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A humanidade enfrenta hoje grandes

mudanças na biosfera associadas não


somente ao aquecimento global (emissões
de CO2 , CH4 , etc), mas também decorrentes
da destruição, alteração ou fragmentação de
biótopos ou mesmo de biomas inteiros, tais
como as florestas tropicais. As cidades não
param de crescer. Os congestionamentos
desproporcionais fazem parte de nossa
rotina. Enfrentamos a degradação dos
mananciais e a constante poluição do ar.
O lixo amontoa-se em todo lugar.
O que fazer então?

Ao longo das últimas duas décadas, uma série


de novos paradigmas em relação à questão
ambiental foram adotados pela sociedade. Uma
das principais mudanças é caracterizada pelo
crescente envolvimento de diferentes segmentos
da sociedade na questão ambiental. Nesse
contexto, a sustentabilidade das diferentes
atividades humanas aparece com força cada
vez maior. A presente obra procura apresentar
a reciclagem em um contexto mais amplo,
mostrando as vias de conexão entre essa atividade
e as principais cadeias produtivas da indústria
moderna. Os diferentes capítulos dessa obra
procuram demonstrar que a reciclagem poderá
se transformar em uma das mais poderosas
ferramentas para se chegar ao verdadeiro
desenvolvimento sustentável.
• e d i t o r a •

Rua Flor da Paixão, 35 - Jardim Alvorada


Belo Horizonte - MG - Brasil
CEP 30810-250

www.recoleo.com.br

502.36 Pinto-Coelho, Ricardo Motta.


P659r Reciclagem e desenvolvimento sustentável no Brasil. Ricardo Mota Pinto-
Coelho. – Belo Horizonte : Recóleo Coleta e Reciclagem de Óleos, 2009.
340 p. : il.
ISBN: 978-85-61502-01-0

1. Reaproveitamentos (Sobras, refugos e etc.) - Brasil. 2. Reaproveitamentos


(Sobras, refugos e etc.) - Alemanha. 3. Reciclagem (Saúde Ambiental) .
4. Desenvolvimento sustentável - Brasil. I. Recóleo Coleta e Reciclagem de
Óleos Ltda. II. Título.

CDU: 502.36
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Reciclagem
e
Desenvolvimento Sustentável no Brasil

• 1ª Edição •

Belo Horizonte
Recóleo
2009
sumário
7
Pág i n a
Citações e Dedicatórias.

9
Pág i n a

Prefácio.

1.0
C A P Í T U LO Introdução.
13
Pág i n a

2.0
C A P Í T U LO
Gerenciamento de
Resíduos Sólidos, Coleta Seletiva de
27
Pág i n a

3.0
Lixo e Reciclagem.

53
Pág i n a
Tipologia, Produção, Consumo e
C A P Í T U LO Reciclagem de Plásticos.

4.0
C A P Í T U LO
Produção e Consumo de
Minerais e Reciclagem do Ferro
e do Aço no Brasil. 103
Pág i n a

5.0
C A P Í T U LO
Produção, Consumo e
Reciclagem de Alumínio. 145
Pág i n a

6.0
C A P Í T U LO
Produção, Consumo e Reciclagem
de Vidro no Brasil. 169
Pág i n a

7.0 191
Pág i n a
Produção, Consumo e
C A P Í T U LO Reciclagem de Papel no Brasil.

8.0
C A P Í T U LO
Tipologia, Produção e Reciclagem
de Pilhas e Baterias. 209
Pág i n a

9.0
C A P Í T U LO
Produção, Consumo e Reciclagem de
Aparelhos Eletroeletrônicos. 227
Pág i n a

10.0
C A P Í T U LO
Produção, Consumo e
Reciclagem de Óleos Vegetais. 237
Pág i n a

11.0
C A P Í T U LO
Produção, Consumo e
Reciclagem de água no Brasil. 279
Pág i n a

12.0
C A P Í T U LO
A Reciclagem de materiais na
Construção Civil no Brasil. 291
Pág i n a

13.0
C A P Í T U LO
Reciclagem e
Desenvolvimento Sustentável. 309
Pág i n a

321
Pág i n a

Binliografia
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Citações e Dedicatórias

Citações e Dedicatórias
“Se devastação e exploração irracional de recursos naturais levassem
ao desenvolvimento, já seríamos o mais rico e desenvolvido país do
mundo”.
Washington Novaes,
Jornalista e Ambientalista


“We all live in a yellow submarine”

The Beatles.

Dedico essa obra a meus filhos, Sofia, Paula e Ricardinho.

Que eles possam desfrutar de um mundo mais justo e menos caótico...


Ricardo Motta Pinto-Coelho

Prefácio
A reciclagem é um tema cada vez mais em evidência nas sociedades modernas. Na língua
portuguesa, já podemos encontrar uma vasta literatura sobre o assunto, principalmente sob a
forma de publicações voltadas à educação ambiental. Essa literatura está formatada basicamente
sob a forma de cartilhas, panfletos e manuais. Muitas empresas, por exemplo, disponibilizam
em web sites tais materiais em sub-temas relacionados às suas respectivas áreas de atuação.
Existe um grande número de portais e páginas de internet dedicadas ao tema. Nesse universo
virtual, pode-se extrair um grande volume de conteúdo, mas que muitas vezes é apresentado sob
forma inadequada seja no uso da linguagem ou até mesmo com conteúdos contraditórios, sem

Prefácio
uma fonte precisa das informações. Por outro lado, existe um crescente número de dissertações
de mestrado, teses de doutorado e artigos científicos que abordam tópicos específicos da
reciclagem com grande profundidade. Alguns livros didáticos podem ser encontrados enfocado
a temática da reciclagem. Em geral, são livros com uma abordagem muito superficial do tema,
mais voltados ao suporte de campanhas de reciclagem para públicos definidos. De toda forma,
é fácil constatar que a reciclagem ambiental está entrando de vez na agenda política, econômica
e social do Brasil. Essa tendência segue, com certo atraso, o que já acontece há décadas nos 
países mais industrializados principalmente nos países mais avançados da comunidade européia,
tigres asiáticos e os EUA.

Porquê um novo livro sobre reciclagem no Brasil? A presente obra pretende ser inovadora
sob dois aspectos. Em primeiro lugar, são tratados temas ligados à reciclagem que praticamente
ainda não foram tocados em compêndios do gênero publicados no Brasil. Dentre esses temas,
podemos citar a reciclagem do óleo de cozinha, a reciclagem da água no ambiente doméstico
ou ainda a reciclagem da sucata eletrônica. No entanto, o principal aspecto que diferencia e
possivelmente irá atrair novos leitores para essa obra é a sua grande preocupação em ligar
a reciclagem ambiental à questão da produção e do consumo dos diferentes materiais que
necessitam ser reciclados. Para que possa ser um sucesso, a reciclagem deve envolver as cadeias
produtivas que estão envolvidas na produção seja do papel, do aço, dos produtos eletro-eletrônicos
ou dos plásticos, dentre outros. Outra questão importante no presente texto é a contextualização
da reciclagem à realidade brasileira. Dessa forma, em todos os capítulos procurou-se adaptar o
conteúdo ao cenário brasileiro.

Embora os capítulos possam ser lidos separadamente, o leitor sairá ganhando se fizer
uma leitura linear da obra principalmente no sentido de perceber que os diferentes entraves ao
desenvolvimento da reciclagem dos diferentes produtos no Brasil podem ser ligados não somente
à falta de políticas governamentais e de uma melhor regulamentação da matéria pelo poder
público, mas também à falta de profissionalismo e ao excesso de informalidade no mercado
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

dos recicladores que atuam no país. Assim, em vários momentos, são dadas orientações para o
desenvolvimento de políticas públicas, de legislação específica e do aumento da fiscalização e
para o incremento da profissionalização dos próprios recicladores.

O livro faz algumas comparações entre processos de reciclagem que estão sendo um
sucesso e outros que poderiam estar bem mais avançados no país. Ao comparar dados e
estatísticas de produção e reciclagem de diferentes matérias primas e ainda de diferentes cadeias
de reciclagem, são oferecidos argumentos ao leitor que procuram demonstrar que o processo de
retorno de materiais pós-consumo às cadeias de produção não depende somente de tecnologias
específicas e de bases legais pertinentes. A reciclagem pressupõe a existência de estrutura e
pessoal altamente capacitados a atuar nesse front.
Prefácio

Diminuir resíduos e retorná-los às cadeias de produção implica na existência de


um movimento de mobilização social que enseja uma mudança de paradigma no perfil do
consumidor, na agenda dos políticos e administradores públicos em geral e também numa nova
postura dos empresários. Tudo deve começar ainda na área de produção. Esse desafio pressupõe
a existência de um comprometimento ambiental tanto da alta administração das indústrias
10 produtoras quanto das associações patronais e dos sindicatos trabalhistas envolvidos. Dessa
forma, pode-se afirmar que o principal aspecto inovador do livro é a constante preocupação
da obra em associar a reciclagem às cadeias produtivas que geram o passivo a ser reciclado. A
reciclagem pressupõe não necessariamente a supressão do consumo, mas a adoção de uma
postura mais consciente do consumidor. Assim, a escolha do produto a ser consumido deve ser
mais criteriosa. Questões ligadas não somente à qualidade intrínseca do que irá ser consumido
devem ser levadas em consideração. Outros aspectos ligados não somente à reciclagem em
si, mas também aos impactos ambientais de sua produção devem ser analisados. De nada
adianta serem os empresários e os consumidores recicladores se o poder público não estiver
altamente comprometido com a idéia. Reciclar corretamente pressupõe mudanças no sistema
de acondicionamento, coleta e tratamento dos resíduos sólidos nas cidades isso sem considerar
os investimentos (e, principalmente, as mudanças pedagógicas e os programas de capacitação
profissional) que serão necessários em educação ambiental no âmbito do Ensino Fundamental,
Médio e nas universidades.

A obra, embora tenha um conteúdo vasto e trate da questão da reciclagem com grande
detalhamento, foi concebida para ser lida por diferentes tipos de público. Tanto o estudante
universitário, quanto o funcionário de uma autarquia pública bem como os diferentes profissionais
envolvidos na gestão ambiental das grandes indústrias poderão encontrar utilidade em sua leitura.
Acreditamos que o cidadão comum e mesmo a dona de casa encontrarão orientações visando a
melhoria do “seu” pequeno meio-ambiente doméstico. Afinal, de que adianta as grandes indústrias
serem (ou deveriam ser) altamente conscientes sobre suas respectivas responsabilidades na
Ricardo Motta Pinto-Coelho

questão ambiental se, ao chegarmos em casa, abusamos do consumo de água, jogamos todo
tipo de recursos no lixo indiscriminadamente e poluímos, com o fósforo dos detergentes, os
nossos lagos e rios? Afinal é em nosso lixo, nas pias de cozinha e nos tanques de lavar roupa que
começa a degradação ambiental em nosso planeta.

Gostaria de agradecer aos estudantes do curso de graduação em Ciências Biológicas da


UFMG, particularmente os alunos das disciplinas “Ecologia Energética” das turmas de 2006,
2007 e 2008 e de “Bases Ecológicas para o Desenvolvimento Sustentável” turmas de 2009.
Os seminários e grupos de discussão e, principalmente, as práticas de campo e os projetos
temáticos formaram, sem dúvida alguma, a grande base de dados e de informações bibliográficas
que impulsionou o autor a escrever esse livro. Toda essa informação foi checada, reavaliada

Prefácio
e reformatada de forma a dar uma maior solidez científica e também dotá-la de uma maior
contextualização à realidade brasileira.

Um agradecimento especial aos biólogos Newton Uchoa Barbosa e Ludmila Brighenti pela
cuidadosa revisão geral do texto.

Finalmente, eu gostaria de agradecer à minha companheira, Nivia de Freitas. O seu trabalho, 11


profissionalismo, motivação e a sua grande capacidade para superar todos os tipos obstáculos
me inspiraram a escrever esse livro. Trata-se de uma mulher verdadeiramente guerreira e que fez
da Recóleo, uma das melhores empresas de reciclagem do Brasil.

Belo Horizonte, Agosto de 2009.

Ricardo Motta Pinto Coelho


Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

introdução 1.0

Introdução
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

1.0 - Introdução
Nos últimos tempos, tem crescido, em todo o mundo, a consciência ambiental da sociedade.
Um marco para essa nova postura é o documento Agenda 21 aprovado na Conferência sobre
Desenvolvimento e Meio Ambiente, a Eco92, realizada no Rio de Janeiro. Esse documento propõe,
em essência, um novo paradigma na relação capital e trabalho, agora vistos como parceiros na
questão ambiental (Pinto-Coelho, 2009).

O crescimento da consciência da sociedade sobre as questões do meio ambiente decorre


não somente do aumento da gravidade da questão ambiental em todo o mundo, mas também
da mudança de paradigma que o documento da Agenda 21 induziu. Antigamente, as questões
ligadas à poluição e aos problemas ambientais eram tratadas principalmente pelos ecólogos
Introdução

que dedicavam-se a um novo ramo da ciência que tratava, entre outras coisas, desse tipo de
problema. Após a agenda 21, o meio ambiente passou a tratado com prioridade crescente nas
agendas governamentais de praticamente todos os países.

Questões tais como a manutenção da biodiversidade, a recuperação dos ambientes


degradados ou a adoção de políticas públicas que garantam o desenvolvimento sustentável saíram
do ambiente puramente acadêmico e passaram a ser debatidas pelos empresários, políticos e a
sociedade em geral. Afinal, toda a sociedade passou a sentir e contabilizar os prejuízos causados
14 pelas mudanças climáticas, pela extinção das espécies nativas e pelo crescente comprometimento
de nossos recursos hídricos.

Nesse novo contexto, a sociedade percebeu que a conquista de um meio ambiente menos
degradado não deve estar sempre associada a lutas e conflitos entre o meio acadêmico e os
órgãos do governo ou setores produtivos. Um dos principais atributos do conceito moderno de
gestão ambiental é exatamente a participação de todos para que se possa melhorar a qualidade
de vida dos cidadãos.

Antes da Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento que ocorreu no Rio de Janeiro


em 1992, não havia uma delimitação precisa dos papéis dos diferentes atores no processo
da gestão ambiental (Fig.1.1). Um bom exemplo disso, era a idéia de que qualquer avanço na
questão ambiental somente poderia ser conquistado através de uma luta, de um conflito. De
um lado, ficavam a sociedade e meio acadêmico e do outro, perfilavam frequentemente o
governo junto aos setores produtivos envolvidos. Nesse mundo, acreditava-se que a melhoria do
meio ambiente só poderia ser alcançada através de um confronto com as indústrias poluidoras,
principalmente aquelas que geravam grandes passivos ambientais.

Não havia a percepção de que os empresários, donos dessas indústrias, os diferentes


níveis de governo ou mesmo a sociedade em geral poderiam trabalhar em conjunto ao invés de
se confrontarem. Faltava a idéia de que poderíamos obter um elevado comprometimento para a
causa ambiental mesmo em indústrias que estavam poluindo muito o meio ambiente, bastando,
para isso, que a alta administração desses empreendimentos se comprometesse a elaborar e
executar um plano de gestão ambiental de seus respectivos negócios onde ficassem claras quais
seriam as metas a serem alcançadas no curto, médio e longo prazos.

O crescimento da consciência da sociedade sobre as questões do meio ambiente decorre


Ricardo Motta Pinto-Coelho

não somente do aumento da gravidade da questão ambiental em todo o mundo, mas também
da mudança de paradigma que o documento da Agenda 21 induziu. Após a aprovação desse
documento pelas Nações Unidas, o meio ambiente passou a ser tratado dentro de uma perspectiva
de cooperação multilateral e os atores que antes atuavam em diferentes frentes na questão
passaram a buscar áreas de consenso para, em seguida, começar a atuar de modo objetivo na
melhoria da qualidade do meio ambiente. O termo gestão ambiental passa agora a ocupar uma
posição central em lugar de uma visão de confronto e lutas. Agora, a questão ambiental extrapola
o mundo acadêmico, sendo debatida e analisada por todos os segmentos da sociedade, incluindo
não somente a sociedade civil, mas também as indústrias, as empresas, o governo além do
mundo acadêmico (Fig.1.2).

Introdução
Sociedade

Conhecimento 15
Acadêmico
Gestão
Ambiental

Percepção do
Problema
Governo
Iniciativa
Privada

Leis e
Normas Novas
Tecnologias
Vulgarização
do
Conhecimento

Fig. 1.1 - Antes da Eco 92, não havia uma idéia clara das relações entre os agentes que estudam,
legislam, exploram ou usam os recursos naturais no Brasil.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Percepção do
Problema

Conhecimento
Acadêmico
Introdução

Vulgarização
do
Conhecimento

16

Governo Sociedade Iniciativa


Privada

Leis e Novas Novas


Normas Demandas Tecnologias

Gestão
Ambiental

Fig. 1.2 - A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,
a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, definiu claramente as interconexões entre os
agentes que estudam, legislam, exploram ou usam os recursos naturais. O documento
gerado nessa conferência, a Agenda 21 estabelece de modo bastante objetivo os novos
paradigmas da luta para a conquista de um meio ambiente mais limpo e saudável. No
entanto, muitos países não atingiram ainda as metas propostas pela Agenda 21.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Mais recentemente, surgiu um novo conceito, a gestão ecológica (AGR, 2009). A gestão
ecológica (eco-management system, EMS) já conta com padrões internacionais estabelecidos
pela norma ISO 14000 e por diretivas específicas da comunidade européia (EMSA, EU-directive).
A gestão ecológica vai muito mais além do que a tradicional gestão ambiental tradicionalmente
abrange. Ela é baseada na aplicação do conceito de controle de ciclo nos diversos tipos de
atividades humanas (control loop) e é conseqüência da teoria geral dos ciclos biogeoquímicos
aplicados ao ambiente em questão. Em cada tipo de indústria ou atividade humana são
determinadas as variáveis ambientais consideradas críticas (key figures) que quantificam aspectos
tais como a quantidade de lixo, as taxas de reciclagem alcançadas dentro da empresa, o seu
consumo de energia, etc. Esses números são obtidos a partir das análises dos ciclos de vida
(life cycle analysis) dos diferentes tipos de matérias usados na empresa (papel, vidro, plásticos,
automóveis, computadores, pilhas e baterias, material usado nas obras de ampliação e reforma

Introdução
na empresa, óleo vegetal usado nos refeitórios, etc). Essa avaliação cobre tanto o ambiente da
própria empresa quanto de todos os seus fornecedores. Assim como nos tradicionais planos de
gestão ambiental, a gestão ecológica prevê metas que serão auditadas em intervalos regulares
pela alta administração da empresa. O novo conceito da gestão ecológica, porém, implica na
elaboração de um plano muito mais ambicioso que objetiva melhorar o eco-desempenho global
da empresa e não apenas zerar o footprint ambiental da mesma.

A constituição do Brasil (versão de 1988) em seu capítulo sobre o Meio Ambiente, no


artigo 225 diz “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso 17
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Apesar
desse preceito legal já ter completado 21 anos, ainda temos graves problemas ambientais no
Brasil. São várias as razões que fazem com que o Brasil fique no meio desse novo caminho. Se
por um lado, a comunidade científica brasileira foi capaz de promover uma verdadeira revolução
na pesquisa científica do país colocando-o hoje como um dos 20 maiores produtores de ciência
do planeta (17º lugar segundo Hagler, 2002), por outro, ela não foi capaz de descer dos seus
castelos acadêmicos e promover uma real “vulgarização” do conhecimento científico produzido
no país a tal ponto que esse conhecimento realmente impulsione grandes transformações sociais,
econômicas e ambientais. Quando se fala em vulgarização, entende-se em não somente uma
democratização do conhecimento, mas uma repaginação e uma decodificação da informação
científica que sofre, então, uma completa reformatação estando, assim, apta a ser prontamente
assimilada pelo setor produtivo, autarquias do governo e pelos setores leigos da sociedade.

Hoje, os pesquisadores brasileiros são medidos pela qualidade (e principalmente pelo


número) de suas publicações de nível internacional. Os pesquisadores nacionais têm dificuldades
em serem reconhecidos no meio acadêmico a partir de conhecimentos que eles efetivamente
venham a introduzir no seio da sociedade brasileira sob a forma de produtos fora dos arquétipos
tradicionalmente usados na academia. Nesse ponto, cabe a pergunta, qual o cidadão brasileiro,
político ou industrial desse país que irá efetivamente ler os cifrados e herméticos artigos, escritos
em uma linguagem altamente técnica ou até rebuscada que caracterizam muitos dos artigos
científicos encontrados nos periódicos internacionais que tratam da questão ecológica?

O setor industrial brasileiro avançou de modo notável na questão ambiental. A certificação


ambiental (norma ISO 14.001) e o estabelecimento dos sistemas de gestão ambiental nas
empresas, podem ser citados como exemplos nesse sentido. No entanto, muito ainda resta a
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

ser feito. O dueto EIA/RIMA previsto por leis federais (Tab. 1.1) é a peça fundamental para as
concessões das licenças de instalação (L.I.) e de operação (L.O.) de empreendimentos industriais
no Brasil. Ele foi um grande avanço, muito embora apresente vícios conhecidos. Além dos
conflitos de competência entre diferentes níveis de governo para a concessão dessas outorgas
(vide Parecer 312 /MMA/2004), o principal deles talvez seja o fato de que a própria empresa
empreendedora é que deve contratar e financiar o EIA/RIMA. Em decorrência, muitos desses
relatórios são executados de modo extremamente superficial sob a responsabilidade de jovens
profissionais, quase sempre sem a experiência técnico científica necessária para a condução e/ou
coordenação desses estudos. Deve-se ainda considerar o excesso do uso de dados secundários
ou pesquisas pontuais que normalmente caracterizam os estudos de impacto ambiental.
Introdução

Outro aspecto relevante refere-se à tendência para um excessivo investimento em


“marketing ambiental” em detrimento da busca real de soluções para os problemas conhecidos.
Há no país uma demanda por pesquisas ou tecnologias que realmente possam ser aplicadas
à melhoria do meio ambiente, principalmente em tecnologias voltadas para a reversão da má
qualidade dos efluentes ou do passivo ambiental gerado por indústrias. Podemos encontrar bons
exemplos dessa postura ambígua no setor minerário, no setor da indústria petroquímica ou ainda
no sistema das concessionárias de hidroeletricidade. Assim, são ainda muito comuns os relatos
18 de acidentes ambientais em minerações, vazamentos de grande expressão em petroquímicas
ou plataformas off shore e terminais de importação e exportação de petróleo. A qualidade de
água e a queda da biodiversidade de peixes é um problema comum para a grande maioria dos
reservatórios onde se produz hidroeletricidade no Brasil. Os acidentes com derramamento de óleo
tornaram-se manchetes freqüentes nos jornais e a gravidade desses eventos levaram o governo
a editar uma resolução específica sobre o assunto (vide a resolução 293/2001 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente - CONAMA que cria o plano de emergência para incidentes de
poluição por óleo) que mais tarde virou lei (Lei 9.966/2000 - prevenção, controle e fiscalização
da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas).

O governo brasileiro talvez seja o setor que mais avançou em relação aos principais pontos
da Agenda 21. Desde o início da década de oitenta, já estava em curso uma reorganização
do estado brasileiro para se adequar às novas exigências em termos de meio ambiente. O
IBAMA foi re-estruturado, foram criados os comitês de bacias, os estados passaram a controlar
mais eficazmente os poluidores e pesadas multas hoje atingem os principais poluidores do
país. Algumas leis pré-existentes (ex: Lei 6.938 sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, de
31/08/1981) foram aperfeiçoadas e regulamentadas. Novas e importantes leis foram votadas
e estão atualmente em fase de implementação ou de regulamentação (Tab. 1.1). As principais
diretrizes para a execução do licenciamento ambiental estão expressas na Lei 6.938/81 e nas
Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 001/86 e nº 237/97. Apesar
de todos esses avanços do Estado, é importante destacar que, muito embora a reciclagem
ambiental possa estar subentendida em vários desses instrumentos legais, não existe nenhuma
lei específica que institua uma política nacional de reciclagem ambiental no país.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 1.1 - Principais leis federais que fundamenta a ação do governo federal na questão ambiental.

LEI NÚMERO ASSUNTO


Lei Nº 4.771/1965 A lei cria o Código Florestal.
Lei Nº 5.197/1967 Dispõe sobre a proteção a fauna.
Lei Nº 6.938/1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos
de formulação e aplicação.
Altera a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política

Introdução
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
Lei Nº 7.804/1989
aplicação, a 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a 6.803, de 2 de junho
de 1980, e dá outras providências.
Dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos e institui o sistema
Lei Nº 9.433/1997
nacional de gerenciamento de recursos hídricos.
Lei Nº 7.661/1998 Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro.
Lei Nº 9.605/1998 Lei dos Crimes Ambientais.
Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidade
federal de implementação da política nacional de recursos hídricos
19
Lei Nº 9.984/2000
e de coordenação do sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos.
Lei Nº 9.985/2000 Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC
Lei Nº 11.445/2007 Dispõe sobre as diretrizes nacionais para o Saneamento Básico.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente - MMA - http://www.mma.gov.br/estruturas/171/_ legislacao/

A sociedade organizada brasileira também reagiu aos novos paradigmas lançados pela
Agenda 21. Numa análise superficial, poder-se-ia mesmo afirmar que esse segmento teria sido o
que mais avançou na questão ambiental. No início dos anos noventa, houve um grande aumento
das organizações não governamentais (ONG´s) no Brasil. Uma parte delas vem exercendo
um trabalho de alto nível, com atuações exemplares e que deve ser reconhecido por todos.
No entanto, houve denúncias de corrupção em alguns casos. Em outros, essas organizações
passaram a ser objeto de críticas do setor produtivo por defenderem interesses externos.
Houve casos onde as ONG´s acabaram por aguçar ainda mais as tensões sociais em áreas já
problemáticas, tal como a Amazônia. Em decorrência, conclui-se que essas organizações devem
atuar juntamente com o Estado e não tomar o seu lugar. Estimular a criação de ONGs não
significa, necessariamente, estimular a inserção da sociedade nas questões do meio ambiente.
Para uma visão mais aprofundada dos problemas e desafios enfrentados pelo terceiro setor,
particularmente nos aspectos ligados à gestão das ONG´s, recomenda-se acessar Ckagmazaroff
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

(2006). Hoje, é fácil constatar que muito foi dito e feito em nome da sociedade, mas pouca
coisa, de fato, emanou verdadeiramente do anseio popular no Brasil na questão ambiental.
Poquê será? Este livro objetiva, em essência, a responder a essa questão.

A sociedade brasileira se interessa, evidentemente, pela Amazônia e pela plataforma


continental. Ela é capaz de sentir os efeitos perversos das mudanças climáticas e está muito
sensível com a perda generalizada da riqueza de espécies em nossos ecossistemas. No entanto,
a sociedade brasileira é hoje, fundamentalmente, uma sociedade urbana, já que a grande maioria
dos brasileiros vive hoje em cidades de porte médio ou em grandes áreas metropolitanas. O que
mais afeta os brasileiros de hoje são os problemas associados à vida urbana. O meio ambiente
urbano no Brasil necessita de cuidados intensivos. Os ecólogos devem dar mais atenção à
Ecologia Urbana no Brasil. Em decorrência da falta dessas informações, o governo ainda tem
Introdução

políticas ambíguas nas questões ambientais que degradam as cidades. Muitas indústrias pesadas
até que investiram nos jardins de nossas praças, em novos parques ou reservas e mesmo em
programas de educação ambiental. No entanto, a grande maioria das cidades brasileiras ainda
não tem coleta seletiva de lixo e não apresenta programas eficazes de reciclagem ambiental. O
uso quase que doentio do automóvel impede que se invista em transporte público de qualidade,
ciclovias ou mesmo que incentive o simples andar a pé. Existe uma grande proliferação de
favelas nas principais cidades do país. Em decorrência, os mananciais urbanos estão poluídos, os
lagos e reservatórios urbanos estão hipereutróficos. Os lotes vagos muitas vezes são depósitos
20 de entulho de construções e transformam-se rapidamente em criatórios de mosquitos da dengue
e de vetores de leishmaniose. A grande verticalização das cidades brasileiras gerou ilhas de calor
e de congestionamentos. Onde está a linha comum a todos esses males?

Em suma, vivemos hoje em um cenário urbano caracterizado por uma perda de qualidade
ambiental generalizada. Nesse contexto, a sociedade passou a perceber que os recursos naturais
são finitos e que devemos mudar comportamentos, adotar novas tecnologias, induzindo as
empresas, o governo e a sociedade em geral a adotarem a “economia da reciclagem”.

Há mais de três décadas, um grande ecólogo, Ramon Margalef (Margalef, 1977) chamava
a atenção para o lixo, para ele definido como recurso “fora de lugar”. Outro grande ecólogo,
Richard Vollenweider (Vollenweider, 1976), demonstrou a interdependência entre o crescimento
populacional, o aporte de fósforo nos mananciais e a eutrofização das águas, em todo o
mundo.

Reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo
o resíduo que seria jogado fora, na forma de matéria-prima. Reciclar implica em gerar menos
lixo, menos esgoto e assim contribuir para um ambiente mais sadio, garantindo não somente a
preservação de nossa espécie, mas também todas as formas de vida nesse maravilhoso planeta
azul, a Terra.

A vida urbana, para que possa tornar-se viável, deve estar atrelada a um novo conceito
de se viver e trabalhar. O conceito que está por trás dessa nova postura é o da sustentabilidade.
Trata-se de um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos,
sociais, culturais e ambientais da sociedade humana (Wikipédia, 2009). O conceito irá implicar
em uma revisão de todos os modelos de desenvolvimento até hoje adotados. A humanidade tem
Ricardo Motta Pinto-Coelho

o direito a preencher as suas necessidades básicas e expressar todo o seu potencial no presente
desde que atenda ao pré-requisito de preservar a biodiversidade, os processos ecológicos e,
assim, todos os tipos de ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a manter a biosfera
tal como ela a recebeu de modo permanente.

A sustentabilidade é, portanto, o equilíbrio entre ações economicamente viáveis, socialmente


justas e ambientalmente corretas, sejam elas praticadas por indivíduos ou por empresas. Acredita-
se que esse conjunto de conceitos será o elemento dominante na maioria das empresas e
organizações que irão ter sucesso no futuro. Nesse contexto, aparece outro conceito muito
relevante para que se possa melhorar a vida nas cidades: o conceito da reciclagem. Reciclar,
no contexto da sustentabilidade, significa educar e mobilizar a sociedade, coletar e reprocessar
dejetos e restos da sociedade, gerando uma nova classe de produtos que possa ter aceitação

Introdução
no mercado, sob estrita obediência a todos os preceitos legais pertinentes. A reciclagem é
um pressuposto da sustentabilidade uma vez que qualquer atividade de reciclagem deve ser
economicamente viável e contribuir para a manutenção das paisagens e processos ecológicos
vitais na área onde o reciclador atua.

No início dos anos setenta, um grupo de cientistas se reuniu para traçar um panorama
sobre o futuro do planeta terra. O produto do esforço desse grupo, também conhecido como
sendo o “Clube de Roma”, gerou uma importante publicação (Meadows et al. 1978). Embora
muitas das previsões não tenham sido concretizadas, especialmente quanto aos reais limites 21
do crescimento da civilização humana, o principal ponto dessa obra foi o de chamar a atenção
para o fato de que existem realmente esses limites de crescimento e que a humanidade está
perigosamente se aproximando de várias dessas fronteiras. Um dos aspectos que esses cientistas
chamaram a atenção foi para o crescimento das concentrações de gases formadores do “efeito
estufa” e para o seu potencial em causar mudanças climáticas. No entanto, poucos eram aqueles
que, nos anos 60 e 70, queriam falar sobre esse assunto. Outras questões, tais como, os efeitos
devastadores que o DDT estava fazendo na avifauna dos EUA, sensibilizavam muito mais os
ecólogos e ambientalistas dessa época (Carson, 1962).

O Brasil está em um momento de grande crescimento econômico. A base para esse


crescimento pode ser vista em nossa matriz energética que é caracterizada por dois aspectos
muito importantes (Fig. 1.1): (a) um elevado percentual da energia elétrica produzida no país
é fornecido pela hidroeletricidade, tida e havida como uma fonte “limpa” de energia; (b) uma
crescente queda em nossa dependência externa de importação de petróleo. Esses dois aspectos
podem, de início, nos remeter a uma conclusão singela de que o país está diante de um “ciclo
virtuoso” de crescimento sustentável. Isso seria verdadeiro se estivéssemos no início do século
passado. Hoje, as variáveis que regulam o crescimento econômico dos países são várias e os
padrões de interação entre elas muito mais complexos do que há um século. Variáveis tais
como o índice de desenvolvimento humano ou os índices de qualidade ambiental poderão ser
tão ou mais importantes do que o total de barris de petróleo produzidos pelo país. E afinal,
as hidroelétricas não são tão limpas assim: elas são responsáveis por extinções regionais de
inúmeras espécies peixes (Vono, 2002). Pesquisas recentes também identificaram os grandes
lagos das hidroelétricas como fontes de onde emana o metano, um dos gases mais perigosos
para o aumento da temperatura global (Kemenes et al. 2008).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Produção de Energia - Brasil (2000-2006)

25000 40 80000
350

Percentual (%) de dependência externa - Petróleo


300
20000 30
60000
250

Hidroelétricas - (MW)
Termoelétricas (MW)

Petróleo (milhões m 3 )

15000 20
200
40000

10000 150 10
Introdução

100 20000
5000 0
50

0 0 -10 0
1998 2000 2002 2004 2006 2008

Ano

22 Hidroelétricas Petróleo Termoelétricas Dependência Externa - Petróleo

Fig. 1.3 - Crescimento da produção de petróleo e das principais fontes de energia elétrica no Brasil no período
2000-2006. Um dos aspectos mais relevantes desse período é a grande queda observada na dependência
externa do petróleo. Isso foi obtido não somente com o aumento da produção nacional de óleo bruto, mas
também com a crescente importância dos biocombustíveis e do gás natural em nossa matriz energética.

Nesse livro, iremos demonstrar que uma grande parte da energia produzida no país ainda
hoje é canalizada para que o país se torne um grande fornecedor de matéria-prima. Esse modelo
de desenvolvimento econômico pode até amenizar localmente a crise de liquidez que os países
industrializados estão sofrendo nesse momento (fev, 2009), mas, na verdade, esse mesmo
modelo impede que o país cresça de forma vigorosa e sustentável, a longo prazo. Como grande
exportador de matéria prima e produtos semi-acabados, o Brasil permanecerá em uma eterna
dependência do preço internacional de algumas poucas commodities que perfazem a maior
parte de nossas exportações (minérios, produtos agro-pastoris, biocombustíveis e celulose).
Esse perfil, na realidade, tende a fazer com que o país fique sempre em uma posição de grande
fragilidade em relação à economia mundial. É preciso repensar o modelo de desenvolvimento
econômico, adotando, progressivamente, a sustentabilidade nas diferentes cadeias produtivas.
Veremos o quanto o Brasil já avançou e o quanto ainda deve avançar nessa questão. A recicla-
gem de materiais não somente se insere, mas é um dos pilares desse novo tipo de modelo de
desenvolvimento.

O termo reciclar nos remete a teoria ecológica. Afinal, a ciclagem biogeoquímica dos ele-
mentos é tratada com destaque em quase todos os livros-texto de Ecologia (i.e: Krebs, 1994,
Pinto-Coelho, 2000, Begon et al. 2007) e própria reciclagem de resíduos humanos já vem sendo
Ricardo Motta Pinto-Coelho

tratada pela ciência ecológica (Hinrichs & Kleinbach, 2003). Assim, podem-se encontrar seções
inteiramente dedicadas aos ciclos do carbono, nitrogênio, fósforo, enxofre ou da água. Os ciclos
biogeoquímicos são descritos tanto em termos estruturais, ou seja, através da descrição e quan-
tificação dos principais compartimentos existentes quanto em termos funcionais, ou seja, em
termos dos principais processos envolvidos. Assim, certos tipos de ciclos, tais como o ciclo do
fósforo, são classificados como sendo ciclos sedimentares uma vez que os maiores depósitos
abióticos desses elementos encontram-se sob a forma de rochas sedimentares (Pinto-Coelho,
2000). Em outros tipos de ciclos, tal como no ciclo do nitrogênio, o principal depósito abiótico
encontra-se na atmosfera. Existem ainda ciclos mistos, tais como os ciclos da água ou do enxofre,
onde a fração não incorporada na biomassa dos organismos pode ser encontrada tanto sob a for-
ma sedimentar quanto na atmosfera. Um aspecto importante de todos os ciclos biogeoquímicos
vitais para a vida na biosfera está na precisa identificação das vias de incorporação e excreção
desses elementos pelos organismos (Fig. 1.4). Apesar de todo o conhecimento adquirido pelos

Introdução
ecólogos ao longo das últimas décadas, existem ainda muitas lacunas de conhecimento quando
se aplica essa teoria a reciclagem de materiais pelo homem (Fig. 1.5)

Plantas 23
Ingestão

Heterótrofos Exudados Absorção

Depósito
Taxas de Abiótico
excreção (rápido)
(internal load)

Sedimentação Intemperismo

Depósito
Abrótico
(lento)

Fig.1.4 - Principais depósitos bióticos e abióticos dos ciclos biogeoquímicos na biosfera terrestre
(Fonte: Pinto-Coelho, 2000).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A Reciclagem e o Consumo Humano

Triagem
e separação
Passivo
Ambiental
Introdução

Legislação
Ciclos biogequimicos
(como poluentes)
Mobilização social
Processamento

Aterro e Reciclagem
Nova tecnologias
ETE

24 Coleta
tradicional
Coleta
seletiva

Esgoto e lixo
Novos recursos

Recursos naturais Consumo humano

Fig. 1.5 - Uso de recursos naturais, geração de passivos ambientais e a inclusão da reciclagem ambiental como alternativa
de racionalização no uso de todos os recursos usandos na civilizção moderna. A reciclagem normalmente
está associada aos programas de coleta seletiva, envolve toda uma nova cadeia produtiva que requer novas
tecnologias, grande mobilização social, legislação específica, dentre outros aspectos. As empresas de
reciclagem normalmente se especializam em uma das três fases típicas do processo:
(a) na triagem e separação dos resíduos, (b) reprocessamento e (c) fabricação de novos produtos.
Original: RMPC

A reciclagem humana pode interferir diretamente em um grande número de rotas e de-


pósitos dos ciclos biogeoquímicos tradicionais (Tab. 1.2). Essa interferência pode acontecer de
dois modos muito claros: (a) diminuindo a taxa de utilização dos recursos naturais (água, metais,
petróleo e outras formas de energia); podendo essa diminuição estar associada a um menor
impacto ambiental decorrente de uma menor necessidade de obtenção e industrialização desses
recursos necessários para o consumo humano; (b) diminuindo o passivo ambiental gerado pela
deposição contínua e crescente (muitas vezes inadequada) dos dejetos, efluentes e resíduos
associados ao uso contínuo desses recursos.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 1.2 - A reciclagem humana pode interferir diretamente na ciclagem biogeoquímica de algumas dezenas
de diferentes elementos constituintes da crosta terrestre. Abaixo, é dada uma relação dos principais
elementos bem como dos recursos naturais e bens de consumo a eles associados.

Recurso Elemento a ser reciclado Bem de Consumo


Embalagens, utensílios domésticos e
Bauxita Al
material para indústria de transporte.
Minérios de Ferro,
Fe, C, Mn, Cr, Si, Ca, V, Mo, Material de transporte, construção civil,
aços e ligas
Ni, W, Ti, P utensílios domésticos.
metálicas
Minério de Cobre Cu Fios e material elétrico em geral
Pilhas, baterias e produtos eletro-eletrôni-

Introdução
Metais traços Cd, Pb, Mn, Ni, Zn, Hg, Li
cos em geral.
Petróleo e
C Plásticos
derivados
Barrilha
Ca, Na, S, Si, C, B Vidros planos e não planos
Areia
Matéria Orgânica C, P, N, S, H, O Alimentos, bebidas, detergentes, óleos, etc.
Água para beber, preparar alimento, higiene
Água H, O pessoal, irrigação, uso industrial, uso 25
agro-pastoril
Biocombustíveis C,N,S Etanol, biodiesel.
Original: RMPC.

Outro aspecto ecológico relevante da reciclagem é a economia gerada no uso das fontes
de energia sejam elas renováveis ou não. Assim, a reciclagem ambiental pode contribuir de modo
decisivo para a redução da emanação dos gases causadores do chamado “efeito estufa”, princi-
palmente o CO 2 (gás carbônico) e o CH 4 (metano).

A reciclagem, por outro lado, pode induzir a um vigoroso aumento da atividade econômica,
gerando muitos empregos e o que é mais importante: empregos que demandam envolvimento
comunitário, que promovam a inclusão social e que contribuam para a diminuição das diferenças
sócio-econômicas entre as classes sociais.

Apesar da importância do tema, são ainda poucas as publicações que tratam sobre a reci-
clagem de resíduos humanos no Brasil. Existem pequenas obras voltadas especificamente para a
questão da reciclagem (i.e: Nani, 2008). Muitas publicações técnicas estão disponíveis sobre temas
específicos da reciclagem (i.e: Padilha & Bontempo, 1999; Rolim, 2000; Pereira & Yallouz, 2003;
Medina & Gomes, 2002; Esmerado, 2007; Fabi, 2004; Martins, 2006, Mota et al. 2006). É crescente
o número de trabalhos acadêmicos tais como dissertações de mestrado ou teses de doutoramento
(Pinto, 1999; Valt, 2004, Silveira, 2008). Merece destaque o elevado o número de web sites de in-
ternet com informações sobre o tema (i.e: Ambiente Brasil, 2009; CEMPRE, 2009, Reciclar é preciso,
2009, Recicláveis, 2009; Setor Reciclagem, 2009; ISA, 2009; Plastivida, 2009, dentre outros). Entre-
tanto, não existe ainda um amplo tratado sobre a reciclagem, voltado à realidade brasileira, uma obra
que seja abrangente e, ao mesmo tempo, possua a necessária profundidade técnica.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

resíduos sólidos 2.0


Gerenciamento de
Resíduos Sólidos,
Coleta Seletiva de Lixo
e Reciclagem
2.1 - Introdução
2.2 - Composição do lixo doméstico no Brasil
2.3 - Sistemas de coleta de lixo
2.4 - Tratamento do lixo
2.5 - Classificação dos aterros e resíduos segundo
o Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA (Resolução 06 de 15/06/1988).
2.6 - Sistemas de coleta e reciclagem de resíduos
sólidos
2.7 - Coleta seletiva
2.8 - Panorama comparativo da coleta de lixo na
Alemanha e no Brasil.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

2.1 - Introdução
O gerenciamento dos resíduos sólidos gerados pelo homem e os seus animais domésti-
cos pode ser considerado como sendo um dos maiores desafios da trajetória atual da civilização
humana. O gerenciamento dos resíduos sólidos pode ser decomposto nas seguintes etapas:
limpeza pública e doméstica, acondicionamento, sistemas de coleta de lixo, sistemas tratamento,
reciclagem e disposição final dos resíduos não reciclados.

Existe uma considerável diversidade de resíduos sólidos que são gerados tanto nas cidades
Resíduos Sólidos

quanto na área rural (Tab. 2.1). Antes de se pensar na reciclagem deve-se ter em mente que nem
sempre todo tipo de resíduo sólido pode ser reciclado mesmo pertencendo a uma classe de pro-
dutos teoricamente reciclável. Um caso típico são os resíduos hospitalares e da área da saúde em
geral ou ainda as embalagens de agrotóxicos e de fertilizantes. Esse tipo de resíduo exige uma
disposição adequada e não deve ser usado em programas de reciclagem convencionais.

Tab. 2.1 - Tipologia dos resíduos sólidos gerados em áreas urbanas, industriais e agrícolas.

Origem Tipo de Resíduo Sólido


Residencial/doméstico;
Comercial, institucional e outros serviços;
28 Resíduos e material de descarte da construção civil (entulhos, etc);
Especial (certos tipos de lixo hospitalar, resíduos de baixa radioatividade, lixo
industrial especial e lixos de portos e aeroportos);
Urbano Área da saúde excluindo o lixo infecto-contagioso (lixo comum de hospitais,
postos de saúde, farmácias, clínicas e laboratórios);
Séptico ou infecto-contagioso (lixo especial contendo potencialmente vetores de
doenças infecto-contagiosas);
Público (varrição, capina das ruas e remoção de grandes volumes);
Lama de ETE;

Industrial Indústrias de transformação, alimentícias etc;

Embalagens de agrotóxicos e fertilizantes


Agrícola Material de poda;
Excrementos;

Lixo e combustíveis de reatores nucleares;


Radioativo Raio X;
Armas;

Fontes: Andreoli et al.(2007), Lima (2004) e Barros & Möller (2007), Resoluções do CONAMA (números 05, 06, 14,
237, 283, 307, 308, 313, 358, 459) e ABLP (2009).

A pesquisa nacional de saneamento básico (PNSB), realizada pelo Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística – IBGE, indica que o Brasil produzia diariamente 228.413 toneladas de lixo por
volta do ano 2000 (Martins, 2006). Os cidadãos que vivem em cidades grandes produzem mais lixo
per capta. A tabela abaixo, nos dá uma idéia da produção de lixo por habitante no Brasil (Tab. 2.2).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 2.2 - Taxa de produção de lixo per capta em diferentes tipos de cidades brasileiras, segundo o IBGE. as,
industriais e agrícolas.

Tamanho da Cidade g.hab -1


Pequena 500
Média 700
Grande 1000

Resíduos Sólidos
É importante termos em mente que muitos dos materiais que jogamos em uma lata de
lixo comum podem levar muitos anos para serem totalmente reciclados no meio ambiente. A
permanência dos materiais no meio ambiente está relacionada basicamente ao tempo de de-
composição que cada tipo de material exige para todos os elementos que o formam possam ser
totalmente assimilados nos ciclos biogeoquímicos. Esse tempo é extremamente variável depen-
dendo da natureza do material considerado (Tab. 2.3). Infelizmente, muitos dos materiais que
fazem parte do nosso cotidiano tais como os plásticos e os vidros demoram muitos anos para se
decompor sob condições naturais. Apesar de sua importância, esse tipo de informação ainda é
muito pouco disseminado na sociedade em geral. Esse conhecimento pode contribuir para que
o ser humano passe a usar os recursos que a natureza oferece de forma mais responsável.
29
Tab. 2.3 - Tempo de decomposição média de tipos de objetos comumente encontrados no lixo doméstico

Material COMLURB UNICEF
Casca de banana ou laranja 2 anos –
Papel – 3 meses
Papel plastificado 1 a 5 anos –
Ponta de cigarro 10 a 20 anos 1 a 2 anos
Meias de lã 10 a 20 anos –
Chiclete 5 anos 5 anos
Madeira pintada – 14 anos
Fralda descartável – 600 anos
Nylon – 30 anos
Sacos plásticos 30 a 40 anos – Observação:
UNICEF é o Fundo das
Plástico – 450 anos Nações Unidas para a
Infância, criado em 11 de
Metal Até 50 anos – dezembro de 1946, pela
Couro Até 50 anos – Organização das Nações
Unidas (ONU)
Alumínio 80 a 100 anos 200 a 500 anos www.unicef.org.br.
COMLRUB é a companhia de
Vidro Indefinido 4 mil anos limpeza urbana da cidade do
Rio de Janeiro
Garrafas plásticas Indefinido – www.rio.rj.gov.br/comlurb/

Fonte: Lixo.com.br, 2009.


Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

2.2 - Composição do lixo doméstico no


Brasil
A composição média do lixo urbano no Brasil pode variar bastante segundo a região
considerada (Lima, 2004). De um modo geral, a composição do lixo varia muito entre as cida-
des, principalmente devido aos hábitos, costumes e outros aspectos regionais. Os percentuais
de matéria orgânica tendem a decrescer nas cidades mais industrializadas onde, ao contrário,
há uma tendência para o aumento das embalagens sejam elas de plástico, vidro ou papel. (Fig.
Resíduos Sólidos

2.1). O percentual de matéria orgânica é bem menor em países mais desenvolvidos. Em algumas
cidades americanas, ele pode ser tão baixo quanto 6% (Lima, 2004). Dado o fato de que houve
grandes mudanças nos padrões de consumo do brasileiro ao longo das últimas duas décadas
é provável que os percentuais apresentados na figura abaixo já tenham sofrido modificações.
Segundo os dados da Superintendência de Limpeza urbana de Belo Horizonte – SLU, o lixo da
capital de Minas Gerais possuía, em 1991, 64% de matéria orgânica, 13,5 % de papel e papelão,
6,5% de plásticos, 2,7% de metais e 2,2% de vidros (Barros & Möller, 2007).

30
Composição de Lixo Urbano no Brasil

Manaus Rio de Janeiro São Paulo

2,8% 2% 3,1% 2% 9%
1,8%
3,45% 3,6%
20,7%
3,2% 2,2%
6,78%
5,5%
4,67% 37,8%

51,2% 14,6%
33,6%

29,1%
33,7%

29,6%

Matéria orgânica Papel e papelão Vidros Metais Trapo, couro e Plásticos Outros
borracha

Fig.2.1 – Composição média do lixo doméstico comum coletado nas cidades do Brasil, segundo Lima (2004). Dados
expressos percentuais de peso em base úmida.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Além da composição gravimétrica vista acima, outras características são muito importantes
para a tipificação do lixo: peso específico (peso por volume), teor de umidade (30-40%), grau
de compactação (3-5 vezes), produção por habitante (0,4-0,7 kg.hab -1.dia -1) , poder calorífico
(1.280-4.300 kcal.kg -1), relação estequiométrica carbono:nitrogênio (C:N variando normalmente
de 15 a 50). A relação C:N tende a diminuir com a degradação microbiana do lixo (Barros &
Möller, 2007).

2.3 - Sistemas de coleta de lixo

Resíduos Sólidos
A maioria dos programas de reciclagem depende de um bom sistema de coleta, disposição
e tratamento de resíduos sólidos. Segundo o IBGE, a maior parte do lixo coletado no Brasil ainda
vai parar em lixões (IBGE, 2009_a). As estatísticas oficiais apontam uma porção considerável,
ou seja, 63 % de todo o lixo doméstico coletado no país irá parar no meio ambiente sem ne-
nhum cuidado especial, nos famosos lixões (Fig. 2.2). Em consequência, a grande maioria dos
municípios do Brasil possui áreas comprometidas por causa dessa prática. Sem nenhum controle
sanitário ou ambiental, o lixo depositado a céu aberto e com acesso livre a urubus e catadores
informais acarreta graves problemas de saúde pública, relacionados com a proliferação de veto-
res de doenças (Lima, 2004). Em suma, é uma obrigação dos governos desse país acabar com a
triste cena de crianças e adultos disputando com urubus os restos de alimento e outros materiais
nos lixões, uma cena que já se tornou um típico cartão postal que muitos estrangeiros levam de 31
volta para casa quando visitam o nosso país.

Destinação dos Resíduos Sólidos no Brasil

5%

14%

18%

63%

Lixões Aterro Controlado Aterro Sanitário N.D.

Fig. 2.2 - Destino final do lixo nos municípios brasileiros


(IBGE, 2002). N.D.: não determinado.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

2.4 - Tratamento do lixo


Existem vários tipos de tratamento dos resíduos sólidos: (a) compostagem, (b) reciclagem,
(c) incineração, (d) pirólise e (e) disposição em aterros apropriados (aterros controlados ou
aterros sanitários).

A compostagem é definida como o processo de transformação de resíduos orgânicos em


um composto biogênico, estável e resistente a ação de micro-organismos que pode ser usado
como fertilizante orgânico, dependendo de sua composição final (modificado de Lima, 2004).
Resíduos Sólidos

Trata-se de uma alternativa de tratamento indicada apenas para o tratamento da fração orgânica
do lixo. Ela pode ser feita tanto em áreas abertas quanto em locais fechados. No Brasil, a prefe-
rência é sempre dada à compostagem em áreas abertas (Fig. 2.3), com a disposição do lixo em
faixas (leiras) lineares. A matéria prima é constituída por carboidratos, lipídeos, proteínas, produ-
tos celulósicos que normalmente compõem a maior parte da biomassa dessa fração orgânica do
lixo. Trata-se de um processo que exige uma área apropriada e um tempo relativamente longo
para que possa ser completado, normalmente em torno de 120 dias (Lima, 2004).

A compostagem pode ser feita em ambiente anaeróbico, aeróbico ou misto (Fig. 2.3).
Outra maneira de tipificar o processo consiste na sua classificação segundo a temperatura do
processo. Assim podemos ter a compostagem em baixas temperaturas (temperatura ambiente),
32 a compostagem mesofílica que ocorre entre 45 e 55ºC e a compostagem termofílica, que ocorre
acima de 55ºC.

Uma vez seja feita a triagem da fração orgânica do lixo, normalmente é feita uma trituração
do material antes que a compostagem possa realmente iniciar-se.

Fig.2.3 - Diversas etapas da compostagem, realizada na usina de compostagem do grupo Ulmann- Roda D´Agua
em Florestal, MG. A primeira fase é feita em uma área coberta onde o composto é enriquecido com
bactérias que aceleram o processo. A segunda fase, transcorre em áreas abertas, em leiras, com
dimensões precisas e que são revolvidas periodicamente em um pátio onde o composto permanece
até a fase final de maturação (120 dias). Depois de seco, o composto é ensacado e vendido. A matéria
prima é constituída por descartes orgânicos provenientes de restaurantes, cozinhas industriais e resíduos
de reciclagem do óleo de cozinha. O composto é utilizado como adubos em diversas floriculturas da
região metropolitana de Belo Horizonte.

Fonte: Dr.Flaviano José Torres Gomes, http://www.grupoullman.com.br. Fotos: RMPC.


Ricardo Motta Pinto-Coelho

O processo da compostagem que normalmente é feita no Brasil pode ser subdividido em


três fases:

(a) Fase mesofílica: trata-se da fase inicial da compostagem. Normalmente, a temperatura ainda
é baixa (20 a 40ºC) sendo caracterizada por uma intensa proliferação de uma vasta gama de
bactérias, leveduras e fungos. Essa fase dura em geral de 30 a 40 dias. Nessa fase, pode-se
adicionar inóculos de micro-organismos que podem acelerar o processo.

(b) Fase termofílica: essa fase é caracterizada por um aumento da temperatura que pode chegar

Resíduos Sólidos
a 80ºC. Esse aumento de temperatura é consequência do metabolismo anaeróbico e tem
como uma de suas principais características a virtual eliminação de todos os organismos
patogênicos eventualmente presentes no material em decomposição. Ao final do processo,
haverá a dominância de dois micro-organismos típicos dessa fase: Hydrogenobacter spp. e
Thermus spp. As bactérias do gênero Hydrogenobacter, por exemplo, são obrigatoriamente
quimiolitotróficas e são microorganismos hipertermófilos, ou seja, podem crescer em
temperaturas próximas ao ponto de ebulição da água, ou seja, até 95°C (embora o seu
crescimento ótimo ocorra em temperaturas menores, da ordem de 85°C). Trata-se de um
gênero rico em espécies sendo que a maioria delas utiliza os sulfetos ou tiossulfatos, H2, S ou
o S2O32-, como doadores de elétrons e o oxigênio (O 2) ou nitrato (NO3-) como aceptores de
elétrons em seu metabolismo. Vários estudos nutricionais demonstraram que as espécies de
Hydrogenobacter são incapazes de crescer sob o regime da quimio-organotrofia e geralmente
33
elas preferem viver em condições anaeróbicas (RCN, 2009).

(c) Fase de estabilização: Nessa fase, o material submetido à compostagem vai adquirindo
gradualmente a coloração negra, há um aumento do pH e uma gradual queda na
temperatura.

Os fatores que exercem forte influência nesse processo são: temperatura, qualidade
e quantidade dos microorganismos presentes, granulometria do composto e a relação car-
bono: nitrogênio (C:N).

Embora a compostagem seja uma boa alternativa para o tratamento de resíduos sólidos
com altos teores de matéria orgânica, existem alguns riscos associados à aplicação do composto
como adubo. Ele pode ser usado em jardins públicos ou mesmo em cultivos de flores decorati-
vas. Entretanto, o seu uso em cultivos de alimentos não é indicado dada a possibilidade de que
esse composto possa conter substâncias tóxicas tais como metais traços ou fármacos tais como
antibióticos e hormônios que podem causar problemas de saúde (Lima, 2004).

Outra alternativa de tratamento de resíduos sólidos é constituída pela incineração. Trata-se


de uma forma de tratamento de lixo que é indicada prioritariamente para o tratamento de resídu-
os tóxicos ou da área hospitalar. É importante ter em mente que essa forma de tratamento, além
de ter os seus custos operacionais elevados, irá gerar uma série de gases que podem contribuir
para o aumento global da temperatura e, no caso de grandes centros urbanos, contribuir para a
piora da qualidade do ar. Outro problema dessa forma de tratamento está no perigo da emissão
de hidrocarbonetos aromáticos com alto potencial carcinogênico tal como a dioxina. Assim, as
plantas de incineração de lixo devem ter sistemas bem sofisticados de eliminação desses gases
potencialmente tóxicos (Lima, 2004).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A pirólise é uma decomposição física e química por ação térmica na ausência de oxigênio,
a temperaturas de 500 a 1.000°C. Esse processo também resulta além da produção de gases de
uma substancial produção de alcatrão, sulfato de amônia e carvão. A técnica ainda tem poucas
aplicações no Brasil, pois depende, ainda, do aperfeiçoamento da capacidade tecnológica nacio-
nal nesse aspecto. O tratamento de resíduos através da tecnologia do plasma será considerado
mais adiante nessa obra (cap. 5.0).

