Você está na página 1de 238

J

AGROM~T~ ,ROlOGIA , . .Agrometeorologia


: 1undamentos e aplicações práticas

fundamentos eAP.lica~óes Práticas

.-
Antonio Roberto Pereira
• Engenheiro Ayronõmo (1968,
Esalq/USP);
• MS e PhD em Microme-

Agrometeorologia leorologia (1976 e 1978,


Purdue University, USA);
-Livre-Docente em
agrometeorologia (1990,
fundamentos e aplicações práticas Esalq/USP);
' Pós-doutorad o em
Micrometeorologia (1993,
University Df California, Oavis,
USA);
'Professo r de
Agrometeorologia (desde
1,990, Esalq/USP);
• Coordenador da Pós-
Graduação em
Agrometeorologia (1991/1993,
Esalq/USP);
• Pesquisador Científico em
Climatologia Ag rícola, Instituto
Agronômico de Campinas
( 1969/1990);
• Pesquisador Científico do
CN Pq ;
• Membro do Editorial Board
Agr i cultura l and Forest
Antonio Roberto Pereira Me t eorology, Elsevier,
Amslerdam (1979/1995);
'Luiz Roberto Angelocci • Editor Associado, Revista
Brasileira de Meteorologia
(desde 1998);
Paulo Cesar Sentelhas • Consu ltor Ad hoc (CNPq,
Fapesp, Fapeal, Fapergs,
Facepe).

Luiz RObert~og~~~~~~'~(~'973

Livraria e Editora Agropecuária


2002
() 2002 Livraria e Editora Agropecuária Ltda.
Prefácio
Dire itos desta ed ição reserva dos à
Livraria e Editora Agropecuária Ltda
Rua
F
Bento Gonça lves 236 CaJ'Xé1 PostaJ66 .
I -

'one: (51) 480-3030 Fax: (51) 480-3309


Bome Page: www.ed ipec.com.br
E-mail: edipec@edipec.com
92500-000 - Guaíba - RS - Bras il I csde o descobrimento do N ovo Mundo, acredi tou-se
'Itl L' s ua imensidão territorial era fonte inesgotável de recur-
HOH na tura is. A agricultura, fonte primári a do desenvolvimen-

Capa: 1ll l'm n6mico, p autou seu crescimento simplesm entc pela subs-
Foto: cortesin revistn A Grnnjn 111 ti iç"0 dc florestas e campos por cultivos n ecessários ao a ten-
Lumertz Gráficn Expressn d imcnto das n ecessid ades alimentares da nova população .
I,s ti ma-se qu e, até o momen to, mais de 90% d a Floresta Atlân-
Projeto gráfico, editoração e revisão: ti ca, m ais da metade dos cerrados, e mais de um sexto da Flo-
Com Texto Editornção Eletrônicn res ta Amazôruca tenham sido utilizados em nome da produ-
ção de alimentos, energia, e fibras . Apesar de cinco séculos de
ex ploração, a fronteira agrícola continua a se exp andir p elas
mesmas práticas, ou seja, derrubada, queimada, e implanta-
CAT ~LOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO ção d e monocultivos, que, em muitas situações, são logo aban-
Ficha de catalogação e laborad8 donados, deixando um rastro de degradação ambiental.
I n ~' M .' d ' por
S ,"10 c GOS pcl'i n CRB;-IO-733
A agricultura é um sistema tecnológico criado p elo ho-
P436a mem, e há n ecessidade de se entender sua p erspectiva ecoló-
r I' iJ'a, An tonio Roberto
~~"OIl1CI COl'ologia : (unda mentos e aplicações g ica. É preciso reconhecer também que essa mesma tecnologia
prl Ircns / I\ ntonio Ro berto Pereira L . R" b conseguiu reverter áreas naturalmente improdutivas em cam-
i\ "1'c1 ) . I' I ' Ul Z
, (CC I, au o Cesar Sentelhas - G 'b o. erto pos fé rteis, mas com enfoque apenas na produção, sem p ers-
!\g ro" ccu6rié1, 2002. . uar a.
pecti va conservacionista . Com a crescente tendência na tenta-
~ 78 p .
Iiva de se minimizar os efeitos adversos da explora ção agríco-
ISIJN 85-85347-7 1_6 1., sobre o ambiente, com os consumidores impondo restrições
I' ,'spccificando condições de produção de alimentos, o plane-
'I . Âg rOI1W ll'OI'o lol l in I 1\ 'I . 1,"" L'l1tO d o uso da terra com base nos asp ectos cli máticos pro-
II Senl ,li I" I " . ngc OCC I, Lui z " oberto
. l n ~, ,lLJ o 'SOr' 111. t. ,',,,,,, fo rnecer elementos p ara desenvolvimento da agricultura
tl llHIl' l1tável. Os conceitos aqui apresentados e discutidos são
_ ______________-=J)=--=u~G:·,j I:"fi 1.5 rUlllla ll1cl1tais para que o equilíbrio entre aumento da produ-
Sumário

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO À AGROMETEOROLOGIA


1.1 Introdução ................................................................................. 19
1.2 Meio (Ambiente) e Sistema ................................. ...... ............. 20
1.3 Condicionantes Climáticos / Meteorológicos da
Produtividade Agrícola ......... ............................. ... .................. 21
1.4 Objetivos e Atuação da Agrometeorologia ................ .......... 24
1.5 Perspectivas ............................................................................ 25

CAPÍTULO 2. DEFINIÇÕES E CONCEITOS


2.1 Clima e Tempo ......... .. ..... .................................................... 27
2.2 Elementos e Fatores Climáticos / Meteorológicos ............ 28
2.3 Escala Temporal dos Fenômenos Atmosféricos . ...... 29
2.4 Escala Espacial dos Fenômenos Atmosféricos .................... 32
2.5 Estações do Ano .............................................................. " ....... 34

CAPÍTULO 3. A ATMOSFERA TERRESTRE


3.1 Estrutura Vertical da Atmosfera .......................................... 41
3.2 Composição Básica da Atmosfera ........................... ............ 41
3.3 Efeitos da Atmosfera sobre o Balanço de
Energia Radiante .. .................................................................... 50
3.3.1 Absorção da Radiação ............... .. ........ ................ .... ........ . 51
3.3 .2 Difusão da Radiação Solar ...... ..... .. .. .................................... 52

CAPÍTULO 4. MOVIMENTOS ATMOSFÉRICOS


4.1 Circulação Geral da Atmosfera / Ventos Predominantes. 55
4.2 Ciclones e Anticiclones ........................................................... 59
4.3 Circulação na América do Sul. ............................................... 60
4.4 EI Nino e La N ina ...................................................... .............. 61
4.5 Estrutura Ver tical dos Ventos .............................. ............... .... 66
4.6 Circulações e Ventos Locais ............ ........ ................................ 67
4.6 .1 Brisas Tena-Mar e Monções .................... 68
4.6.2 Husas de Montanha e de Vale .... .. . ....... ........ 69
'1. 6.3 Vento Foehn ou Chinook ........ ............... .................. ... .......... 69
'1.7 Ma ssas de Ar / Frentes ..................... .. ......... 70
11.7. 1 Fren tes .. ........................ ...................... .................. ............ ..... .... 72
12 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorol ogia - 13

CAPÍTULO 5. RADIAÇÃO SOLAR 7.3 Equipamentos U tilizados na Determinação da Umidade


5. 1 Introd u ção .. .. .. ............ ......... ...... . .. .. .......... .. .... ....... ... ... 75 Relativa do A r .............. ...... .......... .. .... .. ...... .. .. ... .. .... .. .. ...... .. .... 135
5.2 Definições .. .. .. .... .. .... .. ........ .. .. ........ .. .... .. ....... ... .. 76 7.4 Variação Temporal d a Umidade c.lo Ar .. .... .................. .. .. ... 139
5.3 Leis da Radiação .... .... .. .. .... . .. .... .. .. ..... ...... ....... ................. ..... 78 7.5 Orvalho ....... .. .... ..... .. ....... .............. ..... .. .. ... .. .. .. .. .... .. ................. 140
5.3.1 Lei de Stefan - Boltzmann .... .. .... .. ... .. .... .. .... .. ... .. ..... 79 7.5 .1 Medida do Orvalho e de s u a D uração ...... ................ . .. .. .. 142
5.3.2 Lei de Wien .. ...... .. .. .................... .. .. ............ ....... .. .............. ..... 79 7.5.2 Estimativa d:. Duração do P eríodo de Molhamento
5.4 D istribuição da Energia Solar na Superfície Terrestre ....... 80 por Orvalh o .. .. .... .. ........ .. ........ .. .... .. ........... ...143
5.5 Projeção e D ireção de Somb ra de um Objeto .. ....... .. 83 7.5 Exercícios Propostos .......... ................ .. .. .. .... .. ........ .. .. ... .. .. .. . 146
5 .6 Cálculo do Fo toperíodo .......... .... .... ........ .. .. .... .. .... .. .... ......... ... 84
5.7 Irradiância Solar em Superfícies P aralelas ao Plano CAPÍTULO 8. CHUVA
do H o rizonte .. .......... ..... ........... .. .......... .. .. ...... ..... .. ........... ..... .... 86 8.1 Introdução .. .. .... .. .. .. .. ........ .. .............. . ..... ........... .. .. ... 147
5.7.1 Valores D iários Desconsiderando os Efeitos da 8.2 Condensação na A tmosfera .... .. .... .. .. .. ..... ...... ........ .. .... .. .... .. 147
Atmosfera ...... .. ................. .. .. .. .. ........... .. ......... ... 86 8.3 Formação da Chuva .. ........ .. .. ........ .................. ........ .. .. .... . 148
5.7.2 Valores D iários Conside rando os Efeitos 8.4 Tipos d e Chu va.. .. .... .. .. .... .. .. ...... .......... .. ......... 149
d a A tmosfera .. ... .. .... .. ........ ...... ...... .... .. ... .... .. .. .. ....... 89 8.5 Medida da Chuva .. ............ .. .... .... .. .. .. .... .. ..... .. 152
5.8 Radiação Solar Incidente em uma Superfície Inclinada .. .. 91 8.6 Probabilidade de Ocorrência de Chuva ..... . 155
5.9 Medidas d a Irradiância Solar Global ............ .. .. .... .. .... .. .. .. ... 93 8.7 Período de Re torno .. ....... ................ .. .. .. .... .. ................... 158
5.10 Medidas de Irradiâ ncia D ireta e Difusa .. .. ...... .. .. .. .......... .. . 96 8.8 Índices de Erosividade das Chuvas .. .. .. .. .... .. ...... .. .. ........... 159
5 .11 Medida do Número de Horas de Brilho Solar .. .... .... .. .. 97 8.9 In terceptação da C h uva pela Vegetação .. .. .. .. .... .. ....... 160
5 .12 . Estimativa da Irradiância Sola r Global D iária (Qg) ... ........ 99 8.9.1 Redistribuição da Chuva ao Inte ragir com a Vegetação .. 161
5 .13 Radiação Fotossin teticamente Ativa .... .. ........ .. ........ ... .. 101 8 .9.2 EstiInativa da Precipitação A rmazenada e
5 .14 Exercícios Propostos .... .. .... .. .... .... .. .. .. ......... .. 103 d a Precipitação Interna .. .. .......... .. ........ .. ........ .. ............ ....... 164
8.10 Exercícios Propostos .. .. ... .. .. ...... .. .. ..... .. .. ...... ........ .... ... 165
CAPÍTULO 6. TEMPERATURA
6.1 Introdu ção. .. .. .. .... .... .. ........ .... .. ... ... ... .... ..... .. ..... 105 CAPÍTULO 9. VENTO
6.2 Temp eratura do Solo .... .... .. .. ...... .. .... .. ... .. .. .. .. ................. 105 9.1 Introdução ...... ...... .. .. ... ........... ........... .. ... ... .... ... ........ .... .. ...... .. . 167
6.2.1 Fatores D eterminantes da Temperatu ra d o Solo .. ... .. .. .... 106 9.2 Escala Espacial de Formação dos Ven tos .. .. .... .................. . 168
6.2.2 Variação Tempora l da Temper atu ra do Solo .... .. ..... .... .. .. . 110 9 .3 M ed ida do Vento .. .. .. .. ...... .. .... .. .. .. .. ........ .. .... .. .... .. ............. .. ... 169
6.3 Temperatura do Ar .. .. .......... .. .... .. .. ........ .. .... .. .. .. .. .. .. . . 111 9 .4 Direção Pred ominante dos Ventos ............ ........ .... . .171
6.3.1 Variação Temporal e Espacial d a Temperatura do A r .. .. .. 112 9 .5 Velocidade dos Ventos .. .. .. .. ...... ........................ .. .. ......... .. .. .. .. 173
6.4 Term om etria ... .. ... .... .. .. ... ..... ...... ... ...... .. .......... ..... ............ ..... ... 114 9 .6 Escala d e Velocidade dos Ventos .. .. ...... .. .... .. ................... 174
6.5 Cálculo da Tem pera tu r a Média do Ar e do Solo . .. . 120 9.7 Exercícios P ropostos .. .. ...... .. ....... . .. .. .. .................... 175
6.6 Estima tiva da Temperatura Média Mensal do Ar .. ...... 124
6.7 Estimativa da Temperatu ra d o Solo em F u n ção CAPÍTULO 10. BALANÇO DE ENERGIA
da Tempera tura d o A r ...... .. ... .. .. .. .... .. ....... .. .. ........ . .. . 125 10.1 Introdução .. .. ... .. ..... ... ........... .. .. .... ....... .. .. . .. 179
Exercícios Propostos ..... .. .. .. .... .. ... .. ..... ........ .... . ........ 127 10.2 Balanço de Radiação .. .... .. .. .......... .... ........... . .181
6.8
10.3 Medida e Estim a tiva do Balan ço de Radiaçã o. ...... 184
C APÍTULO 7. UMIDADE DO AR 10.4 Balan ço de R ad iação em Amb iente Protegido. .. 187
7.1 Introd ução .. .. .... .... ........ .. .... .. .... .. .............. .. ............ ............. .. . 13 1 10.5 Fundam entos do Ba lanço de Energ ia em
7.2 Definições .. .......... .. .. ...................... .. ........ .. ...... ...... ........ .. ... .... 131 Sistemas Vegetados .. . .192
10.6 Exercícios P ropostos ... .. .. 196
l
14 - Pereira, Angclocci c Scntelhas Agrometeorologia - 15

CAPÍTULO 11. REGIME RADIATIVO DE UMA VEGETAÇÃO CAPÍTULO 14. BALANÇO HÍDRICO DE CULTIVOS
11.1 Introdução ............................................................................... 197 14.1 Introdução .. .. ............................. .. ............................................ 269
11.2 Interação com a Vege tação .......... .. ............ .. ................ ......... 199 14.2 Determinação da CAD .............. ...... .. .... .. ............................ .. 271
11.3 Regime Radiativo Acima da Vegetação .............................. 200 14.3 Elaboração do Balanço Hídrico de Cultivo ....................... 276
11.4 Regime Radiativo Dentro da Vegetação ............................. 206 14.4 Balanço Hídrico para Controle da Irrigação ...................... 279
11.5 Balanço de Radiação Acima de uma Vegetação ................ 210 14.4.1 Roteiro para Monitoramento da Irrigação .. ....................... 281
" 14.5 Exercícios Propostos .............................. .............. .. .. ............ .. 287
CAPÍTULO 12. EV APO(TRANSPI)RAÇÃO
12.1 Introd ução ............................... .. .... ............ ............................ .. 213 CAPÍTULO 15. CLIMATOLOGIA
12.2 Definições ................................................................................ 213 15.1 Introdução .. .. ........... .. ........... .................. ................ .. .............. . 289
12.3 Determinantes da ET ............................................................. 219 15.2 Fatores do Clima ......... .. ................................ .. ....................... 290
12.3.1 Fatores Climáticos .................................................................. 220 15.2.1 Fatores do Macroclima ........... ............................................... 290
12.3.2 Fatores da Pl anta .......................... .. ........................................ 220 15.2.2 Fatores do Topoclima ............ .. .............. .. .......... .. .................. 300
12.3.3 Fatores de Manejo e do Solo ................................................. 221 15.2.3 Fatores do Microclima .................................................... .. ..... 30;
12.3.4 In ter-relação Demanda Atmosférica - 15.3 Climograma ............................................................................ 30
Suprimento de Água pelo Solo .................. .. ........................ 222 15.4 Classificação Climática ...... .. ................ .. ............................... 303
12.4 Medida da Evaporação e da Evapotranspiração .............~ 15.4.l.Classificação de Kbppen ............................ ........ .. ................. 304
12.4.1 Evaporação ........................................................ .. .................... 223 15.4.2 Classificação de Thornthwaite ............................................. 308
12.4.2 Evapotranspiração .. ............................ ................................... 226 15.5 Mudança, Variabilidade e An omalias do Clima ............... 313
12.5 Estimativa da Evapotranspiração Potencial 15.5.1 Mudança e Variabili dade do Clima .. .. .. ............................ .. 313
(ETP oU ETo) ................................................... .. ...................... 227 15.5.2 Anomalias Climáticas .. .. .. ..................................................... 318
12.6 Critério para Escolha de Método de Estimativa da ETP . 241
12.7 Evapo(transpi)ração no Interior de Estufas Plás ticas .... .. 242 CAPÍTULO 16. TEMPERATURA COMO FATOR
12.8 Exercícios Propostos .......................................... .......... .. 245 AGRONÔMICO
16.1 Introdução ............................................................................... 321
CAPÍTULO 13. BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO 16.2 Temperatura e Produtividade Anima!.. ...... .. ...................... 321
13.1 Introdução .. ..................................................... .. ........... 247 16.2.1 Conforto Térmico ....................................... .......................... .. 323
13.2 Elabo ração do Balanço Hídrico Clima tológico ................. 251 16.2.2 Índices de Conforto H igro-Térmico para Animais .
13.2.1 Determinação da CAD .......................................................... 253 Homeotermos .................. ................................................. ...... 325
13.2.2 Roteiro para a Elaboração do Balanço Hídrico 16.3 Temperatura e Produtividade Vegetal .......... .. ............. .. .. .. . 328
Climatológico ...................................................... ................... . 253 16.3.1 Temperatura e Dormência de Plantas de
13.2.3 Inicialização do Balanço Hídrico Climatológico N ormal 247 Clima Temperado ..................................... .. ............................ 328
13.2.4 Aferição dos Cálculos .... .. .............................. ............. .. ........ . 259 16.3.2 Temperatura do Ar e Desenvolvime,;to de Plantas ......... 331
13.2.5 Representação Gráfica do Balanço Hídrico .... ................... 260 16.3.3 Determinação de Zonas de Maturaçao ......... .. ............ .. ...... 338
13.3 Aplicações do Bal anço H ídrico Climatológico ................. 262 16.3.4 Temperatura do Ar e Desenvolvimento de Insetos .......... 341
13.4 Balanço Hídrico Climatológico Seqüencial .............. ......... 263 16.3.5 Temperatura e Outros Processos Vegetais ......................... 343
13.4.1 Aplicações do Balanço Hídrico Clima tológico 16.4 Aplicação de Defensivos .... .. ............................. .................. .. 346
Seqüencial ............................................................................... 264 16.5 Exercícios Propostos ............................................................ .. 347
13.5 Exercícios Propostos ... .. ........................ .. .... .. ......................... 267
16 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia -17

CAPÍTULO 17. EFEITO COMBINADO CAPÍTULO 20. CONDICIONAMENTO CLIMÁTICO


TEMPERATURA - UMIDADE DO AR DA PRODUTIVIDADE POTENCIAL
17.1 Introdução ............................................................................... 353 20.1 Introdução ............................................................................... 413
17.2 Duração do Período de Molhamento e Doenças 20.2 Bioconversão de Energia Solar ............................................ 414
de Plantas ................................................ .. ............. .. .......... 353 20.3 Aspectos Fisiológicos da Produtividade ............................ 415
17.3 Interação Temperatura - Umidade do ar 20.4 Efeitos do Ambiente na Bioconversão .. .. .................. ..... 418
e Fitossanidade .. ....................................... .. .............. 357 20.5 Estimativa da Produtividade Potencial .......... .................... 420
17.4 Influência de Práticas Agrícolas na Fitossanidade ........... 361 20.6 Efeito da Deficiência Hídrica sobre a Produtividade .. .. . r~8 )
17.5 Estações de Aviso Fitossanitário ...... .. .................................. 364 20.7 Exercícios Propostos .............................................................. 431
17.6 Risco de Ocorrência de Incêndios ....................................... 369
CAPÍTULO 21. ZONEAMENTO AGROCLlMÁTICO
CAPÍTULO 18. IMPORTÂNCIA AGROECOLÓGICA 21.1 Introdução .. .......................................................................... . . 433
DOS VENTOS 21.2 Metodologias para a Elaboração do Zoneamento
18. 1 Introdução .............. .. .. ............................................................ 371 Agroclimático .. .... ......................... .. . ..................................... 435
18.2 Efeitos dos Ventos .. .................................... ...... ..................... 371 21.2 .1 Caracterização das Exigências Climáticas das Culturas. 436
18.3 Práticas Preventivas Contra os Efeitos 21.2.2 Elaboração de Cartas Climáticas Básicas ........................... 440
Desfavoráveis do Vento ........................................ ................ 375 21.2.3 Elaboração de Cartas de Zoneamento .. .............................. 441
18.4 Tipos de Quebra-Ventos ........................................................ 376 21.3 Considerações Finais ............................................................. 442
18.5 Características Desejáveis dos Quebra-Ventos Vegetais. " ~7 \ \l .
18.6 Aspectos Agronômicos do Uso de C"PÍTULO 22. INFORMAÇÕES (AGRO)METEOROLÓGICAS
Quebra-Ventos Vegetais .... .. ................................................ 3&1 22' 1 Previsão do Tempo .................................. .. ............................. 445
18.7 Vantagens do Uso de QV Vegetais .................................... 383 I 22.2 Previsão do Tempo no Brasil .............. .. .. ..................... ......... 449
22.3 Observações Meteorológicas de Superfície ...........:.. ......... 451
CAPÍTULO 19. GEADA 22.3.1 Estações Meteorológicas ....................................................... 452
19.1 Introdução ............................................................................... 385 22.4 Sistemas de Informações Agrometeorológicas .................. 458
19.2 Tipos de Geada .. .. ................................................................. 386 22.4.1 Benefícios das Informações Agrometeorológicas ............. 460
19.3 Fatores de Formação de Geadas no Brasil ......................... 389 22.4.2 SIA' s existentes no Brasil .................................................... .. 463
19.3.1 Fatores Macroclimáticos .................................................... .. . 389
19.3.2 Fatores Topoclimáticos .................................... ...................... 392 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 467
19.3.3 Fatores Microclimáticos .... .. .............. .................................... 393
19.4 Agravantes Naturais de Geadas .......................................... 394
19.5 Efeitos da Geada nos Vegetais ............................................ 395
19.6 Medidas para Minimização dos Efeitos da Geada ........... 397
19.6.1 Medidas Topo e Microclimáticas ......................................... 400
19.6.2 Uso de Produtos Químicos .................. .. ............ ................... 402
19.6.3 Proteção Direta (no Dia de Ocorrência) ............................. 402
19.6.4 Uso de Coberturas Protetoras ....... .. ................. :.. .. ............... 407
19.7 Exercícios Propostos ............................ .. ................................ 409

\
I
I

Capítulo 1

Introdução à agrometeorologia

1.1 INTRODUÇÃO

Meteorologia é o ramo da ciência que se ocupa dos fenô-


menos físicos da atmosfera (meteoros) . Seu campo de atuação
abrange o estudo das condições atmosfér icas em dado instan-
te, ou seja, das condições do tempo . Tais cond ições resultam da
movimentação atmosférica, que é originada pela variação es-
pacial das forças atuantes na massa de ar. Portanto, a atmosfe-
ra é um sistema dinâmico, em contínua movimentação, embo-
ra tenha-se, em algumas situações, a sen sação de que o ar es-
teja "parado". Mas isso ocorre esporadicamen te em a lguns
locais e apenas por a lguns instantes, em virtude do equilíbrio
dinâmico das forças atuantes naquele local. Um dos desafios
da ciência é prever, com razoável antecedência, os resultados
dessa movimentação e s u as possíveis conseqüências. A isso
denomina-se Prev isão do Tempo, e essa é a parte visível da
meteorologia, e que ganha cada vez mais espaço na tomada
de decisões operacionais, principalmente nas atividades agrí-
colas cotidianas.
Outro aspecto importante dessa movimentação atmos-
férica é sua descrição estatís tica, em termos de valores médios
seqüenciais. Desse modo, faz-se uma descrição do ritmo anual
mais provável d e ocorrência dos fenômenos atmos féricos. É
esse seqüenciamento médio que define o clima de um local, e
q u e determina quais atividades são ali poss íveis . Essa carac-
terização média define a Climatologia. Isto s ignifica qu e a
20 - Pereira, Al1gelocci e Sel1telhas Agrometeorologia - 21

Meteorologia trabalha com valores instantâneos enquanto a o p laneta Te rra pode ser comparado a uma gigantesca
Clim atologia utiliza valores médios (de longo período). fabrica que contém toda a matéria-prima necessária para sua
Tendo como critério a influência das condições atmosfé- produção, e a en rgia para os di versos processos é provida
ricas sobre as atividades humanas, a Meteorologia possui di- diariamente p elo so l. A ca ptação d a energia solar é feita pelas
visões especializadas com objetivos bem facadas send o uma plantas e algas qu e, pelajotossfntese, trans formam-na em pro-
delas a Agrometeorologia (ou Meteorologia Agrícola), voltada para dutos necessários à manutenção da vid a na presente forma.
as condições atmosféricas e suas conseqüências no ambiente Evid entemente, d entro des ta " fábri ca" ex istem inúmeros de-
rural. partamentos, que são os grand es sis te mas ecológicos n aturais.
As condições climatológicas indicam o tipo de atividade Cada departamento é constituíd o p or di ve rsas seções, que são
agrícola mais viável de um local, e as condições meteorológicas agrupamentos de indivíduos, nem sempre da mesma esp écie.
determinam o nível de produtividade para aquela atividade, Em geral, quanto mais próximo do eq uador terres tre, maior o
em um certo período, além de interferir na tomada de decisão número de espécies presentes, isto é, maior a biodiversidade
com relação às diversas práticas agrícolas. natural, em função do ambiente.

1.2 MEIO (AMBIENTE) E SISTEMA 1.3 CONDICIONANTES ClIMÁTlCOS/


METEOROLÓGICOS DA PRODUTIVIDADE AGRíCOLA
Do ponto de vista termodinâmico, (meio) ambiente é tudo
que envolve e interage com um sistema. N o caso da agricultu- A agricultura é um sistema tecnológico artificial desen-
ra, a atmosfera, o solo e a água fazem parte do ambien te, en - volvido pelo homem com o objetivo de se obter alimento, fi-
quanto que as plantas, os animais e os mi crorganismos são os bra e energia em quantidade suficiente para garantir sua sub-
sistemas. Do ponto de vista ecológico, cos tuma-se separá-los sistência por um certo período. As plantas foram gradativa-
em meio biótico (plantas, animais e mi crorganismos) e abiótico mente sendo domesticadas até permitir que extensas áreas
(atmosfera, solo e água). A água faz parte tanto do meio biótico fossem cobertas com indivíduos com mesma composição ge-
como do abiótico, sendo encontrada natural e simultaneam ente nética. N essa condição, a interação com o ambiente depende
nas três fases físicas (sólida, líquida, gasosa). A presença ou do estád ia d e desenvolvimento das plantas visto que, em um
ausência da água afeta profundamente o balanço de energia dado ins tante, todos os indivíduos daquela comunidade têm
do sistema. Havendo água em abundância, cerca de três gu a r- a mesma idade, com porte semelhante, e também com mesma
tos da energia solar disponível serão utilizados no processo suscetibilidade aos rigores impostos pelo meio. Quanto mais
de mudança de fase líquida para gasosa (calor latente de evapo- homogênea for a população de plantas, maior será sua susceti-
ração) com conseqüente amenização da temperatura (calor sen- bilidade às condições ambientais.
sível).
22 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 23

o ritmo da disponibilidade de en ergia e de água de uma O ciclo vital dos fitopatógenos é con stituíd o por fa ses
região d e termina o seu potencia l de produtiv idade agrícola. A típi cas, e n o caso d e fungos, por exemplo: pré-penetração, p e-
en ergia radiante, a temperatura e a um idade afetam o desen- n e tração, pós-invasão, e liberação/ disp e rsão de esp oros. Com
volvimen to e o crescimento dos vegetais, dos inse tos e dos mi- exceção da pós-in vasão, as o u tras fa ses, por ocorrerem fora d a
crorganismos. A produção d e biom assa está diretamente rela- planta, são totalmente d ep end entes das co ndições ambienta is,
cionada à disponibilidade energética no meio, que condicion a pois temperatura e duração do HlOUlamento da parte aérea
a produtividade potencial de cada cultura. A estimativa da das plantas - por orvaUlo ou c hu va - são essencia is para a
potencialidade produtiva d as culturas e m uma região é feita germ.inação dos esporos e s ua penetração nos tecidos vege-
com modelos agroc/imáticos, que também p odem ser vir de sub- ta is. O vento e a chu va atuam como agentes de dispersão car-
sídio p ar a a previsão de safras. regando esporos, além d e o vento causar lesões nas plantas,
A duração das fa ses e d o ciclo de desenvolvimento d os por atrito e agitação, e d e favo recerem a penetração de patóge-
vegetais e d os insetos é condicionada pela temperatura, e pelo nos nos tecidos. Conhecendo-se os efeitos d esses elementos
tempo que ela permanece dentro de limites específicos. Um condicionantes das infestações, pode-se inferir a existên cia de
índice bioclimático que tem sido usa d o para estudar essa rela- condi ções ambientais favoráveis ou n ão para ocorrência de
ção é denominado de graus-dias, ou seja, quantos graus d e tem- pragas e de doenças, co m o base para seu controle e orienta ção
p era tura ocorreram durante um dia e que efetivamente con- quanto a esquemas de alerta fi tossa" itários eficien tes, econ ômi-
tribuíram de maneira positiva para o metabolismo do orga- I ca e ambientalm e nte, e d e a pl icação d e defen sivos agrícolas.
nismo considerado. O efeito térmico é fundamenta l para a pro- A disponibilidade de água depende do balan ço entre
dução das frutíferas de clima tempera d o, que n ecessita m en- chuva e evapotranspiração, sendo esta última dependente das
trar em repouso durante o inverno, e para ta l exigem certo condições da superfície (tipo de cobertura, tipo de solo) e da
número de horas de frio, para quebrar a dorm ência das gemas e demanda atmosférica (disponib ilidade energética, umidade d o
retomarem o crescimento vegetativo e o desenvolvimento após ar, e velocid ade do ven to). A disponibilidade hídrica no solo
o inverno. O fotoperÍodo (número máximo possível de horas de pode ser quantifi cada pelo balanço hídrico climatológico, eviden-
brilho solar) é outro condicionante ambiental que exerce in- ciando as flutu ações temporai s de períodos com excedente e
fluên cia n o desenv olvimento das plantas, p ois a lg umas espé- com deficiência, p ermitindo pl anejamento das atividades agrí-
cies só iniciam a fase reprodutiva quando da ocorrência de colas. Também o teor d e açúcares, a qualidade de bebida e de
um valor crítico de fotoperíodo por elas exigido. O ritmo anual fibras e o aspecto dos frutos são afetados pelas condições
desses elementos permite a escolh a de melhores épocas de se- ambientais. As exigências h.idricas das culturas e su a relação
meadura, visando a aju s tar o ciclo das culturas anuais às me- co m as con dições ambientais embasam o suporte ao planeja -
lh ores condições locais d e clima, minim iza ndo-se riscos de ad- m ento e qu antificação da irrigação.
versidades meteorológicas, para que expressem sua potencia- As cond ições m e teorológicas representam fatores exógenos
lidade produtiva. que afeta m a fec undid a d e, o p eríodo de ges tação e, por ta nto,

J.
24 - Pereira, Angelocci e Sen telhas Agrom eteoro logi a - 25

a eficiência reprodutiva dos animais. Durante sua vida, o ani- . . Segundo Smith (1975), a "Me/eorologia Agrícola tem por
mal responde diretamente às condições físicas do ambiente, obJ eliv o colocar a ciência da Meteo rolog ia a se rviço da Agri-
que podem lhe causar estressefísico por excesso ou deficiência cultllra em todas suas form as face tas, para melhorar o uso da
de ch uvas, por temp era turas elevadas ou bai xas, por ventos terra, para ajudar a produ zir o máx imo de a lim entos, e a evi-
fo rtes e constantes. As condições de conforto térmico afetam tar o abu so irreversível dos recursos da te rra " . Tendo essa d es-
diretamente seu ganho de massa corporal (produção de car- crição em mente, o oujel ivo do prese nte tex to é fornecer conhe-
n e), bem como de outros produtos (leite e ovos), além da sua cimentos necessá ri os pa rn se a na lisa i' e entender as relações
qualid ade (lã) . Há também efeitos indiretos, causados pe lo cli- entre o ambi n te . as a ti vidad es agrícolas, procurando a
ma, sobre o crescimento das pastagens e surtos de doenças. maxi", izaç, o da ex plora ção econômica dos recursos naturais
po rém consciente da necessidade de preservação do ambien~
te para gerações futuras. .
1.4 OBJETIVOS E ATUAÇÃO DA
AGROMETEOROLOGIA
1.5 PERSPECTIVAS
Das atividades econômicas, a agricultura é - sem dúvi-
da - aquela com maior dependência das condições do tem po Com a crescente tend ência d e se minim izar os e feitos
e do clima. As condições atmosféricas afetam todas as e tapas adversos da explora ção agrícola sobre o a mbi ente, com os con-
das atividades agrícolas, desde o preparo do solo pa ra semea- sumidores impondo restrições e esp ecifica ndo cond ições de
dura até a colheita, o transporte, o preparo, e o a rma zenamento produção de alimentos, o planejamento do u so da terra com
dos p rodutos. As conseqüênci as de situações meteorológicas base nos aspectos forçantes do clima procura fo rnecer elemen-
adversas levam constantemente a graves impactos socia is, e a tos para desenvolvimento da agricultura sustentável. A deli-
enormes prejuízos econômicos, muitas vezes difíceis de se- rnitação da ap tidão das reg iões aos cultivos quanto ao fator
rem quantificados. Mesmo em regiões com tecnologia avan- cl un ~ res ulta n o ZOllealllellto I\groc/il1'/lÍtico. Essa delimitação
çada e com organização social suficiente p ara diminuir esses cltm a t1ca, Junta mente co m a a ptid ão edMica (so los), com põem
impactos, os rigores meteorológicos muitas vezes causam eno r- o Zoneamento Agroecol6gico (cl ima e so lo), que juntando-se ao
mes prejuízos econômicos. Como as condições adversas d o tem- levantamento das con dições s ocioecon ômica s, define m o
po são freqüentes e muitas vezes imprevisíveis a médio e lon- Zoneamento Agrícola, base p ara O planejamento racional do uso
go prazo, a agricultura constitui-se em atividade de grand e da terra.
risco. Exemplos são as ocorrências de secas prolongadas, os _ Desde a semeadura até a colheita, os tra tos cu lturais (apli -
veranicos (períodos secos dentro de uma estação úmida), as caça0 d e d e ~ens i v~s, irrigações, movimento de máquinas agrí-
geadas, e os períodos de chuva excessiva muitas vezes acom- colas, etc.) sao rea Ilzados em função das condições ambientais .
panhadas de granizo. Logo, a tomada el e dec isões e o planejamento de operações
26 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Capítulo 2

Definições e conceitos
cotidianas dependem do conhecimento das condições meteo-
rológicas prevalecentes. O acompanhamento diário dessas
condições e a utilização da previsão do tempo constitui-se em
ferramenta fundamental para a operacion alização das ativi-
dades agrícolas. A esse monitoramento diário da s condições
ambientais existentes e à elaboração de informes específicos
denomina-se de Agrometeorologia Operacional. Essa é uma ati- 2.1 CLIMA ETEMPO
vidade em que se procura estabelecer h armonia entre as con-
dições reinantes e as atividades n ecessárias para bom desem- A atmosfera é uma massa em continuo movimento e isto
penho econômico na prática agrícola. Essa é uma maneira prá- induz variações nas condições meteorológicas predominan-
tica de se reduzir o impacto agroambi ental imposto pela ex- tes em uma região. O estado da atmosfera pode ser descrito
ploração desenfrea da dos recursos na tUl·ais, na tentati~a de se por variáveis que caracterizam sua condição energética. Para
prover alimentos, energia, e fibras para uma populaçao cres- um local, essa descrição pode ser tanto em termos instantâne-
cente. os, definindo sua condição atual, como em termos estatísti-
Resumindo, a Agrometeorologia tem sua principal apli- cos, definindo uma condição média. Portanto, introduz-se uma
cação no planejamento e na tomada de decisôes em uma pro- escala temporal na descrição das condiçôes atmosféricas. De-
priedade agrícola, seja na produção animal ou vegetal, sendo nomina-se tempo à descrição instantânea, enquanto que a des-
ferramenta indispensável no processo produtivo rural. crição média é denominada clima. Logo, tempo é o estado da
atmosfera em um local e instante, sendo caracterizado pelas
condições de temperatura, pressão, concentração de vapor, ve-
locidade e direção do vento, precipitação; e clima é a descrição
média, valor mais provável, das condições atmosféricas nesse
mesmo local. Com a descrição climática sabe-se antecipada-
mente que condições de tempo são predominantes (mais pro-
váveis) na região e, conseqüentemente, quais ativid ades agrí-
colas têm maior possibilidade de êxito.
Clima é uma descrição estática que expressa as condições
médias (gerahnente,mais de 30 anos) do seqüenciamento do tem-
po em um local. O ritmo das variações sazonais de temperatura,
chuva, Uluidade do ar, etc., caracteriza o clima de uma região. O
período mínimo de 30 anos foi escolhido pela Organização
Meteorológica MW1dial (OMM) com base em princípios esta tis-
I I

28 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 29

ticos de tendência do valor médio. Desse modo, inclui-se anos umidade relativa, pressão, velocidade e direção do vento, pre-
com desvios para mais e para menos em todos os elementos do cipitação. Esse conjunto de variáveis descreve as condições
clima. Ao valor médio de 30 anos chama-se Normal Climatológica. atmosféricas em um dado local e instante.
A Figura 2.1 mostra a variação anual da temperatura do Fatores são agentes causais que condicionam os elemen-
ar próximo da superfície (~1,5m ac ima do solo) e da chuva na tos climáticos. Fatores geográficos tais como latitude, altitude,
região de Piracicaba, SP. É uma visualização do ritmo desses continentalidade /oceanidade, tipo de corrente oceânica, afe-
elementos climáticos ao longo do ano. Provavelmente, nunca tam os elementos. Por exemplo, quanto maior a altitude me-
ocorreu um ano igual ao normal, mas esta é a descrição d , ores a temperatura e a pressão. A radiação solar pode ser
seqüenciamento das condições mais prováveis na região. Por- tomada ou como fator condicionador ou como elemento depen-
tanto, em termos médios, a tempera tura da região varia entre dente da latitude, altitude e época do ano.
o mínimo de 10 °C, em julho, e o máximo de 30 °C, em feverei-
ro. Com respeito à chuva, o período primavera-verão (out. -
mar.) contribui com 78% do total anua l. O período menos chu- 2.3 ESCALA TEMPORAL DOS FENÔMENOS
voso corresponde aos meses mais frios. Portanto, O clima de ATMOSFÉRICOS
Piracicaba, SP, apresenta verão chuvoso e quente, e inverno
ameno e seco. A face da Terra voitada para o Sol (dia) está sempre mais
quente que a face oposta (noite). Com o movimento de rota-

,~::~-=::l
"Lsfj
___ .'-,._ .._
"' ,-- - - - - - - - - - ção da 1 ~rra, um local experimenta uma variação diária em su as
condições meteorológicas (temperatura, pressão, nebulosida-
, c:-". ..
g~ ' I .- _ - _ _-~-)(-"
_ • . _ _ _ __ de, chuva, umidade relativa, etc.). Essa variação diária ocorre
I

10 - - • - - - - _ • _ •• em todos locais, com maior ou menor intensidade, e é um fe-
~


s __ _ _ ___ ___

Jo" F • • " . ' Ab' loj a! Jun J'"


. ____

~~ hl
_

O... ,. ..... O..


Innnnnl nômeno natural. Em geral, quanto mais árido (seco) maior a
variação diária da temperatura (calor sensível) e, conseqüen-
temente, da pressão . Portanto, essa é a escala diária de variação
FIGURA 2.1 Seqüenciamento dos va lores normais (1917 - 1999) de tempe-
ratu ra do ar e chuva em Piracicaba, SP. das condições meteorológicas.
Uma escala maior de variação das condições meteorológicas
é a anual, que é devida ao posicionamento relativo entre a Terra e
2.2 ElEMENTOS E FATORES CLIMÁTICOS I o Sol, gerando as estações do ano. As diferenças sazonais são mais
METEOROLÓGICOS intensas à medida que se afasta da linha do Equador. Na região
equatorial, em função de uma certa constância de incidência da
Elemen tos são grandezas (variávei s) que caracterizam o radiação solar ao longo do ano, as distinções entre as estações são
estado da atmosfera, ou seja: radiação solar, temperatura, menos intensas. À medida que se caminha em direção aos pólos,
30 - Pereira, Angelocci e Sente/hns Agrometeorologia - 31

há acenhlação nessa intensidade. Note-se que a radiação solar é ocorreu imediatamente após o episódio do EI Nino mais in-
o principal elemento controlador das variações tanto na escala tenso até então, e as chuvas de outono-inverno representaram
diária como na anual. Essas são variações que ocorrem com uma 45% do total anual. Nota-se, por este exemplo, que a análise
p eriodicidade (ciclo) previsível. de períodos relativamente curtos (10 a 20 anos) invariavelmen-
Nesse ponto, é importante fa zer dis tinção entre as varia- te conduz a conclusões in consisten tes.
ções que ocorrem rotineiramente e aquelas que indicam mu- 2100 _, - -_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

danças 110 clima . Quando se fala em mudança climática, fala-se ,,,o


de tendências que ocorrem nas condições regionais, num perío- E 1700 .

do razoavelmente longo de tempo (décadas, séculos), para uma .s


õ
grande região. Os causadores dessa mudança são os fenõme- ~ 1300

nos naturais (vu lcões, atividade solar), sem qualquer influên- <":
>
1100

cia humana, e mais aqueles desencadeados realmente pelas "


.:: 900

atividades humanas (desmatamento, poluição, urbani zação) .


U
m. _
Por exemplo, a necessidade de incorporar novas áreas na pro-
dução de alimentos pressiona o desmatamento e sua substi- Ano

tuição por p lan tas d e ciclo menor, com impacto sobre o clima FIGURA 2.2 Seqüenciamento dos totais anua is de chuva em Piracicaba, SP.
local e regional.
A Figura 2.2 é uma represen tação d a variação do total Essa análise m ostra que o total anual d e chuvas em
anual de chuvas ocorridas em Piracicaba, SP, desde 1917 até Piracicaba, SP, teve pouco efeito da substituição da flo resta
1999. Percebe-se qu e períodos razoavelmente longos (15 a 25 nativa por cultivos agrícolas, principalmente pela cana-d e-açú-
anos) de tendência d e aumento foram interrompidos por que- caro Isso pode ser visto na Figura 2.3, que mostra a vari ação d o
das bruscas nos totais de chuvas. Nota-se que, de 1917 até 1930 total anual de chuvas em Campinas, SP, d esd e 1890 até 1992, e
houve aumento significativo no total de chuva anu al que pas- da porcentagem de cobertura florestal no Estado de São Pau-
sou de 1110mm para cerca de 1600mm. Embora tenha ocorri- lo, que caiu d e mais d e 60%, no início do século, até cerca de
do uma flutu ação muito grande, a tendência geral foi de a u- 15% no final (Sentelhas et aI., 1994). Comparando-se as Figu-
menta. En tre 1933 e 1948, h ouve tendência semelhante ao pe- ras 2.2 e 2 .3, observa-se que o mesmo fa to ocorreu em
ríodo anterior. Entre 1952 e 1965, e entre 1969 e 1975 a tendên- Piracicaba, onde as chuvas seguiram o mesmo ritmo encon-
cia de aumento se repetiu. De 1977 até 1982, houve um au- trado e m Campinas. No entanto, isso não é prova de que não
mento brusco seguido de uma queda igualmente brusca . De haj a tal associação, mas apenas que a localização geográfica
1983 até 1999, a flutuação esteve ao redor do valor médio. A da região mascarou qualquer associação entre p orcen tagem
tendência do século como um todo foi de leve aumen to no de cobertura florestal e índices pluviométricos, nos dois lo-
total anual das chuvas. O pico de chuva de 1983 (2018mm) CaiS.
32 - I'ereirll, Angelocci e Se ntelhas Agrometeoro logia - 33

16 00 T - - - - - - - - - - ---~ 80 efeitos possíveis da ação hum ana, pode-se separá-las em três


..t. Cobe rlura floreslal I'

ã - Chuva anual : 70 grandes ca tegorias, ou seja, macro, meso, e micro-escala, que são
..
1
• importantes para a previsão do tempo e para o manejo agrícola .
~ 1500 • A macro-escala trata dos fenômenos em escala regional
.,
E
~ ou geográfica, que caracteriza o clima de grandes áreas pelos
IE 14 00
fatores geográficos (latitude, altitude, etc). Nessa escala, des-
E creve-se, por exemplo, o (macro)clima de uma região. Esta es-
,
;;;
c cala é o foco quando se fa la em mudan ça climática.

~
~
ü
1300
.......1 10
A n/eso-escala refe re-se aos fenôm enos em escala local,
em que a topografia condi cion a o (topo ou meso)c1 ima p elas con-
120 0 mmmmmmnl1l11l1ll'IOInn:mmmmnlnl1lmmmmmmllllTmmil:mnmmnmn:;mt11111U O
dições do relevo 10ca;1A exposiçã o (N, S, E ou W), a configura-
1900 l a 20 30 40 50 60 70 80 ção (vale, espigão, meia encosta), e o grau de incl inaçã o do
Ano
terreno determinam o clima local. Porta nto, d en tro do
FIGURA 2.3 M édia móvel (ord em 10) da chuva macroclima da região é possível que existam vários topoclimas.
anu al em Campinas, SP, e a porce ntagem de cober·
tura fl orestal do Estado de São Paulo, desde 1890 até
A configuração e a exposição do terren o podem mod ificar bas-
1992. Adaptado de Sentelhas et aI. (1994) tante o clima regional, sendo de grande importância na agri-
cultura, devendo ser levado em consideração no p lanejamen-
Análise semelhante deve ser feita com a temperatura do ar. to agrícola. Por exemplo, nas regiões S e SE do Brasil, os terre-
É óbvio que tais tendências adquirem importância quando di- nos com face voltada para o Norte são mais ensolarados, mais
versos locais mostram variações num mesmo sentido (aumento secos e mais quentes. Os de face voltada para o Sul são menos
ou decréscimo). No entanto, é importante ter em mente que al- ensolarados, mais úmidos e mais frios, sendo batidos pelos
gumas tendências detectadas em um local podem indicar que o ventos SE predominantes na circulação geral da a tmosfera. No
fenõmeno seja global, como é o caso do aumento da concentra- inverno, terrenos à meiá encosta ou convexos permitem boa
ção de CO, atmosférico, no Havaí (ver Capítulo 3). drenagem do ar frio, ao passo que terrenos côncavos acumu-
lam o ar frio, agravando os efeitos da geada em noites de in-
tenso resfriamento. Logo, a meso-escala deve ser considerada
2.4 ESCALA ESPACIAL DOS FENÔME NOS no planejamento de implantação e manejo de um cultivo.
ATMOSFÉRICOS A micro-escala é aqu ela que condiciona o clima em pe-
. ~ quena escala (microclima), sen do função do tipo de cobertura
do terreno (solo nu, gramado, floresta, cultura rasteira, repre-
Os fen ômenOS atmos féri cos ocorrem de forma contmua-
da havendo influência d e uma esca la sobre outra. No entan - sa, etc.), que determina o balanço local de energia. O fator prin-
to ,'visando a facilitar o entendimento d e s uas ocorrências e os cipal é a cobertura do terreno e cada tipo de cobertura tem
:14 - Pereirn, Angelocci e Sente/fias
Agrorneteorologia - 35

Influência própria sobre o microclima. Isso s ignifica que den-


ocorre duas vezes por ano (ao redor de 21/03 e de 23/09).
tro de um topoclima podem existir inúmeros microclimas, con-
Logo, os equinócios indicam o inicio do outono e da primavera .
dição mais comum na natureza. Desse modo, enfatizando ex-
Solstício é quando o Sol atinge as declinações máximas
tremos, florestas n ão têm variações térmicas acentuadas no
da linha do equador, e isto ocorre também duas vezes por ano .
decorrer do dia, enquanto que culturas de menor porte e me-
Em torno de 22/ 06, o Sol está aparentemente sobre o Trópico
nos compac tas ou cobertura morta intensificam a amplitude
de Câncer (Hemisfério Norte), e determina o início do inverno
térmica.
no h emisfério s ul; mas em 22/12, quando ele está sobre o Tró-
pico de Capricórnio (Hemisfério Sul), inicia-se o nosso verão.
Em seu movime nto de translação, a Terra descreve uma
2.5 ESTAÇÕES DO ANO
elipse com excentr ic idade muito p e quena (Figura 2.4). Logo,
durante uma época do ano a Terra está mais próxima do Sol,
A época do ano é caracterizada pela posição relativa Ter-
enquanto qU,e seis m eses mai s tarde e la es tará m.ais longe.
ra-Sol tOlnando-se o equador terrestre conlO referencial. Tra-
DefIne-se Afeito quando a Terra se encontra mais afastada do
çando-se um raio imaginário ligando o centro d a Terra à posi-
So l ("'1:~2 lO· krn), c isto ocorre aproximadamente no dia 04/
ção do Sol, forma-se um ângulo em relação ao plano equato-
07. Penei to é quando a Terra se encontra mais próxima do Sol
rial terrestre. A t al ângulo denomina-se de declinação solar (8).
(",1,4710· km), no inicio de janeiro (cerca de 03/01) . A distân-
O Sol tem dois movimentos aparentes em torno da Ter-
cia n:édia Terra-Sol (1,496 10" m) é tomada como padrão de
ra, um no sentido E -W decorrente da rotação do planeta, e ou-
medIda em As tronomia, sendo d e finida como Unidade Astro-
tro no sentido N-S devido ao movimento de tran slação. A de-
nômica (UA).
clinação solar está relacionada ao movimento aparente do as-
tro no sentido N-S, ao longo do ano, apresentando os valores Equinócio de
extremos de 23° 27' 5 (ou - 23,45°) e de 23° 27' N (ou +23,45°) _---"""""--'O;:."::;'::;o;::n:-o (2 1lO 3)
em conseqüência da inclinação de 23°27' que o eixo terrestre So lstíc io de
faz com a l inha normal ao plano de tran s lação do planeta em Inverno (23/06)
Peri é lio
torn o do Sol (plano da Eclíptica), e determinam na Terra, res-
Afélio (03/01)
pectivamente, os Trópicos de Câncer e de Capricórnio. (04/07)
Solstício de
Em função da variação da posição relativa Terra-Sol ao
Ve rão (22/12)
longo do ano, algumas dessas pos ições foram adotadas como
características, determinando as efemérides (comemoração de Equinócio de
um fato) as tronômi cas que definem as estações do ano. Define- Primave ra (23/09)
se e quinócio quando o sol, no se u movimento aparente,
posic iona -se sobre a linha do Equador terrestre (8= 0°); is to FIGURA 2.4 Representação esquemática do movimento de translação da
Terra ao redor do Sol. Adaptado de Hartman n (199 4).
36 - Pereira, Ange/occi e Sentel/lns Agrome teorologia - 37

No período de um ano, a Terra percorre aproximada-


mente 9,4 lO' km ao redor do So l, ou seja, ela possui velocida-
de média de ~ 30 km/ s. Pela seg unda lei de Kepler, que diz ç;~~~E~SOlstíCjOS
que uma lin ha ligando a Terra ao Sol descreve áreas iguais em
tempos iguais, deduz-se qlle a velocidade é maior no periélio, 22/06 22/12
quando a linha é menor, e menor no afélio, quando a linha é
maior.
Os movimentos aparentes do Sol em torno da Terra ori- ...
ginam, também, uma variação espacial (no sentido latitudinal) ,....;.
e temporal (durante o ano) da duração do período em que o l i_

Sol permanece acima do plano do h orizonte em um ponto so- 23/09


r I
21103
bre a superfície da Terra (Fotoperíodo, ver Capítulo 5 - item 5.6, --Ll... _.__L_L
e Tabela 5.1). Esse fenômeno pode ser ilustrado pelo arco que
o Sol descreve d iariamente em torno do horizonte geográfico
de um local, n as várias épocas do an o. A Figura 2.5 ilustra o
efeito combinado d o movimen to de translação com a inclina-
Equinócios
\\ l/

FIGURA 2.5 Variação anual do fotoperíodo em função do movimento de


trans lação da Te rra. Adaptado de Azevedo (1 961 I.
. "

ção do eixo da Terra. A área clara do globo terrestre representa


a área iluminada pelos raios solares. Verifica -se que durante
os solstícios, o Sol estando acima ou abaixo da linha do equa- A duração do fotoperíodo, além de sua importância em
dor terrestre, as áreas iluminadas são diferentes nos dois he- determinar o total diário de radiação solar incidente sobre u m
misférios. No solstício de verão para o hemisfério sul (22/12), local na Terra (ver Capítulo 5 - Radiação Solar), é importan te
este hemisfério fica iluminado por mais tempo que o hemisfé- fa tor ecológico, pois grande número de espécies vegetais apre-
rio norte. Imaginan do-se o movimento de rotação da Terra, sentam processo de desenvolvim ento que responde a esse fa -
percebe-se que naquela data a região do círculo polar sul fica tor (fotoperiodismo). Por exemplo, p lantas perenes adapta-
iluminada continuamente, ou seja, o So l não se põe abaixo do das a climas frios respondem a estímulos do fotoperíodo, pois
horizonte. Enquanto isso ocorre no sul, no círculo polar norte é freqüente a ocorrência de curtos períodos com elevação sú-
o Sol não aparece acima do horizonte. Seis meses depois, em bita da temperatura durante o inverno. Se essas p lantas res-
22/06, a situação se inverte com O Sol sempre brilh ando no
, ponderem apenas a estímulos de temperatura, sofrerão da-
círculo po lar norte, e sempre abaixo do horizonte no pólo sul. nos térmicos logo que a temperatura voltar ao normal do in-
Dura nte os equinócios, quando o Sol está sobre a linha verno. Portanto, o fotoperíodo func iona como um estímulo
do equador, em todos os locais da Terra, a área iluminada terá que a planta percebe tanto para iniciar seu período de repou-
a mesma duração, ou seja, cerca de 12 horas de fotoperíodo. so como para retornar ao período vegetativo.
38 - Pereira, Ange/oeei e Sel1te/has Agrometeorologia - 39

A Figura 2.6, mostra co mo três observadores em três gura 2.6c). O plano do horizonte é imaginário e tangencia a
posições (latitudes) diferentes, sendo um no hemisfério norte s uperfície terrestre no ponto de observação, sendo perpendi-
(12° N) e dois no hemisfério st ll (12° S e 30° S), vêem o Sol ao cu la r à linha do Zênite (linha imaginária que liga o centro da
m eio-dia, no transcorrer de se u caminl1amento aparente N - S Terra e o ponto n a superfície, prolongando-se ao espaço acima
ao longo do ano. Os observadores situ ados entre os trópicos do observador). O ângulo formado pela linha vertical imagi-
terão o Sol passando a pino, sobre suas cabeças, duas vezes nária que passa p ela cabeça do observador e os raios solares é
por ano (Figura 2.6a, b), enquanto que aquele situado ao sul chamado de Angulo Zenital do sol (Z). A Figura 2.6 ilus tra os
do Trópico de Capricórnio nunca observará tal condição (Fi- valores de Z ao meio-dia local, nas situações mais característi-
cas das relações Te rra-sol, para os três observadores .
Co m os mov im entos da Te rra, verifica-se que os raios
li solares atingem a superfície terrestre com diferentes ângulos
'.
zenitais, em diferentes horas e épocas d o ano. Em um instante
qtlalquer, o âng ulo zen ita l Z (Fi gura 2.7) determina a quanti-
dade de ene rgia solar que a tinge o limite externo da atmosfera
terres tre. Tomando-se como referência uma área unitária (A N )
Trópico de Câncer 11"N Eqllorlor - T r6 p. de Capricórnio
(B0 27 'N) - 22/06 2 1103 c 23/09 (23"27 ' S) - 22 /1 2 igual a 1 m' , quando os raios solares incidem perpend icular-
mente sobre ela, a quantidade de energia solar S se distribui
b sobre 1 m', determinando uma intensidade I N = SI A N. Quan-
do os raios solares inclinam-se a mesma energia S se dis tribui
sobre uma área maior (Az), resultando em um a intensidade Iz
= SI Az· A relação IzlIN=ANI Az = cos Z d efine a Lei do Cosseno
Tró piço de Cânce r 12"5
de Lamber/. Desse modo, se Z = 0°, Iz é igual a IN' pois cos 00 =
Equ ado r - Tróp . <1c C~prjçó r!\i o
(B" 27'N ) - 22J06 21103 c 23109 (23"27'5) - 22/12 1. Q uando Z = 90°, condição observada no nascer e no pôr do

c ...
y
so l, Iz é igual a zero (cos 90° = O). Essa lei possibilita o entendi-
mento do p orquê da variação diária e sazonal da intensidade
d a radiação solar.

Tn1pleo oI l' ('.~ n cc r EqU;IIJur - Tróp. de Capricó rni o 30"5


UI"n'N) :!UOt. 2 1/03 e 23109 (23°27' S) _ 22/12

FIGU RA 2.6 Corno Ir(\.., obs('rvadores vêem o sol ao meio d ia nas


vi'id,l 'i rpol as do ~1I10 , pstando em di ferentes latitudes.
r
40 - Pereira, Angelocci e Sente/has Capítulo 3

A atmosfera terrestre
Zênite

3.1 ESTRUTURA VERTICAL DA ATMOSFERA


z
z A atmosfera terrestre é o envelope gasoso, relativamen-
Az te fino, que envolve o planeta, sendo de fundamental impor-
tância à vida na Terra, pois atua como sede dos fenômenos
FIGURA 2.7 Ângulo zenital (ll do sol.
meteoro lógicos e também como determinante da qualidade e
da quantidade da radiação solar que atinge a superfície. A at-
mosfera pode ser dividida vertica lmente em camadas em fun-
ção de suas características físicas e químicas, por exemplo, tem-
peratura e concentração de gases. A atmosfera é subdividida
nas seguintes camadas (Figura 3.1): Troposfera (camada onde
ocorrem os fenômenos meteorológicos), Tropopausa (isotermia),
Estratosfera (camada onde ocorre a absorção dos raios UV pelo
O,), Estratopausa, Mesosfera, Mesopausa e Termosfera.

3.2 COMPOSiÇÃO BÁSICA DA ATMOSFERA

Basicamente, a atmosfera pode ser considerada como


constituída majoritariamente por dois gases: nitrogênio (78%
em volume) e oxigênio (21 %) . São também seus constituintes
naturais os gases inertes: argônio, criptôn io, hélio, neônio, e
xenônio. Esses sete gases formam a matriz atmosférica. Existe
ainda na a tmosfera um grande número de gases d e importân-
cia física, q uímica e biológica, entre os quais se destacam o
dióxido de carbono (C02), O ozônio (O,), e o vapor d'água.
Agrometeorologia - 43
42 - Pereira, Angelocci e Senlelhas

'm o p eríod o d e brilho solar, quando predomina o processo de


'" fo toss íntese, e sabidamente um dreno para o mesmo oxi gênio
~ dura nte o período noturno, quando só há o processo respira-
"" ~ tó rio. O balanço, ao fim de um período, é que vai determinar
~ IV! c~o l? a l! s:~
~
se a floresta é, na realidade, fonte ou dreno.
Portanto, em flmção dessa dinâmica, só se pode falar de
'" ~ uma composição atmosférica média, que varia no tempo e no es-
w ~ p aço . Um fator que afeta significativamen te ess a composição
" m édia são a s erupções v ulcânicas, que injetam grande quanti-
'" J?s !rn!opa~ ~
d a d e d e gases e p a rtícu las na a tmosfera, em um intervalo de
.,
,
.
."
tempo reduzido. Ta is g ases são muito qu entes forulando cor-
rentes verticais a scend e ntes inten s as, qu e atin gem altitudes
~.
" 1 o . e lev adas, o nd e os ventos flu e m a gr ande ve locida de. Isso re-
s ulta e m disp e rsão dos gases e partículas vulcân icas n a escala
g loba l, afe ta ndo o cieJo natural dos g ases atmosféricos não ape-
nas no local de em..issão. Felizmente, essas erupções são espo-
t' \ t i
rádicas e aparentemente não-cíclicas .
. 1011 -'JO .~I .111 .(,0 .~() " ~) .)0 · 20 · 10 () I() ~() .10 !"C)
Após a revolução indus trial, as atividades antropo-
FIGURA 3.1 Es trut ura ve rti ca l idea li zada da gênicas resultaram em microerupções urbanas responsáveis pela
atmosfera terrestre e va ri ação da tem peratu-
ra. Ada pt ado de Vianell o & Alves (199 1l.
injeção contínua de uma quantidade cada vez maior de gases
e partículas. O agrupamento de fábricas em pólos industriais
Os ga es a tm os fé ricos na tura is fazem parte de ciclos tem resultado em concentração de fontes poluidoras. São fre-
geol óg icos, se mpre co m te nd ' nc ia ao equilíbrio dinâmico, em qüentes os episódios em que a poluição atinge n..iveis preocu-
qu e o s ocean os c fl o rcs tnti alu a nl , na 111 a io ri a d as vezes, como pantes. O caso de Bopal, na Índia, onde um vazamento de uma
reservató r ios, ta nto para s uprir d e fi c iê ncias co mo para absor- indústria química resultou na morte de cen tenas de pessoas,
v er excessos. G rosse ira mente, p od e-se di ze r qu e exis te m sítios dramatizou os efeitos da poluição indus trial. A procura inces-
de produção (fo ntes) e sítios de conSlllllO (dre nos) d esses gases, s ante de novos processos e fontes de energia se justifica p le-
havendo recicl agem n a tural. É importante no tar que e m um namente sob a ótica da sobrevivência e da manu tenção do
determinado ins ta nte um sítio pode ser fonte e no momento ambiente favorá vel aos seres vivos. Imposição de d ispositivos
seguinte atuar com o dreno. A naturez a é dinâmica, com mu- redutores (filtros ) d e s ubstâncias tóxicas são tentativas de se
danças contínu as, se mpre à procura do equilíbrio. Por exem- controlar o nível d e emissão. O aumento no número de veícu-
plo, uma flores ta é prim a riamente fon te de oxigênio durante los que circulam nos grandes centros urbanos é bastante
44 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 45

preocupante, pois são microfontes d e poluição. Há, nas por uma camada de ar mais quente (menos denso) . A camada
megalópolis, consciência cada vez m aior da necessidade d e se de ar quente estando acima, impede o desenvolvimento de
controlar tais emissões com filtros e ca talizadores de gases e movimentos verticais (convecção) da atmosfera próxima ao
partículas tóxicas. solo, tornando-a estagnada e incapaz de dispersar os poluentes,
As partículas suspen sas (aerossóis) na a tmosfe ra fun ci- aumentando sua concentração. A condição normal da atmos-
onam como núcleos de condensação, aumentando a formação de fera durante o d ia é a camada de ar quente estar abaixo da
nuvens, e de chuvas que as arrastam de volta à superfície, mas ca mada fria. Desse modo, o ar quente s obe e se mistura com o
nem sempre no local de origem. Por exemplo, no caso do pólo a r frio, homogcneizand o a atmosfera, dispersando os poluentes
industrial de Cuba tão, SP, tanto as condições orográficas da para Uln a ca nlada 1l1UÍtO 111 aior. O n0l11e "inversão" significa
região como a circulação atmosférica imposta pelo sistema ter- que está acontece nd o jus ta mc nte o inverso d o normal. Inver-
ra-mar, resultaram em danos quase irreversíveis à natureza são térmica ocorre freq üentemente, m as su a intensidade é mai-
(destruiçã o da mata na vertente atlântica na Serra do Mar, e or n o período de in verno q uando a camada mais fria é mais
manguezais nas baixadas). espessa. Para as formigas, por exemplo, a inversão térmica
As chuvas são responsáveis pela lavagem natural (lim- ocorrc todos os dias. Para os humanos, sua ocorrência só é
peza) da atmosfera. Esse fenômeno pode ser apreciado logo preoc upante quando envolve grandes centros urbanos. Mes-
após uma chuva intensa, principalmente nos grandes centros mo para ci dades do porte d e Campinas, SP não se ouve (ain-
urbanos e industriais, quando o ar se torna mais " resp irável". da) falar em inversão térmica. Não que ela não aconteça; ape-
A remoção pelas chuvas (ácidas) não soluci ona o problema, nas que suas conseqüências ainda não atingiram níveis
pois apenas muda o cenário da pol uição do ar para o solo, preocupantes.
lagos, e rios. A mortalidade de peixes em lagos urbanos é uma Um constituinte da atmosfera que merece bastante aten-
conseqüência desse fenômeno, principalmente em dias calmos
e frios, quando as águas ficam mais estagnadas, com menor
ção é o ozônio (O,). ° ozônio tem ciclo extremamente curto,
sendo produzido principalmente n a estratopausa (-50km de
poder d e mistura e oxigenação. altitude), por reações foto-químicas. Grosseiramente, pode-se
Os ventos funcionam como agentes de dispersão dos ga- dizer que uma molécula de oxigênio (0,) é quebrada pela ab~
ses e partículas, diminuindo suas concentrações nas regiões sorção da radiação ultravioleta (UV), liberando oxigênio atô-
de emissão (fontes) p ela agitação constante da atmosfera. Em mico (O) . Esse oxigênio atômico reage com uma molécula de
dias em que as condições atmosféricas não permitem essa dis- oxigênio (O,), resultando numa molécula de ozônio (O,). A
persão, a con cen tração de poluentes próxima às fontes torna- molécula de ozônio é altamente instável e, na presença de ra-
se ins uportável, resultando em perigo à saúde da população. d iação infravermelho terrestre, reage com outro oxigênio atô-
Essa s ituação se agrava em di as que ocorre o fenômeno at- mico formando duas moléculas de oxigênio. Logo, o processo
mosférico d en ominad o inversão térmica, quando uma camada é reversíve l, sem ganho ou perda de oxigênio. Há, no entanto,
de ar mais frio (m ais denso) junto à s uperfície é sobreposta atenllação da radiação UV que é absorvida e impedida de a l-
46 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 47

cançar a superfície da Terra. Isso é altamente positivo e bené- (CFC) n a sociedade moderna . Os CFCs são moléculas artifi-
fico, pois a radiação UV é altamente energética, com alto po- ciais basta n te estáveis, não-tóxicas, não-infl amáveis e utiliza-
der de penetração e destruição das células, tanto animais como das principalmente na refrigeração (gás refrigerante das gela-
vegetais. Em locais montanhosos, com altitude elevada e at- deiras), n os sprays (aerosóis dispersan tes pressurizados), em
mosfera rarefeita, h á estreita correlação en tre os níveis de ra- isolantes térmicos (isopor), e como solven tes na indústria
diação UV incidente e a ocorrência de câncer de pele. microeletrônica. Aparentemente, CFC é uma maravilha quími-
A estratosfera (região entre 10 e 40 km de altitude) é ca- ca, com número ilimitado de aplicações . No entanto, quando
racterizada por UlIla constante inversão térmica, quando com- atingida por radiação UV, a mo lécula d e CFC se di ssocia libe-
parada com a troposfera. Essa inversão é resultante da forma- rando O cloro (CI), que tem alta afinidade pelo ozô nio. Estima-
ção do ozônio, q u e absorve diretamente os raios solares, libe- se que um á tomo d e cloro seja capaz de destruir dezenas de
rando essa energia no processo de recon stituição do oxigênio. milhares de moléculas de ozônio. Assim, o aumento no u so de
Portanto, a estratopausa é muito mais quente que a tropopausa. CFCs resultou na redução da camada de ozônio. Portan to, u m a
Logo, o ozônio formado n a estratopausa se difunde para a molécula praticamente inerte torna-se altamente reativa na
camada de baixo, e sua concentração atinge o ponto máximo presença de raios solares. O Protocolo de Montreal (acordo in-
entre os 15 e 30 km de altitude. Na troposfera (camada que vai ternacional para redução de poluentes) p revê que a emissão
da superfície até cerca de 10 km de altitude), a concentração de CFC deve ser severamente reduzida n os próximos anos.
de ozônio diminui significativamente. Isso é extremamente Tais ações foram impulsionadas pela de tecção da existência
relevante, pois o ozônio tem alto poder oxidante, sen do dano- de um buraco de ozônio sobre a Antár tida, d e tamanho d u as
so aos seres vivos, principalmente m u cosas e tecidos tenros. vezes maior que o território dos Estados Unidos. Depois de
No entanto, a queima incompleta de combustíveis fósseis in- muitos experimentos e análises, um painel de mais de 100 cien-
jeta ozônio d iretamente na biosfera (camada da troposfera que tistas de 10 países, t rabalhando por 16 meses, concluiu que os
abriga os seres vivos). Essa fonte artificial aumenta sua con- CFCs forilm e são os maiores responsáveis pela destru ição d a
ce ntra ção acima de limites sup ortáveis, tornando-o um camada de ozônio.
pol uente altamente perigoso. O utro constihünte a tmosférico de im p ortân cia vital para
Não é difícil imaginar que a con centração do ozônio na- os seres vivos é o dióxido de carbono (CO,), que é utilizado pe-
lllral é ffi n ior no lado ensolarado (dia) da Terra que no lado los vegetais no processo fo tossintético. Os oceanos são os prin-
sobreado (noite), visto que sua formação depende de radiação cipais -reservatórios de CO,. O processo de fotossíntese repre-
U V, e s ua di ssoc iação depende da radiação terrestre. Portanto, senta um dreno para o CO2 , enquanto que a respiração (vege tal
o ozôni o l 'ffi efeito s ign ificativo no balanço energético da at- e animal) constitui-se em fonte . Portanto, o manejo de explora-
ffiosfem e, por o nseqüênc ia, da superfície terrestre. ção do solo afeta o ciclo do CO,. A concentração de CO, at-
Rece nle men le, a d inâmica do ozônio ga nhou um aspec- mosférico tem aumenta d o significativamente desde o sécu lo
to nega tivo pelo LI SO indi sc riminado de C.l orofJuor~arb on etos passado, em função da queima de combu stíveis fósseis, e do
48 - Pereira, Angelocci e Sel1tellws Agrometeorologia - 49

°
desmatamento e que ima da biomassa. monitoramento contí-
nuo da concentração de CO 2 te m sido fe ito no Observatório
fica balanço de energia atmosférico m ais positivo, com temperatu-
ra ambiente mais elevada. Esse é o efeito estufa; isto é, a en ergia
de Mauna Loa, H ava í (me io do oceano Pacífico), isto é, uma entra na atmosfera mas tem dificuldade para sair.
área isolad a das grandes fontes industriais . Portanto, a con- Um constituinte atmosférico de fundamental importân-
centra ção a li encontrada é represe nta tiva da tendênci a g lo bal cia é o vapor d'água. A água é o único elemento que se encontra
e não apenas resultante d e um proble m a local. A Figura 3.2 na n a tureza, nos três estados físicos (sólido, líquido, gasoso),
mostra que em 1958 a concentração estava ao r e dor d e 315 simulta neamente. Mesmo na a tmosfera n ão é incomum en-
ppmv (partes por milhão em volume), com tendência crescen- contrar gelo, água, e vapor dentro de Ulna nuvem. A água fun-
te, estando a tualmente com cerca de 365 ppmv . Mas se o CO 2 ciona como termorregulador, evitando flutuações muito inten -
faz parte do m e tabolismo das p lantas e animais, qual é e ntã o sas da temperatura do a mbiente. A dis tr ibuição da água na
a preocupação com o aum ento em su a concentração? Experi- atm osfera varia ta nto espacial com o tem poralmente. Nos de-
m e ntos mos tra m que r e almente a taxa de fotossíntese aumen- sertos e n as regiões geladas, o te or de vapor d ' águ a é extrema-
ta quando se aumenta a concentração de CO 2 no anlbie nte; m e nte baixo. Nas regiões tropicais, próximas d e o ceanos quen-
logo, o a umento detectado no Havaí deve ser ben éfico às p lan- tes, sua co ncentração é elevada. R egiões próximas a oceanos
tas. Poré m, a preocupação não é com a fotossíntese, mas com frios ta mbé m apresentam baixa umid ade a tmosférica.
o u tra propriedade da moléc ula de CO 2 . Ela é excelente
absorvedorn d e radiação d e o n das longas te rres tre, e este fato
° ciclo da água é de vital importância n a redistribuição
de energia n a escala global. Para se evaporar 1 kg de água são
traz preocupação, pois o aumento e m sua concentração s ig ni- necessários cerca de 2,45 MJ de energia (calor laten te de evapo-
ração). Essa energia é provida pelo ambiente, o que causa uma
°
redução na temperatura local. vapor d' água resultante sobe
na atmosfera até uma altura com condições de provocar sua
J condensação (liquefação) . Ao condensar, h á liberação daquela
energia utilizada n a evaporação, resultando em aqueciment o
da atmosfera naquele nível. A condensação da água n a atmos-
fera prov oca o aparecimento de nuvens, que são tran sporta-
das pelo sistema circulatório, levando consigo o calor libera-
do . Há, portanto, transporte de energ ia associado com o proce s-
so evaporativo. P or exemplo, a região amazônica é rica em
IIJ SK 1')63 1%9 1975 1981

anos
1986 1992 1998

1
°
águ a e em energia solar. ciclo da água n esta regiã o funcion a
como um exportador de calor e umidade em direção às re-
FIGURA 3.2 Conccn traç:io de CO 2 atmosférico em Mauna Loa, Havaí. Fon- giões de m aior latitude (em direçã o aos pólos).
te: Keel ing & Worf (1999).
Agrometeorologia - 51
50 - Pereira, Angelocci e Sente/h as

3.2 EFEITOS DA ATMOSFERA SOBRE O BALANÇO DE 3 .3.1 Absorção da radiação


ENERGIA RADIANTE
Quanto ao processo de absorção, a radiação UV é absorvi-
Ao atravesar a atm osfer a, a radiação s olar interage com da pelo oxigênio ! ozônio, sendo quase que totalmente elimi-
seus constituintes (naturais e a rtificiai s ) resultando em m odi- nada da radiação solar que atinge a superfície da Terra. Essa
ficação na quantidade, na qualidade, e na dire ção dos raios radiação é altamente energética, com alto poder de penetra-
solares que atingem a superfície terrestre. Ess a interação ocor- ção, e causa distúrbios nas células vivas, principalmente em
re de dois modos principais:' absorção e difusão (espalhamento). microrganismos. Em regiões altas, com atmosfera rarefeita, sua
Esses modos de interação dependem do comprimento de onda incidência é maior que em regiões situadas ao IÚv el do mar.
(À., nm) da radiação e do tamanho do constituinte atmosférico . A radiação visível passa pela atmosfera, praticamente
Há, portanto, uma interação seletiva que depende das condi- sem sofrer redução por absorção em sua quantidade. Parte da
ções atmosféricas do local. r adiação IVP é absorvida principalmente pelo v apor d ' água;
A radiação solar apresenta um espectro contínuo de com- qu anto maior o teor de umidade no ar maior será essa absor-
primentos de onda curta que, do ponto de vista biológico, pode ção . Di as nublados apresentam menor proporção de IVP ao
ser separado em três faixas (bandas) distintas: níve l do solo que dias com céu limpo. O CO, também absorve
IVP. Tais absorções afetam tanto a quantidade corno a quali-
• Radiação ultravioleta (UV) 10 nm < À < 400 n m dade da radiação solar ao nível da superfície terrestre (ver Ca-
• Radiação visível (VIS) 400 11m < À < 700 11m pítulo 5).
• Radiação infra vermelho próximo (IVP) 700 11m < À < 3000 nm . A Figura 3.3 mostra a contribuição dos principais cons-
tituintes atmosféricos no espectro de absorção da radiação ao
A radiação visível é subdividida d e a cordo com a s cores IÚvel da superfície terrestre, e também o papel desses gases
caracterís ticas que apareceln no arco-Íris . Em ordem crescente no efeito estufa dev ido à suas abs ortâncias nos comprimentos
de À. tem-se a s cores violeta (400-425 nm), az ul (425-490 nm), de ondas longas (À. > 3000 nm). Verifica-se que há três faixas
verde (490-560 nm), amarelo (560-585 nm), laranja (585-640 nm), de À. em que a atmos fera apresenta baixa absortância, ou seja,
e vermelho (640-700 mn ). A ra d iaçã o v isível é praticamente aque- para À. cntre 3500 e 4000 nm, entre 8000 e 9000 nm, e en tTe
la utiliz ada pelas planta s 11 0 p rocesso fotossinté tico, sendo de- 10000 e 12000 nm. Diz-se que essas faixas formam a janela at-
nominada d e f otossintetica mente ativa (RFA, oU PAR). Isto não mosférica, através da qual a superfície terrestre consegue per-
significa que a radiação IVP n ão seja imp orta nte . Fitocromos e der parte de sua energia, mantendo a temperatura mais ame-
hormônios são (des)a tiva d os por ess a ra diação, e afetam tan- na. Pela lei de Wien da radiação (ver Capítulo 5), verifica-se
to o crescimento com o o d ese nvo lv im e n to d as plantas. Os efei- que À. da radiação emitida pelos corpos terrestres se ajusta per-
tos da radiação IVP são fila is qualita ti vos do que quantitati- feitamente ao intervalo da janela atmosférica.
vos, como ocorre no fotop eriodism o .
52 - Pereira, Angelocci e Sen te1l1as Agrometeorologia - 53

