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BIOTECNOLOGIA

Isabele Cristiana
Iser Marson
Biotecnologia: ciência
e desenvolvimento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Distinguir o papel da biotecnologia no desenvolvimento da ciência.


 Reconhecer a influência da biotecnologia no desenvolvimento hu-
mano e científico.
 Apontar as perspectivas da biotecnologia na sociedade.

Introdução
A biotecnologia é uma das grandes propulsoras da ciência no Brasil e
no mundo. Com ela, surgiram ferramentas e técnicas que nos permitem
manipular o código genético, diagnosticar doenças com mais rapidez
e tratá-las com maior eficiência. Ainda, podemos assim obter alimentos
melhorados, e uma infinidade de outros benefícios que, muitas vezes,
justamente por permitirem influenciar de forma muito profunda a vida
humana, geram polêmica e conflitos éticos. A biotecnologia também
mudou a nossa vida em sociedade e contribuiu para que possamos levar
um estilo de vida muito diferente do estilo de vida levado por nossos
antepassados.
Neste capítulo, você vai conhecer qual o papel da biotecnologia no
desenvolvimento da ciência e a sua influência no desenvolvimento hu-
mano e científico, percebendo o quanto a vida das pessoas é impactada
pelas novas tecnologias. Você também vai conhecer as perspectivas
da biotecnologia na sociedade, tendo uma pequena amostra do que
podemos esperar para o futuro.
2 Biotecnologia: ciência e desenvolvimento

Qual o papel da biotecnologia no


desenvolvimento da ciência?
A biotecnologia ocupa uma posição estratégica em termos de desenvolvi-
mento econômico e social para o mundo todo. Além disso, ela tem contribuído
enormemente para o desenvolvimento científico dos países, por proporcionar
ferramentas para criação de novos produtos, métodos de criação e produção,
bem como serviços, que geram avanços e riqueza para as sociedades.
A biotecnologia contribui com diversos campos da ciência (Figura 1),
favorecendo interações entre as diversas áreas e permitindo que a construção
do conhecimento ocorra de forma muito ampla, de modo a modificar diversos
setores da sociedade.

Figura 1. Áreas da ciência que sofrem influência direta da biotecnologia.

O Brasil vem evoluindo e criando ações para impulsionar o desenvolvimento


da biotecnologia nos últimos anos. Essas ações se concentram principalmente
em incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico em universidades,
bem como em centros e institutos de pesquisa. Esses projetos já têm gerado
resultados, colocando o Brasil entre os 15 maiores produtores de conhecimento
do mundo, ficando à frente de países como Suíça, Bélgica e Dinamarca (SCI-
MAGO JOURNAL & COUNTRY RANK, 2018).
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O avanço dos conhecimentos e o desenvolvimento de técnicas biotecnoló-


gicas, como o DNA recombinante, a reação em cadeia da polimerase (PCR,
sigla em inglês), o mapeamento genético, entre outras tantas, permitiram um
avanço científico nunca antes visto na história da humanidade, propiciando
o surgimento de diversos laboratórios e centros de pesquisa em biotecnologia
ao redor do mundo. São desses locais que surge a maioria do conhecimento,
que depois é convertido em desenvolvimento tecnológico, muitas vezes com
potencial de geração de novos produtos e/ou processos que podem promover
soluções e alimentar a cadeia produtiva.
No Brasil, o sistema de pós-graduação é o principal responsável por
impulsionar o desenvolvimento científico em universidades e centros de
pesquisa. A pós-graduação brasileira tem como principais financiadores
dois órgãos federais: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC), e
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Além
desses dois órgãos, diversas fundações estaduais de fomento à pesquisa são
essenciais para o financiamento científico no Brasil. Nos últimos anos, a
biotecnologia e as áreas afins receberam um estímulo maior em termos de
financiamento e aquisição de mão de obra, principalmente na tentativa do
país em correr atrás do desenvolvimento científico que tem sido alcançado
em diversos outros países do mundo. Em menos de 10 anos, o número de
programas de pós-graduação em biotecnologia no Brasil saltou de 21 para
65 (Figura 2), evidenciando o impulso que esse setor recebeu (FUNDAÇÃO
CAPES, 2018).

