Você está na página 1de 8

QLJZ/ Acervo

_),K | s A

Associações Indígenas e
Desenvolvimento Sustentável
na Amazônia Brasileira

Bruce Albert Pesquisador do Convênio ISñ-CNPq-IRD

As Assoc|AçõEs INDÍGENAs Dos ~ O processo de multiplicação dessas associações tem sua origem
ANos 199o; ENTRE A NovA coNsnTulçAo na encruzilhada de vários processos sócio-políticos gerais,
E o "MERCADO DE PROJETOS" interagindo em nível nacional e internacional. No plano interno,
deve-se salientar, primeiro, a promulgação da Constituição de 1988
cujo artigo 252 abriu a possibilidade destas associações se consti
Constata-se na Amazônia, a partir do fim dos anos 1980, um pro tuírem como pessoas jurídicas. 0 segundo fator importante, a ní
cesso extremamente dinâmico de criação e de registro de associa
vel nacional, foi o processo de retração do Estado da gestão direta
ções indígenas na forma de “organizações da sociedade civil"
da “questão indígena” (restringindo-se, basicamente, a suas res
(OSC). Para se ter uma idéia da escala do fenômeno basta dizer
ponsabiiidades em matéria territorial)2 e o esvaziamento político
que existiam apenas dez destas associações antes de 1988 (Alto e
orçamentãrio da Funai, criada hã três décadas pelo regime militar
Médio Solimões, Manaus, Alto Rio Negro, Roraima) e que são hoje
no quadro de suas políticas de desenvolvimento da Amazônia.
mais de 180 nos seis estados da Amazônia Brasileira: AM, R0, RR,
AC, PA, AP (provavelmente mais de 250 na Amazônia Legal). Ou No plano externo, o primeiro fator foi certamente a globalização
seja, foram quase multiplicadas por 20 em pouco mais de uma das questões relativas ao meio ambiente e aos direitos das minori
década (ver lista em anexo e tabela 1).l as ao longo dos anos 70 e 80, bem como a crescente colaboração
entre ONGs ambientais e sociais em projetos que integrassem ob
Estas associações têm características diversas. A maioria é local
jetivos de conservação e preocupação pelo desenvolvimento co
(grupo de comunidades, bacia de um rio), representante de um
munitário - fenômenos que tiveram seu ritual de consagração na
povo ou regional. Varias são constituídas com referência a ativida
ECO 92 no Rio de Janeiro. O segundo, foi a decisiva descen
des profissionais ou econômicas (professores, agentes de saúde,
tralização da cooperação international, hoje igualmente reorientada
produtores, cooperativas). Existe também uma importante rede
para interlocutores da sociedade civil organizada, para o desen
de associações de mulheres, bem como diversas associações de
volvimento sustentavel e o incentivo a implementação de micro
estudantes indígenas. Embora ainda poucas tenham infraestrutura
projetos locais.
própria, a grande maioria destas está registrada em cartório ou
em processo de legalização, desempenhando regularmente fun O recente boom das associações indígenas tem, portanto, como
ções políticas de articulação interna e de representação interétnica. condições fundamentais de possibilidade, por um lado, o quadro
jurídico progressista da nova Constituição e, do outro, o “merca
Uma parte considerável e crescente dessas organizações indígenas tem
do de projetos ” aberto pela cooperação bi e multilateral e pelas
hoje acesso a fontes de recursos externos sob a forma de “projetos”
ONGs internacionais, seguidas pelos crescentes investimentos pú
destinados a diversos fins: gestão territorial, manutenção institucional,
blicos nacionais no setor das OSC (Ministérios do Meio Ambiente,
organização de assembléias e encontros, programas de saúde e de
da Saúde e da Educação).
educação, iniciativas relativas a auto-sustentação e comercialização,
divulgação e reafirmação culmral etc. Neste contexto, hoje é cada vez
UMAl MU'rAçÃo Do “MOVIMENTO ,
mais difícil distinguir entre associações “com” ou “sem projetos”; a rNmonNA't: DA ETNIcIuADE PoLrrlcA
diferença passa a ser entre associações que têm acesso a fontes de
línanciamento diversificadas, amplas e regulares (associações regio
A ETNIcIDAnE DE RESULTADOS?
nais, geralmente urbanas) e associações que contam apenas com al Esta combinação de tendências e dinâmicas produziu não somen
gims financiamentos reduzidos e pontuais (asstfiações locais, rurais). te um crescimento acelerado do número de associações indígenas

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL WQS/'2060 - INSTITUTB SUCIUAMBlENTAL oneANlzAçüEslNuiGi-:NAS 191


