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Resumo
O medo faz parte do desenvolvimento normal de qualquer criança ou adolescente. É uma resposta emocional a um acontecimento, real ou imaginário,
interpretado como ameaçador e traduz-se por um “estado de alerta”, que pode ser benéfico para agir em situações de perigo.
É considerado patológico quando se associa a ansiedade ou sensação intensa e duradoura de preocupação, influenciando as atividades diárias da
criança ou adolescente. Neste caso, poderá existir uma Perturbação da Ansiedade, que representa a perturbação psiquiátrica mais frequente em idade
pediátrica. Todas as crianças sentem medo, mas cerca de 10 a 30 % podem desenvolver este tipo de Perturbação.
A distinção entre medo “normal” e medo “patológico” é muito importante para evitar a sua interferência no desenvolvimento normal da criança e
repercussões na vida adulta.
De uma forma geral, sabe-se que as crianças são particularmente suscetíveis a apreenderem os medos dos seus pais/cuidadores. As
meninas relatam mais frequentemente os seus medos do que os meninos e, quase todas as crianças, exibem uma reação de
evitamento face ao objeto ou situação temida.
Os pais/cuidadores adotam, muitas vezes, posições extremas. Por um lado, desvalorizam a situação, interpretando-a como normal e
passageira, independentemente do grau de sofrimento associado. No outro extremo, reforçam a importância do medo, contribuindo para
a sua amplificação e manutenção.
O alvo do medo geralmente varia de acordo com a etapa do desenvolvimento. No quadro abaixo identificam-se alguns medos
considerados normais na infância e na adolescência. São passageiros e sem repercussão importante na vida pessoal, familiar e sócio-
cultural, surgindo e desaparecendo de acordo com o crescimento.
2 anos Separação; Barulhos estranhos; Animais; Escuro; Mudança ambiental; Objetos grandes
7-8 anos Seres sobrenaturais; Lesões corporais; Escuro; Estar sozinho; Ladrões
9-12 anos Desempenho escolar; Lesões corporais; Aparência física; Trovoada; Escuro; Morte; Futuro
M edo “ patológico”
Existem medos que poderão traduzir a presença de patologia, sendo importante identificá-los. São caracterizados por:
Medo intenso
Preocupação e ansiedade persistentes (duração superior a 6 meses)
Medo invasivo (Exemplo: medo que interfere com a alimentação, o sono, as atividades diárias, o desenvolvimento psicológico e/ou funcional)
O objeto ou situação temidos são ativamente evitados ou enfrentados com grande angústia
Medo desproporcional ao risco real
Medo associado a temas bizarros (Exemplo: medo de cheirar mal, medo de engolir brinquedos)
Medo que não corresponde à idade cronológica
Medo que não cede a manobras de distração ou
tranquilização
Medo que se associa a:
É importante ter presente que quanto mais marcada a interferência do medo na vida da criança ou adolescente e o grau de ansiedade
associado, mais provável será a sua duração ao longo do tempo, com possível repercussão na vida adulta.
A abordagem do medo “patológico” tem como objetivo principal ajudar a criança a encontrar formas positivas para superá-lo. Passa pela
tranquilização, firme e segura; pela educação e explicação acerca do medo; e por estratégias para o desconstruir, como sejam jogos
que incluam o alvo do medo.
Esclarecimento de dúvidas (Exemplo: explicar que existem alguns barulhos que só são percebidos em ambientes silenciosos, como é o caso do som dos
ponteiros do relógio e que isso é normal e não é preciso ter medo)
Introdução gradual do objeto/situação temida, com o apoio dos pais/cuidadores.
Conclusão
É fundamental uma abordagem integrada, entre pais/cuidadores e profissionais de saúde, adequada e atempada, que permita a
resolução do medo, de modo a permitir um desenvolvimento saudável e feliz.
Referências recomendadas
Marques C, Cepêda T. Coordenação Nacional para a Saúde Mental. Recomendações para a prática clínica da Saúde Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de
para-a-pratica-clinica-1-pdf.aspx)
Almeida P, Dias G, Rato M. “Por favor, não mexam nos meus medos!”. O medo e o desenvolvimento da criança – uma perspectiva psicodinâmica. Saúde
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