no ar) quando a radiação solar tem mais dificuldade de atin-


100"'"8
CH,
"'--_ _-2l.},~JL_ê ::% gir diretamente a superfície. Nota-se, nessas situações, que os
raios solares vêm de todas as direções possíveis (multidire-
"
N20 l00%ª~_-------,-,,"V"'-LALhl-------.E[: % w
cional) . Essa radiação, vindo igualmente de todas as direções,
" não projeta sombra dos objetos. Por esse motivo, essa parte da
'~JJ
02 e 03 ~ E ,.,. ~
~~~~----__&~~~~~~tO % ~ radiação solar é denominada difusa.
Quanto mais limpa estiver a atmosfera, menor será a
'OO%~
CO 2
0%
"----_-----1J\!LJ..~LJ
~Jê :'~ % i proporção da radiação solar que sofrerá o processo de difu-
são. Isso significa que maior proporção dos raios solares atin-
'~:=L-@_=.N\MlLUO----L"f\~J"_~ ::% gem diretamente a superfície. Essa radiação direta é que projeta
ATMOSFE RA"" ' D 1nJ1J\N'v1nrE '00' sombra dos objetos. Ela tem sempre uma direção bem defini-
da (unidirecional) e determinada pelo ângulo zenital (Z) dos
a %~JI I _1 1 1 1 J lil l ~O%
0.1 COt.l~RIMENTO DE ONDA
iJ
:20 " raios solares. Quanto maior Z, maior será a espessura da ca-
mada atmosférica a ser atravessada pelos raios. É por esse
motivo que se consegue olhar o nascer /pôr-do-sol sem prote-
ção para os olhos. Tomando-se CQlno padrão de medida a es-
pessura (m) da atmosfera quando Z = 0°, verifica-se que quan-
COMPR IME NTO DE ONDA
do o sol está próximo do horizonte (Z > 80°) os raios solares
atravessam uma espessura equivalente a mais de 30 vezes m.
FIGURA 3.3 Espectro de absorção da radiação solar pelos constituintes da
atmosfera. Fon te:Varejã o-Silva (2000). Portanto, a radiação solar que atinge a superfície da Ter-
ra (radiação global, Qg), interagindo com a atmosfera em seu
caminho, tem uma parte devido à radiação direta (Qd) e outra
3.3.2 Difusão da radiação solar parte de;;ido à radiação difusa (Qc). A proporção de cada com-
ponente depende das condições atmosféricas do momento e
Quanto ao processo de difusão da radiação solar, o efeito do ângulo zenital. Por exemp lo, utilizando-se de medidas fei-
dos constituintes atmosféricos apenas mudam a direção dos tas na Estação de Radiometria Solar, da UNESP, em Botucatu,
raios solares. Evidentemente, esse processo também afeta a SP, em um dia de céu quase que completamente limpo (28/
quantidade e a qualidade da radiação solar que atinge a su- 07/97), constatou-se que a radiação direta representou quase
perfície da Terra, pois parte desta radiação é difundida de volta que a totalidade da radiação solar global naquele dia (Figura
para o espaço sideral, jamais incidindo sobre a superfície. Esse 3.4). Observa-se que, sendo um dia de inverno, com atmosfe-
processo é mais facilmente percebido em dias nublados, e em ra mais seca, a proporção Qd / Qg foi maior que 0,95 no início
dias com alto teor de poeira (fumaça e partículas suspensas da manhã, decrescendo levemente até 0,7 no final da tarde,

L
54 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Capítulo 4

em função da elevação de umidade por movimentos convec- Movimentos atmosféricos


tivos. A contribuição da radiaçã o d ifusa, nessas condições, foi
inferior a 10% (Qc/Qg < 0,1) ao lon go do dia, com leve incre-
men to até 0,25 n o final do dia .
Essa situação se modifica significativamente durante um
dia nublado (24 /8/ 97), quan do a contribuição da rad iação
difusa foi m aior que aquela da rad iação direta . Observa-se, n a
Figura 3.4, que até às 13 h oras, Qc foi sempre maior que Qd, 4.1 CIRCU LAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA / VENTOS
sen do qu e Qc representou mais d e 60% d e Qg. A partir das PREDOMINANTES
14h, as nuvens foram desaparecendo, e Qd voltou a contribuir
mais que Qc, representando mais d e 50% de Qg. A atmosfera se movimenta em resp os ta à diferen ça de
pressão en tre duas regiões. A causa principal do aparecimen-
3
to de pressões diferentes é a incidência e absorção d os raios
l -f]"
. .....-0, 24/8/97 solares d e maneira disti nta nas d uas regiões. Na macroescala,
o ,
! ...~ - .~ I Nu blado
pela p osição relativa entre a Terra e o Sol, os raios solares são
o '
~ ~ m ais inten sos e mais absorvidos na região equa torial do que
;/ , iI, nos p ólos. Essa diferença em disp onib ilidade d e energia gera
+ sup erfícies mais aquecidas nas regiões in ter tropicais. O ar é
o ,.,!, _ B · -8·G- ·G · D·0· 8· 0·0~ J ---.-.~-.
um fl uid o cuj as ca r acte rís ticas resultam em exp ansão
~ ~ ~ ~ ~ ~ ; g~ ; ; ~ j ~ ~ ~ ~ 2 ; ti ~ ; ; ;
volumétrica à med ida qu e a tem peratura aumen ta. Isto signi-
Hora local Hora local

fica que um volu me d e ar mais qu ente é m enos d enso que o


FIGURA 3.4 Va riação horá ria da radi ação so lar glo bal (Qgl, d ireta (Qdl, e
d lfu s~ (Qc), em, co nd i,ções de cé u li mpo e nublado, em Bot ucatu, SP. Fonte: mesmo volume d e ar mais frio. Ar menos d enso tende a subir,
Estaçao de Radl ome!na So lar, Unesp, BOlucalu, sr. exercendo menor força sobre a sup erfície. A força ver tical
exercida p ela atmosfera sobre a superfície terrestre é d enomi-
nada de pressão atmosférica.
Pelo descrito acima pode-se inferir que a atmosfera é
mais expand ida no equador e mais con traída nos pólos. A parte
ensola rad a da Terra (dia) também tem atmosfera mais espes-
sa que a parte escurecida (noite). A espessura d a atm osfera
varia contin ua mente ao redor d a Terra. Portanto, a região equa-
toria l sempre ap resen ta m enor pressão atmosférica que os
pólos. É p or esse motivo qu e, na superfície, as massas frias
(alta p ressão) semp re avançam para as regiões mais aquecid as
56 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 57

(baixa pressão). Em altitude, a circulação é no sentido contrá- to, e no hemisfério Sul desloca a trajetória para a esquerda de
rio, formando uma célula. Essa movimentação redistribui a seu sentido originaL No hemisfério Norte, o deslocamento é
energia que "sobra" no equador para as regiões polares. para a direita. Isso explica porque os red,:moinhos giram em
Pela descrição bem simples apresentada acima, deduz - sentidos diferentes nos dois hemisférios. E a força de Conohs
se que uma parcela (volume d e controle) de ar está sujeita a que determina o movimento rotatório dos sistemas atmosféri-
três forças: 1) da gravidade; 2) da flutua ção térmica; e, 3) do gra- cos (ciclones, anticiclones, tornados, furacões). Para entender
diente horizontal de pressão. A força de atração gravitacional é o efeito da força de Coriolis, imagine mn avião voando, em
sempre direcionada no sentido do centro da Terra, prendendo linha reta, do pólo sul para um ponto situado no equador.
a atmosfera ao redor de sua superfície, sendo a principal res- Como a Terra gira d e oeste para leste, a trajetória do avião
ponsável pela pressão. A força, devido à flutuação térmica, será uma curva para a esquerda, pois o ponto de destino se
contribui significativamente para a variação da pressão local, desloca para a direita, como mostrado na ilustração abaixo.
e sua contribuição pode ser tanto no sentido de aumentar como Essa trajetória pode ser vista quando se traça uma reta em um
de diminuir o valor da pressão. A contribuição é positiva quan- disco em movimento.
do a superfície está fria, pois o ar em contato com ela também
está frio, e a força de flutuação térmica será direcionada para F
o centro da Terra, aumentando a pressão. Se a superfície esti- LatO" Vel. 464 mls
Baixa Pressão
ver quente, o ar estará quente, e então essa força será direcio-
nada para cima, diminuindo a pressão na s uperfície . A força
devido ao gradiente horizontal de pressão é a responsável pela Lat 30" Vel. 309 m/s
movimentação da atmosfera de uma região para outra. Alta Pressão

Como essas três forças atuam sob re a parcela de ar em


qualquer s ituação (repouso ou movimen to), elas são denomi- Na macro-escala, os ventos de superfície estão associa-
nadas deforças primárias. No entanto, no momento que a mas- dos à circulação geral da atmosfera, sendo função dos gradien-
sa de ar começa a se movimentar aparecem dua s outras forças tes horizontais de pressão. Embora os campos de pressão e de
denominadas de secundárias. Uma, é a força devido ao atrito com ventos variem continuamente ao longo do tempo sobre a su-
a superfície. Essa força é sempre contrária ao sentido de movi- perfície, é possível veri ficar uma certa tendência, com ocor-
mentação, sendo resultante da rugosidade da s uperfície; por- rência de faixas de altas e de baixas pressões. Na região do
tanto, seu efeito é de desaceleração do movimento. Outra, é Equador existe uma faixa de baixas pressões, cujo centro fica,
uma força aparente devido ao movimento de rotação da Ter- em média no ano, um pouco acima do círculo equatoriaL Em
ra, denominada de força de Coriolis. Essa força apenas muda a torno da latitude de 30°, nos dois hemisférios, existe uma fai-
trajetória da massa de ar sem modificar sua velocidade. A for- xa de altas pressões (latitude de Cavalos). Entre as latitudes
ça de Coriolis é sempre perpendicular à direção do movimen- de 60° e 70°, nos dois hemisférios, existe uma faixa de baixas
58 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 59

pressões, e os Pólos constitu em-se em centros de alta pressão Entre os Trópicos e o Equador => ALíSIOS de N E (HernNorte) e de SE
(Figura 4.1). Entre as fa ixas de pressões descritas acima, for- (Hern.5ul).
Entre os Trópicos e as
mam-se células de circulação em macro-esca la. Os ventos for- Regiões Sub-Polares => Ventos de OESTE.
mam-se d evido às diferenças de pressão en tre dois pontos, Regiões Polares => Ventos d e LESTE.
indo no s entido daquele d e maior para o de n"lenor pressão.
Nas reg iões de tran sição, o ar ou se eleva (baixa pressão) ou Nas regiões de transição das células de circulaçã o, nor-
des ce verticalmente (a lta pressão), formando as células com malmente, ocorrem ca lmarias. Na região equa torial, on de os
ramo superior em sentido contrário ao da superfície. ventos alísios dos dois h emisférios convergem, forma-se a Zona
d e Convergência Intertropical (ZCIT). Há também a formaç ã o
Ve ntos de Leste da Zon a d e Convergência Extratropical (ZCET), onde ocorre a
convergência dos ventos de leste e de oeste .
Vento s de Oe ste
ZCIT::::::> elevação do ar quente e úmido, pouco vento, formação de
30° um cinturão de nuvens e chu va convectiva.
ZCET ::::::} encontro do ar frio e seco co m ar q uente e ú m ido, origi-
Alísios de Norde s te
nando sistemas frontais (ciclones extra-tropicais) q ue afetam p arte do Brasil.

Alísios de Sud este


4.2 CICLONES E ANTICICLONES

V e ntos de Oeste O centro d e uma m assa aquecida possui baixa pressão. À


m ed ida que se afasta do centro, a pressão vai aumentando.
Linhas que li gam locais com m esma pressão são denomina-
das de isóbaras. A tendência natural é do vento soprar em dire-
ção ao centro de baixa pressão; ou seja, um centro de baixa
FIGURA 4.1 Representação esquemática si mp l ificada da circulação geral d a
dl rn o sfe ra e ve ntos predominantes. A daptado d e Vianello & A lv es (199 1). pressão é uma reg ião de convergência de v entos. Em virtude
da influência da força de Coriolis, que atua perpendicularmen-
te à d ireção dos ven tos puxando-os pa ra a esquerda, a direção
Como a força de Coriolis (F) modifica o sentido dos ven- final dos ventos passa a ser oblíqua às is óbaras e no sentido
tos, d e fl e lindo-os para a esquerda no hemisfério Sul, e para a horário, no hemis fério sul, caracterizando uma circulação
lire ita n o he mis fério Norte, originam-se os ventos predomi- ciclônica. Portanto, no hemis fério sul, os ciclones (baixa pres-
nanles e m cada fa ixa de la titude : são) têm circulação no sentido horário. Tornados e furacões
60 - Pereira, Ange/occi e Senlelhas Agrometeorologia - 61

tê m circulação desse tipo. Os furacões, por suas d imensões tes fri as avan cem mais ou menos pelo continente. A lgumas
avantaj adas, aparecem nitidamente nas imagens dos satélites vezes a posição da corrente de ja to bloqueia o avanço da mas-
meteorológicos, mostrando o sentido d e su a circulaçã o, traje- sa fri a, tornando-a estacionária s obre uma região p or alguns
tória, e velocidade d e deslocamento. dias, causando excessos de chuvas na região do bloqueio, e de
Um centro de alta pressão, ou seja, um centro exportador estiagem nas áreas imediatamente acim a dessa região. Isso ex-
de vento, tem circ ulação anti-horário, no h emisfério S ul, carac- plica as ench entes ora no Rio Grande d o Sul e Santa Catarina,
terizand o um anticiclone. Nos anticiclones os gradientes de or a no P araná e Sã o Paulo, ora mai s ao norte.
pressão não são tão elevados como nos ciclones, daí as m eno- Essa circulação ger a l é extremam ente modificada por
res velocidades d e v entos associados aos anticiclones. uma série de fa tores ao longo do ano (presen ça de oceanos e
contine n tes, rugosidade da superfície, entre outros), tendo
grande varia ção te m poral e espacial. Um exemplo disso, são
4.3 CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL as modificações d a circulação devido aos fenômenos EL NINO
eLA NINA.
Devido a um gradiente horizontal de pressão, as m assas
de origem polar se movim entam em direção ao equa dor, a traí-
das pelos centros de baixa pressão. A força de Coriolis muda a 4.4 El NINO E lA NINA
trajetória dessas lnassas para o oeste. A presen ça de m a ssas
quentes situadas sobre o continen te resis tem a essa tentativa U m fen ômeno de extrema importâ n cia não apenas
de avanço d as massas frias, empurrando-as p ara o oceano meteorológico mas também econômico é o El Niiío - Oscila-
Atlântico. Algumas vezes, as m assas frias avançam rapidamen- ção Sul (ENOS) . A té a década de 1950, o fen ôm eno ENOS só
te pela Cordilheira dos Andes e mpur rando a massa continen- despertava a aten çã o dos p escadores d a costa do P erú, Equa-
tal quente para norte e mesmo leste, ch egando a té a Amazô- dor, norte do C hile, e daqueles que sobreviviam da coleta d e
nia ocidental. Esses avanços causam as chamadas friagens na guano, rico fer tilizante produzido por p ássaros marítimos que
A mazônia . Quando elas a contecem , s ignifica que a m assa d e habitam a cos ta daqueles países. Aquelas pessoas p ercebiam
ar fria é muito forte, e geralmente provoca ocorrências d e gea- que a e levação do nível do mar e d e s ua tempera tura reduzia
das n a reg ião sudeste. a quantidade de peixes, e também a produção do fertilizante
Essa circulação sul-norte é influ enciada pela presença na tural. Como esse fenômeno era mais intenso na época do
de um caudal d e ventos forte s situa dos a cerca de 10 km de Nata l, os pescadores b atizaram-no de El Nii'í.o, como referên-
a ltitud e, e que flui continuamente de oeste para leste, serpen- cia ao n ascimento do menino Jesus.
teando ao redo r do globo . Esse caudal descreve uma senóide, As águas do oceano Pacífico são " normalmente" mais
sendo denominado d e "corrente d e jato" (jet stream). A posi- quentes nas costa s da Austrália e Indonésia que na costa d o
ção d o jet stream varia continuam ente fa zendo com que as fren- Equ ador, Perú e Chile. Essas reg iões estão mais ou m enos n a
Agrometeorologia - 63
62 - Pereira, Angelocci e Senlelhas

queda na produção pesqueira. Estando o oceano mais aqueci-


mesma faixa de latitude no hemisfério Sul. A atmosfera em do na costa da América do Sul, o processo convectivo torna-se
contato com as águas aquecidas da Austrália torna-se menos mais intenso ali, favorecendo a ocorrência de chuvas, até tor-
densa, gerando um centro de baixa pressão; em cima das águas renciais . Como conse q üência, diminuem as ch uvas na
maiS fnas da Am érica do Sul ela é m ais densa (centro de alta
Au strália.
p ressão). Logo, ao nível do mar, no Pacífico Sul, os ven tos so- Com o desenvolvimen to e uso de satélites meteoroló-
p ram de leste para oeste. Devido ao a trito com a superfície gicos ficou mais fácil medir a temperatura dos oceanos, e acom-
eles arrastam as águas do oceano naquela direção. Como con- panhar o deslocamento dos grandes sistemas circulatórios.
seqüência, o Pacífico tem um desnível próximo de 0,5m entre Como decorrência, começou-se a associar a ocorrência do El
a Austrália e a América do Sul. Esse arrasto de águas em dire- Nino com anomalias meteorológicas em ou tras regiões do
ção à Austrália facil ita o afloramen to de águas mais profun- mundo (teleconexões ). Em função da posição de ocorrência, o
d as, fnas, e tamb ém mais p iscosas na América do Sul (Corren- El Nifio afeta diretamen le a posição da "corrente de jato" (jel
te marítima de Humboldt ou do Perú). Se ao nível do mar os stream) e a ocorrê ncia de inundações e secas, como descrito
ventos são de leste para oeste, em altitude (limite da troposfera) acima. Logo, para a regiã o sudeste do Brasil, El Nino pode
sua direção é de oes te para leste, formando uma célula significar tanto excesso como falta de chuvas (Figura 4.2). Para
latitudinal de circulação atmosférica (célula de Walker). A at- outros locais, as influências podem ser mais marcantes e nem
mosfera que se eleva (por convecção) na costa da Austrália
sempre desfavoráveis (Figura 4.3).
(com chuvas), tende a descer seca (sem chuvas) na costa do O fenômeno oposto ao EI Nino é a La N ina, que se ca-
Perú. Esse pad rão é tomado como "normal" para a circulação racteriza pelo resfriamento além do normal d a águas do ocea-
atmosférica naquela região. no Pacífico. As conseqüências desse fenôm eno no clima do
Por razões ainda desconhecidas, de tempos em tempos, Brasil é a intensificação das chuvas no Nordeste e secas no sul
_ ocorre um aqu ecimento anômalo das águas na costa da Amé- do país. No Estado de São Paulo, as conseqüências dos fenô-
rica do Sul. A hipótese mais recente sugere que esse aqueci- menos El Nino e La Nifia não são bem definidas, por estar a
mento seja devido a vulcões submarinos localizados na dorsal região Sudeste em uma zon a de transição, ond e as conseqüên-
do Pacífico, que liberam grandes quantidades de calor. Esse cias dos fenômenos são m oduladas também pelas variações
aquecimento é su ficiente p ara baixar a pressão atmosférica na da temp cratura do oceano A tlântico, de onde provém o vapor
região, enfraquecendo a circulação leste-oeste, e sem essa sus- d'água trazido pelos ventos alísios de SE. Assim, quanto maior
tentação as águas que se acumulavam na costa da Austrália a temperatura do Atlântico maior a injeção de vapor no conti-
sofrem um refluxo em direção à América do Sul. Essas águas ne nte e, conseqüentemente, maior a possibilidade de chuva.
mms qu e ntes, menos piscosas, aceleram o processo de enfra- Para o Rio Grande do Sul, analisando registros históri-
quecim ento circula tório, chegando m esmo a reverter o senti- cos, desde 1913 até 1995, Fon tana & Berlato (1997) verificaram
do da célula de "':alker. Em função d o enorme volume d e água que os totais de chuvas mensais de outub ro e novembro fo -
envolvido, o fenomeno tem duração de muitos meses . Daí, a
64 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 65

ram cerca de 17% maiores durante anos de EI Nino, e 23%


menores em anos de La Nina. Para o rendimento da cultura
EL NINO - JUNHO - AGOSTO
do milho, esse excesso de chuvas d e outubro e novembro
mostrou-se benéfico; entretanto, chuvas excessivas no outo-
no-inverno, prejudicam a colheita (Fontana & Berlato, 1996).
No caso da cultura do trigo, o rendimento na região cen-
tro-sul do Brasil, no período de 1920 a 1997, foi prej u dicado
em 61 % d os anos d e EI Nino, e favorecido em 73% dos anos de
La N ina (Cunh a et a!., 1999). . . ..... .;
.. .......... -;.. -.
EFEITOS 00 FRNÔl\fENO EL NINO/Osc.'lLI-\.Ç,\o SUL (ENOS) NA A1\.1ÊRlCA DO SlJL

NORTE
COLOMB IA , Secas tle moderada$ a i1lensas no norte
VE NEZUELA, GUIANA, e leste da Am;uma Aumeno da
SURJNAt.1E, GlJIANAFRAN CESA probaoiliaade de ncêndios IIorestais,
Reduçio das PfflópitêM;Oes na m3iOr palie pnnclpalmerte em areas ae llaes.!as delJ<lcbOas
!,so 1rI0. tom exter;~ oos meses ele
~!í~~f:J~ rel(~a:'e:1~c= NOROESTE
P at(~ca
Ch was
da COlômbia que
IIllenS3S no
retebe
vtrio
Corno o leste da ArMIÔ"Ila, s.ec.as
de div'ef"5as Inlensidild!"3 no r(u\e 00
Nortfeste DCO!Tem dlJ'"rte a csta,30
DEZEMBRO - FEVEREIRO
chtNosa ele f~reiro a maiO
SUl e oeste OJ NOtI:IeSIe nao ,ao
sig~atlvamente a'el<lOO:5
EOUA OOR . PER U, a o LlvlA. CHIL E
C h~s intemas nos meses de verão soo.-e
a costa ocidental da AIIlénca 00 Sul, 'l1C
afetam as tOstls 00 E~aoor e CIo r'Drte 00 PCIU Modera(lo lUnenID lias
Setas nos meses de veria 500fC as reIJões temperalllltS médias. Tem ocomao
ancllnas do Equ<!dor. Peru e BoIí..u. ClI.Nas Sdtstanclal i!UTI~ das !empeJ1NU'as
intensas sobre a ~ c:enIJ3I e $IJ OJ reste il'l\lefno Hão M j)3CttIo
c rlile esaçkl di: caa::leriSIJ:O aell'lUll<lrlÇ3 lias CI'I.NU

PredFilaçlies abundantes, pnntipalmente


CENTRO OESTE na pnm ~ra e chl.NaS lrtell5<1s de maio aJlIrIo
Nl!io há evidências de efeitos pIDIlU'lclados Aum(!nto da temperatura média
nas cllwas !IemI reo).!Jo TendhH::1a ae
chl,W,Tls <KlI1Iiii ela méch3 ~ ~ra\l.r.l$
mais iAas no !IUI 00 MS
ARGENTINA , PARAaUAl UR UGUAI . . .. .. .... . .. .. .
~
Predpitar;lies acima aa I!Iécu no f"IOnle5!t' da Alijentlfla,
J rtguai e Paraguai, pnncipalmenle na 1Xlrn.ave1'll e veio.

Fonte de dados: NCEP


FIGURA 4.2 Efeitos do fenômeno EI Nino/O scilação Su l (E N OS) na A mérica
d o Su l. Fonte: CPTEClINPE. FI G URA 4.3 Esq uema aproxi mado dos efeitos do EI N ino nos di versos con-
tinentes. Fon te: CPTEClIN PE.
66 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 67

4.5 ESTRUTURA VERTICAL DOS VENTOS de reduzir (estável) a turbulência. Esse fato tem grande im-
portância agronômica, pois os defensivos agrícolas devem ser
Cerca de 85% da massa atmosférica está concentrada nos aplicados nas horas de menor turbulência possível para per-
primeiros 10 km acima da superfície (troposfera). Portanto, os mitir que tais produtos se depositem sobre a área-alvo. É por
fenômenos meteorológicos mais importantes no dia-a-dia ocor- esse motivo que a aplicação aérea sempre é feita na madrugada,
rem nessa camada. Em altitude a atmosfera flui livremente, um pouco antes do sol nascer (hora mais fria do dia). Desse
sem obstáculos, ou seja, a presença da superfície não é perce- modo, evita-se espalhamento de produto (tóxico) para fora da
bida, e os ventos têm grande velocidade (praticamente não há área de aplicação.
atrito). À medida que se aproxima da superfície, sua presença Outro aspecto interessante da estrutura dos ventos é que
vai se tornando cada vez mais notória, e os ventos vão dimi- a direçã o muda à m edida que se afas ta da superfície. Esse fe-
nuindo rapidamente sua velocidade (atrito vai aumentando). nômeno é devido ao decréscimo do a h'ito com a altura. Logo,
Junto à superfície, o deslocamento da atmosfera é obstruído a força de Coriolis vai mudando a direção do vento à medida
pela irregularidade do relevo, pela presença de árvores, plan- que o atrito diminui. Plotando-se a direção do vento em cada
tações, cidades, etc. Quanto mais rugosa for a composição da altura obtém -se uma "espiral" (de Ekman) . Esse mesmo fenô-
superfície, maior será sua influência sobre os ventos. A veloci- m e no ocorre com as correntes marítimas com velocidades mai-
dade é menor junto à superfície, mas a presença dos obstácu- ores próximas à superfície e menores no fundo dos oceanos.
los cria redemoinhos que são proporcionais ao seu tamanho. Há, portanto, um acoplamento entre as correntes marítimas e
A ocorrência de redemoinhos caracteriza escoamento turbu- a circulação atmosférica.
lento (caótico). Por exemplo, uma cidade cria mais turbulên-
cia com seus arranha-céus que uma floresta; mas esta cria mais
turbulência que um canavial, e assim sucessivamente. Essa 4.6 CIRCULAÇÕES E VENTOS LOCAIS
turbulência é de origem mecânica.
Como visto anteriormente, à medida que o Sol vai aque- A circulação geral da atmosfera, discutida no item ante-
cendo a superfície, aparece uma força de flutuação térmica que . rior, mod ifica-se acentuadamente na escala de tempo e espa-
estimula o aparecimento de ventos. Esse deslocamento verti- ço, d ev ido ao aquecimento diferenciado entre continentes e
cal interfere com o deslocamento horizontal da atmosfera au- oceanos, configuração de encostas, sistemas orográficos e to-
mentando o movimento caótico. Essí) turbulência é de origem p ogra fia. Assim, os ventos de superfície, que são função da
térmica e a atmosfera é dita instável. Acontece que nas horas circulação geral da atmosfera, podem ser modificados pelas
mais frias do dia aforça de flutuação témtica inibe o desenvolvi- circ ulações e m menor escala, variando tanto dia ria como sa-
ment o vertical, suprimindo a turbulência. Diz-se que nessas z onalJncnte.
condições a atmosfera está estável. Portanto, a contribuição
térmica pode ser tanto no sentido de aumentar (instável) como
68 - Pereira, Angelocci e Sentelhns Agrometeorologia - 69

4.6.1 Brisas terra-mar e monções s ubcontin ente indiano a té o sudeste asiático (oceano Índico),
sen do que a agricultura dessa região depende d a regu larida-
Ocorrem devido às di ferenças de temperatura e pressão de das chu vas, que têm efeito sazonal bem pronunciad o.
e ntre continente e o mar, na escala diária, formando uma célu-
la de pequena circulação. Durante o período diurno ocorre a
brisa marítima, sentido mar-continente, porque o mar, demo- 4.6.2 Brisas de montanha e de vale
rando mais para se aquecer, torna-se um centro de alta (relati-
va), e o con tinente ao se aquecer m ais rapidamente torna-se Ocorrem devido às diferenças d e temperatura entre pon-
um centro de baixa pressão, fazendo com que o vento sopre tos em dis tintas s ituações de relevo. Durante o dia forma-se a
do mar par a a terra (Figu ra 4.4a). Mas durante a noite, o senti- brisa de vale (anabática), porque em virtude do aquecimento a
do d a brisa inverte-se (brisa terrestre), porque o contin ente se tendência do ar é subir (Figura 4.5a). Duran te a noite forma-se
resfria ma is rapidamente do que as águas do mar, invertendo a brisa de montanha (catabática), em decorrência do escoamento
os centros de a lta e baixa pressão (Figura 4.4b). do a r frio, mai s denso, para as baixadas (Figura 4.5b).

a
O b CL a b

( ') ~«~))
~<~) A rqu cn le . . A r frio

Terra ~ Terra ~ < .. .>

FIGURA 4.4 Representação esquemática das brisas marítima (a) e terrest re FIGURA 4.5 Representação esquemática das brisas: a) de vale, du ra nte o
(b). dia; b) de montanha, durante a noite.

Esse mecanismo existe, também, em escala anual (sazo-


nal) envolvendo oceano e continente, com circulação na su- 4.6.3 Vento foehn ou Chinook
perfície ocorrendo do oceano para ~ continente na estação
quente, e o contrário na época fria, constituindo as monções. A Esses são ventos fortes, quentes e secos, que se formam
influência da s monções é maior sobre o regime de chuvas do a so ta vento das montanhas, sopra ndo encosta abaixo (Figura
que sobre o de ventos, pelo transporte de vapor d 'água do 4.6). Esse fenômeno ocorre em regiões montanhosas, onde o
oceano para o continente. Embora os sistem as monçônicos a r quente e úm ido sobe p ela en costa, resfriand o-se em decor-
ocorram em várias regiões, os mais conhecidos são os do rência da expansão adiabática, devido à d iminuição de pres-
70 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 71

são com a al tura. Acim a de um de termin ado nível ocorre cE - equatorial continental - forma-se n a região ama-
condensação, h avendo formação de nuven s, com ocorrência zô nica (quente e úmida), causa ndo chuvas.
d e chu va . Após atingir o topo da montanha, o ar desce pela mE - equatorial marítima - fo rma-se sobre o oceano,
outra encosta (sotavento), com baixa umidade, o que provoca cau sando chu vas.
um aquecimento da corrente descendente, maior do que o cT - tropical continenta l- forma-se na região do C h aco
resfriamento da subida. Esse processo resulta no fenômeno, (qu ente e seca), causa poucas chuvas.
chamado de sombra de chuva, pois a chuva ocorre com m a ior mT - tropical marítima - forma-se sobre os oceanos e
intensidade e quantidade a barlavento do que a sotavento. causa po u cas chu vas.
mP - polar marítima - forma-se na região sub-antártica
(fria e seca), ca us a chu vas frontais .
Barlave n to ~ Sota v ento cA - antártica contine ntal- forma-se na região Antárti-

~GJ
ca durante todo o an o .

A
..•
B

Te m pe ra t u ra em 8 > T c mper :llu r <l em A

FIGURA 4.6 Ventos Fo ehn ou Ch inook.

4.7 MASSAS DE AR I FRENTES

As massas de ar são grandes volumes que ao se desloca-


rem lentamente ou estacionarem sobre uma região adquirem
as características térmicas e de umi9ade da região (Fedorova ,
1999). São classificadas: a) quanto à região d e origem : Antárti-
ca 01:1 Ártica (A); Polar (P); Tropical (T); e Equ a torial (E); b)
quanto à superfície de origem: Marítima (m) e Continental (c). FIGURA 4.7 Princ ipai s massas de ar que atuam no terri-
Os p rincipais tipos d e m assas de ar sobre a A m érica do tó rio bras ile iro, nas d iversas estações do ano. Ada ptado
de V ian ello & Al ves (1991).
Sul são:
72 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 73

A Figura 4.7 apresenta o predomínio médio das massas os ventos mudam de direção, logo após a passagem da frente,
de ar que atuam no Brasil, nas diferentes estações do ano, cara cterizando a entrada de uma nova massa de ar na região.
mostrando sua variação espacial, decorrente da associação de A frente fria de deslocamento rápido geralmente forma
diversos fatores, dentre os quais a disponibilidade de energia chuvas pré-frontais, ou seja, antes da chegada da massa fria, e
na superfície. o tempo se torna bom durante a passagem da frente (Figura
4.8b). As nuvens pré-frontais assumem forma de coluna (Cb).
Nessa situação, antes da ocorrência de chuv as observa-se ele-
4 . 7.1 Frentes vação da temperatura, fenômeno conhecido como aquecimento
pré-frontal, decorrente da elevação da massa de ar.
Quando ocorre o encontro de duas massas de ar elas não A frente quente, ao encontrar ar estável no local, forma
se misturam imediatamente. A massa mais quente (menos chuvas leves e contínuas. Com ar instável, forma chuvas in-
densa) se sobrepõe à massa mais fria (mais densa), formando tensas com trovoadas, geralmente, 200 a 300 km antes da che-
uma zona de transição entre elas, onde ocorrem variações blUS- gada da massa quente. As chuvas são causadas por nuvens de
cas nos campos de temperatura, vento e pressão. Essa zona de pouco desenvolvimento vertical, tipo altostratus (As) e
transição é denominada frente. Dependendo de qual tipo de nimbostratus (Ns), que cobrem totalmente o céu local. As nu-
massa que avança para a região do observador, a frente toma vens tipo cirrostratus (Cs), podem estender-se a centenas de
sua denominação: fria ou quente. Quando há a entrada de uma km adiante da posição da cunha à superfície (Figura 4.8c).
frente, há modificações nas condições do tempo no local e na O fenômeno de oclusão, ou frente oclusa, ocorre quan-
qualidade do ar. do as frentes frias e quentes se alternam sucessivamente, for-
Existem d iferentes tipos de frentes, que dependem das mando chuvas leves e contínuas por vários dias no mesmo
condições físicas das massas (Vianello & Alves, 1991; Fedorova, local (Figura 4.8d). Nessa situação atuam três massas de ar e a
1999). A frente fria de deslocamento lento (Figura 4 .8a), nor- mais quente fica entre duas massas mais frias, podendo a frente
malmente está associada a chuvas muito inten sas com trovoa - oc1usa ser quente ou fria (Fedorova, 1999). No verão, ocorrem
das an tes, durante e após a passagem imediata da frente, pela aguaceiros com trovoadas prolongadas, resultando em enchen-
formação de nuvens com forte desenvolvimento vertical, do tes e desmoronamentos.
tipo cumulonimbus (Cb). O prenúncio da aproximação de uma
frente é marcado pelo aparecimento de nuvens altas e finas,
do tipo cirrus e cirrostratus (Cs), que têm aspecto fibroso
esbranquiçado. A chegada de uma frente fria causa sensível
redução na pressão atmosférica local, aquecimento intenso e
desconforto. A pressão sobe rapidamente, a temperatura cai, e
74 - Pereira, Angelocci e SenteI/las
Capítulo 5

Radiação solar

" ~ 1: o

~< 1
~
'õ,
'í'!
ª c
o
E
9
5.1 INTRODUÇÃO
g ,"
'li g
ª ~ o
A radiação solar é a maior fonte de energia para a Terra,
""
o

•i ~ ""
~

J:
~
-o
e
sendo também o principal elemento meteorológico, pois é ela que
desencadeia todo o processo meteorológico afetando todos os
f
~
..:l1 ~

~
o

"
~ ".s
ül
outros elementos (temperatura, pressão, vento, chuva, umidade,
etc.). Trata-se, portan to, de um elemento primordial no entendi-
'~"
~ .:; ~
~

.;J
~
e,
~
" mento da variação dos demais. A ene rgia solar é a fonte prilnária
de energia para todos processos terrestres, desde a fotossíntese,
§ ül
:ê' responsável p ela produção vegetal e manutenção da vida na pre-
sente form a, até o desenvolvimento de furacões, tempestades,

II E § , enfiln, pela circulação geral da atmosfera e ocean os. Além da sua


importãncia em Meteorologia, a energia radiante do Sol é um
'" '."e ~
elemento fundamental em estudos ecológicos e de disponibili-
9
~
~"
.;J
..:;
·Ê
§
9
dade energética, pois a maior parte da energia dispoIÚvel na Ter-
ra tem origem na radiação solar.
5, Assumindo-se que, até atingir a superfície da Terra, a
~ ~
-o ~

o 9 luz solar percorre uma distância aproxilnad a de 150 milhões


-o ~ c
§ ~

9
~

J::
c
! ij

~
~
~

e,
,;
de quilômetros (1,5 10' km =1,510" m) a uma velocidade de 300
10' km / s (310 8 m / s), ela gasta cerca de 500s (8,3 min) nessa traje-
~ ;;; tória. Isto significa que todos os fenômenos solares, observados
~ ~
""~ '"
U'
da supefície terrestre, já aconteceram há 8,3 min, no mÚlimo.
'2 Define-se unidade astronômica (UA) como sendo a distância mé-
J'í d ia Terra-sol (1,496 10 11 m), descrita no Capítulo 2.
~
," • . . . N o
Embora O Sol tenha um raio aproximad o de 6,96 108 m,
para efeitos de es tudo da rad iação solar na s u perfície da Terra
76 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 77

admite-se que ele funciona corno uma fonte pontual de ener- ser medido em uma altitude onde os fenômenos atmosféricos
gia. Ele emite radiações igualmente em todas as 41l direções. sejam ausentes (topo da atmosfera) . A tu almente, tais medi-
Portanto, se a intensidade luminosa em um dado instante for ções são feitas por satélites artificiais. O valor de Jo varia ligei-
igual a I, então o total de energia emitida naquele instante será ramente em função da e mitância do Sol, sendo adotado um
igual a 41l r. Nesse mesmo instante, a Terra se situa em urna valor médio igual a 1,97 cal cm-' min" = 1367 W mo' . Corno a
esfera cujo raio é igual à sua distância do Sol (D) . Pelas restri- distância (D) entre a Terra e o Sol varia continuamente entre o
ções admitidas, o total de energia emi tida (41l I) será igu al- afélio e o periélio, a constante solar deve ser corrigida pelo
mente distribuído na área 41l D', resultando em urna densida- fator (d/D)', sendo d a distância m édia (UA), para se obter o
de de fluxo igual a I /D', definida pela lei do inverso do quadrado máximo de irradiância solar no topo da atmosfera . Essa correção
da distância, ou seja, a en ergia recebida em uma superfície é se deve à le i do inverso do quadrado da distância entre a fonte
inversamente proporcional ao quadrado da distância entre a luminosa e a superfície receptora. Portanto, para um certo dia
fonte e superfície receptora. Devido à distância Terra-Sol e à o valor máximo da irradiância so lar insta ntânea no topo da
relação entre os volumes dos dois astros, apenas urna peque- atmosfera será igual ao produto Jo (d/O)' = Jo'.
níssima fração d a energia emi tida atinge a superfície da Terra E m seu movimento de translação ao redor do Sol a Terra
na forma de um feixe de raios paralelos entre si. está sempre recebendo radiação solar. Admitindo-se que a Terra
seja urna esfera com raio médio (r) igu al a 6,371 lO· m , ela
apresenta sempre lUna área (1l r') de 1,27 10 14 m' voltada para
5.2 DEFINiÇÕES o Sol. Em função do m ovim ento de rotação da Terra, a super-
fície exposta aos raios solares muda a cada instante. Essa área
A qua n tidade de r adiação sola r recebida por urna su- frontal intercepta (n r' To) 1,74 10 17 J s-' da radiação em itida
perfície de área unitária, na unidade d e tempo é chamada de pelo Sol, e que totaliza 1,5 1022 J dia" , visto que 1 dia = 86400 s .
densidade de fluxo radiativo. A essa densidade de flu xo denomi- Para efeito de comparação, esse total diário de energia solar
na-se irradiância solar (Q), sendo que sua unidade de expres- interceptada equivale àquela correspondente a 10 8 vezes a
são é energia por área e por tempo, e no SI é dada emjoule m" S", energia da bomba detonada em Nagasaki. Mesmo conside-
ou em watt m-' (1 J s-' = 1 W). Outra forma comum d e expressá- rando q u e cerca de 30% da energia interceptada pela Terra seja
la é em caloria em-' min" = langley mino'. Sen do 1 cal = 4,18 J, refletida (albedo), se não fosse pelo movimento de ro tação e
resulta que 1 cal cm-' mino' = "696,7 W m-'. pela emissão de radiação terrestre (Lei de Stefa n - Boltzmann),
Define-se constante solar Go) corno a densidade de fluxo essa quantidade de energia não permitiria que o planeta ti-
de radiação solar incident e em urna s uperfície plana perpendi- vesse a presente forma e aspecto.
cular aos raios solares, sem os efeitos atenuantes da atmosfera, O movimento de rotação da Terra faz com q u e um local
e à distânc ia Terra-Sol igual a urna unidade astronômica (1 UA). receba os raios solares com inclinação diferente ao longo do
Sem os efeitos da a tmosfera significa que esse valor deve dia . O somatório dos valores ins tantân eos de irradiância sola r

",....
- --~
78 - Pereira, Ange/oeei e Sente/has Agrometeorologia - 79

no topo da atmosfera ao longo do dia é um valor teórico mui- 5 .3.1 Lei de Stefan-Boltzmann
to LI til, pois representa o potencial de energia incidente na re-
gião. A esse total diário denom ina-se de irradiância solar global °
Todo corpo com temperatura acima de K emite ener-
extraterrestre, sendo repres.entado por Qo . Extraterrestre signi- gia radiativa, e esta lei diz que a densidade de fluxo de energia
fica a situação em que não se considera ainda o efeito atenuador emitida (E, em W 1m 2 ) é proporcional à quarta potência de sua tem-
da atmosfera. Esse to tal varia de acordo com a latitude (<1» e peratura absoluta (T, em K), de acordo com a equação
com o dia do a n o, fatores esses que afetam o ângulo de inci-
dência dos raios solares. Quanto maior a .latitude, maior a E=EcrT', (5.1)
amplitude de Qo entre verão e inverno.
Quando a atmosfera entra em ação (Ver Efeitos da atmos- em que E é o poder emissivo do corpo (emissividade); cr é a
fera sobre a radiação solar - Capítulo 3), situação normal, o total constante de Stefan-Boltzmann (= 5,67 10-8 W 1m 2 K' = 4,903
diário de energia so lar que chega realmente à superfície ter- 1O-9MJ 1m 2 d K4 ) .
restre é reduzido, sendo denominado de irradiância solar g lo- Para a maioria dos objetos naturais, o poder em issivo varia
bal, e representado por Qg. Essa energia (Qg) é composta pela entre 0,95 e 1,0. Para fins agrom e teorológicos, adota-se o valor
irradiância solar direta (Qd), e pela irradiância solar difusa (Qe). unitário sem se incorrer em grandes erros, mesmo porque a tem-
Qd é a r adiação que não sofre desvio em su a trajetória, sendo peratura do objeto é sempre um valor médio. No caso da atmos-
responsável pela projeção de sombra dos objetos; enquanto que fera, como sua composição básica varia com o teor de umidade
Qc decorre do processo de difu são (espalhamen to) e não projeta no ar, o valor de E deverá ser estimado levando-se em considera-
sombra. A proporção entre Qd e Qc varia ao longo do dia (ângulo ção a quantidade de vapor d'água presente. Portanto, E varia con-
d e incidência dos raios sola res), e também com as condições de tinuamente, dia após dia, e também ao longo do d ia.
nebulosidade. Quanto mais nublado, maior a p roporção de Qc,
m en or a porção de Qd, e menor o valor de Qg.
5.3.2 Lei de Wien

5.3 LEIS DA RADIAÇÃO Esta lei estabelece que é constante o produto da temperatu-
ra absoluta (T, em K), do objeto, pelo comprimento de onda (À"".,
Para se e ntender o regime radiativo de uma superfície é em nm) de máxima emissão energética, do próprio objeto, isto é,
necessário conhecer a lgumas leis fundamentais da radiação,
principa lm ente as leis de Stefan-Boltzmann e de Wien. T À,,,'x = constante = 2,898 lO' nm K. (5.2)

Essa lei é fundamental para se entender o balanço de


radiação n a s uperfície da Terra. A Terra é um corpo cuja tem-
80 - Pereira, Ang elocci e Sentell1as Agrometeorologia - 81

peratura média está ao redor de 300 K; enquanto que o Sol, o Portanto, em um determinado instante (h) de um dia
principal fornecedor de energia para a Terra, tem uma tempe- com esta declinação solar (o), e em um local de latitude eD, a
ratura aproximada de 6000 K. Pela lei de Wien determina-se energia solar que in cide no topo da atmosfera terrres te é dada
que a energia emitida pela Terra tem "máx = 10 000 nm (radia- pela Lei de Lambert (ver item 2.5), corrigindo-se o valor de Jo
ção infravermelha), enquanto que a energia recebida do Sol (djD)2, ou seja,
tem "m'x= 500 nm (radiação v isível). (Obs.: 1 nm = 10.9 m).
Portanto, são duas ordens de magnitude de diferença entre Ih = Jo (d /D)' cos Zh' (5.5)
" m"
. do sol e da Terra.
Em função do comprimento de onda da radiação emiti- Na equação (5.4), h r e presenta a hora do dia, expressa
da, diz-se que a radiação solar é de ondas curtas (OC), pois pelo ângulo formado pelo p lano meridiano no qual o sol está
quase toda energia emitida está abaixo de 3000nm, enquanto posicionado no instante cons iderado e o p la n o meridiano lo-
que a rad iação dos corpos terrestres é de ondas longas (OL). caI. A passagem do Sol pelo meridiano local divide o dia em
Portanto, o balanço geral de radiação (BGR) na superfície ter- duas partes simétricas . O período de rotação da Terra é de 24
restre tem dois componentes: o balanço de ondas curtas (BOC) horas, ou seja, este é o tempo entre duas passagens consecuti-
e o balanço de ondas longas (BOL), isto é (ver Capítulo 10): vas do Sol pelo meridiano local (passagem meridional). Isso
sign ifica q u e são percorridos 360° em 24h, correspondendo a
BGR = BOC + BOL. (5.3) 15° j hora. Como a passagem meridiana do Sol é o referencial, a
• hora local verdadeira (expressa em h ora e décimos) pode ser con-
vertida em ângulo (grau ) p e la relação
5.4 DISTRIBUiÇÃO DA ENERGIA SOLAR NA
SUPERFÍCIE TERRESTRE h = (hora local - 12) * ISo/hora. (5.6)

No Capítulo 2 (ver item 2.5 - Estações do ano), m ostrou- Conseqüentemente, quando o Sol passa pelo meridiano
se que o ângulo de incidência dos raios solares (ângulo zenital, local tem-se h = 0°. Portanto, em qualquer local, h = 0° ao meio-
Zh)' em uma superfície horizontal, varia em função da latitu- J dia, ecos 0°=1. Logo, o ângulo zenital ao meio-dia (Z]2) é cal-
de (<I», da hora do dia (h), e da declinação solar (8). A com bi- culado a par tir da eq. 5 .4 por:
n ação desses fatores permite calcula r Zh em cada instante pela
rela ção trigonométrica cos Z'2 = sen (\) sen li + cos (I) cos li (5.7)
cos Z12 = cos (8 - <D) (5.8)
cos Zh ; ; ;: sen (1) sen ó + cos ct> cos ocos h. (5.4) Z" = li - <D. (5 .9)
82 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 83

o conhecimento da variação do ângulo zenital ao longo 5.5 PROJEÇÃO E DIREÇÃO DE SOMBRA DE


do ano tem inúmeras aplicações práticas, principalmente na UM OBJETO
otimiz ação de coletores solares e na projeção de sombras. Como
a latitude do local (<1» é constante, o ângulo zenital ao meio- A direção da sombra é calculada sabendo-se o ângulo
dia (Z12) será função apenas da declinação solar (8). Por exem- formado pela projeção da posição do Sol no plano do horiz on-
p lo, para um local cuja latitude <1> seja igual a 20 S, n as princi-
0
te local e a linha N orte-Sul. Esse ângulo é denominado de
pais efemérides astronômicas, na passagem meridiana o ân- azimute solar (ex). No hemisfério sul é mais conveniente tomar
g ulo zenital Z'2 será: o Sul como referência. N o período da manhã o Sol está a les te
do obstáculo, enqu anto que à tarde está a oeste. Portanto, no
Solstício de Verão => Z 12 = -23,45° - (-20°) = -3,45° período da manhã o azimute do Sol é contado a partir do Sul
(Sol es tará ao Sul do local);
Solstício de Inverno => Z12 = 23,45° - (_20°) = 43,45° em direção a Leste, e à tarde é em direção a O este. O v alor de
(Sol estará ao Norte do local); ex é dado p ela equação
Equinócios => Z12 = 0° - (_20°) = 20°
(Sol estará ao Norte do local) .
ex = arccos [(sen <I> cos Zh - sen 8) / (cos <I> sen Z ,,l l . (5 .11)
A declinação solar depende apenas da posição relativa
entre a Terra e o Sol, e seu valor é dado por tabelas fornecidas Pela Figura 5.1 observa-se que, quando o Sol faz um ân-
pelos observa tórios astronômicos. Para a m a ioria das aplica- gulo zenital Z, um obstáculo de altura d tem uma projeção de
ções ela pode s;r admitida como constante durante um dia, sombra S. Pela trigonometria obtém-se
podendo ser calculada pela equação
d = sen (90° - Z) = cos Z (5.12)
(li = 23,45 sen [360 (NDA - 80)/3651,) (5 .10) S = cos (90 0 - Z) = sen Z (5.13)

em que NDA é o número do dia no ano, ou seja, janeiro 1 = 1; Logo,


fevereiro 1 = 32; .... junho 31 = 181; etc. Valores positivos de 8
significam que o sol está no hemisfério Norte, enquanto que S/ d = tg (Z) (5. 14)
valores negativos indicam que o sol es tá no hemisfério Sul. O S = d tg (Z). (5. 15)
sinal de 8 é fundamental no cálculo da energia solar incidente,
do fotoperíodo (N), e da projeção de sombra. Portanto, o comprimento da sombra S, de um obje to de
altura d, é facilmente estimado sabendo-se o ângulo zenital
no momento que se quer sab er a projeção da sombra.
AgroIfleteorologia - 85
84 - Pereira, Angelocci e Sentelhas

cos h n = - (sen <t> sen 8)/(cos <t> cos 8) = - tg <t> tg li (5.19)

(5.20)
hn = arccos [- tg <t> tg li].

A eq.(5.20) mostra que o fotoperíodo depende a~enas


"- da latitude e da declinação solar (i.e ., dia do ano). Na epoca
"- dos e quinócios (21/3 e 23/9), quando 8 = 0°, a eq.(5.20) mos-
"-
90-Z ê~ tra que h = 90° ou seja N = 12 horas para todas as latitudes
(Figura 5'.'2) . Ou'tra dec;rrência da eq.(5 .20) é que na linha do
s equador, onde <I> = 0°, resulta em h n = 90°, portanto N Igual a
12 horas durante o ano todo (Tabela 5.1).
FIGURA 5.1 Estimativa da projeção da somb ra 5, de um
objeto com altura d.

5.6 CÁLCULO DO FOTO PERíODO

Entende-se por fataperíada (N) ao inte rvalo entre o nascer


e o pôr-da-sol em um dado dia, também denominado de dura-
ção do dia, ou seja,
- 0 - 1 o
N = Hora do pôr - hora do nascer do Sol (5.16) 2 o S
-----6-

_40 S
SO L.STÍC 10
7
Em virtude da simetria da trajetória do Sol com relação DE INVERNO
ao meio-dia, o fotoperíodo é igual ao dobro do ângulo horário 6 o o
o o o o .,.o o N
'"
na hora do nascer do sol (h,), isto é, '" '" '"
N
'" '"
Dia do ano

N = 2 hJ15° = 0,l333 h n • (5. 17) FIGURA 5.2 Var iação anual do fotoperíodo (horas) em a lgumas latitudes do
h emisfério sul.
Tanto no nascer como no pôr-da-Sol Z = 90°, ecos 90° = O.
Logo, pela eq.(5.4) obtém-se:

o = sen <t> sen li + cos <t> cos li cos h n (5.18)


86 - Pereira, A ngelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 87

TABElA 5 . 1 Duração máx ima d a i n so lação d iári a (F OTOPER íODO . N), em rad / dia = dh/ dto Logo, dt = dh / co. A relação d/D representa a
ho ras, no 1 SOd ia d e c ad a m ês, em latitud es compreen didas pe lo ter ri tór io
b rasile i ro.
distância relativa entre a Terra e o Sot sendo d a distância
L-\T{S) h n Fev Mo< Abr 1111
média, e O a distância no d ia. Substituindo-se na eq.(5.21) e
M"j JUII Ajjo Sei QUI Nu' Dez
&t" ador 12.0 12,0 12,0 12,0 12.0 12.0 12 ,0 12 .0 [2.0 12,0 12.0 12 .0 fazendo -se Jo (d / D)2/ co = (d / D)2 / 2n = K, obtém-se
2" 12.1 12,] 12.0 11,9 11,9 11,9 J 1.9 I J!) [2,0 12,0 12.1 12 . 1
4" 12.2 12.1 12.0 1 1,9 J 1.8 11,8 J 1.8 [l.9 12,0 12.1 12.2 12,2
6" 12,3 12 ,2 12,0 11.9 11.7 11.7
hp
8" 12,4 12 ,2 12,0 ! 1,8 11,6
11.6
11.5 11.6
II.R
11.7
12.0
[ 2,0
12.1 12.3
12,4
12.3
Qo = K f cos (Z h ) dh (5.22)
12 .2 12.5
10' 12.5 [2 .3 12.1 I I.R 11.5 li A 11.5 11.7 [ 2)) 12 .2 12.5 12,6 hn
12" 12.6 12.4 12. 1 J 1,7 liA 113 11.4 11.6 11,9 12,3 12.6 12.7
14" 12.7 12,4 12, 1 J 1.7 11.3 [ 1.2 11.2 115 11.9 12,3 12.7+ 12,8
16° ]2,8 12.5 12 .1 J 1,6 11.2 11.0 [l. I 11.5 J 1.9 12,4 12.8 12,9
18" 13,0 12,6 12, 1 11.6 l U 10,9 11.0 J 1.4 11.9 12,4 12.9 13,1 Substituindo-se a eq.(5.4) na eq.(5.22) resulta em:
20" 13, 1 12 .6 12, 1 1 1,5 11.0 10.8 10.9 11.3 11.9 125 13,0 13,2
22" 13,2 12,7 12, 1 11,5 10,9 10.7 10,8 11.2 11,9 12.5 D. I 13.3 hp
24" 13,3 12,8 12,2 liA 10,8 10,5 10.6 11,2 11.9 (5.23)
26" 13.5 12,9 12.2 11,4 10,7 10.4 10,5 11, 1 11.8
12 .6
12,6
13,2
13,3
13,5
13.6 Qo = K f (sen '" sen 8 + cos '" cos 8 cosh) dh
28" 13.6 13,0 12,2 11.3 10,6 10,2 10,4 11,0 11.8 12,7 13,4 13.8 hn
30" 13.7 13,0 12,2 11.3 10,5 10. 1 10.2 10,') 11.8 12,7 13,5 13,9
35" 14,1 13,3 12 ,3 11,1 [0,2 9.7 9.9 10,7 11,3 12 ,9 13.9 14,3 hp hp
Qo = K [ f sen '" sen 8 dh + f cos'" cos 8 cosh dh] (5.24)
hn hn
5 . 7 IRRADIÂNCIA SOLAR EM SUPERFíCIES PARALElAS hp hp
AO PLANO DO HORIZONTE Qo = K [sen '" sen 8 f dh + cos '" cos 8 f cosh dh] (5.25)
hn hn
5 . 7.1 Valores diários desconsiderando os efeitos da atmosfera
Qo = K [sen '" sen 8 (hp-hn)+cos'" cos8 (sen hp- sen hn )] (5.26)
Integrando-se a e q.(5 .5) entre o na s cer e pôr-do-Sot re-
sulta no total diário (Qo) de radiação solar incidente em urna
Pela eq.(5.6) obs erva-se que hn = - hp, ou seja, há sime-
s u perfície horizontal paralela ao plano d o horizonte local, no
tria na trajetória diária do s ol com respeito ao meridiano local.
topo da atmosfera, ou seja,
Pela natureza da função seno tem-se que sen hn = - sen hp.
tp tp Portanto, a eq.(5.26) pode ser escrita como
Qo = fIh COS ( Z h) dt = Jo (d / D )2 f cos (Zh) d t (5.21)
tn tn
Qo = 2 K [hn sen '" sen õ + cos '" cos 8 sen hn] (5.27)

sendo tn e tp, r espec tivamente, os tempos (horários) do nas-


Qo = Uo(d/ D)'/n] [(n / 180°) hnsen '" sen 8 + cos '" cos 8 sen hn],
cer e do pôr-do-Sol.
(5.28)
Para s e e fetu a r a integração da eq.(5.21) é necessário
t ransformar a variável t (horas) para ângulo horário (h) cor-
respondente (eq .5.6). A v e locidade angula r da Terra é co = 2n
r

88 - Pereira, Angelocci e Sentelhas


Agrometeorologia - 89

sendo o fator (n/ lSOO) utilizado para converter hn de graus


ma do horiz onte (dia polar). No círculo polar, o ângulo zenital
para radianos. Tomando-se Jo = 1367 W / m 2 e convertendo-se a
dos raios solares tambéln é elevado, e a s uperfície é coberta
unidade de tempo de segundo para dia, a eq.(5.28) se reduz a
com nev e e gelo resultando em alto coeficien te de reflexão e
m enor absorção de radiação solar pela superfície, o que expli-
Qo = 37,6(d/D)' [(n I1800) hn sen <P sen 8 + cos <P cos 8 sen hn], (5.29) ca em parte porque a temperatura no período de outubro a
r (di O)' = 1 + 0,033 cos (NDA 360/365) (5.30)
março continue baixa, embora o valor do Qo seja elevado.

sendo Qo expresso em MJ/m2 dia . Portanto, o total diário de


radiação s olar qu e atinge uma superfície horizontal, no topo TABELA 5.2 Valores de Qo (MJ m " d") e da de cli nação so lar (d ), para o 15°
da atmosfera, é função da latitude e da época do ano (declina- dia do mês . (Adaptado de Vianello & Alves, 19 91 ).
ção solar) , v is to que o ãngulo horário também é função dessas I) LATLT UDE
MÊS (graus) O" 15°S 300 S 45°$ 600S 75°5 900 S
duas variáveis. Qo representa o m áximo de energia s olar que J AN -2 1, 35 36.32 40,87 43,04 42,8 9 41,05 41,84 43 ,32
poderia incidir em uma superfície paralela ao plano do hori- FEV -13, l a 37,53 29,83 39,57 36.8 4 32,07 27,00 27,06
MAR ·2,23 37,90 37,14 33,85 28,2 8 20,83 12.09 5,49
zonte local, se não houvesse influência da atmosfera.
I A Tabela 5.2 mostra a dependência de Qo (MJ / m 2 dia)
ABR
MAl
9,83
18.82
36,95
34,78
32,99
28,92
27,08
21,42
19,4 5
12,9
10,75
4,47
2 .29
0.00
0,00
0,00
JUN 23,18 33,50 26,76 18.68 10,02 2,15 0,00 0,00
com a latitude e a declinação sola l~ para o hemis fério sul. Nota- JUL 21.57 33,89 27,57 19,76 1 1, l 9 3.07 0,00 0,00
se que, na região equatoria l (<I> = 0°), Qo varia muito pouco AGO 14,13 35,56 30,89 24,29 16,2 8 7,66 0,61 0,00
i I durante o ano. Para essa latitude, a eq.(5.20) mos tra que o SET
O UT
3, 13
-8,43
37,07
37,34
35.03
38,42
30.62
36.95
24,1 6
33,0 7
16,09
27,16
7,09
20.19
0,69
17,86
fotoperíodo tem 12 horas o ano todo, isto é, hn = 90°; logo, a NOV -18,43 36,47 40,28 41.66 40,6 6 37,83 36,67 37,96
DEZ -23,25 35,74 40,9 1 43,80 44,4 4 43,6 1 46,04 47,66
eq.(5.29) tem cos 8 como única variável, pois cos <l> = sen hn =
1, e sen <I> = O. Porém, à medida que <I> aumenta, também au-
menta a v ariação em Qo, sendo maior no verão e menor no 5.7.2 Valores diários considerando os efeitos da atmosfera
inverno. Entre abril e setembro, período em que o sol está apa-
rentemente no hemisfério norte, Qo diminui com aumento em A absorção e a difusão da radiação solar pela atmosfera
<1> . Para <I> > 66° 5, o sol não aparece acima do horizonte (noite promovem perdas durante sua passagem pela atmosfera, de
polar), não havendo incidência dos raios solares diretamente modo que a irradiância solar em uma superfície horizontal
sobre a superfície. Quando o 501 " está" no hemisfério s ul (ou- paralela ao plano do horizonte na superfície da Terra é menor
tubro a março), a combinação de <f> e 8 faz o valor de Qo au- que n o topo da atmosfera (Qo). Os valores instantâneos da
mentar até a latitude de 35°5, decrescer daí até 66°5, e aumen- irradiância solar global (Qg), que representam a soma das com-
tar novamente até o pólo sul. Isso é causado pelo fotoperíodo ponentes direta (Qd) e difusa (Qc), sofrem grand es variações
(Tabela 5.1). Nesta época, acima de 66° 5 o 501 fica sempre aci- temporais em função das condições atmosféricas, e da época
--------------~---------------------------------------~

90 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 91

do ano (Figu r a 5_3). A fra ção Qg/Qo é denominada de 80% de Qo, em função da nebulosidade. Exemplos d e valores
transmitância global (Tg), ou seja, e la representa a quantidade médios de Qg, para algumas regiões do Brasil, são mostrados
de rad iação solar que efetivamente ch ega até a superfície ter- na Tabela 5.3_
res tre. Como a espessura d a ahnosfe ra a ser atravessada pelos
raios solares é função do ângu lo zenita l, Tg varia ao lon g o do TABELA 5.3 Valores méd ios mensais de Qg (MJ m'd-') para algumas regiõe s
bras i lei ras o
dia, com v alores m enores no nascer e n o pôr-da-Sol, e m aiores
Loc,1 Jatl Fcv Mar Ab, M ai J"" lu l Ago Sct 0" No" De;>;
d urante a passagem m eridiana. N o caso dos exemplos mos- Pará 12,5 13.3 13,6 12,1 12.9 15,2 14,7 15,5 16,7 1);,3 16,3 14,4
Min<ls Ger<lis 17,6 17 ,5 16,); 14,7 13, I 12,3 12,7 15, 1 16, 1
trados na Figura 5.3, Tg média do dia foi de 0,68 a tingindo São Paulo 20,7 2l.R 19.3 17,3 14,7 13,2 14A 16,8 17,6
15,7
19,7
16,1
21 ,9
16,9
2 1, 1
valores de pico entre 0,7 e 0,8_ Situação semelhante é relatada R.G Sul 21.3 19,5 15,7 12.5 9.7 8.3 9.0 I LI 13,0 16,4 20,2 22. 1

por Souza (1997) para um d ia de verão, em Maceió, AL. A Ta-


bela 5.4 mostra valores potenciais de Tg para várias regiões Para se compreender o significado d esses valores, pode-
do Brasil, representados pela soma dos coeficientes a e b. Por se ilu s trar com o seguinte aspecto : para evaporar 1 litro de
exemplo, para Piracicaba, SP, Tg é da ordem de 0,75 na prima- água a 20 °C é n ecessá ria a energia aproximada d e 2,45 MJ-
vera-verão, e de 0,79 no outono-inverno. Portanto, se toda él radiélção solar incidente elTI 1 m 2 fosse usa-
d a para evaporar água , isso corresponderia à evaporação de
1--'--I ~O-']---- -~-.",,-,I cerca de 9 litros/m' de terreno, em novembro, no Estado de
I 5 .--b-.. g~ Cdu limPG I : r I =t=~~f 26/12197
Céu limp o
I'

São Paulo.
I;:' E 3
'=0' ', I;:'
:' 3
'I- I:::"'.:..~:J

~:, -d:~ d'~"' ' ~L''~L.f);",.f)",;


5 .8 RADIAÇÃO SOLAR INCIDENTE EM UMA
SUPERFíCIE INCLINADA )~
I, ' , __ "';El.'";"", , ; I' ,
HO ra rocal - '" ~ ~
-----" - ------ ~
Ho7a locar
Com exceção de algumas regiões, en tre as quais se in-
FIGURA 5.3 Curso diá rio da irrad iància sola r em superfície hori zontal , em cluem os oceanos, os grandes rios e lagos, e as chapadas, a
dia sem nuvens, no i nvern o (2 8/ 7/ 9 7), e no verão (2 6/ 12/97), em Botucatu,
SP. Fonte: Escobedo, 2000. superfície da Terra é formada por relevo irregu lar, com seqüên-
cias de morros e vales. Portanto, existem faces de terreno com
exposições e inclinações submetidas a d iferentes regimes de
Nas latitudes do território brasil eiro (4° N a 30° S), em incidência de ra diação solar. Essas nuances topográficas
dias sem nebulosidade, valores ins tantâneos máximos de Qg condicionam ambientes diferentes em um mesmo local e épo-
atingem 3,8 MJ m -' I1'1 ( ~ 11 00 W 111" ), no verão; e 2,6 MJm-' h-1 ca do ano. Para uma s uperfície inclinada, além da latitude e
(~700 W m -'), no inverno . Os va lores de Q g, integrados no dia, da declinação solar, a incidência dos raios solares é afetada
pod em variar entre 4 e 35 MJ m -' d -I , ou seja, entre 10 e pelo ângulo de inclinação (i ), pela orientação da superfície, e
92 - Pereira, Angelocci e Sen telhas Agrometeorologia - 93

pelo azimute do Sol (a, eq.5.l1). A orientação da superfície é 5.9 MEDIDAS DA IRRADIÂNCIA SOLAR GLOBAL
caracterizada pelo azimute ([3) do p lano vertical que contém a
linha normal (perpendicular) à superfície. Tomando-se a li- - - Genericamente, os aparelhos que medem radiação solar
nha normal à superfície como referencia l, d efin e-se UlTI "novo" são denominados de s,QlarÍmetros, piranômetros, ra~iômetros,
ãngulo zenital (2') que é dado pela equação e actin6grafos. As medidas de Qg são efetuadas por instru-
mentos que utilizam diversos princípios físicos, desde gera-
cos Z' ~ cos i cos Z + sen i sen Z cos (~ - a). (5.31) ção de uma corrente elétrica até dilatação de metais.

A combinação entre i e f3 provoca redução no período • Actinógrafo de Robitzsch


diário de incidência direta dos raios solares. Portan to, a Esse tipo de aparelho foi introduzido por Robitzsch, em
eq.(5.31) s6 é válida para 2' < 90°. Lembrando que o azimute 1915. Nesse equipamento (Figura 5.4) os sensores são placas
foi definido tomando-se o Sul como referencial, [3 ~ 0° para bimetálicas, parte delas negras e parte brancas. O aquecimen-
uma superfície voltada para o sul; [3 = 90° tanto para uma su- to diferencial das placas brancas e pretas, causado pela absor-
perfície voltada para leste como para oeste; e, [3 = 180° para ção da radiaçã o solar, cria uma diferença de dilatação entre
uma voltada para o norte. elas proporcional à magnitude da densidade de flu xo radiativo
Para uma superfície horizontal (i = 0°), a eq. (5.31) se incidente. Essa diferen ça de dilatação é transmitida por um
reduz a sistema de a lavancas a uma pena, que se desloca sobre o dia-
grama de registro, denominado
cos Z' ~ cos Z, (5.32) actinograma. O diagrama se movi-
menta por meio de um mecanis-
que é definido pela eq.(5.4). Para uma parede (i = 90°), resulta mo de relojoaria . Os sensores são
em protegidos das intempéries por
uma cúpula de quartzo que tam-
cos Z' ~ sen Z cos (~ - a). (5.33) bém filtra as ondas longas terres-
tre, medindo apenas a radiação
Porta nto, em um determinado ins tante h, a energia so- solar (ondas curtas) . Esse instru-
lar que incide e m uma superfície com inclinação i e azimute [3 mento é totalmente mecânico.
pode ser calculada por

(5 .34)
FIG U RA 5.4
Actinógrafo de Robitzsch.
94 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 95

• Piranômetro de termopar Urna v ariaçâo desse modelo é man-


Neste instrumento (Figura 5.5), o elemento sensor é urna ter as junções pretas (quentes) expostas à
placa com urna série de termopares (termopilha). Parte das radiação solar e as junções frias em con-
junções é enegrecida (junções " quentes") e parte é branca (jun- tato com lUn bloco metálico protegido dos
ções "frias") . O aquecimento diferenciado das junções" quen- raios solares. Esse é o princípio do
tes" e "frias" gera urna força eletromotriz (j. e.m.) por efeito piranômetro de tennopar de Moll-Gorczynski
Seebeck, cuja magnitude é proporcional ao valor da irradiância, (Figura 5.6).
que pode ser registrada em um sistema de aquis içâo de da-
FIGURA 5.6 Piranômet ro
dos, sendo os valores da fe .m. convertidos em irradiância por de terrnopar tipo de Mo ll-
urna constante de calibraçâo. A p laca sensora é protegida por Gorczynsk i.
urna cúpula de quartzo, que filtra as radiações de onda longa,
sendo a tingida apenas pela radiação solar.(ondas curtas). Este
instrumento é eletrônico sendo usado corno padrão secundá- • PiranÔmclro dc fotodiodo de silício
rio de calibração dos outros tipos, permitindo o registro contí- ( Sl' Il S O " (\ LI rn fotod iodo d e s ilício que responde à ab-

nuo ou a a quis ição do sinal para conversão em arquivos digi- Hor I () til' ' 11 "'g ia, gerando urna corrente elétrica proporcio-
tais de sis temas au tomatizados de medida. 11 <1 1 [ in·;:l(.Iiâ nc ia g lo ba l. Também utiliza uma constante de
'a lib" ação para conversão da corrente em irradiância (Figura
5.7). No ins trumento aqui mostrado, O fotodiodo é protegido
por urna placa difusora que filtra as ondas longas e também
as ondas curtas acima de 1300 nm. O fator de calibração incor-
pora a en ergia solar de comprimento de onda maior que
1300nm fazendo urna compensação. A vantagem deste instru-
mento é seu custo reduzido, além de ser também eletrônico.
Este instrumento não é padrão. Corno no caso do piranômetro
de termopar, permite também
aquisição automatizada dos da-
dos em arquivos digitais.

FIGURA 5.5 Pi ranômetros de termopar, m Eppley.

FIGURA 5.7 Piranômetro de


fotodiodo de si lício .
96 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 97

5 .10 MEDIDAS DE IRRADIÂNCIA DIRETA E DIFUSA Teoricamente, quanto maior o valor de R, menor será o
valor de Fc. Quanto à largura L da banda, e la deve ser adegua-
Para se medir a radiação solar direta utiliza-se um da para permitir medidas por alguns dias sem necessidade de
pireliômetro, cujo sensor também é uma termopilha . O instru- ajustes freqüentes em seu alinhamento em função da variação
mento tem a forma de um tubo, sendo o sensor colocado no diária de d. Usando uma banda de sombreamento com R = 0,8
fundo. Na outra extremidade do tubo há uma abertura por m e L = 0,1 m, Ricieri et aI. (1997) verificaram que Fc, dado
onde os raios solares entram diretamente. Para assegurar que pela eq. (5.35), subestimou o valor de Qc dado pela diferença
apenas a radiação direta está sendo medid~, há uma série de entre valores medidos de radiação global e direta. Para dia
anéis com diâmetro cada vez menor para se obter um feixe com céu limpo, o erro médio foi cerca de 4%, mas para dias
colimado de raios solares. Um filtro elimina a radiação difusa nublados subiu para 12%.
que vem do céu, e sem o filtro mede-se a radiação terrestre
durante a noite. Um inconveniente é que se deve ajustar ma-
nua lmente o aparelho na direção do Sol, mas para faci litar tal
ta refa existe uma mira na parte externa (Figura 5.8a). Há tam-
bém a possibilidade de se utilizar um rastreador solar.
A irradiância difusa, ou radiação do céu (Qc), ou seja, aquela
que é espal h ada pela atmosfera, pode ser medida com
p iranômetros in s talados sob uma banda metálica (anel
sombreador) concêntrica à cúpula hemisférica do aparelho, a qual
impede a incidência direta dos raios solares (Figura 5.8b). A
irradiância direta (Qd) é obtida pela diferença entre Qg e Qc. Há,
portanto, necessidade de dois sensores, sendo um protegido pela II CUR A 5.8 Sen sores de radiação solar: a) direta; b) banda metálica para
OIJlt' Il ,(iO da radiação so lar difusa.
banda opaca. Em função da banda metálica obsfiUir uma área
considerável do feixe de radiação, reduzindo a radiação solar
difusa incidente sobre o sensor, há necessidade de se aplicar um
fator teórico (Fc) para se corrigir o valor medido. Esse fator de- 5.11 MEDIDA DO NÚMERO DE HORAS DE BRILHO
pende do raio (R) e da largura (L) da cinta, pois ele corrige a me- SOLAR
dida em função da fração de céu que o sensor não amostra, sendo
dado pela equação d e Drummond (1956), isto é, Ap 'sa i" ele nã o ser uma medida da irradiância solar, o
número de llOl"n s ri" brilho solar (representado por n), também
Fc (5.35) conhecido co mo illsolação, permite estimar valores diários ele
2L Qg. O e quipam e nto ut ili za do é o heliógrajo tipo Campbell-
)- - [hn. sen <1>. scn Ô + cos <1>. cos ô. sen hn] cos 3 Ô
nR
I
98 - Pereira, A ngelocci e Sente/has Agrometeorologia - 99

Stokes (Figura 5.9a), constituído de uma esfera de cristal, ajus- 5.12 ESTIMATIVA DA IRRADIÂNCIA SOLAR GLOBAL
tada sobre um suporte no qual uma tira de papelão é fixada. A DIÁRIA (QG)
convergênc ia dos raios solares sobre a tir~, quando há
irradiância direta, produz sua queima, permümdo o regIstro Na falta de um equipamento como o piranõmetro, o va-
do período de insolação. As tiras registradoras (Figura 5.9b) lor de Qg pode ser estimado a partir de medidas da insolação
variam de acordo com a época do ano. Para o penodo de ve- diária (n), desde que se tenha para o local determinados os
rão são utilizadas as tiras curvas longas; no inverno as curvas coeficientes da equação proposta por Angstrom-Prescott, e que
curtas; e na primavera e outono as retas. Esse equipamento relaciona os quocientes Qg/Qo e n /N, ou seja:
deve ser instalado em uma posição isenta de projeção de qual-
quer tipo de sombra ou obstrução dos raios solares. O equipa- Qg/ Qo = a + b 11 / N, (5.36)
m ento necessita de dois ajustes: de meridiano, para que o eIxo
da esfera se alinhe no sentido N-S; e de latitudelocal, para que e m que: Qo é a irradiância solar global extraterrestre no dia
o eixo da esfera fique paralelo ao eixo da Terra. Em dias com d esejado (Tabela 5.2); N é o fotoperíodo daquele dia, que re-
chuva ou orvalhamento intenso, as tiras ficam molhadas e presenta o número máximo de horas com brilho solar naquele
demoram a regis trar a incidência dos raios solares. di a (Tabela 5.1); e a e b são os coeficientes da equação empírica,
determ inados por análise estatística de regressão, sendo espe-
cíficos para o local. A fração Qg / Qo define a transmitância
g lobal d a atmosfera local, e seu valor máximo (potencial) é
dado pel a soma (a + b).
Q ua nd o não há tai s coeficie ntes para o loca l, Glover &
M ull o h (1958) p rop usera m a seg uinte aproximação:

Qg/ () = 0,29 cos <I> + 0,52 n / N, (5.37)

e m que 'I> é a lati tud e, expressa em graus e décimos.


Vários trabalhos apresentam valores de a e b para re-
A B
g iões brasileiras, e na Tabela 5.4 são apresentados valores para
FIGURA 5.9 Heliógrafo tipo Campbe ll-Stokes (a) e fitas de
a lg uns locais . Para O Rio Grande do Sul, Fontana & Oliveira
pape lão utilizadas (b).
("1996) apresentam tais coeficientes médios anuais para 20 lo-
ca li dades, e também os coeficientes mensais para as 9 regiões
ecoei imá ticas do Estado.
100 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrom eteorologia - 101

TABELA 5.4 Coeficientes a e b da Equação de Angstrom-Prescott, para algu-


mas localidades brasileiras. 5.13 RADIAÇÃO FOTOSSINTETICAM ENTE ATIVA
L(x:alidade Período
BOIucnlU - SP Anual 0,24 0,45
Campinas - 5 1' Anual 0.23 0.56 A radiação solar com comprimentos d e onda entre 400 e
Mococa· SP Anual 0,40 0.4\
Monte Alegre do Sul- SP Anual 0,19 0.61 700 nm corresponde à Radiação Fotoss inteticamente Ativa (RFA
Piracicaba - SP Outono·lnverno 0.28 0,51
Piracicaba· SI' PriIll3vcra-Vcr.io 0.25 0.50
ou PAR) . Ela pode ser m edid a por p iranômetros prov idos de
Pindamonhangl.ba - SI'
Presidente Prudcnlc - S I'
Anual
Anual
0,28
0,19
0.51
0.39
um fi ltro que separa as outras bandas da radiação, ou por u m
Ribeir.io PrelO - SP Anual 0, 13 0.73 sensor específico, denominado de quântico, em função da uni-
Sào Luiz - MA Anual 0,26 033
Fortalc:za - CE Anua! 0.27 0.36 dade e m que ta l radiação é expressa. Como a fo tossíntese é
Teresina - PI Anua l 0.3 1 0,37
10âo l'es50a - PB Anual 0.28 0.36 um processo quântico, no qual importa a qu an tidade de fóton s
Recife PE Anual 0.30 0.38
retro!in3 - I'E Anual 0,32 0,37 absorvidos n essa banda de radiação so lar, é prefe rível usar a
Propri:\ - SE Anual 0,33 0 .41
Paulo Afonso' BA Anua l 0,3 [ D,3)
Densidade de F/liXO de F610ns Fotoss in/:éficos (DFFF) expressa pelo
!recê _ BA
Salvador - nA
Anual
Anual
0.33
0.29
0.33
0.39
nlÍ/1/ero de moles de f6to ns po r un id a d e d e área e de tempo (moi
Manaus· AM Anual 0.26 0,49 /17"' S·'). Um m o i de fó tons corresponde à energia associada a
Viçosa - MG Anll;!l 0.23 0.38
Alegrele RS Anual 0, 19 0.49 6,02 102.1 fó to ns, em analogia ao NlÍ l1lero de Avogadro u sado para
Cachoeirinha - RS Anual 0.20 0.56
Cruz Ali;. HS Anual 0.20 0,53 elefinir a m assa molec u lar d e urna substância . O sensor é u m
Encru;dlhad:. do Sul RS Anual 0.15 0.47
Erechilll RS AJw:,! 0. 19 0.47 piranômetro el e fotoel iodo ele sílicio provido de um filtro es-
Farroupilha RS Anu:.! 0.17 0.60
Eldorado do Sul - I{S Anu:.1 0, 15 0.47
pecial (Figura 5.10).
ljuí _ RS Anu:.1 0.25 0.46
Jütio de RS Anu;.1 0.17 0.62
Osório Anu;.1 0.17 0.50
PclOta.~ - Anual 0,35 0,46
Quarnl Anual 0.25 0,38
Rio Grande RS Anual 0,27 0,32
Sama Rosa NoS Anual 0,15 0,55
SanloAuguslO RS Anual 0,17 0.53
Solcdadf,:d RS Anual 0,23 0.41
Sào Gabriel RS Anual 0.23 0.45
Taguari RS Anual 0.24 0.41
Uruguai(lna RS Anual 0.24 0.41
Vacaria RS Anual 0.25 0.46
Vcr.Ulópoli5. RS Anua l 0.2 1 0.40
Fonte: Vianello & Alves (1 991) , Cervellini et ai. (1966), Ometlo (198 1), l unilrdi &
Cataneo (1994) e Ribeiro et ai. (1982), Fontana & Ol ive ira (1996).
Na falta ele u m sensor quântico, a DFFF pode ser esti-
mncla teorica mente sabend o-se que a energia associada a um
fólon (E" expressa em JI fóton) é dada pela relação

E, = !J c/t..., (5.38)
Agrometeorologia - 103
102 - Pereira, Angelocci e Sente/has

5 .14 EXERcíCIOS PROPOSTOS


em que h é a constante de Planck (= 6,6256 10-34 J s), c é a velo-
cidade de propagação da radiação (~ 3 108 ms-I), e À é o com-
l. Demons trar que 1 caLcm-2 mir,1 é aproximadamente
primento de onda da radiação (expresso em m; 1 nm = 10-9 m).
697W m -2
No caso da DFFF, esse cálculo teria que ser feito para
cada valor de À entre 400 e 700 nm, somando-se todos os valo-
2. Estimar Qg média diária, para janeiro e julho, com
res calculados, e obtendo-se um valo r médio representativo
dados d e heliógrafo para as seguintes localidades:
dessa banda. Uma alternativa mais simples é calcular-se a ener-
gia associada a um À intermediário, no caso À = 555 nm to-
• Pirac icaba, SP (Lat. 22°43'S): a = 0,26 e b = 0,51
mando-se tal valor como representativo da RFA, ou seja, ,
janeiro: n = 6,4 horas, N = 13,3 horas e Qo = 42,2 MJ m -2 d-l
julho: n = 7,9 horas, N = 10,7 horas e Qo = 23,7 MJ m-' d-I
E S55 = 6,6256 10-34 • 3108 / 555 10-9 = 3,581 10- 19 Ufo ton- I ]. (5.39)
• Sa lvado r, BA (Lat 13"00'S): a = 0,29 e b = 0,39
janeiro: n = 7,9 horas, N = 12,7 horas e Qo = 40,2 MJ n,-2 d- l
Se um fóton "médio" de RFA tem 3,58] 10-19 J, então um
julho: n = 5,8 horas, N = 11,3 horas e Qo = 28,5 MJ m-2 d-l
mal de 6,02 1023 fótons tem energia equivalente a2,1,56 lO' J.
• Pelotas, RS (Lat. 31°45'S) : a = 0,35 e b = 0,46
Para s e converter a energia X (J m- 2 S-I), medida por um
ja neiro: n = 6,5 horas, N = 13,9 horas e Qo = 43,1 MJ m -2 d-I
piranômetro acop lado com filtro de-radiação, para DFFF (moi
julho: n = 4,6 horas, N = 10,0 horas e Qo = 18,7 MJ m" d-I
m- 2 S~l) ba s ta multiplicar"X p elo inverso da energia de 1 mal,
Isto e, '
3. Demonstrar que, não havendo interferência da atmos-
fera, uma superfície colocada perpendicularmente aos raios
DFFF = 4,638 10-6X [mo! 11,' S-I). (5.40)
s olares, intercepta aproximadamente Jo (d / D)2 da energia so-
Como se trata de um número muito pequeno, é comum lar.
expressar-se a DFFF em ~mol m-2S-1 eliminando-se o fator 10-6
4. Admi tir,do que o raio médio da Terra seja igual a 6,371
da unidade . Por exemplo, se num instante mede-se 500 J m-2 s-
106 m , mostrar que ela intercepta cerca de 15,2 1021J / d da ener-
I de RFA, então tem-se o equivalente a 4,638 * 500 = 2319 ~~ol
m· 2 S-I. Essa é a ordem de grandeza de valores máximos de g ia emi tida pelo sol.
DFFF encontrados naturalmente.
5 . Calcular o ângulo zenital do sol, no equinócio de ou-
N o caso d e não haver medida de RFA pode-se utilizar
to no (21 /3), às 9:30 horas local, sendo a latitude igual a 20 0 S.
o valor da radiaçã o solar global (Qg) corrigido por um fator
p~ 0,5, isto é, RFA = 0,5 Q g, procedendo-se do mesmo modo
6. No equinócio de primavera (23/9), verificar o efeito
descrito acima para s e es timar a DFFE
d a la titud e sobre o ângulo zenital do sol para localidades si-
104 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Capítulo 6

tua das no mesmo meridiano, quando o Sol passa pelo Temperatura


meridiano local.

7. Nas condições do exercício anterior, demonsh'ar a


influência da latitude na distribuição da energia solar inter-
ceptada pela Terra. Admitir que nessa data a distância Terra-
sol seja igual alUA. 6. 1 I NTRODUÇÃO

8. Demonstrar que: a) nos equinócios, todas as localida-


A energia radiante que atinge a superfície terrestre será
des têm exatamente 12 horas de fotoperíodo, independente-
destinada a alguns processos físicos principais, e dentre esses
mente de suas latitudes; b) nos solstícios, o fotoperíodo au-
um (convecção) está relacionado ao aquecimento do ar e ou-
menta/ decresce com aumento da latitude.
tro (condução) ao aquecimento do solo, portanto, responsá-
v eis p--;;Ias variações de temperatura nesses meios. A tempera-
9. Calcular a hora do nascer e do pôr-do-Sol, em Porto
tura é um índice que expressa a quantidade de calor sensível
Alegre (latitude = 30° 5): a) no solstício de verão b) no solstício
de um corpo.
de inverno.

10. Um edifico proje ta uma sombra de 100m, às 9 horas, 6 .2 TEMPERATURA DO SOLO


no solstício de inverno. Q u al é a altura do edifício sabendo-se
que a latitude local é igual a 15° S? Qual é a direção da som- o regime térmico de um solo é determinado pelo aque-
bra? cim ento de sua superfície pela radiação solar e transporte de
calor sensível ao seu interior, pelo processo de condução. Du-
ra nte o dia, o aquecimento da superfície origina um fluxo que
tra nsporta calor da superfície para o interior do solo, aumen-
ta nd o o armazenamento de energia com conseqüente eleva-
çã o d a su a temperatura. À noite, o resfriamento da superfície,
I o r c mi ssão de radiação terrestre, diminui a temperatura nas
r a mad as próximas à superfície, e isto inverte o sentido do flu-
xo d • ca lo ,", q ue se torna ascendente, retornando o calor arma-
ze na do para a s uperfície. Esse processo tenta minimiz ar a que-
da el a l m pe ratura na superfície visto que o processo radiativo
cI • pe rda d e e nc rg ia é muito mais eficiente.
Agrometeorologia - 107
106 - Pereira, Angelocci e Sentellws

Energia), ou seja, irradiância solar global, temperatura do ar,


A variação da temperatura do solo ao longo do dia e da nebulosidade, vento e a chuva. Nesse contexto, esses elemen-
profundidade pode ser estudada a partir da elaboração de tos meteorológicos passam a condicionar a temperatura do
perfís de v ariação da temperatura (tautócronas, Figura 6.1). solo, tornando-se fatores.
Nesse exemplo, observa-se que houve isotermia a partir de 35
cm de profundidade, ou seja, a partir daí ocorreu amorteci- • Fatores intrínsecos
mento da onda diária de calor. Os fatores intrínsecos são aqueles determinados pelo tipo
~
de cobertura da superfície, pelo relevo, e pela composição (tipo)

l
Tt Ul per::ltur a d" s .. j" t e) ['
do solo. O tipo de cobertura do solo é um fator microclimático.
O"T----~"r-~-'-'~~'-'----'~'r___." I·
Solos desnudos ficam sujeitos a grandes variações térmicas
I", 'o I diárias nas camadas mais superficiais, em dias de alta irradiân-
cia. A existência de cobertura com vegetação ou com residuos
vegetais (mulch) modifica o balanço de energia, pois a cober-

In 60 !=;'." ~ ~~~~lJ
I
tura intercepta a radiação solar antes dela atingir o solo. Esse
é um fator importante a ser considerado em cultivos em que
as plantas são dispostas em linhas bem separadas, como é o
caso de pomares. É comum deixar-se vegetação rasteira nas
entrelinhas pois ela ameniza o regime térmico no solo. Porém,
FIGURA 6.1 Tautó cro nas de temperalura de
um latossolo desnudo. em regiões sujeitas a geadas, é importante que essa vegetação
6.2.1 Fatores determinantes da temperatura do solo rasteira seja eliminada nos períodos críticos (inverno), pois
assim o calor do Sol pode penetrar e ser armazenado no solo
A variação temporal e espacial da temperatura de um durante o dia, redu zindo o resfriamento noturno.
so lo depende de sua condutividade térmica, d e seu calor es- A Figura 6.2, extraída de Pezzopane et a!. (1996),
exemplifica o que acontece nas duas situações, ou seja, com
pecífico, e de sua emissividade (poder emissor da superfície),
so lo nu, e com solo cobe rto com palha de café (material iso-
os quais irão depender de sua textura, densidade e umidade.
lante térmico). Verifica-se que h ouve maior amplitude térmi-
Além disso, essa variação é decorrente da interrelação com
a no solo nu, e com a temperatura nas horas mais quentes
uma série de fatores, entre os quais se destacam:
" ting indo mais de 45 °C a 2 em de profundidade. Nota-se que,
J 111 ' d iela qu e a quantidade de palha de café foi aumentando
• Fatores externos
Os fatores externos estão relacionados aos elementos ("' '' io !" espess ura da camada isolante), a amplitude diária foi
di lninuincl o.
meteorológicos que afetam o balanço de energia na superfície,
e também sua posterior partição (ver Capítulo 10, Balanço de
108 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorologia - 109

Telll\JCr::atura do s olo ( C)
das superficiais e menor profundidade de penetração das on-
25 30 35 40 45
'" das de calor, em função de sua menor condutividade térmica.
O
'"
r---------------------------~
Fisicamente, a condutividade térmica (k, J m·! s·! CC') repre-
senta a taxa de transporte de calor (G, J m ·' S·') através de uma
área unitária (1 m'), quando o grandiente de temperatura (6T /
6z) é igual a 1 cC / m, ou seja, G = - k 6T / 6 z . A condutividade
térmica expressa a facilidade / dificuldade com que um corpo
transporta calor. Ela é maior em solos ricos em quartzo, e me-
nor em solos orgânicos. A porosidade do solo também afeta s ua
"~======~============~I
- + - Otfh:l {6h )
--o--- Ol/h3 ( 14h )
~....... 14t/h a (6h ) ~6-~ 28t/h,,{6h)
~ 14t/ h a ( 14h ) ~ 28t/ha (1 41l ) 1
condutiv idade té rmica, pois quanto maior o volume total de
poros, menor o contato entre as partículas. O teor de água tam-
I . __ =.!...--I

FIGURA 6 .2 Ampli tude t érm ic a diária em so lo com e


bém afe ta a condutividade térmica do solo, pois ela substitui
se m cobertu ra co m pal ha de café, em d ife re ntes q uant i- o ar dos poros e sua condutividade térmica é muito maior que
dades. Adaptad o de Pezzopane et a I. (1996). a do ar. Solos barrentos a argilosos têm maior condutividade
térmica, conduzindo calor a maiores profundidades, resultan-
[1,1' O r e levo é um fator intrínseco topoclimá t ico, que do em menor amplitude térmica nas camadas superiores (Fi-
condiciona o terreno a diferentes exp osições à radiação s olar gura 6.3).
direta. Em latitudes m aiores q u e 10°5, as fa ces de terreno v ol-
tada s p a ra o N tendem a apresentar maior tempe ratura do
solo que a s fa ces v olta d a s para o S. Em uma mesma latitude, I 'o
Areno s o

terrenos v oltados para o E recebem os raios solares antes que G" ' o
....o I ___ "Arg iloso

aqueles com e xposição para o W. Logo, o aquecimento será 50



mais rápido na face E. No entanto, na face E, o resfriamento ~
o 'o
também se inicia antes, pois a face W estará recebendo os raios ~
I ." "
30

solares diretos até próximo ao pôr-do-sol enquanto que a face ~


. -- .. --
E receberá mais radiação difusa do que direta. A configuração E
!: 10
do terreno (côncavo ou convexo) também influi na sua tempe- •

ratura. o , , 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Hora
O tipo de solo é outro fator intrínseco e está relacionado à
sua textura, estrutura e composição. Assim, desconsiderando- FIGURA 6.3 V ariaç ão d iária da temperat u ra na
se os outros fatOl·es discutidos acima, os solos arenosos ten- cam ad a superficial de um solo argiloso e um
dem a apresentar maior amplitude térmica diária nas cama- arenoso, sem cobertura vegetal.
110 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas
Agrometeorologia - 111

A variação temporal da temperatura do solo depende


média mensal à superfície de um latossolo roxo desnudo é
também de sua capacidade volumétrica de calor (C, MJ m -3 °C'),
maior do que a 1m de profundidade; porém, no inverno, essa
que é dada pelo produto de sua massa específica (p, kg m-3 ) pelo
situação se inverte e a temperatura média à superfície se torna
seu calor específico (c, MJ kg-' °C') . A capacidade volumétrica
menor d o que a 1m de profundidade (Figura 6.4)_ Em função
de calor de um solo depen de de sua composição e de seu teor
da d istân cia a ser percorrida pela onda de calor, há d efasagem
de um idade, e de acordo com Sellers (1965, p.132), ela pode
de um mês no ciclo da s duas curvas de tempera tura.
ser estimada pela relação

29
c ~ p c = 1,92 X m
+ 2,51 Xo + 4,18 X" (6.1)
27
u
sendo Xm, Xo' e X" respectivamente, as frações volumétricas • 25
i5
das partículas minerais, da matéria orgânica, e da água retida ~
23
no solo. Se, para um solo, a fra ção mineral é constante, e a '"
~

fração orgânica varia mu ito p ouco, en tão a capacidade térmi- "•


~
~
2'

'9
ca desse solo é u ma função linear direta de seu teor de umida- ~
>- 17
de . Isso significa que quanto mai s úmido estiver o solo, mais
energia será necessária para elevar sua tempe ratu ra de 1 °C _
Com o a capacidade té rmica do ar é várias ordens de magnitu-
'5
g,
«

"'
>
o
Z
.
N

"
de m en or que a da água, solo seco se aquece m.u ito ma is rapi- FIGURA 6.4 Variação anual da temperatura média mensal I
damente que solo mais úmido. em du as profu ndidades, de um latossolo roxo. Adaptado de
Alfons; (1979).

6.3 TEMPERATURA DO AR
6.2.2 Variação temporal da tempe ratura do solo
A tempera tura do a r é um dos efeitos mais importantes
A variação diária da temperatura do solo segue aquela
da rad iação solar. O aquecimento da atmosfera próxima à s u -
apresentada na Figura 6.1. Na camada superficial (2 em), a
p erfície terres tre ocorre principalmente por transporte de ca-
temp er atura atinge o valor máximo entre as 12h e as 14h; e em
1 0l~ a p artir do a q uecimento d a superfície pelos raios solares.
profundidades maiores, a lém da menor amplitude térm ica, os
O transporte de calor sensível ocorre por dois processos:
horários em que ocorrem os valores má ximos são diferentes_
Na escala anual, a variação corresponde à disponibili-
• Condução molecular, q u e é processo lento de troca de
dade de en ergia na superfície, ou seja, valores máximos ocor-
ca lor sensível. pois se dá por contato direto entre "mo léculas"
rem no verão, e ln.ínil1l0S no inve rno. No verão, a temperatura
d e ar; logo, esse p rocesso tem extensão espacial m u ito limita-
112 - Pereira, A ngeloeei e Sel1telhas Agrometeorologia - 113
\
da, fi cando restrito a uma fi na camada d e ar próxima à s uper- lura regis tr ada em locais diferentes conseqüência apenas do
fície a quecid a (camada limite superficial); macroclima. A altura m edida é entre 1,5 a 2,0 m acima da su -
p erfície, dentro de um abrigo meteorológico que permita a Ji-
• Difusão turbulenta, que é processo mais rápido de troca vre passagem d o ar mas impeça a incidência de rad iação solar
d e energia, pois parcelas de ar aquecidas p ela superfície en - nos equipamentos. Esse abrigo pode ser de paredes tipo vene-
tram e m movimento convectivo desord enado transpo rtando zianas, como nas Estações Meteorológicas Conven cion ais (Fi-
calor, vapor d'água, p ar tículas de poeira, etc., para as cama- gura 6.5a), ou constituído de multi-placas, com o nas Es tações
das superiores. Meteorológicas Autom á ticas (Figura 6.5b).

6.3.1 Variação temporal e espacial da temperatura do ar

As variações tempora l e espacial da temperatura d o ar


são condicionadas pelo balanço d e energia na s uperfície. As-
s im, to dos os fatores que afetam o balanço de energ ia na s u-
p erfície influen ciam também a temperatura do a r. Entre ess es
fatores destacam-se aqueles que ocorrem:
• n a escala macroc/illlática, com predominâ ncia dos efei-
tos da irradiância solar, ventos, n eb ulosidade, trans-
porte convectivo de calor, e concentração d e vapor
d'á gua na a tmosfera;
• na escala topoc/imática, em que a exposição e a confi-
FIGURA 6.5 Abrigos meteoro lógi cos utili zados em Esta-
guração do terreno são os moduladores da tempera- ções Meteo rológicas Convencionais (a) e A utomá ti cas (b).
tura do solo e do ar;
• na escala microclimática, em que o fator condicionante Sob essa condição de referência , o padrão típico de varia-
é a cobertura do terreno. ção diária da temperatura do ar é bastante semelhante ao apre-
sentado na Figura 6.6. Observa-se que a temperatura máx ima
Para fins meteorológicos e clim a tol ógicos, a te mpera tu- ocorre com uma defasag em d e duas a três hora s em relação ao
ra do ar é m edida sob uma cond ição d e referência (padrão), horário de maior irradiância solar (12h em dias sem nuvens),
para que se permita comparação en tre loca is diferentes. A con- enquanto que a tempera tura mínima ocorre um pouco antes
dição padrão p ara a medida da tempera tura do ar é s obre área do n ascer do sol, em função do resfriamento noturno. Esse
plana (topoclima) e g ra mada (microclima), sendo a tempera- padrão pode ser 'alterado em função das condições m acrocli-
'r

Agrometeorologia - 115
114 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
I

coluna para impedir que o mercúrio retorne para o bulbo quan-


máticas vigentes, como por exemplo a entrada de uma frente
do a temperatura diminui. A coluna de mercúrio dilata-se
fria, ocorrência de chuvas, nebulosidade intensa, ventos for-
quando há aumento da temperatura, até que a máxima seja
tes e contínuos, etc.
atingida, e essa posição é mantida até a leitura ser feita, geral-
mente nas horas mais frias do dia seguinte. O retorno do mer-
II cúrio ao bulbo só é possível com aplicação de uma força, agi-
________ _
3
5
~
tando-se manualmente o termômetro, nas horas em que a tem-

· ::~'
õ
'-
, peratura seja mínima, para permitir que e le seja preparado
I
o
~
20 .
Tmáx
.
para a próxima observação. Para se evitar efeito da gravidade
~
sobre a movimentação da coluna, esse termômetro deve ficar
~
;


~
:: t i disposto horizontalmente.

·
E
~
5 . TmÍ1

o .,--+---+~--+--+-_-+-_+-+---<~i
o 2 ' 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
I O termômetro de mínima (Figura 6.7a), tem o álcool como
líquido sensor, sendo se u bulbo em forma de U para permitir
II maior contato com a atmosfera. Dentro da coluna de álcool há
Hora
uma pequena peça de material leve em forma de h.ill.teT, que
!I FIGURA 6.6 V ariação d iári a típica da temp eratura do somente se movimenta quando a coluna retrocede em direção
ar. ao bulbo, o u seja, em condições de diminuição da temperatu-
ra. Esse movimento só é possível se o halte r estiver colocado
6.4 TERMOMETRIA
junto ao menisco que se forma na interface á1cool- ar dentro
do termômetro. Para que o termômetro esteja ap to a medir a
A temperatura é medida com termômetros, que podem
temperatura mínima, o halter deve ser movimentado até a
ser divididos em 5 grupos, de acordo com o princípio físico
extremidade do menisco nas horas mais quentes do dia, após
utilizado pelo sensor de temperatura.
a leitura da mínima. A temperatura mínima corresponde à ex-
tremidade do halter voltada para o menisco, que é o indicador
• Dilatação de líquido: os termômetros baseados neste prin-
da temperatura em qualqu er instante. Obviamente, esse ter-
cípio são os mais comuns, cons is tindo de um capilar de vidro,
mômetro também d eve ficar disposto horizontalmente para
onde uma coluna de líquido (álcool ou mercúrio) se dilata/
I evitar movimentação indevida do h alter.
contrai com o aquecimento/resfriamento. Em um posto
Quando não se n ecessita de maior precisão nas medi-
I agrometeorológico con venciona l, os termômetros d e máxima
de mínima, geotermômetros e o conjunto psicrométrico são dess~
das, pode-se utilizar um termômetro conjugado de máxima e mí-
nima, tipo Six (Fig ura 6.7b). É um sensor de baixo custo, m as
tipo.
I menos preciso que os termômetros meteorológicos. Esse ins-
O termômetro de máxima (Figura 6.7a), u sa mercúrio como
trumento é colocado verticalmente, e tem forma de U , conten-
sensor, e tem uma constrição n o capilar próximo à base da
I
" I

til
116 - Pereira, Angelocci e SenteI/las Agrometeorologia - 117

do mercúrio na parte de baixo do U e álcool acima, em cada lado. direção ao reservatório totalmente cheio de álcool. Esse lado marca
Portanto, há uma interface mercúrio-álcool em cada lado. Um a temperatura mÚ1Íma.
lado marca a temperatura máxima, e o outro a múúma. Como os Para se medir a temperatura do solo são usados termô-
líquidos se movimentam livremente, são necessários dois indica- metros especiais de líquido em vidro, denominados de geoter-
dores, um para a temperatura máxima, e outro para a múúma. mômetros (Figura 6.8). Esses termômetros têm vários tamanhos,
Os indicadores são ajustados aos capilares de tal modo que eles dependendo da profundidade que se quer medir a tempera-
não se movimentam com a ação da gravidade. A variação de tem- tura. São termômetros de mercúrio, mas como o bulbo sensor
peratura só os deslocam para cima. Esses indicadores são mov i- fica enterrado, a coluna contendo a escala de leitura é inclina-
mentados pelas colunas de mercúrio, mas ficam imersos no álco- da para facilitar a leitura. Para se minimizar a incidência dos
ol, e são imantados para permitir seu deslocamento forçado até raios solares diretos sobre a coluna de mercúrio, deve-se vol-
as interfaces álcool-mercúrio após as observações, para o prepa- tar a escala de leitura do termômetro para a face S. No caso de
ro do termômetro para a leitura seguinte. medidas acima de 50 cm de profundidade, usa-se um termô-
O lado da máxima termina em um reservatório parcialmen- metro inserido em um tubo d e PVc, com contato mínimo en-
te cheio com álcool, para permitir a dilatação dos líquidos. O lado tre o tubo e o termômetro, que pode ser removido para se fa-
da múúma termina em um reservatório totalmente cheio com zer a leitura.
álcool. Quando há elevação da temperatura, há dilatação tanto
do mercúrio como do á lcool, e há movimentação em direção ao
reserva tório parcialmen te vazio (único ca minho possível). Com
esse movimento, o indicador da temperatura máxima é desloca-
do também para cima (lado parcialmente cheio). Quando há
resfriamento, tanto o mercúrio como O álcool se contraem, mas O
álcool se contrai nlais, e a movinlentação d a col una agora é enl

l) ,-
a b
~
~

g
~
- 30- ~ 50
:~ -20 40

'. '- 2: - !O
I 30
§
"
"'" o 20

LJ
10 10 FIGURA 6.8 Geotermômetro s.
20 r O
J 30 r-lO
40 f- -20 • Dilatação de sólido: instrumento desse tipo baseia-se no
50 r- 3O
princípio de que um sólido ao se aquecer sofre dilatação pro-
~
porcional ao aquecimento. O mais comum é o termógrafo, cujo
FIGURA 6.7 Term ômetro de máxima e mín ima: (a) tipo padrão, (b) esque- sen sor é uma placa metálica, que ao se dilatar e se contrair, de
ma do tipo Six.
118 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 119

acordo com as variações de temperatura do ar, aciona um sis- ção (tomada como referência) é colocada em um sistema cuja
tema de alavancas ligado a uma pena sobre um diagrama temperatura é conhecida (temperatura de referência) normalmen-
acoplado a um sistema de relojoaria, permitindo o registro con- te medida em gelo fundente a Doe ou com termistor inserido
tínuo (diário ou semanal) da temperatura do ar (Figura 6.9). no sistema. A diferença de temperatura entre as duas junções
São muito utilizados em postos agrometeorológicos conven- gera uma força eletromotriz lfe.m.) proporcional, permitindo
CionaIS. ótima precisão e sensibilidade d e m e dida. Pelo uso de uma
constante de calibração o v alor da fe. 111. é transformado em
temperatura. No caso apresentado, os metais são o cobre e o
constantan (Figura 6.1D).LJma v antagem desse tipo de termô-
metro é que eles geram sinais elé tricos que podem ser
registrados ou armazenados em sistemas automatizados de
aquisição de dados; outra vantagem é permitir miniaturização.

Cobre )
Junção __ _____ __• ".
Registrador
: Constan tan
Gelo -------,
Cobre
FIGURA 6.10 Te rmopar de cobre-con stantan .

• Resistência elétrica: os termômetros desse tipo baseiam-


se no princípio de que a resistência elétrica de materiais varia
com a temperatura. Os metais utilizados para construção des-
ses termômetros são o níquel, a platina, o tungstênio e o co-
FIGURA 6.9 Termohigrógrafo. bre. Um caso especial são os termistores, constituídos de ma-
terial semicondutor, com coeficiente térmico negativo (varia-
ção da resistência com a temperatura) que permitem acopla-
mento a sistemas automatizados de coleta de dados.
_ • Pares termoelétricas : o princípio físico de um termopar
e o mesmo utilIza do nos sen sores de radiação solar. No caso
• Radiação infravermelho: baseia-se na detecção da radia-
do termopar, uma das junções (uniã o de dois metais diferen-
ção eletromagnética emitida pelos corpos (Lei de Stefan-
tes) é colocada no abrigo meteorológico, enquanto outra jun-
Boltz mann). Esse instrumento é utilizado para detecção
120 - Pereira, Angelocci e Sente/lzas Agrometeorologia - 121

da temperatura da superfície de um corpo, sendo utilizado • Temperatura média do ar em condições


para determinação da temperatura de superfícies naturais, mas padronizadas
são de pouca aplicação em postos agrometeorológicos. A fórmula mais usada no território brasileiro é aquela
adotada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), do
Para se medir a temperatura do ar pode-se utilizar to- Minis tério da Agricultura, que é o órgão responsável pela rede
dos os tipos de term ômetros, com exceção do infravermelho. meteorológica brasileira. Sua fórmula baseia-se em duas m e-
Os de dilatação de líquido e de sólido são normalmente utili- didas feitas em horários padronizados pela Organização
zados em postos agrometeorológicos convencionais, enquan- Meteorológica Mundial, ou seja, às 9h da manhã (T9 h ), e às 21
to que os termopares e os termistores são utilizados em esta- horas (T2 Ih ), que correspondem às 12h e às 24h GMT (Hora do
ções meteorológicas automáticas. A temperatura no interior Meridiano de Greenwhich, observatório próximo a Londres),
do solo é medida com geotermômetros do tipo de dilatação completada por outras duas medidas correspondentes aos
d e mercúrio. As observações devem ser feitas em solo grama- valores extremos do dia (Tmáx e Tmín), ou seja,
do ou desnudo, em uma área de 4x4m, nas profundidades de
2,5,10,20,40 e 100 em. Os termopares e termistores também • INMET: Tméd = (T9h + Tmáx + Tmin + 2.T21 ,,) / 5. (6.2)
podem ser utilizados para a medida da temperatura do solo.
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC), pertencen-
te à Secretaria Estad ual de Agricultura, mantém uma rede d e
6.5 CÁLCULO DA TEMPERATURA MÉDIA DO AR E estações agrometeorológicas em suas fazendas experimentais
DO SOLO localizadas nas diversas regiões do Estado de São Paulo. Sua
fórmula inclui uma medida que corresponde ap roximadamen-
Em climatologi a e em agrometeorologia, as temperatu- te à temperatura mínima (T71), uma próxima da hora mais
ras do ar e do solo são expressas em valores médios (diários, quente do dia (T14h ), e uma de um ponto intermediário (T21h ),
mensais e anuais), valores extremos (máxima e mínima) e am- isto é,
plitud es correspondentes. O cálculo da temperatura média
(Tméd) é tanto mais exato quanto maior for O número d e ob- • IAC (SA-SP) : Tméd = (T7h + T 14h + 2.T21 ,,)/4. (6 .3)
servações no período considerado. Inúmeras são as fórmula s
para cálculo da temperatura média, quando o número de me- Uma fórmula muito comum é aquela que utiliza apenas
didas no dia é pequeno, mas serão apresentadas apenas as os valores observados nos termômetros de máxima (Tmáx) e
mais comuns. A lg u mas delas são adotadas por órgãos respon- de mínima (Tmín), pois a temperatura média está n este inter-
sáveis por redes públicas de es tações meteorológicas. va lo. Inicialmente, a id éia era calibrar essa fórmula com aque-
las mais completas e utilizar uma correção para que elas tives-
sem perfeito ajuste. No entanto, essa correção caiu em desuso
122 - Pereira, Angelocci e Sentel/ws Agrometeorologia - 123

por fa!ta de calibração local onde só se dispõe dos valores ex- nam adequadamente. No entanto, à medida que a n ebulosi-
tremos. dade vai diminuindo, as diferenças aumentam . Sentelhas et
aI. (1997a), analisando dados diários automatizados de 13 me-
• Valores Extremos: Tméd = (Tmáx + Tmin)/2. (6.4) ses, obtidos em Piracicaba, SP, verificaram diferença média de
-1,2 °C entre a média rea 1 (EMA) e a média dada por valores
Com. o desenvolvimento da microeletrônica, apareceram extremos (Tméd Extremos).
I
os sensores de custo mais reduz ido e com o atrativo de não se
necessitar de ob servador, e com a possibilidade de acesso re- TABELA 6.1 Comparação entre valo res de tempe ratura média diária (Tméd,
moto às medidas em qualquer instante. Apareceram as esta- 0c) estima da pelas diferentes fórmulas, e respectivas diferenças (Ll) em rela-
ção à EMA. Piracicaba, SP.
ções autuIllatizadas com o possibilidade de observações em
intervalos bem reduzidos, aumentando a qualidade das me-
didas e das estimativas dos valores médios .
11M) 'd
" Tméd

I .
.2' ",.

• Estações Automáticas: Tméd = ~Tar /No, (6.5) .. A 1 - IAC - EMA; .0.2 - INMET - EMA; 63 - Extremos - EMA.

sendo que No representa o número de observações feitas (de- -Temperatura média do ar no interior de
pende da programação do s iste ma de aquisição de d ados), e estufas plásticas
Tar é a temperatura de cada obse rvação. É importante notar
que nesse caso, as observações são contadas entre as O e as 24 Nesse caso, ainda não há consenso q u anto ao tipo de
horas, e m função da programação do sistema de aquisição fórmula a usar, sendo comum o uso de termógrafos ou de es-
a utomá tica dos dados. tações a utoma tizadas. Pezzopane e t a I. (1995a) utilizaram a
A Tabela 6.1 apresenta comparação entre os três méto- equação prescrita pelo INMET, verificando excelente aj u ste
dos de es timativa da Tméd e aquela obtida por urna estação com a Tméd ob tida por um sistema au tomatizado, sendo o
automática (EMA), para um dia de cada estação do ano, em e rro médio da ordem de 1 %.
Piracicaba, SP. A Tméd da EMA foi calculada com 86400 valo-
res obtidos a cada segundo, e por isso foi tomada corno refe- - Temperatura média do solo
rência (Tm éd real) para comparação das fórmulas mais s im- No caso da temperatura do solo, tamb ém n ão há padro-
ples. Foram escolhi dos dias com extremos de nebulosidade nização e Alfonsi et aI. (1981) u tilizaram a seguinte fórmu la :
(n) . Observa-se que, em geral, quanto maior o número de amos-
tras para a o btenção da Tméd, menor a diferença em relação (6.6)
ao valor médio real. Dias com alta nebulosidade, isto é, com
baixos valores de n, mostraram que todas as fórmulas funcio-

I~L
124 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 125

6.6 ESTIMATIVA DA TEMPERATURA MÉDIA MENSAL cada 1000m de va riação em altitude a temperatura média
DOAR mensal sofrerá um d ecréscimo en tre - 3,4 °C e -7,5 cc. Essa
variação bastante diferente para os dois estados se dá em fun-
Em muitas situações, principalmente quando se planeja ção da quantidade de vapor d 'águ a presente n a atmosfera. Em
uma atividade a g rícola, é importante saber-se a tempe ratura condições mais secas, a queda da tempera tura é m ais acentua-
média mensal d e um local. A temperatura média mensal pode da que em épocas m ais úmidas. Portanto, meses com v alores
ser calculada a partir d as tempera turas m édias diárias. No maiores d e b (mais próximos de zero) devem ser m ais úmidos
entanto, nem todos locais dispõem de posto meteorológico, e (chu vosos). Teoricamente, se a atmosfera estiver totalmente
na falta de tais observações, pode-se estimar um valor médio seca, o limite para a queda da temp eratura cau s ada pela a lti-
mensal normal (m édia d e vários anos) pelas coordenadas geo- tude é -9,8 °C/IOOOm, valor esse denominado d e Gradiente
gráficas. Esse procedimento baseia-se no fato de que a tempe- Adiabático Seco. Se a atmosfera estiver saturada de vapor
ratura m édia do a r é função da latitude (devido à relação entre d 'água, e ntão o decréscimo de temperatura é acentuadamen-
esta e a irradiância glob al) e da altitude (efeito da variação de te menor e próximo de -4 °C/IOOOm (Gradiente Adiabático
pressão), sendo às vezes n ecessá rio introduzir a longitude (efeito Saturado). Nota-se, que os valores empíricos de b se enqua-
da locali zação próxima ao litoral o u no interior do continen- dram dentro dos limites teóricos.
te). Tais equações são obtidas p or aná lise es tatística de regres- Quanto ao parâmetro d da longitude, ele n ão apresen-
são, sendo d o tipo: tou efeito significa tivo na estimativa da temperatu ra m éd ia
nos es tados de Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, e São Paulo,
Tméd = a + b ALT + c LAT + d LONG (6.7) talvez pela p equ ena variação deste fator n os limites geográfi-
cos dessas regiões. Por ser um estado bem estreito em seu in-
em qu e: Tmé d é a temperatura m édia do ar em um dado m ês, terior, Santa Catarina n ão apresentou efeito da latitude sobre
expressa em cC; ALT é a altitude do local, em metros; LAT é a a temperatura, preponderando os efeitos da altitude e da lon-
la tihlde, e LONG a lon gitude, ambas dadas em minutos; e os g itude.
parâmetros a, b, c, e d são determinados para a reg ião como
um todo. Os coeficientes para esse tipo de equação existem
para vários estados brasileiros (Tabela 6.2), e ntre eles Bahia, 6.7 ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO SOLO EM
Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e FUNÇÃO DA TEMPERATURA DO AR
Santa Catarina .
Embora a eq.(6.7) seja empírica, a aná lise dos coeficien- Apesar de as medidas de tempera tura do solo a várias
tes apresentados n a Tabela 6.2 permite a lgumas inferências . profundidades sere m rotineiras nos postos agrometeoro ló-
Por exe mplo, o parâmetro b da altitude apresenta valores en- g icos, muitas vezes, para estudos específicos, essas informa -
tre - 0,0034 (julho, no PR) e -0,0075 (julho, n a BA), ou seja, p a ra ções n ão es tão disponíveis. Desse modo, pode-se la n çar m ão
128 - Pereira, Angelocci e Sentelhns Agrometeorologia - 129

QUADRO 6.1 Dados de temperatura do ar no dia 03/02/94 em Piracicaba, SP.


4. Você foi contratado para assessorar uma fazenda no
Hora TareC} Ilora Tur (0C) Hor.! T ur ("C) H ora TareC
I 23.0 7 24,0 13 34.5 19 28.5 oeste do Estado de São Paulo (Lat. 21°05'S; Long. 51°00'W e
2 23,U 8 26.5 14 35,0 20 27.0
29,0 21 26,0 Alt. 680m), em um município onde não existem informações
3
4
22,5
22,0
9
10 3 1.0 "
16
36,0
36,0 22 25,0
climáticas. O dono da fazenda requisita a você um projeto de
5 22,0 11 33,0 17 35,0 23 24.5
6 2 1.0 12 33.5 18 32,0 24 215 viabilidade do cultivo econômico do pessegueiro. No levanta-
mento bibliográfico você verifica que para se desenvolver bem
2. Utilizando a equação de estimativa da temperatura: essa planta necessita de temperatura média mensal inferior a
Tméd = a + b Alt + c Lat (em que a Alt é em m etros e a La t é em 17°C durante pelo menos três meses consecutivos por ano. A
minutos, 10 = 60', Quadro 6.2), calcule as temperaturas médias cultura é ou não é recomendável para essa região?
mensais e anual p ara Gália, SP (Lat. : 22° 18'S; Long: 49°33' W;
e A lt.: 522m). Compare os resultados estimados com os dados 5. Você foi requ isitado para a instalação de um posto
observados (Quadro 6.3) e discuta-os. agrometeorológico em urna propriedade agrícola. Em que con-
dições você recomendaria a instalação dos termômetros para
QUADRO 6.2 Valores dos coeficientes a, b e c da equação de estimativa da med ir tempe ra tura do ar e do solo?
Tméd para o Estado de São Paulo.
Jan Fev Mac Ab, Mai Jun
32.02 32.62 35.10 36.1 1 36.49 36,61 6. Á S se me ntes d e tomate necessitam de temperatura no
~ O.O061 2 -0 .00583 -0. 00559 -0.005 14
b -0 .00632 -0.00598
-0 .00875 -0 .01 103 -0.01 237
so lo (O a 10cm) de aproximadamente 30"C para germinarem
e -0 .00455 -0.00440 -0.00658
adequadamente (4 dias), caso contrário a germinação pode se
lu l Ago Sei Oul No' Dez Ano
39. 3 1 42.35 50.[9 47.39 42 .03 34,93 38.98 prolongar a té 16 dias, prejudicando o desenvolvimento das
b -0.00532 -0 .00547 -0 .00541 -0.00594 -0.00641 -0.00626 -0,00578
c -0 .01 48 3 -0.01565 -0.02013 -0 .01695 -0.01199 -0.00636 -0.01125
p lantas (Quadro 6.4). Utilizando o modelo d e estimativa da
temperatura do solo a partir da temperatura do ar (Alfonsi &
QUADRO 6.3 Temperatura média normal, período 1961 -1990, em Gália,
Sentelhas, 1996), verifique o tempo médio de germinação nas
SP. regiões abaixo, nos p lantios de outubro e maio:
Ja n F,v Mac Ab, Mai Juo .lul Ago Scl O ul No\' Dez A no Modelo: Tsolo = -3,61 + 1,33.Tar
Tméd 23.9 23,9 23 ,2 21,5 18,5 1630 16,4 17,9 19,3 21 ,8 23,3 23,5 20.S
a) Monte MÓI, SP =>autubro: Tar = 23,Ü"C e maio: Tar = 19,O°C
b) Macaca, SP => outubro: Tar = 23,9°C e maio: Tar = 20,O°C
3. Sabendo-se que o cafeeiro ar ábica exige, para s eu bom c) Capão Bonito, SP => outubro: Tar = 20,4°C e maio: Tar = 17,5°C
desenvolvimento, temperatura média anual entre 18°C e 22°C,
QUADRO 6.4 Temperatura do solo e germinação de semente de tomate.
entre qu ais altitudes ocorreriam condições térmicas ideais para
seu cultivo no Estado de São Paulo, que se situa entre as lati- Tsolo("C) 12 15 t8 21 24 27 30 33
tudes d e 20° S e 24°S. Tempo (d ias) 16 t3 10 9 7 6 4 4
Capítulo 7

Umidade do ar

7.1 INTRODUÇÃO

A existência de água na atmosfera e suas mudanças de


fase desempenham papel importantíssimo em vários proces-
sos físicos naturais, como o transporte e a distribuição de ca-
lo r na atmosfera, a evaporação e evapotranspiração, a absor-
ção d e diversos comprimentos de onda da radiação solar e
ter res tre, etc. A presença de vapor d'água na atmosfera é igual-
me nte importante como condicionante de ocorrência e con-
tro le de pragas/moléstias vegetais e animais, e também como
de te rminante da qualidade, do armazenamento, da conserva-
ção dos produtos agrícolas, bem como do conforto animal.

7.2 DEFINiÇÕES

o teor de vapor d'água na atmosfera varia desde valo-


res q uase nulos,.em regiões desérticas e polares, até valores de
11% (e m volume de ar úmido) nas regiões quentes e úmidas. O
nr atmos férico é composto de uma mistura de gases e vapo-
rl'S. De acordo com a Lei de Oalton das pressões parciais, cada
<'() Il ôt i lu i11 te a tmosférico exerce pressão sobre a superfície in-
""Ill'ndc nte da presença dos outros, de tal modo que a pres-
mlll lola l (a tm osfé rica) é igual à soma das pressões de cada gás
"li V.lpOr. Co mo no presente caso o objetivo é estudar a pres-
!l,ln l'X ' rcid a pe lo vapor d'água, pode-se considerar a pressão
132 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agromeleorologia - 133

atmosférica (Patm) como sendo composta pe la pressão


exercida p or todos os constituintes atmosféricos, exceto o va-
por d 'água (Par seco) mais a pressão exercida pelo vapor
d'água (e), ou seja, ~
~
. 6

5
C ur va de es
~
o
êª __ ___ ___ __ __________ __ ___ __

Patm == Par seco + e a , (7.1)


~

>
u
·· 4

3
o ,[\,, de

UNIDADES DE PRESSÃO ··
~

~
2 ea

T:
,
Tu
, '
--- -- ------t---'
"
A
T
1alm ~ 760 mmHg ~ 1013,3 rnb ~ 1013,3 hPa ~ 101,33 kPa
o
0\J !
I
:
I
s

° símbolo e, foi convencionado para representar a pres-


são exercida pela massa ahtal d e v apor d'água existente n a
o 4 12 16 20 24

Temper a tura d o ar (RC)


28 32 36

atmosfera . A pressão parcial d e vapor (e.l v aria d esde zero, FIGURA 7.1 G ráfico Psicrométrico.

para o ar tota lme nte seco, a té um valor máximo denominado


de pressão de saturação d e vapor d'água (e).
Pela Lei dos gases ideais, v e rifica-se que e m condição d e
° déficit de saturação de v apor do ar (t.e) é o btido pela
diferença entre e, e e" que é representado pela barra ver tical
pressão cons tante, o volu m e d e uma massa d e ar é diretamen- na Figura 7.1 , ou seja,
te proporcional à s ua te mpe ra tura (V ~ n R T / P). Portanto, o
volume d e ar se contrai /expand e com a variação d e T. Essa (7.3)
variação de volume impõe um limite à quantidade de vapor
d' ág ua que pode ser retida pelo volume. Quanto maior T, maior A quantificação da umidade atmosférica (vapor d 'água
essa quantida d e. Logo, a quantidade máxima (saturante) de contido na atmosfera) é dada pela relação entre a massa de
vapor d'água pod e ser d escrita por uma função da temperatu- vapor pelo volume d e a r (g H 20 .m·3 de ar), denominada densi-
ra ambiente. A pressão exercida pelo teor saturante de vapor dade de vapor (ou umidade absoluta, UA), que pode ser calculada
d ' água é representada por e" e su a depe ndência da T pode ser a partir da equação de estado dos gases ideais:
descrita p ela equação de Tetens, isto é,
PV~nRT. (7.4)
7,5 T"R
C ~ 0,610810 237.3+TAR (kPa) (7.2)
s
Essa equação, aplicad a ao vapor d'água no ar, torna-se
em que TAl< é a temperatu ra do ar, em °e, e e, expressa em kPa.
A F igura 7 .1 mostra uma representação gráfica da equação de c" V ~ (Dl" / M) R T, (7.5)
Tetens, denominada Gráfico Psicrométrico .
134 - Pereira, Ang eJocci e Sentelhas Agrometeorologia - 135

sendo e, em kPa; M , = 18,015 g mol-'; e R = 8,31 10-3 kPa m' 'c nd o To em °C, e, em kPa, e Log representa o logarítmo deci-
mol-1 K-', Tem K, tem-se: ma l d o q uociente dentro do colche te. Essa equ ação é a de Te tens
csc ri ta de modo a se ter To como incógnita.
fi , / V = (My / R) (e ó
T) / (7.6)
M y / R = 18,015 / 8,31-10-' = 2168 g K kPa-1 m-' (7.7)
7.3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA DETERMINA-
UA = 2168 e, / T [g H,o m-' de ar]. (7.8)
ç ÃO DA UMIDADE DO AR
No caso da unidade utilizada de e, ser em mmHg, o
P a ra a determinação da umidade relativa do ar utilizam-
quociente My / R ~ 289 g K mmHg-' m -'.
se e quipamentos que têm alguma proprie dade associada ao
A umidade de sa turação (US) pode ser obtida da mesma
teor d e v apor d'água contido na atmosfera. Alguns são extre-
fonua inserindo-se e , no lugar de e,, ou seJ'a:
m a m ente simples, não necessitando mais que um par de t~­
lllô m e tros. Os principais instrumentos utilizados são descri-
US = 2168 e, / T [g H,o m -' de ar]. " (7.9)
tos abaixo_
A umidade relativa do ar (UR%) é definida pela ra zão en-
• Psicrômetro
tre a umidade atual e a umidad e de satura ção, que equivale à
É constituído de dois termômetros (Figura 7.2), sendo
relação entre e, e e" conforme mostrado aba ixo:
um com o bulbo seco, que mede a temperatura real do ar, e o
UA 2 168 e. I T e o utro CaIU o bulbo envolto em uma gaze sempre umedecida,
UR %=-- IOO = a 100 =---"- 100 (7.10)
US 2 168e,I T e, qu e perde água a uma taxa dependente da concentração de
vap or no ar; quanto menor for e" menor será a tempe ratura
A temperatura na qual uma parcela de ar atinge a satu- desse te rmômetro em relação àquela do bulbo seco. Q u anl.o
ração apenas por resfriamento é denol1"linada de temperatura i.' m a ior a diferença entre essas tel1"lperaturas, maior o poder
do ponto de orvalho (To). Graficamente, To pode ser observada 'vaporante do ar, indicando que a concentração d e vapor
na Figura 7_1 traçando-se uma linha horiz ontal desd e o ponto d 'ág u a na atmosfera es tá dIstante do valor saturante, isto é,
A até interceptar a curva de e" traçando-se daí uma linha ver- qu c a UR é baixa. Quando as temperaturas desses termôme-
tical d esse ponto até a escala de temperatura. Analiticamente, 1 ros se aproximam significa que o teor atual de vapor d'água

To é dada pela se guinte expressão: ('s l6 p róx imo do valor de saturação, ou seja, que a UR é alta.
Co m a temperatura do bulbo seco (Ts) determina-se o
237,3Log [~1 vn lo r d c e, pela equação de Tetens (eq. 7.2), fazendo -se Tal' =
To = 0,6108 (7.11) 'Is. imila rmente, com a temperatura do bulbo molhado (Tu),
7 ,5 - Lo g [--""-, cic'l 'rmina-se e,u também pela eq uação de Tetens, fazendo-se
0,6108
136 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 137

Tar = Tu. A pressão atual de vapor e, é determinada pela equa- • Exemplo


ção psicrométrica (eq.7.12): A partir das medidas p sicro m étr icas (Ts e Tu) é possível
ca lcu lar todas as variáveis ca ra cte ri zadoras d a umidade do ar,
e, = e", - A P (Ts - Tu) (kPa) (7.12) descritas acima. Por exe mplo, e m um a hor a gua lqu el~ quando
P = 95,2 kPa, um p sicrôm e tro não-ve ntilado, instalado em um
sendo P a pressão atmosférica local, em kPa; e A é um coefi- abrigo m eteorológico, m os t ro u as seg uin tes temperaturas: Ts
ciente psicrométrico. = 25,3 °C c Tu = '19,8 oCo Ap li ca ndo-se as equações apresenta-
Ao produto A P, da eq.(7.12), denomina-se de constante dns r 'slllln '111:
psicrométrica (y). Para psicrômetros com ventilação forçada, isto
é, com um sistema de aspiração que força o ar a passar pelos Iiq ,(7,2): l" O,6 10H I OH7,'" 25,3i/(217,3 + 25~il = 3,22 kPa
termômetros, tem-se A = 0,00067 cC'; para psicrômetros não- 1\<1 ,(7,2): <-\ 11 0,6 108 101(7,5 ' 19,8)/(237,3 + 19,BjJ = 2,31 kPa
ventilados (em abrigo meteorológico com ventilação natural), Iiq ,(7, 12): l'" ~." - A I' (Ts - Tu) = 2,31 - 0,0008 * 95,2
A = 0,00080 cC' . É comum adotar-se um valor médio para P = (2",3 - 19,8) = 1,89 kPa
93 kPa, resultando em valores de y = 0,062 kPa DC' para 1\'1 ,(7,:1): I\c = c, - e" = 3,22 - 1,89 = 1,33 kPa
psicrômetros ventilados, e y = 0,074 kPa °Cl para psicrômetros 1': q ,(7,H): UA = 2168 ej T = 2168 * 1,89/(273 + 25,3) = 13,74 g
não-ventilados . Na prática agrometeorológica, y = 0,062 kPa H,O/ m' de ar
°C' tem sido usado sem se considerar o tipo de psicrômetro. 1\'1,(7,8): US = 2168 e,lT = 2168 * 3,22/ (273 + 25,3) = 23,40 g
Esse equipamento fa z parte das estações meteorológicas H,O / m 3 de ar
convencionais sendo instalado dentro do abrigo termométrico Eq,(7. 1O): UR% = 100 UA /US = 100 * 13,74/23,40 = 58,7%=59%
e não necessita de calibração pois a equação psicrométrica é I\q,(7.11): To = [237,3 Log(ejO,6108)]I[7,5 - Log(e,lO,6108)]
uma solução analítica do balanço de energia aplicado ao con- To = [237,3 * Log (1,89/0,6108)]1 [7,5 - Log(I,89/
junto psicrométrico. Dentro do abrigo meteorológico conven- 0,6108)] = 16,6 °C
cional (com paredes
tipo veneziana), uti- Observação: se a pressão atmosférica não fosse dada, usan-
liza-se comumente do-se o coeficiente psicrométrico igual a 0,062 kPa/oC resultaria
psicrômetro do tipo . el11 e, = 1,97 kPa, UR = 61 %, e To = 17,3 0e, o que para a prática
não-ventilado (Figu- agro meteorológica, não são desvios muito importantes.
ra 7.2a).
• Higrógrafo de cabelo
FIGURA 7.2 Psicrômetro
,
E um aparelho mecânico que se baseia no princípio de
de ventilação natural (a)
e de vent il ação forçada mod ifi caçã o das dimensões (contração/expansão) de uma
(b). me ha de cabelo humano arranjado em forma de harpa, com a
A grome teorologia - 139
138 - Pereira, Angelocci e Senlelhas

7.4 VARIAÇÃO TEMPORAL DA UMIDADE DO AR


variação da umidade do ar. A modificação do comprimento
da h arpa aciona um s istema de alavancas, que movimenta uma
pena sobre um diagrama (papel registrador), o qual está fixa- Para fins climatológicos, a umidade do ar é medida em
do sobre um mecanismo de relojoaria, permitindo o registro condições padronizadas, dentro de abrigo meteorológico ins-
contínuo da umidade do a r. Esse instrumento deve ser ins ta- talado s obre s uperfície g ramada, distando 1,5m da s uperfície.
lado da mesma forma do psicrômetro, dentro de um abrigo Nessas condições, a tendência d e variação d iária de umidade
meteorológico. A d esvantagem des te instrumento é que ele relativa do ar está relacionada ao fa to d e que a pressão parcial
precisa de calibração freqüente, principalmente pela perda de de vapor (e.l varia pouco durante o dia, mas a pressão de sa-
elasticidade dos fios de cabelo, e necessita também de limpe- turação de vapor (e,) varia exponencialmente com a tempera-
tura do ar (eq.7.2). Assim, a UR terá tendência de evo lução
za de poeira que se fixa nos fios de cabelo. É utilizado em es ta-
inversa à da temperatura, des de que o ar não esteja saturado
ções meteorológicas convencionais.
Como esse aparelho só mede a umidade relativa do ar, d e vapor d'água. Essa relação entre T e UR pode ser vista na
Fig ura 7.3, em que nas horas mais quentes do dia a UR atingiu
há necessidade de se m edir também a temperatura para se ter
um referencial da quantidade de vapor presente no ar. Sem a se u valor mínimo. Q u ando T tend e ao valor mínimo, a UR
tempera tura, a umidade rela tiva tem pouco significado práti- te nde à saturação (100%). Em condições n atura is de campo,
co, pois valores iguais de UR significam valores dife rentes de qu a ndo a UR u l trapassa 95%, no abrigo meteorológico, pode
ocorrer deposição de orvalho na superfície.
e" UA, e To, em condições de temperaturas diferentes . Daí, a
Em condições norma is-de tempo, a pressão atual c!.e va -
construção de ins trumentos conjuga ndo sensores para tem-
por (e) varia muito pouco durante o dia. Em período de'esti-
peratura e umidade do ar, is to é, te rmo-higrógrafos.
age m p ro long ada de chu vas (02/09/ 1999), observa-se que e '
• Sensores capacitivos pe rm a n e c u próx ima a 1kPa, enqu anto que e, atingiu 5 kP;
11 ,1H h o ras m a is qu e ntes do dia. Naquele d ia, a UR n ão passou
Sensores capacitivos são ut il iz ados em estações m e teoro-
lógicas automá ticas . O se n s o r co n s titui-se de um filme de ti l' !lO'Xo, 0 1in g ind o um mínimo próximo de 20%, mos trando
ti '·fi ' it LI ' sa turaç, o o d ia tod o. Na é poca mais úmida (14 / 02 /
polímero, que absorve v a p o r d 'água do ar alterando a capaci-
tância de um circuito a tiv o. Esse sens o r d eve ser instalado jun- 2000), c., (o i co mpa l'o li vo m e nte m a io r e próx ima d e 2,7 kPa,
tamente com o sensor de te mpe ratura, e m um abrigo do tipo e nqu a nto qu e c, a tin g iu 4,5 kPa, e m fun çã o d a m e nor tempe-
ra tura 111 áxlITI O. Nesse d iô, n él lll1 0sfe ra es teve sa turada até as
multi-placa. É recomendáve l ca librage ns periódicas e limpe-
8 ho ras .
za, principalmente em p e ríodos muito secos.
Essa s in fo rm ações fo ram o btidas p or es ta ção automa-
ti za da, com leituras dos sen sores a cada seg undo, executan-
do-se um va lor médio a cada 15 mino Assim, foi possíve l veri-
ficar qu e e, varia ligeiramente ao longo do dia. No início do
140 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 141

período de brilho solar, o valor de e, atingiu valores máximos, processo denomina;io de des tilação de orvalho, sendo este últi-
decrescendo posteriormente. O pequeno aumento no início do mo insignificante quando comparado ao primeiro (Rosenberg
dia está associado principalmente à evaporação e à baixa et aI., 1983).
convecção, aumentando a concentração de vapor d'água no A' formação do orvalho é Ífsultado da perda radiativa d,e
ar próximo à superfície. Logo depois, com a intensificação dos ~~perfíci~s, e transferência de vilPor 'd'água dp ar para
movimentos convectivos, parte desse vapor é levado para ca- elas, Além desse fator, a quantidadee ~ duSlÇão d9 orvall10 sobre
madas mais altas da atmosfera, resultando em ligeiro decrés- as folhas. de uma planta dependem d.a estrutura da planta, do
cimo da concentração próximo à superfície. Com O estágio de d esenvolvimento, da posição da folQa na planta, do
resfriamento noturno, o vapor d'água disperso se acama, au- ângulo de inserção, da geometria da folha e de seu tamanho, .e
mentando novamente a concentração na altura das medidas. também de suas propriedades térmicas e das condições
meteorológicas (temperatura, umidade e velocidade do vento),
----
a) Pi .... c.u .... , S I'· OUIl'}/ i99? b) 1·lõ~ck .. b3. SI' . 1M02l2000 os quais irão interferir 11(:JJ2.ê:!anço de radiação (Sutton et aI., 1984).
As condições meteorológicas requeridas para a forma-
ção de orvalho são aquelas que favorecem a intensa emissão .
.
!
.
~
de energia pela . superfície durante o período noturno,
.

a tmosfera limpa e calmi!t com baixa umidade para penn,itir


.

, . ou sejq:
t E
" .::.------ s uficiente perda de radiação de ondas longas e resfriamentO
c, da superfície; e alta umidade relativa nas camadas de ar pró-
"
Il .. . . rl o lI unórlo
" ximas à superfície para pérmitir condensação. Nessas con,di-
FIGURA 7.3 Variação ho rária de temperatura (T), umidade relat iva (U R), e
ções, .a formação de orvalho ..... - .
se inicia, em média, dúas a três
horas após b pôr-do-sol, continuando até uma a duas horas
"

pressão de vapor (e, e e,), dura nte um dia de pe ríodo seco (02109/ 1999) e
de pe ríodo úmido (14/02/2000). a pós O nascer do s91. Essa duração, no ent~nto, poderá ser ai:
terada em fu~ç.ão do .vento, da cultura, do us'o d'e irrigação e '
da cobertura do solo com palha ou plástico (Baier, 1966).
7.5 ORVALHO Segundo Marlatt (1971), as pesquisas com a ocorrência
o
d e orvalho concentram-se .na medida, -efeito -sobre .d esenvol-
O orvalho é definido como a água condensada sobre uma v imento de pragas e doenças, estimativa e previsão, seI'\do
superfície, quando a temperatura atinge o ponto de condensa- } nuito pouc'o estudado sob 6 ponto de vista cl'imatológicoD
ção (Ponto .de Orvalho, To). O orvalho pode ser proveniente d,a Muitos autores discordam quanto à importânCia do or-
condensação do vapor d'água do ar adjacente à superfícje, va lho como fonte de água no ciclo hidrológico, porém, toqos
imediatamente superiol~ no processo conhecido como precipi- s50 categóricos quanto à sua importância na âgricultura.e na
tação de orvalho ou de uma superfície evaporante inferior, no. ecolog ia das áreas áridas e semi-áridas, onde chega a repre-
142 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorologia - 143

sentar entre 15 e 20% da água consumida pela vegetação sendo pouco utilizado. Os aparelhos do Grupo 3 são aqueles
(Fritschen & Doraiswamy, 1973). De acordo com Monteith que registram a presença de orvalho por pesagem da água
(1973), a contribuição do orvalho no balanço de água da vege- condensada, depositada em um recipiente coletor, sendo de-
tação é pequena, pois as quantidades são de magnihlde muito nominados de orvalhógrafo. Finalmente, os equipamentos do
menor que as taxas de evapotranspiração potencial (ver Capítulo G rupo 4 são aqu~les que medem a formação de orvalho pela
12). No entanto, a duração do período no qual o orvalho per- mudança na condutividade elétrica de superfícies de folhas
manece sobre as plantas torna-se elemento importante na agri- f natu rais ou artificiais (Figura 7.5).
cultura, podendo afetar uma série de atividades, entre elas as Cada um desses equipamentos apresenta suas vantagens
colheitas e as pulveri zações. Influencia também na ocorrência e desvantagens, sendo os dos três primeiros grupos utilizados
de doenças fúngicas, sendo, nesse aspecto, muito mais impor- em estações meteorológicas convencionais e os do último gru-
tante o número de horas com orvalho sobre as plantas do que . po em estações automatizadas. No caso do aspergígrafo e do
a sua quantidade. Nesse contexto, vários são os trabalhos que orvalhógrafo, os maiores problemas estão na cotação dos da-
evidenciam a importância do orvalho no estabelecimento e dos, em razão desses equipamentos, especialmente o último,
desenvolvimento de doenças fúngicas, propiciando a água sofrerem interferência do vento, sendo, em muitos casos, ne-
necessária aos processos de germinação e de penetração do cessário o uso de mecanismos de proteção, o que, no entanto,
fungo nas plantas (Pedro Jr., 1989). acaba interferindo na m edida, pois o vento atua diretamente
na formação do orvalho. No caso dos sensores automatizados,
as medidas são bastante confiáveis, possibilitando o registro
7.5.1 Medida do orvalho e de sua duração contínuo sem interferência do vento. Amador (1987), comparan-
do medidas feitas em três tipos de equipamentos de determina-
Apesar de existirem diversos equipamentos, não há um ção da duração do período de molhamento por orvalho com ob-
método padronizado de medida e registro do orvalho, talvez servações visuais, concluiu que o de sensor eletrônico foi o que
por não ser esse elemento medido rotineiramente nos postos proporcionou menores erros (9,7%), sendo esses bem inferiores
meteorológicos, e por sua importância se restringir quase que aos erros médios apresentados pelo aspergígrafo (17,5%) e pelo
especificamente à agricultura . No entanto, a Organização orvalhógrafo (34,0%), nas condições do trabalho.
Mundial de Meteorologia (OMM) divide esses instrumentos
em quatro grupos. O Grupo 1 se refere aos equipamentos que
registram o orvalho e sua duração pela mudança de compri- 7.5 .2 Estimativa da duração do período de molhamento por
mento do elemento sensor devido ao molhamento, sendo o orva lho (DPM)
I
aspergígrafo, que utiliza fios de cânhamo, o mais utilizado (Fi-
g ura 7.4). No Grupo 2, o elemento senso r (grafite) se d issolve Sendo o orvalho dificilmente m edido em estações meteo-
com o orvalho e registra a sua duração em um pra to de cristal, l"ü lógicas, e sen do a duração do período de molhamento (DPM)
144 - Pereira, Al1gelocci e Sel1telhns Agrometeorologia - 145

Um dos métodos mais simples é considerar a DPM igual


ao número de horas com Ulnidade relativa do ar, medida no
abrigo meteorológico, acima de um determinado valor, nor-
malmente 85% (NHUR~85%), 90% (NHUR~90%) e 95%
(NHU~95%), condições essas em que já p ode ocorrer conden-
sacão na superfície exposta ao relento . Essa informação pode
ser obtida por meio dos diagramas do higrógrafo ou termohi-
grógrafo (Figura 7.6) ou em estação automática. No caso de
culturas, é comum o uso de equações de regressão linear tipo
"DPM = a + b NHU~90%", como obtido por Amador (1987),
FIGURA 7.4 Aspe rgig rafo . para o feijoeiro, por Pedro Jr. et aI. (1991), para a videira, e por
Sentelhas et aI. (1993), para a cu ltura do trigo.

FIGURA 7.5 Se nsor automático utilizado


para a medida do orvalho e de sua duração.

das folhas de grande importância para o estudo da relação


patógen o (doença) - hospedeiro (planta), a estimativa da DPM
torna-se importante. Vários são os métodos para tal estimati-
va, podendo-se utilizar equações de regressão linear simples
e múltiplas, em função de temperatura mínima, velocidade
do vento no período noturno, umidade rela tiva, temperatura
FIGURA 7.6 Diagrama de um termoh igrógrafo com a indicação do
do ponto de orvalho às 21h, até métodos mais complexos que núme ro de horas com umidade rel ativa acima de 90%
envolvem o balanço de energia da cultura. (NHU R,,90%1 em dois dias, em Piracicaba, SP.
146 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Capítulo 8

Chuva
7.6 EXERcíCIOS PROPOSTOS

1. Para o mesmo dia escolhido para temperatura,


03/02/94, determine a umidade relativa média (24 horas), a
pressão parcial de vapor (e,) e de saturação (e,) e o déficit de
saturação para as 7h e 14h, a partir do dados dos Quadros 7.1
e 6.1. 8 .1 INTRODUÇÃO

QUADRO 7.1 Dados de umidade re lat iva do ar no dia 03102/94 em Nas regiões tropicais, a chuva, ou precipitação pluvial, é
Piracicaba, SP. a forma principal pela qual a água retorna da atmosfera para a
Hora UR(%) Hora UR(% ) Hora UR(%) Hora UR(%) superfície terrestre após os processos de evaporação e conden-
7 97 sação, completando, assim, o ciclo hidrológico. A quantidade e a
I 92 13 53 19 64
2 95 8 83 14 50 20 65 distribuição de chuvas que ocorrem anualmente em uma re-
3 94 9 72 15 50 21 72 gião determinam o tipo de vegetação natural e também o tipo
4 95 la 66 16 48 22 74 de exploração agrícola possível.
5 97 11 62 17 49 23 77
6 100 12 58 18 55 24 80
8.2 CONDENSAÇÃO NA ATMOSFERA
2. A partir dos dados do psicrômetro (Ts = 29,2 °C; Tu =
Para que haja condensação do vapor d'água na atmosfe-
25,7 °C), que se encontra a uma pressão média de 100kPa, de-
ra é necessário a presença de núcleos de condensação, em torno
termine: a) Pressão de saturação de vapor d'água; b) Pressão
dos quais são formadas as gotículas que constituirão as nu-
atual de vapor d'água; c) Temperatura do ponto de orvalho;
vens. Os núcleos de condensação são partículas higroscópicas,
d) Déficit de saturação; e) Umidade atual e umidade de satu-
entre as quais O NaCI, de origem marítima, é o mais abundan-
ração; f) Umidade relativa.
te, visto que dois terços da superfície terrestre é coberta por
oceanos. Além da presença de núcleos de condensação, o va-
por d'água na atmosfera condensa-se quando as condições
tendem à saturação, o que pode ocorrer de duas maneiras: a)
pelo aumento da pressão de vapor d'água devido à evapora-
ção e à transpiração e b) por resfriamento do ar. Na realidade
esses dois processos podem ocorrer simultaneamente, mas na
na tu reza, o segundo é bastante efetivo em promover a forma-
148 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrorneteorologia - 149

ção de orvalho e de nuvens. No caso dessas últimas, a forma- s uspensão sustentada pela força de flutuação térmica. Para que
ção ocorre quando parcelas d e ar úmido sobem e se resfriam haja precipitação, deve haver a formação de gotas maiores (ele-
adiabaticamen te, devido à expansão interna causada pela di- mentos de precipitação), e isto ocorre por coalescência das pe-
minuição da pressão atmosférica. quenas gotas, d e form a que a ação da gravidade supere a for-
A taxa de decréscimo da temperatura da parcela com a ça de sustentação promovendo a precipitação . A coalescência
elevação em altura recebe o nome de Gradiente Adiabático, sen- é resultado de diferenças de temperatura, tamanho, cargas elé-
do representado pelo símbolo r. No processo adiabático, a tricas, e de movimentos turbulentos dentro da nuvem. Quan-
variação de temperatura ocorre somente pelo efeito de varia- to mais intensa for a movimentação dentro da nuvem, maior
ção da pressão, sem que ocorra trocas de energia com o ambien- será a probabilidade de choque entre as gotas, resultando em
te externo à parcela. Os valores de r variam em função da gotas sempre maiores, até o limite da tensão superficial.
umidade presente na parcela d e ar, assumindo extremos de
cerca de -0,98 °C / lOOm, no caso de ar seco, e - 0,4 °C/ lOOm,
quando o ar está sa turado. 8.4 TIPOS DE CHUVA
O gradiente térmico da atmosfera como um todo (Gradi-
ente Real Observado, GRO) é variável, situando-se em torno d e Os tipos de chuvas se caracterizam pela sua origem.
-0,6 °C / lOOm. Dependendo do g radiente adiabático das par- Assim, existem chuvas geradas por passagem de frentes, por
celas que sobem, em comparação ao GRO, os movimentos convecção local, e por efeitos orográficos (montanhas).
convectivos térmicos são favorecidos (atmosfem instável) ou não
(atmosfera neutra ou estável). No primeiro caso, pode ocorrer • Chuvas frontais
formação de nuvens quando, ao se elevar, a parcela úmida São originárias de nuvens formadas a partir do encon-
atinge a temperatura do ponto de orvalho (nível de saturação tro de massas de ar frio e quente. A massa quente e úmida
da parcela). Outra forma de ocorrer condensação é quando (mais leve) tende a se elevar, resfriando-se adiabaticamente,
uma parcela de ar úmido é forçada a se elevar devido ao rele- is to é, sem troca de calor com o meio adjacente. Nesse proces-
vo (efeito orográfico), ou devido ao encontro com outra massa so forçado de subida da massa úmida ocorre a condensação.
de ar mais fria (efeito de frentes frias) As chuvas frontais caracterizam-se por: intensidade modera-
da a fraca, longa duração (dias), e sem horário predominante
para sua ocorrência. A Figura 8.1 mostra a distribuição horá-
8.3 FORMAÇÃO DA CHUVA ria das chuvas de julho, em Campinas, SP, época em que pre-
dominam as chuvas frontais. No ta-se que não há um horário
O processo de condensação por si só não é capaz de pro- p redominante para ocorrência das chuvas, e que sua intensi-
mover a precipitação, pois são formad as gotículas muito pe- dade é baixa, não passando de 5 a 6 mm/hora, em média.
quenas, denominadas elementos de nuvem, que permanecem em
150 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
Agrometeorologia - 151

25 ~r---------------------------------r7

20 ~ I' . 'FreqUênc;;;-1 6 Õ)'


30
25 i= Frequência I
7
6~
~EE 15 - - - Chuva I 5 :§. 5:['"
~ -4 ~ E 20 ! • ~uva ~
'u E
~ 10 · . 3 .~ ~
~
15 4 'u
"
3 c:
c3 2 g. <3" 10 """
.t
~. ~
2 <:r

o
5
11'"
1 at
3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 O .. o
3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Horário
Horário
FIGURA 8.1 Variação do total e da freqüência da chuva
horária em Camp inas, SP, em ju lho . Fonte: Pezzopane et FIGURA 8.2 Va riação do tota l e da freq üência da chuva
aI. (1995b) ho rária em Campinas, SP, em janeiro. Fonte: Pezzo pane
et aI. (1995b)

• Chuvas convectivas
superficial (enxurrada), que ganhando momento (quantidade
Originam-se de nuvens formadas a partir de correntes
de movimento), poderá causar erosão do solo, desde que outros
convectivas (térmicas) que se resfriam adiabaticamente ao se
fatores como cobertura do solo, umidade, e declividade também
elevarem, resultando eln nuvens de grande desenv olvimento
contribuam para isso. A Figura 8.3 apresenta os principais tipos
v ertical (cumuliformes). As chuvas convectivas se caracteri-
de distribuição de chuvas intensas em períodos de quatro horas,
zam por forte intensidade, mas curta duração, podendo ocor-
na região de Piracicaba, SP, sendo o caso 1 da Figura 8.3a predo-
rer descargas elétricas, trovoadas, ventos fortes e granizo, pre-
minante de outubro a março (Sentelhas et aI., 1998).
dominando no período da tarde e à noite, quando a força
gravitacional supera a força de sustentação térmica . A Figura
• Chuvas oro gráficas
8.2 mostra a distribuição horária das chuvas de verão, predo-
Chuvas orográficas ocorrem em regiões montanhosas,
minantemente de origem convectiva, na região de Campinas,
onde o relevo força a subida da massa de ar úmido. Essa subi-
SP, em janeiro, e observa-se a maior inten sidade e freqüência
da forçada é equivalente ao processo de convecção livre, re-
no período da tarde e à noite.
sultando nos mCSlnos fenômenos atmosféricos. Devido aos
As chuvas convectivas, também conhecidas como chu-
ventos, o ar sobe pela encosta resfriando-se adiabaticamente,
vas de verão, por terem lnaior inten s ida d e, apresentaln grande
com condensação e formação de nuvens tanto cumuliformes
potencial de danos, especia lmente no a specto de conservação
como estratiformes. Nessa situação, um lado da montanha,
do solo, vis to que llwitas vezes s ua inten sidade supera a velo-
geralmente, é mais chuvoso que o outro resultando na chama-
cidade de infiltração da água no solo. Iss o gera escoamento
da Sombra de Chuva (Capítulo 15 - ClimatologIa).

,
152 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 153

000 000 i ~ mm I hora (8.2)


~ 80
a
70 l~ c o uI 3Mar ~
8 S'io d 0 5 C3.0$
I ! 80
b
l~eo ula M ar ~1
8 % d os cuos
"..,.,.-
.~ ~ podendo "i" ser expresso também em mm/min. Esse índice
;;
60

;; 'o
60
"
r=='"'"
tem aplicação em dimensionamento de sistemas de drenagem
] 20" .; "
v
o
" • , u
20
o
00
ir--:--;-] I~ , e conservação do solo, tanto para a agricultura como para a
construção civil.
, , 11 ora
, • , , lIora
, , O equipamento básico de medição da chuva é o pluviô-
metro (Figura 8.4a e b), que é constituído de uma área de cap-
'00 100 .
C l ~e Olll a Mar ", d
l~eO uta M ar_ 1
tação (:? 100 cm 2) e de um reservatório onde a água da chuva é
! 80
)0;;, dos "aioS
60
! 80
2 % do s ca50S armazenada até o momento da leitura. Se o pluviômetro tiver
~ 60 .....,,--,. .~ 60 50
um sistema de registro contínuo da quantidade e da hora de
;; ;; ~

•" •" " ocorrência das chuvas, então ele é denominado pluviógrafo (Fi-
" ,
.nn
o o
G 20
" ,.---; G 20 '

O ~r=J gura 8.4c). No pluviógrafo tipo Heilman, um reservatório com


, , 1I0ra
, , O
, , 2
• bóia recebe a chuva coletada. Uma haste, com uma pena re-
1I0fa
gistrad'o ra, é fixada à bóia, que ao se elevar com a entrada de
FIGURA 8.3 Principais tipos de d istribui ção horária das chuvas convectiva s.
Fo nte: Sentelhas et aI. (1998),
água no reservatório, permite o registro sobre um diagrama
denominando pluviograma (Figura 8.5) . A cada 10mm de chu-
va, o depósito é esgotado automaticamente por um sifão, ge-
8.5 MEDIDA DA CHUVA rando um traço vertical brusco. O total de chuva é contabilizado
contando-se apenas os traços descritos no movimento de su-
Um índice de medida da chuva é a altura pluviométrica, bida da pena. As s ifonadas apenas preparam o aparelho para
que é a altura de água precipitada, expressa em milímetros continuar medindo chuva maior que 10mm.
(mm). Essa altura pluviométrica (h) é definida como sendo o A instalação desse equipamento é a I,Sm de a ltura, de-
volume precipitado por unidade de área horizontal do terre- vendo a área de captação (boca do aparelho) estar bem nivela-
no, ou seja: da. A coleta dos dados, normalmente, é feita todos os dias às 7
horas, no posto agrometeorológico convencion al. Nas estações
llitrodeágua lOOOcm 3
h 0,1 em = 1 mm de chuva (8.1) automáticas, o registro é contínuo obtendo-se valores de in-
1 m 2 de terreno lOOOOcm 2 tensidade e a ltura total diária das O às 24h. Nesse caso, o plu-
viômetro é dotado de um sensor eletrônico em forma de
Outro índice de expressão da chuva é a sua intensidade báscula (Figura 8.4d), que possibilita resolução de O,lmm.
(i), definida como a altura pluviométrica por unidade de tem- Uma preocupação é saber qual será a área representada
po: pela coleta das chuvas por um pluviômetro. Reichardt et aI.
154 - Pereira, Angelocci e Sente/has
Agrometeorologia - 155

(1995) coletaram chuvas diárias durante um ano, em 9 pluviô-


metros distribuídos ao redor do Posto Agrometeorológico, da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba,
SP, que foi tomado como padrão. O pluviômetro mais próxi-
mo do padrão distava cerca de 990 m, o mais distante estava a
cerca de 2500 m, e os 10 pluviômetros amostravam uma área
aproximada de 1000 ha. Enfatizando o caráter aleatório e
descontínuo das chuvas, os resulta dos mostraram que as me-
didas coletada,s em um. p luviômetro não foram representati-
vas de nenhum oúfro, na escala diária e até mesmo quando se FIGURA 8.5 Plu v iograma d e uma chuva d e 28,9rnm, em Pi racicaba, SP.
acumulou as chuvas durante um trimestre. No entanto, no total
anual, todos os pluviômetros mostraram resultados bem pró-
coincida com a área da boca. Conhecendo-se a área de capta-
ximos do padrão, com coeficiente de variação de :;3%, indican-
ção do funil e o volume coletado a cada chuv a, em cm 3, deter-
do que qualquer um deles pode ser tomado como representa-
mina-se a altura pluviométrica (h) pela relação:
tivo da área amostrada, nessa escala de tempo.
h = Volume coletado / Área da boca do funil. (8.3)
G ln<to
CaptHJOf É importante que o volume do reservatório seja adequa-
D I do para conter o total de chuva possível na região.
·,-1'o."
8.6 PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE CHUVA
Res .... valór io

~ r ""'om.,. Em algumas situações, como em projetos de irrigação,


dimensionamento de sistemas de escoamento de água, é im-
FIGURA 8.4 Rep resentação esquemática pluviômetro (a); pluviômetro Vi,l le portante saber a probabilidade de chover mais ou menos que
de Paris (b); p luviógrafo convencional (c) e eletrôn ico (d).Fonte : INMET. um certo valor. Para tanto, é preciso ter-se uma série de dados
de chuva no local (ou região). Um método simples de calcular
A construção de um p luviômetro é simples, podend o se r probabilidade de ocorrência de chuva a partir de uma seqüên-
feito com um garrafão (ou qualquer reservatório de água) e cia de va lores medidos baseia-se na ordenação crescente ou
um funil coletor. É fundamental que a boca do funil esteja ni- d ecrescente dos valores. Se a ordenação for crescente, a proba-
velada horizontalmente para que sua área efetiva de coleta
156 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 157

QUADRO 8.1 Seqüência de totais mensais de chuva de março, em


bilidade corresponderá a um valor igualou menor que o limi- Piracicaba, SP, de 1917 a 1930; ordenamento crescente (m); e probabilida-
te escolhido; se for decrescente, estima-se o inverso. de acumulada (P) de oco rrê ncia de chuva menor que o valor indicado.
Com a ordenação dos dados obtém-se uma distribuição Ano 1917 18 19 20 21 22 23 2. 2S 26 27 2' 29 30
cumulativa empírica [m /(n + 1)] em que m é o número de or- mm 62 152 30 164 17 117 311 139 8. 21. 189 155 32 23

dem do valor escolhido na seqüência ordenada, e n é o núme- m

17
2
23 30

32
5
62
6
117
8
139
9
152
10
155
11
164
12
189
13
21.
"
311
ro de dados da série. A divisão por (n + 1) dá melhor estimati- 8'
P 0,067 0,133 0.200 0 ,267 0.333 0.4 0 ,467 0.533 0.60 0.667 0 ,733 0 ,80 0.867 0,933
va da probabilidade, especialmente para valores no final da
seqüência (Thom, 1966). O Quadro 8.1 mostra um exemplo de
aplicação usando os totais de chuva de março, em Piracicaba, Portanto, para se saber a probabilidade de ocorrência
SP, de 1917 a 1930. A primeira linha mostra o ano de ocorrên- (P) de um valor maior ou menor que um valor crítico, deve-se
cia, e a segunda, o total de chuva. Para se obter a distribuição ordenar a seqüência de dados em ordem decrescente ou cres-
cumulativa os dados são primeiro ordenados. A terceira linha cente, respectivamente, e dividir o número de ordem (m) cor-
mostra o número de ordem (m) da seqüência. A quarta linha respondente à posição do valor crítico pelo número total de
mostra a seqüência ordenada em valores crescentes. A quinta dados (n) mais 1, isto é,
linha dá a probabilidade acumulada de ocorrência de um to-
tal de chuva menor que o indicado na coluna correspondente. P=~*!OO (8.4)
Multiplicando-se o valor da quinta linha por 100, obtém-se a n +1
probabilidade em porcentagem. Por exemplo, a probabilida-
de de chover menos que 30 mm em março, em Piracicaba, SP, Se na seqüência de dados houver ocorrência de valores
é igual a 20%; de chover menos que 189 mm é de 80 %. Como nulos (ausência de chuva), eles são descartados, anotando-se
é óbvio, à medida que se aumenta o total de chuva, aumenta quantos vezes isto ocorreu (No), fazendo-se depois a ordena-
também a probabilidade de ocorrer um valor men or que ele ção dos valores restantes. Nesse caso, a probabilidade de ocor-
(se a ordenação fosse decrescente, a probabilidade seria de cho- rência (P) de um valor crítico será dada pela seguinte relação:
ver um valor maior que o indicado na respectiva coluna). Note-
se que a probabilidade de chover mais que 30 mm naquele P= ( I_ NO)( m )* 100 (8 .5)
n n + 1- No
mês é dado pelo complemento do valor obtido no exemplo,
isto é, 80% (= 100 - 20).
sendo n o número total de dados (inclusive os valores nulos).
A probabilidade de não chover é dada por No/n.
Esse é o caso do total mensal de chuva durante julho,
e m Piracicaba, SP. O Quadro 8.2 mostra que, entre 1951 e 1964,
nã o ocorreu chuva, nesse mês, em quatro anos na região. Por-
Agrometeorologia - 159
158 - Pereira, Angelocci e Sentelhas

rência (P) do fenômeno. Quanto mais freqüente o valor, me-


tanto, a probabilidade de não chover no mês é igual a 28,6% (=
nor será o período de retorno.
4/14 * 100).
Se a ordenação da seqüência for crescente, o valor de t é
Ordenando-se os valores em ordem crescente, as quatro
dado pela expressão
colunas iniciais são preenchidas com zeros, e da quinta coluna
em diante aparecem os valores diferentes de zero. Note-se que (8.6)
o total de 8 lnm ocorreu duas vezes; logo eles ocupam duas
t =1 / (1 - P).

colunas adjacentes. Aplicando-se a fórmula acima, verifica-se


No entanto, se a ordenação for decrescente,
que a probabilidade de chover menos que 8 mm é igual a 45,5%.
Logo, a probabilidade de chover mais que 8 mm é igual a 54,5% (8.7)
t=l / P.
(= 100 - 45,5).

QUADRO 8 .2 Seqüência de totais mensais de chuva de ju l ho, em Por exemplo, qual seria o tempo ,nédio de recorrência,
Piracicaba, SP, de 1951 a 1964; ordenamento cre scente (m ); e probab i lida- para março, com total de chuva maior que 311 mm, em
de acumulada (P) de ocorrência de chuva menor que o va lor indicado.
Piracicaba, SP? Se os 14 anos de dados mostrados acima fo-
Ano 1951 52 53 5. 55 56 57 58 59 6" 61 62 63 6.
re m representativos de um período mais longo, o período de
14 10 53 90 15 O O O 20 O 77
4 6
re torno será t = 1 / (1 - 0.933) = 14,9 anos, ou seja, pode chover
9 10 12 13
O O O O 10 14 15
"
20 53 77
"
90
mais que 311 mm durante março, em Piracicaba, SP, em mé-
P 0.325 0.390 0.455 0 ,5 19 0 ,584 0 ,649 0 ,7 14 0,779 0.844 0 .909 dia, uma vez a cada 15 anos.

8.7 PERíODO DE RETORNO 8.8 íNDICES DE EROSIVIDADE DAS CHUVAS

Urna informação importante quando se trabalha com O solo é um recurso natural intensamente utilizado nas
probabilidade de ocorrência de um elemento meteorológico é a ti v idades agrícolas. Asustentabilidade da produção agrícola
o período de retorno ou intervalo médio de recorrência, que é re- depende da aplicação de técni.cas conservacionistas que
presentado pelo símbolo t. Interpreta-se período de retorno In i n i miz em a tendência erosiva das chuvas. O potencial erosivo
como sendo o tempo provável esperado que aquele fenôme- dQ ,.; chuv as pode ser avaliado por índices empíricos que ex-
no ocorra novamente. Geralrnente, calcula-s e o período de prl''';''; Q 111 os e feitos do impacto das gotas e da enxurrada que
retorno para valores extremos que pod e m causar algum im- Hl ' lum a q u ando a permeabilidade do solo não permite infil-
pacto econômico e s ocial, e não p a ra aqueles v alores que ocor- ' I"l1ç,10 d ns águ a s.
rem normalmente . P a ra que a es tirnativa de t seja a melhor U m índ ice prático utilizado universalmente foi desen-
possível, é necessário que se dis ponha de urna série longa de vll lv id o I OI" Wi schmeier & Smith (1978), denominado EI30 ' Esse
valores medidos, pois t depende da probabilidade de ocor-
160 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 161

índice representa o produto da energia cinética (E) associada va é dependente não somente da espécie, mas também da ida-
à chuva pelo valor da intensidade máxima em 30 minutos con- de e do espaçamento utilizado (Franken et aI., 1992). No caso
secutivos (I30' em mm/h), ou seja, de flores tas naturais, onde predomina a heterogeneidade quer
seja pela biodiversidade, como nas florestas tropicais e equa-
EI30 = E * I3O' (8.8) toriais, quer seja pela diferença de idade de algumas poucas
espécies predominantes, como nas florest as temperadas, a
A energia cinética da chuva pode ser estimada pela relação interceptação da chuva pela vegetação é bastante variável,
oscilando d esde 7 até mais d e 50%, em função de diversos
E = 0,119 + 0,0873 log (I), (8.9) fatores (Huber & Oyarzún, 1992).

sendo I expressa em mm/h, e E em MJ ha" mm".


O potencial erosivo das chuvas em um local pode ser 8.9.1 Redistribuição da chuva ao interagir com a vegetação
estimado calculando-se os valores de EI3(J para cada chuva ocor-
rida, obtendo-se totais mensais e anuais, que são utilizados no A chuva, ao interagir com a vegetação, é redistribuída
delineamento das práticas de manejo e conservação dos solos. em diferentes tipos de precipitação (Figura 8.6). A parte da
A obtenção desse índice necessita de medidas de chuvas obti- ch u va que fica retida pelas folhas, ramos e tronco, denomina-
das por pluviógrafos, s endo poucos o s locais com tal medição. se de precipitação armazenada pela vegetação (P ARM) ' Ao restante,
ou seja, a parte da chuva total que atinge a superfície do solo,
d enomina-se de precipitação interna (P'NT)'
8.9 INTERCEPTAÇÃO DA CHUVA PELA VEGETAÇÃO A P'NTé composta por três componentes:
• Precipitação direta (P mR): que atinge a superfície sem
A parcela da água da chuva que é interceptada pela ve- s ofrer interação com a vegetação;
getação é componente importante no ciclo hidrológico • Precipitação indireta (PINO): que é interceptada pelas
(Franken et aI., 1992) e também no balanço hídrico de uma fo lha s e escoada para a superfície;
área (Sá et aI., 1999). No caso das culturas anuais, a intercep- • Precipitação escoada pelo caule ou tronco (PCAULE): que é
tação da chu va é dependente da espécie e do estádio de de- inte rceptada pela vegetação e chega à superfície es-
senvolvimento em que elas se encontram, ou seja, da quanti- coa d a p elo caule ou tronco.
dade de vegetação que está cobrindo o terreno. A cober tura
do terreno está intimamente ligada à área foliar, tendo menor A Figura 8.6 mostra esquematicamente cada um desses
influência a quantidade de chuva (Le opoldo et aI., 1981). termos. Assün, matematicamente, tem-se que:
Em áreas de reflorestamento, ou seja, em florestas ho-
mogêneas constituídas artificialmente, a interceptação da chu-
162 - Pereira, Ange/occi e Sentelltas Agrometeorologia - 163

PTOT = P 1NT + P A Rt." (8.10) tas, do índice de área foliar e tamanho das folhas (P INT ), além
P'NT= P DlR + PINO + PCAULE (8.11) de outros fa tores como: características da folha e da copa
PTOT ::: P DIR + P IND + PCAULE + PARM. , (8.12) (pilosidade, cerosidade, forma, rugosidade), chuvas an teceden-
tes (água já retida pela vegetação), velocidade do vento, e tem-
peratura (viscosidade da água). Esse coeficiente rep resenta a
fração da chuva que efetivamente fica retida na folh agem.
Pandit et a!. (1991) encontraram C = 0,213 par a floresta
tropi ca l na índia, enquanto que Sinum e t aI. (1992) encontra-
ra m = 0,173 e m fl ores ta tam.bém tropical na Malásia. No
ca o d e fl o res tas te mpe rad as, o va lor de C também é variável,
sendo en contrado 0,314 para as condições da Polônia (Wojcik,
1991) e de 0,176 para as condições da Índia (Himalaia). Para
-v-------~/
P 1NT
condições brasileiras, na Floresta Amazônica, Lloyd e t a!. (1988)
e nco ntraram C = 0,089, ao passo que Franken et a!. (1992) ob-
FIGURA 8.6 Representação esquemática da ti vera m C ao redor de 0,20. Tais variações, como já d escr ito,
interceptação da chuva pela vegetação e de sua
redistribuição até atingir o solo.
d e pe nd e m de d iversos fatores, inclusive do local estudado,
co ndiçõ es gerais da área e do ano em que as medidas foram
rea Lizadas. Isso pode ser visu alizado pelos dados ap resen ta-
A P ARM depende de uma série de fatores, q u e podem ser dos por Sá et a!. (1999), q u e estud an do vegetação de capoeira
resumidamente representados por um coeficiente de armazena- no nordes te do Pará, obtiveram, em média, C =0,303, porém,
mento (C), sendo então: observando ao longo do tempo (6 a n os) aumento nesse valor
e m a lguns casos e redução em outros, em função das altera-
P ARM = C P TOT ' (8 .13) ções fLorís ticas que ocorrem em vegetação dessa natureza . Na
á rea em que houve aumento de C, de 0,215 para 0,424, obser-
Subs ti tuindo-se as equações (8 .13) e (8.11) na (8 .10) e vou-se redução de componentes h erbáceos e au men to d e es-
rearranj ando-se os termos, tem-se qu e : pécies le nhosas. No outro caso, em que C diminuiu, de 0,642
p~ rn 0,323, houve redução na densida d e de algumas espécies,
(8.14) til' o rre nte do secamento das plantas.

A eq .(8.14) mostra que o armazenamento da água pro-


veniente d as chuvas pela vegetação depen de d a quantidade e
intensidad e d a precipitação (PTOT )' do espaçam ento entre p lan-
164 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 165

8.9.2 Estimativa da precipitação armazenada e da precipitação vegetação em questão, foi de 0,262, ou seja, em média a vege-
interna tação reteve 26,2% da P TOT' É importante notar que essa água
não fará parte do b alanço Iúdrico, retornando à atmosfera por
Para estimar a interceptação da chuva pela vegetação evaporação, mas fa zendo parte do ciclo hidrológico da região.
(PARM) ' ou a precipitação interna (P INT) , especialmente no caso
de florestas, existem diversos métodos, e entre eles os mais " '1 O,26h
'"
z
y .. o.su.· 0 ,891 o
precisos são o método numérico de Rutter et aI. (1975) e o ana- R' .. 0.9'
R' .. 0.70

" o o
lítico de Gash (1979). N o entanto, esses dois métodos exigem
conhecimento de uma série de variáveis como capacidade de
~
!•
" ,, o

i " o o o o

armazenamento da vegetação na saturação, coeficiente de chu- '"


o b
v a livre, porção da chuva interceptada por galhos e ramos, e o
lO 15 21) 25 J(j H
taxa de evaporação durante a ocorrência da chuva, que não '" " " " " "
Pn\T ( .... ,".dl . ·' )
são comumente disponíveis. Resultados de Lloyd et a I. (1988),
FIGURA 8.7 Rel ação entre P 1NT e PW T (a) para flo resta temperada ~ Le~ton et
pa ra a Flores ta Amazônica, mostraram hav er pouca diferença a I. , 1967) , e (b) entre PARM e P'fOT para condição de vegetação semi -árid a do
entre eles . Méx ico (Návar & Brya n, 1994).
De m odo mais simples, Náva r & Bryan (1994) mostra-
ram que P ARM e P INT pod em também ser estimados apenas com 8 . 10 EXERCíCIOS PROPOSTOS
dados de P TOT' p or meio d e regressões lineares simples. Essa
abordagem foi utilizada por Leyton e t aI. (1967) e por Loshali 1. Um pluviômetro com 250cm' de área de captação co-
& Singh (1992) para flore stas temperadas, por Franken et aI. leta 682cm3 durante uma chuva de Ih e 20 mino Qual foi a altu-
(1992) para a Floresta Amazônica, e por Huber & Oyarzún ra p luv iométrica (mm) e a intensidade média da chuva em
(1992) para condições de bosque perenes do sul d o Chile. A mm/h?
Figura 8.7 mostra as relações de P INT e P TOT obtida por Leyton
et aI. (1967), para uma flo resta temperada, e de P ARM e P TOT 2. Você resolveu construir um pluv iômetro. Para tanto
obtida por N ávar & Bryan (1994), para três espécies de clima L1 tilizouum funil com 325cm' de área d e captação. Analisan-
semi-árido mexicano, observando-se a relação linear existente do ca rta s climatológicas você verifica que a chuva máxima
entre elas. Verifica-se que, para a estimativa da P INT (Figura diá ria para sua região é de 150mm. Qual deve ser o volume
8.7a), houve menor dispersão (R' = 0,95), enquanto que para a m fnim o do reservatório para se coletar esse volume de chuva,
estimativa de P ARM (Figura 8.7b) a dispersão foi maior (R' = ~ 'm qu e haja transbordamento da água?
0,70), o que se deve à influência dos diversos fato res que
condicionam o coeficiente de armazenamento de água pela 3. Você es tá avaliando a eficiência de um novo aspersor
vegetação (C). Pode-se dizer que o valor médio de C, para a pil rn irri ação que tem capacidade de aplicar 15mm / h. Para
166 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Capítulo 9

isso você necessita verificar sua distribuição de água e será Vento


necessário a instalação de coletores (mini pluviômetros). Qual
deve ser o volume desse coletor se sua área de captação é de
227cm' ? O tempo de avaliação será de 60 mino

4. Com os dados de chuvas mensais em Piracicaba, SP,


no período de 1965 a 1994 (30 anos), de janeiro e agosto (Qua-
9.1 INTRODUÇÃO
dro 8.3), calcule:
a) a probabilidade e o tempo de recorrência de chover
O s ve ntos são des locame ntos de ar no sentido horizon-
mais do que 300mm em janeiro.
ta l, originá rios d e gradi entes d e pressão. A intensidade e a di-
b) a probabilidade de não chover em agosto.
reção dos ventos são determinados pela variação espacial e
c) a probabilidade da chuva de agosto ser maior ou igual
te mporal do balanço de en ergia na superfície terrestre, que
a 50mm.
ca usa variações no campo de pressão atmosférica, gerando os
d) o valor médio normal de chuva para janeiro e agosto
ventos. O vento se desloca de áreas de maior pressão (áreas
e a probabilidade d e chover acima da média nesses meses.
mais frias) para aquelas de menor pressão (áreas mais quen-
tes), e quanto maior a diferença entre as pressões dessas áreas,
QUADRO 8.3 Chuva médi a mensa l, em mm, em janei ro e agosto em maior será a velocidade de deslocamento.
Piracicaba, SP, entre 196 5 e 1994. '
A velocidade do vento é afetada, também, pela rugo-
Aw

''" " '" m" m '"lO


326
6ó 68
"
203 ," .. " "", """o '""
'""" 'm "
J77
78

'" '""" sidade da superfície criada pelos obstáculos (vegetação, cons-


..
3
A o
" " " " 79
" " "
... truções, relevo montanhoso, etc.), e pela distância vertical aci-
A~
14 7"
", ''''
80
", "'" " 86
" '""o
m n, ",
89
"" ,.," ma da superfície em que ela é medida. Quanto mais próximo
''" " "
790

'"
1m 132

"
14 3
m 6
370
37
"
3"
" 37 '"o
da superfície, maior o efeito do atrito com o terreno, desace-
lerando o movimento e diminuindo a velocidade de desloca-
mento do ar. Esse bloqueio imposto pela superfície faz com
que bolhas de ar de maior velocidade se desloquem para baixo,
gerando um impulso repentino no ar próximo ao chão. A esse
aumento brusco na velocidade do vento d enomina-se de rajada.
A direção dos ventos é resultante da composição das
fo rças atuantes (gradiente de pressão, atrito, força de Coriolis),
mas o relevo predominante na região também afeta a direção
próximo à s uperfície (ver Capítulo 4).
168 - Pereira, Ange/occi e Sentellms Agrometeorologia - 169

9.2 ESCALA ESPACIAL DE FORMAÇÃO DOS VENTOS • Uri a terrestre (durante a noite) e brisa marítima (durante o dia);
• Br i a de montanha ou catabática (durante a noite) e b risa de vale
Vento é um fenômeno atmosférico que ocorre s imulta- LI nna bá tica (durante o dia);
neamente nas três escalas características das condições do tem- • Ve ntos Foehn ou Chinook.
po: macro, meso e microescala.
• Microescala
• Macroescala N essa escala, o processo é semelhante ao da mesoescala
Nessa escala, eln que está envolvida a movimentação porém, com menor magnitude do fenômeno. Exemplos dess~
de grandes massas de ar, os ventos são associados à circulação t ip o d e contraste são: áreas ensolaradas e sombreadas; objetos
geral da atmosfera, sendo função dos gradientes de pressão com diferentes coeficientes de absorção de radiação solar; áre-
entre g randes regiões. Apesar da variação temporal e espacial as irrigadas e não-irrigadas, áreas cultivadas circundadas por
dos ventos, é possível verificar certa tendência em suas dire- te rrenos sem vegetação, etc.
ções, conforme discutido no Capítulo 4:

9 .3 MEDIDA DO VENTO
• entre os Trópicos e o Equador => Alísios de NE (Hem. Norte) e
Alísios de SE (Hem. Sul).
• entre os Trópicos e as
O regime de ventos é expresso por sua velocidade e dire-
ção. A velocidade é dada pela componente horizontal em m/s
regiões Sub-Polares => Ventos d e Oeste
• regiões Polares => Ventos de Leste
o u km/h, sendo que 1 m/s = 3,6 km/h. A direção dos ventos é
definida pelo seu ponto de origem, com 8 direções fundamen-
• Mesoescala ta is : N , NE, NO, S, SE, SO, E e O. Nos sensores digitais a dire-
Os ventos oriundos da circulação geral modificam-se ção é dada em graus, ou seja: os pontos cardeais são: N = 0° =
acentu admnente na escala de tempo e de espaço devido ao 360°; NE = 45 °; E = 90°; SE = 135°; S = 180°; SW = 225°; W =
270°; NW = 315°.
aquecimento diferenciado, e conseqüente diferença de pres-
são entre áreas próximas. Contrastes nas interfaces entre con- Os equipamentos medidores da velocidade do vento são
tinente e oceano, e ntre grandes lagos ou rios e as terras os nnemômetros (Figura 9.1). A velocidade é dada por um con-
circundantes, originam ventos locais. Outro forte condicionante ju nto de três canecas (ou de hélices). O número de giros das
local é a configuração da bacia hidrográfica, que pelo sistema ca neca s (ou hélices), sendo proporcional à velocidade, é trans-
orográfico e a topografia, impõe uma circulação a tmosférica fo rmado em deslocamento (espaço percorrido) por um sistema
local. Na mesoescala, há variação diária e sazonal na direção e li po odômetro, nos equipamentos mecânicos. O espaço percor-
na velocidade dos ventos, s endo que os principais tipos são: rido dividido pelo tempo fornece a velocidade média . Nos equi-
pa m entos d ig itais, cada rotação gera um pulso elétrico, que é
170 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrome teorologia - 1 71

captado por um sistema eletrônico de aqUlslçao de dados. E m p os tos agrome teorológicos convenciona is d e primei-
Como cada pulso corresponde à distância de um giro, contan- ra classe, o equipamento mecânico utilizado é o anemógrafo
do-se o número de pulsos em um interv alo de tempo tem-se a tlniversal, q u e permite o regis tro contínuo da velocidade acumu-
distân cia supostamente percor rida pelo ar. Com a d is t ância e In ela, velocida de instantânea, e direção elo vento, gerando um
o tempo de medida calcula-se a velocidade média. anemograma (Figura 9.2) .
A direção é dada por biruta ou ca tavento. Em sistemas
conv en cion ais, a direção é obtida por observação visual. Esse
equipamento pode ser visto em pequenos aeroportos, onde
ele é utilizado par a permitir visualização por p ilotos nos ins-
tantes d e pou so ou decolageul. En, post os agrometeorológicos,
também é comum o uso de cata v entos, sendo as dire ções do
v ento anotadas apenas nos h orários padr oniz ados de obse r-
v ações . Esse procedimento permite apenas observações em
períodos muito pequenos e esparsos durante o dia, não sendo
adequado para se d e terminar bem o r egime de v entos de uma
região. E m s is t e m as automatizados, a direção tamb é m é
indicada por s e n sores eletrônicos, sendo express a dire tamen-
te em graus, e continua m ente r egis tra d a .

FIGU RA 9 .2 A nem ogrdlll a.

9.4 DIREÇÃO PREDOM IN ANTE DOS VENTOS


, ,
Quando se d ispõe d e medidas contínuas d e direção dos
ven tos (anemogramas) por um período relativ amente longo

rr
/ I
(a lg uns anos), pode -s e elaborar uma tabela contendo a dire-
ção, e m cada hora do dia, e calcular a freqüência rela tiv a dos
ventos em cada direção, determinando-s e a predominância da
circula ção atmosférica no local. A v is ualiz ação dos resultados
FI G URA 9.1 A nem ógrafo utili zado em
I e staçõ es meteoro lógica s autom áti cas . fica Ina is evidente quan do se u s a um sistema gráfico. A repre-
172 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 173

sentação gráfica mais comum é por um sis tema de qua tro ei- 9.5 VELOCIDADE DOS VENTOS
xos que se cruzam em um mesmo p onto, com um ângulo de
45° en tre dois eixos adjacentes, sendo denominada de rosa dos Como v is to no anemogra ma (Figura 9.2), a linha inter-
ven tos (Figura 9.3). Em cada ponta dos eixos marca-se uma med iária, com formato de dentes de um serrote, representa a
direção, sendo que o N vaina ponta superior do eixo vertical, e o velocidade acumulada ou distância percorrida pelo vento du-
S n a ponta oposta. No eixo horizontal, p erpendicular ao vertica l, rante o dia. Cada subida ou descida representa 10 km percor-
marca-se E à direita, e W à esquerda. Os eixos diagonais repre- ridos. Portanto, é possível saber-se o total percorrido (km/
sentam as direções intermediárias (NW, NE, SW, SE). A escala d e d ia) e a velocidade média (km / h ou m / s) do dia. Pode-se calcu-
freqüência é marcada igualmente em todas as direções. lar também a velocidade média de cada hora ou período deseja-
Marcando-se a freqüência relativa em cada direção, e do. Quanto mais rápida for a subida ou descida, m aior será a
unindo-se seqüencialmente os pontos marcados obtêm-se um velocidade m édia, ou seja, 10 km percorridos em m enor tempo.
polígono característico para a região e período analisado. Se Em algumas aplicações agrometeorológicas (por exem-
n ão h ouver direção predominante, o polígono se aproxim a d e plo, evapotran spiração), é necessário diferenciar as velocida-
um octógono regular, mas esta é uma condição apenas hipotéti- des m édias d os períodos diurno e noturno. Essa informação é
ca. A situação mais comum é aquela mostrada na Figura 9.3. Des- pouco relatada na literatura, mas no caso d e Piracicaba, SP, a
se modo, fica mais evidente a condição de cada mês. É apresenta- relação entre vento diurno (7 às 19 h) e noturno (19 às 7 h ), em
da também a porcentagem d e ocorrência de calmarias (C). uma série de 5 anos, apresentou a seguinte variação m édia
Na Figura 9.3 mostrou-se a situação no período diurno. m ensal:
Durante o dia, devido ao aquecimento irregular da-superfície
JA N I<'EV I\'IAR ADR I\..JAI JUN J UL AGO SET OUT NOV DEZ ANO
\ local e regional, em função do balanço d e en ergia diferencia-
do das diferentes condições d e terreno, a freqüência relativa 1,21 1,27 1.11 1,23 1,09 1,07 1,08 1,1 1 1,16 1,31 1.27 1,37 1.19

mostra predominância dos v entos na micro e meso-escala. Se,


no entanto, for elaborada uma figura da situação noturna, Mais uma vez fica evidenciada a influência do aqueci-
quando os efeitos do aquecimento são minimizados, a rosa mento diurno sobre os ventos. Observa-se que: a) nos meses
dos ventos poderá mostrar a predominância dos ventos da mais quentes (outubro a fevereiro), os ventos diurnos suplan-
m acro-escala (Figura 9.4). É importante notar que, nessas duas ta ram os noturnos entre 21 % e 37%; nos meses mais frios, os
figuras, as escalas variam a cada mês, e a v isualização dos re- ventos diurnos a inda são de 7 a 16% mais intensos que os no-
sultados precisa levar isto em consideração. turnos. Note-se que foi considerado sempre o m esmo número
de horas para o cálculo nos dois p eríodos, ou seja, adotou-se
como período diurno aquele entre as 7 e as 19 h, e como no-
turno o período complementar. Portanto, as relações acima
não são devidas à variação nos fotoperíodos. Em regiões com
174 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 175

foto períodos mais diferenciados esse critério pode não ser 9.7 EXERCíCIOS PROPOSTOS
adequado, e talv ez seja mais conveniente adotar períodos dis-
tintos ao longo do ano . 1. Utilizando o anemograma da Figura 9.2 determine
A linha inferior do anemograma (Figura 9.2), mostra a para o período apresentado:
velocidade ins tantânea com os picos representando rajadas, ex- a) direção predominante do vento; b) a velocida de acu-
pressas em m / s . Na região de Piracicaba, SP, rajadas intensas mulada (km/ h ); c) a rajada máxima do vento (m/s)
estão associadas à pass agem d e nuvens tipo cumulonimbus,
de grande desenvolv imento vertical e chuvas intensas e rápi- 2. Considerando-se os v entos predominantes originados
das, normalmente chuvas de verão. da circulação geral da atmosfera, na latitude de 20 0 S e 20 0 N,
qual seria a direção da implantação de um quebra-ventos nes-
sas latitudes, para se minimi z ar a ação prejudicial dos ventos?
9.6 ESCALA DE VElOCIDADE DOS VENTOS Faça um esquema para demonstração.

Aforça do vento pode ser categorizada de acordo com a 3. Uma cultura de milho foi afetada por um forte venda-
interação com objetos naturais, gerando uma escala de per- v al que provocou o acamamento das plantas, inv iabilizando a
cepção que se tem da mov imentação atmosférica. É uma colheita mecânica. A cultura estava segu rada, porém o Banco
categorização empírica associando-se a velocidade registrada Weinhanóis só pagará o seguro se a rajada de vento tiver sido
com eventos característicos. A escala apresentada na Tabela superior a 80 km/h. No laudo fornecido a velocidade foi de
9.1 é uma adaptação daquela propos ta por Beaufort. 28,Sm/ s. Será que o prejuíz o será coberto pela seguradora?
I, (Demonstre o cálculo).
'I TA BELA 9. 1 Esca la adaptada de Beaufort para a velocidade do vento.
I
Escala Categoria Velocidade (kmlh)

O Calmo; fumaça vertical <2


Q uase calmo; fumaça desviada 2a5
2 Brisa amena; agi tação das folhas 6 alO
3 Vento leve; agitação de bandeiras II a 20
4 Ve nto moderado; poeira no ar 21 a 30
5 Vento for te; o ndas em lagos e rios largos 3 1 a 40
6 Vento muito forte; 4 1 a 50
7 Vento fo rtíssimo; fios assobiam 51 a 60
8 Ventania; im possíve l caminhar 61 a 75
9 Vendaval; danos e m edificações 76 a 100
10 Tornado, furacão ; danos ge nerali zados > 100
176 - Pereira, AngeZocci e Sentelhas Agrometeorologia - 177

N N
N

NE NW",m / NE NN.<. . . "I


,30
"\.;20 -
/ NE

19: ; ~
E
Wsw/ l I f SEE WS~SEE
JAN (C~ S,6,.) S FEV(Ç",7,7 "J.) ·s
JAN (C,,3 ,Ó "4) FEV (C~5 .8";'1
S N
N
NE
30 -

NN~ol / '" E

w_ ~ E SE
ABR(C = 9 , l %J s
I MAO ,c •• •: : / S SE AB 1/ te .. 9 .0 "4) S - --+ N

