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ECOSSISTEMAS

Capítulo 2, Odum

Definição: Qualquer unidade que abranja


todos os organismos que funcionam em
conjunto (comunidade biótica) numa dada
área interagindo com o ambiente físico, de tal
forma que um fluxo de energia produza
estruturas bióticas definidas e ciclagem de
materiais entre as partes vivas e não vivas
Histórico...a evolução do conceito
• 1877, Karl Mobius “biocenose”
• 1887, S.A. Forbes “o lago como um microcosmo”
• 1846 – 1903, V.V. Dokuchaev e G.F. Morozov “biocenose”
• 1944, Sukachev “geobiocenose”
• 1950, Bertalanffy; 1948, Hutchinson; 1958, Margalef
→ entre 1948 e 1971 surgiu campo da ecologia de ecossistemas
• Visão atual: Abordagem sistêmica na resolução de problemas
ambientais
Ecossistemas
• Possuem 3 componentes básicos: 1) a comunidade, 2) o
fluxo de energia e 3) a ciclagem de materiais.
• Fluxo de energia ocorre num só sentido (energia luminosa é
convertida em MO, que é uma forma de energia mais
concentrada, mas a maior parte é degradada, passa pelo
sistema e sai dele na forma de energia calórica.
• A energia pode ser armazenada e depois liberada sob
controle, mas não pode ser reutilizada. Em contraste, os
materiais e a água podem ser reutilizados inúmeras vezes. A
eficiência da reciclagem e a grandeza das importações e
exportações de nutrientes varia muito entre sistemas.
Comunidade ilustrada como A: autótrofos, H: heterótrofos, S: “storages” - depósitos

morte

Deposição, sedimentação

Círculo: fonte de energia, Tanques (S): depósitos, Bala: autótrofos, Hexágonos:heterótrofos

Fig. 2.1, Odum: Diagrama funcional de um ecossistema, modelo simplificado


de compartimentos
O tamanho do ambiente de “entrada” e saída varia muito em função de certos
parâmetros, tais como: 1) o tamanho do sistema (quanto maior, menos
dependente do exterior), 2) a intensidade metabólica (quanto mais alta a taxa,
maiores a entrada e saída), 3) o equilíbrio autotrófico-heterotrófico (quanto
maior o desequilíbrio, mais elementos externos são necessários para re-
equilibrar), 4) o estágio de desenvolvimento (sistemas jovens diferem de
sistemas maduros)

AE = ambiente de entrada, S = sistema, AS = ambiente de saída

Fig. 2.2, Odum: Modelo de ecossistema enfatizando as funções externas, que


devem ser consideradas como parte integral do conceito de ecossistema
A Estrutura do ecossistema
• Estrutura trófica (autótrofos e heterótrofos)
• Fatores químicos: componentes inorgânicos (C, N, P,
CO2, H2O e orgânicos (ptns, lipídeos, carboidratos)
• Fatores físicos: ambiente atmosférico, hidrológico,
climáticos
• Separação espacial entre metabolismo autotrófico e
heterotrófico: fotossíntese (PP) predomina em estratos
iluminados enquanto o metabolismo heterotrófico em
áreas de acúmulo de MO.
• Separação temporal: Pode haver demora na utilização
heterotrófica dos produtos dos organismos autotróficos
(semanas, meses ou até milênios- combustíveis fósseis)
Redes tróficas ilustradas considerando 3 abordagens

Considerando
As relações tróficas

Pt de vista
ecossistêmico
(Fluxo de energia)

Importância de
cd pop refletida
na manutenção
da integridade
da comunidade
I produtores
II herbívoros
III detritívoros
IV carnívoros

Fig 2.3 Odum: Comparação entre um sistema terrestre e um aquático


Três reinos funcionais da natureza
• Baseiam-se no tipo de nutrição e na fonte de energia usados
• Classificação ecológica é mais funcional e não taxonômica
• Produtores usam energia luminosa para produzir MO
• Microorganismos heterotróficos (decompositores como
bactérias e fungos) possuem especialização mais
bioquímica do que morfológica
• Macroconsumidores tendem a estar adaptados
morfologicamente para a procura ou coleta ativa de
alimentos, com o desenvolvimento de um complexo sistema
sensorial-motor, digestório, respiratório e circulatório
Os 3 tipos de nutrição
encontram-se entre os
monera e protista

