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ORIGENS E CONEXÕES NORTE-AMERICANAS

dossiê
DO AGRIBUSINESS NO BRASIL1

Mario Grynszpan

Resumo Abstract
Este artigo é produto de uma pesquisa This article is the product of a larger re-
maior, cujo objetivo é trazer elementos de search project whose goal is to bring ele-
compreensão dos processos históricos de ments of understanding of the historical
afirmação do agronegócio no Brasil, con- processes of affirmation of agribusiness in
tribuindo para uma relativização da visão Brazil, contributing to a relativization of a
reificada que dele se impôs. O agronegócio reified view that it was imposed about it.
é tomado, hoje, como um ente com carac- Agribusiness is taken today as an entity
terísticas, interesses e formas de ação pró- with unique characteristics, interests and
prios, como uma realidade incontornável, ways of action, as an inescapable reality,
para cuja gênese social pouco se atenta. É little attention being paid to its social gen-
como agribusiness que ele chega ao Brasil, esis. The idea of agribusiness arrives in
a partir dos Estados Unidos, por intermé- Brazil from the U.S., through networks of
dio de redes de agentes institucionais e in- agents, both institutional and individual,
dividuais dos dois países, cujas trajetórias in both countries, whose trajectories are in-
se interconectam. O foco do texto se cen- terconnected. The text has its focus on the
tra nos Estados Unidos, estudando proces- United States, studying processes, trajecto-
sos, trajetórias, debates que são funda- ries, debates that are central to understand-
mentais para se compreender os percursos ing the pathways through which agribusi-
e os modos pelos quais o agronegócio en- ness enters and consolidates in Brazil.
tra e se afirma no Brasil.

Palavras-chave Keywords
Agronegócio. Economia. Agricultura. Agribusiness. Economics. Agriculture.
Negócio. Business.

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1 Introdução recursos de distintas ordens que acionam,
de objetivos a simbólicos, suas tomadas de
A agropecuária tem uma forte presença posição, seus cálculos e decisões, inclusi-
na economia brasileira, correspondendo a ve os concernentes às condições naturais.
cerca de 25% do PIB e 37% das exportações A própria ideia de uma agropecuária brasi-
(SANIELE, 2011). A importância econômica leira, sua imagem pública, é produto dessas
da agropecuária, sobretudo na exportação, relações. Ela é, muitas vezes, a difusão co-
parece ser uma das marcas mais antigas e mo gerais, como nacionais mesmo, de ob-
contínuas de nossa história. Desde jovens, jetivos, interesses, estratégias, projetos que
aprendemos que o Brasil se afirmou como são particulares, específicos de determina-
uma nação agroexportadora, com uma his- dos grupos. Mas para que essa difusão se-
tória econômica dividida em diferentes ci- ja eficaz, gerando uma significativa aceita-
clos, cada um associado a um produto espe- ção e reconhecimento, é fundamental que
cífico, como o açúcar, a borracha e o café. se produza um desconhecimento do seu ca-
Desse modo, o fato de sermos hoje um dos ráter de construção, tornando-se opacos o
maiores exportadores mundiais de commo- seu trabalho e os seus princípios de imposi-
dities oriundas da agropecuária nos soa co- ção. É o que se observa com a afirmação de
mo uma consequência óbvia, um desdobra- uma noção que, hoje, se tornou inseparável
mento natural de nossas raízes e tradições da de agropecuária brasileira: agronegócio.
históricas, de nossa vocação econômica. O uso mais sistemático do termo agrone-
Mas esse continuum secular é mais apa- gócio no Brasil, embora já o tenhamos na-
rente do que efetivo. Sob a capa da perma- turalizado, é relativamente recente. Ele pas-
nência e da continuidade ocorreram ruptu- sou a figurar, de início de modo mais pon-
ras profundas, mudanças importantes. Além tual, em documentos de circulação restrita,
disso, longe de serem um resultado inevi- em fins dos anos 1960 e começo dos 1970,
tável, a configuração e a posição atual da na sua forma inglesa, agribusiness. Foi ape-
agropecuária brasileira é produto de con- nas na década de 1990 que, de um modo
junções específicas de processos e fatores mais claro, seu emprego se expandiu e pas-
diversos. Dentre esses, destaquem-se as re- sou a se tornar corrente. Foi também nes-
lações entre diferentes agentes, individu- se período que a sua tradução em português
ais, coletivos ou institucionais, públicos ou foi se afirmando.2 Ele hoje circula de for-
privados, nacionais ou internacionais, suas ma franca, ampla, recorrente, na mídia, nos
alianças e disputas, seus investimentos, os discursos e projetos oficiais, nos meios polí-

1. A pesquisa que dá base a este trabalho se inscreve no âmbito do projeto temático “Circulação interna-
cional e formação dos quadros dirigentes brasileiros”, coordenado por Letícia Bicalho Canedo, do Grupo
de Estudos Sobre Instituição Escolar e Organizações Familiares (FOCUS), da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com o apoio da FAPESP. A pesquisa tem também o apoio
do CNPq, por meio de uma bolsa de produtividade.
2. Na passagem de agribusiness a agronegócio uma série de sentidos novos e distintos é agregada ao ter-
mo. Não se trata, portanto, de mera tradução, mas de uma redefinição mesmo, que se inscreve em um con-
junto de lutas políticas. Entender essa passagem de modo mais fino é fundamental e será objeto de traba-
lho futuro. Neste texto, assumindo os limites e o bias decorrente da opção, agribusiness e agronegócio se-
rão utilizados de forma intercambiável, como sinônimos.

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ticos, nas declarações de lideranças empre- Reconstituir a história da afirmação do
sariais, nos documentos e manifestações de agronegócio, portanto, é restituir o seu ca-
movimentos sociais, nos textos e debates ráter de construção, evidenciando seus
acadêmicos, mesmo que por vezes carrega- agentes, suas alianças e conflitos de toda
do de sentidos distintos. ordem, contribuindo para romper com a sua
A afirmação da noção de agronegócio visão reificada, substancializada. Esse é o
vem se fazendo igualmente pelo trabalho de objetivo da pesquisa na qual se inscreve es-
produção e imposição de novas representa- te artigo. Ele é parte de uma investigação
ções do rural, de seus agentes e de suas re- mais ampla sobre a gênese do agronegócio
lações não somente com o urbano, mas com no Brasil e, portanto, se articula a um con-
o mundo de maneira mais ampla. Tal traba- junto de outros textos que virão a ser publi-
lho não se faz sem resistências, sem se co- cados sobre o assunto. O agronegócio che-
locar em competição com outras represen- ga ao Brasil como agribusiness, a partir dos
tações, já estabelecidas ou em busca de se Estados Unidos, por intermédio de redes
estabelecer como dominantes. De todo mo- de agentes institucionais e individuais dos
do, quer se trate de uma postura de conde- dois países, cujas trajetórias se interconec-
nação, quer de aprovação, as batalhas dis- tam. O que aqui se busca é estudar o pro-
cursivas em torno do agronegócio contri- cesso de afirmação do agribusiness nos Es-
buem para lhe conferir existência, visibili- tados Unidos, atentando para as trajetórias,
dade, confluem para a sua objetivação. As- e seus cruzamentos, de agentes individu-
sim, mais do que um conceito, agronegócio ais, instituições, disciplinas, espaços profis-
é hoje um ente social, que pode ser visto e sionais. O foco principal estará nos Estados
localizado no espaço, que pode ser medi- Unidos, mas como base para a compreen-
do, dimensionado numericamente, que tem são da entrada e da afirmação do agribusi-
instituições, interesses e porta-vozes pró- ness no Brasil. Assim, ao final, as conexões
prios, que se opõe a outros entes, interes- com o Brasil serão destacadas, mas sem a
ses e instituições, que enseja políticas públi- pretensão maior de fineza ou de exaustivi-
cas e que se transforma ao longo do tempo. dade, já que extrapolaria em muito os limi-
Em grande parte, agronegócio se impôs no tes de um artigo.
Brasil também como categoria de identifi-
cação e de aglutinação de agentes que, ain- 2 Gênese do agribusiness nos Estados Uni-
da que sob a égide do agro, da agropecuá- dos e entrada no Brasil
ria, estão posicionados em diferentes setores
da economia e têm um espaço de circulação A formulação e a definição de agribusi-
que não se restringe ao mundo rural. São ness são atribuídas a dois economistas agrí-
eles que buscam falar em nome da agrope- colas3 norte-americanos: John Herbert Da-
cuária brasileira, a dizer o que é, a expressar vis e Ray Allan Goldberg. Eles eram profes-
os seus interesses e necessidades, deslocan- sores da Universidade de Harvard em 1957,
do grupos que detinham anteriormente essa quando publicaram A concept of agribusi-
palavra autorizada. ness (DAVIS; GOLDBERG, 1957), livro re-

3. Utilizo o termo economia agrícola em lugar de economia rural, que é a forma corrente no Brasil, para
ser coerente com a denominação americana, agricultural economics.

