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Biossegurança

Autores: Prof. Bruno Vieira Caputo


Prof. Renato Fernandes
Profa. Daclé Juliani Macrini
Colaboradoras: Profa. Roberta Pasqualucci Ronca
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professores conteudistas: Bruno Vieira Caputo / Renato Fernandes /
Daclé Juliani Macrini

Bruno Vieira Caputo

É doutor em Diagnóstico Bucal pela Universidade de São Paulo (USP), em 2014. Possui mestrado em Odontologia
pela Universidade Paulista (UNIP), em 2011. Também possui especialização em Endodontia pela UNIP (2014). Graduado
em Odontologia pela UNIP (2008), atua como cirurgião dentista e trabalha na UNIP desde 2012, como professor
nas disciplinas de Ergonomia e de Bioética no curso de Odontologia. No curso de Gestão Hospitalar, é professor da
modalidade presencial e EaD da disciplina Biossegurança.

Renato Fernandes

Engenheiro mecânico formado em 1996, foi responsável por diversos projetos dentro de indústrias alimentícias.
Participou de comissões de implantação de APPCC como instrutor e também como auditor de normas de Boas
Práticas de Fabricação de Alimentos. Em 2003, formou-se mestre em Engenharia Química, enfocando o projeto de
equipamentos industriais para tratamento térmico de alimentos. Trabalha na Universidade Paulista (UNIP) desde 2009,
atuando como professor de Biossegurança, Bioética e Química.

Daclé Juliani Macrini

Farmacêutica, graduada em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de São Paulo (FCFUSP), em 1982, especialista
em Fitoterapia pelo Instituto Brasileiro de Homeopatia E (FACIS IBEHE), em 2000, mestre em Produção e Controle de
Medicamentos na área de Cosmetologia pela Universidade de São Paulo (FCFUSP), em 2004 e Doutora em Patologia
Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista (UNIP), em 2014. Possui diversos artigos publicados em revistas
nacionais e internacionais e livros na área da saúde. Possui vasta experiência em montagem, gestão, coordenação
e biossegurança em laboratórios, em orientação de pesquisas científicas, e em docência em nível básico, médio,
técnico, superior, pós-graduação (presencial e a distância) e em cursos livres de aprimoramento. Na UNIP, atua como
coordenadora do curso de Estética e é docente nos cursos superiores do Instituto de Ciências da saúde nas disciplinas
de Biossegurança, Fitocosmetologia entre outras.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C255b Caputo, Bruno Vieira.

Biossegurança. / Bruno Vieira Caputo, Renato Fernandes, Daclé


Juliani Macrini. – São Paulo: Editora Sol, 2022.
128 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Biossegurança. 2. Equipamentos de proteção. 3. Gestão de qualidade.


I. Caputo, Bruno Vieira; Fernandes, Renato; Macrini, Daclé Juliani. II. Título.

CDU 614.4

U514.28 – 22

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Reitor

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Reitora em Exercício

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Vice-Reitora de Administração

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Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento e Finanças

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Vice-Reitora de Unidades do Interior

Unip Interativa

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático

Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Angélica L. Carlini
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. Deise Alcantara Carreiro

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Vitor Andrade
Giovanna Oliveira
Juliana Muscovick
Sumário
Biossegurança

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 INTRODUÇÃO À BIOSSEGURANÇA...............................................................................................................9
1.1 Histórico e evolução ao longo dos anos.........................................................................................9
1.2 Biossegurança na atualidade........................................................................................................... 13
1.2.1 Definições de biossegurança, saúde e higiene............................................................................. 14
2 NOÇÕES BÁSICAS EM BIOSSEGURANÇA E ACIDENTE DE TRABALHO........................................ 15
2.1 Perigo versus riscos.............................................................................................................................. 17
2.2 Tipos de riscos......................................................................................................................................... 17
2.3 Acidente de trabalho........................................................................................................................... 18
3 RISCOS OCUPACIONAIS................................................................................................................................. 21
3.1 Riscos físicos........................................................................................................................................... 21
3.2 Riscos químicos...................................................................................................................................... 23
3.3 Riscos biológicos.................................................................................................................................... 26
3.3.1 Classificação dos riscos biológicos................................................................................................... 27
3.4 Riscos ergonômicos.............................................................................................................................. 29
3.5 Riscos de acidentes............................................................................................................................... 32
3.6 Riscos psicossociais.............................................................................................................................. 32
3.7 Mapa de risco.......................................................................................................................................... 33
3.8 Níveis de biossegurança..................................................................................................................... 35
3.8.1 Doenças ocupacionais de origem biológica mais comuns: conduta e normas
de biossegurança................................................................................................................................................ 39
3.8.2 Síndrome de burnout ou esgotamento profissional................................................................. 40
3.8.3 Cipa................................................................................................................................................................ 41
3.8.4 SESMT........................................................................................................................................................... 43
4 LEGISLAÇÃO EM BIOSSEGURANÇA........................................................................................................... 44
4.1 Conceito.................................................................................................................................................... 45
4.2 Histórico.................................................................................................................................................... 46
4.3 Lei n. 11.105/2005................................................................................................................................. 47
4.4 Engenharia genética............................................................................................................................ 47
4.5 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)............................................................................ 49
4.6 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)....................................................... 50
Unidade II
5 EPI (EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL) E EPC (EQUIPAMENTOS DE
PROTEÇÃO COLETIVA)......................................................................................................................................... 60
5.1 Equipamentos de proteção............................................................................................................... 60
5.1.1 EPI.................................................................................................................................................................. 60
5.1.2 EPC................................................................................................................................................................. 67
6 INCÊNDIOS E COMBATE AO FOGO............................................................................................................ 71
6.1 Tetraedro do fogo.................................................................................................................................. 71
6.2 Classificação de incêndios................................................................................................................. 73
6.2.1 Métodos de extinção do fogo............................................................................................................ 75
6.3 Tipos de extintores................................................................................................................................ 76
6.4 Medidas de prevenção e combate a incêndios......................................................................... 78

Unidade III
7 LIMPEZA, DESINFECÇÃO E ESTERILIZAÇÃO........................................................................................... 84
7.1 Limpeza..................................................................................................................................................... 84
7.1.1 Tipos de limpeza....................................................................................................................................... 84
7.1.2 Tipos de detergentes.............................................................................................................................. 86
7.1.3 Limpeza dos instrumentais.................................................................................................................. 86
7.2 Desinfecção.............................................................................................................................................. 87
7.3 Esterilização............................................................................................................................................. 90
7.3.1 Métodos de esterilização...................................................................................................................... 90
7.3.2 Classificação dos artigos....................................................................................................................... 97
7.4 Higienização e lavagem das mãos................................................................................................. 99
7.4.1 Antissépticos utilizados.......................................................................................................................101
7.5 Gerenciamento de resíduos............................................................................................................104
7.5.1 Classificação dos resíduos de serviço da saúde.........................................................................106
8 CONSERVAÇÃO DE REAGENTES, INSUMOS, MEDICAMENTOS E
PRODUTOS COSMÉTICOS................................................................................................................................109
8.1 Fatores extrínsecos causadores de alterações em produtos..............................................109
8.1.1 Calor............................................................................................................................................................109
8.1.2 Luz................................................................................................................................................................109
8.1.3 Umidade.................................................................................................................................................... 110
8.1.4 Agentes microbianos............................................................................................................................ 110
8.1.5 Oxigênio (O2)............................................................................................................................................ 110
8.1.6 Gás carbônico (CO2) ............................................................................................................................. 110
8.1.7 Natureza dos recipientes.................................................................................................................... 110
8.2 Fatores intrínsecos causadores de alterações em produtos..............................................111
8.3 Recursos específicos para minimizar as alterações...............................................................111
8.3.1 Estabilizantes............................................................................................................................................111
8.3.2 Conservantes...........................................................................................................................................112
8.3.3 Liofilização................................................................................................................................................112
APRESENTAÇÃO

A disciplina pretende elucidar o aluno sobre noções básicas de saúde, higiene e segurança no
ambiente ocupacional. Por meio do estudo, será possível reconhecer condições que oferecem risco e
fazer uso de boas práticas clínicas e laboratoriais a fim de minimizar os riscos de exposição de agentes
biológicos em trabalhadores da área de saúde.

Dessa forma, a disciplina garante segurança e higiene nas práticas de rotina de trabalho, permitindo
a manutenção da saúde profissional.

Com esta obra, o aluno poderá minimizar os riscos que podem ser causados pelos agentes físicos,
químicos, biológicos e ergonômicos. Cada risco terá sua forma de identificação e o devido meio para
ser reduzido.

INTRODUÇÃO

A segurança no ambiente de trabalho é de extrema importância, haja vista os diversos perigos a que
os profissionais ficam expostos. Ela é composta por um conjunto de medidas de proteção à segurança e
à saúde dos trabalhadores da área de saúde.

A aplicação consiste em serviços de saúde, qualquer edificação destinada à prestação de assistência


à saúde da população, e em todas as ações de promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em
saúde em qualquer nível de complexidade.

A biossegurança, inserida no contexto da segurança no trabalho, é considerada como um conjunto de


medidas que possuem como objetivo limitar os acidentes de trabalho, protegendo não só o trabalhador
como também o ambiente.

Essa área também se preocupa com a saúde ocupacional, prevenindo as doenças que afastam
o trabalhador.

7
BIOSSEGURANÇA

Unidade I
1 INTRODUÇÃO À BIOSSEGURANÇA

A biossegurança é considerada um processo progressivo, que deve ser sempre atualizado e


supervisionado, pois está sujeito à exigência de respostas imediatas ao surgimento de micro‑organismos
mais resistentes e agressivos. É considerada a ciência com foco voltado ao controle, ao reconhecimento
e à minimização do risco, protegendo de maneira efetiva a saúde humana, animal e o meio ambiente.

Desse modo, a biossegurança tem a finalidade de reduzir os riscos e o controle da contaminação


cruzada, protegendo todos envolvidos no ambiente de trabalho.

1.1 Histórico e evolução ao longo dos anos

A finalidade de apresentar um conceito histórico de controle de infecção na área da saúde é facilitar


a compreensão dos fatos atuais, de suas dificuldades e de suas perspectivas para o futuro.

É preciso ter uma visão crítica dos acontecimentos, o que é fundamental para a mudança. Então, a
partir dessa análise, colocamos em prática nossa condição de cidadãos e de profissionais qualificados,
com capacidade de mudar a nossa história.

A infecção é muito mais do que um desequilíbrio da convivência entre o ser humano e sua microbiota,
é parte integrante da problemática de saúde. Se propostas para o seu controle estiverem dissociadas da
compreensão, da análise e do interesse em suplantar essa realidade, fatalmente presenciaremos a vitória
das doenças sobre a saúde do homem (GUIMARÃES JÚNIOR, 2001).

A infecção faz parte da história da humanidade, que desde a sua existência vem lutando para
combatê‑la. Os micro‑organismos antecedem a espécie humana, foram as primeiras formas de vida.
Por outro lado, os registros da imunidade têm mais de 500 milhões de anos. Ela pode ser entendida
como uma reação evolutiva das espécies parasitadas, que passaram a reconhecer como estranho o
agente invasor, procurando eliminá‑lo.

Hipócrates (460‑377 a.C.), considerado o pai da medicina, já recomendava a limpeza das mãos e
unhas antes das operações e o uso de água fervente, vinho ou vinagre para higienização das feridas.
Na obra O corpo hipocrático, ele reúne estudos feitos por si mesmo e por seus discípulos em relação ao
corpo humano.

Em 1163, na Idade Média, os monges eram os responsáveis por cuidar dos doentes nos mosteiros,
porém eram proibidos de realizar cirurgias, pois eram considerados homens de Deus, sendo proibidos de
lidar com sangue.
9
Unidade I

Como os barbeiros já auxiliavam os monges em alguns procedimentos com cuidados de pacientes,


foram batizados de “barbeiros‑cirurgiões”, e foram os primeiros a realizar extrações dentárias.

Outro fato importante na História ocorreu no século XIV, época que ficou conhecida como o período
da peste negra. A epidemia causada pela peste bubônica (doença pulmonar causada por bactéria
transmitida por pulgas dos ratos trazidos por navios mercantes) devastou a população da Europa.

Quando chegou a Veneza (1347), o conselho especial do local determinou que fosse feito o isolamento
de quarenta dias dos pacientes que apresentavam sintomas da doença.

Estima‑se que no mínimo 25 milhões de pessoas morreram durante essa epidemia.

Em 1677, ano da invenção do microscópio, o holandês Anton van Leewenhoeck (1632–1723)


descreveu a existência de formas microscópicas de vida. Com o aparelho, era possível iniciar estudos a
respeito das outras formas de vida, assunto pouco compreendido na época.

No século XVIII, o médico inglês Edward Jenner utilizou a vacina para tentar prevenir a varíola, uma
doença extremamente grave que levou à morte muitas pessoas na época. Com a vacina, a varíola foi
controlada, tornando-se a primeira doença infecciosa erradicada por meio da vacinação.

Saiba mais
Leia sobre a descoberta a vacina e outras informações em:
PERSONALIDADES: Edward Jenner (1749-1823). Revista da Vacina, [s.d.].
Disponível em: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personas/jenner.
html. Acesso em: 5 nov. 2019.

Já no século XIX, o cientista francês Louis Pasteur (1822–1895) desenvolveu a teoria microbiana das
doenças. Acreditava que para cada infecção teríamos um tipo de micro‑organismo relacionado. Também
afirmava que os micro‑organismos deviam ser considerados como fatores etiológicos de várias doenças
que afetavam homens e animais.

