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Atuação Profissional – NT
Autoras: Profa. Milena Costa Menezes Cornacini
Profa. Vânia Cristina Lamônica
Colaboradoras: Profa. Mônica Teixeira
Profa. Carolina Kurashima
Professoras conteudistas: Milena Costa Menezes Cornacini / Vânia Cristina Lamônica
Nutricionista graduada pelo Instituto Filadélfia de Londrina (2000), com aprimoramento profissional na área de
dietoterapia em gastroenterologia (2002), mestrado (2005) e doutorado (2009) pelo Programa de Fisiopatologia em
Clínica Médica – Área de Concentração Nutrição, na Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-Unesp). É formada
nos cursos Especialização em Nutrição Ortomolecular (Fapes, 2011) e Especialização em Nutrição Esportiva Funcional
(VP, 2016), com ampla atuação em nutrição clínica, assessoria e docência em nutrição. É palestrante na área de
suplementação nutricional na prática clínica. Atualmente é especializanda em prática clínica e nutrição oncológica e
prática clínica integrativa (Fapes, 2021) e professora titular na Universidade Paulista.
Nutricionista graduada pela Unisagrado de Bauru (1985), com mestrado (2006) e doutorado (2013) pelo
Programa de Bases Gerais da Cirurgia, da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-Unesp). É formada nos cursos
Especialização em Administração de Serviços de Alimentação e Nutrição (Unisagrado, 1985), Especialização em
Cuidados Nutricionais do Paciente Hospitalizado (FMB-Unesp, 2003) e Especialização em Formação de Professores
para o Ensino Superior (UNIP, 2016), com ampla atuação na área de nutrição clínica e docência. Coordenou os
cursos de pós-graduação (lato sensu) Especialização em Gestão de Negócios em Serviços de Alimentação e Nutrição
– Foco em Resultados (Senac, 2011/2013) e Especialização em Nutrição no Esporte (Nutrir Educacional/UNIP,
2018-2019). Atualmente é professora titular na Universidade Paulita. É membro avaliador do Comitê de Ética em
Pesquisa da UNIP.
CDU 612.39-051
U515.30 – 22
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Unip Interativa
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Angélica L. Carlini
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. Deise Alcantara Carreiro
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Caio Ramalho
Leonardo do Carmo
Sumário
Tópicos de Atuação Profissional – NT
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10
Unidade I
1 HISTÓRICO DA NUTRIÇÃO NO BRASIL..................................................................................................... 11
1.1 Entidades de classe............................................................................................................................... 12
1.1.1 Associações científicas.......................................................................................................................... 12
1.1.2 Conselhos profissionais......................................................................................................................... 13
1.1.3 Sindicatos profissionais......................................................................................................................... 15
2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA.............................................................................................. 16
2.1 Nutrição em alimentação coletiva................................................................................................. 17
2.2 Nutrição clínica...................................................................................................................................... 17
2.3 Nutrição em esportes e exercício físico....................................................................................... 18
2.4 Nutrição em saúde coletiva.............................................................................................................. 18
2.5 Nutrição na cadeia de produção, na indústria e no comércio de alimentos................ 19
2.6 Nutrição no ensino, docência, pesquisa e extensão............................................................... 20
3 SEGURANÇA ALIMENTAR............................................................................................................................. 20
3.1 Gestão sustentável............................................................................................................................... 22
3.1.1 Produção de refeições............................................................................................................................ 24
3.1.2 Sustentabilidade e agroecologia....................................................................................................... 27
4 SUPLEMENTOS ALIMENTARES.................................................................................................................... 30
4.1 Definição................................................................................................................................................... 30
4.1.1 Prescrição dietética de suplementos alimentares...................................................................... 30
4.2 Substituto de refeições....................................................................................................................... 31
4.3 Dietas da moda...................................................................................................................................... 32
4.3.1 Jejum intermitente.................................................................................................................................. 32
4.3.2 Dieta low carb (baixa em carboidratos).......................................................................................... 33
4.3.3 Dieta paleolítica....................................................................................................................................... 34
Unidade II
5 PRINCÍPIOS E PRÁTICAS DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN)......................... 40
5.1 Conceito de EAN.................................................................................................................................... 40
5.2 Princípios para ação em EAN........................................................................................................... 41
5.3 Compreensão do papel do nutricionista em EAN.................................................................... 42
5.4 Comida, alimento e culinária como elementos de referência e valorização dos
diferentes saberes e culturas na EAN................................................................................................... 43
5.5 Caminhos para planejar ações em EAN....................................................................................... 44
6 COMPORTAMENTO ALIMENTAR................................................................................................................. 45
6.1 Definição de atitude, prática e comportamento alimentar na escolha e no
consumo de alimentos............................................................................................................................... 45
6.2 Publicidade e práticas alimentares................................................................................................ 46