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conhecido até hoje como aquele em que se de que já se configurava, uma inevitabili-
cunhou e disseminou o conceito. Fundin- dade, um destino incontornável determina-
do agriculture e business, as duas palavras do pelo curso do desenvolvimento históri-
que compunham o nome do programa di- co. E quanto mais rápido os fazendeiros se
rigido por Davis na Graduate School of Bu- conscientizassem disso, assumindo sua no-
siness Administration da Universidade de va persona, a de homens de negócios, tanto
Harvard, o neologismo agribusiness tinha maiores seriam as suas chances de sucesso,
o sentido de enfatizar que a agricultura era as da agricultura de evoluir com qualidade e
também um negócio, mesmo que com espe- as dos consumidores de se alimentarem me-
cificidades, e como tal deveria ser tratada, lhor, com diversidade e abundância e a pre-
gerida. Vários desdobramentos resultavam ços acessíveis.4
dessa associação. Um deles, aparentemen- Um dos primeiros registros do uso públi-
te mais óbvio, era o de que, como qualquer co da noção de agribusiness por Davis data
negócio, a agricultura se sujeitava às leis do de 1955. Nesse ano, em uma fala intitulada
mercado. Outro era o de que ela não podia “Business responsibility and the market for
ser pensada isoladamente, levando em con- farm products”, proferida na Boston Con-
ta apenas os interesses e necessidades dos ference on Distribution, ele enfatizou a ne-
agricultores. A agricultura era um negócio cessidade de se encontrar um conceito que
que envolvia muitas e diferentes etapas e contemplasse as novas tendências da eco-
operações, dentro e fora da fazenda. Ela era nomia, a relação moderna, de interdepen-
uma cadeia de elos interdependentes, que ia dência, de trabalho de equipe, entre agricul-
da produção de insumos e do financiamen- tura e negócios. Esse conceito era agribusi-
to, passando pelas fazendas, até o transpor- ness (DAVIS, 1955 apud FUSONIE, 1995, p.
te dos produtos, sua armazenagem, proces- 343). No ano seguinte, em “From agricul-
samento e distribuição. Além do fazendeiro ture to agribusiness”, artigo publicado na
e de seus empregados, portanto, ela envol- Harvard Business Review, Davis (1956) re-
via uma série de distintos agentes, como in- tomou a questão. Para justificar a necessi-
dústrias químicas, de sementes, de máqui- dade do novo conceito, traçou uma rápi-
nas, bancos, centros de pesquisa, técnicos, da evolução da agricultura, argumentan-
transportadoras, armazenadoras, processa- do que, de um quadro de relativa autarcia,
doras, supermercados e consumidores, en- ela havia chegado a uma situação de cres-
tre outros. cente interdependência com outros seto-
Essa integração vertical do negócio agrí- res da atividade econômica. Segundo ele,
cola era apresentada pelos autores não co- a agricultura moderna era tão inseparável
mo uma possibilidade futura, mas como das empresas que produziam seus insumos
a constatação científica de uma realida- e das que vendiam, processavam e distribu-

4. Juntamente com o jornalista Kenneth Hinshaw, especializado em assuntos agrícolas e relações públi-
cas, que trabalhava para entidades de agricultores, Davis, em 1957, publicou um livro em que realidade e
ficção se misturavam para narrar o percurso histórico da fazenda autossuficiente à agricultura moderna,
identificada com o agribusiness. Nesse percurso, o fazendeiro assumia sua nova persona, abandonando su-
as vestimentas e seus hábitos tradicionais, para se apresentar como um homem de negócios. O título do li-
vro, que vendeu mais de 30.000 exemplares, era Farmer in a business suit (DAVIS; HINSHAW, 1957).

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íam seus produtos, que paralisaria se estas 1961; KIRKENDALL, 1986; SCHAPSMEIER;
deixassem de existir. Em uma situação in- SCHAPSMEIER, 1992; HOOKS, 1990)5.
versa, tais empresas perderiam igualmente Mas essa era a paisagem que se enxer-
o seu sentido. Assim, era preciso mudar a gava quando o foco centrava-se exclusiva-
chave de percepção da agricultura como se- mente na agricultura. Como acentuava Da-
tor isolado, pensando-a de forma verticali- vis (1956), se observada a partir da lente do
zada, como parte de um processo maior, de agribusiness, a agricultura, dentro da eco-
um negócio maior, o agribusiness. nomia dos Estados Unidos de maneira ge-
A agricultura americana vinha passan- ral, estava longe de se esvaziar e perder im-
do por profundas transformações desde portância. O agribusiness era então, segun-
a Guerra Civil, em meados do século XIX. do ele, responsável por cerca de 40% do pro-
Nesse período de cerca de 100 anos, a po- duto nacional bruto americano e emprega-
pulação rural sofreu uma forte redução. Em va em torno de 35% da força de trabalho do
1870 ela representava cerca de 48% da po- país. Era essa a forma de percepção de agri-
pulação total e, em 1950, 15%. O número de cultura a que deveriam aderir não somente
fazendas também diminuiu, mas as que fi- os interlocutores acadêmicos de Davis, mas
caram aumentaram significativamente sua também um conjunto de outros aos quais
área média, isto é, houve uma concentração igualmente se dirigia, como os próprios
da propriedade da terra. Essas tendências se agricultores e suas entidades de representa-
intensificaram a partir dos anos 1940, se- ção, empresários de maneira geral, da indús-
gundo alguns autores, impulsionadas pelas tria, comércio e finanças, partidos, autorida-
políticas agrícolas que foram então adota- des, governantes, formuladores de políticas.
das e que terminaram por beneficiar prin- A análise de Davis tinha, entre outros, o
cipalmente os grandes produtores, os que propósito de influenciar a realização de es-
mais investiram em mecanização, tecnolo- colhas, a tomada de decisões, a formulação
gia, novas práticas, alimentando, por outro de políticas. Agribusiness era não somen-
lado, a exclusão dos menores, a liberação de te um conceito, no sentido de uma constru-
mão de obra e o êxodo rural. Com efeito, a ção mental que visava dar conta de uma re-
população rural teve uma redução de apro- alidade existente, mas uma tentativa mesmo
ximadamente 26% entre 1940 e 1950, en- de afirmar essa realidade, produzindo o con-
quanto a população total cresceu mais de vencimento de que aquela que era uma das
14%. O número de fazendas teve uma re- vias possíveis para a agricultura era, na ver-
dução de 10% no mesmo período, ao pas- dade, seu destino incontornável, única saí-
so que a área média aumentou mais de 27% da racional, viável para os seus problemas
(RASMUSSEN, 1983; RASMUSSEN; STONE, e, mais, para a economia americana de ma-

5. Em Trucking country: the road to America’s Wal-Mart economy, o historiador Shane Hamilton mostra
como, nesse período, muitos pequenos agricultores e trabalhadores rurais que haviam acumulado recursos
para a compra de terras acabaram se tornando caminhoneiros, trabalhando no transporte de produtos
agrícolas. Em grande parte não sindicalizados, eles faziam o transporte a preços mais baixos, gerando um
conflito que foi explorado por autoridades como o secretário da Agricultura do presidente republicano
Dwight David Eisenhower, a partir de 1953, o conservador Ezra Taft Benson, com o objetivo não apenas
de reduzir o custo dos transportes, mas também de enfraquecer os sindicatos (HAMILTON, 2008).

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neira mais ampla e mesmo para o acesso a políticas do artigo naquele ano eleitoral. Se-
alimentos e fibras em escala mundial. Davis gundo eles, os números apontados por Da-
ressaltava em seu texto, inclusive, a impor- vis poderiam indicar que o público sensível
tância da organização de grupos e projetos a discursos identificados com a agricultura
de pesquisa orientados pela noção de agri- poderia ser bem maior do que os percentu-
business, com o sentido de produzir dados, ais de declínio da população rural levavam
conhecimentos que alimentariam e funda- a supor, e que o voto rural poderia estar se
mentariam a formulação de políticas, além transformando, de fato, em voto do agribu-
das estratégias dos agricultores e das empre- siness (THE EDITORS, 1956).
sas. A solução para o problema agrícola pas- A marca política normativa estava pre-
sava pela verticalização, passava por pen- sente também em A concept of agribusi-
sá-lo como um problema de agribusiness e ness. Apresentado como primeiro produ-
não mais puramente de agricultura6. to sistemático de pesquisa do Programa de
Davis também falava para eleitores e Agricultura e Business dirigido por Davis,
candidatos políticos, já que em 1956, quan- o livro dividia-se em quatro capítulos. No
do foi publicado o seu artigo, ocorreriam primeiro, assim como no artigo de 1956,
eleições presidenciais. Um dos candida- traçava-se uma evolução geral histórica da
tos era o então presidente Eisenhower, que agricultura no sentido de sua crescente in-
buscava a reeleição pelo Partido Republica- terdependência. No segundo, eram apre-
no e a quem Davis havia servido como se- sentados e discutidos dados sobre a dimen-
cretário adjunto do Departamento de Agri- são do agribusiness na economia america-
cultura dos Estados Unidos (USDA) em 1953 na de maneira geral. No terceiro, com base
e 1954. Os próprios editores do número da na teoria de fluxos interindústrias de input-
Harvard Business Review em que “From -output do economista de origem russa
agriculture to agribusiness” foi publicado Wassily Wassilyovitch Leontief7, procura-
destacaram a possibilidade de repercussões va-se dar fundamentação científica, quan-

6. Em “Policy implications of vertical integration in United States agriculture” (DAVIS, 1957), publicado
em 1957 no Journal of Farm Economics, o autor explorou mais detidamente o tema da formulação de po-
líticas fundadas na noção de agribusiness, na integração vertical da agricultura.
7. Wassily W. Leontief formou-se em economia pela Universidade de Leningrado, antiga São Petersburgo,
onde seu pai havia sido professor de economia. Seu doutorado foi concluído na Universidade de Berlim, on-
de estudou com Werner Sombart e Ladislaus Bortiewicz, com uma tese sobre a economia como um fluxo cir-
cular. Era um crítico do regime soviético, tendo sido preso algumas vezes enquanto estudante. Começou sua
vida profissional no Instituto de Economia Mundial da Universidade de Kiel, na Alemanha, foi assessor do
Ministério das Estradas de Ferro na China e, em 1931, foi trabalhar no National Bureau of Economic Rese-
arch, em Nova Iorque, onde começou a formular a teoria de equilíbrio geral que lhe deu notoriedade e que,
em 1973, lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia. Em 1932, foi para o Departamento de Economia de Har-
vard onde, contando com importantes recursos de pesquisa, desenvolveu suas matrizes de input-output, fun-
dadas no princípio, justamente, da interdependência entre os diferentes setores do sistema econômico. Apli-
cou suas teses ao estudo da economia americana, o que resultou na publicação, em 1941, do livro The struc-
ture of American economy: an empirical application of equilibrium analysis (LEONTIEF, 1941). Suas pesqui-
sas receberam apoio sistemático da Fundação Rockefeller a partir de 1947. Leontief permaneceu em Harvard
até 1975, quando foi para a Universidade de Nova Iorque, onde fundou um Instituto de Análise Econômica
(LAHIRI, 2000; THE ROCKEFELLER FOUNDATION, 1947; WASSILY…, 1999).