~~~í/ NE

W, ~E

sw/ j ~ SE
JUN cC '" 4 .2 "-)

MA l (c .. 6,:2"") S JUN tC. 5,2 "11.) S

3O [" NE
NE
NN",~: _ / E

E W
. E

SW / SE
AGO (C2 4.4 'fo)
S
NN NE
\
NE

NW~!/ NE E E

W~w/II SEE SE SE
SEi (C" 3.2 "iI.)
OU T (C., 3.3%) S
N
]° 1
,,- NE NE

E
E

SE

NOY (C~ 3 ,7%)


S
O EZ (C", 4.4% )
S
.I NOV CC _ 3.5 %)
S S

FIGURA 9.4 Freqüência relativa da direção mensal dos ve ntos, no período


FIGURA 9.3 Freqüência relativa da direção mensal dos ventos, no período
diurno, em Pirac icaba, SP. (C - calmaria) Fonte: W iendl & Angelocci (1995). noturno, em Piracicaba, SP. (C = calmaria) Fonte: Wiend l & Angelocci (1995).
Capítulo 10

Balanço de energia

10.1 INTRODUÇÃO

o espectro de distribuição da radiação solar que chega


na superfície terrestre é constituído predominantemente de
ondas curtas (comprimentos menores que 3.000 nm) e a distri-
buição espacial e estacionai dessa radiação é a grande causa
dos fenômenos meteorológicos. A radiação solar atua direta-
mente sobre o desenvolvimento e o crescimento das plantas, e
indiretamente pelos efeitos no regime térmico de qualquer sis-
tema terrestre, assim como sobre a evaporação de água pelas
superfícies naturais.
A radiação de onda curta, ao interagir com a atmosfera e
a superfície, sofre processos de atenuação (absorção, difusão e
reflexão), sendo que uma parte do que chega no limite exter-
no da atmosfera (Qo) atinge a superfície, onde outra parte so-
fre também reflexão. Isto estabelece um balanço de radiação de
ondas curtas (ganhos e perdas). A Figura 10.1 mostra um es-
quema desse balanço para o sistema atmosfera - superfície
terrestre, com valores percentuais médios anuais e globais. A
soma da radiação direta (23%) mais- a-difusa (29%) compõe a
radiação global que chega à superfície (Qg), representando,
em média, 52% da radiação solar no topo da atmosfera (Qo).
Uma fração é refletida pela superfície (em média 4%), deter-
minando que o balanço de ondas curtas (na atmosfera + su-
perfície) represente, em média, 48% do valor de Qo. Portanto,
o albedo (coeficiente de reflexão) terrestre é cerca de 35%.
180 - Pereira, A ngelocei e Senlelhas Agrometeorologia - 181

Entretanto, para uma superfície terrestre qualquer, seja Para cada instante hav erá um balanço de radiação que é
uma cobertura vegetada, uma superfície líquida, uma cons- característico da superfície (solo coberto por vegetação ou por
trução, um animal, etc., a energia disponível para os proces- qualquer material, solo nu, superfície líquida, animal, etc.).
sos biológicos e / ou físicos que neles ocorrem depende não Esse balanço de radiação Rn (chamado também de saldo de
somente desse balanço de ondas curtas, visto que todos os radiação ou radiação líquida) é composto do balanço de ondas
corpos terrestres são também emissores de energia radiante, curtas (BOC) e do balanço de ondas longas (BOL), podendo
mas com um espectro (distribuição) de comprimento de ondas ser representado por:
longas (comprimentos de onda acima de 3.000 nm) . A caracte-
rização do espectro quanto a ser predominantemente de on- Rn = Boe + BOL. (10.1)
das curtas ou de ondas longas é dada pelo comprimento de
onda de maior emissão ("-m')' tendo uma relação com a tem-
peratura de emissão desse corpo, dada pela lei de Wien (ver 10.2 BALANÇO DE RADIAÇÃO
Capítulo 5 - item 5.3, onde se exemplifica porque a radiação
solar é de ondas curtas e a terrestre de ondas longas). A quan- Os princípios envolvidos na determinação do balanço
tidade de energia, expressa por unidade de área e de tempo, de energia radiante são mostrados na Figura 10.2, exempli-
está também relacionada à temperatura de emissão do corpo, ficando-se um caso de superfície natural plana e horizontal.
pela lei de Stefan-Boltzmann (ver Capítulo 5 - Leis da radiaçã o). Os princípios podem ser aplicados para qualquer tipo de su-
perfície.

Qo = 100% Qo
J

>,
24% \ BOC Qc Qs BOL
40% 17%
"
Ga ~~ é _",
'Po rtícu-l ~~ ·.'· Qd
Qa
,.
16% 23% 4% 13% rQ~' Qg
~
48%
FIGURA 10.2 Balanço global de rad iação na super-
FIGURA 10.1 Representação esq uemática do ba~ fície terrestre (superfície plana e horizontal ).
lanço médio de radi açã o de ondas curtas, na su-
perfície terrestre.
182 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 183

À esquerda da Figura 10.2, tem-se a representação do o do BOL) torne Rn positivo nesse período do dia (a superfície
BOC; note-se que essa parte nada mais é do que uma simplifi- tem ganho líquido de energia) enquanto que à noite, sendo
cação da Figura 10.1, mostrando no final que a superfície rece- BOC = O e o BOL n egativ o, tem-se Rn negativo (a superfície
be uma irradiância solar global Qg (radiação direta + difusa) e tem perda de energia). Esse é um modo da superfície eliminar
reflete r Qg, sendo r O coeficiente de reflexão da superfície (para parte da energia solar absorvida e que se transformou em ca-
superfícies naturais r é conhecido também como albedo), sen - lor sensível.
do seus valores médios, para alguns tipos de superfície, da-
TABELA 10.1 Coe ficientes de reflexão (r) para algumas superfícies. Adapta-
dos na Tabela 10.L do de Rosenberg et aI. (1983) e de Vianel lo & Al ves (1991).
À direita, representa-se o BOL, composto por:
• Qa => fluxo de energia radiante emitida pela atmosfe- Superfície Cocf. de Reflexão (r, %)
ra em direção à superfície, também denominada de con tra-ra- Ág ua 5
diação atmosférica, que d epende da temperatura do ar, da quan- Areia seca 35 a45
tidade de vapor d'água nela p resente (pois o vapor absorve A reia úmida 20 a 30
Solo claro seco 25 a45
ondas longas) e da cobertura de nuvens; 10 a20
Solo cin za
• Qs => fluxo de energia radiante emitida pela superfí- Solo escuro 5 a 15 -;-.
.,
cie em direção à atmosfera, denominada de emitância radiante Gramado 20 a 30
da superfície, que depende da su a temperatura e d a sua emissi- Algodão 20 a 22
vidade ou poder emissor da superfície (E) . Alface 22
Milho 16 a 23
Arroz 12
Adotando-se como p ositivo o sentido dos fluxos que
Batata 20
entram no sistema, e negativo o dos que saem, verifica-se que: Trigo 24
Feijão 24
BOC = Qg - r Qg = Qg (1 - r ) (10.2) Tomate 23
BOL = Qa -Qs (10.3) Abacaxi 15 ~;

Rn = BOC + BOL = Qg (1 - r) + Qa - Qs Sorgo 20


(10.4)
Videira 18
Floresta- 10 a 15
Em função dos valores de cada um desses fluxos, Rn 50 a 90
N uve ns
poderá ter valor positivo ou negativo. Durante o período diur- Animal de pêlo preto 10
no, o BOC é positivo, sen do nulo à noite. O sinal do BOL depen- A nimal de pêlo vermelho 18
de dos valores de Qa e Qs. Normalmente, o valor diário do Animal de pêlo amarelo 40
BOL em uma superfície natural é negativo. Isso faz com que Animal de pêlo branco 50
nas superfícies naturais, o valor diurno do BOC (maior do que

L
184 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Agrometeorologia - 185

10.3 MEDIDA E ESTIMATIVA DO BALANÇO • Para clima úmido:


DE RADIAÇÃO BOL = - [4,9031O'9 T A R'(0,56 - 0,25 -Je) (0,1 + 0,9 n / N) ]
(~~~) ( 1 0.~
o balanço de radiação de uma superfície (Rn) pode ser
medido por um saldo-radiômetro (Figura 10.3), constituído de • Para clima seco:
duas placas sen soras com pares termoelétricos, uma voltada BOL = - [4,903 10,9 T AR' (0,34 - 0,14 -Je) (0,1 + 0,9 n / N)]
para cima e outra para baixo, captando as energias de ondas (~m"d'l) (10.6)
curtas e de ondas longas direcionadas para dentro e para fora
do sistema, sendo que o aquecimento diferencial das placas sendo T A R a temperatura média diária do ar (K), e, a pressão
gera uma força eletromotriz (fem) nos termo pares, que é re- parcial de vapor d'água da atmosfera (kPa), n a insolação (nú-
gistrada e transformada em energia por um coeficiente de mero de horas de brilho solar) e N o fotoperíodo (horas, ver
calibração, proporcional ao saldo de radiação. Sobre cada pla- Capítulo 5 - Tabela 5.1). O critério para discriminar clima seco
ca sensora h á uma cúpula de polietileno, para protegê-Ias das de úmido não foi estabelecido por Doorenbos & Pruitl (1975),
intempéries. e talvez essas equações sejam igualmente aplicáveis em uma
mesma região tanto para meses (dias) úmidos como para me-
ses (dias) secos.
Para fins práticos, a Rn de um gramado também pode
ser estimada em função da radiação solar global (Qg), visto
que há estreita relação entre elas. Para Piracicaba, SP, essa re-
lação é apresentada na Figura 10.4, onde observa-se que

Rn = 0,574 Qg = 0,574 Qo (a + b n / N) (10.7)


FIGURA 10.3 Saldo
Rad i ômetrú.
32 ~---

28
Na falta de um saldo-radiômetro, pode-se estimar Rn, _- 24
medindo-se ou estimando Qg (ver Capítulo 5) e usando-se o "'~ 20 -

valor adequado de r para a superfície de trabalho, aplicando-se ~ 16 FI G U RA 10.4 Relação


~ 12 entre a radiação líquida
esses valores na expressão BOC = Qg (1 - r). O balanço de ondas &8 (Rn) medida sobre gra-
longas diário pode ser es timado a partir de medidas meteoro- ma batata is e a rad ia-
4
ção solar global (Qg)
lógicas feitas em uma estação, por equações empíricas, como a O +-~~--~-~_~~==~~
med ida, em Piracica ba,
O 4 B 12 16 20 24 28 32 SP. Fonte: Pereira et a!.
de Brunt adaptada por Doorenbos & Pruitl (1975), isto é,
Qg (MJ,m",á') (1998).
I

186 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 187

Analogamente, Ometto (1981, p65) sugere uma relação BOL = - [4,9031O-9 T AR ' (0,56 - 0,25 -Yea) (0,1 + 0,9 n/ N) ]
empírica, semelhante à equação de Angstrbm-Prescott (eq. BOL = - [4,903 10-"* 301,1' (0,56 - 0,25 -Y1,71) (0,1 + 0,9 *
5.36), para estimativa de Rn em locais onde se dispõe somente 9,3 / 13,2)] = - 6,90 MJ m 2 d- I
de medidas de horas de brilho solar (n), ou seja: Rn = BOC - BOL = 19,92 - 6,90 = 13,02 MJ m-2 d-I
Pela eq.(10_7): Rn = 0,574 Qg = 0,574 * 26,56 = 15,25 MJ
(10.8) m-' d -I
Rn = Qo (ao + b" n / N).
Pela equação de Ometto (eq 10.8):
Para Piracicaba, SP, Ometto sugere que seja usado ao = Rn = Qo (0,17 + 0,22 n / N)
° °
17 e b = 22 durante o período compreendido entre outu-
°
b'ro e m~rço:, e a n = 15 e b n = 0,12 entre abril e setembro.
Rn = 41,74 (0,17 + 0,22 * 9,3 / 13,2) = 13,57 MJ m-2 d- I
1

• Exemplo de Estimativa da Radiação Líquida sobre 10.4 BALANÇO DE RADIAÇÃO EM AMBIENTE


Gramado PROTEGIDO
Local: Ribeirão Preto (SP )
Latitude = 21,18° S o conhecimento dos princípios do balanço de radiação
Data: 15/01/96 ajuda a entender fenômenos como efeito estufa, formação de
r (do gramado) = 0,25 (Tabela 10 .1) geadas de radiação (ver Capítulo 19), e ajuda também a utilizá-
Tmed: 28,1°C = 301,1 K los na busca de alternativas que minimizem seus efeitos des-
UR = 45% favoráveis. Um exemplo, na prática agrícola, é a alteração do
n = 9,3 horas balanço de radiação para proteção contra geadas. Outro, é o
N = 13,2 horas (Tabela 5.1) uso de coberturas plásticas, ou de outro tipo, sobre o solo para
modificar sua temperatura quanto as diferentes aspectos, como
a = 0,29 cos (21,18°) = 0,27 a solarização (método físico para desinfestação do solo próxi-
b = 0,52 mo à superfície), promover temperaturas adequadas ao siste-
Qo = 41,74 MJ m-2 d- I (Tabela 5.2) ma radicular ou à própria parte aérea.
Um exemplo do uso desses princípios é o de cultivos
Qg = Qo (a + b n/N) = 41,74 * (0,27 + 0,52 * 9,3/13,2) = protegidos, realizados sob coberturas, especialmente plásticas.
26,56 MJ m-2 d -I N esse caso, o balanço natural de radiação sofre alterações, pois
BOC = Qg (1 - r) = 26,56 * (1 - 0,25) = 19,92 M J m- 2 d- I o plástico absorve e reflete parte da radiação incidente, sendo
e = 0,6108 * 101(7.5'28.1)/(237.3 + 28.1 li = 3,80 kPa o restante transmitido para dentro do ambiente. Dentro do
e~ = e , UR%/lOO = 3,80 * 45/100 = 1,71 kPa a mbiente, há novamente absorção e reflexão pela superfície
protegida, e assim sucessivamente até que os processos de re-
188 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 189

flexão e absorção p ela cobertura e pela superfície do terreno Esse é um processo de múltiplas reflexões, em que a
tornem-se desprezíveis (Figura 10.5) . quantidade de energia refletida vai diminuindo rapidamente .
Considerando-se apenas os termos descritos nos itens 1 a 4
acima, tem-se o seguinte balanço de ondas curtas (BOC) :

Qg
BOC = t Qg - r, t Qg + rI r, t Qg - rI r,' t Qg (10.9)
BOC = t Qg (1 - r, + rI r, - rI r,'). (10.10)
~ ', a[r 2 (t.Qg»
aQg
..... "'""'"- Para a maioria das plantas r, v aria entre 0,2 e 0,3. Os
, f 2 (I.Q g ) v alores de t e r I dependem do tipo de cobertura. Quando o
~ objetivo é captar energia solar (épocas frias), u tiliza -se uma
I.Qg r 1[r 2( LQg)]
cobertura plás tica com t de valor grande e rI de valor peque-
FIGURA 10.5 Balanço de radi ação de ondas cu rtas (ai e longas (bl dentro
no, e nessas condições os termos r1 r2 e, 1 , 22 são desprezíveis
de estufas plásticas. '1
quantitativamente. Por exemplo, se = 0,15 e Y, = 0,25 esses
dois termos representam menos de 3% de erro se desprezados
nos cálculos.
D efinindo-se, para a cobertura, r, como coeficiente de re-
Quando o objetiv o é proteger as plantas do excesso de
flexão, e t como coeficiente de transmissão; e r, como coeficiente
radiação solar, como é o caso em viveiros de preparo de mu-
de reflexão das plantas, o b alanço de ondas curtas dentro do
das, a cobertura deve ter baixa transmissividade (t p equeno) e
ambiente protegido (Figura 10.5) terá a seguinte descrição:
1) a entrada principal de ondas curtas é aquela tran smi- alto poder refletor (r , grande). Por exemplo, se t = 0,40 e '1=
0,55, então r 1 r, - r , 'o' = 0,06 ou 6% do total.
tida pela cobertura, isto é, t Qg;
Logo, para fins práticos, o balanço de ondas curtas pode
2) a energia incidente sobre as plantas sofre uma pri-
ser reduzido a
meira reflexão, que resulta em r, t Qg, representando
uma saída de ondas curtas da vegetação;
BOC = t Q g (1 - r,), (10.11)
3) essa energia refletida internamente atinge a face in-
terna da cobertura sofrendo uma segunda reflexão,
com erro inferior a 10%.
isto é, r, r, t Qg, e que representa uma entrada secun-
N o caso do balanço de ondas longas (BOL) é preciso le-
dária de ondas curtas para as plantas;
var em consideração o fato d e um corpo emisso, de ondas longas
4) novamente, essa energia incidente sobre as plantas
ser também um ótimo absorvedor de ondas longas (Lei de Kirchhoff
sofre mais uma reflexão, que é representada por r, r,
das radiações). Isso significa que os corpos terrestres, sendo
',tQg, indicando nova saída de ondas curtas das plan-
emissores de radiação de ondas longas são excelentes absorve-
tas.
190 - Pereira, Angelocci e Senfelhas Agrometeorologia - 191

dores dessa radiação. Portanto, o b alanço de ondas longas Na Tabela 10.2 são apresentados os valores médios de
dentro de um ambiente protegido artificialmente depende fun - atenuação (absorção + reflexão) provocada por diferentes tipos
damentalmente da diferença de temperatura das plantas (Tp) de cobertura u tilizados em estufas e viveiros (Sentelhas et aI.,
e da cobertura (Te). No caso de cobertura plástica, um fator 1997). Verifica-se que o material que menos atenua a radiação
que afeta significativamente o balanço de ondas longas é a solar e a luminosidade é o polietileno de baixa densidade
espessura do plástico. Resultados experimentais de Pezzopane (PEBD), plástico comumente utilizado em estufas comerciais,
et aI. (1995), obtidos com coberturas p lásticas de polietileno com média geral de 20%, seguido pela tela branca com 24%,
de baixa den sidade (PEBD) com espessura de 0,1 mm, indi- do PVC com 33%, da tela verde e da manta com 40%, e da tela
cam que o BOL interno representa uma fração do BOL exter- preta com mais de 50%.
no, ou seja, as perdas radiativas internas são menos acentua-
TABElA 10.2 Atenuaçóes médias, em "lo, da radiação global (Qgl, radiação
das que as externas. No caso em questão, essa fração foi igual fotossinteticamente ativa (RFA), da radiação Ifquida (Rn) e da iluminância
a 0,5 para noite com céu sem nuvem, e 0,6 para noite nublada. (lU, provocadas por diferentes tipos de cobertura, em mini-estufas, em
No período diurno, resultados da Tabela 10.2 indicam que, no Piracicaba, SP. (Fonte: Sentelhas et a I. , 1997).
caso do PEBD, o saldo de radiação interno (Rn) correspondeu Cobertura Qg R.'A Rn lL Média
Gera l
a 77% do Rn externo. Essas diferenças devem estar ligadas à
umidade no ambiente interno. Se houver condensação de va- Manta 37,4 39,6 41,5 41,3 40,0
por d'água sobre o p lástico, então o efeito atenuante sobre as PEBD 20,3 13,3 22,6 23,4 19,9
pvc 35.0 29,9 39.6 26,7 32,8
perdas será ainda maior. Alguns autores (Farias et aI., 1993) Tela Branca (50%) 26,6 18,6 24,6 25,1 23 ,7
indicam que esse tipo de plástico transmite até 80% das ondas Tela Verde (50%) 41,2 38,8 43,5 36, 1 39,9
Tela Preta (50%) 55,4 48,8 49,7 52,3 51 ,6
longas.
Portanto, o BOL interno é uma fração f do BOL externo,
ou seja,
Um aspecto importante a ser considerado no caso de
coberturas. plásticas é o efeito difu sor sobre a radiação solar
(10.12)
transmitida, A radiação difusa, por não ter d ireção predomi-
nante, penetra melhor entre as p lantas au mentando sua cap-
mas ainda não se tem uma formulação prática para a estimati-
tação. De fa to, resul tados obtidos por Assis & Escobedo (1997)
va de f.
em uma cultura de alface, variedade Elisa, cultivada dentro
O balanço global de radiação, ou seja, a radiação líquida
de estufa de polietileno, tipo túnel, mostrou significativa re-
dentro do ambiente protegido será:
dução no albedo quando comparado com o cu ltivo externo,
no verão, O aumento na radiação difusa interna compensa em
Rn = t Qg (1 - r,) + f BOL"r (10.13)
parte a atenuação imposta pelo p lástico (Farias et aI., 1993),
192 - Pereira, /lngelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 193

• Exemplo de estimativa da radiação líquida em am- no seu interior ar atmosférico e umil população d e plantas. A
biente protegido parte externa que interage com esse sistema é denominada de
A plicando-se os conceitos ao Exemplo 10.3, calcular o meio. Nessas condições, as principais trocas de energia entre o
saldo de radiação para urna cultura de alface (r2 = 0,22 - Tabela sistema e o meio, e os armazenamentos decorrentes são carac-
10.1), em urna estufa de PEBD (t = 0,8 e f = 0,8) quando se
tinha BOL", = -6,8 MJ m·' d·' para um gramado com r = 0,23.
) terizados na Figura 10.6:

Qg = 26,56 MJ m·' d-' (do Exemplo 10.3)


Rn = t Qg (1 - r ,) + f BOLe," = 0,8 * 26,56 * (1 - 0,22) + 0,8 *
(-6,8) = 11,13 MJ m-' d-' .
Verifica-se que o saldo de radiação interno é menor que
aquele nas condições externas (13,55 MJ 111"' do'), cerca de 18%.

