Você está na página 1de 3

A importância da abordagem da sarcopenia e das interações medicamento-nutriente em

idosos polimedicados

Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar a abordagem das interações medicamentosas-
nutrientes e da sarcopenia em idosos por uma equipe de Atenção Primária à Saúde, bem como
descrever sua importância. Trata-se de um estudo qualitativo exploratório, que foi avaliado por
meio de questionário semiestruturado e referenciais teóricos relacionados ao tema. Em
relação à sarcopenia, os entrevistados não conheciam sua definição e não existia um protocolo
estruturado e amplamente aplicável para avaliação da massa muscular em idosos. Em relação
às interações medicamento-nutriente, embora os entrevistados considerassem as interações
verdadeiras, não conseguiram identificar quais medicamentos e quais nutrientes estavam
correlacionados. Em relação aos hábitos alimentares, a população apresentava muitas
dificuldades socioeconômicas, ocasionando um elevado consumo de alimentos ricos em
carboidratos e lipídios, e um baixo consumo de proteínas, frutas, legumes e verduras. Quando
se trata da saúde do idoso, devemos considerar a biodisponibilidade de nutrientes,
medicamentos e possíveis interações, para que o estado nutricional não seja
comprometido. Pois, uma boa ingestão nutricional permite a prevenção e evita a progressão da
sarcopenia. Assim, devemos ressaltar a importância da atuação da equipe que compõe a
Atenção Primária à Saúde no diagnóstico precoce, bem como nas ações de prevenção e
manejo de condições associadas ao envelhecimento, como a sarcopenia.

Interação fármaco-nutriente Com o envelhecimento, observa-se redução das necessidades