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titativa, à abordagem de agribusiness, à in- formação de instituições e comitês próprios,
tegração vertical da agricultura. Finalmen- com atores e recursos de origens diversas,
te, no quarto capítulo, os autores tentavam públicas e privadas, com o apoio importante
extrair implicações do conceito de agribu- de fundações como a Ford e a Rockefeller.8
siness na formulação de políticas (DAVIS; Com isso, Davis, mas, sobretudo, Goldberg,
GOLDBERG, 1957). uma vez que o primeiro, mais velho, era já
Nos dois anos que se seguiram à publi- bastante conhecido, alcançaram grande pro-
cação, o termo agribusiness apareceu em jeção, nacional e internacional, tornando-
pelo menos 40 artigos e resenhas de dez pe- -se importantes referências acadêmicas, pro-
riódicos (KING et al, 2010, p. 554). Embo- fissionais, empresariais e governamentais,
ra o último fosse o menor dos capítulos, a dentro e fora dos Estados Unidos.
intenção de fazer da noção de agribusiness As origens e a formação de Davis são se-
um norteador da formulação de políticas melhantes às de grande parte dos economis-
foi destacada por alguns dos resenhistas. tas agrícolas de sua época. Ele nasceu em
De maneira geral, A concept of agribusiness 1904, filho de agricultores do Missouri, es-
parece ter sido inicialmente recebido como tado do Meio-Oeste americano. Sua forma-
uma novidade, um trabalho instigante, bem ção universitária foi feita em land grant col-
fundamentado, mas, de certo modo, ainda leges, começando pelo Iowa State College,
exploratório. Para alguns dos resenhistas, a onde se graduou, e, depois, pela Universida-
noção de agribusiness, mais do que uma ca- de de Minnesota, onde concluiu seu mestra-
racterização de uma situação existente, era do e seu doutorado.
um projeto, base para a elaboração e imple- Os land grant colleges são a origem das
mentação de políticas, de formulação de es- universidades estaduais públicas america-
tratégias consideradas mais racionais e pro- nas. Eles foram criados com base em uma
missoras (TRELOGAN, 1957; RUST, 1957; lei aprovada em 1862, durante a Guerra Ci-
MILLIMAN, 1958; SHERIDAN, 1958). vil (1861-1865), o Morrill Act, pela qual os
Na década de 1960, porém, intensificou- estados poderiam receber terras federais pa-
-se a apropriação sistemática da noção de ra a criação de faculdades de agricultura e
agribusiness, que passou mesmo a dar base à de mecânica.9 O primeiro estado a se habi-

8. Um exemplo foi o Agribusiness Council, criado em 1967 pelo então presidente Lyndon B. Johnson.
Tratava-se de uma instituição privada, com membros das áreas de negócios, academia, fundações e gover-
no, cujo foco principal eram as trocas internacionais de produtos agrícolas e sua conexão com programas
de desenvolvimento de países subdesenvolvidos, e que também atuava como um grupo de lobby junto aos
tomadores de decisão na esfera federal. Além do apoio do governo, seus recursos vinham, entre outros,
das fundações Rockefeller e Ford. O grupo Rockefeller em particular, cabe enfatizar, teve papel fundamen-
tal na afirmação do agribusiness dentro dos Estados Unidos e, também, em outros países como o Brasil,
como se verá adiante (THE AGRIBUSINESS; THE ROCKEFELLER FOUNDATION, 1968; THE FORD FOUN-
DATION, 1969).
9. A lei tinha o nome do congressista que a apresentou, Justin Smith Morrill, do estado de Vermont, no
Nordeste dos Estados Unidos, e um dos fundadores do Partido Republicano. Como foi aprovada durante a
Guerra, a lei também incluía nos land grant colleges o ensino de táticas militares. Pela lei, a extensão de
terras recebida pelos estados era proporcional ao número de congressistas de cada um. Isso significava que
os estados mais populosos receberiam maiores concessões. As terras poderiam ser vendidas para a criação
de um fundo que financiaria o ensino. Os prédios e a infraestrutura seriam fornecidos pelos estados.

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litar foi justamente Iowa. Um dos objetivos DA, a concessão da propriedade a colonos
primordiais da medida era prover uma for- estabelecidos em terras federais e a cons-
mação voltada para as necessidades práti- trução de uma ferrovia transcontinental, a
cas do processo de desenvolvimento e da Pacific Railway. Ainda que não de imedia-
industrialização nos Estados Unidos. O que to, essas medidas contribuíram para refor-
estava em jogo era a produção não propria- çar uma tendência que já vinha se obser-
mente de conhecimento, mas de técnicos vando de aumento da produtividade agrí-
capazes de aplicá-lo e de difundi-lo. Des- cola com o emprego de máquinas e tração
se modo, o ensino naqueles colleges era de animal e com a produção crescentemente
início fundamentalmente técnico, aplicado, voltada para o mercado nas propriedades do
ainda que, no texto da lei, a pesquisa bá- Meio-Oeste. Ferrovias permitiram a circula-
sica e os estudos clássicos não fossem ex- ção mais ampla e mais rápida dos produ-
cluídos. Assim, eles se distanciavam do per- tos, o USDA passou a produzir estatísticas e
fil das universidades tradicionais. E não a difundir informações e os land grant col-
era apenas no tipo de ensino ou de obje- leges desenvolveram um trabalho de exten-
tivo que esse distanciamento se dava, mas são, atuando junto aos agricultores no sen-
também nas características sociais dos alu- tido de que adotassem novas técnicas, in-
nos. Os estudantes dos land grant colleges sumos, práticas, bem como rotinas de ges-
tinham origens sociais mais baixas do que tão da produção e do orçamento (RASMUS-
os das universidades tradicionais, incluindo SEN, 1965; RASMUSSEN; STONE, 1961; KI-
negros (MCDOWELL, 2003, p. 33). Alguns RKENDALL, 1986; GILBERT; HOWE, 1991).
desses colleges eram exclusivos de negros Uma iniciativa importante foi a apro-
até 1954, quando uma decisão da Suprema vação do Hatch Act, de 1887, que concedia
Corte declarou inconstitucional a educação recursos aos land grant colleges para que
separada10. criassem estações experimentais agrícolas.11
A criação de land grant colleges já havia A criação dessas estações fez com que aque-
sido tentada anteriormente, mas havia es- las escolas, como um primeiro efeito signi-
barrado no veto do Sul, que via na medida ficativo, deixassem de ser exclusivamente
uma interferência do poder central na auto- voltadas para o ensino e se lançassem tam-
nomia dos estados. Esse veto foi eliminado bém na atividade de pesquisa. Em segundo
com a Guerra Civil, o que permitiu a apro- lugar, cabe destacar que o investimento em
vação do Morrill Act. Essa mesma conjun- pesquisa veio associado a um reforço do ca-
tura permitiu a aprovação de três outras leis ráter extensionista dos colleges. Tratava-se
com medidas que, juntamente com o Mor- de testar e de levar aos agricultores as des-
rill Act, produziram um impacto significa- cobertas, invenções, inovações ali produzi-
tivo na agricultura americana, em especial das. O extensionismo alcançou tal dimen-
no Meio-Oeste e no Oeste: a criação do US- são e tornou-se um trabalho tão importan-

10. Aprovado durante a Guerra, o Morrill Act excluía de início os estados do Sul, estipulando que a não
existência de conflito com a União era condição necessária para a obtenção da concessão. Com o fim da
Guerra, aqueles estados puderam também ser beneficiados. Em 1890, uma nova lei do mesmo congressis-
ta provia mais recursos para os land grant colleges e condicionava o acesso ao benefício à inclusão de ne-
gros ou à criação de instituições específicas para negros (RICHTER, 1962).
11. O autor da lei foi William Hatch que, na época, presidia o comitê de agricultura do Congresso.

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te para os colleges, é certo, mas igualmen- De início, a pesquisa nos colleges abar-
te para a agricultura americana de maneira cava um amplo campo denominado de ci-
mais ampla, que foi regulamentado por lei ência agrícola, que incluía estudos de biolo-
em 1914. O Smith-Lever Act definia que o gia, passando por química até economia do-
extensionismo agrícola, entendido como a méstica, entre outros. Com o tempo, porém,
atividade educacional de difusão, demons- foi havendo um processo de especialização
tração prática e convencimento do uso de e de autonomização de cada uma das áreas
tecnologia e de conhecimento resultante da de estudos, com a institucionalização de dis-
pesquisa em agricultura e em economia do- ciplinas e departamentos específicos. Estes
méstica, seria uma atividade de cooperação por sua vez, passaram a dialogar mais sis-
desenvolvida pelos land grant colleges, sob tematicamente com os departamentos cor-
a supervisão e a administração do USDA, respondentes das universidades tradicionais,
com recursos do governo federal e dos go- observando-se uma circulação de professo-
vernos estaduais. A lei admitia também que res. Níveis mais altos de formação acadê-
condados, autoridades locais ou organiza- mica passaram a ser esperados dos profes-
ções e indivíduos pudessem doar recursos, sores dos colleges e cursos de pós-gradua-
o que foi feito por empresários locais, câ- ção foram sendo criados. Um campo disci-
maras de comércio e, entre outros, o grupo plinar, e uma área de profissionalização, que
Rockefeller.12 Assim, os condados foram a se afirmou nesse processo foi o da economia
base do trabalho de extensão, desenvolvido agrícola (ROSENBERG, 1971; KIRKENDALL,
por agentes de condado. Os agentes organi- 1986; SKOCPOL; FINEGOLD, 1982).13
zavam agricultores mais inovadores, que ti- A afirmação da economia agrícola foi
nham liderança local, em bureaux agrícolas, alimentada, em parte, pela percepção de
com a função de difundir os ensinamentos. que os problemas da agricultura demanda-
Esses bureaux terminaram por dar origem a vam soluções que iam além da biologia, da
entidades formais que, em 1919, se articula- química e da engenharia. Em sua estreita li-
ram nacionalmente como a American Farm gação com os land grant colleges, o USDA
Bureau Federation (AFBF), organização de passou a demandar desses, de forma cres-
caráter conservador que se afirmou como cente, pesquisas econômicas, séries estatís-
um dos mais poderosos grupos de lobby e ticas, estudos de preços, de modo a funda-
procurou não somente direcionar a pesqui- mentar suas ações e a formulação de polí-
sa dos land grant colleges, mas também in- ticas agrícolas. Foi a partir dos land grant
fluenciar e exercer controle sobre as ações colleges, portanto, que a economia agrícola
do USDA e as políticas agrícolas (HADWI- se institucionalizou como uma área especí-
GER, 1975; HADWIGER, 1976; GILBERT; fica de estudos e como um campo profissio-
HOWE, 1991; GEWEKE et al, 1999; ROSEN- nal, já em fins do século XIX e nas primei-
BERG, 1971; SKOCPOL; FINEGOLD, 1982; ras décadas do XX. Foram eles que se afir-
FARM..., c2011). maram, de início, como os grandes centros

12. A lei era de autoria de dois parlamentares democratas de estados do chamado Sul Profundo, Michael
Hoke Smith, senador e ex-governador da Georgia, e Asbury Francis Lever, deputado pela Carolina do Sul.
O texto da lei pode ser encontrado em Smith-Lever Act (1914).
13. Outro foi o da sociologia rural.