10.5 FUNDAMENTOS DO BALANÇO DE ENERGIA EM


SISTEMAS VEGETADOS
FIGURA 10.6 Esquema do balanço de energia de um sistem a
vegetado, no período de um d ia.
A essência do con ceito de Balanço d e Energia está na
afirmação de que a diferença entre a en e rgia que entra e a ener-
em que: Qg é a irradiância solar global; r.Qg a irradiância so-
gia que sai de um s is tema é a energia captada ou utilizada por
lar re fl e tida; Qs a emissão de radiação pela superfície; Qa a
e le. N os sistemas vegetados, essa energia captada pode ser
e missão d e radiação pela atmosfera; H o fluxo convectivo de
utiliz ada no aquecimento do ar e das p lantas (H, calor sensí-
ca lor sen sível; LE o fluxo convectivo d e calor latente; G o flu-
vel), no aquecimento do solo (G), na evapotranspiração (LE,
xo por condu çã o de calor no s olo; FH o flu xo advectivo de
calor latente), e nos processos de sínteses biológicas (F) .
A quantidade de energia que chega à superfície é deter- calor sen síve l; FLE o fluxo advectivo de calor latente; 6.H o
armaz enamento d e calor sen sível; 6.LE o armazenamento de
minada pela radiação solar incidente e pela radiação atmosfé-
ca lor laten te; e 6.F a energia fi xa da em sínteses biológicas
rica, porém, il energia armazenada no sistema será determina-
(Fotossintese). O s fluxo s advectiv os referem-se às trocas late-
da pelo tipo de cobertura, variando com O coeficiente de
rais (no sentido h orizontal predominante dos v entos ).
refletividade, que é função da coloração e da rugosidade.
Para que se possa estudar um sistema sob qualquer ponto Adotando-se valores positivos para a energia que entra e
de vista, é necessário caracterizá-lo b em. No cas o em questão, negativos para a energia que sai do s is tema, a equação do ba-
o sistema a ser estudado é um volume de controle localizado lanço de energia pode ser escrita da seguinte forma:
em uma área de altura z, comprimento x e largura y, contendo
194 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 195
!
Qg - r.Qg - Qs + Qa - H - LE + (FLE, - FLE,) + (FH, - FH,) - G + c.H + aq u ecimento das plantas, do ar e do solo. Para condições de
c.LE + c.F = O. (10.14) boa disponibilidade de água no solo, resultados experimen-
ta is mostram que a relação LE / Rn se mantém nos níveis indi-
Nas situações em que se pode considerar desprezível a ca d os acima, desde que não haja advecção de calor sensível
variação de fluxos advectivos e de armazenamento de calor, (H) d e áreas adjacentes. A seguir são apresentados alguns re-
isto é, á rea com extensa bordadura, e sabendo-se que a fração s ulta dos para condições brasileiras:
percentual de Rn usada na fotossíntese (L'lF) é menor que 3%,
tem-se que: VEGETA AO LElRn (%) HlR n (% ) GlR n (%) FO NTE
Milho 80 '4 6 C unha et aI. (i 996)
Alfa f;t 86 9 C unha & Ber amnschi (1994)
Videira It.al ia 82 13 Teixeira et aI. (1 997)
• FLE, - FLE,= O
• FH, - FH2 = O
• L'lH e L'l LE = O Para condições onde há a d vecção d e calor sensível, a
• L'lF S; a 3% da Rn = O. re lação LE / Rn passa de 100%. Essa situação foi observada em
cultura de melão por Alves et a!. (1998), em que LE/Rn che-
Sendo Qg - r Qg - Qs + Qa = Rn, a equação básica do go u a 182%.
Balanço de Energia se reduz irá a: Se a superfície não estiver bem suprida de água, a fra-
ção de Rn des tinada a LE diminui, aumentando a fração para
Rn-H-LE-G = O (10.15) H +G.
Rn = H + LE + G (10.16) A ssim, se uma superfície estiver com deficiência hídrica,
c n tão a evapotran spiração será restringida e a maior parte da
ou seja, a energia disponível ao sistema é distribuída entre os 'ncrgia disponível será utiliz ada no aquecimento do ar, das
processos de aquecim ento do ar e das plantas (H), de aqueci- p la ntas e do solo, resultando em elevação brusca da tempera-
mento do solo (G) e de evapotranspiração (LE). tura. Por e xemplo, em floresta tropical, na Tailândia, resulta-
Na evapotranspiração, parte da energia radiante é trans- d os de Pinker e t a!. (1980) indicam que em média:
formada em calor latente de vaporização.
a) Mês úmido (chuva =122mm):
EVAPORAÇÃO DE lkg DE ÁGUA A 20'C REQUER 2,45 MJ Rn = 11,92 M J m·' d ·'
1,1\ = 8,21 M J m·2 d -' = 3,35 mm / dia
Portanto, toda vez que a superfície estiver bem ume- (Obs: ·1m m/ dia = 2,45 MJ m-' do' )
decida, a maior parte da energia disponível será utilizada na 11 1,72 MJ lly 2 d -'
evapotranspiração, o que representa aproximadamente 70% a
80% da Rn. O restante da energia disponível será utilizada no
I,
196 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
Capítulo 11

b) Mês seco (Chuva =l1rnm) :


Regime radiativo de
Rn = 11,40 MJ m -2 d -1 uma vegetação
LE = 1,47 MJ m -2 d -1 = 0,6 mm / dia
H = 9,94 MJ m-2 d -1

verifica-se que a Rn não variou ao longo do ano, porém, a varia-


ção na chuva foi significativa, o que acabou por alterar significa-
tivamente o balanço de energia. No mês mais úmido LE / Rn =
0,69 e H / Rn = 0,31, isto é, 69% da en ergia disponível foi utilizada 11 .1 INTRODUÇÃO
na conversão d e calor latente, e 31 % convertida em aquecimento
(calor sensível). No mês mais seco, a situação inverteu-se com Observando-se um arco-íris, nota-se que a lu z sola r (bran-
LE/Rn = 0,13 e H / Rn = 0,87, ou seja, somente 13% de Rn foi ca o u incolor) é composta por raios de diversas cores, e cada
utilizado no processo evapotranspirativo, enquanto que 87% de co r es tá associada a um comprimento de onda (À.) . Esse fenôme-
Rn foi convertido em calor sensível (aumento de temperatura). no foi descrito detalhadamente por Isaac New ton, no século
xvn, quando fez um feixe de luz solar atravessar um prisma
c ri s talino, demonstrando essa natureza policromática . Logo,
10.6 EXERcíCIOS PROPOSTOS a radiação solar apresenta um espectro contínuo de compri-
m entos de onda. Mas, como visto no Capítulo 3, do ponto de
1. Calcule a radiação líquida sobre um gramado no di a v is ta agronômico, esse espectro pode ser condensado em três
15 / 06 / 97, com dados obse rvados na Es ta ção Meteorológica (<l ixas principais, que englobam as radiações ultravioleta (UV),
Convencional: Loca l: Piracica ba, SP (Lat: 22° 42'S, Long: 47° 'o m À. < 400 nm, e de alto poder biocida; as radiações visíveis,
38'W e Alt: 546m), a = 0,28 e b = 0,51 co m 400 nm < À. < 700 nm, e também denominadas de jotossinte-
a) Tmed = 18,I°C lica/llente ativas (RFA) pelo seu poder fotossintetizante; e as
b) n = 9,5h e N = 10,8h radiações infravermelho próximo (IVP), com 700 nm < À. < 3000
c) r grama = 0,25 nm, e utilizadas nos processos morfogênicos das plantas. N a
d)UR = 55% I i lera tura é comum referir-se à RFA como PAR, que é abrevia-
<;,h) da expressão inglesa Photosynthetical/y Active R adiation .
2. Com os res ultad os do exercício anterior, determine a Tomando-se essas três bandas, a radiação solar tem a
partição desta energia sa bendo-se que o solo se encontra em Il('), uinl ' o mposição relativa (frações) antes de interagir com
capacidade de campo e que o fluxo de calor no solo representa ,lll lmos('r:l: UV = 9%; RFA= 40%; IVP = 51 %. Após atravessar
5% da radiação líquida. Converta o fluxo de calor latente para II nlm os( 'l'il , [I co mposição da radiação solar muda considera-
mm (para evaporar 1mm são n ecessários 2,45 MJ m-2). v ,Im 'nlc. !\ fração U V é quase totalmente absorvida p elo oxi-
198 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 199

gênio! ozônio. A fração IVP também sofre absorção significa- 111 o utras regiões que relatam valores de RFA variando de

tiva pelos constituintes atmosféricos, principalmente por va- '16% a 70% (McCree, 1966; Szeicz, 1974; Stanhill & Fuchs, 1977;
por d'água e dióxido de carbono. A fração RFA é a que menos ti gtcr & Musabilha, 1982; Weiss & Norman, 1985).
sofre absorção pela atmosfera. Portanto, é de se esperar que a
composição da luz solar que incide sobre a vegetação varie SEM NUVENS NUBLAOO
" I
tanto ao longo do dia como de um dia para outro. E, de fato, a '. 70 I
Figura 11.1, adaptada de Assunção (1994), mostra que, mes-
mo num dia praticamente sem nuvens, a fração RFA variou
continuamente; logo, a fração IVP também variou . A fração
RFA foi menor ao redor do meio-dia, quando o efeito atmosfé-
rico foi menor, e foi maior nas horas próximas ao nascer e pôr-
do-sol. Esse ritmo de variação é imposto pela variação no ân- HORA LOCAL

gulo zenital do sol, com conseqüente aumento na espessura da FIGURA 11.1 Variação horária da radiação solar inc idente (Qg), da RFA, e
camada da atmosfera a ser a trav essada. Naquele dia, em da fração RF A / Qg, em Piraci caba, SP/ para um dia sem nu ve ns e um nu-
blado. Adaptado de Assunção (1994).
Pi.racicaba, SP, a variação esteve entre 41 e 55%. É importante
notar que o enriquecim ento d essa fração se dá nas horas com
menor intensidade de radiação. A m éd ia diária da RFA foi igual
a 45%. Isso s ignifi ca que, no p eríodo e ntre as 8 e 16 horas (pe-
11.2 INTERAÇÃO COM A VEGETAÇÃO
ríodo de maior intensidade de radiação solar), a fra ção RFA!
A produtividade biológica de uma vegetação é determi-
Qg foi sempre m enor que o valor médio diário.
nada por sua habilidade em capturar e transformar a radiação
Para um dia totalmente nublado, também em Piracicaba
SP, quando o pico de radiação solar incidente foi cerca de qua~
sola r. Essa captura radiativa é um fenômeno físico determina-
do por vários fatores físicos e biológicos, entre os quais se desta-
tro vezes menor que num dia sem nuvens, verificou-se que o
ritmo de variação da fração RFA foi semelhante àquele de um ca ln:
dia sem nuvens. No entanto, em hmção do maior teor de umi- • o tamanho e a geometria das plantas;
• a maneira com que as p lantas ocupam o terreno dis-
dade no ar, o enriquecimento dessa fração foi muito maior no
po níve l, isto é, a distribuição horizontal na área;
dia nublado. A variação foi entre 52% e 66% de Qg, sendo o
• a cor, o tamanho, a orientação, e a idade das folhas;
va lor médio diário igual a 56%. Pode-se concluir que, num dia
• a arquitetura da planta, isto é, a distribuição vertical da
nublado, o total de radia ção solar inciden te na superfície é sig-
nificativamente menor, porém mais rico em RFA, em fun ção ro l hog 111 no espaço disponível; e,
• o fing I/lo de incidência dos raios solares.
da absorção da fração IVP p e la água das nuvens. Esses resul-
tados obtidos em Piracicaba, SP substanciam aqueles obtidos
200 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 201

Deve-se lembrar que as plantas possuem certa plasticidade I\s re lações p = IRFA / I e q =!IVP I I d efinem, respectiva-
morfológica, ou seja, qu e e las são capazes de se adaptar aos m nle, as frações RFA e IVP, da radiação incidente. Despre-
estímulos e estresses impostos p elo ambiente com mudanças za nd o-se a radiação ultrav ioleta (IUV), que na superfície da
em s u as car acterísticas físicas externas. Ao ser inter cep tada ·("e rra represen ta menos d e 3% do total incidente (ROSS, 1975),
pela cobertura vegetal (dossel), a radiação solar pode ser ab- res ulta em p + q = 1. Resultados experimentais mostrados n a
sorvida, transmitida e refletida e m proporções variáveis, depen- Figura 11.1 indicam que p e q var iam constan temente tanto
dendo dos fatores acima cita dos . A radiação refletida não par- com as condições atmosféricas corn o com O ângu lo zenita l do
ticipa dos processos biológicos, portanto, as frações absorvi- I, mas que e m te rmos m é d ios diários pode-se admitir que p
das e tran s mitidas são aquelas e fetivamente disponíveis para = 0,46 q = 0,54 (Pereira e t a I. , 1982) . Para dias sem nuven s, e
tais processos em um dossel v egetativo. nas h ras e m que o ân gu lo zenüal é m enor que 60° (horas com
É importante enfa tizar que cada e lem ento constituinte maior intens idade solar), é comum admitir-se que p = q = 0,50
das plantas tem um espectro de interação com a radiação inci- (A lI en e t a I. , 1964; Gates,1965; Newton & Blackman, 1970;
dente, e que o conjunto dessas interações representa o espec- Monteith, 1973; Szeicz, 1974; S tanhill & Fuchs, 1977).
,, ;. Similarmente, a radiação refletida p ela vegetação pode
tro da vegetação (comunidade). De modo geral, esses espec-
tros são ba s tante semelhantes, e na faixa da RFA a absorção ser d ecomposta em RRFA e RIVP. Logo, os respectiv os coefi-
,' pela vegetação é maior q u e 80%; mas na faixa de IVP, a absor- c ie ntes de reflexão são d efinidos pelas razões
ção cai abruptamente para cerca d e 20%. Isso significa que a
vege tação maximiza a absorçã o d e RFA, e minimiza a IVP r{RFA ) = RRFA / IRFA, (11.2)
(Billings & Morris, 1951). r{IVP) = RIVP / IIVP. (11.3)

o coeficie nte d e reflexão g lobal (r) é dado p e la m édia


11.3 REGIME RADIATIVO ACIMA DA VEGETAÇÃO pondera d a de r {RFA} e r{IVP}, isto é:

Um modo bastante comum d e expr essar a eficiência d e r = p r {RFA) + q r{IVP). (11.4)


captura da radiação é p e lo coeficiente de reflexão (r). Corno vis-
to, a radiação sola r incidente (I) pode ser decompos ta e m seu s A Figura 11.2 mostra que realmente a fração IVP (NIR,
componentes mais exp ressivos, ou seja, radiação ultravioleta do inglês Nea r Infrared Radiatíon) é muito m ais refletida pela
(lUV), fotossinteticam ente ativa (lR FA) e infravermelho próximo vegetação (mandioca, no caso) que a fração RFA. Como p = q
(lIVP) . Pelo princípio de conservação de en ergia tem-se: = 0,5 e r{RFA} « r/IVP}, a eq.(11 .4) pode ser reduzida a

I = IUV + IRFA + IfVP. (11.1) r = 0,5 r[IVP) . (11.5)

L _______________________
202 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 203

r es de K que pode explicar a constância de r para Z < 60°. N o


MANDIOCA caso da Figura 11.2, esse ponto foi escolhido subjetivam ente.
NIR Conseqüentemente, o coeficiente de reflexão é maior próximo
do nascer e do põr-do-sol, com um valor mínimo ao redor do
Co- 0.40

meio-dia (10 as 14 horas).


o
.~
x Para a Reserva Florestal Ducke (Manaus, AM, 2° 57' S; 59°
~ O ,lO
TOTAL 57' W ), onde as árvores tinham altura média de 35m, e algumas
ultrapassando 40m, Shuttleworth et aI. (1984) descreveu a varia-
ção diária do coeficiente de reflexão pela função :
~ 020
U
IAC-IZ - 829
5 D.

= 15,09 - 0,136 13 + 0,00123 13 2, (1l.6)


:o PAR [} IRACEMA r

FIGURA 11.2 Var iação horária dos


coeficientes de refl e xão de uma s endo 13 a elevação solar, em graus, e o valor médio diário foi
cu ltu ra de mand ioca. Adaptado de 12,25% com desvio-padrão de 0,2%. Resultados semelhantes
Pereira et aI. (19 82). foram obtidos por Leitão (1994) também em Manaus, com va-
ELEVACÃO SOLAR - 0 (GRAUS)

lor médio d e 11,3% e desvio-padrão de 0,8%. Para uma flores-


ta tropical úmida, na Nigéria (6° 33'N; 3° 50'E), Oguntoyimbo
É importante observar que , à medida que o ângulo (1970) encontrou 12% como valor médio representativo das
zenital (Z = 90 ° - 13) aumenta acima de um v alor crítico (= 60°, 9h às 15h. Para efeito de comparação, o coeficiente de reflexão
no exemplo), o coeficiente de reflexão também tende a aumen- nlédio de um gramado está entre 20% e 25%. Portanto, nas
tar rapidamente (J) é altitude ou elevação solar, que é ângulo mesmas condições meteorológicas, uma floresta capturará mais
entre o plano do horizonte e a posição do sol). Esse aspecto é en ergia que um gramado.
característico de reflexão difusa, isto é, sem direção predomi- Leitão (1994) mediu também os coeficientes de reflexão
nante, que é imposta por uma superfície rugosa, formada por para as frações RFA e IVP na floresta amazônica, e estes foraul
elementos com diferentes orientações. Segundo Lemeur & descritos pelas seguintes funções:
Rosenberg (1975), a variação de r com Z pode ser explicada
em função do ângulo de inserção das folhas (K). Quando Z < r{RFA } = 3,19 - 0,0262 13, (11.7)
K, a reflexão é preferencialmente para baixo, aumentando a r{IVP} = 27,76 - 0,255 13 + 0,00173 132 , (11.8)
captação da radiação solar; mas quando Z > K, maior parte da
reflexão é para cima, com conseqüente aumento em r. Em uma mos trando que r{RFA} é uma função muito fraca de 13.
cultura, em que as plantas procuram ocupar da melhor ma- Um aspecto importante para se apreciar é que muitas
neira possível o espaço disponível, existe uma gama de valo- vezes, durante um dia sem chuva, ocorre uma assimetria nos

__ ______ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ L -_ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ~
204 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 205

valores de r, ou seja, os valores do período da manhã são me- MANDIOCA


nores que os valores da tarde. Vários fatores contribuem para R· f·1 D
esse fenômeno, sendo um deles a ocorrência de orvalho sobre r til" ' 0 . 36 o
as folhas. A água pura tem poder refletor ao redor de 5%; logo,
uma superfície umedecida sempre apresenta r menor do que ".:ro 150

~
quando seca. À medida que o ar vai se aquecendo, o orvalho
vai se evaporando, e a folhagem volta a apresentar seu poder o:: 100
refletor normal. o
,~
o 5 Mil.R 79
l AC - 12 - 8Z9
O vento é outro fator que também a feta significativamente ~
i3
o • (; MAR 19
~ 50
o coeficiente de reflexão, pois a agitação da folhagem muda IRflCEMA

o • 8 MA R. 79
sua exposição aos raios solares. Evidentemente, todos fatores BRANCA ST Il. CA TARINA

atmosféricos que afetam a composição da radiação solar cer- 200 1100 600 800 1000
tamente influenciam o coeficiente de reflexão [eq (11.4)]. RADIACÃO INCIDENTE - W. m2
Por definição, o coeficiente de reflexão é o coeficiente
FIG URA 11.3 Relação en tre radiação refletida e inci-
angular de regressão (inclinação da reta) entre as radiações dente sobre uma cultura de mandioca . Adaptada de
refletidas (R) e incidente (I). Coeficientes elevados são sempre Pereira el aI. (1992).
associados à baixa densidade de fluxo, isto é, ocorrem quando
O sol se aproxima do horizonte. No caso presente (Figura 11.3), A radiação solar disponível (D) à cultura, em cada fra-
em que as medidas, em sua maioria, foram executadas nas ção considerada, é dada por
horas de maior incidência solar, o coeficiente de regressão re-
p resenta o valor assintótico do coeficiente de reflexão da cul- DRFA = IRFA - RRFA = P I [1 - r{RFA)], (11.9)
tura. Para o caso da mandioca, foram encontrados os seguin- DIVP = IIVP - RIVP = q I [1 - r{IVP)l, (11.10)
tes valores (Pereira et aI., 1982): r(RFA) = 0,03; r{IVP) = 0,36; r
= 0,21. Em geral, 64% da radiação IVP, e 97% da RFA ficou e no presente exemplo (mandioca), DRFA = 1,29 DNP.
disponível à cultura. Parte da radiação disponível é transmitida para o interior
da vegetação (TRFA, TIVP) e parte é absorvida pelas plantas
(ARFA, A IVP). Experimentalmente, é mais conveniente me-
d ir-se a radiação transmitida e estimar a parte absorvida por
d iferença, v isto que,

DRFA = TRFA + ARFA, (11 .11)


DIVP = TIVP + AIVP. (11.12)
.,

206 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 207

Desse modo, d etermina-se também os coeficientes de trans- operacionais desse sistema são a manutenção do sensor nive-
missão (t) e de absorção (a) para cada fração, ou seja, lado, obstáculos ao longo da trajetória do sensor, e a necessi-
dade de energ ia externa para manter o sistema e m movimen-
t{RFA} = TRFA / IRFA, (11.13) tação.
t{ IYP} = TIVP / IlYP. (11. 14) Uma alternativa é utilizar apenas um sensor, m as
movimentá-lo, ao acaso, para posições d iferentes, em dias con-
Pelo princípio de conservação de energia, tem-se que : secutivos, e esta foi a técnica utilizada por Shuttleworth et aI.
(1984), n a floresta amazônica (Reserva Ducke, Manaus, AM).
r{RFA} + t{RFA} + a{RFA} = 1 (11.15) Outra alternativa, é utilizar-se simultaneamente diversos
r{IVP} + t{(IVP} + a{IVP} =1. (11.16) sensores fixos, distribuídos ao acaso, para se evitar viés (ten-
dência) na a m ostragem. Essa técnica foi utilizada por Januário
e t a I. (1992), em Tucuruí, PA, com três s ensores. No entanto,
I·,
•i ,
11.4 REGIME RADIATIVO DENTRO DA VEGETAÇÃO esse procedimento nem sempre é seguido, sendo comum dis-
tribuir-se os sensores segundo um padrão pré-estab elecido. A
, A caracterização do regim e radiativo dentro da cobertu- dificuldade principal desse último método é que não se sabe a
ra vegetal é extremamente complexa, principalmente pela dis-
·
ti<, tribu ição espacial da fo lhagem, e pela variação contínua da
p osição do sol. Isso faz com que as sombr as sejam itinerantes
priori quantos sensores são necessários para uma amostragem
adequada. Por exemplo, n a fl oresta ama zônica, encontrou-se
que são n ecessários, no mínimo, 12 sensores distribuídos en,.
d entro da vegetação, impondo dificuldades ao processo de arranjo quadrado de 5m x 5m p ara se d escrever a condição
amostragem. Quanto mais esparsa for a vegetação, maior será média diária dentro da mata (Leitão, 1994) . Pode-se perceber
esse e feito. Por exemplo, dentro da floresta amazônica Leitão que qualquer que seja o arranjo a amostragem será sempre
(1994) encontrou que as manchas de incidência direta dos raios imperfeita. No caso de cultu ras anuais, com vegetação mais
solares duram, em m édia, entre 2 e 4 mino A quantidade de esparsa, esse problema é ainda mais complexo.
energia n essas manch as pode atingir até 25% do valor inci- É preciso lembrar que, no caso de se utilizar diversos
d ente no topo da vegetação, e pode represen tar entre 30% e sensores, é importante registrar os sina is individualmente, com
70% do total diário d e radiação dentro da vegetação (A shton, pequeno tempo de amos tragem, pois as flutuações de cada
1992). Porta nto, é fác il imaginar que um único sensor não é ponto têm implicações ecológicas muito im porta ntes, v is to que
suficiente para descrever as condições radiativas n essas con- as man chas de incidência direta dos raios solares favorecem a
dições. Em alguma s s ituações, utiliza-se u m sensor que se fotossín tese naquele ponto. Obv iamente, a composição m édia
m ovimenta continuamente sobre trilhos, O Ll suspen sos em ca- dos sen sores "amacia " tai s flutuações. Por exempl o, e m
bo s, fazendo uma varred ura hori zontal ao longo d e um Tucuruí, tomando-se média de 10 min, observou-se picos de
transecto (Reifsnyder et a!., 1971) . As principa is dificuldades a té 40 W 1m2, com uma observação chegando a 80 W 1m 2 • Na
208 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 209

Reserva Ducke, tomando-se média horária, os picos atingiram será a penetração de radiação solar dentro da vegetação. Por-
apenas 10 W 1m 2 Tais diferenças talvez sejam devidas ao perí- tanto, deve-se esperar que o coeficiente de transmissão, indepen-
odo considerado para se obter o valor médio, e isto traz mais dente da faixa espectral considerada, tenha variação inversa
um aspecto a ser considerado no problema. daquela apresentada pelo coeficiente de reflexão. A Figura 11.4
Resultados de Leitão (1994) mostram a influência do corresponde a uma cultura de mandioca (Pereira et aI., 1982).
número de sensores no valor médio, onde os valores de pico Os pontos cheios correspondem à RFA, e os abertos à IVP.
(média de 1 min) foram os seguintes: 68 W I m 2 com 4 sensores; Quando o sol se aproxima da linha do horizonte <ri = 0°) a
46 W 1m2 com 8; 38 W 1m2 com 12; e 35 W 1m2 com 16. Eviden- penetração dos raios solares tendem a zero. Em termos médi-
temente, os objetivos dos es tudos é que vão caracterizar qual os, os coeficientes de transmissão tiveram os seguintes valo-
desses valores é o mais adequado. res: t{RFA} = 0,13; t{IVP} = 0,22. Pelo princípio d e conservação
Tendo em mente tais imperfeições amostrais, resultados de energia deduz-se que a cultura da mandioca teve os se-
experimentais têm mostrado que, em média, menos de 10% guintes coeficientes de absorção: a{RFA} = 0,84; a{IVP} = 0,42,
da radiação solar incidente sobre a copa das árvores de flores- que indica que durante o período de observação a cultura da
tas tropicais úmidas atingem os níveis mais baixos dentro da mandioca absorveu duas vezes mais energia na faixa do visí-
floresta (Pinker et aI., 1980; Shuttleworth et aI., 1984; Januário et vel que naquela do infravermelho próximo. Esses valores são
al., 1992; Leitão, 1994). Evidentemente, esse percentual depende- bem próximos daqueles relatados por Yocum e t aI. (1964) para
rá da metodologia utilizada, e no caso descrito por Leitão (1994), uma cultura de milho. Para uma cultura de cana-de-açúcar,
há variação desde 4%, com 16 sen sores, até 8%, com 4. que forma uma cobertura mais fechada que o milho, Machado
Outro aspecto importante a ser considerado é a qualida- e t al. (1985) relatam a{RFA} = 0,92, ou seja, um valor levemen-
de (composição) da lu z dentro da vegetação, v isto que as plan- te superior àquele encontrado para O milharal. Relembrando,
tas maximizam a captura da fração RFA . Isso significa que a para a Reserva Florestal Ducke, a{RFA} = 0,97. Fica evidente o
radiação que atinge a parte mais baixa de uma vegetação é efeito do porte da cobertura vegetal na absorção da energia
mais rica na fração IVP. Resultados dos experimentos relata- solar.
dos acima indicam que dentro da floresta amazônica a radia-
ção transmitida é composta, em geral, por 25% de RFA e 75%
de IVP. Em termos quantitativos, a fração visível representa
menos de 3% da quantidade visível incidente no topo da flo-
resta (Ashton, 1992; Rich et aI., 1993; Leitão, 1994).
No caso de uma cultura anua l, de porte menor e menos
densa que uma floresta, obviamente a quantidade de radiação
solar que atinge a superfície do solo é significativamente maior.
Nessas condições, quanto maior for a e levação solar (13), maior
21 0 - Pereira, A ngelocci e Sente/has A g rome te orol ogia - 211

Para uma floresta natural na Tailândia (Reserva Flores-


MAND IOCA tal de Sakaerat, 14° 31' N ; 101 ° 55' E), Pinker e t aI. (1980) ob-
o 0. 30 b. ... IAC - 12 - 82 9 servou os seg uintes valores médios :
,,' D. IR ACEMA
"'"' oe R
NIR
..o
"'"z
STA.CATARIN't,0 • Entrada de energia:
..
a::: 0.20
8~o
8 °8 _'-b~o_'U_
0 KJ, ~ 17,6 MJ I m' d
>-
w
o
w
>-
z
I
I
I
I
~
~
- _____. -
.. f2'h j;%

~ _,~.~~

• ........
I
LJ, ~ 34,2 MJ I m' d
TOTAL = 51,8 MJ I m ' d.
':!:l 0 , 10 / e/ e . • .....
~ • Saída d e energia:
~
w I
" /
/' PAR
o I / Ki = 2,1 MJ / m 2 d
" 1/
1/
l S c lM
Li = 38,9 MJ / m ' d
o -~-""2o~-~---;
O.OO '!' 4~ o -~--;!.;:-o-~---O8"! O
TOTAL = 41,0 MJ 1m 2 d .
EL EVAÇÃO S OLA R - (3

FIGURA 11.4 Va riação ho rária do c oeficiente de trans-


• Saldo de energia:
mi ssão rad iativa de uma cu ltu ra de m and ioca. Adaptado Q* = 10,8 MJ / m 2 d.
de Pe rei ra el a I. (1982).
Esse s aldo de energia (Q*) será dissipado principalmen-
11 .5 BALANÇO DE RADIAÇÃO ACIMA DE te nos processos de fotossíntese, evapotranspiração, e aqueci-
UMA VEGETAÇÃO mento, sendo então transportada para outras regiões menos
aquecidas. Obviamente, exis te uma variação desses v alores ao
Para se ter idéia da magnitude das trocas energéticas de longo do ano, em funç ão das posições relativas entre a Terra e
uma superfície v egetada, no período de 24 horas, serão apre- o sol. Outra fonte d e v ariação desse balanço é a ocorrência de
sentados resultados obtidos acima de florestas tropicais úmi- n u vens, e André et aI. (1988) encontrou a seguinte variação de
das, visto que tais áreas são responsáveis pela exportação de Q* com a razão de insolação (n /N ) para a floresta amazônica:
energia para outras regiões da Terra. O balanço (ou saldo) d e 5,7 MJ / m 2 d, para a estação chuvosa (n /N = 0,2); e 16,5 MJ / m 2
radiação (Q* ou Rn) inclui as ondas curtas vindas do sol (KJ,), d , para a época seca (n / N = 0,9). Para uma floresta úmida no
a radiação solar refletida pela vegetação (Ki), e as ondas lon- Panamá, Read (1977) verificou que Q* v ariou entre 3,5 MJ 1m 2
gas emitidas pela atmosfera (LJ,) e pela superfície (L i ), ou s eja, d, num mês chuvoso, e 17,7 MJ 1m 2 d, num mês seco.

Q* ~ K J. - KI + LI. - LI. (17)

I
L
Capítulo 12

Evapo(transpi)ração

12.1 INTRODUÇÃO

. A grafia do título deste capítulo é um modo simplifica-


do de expressar os processos isoladüs de evaporação e de
transpiração, e da evapotranspiração, que foi proposto por
Thornthwaite (1944) para representar os processos conjuntos
de evaporação e de transpiração que ocorrem naturalInente
em uma superfície vegetada. Como enfatizado por Stanhill
(1973), existem situações em que é necessário utilizar o termo
II , específico para expressar .0 fenômeno que se quer descrever.
Portanto, a grafia do título será usada sempre que houver re-
ferência indiscriminada ao tipo de fenômeno em discussão.

12.2 DEFINIÇÕES

• Evaporação (E)
É o processo físico pelo qual um líquido passa para o
estado gasoso. A evaporação de água na atmosfera ocorre de
oceanos, lagos, rios, do solo, e da vegetação úmida (evapora-
ção do orvalho e da chuva interceptada) .

• Transpiração (T)
É a perda de água na forma de v apor pelas plantas, pre-
donünantemente através das folhas, embora em plantas
lenhos as possa também ocorrer pequena perda pelas lenticelas
214 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
Agrometeorologia - 215

da casca do tronco. Nas folhas, a evaporação ocorre a partir • Evapotranspiração (ET)


das paredes celulares em direção aos espaços intercelulares
É O processo simultâneo de transferência de água para a
de ar, ocorrendo então difusão, através dos estômatos, para a
atmosfera por evaporação da água do solo e por transpiração
atmosfera . O estômato atua como regulador fundamental da
das plantas. Dependendo das condições da vegetação, do ta-
taxa de transpiração, juntamente com a camada de ar adjacen-
manho da área vegetada, e do suprimento de água pelo solo,
te à folha. Um caminho a lternativo aos estômatos é a cutícula
define-se situações bem características, tais como, potencial, real,
foliar, mas em boas condições de disponibilidade hídrica, a
de oásis, e de cultura. Essas condições são descritas a seguir.
via preferencial é a estomática.
A manutenção da transpiração é conseguida pela repo- +
- Evapotranspiração potencial (ETP) ou de referência
sição da água perdida, na fase de vapor, pela água da corrente (ETo) ~ :r
transpiratória, que ocorre através do sistema condutor desde
Evapotranspiração potencial é a quantidade C/e água que
as raízes até as folhas, pelo estabelecimento de um gradiente de seria utilizada por uma extensa superfície vegetada com gra-
potencial da água, desde o solo ('l',olo) até o ar ('l'o,m)' mostrado ma, com altura eDtre 8 e 15 cm,_em crescimento ativo, cobrin-
na Figura 12.1. A atmosfera, com seu potencial da água ('l'atm) do totalmente a superfície do solo, e sem rest'rição hídrica.
altamente negativo, atua como um dreno para vapor d'água. Conceitualmente, a ETP é limitada apenas pelo balar\Ço verti- ';. ,.,
Quanto mais seco estiver o ar (baixa umidade relativa), maior
cal de energia, ou seja, pelas' Condições c!o agtbiente I~cal, po-
(mais negativa) será a força desse dreno .
dendo ser estimada por fórmul~s teórico-empíricas desenvol-
vidas e testadas para várias condições climáticas. Aevapotrans-
'I' :1 1m "" - 100 :L - J OOO;l l m
piração nessas condições é tomada como referência quando se
quer conhecer a evapotranspiração de uma cultura, em condi-
ções não-padrão. Logo, a ETP é um valor indicativo da deman-
da evapotranspirativa da atmosfera de um local, em um perío-
do. Sabe-se que um gramado, nas condições definidas para
ETP, possui índice de área foliar próximo de 3 (m2 folha / m 2 de
terreno) e coeficiente de reflexão (albedo) da radiação solar ao
redor de 23% .
..... - "1' so lo = -0,1 :I -2a l m I
- Evapotranspiração real (ETR) ·,'-
FIGURA 12.1 Representação esquemática do
Define-se evapotranspiração{real ;como sendo a quantida-
movimento de água no sistema so lo-planta- de de águ a realmente utilizada por uma extensa superfície
atmosfera, em condi ções ótim as de desenvolvi- vegetada com grama, em crescimento ativo, cobrindo total-
mento. Adaptado de Re ic hardt (1985).
216 - Pereira, Angelocci e Senfelhas ,, Agrometeorologia - .217

mente o solo, porém, com ou sem r~strição hí~ca. Quando delineá-la de maneira a levar em conta essa variação ao longo
não há restrição hídrica, ETR = ETP; portanto, da área irrigada. No caso de pivô central, a área tampão é cir-
cular. Logo, a quantidade de água a ser aplicada tem que ser
ETR ~ ETP . (12.1) calculada adequadamente para atender as diferentes deman-
das ao longo do pivô.
Nesse ponto, é importante enfatizar que, por definição,
os conceitos de ETP e ETR se aplicam exclusivamente a uma Efe ito Varal
superfície gramada. Isso significa que não faz sentido referir- :./
se à evapotranspiração potencial de uma cultura. : '-. , Curva de Evapotranspiração
Ven to : - --, ./
Predominante : t -"--, __ JI!"
- Evapotranspiração de oásis (ETO) ~ : Oásis •.•...••..•.. •..... . . .
: Bal. Vertical ~ t
Evapotranspiração de oásis é a quantidade de água utiliza- Real i Bal. Hori zontal : Potenc~al
da por uma pequena área v egetada (irrigada) que é circunda- -------- i ~ ~ Bal. Ve rtical

da por uma extensa área seca, de onde provém energia por


&1Ô%*C&1{1C#r1(trfr$r*~1r
Seeo ~ Área Tampão ~ Úmido
advecção (transporte lateral de calor por deslocamento da Transiçao
massa de ar), aumentando a quantidade de energia disponí-
vel. Logo, por definição, FIGURA 12.2 Representação esquemática da ETO
e ETP. Adaptado de Camargo & Pereira (1990).

ETO>ETP. (1 2.2) - Evapotranspiração de cultura (ETc)


É a quantidade de água utiliz ada por uma cultura, em
A Figura 12.2 indica a área tampão ou bordadura necessá- qualquer fase de seu desenvolvimento, desde o plantio / se-
ria para que haja minimização do transporte lateral de energia meadura até a colheita, quando não houver restrição hídrica,
da área seca para a área úmida (irrigada). Nessa área tampão, e por este motivo ela é também chamada evapotranspiração
a ET que ocorre é a de oásis, e o tamanho dessa área depende máxima de cultura. A ETc é função da área foliar (superfície
do clima da região e do porte da vegetação. Vegetação de maior transpirante), pois quanto maior a área foliar maior será a ETc
porte, por interagir mais eficientemente com a atmosfera, ne- para a mesma demanda atmosférica . O índice que expressa o
cessita de maior área tampão que um gramado. As plantas tamanho da área foliar em relação à área do terreno ocupada
que estão próximas da linha de transição (seco/irrigado) rece- por uma planta é denominado Índice de Área Foliar (IAF, área
bem uma quantidade extra de energia que vem da área seca, de um lado da folha / área de terreno ocupado pela planta). A
aumentando seu consumo de água. As plantas mais distantes ETc pode ser obtida a partir da ETP pela relação:
da transição são menos influenciadas pelas áreas secas e usam
menos água no mesmo período. No caso de irrigação, deve-se ETc = Kc ETP (12.3)
218 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 219
--------~-------------

em que Kc é o coeficiente de cultura (ver Capítulo 14 - Tabelas lhas no outono, e também o cafeeiro, que devido à colheita e
14.1 e 14.2). O valor de Kc varia com as fases fenológicas, e ao período de repouso invernal tem seu IAF re duzido.
também entre espécies e variedades (cultivares), sendo fun- O valor de Kc varia d e O a 1,2 e, d e acordo com Camargo
ção do IAF. Na Figura 12.3, verifica-se a influência da área folia r & Pereira (1990), seu valor pode ser estimado em função da
sobre o consumo de água pelas plantas, e a variação do Kc cobertura do terreno pela seguinte relação empírica:
com o crescimento/ desenvolvimento de culturas (hipotéticas)
anuais e p erenes . Kc = 1,2 (% Cobertura do Terreno / 100). (12.4)
Em culturas anuais, à medida que a planta se desenvol-
ve o IAF cresce até atingir um valor máximo, decrescendo Por exemplo, se uma cultura mais o mato das entreli-
posteriormente no período d e senescência das folhas. O sub- nhas cobrirem 90% do terreno, o Kc = 1,2*(90/100) = 1,08. Essa
período I representa o estabelecimento da cultura (s emeadura equação não se aplica a um gramado onde 100% de cobertura
à germinação); sub-período II caracteriza desenvolvimento do terreno corresponde a Kc = 1. Valor d e Kc > 1 significa que
vegetativo (germinação ao florescimento); sub-período III é o a cultura é mais eficiente na utilização d a energia do ambiente
período reprodutivo (florescimento ao final do enchimento dos do que um gramado. Isso se dá principalmente em função da
grãos); e sub-período IV é a maturação. maior altura da cultura, que resulta em maior interação aero-
dinâmica com a atmosfera.
Va lores de Kc para uma cultura Vaforesde Kc pa ra uma cultura Quando a evapotranspiração da cultura não ocorre sob
anual perene
as condições ideais descritas, ela é denominada de evapotrans-
1.2
,.
._--
--l 1

0 .8
--
Crescimento piração real da cultura (ETr).
li ' 'V ,
0 .8

~ 0 .6 I 0.6

0.4
. Maturidade

0. 4
0.2
12.3 DETERMINANTES DA ET
0 ,2 -
o
~ ~ Segundo Shuttleworth (1991), desde os primórdios da
Decê ndio Anos
civilização o hom em percebeu h aver estreita relação entre
FIGURA 12.3 Relação entre sub-pe ríodos fenológicos e Kc para cultura
secamento de uma superfície molhada e as condições do am-
an ll<:l l, e e ntre idade e Kc para cultura pe re ne.
biente. Sabia-se que em d ias ensolarados, com ar s eco, a velo-
Em culturas perenes, em função do contínuo crescimen- cidade de secamento é maior, mas atualmente tem-se melhor
to das plantas, o valor d e Kc é crescente durante os anos que v isão do processo e de seus determinantes principais. A lguns
precedem a maturidade, e daí e m diante torna-se praticamen- desses fatores podem ser categorizados, para facilitar sua des-
te constante, com p e quenas variações sazonais, função da va- crição, e serão aqui apresentados.
riação do IAF. Um exemplo é a seringueira, que perde as fo-
220 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 221

12.3.1 Fatores climáticos Quanto mais escura for a vegetação, menor será a reflexão dos
raios solares incidentes e maior será Rn (ver Capítulo 11).
• Radiação líquida (Rn): esta é a principal fonte de ener- • Estádio de desenvolvimento (IAF): Este fator está di-
gia para o processo de evapotranspiração, e ela depende da retamente relacionado ao tamanho da superfície folia r
radiação solar incidente e do albedo da vegetação. Vegetação transpirante, pois quanto maior for a área folia r, m a ior será a
mais escura absorve mais radiação solar (ver Capítulo 10). superfície transpirante, e maior será o potencial para o uso de
• Temperatura: ao longo de um dia, o aumento da tem- água.
peratura do ar provoca aumento no déficit de saturação, tor- • Altura da planta: plantas mais altas, mais rugosas
nando maior a demanda evaporativa do ar (ver Capítulo 7). interagem mais eficientemente com a atmosfera em movimen-
• Umidade relativa do ar: a umidade relativa do ar atua to, extraindo mais energia do ar, aumentando a ET.
em conjunto com a temperatura. Quanto maior a UR, menor a • Profundidade do sistema radicular: es tá diretamente
demanda evaporativa e, portanto, menor a ET. relacionado ao volume de solo explorado pelas raízes, visan-
• Vento (advecção regional de energia): advecção re- do o atendimento da demanda hídrica atmosférica. Sistema
presenta o transporte horizontal de energia de uma área mais radicular superficial, por explorar volume menor de solo, dei-
seca para outra mais úmida, e esta energia adicional é utiliza- xa a cultura mais suscetível em períodos de estiagem.
da no processo de ET. O vento também ajuda a remover vapor
d'água do ar próximo às plantas para outras regiões.
O efeito combinado de temperatura, umidade relativa, 12.3.3 Fatores de manejo e do solo
e velocidade do vento define a demanda atmosférica por vapor
d'água. • Espaçamento/densidade de plantio: este fator deter-
mina a competição intra-específica, isto é, entre plantas da
mesma espécie. Espaçamento menor resulta em competição
12.3.2 Fatores da planta in tensa pela água, e isto causa aprofundamento do sistem a
radicular para aumentar o volume de água disponível.
• Espécie: es te fator está relacionado à arquitetura foliar Espaçamento maior permite um sistema radicular mais super-
(distribuição espacial da folhagem), à resistência interna da ficial, mas permite também mais aquecimento do solo e das
planta ao transporte de água, e a outros aspectos morfológicos plantas, e circulação mais livre do vento entre as plantas, ten-
(número, tamanho, e dis tribuição de estômatos, etc.), que exer- do como conseqüência o aumento da ET.
cem influência direta na ET. • Orientação do plantio: culturas orientadas perpendi-
• Coeficiente de reflexão (albedo): a reflexão influ encia cularmente aos ventos predominantes tendem a extrair mais
diretamente na disponibilidade de Rn para o processo de ET. energia do ài' do que aquelas orientadas paralelamente. Para

(
\
222 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 223

regiões de ventos constantes, uma solução seria o u so de disponível no solo. Na situação C, em que ECA> 7,5 mm/d
quebra ventos (ver Capítulo 18) . (alta demanda), mesmo com bastante umidade no solo, a planta
• Capacidade de armazenamento de água: solos argilo- não consegu iu extraí-la em uma taxa compatível com suas ne-
sos têm maior capacidade de armazenamento de água do que cessidades, resultando em fechamento t emporário dos
os arenosos, e são capazes de manter uma taxa de ET por perí- estômatos para evitar secamento das folhas. Essa condição
odo mais longo. No entanto, em solos arenosos o sistema ocorre nas horas mais quentes do dia.
radicular tende a ser mais profundo, compensando a menor
retenção de água. 1

• Impedimentos físicos/químicos: impedimentos limi- 0 .8

tam o desenvolvimento do sistema radicular, fazendo com que ~ 0 .6

as plantas explorem volume menor do solo, resultando em ~


• o.'
c A . ECA", Smm f d
efeitos n egativos tanto no período chuvoso como no seco. No
.. , B· ECA 5 a 7,5mmld

período chuvoso, solo com impedimento físico fica encharcado


O.'

O
o
-
. . o
C· ECA> 7 .5mm / d

,o o
asfixiando as raízes; no período seco, o volume de água dis- N

Água disponível no solo (%)


o

ponível às raízes fica reduzido, não permitindo que elas se


aprofundem em busca de água. FIGURA 12.4 Inter-relação da evapotranspiração
relat iva de p lantas de mi lho (ETr/ETc) com a
água d isponível no solo, e a demanda atmosfér i-
ca, exp ressa por ECA. Adaptado de Oenmead &
12.3.4 Inter-relação demanda atmosférica - suprimento de água Shaw (1962).
pelo solo

12.4 MEDIDA DA EVAPORAÇÃO E DA


o solo é um reservatório ativo que, dentro de certos li- EVAPOTRANSPIRAÇÃO
mites, controla a taxa de uso de água pelas p lantas, sempre
em associação com a demanda hídrica da atmosfera. A deman-
da atmosférica depende da disponibilidade energética, da 12.4.1 Evaporação
umidade do ar, e da velocidade do vento. A Figura 12.4
A medida d ireta da evaporação exige a utilização de um
cxemplifica a inter-relação entre a água disponível no solo (%),
res ervatório (tan qu e) onde o nível de água possa ser m edido
a demanda atmosférica, indicada pela evaporação do tanque
com precisão. A diferença das alturas dos níveis da água em
Classe A (ECA), e a evapotranspiração relativa (ETr /ETc) de plan-
dias consecutivos indica o total evaporado na período. Devi-
tas de milho. Na situação A, com ECA < 5 mm/ d, em virtude
d o à facilidade dessas medidas em tanques, essas t êm sido
da baixa demanda, a planta conseguiu extrair água do solo
utilizadas para estimar a evaporacão de lagos e a té mesmo de
em níveis potenciais (ETr/ETc ~ 1) até cerca de 60% da água
224 - Pereira, Ange/occi e Senlelhas Agrometeorologia - 225

culturas, admitindo-se que e xiste correlação positiva entre a • GGI-3000: desen v olv ido na antiga Uni ã o Sovié tica e
ev aporação da água do tanque com aquela de um lago ou de de pouco uso no Brasil. É um tanqu e c ilú1drico, d e fundo
uma superfície vegetada. cônico, com 61,8 em de diâ m e tro (3000 em' d e área evaporante),
Os principais tipos de tanques utilizados para a medida 60 em de profundidade na borda e 68,5 em no centro. Es te tipo
da evaporação são os seguintes: de tanque é enterrado no solo, com borda a 7,5 em da superfície
do solo. A leitura é feita e m um fra sco volumétrico instalado em
Classe ~desenvolvido nos E.U.A., sendo de uso gene- um cano fixo no cenh'o d o tanque. O tanque deve ser pintado de
ralizado também no Brasil. É um tanque cilíndrico de chapa branco e mantido com água no mesmo lúvel do solo.
de ferro galvanizado ou inox n O.22, com 121cm de diâmetro
(1,15 m 2 de área evaporante), e 25,5cm de profundidade. Deve • Tanque de 20m' : é mn tanque cilindrico, com 5m de
ser instalado a 15cm do solo sobre um estrado de madeira em diâmetro (20m 2 d e área evaporante) e 2m de profundidade. O
área gramada. A leitura no nível d a água é feita em um poço fundo é plano, con s truído de chapa de ferro de '.4" de espes-
tranqüilizador de 25cm de altura e 10cm de diâmetro, onde é sura e a p a re d e late ral d e 3/ 16" . O tanque deve ser enterrado
instalado um parafuso micro métrico de gancho com capaci- no solo, d e ixa ndo a borda a 7,5 em da superfície do solo, sen-
dade para medir variações de O,Olmm. Atualmente exis tem do pinta d o inte rnam ente de branco. A leitura do nível da água
sensores ele trônicos p ara m edid a do nível do tanque, possibi- é feita em um poço tranqüilizador idêntico ao do tanque Clas-
litando a automati zação da cole ta d e dados, des de que ligado se A, podendo-se utilizar tanto o parafuso micrométrico como
a um sistema de aqu is ição d e dados . Aágua d entro do tanqu e o copo volumé trico, ou sensor eletrônico.
deve ser mantida entre 5 e 7,5cm abai xo da borda (Fi g ura 12.5).
A relação entre a evaporação que ocorre em um lago
(EI.AGo)' de aproximadamente 1 ha, e aquela que ocorre nos
ta nques foi determinada por Oliveira (1971), sendo a seguinte
(m di a anual) para Piracicaba, SP:

E, ACO = E'Om> = 0,76 ECA = 0,95 Ecc, (12.5)

Essa re lação indica que a evaporação do tanque de 20m 2


(E 20n ,,) é ' q ui va lente à quela de um lago. No entanto, a e vapo-
ração d os o utros tanques, por apresentarem área evaporante
menor, preci sa m d e um fator de ajuste para reduzir suas me-
FIGURA 12.5 Tanque Classe A com poço tranqüi lizador didas àquela equiva lente ao lago. Embora a área evaporante
instalado em área gramada sobre estrado de madei ra. do tanque GGI-3000 seja quase quatro vezes menor que aqu e-
226 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorologia - 227

la do tanque Classe A (ECA), observa-se que a evaporação do • Lisíllletro de lençol freático constante: este tipo de lisímetro
CCI (E ) está mais próxima daquela do lago que a do Classe n lo la um a sis tema automático de alimentação e registro da
GQ 'I~ .
A. Isso se deve ao fato do CCI ser enterrado, em eqUl luno ógua re pos ta de modo a manter o nível do lençol freático cons-
térmico com o solo, e do Classe A ser super-exposto à radia- l, nte, sendo a evapotranspiração igual ao volume de água que
ção solar pelos lados e também ao vento. 5u i do s is tema de alimentação (Assis, 1978).

• Lisímetro de pesagem: este tipo de lisímetro utiliza a me-


12.4.2 Evapotranspiração d ida automatizada de células de carga instaladas sob uma cai-
/
xa impermeável, medindo a variação de peso desta. Desse
A medida direta da evapotranspiração é difícil e onero- modo, havendo consumo de água pelas plantas do lisímetro
sa, justificando sua utilização apenas em condições experimen- ocorre uma diminuição do peso do volume de controle, a qual
tais. Os equipamentos mais utilizados para esse fim são os é proporciona l à evapotranspiração (Comi de et aI., 1996;
lisímetros. Lisímetro ou evapotranspirômetro é um equipamento Be rgamaschi et aI., 1997; Chaves et aI., 1999).
que consist~ma caixa impermeável, contendo um volu-
me de solo que possibilita conhecer com detalhe alguns ter-
mos do balanço hídrico do v olume amostrado. 12.5 ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
Os lisímetros mais empregados são: POTENCIAL (ETP OU ETo)
• Lisímetro de drenagem: es te tipo d e lisímetro funciona
adequadamente em períodos longos de observação (± 10 dias). Os valores de ETP podem ser estimados a partir de ele-
Baseia-se no princípio de conservação de massa para a água me ntos medidos na estação agrometeorológica, existindo vá-
em um volume de solo (Camargo, 1962): rios métodos para tal estimativa. Aqui serão tratados apenas
a Ig uns que apresentam maior potencial de aplicação prática,
L'.ARM = P + I - ET + AC - DP. (12.6)
d ependendo das informações meteorológicas disponíveis no
loca l. D e modo geral, todos os métodos são empíricos, pois
Considerando que a chuva (P) e a irrigação (I) sejam fa- para s ua plena aplicação, são necessárias algumas parametri-
cilmente medidas, que a variação de armazenamento (L'l.ARM) zações empíricas. Entre os métodos destacam-se:
seja praticamente nula, que a ascensão capilar (AC) seja des-
prezível, e que a drenagem profunda (DP) seja medida, pode- • Mé todo de Thornthwaite
se obter o evapotranspiração (ET) como resíduo desta equa- Este fo i um dos primeiros métodos desenvolvidos ex-
ção (ver Capítulo 13 - Balanço Hídrico, e Camargo, 1962). \' III HIv .1 m c n te para se estimar a evapotranspiração potencial
('I'hol"ll lh wa ite, 1948). Inicialmente, calcula-se a evapotranspi-
11I\,"III"II.'lIcial padrão (ET p , mm/mês) pela fórmula empírica

...
228 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrome teorologia - 229

ETp = 16 (10 Tn / I)' O"; Tn < 26,5 °C (12.7) se r corrigido em função do número r ea l d e d ias e do
fo toperíodo do mês, ou seja,
sendo Tn a temperatura média do mês n, em °C; e I um índice
que expressa o nível de calor d isponível na região. O s ubscrito ETP= ET"Cor (12.11)
n representa o m ês, ou seja, n = 1 é janeiro; n = 2 é fevereiro; Cor = (ND/30) (N/12) (12.12)
e tc. No caso de Tn <:: 26,5 °C a ETp será d ada por (Willmott et
al.,1985): se ndo ND o número de dia s do m ês em questão, e N é o
ro to p eríodo m édio daquele mês. Em geral, as tabel as conside-
ET p = -415,85 + 32,24 Tn - 0,43 Tn' Tn <:: 26,5 °C (12.8) ra m o fo toperíodo do d ia 15 como representativo do valor
médio de N p a ra o ITlês (ver Capítulo 5 - Tabela 5.1), ITlas seu
O valor de I d ep ende do ritmo anual da temperatura cxato valor pode ser calculado para cada dia (ver Capítulo 5-
(preferenc ialmente com valores norm ais), integrando o efeito itc m 5.6). O valor ITlédio mensal de Cor é dado n o Tabela 12.1-
térmico d e ca da m ês, sendo calcula do pela fórmula Em ITluitas s ituações, como em ITlanejo de irrigações, é
o nveniente que o cálculo d a ETP seja na escala diária, ou de
12
I = L (0,2 Tn ) 1.5 14 (12.9) ,1lg uns dias. Nesses casos, a m e todologia d e Thornthwaite tam-
bé m pod e ser utilizada, bastan d o conhecer-se os valores d e I e
n=1
fi loca l, e a tem peratura média d o dia ou dias específicos. Como,
O expoente a, da eq.(12.7), sendo função de I, também é I a r d e finição, os resultados da eq.(12.11) são eITl mm / m ês d e
um índice t érmic o reg iona l , e é ca lculad o pela função 30 dias, eles devem ser d ivididos por 30 para se obter ETP em
, polinomial mm / dia. Se o período for d e mais de um dia, multiplica -se
I; a = 6,75 10.2 P - 7,71 10.5 I' + 1,7912 lO" I + 0,49239. (12.10)
pe lo número d e dias do período.
Q ua ndo o local não d ispõe de m edidas de tem peratura,
(1111 0 a lte rnativa é a utilização de estimativas em função das
Esses coeficientes I e a, ca lcul ados com as n orm ais coord e na d a s geográficas (altitude, la titude, longitude), des-
climatológicas, são característicos da região e tomam-se con s- C1' ilns no C apítu lo 6 (item 6.6). Como no território brasileiro,
tantes, sendo independentes do ano d e estimativa d e ETp ' T11 ('~ m O nas local idades de montanhas, as temperaturas m édias
O valor de ET p calculado, por d efinição, representa o to- l1 H'nsn is são p os itivas (Tn > O), o índ ice I p od e ser be m estima-
tal mensal de evapotranspiração que ocorreria naquelas condições dI! P() I' 12 (0,2 Ta)',5", em que Ta é a média anual; logo, basta
térmicas, mas para um mês padrão de 30 dias, em que cada dia teria ( 'lI t l nl l ll'- H \ ri. Tb.
12 horas de fotoperíodo (Thornthwaite, 1948). Portanto, para se
obter a ETP do mês correspondente, esse valor de ETp d eve
Agrometeorologia - 231
230 - Pereira, Angelocci e Sentelhas

n = 1: ETP = 93,1 * 1,14 = 106,1 mm mês-! = 106 mm mês-!


• EXEMPLO 1
Determinar a ETP mensal para Viçosa, MG (20° 45' S;
n = 2: ETP = 94,8 * 1,00 = 94,8 mm mês-1 = 95 mm mês- I
42° 51' W; 690 m), sendo a temperatura m édia mensal dada no etc.
(Observação: na escala mensal é conveniente eliminar-
quadro abaixo.
se os décimos de milímetro no resultado final)
JAN FEV M AR ABR MA l lUN lUL AGO SET OUT NOV DEZ
22,1 22,3 21 ,8 20.0 17.7 16,0 15,4 16,9 18,3 20.2 20,2 21.3
T"
ETp 9 3. 1 94 ,8 90,5 75,8 59.0 48,0 44,4 53,7 63.2 77,4 77.4 85,4
• EXEMPLO 2
Co, 1.14 1.00 LOS 0,97 0,95 0,90 0.94 0.99 1.00 1.09 1.10 1, 16
ET I' 106,1 94.' 95,0 73.5 56,1 43.2 41,7 53,2 63.2 84.4 85.1 99, 1 Com as coordenadas geográficas de Viçosa, MG (Exem-
p lo 1), e com os coeficientes médios extraídos da Tabela 6.2
PASSO 1 (Capítulo 6), a temperatura média anual pode ser estimada
Calcular I pela Eq.(12.9): por:
1= (0,2 * 22,1)1.514 + (0,2 * 22,3)1.514 + ..... + (0,2 * 21,3)1.514 = Ta = 21,18 - 0,0052 * 690 - 0,0077 * 1245 + 0,0047 * 2571 =
93,63 20,1 °C
PASSO 2 1= 12 (0,2 * 20,1)'·514 = 98,62
a = 6,75 10-7 * 98,62 3 - 7,7110-5* 98,62' + 1,7912 10. * 98,62
2
Calcular a pela Eq.(12.10):
a = 6,7510-'* 93,63 3 -7,7110.5* 93,63 2 + 1,791210-2 * 93,63 + 0,49239 = 2,15
+ 0,49239 = 2,05
PASSO 3 Para efeito de comparação de resultados, calculando-se
Calcular a evapotranspiração potencial padrão ET p pela a ETP para janeiro (Quadro de dados acima):
n = 1: ET p = 16 (10 * 22,1 / 98,62)2,15 = 91 mm mês-! =>
.:
~
:
eq.(12.7):
ET p = 16 (10 Tn 1 93,63)2·03
n = 1: ET p = 16 (10 * 22,1 1 93,63)2·05 = 93,1 mm mês-!
Va lor bem próximo de 93,1 mm mês'! calculado no PASSO 3
do Exemplo 1.
n = 2: ET p = 16 (10 * 22,3 / 93,63)2·05 = 94,8 mm mês-!
etc. • EXEMPLO 3
PASSO 4 No caso do Exemplo 2, se a temperatura (22,1 °C) fosse:
Calcular a correção m ensal pela Eq.(12.12), ou pela Ta- _ a m édia de um dia (ND = 1), então a ETP do dia seria
bela 12.1 (aproximando-se a latitude) ETP = ET p Cor ND/30 = 91 * 1,14 *1/30 = 3,45 mm/dia
n = 1: Cor = 1,14 _ a média de 5dias (ND= 5), então a ETP do período seria
n = 2: Cor = 1,00 ETP = ET p Cor N D / 30 = 91 * 1,14 * 5 / 30 = 17,3 mm / 5
etc. di,l S
PASSO 5
Calcular a ETP mensal: ETP = ET p Cor
Agrorneteorologia - 233
232 - Pereira, Angelocci e Sentelhas

• Simplificação de Camargo EXEMPLO 2


Temperatura média anual (Ta) = 16,3°C
Para s implificar a utilização do método de Thornthwaite,
Temperatura média de maio (Tm) = 20,2°C
Camargo (1962) elaborou a Tabela 12.2, que fornece a evapo-
Latitude de 26° 30' S
transpiração potencial diária (ETT' mm d· ' ) em função das tem-
peraturas média anual (Ta) e mensal (Tm), evitando-se os cál-
Pela Tabela 12.2 : ETT = 2,8 mm/ dia
culos de I e a. Nessa tabela, obtém-se ETT = ET P /30'
' portanto ,
Pela Tabela 12.1 : Cor = 0,94
além da correção anterior (Cor, Tabela 12.1) há necessidade de
ETP = 30 ETT Cor = 30 * 2,8 * 0,94 = 78,96 mm mês· ' = 79
se multiplicar o valor de ETT por 30 para se chegar ao valor de
mm mês· '
ETP mensal. Logo,
EXEMPLO 3
ETP = 30 ETT Cor. (12.13)
Temperatura média anual (Ta) = 23,5°C
Temperatura média de fevereiro (Tm) = 27,5°C
Em virtude do valor de ETT ser apresentado com apenas
uma casa decimal na Tabela 12.2, é inevitável a ocorrência de Latitude de 10° 15' S
pequenas discordâncias entre os valores de ETP calculados,
Pela Tabela 12.2 : ETT = 4,8 mm/ dia
respectivamente, pelas eq.(12.13) e (12.11).
Como discutido na metodologia original de Thornth- Pela Tabela 12.1 : Cor = 0,97
ETP = 30 ETT Cor = 30 * 4,8 * 0,97 = 139,68 mm mês· I =
waite, se a intenção for estimar ETP em base diária, ou de um
140 mmmês· '
período de ND dias, então, o fator 30 é simplesmente substi-
Observação: Pela eq.(12.8) ETp = 145,56 mm mês· ' ; por-
tuído por ND.
ta nto, ETP = 145,56 * 0,97 = 141 mm mês·'
EXEMPLOl
EXEMPLO 4
Temperatura média anual (Ta) = 21°C
No Exemplo 2, se a temperatura (20,2 CC) fosse:
Temperatura média de janeiro (Tm) = 24°C
- a média de um dia (ND = 1), então a ETP do dia seria
Latitude de 22°00' S
ETP = ETT Cor ND = 2,8 * 0,94 * 1 = 2,63 mm / dia
- a .m édia de 5 dias (ND = 5), então a ETP do período
Pela Tabela 12.2: ETT = 3,6 mm/dia
Pela Tabela 12.1 : Cor = 1,14
11'"1"1' = ET.,. Cor ND = 2,8 * 0,94 * 5 = 13,2 mm/5 dias
ETP = 30 ETT Cor = 30 * 3,6 * 1,14 = 123,1 mm mês· ' = 123
mmmês· 1
234 - Pe reira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 235

TABELA 12.1 Fator de Correção (Cor) da evapotranspi ração em função do • Método de Camargo
fotoper íodo e do número de dias do mês. Fonte: Thornthwaite (1948) e Para simp lificar mais a estima tiva de ETP, Camargo
Camargo (1964) .
(1971) propôs a seguinte fó rmula :
La t S J,\N FEV MAR AnR I"IA I JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
o 1.04 0 .94 1.04 1.01 1.04 l.Ol IJ)4 1.04 1,01 1.04 1,01 1.04
5 1.06 0.95 1.04 1.00 1,02 0 .99 1.02 1.03 1.00 1.05 1,03 1.06 ETP = 0,01 Qo T NO (12.14)
10 1.08 0,97 1.05 0,99 1,01 0,96 1.00 l.Ol 1.00 1.06 1.05 1.10
1,12 0 ,98 1.05 O.9R O,9R 0,94 n,97 1,00 1.00 1.07 1.07 l.l2
"
2. 1.14 1.00 1.05 0.97 0,96 0,91 0,95 0,99 1.00 1,08 UI9 1.15
22 1,14 1.00 1.05 0.97 0 .95 0,90 0,94 0 .99 1.00 1.09 1.10 L16 em que: Qo é a irradiâ n cia solar global extraterrestre, expressa
23 1.1 5 1.00 l.OS 0.97 0.95 0.89 0.94 0.98 1.00 1.09 1.10 1.l7
24 1,16 1.01 1.05 0.96 0,94 0.89 0.93 0,98 1.00 1.\0 1.11 1, 17 em mm de evaporação equ ivalente por dia (Tabela 12.3); T a
25 1.17 1.01 1.05 0.96 0 .94 0,88 0.93 0.98 1.00 1.10 1,11 1,IR
26 1.17 1.01 1.05 0,96 0,94 0,87 0,92 0,98 1.00 1,10 1.11 1.18 temperatura média do ar (OC), no período con sider ado; e NO
0.87 0,92 1.00 !.lI 1.12
27
28
1,18
1.19
1,02
1,02
1.05
1.06
0.96
0,95
0.93
0 .93 0.86 0.9 1
0.97
0.97 1.00 1.11 LI)
1.19
1.20
o número de d ias do período considerado.
29 1.19 1.03 1.06 0.95 0 .92 0,86 0,90 0,96 1.00 1.12 1.]) 1.20 Essa fórmula facilita a es tima tiva d e ETP pois n ão há
30 1.20 I.m 1,(16 0.95 0.92 0 .85 0 .90 0.96 1.00 1.12 1.14 1.21
31 1.20 1.03 1.06 0.95 0,91 0,84 0,89 0 .96 1.00 1,12 1,14 1.22 necessidade de se conhecer a temp eratu ra média anu a l (nor-
32 1,2 1 1.03 1,06 0,95 0 .9 1 0,84 0.89 0.95 1.00 1.1 2 1.15 1.23
mal), e ela reproduz b em os valores estimados pela fórmula
de Thorn thwaite.
TABELA 12.2 Evapotranspiração po tencia l d iária (ETT' mm/d ia), em fun ção
das temperaturas méd ias anual (Ta) e mensal (T m ) ou diária (Td), Fonte: TABELA 12.3 Radiação solar global extraterrestre (Qo, expressa em mm de
evaporação equivalente por dia), n o 15° dia do mês cor responden te, para o
Camargo (1 962).
hemisfério Su l (Fonte: Camargo & Camargo, 1983).
TI11 ,·C T e rn lerat ura m éd ia aflual (Ta , ·C) La! S JAN FEV MAR AnR MAl JUN JUL AG O SET OUT NOV DEZ
(Td) 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 O 145 15,0 15,2 14.7 13,9 13,4 135 14.2 14.9 14.9 14.6 14,3
14 1.8 1.7 1.6 1.5 1.4 1.2 1.1 1.0 0.9 0.7 0.6 0.5 0.4 2 14.8 15.2 15.2 14.5 13.6 13.0 13,2 14,0 14,8 15,0 14 .8 14,6
15 2.0 1.9 1.8 1.7 1.6 1.5 1.3 1.2 1.1 1.0 0.8 0.7 0.6 4 15,0 15,3 15,1 14.3 13.3 12,7 12,8 13,7 14,7 15. 1 15.0 14,9
16 2.2 2.1 2.0 1.9 1.8 1.7 1.6 1.4 1.3 1.2 1.0 0 .9 0.8 15,3 15.4 15.1 [4,1 13,0 12,6 125 135 14,6 15,2

,
• I 17
18
2.4
2.6
2.3
2,5
2.2
2.4
2. 1
2.3
2,0
2.2
1.9
2.1
1.8
2.0
1.7
1.9
1.5
1.8
1.3
1.6
1.2
1.5
1.0
1.3
0.9
1.1
"" 15,6 15,6 15,0 14.0 12,7 12,0 12.2 13,2 145
15. 1
15,2 15,4
15, 1
15.4
10 15.9 15.7 15.0 13,8 12.4 11,6 11.9 13,0 14,4 15.3 15,7 15.7
19 2.8 2.7 2.6 2,5 2.5 2.4 2.3 2.1 1.9 1.8 1.7 1.5 1.4 12 16.1 15.8 14,9 13,5 12.0 11,2 11.5 12,7 14,2 15,8
15.3 16.0
20 3.0 3.0 2.8 2.8 2.8 2.6 2.5 2.3 2.2 2.1 2,0 1.9 1.7 14 16.3 15.8 14,9 13,2 11.6 10,8 lU 12.4 14,0 15.3 15.9 16,2
21 3.3 3.2 3.1 3.0 3.0 2,9 2.8 2.7 2.6 2,4 2.3 2.2 2.1 16,5 15,9
16 14.8 13,0 11.3 10.4 10,8 12,1 1.1.8 15,3 16. 1 16,4
22 3.5 3.4 3.3 3.3 3.2 3 .1 3. 1 3.0 2.9 2,7 2,6 2.5 2.4
18 16,7 15,9 14,7 12.7 10.9 10,0 10,4 11.8 13.7 15.3 16.2 16,7
23 3.7 3.6 3.6 3.6 3,6 3.5 3.4 3.3 3.2 3.1 3.0 2.9 2.8
20 16,7 16,0 14,5 12.4 10,6 9.6 10.0 11.5 13.5 15.3 16.2 16,8
3.9 3.9 3.9 3.8 3.8 3.7 3.7 3.6 3,5 3,4 3.3 3.3 3,2
"
25 4. 1 4. 1 4 .1 4.0 4.0 4.0 4.0 3.9 3,9 3,8 3.8 3.8 3.7
22 16,9 16,0 14.3 12,0 10,2 9.1 9.6 11.1 13,1 15.2 16.4 17,0

26 44 44 4.2 4.2 4.2 4.2 4,2 4. 1 4.0 4.0 4.0 40 4.0


"
26
2H
16,9
17,0
17, 1
15,9
15,9
15.8
14.1
13.9
13.7
11.7
11.4
11.1
9.8
9,4
9.0
8.6
8.1
7.8
9.1
8.7
8.3
10,7
10,4
10,0
13.1
12,8
12,6
15, I
15,0
14,9
16,5
16,5
16,6
17,1
17,3
17.5
30 17,2 15.7 13.5 IO,K ".5 7.4 7.8 9.6 12,2 14,7 16,7 17.6

Para Tm ou Td 2: 26,0"C, a ETT (mm/ dia) é:


Tm EXEMPLO 1
Td 2. 27 28 29 3. 31 32 33 34 35
.0 4.3 4.6 4.9 5.2 5.4 5.6 5 .8 5.9 6.0 6.1
Temperatu ra m édia do a r n o d ia = 26,5 °C
.5 4.5 4.8 5.1 5.3 5.5 5 .7 5.8 6.0 6.1 6.1 Latitude de 22° 00' S
236 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrome teorologia - 237

Pela Tabela 12.3: Q o = 16,9 mm /dia TABElA 12.4 Coeficiente para T anque C lasse A (Kp), para diferentes
bordaduras de vegetação baixa ao redo r do tanque, e níveis de um idade
ETP = 0,01 Qo T ND = 0,01 * 16,9 * 26,5 * 1 = 4,5 mm.d·1 re lativa e velocidade do vento em 24 horas. Fonte: D oorenbos & Kassam
(1994).
EXEMPLO 2 Vcnto (k mJdi:a ) lIordadura ( m ) U m idade Retalh':) do Ar
No caso de Viçosa, MG, para janeiro com T = 22,1 °C < 40 %
0,55
40 % a 70%
0,65
> 70 %
1 0.75
Pela Tabela 12.3: Qo = 16,8 mm /dia Lc,'c 10 0.65 0,75 0.85
< 175 100 0.70 0.80 0,85
ETP = 0,01 * 16,8 * 22,1 * 31 = 115 mm/mês ~ Valor pró- 1000 0.75 0,85 0,85
0.50 0.60 0.65
ximo dos 106 mm/mês dado pelo método d e Thornthwaite. l\'lodcrado 10 0.60 0 ,70 0.75
175 a 425 100 0,65 0,75 0.80
1000 0.70 0.80 0.80
• Método do Tanque C lasse A 1 DAS 0.50 0.60
Forte 10 0,55 0.60 0,65
O método do Tanq ue Classe A para es timativa da 425 a 700 If)() 0.60 0,65 0.70
1000 0.65 0,70 0.75
evapotranspiração de referência foi desenvolvido para se ter 0.40 O,4S 0.50
uma forma prática de estimativa de ETo, aplicada no manejo jI,'!nito Forte
>700
10
100
0.45
0.50
0.55
0.60
0 ,60
0,65
da irrig ação . O tanque é de p e quena dimensão, com as pare - 1000 0.55 0.60 0,65

des laterais expostas diretamente à radiação solar, e a água no Para facilitar a interpolação dos valores de Kp n a Tabela
tanque não oferece impedimento ao processo evaporativo, es- 12.4 e a determinação da ETP em sistemas inform atizados,
tando sempre disponível, mesmo durante os períodos secos. Sn yder (1992) obteve a seguinte equação de regressão linear
P ortanto, o valor da evaporação obtido no tanque é exagerad o múltipla :
e m relação à p erda efe tiva de uma cultura, m esmo estando e la
em condições ó timas de suprimento de água no solo (ver item Kp = 0,482 + 0,024 Ln (B) - 0,000376 U + 0,0045 UR (1 2.1 6)
12.3). Logo, o va lor diário do tanque (ECA, mm / dia) precisa
ser corrigido por um fa tor de ajuste, denominado coeficiente de e m que : B é a bordadura (em metros); U a velo cidade do vento
tanque (Kp), para se ter a ETo correspondente, ou seja, (km d"); e UR a umidade rela tiva média di ária, em %.
É comum a adoção de um valor fixo de Kp quando da-
ETo=Kp ECA. (12.15) dos de UR e U n ão são disponíveis. Nesse caso, resultados
ex perimentais mostram que Kp = 0,72 é o v alor que proporcio-
O valor d e Kp, sempre m enor que 1, é função da veloci- na m e nores erros para condições de clima úmido, como ob-
dade do vento e da umidade relativa do a r (adveção d e calor se rvado em Piracicaba, SP (Sentelhas et aI., 1999).
sen síve l), e do tamanho da bord a dura , vegetada ou n ão,
circunvizinha ao tanque. Esse método é um dos recomenda- EXEMPLO
dos p e la FAO (Doore nbos & Kassam, 1994), sendo Kp forne ci- Bordadura = 10m
do pela Tabela 12.4. Vento = 2,2 ms-I * 86,4 ~ 190 km d ' l
238 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 239

UR= 60% Tmin = 21,O"C


ECA = 8,3 mm d- I Pela Tabela 12.3 : Qo = 16,9 mm! d
Pela Tabela 12.2:
Kp = 0,70 ETP = 0,0023 Qo (Tmax - Tmin)O,5 (Tmed + 17,8)
ETP = 8,3 * 0,70 ~ 5,8 mm d- ' 0,0023*16,9*(32 - 21)°·5 * (26,5 + 17,8) = 5,7 mm d -'

Pela Eq.(12.16): Kp = 0,482 + 0,024 Ln(lO) - 0,000376 * • Método de Priestley-Taylor


190 + 0,0045 * 60 = 0,736 Se no local houver medida do saldo de radiação (Rn),
ETP = 8,3 * 0,736 ~ 6,lmm d -I pode-se utilizar a fórmula de Priestley & Taylor (1972) para
estimar a ETP (mm d -' ), ou seja,
Pelo critério prático: ETP = 8,3 * 0,72 ~ 6,0 mm d -'
ETP ~ 1,26 W (Rn - G) ! 2,45 (12.18)
• Método de Hargreaves & Samani
Este método foi desenvolvido por Hargreaves & Samani em que: Rn é a radiação líquida total d iária (MJ m-2 d-'); G é o
(1985) para as condições semi-áridas da Califórnia (Davis) a fluxo total diário de calor no solo (MJ m-2 d-'); W é um fator de
partir de evapotranspiração obtida em lisímetro de pesagem ponderação dependente da temperatura e do coeficiente
cultivado com grama. Sua fórmula é a seguinte: psicrométrico, sendo calculado pelas seguintes equações (Pe-
re ira et a\., 1997):
ETP = 0,0023 Qo (Tmax - Tmin)O.5 (Tmed + 17,8) (12.17)
W = 0,407 + 0,0145 T (O °C < T < 16 °C) (12.19)
lo 't em que: Qo é a irradiância solar extraterrestre, expressa em W = 0,483 + 0,01 T (16,1 °C < T < 32 °C). (12.20)
~ :' mm de evaporação equivalente (Tabela 12.3); Tmax a tempe-
ratura máxima do ar (oC); Tmin a temperatura mínima do ar No caso de G não ser medido (situação mais comum),
(OC); e Tmed a temperatura média do ar (OC), no período con- ado ta-se uma fração de Rn como representativa desse fluxo,
siderado. Esse método é semelhante ao proposto por Camargo o u seja! G = f Rn,lsendo O,,; f ,,; 0,1 para gramado (condição de
(1971). ETP). É:~ adotar-se f = 0, mas Wright & Jensen (1972)
p ro puseram que G seja calculado em função da temperatura
EXEMPLO do a r ;ela~uação: l
Calcular a ETP, em um dia de janeiro, em um local com
G = 0,38 (Td - T_",) \ (12.21)
latitude de 22 ° S, em que:
Tmed = 26,5°C
~' 111 que: T d é a temperatura média do ar do dia em questão, e
Tmax = 32,0°C
'1'.,,, é a te mperatura média do ar dos três dias anteriores.
240 - Pereira, Ange/occi e Senlelhas Agrometeorologia - 241

No caso de estimativa mensal, adimitindo-se que a tem- média do ar (0C); U, é a velocidade do ven to a 2m de altura (m
peratura do ;"olo-va@velat é uma profund~dade ~e 1 m, para S-I), sendo cerca de 75% do valor da velocidade medida a 10m
efeIto de armazenamento de calor, a equaçao sera : de altura em posto meteorológico; e, é a pressão de saturação
de vapor (kPa); e, é a pressão parcial de vapor (kPa); e 5 é a
(12 .22) declividade da curva de pressão de vapor (ver Figura 3.12) na
temperatura do ar, em kPa °C-I, sendo dado por:
em que: T m é a temperatura média do ar do mês, e T_ m é a
temperatura média do ar do mês anterior. s = (4098.es) / (T + 237,3)' (12.24)
es;;;;;: (es Tmax + esTmin ) / 2 (12.25)
EXEMPLO esTmax = 0,61 OB.e[(17.27.Tmax) I (237,3 + T'nax)] (12.26)
Calcular ETP, sabendo-se que: T = 24°C esTmin = O~6108.e [( 1 7,27.Tmin) / (237,3 + Tmin)j (12.27)
Rn = 10,8 MJ.m-'.d-1 ea = (URrned.es) / 100 (12.28)
G=O URrned = (URmax + URrnin) / 2 (12.29)
Pela eq.(12.20) : ==> W = 0,483 + 0,01 * 24 = 0,723 1 T = (Tmax + Tmin) / 2 (12.30)

ETP = 1,26*W*(Rn - G) / 2,45 =1,26 * 0,723 * 10,8/2,45 = sendo Tmax a temperatura máxima do ar, em cC, Tmi..n a tem-
4,0 mm.d-' peratura mínima do ar, em cC, URmax a umidade relativa má-
xima, em %, URmin a umidade relativa mínima, em % .
• Método de Penman-Monteith (Padrão FAO - 1998) EXEMPLO
Este é um mé tod~i~meteõrológico, descrito por Calcular a ETP sob as seguintes condições atmosféricas: Rn
Monteith (1965), que foi adaptado por Allen et a!. (1989) para = 8,5 MJm-'d- l , G = O,S MJm-' d- l , Tmin = lS'C, Tmax = 30'C, U"'n =
estimativa da evapotranspiração de referência na escala diá- 1,8 m /s, URrnin = 40%, URrnax = 100%.
ria. Atualmente, este é o método-padrão da FAO (Allen et a!., Pela eg. (12.26): => esTm" = 0,610S.e!(l7.27.30)/ (237.3+30)J = 4,24 kPa
1994,1998), sendo ETP (mm do') dada pela seguinte fórmula: Pela eg. (12.27): => esTmin = 0,610S.e((17.'7.18) /(237.3+ J8)J = 2,06 kPa
Pela eg. (12.25): => es = (4,24 + 2,06) / 2 = 3,15 kPa
0,408 S (Rn _ G) + Y 900 U2 (es - ea) Pela eg. (12.30): => T = (30 + lS) / 2 = 24"C
(12.23) Pela eg. (12.24): => s = (4098.3,15) / (237,3 + 24)' = 0,1891 kPa;oC
ETP = T + 273
s + y (i + 0,34 U2) Pela eg. (12.29): => URrned = (100 + 40) / 2 = 70%
Pela eg. (12.28): => ea = (70.3,15) / 100 = 2,21 kPa
Pela eg. (12.23): => Cálculo da ETP
em que: Rn é a radiação líquida total diária (MJ m -' d -I); G é o
fluxo de calor no solo (MJ m-' d-I), as mesmas considerações 0408*01891 *(8 5-08)+ 0,063*900* 1,8*(3,15-2,21)
sobre G feitas no m é todo anterior são também válidas aqui); y ETP
, , " (273+24)
3,15nllnd- 1
= 0,063 kPa oCo] é a constante psicrométrica; T é a temperatura 0,1891 +0,063*(1 +0,34*1,8)
242 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 243

12.6 CRITÉRIO PARA ESCOLHA DE MÉTODO DE em seu interior, em relação ao ambiente externo, devido à ate-
ESTIMATIVA DA ETP nuação (absorção e reflexão) da radiação solar incidente pela
cobertura, o que acaba resultando em redução no saldo de ra-
A escolha de um método de estima tiva da evapo- diação interno (ver Capítulo 10 - item 10.4) e, conseqüente-
transpiração potencial depende de uma série d e fatores. O mente, na evapo(transpi)ração. Assim, no interior de estufas,
primeiro fator é a disponibilidade de dados meteorológicos, a evapo(transpi)ração é, geralmente, menor do que aquela que
pois métodos complexos, que exigem grande número de variá- ocorre no ambiente externo, atribuindo-se isso não somente à
veis, somente terão aplicabilidade quando houver disponibi- redução no saldo de radiação interno, mas também à menor
lidade de todos os dados necessários. O método de Penrnan - ventilação interna (Farias, 1992; Farias et aI., 1994; Sentelhas &
Monteith não poderá ser empregado em local que só dispo- Santos, 1995) e à maior umidade do ar interno (Stanghellini,
nha de dados de temperatura do ar. 1993).
O segundo fator é a escala de tempo requerida. Normal- No interior de estufas, a evapo(tran spi)ração é, em mé-
mente métodos empíricos como os de Thornthwaite e de dia, 60 a 80% daquela que ocorre no ambiente externo
Camargo, estimam bem a ETP na escala mensal, ao passo que (Rosenberg et aI., 1989). Resultados obtidos por Farias et aI.
os métodos que envolvem o saldo de radiação apresentam boas (1994), no Rio Grande do Su l, durante a primavera-verão
estimativas também na escala diária. (1989/90), mostraram que a evapo(transpi)ração no interior
Por fim, no caso dos métodos empíricos, é necessário de estufas ficou entre 45 e 77% da verificada externamente,
que se conheça as condições climáticas para as quais foram utilizando para isso estimativas. Comparando a evaporação
desenvolvidos, pois normalmente não são de aplicação uni- medida em tanque Classe A e em mini-tanques (diâmetro de
versal. Desse modo, métodos como os de Thornthwaite e de 0,6m e altura de 0,25m), também no período primavera-verão
Camargo aplicam-se a regiões de clima úmido, não apresen- (1996/97) em Piracicaba, SP, Medeiros et aI. (1997) observa-
tando boas estimativas para regiões de clima seco (semi-ári- ram que a evaporação interna foi, em média, 47% da evapora-
do), onde eles tendem a subestimativas. Nessa situação, o ção externa, independente do tipo de tanque utilizado. A rela-
método de Hargreaves & Samani adapta-se melhor, pois foi ção evaporação interna e externa variou de 20 a 70%, sendo
desenvolvido para esse tipo de clima. essa larga amplitude atribuída à ação dos ventos somente no
ambiente externo, fazendo com que em dias de alta velocida-
de do vento a relação seja baixa, enquanto que nos dias de
12.7 EVAPO(TRANSPI)RAÇÃO NO INTERIOR DE baixa velocidade do vento a relação tende a valores máximos.
ESTUFAS PLÁSTICAS Como no ambiente protegido não há reposição natural
de água pelas chuvas, a irrigação assume papel fundamental
A cobertura plástica utilizada em estufas é responsável nesse sistema de cultivo, sendo a estimativa da evapo(trans-
por alteração significativa no balanço de radiação que ocorre pi)ração indispensável para o manejo de água da cultura (Fa-
244 - Pereira, Angelocci e Sen telhas Agrometeorologia - 245

rias, 1992) . Nesse sentido, Farias e t aI. (1994) propuse ram as elementos m e te orológicos no interior do ambiente, corno a
seguintes equações de estimativa da ETo interna a partir da radiação solar incidente (Kirda et a I., 1994; Folegatti et al., 1997),
externa, para a escala qüinqüidial (5dias): a u m idade relativa (Abou-Hadid & EI-Beltagy, 1992), ou, a in-
da, a combinação de ambos em regressões lineares múltiplas
• Método de Penman : (Bou lard & Jemaa, 1993). Sendo relações empíricas, os coefi-
ETo, = 2,897 + 0,613 ETo, (R' = 0,95) (EToe > 8 rnrn /5dias) cientes estatísticos devem ser ob tidos localmente, não sendo
• Método do Tanque C lasse A: de aplicação geral.
ETo, = 4,397 + 0,248 ETo. (R' = 0,53) (EToe > 6 rnrn/ 5d ias)

sendo ETo, a evapotranspiração de referência interna, e ETo. a 12.8 EXERCíCIOS PROPOSTOS


externa, ambas em mm / 5dias. D e sse modo, para um
qümqüídio com ETo. = 25mm a ETo, será de 18,2mm (73% da 1. Utilizando os dados abaixo, estitne a ETo pelos méto-
ETo.). dos de: Thornthwaite, Camargo, C lasse A, Hargreaves &
Outra maneira de se estimar a ETo, é pelo uso da evapo- Saman i, Priest ley & Taylor, e Penrnan-Monteith, comparando
r ação que ocorre de um m ini-tanque (E MT), adotando-se o va - graficamente os resultados obtidos com os valores medidos
lor do coeficiente do tanque (Kp) igual a 1 (Pra d os, 1986), o no lisímetro d e p esagem (ETPlis).
que resulta em: Observaçõe s:
a) Tmed anual normal para P iracicab a, igual a 21,I°C;
(12.31) b ) Admitir bordadura da á rea do tanque Classe A igu al
a 10m;
Resultados obtidos por Farias et aI. (1994) e por Medeiros c) Admitir G = O.
et aI. (1997) mostraram elevada relação entre as medidas da eva-
p oração do tanque C lasse A e do mini-tanque no interior de estu- Local: Pirac icaba, SP (Lat.: 22° 42' 5; Lo ng.: 47" 38' W; Al t.: 570m). Ano:
fas, havendo tendên cia dos v alores obtidos no mini-tanque se- 1996.
U,_ R. ETl"Ii5
rem 15% m aiores que aqueles do Classe A. Desse modo, caso se Do. TmW T,~ T"';II UR ' oCA
CC) ("Ci
)5.0
("Ci
2.,
C'llol
,.,
(m/I) (mm) ( MJ.m".d·')
18, 13 ,.•
(mm.d·"

",.""
decida pelo uso de tanque de evaporação em estufas, recomen- "''''
2"""
27.8
27.2 34,S 20.6
..,
i.'
"
<.'
16,6\ 0.6
2,", 31.0 0.2 11.44 1.1
d a -se o uso do mini-tanque pelas seguintes vantagens: ocupar ""'"
I7IOJ 2l.2 27.9
21.0
19.0 ' .1 1.' 8.78 2~

menor área; contribu ir menos para elevação da wnidade do am-


2.Wl
2M"
2"'"
".<
n .•
20.0
lO.l
33.2
27,0
20.'
\8.0
15.4
".
""
'.'
i.'
2~
,.....
'.0 14.26
14.18
8.19
<.,
0.2
2.>

biente, ser mais prático; e ter lnenor custo.


2".<
18110
20,0
25,0
25.\1
32.6
ISA
11.4 "" l.i
L'
0.6
0.0
8.31
14,79 .,o.,
2.2

'..
32..5 19.6 2.S '.1 12.02
IWIO 25.0
"
Outras maneiras d e se estimar a evapotranspiração no
interior de estufas são relatadas na litera tura, sendo as ma is
""li
O."il12

"'''
".,
21. 1

25.0
""'
30,9
31.9
","2
18. 1
I!lA
2M .
"" 2.'

..,'.''-'
2. '
'.S
8.S
1.8
5.31
11.2
16.35
11,S4
"ss.,.•
""
08112 23.8 19.2 1.'
09/12 23.9 nR 18,4 '.3 18.55 70
comuns aquelas qu e utilizam a r egressã o linear entre ETo, e
Capítulo 13

Balanço hídrico climatológico

13.1 INTRODUÇÃO

o balanço hídrico é a contabilização da água do solo, re-


sul tante da aplicação do Princípio de Conservação de Massa em
um volume de solo vegetado. A variação de armazenamento
de água no volume considerado (~ARM), por intervalo de tem-
po, representa o balanço entre o que entrou e o que saiu de
água do volume de controle. Como a chuva é expressa em luilí-
metro, isto é, em litro (ou quilograma) de água por metro qua-
drado de s uperfície, para facilitar a contabilidade do balanço
hídrico, adota-se também uma área s uperficial de 1 m 2 para o
volume de controle. Portanto; o volume de controle torna-se
uma função apenas da profundidade do sistema radicular das
p lantas. Admite-se que esse volume de controle seja rep resen-
tativo de toda a área em estudo, e no caso do balanço hídrico
climatológico, essa área é aquela representada pelo ponto de
medida dos elementos climáticos, principalmente a chuva.
Genericamente, o balanço hídrico de uma área vege tada
(Figura 13.1) pode ser representado por:
• ENTRADAS:
P = Precipitação;
I = Irrigação;
O = Orvalho;
Ri = Escorrimento superficial (Run in);
DLi = Drenagem lateral;
AC = Ascensão Capilar.
248 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 249

• SAíDAS: sua contribuição é mais importante no aspecto ecológico. No


ET = Evapo(transpi)ração; entanto, eln regiões ou épocas secas sua contribuição é des-
Ro = Escorrimento superficial (Run off); prezível em termos de suprimento de água para a cultura.
DLo = Drenagem lateral; As entradas e saídas do escorrimento superficial e dre-
DP = Drenagem profunda. nagem lateral tendem a se compensar, desde que a superfície
externa do volume de controle não seja muito grande. Drena-
gem profunda e ascenção capilar representam, respectivamen-
te, saída e entrada de água pela área inferior do volume de
controle. A drenagem profunda expressa o excesso de água
que penetrou no volume pelas chuvas ou irrigação. Quanto
mais profundo O volume de controle, menor a drenagem pro-
Ri Ro
funda e maior a ascenção capilar.
Assim, o balanço hídrico do volume de controle pode
ser expresso da seguinte forma (ver Capítulo 12, item 12.4.2.):

±ôARM = P + I - ET + AC - DP. (13.1)

A precipitação (P) e a irrigação (1) podem ser medidas


FIGURA 13.1 Representação esquemáti ca dos flu xos do balanço hídri co. mais facilmente. A ascensão capilar (AC), que ocorre em perío-
dos secos, e a drenagem profunda (DP), que ocorre em perío-
dos extremamente chuvosos, podem ser determinadas utili-
Chuva e orvalho d ep endem do clima da região, enquanto zando-se conhecimentos de física de solos (ver Reichardt, 1990).
que as demais entradas d ependem do tipo de solo e de relevo Assim, falta determinar a evapotranspiração (ET) para que se
da região. A irrigação, utiliz ada para manter o armazenamento possa conhecer a disponibilidade hídrica do solo, ou seja, o
em nível adequado às necessidades das plantas, é função do
seu armazenamento (ARM).
próprio balanço lúdrico, integrando os efeitos do clima, do solo, O volume de controle é determinado pelo conjunto solo-
e do tipo de planta (v er Capítulo 14). A força motriz do siste- planta-clima. Se o solo é profundo e a demanda atmosférica é
ma é o clima. alta, as raízes se aprofundam na procura de mais água para
O orvalho representa uma contribuição máxima de 0,5 atender à demanda. Nessa situação, as plantas investem na
mm/dia (1 mm = 1 litro/m' ) em locais úmidos, sendo uma formação do sis tema radicular como modo de garantir sua
ordem de magnitude menor que o consumo diário de uma sobrevivência. No entanto, se a demanda atmosférica for bai-
vegetação mesófita em crescimento ativo. Nessas condições, xa, um volume menor de solo será suficiente para atendê-la.
250 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 251

Em solos argilosos, com maior capacidade de retenção de água, 13.2 ELABORAÇÃO DO BALANÇO HíDRICO
as raízes não necessitam se aprofundar tanto quanto eln solos CLIMATOLÓGICO
arenosos, que retêm menor quantidade de água. Há compen-
sação natural pelo crescimento do sistema radicular para man- No caso do balanço hídrico climatológico, desenvolvido
ter certa quantidade de água disponível às plantas. por Thornthwaite & Mather (1955), aeq.(13.1) é retomada com
Alguns solos apresentam uma camada adensada que o objetivo de se determinar a variação do armazenamento de
impede tanto a penetração das raízes como a drenagem pro- água no solo, sem irrigação (I = O). Outra simplificação, para
funda, e na época chuvosa o solo fica encharcado, asfixiando fins práticos, é considerar desprezível a ascenção capilar (AC
as raízes mais profundas, reduzindo o volume efetivo de solo = O). Desse modo, torna-se possível estimar a variação do
disponível. Nessa situação, as plantas são incapazes de aten- armazenamento, denominada de alteração do armazenamento
der à uma demanda elevada por muito telnpo. Se o terreno for (ALT), a evapotranspiração real (ETR), e a drenagem profunda,
inclinado, a drenagem lateral ameniza o problema pela elimi- agora denominada de excedente hídrico (EXC), resultando na
nação do excesso de água. Na época seca, o pequeno volume seguinte equação:
disponível não é capaz de suprir as necessidades das plantas
resu ltando em estresse por deficiência hídrica. Logo, solo com ±ALT=P-ETR-EXC. (13.2)
impedimento físico é prejudicial, tanto na época das chuvas
como na seca. Além de ALT e de EXC, a determinação de ETP e ETR
Muitos solos são fisicamente profundos mas agronomi- permite estimar o déficit hídrico (DEF), definido como:
camente rasos pelo acúmulo de elementos tóxicos em uma certa
profundidade, que interferem no crescimento das raízes. Nes- DEF = ETP - ETR. (13.3)
se caso, na época das chuvas não há asfixia das raízes pois não
há impedimento à drenagem profunda. Impedimento quími- A Figura 13.2 mostra de forma esquemática, com valo-
co pode ser corrigido por correção química (calagem etc.), ou res hipotéticos, as cinco situações possíveis das relações entre
pela utilização de plantas e variedades tolerantes a elementos ALT (= ARMf - ARMi), ETP, ETR, DEF, e EXC, para uma Capa-
tóxicos. cidade de Água Disponível (CAD) igual a 100 mm. O
Para culturas anuais, a profundidade de solo explorado armazenamento é calculado pela eq. (13.4). Essa contabilização
pelas raízes varia com o estádio de desenvolvimento das plan- pode ser feita tanto na escala d iária como em escalas maiores
tas. Uma vez definida a profundidade das raízes, t em-se o como a mensal, utilizando-se valores médios de vários anos
volume de controle. (normal climatológica, ver Capítulo 2 - item 2.1).
O balanço hídrico calculado com valores normais (ba-
lanço hídrico normal), torna-se um indicador climatológico da
dis ponibilidade hídrica na região. Essa metodologia também
Agrometeorologia - 253
252 - Pereira, Angelocci e Sentelhas

se aplica quando se quer fazer o acompanhamento da dispo- 13.2.1 Determinação da CAD


nibilidade hídrica regional, em tempo real, calculando-se o
Na elaboração do balanço hídrico climatológico, o pri-
balanço em períodos seqüenciais ao longo do ano ou dos anos,
e não mais com v alores normais. Nessa situação, o balanço meiro passo é a seleção da CAD, ou seja, a lâmina de água
hídrico é dito seqüencial ou seriado. correspondente ao intervalo de umidade do solo entre a capa-
cidade de campo (CC%) e o ponto de murcha permanente (PMP%).
C omo o balanço hídrico, segundo Thornthwaite & Mather
P 2: ETP ET R Arm . inic;,ll no ,;010 '" ('",,\0 = I UOm m (1955), é mais utilizado para fins de caracterização da dispo-
Situação I

OQQOQ nibilidade hídrica de uma região em bases climatológicas e


Arm. finlllllo solo = CAD = l00mm
AL T '" Omm c ETR =ETP", 74mm comparativas, a seleção da CAD é feita mais em função do
Defic iência hídrica ( DEF) = Omm
Ex<;cucntc hídrico (EXC) = 8m m
tipo de cultura ao qual se quer aplicá-lo do que do tipo de
Arln =CAD Arm=CAD
solo. Justifica-se isso comparando-se um solo arenoso e um
Situação 2 P< ETI' ETR Arm. inic;;)] no solo'" CAD = IOOm m
argiloso: se no primeiro o valor de (CC% - PMP%) é menor, a

[JU UEJQ
Arm, fin:'!1 no !'.Olo '" 6 1ru m

I i 30
ALT = ·39mm c ETR = 691111n
Deficiência hídrica ( DEF) '" I I !11m
p rofundidade efetiva do sistema radicular (Z) para uma cul-
tura é maior, de maneira que há uma compensação, tornando
Excedente hídrico (EXC) =Omm
Arm '" CAD Arm = 6lmm a CAD aproximadamente igual para os dois tipos de solo.
Situação 3 P< ETP ETR =6lmrn
Arm. inic ial no solo Assim , independentemente do tipo de solo, pode-se adotar
=3ttmm

EJQ ~g~
Arm. final no solo
valores de CAD entre 25 e 50mm, para hortaliças; entre 75 e
AL T =-23rnm c ETI~ =43111111
Defic iência Il ídrica (DEF) = 25 1"'11
100mm, para culturas anuais; entre 100 a 125mm, para cultu-
Exc.::dcllle hídrico ( EXC ) '" Omm ras perenes; e entre 150 e 300mm, para espécies florestais .
Arm=6 l mm ATll1 '" 38mm

Situação 4 P> ETP ETR


Ij Arm. inicial no .solo'" 38mm

B~ QE]U
Arm. fi nal no solo '" 58mm
ALT = +20mm e ETR '" E TP '" 70mm
13.2.2 Roteiro para elaboração do balanço hídrico climatológico
Deficiência hldri ca (DEF) = Omm
Excedente híd rico ( EXC) = Om m
Arm = 38mm Arm=58mlll Este roteiro foi proposto por Thornthwaite & Mather
Situação 5 P> ETP ETR Arm. inicial no solo =58m!n (1955), e difundido no Brasil por Camargo (1962) . Tomando-
Arm. final no solo = CAD := )OOnun

I' BQ, v'Dv'


Arm :58mm A rm= CAD
ALT '" +42mm e ET R = ETP

Deficiência hídrica ( DEF) = Omm


Excedente hídrico (EXC) = 49mm
=67!lIIn
se como exemplo os dados médios de 1961 a 1990 (Normais)
para Ribeirão Preto, SP, será apresentado como o quadro a se-
g uir (p. 257) foi preenchido, usando-se o método de Thornth-
wa ite, s implificado por Camargo, para estimativa da ETP (Ca-
FIGURA 13.2 Representação das situações possíveis de vari ação do pítu lo 12 - item 12.5).
armazenamento, e sua re lação com ETR, DEF, e EXC do ba lanço hídrico de
Thornthwaite & Mather (1955), com va lores hipotéticos de P, ETP, e CAD.

