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Unidade III
7 ESTRUTURA DE ECOSSISTEMA E FLUXO DE ENERGIA NO SISTEMA
ECOLÓGICO
O termo ecossistema é usado para denotar a comunidade biológica junto ao ambiente abiótico
em que ela está estabelecida. Assim, os ecossistemas normalmente incluem produtores primários,
decompositores e detritívoros, certa quantidade de matéria orgânica morta, herbívoros, carnívoros e
parasitos, mais o ambiente físico-químico que proporciona as condições de vida e atua como uma fonte
e um dreno para energia e matéria.
Durante a primeira parte do século XX, emergiram diversos novos conceitos que levaram o estudo
da ecologia para novas direções. Um deles foi a percepção de que as relações de alimentação conectam
organismos numa entidade funcional única, a comunidade biológica. À frente, entre os diversos
personagens desse novo ponto de vista ecológico durante os anos 1920, estava o ecólogo inglês Charles
Elton (1900-1991). Elton argumentou que os organismos que vivem no mesmo lugar não apenas têm
tolerâncias semelhantes aos fatores físicos do ambiente, mas também interagem uns com os outros, de
forma mais relevante, num sistema de relações de alimentação, o qual chamou de teia alimentar. Todo
organismo deve alimentar-se de algum modo para obter nutrição e pode ser alimento de algum outro
organismo.
Uma década mais tarde, em 1935, o ecólogo vegetal inglês Arthur George Tansley (1871-
1955) levou a ideia de Elton a um importante passo, ao considerar os organismos, com os fatores
físicos que os circundam, como sistemas ecológicos. Tansley olhou essa estrutura – que chamou
de ecossistema – como a unidade fundamental da organização ecológica; visualizou as partes
biológicas e físicas da natureza juntas, unificadas pela dependência dos organismos em suas
vizinhanças físicas e por suas contribuições para a manutenção das condições e da composição
do mundo físico.
Todos os ecossistemas, inclusive a biosfera, são abertos: há uma entrada e uma saída necessárias de
energia. Evidentemente os ecossistemas abaixo do nível da biosfera também estão abertos, em vários
graus, aos fluxos de materiais, bem como à imigração e à emigração dos organismos. Por conseguinte,
representa uma parte importante do conceito de ecossistema reconhecer que existe tanto um ambiente
de entrada quanto um de saída, acoplados e essenciais, para que funcione e se mantenha. Um
ecossistema conceitualmente completo inclui ambientes de entrada e saída com o sistema delimitado,
ou seja, ecossistema = AE + S + AS, onde: AE = ambiente de entrada; S = sistema propriamente dito; e
AS = ambiente de saída.
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ECOLOGIA
Outras
Ambiente formas de Ambiente
energia
Energia e materiais
Sistema processados; emigração
Sol (como delimitado) de organismos
Materiais e
organismos
de entrada de saída
Figura 32 – Modelo de ecossistema com uma entrada e uma saída de energia e materiais no sistema
Uma das características universais de todo ecossistema, seja ele terrestre, aquático ou elaborado pelo
homem (agrícola), é a interação dos componentes autotróficos e heterotróficos. Na parte autotrófica,
de plantas ou partes de plantas que contêm clorofila, predominam a fixação de energia luminosa, a
utilização de substâncias inorgânicas simples e a construção de substâncias orgânicas complexas;
na parte heterotrófica, de solos e sedimentos, matéria em decomposição, raízes etc., predominam
a utilização, o rearranjo e a decomposição de materiais complexos. Do ponto de vista biológico, é
conveniente reconhecer os seguintes componentes que constituem o ecossistema:
• substâncias inorgânicas: C, N, CO2, H2O, outras mais envolvidas nos ciclos dos materiais;
• compostos orgânicos: proteínas, lipídios, carboidratos, substâncias húmicas etc., que ligam o
biótico e o abiótico;
IVA Energia IB
solar
IA
IIB
IIA Estrato
Ar autotrófico
IVB
Água
IIIA IIIB
Estrato
Solo heterotrófico Sedimentos
Material geológico matriz Material geológico matriz
Figura 33 – Comparação entre um ecossistema terrestre (campo de gramíneas) e um ecossistema aquático (lago ou mar). Unidades
necessárias para o funcionamento são: entrada de energia (e outras formas); água; nutrientes (compostos abióticos básicos –
orgânicos e inorgânicos) em solos, sedimentos e água; e organismos autotróficos e heterotróficos que compreendam as redes
alimentares bióticas. Os sistemas terrestres e os aquáticos funcionam de maneiras semelhantes, mas as espécies são, em grande parte,
diferentes. Além disso, as plantas verdes (e o fitoplâncton) são pequenas (frequentemente microscópicas) em sistemas de águas
profundas, e grandes em ecossistemas terrestres e em alguns de águas rasas
Além dos fluxos de energia e dos ciclos de matéria, os ecossistemas são ricos em redes de informação,
que compreendem fluxos de comunicação, físicos e químicos, que interligam todas as partes e governam
ou regulam o sistema em sua totalidade. Consequentemente, os ecossistemas podem ser considerados
cibernéticos na natureza (de kybernetes, que significa piloto ou governador), mas as funções de
controle são internas ou difusas, ao contrário das funções externas e especificadas nos mecanismos
elaborados pelo homem.
Um dos melhores modos de se começar a estudar ecologia é considerar um lago pequeno e um prado
ou campo abandonado, em que as características básicas dos ecossistemas podem ser convenientemente
examinadas e a natureza dos ecossistemas aquáticos e terrestres pode ser constatada. Qualquer
área exposta à luz, mesmo um gramado, uma jardineira de janela ou um microcosmo cultivado em
laboratório, pode ser observada para se começar o estudo de ecossistemas, desde que as dimensões
físicas e a diversidade biótica não sejam tão grandes a ponto de tornarem difíceis as observações do
todo. Consideremos seis exemplos: um lago pequeno, um prado, uma bacia hidrográfica, um microcosmo,
uma cidade e um agroecossistema.
no prado, mas também modificam a natureza química da água, do solo e do ar, que compõem
o ambiente físico. Assim, uma garrafa de água do lago ou uma pazada de lama do fundo, ou de
solo do prado, é uma mistura de organismos vivos, tanto vegetais quanto animais, e de compostos
inorgânicos e orgânicos. Alguns dos animais e plantas maiores podem ser separados da amostra
para estudo ou contagem, mas seria difícil separar completamente a miríade de pequenas coisas
vivas da matriz não viva sem mudar o caráter da água. É verdade que se poderia autoclavar
a amostra de água, de lama do fundo ou de solo, de modo que apenas o material não vivo
permanecesse, mas esse resíduo então não mais seria água do lago ou solo do prado. Teria
aparência e características inteiramente diferentes.
• substâncias abióticas: incluem compostos básicos inorgânicos e orgânicos, tais como água, gás
carbônico, oxigênio, cálcio, nitrogênio, enxofre e sais de fósforo, aminoácidos e húmicos, entre
outros. Uma pequena porção dos nutrientes vitais está em solução e imediatamente à disposição
dos organismos, mas uma porção muito maior é mantida em reserva, em matéria particulada,
bem como nos próprios organismos. A velocidade de liberação dos nutrientes, a partir dos sólidos,
a entrada de energia solar e o ciclo de temperatura, a duração do dia e outras condições climáticas
são os processos mais importantes que regulam diariamente a velocidade de funcionamento de
todo o ecossistema.
• organismos produtores: em um lago, os produtores podem ser de dois tipos principais – grandes
plantas flutuantes ou enraizadas, geralmente crescendo apenas em águas rasas, e minúsculas
plantas flutuantes, geralmente algas, chamadas de fitoplâncton, distribuídas por todo o lago
até a profundidade em que a luz penetra. Quando abundante, o fitoplâncton dá à água uma
cor esverdeada; de outro modo, esses produtores não são visíveis ao observador casual, e sua
presença não é notada pelo leigo. Ainda assim, em extensões de água grandes e profundas (como
nos oceanos), o fitoplâncton é muito mais importante do que a vegetação enraizada na produção
de alimento básico para o ecossistema. Nos campos e nas comunidades terrestres, em geral,
ocorre o inverso: as enraizadas predominam, mas pequenos organismos fotossintéticos, como
algas, musgos e liquens, também ocorrem no solo, nas rochas e nos caules das plantas. Nos locais
em que esses substratos são úmidos e expostos à luz, tais microprodutores podem contribuir
substancialmente para a produção orgânica.
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Unidade III
A expressão eutrofização cultural (enriquecimento cultural) vem sendo amplamente usada para
denotar a poluição orgânica que resulta das atividades humanas. A erosão do solo e a perda de
nutrientes de uma floresta perturbada ou de um campo cultivado inadequadamente não apenas
empobrece esses ecossistemas, como também tais efluxos provavelmente apresentem impactos
eutróficos, ou de outro tipo, rio abaixo. Por isso, a bacia hidrográfica inteira, e não somente a
massa de água ou o trecho de vegetação, deve ser considerada a unidade mínima de ecossistema,
quando se trata de interesses humanos.
A unidade de ecossistema para gerenciamento prático deve incluir, para cada metro quadrado
ou hectare de água, uma área pelo menos vinte vezes maior de bacia de drenagem terrestre. Em
outras palavras, os campos, as florestas, as massas de água e as cidades, interligadas por um sistema
de riachos ou rios (ou, às vezes, por uma rede subterrânea de drenagem) interagem como uma
unidade prática, no ecossistema, tanto para o estudo quanto para o gerenciamento. O conceito
de bacia hidrográfica ajuda a colocar em perspectiva muitos dos nossos problemas e conflitos.
Por exemplo, as causas e as soluções da poluição da água não serão encontradas olhando-se
apenas para dentro da água; geralmente, é o gerenciamento incorreto da bacia hidrográfica que
destrói nossos recursos aquáticos. A bacia de drenagem inteira deve ser considerada a unidade de
gerenciamento.
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ECOLOGIA
Saiba mais
7.2.3 Microcosmo
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Unidade III
I Ladrão
Tampão de algodão
Entrada de ar
12V
I
500Ω Tubo para
(D) retirada
Eletrodos (C)
(A) (B)
Solução de
eletrólitos
Fontes de luz
II fluorescente Trocas gasosas pelo
Frasco de tampão de algodão
Nível do meio de Roux de
Tubo para cultura líquido 750 ml Nível do
trocas gasosas meio de
cultura Erlenmeyer de
250 ml ou maior
III
Tubo
antipastagem
Bactéria Algas, 3 tipos
Alga (Dunaliella) Bactérias e fungos, 13 ou mais tipos (isolados)
Camarão marinho (Artemia) Ostrácodos, 1 ou mais tipos
Todos de cultura axênica Nematoides, (?)
