia sobre ameaças de
7-8 anos guerra nuclear ou rapto de crianças), estar sozinho, lesões corporais.
9-12 anos Exames escolares, apresentações e desempenho escolar, danos físicos,
aparência física, trovoadas e relâmpagos, morte, escuro.
Os medos Fonte: PAPALIA, Diane E. & OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento humano. 7ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

3 OS MEDOS MAIS FREQÜENTES NAS CRIANÇAS

Um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento integral dos indivíduos é o


desenho infantil, que pode servir como um medidor de conhecimento e autoconhecimento,
pois a partir dele a criança começa a organizar as informações, processar as experiências
vividas e pensadas, revelar seus aprendizados e pode até desenvolver um modelo de
expressar suas preferências pessoais pelo mundo em que vive.
O desenho infantil pode representar uma atividade que a criança usa para expressar
e representar todas as relações que faz com o mundo que se apresenta a sua volta. De um
modo geral é com o desenho que as crianças representam suas vivências mais significativas
para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo. É, portanto, uma relação global que se
constitui com o todo que a cerca.
Através do desenho da criança é possível reconhecer suas preferências, gostos e sua
história; cada um dos desenhos produzidos tem uma história pessoal, uma visão de
determinados assuntos e é com o desenho da criança que somos capazes de perceber e
interpretar seu estado emocional. Cabe ao adulto educador envolvido nesse meio
desenvolver a capacidade de percepção do que é produzido pela criança. Ainda para Pereira
(s.a.)
O desenho, forma de pensamento, propicia oportunidade de que o mundo
interior se confronte com o exterior, a observação do real se depare com a
imaginação e o desejo de significar. Assim, memória, imaginação e observação se
encontram, passado e futuro convergindo para o registro da ação no presente.
Como pensamento visual, o desenho é estímulo para exploração do universo
imaginário. É, também, instrumento de generalização, de abstração e de
classificação.
É assim que toda criança, através do desenho, individualmente cria e recreia as mais
diversas formas de expressão, desenvolvendo sua percepção, sua imaginação, sua reflexão e
toda sua sensibilidade, que podem ser apropriadas simplesmente com o ato de desenhar.
Convém lembrar também que o desenho está intimamente ligado ao desenvolvimento da
fala e da escrita, bem como com a possibilidade de brincar e de descobrir o meio a sua
volta.

4 REPRESENTAÇÕES ICÔNICAS

Um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento integral dos indivíduos é o


