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Resumo sobre a aula de interações medicamentosas – Profª Chung

Quando existe a presença de mais de um fármaco, a interação entre eles


pode originar o que se conhece como interação medicamentosa. Se a presença
de um segundo fármaco altera, de alguma maneira, a natureza, a magnitude ou
a duração do efeito do primeiro fármaco, ocorre a interação farmacológica entre
eles. Essas interações podem ser terapêuticas ou adversas (um fármaco pode
comprometer a ação do outro ou podem atuar em conjunto, seja para um mesmo
efeito específico ou não), de modo que podem ser planejadas para acontecer ou
ocorrer de maneiras não intencionais.
Essas interações podem surgir diante de diversos fatores. Erros presentes
na dose administrada, na taxa de infusão de um determinado medicamento, na
via de administração, no nome de um medicamento prescrito e/ou administrado,
competição entre dois fármacos por um mesmo sítio de ação, casos de alergia
a medicações, administração de doses superiores às prescritas, erros no
monitoramento ou conferência do medicamento administrado, assim como erros
na posologia, indicação e contraindicações, podem ocasionar o aparecimento de
diferentes interações entre os fármacos.
As interações medicamentosas podem afetar diretamente a concentração
plasmáticas dos fármacos no organismo. A interação entre duas substâncias
pode fazer com que um dos fármacos tenha um efeito menor do que o desejado,
ou seja, um fármaco altera a capacidade de absorção do outro fármaco, fazendo
com que apresente uma menor concentração no plasma, e dependendo da
janela terapêutica, isso pode causar ineficácia terapêutica do fármaco afetado.
Além disso, a presença de um fármaco, dependendo do tipo de interação pode
alterar a velocidade de absorção e efeito do segundo fármaco, comprometendo
o tratamento do paciente. Também existem casos de um fármaco induzir o
aumento das concentrações plasmáticas do outro e, dependendo da janela
terapêutica, esse quadro pode permitir o aparecimento de eventos adversos ou
até toxicidade. Não apenas um segundo fármaco, mas também alimentos podem
provocar efeitos semelhantes se associados ao primeiro fármaco.
Locatelli, em 2007, observou um alto índice de potenciais interações
medicamentosas em idosos hospitalizados no Hospital Israelita Albert Einstein.
Esse índice pode variar na faixa de 6% para pacientes ambulatoriais e até 53%
para pacientes institucionalizados. O estudo revela uma média de 4 interações
medicamentosas por pacientes, em que 36% por aumento de riscos de
sangramento e 18% por hipoglicemia ou hiperglicemia.
Diante do exposto, o fármaco pode interagir com outro medicamento, com
alimentos, suplementos e com as condições médicas. Os possíveis efeitos
decorrentes dessas interações são reduções ou aumentos na ação do fármaco
ou causar efeitos adversos.
Nesse sentido, diante de uma provável existência de uma interação
medicamentosa, pacientes idosos, crianças, pacientes com insuficiência renal
e/ou hepática, pacientes que fazem uso de vários medicamentos
simultaneamente e pacientes que apresenta, múltiplas doenças podem ter a
saúde e qualidade de vida comprometidos. Dependendo do tipo de fármaco
empregado na terapêutica, como por exemplo a digoxina, a varfarina e a teofilina,
por apresentarem baixo índice terapêutico, necessitam de um monitoramento
constante, principalmente se administrados em pacientes comprometidos ou
hospitalizados, evitando que essas interações possam agravar o estado de
saúde dos pacientes internados.
Em estudos de desenvolvimento de novos medicamentos, esse cuidado
deve ser redobrado. Pode ocorrer interações entre o fármaco e o próprio
excipiente, ou veículo, no interior da matriz farmacêutica a ser desenvolvida.
Esse fato deve ser estudado e analisado com cuidado, de modo que não
comprometa o produto finalizado.
Além de interações fármaco-fármaco, podem ocorrer interações do
fármaco com doenças; alimentos; poluentes; produtos naturais; nutrientes e
drogas de abuso. Também podem ocorrer interações físico-químicas como entre
o fármaco e excipiente ou veículo, no próprio medicamento. Além disso, podem
