Você está na página 1de 20

ECOLOGIA GERAL

Ronei Tiago Stein


Princípios acerca dos
estudos dos ecossistemas
e visão sistêmica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Enumerar os principais atributos que caracterizam um ecossistema.


„„ Diferenciar produção primária de produção secundária.
„„ Relacionar os ciclos de nutrientes que ocorrem na biosfera.

Introdução
A cadeia alimentar (ou cadeia trófica) é uma trilha ou sequência de alimen-
tos que relaciona espécies diferentes em uma comunidade. Numa cadeia
alimentar, a energia e os nutrientes passam de um organismo para outro,
ou seja, os seres vivos e o meio ambiente transferem e trocam continua-
mente energia e matéria. A principal fonte de energia dos ecossistemas é
a energia solar, a qual é captada pelos produtores (plantas ou microrga-
nismos), por meio da fotossíntese, e transformada em energia química.
Ou seja, os ecossistemas estão relacionados com a termodinâmica, pois
a energia não pode ser criada nem destruída, e sim transformada.
Neste capítulo, você vai compreender um pouco mais sobre os atri-
butos que caracterizam os ecossistemas, vai entender a diferença entre
produção primária e produção secundária e, ainda, vai diferenciar os
ciclos de nutrientes que ocorrem na biosfera.

O que caracteriza um ecossistema?


Os ecologistas de ecossistemas estudam as interações de organismos com o
ambiente físico, por isso, diversas abordagens de ecossistemas se baseiam em
leis bem definidas da Física e da Química. A primeira lei da termodinâmica
50 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

afirma que a energia não pode ser criada nem destruída, mas somente trans-
ferida ou transformada (REECE et al., 2015).

A termodinâmica é o ramo da física que estuda as relações entre o calor trocado,


representado pela letra Q, e o trabalho realizado, representado pela letra τ, num
determinado processo físico que envolve a presença de um corpo e/ou sistema e o
meio exterior. É a partir das variações de temperatura, pressão e volume que a física
busca compreender o comportamento e as transformações que ocorrem na natureza
(SANTOS, 2018).

A importância dos fluxos de energia e da matéria baseia-se no fato de


que os processos nas comunidades são, em particular, fortemente conectados
ao meio abiótico. O termo ecossistema é usado para denotar a comunidade
biológica junto ao meio abiótico no qual a mesma está inserida. Desse modo,
ecossistemas, normalmente, incluem produtores primários, decompositores
e detritívoros, um pool de matéria orgânica morta, herbívoros, carnívoros e
parasitos mais o ambiente físico e químico que fornece as condições de vida
e atua tanto como uma fonte quanto como um depósito de energia e matéria
(BEGON; TOWNSEND; HARPER, 2011).
Segundo Begon, Townsend e Harper (2011), para examinar os processos
de ecossistemas, é importante compreender alguns termos-chaves:

„„ Biomassa: massa de organismos por unidade de área de solo ou matéria


orgânica seca. Na prática, incluímos em biomassa todas aquelas partes,
vivas ou mortas, que estão vinculadas ao organismo vivo. Desse modo,
é convencional considerar todo o corpo de uma árvore como biomassa,
apesar de a maior parte da madeira ser morta. Os organismos deixam
se ser vistos como biomassa quando morrem e se tornam componentes
de matéria orgânica morta.
„„ Colheita em pé: biomassa total de qualquer organismo ou de todo um
ecossistema em um dado momento.
Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 51

„„ Produtividade primária: taxa em que a biomassa é produzida por


unidade de área pelas plantas — no caso, os produtores primários.
„„ Produtividade secundária: taxa de produção de biomassa por orga-
nismos heterotróficos.

De acordo com Reece et al. (2015), a dinâmica dos ecossistemas envolve


dois processos que não podem ser descritos totalmente pelos fenômenos
de população ou comunidade: fluxo de energia e circulação de compostos
químicos. A energia entra na maioria dos ecossistemas como luz solar, que é
convertida em energia química pelos organismos autótrofos, transferida para
os heterótrofos por meio dos compostos orgânicos do alimento e dissipada
como calor.