na - azônia, mas também uma considerável mutação qualitativa Praticando uma sutil dialética entre ação de protesto (na defesa' `,`
do papel do “movimento indígena” no debate/embate político a genérica ou específica dos direitos indígenas) e a busca de parti
propósito do modelo de desenvolvimento da região. cipação, estas associações são hoje cada vez mais reconhecidas
como atores do desenvolvimento socioambiental regional nos
` 'De fato, as primeiras e poucas organizações indígenas criadas nos
fóruns oficiais onde negociam diretamente e em função de suas
anos 1980 eram associações informais, politicamente ativas, po
próprias estratégias, tanto com administrações públicas, quanto
rém pouco institucionalizadas e voltadas, essenciahnente, para
com agências de cooperação, ONGs ou empresas (negociadoras
reivindicações territoriais e assistenciais dirigidas a um Estado tu
de produtos “verdes”ou provedoras de indenizações).
tor, considerado [alho nas suas responsabilidades legais e sociais.
A partir dos anos 1990, temos na Amazônia associações legaliza Em função dessa legitimação crescente, as associações indígenas
das, com estatuto, CGC e conta bancária, assumindo cada vez mais desenvolvem seus projetos a partir de um conjunto bastante diver
funções que o Estado deixou de desempenhar diretamente, reme sificado de financiamentos nacionais e internacionais. Do lado dos
tendo em grande parte sua execução ou seu financiamento, por financiamentos internacionais, há os fundos de cooperação multi
um lado, a esfera local (municípios, estados) - em matéria de edu lateral (Banco Mundial, Comunidade Européia)5 e de cooperação
cação ou de saúde-a - e, por outro, ã rede das agências de coope bilateral (em que predominam os países norte-europeus), os fun
ração bi e multilateral e das ONGs internacionais (no domínio dos dos de várias ONGs leigas ou ligadas a redes de financiadoras reli
projetos de auto-sustentação econômicafi. giosas (ONGS que frequentemente também intermediam financia
mentos de cooperação). Em certos casos, os financiamentos tam
Passamos, assim, de um movimento conflitivo de organizações e bém podem vir através de projetos apoiados por empresas “tradi
mobilizações etnopolíticas informais (anos 1970 e 1980), que ti
cionais” interessadas em produtos com alto valor emo-ecológico
nha por interlocutor o Estado, para a institucionalização de uma
agregado, como a BodyS/aop (Inglaterra), aAoeda (Estados Uni
constelação de organizações onde as funções de serviço, econômico e
dos) ou a Homes (França), ou mesmo ser substituídos por par
social, são cada vez mais importantes e cujos interlocutores perten cerias comerciais privilegiadas com empresas “militantes” do cir
cem ã rede das agências linanciadoras nacionais e internacionais, quer cuito do “comércio equitável” (como as empresas importadoras
sejam govemamentais ou não-governamentais (anos 1990-2000). do Guaraná Satéré-Mavvé na Europa: Guayapi' Tropical na França,
Paralelamente, mudamos de uma dinâmica de construção Cooperation Temo Mondo na Itália).
identitãria sustentada por um conjunto de lideranças indígenas
Do lado nacional, há fundos oriundos de convênios firmados com
carismáticas (com discursos político-simbólicos neo-tradicionais
diversas administrações municipais, estaduais ou federais no campo
de muito impacto na midia), para uma fase de certa rotinização do
de educação, saúde e meio ambiente ou, algumas vezes, de indeni
discurso étnico (nos moldes da retórica internacional do desen
zações de grandes empresas estatais ou err-estatais, como a Vale
volvimento “etno-sustentável” herdada das agências financiadoras),
do Rio Doce ou a Eletronorte. Existem, por fim, alguns financia
' apoiada em um novo conjunto de jovens quadros de organizações
mentos disponibilizados por ONGs nacionais, ainda que muitas
indígenas formados cada vez mais em administração de associa
vezes também oriundos de ONGS ou agências de cooperação inter
, ções e gestão de projetos.
nacionais e apenas repassados para organizações indígenas.
Passamos progressivamente, portanto, na virada dos anos 1980/
90, de uma forma de etnicidade estritamente política, embasada
em reivindicações territoriais e legalistas (aplicação do Estatuto pa DEiviARcAçÃo DAS TERRAS INDÍGENAS
do Índio), para o que se poderia chamar uma etm'ct'dade de re A GESTAO Dos SEUS REcuRsos NATURAIS
suliados, na qual a afirmação identitária se tornou pano de fundo A evolução do processo de territorialização dos grupos indígenas
para a busca de acesso ao mercado e, sobretudo, ao “mercado iniciado no contexto dos grandes projetos públicos de desenvolvi
dos projetos” internacional e nacional aberto pelas novas políticas mento da Amazônia dos governos militares (a partir do quadro
descentralizadas de desenvolvimento (local/sustentável). jurídico-administrativo do Estatuto do Índio de 1975) pode ser
Assim, neste contexto de retração progressiva do Estado da cena igualmente considerada um fator determinante na mutação recen
indigenista, além de suas funções tradicionais de articulação e re te dos parãmetros da questão indígena na região.
presentação política (cuja intensidade tende a diminuir com a re
fase mais intensa de reafirmação identitária e de mobilização
solução das pendências territoriais), estas organizações desempe
f etnopolítica do movimento indígena - a sua fase de “movimento
nham hoje, e cada vez mais, funções assistenciais, gerenciando
z social” propriamente dito - deu-se durante o intenso e sofrido pro
projetos de demarcação e vigilância territorial, projetos sanitári
_; cesso de “diálogo conflitivo” com o Estado para a demarcação das
os, educativos, culturais e sociais (como a gestão de aposentados
terras indígenas ao longo das décadas de 1970 e 1980.
indígenas da APITU no Amapá), bem como diversos tipos de pro
jetos econômicos e comerciais (projetos agro-florestais e Depois de quase três decênios, esta dinâmica, se não concluída,
agropecuários; projetos de piscicultura, artesanato, produtos tem ao menos e pela primeira vez, um horizonte de conclusão. Os
florestais, etc). 160 povos indígenas da Amazônia dispõem hoje de um conjunto

19s I oRGANizAçõEstNoloENns POVOS INDÍGENAS Nfl BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SUCIUAMBIENTAL