Protozoários, 3 ou mais tipos
Todos derivados por semeadura a partir de um
tanque de esgoto ao ar livre
Figura 35 – Três tipos de microcosmos de laboratório. I. Um quimiostato, simples e barato, no qual um fluxo de meio de cultura
(B) passa da câmara de cultura (C) para um vidro que recebe o excesso (D) e é regulado, ajustando-se à corrente elétrica que
alimenta uma bomba de eletrólise (A). No turbidostato, a regulação para manter um estado constante é realizada por um
sensor colocado dentro da comunidade cultivada, que responde à densidade (turbidez) dos organismos (regulação interna, em
contraste com a regulação externa, de “entrada constante”, do quimiostato). II. Um microcosmo gnotobiótico ou “definido”
contendo três espécies de cultura axênica (isto é, pura). O tubo provê uma área na qual as algas podem multiplicar-se, livres de
pastagem pelo camarão (espera-se que isso previna a pastagem excessiva). III. Um microcosmo “derivado” de um sistema ao ar
livre, mediante semeadura múltipla. O sistema 1 está aberto, e os sistemas 2 e 3 estão fechados a fluxos de materiais, porém
abertos à entrada de energia luminosa e trocas gasosas com a atmosfera. O equilíbrio dos sistemas fechados, se for alcançado,
resultará da regulação do ciclo de nutrientes pela comunidade, em vez de ser obtido por dispositivos mecânicos de controle
(como no quimiostato ou no turbidostato)
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ECOLOGIA
Figura 36 – Extensos ecossistemas experimentais ao ar livre ou “mesocosmos”. A) Uma série de cilindros compridos, na orla da baía de
Narragansett, Rhode Island, EUA, que simula condições e comunidades na baía marinha rasa, proporcionando, assim, oportunidades
para a observação de efeitos de alterações experimentais, como a introdução de poluentes. B) Recipientes plásticos flutuantes (que
se estendem bem abaixo da área da zona fótica) grandes o bastante para manter muitos componentes da coluna d’água (incluindo
peixes pequenos) em uma baía da Columbia Britânica, Canadá
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Unidade III
Para IRGA
(1 l/min)
Plexiaglas: 6,4 mm
Descondensador espes., 16,5 cm diâm.
int x 43,0 cm alt.
Figura 37 – Um microcosmo terrestre de laboratório no qual uma amostra de vegetação e solo de uma comunidade de campo
abandonado está contida em um recipiente transparente. O metabolismo da comunidade é monitorado pela medição contínua do
fluxo de CO2 por meio de um analisador infravermelho de gases (IRGA). Como a perturbação, muitas vezes, altera o monitoramento
da ciclagem mineral, o lixiviado que sai do fundo da coluna de solo pode ser usado como uma medida do impacto da perturbação
• um metabolismo muito mais intenso por unidade de área, exigindo um influxo maior de energia
concentrada (atualmente suprida, na maior parte, por combustíveis fósseis);
• uma grande necessidade de entrada de materiais, como metais para uso comercial e industrial,
além do necessário para a sustentação da própria vida;
• uma saída maior e mais venenosa de resíduos, muitos dos quais são substâncias químicas sintéticas
mais tóxicas do que os seus precursores naturais.
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ECOLOGIA
Desse modo, os ambientes de entrada e saída são relativamente mais importantes para os sistemas
urbanos do que no caso de um sistema autotrófico, como uma floresta.
A
Correntes portadoras
de alimentos em
Corrente aquática por cima do recife horas diferentes
Calor
Calor e Energia Organismos
Energia alimentar dejetos alimentar do recife
em células vegetais Ostras, bivalves, vermes,
carangueijos, cracas, muitas
espécies 57 Energia
kcal/(m2) (dia) térmica
Figura 38 – Ecossistemas heterotróficos. A) Uma “cidade” natural – um recife de ostras, que depende do influxo de energia alimentar
a partir de uma grande área do meio circundante. B) Uma cidade industrializada mantida por um influxo maciço de combustível e
alimentos, com um efluxo, de tamanho correspondente, de efluentes e calor. As necessidades energéticas por metro quadrado ficam
em torno de setenta vezes as do recife, ou seja, umas 4.000 kcal/dia, o que representa aproximadamente 1,5 milhão de kcal por ano
da produção anual da vegetação residencial é exportada para depósitos de lixo ou aterros, como
madeira, folhas e grama cortada. Seria melhor para a sociedade se essa matéria orgânica pudesse
ser incorporada em solos agrícolas e quintais de casas. Felizmente, existe agora uma tendência
nessa direção.
Muita (quantidade
Água de irrigação 0 desconhecida)
A rápida urbanização e o crescimento das cidades nos últimos anos mudaram a fisionomia
da Terra mais do que, provavelmente, qualquer outro resultado da atividade humana em toda a
história. Mesmo nos países economicamente muito pobres, as cidades estão crescendo em um
ritmo muito mais rápido do que a população em geral. As cidades não ocupam uma área tão
grande da paisagem terrestre – apenas de 1% a 5% no mundo inteiro. Alteram, porém, a natureza
de rios, florestas e campos, naturais e cultivados, para não falar na atmosfera e nos oceanos,
por causa do seu impacto sobre os extensos ambientes de entrada e de saída. Uma cidade pode
afetar uma floresta distante não só diretamente, pela poluição atmosférica ou pela demanda por
produtos de madeira, mas também indiretamente, alterando o gerenciamento da floresta. Por
exemplo, uma grande demanda de papel induz uma pressão econômica muito forte, no sentido
de converter uma floresta natural de várias espécies e várias idades em uma plantação de uma
única espécie e de uma única idade, especialmente adaptada para a produção de pasta de papel.
Isso sem citar o consumo de energia pela cidade, a poeira gerada e o calor.
Finalizando, é necessário aos líderes urbanos e rurais colocarem os interesses comuns acima dos
interesses especiais, caso contrário, a administração da cidade como um ecossistema funcional existirá
somente no papel.
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ECOLOGIA
Saiba mais
7.2.5 Agroecossistemas
Ecossistemas agrícolas que apresentam uma dependência energética de regiões distantes e uma
saída que exerce impacto sobre elas, assim como as cidades. Ao contrário das cidades, naturalmente,
os agroecossistemas têm um componente autotrófico, verde, como parte integrante. Diferem dos
ecossistemas naturais ou seminaturais, que utilizam a energia solar e recursos como lagos e florestas,
em três pontos básicos:
• a energia auxiliar que aumenta ou subsidia a entrada de energia solar está sob o controle do
homem, consistindo em trabalho humano e animal, fertilizantes, pesticidas, água de irrigação,
combustível para mover a maquinaria etc.;
• a diversidade de organismos é muito reduzida (novamente pela ação humana), para maximizar a
produção de um determinado alimento ou outro produto;
Em outras palavras, os agroecossistemas são projetados e gerenciados para canalizar uma conversão
máxima de energia solar e de outros tipos de energia em produtos comestíveis, por meio de um duplo
processo: empregando energia auxiliar para executar trabalho de manutenção que, em sistemas naturais,
seria realizado pela energia solar (permitindo, assim, que mais energia solar seja convertida diretamente
em alimento); e pela seleção genética de plantas comestíveis e animais domésticos, adaptados para
otimizar a produção nesse ambiente especializado e subsidiado com energia.
Como ocorre com todo uso intensivo e especializado da terra, além dos benefícios, existem custos,
que incluem a erosão do solo, a poluição pelo escoamento de pesticidas e fertilizantes, o alto custo
dos subsídios de combustível e a aumentada vulnerabilidade às mudanças meteorológicas e às pragas.
Aproximadamente 10% da área terrestre do mundo não coberta de gelo são cultivados, convertidos,
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Unidade III
principalmente, a partir de campos e florestas naturais, e também de desertos e brejos. Mais de 20% da
área terrestre são pastos destinados à produção animal, em vez de vegetal. Assim, aproximadamente
30% do mundo terrestre são dedicados à agropecuária. Recentes análises de compreensão da situação
mundial de alimentos enfatizam que todas as melhores terras, ou seja, as terras mais facilmente
cultivadas com a tecnologia atual, já estão sendo usadas. Estender a agricultura para terrenos adicionais
e menos adequados será muito caro e poderá exigir novos tipos de agroecossistemas. Os princípios do
desenvolvimento de ecossistemas são significativos nas relações entre os seres humanos e a natureza,
porque a tendência de desenvolvimento, em sistemas naturais, de um aumento na estrutura e na
complexidade por unidade de fluxo energético (como se fosse uma estratégia de produção máxima)
contrasta com a meta humana de produção máxima (tentando obter a maior colheita possível). O
reconhecimento da base ecológica desse conflito entre os seres humanos e a natureza é um primeiro
estágio no estabelecimento de políticas racionais de gerenciamento do ambiente.
Lembrete
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A transferência de energia alimentar, desde a fonte, nos autótrofos (plantas), até uma série de organismos
que consomem e são consumidos, chama-se cadeia alimentar ou cadeia trófica. Em cada transferência, uma
proporção da energia potencial perde-se como calor. Portanto, quanto menor a cadeia alimentar, ou quanto
mais próximo o organismo do início da cadeia, maior a energia disponível à população.
As cadeias alimentares são de dois tipos básicos: a cadeia de pastagem, que, começando de uma
base de planta verde, passa por herbívoros que pastam, até carnívoros, podendo ser terrestre ou aquática;
e a cadeia de detritos, que passa de matéria orgânica não viva para micro-organismos e, depois, para
organismos comedores de detritos (detritívoros) e seus predadores.
As cadeias alimentares não são sequências isoladas, estão interligadas. O padrão de interconexões,
com frequência, é denominado rede alimentar ou rede trófica. Em comunidades naturais complexas,
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ECOLOGIA
diz-se que os organismos que obtêm seu alimento por meio de fotossíntese, pelo mesmo número de
estágios, pertencem ao mesmo nível trófico. Assim, as plantas verdes (produtores) ocupam o primeiro
nível; os herbívoros, o segundo nível (consumidores primários); carnívoros primários, o terceiro nível
(consumidores secundários); e carnívoros secundários, o quarto nível (consumidores terciários). Essa
classificação trófica é de função, e não de espécies como tais. Uma dada população de uma espécie pode
ocupar mais de um nível trófico, segundo a fonte da energia assimilada. O fluxo de energia através de
um nível trófico é igual à assimilação total (A) a esse nível, a qual, por sua vez, é igual à produção (P) de
biomassa e matéria orgânica mais a respiração (R).
As cadeias alimentares são relativamente conhecidas por todos, uma vez que nos alimentamos do
peixe que comeu o peixe menor e este se alimentou do zooplâncton, que comeu o fitoplâncton, que ficou
com a energia solar. Podemos também nos alimentar da vaca, que comeu o capim, que fixou a energia
solar; ou podemos usar uma cadeia muito mais curta, comendo o cereal, que fixou a energia solar. No
último caso, o ser humano funciona como consumidor primário no segundo nível trófico. Na cadeia
alimentar capim-vaca-ser humano, funcionamos no terceiro nível trófico (consumidor secundário). Em
geral, os seres humanos tendem a ser consumidores tanto primários como secundários, já que a nossa
dieta, na maioria, compreende uma mistura de alimentos vegetais e animais. Consequentemente, o
fluxo de energia divide-se entre dois níveis tróficos ou mais, na proporção da porcentagem de alimento
vegetal e animal ingerido.