„„ Autótrofos: seres vivos que produzem o seu próprio alimento, ou seja, são capazes
de sintetizar compostos orgânicos a partir de compostos inorgânicos por meio de
fotossíntese ou quimiossíntese.
„„ Heterótrofos: seres vivos que não são capazes de produzir o seu próprio alimento
e, por isso, necessitam ingerir ou absorver moléculas orgânicas pré-formadas de
outros seres vivos para obtenção de energia e síntese das biomoléculas de que
necessitam.

Os elementos químicos, como, por exemplo, o carbono e o nitrogênio,


são reciclados entre os componentes abióticos e bióticos do ecossistema. Os
organismos fotossintetizantes absorvem esses elementos na forma inorgânica
a partir do ar, do solo e da água e os incorporam nas suas biomassas — e
alguns são consumidos por animais (Figura 1). Os elementos retornam na
forma inorgânica ao meio ambiente pelo metabolismo de plantas e animais
e por meio de outros organismos, como bactérias e fungos, que degradam
resíduos orgânicos e organismos mortos.
52 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

Figura 1. Fotossíntese, processo em que a energia solar é capturada e as moléculas orgâ-


nicas são produzidas.
Fonte: Sergey Merkulov/Shutterstock.com.

Reece et al. (2015) ressalta que a energia e a matéria são transformadas nos
ecossistemas por fotossíntese e relações de retroalimentação. Ao contrário da
matéria, a energia não pode ser reciclada. Dessa forma, um ecossistema deve
ser impulsionado pela entrada contínua de energia a partir de uma fonte externa
(que, na grande maioria dos casos, é o sol). A energia flui pelos ecossistemas,
ao passo que a matéria é reciclada dentro e por meio deles.

Diferentes tipos de produção


A produção primária de um sistema ecológico é definida como a taxa em que
a energia radiante é convertida em substâncias orgânicas pelas atividades
fotossintéticas e quimiossintéticas dos organismos produtores (principalmente
plantas). Dessa forma, Odum e Barret (2015) descrevem quatro passos suces-
sivos no processo de produção:
Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 53

„„ Produtividade primária bruta (PPB): é a taxa total de fotossín-


tese, incluindo a matéria orgânica consumida na respiração durante
o período de medição. Esse processo também é conhecido como
fotossíntese total.
„„ Produtividade primária líquida (PPL) ou assimilação líquida: é
a taxa de armazenamento da matéria orgânica nos tecidos da planta
que excede o uso respiratório (R), pelas plantas, durante o período de
medição. Na prática, a quantidade de respiração da planta é, geralmente,
adicionada à medição da produtividade primária líquida, a fim de estimar
a produtividade primária bruta (PPB = PPL + R).
„„ Produtividade líquida da comunidade: é a taxa de armazenamento
da matéria orgânica não usada pelos heterótrofos (ou seja, a produção
primária líquida menos o consumo heterotrófico) durante o período
considerado — geralmente, a época de crescimento ou um ano.
„„ Produtividade secundária: como os consumidores usam somente
materiais alimentares já produzidos e com as devidas perdas respirató-
rias, e como convertem essa energia alimentar em tecidos diversos por
um processo global, a produtividade secundária não deve ser dividida
em quantidades brutas e líquidas. O fluxo total de energia nos níveis
heterotróficos, o qual é análogo à produtividade bruta dos autótrofos,
deve ser designado como assimilação, e não como produção.

Produção primária: produção de materiais biológicos (biomassa) por autótrofos


fotossintetizantes ou quimiossintetizantes.
Produção secundária: taxa de armazenamento de matéria orgânica pelos heterótrofos;
taxa pela qual os heterótrofos (consumidores primários ou secundários) acumulam
biomassa com a produção de novos tecidos.