energéticas em razão da diminuição da taxa metabólica basal e do gasto energético, assim
como redução na absorção de vitaminas e minerais (SANTOS; MACHADO; LEITE, 2010). Os
nutrientes estão presentes nos alimentos e são substâncias que desempenham funções
específicas no organismo humano, tais como o fornecimento de energia, funções estruturais e
reguladoras. Já os fármacos, desempenham funções no controle e possível erradicação de
doenças nos indivíduos. Quando utilizado de forma conjunta, deve-se observar as possíveis
interações entre ambos (LIMA et al., 2017). Uma interação entre fármaco-nutriente acontece
quando um nutriente interfere nas reações farmacocinéticas ou farmacodinâmicas de um dado
fármaco, ou quando um medicamente interfere nas funções do nutriente no organismo. Essa
interação pode resultar em aumento ou redução da eficácia da droga, ou também o
surgimento de reação adversas. Pode ainda levar a perdas nutricionais, aumentando o risco de
deficiências (LIMA et al., 2017; VENTURINI et al., 2020). As interações são comuns com várias
classes de medicamentos. Os antibióticos causam diminuição da microbiota intestinal e as
bactérias ali presentes são responsáveis pela síntese de vitaminas K e B12. Com isso, os
antibióticos reduzem a disponibilidade dessas vitaminas. Além disso, os medicamentos dessa
classe podem interagir com o cálcio, formando complexos insolúveis, evitando sua absorção,
sendo recomendado a ingestão de fontes desse mineral como leite e derivados, em horários
diferentes da administração do fármaco (BUSHRA; ASLAM; KHAN, 2011; LOPES et al., 2013). Os
anti-inflamatórios reduzem a absorção de vitaminas A, C, B1, B6, B9, cálcio, potássio, fósforo,
magnésio e zinco, não sendo recomendado o consumo próximo as refeições ricas nesses
compostos. Porém, no caso de anti-inflamatórios não-esteroidais, que reduzem a síntese de
prostaglandinas responsáveis pela produção de muco, é recomendado que esse medicamento
seja ingerido junto com as refeições, mesmo reduzindo a absorção de nutrientes, a fim de
evitar lesões estomacais (LOMBARDO; ESERIAN, 2014; LOPES et al., 2013).
Com relação aos anti-hipertensivos, observa-se que a absorção dos inibidores de ECA é melhor
quando ingeridos em jejum e o suco de laranja, pode reduzir a absorção do Celiprolol (Beta-
Bloqueador). Além disso, o uso de diuréticos está relacionado com a perda de minerais. Outras
interações importantes de serem destacadas, são as que podem alterar o efeito do
anticoagulante da Varfarina, como o consumo de alimentos ricos em vitamina K, o suco de
cranberry e dietas hiperproteicas, que podem aumentar o risco de sangramentos e os níveis de
albumina sérica (BANERJEE, 2020; BUSHRA; ASLAM; KHAN, 2011). Entre os antidepressivos,
pode-se observar a interação entre os inibidores de monoamina oxidase (IMAOs) e o
aminoácido tiramina, que é encontrada em queijos, vinhos, carnes curadas como salames e
bacon e em frutas e vegetais maduros. A enzima monoamina oxidase é responsável pela
degradação monoaminas endógenas como a dopamina e a serotonina e exógenas como a
tiramina. Os IMAOs, inibem a ação dessa enzima, levando a aumento dos neurotransmissores e
levando a melhora do quadro depressivo. Porém, também ocorre aumento de tiramina na
corrente sanguínea, que é captada por neurônios adrenérgicos, desencadeando crise
hipertensiva, sendo recomendado a restrição de alimentos fontes de tiramina durante o
tratamento com essa classe de medicamentos (BUSHRA; ASLAM; KHAN, 2011). Tendo em vista
que as interações entre fármacos e nutrientes são comuns, é necessária maior compreensão
desses mecanismos pelos profissionais de saúde, possibilitando melhor orientação aos
pacientes e redução dos efeitos adversos e deficiências que as interações podem causar (LOPES
et al., 2013). 3.5 Polifarmácia A literatura sugere várias definições para a polifarmácia, desde a
simples contagem numérica dos medicamentos até sua contagem associada ao tempo de uso e
condição clínica. As definições encontradas variam de dois ou mais medicamentos a onze ou
mais medicamentos, sendo a definição mais observada a de cinco ou mais medicamentos
(MASNOON et al., 2017). A OMS define a polifarmácia como o uso de 4 ou mais medicamentos
de forma concomitante e contínua, definição que será utilizada no presente estudo (WHO,
2017). A multimorbidade, caracterizada como a presença de duas ou mais condições crônicas,
é comum em idosos. A presença de múltiplas condições clínicas impacta na qualidade de vida e
está associado ao maior uso de medicamentos, visto que podem ser usados um ou mais
medicamentos para o tratamento de cada enfermidade (SALIVE, 2013). 21 O uso de múltiplos
medicamentos está associado ao maior risco de reações adversas e de interações
medicamentosas. Uma interação medicamentosa ocorre quando um medicamento influencia a
ação de outro. Estudos apontam que o risco de interações aumenta de acordo com aumento
do número de medicamentos usados. Foi observado um risco de 13% de interações em idosos
que usavam dois medicamentos e esse número aumentou para 82% com uso igual ou superior
a sete (DELAFUENTE, 2003). A prescrição e dispensação de medicamentos têm aumentado nos
últimos anos, o que tem contribuído para o aumento da prevalência de polifarmácia. Estudos
realizados na Escócia (GUTHRIE et al., 2015) e Irlanda (MORIARTY et al., 2015), avaliaram, a
partir de bancos de dados de dispensação de medicamentos no país, o aumento no consumo
de medicamentos com o passar dos anos e, observou-se aumento significativo no consumo de
medicamentos principalmente em idosos. Moriarty e colaboradores (2015) observaram, entre
indivíduos com mais de 65 anos, aumento de 17,8% para 60,4% de polifarmácia entre os anos
de 1997 a 2012. Entre os fatores que podem contribuir para a utilização de vários
medicamentos podese citar a presença de múltiplos prescritores e a fragmentação do cuidado,
que por vezes pode resultar em prescrições excessivas, incorretas ou insuficientes,
aumentando risco de reações adversas. Além disso, pode contribuir para uma prescrição em
cascata, quando um novo medicamento é prescrito para tratar um efeito adverso do primeiro.
Esse fato ressalta a necessidade do cuidado integral e da boa comunicação entre os
profissionais, a fim de evitar condutas inapropriadas (FREITAS, 2013; WHO, 2017). Tendo em
vista o aumento do uso de medicamentos e da polifarmácia, assim como a ocorrência de
efeitos adversos principalmente nos idosos, faz-se necessário o estudo de estratégias
terapêuticas para o processo de descontinuação, com a retirada de medicamentos
desnecessários e inapropriados. A literatura sugere ferramentas clínicas usadas para reduzir as
prescrições em excesso e inadequadas, assim como os efeitos adversos causados por elas. Os
Critérios de Beer são uma dessas ferramentas, são baseados em um consenso de especialistas
com base na revisão da literatura, e apresentam uma lista de medicamentos potencialmente
inapropriados para uso em idosos, assim como as interações medicamentosas e as drogas que
devem ser usadas com cautela (BEERS, 1997; CAMPANELLI, 2012). Além disso, deve-se buscar
alternativas não medicamentosas para a prevenção e o tratamento de patologias. No caso de
doenças crônicas como a hipertensão arterial sistêmica e a diabetes mellitus, o tratamento
pode começar com intervenções não medicamentosas, com o 22 início da terapia nutricional e
a prática de exercícios, inserindo a terapia medicamentosa posteriormente se necessário. Essas
intervenções melhoram a qualidade de vida dos pacientes e possibilitam controle das
condições. (NASCIMENTO et al., 2017; ROZENFELD; FONSECA; ACURCIO, 2008).

Você também pode gostar