terras reservadas, sendo que 71,6% destas áreas gozam de TERRAS INDÍGENAS E _.
reconhecimento legal em diversos graus (terras delimitadas, ho UNIDADES DE CONSERVAÇAO
mologadas ou registradas). A regularização das últimas terras in
0 contingente demográfico dos povos indígenas da Amazônia legal
dígenas da região avança a passos rápidos, ainda que falte resolver
representa 251.610 pessoas, ou seja, 1,2% da população total da
varios casos importantes (como o da Terra Raposa Serra do Sol
região?` A primeira vista, esta baixa proporção pode levar a ques
em Roraima) e que a maioria das terras indígenas ainda sofram
tionar o interesse em se preocupar com a incidência deste seg
alguma forma de invasão. Entretanto, para ter uma idéia do ritmo
mento social na problemática de um desenvolvimento regional sus
desta territorialização indígena, é preciso lembrar que, desde ja
tentável. Entretanto, abordar a dirnensão ambiental da questão indí
neiro de 1995, foram homologadas no país 115 terras indígenas,
gena nesses termos seria absolutamente superficial e equivocado.
cobrindo uma área de 3155.4457 km2.6
Nessa última fase do processo de territorialização começado na Em virtude dos direitos históricos de uso exclusivo das terras que
década de 1970, o movimento indígena situa-se num horizonte de ocupam tradicionalmente (artigo 251 da Constituição Federal), os
atuação onde o principal referencial de reivindicação que o opu índios da Amazônia dispõem hoje de um notável domínio de terras
nha ao Estado e a partir do qual ele se construía politicamente, reservadas, constituído ao longo de quase trinta anos de reivindi
está se esvaziando. Mas, se este confronto fundador com o Estado cações jurídico-administrativas perante o Estado e de confrontos
sobre a questão da terra tende a se dissolver com a diminuição das agudos com diversos interesses regionais. Estas terras formam um
áreas em litígio, ele também se reduz em importância em função arquipélago de 375 territórios cobrindo uma superfície de
do próprio desengajamento do Estado com relação a questão indí 1.023.499 km2, ou seja, 20,4 % daAmazônia legal (27,8% paraas
gena, na qual parece limitar-se hoje a um papel de arbitragem 215 terras indígenas dos seis estados da Amazônia Brasileira). Em
indeciso ou oportunista entre mobilizações não-govemamentais e terrnos ambientais, estes números significam que 50,8% da superfície
interesses politico-econômicos locais. da floresta ombrófila densa (421.507,68 km2) e aberta (258.652,16
km2) daAmazônia legal estão inseridos em terras indígenas. *0
De fato, tanto por desinteresse político (prioridades macro-eco
nômicas) quanto por vácuo conceitual (ausência de reforma de Estes números devem ser comparados com a superfície das unida
uma administração indigenista obsoleta)l, o Estado parece ter desis- ' des de conservação (federais e estaduais) na Amazônia. Existem
tido do planejamento de uma política indigenista de intervenção na região 66 unidades de conservação de uso indireto (Parques
direta. Limita em grande parte sua intervenção ao prosseguimento Nacionais, Reservas Biológicas, Estações e Reservas Ecológicas,
da legalização e desintrusão das terras da União consideradas de áreas de relevante interesse ecológico). Estas unidades cobrem
uso exclusivo das populações indígenass. Por outro lado, ele trans 1922855 km2, ou seja, somente 5,8% da superfície da Amazônia
legal.ll Se se acrescenta a elas as unidades de aso direto (Flores
fere o essencial da responsabilidade dos serviços públicos dire
cionados às populações indígenas, seja para a esfera local por via tas Nacionais, Reservas extrativistas e Áreas de proteção ambiental)
de descentralização (educação e saúde indígena estadualizadas e - 87 unidades cobrindo 360.274,7' km2 - chega-se a um total de
municipalizadas), seja para a esfera global por via de terceirização 155 unidades de conservação cobrindo de 552.560,2 km2, ou seja,
(responsabilidade do apoio econômico as comunidades indígenas 11% da Amazônia legal. Entretanto, em muitos casos, estas unida
em grande parte transferido para a cooperação internacional). des de conservação se sobrepõem parcialmente umas as outras ou
com terras indígenas e até com áreas reservadas para usos incom
Neste contexto de "pós-territorialidade” e de retração do Estado, patíveis (tais como Terras militares ou Reservas garimpeiras). A
as sociedades indígenas estão hoje expostas, além da problemáti superfície total destas superposições chega, assim, a 168.0l0,7
ca tradicional da proteção territorial e da conquista da cidadania, km2,E2 reduzindo a superfície efetiva das unidades de conservação
a novos desafios que consistem na manutenção de complexas re em 7,7% da região. Isto significa que, na Amazônia legal, a super
des sócio-políticas externas a fim de garantir acesso a fontes de fície das terras indígenas é praticamente três vezes maior que o
financiamentos de programas sociais, sanitários e educativos adap total das unidades de conservação. Além disso, somente 25,4% da
tados a sua realidade cultural e, sobretudo, na viabilização, com o floresta ombrófila densa (2916589 km2) e aberta (78.0669 km2)
apoio dos mesmos canais, de um modelo de gestão econômico da região estão inseridos nestas unidades”, menos da metade da
ambiental dos recursos naturais de suas terras. superficie inserida em terras indígenas.
Para enfrentar estes novos desafios, elas têm hoje como principais
Esta importância geográfica da terras indígenas deveria por si só
interlocutores, não mais um Estado tutelar e clientelista onipoten
torna-las objeto de uma atenção privilegiada nas políticas públicas
te, mas uma rede diversificada de administrações públicas e agên
de preservação ecológica e de desenvolvimento sustentável na Ama
cias financiadoras com as quais devem negociar um leque de
zônia. Mas há outros fatores que reforçam ainda esta relevância
multiparcerias a fim de garantir a continuidade de sua reprodução
ambiental. As terras indígenas são areas reservadas de domínio da
social e cultural em um novo contexto de interligação permanente
União e o Código Florestal (Lei 4771 de 15/9/65, Artõ, §3) consi
entre os níveis regional, nacional e internacional.
dera-as como áreas de preservação permanente. São regiões de
alta relevância para estudo e conservação da biodiversidade: uma

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1090.9000 - lNSTlTUTU SDCIDAMBIENTAL onsANlzAcõEsINoíeENAs l 19s