O funcionamento da biota da Terra e das comunidades existentes na super-


fície do planeta, de acordo com Begon, Townsend e Harper (2011), depende
decisivamente dos níveis de produtividade que as plantas são capazes de
alcançar. A produtividade primária líquida (PPL) total do planeta é estimada
em cerca de 105 pentagramas de carbono por ano (Pg C ano). Dessa, 56,4 Pg C
ano são produzidos em ecossistemas terrestres, e 48,3 Pg C ano, em ecossiste-
54 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

mas aquáticos. No Quadro 1, você pode acompanhar a PPL para os diferentes


tipos de bioma.

Quadro 1. Produtividade primária anual líquida (PPL) somada para cada um dos principais
biomas e para todo o planeta (em unidades de petagrama de carbono)

Marinho PPL Terrestre PPL

Oceanos tropicais 13,0 Florestas pluviais tropicais 17,8


e subtropicais

Oceanos temperados 16,3 Florestas latifoliadas 1,5


caducifólias

Oceanos polares 6,4 Florestas mistas lati/ 3,1


aciculifoliadas

Costas 10,7 Florestas aciculifoliadas 3,1


perenifólias

Marismas salgados/ 1,2 Florestas aciculifoliadas 1,4


estuários/ervas marinhas caducifólias

Recife de corais 0,7 Savanas 16,8

Campos perenes 2,4

Arbustos latifoliados 1,0


com solo nu

Tundra 0,8

Deserto 0,5

Cultivo 8,0

Total 48,3 Total 56,4

Fonte: Begon, Townsend e Harper (2011, p. 405).


Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 55

Fatores limitantes da produção primária


De acordo com Pinto-Coelho (2000) e Begon, Townsend e Harper (2011), em
termos fisiológicos, apenas três tipos de fatores limitam a produção primária: a
radiação, os nutrientes e a temperatura. Obviamente, existem outros fatores que
afetam os valores da produção primária, porém, esses não afetam diretamente
a fisiologia da fotossíntese.
A radiação é o fator principal que controla as taxas de fotossíntese e,
normalmente, afeta-a de três maneiras distintas: inibição, saturação e limi-
tação. Em relação aos nutrientes, existem cerca de 103 elementos químicos
na biosfera. A disponibilidade deles, no entanto, é muito desigual e apenas
alguns possuem relevância biológica. Carbono, nitrogênio e fósforo são os
mais importantes nutrientes em ecossistemas aquáticos.
No que se refere à temperatura, na zona de saturação da luz (ou seja, onde
a luz não é inibidora nem limitante), as taxas de fotossíntese são, via de regra,
limitadas por processos enzimáticos ligados à fase escura da fotossíntese,
sendo que, nessa zona, a temperatura é o fator mais importante.

Produção secundária
Os animais apresentam grandes diferenças metabólicas e comportamen-
tais. Desse modo, o estudo da produção secundária é muito mais complexo
que os estudos sobre a produção primária. Na grande maioria dos casos,
o estudo da produção secundária tem sido conduzido em comunidades de
organismos de pequeno porte e de elevado metabolismo, que possibilitam
que o pesquisador obtenha os dados necessários em um curto espaço de
tempo. A fim de ilustrar a complexidade da produção secundária, a Figura 2
apresenta um esquema ilustrando as relações entre ingestão, assimilação,
excreção e produção secundária.
56 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

Figura 2. Fluxograma delimitando as diferentes variáveis mensuráveis em um estudo de


produção secundária. MR = alimento ingerido; NU = alimento não utilizado; C = alimento
consumido; F = fezes excretas; A = alimento assimilado; P = produção; R = respiração;
E = alimento eliminado; Pg = produção (crescimento); Pr = produção (reprodução);
dB = aumento de biomassa; U = urina.
Fonte: Adaptada de Pinto-Coelho (2007, p. 198).