Figura 2. Número de programas de pós-graduação da área de biotecnologia a cada ano


no Brasil.
Fonte: Fundação Capes (2018, documento on-line).
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No ano de 2012, 42% dos novos doutores formados na pós-graduação


brasileira eram de áreas relacionadas à biotecnologia. Além disso, das 21
áreas em que o Brasil é mais produtivo, considerando o número de artigos
publicados indexados, aproximadamente a metade é relacionada à biotec-
nologia (Figura 3).

Figura 3. Publicações segundo área de conhecimento (2011-2016).


Fonte: Adaptada de Cross, Thomson e Sinclair (2017).

Um ponto interessante a destacar é que o número de pedidos de patente


depositadas no escritório de marcas e patentes dos Estados Unidos por
pesquisadores brasileiros aumentou em torno de 725% entre os anos de
1988 e 2011. Esse dado é importante, pois reflete o aumento de investimento
em pesquisa e inovação feito pelos governos do país nesse período. Além
disso, nesses anos, muitas descobertas científicas e tecnológicas foram feitas
ao redor do mundo, o que permitiu que novas tecnologias chegassem aos
laboratórios brasileiros, gerando novos produtos. Entretanto, vale ressaltar
que a maioria das patentes no Brasil é gerada em universidade e institutos
de pesquisa públicos, e não no setor privado, diferentemente do que ocorre
em outros países, como os Estados Unidos (FREIRE, 2014). Isso mostra
que ainda falta incentivar a interação público-privado no país. Para se ter
uma ideia, dos 250.680 artigos e resenhas publicados por pesquisadores
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brasileiros entre 2011 e 2016, apenas 1% tinha pelo menos um autor afiliado
à indústria. A aproximação entre o setor acadêmico e industrial é essencial
para alimentar a indústria com alta tecnologia, gerando, assim, crescimento
econômico sustentável (CROSS; THOMSON; SINCLAIR, 2017).

Como a biotecnologia influencia o


desenvolvimento humano e científico?
A biotecnologia trouxe inúmeros benefícios à população, por exemplo, novos
métodos diagnósticos, que ajudam a identificar doenças de forma mais precoce,
novas formas de tratamento para as doenças, que em geral são mais específicos
e efetivos, novas vacinas, que ajudam na prevenção de diversas doenças, maior
oferta de alimentos, alimentos mais nutritivos, ferramentas para proteger o
meio ambiente e para diminuir o impacto já causado pela ação do homem,
entre outros tantos que poderíamos citar (SILVA, 2000).
A biotecnologia utiliza sistemas biológicos para resolver desafios científicos
e impactar positivamente nossa sociedade. Os cientistas da biotecnologia
estimulam a criatividade e a inovação em uma variedade de campos, usando
diversas ferramentas de conhecimento científico e tecnológico para manipular
moléculas biológicas, como o DNA ou as proteínas, de modo a gerar moléculas,
substâncias ou produtos úteis e inovadores (SILVA, 2000).
A saúde, a qualidade de vida e a expectativa de vida têm melhorado
muito ao redor do mundo, graças aos serviços e produtos gerados pela bio-
tecnologia. Doenças parasitárias e infecciosas, como a Aids e a tuberculose,
têm sido diagnosticadas com mais rapidez e menor custo. Ferramentas de
diagnóstico molecular, como PCR, antígenos recombinantes e anticorpos
monoclonais, têm acelerado muito o diagnóstico e o tratamento de doenças.
Além disso, a biotecnologia também oferece novas modalidades de vacinas,
como as vacinas recombinantes, que têm sido usadas também para tratar
doenças não infecciosas, como o câncer. A técnica de DNA recombinante
também permitiu o surgimento de proteínas recombinantes, que hoje têm
sido comercializadas para tratar diversas doenças, como é o caso da eritro-
poietina, para o tratamento de anemia, a interferon alfa, contra leucemia e
doenças virais, e a insulina, contra diabetes tipo I. Além dessas moléculas,
hormônios de crescimento, citosinas, colágeno, anticorpos monoclonais e
produtos de terapia gênica também têm sido produzidos por meio de técnicas
de biotecnologia (AFZAL et al., 2016).
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Os anticorpos monoclonais têm a capacidade de reconhecer antígenos