desenho infantil, que pode servir como um medidor de conhecimento e autoconhecimento,
pois a partir dele a criança começa a organizar as informações, processar as experiências
vividas e pensadas, revelar seus aprendizados e pode até desenvolver um modelo de
expressar suas preferências pessoais pelo mundo em que vive.
O desenho infantil pode representar uma atividade que a criança usa para expressar
e representar todas as relações que faz com o mundo que se apresenta a sua volta. De um
modo geral é com o desenho que as crianças representam suas vivências mais significativas
para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo. É, portanto, uma relação global que se
constitui com o todo que a cerca.
Através do desenho da criança é possível reconhecer suas preferências, gostos e sua
história; cada um dos desenhos produzidos tem uma história pessoal, uma visão de
determinados assuntos e é com o desenho da criança que somos capazes de perceber e
interpretar seu estado emocional. Cabe ao adulto educador envolvido nesse meio
desenvolver a capacidade de percepção do que é produzido pela criança. Ainda para Pereira
(idem),
O desenho, forma de pensamento, propicia oportunidade de que o mundo
interior se confronte com o exterior, a observação do real se depare com a
imaginação e o desejo de significar. Assim, memória, imaginação e observação se
encontram, passado e futuro convergindo para o registro da ação no presente.
Como pensamento visual, o desenho é estímulo para exploração do universo
imaginário. É, também, instrumento de generalização, de abstração e de
classificação.
É assim que toda criança, através do desenho, individualmente cria e recreia as mais
diversas formas de expressão, desenvolvendo sua percepção, sua imaginação, sua reflexão e
toda sua sensibilidade, que podem ser apropriadas simplesmente com o ato de desenhar.
Convém lembrar também que o desenho está intimamente ligado ao desenvolvimento da
fala e da escrita, bem como com a possibilidade de brincar e de descobrir o meio a sua
volta.
Com base em Leo (1991), podemos agrupar o desenvolvimento do desenho, a partir
de idades, dependendo das diversas fases do desenvolvimento da criança, segundo a teoria
de Piaget:
Tabela 2
Idade aproximada Desenho Cognição
0-1 Resposta reflexa aos estímulos Estágio sensório-motor.
visuais. A criança age por reflexos. Pensa
O lápis é levado à boca; a criança pela atividade motora.
não desenha.
1-2 Aos treze meses aparece a O movimento gradualmente se
primeira garatuja: um ziguezague. torna direcionado a um objetivo, à
A criança observa atentamente o medida que o controle cortical é
movimento, desando a sua marca gradualmente estabelecido.
na superfície. Desenho sinestésico.
2-4 Círculos aparecem e gradualmente A criança começa a funcionar
predominam. Após, os círculos se simbolicamente. Linguagem e
tornam discretos. Num circulo outras formas de comunicação
casualmente desenhado, a criança simbólica desempenham maior
vislumbra um objeto. O primeiro papel. A visão da criança é
símbolo gráfico é feito, altamente egocêntrica.
usualmente, entre três e quatro Brincadeiras de faz-de-conta.
anos.
4-7 Realismo intelectual. Estágio pré-operacional (fase
Desenha um modelo interno e não intuitiva)
como é visto realmente. Desenha o Egocentrismo. Visão subjetiva do
que sabe que deveria estar ali. mundo. Vívida imaginação.
Mostra pessoas através das Fantasia. Curiosidade.
paredes e através do casco dos Criatividade. Focalizado em
barcos. Transparências. apenas uma característica do
Expressionismo. Subjetivismo. tempo. Funciona intuitivamente e
não logicamente.
7-12 Realismo visual. Estágio das operações concretas.
A subjetividade diminui. Desenha Pensa logicamente sobre as coisas.
o que é realmente visível. Não há Não mais dominado por
mais a técnica do raio X percepções imediatas. Conceito de
(transparência). reversibilidade: coisas que eram o
As figuras humanas são mais mesmo permanecem o mesmo, até
realistas, proporcionais. As cores quando sua aparência possa ter
são mais convencionais. Distingue mudado.
o direito do esquerdo na figura
desenhada.
12 + Com o desenvolvimento da Estágio das operações formais.
faculdade de critica, a maioria Encara sua produção criticamente.
perde o interesse em desenhar. Os Apto para considerar hipóteses.
talentosos tendem a perseverar. Pode pensar sobre idéias e não
apenas sobre aspectos concretos
de uma situação.
Desenvolvimento do desenho em relação aos estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget – Uma visão sinóptica. Fonte: LEO, Di. A
interpretação do desenho infantil. 3ª Ed. Porto Alegre: Artes Medicas, 1991.

Em suma, a representação no desenho da criança faz relações com diversos itens e


características do desenvolvimento infantil, na busca de representar a sua visão de mundo,
para qual toma o real como referência, tendo um sentido de simbolização, de recriação, de
reconstrução do seu meio no nível das imagens, do pensamento e da imaginação.

6 ANÁLISE E TRATAMENTO DE DADOS

As categorizações foram realizadas frente à escolha de um total de cento e dois


desenhos, porém para servir de apoio para representar as categorias foram elencadas
algumas mais significativas. As crianças, de ambos os sexos, apresentavam idade entre três
e sete anos. Para definição das categorias, as tabelas citadas anteriormente foram de vital
importância, uma vez que orientaram a categorização conforme idade e os medos mais
freqüentes, bem como a cognição e a representação através do desenho que cada criança
manifesta.

6.1 CATEGORIA A – TEMENDO ANIMAIS...

As representações dessa categoria apresentam características pertencentes à fase


pré-esquemática e esquemática, que se situa dentro da pré-operatória, sendo correspondente
à sua faixa etária, o que corresponde também à tabela 1 dos medos mais freqüentes nas
crianças, que é o medo dos animais. Há presença de cores características e o sombreamento
pode ser definido como uma ansiedade expressa nos desenhos.
Desenho – A1: Medo de aranha Figura A 1/ Feminino – quatro
anos.