Existem dois tipos de aterros usados para o tratamento de lixo. Os aterros controlados são
um avanço em relação ao lixão convencional, pois não existe mais o contato físico do lixo com
seres humanos e animais tais como aves, roedores e a maioria dos insetos que causam pragas
Resíduos Sólidos

urbanas (ex: baratas). No entanto, esse tipo de aterro não possui capa impermeabilizante para
conter o “chorume” e nem dispositivos para conter a emanação de gases. Dessa forma, os aterros
controlados podem gerar uma substancial contaminação dos recursos hídricos do entorno e da
atmosfera caso esses efluentes não sejam continuamente monitorados e controlados.

Os aterros sanitários constituem-se na forma mais adequada da disposição final dos re-
síduos sólidos nas áreas urbanas. Eles são dotados de sistemas impermeabilizantes que im-
pendem a contaminação do lençol freático pelo chorume. Eles possuem, em geral, uma vida
útil de 30 anos ou mais, mas exigem consideráveis investimentos para serem construídos de
modo apropriado. Já os aterros “controlados”, por não terem todos os dispositivos previstos nos
aterros sanitários, muitas vezes estão associados à poluição hídrica e geram freqüentemente
34 conflitos com os moradores das vizinhanças. Todos os aterros exigem um estudo prévio bastante
detalhado e, assim como todo empreendimento de porte, necessita das licenças ambientais de
instalação e operação.

Fig. 2.4 - Corte esquemático de um aterro sanitário, construído segundo a norma NBR 8419. O aterro deve ser isolado
das comunidades do entorno por uma faixa de vegetação arbórea, de preferência árvores de dossel bem
desenvolvido, de crescimento vegetativo rápido porém organismos dotados de um sistema radicular pouco
agressivo. Esquema modificado de Barros & Möller (2007).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Um aterro sanitário moderno deve seguir uma série de normas muito rígidas tanto para a
elaboração do seu projeto quanto para a sua execução e operação (Fig. 2.4). No caso brasileiro,
essas normas estão previstas na NBR 8419. O aterro deve conter uma série de instalações de
apoio, sistemas de drenagem de águas pluviais, de gases emanados do lixo enterrado e sistemas
para a coleta e tratamento de líquidos percolados. Um dos aspectos mais importantes de um
aterro moderno é o seu isolamento de qualquer contato com o solo e o lençol freático das adja-
cências (Barros & Möller, 2007; Lima, 2004).

Resíduos Sólidos
2.5 - Classificação dos aterros e resíduos
segundo o Conselho Nacional do
Meio Ambiente - CONAMA
(resolução 06 de 15/06/1988).

Aterro industrial (resíduos de classe I)


35
O aterro sanitário de classe I deve cumprir uma série de exigências que garantem um bom
controle ambiental, principalmente no sentido de que não haverá vazamento do “chorume” para
o lençol freático adjacente. Assim, o aterro deve ser equipado com capas impermeabilizantes
mais seguras, o aterro deverá ser subdividido em compartimentos estanques, cada um deles
com um dreno sentinela. Não será permitida a emanação de gases ou de “chorume” e deve
existir uma perfeita drenagem superficial da água pluvial que não deverá entrar em contato com
o interior do aterro (Fig. 2.4).

Aterro sanitário (resíduos de classe II)


O chamado aterro simples, a curto prazo, é o mais barato. Já o aterro sanitário, acompa-
nhado do tratamento e reciclagem, é uma das mais corretas e lucrativas formas de se resolver o
problema do tratamento do lixo. Como esse aterro produz o “chorume”, ele exige um monitora-
mento e tratamento constante dos efluentes líquidos e gasosos gerados.

Tipologia dos resíduos (norma ABNT 10.004 de 2004)


Resíduos considerados perigosos - classe I
Os resíduos que poderão ser encaminhados para um aterro sanitário de classe I são aque-
les que podem ser corrosivos, tóxicos ou venenosos, inflamáveis ou que contém agentes pató-
genos. Alguns exemplos de resíduos nessa categoria seriam: baterias de veículos, embalagens
de produtos tóxicos, corrosivos, inflamáveis e venenosos, lâmpadas fluorescentes, lixo hospitalar,
lixo odontológico e veterinário, lixo farmacêutico, curativos e similares. Outros itens que poderão
ser encaminhados a esse tipo de aterro seriam os resíduos radioativos (baixa atividade), restos
de remédios sejam eles vencidos ou não e as pilhas e baterias .
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Resíduos não inertes - classe II


Resíduos que podem ter propriedades tais como combustibilidade, biodegradabilidade ou
solubilidade em água.

Resíduos inertes - classe III


Resíduos inertes são aqueles que quando submetidos a um contato estático ou dinâmico
com a água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente, não têm nenhum de seus compo-
nentes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água.
Resíduos Sólidos

2.6 - Sistemas de coleta e reciclagem de


resíduos sólidos
Tendo em vista as exigências dos órgãos ambientais que têm ficado cada vez mais rigo-
rosas e restritivas, muitos centros urbanos, com altos índices de crescimento da população, têm
encontrado muitas dificuldades em obter novos locais para instalarem novos depósitos de lixo
(aterros). Logo, a reciclagem mostra-se como uma solução viável do ponto de vista econômico,
além de ser ambientalmente correta. No entanto, para que a reciclagem possa ser adotada no
país de forma mais vigorosa, existe a necessidade de que a nação brasileira possa empreender
uma melhoria generalizada em todo o serviço de coleta de lixo no Brasil.
36
As melhorias são necessárias não somente na parte do tratamento dos resíduos, mas
também nos sistemas de coletas, na disposição preliminar, no tratamento e na destinação final
dos resíduos coletados.

Nessa seção iremos abordar a necessidade de melhorar os serviços municipais de acon-


dicionamento e coleta de lixo. As formas atuais de acondicionamento de lixo usadas no país,
ou seja, os sacos plásticos, recipientes com tampa, lixeiras públicas, instrumental dos garis ou
mesmo as caçambas estacionárias estão à espera de melhorias substanciais e de uma melhor
padronização a ser adotada, se possível, em uma escala nacional.

É comum ainda o uso de caminhões basculantes para a coleta de lixo no Brasil, principal-
mente no interior. Esses caminhões devem ser banidos e deve-se dar preferência ao uso dos
caminhões compactadores. Muito embora esse tipo de equipamento seja adequado, a forma do
seu uso e a falta de uma padronização nos sistemas de coletas geram constantes vazamentos
de líquidos, principalmente do óleo de cozinha que ficam como rastros da passagem desses ve-
ículos pelas vias públicas das principais cidades do Brasil. É preciso investir no desenvolvimento
tecnológico de novos tipos de veículos tais como aqueles voltados para os programas de coleta
seletiva. Há, ainda, a necessidade de se investir em um maior grau de mecanização e no treina-
mento do pessoal que atua nos caminhões compactadores.

Desde a década de 1980, a produção de embalagens e produtos descartáveis cresceu


significativamente, assim como a produção de lixo, principalmente nos países industrializados.
Muitos governos e organizações não governamentais (ONG´s) estão cobrando das indústrias ati-
tudes mais responsáveis. Neste sentido, o desenvolvimento econômico deve estar aliado à pre-
servação do meio ambiente. Atividades como campanhas de coleta seletiva de lixo e reciclagem
de alumínio, plástico e papel, já são corriqueiras em várias cidades do mundo.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O Brasil está se despertando para a reciclagem de materiais pós-consumo. Nas escolas,


muitos alunos são orientados pelos educadores a separarem o lixo em suas casas. Outro fato
interessante é que já é muito comum nos grandes condomínios residenciais a reciclagem de
certos componentes encontrados no lixo. Em regiões de zona rural a reciclagem também está
acontecendo. O lixo orgânico (sobras de vegetais, frutas, grãos e legumes) é utilizado na produ-
ção de adubo orgânico para ser usado em paisagismo e produção de flores.

Já existem no Brasil milhares de pequenas indústrias e empresas especializadas na recicla-


gem de diversos tipos de produtos. O alumínio, por exemplo, está sendo reciclado no país com
um índice de reaproveitamento acima de 90%. Derretido, ele volta para as linhas de produção

Resíduos Sólidos
das indústrias de embalagens, reduzindo os custos para as empresas.

Várias campanhas de educação ambiental têm despertado a atenção para o problema


do lixo nos grandes centros urbanos. Apesar das inúmeras iniciativas existentes (e que serão
abordadas em detalhes nos próximos capítulos) temos que constatar que a reciclagem ambiental
ainda tem um vasto caminho a percorrer no Brasil. O acúmulo de lixo nos mananciais e mesmo
no litoral brasileiro é um bom atestado das nossas carências em termos de reciclagem de
materiais.

2.7 - Coleta Seletiva


37
É um sistema de recolhimento de materiais recicláveis, tais como papéis, plásticos, vidros,
metais e orgânicos, previamente separados na fonte geradora. Estes materiais são vendidos às
indústrias recicladoras ou aos sucateiros. As quatro principais modalidades de coleta seletiva
estão descritas na Tab. 2.4.

Tab.2.4 - Tipos de coletas seletivas existentes no Brasil.

N Tipos de Coleta

1 coleta domiciliar

coleta em postos de entrega voluntária


2
(PEV ou LEV)

3 coleta em postos de troca

4 coleta por catadores

Fonte: Martins (2006)

Nos programas de coleta seletiva implantados no Brasil, há uma clara predominância de


papéis, plásticos e vidros. O percentual dessas três classes de materiais chega a 72% do total
coletado. Outro ponto importante a ser destacado é que os óleos de fritura usados não chegam
sequer a ser mencionados nessas pesquisas (Fig. 2.5).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Composição Média do Lixo Urbano (Coleta Seletiva)

16%

14%

20%

10%
Resíduos Sólidos

2%

38%

Papel e Papelão Plástico Diversos Vidro Metais (todos) Longa Vida

Fig. 2.5 - Composição média do lixo coletado em programas Fonte: CEMPRE (2009).
de coleta seletiva (% em peso) nas cidades
brasileiras com coleta seletiva.

38
Ao compararmos os gráficos das figuras 2.1 e 2.5 acima podemos assinalar as seguintes
tendências:

(a) não existe nenhuma estatística sobre a coleta seletiva de determinados produtos de origem
orgânica no país o que sugere que grande parte desse material vai mesmo para os aterros
sanitários ou para a compostagem o que inclui dentre outros recursos, o óleo de cozinha
usado.
(b) Não existe nenhuma estatística no país sobre a reciclagem de produtos especiais tais como
pilhas e baterias de celulares ou ainda o lixo eletrônico.
(c) Já existe uma estatística sobre a reciclagem de embalagens longa vida o que destaca o país
nesse aspecto em relação aos demais países industrializados.

A coleta seletiva domiciliar assemelha-se ao procedimento clássico de coleta normal de


lixo. Porém, os veículos coletores percorrem as residências em dias e horários específicos que
não coincidam com a coleta normal. A coleta em PEV - Postos de Entrega Voluntária ou em LEV
- Locais de Entrega Voluntária utiliza normalmente contêineres ou pequenos depósitos, coloca-
dos em pontos fixos, onde o cidadão, espontaneamente, deposita os recicláveis. A modalidade
de coleta seletiva em postos de troca se baseia na troca do material entregue por algum bem
ou benefício.

Podemos afirmar que a coleta seletiva no Brasil está apenas começando. Apenas 8,2% do
total de municípios brasileiros têm algum tipo de coleta. Existem regiões no pais onde menos de
1,0% dos municípios contam com esse tipo de benefício (regiões norte e centro-oeste). Mesmo
nas regiões mais desenvolvidas do país, a grande maioria dos municípios ainda não adotou essa
importante medida no gerenciamento de seus resíduos sólidos (Tab.2.5).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab.2.5 – Número de municípios brasileiros atendidos por programas de coleta seletiva de lixo segundo o IBGE.

Proporção (%) de
Número de Municípios Municípios Atendidos por
Programas de Coleta Seletiva

Por região Coleta Seletiva Na região Brasil

Norte 449 1 0,2 0,2

Resíduos Sólidos
Nordeste 1787 27 6,0 1,5

Sudeste 1666 140 31,0 8,4

Sul 1159 274 60,8 23,0

Cento-Oeste 446 9 2,0 2,0

Brasil 5507 451 8,2 -

Fonte: IBGE, PNSB, 2000. 39

Existe uma simbologia específica para a reciclagem de diferentes materiais, incluindo os


plásticos. As cores características dos recipientes apropriados para a coleta seletiva de lixo estão
representadas abaixo (Fig. 2.6).

Papel / Papelão Metais

Plásticos Vidros

Fig. 2.6 - Padrão internacional de cores usado em programas de coleta seletiva.


Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Esse padrão de cores vem sendo usado por um número crescente de países que já reco-
nhecem esse padrão como um parâmetro oficial a ser seguido por qualquer modelo de gestão
de programas de coleta seletiva. Talvez tão importante quanto a padronização das cores, seja
o desenvolvimento e a implantação de recipientes apropriados devidamente padronizados e
certificados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, para serem depositados não
somente nos postos ou locais de coleta voluntária (PEV´s ou LEV´s) mas também nos condomí-
nios e residências (Figs. 2.7 e 2.8).
Resíduos Sólidos

40

Fig.2.7 - Recipientes para coleta seletiva de lixo (plásticos, metais e papel) usados pela Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte. Este posto de entrega coluntária (PEV) está localizado na praça das Mangueiras, próximo à Igreja
de São Francisco de Assis, na orla da represa da Pampulha, Belo Horizonte. Foto: RMPC.

Fig. 2.8 - Depósitos circulares usados como coletores de vidros,


localizados ao lado dos recipientes vistos na figura
anterior. Embora possamos ver o correto uso das
cores, é fácil perceber que há uma necessidade de
uma maior padronização em relação ao formato,
dimensões e materiais a serem usados em tais
recipientes. As normas alemãs, DIN, são uma
referência, quando se trata da questão da coleta
convencional e seletiva de lixo doméstico (vide
texto). Foto: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

No Brasil já existe uma base normativa que atende alguns aspectos da coleta de lixo e
da reciclagem doméstica. Um exemplo seria a norma (NBR 13230) da Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT, que padroniza os símbolos que identificam os diversos tipos de resinas
(plásticos) virgens. O objetivo é facilitar a etapa de triagem dos resíduos plásticos que serão en-
caminhados à reciclagem. Os tipos de plásticos são classificados por números (Tab. 2.6).

Tab. 2.6 - Códigos dos principais tipos de plásticos de consumo popular.

1 PET

Resíduos Sólidos
2 PEAD

3 PVC

4 PEBD

5 PP

6 OS
41
7 Outros

Observação: vide capítulo sobre a reciclagem de plásticos para maiores detalhes.

O sucesso da coleta seletiva está diretamente associado aos investimentos feitos para sen-
sibilização e conscientização da população e também à confiabilidade do serviço oferecido pelas
prefeituras ou das empresas contratadas para executarem esse serviço. Normalmente, quanto
maior a participação voluntária em programas de coleta seletiva, menor é seu custo de adminis-
tração. Não se pode esquecer também a existência do mercado para absorver o lixo recolhido
no sistema de coleta seletiva. Dessa forma, é muito importante que haja benefícios tais como
isenções fiscais e linhas de crédito específicas oferecidos pelo governo que possam fomentar a
criação de novas empresas de reciclagem.

As universidades poderiam criar parques tecnológicos voltados especificamente para o


desenvolvimento de novas tecnologias de reciclagem bem como programas de incubação de
novas empresas para o setor. Cursos de graduação e pós-graduação poderiam oferecer linhas de
pesquisas e modalidades de especialização voltados exclusivamente para a reciclagem e coleta
seletiva de resíduos sólidos.

Existem razões para sustentar a hipótese de que a coleta seletiva não se desenvolveu mais
no país dadas as características do modelo de gerenciamento de resíduos sólidos adotado no
Brasil. Essa hipótese decorre, em grande parte, de um estudo muito detalhado sobre a evolução
histórica da gestão dos resíduos sólidos na cidade de São Paulo feita pelo prof. Dr. Pedro Jacobi
e sua aluna de mestrado Mariana Viveiros ambos do Programa de Pós-Graduação em Ciência
Ambiental da USP (Jacobi & Viveiros, 2006). Esses pesquisadores fizeram uma análise exaustiva
e detalhada das administrações municipais da cidade de São Paulo entre 1989 e 2004.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Inicialmente, é bom frisar que a cidade de São Paulo apresenta estatísticas típicas de mui-
tos países em seu conjunto. Trata-se de um universo de 11 milhões de habitantes que gera apro-
ximadamente 10% do PIB nacional. Em 2004, foram recolhidas das ruas da cidade nada menos
do que 3,29 milhões de toneladas de lixo. Segundo os autores acima, pelo menos 30% desse
montante poderia estar sendo reciclado. Nesse mesmo ano, a coleta, o transbordo, transporte,
destinação final e tratamento do lixo doméstico na cidade de São Paulo consumiram nada menos
do que R$ 211 milhões o que corresponde a cerca de 1,5% do orçamento dessa cidade para o
mesmo ano (Jacobi & Viveiros, 2006).
Resíduos Sólidos

Nesse estudo fica claro que a idéia de se implantar um programa de coleta seletiva na
cidade de São Paulo não é nova. A prefeita Luíza Erundina (1989-1992) implantou na cidade um
programa de coleta seletiva e chegou a inaugurar uma usina de reciclagem de entulhos (vide
cap. 12). O apogeu desse programa foi em 1992, quanto havia 37 circuitos de coletas, 50 postos
de entrega voluntária (LEV) que eram capazes de processar 10,5 toneladas diárias de resíduos.
O programa atingiu um universo de 80 mil domicílios ou 1% do lixo da cidade. No entanto, com
o passar do tempo, o programa foi gradualmente sendo desativado por ser antieconômico e por
colecionar uma vasta gama de todo tipo de críticas (Jacobi & Viveiros, 2006):

(a) o fator econômico: o prefeito Paulo Maluf que sucedeu a prefeita Erundina alegava que
42 o sistema era deficitário já que o custo da coleta seletiva era de US$ 417,0 por tonelada
enquanto que o custo da coleta tradicional era de apenas US$ 25,0;
(b) fator insalubridade: havia relatos de que os funcionários que trabalhavam na coleta seletiva
enfrentavam péssimas condições de higiene e de segurança;
(c) fator falta de pontualidade: várias reportagens de jornais da época documentaram que os
circuitos de coleta seletiva não estavam sendo cumpridos ou se estavam, não se cumpria os
cronogramas previamente determinados;
(d) fator falta de seriedade: outras denúncias da mídia documentaram o desvio de material
coletado nos programas de coleta seletiva para os aterros sanitários da cidade. O índice de
absenteísmo dos funcionários era muito alto;
(e) fator escassez de recursos: faltavam recursos para quase tudo dentro do programa
(manutenção de veículos, combustíveis, etc).

Como os próprios autores ressaltam, a maior parte dos fatores acima apontados decorre
do fato de que os serviços de coleta seletiva na cidade de São Paulo estavam a cargo do próprio
pessoal da prefeitura, ou seja, eles nunca foram terceirizados. As mazelas acima destacadas são
típicas da prestação de qualquer tipo de serviço público no país. No entanto, é interessante notar
que o programa contou com forte apoio popular enquanto durou. Diante do exposto, os autores
concluem que a cidade de São Paulo se mostrava, por volta de 1996, como a antítese da idéia de
sustentabilidade ao se considerar o seu sistema de gestão de resíduos sólidos (Jacobi & Viveiros,
2006).

O estudo publicado por Jacobi e Viveiros (2006) ainda faz uma análise dos procedimen-
tos de licitação e contratação de empreiteiras para a execução de serviços de limpeza pública
e coleta de lixo na cidade de São Paulo. É um longo relato de irregularidades tais como desvios
Ricardo Motta Pinto-Coelho

de verbas, licitações duvidosas, super-faturamentos, financiamentos de campanhas eleitorais por


empreiteiras ligadas aos serviços de limpeza urbana, etc. Não é o objetivo dessa obra entrar no
mérito dessas denúncias por mais contundentes que elas possam ser. Entretanto, ficaria muito
ingênuo falar sobre programas de coleta seletiva no Brasil sem deixar claro que existe um claro
jogo de interesses, muitas vezes envolvendo grandes empreiteiras, no sentido de não apoiar o
desenvolvimento de programas de coleta seletiva nas grandes cidades do Brasil.

A última parte do estudo de Jacobi e Viveiros (2003) descreve a fase atual da gestão
dos resíduos sólidos em São Paulo. Eles caracterizam essa fase como uma fase menos ba-

Resíduos Sólidos
seada em grandes obras de engenharia. A fase atual está fundamentada em princípios de
educação ambiental e de reciclagem de materiais. Em 2004, a cidade não dispunha mais das
usinas de compostagem nem dos incineradores que formavam a base da gestão de resíduos
sólidos dos anos 70. A política passou a ser “coletar e enterrar”.

Apesar dos “novos tempos”, a prefeita da cidade, Marta Suplicy (2001-2004) ao assumir
a prefeitura prometeu reativar os programas de coleta seletiva na cidade. A idéia então passou
a ser terceirizar o serviço. Foram reservadas verbas para os editais de coleta seletiva que pre-
viam contratos de 1 ano cada. O programa previa contratos com cooperativas e associações
de catadores que poderiam mobilizar até 20 mil catadores de lixo na cidade. Para colocar o
programa em prática, o poder público construiu um arcabouço legal que possibilitou a for-
43
malização de convênios com as cooperativas de catadores, outorgando a elas prioridade para
atuar no recolhimento, triagem e posterior venda do material coletado em setores da cidade.

Em dezembro de 2004, a coleta seletiva atingia cerca de 3,3 milhões de pessoas, 45%
da cidade em território ou cerca de 11 milhões de residências. A média mensal de saída de
material das centrais é em torno de 600 toneladas. O faturamento global das centrais é em
torno de R$ 200.000,00 por mês, no conjunto. Cada cooperativa possuía um faturamento
médio mensal em torno de R$ 23.000,00 e cada cooperado tinha uma remuneração varian-
do entre R$ 1,00 e 4,00 a hora trabalhada. Os autores concluem que o programa apesar de
enfrentar inúmeras dificuldades é um êxito e depende, em grande medida, de novas políticas
públicas para o setor.

2.8 - Panorama comparativo da coleta de


lixo na Alemanha e no Brasil.
O sistema alemão de coleta, processamento e disposição de lixo doméstico pode ser um
bom exemplo a ser considerado para a melhoria da coleta de lixo no Brasil. Talvez esse sistema
seja interessante como uma alternativa a ser eventualmente adaptada à realidade brasileira. O
mobiliário urbano alemão, destinado ao gerenciamento de resíduos sólidos, é caracterizado não
somente pela eficiência e qualidade dos produtos usados, mas também pela forte adesão e par-
ticipação dos cidadãos no processo (Fig. 2.9).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Resíduos Sólidos

Cores Standart

Verde Cinza Azul Marrom

Cores Especiais

Amarelo Vermelho Laranja Branco

44

Fig. 2.9 - Recipientes de coleta de lixo domiciliar e condominial usados na Alemanha. Esses equipamentos são
construídos e certificados segundo as normas alemãs específicas aprovadas pela Associação Alemã de
Normas Industriais, a Deusche Industrie Normen - DIN. Nos detalhes à direita, vemos aspectos ligados
à segurança dos equipamentos tais como materiais isolantes das tampas para evitar a entrada de ratos e
insetos (topo), travas de segurança nas rodas (centro) e o padrão em colméia do plástico usado nos cantos
dos recipientes plásticos (em baixo). Esses detalhes garantem, respectivamente, a higiene, a segurança e a
durabilidade do equipamento.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Equipamentos similares já são fabricados no Brasil, mas não existe ainda uma base legal
que regulamenta o seu uso e nem um programa nacional de certificação industrial de equipa-
mentos de coleta de lixo (Fonte: Syscon, 2009).

Assim como o sistema de coleta lixo adotado do Brasil, todos os equipamentos e pro-
cessos no sistema de coleta de lixo alemão estão sujeitos a uma padronização, normatização e
certificação industrial (Fig. 2.10 e 2.11).

Resíduos Sólidos
45

Fig.2.10 - Normas alemãs, da Deustche Industrie Normen - DIN


específicas para os recipientes domésticos de coleta de lixo.

Fig. 2.11 - Exemplo de selo de qualidade


de certificação industrial apli-
cável aos recipientes de coleta
de lixo doméstica. Somente os
produtos certificados e apro-
vados pelas normas DIN po-
derão ter esses selos afixados,
indicando ao consumidor final
que são produtos aptos para o
desempenho correto de suas
funções (Syscon, 2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A melhor tecnologia usada no sistema alemão garante grande segurança na operação


tanto para o lixeiro quanto para o cidadão comum, uma maior eficiência na coleta e, portanto,
melhores índices finais de qualidade ambiental. Todos os equipamentos de coleta de lixo são
liberados para uso somente após um rigoroso conjunto de testes em todos os componentes
que compõem o equipamento. Assim, são raros os vazamentos, a emanação de maus odores, a
presença de animais e pragas domésticas no interior dos contêineres. Esses aspectos minoram
o risco de contaminação de lixo oriundo de clínicas e consultórios de dentistas, por exemplo, ou
mesmo acidentes com crianças e idosos, etc.

O sistema de coleta urbana de lixo usado atualmente na Alemanha permitiu ainda um


Resíduos Sólidos

elevado grau de profissionalização dos lixeiros e uma qualidade final muito boa tanto quanto à
questão de limpeza das ruas ao final da coleta, quanto do lixo coletado (Fig. 2.12). O lixo cole-
tado em melhores condições poderá ter tanto o seu processamento convencional quanto a sua
eventual reciclagem em muito facilitada.

46

Fig. 2.12 - Coleta de lixo mecanizada usada rotineiramente na Alemanha. O lixeiro apenas desloca o recipiente
de um local pré-determinado e de fácil acesso a uma estrutura no caminhão, de onde um mecanismo
hidráulico especial cuida para que todo o lixo seja transferido para o caminhão. Foto: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

No Brasil, o sistema de coleta de lixo urbano requer muitas melhorias. Frequentemente,


depara-se com lixo praticamente amontoado nas ruas onde fica clara a falta de uma maior sen-
sibilização da população para a questão ambiental. Notamos a presença freqüente de grande
quantidade de papel, garrafas de vidro e vários tipos de plásticos (ex: garrafas PET e isopor) no
lixo comum, materiais que deveriam estar sendo coletados através de programas de coleta se-
letiva. A forma de deposição do lixo doméstico nas ruas em sacos plásticos (frequentemente de
má qualidade ou mesmo o uso de sacos inapropriados) impõe grandes dificuldades ao lixeiro
e, ainda, contribui para uma coleta pouco eficiente, onde muitas vezes uma porção significativa
lixo a ser coletado irá ter como destino final o bueiro mais próximo da drenagem pluvial. É ainda
muito comum, o descarte sumário do óleo de cozinha diretamente no esgoto ou mesmo na rede

Resíduos Sólidos
de drenagem pluvial.

47

Fig. 2.13 - Lixo doméstico a espera da coleta em diversos locais do bairro Ouro Preto, Belo Horizonte, em dezembro
de 2008. A falta de uma maior conscientização da população e também de uma melhor normatização e
padronização tanto nos processos quanto equipamentos de coleta de lixo doméstico e comercial geram
esse triste quadro. É evidente a mistura de diferentes tipos de lixo, alguns dos quais poderiam facilmente
estar inseridos em um programa de coleta seletiva. A associação entre lixo e lote vago (direita, topo) ainda
facilita a disseminação de pragas urbanas e animais peçonhentos tais como o escorpião. Outro aspecto seria
um melhor treinamento dos catadores de lixo (à esquerda, em baixo) que separam alguns materiais do lixo,
principalmente papéis e metais, antes da passagem do caminhão de lixo. Os catadores de lixo, muitas vezes,
deixam um rastro de sujeira que não será coletada pelos lixeiros. Eles poderiam ser um dos elementos
mais importantes em um processo de coleta seletiva, especificamente voltado à realidade brasileira. Vide
também matéria veiculada no telejornal Bom Dia Brasil da Rede Globo do dia 20 de março de 2009 às 08
horas da manhã. Fotos: RMPC
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Quem nunca constatou a má qualidade de alguns sacos destinados ao acondicionamento


de lixo doméstico que estão disponíveis para a compra nos supermercados? Quem nunca com-
prou um recipiente para o acondicionamento de lixo que se danifica após um pequeno período
de uso?
Resíduos Sólidos

É comum depararmos com as cenas vistas na figura 2.13 em muitas cidades brasileiras.
Elas sugerem que existe uma série de mazelas seja por parte dos cidadãos seja nos sistemas de
coleta urbana das nossas cidades. Conclui-se que é preciso uma grande reforma em toda a es-
trutura de coleta de lixo em nossas grandes cidades. As mudanças devem começar não somente
por uma melhor padronização e certificação de equipamentos e processos usados na coleta ur-
bana, mas também através de campanhas educacionais e outras ações voltadas a uma mudança
de comportamento da sociedade com o gradual abandono de práticas inadequadas de descarte
e reciclagem dos resíduos domésticos.

Os equipamentos de coleta de lixo colocados nas ruas são constituem-se em outros


exemplos onde uma padronização industrial, seguida de certificação industrial deveria estar sen-
48
do adotada. Essas medidas podem contribuir para a melhoria da coleta urbana e, assim, deixar
as cidades mais limpas (Otto, 2009). Os lixeiros trabalham de modo mais eficiente já que o
processo do esvaziamento dos recipientes fica facilitado. No caso da Alemanha, é fácil constatar
que a padronização levou em conta uma série de aspectos que visam a facilitar a identificação,
o uso e o posterior esvaziamento dos cestos de lixo. Observar, por exemplo, a altura em que o
recipiente fica fixado na haste que facilita a ação do coletor de lixo bem como a inexistência de
cantos onde possam acumular sujeira e água. Esses recipientes são construídos de polietileno de
alta densidade (portanto têm um baixo custo e uma longa vida de operação), são dotados de um
mecanismo de fixação que permite uma instalação fácil e segura, evitando a ação de vândalos.
O cesto tem capacidade de 50 litros (Fig. 2.14).

Nas ruas de Belo Horizonte, e certamente de muitas outras cidades do Brasil, o cidadão
depara-se frequentemente com grande acúmulo de sujeira e detritos, alguns dos quais poderiam
ser facilmente recicláveis. Inicialmente, é fácil constatar que existe uma grande carência de cestos
e recipientes para coleta de lixo dos transeuntes na maioria das cidades. Em muitos casos, os
cestos existem, mas não são esvaziados com a freqüência necessária. Em outros casos, a popu-
lação não foi instruída sobre o correto uso desses recipientes e deposita ali todo tipo de lixo. Fi-
nalmente, é evidente que a falta de uma melhor padronização ainda contribui sensivelmente para
piorar ainda mais a situação de sujeira encontrada em muitas vias públicas do Brasil (Fig. 2.15).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Resíduos Sólidos
49

Fig. 2.14 - Todos os equipamentos de coleta de lixo usados na Alemanha, são objeto de uma detalhada padronização
segundo as normas industriais da Alemanha. No caso dos cestos para coleta de lixo urbana, existe a norma
DIN 30713. Os diferentes fabricantes submetem ainda os seus produtos a diferentes sistemas de certificação
e podem então fixar selos de certificação como os vistos acima. Equipamentos similares já são fabricados
no Brasil mas não existe ainda uma regulamentação para o seu uso e nem um programa nacional de
certificação industrial de equipamentos de coleta de lixo. Fonte: Otto, 2009.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Resíduos Sólidos

50

Fig. 2.15 - Diferentes tipos de equipamentos colocados à disposição do cidadão para a coleta de lixo nas ruas da região
norte de Belo Horizonte. O uso de sistemas diferentes e as ausências de placas de identificação, de cores
vivas e padronizadas dificultam a sua localização pelos possíveis usuários. As diferentes formas e materiais
usados também diminuem a eficiência do trabalho de coleta de lixo a cargo pelos coletores públicos.
Finalmente, os cantos agudos e as frestas, em alguns casos, possibilitam a proliferação de pragas tais como
insetos. Fotos RMPC.

A melhor qualidade dos equipamentos e dos processos usados no sistema de coleta de


lixo alemão garante, não somente, que o consumidor final fique livre dos aborrecimentos tão co-
muns associados a má qualidade dos sacos plásticos e recipientes usados gestão do lixo domés-
tico no Brasil e ainda diminui sensivelmente os gastos das prefeituras com a varrição e limpeza
das ruas e até mesmos os gastos da defesa civil em socorrer vítimas de enchentes causadas por
falhas no sistema de drenagem urbana no Brasil, que frequentemente fica entupida pela depo-
sição de materiais plásticos e vegetação oriundos de mazelas na coleta de lixo e deficiências no
sistema de varrição das ruas (Fig. 2.16).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Resíduos Sólidos
51

Fig. 2.16 - Bueiro entupido por detritos vegetais, plásticos durante a estação
chuvosa de 2009, no bairro Ouro Preto, Belo Horizonte, MG.
O entupimento da rede pluvial da cidade causa todos os anos
várias enchentes nas partes baixas da cidade. Foto RMPC.

Há uma necessidade de uma verdadeira revolução no gerenciamento dos resíduos sólidos


no Brasil. O governo reconhece essa questão tanto que propôs uma nova política nacional de
resíduos sólidos, o anteprojeto de lei da política nacional de resíduos sólidos, o qual se encon-
tra em análise na Casa Civil da Presidência da República. Entretanto, o web site do MMA não
faz qualquer alusão à matéria. Além do anteprojeto em epígrafe, há um projeto de lei o PL nº
203/91, o qual foi aprovado, em meados de 2006, na Comissão Especial da Política de Resíduos
da Câmara dos Deputados. No entanto, segundo fontes do governo, este PL não tem o apoio do
MAM, “..por não representar as demandas discutidas com a sociedade e por não considerar os
necessários cuidados à saúde e ao meio ambiente, almejados pelo Governo Federal...”
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

plástico 3.0
Tipologia, Produção,
Consumo e Reciclagem
de Plásticos
3.1 - Introdução
3.2 - Monômeros e polímeros
3.3 - Classificação dos polímeros e tipologia dos
plásticos
3.4 - Os polímeros mais produzidos no Brasil
3.5 - Modelagem do plástico
3.6 - Cadeia produtiva do plástico
3.7 - Produção e consumo de plásticos no Brasi
3.8 - A Reciclagem dos plásticos
3.9 - Métodos de reciclagem dos plásticos
3.10 - Desempenho e perspectivas da reciclagem dos
plásticos no Brasil
3.11 - Comparativo da reciclagem de plásticos no
Brasil com outros países.
3.12 - Reciclagem de pneus
3.13 - Reciclagem de garrafas PET
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.1 Introdução
O que são os plásticos? O termo plástico pode ser definido como aquele material que
possui a característica de mudar a forma ou a estética. Que tem a propriedade de adquirir deter-
minadas formas, por efeito de uma ação exterior. A origem do termo vem do grego plastikós que
se referia às dobras do barro. Em latim, plasticu, refere-se “aquele objeto pode ser modelado”
(Canto, 1997). Hoje, o plástico ou matéria plástica é uma designação genérica para um grande
grupo de materiais sintéticos que apresentam em comum o fato de serem moldáveis, através de
processamento e aquecimento.

A matéria plástica, ou os plásticos, se tornaram comuns com o advento da petroquímica


que possibilitou a obtenção, em larga escala, da matéria prima necessária para se fabricar uma
vasta gama de plásticos, o nafta (Fig. 3.1).
Plástico

Por que os plásticos têm tanto sucesso? Por que são tão disseminados? A matéria plástica
está presente em praticamente todos os ambientes de nosso cotidiano. Antes mesmo de
acordarmos, dormimos em colchões que usam a espuma, uma forma de plástico. Ao acordarmos
fazemos o uso de escovas de dente, pentes e sandálias. Ao chegarmos à cozinha, para o café
da manhã, deparamos com o plástico presente sob diversas formas nas geladeiras, panelas,
e uma infinidade de artefatos de cozinha. Ao voltarmos ao quarto para nos vestirmos para o
54 trabalho, iremos usar peças de náilon, de polyester, etc em como parte de nosso vestuário
cotidiano. Nem reparamos que mesmo peças de “puro” algodão, tais como cuecas ou shorts têm
elásticos compostos de materiais sintéticos. Nossas crianças usam uma infinidade de brinquedos,
quase todos com alto percentual de matéria plástica. Os médicos fazem uso de próteses feitas
com plásticos especiais e muitos instrumentos cirúrgicos são igualmente produzidos a partir de
plásticos. Plásticos sob diferentes composições, formas e formatos são usados na construção
civil, na indústria automobilística, na indústria aeronáutica.

Fig. 3.1 - Esquema de uma torre de refino do petróleo


com os subprodutos que normalmente são
gerados nesse processo. Dependendo da
posição vertical de extração do destilado,
na torre de refino são obtidos diferentes
produtos com quantidades decrescentes
de carbono (e de pontos de ebulição) em
suas moléculas. Na base, obtem-se o asfalto
e no topo sai o gás de petróleo. Esse gás
é engarrafado em alta pressão para que se
possa tornar-se líquido. A nafta é a matéria
prima da matéria plástica. Trata-se de um
conjunto de substâncias com uma média
de 6-7 átomos de carbono e um ponto
de ebulição variando entre 20 e 100ºC.
Original: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O uso dos plásticos é uma conseqüência direta do declínio gradual das reservas de
madeira e minérios em todo o mundo. O crescimento da economia dos países asiáticos,
principalmente a da China causou um enorme aumento na demanda de vários tipos de matérias
primas principalmente de alimentos e minérios. Os plásticos, por serem mais resistentes que a
madeira, sem apodrecer como ela, ou por serem mais leves que o ferro, sem se enferrujarem,
foram ocupando o lugar dessas matérias primas em uma infinidade de aplicações. Um bom
exemplo pode ser visto nas cadeiras feitas de matéria plástica que são usadas em áreas abertas
de restaurantes, clubes e nas varandas de nossas casas. Assim, por serem mais leves, resistentes,
práticos, nem tão duráveis, mas certamente mais baratos em comparação com outros materiais,
os plásticos foram paulatinamente ocupando quase todos os espaços da vida do homem
“civilizado” mesmo aqueles onde não deveria estar presente tais como as margens dos rios,
os sedimentos dos lagos e mares ou no meio da floresta tropical. Provavelmente, uma nave
alienígena não tripulada, ao chegar à terra, em uma exploração robotizada, com o objetivo de
sondar as possibilidade de existir vida inteligente no planeta teria em suas primeiras amostras

Plástico
algum artefato de plástico para analisar (Fig. 3.2).

55

Fig. 3.2 - Existe uma enorme variedade de instrumentos e utensílios que fazem parte de nossa vida cotidiana e que
são feitos de matéria plástica. Imagine a nossa vida sem eles... Imagine também que tudo isso irá acabar
um dia na lata do lixo e que temos a responsabilidade de sabermos exatamente o que fazer desse material
descartado. Foto: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.2 - Monômeros e polímeros


Plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadas
polímeros (Mano & Mendes, 2001). Os polímeros são moléculas gigantes de alto peso molecular,
constituídas pela união dos monômeros (do grego mono “uma”, mero, parte), através de reações
químicas específicas. Os plásticos são produzidos através de um processo químico conhecido
como polimerização, que é a união química de monômeros que forma polímeros (Gorni, 2003).
Os polímeros podem ser naturais ou sintéticos. São polímeros naturais, entre outros, algodão,
madeira, cabelos, chifre de boi ou o látex. São polímeros sintéticos os plásticos obtidos através
de reações químicas.

Um grande número de polímeros sintéticos resultam da adição (união) simples de


Plástico

milhares de moléculas de um único tipo de monômero (Mano & Mendes, 2001). Normalmente,
os monômeros perdem a ligação dupla ao ligarem-se entre si (Fig. 3.3).

56

etileno

polietileno

cloreto de
cloreto de vinila
vinila

policloreto de vinila (PVC)

Fig. 3.3 - Reação de adição do etileno e do cloreto de vinila formando, respectivamente, o


polietileno e o policloreto de vinila (PVC). Original. Paula P. Coelho.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Outros polímeros podem ser obtidos pela adição de dois monômeros diferentes
(copolímeros de adição): o polímero buna-S resulta da união do estireno com o 1,4 butadieno.
Um dos polímeros de uso mais comum é o PET. No início dos anos 40, Whinfield & Dickson
(1941) desenvolveram o PET que é obtido a partir de dois monômeros diferentes, ou seja, o
ácido tereftálico e o etileno glicol (Figs. 3.4 e 3.5).

Plástico
Ácido tereftálico Etileno Glicol

Fig. 3.4 - Dois monômeros usados para a síntese do polímero PET. Original. Sofia P. Coelho

57

Através de uma reação de adição dos polímeros acima, forma-se um polímero, o PET e
mais um subproduto, a água (Mano & Mendes, 2001).

Fig. 3.5 - O PET poli-(tereftalato de etileno) é formado através de uma reação


de poliadição, com produção de água. Original. Sofia P. Coelho.

Alguns polímeros de uso disseminado são obtidos pela condensação de dois copolímeros.
Nessa categoria estão incluídos, por exemplo, o náilon, a fórmica e poliuretano (Mano & Mendes,
2001, Rabello, 2000). A baquelite é um polímero formado a partir da condensação do fenol com
o formaldeído (Fig. 3.6). Outros polímeros que são formados via condensação: poliésteres e as
poliamidas (náilon).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fenol Formaldeído Polifenol (baquelite)


Plástico

Fig. 3.6 - Reação de condensação entre o fenol e o formaldeído dando origem ao polifenol baquelite.
Original. Paula P. Coelho.

58

O acetato de vinila pode gerar polímeros importantes através da hidrólise alcalina


(Fig. 3.7).

Fig. 3.7 - Hidrólise alcalina do acetato de vinila produzindo o polímero poli(álcool vinílico). Original. Sofia P. Coelho.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A maioria dos polímeros de uso intensivo na indústria de plásticos pode ser obtida por
poliadição (Tab. 3.1).

Tab. 3.1 - Principais polímeros, suas aplicações e os monômeros usados para sua obtenção industrial. Observar que
existem vários monômetros sintéticos que podem ser usados no lugar da borracha natural.

Monômero Polímero Aplicação


Frascos para bebidas, vasilha-
mes para cozinha/banheiro,
Etileno Polietileno tanques de combustivel, man-
gueiras para jardim, material iso-
lante, etc.
Cadeiras, poltronas e pára-
Propileno Polipropileno

Plástico
choques automotivos.
Cloreto de Vinila PVC Tubos e conexões.
Estireno Isopor Isolante térmico.
Lã sintética em agasalhos,
Acrilnitrilo Orion
cobertores e tapetes.
Plástico transparente que
Metilacrilato de metila Pexiglass substitui o vidro plano e lentes 59
em geral.
Revestimento interno de
Tetrafluoretileno Teflon
panelas.
Isobuteno Borracha Fria
Pneus, Câmaras e artefatos de
Isopreno Borracha Natural
borracha em geral.
Cloropreno Neopreno ou Duopreno
1,6-diaminohexano Engrenagens, maquinaria,
Náilon
(ácido adípico) tecidos, cordas e escovas.
Etilenoglicol (ácido tereftálico) Terilene (Dracon) Tecidos em geral (Tergal).
Revestimento de móveis,
Aldeído fórmico
Baquelite (Fórmica comum) material elétrico (tomadas e
(fenol comum)
interruptores).
Colchões e travesseiros,
Poliéster ou poliéter de polife- isolante térmico e acústico,
Poliuretano
nileno rodas de carrinhos de
supermercados.
Fonte: Rabello, 2000 e Mano & Mendes, 2001.

O advento dos tecidos sintéticos possibilitou um enorme ganho na qualidade de vida das
pessoas. Dentre esses polímeros podemos citar o náilon foi que foi um dos polímeros associados
a uma série de mudanças de hábitos e de formas de vidas das mulheres nos grandes centros
urbanos do mundo ocidental (Fig. 3.8).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Plástico

Fig. 3.8 - Nos anos cinqüenta, a venda de meias


de náilon da Dupont atraía multidões
nos EUA. Todos na expectativa de
obter um produto revolucionário,
associado a uma nova concepção de
60 vida urbana, associada à liberdade
de movimentos, à praticidade nos
trabalhos domésticos, tudo isso
a um custo plenamente acessível
à classe média. Naquela época,
poucos imaginavam os problemas
ambientais que a produção em
massa dos plásticos iria causar três
décadas depois.

A disseminação do uso dos materiais sintéticos no vestuário humano bem como nos
utensílios de higiene pessoal causou também um súbito aumento da presença desses materiais
na natureza. Assim, meias de náilon, escovas de dentes ou garrafas PET podem ser encontradas
flutuando no oceano a dezenas ou mesmo centenas de quilômetros da costa. Esses materiais
causam não somente a morte de inúmeros peixes e outros vertebrados por incapacidade de
ingestão ou assimilação desses produtos no trato digestivo como também podem causar outros
distúrbios no funcionamento dos ecossistemas tais como impedindo a penetração de oxigênio
nos sedimentos quando presentes em grandes quantidades.

Uma fase importante na fabricação da matéria plástica é a aditivação dos polímeros (Tab.
3.2) que é obtida através da adição de uma série de agentes químicos especiais. Assim pode-
se melhorar (e muito) a qualidade final do produto. Dessa forma, não somente a cor exata, mas
também a durabilidade, a flexibilidade ou ainda a resistência mecânica podem ser ajustados
conforme as necessidades específicas do produto final que se deseja fabricar.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 3.2 - Tipos de aditivos usados na indústria de matéria plástica que modificam as propriedades físicas do
polímero.

Aditivos Função
Agente corante Conferir cor
Antiestático Evitar eletrização ao atrito
Antioxidante Impedir degradação por oxidação
Biocida Impedir degradação por micro-organismos
Plastificante Aumentar flexibilidade
Estabilizante UV Impedir degradação por raios ultravioletas
Estabilizante térmico Impedir degradação por aquecimento

Plástico
Fonte: modificado de Mano & Mendes, 2001.

Muitos dos aditivos químicos usados na indústria de matéria plástica podem dificultar (e
muito) a reciclagem final do produto (Fig. 3.9). Dessa forma, é importante que a sociedade, os
centros de pesquisa e a indústria estejam sempre afinados de modo a maximizar não somente
a questão da qualidade do produto, mas também deve ser observada a questão da facilidade de
se reciclar o produto após o seu consumo. 61

Fig. 3.9 - Um dos aspectos mais atraentes da matéria plástica é a grande diversidade de cores que o mesmo tipo
de plástico pode assumir. As diferentes cores são obtidas através da adição de agentes corantes. O uso de
aditivos pode dificultar a reciclagem da matéria plástica. Fonte: Stock.XCHNG
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.3 - Classificação dos polímeros e


tipologia dos plásticos
Há diversas maneiras de se dividir os polímeros. A classificação por produção, já citada
acima, é uma delas. Podemos também classificar os plásticos segundo as suas características
mecânicas. Essas características decorrem da configuração específica das moléculas do polímero.
Sob tais aspectos, os polímeros podem ser divididos em termoplásticos, termorrígidos (termofixos)
e elastômeros (borrachas).

Termoplásticos
A esta categoria pertence a maior parte dos polímeros comerciais (Fig. 3.10). As suas
Plástico

propriedades mecânicas variam amplamente podendo ser maleáveis, rígidos ou mesmo frágeis
à temperatura ambiente. A sua estrutura molecular consiste em uma organização muito simples:
moléculas lineares, dispostas na forma de cordões soltos e agregados, como num novelo de lã.
Uma das principais características desse tipo de plástico é que ele pode ser fundido diversas
vezes. Alguns tipos de termoplásticos também podem dissolver-se em vários solventes. Dessa
forma, a categoria pode ser classificada como sendo de bom potencial para a reciclagem.
Exemplos: polietileno (PE), polipropileno (PP), politereftalato de etileno (PET), policarbonato
62 (PC), poliestireno (PS), poli(cloreto de vinila) (PVC), polimetilmetacrilato,(PMMA), etc.

Fig. 3.10 - Exemplos de matéria plástica termoplástica. Esse material pode ser bastante flexível
mesmo na temperatura ambiente e apresenta um bom potencial de reciclagem. Na
foto, vemos embaixo, baldes já fabricados com matéria plástica reciclada. Foto: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Termorrígidos (Termofixos)
Esse tipo de matéria plástica é caracterizado pela sua rigidez e, ao mesmo tempo, pela
sua fragilidade. A sua estrutura molecular é caracterizada pela presença de cordões ligados
fisicamente entre si, formando uma rede ou um reticulado. Estão presos entre si através de
numerosas ligações, não se movimentando com liberdade. Assim, são plásticos muito estáveis a
variações de temperatura. Uma vez prontos, não mais se fundem e, portanto, apresentam uma
reciclagem complicada. O principais exemplos são o baquelite, presente em tomadas elétricas e
cabos de panela (Fig. 3.11).

Plástico
63

Fig. 3.11 - A matéria plástica termorígida é muito usada em cabos de panelas. Esse tipo de matéria
plástica apresenta um baixo potencial para a reciclagem. Foto: RMPC.

Elastômeros (Borrachas)
Trata-se de uma classe intermediária entre os termoplásticos e os termorrígidos, pois não
são fusíveis, mas apresentam alta elasticidade, não sendo rígidos como os termofixos. A sua
estrutura molecular é similar à do termorrígido, mas com um menor número de ligações entre
os “cordões”. Eles apresentam uma estrutura em rede, mas com malhas bem mais largas que
os termorrígidos. Exemplos dessa categoria são os pneus, os anéis de vedações (o-rings) e as
mangueiras de borracha. Apresentam uma reciclagem complicada pela incapacidade de fusão
(Fig. 3.12).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Vedação para hidrante


Plástico

Fig. 3.12 - Exemplos de elastômeros. Foto: RMPC

Outro tipo de classificação dos plásticos baseia-se no tipo de uso que o material proporciona.
Assim temos os plásticos comuns, os plásticos de engenharia e aqueles de uso especial.

64 Plásticos comuns ou de massa (commodities)


Estes plásticos são produzidos e consumidos em grande quantidade. Apresentam um custo
baixo em relação a outros termoplásticos. Eles têm características comparáveis aos Plásticos de
Engenharia. Ex: Polietileno, poliestireno, polipropileno, PVC, etc.

Plásticos de engenharia
Esses materiais são mais nobres se observarmos as suas propriedades físicas e químicas.
Eles apresentam melhores características de resistência, durabilidade ou flexibilidade e são
produzidos em menor escala (Mano, 2003). Eles são mais caros e têm uma demanda bem menor
embora sejam muito importantes em diversas aplicações ligadas à construção civil, na indústria
(aeronáutica, aeroespacial, etc) ou mesmo na pesquisa. Alguns exemplos dessa categoria estão
concentrados nas poliamidas (náilons), nos policarbonatos e nos poliésteres.

Plásticos de uso especial


Últimas conquistas no desenvolvimento de termoplásticos, pesquisados para fins
específicos. Entre as suas propriedades específicas, está a sua grande resistência mecânica e a
resistência a temperaturas elevadas. As suas propriedades mecânicas são mantidas constantes
em uma larga faixa de temperatura. Eles apresentam alta resistência às intempéries e à oxidação;
possuem auto-retardamento da chama e emitem pouca fumaça quando sob o fogo; possuem
resistência à ação de solventes e outros reagentes; são também resistentes à abrasão, às
radiações eletromagnéticas e possuem, em geral, um baixo coeficiente de expansão térmica.
Exemplos: visores de astronautas (policarbonato modificado), janelas de avião, peças plásticas
de equipamento científico ou cirúrgico.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

3.4 - Os polímeros mais produzidos no


Brasil
No Brasil, existem cerca de vinte empresas produtoras de resinas, a maioria localizada
nos pólos petroquímicos. As principais resinas termoplásticas produzidas por estas empresas, do
ponto de vista comercial, estão citadas na tabela abaixo (Tab. 3.3).

Tab. 3.3 - Quadro explicativo dos principais polímeros usados na indústria de matéria plástica. Cada polímero recebe
um número que facilita a sua identificação e, portanto, a sua reciclagem

N Cod. Nome Aplicaçôes

Plástico
Garrafas de água mi-
1 PET Polietileno tereftalato. neral, bebidas e fibras
sintéticas.

Engradados de bebi-
Polietileno de alta das, baldes, garrafas
2 PEAD
densidade. de álcool, bombonas,
embalagens diversas. 65

3 PVC Policloreto de vinila. Tubos e conexões.

Embalagens de
alimentos, sacos
Polietileno de baixa
4 PEBD industriais, sacos de
densidade.
lixo, filmes plásticos
em geral.

Embalagens de
massas e biscoitos,
potes de margarina,
5 PP Polipropileno. seringas descartáveis,
fibras e fios têxteis,
utilidades domésticas,
autopeças.

Carcaças de eletro-
eletrônicos, copos
6 OS Poliestireno.
descartáveis, embala-
gens em geral.

Outras resinas plás-


7 -- Outras aplicações.
ticas.

Fonte: modificado de Mano & Mendes, 2001.


Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Polietilenos (designação antiga do eteno):


Os polietilenos são caracterizados pelo seu baixo custo de produção, pela sua elevada
resistência química e aos solventes e pelo baixo coeficiente de atrito. É um polímero macio e
flexível, de fácil processamento e com excelentes propriedades isolantes. Apresenta ainda uma
permeabilidade à água sendo atóxico e inodoro. O peso molecular varia entre 50.000 e 300.000
de peso molecular. O peso molecular de um composto químico é calculado através da soma
dos pesos atômicos dos átomos (elementos) que o constituem. Os polietilenos podem ser
subdivididos em vários outros tipos, de acordo com a sua densidade final.

Polietileno de alta densidade (PEAD)


Este tipo de polímero possui densidades variando entre 0,935 - 0,960g.cm -3. Apresenta
Plástico

estrutura praticamente isenta de ramificações. Trata-se de um material rígido, resistente à tração,


apresentando uma resistência moderada ao impacto. Ele é utilizado em bombonas, recipientes,
garrafas, filmes, brinquedos, materiais hospitalares, tubos para distribuição de água e gás, tanques
de combustível automotivos, etc. (Fig. 3.13).

66

Fig. 3.13 - O polietileno de alta densidade é usado, por exemplo, em equipamentos para aspersão de água,
fertilizantes e defensivos agrícolas em plantas. Fontes: Ferromar / Viagua

Polietileno de baixa densidade (PEBD)


É um polímero com densidade menor variando entre 0,910-0,925 g.cm -3. Apresenta
moléculas com alto grau de ramificação. É uma versão mais leve e flexível do PE. O PEDB é
utilizado basicamente em filmes, laminados, recipientes, embalagens, brinquedos, isolamento de
fios elétricos, etc. (Fig. 3.14).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Plástico
Fig. 3.14 - Polietileno de baixa densidade é usado em embalagens plásticas e em uma infinidade de brinquedos.
Foto RMPC

Polietileno de baixa densidade linear (PEBDL)


Este tipo de polímero apresenta densidades na faixa 0,918-0,940 g.cm-3. A sua estrutura 67
molecular é caracterizada por uma menor incidência de ramificações sendo que essas ramificações
são mais regulares e mais curtas que no PEBD. Em conseqüência, o PEBDL possui uma resistência
mecânica ligeiramente superior ao PEBD. A vantagem é que esse polímero apresenta um custo
de fabricação menor. As principais características do polímero são a flexibilidade e resistência
ao impacto o que o torna ideal para a aplicação em diversos tipos de embalagens de alimentos,
bolsas de gelo, utensílios domésticos, canos e tubos (Fig. 3.15).

Fig. 3.15 - O polímero de baixa densidade linear – PEBDL tem como uma de suas principais aplicações o seu
emprego em embalagens de alimentos e bebidas. Foto Cezar Costa
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Polipropileno (PP)
Esse polímero possui propriedades semelhantes às do PE, mas com ponto de amolecimento
mais elevado. As suas principais propriedades são: baixo custo, elevada resistência química,
principalmente contra solventes orgânicos, fácil moldagem, fácil coloração, alta resistência à
fratura por flexão ou fadiga, resistência ao impacto acima de 15ºC, boa estabilidade térmica,
maior sensibilidade à luz UV e agentes de oxidação, sofrendo degradação com maior facilidade,
o que é um ponto importante em termos de impactos ambientais.