específicos nas células e têm sido usados para tratar muitas doenças, incluindo
alguns tipos de câncer. Ao reconhecer determinados tipos de antígenos dos
tumores, esses anticorpos induzem uma resposta imune muito específica
contra as células cancerosas, combatendo o câncer de forma focada e sem
causar tantos efeitos colaterais quanto as terapias convencionais. Segundo
informações da Sociedade Americana de Câncer (AMERICAN..., 2016), nas
últimas duas décadas, a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and
Drug Administration (FDA), já aprovou mais de 12 anticorpos monoclonais
no combate de certos tipos de câncer. Porém, a cada ano que passa, os pes-
quisadores descobrem mais antígenos ligados ao câncer, produzindo, assim,
novos anticorpos monoclonais contra mais e mais tipos de cânceres. Graças
a esses estudos, muitas pessoas têm sido beneficiadas e novas esperanças
têm surgido aos pacientes com câncer (AMERICAN..., 2016; SALERNO;
MATSUMOTO; FERRAZ, 2018).
Todas essas ferramentas e produtos gerados pela biotecnologia mudaram
muito a vida das pessoas. Imagine você vivendo no ano de 1900. Como
você acha que seria a sua vida? Imagine a quantas coisas, que hoje estão
facilmente ao nosso alcance, você não teria acesso. Até qual idade você
acha que poderia viver? Para se ter uma ideia, no ano de 1900, a expectativa
de vida nos Estados Unidos era de apenas 47 anos. Antes do surgimento
das primeiras vacinas, milhares de pessoas, em especial crianças, morriam
de poliomielite, sarampo e outras doenças infecciosas. As vacinas são a
grande conquista da biotecnologia moderna. Em 1885, Louis Pasteur criou
a vacina contra a raiva animal. Depois disso, muitas outras vacinas vieram,
mas uma das mais importantes veio apenas em 1960, criada por Albert
Sabin: a gotinha contra a poliomielite (paralisia infantil). A poliomielite,
que assombrou o Brasil com surtos durante todo século passado, causando
a morte de milhares de crianças, foi erradicada no país em razão da imu-
nização. A vacina também foi responsável pela erradicação da varíola
no mundo. Para se ter uma ideia do que isso representa, entre 1896 e o
fim da década de 1970, a doença matou mais de 300 milhões de pessoas
no planeta. Outras doenças, como sarampo, tifo, febre amarela, difteria,
tuberculose, coqueluche, tétano e gripe, deixaram de ser grandes ameaças
na saúde pública em razão do controle por meio de campanhas de vacinação
(ASSOCIAÇÃO..., 2015).
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Você sabe como surgiu a primeira vacina no mundo?


A primeira vacina surgiu no ano de 1796, a partir de estudos realizados pelo médico
inglês Edward Jenner. Ele observou que pessoas que haviam se contaminado com a
varíola bovina, ao ordenharem vacas, tornavam-se imunes a varíola humana. Diante
dessa observação, Jenner inoculou o pus presente em uma lesão de uma pessoa
contaminada com a varíola bovina em um garoto de oito anos. O menino adquiriu a
infecção de forma leve e, após 10 dias, estava curado. Surgia aí a primeira vacina de
que se tem notícia.

Na agricultura, culturas geneticamente modificadas, enriquecidas com


nutrientes e vitaminas ou resistentes a pragas, também têm gerado uma grande
revolução. Exemplos incluem o arroz enriquecido com ferro, usado para
prevenir anemia, e o arroz dourado, rico em vitamina A, cuja deficiência
pode causar cegueira. Também já existem batatas contendo diversos tipos
de vitaminas, que podem ser usadas por indivíduos que tenham deficiências
específicas. Outros alimentos enriquecidos que são produzidos por meio da
biotecnologia incluem milho, tomate, mamão, abóbora, soja, beterraba, canola
e sementes de algodão (AFZAL et al., 2016).
Em termos de meio ambiente, o ser humano também tem sido muito be-
neficiado pela biotecnologia. A contaminação de solos, água e ar pode ser
diminuída usando micro-organismos ou plantas, em um processo conhecido
como biorremediação. Nesse processo, os micro-organismos e as plantas são
usados para eliminar a contaminação por metais pesados, como mercúrio e
cádmio. Ainda a favor do meio ambiente, tem sido utilizada a biomassa de
plantas, que pode ser convertida em etanol, um biocombustível que gera menos
poluição atmosférica (AFZAL et al., 2016).
A utilização de biocombustíveis tem ganhado tanta importância nos últimos
anos, que, em 2018, o Prêmio Nobel de Química foi destinado a cientistas cujas
pesquisas impactam principalmente produtos farmacêuticos e biocombustíveis.
O prêmio foi dividido entre três pesquisadores, uma delas, a pesquisadora
americana Frances H. Arnold, foi agraciada por suas pesquisas focadas em
química verde e energias alternativas. Por meio de suas pesquisas, foi possível
introduzir mutações genéticas específicas em micro-organismos, visando
à obtenção de enzimas estáveis, principalmente focadas na degradação de
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celulose, permitindo um avanço significativo no desenvolvimento de produtos,