6.2 CATEGORIA B – TEMENDO O SOBRENATURAL...

As representações da categoria B apresentam características pertencentes às fases


pré-esquemática e esquemática, que se situam dentro da pré-operatória, sendo
correspondentes à sua faixa etária e à tabela 1, dos medos mais freqüentes nas crianças, que
é o medo de seres sobrenaturais; corresponde também à fase pré-esquemática. A
capacidade de contar histórias pode ser percebida nessas representações. As expressões de
medo ficam aparentes nessas representações, conforme Leo (idem):
(...)pode-se ficar impressionado com a expressão de medo transmitida pelas
sobrancelhas levantas e a boca estreita e retangular e, depois, pela seleção da
coluna vertebral como o elemento mais proeminente na interpretação da imagem
corporal.

Os desenhos estão em fase transitória. Há presença de cores características: o


sombreamento ser definido como uma ansiedade expressa nos desenhos e a noção de
espaçamento na folha está em construção.
Desenho – B1: Medo de monstro Figura B1/ Feminino – cinco anos

6.3 CATEGORIA C – TEMENDO FICAR LONGE DO PAI E DA MÃE...

De acordo com a tabela 1, um dos medos mais freqüentes nas crianças, é a


separação dos pais. Há presença de cores características e o sombreamento pode ser
definido como uma ansiedade expressa nos desenhos, porém, nesse caso, fica claro que a
casa está escura, conforme relatos da criança. Há noção de espaçamento na folha.
Desenho C1: Medo de ficar
sozinha em casa sem meu pai e Figura C 1/Feminino – cinco
minha mãe. anos.

6.4 Categoria D – Temendo o escuro...


De acordo com a tabela 1, encontramos o medo de escuro. Há presença de cores
características, nesse caso o preto é utilizado para representar o escuro. A noção de
espaçamento na folha é facilmente observada. A capacidade de contar histórias pode ser
percebida nessa representação. Está em fase transitória, como podemos observar no
desenho a seguir:
Figura D 1/ Feminino – seis anos.

Desenho – D1: Medo de dormir e


entrar no quarto escuro.

6.5 CATEGORIA E – TEMENDO AS LESÕES CORPORAIS...

Há presença de cores características e noção de espaçamento na folha. A capacidade


de contar histórias pode ser percebida nessa representação. Está em fase transitória, como
podemos observar no desenho a seguir:
Desenho – E1: Medo de prender o Figura E 1/ Feminino – cinco
anos.
dedo na máquina de costura da
avó.