Fig. 2.4 Odum: Sistema de 5 reinos baseado em 3 níveis de organização proposto por
Copeland em 1956. Baseado na morfotaxonomia e classificação trófica.
Figure 1.5, Ricklefs:
Divisões maiores da vida e Eucariotos
suas relações evolutivas são
mostradas pelo padrão de
ramificação
Tipos de fotossíntese e de organismos
produtores
• Quimicamente o processo fotossintético significa
armazenagem de uma parte da energia solar sob a forma
de energia potencial
12 H2O + 6 CO2 + energia → C6H12O6 + 6 H2O + 6 O2
• Fotossíntese de plantas e algas, redutor=O2
• Fotossíntese bacteriana, redutor = S (H2S em sulfo-
bactérias verdes e roxas ou um composto orgânico no caso
de bactérias não sulfúreas roxas e pardas)
• Bactérias fotossintéticas são principalmente aquáticas
Tipos de decomposição e decompositores
• 1) Respiração aeróbica: O2 é o aceptor de elétrons (oxidante)
3 CH2O(carboidrato) → CO2 + H2O
Mais eficiente, é a via de plantas, animais e maioria de
protistas e moneras
• 2) Respiração anaeróbia: composto inorgânico (não é o O2) é
o aceptor de elétrons (ex: carbonato, SO4)
• 3) Fermentação: anaeróbica, composto orgânico oxidado tb é
aceptor de elétrons
• Ex 1: metanobactérias que podem usar compostos orgânicos
(3) ou carbonato (2) liberando gás metano
• Ex 2: Bactérias Desulfovibrio que reduzem SO4 em
sedimentos profundos e em águas anóxicas
• Ex 3: Leveduras decompõem resíduos vegetais
(gramínea)

(caranguejo)

Fig. 2.8 Odum: Decomposição em um pântano marinho (sujeito a inundação diária


pela maré) na Geórgia. Em B enriquecimento proteico resultado da atividade
microbiana em detritos de Spartina nos estágios finais de desintegração particulada
Decomposição: uma visão geral
• A decomposição ocorre através de transformações de energia
dentro de e entre os organismos, sendo uma função
absolutamente vital
• Resulta de processos tanto bióticos quanto abióticos,exemplos:
1) incêndios em pradarias e florestas além de importantes
fatores limitantes ou de controle, tb são “decompositores” de
detritos, liberando CO2 e outros gases para a atmosfera e
minerais para o solo
2) Ação trituradora do congelamento e derretimento e o fluxo de
água tb quebram a MO
3) Micro-organimos heterotróficos ou saprófagos
(decompositores)
As várias partes dos restos de animais e vegetais não são decompostas
todas com a mesma velocidade. Os lipídeos, açúcares e proteínas
decompõem-se facilmente, mas a celulose vegetal, a lignina da madeira e a
quitina, pêlos e ossos dos animais são trabalhados muito lentamente.

ETR: evapotranspiração real

Fig. 2.9 Odum: Decomposição de serrapilheira florestal em função do conteúdo


de lignina e do clima
Decomposição: uma visão geral
• Produtos mais
resistentes da
decomposição acabam
como substâncias
húmicas. Estas são
condensações de
compostos aromáticos
(fenóis) + produtos da
decomposição de
proteínas e
polissacarídeos

• Vários produtos da atividade humana (herbicidas, pesticidas e


efluentes industriais são derivados do benzeno e estão causando
sérios problemas por causa da baixa degradabilidade e da sua
toxicidade
Processo de quelação
• Detritos, substâncias húmicas e outra MO que esteja sofrendo
a decomposição são importantes para a fertilidade do solo e
tb formam complexos com minerais afetando a
disponibilidade biológica dos minerais
• Quelação: Fomação complexa com íons metálicos que
mantém o elemento em solução e não tóxico, em comparação
com os sais inorgânicos do metal
• Ex: Cobre na forma livre pode ser tóxico para o fitoplâncton,
mas não na sua forma quelada
• Importante para mitigar efeitos tóxicos de metais e outros
compostos, presentes p.e. em efluentes industriais
Importância de pequenos animais na decomposição

• Muitos animais detritívoros não digerem os substratos de


lignocelulose, obtendo energia principalmente da flora
associada aos detritos, mas aceleram o processo, pois:
- quebram detritos e assim aumentam a área de superfície
disponível para ação microbiana
- acrescentam proteínas ou substâncias de crescimento que
estimulam o crescimento microbiano
- estimulam o crescimento microbiano tb ao ingerir algumas
das bactérias e fungos
B) Perda de peso e
A) Liberação de P nutrientes na serrapilheira
marcado a partir de florestal é mais lenta (linha C) Perda de MO em um
detritos de um pântano é cheia) quando os campo torna-se mais
mais rápida quando microartrópodes são mortos lenta quando animais são
protozoários e bactérias com naftalina, que não afeta retirados seletivamente
estão presentes bactérias e fungos.