O estudioso desenvolveu a pasteurização, a morte de micróbios por aquecimento a 63 °C por um


período de 30 minutos, dando origem à criação do forno de Pasteur, conhecido como estufa, que
funciona com o processo de esterilização por meio do calor a seco.

Outra importante descoberta foi o estudo das fermentações. Constatou‑se que havia micro‑organismos
que sobreviviam na ausência completa de ar, chamados de anaeróbios, e o mesmo ocorria com os aeróbios.

Robert Koch (1843–1910), médico e patologista alemão, estabeleceu definitivamente o papel das
bactérias como principais agentes etiológicos das infecções. Teve papel muito importante ao difundir
o uso da desinfecção. Testou diversas substâncias com o propósito de realizar a desinfeção e obteve
resultados com os seguintes produtos: timol, cloro, bromo e sublimado de cloreto de mercúrio.
10
BIOSSEGURANÇA

Na época, o médico obteve a colaboração de Julius Richard Petri, o inventor da placa de Petri,
acessório utilizado até os dias de hoje para realizar o crescimento de micro‑organismos com o objetivo
de estudar formas de inativá‑los.

Outro nome de destaque é o de Ignaz Phillip Semmelweis (1818–1865), médico húngaro nomeado
aos 28 anos como assistente do professor Johann Klein na clínica obstétrica do Hospital Geral da Escola
de Medicina de Viena. Em 1846, verificou que a febre puerperal era responsável pela mortalidade
de 10% a 30% das mulheres em parto no local. A febre puerperal é uma doença que ocorria nas
maternidades, matando milhares de mães e crianças. Esse nome descrevia a fase em que a enfermidade
se iniciava no puerpério, o período logo após o parto.

Essa clínica obstétrica do hospital era dividida em duas alas:

• Divisão I: médicos e estudantes realizavam o atendimento.

• Divisão II: parteiras.

A divisão I possuía maior número morte das mulheres. Então, Semmelweis passou a sustentar a
hipótese de que a infecção contagiosa era transmitida de uma mulher para outra por meio das mãos
dos médicos.

Diferente dos médicos e estudantes de medicina, as parteiras não realizavam necropsias de cadáveres.

Em 15 de maio de 1847, foi decidido que deveria haver uma bacia de água limpa na entrada da
clínica, onde estudantes e médicos eram obrigados a lavar as mãos com água e sabão e ácido clórico
para a devida assepsia.

Com essa medida, a mortalidade foi reduzida e a ação comprovou que o simples ato de lavar as mãos
antes do atendimento aos pacientes mostrou a importância dessa medida na profilaxia da infecção
hospitalar (figura a seguir).
16
Semmelweis
Intervenção na higiene
12 das mãos
Mortalidade materna (%)

0
1841 1842 1843 1844 1845 1846 1847 1848 1849 1850
Médicos Parteiras

Figura 1 – Gráfico demonstrando a taxa de mortalidade maternal devido à infecção


pós-parto nas duas divisões do Hospital Geral de Vienna, Áustria, 1841–1850

11
Unidade I

O cirurgião Inglês Joseph Lister (1827–1912) estudou a desinfecção de feridas cirúrgicas baseando‑se
nos trabalhos de prévios de Pasteur. Em 1865, inaugurou‑se a antissepsia cirúrgica, e Lister aplicou
panos embebidos no ácido carbólico (fenol) na perna de um menino com fratura exposta. Ele acreditava
que poderia haver uma contaminação pelo ar, que então agravaria a região da fratura. Seu objetivo era
reduzir a infecção pós‑operatória.

Foi somente em 1865 que o cirurgião alemão Gustav Neuber preconizou o uso do avental cirúrgico;
até então os médicos operavam com a mesma roupa que usavam no dia a dia.

Em determinada época, quanto mais manchado de sangue fosse o avental, mais respeito tinha o
médico. Era um sinal de que realizava muitas cirurgias nos pacientes, o que fazia a comunidade local
pensar que se tratava de um excelente profissional.

Já em meados de 1890, o cirurgião americano William Stewart Halsted (1852–1922) foi o primeiro a
introduzir o uso de luvas cirúrgicas de látex, até então um material muito grosso e desconfortável para
a realização de cirurgias. Com o passar do tempo, na Europa, os cirurgiões passaram a utilizá‑las, e as
luvas tornaram‑se cada vez mais confortáveis.

O uso das máscaras pelos profissionais só foi introduzido no fim do século XIX, com Radecki Von
Mikulicz (1850–1905). Primeiro, só eram utilizadas para cobrir a boca, depois, o nariz.

O médico brasileiro Oswaldo Cruz (1872–1917) também teve um papel muito importante no
controle da infecção. Entre 1904–1907, tornou obrigatória a vacinação contra varíola e febre amarela,
principalmente no Rio de Janeiro. Contudo, quando o Governo instituiu a obrigatoriedade da vacinação,
a população protestou contra a ação, e o período ficou marcado como a Revolta da Vacina.

Pouco tempo depois, as medidas que Oswaldo Cruz havia sugerido prevaleceram, as doenças foram
contidas e ele foi considerado como patrono da saúde pública brasileira.

Um grande avanço na área da saúde e da biossegurança foi também a descoberta da penicilina por
Alexandre Fleming, em 1928, contribuindo para o controle da disseminação de diversas doenças.

Saiba mais
Leia mais sobre a descoberta da penicilina em:
CALIXTO, C. M. F.; CAVALHEIRO, E. T. G. Penicilina: efeito do acaso
e momento histórico. Química Nova na Escola, v. 34, n. 3, p. 118-123,
ago. 2012. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc34_3/03-
QS-92-11.pdf. Acesso em: 7 nov. 2019.
NOSSA CAPA: Alexander Fleming e a descoberta da penicilina. J. Bras.
Patol. Med. Lab., Rio de Janeiro, v. 45, n. 5, p. 1, out. 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n5/v45n5a01.pdf. Acesso em: 7 nov. 2019.

12
BIOSSEGURANÇA

Em 1946, logo após a Segunda Guerra Mundial, os epidemiologistas americanos que cuidavam
da prevenção de transmissão da malária organizaram em Atlanta, Estados Unidos, uma equipe para
discutir ações de controle de doenças. Mais tarde esse grupo ficou conhecido como Centro de Controle
e Prevenção de Doenças – CDC (Center for Disease Control and Prevention).

Já na década de 1980, mais especificamente no ano de 1982, tornaram‑se públicos os primeiros casos
diagnosticados com Aids e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired Immunodeficiency
Syndrome). Dessa forma, inicia‑se uma discussão a respeito do conhecimento do fator de possível
transmissão, que seria contato sexual, uso de drogas ou exposição a sangue e derivados.

Nascem as primeiras preocupações das autoridades de saúde pública nos EUA com uma nova e
misteriosa doença. Nos anos seguintes, vários acontecimentos marcariam a história em relação ao
controle da infecção.

Em 1983, houve um relato de caso de possível transmissão heterossexual. No Brasil, é descrito como
o primeiro caso de Aids no sexo feminino. No mesmo ano, também houve casos diagnosticados em
profissionais de saúde.

O CDC e outros órgãos criaram critérios para que se adotassem precauções universais de biossegurança.
Então, todos os pacientes começaram ser tratados como potencialmente contaminados, ou seja, com os
mesmos cuidados de biossegurança.

Ainda em 1983, por meio da portaria 196, o Governo brasileiro torna obrigatória a presença de uma comissão
de controle da infecção hospitalar. A seguir elencamos outras datas relevantes com relação ao tema:

• 1984: criação do Programa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (primeiro plano de
controle de Aids no Brasil).

• 1985: descobre‑se que a Aids é a fase final de uma doença causada pelo retrovírus denominado
HIV, vírus da imunodeficiência humana ou vírus da imunodeficiência humana.

• 1986: criação do Programa Nacional de DST e Aids (Ministério da Saúde).

• 1990: cria‑se a Divisão Nacional de Controle de Infecção Hospitalar.

• 1992: por meio da portaria 930 do Ministério da Saúde Brasileiro, discute‑se a existência de um
enfermeiro responsável em tempo integral nos hospitais para exercer o controle de infecções cruzadas.

1.2 Biossegurança na atualidade

Atualmente, a biossegurança possui relevância em todas as profissões. A segurança nas atividades,


a garantia de saúde e a proteção do meio ambiente são essenciais em qualquer atividade profissional.
Essa proteção em relação à vida necessita da prevenção e a redução de riscos de desenvolver doenças
ocupacionais, ou seja, doenças adquiridas e associadas ao trabalho.
13
Unidade I

Biossegurança é definida, segundo Teixeira e Valle (1996), como:

Um conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos em atividades


de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando a saúde do
homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados.

O estudo da biossegurança requer conhecimentos em diversas áreas, como legislação trabalhista,


química, física e biologia. Isso tudo exige atualizações, caso contrário não é possível aprimorar a
segurança em diferentes profissões.

1.2.1 Definições de biossegurança, saúde e higiene

A biossegurança é definida como um conjunto de medidas empregadas para proteger a equipe e


os pacientes em um ambiente. Tais ações buscam a redução dos riscos ocupacionais e o controle da
contaminação cruzada e têm o intuito de prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às
atividades que possam comprometer a saúde humana, animal, vegetal e o ambiente.

Lembrete

Não devemos nos ater apenas a memorizar ou decorar as definições,


mas a entender o seu significado e sua importância.

Higiene

A origem da palavra vem do grego hygieiné ou hygeinos (o que é saudável) e de Higia que era a
deusa grega da saúde, limpeza e sanitariedade.

Higiene pode ser definida como: “A ciência que visa a preservação da saúde e a prevenção da doença,
através de medidas profiláticas e educativas”.

Entende‑se que os resíduos retêm micro‑organismos que podem, em algum momento, ser
transmitidos tanto por contato direto como por meio de poeira suspensa no ar.

A higiene do trabalhador na área da saúde é de extrema importância. Pequenas ações como tomar
banho e trocar de roupas diariamente podem fazer a diferença quando se trata de higiene. E a ação
de lavar as mãos é muito importante no controle de infecção cruzada. Na história de Ignaz Phillip
Semmelweis, vimos que essa pequena ação trouxe como resultado a diminuição do índice de mortalidade
nas mulheres que acabavam de realizar partos.

Outro exemplo de higiene é a indústria alimentícia. Toda a manipulação dos alimentos deve ser feita
em local limpo, desinfetado e com materiais esterilizados para que não ocorra o risco de contaminação.

14
BIOSSEGURANÇA

Saúde

De acordo com a OMS, a definição de saúde não é apenas a ausência de afecções (doenças), mas sim
um estado de equilíbrio entre o bem‑estar físico, mental e social. Para implantá‑lo num ambiente de
trabalho, é preciso estudar a biossegurança para conhecer os riscos e as maneiras de minimizá‑los para
então melhorar o local.

Para conhecer e alcançar a saúde, deve-se levar em consideração diversos fatores, entre eles:

• Fatores biológicos:

— Caraterísticas físicas pessoais do indivíduo.


— Genética herdada.

• Fatores ambientais:

— Físico: clima, relevo etc.


— Social: ambiente familiar, de trabalho, na sociedade em geral, educação, segurança coletiva etc.
— Econômico: salários, inflação etc.

• Assistência médica:

— Pública.
— Privada.

• Estilo de vida:

— Hábitos de higiene: higiene pessoal, alimentação saudável, saneamento básico, educação,


higiene e segurança no trabalho.

Observação
A biossegurança é considerada uma ciência multidisciplinar, em que é
necessário conhecimento em diversas áreas, como legislação trabalhista,
química, física e biologia.

2 NOÇÕES BÁSICAS EM BIOSSEGURANÇA E ACIDENTE DE TRABALHO

O papel da biossegurança no ambiente de trabalho é o de classificar e quantificar os perigos e os


riscos aos quais os funcionários podem se encontrar expostos quando exercem suas atividades. Essas

15
Unidade I

atividades podem estar relacionadas ao setor industrial, farmacêutico, a áreas de pesquisa, à prestação
de serviços ou a atividades relacionadas à saúde.

Vejamos algumas ações que devem ser empregadas na segurança no trabalho:

• Práticas seguras nas atividades (reduzir acidentes).

• Medidas que visam a preservar a saúde e o meio ambiente.

• Organização das atividades (adequar condições de trabalho).

• Medidas de controle (práticas seguras).

• Organização estrutural e operacional.

• Avaliação dos riscos ambientais.

• Uso adequado de equipamentos.

• Manutenção preventiva de equipamentos.

• Sinalização adequada das áreas de risco e das rotas de fuga.

• Treinamento de combate a incêndios.

• Sistema de geração elétrica de emergência.

• Treinamento periódico de biossegurança aos trabalhadores.

Lembrete

Quem conhece os riscos aprende a se autoproteger, por isso o


treinamento constante dos trabalhadores deve ser uma das principais
ações de biossegurança.

Em relação aos serviços de saúde, a norma regulamentadora NR 32 tem como objetivo estabelecer
diretrizes básicas para implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores
dos serviços de saúde (BRASIL, 2011b).

Essas diretrizes destacam os riscos a que os profissionais podem estar expostos, principalmente aos
riscos biológicos, e quais os cuidados para diminuir sua exposição a eles.