Origens e conexões norte-americanas do agribusiness no Brasil 131


de formação na área. Os primeiros, mais re- interesse nacional. Assim, depois de um pe-
conhecidos e influentes, foram os de Wins- ríodo favorável na segunda metade dos anos
consin, Cornell e Minnesota, onde Davis e 1910, quando a I Guerra Mundial impulsio-
Goldberg fizeram seus doutorados, e, mais nou a exportação de produtos americanos,
adiante, já nos anos 1930, o de Iowa. Foram a agricultura viveu uma situação de crise a
sobretudo economistas agrícolas de land partir da década de 1920 e durante a Depres-
grant colleges que estiveram à frente da são (GEWEKE et al, 1999, p. 35). Foi nesse
criação, em 1915, da National Association quadro que, em 1922, foi criado no USDA
of Agricultural Economists.14 Mas na medi- o Bureau of Agricultural Economics (BAE).
da em que a área foi ganhando projeção e E no final dos anos 1920, o Social Science
importância, os departamentos de economia Research Council investiu na economia agrí-
das universidades mais tradicionais passa- cola, bem como na sociologia rural, conce-
ram também a incorporar economistas agrí- dendo mais de uma centena de bolsas espe-
colas. Em 1927, por exemplo, Harvard de- cificamente voltadas para o desenvolvimen-
cidiu criar uma linha de economia agrícola to do ensino e da pesquisa nessas duas áreas
dentro do Departamento de Economia, con- (MASON; LAMONT, 1982, p. 419).
tratando John D. Black, que havia se douto- Tendo sido esse o seu percurso, consti-
rado por Winsconsin e dirigido por cerca de tuindo-se como uma disciplina, e uma pro-
uma década a Divisão de Economia Agríco- fissão, não puramente acadêmica, mas, so-
la de Minnesota. Ele era então um dos mais bretudo, técnica, aplicada, normativa, e ori-
influentes economistas agrícolas, tendo as- ginando-se dos land grant colleges, a eco-
sessorado presidentes e o USDA em diferen- nomia agrícola nos Estados Unidos teve uma
tes momentos (COCHRANE, 1983; GILBERT; forte relação com o campo da política, pú-
BAKER, 1997; SHAARS, 1972). blica e também partidária, com empresas e
Se a economia agrícola se afirmou, em com entidades de representação e grupos
parte, na tentativa não apenas de entender, e interesses sociais. O envolvimento com a
mas de apresentar respostas para as questões avaliação, a formulação e a execução de po-
da agricultura, seu reconhecimento tendeu líticas agrícolas nas esferas local, estadual
também a crescer nos momentos em que es- e, principalmente, federal foi uma das mar-
sas questões foram mais evidentes, projetan- cas das primeiras gerações de economistas
do-se para além do mundo rural, como de agrícolas. A presença destes foi particular-

14. Em 1919, a Associação juntou-se à American Farm Management Association para criar a American
Farm Economic Association. No mesmo ano, essa associação criou o periódico Journal of Farm Economics
que, em 1968, teve o seu título alterado para American Journal of Agricultural Economics. A criação de
uma área específica de economia agrícola passou pela sua autonomização em relação, além da ciência
agrícola, também do Farm Management. Era Office of Farm Management o nome de um dos primeiros ór-
gãos oficiais, criado em 1903, cobrindo o espectro de ações, e de quadros, do que mais tarde viria a se cha-
mar de economia agrícola. Em 1919, o mesmo ano em que foi criada a American Farm Economic Asso-
ciation, ele passou a ser chamado de Office of Farm Management and Farm Economics. Ele foi uma das
bases da criação, em 1922, do Bureau of Agricrultural Economics (BAE) do USDA (GEWEKE et al, 1999, p.
34). Foram também importantes debates ocorridos em eventos com economistas sobre o caráter específi-
co ou não da economia agrícola. Ver o relato de Henry Charles Taylor, um dos pioneiros da economia agrí-
cola, em Taylor e Spillman (1922).

132 R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012


mente evidente no USDA, que abasteceram eram influenciados pelas necessidades, de-
não apenas de estudos e diagnósticos, mas mandas, interesses daqueles grupos. Ao me-
de quadros. O serviço público, além das uni- nos em parte, a pauta de pesquisas era infor-
versidades, foi o principal espaço de inser- mada por estes. Mais, esse envolvimento se
ção profissional para os economistas agríco- dava não só com agricultores individuais ou
las no seu momento de afirmação. grupos locais, mas com organizações, entida-
Um importante lócus de atuação dentro des de representação de agricultores de escala
do USDA foi o BAE. Ele foi criado sob a nacional. Por vezes, essas entidades, em par-
coordenação de Henry Charles Taylor, fun- te, se originaram mesmo do trabalho de ex-
dador do primeiro departamento de Eco- tensão, como foi o caso da AFBF, ou foram
nomia Agrícola, na Universidade de Wins- por ele impulsionadas, como as cooperativas.
consin, e autor do primeiro livro-texto na Não era incomum, portanto, que economis-
área (HENRY..., 2005).15 Criado e dirigido tas agrícolas, até também porque muitos vi-
por Taylor, o BAE teve boa das suas po- nham de famílias de agricultores, fossem li-
sições ocupadas por profissionais oriundos gados a entidades nacionais como a AFBF, a
de Winsconsin, além de Minnesota, Cornell sua rival, National Farmers’ Union, a Natio-
e também Iowa. Eram esses land grant col- nal Grange e o National Council of Farmer
leges que formavam a grande maioria dos Cooperatives.17 E essas entidades, por sua vez,
economistas agrícolas até os anos 1930. Os pela dimensão e importância de suas bases,
de Winsconsin, identificados com uma vi- mas também por seus vínculos com os produ-
são política progressista, próximos do Par- tores de diagnósticos e formuladores e execu-
tido Democrata, exerceram forte liderança tores de políticas agrícolas, e igualmente com
no BAE e influência no USDA até o New as instituições que os formavam e abrigavam,
Deal (HOOK, 1990; GEWEKE et al, 1999; sendo não apenas beneficiárias, mas também
GILBERT; HOWE, 1991; GILBERT; BAKER, patrocinadoras de projetos e ações por estas
1997). Não por acaso, o USDA e, de mo- desenvolvidos, tinham canais consistentes de
do mais específico, o BAE, foram objeto de comunicação, de modo a marcar sua presen-
pressões de políticos e de grupos de inte- ça e buscar exercer influência junto ao US-
resse, sujeitos a intervenções em momentos DA e os comitês de agricultura no Congresso.
de rearranjo político.16 E mais uma importante marca de origem
Como era estreito o vínculo dos land grant da economia agrícola que deve ser enfatiza-
colleges, e assim também da economia agrí- da é a sua ligação com empresas que tinham
cola, com o extensionismo, era evidente, ain- envolvimento com a produção agrícola, co-
da que com níveis variáveis, o seu envolvi- mo produtores e comercializadores de má-
mento com os grupos e as atividades que, a quinas, sementes, fertilizantes, defensivos,
um só tempo, eram objeto e beneficiários de rações, transportadoras, armazéns, proces-
seus estudos. Esses estudos, em contrapartida, sadoras, bancos e, mais adiante, supermer-

15. O livro foi publicado em 1905 e era intitulado An introduction to the study of agricultural economics
(TAYLOR, 1905).
16. Autores como Skocpol e Finegold (1982) procuram mostrar como o BAE, até o New Deal, passou por
um processo de autonomização, conseguindo manter certo grau de distanciamento das pressões dos gru-
pos de interesse, das organizações de agricultores.
17. Para um quadro geral das orientações políticas das organizações de agricultores, ver Hadwiger (1976).