6.3 Estratégias e ferramentas para diagnosticar comportamentos e
práticas alimentares.................................................................................................................................... 47
6.3.1 Entrevista motivacional........................................................................................................................ 48
6.3.2 Comer intuitivo......................................................................................................................................... 48
6.3.3 Comer com atenção plena (mindful eating)................................................................................ 50
6.3.4 Terapia cognitivo-comportamental (TCC)...................................................................................... 51
7 ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA.................................................................................................................... 52
7.1 Fitoterapia................................................................................................................................................ 52
7.1.1 Estudo da fitoterapia popular, tradicional e científica............................................................. 52
7.1.2 Fitoterapia e nutrição: prescrição e legislação aplicada.......................................................... 53
7.1.3 Farmacologia aplicada a plantas medicinais................................................................................ 55
7.1.4 Fitoterápicos prescritos por nutricionistas.................................................................................... 57
7.2 Epigenética, nutrigenética e nutrigenômica.............................................................................. 58
7.2.1 Definição..................................................................................................................................................... 58
7.2.2 Genômica nutricional nas DCNTs...................................................................................................... 60
7.2.3 Testes nutrigenéticos em nutrição................................................................................................... 63
7.3 Alimentos funcionais........................................................................................................................... 64
7.3.1 Definições................................................................................................................................................... 64
7.3.2 Principais alimentos e alegações funcionais................................................................................ 66
7.4 Probióticos, prebióticos e simbióticos........................................................................................... 68
7.4.1 Probióticos.................................................................................................................................................. 68
7.4.2 Prebióticos.................................................................................................................................................. 69
7.4.3 Simbióticos................................................................................................................................................. 70
7.5 Fodmaps.................................................................................................................................................... 70
7.5.1 Definição..................................................................................................................................................... 70
7.5.2 Alegações comprovadas........................................................................................................................ 71
8 DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS, FISIOPATOLÓGICOS
E NUTRICIONAIS................................................................................................................................................... 72
8.1 Vitaminas A e D, ferro e ácido fólico............................................................................................. 72
8.1.1 Vitamina A.................................................................................................................................................. 72
8.1.2 Vitamina D.................................................................................................................................................. 73
8.1.3 Ferro.............................................................................................................................................................. 74
8.1.4 Ácido fólico................................................................................................................................................ 74
8.2 Desnutrição hospitalar........................................................................................................................ 75
8.2.1 Kwashiorkor e marasmo....................................................................................................................... 75
8.2.2 Caquexia...................................................................................................................................................... 76
8.3 DCNTs: aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e nutricionais................................... 78
8.3.1 Obesidade.................................................................................................................................................... 78
8.3.2 Síndrome metabólica............................................................................................................................. 79
8.3.3 Diabetes melito......................................................................................................................................... 80
8.4 Unidade de terapia intensiva (UTI)................................................................................................. 81
8.4.1 Atribuições do nutricionista na equipe multidisciplinar de terapia nutricional............ 81
8.4.2 Imunonutrição.......................................................................................................................................... 82
8.4.3 Cuidados paliativos................................................................................................................................. 83
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
• promover sua percepção crítica para a atuação do nutricionista em todas as áreas, estimulando o
questionamento da realidade e a argumentação;
• ampliar seu universo cultural e expressivo em busca da transdisciplinaridade com áreas afins,
aprimorando a percepção de uma equipe multidisciplinar;
• trabalhar e analisar textos orais e escritos, imagens e gráficos, ampliando o vocabulário ativo do
profissional da saúde;
Com esses objetivos, a disciplina pretende lhe capacitar para estas competências:
INTRODUÇÃO
Assim, podemos aprofundar temas de todas as áreas de atuação do nutricionista, como também
encorajar o aluno a buscar em publicações científicas conceitos e ações relevantes para planejar e
discutir intevenções nutricionais que serão efetuadas para tratar e promover a saúde.