16
BIOSSEGURANÇA

2.1 Perigo versus riscos

Podemos dizer que todos os tipos de risco podem ser identificados no exercício profissional, e que
nenhuma profissão está isenta de perigos.

Primeiramente, façamos uma distinção entre perigo e risco.

Considera‑se como perigo qualquer situação ou agente que cause danos à integridade de uma pessoa.
Já o risco pode ser tomado como a probabilidade e a severidade de ocorrência da situação de perigo.

Em relação aos riscos, também podemos considerar uma ou mais condições de uma variável com
potencial necessário para causar danos. Esses danos podem ser entendidos como lesões a pessoas, danos
a equipamentos e instalações, prejuízos ao meio ambiente, perda de material em processo ou redução
da capacidade de produção.

Por esses motivos, a Portaria n. 25/1994, do Ministério do Trabalho, regulamentou e tornou obrigatória
a elaboração do mapa de riscos. De acordo com o mapa de riscos, há cinco classificações para riscos:
físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e acidentais.

2.2 Tipos de riscos

Além de definir os riscos existentes no ambiente de trabalho, é importante classificá‑los de forma


objetiva e racional. Assim, quando observados no mapa de risco, eles podem ser bem interpretados pelos
profissionais, que saberão quais barreiras podem utilizar para minimizar o risco e qual a sua intensidade.

De acordo com a NR 9 – Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais:

9.3.3 O reconhecimento dos riscos ambientais deverá conter os seguintes


itens, quando aplicáveis:

a) a sua identificação;

b) a determinação e localização das possíveis fontes geradoras;

c) a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propagação dos


agentes no ambiente de trabalho;

d) a identificação das funções e determinação do número de trabalhadores expostos;

e) a caracterização das atividades e do tipo da exposição;

f) a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de possível


comprometimento da saúde decorrente do trabalho;

17
Unidade I

g) os possíveis danos à saúde relacionados aos riscos identificados, disponíveis


na literatura técnica;

h) a descrição das medidas de controle já existentes (BRASIL, 2014).

Observação

A presente obra destaca alguns exemplos dos riscos encontrados na


biossegurança. Contudo, há riscos específicos para cada profissão, e é preciso
consultar as normas específicas de mapas de risco da profissão desejada.

2.3 Acidente de trabalho

O acidente de trabalho é definido como uma ocorrência não programada, inesperada ou não,
que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo
útil e/ou lesões nos trabalhadores, e/ou danos materiais. Deve ser evitado e controlado por meio das
várias técnicas prevencionistas.

Do ponto de vista legal, considera‑se acidente de trabalho aquele que ocorrer pelo exercício do
trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause
a morte, a perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho.

Causas de acidentes

Como todos os eventos, os acidentes possuem uma ou mais causas, e uma ou mais consequências.
Sua prevenção consiste em eliminar as causas (diminuir os riscos), evitando, então, sua ocorrência.

A prevenção de acidentes interessa:

• Ao trabalhador:

— Assegura qualidade de vida.

— Evita perda de rendimentos.

— Mantém sua autoestima.

— Melhora a execução do trabalho.

• Ao empregador:

— Garante os ganhos de produtividade.

— Assegura a preservação da imagem da empresa perante a comunidade.


18
BIOSSEGURANÇA

— Proporciona a redução dos custos diretos e indiretos.

— Possibilita a diminuição de processos trabalhistas.

— Propicia menor rotatividade da mão de obra.

• À sociedade e ao governo:

— Possibilita menores encargos previdenciários.

— Proporciona uma imagem positiva da nação perante conselhos internacionais.

— Assegura a valorização do ser humano por meio de políticas públicas.

São considerados acidentes de trabalho:

• Doença profissional ou do trabalho: doenças ocasionadas por problemas ergonômicos.

• Doença por contaminação acidental: no exercício de sua atividade, podem acontecer intoxicações,
dermatites de contato etc.

• Acidentes sofridos nas instalações da empresa: quando ocorrer nos horários de refeição ou
descanso ou no horário de trabalho.

• Acidentes sofridos fora do local e do horário de trabalho: na execução de serviço pela empresa,
no percurso da residência para o trabalho ou do trabalho para a residência, ou ainda no local
de refeição.

Não são considerados acidentes de trabalho:

• Luta corporal.

• Atividades esportivas.

• Atividades fora da empresa por motivos pessoais: realizadas em horário de trabalho ou em horário
de descanso.

Tendo conhecimento do tipo de acidente eles podem ser classificados em:

• Acidentes típicos: a serviço da empresa os limites da empresa ou fora de dela, provocando lesão
corporal ou perturbação funcional.

• Acidente de trajeto: acidente ocorrido nos trajetos conforme já citado.

• Acidente no horário de descanso: que seja decorrente do processo do trabalho.


19
Unidade I

Teoria de Heinrich

Tanto o acidente como a lesão são causados por alguma causa anterior, na qual se encontra o
homem. Todo acidente é causado, ele nunca acontece.

O acidente ocorre porque o homem não está devidamente preparado e comete atos inseguros. Outra
causa são as condições inseguras que comprometem a segurança do trabalhador

Atos inseguros

Os atos inseguros residem no fator humano. São decorrentes da não obediência às normas de
segurança e podem ser conscientes e inconscientes, de acordo com a seguinte classificação:

• Consciente: há conhecimento do perigo de seu procedimento, mas assume-se o risco;

• Inconsciente: a pessoa desconhece o perigo que está correndo, por isso pratica o ato inseguro.

Como exemplos de atos inseguros, podem ser citados:

• Recusar a utilização dos EPI (Equipamentos de Proteção Individual).

• Trabalhar desatento ou com sonolência.

• Praticar brincadeiras em horário de trabalho.

• Usar incorretamente ou inadequadamente as ferramentas e os equipamentos.

• Usar ferramentas e equipamentos com defeitos.

• Trabalhar em posição ou postura inadequadas.

• Não observar as condições do ambiente.

• Não obedecer a sinais e instruções de segurança.

• Não seguir a rotina de trabalho estabelecida.

Mais especificamente para a área da saúde, podemos citar:

• Não utilizar lixo adequado para materiais contaminados.

• Não utilizar técnicas adequadas de assepsia.

• Não utilizar técnicas de armazenamento corretas.

• Utilizar produtos com prazo de validade vencidos.


20
BIOSSEGURANÇA

Condições inseguras

As condições inseguras são as causas dos acidentes do trabalho que decorrem diretamente das
condições do local ou ambiente de trabalho.

São elas:

• Insuficiência de espaço, passagens perigosas, locais confinados.

• Local desorganizado e sujo.

• Iluminação inadequada, temperaturas extremas.

• Equipamentos de Proteção Coletivas (EPC) não funcionais ou defeituosos;

Entre outros que ocorrem por falhas técnicas ou por alguns agentes ambientais que podem
ocasionar acidentes.

Estão relacionadas com os riscos classificados como mecânicos (ou de acidentes), físicos, químicos,
biológicos, ergonômicos e psicossociais.

3 RISCOS OCUPACIONAIS

Os riscos ocupacionais são classificados em riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, de


acidentes ou mecânicos e psicossociais. Veremos a seguir um pouco mais sobre cada um deles.

3.1 Riscos físicos

Os riscos físicos são considerados do grupo 1 e são identificados pela cor verde. Definem‑se pelas
diversas formas de energia a que os trabalhadores podem estar expostos.

Uma das características desse grupo são os equipamentos que o trabalhador vai manusear e o
ambiente do trabalho. Vejamos alguns exemplos desse grupo: ruído, calor, frio, pressão atmosférica,
umidade, radiações ionizantes e não ionizantes e vibração.

Altas temperaturas

Quando há a manipulação de equipamentos que geram calor, o trabalhador deve usar avental e
luvas resistentes para conter a ação do risco físico. Alguns exemplos desses equipamentos são: estufas,
fogões e bico de Bunsen.

Os equipamentos movidos a gás exigem constante manutenção em suas válvulas e mangueiras para
prevenir acidentes.

21
Unidade I

Lembrete

A instalação desses equipamentos deverá ocorrer num ambiente ventilado,


além de ser imprescindível haver o isolamento de materiais inflamáveis.

Baixas temperaturas

Para trabalhar em baixas temperaturas, recomenda‑se que o operador use roupas apropriadas, como
agasalhos térmicos, máscaras e luvas para impedir a hipotermia. No caso da manipulação de nitrogênio
líquido, deve‑se ter cuidados no transporte e manipulação, como o uso de óculos de proteção, luvas
apropriadas, avental e sapatos de borracha que permitam um isolamento térmico.

Radiações ionizantes

Nesse tipo de risco os raios X são considerados mais comuns e o operador de um equipamento que
produz essa radiação deve estar atento às proteções radiológicas, à quantidade de radiação que recebe e
ao tempo de exposição. Além das proteções para o trabalhador, deve‑se fornecer a ele um medidor para
mensurar a quantidade de radiação recebida por dia.

Os equipamentos de raios X são encontrados em hospitais, clínicas e laboratórios de exames de


imagem para diagnóstico. O ambiente deve ser projetado para não permitir que outras pessoas fiquem
expostas à radiação. Para tanto, utilizam‑se paredes ou biombos de chumbo para a segurança do local.

Há procedimentos específicos que devem ser seguidos no manuseio de materiais que emitam
radiação ionizante. Esses locais precisam ser identificados com o símbolo da figura a seguir:

Figura 2 – Símbolo de material radioativo

Radiações não ionizantes

Os raios solares, incluindo o ultravioleta A, B e C, visível e infravermelho, possuem efeitos benéficos


ao ser humano e aos animais, como o auxílio na produção de vitamina D3, o aquecimento terrestre,
a fotossíntese e a ação antimicrobiana, por exemplo. Mas também, podem ser prejudiciais quando
ocorre exposição exagerada, ocasionando queimaduras desde as mais simples de grau I (primeiro grau)
até as mais severas de grau III (terceiro grau), além de hiperplasias epidérmicas, hiperpigmentações,
envelhecimento cutâneo precoce, fotossensibilidade, supressão imunológica, danos ao DNA, levando à
apoptose celular, à mutagênese, ao aparecimento de câncer etc.
22
BIOSSEGURANÇA

Profissionais que realizam atendimentos em locais onde existe grande incidência dos raios solares,
devem sempre estar atentos ao uso de protetores solares, de barreiras físicas ou produtos cosméticos
com proteção solar.

Laser

O laser tem usos gerais diversos, como para a fabricação de laser pointer, impressão, holografia, leitura
de código de barras e leitura de CDs e DVDs. Na área médica e estética, é utilizado como cicatrizante e
anti-inflamatório, e também para a revitalização da pele, depilação, remoção de manchas e de tatuagem.

Devido à propagação da luz laser, é preciso tomar alguns cuidados e utilizar equipamentos de
proteção individual para que os olhos dos profissionais não sejam lesionados. O principal dispositivo
usado para essa finalidade são os óculos de proteção. Eles são coloridos, para bloquear comprimentos
de onda específicos.

Ruídos

Muitos equipamentos podem emitir ruídos contínuos ou intermitentes em um ambiente de trabalho,


o que torna obrigatório o uso de protetores auriculares.

Em seu anexo 1, a NR 15 – Atividades e Operações Insalubres, demonstra o tempo de exposição aos


níveis de ruído e destaca que eles não devem exceder os limites de tolerância fixados.

Saiba mais

Para ter acesso à tabela sobre a demonstração do tempo de exposição


aos níveis de ruído, leia o anexo 1 da NR 15 no documento:

BRASIL. NR 15, de 8 de junho de 1978. Brasília: 1978. Disponível em:


http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812C12AA70012C13BA879A7EF
C/p_19890921_3275.pdf. Acesso em: 8 maio 2015.

3.2 Riscos químicos

O risco químico é classificado como grupo 2 e é identificado pela cor vermelha. É composto por
substâncias químicas e produtos que podem penetrar no organismo.

Essas substâncias podem ingressar no corpo pela via respiratória nas formas de poeiras, fumos,
nevoas, neblinas, gases ou vapores. Também pode haver absorção pelo contato da pele ou por ingestão.

23
Unidade I

Observação

É vedado o procedimento de reutilização das embalagens de produtos químicos.

A manipulação ou fracionamento dos produtos químicos deve ser feita por trabalhador qualificado.

Nos locais onde se utilizam e armazenam produtos inflamáveis, o sistema de prevenção de incêndio
deve prever medidas especiais de segurança e procedimentos de emergência. As áreas de armazenamento
de produtos químicos devem ser ventiladas e sinalizadas.

Para o risco químico, é necessário o conhecimento de algumas definições:

• Risco inerente: característico da substância. Está relacionado com suas propriedades químicas
e físicas.

• Risco efetivo: probabilidade de contato com a substância. Está diretamente relacionado com as
condições de trabalho com o agente de risco.

• Dano: consequência da concretização do risco.

As substâncias químicas devem ser identificadas de acordo com o tipo de perigo que o material
representa, que pode ser: corrosivo, inflamável, oxidante ou comburente, nocivo, tóxico, explosivo,
irritante e danoso ao meio ambiente.

Corrosivo = (C) Inflamável = (F) Oxidante ou Nocivo = (Xn)


comburente = (O)

i
Tóxico = (T) Explosivo = (E) Irritante = (Xi) Danoso ao meio
ambiente = (N)

Figura 3 – Identificação de classes de produtos químicos

24
BIOSSEGURANÇA

Podem ainda ser citados os agentes radioativos, substâncias que apresentam em sua constituição
elementos químicos de alto peso molecular que emitem partículas nucleares ou energia para
adquirirem estabilidade.