Acervo
ISA
pesquisa recente comprovou que 76% das áreas de extrema e alta das da região).19 Muitas são invadidas e têm seus recursos natu
importância biológica na Amazônia estão inseridas em terras indí rais explorados de maneira indiscriminada. Além disso, estima-se
genas.14 Elas são habitadas por povos cujo modo de exploração que aproximadamente 50% das unidades de uso indireto têm po
dos recursos é na grande maioria tradicional ou neo-tradicional e pulações residentes (como no caso do Parque do Pico da Neblina,
cujos conhecimentos e técnicas acumuladas em milhares de anos terra dos índios Yanomami, o Parque do Jaú com ribeirinhos e o
de experimentos agronômicos e biotecnológicos constituem um Parque da Serra do Divisor com seringueiros).
considerável patrimônio de conhecimentos práticos e de varieda
Entretanto, a nova lei do Sistema Nacional de Unidades de Conser
des vegetais. Por último, a densidade de ocupação humana destas
vação (Lei n° 2.892-Art42) só admite como solução para a pre
áreas é geralmente muito baixa: 0,19 hab/lim2 em média para as
sença de “populações tradicionais” nestas “Unidade de Proteção
terras indígenas dos seis estados da Amazônia Brasileira - ver ta
Integral” a sua remoção e reassentamento (a não ser em caso de
bela 1 (a média para a população total da Amazônia legal e de 5,6
hab/km2)l5. Existem, obviamente, exceções a este nível de baixa superposição com áreas indígenas - Art. 57). Esta “solução” um
tanto rígida do esvaziamento das unidades de uso indireto de suas
densidade demográfica: as terras Tikuna do Alto Solimões situam
se, por exemplo, numa média de 15 hab/kmZ (5 hab/km2 para os populações tradicionais, em detrimento de soluções mais prag
máticas (contratos de uso, reclassificação), parece, ao contrário
índios do médio Solimões), incluindo casos incomuns como aT.I.
de seus objetivos, enfraquecer as possibilidades reais de preservar
Umariaçu com 88,6 hab/km2, ou aT.I. de Santo Antônio com 102,82
hab/km1.ló Entretanto, temos na Amazônia vastas terras indígenas, as áreas em apreço, enquanto as experiências da última década na
como o Aripuanã com 0,02 hab/km2, o Parque do r[umucumaque Amazônia tendem a demostrar que não se tem política de conserÍ `
vação realista sem envolvimento sócio-político e econômico das
com 0,03 hab/km2, o Vale do Javari com 0,04 hab/km2, o Médio populações locais organizadas.zu
Rio Negro II com 0,08 hab/km2, a terra Kayapó com 0,09 hab/
km2, a terra Yanomami com 0,12 hab/km2, o Parque do Xingu Deste modo, pode-se considerar que as unidades de conservação
com 0,14 hab/km2 a terra Nhamundá-Mapuera com 0,15 hab/ de uso indireto da Amazônia não somente sofrem as mesmas ame
km2 ou o Alto Rio Negro com 0,18 hab/km2.” aças que as terras indígenas, mas têm ainda o agravante de não
admitirem a presença de populações cuja sobrevivência depende
TERRAS I,NDÍGENAS E DESENVOLVIMENTO da sustentabilidade de seu uso e que sejam, assim, capazes de
SUSTENTAVEL: ARGUMENTOS mobilização social para defender seus limites e sua integridade
E CONTRA-ARGUMENTOS ambiental. A ideologia intransigente da preservação integral pare
Esmdos concretos já demostraram a importância das áreas indí
ce aqui reforçar a vulnerabilidade destas áreas em nome do hori
zonte duplamente utópico da manutenção de ilhas de “vazio hu
genas para a preservação da cobertura florestal amazônica. Fotos
mano” na Amazônia; útopica em função tanto das realidades geo
de satélites do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam,
gráfico-sociais da região quanto da falta de recursos do órgão res
assim, o Parque do Xingu (MT) como um bloco de floresta ilhado
pelo desmatamento intensivo.IB Entretanto, permanece uma certa ponsável pelas áreas protegidas).
reticência, entre ambientalistas adeptos da preservação integral 0 segundo contra-argumento - o mais freqüente - é que os índi
(oficiais ou não governamentais), contra a visão das terras indíge os, em função de suas novas aspirações sociais e econômicas numa
nas da Amazônia enquanto possíveis áreas de preservação ambiental situação de contato crescente, podem desenvolver - e em certos
e de uso sustentável da floresta. Três contra-argumentos são geral casos já estariam desenvolvendo - atividades econômicas destrutivas
mente opostos a esta idéia; contra-argumentos, provavelmente, para o meio ambiente. A isso pode-se opor uma série de objeções.
baseados num certo desconhecimento da realidade Social e
ambiental das terras indígenas. A primeira é que, se todos os povos indígenas mantêm algum tipo
de relação econômica com o mercado, na imensa maioria dos
O primeiro contra-argumento observa que a maioria das terras
casos, estas relações permanecem num espectro de baixo impacto
indígenas já sofrem de várias formas de invasão - por garimpei ambiental, na forma de trocas/trabalhos esporádicos, de sistema
ros, madeireiros, fazendeiros, colonos etc. - e que estas invasões,
tradicional de aviamento, ou de projetos comunitários mediados
certamente, vão se intensificar em função do desenvolvimento das por instituições assistenciais (Funai, missões, 0NGs)É“ São bas
atividades econômicas e dos fluxos migratórios nas regiões onde tante raras na Amazônia as situações em que as comunidades indí
se encontram as maiores áreas florestais ainda pouco afetadas. genas dependem essencialmente do mercado para seu consumo e
Esta pressão sobre as terras indígenas e sua previsível acentuação sobrevivência básicos, como é o caso de certas aldeias tikuna, con
desqualificariam, assim, o aspecto da sua dimensão de preserva finadas em áreas indígenas reduzidas e densamente povoadas, com
ção ambiental. escassos recursos naturais (ainda submetidos à predação de inva
Entretanto, esta situação de ameaça ecológica não é em nada es sores), e localizadas na periferia de centros urbanos do alto
pecífica as terras indígenas. Poucas unidades de conservação na Solimões (caso também dos Munduruku das áreas Praia do Man
Amazônia são efetivamente implantadas e fiscalizadas (há apenas gue e Praia do Índio, na periferia de Itaituba no Pará).
um funcionário do Ibama para cada 2 mil km2 em áreas protegi

ZIJI] ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS PUVUS INDÍGENAS NU BRASIL 1995/2000 - iNSTI'i'UTO SOCIUAMBIENTAL