Origens e conexões norte-americanas do agribusiness no Brasil 133


cados. Empresas de sementes, sobretudo de rias agrícolas daquele estado, primeiro co-
milho híbrido, e processadoras de grãos ti- mo professor, até 1930, e depois, até 1936,
veram sem dúvida um papel de destaque. como superintendente. Nesse mesmo perío-
Elas tinham uma forte relação com os land do, cursou e concluiu seu mestrado em Min-
grant colleges, e suas estações experimen- nesota, com uma dissertação sobre custos
tais, e com o USDA. Investiam em pesqui- escolares e o peso dos impostos para agri-
sa e inovação por meio dos colleges e se be- cultores de um condado de Iowa, defendida
neficiavam da rede de extensão para difun- em 1935.19 O tema dos impostos agrícolas
dir seus produtos. Também essas empresas, seguiu sendo sua preocupação por alguns
portanto, pautavam pesquisas e ações de anos. De 1936 a 1938, ele ocupou um pos-
política para a agricultura. A tese de dou- to temporário de economista agrícola assis-
torado de Ray Goldberg, por exemplo, The tente no USDA. Entre 1939 e 1941, ao mes-
soybean industry: with special reference to mo tempo em que voltou a exercer o cargo
the competitive position of the Minnesota de superintendente de escolas agrícolas em
producer and processor, defendida em 1952 Iowa, realizou cursos preparatórios e conse-
na Universidade de Minnesota, teve o seu guiu ingressar no doutorado de Minnesota.
recorte definido juntamente com profissio- O investimento acadêmico de Davis não
nais da Cargill Incorporated, processadora foi feito de uma só vez e nem de forma ex-
de grãos que atuava no estado (GOLDBERG, clusiva. Não foi, ou não pôde ser seu ob-
1952). E Henry Agard Wallace, secretário jetivo estratégico principal. Ele privilegiou
da Agricultura de 1933 a 1940, durante a o trabalho em seguida à graduação, vindo
presidência de Franklin Delano Roosevelt a concluir o mestrado aos 31 anos, 7 de-
e o New Deal, de família de agricultores e pois de formado, e ingressando no doutora-
egresso do Iowa State College, foi o criador, do aos 37 anos. Tanto seu mestrado quan-
em 1926, da Hi-Bred Corn Company, uma to seu doutorado foram cursados e conclu-
das primeiras empresas de produção e co- ídos enquanto trabalhava, e seus objetos de
mercialização de sementes de milho híbrido estudo relacionavam-se com o seu traba-
nos Estados Unidos.18 lho no momento. Seu doutorado, inclusive,
Esses elementos que marcaram a histó- levou cerca de oito anos para ser concluí-
ria da economia agrícola nos Estados Uni- do, quando Davis alcançava a idade de 45
dos estiveram também presentes, em lar- anos e seu nome era já bastante reconhe-
ga medida, na trajetória de John Davis. De cido. Desse modo, não foi primordialmen-
sua graduação em economia pelo Iowa Sta- te o investimento acadêmico que o proje-
te College, em 1928, até 1944, Davis atuou tou, embora tivesse tido um peso importan-
fundamentalmente no serviço público. Tra- te, mas, sobretudo, sua atuação profissio-
balhou, inicialmente, em escolas secundá- nal e na política de representação de inte-

18. A introdução das sementes de milho híbrido levou a um grande aumento da produtividade, tornando
Iowa, pioneiro na sua utilização, o estado mais importante do corn belt. Até os anos 1940, cerca de 90%
dos produtores já utilizavam essas sementes (EZEKIEL, 1966, p. 792; KIRKENDALL, 1986, p. 16; MCDO-
WELL, 2003, p. 35). Vários autores discutem a importância da introdução do milho híbrido na história da
agricultura americana, e na de Iowa em particular. Ver, entre outros, Fitzgerald (1993), Huffman (1998) e
Colbert (2000).
19. O título da dissertação era School Costs and the Farm Tax Burden in Van Buren County, Iowa.

134 R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012


resses. Sua tese de doutorado, An economic rarquia Mórmon.21 O nome de Davis tinha
analysis of the tax status of farmer coope- o apoio, entre outros, do secretário do US-
ratives, defendida em 1949, retomava sua DA, Claude Raymond Wickard. Além dis-
antiga preocupação com a questão dos im- so, Oscar Bernard Jesness, que dirigiu a área
postos na agricultura, centrando-se naque- de economia agrícola de Minnesota entre
le que era, então, o foco da sua atuação po- 1928, com a ida de John D. Black para Har-
lítica: as cooperativas. vard, e 1957, orientador de doutorado de
No mesmo ano em que ingressou no Davis, era conhecido nacionalmente como
doutorado, 1941, Davis voltou a trabalhar um especialista em cooperativismo, consul-
no USDA, assumindo um posto de econo- tor de empresas e mesmo do USDA em di-
mista em uma divisão de pesquisa e servi- ferentes ocasiões, e era próximo de Benson.
ço cooperativo da Administração de Crédi- O convite foi feito pelo próprio Benson, em
to Rural. O trabalho que ali desenvolveu so- fins de 1943, na sede do USDA (FUSONIE,
bre estocagem de grãos levou-o a ser nome- 1986; 1995; COCHRANE, 1983).
ado chefe da seção de trigo da Commodity Davis foi secretário executivo do Con-
Credit Corporation. Essa corporação desem- selho de 1944 a 1952, quando este se tor-
penhou uma função estratégica na política nou uma das mais poderosas organizações
agrícola do New Deal, que teve como três de de agricultores dos Estados Unidos, inclu-
seus pilares o controle dos preços dos pro- sive com vínculos no exterior. A passagem
dutos de modo a garantir um nível elevado pelo National Council of Farmer Coopera-
de paridade entre as rendas rural e urbana, a tives foi central para que, ainda em 1952,
contenção da produção pela definição de li- Davis fosse convidado a compor o conse-
mites das áreas cultivadas nas fazendas e a lho consultivo do programa de pesquisa e
compra e o estoque de excedentes. Era jus- ensino sobre as relações entre agricultura
tamente a Commodity Credit Corporation e negócios que começava então a ser cria-
que cuidava dos excedentes.20 do na Graduate School of Business Admi-
O trabalho de Davis no USDA, princi- nistration da Universidade de Harvard. O
palmente sua relação com as cooperativas papel do conselho era assessorar o desen-
agrícolas, valeram-lhe a indicação para ser volvimento de projetos, identificar temas
o sucessor de Ezra Taft Benson como secre- de pesquisa e selecionar professores. Seus
tário executivo do National Council of Far- componentes vinham das áreas da educa-
mer Cooperatives. Benson dirigiu a entidade ção, do governo, da agricultura e dos negó-
em um período de forte expansão das coo- cios. O programa, cujo objetivo era produ-
perativas agrícolas, de 1939 até 1944, quan- zir pesquisas e atividades de ensino que le-
do passou a ocupar um alto posto na hie- vassem a uma aproximação maior, a uma

20. Sobre as políticas agrícolas do New Deal, ver, entre outros, Saloutos (1974), Schapsmeier e Schaps-
meier (1979a), Skocpol e Finegold (1982), Rasmussen (1983), Geweke, Bonnen, White e Koshel (1999).
21. Benson tinha origem rural, no estado de Idaho. Estudou no Utah State Agricultural College e fez mes-
trado em economia agrícola em Iowa. Foi agente de condado e economista extensionista da Universidade
de Idaho, trabalhando na organização de cooperativas. Foi secretário do Conselho de Cooperativas de
Idaho, antes de assumir a liderança do National Council of Farmer Cooperatives. Era bastante ativo na
Igreja Mórmon e, em 1943, tornou-se apóstolo, ocupando uma posição em uma de suas instâncias mais
elevadas, o Conselho dos Doze Apóstolos (ver BENSON, [2003?])

Origens e conexões norte-americanas do agribusiness no Brasil 135


inter-relação efetiva entre agricultura e ne- tro e fora dos Estados Unidos. Das mudan-
gócios, contava com recursos doados por ças, a extinção do BAE foi uma das que ge-
George M. Moffett, presidente de uma das raram maiores críticas dos economistas agrí-
grandes indústrias processadoras de grãos, colas (HARDIN, 1954; COCHRANE, 1983;
a Corn Products Refining Company. HOOKS, 1990; GEWEKE et al, 1999; SCHAP-
Ao mesmo tempo em que colaborou com SMEIER; SCHAPSMEIER, 1970; SCHAPS-
o programa de Harvard, Davis, em 1953, com MEIER; SCHAPSMEIER, 1992).
a chegada de Eisenhower à Presidência, foi Em um livro publicado em 1962, ano se-
convidado por Ezra Taft Benson, nomea- guinte ao de sua saída do USDA, Benson fa-
do secretário da Agricultura, a voltar ao US- zia referência à reforma. Segundo ele, tra-
DA para presidir a Commodity Credit Corpo- tava-se, em primeiro lugar, de uma tenta-
ration. Benson procurou imprimir um cará- tiva de melhorar a gestão do Departamen-
ter liberal à ação do USDA, reduzindo seu in- to, buscando aumentar sua eficiência e me-
tervencionismo, sua ação regulatória, inves- lhorar a qualidade dos seus serviços. Em se-
tindo contra políticas agrícolas do New Deal gundo lugar, o objetivo era despartidarizar
que haviam até então prevalecido e, interna- o Departamento, levando-o a atuar por cri-
mente, reformando o Departamento e neutra- térios técnicos e não ideológicos (BENSON,
lizando a influência dos Democratas. O estu- 1962). Para alguns autores, porém, o perío-
do da reforma foi coordenado por Davis. O do Benson foi aquele em que o USDA mais
Departamento foi reestruturado, órgãos fo- esteve sujeito às pressões de grupos de in-
ram extintos, funções foram realocadas, anti- teresse. Um deles foi o National Council of
gos integrantes foram aposentados ou afasta- Farmer Cooperatives, que Davis liderou até
dos. Estabeleceu-se um nível hierárquico for- um ano antes de ir para o Departamento e
mado por secretários assistentes, entre o se- que, antes dele, teve à frente o próprio Ben-
cretário e as diversas agências e órgãos do son. Outro foi a AFBF, que teria exercido
Departamento. Ao invés de se reportarem di- influência maior. Romeo Ennis Short, um
retamente ao secretário, como ocorria antes, dos secretários assistentes do USDA, havia
tornaram-se estes subordinados aos secretá- sido vice-presidente da AFBF até a época de
rios assistentes, o que representava uma re- assumir seu posto (HOOKS, 1990).
dução na sua autonomia. Davis era um dos A reorganização interna do USDA foi
secretários assistentes, dirigindo o Foreign feita, apesar das críticas.22 Externamen-
Agricultural Service e o Agricultural Marke- te, porém, as propostas de Benson não ti-
ting Service, e tinha, sob a sua coordenação, veram a mesma sorte. Suas mais fortes in-
parte das atribuições do BAE, que foi extin- vestidas eram contra os controles de pre-
to. Na nova organização, portanto, a pesqui- ços, que qualificava como um atentado à
sa econômica ficava em grande parte subor- liberdade, e as compras de excedentes, que
dinada à comercialização dos produtos, den- estimulavam a produção de mais exceden-

22. No início de 1954, pouco após a reforma e a extinção do BAE, o Journal of Farm Economics publicou
um dossiê intitulado “The fragmentation of the BAE”, com textos de diversos economistas com comentá-
rios críticos. Entre eles estavam Henry C. Taylor e John D. Black. Ver Wells, Black, Appleby, Taylor, Tol-
ley, Penn e Schultz (1954).