Por exemplo: urânio, polônio, rádio, césio, actínio etc.

Nesse caso, a simbologia se faz pelo pictograma da figura a seguir:

Radiação ionizante

Figura 4

Os agentes químicos que causam os riscos podem estar presentes na forma de sólidos, líquidos,
gases (substâncias em estado gasoso em CNTP = 25 °C /760 mm Hg) e vapores (substância em
estado gasoso mudam de estado físico em mudanças das CNTP).

Podem estar sob a forma de aerodispersóides sólidos, que são as poeiras (partículas sólidas que
sofrem ruptura mecânica), por exemplo, o talco usado para cosméticos ou em luvas de procedimentos;
os fumos (quando ocorre a condensação de vapores de substâncias sólidas); e as fibras (diminutos
filamentos longos e finos de material de substâncias sólidas).

Estão sob a forma de aerodispersóides líquidos, como é o caso das névoas (partículas líquidas que
sofrem uma ruptura mecânica), por exemplo, os sprays de perfumes; e as neblinas (condensação de
vapores de substâncias líquidas).

Quando somos expostos aos diversos agentes químicos podem ocorrer intoxicações agudas ou
crônicas. Sendo que:

• As intoxicações agudas são aquelas que ocorrem quando o indivíduo é exposto a um agente químico
numa dose única (ou múltiplas, num tempo de 24 horas). Os efeitos surgem imediatamente ou em
algumas horas ou ainda depois de alguns dias, em até no máximo duas semanas.

• As intoxicações crônicas são aquelas em que o organismo é exposto a algum agente por um
tempo prolongado, em doses pequenas e cumulativas. Esse período pode ser desde três meses até
vários anos ou mesmo décadas.

25
Unidade I

3.3 Riscos biológicos

Figura 5 – Símbolo de identificação de material infectante (risco biológico)

Caracterizado pela cor marrom e classificado como grupo 3, o risco biológico compreende a exposição
ocupacional a micro‑organismos, que podem ser fungos, bactérias, parasitas, vírus, protozoários e até
mesmo os príons. O símbolo do risco biológico é considerado universal.

É importante a existência de ações multidisciplinares para a proteção individual e também coletiva dos
profissionais e de todos que possam estar diante do risco biológico. Deve‑se formar um programa de prevenção
de acidentes e uma rotina específica de trabalho, por meio de protocolos e programas de vacinação.

De acordo com a NR 32, há uma grande preocupação em relação a esse risco:

32.2 Dos Riscos Biológicos

32.2.1 Para fins de aplicação desta NR, considera‑se Risco Biológico a


probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos.

32.2.1.1 Consideram‑se agentes biológicos os micro‑organismos,


geneticamente modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as
toxinas e os príons.

32.2.1.2 A classificação dos agentes biológicos encontra‑se no anexo I desta NR.

32.2.2 Do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA:

32.2.2.1 O PPRA, além do previsto na NR 09, na fase de reconhecimento,


deve conter:

I. Identificação dos riscos biológicos mais prováveis, em função da localização


geográfica e da característica do serviço de saúde e seus setores, considerando:

a) fontes de exposição e reservatórios;

b) vias de transmissão e de entrada;

c) transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente;


26
BIOSSEGURANÇA

d) persistência do agente biológico no ambiente;

e) estudos epidemiológicos ou dados estatísticos;

f) outras informações científicas.

II. Avaliação do local de trabalho e do trabalhador, considerando:

a) a finalidade e descrição do local de trabalho;

b) a organização e procedimentos de trabalho;

c) a possibilidade de exposição;

d) a descrição das atividades e funções de cada local de trabalho;

e) as medidas preventivas aplicáveis e seu acompanhamento.

3.3.1 Classificação dos riscos biológicos

A principal fonte de contágio para a maioria das doenças é o sangue, porém a via aérea pode ser outra
forma importante de contágio, seja pela inalação de aerossóis, seja pela inalação de partículas maiores.

A classificação dos riscos biológicos depende de alguns fatores que devem ser levados em consideração:

• Patogenicidade para o homem: capacidade de o micro‑organismo causar doenças.

• Virulência: pode ser considerada como a mortalidade que o agente infeccioso causa.

• Modos de transmissão: os meios mais comuns são a inoculação direta (por acidentes com
agulhas), a inalação de aerossóis, o contato com membranas ou mucosas e a ingestão.

• Disponibilidade de medidas profiláticas eficazes: se existem vacinas que são consideradas


eficientes para prevenção da doença que o micro‑organismo específico pode causar.

• Disponibilidade de tratamento eficaz: se há algum tipo de tratamento eficaz para a cura


da doença.

De acordo com os fatores, existem quatro classes de risco biológico:

Classe de risco 1: baixo risco individual para o trabalhador e para a coletividade, com baixa
probabilidade de causar doenças ao ser humano. Inclui os agentes biológicos conhecidos por não
causarem doenças em pessoas ou animais adultos sadios.

27
Unidade I

Classe de risco 2: risco individual moderado para o trabalhador e com baixa probabilidade de
disseminação para a coletividade. Pode causar doenças ao ser humano, porém há meios eficazes
de profilaxia ou tratamento. São exemplos das doenças da classe de risco 2 as demonstradas no
quadro a seguir:

Quadro 1 – Agentes biológicos de classe de risco 2

Micro‑organismo Doença Via de contaminação


Treponema pallidum Sífilis Intradérmico
Vírus do sarampo Sarampo Inalação
Vírus Influenza A2 Gripe Inalação
HBV Hepatite B Sangue

Classe de risco 3: risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade de disseminação
para a coletividade. Pode causar doenças e infecções graves ao ser humano, para as quais nem sempre
existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento. A transmissão ocorre por via respiratória e causa
patologias humanas ou animais potencialmente letais. No quadro a seguir há exemplos das doenças da
classe de risco 3:

Quadro 2 – Agentes biológicos de classe de risco 3

Micro‑organismo Doença Via de contaminação


HIV AIDS Sangue
Mycobacterium tuberculosis Tuberculose Aerossóis

Classe de risco 4: risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade elevada de
disseminação para a coletividade. Apresenta grande poder de transmissibilidade de um indivíduo a
outro. Pode causar doenças graves ao ser humano, para as quais não existem meios eficazes de profilaxia
ou tratamento. Apresentamos a seguir exemplos das doenças da classe de risco 4:

Quadro 3 – Agentes biológicos de classe de risco 4

Micro‑organismo Doença Via de contaminação


Vírus ebola Febre hemorrágica ebola Sangue
Vírus da aftosa Febre aftosa Ingestão de alimentos contaminados

Ainda de acordo com a NR 32, as imunizações, de acordo com o tipo de profissão e risco, devem ser
ofertadas de maneira gratuita para o profissional:

32.2.4.17 Da Vacinação dos Trabalhadores

32.2.4.17.1 A todo trabalhador dos serviços de saúde deve ser fornecido,


gratuitamente, um programa de imunização ativa contra tétano, difteria,
hepatite B e os estabelecidos no PCMSO.

28
BIOSSEGURANÇA

32.2.4.17.2 Sempre que houver vacinas eficazes contra outros agentes


biológicos a que os trabalhadores estão, ou poderão estar, expostos, o
empregador deve fornecê‑las gratuitamente.

32.2.4.17.3 O empregador deve fazer o controle da eficácia da vacinação


sempre que for recomendado pelo Ministério da Saúde e seus órgãos, e
providenciar, se necessário, seu reforço.

32.2.4.17.4 A vacinação deve obedecer às recomendações do Ministério


da Saúde.

32.2.4.17.5 O empregador deve assegurar que os trabalhadores sejam


informados das vantagens e dos efeitos colaterais, assim como dos riscos a que
estarão expostos por falta ou recusa de vacinação, devendo, nestes casos, guardar
documento comprobatório e mantê‑lo disponível à inspeção do trabalho.

32.2.4.17.6 A vacinação deve ser registrada no prontuário clínico individual


do trabalhador, previsto na NR 07.

32.2.4.17.7 Deve ser fornecido ao trabalhador comprovante das vacinas recebidas.

Lembrete
O risco biológico causa infecções que são caracterizadas pela invasão e
multiplicação de organismos indesejáveis, podendo considerar como objeto de
estudo o paciente, material de pesquisa, alimentos, animais e o meio ambiente.

3.4 Riscos ergonômicos

O risco ergonômico é representado pelo grupo 4, caracterizado pela cor amarela. Nesse caso, são
considerados fatores que possam interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, afetando
sua saúde ou causando desconforto.

A ergonomia representa as leis que regem o trabalho. Fundamenta‑se em conhecimentos


interdisciplinares, adaptando o ambiente de trabalho tanto aos objetivos do sujeito ou grupo quanto às
exigências das tarefas. Em uma definição mais concisa, ergonomia é uma ciência do trabalho.

São considerados exemplos de risco ergonômico: esforço físico intenso, levantamento e transporte
manual de peso, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turnos e
noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia, repetição, ou seja, tudo aquilo que pode causar
estresse físico e mental no indivíduo.

29
Unidade I

Saiba mais
Assista ao filme:
OS TEMPOS modernos. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos: Charles
Chaplin Productions, 1936. 87 minutos.

Vejamos o que dispõe a NR 17 – Ergonomia:

17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que


permitam a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de
conforto, segurança e desempenho eficiente.

17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao


levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos
equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria
organização do trabalho.

17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características


psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise
ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições
de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.

17.2. Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.

17.2.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora:

17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso


da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo
o levantamento e a deposição da carga.

17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade


realizada de maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua,
o transporte manual de cargas.

17.2.1.3. Trabalhador jovem designa todo trabalhador com idade inferior a


dezoito anos e maior de quatorze anos.

17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas
por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou
sua segurança.

30
BIOSSEGURANÇA

17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular


de cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções
satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar, com vistas
a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes.

17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas,


deverão ser usados meios técnicos apropriados.

17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para


o transporte manual de cargas, o peso máximo destas cargas deverá ser
nitidamente inferior àquele admitido para os homens, para não comprometer
a sua saúde ou a sua segurança.

17.2.6. O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração


de vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho
mecânico deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado
pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não
comprometa a sua saúde ou a sua segurança.

17.2.7. O trabalho de levantamento de material feito com equipamento


mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o esforço
físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de
força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança (BRASIL, 2007).

Devido ao risco ergonômico, é muito comum que o trabalhador adquira LER (Lesões por Esforços
Repetitivos) ou Dort (Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho). Tais adversidades são
caracterizadas por movimentos repetitivos, em alta frequência e em posição ergonômica incorreta.
Podem causar lesões de estruturas do sistema tendíneo, muscular e ligamentar.

De acordo com a norma técnica do INSS sobre Doença Osteomuscular ou Osteoarticular Relacionada
ao Trabalho - Dort (Ordem de Serviço n. 606/1998):

Conceituam‑se as lesões por esforços repetitivos como uma síndrome


clínica caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não de alterações
objetivas, que se manifesta principalmente no pescoço, cintura escapular
e/ou membros superiores em decorrência do trabalho, podendo afetar
tendões, músculos e nervos periféricos. O diagnóstico anatômico preciso
desses eventos é difícil, particularmente em casos subagudos e crônicos,
e o nexo com o trabalho tem sido objeto de questionamento, apesar das
evidências epidemiológicas e ergonômicas (BRASIL, 2003).

Uma lesão que merece destaque é a tendinite, causada por um processo inflamatório que acomete
o tendão. Pode ocorrer devido a um esforço repetitivo, limitando e afastando o trabalhador.

31
Unidade I

Já a síndrome do túnel carpal faz diagnóstico diferencial com a LER. É considerada a compressão
mecânica do nervo mediano do punho, limitando a movimentação e causando dor.

A LER pode acometer qualquer pessoa, mas para ser considerada Dort, a doença deve ser adquirida
em decorrência da postura ou do movimento repetitivo devido ao tipo de trabalho.

As LER/Dort são doenças de notificação obrigatória. Quando houver suspeita de sua ocorrência
pelo médico do trabalho, ele deve emitir uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para o INSS,
mesmo que a doença não provoque a incapacitação do trabalhador ou gere o seu afastamento.

Esse comunicado é utilizado pelo INSS para a obtenção de dados relativos aos acidentes do trabalho
e às doenças ocupacionais. O objetivo dessa captação é fornecer informações para o enquadramento
das empresas segundo os graus de risco nos locais de serviço para o cálculo da contribuição da empresa
ao INSS, que é destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência
dos acidentes e também para subsidiar políticas de prevenção e fiscalização das organizações.

Saiba mais

Para obter informações importantes a respeito das lesões por esforços


repetitivos e doenças osteoarticulares relacionadas ao trabalho, acesse:

http://www.lerdort.com.br

3.5 Riscos de acidentes

Os riscos acidentais são do grupo 5, caracterizados pela cor azul. Fazem parte deste risco as ações
que colocam o trabalhador em condição vulnerável, podendo afetar sua integridade e bem‑estar físico
e psíquico.

Alguns exemplos desse risco são: arranjo físico inadequado, operação de máquinas ou equipamentos
sem proteção, iluminação inadequada, eletricidade com problemas ou fios desencapados, probabilidade
de incêndio e explosão.