o gualmente minoritários entre os 160 povos indígenas da Ama (citadino/deculturado), este modelo só inverte, de fato, a visão
zônia - apesar de serem regularmente destacados pela mídia - os colonial-evolucionista tradicional segundo a qual ir da floresta ã
casos de grupos associados a atividades predatórias desenvolvidas cidade era percorrer o caminho do primitivo ao civilizado.
em suas terras por agentes econômicos das fronteiras regionais,
A atual realidade sociológica e cultural dos povos indígenas tem,
como garimpeiros e madeireiros.22 Além disso, estas situações,
obviamente, pouco aver com esta ideologia “retro-evolucionista"
longe de configurar sistemas econômicos coletivos, envolvem em e seu dualismo campo/cidade. De fato, longe disso, assistimos hoje,
geral apenas alguns indivíduos (lideranças e suas famílias), como
em várias regiões, a um certo remanejamento dos coletivos indí
é o caso da venda de madeira entre os Cinta Larga (Rondônia e genas na forma de espaços sociais transversais - verdadeiras “co
Mato Grosso) ou os Kayapó (Pará), venda de madeira, aliás, sele munidades multilocaisi'ifi em escala regional - que articulam re
tiva e que não envolve exploração em grande escala ou, ainda
des de parentesco e fluxos de bens e pessoas entre vários pólos
menos, um desmatamento sistemático.
situados na floresta e na(s) cidade(s). Assim, esta expansão \.
Assim, a escala local destas atividades é totalmente incomparável translocal dos campos sociais indígenas e suas dinâmicas de mo
com a magnitude dos empreendimentos econômicos “brancos” bilidade interna entre aldeias e cidades não pode ser confundida,
na Amazônia, e seu impacto ambiental permanece relativamente sob pena de se incorrer em cegueira conceitual, com um processo
marginal em função da densidade populacional das terras indíge de migração das aldeias para as cidades.
nas em apreço, geralmente, extremamente baixa (0,02 hab/kmz
para os Cinta Larga do Aripuanã, 0,09 hab/km2 para os a Terra ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS E I
Indígena Kayapó). Além do mais, estas atividades predadoras de DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVELQd
segmentos de algumas sociedades indígenas podem ser geralmente POTENCIALIDADES E INTERROGAÇOES
revertidas quando são oferecidas e apoiadas altemativas aos mode No debate sobre as potencialidades das terras indígenas enquanto
los econômicos herdados da fronteira regional. Pode-se dar aqui áreas de preservação ambiental e de desenvolvimento sustentável,
alguns exemplos, como o projeto de manejo sustentável de madei deve-se, portanto, evitar tanto o estereótipo dos índios ecologistas
ra elaborado peio ISA com os Kayapó-Xikrin (Para) ou do projeto ("antênticos”), quanto a caricatura inversa dos índios predadores
de garimpo de baixo impacto ambiental do CTI com os Waiãpi (“aculturados”), baseada na idéia redutora de que o sirnples acesso
(Amapá) ou, ainda, os projetos de criação de gado leiteiro desenvolvi das sociedades indígenas ao mercado fatalmente transforma seus
dos pela ONG italiana Manitese com os Tembé e Assurini (PA).
membros em agentes de destruição do meio natural.
0 terceiro contra-argumento oposto a uma visão das terras indíge As formas de mudança no uso dos recursos naturais pelas socie
nas da Amazônia enquanto áreas de preservação ambientai apre dades indigenas depende, na realidade, do leque de opções sócio
senta-se, enfim, sob a forma de uma posição segundo a quai o econômicas e políticas oferecidas para sua articulação com a cha
processo de intensificação do contato sustentaria, a longo prazo, mada “sociedade envolvente" (nas suas vertentes regionais, naci
uma migração dos povos indígenas (ou de parte substancial de onais e internacionais). Assim, a “sociedade envolvente” já não se
les) para as cidades regionais ou capitais da Amazônia, acarretan limita mais, para os índios, ã dimensão local de interação com os
do o abandono progressivo das áreas indígenas para formas de protagonistas tradicionais da frente de expansão regional (garim
exploração não indígenas. Nesse aspecto, os índios seguiriam uma peiros, colonos, madeireiros, fazendeiros etc.) . 0 universo de arti
tendência geral na região amazônica onde o grau de urbanização culação das sociedades indígenas com o “mundo dos brancos ”
era em 1996 de 61%, contra 45% em 1980.23 tem se complexificado consideravelmente ao longo das três úl
A presença indígena nas cidades da Amazônia é relativamente im timas décadas.
portante e inegável. Apesar do fato de que sua flutuação torna qual Nas décadas de 1970 e 1980, as sociedades indígenas começaram
quer recenseamento bastante precário, esta presença foi estimada a conquistar um espaço no cenário político nacional contemporâ
em 20.075 pessoas no seis estados da Amazônia Brasileira” no neo. Nos anos 1990, elas viram este espaço se expandir em escala
censo do IBGE de 1991, ou seja, 10,8% da população indígena to mundial e se desdobrar em um leque de novas potencialidades
tal da região. Este fenômeno de deslocamento para os centros ur sócio-econômicas. Os índios daAmazônia não têm mais como único
banos tem por origem vários fatores, incluindo conflitos e padrões referencial econômico pós-contato o modelo predatório da fron
de mobilidade tradicionais, e não somente a busca espontânea de teira local ou o modelo agrícola neo-colonial do indigenismo tute¬
mobilidade social (emprego, educação) e/ou a indução por agentes lar (os “Projetos de Desenvolvimento Comunitário” da Funai).27 O
de contato (missionários, indigenistas, atores econômicos regionais) .15 processo de descentralização e a interligação crescente do local
ao global, fora da mediação do Estado, põem hoje ao seu alcance
Entretanto, o argumento de um futuro esvaziamento das terras in
um universo complexo de fontes de financiamento, recursos téc
dígenas por emigração remete a um modelo sociológico tão ina
nicos e canais de decisão desde o município até o Banco Mundial.
dequado quanto obsoleto. Baseado numa oposição caricata entre
índios “aldeados” e “desaldeados” e na idéia redutora da passa Este conjunto potencial de parcerias constitui o quadro sócio-po
gem de mão única de um estado social (rural/tradicional) a outro litico no qual se desenvolveram e no qual operam as mais de 250'

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1996.0000 - INSTITUTD SDCIUAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 201


1: Associações, Povos E TERRAS mDíGENAs NA AMAZÔNIA BRAsuErRA
Amazonas Rondônia Acre Roraima Para Amapa Totais
N° Organizações indígenas 90 51 22 18 16 6 183
N” de etnias 74 30 '11 15 36 9 146 ('*i
População indígena 99.604 10.826 9.655 51.522 28.445 5.654 185.486

% população indígena país 35,20% 5,61% 5,22% 10,44% 9,48% 1,88% 61,85%
N° de terras indígenas 107 18 24 26 35 5 215
superfície / low' 441.523,33 60.783,54 19.407,59 154.545,42 280.249,66 41.965,21 998.472,75
% Superfície Norte 12,29% 1,69% 0,54% 4,50% 7,80% 1,17% 27,80%

N° de Un. de Conservação (**) 29 6 6 7 15 6 69


Superfícíe/ km2 153.016,74 21.838,01 23.543,07 58.271,28 49.596,20 22.067,76 315.135,06

% Superfície Norte 4,40% 0,61% 0,65% 1,07% 1,38% 0,61% 8,72%

(*): a presença dos mesmos povos ein varios estados faz que o total de povos é inferior a soma dos povos em cada estado.
(W): unidades de conservação federais e estaduais de uso indireto.