I
Agrometeorol ogia - 255
254 - Pereira, Ange/occi e Sente/has

vegetada com grama, em crescÍlnento ativo e sem falta


Embora o exemplo seja com ETP calculado pelo método
de Thornthwaite, é importante saber que este roteiro pode ser de água.
P -7 Peencher com a lturas p luv iométricas (chuva) de
utilizado com ETP (ou ETo) estimada por qualquer método. É
óbvio que se for outro método então serão inutilizadas as co- cada mês.
P - ETP -7 Diferença entre as colunas P e ETP, man-
lunas da planilha correspondentes à estimativa pelo método
de Thornthwaite. A vantagem do método de Thornthwaite é tendo-se o sinal positivo ou negativo . Valor positivo
que são necessários apenas dados de temperatura do ar, e as indica chuva em excesso, e valor negativo representa
perda potencial de água nos meses secos quando o
coordenadas geográficas do local (ver Capítulo 12) . Corno a.
solo apresenta armazenan,ento restrito de água. Asi-
temperatura média mensal normal pode ser razoavelmente
tuação mais comum, quando se usam dados normais,
estimada pelas coordenadas geográficas do local (ver Capítu-
lo 6- item 6.6), então, para se fazer o balãn.ço h ídrico climato- é a exist ência de um conjunto de valores positivos
lógico normal, ba~ta a medida da chuva, que representa a prin- seguido por um conjunto de valores negativos de P-
cIpal entrada de a g ua no solo, em condições naturais. ETP, sendo isso, porém, variável de acordo com o cli-
ma local, podendo aparecer somente valores ou posi-
-ciC N I{A ex; - - - -- -
( • PREENCHIMENTO E CÁLCULOS POR COLUNAS tivos ou negativos.
T(OC) -7 Preenche r com a temperatura média do ar NEG.ACUM** (ver chamada abaixo) -7 Denomma-se
NEGativo ACUMulado ao somatório da seqüência de
do local, nos m eses correspondentes.

,~
ETT -7 Determinar mensalmente a evapotra n spiração val ores negativos de P - ETP.
I ARM** (ver chamada abaixo) -7 Representa o ARMaze-
tabular diária não corrigida pelo m é todo d e
namento de água do solo.
l Thornthwaite simplificado por Camargo (Tabela 12.2).
Cor -7 Preencher com os valores da Correção de ETT
(Tabela 12.1) para cada mês, em função da l atitude ** Essas d uas colunas (NEG.ACUM e ARM) devem ser pre-
local. e nchidas simultaneamente. Inicia-se o preenchitnento da
coluna NEG.ACUM no primeiro mês em que aparecer o val or
OBSERVAÇÃO negativo de P-ETP, após um período de valores positivos de P -
A PARTIR DESTA COLUNA, USAR NÚMEROS INTEI- ET P. Nesse primeiro mês o NEG.ACUM será igual a P-ETP.
ROS FAZENDO-SE APROXIMAÇÕES NOS CÁLCULOS C o m esse valor calcula-se u valor da coluna ARM pela equa-
çã o 13.4 : (ver Seção 13.2.3.)
ETP -7 Calcular m e nsalmente a evapotranspiração
potencia l (ou seja, ETP = 30 RTT Cor). Representa a
perda potencia l de água por uma extensa superfície [
N J:.:G ACUM 1 (13.4)
ARM = CAD e CAD
256 - Pereira, Ange!occi e Sentelhas Agrometeorologia - 257

Se o próximo mês também apresentar valor nega tivo de • EXC -7 representa o EXCedente hídrico, que é a quan-
P-ETP, acumula-se este com o valor do mês anterior e utiliza- tidade d e água que sobra no período chu voso e se perde por
se esse valor para o cálculo de ARM. Isso prossegue enquanto percolação (drenagem profunda) e / ou escorrimento s uperfi-
P-ETP for negativo. cial. Exist em duas situações:
Quando aparecer um mês com P-ETP positivo, após uma 1') quando ARM < CAD => EXC = O,
seqüência de P-ETP negativos, procede-se da seguinte forma: 2 a ) quando ARM = CAD => EXC = (P-ETP) - ALT.
soma-se o valor positivo de P-ETP ao ARM do m ês
anterior, obtendo-se o ARM do m ês e m questão, que EXEMPLO - Local: Ribe irão Preto (SP); Latitude: 21 0 11 '5;
não deve ultrapassar o valor da CAD; Período: 1961-1990; CAD = 100mm.
com esse valor d e ARM obtém-se o NEG.ACUM d o Mês T("e) E'h Coe ETI' I' I'-ETP N EG. ARM ALT ETR DEF EXC
mm mm mm ACUM 111111 nUIl mm " UU mlll
mês pela inversão da eq. (13.4), ou seja: .Ia" 23,6 3.5 1.1 4 120 268 +148 O 100 O 120 O 148
F" 23 ,6 3.5 1.00 105 2 18 +1 I3 O 100 O 105 O 113
O O 10 1 O
NEG ACUM = CAD Ln[ ARM] (13 .5)
i'\'Iar
Ab,
i\'la i
23,4
22.0
19,7
3.2
2.'
2.2
1,05
0 ,97
0,95
101
84
ó3
1' 9
8i
55
+58
·3
·8
3
· 11
100
97
90
·3
·7
84
62
O
I
"O
O
CAD J \l n 18,7 1.9 0.90 51 31 · 20 · 31 73 · 17 48 3 O
.Iu l 18 ,7 1.9 0,94 54 28 ·26 57 57 · Ió 44 10 O
A'o 20,9 2.6 0,99 77 25 ·52 - 109 34 -23 48 2. O
Após o preen chimento d essas duas colunas, prossegu e- Sd 22.5 3.2 1.00 96 58 ·38 -147 23 · 11 6' 27 O
11)4 +) 5
se com as demais, uma de cada vez. O"'
No"
23.3
23,5
3.2
3.5
1,09
1,10 116
139
174
+35
+58
-54
O
58
100 +4 2
104
11 6
O
O
O
16
DcJ.: 23,3 3.2 1,[6 111 298 + 187 O 100 O 11 1 O 187
Ano 21 ,9 .. 1082 1534 452 .. .. O 10 12 70 522
• ALT -7 representa a ALTeração no armazenamento. É
obtida pela d iferença entre o ARM d o mês em questão e o
13.2.3 Período de início do balanço hídrico climatológico normal
ARM do mês anterior.
• ETR -7 representa a evapotranspiração real, aquela que
Existem várias maneiras de se determinar o período de
realmente ocorre em função da disponibilida de de água no
início do balanço hídrico climatológico normal. O critério pro-
solo. Existem duas situações distintas para seu cálculo:
posto por Thornthwaite & Mather (1955) assume que o solo se
- q u ando P - ETP <: O => ETR = ETP.
encontra na capacidade máxima de armazenamento (CAD)
- quando ALT :'Õ O => ETR = P + I ALT I .
no final do período úmido, ou seja, após a seqüência de valores
mensais de P -ETP positivos (NEG.ACUM = O e ARM = CAD).
• DEF -7 representa a DEFiciência hídrica, ou seja, a fal-
Caso isso não aconteça e 2:ALT '" O, procede-se novamente os
ta d e água no solo, sendo calculada por:
cálcu los do balanço hídrico com o último valor e n contrado
para o ARM no final do período úmido e assim sucessiva-
DEF = ETP - ETR.
mente até que a 2:ALT seja igual a zero na aferição final. Esse
critério é facilmente aplicável em regiões de clima úmido ou
258 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 259

super-úmido, onde as chuvas no período úmido são suficien- Essa equação somente se aplica quando M / CAD < [1 -
temente elevadas para reabastacer completamente o cx p(N I C AD)], isto é, quando M < CAD.
armazenamento de água no solo. No entanto, em regiões de
clima semi-árido e árido onde isso não ocorre, esse critério EXEMPLO: Supondo que:
torna-se um processo repetitivo, demandando tempo e difi- M = L (P - ETP)POs = 50
cultando sua informatização. N = L (P - ETP)NEG = -380
Outro critério para início do balanço hídrico é o propos- CAD= 100mm
to por Mendonça (1958), o qual é válido no caso da região ter
uma estação úmida e uma estação seca. Esse critério possibili-
ta determinar os va lores corretos de ARM e NEG.ACUM dis-
NEG.ACUM
CAD
= Ln [ 5.9{00
~'
j
= -o 67
pensando os cálculos iterativos originalmente propostos por 1- e 100

Thornthwaite & Mather (1955) . O critério parte da soma dos Logo, ARM = CAD exp (NEG.ACUM I CAD) = 100 exp
valores de P - ETP da estação seca (N), negativos, e da soma (-0,67) = 51mm ~ ARM do último mês do período de P - ETP > O.
dos valores de P - ETP da estação úmida (M), positivos, resul-
tando em dois casos: 13.2.4 Aferição dos cálcu los

• Caso 1: Aqui a soma anual de P - ETP 2': O. N este caso, Depois de terminado o Balanço Hídrico Normal é con-
IM I 2': IN I e assim no fina l do período chuvoso o solo está veniente v erificar a exatidão dos cálculos, pelas seguintes re-
plenamente abastecido de água (ARM = CAD); lações:
L P = L ETP + L (P - ETP)
• Caso 2: Aqui a soma anual de P - ETP < O. Neste caso, L P = L ETR + L EXC
IM I < IN I. Nesta situação, se foi adotada CAD S M, O balan- L ETP = L ETR + L DEF
ço hídrico funciona como se a soma anual de P - ETP 2': O (Caso LALT = O
1). Mas, se CAD > M, o ARM nunca será igual à CAD, sendo
assim desconhecidos os valores iniciaís de ARM e NEG.ACUM. EXEMPLO: utiliz ando-se os dados do Balanço Hídrico
A solução proposta por Mendonça (1958) é aseguinte: d e Ribeirão Preto (p. 257) pode-se exemplificar a aferição:

NEG.ACUM = Ln [
CAD
~AD
--"'--
J (13.6)
L P = L ETP + L (P - ETP)
L P = L ETR + L EXC
1534 = 1082 + 452 = 1534
1534 = 1012 + 522 = 1534
1- e CAD L ETP = L ETR + L DEF 1082 = 1012 + 70 = 1082
LALT=O -77 + 77 = O
260 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 261

13.2.5 Representação gráfica do balanço hídrico demanda atmosférica por a lguns dias, mas depois, as chu vas
sendo inferiores a ETP, resulta em período com restrição hídrica
A representação gráfica do balanço hídrico te m por fina- (DEF), em que ETR < ETP. No início do período chuvoso, as
lidade permitir visualização do ritmo anual dos elementos primeiras chuvas são usadas para repor a água no solo, até
básicos e facilitar su a interpretação quanto à determinação de que o solo esteja plenamente abastecido, quando então apare-
épocas com excedentes ou com deficiências de água no solo ce EXC.
para atendimento das n ecessidades agrícolas. Essa represen-
tação pode ser completa ou simplificada. Simplificada: também denominada de extrato do balanço
hídrico, essa representação gráfica foi proposta por Camargo
Completa: plota-se os dados mensais de Precipitação (P), & Camargo (1993), e utiliza apenas a plotagem dos valores de
ETP e ETR, aparecendo uma linha para cada variável. Pelas EXC (valores positivos) e DEF (valores negativos), permitin-
áreas formadas por essas linhas obtém-se EXC, DEF e ALT, do visualização do ritmo dessas variáveis ao longo do ano (Fi-
como mostrado na Figura 13.3. O período com EXC significa g ura 13.4).
que as chuvas (P) foram maiores que a ETP. Nessa situação
ETR = ETP, pois não h á restrição de água no solo. No irúcio do
período seco, o solo ainda tem água suficiente para atender a
Balanço Hídrico Climatológico Normal
Ribeirão Preto (SP)
Balanço Hídrico Climatológico Normal _ 200
Ribeirão Preto (SP) E
E
300 ,-----------------------------------------, --:- 1SO Excedente hidrico (522mm)
Excedente hídrico (522mn) w"><
250 100
200
50
E 150
E o
...:
100 Deficiência hidrica (70mm) ....
:--_--..-/
o" ·50 ----'
50 8etiraºa de
água do solo -
J F M A M J J A s o _ N_ _D -.J
o L-____4 -_ _ _ _ _ _ _ _ __________________
~
~
FIGURA 13.4 Representação gráfi ca si mplificada do BH climático (extrato).
J F M A M J J A s o N o

FIGURA 13.3 Rep resentação gráfica c ompleta do BH C l imático.


l
262 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 263

13.3 APLICAÇÕES DO BALANÇO HíDRICO 13.4 BALANÇO HíDRICO CLIMATOLÓGICO


CLIMATOLÓGICO SEQÜENCIAL

o balanço hídrico climatológico tem várias aplicações, o balanço hídrico climatológico é mais freqüentemente
entre as quais destacam-se: apresentado na escala mensal e para um ano médio (nonnal),
Disponibilidade hídrica regional: uma aplicação do ou seja , Balanço Hídrico Normal (Cíclico). No entanto,
BHC é a caracterização e a comparação climática regional quan- Thornth waite & Ma ther (1955) descrevem que o balanço
to à disponibilidade hídrica média no solo. hídrico também pode ser u tilizado para o acompanhamento
Caracterização de secas: os cálculos do BHC são úteis do armazenamento de água no solo em tempo real, isto é, n o
na caracterização de períodos de secas e de seus efeitos na momento ou até mesmo em um determinado período. Esse
agricultura, como redução da produção. tipo de balanço hídrico climatológico recebe o nome de Balan-
Zoneamento agroc1imático: o BHC serve de base para o ço Hídrico Seqüencial ou Seriado e pode ser feito em várias esca-
estudo climático regional, sendo a região classificada como las de tempo: diária, qüinqüidial (5 dias), semanal (7 dias),
apta, marginal ou inapta em função das exigências térmicas e decendial (10 dias), ou mensal. A escala de tempo a s er empre-
hídricas de um determinado cultivo (ver Capítulo 21). gada deve ser compatível com o objetivo da utilização do ba-
Determinação das melhores épocas de semeadura: si- lan ço hídrico.
mulações de semeadura/plantio em várias épocas indicam Para se iniciar o se qüenciaUlen to do balanço deve-se
qual delas é menos sujeita a restrições hídricas para a cultura partir de um período em que o armazenamento seja pleno,
eln questão. isto é, ARM = CAD, pois pelo fato deste balanço não ser cíclico,
Pelas Figuras 13 .3 e 13.4, constata-se que, na região de não se aplicam os critérios de inicialização propostos por
Ribeirão Preto, SP, em média, a melhor época de cultivo para Thornth waite & Mather (1955) e de Mendonça (1958). Os cál-
plantas de ciclo anual sem irrigação é o período que se inicia culos do balanço hídrico seqüencial seguem a mesma orienta-
em outubro/novembro e termina em março/abril. Cultivos ção utilizada no caso do balanço hídrico cíclico (normal).
fora desse período só serão possíveis desde que se disponha EXEMPLO 1: Balanço hídrico seqüencial decendial
de suporte de irrigação para corrigir a deficiência hídrica regio- Local: Piracicaba (SP)
nal. Dentro do período chuvoso, há plenas condições para Lat: 22°42'S
aparecimento de doenças e pragas pelo excesso de umidade Long: 47ó 38'W
regional. Alt.: 546m.
Período: jan. a abr./1997
Escala: Decendial
CAD=100mm
Tanual = 21°C
264 - Pereira, Angelocc; e Senlelhas Agrorneteorologia - 265

Mês/DL~ Tar
(" C)
ET
(mm)
Coe ETP
(mm)
P
( 111m)
P· ETP NEG
ACU
ARM
( mm)
ALT ETR
(mm)
DEF
( mm)
EXC
( mm)
1',1'1 0:< no Estado de São Paulo durante aquela safra foi severa-
Jllll 1 23,9 3,6 1,15 40 220 +180 O 100 O 40 O I SO IIh'l1ll' reduzida devido aos efeitos da seca,
2 26,2 4,1 1.15 46 94 <48 O 100 O 46 O 4H
3 27,0 4, 1 1.15 51 I -50 -50 61 -39 4{) li O
FC \' I 26,5 4, 1 1,00 44 70 +26 _14 87 +26 44 O O
2 25.5 4,1 1,00 44 35 -9 -23 79 -8 43 I O EXEMPLO 2: Balanço hídrico seqüencial mensal
100 +21 39 O 94
3 26,0 4,1 1,00 39 154 + 11 5 O
100 O 40 O 40
Local: P iracicaba (SP)
Mar 1 24,5 3,9 1,05 40 80 <40 O
2 24,6 3.9 1.05 40 44 <4 O 100 O 40 O 4 Lat: 22°42'S
3 25,7 4,1 1.05 46 23 -23 -23 79 -21 44 2 O
Al:tr I 26.0 4.1 0,97 40 O .40 -63 53 . 26 26 14 O Long: 47°38'W
2
3
Alt, : 546m.
Perío do: jan./1985 a dez. / 1986
Escala: Mensal
13.4.1 Aplicações do balanço hídrico seqüencial CAD = 100rnrn
T anual = 21"<:
Esse tipo de balanço hidrico possibilita o acompanha-
mento em tempo real da disponibilidade de água no solo. No AIIU Mês TDr ET Co, ETP I' ". NEG Aru..1 ALT ETR DI~ F EXC
EXEMPLO 1, pode-se verificar que até o dia 10 de abril de (oC) ( mm) 111m) (mm) ETl' ACU (m m ) (rm n ) ( mlll) I ( 111m) 1(0101 )
I!lH5 .lml 23.8 3,6 1.15 125 132 +7 O 100 O 125 O 7
1997, o arm azenamento de água no solo em Piracicaba era de Fcv 25,6
25,6
4,1
4,1
1.00 J23 li' -4 -4 96 -4 123 O O
Mar 1.05 130 203 +73 O 100 <4 130 O 69
53rnrn, considerando-se CAD = 100mm, o que possibilita a Ahr 2:1.:- 33 0.97 96 134 +38 O 100 O 96 O 38
M ai 19.0 2, 1 0,95 60 43 ·17 · 17 84 -16 59 I O
tornada de d ecisão quanto a práticas de manejo do solo e se- .11111 16,2 1,4 0,89 38 22 - 16 -33 72 ·12 34 4 O

[, meadu ra / p lantio,
A lém d isso, o balanço hídrico seqüen cia l possibilita,
.Iul
A o
S<I
16.1
22.6
21,1
1,4
3,3
2,7
0,94
0,98
1,00
39
97
SI
2
22
76
-37
-75
-,
-70
-145
150
50
2]
222
·22
-27
-I
24
49
77
15
48
4
O
O
O
Oul 23.8 3.6 1,09 117 11 - 106 -256 8 ·14 25 92 O
corno mostra o EXEMPLO 2, O acompanhamen to da d isponi- Noy 24.7 3,9 1.10 129 134 +5 -204 13 +5 129 O O
OC1. 24,7 3,9 1, 17 J35 72 -63 267 7 -6 78 57 O
bilidade de águ a no solo ao longo de vários anos e sua compa- IWKi Jan 25,8 4,1 1.15 142 143 +1 -253 8 +1 142 O O
J·cv 25,0 ],9 1.00 117 96 -21 -274 6 -2 98 J9 O
ração com um ano médio (normal). Isso também permite a J\ l:lr 24,5 3,9 1,05 123 321 + 198 O 100 +94 123 O 104
23,4 3,3 0.97 % 48 -48 -48 62 -38 86 10 O
quantificação de danos provocados às culturas, devido à alta Ab r
Mui 20,9 2.7 0,95 77 89 +12 30 74 +12 77 O O
correlação entre a evapotranspiração relativa (ETR/ ETP) e a Jun 17,6 1.9 0,89 51 O ·51 81 44 -30 30 21 O
.Iul 17.4 1.7 0,94 48 11 ·37 118 3J -13 24 24 O
produ tividade das culturas, A 'u 19.4 2, 1 0,98 62 133 +71 O 100 +69 62 O 2
Sei 20,<) 2,7 1.00 SI 37 -44 -44 64 -36 73 8 O
Na Figura 13.5, são apresentadas as representações grá- Q II I 22,9 3,3 1.09 107 5] -54 -98 38 -26 79 28 O
24,5 3,9 1.10 129 110 19 11 7 3J -7 1 17 12 O
ficas dos balanços h ídricos dos anos de 1985 e 1986 e de um NU l '
])1'1. 24.2 3,6 1,17 125 282 + 157 O 100 +69 J25 O KR
ano normal, par a Piracicaba, SP, na es cala mensal. O b serva-se
que o ano de 1985 foi extremamente seco, com as d eficiências
hídricas persistindo d esde maio a té dezembro, continuando
inclu s ive d u rante o mês de janeiro de 1986. A produção de
Agrometeorologia - 267
266 - Pereira, Angelocci e Se nlelhas

13 .5 EXERcíCIOS PROPOSTOS
PiraCiC~S~-)-- ~

E
E
80

60
40

20
o .~A~~~~~~~~
! 1\
~a I,
1. Calcular os balanços hídricos normais, na escala men-
das localid ades indicadas. A ferir os cálculos e fazer a re-
p resentação gr á fica completa e a simplificada de cad a balanço .
Local: Capão Bonito (SP)
.20 v '<.J ------.J ~~
Fonte: IAC
Latitude: 24°02'S
40

L
Período: 1960 - 1990
1 4 __' _ _
10_ _
" __
16_ 19 22 25 28 31 34
D e cê ndios CAD= 100mm
, - -- - --_. - ----
- l\'l k T 1"."1' Co, ETP I' NEG. ARM AI.T ETR DEI' EXC
~C ) ( mm ) ( mm) ( mm) ACUM. (lIun) (lnm ) ( m ... ) ( III ;'~) (m m )
Piracicaba , SP (1986) 23,2
"'I 17'
80 F c:,' 2],7 14.
t\ lur 22.8 123
60 i\ hr 20.8 68
1\1 111 IR.O 70
40 Jlln 16.0 66
E
E
20 .
J ul
,\ '0
16,2
17.3
18.2
.,
57

83
Sd
O

- 20
VV O u!
Nulo'
20,4
2 l.S
11 6
10 7
1)<'1. 22.5 158
·40 ,\"" 20. ' 1220
I 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34
Local: Petrolina (PE)
Dc cêndio s
Fonte: INMET
Pi racicab a , SP (J9 17 - 19991 Latitude: 9°14'S
80 ·, - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - , Período: 1960 - 1990
6 0· CAD = 100mm
h "Ih T ET Co, f~TI' r P-ETP NEG. A RM ALT ETR DEF [XC

~ 1 ~
40 I (n1l" )
20
J I I''''
fIl e )
2(,,'1
( 111 m) mm) (m m )
72
(m m ) ACUl\.·I. (mm) 11m») ( 0 1111 ) (mm)

~ :~ . .'_-''-' : , :,.:'"""-" j
,,," 27.n 90
I~ "I,,, 2(,.6
'"
2:'i.1I
\ 1"
",ui 2.~ A
24,:'i
"
29
10
I""
1,,1 201,7 13
\U" 2·1,11 4
,'(,.2
""
li",
N.. ,·
'/,11
1M.2
6
21
50
FIGURA 13.5 Ext rato do BH climatológi co seriado (CA D~ 100mm ) para p", n ,1 84
1985 e 1986, e comparação c om o BI-I normal, para Pirac icaba, SP. Valo res ~ n" U,. \ &>J

positi vos co rrespo ndem ao EXC e os negativo s à DEF.

1 111,
Capítulo 14

Balanço hídrico de cultivos

14.1 I NTRODUÇÃO

o balanço hídrico d e scrito no Capítulo 13, denominado


climatológico, visa ao conhecimento das condições do balan-
ço de água no solo coberto por uma vege tação-padrão (gra-
mado), visto que a evapotranspiração potencial ou de referência
(ETP ou ETo) e a evapotranspiração real (ETR) são, por defini-
çã o, características de uma extensa área gramada, em cresci-
m e nto ativo, cobrindo totalmente o solo, com altura entre 8 e
15 cm, respectivamente, sem e com restrição hídrica (ver Ca-
p ítulo 12- item 12.2).
No caso do balanço hídrico específico de uma cultura,
v isa-se calcular o armazenamento de água no solo levando-se
e m consideração tanto o tipo de vegetação COlllO sua fase de
rescimento e desenvolvimento. Nessa situação, a planta nem
sempre cobre totalmente o terreno e sua área foliar (superfície
lra n spirante) varia com a idade (dias após o p lantio ou emer-
gê n cia ). Nessa condição, quando não há déficit hídrico, a
l'va p o transpiração difere da potencial, sendo denominada de
I'vnpotranspiração máxima de cultura, ou, simpleslllente, evapo-
Imll spiração de cultura (ETc). Desse modo, essa evapotrans-
I' i I";Jção é que será considerada no balanço hídrico da cultura .
Pe la d ificuldade de se medir a evapotranspiração de cultura, é
ma is con veniente calculá-la em função da ETo, seguindo a pro-
pos içã o d e Je nsen (1968), como segue:
270 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 271

ETc = Kc ETo. (14.1) Kc = 1,2 (% Cobertura do terreno / 100) . (14.2)

Portanto, a estimativa de ETc depende de um coeficiente A porcentagem de cobertura do terreno pode ser esti-
de ajuste (Kc), denomina do coeficiente de cultura. Es te, por s u a mada visualmente pela proporção de sombra projetada no solo
vez, é função do índice de área foliar (IAF) da cultura, que varia p or volta do m eio-dia, quando o sol está a pino. É importante
com o seu crescimento e desenvolv imento (ver Capítulo 12). lembrar que, no caso de se manter o mato das entrelinhas, deve-
Valores médios d e Kc para diferentes tipos de cultura, nas di- se considerá-lo também como cobertura do terreno para efei-
ferentes fases feno lógicas são apresentados na Tabela 14.1 (p. to de consumo de água, pois todas plantas a utilizam. Se o
274), e conhecidos como Kc-FAO. Nas culturas anuais, obser- mato não for considerado, haverá falta de água para a cultura
va -se aum en to gradual nos va lores de Kc a t é a fase do pois as ervas invasoras são mais eficientes na utilização dos
florescimento, que coincide com a época de máxima área foliar, recursos naturais que as plantas cultiv adas.
decrescendo a partir do final da frutificação e ilúcio da maturação,
em função da senescência das folhas. Alguns estudos realizados
no Brasil com a can a-de-açúcar (Peres e t aI., 1992) e com a b atata 14.2 DETERMINAÇÃO DA CAD
(Bezerra et aI., 1996), mostram que o valor d e Kc d epende tam -
bém do método de estilnativa de ETo. A capacidade de água disp onível no solo (CAO, em mm)
Para a maioria das culturas Kc varia de 0,3 na fase de d ev e ser determinada de acordo com as propriedades físico -
estabelecimento da cultura, até 1,2 na fase de florescimento e h ídricas do s olo (CC%, capacidade de campo; PM P %, ponto
fruti ficação. Variaçã o bem diferenciada é aquela que se obs er- de murch a permanente; e O , dens idade do volume de solo) e
va nas culturas perenes (ver Capítulo 12 - Figura 12.3), como é co m a profundidade efetiva (Z) do s istema radicular das plan-
o caso do cafeeiro, dos citros, da oliveira e da seringueira, que t ~ s s ob cultivo, isto é:
após terem atingido a maturidade (fase produtiva), os va lores
de Kc variam a penas em função da desfolha que ocorre n o CAD = 0,01 (CC% - PMP%) D Z. (14.3)
período de repou so vegetativo, mas somente entre 0,65 e 0,9
(Tabela 14.1) . Para algumas culturas anuais exploradas no Bra- Como profundidade efetiva entende-se aquela em que se
sil, os valores médios de Kc são ap resentados para períodos co nce ntra cerca de 80% das raízes, expressa em mm, visto que os
de 10 di as após a emergência (Tabela 14.2). Observa-se que os d e ma is termos da equação não têm tmidade. Essa profundidade
valore s máximos de Kc não ultrapassam 1,2. ,kpe nd e não só do tipo de solo, mas também da cultura, do regi-
Caso não h aja informações detalhadas dos valores de me h ídrico e nutricional a que o solo está submetido.
Kc para uma detenninada cultura, eles podem ser obtidos de Va lores médios de profundidade efetiva do sistema
um modo prático pela relação (Camargo & Pereira, 1990): ,.. , ei ic u la r (Z), de alguns cultivos no Estado de São P a ulo
(1\ lfo ns i e t a!., 1990), são apresentados abaixo:
272 - Pereira, Arzgelocci e S erz lelhas Agrometeorologia - 273

CULTlYO
hortali as
I'roru nditlade "rdi ...a dali raí>lC5 (mm
lOOa 200
Solo 1
anol:. batata e rci "ão 200 a 300
300 a 400
CC% = 32%
Iri o
milho e so" a 400 a 500 PM% = 20%
amendoim 500 a 600
D= 1,3
CAD , = 0,01 * (32 - 20) * 1,3 * 500 = 78mm
No caso de culturas perenes como cafeeiro, cana-de-açú-
car, citros e outras frutíferas, pode-se adotar Z entre 700 e Solo 2
1000mm. Para essências florestais, pode-se adotar Z entre 1500 CC% = 25%
e 2500mm. PM% = 17%
As propriedades físico-hídricas dependem da textura e D = 1,2
da estrutura do solo, e são bastante variáveis. Para os solos CAD, = 0,01 * (25 - 17) * 1,2 * 500 = 48mm
agrícolas do Estado de São Paulo, tem-se a CAD por unidade
de profundidade variando desde 50 até 200mm/m de profun- Solo 3
didade, sendo130 mm / m um valor médio prático. Devido a CC%=?
essas variações, o ideal é que o cálculo da CAD seja feito para PM%=?
as condições locais de solo e de cultura, inclusive consideran- D=?
do-se a variação da profundidade do sistema radicular com O Textura Média
estádio de crescimento da cultura. No caso de haver variação CAD3 = 140 mm/m * 0,5 m = 70mm
acentuada das propriedades fisico-hídricas com a profundi-
dade, deve-se calcular a CAD de cada camada de solo, sendo Solo 4
a CAD total da profundidade efetiva dada pelo somatório das Camada 1: CC% = 26%PM% = 19%
CAD das camadas. D = 1,12 Z = 200mm
Na impossibilidade de se ter dados locais, pode-se utili- Camada 2: CC% = 30%PM% = 21 %
zar critérios aproximados (práticos), e Doorenbos & Kassam D = 1,21 Z = 300mm
(1994) recomendam a seguinte regra prática: CAD, = 0,01 * (26 - 19) * 1,12 * 200 = 15,68mm z 16mm
CAD, = 0,01 * (30 - 21) * 1,21 * 300 = 32,67111111 z 33nU11
• Solo de textura pesada: 200 mm / m; CAD = CAD, + CAD, = 16 + 33 = 49m111
• Solo de textura média: 140 mm / m ;
• Solo de textura grossa: 60mm/m.

EXEMPLO: CAD para uma cultura de milho (Z = 500mm


no quadro acima) nas seguintes condições:
TABELA 14.1 Coeficientes de cul tura (Kc) para alguns cultivos. Fonte: Doorenbos & Kassam (1994). N

Cultu.ra
~
Fases de Desen\'olvirnenlOda Cultura I
F..slabelcc. Des. Vt2ct. Floresc. Frulincacão !\'1atur.lcão 'U
.. .. ..
~
Alfafa 0.3·0.4 1,05 - 1.2
Al2odão 0.4 · 0.5 0.7· 0.8 1.05· 1.25 0.8·0.9 0.65 · 0.7
Amendoim 0.4 · 0.5 0.7 ·0.8 0.95·1.1 0.75· 0.85 0.55 · 0.6 ~~.
Arroz 0.4 · 0.5 0.7·0.8 0.9 · 1.2 0.8 ·0.9 0.5 · 0.6 I ;".


0.75 · 0,85 ,
Banana Trooical 0.4 · 0.5 0.7·0.85 1.0·1.1 0.9· 1.0
Banana Subtru piCllI 0.5· 0.65 0.8· 0,9 1.0· l.2 1,0· 1,15 1.0· 1.15 I
Batata 0,4 · 0.5 0.7· 0.8 1.05 - 1.2 0,85· 0.95 0.7· 0,75
Beterraba açucareira
Cana· de · açúcar
0,4 ·0,5
0.4 · 0,5
0,75· 0,85
0,7 ·1.0
1.05 - 1.2
1,0 - 1,3
0,9 · 1.0
0,75· 0,8
0,6 ·0,7
0,5· 0,6
B.
Ccbola seca 0,4 ·0.6 0,7 · 0,8 0.95· 1. 1 0,85 · 0.9 0.75·0,85 "C/'J
~.H~rd e
Café c/ trato
0.4·0,6 0,6 · 0,75 0,95 · 1.05
0.65·0.8
0,95 · 1.05 0,95 · 1.05
"8'
:;

~
Café si traio 0,85·0,9
Citros d trato 0,65· 0,75
Cilros si trato 0,85· 0.9 '"
Ervilha 0.4 ·0,5 0.7 · 0.85 1.05· 1) 1.0· 1, 15 0,95· 1,1
Fci'ão ,'crdc 0.3·0,4 0,65·0.75 0,95 · 1,05 0,9·0,95 0.85 · 0.95
Fe_ijão seco 0.3·0.4 0.7 · 0.8 1.05 · 12 0,65·0.75 0,25· 0,3
Girassol 0.3·0.4 0.7·0,8 1.05 ·12 0.7 . 0.8 0.35· 0,45
l\'lelancia 0.4·0.5 0.7·0,8 0.95 · 1.05 0.8 ·0.9 0.65 · 0.75
Milho doce 0,3.0,5 0.7 ·0.9 1.05-12 1.0 · \,\5 0.9· \,\
i\·liIho erão 0,3· 0.5 0.7 -0.85 1.05 · 1) 0.8·0.95 0,55· 0.6 Primeiro valor:
Oli" eira 0.4· 0,6 com umidade
Pimentão rcrdc 0.3·0.4 0.6 ·0,75 0,95 ·1.1 0.85· 1,0 0.8 ·0.9 elevada (UR mio
Repolho 0.4 · 0.5 0.7 ·0.8 0.95 ·1.1 0,9· 1.0 0.8·0,95 > 70 %) e vento
Serinl!ueira 0.7· 1,2
fraco (U < 5 ml
So'a 0.3 · 0.4 0,7 ·0,8 1.0 · 1.15 0.7 · 0.8 0.4 ·0.5 5). Segundo
Son~o 0.3 ·0,4 0.7 . 0.75 1,0 · 1,1 5 0,75· 0.8 0,5 · 0,55 valor: com
Tabaco 0.3 · 0,4 0.7 ·0.8 1.0 - 1.2 0,9· 1,0 0,75 · 0.85 umi dade baixa
TOlllllte 0,4 · 0,5 0,7 - 0,8 1,05 - 1,25 0.8 ·0.95 0.6 · 0.65 {UR min < 70%1
Trigo 0.3·0,4 0.7 · 0.8 1.05 - l.2 0.65· 0,75 0.2· 0.25 e vento forte (U
U \ '3 0,35·0.55 0.6· 0.8 0,7 ·0.9 0.6·0.8 0.55·0,7 > 5m/sl

TABELA 14.2 Valores de Kc por decêndio após a emergência, para algu ns cultivos anuais. (Fonte: Alfonsi et aI.,
1990).

I Dec.* I precoce Soja


média tardia
Trigo Feijão Arroz Algo- Batata Amen-
dão
Milho
doim precoce normal inv.
1 0,2 0,2 0,2 0,3 0,2 0,4 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3 0,3
2 0,3 0,3 0,3 0,4 0,4 0,5 0,5 0,5 0,6 0,4 0,4 0,4
3 0,5 0,5 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,8 0,5 0,5 0,5
4 0,7 0,7 0,7 0.7 0,8 0,8 0,7 0,8 0,9 0,6 0,6 0,6
5 0,9 0.8 0,8 0,8 1,0 1.0 0,8 1,0 1,0 0,7 0,7 0,7
6 1,1 1,0 0,9 1, I 1,1 1,1 1,0 1,1 1,1 0,9 0,8 0,7
7 1,2 1,1 1,0 1,2 1,1 1,2 1,1 1,2 1,2 1,0 0,9 0,8 •
8 1,1 1,2 I, I 1,2 0,8 1,2 1,2 1, I 1,2 1,2 1,0 0,9
9 1,0 1,1 1,2 1, I 0,4 1,1 1,2 0,9 1,1 1.2 1,2 1,0
10 0,8 1,0 1,1 0,8 1,0 1,1 0,7 1,0 1,0 1,2 1,1
11 0,7 0,8 1,0 0.7 0,6 1,1 0,8 0,9 1,1 1,2
12 0.5 0,7 0,9 0,6 1,0 0,6 0,8 1,0 1.0
13 0,5 0,8 0,3 0,9 0,5 0,8 1,0 :>
OQ
0,7 0,7 0,5 ...
14 O
15 0,5 0,5 3
"
~

• Dec. .. decêndios após a semeadu ra. "


O
8
Õ
03.,.

N
~
V1
276 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 277

14.3 ElABORAÇÃO DO BALANÇO HíDRICO DE também de chuvas, quando o ARM ainda não era total, mas já
CULTIVO era suficiente para atender a demanda da época. No intervalo
entre a maturação da primeira safra (julho) e o segundo plan-
Conhecendo-se ETc e CAD pode-se detenninar o balanço tio (outubro), o mato tomou conta do campo, e neste caso, o
hídrico de cultivo, que seguirá o mesmo procedimento do balan- Kc do período foi tomado como igual a 1, simulando uma si-
ço hídrico climatológico seqüencial, podendo ser feito nas dife- tuação de maior consumo possível de água do solo.
rentes escalas de tempo (mensal, quinzenal, decendiaI, qüinqilidial Nesses exemplos, apenas por facilidade de apresentação, a
ou diária). É importante notar que, no caso de período quinzenal, planilha inicia-se com a ETP já detenninada, enfatizando que ela
as "quinzenas" podem ter 13 ou 14 dias, em fevereiro, e 15 ou 16 pode ser estimada por qualquer método (ver Capítulo 12).
dias, nos outros meses. No caso de "decêndios", fevereiro pode
ter 8 ou 9 dias, e nos demais meses 10 ou 11 dias. EXEMPLO 1:
O balanço hídrico elaborado d essa forma permite obter Balanço Hídrico de Cultura - CAFEEIRO
Local: Ituverava (SP)
a evapotranspiração real da cultura (ETr), assim como a (Lat.: 20 0 16'S; ~ong.: 47°48'W; Alt.: 550m)
evapotranspiração relativa da cultura (ETr/ETc), sendo esta Cultura: CAFE
uma outra forma de se expressar a deficiência hídrica da cul- Var.: Catuaí
tura (ETr /ETc = 1 - sem deficiência hídrica; ETr /ETc < 1 - com Idade: 5 anos
deficiência hídrica). Ano: 1985
No Exemplo 1, é apresentado o balanço hídrico de uma Espaçamento: 3,5 x 1,Om
CAD = 130mm (Z = 1m e CAD = 130 mm/m).
cultura de café, na escala mensal, e para apenas um ano, mas Adaptado de Camargo & Pereira (990)
o balanço é seqüencial. Como janeiro é mês de excedente ..,.,. ,.
hídrico na região do exemplo, então desde o primeiro mês O
ARMazenamento é pleno e igual à CAD. Se não houvesse
M~

AN
n ;v
--.!!>'m)
'"
,.,
''''
Ko

'.0)
0.8 1
''To
( m",)

'"
(mm)

'"
P .ETc

.,.,
+367
NEC
ACU
•o
tm~~
"'0
''0
ALT
(mm)

••
(~!I
'"'
""
.
DEl'
( mm)

°
EX C
,.,,.,
(-;"rnl

MAR
AIIR ....•..,
0.82
""'"
.. '"JO
"" +223
·ro

.)0
"'0
'"'" ."•
"
°,
, '"•
EXCedente hídrico naquele mês, então o início da contabili- MAl
.,"" ........ "• ." ·00 ." J9
••
dade teria que retroceder até um mês em que, seguramente, o
JUN
JUL
.... CO "" .... "
"" •
""
."
."
. .,
.>0
."
.,..
. 126
"""
."
.",
·
""
J6 """ •••
armazenamento fosse total (ARM = CAD). SET
""" ....
0.65

.,"" ." . '"


.,..
""
."
.,., .. "" "" •
No Exemplo 2, é apresentado o balanço hídrico de uma
OUT
NOV
".'"
n,87
,,.
..
".
,~

".
+145
•• ".". •
99
°• ,"..
·
• ,o.
lI"Z 0,88
, '''''
cultura de milho, na escala decendial, para duas épocas de ANO
'''' '" '"' '"
semeadura (safrinha superprecoce em 01 / 03/85, e normal das
águas em 01 /10/85), e aqui também o balanço é seqüencial. EXEMPLO 2: Balanço Hídrico de Cultura - MILHARAL
Note-se que o primeiro plantio coincidiu com um período de Local: Ituverava (SP)
muita chuva garantindo que o ARM fosse igual à CAD naque- (Lat.: 20 0 16'S; Long.: 47°48'W; Alt.: 550m)
la data. O segundo plantio (01/10/85) foi feito em período Cultura: MILHO
-

278 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 279

Var.: Precoce 14.4 BALANÇO HÍDRICO PARA CONTROLE


Ano: 1985/1986 DE IRRIGAÇÃO
Semeadura: 01/03 e 01 / 10/85
CC% =32%
PM% = 20% A irrigação é uma operação agrícola para atendimento
D = 1,3 das necessidades de água das culturas, sendo fundamental nos
z= 500mmCAD = 78mm sistemas de produção de regiões com ocorrência de secas re-
gulares. Nesse caso, ela é uma operação fundamental, tão im-
l\I u/~". ETI' !C"I"" ,- "· E"'" IH ;C
;~,I,~~:
rJI1\" U E f. .1::.\:<':
t~
portante quanto a fertilização, o controle de pragas e doenças,
( m ..
I""" , i\CU (nm, ,
hul
J ~n 1
."" '" " '" ."
. 111 "" " &<
",
e os tratos culturais. A irrigação provê um importante grau de
L'
" '" estabilidade pa r a a produção de alimentos, v isto que as ad-
J an .l
'" ~ 145

....
f'N I
L'
'.0 +21 " 145

F e l' 2
F ~ .. .1 29 " LO
""" "" 38 ".' versidades meteorológicas são minimizadas.
L'
'" " ",. "
\l url
Mar Z
M . .. )
""
""
,.,
,., "
""
13.'

'""
+U l
."
.",

. .,
"'"
" .,• " ".
'" A possibilidade de estimar corretamente a e v apotrans-
piração e dessas estimativ as determinar a quantidade de água
" I>rl
A brI "" "'-'" ",. H
·
·,
" ""
""" ""
A hr .l
." a ser suprida ao solo é de considerável importância para o
"'.0 " ." " .
0.9!'

".i 1
"" ,.,
" """
-17
." ." ... .,.
, "",
O.IU
0.6 1 monitoramento das irrigações, pois tanto sub-irrigações como
)lai
." ,,
,."" .,·· ,,
j • 7.\ 0.6 1
." ." irrigações excessivas resultam em baixas produções. As irri-
Jnn I
Jun 1 " "" " ."
"" " O !7

"",
• 107
J",, 3
.,
" · , " ·,
O.lI gações excessivas gastam combustível ou energia elétrica des-
Jull - l 3D
Jul! "" LO
." "" 0. 22
necessários, degradam a qualidade do solo, ca u sam lix iviação
""
• 14..
J,,' J " _ 172

,.""
LO
. . .". '.0 "
- 13

."
9
,
"'n 2 '.0 ,.,
B _ 1119
- l 03 .,
.,,
15
de nutrientes essenciais às plantas, e podem reduzir a produ-
,." ." "" "
... "."
' .0

"""
U
.\ u )
00 " ,,
O
."
• 219

'" .,
tividade. Além disso, o custo cada vez maior de energia de
Se' I
"
....,...,
, ,
·
S •.l l lO -:!l · 2(il'l
'"
"""
s." ~ LO -14 - 2!.12 bombeamento e a limitação dos r ecursos hídricos têm levado
O u ,l " ." "
OU1 2
0,,,3
.'I .. , " ,
..."" ,,.,..
O.S
'"
'"
.""
." _.\6

."
""
"
.,
"
à busca de alternativ as que racionalizem o manejo da água,
visando a redução nos custos da irrigação.
:-1..'-1
38

...... ,.,
H

"... '"" .,
+ 59
O

"""
H

,." "", O balanço hídrico para controle de irrigação é uma adapta-


N.... J
...
UN : '

.....,
11"" ,1

J." I ""
'.0
..," ..
"
"
""
."

."
."
N'
""
'" ""
'-'
"" ção do balanço hídrico climatológico seqüencial visando a facili-
tar sua aplicação em condições de campo, sem necessidade de
"" '" "" "" " ""
.hn2
J. " J
T~.· I
.""
'.9

.., JS

"
J:\l

'" "'"
·9 ., .." ., ""
" " recursos computacionais sofisticados, medindo-se apenas a chu-
ETrlETc médio do milho safrinh a
ETr/ ETc méd io do milho das águas
0 ,70.
1,00.
-- va e os e lementos meteorológicos exigidos no método escolhido
para estimar a e v apotranspiração de referência (ETo). Aplica-se
principalmente para irrigação n ão-localizada .
Antes de se iniciar um projeto de irrigação é preciso co-
nhecer-se a lguns aspectos fundamentais como:
280 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 281

• Fenologia da cultura 14.4.1 Roteiro para monitoramento da irrigação


A necessidade hídrica de uma cultura varia de acordo
com suas fases fenológicas, que pode ser relacionada basica- O monitoramento de irrigação com balanço hídrico
mente ao Kc. Culturas perenes muitas vezes necessitam. d e climatológico exige que se pré-determine a dotação de rega (DR)
um período de repouso vegetativo durante o ano, normahnente ou lâmina de irrigação, que corresponde à quantidade de água
no inverno. Obviamente nesse período de repouso a cultura a ser aplicada em cada irrigação, expressa em mm ou em LI
não necessitará de irrigação. Uma cultura anual quase sempre planta. A dotação de rega pode ser fixa, isto é, sempre utiliza-
não necessita de irrigações na fase de maturação. se o mesmo valor em cada irrigação, ou variável. No primeiro
caso, a lâmina d e irrigação é pré-fixada (DR Fixa), variando
• Demanda hídrica da cultura entre um valor minimo da Agua Fácilmente Disponível (0,25
Além das fases fenológicas, a demanda ou necessidade AFD) e um máximo (0,50 AFD). No segundo caso, a lâmina de
hídrica de uma cultura varia de acordo com as condições irrigação é variável (DR Variável), buscando sempre elevar o
meteorológicas, principalmente a radiação líquida disponível armazenamento de água no solo à capacidade de campo. Por-
e a demanda atmosférica . Aevapotranspiração da cultura (ETc) tanto, o que diferencia os dois critérios é O modo de cálculo do
pode ser convenientemente estimada em função da ETo. volume de água a ser aplicado no momento da irrigação. As
Figuras 14.1 e 14.2 apresentam o monitoramento da irrigação
• Características físicas do perfil do solo para uma cultura hipotética levando-se em consideração os
Essas características são necessárias para se determinar dois critérios discutidos acima. Pode-se observar que, para as
o volume de água disponível às raízes. Se o solo for profundo, mesmas condições de P e ETc, na DR Fixa a freqüência de irri-
sem impedimento à infiltração da água e ao desenvolvimento gação é maior, porém, com lâminas menores do que no crité-
natural das raízes, a quantidade de água de uma aplicação rio da DR Variável, que apresenta um menor número de irri-
poderá ser maior, pois esse solo desempenhará bem suas fun- gações, no entanto, com lâminas maiores de modo a reestabe-
ções de armazenador de água. Se, no entanto, o solo for raso lecer o armazenamento hídrico do solo à capacidade de campo.
ou com impedimento físico ou químico (toxidez) em uma cer-
ta profundidade, a quantidade de água armazenada será me-
nor, condicionando regas menores e mais freqüentes para aten-
der melhor à demanda atmosférica.
DIFERENÇA ENTRE IRRIGAR E MOLHAR:
Irrigar implica em conhecer as necessidades hídricas
das plantas, as características do solo, e fornecer água
enl quantidade adequada no momento certo.
282 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorologia - 283

DR Fixa (0,5 AFD) A seguir são apresentados os passos para monitoramento


da irrigação pelo balanço hídrico climático.
CAD
• Passo 1 => Determinação da CAD
De acordo com o item 14.2 .

• Passo 2 => Determinação da água facilmente


disponível (AFD)
Quando se dispõe de sist ema de irrigação, não se deve
'~" F=~-----------------n--------------~ esperar até que as plantas mostrem sintomas externos da falta
de água para se irrigar. Se isso acontecer, a produção já estará
afetada, Assim, deve-se iniciar a irrigação antes das plantas
Dias após a semeadura atingirem esse ponto. Na prática, esse ponto representa UIna
FIGURA 14. 1 Repres entação esquemática do fração (percentual p) da CAD, denominada de Água Facilmen-
monitoramento de irrigaçã o de uma cultura h ipotéti-
te Disponível (AFD), oU seja, aquela que pode ser extraída do
ca, considerando-se a dotação de rega fixa (DR Fixa).
solo a partir do armazenamento máximo, sem que ocorra dé-
DR Variá vel ficit hídrico na cultura. AFD é representada por:

AFD~pCAD. (14.4)

A fração p é determinada experimentalmente, sendo fun-


ção do tipo de cultura e do consumo máximo de água nos di-
ferentes estádios fenológicos (Tabela 14,3) , Isso faz com que se
tenha valores diferentes de AFD durante o ciclo da cultura, O
que dificulta O cálculo do balanço hídrico. Para fins práticos,
normalmente, adota-se p = 0,35 para culturas dos grupos 1 e 2,
e p = 0,50 para culturas dos grupos 3 e 4.

Dias após a semeadura

FIGURA 14.2 Rep resentação esquemática do


monitoram ento de irrigação de uma cultura hipotética,
consid e rando-se a dotaçã o de rega variável (DR Variável ).
284 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 285

TABELA 14.3 Fração p para g rupo s de cu ltura e ETc. Fonte: Doo renbos & ximo ao limite crítico, ou seja, AFD ~ O. A quantidade de água
Ka ssam (1994).
da irrigação depende do critério adotado (DR fixa ou variá-
C ulturas Grupo
2 3 4 ,
ETc mllld- )
6 7 8 9 10 vel):
Cebola. Pimentão, 1 0.50 0,43 0,35 0,30 0.25 0,23 0.20 0,20 0. 18
S al.lla
- Para DR fixa => lâmina de irrigação igual a um valor
Banana, Repo lho, Uva. 2 0.68 0,58 0,48 0,40 0.35 0,33 0.28 0.25 0,23
mínimo (0,25 AFD) ou máximo (0,50 AFD);
Ervilha, T omate
Alfafa, Feijlio. C ilros. 3 0.80 0.70 0.60 0.50 0,45 0,43 0.38 0.35 0.30 - Para DR variável => lâmina igual a diferença entre a
Amend oim. G irassol, Trigo
A lgodi'io. M ilho. Sorgo, 4 0.88 0,80 0,70 MO 0,55 0,50 0,45 0,43 0,40 AFD adotada (eq. 14.4) e a AFD do final do período anterior.
So'a. Cana..<.Je-aclícar
Pelo exemplo apresentado a seguir, para a AFDf do período
25-29/5 igual a 2,6 mm, e com aAFD adotada de 19 mm, tem-
OBSERVAÇÃO: A adoção d essa fração p facilita o ba- se 1 = 19 - 2,6 = 16,4 mm.
lanço hídrico, não havendo necessidade de se utilizar o Nega-
tivo Acumulado do balanço climatológico clássico, porque nes- • Passo 6 => Água facilmente disponível inicial (AFDi)
se intervalo de umidade armazenada o processo de extração É a AFD no início do p eríodo considerado.
de água pelas raízes é praticamente linear, não sendo preciso - Quando não houver irrigação: AFDi do período = AFDf
utilizar a função exponencial de cálculo de ARM, como no do período anterior
balanço hídrico climatológico. - Quando houver irrigação com DR fixa: AFDi do perío-
do = 1 + AFDf do período anterior
• Passo 3 => Determinação da evapotranspiração da - Quando houver irrigação com DR variável: AFD i do
cultura (ETc) período = AFDf do período anterior.
A ETc é determinada de acordo com item 14.1 e Capí-
tulo 12. • Passo 7 => Água facilmente disponível final (AFDf)
É a AFD no final do período, resultante do seguinte ba-
• Passo 4 => Precipitação (P) lanço:
Este é o valor total observado das chuvas (mm), no perío- - Para DR fixa: AFOf = AFDi + (P - ETc)
do considerado. É importante medi-la na g leba a ser irrigada - Para DR variável: AFOf = AFDi + (I + P - ETc).
pois se tra ta de um elemento meteorológico com muita varia -
bilidade espacial e descontinuidade (ver Capítulo 8). EXEMPLO PARA DR FIXA
ETo calculada pelo método de Camargo (Capítulo 12).
• Passo 5 => Irrigação (I)
Irrigação significa a lâmina de água a ser aplicada, sen- Local: Votuporanga, SP (Lat.: 20"5), Cultura: Feijão,
do efetuada no início do período em questão, e sempre que a CAD = 40mm, AFD = 20mm, DR = 10mm,
AFD no final do p eríodo (AFDf) anterior tenha chegado pró- Semeadura: 01 /06
286 - Pereira, A ngelocci e Sen telhas AgrometeoroJogia - 287

I " '';00. Im (
'~,.)
T.;C -.,::, K,
(E~~, , ':.., 2m' "uI .. ~'
14.5 EXERcíCIOS PROPOSTOS
, I
L D e termine as lâ minas de irriga ção necessárias para
I
um cafez al, nas s eguintes con d ições:
I
Local: Ituv erava, 5P (Lat: 20° 16' 5; Long: 47° 48'W; Alt.:
. I .
I 550m) - Esca la Quinz enal - Varieda d e Catuaí.
I
I
Mês/Quinzena TmedC'q Chuva (mm) Mês/Quinzena T mcdre) Chuva (m m)
Janl l 24.5 ' 90 J ul/ 1 19,4 O
Janf2 24.5 284 Jul/2 19,4 O
Fcv/l 23,5 90 Agoll 2 1,3 9
2 1,3 29
r~vl2
Marli
23.5
23, 1 "
200
Agol2
Setl l 22,2
22,2
5
Marfl 23,1 '06 Self2 '2
Abril 22.6 30 O ut/ I 23,2 20
AbrIl 22,6 26 0"<12 23,2 46
Muill 21.0 'O Noy/ l 23,8 180
EXEMPLO PARA DR VA RIÁ VEL Mail2 21.0 7 Novrl 23.8 64
18.4 De7J I 24.2 80
Local: C ampin as, 5P (La t.: 22°53'5), Junl l
l ...>l2 18.4
O
O D,,n 24,2 130
Cultura : Trig o, CAD = 38mm, AFD = 19mm,
Semeadura: 11 / 05
2. D e termine a s lâminas de irr igação n ecessan a s para
,-' uma cultura de feij ã o, nas seguintes condições:
I.
I. Local: ltuverava, 5P
I.
I .
I.
(Lat: 20° 16'5; Long: 47° 48' W ; A lt.: 550m)
I.
I .
Escala Qüinqüidial
Ciclo de 90 dia s
Plantio em 15 / 05
I
I
I
Bordadura = 10m
I
I
I
I I I.

I
.,' I
I

• 08S: Apesar de no úl timo qü inqüidio haver indicaçdo de Il.ecess idade d e irrigaç.aQ, esta será
descartada em função da cul tura já se encontrar em fase de matu ração, período e m que falta da
água lorna-se alé bené fi ca .

l
288 - Pereira, Angelocci e Sente/has
Capítulo 15
Período ECA UR Vento Chuva Climatologia
(m m.d") (%) (m/s) (mm)
16-20/5 4 ,2 75 2,2 28
21-25/5 3,5 80 2,0 O
26-30/5 3,2 78 1,8 O
31-04/6 3,0 73 2,6 O
05-09/6 3,4 70 2,2 13
10-14/6 2, 1 69 1,6 O
15-1 9/6 1,9 66 1,9 O 15,1 INTRODUÇÃO
20-24/6 1,8 70 1,7 5
25-29/6 1,9 75 2,3 O
30-04/7 2,2 66 2,5 O No Capítulo 2, definiu-se clima como sendo uma descri-
05-09/7 2,5 68 2,2 12 ção estatística que expressa as condições médias do seqiien-
10-14/7 2,8 60 2,6 O ciamento do tempo, ou seja, o seqüenciamento das condições
15-19/7 2,4 65 2,7 5 instantâneas da atmosfera em um locaL Isso significa que, pri-
20-24/7 3, 1 69 2,0 2
25-29/7 3,3 60 1,9 1
meiro se observa as condições da atmosfera em um local, por
30-03/8 2,9 63 2, 1 O um certo período (alguns anos), e depois estima-se qual deve
04-08/8 4,1 55 2,0 O ser o seqüenciamento mais prováveL Essa definição pode ser
09-13/8 3,9 58 2,6 O expressa de várias maneiras, e algumas são clássicas. Por exem-
plo, para Sorre clima é a série de estados da atmosfera em um lugar,
em sua sucessão habitual, enquanto que Ki:ippen define-o como
sendo o somatório das condições atmosféricas que fazem um local
ser mais ou menos habitável para seres vivos, Para Poncelet, clima
é o conjunto habitual de elementos físicos, químicos e biológicos que
caracterizam a atmosfera de um local e influem nos seres que nele se
encontram.
Na definição de clima fica implícito que o desempenho
dos seres v ivos é imposto pelas condições climáticas. Sendo
assim, deve-se concentrar esforços para melhor entendê-las, e
usá-las para resolver problemas econômicos e sociais. Impac-
tos das atividades humanas sobre o ambiente devem ser con-
tinuamente avaliados e utilizados em programas de desen-
volvimento regional, viabilizando a exploração racional e sus-
tentada dos recursos naturais. Nesse contexto, os estudos sis-
290 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 291

tematiz ados sobre clima são domínio da Clima tologia, e como d i,.."o, os valores diários de irradiâ ncia solar g lobal, var iam de
tal se iniciaram na Geografia. II{'unJo co m a latitude e com o dia do ano (ver Capítulo 5),
Ill' nd o ta mbénl afetados pelos processos de atenuação na at-
'Il osfcra. (ver Capítulo 3 - itens 3.3. 1 e 3 .3.2). Isto torna a lati-
15.2 FATORES DO CLIMA
lud ' um grande fator condicionador d o balanço de energia
I'Ild ionte, com tendência de diminuição da tempe ratura média
No Capítulo 2, definiu-se fatores do clima como agentes
qUl1ndo se vai das regiões equatoriais para as polares.
causais que condicionam os elementos climáticos. O s fa tores
podem ser classificados de a cordo com a escala de estudo, ou
AI ti tude/relevo
seja, com efeitos no macro, topo ou microclima.
Mantidos invariáveis os outros fatores climáticos, um
Il lIm c n to em altitude ocasiona diminuição da temperatura, em
co nseqüência da rarefação do ar e diminuição da pressão at-
15 .2.1 Fatores do macroclima
mosférica . Em média, há decréscimo de 0,6 °C a cada 100 m de
Fatores são condicionantes dos elementos climáticos, e ,'k'vação, embora esse valor seja modificado pela concentra-
,', () de vapor d'águ a na atmosfera (ver Capítu lo 8).
podem ser class ificados como:
• Permanentes =:> d estacando-se latitude, altitude/rele- A associação da alti tude de um local na superfície ter-
,','sl rc COln o relevo, pode condicionar variações no regime de
v o, oceanidade / continentalidade, distribuição de oceanos e
c huvas e de ventos do local. Em certos casos, de encost as e
continentes, movimentos da Terra;
montanhas batidas por vent os carregados de umidade, ocorre
• Variáveis (no espaço e no tempo) =:> incluindo-se as
Ilu m c nto da precip ita ção no l ado a barlavento (chuvas
correntes oceânicas, os centros de alta e baixa pressões semi-
permanentes e as grandes massas de ar, e as variações da com-
ol'Osrnficas, provocadas pelo relevo) e diminuição no lado a
s olo vento, com formação de correntes descendentes secas e
posição atmosférica.
diminuição da altura p luviométrica anual no segundo lado
(sol/1um de chuva; Capítulo 4 - item 4.6).
Latitude
Os efeitos deste fator permanente estão ligados às rela- A Tabela 15.1 quantifica o efeito do relevo sobre o total
d,' c huvas ao long o de um transecto na Serra do Mar, no Esta-
ções Terra-Sol. que envolvem o movimento aparente do sol ao
do d e São Paulo. Partindo-se do nível do mar em Santos, SP
longo do ano. Como conseqüência do movimento de translação
(I'onlo da Praia), em direção à serra verifica-se que o total de
da Terra, e também da inclinação do eixo te rrestre em relação
, IIlI VOS a umenta tanto na estação chuvosa (out.-ma.r.) como
ao Plano d a Eclíptica, há variação espacial e temporal do ân-
li" l'l oca menos chuvosa (abr.-set.). Esse efeito é devido à cir-
gulo de incid ê ncia do s raio s so l ares na superfície e do
I 'III" çi10 a tmosférica local, sendo que os v entos originados no
fotop e río d o (ver Capítulo 2 - 2.5. Estações do ano). Em função
un',lno J\tlân ti co vêm em direção à serra carregados de umi-
if

292 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 293

dade. A e levação da massa de ar provocada pelo re levo induz 1/\1111/\ 1 5 .2 Média anual de chuva (P) e de te mperatura do ar (T), em três
I,,, ,"ld,ldes cio Estado d e São Pau lo. Fonte : IAC e INMET (1992).
à condensação do vapor d'água e sua precipitação. Observa- L.'lt. Lon. Ale Situa :ão p(mm T ("C)
se que acima de 350 m de altitude, n a vertente voltada para o I
I 11111111111111",,1 23"05'S 45"03"W 8m Litoral. sopé Semi do Mar 2348 20.6
1',lm l,uIIIM, llm. ·,.Im 22<> 55'S I 45" 3Q'W 560m V'lle do P,lf"oIíba 12 15 20.•
oceano (barlavento), o to tal de chuvas ultrapassa 3000 mrn anu- I UU'ill"'illu Jtllll;lo 22° 44'S I 45" 34'W 1594 m Serra dn MlInti uciTa 1666 13,3

ais. Ao ultrapassar o CUIne da serra essa m assa d e ar, CQ1n par-


te de sua umidade retirada pelas chuvas, atinge São Caetano
do Sul, SP (@ 740 m), localizada na verte nte continen tal (sota- O re levo também afeta a direção dos ventos . No val e do
vento), resultando num total anual de chuvas de 1289 mm. Esse 1{lo I)a ra íba, SP, as direções predominantes são SW-NE, d evi-
tota l é inferior àqu ele obser vad o ao nível do mar. Essa é uma do à d isposiÇão da Serra do Mar e da Mantiqueira (Camargo,
situ ação típica de sombra de chuva, o u seja, na m esma altitude \ \)72) . Do mesmo m odo, a conformação do litoral, e as posi-
chove mais no lado b atido pelos ventos. ~' ( é'S dos vales dos rios Paraíba e Tie tê, canalizam correntes
lll'rcils v ind"s de qua lqu e r direção p a r a o a lto dessas serras,
TABELA 15.1 Distribui ção saz ona l da s c hu vas (em mm) ao longo de um , lO il scende rem , provocam chuvas tornando aquela região em
tra nsecto na Se rra do Mar, no Estado d e São Pa ulo (Fonte: DAEE, 1972). uma das mais úmidas do país.
:.PO C A
OUT·MAR
S:lntos
lS05
Cubati'io
1783
@ 350m
2169
@ SOOm
23 16
@ 850m
2570
S. C . do Sul
1005
!
ABR -SET 648 747 982 \071 [304 284 Oceanidade/continentalidade
T OTAL ANO 2153 2530 3151 3387 3874 1289
Os termos oceanidade e continentalidade referem-se, r es-
I" ti va m ente, à condição de um local situado próximo ao mar
Outro exemplo, também d o estado de São Paulo, é veri- O U ocea no, e no inte ri or do continente, com e feito s d ecorren-
ficado nas médias anuais d e chuva e de temperatura de três I 'S dessa condição. Dev ido ao maior calor específico d a águ a
localid ades, não muito distantes entre si, mas com situações 'm re laçã o " os solos, vegetados ou não, mares e oceanos são
II d e r elevo e altitudes diferentes (Tabela 15.2). Nem todas as IIlOcleradores térmicos, isto é, s ua flu tuação térmica é menor ao
diferenças no r egime p luv iomé trico e no térmico dessas loca- longo do dia e do ano. Essa característica é transmitida à a t-
lidades podem ser explicadas apen as por altitude e relevo, mos fera de localidades lito r â n e as, onde a amplitude térmica
mes mo porque Ubatuba es tá também s uj e ita ao fator oceani- do a r é rnenOr do que a das localidades s ituadas no interior do
dade (ver item seguinte) . Entretanto, a maior parte dessas di- co nti n ente.
fe r en ças de temper atura e precipitação estão a ssociadas ao A Tabela 15 .3, com d ado s n ormais, enfatiza os efei tos
relevo e à a ltitud e. dl'sse fator sobre o regime térmico de duas localidades, Cuiabá
(M T) e Sa Iva dor (BA). Cuiabá, no interior do continente, apre-
1 " l' lüa ln é diaS de te mperatura máxima mais e levadas, e de mí-
nill1é1 m enores que Salvador, que está situada no litoral banha-
do por águas quentes. A amp litude té rmica, tanto m en sal co mo

.1
294 - Pereira, Ange/occi e Senlelhns Agrometeorologia - 295

anual, é sempre maior em Cuiabá . A diferença em latitude das rentes que se movem de maneira organizada, mantendo ca-
duas localidades é muito pequena, e a diferença em al titude é racterísticas físicas diferen tes do restante das águas adjacen-
desprezível; portanto, os efeitos são predominantemente de- tes (Figura 15.1) . O contorno dos continentes impõe direção à
vidos à oceanidade/ continentalidade. movimentação das correntes oceânicas. As correntes que cir-
culam no sentido dos pólos para o equ ador são frias, pnqu an -
TABELA 15.3 Efeito de oceanidade / continentalidade na temperatura do ar to que aquelas que navegam no sentido contrário são
em Cuiabá (MT) e Salvador (BA) . Fonte: INMET (1992). aquecidas, e essa movimentação ajuda a redistribuir a energia
TnlaX
Cuiabá (MT ) (lS" 33'S)
Tm[n
Sah':ador (nA) (13· 01'S solar captada pelos oceanos.
Amplitude Tmax Tmin Ampl it ude
Mês ("C (OC) 'C 'C rC) ·C) A atmosfera em contato com grandes massas de água
Janeiro 32,6 23,2 9.4 29.9 23,7 6.2
Fevereiro 32.6 22,9 9.7 30.0 23.9 6.1 entra em equilíbrio térmico com a superfície, visto que a capa-
M 32.9 22.9 10.0 )0,0 24. 1 5.9
Abril 32.7 22.0 12.7 28.6 22.9 5.7
cidade calorífica do ar é muito pequena. Por isso, as correntes
M aio 3 1.6 19.7 11.9 27,7
Junho 30.7 17,5 13.2 26.5
23.0
22 . 1
4.7 marítimas têm grande efeito sobre o regime térmico e hídrico
3.4
Julho
A OSlo
31,8
34.1
16.6
18.3
15,2 26.2 21.4 4.8 na costa dos continentes, ao longo de seu percurso. Correntes
15.8 26.4 2 1.3 5. 1
Setembro
Outubro
34, 1 22, 1 [2,0 27.2 2 1.8 5.4 frias condicionam climas mais secos, enquanto as correntes
34.0 17,[ 16.9 28.1 22.5 5.6
Novembro 31.1 22.9 8.2 28,9 22,9 6.0 quentes promovem climas mais úmidos. A Figura 15.1 ilustra
Dezembro 32.5 23,0 9.5 29.0 23.2 5.8
as principais correntes marítimas. Por exemplo, a corrente
Am . anual 3.4 6.4 3.S 2.8 quente do Golfo do México, que banha a costa leste dos Esta-
dos Unidos, a partir da Flórida toma rumo NE, banhando tam-
bém as costas da Irlanda, Escócia, e Noruega, induz ali maio-
Em uma escala geográfica maior, o poder moderador res temperaturas e precipitações, possibilitando a prática agrí-
dos oceanos e mares também explica o porquê das amplitu- cola em parte do ano. Do outro lado do Atlântico Norte, na
d es térmicas anuais (verã o-invenlo) serem menores no hemis- peninsula do Labrador (Canadá) e na Groenlândia, que são
fério sul (HS) que no hemisfério norte (HN). A relação terra / banhadas por águas frias, embora nas mesmas latitudes da
oceano é muito maior no HN do que no HS, onde há mais Noruega, têm temperatura muito mais baixa e as chuvas são
oceano do que terra. Assim, comparativamente, no HS ocor- escassas.
rem temperaturas menores n o verão e maiores no inverno, A América Latina é ban.hada por duas corren les frias
com menor amplitude térmica anual. (Humboldt ou do Perú, e das Malvinas), no sentido Sul-Nor-
te, e pela corrente quente do Brasil, que desce da região equa-
Corren tes oceânicas torial. Portanto, a costa do oceano Pacífico é mais fria e seca
A movimentação contínua das águas oceânicas em fun- do q ue a costa atlântica, que é mais quente e úmida. Um exem-
çã o d e diferenças d e d en sid ad e, cau sada por diferenças d e tem- plo desse fato, pode ser il u strado com os dados de precipita-
peratura e de salinidade, f' d a ro tação da Terra, resulta em cor-
296 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 297

ção e temperatura de duas localidades litorâneas qua se na litoral Pacífico, a direção predominante de tais ventos
mesma latitude e altitude: d esfavorecem a circulação de vapor do mar para o continente,
- Salvador (BA): com temperatura média anual de 24,9 tornando essa região mais seca. Essa situação se altera pro-
0e, e precipitação anual de 2000 mm; fundamente em anos com a ocorrência do EI Nifto, quando o
- Lima (Perú): com temperatura média anual de 19,4 DC, litoral do Pacífico fica bem mais aquecido, provocando chu-
e chuva anual de 40 mm. vas ablmdantes até mesmo no deserto de Atacama, no norte
do Chile, enfatizando o acoplamento oceano /atmosfera.
Esses efeitos opostos são reforçados pela disposição geo- Outro exemplo do efeito das correntes oceânicas no cli-
gráfica da costa, nos dois lados, em relação aos ventos de gran- ma ocorre na costa atlântica, no litoral brasileiro, na região de
de circulação, que nessas latitudes têm direções predominan- Cabo Frio, RI, one há afloramento de águas mais frias (daí o
tes n o quadrante leste. Assim, na altura do Brasil, a costa é nome do local) com efeito sobre o regime de chuvas. Naquele
batida pelos ventos de grand e circu lação, com transporte de ponto do litoral as chuvas oscilam entre 36 e 101mm ao mês,
vapo r do oceano para o continente. Nas m esmas latitudes, no totalizando apenas 771mm no ano (Tabela 15.4). Um pouco
mais ao sul, em Angra dos Reis, RI, ~ituada em uma baía, onde
a corrente oceânica é quente, as chuvas mens ais variam de 76
a 276mm, totalizando 1977mm no ano.
, . TABELA 15.4 Efeito de co rrentes oceâni cas sobre a ocorrência de
( : ~ ,
chuvas em Angra dos Reis (RJ) e Cabo Fri o (RJ ). Fonte: INMET
D (1992)

A n2ra dos Reis (RI) Cabro Frio (RJ)


Mês Chuva (mm) Chuva (mm)
Jan 276 78
c
Fev 240 44
Mar 237 53
p
Ab r 190 78
Q
Mai 109 69
lun 78 44 -
lu l 76 45
Correntes Qucntes' A - do Gol fo . B - da s Guiana s, C - Su l-am eri c ana , D - do Japão. E - do
Bra s il. F - Agulhas . G - de Madagascar. 1-1 - N o rte -equaloria nn, I - das Monções .
Aoo 78 36
Set 116 61
Correntes Vd:ls ' J - da C al ifó rni a, L - da Groe nlllndia. M - Curila s. N - de Bengala. O· das
Out 144 81
i\-lal viuas. P - Humboldt ( I' t:rú). Q - Antártica , R· Labrador.
Nov 167 81
Dez 265 101
FIGURA 15.1 Representação esquemática das principais correntes oceân i-
Ano 1977 771
cas no mundo.
298 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 299

Anticiclones semi-permanentes e circulação geral condicionar freqüentemente tempo bom, com formação da
No Capítulo 4, descreveu-se a formação das células de es tação seca.
circulação nos hemisférios N e S, a partir do desenvolvimento A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) não se situa
de faixas de alta e de baixa pressões na superfície terrestre . A ex atamente sobre o equador geográfico (ver Capítulo 4 - Fi-
representação esquemá tica então mostrada (Figura 4.1) é uma g ura 4.1), mas desloca-se em torno deste, no sentido N-S, ao
versão simpli ficada, média, e idealizada desses centros, das longo dos meses, sendo um dos fatores a condicionar o regi-
células de circulação, e dos ventos associados, pois não leva m e de chuvas no N e NE do Brasil. Sendo uma zona de ba ixa
em conta as variações espaciais e temporais ao longo de um pressão, sua presença em uma região favorece a elevaçâo do
ano. Devido às irregularidades da superfície terrestre, à dis- ar quente e úmido, com pouco vento, formando um cinturão
tribuição de oceanos e continentes, e à variação do balanço de de nuvens e chuva convectiva. Seu deslocamento para o sul,
energia durante o ano, há modificações sensíveis no campo de no verão do Hemisfério Sul, pode reforçar o regime de chu-
pressões ao longo do ano. A Figura 15.2, é um exemplo para v as, como ocorre na Amazônia. Seu afastamento, em direção
janeiro (A) e junho (B), meses bem opostos quanto a esses as- ao hemisfério norte, diminui as chuvas na Amazônia, e as ini-
pectos. be no semi-árido do NE brasileiro. Deve-se notar, ta mb ém, a
Regiões de a lta pressão, nas latitudes próximas aos tró- formação da Zona de Convergência Extra-Tropical nas latitudes
picos, ocorrem quase permanentemente sobre os oceanos, cons- próximas às regiões polares, que tem importância para o cli-
tituindo os anticiclones, dos quais o do A tlântico Sul exerce in- ma do Brasil, por nelas se originarem os sistemas frontais que
fluência sobre o clima no Brasil; o Anticiclone do Pacífico Sul migram para a América do Sul, condicionando bastante as con-
também exerce influência no continente sul-americano. A pre- dições atmosféricas nas regiões S e SE do Brasil, pela entrada
sença dos continentes exerce sua influência n a posição desses de massas frias.
cen tros de pressão, podendo notar-se o deslocamen to sazonal No Capítulo 4, descreveu-se a formação de massas de ar
deles, principalmente n o hemisfério norte, onde há maior pro- e frentes, bem como sua atuação no Brasil, nas diferentes esta-
porção de terras em relação a oceanos do que no hemisfério ções do ano. No verão, por exemplo, a massa continental equa-
sul. Por exemplo, durante o inverno os continentes resfriam- torial (cE) predomina em grande parte do Brasil, e favorece os
se mais que os oceanos e tornam-se centros de a lta pressão, mov imentos convectivos. No inverno, o seu domínio fica res-
prin cipalmente no hemisfério norte. Pelo mesmo mo tivo, du- trito à região noroeste da Amazônia e a massa marítima tropi-
rante o verão, estab elece-se um centro de baixa pressão na re- cal (mT), que desfavorece os movimentos convectivos e a ins-
gião central do continente s ul-americano, sendo que o ar tro- tabilidade atmosférica, predomina na maior parte do Brasil,
pical quente e úmido facilita a formação de nebulosidade de co ndicionando a diminuição do regime de chuvas em quase
origem convectiva, contribuindo para o a umento das chu vas to do território brasileiro.
em boa parte do Brasil. No inverno, o avanço do An ticiclone
do Atlântico Sul sobre o continente é um dos fatores a
300 - Pereira, Angelocci e Senfelhas Agrome teorologia - 301

sã o, em média, mais ensolarados, mais secos, e mais quentes,


enquanto que aqueles com face S são menos ensolarados, mais
úmidos, mais frios, e batidos pelos ventos SE da circulação
ger al de inverno.
A configuração do terreno (convexo, côncavo, plano) é
importante fator, principalmente à noite, quando a convexi-
dade permite boa drenagem de ar frio e a concavidade força
seu acúmulo, agravando o efeito de geada na região sul e su-
deste do país.

15 .2.3 Fatores do microclima

Fatores microclimáticos são agentes que modificam o


clima em microescala, sendo representados pelo tipo de co-
bertura do terreno; logo, podem ser modificados pelo hom em,
e isto vem acontecendo ao longo dos tempos. A cobertura do
terreno pode ser artificial, como em casas-de-vegetação, em
viveiros, etc., ou natural, como lagos, vegetação, solos desnu-
dos, etc. Quanto à cobertura vegetal, ela pode-se ser: a) cober-
tura viva e de diferentes portes, como mata, cultivos, grama-
dos; b) cobertura morta (mulch), como restos de cultivos.
Em função do balanço de energia local, cada tipo de co-
bertura tem influência diferente no microclima. Florestas di-
FIGURA 15.2 Centros de pressão e ve ntos médios ao níve l do mar, para
janeiro (A ) e julho (B). As lin has fin as são isóbaras em hPa, em excesso a minuem as variações térmicas acentuadas durante o dia, en-
1000 h Pa. Fonte: V ianello & A lves (1991 ). quanto que vegetação baixa e cobertura morta intensificam o
efeito microclimático, tanto no aquecimento diurno como no
15.2 .2 Fatores do topoclima resfriamento noturno. Superfícies de água têm efeito modera-
dor também no microclima. Portanto, os fatores microclimá-
Esses fatores dependem da configuração e exposição do ticos devem ser considerados na prática agrícola e florestal,
terreno, sendo de grande importância para a prática agrícola e pois o macroclima resulta do somatório dos microclimas.
florestaL Nas regiões S e SE do Brasil, terrenos com faces N
302 - Pereira, A/1gelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 303

15.3 ClIMOGRAMA A delimitação das zonas térmicas seguiu o critério de


Thomthwaite, no qual a evapotranspiração é determinada pela
Climograml1 é uma representação simul tânea de dois ele- temperatura média do período. Definiu-se as seguintes con-
mentos climáticos em um gráfico de dispersão de pontos, vi- dições: hipertérmica, quando a ETP foi maior que 170 mm men-
sando entender o efeito conjugado desses dois elementos ao sais, que corresponde a 31°C de temperatura média mensal;
longo do ano. No exemplo da Figura 15.3, os e lementos esco- mesotérmica para ETP mensal entre 80 e 170 mm, ou entre 15,5
lhidos foram a evapotranspiração potencial mensal (ETP) e o °C e 31°C; hipotérmica se ETP fica entre 50 e 80 mm, ou de 10
total de chuva mensal (Camargo, 1.966). Nesse tipo de repre- °C a 15,5 °C; e microtérmica no caso de ETP menor que 50 mm
sentação não se procura uma relação de causa-efeito; portan- mensais, ou temperatura abaixo de 10°C.
to, é indiferente a escolha do eixo para cada elemento. Verifica- No Capítulo 16, são mostrados outros exemplos de
se, nesta representação gráfica, que as duas localidades escolhi- climogramas, usados na determinação do potencial climático
das têm climas bem distintos. O critério empírico de separação de uma região para infestação de p ragas de plantas cultiva-
das zonas definindo as condições lúdricas tomou a linha de pro- das. Naqueles casos, utilizou-se como elementos temperatura
porção 1.:1., entre chuva e ETP, como divisória enh·e as zonas Úmido e umidade relativa do ar. Em classificação climática é comum
e Sub-úmido; entre Úmido e Super-úmido e la foi de 2:1; entre Sub- combinar chuva com temperatura.
úmido e Seco foi de 1:2; e assim sucessivamente.
r "
,~

15.4 CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA

A classificação climática objetiva caracterizar em uma


-------- , grande área ou região, zonas com carac terísticas climáticas e
~~".: I biogeográficas relativamente homogêneas. Essa caracteriza-
I
,
I, ção pode ser feita com base em diversos critérios, que depen-
dem dos objetivos do classificador. A classificação climática
pode ser feita com base na paisagem natural, ou por índices cli-
máticos. No primeiro caso, considera-se a ocorrência ou não de
vegetação, e o tipo de vegetação predominante. Na literatura
geobotânica, tal unidade é d enominada de vegetação zona/o Esse
'" "" "" ",,, '''' critério baseia-se no fato de a vegetação ser um integrador dos
Ch wa (mmlmês)
estímulos do ambiente. Assim, existem regiões: a) permanen-
FIGURA 15.3 Climograma relacionando evapotranspiração potencial e temente cobertas por gelo e sem vegetação; b) temporariamente
chuva, na escala mensal. Adaptado de Camargo (1966). cobertas com n eve e permanentemente cobertas com florestas
304 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 305

decíduas; c) com florestas decíduas, mas com verão quente e que os tipos A, C e D identificam climas úmidos. Os climas
chuvoso; d) com florestas tropicais; e) equatoriais com vegeta- úmidos são definidos em função da temperatura m édia men-
ção lux uri ante; f) de savanas; g) desérticas; etc. sal, isto é:
No caso d e classificação por índices climáticos, o clima é • A=> megatérmico (tropical úmido) com temperatura mé-
caracterizado pelos elementos meteorológicos e suas combi- dia do mês mais frio acima de 18°C;
nações . Índices mais simples usam valores médios de perío- • C=> m esa térmico (temperado quente) com temperatura
dos específicos (e.g., mês mais quente ou mais frio), totais sa- do m ês mais frio entre _3° e 18°C;
zonais, eventualmente com uso dos d esvios em torno das • D => micro térmico (temperado frio ou boreal) com tem-
médias. Utilizando-se a Climatologia Estatística, é possível avan- peratura do mês mais frio menor que -3°C e do mês mais quen-
çar p ara estudos de probabilidade de ocorrência de eventos te maior que 10°C;
adversos extremos, tais como secas, chuvas intensas, tempe- • E => polar onde todos os meses têm temperaturas mé-
raturas extremas, ventos extremos, etc. dias abaixo de 10°C.
Em gera l, os limites dos índices climáticos são estabele-
cidos de modo a permitir concordância com as d e limitações Quanto aos climas secos, tipo B, eles são d efinidos em
impostas pela distribuição da vegetação zonal (Henníng, 1989). função tanto do total anual de chuvas (P, em cm), como de sua
A utilização de limites rígidos, para o traçado de contornos distribuição nas estações do ano, e de sua relação com a tem-
divisionários, dá a idéia de transições abruptas, mas n a natu- peratura média anual (T). São dois tipos básicos: BS que é típi-
reza ocorrem gradações. No u so das classificações climáticas co de estepes; e BW, que é característico de desertos. Esses
deve-se considerar que tais aproximações, e a falta de dados dois tipos são diferenciados por três situações possíveis:
suficientes em grandes áreas do mundo, tornam flexíveis os • Onde as chuvas são predominantemente de inverno, e
limites das zonas climáticas estabelecidas. se P < T => Tipo BW
No presente texto, serão ap resentadas apenas as classi- se T < P < 2T => Tipo BS
ficações d e Kbppen e de Thornthwaite, ambas baseadas em
índices. • Onde não há predominância de chuvas em uma esta-
ção definida, e
se P < T + 7 => Tipo BW
15.4.1 Classificação de Kõppen se T + 7 < P < 2 (T + 7) => Tipo BS

W. Kbppen é autor de uma das mais conhecidas classifi- • Onde as chuvas predominam no verão, e
cações de clima. Nela são definidos cinco g randes tipos ou gru- se P < T + 14 => Tipo BW
pos, identificados pelas letras maiúsculas A, B, C, D, E. Clima se T + 14 < P < 2 (T + 14) => Tipo BS
tipo B identifica áreas secas ou de vegetação xerófita, enquanto

lillllllllllll~~1 nhHIIlllllmü'!(ijirllilllljWmmHlmm;H:iliHmlll'~r~~:;~:mn~ lJ~ II 11: I. ij; li I'


306 - Pereira, Angelocci e Sen telhas Agrometeorologia - 307

A classificação de Koppen introduz também subtipos e • Cwb =} tropical de altitude, com temperatura d o mês
variedades, expressos por letras minúsculas, para levar em conta mais quen te inferior a 22°C;
a amplitude térmica anual e a d istribuição sazonal d as chu- • Csa =} tropical de altitude, estiagem d e verão (represen-
vas . Essas letras são incorporadas àquela do tipo ou g rupo, tado em pequena região do nordeste);
para constituírem afórmula climática. Detalh es de cada subtipo
e variedade são apresentados em Vianello & Alv es (1991).
Em função da faixa de latitudes em que se encontra e do
relevo com altitudes pouco pronunciadas, o território brasi-
leiro apresenta m acroclimas do tipo A, B e C (Figura 15.4) nes-
sa classificação. O tipo B é representado por BSh, clima semi-
árido quente (h significa temperatura m éd ia anual acima de
18°C), do sertão n ordestino, com a maior parte do ano seco.
Os climas megatérmicos prevalecem em g rande parte do
território brasileiro (Figura 15.4), com os seguintes s ubtipos
definidos pela distribuição de chuvas no ano:
• Af =} com chu vas bem d istribuídas ao longo do ano, e
ausência de estação seca, como n a Amazônia ocidental e parte
do litoral sudeste;
• Am =} com pequena estação seca, sob influência de
monções; ocorre em boa parte da Amazônia oriental;
• Aw =} d enominado clima de savanas, com inverno
(winter) seco e chuvas máximas d e v erão, presente nas regiões
norte, centro-oeste e parte do sudeste; ,.. TIPOS DE Cl,.r", ,,

..
Ala
• Aw'=} idêntico ao anterior, mas com precipitação má- " ;::
Am Cwb
xima no outono; Aw 11~_. C, 'O
Cwo ="'''..
• As =} precipitações de outono e inverno (estação seca - - - - - - .Aw'
: .",,;;,,1
,. ., Cf b o. "

Cfo .
do verão até outono); ocorre em parte do litoral do nordes te. '" /

Os climas mesotérmicos ocorrem em parte do sudeste e do I


sul do Brasil, apresentando as seguintes variedades:
• Cwa =} tropical de altitude, com in verno seco e tempe- FIG URA 15.4 MacrocJimas do Brasil pela cl assificação de Kbppen. Fonte:
Viane l lo & A lves (199 1).
ratura do mês mais quente maio r que 22°C
308 - Pereira, Ange/ocei e Sente/has Agrometeorologia - 309

• Cfa =:> subtropical, sem estação seca e temperatura do posição hídrica no solo, podendo-se verificar a variação, entre
mês mais quente maior que 22°C; localidades, dos meses do ano em que essas variáveis ocor-
• Cfb =:> idem ao anterior, mas com temperatura do mês rem.
mais quente inferior a 22°C. A classificação climática de Thornthwaite utiliza índices
calculados com base no balanço hídrico climatológico normal.
A partir dos valores anuais são definidos os seguintes índices
15.4.2 Classificação de Thornthwaite ligados à disponibilidade hídrica:
• fndice hídrico Ih = (EXC I ETP) 100
Uma ferramenta útil e simples dos estudos climáticos é • Índice de aridez I = (DEF I ETP) 100
"
a elaboração do balanço hídrico climatológico normal de um local • Ín dice de umidade lu = Ih - 0,6 I,
ou região (ver Capítulo 13). O balanço hídrico climáti co, se-
gundo Thornthwaite e Mather (1955), fornece informações da Com base no índice de umidade, Thornthwaite definiu
disponibilidade hídrica ao longo do ano, p elo cálculo de exce- os tipos climáticos (Tabela 15.5), e com os índices de aridez e
dente (EXC), deficiência (DEF), retirada e reposição (ALT) hídrica hídrico determina-se os subtipos (Tabela 15.6).
no solo. Tem-se também uma visão da disponibilidade térmi-
ca, pela evapotranspiração potencial ou de referência (ETP). A
TABELA 15 .5 Tipos climáticos, segundo Thornthwai te, co m base
, .'! execução desse tipo de balanço hídrico climático exige, na sua em índ ice de umidade.
estimativa mais simples, tão-somente a temperatura do ar e a
altura pluv iométrica. Por esse motivo, esse método tem am-
TIPO DE CLIMA I"
pla aplicação em agro-climatologia, e em estudos geográficos. A ~ su perúmido I" > 100
A Figura 15.5 (p. 312) mostra exemplos de gráficos sim- B4 -7 úmido 80'; I" < 100
p lificados (extratos) de balanços hídricos climatológicos nor- B3 ---7 úmido 60 < I" < 80
mais para oito localidades, representativos das diferentes con- B 2 ---7 úmido 40'; I" < 60
dições climáticas que ocorrem no Brasil. Verifica-se balanços BI ---7 úmido 20'; I" < 40
extremos com ocorrência de excedente hídrico ao longo de todo C2 ---7 subúmido O < I" < 20
o ano, típicos de regiões do sul e de parte do litoral brasileiro, C 1 ----? subúmido seco -20'; I" < O
bem como da A mazônia, ou com ocorrência de deficiência D ---7 semi-árido -40'; I" < -20
hídrica em todos ou na grande maioria dos meses, sem ocor- E --> árido -60 < I" < -40
rência de reposição hídrica completa no solo, típicos de locali-
dades do semi-árido do NE. Outros balanços apresentados
mostram situações intermediárias, com períodos m ais ou me-
nos longos de deficiência e d e excedente, de retirada e de re-
310 - Pereira, Angelocci e Senlel17as Agrometeorologia - 311
----------------------~

TABELA 15 .6 Subtipos climát ico s, segundo Th o rnth wa ite com base nos EXEMPLO: Com os dados do balanço lúdrico normal,
índices de aridez e h ídri co. '
com CAD = 100 mm, de Ribeirão Preto, SP (exemplo do Capí-
C lim as úmidos (A B, CO) Indice de aridez Ia
r ---7 sem ou com pequena defic iê nc ia h íd rica O<Ia < 16,7
tulo 13 - Balanço Hídrico), classificar o clima dessa localidade
S ---7 defic iência hídri ca mode rada no verão 16,7 < 1" < 33,3 segundo Thornthwaite.
w >defic iê nci a hídri ca moderada no in verno 16,7 < Ia < 33,3 DEF =70mm
52 ---7 gran de deficiên cia hídri ca no verãu Ia> 33,3 EXC = 522 mm
W2 ---7 grande deficiê nci a hídrica no inverno lo> 33,3
ETP = 1082mm
Climas secos (C h D E) Indice hídrico Ih ETP verao
. = 336mm
d ---7 excedente hídrico pequeno o u nul o O < Ih < 10 Ih = = (EXC 1 ETP) 100 = (522/1082)*100 = 48,2
s ---7 excedente hídrico mode rado no verão !O < Ih < 20 I = = (DEF / ETP) 100 = (70 11082)*100 = 6,5
a
W ---7 exceden te hídrico moderad o no i nverno lO<l h <20 I" = = Ih - 0,6 Ia = 48,2 - 0,6*6,5 = 44,3
52 ---7 g ra nde excedente hídri co no ve rão Ih> 33,3
g rande excedente hídri co no in vern o Ih> 33,3
Pela Tabela 15.5, com lu = 44,3 ~ Tipo B2 clima úmido.
W 2 ---7

P ela Tabela 15.6, com Ia = 6,5 ~ Subtipo r, p equena defi-


Os 10 tipos climáticos qu anto ao fator térmico foram
d e finidos com base na evapotranspiração potencial anual, e os 8 ciência hídrica .
Pela Tabela 15.7, com ETP = 1082 mm ~ Tipo B'., Tipo
subtipos dependem da relação porcentual ETP no verão/ETP
anual (Tabela 15.7) . Utilizou-se a ETP porque ela depende di - mesotérmico.
Pela Tabela 15.7, com ETP d e verão/ETP anual * 100 =
retamente da temperatura (Mé todo de Thornthwaite, Capítu-
lo 12) . 31 % ~ Subtipo a ' .
Em resumo, a fórmula climática é:
TABELA 15.7 Tipos e subtipos climát icos, segu ndo Thornth wai te c om base
no índice térmico (ET P an ual). ' B, r B'. a ' ~ Tipo Mesotérmico Úmido, com pequena d e fi-
Tipos ETP anual (mm)
ciência hídrica.
S ubti lOS (ETP no "crão/ETP allual)- lOO
A' -+ mega ténnico ETP 2:1 140 a menor que 48.0%
8'4 -+mesotérmico 1140 >ETP > 997 lI'~ entre 48.0% e menos que 5 1.9%
S ')-+mcsotérmico 997 > ETI) 2: 885 b') entre 51.9% c menos que 56,3%
0 '2 -+meSOlérmico 885> ETP >712 b'l entre 56,3% e menos que 61.6%
S'j-+ mesotérmi co 711>ETP>570 b '! entre 61.6% e menos que 68,0%
C'2- microtérmico 570> ETP > 427 C'l elltre 68,0% c menos que 76,3%
C') --+ microtérmico 427 > ETP 2: 285 c') cllIre 76,3% e menos que 88,0%
D' --+ tundra 287> ETP 2: 142 d' igu:l1 ou maior q ue 8~U)%
E' --+ elo tuo ETP < 142
312 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 313

15.5 MUDANÇA, VARIABILIDADE E ANOMALIAS


DO CLIMA

15.5.1 Mudança e variabilidade do clima

As condições climáticas na Terra sofrem flutuações con-


~.n F. v .. . , Ab . . . . . 0 Jun J" ""o s •• Ou, No. O . .
tínuas. Dependendo da escala de tempo em que se trabalha é
possível visualizar essa variabilidade e definir o que são mu-
danças climáticas. Mudança climática refere-se à alteração glo-
bal das condições climáticas médias, incluindo-se não somen-
te modificações atmosféricas, mas tambélTI de outros compo-
nentes do sistema climático, como a hidrosfera, a litosfera e a
criosfera . Variabilidade climática refere-se às flutuações em tor-
: : [J~f(- 1)IZlE;)\C l I :::LI-,-~~~~~,-~~_-'--l
.Ia" F. v M a, ... br Ma l J~n Jul logo S . . 01'1 No. Dez Ja n f ev 101 . . ",~, .. ~; Jun Jul AlIo So ' Ou' No y O n
no da média de longo período. Entretanto, não há uma distin-
Maoaua,AM SanlaM arla,RS
ção absoluta entre esses termos (Rosenzweig e Hillel, 1998).
Por exemplo, o possível aquecimento atual da Terra por efeito
estufa pode ser tomado como uma mudança climática na esca-
la de séculos ou décadas, mas poderia ser considerada apenas
um desvio da média de temperatura caso se trabalhe na escala
de dez enas de milhares de anos, ou na escala de eras geológi-
Jo. Fev ,... , Abr Mal Jun Jul lig o Se I Ou l No. Ou Jo o F , . . . ~ .... IH M o; Jun Jul AlIO S . . Ou, No . Ou cas. Mesmo que fosse considerado como um desvio da média
I

CuI8b',MT
em uma escala de milhares de anos, isso não significa que o
aquecimento global não seja preocupante pelas conseqüências
que pode trazer à vida neste planeta.
Antes da história registrada da Terra, ocorreram flutua-
ções climáticas de grande magnitude, que podem ser inferidas
por estudos paleoclimatológicos, fundamentados em evidência
Jan F.y ,lia , Abr Moi Ju n Jul "00 Su 0..., No. D e< geológica e paleobiológica. As variações climáticas podem ser
conhecidas pelo estudo de fontes ligadas à Antropologia e à
FIGURA 15.5 Exe mplos de gráficos de balanços h ídricos no Bra sil , p ara Arqueologia, além de técnicas especiais (por exemplo, estudo
CAD - 100 m m . Fonte: Sente lhas et aI. (1999) .
de anéis de crescimento de certas árvores, dendroclimatologin).
A cerca de dois séculos, há registros relativamente confiáveis
314 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 315

das condições a tmosféricas. É possível in ferir que ao longo d o continentes; vulcanismo com lançamento de aerossóis na at-
último milhão d e an os as flutu ações da temperatura global da lnosfera, a variação da cobertura de neve e gelo alteram espa-
Terr'a foram grandes (Figura 15.6), com ciclos de milhares de cial e temporalmente o balanço energético do p laneta;
anos. Na maior parte do tempo ela teria estado abaixo (a té 3° • Astronômica => as variações da excentricidade da órbi-
C) e na menor parte ela teria est ado acima (até)o C) da tempe- ta terrestre, a precessão dos equinócios (movimento cíclico,
r atu ra g lob al do início do século XX. com modificação temporal dos pontos que definem o in ício
das estações do ano, em períodos de 22.000 a 26.000 anos) e
variações da inclinação do eixo terrestre em relação ao p lano
da Eclíptica (de 21,5° a 24,5" em períodos de 41.000 anos), de-
~
correntes da atração gravitacional entre os corpos celestes;
~ • Extraterrestre => variação da emissão de energia do SoL
~
=>
"§ Quando se estuda a variação da temperatura global da
"E
C>. Terra nos últimos 10.000 anos (Figura 15.6), infere-se q u e na
o maior parte do tempo ela esteve acima daquela observada no
~ .\!1 800,000 600.000 400.000 200 .000
b"

,.,h'

.' "
-o
"c:
Ü"
b
início deste século, passando por um máximo (cerca de 1,50
acima) no Holoceno (cerca de 5000 anos atrás), e abaixo (me-
nos que 10 C), em torno de 8.000 e 3.000 anos atrás. Com essas
"=>
-o
flutuações, ocorreram avanços e retrocessos das camadas de
:;s
gelo continental, com ocorrência de períodos glaciais e
interglaciais. O último período excepcionalmente frio ocorreu
entre 1550 e 1850 (pequena idade do gelo), com aumento das
10.000 3.000 6.000 4.000 2.000 o glaciações principalmente na Europa. Nessa escala, aSSUHle-
se que a Terra atravessa no momento um período interglacial,
FIGURA 15.6 Variação da tempe ratura global da Terra no último milhão de
ano e nos últimos 10.000 anos. Adaptado de IPCC (1990).
com aumento da temperatura globaL
A flutuação da temperatura global da superfície terres-
tre com base em observações desde 1880 é vista na Figura 15.7,
Na escala de eras geológicas, muitos fatores concorrem notando-se com mais d e talhes essa tendência de aquecimen-
para as flutuações do clima, poden do ser classificados como to. Devido ao fato da Terra estar em um período de
d e origem: interglaciação, com aumento natural da temperatura, é difícil
• Terrestre => modificações da composição da a tmosfera separar quanto do aquecimento é devido à variabilidade na-
e da distribuição dos oceanos e contin entes, da top ografia dos tural e quanto é decorrente, por exemplo, do efeito estufa orig i-

1IIIIIiIlIlUlllllllllm'IIUlllllllllm;~" " - ---


316 - Pereira, Angeloccí e Sente/has Agrometeorologia - 317

n ário de ca usas antropogênicas (desmatamento, liberação de previsão, pela impossibilidade de se fazer experimentos con-
gases estufa ) ou quanto houve de efeito contrário por atenua- trolados na atmosfera.
ção da radiação solar por aerossóis de origem industrial ou
natural, como por exemplo, após a erupção do vulcão Pinatubo, Apesar das incertezas, h á uma série d e evidên cias de
nas Filipinas, em 1991, que acredita-se ser uma das cau sas da que há um incremento do a quecim ento global devido à ação
queda de temperatura obser vada em 1992. do Homem, com conseqüências d ifíceis de serem prev istas.
Os efeitos dos gases estufa (Capítulo 3) na modificação do cli-
ma são estudados por modelos climáticos globais. Tem-se tenta-
E 0,6 Médi a anual
Tendência do estudar o efeito do aumento da concentração dos gases es-
~ 0,4 tufa na atmosfera, simulando o que ocorreria com a tempera-
e
e..J
Q,
0,2 tura global do p lan eta se duplicasse, por exemplo, a concen-
~ o tração de CO,. Devido à complexidade e ao conhecimento in-
f-
~ -0,2 completo do sistem a climático, os resultados indicam valores
I~ -0,4 discrepant es (entre 1,9 e 5,2 °C) para o v alor do aqu ecim ento
.~ -0.6 nos próximos 100 anos, quando se simula uma duplicação brus-
;:
ca da concentração CO2, e aumento d a precipitação global anual
1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 de 3 a 15%. Assume-se, entretanto, q u e a m elhor estimativa
FIGURA 15.7 Va ri ação da temperatura global da
para o a umento de temperatura global, mantidas as tendên-
Terra d esde 1880. Adaptado de Rosenzweig & Hillel cias a tuais, seria de 1 °C a 3,5 °C, em 2100. Ocorreriam diferen-
(998).
ças espaciais nessas tendências: as latitudes elevadas n o He-
misfério norte tend eri am a se aquecer, principalmen te no in-
É difícil confirmar se atualmente está com eçando a ocor- verno; o interior dos contu1entes n as latitudes médias sofre-
rer uma mudança climática para as próximas d écadas, por riam tendência de seca no verão e os continentes aquece riam-
vários motivos: se mais rapidamente do que os ocean os.
• dificuld ade em se ponderar o efeito da variabilidade Uma simulação da mudança em um ritmo grad ual é mais
natural no processo de aquecimento; difícil de ser feita, embora mais realista . Prevê-se que para essa
• problemas devido às mod ificações de técnicas d e me- taxa de aumento de CO2 de 1 % ao an o, ocorreria aquecim ento
dida de temperatura ao longo dos últimos 100 anos, à distri- de 0,3°C/ década, atingindo en tre 1,3 a 2,3°C quando a con-
buição inadequ ada dos pontos de medida e à urbanização in-
tensa;
°
centração d e CO2 fosse o dobro da atual. Atlântico, no HN,
e próximo à A ntártida, no HS, se aqueceria menos, e o HS se
• dificuldade de se modelar o clima, sendo a modela- a queceria mais lentamente que o HN.
gem físico-matemática a forma de estudo disponível para tal
Agrometeorologia - 319
318 - Pereira, Angelocci e Sentelhas

A variação cíclica da temperatura da superfície do ocea-


Rosenzweig & Hillel (1998) explicam que boa parte do
no Pacífico ao sul do Círculo Equatorial causa variações do
globo sofrerá impactos com aumento da temperatura, de even-
campo de pressão, em um fenômeno conhecido como EI-Nifio-
tos extremos (como secas, inundações), modificações do regi-
Oscilação Sul (ENOS) e interfere com a circulação atmosférica
me hidrológico e de chuvas entre as regiões, variação dos ní-
em larga escala, afetando regiões distantes da ocorrência do
veis do mares. Especula-se quanto aos efeitos sobre a produ-
fenômeno (ver Capítulo 4).
ção das_ culturas pelo aumento da concentração de CO2 e da
elevaçao da temperatura, bem como da modificação do regi-
me termopluviométrico das regiões e dos efeitos sobre pragas
e doenças de plantas.

15 .5 .2 Anomalias climáticas

Eventos meteorológicos e climatológicos com desvios


muito grandes em relação à média podem ser considerados
como anomalias, citando-se entre eles secas e inundações anor-
mais, ondas de calor, aumento do número de furacões, etc.
Tem-se tentado explicar parte dessas anomalias, por fenôme-
nos que ocorrem nos oceanos e que afetam a atmosfera (como
por exemplo, o EI Nino), podendo refletir-se no sistema cli-
mático global (teIeconexões atmosféricas).
Oscilações na temperatura da superfície oceãnica alte-
ram as circulaçõe s atmosféricas em grandes regiões do globo.
Conhece-se, por exemplo, a importância do aquecimento da
água dos oceanos nas regiões equatoriais como um fator im-
portante na formação de tormentas tropicais, que podem evo-
luir para ciclones devastadores Ifuracões e tufões). As variações
no campo d e pre ss ão atmosférica nos oceanos e continentes,
que orig inam a s mon ções, podem resultar em irregularidades
ness e tipo de circula ção, com efeitos sobre o regime de chuvas
n as reg iões e m q u e e las atualTI.
Capítulo 16

Temperatura como fator


agronômico

16.1 INTRODUÇÃO

Para seu crescimento e desenvolvimento os seres vivos,


tanto animais como vegetais, necessitam de condições climá-
ticas adequadas para que os processos fisiológicos transcor-
ram dentro de sua normalidade . Mesmo estando as condições
de luz e umidade favoráveis a esses processos, eles sofrem
alteração se a temperatura estiver fora dos linütes considera-
dos ideais àquela espécie. Basicamente, existem dois limites,
:
, sendo um inferior e outro superior, e entre eles há uma zona
l-
.' ótima em que a temperatura é ideal e sua variação não provo-
ca alterações consideráveis nas taxas de crescimento e desen-
volvünento. Dessa forma, as condições térmicas do ambiente
são de extrema importância na produtividade animal e vegetal.

16.2 TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE ANIMAL

Para se manterem saudáveis, produtivos e com maior


longevidade, os animais homeotérmicos (de sangue quente), ne-
cessitam que a temperatura do ar e, conseqüentemente, a tem-
peratura corporal do animal esteja entre certos lin"lites para
que os processos fisiológicos não sejam afetados. Portanto,
antes de se introduzir uma raça em uma região, ou de se cons-
322 - Pereira, A ngelocci e Sen telhas Agrometeorologia - 323

truir um abrigo zootécnico para uma determinada exploração 16.2.1 Conforto térmico
animal, deve-se considerar as necessidades fisiológica s do
animal com relação às condições ambien tais. A Tabela 16.1 Para permitir a dissipação da energia (calor) gerada pelo
mostra um exemplo da influência da temperatura ambiente metabolismo e pelo trabalho físico, a temperatura ambiente
no desempenho e produção de leite de vacas holandesas. Ve- deve ser menor que a temperatura corporal. Na maioria das
rifica-se que houve estresse dos animais na temperatura am- espécies, a temperatura corporal começa a aumentar quando
biente de 30°C, com aumento exagerado na taxa de respiração a temperatura ambiente atinge 28°C. Geralmente, espécies que
(3 vezes mais), no consumo de água (+30%), resultando em suam resistem melhor às condições de excesso de calor que
queda de 15% na produtividade de leite, embora a temperatu- aqueles que se refrigeram pela respiração.
ra retal tenha aumentado apenas 1,3 0C. A Figura 16,1 mostra as diversas zonas de temperatura
e o que acontece com a temperatura corporal e com o metabo-
TABELA 16.1 D ese mpenho de vacas leiteiras em diferentes condições tér-
mi cas. Fonte: Müller (1989). lismo dos animais homeotermos. A seguir são descritas as zo-
Temperatura Ambiente (·C) nas delimitadas pela Figura 16,1.
Comportllmento ! Produção IR 30
Temperatura rel:1I CC) 38.6 39.9
Tempcrdlura pele ("C) 33,3 37,9
Respirações por minuto 32.0 94.0 Estresse por Frio .-- _ ., Estresse por calor
Consumo de água (Ifdia) 58,0 75 ,0
Produç!lo de leite (kgfdia) 18.4 15.7
.. .. .................... .... ...... ::e~, ~r~1 _ ..

o mesmo tipo de queda de produtividade pode ser ob-


servada em suínos, nos quais o ganho de peso por dia é redu- Produção de calor
zido em ambientes com temperatura elevada, chegando a per- pelO metabolismo
der peso em condições extremas (38°C), como pode-se obser-
var na Tabela 16.2. Nota-se, que o peso do animal foi fator
determinante na reação ao estímulo térmico. Letal Letal

TABELA 16.2 Ganho/pe rd a de peso (kg/dia), em su ínos submetidos a dife- FIGU RA 16.1 Temperatura do ar ambiente e sua rela ção com a temperatura
ren tes co ndições térm icas am bientais. Adaptado de Müller (1989) co rporal e metabo li smo em animais homeotermos. Adaptado de Müler
( 1989)
Peso do animal Te.mper;.tlum anbienle ('C)
(I;-g) 21 Z1 32 38
45 0,9 1 0,89 0,64 0,18
90 1,01 0,76 0.40 -0,35 • A => Zona de conforto térmico: cond ições ambientais
160 0.90 0,55 0.15 -0,15
id ea is para produção máxima.
324 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 325

• B ~ Zona sub-ótima por excesso de calor: nesta zona, pela nã consegue manter a temperatura corporal constante, resul-
temperatura ambiental estar acima do limite superior de con- ta ndo e m coma e morte, se as condições permanecerem por
forto, ocorre vaso-dilatação para aumentar a circulação san- 1' 111 po s uficientemente longo.
guínea periférica, com conseqüente aumento da freqüência
respiratória e do consumo de água, para se eliminar calor mais
facilmente. Há, também, diminuição no consumo de alimen- 16.2 .2 índices de conforto higro-térmico para animais
tos para reduzir a combustão interna geradora de calor. Em homeotermos
ambiente aberto, os animais procuram sombra, lugares mo-
lhados, com mais ventilação, que são condições mais favorá- A importância da adequação climática das instalações
veis à troca de calor. Os animais evitam ficar próximos uns para a criação de animais reside em sua estreita ligação com a
dos outros para evitar aquecimento indesejado. produtividade do empreendimento. O desempenho orgânico
• C ~ Zona Ifatal (hipertermia) : nesta zona, a perda de ca- dos animais depende de sua relação com o ambiente, e varia-
lor é menor que a produção metabólica de calor, resultando ções ambientais bruscas provocam desconforto, comprome-
em aumento exagerado da temperatura corporal com conse- tendo a saúde e a produtividade dos animais.
qüente coma e morte, se essas condições perdurarem por muito Os elementos climáticos que intervêm nas condições de
tempo. Os animais param d e se movimentar para minimizar a conforto animal são: temperatura, umidade, radiação solar,
produção interna de calor. ventos, nebulosidade e precipitação, pois interferem direta-
! • D ~ Zona sub-ótima por falta de calor: nesta zona, pela mente no balanço d e energia do animal (Figura 16.2).
I 1" I' temperatura ser menor que o limite inferior de conforto, ocor-
re vaso-constrição para restringir a circulação sanguínea peri- • ~
férica e reduzir a perda de calor corporal. Ocorre aumento na • li Qt .........
ingestão de alimento e diminuição no consumo de água. Em
ambiente aberto, os animais procuram lugares secos e
ensolarados, sem vento. Os animais aumentam sua movimen-
",.:
tação na tentativa de gerar calor interno, e procuram se agru-
par para reduzir a perda d e calor.
• E ~ Zona de deficiência térmica: nessa condição térmica,
ocorre aumento de calor metabólico, com tremor e contração
muscular involuntária, com piloereção visando formar uma FIGURA 16.2 Balanço de energia de um an imal homeotermo. Em que: Q s é
camada isolante ao redor do corpo. a radiação incidente; QI o calor emitido; QE o calor perdido pela
transp iração/respi ração; Q c a troca té rmica por convecção; Qo a troca térm i-
• F ~ Zona fa tal (Hipotermia): nesta zona térmica, mes- ca por condução; QM O calor metabólico; e ó'Q" é a variação efetiva do
mo com o aumento da produção metabólica de calor, o animal ca lor armazenado no corpo. Adaptado de Ass is (1995).
326 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 327

Com relação à construção de edificações para abrigo Quando o ambiente no abrigo zoa técnico se encontra sob
animal, a temperatura e a umidade do ambiente são os ele- condições estressantes para os animais, duas técnicas podem
mentos m ais importantes, sendo considerados n os índices de ser empregadas para diminuir o THI:
conforto higrotérmico. Um índice de conforto higrotérmico uti- 1) ventilação forçada do ambiente com ventiladores! exaus-
lizado é o THI (Temperature-Humidity Index), sendo útil para tores;
avaliação d e ambientes quanto ao estresse animal (Rosenberg 2) pulverização de água sobre os animais e no ambiente,
et a!., 1983), e é dado por: para diminuir a temperatura, com conversão de calor sensível
do ar em calor latente (Figura 16.3).
THI ~ Tar + 0,36 To + 41,2 (16.1)

em que: Tar é a temperatura média do ar no ambiente, em 0C;


e To é a temperatura do ponto de orva lho, em °C, fun ção da
pressão parcial do vapor d'água (ver Capítulo 7). Portanto,
para se determinar THI é n ecessário ter-se a tempera tura e a
,I umidad e relativa do ambiente. Esse índice deve ser qualifica-
Ii do para cada espécie animal. No caso de vacas leiteiras, o THI

L d eve ser m enor ou igual a 70. Valores acima de 72 prejud icam


a prod ução de leite e a alimentação; e valores superiores a 90,
por tempo prolongado, podem levar os animais à morte.
FIGURA 16.3 Esquema da insta lação de as persores e vent ilado res
em abr igos zootécnicos. Adaptado de Head (1995).
Resultados extraídos de Titto (1998), mostram a relação
entre o índice THI e a produção d e leite para três raças de EXEMPLO: Em um ambiente com Tar ~ 28°C e UR ~
vacas (Tabela 16.3). Observa-se que, até o índice THI próximo 65%, calcular THI. Conhecendo-se Tar e UR%, calcula-se pri-
d e 72, a produção de leite não foi afetada. No entanto, h ouve meiro To. Do Capítulo 7 (Umidade do ar) tem-se que (eq 8.11):
queda acentuada n a produção à medida que o THI foi aumen-
tand o acima d e 72. e
237,3 Log [- '-I
To ~ 0,6 108
TABELA 16.3 Ele ito do ambie nt e, expresso pelo índice THI, na prod ução de e, .
75-Log[- -]
lelle. Adaptado de Titio (1998). , 0,6 108
Tar lIR TliJ Produ ao Rda\iva (%)
eq (%) I IulandeSll Jen;ey Pardo· Suiça
24
24
38
76
68
72
100 100 100 Pela definição de UR ~ 100 e,! e" calcula-se e, ~ e, UR%!
96 99 99
34

°
100, sabendo-se que p ela equação d e Tetens (eq. 7.2) tem-se
46
34 80 "
86
63
41
68 84
es ~ ' 6108 * 10 17.5' 28 / (237,3 + 281( ~ 3, 78 kPa .
" 71
328 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 329

Logo, e a = e, * UR% / 100 = 3,78 * 65 / 100 = 2,46 kPa. repouso ou dormência. Um novo ciclo vegetativo será inicia-
Portanto, To = [237,3 * Log (2,46 / 0,6108)] / [7,5 - Log do após as plantas sofrerem a ação das baixas temperaturas,
(2,46/0,6108)] = 20,8°C. sendo que a quantidade de frio requerida para o término do
repouso é conhecida como Número de Horas de Frio (NHF) .
THI = 28 + 0,36 * 20,8 + 41,7 = 77,2 ~ [Condição de O NHF é definido como o número de horas em que a
estresse com queda de produtividade]. temperatura do ar permanece abaixo de determinada tempe-
ratura crítica durante certo período. Essa temperatura crítica
normalmente é considerada igual a 7 DC por ser aplicável à
16.3 TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL maioria das espécies criófilas, mais exigentes em frio. Para as
espécies menos exigentes considera-se a temperatura-base de
A temperatura do ar exerce influência sobre vários as- 13 °C (Figura 16.4). O NHF varia entre espécies e variedades, e
pectos da produtividade vegetal, estando relacionada com o quanto mais exigente for a espécie maior o valor de NHF, como
crescimento e desenvolvimento das plantas, devido ao seu se pode observar no quadro abaixo:
efeito na velocidade das reações químicas e dos processos in-
N HF < 7 D C
ternos de transporte. Esses processos ocorrem de forma ade- Es écic rrecoce Tardia
1 quada somente entre certos limites térmicos. A tolerãncia aos Macieira
Pessc uciro c N ectarina
600
100
800
500
~ níveis de temperatura é variável entre espécies e variedades. K iwi 400 600

.!:.,
Plantas de clima tropical são sensíveis a baixa temperatura,
enquanto plantas de clima temperado necessitam, no período
Por exemplo, no caso da macieira, uma variedade pre-
de repouso, de temperaturas baixas para produzirem bem.
coce necessita de 600 horas de temperatura abaixo de 7 °C
durante o inverno. Caso o inverno tenha N HF insuficiente (va-
lor menor que o mínimo) para atender as exigências térmicas
16.3.1 Temperatura e dormência de plantas de clima
de uma espécie, poderão ocorrer as seguintes anomalias nas
temperado
plantas: a) queda de gemas frutíferas; b) atraso e irregularida-
de na brotação e floração; e c) ocorrência de florescimento ir-
Espécies frutíferas de clima temperado de folhas cadu-
regular e prolongado. O resultado dessas anomalias é a redu-
cas (criófilas ou caducifólias) apresentam um período de re-
ção dos rendimentos e da longevidade da cultura.
pouso invernal, durante o qual as plantas não apresentam cres-
O conhecimento do NHF médio (normal) de uma locali-
cimento vegetativo visível. Esse repouso é condicionado pe-
dade ou região possibilita avaliar se o cultivo de uma frutífera
las condições climáticas, que atuam sobre os reguladores d e
de cl ima temperado é ou não v iável ou, então, qual a varieda-
crescimento. A temperatura do ar é o fator reconhecidamente
de que melhor se adapta de acordo com sua exigência em frio.
importante nesse balanço hormonal que condiciona a fase de

IIIIIIIIIHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII I - - - ~
Agrometeorologia - 331
330 - Pereira, Angelocci e Sente/has

o acompanhamento do NHF ao longo do inverno, permite • Piracicaba (SP) : T.JlI Iho = 17,3 °C ~ NHF<7 = 401,9 - 21,5
avaliar se as condições estão sendo favoráveis ou não à que- * 17,3 = NHF<7 = 29,8 horas
bra da dormência, possibilitando tomar medidas para se pro- • Votuporanga (SP) : TiulhO = 18,6 °C ~ NHF<7 = 401,9 -
21,5*18,6 = NHF<7 = 1,8 horas
mover essa quebra por via química.
------ • Campos do Jordão (SP) : T iUlhO = 8,2 °C ~ NHF<7 =
401,9 - 21,5 * 8,2 = NHF<7 = 225,5 horas
30 - - - - - -----·---------i

G" 25 1 Verifica-se que o cultivo de pessegueiro somente será


~ 20
~ 15
[t!HF<13 I recomendável em Campos do Jordão (NHF<7 = 226 horas) e
~ apenas para variedades precoces. O planalto paulista realmente
~ 10 "\.'-.J
INHF<7 Ij
não apresenta clima adequado à exploração econômica de fru-
,!! 5
tíferas de clima temperado.
o v ~ 00
;: O acompanhamento da variação do NHF, ao longo do
~ ~ ~ N
'" '"
Hora ano, pode ser feito pela determinação diária do número de
horas em que a temperatura do ar, em abrigo meteorológico,
FIGURA 16.4 Esquema de determinação diária do NHF. permanece abaixo do valor crítico adotado. Isso pode ser feito
a partir de termo gramas, com acompanhamento diário (ver
De acordo com Pedro Jr. et aI. (1979), para o Estado de Capítulo 6). Uma alternativa é o uso de equações de estimati-
São Paulo, o NHF médio de um local pode ser determinado va de NHF diário em função das temperaturas extremas (má-
pelas seguintes relações estatísticas, que estimam o Nr:F total xima e mínima), e também às 21 horas local (Angelocci et aI.,
a partir apenas da temperatura média de julho (T jUlh) ' mes maiS 1979), ou somente com as temperaturas extremas (Pala &
frio na região: Angelocci, 1993). Nas estações automatizadas essa determi-
• NHF com temperatura abaixo de 7 °C (NHF<7): nação fica mais fácil em função de uma programação no siste-
ma de aquisição de dados, que vai acumulando o tempo em
NHF<7 ~ 401,9 - 21,5 T,UlhO
(16.2) que a temperatura fica abaixo de um valor crítico .

• NHF com temperatura abaixo de 13°C (NHF<13):


16.3.2 Temperatura do ar e desenvolvimento de plantas
NHF<l3 ~ 4.482,9 - 231,2 T iulho (16.3)
Um dos primeiros estudos relacionando clima e planta s
EXEMPLO: Avaliar a possibilidade de plantio de pesse-
foi realizado por Reaumur, na França, por volta 1735. Ele ob-
gueiro (var. precoce NHF<7 = 100, e tardia NHF<7 = 500) nos
servou que o somatório das temperaturas do ar durante o ci-
locais abaixo :
332 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 333

elo de várias espécies era praticamente constante, em diferen- Cada espécie vegetal ou variedade possui suas tempe-
tes anos. Ele assumiu que esse somatório térmico, ou constante raturas basais, as quais podem variar ainda em função da ida-
térmica, expressa a quantidade de energia que uma espécie de ou fase fenoló gica da planta, sendo tanto as temperaturas
vegetal necessita para atingir um certo grau de maturidade. diurnas como as noturnas con sideradas igualmente importan-
Reaumur foi o precursor do sistema de unidades térmicas ou tes no desenvolvimento vegetal. Deve-se a tentar para o fato
graus-dia, usado atualmente para a previsão da duração do ci- de que o conceito de graus-dia leva em conta somente o fator
clo fenológico de vários vege tais. térmico, não se consi derando o efeito de outros fatores
O conceito de graus-dia (GD) baseia-se no fato d e que a ambientais sobre o crescimento vegetal.
taxa de desenvolvimento de uma espécie vegetal está relacio- Normalmente, nas condições do centro-sul do Brasil. as
nada à temperatura do meio. Esse conceito pressupõe a exis- temperaturas médias não chegam a atingir níveis tão eleva-
tência de temperaturas basais (inferior, Tb; e superiOl~ TB) dos que ultrapassem a temperatura -base s uperior (TB), consi-
aquém ou além das quais a planta não se desenvolve, e se o derando-se somente a inferior (Tb). Nessa situação, o cálculo
fizer, será a taxas muito reduzidas. Assume-se, na prática, que de GD fica bastante simplificado, se a temperatura mínima
entre Tb e a temperatura ótima, a relação entre temperatura (Tmín) for maior que Tb, e o valor diário (GDi) será dado pela
do ar e desenvolvimento é praticamente linea r (Figura 16.5). relação:

CDi = Tméd, - Tb (16.4)


~i ,
~I t
:: "
1,0 em que Tméd, é a temperatura média do ar, em 0e, no dia i.
o
""E 0,8
;
~ o-;ô'
7 Zo",do
T6~
Essa é a situação mais comumente encontrada.
Caso Tb seja igualou maior que Tmín, e menor que a

~ n" / temperatura máxima (Tmáx), então GDi será dado por (Villa
"
""" 0,2
o / \ Nova et aI., 1972):

GO,
(Tmáx ; _Tb)2
(16 .5)
6 10 14 18 22 26 30 34 38 2(Tmáx; - Tmín ; )
t Temperatura do ar (OC) t
Tb TB
Na eventualidade de Tb ser maior que Tmáx, então GD,
FIGURA 16.5 Taxa de desenvolvimento re lativo e = O. Fica implícito que a cada grau de temperatura acima da
temperatura base inferior (Tb) e superi or (TB) para o T b tem-se 1 °Cd. Para que a cultura atinja uma de suas fa ses
desenvolvimento vegetal. fenológicas ou a maturação é necessário que se acumule a cons-
ta nte térmica, que será dada pelo total de GDi acumulados
334 - Pereira, Al1gelocci e Sentelha5 Agrometeorologia - 335

(GDA) ao longo da fase o u ciclo (sendo n o número de dias da C UItUITI Variedade/Cultivar Per íodo/S ub-Pe rfodo Tb ("C) G DA
fase ou ciclo): ('C.d )

Abacu lc' Raça Antilh3na Floração-Maturação 10,0 2800

Constante Térmica = GDA= L GDi.


"
j ", 1
(16.6)
Raça Guatcmalense
Híbridos
Floração-Maturaç50
F1ora~ão-MaturaÍão
10,0
10,0
3500
4200
Abacaxi' Rondon Flor<lção-Maturnção 5.0 2300
Caycnnc Floração-Matu ração 9.0 2020
Na Tabela 16.4, são apresentados valores da constante E rvi lha- Super-Precoce Semeadura-M3turação 6.0 1225-1525
térmica (GDA) e da temperatura base (Tb) para algumas espé- Precoce Scmeadura-M:uuração 6.0 1526-1725
Semi-precoce Semeadura-MalUração 6.0 1726-2000
cies e variedades. Essas inform ações são bas tante úteis, possi- Tardia Scmeadura-Maturasllo 6.0 2000-2275
bilitando o planejamento de plantio I semeadura, de colheitas, Feijiio' Carioca 80 Emergência-Flomção 3.0 813
Ri o Ti bagi Emergência-Floração -2,0 lU05
a escolha de variedades, e o acompanhamento em tempo real
G irassol Contisol-62 I 10 Semeadura-Maturação 4.0 1715
do desen volvimento da cultura. Além disso, a indicação da IAC-Anhandy'o Semeadura-Maluraç!l.o 5.0 1740
exigên cia, em graus-dia, para se cumprir um determinado es- VNIIMK'o Semeadurn-Maluraç!l.o 4.0 1850
Cargill33" Emergénci3-Floraçllo 8.0 947
tádio de desenvolvimento, é m ais útil do que o tempo crono- F1oração- Maturaç!l.o 7.0 1223
lógico (idade em dias), pois GDA representa um índice está- Emergência-Maturaçllo 2.0 2212
IAC-Anh<lndy" Emergênc ia- Floraç5o 9.0 823
vel e geral, válido para qualquer região. Aoração-Maturação 6,0 1232
Emergência-Maturação 0.0 2419
Issank ll Emergência-Floração 5.0 925
Ftomção-Maturação 2,0 852
TABELA 16.4 Valo res de consta nte térmica (COA) e temperatura base infe·
Emcrs ência-Mawrali'io 4.0 1776
ri or (Tb) para diversas culturas.
M ilho Irrigmlo U AG510 Semeadufll-50%Flo r.Mascu li no 10,0 800
DINA766 Se mcadu ra-50%Flor. Mllscul ino 10,0 800
Cultura Varicd adelCul ti \'nr Períod o/Sub· Período T b ("C) GOA BR201 Semeadura-50%Flor.Mascu li no 10,0 834
('C.d) e505 Semcadura-50%Flor.Masculino 10,0 834
! 1.8 1985 rCI8501 Semeadura-50%Flor.Masculino 10,0 851
A r roz IAC-444Q' Semeadura-Maturação
18,8 70 BRlO6 Semcadura-50%Flor.Masculino 10,0 851
Semeadura-Emergência
Erncrgéncin- Floraçao 12,8 1246 XL578 Semcndura-50%Flor.Masculino 10,0 884
12,5 402 DINAI70 S cmcadura-50%Flor. M ascu 1i no 10,0 884
Floraçfio-Mntunlção
METICA-l 1 Emergência-Floração 10,0 1220 Soja ll UFV-I Scmeadum-Maturação 14 1340
Emergência - Maturaçâo 10,0 1800 Sanl3 Rosa Semeadura-M3turaç:1o 14 1275
CICA-8! Emergência- "loraçao 10,0 1290 Viçoja Scmeadura-MulUraç.ão 14 1230
Emergência - Matur<lção 10,0 1860 Paraná Semeadura-M,uuração 14 1030
IAC-47 J SemclIdum-Floração 10,0 1555 l)cpiIlO I~ Gin,ga Semeadura -M atu r.u,:ão 710
Se mcadura- M ai li r'lçao 10,0 1957
Uva Niag3 ra Rosa.da ' ! Poda-Maturaç:1o 10 1550
IAC-165 J Semcadura-Flonlção 10.0 1210
Vitis vi ll ffera (Vinho)l b Poda-M uturaçilo 12 1350
St'meadura-M:ltumção 10.0 1611
Itália/Rubi' ) Poda-Maturação 10 1990
CNA 5206' Semeadura-Floraçao 10.0 13 10
Semeadura-Mat uração 10,0 1894
' Alves et aI. ( 1997); lVieira & Cury lunardi (1997); JSouza (1989); 'Souza cl aI. (1991); sOliveira el aI.
Caiapó I Rio Par:lIlaíba) Seme3dura-Floração 10,0 1440
(1998); 6l uchesi cl aI. (1977); 'Alfonsi et aI. (1994); 8Mota (198 1); 'jMassignam et aI. (1998);
Semeadura-M3turação 10.0 1855
'OSentelhas et aI. 1994); IlMassignam & Angelocci (1993); IlCardoso et ai . (1997); t]Camargo (1984);
'·Vieira et aI. (1992); 15Pcdro Jr. et aI. (1994); "Mandem (19821; I7Boliani & Pe reira ( 19961.
336 - Pereira, A ngelocci e Sen te/has Agrorneteorologia - 337

EXEMPLO: Utilização do conceito GDA para pla neja- Pela Tabela 16.4, sabe-se q ue para a e rvilha semi-preco-
mento de cultivos anuais. Conh ecendo-se as condições térmi- ce = } Tb = 6°C e GDA = 1300 °Cd. Nesse caso, os cálculos são
cas normais da região, é possível comparar-se a duração do feitos partindo-se da data desejada de colheita e re troceden-
ciclo de cultivo, planejar épocas mais favorá v e is d e plantio / do-se a té a data p revista de plantio.
seln eadura e de colheita. Tmed °C) GDi (°C.d n dias GDA me~ "C.d COA ciclo ("C. d
23,2 23.2 - 6 17,2 15 258.0 258,0
23.9 23.9 6 17,9 28 501.2 759,2
Local: G ália (S P): Dados norma is d e te mperatura média do ar (OC). 23,9 23.9 6 17.9

Mês Jnn Fev "'l ar Ab r M:Ji Jun .lul A o SeI QuI No.. Dez
Tmed 23.9 23,9 23.2 21.S 18,5 16,3 16,4 17,9 19.3 21.8 23.3 23,5

Novamente, verifica-se que os 15 dias de m a rço, mais


a ) Se a semeadura da soja (cv. Viçosa) ocorrer em 14 de fevereiro todo, representam a cúmulo d e 759,2 "Cd; portanto,
novembro, qual será a data m édia prevista em que ocorrerá a para completar os GDA n ecessários faltam 1300 -759,2 = 540,8
maturação, se para isso são n ecessários 1230 °Cd (Tabela 16.4) . °Cd. Logo, há n ecessidade d e mais 30 dias (540,8 / 17,9 = 30,2)
em jane iro. Logo, a data média d o plantio deverá ser de 01 de
Soja Viçosa => Tb ~
14 ' CeG DA - 1230 °C.d janeiro para frente. Como a Tb d a ervilha (6 "C) érnenor que a
M ês Tmcd ("C GOi ("C.d n (dias GOA rflCs ("C.d CDA ciclo ("<:.d da Soja (14 °C), cada dia do período d e cul tivo contribui, em
Nov 23.3 23,3 - 14 9.3 16 14 8.8 148.8
Do< 23.5 23.5 - 14 9.5 31 294,5 443.3 média, com 17 a 18 °C d.
lan 23.9 23.9 I' 9.9 31 306.9 750.2

!', Fe\'
Mar
23,9
23, 2
23.9 I ' 9.9
23.2 · 14 9.2
28 277.2 1027.4
c) Sabendo-se que os híbridos de milho AG510 e Dina-
170 n ecessitam , respectivamente, de 800 °Cd e 884 °Cd para
É importante observar que, em condições norma is, cada atingirem o florescimento (Tb = 10°C), e q ue o tempo ideal
dia dos m eses do período d e cultiv o contribui com cerca de 9 para o florescimento é de 60 dias, qual deles é o melhor híbri-
a 10 °Cd, e até o dia 28 de fevereiro acumula -se 1027,4 °Cd. do a ser semeado em 01/11 (safra de verão), em Gália, SP?
Portanto, faltam 1230 - 1027,4 = 202,6 °Cd , para que a soja
atinja o ponto de maturação. Como cada dia de março contri- =} Para o híbrido AG510 (800 °Cd)
bui com 9,2 °Cd, reparte-se o total que falta (202,6 °C d) em
T med ("C) ODi e c.d ) n dias GDA(OC.d) GDA C.d)
função dessa contribuição m é dia diária, prevendo -se que a 23,' 2:l,1 10 13,3 399 399
Dez 23,5 23.S - \O 13.5
maturação será por volta do dia 22 (202,6 /9,2 = 22).
Cada dia contribui, em média, com 13 a 14 °Cd. Portan -
b) Se, para um a indústria de conservas de ervilha, é de-
to, em novembro acumula-se 399 °Cd; logo, restam 800 - 399 =
sejável colher a p a rtir de 15 de março, qu a l deverá ser a data
401 °Cd, o que será a tingid o e m dezembro, no dia 30 (29,7 =
de semeadura para que a cultura chegue à maturação n aquela
401 / 13,5), totalizando 60 dias até o florescim ento.
data?
I Agrometeorologia - 339
338 - Pereira, Angelocci e Sente/has

=> Para o híbrido Dina-170 (884 °Cd). DFM = a + b Lat + c Alt + d Long (16.8)
M é.'1. Tmed rC) I Gdi ("'C.d) I n (di as) YGDac (OC.d)
23,3 I 23.3 10 13.3 30 399 em que os coeficientes a, b, c, e d são determinados es tatistica-
23,5 23,5 10_13.5
mente, variando com a espécie e com a cultivar.
A seguir são apresentados alguns exemplos de aplica-
Sendo Th a n,esma, novembro contribui também com ção desse modelo.
399 °Cd. Mas, como este híbrido exige maior GDA para com- ABACATE: São Paulo (Sentelha s et a I. 1996) - para
pletar a mesma fase feno lógica, res tam 884 - 399 = 485 °Cd, o florescimento a partir de setembro .
que será atingido até 5 de janeiro (35,9 = 485 / 13,5), totalizando • Precoce: => DFM = -83,48 + 8,59 Lat + 0,18 Alt
66 dias a té o florescimento. • Meia-estação: => DFM = -225,16 + 15,61 Lat + 0,28 Alt
Nesse caso, o melhor híbrido é o AG510, com 60 dias • Tardia: => DFM = -261,22 + 19,58 Lat + 0,31 Alt
para atingir o florescimento. Se a região fosse um pouco mais
quente, a situação se inverteria v isto que o AG510 atingiria o LARANJA: São Paulo (Sentelhas et aI., 1996) - para
florescimento em menor período. florescimento a partir de setembro
• Precoce: => DFM = -614,65 + 28,26 Lat + 0,041 Alt
• Meia-estação: => DFM = -579,64 + 26,55 Lat + 0,58 Alt
16.3.3 Determinação de zonas de maturação • Tardia: => DFM = -451,17 + 22,30 Lat + 0,63 Alt

Uma informação importante na produção de frutíferas é UVA: São Paulo (Sentelhas & Pereira, 1997)
o conhecimento de zonas climáticas de maturação de frutos, • Niagara Rosada:
visando a escolha de melhores áreas para colheita em perío- Poda agosto => DFM = -44,47 + 6,02 Lat + 0,078 Alt
dos de melhor preço. Isso pode ser feito sabendo-se quantos Poda setembro => DFM = -3,97 + 3,77 Lat + 0,078 Alt
graus-dia são necessários entre o período em que ocorre o • Itália / Rubi:
florescimento da planta e a data de coU,eita do fruto. Nesse Poda março => DFM = -91,19 + 10,09 Lat + 0,117 Alt
contexto, o conceito do GD possibilita também a estimativa Poda maio => DFM = -46,25 + 8,89 Lat + 0,091 Alt
da duração média do período entre o florescimento e a
I maturação de frutos (DFM), visto que a temperatura média em que: Lat é a latitude, expressa em graus e décimos; e Alt a
I (Tmed) de um local é determinada por suas coordenadas geo- al titude, dada em metros.
gráficas, isto é, latitude (Lat), altitude (Alt), e longitude (Long) Com a mesma técnica, é possível determinar as melho-
11 (ver Capítulo 6 - Item 6.6). Logo, é possível estimar-se DFM res épocas de indução floral para a lima ácida 'Tahiti', com as
pelas seguintes relações: equações desenvolvidas para:
DFM = f (GD) = f (Tmed) = f (Lat, Alt, Long) (16.7) • Bahia (Coelho F ilho & Sentelhas, 1997)
340 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 341

Para colheita em 15 / 09 ~ DFM = 349,95 + 4,35 Lat + Data de Colheita da Uva = 2: 1000 °Cd (após a poda) +
0,099 Alt - 7,64 Long 42 dias (erro médio de ± 4 dias)
Para colheita em 15/10 ~ DFM = 417,64 + 4,96 Lat +
0,111 A lt - 9,75 Long ou seja, se o acúmulo de 1000 °Cd ocorrer em 01 de dezembro,
a colheita deverá acontecer após 12 de janeiro. Se o ano for
em que Lat é a latitude, em graus e décimos; e Alt a altitude, mais frio, e o acúmulo de 1000 °Cd ocorrer em 30 de dezem-
em metros; Long é a longitude, em graus e décimos . bro, a colheita deverá ser a partir de 12 de fevereiro .

• São Paulo (Sentelhas et aI., 1997)


Para colheita em 15/10 ~ DFM = -318,13 + 19,55 Lat + 16.3.4 Temperatura do ar e desenvolvimento de insetos
0,112 Alt
Para colheita em 15/11~ DFM = -414,65 + 23,59 Lat + A telnperatura do ar afeta os insetos tanto d ireta como
indiretamente. Diretamente, influindo no seu desenvolvimento
0,107 Alt
e no seu comportamento, e indiretamente, influindo no cres-
EXEMPLO: Considerando-se Piracicaba, SP (Lat: 22"42'S cimento vegetal, ou seja, na sua alimentação. A temperatura
e A lt: 546m) para a produção de Lima Ácida 'Tahiti', caso o ótima de desenvolvimento para a maioria dos insetos é entre
produtor queira colher na entressafra (entre 15/10 e 15/11) 25 e 30 °C, correspondendo ao ponto de desenvolvimento mais
para obter melhores preços, o florescimento deverá ser indu- acelerado e de maior número de descendentes (Figura 16.6). A
, 38°C tem-se o limiar máximo (TB), e a 15 °C o limiar mínimo
zido cerca de 180 a 190 dias antes, ou seja:
" (Tb) .
O conceito de graus-dia também pode ser aplicado ao
Para colheita em 15/10~ DFM = - 318,13 + 19,55 * 22,7
desenvolvimento de insetos, visto que observações mostram
+ 0,112 * 546 = 187 dias
Para colheita em 15/11 ~ DFM = - 414,65 + 23,59 * 22,7 que eles completam seu desenvolvimento mais rapidamente
durante períodos quentes do que em períodos mais frios . Es-
+ 0,107 * 546 = 179 dias
sas informações são importantes na adoção de estr atégias de
controle de pragas, especialmente no manejo integrado de pra-
ou seja, o florescimento tem que ocorrer entre 11/04 e 20/05.
gas (MIP), situação em que o sistema de unidades térmicas (graus-
o conceito do CD possibilita também a previsão da data dia) se aplica tanto às pragas como aos inimigos naturais. Um
exemplo é o do Catolaccus grandis, parasitóide do bicudo-do-al-
provável de colheita pelo acompanhamento em tempo real do
godoeiro, cuja exigência térmica para completar o ciclo é de 250
acúmulo de CD. Abaixo segue uma regra prática para previ-
°Cd (Tb = 7 °C) para os machos, e de 312 °Cd (Tb = 2,5 "C) para as
são da data de colheita da uva Niagara Rosada (Pedro Júnior
fêmeas (Wanderley & Ramalho, 1996).
et aI., 1994):
342 - Pereira, Angelocci e Sentel/zas Agrometeorologia - 343

TABElA 16.6 Temperatura-base (Tb) e exigência térmica (GDA) de algumas


1,0 pragas agrícolas. Fonte: Si lveira Neto et aI. (1976)
o

",
~
E 0,8
Cocho nilh(l
Broca-do-Café
Mosca-lias-Frut as
T b '" 13.0°C
Tb ", 15,OuC
Tb", 13.5"C
}2GD == 420 "C.d
}2GD == 240~C.d
}2GD == 250°C .d
"ê 0,6
Hibernaçã o E s li v ,I Çã o
5
~ R e ve rs ív el
~ 0,4 EXEMPLO: Aplicação do conceito de GD para insetos:
u "
x" 0,2 • Gália, SP => Aqui a Tmed = 23,5 °e, entre janeiro e
...." março; portanto, a mosca-das-frutas terá o seguinte número
O
2 6 l O 14 18 22 26 30 34 38 42 46 50 de gerações:
1 Tem p era tura d o ar (OC ) 1 t C = GDA/(Tmed - Tb) ~ 250/(23,5 - 13,5) = 25 dias, ou
L i m iar Limi ar TLelal seja 3,6 (= 90 1 25) gerações no período janeiro-março
mí nimo máx i m o

FIGURA 16 .6 Relação temperatura e taxa de d esenvolvi mento de


insetos.
• Itararé, SP => Aqui a Tmed ~ 19,Ooe, entre janeiro e
março; logo, a mosca-das-frutas terá o seguinte número de
Na Tabela 16.5 são apresentados alguns exemplos do gerações:
efeito da temperatura do ar no ciclo de algumas pragas, C = GDA/(Tmed - Tb) = 250/(19 - 13,5) = 45 dias, ou
seja 2 (= 90/45) gerações no período.
TABELA 16.5 Infl uência da tempe ratura do ar sobre o ciclo de algumas Portanto, é de se esperar que o grau de infestação por
pragas de culturas. Fonte: Si lveira Neto et a!. (1976)
Cochoui lha Broca-do-Café 1\1osca-das-fruta.~
essa praga seja maior em Gália do que em Itararé.
TeI!l p , (~C) C iclo (dias) Temp. (~C) Ciclo (dias) Tem . (~C) C iclo (dias)
30 25 27 21 26 20
25 35 22
20
15
60
2 10
19 "
67
19 41
16.3.5 Temperatura e outros processos vegetais

Aplicando-se o conceito dos graus-dia pode-se determi- Além do desenvolvimento de p lantas e de insetos, a tem-
nar o número de gerações de uma determinada' praga, pela peratura do ambiente afeta outros processos nos vegetais, tais
segu inte relação : como: germinação, florescimento, produ ção de tubérculos, teor
de óleo em sementes. Afeta também a lgumas atividades agrí-
GDA ~ ti= 1
GD ; ~ (Tmed; -Tb) C (16.9) colas, como a aplicação de defensivos .

em que e é a duração, em dias, do ciclo da praga, Na Tabela Germinação


16.6 são apresentados valores de Tb e exigência térmica das A temperatura do ar e no perfil de solo onde são deposi-
pragas cit adas na Tabela 16.5. tadas as sementes influem no tempo de germinação, pois afe-
344 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 345

ta a velocidade das reações bioquúnicas. A temperatura ótima concluindo-se que a cana-de-açúcar irá florescer se L < O; e
para esse processo é variável entre as espécies, mas, situa-se não irá florescer se L > O. Se L = 0, então há 50% de probabili-
por volta dos 30 °C para tomate, soja, e cana-de-açúcar. dade da cana florescer (Figura 16.7).

TABELA 16.7 Efeito da temperatura no tempo de ge rmin ação de sementes 30 .


de tomate.
TOled 25 . 0
ü
DIas A Plantio 14 ' 0
;;;
. o
NÃO F40RESCE
v 20 o
Florescimento ~

Do ponto-de-vista da produção, o florescimento da cana-
de-açúcar é indesejável pois transforma açúcares do colmo em
E
>- 15
;:;
0
.~ 10 .
.. •• .. o
FLORESCE

o
inflorescência. Portanto, florescimento da cana-de-açúcar sig- •
~ 5 .
nifica perda de produtividade (chochamento do colmo). A cana
L = o
floresce quando o fotoperíodo está entre 12 e 12,5 horas . Em o
São Paulo, este fotoperíodo ocorre entre 25 /02 e 20/03. No o 5 10 15 20 25
entanto, a indução ao florescimento só ocorre, nessa condição X1 . Noites cf Tmin > 18 C

de fotoperíodo, se a temperatura do ar for menor que 31 °C ou


maior que 18 oCo Esse efeito é cumulativo, ou seja, há necessi- FIGURA 16.7 Representação gráfica da equação
dade de que essa condição ocorra durante um número mini- discriminante do fl orescimento em cana-de-açúcar.
Adaptado de Pereira et aI. (1983) .
mo de dias. Isso explica porque existem anos com e anos sem
florescimento da cana.
Pereira et aI. (1983) desenvolveram uma equação para Por exemplo, dadas as condições de Xl e X" verificar se
se prever, em tempo real, se a cana-de-açúcar teve ou não houve indução da cana-de-açúcar ao florescimento :
indução para o florescimento. No período de fotoperíodo fa- • Xl = 15 e X, = 1 ~ L = 1,212 - 0,07508*15 - 0,01463*1 =
vorável à indução, deve-se saber o número de dias com tem- 0,07117 (Não ocorreu indução ao florescimento)
peratura mínima igualou maior que 18 °C (X , ) e o nÚmero de
dias com temperatura máxima igualou menor que 31 °C (X,). • Xl = 10 e X, = 8 ~ L = 1,212 - 0,07508*10 - 0,01463*8 =
Essas informações são usadas na seguinte equação discri- 0,34416 (Não ocorreu indução ao florescimento)
minante:
• Xl = 18 e X, = 20 ~ L = 1,212 - 0,07508*18 - 0,01463*20 =
L = 1,212 - 0,07508 X, - 0,01463 X, (16.10) -0,432 (Ocorreu indução ao florescimento).
346 - Pereira, Al1gelocci e SenteI/tas Agrometeorologia - 347

Produção de tubérculos Se a tendência da fuma ça for de permanecer no mesmo


A temperatura do ar é fundamenta l à indução para for- nível em que ela foi lançada na atmosfera, então a atmosfera
m ação de tubérculos na cu ltura da batata inglesa, que somen- está ESTÁVEL. Essa condição permite a depos ição do produ-
te inici a sua produção de tubérculos quando a temperatu ra to sobre a área plantada n ão h avendo dispersão p e los ventos .
noturna (mínima) for inferior a 15 0e. Portanto, em locais onde Tal condição ocorre, p rin cipalmente, antes do nascer do sol e
as temperaturas mínimas n ão atingem 15 °C a produção de n as primeiras horas da manhã quando a superfície ainda não
b a tatinha torna-se m enos v iável que nas regiões onde isso ocor- está muito aquecida. Ocorre também no fim da tard e, próxi-
mo ao pôr-do-sol.
re com freqüên cia .
Se a tendência da fumaça for de subir, a a tmosfera está
Conteúdo de óleo em sementes INSTÁVEL, e se for feita aplicação de defensivos esses serão
C ul turas destinadas à produção de ó leo, como o girassol, a levados pelo vento p ara outras partes do campo.
soja, o amendoim, têm seu teor de óleo nas sementes influencia-
do principalmente pela temperatura rnínirna . No caso do gira s-
sol, o máximo teor de óleo em sementes se dá quando as tempe- 16.5 EXERCíCIOS PROPOSTOS

I
I1
raturas mínimas n o período entre o florescimento e a colheita
atingem entre 10 e 12 "C (Ungaro et aI., 1997). 1. Em uma fazenda foram instalados três abrigos zootéc-
nicos para vacas leiteiras (holan desas). O abrigo A está na con-
dição topográfica d e face sul e apresenta, e m m é dia, temper a -
16.4 APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS tura igual a 21,6 °C e umi dade relativa de 78%. O a brigo B es tá
numa face nor te com temperatura média de 25,8 °C e umida-
A condição ideal para aplicação de d e fensivos é quando de relativa de 65%. E o abrigo C está numa ch apada com tem-
a atmosfera está estável, is to é, q u ando os mo vimentos peratura de 24,5 °C e umidade relativa de 70% . O produtor
convectivos estão ausentes. Essa cond ição pode ser detectada observa que a produti vidade das vacas (litros de leite/dia)
p ela dispersão da fumaça (Figura 16.8). varia entre os diferentes abrigos . Em qual d os abrigos a pro-
dutividade foi m enor? Qual seria a solução para o problema
encontrado?

D J 2. Calcule o número de horas de frio para as regiões abai-


I
. J
xo e depois determine para cada u ma delas a possibilidade de
cultivo das fruteiras d e clima tempera do:
I- I CUKA Ih .H 1,"f!T(· ... '·Jl1dl ,,, , ·'tI-II'III,'! " ,I
d ,< , " '1111 1 ",i d l l l l " ... I,-!I(.1 , '-.1.1\ " 1 ,, 11 ' ... 1.1\,· 1
348 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 349

QUADRO 16.1 Regiões e temperatu ra méd ia de julho . QUADRO 16.3Temperatura méd ia normal de São Carlos, SP.
Fonte: INMET.
Região Temp. média de julho (Oe) Mês Tmed eC) Mês Tmed (0C)
Val inhos, 17,2 Janeiro 22,9 Julho 16,9
São Roq ue 15,6 Fevereiro 23,0 Agosto 18,6
S.Mig ue l Arcanjo 14,0 Março 22,5 Setembro 20, 3
19,2 Abril 20.5 Outubro 21.3
Pindorama Maio 18.3 Novembro 21.8
Franca 16,9 Junho 17.0 Dezembro 22.3

QUADRO 16.2 Frutífera de clima tem perado e NHF necessárias.


Frutífera NHF<7°C NHF<t3°C 4. Você foi contratado para fazer um proje to d e implan-
Maçã 700 tação de um pomar d e abacateiros para consu mo in natura.
Uva 650 Q u al será a variedade mais indicada para a região de m aneira
Figo 500
Caqu i 100 a maximizar os lucros, vis to que a cu rva estacionai de preços
Kiwi 400 do abacate no m ercado in terno é bem estável de ano para ano
(Tabela abaixo) .
3. Uma fábrica de produtos em conserva firmou um con-
trato com s u a fazenda para q u e você produza m ilho verde. O Local: Franca, SP (Latitude: 20°33'5; Longitude: 47° 25' W
fornecim ento do produto deve ser constante ao lon go d o ano, e A ltitude : 995m)
com entregas a cada 30 d ias, de preferência no início d o mês. Cultura: Abacate (Florescimen to em setemb ro)
O processo de colhe ita e entrega (transporte) não pod e passar Variedade Precoce: Geada (CT = 2800°C.d e Tb = 10°C)
de 5 d ias, port anto, o ponto de mi lho verde deve se dar por Variedade de M eia -es tação: Fu erte (CT = 3500°C.d e Tb
volta do dia 25 de cada mês. Faça o planejam ent o das dat as de = 10°C).
semeadura do milho para a obtenção da colheita n as datas Variedade Tardia: Margarida (CT = 4200°C.d e Tb = 10°C)
desejadas.
QUAD RO 16.4 Curva estacionai de preços do abacate.
Dados: Fonte: CEAGESP, SP.
Cultura: Milho Verde - Cultivar XYZ (Tota l de gr aus-dia Mês USS/Cx22kg Mês US$/Cx22kg
até grão leitoso = 1200 °C.d e Tb = 8 0C) Janeiro 4.22 Ju lho 5.57
Fevereiro 2.98 Agosto 7.45
Local: São Carlos, SP Março 2,71 Setembro 9,80
Abril 2,64 Outubro 16,02
Maio 2,65 Novembro 20,38
Junho 3.8 1 Dezembro 19,29
350 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 351

QUADRO 16.5 Número de d ias com temperatura aba ixo de 31 °C e acim a


5. Para as localidades abaixo, determine a época mais 18°e , no período de 25/02 a 20/03.
adequada para a indução floral da lima ácida 'Tahiti', para a Ano Dias cI D ias d L Flore.sc. Ano Dias cI Dias c/ L Floresc.
T::::;31 ~ C T>18° C T::::;3 1·C Te>:lS- C
obtenção da maturação dos frutos na entressafra (de 15/09 a I l5 3 16 3 l5
15/10 na Bahia; e de 15/10 e 15/11 em 5ão Paulo). Considere 2
3
10
3
8
12
17
18
2
12
12
12
o tempo de 7 dias entre a indução floral e o florescimento, 4
5
S
12
6
5 "
20
13
S
lS
10
utilizando a técnica da derriça. ,
20 14
20
li
22
O
3
9
3
8 2
a) Vitória da Conquista, BA 7
6
21
18
23
24 I 7
(Lat.: 15°34'5; Long.: 40° 32'W; e Alt.: 339m) 10 5
12
6 25
26
20
21
lO
13
b) A lagoinhas, BA
11
12
13
l5
20
"
14
18
27
2S
13
lS 23
(Lat.: 12°10'5; Long.: 33° 21'W; e Alt.: 131m) 14
l5
10
5
21
2J
29
30
6
5
3
2
c) Catanduv a, 5P Freqüência relativa z= números de anos com floresc. I(número to tal de anos
(Lat.: 21"05'5; Long.: 43° 35'W; e Alt.: 536m) + 1l .
d) Itapeva, 5P
(Lat.: 23°34'5; Long. : 43° 32'W; e A lt. : 647m)

6. Para os locais abaixo, determine qual deles é potencial-


mente mais favoráve l ao desenvolv imento da Mosca das Fru-
tas, sabendo-se que ela tem uma e xigência térmica de 250 °C.d
e Tb = 13,5 °e
a) Ribeirão Preto, 5P Tmed = 22,4°C
b) Capão Bonito, 5P Tmed = 20,1°C
c) Aimorés, MG Tmed = 24,6°C
d) Maringá, PR Tmed = 16,4°C
e) Barra, BA Tmed = 25,5°C

7. Determine a freqüência relativa com que a cana-de-


açúcar pode florescer na localidade de Canalândia.

l
Capítulo 17

Efeito combinado
temperatura-umidade do ar

17.1 IN TRODUÇÃO

o vapor d'água atmosférico, ou seja, a umidade do ar é


um fator determinante do nível e da qualidade de vida em um
ambiente. Para a agricultura, o nível com que a umidade do ar
ocorre em um ambiente terá efeito decisivo nas relações entre
as plantas e as pragas ou doenças, sobre a qualidade dos pro-
dutos, e também sobre o conforto animal. Além disso, a baixa
umidade do ar é responsável p elo risco de ocorrência de in-
cêndios em pastagens, matas e flore stas, tendo assim grande
importância ecológica.

17.2 DURAÇÃO DO PERíODO DE MOLHAMENTO E


DO ENÇAS DE PLANTAS

o orvalho é definido como a água condensada sobre uma


s uperfície próxima ao solo, quando a temperatura cai abaixo
do ponto de orvalho, devido ao resfriamento intenso durante
noites de céu limpo, sem vento e com alta umidade no ar pró-
ximo à superfície. A temperatura do ponto de orvalho é aque-
la na qual uma dada parcela de ar deve ser resfriada, sob pres-
são e teor de vapor constantes, a fim de que haja saturação
(ver Capítulo 7).
354 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 355

o orvalho é um condicionador natural da ocorrência de • curta duração: se DPM < 6 horas


doenças em plantações e tem profundas implicações no seu • média duração: se 6 :5 DPM:5 10 horas
manejo. O rnolhamento das superfícies vegetais pelo orvalho • longa duração: se DPM > 10 horas,
é que irá possibilitar a germinação dos esporos dos fungos e a
penetração do tubo germinativo através dos estômatos das Um método indireto de se determinar a DPM em condi-
folhas. Nesse processo, a duração com que o orvalho perma- ções naturais é com os registros do termo-higrógrafo, pois há
nece sobre a cultura é mais importante do que sua quantida- relação direta com o Número de Horas de Umidade Relativa
de. Outros elementos do clima também interferem neste pro- igualou maior que 95% (NH UR ~ 95%), no abrigo meteoroló-
cesso (Figura 17.1), porém, o molhamento propiciado pelo or- gico (a 1,5rn acima do solo). A maioria das doenças de plantas
valho, chuva ou irrigação, é o fator decisivo para a manifesta- ex igem uma seqüência de dias com DPM maior que 10 horas.
ção da doença. Estudando a ocorrência do mal-das-folhas (Microcyclu s
IIlei) em seringueira, em diferentes regiões e condições do Es-
ta do de São Paulo, Camargo et aI. (1967) verificaram que essa
doença só ocorria quando havia mais de 12 noites, no mês,
Inoculação .I com DPM de 10 ou mais horas. Na Figura 17.2, observa-se que

r Dispersão
t
Germinação I
e m Camp inas, no planalto paulista, e na parte alta de
Pindamonhangaba, no vale do Paraíba, os seringais ficaram
t ··.. ···
!TemEeratura! ' ~ Penetração I
t , o
: .~
Chuva/lrrig. :1 Colonização I :~
Orvalho f
:
::~
.
... á
30 r-----------------------------~

25
Umidade :'1 Lesões Férteis I I ~
f ~ 20
Lf Vento I ' 'I Esporulação J "§ 15
I --------- o

FIGURA 17.1 Esquema da influência dos elementos climáti·


cos nas fases de uma doença fúngica. Adaptado de Pedro Jr.
(1989).
Jul Ago Set OJt Nov [Ez Jan Fev Mar Abr li/si Jun
,--:-- - -- - -- ... _--------- -- _. _ - ; ]
LJ- + - CalTpinas ---o--- Anda Alto-.:...: .:!:_~: _~~~~ Baixo ----t- Lbat ubaJ
A permanência de água sobre a planta é quantificada -- _ _ _ _ _ '0 0_0.0 _ _ _ _ __ __

pela Duração do Período de Molhamento (DPM), sendo classifi- II CU RA 17.2 Número de noites com DPM maior ou igual a lOh em três
locais do Estado de São Paulo. Adaptado de Camargo et aI. (1967).
cada da seguinte forma:
356 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 357

livres da doença, enquanto que na pa r te baixa de P indamo- favorável n a dispersão e disseminação dos esporos, e desfavorá-
nhangaba, de d ezembro a junho, e e m Ubatuba, no litora l n or- vel no controle das doenças, pois a tua lavando os defensivos apli-
te paulista, durante o ano todo os seringais apresentaram pro- cados na lavoura. Na Figura 17.3, verifica-se que a taxa com qu e
blemas graves com a doença. a mancha de Altemária (Alternaria helianthi) se d esenvolve em
Na re gião de Uba tuba, Pezzopane e t aI. (1996) detecta- urna cultura de girassol é diretamente relacionada à quantidade
ram diferença no número de horas com umidade relativa igual de chuva no seu ciclo (Sentelhas e t al., 1996).
o u superior a 90% no interior de dois seringais, sendo um pró-
ximo à praia (800 m) e outro distante 5 krn. Em função da brisa
terra-mar (circulação atmosférica local), no seringal próximo 0 ,0 9 - 800
à praia o número de dias com condições favoráveis à ocorrên- 0 ,08 ~ IA C ·A nhan d y 1-
700

ri '\
o c:=:=:J v N 1L'vI K
cia d e doenças foi, em m édia, 50% m en or. Próximo à praia, a 'é 0,07
q _ Con tis ol-621 S
ventilação dentro do seringal foi maior, ren ovando o ar, impe-
•e.- 0,06 --D-- C hUY 11
600
!.
'i:)": 500
VI'::: 0,05 ;;
dindo a condensação, com redução no número de dia s favorá- ~ ~
u:s! 0 ,0 4 \ .D..
400 Õ
....
veis à doença. A m esma situação ocorre às margens d e gran- • c
"CI .=.. 0 ,03
300 ~

••
des rios como o Tapajós, na região amazônica (Bastos & Diniz,
1980). Foi observado que, n as margens d o rio, apenas 13 d ias
foram favoráveis à ocorrência do mal-das-folhas nos seringais,
no período analisado; m as, nos seringais mais distantes das
:
1'11
....
0 ,02
0 ,0 1
o ~ r
Jan Fev Mar Abr Ma; Jun
r
Ju l Ago Set Oul Nov Jan Fev
Mês
200
100
O
""
(J

m argens cerca de 290 dias foram propícios ao desenvolvimen-


to da doença. Essa diferença é imposta p ela circulação atmos- FIGURA 17.3 Relação entre a chu va total no ciclo da cultura do girasso l e a
taxa de crescimento da mancha de Alte rn aria (Altern aria helianthll, em
férica local, condicionada pela interface água-floresta (ver Ca- d ife rentes épocas de semead ura. Fonte: Sentel has et al.(1996)'
pítulo 4).
Assim, nota-se que a ocorrência e duração do molhamento
Pezzopane et aI. (1996) também observara m estreita re-
por orvalho são determinadas porfatores topoc/imáticos (exposição
lação entre número de dias com chuvas maiores que 2,5mm e
e configuração do terreno) e também microc/imáticos (cobertura severidade de ataque da mancha preta do amendoim.
do terreno). Além d e favorecer a ocorrência de doenças em plan-
tas, a presença do orvalho influi també m na eficiência dos
fungicidas e nos esquemas de aplicação d e defensivos. 17.3 INTERAÇÃO TEMPERATURA-UMIDADE DO AR E
A chuva é outro elemento meteorológico bastante impor - FITOSSA NIDADE
tante com relação à ocorrência e desenvolv imento de doenças
em plantas (Figura 17.1). Além de elevar a umidade do ar e Apesar de a temperatura do ar ser um fator menos
proporcionar o molhamento das folhas e frutos, a chuva tem efeito limitante do que a umidade no desenvolvimento d e doen ças
358 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 359

e pragas, é a combinação temperatura-umidad e que irá condi-


27 - - - -
cion ar o s ucesso do processo infeccioso da doença ou a inci-
dência de ataque d e uma praga. A temperatura atua como
-~-~
- Po"'nddd. D-~ . . nvolv"'.n'"
c ereosporlolle ."" Am e ndo;m
.0 1
25
agente moderador / amplificador n essa combinação.
Avaliando o efeito combinado temperatura-umidade 23 2 3 4 I
sobre o mal-das-folhas da seringueira causado p e lo fungo ~

~~
~

Microcyclus ulei, Gasparotto (1988) verificou que: .S 21


• se a temperatura for de 24 °e, heverá infecção com ~
19 -
ap enas 6 horas de DPM; 1 - M lito Bd xo

• se a temperatura for de 20 °e, haverá infecção se hou- 17 2 - Bdxo


'-- l
ver de 8 a 10 horas de DPM;
3 - Modercdo
4 - Alto íI
15
• se a temperatura for de 16 °e , n ão h averá manifesta- o 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
ção da doença. DPM (horas)

FIGURA 17.4 Potenci al de desen volvimento de Cercosporio se em amendo-


A combinação que proporcionou a infestação mais in- im e m função da temperatu ra e da DPM. Adaptad o de Jensen & Boyle
tensa foi 24°e e DPM de 16 horas, ou seja, temperatura amena (19 66).
e alta umidade.
Outro exemplo da influência da combinação tempera- Algumas pragas também só se desenvolvem entre cer-
tura-umidade sobre doenças d e plantas é o caso da eercosporiose tos limites de tempera tura e umidade . Por exemplo, a Orthezia
(eercospora arachidicola) em cultura de amendoim. Para identi- IJmelonga, praga dos citrus, somente ocorre de form a prejudi-
ficar o n ível de desenvolvimento d a d oença, Jensen & Boyle cia l para a citricultura quando as condições ambientais são:
(1966) d esenvolveram um sistema simples baseado na tempe- te mperatura m édia maior que 21°e e umidade rela tiva média
ratura mínima do ar e no núm ero de horas com UR ;>: 95% m a ior que 70 % (Figura 17.5). Isso explica porque, e m
(Figura 17.4). Nota-se que, a uma temperatura qualquer, o po- Se ropédica, RI, a praga se m anifesta durante o ano tod o, mas,
tencial de infestação aumenta com o aumento no DPM; q u e ' m e ord eirópolis, SP, ela se toma problema somente de o utu-
abaixo de 17 °e, o potencial é bastante reduzido, mcsmo com b ro a março, como m ostra o climograma da Figura 17.5.
alta DPM; e que acim a de 24 °e , o potencial é muito e levad o, No caso da mosca-das-fru tas, a Figura 17.6 m ostra que a
mesmo com DPM < 10 h oras. "ol/Ibinação ótima é a representada pela área delimitada pela
te mperatura entre 16 e 32°e, e UR% entre 75 e 85%. O interva-
lo de temperatura é b astante amplo, mas o de UR% é es treito.
' o rno em um pomar ex is tem inúmeros microambientes, esses
Inse tos semp re mig ram para o micro clima mais favoráv el ao

, ,
, r-

360 - Pereira, Ange/ocei e Sentelhas Agrometeorologia - 361


I

i~ 17.4 IN FLUÊNCIA DE PRÁTICAS AGRíCOLAS NAS


seu desenvolvimento. Pode-se notar, ainda, que a combinação fa-
RElAÇÕES CUMA-FITOSSANIDADE

~,i
vorável é dada por limites mais amplos de temperatura (10 a 35°C)
e UR% (60 a 90%). Isso explica porque essa praga se encontra
presente na m aioria dos pomares, e o controle rígido em aeropor- A ocorrência de pragas e doenças em plantas é determi-
tos, onde não se permite a entrada de frutos in natura. na da pelo macro e topoclima de uma região, seguido pelo
microclima. O uso de práticas agrícolas podem prov ocar alte-
27 ~ rações no micro clima de uma cultura, fazendo com que a re-

'. ~G '
G
'-
25

23~
,
' ~

.. ',',: .
_. , _
~: ~ ~,
_~,~ :_ '
t Coo" <'o
Favorável
t
_
g ião passe de pouco favoráv el para altamente favorável às
pragas e doenças . Entre as práticas agrícolas que prov ocam
~ a lterações acentuadas no micro clima incluem-se:
' l-Cl" , . , ,
, 10 11 ffJ . , I
21 ~

'\ D.L
E
:;: 19 ~
, - - - -
;
....E ', , Irrigação
17 ~
' , ' A irrigação muda tanto as inter-relações da cultura com
o ambiente como também tem efeito marcante no desenvolvi-
" 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
men t o de doenças e pragas. O tipo de irrigação é fundamental
UR média mensa l ( %)
nessa interação, sendo que aquela feita por aspersão é a que
FIGURA 17.5 C limograma de dois locai s: Sero pédica, RJ (-) e Cordeir6polis, r traz maiores problemas por modificar a combinação tempera-
SP (O ). As linha s che ias ind icam os limites acima dos quais as cond ições lura -umidade do ar. Essa alteração pode resultar em perdas
são favoráve is à ocorrência de Orthez ia prae/onga em Citru s, e os números
i nd icam os mes es (1 =' janeiro; 2 = fevereiro; etc.). Adaptado de Puzzi &
d e qualidade e produtividade causadas principalmente por
Camargo (1963) doenças fúngicas, pois pode aumentar a duração do período
d e molhamento (DPM) e reduzir a temperatura do ar. A Tabe-
la 17.1 mostra como os diferentes tipos de irrigação influem
36
Favorável I na ocorrência de doenças.
il 30

·•
~

i"
24

12
EJ I
i!
i
rABElA 17. 1 Influência dos d iferentes tipos de i rrigação no microd i m a e
ocor rência de doenças. Fonte: Rotem & Palti (1969 ).
I) ,.l

~ 6
IMosca das Frufas I
i Fator Sulco Inundadío Gote'o A< rsão

O
! Po rcentagem do solo 20 90 30 100 ,

as 100 umedec ido


35 '0
" '" '" 60 Só
I.kn l dade Relativa (%)
70 75 80 90 95
AlIme ntu da D PM em
folhas e frutos
Não Não Não S im

Diminu ição da Não Não Não Si m


lem lCratura das plantas
FIGURA 17.6 C ombinação temperatura-umidade para ocorrência de mosca l' lcitn sobre os fungicidas Não Não Não L1 vagem
das fruta s. Adap tado de Silveira Neto et at. (1976).
362 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 363

Com relação ao aspecto microclimático, a irrigação terá das cortinas laterais, a DPM dentro da estufa sempre foi maior
maiores efeitos em regiões onde o macroclima é úmido e sub- ou igual à observada ao ar livre, com valores sempre s uperio-
Ú1nido e menores nas regiões super Ú1nidas e secas. Além disso, res a 14 horas, enquanto que no exterior ocorreram apenas 30
alguns fatores relacionados à cultura, como a densidade de plan- dias co nl DPM mé'lior ou ig ual a 10 hor.ls.
tio, interagem acentuando os efeitos da irrigação e, conseqüente-
mente, a severidade do ataque das doenças. O esquema da Figu-
25
ra 17.7 mostra como funcionam essas inter-relações.
.
i
20

15

10
1.'C
5

Oia de observacao

I --Estufa· - Ar livre]

_ Doença ocorre corn ou sem inigaç110 FIGURA 17.8 DPM dentro e fora d e estufa s p lás-
tm:J lrrigaçao altera \) ",icroclima c facilita a ocorrênci" da doença
ti cas. Fonte: Pezzopane et aI. (1995c) .

c=I Não ocorre doença com ou sem irrigaçao Quebra-ventos


Os quebra-ventos (QY, ver Capítulo 17) reduzem a velo-
FIGURA 17.7 Re lação macroclima - irrigaçâo - densida- cidade do vento, que é um importante fator na demanda
de de plantio e ocorrência de doenças. Fonte: Rotem &
Palt; (1969). evaporativa do ar. Assim, O orvalho formado na área protegi-
da pelo QV permanecerá durante mais tempo sobre a cultura,
Estufas com cobertura plástica
devido à evaporação mais lenta. Esse efeito é ainda mais gra-
Apesar de proporcionar modificações micro climáticas
ve na área sombreada pelo QV. Isso não significa que os QV
favoráveis aos cultivos, O uso de estufas plásticas pode pro-
devam ser evitados, principalmente em regiões com ventos
vocar também condições desfavoráv eis, exigindo manejo ade-
fortes e contínuos, mas que o manejo da cultura deve ser dife-
quado. Uma das condições desfavoráveis é a acentuada ele-
rente das situações em que não há QV.
vação da umidade do ar no seu interior, o que proporciona
aumento considerá vel na DPM sobre folhas e frutos, favore-
Cobertura morta (Mulch)
cendo a proliferação de doença s.
O uso de cobertura morta (capim e palha) sobre o solo,
Na Figura 17.8 nota-se a variação da DPM dentro e fora
faz com que à noite o resfriamento da superfície seja mais rá-
de uma estufa coberta com PEBD. Apesar do manejo diário
364 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 365

pido e intenso (ver Capítulo 6), atingindo-se mais cedo a tem- Melzer, 1984). Por exemplo, a 15°C são necessárias 21 horas
peratura de condensação (ponto de orvalho), resultando em semanais de DPM para que a infecção seja forte, mas DPM de
DPM mais prolongada. Portanto, essa prática, especialmente apenas 13 horas/semana já é suficiente para causar infestação
no sistema de plantio direto, pode resultar em intensificação moderada.
da ocorrência de doenças. Portanto, com medidas de um termo-higrógrafo, moni-
tora-se as condições ambientais para controle eficiente da doen-
ça. As pulverizações serão sempre preventivas e feitas quan-
17.5 ESTAÇÕES DE AVISO FITOSSANITÁRIO do são sa tisfeitas as condições da tabela de Mills, que indicam
que o clima está favorável ao patógeno.
Estação de aviso fitossanitário é um sistema de previsão da
ocorrência e/ou desenvolvimento de uma determinada doen-
TABElA 17.2 Sistema de Mills adaptado para a sarna da macieira no Estado
ça em uma cultura, baseado em dados meteorológicos, em fun- de Santa Catarina.
ção da grande interdependência clima-planta-patógeno. Tal sis- "." . , m";,
tema visa a determinar o momento mais adequado para a apli- d, ~;~ ;..;'~o
cação de medidas de controle na região, concorrendo direta- I
mente para a racionalização do uso de defensivos, para a pre- I I
I
servação do ambien te, e para a maximização da prod ução agrí- I

cola.
Como ilustração, alguns desses sistemas são apresenta- Podridão parda do pessegueiro e sarna da nogueira
dos a seguir, retirados de Zahler et aI. (1989). É conveniente pecan
lembrar que um sistema desse tipo antes de ser utilizado deve Para a podridão parda do pessegueiro (Monilinia fructi-
ser testado para cada região e cultura, pois o melhoramento co/a) e para a sarna da nogueira pecan (C/adosporium carygenum)
genético está sempre produzindo variedades de plantas mais o sistema é feno/6gico-c/imato/ógico, que também segue o prin-
resistentes, e o sistema de cultivo adotado altera significativa- cípio da tabela de Mills. O nível de infecção é dado pelo pro-
mente o microclima. duto Tmed noturna x DPM (Tabela 17.3). As pulverizações são
recomendadas da seguinte forma:
Sarna da macieira • Preventivas ~ uma em julho, uma no início do
Para o caso da sarna da macieira (Venturia inaequa/is), florescimento, e uma no final do florescimento;
utiliza-se o sistema desenvolvido por Mills (1944), que leva • Curativas ~ sempre que o produto (Tmed * DPM) for
em consideração a temperatura média no período noturno, a maior que 140.
DPM, e a presença de ascósporos (Tabela 17.2). Esse sistema é
utilizado na região macieira de Santa Catarina (Berton &
TABELA 17.3 Sistema fenológico-climatológico para controle da podridão TABELA 17.5 Código de mensagem para o controle da podridão da batatinha.
parda do pessegueiro e sarna da nogu eira pecan .
Núm. de dias Severidade Acumulada em 7 dias
Nível de infecção Tmed noturna x DPM com chuva <3131415161>6
Leve 140 em 7 dias Código de mensaoem
Moderado 200 <5 -1 1 -1 1 O 1 1 1 1 2 I
Forte 300 >4 -1 1 O 1 1 1 2 1 2 L 2

Míldio do feijoeiro
Podridão da batatinha Para o míldio do feijoeiro (Phytophtora phaseoli) a pulve-
Para a podridão da batatinha (Phytophtora infestans), o rização é recomendada sempre que houver dois dias segui-
sistema também se baseia na tabela de Mills, sendo muito uti- dos com: Tmed < 26'C, Tmin > 7°C, e com chuva.
lizado na Holanda e na Inglaterra. Considera-se, além da tem-
peratura e da DPM, também a chuva (Tabela 17.4 e 17.5). Pri- Míldio da videira
meiro, util iza-se a Tabela 17.4, na qual d etermina-se o grau de Para o míldio da videira (Plasmopara viticola) o sistema é
severidade durante sete dias, acumulando-os. Depois, de posse fenológico-climatológico, com pulverizações:
dos valores acumulados do grau de severidade e da chuva • Preventivas ='> na brotação, florescimento e formação
durante sete dias, determina-se, na Tabela 17.5, o código de do cacho;
mensagem. Se o código de mensagem for igual a: • Curativas ='> quando Tmin > 10°C e dois dias seguidos
com chuva superando 10mm.
• -1 ='> Não há necessidade de pulverizar;
• O ='> Ficar alerta; Pinta preta do tomate
• 1 ='> Pulverizar em até 7 dias; Para a pinta preta do tomate (Alternaria solani) utiliza-se
• 2 ='> Pulverizar em até 5 dias. a tabela de Mills, acumulando-se a severidade (5) num perío-
do de 7 dias (Tabela 17.6). As pulverizações são recomenda-
TABELA 17.4 Escala do grau de severidade para a podridão da batatinha . das quando o valor de 5 acumulado em 7dias supera 14.
T noturna Grau de Severidade ,
TABELA 17.6 Escala para determ inação da severidade da pinta preta em
(Oe) O I 1 2 I 3 4 tomate.
DPM (horas)
Tmed no Severidade (S)
7 a 12 15 16-18 19-21 22-24 25
período noturno O 1 2 3 4
1 1 1
12 a 15 12 13-15 16-18 19-2 1 22 ('C) OPM (horas)
15 a 27 9 10-12 13-15 16-18 19 13 a 17 Oa6 7 a 15 16 a 20 ~21

17 a 20 Oa3 4a8 9 a 15 16 a 22 ~ 23
20 a 25 Oa2 3a5 6 a 12 13 a 20 ;::: 21
25 a 29 Oa3 4a8 9 a 15 16 a 22 ~ 23
368 - Pereira, Angelocci e Sen felhas Agrometeorologia - 369

Requeima do tomate 17.6 RISCO DE OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS


Para a requ eima do tomate (Phytophtora infestans) utili-
za-se uma relação empírica entre o grau de infecção (Y), nú- Durante os períodos secos do ano, a baixa umidade do
mero de dias com chuva em 10 dias (X,), e número de dias ar e as poucas chuvas fazem com que a ocorrência de incêndios
com Tmin <:: 10°C nos 10 dias (X, ), ou seja: em matas, pastos e florestas seja facilitada, o que, a lém dos
danos materiais, põe em risco o equilíbrio do ambiente. Por
Y = -0,08671 + 0,0209 (XI · X,). (17.1) meio de métodos agrometeorológicos, pode-se determinar o
grau de risco de ocorrência de incêndios nas áreas rurais, sen-
Quando Y > 0, recomenda-se a pulverização (Maschio & do útil para propriedades produtoras de madeira e resina (re-
Sampaio, 1982). florestamentos), e também em áreas de preservação ambienta l.
Esse sistema de alerta possibilita tomada das devidas provi-
Mancha preta do amendoim dências para a prevenção e estratégias de controle do fogo.
Para controle da mancha preta do amendoim causada Os métodos são divididos em não-cumulativos e cumula-
por Cercospora arachidicola e C. personatum, Pezzopane (1997) tivos. Métodos não-cumulativos são aqueles que se baseiam so-
sugere o seguinte sistema pluviométrico: mente nas condições do tempo vigentes no dia. Nesse tipo
Pulverizar sempre que ocorrer quatro dias consecutivos enquadra-se o:
ou não com chuvas diárias maiores que 2,5mm, devendo-se
respeitar a carência do produto aplicado antes de se iniciar de Fator de risco de Angstrom
novo o monitoramento. O fator de risco de Angstrbm (FRA) é um índice empírico,
usado na Suécia, e que utiliza a temperatura (oC) e a umidade
Antracnose e mancha das folhas da videira relativa do ar às 13h (UR13h %), que é o horário próximo do
No caso da antracnose dos ramos, folhas e cachos valor máximo da temperatura e do mínimo da umidade rela-
(Sphaceloma ampelinum), e das manchas das folhas causadas tiv a do dia, sendo expresso por:
por Isariopsis clavispora em videira Niagara rosada, Pedro J r. et
a!. (1999) sugerem um sistema pluviométrico para previsão FRA = 0,05 UR,3;'1o - 0,1 (T13h - 27). (17.2)
das épocas de pulverização, que consiste de:
Pulverizar sempre após a ocorrência de chuvas acumu- Sempre que FRA for menor que 2,5 é dado o alerta de
ladas de 20mm, devendo-se respeitar a carência de 7 a 10 dias risco de incêndio.
para iniciar de novo o monitoramento. EXEMPLO: Se um dia, às 13 horas, ocorrer as seguintes
Esse sistema de pulverização possibilitou, em média, o ndições: UR 13h = 30% e T 13h = 35°C
redução de 40% no número de aplicações sem afetar a produ- FRA = 0,05' 30 - 0,1' (35- 27) = 0,7 => FRA < 2,5 => ALER-
tividade, na região de Jundiaí, SP. TA: RISCO DE INCt!NDIO.
370 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
Capítulo 18

Métodos cumulativos são aqueles que levam em consi- Importância agroecológica


deração as condições climáticas de uma sucessão de dias. Den-
tre eles destaca-se a:
dos ventos
Fórmula de Monte Alegre
A fórmula de Monte Alegre (FMA) é um índice utiliza-
do no Brasil, e que leva em consideração a UR% às 13h, e a
chuva, em mm, isto é:
FMA = 100 / UR13h 18.1 INTRODUÇÃO
FMAacumulado = (f * FMA ontem) + FMA hOjC
O ambiente em que as plantas e animais crescem nem
em que f é um fator que varia com a chuva da seguinte forma: sempre é o ideal ou ótimo para sua produção. Várias são as
condições adversas do clima que interferem no seu crescimento
C huva ( mm) Valor de f e desenvolviInento. A manipulação do solo, a irrigação e o uso
, <2 ,4 1,0 de ambientes parcialmente protegidos são algumas das técni-
2,5 a 4,9 0.7
cas utilizadas com a finalidade de alterar o rnicroclima de um
"
~
.~
5,0 a 9,9
10.0:1 12,9
0,4
0 ,2 local, proporcionando melhores condições para a produção.
>13 0,0
O vento é um elemento do clima que influi diretamente
o grau de risco de incêndio é dado pela Tabela 17.7. no rnicroclima de mna área, interferindo no crescimento de
culturas e animais, tendo tanto efeitos favoráveis como desfa-
TABELA 17.7 Grau de risco de incênd ios florestais dado pela Fórmu la de voráveis. Ventos excessivos e contínuos representam um gran-
Monte Alegre.
de problema nas áreas rurais, sendo necessário a proteção das
FMA """I =< 1.0 1,1 a 3.0 3,\ a 8,0 8,1 a 20,0 >20,0
Grau de risco NULO PE UENQ M DIO ALTO MU ITO ALTO culturas, principalmente com a utilização de quebra-ventos,
sejam e les naturais ou artificiais, para que as atividades agrí-
EXEMPLO: colas sejam v iáveis.
Dia 1 ~ UR 13h = 30% e C huva = 4,Omm
f = 0.7
,
FMA ontem = 3,5 (valor admitido para exemplo)
18.2 EFEITOS DOS VENTOS
FMA"umuI'do = 0,7 * 3,5 + 100 / 30 = 5,8 (médio)
Dia 2 ~ UR I3h = 35% e Chuva = Omm Tanto agronômica como ecologicamente, o vento tem
f = 1,0 FMAon'cm = 5,8 e feitos favoráveis e desfavoráveis, dependendo da circunstân-
FMA,cumul'do = 5,8 * 1 + 100 /35 = 8,7 (alto)
372 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 373

cia de sua ocorrência. Sem dúvida, de modo geral, os efeitos poral constante, resultando em diminuição do ganho
favoráveis compensam os efeitos adversos. de peso;
• deformação de plantas;
Efeitos favoráveis • abrasão de partículas do solo danificando tecidos ve-
Entre os efeitos favoráveis destaca-se a atuação do ven- getais;
to como agente de transporte de algumas propriedades, tais • fissura dos tecidos vegetais pela agitação contínua,
como: permitindo a penetração de microrganismos fitopato-
• calor de regiões mais quentes para as mais fria s, com gênicos;
conseqüente redistribuição do calor; • desfolha por efeito mecânico do vento, reduzindo a
• vapor d'água de regiões mais úmidas para as mais área foliar fotossintetizante;
secas; • aumento da transpiração, e caso as raízes não extraiam
• dispersão de gases e partículas suspensas no ar dimi- água do solo, na mesma taxa da transpiração, haverá
nuindo suas concentrações, sendo muito importante fechamento dos estômatos quando o desequilíbrio
no inverno; entre os dois processos for acentuado;
• fechamento dos estômatos resultando em queda na
.,
• remoção de calor de plantas e animais durante perío-
dos quentes; taxa de fotossíntese;

,:, • remoção (renovação) de ar próximo às plantas man- • para manter as taxas de transpiração e fotossíntese, a
,. tendo o suprimento de CO, para as folhas durante a planta desenvolve sistema radicular profundo, o que
,
fotossíntese; resulta em redução do crescimento da parte aérea
• dispersão de esporos, sementes, pólen, facilitando a (nanismo);
diversificação das espécies; • para minimizar a perda de água por transpiração a
• remoção de vapor d'água próximo às plantas, ínter- planta reduz a área foliar (folhas pequenas e em me-
feríndo na taxa de transpiração. nor número), o que resulta em redução na taxa de
fotossíntese;
Efeitos desfavoráveis • parte da energia armazenada (produzida) pela fotos-
Ventos intensos e contínuos resultam em danos mecâni- síntese é destinada aos processos de reconstrução dos
cos, anatômicos e fisiológicos, pois causam: tecidos danificados, diminuindo, assim, a energia dis-
• erosão eólica e deformação da paisagem; ponível para crescimento e desenvolvimento;
• eliminação de insetos polinizadores; • a agitação pelo vento acelera o metabolismo (respira-
• desconforto animal, devido à remoção excessiva d e ção), reduzindo ainda mais a fotossíntese líquida.
calor, fa zendo com que o m'etabolismo fique acelera-
do para produzir calor e manter a temperatura cor-
374 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorol ogia - 375

Em conseqüência do efeito desfavorável, em geral, plan- Caramori (1981), estudando os efeitos da velocidade do
tas submetidas continuamente a ventos de 10 km / h ou mais, vento em mudas de cafeeiro, verificou que ventos com veloci-
apresentam (Figura 18.1): dade média a partir de 2 m s-' (7,6 km h" ) induziram as mudas
• redução no crescimento e atraso no desenvolviInento; à acentuada redução nos incrementos de altura, área foliar,
• internódios menores e em menor número; comprimento dos internódios, peso total de matéria seca, além
• nanismo da parte aérea; de reduzir também a taxa de assimilação líquida (variação tem-
• menor número de folhas; poral da fitomassa / índice de área foliar, kg d-' m ' folha m -2
• folhas menores e mais grossas; terreno) e a taxa de crescimento relativo (variação temporal
• menor número de estômatos por área foliar e estô- da fitomassa/fitomassa já existente, kg kg-l do'), caracterizan-
matos menores; do o efeito prejudicial do vento com velocidade excessiva.
• menor produtividade. Houve também aumento no diâlnetro do caule, em res-
posta aos danos mecânicos provocados pela agitação contí-
Essas conseqüências desfavoráveis do vento excessivo nua pelo vento. A transpiração aumentou nas mudas s ubme-
sobre as plantas podem ser visualizadas na Figura 18.1. A plan- tidas até 2 m s-" e para velocidades maiores houve redução
ta à esquerda foi submetida a condições naturais, enquanto acentuada, resultante da elevada demanda evaporativa e con-
que a planta central e a da direita foram submetidas a veloci- seqüente fechamento dos estômatos, associado ainda à redu-
dades do vento gradativamente maiores. Observa-se que, no ção da área foliar.
caso extremo (planta da direita), ocorreu visível n anismo da
parte aérea . Esse efeito só se torna visível quando se compara
o crescimento/ desenvolvimento de plantas cultivadas eUl cun-
dições controladas, como é o presente caso. 18.3 PRÁTICAS PREVENTIVAS CONTRA EFEITOS
DESFAVORÁVEIS DO VENTO

Escolha de local
Ao se instalar uma cultura, ou atividade agropecuária,
dentro de uma propriedade agrícola, deve-se escolher, se pos-
sível, as áreas da propriedade q ue sejam menos sujeitas aos
ventos frios, contínuos e intensos. Nas regiões Sul e Sudeste
do Brasil, deve-se evitar os terrenos com faces voltadas para o
FIGURA 18.1 Efeito sul, sudeste e sudoeste, que são as faces freqüentemente bati-
elo vento sobre p lantas das pelos ventos predominantes de sudeste e também pelos
de tomate.
ventos frios provenientes da entrada de frentes frias . No caso
376 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 377

de abrigos zootécnicos, não se deve ter portas ou janelas vol- • Artificiais: utilizados para proteção de plantas de pe-
tadas para o sul. Essas recomendações podem mudar em fun- queno porte em cultivo intensivo e com alto valor econômico:
ção da topografia do local. Temporário = } depende da durabilidade do produto em-
pregado. Ex: sombrite e ripa dos.
Uso de quebra-ventos
Os quebra-ventos (QV) são estruturas físicas, altas, natu- Resultados experimentais de Pedro Jr. et aI. (1998) mos-
rais ou artificiais, que servem para reduzir a velocidade do vento tram que foi eficiente o uso de sombrite (malha de 50% de
a níveis suportáveis e adequados ao bom desempenho dos seres porosidade), com altura de 4m e comprimento de 40m, como
vivos. Utiliza-se como QV plantas de porte maior do que aquelas QV para proteção da cultura da videira, em Jundiaí, SP. Hou-
que se quer proteger. Outras estruturas como telados (sombrite) ve redução na velocidade dos ventos em cerca de 50% a 4m do
e ripados também são utilizadas. OS QV servem tanto na prote- QV; 40% a 8m do QV; e 30% a 16m do QV. Como conseqüência
ção vegetal como na animal, ajudando também na contenção de favorável, houve aumento de 22% na área foliar, e de 15 a 30%
dunas, minimizando o processo de desertificação, principalmen- na produtividade da cultura, quando comparada com videira
te em regiões planas. QV vegetal tem a vantagem de absorver em á rea não-protegida.
parte da energia disponível, fazendo fotossíntese, transpirando,
consumindo calor sensível do ar, ou seja, afetando a partição do
saldo de energia e tomando o ambiente protegido mais ameno e
menos estressante.

18.4 TIPOS DE QV

OS QV podem ser formados de vegetais ou de materiais


artificiais (Figura 18.2).
Figura 18.3. Tipos de quebraventos : a) vegetal; b) artificial (sombrite) .
• Vegetais: utilizados para grandes áreas cultivadas ou
com exploração extensiva de animais
Temporário = } plantas anuais ou semi-perenes. Ex: mi-
lho, sorgo, cana-de-açúcar, bananeira, capim. 18.5 CARACTERíSTICAS DESEJÁVEIS DOS
Permanente = } árvores. Ex: grevillea, eucalipto, pinus, se- QV VEGETAIS
ringueira.
Misto = } combinação de árvores e plantas anuais. Ex: As plantas utilizadas como QV devem ter caracterís ti-
grevillea e milho. cas desejáveis para que sua eficiência seja a maior possível e m
378 - Pereira, Angelocci e Senlell1as Agrometeorologia - 379

condições naturais. Entre as características a serem considera- 50% do espaço. Essa condição depende do tipo de planta e do
das destacam-se: espaçamento entre elas. Os QV de fileiras simples de árvores
são mais eficient es (Figura 18.3a). Caso não haja permea-
Hábito de crescimento bilidade, ocorrerá turbilhonamento logo após o QV (Figura
Altura => quanto mais alta for a planta protetora, maior 18.3b), o que é muito prejudicial à cultura a ser protegia. Uma
será a área por ela protegida; noção desse efeito pode ser observado nas Figura 18.4, em que
Postura ereta => crescimento vertical. sem galhos em sua se observa aumento da distância protegida com redução da
parte mais baixa para permitir que o vento próximo ao solo, densidade do QV Nessas figuras as distâncias horizontais são
que tem menor velocid ade, penetre na área a ser protegida expressas como múltiplos da altura (h ou H) da planta prote-
evitando o turbilhonamento atrás do QV, que é prejudicial às tora usada como QV Isso facilita a apresentação, pois as dis-
plantas a serem protegidas; tâncias se tornam relativas. Portanto, quanto mais alta for a
Crescimento rápido => crescendo rapidamente, a área pro- planta protetora, maior será a distância de sua influência.
tegida também aumenta, pois esta é um múltiplo da altura da
proteção;
Raízes pivotantes e profundas => sistema radicular profun-
I do tende a minimizar a concorrência por água e nutrientes B arlavento So tavento
.~

~ com a cultura a ser protegida, dando ainda boa sustentação


;• mecânica para suportar a força dos ventos;
Folhas perenes => permanecendo sempre a tivas, as folhas
contribuem tanto para reduzir a velocidade dos ventos como
para proteger inclusive da geada durante o inverno (ver Capí-
tulo 19).

Flexibilidade
Plantas flexíveis absorvem melhor o impacto do vento
FIGURA 18.3 El eito de um QV com boa perme ab ilidade (a) e
red uzindo a s u a velocidade. Plantas rígidas favorecem os tur- sem perme abilid ade (b) na di stânci a protegida por el e. Adapta~
bilhões que danificam as plantas a serem protegidas. do d e Rosenberg et aI. (1983).

Permeabilidade
O ideal de permeabilidade, determinado em túnel de
vento, está entre 40 e 50%, ou seja, olhando-se frontalmente à
linha de QV deve-se notar que a folhagem ocupa no máximo
380 - Pereira, Angeloccí e Sen telhas Agrometeorologia - 381

A Figura 18.5 apresenta as duas disposições de QV dis-


Influência da Densidade do QV
cutidas acima, paralela artificial (Figura 18.5a) e retangular ve-
getal (Figura 18.5b, vista aérea).

o ,

Ois tâncja (xH)

Liv re A~a - - - - Média - - Baixa I

FIGURA 18.4 Influência da densidade do QV na relação entre


a ve locidade do vento depois do QV (U) e do vento livre (UI),
indicando a distância protegida. Adaptado de Rosenberg et aI.
(1983) .
FIGURA 18.5 Disposição de quebraventos: a) paralel
guiar (vegetal). Adaptado de Rosenberg et aI. (1 983).

i' Orientação 18.6 ASPECTOS AGRONÔMICOS DO USO DE


• O QV deve ser o mais perpendicular possível à direção
f QV VEGETAIS
,
• predominante dos ventos . QV ideal deve ser disposto em rede
retangular, cercando toda a área a ser protegida. Desse modo, o uso de QV modifica significativamente o micro clima
aumenta-se a eficiência na redução da força do vento em to- da área a ser protegida. O objetivo é melhorar as condições da
das as direções. área protegida de modo a permitir maior e melhor produção,
devido à redução dos efeitos desfavoráveis do vento. Além
Distância entre fileiras de QV dos efeitos favoráveis, o uso de QV apresenta algumas conse-
O QV pode ser disposto tanto em linhas paralelas como qüências que devem ser levadas em consideração:
em rede retangular. • QV (árvores ou culturas) compete, com a cultura a
Paralelas e separadas => Nesse caso, a distância entre as ser protegida, por recursos naturais, como: luz, água
fileiras deve ser igual a 15 a 20 vezes a altura (h ou H) da árvo- e nutrientes, e isto deve ser considerado no manejo
re adulta de QV. Por exemplo, se a árvore do QV tiver 5m de . da cultura; essa competição diminui à medida que se
altura, as linhas paralelas devem distar entre si de 75 a 100m. afasta do QV;
Rede retangular => Nessa configuração de QV, a distância • QV sombreia a cultura por algumas horas, o que pod e
entre as linhas aumenta para 30 vezes H, ou seja, passa dos 75 resultar em diminuição da taxa de fotossíntese;
a 100m para 150m. • QV reduz a área destinada à cultura.
Agrometeorologia - 383
382 - Pereirn, Ange/occi e Sente/hns

TABELA 18.1 Influênc ia de QV no microclima de uma cu ltura de beterraba,


Para se minimizar essas limitações deve-se tonlar algu- em Nebraska, EUA. Adaptado de Rosenberg et aI. , 1983.
mas medidas preventivas: Amhie nte Tmed (O C) Cu (kPa) UR (%)
2,28 14,0
• Usar árvores que projetem pouca sombra sobre a cul- com
, om
V
V
24.3
22,6 1,90 68,7
tura, devendo-se, ainda, levar em consideração a tra- Diferen a +1,7 +0.38 +5.3

jetória do Sol no planejamento do QV, para reduzir a


projeção de sombra sobre a cultura;
A redução na velocidade de ventos excessivos também
• Utilizar árvores com sistema radicular pivotante e pro-
contribui para o desenvolvimento mais rápido das plantas,
fundo, para reduzir a competição com a cultura por
em razão delas não sofrerem efeitos estressantes causados pela
água e nutrientes. Aração profunda próximo ao QV
agitação contínua. Por exemplo, em Israel (WMO, 1971), os
também pode ser utilizada para eliminar suas raízes
primeiros 25% da produção de tomate foram colhidos cerca
superficiais;
de 5 dias antes daqueles cultivados sem proteção.
• Adubar também o QV, para evitar competição mais
O efeito de QV sobre a produtividade de pomares de dtros,
acentuada com a cultura por nutrientes, devendo-se
cultivados em regiões de clima seIni.-árido da Califórnia, EUA,
adotar a mesma conduta com relação à irrigação;
pode ser observado na Tabela 18.2. Verifica-se que a presença do
• Para se evitar a redução da área pelo uso de QV deve-
QV foi benéfica nos três locais: Fontana, Yorba Linda, e Orange
se projetar os caminhos e estradas ao longo das li-
County. Os menores ganhos em produtividade foram obtidos em
nhasdeQV.
Orange County e em Fontana, representando um adicional de
O QV, ao reduzir a movimentação atmosférica, provoca
mais de 20%. Em Yorba Linda a produtividade triplicou, prova-
alterações microclimáticas na área protegida. A Tabela 18.1
velmente por ser local com ventos mais intensos.
apresenta um resumo geral de valores médios observados em
áreas cultivadas com beterraba, com e sem proteção de QV,
em Nebraska, EUA. Houve aumento na temperatura média TABELA 18.2 Influênci a de QV na produtivi dade de citros, em três locais da
(Tmed), na pressão atual de vapor (e,), e na umidade relativa Califórnia, EUA. Adaptado de WMO, 1971.
do ar (UR) . Embora tenha havido aumento na Tmed (+1,7 DC), Produtividade Relativa ( 'ro )
Ambiente Fontana Yorba Linda Oran e COUlltt
os aumentos da pressão atual de vapor (e,), e da UR tornaram com V 124 311 122
o ambiente menos estressante, pois hou ve redução na deman- sem - Y 100 100 100

da atmosférica por vapor d 'água, redu zindo a taxa trans-


piratória das plantas. Esse aumento na temperatura é efeito
favorável em situações onde ocorrem geadas. 18.7 VANTAGENS DO USO DE QV VEGETAIS

Além de reduzir os efeitos estressantes dos ventos, os


QV apresentam também outras vantagens:
384 - Pereira, Angelocci e Sente/has Capítulo 19

Geada
• QV altera o microclima, reduzindo a luminosidade e o
vento, aumentando a temperatura e a umidade relativa. Por
conseqüência, tende a reduzir a evapotranspiração da cultura
protegida. Isso significa que a cultura vive num ambiente
menos estressante, com menor demanda atmosférica por água,
o que permite que ela aproveite melhor a água disponível no 19.1 INTRODUÇÃO
solo. Desse modo, os estômatos permanecem mais tempo aber-
tos facilitando também a fotossíntese e o crescimento. Há me- Na Meteorologia, define-se a ocorrência de geada quan-
nor investimento em crescimento de raízes. do há deposição de gelo sobre plantas e objetos expostps ao
• QV também serve para proteger pastagens e animais. relento. Isso ocorre sempre que a temperatura atinja aoc e a
A redução da velocidade do vento promove ambiente mais atmosfera tenha umidade. No entanto, mesmo com formação
agradável aos animais, repercutindo produtividade mais alta de gelo sobre as planta~ pode não haver morte dos tecidos
tanto da pastagem como dos animais. vegetais, por elas estarem em repouso vegetativo. Em Agro-
• As árvores utilizadas como QV servem também como nomia, entende-se geada como o fenômeno atmosférico que
abrigo para a fauna, contribuindo para a manutenção do equi- provoca a morte das plantas ou de suas partes (folhas, caule,
.'I! líbrio ecológico da área. Para melhorar esse, pode-se utilizar frutos, ramos), em função da baixa temperatura do ar, que acar-
I mais de uma espécie na linha de QY, promovendo uma certa
diversidade biológica.
reta congelamento dos tecidos vegetais, havendo ou não for-
mação de gelo sobre as plantas. A morte pode ser causada tan-
t • As árvores do QV favorecem a manutenção de insetos to por ventos muito frios soprando por muitas horas, como
polinizadores e de pássaros, inimigos naturais de alguns inse- pelo resfriamento radiativo com o ar muito seco.
tos predadores da cultura. Isso contribui para a redução de A suscetibilidade das culturas agrícolas às geadas varia com
aplicação de defensivos, reduzindo custos, interferindo me- a espécie, e com o estádio fenológico das plantas no momento da
nos no ambiente. ocorrência (Camargo et aI., 1993). Mota (1981) considera que -2°C
seja a temperatura crítica mínima da folha abaixo da qual se iniciam
os danos nas plantas de espécies menos resistentes, como a bana-
neira, o mamoeiro, e o arroz. Para espécies mais resistentes, como
o cafeeiro, a cana-de-açúcar e os citros, o limite é de -40 c. Os da-
nos serão mais graves e extensos quanto maior for a queda de
temperatura abaixo desses limites.
Nos locais situados a médias e altas latitudes, a agricul-
tura torna-se atividade de risco durante o inverno, devido à
386 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 387

ocorrência de temperatu ras baixas. A pro teção de plantas con- A advecção de ar frio resulta da entrada de massas de ar
tra os efeitos letais causados pela geada é problema conside- frio, provenientes da região polar, e que atingem as regiões
rável na agricultura, especialmente para as lavouras de alta s ub-tropicais. No seu deslocamento em direção ao equador,
rentabilidade, entre as quais estão as frutíferas de clIma tropl- elas trazem ventos frios causando maiores danos durante o
cal, o cafeeiro, a seringueira, entre outras (Rosenberg et al., inverno, principalmente na face sul do relevo (geada de vento).
1983). . Os danos causados por esse tipo de geada são tanto pelas bai-
No Brasil, a geada é um fenômeno freqüente nas latitu- xas temperaturas (queima das folhas) como pela injúria mecâni-
des maiores que 19°5, englobando os Estados de Minas Gerais ca provocada pela agitação contínua das plantas.
(Triângulo Mineiro e região sul), São Paulo, Mato Grosso do
Sul, Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul, onde sua • Geada de radiação
ocorrência resulta em graves prejuízos econômicos, principal- Geada de radiação ocorre quando há resfriamento intenso
mente quando ocorrem precocemente no outono, ou tardia- da superfície, que p erde energia durante as noites de céu lim-
mente na primavera. po, sem vento, e sob domínio de um anticiclone estacionário,
de alta pressão (massa de ar polar fria), com baixa concentração
de vapor d'água (seca). A perda radiativa da superfície faz com
19_2 TIPOS DE GEADA que o ar adjacente a ela também se resfrie. Logo, o agente causa-
dor é a perda radiativa intensa. Essa situação ocorre freqüente-
Segundo Camargo (1972), os tipos de geada são definidos mente em regiões de clima árido, em que a falta de vapor d'água
quanto à sua gênese (origem) ou pelos efeztos vzsuazs (aspecto a tmosférico reduz o efeito estufa local (ver Capítulo 3).
das plantas) que elas produzem. As geadas pode~ ocorrer em Nessa situação, durante o dia, a temperatura na superfí-
função de dois fenômenos meteorológicos: advecçao de ar frzo e cie se mantém acima do ponto de congelamento. Porém, após
perda de radiação terrestre (Valli, 1972) . o pôr-do-sol, durante à noite, a perda de energia da superfície
por e missão de radiação de ondas longas (lei de Stefan-
Quanto à gênese Boltzmann - Capítulo 5) se acentua, provocando queda rápida
• Geada de advecção ou de vento frio da temperatura do ar próximo à superfície, resultando no que
São aquelas provocadas por ocorrência de ventos fortes, ~ e denomina inversão térmica (Figura 19.1), ou seja, a tempera-
constantes, com teulperaturas nluito baixas, por rnultas horas lLlra aum enta com a altura, nos primeiros metros, ao invés de
seguidas. O ar frio resseca a folhagem causand? sua morte. diminuir (situação normal).
Portanto os ventos são os causadores do dano a planta . Em
algumas'situações, esse tipo de geada fica bem caracterizado
por haver dano apenas em um lado da planta (aquele voltado
para os ventos predominantes).
388 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 389

se u congelamento sobre as plantas. Nesse caso, a concentra-


ção de vapor d'água na atmosfera adjacente à superfície é mais
'leva da que na geada negra. Quando há mais umidade no ar,
p rimeiro ocorre a condensação com liberação do calor latente,
Gradiente
/diurno fato que ajuda a reduzir a queda da temperatura. Portanto, a
1,50m
gea da branca é menos severa que a negra.
O.05m L'-'-'-",-
..
' ~,..::,:
'
.. _ _-,--_ _ _-",,,--_ __
Trelva Tabrigo Tem pera tu ra (Oe )
óT 19.3 FATO RES DE FORMAÇÃO DE CEADAS
FIGURA 19.1 Gradiente térmico diurno e noturno NO BRASil
em noite de geada, indicando a inversão térmica,
temperatura no abrigo (Tabrigo) e na relva (Trelva), e
di ferença de temperatura entre ambas (6. T). Normalmente, vento calmo, céu limpo, e ar seco favore-
cem a ocorrência de geadas de radiação, visto que sob essas
condições a perda radiativa (de ondas longas) pela su perfície
.I: • Geada mista terrestre é mais intensa. Esse resfriamento intenso faz com que
É a situação em que ocorrem os dois processos sucessiva- a s uperfície atinja a temperatura do ponto de orvalho permi-
mente, ou seja, entrada de massa fria e seca, e subseqüente estag- ti ndo que a pequena concentração de umidade do ar adjacen-
nação sobre a região permitindo intensa perda radiativa noturna. te à superfície se condense e congele (geada branca). Nesse pro-
cesso, há liberação de calor latente de condensação (2450 kJ /
Quanto ao aspecto visual kg de água condensada), diminuindo, assim, a velocidade de
• Geada negra perda radiante. Quando não há vapor d'água, não ocorre
Geada negra ocorre quando a atmosfera tem baixa con- condensação e congelamento, resultando assim na geada negra
centração de vapor d'água e a perda radiativa é intensa, cau- de radiação (neste caso o resfriamento é mais intenso).
sando resfriamento acentuado da vegetação, chegando à tem- Dentro desse quadro, inúmeros são os fatores que favo-
peratura letal. Em função do baixo teor de umidade no ar, não recem a ocorrência de geadas, e eles serão apresentados de
há deposição de gelo, por falta de água. Esse tipo de geada é acordo com sua escala de atuação.
mais severo, pois a baixa umidade do ar permite ocorrência
d e temperaturas bem menores.
19.3. 1 Fatores macroclimáticos
• Geada branca
Geada branca é aquela que ocorre quando o intenso São aqueles relacionados ao macroclima, ou seja, relacio-
resfriamento nohlrno produz condensação de vapor d'água e na dos à escala regional ou geográfica do clima, que d epen-
390 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 391

delTl das nuances clilTláticas ilTlpostas pelos (lTlacro)fatores la- • Continentalidade/oceanidade


titude, altitude, continentalidade, e circulação (atlTlosférica e O oceano, por ser UlTla enorlTle lTlassa de água, COlTl alto
oceânica) global. poder calorífico, tem efeito lTloderador nas variações da telTl-
pcra tura. No interior do continente, a variação da telTlperatu-
• Latitude ra é lTlaior, podendo atingir valores muito baixos, COlTl injúria
Quanto lTlaior a latitude, lTlaior a ocorrência de geadas, aos tecidos vegetais.
lTlas CalTlargo (1972) relata que:
- Ao nível do lTlar, as geadas ocorrelTl somente elTl lati- • Massa de ar polar
tudes lTlaiores que 23°5; Pela configuração do continente sul-alTlericano, elTl for-
- Entre 23° 5 e 27° 5, ocorrem geadas somente no inver- ma de cone, invasões de lTlassas polares (frias), que atingelTl a
no, e elas danificalTl apenas as culturas tropicais perenes, por re g ião sudeste, via continente, COlTl ventos que transpõem os
exelTlplo: cafeeiro, citrus, e bananeira; Andes, soprando de oeste e sudoeste, abaixalTl repentinaulen-
- Em latitudes lTlaiores que 27°5, ocorrelTlgeadas precoces te a telTlperatura local. Essa transposição dos A ndes resulta
no outono, geadas normais no inverno, e geadas tardias na pri- e m lTlassa fria e seca, pois o pouco de ulTlidade inicial é retira-
lTlavera. Geadas de inverno (normais) não afetalTl as culturas do e lTl forlTla de neve, na cordilheira. A rota continental talTl-
de clilTla telTlperado, pois nessa época essas plantas estão dor- bém não perlTlite que a massa fria ganhe umidade, pois o con-
lTlentes, lTlas as geadas precotes e as tardias afetalTl talTlbélTl linente, nessa época, não é fonte significativa de vapor d'água .
tais culturas. Na primavera, as geadas afetalTl a florada, e no O a r frio e seco favorece a perda de energia por radiação du-
outono, a frutificação. rante à noite e, conseqüentelTlente, a ocorrência de geadas de
radiação. Quando o efeito é conjugado (radiação e vento frio)
• Altitude os danos são lTlais intensos .
Quanto lTlaior a altitude, lTl~nor a telnperatura, e lTlaior 5e a lTlassa polar pene tra via oceano Atlântico, ela ga-
a ocorrência de geadas. Entre 20°5 e 23°5, a fre qüência de ge- nha UlTl pouco de ulTlidade elTl sua trajetória, COlTl os ventos
adas aUlTlenta COlTl a altitude (Camargo, 1972). Esse é o caso sop rando de sul e sudeste. Essa ulTlidade permite UlTla certa
do Estado de 5ão Paulo, onde ao nív el do mar não ocorre gea- Iropicalização da massa polar, pois sempre há condensação do
da. Por exelTlplo: va por d'água, liberando seu calor latente, aquecendo-a. Por-
- Ubatuba (Lat.: 22°26' 5; A lt.: 5lTl): liv re de geadas. Nesse lan to, as geadas lTlais severas são aquelas associadas a inva-
caso, concorre para isso talTlbélTl o efeito de oceanidade, pois sões de lTlassa polar soprando de oeste-sudoeste.
ali o oceano Atlântico é UlTla fonte de calor;
_ CalTlpos do Jord ão (Lat.: 22°44' 5; A lt.: 1600lTl): geadas
freqüentes todos os anos.
392 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 393

19.3.2 Fatores topoclimáticos sua passagem rente ao chão, dependendo da intensidade do


resfriamento e da densidade de plantio.
São aqueles relacionados à topografia do terreno, ou seja, Terrenos com exposição voltada para a face sul recebem
sua configuração e exposição, afetando o acúmulo de ar frio. m enos energia solar durante o inverno, sendo naturalmente
Deve-se observar tanto o relevo regional como o local. Muitas mais frios, e também mais sujeitos aos efeitos dos ventos pre-
vezes, a situação local é agravada pelo relevo da região como dominantes de SE (frios) . De modo geral, a face norte é natu-
um todo. Em geral, vale de rio é o caminho natural também ralmente mais quente, pois recebe mais energia durante o in-
do ar frio mais denso, sendo as regiões de chapadas mais ele- verno, sendo também menos sujeita aos v entos frios, e às gea-
vadas as fontes do ar frio. Em situação de geada de radiação, das no hemisfério sul.

SlI y
locais mais baixos são os que estão sujeitos a maiores danos
.
(Figura 19.2).
Terreno plano está sujeito à estagnação de ar frio, pois I. F ace vo ltada Fac e. volt a da 0
não há para onde escorrer, favorecendo a ocorrência de geada. 5;(
ara o para oNone 3
Essas áreas devem ser reservadas para culturas anuais duran-
T e rreno Plano
j \
l:""cno

, , te o verão, ou aquelas resistentes ao frio. Pode-se utilizar tam- :


M e ia Encosta
Con ve xo

bém culturas que permitam arborização. No entanto, se o ter-


reno p lano estiver situado em uma chapada, ou seja, em uma . T e rre n o Côn cavo

posição mais elevada que seu entorno, então essa área deve FIGU RA 19.2 Condiçôes de configuração e exposição do terreno.
ser mantida com vegetação arbórea para minimizar o
resfriamento norturno e reduzir a produção de ar frio para as 19.3.3 Fatores microclimáticos
I áreas mais baixas (Figura 19.3).
No caso do terreno ser cõncavo, sua configuração em São aqueles ligados à cobertura do terreno, pois cober-
forma de bacia facilita o acúmulo de ar frio, o que torna fre- lu ra com mato, "mulch" (resto de vegetação já colhida, ou de
qüente a ocorrência de geadas (ninho de geada). Tal configura- ca p ina) ou outro tipo de cobertura funciona como isolante tér-
ção deve ser reservada para cultivos anuais de verão ou para lIIico, impedindo a entrada no solo de calor dos raios solares.
florestamento. Terreno convexo tem geralmente menor fre- O solo d escoberto funciona como armazenador de calor durante
qüência de geadas, desde que não esteja circundado por terre- () d ia, absorvendo a radiação solar, sendo fonte de calor du-
nos mais elevados. Essa configuração facilita o escoamento do ,." nte a noite, que aquece a superfície. Portanto, o solo nu fun-
ar frio para outras áreas. cio na como moderador da temperatura do ar durante o inver-
A meia-encosta favorece o escoamento do ar frio forman- 11 0. Essa propriedade do solo está ligada ao grau de compac-
do a brisa catabática (ar mais denso que escorre morro abaixo), 1.1,5 0, sendo que solos mais compactos conduzem melhor ca-
que pode afetar o caule das plantas (geada de canela) durante I" ,. do que solos afofados e arenosos (ver Capítulo 6).

I
394 - Pereira, Angelocci e SenteI/las Agrometeorologia - 395

19.4 AGRAVANTES NATURAIS DAS GEADAS


Vegcta\':'io de

Agravantes naturais são aspectos gerais da área que fa- porte baixo

cilitam a formação e o acúmulo de ar frio, entre os quais desta-


cam-se a existência de mata fechando a saída da bacia
hidrográfica, e presença de vegetação de baixo porte em lo-
cais planos (chapadas) acima da área cultivada .

• Mata em garganta à jusante (abaixo)


Vcg~taçâo de pone
A existência de qualquer impedimento físico ao escoa- haixu à mOll(~ nle

mento do ar frio em uma microbacia facilita o acúmulo de a r V~gclação de pone

com baixa temperatura, sendo danoso às plantas durante o


inverno. Portanto, nessa situação o plantio de culturas pere-
nes suscetíveis deve ser feito acima da cota (nível) onde o ar
frio se acumula (lago de neblina) . Desse modo, evita-se os da-
nos à cultura durante o inverno. Nos níveis atingidos pelo FIGU RA 19.3 Di sposição das cultu ras e vegetação nas diferentes configura-
ções do te rreno: a) disposição ideal e b) dispos ição a ser evi tada.
acúmulo de ar frio deve-se utilizar cultivos de verão ou pasta-
gem. Para minimizar O problema, deve-se raleara sub-bosque
19.5 EFEITOS DA GEADA NOS VEGETAIS
(mata ciliar quando na beira de rio) para permItIr a drenagem
do ar frio por entre as árvores. Não há necessidade de se elI-
minar a mata ciliar sob o pretexto de se controlar geada. A morte do tecido vegetal por frio é um processo físico-
químico. De acordo com Heber & Santarius (1973), o processo
• Vegetação de porte baixo à montante (acima) inicia assim que a temperatura letal da planta é atingida, ha-
A presença de vegetação de porte baixo na parte alta da vendo o congelamento da solução extra celular, que resulta em
encosta ou chapada funciona como fonte de ar frio pois se res- des equilíbrio do potencial químico da água da solução
fria rapid amente. Para se evitar esse derramamento de ar fno intracelular em relação ao potencial químico da solução
sobre a encosta e baixada, deve-se deixar um renque de árvo- cx tracelular, parcialmente congelada. Isso gera um processo
res e arbustos nas beiradas do campo. contínuo de perda de água no sentido intra para extracelular,
A disposição ideal de culturas, nas diferentes configura- nté que o equilíbrio seja reestabelecido, provocando a d esi-
dra tação da célula ou o congelamento da solução intracelular.
ções de terreno, é apresentada na Figura 19.3a, e as situações a
Os primeiros sinais resultantes desse processo são: desidrata-
serem evitadas estão na Figura 19.3b.
ção da célula; perda do potencial de turgescência; aumento na
396 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Agrometeorologia - 397

concentração de solutos; redução do volume celular; ruptura TABELA 19.2 Temperatura letal ("C) de algumas cult uras perenes.
da membrana plasmática.
Temperatura tela!
Segundo Camargo et aI. (1993), a suscetibilidade das Cultura - Variedade Folha Abril!o Fonte
Maça. cv. Jon:llhan -2.5 1,5
culturas agrícolas às baixas temperaturas varia muito de acor- Abacate - cv Pollock -1,0 3.0
Whilcman (1 951)
ciladO por Roscnbcrg et ai. ( 1983)
Banana - cv Guatemala -1. 1 2,9
do com a espécie e o estádio de desenvolvimento fenológico. Manga - cv Kcill ·2.0 2,0
Laran ja - cv Jaffa -3.2 0.8
Nas Tabelas 19.1 e 19.2, são apresentados alguns exemplos de Anona· cv C henmóia -6,0 -2,0 Senlelhas et aI. (1996)
Anona - cv Condessa
temperatura letal, ao nível das folhas, para diversas culturas. Goia ba
-4,0
-4,0
0,0
0,0
Acerola
No entanto, normalmente dispõe-se apenas de dados de tem- Mar:lcujá
-4,0
-5,0
0,0
- l,O
peratura mínima absoluta obtida no abrigo termométrico. A Abncme - C\l Geada
Café· C\I Ca tuaí
-4,0 0,0
-4.0 0,0 SClllelhas et aI. ( 1995b)
diferença existente entre a temperatura mínima que ocorre na Café - cv Mundo No,'o
Café - cv leatü Vermelho
-4.0 0,0
-4,0 0,0
relva (que caracteriza a condição de uma folha exposta) e no Café· Con"ta brevipes -2,0 2,0
Café - C. rocemosa -5.0 - 1.0
abrigo meteorológico (Figura 19.1), em média, é de -4°C para
as condições do Estado de São Paulo (Sentelhas et aI., 1995a).
Isso permite avaliar com dados obtidos no posto meteorológico
os danos ocorridos devido às geadas.
o conhecimento das temperaturas letais das diferentes
• espécies cul tivadas é importante na identificação da aptidão
de uma determínada espécie em uma região, servindo aínda
TABELA 19.1 Tem peratura letal (Oe) de culturas anuais em diferentes está- como subsídio ao desenvolvimento de novas variedades, mais
f dios feno lógicos (Fonte: Ventskevich, 1958, citado por Rosen berg et aI.,
1983).
tolerantes .

Gemlinação Florescimento Frutificaçirl


Resistência Cultura
.,
Folha Abrigo
-, Folha
,
Abrigo Folha Abrigo
19.6 MEDIDAS PARA MINIMIZAR OS EfEITOS
Muiloalta Trigo
Ave ia -8 -4 -,-2 2
-4
-4
O
O
Alta Feijão
G irassol
-,-, -I
-I
-3
-3
-4
-3
O DA GEADA
,, ,
--,,
Média Soja -3 I -3 I -3
Baixa Milho
Sorgo -,-,-, ,
2
-3
-3 • Planejamento de plantio/semeadura
Mu ito b:lixa A lgodão -I 3 -3
Arro7. -0.5 3.' -I -I Por meio de modelos probabilísticos adequados (distri-
buição dos valores extremos), pode-se estimar os níveis de risco
de ocorrência de temperaturas mínimas absolutas e das gea-
das, em diferentes locais e períodos do ano, com base em sé-
ries his tóricas dessas informações. O resultado deste tipo d e
nnálise possibilita a escolha dos locais e épocas de p lantio/
semeadura de modo a se evitar os mais críticos com relação à
oco rrência de geadas.
398 - Pereira, Al1gelocci e Sel1te/l1as Agrome teorologia - 399

Para o Estado de São Paulo, Camargo e t aI. (1993) d e ter- rem duas geadas por m ês nas reg iões com 400 m de altitude, e
m inou a probabilidade de ocorrência d e temperaturas míni- quatro geadas por mês nos locais com 800m. A probabilidade
mas do ar (no abrigo meteorológico), indicadora s d a ocorrên- de gear, pelo menos u ma vez no ano, é da ordem de 60% a 400
cia de geadas, em várias localidades (Tabela 19.3). As maiores m, subindo para 90% a 800 m .
probabilidades de ocorrência das baixas temperaturas são para Para o Rio Grande do Sul, O liveira et aI. (1997) verifica-
junho, julho e agosto, havendo, ainda, diferença entre os ní- ram que as probabilidades de ocorrência d e geada atin gem
veis d e probabilidade em função da região. No litoral do esta- seus m aiores v alores n o segun do decêndio de julho, variando
do, a probabilidade é muito bai xa em todos os meses. Na re- de 13% em Torres, no litoral, a 83% em Vacaria, na serra. Nes-
gião de Barretos, a probabilidade é de até 5% no mês de julho; se estado, a probabilidade de ocorrência de gea das tardias é
em Campinas chega a 12%; e em Capão Bonito e Mandurí ul- maior do que das precoces.
trapassa a 50%. Na Fig ura 19.4 é apresentado um histograma mostran-
do a ocorrência de Tmin ::; 2°C, entre abril e outubro, em
TABELA 19.3 Probabili dade (%) de oco rrência mensal de temperaturas Piracicaba, SP. Observa-se que a maior freqüência de geadas é
mín imas do ar indicadoras de ocorrência de geada s no Estado de São Pau-
lo. Adaptado de Camargo et aI. ( 1993 ). e m junho e julho, com cerca d e 41 eventos, representando cer-
Mês Capão Bonito Mandurí Call1!Jin3S Rnrrctos
ca de 74% das geadas observadas e ntre os anos de 1917 e 1999.
Maio
Junho
Julho
,.
10

4S
,.
13

'0
6
I

12
I

,
1

Agosto 43 38 4 I 'O
S elcmbr(l O 3 1 O 45 .
40
o 35
No Estado do Paraná, Grozki et aI. (1996) verificaram ."c .,...
haver, em relação a São Paulo, maior risco de geada, mas há
variação entre as diferentes regiões do Estado. Na região nor-
'.
.,
a'
~
30
25
20
r-
'r-
'" 15
te (Londrina, Cambará e Paranavaí) e oeste (Cascavel), as gea-
das são freqüentes entre maio e setembro, enquanto que nas
regiões centro-sul e s ul, as geadas ocorrem desde abril até no-
,
10

O
Ab,
.-f,J
Mai l o" lo I
Ifl·,,,-
Ago 0"
vembro, restando somente q ua lro a cinco m eses livres de gea- r Õr"Qb5({:t:adas por m'; . ) 111 Frei (%) 1
'------ . -"
das.
FIGURA 19.4 Freqüência observada (FObs, eve ntos
Em Santa Catarina, Massignam & Dittrich (1998) deter- por mês) e freqüência relati va (FRe i, Ofo) de ocorrên-
minaram O número m édio e a probabilidade mensal de gea- cia de Tm ín ::;: 2°C, en tre abril e outubro, em
Piracicaba,S P.
das concluindo que ambos se devem principalmente à altitu-
de. Foi verificado também que o maior número e a maior pro-
babilida d e de geada se dá em junho e julho. Em média, ocor-
T ,

400 - Pereira, Angelocci e SenteI/lOs Agrometeorologia - 401

• Utilização de variedades resistentes setembro (mato e palha seca resfriam mais o ar do que 0.5010
O conhecimento das temperaturas letais para as dife- nu, funcionando como isolante térmico);
rentes espécies cu ltivadas, tanto anuais como perenes, possi- - eliminar todo obstáculo ao escoamento de ar frio no-
bilita a escolha daquelas mais adequadas para cada região, turno para as baixadas (brisa catabá tica), para não h aver
em função do nível de tolerância às baixas temperaturas. Por represamento de ar frio próximo à cultura;
exemplo, ao se implantar um pomar de abacate na região sul do - chegamento de terra (ou cobertura total, no caso de
estado de São Paulo, onde a probabilidade anual de gear é maior mudas) junto aos troncos das plantas, para se evitar a geada
do que 60%, deve-se escolher a variedade Geada, que tolera até d e canela.
-4°C, ao invés da Pollock, que resiste somente até -1°e.
As medidas de longo prazo, são aquelas tomadas logo no
plantio. São utilizadas, pri ncipalmente, em culturas p erenes,
19.6.1 Medidas topo e microclimáticas como o cafeeiro, e consiste da arborização ou sombreamento das
á reas (Figura 19.7). A arborização é feita de modo a sombrear
As medidas topoclimáticas têm por base a localização corre- cerca de 20 a 30% da área, utilizando-se espécies como a
ta dos cultivos na bacia hidrográfica (encostas, espigões, e terre- Grevillea robusta, Minomosa scrabella, seringueira, pinus, etc.,
nos convexos). Basicamente, deve-se evitar as baixadas onde o ar que além de minimizarem os efeitos do vento frio, também
se acumula. Quando os plantios forem a meia-encosta, deve-se reduzem a perda de energia radiante (ondas longas) pela cul-
evitar que matas e culturas deporte alto estejam abaixo, servindo tura (Caramori et aI., 1995). Em experimentos realiz ados no
como barreiras ao escoamento do ar frio. Vegetação de porte maior Paraná, Caramori (1997) identificou que o espaçamento mais in-
deve ficar nas cabeceiras, diminuindo o fornecimento de ar frio d icado para a utilização de Grevillea na arborização de cafezais,
para a bacia. No caso da mata ciliar, deve-se ralear o sub-bosque em Terra Boa, PR, foi de 10x14m, correspondente a 71 árvores!
para permitir o escoamento do ar frio. ha, mantendo a produtividade obtida no cultivo a pleno Sol, e ao
Ainda, em regiões muito sujeitas às geadas, pode-se m esmo tempo propiciando boa proteção contra geadas, sendo
optar pela implantação das culturas próximo a grandes mas- as tenlperaturas mínimas sempre 2 a 4°C mais elevadas em
sas de água (lagos, rios, açudes, etc.), pois devido ao efeito re lação ao cafezal sem arborização (Tabela 19.4) .
termo-regulador da água, os efeitos da baixa temperatura são
reduzidos nas suas proximidades. TAB ELA 19.4 Produ tiv idade de cafezais arboriz ados com Grevillea robusta
d d iferentes espaçamentos, em Terra Boa, PRo Fonte: Caramori (199 7).
As medidas microclimáticas são também muito impor-
tantes, e podem ser de curto ou longo prazo. As medidas de Es JlI "amcnto das ã.-vorcs (m) Arvores I ha Prod. en fé heneficindo k l ha
8 )[ 10,5 119 7440
curto prazo são: lOX 14 71 8849
12 X 17 ,5 48 95 54
- em espaçamentos maiores, deve-se manter o solo des- 14 X 2l 34 9233
16 X 2 4,5 26 85 19
nudo nas entrelinhas, no período sujeito a geadas, de maio a P le no S o l O 8744

-
Agrometeorologia - 403
402 - Pereira, Angelocci e Sente/has

treinamento, para que seja rápida e eficiente. Entre essas me-


Na Tabela 19.5 são apresentados os dados obtidos por
Caramori (1997) de produtividade acumulada em cafezais didas estão:
arborizados com Mimosa scrabella, durante o período de 1986 a
• N ebulização artificial da atmosfera
1994, quando ocorreram cinco geadas moderadas e quatro se-
veras, em Londrina, PRo Foi nítido o efeito da arborização no Consiste na aplicação de uma neblina artificial sobre a
cultura alterando o balanço de radiação de ondas longas e o
balanço de radiação, minimizando o resfriamento e conseqüen-
gradiente de temperatura (Figura 19.7). Essa n eblina pode ser
temente os danos na cultura.
de dois tipos, aquosa e oleosa (Camargo, 1997). A primeira, é
TABELA 19 .5 Produtiv idade acumul ada de cafeza is arbo ri zados com Mimo-
produzida pela injeção na atmosfera de núcleos de conden-
sa scrabella submet idos a geadas de 1986 a 1994, em Londrina, PRo Fonte: sação (partículas higroscópicas), como o ácido clorídrico (Brita
Ca ramori (1997). Geada); a segunda, é produzida em termo-nebulizadores, nor-
l' rOO . ca fé beneficiado (kg/ ha)
Dcnsid:lde de Aroorização (árvorcslha)
4340
malmente por mistura de óleo diesel com serragem salitrada
Se m Arborização
50 65R4
664 1
(Camargo, 1963). Os nebulizadores devem ser localizados no
83
2 50 7229 alto do terreno, próximo à cabeceira da bacia hidrográfica .
Deve-se iniciar a neblina quando um termômetro colocado na
19.6 .2 Uso de produtos químicos parte mais baixa do terreno acusar 2°e.

o uso de produtos químicos para combater geada ba- • Neblina artificial (tipo IBC)
seia-se no princípio de que elevando-se a concentração de Misturar, peneirar, e guardar em sacos plásticos dentro
solutos na p lanta, o ponto de congelamento deve cair, aumen- de tambores de 100 litros, até o dia da aplicação (Camargo &
tando-se a tolerãncia dessas plantas às baixas temperaturas . Costas, 1983):
Os produtos utilizados, ainda em fase experimental, têm por - 100 litros de serragem seca (duratex/ eucatex)
base adubos minerais (cálcio e potássio). A aplicação desses - 10 kg de nitrato de amônio ou 12 kg de nitrocálcio
produtos deve ser feita com antecedência de alguns meses, e - 6 litros de óleo diesel queimado.
parceladamente. Porém, resultados a campo que comprovem
a eficiência desse método são ainda inexistentes. Para que a aplicação da neblina seja eficiente deve haver
um planejamento antecipado, que consiste de:
- Em urna carta geográfica, que mostre as linhas de altitu-
19.6.3 Proteção direta (no dia de ocorrência) de da região, identificar se a bacia hidrográfica local é nebulizável,
com garganta estreita. Essas cartas são publicadas pelo IBGE na
São aquelas realiz adas no momento da ocorrência da
escala 1:50.000. Deve-se atentar para que a neblina não afete ro-
geada e devem ser antecipadamente planejadas, porque sua
d ovias, aeroportos, áreas residenciais e granjas.
utilização requer grande disponibilidade de mão-de-obra e
-,-

404 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 405

- Determinar O número de nebulizadores necessários 11


(tambor de 100 litros). Pode-se adotar a seguinte regra geral: 1 ~ 10

nebuJizador para cada 50 ha de bacia (sendo uma bateria de Livre de Geada


10 tambores por ponto) .

Se houver condições macroclimáticas para a ocorrência


de geadas, no final da tarde e início da noite prevista deve-se
proceder da seguinte maneira:
- com a lgumas horas de antecedência (ao pôr-do-sol), o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

com um psicrômetro (ver Capítulo 7), verificar se as condi- Temperatura do bulbO seco ("C)

ções a tmosféricas são propícias para a ocorrência de geada no


FIGURA 19.5 Escala de Be lfort de Matos para prev isão de
local (Figura 19.5). geada. Fonte: Camargo (1963).
- havendo condição para geada, colocar um termômetro
na parte mais baixa da bacia a ser n ebuJizada, a 50cm acima
do solo. Fazer leitura da temperatura a cada hora, e preparar ~ 1 ~ "'~
---Ex
-e-mPlo
um gráfico, como no exemplo (Figura 19.6). Após algumas Oi : . f
\
l horas, projetar a reta para verificar em que horário a tempera-
'" ,
~
g
" Inícioda ~
11
1:
tura atingirá 2°C. São três as situações possíveis:
• Se a previsão de T = 2°C for após as 5 h da manhã, .~• -,
.;::
Nebulização

então não há necessidade de nebulizar; I!! -2


~ -3
• Se T = 2°C for ocorrer entre as 3 e 5 h, então deve-se ~ -4
·5
acender apenas metade dos nebulizadores;
• Se T = 2°C ocorrer antes das 3 h , a geada é iminente, e Horas

deve-se acender 1 nebulizador de cada bateria a cada 30 mino FIGURA 19.6 Exemplo de ap licação do método de
nebu l ização. Fonte: Camargo (1963).

Deve-se saber que a nebulização difere da queima de


pneus ou materiais similares, cujo efeito é unicamente o aque-
cimento do ar próximo às p lantas, não tendo a fumaça o mes-
mo efeito da neblina. A fumaça, além de não barrar a perda de
calor por emissão de radiação de ondas longas pela superfí-
406 - Pereira, Ange/occi e Sentellws Agrometeorologia - 407

cie, també m impede a passagem dos raios solares nas primei- ção no resfriamento do ar, mantendo-se a temperatura próxi-
ras horas da manhã. ma dos O°C, se a inversão térmica não for acentuada. Deve-se
lembrar que o equipamento para aspersão de água no contro-
Aquecimento artificial le de geada é específico, diferindo daqueles utilizados para o
O aquecimento artificial consiste na utilização de vários processo convencion al de irrigação.
aparelhos de aquecimento ou pequenas fo g u eiras, queiman-
do-se óleo ou gás. A finalidade é a adição de calor às camadas
mais baixas da atmosfera que envolve as plantas. É um méto- I ,·c.. ,I>ç'" f~", ..... I I ~=.,.JI·
do eficiente em condições de forte inversão térmica e pouco I
vento, em regiões de relevo plano. Um dos problemas é que a . I.
I

produção de fumaça impede a passagem dos raios solares nas


primeiras horas da manhã, devendo-se prosseguir com O aque-
cimento mesmo após o nascer do Sol. Seu uso deve ocorrer
somente enllocais com geadas freqüentes e C0111 culturas alta-
mente rentáveis, pois o custo de implantação do sistema e do
combustível é elevado.
,,
,

~ Ventilação forçada
.8.6 -4 -2 o 24 · H-ó·4

Temperatura (OC)
,
" Nas noites de inverno, ocorre a inversão térmica (Figura
FIGURA 19.7 Distribuição vertical da temperatura do ar, em noites de gea-
19.1) com a superfície sendo mais fria que as camadas de ar da, em cond ições naturais de solo gramado, sob venti lação forçada, com
mais altas . Esse m étodo consiste em promover mistura do ar proteção de árvores, e sob neblina. Fonte: Camargo (196 3) .
mais quente (acima) com o ar mais frio (abaixo), e para isso
instala-se grandes ventiladores acima da cultura (±12m) . É 19.6.4 Uso de coberturas protetoras
método aplicável somente em pequenas áreas planas, e em
culturas de a lto valor econômico, sendo viável apenas em re- A p lasticultura vem crescendo acentuadamente em todo
giões com geadas freqüentes (Figura 19.7). o Brasil. Além de propiciar condições adequadas para os cul-
tivos em épocas não-recomendadas, essa técnica serve tam-
Irrigação bém como eficiente método de controle de geada, principal-
Utiliza-se da aplicação de água por aspersão, na cultura mente quando se utiliza plásticos aditivados (EVA Acetato de
durante a noite da geada, com uma taxa de 1 a 2 mmjhora. vinil etileno).
Como, ao congelar, cada kg de água aplicada libera 0,334 MJ A Tabela 19.6 mostra res ultados obtidos em Santa Maria
para o ar adjacente en1 contato com a superfície, há UIna r cd u - (RS), em noites de geada, com efetivo controle da tempe ra tu-
408 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 409

ra mínima. Obse rva-se que apesar da tempe ratura, d entro da


estufa, a tingir valores baixos, ela sempre ficou acima de O°C, e
bem acima da tempe ratura externa, tanto aquela do abrigo
meteorológico como da relva. Isso se d eve, ba sicamente, à re-
dução na perda de energia radiante em razão da su a absorção
parcial e de sua contra-emissão pela cobertura plás tica e tam-
bém ao significativo ganho de tempe ratura (armazen a m en to
de calor sensível) dentro do ambiente protegido durante o dia.

TABELA 19. 6 Tem peratura mínima absolu ta, sob três diferentes coberturas
p lásticas. Fo nte: He ldwei n et al.( 1995).
N* PEBD EVA adit EVA Relva A brigo
No ite T min ('q
r ria 35 0.3 0.5 0.5 -7.3 -2,4 FIGURA 19.8 Ap l icação de espuma
Geada
Geada Forte
17
7
0.3
0.2
0.5
0.6
O.'
0.4
-8.1
-9,3
-2.6
·3.2 sobre hortali ça para proteção contra
• N - número de eventos com geada.
geada. Fon te: Barthol ic & Braud (1979) .

19.7 EXERcíCIOS PROPOSTOS


Outros materiais como v idro picado, saco de cimento,
ripados (v iv eiros) e espuma também podem ser utiliza dos, 1. Faça um esquema indicando várias condições topo-
porém, são aplicáveis em p equenas áreas e com culturas d e g ráficas e qual O grau de suscetibilidade dessas condições à
alto valor comercial. Um exemplo pode ser v isto na Figura ocorrência de geadas, ou seja, onde não é aconselhável insta-
19.8, onde uma cobertura de espuma está sendo aplicada em lar culturas perenes e anuais.
hortaliças de porte baixo para se evitar queima da folhagem
pela baixa temperatura. A espuma funciona como agente iso- 2. Comente o princípio físico da medida microclimática
lante p ermitindo proteção por a lguns dias. Ela deve ser es tá- de longo prazo de minimização dos efeitos da geada. Faça um
vel e inerte biologicamente, de fácil aplicação, e de baixo cus- desenho para auxiliar seu comentário.
to. Não há a inda um produto específico disponível no m e rca -
do. . 3. Numa noite de inverno, às 19h são observadas as se-
g uintes temperaturas: Tseco = 10°C e Túmido = 6°C. Mais tar-
de, num cafezal de 200 ha, situado em uma bacia de garganta
estreita, a SOcm acima do solo, foram observadas as seguintes
temperaturas:
nlA s n
o N S' ru
.
.....
O
S (1) n ~~.s ~ I
O .........
~ rc ~
o.. n CT e, tJ ~
i-T'. •
--- ro ~
"' ::l"' run
(JQ;::r~~O :=t'S::l.,9 @' nO;J>W ~ ,~'
(1) (1) ~ , [J) 3 - o(} -
~ S ,,, - ~ .g 0S ::l..o ::l" S
~, ~ ru, _. ;:..
ru
\ll (T)
CT::l ~ o
"ij
ru tn S' (1) (1) (1) >j (1) _ ::l
Vl ~ . Q. (fl O .n r ::l;::> _ V(1)
Pl X tu ~ ro ...... rn ~ O . . ~
rn -
(T) ro
\ll cp..
1-1 tu Q)
-~ <! C/l ....... ro 1-1 O (Jl
• ;::;: O I-Cj tu (J'j O ~ ~.
g
o.. C/l~o.. p.. ..onO -V O o.. ", CT !:lo
1-"
;:r (1)
~
P.l
oi"'i oC/l C
ro ro> ::I O"'ro Pl ~
,...,. O 1-1 1-"
"
C/J w

_. S <: ~ o..
_.
f"'i'"

~
~o~ro
C[JJPlro~ro 3 ru
~...,.o.. IV N N N
+:>'WN - O
NIg:.., (J)

'"
CTCT ru , (1) o..
""1i;;::l
~. ro ""d
C 1-1 PJ ........
ro o :::l :::-' ...... n
Cf) U

5' O 2' gl S"O (1) "


PJ
>j ;:> fJJ "'"'
ru -, ~ >j N ... r-.
1-' - ro
S ~gg- 3 ';> (Jl ::r. n;:::JPl
~
Pl I'tI
\ll \ll - ~ ~ ~ <: õ' ~ o.. 2' ()Q
0"8 0..)2 (1) ,...,. 0::s ,... , O '"1 ro
,.......
o Co~~ 2!.
::l >j n o ~
('i) '''' i"'i ro ""O (Jl Pl 0.. ""1 Pl P.l
ro .....
r-' ro 1-1 P.l {J)
ro p.. P-I
.... ID-...}.{::I. I - ° D
1'--l0
};;. ~ ~O\ ",-....I ",00

()Q ;::> oo.. ... g; ~ ~Pl""dPJrorO


o ~ ~ o \ll (DCIlOQo..l-1 lJl <:U'l
o.. iji' (1» o.. >j Ul Pl$~~~g-
o ,...,. ~ ro ;:.. ""d O Cf. C ro ro Pl' ::s
<f> ~ Q......
S' 8nroO
iP.,<: ru ::;'S ru o
o.. ..... p-. .....
3 iil ~ ~ §' ro::;:~P.l<PJ::s@"
(1)>j(1)°ru '" O [J) S ?' ~ ()Q _.
"';::> ru
~ tu (JQ f-l Pl ~ C/l ro ro :::~ .
"'(1)ru ::l ;:S:: o.. N
, 3 2l'Üir
o o.. 'Ü o
..-
::s(ti 1-1 O
~. 1::: '
ro."\,) n
(T)
1-"
p.. ( )
..2
Vl\ll~_ ;.J 0)0 ....
::r.-o..~ CT O<:tJn!"
Pl~ ro Pl :::
::s g ro'("C
fJl (J)
1-1
ro
::l S ..... \llroo..tJ ~
o.. t:' ~ o..
o ;:::J I (t) roCfro "

QUADRO 19.1 Temperatura mínima absoluta em Campinas, SP, de 1890 a 1994. Fonte: IAC.
Ano Mês Tmin Abs Ano Mês Tmin Abs Ano Mês Tm in Abs Ano Mês Tmin Abs
(0e) ee) rC) ('e)
1890 8 2,3 1916 7 5.4 1942 7 ·0,2 1968 5 3,8
1891 8 3, 1 1917 7 3,2 1943 9 2,0 1969 6 2.4
1892 7 0,2 1918 6 -1,5 1944 7 6,9 1970 7 6,0
1893 5 2,9 1919 8 3,8 1945 7 6,2 197 1 4 3,8
1894 7 1,0 1920 5 4,0 1946 7 4,8 1972 7 1,6
1895 6 1,0 1921 7 3,5 1947 7 5,4 1973 6 4,0
1896 5 3,3 1922 7 3,5 1948 8 4,2 1974 5 5,9
1897 7 3,3 1913 7 2,0 1949 5 5,8 1975 7 0,6
1898 7 2,4 1924 8 5,4 1950 9 7,0 1976 6 7,0
1899 6 1,6 1925 7 2,0 195 1 8 5,6 1977 5 6,8
1900 8 4,0 1916 1952 6 2,8 1978 8 2,6
1901 6 3, 1 1927 1953 7 1,2 1979 5 0,2
1902 8 0,2 1928 1954 8 7,8 1980 6 7,0
1903 7 6.6 1929 6 6,0 1955 8 2,0 1981 7 0,2
1904 8 1,5 1930 7 5,0 1956 7 4,7 1982 7 9,0
1905 8 2,9 1931 6 2,0 1957 7 1,2 1983 8 5,1
1906 7 6,0 1932 8 5,9 1958 6 6,4 1984 8 4,6
1907 7 4,5 1933 7 1,4 1959 6 3,7 1985 6 1,4 >
.,
()q
1908 8 4,5 1934 7 6,4 1960 6 6,7 1986 6 7,2 O
1909 1935 7 5,0 196 1 7 8,5 1987 8 2,8 S
1910 7 2,1 1936 8 4,1 1962 7 2,0 1988 6 1,8 li>
~
1911 6 2,2 1937 5 5,9 1963 6 2,6 1989 5 5,2 li>
19 12 9 1,8 1938 7 5,8 1964 7 2.4 1990 7 2,0 .,O
19 13 8 4,0 1939 7 3,6 1965 8 0,6 1992 7 6,6 ~
1914 8 4,0 1940 8 3,7 1966 9 5,4 1993 8 3,2 O
1915 7 5,5 194 1 9 3.8 1967 6 4,6 1994 6 0,3
03,
Obs: Freqüência relativa ('to) - (o", de eventos no m~sln". total de evcnl(5) 100.
." I
.....
>-'
Capítulo 20

Condicionamento climático
da produtividade vegetal

20.1 INTRODUÇÃO

o nível de produtividade potencial ou rendimento máximo


de urna cultura é detenninado, principalmente, por suas ca-
racterísticas genéticas e grau de adaptação ao ambiente. As
exigências ambientais de clima, solo e água para crescimento
e rendimento ótimos diferem de cultura para cultura e entre
as variedades. É de fundamental importância a seleção da cul-
i tura e variedade melhor adaptada ao ambiente para se obter

t I produção elevada.
Define-se corno produtividade potencial ou rendimento
máximo de urna cultura aquela obtida de urna variedade alta-
mente produtiva e bem adaptada ao ambiente de crescimen-
to, sob condições nas quais não ocorram limitações de fatores,
tais corno: água, nutrientes, pragas e doenças, durante todo o
ciclo até a rnaturação (Doorenbos & Kassam, 1994).
Os elementos climáticos que determinam a produtivi-
dade potencial são a temperatura do ar, a radiação solar e a
duração do período total de crescimento, além de necessida-
des específicas para o desenvolv imento da cultura quanto ao
fotoperíodo. A temperatura do ar, geralmente, determina a taxa
de desenvolvimento da cultura e, conseqüentemente, influi
na duração do período total de crescimento necessário à for-
mação da colheita. Por exemplo, urna variedade de milho que
r

414 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 415

necessita de 100 dias par a alcançar seu amadurecimento a Por trás dessa equação simples, encontra-se um comple-
25 DC / 30 DC, pode levar 150 dias a 20 De, ou até 250 dias a 15 DC, xo processo de bioconversão de energia ele tromagnética, da ra-
para alcançar a mesma fase. Algumas culturas têm necessida- diação solar, em energia química armazenada no carboidrato.
des específicas de temperatura e/ou fotoperíodo para iniciar Há uma combinação de processo biofísico de excitação e mi-
certa fase de crescimento, como a batata que exige temperatu- gração energética, em pig m entos (clorofila), com o processo
ras noturnas inferiores a 15°C para iniciar a formação de tu- de assimilação de carbono atmosfé rico. A radiação solar é o
bérculos, e algumas variedades de sorgo que exigem dias cur- fator desencadeador d a fotossíntese, mas os passos bioquí-
tos para florescer. m icos são afetados também pela temperatura. Nos aspectos
° rendimento máximo de uma cu ltura (PP) em uma re-
gião irá, portanto, depender das condições climáticas. Apesar
biofísicos do transporte do CO2 até os cloroplastos, estão en-
v olvidos também o vento e a umidade relativa do ar, que afe-
disso, a PP pode ser calculada com boa confiabilidade, para tam as condutâncias, do ar e dos estômatos, à difusão do CO 2 •
diferentes condições climáticas, por meio de relações que ex-
pressam a eficiência da cultura em converter energia solar em
produção de matéria seca e, finalmente, em produção comercia- 20.3 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA PRODUTIVIDADE
lizável. Isso permite a quantificação do potencial produtivo
Para melhor se entender o processo de bioconversão, será
de diferentes áreas (Campelo Jr. et a!., 1990), indicando as mais
reproduz ido aqui o modelo teórico apresentado por Thonlley
apropriadas para a produção de determinada cultu ra, servin-
(1970), e descrito por P ereira (1988), que a juda a visualiz a r os
do também para estimativa da produtividade real (Pedro Jr. et
aspectos fisiológicos da produtividade. A fotossíntese produz
a!., 1983) e da quebra de rendimento (Marin e t a!., 2000).
[C H 20t que é o substrato fotossintetizado (5). À quantidade de
s ubstrato (t.5) formado por determinada área foliar, em um
20.2 BlOCONVERSÃO DE ENERGIA SOLAR intervalo de tempo (t.t), denomina-se taxa de fotoss íntese bruta
(Fb), isto é:
A produtividade potencial de um cultivo é dependente
da energia disponível no ambiente, associada a outras variá- Fb = ÁS / M. (20.1)
veis climáticas como a temperatura e o fotoperíodo. A produ-
ção de biomassa começa com o processo fotossintético, no qual Essa equ ação tem dimensões de massa/(área tempo),
o CO2 atmosférico é reduzido a carboidrato, com a participa- sendo que a massa pode ser expressa tanto em termos de
ção da água e da radiação solar, conforme a equação clássica : carboidrato forma do como de CO2 utilizad o, pois 44g de CO 2
resulta em 30g de [CH20 1n •
6 CO2 + 6 H 20 + Rad.5olar --7 Clorofila --7 [CH 201 n + 6 °
2
Pressupõe-se, neste modelo, que o substrato fotossin te-
tizado d eva ser utilizado, no mesmo dia, nos processos d e cres-
416 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 417

cimento (t.Sc) e de manutenção da fitomassa existente (t.Sm), !<.S =!<.W + !<.Sr + !<.Sm. (20.4)
assim:
Define-se a eficiência (Y) do processo de conversão de
!<.S = !<.Se + !<.Sm. (20.2) fotossintetizados pela relação entre o incremento de fitomassa
(t. W) e a quantidade de substrato disponível para o cresci-
Crescimento significa incorporação de nova fitomassa, ou mento (t.Sc):
seja, aumento em tamanho, e manutenção é o processo de repo-
sição de compostos degradados nos processos fisiológicos, Y =!<.W / !<.Se =!<.W / (!<.W + !<.Sr). (20.5)
enfim, trata-se de recomposição dos tecidos. Como se vê, nem
todo o substrato fotossintetizado está disponível para produ- Das equações (20.1), (20.3) e (20.5), teremOS:
zir nova fitomassa, assim t.Sc representa a taxa de fotossíntese
líquida, e t.Sm representa a quantidade de carboidrato que é !<.S = Fb !<.t (20.6)
convertido em energia pela respiração de manutenção. t.Sm ex- !<.Sm = M W!<.t (20.7)
pressa o custo energético para manter a planta, sem que haja !<.Sr = (!<.W / Y) -!<.W (20.8)
crescimento. Esse custo é proporcional ao tamanho da planta.
,
"
Considerando-se a fitomassa existente (W) como representa- e substituindo-as na e quação (20.4), teremos:
tiva do tamanho, foi verificado que:
,l. !<.W /!<.t = Y (Fb - M W), (20 .9)
! !<.Srn = M W !<.t (20.3)
~m que: t.W / t.t é a taxa de crescimento da planta, resultante do
em que: M é o coeficiente de manutenção. A equação (20.3) balanço entre as taxas de fotossíntese e de respiração de ma-
representa a respiração de manutenção. M varia com a tempe- nutenção.
ratura (maior temperatura, maior atividade metabólica), e tam- A taxa de fotossíntese varia entre plantas com metabo-
bém com a idade do tecido (maior idade, menor atividade lismo tipo C4, C3, e CAM de fixação do carbono. As plantas
metabólica). C4 são mais eficientes fotossin teticamente, dentre as quais se
Além da respiração de manutenção, outro processo que destacam: milho, cana-de-açúcar, sorgo, capins, etc. As plan-
consome carboidratos fotossintetizados é o processo de con- tas C3, menos eficientes, incluem: arroz, feijão, beterraba, tri-
versão do substrato disponível para crescimento (t.Sc) em nova go, soja, algodão, amendoim, batata, mandioca e árvores. En-
fitomassa (t.W). A única fonte de energia para esse processo é tre as do tipo CAM (absorvem gás carbônico durante a noite)
a respiração de crescimento (t.Sr). Desse modo, a equação (20.2) de importância econômica estão o abacaxi e o sisal.
pode ser reescrita da seguinte forma :
,..

414 - Pereira, Angelocci e Sente/lias Agrometeorologia - 415

necessita de 100 dias para alcançar seu amadurecimento a Por trás dessa equação simples, encontra-se um comple-
25°C / 30 °C, pode levar 150 dias a 20 °C, ou até 250 dias a 15 °C, xo processo de bioconversão de energia eletromagnética, da ra-
para alcançar a mesma fase. Algumas culturas têm necessida- diação solar, em energia química armazenada no carboidrato.
des específicas de temperatura e/ou fotoperíodo para iniciar Há uma combinação de processo biofísico de excitação e mi-
certa fase de crescimento, como a batata que exige temperatu- gração energética, em pigmentos (clorofila), com o processo
ras noturnas inferiores a 15 °C para iniciar a formação de tu- de assimilação de carbono atmosférico. A radiação solar é o
bérculos, e alg umas variedades de sorgo que exigem dias cur- fator desencadeador da fotossíntese, mas os passos bioquí-
tos para florescer. micos são afetados também pela temperatura. Nos aspectos
° rendimento máximo de uma cu ltura (PP) em uma re- biofísicos do transporte do CO2 até os cloroplastos, estão en-
volvidos também o vento e a umidade relativa do ar, que afe-
gião irá, portanto, depender das condições climáticas. Apesar
disso, a PP pode ser calculada com boa confiabilidade, para tam as condutâncias, do ar e dos estômatos, à difusão do CO2·
diferentes condições climáticas, por meio de relações que ex-
pressam a eficiência da cultura em converter energia solar enl
produção de matéria seca e, finalmente, em produção comercia- 20.3 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA PRODUTIVIDADE
lizável. Isso permite a quantificação do potencial produtivo
Para melhor se entend er o processo de bioconversão, será
de diferentes áreas (Campelo Jr. et a!., 1990), indicando as mais
apropriadas para a produção de determinada cultura, servin- reproduzido aqui o modelo teórico apresentado por Thornley
(1970), e descrito por Pereira (1988), que ajuda a visualizar os
do também para estimativa da produtividade real (Pedro Jr. et
a!., 1983) e da quebra de rendimento (Marin et a!., 2000).
aspectos fisiológicos da produtividade. A fotossíntese produz
[CH20L que é o substrato fotossintetizado (S). À quantidade de
substrato (~S) formado por determinada área foliar, em um
20.2 BlOCONVERSÃO DE ENERGIA SOLAR intervalo de tempo (~t), denomina-se taxa de fotossíntese bruta
(Fb), isto é:
A produtividade potencial de um cultivo é dependente
da energia disponível no ambiente, associada a outras variá- Fb = c.S / M. (20.1)
veis climáticas como a temperatura e o fotoperíodo. A produ-
ção de biomassa começa com o processo fotossintético, no qual Essa equação tem dimensões de massa/(área tempo),
o CO2 atmosférico é reduzido a carboidrato, com a participa- sendo que a massa pode ser expressa tanto em termos de
ção da água e da radiação solar, conforme a equação clássica : carboidrato formado como de CO2 utilizado, pois 44g de CO2
resulta em 30g de [CH201".
6 CO 2+ 6 H 20 + Rad.5olar --7 Clorofila --7 [CH 201 n + 6 °
2
Pressupõe-se, neste modelo, que o substrato fotossinte-
tizado deva ser utilizado, no mesmo dia, nos processos de cres-
416 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 417

cimento (i15c) e de manutenção da fitomassa existente (i15m), "",S = "'"W + "",Sr + "",Sm. (20.4)
assim:
Define-se a eficiência (Y) do processo de conversão de
"",S = "",Se + "",Sm. (20.2) fotossintetizados pela relação en tre o incremento de fi tomassa
(i1 W) e a quantidade de substrato disponível para o cresci-
Crescimento significa incorporação de nova fitomassa, ou mento (i15c):
seja, aumento em tamanho, e manutenção é o processo de repo-
sição de compostos degradados nos processos fisiológicos, Y ="",W / "",Se ="",W / ("",W + "",Sr). (20.5)
enfim, trata-se de recomposição dos tecidos. Como se vê, nem
todo o substrato fotossintetizado está disponível para produ- Das equações (20.1), (20.3) e (20.5), teremOS:
zir nova fitomassa , assim i15c representa a taxa de jotossíntese
líquida, e i15m representa a quantidade de carboidrato que é "",S = Fb M (20.6)
convertido em energia pela respiração de manutenção. i15m ex- "",Sm=MWM (20.7)
pressa o custo energético para manter a planta, sem que haja "",Sr = ("",W / Y) -"",W (20.8)
crescimento. Esse custo é proporcional ao tamanho da planta.
Consider ando-se a fitomas sa existente (W) como representa- e substituindo-as na equação (20.4), teremos:
tiva do tamanho, foi verificado que:
"",W/M = Y (Fb-MW), (20.9)
"",Srn = MW M (20.3)
em que:!:lW / M é a taxa de crescimento da planta, resultante do
em que: M é o coeficiente de manutenção. A equação (20.3) balanço entre as taxas de fotossintese e de respiração de ma-
representa a respiração de manutenção. M varia com a tempe- nutenção.
ratura (maior temperatura, maior atividade metabólica), e tam- A taxa de fotossíntese varia entre plantas com metabo-
bém com a idade do tecido (maior idade, menor atividade lismo tipo C4, C3, e CAM de fixação do carbono. As plantas
metabólica). C4 são mais eficientes fotossinteticamente, dentre as quais se
Além da respiração de manutenção, outro processo que destacam: milho, cana-de-açúear, sorgo, capins, etc. As plan-
consome carboidratos fotossintetizados é o processo de con- tas C3, menos eficientes, incluem: arroz, feijão, beterraba, tri-
versão do substrato disponível para crescimento (i15c) em nova go, soja, algodão, amendoim, batata, mandioca e árvores. En-
fitomassa (i1W). A única fonte de energia para esse processo é tre as do tipo CAM (absorvem gás carbônico durante a noite)
a respiração de crescimento (i15r). Desse modo, a equação (20.2) de importância econômica estão o abacaxi e o sisal.
pode ser reescrita da seguinte forma:
422 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 423

Matematicamente, a produtividade potencial da cu ltu- p a ra cada grupo de cultura (ver determinação de eTc e de cTn)
ra real (PP R) resulta em: re la tiva ao período nublado; cTc a correção devido à tempera-
lura relativa ao período sem nuvens; e N o fotop eríodo (ver
(20.10) Ca pítulo 5 - Tabela 5.1).

em que PPB p é a produção bruta de matéria seca de uma cu l- TABELA 20.1 Valores de Qo (ca l em' d") para d iversas latitudes do H emi s-
ré rio Sul, no dia 15 de cada mês.
tura padrão, expressa em kg MS ha-I do'; e ND é o número de
0,''
dias do período considerado. L.I\T S

,,"
,~

'"
'"-
'"
Mu

'"
A~

.
,'"
Ma;
..7
'O"
'"
'"
'"
AMO

"'"
'"'
""
."
922
r-:ov

'" ...
Do,
.70
."

'" ...",
'"
'"
'lO
'lO "" '"
'"
7%
7"
'OI
m '"
'"
",. '"
'" '"
90'
...'""",
a) Determinação da produção bruta de matéria seca ,
I,

ro
'"
'"
"" %O
'"926
..'"
,ro
'"
'SI
""
."
""
'"
'"
'"
m
7'"
'86
'"
'"
...",
m ".'"'"
'" '"
...."'"
'"
'"
'"
""
'"
'"
'""'" '"
'"
.
1m
A produção bruta de m atéria seca (PPB p ) leva em consi- " "" "'" ''''
,rI 66'
7"
"" ""
..'" '"""'"'"'",
'"rm %O

.
732
" '" 97'
'" '" '" , 63. DO ..7
'" ''''
"" "'" 7"
deração a presença ou ausência de nuvens, pois elas alteram a
'" '" '"
782 632 1016
\013 90'

'" "" '"


'98
97'

'" 1027
'"n 1023
'" '" '"
",
,.,.
q uantidade e a qualidade da radiação solar incidente (ver Ca- H131
'" '" 638
'"'" '" ,,,
6n 981 10311

pítulos 3, 5 e 11 ), pois a eficiência de aproveitamento da ener- lO


"'"
"'"
''"'
'"
'"
'"
872
".,
~T - 6M
72f>

"" '"
' 88
'"
...
' 1J7 '"
130

'"
'32
"'"
m
m
760
921
91 4
'"""
'"
"'"
1055
106'

gia radiante pelas folhas é diferente nessas duas situações.


Como durante um dia quase sempre ocorre nebulosidade, a Determinação de cTc e cTn
PPB p será composta por um componente devido ao período A produção bruta de matéria seca varia com a espécie,
nublado (PPB n), mais outro devido ao período de céu claro pelo tipo de mecanismo de fixação de carbono, e com a tem-
(PPB), ou seja: peratura ambiente, em função de sua adaptação climática, Os
fatores de correção cTn e cTc, originalmente dados em tabelas,
(20.11) com valores discretos de temperatura, a intervalos de 5°C, fo-
ram convertidos em polinômios por Barbieri & Tuon (1992) .
Por esse motivo, é fundamental conhecer o número de ho- Esses ajustes, descritos abaixo, permitem interpolações, facili-
ras de brilho solar (n) durante o período de estimativa (ver Capí- tando as estimativas em planilhas de cálculo. Para simplificar
tulo 5). O método define PPBn e PPB, com as seguintes relações: a estimativa, as espécies de interesse agrícola foram agrupa-
das, de forma genérica, em grandes grupos quanto a esses as-
PPBn = (31,7 + 0,219 Qo) cTn (1 - n /N) [kg ha l d-'] (20.12) pectos, definindo-se os seguintes agrupamentos básicos:
GRUPO I => Plantas C3 de inverno (alfafa, feijão, trigo,
PPBc = (107,2 + 0,36 Qo) eTc n/N [kg ha- I d- I ] (20.13) e rvilha, batata, repolho, etc,)
• Para T entre 15 e 20"C
em que: Qo é a irradi ância solar g lobal extraterrestre, em cal cTn = 0,7 + 0,035 T - 0,001 T' (20.14a)
cm-2 d-' (Tabela 20.1); cTn a correção devido à temperatura, eTc = 0,25 + 0,0875 T - 0,0025 T' (20.14b)
,1
i
424 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 425

• Para T <15°C ou T>20°C IAF máximo (IAFm,) atingido durante o cultivo. Os v alores d e
cTn = 0,25 + 0,0875.T - 0,0025 T' (20.14c) C ' AF são dados pela relação:
eTc = -0,5 + 0,175 T - 0,005 T' (20.14d)
C 'AF = 0,0093 + 0,185 IAF,,,,, - 0,01 75 IAF'",,< (IAF má< '" 5, C'A> = 0,5) (20.17)
GRUPO II => Plantas C3 de verão (algodão, amendoim,
arroz, girassol, tomate, soja, citrus, etc.) c) Correção para a respiração (C R )
• Para T entre 16,5 e 37°C Durante a foto ssínte se e o cresc imento , parte dos
cTn = 0,583 + 0,014 T + 0,0013 T' - 0,000037 T3 (20.15a) carboidratos são consumidos no processo de fotorrespiração, e
eTc = -0,0425 + 0,035 T + 0,00325 T' - 0,0000925 P (20.15b) parte na manutenção dos tecidos (respiração de manutenção).
Esse consumo é fortemente dependente da temperatura ambien-
• Para T <16,5°C ou T>37°C te, havendo relação direta entre temperatura e respiração. Assim,
cTn = -0,0425 + 0,035 T + 0,00325 T' - 0,0000925 T3 (20.15c) é necessário considerar-se esse efeito na estimativa, introduzin-
eTc = -1,085 + 0,07 T + 0,0065 T' - 0,000185 T3 (20.15d) do-se o fator de correção C R , com os seguintes valores:

GRUPO III => Plantas C4 (milho, sorgo, cana-de-açúcar, CR = 0,6 para T < 2Ü"C (20.18a)
capins, etc.) C R = 0,5 para T 2: 20°C (20.18b)
• Para T 2: 16,5°C
r cTn = -1,064 + 0,173 T - 0,0029 1"' (20 .16a ) em que T é a temperatura média durante o período considera-
II eTc = -4,16 + 0,4325 T - 0,00725 T' (20.16b) do. Quanto maior for a temperatura, maior será a perda respi-
ratória, e menor será o valor de C R •
• Para T < 16,5°C
cTn = -4,16 + 0,4325 T - 0,00725 T' (20.16c) d) Correção para a Parte Colhida (Cc)
eTc = -9,32 + 0,865 T - 0,0145 T' (20 .16d) Em geral, apenas parte da matéria seca total é colhida,
seja na forma de grão, fibra, fruto ou açúcar. A relação entre
b) Correção para o índice de área foliar (C ,AF ) matéria seca comercial e o rendimento obtido é dada pelo ín-
Para a cultura hipotética padrão, De Wit (1965) conside- d ice de colheita (Cc), apresentado na Tabela 20.2.
rou IAF = 5, isto é, com cobertura total do terreno e máxima
captação de radiação solar, durante todo o ciclo. Nessa situa-
ção hipotética, não há necessidade de correção para IAF e o
C = 1. Em urna cultura real, em que o IAF varia continua-
'AF
mente desde a semeadura até a maturação, esse fato é consi-
derado atribuindo-se urna correção, que varia em função do

. . 1 . . 1 . . 1111111111,
1

426 - Pereira, Angelocci e Sen telhas Agrometeorologia - 427

TAB ELA 20.2 índi ce de colhei ta (Cc) e teor de umidade (U %) de v ariedades Qo = [989 * 30 + 1043 * 31 + 1035 * 31 + 976 * 28 + 877 * 10]
al tamen te produtivas sob co nd ições irrigadas. Fonte: Doorenbos & Ka ssam / 130 = 1001 cal ClTI·2 d "
( 19 94) e Barb ie ri & Tu a n (1 992 ) .

Cultura Produto C, U% C ullllra Produto C, U (%)


A hacax i Fruto 0.50 0,60 80 85 Ervilha G rão 0 .30 - 0,40 10 a) Determinação de PPB p (Soja - t Grupo lI) :
Alfafa (1) Feno 0,40 - 0,50 10 - 15 Feijão Gnl0 0,25 - 0.35
Alfafa (2) Feno 0.80 - 0,90 10 - 15 G irassol Semente 0,20 - 0.30
10
10 - 15
Eq.(20,15a):
Algodiío 0,35 - 0,45
ArncncloiOl
Fibra
Grão
0,08
0.25
- 0,12
- 0,35 15
Milho
Pimentão
Gnl0
Fruto 0.20 - 0.40
10 - 13
90
cTn = 0,583 + 0,014 * 24,5 + 0,0013 * 24,5 2 - 0,000037 *
Arroz 3
Batata
Gnlo
Tubérculo
0,40
0,55
- 0 ,50
- 0,65
15 - 20
70 - 75
Repolho
Soja
Cabeça
Grão
0.60 - 0.70
0.30 - 0,40
90
6 - 10
24,5 = 1,162
Bctl'lTaba aço Açúcar 0.35 - 0,45 80 - 85 So r g o GrJo 0.30 - 0.40 12 - 15
Cana-de-aç. Açúcar 0.70 - 0.80 80 Tomate Fruto 0,25 - 0,15 RO - 90
Cebola Buloo 0.20 0,30 85 90 Tri!Jo Grão 0.35 - 0,45 12 - 15 Eq.(20.15b):
(1) primeiro co rte; (2) seg undo curte.
cTc = -0,0425 + 0,035 * 24,5 + 0,00325 * 24,5 2 - 0,0000925.*
24,5 3 = 1,405
A o se obter a PP R (matéria seca da parte colhida) dev e-
se acrescentar a umidade residual (U%) que normahnente fica Eq.(20. 12) : .
retida no produto (Tabela 20.2), cheg ando-s e a ssim ao valor PPBn= (31,7 + 0,219 * 1001) * 1,162 * (1- 0,65)= 102 kg ha·1 d-1
da produtividade potencial final (PP e) ' Para essa correção,
aplica-se a seguinte relação: Eq.(20,13):
PPBc= (107,2 + 0,36 * 1001) * 1,405 * 0,65 = 427 kg ha" d ·1
(20.19)
PPB p = 102 + 427 = 529 kg ha" d'!
o exemplo a seguir ilustra o procedimento de cálculo
da PP F para a cultura da soja. b) Detenninação de C rAF
Eq.(20,17):
EXEMPLO - ESTIMATIVA DA PRODUTIVIDADE PO- C IA e = 0,0093 + 0,185 * 3 - 0,0175 * 3 2 = 0,407
TEN CIAL
Cultura: Soja c) Determinação de C R
Local : Minha Soja, SP (23 0 S) Eq.(20,18b):
Ciclo: 130 dias (01 / 11 a 10/ 03) T = 24,5°C, ou seja, T > 20°C, =C R
= 0,5
IAF má ximo = 3
Tmed = 24,5 °C d ) Determinação de Cc
n /N = 0,65 Tabela 20.2:
Interpolando valores da Tabela 20.1 , obtélTI-se o valor Soja - C c = 0,35 (valor intermediário da Tabela)
de Qo médio para o ciclo:
428 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 429

e) Determinação de PP: explica a introdução de fator corretivo (ky) com valores dife-
Eq.(20.10): rentes para ocorrência de deficiências em épocas distintas (Ta-
bela 20.3), sendo denominado de fator de resposta da cultura.
PP R = PPB P C IAF C R Cc ND = 529 * 00407 * 0,5 * 0,35 * 130
PP R = 4898 kg ha-1 °
modelo FAO, proposto por Doorenbos & Kassam
(1994), relaciona a queda relativa de rendimento (1 - PR/PP F)
com o déficit relativo de evapotranspiração (1 - ETr /ETc), sen-
f) Correção para o teor de umidade:
Tabela 20.3: U = 8% do PR a produtividade real a ser estimada. efeito do déficit
h ídrico sobre o rendimento de uma cultura hipotética é ilus -
°
PP, = 4898 / (1 - 0,01 *8) = 5324 kg ha- 1
trado na Figura 20.4, para quatro fases fenológicas. No desen-
v olvimento vegetativo (1) e na maturação (4), a queda de ren-
20.6 EFEITO DA DEFICIÊNCIA HíDRICA SOBRE A dimento devido ao déficit hídrico é relativamente pequena se
PRODUTIVIDADE comparada às fases de floração (2) e frutificação (3).
Assim, conhecendo-se a relação ETr /ETc, PP F e ky pode-
Na estimativa da produtiv idade potencial, descrita aci- se determinar a produtividade real (PR) de uma cultura, com
ma, não se considerou qualquer efeito de deficiência hídrica. a seguinte relação:
No entanto, é fato conhecido que a deficiência hídrica induz
adaptações fisiológicas e morfológicas, com fechamento par- (1 - PR / PP F) = ky (1 - ETr / ETc). (20,20)
cial ou total dos estômatos, reduzindo a fotos síntese, afetando
) adversamente o crescimento da cultura e sua produtividade. Como o interesse é pela estimativa da produtividade real
Um modo prático de se quantificar a deficiência hídrica, e a (PR), da equação acima obtém-se:
época de sua ocorrência, é pelo balanço hídrico (ver Capítulos
13 e 14). A deficiência hídrica fica caracterizada sempre que a PR = [1- ky (1 - ETr /ETc)] PP F (20.21)
evapotranspiração real (ETr) for menor que a evapotrans-
piração da cultura (ETc.). Portanto, toda vez que a relação ETr / --~~-~
0,8
ETc < 1 há deficiência hídrica, e quanto menor for essa relação,
maior será a deficiência e seu efeito sobre a produtiv idade. f 0.6

Em geral, as culturas são mais sensíveis ao déficit hídrico t.


"L·"
0,4

durante a emergência, a floração, e a fase inicial de formação


da colheita (frutificação), do que durante o período de cresci- o~
' ' :i:',,=:::
,0="'~~~--il! FIGURA 20.4 Relação en-
tre queda relativa de rendi ~
mento vegetativo e a maturação. Para muitas espécies, uma o 0 ,2 0,4 0,6
(I-ErWETc) menta e déficit relati vo d e
deficiência hídrica durante a maturação favorece a qualidade - - - . ' - - Ces.Vegetalillo (1) . - ..... . - FIorescirrenlo (2) evapotranspiração de uma
-----fr--- Frutificação (3) -----o--- Mittl.lração (4) c u ltura h ipotética.
do produto, sendo até desejado que isso aconteça. Esse fato
430 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Agrometeorologia - 431

TABELA 20.3 Valo res de ky para d ifere ntes cul turas ag rícolas. Fonte:
Doorenbos & Kassa m (1994). Portanto, a quebra es timada de produtividade foi de: (1
C ultura I)es. Vege tat. Flora(~ã o Fru tificlIção MaturaS'ão Ciclo lotaI - PR / PP F ) = (1- 2637 / 5324) = 0,495, ou seja, aproximadamen-
Al fafa
Algodi'lo 0,20 0.50
O
0,25
0,7 a l,l
0.85
te 50% (limite de validade deste método).
Amendoim 0,20 0.80 0,60 0,20 0.70
Banana 1.2 a 1.35
BruMa 0,60 0.70· 020 1.10
Beterra ba 0 .6 (l I.!
C:ma-de-Aç\ícar 0,75 0,50 0, 10 \ ,20 20.7 EXERCíCIO PROPOSTO
Cebola 0,45 0,80 0,30 [,lO
CÍlros 0,811 1, 1
Ervi lha 0,20 0.90 0,70 0,20 1.15
Feijão 0,20 !.lO 0,75 0,20 1,15 1. Determine a produtividade potencial do milho (Ciclo:
Girassol 0.25 0.50 1.00 0,80 0,95
Milho O.'" 1,50 0.50 0,20 1,25
130 dias) nas semeaduras de 01 / 04 (safrinha) e de 01 / 11 (sa-
Soja 0.20 O,RO 1.00 0.85 fra das águas), e também as quebras de produtiv idade, d e acor-
Sorgo 0.20 0.55 0,45 0,20 0.90
Tomate O.'" 1, 10 0.80 0.40 1.05 do com o Modelo da FAO, utiliza ndo o balanço hídrico
Trigo 0.20 0.60 0,50 1.00
W Tuberi zaç:.io e e nch imento dos lubén::ulos.
seqüencial d a cultura. Piracicaba, SP (Lat: 22°42'S, Long:
47°38'W, e Alt.: 546m),
EXEMPLO: CÁLCULO DA PRODUTNIDADE REAL (PR) Decêndio ETP Chuva Decêndio !3TP Chuva Decêndio ETr Chuva
Cultura: Soja lan96 I
{mm 2 {mm~ (mm~ (mm) (mm) !mm)
44 120 Jol196 I O Ja097 I 47
Loca l: Minha Soja, SP (23°S) 2
3
42
45
130 2 20
" O 2 44 '"
77
Ciclo: 130 dias Fevl96 I
2
40
39
"
60
75
3
Agol96 I
25
25
O
10 Fev/97 I
45
42 "
49
PP = 5324 kg.ha'l
2 26 2 40
3
Mar196 I
32
37
20
101
3
Sct/96 I
27
28
"O
2
3
Mar!97 I
35
40
"
13
45
Fusc f'cnoló icu
Estabeleci mento
Dura .llo (d ias)
10
ETr/Etc K
, 35
33
2S
30
2
3
30
32
17
44
2
3
3.
33
12
O
Des.Ve elalivo 40 0.90 0,2 Abr!\J6 1 29 50 Oull96 I 34 O Abr197 1 30 O
Fl o~'io 2 28 12 2 38
Frutificll ão
Maturn ão
30
3S
15
0.64
0,71
O.S
1,0 3
Mai/96 I
24
24
4
7
3
Nov/96 I
41
3.
"
2.
S4
2

Mai/97 I
30
2S
2.
IS
66
21
2 24 5 2 42 28 2 22 14
3 2S
Junl96 I
2
20
19
"
O
O
3
Dev'96 I
44
42
43
102
77
55
3
l un/97 I
21
20
8
O
2 18 O
OBSERVAÇÃO 3 18 O 4. 11 7. 3 17 O
A PR de uma fase passa a ser a
PP da fase seguinte
D a dos necessários para o cálculo da produtiv idade po-
tencial:
Aplicando-se a Eq. (20.21), tem-se: IAF do milho = 3 para as duas épocas
PR DV = [(1-0,2 * (1 - 0,9)] * 5324 = 5217 kg.ha'l Temperatura média no ciclo:
PR PL = [(1 - 0,8 * (1 - 0,64)] * 5217 = 3714 kg.ha-I 01/04 ~ Tmed = 18,2°C;
PR pR = [(1 - 1,0 * (1 - 0,71)] * 3714 = 2637 kg.ha'l 01/11 ~ Tmed = 23,8°C.
432 - Pereira, Angelocci e Sente/has Capítulo 21

Zoneamento agroclimático
Insolação média no ciclo:
01 / 04 = } n = 7,Oh;
01 / 11 = } n = 6,4h

Fotoperíodo médio no ciclo:


01 / 04 = } N = 11,lh;
01 / 11 = } N = 13,2h 2 1.1 INTRODUÇÃO

Radiação solar extraterrestre média no ciclo: N esta ter ra em se plantando tudo dá! Esta foi a primeira
01 / 04 = } Qo = 634 cal.cm-2 d -1 ; a v aliação do potencial agrícola do Brasil e foi feita imediata-
01/11 = } Qo = 999 cal.cm- 2 .d-I mente após a chegada de Cabral em nossas terras. Embora
essa afirmativa seja uma realidade, sabe-se que não se pode
plantar indiscriminadamente qualquer espécie em qualquer
lugar. Algumas regiões têm potencial maior que outras_ Es-
cassez de energia e alimentos continua sendo um dos princi-
pais problemas contemporâneos. Com o aumento da deman-
da por energia, alimento, e fibras, cada vez mais é prioritário a
utiliz ação eficiente dos recursos naturais. A agricultura é um
dos segmentos mais importantes da cadeia produtiv a e é aquele
mais dependente das condições ambientais. O ambiente, basi-
camente clima e solo, controla o crescimento e o desenv olvi-
mento das plantas. Conseqüentemente, as condições ambien-
tais devem ser adequadamente avaliadas antes de se implan-
tar uma ativ idade agrícola. O primeiro e mais decisivo passo
em qualquer planejamento deve ser a identificação de áreas
com alto potencial de produção, isto é, áreas onde o clima e o
s olo sejam adequados para a cultura.
O conhecimento do ambiente é decisivo para o desen-
v olvimento da agricultura produtiva, rentável, e socioecono-
micamente viável. Das condições do ambiente depende a dis -
tribuição da vegetação natural, das culturas e das diferen tes
atividades agrícolas. Quanto melhor for o conhecimento que
434 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 435

se tem das condições ambientais prevalecentes numa região, tidão climática, trabalhando com valores médios dos elemen-
mais apto se estará para a seleção das culturas mais adequa- tos e de índices climáticos, sem levarem em consideração es-
das, das melhores épocas de plantio/semeadura, das melho- tudos probabilísticos dos mesmos. Outro aspecto é a elabora-
res variedades, dos sistemas de cultivo mais racionais, ção do zoneamento, na maioria das vezes, ao nível de espécie,
objetivando uma agricultura mais produtiva. Portanto, as con- muito mais do que de cultivar/variedade. Apesar dessas res-
dições ambientais devem ser adequadamente levantadas an- trições, os zoneamentos constituem-se em ferramenta de gran-
tes de se implantar uma atividade agrícola. de utilidade no planejamento de uso das terras, principalmente
Com relação ao clima, para se alcançar produtividade em escala regional.
econômica cada cultura necessita de condições favoráveis du-
rante todo o seu ciclo vegetativo, isto é, exigem determinados
limites de temperatura nas várias fases do ciclo, de uma quan- 21.2 METODOLOGIAS PARA A ELABORAÇÃO DO
tidade mínima de água, e de um período seco nas fases de ZONEAMENTO AGROCLIMÁTlCO
maturação e colheita. O atendimento dessas exigências é que
fará de uma determinada região ser considerada apta para uma O zoneamento agroclimático, em uma primeira aproxima-
dada cultura. ção, preocupa-se com O macroclima, isto é, com o clima do mu-
A determinação da aptidão climática de áreas para o nicípio, que é determinado pelas observações obtidas em pos-
cultivo de espécies de interesse agrícola é um dos objetivos tos meteorológicos padronizados. Tais observações, por serem
mais aplicados da Agrometeorologia, constituindo O zonea- feitas em condições padronizadas, permitem a comparação de
mento agroclimático. Como o solo é o outro componente do meio climas de diferentes regiões. Obviamente, a cultura cria seu
físico que é mais utilizado na agricultura, pode-se fazer a deli- próprio microc/ima, que resulta da interação das plantas com o
mitação da aptidão de áreas sob o aspecto edáfico e juntá-la à macroclima. Mesma cultivar plantada em espaçamentos dife-
climática, formando O zoneamento edafoclimático ou zoneamento rentes cria microclimas diferentes, que resultarão em proble-
ecológico das culturas. O denominado zoneamento agrícola en- mas e manejos diferentes.
volve o zoneamento ecológico e o levantamento das condi- O macroclima não pode ser mudado para se adequar às
ções socioeconômicas das regiões, para delimitar a vocação necessidades do cultivo. No entanto, dentro do clima regional
agrícola da terras. o agricultor pode escolher as nuances do relevo (topoc/ima) que
Seria ideal que um zoneamento agroclim ático produzis- melhor acomoda uma dada cultura. Isto envolve planejamen-
se mapas não somente da aptidão climática das regiões, mas to a nível de propriedade agrícola e deve ser feito localmente,
também das épocas mais adequadas de semeadura das espé- por especialista daquela cultura. O zoneamento macroclimático
cies anuais. Esse tipo de enfoque já vem sendo utilizado no não entra em detalhes topoc/imáticos, pois esta é uma função
Brasil, embora a maioria dos zoneamentos agroclimáticos rea- do agrônomo regional e do produtor rural, e depende de aná-
lizados no país tenham se restringido ao mapeamento de ap- lise das condições de cada fazenda.
436 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 437

o zoneamento agroclimático é, em geral, o primeiro a se agroclimático não é feita por esse não tratar da escala
considerar. O clima talvez seja o fator mais importante na de- microclimática. Torna-se mais"prático caracterizar as exigên-
terminação do potencial agrícola de uma região. O macroclima cias climáticas a partir de índices que utilizam os elementos
de uma região pode ser considerado praticamente invariável meteorológicos como a temperatura do ar, a insolação e a pre-
e característico no decorrer de algumas décadas. U ma deter- cipitação, ou por variáveis obtidas do balanço hídrico no solo.
minada espécie encontra aptidão climática, para cultura co- Na caracterização através de índices biometeorológicos,
mercial, em uma região, em função das condições normais do pode-se utilizar o índice térmico (graus-dia), o índice biofototér-
clima. O agricultor, eventualmente, pode corrigir certas defi- mico de Robertson (1968), que emprega temperatura do ar e
ciências, como a falta de água, ou se utilizar de recursos para fotoperíodo, o índice de Primault (1969), que utiliza graus-dia,
reduz ir os efeitos de elementos adversos (geadas, granizos, ven- insolação e precipitação, o número de horas de frio para as
tos fortes), mas não consegue cultivar economicamente espé- frutíferas de clima temperado, entre outros. Esses índices têm
cies não-adaptadas ao clima. sido empregados para a delimitação de áreas climaticamente
Os passos para a elaboração do zoneamento agroclimá- aptas às culturas. Por exemplo, o uso de grau-dia para deter-
tico de uma grande região envolvem a definição dos objeti- minar as áreas mais adaptadas para o cultivo do milho assim
vos, a escala geográfica do estudo, a caracterização das exi- como para determinar as épocas de semeadura mais adequa-
gências climáticas das culturas a"serem zoneadas, o levanta- das foi utilizado no Canadá (Robertson, 1968). O índice de
mento climático da região estudada com confecção de cartas Primault foi usado na Suíça para regionaliz ar as áreas aptas à
climáticas básicas e o preparo das cartas finais do zoneamento. cultura do trigo (Primault, 1969), e o índice fototérmico para
Os três últimos passos são discutidos a seguir. regionalizar áreas mais indicadas às culturas de soja na Ar-
gentina (Pascale et aI., 1973).
Os zoneamentos agroclimáticos realizados no Brasil têm
21.2.1 Caracterização das exigências climáticas das culturas utilizado principalmente a temperatura do ar e as variáveis
resultantes do balanço hídrico climatológico normal (evapo-
Disponibilidade energética e de água são os dois fatores transpiração potencial e real, deficiência hídrica, excedente
físicos de ordem edafoclimática a determinar o crescimento e hídrico), embora índices bioclimáticos às vezes tenham sido
o desenvolvimento das plantas, e portanto a sua produtivida- usados, como número de horas de frio para o zoneamento de
de. O estudo das relações entre esses fatores e os processos frutíferas de clima temperado em Santa Catarina (Ide et aI.,
biofís icos que ocorrem no sistema solo-planta, e entre esses 1978). N o estabelecimento dessas exigências, consulta-se a bi-
processos e os de crescimento/desenvolvimento vegetal é o bliografia referente às relações do crescimento / desenvolvi-
objetivo de inúmeras pesquisas em microclimatologia e de mento da cultura e essas variáveis. O conhecimento da
modelagem matemática e fisiológica do crescimento de plan- fenologia e características da cultura, como época de cresci-
tas. Entretanto, a aplicação desses resultados no zoneamento mento, duração do ciclo e das fases fenológicas e os períodos
438 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 439

críticos, mais susceptíveis às condições adversas do clima, é


muito importante. Outra providência é verificar as condições
climáticas da região de origem da cultura, que indicam as suas
exigências, assim como das regiões onde a cultura encontra-
se adaptada. Informações pessoais de especialistas na cultura
são importantes, pois podem indicar a resposta da mesma fren-
te a situações extremas de temperatura e de deficiência hídrica.
Com esse levantamento, é possível estabelecer critérios
que definem os limites de exigência climática da cultura. To-
mar-se-á como exemplo os critérios de exigências quanto a
temperatura do ar e variáveis do balanço hídrico utili z ados
no zoneamento agroclimático da cana-de-açúcar por Camargo
et aI. (1977). Essa cultura é originária da Ásia, mas tem cultivo
comercial em regiões dos Estados Unidos e da Argentina, nas
Antilhas e no Brasil. O caso dos dois primeiros países é inte-
ressante, porque o cultivo é feito em áreas características que
talvez apresentem condições climáticas limitantes ao cresci-
mento satisfatório da cultura. A análise do balanço hídrico e
das condições térmicas dessas regiões indicaram que a cana-
de-açúcar exige temperaturas elevadas e período sem restri-
ção hídrica durante o crescimento vegetativo, enquanto que . ... _ o•• , . , ~, _oaC> .ooo

. .... c - , .. u.~ ..

no período de maturação O repouso fisiológico, causado por i


seca e temperatura amena, favorece o aumento de teor de ,~I
I C:AMPIHi\.S - SI' L L ~. .\,.
sacarose.
FIGURA 21.1 Zo neamento agroclimático da cultura da cana-de-açúcar.
Em função disso, Camargo et aI. (1977) estabeleceram Fonte; Camargo et aI. (1977).
no zoneamento agroclimático da cana-de-açúcar para o Brasil
(Figura 21.1) que as zonas aptas (A) são aquelas com tempera- e 20°C e do mês de julho menor que 18°C, com deficiência
tura média anual entre 20 e 24°C, com deficiência hídrica anual hídrica anual menor que 200 mm, foram consideradas margi-
menor que 200 mm, pois essas condições nos meses mais quen- nais (B) por restrição térmica, O mesmo acontecendo com aqu e-
tes são satisfatórias para o crescimento vegetativo, sem ocor- las com deficiência hídrica anual entre 200 e 400 mm, por res-
rência de temperaturas excessivamente baixas no período de trição hídrica (C). A região noroeste do Amazonas, com tem-
repouso. Nas zonas com temperaturas médias anuais entre 18 peratura média anual acima de 24°C e sem deficiência hídrica
440 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 441

foi considerada marginal a inapta, por falta de estação de re- sais, etc .. ), de umidade relativa ou de variáveis do balanço
pouso (D). As regiões com deficiência hídrica anual maior que hídrico (Figuras 21.2). Essas cartas podem ser confeccionadas
400 mm e aquelas com temperatura média anual menor que por interpolação com auxílio de sistema de informações geo-
18°C ou menor que 14°C no mês de julho, foram consideradas gráficas ou, no caso de temperatura do ar, pelo uso das equa-
inaptas, respectivamente por deficiência hídrica excessiva (E) ções que rela cionam esse elemento com as coordenadas geo-
e por insuficiência térmica e geadas severas (F). gráficas (ver Capítulo 6) e de uma carta hipsométrica. O refi-
namento final dessas cartas pelo climatologista é fundamen-
tal, pois a interpolação é aproximada, muitas vezes necessi-
21.2.2 Elaboração de cartas climáticas básicas tando de um ajuste que somente o especialista pode realizar
em função dos seus conhecimentos.
Com base em séries climáticas confiáveis, são elabora-
das as cartas climáticas básicas das variáveis a serem empre-
gadas, sejam de índices bioclimáticos, sejam de elementos 21.2.3 Elaboração das cartas de zoneamento
como a temperatura do ar (cartas de isotermas anuais, men-
Com a sobreposição das cartas climáticas básicas e o co-
nhecimento das exigências da cultura a ser zoneada, são ela-
boradas as cartas de aptidão climática (ver Figura 2J .1), defi-
nindo-se: a) áreas aptas, sem restrição térmica ou hídrica; b)
inaptas, sem atendimento das exigências térmicas ou hídricas;
c) marginais, onde as restrições não são totalmente limitantes
ao cultivo, podendo ser utilizadas se os solos forem profun-
dos ou se a irrigação for economicamente viável, no caso de
d eficiência hídrica, ou se houver variedades resistentes ou
adap tadas nos casos da limitação ser térmica ou hídrica. As
cartas podem sofrer diferentes tratamentos gráficos.
Mapas envolvendo restrições devido à ocorrência de
condições ecológicas favoráveis às doenças também podem
ser elaboradas d e forma suplementar, como para o cancro CÍ-
trico no Estado de São Paulo (Camargo et aI., 1974) e para o
18
mal-das-folhas da seringueira no Brasil (Ortolani et aI., 1986).
Outra possibilidade é o estudo probabilístico das melhores
FIGURA 21.2 Isotermas do Estado de Santa Catar ina. Fonte: Ide et a I.
(1978) datas de semeadura obtidas a partir d e modelos agrometeo-
442 - Pereira, Ange/occi e Sen teU1as Agrometeorologia - 443

rológicos (ver Capítulo 20) para as áreas consideradas aptas,


corno mostra a Figura 21.3, extraída de Wrege et aI. (1997). REGIÃO I~I'OCA UE sr~1 1 "IX- It"
I ",,'ubro
li 21 d~""""'bro. 31 <l<u","_
UI «JIUbro
IV 21d< ~.rodc""lUb".
v OI dc<et<n>bru. li dcbu'ubro
VI Ild<""",,,,bm a JI d< ,,,,,..t><,,

21.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 21<1<""""",,,31&,,"("_


II ~C"'''''''bR, ~ JI
Zld<~.JI~< .. ",u"'o
*""'...."
21dc>< ...~"Jldc,,"("btQ
21dc._,... Wdc_"IH"
21 dc:lIl!<>Ok. . :!(l""",~ul>ro

As condições ambientais são fundamentais ao s ucesso


das atividades agrícolas e, portanto, devem ser adequadamente
avaliadas.
O zoneamento agroclimático preocupa-se com o macro-
clima, is to é, com o clima do município, que é determinado
pelas observações obtidas em postos meteorológicos padroni- -w
zados. No entanto, dentro do clima regional estão os topo-
climas e os microclimas, que são estabelecidos, pelo relevo lo- ,.,
cal e pela cobertura do terreno. O zoneamento agroclimático
feito a nível macroclimático não entra em detalhes topo e FIGURA 21.3 Zoneamento e épocas de semeadura do milho no Estado do
Para ná. Fonte: Wrege et a L, 1997.
microclimáticos. Considerar essas duas escalas do clima é,
n esse caso, função do Engenheiro Agrônomo e do agricultor,
pois depende da análise da condição da fazenda.
O zoneamento agroecológico é um instrumento de orien-
tação e suporte técnico, devendo ser simples e de fácil com-
preensão para ser de utilidade. Deve-se deixar bem claro quais
são os impedimentos das áreas marginais e inaptas, pois, com
o melhoramento genético podem s urgir variedades com pos-
sível utilização em áreas marginais. Portanto, o ioneamento
agroecológico não é definitivo, sendo passível de mudanças e
revisões com o tempo.
Capítulo 22

Informações (agro)meteorológicas

22.1 PREVISÃO DO TEMPO

o prognóstico d o tempo, em bases científicas, começou


a tomar impulso no início do século XIX, após os avanços al-
cançados nos dois séculos anteriores, n os equipamentos de .
obser vações meteorológicas, e nos conhecimentos sobre os fe-
nômenos atmosféricos.
Durante a primeira metade do século XIX, iniciou-se na
Europa a confecção de cartas sinópticas precárias, represen-
tando m ais uma a nálise retrospectiva do tem'po, com dados
do passado, do que propriam ente um p'ro~óstic:o. Na segun-
da metade daquele século, a evolução do conhecimento de
dinâmica da atmosfera, o aumento das redes de observações
na Europa e nos Estados Unidos, O u so do telégrafo par a tran s-
missão de dados, e o intercâmbio de informações permitiram
a elaboração de car tas sinópticas associando isóbaras e condi-
ções do tempo (chuva, cobertura do céu e ventos). Tais cartas
foram aperfeiçoadas ao longo das décadas finais do sécu lo . A
constatação de que a melhoria das previsões passava por uma
colaboração entre os países fez com que, em 1873, fosse cria-
da, em Viena, a Organização Meteorológica Internacional, hoje
transformada e m Organização Meteorológica Mundial (OMM),
uma agência da ONU.
Nas primeiras décadas d o século XX, houve grande Íln-
pulso nas previsões, principalmente por estudos comandados
por V. Bjerknes, na Noruega, sobre dinâmica da atmosfera,
446 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 447

formação de frentes e de massas de ar, d e ciclones e anticiclo- Ao lado do uso de supercomputadores, outras técn icas
nes, e s ua migração. A partir d e então, ficou evidente que além têm contribuído para au xiliar a previsão do tempo a curto p ra-
d as m edidas de superfície, eram necessárias observações em zo. O desenvolvimento de sensores meteorológicos, com sis-
altura na atmosfera, que se tornaram possíveis com o uso do temas a utomáticos de aquisição de dados, tem p ermitido me-
balão-piloto (medindo velocid a de e direção do vento), da lhorar a qualidade e a distribuição espacial d as observações
radiossonda (medindo pressão, temperatura e umidade do ar, de superfície, com possibilidad e de a umentar a densidade de
transmitidas por ondas de rádio à es tação base), e de aviões pontos sobre os oceanos e locais inóspitos. Os radares permi-
instrum entados. Na Inglaterra , Richardson iniciou estudos tem monítorar as precipitações e os eventos meteorológicos
sobre o processo numérico de previsão d e tempo, pelo qual é adversos (tornados, tempestades, granizo, etc.), com informa-
possível um prognóstico determinístico do estado da atmos- ções a muito curto prazo (horas) sobre su a extensão e progres-
fera em um instante futuro, a partir d o conhecimento do seu são espaço-temporal. Os sa télites meteorológicos de órbita
estado a tua l, u sand o le is da Mecânica de Fl uid os e da quase polar (a centenas de quilômetros de altitude) medem a
Termodinâmica, para o qu e contribuíram também os estudos distrib uição vertical da temperatura e um idade atmosférica,
do su eco Rossby, nas décadas de 30 e 40. Como a previsão temperatura da superfície dos oceanos, concentração de ozô-
numérica exige cálculos extensos, sendo bastante dependente nio e cobertura de gelo; os geoestacionários (órbita equatorial
do número e qualidade das observações meteorológicas, ela a 36000 km de altitude e velocidade angu lar igual à d a Terra),
somente pôde evoluir com a construção dos supercomp uta- fornecem imagens periódicas dura nte o dia, na faixa do
dores. infravermelho e do visível, permitindo informações sobre ne-
A prev isão moderna, principalmente a de curto prazo bulosidade, massas de a r, temperatura, radiação solar, chu-
(d esde um até alguns dias de antecedência), alia os prognósti- vas, tufões e furacões em grande área do globo, auxiliando
cos sinópticos, nos quais o previsor serve-se de cartas isobáricas nas previsões a curto prazo. Deve-se ressaltar que os satélites
de superfície (nível d e 1000 mb), com indicação de frentes de de comunicação desempenham papel importante no intercâm-
massas de ar, cartas de vento (na superfície e em altitude), de bio de informações básicas para a previsão, bem como na dis-
temperatura, de divergência de umidade, diagramas adiabá- tribuição de seus produtos.
ticos da atmosfera e outras, com a previsão numérica. O uso Em países com tecnologia mais adiantada, o estado atu-
dos dois tipos de previsão soma vantagen s de ambos; o nu- al da técnica e da arte de previsão do tempo tem p ermitido
mérico permite maior antecedência na previsão e é menos sub- prognósticos com pequena margem de erro para 24-36 horas
jetivo do que o sinóptico, enquanto este últim o permite corri- de antecedência e com detalhamento até em escala regional.
gir, pela sensibilid ade do previsor, os diagnósticos do modelo Previsões para até 10 dias de antecedência, nas quais p esa bas-
numérico em pontos onde as estim ativas são menos precisas, tante o prognóstico numérico, também são feitas, com bom
por imperfeições do próprio método ou por erros ou insufi- grau de acerto, evidentem ente m en or conforme aumenta o
ciência de observações. número de dias de antecedência . As previsões feitas em cen-


448 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 449

tros mundiais e nacionais de meteorologia são colocadas à dis- 22_2 PREVISÃO DE TEMPO NO BRASil
posição do mundo todo, como prognósticos para até 10 dias
para o hemisfério norte e cinco dias para o hemisfério sul, com A OMM desenvolve um programa mundial voltado para
maior ou menor grau de detalhamento espacial e de quanti- o intercâmbio de informações meteorológicas entre os países
dade de informações, que interferem em sua exatidão. e à previsão de tempo, composto de três sistemas: a) Sistema
Os modelos numéricos de previsão permitem aumentar Mundial de Observações, utilizando estações de superfície, na-
a antecedência com que se obtém os prognósticos do tempo, vios mercantes, aviões comerciais, plataformas automáticas,
mas há um limite para isso. Estima-se que o limite teórico seja satélites e radares; b) Sistema Mundial de Preparação de Dados,
de três seman as, mas, na prática, as fontes de erro, que incluem com centros nacionais, regionais nos continentes, e mundiais
densidade inadeq u ada de pontos e a qualidade das observa- (Washington, Moscou e Melbourne), para tratamento de da-
ções, reduzem esse limite; estima-se que no hemisfério norte, dos e e laboração de previsões; c) Sistema Mundial de Telecomu-
onde essas fontes de erro são menores, o limite prático ch ega- nicações, também com centros nacionais e regionais . Há gran-
ria a 14 dias. Para previsões acima desses limites, tem-se feito de intercâmbio entre os países dentro desses sistemas, consti-
uso de análise estatística de séries temporais de dados, para tuindo um dos mais notáveis exemplos de colaboração inter-
se detectar, por exemplo, a periodicidade de fenômenos ad- nacionaL
versos como secas, veranicos, inundações, etc. Outra modali- O Brasil participa desse programa tend o como executor
dade usada desde as ú ltim as décadas para previsão a médio e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMED com sede em
longo-prazo baseia -se na conexão de fenômenos físicos da at- Brasília, onde se encontra o Centro Regional para a América
mosfera em regiões diferentes, que ocorrem de forma defasa- do Sul do Sistema Mundial de Telecomunicações. O INMET é
da no tempo. Evoluiu muito nos últimos anos os modelos ba- responsável pela coleta de dados de cerca de 400 estações, atra-
seados nas "teleconexões" atmosféricas e seus efeitos sobre o vés da coordenação por 10 Distritos Meteorológicos (DISME)
clima, um exemplo dos quais est á baseado no fenômeno de com sede em Manaus, Belém, Recife, Salvad or, Belo Horizon-
"EI Ninõ". Com tais modelos, denominados de "canônicos" te, Rio de Janeiro, São Pau lo, Porto Alegre, Cuiabá e Goiânia .
ou de "previsão climatológica", é possível fazer um prognós- O Instituto elabora previsões e prognósticos do tempo, divul-
tico para cada estação do ano, principalmente quanto à situa- gados atualmente e m site da Internet (http://www.inmet.
ção do regime hídrico ou térmico em relação às médias histó- gov.br), com previsões diárias válid as para até 96 horas para
ricas. Atualmente faz-se prognósticos, a partir desses mode- cada região geográfica e para 24 horas para os estados e várias
los, com até 15 meses de antecedência, mas eles estão em fase capitais. São elaborados prognósticos de chuvas a cada 12 ho-
experimental. ras (para os períodos da 9 as 21horas das 21 as 9 horas) para
até 132 horas a frente, para a América do Sul, para o Brasil
como um todo e para as regiões geográficas do País. Estão
disponíveis, também, no site: alertas especiais, condições do

,
450 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 451

tempo, dados climatológicos, dados de excedente e deficiên- dia para períodos de 12 e 24h. As informações de previsão do
cia hídrica de várias localidades, e produtos de satélites. tempo assim como as imagens do radar de Bauru estão dispo-
O utras instituições brasileiras estão envolvidas com a níveis na Internet (http://www.ipmet.unesp.br)
previsão de tempo, como:
• Centro de Previsão de Tempo e Pesquisas Meteoro- • Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME):
lógicas -Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC- elabora previsões de tempo para a região Nordeste, divulgan-
INPE) - disponibiliza atualmente através da Internet: a) bole- do suas informações pela Internet (http://www.funceme.br)
tins de previsão do tempo, para até três dias de antecedência, e outros meios de comunicação.
para as regiões geográficas do Brasil, Va le do Paraíba, Serra e
Litoral Norte de São Paulo; b) prognósticos, na forma gráfica • Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR): O Sis-
(mapas), de chuva acumulada para o Brasil e América do Sul, tema Meteorológico do Paraná (Simepar - Copel/IAPAR) di~
para períodos de seis horas, com antecedência de até 60 horas vulga informações meteorológicas, imagens de radar e de sa-
no modelo denominado Regional (resolução de 40 X 40 km) e télite, e previsão do tempo para o Estado do Paraná. Essas
para períodos diários e antecedência de a té sete dias no mo- informações são disponibilizadas pela Internet (http: / /
delo Global (resolução 200 X 200 km); a partir de cada mode- www.simepar.br).
lo, são elaborados, também, os respectivos meteogramas (evo-
lução prevista ao longo das horas de pressão à superfície, pre- • Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídri-
cipitação, temperatura à superfície, umidade relativa, veloci- cos de Santa Catarina (CLIMERH): O Centro Integrado de
dade e direção do vento à superficie, cobertura do céu por nu- Meteorologia e Recursos Hídricos de Santa Catarina (Clirnerh-
vens) com os limites máximos de antecedência acin"la, para SC) divulga informações meteorológicas e de recursos hídricos,
localidades do Brasil, da América do Sul, do mundo e para a assim como imagens de satélite e previsão do tempo para o
base brasileira na Antártida; c) campos de ventos na América Estado de Santa Catarina (http://www.clirnerh.rct-sc.br).
do Sul, para três níveis na atmosfera, para dois horários; c)
informações sobre geadas; d) tendências climáticas para o tri-
mestre nas regiões do Brasil, em estágio experimental (si te: 22.3 OBSERVAÇÕES METEOROLÓGICAS DE
http://www.cptec.inpe.br) . SUPERFíCIE

• . Instituto de Pesquisas Meteorológicas OPMet - Apesar das evoluções técnicas de teledetecção e de me-
UNESP): opera dois radares meteorológicos no Estado de São dições em altura na atmosfera citadas no item "Previsão do
Paulo, um em Bauru e outro em Presidente Prudente. As in- Tempo", que permitem a determinação das condições m e teoro-
formaçõ es dos radares auxiliam na elaboração de previsões lógicas tanto de superfície como da estrutura vertical da at-
de tempo de curto prazo, que são divulgadas duas vezes por mosfera, as observações de superfície, principalmente as rea-


452 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 453

Jizadas no continente, continuam indis)2.ensáveis para as mais • Quanto à finalidade das observações
diferentes aplicações da meteorologia .l ~os últimos anos~as Existem vários tipos de estações meteorológicas de s u-
foram favorecidas pela evolução técnica dos sensores e pela perfície, dependendo da sua finalidade. Entre elas tem-se:
possibilidade de automação da coleta de dados. J - Estações Sinópticas: são ligadas ao sistema nacional e
CA observação meteorológica de superfície, realizada nas mundial de previsão de tempo, destinadas a essa finalidade
estações meteorológicas, consiste da coleta rotineira de dados com observações em horários convencionados de leitura (0:00,
referentes aos diversos elementos meteorológicos, que carac- 6:00, 12:00, 18:00h - GMT), com envio rápido dos dados para
terizam o estado da atmosfera, ou seja, o tempo. Essa coleta os órgãos responsáveis pela previsão.
de dados, exige normas com relação à localização, tipo e insta- - Estações Climatológicas : elas têm o objetivo de caracteri-
lação dos equipamentos, e padronização dos horários de ob- z ar o clima de uma região. A estação sinóptica também é uma
servação e dos procedimentos operacionais, como calibração estação climatológica.
e aferição dos equipamentos, o que permite comparação dos - Estações Aeronáuticas: são destinadas à coleta de infor-
dados coletados em diferentes estações meteorológicas, cuja mações necessárias à segurança do transporte aeronáutico.
diferença d=-,e ser creditada unicamente à variação do N ormalmente instaladas em aeroportos.
macroclima. -..---1 - Estações Agrometeorológicas: objetivam coletar dados
A superfície-padrão sobre a qual são feitas as medidas é meteorológicos de interesse às atividades agrícolas e que por
o gramado. Ele deve ser mantido bem aparado e em boas con- isso realizam algumas observações não encontradas em ou-
dições de crescimento . As dimensões da área gramada da es- ·tros tipos de estação, como temperatura do solo e evaporação.
tação meteorológica devem s er suficientes para acomodar ade- - Postos pluviométricos: são destinados à coleta de chu-
quadamente os equipamentos, principalmente nas estações v as para manejo de recursos hídricos.
convencionais. Essa área deve ser cercada, para evitar acesso
de animais, e sua forma não é o aspecto mais importante, sen- • Quanto ao sistema de coleta de dados
do mais comum o uso de áreas retangulares ou quadradas. - Estações Meteorológicas Convencionais (EMC): a EMC é o
tipo de estação que exige a presença diária do observador
m eteorológico para coleta dos dados. Os equipamentos que
22.3 .1 Estações meteorológicas de superfície con s tam de uma EMC são normalmente de leitura direta, como
os termômetros, ou com sistema mecânico de registro, como o
As estações meteorológicas de superfície podem ser classi- te rmohigrógrafo, o pluviógrafo, o anemógrafo e o actinógrafo.
ficadas de acordo com sua fin~de e pelo sistema de coleta dOli - Estação Meteorológica Automática (EMA): a EMA é o tipo
dados. Elas são também classificadas de acordo com a sua com- de estação que tem a coleta de dados totalmente automatizada.
plexidade em termos do número de elementos meteorológicos Ne la os sensores operam com princípios que permitem a emis -
observados. Os principais tipos estão descritos abaixo. sã o de sinais elétricos, que são captados por um sistema d e
454 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 455

,-
r
aqUlslçao de dados (datalogger), possibilitando o armazena- FIGURA 22.1 Planta
mento e o processamento informatizado dos dados. Apresen- esquemática do posto
ta como principal vantagem o registro contínuo de todos os E3 [QJ
,
agrometeoro lógico d e prim e ira
classe. Adaptado de Pedro Jr. et
elementos, com aquisição e saída dos dados em intervalos que aI. (1987). (1 - Asperg ígrafo; 2 -
o usuário pode programar (por exemplo, aquisição a cada se- ~ .
~
Pluviômetro; 3 - Actinógrafo; 4 -

gundo e armazenamento das médias a cada 15 min.).

• Quanto ao número de elementos observados


-".~ -
,

G
,
o ~
_ .1.... ----:
Geotermômetros; 5 - Tanque
Classe A; 6 - Heliógrafo; 7-
! Plu vióg rafo; 8 - Termômetro de
mínima de relva; 9 - Abrigo

- Primeira classe: são aquelas que possuem instrumentos LJ,


;;+
.
I
te rmom étrico (termômetros
máxima, mínima, seco e úm ido,
termohigrógrafo e evaporímetro
para medida de todos os elementos meteorológicos, possibili-
tando caracterização detalhada das condições meteorológicas
~
Á de Pi che); 10- Barógra fo; 11 -
Barômetro; 12 - Anemógrafo; 13
- Catavento; 14 - Pára-ra ios).
do local (Figura 22.1).
- Segunda c/asse: são aquelas em que não se mede a pres-
são a tmosférica (barômetro ou barógrafo), a velocidade e a di-
reção dos ventos (anemômetro ou anemógrafo), e a irradiância
solar g lobal (actinógrafo ou radiômetro); porém, possibilitam
caracterização dos principais elementos para fins agrometeo- FIGURA 22.2 . Planta

r
esquemática do posto
rológicos (Figura 22.2).
E3 ~
agrometeorológico de segun-
- Terceira classe: também conhecidas como estações ter- da classe. Adaptado de Pedro
, Jr. et aI. (1987).
mo-pluviométricas, por medir apenas a temperatura do ar (má-
(1 - Catavento; 2 - Pluviógrafo;
xima e mínima) e a chuva. São normalmente utilizadas em 3 - Pluviôm etro; 4 - Tanque
propriedades agrícolas, com a finalidade de monitorar o ba- ,~ -
.~ G
t- ' ~ --
Classe A; 5 - Geotermômetros;
6 - Heliógrafo; 7 - Abrigo
lanço hídrico do solo (Figura 22.3). ~ ~. termométrico (termômetros
I
tJ máxima, mínima, seco e úmi-
do, terrnohigrógrafo e

-+ evaporímetro de Piche); 8 -
Termômetro ae-Tnú,-i-rna de
relva).
456 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 457

Wm devem .ser insta lados de modo que não ocorra interferência


de um sobre o outro. Por exemplo, n o hemisfério sul, os ins-
3m
trumentos de radiação solar devem ficar ao norte de outros
instrumentos e do abrigo meteorológico, para que não haja
d projeção de sombra sobre eles. No caso do abrigo meteoro-
lógico, onde são instalados os termôme tros e o termóhigró-
grafo, sua porta deve estar voltada para o sul, d e modo que

d FIGURA 22.3 Plan ta esquemática do


po sto agrometeorológico de terceira
não ocorra incidência de radiação solar sobre os sensores na
hora da medida.
classe. Adaptado de Pedro Jr. et aI. A densidade de estações meteorológicas recomendada
(1987). (1 - Abrigo termométrico (ter-
E
pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) é de uma
'" mômetros máxima, mínima); 2 - Pluviô-
metro). distância máxima de 150 km entre duas estações sinópticas.
Para estações climatológicas, essa distância irá d epender das
condições geográficas da região, ou seja, da homogeneidade
• Localização e instalação de estações meteorológicas do macroclirna. Para fins agrometeorológicos, a distância en-
O local escolhido para ins talação da estação meteoro- tre dois pontos d e medida deve ser menor em razão da eleva-
lógica, seja ela convencional ou automática, deve ser repre- da variabilidade espacial dos elementos meteorológicos, como
sentativo da área para onde as observações serão destinadas . a chu va e o vento, e pela escala temporal e espacial d e interes-
Normalmente, tomam-se as seguintes precauções ao escolher se nas aplicações agrícolas.
a área (Pedro Jr. et aI., 1987):
- evitar condições extremas de relevo; • Redes de estações meteorológicas existentes no Brasil
- a área deve ser bem exposta, tendo longos horizontes, O Brasil por suas dimensões continentais ainda não apre-
especialmente no sentido leste-oeste; senta uma rede de estações meteorológicas suficientemente
- evitar proximidade de maciços florestais, árvores iso- grande para atender às suas necessidades. É comum uma maior
ladas e construções de alvenaria, que possam projetar sombra concentração de pontos de medidas em áreas mais desenvol-
na área da estação ou interferir nas condições atmosféricas lo- vidas e pouquíssimos deles em áreas mais remotas, como nos
cais; Estados do Pará e Amazonas . Atualmente, com a crescente im-
- área deve ser plana e de fácil acesso; portância dada ao ambiente e aos impactos gerados nele pelo
homem, tem ocorrido aumento no número de pontos de ob-
Principalmente nas EMe's, que utilizam abrigo meteoro- servação meteorológica, especialmente nas áreas mais afasta-
lógico e equipamentos de maior tamanho, deve-se dispor de das, onde as estações automáticas monito radas por telemetria
ampla área. Essa área deve ser gramada e os equipamentos vêm assumindo papel fundamental. Atualmente, o Brasil conta
458 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 459

com diversas redes de estações meteorológicas, sendo a mais pesquisa em Agrometeorologia, visando a gerar informações
importante a coordenada pelo INMET (Instituto Nacional de que auxiliem no planejamento das atividades agrícolas e, prin-
Meteorologia, do Ministério da Agricultura), que conta com cipalmente, na tomada de decisões com relação às práticas es-
mais de 400 estações meteorológicas espalhadas por todos os senciais, tais como: semeadura / plantio, manejo do solo, irri-
estados . Além das estações operadas pelo INMET, cuja a fina- gação, colheita, aplicação de defensivos, e tc. Os tópicos apre-
lidade é a observação sinóptica, mas servindo também para sentados nos capítulos anteriores fundamentam o desenvol-
fins clima tológicos e agrometeorológicos, o Brasil ainda conta vimento de um SIA. Sendo o Brasil um País de dimensões con-
com redes coordenadas por instituições estaduais, como o Ins- tinentais, é inviável pensar-se em um SIA gerenciado por uma
tituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Instituto Agronô- única instituição. As diversidades agrícolas e climáticas regio-
mico do Paraná (IAPAR) juntamente co m o Sistema nais impõem a necessidade de SIAs específicos, gerenciados
Meteorológico do Paraná (SIMEPAR), cada um com mais de localmente. Um SIA deve ser fundamentado em três bases
30 estações espalhadas, respectivamente, nos estados de São principais:
Paulo e Paraná, o Centro Integrado de Meteorologia e Recur- C. Meteorológica: contendo informações obtidas diaria-
sos Hídricos de Santa Catarina (CLIMERH), entre outras. Al- mente em estações meteorológicas, com coleta regular e contí-
gu mas empresas também coordenam rede de es ta ções nua de temperatura e umidade do ar, chuva, velocidade do
meteorológicas, podendo-se destacar a EMBRAPA, a CESP, a v ento, radiação solar, ou, alternativamente, nas estações ter-
CODEVASF, além daquelas de origem privada. O Departamen- mo-pluviométricas com apenas temperatura e chuva0
to Nacional de Água e Energia Elétrica (DNAEE) e similares
estaduais (DAEE), possuem uma ampla rede de estações • Agro-biológica: com informações fundamentais refe-
pluviométricas, abrangendo grande parte do território brasilei- rentes às necessidades bioclimáticas específicas de cada cul-
ro. No Estado de São Paulo o DAEE/SP coordena mais de 1.500 tura, ao calendário agrícola regional, e às inter-relações das
postos pluviométricos; que somados aos postos pluviométricos culturas com suas pragas e doenças;
da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),
DNAEE, SABESP, CPFL e outros, chega-se a mais de 1.900 pon- • Previsão do tempo: com informações básicas geradas
tos de coleta, sendo pelo menos um em cada município. por agências, oficiais ou não, sobre as condições do tempo para
os próximos dias, permitindo inferências sobre o desempe-
nho dos cultivos e as ações corretivas n ecessárias.
22.4 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES
AGROMETEOROlÓGICAS Para a integração dessas informações, em tempo real, é
necessário a utiliz ação de modelos e técnicas agrometeo-
Um Sistema de Informações Agrometeorológicas (SIA) rológicas que geram produtos auxiliares à tomada de decisão,
consiste da operacionalização de técnicas desenvolvidas pela por especialistas da área agrícola. A informação agrometeo-


460 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 461

rológica gerada é também uma ferramenta auxiliar para enti- • Manejo do solo
dades relacionadas ao financiamento, comércio, e seguro dos Práticas de manejo do solo, como aração e gra d ea ção,
empreendimentos agrícolas. A Figura 22.4 mostra o esquema exigem um nível crítico de umidade no solo p ara que p ossam
básico de funcionamento de um SIA. ser realizadas d e maneira e fici ente, s em cau sa r d a no s
irreversíveis ao solo, tornando-o suscetível à erosão (no caso
de p ouca umidade) ou à compactação (no caso d e excesso de
Dados Meteorológicos
de superfície: Previsão d o T e mpo
umidade). Por meio do balanço h ídrico climatológico (ver
T,UR,P , u , RS Capítulo 13), é possível o aconselhamento para tais a tiv idades.

Re laç ão das Sistema de Informações • Semeadura


Cu Uuras
com Pragas e Agrome te orológicas A semeadura de cultivos anuais depende da águ a dis-
Ooenças ponív el no solo, sem a qual a germinação das sementes pode
ser prejudicada. O u so do balanço hídrico climatológico que
Modelo s e T écllicas Agromeleoro!õgicas:
Balanç o Hídr ico , Graus -dia, Produl ivida d e, ele. permite quantificar o nív el do armazenamento de água no solo
e a prev isão de ocorrência ou não de chuvas nos próximos
dias, determinam se o período é ou não adequado à semeadura.
_.. _._ ... _~ Pesquisa

" .. -..-._-- • Irrigação


r""-----, A irrigação é imprescindível em áreas onde o clima ári-
do limita a produção de alimentos devido à escassez d e chuva
em relação à demanda hídrica, e onde a sazonalidade das chu-
FIGURA 22 .4 Esquema básico de um Sistema de Informações vas impossibilita a agricultura em certas épocas do ano. Desse
Agrometeoro lógicas. modo, a quantidade de água suplementar a ser aplicada, e o
momento adequado para sua aplicação é fundamental para
que o rendimento seja maximizado. Técnicas que permitem a
22.4.1 Benefícios de informações agrometeorológicas quantificação da demanda hídrica da cultura e da água dispo-
nív el no solo, são descritas no Capítulo 14. Essas informações
Praticamente todas atividades agrícolas a campo depen- auxiliam na tomada de decisão de quando e com quanto irri-
dem das condições meteorológicas, e se beneficiam das infor- gar. A previsão do tempo é também de grande importância,
mações agrometeorológicas para sua realização com êxito. podendo evitar irrigação próxima a períodos de chuva.
Dentre elas destacam-se aquelas voltadas para:
462 - Pereira, AngeLocci e Sen lei"as Agrometeorologia - 463

• Fitossanidade a que a cultura foi submetida durante o seu ciclo (ver Capítul o
Pragas e doenças somente se proliferam sob condições 20). Isso subsidia previsões do rendimento.
ambientais que lhes sejam favoráveis (ver Capítulos 16 e 17).
Caso tais condições não sejam satisfeitas, o controle por de- • Risco de incêndios
fensivos torna-se desnecessário, implicando em redução no Por meio de técnicas simp les que utilizam dados
custo de produção e melhora na qualidade dos produtos. meteorológicos, é possível monitorar o grau de inflamabilidade
Quando o controle artificial se torna necessário, especialmen- de matas e florestas, ou seja, o risco de ocorrer incêndio (ver
te via pulverização com produtos químicos, este somente de- Capítulo 17). Com isso, pode-se evitar atividades problemáti-
verá ser realizado após consulta à previsão do tempo, pois cas, como o uso de queimadas, ou se realizar práticas para
chuva após pulverização provocará lavagem do produto apli- minimizar o a lastramento do fogo, como os aceiros (isolamento
cado, implicando em baixa eficiência de controle e contamina- das áreas de risco).
ção do solo e mananciais de água .

• Colheita 22.4.2 SIAs existentes no Brasil


A colheita da maioria dos produtos agrícolas é influen-
ciada pelas condições de tempo, pois dele depende a umida- Apesar de no Brasil ainda se enfrentar uma série de pro-
de do produto a ser colhido, especialmente no caso dos grãos blemas com relação à coleta e transmissão de dados meteoro-
colhidos mecanicamente. As cond ições do tempo e hídricas lógicos, com uma rede de estações ainda deficiente para suas
do solo também afetam a trafegabilidade das máquinas no dimensões continentais, existem vários serviços de divulga-
campo, podendo causar compactação do solo em caso dessa ção de dados meteorológicos, de previsão de tempo, e de
atividade ser realizada sob condições de excedente hídrico. aconselhamento agrometeorológico.
Com o balanço hídrico e a previsão do tempo é possível deter- São vários os exemplos de SIAs já existentes no Brasil, e
minar se as condições são adequ adas à rea lização eficiente e esta amostra não pretende, nem consegue ser completa dada
segura dessa atividade. às dimensões territoriais do país, e às diversidades de agên-
cias e instituições brasileiras e estrangeiras que a tuam, muitas
• Previsão de Rendimento vezes com consultoria específica para um setor agropecuário.
O rendimento dos cultivos agrícolas é fortemente Com a popularização das estações meteorológicas automa-
influenciado pelas condições adversas do tempo, especialmen- tizadas, e do sistema de disseminação de informações em tem-
te com relação às condições hídricas do solo e de temperatura. po real, essa é uma área de prestação de serviços com elevado
Modelos agrometeorológicos permitem a quantificação da re- potencial de crescimento. A lguns exemplos podem ser listados
dução na produtividade em função das condições ambientais a título apenas de ilustração prática do que foi exposto acima.
464 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorologia - 465

• Tosquia de carneiros • CIIAGRO/IAC


No Rio Grande do Sul, o sistema de alerta meteorológico O Centro de Integrado de Informaçõe s Agrome-
emite boletins diários informando aos produtores de lã sobre teorológicas (CIIAGRO), pertencente ao Instituto Agronômi-
a possibilidade da entrada de frente fria, e portanto, se há con- co de Campinas, divulga boletins semanais sobre as condi-
dições para a realização da tosquia dos animais. No caso da ções hídricas dos solos de várias regiões do Estado de São Paulo
previsão de entrada de um sistema frontal, a tosqui a é e suas implicações no crescimento e desenvolvimento das prin-
desaconselhada, o que acaba evitando a morte de animais pelo cipais culturas do Estado de São Paulo. As informações são
frio. Os alertas são divulgados por rádio e pela cooperativa fornecidas via fax e pela Internet, através do CEPAGRI /
dos produtores de lã. UNICAMP.

• Alerta fitossanitário para macieira • CEPAGRIIUNICAMP


Em Santa Catarina, o sistema de alerta fitossanitário, da O Centro de Ensino e Pesquisa na Agricultura, da Uni-
EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catrina), versidade Estadual de Campinas, divulga, via Internet (http: /
emite avisos para o controle fitossanitário da sarna da maciei- /orion.cpa.unicamp.br), zoneamento agroclimático para vá-
ra (Phytophtora infestans) . Esse sistema baseia-se nas condições r ias culturas e informações de aconselhamento agroclimático,
meteorológicas e na presença de inóculo do patógeno para a além de repassar previsão de tempo com ênfase para Campi-
emissão dos alertas, que muitas vezes evitam pulverizações nas e região.
desnecessárias (ver Capítulo 17). Os alertas são divulgados
por rádio e pela cooperativa dos produtores de maçã.

• EMBRAPA/Monitoramento por satélite


A Embrapa-Monitoramento por Satélite possui um sis-
tema de monitoramento do balanço hídrico de cerca de 200
locais de 10 estados da região centro-sul do Brasil, com
aconselhamento agrometeorológico. Esse sistema é operado
conjuntamente com a Agência Estado. A lém disso, CNPM °
divulga informações de monitoramento orbital de queimadas.
Todas essas informações podem ser obtidas pela Internet
(http:www.cnpm.embrapa.br).
Referências bibliográficas

ABOU-HADID, A.F.; EL BE LTAGY, AS Waterbalance underplastic house conditions in


Egypt. Actn Hor ticulturae, 303:61-72, 1992.
AMADOR, r.A. Duração do período de molhamento por orvalllo; estimativa baseada em parlillll.!/ros
meteorológicos e comparação do desempenho de ínstmmentos de medida. Piracicaba: ESA LQ /
USP, 1987. 69p. Dissertação (Mestrado em Agrome teorologia).
ALFONSI, R.R. Flutuação estacional da tempera/um e da difllsividade térmica para o solo da
região de Campinas, SP. Piracicaba: ESALQ/USP, 1979. 82p. Dissertação (Mestrado em
Solos e Nutrição de Plantas).
ALFONSI , R.R .; PEDRO JR.; M.]., ARRUDA, F.B.; etal. Mdodos agrometeorológicos para
o controle da irrigação. Boletim Técnico n.133, 1990, IAC/PRONI. 62p.
ALFONSI, RR; PEDRO ]R, M.].; CAMARGO, M .S.P.; et a I. Zoneamento agrodimático e
probabilidade de atendimento hídrico para as culturas de soja, milho, arroz de sequeiro
e feijão no Estado de São Paulo . Campinas, IAC, 1995. 8p . (Boletim CicnflJico, 37).
ALFONSI, R.R.; PEDRO JR., M .J.; VILLA NOVA, N.A; PEREIRA, A.R. Estimativa da
temperatura média diária do solo, através de observações convencionais em posto
meteorológico. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 5: 1 50~152, 1981.
AL FONSI, R.R.; PINTO, H.5.; P EDRO ] R., M.]. Estimativa das normais de temperaturas
médias mensal e anual do Estado de Goiás (BR) em função de altitu de c latitude. 550
Paulo, USP - Instituto de Geografia, 1974. 32p. (Caderno de Ciências da Terra, 45).
ALFONSI, R.R.; SENTELH AS, P.c. Estimativa d a temperatura do solo através da tempe-
ratura do ar e m abrigo meteorológico. Revista Bras. de Agrometeorologia, 4(2):57-61, 1996.
ALFONSI, R.R.; SENTELHAS, P.C; ESPIRONELO, A Temperatura-base e graus-dia para
duas variedades de abacaxizeiro em São Paulo. In: Cong. Bras. de Fmficullura, 13, Re-
s umos, 1994, p.51-52.
ALLEN, L.H.; YOCUM, CS.; LEMON, E.R. Photosynthesis u nder fie ld conditions. VIl-
Radiant energy exchan ges within a com crop canopy and implications in water use
e fficiency. Agroll . J.,56 :253-258, 1964.
ALLEN, RG.; JENSEN, M.E.; W RIGHT, ] .L.; SURMAN, RD. Operational estimates of
reference evapotranspiration. Agronomy ]ollwal 81 :650-662, 1989.
A LLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M . Crop evapotranspiratioll - gllidelincs
fo r compllfing crop water requirements . FAO, Rom~, Paper 56,1998.
A LLEN, R.G.; SMITH, M.; PEREIRA, LS.; PERRIER, A . An update for the ca1cu lation of
reference evapotranspiration. [CID Bullctin 43(2), 1994.
ALVES, AV. ; AZEVEDO, P.V.; SILVA, B.B. Balanço de e n ergia e reflectância de um c ulti ~
vo de melão . N.cvista Bras . de Agromcteorologia, 6(2):139-1 46, 1998 .
ALVES, V.C; PEDRO JR., M .J.; SENT ELHAS, P.C; Azz ini, L.E. Exigências térmicas do
arroz l AC4440 irrigado. In: RC1lllí6n ArgeJltina y Lntinomllerical1a de Agrometeorologia,
7/ 1, Actas, 1997, SI, p .59-60.
ANDRÉ, RG.B.; SILVA FO., V .P.; MOLION, L. CS.; NOBRE, C.A. Balanço de radiação
solar sobre a floresta amazônica (es tações seca e úmida). Rev. Bras. Meteorol.,3:269-
274,1988 .
ANGE LOCCI, L.R.; CAMARGO, M.B .P.; PEDRO JR., M.]. et aI. Estimati v a d o tota l d e
horas abaixo de determinada temperatll1'a base através das medidas diárias da tem-
peratura do ar. Bragantia, 38 (4 ):27-36, 1979.
468 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrome teorologia - 469

ASHTON, P.M.5. Some measurements of the microclimate within a Sri Lanka tropical CAMARGO, AP.; CAMARGO, M.B.P. Teste de uma equação simples da evapotranspimção
forest. Agric. For. Mdeorof.,59:217-235,1992. potencial baseada na rad iação solar extraterrestre e na temperatu ra méd ia do ar. Tn:
ASSIS, E.S. Bases para a adequnção climática de construções e instalações ru rais para a Cong. Bras. de Agrometeorologia, 3. Campinas, p.229-244, 1983.
cr iação de anima is. In : COllg. Bras. de Bioclimatologia, 1, Jaboticabal, p.261-273, 1995. CAMARGO, A.P.; A LFONSI, R.R.; PINTO, H$.; CHIARIN I, J.V. Zoneamento da aptidão
ASSIS, F.N. O liSO do evapOlrtmspir6111elro no esludode algumas re/ações entrea evapofrnnspiração climática para cu ltu ras comerciais em zonas de cerrado. In: Simp6sio sobre o cerrado, 6.
medida e estimada . Pi r acicaba: ESALQ/USP, 1978. 73p. Dissertação (Mestrado em São Paulo, Ed. da USP, 1977. P.89-105.
Agromcteorologia). CAMARGO, AP.; COSTAS, RC.S.M. Geada. In: Telecllrso RI/ral, CECOR-DEXTRU/CAT I,
ASSIS, S.V.; ESCOBEDO,).F. In fluência do ângulo de elevilçiío solar n o albed o da cu ltura 17p. , 1983.
de alface (Lactuca sa tiva L.) medido em es tu fa de polietileno tipo túnel e externamen- CAMARGO, A P.; PEREIRA, A.R. Prescrição de rega por métodoclimato16gico. Fu nd. Cargill.
te. In: çongresso Brasileiro de Agrometeorologia, 10, Piracicaba, 1997. p .476-478. 27p.1990.
ASSUNÇAO, H.F. Relações entre a radiação fotossillteticamente ativa e a radiação globrll em CAMARGO, AP.; PINTO, H .S.; PEDRO JR., M.J.; e t a I. Aptidão clim ática de culturas
Piracicaba, SP. Pi r acicaba: ESALQ/USP, 1994. 4 1 p. Dissertação (Mestrado em agrícolas. In: São Paulo, Secretaria da Agr icultura. ZOlleamento Agrícola do Estado de
Ag rometeorologia). São Paulo. São Pau lo, 1974 . V. l , p.109-149.
AZEVEDO, A. Geografia Física. 45. ed. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1961. 398p. CAMARGO, M.B.P. Exigências bioclimáticas e estimativa da produtividade para quatro cultiva-
BAIER, W. Studies on dew format ion under semi-arid conditions.l\gricultural Meteorology, res de soja 1/0 Estado de São PartI0. Pi racicaba : ESALQ/USP, 1984. 96p. D issertação
3 ,1 03-112,1966. (Mestrado em Agrometeo rologia).
BARBIER I, V.; TUON, R.L. Metodologia para estimativa da produçiiu potencial dealgllmas clIl- CAMARGO, M.B.P.; CAMARGO, A.P. Representação gráfica informatizada do extrato
turas. DFM/ESA LQ/USP, 1992. 17p. do bala n ço h ídrico de Thornthwaite & Ma ther. Bragantia, 52:169-172, ] 993 .
BASTOS, T.X.; DIN IZ, T.D.AS. Microcl ima ribeirin ho; um con trole d e Mic rocyclus ulei CAMARGO, M. B. P .; PE D RO 1Ú N IOR, M.1.; A LFONSI, R. R. e t aI. Proba b ili d ad e d e ocor-
em seringuei ra . EMBRAPA-CPAT U, 1980. IIp. (Boletim de Pesquisa, 13). rê ncia de temperaturas mínimas a bsolu tas m ensais e an uais no Estado de São Paulo.
BERGAMASCHI, H.; BERLA TO, M.A.; FONTANA, D .C; et ai. Agrometeorofogia aplicada i'i Bragalltia 52(2):161 -168,1993.
irrigação. Por to Alegre: Ed. Universitária/UFRGS, 1992, 125p . CAMP ELO JÚNIOR, 1.H.; CASEI RO, F.T.; H ERBST ER, O.F. Zoneamento do potencial de
BERGAMASCH I, H .; ROSA, L.M.G.; SANTOS, A.O.; e t aI. Automação de u m lisímelro de produção de grãos em Mato Grosso. Cuiabá, UFMT, 1990. 3Dp.
pesagem a través de estação meteorológica, a campo. In: Congresso Brasileiro de CARAMORI, P. H . Caracterização dos efeitos do vento sobre mudas de cafeeiro (Coffea ara b ica
Agrometeorologia, ]0, Piracicaba, 1997. p.222-224. L.) cv. Mundo Novo e Catuaí Vermelho. Pi racicaba: ESALQ/USP, 1981. 81p. D isserta-
BERTON, O.; MELZER, R. Controle da sarna da macieira pelo sistema de Mills. Pesq. ção (Mes trado em Agrometeoro logia).
Agrop. Brasileira, 19(10):1211-1217, 1984. CARAMORI, P.H . Arborização dos cafeza is para proteção contra geadas na região su l do
BEZERRA, F.M.L.; ANG ELOCCI, L.R .; M INAMI, K. Coeficiente de cultura da batata em Brasil. In: Reuflión Argwtilla y LntiOlloamericalla de Agromeleorologia, 7/ 1, Buen os A ires,
d iferentes fases fenológicas nas con dições edafoclimáticas de Piracicaba, SP. El1gel1Jm- 1997. P.17-18.
ria Agrícola, ]a bo ti cabal, 16 (2):65-76, 1996. CA RA MORI, P. H .; ANDRICIO LI FILHO, A; FA RI A, RT e t a1. Arborização do ca fezal
BILLINGS,W.D .; MORRIS, R.J. Reflect ion o f visible and in frared rad iation fram leaves of para proteção contra ge ada s n o Estado do Paran á. In : Cong. Bras. Agrometeorologia, 9.
d ifferent ecological grou ps. Amer. J. Bo!., 38:327-331, 1951. A n ais, 1995, p.191-192.
BOLIANI, AC.; PEREIRA, F.M. Aval iação fenológica e exigência térmica de videiras Vitis CAR[X)SO, M.J.; BASTOS, E.A.; AND RADEJR., AS.; RODRIGUES, B.H.N. Uso da exi-
v in ifera L. cv. Itá lia e Rubi para poda de prod ução na região oeste do Estado de São gência térm ica pa ra a determinação do ciclo de cultivares de milho sob irr igação. In:
Paulo. In: Cong. Bras. Fruticulfllra, ]4, Resumos, 1996, p.401. Cong. Bras. de Agrometeorologla, 10, Anais, 1997, p .23-25.
BOULARD, T.; 1EMAA, R. Greenhouse tomato crop transpiration model applica lion to CERVELLlNl, A; SA LATI, E.; GODOY, H . Estimativa da distribuição da energia solar no
irri gation control. Acta HorficllltuTac, 335:381-387, 1993. Estado de São Paulo. Bragantia, 25(3):31 -40, 1966.
CAMARGO, A.P. Contribuição para a determ ina ção da evapotranspiração potencial no C O ELH O, D.T.; SEDIYAMA, G.C; VIEI RA, M. Estimativa das temperatu ras méd ias m en-
Estado de São P a u lo . Bmga/ltia, 21 :163-213, 1962. sa is e anuais no Esta d o d e M inas Gerais . Rt.'Vista Ce-res, 20(112):455-459, 1973.
CAMARGO, A.P. Viab ili d ade e limitações cl im áticas pa ra a cu ltu ra do m ilho n o Brasil. In : C OEL H O FILH O, M.A.; SENTELHAS, r.c. Melhores é p oca s d e fl o resc ime n to para o li-
Instituto Brasil eiro de Potassa . Cultura e Adubação do Milho. São Paulo. 541 p. 1966. mão 'T ahiti' no Estad o da Bahia . In: Cong. Bras . de A gromefeorologia, lO, Piracic<lba,
P.225-247. p.44-46, 1997.
CAMARGO, A.r. Ins tr uções para O comba te à geada em cafezais. Campinas, IAC, 1963. C OST A, A.O.L.; GODOY, H. Contribuição para o conh ecimento do cli m a do solo de Ri-
18p. (Boletim Técllico 130). beirão Preto. Bragafltia, 21:689-742, 1962.
C AMARGO, A.P. Com portamento e ecologia d o "mal-das-folhas" da seringueira nascon- C U N H A, G.R.; BERGAMASCHI, H . Balanço d e e nergia em alfafa. Revista Bras. de
diçôes climáticas do Pla nalto Paulista. Bragmltia, 26(1):1-18, 1967. Agrol1leteorologia, 2:9-16, 1994.
C AMARGO, A.P. l3a lanço hídrico n o Es tado de São Paulo. Boletim Técnico n.116, 197], CUN H A, G.R.; BERGAMASC H I, H .; BERLATO, M.A.; MATZANAUER, R. Balanço de
IAC. 24p. energia em cultu ra de m il ho. Revista Bras. de Agrometeorologil1, 4(1 ):1-14, 1996.
CAMARGO, A.P. Apolltamentos de agrometeorologia. Apostila da FAZMCG , Esp. Sto. do C UN H A, G.R.; H ASS, ].C; ASSAD, E.D. Zo neamento de riscos climá ti cos p a ra a cultura
Pinhal, ]972. do trigo n o Estado d o R io Grande do Sul. In: Cong. Bras. de Agromefeorologia, 10,
C AMARGO, A.P. Gea d a, o "remédio" é preven ir. C amp inas, CATI, 1997. lOp. (BoI. Técni- Pira cicaba, 1997, p .372-373.
co 227).
470 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 471

CUNHA, C.R.; DA LMAGO, C.A.; ESTEFANEL, v. ENSO influen ces on whea t crúp in H ARGREAVES, G.H.; SAMANI, Z.A. Reference crop evapotranspi ration from amb ient
Brazil. Revista Bras. de AgrometeoTologia, 7(1 ):127 138, 1999. air temperature. C hicago, Amer. Soc. Agric. Eng. Meeting (Pap er 85-2517), 1985.
DEN~EAD, O.T.; SH AW, R.H. Availability af sail water to p [ants as affected by sai l H A RTMANN, D.L. Global P/Jysical Climatology. New Yo rk: Academic Press, 1994. 411 p.
mOlst urc conten t and m eteorological conditions. Agrol/omy JounwI4S:385-390, 1962 . H EAD, H. H . Managemen t of dairy cattle in trop ical and s ub tro p ical environmen ts. In:
DOORE NBOS, 1.; KASSAM, A.H. Efeito da água no rendimento das culturas . Estudos Cong. Bras. de Biocli/t/atologia, 1, 1aboticabal, p .26-68, 1995.
FI10 -irrigação e Dre/1agem n .33, 1994. 306p. (Traduzido por Cheyi, H,R. ct a I. - UFP B). H EBER, U.; SANTA RI URS, K.A. Cell death by cold and hea t and resistance to extreme
DAEE. Atlns pluviométrico do Estado de São Parti0 (Período 1941-70). São Pa u lo, 1972. 84p . te mp eratures mecha n isms o f h arden in g and deharden ing. In : Precht, H. e t aI.
DE WIT, CT. Pho tosyn th esisoflea fcanopies. Wagen in gcn , Pudoe, 1965. 57p (Agricultural Temperah lre and Life. Be rlin : Springer-Verl ag, 1973, Ca p.C, p .232-292.
ResenrclJ r~cport 663) H ELDWEIN , A .B.;STRECK, N.A.; BU RIOL, C.A.; et aI. Efei to da cobertura de estu fa p lás-
DOORENBOS, j .; P RUITT, W .Q . G uidclincs fo r p red icting erop wa ter reg u irem ents. FAO tica sobre a tem p e ra tura mínima do a r. In: COlIg. Bras. Agrometeorologia, 9. Campina
lrrigatiol/ mui Orainage Paper 24, Rome, 179p. 1975. Grande, 1995, p.304-306.
FARIAS, J. R.B. Man ejo da in-igação associado ao uso de cobert uras plásticas. In: H ENN ING, 1. C1i m a te and vegetation - a contribu tion to the d assification of climates.
Bergamasch i, H .; Berla to, M .A.; Fontana, D.C.; et aI. Agrometeorologia aplicada li irriga- Applied Geograp1Jy alld Dcvefopme"ls, 33:22 -51,1989.
ção. Porto Alegre: Ed. Un ivers itária/UFRGS, 125p, 1992, p.109-115. H UBER, A.M .; O YARZÚN, C.E. Redist ribuición de las precipitacion es e n u n bosque
FARt AS, J.R.B.; BERGAMASCHI, H.; MARTfNS, S.. R.; BERLATO, M.A.; OLIVEIRA, A .C.a. siempreverde dei su r d e Ch ile. Tllrrialba, 42(2):192-199, 1992.
Alterações na temp eratu ra e umidade relativa do ar provocadas pelo uso de estuftt ID E, B.Y.; ALTHO FF, D.A.; T H OMÉ, V.R.M.; VIZZOTO, V1. Zoneamento agroclimntico do
p lástica. RL'Visfa Brasileira de Agrol1/el~orologia, 1 :51-62, 1993. Estado de Santa Cafarina; r Eta p a. Florianópolis, EMPASC, 1980. 106p.
FAR IAS,].R.B.; BERCAMASCHI, H.; MARTlNS,S.R.; BERLATO, M.A. Efeito da cobertu- INMET. Normais Climatológicas (1961 ~ 1990). Brasilia, 84p. 1992.
ra plástica de es tu fa sobre a radiação solar. Revista Brasileira de Agrom~leorologia, 1:31- JANUÂRIO, M.; VISWANADH AM, Y.; SENNA, R.C. Radiação sola r total dentro e fora
32,1993. da fl o res ta t ropical úm ida de terra firme (Tucuruí, Pará). Acta Amaz6nica,22:335-
FARIAS, J.R.B.; BERCAMASCHI, H .; MARTINS, S.R. Evapotra nspiração no interior de 340,1992.
estufas plásticas. Revista Brasileira de Agrometeorologia, 2:17-22,1994. JENSEN, M.E. Water consu mption by agricultural plants. In: Kozlowski, T.T., Water deficits
FEDOROVA, N. Meteorologia SillÓtica. v. 1. Pelotas: UFPel, 1999. 259p. and p/ant growth, voI. 2, Academic P ress, New York, 1968.
FERREIRA, M.; BURIOL, G. A .; ESTEFANE L, V.; PINTO, H.S. Es tim<1 tiva das tempemtu- IENSEN, RB.; BOYLE, L.W. A tech n ique for fo recasting lea fspot on peanuts. Plmll Ois.
ras méd ias mensais e anuais do Estad o do Rio Crande do Sul. Revista do Centro de Rep., 50(ln810-814, 1966.
Ciências Rurais, 1(4): 21-51, 1971. KI RDA, c.; ÇEVIK, B.; T ÜLÜCÜ, K. A simple method to estima te the irrigation water
FOLEGATII, M .V.;SCATO LlNI, M.E.; PAZ, V.P.5.; PEREIRA, A. R.; FRIZZONE,J.A. Efeito rcguirement o f greenhouse grown torna to. Acla Horticul tu rae, 366:373-380, 1994.
da cobertu ra plás tica sob re os elemenlos me teorológ icos c cvapot ranspim ção da cul- LEIT AO, M .V B.R. Balanço de radiação em Irês ecoss istemas da floresta amnz6nica: campilla,
tura do crisân temo em estufa . Revisfn 8msileira de Agrometeorologia, 5(2):155-1 63, 1997. campinarana e ma ta dCllsa . (Tese de Do u torad o), Instituto Nacion al d e Pesquisas Esp a-
FONTANA, D .C.; BERLATO , M.A. Relaç50 entre EI Nino oscilação su l (ENOS), p recipi- ciais +IN P E, São José dos Campos, 135p.
tação e rendi m e n to de m ilh o no Estado do Rio Grande do Sul. Pesquisa AgropeCl/t'Íria LEME UR, R.; RO SENBERG, N.J. Reflec tan t ind u ced mod ifi cati on of soy bean ca nopy
Gaúcha, 2(1):39-46, 1996. rad ia tion balance 11 - A quantita ti vc and q ua li tative a nalys is of rad iation reflec ted
FON~TANA,.D . C.; BERLATO, M.A. Influi!ncia do EINilio osci lação sul sobre a p recipita- from a g reen soybea n canopy. AgroJl. J.,67: 301-306,1975 .
çao plUVIal no Estado do Rio Grande do Sul. l<evisla Bmsileira de Agromeleorologia, LEOPO LDO, P. R; SOUSA, A.P.; TUACEK FILI-IO, S. Interceptação da água da ch uva em
5(lP27-132,1997. cultura de ca na-de-açúcar. Brasil Açucareiro, 98(6):9-1 6, 1981.
FRANKEN, W .; LEOPOLDO, P.R.; MATSU J, E.; RIBEIRO, M .N.C. Estud ada intercep tação LEYTON, L.; REYNOLDS, E.R.C; T HOMPSON, EB . Rain fall interceptati o n in a forest
da água d a chuva em cobertura flo restal amazônica do tipo terra fi rme. Acta Amazôni- and m oorlan d. In: lutemal ioual Symposiul1J on Foresl Hydrology, Perga mon Press, To-
ca, 12(2):327-331, 1992. ron to, p.163-1 78, 1967.
FRITSCHEN, L.J.; DORAISWAMY, P. Dew: a n addition to lhe hydro logic ba la nce of LLOYD, c. R.; CASH, J.H.C.; SHUTTLEWORTH, W.J. T he measurement and modelli ng
Dougias Fir. Wafer Resollrce Res~arc", 9(4):891-894,1973. o f rainfall inte rception by Amazonian rain fores t. Agricultural and Forest Mcteorology,
CASPAROTIO, L. Epidemiologia do mal das JoUtaS (Microcydus ulei (p. H enn) v. Arx) da 43:277-294,1988.
seringueira (H evea s p p.) Viçosa, 1988, 124p. (Tese de Doutorado). LOS HA LI, D .C.; SINC H , R.r. Partion ing o f rai n fall by th ree Cen tral H imalayan forests.
GASH,J.H.C An ana lytical m odel of rain fall in terccp lion by fOrP.~ I ~. Quart. Journal RoyaJ Fores! Ecology alld Mallagement, 53:99-105, 1992.
Meteorol. Soc., 105:43-55, 1979. LUCHESI, A.A.; MONT ENEGRO, H W.S.; V ILLA NOVA, N.A.; et a!. Estimativa de graus~
CATES, D.M. Radiant energy, its rcccip t and disposa!. Meteorol. MOllogr.,6: 1-26, 1965. d ia acumula dos n o ciclo de frutificação de cultivares d e abacateiros (Persea a merica-
CLOVER, J.; MCCULLOCH , J.S.G. The empirical relation between solar radiat ion and n a, M iller). Anais da ESA LQ, 34( 1 ):317~325, 1977.
hours af sunshine. Quart. fOllmal Royal Meteoro/. Soc., 84:172-175, 1958. LUNARD I, D .M.C.; CATANEO, O.A. Estimativa da radiação solar globa l diárii'l para
COMIDE, R.L.; OLIVEI RA, C.S.G .; FACCIOLl , C.C . Protótipo de um lisímetro d e pesa - Bot uc<1tu, SP. Cielltífica, 22( 1 ): 11 7~121, 1994
ge m automát ico para estudos em casa de vegatação. In: Congresso Brasileiro dt, MACH ADO, E.C; P EREIRA, A.R.; CAMA RGO, M.B. P.; FAH L, J.1. Relações ri'ldiomét-ricas
Agrometeorologia, 10, Piracicaba, 1997. p 225-227. de u m a cultura d e ca na-de-açúear. Bragmltia, 44:229-238, 1985.
G ROOZKJ, L.; CA RAMO RI, P. H .; BOOTSMA, A.; c t aI. Risco de ocorrência d e gea da n o
Es tado do Paran á . Rev Bras. de Agromcleorologil1, vA, n .l, p .93-99, 1996.
r
472 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 473

MANDE LLI, F. Comportamento !enofógico das principais cultivares de Vit~s vinífecn L. para a OMETTO, l.C Bioclimatologia Vegetal. São Pa ulo: Ed. Ceres, 1981. 440p .
região de Bento Gonçalves, RS. Piracicaba: ESALQ/USP, 1982. 125p. Dlssertaçao (Mestre ORTOLANI, A.A. Agrodimatologia e o cultivo da seri ngue ira. In: Simpósio sobre a Cultura
em Agrome teorolog ia) . da Seringueira no Estado de São Pa ulo, 1. Ca mpinas, Fundação C argill, 1986 . p.11-32.
MARIN, F.H.. ; SENTELH AS, j-',c.; UN GARO, M.Re. Perd a de rendiment? p ~ te nci~l da PANDIT, A.; et aI. lndiall foumal of Forestry, 14(4):287-289, ] 991 (A bstra cts).
cultura do girassol por deficiência h ídrica, no Estado de São Paulo. Se/entw Agncola, PASCALE, A.J.; VILLEGAS, J.A.; MEDINA, L.F. Ap titud agroclimática dei Noroeste Ar-
57( 1),1-6,2000. gen tino para e l culti vo de la soja. Rev. Agron. Noroeste Argentino, ] 0(3/4):173-202, 1973.
MAR LATT, W.E. A note o n the variation a f dew amou n t with e levation. Agricllltural PEDRO JR., M.J .; ORTOLANI, A.A.; REC ITANO, O.; ef a I. Estima tiva de horas de frio
Meteorology, 8:151 -154, 1971 . abaixo de 7°C e 13°C para n regionali zação d a fruticu ltura de clima temperado no
MARTINS, S. R. A agrome teorologia e os desafios da agricultura su stentável. In: COIlgres- Estado d e 5ã o Paulo. Braganlia, 38(13):123-130, 19 79.
50 Brasileiro de Agrometeorologia, lO, P iracicaba , 1997. p. 739-744. . PE D RO JR., M.J.; CAMA RGO, M.B .P.; MIRANDA, M.A.C. e t aI. Teste de modelo
MASCHIO, L.M.A.; SA MPA IO, I. B.M . Epifi tologia c controle de Phy tophtho ra mfestans, agromcteorológico p a ra estimativa d a p rodutividade potencial da cultura da soja de
agente da requeima do tomateiro. PAB, ]7 (5):715~719, ]982. c iclo p recoce . In : COlIg. Bras. de Agrometeorologia, 3, Anais, Campi n as, ] 983, p.l} · 17.
MASSIGNAM, A.M.; ANGELOCCI, L.R. De terminação da te mperatura-base e de g raus- PEDRO JR., M.J.; CAMARGO, M.S.P.; MACEDO, L. A. Gu ia pa ra o o bservador d os p ostos
d ia n a estima tiva da du ração dos s ub-períod os de desenvolvimento de três cultivares agrometeorológicos do Instituto Agro n ô mico. Boletim Técnico n. 116, 1987. 59p.
de girassol. Rev. Bras. de Agrometeorologia, 1:71-79, ]993. P EDRO JR., M.J. Aspectos microclimá ticos e epidemiologia. In: Curso Prático Internacional
MASSIGNAM, A.M.; VIEIRA, H.J.; FLESCH , RD.; HEMP. S. Ecofisiol ogia do feijoeiro . m de Agrometeorologia para a Otimização da Irrigação, 3 . Cam p inas, IAC, ] 989 . 13p.
_ Influência de variáveis b ioc1im áticas na duração de sub -períodos fenológicos e de- PEDRO JR., M.J.; ALCANTARA, P.B.; ROCHA, G.L.; ct aI. Aptid ão clim ática para p la ntas
terminação de tempera tu ra-base e g raus-d ia. Rev. Bras. de Agrometeorologia, 6(1):47-54, forrageiras no Estado de São Paulo. Campinas, IAC, 1990. 13p. (Boletim Técnico, 139).
1998. PEDRO JR., M.J.; PEZZOPANE, J.E.M.; ALFONSI, R.R.; MARTINS, E P. Du ração do perí-
MASSIGNAM, A.M.; DITIRICH, R.C Estimativa do número m éd io e da probabilidade odo de molhamento e m videira. In: Cong. Bras. de Agrometeorologia, 7, Resumos, Viço-
mensa l de ocorrência de gea da s para o Estado de Sa nta Ca tarina. Re v . Bras. de sa, p.]51-153, ]991.
Agrometeorologia, 6(2):21 3-220, 1998. ..... . '. PEDRO JR., M.I.; 5ENTELH AS, P.C; POMMER, c..v.; ('t a 1. Determ inação da tempe ratu-
MCCRE E, K.J. A solarilllt!tt!r for 1tIt!<lsuring p h utusYl\tht!tI<.:<li ly dl:t.ve C"UhltIUH . Agr,.. . ra-b ase, graus-d ia e índice biometeorológico para a videira 'Niagara rosada'. Rev. Bras.
Meteoro/., 3:353-363, ] 966. de A grometeorologia, 2:5]-56, 1994.
MEDEIROS, ).F.; PEREIRA, E A.P.; FOLEGAITI, M. V.; PERE IRA, A.R.; VILLA NOVA, NA P ED RO JR., M .J .; SENTELHAS, P.C; MARTI NS, EP. Previsão a g ro meteorológica d a data
Comparação en tre a evaporação em tanque C lasse A e em mini.t a nqu e~ ins.tala d os em d e colh eita para a videi ra 'Niagara rosada' . Bragalltia, 53(1):113-119, 1994.
estufa e estação m e teorológica. In: Cong. Bras. de Agrometeorologla, 10, P iraCicaba, 1997, PEDRO ) R., M.).; PEZZOPA NE, ).R.M.; MARTINS, F.P.; POMMER, c.v.; MORAES, AV
p.228-230. Efeito d o uso de quebra-ventos na prod utivid ade da vid ei ra ' N iaga ra rosad a'. Rev.
MEIRELES, E . J. L.; SILVA, S.C; ASSAD, E.D.; XAV IER, L.S. Ca racteri zação do r isco c1im~­ Bras. de Agrometeorologin, 6(1):75-79,1 998.
tico n a cu ltura d o feijoeiro no Es tado do Mato Grosso. In: Cong. Bras. de Agrometeorologw, P EDRO JR., M .J.; PEZZOPANE, ].R.M.; MARTINS, F.P. Uso da precipi tação p luv ia l para
10, P iracicaba, 1997, p .3S]-353. previsão d e épocas d e p ul verização visando controle de doenças fún gicas na videira
MENDONÇA, P. V. Sobre o novo método de balanço h ídrico de Thornt h waite & Math er. 'Niagara rosada '. Rev. Bras. de Agrometeorologia, 7(1 ):107-] )] , ]999.
In: Cong. LlIso-Espallhol para o Prog. das Ciências, .24. P. 271~2 82, 1958. PEREIRA, A.B.; SENTELHAS, P.c.; VILLANOVA, N.A. Estimativa d o balanço de e n ergia
MONTEITH, J.L. P r incip ies of en vironmen tal physlcs. Elsevle r, New York, 241p., 1973. radiante em fun ção de elem en tos clim á ticos. Rev. Bras. de Ag rometeorologin, 6(2):201-
MOTA, F.S. Me teor%gia agrícola. São Paulo: Nobel. 1981, 376p. . . 206, 1998.
MÚ LLER, P.5. Bioclimatologia aplicada aos an imais domésticos. Por to Alegre, Editora Sulma, PE REIRA, A.R. Aspec tos fis io lóg icos da produtividade vegetal. Rev. Brasi/eira de Fisiologia
3a. ed., 262p. 1989. . . . . _ Vegetal, 1995. 38p.
NÁ VAR, l.; BRYAN, R.B. Fitti ng the ana ly tlcal model of ra mfa ll mter.cepta ho~l of Gash to PERETRA, A.R.; M AC H ADO, E.C; CAMARGO, M .B.P. Solar radiation regime in th ree
ind ividual shrubs of semi-arid vege tation in n o rtheastern MéxIco. AgnCl/ltural and ca ssava (M anihot esculenta Crantz) canopies. Agric. Meteorol.,26:] -1 0,1982.
Foresl Meteorology, 68:133-143, 1994. . . . PEREIRA, A.R.; VILLANOVA, N.A.; BARBIERI, V. Condicionamento clim ático da indução
NEWTON,J .E.; BLACKlv1AN,G.E. The penetrõ'llion ofsolõ'lr rõ'lcilõ'lt1cm Ih rOlleh lf"õ'If rõ'lnoplf"!'i ao fl o rescimento em cana-d e-açúcar. Boleti", Técnico Plallalsllcar, 2(3):1 -34, ]983.
o f d iffere n t s t ructure. Anil. Bot.,34:329-348, 1970. P EREIRA,A. R.; VILLA N OVA, N.A.; SEDIYAMA, C .C Evapo(trallspi)ração. FEA LQ. 1997.
OGUNTOYIMBO J .5. Reflection coefficient ofnatural vegetation, crops and urban surfaces 183p.
in Nigeria. QlIart. J. Royal Meteorol. Soc., 96:430-44], ] 970. . PERES, J.G.; SCÁRDU A, R.; VILLA NOVA, N.A. Coeficiente de cultura (Kc) p ara ca na-
O LI V EIRA, A. D.; COSTA,J.M.N.; LEITE, R.A.; SOARES, P.C; SOARES, A.A . Caractenza- de-açúca r: c iclo de cana - soca. Alcool & Açúcar 62:34-42, ] 992.
ção do período p lantio-floração d e 7 cultivares de arroz de sequeiro no Es tado d e PEZZOPANE, l .E.M. O 1150 de est ufa com cobertura plást ica e de qllebrn-vel1fos na produção de
Minas Gerais. In: COllg. Bras. de Meteorolo~ia, 11 , ]999 (CD-ROM) porta-enxertos de seringueira, lIa região de Campinas, S P. Piracicaba: ESA LQ/USP, '1994.
O LIVEIRA, AS Estudos comparativos da evaporação potencial estimada por tanques e pelo mé- 87p. (D issertação de Mestrado).
todo de Pellmafl. ESALQ / U5P. 11 3p . (Tese de Livre Docência) 1971. PEZZOPANE, J.E.M; ORTOLANI, A.o.; GODOY JR, G.; P EZZOPANE, J.R.M. Influê nc ia
OL IVEIRA, H.T.; BERLATO, M.A.; FONTANA, D.C Probab ilidade deo~orrên c!a d? gea- d a brisa terra-mar no período de saturação da um idad e d o ar no interior de d ois se-
da no Es tado d o Rio Grande do Sul. In: COllg. Bras . de Agrometeorologla, 10, PiraCicaba, ringais de cultivo em Ubatuba (SP). Bragantia, 55(1):201-205, ] 996.
1997, p.77-79.
l
Agrometeorologia - 475
474 - Pereira, Angelocci e Sente/lias

REIFSNYOER, yv.~.; FURNrvAL, G.M.; HOROWITZ,J.L. Spatial and tempora l di stribu tion
P EZZOPANE, ).E.M.; PEDRO )R., M.).; PEZZO PANE, ). R.M.; ORTOLANI, A.A.; of solar rad13hon bem'ath forcst canop ies. Agric. Mcteoro/.,9 :21-37,1971.
SENTELHAS, r.c. Estimativa da temperatura média em estu fas com cobertura p lásti- RIBE.fRO, ~.N.G.; SALA TI, E.; VILLA NOV A, N.A .; DEMÉTRIO, c.G.S. Radiaçiio solar
ca . In: Cong. Bras. de Agrol1leteorologia, 9, Cnmpina Grande, P8, p.5S-60, 1995a. dlspoIUvel em Manaus (AM) c sua l'elação com a duração do b rilho solar. Acta Alllazô~
PEZZOPANE, J. E.M .; SENT E LHAS, pc.; ORTOLAN l, A.A.; MORAES, A.V.C. Caracteri- rJico, 12(2):339-346, 1982.
zação da ch uva h orária em três locais do Estado de São Paulo: um subsídio <\0 p lane- RICH, .p.~.; CL,,?RK, .0 .8 .; CL.ARK, O .A.; OBE ~ BAUER, S.E Long- lenn study o f solar
jamen to de operações agrícolas de campo. Scientia Agrícola, 52(1):70-77, 1995b . rad lahon reglmes 111 a tropical wet forest US111g quantum sensors and hemis pherical
PEZZO PANE, ).E.M.; PEZZOPANE, ).R.M.; 5ENT ELI-IAS, Pc.; PED RO )R., M.).; photograph y. Agric. For. Meteoro/., 65:107-127,1993.
ORTOLANI, A.A. Duração do p e ríodo de molhamento foliar no interior de estufas RI]K~, D.; CIESL A, W.M.. M eteorologie.et il1~end ies deforêls. WMO/FAO, 1992, 433p.
p lásticas. In : Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, 9, Ca m pina Gra nde, PB, p .316- ROB ~ RTSON , G .W. A blOme teorologlcal hme scale for a cereal crop involv in g day and
318,1995c. mght temperatures an d photoperiod. In!. JOllrnal Hiometeor., 12:191-223, 1968.
PEZZOPANE,J.E.M.; PED RO JR., M.J.; O RTOLAN I, A.A.; MEYER, N. Radiação líq uida e ~O Bl NSON, N . Sofar radiatiolt. Elsevier Publ. Co., Amsterdam, 347p. 1966.
tempe ratu ra de folha no interior de e stufa com cobertura p lástica, durante o p eríodo OSE NBERG, N .J.; BLAO, B.L.; VERMA, S.B. Microclimate - Tlle biological envirOlllllellf
noturno . Revista Brasifcira de Agrometeorologia, 3: 1-4, 1995d . . New York: John Wiley & Son s, Ine. 1983, 495p. .
PEZZ OPANE, f.E.M. ; CUNH A, G.M .; ARNSHOIZ, E .; COSTA LONGA JR., M . Tempera - ROS ENBERG, N.] .; MCKr:NNEY, M:S.; M,,?RTTN, P. Evapotranspiration in a greenhouse
tura do sol o e m f unção da cob er t ura morta por palha de café. Rev. Brasileira de - warmed world: a revlew and slmula h on. ;lgric. And Forest Metcorology 47'303-320
Agrollleteorologia, 4(2):7-10, 1996. 1989. ,. ,
P EZZOPANE, j.R.M.; PED RO j R., M.).; 5ENT ELI-I AS, P.C; MORA ES, S.A.; GODOY, 1.). ROSENZWEIG, C; HI LLEL, D. Climate Change and the Global Harvesf: Poten tial Impacts
Precipitação pl u viomét rica e intensidade da mancha preta em amendoim . Fitopatologfa of the Grr~e~house Effec.t on Agriculture. Oxford Univ. Press. 324p. 1998.
Brasileira, 21(4):426-430, 1996. ROSS, J. Radmhve t ransfer 111 plan t communities. In: ]. L. Mon tei th (Editor), Vegetation
PEZZOPANE, ) .R.M. Precipitação pluvial e épocas de pulverização para controle das manchas and the Atm osphere, v. 1. Principies. Academic P ress, New York, 278p . 1975.
foliares (Cercospo r a a rachidicola e Cercospor idium p ersona t um) do amendoim. ROTEM, J. ; PALTI, 1. Ir r igation and plant diseascs. Anl1ual Review Of Phy/opatllOlooy 7' 267-
Piracicaba: ESA LQ/USP, 1997. 74p. (Disser tação de Mestrado). 288,1969. 'J Co ' •
PINKER, R.T.; THOMPSON, O .E.; ECK, T F. The a lbedo of a tropical evergreen forest. RUTTER, A.J.; MORTO~, D) .; ROBINs, P.c. A pred ictive model of rainfal1 i n tercepti o n
Qllart. foumal ofthe Royal Met. Soc ., 106:551-558, 1980. by f?rests, 11. Cenerahzatlons of the m odel and comparisons with observations in some
P INTO, H.S.; ALFONSI, R.R. Estimativa das temperaturas méd ias, máximas e mínimas _ cOlllferous an~ hardwood~.t ands. foumal of Applied Ecology, 12: 367-380, 1975.
men sais no Estado do Paraná, em função de altitude e lati tud e . São P aulo, USP - Insti- sA, TO.A.; ARAUJO, A.C.; MULL ER, M .R.F.; H OLSCHER, O.; BASTOS, TB. Chuva sob
tuto de Geografia, 1974. 28p. (Caderno de Ciências da Terra, 52). dossel ao longo de sucessões vegetais: capoe iras do n ordeste do Pará. In: Cong. Bras.
PINTO, H .S.; ORT OLANI, A.A.; ALFONSI, R.R . Estimativa das temperaturas médias de Agrometeorologia, 11, Florianópolis, CR-ROM, 1999. <
mensais no Es tado de São Paulo, em função de altit ude e la titu d e. São Pa u lo , USP - SANs,. ~.M.A. R~cos Climáticos para a cultura d o milho n os Estados de Minas Gerais,
Inst itu to de Geografia, 1972. 20p. (Caderno de Ciências da Terra, 23). GOlas, Tocan h ns, Mato Crossoe Mato Crosso do Sul. In: Cong. Bras. de Agrometeorolosin
POLA, A .C.; ANGELOCC I, L.R. Avaliação de m o d elos de estimativa do número d iário de 10, Piracicaba, 1997, p.357-359. -
horas de frio para o Estado de Santa C ata rin a . Revista Brasileira de Agrometeorologia, sEL LERS, W.O . Physim! Clímatology. Uni~. ofChicago P ress, Ch icago. 1965. 272p.
1:105-116,1993. sENTELHAS, P.c.; PEDR? JR., M .f.; F~L.ICIO, J.C Estimativa da duração do pe ríodo de
PRA DOS, N .C. Contribuiciól1 ai estudio de los cultivos enarenados eJ1 Almeria: necessidades molhamento para o trigo. Rev. BrasTlel/"a de Agrometeorologia 1'117-122 1993
hídricas y extraciól1 dei nutrientes dei cultivo de tomate de crescimiento indeterminado en SENTE LHAS, P.c.; CAMARGO, A.P.; CAMARGO, M.B .P. ; ALFONsI, R. I~. Um ~éculo d e
abrigo de poliet ileno. Alm eria, 1986. 195p . (Te sis Ooctoral) . dcsmatamen.to: efeitos no regime térmico, pluvial e no balanço hídrico e m Campinas,
PRI EsTLEY, C. H .B.; TAYLOR, R.J. O n th e asse ssment of surface heat flux a n d evapo ration SP. Rev. BrasileIra de Agrollletcorologia, 2:99-103,1994.
using large-scale parameters. Month/y Wealher Rev. 100:81-92, 1972. SENTELHAS, p.~ . ; NOGUE ~ RA, S.S.s.~ PEDRO ]R., M .].; SANTOS, R.R . Tcmpc ratura-
PRIMAULT, B. O 'une application p ratique des ind ices biométéorologiques. Agricultural b ase e graus-d1a para cultivares de girassol. Rev. Brasileira de Agrometeorologia 2'43-49
Meteorology, 6(2):71-96, 1969. 1994. , . ,
P UZZI, D.; CAM A RGO, A.P. Estudo sobre a possibil ida de de adaptação climática da SENTELHAS, p:c.; SANTOS, A .O. Cultivo protegido : aspectos microclimáticos. Revista
Orth e zia p raelonga D ouglas, nos pomares de cít ricos do Estado de São P au lo. O Bioló- Bras. de HortlCllltura Omamental, 1(2):108-115, 1995.
gico, 29(5):81-85, 1963. SEN T_E~ H AS , P.c.; ORTO~AN I , A.i\.; P EZZOPANE, J.R.M. Estimativa da temperatura
REAO, R.G. Mi croclimate as b ackground environmcnt fo r ecological st udies of insccts in mill1ma de relv.a e da diferen ça de tempera tura entre o abrigo e n relva, e m noit es de
a tropical farest . f Applied Meteorol., 16:1282-1291, 1977. geada . Braganfm 54 (2):437-445, 1995a.
!\ REICHARDT, K. Processos de tTlll1sferência no sistema solo-pLanta-atmosfera. 4a ediçã o. Cam- SENTE!- ~-lAS, P.C:.; FAZUOLl, L. c.; PEZZO PANE,].R.M. Temperatura letal de diferen tes
p inas, Fu n dação C argill, 1985.466p. espcoes e denvados d e hlbrido interespecífico de café. In : COl1g. Bras. de Pesq. Cafeeirns
I REICH ARDT, K. A água em sistemas agrícolas . 2. ed. São P a u lo: Ed . Manolc, 1990. 188p . 21 . Resumos. 1995b. '
RE IC H AR DT, K .; ANGELOCCI, L.R. ; BACC H l, 0 .0.; P ILOTTO , J.E. D a ily rai n fall S E N: ELHA~, P C; ~EZ.ZOPANE, 1.R.M.; UNGARO, M.R.; e t aI. Aspectos climáticos rela -
var iab ility at a local scale (1000ha), in P iracicaba, S P, Brazil, and its implica tions o n CIOnados a ocor rencla da mancha de A lternaria em cultivares de gi rassol. FilOp. Bras
soil wa ter recharge . Scientia Agricola, 52(1 ):43-49, 1995. 21(4),464-469,1996. . .,
476 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologi<\ - 477

SENTE LHAS, P.c.; PEREIRA, A.R.; MARIN, F.R.; MARCH I, J.L. Agrocl ima tic method to STANGHE LLlN L C. Evapotransp iration in grcen hollse wit h specia l refercnce to
determ ine maturity zones af avocado and citrus in the state of São Paulo, Brazil. In : Med iterranean conditions. Acta Nortiwltllrae, 335:295~304, 1993.
Reun ião In tera m. Horl. Trap., 42, Curitiba, 1996. p.449. STANHJLL, G. Evaporation, Tra nspiration and Evapotranspiration: a case for Ockharn's
SENTE LHAS, P.C.; PIZA JÚNIOR, c.T.; SIGRISTI, 1.M.M.; ct aI. Temperatura letal de dife- r azor. In: A. Hadas, D. Swartzendruber, P.E . Rijtema, M . Fuchs, êlnd B.Yaron~ Physical
rentes p lan tas fru tífera s tropicais. Bragalltia, 5S(2):231-235, 1996. Aspects of Soil Water atld Salls in Ecosystems. Springer ~ Verlag, Berlin, 460p. 1973.
SENTELHAS, P.c.; COELHO FILHO, M .A.; PEREIRA, A.R. Método agrometeorológico STANH ILL, G.; FUCHS, M . The relative flux densi ty ofphotosynthetica lly êlctive tadiatio n .
de estimativa d a época mais adequ ada para a indução floral do limão 'Tahiti' n o Esta- J. Appl. Ecol., 14,317-322, 1977.
do de São Pa ulo. In : Cong. Bras. de Agrometeorologia, 10, P iracicaba, p.41-43, 1997. STIGTER, C ] .; MUSA BI LHA, Y.M.M. The conserva tive ratio o f p hotosynthetica lly acti ve
SENTE LHAS, P.c.; P EREIRA. A R. Zonas agroclimáticas d e m atu ra ção para a produção to total rad iation in the tropics.] Applied Eco/., 14:853-858, 1982.
de u vas de mesa n o Estado de São Pau lo, I:) rasiL In: HeuI1í611 Argentilla y Latinoal1lericrl/U/ SUTTON, J.C.; G ILLESPIE, T.J.; H ILDEBRAND, P.D. Monitoringweather factor5 i t,\ relation
de Agrometeorologia, 7 /1, Ac tas, 1997, SI, p.17-18. to p lant d isease. Plant Disease, 68(1):78-84, 1984 .
SENTE LHAS, P.c.; MORAES, 5.0.; PI EDADE, S.M.S.; PEREIRA, A.R.; ANGELOCC I, L.R.; SZEICZ, G . So lar radiation for plant grow th.]. Appl. Eco/.,1l:6 17-636, ]974.
MARl N, F.R. Análise comparativa de dados meteorológicos obtidos po r estações con- TEIXEIRA, A.H.C; AZEVEDO, P.V.; SILVA, E.B.; SOARES, J.M. Balanço de e ''\ergia na
vencional e automática. Rev. Brasileira de Agrol1leteorologia, 5(2):215-221, 1997. cultura da videira, cv. Itália . Rev. Brasileira de Agrometeorologia, 5(2):143-146,1997.
SENTELHAS, P.c.; VILLA NOVA, N.A.; ANGELOCCI, L.R. Efeito de diferentes tipos de T H OM, H .CS. Some methods of clima tological ana lys is. Roma, FAO, 1966. SOp. (FAO.
cobertura, em mini-es tufas, na aten uação da radiação solar e da luminosidade. In : Tec:hnical Notes 81).
COflgresso Brasileiro de Agrometeorologia, l a, Piracicaba, 1997. p.479-481. THOMÉ, V.M.R.; ZAMPIERI, S.L.; BRAGA, H.J.; et aI. Zoneamento para as culturas do
SENTELHAS, P.C; CRUCIAN I, D.E.; PEREIRA, A.S.; VILLA NOVA, N.A. Distribuição feijão, arroz irrigado, sojá, milho em Santa Ca tarina. In: Cong. Bras. de Agrometeorologia
horária de chuvas intensas de curta duração: um subsídio ao dimension amento de 10, Piracicaba, 1997, p.324-335. '
projetos de drenagem supe rficial. Rev. Brasileira de Meteorologia, 13(1):45-52, 1998. THORNLEY, J.H.M . Respiration, growth and maintenance in plants. Nature, 227:304-305
SENTELHAS, P.c.; COELHO FILHO, MA; VIL LA NOVA, N.A.; P EREIRA, A.R.; 1970. '
FOLEGATTI, M.V Coeficien te do tanque classe A (Kp ) para a estimativa diária da THORNTHWAITE, C.W. An approach toward a rahonal classifi ca tion o f clima te. Geogr
eva potranspiração de referência. In: Coug. Bras. de Agrometeorologia, 11, Florianópolis, Review 38:55-94, 1948. .
CD-ROM,1999 . THORNTHWAITE, C.W.; MATHEH,j.R. Thewater balance. Publica/iolls i/l ClimatOlogy, New
SENT E LHAS, P.C; P EREI R A, A.R.; MARIN, ER. et aI. Balallços Hídricos Climatológicos do ]ersey, Drexel Inst. of Tcchnology, l04p. 1955.
Brasil. DCE /ESALQ / USP, 1999. CD-ROM. TITO, E.A .L. Clima: Influência na produção de leite. In : Simpósio Brasileiro de Alllbiêllcia na
S HUTTLEWORTH, J.W. Eva poration models in Hydrology. p 93-120. In :T,]. Schmu gge Produção de Leite, 1. Piracicaba, 1998, p.l0-23.
a nd j.C André, Land Surface EvaporatioH: Measuremcnt and Para rneterization. 1991. TUBELIS, A.; NASCIMENTO, EL. Melt~Orologia descritiva. Ed. Nobel, 1980. 374p·
S H UTTLEWORTH, W.J.; GAS H , j .H.C.; LLOYD, CR.; et aI. Observations of rad iatio n VNGARO, M.R. G.; SENTE LH AS, P.c.; TU RATI, ].M.; SOAVE, D . Influência di! tempera_
exch a n ge above and below Am azonian fores t. Quart.]. R. Mel. Soc.,110 :11 63~1169,1984. tura do ar na composição de aquênios de girasso 1. Pesq. Agrop. Brasileira, 3:2( 4):3S1 ~
S ILVA, E C.; FOLEGATTI, M.V.; MAGGIOITO, S.R. Aná lise do fu ncio name nto d e um 356, 1997.
Iisimetro de pesagem com célula de carga. Rev. Brasileira de Agrometeorologia, 7(1):53- VALLI, V.S. Princípios básicos relativos 11 ocorrência de geadas c sua prevenção. Rio de Janei ro
58, 1999 . M.A.: - Depto. Nac. Meteorologia. 1972, 22p. '
S ILVEIRA NETO, 5.; NAKANO, O .; BARBIN, D.; VILLA NOVA, N.A. ManHal de ecologia VARE]AO-S ILVA, M. A. Meteorologia fI climatologia. Brasília: Inmet, 2000. 515p.
dos insetos. São Paulo: Ed . Agronômica Ceres, 1976. 419p. V IANELLO, R. L.; ALVES, A.R. Meteorologia Básica e Aplicações. UFV, 1991. 4491"
SINUN, W.; MENG, w. W.; DOUGLAS, 1.; sPENCER, T. Tllrougllfall, slemfIolV, overlalld flow VIEIRA, A.R.R., et a1. Determinação da lemperatura basal e somas té rmicas ei1) pepino
and througllf1ow il1 the U/u Segama raitl forest, Sabah, Malaysia. PhiJ. Transc. Royal Soco para conserva, cultivar Gi nga. Pesq. Agrop. Brasileira, 27(6):857-864, 1992.
London, 335(1275):389-395, 1992. VIEIRA, V.CB.; CURY LU NARD I, D .M. Graus-d ia na cu ltura do arroz. In: COllg. Bras. de
SMITH , L.P. Methods in Agricultural Meteorology, 1975. Agrometeorologia, 10, 1997, Piracicaba, pA7-49.
SMITH M. Report on the e xpert consultation on revision o f FAO meth odologies for crop V ILLA NOVA, N.A.; OMETTO, j.C; SA LATI, E. Aspectos termodinâmicos da atmos fera.
watcr requirernents. Rome, FAO, 45p. 1991.Thom H CS. Some methods of dimatological Boletim DidátÍCo CENA, 1972. 25p.
analysis. World Meleorological Organizatioll Note 81. Geneva, 53p. 1966. VILLA NOVA, N.A.; Pedro Ir., M.].; Pereira, A.R.; Ometto, 1.C. Estima tiva de graUS-dia
SNYDER, R,L. Equation for evaporation pan to cvapotranspiration co n versions. ]oumal acumulados acima de qualquer tempe ratua base, em fun çã o das temperaturas má)(i~
Irrig. Al1d Drainage Eng. 118: 977-980, 1992. ma e mÚli ma. Caderno de Ciências da Terra, 30:1-8, 1972.
SOUZA, A. Avaliação agroclimática para o manejo da cultu ra do arroz, para as microregiões do YOCUM, es.; ALLEN, L.H.; LEMON, E.R. Photosynthesis under fie ld conditions. 11 _
Triângulo Mineiro e Alto Parallafba. Viçosa: UFV, 1989. 91p. D issertação (Mestre em Sola r radiation balance and photosynthesis e fficiency. Agron. ].,56:249-253,1964.
Meteorologia Agrícola). WANDERLEY, P.A.; RAMALHO, ES. Biologia e exigências té rmicas de CnlolacCl/s gran dis
SOUZA, A.; OLIVE IRA, CR.; LAURETTO, M. Análise de um ca len dário d e c ulti vo do (Burks) (Hymenoptem: pterol1lalidae), pa rasitóide do bicudo-do-algodociro. Pesq. Agropec.
a r roz irrigado em Dourados, MS. In: Cong. Bras. de Agrometeorologia, 7, 1991, Viçosa, Bras ., 31(4):237-247, 1996.
p.46. WEISS, A.; NORMAN, l .N. Partitioning solar radiatio n into direct and diffuSQ, v isib l e
SOUZA, 1.L. Irradiância solar n o litoral do nordeste: avaliação preliminar. In: Congresso anel near-infrared components. Agric. For. Metcorol.,34:205-2 13, 1985.
Brasileiro de Agrolllefeorologia, 10, Piracicaba, 1997. p.457-459.
.-
478 - Pereira, Angelocci e Sentelhas

W IENOL, F.; ANGELOCCI, L.R. Regime de ventos na região de P iracicab a, SP - Análises


da direção, da relação de velocidades na v e rtival e de ventos d iurno e notu rno . Relató-
rio FAPESP. 1995, 60p .
WIL LMOIT, C l. ; ROWE, CM.; M INTZ, Y. Climatology of the terrestri<ll seasonal water
cycle. jounral Df Climatolo,,?Y, 5:589-606, 1985.
~W I SCHMEIER, W.H.; SMIT H, O.D. P redicti n g rainfall erosion losses - a guide to
conservation plannin g. Washington, V.S. Dep t. Agric., 1978, S8p. (Agric/llture Halldbook
No. 537). .
WMo. P rotection o f plants agains t adverse weather. Teclmical Note No.IS . 1971. Mp .
WO]C IK, W. Acfa Urliversitatis Nicolai Coper'lIici, 76;65-80, 1991 (Abstracts).
WREG E, M .S .; GONÇALVES, S.L.; CARAMORl, P. H .; et aI. Regionalização e épocas de
semead ura das culturas do feijão, milho, e algod ão no Estad o do Paraná. In : Cong.
Bras. de Agrometeorologia, 10, Piracicaba, 1997, p.306-323.
ZAH LER, P.M. et aI. Previsão agrometeorofógica 110 controle de doenças e pragas dos vegetais.
MARA, 55p ., 1989 .

/
r.> '

Este livro descreve os fundamentos de


meteorologia e climatologia e as suas aplicações
na agropecuária. Os capitulos in,iciais abordam
aspect?s físicos da atmosfera, seguidos por
capítulos em que se descreve as interações dos
elementos meteorológicos com o meio biótico.

o objet{vo é fornecer conhecimentos b ásicos e


aplicados para a análise e compreensão das
relações entre o ambiente e as atividades agrícolas,
v isando à maxir..nização da exploração dos recursos
naturais, porém, ~onsciente da necess idade de
preservação do ambiente para gera~ões fururas.

Em .pri~€ípio, oítto destina-se a estudantes e


profissionais da área de ciências agronômicas. No
entanto, espera-se que ele sirva, também, de
referência para estudantes e profissionais de áreas
correlatas, como meteorologia" geografia,
ecologia, enge nharia ambiental, gestão de recursos
naturais, entre outra's .
I .

o livro Agrometeorologia foi composto em


Bo ok An tiqua, corp o 12/ 15, por CornTex to Editoração Ele trô n ica pa ra
Liv raria e Editora Agropecu ária

Você também pode gostar