As principais aplicações do polipropileno são na fabricação de brinquedos, recipientes


para alimentos e produtos químicos, carcaças para eletrodomésticos, sacarias (ráfia), filmes
orientados, tubos de canetas esferográficas (Fig. 3.16), carpetes, material de uso hospitalar (já
que pode ser esterilizável), capacetes e autopeças (párachoques, pedais, carcaças de baterias,
etc.) (Fig. 3.17).
Plástico

68

Fig. 3.16 - Um dos objetos de uso universal na atualidade: a caneta esferográfica da BIC ®. O tubo plástico que
envolve a carga de tinta da caneta é feito de polipropileno. Foto Cezar Costa

Fig. 3.17 - O polipropileno também é muito utilizado na fabricação de fibras usadas na fabricação das faixas coloridas
das cadeirinhas de praia ou mesmo em tapetes e capachos. Ele ainda pode ser usado na moldagem de peças
mais rígidas que são usadas como encosto e no assento de cadeiras ou capacetes usados na construção civil.
Foto Cezar Costa
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Poliestireno (PS)
Trata-se de um polímero termoplástico duro e quebradiço, com transparência cristalina
(Fig. 3.18). As suas principais propriedades são: fácil processamento, fácil coloração, baixo custo,
elevada resistência a ácidos e álcalis, transparência semelhante ao vidro, baixa densidade e
absorção de umidade, baixa resistência a solventes orgânicos, ao calor e às intempéries.

Plástico
Fig. 3.18 - A elevada transparência do
poliestireno permite o seu
uso em substituição em
vidro em algumas aplicações
domésticas e industriais. As
placas de poliestireno podem
ser coradas e usadas em
diversas aplicações
Fonte: stiloborrachas
69

PS expandido (EPS)
Trata-se de uma espuma semi-rígida que tem o seu uso universalmente conhecido através
da marca comercial Isopor ®. É polimerizado na presença do agente expansor ou então o mesmo
pode ser absorvido posteriormente (Fig. 3.19). Durante o processamento do material aquecido,
ele se volatiliza, gerando as células no material. As principais características do EPS expandido
são a baixa densidade e o bom isolamento térmico. As principais aplicações são como protetor
de equipamentos, isolante térmico, pranchas para flutuação, geladeiras isotérmicas, etc.

Fig. 3.19 - O PS expandido encontrou


uma infinidade de aplicações
dada a sua excelente
capacidade de atuar como
isolante térmico. Aliás, essa
característica do EPS foi a
responsável pela enorme lista
de aplicações para o produto
encotrada em um país tropical
como o Brasil.
Fonte: Stock.XCHNG
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Policloreto de vinila (PVC)


As principais propriedades do PVC são: o baixo custo e a sua elevada resistência à chama
principalmente pela presença do cloro. O seu processamento demanda cuidado dado ao fato de
que o monômero que forma o polímero é um potente cancerígeno. Frequentemente são usados
aditivos plastificantes, usados para tornar o polímero mais flexível. Esses aditivos consistem de
compostos formulados à base de ftalatos sendo também considerados cancerígenos. O Grupo
Greenpeace vem promovendo ampla campanha para banir o uso do PVC que contenha esse
aditivo. O PVC hoje é amplamente usado em tubos e conexões hidráulicas (Fig. 3.20).
Plástico

70

Fig. 3.20 - O PVC teve o seu uso


consagrado em tubos
e conexões para a
distribuição de água nas
residências. Ele substituiu,
com inúmeras vantagens,
o uso de tubulação de aço
galvanizado nas instalações
hidráulicas nas residências.
Foto: RMPC.

Polietileno tereftalato (PET)


Embora tenha sido inventado e patenteado em 1941, o uso inicial do PET destinou-se
principalmente para a confecção de fibras têxteis. No final da década de 60, esse polímero
começou a ser desenvolvido para aplicações em embalagens. As principais propriedades são:
leveza, transparência, brilho, e suas boas propriedades mecânicas e de barreira do dióxido de
carbono (CO 2). Atualmente, o PET encontra uma série de aplicações: frascos e garrafas para uso
alimentício/hospitalar, cosméticos, bandejas para micro-ondas, filmes para áudio e vídeo, fibras
têxteis.

As garrafas de refrigerante são responsáveis pelo consumo de 70% do total de embalagens


de PET (Fig. 3.21). Deve ser destacado que em apenas um ano, entre 1996 e 1997, o consumo
desse material aumentou em 24% no Brasil e entre 1997 e 1998, novamente 17% (Sammarco
& Delfini, 1999) (Tab. 3.4).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 3.4 - Produção e consumo de plásticos tipo PET no Brasil no triênio 1996-1998

1997 1998 1999


Produção(t) 97.945 143.343 200.00
Consumo aparente (t) 173.268 249.012 298.413
Fonte: ABIPET, 2009.

Plástico
71

Fig.3.21 - Apesar das garrafas PET serem produzidas em massa e causarem grandes danos ambientais no país, não
existe no país uma política pública definida para o estabelecimento de programas de reciclagem eficiente
desse tipo de material. No entanto, a reciclagem de garrafas PET pode ser um negócio rentável se for bem
planejado e supervisionado por profissionais competentes e devidamente capacitados.
Fonte: Stock.XCHNG

3.5 - Modelagem do plástico


Existem quatro técnicas básicas que são usadas para a modelagem de peças plásticas:
(a) modelagem por injeção, (b) modelagem por assopro, (c) modelagem por extrusão e (d)
modelagem por calandragem.

Modelagem por injeção


A matéria plástica (grãos coloridos) obtida da segunda geração, é derretida em máquinas
especiais que imediatamente injetam o material fundido em moldes apropriados. Com o
resfriamento ocorre o endurecimento do material (Fig. 3.22).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Material Plástico
Produto

Molde

Resistências

Cilindro Rosca
de Injeção de Injeção
Plástico

Bico de Injeção

Fig. 3.22 - Esquema ilustrando a modelagem de plásticos por Fonte: Modificado por Cezar
injeção. Esse método é muito usado para a fabricação Costa do original de Silveira &
dos termoplásticos. Dopke, 2009.

72

Modelagem por assopro


A massa fundida é lançada violentamente contra as paredes internas do molde, através de
um jato de ar (Fig. 3.23).

Fig. 3.23 - Esquema ilustrando a modelagem de plástico por Fonte: Modificado por Cezar
assopro. Esse tipo de modelagem é usado para a Costa do original de Silveira &
produção das garrafas PET, por exemplo. Dopke, 2009.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Modelagem por extrusão


A técnica da extrusão de plásticos é caracterizada por uma expansão como resultado da
ebulição do seu teor de água. Os produtos, após serem expostos à alta pressão de extrusão e a
uma temperatura correspondente elevada, levam a fusão do plástico que então deve passar por
um orifício com a forma desejada, sendo imediatamente resfriado. Os produtos de extrusão são
descarregados continuamente ou de modo intermitente no interior de uma câmara, através das
tubeiras de extrusão. Essa é uma câmara fechada, um ambiente onde existe uma sobrepressão
regulável em relação com a pressão atmosférica (Fig. 3.24).

Plástico
73

Fig. 3.24 - Extrusora de 75 mm para PVC rígido desenvolvida Fonte: Perfilpolimer (2009).
pela empresa Perfilpolimer-Galvaplast, Joinville, SC
que pode produzir forros e divisórias de PVC.

A técnica da extrusão é muito utilizada para a manufatura de tubos, canos, mangueiras,


embalagens, hastes flexíveis, etc. (Fig. 3.25).

Fig. 3.25 - Exemplo de peças que são moldadas por modelagem de extrusão. A técnica é muito usada para a
produção de tubos, mangueiras e perfis de vários polímeros, dentre eles o PVC. Fonte: Quebarato
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Modelagem por calandragem


O material derretido, após atravessar cilindros em rotação, transforma-se em lâmina,
viabilizando a produção de folhas plásticas. (Fig. 3.26).
Plástico

Fig. 3.26 - Calandra mecânica, modelo ACIM, produzida pela empresa AGA, Indústria e Comércio, Limeira, SP. Esse
tipo de máquina pode produzir vários tipos de folhas plásticas com inúmeras aplicações.
Fonte: AGA (2009).

74
3.6 - Cadeia produtiva do plástico
A indústria petroquímica produz a matéria prima (nafta). O segundo elo (geração 2) dessa
cadeia é formado pelas unidades de polimerização que trabalham em estreito contato com a
indústria química que é responsável pelo fornecimento dos aditivos. O terceiro elo (geração
3) é representado pelas indústrias de transformação cuja produção final destina-se a três tipos
de clientes: (a) comércio varejista, (b) atacadista (distribuidores) e (c) clientes industriais.
Finalmente, o produto chega às mãos do consumidor final, que seria o quinto elo da cadeia de
produção dos plásticos (Fig. 3.27).

Geração 1 Geração 2 Geração 3 Comércio Consumidor

Cliente
Industrial

Fig. 3.27 - Cadeia produtiva da matéria plástica. Os produtos de matéria plástica que são encontrados nas lojas são
manufaturados pelas indústrias de transformação (geração 3). Essas indústrias, por sua vez, recebem os
polímeros já prontos e formulados por indústrias segunda geração. A indústria petroquímica fornecerá, por
sua vez, os produtos petroquímicos básicos tais como a nafta, por exemplo. Original. RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

As três gerações de indústrias envolvidas na cadeia produtiva do plástico são muito


diferentes entre si. A primeira geração é formada por indústrias de base do setor. Essas indústrias
exigem um grande investimento para serem instaladas, algo da ordem de US$ 0,5 bilhão. São
indústrias que dependem de políticas de governo específicas para a sua instalação e estão
localizadas em pólos-petroquímicos. O seu número é reduzido (3-5 indústrias no Brasil, por
exemplo) sendo que elas fornecem matéria prima para um grande número de empresas de
segunda geração. Uma empresa típica da segunda geração seria uma unidade de polietileno
que pode chegar a ter uma capacidade instalada de até 200.000 toneladas por ano e requer
investimentos de 100 a 400 milhões de dólares para a sua instalação. Essas empresas de
segunda geração é que irão vender seus produtos para as indústrias de transformação (terceira
geração) que realmente se constituem nas empresas que mais empregam no setor. O número
das indústrias de transformação no Brasil pode chegar hoje a mais do que 5.200 empresas. Cada
uma dessas empresas exige em média, cerca de 15 milhões de dólares para a sua instalação.
Essas indústrias é que irão oferecer os produtos para o consumidor final (Fig. 3.27).

Plástico
Exemplo:
3 450 x 10 3 ton.ano -1
US$ 500 x 10 6

Exemplo: 75
20 200 x 10 3 ton.ano -1
US$ 100-400 x 10 6

Exemplo:
5200 1,5 x 10 3 ton.ano -1
US$ 15 x 10 8

Fig. 3.28 - Existe uma relação inversa entre a capacidade instalada, os investimentos necessários e o número de
empresas nas três gerações que compõem a cadeia produtiva da matéria plástica. A esquerda temos o
número de empresas existentes em cada geração e à direita temos exemplos típicos da produção das
empresas de cada geração bem como os investimentos necessários para a sua construção e operação.
Fonte: modificado de Padilha (1999).

A cadeia petroquímica no Brasil tem cerca de trinta anos e hoje ela está em re-estruturação,
em especial nos segmentos de primeira e segunda geração (processo de privatização iniciado
na década passada). O segmento de terceira geração, foi implantado através de investimentos
oriundos do capital privado.

O consumidor final adquire produtos gerados pelas indústrias de terceira geração ou de


clientes industriais que, por sua vez, compram e manufaturam produtos usando matérias primas
da segunda e terceira geração. O número de atores e os diferentes padrões de interações entre
eles refletem a complexidade da cadeira produtiva de matéria plástica que ainda é caracterizada
pelo elevado número de pessoas envolvidas. A cadeia produtiva da matéria plástica afeta, no
final, uma enorme parcela da população.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Inicialmente, eram fabricados produtos de baixo valor agregado (descartáveis, utensílios


domésticos, adornos, etc.). A expansão de mercado e desenvolvimento econômico, principalmente
o desenvolvimento da indústria brasileira de polímeros, matéria-prima do setor de transformação
gerou uma demanda por produção de produtos mais sofisticados produzidos no país. Hoje o
Brasil participa ativamente de diversos segmentos industriais, tais como têxteis, embalagens,
eletroeletrônicos e o setor automobilístico, dentre outros. Entretanto, a quase totalidade dos
polímeros produzidos e consumidos no Brasil são commodities ou pseudo-commodities, tais como
polietileno, polipropileno, poliuretano, poliestireno, PVC e PET. Os polímeros mais sofisticados de
alto desempenho, que têm grande valor, em geral, ainda não são produzidos no país.

3.7 - Produção e consumo de plásticos no


Brasil
Plástico

O consumo aparente de transformados plásticos no Brasil cresceu 7,1% em 2007, chegando


a 4,9 milhões de toneladas (Tab. 3.5). O consumo médio per capta do brasileiro é de 24,23
kg.habitante-1.ano-1. Esse pode ser considerado um consumo ainda muito baixo, se comparado
aos valores dessa variável observados em outras partes do mundo. Os africanos, por exemplo,
consumiram, em 2005, em média 25,0 kg e os argentinos, no mesmo ano, 35,0 kg habitante.
ano -1 (ABIPLAST, 2009).
76
Tab. 3.5 – A indústria de transformação do plástico no Brasil em 2007.

Crescimento Anual
Item Volume
(2007)

Consumo aparente 4,89 x 10 6 toneladas +7,1%

Importação de plásticos 0,39 x 10 6 toneladas +11,8%

Custo Importações (em US$) US$ 1,75 x 10 9 +24%

Exportação de plásticos pelo Brasil 0,33 x 10 6 toneladas +2,7%

Custo em Exportações (em US$ ) US$ 1,17 x 10 9 +12,5%

Fonte: ABIPLAST, 2009.

A maior participação do mercado de plásticos do Brasil é devida ao setor de embalagens


que contribui com nada menos do que 41% do mercado (Fig. 3.29). A seguir, vêm os setores da
construção civil, dos descartáveis e dos componentes técnicos. Deve ser mencionado, ainda, o
elevado percentual dos diversos usos (“outros”) que sugere a multiplicidade de aplicações dos
plásticos na indústria e sociedade em geral.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

8%
2%
3%
5%

41%
8%

10%

11%
12%

Plástico
Embalagens Construção Civil Descartáveis Componemtes técnicos Uso Agrícola

Utilidades Calçados Laminados Outros


Domésticas

Fig. 3.29 - Segmentação do mercado de plásticos no Brasil (ABIPLAST, 2009).

77
O setor de fabricantes de produtos à base de matéria plástica vem experimentando uma
forte expansão no Brasil, principalmente ao se considerar o período 2000-2004 (Fig. 3.30).

Número de Fabricantes de Plástico (Brasil)

8500

8000
Número de Empresas

7500

7000

6500

6000
2000 2001 2002 2003

Ano

Fig. 3.30 - Segmentação do mercado de plásticos no Brasil - Evolução do número de


empresas fabricantes de matéria plástica no Brasil no período 2000-2003.
Fonte: ABIPLAST (2009). Brasil (ABIPLAST, 2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Ao compararmos as estatísticas da Tab. 3.5 juntamente com as figuras acima, fica claro
que existe uma expansão da produção e do uso da matéria plástica no país. É possível deduzir,
ao ler tais estatísticas, que vem crescendo o uso de alimentos já prontos para o consumo no
país tais como bebidas, sucos, iogurtes, etc. A permanecer essa tendência, é possível antever um
grande aumento da contribuição da matéria plástica na composição média do lixo doméstico no
país.

O aumento do consumo de plástico está associado a dois tipos de problemas ambientais:


(a) impacto ambiental decorrente do aumento da produção em toda a cadeia produtiva do
plástico; (b) aumento dos problemas associados a geração de resíduos sólidos, principalmente
considerando o fato de que boa parte dos municípios brasileiros estão ainda bastante atrasados
nessa questão (vide cap. 02).

Como foi visto acima, a cadeia produtiva do plástico inicia-se nas refinarias de petróleo,
Plástico

já que o nafta é a principal matéria prima dessa cadeia. As refinarias de petróleo causam um
grande impacto tanto em termos de poluição hídrica quanto em termos de poluição atmosférica.
O petróleo necessita de grandes volumes de água para ser refinado. O refino do petróleo gera
grandes quantidades de efluentes líquidos que mesmo após passarem por diversas etapas de
tratamento irão causar notáveis impactos nos mananciais que recebem os efluentes.

Na região metropolitana de Belo Horizonte, existe uma grande refinaria, a refinaria Gabriel
78 Passos da Petrobrás, a REGAP. Essa refinaria apresenta uma capacidade de processamento de
petróleo equivalente a 24.000 m3.dia -1 ou 150.000 bbl.dia -1 (PETROBRÁS, 2009). Segundo
dados divulgados pela própria empresa, cerca de 9.700 m -3.dia -1 de água são usados no processo
do refino do petróleo. A represa de Ibirité recebe os efluentes líquidos provenientes dessa usina.
A REGAP está situada nas imediações da represa (Fig. 3.31).

O reservatório de Ibirité é um pequeno reservatório periurbano que está altamente


eutrofizado. As suas águas apresentam uma baixa transparência e frequentemente são relatados
eventos típicos de sistemas hiper-eutróficos tais como o crescimento exagerado de plantas
aquáticas (tais como o Aguapé) e o florescimento de cianobactérias (Fig. 3.31).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Plástico
Fig. 3.31 - Diferentes aspectos da represa da Ibirité, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais.
À esquerda, em cima, a presença do aguapé. À direita, grumos de floração de cianobactérias. Em baixo, a
esquerda, braço por onde entram os efluentes da lagoa de polimento anaeróbico da REGAP. Em baixo, á
direita, a represa em primeiro plano as torres de destilação do petróleo da REGAP no segundo plano e ao
fundo torres de telecomunicações. Fotos: RMPC.

79
O Laboratório de Gestão de Reservatórios (LGAR) do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Minas Gerais, ICB-UFMG vem executando trabalhos nesse reservatório,
de modo independente, desde 1998 (Pinto-Coelho et al. 1998). Recentemente, entre os meses
de outubro a dezembro de 2008, o LGAR fez uma série de estudos com o objetivo de monitorar
o avanço do assoreamento e a qualidade de água nesse reservatório.

O primeiro estudo foi a execução de um levantamento completo da batimetria (carta das


profundidades) do reservatório. Esse estudo permitiu, entre outras coisas, a validação da base
cartográfica do sistema com uma precisão submétrica. Inicialmente, foram estimados uma série de
parâmetros morfométricos do reservatório. O volume atual da represa, por exemplo, foi estimado
em 10.89 x 10 6 m3, a área inundada em 2,04 km2 (para a cota de 28 de outubro de 2009) e
a profundidade máxima foi de 17,67 m (X= 592196, Y= 7785754 UTM). Adicionalmente, foram
identificadas as áreas mais propensas a sofrerem com o assoreamento e foram confeccionadas
as cartas batimétricas da represa. As áreas mais assoreadas foram, a seguir, confrontadas com os
principais tipos de usos do solo do entorno imediato.

Em um segundo estudo, e através de uma metodologia inovadora, o LGAR também conduziu


um monitoramento superintensivo no reservatório que envolveu a tomada de amostras em mais
de 1000 pontos de coletas distribuídos em todo o reservatório. Essa metodologia envolveu o uso
de sondas multiparâmetros programáveis que permitem a tomada de uma grande lista de variáveis
limnológicas praticamente em tempo real em uma freqüência de milhares de pontos por hora. O
LGAR desenvolveu uma metodologia inovadora que permite acoplar essas sondas com aparelhos
de GPS (D-GPS) de tal modo que todos os dados obtidos são imediatamente geo-referenciados.
Através de um tratamento de dados que exigiu o uso de sistemas de georefereciamento de
última geração foram criadas cartas temáticas que ilustram o grau de degradação das águas da
represa de Ibirité (Fig. 3.32).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Krigagem ordinária de dados de condutividade elétrica


(300 - 490us/cm - 1000 pontos)
Plástico

Fig. 3.32 - Carta temática da condutividade


elétrica na represa de Ibirité
(MG). A condutividade é uma
medida que reflete os teores
de sais e outros íons dissolvidos
na água. Os dados tomados na
profundidade de sub-superfície,
a 0,5 m com o auxílio de uma
sonda multiparâmetros YSI 556,
80 ao final da estação seca, em
outubro de 2008. A interpolação
dos dados foi obtida pelo
método da krigagem ordinária.
O padrão espacial sugere uma
forte associação entre as regiões
com maior condutividade da
água e os locais de entrada dos
efluentes líquidos originários
da REGAP. No encarte à direita,
polígonos georeferenciados
representando os principais
tipos de usos do solo ao redor
da represa (a orla d a represa
está representada como LAGOA
em azul brilhante, ao fundo). As
outras atividades humanas na
bacia não poderiam justificar
os padrões encontrados (Pinto-
Coelho et al. in press).

O outro problema ambiental associado ao aumento no consumo de plásticos previsto para


o Brasil é o aumento do lixo que é descartado de modo indevido nas cidades. Considerando o
fato de que, ainda hoje, a maior parte do lixo doméstico coletado no Brasil tem um tratamento
inadequado, conclui-se que haverá um incremento da poluição causada por plásticos nos diversos
tipos de ecossistemas e biomas do país, em particular ao longo dos ribeirões, riachos, lagos e
rios e reservatórios.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Plástico
81

Fig. 3.33 - Acúmulo de diversos tipos de plásticos (com ênfase em garrafas PET) na orla da represa da Pampulha,
Belo Horizonte, na estação chuvosa de janeiro de 2009. Foto: RMPC.

A foto acima (Fig. 3.33), tirada às margens da represa da Pampulha em Belo Horizonte
durante a estação chuvosa de janeiro de 2009, confirma a tendência para um maior acúmulo de
matéria plástica usada nos rios, lagos e reservatórios do Brasil. Esse triste cenário decorre das
mazelas no gerenciamento da coleta dos resíduos sólidos nas grandes cidades brasileiras. No
caso da represa da Pampulha, pode-se notar uma maior presença de matéria plástica usada nos
tributários que drenam bairros e vilas habitados por uma população de baixo poder aquisitivo.
Em geral, as populações dessas vilas e favelas são muito pouco assistidas pelos diversos tipos
de serviços públicos tais como coleta de lixo regular e eficiente, boa rede de segurança e de
escolas públicas.

Existe uma forte associação positiva entre a eficiência na prestação dos serviços públicos
básicos, o grau de cidadania e conscientização da população sobre a proteção do meio ambiente
e o sucesso dos programas de reciclagem ambiental.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.8 - A Reciclagem dos plásticos


A sociedade moderna gera uma enorme quantidade de plástico que deve ser coletado,
tratado e reciclado. O consumo mundial de plásticos aumentou de 5 milhões de toneladas em
1950 para mais de 100 milhões de toneladas atualmente (WasteonLine, 2009).

No presente capítulo, iremos demonstrar que a reciclagem de plásticos é uma atividade


econômica em franco desenvolvimento no Brasil (Fig. 3.34). Entretanto, o conceito e principalmente
a prática da reciclagem de plásticos são ainda novidades para a maioria das pessoas. Pouco a
pouco, essa nova postura de reaproveitamento dos materiais está entrando na rotina de consumo
dos brasileiros e, nesse sentido a reciclagem da matéria plástica pode ser um bom exemplo para
ilustrar essas mudanças.
Plástico

82

Fig. 3.34 - A sociedade brasileira está se adaptando rapidamente à idéia de que reciclar é fundamental. Nesse senti-
do, é importante que a reciclagem de matéria plástica não seja apenas vista como uma importante
atividade econômica e não fique atrelada apenas a criatividade e a capacidade de investimento de
alguns poucos empresários. É necessário que as escolas passem a usar a educação ambiental dentro
de uma nova perspectiva com o emprego de profissionais mais capacitados, uso de conteúdo de melhor
qualidade e com um foco maior no contexto local e regional. É necessário também que as universidades
e centros de pesquisa possam oferecer tecnologias de reciclagem que realmente possam ser usadas no
Brasil. Finalmente, é necessário que o poder público faça melhor a sua parte (não somente legislando,
normatizando e fiscalizando melhor) mas também através do fomento à reciclagem através de políticas
públicas específicas. Finalmente, espera-se que a sociedade adote o conceito da reciclagem em toda a sua
plenitude.
Ilustração: Cezar Costa

Um dos maiores causadores dos problemas ambientais gerados pelo descarte indevido de
matéria plástica está relacionado ao uso excessivo dos sacos plásticos usados nas compras de
supermercados, por exemplo. Recentemente, tanto o comércio varejista quanto as associações
de consumidores passaram a adotar uma série de medidas visando minorar esse problema (Fig.
3.35).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig. 3.35 - Um dos maiores vilões da


poluição por plásticos nas cidades
talvez seja o tradicional saquinho
de compras do supermercado
que, após um breve uso, contribui
para o aumento da quantidade
do lixo convencional e, muitas
vezes, ainda acaba por poluir
o meio ambiente. No entanto,
várias redes de supermercados
vêm buscando alternativas para
minorar o problema. Uma das
novas alternativas refere-se ao

Plástico
uso de matéria plástica reciclada
para fabricar o próprio saquinho
de compras do supermercado,
como no caso foto acima. Outras
soluções incluem o uso de
sacolas reaproveitáveis de tecido
ou, ainda, o incentivo aos velhos
carrinhos aramados usados pelas
donas de casa, nos anos sessenta,
para irem às feiras-livres. 83
Foto: RMPC.

Já existem estatísticas confiáveis demonstrando que é bastante significativo o uso de


matéria plástica reciclável no país. Existem duas fontes de matéria plástica reciclada. A primeira
tem a sua origem na matéria plástica originada no descarte doméstico e comercial ao que
se convencionou chamar matéria plástica obtida após um primeiro ciclo de consumo, ou seja,
matéria plástica pós-consumo. Outra importante fonte de matéria prima para a reciclagem de
plásticos tem a sua origem na própria indústria através de sobras geradas no processo industrial
de transformação do plástico em algum bem de consumo. Em 2005, do total de matéria plástica
reciclada, cerca de 59,4% desse total vieram da primeira categoria, ou seja, o pós-consumo. Os
restantes 40,6% tiveram a sua origem em sobras industriais.

O uso de matéria plástica reciclada proveniente do consumo era de apenas 50.000


toneladas anuais em 1991 (ABIPLAST, 2009). Já em 2005, a indústria processou nada menos do
que 456.000 toneladas desse material, o que significa um crescimento de 912% em apenas 14
anos (Fig. 3.36). A análise dessas estatísticas deve ser feita com muita cautela quando se trata
de interpretar o seu significado em termos de redução de impactos ambientais causados pelo
descarte de matéria plástica. Em primeiro lugar, devemos sublinhar que houve igualmente um
grande aumento na produção de matéria plástica nesse mesmo período e, em segundo lugar,
devemos ainda lembrar que os programas de coleta seletiva estão ainda muito atrasados no país.
Esse segundo fator talvez explique o fato de que temos visto um crescente acúmulo de matéria
plástica em rios lagos e demais mananciais hídricos principalmente aqueles que recebem os
dejetos de áreas intensamente urbanizadas no país.
Reciclágem de Plásticos (Brasil)

500

400
Toneladas.ano -1

300

200
Plástico

100

0
1991 1995 1997 2003 2004 2005

Ano

84 Pós-Consumo Industrial

Fig. 3.36 - Crescimento do uso de matéria plástica reciclável tanto do tipo reciclada do descarte doméstico (pós-
consumo) quanto do uso de aparas e sobras da indústria para a fabricação de novos produtos pela indústria
de terceira geração, ou seja, a indústria de transformação. Fonte: ABIPLAST (2009).

3.9 - Métodos de reciclagem dos plásticos


A reciclagem de matéria plástica pode ser alcançada através dos seguintes métodos:

Reciclagem Química: transforma o plástico em petroquímicos básicos, como monômeros


ou misturas de hidrocarbonetos que servem como matéria prima, em refinarias ou centrais
petroquímicas, para a obtenção de produtos nobres de elevada qualidade.

Reciclagem Mecânica: converte os descartes plásticos pós-industriais ou pós-consumo


em grânulos que são então enviados novamente para as indústrias da 3a geração (vide acima).

Reciclagem Energética: visa a obtenção de energia contida nos plásticos através de


processos térmicos.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Reciclagem química
Este tipo de reciclagem tem por objetivo a recuperação dos componentes químicos
individuais para serem reutilizados como produtos químicos ou para a produção de novos plásticos
(Fig. 3.37). O processo permite tratar mistura de plásticos, reduzindo custos de pré-tratamento,
custos de coleta e seleção. Além disso, permite produzir plásticos novos com a mesma qualidade
de um polímero original. Os principais processos de reciclagem química são os seguintes:

Hidrogenação: As cadeias dos polímeros são quebradas mediante o tratamento com


hidrogênio e calor, gerando produtos capazes de serem processados em refinarias.

Gaseificação: Os plásticos são aquecidos com ar ou oxigênio, gerando-se gás de síntese


contendo monóxido de carbono e hidrogênio.

Plástico
Quimólise: Consiste na quebra parcial ou total dos plásticos em monômeros na presença
de glicol, metanol e água.

Pirólise: É a quebra das moléculas pela ação do calor na ausência de oxigênio. Este
processo gera frações de hidrocarbonetos capazes de serem processados em refinaria.

85

Fig. 3.37 - Esquema ilustrando as principais fases da reciclagem química de matéria plástica. Esquema: Sofia P. Coelho

Reciclagem mecânica
O processo é caracterizado pela moagem dos produtos visando a obtenção de grânulos
que poderão posteriormente ser usados na produção de outros produtos, como sacos de lixo,
solados, pisos, conduítes, mangueiras, componentes de automóveis, fibras, embalagens não-
alimentícias e muitos outros produtos (Fig. 3.38). A principal vantagem é a de que essa técnica
possibilita a obtenção de produtos compostos por um único tipo de plástico, ou produtos a
partir de misturas de diferentes plásticos em determinadas proporções. A reciclagem mecânica é
composta geralmente pelas seguintes etapas (Tab. 3.6).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 3.6 – Fases da reciclagem mecânica de plásticos.

Etapas
Separação
Moagem
Lavagem
Aglutinação
Extrusão
Plástico

86

Fig. 3.38 - Principais etapas da reciclagem para a produção de plástico granulado. Esquema: Sofia P. Coelho.

Produto Água de Tratamento e


Disposição
Descartado Lavagem Final

Moagem Lavagem Secagem

Pó Borra
(material (resíduo da Extrusão
particulado) moagem)

Produto Granulação
Granulado (produto final)

Fig. 3.39 - Fluxograma com as principais fases da reciclagem mecânica de plásticos usados (ABIPLAST, 2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A figura anterior (Fig. 3.39) ilustra um processo esquemático de reciclagem mecânica de


resíduos pós-consumo. A diferença entre os processos para resíduos pós-consumo e resíduos
industriais é que, neste último, as etapas de lavagem e secagem são, muitas vezes, eliminadas.

Reciclagem Energética
A técnica utiliza os resíduos plásticos como combustível na geração de energia elétrica
e/ou térmica (Fig. 3.40). Além da economia e da recuperação de energia conseguidas, ocorre
ainda uma redução de 70 a 90% da massa do material, restando apenas um resíduo inerte
esterilizado. O retorno energético na queima de matéria plástica é muito elevado. Em geral, o
poder calorífico do plástico iguala-se ao do óleo combustível. Assim, 1,0 kg de plástico pode
gerar tanta energia quanto a queima de 1,0 kg de óleo combustível.

A queima de matéria plástica visando a produção de energia elétrica inicia-se com a coleta

Plástico
e triagem da matéria plástica. Numa segunda etapa, essa matéria plástica é amassada (mas não
prensada) e encaminhada a uma fornalha. Essa fornalha, por sua vez, alimenta uma caldeira de
vapor que pode, dentre outras aplicações, gerar tanto água quente ou energia elétrica (Fig. 3.40).
Para que a reciclagem energética funcione corretamente é necessário que se instalem filtros que
possam tratar de modo adequado os resíduos gasosos e sólidos que são gerados no processo
da queima do plástico. No entanto, hoje existem diversas tecnologias altamente confiáveis que
tornam o processo não só economicamente viável, mas também ecologicamente sustentável.
87

Fig. 3.40 - Principais etapas da reciclagem energética de plástico. Esquema: Sofia P. Coelho

Testes em escala real na Europa comprovaram que o uso dos resíduos de plásticos como
combustível juntamente com carvão, turfa e madeira além de ser tecnicamente viável apresenta
bons resultados tanto em termos econômicos quanto ambientais. A queima de plásticos em
processos de reciclagem energética reduz o uso de combustíveis (economia de recursos
naturais). A reciclagem energética é realizada em diversos países da Europa, EUA e Japão e utiliza
equipamentos da mais alta tecnologia, cujos controles de emissão são rigidamente seguros,
anulando riscos à saúde ou ao meio ambiente.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.10 - Desempenho e perspectivas da


reciclagem dos plásticos no Brasil
O gerenciamento dos resíduos sólidos é prática fundamental nas economias preocupadas
com o desenvolvimento sustentável, porque leva em conta não somente a importância da
preservação ambiental, mas considera também a importância da redução na geração de resíduos
ou a saturação dos espaços disponíveis para aterros sanitários. Essas questões ainda são tratadas
de modo muito tímido na grande agenda de desenvolvimento econômico no Brasil atual.

O Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos – Plastivida elaborou um interessante estudo


Plástico

intitulado “Elaboração e Monitoramento dos Índices de Reciclagem Mecânica de Plástico no Brasil


(IRmP)” (Esmeraldo, 2007). Esse estudo objetivou a caracterização, dimensionamento e análise
do desenvolvimento da reciclagem dos plásticos no Brasil. Esse documento está embasado em
seis estudos regionais realizados anteriormente e três novos estudos relativos ao monitoramento
dos índices de reciclagem de plástico no Brasil, cuja base foi consolidada para o período de 2003
a 2005. Iremos, em seguida, analisar as principais estatísticas apresentadas nesse estudo.

88

Geração de plástico pós-consumo no Brasil


No Brasil, cerca de 2,3 milhões de toneladas de matéria plástica são descartadas todos os
anos (Tab. 3.7). A maior parte dessa matéria plástica é constituída pelas seguintes modalidades
de plástico: PEBD/PELBD, PET, PEAD dentre outros. A região sudeste é a responsável pela geração
das maiores quantidades, seguida pela região nordeste e pelo sul do Brasil. É interessante aqui
o comparativo entre a região nordeste e a região sul. Embora a região nordeste tenha um PIB
notavelmente menor do que a região sul, é impressionante os totais de matéria plástica gerados
nessa região (Fig. 3.41).

Tab. 3.7 – Geração de matéria plástica (em toneladas) usada no Brasil.



PEBD/
PET PEAD PVC PP OS Outros Total
PELBD

Brasil 454.925 335.387 149.736 788.713 381.062 133.441 55.896 2.299.160

Fonte: Esmeraldo, 2007.


Ricardo Motta Pinto-Coelho

PVC PET
10466 9204 27963
31797
102700

33803

70570
73035
23228 221895

PEAD PEBD/PELBD
20615 48480

Plástico
23442 75714 55127
178053

52027 122349

89
163588 384703

Centro Oeste Norte Nordeste Sul Sudeste

Fig. 3.41 - Geração de plástico pós-consumo nas regiões brasileiras para diferentes Fonte: Esmeraldo, 2007.
tipos de plástico.

Índice de reciclagem mecânica de plástico pós-consumo


no Brasil
O índice de reciclagem é definido como sendo o quociente entre a quantidade de produtos
reciclados sobre a quantidade de produtos gerados.

Quantidade de produtos reciclados


Índice de Reciclagem =
Quantidade de resíduos sólidos gerados
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Embora a reciclagem de matéria plástica trate dos mesmos tipos de materiais que são
obtidos na produção, a cadeia produtiva da reciclagem é muito diferente daquela mostrada
anteriormente, principalmente pelo fato de que os elos intermediários dessa cadeia atuam
praticamente no limiar da informalidade e são praticamente excluídos nas diferentes políticas
públicas de fomento à atividade econômica (Fig. 3.42)

Consumidor

Catador
de lixo
Plástico

Sucateiro

90 Empresa de
Reciclagem

Indústria de
Transformação

Fig. 3.42 - Cadeia da reciclagem de matéria plástica. Os três primeiros elos dessa cadeia atuam em condições
precárias e nunca foram alvo de políticas públicas de fomento visando a sua consolidação. Não há também
uma base legal consolidada para regular a atuação desses atores especificamente quando se trata de
reciclagem. Original: RMPC.

A cadeia da reciclagem da matéria plástica está embasada nos catadores de lixo (primeiro
elo da cadeia) que é formado por pessoas no limiar da pobreza. Não há um reconhecimento
formal da sociedade sobre o valor dessa atividade e também não há nenhum apoio do setor
produtivo da cadeia de plásticos para promover uma melhoria substancial desse elo da cadeia.
O segundo elo é um pouco menos informal e é ocupado por pequenas empresas, os sucateiros
que compram dos catadores uma série de produtos que serão mais tarde enviados a empresas
de reciclagem. No caso da matéria plástica, essas empresas do terceiro elo fazem normalmente a
reciclagem mecânica do plástico. Os granulados são então enviados ao quarto elo que é formado
pelas indústrias de transformação do setor.

Em 2005, foram reprocessadas 767.503 toneladas de matéria plástica no Brasil (Tab. 3.8).
O setor de utilidades domésticas foi o que mais contribuiu, assimilando 17% desse total. O setor
têxtil, da construção civil e o automotivo também contribuíram de modo significativo para o
reprocessamento da matéria plástica reciclada.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 3.8 - A reciclagem de matéria plástica reciclada no Brasil por setores de atividades, tonelagem e percentuais
processados por diferentes setores de atividades (ano base: 2005).

Empresas de Irp Toneladas %

Utilidades domésticas 130565 17,0

Indústria têxtil 106770 13,9

Construção civil 71881 9,4

Automobilístico 63047 8,2

Descartáveis 61828 8,1

Plástico
Industrial 59066 7,7

Agropecuária 53813 7,0

Limpeza doméstica 49091 5,4

Brinquedos 37321 4,9 91


Calçados 33757 4,4

Eletro-eletrônicos 25193 3,3

Móveis 21177 2,8

Alimentos 19931 2,6

Bebidas 7200 0,9

Uso Pessoal 6570 0,9

Outros 20304 2,6

Total 767503 100,0


Fonte: Esmeraldo (2007).

Reciclagem de plástico por tipo de resíduo plástico


consumido
Existe uma enorme variabilidade regional nos índices de reciclagem de matéria plástica no
Brasil (Tab.3.9). A região sudeste é a região que mais recicla matéria plástica no Brasil em termos
absolutos de tonelagem reciclada, seguida da região sul. É importante destacar aqui os baixos
valores de reciclagem observados nas regiões centro-oeste e norte do Brasil.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 3.9 - Quantidade de matéria plástica reciclada no Brasil, por regiões e no total segundo o tipo de plástico.
Ano base: 2005.

Tipo de
Se Sul Ne Co Norte Brasil
Plástico
PET 147381 57003 56512 1016 0 261912
PEAD 46728 34305 9003 2905 1241 94181
PVC 9446 6701 2394 97 758 15387
PEBD/
71980 72007 31111 9657 1241 185976
PELBD
PP 86570 39945 10828 2692 1175 141210
OS 29716 6697 0 130 1182 37725
Outros 21639 4223 0 0 1241 27103
Plástico

Total 413.441 220.882 109.847 16.497 6.836 767.503


Legenda: SE = região sudeste, SUL = região sul, NE = região nordeste, CO = região centro- oeste e NORTE = região
norte. Para as siglas dos diferentes tipos de plásticos vide texto. Fonte: Esmeraldo, 2007

Em termos percentuais, a geografia da reciclagem de plásticos no Brasil muda um pouco.


92 A região sul é aquela que mais recicla materiais plásticos no Brasil em proporção ao consumo,
atingindo um total de 31% no total, seguida pela região sudeste com 22,5% (Tab. 3.10). Os
índices de reciclagem são mínimos nas regiões centro-oeste e norte. Em termos dos tipos de
plásticos reciclados, os maiores índices são para o PET e o PEAD. Nota-se, por exemplo, que
os governos estaduais e administrações municipais do nordeste brasileiro devem mudar a sua
postura em relação a reciclagem de matéria plástica e adotar uma postura mais pró-ativa nesse
setor, particularmente em relação à reciclagem do PVC e do PEAD.

Tab. 3.10 - Percentuais de reciclagem de plástico pós-consumo por grandes regiões do Brasil.

Tipo de
Sul (%) Se (%) Ne (%) Co (%) Norte (%) Brasil (%)
Plástico
PET 78,7 59,2 55,0 3,2 0,0 53,4
PEAD 46,9 13,8 2,7 11,1 0,0 15,6
PVC 22,7 5,1 0,0 0,0 0,0 5,4
PEBD/
15,0 9,6 14,2 16,8 0,0 9,8
PELBD
PP 18,1 10,5 0,0 9,1 0,0 9,4
OS 0,0 28,3 0,0 0,0 0,0 12,9
Outros 4,0 28,3 0,0 0,0 0,0 13,6
Total 31,0 22,5 19,4 9,2 0,0 19,8

Legenda: SE = região sudeste, SUL = região sul, NE = região nordeste, CO = região centro- oeste e NORTE = região
norte. Para as siglas dos diferentes tipos de plásticos vide texto. Fonte: Esmeraldo, 2007
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Dimensionamento e desempenho da IRMP do Brasil


O setor de reciclagem de matéria plástica no Brasil é novo e o tempo de vida da maioria
das empresas que atuam no setor é inferior a 01 ano (Tab. 3.11). Em 2005, a atividade de
reciclagem de plásticos no Brasil estava distribuída em um universo de 512 indústrias recicladoras
que tiveram um faturamento bruto de R$ 1,6 bilhões. Cerca de 17.548 pessoas estavam atuando
nesse ramo da indústria. A capacidade instalada dessas indústrias era de 1,28 x 10 6 toneladas,
mas nem toda essa capacidade estava sendo utilizada em 2005.

Tab. 3.11 - Principais indicadores da indústria de reciclagem de matéria plástica no Brasil. Fonte: IRMP, 2005

Tempo de Capacidade
Número de Valor da Número de
Empresas IRP Vida Instalada
Empresas Produção (R$) Empregos
(Meses) (Toneladas)

Plástico
Reciclador (R) 248 11 616.998.082 6.587 550.592
Triagem 99 12 569.100.099 6.668 431.513
Transformadoras 131 19 239.282.336 3.757 239.296
Triagem e
34 14 199.602.971 535 60.203
Tranformadoras
Total 512 13 1.624.983.459 17.548 1.281.706 93

Houve um notável crescimento do nível de ocupação nas empresas de reciclagem de


plástico brasileiras na primeira metade dessa década (Fig. 3.43). O número de empregos passou
de 11.501 em 2003 para 17.548 postos de empregos em 2005. A produção, medida em termos
de faturamento dessas empresas, também cresceu de modo expressivo passando de pouco mais
de R$ 1,2 milhões em 2003 para R$ 1,6 milhões em 2005. A capacidade instalada aumentou
ligeiramente no período analisado passando de 1,05 para 1,28 x 10 6 toneladas por ano. Em
decorrência, houve um decréscimo do nível operacional dessas empresas que caiu de 73% em
2003 para 60% em 2005.

Reciclagem de Plásticos (Brasil)


20000 5000
Número de trabalhadores

Capacidade instalada

4000
15000

3000
10000
2000 Emprego
Produção
5000 1000
Capacidade

0 0
2002 2003 2004 2005 2006

Fig. 3.43 - Indicadores da atividade industrial da reciclagem de plásticos no Brasil. Fonte: IRMP, 2005.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O índice de reciclagem mecânica no Brasil é hoje algo em torno de 19,8%, mas a estrutura
de coleta seletiva hoje tem uma capacidade ociosa em torno de 40% que pode ser utilizada.

3.11 - Comparativo da reciclagem de


plásticos no Brasil com outros países.
Embora exista um enorme potencial de expansão para a reciclagem de plásticos no Brasil,
é interessante notar que o país já ocupa uma posição de destaque no ranking mundial da
reciclagem de matéria plástica (Fig. 3.44). Se comparado aos países europeus, os percentuais
gerais de reciclagem do plástico colocariam o país na sexta posição logo atrás da Áustria e da
Suécia, se ele estivesse no contexto da U.E
Plástico

Alamanha
Bélgica
Suíça
Suécia
Áustria
94 Brasil
Holanda
Itália
País

Irlanda
Noruega
Espanha
França
Inglaterra
Dinamarca
Portugal
Finlândia
Grécia

0 10% 20% 30%

Percentual de Reciclagem

Fig. 3.44 - Percentuais de reciclagem de plástico no Brasil, comparados aos dos países da União Européia, U.E.

Os teores de reciclagem de plásticos seriam ainda melhores se fosse diminuída a capacidade


ociosa do sistema de coleta seletiva. É possível aumentar muito os índices de reciclagem de
plásticos tendo como base a capacidade instalada das indústrias. O Brasil tería condições de
até mesmo superar a Alemanha que recicla hoje não menos do que 32% da matéria plástica
comercializada em seu território (Fig. 3.44).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Por que demos esse grande salto na reciclagem de plásticos e porquê não temos condições
de avançar ainda mais? Tudo isso não seria possível sem o grande “exército” de cerca de 500 mil
catadores informais que recolhem os resíduos e os revendem para os sucateiros. Esse mesmo
“exército”, sem uniforme ou material adequado e sem patentes foi o responsável pela conquista
do país do primeiro lugar em reciclagem de latinhas de alumínio. É importante destacar que
esses índices foram alcançados apesar de existir uma falta de políticas públicas mais eficientes
na questão da reciclagem e da coleta seletiva e mesmo da sustentabilidade ambiental em geral
no país.

3.12 - Reciclagem de Pneus


Apesar de existir uma resolução do MMA/CONAMA (Nº 258, de 26 de agosto de 1999)
específica para a gestão dos pneus usados no Brasil, o grande acúmulo desse tipo de material vem

Plástico
trazendo sérios problemas para o meio ambiente e, no caso de um país tropical, complicações
adicionais em termos de saúde pública dado o fato de que os pneus se transformam em
criadouros para os mosquitos transmissores de doenças, tais como a dengue.

Muito embora existam várias tecnologias para o aproveitamento e a reciclagem de pneus à


disposição dos usuários e empresários é fácil constatar que carcaças velhas de todo os tipos de
pneumáticos são objetos comuns em lotes vagos, depósitos e mesmo nos quintais e garagens
espalhados em todo o país.
95

Fig. 3.45 - Os pneus usados podem ser uma importante matéria prima para a reciclagem, mas causam
frequentemente sérios problemas ambientais e de saúde pública no Brasil. Foto: RMPC
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Os pneus usados podem ser reutilizados após sua recauchutagem. Esta consiste na
remoção por raspagem da banda de rodagem desgastada da carcaça e na colocação de uma
nova banda. Após a vulcanização, o pneu “recauchutado” deverá ter a mesma durabilidade que o
novo. A economia do processo favorece os pneus mais caros, como os de transporte (caminhão,
ônibus, avião), pois neste segmento os custos são melhor monitorados.

Há limites no número de recauchutagem que um pneu suporta sem afetar seu desempenho.
Assim sendo, mais cedo ou mais tarde, os pneus serão descartados. Os pneus descartados
podem ser reciclados ou reutilizados para diversos fins. Neste caso, são apresentadas, a seguir,
várias opções:

Engenharia civil
Plástico

O uso de carcaças de pneus na engenharia civil envolve diversas soluções criativas, em


aplicações bastante diversificadas, tais como, barreiras em acostamentos de estradas, contenção
de encostas (Fig. 3.45), elemento de construção em parques e playgrounds, quebra-mar,
obstáculos para trânsito e, até mesmo, recifes artificiais para criação de peixes (Fig. 3.46).

96

Fig. 3.46 - Uso de pneus usados como degraus na Vila (Aglomerado) da Serra, zona sul de Belo Horizonte, Minas
Gerais. Esse tipo de atitude além de evitar a erosão nos acessos à favela tem um importante efeito junto
à população local que discute o problema, propõe uma solução, executa a obra e, assim, passa a atuar de
modo pró-ativo na questão ambiental. Fotos: Ana Luíza Souto.

Regeneração da borracha

O processo de regeneração de borracha envolve a separação da borracha vulcanizada


dos demais componentes e sua digestão com vapor e produtos químicos, tais como, álcalis,
mercaptanas e óleos minerais. O produto desta digestão é refinado em moinhos até a obtenção
de uma manta uniforme, ou extrusado para obtenção de material granulado. A moagem do pneu
em partículas finas permite o uso direto do resíduo de borracha em aplicações similares às da
borracha regenerada.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Geração de energia

O poder calorífico de raspas de pneu equivale ao do óleo combustível, ficando em torno


de 40 Mej/kg -1. O poder calorífico da madeira é por volta de 14 Mej/kg -1. Os pneus podem ser
queimados em fornos já projetados para tornar essa queima bastante eficiente. Em alguns países,
o uso de pneus em fábricas de cimento é uma realidade. A Associação Brasileira de Cimento
Portland (ABCP) informa que cerca de 100 milhões de carcaças de pneus são queimadas
anualmente nos Estados Unidos com esta finalidade, e que o Brasil já está experimentando a
mesma solução.

Asfalto modificado com borracha

Plástico
O processo envolve a incorporação da borracha em pedaços ou em pó ao asfalto. Apesar
do maior custo, a adição de pneus no pavimento pode até dobrar a vida útil da estrada, porque a
borracha confere ao pavimento maiores propriedades de elasticidade frente às grandes oscilações
térmicas enfrentadas pelo pavimento asfáltico no ciclo diurno. O uso da borracha também reduz
o ruído causado pelo contato dos veículos com a estrada. Por causa destes benefícios, e também
para reduzir o armazenamento de pneus velhos, o governo americano requer que 5% do material
usado para pavimentar estradas federais seja de borracha moída.
97
Mesmo considerando todas as alternativas acima, é fácil constatar o atraso do país na
questão da reciclagem de pneus. Abaixo, fornecemos algumas sugestões para acelerar o processo
(Tab. 3.12).

Tab. 3.12 - Sugestões para o aumento dos índices de reciclagem de pneus no Brasil

Sugestões

Criação de legislação específica para a reciclagem de pneus automotores

Aumento da fiscalização municipal sobre a questão do descarte de pneus usados


principalmente juntos às lojas e revendas desse material.

Proibir ou regulamentar com mais rigor a importação de pneus usados.

Estímulo (financiamentos, leis específicas, normas) facilitando uso de pneus usados na


construção civil

Estímulo (financiamentos, leis específicas e normas) facilitando o estabelecimento de


indústrias recicladoras de pneus.

Melhorar e aperfeiçoar a tecnologia da recauchutagem gerando produtos mais confiáveis.

Melhorar e aperfeiçoar a tecnologia dos automóveis no sentido de prolongar a


vida útil dos pneus.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.13 - Reciclagem de garrafas PET


A atividade de reciclagem de garrafas PET no Brasil começou com um certo atraso e está
associada a venda de linhas de moagem, lavagem e descontaminação dessas garrafas que estão
sendo desenvolvidas pela indústria nacional. A reciclagem de garrafas PET passou a chamar a
atenção dos empresários como uma boa alternativa de negócios em 1995 mas a expansão da
atividade somente ocorreu a partir de 1999, época em que aumentou em muito a venda das linhas
de lavagem, descontaminação e moagem do material. Assim como no caso dos outros plásticos,
as garrafas PET são coletadas por catadores de lixo que vendem o seu material aos sucateiros. A
cadeia de coleta desse tipo de material, assim como a grande parte dos resíduos coletados para
a reciclagem, é caracterizada por emprego de uma mão de obra pouquíssimo qualificada, por um
elevado grau de informalidade e por uma falta generalizada de boas condições de salubridade.
Enfim, é um retrato que reflete a falta de uma política adequada de fomento à reciclagem em
Plástico

geral no país (Fig. 3.47).

98

Fig. 3.47 - Grande parte do material que é hoje reciclado no Brasil é coletado nas ruas de modo informal e primitivo
pelos catadores que trafegam pelas ruas com bizarros carrinhos carregados com todo tipo de material. A
seguir, o resultado dessa coleta é entregue aos sucateiros que são pequenas firmas localizadas na periferia
das grandes cidades (Mont Mor, na grande São Paulo/Campinas, Contagem na grande BH ou no Gama,
localizado no Distrito Federal, por exemplo). Essas empresas, em geral, fazem uma triagem grosseira do
material e, no caso das garrafas PET, são gerados fardos com centenas de garrafas prensadas que assim vão
para as empresas de reciclagem. Fotos de RMPC obtidas nas localidades acima descritas.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O grande problema da reciclagem das garrafas PET no Brasil, está relacionado à má


qualidade das garrafas que chegam para a firma recicladora. Como qualquer material, as condições
de coleta e armazenamento dessas garrafas que se pretende moer e lavar, influenciam muito na
qualidade final do produto reciclado.

Nos países mais desenvolvidos, como no Canadá, por exemplo, existem as chamadas
“reverse vending machines” – RVM. Tratam-se de máquinas automatizadas onde pode-se
depositar as garrafas PET vazias obtendo-se em seguida cupons que dão direito a um determinado
valor em dinheiro ou produto. As RVM’s ainda não são empregadas de modo rotineiro no Brasil
(Fig. 3.48). Elas poderiam solucionar o problema da falta de qualidade das garrafas PET usadas.

Plástico
Fig. 3.48 - Máquinas que recolhem as garrafas
PET, as chamadas “reverse vending
machines” – RVM que usualmente
são colocadas em supermercados
e lojas de conveniência em vários
países tais como o Canadá.
O consumidor, ao depositar uma 99
ou mais garrafas PET na máquina
recebe um cupom que pode ser
trocado por outros produtos na loja
ou mesmo em outros pontos de
venda das redes conveniadas.

Fonte: RVC (2009).

Apesar de toda a dificuldade, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagem de


PET, a ABIPET (ABIPET, 2009), que congrega também os recicladores, afirma que a reciclagem
desse material tem alcançado índices muito satisfatórios dada as dificuldades apresentadas. De
acordo com informações divulgadas pela ABIPET, o Brasil reciclou, em 1999, 50 mil toneladas
de PET, contra as 40 mil de 1998. Porém, ainda estamos longe de resolver o problema do
descarte adequado deste material. A associação busca minimizar este grave problema ambiental,
ajudando a desenvolver projetos que beneficiem a reciclagem do PET.

Um desses projetos, cuja síntese é apresentada a seguir, fornece as informações básicas


para que um pequeno empresário possa montar uma linha básica de reciclagem de PET. É dada
uma breve descrição do processo que pode ser usado como modelo nas principais recicladoras
espalhadas pelo País. Entretanto, os empresários deverão adequar a planta às condições locais
bem como à qualidade do produto recebido.

Ao material obtido após a fase inicial de moagem recebe o nome de “flake”. Tratam-se
de pequenos flocos de PET que posteriormente serão reutilizados na cadeia de transformação.
Segundo a ABEPET, os produtos obtidos estão assim divididos: 41% (fibra de Poliéster), 16%
(não tecidos), 15% (cordas), 10% (resina insaturada).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Plástico

100

Fig. 3.49 - Esquema de funcionamento básico de uma unidade de moagem, lavagem e descontaminação de PET.
Original, RMPC modificado de Recicláveis (2009).

O processo de reciclagem das garrafas inicia-se com a desmontagem dos fardos que são
depositados na esteira de entrada (Fig. 3.49). A seguir, inicia-se a lavagem com separação de
pedras e outras sujeiras menores passando as garrafas em uma peneira rotativa, normalmente
com utilização de água. O próximo passo consiste em uma inspeção visual onde as garrafas são
transportadas lentamente em uma esteira de separação. Em seguida, é feita a primeira moagem
e o material moído vai então aos tanques onde é feita a separação de tampas e dos rótulos. O
material passa por uma descontaminação. Nesse ponto, então, é feita uma segunda moagem. O
material fino é então transferido a um lavador e secador e, em seguida, depositado em um silo.
Daí, ele é retirado em sacos de grande volume “big-bags”, estando pronto para ser granulado ou
enviado para outras indústrias de transformação.

O preço das linhas de lavagem e moagem de PET, além de variar entre os fabricantes,
depende bastante da tecnologia empregada. Além do acabamento, a espessura do material, a
robustez e a qualidade dos periféricos, bem como o tempo de vida útil do equipamento, são
detalhes importantes. No entanto, um empresário que irá dedicar-se à atividade da reciclagem
deve também estar bastante atento aos gastos de energia e água. A qualidade final do produto
deverá ser testada antes da compra da linha de processamento através do envio de amostras aos
possíveis compradores para que haja a sua aprovação.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O PET hoje já é considerado uma “commodity” e, nesse caso, não há como fugir das
regras do mercado principalmente observando os fatores de competitividade, produtividade e o
preço que pode oscilar em função das cotações internacionais do petróleo e outros produtos da
petroquímica.
O empresário deve investir em equipamentos que tenham o máximo de automatização e
o mínimo de gastos com água e energia. A maioria das linhas está projetada para capacidades
entre 500 e 600 kg por hora, que permitem uma produção média de aproximadamente 100
toneladas/mês de material. Segundo as análises feitas pela ABEPET, a reciclagem das garrafas PET
começa a demonstrar boa rentabilidade a partir de 100 toneladas/mês. Sugere-se ao empresário
que monte uma planta já prevendo produzir o material granulado, que no caso do PET, possui
um valor final bem superior ao material não granulado, principalmente devido ao processo de
secagem do material.