ocorrer interações do fármaco com o organismo, as chamadas interações
farmacocinéticas, como por exemplo maior ou menor ligação do fármaco com
proteínas plasmáticas, interferindo diretamente na distribuição do fármaco ao
longo do corpo. Além desses, podem ocorrer interações farmacodinâmicas, ou
seja, o fármaco pode ter maiores ou menores dificuldades de interagir com
receptores do alvo terapêutico e isso está diretamente associado a magnitude
ou duração do efeito do fármaco no organismo.
Como já foi dito, a fisiologia do organismo também pode influir nessas
interações. As propriedades fisiológicas ao longo do trato gastrointestinal podem
alterar, como por exemplo mudanças nos valores de pH e no tempo de
permanência de substâncias nos órgãos como estômago, duodeno, jejuno, íleo
e cólon. A idade também pode promover alterações da fisiologia do trato
gastrointestinal, assim como doenças crônicas, inflamações locais, remoções
cirúrgicas e doenças que comprometem o sistema imunológico. Todos esses
fatores, associados aos alimentos ou não, podem interferir no tempo e teor de
absorção de fármacos, visto que o trato gastrointestinal também é responsável
por grande parte da absorção de fármacos.
Por exemplo, o etanol, contido em bebidas, aumenta a absorção de
fármacos de classe I e II. Os fármacos de classe I apresentam alta solubilidade
e permeabilidade, enquanto os de classe II apresentam alta permeabilidade e
baixa solubilidade. Dependendo do tipo de fármaco que for associado ao etanol,
a absorção pode aumentar e ter uma concentração plasmática até duas vezes
superior do que o desejado, como por exemplo o diazepam, um
benzodiazepínico, podendo provocar efeitos de sedação no paciente.
Em relação aos alimentos e o trato gastrointestinal, os lipídeos retardam
o esvaziamento gástrico e a absorção em torno de 2h. No entanto, podem
aumentar a absorção de fármacos lipossolúveis.
Em relação às proteínas, elas aumentam o fluxo sanguíneo gástrico,
aumentando a absorção local. Geralmente, quanto maior a concentração de
proteínas plasmáticas no sangue, menor a disponibilidade de fármaco livre em
circulação devido a ligação deste às aquelas.
No que tange à glicose, ela pode aumentar a absorção de fármacos que
fazem uso do transporte através de membranas biológicas. A glicose também
pode agravar quadros de desidratação.
Já em relação às bebidas quentes e antiácidos, eles podem destruir o
revestimento da forma farmacêutica, se o fármaco apresentar tal camada
protetora, expondo o fármaco ao pH gástrico. Dessa forma, pode destruir a
camada de proteção gástrica potencializando os efeitos farmacológicos que
causam ulceração gástrica.
Existem substâncias que alteram a sensibilidade gustativa, podendo
alterar a disgeusia, que é a alteração do paladar; e a hipogeusia, que é a redução
da percepção ao paladar. Algumas substâncias que causam alterações na
sensibilidade ao paladar, com redução (cocaína e griseofulvina); induzindo um
paladar estranho e desagradável, como o lítio; induzindo ao amargo reduzido
(lidocaína) e ao salgado reduzido (insulina) e ao doce reduzida, como em casos
de anfetaminas.
Existe um caso de interação bastante importante na prática e evidente na
literatura que é a interação entre antimicrobianos e anticoncepcionais. Além
disso, a tetraciclina, que é um antimicrobiano, na presença do cálcio, forma um
complexo insolúvel ao ser humano, de modo que não exerce sua função
antibiótica no organismo, sendo um importante caso de interação entre fármaco
e alimento, no caso o leite. Além disso, esse antibiótico também pode apresentar
esse comportamento na presença de antiácidos, visto que estes apresentam
metais em sua composição. Nesse contexto, deve-se atentar para a
administração desse antibiótico em crianças em formação, devido ao fato dos
ossos estarem em crescimento, de modo que a tetraciclina pode se associar ao
cálcio do osso e formar uma mancha escura, visualizada principalmente nos
dentes.
Outra interação importante de se destacar é a interação entre fármacos
anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e o alimento leite.

Aluno: Sílvio André Lopes.

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