3.6 Riscos psicossociais

São os riscos relacionados aos problemas de relacionamento que ocorrem dentro de uma empresa
entre colegas de trabalho ou entre funcionários e patrões. Eles incluem falta de comunicação, falta
de respeito e divergências de opiniões que provoquem mal-estar entre os envolvidos, assédio moral
(incluindo assédio sexual, menosprezar, ridicularizar, inferiorizar, perseguir, discriminar ou acusar
injustamente), bullying etc.

32
BIOSSEGURANÇA

Para diminuir a probabilidade de acidentes, deve‑se identificar e conhecer os riscos que a ocupação
pode trazer. Assim, podem ser implantadas barreiras para minimizar esses acidentes, como o uso de
equipamentos de proteção individual e coletiva.

Exemplo de aplicação

Com a classificação dos riscos, é possível ter uma noção dos perigos que a profissão pode proporcionar.

Observe atentamente o ambiente ao seu redor e classifique os riscos que possam interferir no seu
dia a dia.

Saiba mais

Para detalhes sobre os riscos, leia o anexo II, classificação dos Agentes
Biológicos, da NR 32:

BRASIL. NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde.


Portaria GMN. 1748, de 30 de agosto de 2011. Brasília: 2011b. Disponível
em: http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A350AC8820135161931EE
29A3/NR 32%20%28atualizada%202011%29.pdf. Acesso em: 9 maio 2015.

3.7 Mapa de risco

O mapa de risco possui uma grande importância na segurança do trabalhador. É por meio dele
que haverá reconhecimento, avaliação e controle dos riscos que a atividade pode proporcionar ao
profissional. Os mapas são uma representação gráfica dos fatores que estão presentes nos ambientes de
trabalho e eles são classificados de acordo com o grupo de risco estudado.

Inicialmente, realiza‑se uma representação dos locais de trabalho. Depois, são desenhados
círculos de três diâmetros, e estes são caracterizados por intensidade diferentes: riscos pequenos,
médios e grandes.

Os riscos têm origem nos diversos elementos do processo de trabalho, como materiais, equipamentos,
instalações, suprimentos e espaços de trabalho. E a forma de organização do serviço também é
considerada um risco ao funcionário, por exemplo, arranjo físico, ritmo de trabalho, método, postura e
jornada de trabalho.

A realização dos mapas de risco é considerada obrigatória para todas as empresas que tenham Cipa,
por meio da Portaria n. 5, de 17 de agosto de 1992 do Departamento Nacional de Segurança e Saúde do
Trabalhador do Ministério do Trabalho e da Administração (DNSST).

33
Unidade I

Esse documento destaca que é dever da Cipa a elaboração dos mapas de risco nos locais de trabalho.

A Cipa deverá reunir‑se com os profissionais de diferentes setores para discutir quais são os riscos
e quais as medidas necessárias para diminuir essas exposições. Há a necessidade de colaborações de
serviços externos especializados, como os de segurança do trabalho.

Estufa secagem Intensidade do risco


Pia
Escritório Escritório
G Grande
Extração de DNA

M Médio
Bancada

P Pequeno
Gás

Extração de RNA Tipo de risco


PCR
Escritório Físico

Químico

Biológico
Eletroforese e PCR em tempo real
captura de imagem
Ergonômico
Pia Capelas
Acidental
Entrada

Figura 6 – Exemplo de mapa de risco de um laboratório

Os objetivos do mapa de risco são:

a) Reconhecer: identificar, caracterizar, saber apontar quais dos agentes de risco de danos à saúde
estão presentes no ambiente de trabalho, conhecer o processo de trabalho no local analisado;
número de trabalhadores, sexo, idade, treinamentos profissionais e de segurança e saúde, jornada;
instrumentos e materiais de trabalho; atividades exercidas e o ambiente.

b) Avaliar: saber quantificar e verificar, de acordo com determinadas técnicas, a magnitude do risco,
se é maior ou menor, grande ou pequeno, quando comparado com determinados padrões.

c) Controlar: adotar medidas técnicas, administrativas, preventivas ou corretivas de diversas naturezas


que tendem a eliminar ou atenuar os riscos existentes no ambiente de trabalho. Essas ações são
consideradas barreiras que visam à diminuição da exposição dos riscos. O uso de equipamentos
de proteção tanto individual como coletiva são exemplos de medidas para controlar os riscos no
ambiente de trabalho.

De acordo com Hökerberg et al. (2006), a metodologia do mapa de risco tem como objetivo
a implementação e o reforço de medidas de Biossegurança, vigilância em saúde do trabalhador e

34
BIOSSEGURANÇA

qualidade total, uma vez que cria ou reforça uma consciência do risco que todas essas disciplinas
valorizam para modificar esses riscos, sejam capacidades individuais, sejam capacidades coletivas.
Para que o mapa de risco seja efetivo, deve‑se priorizar a identificação dos riscos pelos trabalhadores,
o que implica a discussão coletiva sobre as fontes dos perigos, o ambiente de trabalho e as estratégias
preventivas para reduzi‑los.

Ainda segundo Hökerberg et al. (2006), as avaliações de risco constituem um conjunto de


procedimentos com o objetivo de estimar o potencial de danos à saúde ocasionados pela exposição de
indivíduos a agentes ambientais.

Destaca‑se, ainda, a importância da implantação de programas preventivos integrados à área de


saúde do trabalhador, como o Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO), o Programa
de Prevenção aos Riscos Ambientais (PPRA) e o de Proteção contra incêndio, assim como o método a ser
empregado para mapear os riscos.

Lembrete

O mapa de risco é uma representação gráfica de um ambiente de


trabalho quanto ao tipo de risco e sua intensidade. Nele são considerados
riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e acidentais.

A diferença entre os diâmetros dos círculos que caracterizam a intensidade dos riscos no mapa deve
seguir o critério a seguir:

O diâmetro do círculo que representa o risco grave deve ser o dobro do diâmetro do círculo que
representa o risco médio e este deve ser o dobro do diâmetro do círculo que representa o risco leve.

Quando em um ambiente estiverem presentes vários riscos com mesma intensidade, eles podem ser
representados num mesmo círculo, dividindo-o em partes com as cores correspondentes ao risco.

3.8 Níveis de biossegurança

De acordo com a Anvisa, existem quatro níveis de biossegurança: NB1, NB2, NB3 e NB4. Eles são
apontados em ordem crescente, no maior grau de contenção e complexidade do nível de proteção, que
consistem de combinações de práticas e técnicas de laboratório e barreiras primárias e secundárias de
um laboratório.

O responsável técnico pelo laboratório conduz a avaliação dos riscos e direciona a aplicação adequada
dos níveis de biossegurança em função dos tipos de agentes e das atividades a serem realizadas.

35
Unidade I

NB1 – Nível de biossegurança 1

Corresponde a um nível básico de contenção que, baseado nas práticas padrões de microbiologia, em
que não há indicação de barreiras primárias ou secundárias, com exceção de uma pia para a higienização
das mãos, representam locais para treinamento educacional, treinamentos técnicos e laboratoriais.

Tanto o equipamento de segurança, o projeto das instalações como as práticas são apropriados
para o treinamento educacional secundário ou para o treinamento de técnicos e de professores de
técnicas laboratoriais.

Na porta do laboratório deve existir o símbolo de risco biológico, e deve haver um treinamento
para o uso e identificação de EPI, assim como pias para a limpeza das mãos e equipamentos para a
esterilização de materiais.

NB2 – Nível de biossegurança 2

As práticas, os equipamentos, o projeto e a construção são aplicáveis aos laboratórios clínicos,


de diagnóstico, laboratórios‑escolas e outros laboratórios onde o trabalho é realizado com um maior
espectro de agentes nativos de risco moderado presentes na comunidade e que estejam associados a
uma patologia humana de gravidade variável.

Com boas técnicas de microbiologia, os agentes de classe de risco 2 podem ser usados de maneira
segura em atividades conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção
de borrifos e aerossóis é baixo. O vírus da hepatite B, o HIV, a Salmonelia spp. e Toxoplasma spp. são
exemplos de micro‑organismos designados para esse nível de contenção.

O laboratório de NB2 deve atender a todos os requisitos indicados para o NB1, com mais
exigências específicas.

O NB2 é adequado para qualquer trabalho que envolva sangue humano, líquidos corporais, tecidos ou
linhas de células humanas primárias em que a presença de um agente infeccioso possa ser desconhecida.
Embora os organismos rotineiramente manipulados em um NB2 não sejam transmitidos por meio de
aerossóis, os procedimentos envolvendo um alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que
possam aumentar o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com um equipamento
de contenção primária, com dispositivos como a Cabine de Segurança Biológica (CSB) ou os copos de
segurança da centrífuga.

As bancadas de trabalho devem estar engastadas na parede, de modo a não ser possível o acúmulo
de sujidades entre ambas. As pias e os lavatórios devem possuir sistema automático de acionamento.

É preciso utilizar outras barreiras primárias, como os escudos para borrifos, proteção facial, aventais e
luvas. As barreiras secundárias, como pias para higienização das mãos e instalações para descontaminação
de lixo, têm o objetivo de reduzir a contaminação potencial do meio ambiente.
36
BIOSSEGURANÇA

NB3 – Nível de biossegurança 3

As práticas, o equipamento de segurança, o planejamento e a construção das dependências são


aplicáveis a laboratórios clínicos, de diagnóstico, laboratórios‑escola, de pesquisa ou de produções.
Nesses locais realiza‑se o trabalho com agentes nativos ou exóticos que possuam um potencial de
transmissão via respiratória e que possam causar infecções sérias e potencialmente fatais. São os
laboratórios preparados para trabalhos com agentes biológicos de classe de risco 3.

O NB3 é aplicável a laboratórios clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produções. Possui requisitos


intensificados em relação aos níveis 1 e 2. Alguns agentes que podem ser trabalhados nesses laboratórios
são: Mycobacterium tuberculosis, o vírus da encefalite de St. Louis e a Coxiella burnetii. Os riscos primários
causados aos trabalhadores que lidam com esses agentes incluem a autoinoculação, a ingestão e a
exposição aos aerossóis infecciosos.

No NB3, enfatizam‑se mais as barreiras primárias e secundárias para a proteção dos funcionários de áreas
contíguas, da comunidade e do meio ambiente contra a exposição aos aerossóis potencialmente infecciosos.
Por exemplo, todas as manipulações laboratoriais deverão ser realizadas em uma cabine de segurança biológica
(CSB) ou em outro equipamento de contenção, como uma câmara hermética de geração de aerossóis. As
barreiras secundárias para esse nível incluem o acesso controlado ao laboratório e sistemas de ventilação que
minimizem a liberação de aerossóis infecciosos do laboratório.

Só devem ser admitidos em um laboratório NB3 funcionários com experiência em NB2.
A manutenção do local deve ser feita por empresas especializadas e com o acompanhamento dos
funcionários do NB3.

NB4 – Nível de biossegurança 4

As práticas, o equipamento de segurança, o planejamento e construção das dependências dos


laboratórios são aplicáveis a trabalhos que envolvam agentes exóticos perigosos que representam
um alto risco por provocarem doenças fatais em indivíduos. Esses agentes podem ser transmitidos via
aerossóis e até o momento não há qualquer vacina ou terapia disponível contra eles.

Os laboratórios com NB4 são projetados para manipular agentes biológicos com classe de risco 4.
Esses agentes, que possuem uma relação antigênica próxima ou idêntica aos dos agentes do NB4,
também deverão ser manuseados nesse nível. Quando possuímos dados suficientes, o trabalho com
esses agentes deve continuar nesse nível ou em um nível inferior. Os vírus como Marburg ou vírus da
febre hemorrágica Crimeia (Congo) são manipulados no NB4.

Os riscos primários aos trabalhadores que manuseiam agentes desse nível incluem a exposição
respiratória aos aerossóis infecciosos, exposição da membrana mucosa e/ou da pele lesionada às
gotículas infecciosas e a autoinoculação.

37
Unidade I

Todas as manipulações de materiais de diagnóstico potencialmente infeccioso, substâncias isoladas


e animais natural ou experimentalmente infectados apresentam um alto risco de exposição e infecção
aos funcionários de laboratório, à comunidade e ao meio ambiente.

O completo isolamento dos trabalhadores de laboratórios em relação aos materiais infecciosos


aerossolizados é realizado primariamente em cabines de segurança biológica classe III ou com um
macacão individual suprido com pressão de ar positiva.

A instalação do NB4 é geralmente construída em um prédio separado ou em uma zona completamente


isolada, com uma complexa e especializada ventilação e sistemas de gerenciamento de lixo que evitem
liberação de agentes viáveis no meio ambiente.

O sistema de ar‑condicionado deve oferecer pressão negativa do ar dentro do prédio, para garantir
que, em caso de vazamento, o ar interno não saia do edifício. O acesso às áreas controladas deve ser
feito por portas duplas e antessala com controle da pressurização do ambiente.

O quadro a seguir apresenta o resumo dos níveis de biossegurança recomendados para agentes
infecciosos, segundo orientação contida na publicação do CDC do Departamento de Saúde e Serviços
Humanos dos Estados Unidos, biossegurança em Laboratórios Biomédicos e de Microbiologia, traduzida
pelo Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde.

Quadro 4 – Resumo dos níveis de biossegurança recomendados para agentes infecciosos

Instalações
NB Agentes Práticas Equipamento de segurança (barreiras secundárias)
Que não são conhecidos Práticas padrão de Bancadas abertas com pias
1 por causarem doenças em Não são necessários.
adultos sadios. microbiologia. próximas.