Os passos para se montar um negócio de reciclagem PET

Plástico
1) Pesquisar em todos os órgãos governamentais da região sobre programas de apoio aos
catadores de lixo (associações, etc), sobre os programas de coleta seletiva e sobre o
gerenciamento de resíduos sólidos de um modo geral. Afinal, daí é que sairão as fontes de
obtenção do material a ser processado.
2) Identificar uma área (um galpão) adequada para a instalação da planta de reprocessamento;
fazer uma pesquisa junto à prefeitura e junto ao órgão ambiental do seu estado para verificar
se o zoneamento da região permite a instalação dessa indústria.
101
3) Verificar se a região dispõe de boa infra-estrutura de transporte coletivo, água tratada, rede
elétrica adequada, coleta de lixo e rede de esgotos.
4) Visitar empresas congêneres em outras cidades ou outras regiões da mesma cidade (em
grandes cidades) para inteirar-se de todos os detalhes da atividade.
5) Capacitar-se a atuar como um verdadeiro empresário do ramo da reciclagem ambiental. Para os
empresários ditos “tradicionais” essa capacitação certamente irá induzir uma grande mudança
de hábitos, atitudes e comportamentos tendo por base a questão da sustentabilidade e o
respeito ao meio ambiente. Essa capacitação pode ser feita através de cursos de extensão
de curta duração e mesmo cursos à distância sobre Fundamentos de Ecologia e Tópicos em
Gestão Ambiental (http://ecologia.icb.ufmg.br). Esses cursos, em geral, são oferecidos pelas
universidades públicas ou privadas.
6) Definir claramente qual é a área de atuação da empresa, especialmente quanto a compra de
matéria prima.
7) Estabelecer parcerias com ONG´s e grandes empresas privadas comprometidas e atuantes na
questão ambiental.
8) Incentivar ou mesmo conduzir pequenos projetos de educação ambiental nas escolas do
ensino fundamental e secundário, envolvendo as universidades da região.
9) Desenvolver um programa de coleta próprio da empresa.

O investimento mínimo necessário para a montagem de uma unidade de moagem e lavagem de


garrafas PET com capacidade de até 100 toneladas, incluindo a aquisição das linhas de moagem
e lavagem bem como os gastos com as instalações para o tratamento de efluentes deve atingir
US$ 85.000 (oitenta e cinco mil dólares). A empresa poderá inicialmente ser instalada em um
lote de 1.000 m2 dotado de um galpão coberto com cerca de 300m2 de área construída. Haverá
a necessidade de um transformador de 125 a 500 KVA.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

FERRO E AÇO 4.0


Produção e Consumo
de Minerais e
Reciclagem do Ferro e
do Aço no Brasil
4.1 - Tipos de metal e suas aplicações
4.2 - Minério de ferro
4.3 - Produção de ferro no Brasil
4.4 - Produção e consumo de carvão vegetal
4.5 - Fundamentos da produção de aço
4.6 - Reciclagem do ferro e do aço
4.7 - Reciclagem de automóveis
4.8 - A reciclagem de automóveis no Brasil
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

4.1 - Tipos de metal e suas aplicações


Existem muitos tipos de metais, chegando hoje ao total de sessenta e oito. Os metais
exibem propriedades bastante diferentes quando comparados entre si. O mercúrio, por exemplo,
é líquido e o sódio é muito leve nas condições normais de temperatura e pressão (25 o C, 1 atm).
Os metais mais conhecidos e que são utilizados pelo homem há muitos séculos são: ferro, cobre,
estanho, chumbo, ouro e a prata. Os metais podem ser separados em dois grandes grupos: os
ferrosos, compostos por ferro, e os não-ferrosos (Tab. 4.1).

Tab. 4.1 - Metais de uso comum na indústria e suas principais aplicações.


Ferro e Aço

Tipos Aplicações

FERROSOS

Utensílios domésticos, ferramentas, peças e chapas de


automóveis estruturas de edifícios, latas de alimentos e
Ferro (aço)
bebidas, latas de alimentos, peças de automóveis, aço
para a construção civil, etc.
104
NÃO-FERROSOS

Embalagens, adornos, equipamentos eletroeletrônicos,


Estanho
química industrial, indústria do vidro, etc.

Latas de bebidas, equipamento elétrico, esquadrias, in-


Alumínio
dústria automobilística e aeronáutica, etc.

Cabos, fios e demais equipamentos elétricos e telefôni-


Cobre cos, encanamentos (água quente), indústria automobi-
lística, etc;

Metal precioso, próteses, eletrônica fina, jóias e adornos,


Ouro
etc.

Metal semiprecioso, ligas metálicas, jóias e adornos, pi-


Prata
lhas inúmeras aplicações na química, etc.

Metais pesados Chumbo Baterias de carros, lacres, etc.

Níquel Baterias de celular, etc.

Zinco Telhados, baterias, etc.

Mercúrio Lâmpadas fluorescentes, baterias, etc.


Ricardo Motta Pinto-Coelho

4.2 - Minério de ferro


É a principal matéria prima do alto-forno, pois é dele que se extrai o ferro, um dos principais
componentes do aço. Os minerais que contêm ferro em quantidade apreciável são os óxidos,
carbonatos, sulfetos e silicatos de ferro. Os mais importantes para a indústria siderúrgica são os
óxidos de ferro magnetita (Fe 3O 4) e hematita (Fe2O3).

O principal minério de ferro explorado no Brasil é a hematita que ocorre principalmente


sob a forma de itabirito. A tabela abaixo fornece os principais minérios bem como a formulação
sob a qual o ferro está disponível em uma das principais regiões produtoras de minério de ferro
do Brasil, o quadrilátero ferrífero, na zona central de Minas Gerais (Tab. 4.2).

Ferro e Aço
Tab. 4.2 - Mineralogia e tipologia das principais formações ferríferas do quadrilátero ferrífero, zona central de Minas
Gerais (zona metropolitana de Belo Horizonte).

Formação Minérios de Ferro Outros minérios acessórios

Hematita, martita, magnetita, Clorita, sericita, dolomita, caolinita, ciani-


Itabirito
quartzo ta, óxidos de manganês, apatita, pirofilita.

Calcita, grunerita, clorita, stilpnomelana, 105


Hematita, magnetita, martita,
Itabirito dolomítico biotita, tremolita, actinolita, quartzo, sul-
dolomita-ferrosa
fetos, pirofilita.

Hematita-filito Hematita, sericita Quartzo, clorita

Filito-piritoso Pirita, matéria carbonosa –


Fonte: Rosiére & Chemale (2003).

As hematitas e magnetitas são os principais minérios de ferro com teores de ferro sempre
acima de 60%. A limonita é um minério de ferro com teores bem mais baixos do metal (48%).

É interessante observar a riqueza de minerais acessórios que irão provavelmente compor


o rejeito da mineração do ferro. A ação do intemperismo nesses minérios irá liberar nas águas
superficiais e subterrâneas uma série de elementos tais como o fósforo (presente nas apatitas),
cloro, cálcio, manganês, enxofre, dentre outros elementos. O aporte desses elementos nos
recursos hídricos irá causar uma série de problemas de qualidade de água. Além da eutrofização
e assoreamento das águas, a contaminação com esses elementos irá causar um aumento nos
custos finais de tratamento de água para o abastecimento público em mananciais contaminados
com águas oriundas de represas de rejeitos de minérios.

O minério de ferro é um dos principais minérios produzidos no Brasil e é composto por


três partes a saber: (a) parte útil, ou seja, aquela parte que contém o ferro; (b) canga parte que
contém as impurezas sem valor e (c) estéril que é constituída pela rocha onde o minério foi
extraído. O minério de ferro pode ser classificado em rico, médio ou pobre segundo os critérios
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

abaixo (Tab. 4.3). No entanto, não somente os teores de ferro são importantes, mas também as
características estruturais do minério são fundamentais principalmente para garantir a eficácia do
processo da sinterização do minério (ver adiante) (Vieira et al. 2003).

Tab 4.3 - Classificação teores de ferro nos diferentes minérios.

Tipo Teor de Ferro (%)

Rico 60 a 70

Médio 50-60

Pobre <50
Ferro e Aço

Fonte: Vieira et al. (2003).

4.3 - Produção de ferro no Brasil


O Brasil está entre os países com maior potencial mineral do mundo, ao lado de Federação
Russa (CEI), Estados Unidos, Canadá, China e Austrália. O Brasil é detentor de 8,3 % das reservas
mundiais de minério de ferro de alta qualidade (alto teor de ferro) e um dos maiores exportadores
106 de minérios do planeta.

O Brasil é o segundo maior produtor de minério de ferro do mundo (atrás apenas da China),
respondendo por 18% da produção total do planeta para esse minério. O ferro também é um
dos minerais de maior importância econômica, pois representa 30% da receita das exportações
do setor (BNDES, 2003) (Tab. 4.4).

Tab. 4.4 - Principais reservas mundiais de ferro e os países principais produtores, em bilhões de tonelada.

País Reservas (x 10 9 toneladas) Produção (x 10 9 toneladas)


Rússia (CEI) 78,0 0,132
Austrália 28,0 0,142
Canadá 26,0 0,042
EUA 25,0 0,060
Brasil 17,0 0,183
Índia 12,0 0,071
África do Sul 9,3 0,031
China 9,0 0,254
Fonte: BNDES, 2003.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Pela análise da tabela acima, é possível depreender que o Brasil pode estar super-
explorando as suas reservas de ferro uma vez que existem países com reservas maiores, mas
produção bem menor do que a brasileira. Rússia (CEI) e EUA, por exemplo, possuem maiores
reservas e produções muito menores se comparadas com as do Brasil (BNDES, 2003).

As maiores minas do Brasil são a céu aberto e a lavra do minério de ferro é, de longe, o
tipo de mineração mais importante do Brasil (Fig. 4.1). Segundo o relatório final sobre a atividade
de mineração no Brasil elaborado pelo Centro de Estudos Estratégicos, CGEE (Germani, 2002),
existiam dezoito grandes minas a céu aberto destinadas à lavra do minério de ferro no Brasil.
Essas minas, em seu conjunto, tinham uma produção de minério beneficiado de 251 milhões de
toneladas para um valor total de 465,8 milhões de toneladas de movimentação total para todos
tipos de minérios beneficiados no país.

Ferro e Aço
É interessante que essa produção gerou um total de 224,2 milhões de toneladas de
material estéril (Germani, 2002). Esse valor nos dá uma idéia do impacto ambiental gerado
nessas minas seja em termos de destruição de cobertura vegetal, de contaminação de recursos
hídricos e uma gigantesca geração de sólidos em suspensão (poeira).

Minas de Ferro do Brasil (Céu Aberto)


107
120

100
Milhões de Toneladas

80

60

40

20

0
Ca Ca Co Co Al Ti M Ca Al Fá Có Pi Ta Ca Ja Ca Pa En
ra uê nc ng eg m or pa eg br r re co m pi ng sa u ge
já ei o r ia bo ro ne r ia ic an tã ad Br nh
s çã pe Ag a go du o a de an
So 9 m do do Pe o
o co ba ud a á co Se
o Fe M dr co
ijã at a
o o

Mina

ROM Estéril Total

Fig. 4.1 - Principais minas a céu aberto, destinadas à produção de minério de ferro no
Brasil. A maior parte das minas está concentrada em Minas Gerais embora a maior
de todas elas seja a mina de Carajás, localizada no Pará. Fonte: Germani, 2002.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

No ano 2000, existiam no país cerca de 1.862 mil empresas mineradoras que extraíam em
torno de 80 substâncias (DNPM, 2003).

Os Estados produtores que mais se destacaram em termos de produção mineral no ano de


2008 foram, respectivamente, Minas Gerais e Pará. A tabela abaixo (Tab. 4.5) cita os seis estados
mais importantes em termos de produção mineral considerando suas respectivas contribuições
financeiras pela exploração de recursos minerais arrecadadas pelos cofres públicos.

Tab. 4.5 - Estados brasileiros mais importantes em termos de produção mineral do Brasil medida em termos de
arrecadação tributária (ano base 2008).

Estado Percentual
Ferro e Aço

MG 53,9%

PA 24,7%

GO 5,9%

SP 2,8%

108 BA 2,2%

SE 1,6%

outros 9,0%
Fonte: IBRAM (2009).

Um fator que contribuiu decisivamente para o crescimento da mineração no Brasil foi a


retomada dos investimentos estrangeiros no setor, permitida pela Emenda Constitucional No 6,
de 1995. A constituição de 1988 restringia a utilização de capital estrangeiro. Com a mudança na
lei e a gradativa entrada de capital externo, os investimentos na atividade mineral saltam de 96
milhões de dólares, em 1996, para 130 milhões de dólares, em 1998.

Em 2005, a mineração brasileira comercializou um total de R$ 31,4 bilhões. Em termos de


quantidades de minerais beneficiados, o ferro ocupou a primeira posição com 278 milhões de
toneladas beneficiadas, seguido pela bauxita com 20,4 milhões de toneladas e pelo estanho com
11,5 milhões de toneladas. Em termos de valores comercializados, o ferro continuou a ocupar
a primeira posição tendo comercializado R$ 15,5 bilhões de reais. O segundo lugar, em termos
de valores comercializados, foi ocupado pelo ouro (R$ 1,3 bilhão) seguido muito de perto pela
bauxita com R$ 1,2 bilhão de reais (DNPM, 2006).

O Brasil ocupa uma posição de destaque na produção mineral de pelo menos 12 minérios
diferentes com destaque para o nióbio, ferro, manganês e a bauxita (Tab. 4.6). No entanto,
o Brasil tem importantes reservas e produz quantidades consideráveis de vários outros tipos
de minérios: cobre, cromo, grafita, manganês, níquel, ouro, potássio, rocha fosfática e zinco
(IBRAM, 2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 4.6 - Principais itens da produção mineral brasileira e a posição do país no ranking internacional. Dados de 2008.

N Mineral Posição Percentual


1 Nióbio 1º 95,0%
2 Ferro 2º 18,8%
3 Manganês 2º 25,0%
4 Tantalita 2º 17,0%
5 Alumínio (Bauxita) 2º 12,4%
6 Crisotila 3º 9,7%
7 Magnesita 3º 8,0%

Ferro e Aço
8 Grafita 3º 7,1%
9 Vermiculita 4º 4,9%
10 Caulim 5º 5,5%
11 Estanho 5º 4,7%
12 Rochas Ornamentais 6º 5,6%
Fonte: IBRAM (2009).

Em 2008, a indústria extrativa mineral manteve posição de destaque na geração de valor 109
adicionado. O crescimento foi em torno de 12%, se comparado a igual período do ano anterior.
Em 2008, a indústria da mineração e transformação mineral contribuiu com R$ 54 bilhões, uma
parcela significativa do PIB nacional que deverá atingir em 2008 US$ 1,33 trilhão (Fig. 4.2).

Produto Mineral do Brasil


60000

50000
Milhões de Reais (R$)

40000

30000

20000

10000

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

PMB

Fig. 4.2 - Produto mineral do Brasil no período 2000-2008 em milhões de reais.


Fonte: IBRAM, 2009.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O minério de ferro é o item mais importante da pauta de exportações minerais do Brasil


(Fig. 4.3). Entre as maiores empresas exploradoras de ferro no país estão Companhia Vale do Rio
Doce, Mineração de Trindade (Samitri), Itaminas Comércio de Minérios, Companhia Siderúrgica
Nacional, Samarco Mineração e Feterco Mineração. O quadrilátero ferrífero, em Minas Gerais, e a
reserva de Carajás, no Pará, são as mais importantes áreas de minério de ferro no Brasil.

2,4 1,9 0,1 0,35


6,2
Ferro e Aço

6,5

110

82,6

Ferro Rochas Ornamentais Cobre Caulim Bauxita Manganês Outros

Fig. 4.3 - Percentual dos principais minérios exportados (em relação ao valor exportado
em R$) na matriz de exportação mineral do Brasil. Ano Base: 2008.

Fonte IBRAM (2009).

Em 2009, espera-se um aumento significativo na produção de alumínio (bauxita), cobre,


níquel, ferro e fosfato, com a entrada em operação de novos projetos ou pela expansão de outros
já existentes (IBRAM, 2009).

É importante, entretanto, destacar que o país é também um grande importador de minérios


(Fig. 4.4). Os principais minérios importados pelo país em 2008 foram, respectivamente, o
carvão mineral, o potássio e o cobre. O carvão mineral é usado nas indústrias siderúrgicas,
o cobre na indústria eletroeletrônica e na fabricação de fios elétricos e o potássio é um dos
principais insumos na indústria de fertilizantes.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

8,37%
3,33%
3,9% 29,6%
4,9%

20,9%

Ferro e Aço
29%

Carvão Mineral Potássio Cobre Zinco Molibdênio Enxôfre Outros

Fig. 4.4 - Principais minérios importados pelo Brasil em 2008, segundo o valor pago em importações.

Fonte: IBRAM, 2009. 111

No entanto, ao compararmos a razão entre importações e exportações de minerais, fica clara


a posição do país como um dos principais fornecedores de matérias primas do planeta (Fig. 4.5).

Saldo Comércio Exterior - Minerais (Brasil)

16
Bilhões de Dólares

12

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Saldo Comércio Exteriror - Minerais

Fig.4.5 - Diferença (em bilhões de dólares) entre as exportações e importações


de minerais no comércio exterior do Brasil no período 2000-2008.

Fonte: IBRAM.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Os dados relativos ao comércio internacional de minérios do país revelam crescentes


superávits durante toda a primeira década do século XXI. O saldo estimado (exportações -
importações) do setor mineral (bens primários, sem transformação, excluídos petróleo e gás)
para 2008 deverá alcançar um novo recorde na casa dos US$ 12 bilhões. Esse valor representa
algo como 42% do saldo total do comércio exterior do país, que deve atingir US$ 28 bilhões. Se
considerarmos os bens semimanufaturados, manufaturados e compostos químicos, a indústria
da mineração e transformação mineral deverá obter, em 2008, um saldo de US$ 20 bilhões,
representando 71% do saldo da balança comercial brasileira. Esses números sugerem não
somente uma elevada dependência da economia do Brasil do setor mineral, mas também deixam
claro mais três pontos muito importantes quando consideramos a questão da sustentabilidade
Ferro e Aço

ambiental.

(a) a extração mineral do Brasil aumentou consideravelmente ao longo da última década bem
como os passivos ambientais gerados por esse tipo de atividade;

(b) a elevada dependência da economia brasileira em relação à exportação de matérias primas


expõe - de modo agudo - a nossa dependência a qualquer oscilação internacional no ritmo
de crescimento econômico particularmente nos grandes importadores de minérios tais como
112 a China, a União Européia e os EUA;

(c) houve uma excessiva concentração de políticas públicas voltadas exclusivamente ao incremento
da produção de matérias primas no país se comparadas àquelas voltadas exclusivamente à
preservação do meio ambiente e, de modo particular, na questão da reciclagem ambiental.

Em síntese, o modelo de crescimento econômico adotado pelo país nas últimas décadas tem
pouquíssimos elementos que possam caracterizá-lo como um modelo embasado genuinamente
dentro do conceito de sustentabilidade ambiental. Considerando a crescente dependência que
haverá entre o crescimento econômico e a saúde do meio ambiente nas próximas décadas, pode-
se concluir que o modelo econômico brasileiro deverá passar por grandes ajustes estruturais
para que possa ganhar contornos mais coerentes com essa nova realidade da biosfera. Essa
nova realidade será condicionada não somente por uma crescente escassez de todos recursos
naturais primários tais como a água, a energia, alimentos e minerais, mas também pela crescente
degradação dos recursos naturais (solos, águas e florestas) e por uma piora generalizada em
todos os indicadores de qualidade de vida nas grandes áreas urbanas e periurbanas.

A produção de aço exige, além do ferro, grande aporte de energia, água. Apesar dos
notáveis avanços no controle de emissões gasosas, a siderurgia ao lado da petroquímica são os
responsáveis pelos maiores índices de emissão de gases GEE e outros dentre todos os tipos de
indústrias. O aporte de energia para as siderurgias se dá sob a forma de eletricidade, queima de
combustíveis fósseis e, principalmente, pelo aporte de carvão mineral e, no caso do Brasil, do
carvão vegetal.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

4.4 - Produção e consumo de carvão vegetal


O uso de carvão vegetal como redutor do minério de ferro no Brasil vem ainda das
fundições artesanais que produziam ferramentas para o uso agrícola no século XVI. O carvão
vegetal é produzido a partir da lenha pelo processo de carbonização ou pirólise. Ao contrário do
que aconteceu nos países industrializados, no Brasil, o uso industrial do carvão vegetal continua
sendo largamente praticado. O Brasil é o maior produtor mundial desse insumo energético (Portal
MS, 2009).

O Brasil é um grande consumidor de lenha e carvão vegetal. O consumo atual de lenha no

Ferro e Aço
Brasil é da ordem de 69,5 milhões de toneladas (Biodiesel, 2009). Observar que esse consumo
vem crescendo substancialmente uma vez que em 2003 foram produzidos 45,1 milhões de
metros cúbicos de lenha. Estima-se que hoje a produção nacional de gusa seja da ordem de 27
milhões de toneladas que demandam pelo menos 17.5 milhões de toneladas anuais de carvão
vegetal (Biodiesel, 2009). Para atender a essa produção seriam necessários cerca de 3,3 milhões
de hectares plantados com eucalipto somente para atender a essa demanda, não considerando,
por exemplo, a produção de celulose. A legislação brasileira impõe um limite máximo de 10% na
composição do carvão vegetal provenientes da queima de madeira de biomas nativos (cerrado,
etc).
113
Mato Grosso do Sul lidera atualmente a produção de carvão vegetal no País (Portal MS,
2009, IBGE, 2009). A pesquisa considerou 37 itens de produtos não-madeireiros. Esse estado
concentra 24% da produção de carvão vegetal. Em seguida vem os estados do Maranhão, com
19%; Bahia, 14,5%; Goiás, 11,4%.

No setor industrial, a produção de ferro-gusa, aço e ferro-ligas são os principais consumidores


do carvão vegetal. As necessidades desse segmento cobrem 85% do consumo doméstico dessa
matéria prima que é usada como agente redutor (coque vegetal) e, ao mesmo tempo, como
energético. O setor residencial consome cerca de 9% seguido pelo setor comercial com 1,5%,
representado por pizzarias, padarias e churrascarias.

A carbonização de lenha é praticada de forma tradicional em fornos de alvenaria com


ciclos de aquecimento e resfriamento que duram até vários dias (Fig. 4.6). Os fornos retangulares
equipados com sistemas de condensação de vapores e sistemas de recuperação de alcatrão são
os mais avançados em uso atualmente no país. Os fornos cilíndricos com pequena capacidade
de produção, sem mecanização e sem sistemas de recuperação de alcatrão continuam sendo os
mais usados nas carvoarias. A temperatura máxima média de carbonização é de 500 o C.

O poder calorífico médio do carvão é de 7.365 kcal/kg (30,8 MJ/kg). O teor de material
volátil varia de 20 a 35%, a quantidade de carbono fixo varia de 65 a 80% e os níveis de cinzas
(material inorgânico) perfazem de 1 a 3% (Infoener, 2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Ferro e Aço

114

Fig. 4.6 - Queima de madeira de Eucaliptus para a produção de carvão vegetal na região do médio rio Doce, Minas
Gerais. A queima geralmente é feita em fornos de alvenaria e apesar dos pequenos avanços tecnológicos
tais como a colocação de filtros ainda é responsável pela emissão de consideráveis quantidades de sólidos
e outros gases que contribuem para a queda na qualidade do ar em toda a região do entorno do Parque
Estadual do Rio Doce. Foto: RMPC.

É importante notar que o rendimento em massa do carvão vegetal em relação à lenha


seca enfornada é de aproximadamente 25% nos fornos de alvenaria. A recuperação do licor
pirolenhoso pode chegar a 50% em massa da lenha, sendo o restante emitido sob a forma de
gases, dentre eles o CO e o CO2. O alcatrão pode ser usado como fonte de insumos químicos
para a indústria através dos derivados fenólicos provenientes da degradação térmica da lignina,
que podem substituir o fenol de origem fóssil nas suas aplicações em resinas e refratários.

É comum a associação entre a atividade de carvoejamento e condições verdadeiramente


desumanas de trabalho. Essa é uma visão em certa medida ainda atual, mas que já poderia já
pertencer ao passado. Em vez de pobreza e poluição poderá surgir uma indústria limpa, realmente
sustentável e renovável. Isso depende, contudo, do intenso aporte de novas tecnologias.

As recentes inovações tecnológicas de pirólise rápida de biomassa se aplicadas a esse


produto favorecem a produção de alcatrão, conferindo-lhe a denominação de biopetróleo ou
bio-óleo.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Outro ponto a ser considerado é que o intenso aporte de tecnologia (ex: maior mecanização
da lavoura ou automação dos fornos) irá causar desemprego além de demandar uma mão de
obra mais qualificada. Tanto o setor empresarial, mas principalmente o governo, todos devem
estar atentos a essas mudanças e atuarem no sentido de corrigir e mitigar as distorções e tensões
trabalhistas que irão surgir nesse caminho.

Além dos inúmeros desafios que estão sendo vencidos no aumento da produtividade dos
monocultivos de eucalipto (Fig. 4.7), no incremento da mecanização e no aprimoramento das
técnicas de carvoejamento existem ainda uma enorme demanda para que se melhore rapidamente
os indicadores ambientais dessa atividade tanto no que diz respeito ao uso de material proveniente
de biomas nativos quanto no controle mais eficiente da poluição atmosférica.

Ferro e Aço
115

Fig. 4.7 - Monocultura de Eucaliptus, a principal matéria prima da indústria do carvão vegetal. O plantio dessa espécie
arbórea foi um dos principais responsáveis pela gradual substituição da vegetação natural
(ex: cerrados) por florestas plantadas na produção de carvão vegetal. É incontestável a grande potencialidade
do estado de Minas Gerais e de outras regiões do Brasil (sul da Bahia e norte do Espírito Santo, por exemplo)
para o desenvolvimento dessa modalidade de silvicultura. Entretanto, é igualmente importante ter em
mente que o cultivo de Eucaliptus apresenta uma série de impactos negativos sobre o meio ambiente tendo
destaque o seu impacto sobre a riqueza em espécies de inúmeros representantes da microbiota, flora e da
fauna e impactos importantes sobre o ciclo hidrológico e na qualidade das águas superficiais e subterrâneas.
Foto: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

4.5 - Fundamentos da produção de aço

4.5.1 - Introdução
O primeiro contato do homem com o ferro foi sob a forma de meteoritos e daí vem o
nome “siderurgia” cuja origem latina é “sider” que significa astro. As conquistas tecnológicas
advindas das descobertas dos diferenciados usos dos metais e de suas ligas são tão importantes
para a humanidade que as últimas fases de nossa civilização ainda podem ser divididas em
relação aos usos do bronze, do ferro e do aço.
Ferro e Aço

As principais civilizações da antiguidade aprenderam a fabricar armas e diversos


instrumentos a partir do ferro. Dentre elas, podemos citar os povos da Babilônia, do Egito, da
Pérsia, da China, da Índia e, bem mais tarde, os Gregos e os Romanos. No início era só o ferro;
depois passou-se a usar uma liga feita a partir de ferro e carbono, o aço. A grande difusão no uso
do ferro ocorreu no século XIII a.C. quando os hititas (hoje Turquia) desenvolveram uma técnica
de forjamento que os possibilitou o desenvolvimento de armas mais eficientes.

Existem dois fatos na natureza que facilitaram a rápida evolução dos humanos nos três
116 últimos séculos. O primeiro é a grande disponibilidade de algo tão útil quanto o minério de ferro.
O segundo é a disponibilidade de uma grande quantidade de petróleo e carvão para fornecer
energia para a produção de ferro. Esta é uma coincidência afortunada, pois sem o ferro e a
energia, a civilização humana certamente não teria chegado tão longe quanto chegou.

A grande expansão da humanidade ocorrida nos três últimos séculos está ligada não
somente a expansão do comércio, mas principalmente ao início da revolução industrial. Os
fundamentos da sociedade industrial moderna têm as suas raízes na conquista da tecnologia da
produção do aço, em escala industrial, na invenção da máquina a vapor e na exploração, também
em escala industrial, do carvão mineral. As perspectivas que se abriram para a humanidade em
decorrência dessas conquistas tecnológicas foram imensas e transformaram a nossa civilização de
modo irreversível. As ferrovias, a indústria têxtil e os navios a vapor são alguns das conseqüências
óbvias dessas tecnologias.

Os avanços tecnológicos que ocorreram na siderurgia foram tão rápidos e intensos,


principalmente na Inglaterra vitoriana que a sociedade de então simplesmente não estava
preparada para enfrentar todas as conseqüências dessas mudanças. Os livros de história relatam,
com detalhes, as precárias condições de trabalho e o alto grau de insalubridade das vilas de
operários dessa época. São também comuns os relatos dos primeiros problemas ambientais
decorrentes da expansão da indústria e do consumo. Uma das primeiras consequências foi
a destruição de florestas cuja madeira era usada para a obtenção do carvão vegetal. Outra
importante conseqüência foi a poluição atmosférica causada pelos altos-fornos primitivos da
época. As águas dos rios também ficaram rapidamente contaminadas. Grandes epidemias, tais
como os surtos de cólera em Londres, e várias outras cidades da Europa, eram comuns no
século XIX. Logo, os capitães de indústria perceberam as vantagens de mudarem suas indústrias
para áreas remotas ou mesmo para outros países com legislação mais branda em termos de
exigências ambientais. Esse deslocamento de indústrias obsoletas e poluentes foi mantido em
Ricardo Motta Pinto-Coelho

grande parte durante a primeira metade do século XX principalmente em direção aos países do
chamado “terceiro” mundo.

Somente nos últimos cinquenta anos, a humanidade passa a conviver com sinais bem
nítidos de que estamos enfrentando uma degeneração global da qualidade ecológica do planeta.
Impactos ecológicos ligados às atividades humanas tais como a poluição dos mares, a perda
de biodiversidade nos trópicos e, principalmente, a clara percepção de que há uma grave
mudança climática global estão embasando um questionamento, em larga escala, sobre os atuais
modelos de desenvolvimento econômico. A sociedade moderna já percebeu que as medidas de
recuperação e de mitigação desses impactos não podem ficar restritas a um contexto meramente

Ferro e Aço
regional. Nesse sentido, a história da produção de aço pode ser muito instrutiva.

4.5.2 - Matérias-primas da indústria do aço


As matérias-primas básicas da indústria siderúrgica são o minério de ferro, o carvão e o
calcário.

Carvão
117
O combustível utilizado no alto-forno é o carvão, coque ou de madeira. Trata-se do
fornecedor de calor para a combustão. O carvão fornece ainda o carbono necessário para
a redução de óxido de ferro e, indiretamente, o carvão fornece o carbono que é o principal
elemento de liga do ferro-gusa.

Carvão coque

O coque é obtido pelo processo de “coqueificação”, que consiste, em princípio, no


aquecimento do carvão a altas temperaturas, em câmaras hermeticamente fechadas (exceto
para saída de gases). No aquecimento às temperaturas de coqueificação e na ausência de ar, as
moléculas orgânicas complexas que constituem o carvão mineral se dividem, produzindo gases
e compostos orgânicos sólidos e líquidos de baixo peso molecular e um resíduo carbonáceo
relativamente não volátil. Este resíduo resultante é o “coque”, que se apresenta como uma
substância porosa, celular, heterogênea, sob os pontos de vista químico e físico. A qualidade
do coque depende muito do carvão mineral do qual se origina, principalmente do seu teor de
impurezas.

Carvão vegetal

O carvão vegetal ou de “madeira” é fabricado mediante pirólise da madeira, isto é, quebra


das moléculas complexas que constituem a madeira, em moléculas mais simples, mediante calor.
O aquecimento para a carbonização da madeira é feito em fornos de certo modo rudimentares
e pouco eficientes, sobretudo no Brasil, pois os subprodutos gasosos e líquidos são perdidos
durante o processo, o que não deveria acontecer. O calor é aplicado à madeira, com ausência
de oxigênio, resultando em gases (CO 2, CO, H 2, etc.), líquidos (alcatrões, ácido acético, álcool
metílico) e o resíduo sólido que é o carvão vegetal.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Calcáreo

O cálcáreo, cuja fórmula é CaCO 3, é usado para formar o fundente. A sua função é
combinar-se com as impurezas (ganga) do minério e com as cinzas do carvão, formando as
chamadas “escórias”.

Outras matérias primas da indústria siderúrgica

Entre elas, a mais importante é o minério de manganês. Outras matérias-primas incluem


as “ferro-ligas” de silício, cromo, vanádio, molibdênio, níquel, tungstênio, titânio, etc. Finalmente,
deve-se ainda mencionar como importante matéria-prima a sucata de aço, ou seja, subprodutos
Ferro e Aço

da fabricação de aço e itens ou componentes de aço desgastados, quebrados ou descartados.

4.5.3 - Beneficiamento do minério de ferro


O termo genérico “beneficiamento” compreende uma série de operações que têm como
objetivo tornar o minério mais adequado para a utilização nos altos-fornos. Estas operações
são britamento, peneiramento, mistura, moagem, concentração, classificação e aglomeração
(principal). A aglomeração visa melhorar a permeabilidade da carga do alto-forno, reduzir o
118 consumo de carvão e acelerar o processo de redução. Os processos mais importantes de
aglomeração são a sinterização e a pelotização.

Sinterização

Consiste em aglomerar-se finos de minério de ferro numa mistura com aproximadamente


5% de um carvão finamente dividido ou coque. A carga é aquecida por intermédio de queimadores
e com o auxílio de fluxo de ar. A temperatura que se desenvolve durante o processo atinge 1.300
a 1500ºC, suficiente para promover a ligação das partículas finas do minério, resultando num
produto uniforme e poroso chamado sínter.

Esse processo exige considerável aporte de tecnologias tanto no controle granulométrico


quanto no controle da composição química do minério a ser utilizado (Viera et al. 2003). A
preparação do minério de ferro é feita cuidando-se da granulometria, visto que os grãos mais
finos são indesejáveis, pois diminuem a permeabilidade do ar na combustão, comprometendo a
queima. Para solucionar o problema, adicionam-se materiais fundentes (calcário, areia de sílica
ou o próprio sínter) aos grãos mais finos.

Com a composição correta, estes elementos são levados ao forno onde a mistura é fundida.
Em seguida, o material resultante é resfriado e britado até atingir a granulometria desejada
(diâmetro médio de 5mm). O produto final deste processo é denominado de sínter (Fig. 4.8).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig. 4.8 - Fornos contínuos


para sinterização
Fonte: Combustol

Ferro e Aço
Pelotização

Este é o mais novo processo de aglomeração que produz os melhores resultados. O


processo visa obter “bolas” ou “pelotas” compactadas a partir de finos de minério de alto teor ou
de ferro. Adiciona-se cerca de 10% de água e, geralmente, um aglomerante de natureza inorgânica.
Uma vez obtidas as pelotas cruas, estas são secas, pré-aquecidas e então queimadas

4.5.4 - Fornos Primitivos


119
A redução do ferro foi obtida pela primeira vez através do uso de um forno muito primitivo
o chamado poço fechado (Fig. 4.9). Esse forno era constituído por um simples buraco no solo
coberto com uma capa de argila. No seu interior era adicionada uma pequena carga composta
basicamente por minério de ferro e carvão vegetal. Nas paredes laterais, eram feitos pequenos
orifícios nos quais eram introduzidos pequenos tubos que possibilitavam a entrada de ar insuflado.
Esse processo, com pequenas modificações, foi usado até o século VIII d.C. quando os catalães
criaram uma forja que revolucionou a tecnologia da redução do minério de ferro. A principal
inovação da forja catalã (Fig. 4.9) era o fato de que o minério era alimentado sobre uma camada
superaquecida de carvão insuflado por um fole manual que jogava o ar embaixo do carvão.

Fig. 4.9 - Fornos primitivos usados na redução do minério de ferro, pelo emprego
de carvão vegetal como combustível. Original: RMPC
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

No século XV, o ferro passa a ser produzido pelo refino do gusa e o crescente uso da
força motriz da água possibilitou grandes melhoras na laminação e trefilação do aço. No início
do século XVIII, a invenção do coque pelo inglês Abraham Darby causa uma nova revolução na
fabricação do aço. O coque é obtido a partir do carvão que é aquecido a altas temperaturas, na
ausência de ar. Após a liberação dos voláteis, o processo resulta no aparecimento de resíduo
sólido, mas poroso e com altíssimo teor em carbono e dotado de uma alta resistência mecânica,
o coque siderúrgico. O uso do coque como o único combustível em altos fornos somente foi
universalizado a partir do momento em que novas tecnologias de refino do coque principalmente
visando a eliminação dos resíduos sulfurosos que causavam o enfraquecimento final da liga
foram desenvolvidas o que ocorreu somente no final do século XVIII. A resistência mecânica do
coque e a sua permeabilidade aos gases possibilitaram o aparecimento de altos-fornos cada vez
maiores e mais complexos.
Ferro e Aço

O desenvolvimento da siderurgia no Brasil pode ser considerado vertiginoso. Embora as


primeiras fundições no país tenham sido fundadas logo após o descobrimento, temos que levar
em consideração que o decreto da rainha de Portugal, D. Maria, proibindo as fundições na colônia
causou um enorme revés. Após a vinda da coroa portuguesa para o Brasil em 1808, houve
um estímulo à industria de transformação do ferro com a criação da Fábrica de Ferro, perto de
Congonhas em 1810. Apesar desse estímulo, o Brasil republicano tinha uma produção anual de
apenas 2100 toneladas por ano de ferro gusa em 1905. Em 2005, o país produziu cerca de 25
milhões de toneladas de ferro gusa, um aumento verdadeiramente extraordinário (UFSC, 2009).
120
O processo siderúrgico moderno pode ser dividido em quatro fases: (a) preparo das
matérias primas (coqueira e sintetização); (b) produção de gusa (alto-forno); (c) produção de
aço (aciaria) e (d) conformação mecânica (laminação). As usinas siderúrgicas modernas são
conhecidas como sendo usinas integradas pois são capazes de reunir em um local todas as
etapas acima

4.5.5 - Produção do ferro-gusa: o alto-forno


O alto-forno constitui ainda o principal aparelho utilizado na metalurgia do ferro. A metalurgia
do ferro consiste, essencialmente, na redução dos óxidos dos minérios de ferro, mediante o
emprego de um redutor, que é um material a base de carbono (carvão). A redução do minério de
ferro é feita utilizando o coque metalúrgico e outros fundentes, que misturados com o minério de
ferro são transformados em ferro-gusa. Essa reação é exotérmica. O resíduo formado pela reação,
a escória, é vendida para a indústria de cimento. Após a reação, o ferro-gusa, na forma líquida, é
transportado nos carros- torpedos (vagões revestidos com elemento refratário) para uma estação
de dessulfuração, onde são reduzidos os teores de enxofre a níveis aceitáveis. Também são feitas
análises da composição química da liga (carbono, silício, manganês, fósforo, enxofre) e, a seguir,
o carro-torpedo transporta o ferro gusa para a aciaria, onde será transformado em aço.

A fig. 4.10 mostra a seção transversal de uma instalação de alto-forno, incluindo todo
o equipamento acessório e auxiliar. O alto forno é constituído por uma estrutura cilíndrica, de
grande altura, que compreende essencialmente uma fundação e o forno propriamente dito. Este,
por sua vez, é constituído de três partes essenciais, isto é, cadinho, rampa e cuba. O equipamento
acessório e auxiliar tem como objetivo limpar os gases que saem do alto-forno, bem como pré-
aquecer o ar que é introduzido no forno através das ventaneiras.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Ferro e Aço
121

Fig. 4.10 - Esquema de operação de um alto-forno dedicado á fabricação do ferro


gusa. A carga (coque+ minério de ferro + calcário) é introduzida pelo topo
e a injeção de ar é feita, nesse caso, pelas laterais na parte inferior. A saída
da escória e do gusa ocorre pelas partes inferiores. As temperaturas mais
elevadas ocorrem justamente junto à saída do gusa. Original: RMPC.

Num alto-forno, existe um fluxo de materiais de cima para baixo representado pela carga
que desce paulatinamente e fluxo ascendente de gases que se originam através da reação do
carbono do carvão com o oxigênio do ar injetado na base inferior do alto-forno.

O principal produto do alto-forno é o ferro gusa. O ferro-gusa é uma liga ferro-carbono


de alto teor de carbono e teores variáveis de silício, manganês, fósforo e enxofre. De um modo
geral, a maioria dos ferros gusas possíveis de serem obtidos em alto-forno está compreendida na
seguinte faixa de composições da Tab. 4.7.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 4.7 - Composição média do ferro-gusa.

Elemento Percentual
Carbono (C) 3,0 a 4,4%
Silício (Si) 0,5 a 4,0%
Manganês (Mn) 0,5 a 2,5%
Fósforo (P) 0,05 a 2,0%
Enxofre (S) 0,20% máx.
Obs.: O percentual restante é constituído pelo Fe. Fonte: UFSC, 2009.
Ferro e Aço

Um outro produto do alto-forno é a escória, cuja composição varia igualmente dentro de


limites muito amplos (Tab. 4.8).

Tab. 4.8 - Faixa de variação da composição da escória de um alto-forno para a produção de aço.

Substância Percentual
SiO 2 29 a 38%
Al2O3 10 a 22%
122 CaO + MgO 44 a 48%
FeO + MnO 1 a 3%
CaS 3 a 4%
Fonte: UFSC, 2009.

Este material, depois de solidificado, pode ser utilizado como lastro de ferrovias, material
isolante, etc. A aplicação mais importante dá-se na fabricação do chamado “cimento metalúrgico”.
Finalmente, o gás de alto-forno é um subproduto muito importante devido ao seu alto poder
calorífico. Sua composição pode ser vista na (Tab. 4.9).

Tab. 4.9 - Composição dos gases presentes no interior dos altos-fornos que produzem aço.

Gás Percentual
CO 2 13%
CO 27%
H2 3%
N2 57%

Este gás é utilizado na própria usina siderúrgica nos regeneradores, fornos diversos de
aquecimento, caldeiras etc.

Os altos fornos sofreram inúmeros aprimoramentos para minorar a poluição atmosférica


(Fig. 4.11).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Ferro e Aço
123

Fig. 4.11 - Corte transversal de um alto forno moderno equipado com vários sistemas antipoluentes tais como a
remoção de sólidos por gravidade, por precipitação elétrica e queima de gases tóxicos. Notar o sistema de
injeção de ar comprido junto a base do alto forno. O ferro gusa líquido é extraído da base do forno assim
como a escória. Original: RMPC.

4.5.6 - Reações químicas


As temperaturas mais elevadas ocorrem nas proximidades das ventaneiras, em valores que
atingem 1.800 a 2000ºC. Nesta região, verifica-se a reação:

C + O2 CO 2 [Reação 4.1]

Originando-se grande quantidade de calor. Este CO 2, ao entrar em contato com o coque


incandescente, decompõe-se:

CO 2 + C 2CO [Reação 4.2]

O CO originado é o agente redutor.


Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A carga introduzida pelo topo, ao entrar em contato com a corrente gasosa ascendente,
sofre uma secagem. A decomposição dos carbonatos do calcário ocorrerá a cerca de 800ºC.
As equações abaixo descrevem esse processo:

CaCO 3 CaO + CO 2 [Reação 4.3]

MgCO 3 MgO + CO 2 [Reação 4.4]

A seguir, ocorre a redução do ferro. O CO e o próprio carbono do carvão que atuam como
agentes redutores. As reações químicas que descrevem a redução do minério de ferro podem
ser escritas da seguinte maneira:
Ferro e Aço

3Fe 2O 3 + CO 2Fe 3O4 + CO 2 [Reação 4.5]

Fe 3O4 + CO 3FeO + CO 2 [Reação 4.6]

ou

Fe 2O 3 + 3C 2Fe + 3CO [Reação 4.7]

124
Na parte inferior do alto-forno, em uma região que corresponde ao topo da rampa (é
uma região que fica logo acima do cadinho onde o ferro líquido e a escória são depositados),
inicia-se a formação da escória. Esse rejeito é formado através da combinação da cal (CaO) com
a canga (impurezas do minério de ferro) acrescido de uma certa quantidade de óxido de ferro
e manganês. Essa escória, juntamente com o ferro, começa a gotejar através dos interstícios
(espaços vazios) da carga ainda sólida, para depositar-se no cadinho.

Outras reações

Mn 3O4 + C 3MnO + CO [Reação 4.8]

MnO + C Mn + CO [Reação 4.9]

SiO 2 + 2C Si + 2CO [Reação 4.10]

P 2O 5 + 5C 2P + 5CO [Reação 4.11]

FeS + CaO + C CaS + Fe + CO [Reação 4.12]

Finalmente, as últimas reações fundamentais são representadas pelas equações:

3Fe + C Fe 3C [Reação 4.13]

3Fe + 2CO Fe 3C + CO 2 [Reação 4.14]


Ricardo Motta Pinto-Coelho

Todas as reações acima descrevem a produção do ferro-gusa, que além de ferro e carbono
também incorpora uma série de outros elementos tais como o manganês (Mn), silício (Si),
fósforo (P) e enxofre (S).

A formação da escória compreende reações bem mais complexas. Ela resulta da combinação
do CaO e do MgO presentes no calcário (fundente) com a canga (impurezas) do minério e as
cinzas do carvão. A escória caracteriza-se por sua grande fluidez e seu baixo peso específico.
Assim, no cadinho (reservatório), a escória e o gusa líquido separam-se por gravidade, formando
duas camadas, isto é, a inferior (metálica) e a superior (escória), facilitando o vazamento de
ambos os produtos.

4.5.7 - Fabricação do aço

Ferro e Aço
Aço é o ferro-gusa removido de suas impurezas. O aço é uma liga de ferro e carbono,
contendo ainda outros elementos químicos (IBS, 2009). Nos aços, o teor de carbono situa-se
entre 0,025 a 2,06 % (ITA, 2009). Um teor de carbono acima de 2,06 % qualifica a liga a ser
denominada como ferro fundido. Os teores dos outros elementos na liga são dosados de acordo
com a finalidade a que se destina um tipo de aço. Os elementos químicos cobalto, cromo, níquel,
manganês, molibdênio, vanádio e tungstênio (= volfrâmio) são os mais usados na preparação
de aços especiais. As impurezas como a sílica, o fósforo e o enxofre enfraquecem muito o aço,
então devem ser eliminadas. Quando os elementos predominantes são o ferro e o carbono, a
125
liga recebe o nome de aço-carbono, aço comum ou aço comercial. A vantagem do aço sobre o
ferro é o aumento de sua resistência.

O ferro-gusa é uma liga Fe-C com outros elementos resultantes do processo de fabricação.
Estes outros elementos são o Si, Mn, P e S. A composição do ferro gusa apresenta cerca de 4%
de carbono e 0,4% de fósforo o que impossibilita a sua conformação mecânica (Moreira, 2009).
No processo de fabricação do aço, estes e outros elementos, inclusive o carbono, devem ter
seus teores reduzidos. A redução da concentração desses elementos químicos presentes no aço
ocorre por oxidação. Os “agentes oxidantes”, isto é, aqueles que iram oxidar o ferro gusa para
baixar o teor dos elementos químicos, podem ser de natureza gasosa (ar ou oxigênio) ou sólida
(minério de ferro).

Existem dois processos usados para a fabricação do aço (UFSC, 2009). O primeiro deles
é conhecido como sendo o processo pneumático. Nesse processo, o agente oxidante é o ar ou
oxigênio. O segundo processo é a rota do uso dos fornos elétricos. Nesse processo, o agente
oxidante é composto por uma mistura de substâncias sólidas contendo óxidos (minério de ferro
por exemplo).

Processos pneumáticos

Em 1952, uma aciaria austríaca desenvolveu um processo inovador baseado em conversores


a oxigênio, também conhecido com conversores LD (Araújo, 1996). Até hoje, essa tecnologia é
amplamente usada em grandes aciarias. A carga em um forno LD é constituída basicamente de
gusa líquido com 10-30% de sucata ou gusa sólido (Fig. 4.12).

Esse processo é caracterizado pela introdução de ar ou oxigênio, pelo fundo, lateralmente


Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

ou pelo topo, através de uma “lança”. Estes diferentes tipos de equipamentos são chamados
de conversores pneumáticos (Fig. 4.12). Sendo as reações de oxidação dos elementos contidos
no ferro gusa líquido fortemente exotérmicas, principalmente a do silício, não há necessidade
de aquecimento da carga metálica do conversor, eliminando-se, assim, a utilização de qualquer
combustível.
Ferro e Aço

126

Fig.4.12 - Processos pneumáticos para produção de aço, a partir de ferro gusa (Modificado de UFSC, 2009).

Nos fornos pneumáticos, o ferro gusa é transportado, ainda líquido, para dentro dos
conversores através dos carros-torpedos (Moreira, 2009). O próprio calor gerado pela oxidação
dos elementos químicos é suficiente para manter a temperatura do forno. Os fornos pneumáticos
são utilizados, basicamente, em usinas integradas (nestas usinas, estão geralmente concentrados
no mesmo local a sinterização, a redução do minério de ferro e a fabricação do aço e mesmo
a sua posterior laminação), de forma que o ferro gusa pode ser transportado ainda líquido do
alto-forno para os conversores. As reações químicas de oxidação do ferro gusa estão descritas
abaixo:

2Fe + O 2 2FeO [Reação 4.15]

2FeO + Si SiO 2 + 2Fe [Reação 4.16]

FeO + Mn MnO + Fe [Reação 4.17]


Ricardo Motta Pinto-Coelho

Essa oxidação irá formar o óxido de sílica SiO 2. Esse óxido, juntamente com os óxidos de
ferro e manganês são formados durante o “sopro” e originam uma escória de baixo ponto de
fusão, formada de silicatos de Fe e Mn. A medida que o sopro continua, inicia-se a oxidação do
carbono:

FeO + C Fe + CO [Reação 4.18]

Após este primeiro estágio de oxidação, o metal está pronto para ser transferido a uma
panela onde são, então, adicionadas as “ligas” Fe-Mn ou alumínio para desoxidar e dessulfurar o
metal, segundo as seguintes reações:

FeO + Mn MnO + Fe [Reação 4.19]

Ferro e Aço
FeS + Mn MnS + Fe [Reação 4.20]

ou

3FeO + 2Al Al 2O 3 + 3Fe [Reação 4.21]

Existem alguns problemas operacionais no processo de oxidação do ferro gusa. Os mais


importantes são de controle do final da oxidação, da temperatura e da composição química do
banho metálico. Os conversores mais conhecidos são o Bressemer, Thomas, de sopro lateral 127
e de sopro pelo topo (conversor L-D). A vantagem é que esse é um processo muito rápido,
aproximadamente 10 vezes mais rápido que o forno elétrico Siemens-Martin (Araújo, 1996).

A rota tecnológica das usinas integradas baseada em alto-forno para a produção de ferro
gusa, associado ao conversor pneumático LD deverá ter um futuro de pelo menos 20 anos
nos países menos desenvolvidos tais como o Brasil (Andrade et al. 2002). Essas usinas ainda
permanecem competitivas aqui, uma vez existem inúmeros gargalos ligados a infraestutura de
transporte, limitações de energia e outras limitações ligadas à logística da produção de aço
descentralizada que é uma característica dos países que adotaram predominantemente a rota
dos fornos elétricos, tais como os EUA, Japão e Coréia do Sul.

Processos elétricos

Esse tipo de usina pode usar tanto o gusa sólido quanto a sucata de aço. No forno elétrico,
a fusão do ferro e do aço ocorre devido ao calor gerado por um arco voltaico que se forma entre
três eletrodos e a carga metálica (Fig. 4.13). Após a fusão da carga, o oxigênio é injetado por uma
lança diretamente no banho líquido. A redução dos teores de impurezas é obtida pela oxidação
e as reações são as mesmas já descritas acima.

A fabricação do aço (refino do aço) ocorre em duas etapas. No refino primário (etapa 1)
são reduzidos os teores de C, Mn, Si e P. A oxidação desses elementos libera grande quantidade
de calor que ajuda a reduzir o consumo de eletricidade do forno. O calcário e o minério formam
uma escória que flutua na superfície. As impurezas, incluindo o carbono, são oxidadas e migram
do ferro para a escória. A composição do banho líquido é continuamente monitorada.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Eletrodos
(a)

Revestimento
refratário com
tijolos
(b)

Lança para
injeção de
oxigênio

Bica de
corrida

(c)
Ferro e Aço

Adição
de Ligas
Pote de
escória

Fig 4.13 - Aspecto de um forno elétrico (etapa 1) no qual o aço é produzido através da ação da eletricidade que gera
128 um arco voltaico entre três eletrodos de grafite e a carga metálica.
Fonte: modificado por Cezar Costa do original de Figueira, 2009.

Nos fornos pneumáticos, o ferro gusa é transportado, ainda líquido, para o seu interior. Ao
se atingir o ponto ideal, a carga é transferida para outro forno (forno panela) onde é feito o refino
secundário (Fig. 4.13). Nessa segunda etapa, são acrescentadas as diversas ligas de ferro (Fe-
Mn ou Fe-Si) que agem no sentido da redução de enxofre e oxigênio do aço. Quando o teor de
carbono estiver correto, aço-carbono é então formado. A dessulfurização é realizada de acordo
com a seguinte reação:

Mn + S → MnS [Reação 4.22]

O enxofre é então reduzido pela formação do sulfeto de manganês (MnS) que vai para a
escória. Já quanto à desoxidação, é inevitável que parte do ferro, durante o refino primário, sofra
oxidação, de acordo com a seguinte reação:

Fe + O → FeO [Reação 4.23]

Então, na desoxidação, o óxido de manganês vai compor a escória.

FeO + Mn → Fe + MnO [Reação 4.24]

Contudo, é interessante comentar que nem todo o sulfeto de manganês (MnS) e o MnO
vão para a escória. Parte destes compostos, bem como o próprio FeO, permanecerão no aço
como impurezas, chamadas de inclusões não metálicas, as quais devem ser criteriosamente
controladas pois afetam diretamente as propriedades dos aços produzidos.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Carregamento Fusão

Ferro e Aço
Refino Vazamento de Aço

129

Vazamento Escória

Fig. 4.14 - Sumário das principais fases da produção de aço em um forno elétrico do tipo
Mini-mills. Fonte: modificado por Cezar Costa do original de Figueira, 2009.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Durante a segunda etapa, normalmente é também adicionada uma grande variedade de


metais ao aço para criar diversas propriedades. Por exemplo, a adição de 10 a 30 % de cromo,
cria uma liga especial, o aço inoxidável, que é muito resistente à ferrugem. A adição de cromo e
molibdênio cria o aço cromo-molibdênio, que é resistente e leve. Um sumário do processo pode
ser visto na (Fig. 4.14.)

Os fornos elétricos podem ser alimentados tanto por corrente contínua quanto por corrente
alternada. O consumo total de energia é menor quando a alimentação é feita com corrente
contínua que também protege mais os eletrólitos. No entanto, essa forma de energia exige
investimentos mais elevados para a sua instalação.

A carga para alimentar esses fornos elétricos é formada por gusa sólido e diversos tipos de
Ferro e Aço

sucata de aço. A fusão da mistura de sucata de aço e ferro gusa ocorre devido ao calor gerado
por um arco voltaico que se forma entre três eletrodos de grafite e a carga metálica. Após a
fusão da carga, oxigênio é injetado por uma lança diretamente no banho líquido. A redução dos
teores dos elementos de liga ocorre, então, por oxidação, sendo que as reações são as mesmas
já descritas para os fornos pneumáticos. Esses fornos podem ocasionalmente ser alimentados
com um tipo especial de minério de ferro, o hot briquetted iron (HBI) que é um concentrado
especialmente formatado para o uso nessas instalações.

Segundo o Relatório sobre a reestruturação da siderurgia brasileira publicado por


130 especialistas da área do BNDES (Andrade et al. 2002), a reestruturação mundial das siderurgias
vem favorecendo a implantação de projetos de usinas que utilizam a tecnologia dos altos fornos
elétricos em comparação às grandes usinas integradas. A fabricação do aço por processos elétricos
apresentaria, segundo o documento acima, algumas vantagens competitivas importantes tais
como:

a) esse tipo de usina é menos agressivo ao meio ambiente e opera prioritariamente com
a reciclagem de sucata possuindo, então, um forte apelo ecológico;

b) as usinas elétricas exigem menos investimento para serem instaladas;

c) elas possuem grande flexibilidade na utilização de matérias primas;

d) t ratam-se de usinas compactas e podem ficar localizadas próximas a centros urbanos;

e) existem inúmeros avanços tecnológicos recentes aplicáveis a esse tipo de usina;

f) os fornos elétricos já podem produzir aços planos que era uma importante limitação
para esse tipo tecnologia;

g) os seus produtos são bem aceitos no mercado internacional;

h) os fornos elétricos permitem uma menor concentração de capitais e podem se adequar


mais rapidamente às necessidades dos mercados locais.