como biocombustíveis e produtos químicos, a partir de biomassa renovável.
Além do Prêmio Nobel, os estudos de Arnold também resultaram em diversas
patentes e na fundação da empresa Gevo, em 2005, focada em produtos da
biomassa, processos de fixação de dióxido de carbono (CO2) e biocombustíveis
(JORNAL..., 2018).
Apesar de todos esses avanços, é importante lembrar que em muitos países,
como o Brasil, o acesso aos benefícios trazidos pela biotecnologia não é iguali-
tário e muitas pessoas ficam de fora. Em termos de índice de desenvolvimento
humano (IDH), o Brasil ocupa a 79ª posição no ranking entre 189 países avaliados,
ficando atrás de países como a Venezuela, por exemplo (CLAVERY, 2018). Esse
desempenho é muito ruim e evidencia o quanto o país ainda precisa avançar,
para que mais pessoas possam usufruir dos frutos gerados pela biotecnologia e
demais avanços científicos, que tanto impactam a vida das pessoas.

Quais as perspectivas da biotecnologia


na sociedade?
A biotecnologia promete gerar um impacto cada vez maior na sociedade em
que vivemos, melhorando muito o desenvolvimento social. Entretanto, apesar
dos inúmeros benefícios advindos do uso da biotecnologia, a ciência invadiu
a nossa sociedade com uma velocidade alucinante e as técnicas e ferramentas
utilizadas por essa ciência ainda causam muita polêmica, gerando dúvidas e
incertezas à nossa sociedade, que tem apresentado discussões no campo ético,
jurídico, ecológico e sociológico.
Como o campo da biotecnologia é muito recente, existem muitas lacunas no
amparo legal que dificultam o avanço de inovações biotecnológicas, fazendo
com que a sociedade, em sua insaciável busca por desenvolvimento, pratique
atos que geram polêmica e dúvida.
Por exemplo, apesar de todos os estudos e testes de segurança que são
feitos antes de liberar um alimento transgênico, muitas pessoas ainda têm
medo de consumir produtos feitos por meio dessa tecnologia. Até o momento,
não há relatos comprovados de danos à saúde humana causado pelo consumo
de transgênicos. Entretanto, é possível que os verdadeiros efeitos de tais
alimentos sobre a saúde dos consumidores só sejam conhecidos daqui muitos
anos (DELATORRE, 2005).
Os opositores aos transgênicos citam questões de segurança, preocupações
ambientais, aumento de intoxicações, reações alérgicas e outras doenças nos
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consumidores, como câncer e esterilidade, aumento na resistência a antibióticos,


danos à biodiversidade, necessidade de maior uso de agrotóxicos, risco de
surgimento de pragas resistentes a todos os pesticidas e prejuízo aos pequenos
produtores (BIÓLOGO, 2018; DELATORRE, 2005).

Você sabia que existe um dia mundial contra a Monsanto?


A Monsanto é uma multinacional de alcance global da área de agricultura e biotecnolo-
gia. É especializada em engenharia genética (produção de organismos geneticamente
modificados), sementes e herbicidas. Hoje, controla 90% do mercado de sementes
transgênicas do mundo, formando um dos maiores monopólios já vistos.
Entretanto, muitos ativistas ambientais se opõem ao monopólio representado pela
Monsanto, alegando prejuízos aos pequenos agricultores, possíveis danos à saúde e
ao meio ambiente, formação de lobby e manipulação de pesquisas científicas.