Ciclo de nutrientes na biosfera


Embora a maioria dos ecossistemas receba uma grande quantidade de ener-
gia solar, os elementos químicos estão disponíveis somente em quantidades
limitadas. A vida na Terra depende, portanto, da reciclagem de elementos
químicos essenciais (REECE et al., 2015).
Um ciclo de nutrientes (ou reciclagem ecológica) é o movimento e a troca
de matéria orgânica e inorgânica entre os diferentes elementos bióticos e
Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 57

abióticos de um ecossistema. O processo é regulado por microrganismos que


decompõem a matéria orgânica em nutrientes minerais (inorgânicos). Ciclos
de nutrientes ocorrem dentro dos ecossistemas, sistemas interligados cuja
matéria e fluxos de energia são trocados entre os diversos organismos na
forma de alimentação.
De acordo com Aduan, Vilela e Reis Júnior (2004), a Terra pode ser com-
preendida como um sistema químico fechado, no qual as reações que mantêm a
biosfera são alimentadas pela energia solar. Com o aparecimento de organismos
fotossintetizantes e com o consequente aparecimento de oxigênio na atmosfera
terrestre (há mais de dois bilhões de anos), o ambiente da Terra passou por
mudanças incríveis, alterando a história evolutiva de todos os organismos
que habitavam o planeta. Ao longo da história, a interação entre a Terra e a
biosfera causou profundas mudanças e, atualmente, poucas reações químicas
na superfície ocorrem sem a interação ou a influência da biosfera.
Ferreira (2015) descreve que um dos principais pré-requisitos para a
evolução e a manutenção da vida na Terra são os ciclos biogeoquímicos. Por
se tratar de um processo natural, ocorre a reciclagem de vários elementos,
em diferentes formas químicas, do meio ambiente para os organismos vivos;
depois, eles fazem o processo contrário, ou seja, trazem esses elementos dos
organismos para o meio ambiente, como, por exemplo, o ciclo do carbono.

Os principais ciclos biogeoquímicos são divididos em: ciclo do carbono, ciclo do


nitrogênio, ciclo da água, ciclo do oxigênio, ciclo do fósforo e ciclo do enxofre.

A rota específica de um elemento por meio de um ciclo biogeoquímico


depende do elemento e da estrutura trófica do ecossistema. Dessa forma,
reconhece-se duas categorias gerais de ciclos biogeoquímicos: global e lo-
cal. Formas gasosas de carbono, oxigênio, enxofre e nitrogênio ocorrem na
atmosfera, e os ciclos desses elementos são essencialmente globais (REECE
et al., 2015).
58 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

Uma parte dos átomos de carbono e oxigênio que uma planta absorve do ar
como CO2 pode ter sido liberada na atmosfera pela respiração de um organismo
em um local distante. Outros elementos, incluindo fósforo, potássio e cálcio, são
muito pesados para existir na forma gasosa na superfície da Terra. Em ecossistemas
terrestres, esses elementos circulam mais localmente, absorvidos do solo pelas
raízes das plantas, e retornam ao solo pelos decompositores. Em sistemas aquáticos,
porém, eles circulam mais amplamente na forma dissolvida levada por correntezas
(REECE et al., 2015).

Na prática

Veja em realidade aumentada os ciclos biogeoquímicos.


Aponte para o QR code ou acesse o link
https://bit.ly/319QE9C para ver o recurso.
Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 59

O carbono (C) é o elemento básico da construção e está presente tanto nos


elementos orgânicos (aqueles presentes em ou formados por organismos vivos)
e nos inorgânicos, como o grafite e o diamante. De acordo com Caldeira (2005)
apud Ferreira (2015), é de suma importância compreender o ciclo do carbono
para poder entender os processos regulatórios e o tempo de permanência do
dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, cujas concentrações regulam o efeito
estufa. Dessa forma, o carbono faz parte dos principais gases do efeito estufa,
como o metano (CH4) e o CO2, que é o elemento mais abundante dentre os
elementos dos ciclos biogeoquímicos.