No caso do Brasil, os fornos elétricos tem o seu uso limitado em virtude do alto custo da
energia elétrica o que ainda favorece as usinas integradas.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Processos de redução direta (SL/RN)

Nesse processo, também conhecido como “redução direta”, os óxidos de ferro praticamente
puros (Fe 2O 3 ou Fe 3O4) são tratados a temperaturas usualmente entre 950 e 1050ºC, na presença
de uma substância redutora, resultando, freqüentemente uma massa escura e porosa, conhecida
como “ferro esponja”. Essa redução é realizada no estado sólido. Aqui é eliminado o alto-forno
e o aço é produzido diretamente a partir do minério. Alternativamente, pode-se aqui produzir
um material intermediário, a ser empregado como “sucata sintética” nos fornos de aço. Os
países que não dispõem de um carvão mineral que possa ser usado para a produção de coque
siderúrgico e que não dispõem de minério de ferro com altos teores de ferro são os candidatos
naturais a investirem nesse tipo de tecnologia.

Ferro e Aço
Os processos de redução direta podem ser agrupados em duas classes: (a) processos que
utilizam redutores sólidos e (b) processos que utilizam redutores gasosos. No processo SL/RN,
a carga consiste de concentrados de minério de ferro, na forma moída ou na forma de “pelotas”,
coque e calcário moídos (Fig. 4.15).

131

Fig. 4.15 - Representação esquemática do processo SL/RN de redução direta. Original: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A carga é levada a um forno rotativo, onde a temperatura é mantida na faixa de 1000


a 1076ºC. O produto sólido resultante é resfriado e o ferro é separado mediante separador
magnético. O coque não utilizado é removido e reutilizado. O processo permite produzir material
contendo enxofre entre 0,02 e 0,05% apenas, o que o torna adequado para a utilização em
fornos de aço.

Laminação a frio

A laminação a frio melhora várias propriedades físicas do aço, tornando-o mais apto para
várias aplicações principalmente na indústria automobilística. Esse aço laminado a frio usualmente
possui menores teores de carbono. Ele é normalmente laminado em chapas usadas na fabricação
Ferro e Aço

de chassis e estamparia de veículos automotores. Esse processo gera um material com excelente
capacidade de estamparia além de boa resistência física. Esse tipo aço também é bastante
resistente a corrosão após o tratamento adequado.

4.5.8 - Produção brasileira de aço


Segundo as estatísticas oficiais do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS, 2009), a produção
brasileira de aço bruto em 2008 foi de 33,7 milhões de toneladas, representando redução
132 de 0,2% em relação a 2007. Essa retração deveu-se principalmente às quedas de produção
registradas em novembro e dezembro em decorrência da baixa demanda de praticamente todos
os grandes setores consumidores. Em relação aos laminados, a produção de 2008 foi de 24,7
milhões de toneladas, representando queda de 4,5% em relação ao ano anterior.

Quanto às vendas internas, o resultado do ano foi de 21,8 milhões de toneladas de


produtos, crescimento de 6% sobre o ano anterior, que refletiu a boa performance do setor até
outubro, quando o crescimento acumulado foi de 14,4%.

As exportações de produtos siderúrgicos de 2008 atingiram 9,3 milhões de toneladas no


valor de US$ 8,1 bilhões. A queda no volume das exportações (-10,9%) deveu-se principalmente
a prioridade das empresas para o atendimento ao mercado interno devido ao forte crescimento
observado até o 3º trimestre. A receita das exportações, que representou aumento de 21,1%,
foi decorrente principalmente dos elevados níveis de preço do mercado internacional naquele
período.No que se refere às importações, registrou-se o volume de 2,6 milhões de toneladas
(US$ 3,7 bilhões).

O consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos foi de 24,0 milhões de toneladas


em 2008. Esse valor indica um crescimento de 9,1% em relação ao ano anterior. O consumo de
produtos planos atingiu 13,9 milhões de toneladas e representou crescimento de 4,1%, enquanto
que para os aços longos o consumo chegou a 10,1 milhões de toneladas, o que significa um
aumento de 16,9%. Esses números refletem um crescimento muito acelerado do mercado, até
outubro de 2008, principalmente na área da construção civil. Entretanto, graças à mudança de
cenário da economia e a baixa demanda dos setores consumidores, observou-se forte queda nos
dois últimos meses de 2008.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

4.6 - Reciclagem do ferro e do aço


Introdução
A reciclagem de ferro e aço é uma das formas de reaproveitamento de matérias primas mais
antigas do mundo. Já no Império Romano, os soldados recolhiam utensílios e armas após guerras
para serem refundidos (ABEAÇO, 2009). A medida que foi aumentando a utilização do ferro, a
sua reciclagem igualmente foi crescendo. Hoje, as empresas e profissionais que trabalham nesse
segmento são chamados de recicladores. No entanto, eles, na verdade, são os antigos sucateiros.
Em passado recente, há trinta ou quarenta anos, era comum a presença de um carroceiro pelas
ruas das cidades brasileiras que recolhiam todo tipo de sucata, principalmente o “ferro velho”.

Ferro e Aço
Estes charreteiros que circulavam, inclusive em cidades grandes, eram a ponta desse processo.

As empresas de sucatas começaram a surgir no Brasil na década de 40, quando a indústria


brasileira se consolidava. É, ainda hoje, um mercado razoavelmente pulverizado, mas o maior
contingente está mesmo concentrado na região sudeste. Segundo o Sindicato do Comércio
Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São Paulo-SP (SINDINESFA , 2009),
49% das empresas de sucata nacionais estão em São Paulo. Os estados de Minas Gerais e Rio
de Janeiro, juntos, possuem apenas 13% das empresas de sucata do país.

É muito diversa a lista de produtos que podem ser usados em um programa de reciclagem 133
de aço: carcaças de eletrodomésticos, chassis de automóveis, autopeças, latinhas de produtos
alimentícios (latas de aço), latas de outros produtos como tintas, grades, esquadrias, vigas de
alicerces de construções (Fig. 4.16). Apesar de toda a variedade e dos elevados lucros envolvidos
nesse tipo de atividade, é ainda elevado o grau de informalidade, a precariedade de maioria das
instalações (principalmente aquelas fora de SP) e os baixos níveis de capacitação técnica que
caracterizam esse segmento de reaproveitamento da sucata de aço no Brasil.

A reciclagem de ferro, na verdade, não é uma atividade desprezível para o país. A sucata
é responsável por mais de um quarto da produção total das siderúrgicas brasileiras. Em 2006,
das 31 milhões de toneladas de aço produzidas no Brasil, 8,3 milhões foram devidas a sucatas
reutilizadas, ou seja, 26,7% do novo aço produzido. (CEMPRE, 2009).

Fig. 4.16 - Carcaças de


eletrodomésticos,
lataria ou chassi de
automóveis, tubos e
conexões, vergalhões de
aço de construção civil,
são uma das principais
fontes para a reciclagem
de grandes volumes
de aço. Normalmente,
todos os componentes
do eletrodomésticos são
separados e vendidos
para o pequeno
comércio de peças
usadas. Original: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Além de contribuir para o aumento da produção de aço no país, a reciclagem de aço


colabora para o ambiente. Cada tonelada de aço reciclado representa uma economia de 1.140
quilos de minério de ferro, 154 quilos de carvão e 18 quilos de cal (REVIVERDE, 2009).

Há, na verdade, dois processos diferentes de reciclagem de aço no Brasil. Um voltado


apenas para o reaproveitamento das latas de aço e outra, para uso das siderúrgicas em geral. A
participação das latas de aço para bebidas no mercado brasileiro é bem pequena. Representam
5% do mercado, concentrados principalmente no nordeste brasileiro (ABEAÇO, 2009). Vale
lembrar, no entanto, que outros produtos, alimentícios ou não, usam latas de aço. O seu processo
tanto de captação quanto de beneficiamento é muito semelhante ao da lata de alumínio, com a
ponta do processo nos catadores e final na própria chapa de aço. O aço leva desvantagem porque
os catadores acabam recebendo menos pelo material coletado do que recebem quando trazem
Ferro e Aço

o alumínio. Mesmo assim, as latas de aço alcançaram um índice significante de reciclagem, ou


seja, cerca de 85% para o ano de 2006 (RECICLAÇO, 2009).

A reciclagem da sucata de ferro e aço normalmente começa com a ação de um batalhão


de catadores de lixo ou de compradores de sucata. Em seguida, esse material é encaminado para
uma pequena empresa de reciclagem de sucata. Ao chegar no pátio dessas empresas, a carga
deve ser monitorada para se verificar se não há nenhum material radioativo.

Alguns materiais, tais como tubos e vigas de aço são rapidamente reciclados. Muitos tubos,
134 canos e vigas chegam nas fábricas e depósitos e acabam não sendo processados, já que tem
utilidade da forma que estão (Fig. 4.17). Esse padrão decorre do fato de que existe uma forte
demanda por vigas e canos no mercado. Desse modo, a fábrica entrega esse tipo de material
apenas após uma rápida triagem e separação.

Fig. 4.17 - A reciclagem de vigas e tubos de aço muitas vezes não necessita
de maiores intervenções além de uma triagem e inspeção
com posterior envio do material selecionado aos seus novos
consumidores. Fonte: Quebarato
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Já, eletrodomésticos e outros produtos com aço acabam passando por uma triagem e por
algum tipo de transformação antes de serem enviados para a próxima etapa. Muitas vezes, o
próprio catador retira várias peças que lhe interessam como, por exemplo, o motor da geladeira
ou dos eletrodomésticos. A forma como esse material será reciclado vai depender invariavelmente
das leis do mercado. Em outros casos, como no caso da foto abaixo, o processamento inclui o
corte de grandes chapas em medidas mais apropriadas para o transporte aos novos consumidores
(Fig. 4.18).

Ferro e Aço
Fig.4.18 - Corte de peças de aço que possibilita um melhor aproveitamento
da sucata a ser reciclada. Original: RMPC.
135
O reprocessamento começa normalmente com a separação de tipos de sucata. As partes
com muita “sujeira” tais como tintas, colas, plástico e outros materiais devem sofrer uma limpeza
grosseira. As sucatas mais “puras” tais como os retalhos que vêm das próprias siderúrgicas
dispensam essa ação. A necessidade de separar vem dos pedidos de pureza do produto para
cada cliente da sucateira. Daí por diante, os processos são muito parecidos. O material pode ser
cortado, prensado ou até mesmo refundido.

Fig. 4.19 - Esquema da prensagem da sucata de aço, reciclada e pronta para ser enviada de volta à siderúrgica.
Original: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Após todo processamento da sucata, ela é prensada em fardos que são transportados por
esteiras (Fig. 4.19) até as usinas siderúrgicas que vão refundi-las em fornos a 1.550ºC.

4.7 - Reciclagem de Automóveis


A indústria automobilística mundial passou a investir mais seriamente em reciclagem
apenas nos últimos anos. Essa mudança de postura tem muito a ver com um novo ideário que
vem sendo adotado com freqüência cada vez maior em diversas cadeias produtivas. Nos países
desenvolvidos, o ecodesign (design for the environment) vem sendo empregado com intensidade
cada vez maior em várias cadeias produtivas. Esse processo consiste em projetar ou conceber
produtos de uma forma ecológica com um mínimo ou até mesmo sem impacto ambiental
(Medina & Gomes, 2002). Na decorrência dessa nova visão industrial, surgiu um segundo
Ferro e Aço

conceito, o de projeto para a reciclagem (design for recycling). Esse conceito pode ser definido
como sendo projetar um produto prevendo a sua eventual reciclagem. Um terceiro conceito
interessante é o da ecoeficiência (ecoeffciency) que conjuga além da performance do produto, o
seu desempenho econômico e também a sua inserção dentro da questão ambiental.

A base de dados que fundamenta qualquer projeto de reciclagem é a análise do ciclo de


vida (life cycle analysis) de um determinado produto. Trata-se de um conceito com origem na
ecologia energética, mas é muito mais abrangente do que um mero estudo de balanço de massa
e energia. Essa análise identifica todos os impactos ambientais associados a todas as etapas
136
envolvidas desde a concepção até o seu destino final em um aterro sanitário. É uma forma de
registrar a vida de um produto do seu berço até o seu túmulo.

Um projeto industrial que demonstre uma grande responsabilidade na questão ecológica


deve ter os seguintes pré- requisitos:

(a) uso de componentes modulares com um mínimo possível de peças que podem ser
facilmente removidas e reutilizadas;

(b) todos os componentes do produto devem ser facilmente desmontados;

(c) minimizar o uso de matérias primas nobres bem como o uso de energia na fabricação
do produto;

(d) evitar ou eliminar o uso de qualquer tipo de substância tóxica.

O uso desses novos conceitos é relativamente novo na indústria automobilística. A diretiva


européia, a de número 2000/53CE, que impõe regras para a reciclagem dos Veículos em Fim
de Vida já está em vigor em muitos países europeus. O primeiro objetivo ao se implantar essa
diretiva foi o de criar um mecanismo de divisão de materiais poluentes a tratar, repartindo as
responsabilidades entre os fabricantes, importadores, concessionárias e o consumidor.

A verdade filosófica que está por trás da reciclagem, é o fato - incontestável - que o velho
sempre fez parte do novo. Esse raciocínio, em essência, traduz a lógica da vida. Esse axioma
deve em breve fazer parte do mais novo capítulo da história dos automóveis. Os 160 milhões de
veículos que rodam hoje nas estradas européias deverão ter a maioria de suas peças recicladas.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Após um período que em geral oscila entre 5 e 10 anos, toda essa matéria deverá fazer parte
de novos veículos.

Um conceito que é a base da reciclagem de automóveis é o conceito do Automóvel em


Fim de Vida – AFV. Na Europa, são eliminados cerca de 9 milhões de veículos por ano. Hoje, pelo
menos 3/4 de todas as peças desses veículos podem ser recicladas. Permanecem ainda cerca de
25% cuja reciclagem é praticamente inviável. Podemos mesmo dizer que a culpa é dos plásticos.
Isso significa dizer que pelo menos 2 milhões de toneladas de resíduos não metálicos irão para
os aterros do velho continente (Figs. 4.20 e 4.21).

Ferro e Aço
Desmonte Reciclagem 137
Resíduos (20-25%)
Prensa
Ferrosos e
Triagem (45-55%)
Não Ferrosos

Motores
Remoção (45-55%)
Pneus
Transmissão
Óleos e Combustíveis
CFC’s
HFC’s
Airbags

Fig. 4.20 - Fluxograma indicando o processo de desmonte dos AFV. Esse processo inicia-se com a remoção e triagem
dos componentes mais nobres ou que podem ser facilmente reutilizados. A seguir, a carroçaria é enviada
peara a prensagem de onde são separados os metais ferrosos e não ferrosos e ainda os resíduos que serão,
posteriormente, enviados para uma segunda etapa da reciclagem. Esse processo envolve dois grupos de
empresas, as empresas de desmonte e as empresas de reciclagem. Original: RMPC.

Até meados da década de 90, os demais resíduos de trituração eram considerados como
sendo impossíveis de serem reciclados e eram normalmente enviados para os aterros sanitários.
Entretanto, uma série de novas tecnologias vem sendo desenvolvidas recentemente no sentido
de se aproveitar também as resinas, os vidros e a borracha. Algumas dessa novas tecnologias
são: (a) o desenvolvimento de produtos de isolamento acústico a partir de tecido e espumas
recicladas; (b) outra nova tecnologia permite recuperar o cobre do conjunto de fios, o chamado
chicote do veículo que será empregado em ligas metálicas; (c) emprego do vidro automotivo
reciclado na fabricação de ladrilhos e peças cerâmicas; (d) emprego dos resíduos combustíveis
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

(que possuem o mesmo poder calórico do carvão) em substituição ao carvão ou querosene


como combustível alternativo em termoelétricas.

O processo moderno da reciclagem veicular inicia-se com o desmonte do veículo (Fig.


4.20). A precisão e a qualidade desse processo determinam o grau de reutlização de peças
e componentes importantes. Durante o processo de desmonte, os motores, pneus e outras
peças vitais são removidos. Após o desmonte do veículo, as partes metálicas são separadas das
partes não metálicas (Fig. 4.21). Hoje, existem processos de reciclagem a seco, ou seja, não
geram resíduos líquidos que são capazes de recuperar os metais ferrosos, não ferrosos, vidros e
plásticos (Fig. 4.22). Ao final, a carroçaria é esmagada através do emprego de uma máquina de
trituração.
Ferro e Aço

19% 19%

2%
3%
3%
17%
4%
138
6%

9% 9%
9%

Resinas Espuma de Tecido Borracha Ferro Vidro


Uretano

Fios Metais Não Ferrosos Madeira Outros Papel

Fig. 4.21 - Percentuais dos constituintes de um automóvel. Os resíduos são tratados, inicialmente, para a separação dos
materiais combustíveis daqueles que não são combustíveis. Os materiais combustíveis podem ser usados,
por exemplo, para a produção de energia. Original: RMPC.

A diretiva européia foi aprovada após um longo debate com os grandes fabricantes mundiais
de automóveis. Ela obriga os vários atores da cadeia produtiva automobilística a dividirem
tarefas e responsabilidades na eliminação dos AFV. Os fabricantes serão obrigados a assegurar a
recuperação e a destruição dos seus veículos no futuro, e de trabalhar para conceberem modelos
mais facilmente recicláveis. Em 2015, todos os veículos novos postos a venda no mercado
europeu deverão contar com um índice de reaproveitamento de 85% dos componentes do
veículo, contra os atuais 75%. Por sua vez os importadores e as revendas terão que criar ou
fomentar os circuitos de recepção dos AFV o que inclui criar toda a logística para o transporte,
armazenamento e posterior envio dos AFV para o desmantelamento, triagem e reciclagem. O
principal objetivo dessa diretiva é o de proteger a qualidade ambiental das cidades e evitar o
virtual entupimento dos aterros sanitários na Europa.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Reciclagem à seco dos Resíduos de Trituração de um automóvel

Granulação

Tambor Triagem
Vidro
Giratório Vibração

Ferro e Aço
Triagem
Magnética Ferro

Triagem Triagem
Cobre
Não Ferrosos Vibração

139

Triagem Tecido
Pneumática Esp. Uretano

Fig. 4.22 - A reciclagem dos resíduos de um automóvel normalmente é feita através de diferentes tipos de triagem e
pulverização a seco. Ao final, matérias primas tais como o vidro, ferro, cobre, tecidos e plásticos são obtidos.
Esses materiais, por sua vez, podem ser usados em uma infinidade de novas aplicações. Original: RMPC.

Uma das principais dificuldades que os fabricantes enfrentarão para construir veículos
ecologicamente mais corretos e mais facilmente recicláveis está localizada nos diversos
componentes de plásticos hoje empregados na sua construção. A parte não metálica de um
automóvel (hoje ao redor de 25%) é quase toda constituída por plásticos. Os plásticos passaram
a ser largamente usados na indústria automobilística principalmente para substituir o metal, na
medida em que conseguem reduzir o peso do veículo e, em consequência, baixando os níveis
de consumo de combustível. Entretanto, os plásticos atualmente empregados nos automóveis ,
em seu conjunto, são bastante difíceis de serem reciclados.

Os plásticos são, em geral, extremamente complicados de se identificar, separar, reciclar


ou mesmo reutilizar. Entretanto, algumas indústrias, com forte presença no continente europeu
já saíram na frente e vêm desenvolvendo novas tecnologias de reciclagem de plásticos que
podem ser aplicadas à manufatura de componentes importantes em seus veículos (Fig. 4.23).
O processo de reciclagem completa dos plásticos é bastante dispendioso a cadeia da indústria
automobilística no Brasil somente irá adotar tal medida para atender a algum instrumento legal
específico a ser criado no país.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Garrafas PET
Ferro e Aço

Moldagem Granulado de garrafas


por injeção PET e composto

Fig. 4.23 - Processo novo desenvolvido pela Toyota no Japão que permite a manufatura de tampas de motores a
partir de um granulado composto feito à base de garrafas PET (modificado de Toyota, 2009).

140 Os construtores europeus estão condenados a “trabalhos forçados” nos próximos anos. A
partir de agora, eles terão de assumir a total responsabilidade em reciclar ao menos 85% do peso
total dos veículos fabricados a partir de 2006, incluindo um máximo de 5% a ser usado para a
queima de materiais para a produção de energia. E ainda terão de se ajustar para que 95% do
peso total dos veículos possa ser de fato recuperada até 2015, observando um limite máximo de
10% para o que a indústria automobilística chama de valorização energética. Resta frisar que na
União Européia já está em vigor desde 2003 a proibição da utilização de substâncias perigosas
tais como o cádmio, chumbo e o cromo hexavalente (Tab. 4.10).

Tab. 4.10 - A indústria automobilística européia vem reduzindo o emprego de chumbo (Pb) nos veículos.

Peças de onde o chumbo (Pb) Peças onde ainda existe


foi removido o chumbo (Pb).
Terminais de cabo da bateria Depósitos de combustível
Radiadores de cobre Vidro cerâmico
Núcleos de aquecimento do motor Velocímetro
Camada anticorrosiva da pintura Lubirificante de junta homocinética
Tubulação da direção hidráulica Contrapesos de rodas
Moladagem da proteção lateral Pintura eletrodepositada
Conjunto de fios (chicotes) Vários componentes do motor
Sensores de gravidade dos cintos de segurança Circuitos impressos
Tubos de combustível

Fonte: Toyota, 2009.


Ricardo Motta Pinto-Coelho

4.8 - A reciclagem de automóveis no Brasil


Em 2007, foram vendidos no mundo 73 milhões de automóveis sendo que 30% desse
total foram comercializados em países emergentes (China, Brasil, Rússia e Índia). A frota brasileira
de automóveis, em 2007, chegou a 21,1 x 10 6 de unidades (sétima maior frota do mundo).
Cresce também o número de motocicletas que já atingem a cifra de 7,3 x 10 6 de unidades. A
indústria nacional produziu naquele mesmo ano 2,9 x 10 6 de unidades que a posicionou como
a quinta maior produtora de veículos nesse ano (ANFAVEA, 2008). Apesar desses números, a
reciclagem de automóveis ainda está muito atrasada no país. (Fig. 4.24).

Ferro e Aço
141

Fig. 4.24 - A foto de um calhambeque talvez possa ser representativa do que é hoje a reciclagem de automóveis no Brasil:
idéias, valores e métodos ultrapassados, ineficiência do setor como um todo, alto grau de informalidade,
falta de rumos no governo e de um maior comprometimento sócio-ambiental da indústria automobilística, a
quinta maior do mundo. Foto: RMPC.

O Brasil deve investir um considerável esforço na reciclagem de veículos nos próximos


anos. Reciclar veículos automotores não é somente saudável para o meio ambiente. Hoje, a
maior parte das peças fora de uso dos veículos alimenta um florescente comércio localizado
na periferia (e às vezes em regiões nobres) das grandes cidades brasileiras. A grande parte
desse comércio é constituída por pequenas firmas de revenda de peças normalmente adquiridas
em oficinas, de seguradoras (autos com perda total), em leilões públicos (Fig. 4.25). Sabemos
também, através da crônica policial dos jornais, que uma parte dos automóveis roubados no
país acaba também por alimentar esse comércio. O ideal seria buscarmos uma reformulação
desse tipo de comércio, com a adoção de um programa de reciclagem de veículos no país que
incluísse a lataria, os plásticos, as baterias e os componentes elétricos (todos com certificado de
procedência). Esses componentes deveriam ser demanufaturados, reprocessados em recicladoras
devidamente autorizadas a desempenhar tal atividade.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Ferro e Aço

Fig. 4.25 - Exemplos de empresas dedicadas ao comércio de autopeças usadas. Esse comércio deve ser remodelado
para que possa atuar como o primeiro estágio da reciclagem completa dos veículos. Ao invés do reuso, tanto
o governo quanto a indústria automobilística deveriam trabalhar para estabelecer as bases ecológicas da
sustentabilidade dessa importante indústria no país. Foto: RMPC

142 No interior das empresas de autopeças usadas, normalmente é feita uma triagem das
peças. Aquelas que podem encontrar um comprador e um preço adequado são colocadas
imediatamente à venda como peças usadas (Fig. 4.26).

Fig. 4.26 - As empresas de peças usadas fazem uma triagem das peças em bom estado e de maior procura tais como
peças de lataria (capôs e portas laterais), radiadores, caixas de marchas, motores, etc. Em Belo Horizonte,
as peças em mau estado e principalmente os painéis e pára-choques de plástico são encaminhadas para
recicladores. Isso é mais raro de acontecer em Brasília, por exemplo. Apenas uma pequena proporção dessas
peças é encaminhada para firmas de reciclagem. Foto: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A reciclagem de autopeças no Brasil já ocorre, ainda que precariamente, para alguns


componentes veiculares. No entanto, há tanta coisa a fazer que não estaremos errando muito se
afirmarmos que se existe um setor industrial onde a questão da reciclagem está mais atrasada
no Brasil, esse setor é aquele representado pela indústria automobilística nacional. Em virtude
dessa postura, estabeleceu-se no país um florescente mercado de peças usadas que, de certo
modo, vem impedindo o desenvolvimento da reciclagem nesse setor em um verdadeiro círculo
vicioso (Fig. 4.24).

Ferro e Aço
Fig. 4.27 - Caminhão chega
com carregamento
de pára-choques
em uma empresa
de reciclagem
de plásticos em
Contagem, Minas
Gerais.
Foto: RMPC. 143

Embora já existam algumas iniciativas voltadas para a reciclagem de autopeças no Brasil


(Fig. 4.27), a preferência recai na reutilização das auto-peças usadas. Esse mercado tem alguns
vícios que justificam uma completa reestruturação do setor. Os principais problemas seriam:
(a) muita gente usa rotineiramente peças usadas o que pode comprometer a segurança dos
veículos; (b) esse tipo de comércio é muito difícil de ser fiscalizado e alguns se aproveitam da
enorme demanda para repassar componentes de veículos roubados; (c) esse comércio reforça
o atraso na questão da reciclagem de veículos no país uma vez que há um comércio firme
e garantido para as peças usadas. (d) o uso e manuseio indevido de peças e componentes
automotivos pode aumentar o risco de contaminação do meio ambiente seja do solo seja dos
recursos hídricos.

O comércio de autopeças usadas poderia continuar com o enfoque totalmente


diferenciado em relação ao que ocorre hoje. Ao invés de atuar como uma fonte de componentes
de segunda mão, ele deveria estar embasado não no reuso das peças pura e simplesmente,
mas na reciclagem e na demanufatura. A reutilização de autopeças poderia ser tolerada, em
circunstâncias excepcionais, como no caso de peças e componentes de grande valor agregado
(ex: caixas de câmbio ou certos tipos de componentes eletrônicos), desde que esse tipo de
comércio fosse muito mais fiscalizado do que é hoje.

É evidente que a reciclagem de veículos deve ser uma atividade muito bem regulamentada
tal como ocorre hoje na Europa e nos Estados Unidos. É preciso que a indústria automobilística
nacional passe a ter um maior comprometimento sócio-ambiental, compatível com a sua
importância no cenário econômico nacional e internacional. Por outro lado, espera-se mais
agilidade do governo na regulamentação dessa atividade.
Ricardo Motta Pinto-Coelho
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

ALUMÍNIO 5.0
Produção, Consumo
e Reciclagem de
Alumínio
5.1 - Introdução
5.2 - Principais reservas e a produção mundial de
bauxita
5.3 - Mineração de bauxita
5.4 - Beneficiamento da bauxita
5.5 - Redução
5.6 - Consumo de alumínio no mundo e no Brasil
5.5 - Impactos ambientais associados à mineração e
produção de alumínio
5.8 - O caso da usina de Brokopondo, Suriname e
outros casos de usinas hidroelétricas com
problemas ambientais.
5.9 - Reciclagem do alumínio
5.10 - Reciclagem das embalagens Tetra Pak®
(folhas de papel, alumínio e plástico)
5.11 - O mito da reciclagem de alumínio
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

5.1 - Introdução
O alumínio é um metal muito abundante na crosta terrestre e normalmente é encontrado
no mineral bauxita. O alumínio, na temperatura ambiente (25ºC), é sólido. É um metal muito
resistente à corrosão. O metal possui, no entanto, um baixo ponto de fusão. As suas principais
características físico-químicas são a leveza (alta relação resistência:peso), a alta condutividade
térmica e elétrica, impermeabilidade, opacidade, durabilidade, moldabilidade, soldabilidade, bem
como elevada resistência e dureza.

A bauxita é um mineral composto basicamente pelos óxidos de alumínio, ferro e sílica


(Al2O3, Fe2O3, e SiO 2 ). É uma rocha avermelhada com ampla ocorrência nas regiões tropicais e
subtropicais (Fig.5.1). Os principais hidróxidos de alumínio enncontrados em proporções variadas
na bauxita são gibsita, boemita e diásporo.
Alumínio

146

Fig. 5.1 - Aspecto de uma mina de bauxita pertencente à CBG (Foto: Goto, 2007).

Há pelo menos sete mil anos atrás, o alumínio já era usado pelos ceramistas da Pérsia.
Cerca de trinta séculos depois, os egípcios e babilônicos fabricavam cosméticos e produtos
medicinais tendo por base o alumínio. No entanto, foi somente em 1808 que Humphrey Davy
provou sua existência como um elemento químico (IEC, 2009). Durante os séculos XVIII e
XIX, o alumínio foi considerado um metal precioso, mas as suas aplicações industriais somente
foram estabelecidas bem recentemente, ou seja, a partir da segunda metade do século XIX e,
Ricardo Motta Pinto-Coelho

principalmente, depois da difusão do uso da eletricidade. Em 1889, os preços internacionais do


alumínio desabaram, mas aos poucos o metal se transformou em uma commodity com preços
internacionais bem estáveis ou mesmo com uma tendência de alta no longo prazo. A reciclagem
do alumínio se tornou bem difundida a partir de 1960.

As principais aplicações industriais do alumínio são o seu emprego na fabricação de fios


e cabos elétricos, construção de civil, peças para máquinas e equipamentos, tingimento de
tecidos, uso disseminado em embalagens descartáveis, no tratamento da água potável e na
manufatura de produtos para a higiene pessoal, medicamentos, refratários e diversos tipos de
catalisadores.

Alumínio
O alumínio é obtido a partir do beneficiamento da bauxita, um minério com ampla
ocorrência em regiões tropicais da biosfera (Fig. 5.2).

147

Regiões com potencial geográfico favorável

Fig 5.2 - As regiões tropicais são aquelas onde ocorrem as maiores reservas da bauxita um mineral associado aos altos
índices de intemperismo encontrados nas regiões mais quentes da biosfera. Nessas regiões, a lixiviação intensa
dos solos leva a um contínuo carreamento do cálcio, do potássio que são paulatinamente substituídos pelo
alumínio e o íon H + . Esse processo é conhecido com a laterização dos solos (Goto, 2007).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

5.2 - Principais reservas e a produção


mundial de bauxita
As reservas mundiais de bauxita são da ordem de 33,4 x 10 9 toneladas (DNPM, 2006).
As maiores reservas mundiais desse minério estão, respectivamente, na Guiné e na Austrália.
O Brasil contribui com cerca de 11% para esse total (Tab. 5.1, Fig. 5.3 ). A Jamaica e a China
são também detentores de importantes reservas do minério. Em termos de produção mineral,
o Brasil que em 2006 produziu 22 milhões de toneladas ocupa o segundo lugar, bem abaixo da
Austrália que naquele mesmo ano produziu 60 milhões de toneladas.
Alumínio

Reservas Mundiais de Bauxita

148
26% 25%

7%

7%
24%
11%

Guiné Austrália Brasil Jamaica China Outros

Fig. 5.3 - Países detentores das principais Fonte: Sumário Mineral DNPM/
reservas de bauxita. MME 2006 (DNPM, 2006).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 5.1 - Principais produtores mundiais de bauxita

Discriminação Reservas (10 6 t) Produção (10 3 t)


Países 2006(p) % 2005 (r) 2006 (p) %
Guiné 8.600 25,7 15.000 15.200 8,6
Austrália 7.900 23,6 60.000 61.400 34,5
Brasil 3.540 10,6 22.034 22.055 12,4
Jamaica 2.500 7,5 14.100 14.900 8,4
China 2.300 6,9 18.000 20.000 11,3

Alumínio
Índia 1.400 4,2 12.000 13.000 7,3
Rússia 250 0,8 6.400 7.200 4,1
Guiana 900 2,7 1.500 1.500 0,8
Suriname 600 1,8 4.580 4.800 2,7
Venezuela 350 1,1 5.900 6.000 3,4
Outros Países 5.050 15,1 11.870 11.720 6,5 149
TOTAL 33.390 100,0 171.384 177.775 100,0

Fonte: DNPM/MME, Sumário - Mineral 2006

O processo de produção do alumínio é complexo, mas pode ser sumarizado em três


grandes etapas: mineração, refino e redução do alumínio (Tab. 5.2). A bauxita é explorada nas
minerações em um processo relativamente complicado e com a geração de um grande passivo
ambiental principalmente em termos de remoção de grandes áreas de vegetação nativa e um
grande comprometimento dos recursos hídricos da área de entorno principalmente em termos
de assoreamento e contaminação do lençol freático com uma série de metais traços.

Tab. 5.2 - Etapas da obtenção do alumínio.

Etapas Fases

Decapeamento / Escavação / Transporte / Disposição de Rejeitos


Mineração / Britagem / Lavagem / Secagem / Recuperação de áreas degra-
dadas com reflorestamento

Transporte / Moagem / Digestão / Filtragem / Precipitação /


Refinaria
Calcinação
Redução Eletrólise / Forno de Espera / Transporte
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

5.3 - Mineração de bauxita


A primeira etapa de mineração da bauxita começa pela remoção da vegetação e do solo
orgânico bem como das camadas superficiais do solo, principalmente das argilas e lateritas (Fig.
5.4). Somente então começa o beneficiamento da bauxita. O minério sofre uma britagem; a
seguir ele é lavado e secado
Alumínio

150

Fig. 5.4 - A mineração da bauxita exige a retirada da vegetação bem como das camadas superficiais de solo (solo
orgânico, argila e laterita). O minério de bauxita normalmente encontra-se em profundidades que variam de
2,0 a 4,0 metros da superfície. Fonte: MRN (2009), modificado por S. Pinto-Coelho.

A atividade de lavra da bauxita compreende, respectivamente, as fases de decapeamamento,


escavação e transporte da bauxita e a disposição do rejeito. O beneficiamento do minério é
composto das fases de britagem, lavagem e secagem do minério. Muitas vezes, há necessidade
de transporte a grandes distâncias do minério (em ferrovias, hidrovias ou pelos mares) e daí a
necessidade de secagem do minério (Fig. 5.5).

O tratamento dos rejeitos exige uma série de etapas (Fig. 5.5). Inicialmente, os rejeitos
sofrem um adensamento no teor de sólidos em suspensão que passam de 9% para 40%.
Esse material irá ser depositado em bacias de contenção de rejeitos. Uma vez essas bacias
estejam totalmente assoreadas, inicia-se um processo de recuperação da paisagem original,
com o estabelecimento das etapas de uma sucessão ecológica que, após um período que pode
chegar a algumas décadas, irá culminar na volta do estágio de clímax, típico da região.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Alumínio
151
Fig. 5.5 - Fases da lavra do minério de bauxita. Fonte: Original. RMPC.

Fig.5.6 - Aspecto geral de uma mina de bauxita em Miraí, estado de Minas Gerais (CBA-Votorantim). Em geral, a mineração
da bauxita exige a retirada da vegetação de grandes áreas, bem como a remoção das camadas superficiais do solo
o que exige grande movimentação de terra. O processo continua com a lavagem do minério de bauxita o que,
por sua vez, gera uma grande quantidade de efluentes líquidos que normalmente vão parar em uma barragem
para contenção do rejeito. A água dessa barragem contém em geral elevados teores de partículas em suspensão,
principalmente de matéria fina e de origem inorgânica. Dependendo da geologia da região, essa água poderá
conter uma diversidade de metais traços tais como o zinco. O decapemamento da vegetação e a represa de
rejeitos de lavagem são bem visíveis na fotografia acima (CBA, 2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Acima, pode-se ver (Fig. 5.6) a área de extração da bauxita (áreas desmatadas ao fundo)
bem como a bacia de contenção de rejeitos, em primeiro plano. No caso do município de Miraí
MG, convém lembrar que foi aqui que ocorreu, em 10/01/2007, o segundo maior acidente
ecológico de Minas Gerais, assim considerado pela Defesa Civil desse estado (Silveira, 2007).
A barragem de rejeitos da Mineradora Rio Pomba/Cataguases se rompeu na madrugada desse
dia. O bairro Jardim Indaiá foi muito afetado pois estava no caminho do “mar” de lama. Embora
o acidente não tenha causado mortes, o cenário de destruição foi grande, com diversas ruas,
casas, pontes destruídas e ou interditadas. Muita gente perdeu tudo. Os rejeitos levaram para o
rio Pompa uma grande quantidade de poluentes, principalmente metais. Esse acidente causou o
fechamento temporário de várias estações de abastecimento de água na bacia do rio Paraíba do
Sul. A mineradora entrou num acordo de indenização para todos aqueles diretamente atingidos.
Ela ofereceu a reforma e ou reconstrução de suas casas e mais uma pequena quantia em
dinheiro (cinco mil reais) a serem pagos em duas parcelas para os moradores que perderam ou
Alumínio

tiveram casas seriamente danificadas (Silveira, 2007).

O governo estadual declarou que a mineradora Cataguazes Rio Pomba estava impedida
de continuar suas atividades em todo estado. Nesse mesmo município, já está em exploração
a segunda maior reserva de minério de alumínio do país, a Companhia Brasileira de Alumínio
(CBA, 2009). A barragem de contenção de rejeitos dessa nova unidade é muito maior do que
aquela que se rompeu. Certamente, foram tomadas todas medidas para que um acidente dessa
magnitude não ocorra, mas fica a lembrança do terrível acidente em Miraí-MG (Silveira, 2007).
152

5.4 - Beneficiamento da bauxita


A bauxita é levada a britadores e uma vez que tenha sido moída é adicionado o cal em
misturadores. A seguir, é adicionada a soda cáustica e o material resultante é levado a um
digestor. O processo continua em cubas espessadoras onde o líquido sobrenadante retorna
continuamente aos digestores. O resíduo sobrenadante é formado por uma lama vermelha
que contém teores variáveis de argila e areia fina. Após a retirada do sobrenadante, a carga é
transferida para tonéis de filtragem e, finalmente, para cilindros de precipitação. Nesse ponto, é
formado um precipitado, o hidróxido de alumínio, Al(OH) 3. A alumina, Al 2O3 , é obtida após a
calcinação do hidróxido de alumínio em um forno rotativo (Fig. 5.7).

Atualmente, a purificação do alumínio é feita através de um processo de solubilização e


posterior precipitação do alumínio, conhecido como processo Bayer. A transformação da bauxita
em alumina compreende a fase inicial de digestão da bauxita com soda cáustica e cal. A fase da
digestão alcalina pode ser descrita pelas reações abaixo:

AlO(OH) (s) + NaOH (aq) + H 2O NaAl(OH) 4(aq) [Reação 5.1]

Al (OH) 3 (s) + NaOH (aq) NaAl (OH) 4(aq) [Reação 5.2]

Essa fase é seguida de um resfriamento, com precipitação do hidróxido de alumínio e


reaproveitamento da soda cáustica no estado aquoso.

NaAl (OH) 4(aq) Al (OH) 3 (s) + NaOH (aq) [Reação 5.3]


Ricardo Motta Pinto-Coelho

Após uma lavagem para retirada das impurezas, a etapa final é uma calcinação onde
o aquecimento a 1050ºC possibilita a transformação do hidróxido de sódio em alumina. O
processo é conhecido como o processo Bayer. Essa etapa da calcinação pode ser descrita da
seguinte forma:

2 Al(OH) 3(s) Al2O3 (s) + 3H2O (g) [Reação 5.4]

Ao final do processo acima é obtido o óxido de alumínio, a alumina, em um estado de


elevada pureza. A alumina obtida nessas condições poderá então ser usada em um processo de
redução catalítica com intenso aporte de energia elétrica que resultará então na obtenção do
alumínio metálico (Fig. 5.8).

Alumínio
Bauxita

CaO
Digestão H 2O
Aquecimento Resfriamento 153
NaOH
H 2O Lavagem
Clarificação
Evaporação
da Lama

Aquecimento Resfriamento
Precipitação
Lama
Vermelha

Al(OH) 2

Lavagem H 2O

Calcinação

Al 2O 3

Fig. 5.7 - Fluxograma detalhado mostrando os principais insumos (NaOH, CaO e H 2O), o rejeito (lama vermelha) bem
como as principais etapas (digestão, precipitação, lavagem e calcinação) do processo da transformação da
bauxita em alumina. Original. S. Pinto-Coelho.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Alumínio

Fig. 5.8 - Aspecto da alumina, Al 2O 3, óxido de alumínio, usado nas cubas eletrolíticas para a redução final e a
produção do lingote de alumínio (Foto: modificada e re-editada a partir de http://images.asia.ru/img/
alibaba/photo/51663453/Alumina_Ceramic_Balls.jpg ).

5.5 - Redução
A redução da alumina ocorre em cubas eletrolíticas que consistem em reservatórios forrados
154 com carbono por onde circula a corrente elétrica em baixa tensão, a cerca de 960ºC. A alumina é
introduzida nessa cuba juntamente com uma solução química chamada eletrólito, formada por sais
de fluoreto de sódio e fluoreto de alumínio (criolita). A passagem da corrente elétrica proveniente
do anodo (pólo positivo) pelo eletrólito promove a separação do metal do oxigênio. O oxigênio, a
seguir, se combina com o ânodo de carbono, desprendendo-se na forma de dióxido de carbono
(Fig. 5.9). Após a eletrólise, a corrente elétrica flui pelo pólo negativo para a próxima cuba.

O alumínio líquido se precipita no fundo da cuba eletrolítica. O metal líquido (já alumínio
primário) é transferido para a refusão através de cadinhos. Os lingotes, as placas e os tarugos são
então produzidos conforme as necessidades de cada cliente industrial (alumínio primário).

Al 2O 3

Fundida em Criolita e
Fluoreto de Alumínio

Al(líquido) O2

Al (sólido) CO 2

Fig. 5.9 - Esquema da redução da alumina que ocorre nas cubas eletrolíticas. Original. S. Pinto-Coelho.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Um esquema descrevendo a cuba eletrolítica (Fig. 5.10)

Alumínio
155

Fig. 5.10 - Esquema de uma cuba Eletrolítica. A tensão elétrica é fornecida por meios de barramentos de corrente
contínua. No pólo positivo, estão dispostos os ânodos de carbono que ficam imersos em uma solução de
criolita, fluoreto de alumínio e alumina. O alumínio metálico deposita-se sob a forma líquida no fundo da
cuba de onde então é transferido para cadinhos. Original: RMPC.

Insumos no beneficiamento
Para que se produza uma tonelada de alumina são necessários vários insumos e um aporte
considerável de energia seja sob a forma de óleo combustível usado no processo de calcinação
da bauxita seja sob a forma de energia elétrica usada na redução do alumínio (Tab. 5.3). É
importante também destacar que a produção de uma tonelada de alumina demanda de 0,5 a
2,0 metros cúbicos de água de boa qualidade além de consumir pelo menos 1,85 toneladas da
bauxita refinada. A produção de uma tonelada de alumina demanda uma baixa alocação de mão
de obra, algo como 0,5 a 3,0 homens.hora -1. Esses dados são importantes para que possamos
estimar os impactos ecológicos associados à produção dessa importante commodity.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab 5.3 - Principais insumos (mão de obra, materiais e energia) necessários para a produção de alumina.

Consumo por tonelada de


Insumo
alumina produzida
Bauxita (ton/ton) 1,85 -3,40
Cal (kg/ton) 10-50
Soda cáustica (kg/ton) 40-140
Vapor de água (ton/ton) 1,5-4,0
Óleo Combustível – calcinação (kg/ton) 80-130
Floculante sintético (g/ton) 100-1000
Energia elétrica (kwh/ton) 150-400
Produtividade (Hh/ton) 0,5-3,0
Alumínio

Água (m3/ton) 0,5-2,0

Fonte:Boletim Técnico - ABAL/Produtores de Alumínio Primário (ABAL, 2009).

5.6 - Consumo de alumínio no mundo e no


156 Brasil
O consumo de alumínio no mundo é concentrado nas atividades de transporte (26%),
embalagens e na construção civil (ambos com 20%), segundos dados do Instituto Internacional de
Alumínio (IAI, 2009). No Brasil, os maiores percentuais de consumo em relação ao total de alumínio
comercializado no país são reservados para o setor de embalagens (28,8%), transportes (25,5%) e
construção civil (12,8%) (Fig. 5.12). A considerar as tendências mundiais, deverá haver, nos próximos
anos, um grande aumento na demanda de alumínio no setor da construção civil no Brasil.

Consumo Setorial de Alumínio no Brasil (2004)

10,4%

Embalagens
4,2%
28,8%
Transportes
9,2%
Construção Civil

Eletricidade

9,3% Máquinas e Equipamentos

Bens de Consumo

Outros
12,8% 25,3%

Fig 5.12 - Consumo de alumínio por setor da atividade econômica no Brasil em 2004. Fonte: ABAL (2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

5.7 - Impactos ambientais associados à


mineração e produção de alumínio
Os principais impactos ambientais advindos da exploração da bauxita e da produção de
alumínio estão ligados à degradação de grandes áreas desmatadas necessárias para a lavra da
bauxita e à necessidade de um grande aporte de energia tanto sob a forma de combustíveis
fósseis usados na mineração da bauxita quanto sob a forma de eletricidade usada na redução
do alumínio. Como toda atividade de mineração, a lavra da bauxita está associada a emissões
atmosféricas importantes sob a forma de partículas sólidas e também sob a forma de gases
formadores do efeito estufa. Outro ponto importante a ser considerado é o grande impacto da
atividade de mineração de bauxita e do seu refino e posterior redução do alumínio sobre os
recursos hídricos em geral. A água usada nas diversas etapas do processo pode conter elevadas

Alumínio
concentrações de metais traços (chumbo, mercúrio, cádmio, níquel e zinco) na água usada nas
diferentes etapas do beneficiamento e na produção do alumínio. As lagoas vermelhas (Fig. 5.13),
assim chamadas por conter um elevado teor de argilas são um dos aspectos visuais mais típicos
da mineração de bauxita.

157

Fig. 5.13 - Lagoa de disposição de lama vermelha da ALUMAR (próximo a São Luís, Maranhão). A ALUMAR localiza-se na
Rodovia BR 135, Km 18, município de Pedrinhas, Maranhão. O Consórcio de Alumínio do Maranhão - ALUMAR
é um dos maiores complexos do mundo para produção de alumina e alumínio primário estando ativo desde
julho de 1984. O consórcio resulta da união dos gigantes do alumínio, ou sejam a Alcoa, Alcan e BHP Billiton.
Em 2007, a refinaria produziu cerca de 1,5 milhão de toneladas de alumina e a área da redução alcançou a
marca recorde de 450 mil toneladas de alumínio. O Projeto de expansão da refinaria, iniciado em janeiro de
2007, ampliará a produção de alumina desse consórcio de 1,5 para 3,5 milhões de toneladas por ano. Trata-
se do maior projeto de expansão de uma refinaria de alumina já realizado no mundo (ALCOA, 2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Impactos ambientais importantes estão também associados à grande necessidade de


aporte de energia elétrica para a produção do alumínio. No caso do Brasil, onde a maior parte
dessa energia provém de hidroelétricas os principais impactos seriam todos aqueles associados à
construção de hidroelétricas, ou seja, a eutrofização dos corpos de água, a perda de riqueza em
espécies da ictiofauna, o aparecimento de pragas aquáticas tais como as macrófitas (ex: aguapé
ou jacinto d´água), assoreamento, emanação de grandes quantidades de metano e outros gases
causadores do efeito estufa, os gases “GEE”.

Muitas pequenas centrais elétricas, as PCH´s foram especificamente construídas para


empreendimentos de produção de alumínio. Acreditou-se a princípio que as PCH´s seriam uma
alternativa mais sustentável para a produção de energia elétrica no Brasil. No entanto, a prática
tem demonstrado exatamente o contrário. Inúmeros desses empreendimentos apresentam um
Alumínio

cabedal de problemas ambientais que vem se acumulando. O número de autos de infração


e termos de intimação emitidos pela ANEEL aumentaram muito em 2007 (Pugnaloni, 2008).
Esses empreendimentos somente se justificam economicamente se puderem ser operados em
regime de grande economia no seu custeio. Isso significa dizer que esses empreendimentos
não oferecem muita margem de manobra para grandes investimentos nos diversos aspectos
ligados ao meio ambiente. É importante ter em conta que os problemas ambientais gerados
por hidroelétricas, mesmo as PCH´s, não são linearmente relacionados com os investimentos
158 realizados em sua construção.

Um dos principais impactos da mineração da bauxita está associado à necessidade de se


construir e gerir grandes reservatórios que irão receber os efluentes da mina. No Pará, um lago
natural (lago Batata), que recebeu grandes quantidades de rejeito da mineração de bauxita, vem
sendo estudado intensivamente pelo grupo do Prof. Francisco Esteves do Instituto de Biologia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Fig. 5.14). Existem diversos estudos já publicados
que vêm mensurado os diferentes impactos desse rejeito em diversos componentes da biota
aquática do lago Batata (Callisto et al. 1998; Bozelli & Esteves, 2000).

O lago Batata (Fig. 5.14) recebeu diariamente, durante 11 anos, cerca de 25.000 m3 dos
efluentes da lavagem da mina de bauxita de propriedade da Minerações Rio do Norte S.A. - MRN
(Bozelli & Esteves, 2000). O efluente era composto basicamente por argilas muito finas, com
altas concentrações de silicato, alumínio e ferro, que formaram uma camada relativamente densa
(> 10 cm) sob a superfície do sedimento natural. O rejeito acumulado resultou no assoreamento
de aproximadamente 30% da área total do lago.

Os efeitos do lançamento do efluente da lavagem de bauxita foram sentidos em diferentes


compartimentos do lago Batata. Algas microscópicas, peixes, organismos bentônicos e a vegetação
de Igapó foram afetadas. As pesquisas do grupo da UFRJ orientaram a MRN a tomar medidas de
mitigação de impactos que resultaram na redução na turbidez da coluna d’água, no aumento na
concentração de matéria orgânica no sedimento, recuperação da vegetação de igapó e ainda a
(re)colonização pelos peixes da área anteriormente impactada.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Alumínio
159

Fig. 5.14 - Lago Batata, localizado próximo à cidade paraense de Oriximiná, PA (Lat=1° 30’ S Long = 56° 20’ W) na
bacia do rio Trombetas um dos afluentes da margem esquerda do baixo rio Amazonas. Na foto, tomada
no início do empreendimento, pode-se ver claramente alguns Igapós com a coloração vermelho tijolo
indicando claramente a contaminação por rejeitos da mina de bauxita. Fonte: Google Earth.

5.8 - O caso da usina de Brokopondo,


Suriname e outros casos de usinas
hidroelétricas com problemas ambientais.
A construção da usina hidroelétrica Prof. Dr. Blommestein Meer, mais conhecida pelo nome
de represa Brokopondo, localizada no Suriname, antiga Guiana Holandesa, talvez possa ilustrar
bem a questão dos impactos ecológicos causados pela construção de uma usina hidroelétrica
dentro de uma floresta equatorial (Figs. 5.15 e 5.16). A represa foi finalizada em 1965, mas o
lago era tão grande que somente em 1971 é que atingiu a sua cota máxima. A barragem tem 54
metros de altura e foi construída perto da pequena cidade de Brokopondo, no Suriname.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Alumínio

Fig. 5.15 - Localização da represa de Brokopondo no


Suriname. Fonte: Wikipedia (2009).

160

A bacia de captação desse grande reservatório engloba nada menos de que 12.200 km².
Esse empreendimento foi construído prioritariamente para prover energia a uma fabrica de
redução de alumínio da Alcoa no Suriname. Nada menos do que 75% da produção total de
energia dessa usina eram, inicialmente, destinados a cobrir as necessidades de energia dessa
planta industrial. O restante seria enviado para a capital do Suriname, a cidade de Paramaribo.

O lago da represa possui 1560 km 2, ou seja, 67% da área alagada de uma outra represa da
região, a represa de Balbina no Amazonas. Ele tem a profundidade média de aproximadamente
14 metros. O tempo de residência da água é elevado. A morfometria do lago é muito complexa
e existem numerosas ilhas no lago (1.166 ilhas). Quase a totalidade da floresta foi inundada
quando do fechamento da barragem. A grande área inundada, com uma morfometria complexa,
o elevado tempo de residência e o fato de que a floresta tropical foi inundada contribuíram para
que uma variedade de problemas ambientais surgisse no ambiente.

Logo após a formação do lago, formou-se uma grande camada anóxica próximo ao fundo
do reservatório que facilitou o aumento da concentração de produtos do metabolismo anaeróbico
tais como o gás sulfídrico, H2S. Esse gás, de reação ácida, levou a uma rápida degradação das
turbinas. Por outro lado, o déficit de oxigenação no lago passou a causar uma grande mortandade
de peixes que, em algumas oportunidades, estendeu-se até o estuário do rio Suriname.

O lago apresenta uma forte estratificação térmica que contribui ainda mais para a piora
da qualidade geral de suas águas. Devido a morfometria complexa, as plantas aquáticas, as
macrófitas, e especialmente o aguapé (Eichornia crassipes), chegaram a cobrir dezenas de
milhares de hectares em outras ocasiões
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Esse é um exemplo “clássico” que ilustra os grandes prejuízos ambientais (alguns dos
quais irreversíveis) associados a uma decisão equivocada de se investir em uma grande obra
de engenharia sem uma correta avaliação dos impactos ambientais associados. No caso do
Brasil, por exemplo, a construção da hidroelétrica de Balbina (potência instalada 250 MW, área
inundada até 2.360 km 2), no estado do Amazonas pode ser também considerada como outro
exemplo do gênero. Esse empreendimento é considerado pelos ambientalistas da região como
um dos maiores erros cometidos na Amazônia, uma decisão histórica, cujos benefícios estão
longe de contrabalançar os graves impactos (irreversíveis) em uma região de grande valor
ecológico (Kemenes et al. 2008).

Alumínio
161

Fig. 5.16 - Usina de Brokopondo, Suriname. Fonte: Wikipedia (2009).

A construção de grandes usinas de hidroeletricidade com objetivo principal de fomentar


uma indústria de redução de alumínio é emblemática porque quase nada desse projeto levou
em consideração a sustentabilidade ambiental. Muitas lições ficaram para as futuras gerações.
Não deixa de ser triste lembrar que erros similares foram cometidos, décadas depois, em muitas
partes do mundo.

Outro caso a ser destacado é o da usina hidroelétrica de Três Marias, MG (potência


instalada 396 MW, área inundada até 1040 km 2). Essa usina que é operada pela Cia. Energética
de Minas Gerais (CEMIG, 2009) e destina uma parte significativa de sua produção para uma
usina de beneficiamento de zinco, a companhia Mineira de Metais - CMM (VOTORANTIM, 2009).
Os rejeitos gerados no processo industrial dessa planta de beneficiamento de zinco estão sendo
frequentemente associados a problemas de qualidade de águas e a mortandade de peixes no rio
São Francisco, um dos mais importantes rios do Brasil (Comissão Pastoral da Terra & Federação
dos Pescadores de Minas Gerais, 2004).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

5.9 - Reciclagem do alumínio


A reciclagem do alumínio é aquela que produz maior retorno financeiro dado o preço
relativamente elevado do metal. Uma das principais características da reciclagem desse metal é
que o mesmo material pode ser reciclado várias vezes. Essa característica confere uma grande
vantagem ao alumínio, em contraste com a reciclagem do plástico e do papel. Estes dois últimos
materiais, por exemplo, têm uma capacidade limitada de ciclos de reutilização.

O alumínio reciclado está sendo usado, cada vez mais, em várias cadeias produtivas. Um
percentual não menor do que 60% do alumínio usado em veículos novos produzidos no país
tem a sua origem em material reciclado (Ambiente Brasil, 2009).

Segundo o Instituto Internacional do Alumínio (IAI, 2009), as latas de alumínio surgiram


Alumínio

nos Estados Unidos, em 1963. Os programas de reciclagem do alumínio começaram em 1968,


naquele mesmo país. Hoje, a lata de alumínio produzida é 32% mais leve que há vinte anos
atrás e vazia pesa apenas 13,5g. Dessa forma, 1 kg de alumínio rende 74 latas. Há 25 anos,
a mesma quantidade de alumínio dava apenas para fabricar 42 latas. O consumo per capita
nacional é de 52 latas por ano enquanto que nos Estados Unidos a taxa de uso per capta chega
a 375 latas (ABAL, 2009, IAI, 2009).