10
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Unidade I
1 HISTÓRICO DA NUTRIÇÃO NO BRASIL
A nutrição nasceu no Brasil em 1939, com a fundação do primeiro curso de graduação para
nutricionistas na Universidade de São Paulo (USP). Inicialmente, os profissionais eram denominados
nutricionistas-dietistas; com o passar dos anos e com regulamentação da profissão, passaram a ser
denominados apenas nutricionistas (VASCONCELOS, 2002; VASCONCELOS et al., 2019).
No decorrer dos anos 1930 e 1940, o curso de nutrição integrava a nova base política e econômica
do Brasil com o chamado Estado Nacional Populista, que consolidou o Brasil como sociedade capitalista
urbana-industrial. O movimento favoreceu o crescimento do conhecimento sistemático da alimentação.
Dessa sistematização era possível perceber duas correntes de pensamento no país: uma
com abordagem mais biologista; e outra sob forte influência das escolas de nutrição e dietética
norte‑americanas e europeias. A primeira originou áreas de atuação ligadas à dietoterapia, e a segunda
voltou-se a pesquisas com perspectiva social, preocupadas com a produção, distribuição e consumo de
alimentos pela população brasileira (VASCONCELOS, 2002).
Os primeiros profissionais da área eram chamados dietistas, pois os primeiros cursos eram de Nível
Médio, com o incremento das publicações sobre química e fisiologia dos nutrientes, aliados ao aumento
do conhecimento específico de nutrição. Com responsabilidade e funções próprias, os cursos foram se
aproximando do status de Nível Superior. Assim, os profissionais egressos dos cursos de Nível Médio
passaram a ser chamados de auxiliares de nutrição; e os de Nível Superior, nutricionistas.
A graduação em nutrição como curso superior só foi reconhecida definitivamente em 1962, com
o Parecer n. 265, do Conselho Federal de Educação (CFE), que dispôs o primeiro currículo mínimo e a
fixação do período mínimo de três anos para formar nutricionistas em todo o território nacional. Em
1974 vieram o segundo currículo mínimo e a carga horária mínima de 2.880 horas, sistematizando o
curso em quatro anos (VASCONCELOS, 2002; VASCONCELOS et al., 2019).
Com o crescimento de profissionais na área de nutrição, foi preciso estabelecer regras de conduta e
regulamentar a profissão; assim surgiu o Código de ética e de conduta do nutricionista, atualizado pela
última vez em 2018 (CFN, 2018a).
11
Unidade I
Observação
São organizações sem fins lucrativos que reúnem profissionais em prol de um bem comum,
representando a profissão na sociedade e na política, articulando-se para as leis e práticas da profissão
serem respeitadas (SEBRAE, 2019). Alguns exemplos de entidades de classe são associações científicas,
conselhos profissionais e sindicatos.
Embora essas três esferas representem os nutricionistas, têm finalidades diferentes. Vejamos cada
uma em detalhe.
Defendem a ciência e a profissão, fomentando a interlocução entre seus membros e deles com
a sociedade. Elas congregam sócios da área de nutrição, como nutricionistas, técnicos de nutrição e
dietética, e estudantes de nutrição (Nível Superior e Nível Médio).
• defender o SUS;
A primeira associação científica e cultural sem fins lucrativos ligada à nutrição foi fundada no
Rio de Janeiro, em 1949, com o nome Associação Brasileira de Nutricionistas (ABN), cujo objetivo era
representar e proteger os interesses dos profissionais que concluíam os estudos de nutrição no Brasil
(VASCONCELOS, 2002; VASCONCELOS et al., 2019).
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Em seguida nasceu a Federação Brasileira das Associações de Nutricionistas (Febran), que tentou
agregar as associações estaduais de nutricionistas por todo o território brasileiro. No entanto, em
1990 tornou-se a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), que lutava pelo reconhecimento e pela
regulamentação da profissão de nutricionista desde 1950, embora só tenha sido regulamentada com a
Lei n. 5.276/1967.
Saiba mais
A partir das ações da Asbran nasceram, em 1976, o CFN e os Conselhos Regionais de Nutricionistas
(CRNs), mas apenas em 1980 regulamentou-se o diploma da área (VASCONCELOS, 2002; VASCONCELOS
et al., 2019).
Os conselhos de nutrição – tanto o federal como os regionais – foram instituídos pela Lei n. 6.583/1978
e regulamentados pelo Decreto-Lei n. 84.444/1980. São entidades prestadoras de serviços públicos com
o objetivo de fiscalizar a profissão em defesa da sociedade.
A Resolução CFN n. 1/1980 criou seis CRNs, dotados de personalidade jurídica de direito público
e autonomia administrativa e financeira. Porém, com o aumento de profissionais ao longo do
tempo, eles foram redistribuídos e modificados, criando-se cinco novos conselhos, de acordo com as
seguintes resoluções:
13
Unidade I
14
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Lembrete
Cabe aos CRNs “cumprir e fazer cumprir as normas que regem a profissão
e realizar as atividades de fiscalização e orientação ético-profissional em
suas respectivas jurisdições” (CFN, 2019a).
Saiba mais
Confira o mapa dos CRNs no documento a seguir:
CFN. Conselhos regionais (CRN). Brasília: CFN, 2019a. Disponível em:
https://bit.ly/3JU5wyG. Acesso em: 25 fev. 2022.
Em 1989 foi criada a Federeção Nacional dos Nutricionistas (FNN), formada por sindicatos da
categoria pelo país. Essa entidade busca:
15
Unidade I
Diversos sindicatos de nutricionistas atuam pelos estados brasileiros com a finalidade de defender
os direitos e interesses da categoria. Dentre eles destacam-se:
• Sinepe (Pernambuco).
• SindNut-BA (Bahia).
Saiba mais
• Nutrição clínica.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Além dessas áreas, o profissional pode atuar como assessor, consultor ou auditor, sem assumir
responsabilidade técnica (CFN, 2018b).
• alimentação escolar.
Competem ao profissional dessa área todas as atividades voltadas a recuperar, manter e promover a saúde
do indivíduo, como avaliação nutricional e dietética, prescrição e orientação nutricional, monitoramento
e evolução nutricional, e integração de equipes multiprofissionais de terapia nutricional.
17
Unidade I
A nutrição clínica pode ser desenvolvida em diversos locais. Por exemplo (CFN, 2018b):
• Ilpis;
• ambulatórios e consultórios;
• lactários;
É uma área em expansão, dada a grande procura pela prática de atividades físicas, seja na busca por
um corpo idealizado, seja na busca por saúde.
Compete ao nutricionista do esporte fazer uma avaliação nutricional e dietética específica para a
prática esportiva, desenvolver um plano alimentar e prescrever suplementos (se necessário) para
promover o melhor desempenho atlético do indivíduo, tanto os de alto rendimento como desportistas
(ROSSI; POLTRONIERI, 2019).
Em 2018, o CFN incluiu a área de nutrição em esportes e exercício físico – assistência nutricional
e dietoterápica para atletas e desportistas como uma das grandes áreas de atuação do nutricionista
(CFN, 2018b).
De acordo com Taddei et al. (2011), nutrição em saúde pública é a área do conhecimento em nutrição
fundamentada em sólidas evidências científicas, com técnicas clínicas, epidemiológicas, etnográficas e
sociológicas, tentando resolver os problemas de saúde relacionados à nutrição que afetam o indivíduo
e sua coletividade.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
De acordo com o quadro a seguir, essa área contém três subáreas e seus respectivos segmentos:
19
Unidade I
Subárea Segmento
A – Cadeia de produção de alimentos A.1 – Extensão rural e produção de alimentos
B.1 – Pesquisa e desenvolvimento de produtos
B.2 – Cozinha experimental
B.3 – Produção
B – Indústria de alimentos B.4 – Controle de qualidade
B.5 – Promoção de produtos
B.6 – Serviços de atendimento ao consumidor
B.7 – Assuntos regulatórios
C.1 – Controle da qualidade
C – Comércio de alimentos (atacadista e varejista):
atividades relacionadas à comercialização e distribuição de C.2 – Representação
alimentos destinados ao consumo humano
C.3 – Serviços de atendimento ao consumidor
De acordo com a Resolução CFN n. 600/2018, compete ao nutricionista na área de docência exercer
atividades de coordenação, ensino, pesquisa e extensão nos cursos de graduação em nutrição, de
aperfeiçoamento profissional, técnicos e afins. Essa área divide-se em três subáreas: coordenação e
direção; docência (graduação); e pesquisa.
Saiba mais
3 SEGURANÇA ALIMENTAR
Segurança alimentar é um processo essencial para manter e promover a saúde. Com o aumento
de DCNTs, é importante estimular uma alimentação saudável, diminuir alimentos industrializados e
valorizar produtos regionais e a culinária tradicional. Assim, a segurança alimentar também se envolve
com a gestão ambiental, estimulando o uso consciente e a preservação da qualidade da água, produção
e destino de resíduos e produção orgânica, visando diminuir agrotóxicos na produção de alimentos.
20
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Nossa relação com alimentação, saúde e bem-estar vem se modificando. Por muito tempo as
preocupações sobre alimentação saudável centravam-se somente no consumo elevado de alimentos
ricos em sódio, açúcares e gorduras, aumentando as DCNTs. Contudo, o modelo de produção de
alimentos atualmente favorece uma nova linha de preocupação com alimentação saudável:
a alimentação sustentável (MARTINELLI; CAVALLI, 2019).
Para Triches (2020), o grande desafio do século XXI é conseguir alimentar os seres humanos e garantir
a sobrevivência dos recursos naturais do planeta. A autora apresenta três pontos importantes para
refletirmos sobre a incapacidade de ofertar alimentação saudável e manutenção do meio ambiente:
Outro ponto importante é pensar no que significa dieta sustentável, considerando que alimentação e
comida têm dimensões além da biologia, pois envolvem cultura, tradição e viabilidade econômica.
Uma dieta sustentável no Brasil, por exemplo, seria diferente de uma na Europa, dadas as diferenças
21
Unidade I
sociais, econômicas e culturais (TRICHES, 2020). Por isso os indicadores devem ser adequados para
cada região.
Para conhecer melhor as características de sustentabilidade na dieta, Triches (2020) coloca que uma
alimentação deve considerar interconexões de quatro domínios e suas dimensões:
Domínios Dimensões
Saiba mais
22
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
23
Unidade I
Desde o início dos anos 2000, inúmeras discussões sobre sistemas produtivos resultaram nos arranjos
produtivos locais (APLs), definidos como:
Trata-se de empresas mais próximas da comunidade local que desenvolvem algum trabalho comum,
dotado de especialidade produtiva, e estimulam a cooperação e confiança entre seus integrantes
(DIAS, 2011).
Saiba mais
Para conhecer mais a fundo o conceito de APL, acesse o artigo:
DIAS, C. N. Arranjos produtivos locais (APLs) como estratégia de
desenvolvimento. Desenvolvimento em Questão, ano 9, n. 7, p. 93-122,
2011. Disponível em: https://cutt.ly/FAuf4QH. Acesso em: 1º mar. 2022.
A produção de alimentos envolve uma cadeia de negócios que contemplam desde a produção da
matéria-prima na lavoura até a distribuição para o consumidor final, e o caminho percorrido pelo
alimento tem forte impacto no meio ambiente.
A gestão ambiental se liga intimamente à saúde. Uma alimentação saudável garante também
a manutenção do meio ambiente; para tanto, é importante haver mudanças na produção das
refeições, buscando programas e ferramentas que sirvam como indicadores de saúde do binômio
ambiente‑alimentação (STRASBURG; JAHNO, 2017). As empresas que operam no setor de produção
de alimentos pertencem a dois segmentos distintos: produção de matéria-prima e comida; e prestação
de serviços.
24
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Outro ponto de vista a trabalhar na gestão ambiental e alimentícia é reduzir o desperdício de produtos
de matérias-primas, alimentos preparados, material descartável, água e energia, pois o controle desses
pontos críticos pode favorecer a competitividade econômica para a empresa no cuidado com o ambiente
(STRASBURG; JAHNO, 2017).
Toda UAN gera resíduo, portanto, a capacitação de seus colaboradores é fundamental para a efetividade
do PGR adotado. Um dos pontos importantes a trabalhar é a classificação de cores para o descarte:
Cores Material
Azul Papel/papelão
Vermelho Plástico
Verde Vidro
Amarelo Metal
Preto Madeira
Laranja Resíduos perigosos
Branco Resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde
Roxo Resíduos radioativos
Marrom Resíduos orgânicos
Cinza Resíduo geral não reciclável (misturado ou contaminado), não passível de separação
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Unidade I
Como o uso de água e energia é indispensável para produzir refeições, planejar seu consumo faz
parte das estratégias de sustentabilidade. Em 1997, o governo federal estabeleceu a Lei n. 9.433, que
instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e dispôs sobre a utilização de água em restaurantes.
Embora a lei tenha sido reformulada em 2019 pelo Decreto n. 10.000 (BRASIL, 2019b), as disposições
sobre a utilização de recursos hídricos foram mantidas. Além da regulamentação dos recursos hídricos,
o Brasil conta também com a Lei n. 10.295/2001, regulamentada pelo Decreto n. 9.864/2019, que dispõe
sobre a conservação e o uso racional de energia (BRASIL, 2019a).
Já a sustentabilidade na produção de refeições pode ser resumida assim (MARQUES; MARQUES, 2017):
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Saiba mais
A forma de vida atual favorece o desgaste do meio ambiente. A sociedade de consumo impõe a
necessidade de adquirir bens e estimula o consumo excessivo de energia, desequilibrando o ecossistema.
Isso é notável quando vemos catástrofes na natureza, muitas vezes atribuídas ao aquecimento global,
à degradação e ao empobrecimento do solo, contaminando rios e mares, além de outros fatores
relacionados à depredação do solo e reservas naturais (VARGAS; FONTOURA; WIZNIEWSKY, 2013).
O sistema agrícola atual é muito agressivo ao ambiente, com extensas monoculturas, uso
indiscriminado de produtos químicos (muitas vezes tóxicos) para garantir a colheita com menor perda e
desmatamento para pastagens.
Muitos autores colocam a agroecologia como forma de promover uma agricultura sustentável:
27
Unidade I
Para Caporal e Costabeber (2002), a melhor denominação para uma agricultura que priorize o meio
ambiente e respeite a cultura e sociedade a que pertence seria uma agricultura de base ecológica,
pois a agricultura convencional depende de recursos naturais não renováveis, de produtos químicos e
fertilizantes. No entanto, uma agricultura que apenas substitui insumos químicos por insumos ecológicos
ou orgânicos por si só não significa agricultura ecológica, mas agricultura orgânica.
Dimensão Conceito
A agricultura local – também chamada de agricultura familiar – muitas vezes dialoga com o conceito
de agricultura sustentável, mas ainda é um grande desafio para a comunidade rural, devido à dificuldade
de obter crédito, além da ineficiência de políticas públicas voltadas a essa população (FERRO, 2015).
A agricultura familiar tem sido proposta como forma de estimular a agroecologia, pois o alimento
produzido por essa população é tradicional e se liga à cultura da comunidade local, ao saber do agricultor
em trabalhar as diferenças na matéria-prima e produzir um alimento com qualidade ímpar, respeitando
cada cultura e tradição.
28
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Assim, os APLs, como já discutimos, podem promover o desenvolvimento sustentável, pois favorecem
(FERRO, 2015):
• práticas de preço justo para consumidor e produtor, o que dinamiza a economia local;
• compra de comida justa, limpa (sem defensivo agrícola) e de qualidade na mesma região onde foi
produzida, diminuindo a cadeia de alimentos;
• a transformação do consumidor em coprodutor, conscientizando-o sobre a importância dos
produtores e suas atividades.
Saiba mais
Para aprofundar seus estudos acerca da agricultura familiar, acesse o
conteúdo a seguir:
IDE, H-U. A gente pega junto: protagonismo na agricultura familiar.
Porto Alegre: FLD, 2008. Disponível em: https://cutt.ly/dGzVDxU. Acesso
em: 1º mar. 2022.
O ato de se alimentar vai além de ingerir comida; compreende também a articulação entre
conhecimento e segurança alimentar e nutricional, que tem por objetivo melhorar a qualidade de vida
numa perspectiva contextual, histórica, coletiva e ampla. Portanto, a promoção da saúde se associa a
fatores de risco e comportamentos individuais.
A alimentação só pode ser um dos meios de promover a saúde se contemplar hábitos saudáveis,
qualitativamente seguros e quantitativamente adequados. Trata-se, portanto, da articulação entre
responsabilização múltipla de políticas públicas de saúde e para o meio ambiente que favoreçam tanto
a alimentação quanto a sustentabilidade (AZEVEDO; PELICIONI, 2011).
Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos sobre a participação da agroecologia
na promoção da saúde, leia o artigo:
AZEVEDO, E.; PELICIONI, M. C. F. Promoção da saúde, sustentabilidade
e agroecologia: uma discussão intersetorial. Saúde e Sociedade, São Paulo,
v. 20, n. 3, p. 715-729, 2011. Disponível em: https://cutt.ly/IAuGYFK. Acesso
em: 1º mar. 2022.
29
Unidade I
4 SUPLEMENTOS ALIMENTARES
4.1 Definição
O CFN, através de sua Resolução n. 656/2020 (CFN, 2020a), dispõe sobre a prescrição dietética de
suplementos alimentares e dá outras providências, afirmando que a prescrição, quando indispensável,
deve suprir necessidades nutricionais específicas e complementar ou suplementar o plano alimentar, e
não substituir uma alimentação saudável e equilibrada.
Observação
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Saiba mais
De acordo com a Portaria n. 30/1998, do Ministério da Saúde, alimentos para controlar peso são
produtos especialmente formulados e elaborados de forma a apresentar composição definida, adequada
para suprir parcialmente as necessidades nutricionais do indivíduo, reduzindo, mantendo ou ganhando
peso corporal.
Eles podem substituir refeições total ou parcialmente. Para diminuir o peso, podem substituir
totalmente duas refeições; para mantê-lo, podem substituir uma. Mas, independente da finalidade,
nunca devem substituir totalmente a alimentação, porque para isso há alimentos especialmente
formulados e elaborados (BRASIL, 1998).
31
Unidade I
As Diretrizes brasileiras de obesidade (ABESO, 2016) descrevem que refeições para perder peso –
preparadas especialmente ou com suplementos alimentares – podem ser indicadas no tratamento de
obesidade associada à dieta hipocalórica, controlando e mantendo a perda de peso. No entanto, um
alerta: shakes não devem ser comprados nem utilizados sem orientação médica ou de um nutricionista,
tampouco vendidos por leigos. Seu uso sem supervisão profissional pode aumentar a morbidade,
prejudicar a saúde e até mesmo aumentar a mortalidade (ABESO, 2016).
As dietas da moda – em especial as que visam perda de peso corporal – não costumam atingir a
maior parte das necessidades nutricionais nem considerar a individualidade biológica, podendo pôr em
risco a saúde de pessoas que decidam segui-las, impedindo uma reeducação alimentar correta e um
emagrecimento saudável (MARANGONI; MANIGLIA, 2017).
• Jejum intermitente.
Existem vários protocolos para aplicar o jejum intermitente (PATTERSON et al., 2015):
• Jejum completo em dias alternados: a pessoa intercala dias de jejum de 24 horas, sem consumo
de alimentos nem bebidas com calorias, com dias de alimentação ad libitum.
• Restrição de alimentação por tempo: permite ao indivíduo comer ad libitum em janelas específicas.
Estratégias de jejum intermitente podem influenciar a regulação metabólica, com efeitos na biologia
circadiana, no microbioma intestinal e no estilo de vida, como o sono (PATTERSON et al., 2015). Podem
ser bem-sucedidas para perder peso e promissoras para melhorar o controle glicêmico (WELTON et al.,
2020), além da perda de gordura corporal (TEMPLEMAN et al., 2020).
Não há consenso sobre a definição das dietas baixas em carboidratos (low carb). Algumas propostas
baseiam-se no percentual de ingestão diária de macronutrientes ou da carga diária total de carboidrato,
como estas (OH; GILANI; UPPALURI, 2022):
Deve-se lembrar que dietas restritas em carboidratos causam maior perda de água do que de gordura
corporal. Dietas baixas em carboidrato e ricas em gordura, especialmente a saturada e o colesterol,
também são ricas em proteína animal e deficientes em vitamina A, B6 e E, folato, cálcio, magnésio, ferro,
potássio e fibras. Portanto, requerem suplementação (ABESO, 2016).
Oh, Gilani e Uppaluri (2022) destacam que estudos de dietas com baixo teor de carboidratos se
concentram na perda de peso em pessoas obesas e com sobrepeso, bem como em pacientes com (ou
em risco de) doença cardiometabólica, como diabetes tipo 2 e doença hepática gordurosa não alcoólica;
no entanto, várias preocupações sobre segurança a longo prazo dessas dietas merecem destaque, como
cetose, segurança cardiovascular e de lipídeos séricos, e efeitos renais em longo prazo.
É claro que uma dieta com baixo teor de carboidratos não serve para todos os indivíduos, e uma
abordagem dietética personalizada é necessária. Mudanças nutricionais razoáveis para tratar a obesidade
devem ser adequadas ao longo da vida, devendo sempre se combinar com o aumento da atividade física
e medidas comportamentais (ABESO, 2016; OH; GILANI; UPPALURI, 2022).
33
Unidade I
É a interpretação moderna da dieta que os humanos ingeriam durante o Paleolítico (ou Idade da
Pedra Antiga), há cerca de 2,5 milhões de anos (CHALLA; BANDLAMUDI; UPPALURI, 2021), e pode ser
classificada como padrão saudável, baseada no consumo de alimentos e animais silvestres daquela
época (DE LA O et al., 2021).
Martensson et al. (2021) mostraram que uma dieta paleolítica entre indivíduos com diabetes tipo 2
tem efeitos benéficos na massa gorda, peso corporal, circunferência da cintura, pressão arterial sistólica
e triglicérides.
Com frequência, novas dietas surgem e são tidas como panaceia para uma boa saúde. Os
nutricionistas devem conscientizar os indivíduos sobre uma dieta saudável e equilibrada, evitando
alimentos ultraprocessados, limitando os minimamente processados e preferindo alimentos in natura,
priorizando prescrições dietéticas personalizadas e seguras (BRASIL, 2014a).
É provável que as dietas da moda possam ser prescritas por pouco tempo para atingir resultados
clínicos em públicos e momentos específicos, mas não de forma generalizada, sem anamnese clínica
nutricional que direcione uma prescrição individualizada. Enfatiza-se a necessidade de mais estudos de
intervenção controlados e randomizados para que tais estratégias se consagrem como possibilidades
terapêuticas seguras e componham diretrizes de nutrição.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Saiba mais
Resumo
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Unidade I
Exercícios
Nutricionista é o profissional que, por força da Lei n. 8.234/91, possui direitos e deveres para o
desenvolvimento de práticas inerentes à sua habilitação técnica, que se manifesta como uma ação
social em favor da saúde e da segurança alimentar e nutricional.
II – O nutricionista pode alterar a conduta profissional determinada por outro nutricionista caso
tal medida seja necessária para beneficiar indivíduos, coletividades ou serviços, desde que registre as
alterações e as justificativas.
III – O nutricionista pode adequar condutas e práticas de acordo com modismos e pressões
mercadológicas ou midiáticas.
A) I e II.
B) I, III e IV.
C) II e IV.
D) II e III.
E) I, II e III.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
I – Afirmativa incorreta.
II – Afirmativa correta.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: de acordo com o art. 59 do código, é “direito do nutricionista fazer uso de embalagens
para fins de atividades de orientação, educação alimentar e nutricional e em atividades de formação
profissional, desde que utilize mais de uma marca, empresa ou indústria do mesmo tipo de alimento,
produto alimentício, suplemento nutricional e fitoterápico e que não configure conflito de interesses”.
Suplemento alimentar: produto para ingestão oral, apresentado em formas farmacêuticas, destinado
a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou
probióticos, isolados ou combinados.
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Unidade I
III – O suplemento alimentar deve ser administrado exclusivamente pelas vias oral e enteral.
A) I e II.
B) I, III e IV.
C) II e IV.
D) I e III.
E) I, II e III.
I – Afirmativa correta.
II – Afirmativa incorreta.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – NT
Justificativa: de acordo com a Resolução CFN n. 656/2020, entende-se “como suplemento alimentar
o produto para administração exclusiva pelas vias oral e enteral, incluídas mucosa, sublingual e sondas
enterais e excluída a via anorretal, apresentado em formas farmacêuticas, destinado a suplementar a
alimentação de indivíduos”.
IV – Afirmativa incorreta.
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