O carbono (C) é o quarto elemento mais abundante no Universo depois de hidrogênio


(H), hélio (He) e oxigênio (O), que é o pilar da vida na Terra.
Existem basicamente duas formas de carbono, uma orgânica, presente nos orga-
nismos vivos e mortos, não decompostos, e outra inorgânica, presente nas rochas.
Nesse sentido, mais de 99% do carbono terrestre está contido na litosfera, sendo a
maioria carbono inorgânico, armazenado em rochas sedimentares, como as calcárias. O
carbono orgânico contido na litosfera está armazenado em depósitos de combustíveis
fósseis.

Mas você sabe como ocorre o ciclo do carbono? Esse ciclo é relativamente
rápido: estima-se que a renovação do carbono ocorra a cada 20 anos. De acordo
com Reece et al. (2015), esse ciclo tem uma importância biológica, pois é o
carbono que forma o esqueleto das moléculas orgânicas essenciais para todos
os organismos. Os principais reservatórios de carbono incluem combustível
fósseis, detritos e sedimentos de ecossistemas aquáticos, os oceanos (compostos
de carbono dissolvido), biomassa animal e vegetal e a atmosfera (CO2). Os
maiores reservatórios são as rochas sedimentares, como a pedra calcária, mas
esse reservatório é movimentado muito lentamente.
Todo o processo inicia quando os organismos autótrofos (os quais produzem
seu próprio alimento) e, principalmente, as plantas absorvem o gás carbônico da
atmosfera, utilizando-o para realizar a fotossíntese. Depois disso, o carbono é
devolvido ao ambiente, na mesma velocidade em que é sintetizado (consumido)
pelos produtores, pois a devolução de carbono ocorre continuamente por meio
da respiração durante a vida dos seres.
60 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

A Figura 3 representa a troca de carbono na ecosfera, que é composta


por atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera, as quais interagem constan-
temente. Uma parte do carbono está na atmosfera como CO2, outra está
dissolvida na água superficial e subterrânea. Os ecossistemas aquáticos
continentais têm papel importante no fluxo global de carbono, mesmo
com pequena contribuição em termos de área. A inserção do carbono em
ambientes aquáticos ocorre por meio de distintas fontes, dentre as quais:
poluição pontual de matéria orgânica, metabolismo e morte de plantas e
de organismos aquáticos, dissolução de carbono atmosférico e escoamento
superficial da bacia de drenagem (IHA, 2010 apud FERREIRA, 2015). Ao
longo do tempo geológico, vulcões também são uma fonte considerável de
CO2. A queima de combustíveis fósseis, por exemplo, está acrescentando
quantidades adicionais de CO2 na atmosfera.

Figura 3. Ciclo do carbono.


Fonte: Designua/Shutterstock.com.

O nitrogênio, por sua vez, faz parte dos aminoácidos, proteínas e ácidos
nucleicos e, geralmente, é um nutriente limitante de plantas. O principal
Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 61

reservatório de nitrogênio é a atmosfera, a qual é composta por 80% do gás


nitrogênio (N2). Os outros reservatórios são solos e sedimentos de lagos,
rios e oceanos; água na superfície (nitrogênio dissolvido); e a biomassa de
organismos vivos (REECE et al., 2015).
A Figura 4 apresenta o ciclo do nitrogênio, e o principal reservatório, de
acordo com Reece et al. (2015), é a fixação de nitrogênio. Bactérias presentes
no solo convertem o N2 atmosférico em formas que podem ser aproveitadas
para sintetizar compostos orgânicos de nitrogênio: amônia, nitritos e nitratos
(NH4+, NO2- e NO3-). Uma parte do nitrogênio também é fixada por relâmpagos,
a partir de suas altas temperaturas. Fertilizantes com nitrogênio, precipitação
e poeira também contribuem com quantidades significativas de NH4+ e NO2- e
NO3- nos ecossistemas. O processo de amonificação fixa nitrogênio inorgânico
no solo em amônia (NH4+). Na nitrificação, a amônia é convertida em nitritos
(NO2-) e nitratos (NO3-). A desnitrificação converte os nitratos de volta a
nitrogênio inorgânico, reiniciando, assim, o ciclo.