136 R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012


tes.23 Suas tentativas de eliminação ime- te da política externa americana e poderia
diata desses mecanismos atraíram as críti- contribuir para a redução da fome em paí-
cas não apenas de entidades identificadas ses pobres. Ela deveria ser feita em articu-
com os Democratas, como a National Far- lação com programas de desenvolvimento
mers’ Union, mas também das que lhe eram dos países receptores, de modo a não ini-
mais próximas, como a AFBF e o National bir a produção local. Isso, ao mesmo tempo,
Council of Farmer Cooperatives. Atribui-se representaria um estímulo ao comércio in-
mesmo à ação de Benson à frente do US- ternacional de produtos agrícolas dos Esta-
DA a derrota dos Republicanos nas eleições dos Unidos.25
parlamentares de 1954 (MCCUNE, 1958). No ano seguinte à sua saída do USDA,
Por isso mesmo, Eisenhower terminou por Davis tornou-se professor de Harvard, onde
atenuar as propostas de Benson, optando passou a dirigir o programa de agricultura
por uma transição mais gradual (SCHAPS- e negócios da Graduate School of Business
MEIER; SCHAPSMEIER, 1970).24 Administration. É interessante observar que
Davis permaneceu no USDA até 1954. a doação de Moffett para a criação do pro-
Ele vinha acumulando algumas divergên- grama foi para a escola de administração de
cias em relação ao secretário, sobretudo no negócios e não para a de economia, onde
que dizia respeito ao ritmo das medidas li- estava John D. Black. De fato, Black perten-
beralizantes, da redução da presença e do cia a uma geração de economistas agríco-
apoio do Estado (FUSONIE, 1995). Consi- las de prestígio e de reconhecimento, mas
derava que seria difícil reduzir a produção que vinha, desde o final da II Guerra Mun-
de excedentes em curto prazo, mesmo com dial, sendo deslocados da cena principal por
estímulos à limitação das áreas de plantio, outros de orientação mais liberal. Seu grupo
pois o uso cada vez mais intenso de tec- estava nas origens do campo da economia
nologia vinha aumentando a produtivida- agrícola, havia criado departamentos uni-
de em uma escala ainda maior. Propunha versitários, associações profissionais, orien-
que os estoques de excedentes do gover- tado agências e políticas públicas e formado
no fossem utilizados parcialmente para a seus quadros. A economia agrícola que ha-
ajuda externa. Essa ajuda deveria ser par- via ensinado e praticado, originada dos land

23. A atuação política de Benson era fundada e frequentemente justificada com referências religiosas. Era
também como um mórmon que ele se opunha ao New Deal. Este, segundo ele, limitava a liberdade, que
tinha sido dada por Deus e que, portanto, devia ser defendida como todo afinco. O New Deal limitava a li-
berdade do agricultor infantilizando-o, tratando-o como incapaz de cuidar de si mesmo e de competir no
mercado (BENSON, 1962). Para algumas indicações do peso da relação entre religião e orientação política
em Benson, ver Schapsmeier e Schapsmeier (1979).
24. McCune (1958) argumenta que era difícil identificar o voto do agricultor de forma rígida a algum parti-
do. Sua preferência podia variar de uma conjuntura para outra, dependendo do que estivesse em jogo. Ao
mesmo tempo, não havia uma correlação necessária entre pertencimento a uma organização de agricultores
e adesão à sua orientação ideológica mais geral. Era comum, argumenta o autor, que um agricultor, ou or-
ganização local de agricultores, pertencesse a mais de uma entidade nacional, muitas vezes adversárias.
25. Em 1959, quando ainda estava em Harvard, Davis escreveu um texto sobre o uso de excedentes na
ajuda externa, “Agricultural surpluses and foreign aid”, apersentado em um encontro da American Eco-
nomic Association (DAVIS, 1959).

Origens e conexões norte-americanas do agribusiness no Brasil 137


grant colleges, fundava-se na extensão, em nável. Falando em uma reunião da Ame-
uma ponta, e na orientação e na execução rican Society of Farm Managers and Rural
de políticas públicas na outra. Em meados Appraisers em 1952, mesmo ano da cria-
dos anos 1950, porém, seu poder de influen- ção do programa de Harvard, Walter B. Ga-
ciar políticas agrícolas era mais reduzido, o tvet, representante da Câmara de Comércio
serviço público, as universidades, o exten- dos Estados Unidos, enfatizou que não ha-
sionismo não representavam mais a gran- via conflito entre os interesses dos negó-
de maioria das possibilidades de inserção cios e da agricultura e que estes deveriam
profissional para os economistas agrícolas. reconhecer que eram parceiros. Não cabiam
A iniciativa privada abria espaços de atua- mais desconfianças entre campo e cidade,
ção crescentes quer como empregados quer não cabiam mais oposições entre agricultu-
como consultores, dentro e fora dos Esta- ra e negócios (WOODMAN, [19--?]). Foi jus-
dos Unidos. Não foram apenas os produtos tamente com recursos de uma das maiores
da agricultura americana que passaram a indústrias processadora de grãos, com atu-
circular internacionalmente de modo mais ação também em outros países, entre eles o
intenso, pela via do comércio ou da ajuda Brasil, que o programa de agricultura e ne-
internacional, mas também os economis- gócios de Harvard foi criado.
tas agrícolas (COCHRANE, 1983; SCHAPS- Davis tinha vínculos com uma das maio-
MEIER; SCHAPSMEIER, 1992). res organizações de agricultores e um grupo
Acrescente-se a isso que o que interes- de lobby poderoso em Washington, o Na-
sava aos patrocinadores do programa era a tional Council of Farmer Cooperatives, com
promoção de uma efetiva inter-relação en- ramificações internacionais. Ele havia saí-
tre agricultura e negócios, mudando a visão do recentemente do USDA, onde havia co-
mais corrente que se tinha daquela como mandado a, até então, maior entidade de
um setor isolado, com interesses particula- crédito do país, a Commodity Credit Corpo-
res e, por vezes, opostos aos da indústria, ration, que também era a responsável pelos
do comércio e mesmo das finanças. E quan- estoques de excedentes, além dos serviços
do se falava em mudança de visão, o alvo de comercialização interna e externa. Davis,
maior eram os agricultores e suas organiza- para terminar, conhecia a estrutura atual,
ções que, durante muitos anos, viram com até porque colaborou na sua montagem, e o
preocupação e desconfiança o crescimen- modus operandi do USDA, que era uma das
to da indústria e dos bancos, a expansão e maiores agências do governo, só perdendo
o enriquecimento das cidades. Das políticas em movimentação de recursos, então, para
agrícolas do New Deal que Benson tentou a área da Defesa, e cujas decisões afetavam
eliminar, uma das que enfrentaram maiores milhões de pessoas, além de empresas que
resistências, inclusive das organizações que atuavam no país e no comércio internacio-
lhe eram mais próximas, como a AFBF, foi a nal (BENSON, 1962). E sua relação com o
que buscava garantir níveis de paridade en- secretário, não é demais lembrar, era bas-
tre as rendas rural e urbana pela via da ga- tante próxima.
rantia de preços. A associação com Davis, com o progra-
Foram, sobretudo, empresários urbanos ma de Harvard e, assim também, com a in-
que começaram defender a mudança, apre- venção do agribusiness, foram fundamen-
sentando-a como fundamental e incontor- tais na carreira de Goldberg. Nascido em

138 R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012


1926, portanto 22 anos depois de Davis, sua ra os refugiados palestinos, passando a se
profissionalização na economia agrícola foi envolver com questões relativas ao Orien-
já no novo contexto dos anos 1950. Gold- te Médio. Embora não tivesse relação pré-
berg não vinha de uma família de agricul- via com os problemas do Oriente Médio, o
tores, embora tivesse relação com estes. Seu envolvimento de Davis com a ajuda exter-
pai era um comerciante de sementes, grãos na, como se viu, era anterior. Um dos temas
e rações, e sua formação foi não em um com os quais lidou como secretário adjunto
land grant college, mas em Harvard. Sua do USDA foi o da produção e circulação in-
opção após a conclusão da graduação, em ternacional de alimentos. Também como di-
1948, indica que seu objetivo eram os negó- rigente do National Council of Farmer Coo-
cios. Ele ingressou imediatamente no MBA peratives sua ação esteve voltada para o te-
da Graduate School of Business Adminis- ma. Em um texto escrito em 1947, quando
tration de Harvard. Foi durante o MBA, ao era ainda secretário da entidade, Davis co-
cursar um seminário de economia agríco- mentava a criação da Food and Agricultural
la ministrado por John D. Black, que Gold- Organization das Nações Unidas (FAO), as-
berg se decidiu pelo doutorado. Ao concluir sim como da International Trade Organiza-
o MBA, em 1950, ele iniciou o doutorado tion (ITO), e reclamava do Departamento de
em economia agrícola de Minnesota, então Estado a maior inclusão das organizações
ainda dirigido por Oscar B. Jesness, orienta- de agricultores nos debates e decisões acer-
dor de Davis.26 Sua tese sobre a indústria da ca das agências. Falava, ao mesmo tempo,
soja, a produção e o processamento, foi de- de sua participação nas articulações para a
fendida em 1952, aos 26 anos. criação de uma International Federation of
Goldberg trabalhou nos negócios da fa- Agricultural Producers, com o objetivo de
mília até 1955, quando se tornou assisten- influenciar políticas agrícolas a nível inter-
te de Davis no programa de Harvard. Além nacional (DAVIS, 1947). Ocupava a Presi-
de auxiliá-lo nas pesquisas e na redação de dência, na época, o Democrata Harry S. Tru-
A concept of agribusiness, ele colaborou no man. Durante o período de Eisenhower, Da-
seminário eletivo de agricultura e negócios vis, já em Harvard, foi sondado sobre a pos-
que Davis criou no âmbito do MBA da Gra- sibilidade de dirigir a FAO, mas recusou ar-
duate School of Business Administration. gumentando que não seria razoável, já que
Nos anos 1960, após a saída de Davis, o cur- os dois antecessores também eram america-
so já havia se tornado um seminário regular nos (KILLGORE, 1985).
de agribusiness, encabeçado por Goldberg. Uma das marcas da gestão de Davis na
Se os percursos anteriores de Davis e U.N.R.W.A., terminada em 1963, foi, com
de Goldberg foram distintos, mas se cruza- base em sua experiência prévia com esco-
ram em Harvard e na invenção do agribusi- las agrícolas, o investimento no ensino, so-
ness, tenderam, a partir daqui, novamente bretudo técnico e profissional, para jovens
a se distinguir. Davis permaneceu em Har- palestinos. Além da agência, ele também foi
vard até 1959, quando, a convite de Eise- vice-diretor do conselho de administração e
nhower, foi dirigir a U.N.R.W.A. (United Na- direção da Universidade Americana de Bei-
tions Refugee Works Agency), voltada pa- rute e primeiro presidente da American Ne-

26. O orientador de Goldberg foi Rex W. Cox (ver GOLDBERG, 1952).

Origens e conexões norte-americanas do agribusiness no Brasil 139


ar East Refugee Aid (ANERA), organização ções e dos meios de entrada e de difusão da
não governamental criada após a guerra de noção e da sua efetivação, da sua concreti-
1967 entre árabes e israelenses, cujo objeti- zação em nosso país. Não haverá possibili-
vo era promover a saúde e a educação entre dade de explorar de modo mais sistemático
refugiados palestinos.27 esse processo no Brasil, no espaço deste ar-
Já Goldberg, que apenas iniciava sua tigo. Isso será feito em outros trabalhos. O
carreira universitária e que passou a ser a que cabe, no momento, é tão somente in-
principal referência em agribusiness com a dicar alguns aspectos e interconexões entre
saída de Davis, investiu longamente na Uni- agentes fundamentais nos Estados Unidos e
versidade de Harvard, ali permanecendo no Brasil.
até a aposentadoria, tornando-se professor Aqui como lá, a noção de agribusiness
emérito em 1997. Capitalizando sua asso- fluiu para a agricultura impulsionada pelos
ciação com a formulação e a conceituação negócios. Sua difusão e afirmação no Brasil
de agribusiness, Goldberg afirmou-se tam- são atribuídas em grande parte ao agrôno-
bém como empresário e consultor, dentro mo Ney Bittencourt de Araújo, que presidiu
e fora dos Estados Unidos, chegando mes- a empresa de sementes Agroceres. Homena-
mo a criar e liderar organizações de repre- geado pela Sociedade Rural Brasileira (SRB)
sentação. Ele foi criador, em 1990, e primei- quando de sua morte, em 1996, ele foi cha-
ro presidente da International Agribusiness mado de “dínamo do agribusiness” brasilei-
Management Association (IAMA).28 ro (RODRIGUES, 1996).
Seu reconhecimento como formulador Ney Bittencourt de Araújo fez do agri-
da noção de agribusiness, seu trabalho co- business uma bandeira sobretudo após ter
mo consultor e presidente do IAMA e, prin- participado do seminário de Goldberg em
cipalmente, seu seminário em Harvard, por Harvard, a partir dos anos 1970.29 Ele ha-
onde passaram vários empresários, executi- via se formado em 1958, pela Escola Su-
vos, ou pretendentes, dos Estados Unidos e perior de Agricultura e Veterinária (ESAV)
de vários outros países, o conectaram com da então Universidade Rural do Estado
a afirmação do agribusiness no Brasil. Na de Minas Gerais (UREMG), que originou
verdade, além dele, outros atores importan- a Universidade Federal de Viçosa.30 Seu
tes na história do agribusiness nos Estados pai, Antônio Secundino de São José, foi
Unidos estiveram presentes também no Bra- da primeira turma de engenheiros-agrô-
sil, formando uma rede internacional que nomos a se formar naquela mesma Escola,
foi fundamental na conformação das condi- onde também se tornou professor, vindo

27. Davis também criou e dirigiu, por alguns anos, a Fundação Musa Alami de Jericó, que amparava ór-
fãos na cidade de Jericó, na Cisjordânia. Cf. Howard (1964), (ver KILLGORE, 1985; RICHARDSON, [19--?]).
28. Os dados biográficos de Davis e de Goldberg utilizados nesse artigo foram extraídos de Fusonie (1995;
1986), Hamilton (2008), AAEA (2005), Smith (2010), Killgore (1985), Harvard... (c2012), NNDB (c2012),
USDA (2010), George... ([20--?]), e American... ([2005?]).
29. As informações que se seguem sobre a trajetória de Ney Bittencourt de Araújo e da empresa que diri-
giu, a Agroceres, foram extraídas de Agroceres (1995), Araújo, Wedekin e Pinazza (1990), Castro (1988),
Durr (2006), Haag (2009), Rodrigues (1996), Stal (1993), Zylberstajn, Turner e Jones (2000), Pacheco
(2006), Henry ([20--?]), IOWA (2011) e General... ([20--?]).
30. A UREMG transformou-se na Universidade Federal de Viçosa em 1969.

140 R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012


a ser Chefe do Departamento de Genética, ponto de vista das informações que acumu-
Experimentação e Biometria. Em 1937, pe- lou sobre possibilidades de investimento no
la intermediação de John B. Griffing, en- Brasil, entre as quais a produção comercial
tão diretor da ESAV, Antônio Secundino de sementes de milho híbrido, quanto pelas
obteve uma bolsa para um período de for- redes de relações pessoais.
mação nos Estados Unidos, em uma esta- Saindo da empresa, ele criou a Agroceres
ção experimental em Stoneville, no Mis- Ltda., em 1945, com mais dois sócios brasi-
sissipi, e no Iowa State College.31 leiros, Gladstone de Almeida Drummond, seu
A passagem pelos Estados Unidos, e por assistente na ESAV, e Adílio Vitarelli, técnico
Iowa em particular, foi fundamental pa- agrícola formado pela ESAV, e dois america-
ra a trajetória futura de Antônio Secundi- nos, John Ware, com quem havia trabalhado
no, consolidando seu interesse de pesquisa. na General Mills, e o economista Dee William
Ele ali foi aluno do geneticista E. W. Linds- Jackson, ligado a John Ware, que havia tra-
trom, criador do Departamento de Genética balhado no Office of Inter-American Affairs e
da Divisão de Agricultura da Faculdade, in- na Embaixada Americana no Brasil. A com-
teressado em milho híbrido. Foi lá também panhia tinha como principal objetivo, em-
que conheceu Henry A. Wallace, por inter- bora não único, a produção e a venda de se-
médio de seus filhos, quando já existia a Hi- mentes de milho híbrido.
-Bred Corn Company, e Nelson Rockefeller. Em 1946, em parte pela intermediação
De volta ao Brasil em 1938, Antônio Se- de Dee William Jackson, Nelson Rockefeller,
cundino concentrou o seu trabalho no De- por meio da recém-criada International Ba-
partamento de Genética da ESAV na pes- sic Economy Corporation (IBEC), associou-
quisa com sementes de milho híbrido. No -se ao grupo da Agroceres. Dessa associa-
início dos anos 1940, porém, se afastou da ção surgiu a Sementes Agroceres S.A. (SA-
Escola para ocupar a Secretaria de Agricul- SA), cujo capital era majoritariamente con-
tura, Viação e Obras Públicas do estado da trolado pela IBEC, e para a qual a Agroce-
Paraíba, em 1941, e no ano seguinte, já no res Ltda. seria uma prestadora de serviços. A
esforço de guerra, tornou-se assessor téc- associação perduraria por vários anos.
nico da Comissão Brasileiro-Americana de Em 1970, por indicação da IBEC, Ney
Produção de Gêneros Alimentícios, criada Bittencourt de Araújo, que já vinha assu-
pelo Ministério da Agricultura e pelo Office mindo funções de direção na Agroceres des-
of Inter-American Affairs, dirigido por Nel- de a década anterior, fez um curso de ad-
son Rockefeller, com o objetivo de produzir ministração na American Management As-
alimentos para os dois países. Já em 1944, sociation, em Nova York. Na ocasião ele
Antônio Secundino trocou o posto por um também visitou universidades americanas
emprego na subsidiária brasileira da empre- e empresas produtoras de sementes. Des-
sa americana General Mills, uma das maio- sa década em diante, participou do seminá-
res do mundo na produção de farinha de tri- rio de agribusiness de Harvard, o que se deu
go. A passagem pela General Mills foi im- ao mesmo tempo em que buscou diversifi-
portante para Antônio Secundino, tanto do car os investimentos da Agroceres e a criar

31. John B. Griffing foi responsável pela passagem de vários alunos da ESAV pelo Iowa State College (ver
Pacheco, 2006).

Origens e conexões norte-americanas do agribusiness no Brasil 141


novas parcerias, julgando a empresa exces- drigues ganhou visibilidade à frente do mo-
sivamente dependente das sementes de mi- vimento cooperativista, chegando à pre-
lho, que representavam 80% de suas ven- sidência da Organização das Cooperativas
das, e da IBEC.32 Foi no seminário de 1976 Brasileiras (OCB) em meados dos anos 1980.
que ele conheceu Ken Woolley, então di- Seu nome ganhou projeção nacional tam-
retor da Pig Improvement Company (PIC), bém nesse período, sobretudo com a criação
empresa que desenvolvia pesquisas de me- da Frente Ampla da Agropecuária Brasilei-
lhoria genética de porcos. Do encontro re- ra, em 1986.
sultou, em 1977, uma associação que per- A Frente visava aglutinar os interesses
mitiu à Agroceres expandir a sua atuação do setor agropecuário e influir na nova ins-
também para o campo da genética ani- titucionalidade que se construía após o fim
mal. Tudo isso, cabe ressaltar, se deu tam- do regime militar, particularmente na elabo-
bém como parte de um movimento de Ney ração da nova Constituição. Dela participa-
Bittencourt de Araújo de retomar o contro- vam entidades patronais rurais, com exce-
le acionário da Agroceres, o que aconteceu ção da União Democrática Ruralista (UDR),
em 1980. Essa retomada vinha sendo pen- além de outros setores, como o financeiro,
sada desde os anos 1960, quando a empre- que também tinham relação com a agrope-
sa passou a buscar diversificar a sua produ- cuária. Roberto Rodrigues foi secretário da
ção. Entre as suas condições de possibilida- Frente e, nessa condição, tomou a dianteira
de estava o fato de que a IBEC, em especial de várias ações e negociações importantes,
a partir de meados dos anos 1970, vinha re- ganhando projeção nacional para além dos
estudando seus investimentos em agribusi- círculos agropecuários e do movimento co-
ness, contando com a orientação de Gold- operativista. Ele se afirmou como um arti-
berg, primeiro como consultor e, em segui- culador e um interlocutor importante, apre-
da, como membro do conselho. sentando-se como um contraponto às posi-
A ideia de agribusiness, que antes cir- ções mais extremadas da UDR, além de se
culava em comunicações internas, restritas, tornar um porta-voz reconhecido de uma
entre a IBEC e a Agroceres, foi ganhando di- agropecuária que se apresentava como mo-
mensão pública e fôlego ao longo dos anos derna, que pensava para além da porteira da
1980, sendo apropriada por uma parcela do fazenda e que se internacionalizava.
empresariado rural que passou a disputar Para Ney Bittencourt de Araújo, que te-
posições hegemônicas com antigas lideran- ve também um papel importante na Fren-
ças do setor, que estavam à frente de enti- te Ampla da Agropecuária Brasileira, ela era
dades mais tradicionais, como a Sociedade expressão da articulação política do agribu-
Nacional de Agricultura (SNA) e a Confede- siness no país. Ele e Roberto Rodrigues ti-
ração Nacional da Agricultura (CNA).33 Um nham já uma ligação prévia, tendo aquele
nome importante nessas disputas foi o do ocupado uma diretoria da OCB sob a presi-
agrônomo Roberto Rodrigues. Produtor de dência deste. Além de articulações políticas
cana no estado de São Paulo, Roberto Ro- e empresariais, Ney Bittencourt de Araújo

32. No início da década de 1970, as sementes de milho híbrido foram atacadas por um fungo que, nos Es-
tados Unidos, levou à perda de uma grande parte da colheita. A Agroceres, naquele momento, decidiu eli-
minar toda a sua produção, investindo na busca de sementes resistentes (RODRIGUES, 1996).
33. Sobre esse assunto, ver Bruno, Carneiro e Sevá (2009).

142 R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012


aproximava-se dos meios acadêmicos, fre- ano de 1990, ele foi também um dos mem-
quentando encontros e congressos nacio- bros fundadores da IAMA, presidida por
nais, como os da Sociedade Brasileira de Goldberg, e participante do seu conselho de
Economia, Administração e Sociologia Ru- diretores (ver IFAMA, [20--?]).
ral (SOBER) e conmgressos internacionais, A partir da década de 1990, agribusiness,
onde não apenas colhia ideias, mas também mais do que uma noção, um conceito, pas-
apresentava trabalhos. A Agroceres, que era sou a ser uma categoria de aglutinação e de
já uma empresa reconhecida pelo desenvol- identificação de agentes e instituições diver-
vimento de pesquisa aplicada em semen- sos, com porta-vozes e órgãos de represen-
tes e, posteriormente, também em melhoria tação próprios. O trabalho de imposição do
animal,34 passou a ser uma base importan- termo foi parte do processo de constituição
te para o debate e a afirmação do agribusi- do grupo que buscava definir. Em 1993, foi
ness nos meios empresariais, mas igualmen- criada a Associação Brasileira de Agribusi-
te nos acadêmicos.35 ness (ABAG), presidida por Ney Bittencourt
Em 1990, marcando os 45 anos de exis- de Araújo. A ABAG congregava, além de ór-
tência da Agroceres, Ney Bittencourt de gãos de representação como a SRB, a SNA e
Araújo lançou, juntamente com dois agrô- a OCB, diversas empresas, como Agroceres
nomos da empresa, Ivan Wedekin e Luiz e Sadia. Ela atuava nos meios empresariais,
Antônio Pinazza, um livro que é também mas também buscava articulações com a po-
citado como um marco importante do de- lítica e, sobretudo, com os centros de pro-
bate e da afirmação do agribusiness no Bra- dução de políticas públicas e conselhos re-
sil, Complexo agroindustrial: o agribusiness lacionados aos seus interesses. Sua criação,
brasileiro (ARAÚJO; WEDEKIN; PINAZZA, em maio de 1993, foi anunciada justamente
1990). Além disso, promoveu um seminário no salão Nereu Ramos, no Congresso Nacio-
para o qual trouxe Ray Goldberg. Na verda- nal. E no mesmo ano de 1993, tendo Itamar
de, ao mesmo tempo em que importava, im- Franco na Presidência do país, Ney Bitten-
punha e difundia a noção de agribusiness court de Araújo foi nomeado membro do re-
no Brasil, vinculando também seu nome a cém-criado Conselho Nacional de Seguran-
ela, Ney Bittencourt de Araújo ampliava sua ça Alimentar (CONSEA).36
presença em redes internacionais ligadas ao Informação e pesquisa foram também
agribusiness, tendo seus vínculos com Ray duas áreas de forte investimento da ABAG,
Goldberg colaborado para isso. No mesmo tendo Ney Bittencourt de Araújo uma par-

34. Em 1981, logo após retomar o controle da Agroceres, Ney Bittencourt de Araújo conseguiu, junto à
Finep, um grande financiamento para o desenvolvimento de pesquisa aplicada voltada para sementes (RO-
DRIGUES, 1996,p. 94). A proximidade de Ney Bittencourt de Araújo com o campo acadêmico, fazendo a
ponte entre empresa e pesquisa, rendeu-lhe o assento em conselhos de órgãos como o CNPq, a Embrapa e
o Laboratório Nacional de Luz Sincrotron. Ele foi, também, presidente do grupo Universidade-Empresa do
Fórum de Desenvolvimento de São Paulo, da Secretaria de Ciência e Tecnologia de São Paulo.
35. Em algumas de suas idas a Harvard para participar do seminário de agribusiness, Ney Bittencourt de
Araújo levou também técnicos da empresa. Um dos que foram foi o agrônomo Ivan Wedekin que, poste-
riormente, teve também o seu nome ligado à afirmação do agribusiness no Brasil (RODRIGUES, 1996).
36. Em 14 de junho de 1993, um mês após o anúncio da criação da ABAG no Congresso Nacional, reali-
zou-se em São Paulo um Seminário de Agribusiness, onde foi lançada a entidade. O evento dividiu-se em

Origens e conexões norte-americanas do agribusiness no Brasil 143


ticipação ativa até a sua morte, em 1996. brasileiro, a noção começa a circular a par-
A ABAG estimulou a produção de pesquisas tir de um grupo empresarial, com vínculos
sobre o agribusiness buscando, dessa forma, no exterior, e é apropriado por um setor do
abastecer-se de informações e análises para patronato rural que se apresentava como
balizar as suas ações. novo, buscando deslocar os setores tradi-
cionais. E mais, isso se dá em um momento
3 Considerações finais em que a agricultura brasileira, assim como
a economia de maneira mais ampla, tam-
Reencontramos, nas origens do agribu- bém passa por um processo de abertura e
siness no Brasil, agentes presentes na sua de internacionalização. E é na sua afirma-
gênese nos Estados Unidos: universidades ção social e econômica que os grupos vin-
como Iowa e Harvard, empresas processa- culados à ideia de agrobusiness no Bra-
doras, produtoras de semente de milho hí- sil vão construir elos com as universida-
brido, grupo Rockefeller e indivíduos co- des. Há, hoje, inúmeros projetos e grupos
mo o próprio criador do conceito, Ray Gol- de pesquisa centrados no tema do agribusi-
dberg. Ele aqui entra e se afirma a partir ness, além de cursos de pós-graduação lato
dos investimentos de agentes que, pela sua e stricto sensu. De maneira geral, porém, o
história, pela sua trajetória, tiveram cone- agribusiness é tomado como um ente, com
xões com os americanos: Ney Bittencourt características, interesses, formas de ação
de Araújo e a Agroceres. No caso dos Esta- próprias, como uma realidade incontorná-
dos Unidos, o conceito surge na universi- vel, com relação à qual se concorda, se dis-
dade e, daí, se projeta para a sociedade, ga- corda ou simplesmente se reflete, mas para
nhando objetividade, existência na forma cuja gênese social pouco se atenta. Foi para
de entidades e instituições diversas, com isso que se procurou aqui contribuir.
porta-vozes próprios, políticas próprias.
Mas se ele surge na universidade, é a par-
tir de um espaço, como o da economia agrí-
cola, com uma forte interseção com a polí-
tica, com grupos de interesse e com os ne-
gócios. Surge, inclusive, com recursos do
mundo dos negócios. E mais, em um perío-
do de forte internacionalização dos grupos
ligados ao agribusiness nos Estados Unidos,
tanto nos negócios quanto na universidade.
Na verdade, a afirmação do agribusiness no
Brasil tem também a ver com essa interna-
cionalização, devendo-se a ela, em parte, a
presença daqueles agentes no país. No caso

quatro painéis principais: segurança alimentar; agribusiness - conceitos e abrangência; tamanho e custo
do Estado; e infra-estrutura e o agribusiness brasileiro (www.abag.com.br). Mais tarde, já no governo Fer-
nando Henrique Cardoso, em 1995, Ney Bittencourt de Araújo foi membro do conselho do programa Co-
munidade Solidária.

144 R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012


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CPDOC-FGV e do Departamento de História da
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UFF e pesquisador do CNPq. Tem trabalhos pu-
nual Report 1969. New York: The Ford Foun-
blicados sobre elites no Brasil, teoria das elites e
dation, 1969.
questão agrária. Sua pesquisa mais recente é
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