Apesar da polêmica causada pelos transgênicos na sociedade, cabe ressaltar


que entre 1996 e 2004, a área total cultivada com lavouras transgênicas cresceu
mais de 47 vezes no mundo, passando de 1,7 milhão de hectares em 1996
para 81,0 milhões de hectares em 2004. Nesse mesmo período, o número de
países que cultivam plantas transgênicas aumentou de 6 para 21 (RIBEIRO;
MARIN, 2012).
Os benefícios da biotecnologia para a sociedade são muitos, e é evidente
que essas ferramentas colaboraram para melhorar a nossa qualidade de vida.
Apesar das polêmicas bioéticas atuais que envolvem a biotecnologia, parece
improvável que num futuro próximo ou distante a humanidade consiga viver
sem esses avanços. Você já imaginou o que a biotecnologia proporcionará a
você nos próximos anos? Será que você estará bebendo leite produzido sem
vacas ou comendo carne produzida sem gado? Ou, quem sabe, terá clara de
ovo produzida sem galinhas? Será que você terá uma vida mais longa?
O futuro está cada vez mais perto e muitas dessas coisas já começam a
se tornar realidade. Por exemplo, você sabia que hoje já é possível produzir
proteína animal sem praticar um único abate?
Hoje, os cientistas conseguem extrair células de animais para, em seguida,
cultivá-las em laboratório. Assim, pode-se produzir carne em laboratório, mais
conhecida como carne cultivada. Várias startups estão investindo na carne
de laboratório, como é o caso da empresa Memphis Meats, de São Francisco,
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na Califórnia, que produziu as primeiras carnes de frango e de pato obtidas


em laboratório, sem que nenhum animal fosse abatido. Em 2013, a empresa
holandesa Mosa Meat apresentou ao mundo o primeiro hambúrguer de carne
bovina cultivada. A israelense Supermeat, em 2016, foi a pioneira na produ-
ção de carne de frango. Os próximos passos dessas empresas são os testes
de segurança desses alimentos, junto aos órgãos internacionais, para que no
futuro possam ser liberados ao consumo pela população (INSTITUTO..., 2017).

Outro exemplo de companhia que não utiliza animais na sua produção de alimentos é
americana Clara Foods, que utiliza leveduras para sintetizar as proteínas que constituem o
ovo de galinha e o reproduzem em laboratório para comercialização (CLARA FOODS, 2018).
A empresa americana PerfectDay, por sua vez, produz leite sem precisar de uma
única vaca. Por meio de técnicas de biotecnologia, como sequenciamento gênico,
a empresa desenvolveu um processo que usa leveduras transgênicas e técnicas de
fermentação para criar as mesmas proteínas lácteas que os bovinos produzem. A
técnica permite preparar alimentos e bebidas de forma sustentável, diminuindo o
uso de terra, reduzindo o consumo de energia e aliviando o impacto ambiental da
pecuária (PERFECT DAY, 2018).
Em outro campo, a empresa Human Longevity utiliza o sequenciamento genético
para analisar o DNA das pessoas, com o objetivo de descobrir, por meio de uma amostra
de sangue, como funcionamos, como o nosso corpo trabalha, como envelhecemos,
como as doenças surgem no nosso organismo e como o câncer cresce e se desenvolve.
Dessa forma, possibilita a aplicação de uma medicina personalizada para cada indivíduo,
a fim de aumentar o seu tempo de vida (HUMAN LONGEVITY, 2018).

Você pode pensar que ainda está muito longe de isso tudo fazer parte
da nossa rotina, entretanto, se você estivesse nos anos 1980 e lhe dissessem
que os computadores dominariam o mundo em poucas décadas, talvez você
não fosse acreditar. Muitas outras coisas que hoje fazem parte da nossa vida
cotidiana soariam absurdas alguns anos atrás, mas tudo isso se tornou reali-
dade em pouquíssimo tempo. Aquilo que era ficção científica tempos atrás
é a realidade de hoje. Atualmente, cientistas são capazes de criar até mesmo
órgãos artificias, por exemplo, a pele. Esses avanços, e muitos outros, são cada
vez mais rápidos e pode ser que mudem o rumo da humanidade e do modo
como evoluímos. Portanto, devemos pensar no futuro que estamos construindo
para a humanidade, agindo sempre com ética e consciência moral, a fim de
tomarmos o caminho certo rumo ao desenvolvimento.
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