Fontes - Terras indígenas: banco de dados ISA 05/2000 (pesquisa F. Ricardo); Unidades de conservação: Mapa Amazônia 2000 ISA 12/1999 (pesquisa F. Ricardo) -
população indígena : FUNASA - fevereiro 2000 f dados geográficos : website IBGE.

Nota: As associações indígenas dos Seis estados da Amazônia Brasileira são atualmente objeto de pesquisa realizada pelo autor no contexto (le um projeto de cooperação
lSA-CNPq-IRD. Para se chegar a um número aproximado de organizações indígenas na Amazônia legal pode-se acrescentar aos números apresentados na Tabela 1 dados
oriundos de levantamentos indiretos como :
- L. Donisete Beizzi Gmpt'om', 1999: “Diretório de associações e organizações indígenas no Brasff'. São Paulo: Inep/MEC, i1i'ari7USP.'ilfato Grosso = 48, Tocantins = 9,
Maranhão = 12, ou seta 69 associações ;
- AM4, 2000: “PDM-Projetos Demonstrativos dos Pocos indígenas. Documento do Projeto. Anexo VH Brasília: MAM-Secretaria de Coordenação daAmazo'uta :
Mato Grosso = 38, Tocantins = I 0, Maranhão = 5 , ou seja 53 associações.

associações indígenas da Amazônia legal para articular seus pro vas expectativas materiais e sociais das suas comunidades de refe
jetos de desenvolvimento social e econômico. É, portanto, a partir 7 r rência, envolvendo seus membros em projetos locais de explora
da inter-mediação que estas associações garantem entre suas po ção dos recursos naturais que sejam, ao mesmo tempo, não pre
pulações de referência e o universo das parcerias disponíveis que datórios e capazes de promover uma certa auto-sustentação
serão definidas as condições sociais e políticas de possibilidade econômica das areas indígenas. Nesse contexto, não devera se ne
para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável das gligenciar o lugar da diversificação complementar das atividades e
terras indígenas da Amazônia. Quatro parâmetros políticos e soci recursos econômicos extra-locais (ver acima nossa observação
ais fundamentais, externos e internos, muito provavelmente, con sobre o novo espaço translocal das comunidades indígenas), tam
di-cionarão o sucesso desta dinâmica. bém suscetível de aliviar o peso dos recursos naturais da floresta
O primeiro desses parâmetros será a possível capacidade destas I na formação da renda das comunidades e, portanto, de contribuir
organizações de continuar a mobilizar as redes de apoio e a mídia para a preservação ambiental de suas áreas.28
nacional e, sobretudo, internacional, ao redor de temáticas etno O último, porém não menos importante desses fatores, diz respei
ambientais que permitem manter um nível suficiente de pressão to ã determinação e a lucidez política que serão necessárias
sobre o Governo federal para induzi-lo a manter as conquistas diretorias das associações indígenas para contornar as novas for
territoriais do movimento indígena destes últimos 25 anos contra inte mas de subordinação e de clientelização no gerenciamento dos
resses econômicos locais e fluxos migratórios regionais crescentes. novos projetos socioambientais, não somente no contexto das re
O segundo parâmetro, associado ao anterior, residirá na çficiên lações que lhes são impostas pelas agências de financiamento (ou
cia política das associações para incentivar a elaboração de políti de comercialização), mas, igualmente, no contexto das relações
cas públicas e não governamentais de escaia apropriada, destina que elas mesmas constroem com os demais membros das suas
das a investir no conhecimento da biodiversidade e na gestão eco sociedades. A esse desafio acrescenta-se a complexa tarefa de ad
nômica sustentável das suas terras, envolvendo estreitamente seus ministrar as formas de diferenciação social e cultural surgidas no
habitantes e tomando em conta seus projetos sociais específicos. processo de transformação sócio-econôrnica induzido por estes
novos projetos de etnodesenvolvimento. (outubro, 2000)
O terceiro parâmetro, desta vez interno, remete ã possibilidade
das associações indígenas traduzirem esta expressividade políti Agradecimentos: Agradeço a M. Carneiro da Cunha, M. Fraboni,
co-institucional em autonomia econôrnica para as populações que W. Milliken, F. Pinton, A.R. Ramos, CA. Ricardo, F. Ricardo e a equipe
se'encarregam de representar. O desafio está em satisfazer as no editorial do ISA por seus comentarios e/ou revisão final do texto.

znz oseANlzAçüEslNoísrNAs POVOS INDÍG ENAS NG BRASIL 1996/2000 - iNSTiTUTO SOCIOAMBIENTAL