Barreiras primárias = cabines de


Prática de NB-1 mais: acesso classe I ou II ou outros dispositivos
limitado; avisos de risco
Associados com doenças de contenção física usados para
biológico; precauções com
humanas, risco = lesão todas as manipulações de agentes
objetos perfurocortantes;
2 percutânea, ingestão, que provoquem aerossóis ou NB-1 mais: autoclave
manual de biossegurança
exposição da membrana vazamento de materiais infecciosos; disponível.
que defina qualquer
mucosa. procedimentos especiais como o
descontaminação de dejetos ou uso de aventais, luvas e proteção
normas de vigilância médica. para o rosto, quando necessário.
NB-2 mais: separação
Práticas de NB-2 mais: Barreiras primárias = cabines de física dos corredores de
Agentes exóticos com acesso controlado; classe I ou II ou outros dispositivos acesso; portas de acesso
potencial para transmissão descontaminação de todo de contenção usados para todas as duplas com fechamento
3 via aerossol; a doença pode o lixo; descontaminação da manipulações abertas de agentes; automático; ar de exaustão
trazer consequências sérias roupa usada no laboratório uso de aventais, luvas e proteção não recirculante; fluxo
ou até fatais. antes de ser lavada; amostra respiratória, quando necessário. de ar negativo dentro do
sorológica. laboratório.
Agentes exóticos ou NB-3 mais: edifício
perigosos que impõem um Barreiras primárias = todos os separado ou área isolada;
alto risco de doenças que NB-3 mais: mudança de procedimentos conduzidos em sistemas de abastecimento
ameaçam a vida, infecções roupa antes de entrar; banho cabines de classe III ou classe I ou
4 e escape a vácuo e de
laboratoriais transmitidas de ducha na saída; todo o II juntamente com macacão de descontaminação; outros
via aerossol ou relacionadas material descontaminado na pressão positiva com suprimento requisitos sublinhados no
a agentes com risco saída das instalações. de ar. texto.
desconhecido de transmissão.

38
BIOSSEGURANÇA

3.8.1 Doenças ocupacionais de origem biológica mais comuns: conduta e normas


de biossegurança

As doenças ocupacionais representam um risco biológico e um desafio nas profissões em que existe
tal risco. É preciso identificá‑lo e inserir barreiras e métodos de imunização para limitá‑lo.

Para que ocorra a doença ou a infecção, é necessário que haja um grau de contaminação do patógeno
e uma maior virulência dele, ou seja, quanto maior a patogenicidade da doença, mais ela pode acometer
o indivíduo. Esse indivíduo pode apresentar resistência à doença, por isso a importância dos métodos de
imunização, quando existentes.

O conceito de infecção cruzada é a transmissão de agentes infectantes entre pacientes e equipe de


saúde dentro do ambiente clínico. Essa infeção depende de três fatores:

• Fonte da infeção: pode ser um indivíduo ou um ambiente contaminado.

• Veículo ou vetor: sangue, saliva e instrumentais.

• Vias de transmissão: contato com secreções, inalação (partículas no ar) e inoculação (exposição
devido a um corte com material infectado).

As vias de transmissão ainda são classificadas em: direta – projeção de gotículas em mucosas, inoculação
acidental e abrasão da pele; indireta – é necessário haver um veículo ou vetor para ocorrer a infecção.

Exemplo:

Os instrumentais ou artigos utilizados podem conter fômites, que são sujidades que abrigam
micro‑organismos. Se não forem limpos e esterilizados, podem transmitir infecção para o indivíduo.

Outro exemplo são os insetos, considerados como vetores, pois transmitem micro‑organismos que
se transformam em doenças para o homem.

Outro conceito importante em relação à infecção cruzada é a classificação do indivíduo que pode
propagar a infecção:

• Portador: indivíduo com micro‑organismo específico, mas que não apresenta o quadro clínico da doença.

Exemplo: um indivíduo com o vírus HVB (hepatite B) pode não apresentar manifestações da doença,
porém quando realizado um exame sorológico, constata‑se que ele apresenta o vírus no organismo.

• Disseminador: indivíduo que possui a doença e seu quadro clínico e que pode eliminar o
micro‑organismo no meio ambiente e transmiti‑lo a outras pessoas.

Exemplo: indivíduos com o vírus da H1N1 podem eliminá‑lo por meio de gotículas no ar e
transmiti‑los a outras pessoas.
39
Unidade I

Saiba mais

Para saber sobre as doenças ocupacionais, procure:

BRASIL. Ministério da Saúde do Brasil. Doenças relacionadas ao


trabalho. Manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília:
2001. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_
relacionadas_trabalho1.pdf. Acesso em: 2 jun. 2015.

3.8.2 Síndrome de burnout ou esgotamento profissional

Todas as pessoas que trabalham, em algum momento, se deparam com situações e/ou momentos de
estresse relacionados à atividade laboral. No entanto, falar de estresse não é tão simples. É um problema
de difícil reconhecimento, ao qual muitas vezes as pessoas não dão a devida importância, pois acreditam
ser uma situação normal e corriqueira no ambiente de trabalho. Mas e quando ele se torna um problema
grave ou, mais ainda, uma doença?

A síndrome de burnout (SB) ou esgotamento profissional é definida pelo Ministério da Saúde


(BRASIL, 2001) como um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais
crônicos no trabalho. O indivíduo apresenta um esgotamento pessoal que interfere na sua vida,
mas não necessariamente na sua relação com o trabalho. É um estado físico, emocional e mental
de exaustão extrema, advindo da situação laboral, e é considerado um construto formado por
três dimensões:

• Exaustão emocional: caracterizada por sentimentos de fadiga e falta de recursos emocionais


para lidar com situações estressantes.

• Despersonalização: situação capaz de levar à insensibilidade emocional com os colegas


de trabalho e nas relações interpessoais, podendo ser usada pelos profissionais para evitar
laços afetivos.

• Baixa realização profissional: definida como insatisfação com o próprio desenvolvimento


profissional e com a própria execução do trabalho.

O amplo aumento das doenças ocupacionais pode estar relacionado com diversos fatores, como
ritmo de trabalho exacerbado, grandes exigências, muita responsabilidade, cobranças excessivas e metas
inatingíveis. Os fatores de insegurança social e econômica e o consequente medo de perder o emprego
podem aumentar ainda mais o risco de desenvolver essas doenças. É possível acrescentar também
fatores ligados à violência e à criminalidade, que infelizmente estão presentes em vários campos de
trabalho, como escolas, bancos e estabelecimentos comerciais.

40
BIOSSEGURANÇA

Além da exaustão emocional e muitas vezes física, as pessoas se sentem infelizes consigo mesmas,
insatisfeitas com o trabalho e com o seu desenvolvimento profissional, duvidando da capacidade de
desempenhar bem a sua função. Podem apresentar também insônia, irritabilidade, ansiedade, apatia,
angústia, depressão, tremores, entre outros sintomas.

Qualquer categoria profissional está sujeita a desenvolver a SB, porém alguns estudos mostram uma
prevalência em profissionais da saúde e professores – de maneira mais específica, em trabalhadores
que lidam diretamente com pessoas, por conta disso mais expostos a fatores que contribuem para o
desenvolvimento do estresse profissional.

O tratamento dessa síndrome pode se dar por meio de uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e
intersetorial, a qual vai depender dos sintomas que cada profissional apresenta, da sua rede de apoio e das
estratégias de enfrentamento que ele possui, tendo como objetivo a melhora da qualidade de vida desse
indivíduo. Pode‑se recorrer a medicamentos, tratamentos psicológicos e/ou psiquiátricos, afastamento do
trabalho, melhoria das condições de trabalho (quando possível) e inclusão de momentos de lazer, como
atividade física, ioga ou meditação.

3.8.3 Cipa

A NR 5, promulgada pela Portaria GM n. 3.214, de 8 de junho de 1978, trata das Cipa.

Essa NR trata da obrigatoriedade da instalação da Cipa e da sua manutenção em regular


funcionamento nas empresas. Dispõe sobre a prevenção de acidentes, doenças decorrentes do trabalho,
preservação da vida e promoção da saúde do trabalhador.

A Cipa tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo
a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do
trabalhador. As empresas devem constituir a Cipa de acordo com a atividade econômica e o número
de funcionários.

A formação de uma Cipa é obrigatória para todas as organizações. Tal comissão é responsável por
tratar de questões sobre a segurança do trabalho e de todos os trabalhadores, independentemente
do vínculo empregatício. Por exemplo, em empresas públicas que tenham funcionários estatutários
(concursados), celetistas, terceirizados e autônomos em seu quadro de funcionários, todos eles são
cobertos pela ação da Cipa.

A NR 5 faz diferenciação entre trabalhadores e empregados. Empregados são aqueles que têm algum
tipo de vínculo de emprego, e trabalhadores são todos os indivíduos que executam atividades dentro da
empresa, o que inclui os terceirizados e prestadores de serviço.

A Cipa tem mandato de um ano. Possui um número igual de representantes do empregador (indicados
pela empresa) e de representantes dos empregados (eleitos).

41
Unidade I

É papel do empregador proporcionar aos membros da Cipa os meios necessários ao desempenho


de suas atribuições, garantindo tempo suficiente para a realização das tarefas constantes do plano
de trabalho.

São funções dos empregados:

• Colaborar com a gestão da Cipa.

• Indicar situações de risco e apresentar sugestões para a melhoria das condições de trabalho.

• Observar e aplicar no ambiente de trabalho as recomendações quanto à prevenção de acidentes e


doenças dele decorrentes.

O presidente da Cipa deve ser escolhido pela empresa dentre os membros por ela indicados, e o
vice‑presidente deve ser eleito dentre os representantes eleitos titulares.

Cabe ao presidente e ao vice‑presidente da Cipa mediar conflitos, elaborar o calendário de reuniões


ordinárias e constituir comissão eleitoral para regular o processo de eleição da Cipa subsequente. Quem
elabora as atas das reuniões ordinárias é o secretário.

Quando o estabelecimento não se enquadra na obrigatoriedade de constituição de Cipa, é exigida a


designação de uma pessoa com o treinamento específico para desempenhar suas atribuições.

A organização que possuir em um mesmo município dois ou mais estabelecimentos deverá garantir
a integração da Cipa e dos designados, conforme o caso, com o objetivo de harmonizar as políticas de
segurança e saúde no trabalho.

As empresas instaladas em centro comercial ou industrial estabelecerão, por meio de membros de


Cipa ou designados, mecanismos de integração com o objetivo de promover o desenvolvimento
de ações de prevenção de acidentes e doenças decorrentes do ambiente e instalações de uso coletivo,
podendo contar com a participação da administração do local.

Saiba mais

Você pode conhecer melhor a NR 5 acessando:

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). NR 5 – Comissão Interna


de Prevenção de Acidentes (Cipa). Portaria SIT n. 247, de 12 de julho de 2011.
Brasília: 2011d. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D3
11909DC0131678641482340/nr_05.pdf. Acesso em: 9 maio 2015.

42
BIOSSEGURANÇA

Figura 7 – Símbolo da Cipa

Lembrete

De acordo com NR 5, os trabalhadores da empresa é que devem compor


a Cipa, e é a própria instituição deve elaborar os mapas de risco.

3.8.4 SESMT

Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) têm


Fundamentação legal no artigo 162 da CLT. Aprovada pela Portaria n. 3214, de 8 de junho de 1978
pelo Ministério do Trabalho.

Sua formação é realizada de acordo com a atividade econômica, levando em consideração o grau de
risco e o número de empregados.

A formação máxima do SESMT é composta dos seguintes técnicos:

• Engenheiro de segurança do trabalho.

• Técnico de segurança do trabalho.

• Médico do trabalho.

• Enfermeiro do trabalho.

• Auxiliar de enfermagem.

No entanto, conforme o grau de risco (classificado de 1 a 4) e o número de empregados existentes


na empresa, a quantidade e o tipo de técnicos obrigatórios vão variar, por isso existe um quadro de
dimensionamento que deve ser seguido.

43
Unidade I

Observação

As normas regulamentadoras (NRs) são anexos da CLT, principal


documento da legislação trabalhista brasileira.

Dentro das Normas Regulamentadoras da Segurança do Trabalho, temos que lembrar da NR1, que
estabelece o campo de aplicação de todas as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do
Trabalho, e os direitos e obrigações do Governo, dos empregadores e dos empregados.

Também são importantes:

NR 4: trata sobre Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do


Trabalho (SESMT).

NR 5: trata sobre a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) e que tem contato estreito e
permanente com o SESMT.

NR 6: define as condições e regras dos usos de Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

NR 7: trata sobre o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) exames


admissionais, demissionais, por mudança de cargo, pós licenças saúde etc.

NR 9: trata sobre os Programas de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA).

NR 17: trata sobre a ergonomia.

NR 23: trata sobre Proteção Contra Incêndios.

NR 26: trata sobre Sinalização de Segurança.

Outras normas regulamentadoras podem ser encontradas na legislação do Ministério do Trabalho e


Emprego (MTE).

4 LEGISLAÇÃO EM BIOSSEGURANÇA

A biossegurança é uma disciplina nova, surgida no século XX, voltada para o controle e a minimização
de riscos advindos da prática de diferentes ramos do conhecimento humano relacionados à saúde e ao
meio ambiente, seja em laboratório, produção de alimentos ou quando aplicadas a trabalhos de campo.
A biossegurança é regulada em vários países no mundo por um conjunto de leis, procedimentos ou
diretivas específicas.