162 O Brasil vem aumentando ano a ano os seus índices de reciclagem de alumínio (Tab. 5.4).
O país obteve, em 2007, o recorde mundial da reciclagem de latas de alumínio atingindo um
total de 96,5% das latas vendidas. Foram recicladas 160,6 mil toneladas o que corresponde a 12
bilhões de latinhas. Essa quantidade de latas recicladas significa uma economia de 2,239 GWh.
ano -1 o suficiente para abastecer uma cidade do porte de Campinas durante um ano completo
(ABAL, 2009).

O ciclo completo da reciclagem de latas de alumínio no Brasil é de aproximadamente 30


dias e existem pelo menos 160 mil pessoas envolvidas nesse tipo de atividade e que dependem
diretamente da reciclagem do alumínio (Tab. 5.4). Atualmente, existem 2.100 empresas envolvidas
com a reciclagem de alumínio no Brasil (ABAL, 2009).

Tab. 5.4 - Indicadores da reciclagem de alumínio no Brasil (anos 2003 e 2004).

Discriminação 2003 2004

Latas Consumidas (10 9 unidades) 9,3 9,4

Latas Recicladas (10 9 unidades) 8,2 9,0

Índice de Reciclagem (%) 89,0 95,7

Recursos gerados (R$ x 10 6) n.d. 450

Empregos Gerados (x 103 empregos) 160 160


Fonte: ABAL - Associação Brasileira de Alumínio (ABAL, 2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A reciclagem das latinhas de alumínio é um grande sucesso no Brasil. Para isso, as


campanhas de educação ambiental certamente tiveram um papel relevante. A disponibilização
de informações básicas sobre o ciclo de vida das latinhas, em uma linguagem acessível para
todo tipo de cidadão, de diferentes classes etárias e grupos sociais certamente foi uma das
ferramentas mais importantes para se garantir o sucesso desse programa (Fig.5.17).

A reciclagem ambiental requer, entre outras coisas, uma boa campanha de mobilização popular.
Portanto, o seu sucesso está vinculado ao uso eficiente de todas as ferramentas que normalmente
são usadas nesse tipo de ação, incluindo a formatação de diferentes produtos tais como cartilhas,
livros, panfletos, eventos, mini-cursos, projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico nas
universidades, criação de centros de formação de educadores especializados, etc.

Alumínio
Um aspecto que chama a atenção no caso da reciclagem de latinhas de alumínio é o
uso intensivo da rede mundial de computadores, ou seja, a internet, para a divulgação dessa
atividade. O internauta pode ter fácil acesso a grande quantidade de informações incluindo as
fases da produção, industrialização do alumínio bem como a um número muito elevado de sites
exclusivamente dedicados a reciclagem do alumínio. Pelas estatísticas disponíveis, podemos ver
indícios de que há um maior comprometimento com a questão ambiental na cadeia produtiva
do alumínio. É interessante observar que a maioria dos web sites das siderúrgicas, mineradoras 163
de ferro ou de suas associações de classe não disponibilizam de forma clara informações sobre
a questão da sustentabilidade e de reciclagem dos produtos que elas fabricam (Tab. 5.5).

Tab.5.5 - Presença de palavras chaves “reciclagem”, “sustentabilidade” e “responsabilidade social” nos links
diretamente acessíveis a partir de suas respectivas páginas centrais de acolhida (pagina “home” do web site
ou portal da instituição) na rede mundial de computadores (www). Original. RMPC.

Sustentabi- Responsabili-
Empresa ou Associação de Classe Reciclagem
lidade dade social
VALE www.vale.com/ NÃO SIM NÃO
CSN www.csn.com.br/ NÃO NÃO SIM
USIMINAS www.usiminas.com/ NÃO NÃO NÃO
GERDAU www.gerdau.com.br/ SIM NÃO SIM
IBRAM www.ibram.org.br/ NÃO NÃO NÃO
IBS www.ibs.org.br/ SIM NÃO SIM
Alumínio
CBA www.cia-brasileira-aluminio.com.br/ NÃO SIM SIM
ALCOA www.alcoa.com/brazil/ SIM SIM SIM
ABAL www.abal.org.br/ SIM SIM NÃO
Observação: As pesquisas foram feitas acessando os portais das respectivas empresas e associações de classe no dia
24 de março de 2009 entre 14 e 15 horas.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Os sítios de acolhidas (web sites) das empresas de mineração de ferro e de siderurgia


são menos informativos em termos de educação ambiental e não disponibilizam de forma clara
e didática as informações mais importantes sobre as suas atividades. Nesse tipo de web site, as
informações sobre cotação de suas ações na bolsa de valores merecem muito mais destaque do
que o eventual compromisso ambiental da instituição.
Alumínio

164

Fig. 5.17 - Quadro ilustrativo ressaltando as diferentes fases do processo de reciclagem e produção de latinhas de alumínio tendo
por base a reciclagem ambiental. Esse tipo de informação está prontamente acessível na internet e possivelmente
contribui para o aumento da eficácia dos programas de reciclagem de alumínio no Brasil (ABAL, 2009).

A figura acima (Fig. 5.17), extraída da internet, fornece uma idéia de como é ecologicamente
sustentável a atividade de reciclar uma latinha de alumínio. Inicialmente, devemos considerar que
a energia necessária para a produção de uma única lata de alumínio nova seria suficiente para
reciclar vinte latas usadas do mesmo alumínio.

A partir da análise do ciclo de vida dos materiais (ACV) é possível demonstrar para o
cidadão as vantagens econômicas da reciclagem. Baseando-se em uma série de estudos sobre
a ACV de diversos materiais, a AgSolve (2009) disponibilizou em seu web site informações que
ajudam ao consumidor avaliar a importância da reciclagem de uma lata de alumínio. A energia
economizada ao se reciclar uma única lata de alumínio é suficiente para manter ligado um
aparelho comum de TV por cerca de 3 horas. Outro aspecto a considerar é que a produção de
uma nova tonelada de alumínio requer no mínimo cerca de cindo toneladas de bauxita isso sem
mencionar a quantidade de solo e água necessários para se minerar tal quantidade do minério.
A reciclagem de uma tonelada de latinhas de alumínio irá gerar uma tonelada de alumínio
reciclado (AgSolve, 2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

5.10 - Reciclagem das embalagens Tetra Pak®


(folhas de papel, alumínio e plástico)
O uso das embalagens tipo longa-vida em formato de caixinhas disseminou-se em todo o
mundo. A embalagem é constituída por até seis camadas diferentes. De dentro para fora, existem
duas camadas de plástico que evitam o contato do produto com as demais camadas. A terceira
camada é constituída por um filme de alumínio que evita a passagem da luz e do oxigênio. A
quarta camada é de plástico que é seguida por uma camada de papel que dá a sustentação à
toda a embalagem e ainda permite que sejam impressos todos os textos e gráficos que compõem
a embalagem. Finalmente, uma sexta e última camada de plástico complementa a embalagem.

Existem diversas tecnologias disponíveis para a reciclagem das embalagens da Tetra Pak®.

Alumínio
A reciclagem das fibras do papel, do plástico e do alumínio que compõem a embalagem começa
com o uso de um equipamento chamado hidrapulper®, semelhante a um liquidificador gigante
(Fig. 5.18).

165

Fig. 5.18 - Hidrapulper® é capaz de separar o papel das folhas de alumínio e plástico usadas nas embalagens Tetra
Pak®. Hydrapulper é uma marca registrada de Kadant Black Clawson, Boston, USA. Esse equipamanto é
também usado na reciclagem do papel. Fonte: Tetra Pak®

Durante a agitação do material com água e sem produtos químicos, as fibras são
hidratadas, separando-se das camadas de plástico/alumínio. Em seguida, essas fibras são lavadas
e purificadas e podem ser usadas para a produção de papel utilizado na confecção de caixas de
papelão, tubetes ou na produção de material gráfico, como os folhetos distribuídos pela Tetra
Pak® (Tetra Pak®, 2009).

O material composto de plástico/alumínio é destinado para fábricas de processamento de


plásticos, onde é reciclado por meio de processos de secagem, trituração, extrusão e injeção. Ao
final, esse material é usado para produzir peças plásticas como cabos de pá, vassouras, coletores
e outros (Fig. 5.19).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Alumínio

Fig. 5.19 - Material granulado, composto de plástico e alumínio que poderá ser usado na produção de móveis, telhas e
diversos outros materiais de interesse

O plástico e alumínio triturados, juntamente com insumos específicos, podem ser


prensados, a quente, resultando em uma chapa semelhante ao compensado de madeira que
pode ser usada na fabricação de divisórias, móveis, pequenas peças decorativas e telhas. Esses
materiais têm grande aplicação na indústria de construção civil (Fig.5.20).
166

Fig. 5.20 - É possível fabricar móveis, painéis e telhas a partir de chapas prensadas do plástico e alumínio triturado
de embalangens usadas Tetra Pak®. Na foto, vemos telhas fabricadas com esse material.
Fonte: Telhas Ecológicas, Pará de Minas, E-mail: curvacinco@yahoo.com.br

Outra tecnologia, esta nova e inédita, desenvolvida no Brasil, trabalha com o processamento
do composto de plástico/alumínio em um forno de plasma (TSL, 2009). O sistema aquece a mistura
de plástico e alumínio a altíssimas temperaturas em uma atmosfera sem oxigênio (que preserva a
qualidade do alumínio). Neste processo, o plástico se quebra em moléculas, transformando-se em
parafina. O alumínio se funde, tornando-se matéria prima pura novamente, sendo transformado em
lingotes que podem ser laminados novamente para uso em embalagens longa vida (Fig. 5.21). Uma
planta em escala industrial da tecnologia plasma iniciou a sua operação em junho de 2005 por meio
de uma parceria da Tetra Pak®, Klabin®, Alcoa® e TSL®.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Alumínio
Fig. 5.21 - O processo inovador, desenvolvido no Brasil, usa a tecnologia do plasma que em altíssimas temperaturas é
capaz de separar novamente o plástico do alumínio. Ao final do processo, o alumínio pode ser novamente
transformado em lingotes. O plástico, por sua vez, é transformado em parafina. Fonte: TSL (2009).

167
5.11 - O mito da reciclagem de alumínio
Brasil é recordista mundial na reciclagem de alumínio, com a marca de 96,2% enquanto que
os EUA reciclam 52%. Somos mais conscientes que eles? A considerar os seguintes aspectos:

(a) O Brasil tem crescentes recordes anuais de extração de bauxita e a produção interna de
alumínio cresce acima de 3% ao ano; a meta do setor é não somente manter a posição
como ainda crescer a taxas maiores do que 3,0% ao ano.

(b) A produção nacional de alumínio consome 6% de toda a geração de energia brasileira.


Devemos ter em conta o elevado passivo ambiental associado a construção de hidroelétricas
no país; A indústria de alumínio consome hoje 25.938 GWh e até 2015 o setor deverá
receber um acréscimo de cerca de 10.000 GWh.

(c) A posição do Brasil como exportador de bauxita, alumina ou mesmo alumínio consolida
o nosso perfil de um grande fornecedor de produtos primários (com pequeno valor
agregado) e sujeito a todo tipo de oscilação nos mercados internacionais.

(d) O país deveria explorar melhor a sua posição como um dos poucos países com grandes
reservas de bauxita. Observar, por exemplo, que nem os EUA, o Canadá ou mesmo nenhum
grande país europeu detém reservas consideráveis desse minério.

Para uma análise comparativa dos padrões nacionais de reciclagem de alumínio em


comparação com outros materiais, sugerimos ao leitor ir ao último capítulo dessa obra. No
entanto, os fatos destacados acima sugerem que a cadeia produtiva do alumínio no Brasil deveria
investir muito mais ainda na recuperação do passivo ambiental a ser gerado nos próximos anos.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

vidro 6.0
Produção, Consumo e
Reciclagem de Vidro
no Brasil.

6.1 - Introdução
6.2 - Tipos de vidros
6.3 - Manufatura do vidro
6.4 - Produção de vidros no Brasil
6.5 - Consumo de vidros no Brasil
6.6 - Reciclagem de vidro no Brasil
6.7 - Estatísticas da reciclagem do vidro
6.8 - Abrindo uma empresa de reciclagem de vidro
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

6.1 - Introdução
O vidro é fundamentalmente um composto formado por óxidos de sílica (74%) e de sódio
(12%) muito embora outros elementos tais como o sódio, cálcio, magnésio, alumínio e potássio
tomem parte da composição final (Tab. 6.1). Segundo a definição proposta pela American Society
for Testing and Materials (ASTM, 2009), o vidro é um produto inorgânico de fusão, que foi resfriado
até atingir condição de rigidez, sem sofrer cristalização (ASTM, 2009; AcheTudo, 2009b).

Tab. 6.1 - Principais componentes do vidro simples e suas funções

Componente Fórmula % Função


Óxido de Sílica SiO 2 74 Vitrificante
Baixa o ponto de
Òxido de Sódio Na 2O 12
fusão da sílica
Vidro

Óxido de Cálcio CaO 9 Estabilidade


Óxido de Magnésio MgO 2 Resistência mecânica
Óxido de Aumínio Al 2O 3 2 Resistência
Potássio K 1 Estabilidade
170
Fonte: AcheTudo, (2009b).

Existem registros de que o vidro já era usado pelos povos da Babilônia e pelos fenícios
há pelo menos 5000 anos atrás. No entanto, ele só foi amplamente popularizado no mundo
antigo pelos romanos (400 a.C). Na idade média, ele já era muito usado na construção de igrejas
principalmente nos vitrais (Fig. 6.1).

Fig. 6.1 - O uso dos vidros já estava


muito disseminado na
Europa durante a idade
média. Ele era muito
usado, por exemplo, em
vitrais de igrejas, castelos
e residências da nobreza.
Aqui, um belo exemplo de
uma antiga catedral, hoje
sede de um dos Colleges
no campus da Cambridge
Univeristy, Inglaterra.
Foto: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

No século XVI, a técnica da flutuação do vidro para a sua fabricação foi introduzida e os
monopólios para a sua fabricação e, principalmente, em relação ao seu comércio foram uma das
bases da formação da Inglaterra como potência comercial durante os séculos XVIII e XIX. Hoje,
o vidro é um componente inseparável das sociedades modernas dadas as suas características e
atrativos. (Tab 6.2).

Tab. 6.2 - Principais propriedades físico-químicas e atrativos do vidro,

Propriedades Físicas Atrativos


Transparente
Inerte
Dilatação térmica muito baixa Prático e versátil
Reutilizável
Higiênico

Vidro
Alta durabilidade Impermeável
Baixa condutividade elétrica Retornável
Ótima resistência à água e a líquidos salga-
dos bem como substâncias orgânicas, alcalis
Reciclável
e ácidos, com exceção ao ácido fluorídrico e 171
o fosfórico.

O vidro possui uma série de propriedades físicas que o tornam um produto muito
apreciado pela civilização moderna. O vidro tem uma alta durabilidade, elevada transparência,
ótima resistência à água, a solventes e ácidos (exceto para o ácido fluorídrico, HF e o ácido
fosfórico, H 3PO4). O vidro, em geral, pode ser facilmente reciclável muito embora isso não seja
possível para alguns tipos de vidros, principalmente os vidros planos. Essas características, aliadas
ao baixo preço se comparado ao alumínio, garantem a sua praticidade e versatilidade de usos.

Fig. 6.2 - Carbonato de sódio,


a barrilha (Na 2CO 3),
uma das principais
matérias primas do
vidro.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Segundo o Manual de Informações da Companhia Nacional de Álcalis (ALCALIS, 2009), a


principal matéria prima para a fabricação do vidro é a barrilha. A barrilha é o nome comercial do
carbonato de sódio (Na 2CO 3). Trata-se de uma substância alcalina, de cor branca, em forma de
pó (barrilha leve) ou grão (barrilha densa), sem cheiro (Fig. 6.2).

A barrilha é um produto higroscópico, ou seja, absorve umidade lentamente quando


exposta a atmosfera úmida, sendo responsável pela aglomeração do produto. A barrilha não
é um produto inflamável ou explosivo. Ela é usada como o agente fundente na indústria do
vidro. Uma das mais importantes fábricas de barrilha do Brasil localiza-se em Arraial do Cabo, RJ
(ALCALIS, 2009). Ali, a barrilha é obtida através do processamento de sedimentos lacustres da
lagoa de Araruama, Rio de Janeiro, que são muito ricos em conchas de moluscos.

Existem dois tipos de barrilha, a barrilha densa e a barrilha leve (Tab. 6.3). Ambos os
tipos possuem diversas aplicações. A barrilha leve é empregada em diversos tipos de indústrias
tendo destaque as indústrias petroquímicas, papel e celulose, sabão e detergentes. Esse tipo de
Vidro

barrilha é utilizado na fabricação de vidros ocos e especiais.

A barrilha densa é muito usada na indústria alimentícia e farmacêutica, na fabricação do


papel e celulose, em diversas indústrias químicas, no preparo de sabão e detergentes e até no
tratamento de água. A barrilha densa é essencial na fabricação de vidros planos.

172 Tab. 6.3 - Composição e granulometria dos dois tipos de barrilha, a barrilha leve (BL) e a barrilha densa (BD).

Composição BL BD

Na 2CO 3 99% 99%

NaCl 0,4% 0,7%

Na 2SO4 0,07% 0,07%

Fe 2O 3 0,003% 0,003%

Densidade Aparente (g/l) 470-570 950-1150

Tamanho dos grãos < 2,00 > 2,0mm

Fonte: ALCALIS, 2009.

Assim como os plásticos, certas propriedades físicas dos vidros podem ser modificadas pela
adição de um determinado tipo de aditivo. Os vidros podem ter uma impressionante diversidade
de cores que podem ser obtidas pela adição de vários tipos de óxidos. O Cobalto e o cobre
conferem uma tonalidade azul enquanto o manganês e o selênio geram cores em vermelho.
O cromo e o níquel são usados quando se deseja obter uma coloração amarela ou marron e o
verde é obtido quando se adiciona o ferro (Fig. 6.3).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Vidro
Fig. 6.3 - Óxidos que conferem cor ao vidro bem como o padrão final da cor do vidro em função do percentual de
adição dos óxidos de cromo, níquel, selênio, manganês, cobalto, cobre e ferro. Original: RMPC.

A coloração dos vidros é usada não somente para atrair o consumidor para adquirir um dado 173
produto, tal como é o caso de frascos de perfume, por exemplo. O uso de certos tipos de cores
pode impedir a penetração de radiação solar na faixa do infra-vermelho ou na faixa da radiação
ultra-violeta. O uso de garrafas na cor âmbar para a cerveja e na cor verde para o vinho impede
a penetração de radiação UV que comprometeria seriamente a qualidade desses produtos. Os
vidros planos usados em janelas de residências e veículos frequentemente são dotados de filtros
coloridos que impedem a entrada de radiação na faixa do infra-vermelho mas permitem, por
outro, lado a entrada da luz visível. Esses filtros impedem, portanto, a passagem do calor e tornam
o clima interior mais agradável e ainda economizam o uso de sistemas de refrigeração.

6.2 - Tipos de vidros


Existem vários tipos de vidros. Abaixo, são apresentadas as principais características dos
vidros mais comuns.

Sílica Vítrea

Esse material é obtido aquecendo-se areia de sílica ou cristais de quartzo até uma
temperatura acima do ponto de fusão da sílica, ou seja, acima de 1.725°C. Por causa da rede
tridimensional da sílica cristalina, o processo de fusão é muito lento. O vidro resultante é tão
viscoso que qualquer bolha de gás formada durante o processo de fusão não é capaz de se
libertar do fluido fundente. A sílica vítrea tem um coeficiente de expansão térmico muito baixo e
uma excelente resistência a choques térmicos. Devido à extrema pureza obtida no processo de
sua produção, a sílica vítrea é um material de alto custo de produção. A sílica vítrea é utilizada
em aplicações especiais tais como na manufatura de janelas de veículos espaciais, espelhos
astronômicos ou ainda para produção de fibras óticas.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Vidros Sodo-Cálcicos

Os óxidos alcalinos são excelentes fluxos já que eles “amolecem” o vidro, reduzindo
a viscosidade do vidro fundido de sílica. Eles são muito usados como geradores de fluxo ou
modificador de rede. Esses óxidos alcalinos são incorporados nas composições dos vidros sob a
forma de carbonatos. Acima de 550°C, os carbonatos reagem com a sílica formando um líquido
silicoso. Em determinadas proporções, a mistura de carbonato alcalino e sílica irá formar o vidro
após o resfriamento. A adição dos carbonatos alcalinos diminui a resistência química do vidro.
Com altas concentrações de álcalis, o vidro será solúvel em água, formando a base da indústria
de silicatos solúveis muito utilizados em adesivos, produtos de limpeza e películas protetoras.

Para reduzir a solubilidade dos vidros de silicatos alcalinos mantendo-se a facilidade de


fusão, fluxos estabilizantes são incluídos na composição do vidro no lugar de fluxos alcalinos.
O óxido estabilizante mais utilizado é o de cálcio (CaO), muitas vezes junto com óxido de
magnésio (MgO). Estes vidros são comumente chamados de sodo-cálcicos (Tab. 6.4). Este tipo
Vidro

de vidro compreende, de longe, a família de vidros mais antiga e largamente utilizada. Pertencem
à categoria dos vidros sodo-cálcicos a maior parte das garrafas, frascos, potes, janelas, bulbos e
tubos de lâmpadas.

Vidros ao chumbo
174
Vidros alcalinos ao chumbo têm uma longa faixa de trabalho (pequena alteração de
viscosidade com diminuição de temperatura), e, desta maneira têm sido usados por séculos para
produção de artigos finos de mesa e peças de arte. O chumbo também confere ao vidro um
maior índice de refração, incrementando seu brilho. O vidro ao chumbo é o vidro nobre aplicado
em copos e taças finas. Esse tipo de vidro também é conhecido como cristal, um termo errôneo,
pois, o vidro não é um material cristalino, é amorfo. Devido ao fato do óxido de chumbo ser um
bom fluxo e, ao contrário dos óxidos alcalinos, não abaixar a sua resistividade elétrica, os vidros
ao chumbo são usados largamente na indústria eletroeletrônica. Uma aplicação importante desse
tipo vidro é o seu uso na manufatura de funil de tubo de televisão, devido às características
elétricas e a sua propriedade de absorção dos raios X. Vidros ao chumbo são também utilizados
em ótica, devido aos seus altos índices de refração.

Vidros boro-silicatos

O óxido de boro, por si só, forma um vidro com resfriamento a partir de temperaturas
acima do seu ponto de fusão a 460°C. Os vidros boro-silicatos possuem uma alta resistência ao
choque térmico e por isso são empregados em produtos de mesa que podem ser levados ao
forno. É o caso dos produtos Pyrex® e Marinex®.
Devido a menor quantidade de óxidos modificadores, além da resistência ao choque
térmico, os vidros boro-silicatos são também muito resistentes ao ataque químico e por isso são
utilizados em vários equipamentos de laboratório.

Vidros alumínio-boro-silicato

Quando se adiciona alumina (óxido de alumínio) em uma formulação de vidro silicato


alcalino, o vidro se torna mais viscoso em temperaturas elevadas. Assim, os vidros alumino-
Ricardo Motta Pinto-Coelho

boro-silicatos (Tab. 6.4) podem ser aquecidos a temperaturas superiores, sem deformação,
comparativamente a vidros sodo-cálcicos ou à maioria dos borosilicatos. Os vidros alumino-
silicatos são utilizados em tubos de combustão, fibras de reforço, vidros com alta resistência
química e em vidros cerâmicos.

Finalmente, existe a família dos vidros planos que podem ser vidros temperados vidros
laminados e os espelhos que recebem uma camada de prata para refletir as imagens. Os vidros
planos, em geral, exigem uma tecnologia especial para serem reciclados. Alguns vidros planos
resultam da sobreposição de camadas de vidros e polímeros tais como o policarbonato, por
exemplo. Esse polímero pode atingir transparência de até 90%, além de ser extremamente
resistente a impactos. É muito utilizado na produção de vidros planos, lentes de óculos e CDs.
Os vidros planos ainda podem receber uma série de aditivos especiais para filtrarem a radiação
infra-vermelha, por exemplo. E devido a essas características especiais, a reciclagem dos vidros
planos não é feita através dos métodos convencionais (vide abaixo). Um resumo das principais
aplicações dos diversos tipos de vidros é apresentado a seguir (Tab. 6.4).

Vidro
Tab. 6.4 - Tipologia do Vidro

Tipo De Vidro Aplicações


Sílica Vítrea Indústria aero-espacial, telescópios, fibras óticas
Embalagens em geral, indústria automobilística, construção civil e eletro- 175
Sodo-Cálcico
domésticos (na forma de vidro não planos)
Boro-Silicato Utensílios resistentes a choque térmico
“Cristais”: copos, taças, ornamentos e peças artesanais.
Ao chumbo
(o chumbo confere mais brilho ao vidro)
Vidro temperado, vidro laminado (ou blindado),
Vidros Planos
vidros de controle solar, espelhos

Fonte: ABIVIDRO, 2009.

6.3 - Manufatura do vidro


As principais etapas para a produção do vidro são a fusão dos insumos, a moldagem da
peça e o seu posterior resfriamento (Tab. 6.5). A fusão do vidro é obtida em altas temperaturas,
algo da ordem de 1500-1600ºC. A afinagem, moldagem e homogeneização são realizadas em
temperaturas oscilando entre 800 e 1200ºC (Tab. 6.5).

Tab. 6.5 - Principais etapas da produção de vidros.

Fases Temperatura
Fusão 1.500 - 1.600°C
Conformação (Afinagem e homogeneização) 800 - 1200°C
Resfriamento (Recozimento) 100 - 800°C
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Devido às altas temperaturas exigidas nas diferentes fases da sua produção, o vidro requer
um elevado aporte de energia por cada tonelada produzida desse material. Em geral, a produção
de uma tonelada de vidro requer cerca de 1,8 milhão de kcal de energia térmica o que equivale
a 200 m3 de gás ou 200 kWh/de energia elétrica.

O princípio de fabricação é o mesmo para todos os tipos de vidros não planos. O vidro,
depois de elaborado e condicionado termicamente, é cortado em “gotas”. Essas gotas constituem
em determinadas quantidades de vidro fundente que têm exatamente a quantidade de vidro
necessária para a obtenção da peça final. O vidro não plano pode ser trabalhado de diferentes
maneiras. As peças podem ser fabricadas por prensagem (Fig. 6.4) ou por assopro (Fig. 6.5).

Na conformação por prensagem, as gotas caem em um dos moldes que estão situados
em uma mesa giratória. Uma vez que a gota tenha sido depositada no molde, a mesa gira, e a
gota passa para uma posição onde vai ser prensada juntamente com o molde, que conforma a
parte interna, forçando o vidro a adquirir seu formato final. Ao sair da prensa, a peça é esfriada,
Vidro

até se enrijecer e não mais perder sua forma. Ao mesmo tempo, nova gota é prensada. Neste
ponto, se for uma peça que tem aba, como uma xícara, o molde se abre, pois ele é feito em
duas metades, para liberar a peça. No caso de pratos e travessas, o molde é inteiriço. A partir
daí, a peça é retirada do molde por um robô, chamado de take-out, e transferida para um forno
chamado de REC, onde a temperatura é homogeneizada, preparando a peça para a têmpera.
Logo após a saída do forno REC, a peça é temperada, através de fortes jatos de ar que cobrem
176 toda superfície da peça.

A vantagem da têmpera é que o produto fica mecanicamente mais resistente e menos


sujeito a sofrer quebras ou perder lascas durante o uso. Em casos de quebra, os cacos são
menores, reduzindo os riscos de ferimentos. Após a têmpera, o produto já está pronto, devendo
apenas ser esfriado, passar pelos controles de qualidade, ser embalado e vendido.

Fig. 6.4 - Esquema de uma prensa usada para a moldagem de utensílios de vidro. Original: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Os vidros para embalagens e garrafas são moldados pela conformação tipo assopro (Fig.
6.5). Nessa técnica, uma “gota” (ver a definição desse termo logo acima) do vidro fundente
cai dentro do bloco onde, primeiramente, será formado o gargalo. Para garantir a eficiência do
método, é feita uma compressão com ar na parte superior. A seguir, ar é soprado por dentro do
gargalo, criando o vazio interno da embalagem. È formando, então, o parison, que é a primeira
etapa da conformação.

A segunda etapa inicia-se com a abertura do bloco e o parison é então transferido para o
molde, que visa a dar a forma final do produto. Uma vez dentro do molde, o parison permanece
em repouso por alguns instantes, para que a pele do vidro, que teve contato com o bloco metálico
e se esfriou um pouco possa novamente se reaquecer com o calor vindo do núcleo do vidro.
Finalmente, é soprado ar no interior do parison, que vai empurrar a massa de vidro fundente
contra o molde, definindo a forma final da peça. O molde, então, se abre, e a embalagem pronta é
extraída e conduzida ao forno de recozimento. Essa etapa é caracterizada por um lento processo de
resfriamento até que a temperatura ambiente seja atingida. Esse processo de lento resfriamento é

Vidro
necessário já que assim são produzidas tensões que poderiam tornar a peça mais frágil.

Este processo é chamado de soprado-soprado, pois tanto o parison como o produto final
são produzidos por sopro. Um outro processo, chamado de prensado-soprado, é semelhante
ao anterior, diferindo apenas pela formação do parison, que é feita por prensagem e não por
sopro de ar. Este processo é indicado no caso de potes e peças muito leves, onde é exigida uma
perfeita distribuição do vidro. 177

Fig. 6.5 - Esquema de moldagem do vidro pela técnica “vidro soprado”. Original: RMPC.

No caso dos vidros planos, o processo mais comum é o do estiramento. O estiramento


pode ser obtido por laminação ou por flutuação (floating) sobre o estanho líquido (Fig. 6.6).
O processo float foi inventado em 1859, por Alastair Pilkington (Pilkington, 2009). O processo
baseia-se no uso do estanho líquido, que é mais denso do que o vidro fundente. O vidro fundente
literalmente flutua sobre estanho líquido e não se mistura com ele, nas temperaturas em que se
dá o enrijecimento do vidro (de 600 a 1.100ºC). Ao se despejar o vidro fundido sobre o estanho,
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

a tendência é de se formar uma lâmina de 5 a 6 mm de espessura. O banho de estanho deve


ser longo o suficiente para que dê tempo para o vidro esfriar, dos 1.100ºC na sua entrada, até
600ºC, na saída, quando estará rígido.

A espessura do vidro é determinada através do equilíbrio entre as tensões superficiais, a


força de gravidade e a velocidade de extração. Aumentando-se a velocidade, a fita torna-se mais
delgada. Ao diminuir a velocidade de tração, a placa se engrossa. O controle da temperatura de
saída é muito importante, pois, caso a temperatura for muito elevada, o vidro ficará marcado pelos
rolos que conduzem a placa pelo forno de recozimento (chamado de estenderia). Ao contrário, se a
temperatura estiver muito baixa, a placa poderá se romper.

A velocidade de extração do vidro é controlada por máquinas chamadas de top-roll que


são dotadas de rodas dentadas que pinçam o vidro pelas bordas e que têm rotação e ângulos
variáveis e regulados por motores. Para a produção de vidros de 5 a 6 mm de espessura, os
top-rolls ficam paralelos ao fluxo de vidro e o controle da espessura se faz pela velocidade de
Vidro

extração. Os vidros mais finos que a espessura de equilíbrio (5-6 mm), são formados a partir
de disposição das placas nas máquinas top-roll em ângulos divergentes, o que leva a placa a ser
mais esticada e ainda em conjunto com uma maior velocidade de tração. Ângulos convergentes
e menor velocidade de tração geram, ao contrário, vidros planos mais espessos do que 6 mm.

O estanho (Sn) tem um sério inconveniente: ele se oxida em contato com o oxigênio, nas
178 temperaturas exigidas na fabricação do vidro. Então, é necessário que todo o banho de estanho
fique enclausurado dentro de uma grande caixa, onde se injeta nitrogênio gasoso. Dentro desta
caixa, há, também, uma série de resistências elétricas que garantem um perfil térmico conveniente
desde a entrada até o ponto de saída do vidro.

(A) Trabalhando vidros planos por laminação.

(B) Trabalhando vidros planos por flotação (floating) no estanho líquido

Fig. 6.6 - Dois métodos usados para o estiramento de vidros planos. (A) Laminação e
(B) Floating sobre o estanho líquido. Original. RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O vidro ainda pode ser formatado em uma grande variedade de fibras que podem ser
empregadas em inúmeras utilidades. Elas são produzidas através de um processo especial (Fig.
6.7). As fibras se originam pela passagem do vidro fundente em placas metálicas de platina
dotadas de milhares de furos de um ou dois milímetros de diâmetro. Após passar pelas fieiras, os
fios são esticados mecanicamente a uma grande velocidade. Esse processo irá gerar filamentos
muito finos da ordem de poucos micrômetros de diâmetro (um micrômetro = 0,001 milímetro).
Imediatamente após serem formados, os filamentos são impregnados com uma solução aquosa
de compostos orgânicos, em processo que recebe o nome de encimagem. Através desse
processo, a fibra irá ter uma boa aderência ao material que ela vai reforçar (ABIVIDRO, 2009).

As fibras se esfriam rapidamente porque são muito finas. Elas podem ser enroladas na
forma de novelos em bobinas de cartolina. O fio de vidro por ser mais fino que um fio de cabelo
é bastante flexível. As bobinas com as fibras tratadas com a solução de produtos orgânicos são
transferidas a uma estufa de secagem onde a fibra sofre um processo de polimerização com os
orgânicos. A seguir, a fibra de vidro pode sofrer várias transformações que irão resultar em fibras

Vidro
de diferentes formas: (a) rovings (bobinas); (b) fio cortado (3 mm de comprimento); (c) fibra
tecida picotada e (d) fibras espalhadas sob manta de ligante (Mat).

As fibras de vidro são usadas sobretudo para aumentar a resistência mecânica de plásticos
que, reforçados, se prestam a muitas outras finalidades, como, por exemplo, piscinas, caixas
d´água, carroceria de carros, pranchas de surf. Elas podem ser usadas até mesmo na construção
de trens e aviões. 179

Fig. 6.7 - Esquema ilustrando a produção de fibras (à esquerda) e tubos de vidro (à direita). Original: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

As fibras por serem muito finas não requerem recozimento. Outra exceção seriam alguns
produtos domésticos, que já são temperados diretamente ao final da linha (o Duralex®, por
exemplo).

O recozimento é realizado em fornos tipo túnel, cuja entrada fica perto de onde se faz a
conformação, e a saída no local onde o produto passa por inspeção e controle de qualidade. No
processamento dos vidros planos pela técnica do float, estes fornos são chamados de estenderia
e, na embalagem e doméstico, de arca de recozimento ou simplesmente forno de recozimento.
A partir daí, o vidro está pronto para ser inspecionado, embalado ou transformado.

6.4 - Produção de vidros no Brasil


Segundo a ABIVIDRO (2009), existem atualmente mais de duzentos fabricantes de vidro
no Brasil que atendem tanto ao mercado interno quanto ao mercado externo. A produção total
Vidro

de vidros planos e não planos no país alcançou, em 2007, 2,9 milhões de toneladas ano. O
universo das empresas que fabricam vidros no Brasil emprega cerca de 11.500 trabalhadores e
a comercialização dessa produção alcançou um faturamento anual (2007) em torno de R$ 3,8
bilhões. Os segmentos dos vidros empregados em embalagens e vidros planos atingiram, juntos,
uma participação de 65,8% do mercado de vidros (Tab. 6.6)

180 Tab. 6.6 - Desempenho do setor de vidros no Brasil em 2007.

Faturamento Participação Produção Empregos


Segmento
(X 10 6 R$) (%) (X 10 3 Ton) (X 10 3 )

Embalagem 1350 35,1 1303 5,2

Doméstico 558 14,5 229 2,4

Vidros Técnicos 759 19,7 182 2,4

Vidros Planos 1183 30,7 1240 1,5

Total 3850 100,0 2954 11,5

Fonte: ABIVIDRO, 2009.

Ao contrário de outras cadeias produtivas enfocadas nessa obra, como, por exemplo, a
da indústria do papel, a produção nacional de vidro vem se mantendo em patamares estáveis
ao longo dos últimos anos, excetuando o segmento dos vidros planos que teve um aumento
significativo de sua produção a partir de 2004. Os incrementos no faturamento das empresas são
mais uma decorrência dos ajustes nos preços do que de aumentos nominais de produção. Houve
uma sensível queda tanto na produção quanto no faturamento dos vidros domésticos talvez em
decorrência do aumento do uso dos plásticos no ambiente doméstico (Fig. 6.8).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Produção Nacional de Vidros - ABIVIDRO

2000 1400

1200
1500

1000
(x10 3 toneladas)

(x10 6 R$)
1000 800

600
500

Vidro
400

0 200
2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano

Embalagens Vidros Planos Vidros Domésticos Vidros Especiais


181

Embalagens Vidros Planos Vidros Domésticos Vidros Especiais

Fig. 6.8 - Capacidade de produção em milhares de toneladas (barras verticais)


e faturamento em milhões de reais (linhas) da indústria nacional de vidros Fonte: ABIVIDRO, 2009.
por segmento.

6.5 - Consumo de vidros no Brasil


O consumo de embalagens de vidro entre os brasileiros é de 12 kg por habitante por
ano. Nos países europeus, tais como na França, o consumo per capita chega pode chegar 65
quilos. Como já visto anteriormente (Fig. 6.8), a maior demanda do setor está concentrada na
construção civil.

O setor de vidros planos é um dos setores que maior expansão apresenta dentro desse
segmento, principalmente em decorrência da forte aceleração da atividade de construção civil
observada nos anos de 2007 e 2008. O setor de vidros planos apresentou um crescimento de
mais de 10% em 2007 sendo que a mesma tendência foi observada nos dez primeiros meses
de 2008. Apesar de toda essa expansão, o consumo per capita de vidro plano no país ainda é
baixo, cerca de quatro quilos por ano, bem abaixo dos quatorze quilos observados na Argentina. A
produção de vidros planos no Brasil é dominada por três grandes fabricantes de vidros: Cebrace,
Guardian e UBV (CBIC, 2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

6.6 - Reciclagem de vidro no Brasil


O vidro pode ser reciclado ilimitadamente. No entanto, o processo da reciclagem do vidro
implica em custos elevados seja pelo emprego intensivo de mão de obra ou ainda pelo aporte
de grande quantidade de água ou de energia necessários para que o processo da reciclagem se
complete.

O processo inicia-se com a coleta e deposição do vidro em um depósito de uma empresa


recicladora (Fig. 6.9). O processo da coleta de vidros usado no Brasil ainda é muito rudimentar.
No entanto, não é isso o que ocorre em países mais desenvolvidos. Esse processo deve envolver
a própria indústria do vidro, deve estar associado a programas muito bem estruturados de coleta
seletiva gerenciados pelas prefeituras. Nada disso irá funcionar se não houver o envolvimento da
comunidade-alvo. Uma coleta moderna de vidro bem como de outros resíduos potencialmente
reaproveitáveis e recicláveis exige uma boa logística de transporte, uma boa campanha de
marketing e, sobretudo, um suporte de ações de educação ambiental especificamente desenhadas
Vidro

para motivar todos setores da comunidade que podem atuar nessa cadeia: associações de bairro,
supermercados, igrejas, clubes, postos de gasolina, administrações regionais, imprensa local, etc.
(WasteonLine, 2009b)

182

Fig. 6.9 - Depósito de vidro em uma empresa recicladora. Original: RMPC.


Ricardo Motta Pinto-Coelho

A reciclagem dos vidros continua com a remoção de tampas e tampas e rótulos. A seguir,
é feita uma triagem com separação de garrafas de bebidas, frascos de remédios e cosméticos
e potes de conservas. Os vidros são nessa fase também separados em cores ou transparentes.
Espelhos, lâmpadas, Pyrex® ou similares e cristais não se prestam para a reciclagem tradicional
do vidro (Fig. 6.10).

Vidro
Fig. 6.10 - Triagem de vidro em uma empresa recicladora. Original: RMPC. 183

Na próxima fase, os recipientes devem ser lavados para a completa remoção dos resíduos
(Fig. 6.11). Até hoje, não existe uma clara orientação aos consumidores sobre o fato se eles devem
ou não lavar os recipientes de vidro antes de jogá-los no lixo. Sugerimos aos consumidores finais
que eliminem os restos de alimentos e líquidos dos recipientes antes de jogarem os frascos no
lixo. Um leve enxágüe pode deixar o vidro praticamente limpo o que implicará em um ganho de
economia de água e energia na lavagem final a ser feita pela recicladora.

Fig. 6.11 - Lavagem de vidros em uma empresa recicladora. Original: RMPC.


Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Uma das etapas finais do processo de reciclagem consiste na moagem dos vidros (Fig.
6.12). O material previamente triado e limpo é levado para esteiras rolantes que estão acopladas
a um moinho industrial. Essa fase implica em gastos com energia e constante manutenção dos
equipamentos bem como em gastos com o treinamento em segurança dos funcionários.
Vidro

184

Fig. 6.12 - Esteira que transporta os resíduos do vidro após a moagem. Original: RMPC.

A última etapa da reciclagem é a refundição do vidro. A reciclagem completa do vidro


propicia uma enorme economia de energia que seria necessária para a fabricação do vidro
novo.

Na fabricação do vidro novo, as temperaturas giram em torno de 1500°C e 1600°C. Já


na reciclagem, há necessidade apenas de uma nova refusão do material o que implica em
temperaturas bem menos elevadas, na faixa de 1000°C e 1200°C. Considerando o acima exposto,
uma importante medida de economia e que contribui para a melhoria do meio ambiente é a
agregação de cacos de vidros no processo convencional da produção de vidros. A agregação a
uma taxa de 10% de cacos, por exemplo, pode gerar um ganho energético de cerca de 4% e
uma redução de 5% na emissão de CO 2. Assim, a agregação de uma tonelada de cacos pode
gerar uma economia de cerca de 1,2 toneladas de matérias primas.

É essencial o envolvimento do setor produtivo para que haja um aumento ainda maior nos
percentuais de reciclagem de qualquer tipo de material. Um bom exemplo dessa estratégia pode
ser visto na figura abaixo (Fig. 6.13), onde são dadas informações ao consumidor de quais os
tipos de vidros que podem ser aceitos em um programa convencional de reciclagem (ABIVIDRO,
2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig. 6.13 - Quadro organizado pela ABIVIDRO para ser usado em campanhas educacionais visando a reciclagem de

Vidro
vidros (ABIVIDRO, 2009).

Hoje, sabemos que para cada tonelada de vidro reciclado, evitamos a extração de 1.300
Kg de areia. Isso significa que se a totalidade dos 2,95 x 10 9 Kg de vidro produzidos no Brasil em
2007 fosse reciclada seria evitada a extração de 3,83 x 10 9 Kg de areia.

A extração de areia é uma das principais causas da rápida degradação dos rios em diversas 185
partes do Brasil. A extração de areia na várzea do rio Paraíba do Sul, nos estados de São Paulo e
do Rio de Janeiro é um bom exemplo disso. A produção de areia dessa região corresponde a 10%
de toda a produção nacional. Isso equivale a uma taxa mensal de retirada de areia igual a 1,02
x 10 6 m3 .mes -1 (DNPM, 2006). Grande parte dessa areia é levada para a região metropolitana
de São Paulo. Em um estudo sobre o impacto da mineração de areia no balanço hídrico do rio
Paraíba do Sul, Reis et al. (2006) demonstraram que, no período 1993-2003, o crescimento das
áreas de cavas abertas que resultam da exploração de areia, ao longo desse importante rio, foi
extraordinário (Fig. 6.14). Esses autores estimaram um aumento de evaporação de até 203%
devido a essas cavas na região abrangida pelo estudo. É importante destacar que essa é uma
região que já é afetada por um nítido déficit hídrico, principalmente entre os meses de abril e
setembro.

Fig. 6.14 - Imagem de satélite Landsat demonstrando a evolução das atividades de extração de areia no rio Paraíba
do Sul, entre as cidades de Jacareí e Pindamonhangaba (SP). Em vermelho, cavas de áreas de extração de
areia. À esquerda, situação em 1993; à direita, a mesma área 10 anos depois (2003).
Fonte: Reis et al. 2006.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Deve ser ressaltado, contudo, que a rentabilidade da reciclagem do vidro está muito aquém
da rentabilidade obtida na reciclagem do alumínio, por exemplo. A rentabilidade da reciclagem do
vidro está hoje na casa de R$ 0,21 por kg de vidro enquanto que no caso do alumínio esse valor
pode chegar a R$ 3,70 por kg de latas de alumínio. Esses contrastes de rentabilidade ressaltam
a complexidade logística e operacional da reciclagem já que ela implica não somente em uma
grande diversidade de metodologias dependendo do material considerado, mas também deve
ser levada em conta a grande diferença nos custos finais envolvidos. Diante desse cenário,
é recomendável que as diferentes esferas de governo passem não somente a reconhecer
a importância da reciclagem, mas também passem a atuar mais ativamente na questão da
reciclagem. O governo deve atuar, não somente criando, aplicando e fiscalizando novas normas
que possam disciplinar mais esse segmento, mas também criando políticas de fomento para a
reciclagem no Brasil a exemplo do que já vem sendo feito há décadas nas respectivas cadeias
produtivas desses materiais.

6.7 - Estatísticas da reciclagem do vidro


Vidro

Em 2001, o Brasil reciclava apenas 42% do consumo interno um valor que estava bem
próximo dos EUA, por exemplo. Nesse mesmo ano, vários países europeus apresentaram taxas
de reciclagem acima de 80% com destaque para a Suíça, Finlândia ambos com percentuais
superiores a 90% do consumo interno (Tab. 6.7).
186
Tab. 6.7 – Estatísticas da reciclagem de vidro em alguns países europeus e dos EUA, comparados ao Brasil.

Reciclagem Do Vidro (2001)

País % Toneladas.ano -1

Suiça 92 -

Finlândia 91 -

Bélgica 88 -

Noruega 88 -

Alemanha 87 2,6 milhões

Brasil 42 390 mil

Inglaterra 34

EUA 40 2,5 milhões

Fonte: WasteonLine (2009b), ABIVIDRO (2009).


Ricardo Motta Pinto-Coelho

O Brasil tem experimentado um grande avanço na reciclagem do vidro (Fig. 6.15). Basta
mencionar que em 1991, apenas 15 % do vidro era reciclado no país. Em 2007, os índices
nacionais de reciclagem se aproximavam de 50% do total de vidro comercializado no país.
No entanto, ao observarmos os dados da Tab. 6.7, fica evidente que há um grande caminho
a ser percorrido para a reciclagem do vidro especialmente se as estatísticas nacionais forem
comparadas àquelas dos países europeus mais desenvolvidos.

Reciclagem de Vidro no Brasil

60

50
% Reciclagem

40

30

Vidro
20

10

0
91 9 2 9 3 9 4 9 5 9 6 9 7 9 8 9 9 00 01 02 03 04 05 06 07
19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 20
187
Ano

Fig. 6.15 - Evolução da reciclagem de vidro no Brasil entre 1991 e 2007. Fonte: ABIVIDRO (2009).

Em termos de origem do vidro reciclado, a maior parte (80%) vem de embalagens e


do mercado difuso que é constituído pelo universo dos catadores, associações de catadores e
pequenas empresas de reciclagem. O “canal frio” é representado pelos bares e restaurantes. Ao
contrário da indústria de matéria plástica, o refugo industrial tem um papel apenas secundário na
reciclagem do vidro (Fig. 6.16).

10%

10%
Envaze
40%
Mercado Difuso

Canal Frio

Refugo da Indústria

40%

Fig. 6.16 - Origem do vidro reciclado no Brasil. Fonte: ABIVIDRO ( 2009).


Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

6.8 - Abrindo uma empresa de reciclagem


de vidro
A ABIVIDRO (2009) elaborou um estudo sobre a abertura de empresas de reciclagem
de vidros e muito do que será exposto adiante sumariza esse documento e pode, inclusive, ser
aplicável a várias outras empresas de reciclagem, em geral. Inicialmente, o empreendedor deve
buscar uma área apropriada. Será necessário um galpão industrial com área mínima construída
de 600 a 800m 2. A escolha do local da usina deve considerar, dentre outros aspectos, os
seguintes fatores: (a) proximidade e facilidade de acesso aos pontos de captação do caco; (b)
proximidade e facilidade de acesso aos clientes compradores; (c) a área deve estar adequada à
legislação urbana (municipal e estadual) sobre uso do solo (área permitida para uso industrial).
Para se saber se uma área pode ser usada basta fazer uma consulta à prefeitura local; (d) boa
Vidro

oferta de serviços públicos tais como energia elétrica, água potável e rede de esgotos, telefone
fixo e sinal de telefonia móvel, serviço de internet por banda larga, transporte coletivo, segurança,
limpeza urbana confiável.

Embora exista no país a tradição de que a atividade de reciclagem seja informal, toda
empresa de reciclagem e, em particular, uma miniusina de reciclagem de vidro, deve estar
188
totalmente enquadrada em um dos modelos jurídicos admitidos pela legislação brasileira para esse
tipo de atividade: firma individual, sociedade comercial ou sociedade civil, ou ainda organizações
da sociedade civil de interesse público (OSCIP) e, dentre elas, as associações comunitária Em
todos os casos, será estabelecida uma razão social, um nome fantasia. O novo empresário (ou
o seu contador) deverá estar ciente de toda a regulamentação da atividade e deverá proceder
aos pedidos de cadastramento na Junta Comercial da região, na Secretaria da Receita Federal,
Secretaria Estadual da Fazenda e na Prefeitura Municipal do município.

Além dos documentos fiscais (CNPJ, inscrição estadual, etc.), será necessário verificar
em cada caso qual é a documentação requerida para se obter tanto o alvará de funcionamento
bem como a licença de instalação e a licença ambiental. Esses documentos são normalmente
emitidos pela secretaria do meio ambiente do município considerado e pela fundação estadual
do meio ambiente (ou congênere) o que normalmente ocorre após adequação do galpão às
exigências locais (essa fase pode demandar despesas adicionais em modificações ou melhorias
no galpão, dependendo do estado do galpão, da região considerada). Também são necessários o
alvará da vigilância sanitária (que é emitido pela prefeitura local), o atestado da vistoria do corpo
de bombeiros, além de toda a documentação fiscal e trabalhista do novo estabelecimento.

Embora exista muita falácia a respeito das vantagens de se reciclar, é preciso de que o
empresário(a) que irá se dedicar ao negócio tenha em mente, em primeiro lugar, que o seu
negócio é como qualquer um outro no sentido de que ele deve gerar lucros para que possa ser
realmente sustentável. A reciclagem deve ser encarada como um negócio que vai gerar resultado
financeiro, justificando a sua prática além do aspecto educativo e ambiental. Para isso, uma série
de premissas devem ser levadas em consideração (Tab. 6.8).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 6.8 - Premissas de um negócio autosustentável em reciclagem de vidros.

O programa deve ser autosustentável do ponto de vista financeiro. Nunca confiar em financia-
mentos ou subsídios de qualquer naturezacomo forma de sobrevivência do negócio.

É desejável que o empresário faça ou encomende um plano de negócios para a nova empresa.
Esse deverá orientar todo o negócio desde a sua instalação, as necessidades de investimentos
a curto e longo prazos, o gerenciamento de recursos humanos, etc.

Vidro
O envolvimento da comunidade é um pré-requisito para qualquer programa de reciclagem.
Toda empresa de reciclagem terá mais sucesso se estiver inserida em um programa de coleta
seletiva de lixo no município onde atua.

A empresa deve possuir uma excelente logística. Bons veículos, devidamente equipados e ade- 189
quados à legislação local, uma rota muito bem definida a fim de que o gasto de combustível
seja minimizado e, ao mesmo, tempo todos os clientes sejam visitados na freqüência adequa-
da. É absolutamente fundamental que o programa de coleta seja regular, confiável. A estrutura
de armazenamento deve ser adequada.

Um bom conhecimento do mercado é pré-requisito para garantir a compra dos resíduos a


preços que justifiquem a operação. É essencial que o empresário tenha uma noção precisa
dos custos envolvidos bem como das oscilações de mercado para a compra e venda de seus
respectivos produtos. Nesse sentido, a organização de várias empresas em um sistema de
cooperativas ou de franquias poderá ser muito útil, principalmente no sentido de apressar o
retorno do investimento no negócio e de prover uma contínua troca de experiências.

A captação deverá ser planejada, respeitando a legislação pertinente quanto a mobiliário urba-
no e facilidade de acesso. Recomenda-se a formalização de pequenos contratos de compra de
resíduos com os clientes maiores.

Fonte: ABIVIDRO (2009), modificado pelo autor.

No caso de uma empresa recicladora de cacos de vidros não são necessários altos
investimentos em equipamentos de processamento, pois o beneficiamento pode ser feito de
forma manual ou de forma semiautomatizada. Uma miniusina de beneficiamento se justifica à
partir de coletas que atinjam 300 toneladas por mês e não requer equipamentos sofisticados. Com
investimentos de R$ 150.000,00 é possível implantar uma unidade desta natureza (ABIVIDRO,
2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

papel 7.0
Produção,
Consumo e
Reciclagem de Papel
no Brasil.
7.1 - Introdução
7.2 - Produção, consumo e o comércio mundial de
papel
7.3 - A indústria brasileira de papel
7.4 - Comércio externo brasileiro na área do papel e
celulose
7.5 - Perspectivas da indústria de celulose e a
questão ambiental
7.6 - Reciclagem de papel
7.7 - Etapas da reciclagem do papel
7.8 - Reciclagem e competitividade das indústrias de
papel
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

7.1 - Introdução
Ainda nos primórdios de nossa civilização, o homem fazia uso de corantes naturais e do
carvão para representar, em paredões de pedra, suas emoções, experiências e crenças (Fig. 7.1).
Mais tarde, o homem passou a usar plantas, rochas e mesmo a argila para registrar a sua história.
Daí surgiu, por exemplo, a escrita cuneiforme usada pelos babilônicos. De todos os produtos
empregados, o papiro, usado inicialmente pelos egípcios, foi o de maior importância. A seguir, o
pergaminho foi usado até o século XVI.
Papel

192

Fig. 7.1 - Pintura rupestre encontrada nos paredões de arenito


da Serra do Cabral, localizado nas proximidades da
cidade de Lassance, norte de Minas Gerais. Foto de
RMPC.

O papel foi inventado na China em 105 d.C. (Santos et al. 2001), mas somente por volta
de 700 d.C. é que o ocidente tomou conhecimento de sua existência. A primeira fábrica de papel
da Europa surgiu na Espanha por volta de 1.100 d.C. No Brasil, a produção industrial do papel
somente foi estabelecida ao final do século XIX.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Apesar de vivermos na era digital, na era da internet e estarmos rodeados por monitores
de computadores e aparelhos de TV de todas as formas e tamanhos imagináveis, não podemos
deixar de reconhecer a importância do papel. O papel é essencial não só para o ensino e o
trabalho. O seu uso é imprescindível no lazer e em vários outros momentos de nossa vida
cotidiana. Assim, os jornais, esse livro que você está lendo, as revistas, sejam elas populares
ou altamente científicas, os recados que você escreve no dia a dia, a lista de compras do
supermercado ou mesmo os cheques que você emite quando vai comprar um automóvel ou
usa durante suas férias para pagar uma conta de restaurante, tudo isso depende do papel. Não
devemos esquecer o emprego universal do papel nas embalagens. E mesmo para quem não
gosta de ler, só usa o cartão de crédito ou vive diante de um computador, como fica na hora de ir
ao banheiro? O papel é usado em toalhas descartáveis, lenços, absorventes, guardanapos e para
a fabricação do papel higiênico. Não existem indícios de que o uso do papel vá diminuir e, como
veremos mais adiante nesse capítulo, há claros sinais de que haverá um aumento significativo na
produção (e obviamente do consumo) mundial dessa matéria prima.

Papel
Os diferentes usos do papel na sociedade moderna impõem aos fabricantes atender a uma
demanda diferenciada. Os papéis usados nas embalagens, por exemplo, devem apresentar uma
boa resistência física enquanto que os papéis sanitários (lenços, papel higiênico, etc) devem, ao
contrário, serem macios e facilmente decompostos em água.

O papel é formado por fibras de celulose entrelaçadas (Fig. 7.2). A matéria prima para a
obtenção das fibras de celulose pode ser formada por troncos de árvores, bambu, bagaço de 193
cana, algodão, linho ou sisal.

Fig. 7.2 - Estrutura da celulose, um polissacarídeo formado pela ligação de milhares de moléculas de glicose.
Original: Paula Pinto-Coelho

O processo da fabricação do papel inicia-se com a poda e transporte das árvores para
o pátio da fábrica. Ainda nessa fase, são retiradas as folhas e ramos e somente os troncos são
transportados. A seguir, as cascas são retiradas dos troncos. As cascas poderão ser usadas em
caldeiras tanto para a produção de calor quanto para a produção de outras formas de energia
(CENIBRA, 2009).