Figura 4. Ciclo do nitrogênio.


Fonte: Designua/Shutterstock.com.
62 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

O fósforo (P) é um elemento químico que reage muito facilmente com os


demais. Por esse motivo, não é encontrado naturalmente sem que esteja ligado
a algum outro elemento. É também um dos componentes mais essenciais na
natureza, sendo encontrado no corpo humano em abundância nos tecidos
humanos (perdendo apenas pelo cálcio). Nos organismos, o fósforo é um im-
portante constituinte dos ácidos nucleicos, fosfolipídios ATP e outras moléculas
armazenadoras de energia, além de componente mineral de ossos e dentes.
O ciclo biogeoquímico do fósforo é considerado um dos mais simples, e
isso se deve ao fato de que esse elemento não é encontrado na atmosfera, e
sim nas rochas da crosta terrestre, sendo liberado à medida que as rochas vão
sofrendo intemperismo. Outro fato que torna o ciclo do fósforo bastante simples
é que o único composto de fósforo realmente importante para os seres vivos
é o fosfato, composto da união de um átomo de fósforo com três de oxigênio
(PO43-). O fosfato retirado pelos produtores e incorporado nas moléculas
biológicas pode ser absorvido pelos consumidores e distribuído na cadeia
alimentar. O fosfato retorna ao solo ou à água por meio da decomposição da
biomassa ou pela excreção dos consumidores.

O homem utiliza os recursos hídricos de diferentes maneiras e com diversos fins, como,
por exemplo, para abastecimento de água, irrigação de lavouras, lazer e despejo de
águas residuais brutas. Essa última atividade ocasiona a eutrofização dos mananciais
hídricos, geralmente, devido ao excesso de nutrientes (principalmente fósforo e ni-
trogênio), conforme mencionam Macedo e Sipaúba-Tavares (2010).
Braga et al. (2005) define a eutrofização como o crescimento excessivo das plantas
aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, a níveis tais que seja considerado como
causador de interferências nos usos desejáveis do corpo d’água.

Para saber mais a respeito da eutrofização de recursos hídricos, assista o vídeo a seguir:

https://goo.gl/MgEWme
Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 63

Em relação ao enxofre (S), existe um grande depósito desse elemento na


crosta terrestre e nos sedimentos (sendo encontrado, principalmente, em forma
de sulfatos solúveis) e depósitos de menor quantidade na atmosfera. Esse é
o 16º elemento mais abundante na crosta terrestre, constituindo 0,034% em
peso e ocorrendo, principalmente, nas rochas, nos sedimentos e nos solos.
Esse ciclo se assemelha em muitos aspectos ao ciclo do nitrogênio, exceto
quanto à inserção desse elemento proveniente da litosfera, por meio da ativi-
dade vulcânica, e à ausência do processo biológico de fixação do enxofre da
atmosfera na terra ou na água.
Resumidamente, o ciclo do enxofre ocorre da seguinte forma: 1) os vulcões
(geosfera) liberam grande quantidade de ácido sulfúrico (H2SO4); 2) a água
(da chuva) combina-se com o enxofre e produz chuvas ácidas; 3) as chuvas
ácidas aumentam o intemperismo das rochas e afetam a biosfera; 4) os rios
transportam os sedimentos e enxofre dissolvido para a hidrosfera e/ou as plantas
absorvem compostos com enxofre; 5) o enxofre lixiviado do solo é depositado
sob a forma de sulfatos e sulfuretos, podendo também ser lixiviado do solo
e transportado para o ambiente aquático, e/ou os seres vivos alimentam-se
das plantas (Figura 5).