6.6 CATEGORIA F – TEMENDO AS PESSOAS MÁS...

Nos desenhos F1 e F2 podemos perceber um caso de tentativa de abuso sexual,


relatado pela criança enquanto desenhava. Em ambas as representações, o sombreamento
fica evidente sugerindo, como visto anteriormente em outros desenhos, ansiedade no
comportamento. Outro aspecto observado são as descrições para braços e mãos, o que,
segundo Leo (),
é através do toque que podemos receber ou conceder afeto ou punição. Braços e
mãos abençoam ou condenam, dão ou tomam. O simbolismo das extremidades
superiores se manifesta, freqüentemente, na forma, dimensão ou ausência das
partes tão ativas nos relacionamentos. Conseqüentemente, atenção a como braços,
mãos e dedos são retratados pode ajudar a compreender o comportamento que
seguidamente escondem: medo, timidez ou hostilidade e agressão.
Outra revelação que o desenho faz é quanto à colocação da figura do pai (autor da
agressão), na direita da folha e o auto-retrato da criança à esquerda da mesma. Segundo Leo
(idem), “(...) em adição às interpretações que aplica aos desenhos de pessoas, assinala
inequívoca significação sexual aos lados esquerdo e direito da folha. Considera a esquerda
como princípio feminino; e a direita, masculino”.
No desenho D2, podemos observar a ginecologista (canto superior esquerdo), com
quatro olhos e, ainda, segundo Leo (idem, ibidem), “a associação dos olhos com o
despertar sexual, voyerismo, culpa e vergonha pode ser encontrada no tratamento usual
dado aos olhos sem pupilas (olhos cegos), anormalmente pequenos, escondidos por lentes
escuras, ou mesmo omitindo-os totalmente”.
Figura D1/ Feminino – cinco anos. Figura D2/ Feminino – cinco anos.
Desenho – D1: Medo do meu pai. (caso de tentativa de abuso
Desenho D2- Medo do meu pai, me levar na médica de novo.
sexual).
(caso de tentativa de abuso sexual, criança sendo levada a
ginecologista).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo desenvolvido confirma o que a bibliografia afirma quando diz que o medo
infantil age como instrumento de defesa e que sem ele nenhum ser humano teria condições
de distinguir o medo real do imaginário.
A partir do trabalho realizado podem-se identificar as características dos desenhos
infantis e confirmar aspectos da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, bem como
a tabela de medos mais freqüentes nas crianças. Assim, entende-se que tanto psicólogos
como pedagogos, ao conhecerem o desenvolvimento do desenho farão diagnósticos e
intervenções com maior propriedade.
Conclui-se também que os medos que não são tratados com a devida atenção podem
se transformar em fobias ou distúrbios. E que para cada um deles existe uma definição e um
tratamento específico.
Ao analisar a realidade encontrada através dos desenhos das crianças, as
expectativas foram superadas e percebe-se que a compatibilidade entre os estudos e a real
experiência vivida por essas crianças denunciam seus verdadeiros medos, que foram
expostos em suas representações gráficas.
Dessa forma, percebe-se que é urgente a formação do educador para que esteja
preparado, ao deparar-se com uma situação em que as crianças expressam seus medos e não
saibam lidar eles. A importância de o professor identificar, através dos desenhos,
principalmente, os medos das crianças, pode ser feita com a criação de um clima
harmonioso e afetivo com o aluno, pois a criança quando chega à escola traz consigo uma
bagagem de vivências anteriores e é na escola que terá a oportunidade de ampliar essas
relações, criando vínculos de amizade e conhecendo uma nova cultura, aquela que é
constituída na aprendizagem.
O professor deve estar sensibilizado da importância das atitudes, brincadeiras,
conversas entre alunos e principalmente nos desenhos e nos jogos simbólicos, pois são
através deles que as crianças expressam o que sentem, incluindo seus medos. O lúdico deve
estar presente no dia-a-dia da vida escolar da Educação Infantil, onde o prazer a
criatividade devem ser constantes.
O grande desafio que os professores da Educação Infantil têm enfrentado é a
apropriação do processo de construção de uma proposta coletiva para enfrentar o medo
dentro de um trabalho que articule as vivências, experiências, realidade dos alunos com os
conhecimentos culturalmente construídos, uma vez que, quando retornam à prática
cotidiana não conseguem romper com concepções já estabelecidas tradicionalmente, como
por exemplo, a de usar personagens fictícios para amedrontar os alunos com o intuito de
prender a atenção ou uma forma de respeito.
O presente artigo serve, também, como um alerta quanto à violência por abuso
sexual, que é mais difícil de ser identificada por não apresentar, na maioria dos casos,
marcas físicas. A atenção dos professores de pré-escola para esse assunto deve levar em
conta a demora na revelação da ocorrência do abuso, portanto ter sensibilidade, o olhar
atento aos desenhos e à maneira de comportamento que a criança apresenta na escola deve
ser marca registrada do/a professor/a.
Finaliza-se este artigo reafirmando a fundamental importância da preocupação e a
verificação dos medos infantis, pois tanto o educador quanto o educando devem sentir-se
preparados para lidar com esse assunto que preocupa a todos. Acredita-se na educação
escolar infantil como meio relevante na aprendizagem e na busca de um mundo mais
humano e mais feliz. Um clima harmonioso e preparado afetivamente deve estar à espera
das crianças nesse fantástico mundo educacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar Novas formas de aprender. São Paulo:
Artmed S.A, 2002.
APOSTILA DE PSICOLOGIA. Disponível em
<http://www.igrejabatistanet.com.br/Estudos/apostila%20de%20psicologia.doc.>.
Acesso em 21/05/2008.
BALLONE, GJ. Ansiedade de separação na infância. Disponível em<
http://gballone.sites.uol.com.br/infantil/ansinfancia.html.> Acesso em 11/06/2008.
BALTAZAR, Maria Helena Monteiro. Tenho medo, logo existo! Disponível
em<http://www.kalunga.com.br/revista/revista_janeiro_09.asp>. Acesso em
02/04/2008.
BARROS, Célia Silva Guimarães. Pontos de psicologia do desenvolvimento. 10ª ed. São
Paulo: Ática, 1997.