A fabricação do papel continua com a picagem dos troncos em cavacos com dimensões
e formas apropriadas para sofrerem o ataque químico na próxima etapa. Como as células da
madeira são unidas pela lignina que age no sentido de dar rigidez e resistência, essa lignina é
parcialmente retirada em um processo conhecido como polpação do tipo kraft. Nesse processo,
é adicionada uma solução conhecida como sendo o “licor branco”. Essa solução é formada pelo
hidróxido de sódio e pelo sulfeto de sódio em meio aquoso. Esse processo é feito dentro de um
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

digestor que é mantido em alta pressão e temperatura. A polpa ou massa celulósica resultante é
chamada de polpa de cor marrom. Essa cor resulta do fato de que nem toda a lignina foi retirada
pelo processo “kraft”.

A próxima etapa, chamada de branqueamento, é complexa e tem por objetivo central a


completa remoção da lignina. O processo é basicamente de natureza química. Nesse processo,
são utilizados o cloro, o hipoclorito de sódio, o dióxido de cloro, oxigênio e ozônio. O processo
exige seguidas lavagens e daí a necessidade de um grande aporte de água. Finalmente, a celulose,
branqueada ou não, é empregada na fabricação de inúmeros tipos de papel (Fig. 7.3).

Corte de Árvores
Energia
Papel

Preparo das Toras Polpa Marrom


Cascas

Cloro
Retirada das Cascas ClO 2
Branqueamento NaClO
194 O2
O3
Água Lavagem
Água

Corte dos Cavacos

Papéis de impressão
Papéis para escrever
Papéis para embalagens
NaOH Na 2S Polpação Kraft Lignina Papéis sanitários
Cartões e cartolinas
Papéis crespados
Água Papéis não classificados

Fig. 7.3 - Etapas da fabricação do papel a partir do eucalipto. Uma das principais características dessa indústria é o
elevado consumo de água e a geração de efluentes industriais que necessitam um tratamento complexo de
modo a minimizar os impactos ambientais sobre os mananciais hídricos. Original. RMPC.

No Brasil, a produção de celulose e papel utiliza basicamente a madeira de uma árvore


trazida da Austrália inicialmente para a fabricação de dormentes para as estradas de ferro: o
eucalipto. Uma tonelada de papel requer cerca de 20 árvores dessa espécie com idade variando
entre 6 e 7 anos. Os grandes avanços da silvicultura e da biotecnologia permitiram que o Brasil se
tornasse o maior produtor mundial de celulose branqueada de eucalipto (celulose de fibra curta)
e o sétimo produtor mundial de todo tipo de celulose e o décimo segundo produtor mundial de
papel (BRACELPA, 2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

7.2 - Produção, consumo e o comércio


mundial de papel
A produção e o consumo mundiais de papel vêm crescendo continuamente nos últimos
quinze anos. As taxas médias de crescimento da demanda mundial de papel para o período 1980-
1995 estiveram sempre acima de 3,3% ao ano. No período 1995/2005, as taxas de crescimento
da produção interna de papel no Brasil ficaram também em torno de 3,3% (BRACELPA, 2009).

O comércio mundial de papel vem apresentando valores crescentes tanto em quantidade


quanto em dólares americanos (Fig. 7.4). Esse tipo de comércio movimentou, em 1995, cerca de
72 milhões de toneladas, correspondendo a US$ 80 bilhões (BNDES, 1995). Segundo o estudo
do BNDES, o fluxo mais intenso de comércio é apresentado pelos segmentos embalagem,
imprimir e escrever e papel de imprensa. Em 1995, cerca de 50% da importação de papel estava

Papel
concentrada apenas em seis países: EUA, Alemanha, Inglaterra, França, China e Itália (BNDES,
1995).

Segundo o estudo do BNDES (BNDES, 1995), os Estados Unidos apresentam um fluxo


intenso com o Canadá no comércio de papel de imprensa. Os países europeus são grandes
importadores de papéis para imprimir e escrever e embalagens. Os principais países exportadores
de papel são Canadá, Finlândia, Suécia e EUA, atuando o primeiro fortemente em papel de 195
imprensa. A Finlândia destaca-se como um grande exportador de papeis de impressão e de
escrever. Os EUA exportam grandes quantidades de papéis para embalagem. A exportação da
Suécia é a mais equilibrada entre os principais tipos de papel.

Comércio Internacional de papel (1990 - 1995)


80 100

80
60
(x10 6 toneladas)

60
(x10 6 US$)

40
40

20
20

0 0
1990 1991 1992 1993 1994 1995

Quantidade Ano Ano

Fig. 7.4 - Comércio internacional de papel no período 1990-1995 (Fonte: BNDES, 1995).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Entre todas as categorias de papel, os tipos de papel para imprimir e escrever são os
que vêm apresentando as maiores taxas de crescimento devido ao uso cada vez mais intensivo
de propaganda (mala direta), além das novas tecnologias desenvolvidas para escritórios (fax,
copiadoras, impressoras, computadores pessoais, etc.). Outro fator que contribuiu para esse
aumento foi o barateamento dos custos de impressão industrial, permitindo uma maior diversidade
de títulos de revistas e periódicos. Aliás, merece destaque o fato de que as vendas totais de livros
bem como o número de lançamento de novos títulos e o total de exemplares vendidos vêm
decrescendo de modo expressivo nos últimos anos no Brasil. (Earp & Kornis, 2005) (Fig. 7.5).

500 100 6000


Livros no
5000

Número de Títulos (x10 3 )


400 80

Faturamento (x10 6 R$)


Exemplares (x10 6 )

4000
Papel

300 60
3000
200
40
2000

100 20
1000
196
0 0 0
1994 1996 1998 2000 2002 2004
Ano
Faturamento Exemplares Títulos

Fig. 7.5 - Lançamento de novos títulos, número de exemplares comercializados e faturamento na venda de livros no
Brasil, segundo Earp & Kornis (2005). Figura original.

Consumo Mundial de Papel (2005) - Milhões de Toneladas (10 6 ton)

19,67
16,86
84,3
Embalagem

36,5 Imprimir e escrever

Cartão

Imprensa

Sanitários

42,15 Outros

81,4

Fig. 7.6 - Consumo mundial de papel por categorias em 2005. Fonte: BRACELPA (2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Os maiores produtores e também consumidores de papel são os países desenvolvidos:


EUA, Japão e Canadá respondem por cerca de 47% da produção mundial e EUA, Japão e
Alemanha consomem 50% de todo o papel produzido (Fig. 7.6).

O consumo aparente per capta de papel é influenciado pelos índices de alfabetização,


formação acadêmica e pelos níveis dos salários médios da população em geral. No caso brasileiro,
esse índice vem subindo lentamente. Ele passou de 34 kg.hab. -1 em 1995 para 42 kg.hab. -1
(2007), mas é ainda muito baixo quando comparado aos maiores consumidores (Fig. 7.7). Os
Estados Unidos, por exemplo, apresentam um consumo per capta de 288 kg.hab. -1 (EUA) e a
França possui uma taxa de 144 kg.hab. -1. Mesmo entre os componentes do Mercosul, o Brasil
consome bem menos do que a Argentina, por exemplo, cujo consumo per capita passou de 45,0
em 1994 para 59,5 kg.hab. -1 em 2007. Outros países da América Latina também apresentam
taxas mais elevadas de consumo, tais como o México (63,4 kg.hab. -1) e o Chile (77,3 kg.hab. -1).

Papel
Consumo per capta de papel (2007)

350
280
kg/hab. ano

210 197
140
70
0
os

ha

lia

aa

ça

ile

il
as
in

Itá

an
er
id

Ch
an

na

nt

Br
Ja
Un

at

Fr
em

Ca

ge
gl

Ar
s

In
Al
do
ta

País
Es

Consumo per capta de papel

Fig. 7.7 - Consumo per capta de papel em alguns países industrializados ou Fonte: BRACELPA (2009).
emergentes. Ano base: 2007.

7.3 - A indústria brasileira de papel


A indústria brasileira de papel e celulose apresentou um bom desempenho no período
1980/95 (Fig. 7.8), fundamentado basicamente no comércio internacional, uma vez que o
consumo aparente do país foi incapaz de absorver todo o crescimento verificado na produção.
A produção nacional de celulose e papel elevou-se de 2,87 / 3,36 milhões de toneladas de
toneladas em 1980, para 5,44/ 5,85 milhões de toneladas, em 1995, respectivamente. Em 2007,
o país produziu 9,0 milhões de toneladas de papel e 12 milhões de toneladas de celulose. Esses
números posicionam o país como o sexto maior produtor mundial de celulose e o 12º maior
produtor mundial de papel (BRACELPA, 2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Produção e consumo de papel (Brasil)

10
Milhões de toneladas
8

0
0

81

91

06

07
9
8

9
8

9
8
8
8

9
8

19
19

19
19

19
19

19

19

19
19
19

19
19

19
19

20
19

20
Produção Consumo Ano
Papel

Fig. 7.8 - Produção e consumo de papel no Brasil nas últimas duas décadas do século XX. Fonte: BRACELPA (2009).

A produção mundial de celulose alcançou 194 milhões de toneladas em 2007. Durante a


década de 80, a celulose de fibra longa, produzida pelos países nórdicos e da América do Norte,
198 mostrou-se preponderante. No entanto, esse cenário mudou com o expressivo aumento da
participação da celulose de fibra curta, ou seja, aquela produzida a partir do Eucalipto, introduzida
no mercado a partir do final da década de 70 pelos países então chamados de não tradicionais
produtores (Brasil, Portugal e Espanha). Mais recentemente, o ingresso do Chile e de alguns
países asiáticos neste mercado, em particular da China e da Indonésia, tem contribuído para
elevar ainda mais a oferta de fibra curta (Fig. 7.9).

Produção de celulose (fibra curta) - Eucalipto


12,0
Milhões de toneladas

6,0

4,0

0
1990 1995 2000 2005 2010
Ano

Brasil Portugal Chile Espanha China

Fig. 7.9 - Principais produtores mundiais de celulose de Eucalipto. O Brasil, juntamente com os países ibéricos
(Portugal e Espanha), é um dos maiores produtores mundiais desse tipo de fibra que tem a sua origem no
eucalipto. Os valores aplicados para 2010 são estimativas do setor.
Fonte: BRACELPA (2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A produção brasileira de celulose fibra curta é a que apresentou maior crescimento, sendo
o tipo preponderantemente exportado pelo Brasil. O destino da fibra longa é o uso cativo na
fabricação de papéis para embalagem, principalmente. Um aspecto muito interessante da indústria
de papel e celulose no país é o de que os aumentos das produções de papel e celulose foram
conseguidos com aumentos de produtividade uma vez que o aumento da área plantada não foi
tão expressivo. Ao final de 1995, o setor possuía 1,5 milhão de hectares de reflorestamentos
próprios, sendo 61% de Eucaliptus e 37% de Pinus. Em 2007, o país contabilizava cerca de
1,715 milhões de hectares ocupados com florestas artificiais (BRACELPA, 2009) (Fig. 7.10). No
entanto, a área de florestas plantadas no país é bem maior e chega a 5,5 milhões de hectares,
sendo a maior parte destinada à produção de carvão vegetal. Segundo a EMBRAPA (EMBRAPA,
2009), a área total plantada com eucaliptos no Brasil era de 2,95 x 10 6 hectares, em 1999

Papel
Florestas Plantadas no Brasil - 2007
500

400
x 1000 ha

300 199
200

100

SP BA PR MG ES RS MS SC PA AP RJ MA

Estados

Fig. 7.10 - Distribuição por estados da federação das florestas plantadas no Fonte: BRACELPA (2009).
Brasil para a produção de celulose.

7.4 - Comércio externo brasileiro na área


do papel e celulose
A balança comercial do setor vem registrando saldos positivos crescentes, tendo
contribuído, em 1995, com cerca de 6% das exportações totais do Brasil: entre papel e celulose,
o valor exportado somou US$ 2,7 bilhões, com importações de US$ 1,1 bilhão (BNDES, 1995).
As importações brasileiras de papel são, basicamente, dos tipos imprensa (principalmente do
Canadá) e imprimir/escrever revestidos (Finlândia). Em 1995, situaram-se na ordem de 805 mil
toneladas, sendo 68% superior às importações de 1994.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Comércio exterior de papel e celulose (Brasil - 2007)

4
US$ Bilhões

0
0

91

00

01

02

03

04

05

06

07
9

9
9

9
9

9
9
8
Papel

19

20
19

19
19

19

19
19

19
19

19

20
20

20

20

20
20
20
Exportação Importação Ano

Fig. 7.11 - Fluxo anual de importações e exportações de papel no Brasil, no período 1990-20075
Fonte: BNDES, 1995, BRACELPA, 2007.
200

As exportações brasileiras de papel alcançaram 1,229 milhões de toneladas em 1995


(1,7% das exportações mundiais) e concentram-se nos tipos imprimir/escrever não revestidos
e embalagem (kraftliner). Naquela época, o Brasil já se situava como um dos três maiores
fornecedores mundiais de papel para imprimir e escrever não revestido, à base de celulose.

De 1995 até os dias atuais, a posição do Brasil como um grande exportador de celulose e
de papel se consolidou (Fig. 7.11). Hoje, o setor de papel e celulose conta com 220 empresas,
localizadas em 450 municípios espalhados por 17 estados da federação. O setor gera 110 mil
empregos diretos, sendo 65 mil na industrial e 45 mil nas florestas e quase 500 mil empregos
indiretos. O saldo comercial devido à boa performance das exportações foi de US$ 3,4 bilhões
em 2007, o que corresponde a 8,5% do saldo comercial total do Brasil (BRACELPA. 2009).

Em 2007, o país exportou 12 milhões de toneladas de celulose e 9,0 milhões de toneladas


de papel o que corresponde, em seu conjunto, a um valor total de US$ 4,7 bilhões (BRACELPA,
2009). Essa mudança de estratégia de comercialização dos seus produtos é muito visível na
indústria do papel e celulose no Brasil. Até meados da década de 80, o mercado externo não era
visto como um mercado muito importante pelos produtores de papel. As exportações visavam
apenas desovar o volume da produção não absorvido pelo mercado nacional. O agravamento da
recessão interna e a boa receptividade do papel brasileiro no exterior contribuíram para modificar
esse cenário. Atualmente, as exportações de papel assumem vital importância na ocupação
da capacidade produtiva. Os maiores mercados para as exportações brasileiras de papel são
formados pelos países da América do Sul, Europa e países asiáticos e da Oceania (Fig. 7.12).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Papel - Destino das Exportações Brasileiras - 2007

Papel
201
Fig. 7.12 - Destino das exportações brasileiras de papel (2007). Fonte: BRACELPA (2009).

Celulose - Destino das Exportações Brasileiras - 2007

Fig. 7.13 - Destino das exportações brasileiras de celulose (2007). Fonte: BRACELPA (2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Em termos de exportação de celulose os maiores mercados são, respectivamente, a


Europa, Asia e Oceania e a América do Norte (Fig. 7.13).

7.5 - Perspectivas da indústria de


celulose e a questão ambiental
As perspectivas para o consumo mundial apontam para um crescimento anual de 2,7%
(BRACELPA, 2009). Em 2005, o consumo mundial de celulose foi de 234 milhões de toneladas
de celulose e pastas e 117 milhões de toneladas para a pasta reciclada. O aumento do uso da
pasta reciclada deve ser bem maior e, considerando as tendências atuais, esse consumo deve
manter-se no patamar de crescimento de 4-5% ao ano (BRACELPA, 2009). Essas estimativas
indicam que poderá haver até mesmo um déficit de oferta para o papel reciclado que pode
Papel

influenciar o preço final desse tipo de produto.

A principal vantagem competitiva do Brasil é a sua tecnologia florestal, onde, após 25 anos,
o desenvolvimento genético alcançado para o eucalipto permite o corte para industrialização em
apenas sete anos, com alta produtividade. As florestas boreais têm um ciclo de 30 anos, sendo que
usualmente corta-se mata nativa. Essa vantagem, entretanto, num médio prazo, é ameaçada por
202 outros países de climas tropical e subtropical, especialmente os asiáticos (BRACELPA, 2009).

As razões para os altos níveis de produtividade nas florestas plantadas alcançados pelo
Brasil estão associadas ao clima e ao solo adequados, a pesquisa e desenvolvimento na área
de silvicultura, ao alto grau de organização do setor privado e ao crescente uso de mão de obra
qualificada. Os principais avanços tecnológicos estão nas áreas da genética, biotecnologia, no
manejo florestal e no planejamento sócio-ambiental.

Apesar do quadro otimista acima, é importante destacar que existem muitos desafios
tecnológicos a vencer no front ambiental. É preciso melhorar (e muito) a qualidade dos efluentes
líquidos e perseguir a meta do efluente zero nessa indústria. O tratamento tradicional dos
efluentes líquidos pode estar contribuindo para o aumento da eutrofização dos mananciais à
jusante das indústrias. Dessa forma, é preciso monitorar melhor os impactos ambientais dos
efluentes líquidos principalmente em termos de sua contribuição para o aumento da eutrofização
dos sistemas aquáticos sejam eles lóticos ou lênticos. É necessário também diminuir os impactos
da contaminação por metais traços. A questão da emissão de gases causadores do efeito estufa
precisa ser melhor avaliada nas indústrias de papel e celulose e espera-se que novas medidas
sejam tomadas para diminuir a emissão de gases e partículas finas nessas plantas.

Os passivos ambientais gerados pela monocultura de eucalipto não são ainda bem
conhecidos. Espera-se que o setor possa investir mais na questão da pesquisa ambiental
especialmente nos impactos desse tipo de cultivo nos bancos de biodiversidade genética e de
espécies das áreas de entorno; bem como avaliando melhor o impacto dessas monoculturas no
balanço hídrico das bacias hidrográficas envolvidas.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

7.6 - Reciclagem de papel


A reciclagem aqui é entendida como o reaproveitamento do papel dito não-funcional
para produzir um novo tipo de papel, o papel reciclado. Há duas grandes fontes de papel a se
reciclar: as aparas pré-consumo (recolhidas pelas próprias fábricas antes que o material passe
ao mercado consumidor) e o papel usado pós-consumo (geralmente recolhidas por catadores
de ruas). De um modo geral, o papel reciclado utiliza matéria prima das duas fontes acima e
tem a cor creme. O papel reciclado tem propriedades diferentes do papel novo sendo a mais
notória delas, a coloração. A aceitação do papel reciclado é crescente, especialmente no mercado
corporativo. Vários bancos, por exemplo, usam somente papel reciclado. Esse tipo de papel tem
um apelo ecológico, o que faz com que alcance um preço até maior que o material virgem.

Atualmente, observa-se uma tendência mundial para o aumento tanto do consumo de


papel reciclado quando da própria atividade de recuperação e reciclagem do papel. Em alguns

Papel
países, como a China por exemplo, as taxas de consumo de papel reciclado são muito mais
elevadas do que a própria atividade de reciclagem. Em outros países, tais como a França, o Japão
e os Estados Unidos, a produção de material reciclado chega mesmo a ser superior ao consumo
nacional desse material (Fig. 7.14). Ao compararmos a situação do Brasil no contexto da produção
e consumo de papel reciclado, fica claro que temos um longo caminho a percorrer.

203

Reciclagem de papel no mundo - 2007


100
Percentual de Reciclados

80

60

40

20

0
A
a

a
lia
a
ia
o
i xo
ça
a

il

EU
ha

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di
di
nh

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ás

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Itá
an

Ch
an

éx

ân
Ín

Br

nt
Ja
pa

al
Fr

M
em

nl
M

ge
Es

Fi

Ar
Al

Consumo Recuperação
Países

Fig. 7.14 - Percentuais de uso para o consumo e de recuperação de papel em alguns países industrializados e
emergentes
Fonte: BRACELPA (2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

No Brasil, os papéis reciclados chegavam a custar 40% a mais que o papel virgem (preços
de 2001). Em 2004, os preços estavam quase equivalentes, e o material reciclado custava de
3% a 5% a mais. A redução dos preços foi possibilitada por ganhos de escala, e pela diminuição
da margem média de lucro. Na Europa, o papel reciclado em escala industrial chega a custar
até mais barato que o virgem, graças à eficiência na coleta seletiva e ao acesso mais difícil à
celulose.

Como foi visto acima, a matéria prima vegetal mais utilizada na fabricação do papel é
a madeira, embora outras também possam ser empregadas. Estas matérias primas são hoje
processadas química ou mecanicamente, ou por uma combinação dos dois modos, gerando
como produto o que se denomina de pasta celulósica, que pode ainda ser branqueada, caso se
deseje uma pasta de cor branca. A pasta celulósica, branqueada ou não, nada mais é do que
as fibras celulósicas liberadas, prontas para serem empregadas na fabricação do papel. A pasta
celulósica também pode prover do processamento do papel, ou seja, da reciclagem do papel.
Papel

Hoje, a força motriz da reciclagem de papel no Brasil ainda é o fator econômico, mas o
fator ambiental deverá cada vez mais ser um fator muito importante para o desenvolvimento
do setor, assim como ocorre em vários países mais desenvolvidos. A preocupação com o meio
ambiente criou uma demanda por “produtos e processos amigos do meio ambiente”. Reciclar
o papel é uma forma de responder a esta demanda. Assim, os principais fatores de incentivo à
204 reciclagem de papel, além dos econômicos, são: a preservação de recursos naturais (matéria-
prima, energia e água), a minimização da poluição e a diminuição da quantidade de lixo que
vai para os aterros e lixões. Dentre estes, certamente o último é o que tem tido maior peso
nos países que adotam medidas legislativas em prol da reciclagem. É importante destacar que
a fabricação do papel e da celulose, assim como na cadeia do alumínio, ainda está associada a
um elevado impacto ambiental. A responsabilidade sócio-econômica dos diversos atores dessa
cadeia deve ser direcionada também para o incremento da reciclagem.

7.7 - Etapas da reciclagem do papel


A reciclagem do papel inicia-se pela coleta do material (Fig. 7.15). Essa coleta é feita por
um exército de catadores de papel nas principais cidades do país. Já existem, em diversas cidades
do Brasil, iniciativas de sucesso visando uma organização desse importante elo da cadeia de
reciclagem do papel. Um bom exemplo é o trabalho iniciado pela Pastoral de Rua da Arquidiocese
de Belo Horizonte, a partir de 1987, que culminou, em 1992, no estabelecimento de uma
parceria público-privada entre a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) da Prefeitura de
Belo Horizonte (PBH) e a Associação dos Catadores de Papel (Dias, 2006). Essa parceria resulta
da implementação de um modelo de gestão que se enquadra no sistema de gerenciamento
integrado e sustentável de resíduos sólidos urbanos (GISRSU) que está baseado nas seguintes
premissas: (a) consistência tecnológica; (b) qualificação do trabalhador e (c) cidadania e
participação social. O ponto mais importante dessa parceria é o reconhecimento pelo poder
público do catador não como um inimigo da limpeza pública, mas sim como um importante
parceiro para o desenvolvimento da coleta seletiva na região metropolitana de Belo Horizonte
que encerrou décadas de relacionamento conflituoso entre a PBH e os catadores de lixo e papel
na cidade (Dias, 2006).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Papel
205

Fig. 7.15 - A criação da ASMARE possibilitou a abertura de várias pequenas empresas de reciclagem que trabalham
em conjunto com os catadores de papel no hipercentro de Belo Horizonte. Nas fotos, vemos a atividade
dos catadores que, ao final de cada dia, chegam com seus carrinhos lotados principalmente de papel e
plásticos. Esse material sofre uma primeira triagem nessas empresas que encaminham os fardos de papel e
de plásticos para o terceiro elo da cadeia de reciclagem. Fotos: RMPC.

Outra fonte importante de papel reciclado é constituída pelas sobras (aparas) de papel
que surgem do próprio processo industrial de fabricação do papel e principalmente nas indústrias
gráficas. Essas sobras (aparas) são entregues diretamente na recicladora.

Uma vez que todo o papel usado chega na recicladora, ele deverá passar pelo controle de
qualidade e é classificado. Em geral, os lotes mais antigos vão para as esteiras transportadoras.
O hidrapulper é um equipamento que desagrega o papel em solução aquosa. Após esta etapa,
uma motobomba direciona a massa de papel e a envia para as próximas etapas.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Dependendo da natureza do lote, a próxima etapa consiste no emprego de uma máquina,


o turbo tiraplástico que irá retirar todo o material plástico eventualmente presente tais como
forros de capas, etiquetas, etc. A seguir, vem a centrifugação que é feita visando a retirada de
todas as impurezas (poeira, grampos, pregos, etc.) que possam ser retiradas por gravidade.

Uma vez que a massa de papel esteja livre do plástico e de todas as outras impurezas, é
feito então o refino da massa homogeneizada. O refino inicia-se com a adição de aditivos à massa
tais como o sulfato de alumínio, amido de mandioca, etc. Em seguida, a massa é transferida para
a caixa de entrada da máquina de papel. Essa máquina é constituída por uma mesa que é isolada
em uma câmara à vácuo que retira toda a umidade excedente.

Após o processo de retirada à vácuo da umidade, o papel seco e plano é então prensado
em um processo bem preciso onde é regulada com grande precisão a gramatura do papel.
Nesse ponto, é feita então uma segunda secagem, só que agora o papel já em seu formato final
é tracionado em rolos secadores. Logo em seguida, o papel é transferido para enroladeiras que
Papel

irão dispor o papel em bobinas. Essas bobinas irão para o controle de qualidade. Dependendo
da necessidade do cliente, essas bobinas ainda irão para o setor de cartonagem onde o papel é
transformado em chapa de papelão, constituinte essencial das caixas de papelão.

7.8 - Reciclagem e competitividade das


206
indústrias de papel
A competição na indústria do papel, como em todas as outras indústrias, tradicionalmente
sempre foi baseada no binômio preço-qualidade. As escalas de produção das novas plantas são
cada vez maiores proporcionando menores custos unitários, mas exigindo vultosos investimentos
(BNDES, 1995). A diferenciação de produto torna-se cada vez mais relevante, revertendo o
tradicional tratamento da commodity. No entanto, a crescente conscientização da sociedade em
geral sobre os grandes impactos ambientais associados à indústria da celulose, tem levado as
empresas a investir no desenvolvimento e implantação de novas tecnologias de processo, com
destaque para a área de branqueamento, além de investimentos significativos na área ambiental
da empresa, infelizmente muitas vezes mais direcionados ao marketing ambiental.

A tendência que se verifica atualmente é no sentido do “efluente zero”, ou seja, sistema


fechado de produção, sem o lançamento dos enormes volumes de água altamente poluída
nos mananciais (BNDES, 1995). É preciso acrescentar o fato de que o custo está se elevando
ultimamente movido, por um lado, pela crescente escassez de recursos florestais de boa qualidade
e, por outro, pela crescente mobilização da sociedade exigindo uma postura mais consciente
das indústrias na questão dos impactos ecológicos advindos do monocultivo do eucalipto. A
indústria também vem sentindo a pressão de substituir fibras virgens por material reciclado. A
legislação dos países desenvolvidos, principalmente da União Européia, tem obrigado o uso de
percentagens crescentes de reciclados na composição dos papéis. Por trás dessas pressões, há
o interesse em diminuir a quantidade de lixo produzida pelas grandes cidades.

O percentual de reciclagem tem se elevado nos últimos anos. Como foi visto acima, a taxa
Ricardo Motta Pinto-Coelho

de reciclagem do papel no Brasil situa-se em torno de 43% (Fig. 7.14). Entretanto, este percentual,
na realidade, deve ser significativamente maior, mas a falta de estatísticas mais confiáveis impede
seu correto dimensionamento. As empresas brasileiras de celulose de mercado têm respondido
rapidamente às exigências de seus consumidores, adaptando seus processos produtivos às
novas normas e credenciando-se à obtenção do certificado ISO-9000 (todas as produtoras têm
esse tipo de certificado). Tem-se verificado, também, a implantação de rígidos programas de
redução de custos e modernização administrativa objetivando estruturas mais leves e capazes
de responder às demandas de uma competição globalizada.

Papel
207
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

Pilhas e Baterias 8.0


Tipologia,
Produção e Reciclagem
de Pilhas e Baterias.
8.1 - Introdução
8.2 - Pilhas atuais
8.3 - Classificação das pilhas e baterias
8.4 - Baterias ácido-chumbo
8.5 - Baterias de Ni-Cd
8.6 - Baterias NiMH
8-7 - Baterias de Lítio
8.8 - Produção de pilhas e baterias no Brasil
8.9 - Reciclagem de pilhas e baterias
8.10 - Um caso de estudos: a represa da Pampulha,
Belo Horizonte, MG.
8.11 - O que diz a lei
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

8.1 - Introdução
As pilhas e as baterias são miniusinas portáteis, que transformam energia química em
energia elétrica. Em 1800, o italiano Alessandro Volta descobriu que empilhando alternadamente
discos de metais diferentes (como prata e zinco, prata e cobre, cobre e zinco ou cobre e chumbo)
e entremeando estes discos metálicos com discos de flanela ou feltro embebidos em água e
sal ou em vinagre, a pilha de discos produzia eletricidade. O ácido do vinagre produz reações
químicas nos metais. Devido a essas reações, o zinco armazena um excesso de elétrons em
relação ao cobre, ocorrendo uma diferença de potencial. Estava inventada a pilha elétrica e a
Pilhas e Baterias

esse arranjo dá-se o nome de pilha voltaica. Uma pessoa pode sentir um choque elétrico com
uma pilha similar a de Volta com cerca de 60 discos ao tocar as suas duas extremidades da pilha
(Fig. 8.1).

210

Fig. 8.1 - A pilha original de Alessandro Volta o italiano inventor da pilha elétrica. Original: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

8.2 - Pilhas atuais


As pilhas líquidas de Volta, eram muito difíceis de transportar. Hoje, elas foram substituídas
pelas pilhas secas, mas seria mais correto chamá-las de pilhas pastosas (Fig. 8.2). As pilhas
modernas geralmente usam eletrólitos sólidos imersos em um gel de manganês. A maioria das
pilhas possui um bastão de carvão que é imerso em camadas pastosas de dióxido de manganês
e cloreto de amônia. O conjunto é lacrado numa carcaça de zinco. Há uma lenta reação química,
que produz uma diferença de potencial. Quando colocamos em contato o carvão e o zinco,
através de um fio, a corrente flui, como na pilha úmida de Volta. A produção comercial de baterias

Pilhas e Baterias
e pilhas se iniciou ainda no século XIX.

211

Fig. 8.2 - Corte transversal em uma pilha comercial comum. No seu interior, existe um bastão de grafite que está
diretamente ligado ao pólo positivo. O bastão está envolto em uma pasta úmida formada por amônio, cloreto
de zinco e dióxido de manganês. A membrana de zinco envolve essa pasta e fica ligada ao pólo negativo, que
localiza-se na parte inferior da pilha. Os elétrons fluem do pólo negativo para o pólo positivo.
Original: RMPC.

Apesar de todos os avanços tecnológicos, as pilhas que utilizamos hoje têm o mesmo
princípio de funcionamento da pilha construída por Volta. A parte mais externa (capa) da pilha é
de zinco, sendo freqüentemente recoberta com papelão ou plástico para evitar vazamento. No
interior da pilha, em vez de outro metal, há um bastão de carbono (grafite). O recipiente é cheio
de uma pasta úmida, constituída por alguns sais e óxido de manganês (no lugar da solução de
ácido diluído). A placa de zinco e o óxido de manganês presente na pasta úmida se interagem,
na presença dos sais e do carbono, gerando uma corrente elétrica contínua.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Como as reações químicas de retirada e adição de elétrons não cessam, o zinco vai
acumulando progressivamente mais elétrons e não pode doá-los ao cobre, a não ser que se
estabeleça um contato entre os dois metais. Se esse contato for feito por meio de um fio
metálico, os elétrons excedentes do zinco fluirão para o cobre através do fio.

Várias substâncias químicas presentes nas pilhas e baterias são tóxicas, e podem fazer
mal à homens, animais e plantas. As pilhas de zinco e carvão foram as primeiras a serem
Pilhas e Baterias

comercializadas. Uma pilha comum contém alguns metais traços que podem causar sérios
problemas à saúde dos animais e do homem. Normalmente, estão presentes o zinco, o chumbo,
o níquel, a prata e o manganês. As pilhas mais comuns encontradas no mercado, além da pilha
tradicional feita à base de zinco-carbono que libera cerca de 1,5 V, são as pilhas alcalinas, que
contém o hidróxido de potássio e o mercúrio. Elas liberam a mesma energia, mas a sua duração
é mais longa. Além desses metais, as pilhas e baterias possuem outros elementos químicos
perigosos, como o cádmio, cloreto de amônia e negro de acetileno.

Toda a reação redox cuja voltagem é positiva ocorre espontaneamente, e dessa forma, as
pilhas estarão disponíveis a produzir corrente elétrica quando fecharmos o circuito unindo a cada
meia célula de zinco o que equivale a construir uma ponte por onde podem fluir os elétrons do
212 agente redutor até o agente oxidante.

Nas pilhas, a reação química que produz a separação de cargas em geral não é reversível.
À medida que a pilha vai sendo utilizada, as quantidades das substâncias que reagem vão
diminuindo e a produção de energia elétrica vai ficando menor, ocorrendo, então o desgaste
da pilha. Uma vez esgotados os reagentes dessa reação, as pilhas “acabam” e não podem ser
recarregadas. Já na bateria de automóvel, que é tecnicamente chamada de acumulador, esse
processo é reversível e, por isso, ela pode ser recarregada.

Recentemente, têm surgido no mercado, e com freqüência cada vez maior, as pilhas
recarregáveis. Do ponto de vista ecológico, as pilhas recarregáveis são muito superiores,
funcionam por até cinco anos, enquanto uma alcalina dura por 90 dias. Os diversos tipos de
pilhas recarregáveis (secundárias) estão descritos a seguir.

8.3 - Classificação das pilhas e baterias


As pilhas são classificadas de acordo com seus sistemas químicos, podendo haver em
cada um deles mais de uma categoria (Tab. 8.1). As categorias são representadas por letras, que
normalmente vêm impressas nas pilhas. Além disso, as pilhas podem ser recarregáveis ou não,
sendo divididas em primárias (não recarregáveis) e secundárias (recarregáveis).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 8.1 - Classificação das pilhas de acordo com seus sistemas químicos e suas aplicações (ELETRONICA, 2009)

Primárias Código Uso Comum


Zinco carvão - Propósitos gerais
Alcalina de manganês L Propósitos gerais
Lítio C Relógios e equipamentos fotográficos

Pilhas e Baterias
Aparelhos auditivos e equipamentos
Óxido de mercúrio N,M
fotográficos
Óxido de prata S,S Relógios e calculadoras
Zinco A,P Aparelhos auditivos
Secundárias Código Uso Comum
Níquel cádmio Ferramentas, eletroportáteis sem fio e
Ni-Cd
(recarregável) propósitos gerais
Chumbo-ácido
Pb-ácido Eletroportáteis, brinquedos, etc.
(recarregável)
Hidreto de Níquel metálico NiMH Celulares e lap tops
213
Baterias de Gel de Lítio Li Celulares

8.4 - Baterias ácido-chumbo


As baterias são sistemas compostos por uma associação de pilhas, fornecendo, portanto,
mais energia. Internamente a bateria consiste de dois tipos de placas imersas em ácido sulfúrico
e água. Uma delas é uma forma esponjosa de chumbo, que serve como o ânodo, o pólo negativo
da bateria que providencia os elétrons que irão viajar pelo circuito externo. A outra placa é de
dióxido de chumbo, PbO 2, que serve como o cátodo, o pólo positivo da bateria que recebe os
elétrons depois deles passearem pelo circuito externo (Fig. 8.3).

Durante o funcionamento da bateria, acumulam-se depósitos de um composto chamado


sulfato de chumbo, formando uma película entre as placas. A produção de energia elétrica
decresce (a bateria descarrega) e a solução de ácido sulfúrico fica mais diluída. A bateria
de ácido-chumbo pode ser recarregada passando por ela uma corrente elétrica contínua em
direção oposta a da corrente que a bateria fornece. Isso força o processo inverso, ou seja, a
(re)-diluição do sulfato de chumbo depositado nas placas. Após o carregamento, a bateria volta
a produzir corrente. Existe um aparelho chamado “densímetro” que indica quando a bateria está
descarregada, através da medida da densidade da solução de ácido sulfúrico.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Bateria ácido-chumbo
Bateria ácido-chumbo
Ânodo

Cátodo
Pilhas e Baterias

Placa de chumbo
recoberta com
chumbo esponjoso

Fig. 8.3 - Esquema de uma bateria automotiva convencional. As placas de chumbo ficam imersas em uma solução
fortemente ácida feita a base de ácido sulfúrico (H 2SO 4). Ao fornecer a corrente elétrica, há um gradual
depósito do sulfato de chumbo sobre as placas. Ao contrário das pilhas comuns, a bateria permite uma
recarga bastando para tanto passar uma corrente elétrica no sentido inverso. Esse procedimento faz com que
214 parte do chumbo depositado sobre as placas volte à solução iniciando o processo novamente.

As baterias têm várias qualidades, elas podem ser carregadas e descarregadas centenas
de vezes; elas são baratas e chegam a ter um tempo de vida, em condições normais de uso, de
até dois anos. No entanto, elas são pesadas, grandes e são geralmente empregadas em veículos
automotores tais como caminhões, tratores, embarcações ou ainda em diversos tipos de motores
estacionários.

Basicamente, o que acontece no interior de uma bateria é um processo de oxi-redução. A


oxidação ocorre no ânodo, enquanto que é no cátodo que se passa o processo correspondente
de redução. As reações que irão ocorrer são as seguintes:

Na oxidação:

Pb + H 2SO4 PbSO4 + 2H + + 2e - (+0,36V) [Reação 8.1]

Na redução:

PbO 2 + H 2SO4 + 2H + + 2e - PbSO4 + 2H 2O (+1,68V) [Reação 8.2]

As baterias são recarregáveis. Esse processo ocorre em uma bateria automotiva enquanto
o motor estiver rodando, seja na estrada ou simplesmente parado no semáforo. O alternador
estará continuamente recarregando a bateria. A corrente entra na bateria pelo sentido inverso
e reconverte o sulfato de chumbo e água em chumbo esponjoso, dióxido de chumbo e ácido
sulfúrico, como descrito a seguir.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Recarga:

2PbSO4 + H 2O Pb + 2H 2SO4 + PbO 2 [Reação 8.3]

O potencial dessa reação é igual à soma das duas meia celas que começaram o processo,
mas com sinal negativo (-2,04 V). Como a bateria automotiva comum é composta de seis

Pilhas e Baterias
conjuntos desse tipo, ela irá produzir uma tensão final de 12 volts. Assim, a bateria tem uma
arquitetura interna composta por seis pares de células Pb/PbO 2 ligados em série para promover
a energia total, em uma situação análoga junção de várias pilhas encostadas, com o pólo positivo
de uma ligado ao pólo negativo de outra. A união de duas pilhas comuns de 1,5 Volts cada, gera
a tensão de 3,0 Volts necessários para alimentar uma lanterna comum.

As baterias automotivas são as mais recicladas, pois o chumbo contido nelas é 100%
reciclável, bem como o plástico, porém os processos são ainda muito rudimentares e não existe
um controle ambiental apropriado o que acarreta muitas vezes na disposição inadequada dos
resíduos gerados desse processo.

215
8.5 - Baterias de Ni-Cd
Nos telefones celulares, existem em geral três tipos de baterias: as NiCd, as NiMH e as de
Lítio. As baterias de Níquel e Cádmio (NiCd) são uma das baterias mais comuns no mercado.
As baterias normais de Ni-Cd produzem entre 500 e 650 mAh. Mas há também outros projetos
que permitem chegar dos 1.200 aos 1.500 mAh. Essas baterias são, no entanto, maiores, mais
pesadas e mais caras.

Trata-se de uma bateria recarregável que envolve uma reação de oxi-redução entre cádmio
e um óxido de níquel. Nestas baterias, o pólo positivo e o pólo negativo são dispostos juntos, o
pólo positivo é coberto com hidróxido de níquel e o pólo negativo é coberto de material sensível
ao cádmio. Estes dois pólos são isolados por um separador. As baterias NiCd têm uma vida útil
relativamente curta além de perder a sua capacidade de carga gradualmente cada vez que são
recarregadas. Os períodos entre os carregamentos vão se encurtando à medida que a bateria é
usada. A voltagem da NiCd tende a cair abruptamente, ficando descarregadas de um momento
para o outro após um período considerável de utilização.

O problema dessas baterias está no fato de que elas contém um metal altamente venenoso,
o cádmio. Essas baterias, comuns nos celulares hoje em dia, já estão se tornando um problema
de poluição ambiental e, em nenhuma circunstância, devem ser jogadas no lixo. No Brasil, o
consumidor deve guardar a nota fiscal de compra e, ao final da vida útil da bateria, ele deverá
encaminhá-la ao seu local de compra que, por sua vez, levará as baterias usadas para empresas
de reciclagem devidamente credenciadas.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

8.6 - Baterias NiMH


As baterias de metal híbrido de níquel (NiMH) usam o hidrogênio no seu processo de
produção de energia. Elas nasceram nos anos 70 das mãos do químico Standford Ovshinsky
(Fritzsche & Schwartz, 2008), mas só recentemente foram redescobertas para os celulares. A
tecnologia dessas baterias permite o armazenamento de uma maior quantidade de energia.
Tipicamente, elas conseguem armazenar cerca de 30% ou mais de energia se comparadas a
uma bateria Ni-Cd de idêntico tamanho. A principal vantagem é que são baterias que não usam
metais tóxicos. Muitas destas baterias são feitas com metais tais como o titânio, o zircônio, o
vanádio, níquel e cromo. Algumas empresas japonesas têm experimentado, inclusive, outros
Pilhas e Baterias

metais como o raro lantânio. O uso desses novos materiais torna a nova geração de baterias, tais
como a bateria de NiMH, muito mais caras que as tradicionais baterias de Ni-Cd.

8.7 - Baterias de Lítio


As baterias à base de lítio são as baterias mais recentes a conquistarem o mercado
dos celulares. Conseguem um armazenamento muito superior de energia, aumentando
consideravelmente o tempo de ação dos celulares. São também muito leves, pesando cerca
de metade de uma Ni-Cd equivalente. Apesar das baterias de lítio serem muito caras, as suas
vantagens acabaram por torná-las equipamento de série para muitos modelos de celulares e
216 também de notebooks e laptops.

As únicas baterias de celulares que devem ser obrigatoriamente recolhidas por um programa
específico de reciclagem são as de níquel-cádmio. O motivo é que o cádmio, assim como o
mercúrio e o chumbo, é considerado um metal nocivo ao meio ambiente. Os demais modelos,
no entanto, deveriam ser recolhidos por programas de coleta seletiva e não se aconselha o seu
descarte e posterior deposição em aterros sanitários. Todos os fabricantes recomendam aos
consumidores que não armazenem pilhas e baterias mesmo aquelas sem metais nocivos em
casa. Mesmo depois de usadas, essas unidades podem deixar escapar compostos químicos que
causam danos quando entram em contato com mucosas.

8.8 - Produção de pilhas e baterias no Brasil


As pilhas e baterias estão definitivamente presentes no cotidiano do homem moderno.
O consumo mundial é da ordem de 10 bilhões de pilhas.ano -1. Em 2004, a comercialização
de pilhas no Brasil atingiu 1,2 bilhões de unidades. Desta quantidade, cerca de 800 milhões
referem-se a pilhas legalmente fornecidas ao mercado e o restante, 400 milhões, é ocupado por
pilhas ilegais. Desse total, cerca de 68,3% são pilhas secas de Zinco-Carbono não recarregáveis
(Rocha e Souza-Cruz, 2005; ABINEE, 2009). O país ainda produz cerca de dez milhões de
baterias de celulares, doze milhões de baterias automotivas e, ainda, cerca de duzentas mil
baterias industriais.

O consumo per capta chega a 15 pilhas.ano -1 nos países industrializados. Na maioria dos
países em desenvolvimento esse consumo fica na casa das 5,0 pilhas.ano -1 (Abreu, 2009). O
consumo brasileiro per capta está em torno de 6,0 unidades.habitante.ano -1.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

8.9 - Reciclagem de pilhas e baterias


Inicialmente devemos ter em conta de que as pilhas são uma das fontes de energia mais
caras que existem, superando eletricidade e combustíveis derivados de petróleo. Portanto, são
sistemas que devem ser usados com a maior parcimônia pelos consumidores, em qualquer parte
do mundo. No caso do Brasil, existe ainda o problema do uso bastante disseminado das pilhas
sem origem definida. Esse tipo de pilha, as pilhas e baterias “piratas”, ou seja, contrabandeadas

Pilhas e Baterias
e sem nenhum tipo de certificado de procedência, e que contêm, quase sempre, índices ainda
mais elevados de diversas substâncias tóxicas.

Apesar de haver orientações atuais para que não se recicle uma grande parte das pilhas
de uso comum no Brasil (vide resolução do CONAMA Nº 257 de 30/06/1999, MMA, (2009))
a presença de qualquer tipo de pilhas é origem de problemas nos lixões e aterros. Nas usinas
de compostagem, por exemplo, a maior parte das pilhas é triturada junto com o lixo doméstico
e o composto gira nos biodigestores liberando os vários tipos de metais (como, por exemplo, o
Zn, Mn e Ni) além de outras substâncias (sais de amônio) que podem eutrofizar os mananciais
hídricos. O composto resultante pode contaminar o solo agrícola e até o leite das vacas que
pastam em áreas que recebem esse tipo de adubação.
217
As pilhas e as baterias são compostas por metais pesados, tais como mercúrio, chumbo,
cobre, níquel, zinco, cádmio e lítio. Esses metais são perigosos para o ambiente e a saúde
humana. Depois de descartadas, as pilhas vão se decompondo, podendo seus componentes,
principalmente os metais traços, infiltrarem-se no solo, atingindo os lençóis de água subterrânea,
entrando assim nas teias alimentares dos rios e mares, acumulando-se, ao final, na biomassa dos
seres vivos.

A reciclagem de pilhas depende de processos de alta tecnologia. Ela é custosa devido à


necessidade de tratamentos especializados que são voltados à recuperação específica de cada
metal que compõe a pilha. A recuperação dos metais pode apresentar problemas tecnológicos
importantes. O mercúrio e o zinco, por exemplo, podem ser recuperados por vários tipos de
processos, mas quase sempre apresentam uma contaminação por cádmio. Existem outras pilhas
para as quais a reciclagem é atualmente inviável. Por exemplo, as pilhas de lítio não contêm na
sua composição materiais de valor que justifiquem a sua recuperação.

A reciclagem de pilhas envolve quatro fases: a coleta das pilhas, a triagem, o tratamento
físico e o tratamento metalúrgico. Como todo programa de reciclagem, a coleta das pilhas usadas
não é uma tarefa simples. A resolução do CONAMA (resolução 257) específica sobre a reciclagem
de pilhas não contribuiu muito para consolidar a reciclagem das pilhas e baterias no Brasil. Apesar
disso, algumas iniciativas de empresas e ONG´s estão fazendo essa coleta de modo voluntário,
mas com grande sucesso. Uma das iniciativas de maior sucesso, é o programa papa-pilhas
lançado pelo Banco Real (Fig. 8.4).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Pilhas e Baterias

Fig. 8.4 - O programa papa-pilha lançado pelo Banco Real visa a estimular o cliente do banco a adotar uma postura
mais responsável na questão ambiental. Em todas as agências do banco, são disponibilizados locais de
entrega voluntária (LEV), onde as pilhas podem ser depositadas. A seguir, as pilhas coletadas serão triadas e
enviadas a empresas de reciclagem (ver texto). Foto e edição: RMPC.

218 O tratamento físico consiste na moagem e posterior separação de constituintes: metais,


papéis, plásticos, etc. O tratamento metalúrgico pode ser feito por duas vias: a via hidrometalúrgica
ou a via pirometalúrgica. Na primeira via, após uma moagem, os metais existentes nas pilhas
usadas são lixiviados com ácido clorídrico ou sulfúrico. A seguir, é feita uma purificação das
soluções através de operações de precipitação ou eletrólise. Nesse processo pode-se recuperar
o zinco, o manganês, o cádmio e o níquel. Muitas vezes, o mercúrio é removido previamente
por aquecimento. A principal vantagem do processo hidrometalúrgico está no fato deste utilizar
menor quantidade de energia durante o processo. No entanto, ele gera efluentes líquidos que
precisam ser tratados posteriormente.

O processo pirometalúrgico consiste, essencialmente, no uso de alta temperatura para a


recuperação dos materiais de interesse. O ferro é separado magneticamente. Os outros metais
são separados tendo em conta os diferentes pontos de fusão. Trata-se portanto de um processo
térmico que consiste em evaporar à temperatura precisa cada metal para recuperá-lo depois,
por condensação. A vantagem deste processo está no fato de não se gerar efluentes líquidos
contaminados com resíduos perigosos que necessitem de tratamento para serem dispostos. A
desvantagem, por outro lado, está ligada ao consumo de energia, uma vez que são utilizadas
temperaturas da ordem de 800 a 1000ºC.

Problemas ambientais relacionados ao descarte de pilhas e baterias de forma inadequada


ocorrem e, muitas vezes, são muito difíceis de serem diagnosticados. Isso é devido ao fato de
que metais traços que estão presentes nas pilhas muitas vezes não causam problemas agudos
e sim problemas crônicos de contaminação. Somente pessoas e animais que fiquem expostos
às fontes de contaminação durante muito tempo é que irão apresentar os sintomas clássicos de
intoxicação aguda por metais traços (Tab. 8.2). Nesse sentido, a ciência ecológica pode ajudar a
identificar as fontes de poluição por metais traços antes que elas se tornem um problema grave
Ricardo Motta Pinto-Coelho

de saúde pública. No entanto, é preciso lembrar que os estudos toxicológicos estão ainda em
uma fase inicial e não se sabe ao certo o perigo real de pessoas que tenham ficado expostas
a fontes de contaminação de metais mesmo durante um breve período e ainda considerando
os níveis de concentração até mesmo abaixo dos níveis críticos estabelecidos pela legislação
brasileira (vide, por exemplo, a resolução do CONAMA Nº 357 em MMA, 2009).

Tab. 8.2 - Efeitos dos Metais Traços (Metais Pesados) presentes nas pilhas na saúde humana e de dos vertebrados em
geral (mamíferos, répteis, anfíbios e peixes).

Pilhas e Baterias
Mercúrio (Hg)
Distúrbios renais e neurológicos (irritabilidade, timidez e problema de memória), mutações
genéticas, e alterações no metabolismo e deficiências nos órgãos sensoriais (tremores,
distorções da visão e da audição).
Cádmio (Cd)
Agente cancerígeno, teratogênico, podendo causar danos ao sistema nervoso.
Se acumula, principalmente, nos rins, fígado e nos ossos. O Cd provoca dores reumáticas e
miálgicas, distúrbios metabólicos que levam à osteoporose, disfunção renal e câncer. O metal
ainda pode causar disfunções no aparelho reprodutor masculino e problemas na próstata.
Chumbo (Pb)
219
A presença de altas concentrações de chumbo na biomassa pode gerar a perda de memória,
dores de cabeça, irritabilidade, tremores musculares, lentidão de raciocínio, alucinação, anemia,
depressão, insônia, paralisia, salivação, náuseas, vômitos, cólicas, perda do tônus muscular,
atrofia e perturbações visuais e hiperatividade.
Lítio (Li)
A contaminação com o lítio afeta o sistema nervoso central, gerando visão turva, ruídos nos
ouvidos, vertigens, debilidade e tremores.
Níquel (Ni)
A presença do níquel provoca dermatites, distúrbios respiratórios, gengivites, sabor metálico,
“sarna de níquel”, efeitos carcinogênicos, cirrose e insuficiência renal;
Zinco (Zn)
Esse metal em excesso pode provocar vômitos e diarréias.
Cobalto (Co)
Existem vários compostos a base de cobalto nas baterias de lítio. O elemento Co causa a “sarna
do cobalto”, além de conjuntivite, bronquite e asma.
Bióxido de manganês (MnO 2 )
Substância muito usada nas pilhas alcalinas. O óxido de Mn provoca anemia, dores abdominais,
vômitos, crises nervosas, dores de cabeça, seborréia, impotência, tremor nas mãos, perturbação
emocional.

Fonte: Quadros 3,2, 3.3, 3.4 e 3.5, págs. 83-89 em Andreoli et al. 2007.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

No Brasil, a considerar o elevado percentual do uso de lixões e de aterros fora das


especificações, as baterias e pilhas foram e ainda estão sendo descartadas de forma inadequada.
É quase certo que uma parte considerável dos metais e outras substâncias presentes nas pilhas
estejam contaminando ou já tenham contaminado os lençóis freáticos ou mesmo os rios e
ribeirões que drenam essas áreas. O mais grave é que esse tipo de contaminação normalmente
pode ocorrer durante anos ou mesmo décadas, mesmo após o fechamento dos lixões ou a
interdição dos aterros precários. Esse é um problema que provavelmente existe em muitas
áreas (peri)urbanas do Brasil e que deve ser levado mais a sério pelas nossas autoridades
ambientais.
Pilhas e Baterias

Freqüentemente, as águas dos rios, lagos e reservatórios que drenam áreas sujeitas à
contaminação por metais não contém concentrações perigosas desses elementos, mesmo
no caso de existir de fato essa contaminação. Isso ocorre porque uma das características dos
ecossistemas tropicais é a rápida intrabiotização dos elementos inorgânicos na biomassa dos
organismos. Isso quer dizer que os elementos minerais tendem a ficar pouco tempo em solução
sendo rapidamente absorvidos pelos organismos. O que fazer então? Nesses casos, somente um
estudo do metabolismo do ecossistema é que irá identificar e sugerir as melhores soluções para
o problema.

Inicialmente, deve-se averiguar os teores dos metais tóxicos na biomassa dos diversos
compartimentos do sistema, particularmente nas plantas aquáticas (macrófitas) que muitas vezes
220 bioacumulam os metais em suas partes tais como folhas, flores, frutos e sementes. Recomenda-
se, ainda, examinar as concentrações dos metais na biomassa dos organismos bentônicos que
são aqueles insetos e moluscos, principalmente, que vivem nos sedimentos dos rios, lagos e
reservatórios. Recomenda-se, ainda, examinar os teores desses metais na ictiofauna (peixes)
e na avifauna (aves aquáticas) principalmente porque esses animais estão no topo da cadeia
alimentar e podem bioacumular quantidades muito elevadas dos metais. É importante expressar
os níveis de metais encontrados em termos de peso seco dos indivíduos e não em concentrações
totais relativas ao peso fresco (ou seja, peso expresso em relação ao peso do organismo com o
seu conteúdo em água).

Existe ainda uma forma (mais rara) de contaminação aguda que é a inalação ou o contato
prolongado com as substâncias tóxicas. Como exemplos, são citados o chumbo, que causa
disfunção renal e anemia; o mercúrio, que gera estomatites e problemas renais, além de lesões
cerebrais e neurológicas; o zinco, que provoca doenças pulmonares; e o manganês, que afeta o
sistema imunológico.

8.10 - Um caso de estudos: a represa da


Pampulha, Belo Horizonte, MG.
Existem evidências de que a ação de lixões e aterros sanitários com saída de “chorume”
(líquido negro que vaza do interior de aterros não controlados) para os mananciais próximos,
localizados na bacia hidrográfica da represa da Pampulha em Belo Horizonte causaram uma
progressiva contaminação com alguns metais traços nessa represa. Para testar essa hipótese, o
Ricardo Motta Pinto-Coelho

laboratório de gestão de reservatórios da UFMG fez uma pesquisa visando determinar a possível
contaminação por três metais traços (Zn, Cd e Pb) nos diversos compartimentos bióticos da
represa.

Amostras dos sedimentos, do zooplâncton, de plantas aquáticas e de peixes foram tomadas


em vários pontos da represa entre setembro e outubro de 1999 na represa da Pampulha. As
amostras para determinação de metais pesados foram tratadas com ataque com água-régia. Os
metais foram determinados em fase dissolvida, por espectrofotometria de absorção atômica em
forno de grafite na Hidroquímica – Centro de Pesquisas Especiais (CEPE) de Belo Horizonte.

Pilhas e Baterias
Todas as amostras dos organismos foram liofilizadas antes de serem enviadas ao laboratório da
CEPE para as análises e, portanto, as concentrações dos metais foram expressas em relação ao
peso seco dos organismos.

Os teores de metais-traços foram mais altos no sedimento da represa (Fig. 8.5). Isso
era esperado porque este compartimento é o principal reservatório para os metais. Os metais
pesados formam compostos muito estáveis, como o CoS e ZnS, que, uma vez no sedimento,
dificilmente são novamente liberados para a coluna d’água, levando a um grande acúmulo dos
mesmos, razão pela qual o sedimento é um bom indicador do nível de contaminação ambiental
de ecossistemas aquáticos.

O zinco foi o metal-traço que apresentou as maiores concentrações em todos os 221


compartimentos (peixes, zooplâncton, macrófitas e sedimento). As causas mais prováveis para
este padrão são sua maior disponibilidade na natureza e também pelo fato de que o zinco é um
metal essencial para a maioria dos organismos, estando presente em baixas concentrações em
sua biomassa, como constituinte de metaloproteínas, enzimas, etc. É importante destacar, como
visto acima, que o zinco é um metal ainda muito empregado na fabricação de pilhas.