Decompositores
(fungos e bactérias)
Fungos e
bactérias
Consumidor
terciário
Serpente
Consumidor
secundário
Pássaro
Consumidor
primário
Gafanhoto
Produtos
Planta
Figura 39 – Representação esquemática (sem escala) de uma cadeia alimentar terrestre simples:
planta → gafanhoto → pássaro → serpente → fungos e bactérias decompositoras
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Unidade III
Geralmente o leigo não reconhece que se perde energia potencial em cada transferência de
energia. Apenas uma pequena parcela da energia solar disponível é fixada, no início, pela planta.
Em consequência, o número de consumidores, tais como as pessoas, que pode ser sustentado
por uma dada saída de produção primária depende, em grande parte, do comprimento da cadeia
alimentar. Cada elo na nossa cadeia alimentar agrícola tradicional diminui a energia disponível
por cerca de uma ordem de grandeza (ordem de dez). Portanto, um menor número de pessoas
pode ser sustentado quando a dieta contém grandes quantidades de carne. A carne desaparecerá,
ou será muito reduzida, se houver muitas pessoas a serem alimentadas com uma dada base de
produção primária.
Os princípios das cadeias alimentares e o funcionamento das duas leis da termodinâmica estão
representados nos fluxogramas a seguir. Nesses diagramas, os polígonos representam níveis tróficos
sucessivos, e os caminhos ou linhas que os ligam retratam o fluxo energético para dentro e para fora
de cada nível. Os influxos de energia equilibram os efluxos, conforme a exigência da Primeira Lei da
Termodinâmica, e a cada transferência de energia ocorre dispersão de energia em calor não disponível
(a respiração), conforme dita a segunda lei.
Um modelo muito simples de fluxo energético para os três níveis tróficos foi apresentado
no fluxograma e introduz as notações-padrão para os vários fluxos, ilustrando a maneira pela
qual o fluxo energético se reduz substancialmente a cada nível sucessivo, independentemente
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ECOLOGIA
Luz total
A
PB ou A PL E A
E e LA P E P
Calor R R R
Figura 41 – Diagrama simplificado de fluxo energético mostrando três níveis tróficos (compartimentos 1, 2 e 3) em uma cadeia
alimentar linear. A notação-padrão para os fluxos sucessivos de energia é a seguinte: E, entrada total de energia; LA, luz absorvida
pela cobertura vegetal; PB, produção primária bruta; A, assimilação total; PL, produção primária líquida; P, produção secundária (de
consumidores); NU, energia não utilizada (armazenada ou exportada); NA, energia não assimilada pelos consumidores (egerida); R,
respiração. A linha embaixo do diagrama mostra a ordem de grandeza das perdas energéticas esperadas nos principais pontos de
transferência, a partir de uma entrada solar de 3 mil quilocalorias por metro quadrado por dia
A porção da energia da produção líquida que flui ao longo dos dois caminhos varia em
diferentes tipos de ecossistema e, muitas vezes, varia anualmente ou com a estação, dentro do
mesmo ecossistema. Entretanto, em todos os ecossistemas, as cadeias de pastagem e de detritos
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Unidade III
estão interligadas, de modo que mudanças podem ocorrer rapidamente nos fluxos em resposta
a entradas de funções motrizes de fora do sistema. Todo o alimento ingerido por animais de
pasto não é realmente assimilado; uma parte (por exemplo, o material não digerido nas fezes) é
desviada para a cadeia de detritos. O impacto do animal de pasto sobre a comunidade depende
da velocidade com que ele remove o material vivo, e não apenas da quantidade de energia
assimilada do alimento. O zooplâncton marinho frequentemente “pasta” uma quantidade maior
de fitoplâncton do que consegue assimilar, sendo o excesso egerido para a cadeia de detritos.
Herbívoros
Predadores
Plantas Cadeia de
pastagem
Luz solar
Cadeia de
Consumidores detritos
de detritos Predadores
O caminho de detritos está subdividido em três fluxos, um fluxo da matéria orgânica particulada
(MOP) e outros dois fluxos da matéria orgânica dissolvida (MOD). Fungos como micorrizas, pulgões,
parasitos e agentes patogênicos extraem ativamente o fotossintato direto do sistema vascular ou dos
tecidos vegetais, enquanto a maioria dos micro-organismos saprotróficos utiliza a MOD, que exsuda
ou “vaza” das células, das raízes etc. Estudos recentes mostraram que esses dois caminhos podem ser
responsáveis por grande proporção do fluxo energético total no oceano e em florestas que tenham
sistemas de micorrizas dissolvidos.
Duas cadeias alimentares que formam subsistemas distintos estão restritas, em grande parte, a
ecossistemas terrestres ou de águas rasas. A cadeia alimentar granívora origina-se das sementes,
fontes energéticas de alta qualidade e que são itens importantes na dieta tanto de animais como de
seres humanos. A cadeia alimentar nectarívora origina-se do nectário das plantas com flores que
dependem dos insetos e de outros animais para a polinização. O caminho anaeróbio (sem a presença
de oxigênio) apresenta-se como uma via separada, ao lado dos fluxos de pastagem direta da MOD e da
MOP. Todos os quatro caminhos de fluxo energético são importantes, mas permanece desconhecida a
quantidade exata de energia primária que passa por cada uma das quatro vias nos diferentes tipos de
ecossistemas.
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ECOLOGIA
A
Cadeias alimentares
Matéria orgânica
dissolvida (5)
(MOD)
Néctar (6)
B
Matéria vegetal
Anaeróbia
MOP Compostos
MOD inorgânicos reduzidos
Pastagem direta
Micróbios Bactérias
quimiolitotróficas
Consumidores
Figura 43 – Modelos de cadeias alimentares de caminhos múltiplos com aplicação especial para ecossistemas terrestres (A) e para
ecossistemas aquáticos (B). (MOD – matéria orgânica dissolvida; MOP – matéria orgânica particulada)
os diferentes tipos de ecossistemas, são componentes muito importantes para determinar a sua
funcionalidade.
Por meio dos componentes bióticos, iniciando pelos produtores, começa a incorporação da energia
solar, transformando-se em energia térmica, e assim por diante. Juntamente com a incorporação de
energias ao longo da cadeia alimentar, há uma intensa ciclagem de nutrientes, de inorgânicos para
orgânicos, tudo isso promovendo a vida e sua continuidade.
Saiba mais
Todas as entidades biológicas necessitam de matéria para sua construção e de energia para suas
atividades, não apenas para os organismos individualmente, mas para as populações e comunidades
que eles formam na natureza. A importância intrínseca dos fluxos de energia e de matéria significa que
os processos das comunidades são fortemente vinculados ao ambiente abiótico. Energia é a capacidade
de realizar trabalho.
Nós, humanos, consumimos uma grande proporção da produção biológica da Terra. A cada ano,
plantas, algas e bactérias fotossintetizantes coletam bastante energia da luz do Sol, para fazer 224
bilhões de toneladas de biomassa seca. Aproximadamente 59% dessa biomassa são produzidos nos
ecossistemas terrestres. A produção terrestre, uma fração impressionante de 35% a 40%, é usada pelos
humanos, seja diretamente, como alimento e cultivos de fibras, seja indiretamente, como alimento dos
animais.
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ECOLOGIA
Os oceanos, uma fonte de alimento para as pessoas que vivem próximas à costa, estão agora
proporcionando alimentos para grande parte da população humana ao redor do mundo. Em 1950, a
captura total de peixes e outros frutos do mar foi de cerca de 20 milhões de toneladas. A captura total
aumentou para 75 milhões de toneladas em 1980 e agora se estabilizou em cerca de 90 milhões de
toneladas anualmente. A produção anual pelas fazendas de peixes aumentou de 5 milhões de toneladas,
em 1980, para mais de 40 milhões de toneladas, atualmente.
Quanto da produção das algas nos oceanos é exigido para sustentar os pesqueiros dos quais nós
dependemos? Podemos esperar coletar ainda mais dos oceanos? Em 1995, dois ecólogos marinhos,
Daniel Pauly e Villy Christensen, trabalhando no International Center For Living Aquatic Resources
Management (Centro Internacional para Gestão dos Recursos da Vida Aquática), nas Filipinas, pensaram
em aplicar seus conhecimentos de fluxo de energia nos ecossistemas naturais a essas questões.
Pauly e Christensen (1995) assumiram que, a cada passo na cadeia alimentar, que leva desde as
algas microscópicas até os peixes que comemos, cerca de 90% da energia consumida são usados para
manter o consumidor. Isso significa que somente 10% são convertidos, por meio do crescimento e
da reprodução, em biomassa, e, assim, em alimento potencial para outros organismos. Dos estudos
de dieta de organismos marinhos, os ecólogos estimaram que o número de passos de alimentação
levando das algas até os peixes varia, em média, de 1,5 para ecossistemas costeiros e de recifes até 3
para o oceano aberto. Conhecendo o número de passos de alimentação e assumindo uma eficiência
de transferência de energia de 10% por passo, eles fizeram cálculos simples para converter os peixes
coletados em quantidades de algas necessárias para sustentá-los. Usando dados desde a década de
1980, eles mostraram que, para os pesqueiros na costa, que produzem uma parte dos alimentos do
mar consumida pelos humanos, o crescimento de algas exigido para sustentar a coleta chegou de
24% a 35% da produção total do ecossistema. Como não comemos tudo o que cresce no mar, Pauly e
Christensen (1995) sugeriram que a coleta humana poderia estar se aproximando de seu limite superior
– uma previsão sustentada pela subsequente estabilização da captura de peixes selvagens. Somente no
oceano aberto, onde exploramos de forma ineficiente os pesqueiros altamente dispersos, no fim de uma
longa cadeia alimentar, usurpamos uma fração pequena (cerca de 2%) da produção total.
Sol
Energia dissipada nos diferetentes níveis tróficos
Energia
Produtor
Consumidor
Primário Consumidor
Secundário Decompositores
Figura 44 – Representação esquemática (sem escala) da transferência unidirecional de energia que ocorre nas cadeias
alimentares. A energia é gradualmente dissipada ao passar pelos níveis tróficos
89
Unidade III
Lembrete
Durante a primeira metade do século XX, um químico chamado Alfred Lotka (1880-1949), estudando
sistemas ecológicos, considerou as populações de comunidades como sistemas transformadores
de energia. A transformação de energia mais fundamental nesses sistemas é a conversão da luz em
energia química pela fotossíntese. As transformações de energia adicionais acontecem à medida que
os herbívoros convergem a energia dos compostos de carbono em plantas e outros autótrofos em
energia que eles podem usar para seus próprios metabolismo, atividade, crescimento e reprodução.