No Brasil, a primeira legislação de biossegurança foi criada em 1995, enfocando apenas questões
relacionadas com a engenharia genética, que é a tecnologia do DNA ou RNA recombinante, estabelecendo
44
BIOSSEGURANÇA

os requisitos para o manejo de organismos geneticamente modificados, para permitir o desenvolvimento


sustentado da biotecnologia.

O fundamento básico da biossegurança é assegurar o avanço dos processos tecnológicos e proteger


a saúde humana e animal e o meio ambiente. Sendo assim, as tecnologias baseadas em DNA ou RNA
recombinantes são tratadas pela biossegurança sob três aspectos: o primeiro diz respeito aos procedimentos
empregados para garantir a segurança imediata dos manipuladores; o segundo aspecto, ao futuro, já que
é muito difícil prever os efeitos de manipulações genéticas em populações e no meio ambiente em longo
prazo; o terceiro aspecto é o questionamento sobre quais manipulações genéticas são adequadas em
relação à ética. Nesse último aspecto, esbarramos em outra área do conhecimento, chamada bioética.

Com relação ao aspecto relacionado ao trabalhador em sua atividade cotidiana, as normas tradicionais
de segurança laboratorial enfatizam o uso de boas práticas de trabalho, equipamentos de contenção
adequados, dependências bem projetadas e controles administrativos que minimizem os riscos de uma
infecção acidental ou ferimentos em trabalhadores de laboratório, e ainda que evitem a contaminação
do meio ambiente.

Porém, medidas de biossegurança específicas precisam ser discutidas e adotadas por laboratórios de
pesquisa, aliadas a um amplo plano de educação baseado nas normas nacionais e internacionais quanto
ao transporte, à conservação e à manipulação de microrganismos geneticamente modificados e seus
produtos derivados.

Embora os laboratórios clínicos e de pesquisas possam conter uma variedade de materiais biológicos,
químicos e radioativos perigosos, até o momento existem poucos relatórios sobre o uso intencional de
quaisquer desses materiais de forma a causar prejuízos a outros.

Entretanto, há uma crescente preocupação sobre o possível uso de materiais biológicos, químicos e
radioativos como agentes para o terrorismo. Em resposta a essas preocupações, há normas que orientam
essas questões de segurança laboratorial, como a prevenção da entrada de pessoas não autorizadas em
áreas laboratoriais e da remoção não autorizada de agentes biológicos perigosos, entre outras.

4.1 Conceito

O conceito de biossegurança surgiu na década de 1970, na reunião de Asilomar, na Califórnia, quando


a comunidade científica iniciou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade
(COSTA; COSTA, 2002).

A partir daí, o termo biossegurança foi sofrendo alterações. Na década de 1970, a Organização
Mundial da Saúde a definia como “práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para
o homem” (WHO, apud COSTA; COSTA, 2002). O foco voltava-se para a saúde do trabalhador frente aos
riscos biológicos no ambiente ocupacional. Já na década de 1980, a própria OMS incorporou a essa
definição os chamados riscos periféricos presentes em ambientes laboratoriais que trabalhavam com
agentes patogênicos para o homem, como os riscos químicos, físicos, radioativos e ergonômicos.

45
Unidade I

Nos anos 1990, verificamos que a definição de biossegurança sofreu mudanças significativas. Em
um seminário realizado no Instituto Pasteur, em Paris, foi observada a inclusão de temas como ética
em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante, em
programas de biossegurança (COSTA; COSTA, 2002).

4.2 Histórico

No Brasil, por iniciativa do então senador Marco Antônio Maciel, um projeto de lei envolvendo a
biossegurança foi submetido à aprovação do Congresso Nacional em 1989.

O conhecimento e o interesse por essa área, no entanto, só foram fortalecidos com a Convenção
sobre a Diversidade Biológica, aprovada em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92 ou Rio 92. Um maior interesse por normas
definidas para o manuseio e uso de organismos geneticamente modificados (OGM), mais conhecidos
como organismos transgênicos, partiu de instituições de pesquisa que desenvolviam atividades de
engenharia genética.

Em maio de 1994, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), com apoio da


Unido/ICGEB, organizou o primeiro workshop internacional sobre organismos transgênicos no Brasil.
Participantes de instituições de pesquisa e empresas privadas do Brasil e de outros países da América
Latina receberam instruções sobre aspectos de biossegurança de organismos transgênicos e debateram
o desenvolvimento de regulamentação desse setor na região.

Foi formado um grupo de trabalho que incluía a Embrapa, a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e a
Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia (Abrabi) para acompanhar as discussões do Projeto
de Lei de biossegurança no Congresso Nacional, com o apoio do seu relator na Câmara dos Deputados,
o deputado Sérgio Arouca. O resultado desse trabalho, que também contou com o apoio de empresas
privadas, culminou com a aprovação da Lei de biossegurança em dezembro de 1994, a qual veio a ser a
primeira lei sancionada pelo então presidente da república Fernando Henrique Cardoso, a Lei n. 8.794,
de 6 de janeiro de 1995. O decreto regulamentador da lei, Decreto n. 1.974, elaborado por uma comissão
interministerial presidida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, foi publicado em dezembro de 1995.

A Lei de biossegurança de 1995 regulava todos os aspectos da manipulação e uso de OGM


no Brasil, incluindo pesquisa em contenção, experimentação em campo, transporte, importação,
produção, armazenamento e comercialização. Seu escopo limitou-se ao uso da engenharia genética,
ou uso da técnica do DNA/RNA recombinante, para a troca de material genético entre organismos
vivos. Outras técnicas biotecnológicas, como fusão celular e cultura de tecidos, não foram incluídas.

Porém, por não abordar assuntos polêmicos, como o uso terapêutico de células-tronco embrionárias
e a autorização para o uso comercial de alimentos transgênicos, a Lei n. 8.794/95 foi revogada e
substituída pela Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005.

46
BIOSSEGURANÇA

4.3 Lei n. 11.105/2005

Esta lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo,
a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a
pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGMs e seus
derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia,
a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal e a observância do princípio da precaução para a
proteção do meio ambiente.

Ela regulamenta os incisos II, IV e V do § 1, do art. 225 da Constituição Federal. Esse artigo diz
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).

Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

• preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades


dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

• controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que


comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

4.4 Engenharia genética

No artigo das definições, a Lei n. 11.105/2005 explica diversos termos técnicos como:

• Organismo: toda entidade biológica capaz de reproduzir ou transferir material genético, inclusive
vírus e outras classes que venham a ser conhecidas.

• ADN e ARN: material genético que contém informações determinantes dos caracteres hereditários
transmissíveis à descendência.

• ADN/ARN recombinante: as moléculas manipuladas fora das células vivas mediante a modificação
de segmentos de ADN/ARN natural ou sintético e que possam multiplicar‑se em uma célula viva,
ou ainda as moléculas de ADN/ARN resultantes dessa multiplicação; consideram-se também os
segmentos de ADN/ARN sintéticos equivalentes aos de ADN/ARN natural.

• Engenharia genética: atividade de produção e manipulação de moléculas de ADN/ARN recombinante.

• Organismo geneticamente modificado (OGM): organismo cujo material genético (ADN/ARN)


tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética.

47
Unidade I

Esta lei não se aplica quando a modificação genética for obtida por meio de diversas técnicas de
manipulação celular, desde que não impliquem a utilização de OGM como receptor ou doador.

Note que, para ser um OGN, o organismo deve ser resultado de técnicas utilizando ADN/ARN recombinante.

Esta lei também permite:

para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias


obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não
utilizados no respectivo procedimento, atendidas às seguintes condições:

I – sejam embriões inviáveis; ou

II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação


desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de
completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1. Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2. Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa


ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter
seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética
em pesquisa.

§ 3. É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este


artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de
4 de fevereiro de 1997.

Art. 6. Fica proibido:

I – implementação de projeto relativo a OGM sem a manutenção de registro


de seu acompanhamento individual;

II – engenharia genética em organismo vivo ou o manejo in vitro de ADN/


ARN natural ou recombinante, realizado em desacordo com as normas
previstas nesta Lei;

III – engenharia genética em célula humana;

IV – clonagem humana;

V – destruição ou descarte no meio ambiente de OGM e seus derivados


em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio, pelos órgãos e
entidades de registro e fiscalização. (BRASIL, 2005).

48
BIOSSEGURANÇA

Saiba mais

Para saber mais sobre a Lei n. 11. 105/2005, leia:

BRASIL. Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005. Brasília: 2005.


Disponível em: http://www.anbio.org.br/site/files/palestras/Compndio_de_
Biossegurana‑_Legislao.pdf. Acesso em: 15 mai. 2019.

4.5 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)

O Conselho Nacional de Biossegurança é um órgão de assessoramento do presidente da república


para a formulação e implementação da Política Nacional de Biossegurança (PNB).

Compete ao CNBS:

I – fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais;

II – analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e oportunidade socioeconômicas


e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus derivados;

O CNBS é composto pelos seguintes membros:

I – Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá;

II – Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia;

III – Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário;

IV – Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

V – Ministro de Estado da Justiça;

VI – Ministro de Estado da Saúde;

VII – Ministro de Estado do Meio Ambiente;

VIII – Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

IX – Ministro de Estado das Relações Exteriores;

X – Ministro de Estado da Defesa;

XI – Secretário Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República.


49
Unidade I

4.6 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)

A CTNBio é o órgão que acompanha o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas áreas
de biossegurança, biotecnologia, bioética e afins, com o objetivo de aumentar a capacitação para a
proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança é uma comissão multidisciplinar, de caráter consultivo


e deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação,
atualização e implementação da PNBde OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas
técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam
pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco zoofitossanitário,
à saúde humana e ao meio ambiente.

A CTNBio é o órgão que acompanha o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas áreas
de biossegurança, biotecnologia, bioética e afins, com o objetivo de aumentar sua capacitação para a
proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.

Art. 11. A CTNBio, composta de membros titulares e suplentes, designados


pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, será constituída por 27
(vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de
notória atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com
destacada atividade profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia,
biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente, sendo:

I – 12 (doze) especialistas de notório saber científico e técnico, em efetivo


exercício profissional, sendo:

a) 3 (três) da área de saúde humana;

b) 3 (três) da área animal;

c) 3 (três) da área vegetal;

d) 3 (três) da área de meio ambiente;

II – um representante de cada um dos seguintes órgãos, indicados pelos


respectivos titulares:

a) Ministério da Ciência e Tecnologia;

b) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

c) Ministério da Saúde;

d) Ministério do Meio Ambiente;

50
BIOSSEGURANÇA

e) Ministério do Desenvolvimento Agrário;

f) Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

g) Ministério da Defesa;

h) Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República;

i) Ministério das Relações Exteriores;

III – um especialista em defesa do consumidor, indicado pelo Ministro da Justiça;

IV – um especialista na área de saúde, indicado pelo Ministro da Saúde;

V – um especialista em meio ambiente, indicado pelo Ministro do Meio Ambiente;

VI – um especialista em biotecnologia, indicado pelo Ministro da Agricultura,


Pecuária e Abastecimento;

VII – um especialista em agricultura familiar, indicado pelo Ministro do


Desenvolvimento Agrário;

VIII – um especialista em saúde do trabalhador, indicado pelo Ministro do


Trabalho e Emprego.

§ 1. Os especialistas de que trata o inciso I do caput deste artigo serão


escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada com a participação das
sociedades científicas, conforme disposto em regulamento.

§ 2. Os especialistas de que tratam os incisos III a VIII do caput deste artigo


serão escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada pelas organizações da
sociedade civil, conforme disposto em regulamento.

§ 3. Cada membro efetivo terá um suplente, que participará dos trabalhos


na ausência do titular.

§ 4. Os membros da CTNBio terão mandato de 2 (dois) anos, renovável por


até mais 2 (dois) períodos consecutivos (BRASIL, 2005).