BELLO, José Luiz de Paiva. A teoria básica de Jean Piaget. Disponível em<
http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09.htm>Acesso em 03/07/08.
BERRYMAN, Julia C.A Psicologia do desenvolvimento humano. Lisboa:Instituto Piaget,
2002.

BORDONI, Thereza. Descoberta de um universo: a evolução do desenho infantil.


Disponível em<http://my.opera.com/pedrasdacoroa/blog/show.dml/1366438>
Acesso em: 04/07/08.

DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA. Disponível em<


http://paginas.terra.com.br/saude/corpomente/Indicacoes/Dicionario/M.htm>.
Acesso em 21/05/2008.
EQUIPE EDITORIAL BIBLIOMED.2007. Disponível em <
http://boasaude.uol.com.br/lib/showdoc.cfm?LibCatID=-
1&Search=&CurrentPage=0&LibDocID=5161> .Acesso em 21/05/2008.
FISCH, Selma Royzen. Crianças que têm medo do escuro. Disponível
em<http://www.clinica-psico.com/outros.html> Acesso em 21/05/2008.
GOLDBERG, Luciane Germano, YUNES, Maria Angela Mattar and FREITAS, José
Vicente de. O desenho infantil na ótica da ecologia do desenvolvimento humano.
Psicol. estud., Jan./Apr. 2005, vol.10, no.1, p.97-106. ISSN 1413-7372.
GRUNSPUN, Haim. Tenho medo, logo existo! Disponível
em<http://www.kalunga.com.br/revista/revista_janeiro_09.asp>.Acesso em
02/04/2008.
____________________________.Divórcio e filhos .Disponível em
<http://www.psicologiapravoce.com.br/textopsi.asp?nr=271> Acesso em:
21/05/2008.
HOLANDA, Aurélio Buarque de. Minidicionário da língua portuguesa. 1ed.Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1985.
LELOUP, Jean-Yves. Caminhos da realização dos medos do eu ao mergulho no Ser. 10ª ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2001.
LEO, Di. A interpretação do desenho infantil. 3ª Ed. Porto Alegre: Artes Medicas, 1991.
MANUAL, diagnostico e estatístico de transtornos mentais. 4ed.Porto Alegre: Artes
médicas, 1995.
MLYNARZ, Monica. Medos infantis. Disponível
em<http://www.alobebe.com.br/site/revista/reportagem.asp?texto=115 > Acesso em
11/06/2008.
PAPALIA, Diane E. & OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento humano. 7ed. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
PEREIRA, Laïs de Toledo Krücken. O desenho infantil e a construção da significação: um
estudo de caso. Disponível em
<http://209.85.215.104/search?q=cache:X1K_0g6nRKUJ:portal.unesco.org/culture/
en/files/29712/11376608891lais-krucken-pereira.pdf/lais-krucken-
pereira.pdf+qual+%C3%A9+o+papel+do+desenho+infantil+no+desenvolvimento+
humano&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=2&gl=br&lr=lang_pt.> Acesso em 11/06/2008.
PILLOTTO, Silvia Sell Duarte, SILVA, Maryahn Koehler & MOGNOL, Letícia T.
Grafismo infantil: linguagem do desenho. Disponível em<
http://72.14.205.104/search?q=cache:IPGpf-
B2bRoJ:www.periodicos.udesc.br/linhas/ojs/include/getdoc.php%3Fid%3D42%26a
rticle%3D30%26mode%3Dpdf%26OJSSID%3D8c17e49194f44b0db3f2551892d00
d0f+desenhos+infantis+%2B+representa%C3%A7%C3%B5es+gr%C3%A1ficas+
%2B+Educa%C3%A7%C3%A3o+infantil&hl=pt-
BR&ct=clnk&cd=2&gl=br&lr=lang_pt> Acesso em 05/07/2008.
SALLES, Noélle Pozzer & PEREIRA, Antônio Alexandre. O desenvolvimento do desenho
infantil. Disponível em<
http://72.14.205.104/search?q=cache:0dU61wW2T3YJ:www.unipan.br/congresso/p
df_congresso/O%2520DESENVOLVIMENTO%2520DO%2520DESENHO%2520
INFANTIL.pdf+as+garatujas+fase+do+desenvolvimento+de+desenho+na+crian%C
3%A7a&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=3&gl=br> Acesso em 05/07/2008.

Você também pode gostar