Analogamente, os carnívoros utilizam a energia dos compostos de carbono contidos em suas presas.
As ideias de Lotka sobre os ecossistemas, publicadas em 1925, não foram muito compreendidas
nem apreciadas naquela época. Permaneceu assim até que Raymond Lindeman (1915-1942), um jovem
ecólogo aquático da Universidade de Minnesota, EUA, trouxesse o conceito do ecossistema como um
sistema transformador de energia para a atenção de muitos ecólogos. Em sua publicação de 1942, a
estrutura para compreender os sistemas ecológicos com base em princípios de termodinâmica causou
profunda impressão. Ele adotou a noção de Tansley do ecossistema como unidade fundamental na
ecologia e o conceito de Elton de cadeia alimentar, incluindo os nutrientes inorgânicos na base, como
as expressões mais úteis da estrutura do ecossistema.
A cadeia alimentar pela qual a energia passa através do ecossistema tem muitas conexões – plantas,
herbívoros e carnívoros, por exemplo –, as quais Lindeman denominou de níveis tróficos. Além disso,
ele visualizou uma pirâmide de energia dentro do ecossistema com menos energia atingindo cada nível
trófico sucessivamente acima. Também argumentou que a energia era perdida em cada nível trófico em
razão do trabalho executado pelos organismos naquele nível e da ineficiência das transformações das
energias biológicas. Assim, as plantas coletam somente uma parte da energia da luz disponível do Sol. Os
herbívoros coletam ainda menos daquela energia, porque as plantas usam uma parte do que assimilam
para se manter, e essa parte não está disponível para eles como biomassa de planta. O mesmo pode ser
dito dos consumidores secundários que se alimentam dos herbívoros e de cada nível sucessivamente
90
ECOLOGIA
mais alto da cadeia alimentar. A maior parte da energia no alimento que consumimos é usada para nos
mantermos e torna-se pouca biomassa para o próximo nível trófico na cadeia alimentar.
Segundo carnívoro
Primeiro carnívoro
Herbívoros
Plantas
Figura 45 – Lindeman visualizou uma pirâmide de energia no ecossistema. A largura de cada barra representa a
quantidade de energia em cada nível trófico. Energia é perdida, a cada transferência, para um nível trófico superior
• Primeira Lei da Termodinâmica ou Lei da Conservação da Energia: diz que a energia pode ser
transformada de um tipo em outro, mas não pode ser criada nem destruída. A luz, por exemplo,
é um tipo de energia, pois pode ser transformada em trabalho, calor etc. Outro exemplo é uma
hidrelétrica. As quedas de água geram energia potencial, transformada em energia mecânica,
transformada, por sua vez, em energia elétrica. Assim, a energia muda de um tipo para outro, mas
não é criada nem destruída. Não se inventa energia, não se fabrica energia.
• Segunda Lei da Termodinâmica ou Lei da Entropia: diz que nenhum processo que implique uma
transformação de energia ocorrerá espontaneamente, a menos que haja degradação da energia
de forma menos concentrada para uma forma dispersa. O calor de um objeto quente, por exemplo,
tenderá espontaneamente a se dispersar no ambiente mais frio. A Segunda Lei da Termodinâmica
pode ser expressa também do seguinte modo: já que alguma energia sempre se dispersa em
energia térmica não disponível, nenhuma transformação espontânea de energia (por exemplo,
91
Unidade III
a luz) em energia potencial (por exemplo, o protoplasma) é 100% eficiente. A entropia é uma
medida de energia não disponível que resulta de transformações. O termo também é usado como
índice geral da desordem associada à degradação da energia.
Estado inicial Estado final
Bicos de cobre
Figura 46 – Algumas ilustrações da Segunda Lei da Termodinâmica. Em cada caso, uma quantidade de energia – no bloco de
cobre quente, nas partículas do soluto, em um lado de um tanque e nos livros arrumados – é dissipada. Na natureza, os processos
orientam-se aos estados aleatórios, ou desordem. Apenas um fornecimento de energia pode reverter essa tendência e reconstruir o
estado inicial a partir do final. Neste, contudo, a desordem irá prevalecer, porque a quantidade total de energia no universo é finita
92
ECOLOGIA
Sol
Figura 47 – Ilustração das duas leis da termodinâmica – conversão de energia solar em energia alimentar (açúcares) pela
fotossíntese. A – B + C (primeira lei); C é sempre menor que A, em virtude da dissipação durante a conversão (segunda lei)
As várias formas de vida estão todas acompanhadas por mudanças energéticas, apesar de
nenhuma energia ser criada nem destruída (Primeira Lei da Termodinâmica). A energia que chega à
superfície terrestre como luz é equilibrada pela energia que sai da superfície como radiação térmica.
A essência da vida reside na progressão de tais mudanças, como o crescimento, a autoduplicação
e a síntese de relações complexas de matéria. Sem as transferências de energia, que acompanham
todas essas mudanças, não poderia haver nem a vida, nem os sistemas ecológicos. A civilização
é apenas uma das extraordinárias proliferações naturais que dependem do influxo constante da
energia concentrada. Se a civilização se tornasse um sistema fechado, pela sua incapacidade de
obter e armazenar uma quantidade suficiente de energia de alta utilidade, ela logo se tornaria
desordenada, conforme dita a segunda lei.
Os ecologistas investigam como a luz está relacionada com os sistemas ecológicos e como a
energia é transformada dentro do sistema. Assim, as relações entre vegetais produtores e animais
consumidores, entre predador e presa, sem mencionar quantidades e tipos de organismos em um
dado ambiente, são todas limitadas e controladas pelo fluxo de energia, de formas concentradas a
dispersadas. Os ecologistas interessam-se especialmente em como se transformam o combustível,
a energia atômica e outras formas de energia concentrada nas sociedades industriais. Portanto,
as mesmas leis básicas que regem os sistemas não vivos, como motores elétricos e automóveis,
também regem todos os tipos de ecossistemas. A diferença é que os sistemas vivos utilizam
uma parte da sua energia disponível internamente para o autoconserto e para a “expulsão” da
desordem, enquanto as máquinas têm de ser consertadas e substituídas com o uso de energia
externa.
93
Unidade III
Atualmente a Terra está longe de um estado energético estável, porque enormes diferenças de
energia potencial e de temperatura são mantidas em razão do influxo contínuo de energia luminosa
solar. Contudo, o processo de ir em direção ao estado estável é responsável pela sucessão de mudanças
energéticas que constituem fenômenos naturais no planeta. A situação é parecida com a de uma pessoa
que aciona um moinho, andando dentro de uma roda vertical: a pessoa nunca chega ao final da roda,
mas o esforço para chegar resulta em processos bem-definidos. Assim, quando a energia solar atinge
a Terra, ela tende a ser degradada em energia térmica. Somente uma parte muito pequena da energia
luminosa absorvida pelas plantas verdes é transformada em energia potencial ou alimentar; a maioria
vira calor, o qual logo passa para fora da planta, do ecossistema e da biosfera. O restante do mundo
biológico obtém a sua energia química potencial das substâncias orgânicas produzidas pela fotossíntese
vegetal ou pela quimiossíntese de micro-organismos.
Um animal, por exemplo, consome a energia química potencial do alimento e converte grande parte
em calor, para permitir que uma pequena parte da energia seja restabelecida como a energia química
potencial de protoplasma novo. A cada passo da transferência de energia de um organismo para outro,
grande parte da energia degrada-se em calor. Entretanto, a entropia não é toda negativa. À medida
que diminui a quantidade de energia disponível, a qualidade do restante pode ser consideravelmente
melhorada.
A energia tem qualidade, além de quantidade. As calorias não são iguais porque as mesmas
quantidades de energia, de formas diferentes, variam amplamente no seu potencial de
trabalho. Mede-se a qualidade de energia pela energia usada na transformação, ou, mais
especificamente, pela quantidade de um tipo de energia necessária para desenvolver outro
tipo, em uma cadeia de transformações energéticas, como numa cadeia alimentar. É a medição da
capacidade da fonte de energia de realizar trabalho útil. À medida que a quantidade de energia
declina numa cadeia, a qualidade da energia realmente convertida na nova forma aumenta
proporcionalmente a cada passo. Em outras palavras, à medida que se degrada a quantidade,
eleva-se a qualidade.
de energia pela energia usada na transformação, ou, mais especificamente, pela quantidade de um tipo
de energia necessário para desenvolver outro tipo, em uma cadeia de transformações energéticas, como
uma cadeia alimentar ou uma cadeia de conversões energéticas que levam à geração de eletricidade.
Consequentemente, à medida que a quantidade declina em uma cadeia, a qualidade da energia realmente
convertida na nova forma aumenta.
De uma perspectiva humana, a fotossíntese é o processo mais importante que ocorre na Terra.
Durante sua ocorrência, plantas, algas e bactérias fotossintetizantes são capazes de “tirar proveito do
Sol”, utilizando a energia radiante para converter moléculas simples – dióxido de carbono e água – em
moléculas orgânicas complexas que podem ser utilizadas, igualmente, por plantas e animais, como
fontes de energia e de moléculas estruturais. Além disso, a fotossíntese libera oxigênio para o ar que
respiramos, e é esse oxigênio que exerce papel importante na respiração celular e na síntese de ATP
(adenosina trifosfato). Portanto, sem a fotossíntese, plantas e animais, incluindo os seres humanos,
ficariam sufocados e passariam fome.
A fotossíntese é a via pela qual virtualmente toda a energia entre em nossa biosfera. A cada ano, mais
de 250 bilhões de toneladas de açúcar são produzidas, no mundo, pelos organismos fotossintetizantes. A
importância da fotossíntese, contudo, estende-se além do peso absoluto desse produto. Sem esse fluxo
de energia solar canalizado, principalmente, pelos cloroplastos das células eucarióticas, o ritmo da vida
no planeta iria diminuir rapidamente e, então, cessaria quase completamente.
A importância da fotossíntese na economia da natureza não havia sido reconhecida até um período
relativamente recente. Aristóteles e outros gregos, observando que o processo de vida dos animais era
dependente dos alimentos consumidos, acreditavam que as plantas obtinham seu alimento diretamente
do solo.
95
Unidade III
No final do século XVIII, o cientista e pastor inglês Joseph Priestley (1733-1804) relatou que
acidentalmente havia encontrado um método de restaurar o ar que tinha sido prejudicado pela
queima de velas. No dia 17 de agosto de 1771, ele colocou um ramo de hortelã (vivo) no ar em que
uma vela de cera havia sido queimada e descobriu que, no dia 27 do mesmo mês, outra vela poderia
ser acesa no mesmo ar. O agente empregado pela natureza com o propósito restaurador, segundo ele,
era a vegetação. Priestley ampliou suas observações e logo demonstrou que o ar “restaurado” pela
vegetação não era “totalmente” inconveniente para um camundongo. Seus experimentos ofereceram
as primeiras explicações lógicas de como o ar se mantinha “puro” e capaz de dar suporte à vida, apesar
da queima de chamas incontáveis e da respiração de muitos animais. Quando ele foi agraciado com
uma medalha por sua descoberta, em um trecho de seu discurso afirmava que por essas descobertas
podemos assegurar que nenhuma planta cresce em vão, mas limpa e purifica a nossa atmosfera. Hoje
poderíamos simplesmente explicar os experimentos de Priestley dizendo que as plantas absorvem o
CO2 produzido pela combustão ou liberado pelos animais, e que os animais absorvem o O2 liberado
pelas plantas.