. , jetória deste movimento desde o fim dos anos oitenta ver 0.a. Ricardo, 1991: "1. Ver, sobre a preocupante situação ambiental Tikuna: D. Lima, 1999: “Povos indígenas
“Quem fala em nome dos lndiosl", in: Povos Indígenas no Brasil 1987/90. São Paulo: e ambientalismo - As demandas ecológicas de índios do Rio Solimões", MS.
ISA. pp. 69-72 e 1996: “Quem fala em nome dos Índios (II)?”, in: Pot/os Indígenas no
Brasil 1991/1995. São Paulo : ISA. pp. 90-94. 'Í Cálculos a partir da Tabela Terras indígenas nonmazõm'a Legal do Mapadmazânia
Brasileira 2000, ISA.
2. Mesmo assim, em 2000, só 2% do orçamento federal para ações indigenistas foram
"1. Ver o artigo de A. Villas-lidas c M. Campanili, 1999: "Terras indígenas protegem flores
alocados a fiscalização das terras indígenas (Funai) e menos de 1% a iniciativas de
gerenciamento e recuperação ambiental (via MMA e Funai). Ver Hélcio Marcelo de Sou ta Amazônica", Parabólicas 49.
za, 2000: “Políticas Públicas para povos indígenas: uma analise a partir do orçamento", 19. Ver G. Sales, 1996: “O sistema nacional de unidades de conservação: o estado atual`I
Nota Técnica Inesc ¡1"38 (9/10/2000). no documento “Presença humana em unidades de conservação". Brasília; Iparn-lSit
PPGT-WWF-CDCMAWCD.
5. Cerca de 52 % do orçamento indigenista federal (via Funasa-MS) foram alocados em
2000 H 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) articulados ao Sistema Único 2”. Ver o exemplo da Reserva de desenvolvimento sustentável de Mamirauá (D. Lima 1997:
de Saúde e gerenciados em parceria com organizações indígenas, organizações näo-go "Equidade, desenvolvimento sustentável, e preservação da biodiversidade: algumas ques
vernamentais e, sobretudo, prefeituras municipais. Só 1,4% foram especificamente desti tões sobre a parceria ecológica na Amazônia”. In: Faces do Trópico Úmido - Conceitos e
nados a educação indígena via Funai e MEG (em parceria com ONGs e Secretarias de questões sobre desenvolvimento e rneio ambiente. ii. (lastro e F. Pinton (orgs). Belém:
Educação). (Fonte: Nota Técnica Inesc nu 38 de 9/ 10.121.000).
CEJUP) ou da Reserva Extractivista do Juruá (M. Almeida, 1996: “The management of
“1 As ações públicas em apoio a alternativas econômicas indígenas (via Funai) represen conservation areas by traditional populations: the case of the upper Juruá extractive re
tam apenas 5,'l% do orçamento indigenista federal. (Fonte: idem). serve". In: [(.IL Redford et al. (oi-gs), Trndiiionalpeoplesnndbiodieersig) conservation
in large tropical londscapes. América Verde - The Nature Conservacy).
5. Programas de apoio a iniciativas comunitárias de desenvolvimento local/sustentável
com acesso aberto a organizações indígenas como o Paic (Rondônia) e Padic (Mato 2'. Retomatuos aqui a classificação e a discussão de D. Lima cJ. Pozzobon, 1999: “Amazô
nia socioambiental (sustentabilidade ecológica e diversidade social)”, MS.
Grosso) do Banco Mundial, e os Projetos Demonstrativos/Hood (PD/n), componentes
do PPG? (Programa Piloiopara a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) Enanci E. Estes casos se desenvolveram geralmente a partir de situações de invasão maciça de
ado principalmente por paises da União Européia. No âmbito dos PD/tt está atualmente terras indígenas produzidas por falhas ou cumplicidade do órgão indigenista oficial as
em gestação um programa especializado para comunidades e associações indígenas, o quais lideranças indígenas, por falta de alternativa, se adaptaram com uma certa reotpoliir'k
PDPi, Projetos Demonstrativos dos Ponos Indígenas. econômica.
i. Fonte: Banco de Dados ISA, maio de 2000 (pesquisa F. Ricardo). if, Dados IBGE.
i. d5% do orçamento federal para ações públicas com povos indígenas foi alocado em
“_ Dado calculado a partir do traballio de M. Azevedo, 1997: “Fontes de dados sobre as
2000 só para gastos com pessoal e manutenção da Funai. (Fonte: Inesc Nota Técnica n° populações indígenas brasileiras da Amazônia”, Cadernos de Estudos Sociais 13(1):163
58, 9/10/2000). 178. Recife: Fundação Joaquim Nabuco.
i. A continuidade da demarcação das terras indígenas sendo financiada com expressivo
5. Ver, por exemplo, a pesquisa de G. Brandhuber, 1999: “Wlty Tukanoans migrates?
apoio da cooperação internacional através do Projeto de Proteção às Populações e Ter Some remarks on conflict on the Upper Rio Negro (Brazil)",journal de ln Société des
ras Indígenas daAmazânr'o Legal-PPI'AL (aproximadamente RS II milhões previstos em Américanistes 85:261-280, ou de P. Ferri, 1990: Achados on perdidosPA imigração
2001; fonte: idem). indígena em Boa Visto. Goiânia: MLAL.
9. Fontes: Funasa, fevereiro de 2000 e IBGE censo de 1996. 25. Sobre este conceito ver M. Godelier, 1996: “Anthropologie sociale et histoire locale",
Grodlaivn 20:85-94 e, sobretudo. M. Sahlins, 1997: “O 'pessimismo sentimental' e a ex
1". Fonte: MopaAmnzônia Brasileira 2000, ISA (Tabela 5). periência etnográfica: por que a cultura não é um 'obietoi em via de extinção (parte 11)",
U. Fonte: Banco de Dados ISA, maio de 2000 (pesquisa F. Ricardo). Mana 5(2):I05-150.
'1. Fonte: Mapa Amazônia Brasileira 2000, ISA (Tabela Z). Ver também: F. Ricardo: 2”. Ver, por exemplo, C. Junqueira, 1984: “Sociedade e cultura", Ciência e Cultura 56
Sooreposições entre unidades de consernaçãofiderais estaduais, terras indígenas, (S) sobre um proieto proposto pela Funai aos Cinta Larga do Posto Serra Morena no
terras militares e resereasgmimpeires, comunicação ao Seminário “Avaliação e identi início dos anos 1980.
ficação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos
13. Nesse aspecto, não se tem, necessariamente, uma relação linear entre contato e degra
benefícios da biodiversidade da Amazônia brasileira", Marap- 21-25 de setembro de 1999.
dação ambiental nas ãreas indígenas (Ver R.Godov, D. Wilde eJ. Franks, 1997: “The effect
0. Fonte: Mapadmaaônia Brasileira 2000, ISA (Tabela 9)4 of markets on neotropical deforestation: a comparative study olfour nmerindian societies",
Current! Anthropology 586): 875-878). Na sua redução da problemática da susten
16. Seminário “Avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utiliza
tabilidade ecológica `a fixação local das populações indígenas, os projetos de desenvolvi
ção sustentável e repartição dos beneficios da biodiversidade da Amazônia brasileira",
mento emo-ambientais tendem, geralmente, a ocultar a contribuição dos fenômenos de
Macap- 21-25 de setembro de 1999. Ver Parabólicas 54, set-out. 1999 (ISA).
mobilidade sócio-espacial e de acesso a recursos monetários de origem extra-locais na
'Í Ver o documento "Diagnóstico demográfico, sócio-econômico e de pressão antrópíca renda indígena (aposentadorias rurais, salários retribuindo atividades locais ou não, bem
na região da Amazônia legal - Versão 1.0" do ISPN, julho de 1999. como empreendimentos econômicos urbanos ou de intermediação entre aldeias e cida
des). Ver sobre esta questão a contribuição de P. Lena (IRD) ao texto do proieto de
pesquisa CNPq-IRD-UFRJ (LAGET): “Globalização, movimento associativo e desenvolvi
mento local sustentável na Amazônia", Rio de Janeiro: maio de 2000.

POVOS ¡NDÍGENAS NU BRASIL199fil2000-iNSTlTUTO SDCIOAMBIENTAL oneautzaçoesmoioenas zna


.`. RGANIZAÇÕES INDÍGENAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA (AM, R0, RR, PA, AC, AP)
Pesquisa e compilação B. Albert (Novembro de 2000), com exceção das organizações da região do Rio Negro, pesquisadas por Beto
Ricardo. Este levantamento também contou com a colaboração em pesquisas de campo de José Pimenta (UnB-AC), Rosângela Reis (UNIR
RO) e Maxim Repetto (UnB-RR)
Nota: As organizações e associações das demais regiões do país se encontram no final do volume, no Diretório Nacional.

AM N Baixo Rio Vaupés e Tiquie' (8)


` ACITRUT Associação das Comunidades Indígenas 1986
de Taracuá, Rios Uaupés e Tiquié
AMARN Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro 1984 AMI-¡RUT Associação das Mulheres Indígenas ¡989
MEIAM Associação dos Estudantes Indígenas do Amazonas 1984 de Taracná, Rios Uaupés e Tiquié
COIAB Coordenação das Organizações Indígenas 1989 UNIRT União das Nações Indígenas do Rio Tiquié 1990
da Amazônia Brasileira ACIRU Associação das Comunidades Indígenas do Rio Umari 1991
QOPM Conselho” de Professores Indígenas 2000 ATRIART Associação das Tribos Indígenas do Alto Rio Tiquié 2000
da AIIIZZOIIIH (EX-COPIAR 1990) (eX_CRETLqRT ,_ 1994)
AMISM Associação das Mulheres Indígenas Satëré-llilavvtã` 1995 “PAC Comunidades Indígenas de pm Cachoeira 1995
ASSÚCIEÇÊD COlTlIll'lldEldE WalHllIl-AII'ORI'I ACIRC Organizaçãodas
Associação Comunidades
Indígena de BelaIndígenas do Rio Castanho1998

Anro tuo Nuovo (42)


Alto Rio Vaupés e Papuri (14)
Sã° Gabriel da Cachoeira (6) UNID] União das Nações Indígenas do Distrito de Iauaretê 1989
FÚIRN Fedel'açãfl das Organizações Indígenas (10 RÍU Negro 1937 AMID] Associação das Mulheres Indígenas do 1995
AAISARN Associação dos Agentes Indígenas 1995 Distrito de lauaretê
de Saúde do 'um Rr° Negro ONIARP Organização das Nações Indígenas do Alto Papuri 1994
FDDIÍSGC Fórum CIE Debate dE Dll'ellOS Indígenas / 1997 UNIMRP União das Nações Indígenas do Médio papuri 1994
Sao Gabnelía cachoem d! l 999 UNIRVA União das Nações Indígenas do Rio Uaupés Acima 1996
ASSAI/SGC Associa ão da
São Gabçrjel osCachoeira
Artesões In 'genas 1 OICI _ ~ Indigena
Organizaçap , , ,
do Ceptro Iauarete 1997
APIARN Associação dos Professores Indígenas 1999 com' gilšíignâšãllgušëgrgmmaçm mdlgenas do 1997
do Alto Rio Negro l H l
CETEC Grupo de Estudo e Trabalho em Ecoturismo 1999 AEIDI Aníääçâgligâíígcadores Indigena; do 1997

Cauaboris (1) ATIDI Ês-soc-iaçâo dos Trabalhadores Indígenas do 1998


AYRCA Associação Yanomatni do Rio Cauaboris e Afluentes 1999 15mm e [amrere
APMCIESM Associação de Pais e Mestres das Comunidades 1998
Alm Rio Negra e xié (5) Indígenas da Escola São Miguel
ACIRNE Assedação das Comum-dades Indígenas do Rio Negro 1988 FDDI/Iauareté Forum de Debate de Direitos Indígenas Í Iauareté 1999
ACIRX Associaçãø das Comunidades Indígenas do Rio Xié 1989 CERCII Centro de Estudos e'Revilalizaçao da Cultura 2000
. - , . Indigena de Iauarete
AINBAL Associaçao Indigena de Balaio 1991 h I I I f
_ ,_ I , AISPI Associaçao Indigena de Saude Publica de Iauarete 2000
ACIPK Associaçao das Comumdades Indígenas 1992 I ú I I l
de Potim Kapuamo AILC'I'DI Associaçao Indigena da Lingua c Cultura Indigena 2000
. _ . , dos Tariano do Distrito de Iauareté
OCIARN Organização das Comunidades Indígenas 1998
do Alto Rio Negro
Manto tuo Nucno (z)
Rio [ça-na e ÂYÉI'Í (3) CACIR Comissão de Articulação das Comunidades 1993
OCIDAI Organização das Comunidades Indígenas 1999 Indígenas Ribeirinhas
do MIO Rio Negro (ex' ACIRI _ 1959) ACIMRN Associação das Comunidades indígenas 1994
AMA] Associação das Mulheres de Assunção do Içana 1992 do Médio Rio Negro
OIBI Organização Indígena da Bacia do Içana 1992
ACIRA Associação das Comunidades Indígenas do Rio Ayari 1995 BAIXO RIO NEGRO (2)
UNIB União das Nações Indígenas Blmrwa 1997 ACIBRN Associação das Comunidades Indígenas 1988
UMIRA União das Mulheres Indígenas do Rio Ayari 1999 do Baixo Rio Negro
AIBRI Associação Indígena do Baixo Rio Içana 1999 ASIBA Associação Indígena de Barcelos 1999
OICAI Organização Indígena Curipaco do Alto Içana 1999

204 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDIGENAS NO BRASIL 1956/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL

Você também pode gostar