Fig. 2.11 Odum: Demonstrações experimentais da importância de pequenos


animais na decomposição da MO.
Outras funções da decomposição

• Outras funções da decomposição incluem a liberação de


metabólitos secundários, que são liberados durante a
decomposição e podem surtir efeitos sobre outras espécies
• Podem ser inibidores (ex: penicilina produzida por fungo) ou
estimuladores, como vitaminas (ex: tiamina, biotina, B12)
• Substâncias alelopáticas (allelon, recíproco; pathos,
sofrimento): presentes em algas e vegetais superiores
• Agem muitas vezes como reguladores
Decomposição: Sumário
• Recicla nutrientes (mineralização da MO)
• Quela e complexa nutrientes minerais
• Recupera nutrientes e energia por ação microbiana
• Produz alimento para organismos da cadeia alimentar de
detritos
• Produz metabólitos secundários
• Modifica materiais inertes da superfície terrestre, produzindo
o SOLO
• Mantém a atmosfera rica em oxigênio
Abordagens de estudo do ecossistema
1) Holológica (holística)
Entradas e saídas do sistema são medidas, propriedades
coletivas e emergentes são avaliadas
Ecossistema é tratado como “caixa preta” e sua função é
avaliada sem que se especifique seu conteúdo
2) Merológica (reducionista)
Partes principais são estudadas em primeiro lugar para
depois serem integradas num sistema inteiro
Abordagens contrastantes, mas complementares
Escolha depende do objetivo do estudo
O controle biológico do ambiente geoquímico: a
Hipótese Gaia

• Os organismos não somente se adaptam ao ambiente


físico, mas, através da sua ação conjunta nos
ecossistemas, tb transformam o ambiente geoquímico
segundo as suas necessidades biológicas
• Os organismos, principalmente microorganismos,
evoluíram junto com o ambiente físico, formando um
sistema complexo de controle, o qual mantém as
condições da Terra favoráveis a vida
Quase 3 bilhões de
anos se passaram
até que níveis de
oxigênio atmosférico
pudessem sustentar
organismos
multicelulares

Figure 1.6, Ricklefs


O homem, mais que qualquer outra
espécie modifica o ambiente físico
• Cidades como “parasitas”
da biosfera,
• Uso de combustíveis
fósseis libera o CO2
armazenado no carvão, no
petróleo
• Intervenção em redes
tróficas
• Poluição
• Desmatamento (liberando
mais CO2 e afetando a
biodiversidade
Ecossistemas & Estabilidade
• São ricos em redes de informação, que compreendem fluxos
de comunicação físicos e químicos que interligam todas as
partes e governam ou regulam o sistema como um todo
• Existe certa “redundância”, i.e., mais de uma espécie ou
componente tem a capacidade de realizar dada função, o que
aumenta a estabilidade
• Estabilidade varia e depende do rigor do ambiente externo e
da eficiência dos controles internos
• Estabilidade de resistência: capacidade de se manter estável
diante do estresse (ex: floresta de pinheiro e resistência fogo)
• Estabilidade de elasticidade ou resiliência: capacidade de se
recuperar rapidamente após um distúrbio (ex: vegetação de
gramíneas – muito inflamáveis e fogo)
• Frequentemente são mutuamente excludentes
Estabilidade de resistência e
de elasticidade.
Quando uma perturbação ou
estresse faz com que uma
função do ecossistema
desvie-se da faixa normal
de operação, o grau de
desvio é uma medida de
resistência relativa,
enquanto o tempo
necessário para a
recuperação é uma
medida da elasticidade
relativa.
A área embaixo da curva é
uma medida da
elasticidade total (ET)
O Lago como Ecossistema
Variáveis usadas na
caracterização do lago:
- pH
- Oxigênio
- Temperatura
- Luz (e turbidez)
- Regime de mistura
-Densidade/biomassa
dos produtores e
consumidores em
vários níveis tróficos e
decompositores
-Relações tróficas
-Produtividade primária
-Fluxo de energia (vias
principais)
Comparação entre sistemas aquáticos e terrestres

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