Figura 5. Ciclo do enxofre.


Fonte: bublea/Shutterstock.com.
64 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

A água, finalmente, passa por diferentes estados físicos (sólido, líquido


e gasoso) dependendo da maior ou menor quantidade de calor que o planeta
recebe do sol. Resumidamente, o ciclo da água ocorre da seguinte forma:

1. O calor solar provoca evaporação da água dos rios, mares e do solo,


bem como a transpiração de plantas, animais e seres humanos.
2. O vapor da água passa para a atmosfera, formando nuvens que, em
contato com uma massa de ar frio, condensam, formando gotículas.
3. Na medida em que as gotículas se juntam, formam gotas maiores, até
haver a precipitação, quando a água retorna à superfície terrestre em
forma de chuva (líquido), neve ou granizo (sólido).
4. Uma parcela da chuva cai diretamente nos mares, rios e lagos e a outra
parcela segue vários caminhos: infiltra-se no solo, ficando disponível
para plantas ou abastecimento de aquíferos e lençóis subterrâneos;
escorre pela superfície terrestre até atingir um curso de água; ou forma
camadas de gelo e geleiras em regiões mais frias.
5. Uma parcela dessa água é consumida pelos seres vivos, ocorrendo
novamente a evaporação e o novo início do ciclo da água. A água que
se infiltra no solo acelera seu intemperismo, e isso dissolve os minerais
ali presentes, o que contribui para diversos outros ciclos.

Intemperismo: também conhecido como meteorização, é o processo de transformação


e desgaste das rochas e dos solos. Essa transformação pode ocorrer por processos
químicos (decomposição), físicos (desagregação) e biológicos. Sua dinâmica acontece
por meio da ação dos chamados agentes exógenos ou externos de transformação de
relevo, como, por exemplo, a água, o vento, a temperatura e os próprios seres vivos.
Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica 65

ADUAN, R. E.; VILELA, M. F.; REIS JÚNIOR, F. B. R. Os grandes ciclos biogeoquímicos


do planeta. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2004. Disponível em: https://www.
infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/569371/1/doc119.pdf. Acesso
em: 21 set. 2018.
BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. Fundamentos em ecologia. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
FERREIRA, S. P. Estimativa de emissões de gases do efeito estufa em reservatórios de
hidrelétricas utilizando técnicas de sensoriamento remoto. 2015. 102 f. Tese (Doutorado
em Sensoriamento Remoto) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2015. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/133679. Acesso
em: 21 set. 2018.
ODUM, E. P.; BARRETT, G. W. Fundamentos de ecologia. São Paulo: Cengage Learning, 2015.
PINTO-COELHO, R. M. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2000.
REECE, J. B. et al. Biologia de Campbell. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

Leituras recomendadas
BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: o desafio do desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Pearson, 2005.
MACEDO, C. F.; SIPAÚBA-TAVARES, L. H. Eutrofização e qualidade da água na piscicultura:
consequências e recomendações. Boletim do Instituto da Pesca, v. 32, n. 2, p. 149-163,
2010. Disponível em: https://www.pesca.sp.gov.br/36_2_149-163rev.pdf. Acesso em:
21 set. 2018.
ROSA, R. S.; MESSIAS, R. A.; AMBROZINI, B. Importância da compreensão dos ciclos bio-
geoquímicos para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: USP, 2003. Disponível em:
http://www.iqsc.usp.br/iqsc/servidores/docentes/pessoal/mrezende/arquivos/EDUC-
-AMB-Ciclos-Biogeoquimicos.pdf. Acesso em: 21 set. 2018.
SANTOS, M. A. S. Termodinâmica. 2018. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/
fisica/termodinamica.htm. Acesso em: 21 set. 2018.
66 Princípios acerca dos estudos dos ecossistemas e visão sistêmica

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar