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.-
Antonio Roberto Pereira
• Engenheiro Ayronõmo (1968,
Esalq/USP);
• MS e PhD em Microme-
Luiz RObert~og~~~~~~'~(~'973
Capa: 1ll l'm n6mico, p autou seu crescimento simplesm entc pela subs-
Foto: cortesin revistn A Grnnjn 111 ti iç"0 dc florestas e campos por cultivos n ecessários ao a ten-
Lumertz Gráficn Expressn d imcnto das n ecessid ades alimentares da nova população .
I,s ti ma-se qu e, até o momen to, mais de 90% d a Floresta Atlân-
Projeto gráfico, editoração e revisão: ti ca, m ais da metade dos cerrados, e mais de um sexto da Flo-
Com Texto Editornção Eletrônicn res ta Amazôruca tenham sido utilizados em nome da produ-
ção de alimentos, energia, e fibras . Apesar de cinco séculos de
ex ploração, a fronteira agrícola continua a se exp andir p elas
mesmas práticas, ou seja, derrubada, queimada, e implanta-
CAT ~LOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO ção d e monocultivos, que, em muitas situações, são logo aban-
Ficha de catalogação e laborad8 donados, deixando um rastro de degradação ambiental.
I n ~' M .' d ' por
S ,"10 c GOS pcl'i n CRB;-IO-733
A agricultura é um sistema tecnológico criado p elo ho-
P436a mem, e há n ecessidade de se entender sua p erspectiva ecoló-
r I' iJ'a, An tonio Roberto
~~"OIl1CI COl'ologia : (unda mentos e aplicações g ica. É preciso reconhecer também que essa mesma tecnologia
prl Ircns / I\ ntonio Ro berto Pereira L . R" b conseguiu reverter áreas naturalmente improdutivas em cam-
i\ "1'c1 ) . I' I ' Ul Z
, (CC I, au o Cesar Sentelhas - G 'b o. erto pos fé rteis, mas com enfoque apenas na produção, sem p ers-
!\g ro" ccu6rié1, 2002. . uar a.
pecti va conservacionista . Com a crescente tendência na tenta-
~ 78 p .
Iiva de se minimizar os efeitos adversos da explora ção agríco-
ISIJN 85-85347-7 1_6 1., sobre o ambiente, com os consumidores impondo restrições
I' ,'spccificando condições de produção de alimentos, o plane-
'I . Âg rOI1W ll'OI'o lol l in I 1\ 'I . 1,"" L'l1tO d o uso da terra com base nos asp ectos cli máticos pro-
II Senl ,li I" I " . ngc OCC I, Lui z " oberto
. l n ~, ,lLJ o 'SOr' 111. t. ,',,,,,, fo rnecer elementos p ara desenvolvimento da agricultura
tl llHIl' l1tável. Os conceitos aqui apresentados e discutidos são
_ ______________-=J)=--=u~G:·,j I:"fi 1.5 rUlllla ll1cl1tais para que o equilíbrio entre aumento da produ-
Sumário
CAPÍTULO 11. REGIME RADIATIVO DE UMA VEGETAÇÃO CAPÍTULO 14. BALANÇO HÍDRICO DE CULTIVOS
11.1 Introdução ............................................................................... 197 14.1 Introdução .. .. ............................. .. ............................................ 269
11.2 Interação com a Vege tação .......... .. ............ .. ................ ......... 199 14.2 Determinação da CAD .............. ...... .. .... .. ............................ .. 271
11.3 Regime Radiativo Acima da Vegetação .............................. 200 14.3 Elaboração do Balanço Hídrico de Cultivo ....................... 276
11.4 Regime Radiativo Dentro da Vegetação ............................. 206 14.4 Balanço Hídrico para Controle da Irrigação ...................... 279
11.5 Balanço de Radiação Acima de uma Vegetação ................ 210 14.4.1 Roteiro para Monitoramento da Irrigação .. ....................... 281
" 14.5 Exercícios Propostos .............................. .............. .. .. ............ .. 287
CAPÍTULO 12. EV APO(TRANSPI)RAÇÃO
12.1 Introd ução ............................... .. .... ............ ............................ .. 213 CAPÍTULO 15. CLIMATOLOGIA
12.2 Definições ................................................................................ 213 15.1 Introdução .. .. ........... .. ........... .................. ................ .. .............. . 289
12.3 Determinantes da ET ............................................................. 219 15.2 Fatores do Clima ......... .. ................................ .. ....................... 290
12.3.1 Fatores Climáticos .................................................................. 220 15.2.1 Fatores do Macroclima ........... ............................................... 290
12.3.2 Fatores da Pl anta .......................... .. ........................................ 220 15.2.2 Fatores do Topoclima ............ .. .............. .. .......... .. .................. 300
12.3.3 Fatores de Manejo e do Solo ................................................. 221 15.2.3 Fatores do Microclima .................................................... .. ..... 30;
12.3.4 In ter-relação Demanda Atmosférica - 15.3 Climograma ............................................................................ 30
Suprimento de Água pelo Solo .................. .. ........................ 222 15.4 Classificação Climática ...... .. ................ .. ............................... 303
12.4 Medida da Evaporação e da Evapotranspiração .............~ 15.4.l.Classificação de Kbppen ............................ ........ .. ................. 304
12.4.1 Evaporação ........................................................ .. .................... 223 15.4.2 Classificação de Thornthwaite ............................................. 308
12.4.2 Evapotranspiração .. ............................ ................................... 226 15.5 Mudança, Variabilidade e An omalias do Clima ............... 313
12.5 Estimativa da Evapotranspiração Potencial 15.5.1 Mudança e Variabili dade do Clima .. .. .. ............................ .. 313
(ETP oU ETo) ................................................... .. ...................... 227 15.5.2 Anomalias Climáticas .. .. .. ..................................................... 318
12.6 Critério para Escolha de Método de Estimativa da ETP . 241
12.7 Evapo(transpi)ração no Interior de Estufas Plás ticas .... .. 242 CAPÍTULO 16. TEMPERATURA COMO FATOR
12.8 Exercícios Propostos .......................................... .......... .. 245 AGRONÔMICO
16.1 Introdução ............................................................................... 321
CAPÍTULO 13. BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO 16.2 Temperatura e Produtividade Anima!.. ...... .. ...................... 321
13.1 Introdução .. ..................................................... .. ........... 247 16.2.1 Conforto Térmico ....................................... .......................... .. 323
13.2 Elabo ração do Balanço Hídrico Clima tológico ................. 251 16.2.2 Índices de Conforto H igro-Térmico para Animais .
13.2.1 Determinação da CAD .......................................................... 253 Homeotermos .................. ................................................. ...... 325
13.2.2 Roteiro para a Elaboração do Balanço Hídrico 16.3 Temperatura e Produtividade Vegetal .......... .. ............. .. .. .. . 328
Climatológico ...................................................... ................... . 253 16.3.1 Temperatura e Dormência de Plantas de
13.2.3 Inicialização do Balanço Hídrico Climatológico N ormal 247 Clima Temperado ..................................... .. ............................ 328
13.2.4 Aferição dos Cálculos .... .. .............................. ............. .. ........ . 259 16.3.2 Temperatura do Ar e Desenvolvime,;to de Plantas ......... 331
13.2.5 Representação Gráfica do Balanço Hídrico .... ................... 260 16.3.3 Determinação de Zonas de Maturaçao ......... .. ............ .. ...... 338
13.3 Aplicações do Bal anço H ídrico Climatológico ................. 262 16.3.4 Temperatura do Ar e Desenvolvimento de Insetos .......... 341
13.4 Balanço Hídrico Climatológico Seqüencial .............. ......... 263 16.3.5 Temperatura e Outros Processos Vegetais ......................... 343
13.4.1 Aplicações do Balanço Hídrico Clima tológico 16.4 Aplicação de Defensivos .... .. ............................. .................. .. 346
Seqüencial ............................................................................... 264 16.5 Exercícios Propostos ............................................................ .. 347
13.5 Exercícios Propostos ... .. ........................ .. .... .. ......................... 267
16 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia -17
\
I
I
Capítulo 1
Introdução à agrometeorologia
1.1 INTRODUÇÃO
Meteorologia trabalha com valores instantâneos enquanto a o p laneta Te rra pode ser comparado a uma gigantesca
Clim atologia utiliza valores médios (de longo período). fabrica que contém toda a matéria-prima necessária para sua
Tendo como critério a influência das condições atmosfé- produção, e a en rgia para os di versos processos é provida
ricas sobre as atividades humanas, a Meteorologia possui di- diariamente p elo so l. A ca ptação d a energia solar é feita pelas
visões especializadas com objetivos bem facadas send o uma plantas e algas qu e, pelajotossfntese, trans formam-na em pro-
delas a Agrometeorologia (ou Meteorologia Agrícola), voltada para dutos necessários à manutenção da vid a na presente forma.
as condições atmosféricas e suas conseqüências no ambiente Evid entemente, d entro des ta " fábri ca" ex istem inúmeros de-
rural. partamentos, que são os grand es sis te mas ecológicos n aturais.
As condições climatológicas indicam o tipo de atividade Cada departamento é constituíd o p or di ve rsas seções, que são
agrícola mais viável de um local, e as condições meteorológicas agrupamentos de indivíduos, nem sempre da mesma esp écie.
determinam o nível de produtividade para aquela atividade, Em geral, quanto mais próximo do eq uador terres tre, maior o
em um certo período, além de interferir na tomada de decisão número de espécies presentes, isto é, maior a biodiversidade
com relação às diversas práticas agrícolas. natural, em função do ambiente.
o ritmo da disponibilidade de en ergia e de água de uma O ciclo vital dos fitopatógenos é con stituíd o por fa ses
região d e termina o seu potencia l de produtiv idade agrícola. A típi cas, e n o caso d e fungos, por exemplo: pré-penetração, p e-
en ergia radiante, a temperatura e a um idade afetam o desen- n e tração, pós-invasão, e liberação/ disp e rsão de esp oros. Com
volvimen to e o crescimento dos vegetais, dos inse tos e dos mi- exceção da pós-in vasão, as o u tras fa ses, por ocorrerem fora d a
crorganismos. A produção d e biom assa está diretamente rela- planta, são totalmente d ep end entes das co ndições ambienta is,
cionada à disponibilidade energética no meio, que condicion a pois temperatura e duração do HlOUlamento da parte aérea
a produtividade potencial de cada cultura. A estimativa da das plantas - por orvaUlo ou c hu va - são essencia is para a
potencialidade produtiva d as culturas e m uma região é feita germ.inação dos esporos e s ua penetração nos tecidos vege-
com modelos agroc/imáticos, que também p odem ser vir de sub- ta is. O vento e a chu va atuam como agentes de dispersão car-
sídio p ar a a previsão de safras. regando esporos, além d e o vento causar lesões nas plantas,
A duração das fa ses e d o ciclo de desenvolvimento d os por atrito e agitação, e d e favo recerem a penetração de patóge-
vegetais e d os insetos é condicionada pela temperatura, e pelo nos nos tecidos. Conhecendo-se os efeitos d esses elementos
tempo que ela permanece dentro de limites específicos. Um condicionantes das infestações, pode-se inferir a existên cia de
índice bioclimático que tem sido usa d o para estudar essa rela- condi ções ambientais favoráveis ou n ão para ocorrência de
ção é denominado de graus-dias, ou seja, quantos graus d e tem- pragas e de doenças, co m o base para seu controle e orienta ção
p era tura ocorreram durante um dia e que efetivamente con- quanto a esquemas de alerta fi tossa" itários eficien tes, econ ômi-
tribuíram de maneira positiva para o metabolismo do orga- I ca e ambientalm e nte, e d e a pl icação d e defen sivos agrícolas.
nismo considerado. O efeito térmico é fundamenta l para a pro- A disponibilidade de água depende do balan ço entre
dução das frutíferas de clima tempera d o, que n ecessita m en- chuva e evapotranspiração, sendo esta última dependente das
trar em repouso durante o inverno, e para ta l exigem certo condições da superfície (tipo de cobertura, tipo de solo) e da
número de horas de frio, para quebrar a dorm ência das gemas e demanda atmosférica (disponib ilidade energética, umidade d o
retomarem o crescimento vegetativo e o desenvolvimento após ar, e velocid ade do ven to). A disponibilidade hídrica no solo
o inverno. O fotoperÍodo (número máximo possível de horas de pode ser quantifi cada pelo balanço hídrico climatológico, eviden-
brilho solar) é outro condicionante ambiental que exerce in- ciando as flutu ações temporai s de períodos com excedente e
fluên cia n o desenv olvimento das plantas, p ois a lg umas espé- com deficiência, p ermitindo pl anejamento das atividades agrí-
cies só iniciam a fase reprodutiva quando da ocorrência de colas. Também o teor d e açúcares, a qualidade de bebida e de
um valor crítico de fotoperíodo por elas exigido. O ritmo anual fibras e o aspecto dos frutos são afetados pelas condições
desses elementos permite a escolh a de melhores épocas de se- ambientais. As exigências h.idricas das culturas e su a relação
meadura, visando a aju s tar o ciclo das culturas anuais às me- co m as con dições ambientais embasam o suporte ao planeja -
lh ores condições locais d e clima, minim iza ndo-se riscos de ad- m ento e qu antificação da irrigação.
versidades meteorológicas, para que expressem sua potencia- As cond ições m e teorológicas representam fatores exógenos
lidade produtiva. que afeta m a fec undid a d e, o p eríodo de ges tação e, por ta nto,
J.
24 - Pereira, Angelocci e Sen telhas Agrom eteoro logi a - 25
a eficiência reprodutiva dos animais. Durante sua vida, o ani- . . Segundo Smith (1975), a "Me/eorologia Agrícola tem por
mal responde diretamente às condições físicas do ambiente, obJ eliv o colocar a ciência da Meteo rolog ia a se rviço da Agri-
que podem lhe causar estressefísico por excesso ou deficiência cultllra em todas suas form as face tas, para melhorar o uso da
de ch uvas, por temp era turas elevadas ou bai xas, por ventos terra, para ajudar a produ zir o máx imo de a lim entos, e a evi-
fo rtes e constantes. As condições de conforto térmico afetam tar o abu so irreversível dos recursos da te rra " . Tendo essa d es-
diretamente seu ganho de massa corporal (produção de car- crição em mente, o oujel ivo do prese nte tex to é fornecer conhe-
n e), bem como de outros produtos (leite e ovos), além da sua cimentos necessá ri os pa rn se a na lisa i' e entender as relações
qualid ade (lã) . Há também efeitos indiretos, causados pe lo cli- entre o ambi n te . as a ti vidad es agrícolas, procurando a
ma, sobre o crescimento das pastagens e surtos de doenças. maxi", izaç, o da ex plora ção econômica dos recursos naturais
po rém consciente da necessidade de preservação do ambien~
te para gerações futuras. .
1.4 OBJETIVOS E ATUAÇÃO DA
AGROMETEOROLOGIA
1.5 PERSPECTIVAS
Das atividades econômicas, a agricultura é - sem dúvi-
da - aquela com maior dependência das condições do tem po Com a crescente tend ência d e se minim izar os e feitos
e do clima. As condições atmosféricas afetam todas as e tapas adversos da explora ção agrícola sobre o a mbi ente, com os con-
das atividades agrícolas, desde o preparo do solo pa ra semea- sumidores impondo restrições e esp ecifica ndo cond ições de
dura até a colheita, o transporte, o preparo, e o a rma zenamento produção de alimentos, o planejamento do u so da terra com
dos p rodutos. As conseqüênci as de situações meteorológicas base nos aspectos forçantes do clima procura fo rnecer elemen-
adversas levam constantemente a graves impactos socia is, e a tos para desenvolvimento da agricultura sustentável. A deli-
enormes prejuízos econômicos, muitas vezes difíceis de se- rnitação da ap tidão das reg iões aos cultivos quanto ao fator
rem quantificados. Mesmo em regiões com tecnologia avan- cl un ~ res ulta n o ZOllealllellto I\groc/il1'/lÍtico. Essa delimitação
çada e com organização social suficiente p ara diminuir esses cltm a t1ca, Junta mente co m a a ptid ão edMica (so los), com põem
impactos, os rigores meteorológicos muitas vezes causam eno r- o Zoneamento Agroecol6gico (cl ima e so lo), que juntando-se ao
mes prejuízos econômicos. Como as condições adversas d o tem- levantamento das con dições s ocioecon ômica s, define m o
po são freqüentes e muitas vezes imprevisíveis a médio e lon- Zoneamento Agrícola, base p ara O planejamento racional do uso
go prazo, a agricultura constitui-se em atividade de grand e da terra.
risco. Exemplos são as ocorrências de secas prolongadas, os _ Desde a semeadura até a colheita, os tra tos cu lturais (apli -
veranicos (períodos secos dentro de uma estação úmida), as caça0 d e d e ~ens i v~s, irrigações, movimento de máquinas agrí-
geadas, e os períodos de chuva excessiva muitas vezes acom- colas, etc.) sao rea Ilzados em função das condições ambientais .
panhadas de granizo. Logo, a tomada el e dec isões e o planejamento de operações
26 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Capítulo 2
Definições e conceitos
cotidianas dependem do conhecimento das condições meteo-
rológicas prevalecentes. O acompanhamento diário dessas
condições e a utilização da previsão do tempo constitui-se em
ferramenta fundamental para a operacion alização das ativi-
dades agrícolas. A esse monitoramento diário da s condições
ambientais existentes e à elaboração de informes específicos
denomina-se de Agrometeorologia Operacional. Essa é uma ati- 2.1 CLIMA ETEMPO
vidade em que se procura estabelecer h armonia entre as con-
dições reinantes e as atividades n ecessárias para bom desem- A atmosfera é uma massa em continuo movimento e isto
penho econômico na prática agrícola. Essa é uma maneira prá- induz variações nas condições meteorológicas predominan-
tica de se reduzir o impacto agroambi ental imposto pela ex- tes em uma região. O estado da atmosfera pode ser descrito
ploração desenfrea da dos recursos na tUl·ais, na tentati~a de se por variáveis que caracterizam sua condição energética. Para
prover alimentos, energia, e fibras para uma populaçao cres- um local, essa descrição pode ser tanto em termos instantâne-
cente. os, definindo sua condição atual, como em termos estatísti-
Resumindo, a Agrometeorologia tem sua principal apli- cos, definindo uma condição média. Portanto, introduz-se uma
cação no planejamento e na tomada de decisôes em uma pro- escala temporal na descrição das condiçôes atmosféricas. De-
priedade agrícola, seja na produção animal ou vegetal, sendo nomina-se tempo à descrição instantânea, enquanto que a des-
ferramenta indispensável no processo produtivo rural. crição média é denominada clima. Logo, tempo é o estado da
atmosfera em um local e instante, sendo caracterizado pelas
condições de temperatura, pressão, concentração de vapor, ve-
locidade e direção do vento, precipitação; e clima é a descrição
média, valor mais provável, das condições atmosféricas nesse
mesmo local. Com a descrição climática sabe-se antecipada-
mente que condições de tempo são predominantes (mais pro-
váveis) na região e, conseqüentemente, quais ativid ades agrí-
colas têm maior possibilidade de êxito.
Clima é uma descrição estática que expressa as condições
médias (gerahnente,mais de 30 anos) do seqüenciamento do tem-
po em um local. O ritmo das variações sazonais de temperatura,
chuva, Uluidade do ar, etc., caracteriza o clima de uma região. O
período mínimo de 30 anos foi escolhido pela Organização
Meteorológica MW1dial (OMM) com base em princípios esta tis-
I I
ticos de tendência do valor médio. Desse modo, inclui-se anos umidade relativa, pressão, velocidade e direção do vento, pre-
com desvios para mais e para menos em todos os elementos do cipitação. Esse conjunto de variáveis descreve as condições
clima. Ao valor médio de 30 anos chama-se Normal Climatológica. atmosféricas em um dado local e instante.
A Figura 2.1 mostra a variação anual da temperatura do Fatores são agentes causais que condicionam os elemen-
ar próximo da superfície (~1,5m ac ima do solo) e da chuva na tos climáticos. Fatores geográficos tais como latitude, altitude,
região de Piracicaba, SP. É uma visualização do ritmo desses continentalidade /oceanidade, tipo de corrente oceânica, afe-
elementos climáticos ao longo do ano. Provavelmente, nunca tam os elementos. Por exemplo, quanto maior a altitude me-
ocorreu um ano igual ao normal, mas esta é a descrição d , ores a temperatura e a pressão. A radiação solar pode ser
seqüenciamento das condições mais prováveis na região. Por- tomada ou como fator condicionador ou como elemento depen-
tanto, em termos médios, a tempera tura da região varia entre dente da latitude, altitude e época do ano.
o mínimo de 10 °C, em julho, e o máximo de 30 °C, em feverei-
ro. Com respeito à chuva, o período primavera-verão (out. -
mar.) contribui com 78% do total anua l. O período menos chu- 2.3 ESCALA TEMPORAL DOS FENÔMENOS
voso corresponde aos meses mais frios. Portanto, O clima de ATMOSFÉRICOS
Piracicaba, SP, apresenta verão chuvoso e quente, e inverno
ameno e seco. A face da Terra voitada para o Sol (dia) está sempre mais
quente que a face oposta (noite). Com o movimento de rota-
,~::~-=::l
"Lsfj
___ .'-,._ .._
"' ,-- - - - - - - - - - ção da 1 ~rra, um local experimenta uma variação diária em su as
condições meteorológicas (temperatura, pressão, nebulosida-
, c:-". ..
g~ ' I .- _ - _ _-~-)(-"
_ • . _ _ _ __ de, chuva, umidade relativa, etc.). Essa variação diária ocorre
I
•
10 - - • - - - - _ • _ •• em todos locais, com maior ou menor intensidade, e é um fe-
~
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_
há acenhlação nessa intensidade. Note-se que a radiação solar é ocorreu imediatamente após o episódio do EI Nino mais in-
o principal elemento controlador das variações tanto na escala tenso até então, e as chuvas de outono-inverno representaram
diária como na anual. Essas são variações que ocorrem com uma 45% do total anual. Nota-se, por este exemplo, que a análise
p eriodicidade (ciclo) previsível. de períodos relativamente curtos (10 a 20 anos) invariavelmen-
Nesse ponto, é importante fa zer dis tinção entre as varia- te conduz a conclusões in consisten tes.
ções que ocorrem rotineiramente e aquelas que indicam mu- 2100 _, - -_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
tuição por p lan tas d e ciclo menor, com impacto sobre o clima FIGURA 2.2 Seqüenciamento dos totais anua is de chuva em Piracicaba, SP.
local e regional.
A Figura 2.2 é uma represen tação d a variação do total Essa análise m ostra que o total anual d e chuvas em
anual de chuvas ocorridas em Piracicaba, SP, desde 1917 até Piracicaba, SP, teve pouco efeito da substituição da flo resta
1999. Percebe-se qu e períodos razoavelmente longos (15 a 25 nativa por cultivos agrícolas, principalmente pela cana-d e-açú-
anos) de tendência d e aumento foram interrompidos por que- caro Isso pode ser visto na Figura 2.3, que mostra a vari ação d o
das bruscas nos totais de chuvas. Nota-se que, de 1917 até 1930 total anual de chuvas em Campinas, SP, d esd e 1890 até 1992, e
houve aumento significativo no total de chuva anu al que pas- da porcentagem de cobertura florestal no Estado de São Pau-
sou de 1110mm para cerca de 1600mm. Embora tenha ocorri- lo, que caiu d e mais d e 60%, no início do século, até cerca de
do uma flutu ação muito grande, a tendência geral foi de a u- 15% no final (Sentelhas et aI., 1994). Comparando-se as Figu-
menta. En tre 1933 e 1948, h ouve tendência semelhante ao pe- ras 2.2 e 2 .3, observa-se que o mesmo fa to ocorreu em
ríodo anterior. Entre 1952 e 1965, e entre 1969 e 1975 a tendên- Piracicaba, onde as chuvas seguiram o mesmo ritmo encon-
cia de aumento se repetiu. De 1977 até 1982, houve um au- trado e m Campinas. No entanto, isso não é prova de que não
mento brusco seguido de uma queda igualmente brusca . De haj a tal associação, mas apenas que a localização geográfica
1983 até 1999, a flutuação esteve ao redor do valor médio. A da região mascarou qualquer associação entre p orcen tagem
tendência do século como um todo foi de leve aumen to no de cobertura florestal e índices pluviométricos, nos dois lo-
total anual das chuvas. O pico de chuva de 1983 (2018mm) CaiS.
32 - I'ereirll, Angelocci e Se ntelhas Agrometeoro logia - 33
ã - Chuva anual : 70 grandes ca tegorias, ou seja, macro, meso, e micro-escala, que são
..
1
• importantes para a previsão do tempo e para o manejo agrícola .
~ 1500 • A macro-escala trata dos fenômenos em escala regional
.,
E
~ ou geográfica, que caracteriza o clima de grandes áreas pelos
IE 14 00
fatores geográficos (latitude, altitude, etc). Nessa escala, des-
E creve-se, por exemplo, o (macro)clima de uma região. Esta es-
,
;;;
c cala é o foco quando se fa la em mudan ça climática.
•
~
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ü
1300
.......1 10
A n/eso-escala refe re-se aos fenôm enos em escala local,
em que a topografia condi cion a o (topo ou meso)c1 ima p elas con-
120 0 mmmmmmnl1l11l1ll'IOInn:mmmmnlnl1lmmmmmmllllTmmil:mnmmnmn:;mt11111U O
dições do relevo 10ca;1A exposiçã o (N, S, E ou W), a configura-
1900 l a 20 30 40 50 60 70 80 ção (vale, espigão, meia encosta), e o grau de incl inaçã o do
Ano
terreno determinam o clima local. Porta nto, d en tro do
FIGURA 2.3 M édia móvel (ord em 10) da chuva macroclima da região é possível que existam vários topoclimas.
anu al em Campinas, SP, e a porce ntagem de cober·
tura fl orestal do Estado de São Paulo, desde 1890 até
A configuração e a exposição do terren o podem mod ificar bas-
1992. Adaptado de Sentelhas et aI. (1994) tante o clima regional, sendo de grande importância na agri-
cultura, devendo ser levado em consideração no p lanejamen-
Análise semelhante deve ser feita com a temperatura do ar. to agrícola. Por exemplo, nas regiões S e SE do Brasil, os terre-
É óbvio que tais tendências adquirem importância quando di- nos com face voltada para o Norte são mais ensolarados, mais
versos locais mostram variações num mesmo sentido (aumento secos e mais quentes. Os de face voltada para o Sul são menos
ou decréscimo). No entanto, é importante ter em mente que al- ensolarados, mais úmidos e mais frios, sendo batidos pelos
gumas tendências detectadas em um local podem indicar que o ventos SE predominantes na circulação geral da a tmosfera. No
fenõmeno seja global, como é o caso do aumento da concentra- inverno, terrenos à meiá encosta ou convexos permitem boa
ção de CO, atmosférico, no Havaí (ver Capítulo 3). drenagem do ar frio, ao passo que terrenos côncavos acumu-
lam o ar frio, agravando os efeitos da geada em noites de in-
tenso resfriamento. Logo, a meso-escala deve ser considerada
2.4 ESCALA ESPACIAL DOS FENÔME NOS no planejamento de implantação e manejo de um cultivo.
ATMOSFÉRICOS A micro-escala é aqu ela que condiciona o clima em pe-
. ~ quena escala (microclima), sen do função do tipo de cobertura
do terreno (solo nu, gramado, floresta, cultura rasteira, repre-
Os fen ômenOS atmos féri cos ocorrem de forma contmua-
da havendo influência d e uma esca la sobre outra. No entan - sa, etc.), que determina o balanço local de energia. O fator prin-
to ,'visando a facilitar o entendimento d e s uas ocorrências e os cipal é a cobertura do terreno e cada tipo de cobertura tem
:14 - Pereirn, Angelocci e Sente/fias
Agrorneteorologia - 35
A Figura 2.6, mostra co mo três observadores em três gura 2.6c). O plano do horizonte é imaginário e tangencia a
posições (latitudes) diferentes, sendo um no hemisfério norte s uperfície terrestre no ponto de observação, sendo perpendi-
(12° N) e dois no hemisfério st ll (12° S e 30° S), vêem o Sol ao cu la r à linha do Zênite (linha imaginária que liga o centro da
m eio-dia, no transcorrer de se u caminl1amento aparente N - S Terra e o ponto n a superfície, prolongando-se ao espaço acima
ao longo do ano. Os observadores situ ados entre os trópicos do observador). O ângulo formado pela linha vertical imagi-
terão o Sol passando a pino, sobre suas cabeças, duas vezes nária que passa p ela cabeça do observador e os raios solares é
por ano (Figura 2.6a, b), enquanto que aquele situado ao sul chamado de Angulo Zenital do sol (Z). A Figura 2.6 ilus tra os
do Trópico de Capricórnio nunca observará tal condição (Fi- valores de Z ao meio-dia local, nas situações mais característi-
cas das relações Te rra-sol, para os três observadores .
Co m os mov im entos da Te rra, verifica-se que os raios
li solares atingem a superfície terrestre com diferentes ângulos
'.
zenitais, em diferentes horas e épocas d o ano. Em um instante
qtlalquer, o âng ulo zen ita l Z (Fi gura 2.7) determina a quanti-
dade de ene rgia solar que a tinge o limite externo da atmosfera
terres tre. Tomando-se como referência uma área unitária (A N )
Trópico de Câncer 11"N Eqllorlor - T r6 p. de Capricórnio
(B0 27 'N) - 22/06 2 1103 c 23/09 (23"27 ' S) - 22 /1 2 igual a 1 m' , quando os raios solares incidem perpend icular-
mente sobre ela, a quantidade de energia solar S se distribui
b sobre 1 m', determinando uma intensidade I N = SI A N. Quan-
do os raios solares inclinam-se a mesma energia S se dis tribui
sobre uma área maior (Az), resultando em um a intensidade Iz
= SI Az· A relação IzlIN=ANI Az = cos Z d efine a Lei do Cosseno
Tró piço de Cânce r 12"5
de Lamber/. Desse modo, se Z = 0°, Iz é igual a IN' pois cos 00 =
Equ ado r - Tróp . <1c C~prjçó r!\i o
(B" 27'N ) - 22J06 21103 c 23109 (23"27'5) - 22/12 1. Q uando Z = 90°, condição observada no nascer e no pôr do
c ...
y
so l, Iz é igual a zero (cos 90° = O). Essa lei possibilita o entendi-
mento do p orquê da variação diária e sazonal da intensidade
d a radiação solar.
A atmosfera terrestre
Zênite
preocupante, pois são microfontes d e poluição. Há, nas por uma camada de ar mais quente (menos denso) . A camada
megalópolis, consciência cada vez m aior da necessidade d e se de ar quente estando acima, impede o desenvolvimento de
controlar tais emissões com filtros e ca talizadores de gases e movimentos verticais (convecção) da atmosfera próxima ao
partículas tóxicas. solo, tornando-a estagnada e incapaz de dispersar os poluentes,
As partículas suspen sas (aerossóis) na a tmosfe ra fun ci- aumentando sua concentração. A condição normal da atmos-
onam como núcleos de condensação, aumentando a formação de fera durante o d ia é a camada de ar quente estar abaixo da
nuvens, e de chuvas que as arrastam de volta à superfície, mas ca mada fria. Desse modo, o ar quente s obe e se mistura com o
nem sempre no local de origem. Por exemplo, no caso do pólo a r frio, homogcneizand o a atmosfera, dispersando os poluentes
industrial de Cuba tão, SP, tanto as condições orográficas da para Uln a ca nlada 1l1UÍtO 111 aior. O n0l11e "inversão" significa
região como a circulação atmosférica imposta pelo sistema ter- que está acontece nd o jus ta mc nte o inverso d o normal. Inver-
ra-mar, resultaram em danos quase irreversíveis à natureza são térmica ocorre freq üentemente, m as su a intensidade é mai-
(destruiçã o da mata na vertente atlântica na Serra do Mar, e or n o período de in verno q uando a camada mais fria é mais
manguezais nas baixadas). espessa. Para as formigas, por exemplo, a inversão térmica
As chuvas são responsáveis pela lavagem natural (lim- ocorrc todos os dias. Para os humanos, sua ocorrência só é
peza) da atmosfera. Esse fenômeno pode ser apreciado logo preoc upante quando envolve grandes centros urbanos. Mes-
após uma chuva intensa, principalmente nos grandes centros mo para ci dades do porte d e Campinas, SP não se ouve (ain-
urbanos e industriais, quando o ar se torna mais " resp irável". da) falar em inversão térmica. Não que ela não aconteça; ape-
A remoção pelas chuvas (ácidas) não soluci ona o problema, nas que suas conseqüências ainda não atingiram níveis
pois apenas muda o cenário da pol uição do ar para o solo, preocupantes.
lagos, e rios. A mortalidade de peixes em lagos urbanos é uma Um constituinte da atmosfera que merece bastante aten-
conseqüência desse fenômeno, principalmente em dias calmos
e frios, quando as águas ficam mais estagnadas, com menor
ção é o ozônio (O,). ° ozônio tem ciclo extremamente curto,
sendo produzido principalmente n a estratopausa (-50km de
poder d e mistura e oxigenação. altitude), por reações foto-químicas. Grosseiramente, pode-se
Os ventos funcionam como agentes de dispersão dos ga- dizer que uma molécula de oxigênio (0,) é quebrada pela ab~
ses e partículas, diminuindo suas concentrações nas regiões sorção da radiação ultravioleta (UV), liberando oxigênio atô-
de emissão (fontes) p ela agitação constante da atmosfera. Em mico (O) . Esse oxigênio atômico reage com uma molécula de
dias em que as condições atmosféricas não permitem essa dis- oxigênio (O,), resultando numa molécula de ozônio (O,). A
persão, a con cen tração de poluentes próxima às fontes torna- molécula de ozônio é altamente instável e, na presença de ra-
se ins uportável, resultando em perigo à saúde da população. d iação infravermelho terrestre, reage com outro oxigênio atô-
Essa s ituação se agrava em di as que ocorre o fenômeno at- mico formando duas moléculas de oxigênio. Logo, o processo
mosférico d en ominad o inversão térmica, quando uma camada é reversíve l, sem ganho ou perda de oxigênio. Há, no entanto,
de ar mais frio (m ais denso) junto à s uperfície é sobreposta atenllação da radiação UV que é absorvida e impedida de a l-
46 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 47
cançar a superfície da Terra. Isso é altamente positivo e bené- (CFC) n a sociedade moderna . Os CFCs são moléculas artifi-
fico, pois a radiação UV é altamente energética, com alto po- ciais basta n te estáveis, não-tóxicas, não-infl amáveis e utiliza-
der de penetração e destruição das células, tanto animais como das principalmente na refrigeração (gás refrigerante das gela-
vegetais. Em locais montanhosos, com altitude elevada e at- deiras), n os sprays (aerosóis dispersan tes pressurizados), em
mosfera rarefeita, h á estreita correlação en tre os níveis de ra- isolantes térmicos (isopor), e como solven tes na indústria
diação UV incidente e a ocorrência de câncer de pele. microeletrônica. Aparentemente, CFC é uma maravilha quími-
A estratosfera (região entre 10 e 40 km de altitude) é ca- ca, com número ilimitado de aplicações . No entanto, quando
racterizada por UlIla constante inversão térmica, quando com- atingida por radiação UV, a mo lécula d e CFC se di ssocia libe-
parada com a troposfera. Essa inversão é resultante da forma- rando O cloro (CI), que tem alta afinidade pelo ozô nio. Estima-
ção do ozônio, q u e absorve diretamente os raios solares, libe- se que um á tomo d e cloro seja capaz de destruir dezenas de
rando essa energia no processo de recon stituição do oxigênio. milhares de moléculas de ozônio. Assim, o aumento no u so de
Portanto, a estratopausa é muito mais quente que a tropopausa. CFCs resultou na redução da camada de ozônio. Portan to, u m a
Logo, o ozônio formado n a estratopausa se difunde para a molécula praticamente inerte torna-se altamente reativa na
camada de baixo, e sua concentração atinge o ponto máximo presença de raios solares. O Protocolo de Montreal (acordo in-
entre os 15 e 30 km de altitude. Na troposfera (camada que vai ternacional para redução de poluentes) p revê que a emissão
da superfície até cerca de 10 km de altitude), a concentração de CFC deve ser severamente reduzida n os próximos anos.
de ozônio diminui significativamente. Isso é extremamente Tais ações foram impulsionadas pela de tecção da existência
relevante, pois o ozônio tem alto poder oxidante, sen do dano- de um buraco de ozônio sobre a Antár tida, d e tamanho d u as
so aos seres vivos, principalmente m u cosas e tecidos tenros. vezes maior que o território dos Estados Unidos. Depois de
No entanto, a queima incompleta de combustíveis fósseis in- muitos experimentos e análises, um painel de mais de 100 cien-
jeta ozônio d iretamente na biosfera (camada da troposfera que tistas de 10 países, t rabalhando por 16 meses, concluiu que os
abriga os seres vivos). Essa fonte artificial aumenta sua con- CFCs forilm e são os maiores responsáveis pela destru ição d a
ce ntra ção acima de limites sup ortáveis, tornando-o um camada de ozônio.
pol uente altamente perigoso. O utro constihünte a tmosférico de im p ortân cia vital para
Não é difícil imaginar que a con centração do ozônio na- os seres vivos é o dióxido de carbono (CO,), que é utilizado pe-
lllral é ffi n ior no lado ensolarado (dia) da Terra que no lado los vegetais no processo fo tossintético. Os oceanos são os prin-
sobreado (noite), visto que sua formação depende de radiação cipais -reservatórios de CO,. O processo de fotossíntese repre-
U V, e s ua di ssoc iação depende da radiação terrestre. Portanto, senta um dreno para o CO2 , enquanto que a respiração (vege tal
o ozôni o l 'ffi efeito s ign ificativo no balanço energético da at- e animal) constitui-se em fonte . Portanto, o manejo de explora-
ffiosfem e, por o nseqüênc ia, da superfície terrestre. ção do solo afeta o ciclo do CO,. A concentração de CO, at-
Rece nle men le, a d inâmica do ozônio ga nhou um aspec- mosférico tem aumenta d o significativamente desde o sécu lo
to nega tivo pelo LI SO indi sc riminado de C.l orofJuor~arb on etos passado, em função da queima de combu stíveis fósseis, e do
48 - Pereira, Angelocci e Sel1tellws Agrometeorologia - 49
°
desmatamento e que ima da biomassa. monitoramento contí-
nuo da concentração de CO 2 te m sido fe ito no Observatório
fica balanço de energia atmosférico m ais positivo, com temperatu-
ra ambiente mais elevada. Esse é o efeito estufa; isto é, a en ergia
de Mauna Loa, H ava í (me io do oceano Pacífico), isto é, uma entra na atmosfera mas tem dificuldade para sair.
área isolad a das grandes fontes industriais . Portanto, a con- Um constituinte atmosférico de fundamental importân-
centra ção a li encontrada é represe nta tiva da tendênci a g lo bal cia é o vapor d'água. A água é o único elemento que se encontra
e não apenas resultante d e um proble m a local. A Figura 3.2 na n a tureza, nos três estados físicos (sólido, líquido, gasoso),
mostra que em 1958 a concentração estava ao r e dor d e 315 simulta neamente. Mesmo na a tmosfera n ão é incomum en-
ppmv (partes por milhão em volume), com tendência crescen- contrar gelo, água, e vapor dentro de Ulna nuvem. A água fun-
te, estando a tualmente com cerca de 365 ppmv . Mas se o CO 2 ciona como termorregulador, evitando flutuações muito inten -
faz parte do m e tabolismo das p lantas e animais, qual é e ntã o sas da temperatura do a mbiente. A dis tr ibuição da água na
a preocupação com o aum ento em su a concentração? Experi- atm osfera varia ta nto espacial com o tem poralmente. Nos de-
m e ntos mos tra m que r e almente a taxa de fotossíntese aumen- sertos e n as regiões geladas, o te or de vapor d ' águ a é extrema-
ta quando se aumenta a concentração de CO 2 no anlbie nte; m e nte baixo. Nas regiões tropicais, próximas d e o ceanos quen-
logo, o a umento detectado no Havaí deve ser ben éfico às p lan- tes, sua co ncentração é elevada. R egiões próximas a oceanos
tas. Poré m, a preocupação não é com a fotossíntese, mas com frios ta mbé m apresentam baixa umid ade a tmosférica.
o u tra propriedade da moléc ula de CO 2 . Ela é excelente
absorvedorn d e radiação d e o n das longas te rres tre, e este fato
° ciclo da água é de vital importância n a redistribuição
de energia n a escala global. Para se evaporar 1 kg de água são
traz preocupação, pois o aumento e m sua concentração s ig ni- necessários cerca de 2,45 MJ de energia (calor laten te de evapo-
ração). Essa energia é provida pelo ambiente, o que causa uma
°
redução na temperatura local. vapor d' água resultante sobe
na atmosfera até uma altura com condições de provocar sua
J condensação (liquefação) . Ao condensar, h á liberação daquela
energia utilizada n a evaporação, resultando em aqueciment o
da atmosfera naquele nível. A condensação da água n a atmos-
fera prov oca o aparecimento de nuvens, que são tran sporta-
das pelo sistema circulatório, levando consigo o calor libera-
do . Há, portanto, transporte de energ ia associado com o proce s-
so evaporativo. P or exemplo, a região amazônica é rica em
IIJ SK 1')63 1%9 1975 1981
anos
1986 1992 1998
1
°
águ a e em energia solar. ciclo da água n esta regiã o funcion a
como um exportador de calor e umidade em direção às re-
FIGURA 3.2 Conccn traç:io de CO 2 atmosférico em Mauna Loa, Havaí. Fon- giões de m aior latitude (em direçã o aos pólos).
te: Keel ing & Worf (1999).
Agrometeorologia - 51
50 - Pereira, Angelocci e Sente/h as
L
54 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Capítulo 4
(baixa pressão). Em altitude, a circulação é no sentido contrá- to, e no hemisfério Sul desloca a trajetória para a esquerda de
rio, formando uma célula. Essa movimentação redistribui a seu sentido originaL No hemisfério Norte, o deslocamento é
energia que "sobra" no equador para as regiões polares. para a direita. Isso explica porque os red,:moinhos giram em
Pela descrição bem simples apresentada acima, deduz - sentidos diferentes nos dois hemisférios. E a força de Conohs
se que uma parcela (volume d e controle) de ar está sujeita a que determina o movimento rotatório dos sistemas atmosféri-
três forças: 1) da gravidade; 2) da flutua ção térmica; e, 3) do gra- cos (ciclones, anticiclones, tornados, furacões). Para entender
diente horizontal de pressão. A força de atração gravitacional é o efeito da força de Coriolis, imagine mn avião voando, em
sempre direcionada no sentido do centro da Terra, prendendo linha reta, do pólo sul para um ponto situado no equador.
a atmosfera ao redor de sua superfície, sendo a principal res- Como a Terra gira d e oeste para leste, a trajetória do avião
ponsável pela pressão. A força, devido à flutuação térmica, será uma curva para a esquerda, pois o ponto de destino se
contribui significativamente para a variação da pressão local, desloca para a direita, como mostrado na ilustração abaixo.
e sua contribuição pode ser tanto no sentido de aumentar como Essa trajetória pode ser vista quando se traça uma reta em um
de diminuir o valor da pressão. A contribuição é positiva quan- disco em movimento.
do a superfície está fria, pois o ar em contato com ela também
está frio, e a força de flutuação térmica será direcionada para F
o centro da Terra, aumentando a pressão. Se a superfície esti- LatO" Vel. 464 mls
Baixa Pressão
ver quente, o ar estará quente, e então essa força será direcio-
nada para cima, diminuindo a pressão na s uperfície . A força
devido ao gradiente horizontal de pressão é a responsável pela Lat 30" Vel. 309 m/s
movimentação da atmosfera de uma região para outra. Alta Pressão
pressões, e os Pólos constitu em-se em centros de alta pressão Entre os Trópicos e o Equador => ALíSIOS de N E (HernNorte) e de SE
(Figura 4.1). Entre as fa ixas de pressões descritas acima, for- (Hern.5ul).
Entre os Trópicos e as
mam-se células de circulação em macro-esca la. Os ventos for- Regiões Sub-Polares => Ventos de OESTE.
mam-se d evido às diferenças de pressão en tre dois pontos, Regiões Polares => Ventos d e LESTE.
indo no s entido daquele d e maior para o de n"lenor pressão.
Nas reg iões de tran sição, o ar ou se eleva (baixa pressão) ou Nas regiões de transição das células de circulaçã o, nor-
des ce verticalmente (a lta pressão), formando as células com malmente, ocorrem ca lmarias. Na região equa torial, on de os
ramo superior em sentido contrário ao da superfície. ventos alísios dos dois h emisférios convergem, forma-se a Zona
d e Convergência Intertropical (ZCIT). Há também a formaç ã o
Ve ntos de Leste da Zon a d e Convergência Extratropical (ZCET), onde ocorre a
convergência dos ventos de leste e de oeste .
Vento s de Oe ste
ZCIT::::::> elevação do ar quente e úmido, pouco vento, formação de
30° um cinturão de nuvens e chu va convectiva.
ZCET ::::::} encontro do ar frio e seco co m ar q uente e ú m ido, origi-
Alísios de Norde s te
nando sistemas frontais (ciclones extra-tropicais) q ue afetam p arte do Brasil.
0°
tê m circulação desse tipo. Os furacões, por suas d imensões tes fri as avan cem mais ou menos pelo continente. A lgumas
avantaj adas, aparecem nitidamente nas imagens dos satélites vezes a posição da corrente de ja to bloqueia o avanço da mas-
meteorológicos, mostrando o sentido d e su a circulaçã o, traje- sa fri a, tornando-a estacionária s obre uma região p or alguns
tória, e velocidade d e deslocamento. dias, causando excessos de chuvas na região do bloqueio, e de
Um centro de alta pressão, ou seja, um centro exportador estiagem nas áreas imediatamente acim a dessa região. Isso ex-
de vento, tem circ ulação anti-horário, no h emisfério S ul, carac- plica as ench entes ora no Rio Grande d o Sul e Santa Catarina,
terizand o um anticiclone. Nos anticiclones os gradientes de or a no P araná e Sã o Paulo, ora mai s ao norte.
pressão não são tão elevados como nos ciclones, daí as m eno- Essa circulação ger a l é extremam ente modificada por
res velocidades d e v entos associados aos anticiclones. uma série de fa tores ao longo do ano (presen ça de oceanos e
contine n tes, rugosidade da superfície, entre outros), tendo
grande varia ção te m poral e espacial. Um exemplo disso, são
4.3 CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL as modificações d a circulação devido aos fenômenos EL NINO
eLA NINA.
Devido a um gradiente horizontal de pressão, as m assas
de origem polar se movim entam em direção ao equa dor, a traí-
das pelos centros de baixa pressão. A força de Coriolis muda a 4.4 El NINO E lA NINA
trajetória dessas lnassas para o oeste. A presen ça de m a ssas
quentes situadas sobre o continen te resis tem a essa tentativa U m fen ômeno de extrema importâ n cia não apenas
de avanço d as massas frias, empurrando-as p ara o oceano meteorológico mas também econômico é o El Niiío - Oscila-
Atlântico. Algumas vezes, as m assas frias avançam rapidamen- ção Sul (ENOS) . A té a década de 1950, o fen ôm eno ENOS só
te pela Cordilheira dos Andes e mpur rando a massa continen- despertava a aten çã o dos p escadores d a costa do P erú, Equa-
tal quente para norte e mesmo leste, ch egando a té a Amazô- dor, norte do C hile, e daqueles que sobreviviam da coleta d e
nia ocidental. Esses avanços causam as chamadas friagens na guano, rico fer tilizante produzido por p ássaros marítimos que
A mazônia . Quando elas a contecem , s ignifica que a m assa d e habitam a cos ta daqueles países. Aquelas pessoas p ercebiam
ar fria é muito forte, e geralmente provoca ocorrências d e gea- que a e levação do nível do mar e d e s ua tempera tura reduzia
das n a reg ião sudeste. a quantidade de peixes, e também a produção do fertilizante
Essa circulação sul-norte é influ enciada pela presença na tural. Como esse fenômeno era mais intenso na época do
de um caudal d e ventos forte s situa dos a cerca de 10 km de Nata l, os pescadores b atizaram-no de El Nii'í.o, como referên-
a ltitud e, e que flui continuamente de oeste para leste, serpen- cia ao n ascimento do menino Jesus.
teando ao redo r do globo . Esse caudal descreve uma senóide, As águas do oceano Pacífico são " normalmente" mais
sendo denominado d e "corrente d e jato" (jet stream). A posi- quentes nas costa s da Austrália e Indonésia que na costa d o
ção d o jet stream varia continuam ente fa zendo com que as fren- Equ ador, Perú e Chile. Essas reg iões estão mais ou m enos n a
Agrometeorologia - 63
62 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
NORTE
COLOMB IA , Secas tle moderada$ a i1lensas no norte
VE NEZUELA, GUIANA, e leste da Am;uma Aumeno da
SURJNAt.1E, GlJIANAFRAN CESA probaoiliaade de ncêndios IIorestais,
Reduçio das PfflópitêM;Oes na m3iOr palie pnnclpalmerte em areas ae llaes.!as delJ<lcbOas
!,so 1rI0. tom exter;~ oos meses ele
~!í~~f:J~ rel(~a:'e:1~c= NOROESTE
P at(~ca
Ch was
da COlômbia que
IIllenS3S no
retebe
vtrio
Corno o leste da ArMIÔ"Ila, s.ec.as
de div'ef"5as Inlensidild!"3 no r(u\e 00
Nortfeste DCO!Tem dlJ'"rte a csta,30
DEZEMBRO - FEVEREIRO
chtNosa ele f~reiro a maiO
SUl e oeste OJ NOtI:IeSIe nao ,ao
sig~atlvamente a'el<lOO:5
EOUA OOR . PER U, a o LlvlA. CHIL E
C h~s intemas nos meses de verão soo.-e
a costa ocidental da AIIlénca 00 Sul, 'l1C
afetam as tOstls 00 E~aoor e CIo r'Drte 00 PCIU Modera(lo lUnenID lias
Setas nos meses de veria 500fC as reIJões temperalllltS médias. Tem ocomao
ancllnas do Equ<!dor. Peru e BoIí..u. ClI.Nas Sdtstanclal i!UTI~ das !empeJ1NU'as
intensas sobre a ~ c:enIJ3I e $IJ OJ reste il'l\lefno Hão M j)3CttIo
c rlile esaçkl di: caa::leriSIJ:O aell'lUll<lrlÇ3 lias CI'I.NU
4.5 ESTRUTURA VERTICAL DOS VENTOS de reduzir (estável) a turbulência. Esse fato tem grande im-
portância agronômica, pois os defensivos agrícolas devem ser
Cerca de 85% da massa atmosférica está concentrada nos aplicados nas horas de menor turbulência possível para per-
primeiros 10 km acima da superfície (troposfera). Portanto, os mitir que tais produtos se depositem sobre a área-alvo. É por
fenômenos meteorológicos mais importantes no dia-a-dia ocor- esse motivo que a aplicação aérea sempre é feita na madrugada,
rem nessa camada. Em altitude a atmosfera flui livremente, um pouco antes do sol nascer (hora mais fria do dia). Desse
sem obstáculos, ou seja, a presença da superfície não é perce- modo, evita-se espalhamento de produto (tóxico) para fora da
bida, e os ventos têm grande velocidade (praticamente não há área de aplicação.
atrito). À medida que se aproxima da superfície, sua presença Outro aspecto interessante da estrutura dos ventos é que
vai se tornando cada vez mais notória, e os ventos vão dimi- a direçã o muda à m edida que se afas ta da superfície. Esse fe-
nuindo rapidamente sua velocidade (atrito vai aumentando). nômeno é devido ao decréscimo do a h'ito com a altura. Logo,
Junto à superfície, o deslocamento da atmosfera é obstruído a força de Coriolis vai mudando a direção do vento à medida
pela irregularidade do relevo, pela presença de árvores, plan- que o atrito diminui. Plotando-se a direção do vento em cada
tações, cidades, etc. Quanto mais rugosa for a composição da altura obtém -se uma "espiral" (de Ekman) . Esse mesmo fenô-
superfície, maior será sua influência sobre os ventos. A veloci- m e no ocorre com as correntes marítimas com velocidades mai-
dade é menor junto à superfície, mas a presença dos obstácu- ores próximas à superfície e menores no fundo dos oceanos.
los cria redemoinhos que são proporcionais ao seu tamanho. Há, portanto, um acoplamento entre as correntes marítimas e
A ocorrência de redemoinhos caracteriza escoamento turbu- a circulação atmosférica.
lento (caótico). Por exemplo, uma cidade cria mais turbulên-
cia com seus arranha-céus que uma floresta; mas esta cria mais
turbulência que um canavial, e assim sucessivamente. Essa 4.6 CIRCULAÇÕES E VENTOS LOCAIS
turbulência é de origem mecânica.
Como visto anteriormente, à medida que o Sol vai aque- A circulação geral da atmosfera, discutida no item ante-
cendo a superfície, aparece uma força de flutuação térmica que . rior, mod ifica-se acentuadamente na escala de tempo e espa-
estimula o aparecimento de ventos. Esse deslocamento verti- ço, d ev ido ao aquecimento diferenciado entre continentes e
cal interfere com o deslocamento horizontal da atmosfera au- oceanos, configuração de encostas, sistemas orográficos e to-
mentando o movimento caótico. Essí) turbulência é de origem p ogra fia. Assim, os ventos de superfície, que são função da
térmica e a atmosfera é dita instável. Acontece que nas horas circulação geral da atmosfera, podem ser modificados pelas
mais frias do dia aforça de flutuação témtica inibe o desenvolvi- circ ulações e m menor escala, variando tanto dia ria como sa-
ment o vertical, suprimindo a turbulência. Diz-se que nessas z onalJncnte.
condições a atmosfera está estável. Portanto, a contribuição
térmica pode ser tanto no sentido de aumentar (instável) como
68 - Pereira, Angelocci e Sentelhns Agrometeorologia - 69
4.6.1 Brisas terra-mar e monções s ubcontin ente indiano a té o sudeste asiático (oceano Índico),
sen do que a agricultura dessa região depende d a regu larida-
Ocorrem devido às di ferenças de temperatura e pressão de das chu vas, que têm efeito sazonal bem pronunciad o.
e ntre continente e o mar, na escala diária, formando uma célu-
la de pequena circulação. Durante o período diurno ocorre a
brisa marítima, sentido mar-continente, porque o mar, demo- 4.6.2 Brisas de montanha e de vale
rando mais para se aquecer, torna-se um centro de alta (relati-
va), e o con tinente ao se aquecer m ais rapidamente torna-se Ocorrem devido às diferenças d e temperatura entre pon-
um centro de baixa pressão, fazendo com que o vento sopre tos em dis tintas s ituações de relevo. Durante o dia forma-se a
do mar par a a terra (Figu ra 4.4a). Mas durante a noite, o senti- brisa de vale (anabática), porque em virtude do aquecimento a
do d a brisa inverte-se (brisa terrestre), porque o contin ente se tendência do ar é subir (Figura 4.5a). Duran te a noite forma-se
resfria ma is rapidamente do que as águas do mar, invertendo a brisa de montanha (catabática), em decorrência do escoamento
os centros de a lta e baixa pressão (Figura 4.4b). do a r frio, mai s denso, para as baixadas (Figura 4.5b).
a
O b CL a b
( ') ~«~))
~<~) A rqu cn le . . A r frio
FIGURA 4.4 Representação esquemática das brisas marítima (a) e terrest re FIGURA 4.5 Representação esquemática das brisas: a) de vale, du ra nte o
(b). dia; b) de montanha, durante a noite.
são com a al tura. Acim a de um de termin ado nível ocorre cE - equatorial continental - forma-se n a região ama-
condensação, h avendo formação de nuven s, com ocorrência zô nica (quente e úmida), causa ndo chuvas.
d e chu va . Após atingir o topo da montanha, o ar desce pela mE - equatorial marítima - fo rma-se sobre o oceano,
outra encosta (sotavento), com baixa umidade, o que provoca cau sando chu vas.
um aquecimento da corrente descendente, maior do que o cT - tropical continenta l- forma-se na região do C h aco
resfriamento da subida. Esse processo resulta no fenômeno, (qu ente e seca), causa poucas chuvas.
chamado de sombra de chuva, pois a chuva ocorre com m a ior mT - tropical marítima - forma-se sobre os oceanos e
intensidade e quantidade a barlavento do que a sotavento. causa po u cas chu vas.
mP - polar marítima - forma-se na região sub-antártica
(fria e seca), ca us a chu vas frontais .
Barlave n to ~ Sota v ento cA - antártica contine ntal- forma-se na região Antárti-
~GJ
ca durante todo o an o .
A
..•
B
A Figura 4.7 apresenta o predomínio médio das massas os ventos mudam de direção, logo após a passagem da frente,
de ar que atuam no Brasil, nas diferentes estações do ano, cara cterizando a entrada de uma nova massa de ar na região.
mostrando sua variação espacial, decorrente da associação de A frente fria de deslocamento rápido geralmente forma
diversos fatores, dentre os quais a disponibilidade de energia chuvas pré-frontais, ou seja, antes da chegada da massa fria, e
na superfície. o tempo se torna bom durante a passagem da frente (Figura
4.8b). As nuvens pré-frontais assumem forma de coluna (Cb).
Nessa situação, antes da ocorrência de chuv as observa-se ele-
4 . 7.1 Frentes vação da temperatura, fenômeno conhecido como aquecimento
pré-frontal, decorrente da elevação da massa de ar.
Quando ocorre o encontro de duas massas de ar elas não A frente quente, ao encontrar ar estável no local, forma
se misturam imediatamente. A massa mais quente (menos chuvas leves e contínuas. Com ar instável, forma chuvas in-
densa) se sobrepõe à massa mais fria (mais densa), formando tensas com trovoadas, geralmente, 200 a 300 km antes da che-
uma zona de transição entre elas, onde ocorrem variações blUS- gada da massa quente. As chuvas são causadas por nuvens de
cas nos campos de temperatura, vento e pressão. Essa zona de pouco desenvolvimento vertical, tipo altostratus (As) e
transição é denominada frente. Dependendo de qual tipo de nimbostratus (Ns), que cobrem totalmente o céu local. As nu-
massa que avança para a região do observador, a frente toma vens tipo cirrostratus (Cs), podem estender-se a centenas de
sua denominação: fria ou quente. Quando há a entrada de uma km adiante da posição da cunha à superfície (Figura 4.8c).
frente, há modificações nas condições do tempo no local e na O fenômeno de oclusão, ou frente oclusa, ocorre quan-
qualidade do ar. do as frentes frias e quentes se alternam sucessivamente, for-
Existem d iferentes tipos de frentes, que dependem das mando chuvas leves e contínuas por vários dias no mesmo
condições físicas das massas (Vianello & Alves, 1991; Fedorova, local (Figura 4.8d). Nessa situação atuam três massas de ar e a
1999). A frente fria de deslocamento lento (Figura 4 .8a), nor- mais quente fica entre duas massas mais frias, podendo a frente
malmente está associada a chuvas muito inten sas com trovoa - oc1usa ser quente ou fria (Fedorova, 1999). No verão, ocorrem
das an tes, durante e após a passagem imediata da frente, pela aguaceiros com trovoadas prolongadas, resultando em enchen-
formação de nuvens com forte desenvolvimento vertical, do tes e desmoronamentos.
tipo cumulonimbus (Cb). O prenúncio da aproximação de uma
frente é marcado pelo aparecimento de nuvens altas e finas,
do tipo cirrus e cirrostratus (Cs), que têm aspecto fibroso
esbranquiçado. A chegada de uma frente fria causa sensível
redução na pressão atmosférica local, aquecimento intenso e
desconforto. A pressão sobe rapidamente, a temperatura cai, e
74 - Pereira, Angelocci e SenteI/las
Capítulo 5
Radiação solar
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5.1 INTRODUÇÃO
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A radiação solar é a maior fonte de energia para a Terra,
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sendo também o principal elemento meteorológico, pois é ela que
desencadeia todo o processo meteorológico afetando todos os
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outros elementos (temperatura, pressão, vento, chuva, umidade,
etc.). Trata-se, portan to, de um elemento primordial no entendi-
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" mento da variação dos demais. A ene rgia solar é a fonte prilnária
de energia para todos processos terrestres, desde a fotossíntese,
§ ül
:ê' responsável p ela produção vegetal e manutenção da vida na pre-
sente form a, até o desenvolvimento de furacões, tempestades,
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de quilômetros (1,5 10' km =1,510" m) a uma velocidade de 300
10' km / s (310 8 m / s), ela gasta cerca de 500s (8,3 min) nessa traje-
~ ;;; tória. Isto significa que todos os fenômenos solares, observados
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da supefície terrestre, já aconteceram há 8,3 min, no mÚlimo.
'2 Define-se unidade astronômica (UA) como sendo a distância mé-
J'í d ia Terra-sol (1,496 10 11 m), descrita no Capítulo 2.
~
," • . . . N o
Embora O Sol tenha um raio aproximad o de 6,96 108 m,
para efeitos de es tudo da rad iação solar na s u perfície da Terra
76 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 77
admite-se que ele funciona corno uma fonte pontual de ener- ser medido em uma altitude onde os fenômenos atmosféricos
gia. Ele emite radiações igualmente em todas as 41l direções. sejam ausentes (topo da atmosfera) . A tu almente, tais medi-
Portanto, se a intensidade luminosa em um dado instante for ções são feitas por satélites artificiais. O valor de Jo varia ligei-
igual a I, então o total de energia emitida naquele instante será ramente em função da e mitância do Sol, sendo adotado um
igual a 41l r. Nesse mesmo instante, a Terra se situa em urna valor médio igual a 1,97 cal cm-' min" = 1367 W mo' . Corno a
esfera cujo raio é igual à sua distância do Sol (D) . Pelas restri- distância (D) entre a Terra e o Sol varia continuamente entre o
ções admitidas, o total de energia emi tida (41l I) será igu al- afélio e o periélio, a constante solar deve ser corrigida pelo
mente distribuído na área 41l D', resultando em urna densida- fator (d/D)', sendo d a distância m édia (UA), para se obter o
de de fluxo igual a I /D', definida pela lei do inverso do quadrado máximo de irradiância solar no topo da atmosfera . Essa correção
da distância, ou seja, a en ergia recebida em uma superfície é se deve à le i do inverso do quadrado da distância entre a fonte
inversamente proporcional ao quadrado da distância entre a luminosa e a superfície receptora. Portanto, para um certo dia
fonte e superfície receptora. Devido à distância Terra-Sol e à o valor máximo da irradiância so lar insta ntânea no topo da
relação entre os volumes dos dois astros, apenas urna peque- atmosfera será igual ao produto Jo (d/O)' = Jo'.
níssima fração d a energia emi tida atinge a superfície da Terra E m seu movimento de translação ao redor do Sol a Terra
na forma de um feixe de raios paralelos entre si. está sempre recebendo radiação solar. Admitindo-se que a Terra
seja urna esfera com raio médio (r) igu al a 6,371 lO· m , ela
apresenta sempre lUna área (1l r') de 1,27 10 14 m' voltada para
5.2 DEFINiÇÕES o Sol. Em função do m ovim ento de rotação da Terra, a super-
fície exposta aos raios solares muda a cada instante. Essa área
A qua n tidade de r adiação sola r recebida por urna su- frontal intercepta (n r' To) 1,74 10 17 J s-' da radiação em itida
perfície de área unitária, na unidade d e tempo é chamada de pelo Sol, e que totaliza 1,5 1022 J dia" , visto que 1 dia = 86400 s .
densidade de fluxo radiativo. A essa densidade de flu xo denomi- Para efeito de comparação, esse total diário de energia solar
na-se irradiância solar (Q), sendo que sua unidade de expres- interceptada equivale àquela correspondente a 10 8 vezes a
são é energia por área e por tempo, e no SI é dada emjoule m" S", energia da bomba detonada em Nagasaki. Mesmo conside-
ou em watt m-' (1 J s-' = 1 W). Outra forma comum d e expressá- rando q u e cerca de 30% da energia interceptada pela Terra seja
la é em caloria em-' min" = langley mino'. Sen do 1 cal = 4,18 J, refletida (albedo), se não fosse pelo movimento de ro tação e
resulta que 1 cal cm-' mino' = "696,7 W m-'. pela emissão de radiação terrestre (Lei de Stefa n - Boltzmann),
Define-se constante solar Go) corno a densidade de fluxo essa quantidade de energia não permitiria que o planeta ti-
de radiação solar incident e em urna s uperfície plana perpendi- vesse a presente forma e aspecto.
cular aos raios solares, sem os efeitos atenuantes da atmosfera, O movimento de rotação da Terra faz com q u e um local
e à distânc ia Terra-Sol igual a urna unidade astronômica (1 UA). receba os raios solares com inclinação diferente ao longo do
Sem os efeitos da a tmosfera significa que esse valor deve dia . O somatório dos valores ins tantân eos de irradiância sola r
",....
- --~
78 - Pereira, Ange/oeei e Sente/has Agrometeorologia - 79
no topo da atmosfera ao longo do dia é um valor teórico mui- 5 .3.1 Lei de Stefan-Boltzmann
to LI til, pois representa o potencial de energia incidente na re-
gião. A esse total diário denom ina-se de irradiância solar global °
Todo corpo com temperatura acima de K emite ener-
extraterrestre, sendo repres.entado por Qo . Extraterrestre signi- gia radiativa, e esta lei diz que a densidade de fluxo de energia
fica a situação em que não se considera ainda o efeito atenuador emitida (E, em W 1m 2 ) é proporcional à quarta potência de sua tem-
da atmosfera. Esse to tal varia de acordo com a latitude (<1» e peratura absoluta (T, em K), de acordo com a equação
com o dia do a n o, fatores esses que afetam o ângulo de inci-
dência dos raios solares. Quanto maior a .latitude, maior a E=EcrT', (5.1)
amplitude de Qo entre verão e inverno.
Quando a atmosfera entra em ação (Ver Efeitos da atmos- em que E é o poder emissivo do corpo (emissividade); cr é a
fera sobre a radiação solar - Capítulo 3), situação normal, o total constante de Stefan-Boltzmann (= 5,67 10-8 W 1m 2 K' = 4,903
diário de energia so lar que chega realmente à superfície ter- 1O-9MJ 1m 2 d K4 ) .
restre é reduzido, sendo denominado de irradiância solar g lo- Para a maioria dos objetos naturais, o poder em issivo varia
bal, e representado por Qg. Essa energia (Qg) é composta pela entre 0,95 e 1,0. Para fins agrom e teorológicos, adota-se o valor
irradiância solar direta (Qd), e pela irradiância solar difusa (Qe). unitário sem se incorrer em grandes erros, mesmo porque a tem-
Qd é a r adiação que não sofre desvio em su a trajetória, sendo peratura do objeto é sempre um valor médio. No caso da atmos-
responsável pela projeção de sombra dos objetos; enquanto que fera, como sua composição básica varia com o teor de umidade
Qc decorre do processo de difu são (espalhamen to) e não projeta no ar, o valor de E deverá ser estimado levando-se em considera-
sombra. A proporção entre Qd e Qc varia ao longo do dia (ângulo ção a quantidade de vapor d'água presente. Portanto, E varia con-
d e incidência dos raios sola res), e também com as condições de tinuamente, dia após dia, e também ao longo do d ia.
nebulosidade. Quanto mais nublado, maior a p roporção de Qc,
m en or a porção de Qd, e menor o valor de Qg.
5.3.2 Lei de Wien
5.3 LEIS DA RADIAÇÃO Esta lei estabelece que é constante o produto da temperatu-
ra absoluta (T, em K), do objeto, pelo comprimento de onda (À"".,
Para se e ntender o regime radiativo de uma superfície é em nm) de máxima emissão energética, do próprio objeto, isto é,
necessário conhecer a lgumas leis fundamentais da radiação,
principa lm ente as leis de Stefan-Boltzmann e de Wien. T À,,,'x = constante = 2,898 lO' nm K. (5.2)
peratura média está ao redor de 300 K; enquanto que o Sol, o Portanto, em um determinado instante (h) de um dia
principal fornecedor de energia para a Terra, tem uma tempe- com esta declinação solar (o), e em um local de latitude eD, a
ratura aproximada de 6000 K. Pela lei de Wien determina-se energia solar que in cide no topo da atmosfera terrres te é dada
que a energia emitida pela Terra tem "máx = 10 000 nm (radia- pela Lei de Lambert (ver item 2.5), corrigindo-se o valor de Jo
ção infravermelha), enquanto que a energia recebida do Sol (djD)2, ou seja,
tem "m'x= 500 nm (radiação v isível). (Obs.: 1 nm = 10.9 m).
Portanto, são duas ordens de magnitude de diferença entre Ih = Jo (d /D)' cos Zh' (5.5)
" m"
. do sol e da Terra.
Em função do comprimento de onda da radiação emiti- Na equação (5.4), h r e presenta a hora do dia, expressa
da, diz-se que a radiação solar é de ondas curtas (OC), pois pelo ângulo formado pelo p lano meridiano no qual o sol está
quase toda energia emitida está abaixo de 3000nm, enquanto posicionado no instante cons iderado e o p la n o meridiano lo-
que a rad iação dos corpos terrestres é de ondas longas (OL). caI. A passagem do Sol pelo meridiano local divide o dia em
Portanto, o balanço geral de radiação (BGR) na superfície ter- duas partes simétricas . O período de rotação da Terra é de 24
restre tem dois componentes: o balanço de ondas curtas (BOC) horas, ou seja, este é o tempo entre duas passagens consecuti-
e o balanço de ondas longas (BOL), isto é (ver Capítulo 10): vas do Sol pelo meridiano local (passagem meridional). Isso
sign ifica q u e são percorridos 360° em 24h, correspondendo a
BGR = BOC + BOL. (5.3) 15° j hora. Como a passagem meridiana do Sol é o referencial, a
• hora local verdadeira (expressa em h ora e décimos) pode ser con-
vertida em ângulo (grau ) p e la relação
5.4 DISTRIBUiÇÃO DA ENERGIA SOLAR NA
SUPERFÍCIE TERRESTRE h = (hora local - 12) * ISo/hora. (5.6)
No Capítulo 2 (ver item 2.5 - Estações do ano), m ostrou- Conseqüentemente, quando o Sol passa pelo meridiano
se que o ângulo de incidência dos raios solares (ângulo zenital, local tem-se h = 0°. Portanto, em qualquer local, h = 0° ao meio-
Zh)' em uma superfície horizontal, varia em função da latitu- J dia, ecos 0°=1. Logo, o ângulo zenital ao meio-dia (Z]2) é cal-
de (<I», da hora do dia (h), e da declinação solar (8). A com bi- culado a par tir da eq. 5 .4 por:
n ação desses fatores permite calcula r Zh em cada instante pela
rela ção trigonométrica cos Z'2 = sen (\) sen li + cos (I) cos li (5.7)
cos Z12 = cos (8 - <D) (5.8)
cos Zh ; ; ;: sen (1) sen ó + cos ct> cos ocos h. (5.4) Z" = li - <D. (5 .9)
82 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 83
(5.20)
hn = arccos [- tg <t> tg li].
_40 S
SO L.STÍC 10
7
Em virtude da simetria da trajetória do Sol com relação DE INVERNO
ao meio-dia, o fotoperíodo é igual ao dobro do ângulo horário 6 o o
o o o o .,.o o N
'"
na hora do nascer do sol (h,), isto é, '" '" '"
N
'" '"
Dia do ano
N = 2 hJ15° = 0,l333 h n • (5. 17) FIGURA 5.2 Var iação anual do fotoperíodo (horas) em a lgumas latitudes do
h emisfério sul.
Tanto no nascer como no pôr-da-Sol Z = 90°, ecos 90° = O.
Logo, pela eq.(5.4) obtém-se:
TABElA 5 . 1 Duração máx ima d a i n so lação d iári a (F OTOPER íODO . N), em rad / dia = dh/ dto Logo, dt = dh / co. A relação d/D representa a
ho ras, no 1 SOd ia d e c ad a m ês, em latitud es compreen didas pe lo ter ri tór io
b rasile i ro.
distância relativa entre a Terra e o Sot sendo d a distância
L-\T{S) h n Fev Mo< Abr 1111
média, e O a distância no d ia. Substituindo-se na eq.(5.21) e
M"j JUII Ajjo Sei QUI Nu' Dez
&t" ador 12.0 12,0 12,0 12,0 12.0 12.0 12 ,0 12 .0 [2.0 12,0 12.0 12 .0 fazendo -se Jo (d / D)2/ co = (d / D)2 / 2n = K, obtém-se
2" 12.1 12,] 12.0 11,9 11,9 11,9 J 1.9 I J!) [2,0 12,0 12.1 12 . 1
4" 12.2 12.1 12.0 1 1,9 J 1.8 11,8 J 1.8 [l.9 12,0 12.1 12.2 12,2
6" 12,3 12 ,2 12,0 11.9 11.7 11.7
hp
8" 12,4 12 ,2 12,0 ! 1,8 11,6
11.6
11.5 11.6
II.R
11.7
12.0
[ 2,0
12.1 12.3
12,4
12.3
Qo = K f cos (Z h ) dh (5.22)
12 .2 12.5
10' 12.5 [2 .3 12.1 I I.R 11.5 li A 11.5 11.7 [ 2)) 12 .2 12.5 12,6 hn
12" 12.6 12.4 12. 1 J 1,7 liA 113 11.4 11.6 11,9 12,3 12.6 12.7
14" 12.7 12,4 12, 1 J 1.7 11.3 [ 1.2 11.2 115 11.9 12,3 12.7+ 12,8
16° ]2,8 12.5 12 .1 J 1,6 11.2 11.0 [l. I 11.5 J 1.9 12,4 12.8 12,9
18" 13,0 12,6 12, 1 11.6 l U 10,9 11.0 J 1.4 11.9 12,4 12.9 13,1 Substituindo-se a eq.(5.4) na eq.(5.22) resulta em:
20" 13, 1 12 .6 12, 1 1 1,5 11.0 10.8 10.9 11.3 11.9 125 13,0 13,2
22" 13,2 12,7 12, 1 11,5 10,9 10.7 10,8 11.2 11,9 12.5 D. I 13.3 hp
24" 13,3 12,8 12,2 liA 10,8 10,5 10.6 11,2 11.9 (5.23)
26" 13.5 12,9 12.2 11,4 10,7 10.4 10,5 11, 1 11.8
12 .6
12,6
13,2
13,3
13,5
13.6 Qo = K f (sen '" sen 8 + cos '" cos 8 cosh) dh
28" 13.6 13,0 12,2 11.3 10,6 10,2 10,4 11,0 11.8 12,7 13,4 13.8 hn
30" 13.7 13,0 12,2 11.3 10,5 10. 1 10.2 10,') 11.8 12,7 13,5 13,9
35" 14,1 13,3 12 ,3 11,1 [0,2 9.7 9.9 10,7 11,3 12 ,9 13.9 14,3 hp hp
Qo = K [ f sen '" sen 8 dh + f cos'" cos 8 cosh dh] (5.24)
hn hn
5 . 7 IRRADIÂNCIA SOLAR EM SUPERFíCIES PARALElAS hp hp
AO PLANO DO HORIZONTE Qo = K [sen '" sen 8 f dh + cos '" cos 8 f cosh dh] (5.25)
hn hn
5 . 7.1 Valores diários desconsiderando os efeitos da atmosfera
Qo = K [sen '" sen 8 (hp-hn)+cos'" cos8 (sen hp- sen hn )] (5.26)
Integrando-se a e q.(5 .5) entre o na s cer e pôr-do-Sot re-
sulta no total diário (Qo) de radiação solar incidente em urna
Pela eq.(5.6) obs erva-se que hn = - hp, ou seja, há sime-
s u perfície horizontal paralela ao plano d o horizonte local, no
tria na trajetória diária do s ol com respeito ao meridiano local.
topo da atmosfera, ou seja,
Pela natureza da função seno tem-se que sen hn = - sen hp.
tp tp Portanto, a eq.(5.26) pode ser escrita como
Qo = fIh COS ( Z h) dt = Jo (d / D )2 f cos (Zh) d t (5.21)
tn tn
Qo = 2 K [hn sen '" sen õ + cos '" cos 8 sen hn] (5.27)
do ano (Figu r a 5_3). A fra ção Qg/Qo é denominada de 80% de Qo, em função da nebulosidade. Exemplos d e valores
transmitância global (Tg), ou seja, e la representa a quantidade médios de Qg, para algumas regiões do Brasil, são mostrados
de rad iação solar que efetivamente ch ega até a superfície ter- na Tabela 5.3_
res tre. Como a espessura d a ahnosfe ra a ser atravessada pelos
raios solares é função do ângu lo zenita l, Tg varia ao lon g o do TABELA 5.3 Valores méd ios mensais de Qg (MJ m'd-') para algumas regiõe s
bras i lei ras o
dia, com v alores m enores no nascer e n o pôr-da-Sol, e m aiores
Loc,1 Jatl Fcv Mar Ab, M ai J"" lu l Ago Sct 0" No" De;>;
d urante a passagem m eridiana. N o caso dos exemplos mos- Pará 12,5 13.3 13,6 12,1 12.9 15,2 14,7 15,5 16,7 1);,3 16,3 14,4
Min<ls Ger<lis 17,6 17 ,5 16,); 14,7 13, I 12,3 12,7 15, 1 16, 1
trados na Figura 5.3, Tg média do dia foi de 0,68 a tingindo São Paulo 20,7 2l.R 19.3 17,3 14,7 13,2 14A 16,8 17,6
15,7
19,7
16,1
21 ,9
16,9
2 1, 1
valores de pico entre 0,7 e 0,8_ Situação semelhante é relatada R.G Sul 21.3 19,5 15,7 12.5 9.7 8.3 9.0 I LI 13,0 16,4 20,2 22. 1
São Paulo.
I;:' E 3
'=0' ', I;:'
:' 3
'I- I:::"'.:..~:J
pelo azimute do Sol (a, eq.5.l1). A orientação da superfície é 5.9 MEDIDAS DA IRRADIÂNCIA SOLAR GLOBAL
caracterizada pelo azimute ([3) do p lano vertical que contém a
linha normal (perpendicular) à superfície. Tomando-se a li- - - Genericamente, os aparelhos que medem radiação solar
nha normal à superfície como referencia l, d efin e-se UlTI "novo" são denominados de s,QlarÍmetros, piranômetros, ra~iômetros,
ãngulo zenital (2') que é dado pela equação e actin6grafos. As medidas de Qg são efetuadas por instru-
mentos que utilizam diversos princípios físicos, desde gera-
cos Z' ~ cos i cos Z + sen i sen Z cos (~ - a). (5.31) ção de uma corrente elétrica até dilatação de metais.
(5 .34)
FIG U RA 5.4
Actinógrafo de Robitzsch.
94 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 95
nuo ou a a quis ição do sinal para conversão em arquivos digi- Hor I () til' ' 11 "'g ia, gerando urna corrente elétrica proporcio-
tais de sis temas au tomatizados de medida. 11 <1 1 [ in·;:l(.Iiâ nc ia g lo ba l. Também utiliza uma constante de
'a lib" ação para conversão da corrente em irradiância (Figura
5.7). No ins trumento aqui mostrado, O fotodiodo é protegido
por urna placa difusora que filtra as ondas longas e também
as ondas curtas acima de 1300 nm. O fator de calibração incor-
pora a en ergia solar de comprimento de onda maior que
1300nm fazendo urna compensação. A vantagem deste instru-
mento é seu custo reduzido, além de ser também eletrônico.
Este instrumento não é padrão. Corno no caso do piranômetro
de termopar, permite também
aquisição automatizada dos da-
dos em arquivos digitais.
5 .10 MEDIDAS DE IRRADIÂNCIA DIRETA E DIFUSA Teoricamente, quanto maior o valor de R, menor será o
valor de Fc. Quanto à largura L da banda, e la deve ser adegua-
Para se medir a radiação solar direta utiliza-se um da para permitir medidas por alguns dias sem necessidade de
pireliômetro, cujo sensor também é uma termopilha . O instru- ajustes freqüentes em seu alinhamento em função da variação
mento tem a forma de um tubo, sendo o sensor colocado no diária de d. Usando uma banda de sombreamento com R = 0,8
fundo. Na outra extremidade do tubo há uma abertura por m e L = 0,1 m, Ricieri et aI. (1997) verificaram que Fc, dado
onde os raios solares entram diretamente. Para assegurar que pela eq. (5.35), subestimou o valor de Qc dado pela diferença
apenas a radiação direta está sendo medid~, há uma série de entre valores medidos de radiação global e direta. Para dia
anéis com diâmetro cada vez menor para se obter um feixe com céu limpo, o erro médio foi cerca de 4%, mas para dias
colimado de raios solares. Um filtro elimina a radiação difusa nublados subiu para 12%.
que vem do céu, e sem o filtro mede-se a radiação terrestre
durante a noite. Um inconveniente é que se deve ajustar ma-
nua lmente o aparelho na direção do Sol, mas para faci litar tal
ta refa existe uma mira na parte externa (Figura 5.8a). Há tam-
bém a possibilidade de se utilizar um rastreador solar.
A irradiância difusa, ou radiação do céu (Qc), ou seja, aquela
que é espal h ada pela atmosfera, pode ser medida com
p iranômetros in s talados sob uma banda metálica (anel
sombreador) concêntrica à cúpula hemisférica do aparelho, a qual
impede a incidência direta dos raios solares (Figura 5.8b). A
irradiância direta (Qd) é obtida pela diferença entre Qg e Qc. Há,
portanto, necessidade de dois sensores, sendo um protegido pela II CUR A 5.8 Sen sores de radiação solar: a) direta; b) banda metálica para
OIJlt' Il ,(iO da radiação so lar difusa.
banda opaca. Em função da banda metálica obsfiUir uma área
considerável do feixe de radiação, reduzindo a radiação solar
difusa incidente sobre o sensor, há necessidade de se aplicar um
fator teórico (Fc) para se corrigir o valor medido. Esse fator de- 5.11 MEDIDA DO NÚMERO DE HORAS DE BRILHO
pende do raio (R) e da largura (L) da cinta, pois ele corrige a me- SOLAR
dida em função da fração de céu que o sensor não amostra, sendo
dado pela equação d e Drummond (1956), isto é, Ap 'sa i" ele nã o ser uma medida da irradiância solar, o
número de llOl"n s ri" brilho solar (representado por n), também
Fc (5.35) conhecido co mo illsolação, permite estimar valores diários ele
2L Qg. O e quipam e nto ut ili za do é o heliógrajo tipo Campbell-
)- - [hn. sen <1>. scn Ô + cos <1>. cos ô. sen hn] cos 3 Ô
nR
I
98 - Pereira, A ngelocci e Sente/has Agrometeorologia - 99
Stokes (Figura 5.9a), constituído de uma esfera de cristal, ajus- 5.12 ESTIMATIVA DA IRRADIÂNCIA SOLAR GLOBAL
tada sobre um suporte no qual uma tira de papelão é fixada. A DIÁRIA (QG)
convergênc ia dos raios solares sobre a tir~, quando há
irradiância direta, produz sua queima, permümdo o regIstro Na falta de um equipamento como o piranõmetro, o va-
do período de insolação. As tiras registradoras (Figura 5.9b) lor de Qg pode ser estimado a partir de medidas da insolação
variam de acordo com a época do ano. Para o penodo de ve- diária (n), desde que se tenha para o local determinados os
rão são utilizadas as tiras curvas longas; no inverno as curvas coeficientes da equação proposta por Angstrom-Prescott, e que
curtas; e na primavera e outono as retas. Esse equipamento relaciona os quocientes Qg/Qo e n /N, ou seja:
deve ser instalado em uma posição isenta de projeção de qual-
quer tipo de sombra ou obstrução dos raios solares. O equipa- Qg/ Qo = a + b 11 / N, (5.36)
m ento necessita de dois ajustes: de meridiano, para que o eIxo
da esfera se alinhe no sentido N-S; e de latitudelocal, para que e m que: Qo é a irradiância solar global extraterrestre no dia
o eixo da esfera fique paralelo ao eixo da Terra. Em dias com d esejado (Tabela 5.2); N é o fotoperíodo daquele dia, que re-
chuva ou orvalhamento intenso, as tiras ficam molhadas e presenta o número máximo de horas com brilho solar naquele
demoram a regis trar a incidência dos raios solares. di a (Tabela 5.1); e a e b são os coeficientes da equação empírica,
determ inados por análise estatística de regressão, sendo espe-
cíficos para o local. A fração Qg / Qo define a transmitância
g lobal d a atmosfera local, e seu valor máximo (potencial) é
dado pel a soma (a + b).
Q ua nd o não há tai s coeficie ntes para o loca l, Glover &
M ull o h (1958) p rop usera m a seg uinte aproximação:
E, = !J c/t..., (5.38)
Agrometeorologia - 103
102 - Pereira, Angelocci e Sente/has
l
Tt Ul per::ltur a d" s .. j" t e) ['
do solo. O tipo de cobertura do solo é um fator microclimático.
O"T----~"r-~-'-'~~'-'----'~'r___." I·
Solos desnudos ficam sujeitos a grandes variações térmicas
I", 'o I diárias nas camadas mais superficiais, em dias de alta irradiân-
cia. A existência de cobertura com vegetação ou com residuos
vegetais (mulch) modifica o balanço de energia, pois a cober-
In 60 !=;'." ~ ~~~~lJ
I
tura intercepta a radiação solar antes dela atingir o solo. Esse
é um fator importante a ser considerado em cultivos em que
as plantas são dispostas em linhas bem separadas, como é o
caso de pomares. É comum deixar-se vegetação rasteira nas
entrelinhas pois ela ameniza o regime térmico no solo. Porém,
FIGURA 6.1 Tautó cro nas de temperalura de
um latossolo desnudo. em regiões sujeitas a geadas, é importante que essa vegetação
6.2.1 Fatores determinantes da temperatura do solo rasteira seja eliminada nos períodos críticos (inverno), pois
assim o calor do Sol pode penetrar e ser armazenado no solo
A variação temporal e espacial da temperatura de um durante o dia, redu zindo o resfriamento noturno.
so lo depende de sua condutividade térmica, d e seu calor es- A Figura 6.2, extraída de Pezzopane et a!. (1996),
exemplifica o que acontece nas duas situações, ou seja, com
pecífico, e de sua emissividade (poder emissor da superfície),
so lo nu, e com solo cobe rto com palha de café (material iso-
os quais irão depender de sua textura, densidade e umidade.
lante térmico). Verifica-se que h ouve maior amplitude térmi-
Além disso, essa variação é decorrente da interrelação com
a no solo nu, e com a temperatura nas horas mais quentes
uma série de fatores, entre os quais se destacam:
" ting indo mais de 45 °C a 2 em de profundidade. Nota-se que,
J 111 ' d iela qu e a quantidade de palha de café foi aumentando
• Fatores externos
Os fatores externos estão relacionados aos elementos ("' '' io !" espess ura da camada isolante), a amplitude diária foi
di lninuincl o.
meteorológicos que afetam o balanço de energia na superfície,
e também sua posterior partição (ver Capítulo 10, Balanço de
108 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorologia - 109
Telll\JCr::atura do s olo ( C)
das superficiais e menor profundidade de penetração das on-
25 30 35 40 45
'" das de calor, em função de sua menor condutividade térmica.
O
'"
r---------------------------~
Fisicamente, a condutividade térmica (k, J m·! s·! CC') repre-
senta a taxa de transporte de calor (G, J m ·' S·') através de uma
área unitária (1 m'), quando o grandiente de temperatura (6T /
6z) é igual a 1 cC / m, ou seja, G = - k 6T / 6 z . A condutividade
térmica expressa a facilidade / dificuldade com que um corpo
transporta calor. Ela é maior em solos ricos em quartzo, e me-
nor em solos orgânicos. A porosidade do solo também afeta s ua
"~======~============~I
- + - Otfh:l {6h )
--o--- Ol/h3 ( 14h )
~....... 14t/h a (6h ) ~6-~ 28t/h,,{6h)
~ 14t/ h a ( 14h ) ~ 28t/ha (1 41l ) 1
condutiv idade té rmica, pois quanto maior o volume total de
poros, menor o contato entre as partículas. O teor de água tam-
I . __ =.!...--I
terrenos v oltados para o E recebem os raios solares antes que G" ' o
....o I ___ "Arg iloso
29
c ~ p c = 1,92 X m
+ 2,51 Xo + 4,18 X" (6.1)
27
u
sendo Xm, Xo' e X" respectivamente, as frações volumétricas • 25
i5
das partículas minerais, da matéria orgânica, e da água retida ~
23
no solo. Se, para um solo, a fra ção mineral é constante, e a '"
~
'9
ca desse solo é u ma função linear direta de seu teor de umida- ~
>- 17
de . Isso significa que quanto mai s úmido estiver o solo, mais
energia será necessária para elevar sua tempe ratu ra de 1 °C _
Com o a capacidade té rmica do ar é várias ordens de magnitu-
'5
g,
«
•
"'
>
o
Z
.
N
"
de m en or que a da água, solo seco se aquece m.u ito ma is rapi- FIGURA 6.4 Variação anual da temperatura média mensal I
damente que solo mais úmido. em du as profu ndidades, de um latossolo roxo. Adaptado de
Alfons; (1979).
6.3 TEMPERATURA DO AR
6.2.2 Variação temporal da tempe ratura do solo
A tempera tura do a r é um dos efeitos mais importantes
A variação diária da temperatura do solo segue aquela
da rad iação solar. O aquecimento da atmosfera próxima à s u -
apresentada na Figura 6.1. Na camada superficial (2 em), a
p erfície terres tre ocorre principalmente por transporte de ca-
temp er atura atinge o valor máximo entre as 12h e as 14h; e em
1 0l~ a p artir do a q uecimento d a superfície pelos raios solares.
profundidades maiores, a lém da menor amplitude térm ica, os
O transporte de calor sensível ocorre por dois processos:
horários em que ocorrem os valores má ximos são diferentes_
Na escala anual, a variação corresponde à disponibili-
• Condução molecular, q u e é processo lento de troca de
dade de en ergia na superfície, ou seja, valores máximos ocor-
ca lor sensível. pois se dá por contato direto entre "mo léculas"
rem no verão, e ln.ínil1l0S no inve rno. No verão, a temperatura
d e ar; logo, esse p rocesso tem extensão espacial m u ito limita-
112 - Pereira, A ngeloeei e Sel1telhas Agrometeorologia - 113
\
da, fi cando restrito a uma fi na camada d e ar próxima à s uper- lura regis tr ada em locais diferentes conseqüência apenas do
fície a quecid a (camada limite superficial); macroclima. A altura m edida é entre 1,5 a 2,0 m acima da su -
p erfície, dentro de um abrigo meteorológico que permita a Ji-
• Difusão turbulenta, que é processo mais rápido de troca vre passagem d o ar mas impeça a incidência de rad iação solar
d e energia, pois parcelas de ar aquecidas p ela superfície en - nos equipamentos. Esse abrigo pode ser de paredes tipo vene-
tram e m movimento convectivo desord enado transpo rtando zianas, como nas Estações Meteorológicas Conven cion ais (Fi-
calor, vapor d'água, p ar tículas de poeira, etc., para as cama- gura 6.5a), ou constituído de multi-placas, com o nas Es tações
das superiores. Meteorológicas Autom á ticas (Figura 6.5b).
Agrometeorologia - 115
114 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
I
· ::~'
õ
'-
, peratura seja mínima, para permitir que e le seja preparado
I
o
~
20 .
Tmáx
.
para a próxima observação. Para se evitar efeito da gravidade
~
sobre a movimentação da coluna, esse termômetro deve ficar
~
;
•
~
:: t i disposto horizontalmente.
·
E
~
5 . TmÍ1
o .,--+---+~--+--+-_-+-_+-+---<~i
o 2 ' 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
I O termômetro de mínima (Figura 6.7a), tem o álcool como
líquido sensor, sendo se u bulbo em forma de U para permitir
II maior contato com a atmosfera. Dentro da coluna de álcool há
Hora
uma pequena peça de material leve em forma de h.ill.teT, que
!I FIGURA 6.6 V ariação d iári a típica da temp eratura do somente se movimenta quando a coluna retrocede em direção
ar. ao bulbo, o u seja, em condições de diminuição da temperatu-
ra. Esse movimento só é possível se o halte r estiver colocado
6.4 TERMOMETRIA
junto ao menisco que se forma na interface á1cool- ar dentro
do termômetro. Para que o termômetro esteja ap to a medir a
A temperatura é medida com termômetros, que podem
temperatura mínima, o halter deve ser movimentado até a
ser divididos em 5 grupos, de acordo com o princípio físico
extremidade do menisco nas horas mais quentes do dia, após
utilizado pelo sensor de temperatura.
a leitura da mínima. A temperatura mínima corresponde à ex-
tremidade do halter voltada para o menisco, que é o indicador
• Dilatação de líquido: os termômetros baseados neste prin-
da temperatura em qualqu er instante. Obviamente, esse ter-
cípio são os mais comuns, cons is tindo de um capilar de vidro,
mômetro também d eve ficar disposto horizontalmente para
onde uma coluna de líquido (álcool ou mercúrio) se dilata/
I evitar movimentação indevida do h alter.
contrai com o aquecimento/resfriamento. Em um posto
Quando não se n ecessita de maior precisão nas medi-
I agrometeorológico con venciona l, os termômetros d e máxima
de mínima, geotermômetros e o conjunto psicrométrico são dess~
das, pode-se utilizar um termômetro conjugado de máxima e mí-
nima, tipo Six (Fig ura 6.7b). É um sensor de baixo custo, m as
tipo.
I menos preciso que os termômetros meteorológicos. Esse ins-
O termômetro de máxima (Figura 6.7a), u sa mercúrio como
trumento é colocado verticalmente, e tem forma de U , conten-
sensor, e tem uma constrição n o capilar próximo à base da
I
" I
til
116 - Pereira, Angelocci e SenteI/las Agrometeorologia - 117
do mercúrio na parte de baixo do U e álcool acima, em cada lado. direção ao reservatório totalmente cheio de álcool. Esse lado marca
Portanto, há uma interface mercúrio-álcool em cada lado. Um a temperatura mÚ1Íma.
lado marca a temperatura máxima, e o outro a múúma. Como os Para se medir a temperatura do solo são usados termô-
líquidos se movimentam livremente, são necessários dois indica- metros especiais de líquido em vidro, denominados de geoter-
dores, um para a temperatura máxima, e outro para a múúma. mômetros (Figura 6.8). Esses termômetros têm vários tamanhos,
Os indicadores são ajustados aos capilares de tal modo que eles dependendo da profundidade que se quer medir a tempera-
não se movimentam com a ação da gravidade. A variação de tem- tura. São termômetros de mercúrio, mas como o bulbo sensor
peratura só os deslocam para cima. Esses indicadores são mov i- fica enterrado, a coluna contendo a escala de leitura é inclina-
mentados pelas colunas de mercúrio, mas ficam imersos no álco- da para facilitar a leitura. Para se minimizar a incidência dos
ol, e são imantados para permitir seu deslocamento forçado até raios solares diretos sobre a coluna de mercúrio, deve-se vol-
as interfaces álcool-mercúrio após as observações, para o prepa- tar a escala de leitura do termômetro para a face S. No caso de
ro do termômetro para a leitura seguinte. medidas acima de 50 cm de profundidade, usa-se um termô-
O lado da máxima termina em um reservatório parcialmen- metro inserido em um tubo d e PVc, com contato mínimo en-
te cheio com álcool, para permitir a dilatação dos líquidos. O lado tre o tubo e o termômetro, que pode ser removido para se fa-
da múúma termina em um reservatório totalmente cheio com zer a leitura.
álcool. Quando há elevação da temperatura, há dilatação tanto
do mercúrio como do á lcool, e há movimentação em direção ao
reserva tório parcialmen te vazio (único ca minho possível). Com
esse movimento, o indicador da temperatura máxima é desloca-
do também para cima (lado parcialmente cheio). Quando há
resfriamento, tanto o mercúrio como O álcool se contraem, mas O
álcool se contrai nlais, e a movinlentação d a col una agora é enl
l) ,-
a b
~
~
g
~
- 30- ~ 50
:~ -20 40
'. '- 2: - !O
I 30
§
"
"'" o 20
LJ
10 10 FIGURA 6.8 Geotermômetro s.
20 r O
J 30 r-lO
40 f- -20 • Dilatação de sólido: instrumento desse tipo baseia-se no
50 r- 3O
princípio de que um sólido ao se aquecer sofre dilatação pro-
~
porcional ao aquecimento. O mais comum é o termógrafo, cujo
FIGURA 6.7 Term ômetro de máxima e mín ima: (a) tipo padrão, (b) esque- sen sor é uma placa metálica, que ao se dilatar e se contrair, de
ma do tipo Six.
118 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 119
acordo com as variações de temperatura do ar, aciona um sis- ção (tomada como referência) é colocada em um sistema cuja
tema de alavancas ligado a uma pena sobre um diagrama temperatura é conhecida (temperatura de referência) normalmen-
acoplado a um sistema de relojoaria, permitindo o registro con- te medida em gelo fundente a Doe ou com termistor inserido
tínuo (diário ou semanal) da temperatura do ar (Figura 6.9). no sistema. A diferença de temperatura entre as duas junções
São muito utilizados em postos agrometeorológicos conven- gera uma força eletromotriz lfe.m.) proporcional, permitindo
CionaIS. ótima precisão e sensibilidade d e m e dida. Pelo uso de uma
constante de calibração o v alor da fe. 111. é transformado em
temperatura. No caso apresentado, os metais são o cobre e o
constantan (Figura 6.1D).LJma v antagem desse tipo de termô-
metro é que eles geram sinais elé tricos que podem ser
registrados ou armazenados em sistemas automatizados de
aquisição de dados; outra vantagem é permitir miniaturização.
Cobre )
Junção __ _____ __• ".
Registrador
: Constan tan
Gelo -------,
Cobre
FIGURA 6.10 Te rmopar de cobre-con stantan .
por fa!ta de calibração local onde só se dispõe dos valores ex- nam adequadamente. No entanto, à medida que a n ebulosi-
tremos. dade vai diminuindo, as diferenças aumentam . Sentelhas et
aI. (1997a), analisando dados diários automatizados de 13 me-
• Valores Extremos: Tméd = (Tmáx + Tmin)/2. (6.4) ses, obtidos em Piracicaba, SP, verificaram diferença média de
-1,2 °C entre a média rea 1 (EMA) e a média dada por valores
Com. o desenvolvimento da microeletrônica, apareceram extremos (Tméd Extremos).
I
os sensores de custo mais reduz ido e com o atrativo de não se
necessitar de ob servador, e com a possibilidade de acesso re- TABELA 6.1 Comparação entre valo res de tempe ratura média diária (Tméd,
moto às medidas em qualquer instante. Apareceram as esta- 0c) estima da pelas diferentes fórmulas, e respectivas diferenças (Ll) em rela-
ção à EMA. Piracicaba, SP.
ções autuIllatizadas com o possibilidade de observações em
intervalos bem reduzidos, aumentando a qualidade das me-
didas e das estimativas dos valores médios .
11M) 'd
" Tméd
I .
.2' ",.
• Estações Automáticas: Tméd = ~Tar /No, (6.5) .. A 1 - IAC - EMA; .0.2 - INMET - EMA; 63 - Extremos - EMA.
sendo que No representa o número de observações feitas (de- -Temperatura média do ar no interior de
pende da programação do s iste ma de aquisição de d ados), e estufas plásticas
Tar é a temperatura de cada obse rvação. É importante notar
que nesse caso, as observações são contadas entre as O e as 24 Nesse caso, ainda não há consenso q u anto ao tipo de
horas, e m função da programação do sistema de aquisição fórmula a usar, sendo comum o uso de termógrafos ou de es-
a utomá tica dos dados. tações a utoma tizadas. Pezzopane e t a I. (1995a) utilizaram a
A Tabela 6.1 apresenta comparação entre os três méto- equação prescrita pelo INMET, verificando excelente aj u ste
dos de es timativa da Tméd e aquela obtida por urna estação com a Tméd ob tida por um sistema au tomatizado, sendo o
automática (EMA), para um dia de cada estação do ano, em e rro médio da ordem de 1 %.
Piracicaba, SP. A Tméd da EMA foi calculada com 86400 valo-
res obtidos a cada segundo, e por isso foi tomada corno refe- - Temperatura média do solo
rência (Tm éd real) para comparação das fórmulas mais s im- No caso da temperatura do solo, tamb ém n ão há padro-
ples. Foram escolhi dos dias com extremos de nebulosidade nização e Alfonsi et aI. (1981) u tilizaram a seguinte fórmu la :
(n) . Observa-se que, em geral, quanto maior o número de amos-
tras para a o btenção da Tméd, menor a diferença em relação (6.6)
ao valor médio real. Dias com alta nebulosidade, isto é, com
baixos valores de n, mostraram que todas as fórmulas funcio-
I~L
124 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 125
6.6 ESTIMATIVA DA TEMPERATURA MÉDIA MENSAL cada 1000m de va riação em altitude a temperatura média
DOAR mensal sofrerá um d ecréscimo en tre - 3,4 °C e -7,5 cc. Essa
variação bastante diferente para os dois estados se dá em fun-
Em muitas situações, principalmente quando se planeja ção da quantidade de vapor d 'águ a presente n a atmosfera. Em
uma atividade a g rícola, é importante saber-se a tempe ratura condições mais secas, a queda da tempera tura é m ais acentua-
média mensal d e um local. A temperatura média mensal pode da que em épocas m ais úmidas. Portanto, meses com v alores
ser calculada a partir d as tempera turas m édias diárias. No maiores d e b (mais próximos de zero) devem ser m ais úmidos
entanto, nem todos locais dispõem de posto meteorológico, e (chu vosos). Teoricamente, se a atmosfera estiver totalmente
na falta de tais observações, pode-se estimar um valor médio seca, o limite para a queda da temp eratura cau s ada pela a lti-
mensal normal (m édia d e vários anos) pelas coordenadas geo- tude é -9,8 °C/IOOOm, valor esse denominado d e Gradiente
gráficas. Esse procedimento baseia-se no fato de que a tempe- Adiabático Seco. Se a atmosfera estiver saturada de vapor
ratura m édia do a r é função da latitude (devido à relação entre d 'água, e ntão o decréscimo de temperatura é acentuadamen-
esta e a irradiância glob al) e da altitude (efeito da variação de te menor e próximo de -4 °C/IOOOm (Gradiente Adiabático
pressão), sendo às vezes n ecessá rio introduzir a longitude (efeito Saturado). Nota-se, que os valores empíricos de b se enqua-
da locali zação próxima ao litoral o u no interior do continen- dram dentro dos limites teóricos.
te). Tais equações são obtidas p or aná lise es tatística de regres- Quanto ao parâmetro d da longitude, ele n ão apresen-
são, sendo d o tipo: tou efeito significa tivo na estimativa da temperatu ra m éd ia
nos es tados de Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, e São Paulo,
Tméd = a + b ALT + c LAT + d LONG (6.7) talvez pela p equ ena variação deste fator n os limites geográfi-
cos dessas regiões. Por ser um estado bem estreito em seu in-
em qu e: Tmé d é a temperatura m édia do ar em um dado m ês, terior, Santa Catarina n ão apresentou efeito da latitude sobre
expressa em cC; ALT é a altitude do local, em metros; LAT é a a temperatura, preponderando os efeitos da altitude e da lon-
la tihlde, e LONG a lon gitude, ambas dadas em minutos; e os g itude.
parâmetros a, b, c, e d são determinados para a reg ião como
um todo. Os coeficientes para esse tipo de equação existem
para vários estados brasileiros (Tabela 6.2), e ntre eles Bahia, 6.7 ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO SOLO EM
Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e FUNÇÃO DA TEMPERATURA DO AR
Santa Catarina .
Embora a eq.(6.7) seja empírica, a aná lise dos coeficien- Apesar de as medidas de tempera tura do solo a várias
tes apresentados n a Tabela 6.2 permite a lgumas inferências . profundidades sere m rotineiras nos postos agrometeoro ló-
Por exe mplo, o parâmetro b da altitude apresenta valores en- g icos, muitas vezes, para estudos específicos, essas informa -
tre - 0,0034 (julho, no PR) e -0,0075 (julho, n a BA), ou seja, p a ra ções n ão es tão disponíveis. Desse modo, pode-se la n çar m ão
128 - Pereira, Angelocci e Sentelhns Agrometeorologia - 129
Umidade do ar
7.1 INTRODUÇÃO
7.2 DEFINiÇÕES
5
C ur va de es
~
o
êª __ ___ ___ __ __________ __ ___ __
>
u
·· 4
3
o ,[\,, de
UNIDADES DE PRESSÃO ··
~
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2 ea
T:
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--- -- ------t---'
"
A
T
1alm ~ 760 mmHg ~ 1013,3 rnb ~ 1013,3 hPa ~ 101,33 kPa
o
0\J !
I
:
I
s
atmosfera . A pressão parcial d e vapor (e.l v aria d esde zero, FIGURA 7.1 G ráfico Psicrométrico.
sendo e, em kPa; M , = 18,015 g mol-'; e R = 8,31 10-3 kPa m' 'c nd o To em °C, e, em kPa, e Log representa o logarítmo deci-
mol-1 K-', Tem K, tem-se: ma l d o q uociente dentro do colche te. Essa equ ação é a de Te tens
csc ri ta de modo a se ter To como incógnita.
fi , / V = (My / R) (e ó
T) / (7.6)
M y / R = 18,015 / 8,31-10-' = 2168 g K kPa-1 m-' (7.7)
7.3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA DETERMINA-
UA = 2168 e, / T [g H,o m-' de ar]. (7.8)
ç ÃO DA UMIDADE DO AR
No caso da unidade utilizada de e, ser em mmHg, o
P a ra a determinação da umidade relativa do ar utilizam-
quociente My / R ~ 289 g K mmHg-' m -'.
se e quipamentos que têm alguma proprie dade associada ao
A umidade de sa turação (US) pode ser obtida da mesma
teor d e v apor d'água contido na atmosfera. Alguns são extre-
fonua inserindo-se e , no lugar de e,, ou seJ'a:
m a m ente simples, não necessitando mais que um par de t~
lllô m e tros. Os principais instrumentos utilizados são descri-
US = 2168 e, / T [g H,o m -' de ar]. " (7.9)
tos abaixo_
A umidade relativa do ar (UR%) é definida pela ra zão en-
• Psicrômetro
tre a umidade atual e a umidad e de satura ção, que equivale à
É constituído de dois termômetros (Figura 7.2), sendo
relação entre e, e e" conforme mostrado aba ixo:
um com o bulbo seco, que mede a temperatura real do ar, e o
UA 2 168 e. I T e o utro CaIU o bulbo envolto em uma gaze sempre umedecida,
UR %=-- IOO = a 100 =---"- 100 (7.10)
US 2 168e,I T e, qu e perde água a uma taxa dependente da concentração de
vap or no ar; quanto menor for e" menor será a tempe ratura
A temperatura na qual uma parcela de ar atinge a satu- desse te rmômetro em relação àquela do bulbo seco. Q u anl.o
ração apenas por resfriamento é denol1"linada de temperatura i.' m a ior a diferença entre essas tel1"lperaturas, maior o poder
do ponto de orvalho (To). Graficamente, To pode ser observada 'vaporante do ar, indicando que a concentração d e vapor
na Figura 7_1 traçando-se uma linha horiz ontal desd e o ponto d 'ág u a na atmosfera es tá dIstante do valor saturante, isto é,
A até interceptar a curva de e" traçando-se daí uma linha ver- qu c a UR é baixa. Quando as temperaturas desses termôme-
tical d esse ponto até a escala de temperatura. Analiticamente, 1 ros se aproximam significa que o teor atual de vapor d'água
To é dada pela se guinte expressão: ('s l6 p róx imo do valor de saturação, ou seja, que a UR é alta.
Co m a temperatura do bulbo seco (Ts) determina-se o
237,3Log [~1 vn lo r d c e, pela equação de Tetens (eq. 7.2), fazendo -se Tal' =
To = 0,6108 (7.11) 'Is. imila rmente, com a temperatura do bulbo molhado (Tu),
7 ,5 - Lo g [--""-, cic'l 'rmina-se e,u também pela eq uação de Tetens, fazendo-se
0,6108
136 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 137
período de brilho solar, o valor de e, atingiu valores máximos, processo denomina;io de des tilação de orvalho, sendo este últi-
decrescendo posteriormente. O pequeno aumento no início do mo insignificante quando comparado ao primeiro (Rosenberg
dia está associado principalmente à evaporação e à baixa et aI., 1983).
convecção, aumentando a concentração de vapor d'água no A' formação do orvalho é Ífsultado da perda radiativa d,e
ar próximo à superfície. Logo depois, com a intensificação dos ~~perfíci~s, e transferência de vilPor 'd'água dp ar para
movimentos convectivos, parte desse vapor é levado para ca- elas, Além desse fator, a quantidadee ~ duSlÇão d9 orvall10 sobre
madas mais altas da atmosfera, resultando em ligeiro decrés- as folhas. de uma planta dependem d.a estrutura da planta, do
cimo da concentração próximo à superfície. Com O estágio de d esenvolvimento, da posição da folQa na planta, do
resfriamento noturno, o vapor d'água disperso se acama, au- ângulo de inserção, da geometria da folha e de seu tamanho, .e
mentando novamente a concentração na altura das medidas. também de suas propriedades térmicas e das condições
meteorológicas (temperatura, umidade e velocidade do vento),
----
a) Pi .... c.u .... , S I'· OUIl'}/ i99? b) 1·lõ~ck .. b3. SI' . 1M02l2000 os quais irão interferir 11(:JJ2.ê:!anço de radiação (Sutton et aI., 1984).
As condições meteorológicas requeridas para a forma-
ção de orvalho são aquelas que favorecem a intensa emissão .
.
!
.
~
de energia pela . superfície durante o período noturno,
.
, . ou sejq:
t E
" .::.------ s uficiente perda de radiação de ondas longas e resfriamentO
c, da superfície; e alta umidade relativa nas camadas de ar pró-
"
Il .. . . rl o lI unórlo
" ximas à superfície para pérmitir condensação. Nessas con,di-
FIGURA 7.3 Variação ho rária de temperatura (T), umidade relat iva (U R), e
ções, .a formação de orvalho ..... - .
se inicia, em média, dúas a três
horas após b pôr-do-sol, continuando até uma a duas horas
"
pressão de vapor (e, e e,), dura nte um dia de pe ríodo seco (02109/ 1999) e
de pe ríodo úmido (14/02/2000). a pós O nascer do s91. Essa duração, no ent~nto, poderá ser ai:
terada em fu~ç.ão do .vento, da cultura, do us'o d'e irrigação e '
da cobertura do solo com palha ou plástico (Baier, 1966).
7.5 ORVALHO Segundo Marlatt (1971), as pesquisas com a ocorrência
o
d e orvalho concentram-se .na medida, -efeito -sobre .d esenvol-
O orvalho é definido como a água condensada sobre uma v imento de pragas e doenças, estimativa e previsão, seI'\do
superfície, quando a temperatura atinge o ponto de condensa- } nuito pouc'o estudado sob 6 ponto de vista cl'imatológicoD
ção (Ponto .de Orvalho, To). O orvalho pode ser proveniente d,a Muitos autores discordam quanto à importânCia do or-
condensação do vapor d'água do ar adjacente à superfícje, va lho como fonte de água no ciclo hidrológico, porém, toqos
imediatamente superiol~ no processo conhecido como precipi- s50 categóricos quanto à sua importância na âgricultura.e na
tação de orvalho ou de uma superfície evaporante inferior, no. ecolog ia das áreas áridas e semi-áridas, onde chega a repre-
142 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrorneteorologia - 143
sentar entre 15 e 20% da água consumida pela vegetação sendo pouco utilizado. Os aparelhos do Grupo 3 são aqueles
(Fritschen & Doraiswamy, 1973). De acordo com Monteith que registram a presença de orvalho por pesagem da água
(1973), a contribuição do orvalho no balanço de água da vege- condensada, depositada em um recipiente coletor, sendo de-
tação é pequena, pois as quantidades são de magnihlde muito nominados de orvalhógrafo. Finalmente, os equipamentos do
menor que as taxas de evapotranspiração potencial (ver Capítulo G rupo 4 são aqu~les que medem a formação de orvalho pela
12). No entanto, a duração do período no qual o orvalho per- mudança na condutividade elétrica de superfícies de folhas
manece sobre as plantas torna-se elemento importante na agri- f natu rais ou artificiais (Figura 7.5).
cultura, podendo afetar uma série de atividades, entre elas as Cada um desses equipamentos apresenta suas vantagens
colheitas e as pulveri zações. Influencia também na ocorrência e desvantagens, sendo os dos três primeiros grupos utilizados
de doenças fúngicas, sendo, nesse aspecto, muito mais impor- em estações meteorológicas convencionais e os do último gru-
tante o número de horas com orvalho sobre as plantas do que . po em estações automatizadas. No caso do aspergígrafo e do
a sua quantidade. Nesse contexto, vários são os trabalhos que orvalhógrafo, os maiores problemas estão na cotação dos da-
evidenciam a importância do orvalho no estabelecimento e dos, em razão desses equipamentos, especialmente o último,
desenvolvimento de doenças fúngicas, propiciando a água sofrerem interferência do vento, sendo, em muitos casos, ne-
necessária aos processos de germinação e de penetração do cessário o uso de mecanismos de proteção, o que, no entanto,
fungo nas plantas (Pedro Jr., 1989). acaba interferindo na m edida, pois o vento atua diretamente
na formação do orvalho. No caso dos sensores automatizados,
as medidas são bastante confiáveis, possibilitando o registro
7.5.1 Medida do orvalho e de sua duração contínuo sem interferência do vento. Amador (1987), comparan-
do medidas feitas em três tipos de equipamentos de determina-
Apesar de existirem diversos equipamentos, não há um ção da duração do período de molhamento por orvalho com ob-
método padronizado de medida e registro do orvalho, talvez servações visuais, concluiu que o de sensor eletrônico foi o que
por não ser esse elemento medido rotineiramente nos postos proporcionou menores erros (9,7%), sendo esses bem inferiores
meteorológicos, e por sua importância se restringir quase que aos erros médios apresentados pelo aspergígrafo (17,5%) e pelo
especificamente à agricultura . No entanto, a Organização orvalhógrafo (34,0%), nas condições do trabalho.
Mundial de Meteorologia (OMM) divide esses instrumentos
em quatro grupos. O Grupo 1 se refere aos equipamentos que
registram o orvalho e sua duração pela mudança de compri- 7.5 .2 Estimativa da duração do período de molhamento por
mento do elemento sensor devido ao molhamento, sendo o orva lho (DPM)
I
aspergígrafo, que utiliza fios de cânhamo, o mais utilizado (Fi-
g ura 7.4). No Grupo 2, o elemento senso r (grafite) se d issolve Sendo o orvalho dificilmente m edido em estações meteo-
com o orvalho e registra a sua duração em um pra to de cristal, l"ü lógicas, e sen do a duração do período de molhamento (DPM)
144 - Pereira, Al1gelocci e Sel1telhns Agrometeorologia - 145
Chuva
7.6 EXERcíCIOS PROPOSTOS
QUADRO 7.1 Dados de umidade re lat iva do ar no dia 03102/94 em Nas regiões tropicais, a chuva, ou precipitação pluvial, é
Piracicaba, SP. a forma principal pela qual a água retorna da atmosfera para a
Hora UR(%) Hora UR(% ) Hora UR(%) Hora UR(%) superfície terrestre após os processos de evaporação e conden-
7 97 sação, completando, assim, o ciclo hidrológico. A quantidade e a
I 92 13 53 19 64
2 95 8 83 14 50 20 65 distribuição de chuvas que ocorrem anualmente em uma re-
3 94 9 72 15 50 21 72 gião determinam o tipo de vegetação natural e também o tipo
4 95 la 66 16 48 22 74 de exploração agrícola possível.
5 97 11 62 17 49 23 77
6 100 12 58 18 55 24 80
8.2 CONDENSAÇÃO NA ATMOSFERA
2. A partir dos dados do psicrômetro (Ts = 29,2 °C; Tu =
Para que haja condensação do vapor d'água na atmosfe-
25,7 °C), que se encontra a uma pressão média de 100kPa, de-
ra é necessário a presença de núcleos de condensação, em torno
termine: a) Pressão de saturação de vapor d'água; b) Pressão
dos quais são formadas as gotículas que constituirão as nu-
atual de vapor d'água; c) Temperatura do ponto de orvalho;
vens. Os núcleos de condensação são partículas higroscópicas,
d) Déficit de saturação; e) Umidade atual e umidade de satu-
entre as quais O NaCI, de origem marítima, é o mais abundan-
ração; f) Umidade relativa.
te, visto que dois terços da superfície terrestre é coberta por
oceanos. Além da presença de núcleos de condensação, o va-
por d'água na atmosfera condensa-se quando as condições
tendem à saturação, o que pode ocorrer de duas maneiras: a)
pelo aumento da pressão de vapor d'água devido à evapora-
ção e à transpiração e b) por resfriamento do ar. Na realidade
esses dois processos podem ocorrer simultaneamente, mas na
na tu reza, o segundo é bastante efetivo em promover a forma-
148 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrorneteorologia - 149
ção de orvalho e de nuvens. No caso dessas últimas, a forma- s uspensão sustentada pela força de flutuação térmica. Para que
ção ocorre quando parcelas d e ar úmido sobem e se resfriam haja precipitação, deve haver a formação de gotas maiores (ele-
adiabaticamen te, devido à expansão interna causada pela di- mentos de precipitação), e isto ocorre por coalescência das pe-
minuição da pressão atmosférica. quenas gotas, d e form a que a ação da gravidade supere a for-
A taxa de decréscimo da temperatura da parcela com a ça de sustentação promovendo a precipitação . A coalescência
elevação em altura recebe o nome de Gradiente Adiabático, sen- é resultado de diferenças de temperatura, tamanho, cargas elé-
do representado pelo símbolo r. No processo adiabático, a tricas, e de movimentos turbulentos dentro da nuvem. Quan-
variação de temperatura ocorre somente pelo efeito de varia- to mais intensa for a movimentação dentro da nuvem, maior
ção da pressão, sem que ocorra trocas de energia com o ambien- será a probabilidade de choque entre as gotas, resultando em
te externo à parcela. Os valores de r variam em função da gotas sempre maiores, até o limite da tensão superficial.
umidade presente na parcela d e ar, assumindo extremos de
cerca de -0,98 °C / lOOm, no caso de ar seco, e - 0,4 °C/ lOOm,
quando o ar está sa turado. 8.4 TIPOS DE CHUVA
O gradiente térmico da atmosfera como um todo (Gradi-
ente Real Observado, GRO) é variável, situando-se em torno d e Os tipos de chuvas se caracterizam pela sua origem.
-0,6 °C / lOOm. Dependendo do g radiente adiabático das par- Assim, existem chuvas geradas por passagem de frentes, por
celas que sobem, em comparação ao GRO, os movimentos convecção local, e por efeitos orográficos (montanhas).
convectivos térmicos são favorecidos (atmosfem instável) ou não
(atmosfera neutra ou estável). No primeiro caso, pode ocorrer • Chuvas frontais
formação de nuvens quando, ao se elevar, a parcela úmida São originárias de nuvens formadas a partir do encon-
atinge a temperatura do ponto de orvalho (nível de saturação tro de massas de ar frio e quente. A massa quente e úmida
da parcela). Outra forma de ocorrer condensação é quando (mais leve) tende a se elevar, resfriando-se adiabaticamente,
uma parcela de ar úmido é forçada a se elevar devido ao rele- is to é, sem troca de calor com o meio adjacente. Nesse proces-
vo (efeito orográfico), ou devido ao encontro com outra massa so forçado de subida da massa úmida ocorre a condensação.
de ar mais fria (efeito de frentes frias) As chuvas frontais caracterizam-se por: intensidade modera-
da a fraca, longa duração (dias), e sem horário predominante
para sua ocorrência. A Figura 8.1 mostra a distribuição horá-
8.3 FORMAÇÃO DA CHUVA ria das chuvas de julho, em Campinas, SP, época em que pre-
dominam as chuvas frontais. No ta-se que não há um horário
O processo de condensação por si só não é capaz de pro- p redominante para ocorrência das chuvas, e que sua intensi-
mover a precipitação, pois são formad as gotículas muito pe- dade é baixa, não passando de 5 a 6 mm/hora, em média.
quenas, denominadas elementos de nuvem, que permanecem em
150 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
Agrometeorologia - 151
25 ~r---------------------------------r7
o
5
11'"
1 at
3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 O .. o
3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Horário
Horário
FIGURA 8.1 Variação do total e da freqüência da chuva
horária em Camp inas, SP, em ju lho . Fonte: Pezzopane et FIGURA 8.2 Va riação do tota l e da freq üência da chuva
aI. (1995b) ho rária em Campinas, SP, em janeiro. Fonte: Pezzo pane
et aI. (1995b)
• Chuvas convectivas
superficial (enxurrada), que ganhando momento (quantidade
Originam-se de nuvens formadas a partir de correntes
de movimento), poderá causar erosão do solo, desde que outros
convectivas (térmicas) que se resfriam adiabaticamente ao se
fatores como cobertura do solo, umidade, e declividade também
elevarem, resultando eln nuvens de grande desenv olvimento
contribuam para isso. A Figura 8.3 apresenta os principais tipos
v ertical (cumuliformes). As chuvas convectivas se caracteri-
de distribuição de chuvas intensas em períodos de quatro horas,
zam por forte intensidade, mas curta duração, podendo ocor-
na região de Piracicaba, SP, sendo o caso 1 da Figura 8.3a predo-
rer descargas elétricas, trovoadas, ventos fortes e granizo, pre-
minante de outubro a março (Sentelhas et aI., 1998).
dominando no período da tarde e à noite, quando a força
gravitacional supera a força de sustentação térmica . A Figura
• Chuvas oro gráficas
8.2 mostra a distribuição horária das chuvas de verão, predo-
Chuvas orográficas ocorrem em regiões montanhosas,
minantemente de origem convectiva, na região de Campinas,
onde o relevo força a subida da massa de ar úmido. Essa subi-
SP, em janeiro, e observa-se a maior inten sidade e freqüência
da forçada é equivalente ao processo de convecção livre, re-
no período da tarde e à noite.
sultando nos mCSlnos fenômenos atmosféricos. Devido aos
As chuvas convectivas, também conhecidas como chu-
ventos, o ar sobe pela encosta resfriando-se adiabaticamente,
vas de verão, por terem lnaior inten s ida d e, apresentaln grande
com condensação e formação de nuvens tanto cumuliformes
potencial de danos, especia lmente no a specto de conservação
como estratiformes. Nessa situação, um lado da montanha,
do solo, vis to que llwitas vezes s ua inten sidade supera a velo-
geralmente, é mais chuvoso que o outro resultando na chama-
cidade de infiltração da água no solo. Iss o gera escoamento
da Sombra de Chuva (Capítulo 15 - ClimatologIa).
,
152 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 153
;; 'o
60
"
r=='"'"
tem aplicação em dimensionamento de sistemas de drenagem
] 20" .; "
v
o
" • , u
20
o
00
ir--:--;-] I~ , e conservação do solo, tanto para a agricultura como para a
construção civil.
, , 11 ora
, • , , lIora
, , O equipamento básico de medição da chuva é o pluviô-
metro (Figura 8.4a e b), que é constituído de uma área de cap-
'00 100 .
C l ~e Olll a Mar ", d
l~eO uta M ar_ 1
tação (:? 100 cm 2) e de um reservatório onde a água da chuva é
! 80
)0;;, dos "aioS
60
! 80
2 % do s ca50S armazenada até o momento da leitura. Se o pluviômetro tiver
~ 60 .....,,--,. .~ 60 50
um sistema de registro contínuo da quantidade e da hora de
;; ;; ~
•" •" " ocorrência das chuvas, então ele é denominado pluviógrafo (Fi-
" ,
.nn
o o
G 20
" ,.---; G 20 '
17
2
23 30
•
32
5
62
6
117
8
139
9
152
10
155
11
164
12
189
13
21.
"
311
ro de dados da série. A divisão por (n + 1) dá melhor estimati- 8'
P 0,067 0,133 0.200 0 ,267 0.333 0.4 0 ,467 0.533 0.60 0.667 0 ,733 0 ,80 0.867 0,933
va da probabilidade, especialmente para valores no final da
seqüência (Thom, 1966). O Quadro 8.1 mostra um exemplo de
aplicação usando os totais de chuva de março, em Piracicaba, Portanto, para se saber a probabilidade de ocorrência
SP, de 1917 a 1930. A primeira linha mostra o ano de ocorrên- (P) de um valor maior ou menor que um valor crítico, deve-se
cia, e a segunda, o total de chuva. Para se obter a distribuição ordenar a seqüência de dados em ordem decrescente ou cres-
cumulativa os dados são primeiro ordenados. A terceira linha cente, respectivamente, e dividir o número de ordem (m) cor-
mostra o número de ordem (m) da seqüência. A quarta linha respondente à posição do valor crítico pelo número total de
mostra a seqüência ordenada em valores crescentes. A quinta dados (n) mais 1, isto é,
linha dá a probabilidade acumulada de ocorrência de um to-
tal de chuva menor que o indicado na coluna correspondente. P=~*!OO (8.4)
Multiplicando-se o valor da quinta linha por 100, obtém-se a n +1
probabilidade em porcentagem. Por exemplo, a probabilida-
de de chover menos que 30 mm em março, em Piracicaba, SP, Se na seqüência de dados houver ocorrência de valores
é igual a 20%; de chover menos que 189 mm é de 80 %. Como nulos (ausência de chuva), eles são descartados, anotando-se
é óbvio, à medida que se aumenta o total de chuva, aumenta quantos vezes isto ocorreu (No), fazendo-se depois a ordena-
também a probabilidade de ocorrer um valor men or que ele ção dos valores restantes. Nesse caso, a probabilidade de ocor-
(se a ordenação fosse decrescente, a probabilidade seria de cho- rência (P) de um valor crítico será dada pela seguinte relação:
ver um valor maior que o indicado na respectiva coluna). Note-
se que a probabilidade de chover mais que 30 mm naquele P= ( I_ NO)( m )* 100 (8 .5)
n n + 1- No
mês é dado pelo complemento do valor obtido no exemplo,
isto é, 80% (= 100 - 20).
sendo n o número total de dados (inclusive os valores nulos).
A probabilidade de não chover é dada por No/n.
Esse é o caso do total mensal de chuva durante julho,
e m Piracicaba, SP. O Quadro 8.2 mostra que, entre 1951 e 1964,
nã o ocorreu chuva, nesse mês, em quatro anos na região. Por-
Agrometeorologia - 159
158 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
QUADRO 8 .2 Seqüência de totais mensais de chuva de ju l ho, em Por exemplo, qual seria o tempo ,nédio de recorrência,
Piracicaba, SP, de 1951 a 1964; ordenamento cre scente (m ); e probab i lida- para março, com total de chuva maior que 311 mm, em
de acumulada (P) de ocorrência de chuva menor que o va lor indicado.
Piracicaba, SP? Se os 14 anos de dados mostrados acima fo-
Ano 1951 52 53 5. 55 56 57 58 59 6" 61 62 63 6.
re m representativos de um período mais longo, o período de
14 10 53 90 15 O O O 20 O 77
4 6
re torno será t = 1 / (1 - 0.933) = 14,9 anos, ou seja, pode chover
9 10 12 13
O O O O 10 14 15
"
20 53 77
"
90
mais que 311 mm durante março, em Piracicaba, SP, em mé-
P 0.325 0.390 0.455 0 ,5 19 0 ,584 0 ,649 0 ,7 14 0,779 0.844 0 .909 dia, uma vez a cada 15 anos.
Urna informação importante quando se trabalha com O solo é um recurso natural intensamente utilizado nas
probabilidade de ocorrência de um elemento meteorológico é a ti v idades agrícolas. Asustentabilidade da produção agrícola
o período de retorno ou intervalo médio de recorrência, que é re- depende da aplicação de técni.cas conservacionistas que
presentado pelo símbolo t. Interpreta-se período de retorno In i n i miz em a tendência erosiva das chuvas. O potencial erosivo
como sendo o tempo provável esperado que aquele fenôme- dQ ,.; chuv as pode ser avaliado por índices empíricos que ex-
no ocorra novamente. Geralrnente, calcula-s e o período de prl''';''; Q 111 os e feitos do impacto das gotas e da enxurrada que
retorno para valores extremos que pod e m causar algum im- Hl ' lum a q u ando a permeabilidade do solo não permite infil-
pacto econômico e s ocial, e não p a ra aqueles v alores que ocor- ' I"l1ç,10 d ns águ a s.
rem normalmente . P a ra que a es tirnativa de t seja a melhor U m índ ice prático utilizado universalmente foi desen-
possível, é necessário que se dis ponha de urna série longa de vll lv id o I OI" Wi schmeier & Smith (1978), denominado EI30 ' Esse
valores medidos, pois t depende da probabilidade de ocor-
160 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 161
índice representa o produto da energia cinética (E) associada va é dependente não somente da espécie, mas também da ida-
à chuva pelo valor da intensidade máxima em 30 minutos con- de e do espaçamento utilizado (Franken et aI., 1992). No caso
secutivos (I30' em mm/h), ou seja, de flores tas naturais, onde predomina a heterogeneidade quer
seja pela biodiversidade, como nas florestas tropicais e equa-
EI30 = E * I3O' (8.8) toriais, quer seja pela diferença de idade de algumas poucas
espécies predominantes, como nas florest as temperadas, a
A energia cinética da chuva pode ser estimada pela relação interceptação da chuva pela vegetação é bastante variável,
oscilando d esde 7 até mais d e 50%, em função de diversos
E = 0,119 + 0,0873 log (I), (8.9) fatores (Huber & Oyarzún, 1992).
PTOT = P 1NT + P A Rt." (8.10) tas, do índice de área foliar e tamanho das folhas (P INT ), além
P'NT= P DlR + PINO + PCAULE (8.11) de outros fa tores como: características da folha e da copa
PTOT ::: P DIR + P IND + PCAULE + PARM. , (8.12) (pilosidade, cerosidade, forma, rugosidade), chuvas an teceden-
tes (água já retida pela vegetação), velocidade do vento, e tem-
peratura (viscosidade da água). Esse coeficiente rep resenta a
fração da chuva que efetivamente fica retida na folh agem.
Pandit et a!. (1991) encontraram C = 0,213 par a floresta
tropi ca l na índia, enquanto que Sinum e t aI. (1992) encontra-
ra m = 0,173 e m fl ores ta tam.bém tropical na Malásia. No
ca o d e fl o res tas te mpe rad as, o va lor de C também é variável,
sendo en contrado 0,314 para as condições da Polônia (Wojcik,
1991) e de 0,176 para as condições da Índia (Himalaia). Para
-v-------~/
P 1NT
condições brasileiras, na Floresta Amazônica, Lloyd e t a!. (1988)
e nco ntraram C = 0,089, ao passo que Franken et a!. (1992) ob-
FIGURA 8.6 Representação esquemática da ti vera m C ao redor de 0,20. Tais variações, como já d escr ito,
interceptação da chuva pela vegetação e de sua
redistribuição até atingir o solo.
d e pe nd e m de d iversos fatores, inclusive do local estudado,
co ndiçõ es gerais da área e do ano em que as medidas foram
rea Lizadas. Isso pode ser visu alizado pelos dados ap resen ta-
A P ARM depende de uma série de fatores, q u e podem ser dos por Sá et a!. (1999), q u e estud an do vegetação de capoeira
resumidamente representados por um coeficiente de armazena- no nordes te do Pará, obtiveram, em média, C =0,303, porém,
mento (C), sendo então: observando ao longo do tempo (6 a n os) aumento nesse valor
e m a lguns casos e redução em outros, em função das altera-
P ARM = C P TOT ' (8 .13) ções fLorís ticas que ocorrem em vegetação dessa natureza . Na
á rea em que houve aumento de C, de 0,215 para 0,424, obser-
Subs ti tuindo-se as equações (8 .13) e (8.11) na (8 .10) e vou-se redução de componentes h erbáceos e au men to d e es-
rearranj ando-se os termos, tem-se qu e : pécies le nhosas. No outro caso, em que C diminuiu, de 0,642
p~ rn 0,323, houve redução na densida d e de algumas espécies,
(8.14) til' o rre nte do secamento das plantas.
8.9.2 Estimativa da precipitação armazenada e da precipitação vegetação em questão, foi de 0,262, ou seja, em média a vege-
interna tação reteve 26,2% da P TOT' É importante notar que essa água
não fará parte do b alanço Iúdrico, retornando à atmosfera por
Para estimar a interceptação da chuva pela vegetação evaporação, mas fa zendo parte do ciclo hidrológico da região.
(PARM) ' ou a precipitação interna (P INT) , especialmente no caso
de florestas, existem diversos métodos, e entre eles os mais " '1 O,26h
'"
z
y .. o.su.· 0 ,891 o
precisos são o método numérico de Rutter et aI. (1975) e o ana- R' .. 0.9'
R' .. 0.70
" o o
lítico de Gash (1979). N o entanto, esses dois métodos exigem
conhecimento de uma série de variáveis como capacidade de
~
!•
" ,, o
i " o o o o
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1m 132
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14 3
m 6
370
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3"
" 37 '"o
da superfície, maior o efeito do atrito com o terreno, desace-
lerando o movimento e diminuindo a velocidade de desloca-
mento do ar. Esse bloqueio imposto pela superfície faz com
que bolhas de ar de maior velocidade se desloquem para baixo,
gerando um impulso repentino no ar próximo ao chão. A esse
aumento brusco na velocidade do vento d enomina-se de rajada.
A direção dos ventos é resultante da composição das
fo rças atuantes (gradiente de pressão, atrito, força de Coriolis),
mas o relevo predominante na região também afeta a direção
próximo à s uperfície (ver Capítulo 4).
168 - Pereira, Ange/occi e Sentellms Agrometeorologia - 169
9.2 ESCALA ESPACIAL DE FORMAÇÃO DOS VENTOS • Uri a terrestre (durante a noite) e brisa marítima (durante o dia);
• Br i a de montanha ou catabática (durante a noite) e b risa de vale
Vento é um fenômeno atmosférico que ocorre s imulta- LI nna bá tica (durante o dia);
neamente nas três escalas características das condições do tem- • Ve ntos Foehn ou Chinook.
po: macro, meso e microescala.
• Microescala
• Macroescala N essa escala, o processo é semelhante ao da mesoescala
Nessa escala, eln que está envolvida a movimentação porém, com menor magnitude do fenômeno. Exemplos dess~
de grandes massas de ar, os ventos são associados à circulação t ip o d e contraste são: áreas ensolaradas e sombreadas; objetos
geral da atmosfera, sendo função dos gradientes de pressão com diferentes coeficientes de absorção de radiação solar; áre-
entre g randes regiões. Apesar da variação temporal e espacial as irrigadas e não-irrigadas, áreas cultivadas circundadas por
dos ventos, é possível verificar certa tendência em suas dire- te rrenos sem vegetação, etc.
ções, conforme discutido no Capítulo 4:
9 .3 MEDIDA DO VENTO
• entre os Trópicos e o Equador => Alísios de NE (Hem. Norte) e
Alísios de SE (Hem. Sul).
• entre os Trópicos e as
O regime de ventos é expresso por sua velocidade e dire-
ção. A velocidade é dada pela componente horizontal em m/s
regiões Sub-Polares => Ventos d e Oeste
• regiões Polares => Ventos de Leste
o u km/h, sendo que 1 m/s = 3,6 km/h. A direção dos ventos é
definida pelo seu ponto de origem, com 8 direções fundamen-
• Mesoescala ta is : N , NE, NO, S, SE, SO, E e O. Nos sensores digitais a dire-
Os ventos oriundos da circulação geral modificam-se ção é dada em graus, ou seja: os pontos cardeais são: N = 0° =
acentu admnente na escala de tempo e de espaço devido ao 360°; NE = 45 °; E = 90°; SE = 135°; S = 180°; SW = 225°; W =
270°; NW = 315°.
aquecimento diferenciado, e conseqüente diferença de pres-
são entre áreas próximas. Contrastes nas interfaces entre con- Os equipamentos medidores da velocidade do vento são
tinente e oceano, e ntre grandes lagos ou rios e as terras os nnemômetros (Figura 9.1). A velocidade é dada por um con-
circundantes, originam ventos locais. Outro forte condicionante ju nto de três canecas (ou de hélices). O número de giros das
local é a configuração da bacia hidrográfica, que pelo sistema ca neca s (ou hélices), sendo proporcional à velocidade, é trans-
orográfico e a topografia, impõe uma circulação a tmosférica fo rmado em deslocamento (espaço percorrido) por um sistema
local. Na mesoescala, há variação diária e sazonal na direção e li po odômetro, nos equipamentos mecânicos. O espaço percor-
na velocidade dos ventos, s endo que os principais tipos são: rido dividido pelo tempo fornece a velocidade média . Nos equi-
pa m entos d ig itais, cada rotação gera um pulso elétrico, que é
170 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrome teorologia - 1 71
captado por um sistema eletrônico de aqUlslçao de dados. E m p os tos agrome teorológicos convenciona is d e primei-
Como cada pulso corresponde à distância de um giro, contan- ra classe, o equipamento mecânico utilizado é o anemógrafo
do-se o número de pulsos em um interv alo de tempo tem-se a tlniversal, q u e permite o regis tro contínuo da velocidade acumu-
distân cia supostamente percor rida pelo ar. Com a d is t ância e In ela, velocida de instantânea, e direção elo vento, gerando um
o tempo de medida calcula-se a velocidade média. anemograma (Figura 9.2) .
A direção é dada por biruta ou ca tavento. Em sistemas
conv en cion ais, a direção é obtida por observação visual. Esse
equipamento pode ser visto em pequenos aeroportos, onde
ele é utilizado par a permitir visualização por p ilotos nos ins-
tantes d e pou so ou decolageul. En, post os agrometeorológicos,
também é comum o uso de cata v entos, sendo as dire ções do
v ento anotadas apenas nos h orários padr oniz ados de obse r-
v ações . Esse procedimento permite apenas observações em
períodos muito pequenos e esparsos durante o dia, não sendo
adequado para se d e terminar bem o r egime de v entos de uma
região. E m s is t e m as automatizados, a direção tamb é m é
indicada por s e n sores eletrônicos, sendo express a dire tamen-
te em graus, e continua m ente r egis tra d a .
rr
/ I
(a lg uns anos), pode -s e elaborar uma tabela contendo a dire-
ção, e m cada hora do dia, e calcular a freqüência rela tiv a dos
ventos em cada direção, determinando-s e a predominância da
circula ção atmosférica no local. A v is ualiz ação dos resultados
FI G URA 9.1 A nem ógrafo utili zado em
I e staçõ es meteoro lógica s autom áti cas . fica Ina is evidente quan do se u s a um sistema gráfico. A repre-
172 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 173
sentação gráfica mais comum é por um sis tema de qua tro ei- 9.5 VELOCIDADE DOS VENTOS
xos que se cruzam em um mesmo p onto, com um ângulo de
45° en tre dois eixos adjacentes, sendo denominada de rosa dos Como v is to no anemogra ma (Figura 9.2), a linha inter-
ven tos (Figura 9.3). Em cada ponta dos eixos marca-se uma med iária, com formato de dentes de um serrote, representa a
direção, sendo que o N vaina ponta superior do eixo vertical, e o velocidade acumulada ou distância percorrida pelo vento du-
S n a ponta oposta. No eixo horizontal, p erpendicular ao vertica l, rante o dia. Cada subida ou descida representa 10 km percor-
marca-se E à direita, e W à esquerda. Os eixos diagonais repre- ridos. Portanto, é possível saber-se o total percorrido (km/
sentam as direções intermediárias (NW, NE, SW, SE). A escala d e d ia) e a velocidade média (km / h ou m / s) do dia. Pode-se calcu-
freqüência é marcada igualmente em todas as direções. lar também a velocidade média de cada hora ou período deseja-
Marcando-se a freqüência relativa em cada direção, e do. Quanto mais rápida for a subida ou descida, m aior será a
unindo-se seqüencialmente os pontos marcados obtêm-se um velocidade m édia, ou seja, 10 km percorridos em m enor tempo.
polígono característico para a região e período analisado. Se Em algumas aplicações agrometeorológicas (por exem-
n ão h ouver direção predominante, o polígono se aproxim a d e plo, evapotran spiração), é necessário diferenciar as velocida-
um octógono regular, mas esta é uma condição apenas hipotéti- des m édias d os períodos diurno e noturno. Essa informação é
ca. A situação mais comum é aquela mostrada na Figura 9.3. Des- pouco relatada na literatura, mas no caso d e Piracicaba, SP, a
se modo, fica mais evidente a condição de cada mês. É apresenta- relação entre vento diurno (7 às 19 h) e noturno (19 às 7 h ), em
da também a porcentagem d e ocorrência de calmarias (C). uma série de 5 anos, apresentou a seguinte variação m édia
Na Figura 9.3 mostrou-se a situação no período diurno. m ensal:
Durante o dia, devido ao aquecimento irregular da-superfície
JA N I<'EV I\'IAR ADR I\..JAI JUN J UL AGO SET OUT NOV DEZ ANO
\ local e regional, em função do balanço d e en ergia diferencia-
do das diferentes condições d e terreno, a freqüência relativa 1,21 1,27 1.11 1,23 1,09 1,07 1,08 1,1 1 1,16 1,31 1.27 1,37 1.19
foto períodos mais diferenciados esse critério pode não ser 9.7 EXERCíCIOS PROPOSTOS
adequado, e talv ez seja mais conveniente adotar períodos dis-
tintos ao longo do ano . 1. Utilizando o anemograma da Figura 9.2 determine
A linha inferior do anemograma (Figura 9.2), mostra a para o período apresentado:
velocidade ins tantânea com os picos representando rajadas, ex- a) direção predominante do vento; b) a velocida de acu-
pressas em m / s . Na região de Piracicaba, SP, rajadas intensas mulada (km/ h ); c) a rajada máxima do vento (m/s)
estão associadas à pass agem d e nuvens tipo cumulonimbus,
de grande desenvolv imento vertical e chuvas intensas e rápi- 2. Considerando-se os v entos predominantes originados
das, normalmente chuvas de verão. da circulação geral da atmosfera, na latitude de 20 0 S e 20 0 N,
qual seria a direção da implantação de um quebra-ventos nes-
sas latitudes, para se minimi z ar a ação prejudicial dos ventos?
9.6 ESCALA DE VElOCIDADE DOS VENTOS Faça um esquema para demonstração.
Aforça do vento pode ser categorizada de acordo com a 3. Uma cultura de milho foi afetada por um forte venda-
interação com objetos naturais, gerando uma escala de per- v al que provocou o acamamento das plantas, inv iabilizando a
cepção que se tem da mov imentação atmosférica. É uma colheita mecânica. A cultura estava segu rada, porém o Banco
categorização empírica associando-se a velocidade registrada Weinhanóis só pagará o seguro se a rajada de vento tiver sido
com eventos característicos. A escala apresentada na Tabela superior a 80 km/h. No laudo fornecido a velocidade foi de
9.1 é uma adaptação daquela propos ta por Beaufort. 28,Sm/ s. Será que o prejuíz o será coberto pela seguradora?
I, (Demonstre o cálculo).
'I TA BELA 9. 1 Esca la adaptada de Beaufort para a velocidade do vento.
I
Escala Categoria Velocidade (kmlh)
N N
N
19: ; ~
E
Wsw/ l I f SEE WS~SEE
JAN (C~ S,6,.) S FEV(Ç",7,7 "J.) ·s
JAN (C,,3 ,Ó "4) FEV (C~5 .8";'1
S N
N
NE
30 -
NN~ol / '" E
w_ ~ E SE
ABR(C = 9 , l %J s
I MAO ,c •• •: : / S SE AB 1/ te .. 9 .0 "4) S - --+ N
~~~í/ NE
W, ~E
sw/ j ~ SE
JUN cC '" 4 .2 "-)
3O [" NE
NE
NN",~: _ / E
E W
. E
SW / SE
AGO (C2 4.4 'fo)
S
NN NE
\
NE
NW~!/ NE E E
W~w/II SEE SE SE
SEi (C" 3.2 "iI.)
OU T (C., 3.3%) S
N
]° 1
,,- NE NE
E
E
SE
Balanço de energia
10.1 INTRODUÇÃO
Entretanto, para uma superfície terrestre qualquer, seja Para cada instante hav erá um balanço de radiação que é
uma cobertura vegetada, uma superfície líquida, uma cons- característico da superfície (solo coberto por vegetação ou por
trução, um animal, etc., a energia disponível para os proces- qualquer material, solo nu, superfície líquida, animal, etc.).
sos biológicos e / ou físicos que neles ocorrem depende não Esse balanço de radiação Rn (chamado também de saldo de
somente desse balanço de ondas curtas, visto que todos os radiação ou radiação líquida) é composto do balanço de ondas
corpos terrestres são também emissores de energia radiante, curtas (BOC) e do balanço de ondas longas (BOL), podendo
mas com um espectro (distribuição) de comprimento de ondas ser representado por:
longas (comprimentos de onda acima de 3.000 nm) . A caracte-
rização do espectro quanto a ser predominantemente de on- Rn = Boe + BOL. (10.1)
das curtas ou de ondas longas é dada pelo comprimento de
onda de maior emissão ("-m')' tendo uma relação com a tem-
peratura de emissão desse corpo, dada pela lei de Wien (ver 10.2 BALANÇO DE RADIAÇÃO
Capítulo 5 - item 5.3, onde se exemplifica porque a radiação
solar é de ondas curtas e a terrestre de ondas longas). A quan- Os princípios envolvidos na determinação do balanço
tidade de energia, expressa por unidade de área e de tempo, de energia radiante são mostrados na Figura 10.2, exempli-
está também relacionada à temperatura de emissão do corpo, ficando-se um caso de superfície natural plana e horizontal.
pela lei de Stefan-Boltzmann (ver Capítulo 5 - Leis da radiaçã o). Os princípios podem ser aplicados para qualquer tipo de su-
perfície.
Qo = 100% Qo
J
>,
24% \ BOC Qc Qs BOL
40% 17%
"
Ga ~~ é _",
'Po rtícu-l ~~ ·.'· Qd
Qa
,.
16% 23% 4% 13% rQ~' Qg
~
48%
FIGURA 10.2 Balanço global de rad iação na super-
FIGURA 10.1 Representação esq uemática do ba~ fície terrestre (superfície plana e horizontal ).
lanço médio de radi açã o de ondas curtas, na su-
perfície terrestre.
182 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 183
À esquerda da Figura 10.2, tem-se a representação do o do BOL) torne Rn positivo nesse período do dia (a superfície
BOC; note-se que essa parte nada mais é do que uma simplifi- tem ganho líquido de energia) enquanto que à noite, sendo
cação da Figura 10.1, mostrando no final que a superfície rece- BOC = O e o BOL n egativ o, tem-se Rn negativo (a superfície
be uma irradiância solar global Qg (radiação direta + difusa) e tem perda de energia). Esse é um modo da superfície eliminar
reflete r Qg, sendo r O coeficiente de reflexão da superfície (para parte da energia solar absorvida e que se transformou em ca-
superfícies naturais r é conhecido também como albedo), sen - lor sensível.
do seus valores médios, para alguns tipos de superfície, da-
TABELA 10.1 Coe ficientes de reflexão (r) para algumas superfícies. Adapta-
dos na Tabela 10.L do de Rosenberg et aI. (1983) e de Vianel lo & Al ves (1991).
À direita, representa-se o BOL, composto por:
• Qa => fluxo de energia radiante emitida pela atmosfe- Superfície Cocf. de Reflexão (r, %)
ra em direção à superfície, também denominada de con tra-ra- Ág ua 5
diação atmosférica, que d epende da temperatura do ar, da quan- Areia seca 35 a45
tidade de vapor d'água nela p resente (pois o vapor absorve A reia úmida 20 a 30
Solo claro seco 25 a45
ondas longas) e da cobertura de nuvens; 10 a20
Solo cin za
• Qs => fluxo de energia radiante emitida pela superfí- Solo escuro 5 a 15 -;-.
.,
cie em direção à atmosfera, denominada de emitância radiante Gramado 20 a 30
da superfície, que depende da su a temperatura e d a sua emissi- Algodão 20 a 22
vidade ou poder emissor da superfície (E) . Alface 22
Milho 16 a 23
Arroz 12
Adotando-se como p ositivo o sentido dos fluxos que
Batata 20
entram no sistema, e negativo o dos que saem, verifica-se que: Trigo 24
Feijão 24
BOC = Qg - r Qg = Qg (1 - r ) (10.2) Tomate 23
BOL = Qa -Qs (10.3) Abacaxi 15 ~;
L
184 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
Agrometeorologia - 185
28
Na falta de um saldo-radiômetro, pode-se estimar Rn, _- 24
medindo-se ou estimando Qg (ver Capítulo 5) e usando-se o "'~ 20 -
Analogamente, Ometto (1981, p65) sugere uma relação BOL = - [4,9031O-9 T AR ' (0,56 - 0,25 -Yea) (0,1 + 0,9 n/ N) ]
empírica, semelhante à equação de Angstrbm-Prescott (eq. BOL = - [4,903 10-"* 301,1' (0,56 - 0,25 -Y1,71) (0,1 + 0,9 *
5.36), para estimativa de Rn em locais onde se dispõe somente 9,3 / 13,2)] = - 6,90 MJ m 2 d- I
de medidas de horas de brilho solar (n), ou seja: Rn = BOC - BOL = 19,92 - 6,90 = 13,02 MJ m-2 d-I
Pela eq.(10_7): Rn = 0,574 Qg = 0,574 * 26,56 = 15,25 MJ
(10.8) m-' d -I
Rn = Qo (ao + b" n / N).
Pela equação de Ometto (eq 10.8):
Para Piracicaba, SP, Ometto sugere que seja usado ao = Rn = Qo (0,17 + 0,22 n / N)
° °
17 e b = 22 durante o período compreendido entre outu-
°
b'ro e m~rço:, e a n = 15 e b n = 0,12 entre abril e setembro.
Rn = 41,74 (0,17 + 0,22 * 9,3 / 13,2) = 13,57 MJ m-2 d- I
1
flexão e absorção p ela cobertura e pela superfície do terreno Esse é um processo de múltiplas reflexões, em que a
tornem-se desprezíveis (Figura 10.5) . quantidade de energia refletida vai diminuindo rapidamente .
Considerando-se apenas os termos descritos nos itens 1 a 4
acima, tem-se o seguinte balanço de ondas curtas (BOC) :
Qg
BOC = t Qg - r, t Qg + rI r, t Qg - rI r,' t Qg (10.9)
BOC = t Qg (1 - r, + rI r, - rI r,'). (10.10)
~ ', a[r 2 (t.Qg»
aQg
..... "'""'"- Para a maioria das plantas r, v aria entre 0,2 e 0,3. Os
, f 2 (I.Q g ) v alores de t e r I dependem do tipo de cobertura. Quando o
~ objetivo é captar energia solar (épocas frias), u tiliza -se uma
I.Qg r 1[r 2( LQg)]
cobertura plás tica com t de valor grande e rI de valor peque-
FIGURA 10.5 Balanço de radi ação de ondas cu rtas (ai e longas (bl dentro
no, e nessas condições os termos r1 r2 e, 1 , 22 são desprezíveis
de estufas plásticas. '1
quantitativamente. Por exemplo, se = 0,15 e Y, = 0,25 esses
dois termos representam menos de 3% de erro se desprezados
nos cálculos.
D efinindo-se, para a cobertura, r, como coeficiente de re-
Quando o objetiv o é proteger as plantas do excesso de
flexão, e t como coeficiente de transmissão; e r, como coeficiente
radiação solar, como é o caso em viveiros de preparo de mu-
de reflexão das plantas, o b alanço de ondas curtas dentro do
das, a cobertura deve ter baixa transmissividade (t p equeno) e
ambiente protegido (Figura 10.5) terá a seguinte descrição:
1) a entrada principal de ondas curtas é aquela tran smi- alto poder refletor (r , grande). Por exemplo, se t = 0,40 e '1=
0,55, então r 1 r, - r , 'o' = 0,06 ou 6% do total.
tida pela cobertura, isto é, t Qg;
Logo, para fins práticos, o balanço de ondas curtas pode
2) a energia incidente sobre as plantas sofre uma pri-
ser reduzido a
meira reflexão, que resulta em r, t Qg, representando
uma saída de ondas curtas da vegetação;
BOC = t Q g (1 - r,), (10.11)
3) essa energia refletida internamente atinge a face in-
terna da cobertura sofrendo uma segunda reflexão,
com erro inferior a 10%.
isto é, r, r, t Qg, e que representa uma entrada secun-
N o caso do balanço de ondas longas (BOL) é preciso le-
dária de ondas curtas para as plantas;
var em consideração o fato d e um corpo emisso, de ondas longas
4) novamente, essa energia incidente sobre as plantas
ser também um ótimo absorvedor de ondas longas (Lei de Kirchhoff
sofre mais uma reflexão, que é representada por r, r,
das radiações). Isso significa que os corpos terrestres, sendo
',tQg, indicando nova saída de ondas curtas das plan-
emissores de radiação de ondas longas são excelentes absorve-
tas.
190 - Pereira, Angelocci e Senfelhas Agrometeorologia - 191
dores dessa radiação. Portanto, o b alanço de ondas longas Na Tabela 10.2 são apresentados os valores médios de
dentro de um ambiente protegido artificialmente depende fun - atenuação (absorção + reflexão) provocada por diferentes tipos
damentalmente da diferença de temperatura das plantas (Tp) de cobertura u tilizados em estufas e viveiros (Sentelhas et aI.,
e da cobertura (Te). No caso de cobertura plástica, um fator 1997). Verifica-se que o material que menos atenua a radiação
que afeta significativamente o balanço de ondas longas é a solar e a luminosidade é o polietileno de baixa densidade
espessura do plástico. Resultados experimentais de Pezzopane (PEBD), plástico comumente utilizado em estufas comerciais,
et aI. (1995), obtidos com coberturas p lásticas de polietileno com média geral de 20%, seguido pela tela branca com 24%,
de baixa den sidade (PEBD) com espessura de 0,1 mm, indi- do PVC com 33%, da tela verde e da manta com 40%, e da tela
cam que o BOL interno representa uma fração do BOL exter- preta com mais de 50%.
no, ou seja, as perdas radiativas internas são menos acentua-
TABElA 10.2 Atenuaçóes médias, em "lo, da radiação global (Qgl, radiação
das que as externas. No caso em questão, essa fração foi igual fotossinteticamente ativa (RFA), da radiação Ifquida (Rn) e da iluminância
a 0,5 para noite com céu sem nuvem, e 0,6 para noite nublada. (lU, provocadas por diferentes tipos de cobertura, em mini-estufas, em
No período diurno, resultados da Tabela 10.2 indicam que, no Piracicaba, SP. (Fonte: Sentelhas et a I. , 1997).
caso do PEBD, o saldo de radiação interno (Rn) correspondeu Cobertura Qg R.'A Rn lL Média
Gera l
a 77% do Rn externo. Essas diferenças devem estar ligadas à
umidade no ambiente interno. Se houver condensação de va- Manta 37,4 39,6 41,5 41,3 40,0
por d'água sobre o p lástico, então o efeito atenuante sobre as PEBD 20,3 13,3 22,6 23,4 19,9
pvc 35.0 29,9 39.6 26,7 32,8
perdas será ainda maior. Alguns autores (Farias et aI., 1993) Tela Branca (50%) 26,6 18,6 24,6 25,1 23 ,7
indicam que esse tipo de plástico transmite até 80% das ondas Tela Verde (50%) 41,2 38,8 43,5 36, 1 39,9
Tela Preta (50%) 55,4 48,8 49,7 52,3 51 ,6
longas.
Portanto, o BOL interno é uma fração f do BOL externo,
ou seja,
Um aspecto importante a ser considerado no caso de
coberturas. plásticas é o efeito difu sor sobre a radiação solar
(10.12)
transmitida, A radiação difusa, por não ter d ireção predomi-
nante, penetra melhor entre as p lantas au mentando sua cap-
mas ainda não se tem uma formulação prática para a estimati-
tação. De fa to, resul tados obtidos por Assis & Escobedo (1997)
va de f.
em uma cultura de alface, variedade Elisa, cultivada dentro
O balanço global de radiação, ou seja, a radiação líquida
de estufa de polietileno, tipo túnel, mostrou significativa re-
dentro do ambiente protegido será:
dução no albedo quando comparado com o cu ltivo externo,
no verão, O aumento na radiação difusa interna compensa em
Rn = t Qg (1 - r,) + f BOL"r (10.13)
parte a atenuação imposta pelo p lástico (Farias et aI., 1993),
192 - Pereira, /lngelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 193
• Exemplo de estimativa da radiação líquida em am- no seu interior ar atmosférico e umil população d e plantas. A
biente protegido parte externa que interage com esse sistema é denominada de
A plicando-se os conceitos ao Exemplo 10.3, calcular o meio. Nessas condições, as principais trocas de energia entre o
saldo de radiação para urna cultura de alface (r2 = 0,22 - Tabela sistema e o meio, e os armazenamentos decorrentes são carac-
10.1), em urna estufa de PEBD (t = 0,8 e f = 0,8) quando se
tinha BOL", = -6,8 MJ m·' d·' para um gramado com r = 0,23.
) terizados na Figura 10.6:
gênio! ozônio. A fração IVP também sofre absorção significa- 111 o utras regiões que relatam valores de RFA variando de
tiva pelos constituintes atmosféricos, principalmente por va- '16% a 70% (McCree, 1966; Szeicz, 1974; Stanhill & Fuchs, 1977;
por d'água e dióxido de carbono. A fração RFA é a que menos ti gtcr & Musabilha, 1982; Weiss & Norman, 1985).
sofre absorção pela atmosfera. Portanto, é de se esperar que a
composição da luz solar que incide sobre a vegetação varie SEM NUVENS NUBLAOO
" I
tanto ao longo do dia como de um dia para outro. E, de fato, a '. 70 I
Figura 11.1, adaptada de Assunção (1994), mostra que, mes-
mo num dia praticamente sem nuvens, a fração RFA variou
continuamente; logo, a fração IVP também variou . A fração
RFA foi menor ao redor do meio-dia, quando o efeito atmosfé-
rico foi menor, e foi maior nas horas próximas ao nascer e pôr-
do-sol. Esse ritmo de variação é imposto pela variação no ân- HORA LOCAL
gulo zenital do sol, com conseqüente aumento na espessura da FIGURA 11.1 Variação horária da radiação solar inc idente (Qg), da RFA, e
camada da atmosfera a ser a trav essada. Naquele dia, em da fração RF A / Qg, em Piraci caba, SP/ para um dia sem nu ve ns e um nu-
blado. Adaptado de Assunção (1994).
Pi.racicaba, SP, a variação esteve entre 41 e 55%. É importante
notar que o enriquecim ento d essa fração se dá nas horas com
menor intensidade de radiação. A m éd ia diária da RFA foi igual
a 45%. Isso s ignifi ca que, no p eríodo e ntre as 8 e 16 horas (pe-
11.2 INTERAÇÃO COM A VEGETAÇÃO
ríodo de maior intensidade de radiação solar), a fra ção RFA!
A produtividade biológica de uma vegetação é determi-
Qg foi sempre m enor que o valor médio diário.
nada por sua habilidade em capturar e transformar a radiação
Para um dia totalmente nublado, também em Piracicaba
SP, quando o pico de radiação solar incidente foi cerca de qua~
sola r. Essa captura radiativa é um fenômeno físico determina-
do por vários fatores físicos e biológicos, entre os quais se desta-
tro vezes menor que num dia sem nuvens, verificou-se que o
ritmo de variação da fração RFA foi semelhante àquele de um ca ln:
dia sem nuvens. No entanto, em hmção do maior teor de umi- • o tamanho e a geometria das plantas;
• a maneira com que as p lantas ocupam o terreno dis-
dade no ar, o enriquecimento dessa fração foi muito maior no
po níve l, isto é, a distribuição horizontal na área;
dia nublado. A variação foi entre 52% e 66% de Qg, sendo o
• a cor, o tamanho, a orientação, e a idade das folhas;
va lor médio diário igual a 56%. Pode-se concluir que, num dia
• a arquitetura da planta, isto é, a distribuição vertical da
nublado, o total de radia ção solar inciden te na superfície é sig-
nificativamente menor, porém mais rico em RFA, em fun ção ro l hog 111 no espaço disponível; e,
• o fing I/lo de incidência dos raios solares.
da absorção da fração IVP p e la água das nuvens. Esses resul-
tados obtidos em Piracicaba, SP substanciam aqueles obtidos
200 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 201
Deve-se lembrar que as plantas possuem certa plasticidade I\s re lações p = IRFA / I e q =!IVP I I d efinem, respectiva-
morfológica, ou seja, qu e e las são capazes de se adaptar aos m nle, as frações RFA e IVP, da radiação incidente. Despre-
estímulos e estresses impostos p elo ambiente com mudanças za nd o-se a radiação ultrav ioleta (IUV), que na superfície da
em s u as car acterísticas físicas externas. Ao ser inter cep tada ·("e rra represen ta menos d e 3% do total incidente (ROSS, 1975),
pela cobertura vegetal (dossel), a radiação solar pode ser ab- res ulta em p + q = 1. Resultados experimentais mostrados n a
sorvida, transmitida e refletida e m proporções variáveis, depen- Figura 11.1 indicam que p e q var iam constan temente tanto
dendo dos fatores acima cita dos . A radiação refletida não par- com as condições atmosféricas corn o com O ângu lo zenita l do
ticipa dos processos biológicos, portanto, as frações absorvi- I, mas que e m te rmos m é d ios diários pode-se admitir que p
das e tran s mitidas são aquelas e fetivamente disponíveis para = 0,46 q = 0,54 (Pereira e t a I. , 1982) . Para dias sem nuven s, e
tais processos em um dossel v egetativo. nas h ras e m que o ân gu lo zenüal é m enor que 60° (horas com
É importante enfa tizar que cada e lem ento constituinte maior intens idade solar), é comum admitir-se que p = q = 0,50
das plantas tem um espectro de interação com a radiação inci- (A lI en e t a I. , 1964; Gates,1965; Newton & Blackman, 1970;
dente, e que o conjunto dessas interações representa o espec- Monteith, 1973; Szeicz, 1974; S tanhill & Fuchs, 1977).
,, ;. Similarmente, a radiação refletida p ela vegetação pode
tro da vegetação (comunidade). De modo geral, esses espec-
tros são ba s tante semelhantes, e na faixa da RFA a absorção ser d ecomposta em RRFA e RIVP. Logo, os respectiv os coefi-
,' pela vegetação é maior q u e 80%; mas na faixa de IVP, a absor- c ie ntes de reflexão são d efinidos pelas razões
ção cai abruptamente para cerca d e 20%. Isso significa que a
vege tação maximiza a absorçã o d e RFA, e minimiza a IVP r{RFA ) = RRFA / IRFA, (11.2)
(Billings & Morris, 1951). r{IVP) = RIVP / IIVP. (11.3)
L _______________________
202 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 203
__ ______ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ L -_ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ~
204 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 205
~
quando seca. À medida que o ar vai se aquecendo, o orvalho
vai se evaporando, e a folhagem volta a apresentar seu poder o:: 100
refletor normal. o
,~
o 5 Mil.R 79
l AC - 12 - 8Z9
O vento é outro fator que também a feta significativamente ~
i3
o • (; MAR 19
~ 50
o coeficiente de reflexão, pois a agitação da folhagem muda IRflCEMA
o • 8 MA R. 79
sua exposição aos raios solares. Evidentemente, todos fatores BRANCA ST Il. CA TARINA
atmosféricos que afetam a composição da radiação solar cer- 200 1100 600 800 1000
tamente influenciam o coeficiente de reflexão [eq (11.4)]. RADIACÃO INCIDENTE - W. m2
Por definição, o coeficiente de reflexão é o coeficiente
FIG URA 11.3 Relação en tre radiação refletida e inci-
angular de regressão (inclinação da reta) entre as radiações dente sobre uma cultura de mandioca . Adaptada de
refletidas (R) e incidente (I). Coeficientes elevados são sempre Pereira el aI. (1992).
associados à baixa densidade de fluxo, isto é, ocorrem quando
O sol se aproxima do horizonte. No caso presente (Figura 11.3), A radiação solar disponível (D) à cultura, em cada fra-
em que as medidas, em sua maioria, foram executadas nas ção considerada, é dada por
horas de maior incidência solar, o coeficiente de regressão re-
p resenta o valor assintótico do coeficiente de reflexão da cul- DRFA = IRFA - RRFA = P I [1 - r{RFA)], (11.9)
tura. Para o caso da mandioca, foram encontrados os seguin- DIVP = IIVP - RIVP = q I [1 - r{IVP)l, (11.10)
tes valores (Pereira et aI., 1982): r(RFA) = 0,03; r{IVP) = 0,36; r
= 0,21. Em geral, 64% da radiação IVP, e 97% da RFA ficou e no presente exemplo (mandioca), DRFA = 1,29 DNP.
disponível à cultura. Parte da radiação disponível é transmitida para o interior
da vegetação (TRFA, TIVP) e parte é absorvida pelas plantas
(ARFA, A IVP). Experimentalmente, é mais conveniente me-
d ir-se a radiação transmitida e estimar a parte absorvida por
d iferença, v isto que,
Desse modo, d etermina-se também os coeficientes de trans- operacionais desse sistema são a manutenção do sensor nive-
missão (t) e de absorção (a) para cada fração, ou seja, lado, obstáculos ao longo da trajetória do sensor, e a necessi-
dade de energ ia externa para manter o sistema e m movimen-
t{RFA} = TRFA / IRFA, (11.13) tação.
t{ IYP} = TIVP / IlYP. (11. 14) Uma alternativa é utilizar apenas um sensor, m as
movimentá-lo, ao acaso, para posições d iferentes, em dias con-
Pelo princípio de conservação de energia, tem-se que : secutivos, e esta foi a técnica utilizada por Shuttleworth et aI.
(1984), n a floresta amazônica (Reserva Ducke, Manaus, AM).
r{RFA} + t{RFA} + a{RFA} = 1 (11.15) Outra alternativa, é utilizar-se simultaneamente diversos
r{IVP} + t{(IVP} + a{IVP} =1. (11.16) sensores fixos, distribuídos ao acaso, para se evitar viés (ten-
dência) na a m ostragem. Essa técnica foi utilizada por Januário
e t a I. (1992), em Tucuruí, PA, com três s ensores. No entanto,
I·,
•i ,
11.4 REGIME RADIATIVO DENTRO DA VEGETAÇÃO esse procedimento nem sempre é seguido, sendo comum dis-
tribuir-se os sensores segundo um padrão pré-estab elecido. A
, A caracterização do regim e radiativo dentro da cobertu- dificuldade principal desse último método é que não se sabe a
ra vegetal é extremamente complexa, principalmente pela dis-
·
ti<, tribu ição espacial da fo lhagem, e pela variação contínua da
p osição do sol. Isso faz com que as sombr as sejam itinerantes
priori quantos sensores são necessários para uma amostragem
adequada. Por exemplo, n a fl oresta ama zônica, encontrou-se
que são n ecessários, no mínimo, 12 sensores distribuídos en,.
d entro da vegetação, impondo dificuldades ao processo de arranjo quadrado de 5m x 5m p ara se d escrever a condição
amostragem. Quanto mais esparsa for a vegetação, maior será média diária dentro da mata (Leitão, 1994) . Pode-se perceber
esse e feito. Por exemplo, dentro da floresta amazônica Leitão que qualquer que seja o arranjo a amostragem será sempre
(1994) encontrou que as manchas de incidência direta dos raios imperfeita. No caso de cultu ras anuais, com vegetação mais
solares duram, em m édia, entre 2 e 4 mino A quantidade de esparsa, esse problema é ainda mais complexo.
energia n essas manch as pode atingir até 25% do valor inci- É preciso lembrar que, no caso de se utilizar diversos
d ente no topo da vegetação, e pode represen tar entre 30% e sensores, é importante registrar os sina is individualmente, com
70% do total diário d e radiação dentro da vegetação (A shton, pequeno tempo de amos tragem, pois as flutuações de cada
1992). Porta nto, é fác il imaginar que um único sensor não é ponto têm implicações ecológicas muito im porta ntes, v is to que
suficiente para descrever as condições radiativas n essas con- as man chas de incidência direta dos raios solares favorecem a
dições. Em alguma s s ituações, utiliza-se u m sensor que se fotossín tese naquele ponto. Obv iamente, a composição m édia
m ovimenta continuamente sobre trilhos, O Ll suspen sos em ca- dos sen sores "amacia " tai s flutuações. Por exempl o, e m
bo s, fazendo uma varred ura hori zontal ao longo d e um Tucuruí, tomando-se média de 10 min, observou-se picos de
transecto (Reifsnyder et a!., 1971) . As principa is dificuldades a té 40 W 1m2, com uma observação chegando a 80 W 1m 2 • Na
208 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 209
Reserva Ducke, tomando-se média horária, os picos atingiram será a penetração de radiação solar dentro da vegetação. Por-
apenas 10 W 1m 2 Tais diferenças talvez sejam devidas ao perí- tanto, deve-se esperar que o coeficiente de transmissão, indepen-
odo considerado para se obter o valor médio, e isto traz mais dente da faixa espectral considerada, tenha variação inversa
um aspecto a ser considerado no problema. daquela apresentada pelo coeficiente de reflexão. A Figura 11.4
Resultados de Leitão (1994) mostram a influência do corresponde a uma cultura de mandioca (Pereira et aI., 1982).
número de sensores no valor médio, onde os valores de pico Os pontos cheios correspondem à RFA, e os abertos à IVP.
(média de 1 min) foram os seguintes: 68 W I m 2 com 4 sensores; Quando o sol se aproxima da linha do horizonte <ri = 0°) a
46 W 1m2 com 8; 38 W 1m2 com 12; e 35 W 1m2 com 16. Eviden- penetração dos raios solares tendem a zero. Em termos médi-
temente, os objetivos dos es tudos é que vão caracterizar qual os, os coeficientes de transmissão tiveram os seguintes valo-
desses valores é o mais adequado. res: t{RFA} = 0,13; t{IVP} = 0,22. Pelo princípio d e conservação
Tendo em mente tais imperfeições amostrais, resultados de energia deduz-se que a cultura da mandioca teve os se-
experimentais têm mostrado que, em média, menos de 10% guintes coeficientes de absorção: a{RFA} = 0,84; a{IVP} = 0,42,
da radiação solar incidente sobre a copa das árvores de flores- que indica que durante o período de observação a cultura da
tas tropicais úmidas atingem os níveis mais baixos dentro da mandioca absorveu duas vezes mais energia na faixa do visí-
floresta (Pinker et aI., 1980; Shuttleworth et aI., 1984; Januário et vel que naquela do infravermelho próximo. Esses valores são
al., 1992; Leitão, 1994). Evidentemente, esse percentual depende- bem próximos daqueles relatados por Yocum e t aI. (1964) para
rá da metodologia utilizada, e no caso descrito por Leitão (1994), uma cultura de milho. Para uma cultura de cana-de-açúcar,
há variação desde 4%, com 16 sen sores, até 8%, com 4. que forma uma cobertura mais fechada que o milho, Machado
Outro aspecto importante a ser considerado é a qualida- e t al. (1985) relatam a{RFA} = 0,92, ou seja, um valor levemen-
de (composição) da lu z dentro da vegetação, v isto que as plan- te superior àquele encontrado para O milharal. Relembrando,
tas maximizam a captura da fração RFA . Isso significa que a para a Reserva Florestal Ducke, a{RFA} = 0,97. Fica evidente o
radiação que atinge a parte mais baixa de uma vegetação é efeito do porte da cobertura vegetal na absorção da energia
mais rica na fração IVP. Resultados dos experimentos relata- solar.
dos acima indicam que dentro da floresta amazônica a radia-
ção transmitida é composta, em geral, por 25% de RFA e 75%
de IVP. Em termos quantitativos, a fração visível representa
menos de 3% da quantidade visível incidente no topo da flo-
resta (Ashton, 1992; Rich et aI., 1993; Leitão, 1994).
No caso de uma cultura anua l, de porte menor e menos
densa que uma floresta, obviamente a quantidade de radiação
solar que atinge a superfície do solo é significativamente maior.
Nessas condições, quanto maior for a e levação solar (13), maior
21 0 - Pereira, A ngelocci e Sente/has A g rome te orol ogia - 211
~ _,~.~~
•
•
• ........
I
LJ, ~ 34,2 MJ I m' d
TOTAL = 51,8 MJ I m ' d.
':!:l 0 , 10 / e/ e . • .....
~ • Saída d e energia:
~
w I
" /
/' PAR
o I / Ki = 2,1 MJ / m 2 d
" 1/
1/
l S c lM
Li = 38,9 MJ / m ' d
o -~-""2o~-~---;
O.OO '!' 4~ o -~--;!.;:-o-~---O8"! O
TOTAL = 41,0 MJ 1m 2 d .
EL EVAÇÃO S OLA R - (3
I
L
Capítulo 12
Evapo(transpi)ração
12.1 INTRODUÇÃO
12.2 DEFINIÇÕES
• Evaporação (E)
É o processo físico pelo qual um líquido passa para o
estado gasoso. A evaporação de água na atmosfera ocorre de
oceanos, lagos, rios, do solo, e da vegetação úmida (evapora-
ção do orvalho e da chuva interceptada) .
• Transpiração (T)
É a perda de água na forma de v apor pelas plantas, pre-
donünantemente através das folhas, embora em plantas
lenhos as possa também ocorrer pequena perda pelas lenticelas
214 - Pereira, Angelocci e Senlelhas
Agrometeorologia - 215
mente o solo, porém, com ou sem r~strição hí~ca. Quando delineá-la de maneira a levar em conta essa variação ao longo
não há restrição hídrica, ETR = ETP; portanto, da área irrigada. No caso de pivô central, a área tampão é cir-
cular. Logo, a quantidade de água a ser aplicada tem que ser
ETR ~ ETP . (12.1) calculada adequadamente para atender as diferentes deman-
das ao longo do pivô.
Nesse ponto, é importante enfatizar que, por definição,
os conceitos de ETP e ETR se aplicam exclusivamente a uma Efe ito Varal
superfície gramada. Isso significa que não faz sentido referir- :./
se à evapotranspiração potencial de uma cultura. : '-. , Curva de Evapotranspiração
Ven to : - --, ./
Predominante : t -"--, __ JI!"
- Evapotranspiração de oásis (ETO) ~ : Oásis •.•...••..•.. •..... . . .
: Bal. Vertical ~ t
Evapotranspiração de oásis é a quantidade de água utiliza- Real i Bal. Hori zontal : Potenc~al
da por uma pequena área v egetada (irrigada) que é circunda- -------- i ~ ~ Bal. Ve rtical
em que Kc é o coeficiente de cultura (ver Capítulo 14 - Tabelas lhas no outono, e também o cafeeiro, que devido à colheita e
14.1 e 14.2). O valor de Kc varia com as fases fenológicas, e ao período de repouso invernal tem seu IAF re duzido.
também entre espécies e variedades (cultivares), sendo fun- O valor de Kc varia d e O a 1,2 e, d e acordo com Camargo
ção do IAF. Na Figura 12.3, verifica-se a influência da área folia r & Pereira (1990), seu valor pode ser estimado em função da
sobre o consumo de água pelas plantas, e a variação do Kc cobertura do terreno pela seguinte relação empírica:
com o crescimento/ desenvolvimento de culturas (hipotéticas)
anuais e p erenes . Kc = 1,2 (% Cobertura do Terreno / 100). (12.4)
Em culturas anuais, à medida que a planta se desenvol-
ve o IAF cresce até atingir um valor máximo, decrescendo Por exemplo, se uma cultura mais o mato das entreli-
posteriormente no período d e senescência das folhas. O sub- nhas cobrirem 90% do terreno, o Kc = 1,2*(90/100) = 1,08. Essa
período I representa o estabelecimento da cultura (s emeadura equação não se aplica a um gramado onde 100% de cobertura
à germinação); sub-período II caracteriza desenvolvimento do terreno corresponde a Kc = 1. Valor d e Kc > 1 significa que
vegetativo (germinação ao florescimento); sub-período III é o a cultura é mais eficiente na utilização d a energia do ambiente
período reprodutivo (florescimento ao final do enchimento dos do que um gramado. Isso se dá principalmente em função da
grãos); e sub-período IV é a maturação. maior altura da cultura, que resulta em maior interação aero-
dinâmica com a atmosfera.
Va lores de Kc para uma cultura Vaforesde Kc pa ra uma cultura Quando a evapotranspiração da cultura não ocorre sob
anual perene
as condições ideais descritas, ela é denominada de evapotrans-
1.2
,.
._--
--l 1
0 .8
--
Crescimento piração real da cultura (ETr).
li ' 'V ,
0 .8
~ 0 .6 I 0.6
0.4
. Maturidade
0. 4
0.2
12.3 DETERMINANTES DA ET
0 ,2 -
o
~ ~ Segundo Shuttleworth (1991), desde os primórdios da
Decê ndio Anos
civilização o hom em percebeu h aver estreita relação entre
FIGURA 12.3 Relação entre sub-pe ríodos fenológicos e Kc para cultura
secamento de uma superfície molhada e as condições do am-
an ll<:l l, e e ntre idade e Kc para cultura pe re ne.
biente. Sabia-se que em d ias ensolarados, com ar s eco, a velo-
Em culturas perenes, em função do contínuo crescimen- cidade de secamento é maior, mas atualmente tem-se melhor
to das plantas, o valor d e Kc é crescente durante os anos que v isão do processo e de seus determinantes principais. A lguns
precedem a maturidade, e daí e m diante torna-se praticamen- desses fatores podem ser categorizados, para facilitar sua des-
te constante, com p e quenas variações sazonais, função da va- crição, e serão aqui apresentados.
riação do IAF. Um exemplo é a seringueira, que perde as fo-
220 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 221
12.3.1 Fatores climáticos Quanto mais escura for a vegetação, menor será a reflexão dos
raios solares incidentes e maior será Rn (ver Capítulo 11).
• Radiação líquida (Rn): esta é a principal fonte de ener- • Estádio de desenvolvimento (IAF): Este fator está di-
gia para o processo de evapotranspiração, e ela depende da retamente relacionado ao tamanho da superfície folia r
radiação solar incidente e do albedo da vegetação. Vegetação transpirante, pois quanto maior for a área folia r, m a ior será a
mais escura absorve mais radiação solar (ver Capítulo 10). superfície transpirante, e maior será o potencial para o uso de
• Temperatura: ao longo de um dia, o aumento da tem- água.
peratura do ar provoca aumento no déficit de saturação, tor- • Altura da planta: plantas mais altas, mais rugosas
nando maior a demanda evaporativa do ar (ver Capítulo 7). interagem mais eficientemente com a atmosfera em movimen-
• Umidade relativa do ar: a umidade relativa do ar atua to, extraindo mais energia do ar, aumentando a ET.
em conjunto com a temperatura. Quanto maior a UR, menor a • Profundidade do sistema radicular: es tá diretamente
demanda evaporativa e, portanto, menor a ET. relacionado ao volume de solo explorado pelas raízes, visan-
• Vento (advecção regional de energia): advecção re- do o atendimento da demanda hídrica atmosférica. Sistema
presenta o transporte horizontal de energia de uma área mais radicular superficial, por explorar volume menor de solo, dei-
seca para outra mais úmida, e esta energia adicional é utiliza- xa a cultura mais suscetível em períodos de estiagem.
da no processo de ET. O vento também ajuda a remover vapor
d'água do ar próximo às plantas para outras regiões.
O efeito combinado de temperatura, umidade relativa, 12.3.3 Fatores de manejo e do solo
e velocidade do vento define a demanda atmosférica por vapor
d'água. • Espaçamento/densidade de plantio: este fator deter-
mina a competição intra-específica, isto é, entre plantas da
mesma espécie. Espaçamento menor resulta em competição
12.3.2 Fatores da planta in tensa pela água, e isto causa aprofundamento do sistem a
radicular para aumentar o volume de água disponível.
• Espécie: es te fator está relacionado à arquitetura foliar Espaçamento maior permite um sistema radicular mais super-
(distribuição espacial da folhagem), à resistência interna da ficial, mas permite também mais aquecimento do solo e das
planta ao transporte de água, e a outros aspectos morfológicos plantas, e circulação mais livre do vento entre as plantas, ten-
(número, tamanho, e dis tribuição de estômatos, etc.), que exer- do como conseqüência o aumento da ET.
cem influência direta na ET. • Orientação do plantio: culturas orientadas perpendi-
• Coeficiente de reflexão (albedo): a reflexão influ encia cularmente aos ventos predominantes tendem a extrair mais
diretamente na disponibilidade de Rn para o processo de ET. energia do ài' do que aquelas orientadas paralelamente. Para
(
\
222 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 223
regiões de ventos constantes, uma solução seria o u so de disponível no solo. Na situação C, em que ECA> 7,5 mm/d
quebra ventos (ver Capítulo 18) . (alta demanda), mesmo com bastante umidade no solo, a planta
• Capacidade de armazenamento de água: solos argilo- não consegu iu extraí-la em uma taxa compatível com suas ne-
sos têm maior capacidade de armazenamento de água do que cessidades, resultando em fechamento t emporário dos
os arenosos, e são capazes de manter uma taxa de ET por perí- estômatos para evitar secamento das folhas. Essa condição
odo mais longo. No entanto, em solos arenosos o sistema ocorre nas horas mais quentes do dia.
radicular tende a ser mais profundo, compensando a menor
retenção de água. 1
O
o
-
. . o
C· ECA> 7 .5mm / d
,o o
asfixiando as raízes; no período seco, o volume de água dis- N
culturas, admitindo-se que e xiste correlação positiva entre a • GGI-3000: desen v olv ido na antiga Uni ã o Sovié tica e
ev aporação da água do tanque com aquela de um lago ou de de pouco uso no Brasil. É um tanqu e c ilú1drico, d e fundo
uma superfície vegetada. cônico, com 61,8 em de diâ m e tro (3000 em' d e área evaporante),
Os principais tipos de tanques utilizados para a medida 60 em de profundidade na borda e 68,5 em no centro. Es te tipo
da evaporação são os seguintes: de tanque é enterrado no solo, com borda a 7,5 em da superfície
do solo. A leitura é feita e m um fra sco volumétrico instalado em
Classe ~desenvolvido nos E.U.A., sendo de uso gene- um cano fixo no cenh'o d o tanque. O tanque deve ser pintado de
ralizado também no Brasil. É um tanque cilíndrico de chapa branco e mantido com água no mesmo lúvel do solo.
de ferro galvanizado ou inox n O.22, com 121cm de diâmetro
(1,15 m 2 de área evaporante), e 25,5cm de profundidade. Deve • Tanque de 20m' : é mn tanque cilindrico, com 5m de
ser instalado a 15cm do solo sobre um estrado de madeira em diâmetro (20m 2 d e área evaporante) e 2m de profundidade. O
área gramada. A leitura no nível d a água é feita em um poço fundo é plano, con s truído de chapa de ferro de '.4" de espes-
tranqüilizador de 25cm de altura e 10cm de diâmetro, onde é sura e a p a re d e late ral d e 3/ 16" . O tanque deve ser enterrado
instalado um parafuso micro métrico de gancho com capaci- no solo, d e ixa ndo a borda a 7,5 em da superfície do solo, sen-
dade para medir variações de O,Olmm. Atualmente exis tem do pinta d o inte rnam ente de branco. A leitura do nível da água
sensores ele trônicos p ara m edid a do nível do tanque, possibi- é feita em um poço tranqüilizador idêntico ao do tanque Clas-
litando a automati zação da cole ta d e dados, des de que ligado se A, podendo-se utilizar tanto o parafuso micrométrico como
a um sistema de aqu is ição d e dados . Aágua d entro do tanqu e o copo volumé trico, ou sensor eletrônico.
deve ser mantida entre 5 e 7,5cm abai xo da borda (Fi g ura 12.5).
A relação entre a evaporação que ocorre em um lago
(EI.AGo)' de aproximadamente 1 ha, e aquela que ocorre nos
ta nques foi determinada por Oliveira (1971), sendo a seguinte
(m di a anual) para Piracicaba, SP:
la do tanque Classe A (ECA), observa-se que a evaporação do • Lisíllletro de lençol freático constante: este tipo de lisímetro
CCI (E ) está mais próxima daquela do lago que a do Classe n lo la um a sis tema automático de alimentação e registro da
GQ 'I~ .
A. Isso se deve ao fato do CCI ser enterrado, em eqUl luno ógua re pos ta de modo a manter o nível do lençol freático cons-
térmico com o solo, e do Classe A ser super-exposto à radia- l, nte, sendo a evapotranspiração igual ao volume de água que
ção solar pelos lados e também ao vento. 5u i do s is tema de alimentação (Assis, 1978).
...
228 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrome teorologia - 229
ETp = 16 (10 Tn / I)' O"; Tn < 26,5 °C (12.7) se r corrigido em função do número r ea l d e d ias e do
fo toperíodo do mês, ou seja,
sendo Tn a temperatura média do mês n, em °C; e I um índice
que expressa o nível de calor d isponível na região. O s ubscrito ETP= ET"Cor (12.11)
n representa o m ês, ou seja, n = 1 é janeiro; n = 2 é fevereiro; Cor = (ND/30) (N/12) (12.12)
e tc. No caso de Tn <:: 26,5 °C a ETp será d ada por (Willmott et
al.,1985): se ndo ND o número de dia s do m ês em questão, e N é o
ro to p eríodo m édio daquele mês. Em geral, as tabel as conside-
ET p = -415,85 + 32,24 Tn - 0,43 Tn' Tn <:: 26,5 °C (12.8) ra m o fo toperíodo do d ia 15 como representativo do valor
médio de N p a ra o ITlês (ver Capítulo 5 - Tabela 5.1), ITlas seu
O valor de I d ep ende do ritmo anual da temperatura cxato valor pode ser calculado para cada dia (ver Capítulo 5-
(preferenc ialmente com valores norm ais), integrando o efeito itc m 5.6). O valor ITlédio mensal de Cor é dado n o Tabela 12.1-
térmico d e ca da m ês, sendo calcula do pela fórmula Em ITluitas s ituações, como em ITlanejo de irrigações, é
o nveniente que o cálculo d a ETP seja na escala diária, ou de
12
I = L (0,2 Tn ) 1.5 14 (12.9) ,1lg uns dias. Nesses casos, a m e todologia d e Thornthwaite tam-
bé m pod e ser utilizada, bastan d o conhecer-se os valores d e I e
n=1
fi loca l, e a tem peratura média d o dia ou dias específicos. Como,
O expoente a, da eq.(12.7), sendo função de I, também é I a r d e finição, os resultados da eq.(12.11) são eITl mm / m ês d e
um índice t érmic o reg iona l , e é ca lculad o pela função 30 dias, eles devem ser d ivididos por 30 para se obter ETP em
, polinomial mm / dia. Se o período for d e mais de um dia, multiplica -se
I; a = 6,75 10.2 P - 7,71 10.5 I' + 1,7912 lO" I + 0,49239. (12.10)
pe lo número d e dias do período.
Q ua ndo o local não d ispõe de m edidas de tem peratura,
(1111 0 a lte rnativa é a utilização de estimativas em função das
Esses coeficientes I e a, ca lcul ados com as n orm ais coord e na d a s geográficas (altitude, la titude, longitude), des-
climatológicas, são característicos da região e tomam-se con s- C1' ilns no C apítu lo 6 (item 6.6). Como no território brasileiro,
tantes, sendo independentes do ano d e estimativa d e ETp ' T11 ('~ m O nas local idades de montanhas, as temperaturas m édias
O valor de ET p calculado, por d efinição, representa o to- l1 H'nsn is são p os itivas (Tn > O), o índ ice I p od e ser be m estima-
tal mensal de evapotranspiração que ocorreria naquelas condições dI! P() I' 12 (0,2 Ta)',5", em que Ta é a média anual; logo, basta
térmicas, mas para um mês padrão de 30 dias, em que cada dia teria ( 'lI t l nl l ll'- H \ ri. Tb.
12 horas de fotoperíodo (Thornthwaite, 1948). Portanto, para se
obter a ETP do mês correspondente, esse valor de ETp d eve
Agrometeorologia - 231
230 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
TABELA 12.1 Fator de Correção (Cor) da evapotranspi ração em função do • Método de Camargo
fotoper íodo e do número de dias do mês. Fonte: Thornthwaite (1948) e Para simp lificar mais a estima tiva de ETP, Camargo
Camargo (1964) .
(1971) propôs a seguinte fó rmula :
La t S J,\N FEV MAR AnR I"IA I JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
o 1.04 0 .94 1.04 1.01 1.04 l.Ol IJ)4 1.04 1,01 1.04 1,01 1.04
5 1.06 0.95 1.04 1.00 1,02 0 .99 1.02 1.03 1.00 1.05 1,03 1.06 ETP = 0,01 Qo T NO (12.14)
10 1.08 0,97 1.05 0,99 1,01 0,96 1.00 l.Ol 1.00 1.06 1.05 1.10
1,12 0 ,98 1.05 O.9R O,9R 0,94 n,97 1,00 1.00 1.07 1.07 l.l2
"
2. 1.14 1.00 1.05 0.97 0,96 0,91 0,95 0,99 1.00 1,08 UI9 1.15
22 1,14 1.00 1.05 0.97 0 .95 0,90 0,94 0 .99 1.00 1.09 1.10 L16 em que: Qo é a irradiâ n cia solar global extraterrestre, expressa
23 1.1 5 1.00 l.OS 0.97 0.95 0.89 0.94 0.98 1.00 1.09 1.10 1.l7
24 1,16 1.01 1.05 0.96 0,94 0.89 0.93 0,98 1.00 1.\0 1.11 1, 17 em mm de evaporação equ ivalente por dia (Tabela 12.3); T a
25 1.17 1.01 1.05 0.96 0 .94 0,88 0.93 0.98 1.00 1.10 1,11 1,IR
26 1.17 1.01 1.05 0,96 0,94 0,87 0,92 0,98 1.00 1,10 1.11 1.18 temperatura média do ar (OC), no período con sider ado; e NO
0.87 0,92 1.00 !.lI 1.12
27
28
1,18
1.19
1,02
1,02
1.05
1.06
0.96
0,95
0.93
0 .93 0.86 0.9 1
0.97
0.97 1.00 1.11 LI)
1.19
1.20
o número de d ias do período considerado.
29 1.19 1.03 1.06 0.95 0 .92 0,86 0,90 0,96 1.00 1.12 1.]) 1.20 Essa fórmula facilita a es tima tiva d e ETP pois n ão há
30 1.20 I.m 1,(16 0.95 0.92 0 .85 0 .90 0.96 1.00 1.12 1.14 1.21
31 1.20 1.03 1.06 0.95 0,91 0,84 0,89 0 .96 1.00 1,12 1,14 1.22 necessidade de se conhecer a temp eratu ra média anu a l (nor-
32 1,2 1 1.03 1,06 0,95 0 .9 1 0,84 0.89 0.95 1.00 1.1 2 1.15 1.23
mal), e ela reproduz b em os valores estimados pela fórmula
de Thorn thwaite.
TABELA 12.2 Evapotranspiração po tencia l d iária (ETT' mm/d ia), em fun ção
das temperaturas méd ias anual (Ta) e mensal (T m ) ou diária (Td), Fonte: TABELA 12.3 Radiação solar global extraterrestre (Qo, expressa em mm de
evaporação equivalente por dia), n o 15° dia do mês cor responden te, para o
Camargo (1 962).
hemisfério Su l (Fonte: Camargo & Camargo, 1983).
TI11 ,·C T e rn lerat ura m éd ia aflual (Ta , ·C) La! S JAN FEV MAR AnR MAl JUN JUL AG O SET OUT NOV DEZ
(Td) 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 O 145 15,0 15,2 14.7 13,9 13,4 135 14.2 14.9 14.9 14.6 14,3
14 1.8 1.7 1.6 1.5 1.4 1.2 1.1 1.0 0.9 0.7 0.6 0.5 0.4 2 14.8 15.2 15.2 14.5 13.6 13.0 13,2 14,0 14,8 15,0 14 .8 14,6
15 2.0 1.9 1.8 1.7 1.6 1.5 1.3 1.2 1.1 1.0 0.8 0.7 0.6 4 15,0 15,3 15,1 14.3 13.3 12,7 12,8 13,7 14,7 15. 1 15.0 14,9
16 2.2 2.1 2.0 1.9 1.8 1.7 1.6 1.4 1.3 1.2 1.0 0 .9 0.8 15,3 15.4 15.1 [4,1 13,0 12,6 125 135 14,6 15,2
,
• I 17
18
2.4
2.6
2.3
2,5
2.2
2.4
2. 1
2.3
2,0
2.2
1.9
2.1
1.8
2.0
1.7
1.9
1.5
1.8
1.3
1.6
1.2
1.5
1.0
1.3
0.9
1.1
"" 15,6 15,6 15,0 14.0 12,7 12,0 12.2 13,2 145
15. 1
15,2 15,4
15, 1
15.4
10 15.9 15.7 15.0 13,8 12.4 11,6 11.9 13,0 14,4 15.3 15,7 15.7
19 2.8 2.7 2.6 2,5 2.5 2.4 2.3 2.1 1.9 1.8 1.7 1.5 1.4 12 16.1 15.8 14,9 13,5 12.0 11,2 11.5 12,7 14,2 15,8
15.3 16.0
20 3.0 3.0 2.8 2.8 2.8 2.6 2.5 2.3 2.2 2.1 2,0 1.9 1.7 14 16.3 15.8 14,9 13,2 11.6 10,8 lU 12.4 14,0 15.3 15.9 16,2
21 3.3 3.2 3.1 3.0 3.0 2,9 2.8 2.7 2.6 2,4 2.3 2.2 2.1 16,5 15,9
16 14.8 13,0 11.3 10.4 10,8 12,1 1.1.8 15,3 16. 1 16,4
22 3.5 3.4 3.3 3.3 3.2 3 .1 3. 1 3.0 2.9 2,7 2,6 2.5 2.4
18 16,7 15,9 14,7 12.7 10.9 10,0 10,4 11.8 13.7 15.3 16.2 16,7
23 3.7 3.6 3.6 3.6 3,6 3.5 3.4 3.3 3.2 3.1 3.0 2.9 2.8
20 16,7 16,0 14,5 12.4 10,6 9.6 10.0 11.5 13.5 15.3 16.2 16,8
3.9 3.9 3.9 3.8 3.8 3.7 3.7 3.6 3,5 3,4 3.3 3.3 3,2
"
25 4. 1 4. 1 4 .1 4.0 4.0 4.0 4.0 3.9 3,9 3,8 3.8 3.8 3.7
22 16,9 16,0 14.3 12,0 10,2 9.1 9.6 11.1 13,1 15.2 16.4 17,0
Pela Tabela 12.3: Q o = 16,9 mm /dia TABElA 12.4 Coeficiente para T anque C lasse A (Kp), para diferentes
bordaduras de vegetação baixa ao redo r do tanque, e níveis de um idade
ETP = 0,01 Qo T ND = 0,01 * 16,9 * 26,5 * 1 = 4,5 mm.d·1 re lativa e velocidade do vento em 24 horas. Fonte: D oorenbos & Kassam
(1994).
EXEMPLO 2 Vcnto (k mJdi:a ) lIordadura ( m ) U m idade Retalh':) do Ar
No caso de Viçosa, MG, para janeiro com T = 22,1 °C < 40 %
0,55
40 % a 70%
0,65
> 70 %
1 0.75
Pela Tabela 12.3: Qo = 16,8 mm /dia Lc,'c 10 0.65 0,75 0.85
< 175 100 0.70 0.80 0,85
ETP = 0,01 * 16,8 * 22,1 * 31 = 115 mm/mês ~ Valor pró- 1000 0.75 0,85 0,85
0.50 0.60 0.65
ximo dos 106 mm/mês dado pelo método d e Thornthwaite. l\'lodcrado 10 0.60 0 ,70 0.75
175 a 425 100 0,65 0,75 0.80
1000 0.70 0.80 0.80
• Método do Tanque C lasse A 1 DAS 0.50 0.60
Forte 10 0,55 0.60 0,65
O método do Tanq ue Classe A para es timativa da 425 a 700 If)() 0.60 0,65 0.70
1000 0.65 0,70 0.75
evapotranspiração de referência foi desenvolvido para se ter 0.40 O,4S 0.50
uma forma prática de estimativa de ETo, aplicada no manejo jI,'!nito Forte
>700
10
100
0.45
0.50
0.55
0.60
0 ,60
0,65
da irrig ação . O tanque é de p e quena dimensão, com as pare - 1000 0.55 0.60 0,65
des laterais expostas diretamente à radiação solar, e a água no Para facilitar a interpolação dos valores de Kp n a Tabela
tanque não oferece impedimento ao processo evaporativo, es- 12.4 e a determinação da ETP em sistemas inform atizados,
tando sempre disponível, mesmo durante os períodos secos. Sn yder (1992) obteve a seguinte equação de regressão linear
P ortanto, o valor da evaporação obtido no tanque é exagerad o múltipla :
e m relação à p erda efe tiva de uma cultura, m esmo estando e la
em condições ó timas de suprimento de água no solo (ver item Kp = 0,482 + 0,024 Ln (B) - 0,000376 U + 0,0045 UR (1 2.1 6)
12.3). Logo, o va lor diário do tanque (ECA, mm / dia) precisa
ser corrigido por um fa tor de ajuste, denominado coeficiente de e m que : B é a bordadura (em metros); U a velo cidade do vento
tanque (Kp), para se ter a ETo correspondente, ou seja, (km d"); e UR a umidade rela tiva média di ária, em %.
É comum a adoção de um valor fixo de Kp quando da-
ETo=Kp ECA. (12.15) dos de UR e U n ão são disponíveis. Nesse caso, resultados
ex perimentais mostram que Kp = 0,72 é o v alor que proporcio-
O valor d e Kp, sempre m enor que 1, é função da veloci- na m e nores erros para condições de clima úmido, como ob-
dade do vento e da umidade relativa do a r (adveção d e calor se rvado em Piracicaba, SP (Sentelhas et aI., 1999).
sen síve l), e do tamanho da bord a dura , vegetada ou n ão,
circunvizinha ao tanque. Esse método é um dos recomenda- EXEMPLO
dos p e la FAO (Doore nbos & Kassam, 1994), sendo Kp forne ci- Bordadura = 10m
do pela Tabela 12.4. Vento = 2,2 ms-I * 86,4 ~ 190 km d ' l
238 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 239
No caso de estimativa mensal, adimitindo-se que a tem- média do ar (0C); U, é a velocidade do ven to a 2m de altura (m
peratura do ;"olo-va@velat é uma profund~dade ~e 1 m, para S-I), sendo cerca de 75% do valor da velocidade medida a 10m
efeIto de armazenamento de calor, a equaçao sera : de altura em posto meteorológico; e, é a pressão de saturação
de vapor (kPa); e, é a pressão parcial de vapor (kPa); e 5 é a
(12 .22) declividade da curva de pressão de vapor (ver Figura 3.12) na
temperatura do ar, em kPa °C-I, sendo dado por:
em que: T m é a temperatura média do ar do mês, e T_ m é a
temperatura média do ar do mês anterior. s = (4098.es) / (T + 237,3)' (12.24)
es;;;;;: (es Tmax + esTmin ) / 2 (12.25)
EXEMPLO esTmax = 0,61 OB.e[(17.27.Tmax) I (237,3 + T'nax)] (12.26)
Calcular ETP, sabendo-se que: T = 24°C esTmin = O~6108.e [( 1 7,27.Tmin) / (237,3 + Tmin)j (12.27)
Rn = 10,8 MJ.m-'.d-1 ea = (URrned.es) / 100 (12.28)
G=O URrned = (URmax + URrnin) / 2 (12.29)
Pela eq.(12.20) : ==> W = 0,483 + 0,01 * 24 = 0,723 1 T = (Tmax + Tmin) / 2 (12.30)
ETP = 1,26*W*(Rn - G) / 2,45 =1,26 * 0,723 * 10,8/2,45 = sendo Tmax a temperatura máxima do ar, em cC, Tmi..n a tem-
4,0 mm.d-' peratura mínima do ar, em cC, URmax a umidade relativa má-
xima, em %, URmin a umidade relativa mínima, em % .
• Método de Penman-Monteith (Padrão FAO - 1998) EXEMPLO
Este é um mé tod~i~meteõrológico, descrito por Calcular a ETP sob as seguintes condições atmosféricas: Rn
Monteith (1965), que foi adaptado por Allen et a!. (1989) para = 8,5 MJm-'d- l , G = O,S MJm-' d- l , Tmin = lS'C, Tmax = 30'C, U"'n =
estimativa da evapotranspiração de referência na escala diá- 1,8 m /s, URrnin = 40%, URrnax = 100%.
ria. Atualmente, este é o método-padrão da FAO (Allen et a!., Pela eg. (12.26): => esTm" = 0,610S.e!(l7.27.30)/ (237.3+30)J = 4,24 kPa
1994,1998), sendo ETP (mm do') dada pela seguinte fórmula: Pela eg. (12.27): => esTmin = 0,610S.e((17.'7.18) /(237.3+ J8)J = 2,06 kPa
Pela eg. (12.25): => es = (4,24 + 2,06) / 2 = 3,15 kPa
0,408 S (Rn _ G) + Y 900 U2 (es - ea) Pela eg. (12.30): => T = (30 + lS) / 2 = 24"C
(12.23) Pela eg. (12.24): => s = (4098.3,15) / (237,3 + 24)' = 0,1891 kPa;oC
ETP = T + 273
s + y (i + 0,34 U2) Pela eg. (12.29): => URrned = (100 + 40) / 2 = 70%
Pela eg. (12.28): => ea = (70.3,15) / 100 = 2,21 kPa
Pela eg. (12.23): => Cálculo da ETP
em que: Rn é a radiação líquida total diária (MJ m -' d -I); G é o
fluxo de calor no solo (MJ m-' d-I), as mesmas considerações 0408*01891 *(8 5-08)+ 0,063*900* 1,8*(3,15-2,21)
sobre G feitas no m é todo anterior são também válidas aqui); y ETP
, , " (273+24)
3,15nllnd- 1
= 0,063 kPa oCo] é a constante psicrométrica; T é a temperatura 0,1891 +0,063*(1 +0,34*1,8)
242 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 243
12.6 CRITÉRIO PARA ESCOLHA DE MÉTODO DE em seu interior, em relação ao ambiente externo, devido à ate-
ESTIMATIVA DA ETP nuação (absorção e reflexão) da radiação solar incidente pela
cobertura, o que acaba resultando em redução no saldo de ra-
A escolha de um método de estima tiva da evapo- diação interno (ver Capítulo 10 - item 10.4) e, conseqüente-
transpiração potencial depende de uma série d e fatores. O mente, na evapo(transpi)ração. Assim, no interior de estufas,
primeiro fator é a disponibilidade de dados meteorológicos, a evapo(transpi)ração é, geralmente, menor do que aquela que
pois métodos complexos, que exigem grande número de variá- ocorre no ambiente externo, atribuindo-se isso não somente à
veis, somente terão aplicabilidade quando houver disponibi- redução no saldo de radiação interno, mas também à menor
lidade de todos os dados necessários. O método de Penrnan - ventilação interna (Farias, 1992; Farias et aI., 1994; Sentelhas &
Monteith não poderá ser empregado em local que só dispo- Santos, 1995) e à maior umidade do ar interno (Stanghellini,
nha de dados de temperatura do ar. 1993).
O segundo fator é a escala de tempo requerida. Normal- No interior de estufas, a evapo(tran spi)ração é, em mé-
mente métodos empíricos como os de Thornthwaite e de dia, 60 a 80% daquela que ocorre no ambiente externo
Camargo, estimam bem a ETP na escala mensal, ao passo que (Rosenberg et aI., 1989). Resultados obtidos por Farias et aI.
os métodos que envolvem o saldo de radiação apresentam boas (1994), no Rio Grande do Su l, durante a primavera-verão
estimativas também na escala diária. (1989/90), mostraram que a evapo(transpi)ração no interior
Por fim, no caso dos métodos empíricos, é necessário de estufas ficou entre 45 e 77% da verificada externamente,
que se conheça as condições climáticas para as quais foram utilizando para isso estimativas. Comparando a evaporação
desenvolvidos, pois normalmente não são de aplicação uni- medida em tanque Classe A e em mini-tanques (diâmetro de
versal. Desse modo, métodos como os de Thornthwaite e de 0,6m e altura de 0,25m), também no período primavera-verão
Camargo aplicam-se a regiões de clima úmido, não apresen- (1996/97) em Piracicaba, SP, Medeiros et aI. (1997) observa-
tando boas estimativas para regiões de clima seco (semi-ári- ram que a evaporação interna foi, em média, 47% da evapora-
do), onde eles tendem a subestimativas. Nessa situação, o ção externa, independente do tipo de tanque utilizado. A rela-
método de Hargreaves & Samani adapta-se melhor, pois foi ção evaporação interna e externa variou de 20 a 70%, sendo
desenvolvido para esse tipo de clima. essa larga amplitude atribuída à ação dos ventos somente no
ambiente externo, fazendo com que em dias de alta velocida-
de do vento a relação seja baixa, enquanto que nos dias de
12.7 EVAPO(TRANSPI)RAÇÃO NO INTERIOR DE baixa velocidade do vento a relação tende a valores máximos.
ESTUFAS PLÁSTICAS Como no ambiente protegido não há reposição natural
de água pelas chuvas, a irrigação assume papel fundamental
A cobertura plástica utilizada em estufas é responsável nesse sistema de cultivo, sendo a estimativa da evapo(trans-
por alteração significativa no balanço de radiação que ocorre pi)ração indispensável para o manejo de água da cultura (Fa-
244 - Pereira, Angelocci e Sen telhas Agrometeorologia - 245
rias, 1992) . Nesse sentido, Farias e t aI. (1994) propuse ram as elementos m e te orológicos no interior do ambiente, corno a
seguintes equações de estimativa da ETo interna a partir da radiação solar incidente (Kirda et a I., 1994; Folegatti et al., 1997),
externa, para a escala qüinqüidial (5dias): a u m idade relativa (Abou-Hadid & EI-Beltagy, 1992), ou, a in-
da, a combinação de ambos em regressões lineares múltiplas
• Método de Penman : (Bou lard & Jemaa, 1993). Sendo relações empíricas, os coefi-
ETo, = 2,897 + 0,613 ETo, (R' = 0,95) (EToe > 8 rnrn /5dias) cientes estatísticos devem ser ob tidos localmente, não sendo
• Método do Tanque C lasse A: de aplicação geral.
ETo, = 4,397 + 0,248 ETo. (R' = 0,53) (EToe > 6 rnrn/ 5d ias)
",.""
decida pelo uso de tanque de evaporação em estufas, recomen- "''''
2"""
27.8
27.2 34,S 20.6
..,
i.'
"
<.'
16,6\ 0.6
2,", 31.0 0.2 11.44 1.1
d a -se o uso do mini-tanque pelas seguintes vantagens: ocupar ""'"
I7IOJ 2l.2 27.9
21.0
19.0 ' .1 1.' 8.78 2~
'..
32..5 19.6 2.S '.1 12.02
IWIO 25.0
"
Outras maneiras d e se estimar a evapotranspiração no
interior de estufas são relatadas na litera tura, sendo as ma is
""li
O."il12
"'''
".,
21. 1
25.0
""'
30,9
31.9
","2
18. 1
I!lA
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"" 2.'
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2. '
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8.S
1.8
5.31
11.2
16.35
11,S4
"ss.,.•
""
08112 23.8 19.2 1.'
09/12 23.9 nR 18,4 '.3 18.55 70
comuns aquelas qu e utilizam a r egressã o linear entre ETo, e
Capítulo 13
13.1 INTRODUÇÃO
Em solos argilosos, com maior capacidade de retenção de água, 13.2 ELABORAÇÃO DO BALANÇO HíDRICO
as raízes não necessitam se aprofundar tanto quanto eln solos CLIMATOLÓGICO
arenosos, que retêm menor quantidade de água. Há compen-
sação natural pelo crescimento do sistema radicular para man- No caso do balanço hídrico climatológico, desenvolvido
ter certa quantidade de água disponível às plantas. por Thornthwaite & Mather (1955), aeq.(13.1) é retomada com
Alguns solos apresentam uma camada adensada que o objetivo de se determinar a variação do armazenamento de
impede tanto a penetração das raízes como a drenagem pro- água no solo, sem irrigação (I = O). Outra simplificação, para
funda, e na época chuvosa o solo fica encharcado, asfixiando fins práticos, é considerar desprezível a ascenção capilar (AC
as raízes mais profundas, reduzindo o volume efetivo de solo = O). Desse modo, torna-se possível estimar a variação do
disponível. Nessa situação, as plantas são incapazes de aten- armazenamento, denominada de alteração do armazenamento
der à uma demanda elevada por muito telnpo. Se o terreno for (ALT), a evapotranspiração real (ETR), e a drenagem profunda,
inclinado, a drenagem lateral ameniza o problema pela elimi- agora denominada de excedente hídrico (EXC), resultando na
nação do excesso de água. Na época seca, o pequeno volume seguinte equação:
disponível não é capaz de suprir as necessidades das plantas
resu ltando em estresse por deficiência hídrica. Logo, solo com ±ALT=P-ETR-EXC. (13.2)
impedimento físico é prejudicial, tanto na época das chuvas
como na seca. Além de ALT e de EXC, a determinação de ETP e ETR
Muitos solos são fisicamente profundos mas agronomi- permite estimar o déficit hídrico (DEF), definido como:
camente rasos pelo acúmulo de elementos tóxicos em uma certa
profundidade, que interferem no crescimento das raízes. Nes- DEF = ETP - ETR. (13.3)
se caso, na época das chuvas não há asfixia das raízes pois não
há impedimento à drenagem profunda. Impedimento quími- A Figura 13.2 mostra de forma esquemática, com valo-
co pode ser corrigido por correção química (calagem etc.), ou res hipotéticos, as cinco situações possíveis das relações entre
pela utilização de plantas e variedades tolerantes a elementos ALT (= ARMf - ARMi), ETP, ETR, DEF, e EXC, para uma Capa-
tóxicos. cidade de Água Disponível (CAD) igual a 100 mm. O
Para culturas anuais, a profundidade de solo explorado armazenamento é calculado pela eq. (13.4). Essa contabilização
pelas raízes varia com o estádio de desenvolvimento das plan- pode ser feita tanto na escala d iária como em escalas maiores
tas. Uma vez definida a profundidade das raízes, t em-se o como a mensal, utilizando-se valores médios de vários anos
volume de controle. (normal climatológica, ver Capítulo 2 - item 2.1).
O balanço hídrico calculado com valores normais (ba-
lanço hídrico normal), torna-se um indicador climatológico da
dis ponibilidade hídrica na região. Essa metodologia também
Agrometeorologia - 253
252 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
[JU UEJQ
Arm, fin:'!1 no !'.Olo '" 6 1ru m
I i 30
ALT = ·39mm c ETR = 691111n
Deficiência hídrica ( DEF) '" I I !11m
p rofundidade efetiva do sistema radicular (Z) para uma cul-
tura é maior, de maneira que há uma compensação, tornando
Excedente hídrico (EXC) =Omm
Arm '" CAD Arm = 6lmm a CAD aproximadamente igual para os dois tipos de solo.
Situação 3 P< ETP ETR =6lmrn
Arm. inic ial no solo Assim , independentemente do tipo de solo, pode-se adotar
=3ttmm
EJQ ~g~
Arm. final no solo
valores de CAD entre 25 e 50mm, para hortaliças; entre 75 e
AL T =-23rnm c ETI~ =43111111
Defic iência Il ídrica (DEF) = 25 1"'11
100mm, para culturas anuais; entre 100 a 125mm, para cultu-
Exc.::dcllle hídrico ( EXC ) '" Omm ras perenes; e entre 150 e 300mm, para espécies florestais .
Arm=6 l mm ATll1 '" 38mm
B~ QE]U
Arm. fi nal no solo '" 58mm
ALT = +20mm e ETR '" E TP '" 70mm
13.2.2 Roteiro para elaboração do balanço hídrico climatológico
Deficiência hldri ca (DEF) = Omm
Excedente híd rico ( EXC) = Om m
Arm = 38mm Arm=58mlll Este roteiro foi proposto por Thornthwaite & Mather
Situação 5 P> ETP ETR Arm. inicial no solo =58m!n (1955), e difundido no Brasil por Camargo (1962) . Tomando-
Arm. final no solo = CAD := )OOnun
I
Agrometeorol ogia - 255
254 - Pereira, Ange/occi e Sente/has
,~
ETT -7 Determinar mensalmente a evapotra n spiração val ores negativos de P - ETP.
I ARM** (ver chamada abaixo) -7 Representa o ARMaze-
tabular diária não corrigida pelo m é todo d e
namento de água do solo.
l Thornthwaite simplificado por Camargo (Tabela 12.2).
Cor -7 Preencher com os valores da Correção de ETT
(Tabela 12.1) para cada mês, em função da l atitude ** Essas d uas colunas (NEG.ACUM e ARM) devem ser pre-
local. e nchidas simultaneamente. Inicia-se o preenchitnento da
coluna NEG.ACUM no primeiro mês em que aparecer o val or
OBSERVAÇÃO negativo de P-ETP, após um período de valores positivos de P -
A PARTIR DESTA COLUNA, USAR NÚMEROS INTEI- ET P. Nesse primeiro mês o NEG.ACUM será igual a P-ETP.
ROS FAZENDO-SE APROXIMAÇÕES NOS CÁLCULOS C o m esse valor calcula-se u valor da coluna ARM pela equa-
çã o 13.4 : (ver Seção 13.2.3.)
ETP -7 Calcular m e nsalmente a evapotranspiração
potencia l (ou seja, ETP = 30 RTT Cor). Representa a
perda potencia l de água por uma extensa superfície [
N J:.:G ACUM 1 (13.4)
ARM = CAD e CAD
256 - Pereira, Ange!occi e Sentelhas Agrometeorologia - 257
Se o próximo mês também apresentar valor nega tivo de • EXC -7 representa o EXCedente hídrico, que é a quan-
P-ETP, acumula-se este com o valor do mês anterior e utiliza- tidade d e água que sobra no período chu voso e se perde por
se esse valor para o cálculo de ARM. Isso prossegue enquanto percolação (drenagem profunda) e / ou escorrimento s uperfi-
P-ETP for negativo. cial. Exist em duas situações:
Quando aparecer um mês com P-ETP positivo, após uma 1') quando ARM < CAD => EXC = O,
seqüência de P-ETP negativos, procede-se da seguinte forma: 2 a ) quando ARM = CAD => EXC = (P-ETP) - ALT.
soma-se o valor positivo de P-ETP ao ARM do m ês
anterior, obtendo-se o ARM do m ês e m questão, que EXEMPLO - Local: Ribe irão Preto (SP); Latitude: 21 0 11 '5;
não deve ultrapassar o valor da CAD; Período: 1961-1990; CAD = 100mm.
com esse valor d e ARM obtém-se o NEG.ACUM d o Mês T("e) E'h Coe ETI' I' I'-ETP N EG. ARM ALT ETR DEF EXC
mm mm mm ACUM 111111 nUIl mm " UU mlll
mês pela inversão da eq. (13.4), ou seja: .Ia" 23,6 3.5 1.1 4 120 268 +148 O 100 O 120 O 148
F" 23 ,6 3.5 1.00 105 2 18 +1 I3 O 100 O 105 O 113
O O 10 1 O
NEG ACUM = CAD Ln[ ARM] (13 .5)
i'\'Iar
Ab,
i\'la i
23,4
22.0
19,7
3.2
2.'
2.2
1,05
0 ,97
0,95
101
84
ó3
1' 9
8i
55
+58
·3
·8
3
· 11
100
97
90
·3
·7
84
62
O
I
"O
O
CAD J \l n 18,7 1.9 0.90 51 31 · 20 · 31 73 · 17 48 3 O
.Iu l 18 ,7 1.9 0,94 54 28 ·26 57 57 · Ió 44 10 O
A'o 20,9 2.6 0,99 77 25 ·52 - 109 34 -23 48 2. O
Após o preen chimento d essas duas colunas, prossegu e- Sd 22.5 3.2 1.00 96 58 ·38 -147 23 · 11 6' 27 O
11)4 +) 5
se com as demais, uma de cada vez. O"'
No"
23.3
23,5
3.2
3.5
1,09
1,10 116
139
174
+35
+58
-54
O
58
100 +4 2
104
11 6
O
O
O
16
DcJ.: 23,3 3.2 1,[6 111 298 + 187 O 100 O 11 1 O 187
Ano 21 ,9 .. 1082 1534 452 .. .. O 10 12 70 522
• ALT -7 representa a ALTeração no armazenamento. É
obtida pela d iferença entre o ARM d o mês em questão e o
13.2.3 Período de início do balanço hídrico climatológico normal
ARM do mês anterior.
• ETR -7 representa a evapotranspiração real, aquela que
Existem várias maneiras de se determinar o período de
realmente ocorre em função da disponibilida de de água no
início do balanço hídrico climatológico normal. O critério pro-
solo. Existem duas situações distintas para seu cálculo:
posto por Thornthwaite & Mather (1955) assume que o solo se
- q u ando P - ETP <: O => ETR = ETP.
encontra na capacidade máxima de armazenamento (CAD)
- quando ALT :'Õ O => ETR = P + I ALT I .
no final do período úmido, ou seja, após a seqüência de valores
mensais de P -ETP positivos (NEG.ACUM = O e ARM = CAD).
• DEF -7 representa a DEFiciência hídrica, ou seja, a fal-
Caso isso não aconteça e 2:ALT '" O, procede-se novamente os
ta d e água no solo, sendo calculada por:
cálcu los do balanço hídrico com o último valor e n contrado
para o ARM no final do período úmido e assim sucessiva-
DEF = ETP - ETR.
mente até que a 2:ALT seja igual a zero na aferição final. Esse
critério é facilmente aplicável em regiões de clima úmido ou
258 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 259
super-úmido, onde as chuvas no período úmido são suficien- Essa equação somente se aplica quando M / CAD < [1 -
temente elevadas para reabastacer completamente o cx p(N I C AD)], isto é, quando M < CAD.
armazenamento de água no solo. No entanto, em regiões de
clima semi-árido e árido onde isso não ocorre, esse critério EXEMPLO: Supondo que:
torna-se um processo repetitivo, demandando tempo e difi- M = L (P - ETP)POs = 50
cultando sua informatização. N = L (P - ETP)NEG = -380
Outro critério para início do balanço hídrico é o propos- CAD= 100mm
to por Mendonça (1958), o qual é válido no caso da região ter
uma estação úmida e uma estação seca. Esse critério possibili-
ta determinar os va lores corretos de ARM e NEG.ACUM dis-
NEG.ACUM
CAD
= Ln [ 5.9{00
~'
j
= -o 67
pensando os cálculos iterativos originalmente propostos por 1- e 100
Thornthwaite & Mather (1955) . O critério parte da soma dos Logo, ARM = CAD exp (NEG.ACUM I CAD) = 100 exp
valores de P - ETP da estação seca (N), negativos, e da soma (-0,67) = 51mm ~ ARM do último mês do período de P - ETP > O.
dos valores de P - ETP da estação úmida (M), positivos, resul-
tando em dois casos: 13.2.4 Aferição dos cálcu los
• Caso 1: Aqui a soma anual de P - ETP 2': O. N este caso, Depois de terminado o Balanço Hídrico Normal é con-
IM I 2': IN I e assim no fina l do período chuvoso o solo está veniente v erificar a exatidão dos cálculos, pelas seguintes re-
plenamente abastecido de água (ARM = CAD); lações:
L P = L ETP + L (P - ETP)
• Caso 2: Aqui a soma anual de P - ETP < O. Neste caso, L P = L ETR + L EXC
IM I < IN I. Nesta situação, se foi adotada CAD S M, O balan- L ETP = L ETR + L DEF
ço hídrico funciona como se a soma anual de P - ETP 2': O (Caso LALT = O
1). Mas, se CAD > M, o ARM nunca será igual à CAD, sendo
assim desconhecidos os valores iniciaís de ARM e NEG.ACUM. EXEMPLO: utiliz ando-se os dados do Balanço Hídrico
A solução proposta por Mendonça (1958) é aseguinte: d e Ribeirão Preto (p. 257) pode-se exemplificar a aferição:
NEG.ACUM = Ln [
CAD
~AD
--"'--
J (13.6)
L P = L ETP + L (P - ETP)
L P = L ETR + L EXC
1534 = 1082 + 452 = 1534
1534 = 1012 + 522 = 1534
1- e CAD L ETP = L ETR + L DEF 1082 = 1012 + 70 = 1082
LALT=O -77 + 77 = O
260 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 261
13.2.5 Representação gráfica do balanço hídrico demanda atmosférica por a lguns dias, mas depois, as chu vas
sendo inferiores a ETP, resulta em período com restrição hídrica
A representação gráfica do balanço hídrico te m por fina- (DEF), em que ETR < ETP. No início do período chuvoso, as
lidade permitir visualização do ritmo anual dos elementos primeiras chuvas são usadas para repor a água no solo, até
básicos e facilitar su a interpretação quanto à determinação de que o solo esteja plenamente abastecido, quando então apare-
épocas com excedentes ou com deficiências de água no solo ce EXC.
para atendimento das n ecessidades agrícolas. Essa represen-
tação pode ser completa ou simplificada. Simplificada: também denominada de extrato do balanço
hídrico, essa representação gráfica foi proposta por Camargo
Completa: plota-se os dados mensais de Precipitação (P), & Camargo (1993), e utiliza apenas a plotagem dos valores de
ETP e ETR, aparecendo uma linha para cada variável. Pelas EXC (valores positivos) e DEF (valores negativos), permitin-
áreas formadas por essas linhas obtém-se EXC, DEF e ALT, do visualização do ritmo dessas variáveis ao longo do ano (Fi-
como mostrado na Figura 13.3. O período com EXC significa g ura 13.4).
que as chuvas (P) foram maiores que a ETP. Nessa situação
ETR = ETP, pois não h á restrição de água no solo. No irúcio do
período seco, o solo ainda tem água suficiente para atender a
Balanço Hídrico Climatológico Normal
Ribeirão Preto (SP)
Balanço Hídrico Climatológico Normal _ 200
Ribeirão Preto (SP) E
E
300 ,-----------------------------------------, --:- 1SO Excedente hidrico (522mm)
Excedente hídrico (522mn) w"><
250 100
200
50
E 150
E o
...:
100 Deficiência hidrica (70mm) ....
:--_--..-/
o" ·50 ----'
50 8etiraºa de
água do solo -
J F M A M J J A s o _ N_ _D -.J
o L-____4 -_ _ _ _ _ _ _ _ __________________
~
~
FIGURA 13.4 Representação gráfi ca si mplificada do BH climático (extrato).
J F M A M J J A s o N o
o balanço hídrico climatológico tem várias aplicações, o balanço hídrico climatológico é mais freqüentemente
entre as quais destacam-se: apresentado na escala mensal e para um ano médio (nonnal),
Disponibilidade hídrica regional: uma aplicação do ou seja , Balanço Hídrico Normal (Cíclico). No entanto,
BHC é a caracterização e a comparação climática regional quan- Thornth waite & Ma ther (1955) descrevem que o balanço
to à disponibilidade hídrica média no solo. hídrico também pode ser u tilizado para o acompanhamento
Caracterização de secas: os cálculos do BHC são úteis do armazenamento de água no solo em tempo real, isto é, n o
na caracterização de períodos de secas e de seus efeitos na momento ou até mesmo em um determinado período. Esse
agricultura, como redução da produção. tipo de balanço hídrico climatológico recebe o nome de Balan-
Zoneamento agroc1imático: o BHC serve de base para o ço Hídrico Seqüencial ou Seriado e pode ser feito em várias esca-
estudo climático regional, sendo a região classificada como las de tempo: diária, qüinqüidial (5 dias), semanal (7 dias),
apta, marginal ou inapta em função das exigências térmicas e decendial (10 dias), ou mensal. A escala de tempo a s er empre-
hídricas de um determinado cultivo (ver Capítulo 21). gada deve ser compatível com o objetivo da utilização do ba-
Determinação das melhores épocas de semeadura: si- lan ço hídrico.
mulações de semeadura/plantio em várias épocas indicam Para se iniciar o se qüenciaUlen to do balanço deve-se
qual delas é menos sujeita a restrições hídricas para a cultura partir de um período em que o armazenamento seja pleno,
eln questão. isto é, ARM = CAD, pois pelo fato deste balanço não ser cíclico,
Pelas Figuras 13 .3 e 13.4, constata-se que, na região de não se aplicam os critérios de inicialização propostos por
Ribeirão Preto, SP, em média, a melhor época de cultivo para Thornth waite & Mather (1955) e de Mendonça (1958). Os cál-
plantas de ciclo anual sem irrigação é o período que se inicia culos do balanço hídrico seqüencial seguem a mesma orienta-
em outubro/novembro e termina em março/abril. Cultivos ção utilizada no caso do balanço hídrico cíclico (normal).
fora desse período só serão possíveis desde que se disponha EXEMPLO 1: Balanço hídrico seqüencial decendial
de suporte de irrigação para corrigir a deficiência hídrica regio- Local: Piracicaba (SP)
nal. Dentro do período chuvoso, há plenas condições para Lat: 22°42'S
aparecimento de doenças e pragas pelo excesso de umidade Long: 47ó 38'W
regional. Alt.: 546m.
Período: jan. a abr./1997
Escala: Decendial
CAD=100mm
Tanual = 21°C
264 - Pereira, Angelocc; e Senlelhas Agrorneteorologia - 265
Mês/DL~ Tar
(" C)
ET
(mm)
Coe ETP
(mm)
P
( 111m)
P· ETP NEG
ACU
ARM
( mm)
ALT ETR
(mm)
DEF
( mm)
EXC
( mm)
1',1'1 0:< no Estado de São Paulo durante aquela safra foi severa-
Jllll 1 23,9 3,6 1,15 40 220 +180 O 100 O 40 O I SO IIh'l1ll' reduzida devido aos efeitos da seca,
2 26,2 4,1 1.15 46 94 <48 O 100 O 46 O 4H
3 27,0 4, 1 1.15 51 I -50 -50 61 -39 4{) li O
FC \' I 26,5 4, 1 1,00 44 70 +26 _14 87 +26 44 O O
2 25.5 4,1 1,00 44 35 -9 -23 79 -8 43 I O EXEMPLO 2: Balanço hídrico seqüencial mensal
100 +21 39 O 94
3 26,0 4,1 1,00 39 154 + 11 5 O
100 O 40 O 40
Local: P iracicaba (SP)
Mar 1 24,5 3,9 1,05 40 80 <40 O
2 24,6 3.9 1.05 40 44 <4 O 100 O 40 O 4 Lat: 22°42'S
3 25,7 4,1 1.05 46 23 -23 -23 79 -21 44 2 O
Al:tr I 26.0 4.1 0,97 40 O .40 -63 53 . 26 26 14 O Long: 47°38'W
2
3
Alt, : 546m.
Perío do: jan./1985 a dez. / 1986
Escala: Mensal
13.4.1 Aplicações do balanço hídrico seqüencial CAD = 100rnrn
T anual = 21"<:
Esse tipo de balanço hidrico possibilita o acompanha-
mento em tempo real da disponibilidade de água no solo. No AIIU Mês TDr ET Co, ETP I' ". NEG Aru..1 ALT ETR DI~ F EXC
EXEMPLO 1, pode-se verificar que até o dia 10 de abril de (oC) ( mm) 111m) (mm) ETl' ACU (m m ) (rm n ) ( mlll) I ( 111m) 1(0101 )
I!lH5 .lml 23.8 3,6 1.15 125 132 +7 O 100 O 125 O 7
1997, o arm azenamento de água no solo em Piracicaba era de Fcv 25,6
25,6
4,1
4,1
1.00 J23 li' -4 -4 96 -4 123 O O
Mar 1.05 130 203 +73 O 100 <4 130 O 69
53rnrn, considerando-se CAD = 100mm, o que possibilita a Ahr 2:1.:- 33 0.97 96 134 +38 O 100 O 96 O 38
M ai 19.0 2, 1 0,95 60 43 ·17 · 17 84 -16 59 I O
tornada de d ecisão quanto a práticas de manejo do solo e se- .11111 16,2 1,4 0,89 38 22 - 16 -33 72 ·12 34 4 O
[, meadu ra / p lantio,
A lém d isso, o balanço hídrico seqüen cia l possibilita,
.Iul
A o
S<I
16.1
22.6
21,1
1,4
3,3
2,7
0,94
0,98
1,00
39
97
SI
2
22
76
-37
-75
-,
-70
-145
150
50
2]
222
·22
-27
-I
24
49
77
15
48
4
O
O
O
Oul 23.8 3.6 1,09 117 11 - 106 -256 8 ·14 25 92 O
corno mostra o EXEMPLO 2, O acompanhamen to da d isponi- Noy 24.7 3,9 1.10 129 134 +5 -204 13 +5 129 O O
OC1. 24,7 3,9 1, 17 J35 72 -63 267 7 -6 78 57 O
bilidade de águ a no solo ao longo de vários anos e sua compa- IWKi Jan 25,8 4,1 1.15 142 143 +1 -253 8 +1 142 O O
J·cv 25,0 ],9 1.00 117 96 -21 -274 6 -2 98 J9 O
ração com um ano médio (normal). Isso também permite a J\ l:lr 24,5 3,9 1,05 123 321 + 198 O 100 +94 123 O 104
23,4 3,3 0.97 % 48 -48 -48 62 -38 86 10 O
quantificação de danos provocados às culturas, devido à alta Ab r
Mui 20,9 2.7 0,95 77 89 +12 30 74 +12 77 O O
correlação entre a evapotranspiração relativa (ETR/ ETP) e a Jun 17,6 1.9 0,89 51 O ·51 81 44 -30 30 21 O
.Iul 17.4 1.7 0,94 48 11 ·37 118 3J -13 24 24 O
produ tividade das culturas, A 'u 19.4 2, 1 0,98 62 133 +71 O 100 +69 62 O 2
Sei 20,<) 2,7 1.00 SI 37 -44 -44 64 -36 73 8 O
Na Figura 13.5, são apresentadas as representações grá- Q II I 22,9 3,3 1.09 107 5] -54 -98 38 -26 79 28 O
24,5 3,9 1.10 129 110 19 11 7 3J -7 1 17 12 O
ficas dos balanços h ídricos dos anos de 1985 e 1986 e de um NU l '
])1'1. 24.2 3,6 1,17 125 282 + 157 O 100 +69 J25 O KR
ano normal, par a Piracicaba, SP, na es cala mensal. O b serva-se
que o ano de 1985 foi extremamente seco, com as d eficiências
hídricas persistindo d esde maio a té dezembro, continuando
inclu s ive d u rante o mês de janeiro de 1986. A produção de
Agrometeorologia - 267
266 - Pereira, Angelocci e Se nlelhas
13 .5 EXERcíCIOS PROPOSTOS
PiraCiC~S~-)-- ~
E
E
80
60
40
20
o .~A~~~~~~~~
! 1\
~a I,
1. Calcular os balanços hídricos normais, na escala men-
das localid ades indicadas. A ferir os cálculos e fazer a re-
p resentação gr á fica completa e a simplificada de cad a balanço .
Local: Capão Bonito (SP)
.20 v '<.J ------.J ~~
Fonte: IAC
Latitude: 24°02'S
40
L
Período: 1960 - 1990
1 4 __' _ _
10_ _
" __
16_ 19 22 25 28 31 34
D e cê ndios CAD= 100mm
, - -- - --_. - ----
- l\'l k T 1"."1' Co, ETP I' NEG. ARM AI.T ETR DEI' EXC
~C ) ( mm ) ( mm) ( mm) ACUM. (lIun) (lnm ) ( m ... ) ( III ;'~) (m m )
Piracicaba , SP (1986) 23,2
"'I 17'
80 F c:,' 2],7 14.
t\ lur 22.8 123
60 i\ hr 20.8 68
1\1 111 IR.O 70
40 Jlln 16.0 66
E
E
20 .
J ul
,\ '0
16,2
17.3
18.2
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Local: Petrolina (PE)
Dc cêndio s
Fonte: INMET
Pi racicab a , SP (J9 17 - 19991 Latitude: 9°14'S
80 ·, - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - , Período: 1960 - 1990
6 0· CAD = 100mm
h "Ih T ET Co, f~TI' r P-ETP NEG. A RM ALT ETR DEF [XC
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50
FIGURA 13.5 Ext rato do BH climatológi co seriado (CA D~ 100mm ) para p", n ,1 84
1985 e 1986, e comparação c om o BI-I normal, para Pirac icaba, SP. Valo res ~ n" U,. \ &>J
1 111,
Capítulo 14
14.1 I NTRODUÇÃO
Portanto, a estimativa de ETc depende de um coeficiente A porcentagem de cobertura do terreno pode ser esti-
de ajuste (Kc), denomina do coeficiente de cultura. Es te, por s u a mada visualmente pela proporção de sombra projetada no solo
vez, é função do índice de área foliar (IAF) da cultura, que varia p or volta do m eio-dia, quando o sol está a pino. É importante
com o seu crescimento e desenvolv imento (ver Capítulo 12). lembrar que, no caso de se manter o mato das entrelinhas, deve-
Valores médios d e Kc para diferentes tipos de cultura, nas di- se considerá-lo também como cobertura do terreno para efei-
ferentes fases feno lógicas são apresentados na Tabela 14.1 (p. to de consumo de água, pois todas plantas a utilizam. Se o
274), e conhecidos como Kc-FAO. Nas culturas anuais, obser- mato não for considerado, haverá falta de água para a cultura
va -se aum en to gradual nos va lores de Kc a t é a fase do pois as ervas invasoras são mais eficientes na utilização dos
florescimento, que coincide com a época de máxima área foliar, recursos naturais que as plantas cultiv adas.
decrescendo a partir do final da frutificação e ilúcio da maturação,
em função da senescência das folhas. Alguns estudos realizados
no Brasil com a can a-de-açúcar (Peres e t aI., 1992) e com a b atata 14.2 DETERMINAÇÃO DA CAD
(Bezerra et aI., 1996), mostram que o valor d e Kc d epende tam -
bém do método de estilnativa de ETo. A capacidade de água disp onível no solo (CAO, em mm)
Para a maioria das culturas Kc varia de 0,3 na fase de d ev e ser determinada de acordo com as propriedades físico -
estabelecimento da cultura, até 1,2 na fase de florescimento e h ídricas do s olo (CC%, capacidade de campo; PM P %, ponto
fruti ficação. Variaçã o bem diferenciada é aquela que se obs er- de murch a permanente; e O , dens idade do volume de solo) e
va nas culturas perenes (ver Capítulo 12 - Figura 12.3), como é co m a profundidade efetiva (Z) do s istema radicular das plan-
o caso do cafeeiro, dos citros, da oliveira e da seringueira, que t ~ s s ob cultivo, isto é:
após terem atingido a maturidade (fase produtiva), os va lores
de Kc variam a penas em função da desfolha que ocorre n o CAD = 0,01 (CC% - PMP%) D Z. (14.3)
período de repou so vegetativo, mas somente entre 0,65 e 0,9
(Tabela 14.1) . Para algumas culturas anuais exploradas no Bra- Como profundidade efetiva entende-se aquela em que se
sil, os valores médios de Kc são ap resentados para períodos co nce ntra cerca de 80% das raízes, expressa em mm, visto que os
de 10 di as após a emergência (Tabela 14.2). Observa-se que os d e ma is termos da equação não têm tmidade. Essa profundidade
valore s máximos de Kc não ultrapassam 1,2. ,kpe nd e não só do tipo de solo, mas também da cultura, do regi-
Caso não h aja informações detalhadas dos valores de me h ídrico e nutricional a que o solo está submetido.
Kc para uma detenninada cultura, eles podem ser obtidos de Va lores médios de profundidade efetiva do sistema
um modo prático pela relação (Camargo & Pereira, 1990): ,.. , ei ic u la r (Z), de alguns cultivos no Estado de São P a ulo
(1\ lfo ns i e t a!., 1990), são apresentados abaixo:
272 - Pereira, Arzgelocci e S erz lelhas Agrometeorologia - 273
CULTlYO
hortali as
I'roru nditlade "rdi ...a dali raí>lC5 (mm
lOOa 200
Solo 1
anol:. batata e rci "ão 200 a 300
300 a 400
CC% = 32%
Iri o
milho e so" a 400 a 500 PM% = 20%
amendoim 500 a 600
D= 1,3
CAD , = 0,01 * (32 - 20) * 1,3 * 500 = 78mm
No caso de culturas perenes como cafeeiro, cana-de-açú-
car, citros e outras frutíferas, pode-se adotar Z entre 700 e Solo 2
1000mm. Para essências florestais, pode-se adotar Z entre 1500 CC% = 25%
e 2500mm. PM% = 17%
As propriedades físico-hídricas dependem da textura e D = 1,2
da estrutura do solo, e são bastante variáveis. Para os solos CAD, = 0,01 * (25 - 17) * 1,2 * 500 = 48mm
agrícolas do Estado de São Paulo, tem-se a CAD por unidade
de profundidade variando desde 50 até 200mm/m de profun- Solo 3
didade, sendo130 mm / m um valor médio prático. Devido a CC%=?
essas variações, o ideal é que o cálculo da CAD seja feito para PM%=?
as condições locais de solo e de cultura, inclusive consideran- D=?
do-se a variação da profundidade do sistema radicular com O Textura Média
estádio de crescimento da cultura. No caso de haver variação CAD3 = 140 mm/m * 0,5 m = 70mm
acentuada das propriedades fisico-hídricas com a profundi-
dade, deve-se calcular a CAD de cada camada de solo, sendo Solo 4
a CAD total da profundidade efetiva dada pelo somatório das Camada 1: CC% = 26%PM% = 19%
CAD das camadas. D = 1,12 Z = 200mm
Na impossibilidade de se ter dados locais, pode-se utili- Camada 2: CC% = 30%PM% = 21 %
zar critérios aproximados (práticos), e Doorenbos & Kassam D = 1,21 Z = 300mm
(1994) recomendam a seguinte regra prática: CAD, = 0,01 * (26 - 19) * 1,12 * 200 = 15,68mm z 16mm
CAD, = 0,01 * (30 - 21) * 1,21 * 300 = 32,67111111 z 33nU11
• Solo de textura pesada: 200 mm / m; CAD = CAD, + CAD, = 16 + 33 = 49m111
• Solo de textura média: 140 mm / m ;
• Solo de textura grossa: 60mm/m.
Cultu.ra
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Fases de Desen\'olvirnenlOda Cultura I
F..slabelcc. Des. Vt2ct. Floresc. Frulincacão !\'1atur.lcão 'U
.. .. ..
~
Alfafa 0.3·0.4 1,05 - 1.2
Al2odão 0.4 · 0.5 0.7· 0.8 1.05· 1.25 0.8·0.9 0.65 · 0.7
Amendoim 0.4 · 0.5 0.7 ·0.8 0.95·1.1 0.75· 0.85 0.55 · 0.6 ~~.
Arroz 0.4 · 0.5 0.7·0.8 0.9 · 1.2 0.8 ·0.9 0.5 · 0.6 I ;".
~õ
0.75 · 0,85 ,
Banana Trooical 0.4 · 0.5 0.7·0.85 1.0·1.1 0.9· 1.0
Banana Subtru piCllI 0.5· 0.65 0.8· 0,9 1.0· l.2 1,0· 1,15 1.0· 1.15 I
Batata 0,4 · 0.5 0.7· 0.8 1.05 - 1.2 0,85· 0.95 0.7· 0,75
Beterraba açucareira
Cana· de · açúcar
0,4 ·0,5
0.4 · 0,5
0,75· 0,85
0,7 ·1.0
1.05 - 1.2
1,0 - 1,3
0,9 · 1.0
0,75· 0,8
0,6 ·0,7
0,5· 0,6
B.
Ccbola seca 0,4 ·0.6 0,7 · 0,8 0.95· 1. 1 0,85 · 0.9 0.75·0,85 "C/'J
~.H~rd e
Café c/ trato
0.4·0,6 0,6 · 0,75 0,95 · 1.05
0.65·0.8
0,95 · 1.05 0,95 · 1.05
"8'
:;
~
Café si traio 0,85·0,9
Citros d trato 0,65· 0,75
Cilros si trato 0,85· 0.9 '"
Ervilha 0.4 ·0,5 0.7 · 0.85 1.05· 1) 1.0· 1, 15 0,95· 1,1
Fci'ão ,'crdc 0.3·0,4 0,65·0.75 0,95 · 1,05 0,9·0,95 0.85 · 0.95
Fe_ijão seco 0.3·0.4 0.7 · 0.8 1.05 · 12 0,65·0.75 0,25· 0,3
Girassol 0.3·0.4 0.7·0,8 1.05 ·12 0.7 . 0.8 0.35· 0,45
l\'lelancia 0.4·0.5 0.7·0,8 0.95 · 1.05 0.8 ·0.9 0.65 · 0.75
Milho doce 0,3.0,5 0.7 ·0.9 1.05-12 1.0 · \,\5 0.9· \,\
i\·liIho erão 0,3· 0.5 0.7 -0.85 1.05 · 1) 0.8·0.95 0,55· 0.6 Primeiro valor:
Oli" eira 0.4· 0,6 com umidade
Pimentão rcrdc 0.3·0.4 0.6 ·0,75 0,95 ·1.1 0.85· 1,0 0.8 ·0.9 elevada (UR mio
Repolho 0.4 · 0.5 0.7 ·0.8 0.95 ·1.1 0,9· 1.0 0.8·0,95 > 70 %) e vento
Serinl!ueira 0.7· 1,2
fraco (U < 5 ml
So'a 0.3 · 0.4 0,7 ·0,8 1.0 · 1.15 0.7 · 0.8 0.4 ·0.5 5). Segundo
Son~o 0.3 ·0,4 0.7 . 0.75 1,0 · 1,1 5 0,75· 0.8 0,5 · 0,55 valor: com
Tabaco 0.3 · 0,4 0.7 ·0.8 1.0 - 1.2 0,9· 1,0 0,75 · 0.85 umi dade baixa
TOlllllte 0,4 · 0,5 0,7 - 0,8 1,05 - 1,25 0.8 ·0.95 0.6 · 0.65 {UR min < 70%1
Trigo 0.3·0,4 0.7 · 0.8 1.05 - l.2 0.65· 0,75 0.2· 0.25 e vento forte (U
U \ '3 0,35·0.55 0.6· 0.8 0,7 ·0.9 0.6·0.8 0.55·0,7 > 5m/sl
TABELA 14.2 Valores de Kc por decêndio após a emergência, para algu ns cultivos anuais. (Fonte: Alfonsi et aI.,
1990).
N
~
V1
276 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 277
14.3 ElABORAÇÃO DO BALANÇO HíDRICO DE também de chuvas, quando o ARM ainda não era total, mas já
CULTIVO era suficiente para atender a demanda da época. No intervalo
entre a maturação da primeira safra (julho) e o segundo plan-
Conhecendo-se ETc e CAD pode-se detenninar o balanço tio (outubro), o mato tomou conta do campo, e neste caso, o
hídrico de cultivo, que seguirá o mesmo procedimento do balan- Kc do período foi tomado como igual a 1, simulando uma si-
ço hídrico climatológico seqüencial, podendo ser feito nas dife- tuação de maior consumo possível de água do solo.
rentes escalas de tempo (mensal, quinzenal, decendiaI, qüinqilidial Nesses exemplos, apenas por facilidade de apresentação, a
ou diária). É importante notar que, no caso de período quinzenal, planilha inicia-se com a ETP já detenninada, enfatizando que ela
as "quinzenas" podem ter 13 ou 14 dias, em fevereiro, e 15 ou 16 pode ser estimada por qualquer método (ver Capítulo 12).
dias, nos outros meses. No caso de "decêndios", fevereiro pode
ter 8 ou 9 dias, e nos demais meses 10 ou 11 dias. EXEMPLO 1:
O balanço hídrico elaborado d essa forma permite obter Balanço Hídrico de Cultura - CAFEEIRO
Local: Ituverava (SP)
a evapotranspiração real da cultura (ETr), assim como a (Lat.: 20 0 16'S; ~ong.: 47°48'W; Alt.: 550m)
evapotranspiração relativa da cultura (ETr/ETc), sendo esta Cultura: CAFE
uma outra forma de se expressar a deficiência hídrica da cul- Var.: Catuaí
tura (ETr /ETc = 1 - sem deficiência hídrica; ETr /ETc < 1 - com Idade: 5 anos
deficiência hídrica). Ano: 1985
No Exemplo 1, é apresentado o balanço hídrico de uma Espaçamento: 3,5 x 1,Om
CAD = 130mm (Z = 1m e CAD = 130 mm/m).
cultura de café, na escala mensal, e para apenas um ano, mas Adaptado de Camargo & Pereira (990)
o balanço é seqüencial. Como janeiro é mês de excedente ..,.,. ,.
hídrico na região do exemplo, então desde o primeiro mês O
ARMazenamento é pleno e igual à CAD. Se não houvesse
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semeadura (safrinha superprecoce em 01 / 03/85, e normal das
águas em 01 /10/85), e aqui também o balanço é seqüencial. EXEMPLO 2: Balanço Hídrico de Cultura - MILHARAL
Note-se que o primeiro plantio coincidiu com um período de Local: Ituverava (SP)
muita chuva garantindo que o ARM fosse igual à CAD naque- (Lat.: 20 0 16'S; Long.: 47°48'W; Alt.: 550m)
la data. O segundo plantio (01/10/85) foi feito em período Cultura: MILHO
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visando a redução nos custos da irrigação.
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" " recursos computacionais sofisticados, medindo-se apenas a chu-
ETrlETc médio do milho safrinh a
ETr/ ETc méd io do milho das águas
0 ,70.
1,00.
-- va e os e lementos meteorológicos exigidos no método escolhido
para estimar a e v apotranspiração de referência (ETo). Aplica-se
principalmente para irrigação n ão-localizada .
Antes de se iniciar um projeto de irrigação é preciso co-
nhecer-se a lguns aspectos fundamentais como:
280 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 281
AFD~pCAD. (14.4)
TABELA 14.3 Fração p para g rupo s de cu ltura e ETc. Fonte: Doo renbos & ximo ao limite crítico, ou seja, AFD ~ O. A quantidade de água
Ka ssam (1994).
da irrigação depende do critério adotado (DR fixa ou variá-
C ulturas Grupo
2 3 4 ,
ETc mllld- )
6 7 8 9 10 vel):
Cebola. Pimentão, 1 0.50 0,43 0,35 0,30 0.25 0,23 0.20 0,20 0. 18
S al.lla
- Para DR fixa => lâmina de irrigação igual a um valor
Banana, Repo lho, Uva. 2 0.68 0,58 0,48 0,40 0.35 0,33 0.28 0.25 0,23
mínimo (0,25 AFD) ou máximo (0,50 AFD);
Ervilha, T omate
Alfafa, Feijlio. C ilros. 3 0.80 0.70 0.60 0.50 0,45 0,43 0.38 0.35 0.30 - Para DR variável => lâmina igual a diferença entre a
Amend oim. G irassol, Trigo
A lgodi'io. M ilho. Sorgo, 4 0.88 0,80 0,70 MO 0,55 0,50 0,45 0,43 0,40 AFD adotada (eq. 14.4) e a AFD do final do período anterior.
So'a. Cana..<.Je-aclícar
Pelo exemplo apresentado a seguir, para a AFDf do período
25-29/5 igual a 2,6 mm, e com aAFD adotada de 19 mm, tem-
OBSERVAÇÃO: A adoção d essa fração p facilita o ba- se 1 = 19 - 2,6 = 16,4 mm.
lanço hídrico, não havendo necessidade de se utilizar o Nega-
tivo Acumulado do balanço climatológico clássico, porque nes- • Passo 6 => Água facilmente disponível inicial (AFDi)
se intervalo de umidade armazenada o processo de extração É a AFD no início do p eríodo considerado.
de água pelas raízes é praticamente linear, não sendo preciso - Quando não houver irrigação: AFDi do período = AFDf
utilizar a função exponencial de cálculo de ARM, como no do período anterior
balanço hídrico climatológico. - Quando houver irrigação com DR fixa: AFDi do perío-
do = 1 + AFDf do período anterior
• Passo 3 => Determinação da evapotranspiração da - Quando houver irrigação com DR variável: AFD i do
cultura (ETc) período = AFDf do período anterior.
A ETc é determinada de acordo com item 14.1 e Capí-
tulo 12. • Passo 7 => Água facilmente disponível final (AFDf)
É a AFD no final do período, resultante do seguinte ba-
• Passo 4 => Precipitação (P) lanço:
Este é o valor total observado das chuvas (mm), no perío- - Para DR fixa: AFOf = AFDi + (P - ETc)
do considerado. É importante medi-la na g leba a ser irrigada - Para DR variável: AFOf = AFDi + (I + P - ETc).
pois se tra ta de um elemento meteorológico com muita varia -
bilidade espacial e descontinuidade (ver Capítulo 8). EXEMPLO PARA DR FIXA
ETo calculada pelo método de Camargo (Capítulo 12).
• Passo 5 => Irrigação (I)
Irrigação significa a lâmina de água a ser aplicada, sen- Local: Votuporanga, SP (Lat.: 20"5), Cultura: Feijão,
do efetuada no início do período em questão, e sempre que a CAD = 40mm, AFD = 20mm, DR = 10mm,
AFD no final do p eríodo (AFDf) anterior tenha chegado pró- Semeadura: 01 /06
286 - Pereira, A ngelocci e Sen telhas AgrometeoroJogia - 287
I " '';00. Im (
'~,.)
T.;C -.,::, K,
(E~~, , ':.., 2m' "uI .. ~'
14.5 EXERcíCIOS PROPOSTOS
, I
L D e termine as lâ minas de irriga ção necessárias para
I
um cafez al, nas s eguintes con d ições:
I
Local: Ituv erava, 5P (Lat: 20° 16' 5; Long: 47° 48'W; Alt.:
. I .
I 550m) - Esca la Quinz enal - Varieda d e Catuaí.
I
I
Mês/Quinzena TmedC'q Chuva (mm) Mês/Quinzena T mcdre) Chuva (m m)
Janl l 24.5 ' 90 J ul/ 1 19,4 O
Janf2 24.5 284 Jul/2 19,4 O
Fcv/l 23,5 90 Agoll 2 1,3 9
2 1,3 29
r~vl2
Marli
23.5
23, 1 "
200
Agol2
Setl l 22,2
22,2
5
Marfl 23,1 '06 Self2 '2
Abril 22.6 30 O ut/ I 23,2 20
AbrIl 22,6 26 0"<12 23,2 46
Muill 21.0 'O Noy/ l 23,8 180
EXEMPLO PARA DR VA RIÁ VEL Mail2 21.0 7 Novrl 23.8 64
18.4 De7J I 24.2 80
Local: C ampin as, 5P (La t.: 22°53'5), Junl l
l ...>l2 18.4
O
O D,,n 24,2 130
Cultura : Trig o, CAD = 38mm, AFD = 19mm,
Semeadura: 11 / 05
2. D e termine a s lâminas de irr igação n ecessan a s para
,-' uma cultura de feij ã o, nas seguintes condições:
I.
I. Local: ltuverava, 5P
I.
I .
I.
(Lat: 20° 16'5; Long: 47° 48' W ; A lt.: 550m)
I.
I .
Escala Qüinqüidial
Ciclo de 90 dia s
Plantio em 15 / 05
I
I
I
Bordadura = 10m
I
I
I
I I I.
I
.,' I
I
• 08S: Apesar de no úl timo qü inqüidio haver indicaçdo de Il.ecess idade d e irrigaç.aQ, esta será
descartada em função da cul tura já se encontrar em fase de matu ração, período e m que falta da
água lorna-se alé bené fi ca .
l
288 - Pereira, Angelocci e Sente/has
Capítulo 15
Período ECA UR Vento Chuva Climatologia
(m m.d") (%) (m/s) (mm)
16-20/5 4 ,2 75 2,2 28
21-25/5 3,5 80 2,0 O
26-30/5 3,2 78 1,8 O
31-04/6 3,0 73 2,6 O
05-09/6 3,4 70 2,2 13
10-14/6 2, 1 69 1,6 O
15-1 9/6 1,9 66 1,9 O 15,1 INTRODUÇÃO
20-24/6 1,8 70 1,7 5
25-29/6 1,9 75 2,3 O
30-04/7 2,2 66 2,5 O No Capítulo 2, definiu-se clima como sendo uma descri-
05-09/7 2,5 68 2,2 12 ção estatística que expressa as condições médias do seqiien-
10-14/7 2,8 60 2,6 O ciamento do tempo, ou seja, o seqüenciamento das condições
15-19/7 2,4 65 2,7 5 instantâneas da atmosfera em um locaL Isso significa que, pri-
20-24/7 3, 1 69 2,0 2
25-29/7 3,3 60 1,9 1
meiro se observa as condições da atmosfera em um local, por
30-03/8 2,9 63 2, 1 O um certo período (alguns anos), e depois estima-se qual deve
04-08/8 4,1 55 2,0 O ser o seqüenciamento mais prováveL Essa definição pode ser
09-13/8 3,9 58 2,6 O expressa de várias maneiras, e algumas são clássicas. Por exem-
plo, para Sorre clima é a série de estados da atmosfera em um lugar,
em sua sucessão habitual, enquanto que Ki:ippen define-o como
sendo o somatório das condições atmosféricas que fazem um local
ser mais ou menos habitável para seres vivos, Para Poncelet, clima
é o conjunto habitual de elementos físicos, químicos e biológicos que
caracterizam a atmosfera de um local e influem nos seres que nele se
encontram.
Na definição de clima fica implícito que o desempenho
dos seres v ivos é imposto pelas condições climáticas. Sendo
assim, deve-se concentrar esforços para melhor entendê-las, e
usá-las para resolver problemas econômicos e sociais. Impac-
tos das atividades humanas sobre o ambiente devem ser con-
tinuamente avaliados e utilizados em programas de desen-
volvimento regional, viabilizando a exploração racional e sus-
tentada dos recursos naturais. Nesse contexto, os estudos sis-
290 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 291
tematiz ados sobre clima são domínio da Clima tologia, e como d i,.."o, os valores diários de irradiâ ncia solar g lobal, var iam de
tal se iniciaram na Geografia. II{'unJo co m a latitude e com o dia do ano (ver Capítulo 5),
Ill' nd o ta mbénl afetados pelos processos de atenuação na at-
'Il osfcra. (ver Capítulo 3 - itens 3.3. 1 e 3 .3.2). Isto torna a lati-
15.2 FATORES DO CLIMA
lud ' um grande fator condicionador d o balanço de energia
I'Ild ionte, com tendência de diminuição da tempe ratura média
No Capítulo 2, definiu-se fatores do clima como agentes
qUl1ndo se vai das regiões equatoriais para as polares.
causais que condicionam os elementos climáticos. O s fa tores
podem ser classificados de a cordo com a escala de estudo, ou
AI ti tude/relevo
seja, com efeitos no macro, topo ou microclima.
Mantidos invariáveis os outros fatores climáticos, um
Il lIm c n to em altitude ocasiona diminuição da temperatura, em
co nseqüência da rarefação do ar e diminuição da pressão at-
15 .2.1 Fatores do macroclima
mosférica . Em média, há decréscimo de 0,6 °C a cada 100 m de
Fatores são condicionantes dos elementos climáticos, e ,'k'vação, embora esse valor seja modificado pela concentra-
,', () de vapor d'águ a na atmosfera (ver Capítu lo 8).
podem ser class ificados como:
• Permanentes =:> d estacando-se latitude, altitude/rele- A associação da alti tude de um local na superfície ter-
,','sl rc COln o relevo, pode condicionar variações no regime de
v o, oceanidade / continentalidade, distribuição de oceanos e
c huvas e de ventos do local. Em certos casos, de encost as e
continentes, movimentos da Terra;
montanhas batidas por vent os carregados de umidade, ocorre
• Variáveis (no espaço e no tempo) =:> incluindo-se as
Ilu m c nto da precip ita ção no l ado a barlavento (chuvas
correntes oceânicas, os centros de alta e baixa pressões semi-
permanentes e as grandes massas de ar, e as variações da com-
ol'Osrnficas, provocadas pelo relevo) e diminuição no lado a
s olo vento, com formação de correntes descendentes secas e
posição atmosférica.
diminuição da altura p luviométrica anual no segundo lado
(sol/1um de chuva; Capítulo 4 - item 4.6).
Latitude
Os efeitos deste fator permanente estão ligados às rela- A Tabela 15.1 quantifica o efeito do relevo sobre o total
d,' c huvas ao long o de um transecto na Serra do Mar, no Esta-
ções Terra-Sol. que envolvem o movimento aparente do sol ao
do d e São Paulo. Partindo-se do nível do mar em Santos, SP
longo do ano. Como conseqüência do movimento de translação
(I'onlo da Praia), em direção à serra verifica-se que o total de
da Terra, e também da inclinação do eixo te rrestre em relação
, IIlI VOS a umenta tanto na estação chuvosa (out.-ma.r.) como
ao Plano d a Eclíptica, há variação espacial e temporal do ân-
li" l'l oca menos chuvosa (abr.-set.). Esse efeito é devido à cir-
gulo de incid ê ncia do s raio s so l ares na superfície e do
I 'III" çi10 a tmosférica local, sendo que os v entos originados no
fotop e río d o (ver Capítulo 2 - 2.5. Estações do ano). Em função
un',lno J\tlân ti co vêm em direção à serra carregados de umi-
if
dade. A e levação da massa de ar provocada pelo re levo induz 1/\1111/\ 1 5 .2 Média anual de chuva (P) e de te mperatura do ar (T), em três
I,,, ,"ld,ldes cio Estado d e São Pau lo. Fonte : IAC e INMET (1992).
à condensação do vapor d'água e sua precipitação. Observa- L.'lt. Lon. Ale Situa :ão p(mm T ("C)
se que acima de 350 m de altitude, n a vertente voltada para o I
I 11111111111111",,1 23"05'S 45"03"W 8m Litoral. sopé Semi do Mar 2348 20.6
1',lm l,uIIIM, llm. ·,.Im 22<> 55'S I 45" 3Q'W 560m V'lle do P,lf"oIíba 12 15 20.•
oceano (barlavento), o to tal de chuvas ultrapassa 3000 mrn anu- I UU'ill"'illu Jtllll;lo 22° 44'S I 45" 34'W 1594 m Serra dn MlInti uciTa 1666 13,3
.1
294 - Pereira, Ange/occi e Senlelhns Agrometeorologia - 295
anual, é sempre maior em Cuiabá . A diferença em latitude das rentes que se movem de maneira organizada, mantendo ca-
duas localidades é muito pequena, e a diferença em al titude é racterísticas físicas diferen tes do restante das águas adjacen-
desprezível; portanto, os efeitos são predominantemente de- tes (Figura 15.1) . O contorno dos continentes impõe direção à
vidos à oceanidade/ continentalidade. movimentação das correntes oceânicas. As correntes que cir-
culam no sentido dos pólos para o equ ador são frias, pnqu an -
TABELA 15.3 Efeito de oceanidade / continentalidade na temperatura do ar to que aquelas que navegam no sentido contrário são
em Cuiabá (MT) e Salvador (BA) . Fonte: INMET (1992). aquecidas, e essa movimentação ajuda a redistribuir a energia
TnlaX
Cuiabá (MT ) (lS" 33'S)
Tm[n
Sah':ador (nA) (13· 01'S solar captada pelos oceanos.
Amplitude Tmax Tmin Ampl it ude
Mês ("C (OC) 'C 'C rC) ·C) A atmosfera em contato com grandes massas de água
Janeiro 32,6 23,2 9.4 29.9 23,7 6.2
Fevereiro 32.6 22,9 9.7 30.0 23.9 6.1 entra em equilíbrio térmico com a superfície, visto que a capa-
M 32.9 22.9 10.0 )0,0 24. 1 5.9
Abril 32.7 22.0 12.7 28.6 22.9 5.7
cidade calorífica do ar é muito pequena. Por isso, as correntes
M aio 3 1.6 19.7 11.9 27,7
Junho 30.7 17,5 13.2 26.5
23.0
22 . 1
4.7 marítimas têm grande efeito sobre o regime térmico e hídrico
3.4
Julho
A OSlo
31,8
34.1
16.6
18.3
15,2 26.2 21.4 4.8 na costa dos continentes, ao longo de seu percurso. Correntes
15.8 26.4 2 1.3 5. 1
Setembro
Outubro
34, 1 22, 1 [2,0 27.2 2 1.8 5.4 frias condicionam climas mais secos, enquanto as correntes
34.0 17,[ 16.9 28.1 22.5 5.6
Novembro 31.1 22.9 8.2 28,9 22,9 6.0 quentes promovem climas mais úmidos. A Figura 15.1 ilustra
Dezembro 32.5 23,0 9.5 29.0 23.2 5.8
as principais correntes marítimas. Por exemplo, a corrente
Am . anual 3.4 6.4 3.S 2.8 quente do Golfo do México, que banha a costa leste dos Esta-
dos Unidos, a partir da Flórida toma rumo NE, banhando tam-
bém as costas da Irlanda, Escócia, e Noruega, induz ali maio-
Em uma escala geográfica maior, o poder moderador res temperaturas e precipitações, possibilitando a prática agrí-
dos oceanos e mares também explica o porquê das amplitu- cola em parte do ano. Do outro lado do Atlântico Norte, na
d es térmicas anuais (verã o-invenlo) serem menores no hemis- peninsula do Labrador (Canadá) e na Groenlândia, que são
fério sul (HS) que no hemisfério norte (HN). A relação terra / banhadas por águas frias, embora nas mesmas latitudes da
oceano é muito maior no HN do que no HS, onde há mais Noruega, têm temperatura muito mais baixa e as chuvas são
oceano do que terra. Assim, comparativamente, no HS ocor- escassas.
rem temperaturas menores n o verão e maiores no inverno, A América Latina é ban.hada por duas corren les frias
com menor amplitude térmica anual. (Humboldt ou do Perú, e das Malvinas), no sentido Sul-Nor-
te, e pela corrente quente do Brasil, que desce da região equa-
Corren tes oceânicas torial. Portanto, a costa do oceano Pacífico é mais fria e seca
A movimentação contínua das águas oceânicas em fun- do q ue a costa atlântica, que é mais quente e úmida. Um exem-
çã o d e diferenças d e d en sid ad e, cau sada por diferenças d e tem- plo desse fato, pode ser il u strado com os dados de precipita-
peratura e de salinidade, f' d a ro tação da Terra, resulta em cor-
296 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 297
ção e temperatura de duas localidades litorâneas qua se na litoral Pacífico, a direção predominante de tais ventos
mesma latitude e altitude: d esfavorecem a circulação de vapor do mar para o continente,
- Salvador (BA): com temperatura média anual de 24,9 tornando essa região mais seca. Essa situação se altera pro-
0e, e precipitação anual de 2000 mm; fundamente em anos com a ocorrência do EI Nifto, quando o
- Lima (Perú): com temperatura média anual de 19,4 DC, litoral do Pacífico fica bem mais aquecido, provocando chu-
e chuva anual de 40 mm. vas ablmdantes até mesmo no deserto de Atacama, no norte
do Chile, enfatizando o acoplamento oceano /atmosfera.
Esses efeitos opostos são reforçados pela disposição geo- Outro exemplo do efeito das correntes oceânicas no cli-
gráfica da costa, nos dois lados, em relação aos ventos de gran- ma ocorre na costa atlântica, no litoral brasileiro, na região de
de circulação, que nessas latitudes têm direções predominan- Cabo Frio, RI, one há afloramento de águas mais frias (daí o
tes n o quadrante leste. Assim, na altura do Brasil, a costa é nome do local) com efeito sobre o regime de chuvas. Naquele
batida pelos ventos de grand e circu lação, com transporte de ponto do litoral as chuvas oscilam entre 36 e 101mm ao mês,
vapo r do oceano para o continente. Nas m esmas latitudes, no totalizando apenas 771mm no ano (Tabela 15.4). Um pouco
mais ao sul, em Angra dos Reis, RI, ~ituada em uma baía, onde
a corrente oceânica é quente, as chuvas mens ais variam de 76
a 276mm, totalizando 1977mm no ano.
, . TABELA 15.4 Efeito de co rrentes oceâni cas sobre a ocorrência de
( : ~ ,
chuvas em Angra dos Reis (RJ) e Cabo Fri o (RJ ). Fonte: INMET
D (1992)
Anticiclones semi-permanentes e circulação geral condicionar freqüentemente tempo bom, com formação da
No Capítulo 4, descreveu-se a formação das células de es tação seca.
circulação nos hemisférios N e S, a partir do desenvolvimento A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) não se situa
de faixas de alta e de baixa pressões na superfície terrestre . A ex atamente sobre o equador geográfico (ver Capítulo 4 - Fi-
representação esquemá tica então mostrada (Figura 4.1) é uma g ura 4.1), mas desloca-se em torno deste, no sentido N-S, ao
versão simpli ficada, média, e idealizada desses centros, das longo dos meses, sendo um dos fatores a condicionar o regi-
células de circulação, e dos ventos associados, pois não leva m e de chuvas no N e NE do Brasil. Sendo uma zona de ba ixa
em conta as variações espaciais e temporais ao longo de um pressão, sua presença em uma região favorece a elevaçâo do
ano. Devido às irregularidades da superfície terrestre, à dis- ar quente e úmido, com pouco vento, formando um cinturão
tribuição de oceanos e continentes, e à variação do balanço de de nuvens e chuva convectiva. Seu deslocamento para o sul,
energia durante o ano, há modificações sensíveis no campo de no verão do Hemisfério Sul, pode reforçar o regime de chu-
pressões ao longo do ano. A Figura 15.2, é um exemplo para v as, como ocorre na Amazônia. Seu afastamento, em direção
janeiro (A) e junho (B), meses bem opostos quanto a esses as- ao hemisfério norte, diminui as chuvas na Amazônia, e as ini-
pectos. be no semi-árido do NE brasileiro. Deve-se notar, ta mb ém, a
Regiões de a lta pressão, nas latitudes próximas aos tró- formação da Zona de Convergência Extra-Tropical nas latitudes
picos, ocorrem quase permanentemente sobre os oceanos, cons- próximas às regiões polares, que tem importância para o cli-
tituindo os anticiclones, dos quais o do A tlântico Sul exerce in- ma do Brasil, por nelas se originarem os sistemas frontais que
fluência sobre o clima no Brasil; o Anticiclone do Pacífico Sul migram para a América do Sul, condicionando bastante as con-
também exerce influência no continente sul-americano. A pre- dições atmosféricas nas regiões S e SE do Brasil, pela entrada
sença dos continentes exerce sua influência n a posição desses de massas frias.
cen tros de pressão, podendo notar-se o deslocamen to sazonal No Capítulo 4, descreveu-se a formação de massas de ar
deles, principalmente n o hemisfério norte, onde há maior pro- e frentes, bem como sua atuação no Brasil, nas diferentes esta-
porção de terras em relação a oceanos do que no hemisfério ções do ano. No verão, por exemplo, a massa continental equa-
sul. Por exemplo, durante o inverno os continentes resfriam- torial (cE) predomina em grande parte do Brasil, e favorece os
se mais que os oceanos e tornam-se centros de a lta pressão, mov imentos convectivos. No inverno, o seu domínio fica res-
prin cipalmente no hemisfério norte. Pelo mesmo mo tivo, du- trito à região noroeste da Amazônia e a massa marítima tropi-
rante o verão, estab elece-se um centro de baixa pressão na re- cal (mT), que desfavorece os movimentos convectivos e a ins-
gião central do continente s ul-americano, sendo que o ar tro- tabilidade atmosférica, predomina na maior parte do Brasil,
pical quente e úmido facilita a formação de nebulosidade de co ndicionando a diminuição do regime de chuvas em quase
origem convectiva, contribuindo para o a umento das chu vas to do território brasileiro.
em boa parte do Brasil. No inverno, o avanço do An ticiclone
do Atlântico Sul sobre o continente é um dos fatores a
300 - Pereira, Angelocci e Senfelhas Agrome teorologia - 301
decíduas; c) com florestas decíduas, mas com verão quente e que os tipos A, C e D identificam climas úmidos. Os climas
chuvoso; d) com florestas tropicais; e) equatoriais com vegeta- úmidos são definidos em função da temperatura m édia men-
ção lux uri ante; f) de savanas; g) desérticas; etc. sal, isto é:
No caso d e classificação por índices climáticos, o clima é • A=> megatérmico (tropical úmido) com temperatura mé-
caracterizado pelos elementos meteorológicos e suas combi- dia do mês mais frio acima de 18°C;
nações . Índices mais simples usam valores médios de perío- • C=> m esa térmico (temperado quente) com temperatura
dos específicos (e.g., mês mais quente ou mais frio), totais sa- do m ês mais frio entre _3° e 18°C;
zonais, eventualmente com uso dos d esvios em torno das • D => micro térmico (temperado frio ou boreal) com tem-
médias. Utilizando-se a Climatologia Estatística, é possível avan- peratura do mês mais frio menor que -3°C e do mês mais quen-
çar p ara estudos de probabilidade de ocorrência de eventos te maior que 10°C;
adversos extremos, tais como secas, chuvas intensas, tempe- • E => polar onde todos os meses têm temperaturas mé-
raturas extremas, ventos extremos, etc. dias abaixo de 10°C.
Em gera l, os limites dos índices climáticos são estabele-
cidos de modo a permitir concordância com as d e limitações Quanto aos climas secos, tipo B, eles são d efinidos em
impostas pela distribuição da vegetação zonal (Henníng, 1989). função tanto do total anual de chuvas (P, em cm), como de sua
A utilização de limites rígidos, para o traçado de contornos distribuição nas estações do ano, e de sua relação com a tem-
divisionários, dá a idéia de transições abruptas, mas n a natu- peratura média anual (T). São dois tipos básicos: BS que é típi-
reza ocorrem gradações. No u so das classificações climáticas co de estepes; e BW, que é característico de desertos. Esses
deve-se considerar que tais aproximações, e a falta de dados dois tipos são diferenciados por três situações possíveis:
suficientes em grandes áreas do mundo, tornam flexíveis os • Onde as chuvas são predominantemente de inverno, e
limites das zonas climáticas estabelecidas. se P < T => Tipo BW
No presente texto, serão ap resentadas apenas as classi- se T < P < 2T => Tipo BS
ficações d e Kbppen e de Thornthwaite, ambas baseadas em
índices. • Onde não há predominância de chuvas em uma esta-
ção definida, e
se P < T + 7 => Tipo BW
15.4.1 Classificação de Kõppen se T + 7 < P < 2 (T + 7) => Tipo BS
W. Kbppen é autor de uma das mais conhecidas classifi- • Onde as chuvas predominam no verão, e
cações de clima. Nela são definidos cinco g randes tipos ou gru- se P < T + 14 => Tipo BW
pos, identificados pelas letras maiúsculas A, B, C, D, E. Clima se T + 14 < P < 2 (T + 14) => Tipo BS
tipo B identifica áreas secas ou de vegetação xerófita, enquanto
A classificação de Koppen introduz também subtipos e • Cwb =} tropical de altitude, com temperatura d o mês
variedades, expressos por letras minúsculas, para levar em conta mais quen te inferior a 22°C;
a amplitude térmica anual e a d istribuição sazonal d as chu- • Csa =} tropical de altitude, estiagem d e verão (represen-
vas . Essas letras são incorporadas àquela do tipo ou g rupo, tado em pequena região do nordeste);
para constituírem afórmula climática. Detalh es de cada subtipo
e variedade são apresentados em Vianello & Alv es (1991).
Em função da faixa de latitudes em que se encontra e do
relevo com altitudes pouco pronunciadas, o território brasi-
leiro apresenta m acroclimas do tipo A, B e C (Figura 15.4) nes-
sa classificação. O tipo B é representado por BSh, clima semi-
árido quente (h significa temperatura m éd ia anual acima de
18°C), do sertão n ordestino, com a maior parte do ano seco.
Os climas megatérmicos prevalecem em g rande parte do
território brasileiro (Figura 15.4), com os seguintes s ubtipos
definidos pela distribuição de chuvas no ano:
• Af =} com chu vas bem d istribuídas ao longo do ano, e
ausência de estação seca, como n a Amazônia ocidental e parte
do litoral sudeste;
• Am =} com pequena estação seca, sob influência de
monções; ocorre em boa parte da Amazônia oriental;
• Aw =} d enominado clima de savanas, com inverno
(winter) seco e chuvas máximas d e v erão, presente nas regiões
norte, centro-oeste e parte do sudeste; ,.. TIPOS DE Cl,.r", ,,
..
Ala
• Aw'=} idêntico ao anterior, mas com precipitação má- " ;::
Am Cwb
xima no outono; Aw 11~_. C, 'O
Cwo ="'''..
• As =} precipitações de outono e inverno (estação seca - - - - - - .Aw'
: .",,;;,,1
,. ., Cf b o. "
Cfo .
do verão até outono); ocorre em parte do litoral do nordes te. '" /
• Cfa =:> subtropical, sem estação seca e temperatura do posição hídrica no solo, podendo-se verificar a variação, entre
mês mais quente maior que 22°C; localidades, dos meses do ano em que essas variáveis ocor-
• Cfb =:> idem ao anterior, mas com temperatura do mês rem.
mais quente inferior a 22°C. A classificação climática de Thornthwaite utiliza índices
calculados com base no balanço hídrico climatológico normal.
A partir dos valores anuais são definidos os seguintes índices
15.4.2 Classificação de Thornthwaite ligados à disponibilidade hídrica:
• fndice hídrico Ih = (EXC I ETP) 100
Uma ferramenta útil e simples dos estudos climáticos é • Índice de aridez I = (DEF I ETP) 100
"
a elaboração do balanço hídrico climatológico normal de um local • Ín dice de umidade lu = Ih - 0,6 I,
ou região (ver Capítulo 13). O balanço hídrico climáti co, se-
gundo Thornthwaite e Mather (1955), fornece informações da Com base no índice de umidade, Thornthwaite definiu
disponibilidade hídrica ao longo do ano, p elo cálculo de exce- os tipos climáticos (Tabela 15.5), e com os índices de aridez e
dente (EXC), deficiência (DEF), retirada e reposição (ALT) hídrica hídrico determina-se os subtipos (Tabela 15.6).
no solo. Tem-se também uma visão da disponibilidade térmi-
ca, pela evapotranspiração potencial ou de referência (ETP). A
TABELA 15 .5 Tipos climáticos, segundo Thornthwai te, co m base
, .'! execução desse tipo de balanço hídrico climático exige, na sua em índ ice de umidade.
estimativa mais simples, tão-somente a temperatura do ar e a
altura pluv iométrica. Por esse motivo, esse método tem am-
TIPO DE CLIMA I"
pla aplicação em agro-climatologia, e em estudos geográficos. A ~ su perúmido I" > 100
A Figura 15.5 (p. 312) mostra exemplos de gráficos sim- B4 -7 úmido 80'; I" < 100
p lificados (extratos) de balanços hídricos climatológicos nor- B3 ---7 úmido 60 < I" < 80
mais para oito localidades, representativos das diferentes con- B 2 ---7 úmido 40'; I" < 60
dições climáticas que ocorrem no Brasil. Verifica-se balanços BI ---7 úmido 20'; I" < 40
extremos com ocorrência de excedente hídrico ao longo de todo C2 ---7 subúmido O < I" < 20
o ano, típicos de regiões do sul e de parte do litoral brasileiro, C 1 ----? subúmido seco -20'; I" < O
bem como da A mazônia, ou com ocorrência de deficiência D ---7 semi-árido -40'; I" < -20
hídrica em todos ou na grande maioria dos meses, sem ocor- E --> árido -60 < I" < -40
rência de reposição hídrica completa no solo, típicos de locali-
dades do semi-árido do NE. Outros balanços apresentados
mostram situações intermediárias, com períodos m ais ou me-
nos longos de deficiência e d e excedente, de retirada e de re-
310 - Pereira, Angelocci e Senlel17as Agrometeorologia - 311
----------------------~
TABELA 15 .6 Subtipos climát ico s, segundo Th o rnth wa ite com base nos EXEMPLO: Com os dados do balanço lúdrico normal,
índices de aridez e h ídri co. '
com CAD = 100 mm, de Ribeirão Preto, SP (exemplo do Capí-
C lim as úmidos (A B, CO) Indice de aridez Ia
r ---7 sem ou com pequena defic iê nc ia h íd rica O<Ia < 16,7
tulo 13 - Balanço Hídrico), classificar o clima dessa localidade
S ---7 defic iência hídri ca mode rada no verão 16,7 < 1" < 33,3 segundo Thornthwaite.
w >defic iê nci a hídri ca moderada no in verno 16,7 < Ia < 33,3 DEF =70mm
52 ---7 gran de deficiên cia hídri ca no verãu Ia> 33,3 EXC = 522 mm
W2 ---7 grande deficiê nci a hídrica no inverno lo> 33,3
ETP = 1082mm
Climas secos (C h D E) Indice hídrico Ih ETP verao
. = 336mm
d ---7 excedente hídrico pequeno o u nul o O < Ih < 10 Ih = = (EXC 1 ETP) 100 = (522/1082)*100 = 48,2
s ---7 excedente hídrico mode rado no verão !O < Ih < 20 I = = (DEF / ETP) 100 = (70 11082)*100 = 6,5
a
W ---7 exceden te hídrico moderad o no i nverno lO<l h <20 I" = = Ih - 0,6 Ia = 48,2 - 0,6*6,5 = 44,3
52 ---7 g ra nde excedente hídri co no ve rão Ih> 33,3
g rande excedente hídri co no in vern o Ih> 33,3
Pela Tabela 15.5, com lu = 44,3 ~ Tipo B2 clima úmido.
W 2 ---7
CuI8b',MT
em uma escala de milhares de anos, isso não significa que o
aquecimento global não seja preocupante pelas conseqüências
que pode trazer à vida neste planeta.
Antes da história registrada da Terra, ocorreram flutua-
ções climáticas de grande magnitude, que podem ser inferidas
por estudos paleoclimatológicos, fundamentados em evidência
Jan F.y ,lia , Abr Moi Ju n Jul "00 Su 0..., No. D e< geológica e paleobiológica. As variações climáticas podem ser
conhecidas pelo estudo de fontes ligadas à Antropologia e à
FIGURA 15.5 Exe mplos de gráficos de balanços h ídricos no Bra sil , p ara Arqueologia, além de técnicas especiais (por exemplo, estudo
CAD - 100 m m . Fonte: Sente lhas et aI. (1999) .
de anéis de crescimento de certas árvores, dendroclimatologin).
A cerca de dois séculos, há registros relativamente confiáveis
314 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 315
das condições a tmosféricas. É possível in ferir que ao longo d o continentes; vulcanismo com lançamento de aerossóis na at-
último milhão d e an os as flutu ações da temperatura global da lnosfera, a variação da cobertura de neve e gelo alteram espa-
Terr'a foram grandes (Figura 15.6), com ciclos de milhares de cial e temporalmente o balanço energético do p laneta;
anos. Na maior parte do tempo ela teria estado abaixo (a té 3° • Astronômica => as variações da excentricidade da órbi-
C) e na menor parte ela teria est ado acima (até)o C) da tempe- ta terrestre, a precessão dos equinócios (movimento cíclico,
r atu ra g lob al do início do século XX. com modificação temporal dos pontos que definem o in ício
das estações do ano, em períodos de 22.000 a 26.000 anos) e
variações da inclinação do eixo terrestre em relação ao p lano
da Eclíptica (de 21,5° a 24,5" em períodos de 41.000 anos), de-
~
correntes da atração gravitacional entre os corpos celestes;
~ • Extraterrestre => variação da emissão de energia do SoL
~
=>
"§ Quando se estuda a variação da temperatura global da
"E
C>. Terra nos últimos 10.000 anos (Figura 15.6), infere-se q u e na
o maior parte do tempo ela esteve acima daquela observada no
~ .\!1 800,000 600.000 400.000 200 .000
b"
,.,h'
.' "
-o
"c:
Ü"
b
início deste século, passando por um máximo (cerca de 1,50
acima) no Holoceno (cerca de 5000 anos atrás), e abaixo (me-
nos que 10 C), em torno de 8.000 e 3.000 anos atrás. Com essas
"=>
-o
flutuações, ocorreram avanços e retrocessos das camadas de
:;s
gelo continental, com ocorrência de períodos glaciais e
interglaciais. O último período excepcionalmente frio ocorreu
entre 1550 e 1850 (pequena idade do gelo), com aumento das
10.000 3.000 6.000 4.000 2.000 o glaciações principalmente na Europa. Nessa escala, aSSUHle-
se que a Terra atravessa no momento um período interglacial,
FIGURA 15.6 Variação da tempe ratura global da Terra no último milhão de
ano e nos últimos 10.000 anos. Adaptado de IPCC (1990).
com aumento da temperatura globaL
A flutuação da temperatura global da superfície terres-
tre com base em observações desde 1880 é vista na Figura 15.7,
Na escala de eras geológicas, muitos fatores concorrem notando-se com mais d e talhes essa tendência de aquecimen-
para as flutuações do clima, poden do ser classificados como to. Devido ao fato da Terra estar em um período de
d e origem: interglaciação, com aumento natural da temperatura, é difícil
• Terrestre => modificações da composição da a tmosfera separar quanto do aquecimento é devido à variabilidade na-
e da distribuição dos oceanos e contin entes, da top ografia dos tural e quanto é decorrente, por exemplo, do efeito estufa orig i-
n ário de ca usas antropogênicas (desmatamento, liberação de previsão, pela impossibilidade de se fazer experimentos con-
gases estufa ) ou quanto houve de efeito contrário por atenua- trolados na atmosfera.
ção da radiação solar por aerossóis de origem industrial ou
natural, como por exemplo, após a erupção do vulcão Pinatubo, Apesar das incertezas, h á uma série d e evidên cias de
nas Filipinas, em 1991, que acredita-se ser uma das cau sas da que há um incremento do a quecim ento global devido à ação
queda de temperatura obser vada em 1992. do Homem, com conseqüências d ifíceis de serem prev istas.
Os efeitos dos gases estufa (Capítulo 3) na modificação do cli-
ma são estudados por modelos climáticos globais. Tem-se tenta-
E 0,6 Médi a anual
Tendência do estudar o efeito do aumento da concentração dos gases es-
~ 0,4 tufa na atmosfera, simulando o que ocorreria com a tempera-
e
e..J
Q,
0,2 tura global do p lan eta se duplicasse, por exemplo, a concen-
~ o tração de CO,. Devido à complexidade e ao conhecimento in-
f-
~ -0,2 completo do sistem a climático, os resultados indicam valores
I~ -0,4 discrepant es (entre 1,9 e 5,2 °C) para o v alor do aqu ecim ento
.~ -0.6 nos próximos 100 anos, quando se simula uma duplicação brus-
;:
ca da concentração CO2, e aumento d a precipitação global anual
1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 de 3 a 15%. Assume-se, entretanto, q u e a m elhor estimativa
FIGURA 15.7 Va ri ação da temperatura global da
para o a umento de temperatura global, mantidas as tendên-
Terra d esde 1880. Adaptado de Rosenzweig & Hillel cias a tuais, seria de 1 °C a 3,5 °C, em 2100. Ocorreriam diferen-
(998).
ças espaciais nessas tendências: as latitudes elevadas n o He-
misfério norte tend eri am a se aquecer, principalmen te no in-
É difícil confirmar se atualmente está com eçando a ocor- verno; o interior dos contu1entes n as latitudes médias sofre-
rer uma mudança climática para as próximas d écadas, por riam tendência de seca no verão e os continentes aquece riam-
vários motivos: se mais rapidamente do que os ocean os.
• dificuld ade em se ponderar o efeito da variabilidade Uma simulação da mudança em um ritmo grad ual é mais
natural no processo de aquecimento; difícil de ser feita, embora mais realista . Prevê-se que para essa
• problemas devido às mod ificações de técnicas d e me- taxa de aumento de CO2 de 1 % ao an o, ocorreria aquecim ento
dida de temperatura ao longo dos últimos 100 anos, à distri- de 0,3°C/ década, atingindo en tre 1,3 a 2,3°C quando a con-
buição inadequ ada dos pontos de medida e à urbanização in-
tensa;
°
centração d e CO2 fosse o dobro da atual. Atlântico, no HN,
e próximo à A ntártida, no HS, se aqueceria menos, e o HS se
• dificuldade de se modelar o clima, sendo a modela- a queceria mais lentamente que o HN.
gem físico-matemática a forma de estudo disponível para tal
Agrometeorologia - 319
318 - Pereira, Angelocci e Sentelhas
15 .5 .2 Anomalias climáticas
16.1 INTRODUÇÃO
truir um abrigo zootécnico para uma determinada exploração 16.2.1 Conforto térmico
animal, deve-se considerar as necessidades fisiológica s do
animal com relação às condições ambien tais. A Tabela 16.1 Para permitir a dissipação da energia (calor) gerada pelo
mostra um exemplo da influência da temperatura ambiente metabolismo e pelo trabalho físico, a temperatura ambiente
no desempenho e produção de leite de vacas holandesas. Ve- deve ser menor que a temperatura corporal. Na maioria das
rifica-se que houve estresse dos animais na temperatura am- espécies, a temperatura corporal começa a aumentar quando
biente de 30°C, com aumento exagerado na taxa de respiração a temperatura ambiente atinge 28°C. Geralmente, espécies que
(3 vezes mais), no consumo de água (+30%), resultando em suam resistem melhor às condições de excesso de calor que
queda de 15% na produtividade de leite, embora a temperatu- aqueles que se refrigeram pela respiração.
ra retal tenha aumentado apenas 1,3 0C. A Figura 16,1 mostra as diversas zonas de temperatura
e o que acontece com a temperatura corporal e com o metabo-
TABELA 16.1 D ese mpenho de vacas leiteiras em diferentes condições tér-
mi cas. Fonte: Müller (1989). lismo dos animais homeotermos. A seguir são descritas as zo-
Temperatura Ambiente (·C) nas delimitadas pela Figura 16,1.
Comportllmento ! Produção IR 30
Temperatura rel:1I CC) 38.6 39.9
Tempcrdlura pele ("C) 33,3 37,9
Respirações por minuto 32.0 94.0 Estresse por Frio .-- _ ., Estresse por calor
Consumo de água (Ifdia) 58,0 75 ,0
Produç!lo de leite (kgfdia) 18.4 15.7
.. .. .................... .... ...... ::e~, ~r~1 _ ..
TABELA 16.2 Ganho/pe rd a de peso (kg/dia), em su ínos submetidos a dife- FIGU RA 16.1 Temperatura do ar ambiente e sua rela ção com a temperatura
ren tes co ndições térm icas am bientais. Adaptado de Müller (1989) co rporal e metabo li smo em animais homeotermos. Adaptado de Müler
( 1989)
Peso do animal Te.mper;.tlum anbienle ('C)
(I;-g) 21 Z1 32 38
45 0,9 1 0,89 0,64 0,18
90 1,01 0,76 0.40 -0,35 • A => Zona de conforto térmico: cond ições ambientais
160 0.90 0,55 0.15 -0,15
id ea is para produção máxima.
324 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 325
• B ~ Zona sub-ótima por excesso de calor: nesta zona, pela nã consegue manter a temperatura corporal constante, resul-
temperatura ambiental estar acima do limite superior de con- ta ndo e m coma e morte, se as condições permanecerem por
forto, ocorre vaso-dilatação para aumentar a circulação san- 1' 111 po s uficientemente longo.
guínea periférica, com conseqüente aumento da freqüência
respiratória e do consumo de água, para se eliminar calor mais
facilmente. Há, também, diminuição no consumo de alimen- 16.2 .2 índices de conforto higro-térmico para animais
tos para reduzir a combustão interna geradora de calor. Em homeotermos
ambiente aberto, os animais procuram sombra, lugares mo-
lhados, com mais ventilação, que são condições mais favorá- A importância da adequação climática das instalações
veis à troca de calor. Os animais evitam ficar próximos uns para a criação de animais reside em sua estreita ligação com a
dos outros para evitar aquecimento indesejado. produtividade do empreendimento. O desempenho orgânico
• C ~ Zona Ifatal (hipertermia) : nesta zona, a perda de ca- dos animais depende de sua relação com o ambiente, e varia-
lor é menor que a produção metabólica de calor, resultando ções ambientais bruscas provocam desconforto, comprome-
em aumento exagerado da temperatura corporal com conse- tendo a saúde e a produtividade dos animais.
qüente coma e morte, se essas condições perdurarem por muito Os elementos climáticos que intervêm nas condições de
tempo. Os animais param d e se movimentar para minimizar a conforto animal são: temperatura, umidade, radiação solar,
produção interna de calor. ventos, nebulosidade e precipitação, pois interferem direta-
! • D ~ Zona sub-ótima por falta de calor: nesta zona, pela mente no balanço d e energia do animal (Figura 16.2).
I 1" I' temperatura ser menor que o limite inferior de conforto, ocor-
re vaso-constrição para restringir a circulação sanguínea peri- • ~
férica e reduzir a perda de calor corporal. Ocorre aumento na • li Qt .........
ingestão de alimento e diminuição no consumo de água. Em
ambiente aberto, os animais procuram lugares secos e
ensolarados, sem vento. Os animais aumentam sua movimen-
",.:
tação na tentativa de gerar calor interno, e procuram se agru-
par para reduzir a perda d e calor.
• E ~ Zona de deficiência térmica: nessa condição térmica,
ocorre aumento de calor metabólico, com tremor e contração
muscular involuntária, com piloereção visando formar uma FIGURA 16.2 Balanço de energia de um an imal homeotermo. Em que: Q s é
camada isolante ao redor do corpo. a radiação incidente; QI o calor emitido; QE o calor perdido pela
transp iração/respi ração; Q c a troca té rmica por convecção; Qo a troca térm i-
• F ~ Zona fa tal (Hipotermia): nesta zona térmica, mes- ca por condução; QM O calor metabólico; e ó'Q" é a variação efetiva do
mo com o aumento da produção metabólica de calor, o animal ca lor armazenado no corpo. Adaptado de Ass is (1995).
326 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 327
Com relação à construção de edificações para abrigo Quando o ambiente no abrigo zoa técnico se encontra sob
animal, a temperatura e a umidade do ambiente são os ele- condições estressantes para os animais, duas técnicas podem
mentos m ais importantes, sendo considerados n os índices de ser empregadas para diminuir o THI:
conforto higrotérmico. Um índice de conforto higrotérmico uti- 1) ventilação forçada do ambiente com ventiladores! exaus-
lizado é o THI (Temperature-Humidity Index), sendo útil para tores;
avaliação d e ambientes quanto ao estresse animal (Rosenberg 2) pulverização de água sobre os animais e no ambiente,
et a!., 1983), e é dado por: para diminuir a temperatura, com conversão de calor sensível
do ar em calor latente (Figura 16.3).
THI ~ Tar + 0,36 To + 41,2 (16.1)
°
100, sabendo-se que p ela equação d e Tetens (eq. 7.2) tem-se
46
34 80 "
86
63
41
68 84
es ~ ' 6108 * 10 17.5' 28 / (237,3 + 281( ~ 3, 78 kPa .
" 71
328 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 329
Logo, e a = e, * UR% / 100 = 3,78 * 65 / 100 = 2,46 kPa. repouso ou dormência. Um novo ciclo vegetativo será inicia-
Portanto, To = [237,3 * Log (2,46 / 0,6108)] / [7,5 - Log do após as plantas sofrerem a ação das baixas temperaturas,
(2,46/0,6108)] = 20,8°C. sendo que a quantidade de frio requerida para o término do
repouso é conhecida como Número de Horas de Frio (NHF) .
THI = 28 + 0,36 * 20,8 + 41,7 = 77,2 ~ [Condição de O NHF é definido como o número de horas em que a
estresse com queda de produtividade]. temperatura do ar permanece abaixo de determinada tempe-
ratura crítica durante certo período. Essa temperatura crítica
normalmente é considerada igual a 7 DC por ser aplicável à
16.3 TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL maioria das espécies criófilas, mais exigentes em frio. Para as
espécies menos exigentes considera-se a temperatura-base de
A temperatura do ar exerce influência sobre vários as- 13 °C (Figura 16.4). O NHF varia entre espécies e variedades, e
pectos da produtividade vegetal, estando relacionada com o quanto mais exigente for a espécie maior o valor de NHF, como
crescimento e desenvolvimento das plantas, devido ao seu se pode observar no quadro abaixo:
efeito na velocidade das reações químicas e dos processos in-
N HF < 7 D C
ternos de transporte. Esses processos ocorrem de forma ade- Es écic rrecoce Tardia
1 quada somente entre certos limites térmicos. A tolerãncia aos Macieira
Pessc uciro c N ectarina
600
100
800
500
~ níveis de temperatura é variável entre espécies e variedades. K iwi 400 600
.!:.,
Plantas de clima tropical são sensíveis a baixa temperatura,
enquanto plantas de clima temperado necessitam, no período
Por exemplo, no caso da macieira, uma variedade pre-
de repouso, de temperaturas baixas para produzirem bem.
coce necessita de 600 horas de temperatura abaixo de 7 °C
durante o inverno. Caso o inverno tenha N HF insuficiente (va-
lor menor que o mínimo) para atender as exigências térmicas
16.3.1 Temperatura e dormência de plantas de clima
de uma espécie, poderão ocorrer as seguintes anomalias nas
temperado
plantas: a) queda de gemas frutíferas; b) atraso e irregularida-
de na brotação e floração; e c) ocorrência de florescimento ir-
Espécies frutíferas de clima temperado de folhas cadu-
regular e prolongado. O resultado dessas anomalias é a redu-
cas (criófilas ou caducifólias) apresentam um período de re-
ção dos rendimentos e da longevidade da cultura.
pouso invernal, durante o qual as plantas não apresentam cres-
O conhecimento do NHF médio (normal) de uma locali-
cimento vegetativo visível. Esse repouso é condicionado pe-
dade ou região possibilita avaliar se o cultivo de uma frutífera
las condições climáticas, que atuam sobre os reguladores d e
de cl ima temperado é ou não v iável ou, então, qual a varieda-
crescimento. A temperatura do ar é o fator reconhecidamente
de que melhor se adapta de acordo com sua exigência em frio.
importante nesse balanço hormonal que condiciona a fase de
IIIIIIIIIHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII I - - - ~
Agrometeorologia - 331
330 - Pereira, Angelocci e Sente/has
o acompanhamento do NHF ao longo do inverno, permite • Piracicaba (SP) : T.JlI Iho = 17,3 °C ~ NHF<7 = 401,9 - 21,5
avaliar se as condições estão sendo favoráveis ou não à que- * 17,3 = NHF<7 = 29,8 horas
bra da dormência, possibilitando tomar medidas para se pro- • Votuporanga (SP) : TiulhO = 18,6 °C ~ NHF<7 = 401,9 -
21,5*18,6 = NHF<7 = 1,8 horas
mover essa quebra por via química.
------ • Campos do Jordão (SP) : T iUlhO = 8,2 °C ~ NHF<7 =
401,9 - 21,5 * 8,2 = NHF<7 = 225,5 horas
30 - - - - - -----·---------i
elo de várias espécies era praticamente constante, em diferen- Cada espécie vegetal ou variedade possui suas tempe-
tes anos. Ele assumiu que esse somatório térmico, ou constante raturas basais, as quais podem variar ainda em função da ida-
térmica, expressa a quantidade de energia que uma espécie de ou fase fenoló gica da planta, sendo tanto as temperaturas
vegetal necessita para atingir um certo grau de maturidade. diurnas como as noturnas con sideradas igualmente importan-
Reaumur foi o precursor do sistema de unidades térmicas ou tes no desenvolvimento vegetal. Deve-se a tentar para o fato
graus-dia, usado atualmente para a previsão da duração do ci- de que o conceito de graus-dia leva em conta somente o fator
clo fenológico de vários vege tais. térmico, não se consi derando o efeito de outros fatores
O conceito de graus-dia (GD) baseia-se no fato d e que a ambientais sobre o crescimento vegetal.
taxa de desenvolvimento de uma espécie vegetal está relacio- Normalmente, nas condições do centro-sul do Brasil. as
nada à temperatura do meio. Esse conceito pressupõe a exis- temperaturas médias não chegam a atingir níveis tão eleva-
tência de temperaturas basais (inferior, Tb; e superiOl~ TB) dos que ultrapassem a temperatura -base s uperior (TB), consi-
aquém ou além das quais a planta não se desenvolve, e se o derando-se somente a inferior (Tb). Nessa situação, o cálculo
fizer, será a taxas muito reduzidas. Assume-se, na prática, que de GD fica bastante simplificado, se a temperatura mínima
entre Tb e a temperatura ótima, a relação entre temperatura (Tmín) for maior que Tb, e o valor diário (GDi) será dado pela
do ar e desenvolvimento é praticamente linea r (Figura 16.5). relação:
~ n" / temperatura máxima (Tmáx), então GDi será dado por (Villa
"
""" 0,2
o / \ Nova et aI., 1972):
GO,
(Tmáx ; _Tb)2
(16 .5)
6 10 14 18 22 26 30 34 38 2(Tmáx; - Tmín ; )
t Temperatura do ar (OC) t
Tb TB
Na eventualidade de Tb ser maior que Tmáx, então GD,
FIGURA 16.5 Taxa de desenvolvimento re lativo e = O. Fica implícito que a cada grau de temperatura acima da
temperatura base inferior (Tb) e superi or (TB) para o T b tem-se 1 °Cd. Para que a cultura atinja uma de suas fa ses
desenvolvimento vegetal. fenológicas ou a maturação é necessário que se acumule a cons-
ta nte térmica, que será dada pelo total de GDi acumulados
334 - Pereira, Al1gelocci e Sentelha5 Agrometeorologia - 335
(GDA) ao longo da fase o u ciclo (sendo n o número de dias da C UItUITI Variedade/Cultivar Per íodo/S ub-Pe rfodo Tb ("C) G DA
fase ou ciclo): ('C.d )
EXEMPLO: Utilização do conceito GDA para pla neja- Pela Tabela 16.4, sabe-se q ue para a e rvilha semi-preco-
mento de cultivos anuais. Conh ecendo-se as condições térmi- ce = } Tb = 6°C e GDA = 1300 °Cd. Nesse caso, os cálculos são
cas normais da região, é possível comparar-se a duração do feitos partindo-se da data desejada de colheita e re troceden-
ciclo de cultivo, planejar épocas mais favorá v e is d e plantio / do-se a té a data p revista de plantio.
seln eadura e de colheita. Tmed °C) GDi (°C.d n dias GDA me~ "C.d COA ciclo ("C. d
23,2 23.2 - 6 17,2 15 258.0 258,0
23.9 23.9 6 17,9 28 501.2 759,2
Local: G ália (S P): Dados norma is d e te mperatura média do ar (OC). 23,9 23.9 6 17.9
Mês Jnn Fev "'l ar Ab r M:Ji Jun .lul A o SeI QuI No.. Dez
Tmed 23.9 23,9 23.2 21.S 18,5 16,3 16,4 17,9 19.3 21.8 23.3 23,5
!', Fe\'
Mar
23,9
23, 2
23.9 I ' 9.9
23.2 · 14 9.2
28 277.2 1027.4
c) Sabendo-se que os híbridos de milho AG510 e Dina-
170 n ecessitam , respectivamente, de 800 °Cd e 884 °Cd para
É importante observar que, em condições norma is, cada atingirem o florescimento (Tb = 10°C), e q ue o tempo ideal
dia dos m eses do período d e cultiv o contribui com cerca de 9 para o florescimento é de 60 dias, qual deles é o melhor híbri-
a 10 °Cd, e até o dia 28 de fevereiro acumula -se 1027,4 °Cd. do a ser semeado em 01/11 (safra de verão), em Gália, SP?
Portanto, faltam 1230 - 1027,4 = 202,6 °Cd , para que a soja
atinja o ponto de maturação. Como cada dia de março contri- =} Para o híbrido AG510 (800 °Cd)
bui com 9,2 °Cd, reparte-se o total que falta (202,6 °C d) em
T med ("C) ODi e c.d ) n dias GDA(OC.d) GDA C.d)
função dessa contribuição m é dia diária, prevendo -se que a 23,' 2:l,1 10 13,3 399 399
Dez 23,5 23.S - \O 13.5
maturação será por volta do dia 22 (202,6 /9,2 = 22).
Cada dia contribui, em média, com 13 a 14 °Cd. Portan -
b) Se, para um a indústria de conservas de ervilha, é de-
to, em novembro acumula-se 399 °Cd; logo, restam 800 - 399 =
sejável colher a p a rtir de 15 de março, qu a l deverá ser a data
401 °Cd, o que será a tingid o e m dezembro, no dia 30 (29,7 =
de semeadura para que a cultura chegue à maturação n aquela
401 / 13,5), totalizando 60 dias até o florescim ento.
data?
I Agrometeorologia - 339
338 - Pereira, Angelocci e Sente/has
=> Para o híbrido Dina-170 (884 °Cd). DFM = a + b Lat + c Alt + d Long (16.8)
M é.'1. Tmed rC) I Gdi ("'C.d) I n (di as) YGDac (OC.d)
23,3 I 23.3 10 13.3 30 399 em que os coeficientes a, b, c, e d são determinados es tatistica-
23,5 23,5 10_13.5
mente, variando com a espécie e com a cultivar.
A seguir são apresentados alguns exemplos de aplica-
Sendo Th a n,esma, novembro contribui também com ção desse modelo.
399 °Cd. Mas, como este híbrido exige maior GDA para com- ABACATE: São Paulo (Sentelha s et a I. 1996) - para
pletar a mesma fase feno lógica, res tam 884 - 399 = 485 °Cd, o florescimento a partir de setembro .
que será atingido até 5 de janeiro (35,9 = 485 / 13,5), totalizando • Precoce: => DFM = -83,48 + 8,59 Lat + 0,18 Alt
66 dias a té o florescimento. • Meia-estação: => DFM = -225,16 + 15,61 Lat + 0,28 Alt
Nesse caso, o melhor híbrido é o AG510, com 60 dias • Tardia: => DFM = -261,22 + 19,58 Lat + 0,31 Alt
para atingir o florescimento. Se a região fosse um pouco mais
quente, a situação se inverteria v isto que o AG510 atingiria o LARANJA: São Paulo (Sentelhas et aI., 1996) - para
florescimento em menor período. florescimento a partir de setembro
• Precoce: => DFM = -614,65 + 28,26 Lat + 0,041 Alt
• Meia-estação: => DFM = -579,64 + 26,55 Lat + 0,58 Alt
16.3.3 Determinação de zonas de maturação • Tardia: => DFM = -451,17 + 22,30 Lat + 0,63 Alt
Uma informação importante na produção de frutíferas é UVA: São Paulo (Sentelhas & Pereira, 1997)
o conhecimento de zonas climáticas de maturação de frutos, • Niagara Rosada:
visando a escolha de melhores áreas para colheita em perío- Poda agosto => DFM = -44,47 + 6,02 Lat + 0,078 Alt
dos de melhor preço. Isso pode ser feito sabendo-se quantos Poda setembro => DFM = -3,97 + 3,77 Lat + 0,078 Alt
graus-dia são necessários entre o período em que ocorre o • Itália / Rubi:
florescimento da planta e a data de coU,eita do fruto. Nesse Poda março => DFM = -91,19 + 10,09 Lat + 0,117 Alt
contexto, o conceito do GD possibilita também a estimativa Poda maio => DFM = -46,25 + 8,89 Lat + 0,091 Alt
da duração média do período entre o florescimento e a
I maturação de frutos (DFM), visto que a temperatura média em que: Lat é a latitude, expressa em graus e décimos; e Alt a
I (Tmed) de um local é determinada por suas coordenadas geo- al titude, dada em metros.
gráficas, isto é, latitude (Lat), altitude (Alt), e longitude (Long) Com a mesma técnica, é possível determinar as melho-
11 (ver Capítulo 6 - Item 6.6). Logo, é possível estimar-se DFM res épocas de indução floral para a lima ácida 'Tahiti', com as
pelas seguintes relações: equações desenvolvidas para:
DFM = f (GD) = f (Tmed) = f (Lat, Alt, Long) (16.7) • Bahia (Coelho F ilho & Sentelhas, 1997)
340 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 341
Para colheita em 15 / 09 ~ DFM = 349,95 + 4,35 Lat + Data de Colheita da Uva = 2: 1000 °Cd (após a poda) +
0,099 Alt - 7,64 Long 42 dias (erro médio de ± 4 dias)
Para colheita em 15/10 ~ DFM = 417,64 + 4,96 Lat +
0,111 A lt - 9,75 Long ou seja, se o acúmulo de 1000 °Cd ocorrer em 01 de dezembro,
a colheita deverá acontecer após 12 de janeiro. Se o ano for
em que Lat é a latitude, em graus e décimos; e Alt a altitude, mais frio, e o acúmulo de 1000 °Cd ocorrer em 30 de dezem-
em metros; Long é a longitude, em graus e décimos . bro, a colheita deverá ser a partir de 12 de fevereiro .
",
~
E 0,8
Cocho nilh(l
Broca-do-Café
Mosca-lias-Frut as
T b '" 13.0°C
Tb ", 15,OuC
Tb", 13.5"C
}2GD == 420 "C.d
}2GD == 240~C.d
}2GD == 250°C .d
"ê 0,6
Hibernaçã o E s li v ,I Çã o
5
~ R e ve rs ív el
~ 0,4 EXEMPLO: Aplicação do conceito de GD para insetos:
u "
x" 0,2 • Gália, SP => Aqui a Tmed = 23,5 °e, entre janeiro e
...." março; portanto, a mosca-das-frutas terá o seguinte número
O
2 6 l O 14 18 22 26 30 34 38 42 46 50 de gerações:
1 Tem p era tura d o ar (OC ) 1 t C = GDA/(Tmed - Tb) ~ 250/(23,5 - 13,5) = 25 dias, ou
L i m iar Limi ar TLelal seja 3,6 (= 90 1 25) gerações no período janeiro-março
mí nimo máx i m o
Aplicando-se o conceito dos graus-dia pode-se determi- Além do desenvolvimento de p lantas e de insetos, a tem-
nar o número de gerações de uma determinada' praga, pela peratura do ambiente afeta outros processos nos vegetais, tais
segu inte relação : como: germinação, florescimento, produ ção de tubérculos, teor
de óleo em sementes. Afeta também a lgumas atividades agrí-
GDA ~ ti= 1
GD ; ~ (Tmed; -Tb) C (16.9) colas, como a aplicação de defensivos .
ta a velocidade das reações bioquúnicas. A temperatura ótima concluindo-se que a cana-de-açúcar irá florescer se L < O; e
para esse processo é variável entre as espécies, mas, situa-se não irá florescer se L > O. Se L = 0, então há 50% de probabili-
por volta dos 30 °C para tomate, soja, e cana-de-açúcar. dade da cana florescer (Figura 16.7).
o
inflorescência. Portanto, florescimento da cana-de-açúcar sig- •
~ 5 .
nifica perda de produtividade (chochamento do colmo). A cana
L = o
floresce quando o fotoperíodo está entre 12 e 12,5 horas . Em o
São Paulo, este fotoperíodo ocorre entre 25 /02 e 20/03. No o 5 10 15 20 25
entanto, a indução ao florescimento só ocorre, nessa condição X1 . Noites cf Tmin > 18 C
I
I1
raturas mínimas n o período entre o florescimento e a colheita
atingem entre 10 e 12 "C (Ungaro et aI., 1997). 1. Em uma fazenda foram instalados três abrigos zootéc-
nicos para vacas leiteiras (holan desas). O abrigo A está na con-
dição topográfica d e face sul e apresenta, e m m é dia, temper a -
16.4 APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS tura igual a 21,6 °C e umi dade relativa de 78%. O a brigo B es tá
numa face nor te com temperatura média de 25,8 °C e umida-
A condição ideal para aplicação de d e fensivos é quando de relativa de 65%. E o abrigo C está numa ch apada com tem-
a atmosfera está estável, is to é, q u ando os mo vimentos peratura de 24,5 °C e umidade relativa de 70% . O produtor
convectivos estão ausentes. Essa cond ição pode ser detectada observa que a produti vidade das vacas (litros de leite/dia)
p ela dispersão da fumaça (Figura 16.8). varia entre os diferentes abrigos . Em qual d os abrigos a pro-
dutividade foi m enor? Qual seria a solução para o problema
encontrado?
QUADRO 16.1 Regiões e temperatu ra méd ia de julho . QUADRO 16.3Temperatura méd ia normal de São Carlos, SP.
Fonte: INMET.
Região Temp. média de julho (Oe) Mês Tmed eC) Mês Tmed (0C)
Val inhos, 17,2 Janeiro 22,9 Julho 16,9
São Roq ue 15,6 Fevereiro 23,0 Agosto 18,6
S.Mig ue l Arcanjo 14,0 Março 22,5 Setembro 20, 3
19,2 Abril 20.5 Outubro 21.3
Pindorama Maio 18.3 Novembro 21.8
Franca 16,9 Junho 17.0 Dezembro 22.3
l
Capítulo 17
Efeito combinado
temperatura-umidade do ar
17.1 IN TRODUÇÃO
r Dispersão
t
Germinação I
e m Camp inas, no planalto paulista, e na parte alta de
Pindamonhangaba, no vale do Paraíba, os seringais ficaram
t ··.. ···
!TemEeratura! ' ~ Penetração I
t , o
: .~
Chuva/lrrig. :1 Colonização I :~
Orvalho f
:
::~
.
... á
30 r-----------------------------~
25
Umidade :'1 Lesões Férteis I I ~
f ~ 20
Lf Vento I ' 'I Esporulação J "§ 15
I --------- o
pela Duração do Período de Molhamento (DPM), sendo classifi- II CU RA 17.2 Número de noites com DPM maior ou igual a lOh em três
locais do Estado de São Paulo. Adaptado de Camargo et aI. (1967).
cada da seguinte forma:
356 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 357
livres da doença, enquanto que na pa r te baixa de P indamo- favorável n a dispersão e disseminação dos esporos, e desfavorá-
nhangaba, de d ezembro a junho, e e m Ubatuba, no litora l n or- vel no controle das doenças, pois a tua lavando os defensivos apli-
te paulista, durante o ano todo os seringais apresentaram pro- cados na lavoura. Na Figura 17.3, verifica-se que a taxa com qu e
blemas graves com a doença. a mancha de Altemária (Alternaria helianthi) se d esenvolve em
Na re gião de Uba tuba, Pezzopane e t aI. (1996) detecta- urna cultura de girassol é diretamente relacionada à quantidade
ram diferença no número de horas com umidade relativa igual de chuva no seu ciclo (Sentelhas e t al., 1996).
o u superior a 90% no interior de dois seringais, sendo um pró-
ximo à praia (800 m) e outro distante 5 krn. Em função da brisa
terra-mar (circulação atmosférica local), no seringal próximo 0 ,0 9 - 800
à praia o número de dias com condições favoráveis à ocorrên- 0 ,08 ~ IA C ·A nhan d y 1-
700
ri '\
o c:=:=:J v N 1L'vI K
cia d e doenças foi, em m édia, 50% m en or. Próximo à praia, a 'é 0,07
q _ Con tis ol-621 S
ventilação dentro do seringal foi maior, ren ovando o ar, impe-
•e.- 0,06 --D-- C hUY 11
600
!.
'i:)": 500
VI'::: 0,05 ;;
dindo a condensação, com redução no número de dia s favorá- ~ ~
u:s! 0 ,0 4 \ .D..
400 Õ
....
veis à doença. A m esma situação ocorre às margens d e gran- • c
"CI .=.. 0 ,03
300 ~
••
des rios como o Tapajós, na região amazônica (Bastos & Diniz,
1980). Foi observado que, n as margens d o rio, apenas 13 d ias
foram favoráveis à ocorrência do mal-das-folhas nos seringais,
no período analisado; m as, nos seringais mais distantes das
:
1'11
....
0 ,02
0 ,0 1
o ~ r
Jan Fev Mar Abr Ma; Jun
r
Ju l Ago Set Oul Nov Jan Fev
Mês
200
100
O
""
(J
~~
~
, ,
, r-
~,i
vorável é dada por limites mais amplos de temperatura (10 a 35°C)
e UR% (60 a 90%). Isso explica porque essa praga se encontra
presente na m aioria dos pomares, e o controle rígido em aeropor- A ocorrência de pragas e doenças em plantas é determi-
tos, onde não se permite a entrada de frutos in natura. na da pelo macro e topoclima de uma região, seguido pelo
microclima. O uso de práticas agrícolas podem prov ocar alte-
27 ~ rações no micro clima de uma cultura, fazendo com que a re-
'. ~G '
G
'-
25
23~
,
' ~
.. ',',: .
_. , _
~: ~ ~,
_~,~ :_ '
t Coo" <'o
Favorável
t
_
g ião passe de pouco favoráv el para altamente favorável às
pragas e doenças . Entre as práticas agrícolas que prov ocam
~ a lterações acentuadas no micro clima incluem-se:
' l-Cl" , . , ,
, 10 11 ffJ . , I
21 ~
'\ D.L
E
:;: 19 ~
, - - - -
;
....E ', , Irrigação
17 ~
' , ' A irrigação muda tanto as inter-relações da cultura com
o ambiente como também tem efeito marcante no desenvolvi-
" 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
men t o de doenças e pragas. O tipo de irrigação é fundamental
UR média mensa l ( %)
nessa interação, sendo que aquela feita por aspersão é a que
FIGURA 17.5 C limograma de dois locai s: Sero pédica, RJ (-) e Cordeir6polis, r traz maiores problemas por modificar a combinação tempera-
SP (O ). As linha s che ias ind icam os limites acima dos quais as cond ições lura -umidade do ar. Essa alteração pode resultar em perdas
são favoráve is à ocorrência de Orthez ia prae/onga em Citru s, e os números
i nd icam os mes es (1 =' janeiro; 2 = fevereiro; etc.). Adaptado de Puzzi &
d e qualidade e produtividade causadas principalmente por
Camargo (1963) doenças fúngicas, pois pode aumentar a duração do período
d e molhamento (DPM) e reduzir a temperatura do ar. A Tabe-
la 17.1 mostra como os diferentes tipos de irrigação influem
36
Favorável I na ocorrência de doenças.
il 30
·•
~
•
i"
24
12
EJ I
i!
i
rABElA 17. 1 Influência dos d iferentes tipos de i rrigação no microd i m a e
ocor rência de doenças. Fonte: Rotem & Palti (1969 ).
I) ,.l
~ 6
IMosca das Frufas I
i Fator Sulco Inundadío Gote'o A< rsão
O
! Po rcentagem do solo 20 90 30 100 ,
Com relação ao aspecto microclimático, a irrigação terá das cortinas laterais, a DPM dentro da estufa sempre foi maior
maiores efeitos em regiões onde o macroclima é úmido e sub- ou igual à observada ao ar livre, com valores sempre s uperio-
Ú1nido e menores nas regiões super Ú1nidas e secas. Além disso, res a 14 horas, enquanto que no exterior ocorreram apenas 30
alguns fatores relacionados à cultura, como a densidade de plan- dias co nl DPM mé'lior ou ig ual a 10 hor.ls.
tio, interagem acentuando os efeitos da irrigação e, conseqüente-
mente, a severidade do ataque das doenças. O esquema da Figu-
25
ra 17.7 mostra como funcionam essas inter-relações.
.
i
20
15
10
1.'C
5
Oia de observacao
I --Estufa· - Ar livre]
_ Doença ocorre corn ou sem inigaç110 FIGURA 17.8 DPM dentro e fora d e estufa s p lás-
tm:J lrrigaçao altera \) ",icroclima c facilita a ocorrênci" da doença
ti cas. Fonte: Pezzopane et aI. (1995c) .
pido e intenso (ver Capítulo 6), atingindo-se mais cedo a tem- Melzer, 1984). Por exemplo, a 15°C são necessárias 21 horas
peratura de condensação (ponto de orvalho), resultando em semanais de DPM para que a infecção seja forte, mas DPM de
DPM mais prolongada. Portanto, essa prática, especialmente apenas 13 horas/semana já é suficiente para causar infestação
no sistema de plantio direto, pode resultar em intensificação moderada.
da ocorrência de doenças. Portanto, com medidas de um termo-higrógrafo, moni-
tora-se as condições ambientais para controle eficiente da doen-
ça. As pulverizações serão sempre preventivas e feitas quan-
17.5 ESTAÇÕES DE AVISO FITOSSANITÁRIO do são sa tisfeitas as condições da tabela de Mills, que indicam
que o clima está favorável ao patógeno.
Estação de aviso fitossanitário é um sistema de previsão da
ocorrência e/ou desenvolvimento de uma determinada doen-
TABElA 17.2 Sistema de Mills adaptado para a sarna da macieira no Estado
ça em uma cultura, baseado em dados meteorológicos, em fun- de Santa Catarina.
ção da grande interdependência clima-planta-patógeno. Tal sis- "." . , m";,
tema visa a determinar o momento mais adequado para a apli- d, ~;~ ;..;'~o
cação de medidas de controle na região, concorrendo direta- I
mente para a racionalização do uso de defensivos, para a pre- I I
I
servação do ambien te, e para a maximização da prod ução agrí- I
cola.
Como ilustração, alguns desses sistemas são apresenta- Podridão parda do pessegueiro e sarna da nogueira
dos a seguir, retirados de Zahler et aI. (1989). É conveniente pecan
lembrar que um sistema desse tipo antes de ser utilizado deve Para a podridão parda do pessegueiro (Monilinia fructi-
ser testado para cada região e cultura, pois o melhoramento co/a) e para a sarna da nogueira pecan (C/adosporium carygenum)
genético está sempre produzindo variedades de plantas mais o sistema é feno/6gico-c/imato/ógico, que também segue o prin-
resistentes, e o sistema de cultivo adotado altera significativa- cípio da tabela de Mills. O nível de infecção é dado pelo pro-
mente o microclima. duto Tmed noturna x DPM (Tabela 17.3). As pulverizações são
recomendadas da seguinte forma:
Sarna da macieira • Preventivas ~ uma em julho, uma no início do
Para o caso da sarna da macieira (Venturia inaequa/is), florescimento, e uma no final do florescimento;
utiliza-se o sistema desenvolvido por Mills (1944), que leva • Curativas ~ sempre que o produto (Tmed * DPM) for
em consideração a temperatura média no período noturno, a maior que 140.
DPM, e a presença de ascósporos (Tabela 17.2). Esse sistema é
utilizado na região macieira de Santa Catarina (Berton &
TABELA 17.3 Sistema fenológico-climatológico para controle da podridão TABELA 17.5 Código de mensagem para o controle da podridão da batatinha.
parda do pessegueiro e sarna da nogu eira pecan .
Núm. de dias Severidade Acumulada em 7 dias
Nível de infecção Tmed noturna x DPM com chuva <3131415161>6
Leve 140 em 7 dias Código de mensaoem
Moderado 200 <5 -1 1 -1 1 O 1 1 1 1 2 I
Forte 300 >4 -1 1 O 1 1 1 2 1 2 L 2
Míldio do feijoeiro
Podridão da batatinha Para o míldio do feijoeiro (Phytophtora phaseoli) a pulve-
Para a podridão da batatinha (Phytophtora infestans), o rização é recomendada sempre que houver dois dias segui-
sistema também se baseia na tabela de Mills, sendo muito uti- dos com: Tmed < 26'C, Tmin > 7°C, e com chuva.
lizado na Holanda e na Inglaterra. Considera-se, além da tem-
peratura e da DPM, também a chuva (Tabela 17.4 e 17.5). Pri- Míldio da videira
meiro, util iza-se a Tabela 17.4, na qual d etermina-se o grau de Para o míldio da videira (Plasmopara viticola) o sistema é
severidade durante sete dias, acumulando-os. Depois, de posse fenológico-climatológico, com pulverizações:
dos valores acumulados do grau de severidade e da chuva • Preventivas ='> na brotação, florescimento e formação
durante sete dias, determina-se, na Tabela 17.5, o código de do cacho;
mensagem. Se o código de mensagem for igual a: • Curativas ='> quando Tmin > 10°C e dois dias seguidos
com chuva superando 10mm.
• -1 ='> Não há necessidade de pulverizar;
• O ='> Ficar alerta; Pinta preta do tomate
• 1 ='> Pulverizar em até 7 dias; Para a pinta preta do tomate (Alternaria solani) utiliza-se
• 2 ='> Pulverizar em até 5 dias. a tabela de Mills, acumulando-se a severidade (5) num perío-
do de 7 dias (Tabela 17.6). As pulverizações são recomenda-
TABELA 17.4 Escala do grau de severidade para a podridão da batatinha . das quando o valor de 5 acumulado em 7dias supera 14.
T noturna Grau de Severidade ,
TABELA 17.6 Escala para determ inação da severidade da pinta preta em
(Oe) O I 1 2 I 3 4 tomate.
DPM (horas)
Tmed no Severidade (S)
7 a 12 15 16-18 19-21 22-24 25
período noturno O 1 2 3 4
1 1 1
12 a 15 12 13-15 16-18 19-2 1 22 ('C) OPM (horas)
15 a 27 9 10-12 13-15 16-18 19 13 a 17 Oa6 7 a 15 16 a 20 ~21
17 a 20 Oa3 4a8 9 a 15 16 a 22 ~ 23
20 a 25 Oa2 3a5 6 a 12 13 a 20 ;::: 21
25 a 29 Oa3 4a8 9 a 15 16 a 22 ~ 23
368 - Pereira, Angelocci e Sen felhas Agrometeorologia - 369
cia de sua ocorrência. Sem dúvida, de modo geral, os efeitos poral constante, resultando em diminuição do ganho
favoráveis compensam os efeitos adversos. de peso;
• deformação de plantas;
Efeitos favoráveis • abrasão de partículas do solo danificando tecidos ve-
Entre os efeitos favoráveis destaca-se a atuação do ven- getais;
to como agente de transporte de algumas propriedades, tais • fissura dos tecidos vegetais pela agitação contínua,
como: permitindo a penetração de microrganismos fitopato-
• calor de regiões mais quentes para as mais fria s, com gênicos;
conseqüente redistribuição do calor; • desfolha por efeito mecânico do vento, reduzindo a
• vapor d'água de regiões mais úmidas para as mais área foliar fotossintetizante;
secas; • aumento da transpiração, e caso as raízes não extraiam
• dispersão de gases e partículas suspensas no ar dimi- água do solo, na mesma taxa da transpiração, haverá
nuindo suas concentrações, sendo muito importante fechamento dos estômatos quando o desequilíbrio
no inverno; entre os dois processos for acentuado;
• fechamento dos estômatos resultando em queda na
.,
• remoção de calor de plantas e animais durante perío-
dos quentes; taxa de fotossíntese;
t·
,:, • remoção (renovação) de ar próximo às plantas man- • para manter as taxas de transpiração e fotossíntese, a
,. tendo o suprimento de CO, para as folhas durante a planta desenvolve sistema radicular profundo, o que
,
fotossíntese; resulta em redução do crescimento da parte aérea
• dispersão de esporos, sementes, pólen, facilitando a (nanismo);
diversificação das espécies; • para minimizar a perda de água por transpiração a
• remoção de vapor d'água próximo às plantas, ínter- planta reduz a área foliar (folhas pequenas e em me-
feríndo na taxa de transpiração. nor número), o que resulta em redução na taxa de
fotossíntese;
Efeitos desfavoráveis • parte da energia armazenada (produzida) pela fotos-
Ventos intensos e contínuos resultam em danos mecâni- síntese é destinada aos processos de reconstrução dos
cos, anatômicos e fisiológicos, pois causam: tecidos danificados, diminuindo, assim, a energia dis-
• erosão eólica e deformação da paisagem; ponível para crescimento e desenvolvimento;
• eliminação de insetos polinizadores; • a agitação pelo vento acelera o metabolismo (respira-
• desconforto animal, devido à remoção excessiva d e ção), reduzindo ainda mais a fotossíntese líquida.
calor, fa zendo com que o m'etabolismo fique acelera-
do para produzir calor e manter a temperatura cor-
374 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorol ogia - 375
Em conseqüência do efeito desfavorável, em geral, plan- Caramori (1981), estudando os efeitos da velocidade do
tas submetidas continuamente a ventos de 10 km / h ou mais, vento em mudas de cafeeiro, verificou que ventos com veloci-
apresentam (Figura 18.1): dade média a partir de 2 m s-' (7,6 km h" ) induziram as mudas
• redução no crescimento e atraso no desenvolviInento; à acentuada redução nos incrementos de altura, área foliar,
• internódios menores e em menor número; comprimento dos internódios, peso total de matéria seca, além
• nanismo da parte aérea; de reduzir também a taxa de assimilação líquida (variação tem-
• menor número de folhas; poral da fitomassa / índice de área foliar, kg d-' m ' folha m -2
• folhas menores e mais grossas; terreno) e a taxa de crescimento relativo (variação temporal
• menor número de estômatos por área foliar e estô- da fitomassa/fitomassa já existente, kg kg-l do'), caracterizan-
matos menores; do o efeito prejudicial do vento com velocidade excessiva.
• menor produtividade. Houve também aumento no diâlnetro do caule, em res-
posta aos danos mecânicos provocados pela agitação contí-
Essas conseqüências desfavoráveis do vento excessivo nua pelo vento. A transpiração aumentou nas mudas s ubme-
sobre as plantas podem ser visualizadas na Figura 18.1. A plan- tidas até 2 m s-" e para velocidades maiores houve redução
ta à esquerda foi submetida a condições naturais, enquanto acentuada, resultante da elevada demanda evaporativa e con-
que a planta central e a da direita foram submetidas a veloci- seqüente fechamento dos estômatos, associado ainda à redu-
dades do vento gradativamente maiores. Observa-se que, no ção da área foliar.
caso extremo (planta da direita), ocorreu visível n anismo da
parte aérea . Esse efeito só se torna visível quando se compara
o crescimento/ desenvolvimento de plantas cultivadas eUl cun-
dições controladas, como é o presente caso. 18.3 PRÁTICAS PREVENTIVAS CONTRA EFEITOS
DESFAVORÁVEIS DO VENTO
Escolha de local
Ao se instalar uma cultura, ou atividade agropecuária,
dentro de uma propriedade agrícola, deve-se escolher, se pos-
sível, as áreas da propriedade q ue sejam menos sujeitas aos
ventos frios, contínuos e intensos. Nas regiões Sul e Sudeste
do Brasil, deve-se evitar os terrenos com faces voltadas para o
FIGURA 18.1 Efeito sul, sudeste e sudoeste, que são as faces freqüentemente bati-
elo vento sobre p lantas das pelos ventos predominantes de sudeste e também pelos
de tomate.
ventos frios provenientes da entrada de frentes frias . No caso
376 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 377
de abrigos zootécnicos, não se deve ter portas ou janelas vol- • Artificiais: utilizados para proteção de plantas de pe-
tadas para o sul. Essas recomendações podem mudar em fun- queno porte em cultivo intensivo e com alto valor econômico:
ção da topografia do local. Temporário = } depende da durabilidade do produto em-
pregado. Ex: sombrite e ripa dos.
Uso de quebra-ventos
Os quebra-ventos (QV) são estruturas físicas, altas, natu- Resultados experimentais de Pedro Jr. et aI. (1998) mos-
rais ou artificiais, que servem para reduzir a velocidade do vento tram que foi eficiente o uso de sombrite (malha de 50% de
a níveis suportáveis e adequados ao bom desempenho dos seres porosidade), com altura de 4m e comprimento de 40m, como
vivos. Utiliza-se como QV plantas de porte maior do que aquelas QV para proteção da cultura da videira, em Jundiaí, SP. Hou-
que se quer proteger. Outras estruturas como telados (sombrite) ve redução na velocidade dos ventos em cerca de 50% a 4m do
e ripados também são utilizadas. OS QV servem tanto na prote- QV; 40% a 8m do QV; e 30% a 16m do QV. Como conseqüência
ção vegetal como na animal, ajudando também na contenção de favorável, houve aumento de 22% na área foliar, e de 15 a 30%
dunas, minimizando o processo de desertificação, principalmen- na produtividade da cultura, quando comparada com videira
te em regiões planas. QV vegetal tem a vantagem de absorver em á rea não-protegida.
parte da energia disponível, fazendo fotossíntese, transpirando,
consumindo calor sensível do ar, ou seja, afetando a partição do
saldo de energia e tomando o ambiente protegido mais ameno e
menos estressante.
18.4 TIPOS DE QV
condições naturais. Entre as características a serem considera- 50% do espaço. Essa condição depende do tipo de planta e do
das destacam-se: espaçamento entre elas. Os QV de fileiras simples de árvores
são mais eficient es (Figura 18.3a). Caso não haja permea-
Hábito de crescimento bilidade, ocorrerá turbilhonamento logo após o QV (Figura
Altura => quanto mais alta for a planta protetora, maior 18.3b), o que é muito prejudicial à cultura a ser protegia. Uma
será a área por ela protegida; noção desse efeito pode ser observado nas Figura 18.4, em que
Postura ereta => crescimento vertical. sem galhos em sua se observa aumento da distância protegida com redução da
parte mais baixa para permitir que o vento próximo ao solo, densidade do QV Nessas figuras as distâncias horizontais são
que tem menor velocid ade, penetre na área a ser protegida expressas como múltiplos da altura (h ou H) da planta prote-
evitando o turbilhonamento atrás do QV, que é prejudicial às tora usada como QV Isso facilita a apresentação, pois as dis-
plantas a serem protegidas; tâncias se tornam relativas. Portanto, quanto mais alta for a
Crescimento rápido => crescendo rapidamente, a área pro- planta protetora, maior será a distância de sua influência.
tegida também aumenta, pois esta é um múltiplo da altura da
proteção;
Raízes pivotantes e profundas => sistema radicular profun-
I do tende a minimizar a concorrência por água e nutrientes B arlavento So tavento
.~
Flexibilidade
Plantas flexíveis absorvem melhor o impacto do vento
FIGURA 18.3 El eito de um QV com boa perme ab ilidade (a) e
red uzindo a s u a velocidade. Plantas rígidas favorecem os tur- sem perme abilid ade (b) na di stânci a protegida por el e. Adapta~
bilhões que danificam as plantas a serem protegidas. do d e Rosenberg et aI. (1983).
Permeabilidade
O ideal de permeabilidade, determinado em túnel de
vento, está entre 40 e 50%, ou seja, olhando-se frontalmente à
linha de QV deve-se notar que a folhagem ocupa no máximo
380 - Pereira, Angeloccí e Sen telhas Agrometeorologia - 381
o ,
Geada
• QV altera o microclima, reduzindo a luminosidade e o
vento, aumentando a temperatura e a umidade relativa. Por
conseqüência, tende a reduzir a evapotranspiração da cultura
protegida. Isso significa que a cultura vive num ambiente
menos estressante, com menor demanda atmosférica por água,
o que permite que ela aproveite melhor a água disponível no 19.1 INTRODUÇÃO
solo. Desse modo, os estômatos permanecem mais tempo aber-
tos facilitando também a fotossíntese e o crescimento. Há me- Na Meteorologia, define-se a ocorrência de geada quan-
nor investimento em crescimento de raízes. do há deposição de gelo sobre plantas e objetos expostps ao
• QV também serve para proteger pastagens e animais. relento. Isso ocorre sempre que a temperatura atinja aoc e a
A redução da velocidade do vento promove ambiente mais atmosfera tenha umidade. No entanto, mesmo com formação
agradável aos animais, repercutindo produtividade mais alta de gelo sobre as planta~ pode não haver morte dos tecidos
tanto da pastagem como dos animais. vegetais, por elas estarem em repouso vegetativo. Em Agro-
• As árvores utilizadas como QV servem também como nomia, entende-se geada como o fenômeno atmosférico que
abrigo para a fauna, contribuindo para a manutenção do equi- provoca a morte das plantas ou de suas partes (folhas, caule,
.'I! líbrio ecológico da área. Para melhorar esse, pode-se utilizar frutos, ramos), em função da baixa temperatura do ar, que acar-
I mais de uma espécie na linha de QY, promovendo uma certa
diversidade biológica.
reta congelamento dos tecidos vegetais, havendo ou não for-
mação de gelo sobre as plantas. A morte pode ser causada tan-
t • As árvores do QV favorecem a manutenção de insetos to por ventos muito frios soprando por muitas horas, como
polinizadores e de pássaros, inimigos naturais de alguns inse- pelo resfriamento radiativo com o ar muito seco.
tos predadores da cultura. Isso contribui para a redução de A suscetibilidade das culturas agrícolas às geadas varia com
aplicação de defensivos, reduzindo custos, interferindo me- a espécie, e com o estádio fenológico das plantas no momento da
nos no ambiente. ocorrência (Camargo et aI., 1993). Mota (1981) considera que -2°C
seja a temperatura crítica mínima da folha abaixo da qual se iniciam
os danos nas plantas de espécies menos resistentes, como a bana-
neira, o mamoeiro, e o arroz. Para espécies mais resistentes, como
o cafeeiro, a cana-de-açúcar e os citros, o limite é de -40 c. Os da-
nos serão mais graves e extensos quanto maior for a queda de
temperatura abaixo desses limites.
Nos locais situados a médias e altas latitudes, a agricul-
tura torna-se atividade de risco durante o inverno, devido à
386 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 387
ocorrência de temperatu ras baixas. A pro teção de plantas con- A advecção de ar frio resulta da entrada de massas de ar
tra os efeitos letais causados pela geada é problema conside- frio, provenientes da região polar, e que atingem as regiões
rável na agricultura, especialmente para as lavouras de alta s ub-tropicais. No seu deslocamento em direção ao equador,
rentabilidade, entre as quais estão as frutíferas de clIma tropl- elas trazem ventos frios causando maiores danos durante o
cal, o cafeeiro, a seringueira, entre outras (Rosenberg et al., inverno, principalmente na face sul do relevo (geada de vento).
1983). . Os danos causados por esse tipo de geada são tanto pelas bai-
No Brasil, a geada é um fenômeno freqüente nas latitu- xas temperaturas (queima das folhas) como pela injúria mecâni-
des maiores que 19°5, englobando os Estados de Minas Gerais ca provocada pela agitação contínua das plantas.
(Triângulo Mineiro e região sul), São Paulo, Mato Grosso do
Sul, Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul, onde sua • Geada de radiação
ocorrência resulta em graves prejuízos econômicos, principal- Geada de radiação ocorre quando há resfriamento intenso
mente quando ocorrem precocemente no outono, ou tardia- da superfície, que p erde energia durante as noites de céu lim-
mente na primavera. po, sem vento, e sob domínio de um anticiclone estacionário,
de alta pressão (massa de ar polar fria), com baixa concentração
de vapor d'água (seca). A perda radiativa da superfície faz com
19_2 TIPOS DE GEADA que o ar adjacente a ela também se resfrie. Logo, o agente causa-
dor é a perda radiativa intensa. Essa situação ocorre freqüente-
Segundo Camargo (1972), os tipos de geada são definidos mente em regiões de clima árido, em que a falta de vapor d'água
quanto à sua gênese (origem) ou pelos efeztos vzsuazs (aspecto a tmosférico reduz o efeito estufa local (ver Capítulo 3).
das plantas) que elas produzem. As geadas pode~ ocorrer em Nessa situação, durante o dia, a temperatura na superfí-
função de dois fenômenos meteorológicos: advecçao de ar frzo e cie se mantém acima do ponto de congelamento. Porém, após
perda de radiação terrestre (Valli, 1972) . o pôr-do-sol, durante à noite, a perda de energia da superfície
por e missão de radiação de ondas longas (lei de Stefan-
Quanto à gênese Boltzmann - Capítulo 5) se acentua, provocando queda rápida
• Geada de advecção ou de vento frio da temperatura do ar próximo à superfície, resultando no que
São aquelas provocadas por ocorrência de ventos fortes, ~ e denomina inversão térmica (Figura 19.1), ou seja, a tempera-
constantes, com teulperaturas nluito baixas, por rnultas horas lLlra aum enta com a altura, nos primeiros metros, ao invés de
seguidas. O ar frio resseca a folhagem causand? sua morte. diminuir (situação normal).
Portanto os ventos são os causadores do dano a planta . Em
algumas'situações, esse tipo de geada fica bem caracterizado
por haver dano apenas em um lado da planta (aquele voltado
para os ventos predominantes).
388 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 389
SlI y
locais mais baixos são os que estão sujeitos a maiores danos
.
(Figura 19.2).
Terreno plano está sujeito à estagnação de ar frio, pois I. F ace vo ltada Fac e. volt a da 0
não há para onde escorrer, favorecendo a ocorrência de geada. 5;(
ara o para oNone 3
Essas áreas devem ser reservadas para culturas anuais duran-
T e rreno Plano
j \
l:""cno
posição mais elevada que seu entorno, então essa área deve FIGU RA 19.2 Condiçôes de configuração e exposição do terreno.
ser mantida com vegetação arbórea para minimizar o
resfriamento norturno e reduzir a produção de ar frio para as 19.3.3 Fatores microclimáticos
I áreas mais baixas (Figura 19.3).
No caso do terreno ser cõncavo, sua configuração em São aqueles ligados à cobertura do terreno, pois cober-
forma de bacia facilita o acúmulo de ar frio, o que torna fre- lu ra com mato, "mulch" (resto de vegetação já colhida, ou de
qüente a ocorrência de geadas (ninho de geada). Tal configura- ca p ina) ou outro tipo de cobertura funciona como isolante tér-
ção deve ser reservada para cultivos anuais de verão ou para lIIico, impedindo a entrada no solo de calor dos raios solares.
florestamento. Terreno convexo tem geralmente menor fre- O solo d escoberto funciona como armazenador de calor durante
qüência de geadas, desde que não esteja circundado por terre- () d ia, absorvendo a radiação solar, sendo fonte de calor du-
nos mais elevados. Essa configuração facilita o escoamento do ,." nte a noite, que aquece a superfície. Portanto, o solo nu fun-
ar frio para outras áreas. cio na como moderador da temperatura do ar durante o inver-
A meia-encosta favorece o escoamento do ar frio forman- 11 0. Essa propriedade do solo está ligada ao grau de compac-
do a brisa catabática (ar mais denso que escorre morro abaixo), 1.1,5 0, sendo que solos mais compactos conduzem melhor ca-
que pode afetar o caule das plantas (geada de canela) durante I" ,. do que solos afofados e arenosos (ver Capítulo 6).
I
394 - Pereira, Angelocci e SenteI/las Agrometeorologia - 395
Agravantes naturais são aspectos gerais da área que fa- porte baixo
concentração de solutos; redução do volume celular; ruptura TABELA 19.2 Temperatura letal ("C) de algumas cult uras perenes.
da membrana plasmática.
Temperatura tela!
Segundo Camargo et aI. (1993), a suscetibilidade das Cultura - Variedade Folha Abril!o Fonte
Maça. cv. Jon:llhan -2.5 1,5
culturas agrícolas às baixas temperaturas varia muito de acor- Abacate - cv Pollock -1,0 3.0
Whilcman (1 951)
ciladO por Roscnbcrg et ai. ( 1983)
Banana - cv Guatemala -1. 1 2,9
do com a espécie e o estádio de desenvolvimento fenológico. Manga - cv Kcill ·2.0 2,0
Laran ja - cv Jaffa -3.2 0.8
Nas Tabelas 19.1 e 19.2, são apresentados alguns exemplos de Anona· cv C henmóia -6,0 -2,0 Senlelhas et aI. (1996)
Anona - cv Condessa
temperatura letal, ao nível das folhas, para diversas culturas. Goia ba
-4,0
-4,0
0,0
0,0
Acerola
No entanto, normalmente dispõe-se apenas de dados de tem- Mar:lcujá
-4,0
-5,0
0,0
- l,O
peratura mínima absoluta obtida no abrigo termométrico. A Abncme - C\l Geada
Café· C\I Ca tuaí
-4,0 0,0
-4.0 0,0 SClllelhas et aI. ( 1995b)
diferença existente entre a temperatura mínima que ocorre na Café - cv Mundo No,'o
Café - cv leatü Vermelho
-4.0 0,0
-4,0 0,0
relva (que caracteriza a condição de uma folha exposta) e no Café· Con"ta brevipes -2,0 2,0
Café - C. rocemosa -5.0 - 1.0
abrigo meteorológico (Figura 19.1), em média, é de -4°C para
as condições do Estado de São Paulo (Sentelhas et aI., 1995a).
Isso permite avaliar com dados obtidos no posto meteorológico
os danos ocorridos devido às geadas.
o conhecimento das temperaturas letais das diferentes
• espécies cul tivadas é importante na identificação da aptidão
de uma determínada espécie em uma região, servindo aínda
TABELA 19.1 Tem peratura letal (Oe) de culturas anuais em diferentes está- como subsídio ao desenvolvimento de novas variedades, mais
f dios feno lógicos (Fonte: Ventskevich, 1958, citado por Rosen berg et aI.,
1983).
tolerantes .
Para o Estado de São Paulo, Camargo e t aI. (1993) d e ter- rem duas geadas por m ês nas reg iões com 400 m de altitude, e
m inou a probabilidade de ocorrência d e temperaturas míni- quatro geadas por mês nos locais com 800m. A probabilidade
mas do ar (no abrigo meteorológico), indicadora s d a ocorrên- de gear, pelo menos u ma vez no ano, é da ordem de 60% a 400
cia de geadas, em várias localidades (Tabela 19.3). As maiores m, subindo para 90% a 800 m .
probabilidades de ocorrência das baixas temperaturas são para Para o Rio Grande do Sul, O liveira et aI. (1997) verifica-
junho, julho e agosto, havendo, ainda, diferença entre os ní- ram que as probabilidades de ocorrência d e geada atin gem
veis d e probabilidade em função da região. No litoral do esta- seus m aiores v alores n o segun do decêndio de julho, variando
do, a probabilidade é muito bai xa em todos os meses. Na re- de 13% em Torres, no litoral, a 83% em Vacaria, na serra. Nes-
gião de Barretos, a probabilidade é de até 5% no mês de julho; se estado, a probabilidade de ocorrência de gea das tardias é
em Campinas chega a 12%; e em Capão Bonito e Mandurí ul- maior do que das precoces.
trapassa a 50%. Na Fig ura 19.4 é apresentado um histograma mostran-
do a ocorrência de Tmin ::; 2°C, entre abril e outubro, em
TABELA 19.3 Probabili dade (%) de oco rrência mensal de temperaturas Piracicaba, SP. Observa-se que a maior freqüência de geadas é
mín imas do ar indicadoras de ocorrência de geada s no Estado de São Pau-
lo. Adaptado de Camargo et aI. ( 1993 ). e m junho e julho, com cerca d e 41 eventos, representando cer-
Mês Capão Bonito Mandurí Call1!Jin3S Rnrrctos
ca de 74% das geadas observadas e ntre os anos de 1917 e 1999.
Maio
Junho
Julho
,.
10
4S
,.
13
'0
6
I
12
I
,
1
Agosto 43 38 4 I 'O
S elcmbr(l O 3 1 O 45 .
40
o 35
No Estado do Paraná, Grozki et aI. (1996) verificaram ."c .,...
haver, em relação a São Paulo, maior risco de geada, mas há
variação entre as diferentes regiões do Estado. Na região nor-
'.
.,
a'
~
30
25
20
r-
'r-
'" 15
te (Londrina, Cambará e Paranavaí) e oeste (Cascavel), as gea-
das são freqüentes entre maio e setembro, enquanto que nas
regiões centro-sul e s ul, as geadas ocorrem desde abril até no-
,
10
O
Ab,
.-f,J
Mai l o" lo I
Ifl·,,,-
Ago 0"
vembro, restando somente q ua lro a cinco m eses livres de gea- r Õr"Qb5({:t:adas por m'; . ) 111 Frei (%) 1
'------ . -"
das.
FIGURA 19.4 Freqüência observada (FObs, eve ntos
Em Santa Catarina, Massignam & Dittrich (1998) deter- por mês) e freqüência relati va (FRe i, Ofo) de ocorrên-
minaram O número m édio e a probabilidade mensal de gea- cia de Tm ín ::;: 2°C, en tre abril e outubro, em
Piracicaba,S P.
das concluindo que ambos se devem principalmente à altitu-
de. Foi verificado também que o maior número e a maior pro-
babilida d e de geada se dá em junho e julho. Em média, ocor-
T ,
• Utilização de variedades resistentes setembro (mato e palha seca resfriam mais o ar do que 0.5010
O conhecimento das temperaturas letais para as dife- nu, funcionando como isolante térmico);
rentes espécies cu ltivadas, tanto anuais como perenes, possi- - eliminar todo obstáculo ao escoamento de ar frio no-
bilita a escolha daquelas mais adequadas para cada região, turno para as baixadas (brisa catabá tica), para não h aver
em função do nível de tolerância às baixas temperaturas. Por represamento de ar frio próximo à cultura;
exemplo, ao se implantar um pomar de abacate na região sul do - chegamento de terra (ou cobertura total, no caso de
estado de São Paulo, onde a probabilidade anual de gear é maior mudas) junto aos troncos das plantas, para se evitar a geada
do que 60%, deve-se escolher a variedade Geada, que tolera até d e canela.
-4°C, ao invés da Pollock, que resiste somente até -1°e.
As medidas de longo prazo, são aquelas tomadas logo no
plantio. São utilizadas, pri ncipalmente, em culturas p erenes,
19.6.1 Medidas topo e microclimáticas como o cafeeiro, e consiste da arborização ou sombreamento das
á reas (Figura 19.7). A arborização é feita de modo a sombrear
As medidas topoclimáticas têm por base a localização corre- cerca de 20 a 30% da área, utilizando-se espécies como a
ta dos cultivos na bacia hidrográfica (encostas, espigões, e terre- Grevillea robusta, Minomosa scrabella, seringueira, pinus, etc.,
nos convexos). Basicamente, deve-se evitar as baixadas onde o ar que além de minimizarem os efeitos do vento frio, também
se acumula. Quando os plantios forem a meia-encosta, deve-se reduzem a perda de energia radiante (ondas longas) pela cul-
evitar que matas e culturas deporte alto estejam abaixo, servindo tura (Caramori et aI., 1995). Em experimentos realiz ados no
como barreiras ao escoamento do ar frio. Vegetação de porte maior Paraná, Caramori (1997) identificou que o espaçamento mais in-
deve ficar nas cabeceiras, diminuindo o fornecimento de ar frio d icado para a utilização de Grevillea na arborização de cafezais,
para a bacia. No caso da mata ciliar, deve-se ralear o sub-bosque em Terra Boa, PR, foi de 10x14m, correspondente a 71 árvores!
para permitir o escoamento do ar frio. ha, mantendo a produtividade obtida no cultivo a pleno Sol, e ao
Ainda, em regiões muito sujeitas às geadas, pode-se m esmo tempo propiciando boa proteção contra geadas, sendo
optar pela implantação das culturas próximo a grandes mas- as tenlperaturas mínimas sempre 2 a 4°C mais elevadas em
sas de água (lagos, rios, açudes, etc.), pois devido ao efeito re lação ao cafezal sem arborização (Tabela 19.4) .
termo-regulador da água, os efeitos da baixa temperatura são
reduzidos nas suas proximidades. TAB ELA 19.4 Produ tiv idade de cafezais arboriz ados com Grevillea robusta
d d iferentes espaçamentos, em Terra Boa, PRo Fonte: Caramori (199 7).
As medidas microclimáticas são também muito impor-
tantes, e podem ser de curto ou longo prazo. As medidas de Es JlI "amcnto das ã.-vorcs (m) Arvores I ha Prod. en fé heneficindo k l ha
8 )[ 10,5 119 7440
curto prazo são: lOX 14 71 8849
12 X 17 ,5 48 95 54
- em espaçamentos maiores, deve-se manter o solo des- 14 X 2l 34 9233
16 X 2 4,5 26 85 19
nudo nas entrelinhas, no período sujeito a geadas, de maio a P le no S o l O 8744
-
Agrometeorologia - 403
402 - Pereira, Angelocci e Sente/has
o uso de produtos químicos para combater geada ba- • Neblina artificial (tipo IBC)
seia-se no princípio de que elevando-se a concentração de Misturar, peneirar, e guardar em sacos plásticos dentro
solutos na p lanta, o ponto de congelamento deve cair, aumen- de tambores de 100 litros, até o dia da aplicação (Camargo &
tando-se a tolerãncia dessas plantas às baixas temperaturas . Costas, 1983):
Os produtos utilizados, ainda em fase experimental, têm por - 100 litros de serragem seca (duratex/ eucatex)
base adubos minerais (cálcio e potássio). A aplicação desses - 10 kg de nitrato de amônio ou 12 kg de nitrocálcio
produtos deve ser feita com antecedência de alguns meses, e - 6 litros de óleo diesel queimado.
parceladamente. Porém, resultados a campo que comprovem
a eficiência desse método são ainda inexistentes. Para que a aplicação da neblina seja eficiente deve haver
um planejamento antecipado, que consiste de:
- Em urna carta geográfica, que mostre as linhas de altitu-
19.6.3 Proteção direta (no dia de ocorrência) de da região, identificar se a bacia hidrográfica local é nebulizável,
com garganta estreita. Essas cartas são publicadas pelo IBGE na
São aquelas realiz adas no momento da ocorrência da
escala 1:50.000. Deve-se atentar para que a neblina não afete ro-
geada e devem ser antecipadamente planejadas, porque sua
d ovias, aeroportos, áreas residenciais e granjas.
utilização requer grande disponibilidade de mão-de-obra e
-,-
com um psicrômetro (ver Capítulo 7), verificar se as condi- Temperatura do bulbO seco ("C)
deve-se acender 1 nebulizador de cada bateria a cada 30 mino FIGURA 19.6 Exemplo de ap licação do método de
nebu l ização. Fonte: Camargo (1963).
cie, també m impede a passagem dos raios solares nas primei- ção no resfriamento do ar, mantendo-se a temperatura próxi-
ras horas da manhã. ma dos O°C, se a inversão térmica não for acentuada. Deve-se
lembrar que o equipamento para aspersão de água no contro-
Aquecimento artificial le de geada é específico, diferindo daqueles utilizados para o
O aquecimento artificial consiste na utilização de vários processo convencion al de irrigação.
aparelhos de aquecimento ou pequenas fo g u eiras, queiman-
do-se óleo ou gás. A finalidade é a adição de calor às camadas
mais baixas da atmosfera que envolve as plantas. É um méto- I ,·c.. ,I>ç'" f~", ..... I I ~=.,.JI·
do eficiente em condições de forte inversão térmica e pouco I
vento, em regiões de relevo plano. Um dos problemas é que a . I.
I
~ Ventilação forçada
.8.6 -4 -2 o 24 · H-ó·4
Temperatura (OC)
,
" Nas noites de inverno, ocorre a inversão térmica (Figura
FIGURA 19.7 Distribuição vertical da temperatura do ar, em noites de gea-
19.1) com a superfície sendo mais fria que as camadas de ar da, em cond ições naturais de solo gramado, sob venti lação forçada, com
mais altas . Esse m étodo consiste em promover mistura do ar proteção de árvores, e sob neblina. Fonte: Camargo (196 3) .
mais quente (acima) com o ar mais frio (abaixo), e para isso
instala-se grandes ventiladores acima da cultura (±12m) . É 19.6.4 Uso de coberturas protetoras
método aplicável somente em pequenas áreas planas, e em
culturas de a lto valor econômico, sendo viável apenas em re- A p lasticultura vem crescendo acentuadamente em todo
giões com geadas freqüentes (Figura 19.7). o Brasil. Além de propiciar condições adequadas para os cul-
tivos em épocas não-recomendadas, essa técnica serve tam-
Irrigação bém como eficiente método de controle de geada, principal-
Utiliza-se da aplicação de água por aspersão, na cultura mente quando se utiliza plásticos aditivados (EVA Acetato de
durante a noite da geada, com uma taxa de 1 a 2 mmjhora. vinil etileno).
Como, ao congelar, cada kg de água aplicada libera 0,334 MJ A Tabela 19.6 mostra res ultados obtidos em Santa Maria
para o ar adjacente en1 contato com a superfície, há UIna r cd u - (RS), em noites de geada, com efetivo controle da tempe ra tu-
408 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 409
TABELA 19. 6 Tem peratura mínima absolu ta, sob três diferentes coberturas
p lásticas. Fo nte: He ldwei n et al.( 1995).
N* PEBD EVA adit EVA Relva A brigo
No ite T min ('q
r ria 35 0.3 0.5 0.5 -7.3 -2,4 FIGURA 19.8 Ap l icação de espuma
Geada
Geada Forte
17
7
0.3
0.2
0.5
0.6
O.'
0.4
-8.1
-9,3
-2.6
·3.2 sobre hortali ça para proteção contra
• N - número de eventos com geada.
geada. Fon te: Barthol ic & Braud (1979) .
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QUADRO 19.1 Temperatura mínima absoluta em Campinas, SP, de 1890 a 1994. Fonte: IAC.
Ano Mês Tmin Abs Ano Mês Tmin Abs Ano Mês Tm in Abs Ano Mês Tmin Abs
(0e) ee) rC) ('e)
1890 8 2,3 1916 7 5.4 1942 7 ·0,2 1968 5 3,8
1891 8 3, 1 1917 7 3,2 1943 9 2,0 1969 6 2.4
1892 7 0,2 1918 6 -1,5 1944 7 6,9 1970 7 6,0
1893 5 2,9 1919 8 3,8 1945 7 6,2 197 1 4 3,8
1894 7 1,0 1920 5 4,0 1946 7 4,8 1972 7 1,6
1895 6 1,0 1921 7 3,5 1947 7 5,4 1973 6 4,0
1896 5 3,3 1922 7 3,5 1948 8 4,2 1974 5 5,9
1897 7 3,3 1913 7 2,0 1949 5 5,8 1975 7 0,6
1898 7 2,4 1924 8 5,4 1950 9 7,0 1976 6 7,0
1899 6 1,6 1925 7 2,0 195 1 8 5,6 1977 5 6,8
1900 8 4,0 1916 1952 6 2,8 1978 8 2,6
1901 6 3, 1 1927 1953 7 1,2 1979 5 0,2
1902 8 0,2 1928 1954 8 7,8 1980 6 7,0
1903 7 6.6 1929 6 6,0 1955 8 2,0 1981 7 0,2
1904 8 1,5 1930 7 5,0 1956 7 4,7 1982 7 9,0
1905 8 2,9 1931 6 2,0 1957 7 1,2 1983 8 5,1
1906 7 6,0 1932 8 5,9 1958 6 6,4 1984 8 4,6
1907 7 4,5 1933 7 1,4 1959 6 3,7 1985 6 1,4 >
.,
()q
1908 8 4,5 1934 7 6,4 1960 6 6,7 1986 6 7,2 O
1909 1935 7 5,0 196 1 7 8,5 1987 8 2,8 S
1910 7 2,1 1936 8 4,1 1962 7 2,0 1988 6 1,8 li>
~
1911 6 2,2 1937 5 5,9 1963 6 2,6 1989 5 5,2 li>
19 12 9 1,8 1938 7 5,8 1964 7 2.4 1990 7 2,0 .,O
19 13 8 4,0 1939 7 3,6 1965 8 0,6 1992 7 6,6 ~
1914 8 4,0 1940 8 3,7 1966 9 5,4 1993 8 3,2 O
1915 7 5,5 194 1 9 3.8 1967 6 4,6 1994 6 0,3
03,
Obs: Freqüência relativa ('to) - (o", de eventos no m~sln". total de evcnl(5) 100.
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.....
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Capítulo 20
Condicionamento climático
da produtividade vegetal
20.1 INTRODUÇÃO
t I produção elevada.
Define-se corno produtividade potencial ou rendimento
máximo de urna cultura aquela obtida de urna variedade alta-
mente produtiva e bem adaptada ao ambiente de crescimen-
to, sob condições nas quais não ocorram limitações de fatores,
tais corno: água, nutrientes, pragas e doenças, durante todo o
ciclo até a rnaturação (Doorenbos & Kassam, 1994).
Os elementos climáticos que determinam a produtivi-
dade potencial são a temperatura do ar, a radiação solar e a
duração do período total de crescimento, além de necessida-
des específicas para o desenvolv imento da cultura quanto ao
fotoperíodo. A temperatura do ar, geralmente, determina a taxa
de desenvolvimento da cultura e, conseqüentemente, influi
na duração do período total de crescimento necessário à for-
mação da colheita. Por exemplo, urna variedade de milho que
r
necessita de 100 dias par a alcançar seu amadurecimento a Por trás dessa equação simples, encontra-se um comple-
25 DC / 30 DC, pode levar 150 dias a 20 De, ou até 250 dias a 15 DC, xo processo de bioconversão de energia ele tromagnética, da ra-
para alcançar a mesma fase. Algumas culturas têm necessida- diação solar, em energia química armazenada no carboidrato.
des específicas de temperatura e/ou fotoperíodo para iniciar Há uma combinação de processo biofísico de excitação e mi-
certa fase de crescimento, como a batata que exige temperatu- gração energética, em pig m entos (clorofila), com o processo
ras noturnas inferiores a 15°C para iniciar a formação de tu- de assimilação de carbono atmosfé rico. A radiação solar é o
bérculos, e algumas variedades de sorgo que exigem dias cur- fator desencadeador d a fotossíntese, mas os passos bioquí-
tos para florescer. m icos são afetados também pela temperatura. Nos aspectos
° rendimento máximo de uma cu ltura (PP) em uma re-
gião irá, portanto, depender das condições climáticas. Apesar
biofísicos do transporte do CO2 até os cloroplastos, estão en-
v olvidos também o vento e a umidade relativa do ar, que afe-
disso, a PP pode ser calculada com boa confiabilidade, para tam as condutâncias, do ar e dos estômatos, à difusão do CO 2 •
diferentes condições climáticas, por meio de relações que ex-
pressam a eficiência da cultura em converter energia solar em
produção de matéria seca e, finalmente, em produção comercia- 20.3 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA PRODUTIVIDADE
lizável. Isso permite a quantificação do potencial produtivo
Para melhor se entender o processo de bioconversão, será
de diferentes áreas (Campelo Jr. et a!., 1990), indicando as mais
reproduz ido aqui o modelo teórico apresentado por Thonlley
apropriadas para a produção de determinada cultu ra, servin-
(1970), e descrito por P ereira (1988), que a juda a visualiz a r os
do também para estimativa da produtividade real (Pedro Jr. et
aspectos fisiológicos da produtividade. A fotossíntese produz
a!., 1983) e da quebra de rendimento (Marin e t a!., 2000).
[C H 20t que é o substrato fotossintetizado (5). À quantidade de
s ubstrato (t.5) formado por determinada área foliar, em um
20.2 BlOCONVERSÃO DE ENERGIA SOLAR intervalo de tempo (t.t), denomina-se taxa de fotoss íntese bruta
(Fb), isto é:
A produtividade potencial de um cultivo é dependente
da energia disponível no ambiente, associada a outras variá- Fb = ÁS / M. (20.1)
veis climáticas como a temperatura e o fotoperíodo. A produ-
ção de biomassa começa com o processo fotossintético, no qual Essa equ ação tem dimensões de massa/(área tempo),
o CO2 atmosférico é reduzido a carboidrato, com a participa- sendo que a massa pode ser expressa tanto em termos de
ção da água e da radiação solar, conforme a equação clássica : carboidrato forma do como de CO2 utilizad o, pois 44g de CO 2
resulta em 30g de [CH20 1n •
6 CO2 + 6 H 20 + Rad.5olar --7 Clorofila --7 [CH 201 n + 6 °
2
Pressupõe-se, neste modelo, que o substrato fotossin te-
tizado d eva ser utilizado, no mesmo dia, nos processos d e cres-
416 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 417
cimento (t.Sc) e de manutenção da fitomassa existente (t.Sm), !<.S =!<.W + !<.Sr + !<.Sm. (20.4)
assim:
Define-se a eficiência (Y) do processo de conversão de
!<.S = !<.Se + !<.Sm. (20.2) fotossintetizados pela relação entre o incremento de fitomassa
(t. W) e a quantidade de substrato disponível para o cresci-
Crescimento significa incorporação de nova fitomassa, ou mento (t.Sc):
seja, aumento em tamanho, e manutenção é o processo de repo-
sição de compostos degradados nos processos fisiológicos, Y =!<.W / !<.Se =!<.W / (!<.W + !<.Sr). (20.5)
enfim, trata-se de recomposição dos tecidos. Como se vê, nem
todo o substrato fotossintetizado está disponível para produ- Das equações (20.1), (20.3) e (20.5), teremOS:
zir nova fitomassa, assim t.Sc representa a taxa de fotossíntese
líquida, e t.Sm representa a quantidade de carboidrato que é !<.S = Fb !<.t (20.6)
convertido em energia pela respiração de manutenção. t.Sm ex- !<.Sm = M W!<.t (20.7)
pressa o custo energético para manter a planta, sem que haja !<.Sr = (!<.W / Y) -!<.W (20.8)
crescimento. Esse custo é proporcional ao tamanho da planta.
,
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Considerando-se a fitomassa existente (W) como representa- e substituindo-as na e quação (20.4), teremos:
tiva do tamanho, foi verificado que:
,l. !<.W /!<.t = Y (Fb - M W), (20 .9)
! !<.Srn = M W !<.t (20.3)
~m que: t.W / t.t é a taxa de crescimento da planta, resultante do
em que: M é o coeficiente de manutenção. A equação (20.3) balanço entre as taxas de fotossíntese e de respiração de ma-
representa a respiração de manutenção. M varia com a tempe- nutenção.
ratura (maior temperatura, maior atividade metabólica), e tam- A taxa de fotossíntese varia entre plantas com metabo-
bém com a idade do tecido (maior idade, menor atividade lismo tipo C4, C3, e CAM de fixação do carbono. As plantas
metabólica). C4 são mais eficientes fotossin teticamente, dentre as quais se
Além da respiração de manutenção, outro processo que destacam: milho, cana-de-açúcar, sorgo, capins, etc. As plan-
consome carboidratos fotossintetizados é o processo de con- tas C3, menos eficientes, incluem: arroz, feijão, beterraba, tri-
versão do substrato disponível para crescimento (t.Sc) em nova go, soja, algodão, amendoim, batata, mandioca e árvores. En-
fitomassa (t.W). A única fonte de energia para esse processo é tre as do tipo CAM (absorvem gás carbônico durante a noite)
a respiração de crescimento (t.Sr). Desse modo, a equação (20.2) de importância econômica estão o abacaxi e o sisal.
pode ser reescrita da seguinte forma :
,..
necessita de 100 dias para alcançar seu amadurecimento a Por trás dessa equação simples, encontra-se um comple-
25°C / 30 °C, pode levar 150 dias a 20 °C, ou até 250 dias a 15 °C, xo processo de bioconversão de energia eletromagnética, da ra-
para alcançar a mesma fase. Algumas culturas têm necessida- diação solar, em energia química armazenada no carboidrato.
des específicas de temperatura e/ou fotoperíodo para iniciar Há uma combinação de processo biofísico de excitação e mi-
certa fase de crescimento, como a batata que exige temperatu- gração energética, em pigmentos (clorofila), com o processo
ras noturnas inferiores a 15 °C para iniciar a formação de tu- de assimilação de carbono atmosférico. A radiação solar é o
bérculos, e alg umas variedades de sorgo que exigem dias cur- fator desencadeador da fotossíntese, mas os passos bioquí-
tos para florescer. micos são afetados também pela temperatura. Nos aspectos
° rendimento máximo de uma cu ltura (PP) em uma re- biofísicos do transporte do CO2 até os cloroplastos, estão en-
volvidos também o vento e a umidade relativa do ar, que afe-
gião irá, portanto, depender das condições climáticas. Apesar
disso, a PP pode ser calculada com boa confiabilidade, para tam as condutâncias, do ar e dos estômatos, à difusão do CO2·
diferentes condições climáticas, por meio de relações que ex-
pressam a eficiência da cultura em converter energia solar enl
produção de matéria seca e, finalmente, em produção comercia- 20.3 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA PRODUTIVIDADE
lizável. Isso permite a quantificação do potencial produtivo
Para melhor se entend er o processo de bioconversão, será
de diferentes áreas (Campelo Jr. et a!., 1990), indicando as mais
apropriadas para a produção de determinada cultura, servin- reproduzido aqui o modelo teórico apresentado por Thornley
(1970), e descrito por Pereira (1988), que ajuda a visualizar os
do também para estimativa da produtividade real (Pedro Jr. et
a!., 1983) e da quebra de rendimento (Marin et a!., 2000).
aspectos fisiológicos da produtividade. A fotossíntese produz
[CH20L que é o substrato fotossintetizado (S). À quantidade de
substrato (~S) formado por determinada área foliar, em um
20.2 BlOCONVERSÃO DE ENERGIA SOLAR intervalo de tempo (~t), denomina-se taxa de fotossíntese bruta
(Fb), isto é:
A produtividade potencial de um cultivo é dependente
da energia disponível no ambiente, associada a outras variá- Fb = c.S / M. (20.1)
veis climáticas como a temperatura e o fotoperíodo. A produ-
ção de biomassa começa com o processo fotossintético, no qual Essa equação tem dimensões de massa/(área tempo),
o CO2 atmosférico é reduzido a carboidrato, com a participa- sendo que a massa pode ser expressa tanto em termos de
ção da água e da radiação solar, conforme a equação clássica : carboidrato formado como de CO2 utilizado, pois 44g de CO2
resulta em 30g de [CH201".
6 CO 2+ 6 H 20 + Rad.5olar --7 Clorofila --7 [CH 201 n + 6 °
2
Pressupõe-se, neste modelo, que o substrato fotossinte-
tizado deva ser utilizado, no mesmo dia, nos processos de cres-
416 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 417
cimento (i15c) e de manutenção da fitomassa existente (i15m), "",S = "'"W + "",Sr + "",Sm. (20.4)
assim:
Define-se a eficiência (Y) do processo de conversão de
"",S = "",Se + "",Sm. (20.2) fotossintetizados pela relação en tre o incremento de fi tomassa
(i1 W) e a quantidade de substrato disponível para o cresci-
Crescimento significa incorporação de nova fitomassa, ou mento (i15c):
seja, aumento em tamanho, e manutenção é o processo de repo-
sição de compostos degradados nos processos fisiológicos, Y ="",W / "",Se ="",W / ("",W + "",Sr). (20.5)
enfim, trata-se de recomposição dos tecidos. Como se vê, nem
todo o substrato fotossintetizado está disponível para produ- Das equações (20.1), (20.3) e (20.5), teremOS:
zir nova fitomassa , assim i15c representa a taxa de jotossíntese
líquida, e i15m representa a quantidade de carboidrato que é "",S = Fb M (20.6)
convertido em energia pela respiração de manutenção. i15m ex- "",Sm=MWM (20.7)
pressa o custo energético para manter a planta, sem que haja "",Sr = ("",W / Y) -"",W (20.8)
crescimento. Esse custo é proporcional ao tamanho da planta.
Consider ando-se a fitomas sa existente (W) como representa- e substituindo-as na equação (20.4), teremos:
tiva do tamanho, foi verificado que:
"",W/M = Y (Fb-MW), (20.9)
"",Srn = MW M (20.3)
em que:!:lW / M é a taxa de crescimento da planta, resultante do
em que: M é o coeficiente de manutenção. A equação (20.3) balanço entre as taxas de fotossintese e de respiração de ma-
representa a respiração de manutenção. M varia com a tempe- nutenção.
ratura (maior temperatura, maior atividade metabólica), e tam- A taxa de fotossíntese varia entre plantas com metabo-
bém com a idade do tecido (maior idade, menor atividade lismo tipo C4, C3, e CAM de fixação do carbono. As plantas
metabólica). C4 são mais eficientes fotossinteticamente, dentre as quais se
Além da respiração de manutenção, outro processo que destacam: milho, cana-de-açúear, sorgo, capins, etc. As plan-
consome carboidratos fotossintetizados é o processo de con- tas C3, menos eficientes, incluem: arroz, feijão, beterraba, tri-
versão do substrato disponível para crescimento (i15c) em nova go, soja, algodão, amendoim, batata, mandioca e árvores. En-
fitomassa (i1W). A única fonte de energia para esse processo é tre as do tipo CAM (absorvem gás carbônico durante a noite)
a respiração de crescimento (i15r). Desse modo, a equação (20.2) de importância econômica estão o abacaxi e o sisal.
pode ser reescrita da seguinte forma:
422 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrometeorologia - 423
Matematicamente, a produtividade potencial da cu ltu- p a ra cada grupo de cultura (ver determinação de eTc e de cTn)
ra real (PP R) resulta em: re la tiva ao período nublado; cTc a correção devido à tempera-
lura relativa ao período sem nuvens; e N o fotop eríodo (ver
(20.10) Ca pítulo 5 - Tabela 5.1).
em que PPB p é a produção bruta de matéria seca de uma cu l- TABELA 20.1 Valores de Qo (ca l em' d") para d iversas latitudes do H emi s-
ré rio Sul, no dia 15 de cada mês.
tura padrão, expressa em kg MS ha-I do'; e ND é o número de
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• Para T <15°C ou T>20°C IAF máximo (IAFm,) atingido durante o cultivo. Os v alores d e
cTn = 0,25 + 0,0875.T - 0,0025 T' (20.14c) C ' AF são dados pela relação:
eTc = -0,5 + 0,175 T - 0,005 T' (20.14d)
C 'AF = 0,0093 + 0,185 IAF,,,,, - 0,01 75 IAF'",,< (IAF má< '" 5, C'A> = 0,5) (20.17)
GRUPO II => Plantas C3 de verão (algodão, amendoim,
arroz, girassol, tomate, soja, citrus, etc.) c) Correção para a respiração (C R )
• Para T entre 16,5 e 37°C Durante a foto ssínte se e o cresc imento , parte dos
cTn = 0,583 + 0,014 T + 0,0013 T' - 0,000037 T3 (20.15a) carboidratos são consumidos no processo de fotorrespiração, e
eTc = -0,0425 + 0,035 T + 0,00325 T' - 0,0000925 P (20.15b) parte na manutenção dos tecidos (respiração de manutenção).
Esse consumo é fortemente dependente da temperatura ambien-
• Para T <16,5°C ou T>37°C te, havendo relação direta entre temperatura e respiração. Assim,
cTn = -0,0425 + 0,035 T + 0,00325 T' - 0,0000925 T3 (20.15c) é necessário considerar-se esse efeito na estimativa, introduzin-
eTc = -1,085 + 0,07 T + 0,0065 T' - 0,000185 T3 (20.15d) do-se o fator de correção C R , com os seguintes valores:
GRUPO III => Plantas C4 (milho, sorgo, cana-de-açúcar, CR = 0,6 para T < 2Ü"C (20.18a)
capins, etc.) C R = 0,5 para T 2: 20°C (20.18b)
• Para T 2: 16,5°C
r cTn = -1,064 + 0,173 T - 0,0029 1"' (20 .16a ) em que T é a temperatura média durante o período considera-
II eTc = -4,16 + 0,4325 T - 0,00725 T' (20.16b) do. Quanto maior for a temperatura, maior será a perda respi-
ratória, e menor será o valor de C R •
• Para T < 16,5°C
cTn = -4,16 + 0,4325 T - 0,00725 T' (20.16c) d) Correção para a Parte Colhida (Cc)
eTc = -9,32 + 0,865 T - 0,0145 T' (20 .16d) Em geral, apenas parte da matéria seca total é colhida,
seja na forma de grão, fibra, fruto ou açúcar. A relação entre
b) Correção para o índice de área foliar (C ,AF ) matéria seca comercial e o rendimento obtido é dada pelo ín-
Para a cultura hipotética padrão, De Wit (1965) conside- d ice de colheita (Cc), apresentado na Tabela 20.2.
rou IAF = 5, isto é, com cobertura total do terreno e máxima
captação de radiação solar, durante todo o ciclo. Nessa situa-
ção hipotética, não há necessidade de correção para IAF e o
C = 1. Em urna cultura real, em que o IAF varia continua-
'AF
mente desde a semeadura até a maturação, esse fato é consi-
derado atribuindo-se urna correção, que varia em função do
. . 1 . . 1 . . 1111111111,
1
TAB ELA 20.2 índi ce de colhei ta (Cc) e teor de umidade (U %) de v ariedades Qo = [989 * 30 + 1043 * 31 + 1035 * 31 + 976 * 28 + 877 * 10]
al tamen te produtivas sob co nd ições irrigadas. Fonte: Doorenbos & Ka ssam / 130 = 1001 cal ClTI·2 d "
( 19 94) e Barb ie ri & Tu a n (1 992 ) .
e) Determinação de PP: explica a introdução de fator corretivo (ky) com valores dife-
Eq.(20.10): rentes para ocorrência de deficiências em épocas distintas (Ta-
bela 20.3), sendo denominado de fator de resposta da cultura.
PP R = PPB P C IAF C R Cc ND = 529 * 00407 * 0,5 * 0,35 * 130
PP R = 4898 kg ha-1 °
modelo FAO, proposto por Doorenbos & Kassam
(1994), relaciona a queda relativa de rendimento (1 - PR/PP F)
com o déficit relativo de evapotranspiração (1 - ETr /ETc), sen-
f) Correção para o teor de umidade:
Tabela 20.3: U = 8% do PR a produtividade real a ser estimada. efeito do déficit
h ídrico sobre o rendimento de uma cultura hipotética é ilus -
°
PP, = 4898 / (1 - 0,01 *8) = 5324 kg ha- 1
trado na Figura 20.4, para quatro fases fenológicas. No desen-
v olvimento vegetativo (1) e na maturação (4), a queda de ren-
20.6 EFEITO DA DEFICIÊNCIA HíDRICA SOBRE A dimento devido ao déficit hídrico é relativamente pequena se
PRODUTIVIDADE comparada às fases de floração (2) e frutificação (3).
Assim, conhecendo-se a relação ETr /ETc, PP F e ky pode-
Na estimativa da produtiv idade potencial, descrita aci- se determinar a produtividade real (PR) de uma cultura, com
ma, não se considerou qualquer efeito de deficiência hídrica. a seguinte relação:
No entanto, é fato conhecido que a deficiência hídrica induz
adaptações fisiológicas e morfológicas, com fechamento par- (1 - PR / PP F) = ky (1 - ETr / ETc). (20,20)
cial ou total dos estômatos, reduzindo a fotos síntese, afetando
) adversamente o crescimento da cultura e sua produtividade. Como o interesse é pela estimativa da produtividade real
Um modo prático de se quantificar a deficiência hídrica, e a (PR), da equação acima obtém-se:
época de sua ocorrência, é pelo balanço hídrico (ver Capítulos
13 e 14). A deficiência hídrica fica caracterizada sempre que a PR = [1- ky (1 - ETr /ETc)] PP F (20.21)
evapotranspiração real (ETr) for menor que a evapotrans-
piração da cultura (ETc.). Portanto, toda vez que a relação ETr / --~~-~
0,8
ETc < 1 há deficiência hídrica, e quanto menor for essa relação,
maior será a deficiência e seu efeito sobre a produtiv idade. f 0.6
TABELA 20.3 Valo res de ky para d ifere ntes cul turas ag rícolas. Fonte:
Doorenbos & Kassa m (1994). Portanto, a quebra es timada de produtividade foi de: (1
C ultura I)es. Vege tat. Flora(~ã o Fru tificlIção MaturaS'ão Ciclo lotaI - PR / PP F ) = (1- 2637 / 5324) = 0,495, ou seja, aproximadamen-
Al fafa
Algodi'lo 0,20 0.50
O
0,25
0,7 a l,l
0.85
te 50% (limite de validade deste método).
Amendoim 0,20 0.80 0,60 0,20 0.70
Banana 1.2 a 1.35
BruMa 0,60 0.70· 020 1.10
Beterra ba 0 .6 (l I.!
C:ma-de-Aç\ícar 0,75 0,50 0, 10 \ ,20 20.7 EXERCíCIO PROPOSTO
Cebola 0,45 0,80 0,30 [,lO
CÍlros 0,811 1, 1
Ervi lha 0,20 0.90 0,70 0,20 1.15
Feijão 0,20 !.lO 0,75 0,20 1,15 1. Determine a produtividade potencial do milho (Ciclo:
Girassol 0.25 0.50 1.00 0,80 0,95
Milho O.'" 1,50 0.50 0,20 1,25
130 dias) nas semeaduras de 01 / 04 (safrinha) e de 01 / 11 (sa-
Soja 0.20 O,RO 1.00 0.85 fra das águas), e também as quebras de produtiv idade, d e acor-
Sorgo 0.20 0.55 0,45 0,20 0.90
Tomate O.'" 1, 10 0.80 0.40 1.05 do com o Modelo da FAO, utiliza ndo o balanço hídrico
Trigo 0.20 0.60 0,50 1.00
W Tuberi zaç:.io e e nch imento dos lubén::ulos.
seqüencial d a cultura. Piracicaba, SP (Lat: 22°42'S, Long:
47°38'W, e Alt.: 546m),
EXEMPLO: CÁLCULO DA PRODUTNIDADE REAL (PR) Decêndio ETP Chuva Decêndio !3TP Chuva Decêndio ETr Chuva
Cultura: Soja lan96 I
{mm 2 {mm~ (mm~ (mm) (mm) !mm)
44 120 Jol196 I O Ja097 I 47
Loca l: Minha Soja, SP (23°S) 2
3
42
45
130 2 20
" O 2 44 '"
77
Ciclo: 130 dias Fevl96 I
2
40
39
"
60
75
3
Agol96 I
25
25
O
10 Fev/97 I
45
42 "
49
PP = 5324 kg.ha'l
2 26 2 40
3
Mar196 I
32
37
20
101
3
Sct/96 I
27
28
"O
2
3
Mar!97 I
35
40
"
13
45
Fusc f'cnoló icu
Estabeleci mento
Dura .llo (d ias)
10
ETr/Etc K
, 35
33
2S
30
2
3
30
32
17
44
2
3
3.
33
12
O
Des.Ve elalivo 40 0.90 0,2 Abr!\J6 1 29 50 Oull96 I 34 O Abr197 1 30 O
Fl o~'io 2 28 12 2 38
Frutificll ão
Maturn ão
30
3S
15
0.64
0,71
O.S
1,0 3
Mai/96 I
24
24
4
7
3
Nov/96 I
41
3.
"
2.
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Mai/97 I
30
2S
2.
IS
66
21
2 24 5 2 42 28 2 22 14
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Junl96 I
2
20
19
"
O
O
3
Dev'96 I
44
42
43
102
77
55
3
l un/97 I
21
20
8
O
2 18 O
OBSERVAÇÃO 3 18 O 4. 11 7. 3 17 O
A PR de uma fase passa a ser a
PP da fase seguinte
D a dos necessários para o cálculo da produtiv idade po-
tencial:
Aplicando-se a Eq. (20.21), tem-se: IAF do milho = 3 para as duas épocas
PR DV = [(1-0,2 * (1 - 0,9)] * 5324 = 5217 kg.ha'l Temperatura média no ciclo:
PR PL = [(1 - 0,8 * (1 - 0,64)] * 5217 = 3714 kg.ha-I 01/04 ~ Tmed = 18,2°C;
PR pR = [(1 - 1,0 * (1 - 0,71)] * 3714 = 2637 kg.ha'l 01/11 ~ Tmed = 23,8°C.
432 - Pereira, Angelocci e Sente/has Capítulo 21
Zoneamento agroclimático
Insolação média no ciclo:
01 / 04 = } n = 7,Oh;
01 / 11 = } n = 6,4h
Radiação solar extraterrestre média no ciclo: N esta ter ra em se plantando tudo dá! Esta foi a primeira
01 / 04 = } Qo = 634 cal.cm-2 d -1 ; a v aliação do potencial agrícola do Brasil e foi feita imediata-
01/11 = } Qo = 999 cal.cm- 2 .d-I mente após a chegada de Cabral em nossas terras. Embora
essa afirmativa seja uma realidade, sabe-se que não se pode
plantar indiscriminadamente qualquer espécie em qualquer
lugar. Algumas regiões têm potencial maior que outras_ Es-
cassez de energia e alimentos continua sendo um dos princi-
pais problemas contemporâneos. Com o aumento da deman-
da por energia, alimento, e fibras, cada vez mais é prioritário a
utiliz ação eficiente dos recursos naturais. A agricultura é um
dos segmentos mais importantes da cadeia produtiv a e é aquele
mais dependente das condições ambientais. O ambiente, basi-
camente clima e solo, controla o crescimento e o desenv olvi-
mento das plantas. Conseqüentemente, as condições ambien-
tais devem ser adequadamente avaliadas antes de se implan-
tar uma ativ idade agrícola. O primeiro e mais decisivo passo
em qualquer planejamento deve ser a identificação de áreas
com alto potencial de produção, isto é, áreas onde o clima e o
s olo sejam adequados para a cultura.
O conhecimento do ambiente é decisivo para o desen-
v olvimento da agricultura produtiva, rentável, e socioecono-
micamente viável. Das condições do ambiente depende a dis -
tribuição da vegetação natural, das culturas e das diferen tes
atividades agrícolas. Quanto melhor for o conhecimento que
434 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 435
se tem das condições ambientais prevalecentes numa região, tidão climática, trabalhando com valores médios dos elemen-
mais apto se estará para a seleção das culturas mais adequa- tos e de índices climáticos, sem levarem em consideração es-
das, das melhores épocas de plantio/semeadura, das melho- tudos probabilísticos dos mesmos. Outro aspecto é a elabora-
res variedades, dos sistemas de cultivo mais racionais, ção do zoneamento, na maioria das vezes, ao nível de espécie,
objetivando uma agricultura mais produtiva. Portanto, as con- muito mais do que de cultivar/variedade. Apesar dessas res-
dições ambientais devem ser adequadamente levantadas an- trições, os zoneamentos constituem-se em ferramenta de gran-
tes de se implantar uma atividade agrícola. de utilidade no planejamento de uso das terras, principalmente
Com relação ao clima, para se alcançar produtividade em escala regional.
econômica cada cultura necessita de condições favoráveis du-
rante todo o seu ciclo vegetativo, isto é, exigem determinados
limites de temperatura nas várias fases do ciclo, de uma quan- 21.2 METODOLOGIAS PARA A ELABORAÇÃO DO
tidade mínima de água, e de um período seco nas fases de ZONEAMENTO AGROCLIMÁTlCO
maturação e colheita. O atendimento dessas exigências é que
fará de uma determinada região ser considerada apta para uma O zoneamento agroclimático, em uma primeira aproxima-
dada cultura. ção, preocupa-se com O macroclima, isto é, com o clima do mu-
A determinação da aptidão climática de áreas para o nicípio, que é determinado pelas observações obtidas em pos-
cultivo de espécies de interesse agrícola é um dos objetivos tos meteorológicos padronizados. Tais observações, por serem
mais aplicados da Agrometeorologia, constituindo O zonea- feitas em condições padronizadas, permitem a comparação de
mento agroclimático. Como o solo é o outro componente do meio climas de diferentes regiões. Obviamente, a cultura cria seu
físico que é mais utilizado na agricultura, pode-se fazer a deli- próprio microc/ima, que resulta da interação das plantas com o
mitação da aptidão de áreas sob o aspecto edáfico e juntá-la à macroclima. Mesma cultivar plantada em espaçamentos dife-
climática, formando O zoneamento edafoclimático ou zoneamento rentes cria microclimas diferentes, que resultarão em proble-
ecológico das culturas. O denominado zoneamento agrícola en- mas e manejos diferentes.
volve o zoneamento ecológico e o levantamento das condi- O macroclima não pode ser mudado para se adequar às
ções socioeconômicas das regiões, para delimitar a vocação necessidades do cultivo. No entanto, dentro do clima regional
agrícola da terras. o agricultor pode escolher as nuances do relevo (topoc/ima) que
Seria ideal que um zoneamento agroclim ático produzis- melhor acomoda uma dada cultura. Isto envolve planejamen-
se mapas não somente da aptidão climática das regiões, mas to a nível de propriedade agrícola e deve ser feito localmente,
também das épocas mais adequadas de semeadura das espé- por especialista daquela cultura. O zoneamento macroclimático
cies anuais. Esse tipo de enfoque já vem sendo utilizado no não entra em detalhes topoc/imáticos, pois esta é uma função
Brasil, embora a maioria dos zoneamentos agroclimáticos rea- do agrônomo regional e do produtor rural, e depende de aná-
lizados no país tenham se restringido ao mapeamento de ap- lise das condições de cada fazenda.
436 - Pereira, Angelocci e Sente/has Agrometeorologia - 437
o zoneamento agroclimático é, em geral, o primeiro a se agroclimático não é feita por esse não tratar da escala
considerar. O clima talvez seja o fator mais importante na de- microclimática. Torna-se mais"prático caracterizar as exigên-
terminação do potencial agrícola de uma região. O macroclima cias climáticas a partir de índices que utilizam os elementos
de uma região pode ser considerado praticamente invariável meteorológicos como a temperatura do ar, a insolação e a pre-
e característico no decorrer de algumas décadas. U ma deter- cipitação, ou por variáveis obtidas do balanço hídrico no solo.
minada espécie encontra aptidão climática, para cultura co- Na caracterização através de índices biometeorológicos,
mercial, em uma região, em função das condições normais do pode-se utilizar o índice térmico (graus-dia), o índice biofototér-
clima. O agricultor, eventualmente, pode corrigir certas defi- mico de Robertson (1968), que emprega temperatura do ar e
ciências, como a falta de água, ou se utilizar de recursos para fotoperíodo, o índice de Primault (1969), que utiliza graus-dia,
reduz ir os efeitos de elementos adversos (geadas, granizos, ven- insolação e precipitação, o número de horas de frio para as
tos fortes), mas não consegue cultivar economicamente espé- frutíferas de clima temperado, entre outros. Esses índices têm
cies não-adaptadas ao clima. sido empregados para a delimitação de áreas climaticamente
Os passos para a elaboração do zoneamento agroclimá- aptas às culturas. Por exemplo, o uso de grau-dia para deter-
tico de uma grande região envolvem a definição dos objeti- minar as áreas mais adaptadas para o cultivo do milho assim
vos, a escala geográfica do estudo, a caracterização das exi- como para determinar as épocas de semeadura mais adequa-
gências climáticas das culturas a"serem zoneadas, o levanta- das foi utilizado no Canadá (Robertson, 1968). O índice de
mento climático da região estudada com confecção de cartas Primault foi usado na Suíça para regionaliz ar as áreas aptas à
climáticas básicas e o preparo das cartas finais do zoneamento. cultura do trigo (Primault, 1969), e o índice fototérmico para
Os três últimos passos são discutidos a seguir. regionalizar áreas mais indicadas às culturas de soja na Ar-
gentina (Pascale et aI., 1973).
Os zoneamentos agroclimáticos realizados no Brasil têm
21.2.1 Caracterização das exigências climáticas das culturas utilizado principalmente a temperatura do ar e as variáveis
resultantes do balanço hídrico climatológico normal (evapo-
Disponibilidade energética e de água são os dois fatores transpiração potencial e real, deficiência hídrica, excedente
físicos de ordem edafoclimática a determinar o crescimento e hídrico), embora índices bioclimáticos às vezes tenham sido
o desenvolvimento das plantas, e portanto a sua produtivida- usados, como número de horas de frio para o zoneamento de
de. O estudo das relações entre esses fatores e os processos frutíferas de clima temperado em Santa Catarina (Ide et aI.,
biofís icos que ocorrem no sistema solo-planta, e entre esses 1978). N o estabelecimento dessas exigências, consulta-se a bi-
processos e os de crescimento/desenvolvimento vegetal é o bliografia referente às relações do crescimento / desenvolvi-
objetivo de inúmeras pesquisas em microclimatologia e de mento da cultura e essas variáveis. O conhecimento da
modelagem matemática e fisiológica do crescimento de plan- fenologia e características da cultura, como época de cresci-
tas. Entretanto, a aplicação desses resultados no zoneamento mento, duração do ciclo e das fases fenológicas e os períodos
438 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 439
. .... c - , .. u.~ ..
foi considerada marginal a inapta, por falta de estação de re- sais, etc .. ), de umidade relativa ou de variáveis do balanço
pouso (D). As regiões com deficiência hídrica anual maior que hídrico (Figuras 21.2). Essas cartas podem ser confeccionadas
400 mm e aquelas com temperatura média anual menor que por interpolação com auxílio de sistema de informações geo-
18°C ou menor que 14°C no mês de julho, foram consideradas gráficas ou, no caso de temperatura do ar, pelo uso das equa-
inaptas, respectivamente por deficiência hídrica excessiva (E) ções que rela cionam esse elemento com as coordenadas geo-
e por insuficiência térmica e geadas severas (F). gráficas (ver Capítulo 6) e de uma carta hipsométrica. O refi-
namento final dessas cartas pelo climatologista é fundamen-
tal, pois a interpolação é aproximada, muitas vezes necessi-
21.2.2 Elaboração de cartas climáticas básicas tando de um ajuste que somente o especialista pode realizar
em função dos seus conhecimentos.
Com base em séries climáticas confiáveis, são elabora-
das as cartas climáticas básicas das variáveis a serem empre-
gadas, sejam de índices bioclimáticos, sejam de elementos 21.2.3 Elaboração das cartas de zoneamento
como a temperatura do ar (cartas de isotermas anuais, men-
Com a sobreposição das cartas climáticas básicas e o co-
nhecimento das exigências da cultura a ser zoneada, são ela-
boradas as cartas de aptidão climática (ver Figura 2J .1), defi-
nindo-se: a) áreas aptas, sem restrição térmica ou hídrica; b)
inaptas, sem atendimento das exigências térmicas ou hídricas;
c) marginais, onde as restrições não são totalmente limitantes
ao cultivo, podendo ser utilizadas se os solos forem profun-
dos ou se a irrigação for economicamente viável, no caso de
d eficiência hídrica, ou se houver variedades resistentes ou
adap tadas nos casos da limitação ser térmica ou hídrica. As
cartas podem sofrer diferentes tratamentos gráficos.
Mapas envolvendo restrições devido à ocorrência de
condições ecológicas favoráveis às doenças também podem
ser elaboradas d e forma suplementar, como para o cancro CÍ-
trico no Estado de São Paulo (Camargo et aI., 1974) e para o
18
mal-das-folhas da seringueira no Brasil (Ortolani et aI., 1986).
Outra possibilidade é o estudo probabilístico das melhores
FIGURA 21.2 Isotermas do Estado de Santa Catar ina. Fonte: Ide et a I.
(1978) datas de semeadura obtidas a partir d e modelos agrometeo-
442 - Pereira, Ange/occi e Sen teU1as Agrometeorologia - 443
Informações (agro)meteorológicas
formação de frentes e de massas de ar, d e ciclones e anticiclo- Ao lado do uso de supercomputadores, outras técn icas
nes, e s ua migração. A partir d e então, ficou evidente que além têm contribuído para au xiliar a previsão do tempo a curto p ra-
d as m edidas de superfície, eram necessárias observações em zo. O desenvolvimento de sensores meteorológicos, com sis-
altura na atmosfera, que se tornaram possíveis com o uso do temas a utomáticos de aquisição de dados, tem p ermitido me-
balão-piloto (medindo velocid a de e direção do vento), da lhorar a qualidade e a distribuição espacial d as observações
radiossonda (medindo pressão, temperatura e umidade do ar, de superfície, com possibilidad e de a umentar a densidade de
transmitidas por ondas de rádio à es tação base), e de aviões pontos sobre os oceanos e locais inóspitos. Os radares permi-
instrum entados. Na Inglaterra , Richardson iniciou estudos tem monítorar as precipitações e os eventos meteorológicos
sobre o processo numérico de previsão d e tempo, pelo qual é adversos (tornados, tempestades, granizo, etc.), com informa-
possível um prognóstico determinístico do estado da atmos- ções a muito curto prazo (horas) sobre su a extensão e progres-
fera em um instante futuro, a partir d o conhecimento do seu são espaço-temporal. Os sa télites meteorológicos de órbita
estado a tua l, u sand o le is da Mecânica de Fl uid os e da quase polar (a centenas de quilômetros de altitude) medem a
Termodinâmica, para o qu e contribuíram também os estudos distrib uição vertical da temperatura e um idade atmosférica,
do su eco Rossby, nas décadas de 30 e 40. Como a previsão temperatura da superfície dos oceanos, concentração de ozô-
numérica exige cálculos extensos, sendo bastante dependente nio e cobertura de gelo; os geoestacionários (órbita equatorial
do número e qualidade das observações meteorológicas, ela a 36000 km de altitude e velocidade angu lar igual à d a Terra),
somente pôde evoluir com a construção dos supercomp uta- fornecem imagens periódicas dura nte o dia, na faixa do
dores. infravermelho e do visível, permitindo informações sobre ne-
A prev isão moderna, principalmente a de curto prazo bulosidade, massas de a r, temperatura, radiação solar, chu-
(d esde um até alguns dias de antecedência), alia os prognósti- vas, tufões e furacões em grande área do globo, auxiliando
cos sinópticos, nos quais o previsor serve-se de cartas isobáricas nas previsões a curto prazo. Deve-se ressaltar que os satélites
de superfície (nível d e 1000 mb), com indicação de frentes de de comunicação desempenham papel importante no intercâm-
massas de ar, cartas de vento (na superfície e em altitude), de bio de informações básicas para a previsão, bem como na dis-
temperatura, de divergência de umidade, diagramas adiabá- tribuição de seus produtos.
ticos da atmosfera e outras, com a previsão numérica. O uso Em países com tecnologia mais adiantada, o estado atu-
dos dois tipos de previsão soma vantagen s de ambos; o nu- al da técnica e da arte de previsão do tempo tem p ermitido
mérico permite maior antecedência na previsão e é menos sub- prognósticos com pequena margem de erro para 24-36 horas
jetivo do que o sinóptico, enquanto este últim o permite corri- de antecedência e com detalhamento até em escala regional.
gir, pela sensibilid ade do previsor, os diagnósticos do modelo Previsões para até 10 dias de antecedência, nas quais p esa bas-
numérico em pontos onde as estim ativas são menos precisas, tante o prognóstico numérico, também são feitas, com bom
por imperfeições do próprio método ou por erros ou insufi- grau de acerto, evidentem ente m en or conforme aumenta o
ciência de observações. número de dias de antecedência . As previsões feitas em cen-
•
448 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 449
tros mundiais e nacionais de meteorologia são colocadas à dis- 22_2 PREVISÃO DE TEMPO NO BRASil
posição do mundo todo, como prognósticos para até 10 dias
para o hemisfério norte e cinco dias para o hemisfério sul, com A OMM desenvolve um programa mundial voltado para
maior ou menor grau de detalhamento espacial e de quanti- o intercâmbio de informações meteorológicas entre os países
dade de informações, que interferem em sua exatidão. e à previsão de tempo, composto de três sistemas: a) Sistema
Os modelos numéricos de previsão permitem aumentar Mundial de Observações, utilizando estações de superfície, na-
a antecedência com que se obtém os prognósticos do tempo, vios mercantes, aviões comerciais, plataformas automáticas,
mas há um limite para isso. Estima-se que o limite teórico seja satélites e radares; b) Sistema Mundial de Preparação de Dados,
de três seman as, mas, na prática, as fontes de erro, que incluem com centros nacionais, regionais nos continentes, e mundiais
densidade inadeq u ada de pontos e a qualidade das observa- (Washington, Moscou e Melbourne), para tratamento de da-
ções, reduzem esse limite; estima-se que no hemisfério norte, dos e e laboração de previsões; c) Sistema Mundial de Telecomu-
onde essas fontes de erro são menores, o limite prático ch ega- nicações, também com centros nacionais e regionais . Há gran-
ria a 14 dias. Para previsões acima desses limites, tem-se feito de intercâmbio entre os países dentro desses sistemas, consti-
uso de análise estatística de séries temporais de dados, para tuindo um dos mais notáveis exemplos de colaboração inter-
se detectar, por exemplo, a periodicidade de fenômenos ad- nacionaL
versos como secas, veranicos, inundações, etc. Outra modali- O Brasil participa desse programa tend o como executor
dade usada desde as ú ltim as décadas para previsão a médio e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMED com sede em
longo-prazo baseia -se na conexão de fenômenos físicos da at- Brasília, onde se encontra o Centro Regional para a América
mosfera em regiões diferentes, que ocorrem de forma defasa- do Sul do Sistema Mundial de Telecomunicações. O INMET é
da no tempo. Evoluiu muito nos últimos anos os modelos ba- responsável pela coleta de dados de cerca de 400 estações, atra-
seados nas "teleconexões" atmosféricas e seus efeitos sobre o vés da coordenação por 10 Distritos Meteorológicos (DISME)
clima, um exemplo dos quais est á baseado no fenômeno de com sede em Manaus, Belém, Recife, Salvad or, Belo Horizon-
"EI Ninõ". Com tais modelos, denominados de "canônicos" te, Rio de Janeiro, São Pau lo, Porto Alegre, Cuiabá e Goiânia .
ou de "previsão climatológica", é possível fazer um prognós- O Instituto elabora previsões e prognósticos do tempo, divul-
tico para cada estação do ano, principalmente quanto à situa- gados atualmente e m site da Internet (http://www.inmet.
ção do regime hídrico ou térmico em relação às médias histó- gov.br), com previsões diárias válid as para até 96 horas para
ricas. Atualmente faz-se prognósticos, a partir desses mode- cada região geográfica e para 24 horas para os estados e várias
los, com até 15 meses de antecedência, mas eles estão em fase capitais. São elaborados prognósticos de chuvas a cada 12 ho-
experimental. ras (para os períodos da 9 as 21horas das 21 as 9 horas) para
até 132 horas a frente, para a América do Sul, para o Brasil
como um todo e para as regiões geográficas do País. Estão
disponíveis, também, no site: alertas especiais, condições do
,
450 - Pereira, Angelocci e Sentelhas Agrometeorologia - 451
tempo, dados climatológicos, dados de excedente e deficiên- dia para períodos de 12 e 24h. As informações de previsão do
cia hídrica de várias localidades, e produtos de satélites. tempo assim como as imagens do radar de Bauru estão dispo-
O utras instituições brasileiras estão envolvidas com a níveis na Internet (http://www.ipmet.unesp.br)
previsão de tempo, como:
• Centro de Previsão de Tempo e Pesquisas Meteoro- • Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME):
lógicas -Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC- elabora previsões de tempo para a região Nordeste, divulgan-
INPE) - disponibiliza atualmente através da Internet: a) bole- do suas informações pela Internet (http://www.funceme.br)
tins de previsão do tempo, para até três dias de antecedência, e outros meios de comunicação.
para as regiões geográficas do Brasil, Va le do Paraíba, Serra e
Litoral Norte de São Paulo; b) prognósticos, na forma gráfica • Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR): O Sis-
(mapas), de chuva acumulada para o Brasil e América do Sul, tema Meteorológico do Paraná (Simepar - Copel/IAPAR) di~
para períodos de seis horas, com antecedência de até 60 horas vulga informações meteorológicas, imagens de radar e de sa-
no modelo denominado Regional (resolução de 40 X 40 km) e télite, e previsão do tempo para o Estado do Paraná. Essas
para períodos diários e antecedência de a té sete dias no mo- informações são disponibilizadas pela Internet (http: / /
delo Global (resolução 200 X 200 km); a partir de cada mode- www.simepar.br).
lo, são elaborados, também, os respectivos meteogramas (evo-
lução prevista ao longo das horas de pressão à superfície, pre- • Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídri-
cipitação, temperatura à superfície, umidade relativa, veloci- cos de Santa Catarina (CLIMERH): O Centro Integrado de
dade e direção do vento à superficie, cobertura do céu por nu- Meteorologia e Recursos Hídricos de Santa Catarina (Clirnerh-
vens) com os limites máximos de antecedência acin"la, para SC) divulga informações meteorológicas e de recursos hídricos,
localidades do Brasil, da América do Sul, do mundo e para a assim como imagens de satélite e previsão do tempo para o
base brasileira na Antártida; c) campos de ventos na América Estado de Santa Catarina (http://www.clirnerh.rct-sc.br).
do Sul, para três níveis na atmosfera, para dois horários; c)
informações sobre geadas; d) tendências climáticas para o tri-
mestre nas regiões do Brasil, em estágio experimental (si te: 22.3 OBSERVAÇÕES METEOROLÓGICAS DE
http://www.cptec.inpe.br) . SUPERFíCIE
• . Instituto de Pesquisas Meteorológicas OPMet - Apesar das evoluções técnicas de teledetecção e de me-
UNESP): opera dois radares meteorológicos no Estado de São dições em altura na atmosfera citadas no item "Previsão do
Paulo, um em Bauru e outro em Presidente Prudente. As in- Tempo", que permitem a determinação das condições m e teoro-
formaçõ es dos radares auxiliam na elaboração de previsões lógicas tanto de superfície como da estrutura vertical da at-
de tempo de curto prazo, que são divulgadas duas vezes por mosfera, as observações de superfície, principalmente as rea-
•
452 - Pereira, Angelocci e Senlelhas Agrorneteorologia - 453
Jizadas no continente, continuam indis)2.ensáveis para as mais • Quanto à finalidade das observações
diferentes aplicações da meteorologia .l ~os últimos anos~as Existem vários tipos de estações meteorológicas de s u-
foram favorecidas pela evolução técnica dos sensores e pela perfície, dependendo da sua finalidade. Entre elas tem-se:
possibilidade de automação da coleta de dados. J - Estações Sinópticas: são ligadas ao sistema nacional e
CA observação meteorológica de superfície, realizada nas mundial de previsão de tempo, destinadas a essa finalidade
estações meteorológicas, consiste da coleta rotineira de dados com observações em horários convencionados de leitura (0:00,
referentes aos diversos elementos meteorológicos, que carac- 6:00, 12:00, 18:00h - GMT), com envio rápido dos dados para
terizam o estado da atmosfera, ou seja, o tempo. Essa coleta os órgãos responsáveis pela previsão.
de dados, exige normas com relação à localização, tipo e insta- - Estações Climatológicas : elas têm o objetivo de caracteri-
lação dos equipamentos, e padronização dos horários de ob- z ar o clima de uma região. A estação sinóptica também é uma
servação e dos procedimentos operacionais, como calibração estação climatológica.
e aferição dos equipamentos, o que permite comparação dos - Estações Aeronáuticas: são destinadas à coleta de infor-
dados coletados em diferentes estações meteorológicas, cuja mações necessárias à segurança do transporte aeronáutico.
diferença d=-,e ser creditada unicamente à variação do N ormalmente instaladas em aeroportos.
macroclima. -..---1 - Estações Agrometeorológicas: objetivam coletar dados
A superfície-padrão sobre a qual são feitas as medidas é meteorológicos de interesse às atividades agrícolas e que por
o gramado. Ele deve ser mantido bem aparado e em boas con- isso realizam algumas observações não encontradas em ou-
dições de crescimento . As dimensões da área gramada da es- ·tros tipos de estação, como temperatura do solo e evaporação.
tação meteorológica devem s er suficientes para acomodar ade- - Postos pluviométricos: são destinados à coleta de chu-
quadamente os equipamentos, principalmente nas estações v as para manejo de recursos hídricos.
convencionais. Essa área deve ser cercada, para evitar acesso
de animais, e sua forma não é o aspecto mais importante, sen- • Quanto ao sistema de coleta de dados
do mais comum o uso de áreas retangulares ou quadradas. - Estações Meteorológicas Convencionais (EMC): a EMC é o
tipo de estação que exige a presença diária do observador
m eteorológico para coleta dos dados. Os equipamentos que
22.3 .1 Estações meteorológicas de superfície con s tam de uma EMC são normalmente de leitura direta, como
os termômetros, ou com sistema mecânico de registro, como o
As estações meteorológicas de superfície podem ser classi- te rmohigrógrafo, o pluviógrafo, o anemógrafo e o actinógrafo.
ficadas de acordo com sua fin~de e pelo sistema de coleta dOli - Estação Meteorológica Automática (EMA): a EMA é o tipo
dados. Elas são também classificadas de acordo com a sua com- de estação que tem a coleta de dados totalmente automatizada.
plexidade em termos do número de elementos meteorológicos Ne la os sensores operam com princípios que permitem a emis -
observados. Os principais tipos estão descritos abaixo. sã o de sinais elétricos, que são captados por um sistema d e
454 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 455
,-
r
aqUlslçao de dados (datalogger), possibilitando o armazena- FIGURA 22.1 Planta
mento e o processamento informatizado dos dados. Apresen- esquemática do posto
ta como principal vantagem o registro contínuo de todos os E3 [QJ
,
agrometeoro lógico d e prim e ira
classe. Adaptado de Pedro Jr. et
elementos, com aquisição e saída dos dados em intervalos que aI. (1987). (1 - Asperg ígrafo; 2 -
o usuário pode programar (por exemplo, aquisição a cada se- ~ .
~
Pluviômetro; 3 - Actinógrafo; 4 -
G
,
o ~
_ .1.... ----:
Geotermômetros; 5 - Tanque
Classe A; 6 - Heliógrafo; 7-
! Plu vióg rafo; 8 - Termômetro de
mínima de relva; 9 - Abrigo
r
esquemática do posto
rológicos (Figura 22.2).
E3 ~
agrometeorológico de segun-
- Terceira classe: também conhecidas como estações ter- da classe. Adaptado de Pedro
, Jr. et aI. (1987).
mo-pluviométricas, por medir apenas a temperatura do ar (má-
(1 - Catavento; 2 - Pluviógrafo;
xima e mínima) e a chuva. São normalmente utilizadas em 3 - Pluviôm etro; 4 - Tanque
propriedades agrícolas, com a finalidade de monitorar o ba- ,~ -
.~ G
t- ' ~ --
Classe A; 5 - Geotermômetros;
6 - Heliógrafo; 7 - Abrigo
lanço hídrico do solo (Figura 22.3). ~ ~. termométrico (termômetros
I
tJ máxima, mínima, seco e úmi-
do, terrnohigrógrafo e
-+ evaporímetro de Piche); 8 -
Termômetro ae-Tnú,-i-rna de
relva).
456 - Pereira, Ange/occi e Sentelhas Agrometeorologia - 457
com diversas redes de estações meteorológicas, sendo a mais pesquisa em Agrometeorologia, visando a gerar informações
importante a coordenada pelo INMET (Instituto Nacional de que auxiliem no planejamento das atividades agrícolas e, prin-
Meteorologia, do Ministério da Agricultura), que conta com cipalmente, na tomada de decisões com relação às práticas es-
mais de 400 estações meteorológicas espalhadas por todos os senciais, tais como: semeadura / plantio, manejo do solo, irri-
estados . Além das estações operadas pelo INMET, cuja a fina- gação, colheita, aplicação de defensivos, e tc. Os tópicos apre-
lidade é a observação sinóptica, mas servindo também para sentados nos capítulos anteriores fundamentam o desenvol-
fins clima tológicos e agrometeorológicos, o Brasil ainda conta vimento de um SIA. Sendo o Brasil um País de dimensões con-
com redes coordenadas por instituições estaduais, como o Ins- tinentais, é inviável pensar-se em um SIA gerenciado por uma
tituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Instituto Agronô- única instituição. As diversidades agrícolas e climáticas regio-
mico do Paraná (IAPAR) juntamente co m o Sistema nais impõem a necessidade de SIAs específicos, gerenciados
Meteorológico do Paraná (SIMEPAR), cada um com mais de localmente. Um SIA deve ser fundamentado em três bases
30 estações espalhadas, respectivamente, nos estados de São principais:
Paulo e Paraná, o Centro Integrado de Meteorologia e Recur- C. Meteorológica: contendo informações obtidas diaria-
sos Hídricos de Santa Catarina (CLIMERH), entre outras. Al- mente em estações meteorológicas, com coleta regular e contí-
gu mas empresas também coordenam rede de es ta ções nua de temperatura e umidade do ar, chuva, velocidade do
meteorológicas, podendo-se destacar a EMBRAPA, a CESP, a v ento, radiação solar, ou, alternativamente, nas estações ter-
CODEVASF, além daquelas de origem privada. O Departamen- mo-pluviométricas com apenas temperatura e chuva0
to Nacional de Água e Energia Elétrica (DNAEE) e similares
estaduais (DAEE), possuem uma ampla rede de estações • Agro-biológica: com informações fundamentais refe-
pluviométricas, abrangendo grande parte do território brasilei- rentes às necessidades bioclimáticas específicas de cada cul-
ro. No Estado de São Paulo o DAEE/SP coordena mais de 1.500 tura, ao calendário agrícola regional, e às inter-relações das
postos pluviométricos; que somados aos postos pluviométricos culturas com suas pragas e doenças;
da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),
DNAEE, SABESP, CPFL e outros, chega-se a mais de 1.900 pon- • Previsão do tempo: com informações básicas geradas
tos de coleta, sendo pelo menos um em cada município. por agências, oficiais ou não, sobre as condições do tempo para
os próximos dias, permitindo inferências sobre o desempe-
nho dos cultivos e as ações corretivas n ecessárias.
22.4 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES
AGROMETEOROlÓGICAS Para a integração dessas informações, em tempo real, é
necessário a utiliz ação de modelos e técnicas agrometeo-
Um Sistema de Informações Agrometeorológicas (SIA) rológicas que geram produtos auxiliares à tomada de decisão,
consiste da operacionalização de técnicas desenvolvidas pela por especialistas da área agrícola. A informação agrometeo-
•
460 - Pereira, Ange/occi e Sente/has Agrometeorologia - 461
rológica gerada é também uma ferramenta auxiliar para enti- • Manejo do solo
dades relacionadas ao financiamento, comércio, e seguro dos Práticas de manejo do solo, como aração e gra d ea ção,
empreendimentos agrícolas. A Figura 22.4 mostra o esquema exigem um nível crítico de umidade no solo p ara que p ossam
básico de funcionamento de um SIA. ser realizadas d e maneira e fici ente, s em cau sa r d a no s
irreversíveis ao solo, tornando-o suscetível à erosão (no caso
de p ouca umidade) ou à compactação (no caso d e excesso de
Dados Meteorológicos
de superfície: Previsão d o T e mpo
umidade). Por meio do balanço h ídrico climatológico (ver
T,UR,P , u , RS Capítulo 13), é possível o aconselhamento para tais a tiv idades.
• Fitossanidade a que a cultura foi submetida durante o seu ciclo (ver Capítul o
Pragas e doenças somente se proliferam sob condições 20). Isso subsidia previsões do rendimento.
ambientais que lhes sejam favoráveis (ver Capítulos 16 e 17).
Caso tais condições não sejam satisfeitas, o controle por de- • Risco de incêndios
fensivos torna-se desnecessário, implicando em redução no Por meio de técnicas simp les que utilizam dados
custo de produção e melhora na qualidade dos produtos. meteorológicos, é possível monitorar o grau de inflamabilidade
Quando o controle artificial se torna necessário, especialmen- de matas e florestas, ou seja, o risco de ocorrer incêndio (ver
te via pulverização com produtos químicos, este somente de- Capítulo 17). Com isso, pode-se evitar atividades problemáti-
verá ser realizado após consulta à previsão do tempo, pois cas, como o uso de queimadas, ou se realizar práticas para
chuva após pulverização provocará lavagem do produto apli- minimizar o a lastramento do fogo, como os aceiros (isolamento
cado, implicando em baixa eficiência de controle e contamina- das áreas de risco).
ção do solo e mananciais de água .
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