Compete à CTNBio:

I – estabelecer normas para as pesquisas com OGM e derivados de OGM;

II – estabelecer normas relativamente às atividades e aos projetos


relacionados a OGM e seus derivados;
51
Unidade I

III – estabelecer, no âmbito de suas competências, critérios de avaliação e


monitoramento de risco de OGM e seus derivados;

IV – proceder à análise da avaliação de risco, caso a caso, relativamente a


atividades e projetos que envolvam OGM e seus derivados;

V – estabelecer os mecanismos de funcionamento das Comissões Internas


de Biossegurança – CIBio, no âmbito de cada instituição que se dedique ao
ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção
industrial que envolvam OGM ou seus derivados;

VI – estabelecer requisitos relativos à biossegurança para autorização de


funcionamento de laboratório, instituição ou empresa que desenvolverá
atividades relacionadas a OGM e seus derivados;

VII – relacionar-se com instituições voltadas para a biossegurança de OGM


e seus derivados, em âmbito nacional e internacional;

VIII – autorizar, cadastrar e acompanhar as atividades de pesquisa com OGM


ou derivado de OGM, nos termos da legislação em vigor;

IX – autorizar a importação de OGM e seus derivados para atividade de pesquisa;

X – prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao CNBS na


formulação da PNBde OGM e seus derivados;

XI – emitir Certificado de Qualidade em Biossegurança – CQB para o


desenvolvimento de atividades com OGM e seus derivados em laboratório,
instituição ou empresa e enviar cópia do processo aos órgãos de registro e
fiscalização referidos no art. 16 desta Lei;

XII – emitir decisão técnica, caso a caso, sobre a biossegurança de OGM e


seus derivados no âmbito das atividades de pesquisa e de uso comercial
de OGM e seus derivados, inclusive a classificação quanto ao grau de risco e
nível de biossegurança exigido, bem como medidas de segurança exigidas
e restrições ao uso;

XIII – definir o nível de biossegurança a ser aplicado ao OGM e seus usos, e


os respectivos procedimentos e medidas de segurança quanto ao seu uso,
conforme as normas estabelecidas na regulamentação desta Lei, bem como
quanto aos seus derivados;

XIV – classificar os OGM segundo a classe de risco, observados os critérios


estabelecidos no regulamento desta Lei;

52
BIOSSEGURANÇA

XV – acompanhar o desenvolvimento e o progresso técnico-científico na


biossegurança de OGM e seus derivados;

XVI – emitir resoluções, de natureza normativa, sobre as matérias de


sua competência;

XVII – apoiar tecnicamente os órgãos competentes no processo de prevenção


e investigação de acidentes e de enfermidades, verificados no curso dos
projetos e das atividades com técnicas de ADN/ARN recombinante;

XVIII – apoiar tecnicamente os órgãos e entidades de registro e fiscalização,


referidos no art. 16 desta Lei, no exercício de suas atividades relacionadas a
OGM e seus derivados;

XX – identificar atividades e produtos decorrentes do uso de OGM e seus


derivados potencialmente causadores de degradação do meio ambiente ou
que possam causar riscos à saúde humana;

XXI – reavaliar suas decisões técnicas por solicitação de seus membros ou


por recurso dos órgãos e entidades de registro e fiscalização, fundamentado
em fatos ou conhecimentos científicos novos, que sejam relevantes quanto
à biossegurança do OGM ou derivado, na forma desta Lei e seu regulamento;

XXII – propor a realização de pesquisas e estudos científicos no campo da


biossegurança de OGM e seus derivados (BRASIL, 2005).

Resumo

A biossegurança é considerada a ciência voltada para o controle e


a minimização do risco, em que o fundamento primário é certificar o
avanço dos processos tecnológicos e proteger a saúde humana, animal e
o meio ambiente.

Não há profissão que seja considerada livre de perigos. Segundo a OMS,


a definição de saúde não é apenas a ausência de afecções (doenças), mas
um estado de equilíbrio entre o bem-estar físico, mental e social.

A higiene do trabalhador na área da saúde é de extrema importância. Ações


como tomar banho e trocar de roupas diariamente fazem a diferença quando
se trata de higiene. E principalmente a ação de lavar as mãos, que é um dos
pontos mais importantes no controle de infecção cruzada.

53
Unidade I

O papel da biossegurança no ambiente de trabalho é o de classificar e


quantificar os perigos e os riscos aos quais os funcionários podem se encontrar
expostos quando exercem suas atividades.

Estudamos que há uma diferença entre perigo e risco. Perigo é qualquer


agente que cause danos à saúde ou à integridade física do objeto de trabalho,
já o risco é a combinação entre a probabilidade de ocorrência de um fato e a
sua severidade.

Vimos ainda que todos os procedimentos de biossegurança e higiene


devem ser seguidos para que sejam evitados os acidentes. Eles possuem uma
ou mais causas e uma ou mais consequências. Sua prevenção consiste em
eliminar as causas (diminuir os riscos), evitando então sua ocorrência.

Os atos inseguros residem no fator humano. São decorrentes da não


obediência às normas de segurança e podem ser conscientes e inconscientes.

As condições inseguras são as causas dos acidentes do trabalho que


decorrem diretamente das condições do local ou ambiente de trabalho.

O conhecimento dos riscos ocupacionais que incluem os riscos físicos,


químicos, biológicos, ergonômicos, de acidentes (ou mecânicos) e psicossociais
são de grande importância para a biossegurança do trabalhador.

Abordamos a ergonomia, ciência que estuda a posição do trabalho


na qual há interação entre a máquina e o ser humano. Aprofundamos
nossos conhecimentos e apresentamos alguns exemplos em relação às
LER e às Dort.

Destacamos que, por meio do conhecimento dos riscos, é possível a


criação do mapa de risco, instrumento que proporciona a avaliação e o
controle dos riscos que a atividade pode ocasionar ao profissional. Sua
principal importância é a minimização dos riscos no local de trabalho,
funcionando como um alerta para o indivíduo e como estratégia para a
prevenção de riscos ambientais.

Observamos a importância dos níveis de biossegurança (NB), que


consistem de combinações de práticas e técnicas de laboratório e barreiras
primárias e secundárias para assegurar que os processos no local sejam
desenvolvidos adequadamente.

Conhecemos os diversos aspectos a respeito das doenças ocupacionais


que representam um risco biológico. Vimos o quão importante é a

54
BIOSSEGURANÇA

identificação desses riscos e a inserção de meios de limitá-los, com barreiras


e métodos de imunização.

Também tratamos da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes


(Cipa), regulamentada pela NR 5, que tem o objetivo de previnir acidentes
e doenças decorrentes do trabalho, promovendo a preservação da vida e
da saúde do trabalhador.

Sobre a legislação em biossegurança, vimos que a Lei n. 8.794, de 6


de janeiro de 1995, foi a primeira lei brasileira que tratou sobre questões
relacionadas à biossegurança. Ela focava apenas questões relacionadas
a tecnologias derivadas de DNA ou RNA recombinantes, também
conhecidas como engenharia genética. Essa lei estabelecia parâmetros
para trabalhos com organismos geneticamente modificados, garantindo
o desenvolvimento sustentado da biotecnologia. Entretanto, essa lei não
cobria assuntos polêmicos, como o uso terapêutico de células tronco
embrionárias e o uso comercial de alimentos transgênicos, sendo então
revogada e substituída pela Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005, que cria
dois órgãos responsáveis pela biossegurança relacionada a organismos
geneticamente modificados: o CNBS e o CNTBio.

O Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) é um órgão de


assessoramento do presidente da república para a formulação e
implementação da Política Nacional de Biossegurança. Ele é composto de
ministros e seu objetivo é estabelecer diretrizes para a ação administrativa
dos órgãos e entidades federais.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio) é uma


comissão multidisciplinar, de caráter consultivo e deliberativo, para prestar
apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal. A CTNBio é o órgão
que acompanha o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas
áreas de biossegurança, biotecnologia, bioética e afins, com o objetivo de
aumentar sua capacitação para a proteção da saúde humana, dos animais,
das plantas e do meio ambiente.

Em 1991, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) publicou


uma resolução desobrigando “a incineração ou qualquer outro tratamento
de queima dos resíduos sólidos provenientes dos estabelecimentos de saúde”.
Para que os resíduos dos estabelecimentos de saúde não sejam despejados
indiscriminadamente, o Conama estabeleceu a obrigação da criação de um
Programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS),
que é um documento que aponta e descreve as ações relativas ao manejo
de resíduos de serviços de saúde, observadas suas características e riscos, no
âmbito dos estabelecimentos geradores de resíduos de serviços de saúde.
55
Unidade I

Todos os resíduos gerados na área da saúde, inclusive alguns fluidos


corporais contaminados, são tratados como resíduos sólidos. Isso se deve
ao fato de tais resíduos precisarem ser acondicionados em embalagens
específicas antes de serem descartados.

Os resíduos produzidos nos serviços de saúde são classificados em


grupos: A (presença de agentes biológicos), B (substâncias químicas),
C (substâncias radioativas), D (resíduos domiciliares) e E (materiais
perfurocortantes ou escarificantes).

Também vimos que a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes


(Cipa) tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes
do trabalho. As empresas devem constituir essa comissão de acordo com
a atividade econômica e o número de empregados. A Cipa tem mandato de
um ano e um número igual de representantes do empregador (indicados pela
empresa) e de representantes dos empregados (eleitos).

Em empresas pequenas, quando o estabelecimento não se enquadra na


obrigatoriedade de constituição da Cipa, é exigida a designação de uma pessoa
com o treinamento específico para desempenhar as atribuições da comissão.
Os membros da Cipa têm estabilidade no emprego, sendo vedada a dispensa
sem justa causa do empregado eleito para cargo de sua direção desde o registro
de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato. Também é proibida
a transferência para outro estabelecimento sem a sua anuência.

Já o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) é um documento


obrigatório, que segue uma estratégia semelhante a um sistema de
gerenciamento da qualidade (como o ISO 9000, por exemplo), cujo objetivo
é gerar ações visando garantir a saúde dos trabalhadores, por meio da
avaliação e, consequentemente, do controle de riscos de acidentes, tendo em
consideração, além do ambiente de trabalho, a proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais.

A implementação do PPRA é obrigatória, não importando o grau de risco


ou a quantidade de empregados, e a Cipa deve participar da elaboração do
PPRA, auxiliando na sua implementação.

O Programa de Controle Médico da Saúde Ocupacional (PCMSO) também é


um documento legal obrigatório, criado pela NR 7, visando o controle da saúde
dos trabalhadores. Por esse programa, a empresa é obrigada a manter registros
periódicos sobre a saúde do trabalhador. Dessa forma é possível acompanhar
esse histórico, desde a admissão do sujeito até a sua demissão, garantindo que
serão tomadas providências caso seja detectado algum problema.
56
BIOSSEGURANÇA

Os exames realizados são o admissional, os periódicos, o de retorno ao


trabalho (após afastamento por doença ou acidente), o de mudança de
função e o demissional.

Os registros devem ser guardados por um período mínimo de vinte


anos, pois podem ser solicitados para fins trabalhistas ou previdenciários
muitos anos após o desligamento do funcionário.

Exercícios

Questão 1. (Sanepar 2004, adaptada). Os riscos ocupacionais são classificados em grupos de acordo
com sua natureza. As cores correspondem a cada um dos riscos ocupacionais. Considerando essa
informação, enumere a coluna da direita com base nos riscos listados na coluna da esquerda.

1. Riscos físicos ( ) Cor azul


2. Riscos químicos ( ) Cor vermelha
3. Riscos biológicos ( ) Cor verde
4. Riscos ergonômicos ( ) Cor marrom
5. Riscos de acidentes ( ) Cor amarela

Assinale a alternativa que contém a sequência correta da coluna da direita, de cima para baixo:

A) 5, 2, 1, 3, 4.

B) 4, 3, 1, 5, 2.

C) 1, 4, 3, 2, 5.

D) 2, 3, 5, 1, 4.

E) 3, 2, 4, 5, 1.

Resposta correta: alternativa A.

Análise da questão

Os riscos de acidentes sempre são simbolizados pela cor azul; os riscos químicos, pela cor
vermelha; os riscos físicos, pela cor verde; os riscos biológicos, pela cor marrom; os riscos
ergonômicos, pela cor amarela.

57
Unidade I

Questão 2. (Cespe 2009) A lei 11.105/2005 estabelece normas de segurança e mecanismos de


fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a
importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no
meio ambiente e o descarte de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e seus derivados, tendo
como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à
vida e à saúde humana, animal e vegetal e a observância do princípio da precaução para a proteção do
meio ambiente.

Acerca da engenharia genética e de sua relação com o ambiente, assinale a alternativa correta:

A) A lei que estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que


envolvam OGM e seus derivados prevê o estabelecimento de sanções administrativas, mas não
criminais, contra as ações ou omissões que as violem.

B) Atividades e projetos que envolvam OGMs e seus derivados somente podem ser desenvolvidos por
pessoas físicas ou entidades de direito público ou privado que se dediquem à pesquisa científica,
ao desenvolvimento tecnológico e à produção industrial.

C) Estão sujeitos a controle legal a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte,


a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o
consumo, a liberação no ambiente e o descarte de OGM e seus derivados.

D) A comercialização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos


por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento só é possível mediante a
obtenção de certificado de qualidade em biossegurança, emitido pela Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança, atendidas as condições estabelecidas na legislação pertinente.

E) Em qualquer hipótese, são vedadas a liberação, a destruição ou o descarte, no ambiente, de OGM


ou seus derivados.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a lei que estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades


que envolvam OGM e seus derivados prevê o estabelecimento de sanções administrativas e criminais,
contra as ações ou omissões que a violem.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: é preciso estabelecer os mecanismos de funcionamento das Comissões Internas de


Biossegurança (CIBio), no âmbito de cada instituição que se dedique ao ensino, à pesquisa científica,
ao desenvolvimento tecnológico e à produção industrial que envolvam OGM e seus derivados. Deve-se
58
BIOSSEGURANÇA

estabelecer requisitos relativos à biossegurança para a autorização de funcionamento de qualquer


laboratório, instituição ou empresa que desenvolverá atividades relacionadas a OGM e seus derivados.

C) Alternativa correta.

Justificativa: o controle legal, a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a


transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo,
a liberação no ambiente e o descarte de OGM e seus derivados são regulados por lei.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: para fins de pesquisa e terapia, podem-se utilizar células-tronco embrionárias obtidas
de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento.
Segundo a legislação, devem ser atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis;
ou II – sejam embriões congelados há 3 anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já
congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 anos, contados a partir da data
de congelamento. § 1. Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. § 2. Instituições
de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias
humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em
pesquisa. § 3. É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática
implica o crime tipificado no art. 15 da Lei n. 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: a destruição e o descarte no meio ambiente de OGM e seus derivados são proibidos
se estiverem em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de
registro e fiscalização.

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