Pouco tempo depois, o médico holandês Jan Ingenhousz (1730-1799) confirmou os trabalhos de
Priestley e demonstrou que o ar era “restaurado” somente na presença da luz do Sol e apenas pelas partes
verdes da planta. Em 1796, Ingenhousz sugeriu que o dióxido de carbono é quebrado na fotossíntese
para liberar carbono e oxigênio, sendo este liberado sob a forma de gás. Posteriormente, descobriu-se
que a proporção de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio nos açúcares e no amido era por volta
de um átomo de carbono por molécula de água (CH2O), como indica a palavra “carboidrato”. Portanto,
na reação geral da fotossíntese:
O pesquisador que colocou em dúvida essa teoria foi Cornelius Bernardus van Niel (1897-1985). Ele
propôs a seguinte equação genérica para a fotossíntese:
Niel propôs que a água – e não o dióxido de carbono – era a fonte de oxigênio na fotossíntese.
Em 1937, Robin Hill (1899-1991) demonstrou que, quando expostos à luz, os cloroplastos
isolados eram capazes de produzir O2 na ausência de CO2. Essa liberação de O2 dirigida pela luz
na ausência de CO2, chamada de reação de Hill, ocorria somente quando os cloroplastos eram
iluminados e supridos com um receptor de elétrons artificial. Tal descoberta corroborou, seis anos
depois, a proposta de van Niel.
96
ECOLOGIA
A evidência mais convincente de que o O2 liberado na fotossíntese era derivado de H2O ocorreu em
1941, quando pesquisadores utilizaram isótopos pesados de oxigênio para seguir o oxigênio da água até
a forma gasosa.
Por fim, o fisiologista vegetal inglês chamado Frederick Frost Blackman (1866-1947) demonstrou em
seus experimentos que a fotossíntese apresenta duas fases: uma dependente da luz e outra não.
As muitas reações que ocorrem durante a fotossíntese são divididas em dois processos: reações
de transdução de energia e reações de fixação do carbono. Frequentemente as reações de transdução
de energia são consideradas luminosas (ou dependentes da luz), em razão da importância da luz
nessas reações. Tradicionalmente as reações de fixação do carbono são referidas como de escuro, ou
independentes da luz.
A concentração de gás carbônico no ar atmosférico, cujo volume atualmente oscila entre 0,03% e
0,04%, é bem inferior à quantidade que a planta seria capaz de utilizar na fotossíntese. Isso pode ser
demonstrado submetendo-se uma planta a concentrações crescentes de gás carbônico no ar ao seu
redor, mantidas as condições ideais de luminosidade e de temperatura. Nessa situação, verifica-se que
a taxa de fotossíntese aumenta proporcionalmente à concentração de CO2, até esta atingir 0,3%, cerca
de dez vezes a concentração atmosférica normal; a partir daí, o aumento na concentração de CO2 não
determina nenhum aumento na taxa de fotossíntese. Portanto, no ambiente natural, em condições
ideais de luminosidade e de temperatura, a planta só não realiza a taxa máxima de fotossíntese porque
não há gás carbônico suficiente na atmosfera. Diz-se, então, que o CO2 atua como fator limitante do
processo de fotossíntese.
10
Intensidade Luz
6
Luz Absorvida
4 Intensidade Cloroplasto Grana
luminosa baixa
2
8 absorção de luz
pela clorofila
PSL
6
4
Figura 48 – À esquerda, gráficos que mostram o efeito do aumento da temperatura (A) e da intensidade luminosa (B) sobre a
fotossíntese. (C): representação esquemática dos comprimentos de onda mais absorvidos pela clorofila. As cores de luz mais
absorvidas são azul e vermelho, e a menos absorvida e, portanto, mais refletida é a luz de cor verde. O gráfico, na parte inferior do
esquema, é denominado curva ou espectro de absorção de luz pela clorofila e mostra as quantidades relativas de energia absorvida
em cada comprimento de onda
A planta utiliza parte dos produtos da fotossíntese como fonte de energia para o funcionamento
de suas células. Isso ocorre por meio da respiração celular, processo bioquímico em que moléculas
orgânicas e de oxigênio se combinam, originando gás carbônico, água e energia. Assim, as equações
gerais da respiração e da fotossíntese são inversas:
Durante o dia, a planta faz fotossíntese, consumindo gás carbônico e produzindo oxigênio, cuja
maior parte é eliminada para a atmosfera através dos estômatos. Ao mesmo tempo que faz fotossíntese,
a planta respira; nesse processo, utiliza parte do oxigênio produzido na fotossíntese.
Ao respirar, a planta libera gás carbônico, que é imediatamente utilizado para a fotossíntese. À noite,
ela deixa de fazer fotossíntese, mas não de respirar, absorvendo o oxigênio acumulado no mesófilo e
produzindo gás carbônico pela respiração. Esse gás é rapidamente consumido na fotossíntese, logo que
amanhece.
98
ECOLOGIA
Taxa de fotossíntese
consumida na fotossíntese
consumida na fotossíntese
Quantidade de CO2
Quantidade de CO2
4 4
Ponto de compensação
luminosa (fótico)
Taxa de respiração
2 2
0 2 4 6
Intensidade luminosa
Figura 49 – Gráfico que representa o efeito da luminosidade sobre as taxas de fotossíntese e respiração em uma planta
Para poder crescer, as plantas precisam receber, pelo menos algumas horas por dia, a intensidade
de luz superior ao seu ponto de compensação luminosa; caso contrário, não haverá matéria orgânica
disponível para o crescimento.
O ponto de compensação luminosa varia nas diferentes plantas. Espécies com pontos de
compensação elevados só conseguem viver em locais de alta luminosidade, sendo, por isso, chamadas
de plantas heliófilas ou plantas de sol. Espécies com pontos de saturação de compensação luminosa
baixos necessitam de intensidades menores de luz e vivem em ambientes sombreados, sendo chamadas
de plantas umbrófilas ou plantas de sombra.
99
Unidade III
No entanto, a eliminação da desordem associada a essa fonte tem dado problemas até agora, sendo
o seu futuro imprevisível. Ao se considerarem as fontes potenciais, é preciso lembrar que, sem exceção,
a energia tem de ser gasta para se desenvolver e manter um fluxo de energia aproveitável a partir
de uma fonte. Consequentemente, as melhores fontes são aquelas que prometem a maior produção
líquida de energia, ou seja, a maior quantidade de energia disponível para o trabalho, depois de pagos os
necessários custos energéticos. A adequação da qualidade da fonte e o uso são a segunda consideração
importante.
O dinheiro tornou-se força importante na civilização; representa um fluxo em sentido oposto ao fluxo
energético, pois sai das cidades e fazendas em troca da energia e dos recursos que entram. Ao contrário
da energia, porém, o dinheiro circula. Na teoria, pelo menos, pode ser convertido em unidades de energia
corrigidas segundo a qualidade (por exemplo, calorias), a fim de se estabelecer um valor monetário para
os bens e serviços da natureza. Uma limitação dos sistemas econômicos atuais, de qualquer ideologia
política, está nos que lidam principalmente com bens e serviços produzidos pelo homem, deixando
100
ECOLOGIA
sem preço e subvalorizados (isto é, externos ao sistema monetário) os igualmente importantes bens e
serviços naturais que sustentam a vida na Terra. De modo geral, ecologistas e economistas concordam
que é urgente a abolição das diferenças entre valores do mercado e valores que não são do mercado (ou
corrigir-se, em outras palavras, a falha do mercado no que se refere aos bens e serviços da natureza),
pois cada um desses dois conjuntos de valores depende do outro.
8.1 Produtividade
A luz do Sol é a fonte de energia, em última instância, da maior parte do que é orgânico, incluindo
as necessidades de energia da sociedade humana. Os combustíveis fósseis, tais como o óleo e o carvão,
originam-se dos restos de organismos acumulados em milhões de anos como depósitos de matéria
orgânica na crosta terrestre. A luz do Sol determina as correntes de ar, que cada vez mais coletamos
como energia eólica, e evapora a água, que, por fim, cai como chuva e enche os rios que represamos
para obter energia hidrelétrica. Sem a energia do Sol, os sistemas biológicos não existiriam como nós os
conhecemos, nem nós existiríamos para saber de sua inexistência.
Quase 99% de toda a biomassa terrestre são constituídos de plantas. A fotossíntese é o processo de
transformação de energia solar em energia química. As plantas respiram; então, parte da energia obtida
é gasta na respiração.
PPL = PPB - R,
101
Unidade III
A PPL mede a velocidade na qual os produtores podem fornecer o alimento de que os demais
organismos (consumidores) necessitam. Observe a distinção entre a produtividade primária bruta e
a produtividade primária líquida. A planta utiliza parte de sua PPB para sobreviver, na sua própria
respiração. A energia remanescente fica disponível aos consumidores.
Foto
ssín
se te
Energia perdida e
Respiração não disponível aos
consumidores
Produção
primária bruta Produção primária
líquida (energia
Crescimento e reprodução disponível para os
consumidores)
A produção primária varia com a latitude. A combinação favorável de intensidade solar, temperaturas
altas, chuvas abundantes e muitos nutrientes na maior parte dos trópicos úmidos resulta na mais alta
produtividade da Terra. Nos ecossistemas temperados e polares, as baixas temperaturas e as longas
noites de inverno reduzem a produção.
102
ECOLOGIA
A massa total de matéria orgânica contida em um ser vivo (ou em um conjunto de seres vivos) é a
sua biomassa. A quantidade de biomassa é diretamente proporcional à quantidade de energia química
potencial disponível nas moléculas orgânicas. Assim, a biomassa de cada nível trófico em uma cadeia
ou teia alimentar pode ser representada por gráficos em forma de pirâmides chamados de pirâmides
de energia. Nesse tipo de gráfico, a base corresponde ao nível trófico dos produtores, e, em sequência,
rumo ao ápice, são representados os níveis dos consumidores primários, dos consumidores secundários e
assim por diante. A largura de cada nível no gráfico representa a quantidade de energia disponível para
o nível trófico seguinte.
A C2
C1
8,3 kcal
B
Nível dos consumidores
primários (C1)
1.190 kcal
14.900 kcal
Nível dos produtores (P)
Figura 51 – Uma pirâmide de energia mostra a quantidade de energia química potencial disponível em cada nível
trófico de um ecossistema. As representações podem ser tanto planas quanto tridimensionais
Outro tipo de representação gráfica denominada pirâmide de números é utilizado para indicar a
quantidade de indivíduos existentes em cada nível trófico de uma cadeia alimentar. Por exemplo, na
cadeia formada por capim, gafanhotos e sapos, uma pirâmide de números mostra a quantidade de
plantas que constituem o nível dos produtores, a quantidade de gafanhotos no nível dos consumidores
primários e a quantidade de sapos no nível dos consumidores secundários. Eventualmente, se houver
apenas um produtor de grande porte (uma árvore, por exemplo) e muitos consumidores secundários
(lagartas de borboletas, por exemplo), o gráfico não terá formato de pirâmide, apesar de receber essa
denominação.
103
Unidade III
A B
C2 30 C2 20
sapos pássaros
C1 700 C1 700
gafanhotos lagartas
P 5.000 plantas de capim P 1
árvore
Consumidor Consumidor
secundário secundário
Consumidor Consumidor
primário primário
Produtor Produtor
Figura 52 – Representação esquemática, sem escala, de duas cadeias alimentares com as correspondentes pirâmides de números.
A) A forma típica de pirâmide, com base larga e ápice estreito, representa cadeias alimentares nas quais os produtores são plantas
pequenas (capim, por exemplo) e os herbívoros e predadores são relativamente grandes. B) No gráfico representativo de cadeias
alimentares em que os produtores são de grande porte (uma árvore, por exemplo) e os herbívoros são relativamente pequenos
(lagartas, por exemplo), a base do gráfico é reduzida e não apresenta forma de pirâmide
Quando as plantas e os animais morrem, seus corpos tornam-se recursos para outros organismos.
Naturalmente, em certo sentido, a maioria dos consumidores vive de matéria morta – o carnívoro
captura e mata sua presa, e a folha viva apreendida por um herbívoro está morta no momento em que
a digestão se inicia. Os herbívoros, os carnívoros e os parasitos se distinguem de forma decisiva dos
organismos decompositores e detritívoros por afetarem diretamente a taxa com que seus recursos são
produzidos. Seja um leão devorando uma gazela, uma gazela comendo ervas ou as ervas parasitadas
por fungos causadores de ferrugem, a ação de capturar o recurso prejudica sua capacidade de gerar
novos recursos (mais gazelas ou mais folhas de ervas). Diferentemente desses grupos, os saprótrofos
(organismos que utilizam matéria orgânica morta) não controlam a taxa com que seus recursos se
tornam disponíveis ou se regeneram; eles dependem da taxa com que alguma outra força (senescência,
doença, luta, queda das folhas das árvores) libera o recurso do qual vivem.
104
ECOLOGIA
Por fim, as fezes dos animais, sejam elas produzidas por detritívoros, herbívoros, carnívoros ou
parasitos, constituem outra categoria de recursos para decompositores e detritívoros. São formadas por
de matéria orgânica morta, quimicamente relacionada com o alimento dos seus produtores.
Caso os detritívoros não removam um recurso imediatamente após a sua morte (como as hienas
consumindo uma zebra morta), o processo de decomposição costuma iniciar-se com a colonização por
bactérias e fungos. Ao mesmo tempo, há possibilidade de ocorrer outras mudanças: as enzimas dos
tecidos mortos podem começar a autólise e decompor os carboidratos e as proteínas até formas mais
simples e solúveis. A matéria morta também pode ser lixiviada (carregada) pela chuva ou, em ambientes
aquáticos, perder minerais e compostos orgânicos solúveis, à medida que estes forem dissolvidos na
água.
As bactérias e os esporos dos fungos são onipresentes no ar e na água e, em geral, estão presentes
sobre a matéria (e, com frequência, no interior dela), mesmo antes que esteja morta. Costumam ser os
primeiros a ter acesso a um recurso. Esses colonizadores iniciais tendem a usar materiais solúveis, em
105
Unidade III
especial, aminoácidos e açúcares que se difundem livremente. Carecem do rol de enzimas necessárias
para digerir matérias estruturais, como a celulose, a lignina, a quitina e a queratina. Muitas espécies
de Penicillum, Mucor e Rhizopus, os chamados fungos do açúcar, no solo, crescem com rapidez nas
fases iniciais da decomposição. Juntamente com as bactérias que possuem fisiologias oportunistas
semelhantes, eles tendem a apresentar explosões populacionais sobre os substratos mortos recentemente.
À medida que os recursos livres disponíveis são consumidos, essas populações entram em colapso,
deixando densidades muito altas de estágios residuais, a partir dos quais podem ocorrer novas explosões
populacionais, tão logo se torne disponível outro recurso recém-morto.
Figura 53 – Os fungos são decompositores eficazes. Os cogumelos produzidos pelo fungo moita-de-enxofre (Hypholoma fasciculare),
na Bélgica, são corpos de frutificação produzidos pelas invisíveis e muito maiores massas de hifas filamentosas que penetram na
madeira em decomposição e nas folhas da serrapilheira
Observação
Frutos caídos, por exemplo, são facilmente explorados por muitos tipos de consumidores oportunistas,
incluindo aves, insetos e mamíferos. Porém, como todos os detritos, os frutos em decomposição têm
uma microflora associada, nesse caso, dominada principalmente por leveduras. As moscas-das-frutas
(Drosophila sp.) se especializam em alimentos dessas leveduras e em seus subprodutos. Tem-se, então,
de acordo com estudos realizados na Austrália, drosófilas com preferências por determinadas categorias
de frutas e hortaliças em decomposição. Exemplos: Drosophila hydei e D. immigrans preferem melões;
D. busckii é especializada em hortaliças em decomposição; e D. simulans consome uma variedade de
frutos.
Uma grande proporção da matéria orgânica morta nos solos e em sedimentos aquáticos
provavelmente consista em fezes de invertebrados, que os detritívoros costumam incluir em suas
106
ECOLOGIA
dietas. Em alguns casos, pode ocorrer, inclusive, a reingestão das próprias fezes, ou seja, o detritívoro
ingere suas próprias fezes como recurso alimentar. Esse fato recebe o nome de coprofagia.
Fluxo de B para A
A B
(a)
Fluxo de A para B
Atmosfera
A
Precipitação Evaporação
Fluxo de A para B Fluxo de B para A
Fluxo de B para C
Figura 54 – Partes básicas de um ciclo bioquímico. a) A e B são compartimentos de armazenamento. Os elementos químicos
fluem de um compartimento para outro. b) Alguns componentes do ciclo hidrológico
Um ciclo biogeoquímico é geralmente esquematizado para um único elemento químico; porém, por
vezes, é também esquematizado para um composto – por exemplo, a água (H2O).
107
Unidade III
Os macronutrientes, por sua vez, incluem os seis principais elementos que formam os tijolos
fundamentais para a existência de vida: o carbono, o hidrogênio, o nitrogênio, o oxigênio, o fósforo e o
enxofre. Cada um deles exerce papel especial nos organismos. O carbono é o tijolo básico dos compostos
orgânicos. Juntamente com o oxigênio e o hidrogênio, o carbono forma os carboidratos. O nitrogênio,
com esses três outros componentes, forma as proteínas. O fósforo é o elemento energético que ocorre
nos compostos chamados ATP e ADP, fundamentais na transferência e na utilização da energia no
interior das células.
Grupo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
1
2
3
Período
4
5
6
7
Lantanídeos
Actinídeos
Somando-se aos seis principais elementos, outros macronutrientes também exercem papéis
importantes. O cálcio, por exemplo, é o elemento estrutural, presente nos ossos dos vertebrados, nas
conchas ou nos crustáceos, bem como nas paredes das células de árvores em formação. O sódio e o
potássio são importantes na transmissão de sinais pelo sistema nervoso. Inúmeros metais necessários
para os organismos vivos são requeridos por enzimas específicas.
Para que haja sobrevida, os elementos químicos devem estar disponíveis nos momentos certos, em
quantidades adequadas e em corretas concentrações em relação uns aos outros. Os elementos químicos
podem também ser tóxicos para algumas formas de vida ou ecossistemas. O mercúrio, por exemplo, é
tóxico mesmo em baixas concentrações. O cobre e muitos outros elementos são necessários em baixas
concentrações para os processos de vida, porém são tóxicos quando presentes em concentrações
elevadas.
Durante todos os 4,6 bilhões de anos da história da Terra, as rochas e os solos têm sido continuamente
criados, mantidos, transformados e destruídos por processos físicos, químicos e biológicos. Coletivamente,
os processos responsáveis pela formação e pela transformação dos materiais da Terra são denominados
ciclos geológicos. O ciclo geológico é descrito de forma mais eficaz como um grupo de ciclos: tectônico,
hidrológico, da camada rochosa e biogeoquímico.
108
ECOLOGIA
• Ciclo tectônico: envolve a criação e a destruição da camada sólida externa da Terra, a litosfera,
que possui uma espessura de cerca de 100 km e é subdividida em vários grandes segmentos
denominados placas, que se movimentam em relação aos outros.
• Ciclo hidrológico: é a movimentação da água dos oceanos para a atmosfera e para os continentes e
de volta para os oceanos. É um ciclo impulsionado pela energia solar, que provoca as evaporações.
• Ciclo das rochas: consiste em vários processos que produzem as rochas e os solos. Depende do
ciclo tectônico, pela energia, e do ciclo hidrológico, pela água.
H2O
Erosão e
intemperismo
Erupção
Ciclo
hidrológico
H2O
continental
Crosta
Ciclo
das rochas Depós
ito de
sedim
entos
Aqueimento e
Litificação
Dorsal
fusão
smo
Metamorfi nica oceânica
eâ
Crosta oc
Ciclo
tectônico
Limites entre placas
Limite de placa divergentes (Expansão
convergente do fundo oceânico)
(zona de subducção)
Figura 56 – Diagrama idealizado do ciclo geológico, incluindo os ciclos tectônico, hidrológico, das rochas e o biogeoquímico
109
Unidade III
O nitrogênio é essencial para a vida, porque é necessário para a produção das proteínas
e do DNA. O nitrogênio livre (N 2 não combinado com nenhum outro elemento químico)
constitui aproximadamente 80% do ar atmosférico. Entretanto, muitos organismos não podem
utilizar diretamente esse nitrogênio. Alguns, como os animais, necessitam de nitrogênio em
um composto orgânico. Outros, incluindo as plantas, as algas e as bactérias, podem absorver
nitrogênio mesmo na forma de íons de nitrato (NO 3-) ou íons de amônia (NO 4). Pelo fato de o
nitrogênio ser um elemento químico não reativo, poucos processos convertem o nitrogênio
molecular em um desses compostos. A luz o oxida produzindo o óxido nítrico. Na natureza,
todas as outras formas de conversão do nitrogênio molecular para formas biológicas utilizáveis
são realizadas por bactérias.
O ciclo do nitrogênio é um dos mais importantes e mais complexos ciclos globais. O processo de
conversão inorgânica do nitrogênio molecular, na atmosfera, para amônia ou nitrato é denominado
fixação de nitrogênio. Uma vez nessas formas, o nitrogênio pode ser utilizado pelas plantas, nos
continentes, e pelas algas, nos oceanos. Por meio de reações químicas, bactérias, plantas e algas
podem converter esses compostos de nitrogênio inorgânicos em orgânicos; assim, o nitrogênio
torna-se disponível para a cadeia alimentar ecológica. Quando os organismos morrem, outras
bactérias convertem os compostos orgânicos contendo nitrogênio de volta em amônia, nitrato ou
nitrogênio molecular, que retornam para a atmosfera. O processo que libera o nitrogênio fixo de
volta para a forma de nitrogênio molecular é chamado de desnitrificação.
As bactérias que fixam o nitrogênio são também simbiontes no estômago de alguns animais,
particularmente, nos ruminantes. Esses animais, que incluem búfalos, vacas, cervídeos, alces e girafas,
têm um peculiar estômago com quatro câmaras. As bactérias fornecem mais da metade do total de
nitrogênio necessário para os animais, sendo o restante fornecido pelas proteínas existentes nas plantas
que eles comem.
No que se refere à disponibilidade para a vida, o nitrogênio se enquadra em algum lugar entre
o carbono e o fósforo. Assim como o carbono, o nitrogênio tem uma fase gasosa e é o principal
componente da atmosfera terrestre. No entanto, ao contrário do carbono, não é muito reativo,
110
ECOLOGIA
No início do século XX, descobriu-se que processos industriais poderiam converter as moléculas de
nitrogênio em compostos necessários para as plantas. Isso aumentou fortemente a disponibilidade de
nitrogênio para fertilizantes. Atualmente a fixação industrial do nitrogênio é a maior fonte comercial
de fertilizantes à base desse elemento. A quantidade fixada industrialmente é cerca de 50% da fixada
na biosfera. O nitrogênio presente no escoamento superficial proveniente do uso na agricultura é um
poluidor potencial da água.
Esse elemento se combina com o oxigênio em atmosferas de alta temperatura. Como um dos
resultados, inúmeros processos industriais modernos de combustão produzem óxido de nitrogênio.
Tais processos incluem a queima de combustíveis fósseis em motores movidos a diesel e a gasolina.
Assim, o óxido de nitrogênio, que é um poluente do ar, é, indiretamente, resultado da atividade
industrial e da tecnologia moderna. O óxido de nitrogênio desempenha papel significativo na
poluição urbana.
Em síntese, os compostos de nitrogênio são ora benéficos, ora prejudiciais para a sociedade
e para o meio ambiente. O nitrogênio é necessário a todas as formas de vida, e seus compostos
são utilizados em vários processos tecnológicos e na agricultura. Porém, é também uma fonte de
poluição do ar e da água.
1200
Enterrados em sedimentos marinhos 10
Figura 57 – O ciclo global do nitrogênio. Os números nos retângulos indicam as quantidades armazenadas, e os números com setas
indicam o fluxo anual em 1012 g de N2. Deve-se notar que a fixação industrial do nitrogênio é quase igual à fixação biológica global
111
Unidade III
Atmosfera Atmosfera
sobre terra sobre oceanos
Solo Organismos
1200 ?
Troca
Ecoamento oceano/atmosfera
Fontes humanas superficial 50
(indústrias 36
automóveis) Reciclagem marinha
90 6000
Enterrando nos
sedimentos
10
Figura 58 – O nitrogênio assume diversos estados de oxidação diferentes à medida que recicla através dos ecossistemas. Os tamanhos
estimados dos compartimentos (caixas escuras) e das transferências entre os compartimentos (caixas claras) são expressos em
gigatoneladas (Gt) e Gt/ano, respectivamente
112
ECOLOGIA
relativamente insolúveis em água e, como consequência, não é quimicamente alterado de forma rápida.
Ocorre comumente no estado oxidado de fosfato, que se combina com cálcio, potássio, magnésio e ferro
para formar os minerais.
O fósforo entra na biota por meio de sua absorção como fosfato por plantas, algas e algumas
bactérias. Em um ecossistema relativamente estável, boa parte do fósforo absorvido pela vegetação é
devolvida ao solo quando as plantas morrem. Apesar disso, parte dele é inevitavelmente perdida para
os ecossistemas. Esse elemento é transportado pelos rios em direção aos oceanos, na forma solúvel em
água ou como partículas em suspensão.
Os números em representam quantidades armazenadas em milhões de toneladas (1012g)
Os números em representam fluxos em milhões de toneladas (1018g) por ano
Biota continental Resíduos industriais
Do solo para a água doce 2
4000 10 Água doce Ilhas
100
20 Pássaros que
10
Fertilizantes 0,01 excretam o guano
200 50 Pesca comercial
Rochas
Solos 0,1
Oceano
Jazídas exploráveis 100.000
10.000 a 60.000 Crosta terrestre 1000
20.000.000.000 1000
13
200
Figura 59 – O ciclo global do fósforo, que é reciclado no solo pela biota nos continentes, por meio dos processos geológicos que
expõem as rochas ao intemperismo; pelos pássaros, que produzem o guano; e pelos seres humanos. Ainda que a crosta terrestre
possua grande quantidade de fósforo, somente uma parte reduzida dele pode ser extraída pela mineração, utilizando-se de métodos
convencionais. Portanto, o fósforo é um recurso de cada produção. Os valores da quantidade armazenada ou em movimento (em
fluxo) estão compilados por várias fontes. Estimativas são aproximadas, na ordem da magnitude
Uma forma importante pela qual o fósforo ressurge dos oceanos para os continentes envolve a
alimentação de pássaros nos oceanos, como no caso dos pelicanos chilenos. Esses pássaros se alimentam
de peixes pequenos, particularmente de anchovas, as quais, por sua vez, alimentam-se de minúsculos
plânctons oceânicos.
Os plânctons oceânicos se proliferam onde os nutrientes, como o fósforo, estão presentes. Regiões
oceânicas com correntes ascendentes, conhecidas como ressurgências (ou afloramentos), carregam os
nutrientes, incluindo o fósforo, de regiões oceânicas abissais para a superfície. Ressurgências ocorrem
próximo aos continentes, em que os ventos predominantes sopram das regiões litorâneas para os
oceanos, conduzindo as águas superficiais para longe da costa, permitindo que águas profundas aflorem
e substituam aquelas inicialmente deslocadas; transportam muitos nutrientes, incluindo o fósforo, das
grandes profundidades dos oceanos até a superfície.
113
Unidade III
A forma mais oxidada de enxofre é o sulfato (SO42-); as formas mais reduzidas são o sulfeto de
hidrogênio (H2S) e as formas orgânicas, como aquelas encontradas nos aminoácidos. Para assimilar
o enxofre, os organismos reduzem o sulfato a enxofre orgânico (SO42- → S orgânico) num processo
que consome energia. Nos ambientes aeróbicos, a redução do sulfato a enxofre orgânico equilibra
a oxidação do enxofre orgânico de volta para sulfato, o que ocorre diretamente, ou com o sulfeto
(SO32-), como um passo intermediário. Essa oxidação ocorre quando os animais excretam enxofre
orgânico em excesso em sua dieta e quando os micro-organismos decompõem as plantas e os
detritos animais.
114
ECOLOGIA
Emissões vulcânicas
18
Queima de Absorção pela Atmosfera Atmosfera sobre
3 combustíveis vegetação sobre a terra o oceano
fósseis 67
65 14
Absorção
de gás pela
superfície do
mar
Intemperização 32
66
Decomposição de matéria
orgânica morta
3 Escoamento
superficial
122
Decomposição,
produção de íons
de sulfeto
28
Figura 60 – O enxofre circula através de vias químicas complexas que afetam o ciclo dos outros elementos. Os tamanhos estimados
dos compartimentos (caixas escuras) e as transferências entre os compartimentos (caixas claras) estão expressos em gigatoneladas
(Gt) e Gt/ano, respectivamente
115
Unidade III
Figura 61 – Os córregos drenando refugo de minas de carvão podem ser extremamente ácidos. Quando materiais como esses espólios
de minas do Condado de Tioga, Pensilvânia, são expostos ao ar, os sulfetos que contêm são oxidados em sulfato, que se combina com
a água para produzir acido sulfúrico
O carbono é o elemento que sustenta todas as substâncias orgânicas, desde o carvão e o petróleo
até o DNA (ácido desoxirribonucleico), o composto que carrega a informação genética. Apesar de ser
imprescindível para a vida, o carbono não é um dos elementos químicos mais abundantes na crosta da
Terra. Constitui apenas 0,032% do peso da crosta, posição distante da ocupada por oxigênio (45,2%),
silício (29,5%), alumínio (8,0%), ferro (5,8%), cálcio e magnésio (2,8%).
Observe que o carbono tem uma fase gasosa que faz parte de seu ciclo. Essa fase ocorre na atmosfera
terrestre na forma de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), ambos gases que provocam o efeito
estufa. O carbono penetra na atmosfera pela respiração dos seres vivos, por incêndios que queimam
compostos orgânicos e, ainda, por difusão a partir dos oceanos; é removido da atmosfera por meio da
fotossíntese das plantas, pelas algas e pela fotossíntese de determinadas bactérias.
O carbono existe nos oceanos em inúmeras formas inorgânicas, o que inclui o dióxido de carbono
dissolvido como carbonato (CO32-) e bicarbonato (HCO3); também existe em compostos orgânicos de
organismos marinhos e em seus derivados, como as conchas (CaCO3). Penetra no oceano a partir da
atmosfera, pela simples difusão do dióxido de carbono, que se dissolve e é convertido em carbonato e
bicarbonato. As algas marinhas e as bactérias fotossintetizadoras (cianobactérias ou algas azuis) retiram
da água o que necessitam de carbono em uma de suas formas. O elemento químico é transportado do
solo dos continentes para os oceanos por meio de rios e ribeirões, na forma dissolvida, incluindo-se os
componentes orgânicos, e na forma de partículas orgânicas (partículas minúsculas de matéria orgânica).
Os ventos, igualmente, transportam pequenos particulados orgânicos dos continentes para os oceanos.
O transporte por meio de rios e ribeirões constitui uma fração relativamente pequena do fluxo total de
116
ECOLOGIA
carbono em direção aos oceanos. Entretanto, nas escalas locais e regionais, a contribuição de carbono
oriunda dos rios é importante para as áreas costeiras, tais como os deltas e os sapais, que, em geral, são
muito produtivos biologicamente.
O carbono penetra na biota por meio da fotossíntese e retorna para a atmosfera ou para a água pela
respiração ou pelos incêndios. Quando os organismos morrem, a maior parte de sua matéria orgânica se
decompõe em compostos inorgânicos, incluindo o dióxido de carbono. Certa quantidade pode ser enterrada
onde não há oxigênio suficiente para tornar possível essa conversão ou onde as temperaturas são muito
frias para a decomposição. Nesses locais, a matéria orgânica é armazenada. Por anos, décadas e séculos, a
armazenagem ocorre em pântanos, incluindo regiões de inundação às margens de rios, bacias hidrográficas,
pântanos, sedimentos no fundo do mar e regiões próximas aos polos. Por longos períodos de tempo (de
milhares a milhões de anos), certas quantidades podem ser enterradas com sedimentos que se tornarão rochas
sedimentares. Esse carbono é transformado em combustíveis fósseis, como gás natural, petróleo e carvão.
O ciclo do dióxido de carbono entre os organismos terrestres e a atmosfera possui um grande fluxo.
Aproximadamente 15% do total de carbono existente na atmosfera são anualmente retirados pela
fotossíntese e liberados pela respiração nos continentes. Dessa forma, conforme já registrado, a vida
possui um efeito amplo na química da atmosfera.
Armazenamento Armazenamento
no solo (1580)* nas plantas
terrestres (560)*
Carvão
Petróleo Desgaste e
erosão (0,6/ano)
?
Armazenamento em
oceânicas superfícies
Armazenamento de ? 38.000*
combustíveis fósseis (4000)*
Armazenamento em sedimentos ma
* Unidades de armazenamento e em tochas sedimentares (100.000)
em bilhões de toneladas de carbono
Unidade de armazenamento
em bilhões de toneladas de carbono
Carbono
armazenado
(a) na atmosfera
Figura 62 – a) Ciclo global generalizado do carbono. b) As partes do ciclo do carbono estão simplificadas
para ilustrar a natureza cíclica da movimentação do carbono
117
Unidade III
Os gases do efeito estufa são substâncias que absorvem parte da radiação infravermelha
emitida principalmente pela superfície terrestre e dificultam seu escape para o espaço. Isso
impede que ocorra perda demasiada de calor para o espaço, mantendo a Terra aquecida.
Nos últimos cem anos, devido ao progressivo incremento na concentração dos gases
do efeito estufa, a temperatura global tem aumentado. Tal incremento tem sido provocado
pelas atividades humanas que emitem esses gases. A potencialização do efeito estufa pode
resultar em consequências sérias para a vida na Terra num futuro próximo. Ecólogos sugerem
que o aquecimento global deve alterar o clima a uma velocidade maior que a capacidade de
adaptação dos organismos. Nesse contexto, a atenção dos cientistas tem sido direcionada
às florestas tropicais, por serem possíveis sumidouros naturais de CO2. Dentre elas, a floresta
amazônica destaca-se por ser a maior do mundo.
Entre os gases do efeito estufa que estão aumentando em concentração, o CO2, o CH4
e o N2O são os mais importantes. Os CFCs também têm a capacidade de reter a radiação
infravermelha emitida pela Terra. Contudo, as ações para diminuir suas emissões estão
num estágio bem mais avançado, quando comparadas às emissões dos outros gases.
Historicamente, os países industrializados têm sido responsáveis pela maior parte das
emissões globais desses gases. Contudo, na atualidade, vários países em desenvolvimento,
entre eles China, Índia e Brasil, também se encontram entre os grandes emissores.
118
ECOLOGIA
Observação
O ciclo hidrológico é a movimentação da água dos oceanos para a atmosfera e para os continentes e
de volta para os oceanos. Os processos envolvidos incluem a evaporação da água oriunda dos oceanos,
as precipitações nos continentes, a evaporação nos continentes e o escoamento superficial dos ribeirões,
dos rios e das águas subterrâneas percoladas. O ciclo hidrológico é impulsionado pela energia solar, que
evapora a água proveniente dos oceanos, dos corpos, dos solos e da vegetação. De um total de 1,3 bilhão
de km2 de água existente na Terra, 97% estão nos oceanos e 2% estão nas geleiras e nas calotas polares.
O restante se encontra em águas doces nos solos e na atmosfera. Ainda que isso represente apenas
uma pequena parcela da água na Terra, a água presente nos solos é fundamental para a movimentação
de elementos químicos, para esculpir a paisagem, provocar o intemperismo das rochas, transportar
sedimentos e servir para o consumo.
A água contida na atmosfera – somente 0,001% do total sobre a Terra – circula rapidamente para
produzir chuva e escoamento superficial dos recursos hídricos.
Especialmente importantes, sob uma perspectiva ambiental, as taxas de transferência nos continentes são
pequenas relativamente ao que acontece nos oceanos. Por exemplo, a maior parte da água que evapora dos
oceanos precipita-se novamente sobre os próprios oceanos. Nos continentes, a maior parte da água que cai
em forma de precipitação tem origem na evaporação da água dos solos. Isso significa que a transformação
no uso do solo, em escala regional, como a construção de grandes barragens ou reservatórios, pode alterar a
quantidade de água evaporada na atmosfera e, com isso, mudar o local e a quantidade de chuvas – a água
necessária para o aumento das safras e para o suprimento das cidades. Além disso, o solo fica impermeabilizado
com a pavimentação de amplas áreas urbanas, ocorrendo menos infiltrações; consequentemente, as águas da
chuva escorrem mais rapidamente e em maior volume, aumentando as enchentes e provocando inundações.
O fornecimento de água em cidades de regiões semiáridas, por meio de bombeamento de água subterrânea
ou transporte de água de montanhas distantes por meio de aquedutos (canais abertos), pode aumentar a
evaporação, incrementando a precipitação e a umidade de uma dada região.
A cada ano, aproximadamente, 60% da água que cai por precipitação no solo evaporam-se e
são absorvidos pela atmosfera. Uma parte menor (cerca de 40%) retorna aos oceanos por meio do
119
Unidade III
escoamento superficial e subterrâneo. Essa pequena taxa de transferência anual fornece recursos para
os rios, as áreas urbanas e a agricultura. Infelizmente, a distribuição das chuvas sobre os continentes
está longe de ser uniforme. Isso resulta em escassez de água ou déficit hídrico em algumas regiões.
Conforme a população humana aumenta, a escassez de água torna-se mais frequente nas regiões áridas
e semiáridas, locais em que a água já não é naturalmente abundante.
119 Precipitações
72 Evaporação
Transpiração
Evaporação
Infil 458 505
traç
ão
Escoamento superficial
Níve das águas de chuva
l d´á (Runoff)
gua
Figura 63 – O ciclo hidrológico, mostrando a transferência de água (milhares de km3/ano) dos oceanos até a
atmosfera, desta até os continentes e, depois, retornando novamente aos oceanos
120
ECOLOGIA
Aquífero Guarani
Saiba mais
121
Unidade III
Resumo
122
ECOLOGIA
Exercícios
126
ECOLOGIA
II − Podemos definir cadeias alimentares como sendo uma sequência de organismos que dependem
uns dos outros para se alimentarem.
III − Em alguns casos, encontramos organismos produtores no primeiro trófico de uma cadeia
alimentar.
IV − Os decompositores são fungos e bactérias que também participam da cadeia alimentar e são
eles os responsáveis por devolverem à natureza os nutrientes que retiram da matéria orgânica.
A) I e II.
B) III e IV.
C) Somente IV.
D) II e IV.
E) I e III.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: é impossível uma cadeia alimentar manter-se isoladamente, pois um mesmo organismo
que participa de uma cadeia alimentar também pode participar de várias outras ao mesmo tempo. Por
exemplo, há organismos que são carnívoros e herbívoros, ou seja, que atuam em uma cadeia alimentar
como consumidores primários e consumidores secundários ou terciários.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: as cadeias alimentares são sequências de organismos que dependem uns dos outros
para se alimentarem, dividindo-se em produtores – consumidores primários – consumidores secundários
e assim, sucessivamente.
Justificativa: os organismos produtores estarão sempre no primeiro trófico de uma cadeia alimentar,
pois eles são os únicos que conseguem produzir o próprio alimento e, consequentemente, o alimento
dos consumidores primários.
127
Unidade III
IV – Afirmativa correta.
I − No ciclo do carbono: as cadeias de carbono formam as moléculas orgânicas através dos seres
autotróficos por meio da fotossíntese, na qual o gás carbônico é absorvido, fixado e transformado em
matéria orgânica pelos produtores. O carbono volta ao ambiente através do gás carbônico por meio da
respiração.
III − No ciclo da água: a energia solar possui um papel importante, pois ela permite que a água em
estado líquido sofra evaporação. O vapor de água, nas camadas mais altas e frias, condensa-se e forma
nuvens que, posteriormente, precipitam-se na forma de chuva, e a água dessa chuva retorna ao solo
formando rios, lagos, oceanos ou ainda se infiltrando no solo e formando os lençóis freáticos.
IV − No ciclo do nitrogênio: uma das etapas é a de fixação do nitrogênio, na qual algumas bactérias
utilizam o nitrogênio atmosférico e fazem-no reagir com oxigênio para produzir nitrito, que será
transformado em amônia no processo de nitrificação.
Figura 1
Figura 2
BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWNSEND, C. R. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. p. 59.
Figura 3
Figura 4
BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWNSEND, C. R. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. p. 60.
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
676.
129
Figura 10
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
677.
Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
55.
Figura 19
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p. 53.
130
Figura 20
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p. 61.
Figura 21
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p. 63.
Figura 22
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p. 602.
Figura 23
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p. 689.
Figura 24
Figura 25
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
675.
Figura 26
Figura 27
Figura 28
Figura 29
Figura 31
Figura 32
Figura 33
LOPES, S. Biologia. São Paulo: Saraiva, 2008. p.. 494. Volume único.
Figura 34
Figura 35
Figura 36
FERMINO, F. S. 1997. Estrutura e dinâmica de algas do perífiton de Eichhorniaazurea azurea (Sw.) Künth
em lagoas costeiras eutrofizadas do litoral do Rio Grande do Sul (Osório, RS). Dissertação (Mestrado em
Ecologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 1997. p. 98.
Figura 37
Figura 38
Figura 39
132
Figura 40
Figura 41
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
26.
Figura 42
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
27.
Figura 43
Figura 44
Figura 45
Figura 46
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
28.
Figura 47
Figura 48
RAVEN, P. H.; EVERT, R.; EICHHORN, S. Biologia vegetal. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001,
p. 95.
Figura 49
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
359.
Figura 51
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
360.
Figura 52
Figura 53
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p. 28.
Figura 54
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
29.
Figura 55
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p.
273.
Figura 56
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 82.
Figura 57
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 83.
Figura 58
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 85.
Figura 59
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 96.
134
Figura 60
Figura 61
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 97.
Figura 62
Figura 63
Figura 64
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 92.
Figura 65
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 87.
Figura 66
BOTKIN, D. R.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: Terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. p. 177.
Figura 67
Figura 68
Figura 69
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006.
Página 115.
135
REFERÊNCIAS
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006.
BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWNSEND, C. R. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. p. 740.
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Exercícios
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138
139
140
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000