O chumbo foi o segundo metal-traço com concentrações mais elevadas nos organismos.
Este elemento é amplamente utilizado em uma grande variedade de processos industriais,
contaminando o meio ambiente em qualquer estágio de sua exploração. O chumbo está presente
em vários tipos de baterias e não possui nenhum efeito benéfico ou nutricional desejável e tende
a se acumular nos tecidos do homem e outros animais. Em peixes, é altamente tóxico. Os teores
de chumbo encontrados na represa sinalizam uma possível contaminação dos mananciais por
lixões e aterros sanitários com problemas de impermeabilização.

O cádmio apesar de ter aparecido com as menores concentrações é um elemento com


alto potencial de toxidez e normalmente não se encontra em concentrações detectáveis nos
ecossistemas sadios e não poluídos. Os valores encontrados nos diversos compartimentos
da represa apesar de serem os mais baixos atestam a existência de uma contaminação desse
elemento na bacia hidrográfica da Pampulha. O ribeirão do Sarandi é um dos principais tributários
da represa. Esse curso de água recebeu por muitos anos a contaminação de chorume de
aterros sanitários (mal) controlados na região de Contagem, um município vizinho ao de Belo
Horizonte.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Existe contaminação com metais pesados na


represa da Pampulha?
Pilhas e Baterias

222

Fig. 8.5 - Compartimentação biótica de alguns metais traços (pesados) na represa da Pampulha. Dados originais do
Laboratório de Gestão de Reservatórios, ICB, UFMG (Pinto-Coelho & Greco, 1998).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

8.11 - O que diz a lei


Devido a seus componentes tóxicos, as pilhas podem também afetar a qualidade do
produto obtido na compostagem de lixo orgânico e mesmo impedir o uso desse composto como
adubo. Além disso, sua queima em incineradores também não consiste em uma boa prática,
pois seus resíduos tóxicos permanecem nas cinzas e parte deles pode volatilizar, contaminando
a atmosfera.

Considerando os impactos negativos causados ao meio ambiente pelo descarte inadequado

Pilhas e Baterias
das pilhas e baterias usadas e a necessidade de disciplinar o descarte e o gerenciamento
ambientalmente adequado (coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final) de
pilhas e baterias usadas, a Resolução n° 257/99 do CONAMA resolve em seu artigo primeiro:

“As pilhas e baterias que contenham em suas composições chumbo, cádmio, mercúrio
e seus compostos, necessário ao funcionamento de quaisquer tipos de aparelhos, veículos ou
sistemas, móveis ou fixos, bem como os produtos eletroeletrônicos que os contenham integrados
em sua estrutura de forma não substituível, após seu esgotamento energético, serão entregues
pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assistência técnica
autorizada pelas respectivas indústrias, para repasse aos fabricantes ou importadores, para
que estes adotem diretamente, ou por meio de terceiros, os procedimentos de reutilização,
223
reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequado”.

Recentemente, uma nova resolução do CONAMA (resolução nº 401, de 04/11/2008)


substituiu a antiga resolução nº 257. No entanto, essa nova resolução nada muda na questão do
dscarte das pilhas comuns no lixo convencional.

Agora, vem a clássica pergunta: você já retornou as pilhas aos estabelecimentos onde foram
adquiridas? Para quem quiser fazer valer essa norma, é bom lembrar que os estabelecimentos
irão exigir que o consumidor apresente, no ato da devolução da bateria, a nota fiscal da compra
do produto.

As resoluções 257/99 e 401/2008 se baseiam na pressuposição de que o descarte no lixo


comum de pilhas com pequenas quantidades de substâncias nocivas não traria prejuízo maior
aos ecossistemas, uma vez que elas se destinariam a aterros sanitários. A justificativa relaciona-
se ao fato de que essas pilhas não possuem “quantidades significativas” de materiais perigosos e
nem de outros materiais que possam justificar a sua reciclagem sob o ponto de vista comercial.

A comunidade européia (CE) possui normas rigorosas sobre a reciclagem de pilhas e


baterias. Em março de 1991, a Comunidade Européia adotou uma nova diretiva visando a
contenção do uso de substâncias tóxicas em pilhas e baterias (EUROPILE, 1992). Entre outros
aspectos reguladores, essa diretiva da CE baniu o uso do mercúrio na fabricação de todas as
pilhas a partir da data de entrada em vigor do documento. Segundo a diretiva da CE, as pilhas
alcalinas de manganês não devem conter mais que 0,025% de mercúrio. As pilhas de óxido de
mercúrio, cádmio, níquel e de chumbo ácido devem ser coletadas separadamente para reciclagem
ou disposição especial.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A Associação Européia de Fabricantes de Pilhas (EUROPILE, 2009) recomenda a coleta


e reciclagem das pilhas que contém “maiores” concentrações de Cd, Pb, Hg e Ag. A restrição da
coleta aos tipos de pilhas mencionados melhora a eficiência da coleta, simplifica os requisitos de
separação de pilhas, maximiza a recuperação, simplifica a tecnologia de recuperação de materiais
e minimiza custos, além de aumentar o valor comercial dos materiais recuperados.

Enquanto as baterias de celulares são compradas somente na rede autorizada, as pilhas


podem ser compradas tanto de camelôs quanto de grandes redes de lojas. As pessoas compram
Pilhas e Baterias

pilhas para rádios, controles remotos, jogos, lanternas e simplesmente jogam no lixo, queimam,
lançam em rios ou em terrenos baldios. Não têm informação de que se trata de lixo químico
potencialmente perigoso. Crianças manuseiam pilhas oxidadas, pilhas velhas são guardadas em
dispensas junto com alimentos e remédios. Agricultores compram adubo orgânico e não imaginam
que ele possa estar contaminado por metais pesados das pilhas e de baterias de celular.

Apesar da aparência inocente e do seu tamanho, as pilhas e baterias são hoje um grave
problema ambiental. Considerando as estatísticas apresentadas no Cap. 02 sobre a coleta de
lixo no país, podemos concluir que as pilhas se constituem em uma das maiores fontes de
contaminações por metais no Brasil. Em função do que foi apresentado, conclui-se que as pilhas
e baterias, quando esgotadas seu potencial energético, tornam-se resíduos perigosos, e como
224 tal deveriam ser encaminhadas para a reciclagem ou para um aterro industrial. Como os metais
pesados entram nas cadeias alimentares e terminam acumulados nos organismos e mesmo nas
pessoas, produzindo vários tipos de contaminação, não deveriam ir para aterros sanitários ou
compostagem e, muito menos, para os lixões. Nos aterros, a contínua exposição ao sol e à chuva,
leva as pilhas a se romperem e, como conseqüência, temos a liberação de todos os metais
presentes que mais cedo ou mais tarde irão chegar aos lençóis freáticos, córregos e riachos.

As leis federais e estaduais estabelecem o princípio do poluidor-pagador, ou seja, quem


gera o problema é também responsável por sua solução. No entanto, a resolução 257/99 do
CONAMA permite que se descarte pilhas em aterros desde que elas não ultrapassem 0,010% em
peso de mercúrio, 0,015% em peso de cádmio e 0,200% em peso de chumbo. Essa resolução
proíbe o lançamento de pilhas in natura a céu aberto, em corpos d’água, praias, manguezais,
terrenos baldios, poços, cavidades subterrâneas, redes de drenagem de águas pluviais, de esgotos
ou eletricidade e de telefone. Está proibida a queima de pilhas a céu aberto ou em recipientes
não adequados (artigo 8º). Entretanto, o artigo 13º permite que se jogue as pilhas e baterias no
lixo doméstico, em aterros sanitários licenciados (desde que elas estejam nos limites previstos
no artigo sexto). A resolução não considera, por exemplo, que uma boa parte dos municípios do
país não dispõe de aterro sanitário. Em muitos casos, existem aterros, mas trata-se de aterros não
licenciados e muitas vezes em precárias condições de operação (vide capítulo 02). Em virtude
desse cenário conflituoso entre a legislação brasileira e a realidade do país, recomenda-se ao
consumidor uma série de medidas (Tab. 8.3) que se adotadas por uma parcela expressiva da
população brasileira poderão resultar em uma significativa melhoria da qualidade ambiental dos
mananciais hídricos no país.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 8.3 - Lista de pequenas atitudes do consumidor, sugestões para a indústria de pilhas e para os órgãos do governo
que podem levar a uma sensível melhora nos índices de poluição com metais tóxicos nos mananciais hídricos.

Pilhas Baterias
Use pilhas de alta qualidade e evite comprá- Use baterias de alta qualidade
las de camelôs ou pilhas sem certificação
ambiental.
Evitar jogar pilhas no lixo doméstico Use o ciclo completo de carga e recarga das
baterias principalmente no caso dos celulares

Pilhas e Baterias
e lap tops.
Envie as pilhas usadas ao fabricante e não Mantenha o veículo bem regulado e siga as
esqueça de guardar a nota fiscal da compra orientações do fabricante quanto ao programa
das baterias. de manutenção periódica.
Prefira os modelos livres de mercúrio, cádmio Não sobrecarregue o sistema elétrico do veículo
ou chumbo. e se informe sobre a capacidade do sistema
elétrico do seu veículo antes de instalar um
novo acessório que consome energia
Reutilize as pilhas sempre que possível. Use o sistema de som do automóvel de
modo civilizado. Não abuse do volume que
implica em uma grande sobrecarga no sistema 225
elétrico.
Evite brinquedos e eletrodomésticos movidos Dar preferência aos produtos que ofereçam
à pilha. informações sobre as concentrações dos com-
ponentes utilizados bem como disponibilizem
essa informações em folhetos e brochuras. Os
folhetos devem dar indicações sobre o tempo
de vida útil da bateria bem como sobre as me-
lhores maneiras de se reciclar o produto.
Não seja supérfulo: use as pilhas de modo Estimular o governo a elaborar uma certifica-
racional ção ambiental de todas as baterias automoti-
vas comercializadas no país.
Dar preferência aos produtos que contenham
uma padronização e identificação dos tipos de
pilhas, com indicações claras nos rótulos sobre
as concentrações de metais usados em suas
respectivas composições. Dar preferência ao
fabricante que disponibilizar tabelas e folhetos
explicativos contendo todos os aspectos
relacionados à reciclagem das pilhas bem
como do aparelho a ser adquirido.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

Eletroeletrônicos 9.0
Produção,
Consumo e Reciclagem
de Aparelhos
Eletroeletrônicos.
9.1 - Introdução
9.2 - Lixo eletrônico
9.3 - Reciclagem do lixo eletrônico
9.4 - Aspectos legais
9.5 - Reciclagem de lâmpadas fluorescentes
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

9.1 - Introdução
O rápido avanço da tecnologia e o baixo custo de aquisição dos equipamentos
eletroeletrônicos levam anualmente à substituição de milhões de aparelhos, resultando num
Aparelhos Eletroeletrônicos

crescimento da chamada sucata eletrônica (“e-waste”). O Brasil não fugiu a essa tendência
mundial. Ao observarmos o número de aparelhos existentes nos domicílios brasileiros, pode-
se notar uma clara tendência de aumento (Fig.9.1). Isso ocorre tanto na chamada linha branca
(fogão, geladeira e máquina de lavar roupa) quanto para os demais aparelhos eletrônicos. Que o
brasileiro é um cidadão permanentemente ligado à T.V. já se sabia. No entanto, podemos também
notar que o brasileiro está também cada vez mais ligado à rede mundial de computadores e a
diversos outros tipos de serviços na área de telecomunicações (Fig. 9.2), além de ser um dos
campeões mundiais no uso de telefonia móvel, muito embora esse serviço no Brasil seja um
dos mais caros do mundo (VEJA, 2009). É quase certo que haverá um grande salto nas vendas
domésticas de computadores tanto desk top quanto lap tops, notebooks ou palm tops nos
próximos anos.

Aparelhos eletro-eletrônicos nos lares do Brasil

228 60
Milhões de Unidades

40

20

0
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ano

Fogão Televisão Geladeira


Rádio Máquina de lavar roupa PC
PC com internet Freezer

Fig. 9.1 - Número dos aparelhos eletroeletrônicos nos domicílios brasileiros na primeira metade da
presente década. Fonte: ABINEE (2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Um dos aspectos mais espetaculares do crescimento do uso de aparelhos eletroeletrônicos


no Brasil foi a universalização (pode-se mesmo falar em termos de excesso de uso) dos aparelhos

Aparelhos Eletroeletrônicos
de telefonia celular no Brasil (Fig. 9.2). No início da atual década havia menos de vinte milhões
de celulares ativos no país. Em 2007, esse número chegou a casa dos 121 milhões de aparelhos
(ABINEE, 2009; ANATEL, 2009). É interessante notar que muito pouco tem sido efetivamente
feito na reciclagem tanto dos aparelhos celulares quanto na reciclagem de suas baterias (vide
cap. 10).

Assinaturas a serviços de telecomunicações no Brasil

140
Milhões de Unidades

105

229
70

35

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano

Densidades de telefonia fixa Celulares em serviço Assinatura de TV a cabo

Fig. 9.2 - Número de assinaturas a provedores de serviços de telecomunicação no Brasil durante a primeira metade da
atual década. Fonte: ABINEE, 2009.

Considerando as estatísticas apresentadas nas duas figuras acima podemos esperar


uma verdadeira “avalanche” na produção de lixo eletrônico no Brasil tendo em vista o aumento
esperado na venda de computadores pessoais e, ainda, a reciclagem natural que certamente
irá acontecer na frota de telefones celulares do país. No caso dos telefones celulares, temos
dois problemas de reciclagem: o das baterias dos celulares (Cap. 10) e a reciclagem da própria
carcaça do aparelho.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

9.2 - Lixo eletrônico


As estatísticas sobre a análise de ciclo de vida (ACV) aplicáveis, por exemplo, aos computadores,
indicam que para a fabricação de um computador de mesa comum, com um monitor convencional
Aparelhos Eletroeletrônicos

de 17 polegadas, são usados cerca de 240 quilos de combustíveis fósseis, 22 quilos de químicos
diversos além de 1.500 litros de água. Considerando, esses valores, fica claro que o descarte dos
computadores bem como da maioria dos eletrodomésticos exige uma atenção especial tanto do
governo quanto da sociedade em geral.

A agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency -


EPA) alerta que 75% dos computadores em desuso nos Estados Unidos ainda estão armazenados
em garagens e armários à espera de serem reutilizados, reciclados ou simplesmente jogados fora.
Um típico monitor de PC pode conter até 25% do seu peso em chumbo, por isso alguns estados
dos EUA desenvolveram políticas que proíbem o descarte de qualquer lixo eletrônico, principalmente
CRT’s (tubos de imagem), nos aterros sanitários.

O chamado Lixo Eletrônico é constituído de resíduos de aparelhos elétricos e eletrônicos


(RAEE) chamados popularmente no Brasil de “sucata de informática”, “lixo eletrônico” ou “lixo
tecnológico” e, no exterior, WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment), Electronic waste ou
e-Waste. Em janeiro de 2003, a União Européia implementou um sistema de responsabilidades
230 ambientais, descrito na Diretiva 2002/96/EC e que já foi adaptada e efetivada em leis de muitos
países integrantes do bloco (EC, 2009). Essa diretiva está baseada no fato de aparelhos elétricos
e eletrônicos conterem muitos componentes considerados tóxicos e não biodegradáveis. Assim,
os fabricantes passaram a ser responsabilizados pelo recebimento e reciclagem dos seus produtos
sem custo para o consumidor final. Com a responsabilização dos fabricantes a reciclagem do lixo
eletrônico ganhou escala, empresas especializadas foram criadas para receberem os equipamentos
obsoletos entregues pelos consumidores, promovendo uma parceria para o reaproveitamento das
matérias primas. No Brasil, leis semelhantes devem ser aprovadas como incentivo para fomentar a
reciclagem de sucata de informática.

Na mesma época a União Européia implantou a restrição ao uso de substâncias nocivas


(RoHS – Restriction of Hazardous Substances) na fabricação de equipamentos eletrônicos, pela qual
os fabricantes são obrigados a retirar (ou reduzir ao mínimo) da composição de seus produtos. Os
elementos mais comumente empregados nessas indústrias são: chumbo, mercúrio, cádmio, cromo
com valência 6, bifenilas polibromadas (PBB) e éter difenil- polibromado (PBDE). Estas duas últimas
substâncias são empregadas como agentes retardantes de chamas em peças plásticas.

Existe uma considerável diversidade de equipamentos eletrônicos que podem ser reciclados
(Tab. 9.1). A maneira mais rápida e barata de iniciar o processo de reciclagem é a desmontagem
do equipamento que consiste na retirada e triagem de todos os componentes eletrônicos. Esses
componentes, uma vez tendo sido retirados, são encaminhados a diferentes tipos de clientes.
Alguns componentes tais como unidades de memória de computador podem ter uso imediato
sendo fornecidos, por exemplo, para empresas de manutenção de equipamentos de informática.
Em outros casos, tais como para pilhas alcalinas ou baterias, esse material deverá ser encaminhado
para as empresas especializadas na reciclagem desse tipo de material. O importante, no caso dos
eletroeletrônicos, é evitar que eles entrem em processo de decomposição antes de serem separados
e triados (Fig. 9.3).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 9.1 - Relação dos principais aparelhos que formam o lixo eletrônico.

Equipamentos
Informática e comunicações (monitores, PC’s, impressoras, telefones, fax etc.)

Aparelhos Eletroeletrônicos
Eletrônica de entretenimento (televisores, aparelhos de som, leitores de CD etc.)
Equipamentos de iluminação (sobretudo lâmpadas fluorescentes)
Grandes aparelhos caseiros (fogões, geladeiras etc.) (*)
Pequenos aparelhos caseiros (torradeiras, aspiradores etc.)
Esportes e lazer (brinquedos eletrônicos, equipamentos de ginástica etc.)
Aparelhos e instrumentos médicos(**)
Equipamentos de vigilância
Obs.: (*) A carcaça desses equipamentos deve ser reciclada como sucata de ferro (vide capítulo 04);
(**) Exceto equipamentos de raio-X e outros que contenham substâncias radioativas que devem ser recolhidos
pela autoridade competente.

Estes produtos são uma fonte valiosa para a reciclagem de matérias primas, quando
tratados apropriadamente. Quando esses equipamentos são descartados em lixões ou mesmo
em áreas abertas tais como fundos de vales, córregos e lotes vagos (um fato ainda muito comum
no Brasil) é quase certo que sejam liberados toda uma série de elementos e substâncias tóxicas 231
no ambiente (Fig. 9.3).

Fig. 9.3 - É cada vez mais comum encontrarmos carcaças de computadores e outros aparelhos eletrônicos em depósitos
de ferro-velho e até mesmo em corredores de universidades do interior de Minas Gerais, como no caso da
foto acima. A correta deposição desses materiais e a sua eventual reciclagem pode evitar sérios problemas
ambientais. Foto: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

9.3 - Reciclagem do lixo eletrônico


Inicialmente, é importante a definição de dois conceitos importantes que serão usados
nesse capítulo: (a) conceito de remanufatura de aparelhos está relacionado ao reaproveitamento
Aparelhos Eletroeletrônicos

de peças e componentes já usados em um equipamento para a fabricação de um novo aparelho,


como por exemplo, um novo computador desk top; (b) já o conceito de demanufatura implica
na completa desmontagem do equipamento, seguida de processos físico-químicos de separação
de matérias primas visando apenas o reaproveitamento de materiais tais como papéis, vidros,
metais (Ni, Zn, Hg, Pb, Cd, etc) e plásticos.

A reciclagem de componentes dos aparelhos eletroeletrônicos deve ainda merecer maior


atenção dos centros de pesquisa e das universidades brasileiras. Uma das idéias seria o uso
desses componentes para a remanufatura de computadores mais simples a serem usados em
escolas do ensino fundamental. As possibilidades dos usos de computadores reciclados em
rede pode facilitar muito esse processo. Os computadores reciclados poderiam ser usados em
um amplo programa de inclusão digital no país. No entanto, esse tipo de iniciativa depende não
só de um rearranjo tecnológico em termos de hardware, mas, sobretudo, de novos programas
especialmente adaptados a esse material que sejam, em alguma medida, compatíveis com
a realidade atual da informática. Afinal, equipamento de informática reciclado não significa
obrigatoriamente que tenha que ser usado com a base obsoleta de sistemas operacionais e de
232 aplicativos.

Apesar de existirem perspectivas de remanufatura na área de informática em um país


como o Brasil, onde existem vastas regiões onde os computadores ainda são uma raridade,
deve-se considerar que as iniciativas para a reciclagem da sucata de informática, surgem mais
das oportunidades de negócio ou até mesmo do interesse das indústrias conscientes das suas
responsabilidades ambientais. O mercado para o reaproveitamento de peças de computadores
está em final de vida, caso não existam políticas específicas para esse segmento. Neste contexto,
a demanufatura completa de equipamentos obsoletos é a única alternativa viável. A idéia, nesse
caso, seria a de apenas se aproveitar a matéria prima de interesse existente nos componentes.

Na maioria das vezes, a legislação brasileira determina o cuidado com elementos tóxicos
ou contaminantes tão somente em sua forma singular, tornando-se omissa quanto ao aparelho
que dispõe do resíduo perigoso em sua estrutura. Os reatores para lâmpadas contêm resinas e
capacitores com óleo Ascarel e DEHP, que são exemplos de perigo ambiental. Assim é evidente
que existe uma indefinição da legislação em tratar textualmente reatores como resíduos perigosos,
o mesmo acontece com o monitor de computador e televisor, que em seu interior abriga chumbo
e fósforo.

A demanufatura permite recuperar metais, plásticos, vidros e outros componentes, além de


metais raros ou mesmo preciosos que são, no entanto, de difícil separação e exigem um alto grau
tecnológico de metalurgia para que possam efetivamente ser reaproveitados. Deve-se considerar
ainda que nos aparelhos eletroeletrônicos são encontrados diversos elementos contaminantes,
como fósforo, chumbo, cromo, cádmio e mercúrio, que requerem tratamento especial. Existem
soluções técnicas simples ou extremamente caras para o tratamento da sucata de informática,
porém problemas relacionados à escala de custos, logística, legislação e cultura, dificultam o trabalho
da reciclagem. É evidente que o setor está a espera de ações de fomento do governo.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Hoje em dia, já existe uma tecnologia sofisticada para a reciclagem de monitores de


vídeo CRT (CRT, 2009). O tubo sofre corte preciso com diamante ou pelo uso da tecnologia de
bandagem térmica. Após esse corte, o material é aspirado e posteriormente reciclado. A parte do
vidro sem chumbo pode ser reutilizada.

Aparelhos Eletroeletrônicos
9.4 - Aspectos legais
Devido às fracas leis ambientais e trabalhistas, países da Ásia e África recebem e-waste
muitas vezes ilegalmente, e usam métodos de incineração e eliminação descontrolada que, por
conta do elevado grau de toxicidade de substâncias como o chumbo, mercúrio e cádmio, acabam
por gerar graves problemas ambientais e de saúde pública.

A legislação brasileira trata os resíduos pelo elemento contaminante e determina o seu


tratamento, porém apenas alguns manufaturados dispõem de normas legais de descarte, como
pilhas e baterias, que são recebidos pelos fabricantes sem custo para o consumidor. A maioria dos
produtos ainda não dispõe de leis específicas e tem seu custo ambiental pago pelo usuário. Por
conta da desinformação sobre os resíduos tóxicos, tais como aqueles existentes em monitores
e reatores, tais equipamentos são vendidos como sucata e o que não é reaproveitado, como,
por exemplo, o vidro, o chumbo, o fósforo, os capacitores de ascarel e DHEP vão parar no aterro
sanitário, causando os mesmos tipos de problemas anteriormente descritos para as pilhas e
baterias. 233

A reciclagem de informática ou RAEE é imprescindível para o Brasil, sendo preciso definir


se esta reciclagem será financeiramente positiva, neutra ou negativa para o gerador do resíduo.
Nesta análise, deve-se considerar o valor dos materiais recicláveis versus a complexidade da
demanufatura e, ainda, o grau de toxicidade dos elementos contidos no resíduo e o custo
ambiental de tratamento.

A reciclagem dos aparelhos eletroeletrônicos possui diferentes modelos de separação e


identificação de matérias primas e materiais tóxicos que, muitas vezes, estão ocultos em aparelhos
elétricos e eletrônicos aparentemente inofensivos. Uma das metas da reciclagem desses aparelhos
é também a de induzir a tomada de responsabilidade por parte dos geradores (produtores) e a
sua gradual inserção na cadeia da reciclagem desses aparelhos. Uma das primeiras medidas que
os fabricantes poderiam adotar no Brasil seria de afixar em local visível, em cada aparelho posto
à venda no varejo, as instruções para a sua reciclagem bem como a relação dos produtos tóxicos
que foram usados na sua fabricação com as suas respectivas dosagens finais.

9.5 - Reciclagem de lâmpadas


fluorescentes
As lâmpadas de mercúrio de baixa pressão, ou seja, as famosas lâmpadas fluorescentes,
embora úteis e de uso universal, são capazes de produzir impactos ambientais muito sérios
se não forem convenientemente recicladas (Naime & Garcia, 2004). A indústria nacional de
lâmpadas fluorescentes, em 2003, chegou a produzir 70 milhões de unidades além de importar
pelo menos outros 20 milhões de unidades (Pereira & Yallouz, 2003). Existem pelo menos 15
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

diferentes tipos de metais e outros elementos na poeira fosforosa de uma lâmpada fluorescente
com destaque para o cádmio, ferro, magnésio, manganês e mercúrio, dentre outros (Pereira &
Yallouz, 2003).

Existem várias formas de se reciclar uma lâmpada fluorescente, desde técnicas muito
Aparelhos Eletroeletrônicos

primitivas que inclusive podem afetar a saúde dos trabalhadores que atuam nesse tipo de
processo até técnicas bem avançadas onde a segurança é muito elevada. Em todos os casos, a
lucratividade do processo é um dos atrativos que têm levado muitos empresários a investirem
nesse tipo de atividade (Pereira & Yallouz, 2003, Brandon International, 2009).

O processo de reciclagem de lâmpadas depende de um sistema eficiente de coleta de


lâmpadas usadas (Fig. 9.4). A reciclagem pode ser feita tanto a partir de lâmpadas inteiras
ou trituradas. Existem, no mercado, sistemas totalmente automatizados capazes de fazer essa
reciclagem. No caso de se trabalhar com lâmpadas trituradas, a maioria dos equipamentos tritura
e separa todos os componentes. Os componentes de metal são prensados e automaticamente
separados em material ferroso e não ferroso. Todo o material com exceção do pó contendo
fósforo e mercúrio, é descontaminado. Esse pó deve seguir para a destilação do mercúrio,
nas destiladoras específicas. Existem máquinas que são capazes de processar 2.000 e 6.000
tubos/hr.

234

Fig. 9.4 - Em muitas empresas, colégios, hospitais e universidades já existem programas de coleta seletiva de
lâmpadas fluorescentes usadas visando a sua posterior reciclagem. O Programa de Gestão de Resíduos, da
divisão de obras do campus da UFMG é um desses exemplos. Foto: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Outra tecnologia consiste no processamento das lâmpadas sem a trituração. As


extremidades das lâmpadas são cortadas e o conteúdo tóxico é forçado para dentro de tubos
canalizadores, antes que o tubo seja fragmentado. Os equipamentos usados nesse processo são
mais complexos e são usados quando o vidro e pó fosfórico serão reutilizados por fabricantes de
lâmpadas. Os equipamentos atuais podem separar o pó em seis receitas diferentes.

Aparelhos Eletroeletrônicos
Recentemente, foram lançados no mercado equipamentos mais simples capazes de
processar apenas um pequeno número de lâmpadas, mas com o custo final bem inferior. Um
desses equipamentos é o “Bulb Eater”® ou papa-lâmpadas (Brandon International, 2009)
(Fig. 9.5). Esse equipamento não somente tritura lâmpadas fluorescentes de qualquer tamanho
como também captura 99.99% dos vapores liberados. O sistema é extremamente simples
podendo ser montado sobre um tambor de 200 litros, pode armazenar até 1350 lâmpadas
fluorescentes de 1.20m/25mm. O Bul Eater é capaz de triturar até 20 lâmpadas por minuto. O
processo de filtração se dá em três etapas para retirar partículas e os gases nocivos. O sistema
de captura de gases utiliza carbono ativado de grau superior aos encontrados no mercado
brasileiro.

Os filtros da máquina captam praticamente todo o vapor de mercúrio. No entanto, grande


parte do mercúrio contido no pó fosfórico que fica misturado no vidro quebrado necessita de
ser reciclado. Esse material moído (vidro da lâmpada mais o pó) só deverá ser reutilizado ou
reciclado, depois de ser feita a total descontaminação por empresas especializadas. Isso classifica
o material como Classe II - Não Inerte. Outra opção é enviar o material a aterros sanitários 235
especializados, de preferência Classe I, mantendo o material lacrado dentro dos tambores. Nesses
casos, não se deve colocar o material triturado em lixões ou mesmo manuseá-lo.

Fig. 9.5 - “Bulb eater”® desenvolvido pela empresa Brandon International que possui representantes no Brasil. Esse
equipamento, tritura e filtra os gases tóxicos de até 20 lâmpadas fluorescentes por minuto. Ele pode ser
usado em pequenas empresas recicladoras de e-waste ou de vidro convencional.
Fonte: Brandom International (2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

óleos vegetais 10.0


Produção,
Consumo e Reciclagem
de Óleos Vegetais

10.1 - Introdução
10.2 - Formas de uso do óleo vegetal
10.3 - Produção brasileira de óleo vegetal
10.4 - Reciclagem do óleo vegetal
10.5 - Mercado do óleo reciclado
10.6 - Comparando duas cadeias de reciclagem: óleo
de fritura e lubrificantes automotores
10.7 - Informalidade na reciclagem
10.8 - Óleo de fritura usado e o biodiesel
10.9 - O potencial da reciclagem de óleo de fritura
para o meio ambiente
10.10 - A reciclagem e a mobilização social
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

10.1 - Introdução
Os óleos vegetais pertencem ao grupo dos lipídeos que, juntamente com os carbohidratos
e as proteínas, perfazem a maior parte da biomassa de todos os animais e plantas conhecidos.
Os lipídeos são compostos hidrofóbicos, ou seja, não são solubilizados na água (Manahan, 1993).
Eles são agrupados em pelo menos 16 diferentes subclasses (Parrish, 1998). Cada classe de
lipídeo contém compostos de polaridade similar, mas as diferenças estruturais são enormes. A
maioria dos lipídeos biogênicos possui a ligação C= O que juntamente com a ligação do carbono
a uma hidroxila (C-OH) forma o grupo acil (-COOH) que está presente, por exemplo, nos ácidos
Óleos Vegetais

graxos (Manhan, 1993) (Fig. 10.1).

OH

R – C=O
Fig. 10.1 - O grupo acil (COOH) é característico de muitos tipos de lipídeos.
238

Os lipídeos não são só importantes como substâncias de reserva de energia, mas também
exercem importantes funções bioquímicas dentro das células (Manahan, 1993).

Muitos hormônios pertencem ao grupo dos esteróis, uma das classes mais importantes
de lipídeos. Os hormônios são mensageiros químicos que regulam aspectos essenciais do
metabolismo de plantas e animais tais como o crescimento, o metabolismo da glicose, a
sexualidade, etc. Os lipídeos são importantes constituintes das unidades da vida já que estão
presentes nas membranas de todas as células sejam elas animais ou vegetais. A maior parte do
conteúdo em biomassa no cérebro humano, por exemplo, é constituída por lipídeos.

Uma importante classe de lipídeos é constituída pelos ácidos graxos (Napolitano, 1998).
Eles podem ser agrupados em duas categorias: os que podem ser sintetizados ou não pelos
animais. Uma nomenclatura usual para os ácidos é quando se usa a fórmula 18:2 w6 o que
equivale dizer que a molécula possui dezoito átomos de carbono e duas ligações duplas “cis”. O
símbolo grego ômega minúsculo w seguido de um número, indica a posição da primeira ligação
dupla no átomo de carbono, contado a partir do lado da terminação da molécula onde está
o grupo CH3(à esquerda nas figuras abaixo). Assim, o termo w6 indica a posição da primeira
ligação dupla encontrada na molécula que, nesse caso, fica a seis átomos de carbono contados a
partir da extremidade da molécula onde fica o grupo metila na molécula. Normalmente, o grupo
metila (-CH3) situa-se na extremidade oposta a do grupo acil.

Os ácidos graxos essenciais (EFA) devem ser obrigatoriamente supridos na dieta. Células
animais não podem desaturar abaixo do C-9 e C-10 (final metila). Outras classes importantes de
lipídeos são compostas pelos triglicérides, glicolipídeos e fosfolipídeos (Fig. 10.2).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Óleos Vegetais
239

Fig. 10.2 - Estrutura química básica das principais classes de lipídeos. ST: esteróis aqui
representados pelo colesterol; TAG: triglicérides aqui representados pela triptalmitina;
GL: glicolipídeos aqui representados pelo digalactosil diacilglicerol e PL: fosfolipídeos
aqui representados pela fosfatilcolina. Modificado de Parrish (1998).

Os ácidos graxos são um dos mais importantes constituintes da dieta humana e dos
animais. Alguns tipos não podem ser sintetizados por eles. Os ácidos graxos, de cadeia longa, os
ácidos ômega-3 e ômega-6 (w-3 e w-6) são um bom exemplo de ácidos essenciais na dieta. Os
animais podem elongar ou desaturar as moléculas, mas não alterar a posição da ligação dupla
no ponto 3 e 6. (Fig. 10.3).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Óleos Vegetais

240

Fig. 10.3 - Ácidos graxos do tipo Omega-6 e Omega 3. Observar que a família do ácido linolêico possui representantes
de ambas as categorias. O símbolo grego Ômega (w) significa a posição da primeira ligação dupla a partir
do lado da terminação metila da molécula (à esquerda nas figuras). Os animais podem elongar ou desaturar
as moléculas, mas não podem alterar a posição da ligação dupla no ponto 3 e 6. Modificado de Olsen,
(1998).

A família do ácido linolêico, um dos principais componentes do óleo de soja, possui tanto
representantes de cadeias w-3 quanto de cadeias w-6. Os ácidos graxos poli-insaturados de
cadeia longa do tipo Omega-3 (popularmente conhecidos pela sigla PUFA) são encontrados
apenas em plantas marinhas enquanto os ácidos com cadeias do tipo (w-6) prevalecem em
plantas terrestres. Como os animais não podem alterar essa estrutura, essas diferenças persistem
em toda a cadeia trófica desses sistemas (Arts & Waiman, 1998) (Fig. 10.4).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Azeite de oliva

Azeite de bacalhau

Óleo de coco

Óleos Vegetais
Óleo de milho
Óleo de soja

241

0.03 0.1 0.3 1 3 10 30

Razão n-3/n-6

Fig 10.4 - Os ácidos graxos w -3 são produzidos predominantemente por algas marinhas daí os animais que estão
inseridos nas teias tróficas onde o fitoplâncton marinho é a base do seu alimento possuem elevados teores
desse tipo de ácido graxo. Pesquisas recentes têm comprovado que os índices de doenças nas coronárias
(artérias que irrigam o coração) é menor em populações humanas que apresentam uma dieta concentrada
em frutos do mar. Uma das hipóteses que explica esse padrão se baseia no fato de que essa populações
possuem uma alimentação onde a fonte de lipídeos é constituída predominantemente pelos ácidos graxos
do tipo w -3. No gráfico acima, o eixo das abscissas está representada a proporção de ácidos de ambos tipos
de cadeias. Quanto maior for a razão n-3/n-6 (quanto mais à direita), maior será a proporção dos ácidos
w -3 na composição da biomassa dos organismos e itens alimentares representados. Os frutos do mar se
situam mais à direita na figura. Modificado de Olsen (1998).

Os óleos vegetais e as gorduras animais são constituintes básicos da dieta de todos os


animais sejam eles vertebrados ou não sejam eles pecilotérmicos ou homeotérmicos. Os lipídeos
estão presentes em proporções variadas nos principais tipos de alimentos consumidos pelo
homem (Tab. 10.1). Nessa tabela, pode-se constatar que os alimentos com os teores mais
elevados de lipídeos são, respectivamente, o óleo de soja, a manteiga, a margarina, a batata frita,
o creme de leite, o requeijão cremoso, o leite de coco e a maionese.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

As carnes podem ter teores variados de lipídeos dependendo das condições de criação, do
corte e do tipo de animal considerado. Em suínos, por exemplo, os teores de gordura total podem
variar entre 3,0 e 5,0 gramas por 100 gramas para cortes tais como o lombo e o pernil enquanto
que o toucinho, um componente essencial da culinária mineira, têm uma composição média de
83 gramas em cada porção de 100 gramas (Bragagnolo & Rodriguez-Amaya. 2002).

Os lipídeos podem ser classificados pelo grau de saturação em átomos de hidrogênio.


Os lipídeos insaturados podem ser mono-insaturados ou poli-insaturados. Exemplos dessas
substâncias seriam os óleos de canola, girassol, gergelim, soja, óleo de peixe e o azeite de oliva.
Exemplos clássicos de gorduras saturadas seriam o toucinho de suínos, a banha de porco, óleo
e derivados de coco e o óleo de palma (dendê). O óleo de soja, por exemplo, contém, em
Óleos Vegetais

geral, 20-25% de ácidos graxos mono-insaturados e 50-55% de compostos poli-insaturados.


O percentual restante é devido aos ácidos graxos saturados (Tab. 10.1). As gorduras trans são
lipídeos artificialmente obtidos através da hidrogenação de óleos. Elas foram, durante muito
tempo, intensivamente utilizadas no preparo de alimentos industrializados, tais como massas,
biscoitos e guloseimas em geral. Pesquisas recentes demonstraram que esse tipo de gordura
está associado com o aumento dos níveis de colesterol e doenças cardíacas em mamíferos
(Chiara et al. 2002). De acordo com a resoluções de número 359/360 de 26/12/2003 da
ANVISA (ANVISA, 2009), os alimentos hoje trazem em seus rótulos os percentuais de gorduras
totais, gorduras saturadas e gorduras trans.

242

Tab. 10.1 - Teores médios de lipídeos (gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans e colesterol) nos principais
alimentos consumidos pelo homem.

Iogurte Manteiga Margarina Maionese Batata Frita

Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100g/ml

Data
20.01.09 27.01.09 04.11.08 27.01.09 02.01.09
fabricação

Gorduras
4,0 2,0 8,3 83,0 6,5 65,0 1,9 15,8 9,0 36,0
Totais

Gorduras
2,6 1,3 4,8 48,0 2,0 20,0 0,3 2,5 4,0 16,0
Saturadas

Gorduras
nd nd 0,2 2,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Trans

Colesterol nd nd nd nd 0,0 0,0 2,2 18,3 nd nd

Porção
200,0 100,0 10,0 100,0 10,0 100,0 12,0 100,0 25,0 100,0
(ml)
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Requeijão
Leite Condesado Creme de Leite Óleo de Soja Leite de Coco
Cremoso

Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100 g/ml Porção 100 g/ml Porção 100 g/ml

Data
fabricação 17.12.08 17.10.08 19.01.09 07.02.09 15.05.08

Óleos Vegetais
Gorduras
Totais 1,7 8,5 3,8 25,3 6,5 21,7 12,0 92,3 2,7 18,0

Gorduras
Saturadas 1,0 5,0 2,4 16,0 2,7 9,0 2,0 15,4 2,4 16,0

Gorduras
Trans 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 1,0 0,0 0,0 nd nd

Colesterol
nd nd nd nd nd 0,0 0,0 0,0 0,0
243
Porção
(ml) 20,0 100,0 15,0 100,0 30,0 100,0 13,0 100,0 15,0 100,0

Observação: As informações acima foram obtidas pela consulta aos rótulos de produtos comerciais postos a venda em
supermercados de Belo Horizonte no período compreendido entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009. Os rótulos
das seguintes marcas foram consultados: Iogurte Activia, Manteiga Aviação, Margarina Delícia, Maionese Arisco, Batata
Frita Visconti (palha), Leite Condensado Carrefour, Creme de Leite Nestlé, Requeijão Cremoso Carrefour, Óleo de Soja
Lisa, Leite de Coco Du Coco.

10.2 - Formas de uso do óleo vegetal


Uma das maiores conquistas tecnológicas do Brasil foi a descoberta e o uso de bactérias
endosimbionticas capazes de fixar o nitrogênio atmosférico, em uma série de plantas muito
importantes para a agricultura tropical (Prado, 2008). O nitrogênio é um nutriente essencial para
o desenvolvimento das plantas. Essas bactérias podem ser inoculadas em plantas tais como a
soja e a cana de açúcar e desobrigam ao agricultor a gastar dinheiro com adubos nitrogenados
tais como os sais de amônio. Uma pesquisadora da EMBRAPA (e posteriormente da UFRJ), a Dra.
Joana Dobereiner (1924-2000) foi a precursora nesse tipo de pesquisa no Brasil e no mundo.
Os resultados dessas e outras pesquisas nessa área conduzidas pelas universidades brasileiras e
pela Empresa de Pesquisas Agropecuárias a EMBRAPA foram provavelmente os responsáveis não
somente pelo afastamento do fantasma da fome no país mas também pela rápida ascenção do
Brasil à categoria de uma das principais potências agrícolas do mundo.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Óleos Vegetais

244 Fig. 10.5 - Plantação de soja no sul do Brasil. Graças à biotecnologia e, principalmente ao melhoramento genético, o
Brasil transformou-se em uma potência agrícola. A soja é o carro-chefe da agricultura brasileira.

Tab. 10.2 - Composição básica do óleo de soja é a seguinte (portaria MAPA número 07 de 09 de novembro de 1988):

Parâmetro Valor

Umidade (máximo) 0,50%

Fosfatídeos (máximo) 0,30%

Extrato Etéreo (mínimo) 98,00%

Índice de Iodo 122/234%

Índice de saponificação 189/195%

Matéria insaponificável 0,50/2,00

Acidez total (max. Em meq KOH/g) 50,00%

Ácidos graxos saturados 10/18,00%

Ácido linolêico 50,00%


Ricardo Motta Pinto-Coelho

Na alimentação humana, os óleos vegetais são usados para três finalidades básicas: (a) preparo
(fritura) de alimentos; (b) tempero de saladas e (c) componente de alimento (ingrediente).

O óleo não somente é usado como ingrediente de vários tipos de alimentos, como também é
indispensável no processo de cozimento, fritura e também para assar os alimentos. A maior parte do
óleo vegetal produzido e consumido atualmente no Brasil vem da soja, Glycine Max (Fig. 10.5).

O óleo de soja é obtido por meio de uma extração química, mecânica ou mesmo por uma
associação de ambos. Posteriormente, ele é submetido a um processo de centrifugação, objetivando
a separação da goma (fosfatídeos). Nesse processo gera-se o primeiro produto que é o óleo

Óleos Vegetais
degomado. O óleo deve ser isento de matérias estranhas à sua composição original (Tab. 10.2).

Durante a fritura, ocorre não somente a progressiva saturação do óleo de fritura mas
também o aumento do grau de polimerização das moléculas. Esse processo é caracterizado pela
formação de cadeias longas de carbono. Todas essas transformações irão afetar o processo de
reciclagem do óleo de fritura usado.

O processo de fritura é o mais importante uso dos óleos vegetais. A fritura é uma técnica
culinária que consiste em preparar os alimentos tais como carnes, peixe ou legumes em óleo
ou gordura a alta temperatura. Como os óleos vegetais entram em ebulição a uma temperatura
muito mais alta que a água, este processo tem resultados muito diferentes da cozedura, já que
245
a parte exterior dos alimentos fica crocante e caramelizada enquanto que o interior fica tenro e
mantém um sabor típico do alimento usado.

Geralmente, o processo da fritura inicia-se derramando uma certa quantidade de óleo


em uma frigideira ou panela. A seguir, o óleo é aquecido por alguns poucos minutos. Muitos
legumes, carnes e molhos são preparados a partir de um refogado que também começa por uma
fritura leve da cebola e sal em óleo quente, acrescentando-se, a seguir, o tomate e os demais
ingredientes.

As frituras mais usadas pelos brasileiros são as batatas e mandiocas (macaxeira) fritas,
bolinhos de arroz, vários tipos de pastéis, peixes e frangos fritos. Um técnica de fritura muito
usada no país é a fritura de produtos envoltos em uma capa de farinha ou fubá, os empanados.
Usa-se com frequência a moda de preparo à milanesa que consiste em envolver a carne ou
legume em uma mistura de gema ovo batida e farinha Esse tipo de uso do óleo irá ter, como
será visto adiante, importantes implicações em sua reciclagem.

As frituras são consideradas uma comida pouco saudável não só por fornecer um excesso
de calorias, mas também por que a fritura acaba por gerar um percentual mais elevado de
gorduras saturadas que podem ser responsáveis por problemas cardíacos.

Antigamente, usava-se no Brasil a gordura de porco, a gordura do coco e o óleo de


amendoim para o preparo dos alimentos. Gradualmente, esses produtos deram lugar ao óleo
de soja principalmente tendo em vista os seus altos teores de ácidos graxos poli-insaturados
que são mais saudáveis do que as gorduras saturadas para a alimentação humana. Durante o
processo de preparo dos alimentos uma das primeiras coisas que frequentemente ocorre, é a
adição de diferentes produtos com gorduras de origem animal (Tab. 10.1).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Óleos Vegetais

246

Fig. 10.6 - Mapa da produção de soja no Brasil. Os círculos em azul são proporcionais a
produção da soja por município (A). Fonte: IBGE
Ricardo Motta Pinto-Coelho

10.3 - Produção brasileira de óleo vegetal


O cultivo da soja experimentou um grande avanço no centro-oeste do Brasil nas últimas
duas décadas (Figs.10.6-A e 10.6-B). Há que se ter em mente que a soja não é usada apenas
para a produção de óleo vendido no supermercado. Ela também é usada como farelo, torta e
sob a forma de óleo degomado na formulação das rações de frango, gado, suínos e também de
peixes. Portanto, essa planta leguminosa hoje está na base, de praticamente todas as cadeias
produtivas relacionadas à produção de carnes aqui no Brasil, na China e muitas outras partes,
em todo o mundo.

Óleos Vegetais
A produção brasileira de óleo de soja situa-se hoje em torno de 6,1 x 10 9 litros sendo 60%
dessa produção destinado ao mercado interno e o restante é exportado. O consumo anual per
capta de soja no Brasil situa-se no patamar de 25,0 kg por habitante.ano -1. A taxa de crescimento
desse mercado cresce algo como 3,2% ao ano. (Tab. 10.3).

Tab.10.3 - Principais indicadores do mercado brasileiro de soja para o ano de 2008.

(Ano Base - 2008)

Consumo 25 kg.hab. -1.ano -1


247
Taxa de crescimento do uso + 3,2%.ano -1

Produção brasileira 6,1 x 10 6 ton. óleo soja

Exportação 2,5 x 10 6 ton.

Consumo interno 3,6 x 10 6 ton.

Rendimento industrial 19,2%

Grãos: 540 US$ .ton -1

Preços de mercado (2008) Farelo: 440 US$.ton -1

Óleo: 1.400 US$.ton -1


Fonte: ABIOVE (2009).

O Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo. Segundo a Food and


Agriculture Organisation – FAO, um dos órgãos das Nações Unidas com sede em Roma, Itália
(FAO, 2009), o país está entre os dez maiores produtores mundiais para uma série de importantes
produtos agropastoris (Tab. 10.4). Ele ocupa uma posição de destaque na produção de açúcar
(1º lugar), café (1º lugar), suco de laranja (1º lugar), carne bovina (2º lugar), carne de suínos
(3º lugar), carne de aves (4º lugar), óleo de soja (4º lugar), fibras, principalmente o algodão (5º
lugar), coco (5º lugar), milho e banana (10º lugar).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 10.4 - Posicionamento do Brasil em relação à produção mundial de produtos da pecuária e da agricultura.

Cereais Posição Carnes Posição


Açúcar 1 Bovina 2
Café 1 Suína 3
Suco de Laranja 1 Aves 4
Soja (Grão) 2
Soja (Farelo) 4 Observação: Merece destaque o fato de que
Soja (Óleo) 4 o país apresenta uma produção medíocre
Óleos Vegetais

Algodão 5 de pescado tanto de ambientes marinhos


quanto de águas interiores. O incremento dos
Milho 4 níveis de produção e, sobretudo dos níveis de
Arroz 10 consumo interno, de pescado deveria ser uma
Coco 5 prioridade nacional
Banana 10
Fontes: FAO (2009), MAPA-USDA, elaboração MAPA. Dados consolidados para o período 2005-2007 (MAPA, 2009).

A produção nacional de óleos vegetais apresentou crescimento nos últimos sete anos
(Fig. 10.7). Em 2000, o Brasil produzia 4,1 milhões de toneladas sendo que esse mesmo valor
248 subiu para 6,0 milhões de toneladas em 2007. As exportações também apresentaram um bom
desempenho excetuando o ano de 2006, quando houve uma quebra na tendência de aumentos
nas exportações. O mercado interno é muito importante e consome a maior parte do óleo
vegetal produzido no país. Os percentuais de consumo de óleos vegetais nunca são inferiores a
55% (Fig. 10.7).

Produção, consumo e exportação de óleos no Brasil

8000

6000
(x 100 Toneladas)

4000

2000

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano

Produção Exportação Consumo interno

Fig. 10.7 - Produção, exportação e consumo interno de óleos no Brasil. Fonte: ABIOLEO (2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

10.4 - Reciclagem do óleo vegetal


O objetivo de toda empresa de reciclagem de óleo é o de transformar o óleo vegetal
usado em uma commodity que tenha uma boa aceitação no mercado. Esse produto tem uma
demanda crescente em diversos setores da economia. Existem diferentes tipos de consumidores
potenciais, principalmente nas regiões sudeste e sul do país que oferecem diversas possibilidades
de inserção do óleo reciclado.

A reciclagem de óleo também oferece para os gestores municipais e estaduais uma

Óleos Vegetais
alternativa de tratamento para um resíduo que está associado a toda uma série de problemas
ambientais (eutrofização das águas, mau funcionamento da rede pluvial ou de esgotos), pragas
urbanas tais como a proliferação de baratas e ratos e também diminuição dos riscos de enchentes
causadas pelo entupimento da rede de drenagem urbana.

A reciclagem do óleo de fritura pode ser sumarizada nas seguintes fases: (a) captação de
clientes fornecedores; (b) delineamento das rotas de coletas; (c) coleta do óleo; (d) transporte
do óleo; (e) processamento do óleo; (f) venda dos produtos reciclados, basicamente o óleo
(na realidade são vários tipos) e a gordura animal; (h) descarte adequado de todos os resíduos
sólidos e líquidos gerados no processo de beneficiamento do óleo; (i) a fase final do processo é 249
o processo de lavagem de bombonas e o seu preparo para iniciar um novo ciclo de coletas.

A reciclagem de óleos vegetais exige um bom relacionamento com um grande número


de clientes tanto fornecedores quanto de possíveis compradores para o óleo reciclado. Um
bom exemplo de uma empresa que vem buscando atingir essas metas é da Recóleo Coleta e
Reciclagem de Óleos Ltda. (RECÓLEO, 2009).

A Recóleo conta hoje com uma sede própria e onze funcionários devidamente capacitados
para exercerem diferentes funções. Todos os funcionários da empresa possuem carteira de
trabalho assinada e a empresa está em dia com as obrigações trabalhistas regulamentadas pela
lei. A empresa conta com uma frota de quatro veículos coletores, dois triciclos e um veículo
para serviços gerais (Fig. 10.8). Na sede própria da empresa, além de um escritório e de um
pequeno laboratório, a empresa dispõe de um amplo galpão coberto, protegido por uma bacia de
contenção, onde é feito todo o processamento do óleo a ser reciclado. Existe ainda uma cozinha,
instalações sanitárias e alojamento para o funcionário de plantão.

Uma característica essencial do reciclador de óleo vegetal é o fato de que ele deve visitar
um grande número de clientes onde irá coletar volumes de óleo que variam muito. Em geral, são
pequenas quantidades em um grande número de estabelecimentos. Portanto, uma das etapas
mais importantes nesse processo é a delimitação da rota de coleta. Essa rota deve otimizar o
número de clientes atendidos e minimizar o tempo e a quantidade de combustível gastos nesse
processo. A rota será a resultante de um equilíbrio de clientes grandes, médios e pequenos e
deve ser formatada em função do veículo a ser utilizado.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Óleos Vegetais

250

Fig. 10.8 - Uma frota de veículos novos, bem equipados e especialmente adaptada para atuar no ramo da reciclagem
de óleo é um pré-requisito importante para a empresa de reciclagem de óleo. A existência de uma equipe
bem treinada composta por um gerente comercial, motoristas e ajudantes é essencial para que o sistema
de captação de novos clientes e de coleta de óleo funcione de modo adequado. Foto: RMPC.

As rotas usadas atualmente pela empresa foram definidas a partir do uso de ferramentas
de geoprocessamento. Todos os endereços têm as suas coordenadas geográficas tomadas por
aparelhos de GPS. Essas coordenadas são posteriormente transferidas para aplicativos GIS que
indicam as melhores alternativas viárias (Fig. 10.9). Através desses programas, a empresa sabe,
por exemplo, onde estão concentrados os clientes mais importantes e onde deve investir maiores
esforços na conquista de novos clientes. A Recóleo dispõe hoje de 1500 clientes somente na
região metropolitana de Belo Horizonte.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Óleos Vegetais
251

Fig. 10.9 - Rede de clientes atendidos pela Recóleo na Região Metropolitana de Belo Horizonte (status: dezembro de
2008). A grande maioria dos clientes está localizada na regiões cental e sul do município de Belo Horizonte.
Outras cidades atendidas nessa época eram, respectivamente, Contagem, Nova Lima e Ibirité. Em verde, os
pontos de atendimento. Em vermelho os limites dos municípios da região. A localização de cada ponto de
coleta foi obtida através do uso de um sistema de posicionamento assistido por satélites (GPS), operado
por um funcionário que obtinha as coordenadas posicionando o aparelho, fora do veículo, defronte do
estabelecimento comercial a ser visitado. Original: RMPC.

No galpão da empresa, o reprocessamento do óleo vegetal consiste basicamente nas


seguintes fases: peneiragem, decantação, lavagem, separação da gordura animal, microfiltragem,
bombeamento, monitoramento e armazenamento (Figs. 10.10 e 10.11).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Coleta de óleo usado

Separação de
Óleos Vegetais

sólidos maiores
(peneiragem)

Decantação

Aquecimento para
separação da gordura
252 animal
Lavagem do óleo e
retirada da água

Ultrafiltragem
Bombeamento para
tanques de
armazenamento

Monitoramento e
controle de qualidade
Transporte ao
consumidor

Fig 10.10 - Fluxograma do processo de purificação e reciclagem de óleo de fritura usado em uma empresa
recicladora de óleo de fritura. Original: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Óleos Vegetais
253

Fig. 10.11 - Processamento do óleo de fritura usado na empresa Recóleo Coleta e Reciclagem de Óleos Vegetais. A
empresa desenvolveu um processo de reciclagem que permite processar até 8 mil litros diários de óleo
em um pequeno galpão de apenas 200 metros quadrados, com toda segurança e ainda garantido uma
excelente qualidade final do produto (Tab. 10.5). A empresa desenvolveu equipamentos especiais para
algumas etapas do processo tais como o tanque aquecido separador de gorduras (6) e o cilindro de ultra-
filtragem pressurizada (4). Original: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A peneiragem (Fig. 10.12) é a primeira fase do processo e visa a imediata retirada de


restos de alimentos e mesmo objetos (talheres, etc.) que podem estar presentes. Após passar
na peneira, o óleo é recolhido em tanques de decantação onde permanece por algumas horas.
Essas duas primeiras etapas geram um resíduo, a “farinha”, que deve ser descartado de modo
apropriado. Inicialmente, a Recóleo o enviava para os aterros sanitários. Recentemente, a empresa
firmou uma parceria com uma empresa de compostagem orgânica que recebe todos os rejeitos
gerados dentro da Recóleo e os processa para serem transformados em adubos orgânicos.
Óleos Vegetais

254

Fig. 10.12 - Sistema de peneiragem do óleo de cozinha desenvolvido pela empresa Recóleo® que consiste de uma
peneira datada de malha fina de aço de 0,6 mm de abertura de malha, adaptada a um tanque de aço com
serpentinas que aquecem o óleo até a temperatura desejada. Ao final do processo, uma mangueira leva o
óleo a um filtro também desenvolvido pela empresa que faz uma filtração mais fina ainda (200 micra) sob
pressão. Foto: RMPC.

Dependendo da natureza do óleo, após a decantação há a formação de três fases, uma


de água, mais pesada e que permanece no fundo do tanque, uma fase intermediária de gordura
animal e a fase mais leve que é constituída pelo óleo vegetal.

A água é retirada por gravidade e a gordura animal por bombeamento. A maior parte do
sal existente no óleo sai juntamente com a água. Se os teores de gordura animal forem altos,
há necessidade de fornecimento de calor ao processo a fim de que não haja uma solidificação
do produto. A empresa também desenvolveu uma metodologia específica para o tratamento da
gordura animal (Fig. 10.13).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Óleos Vegetais
Fig. 10.13 - Sistema para a separação da gordura animal existente no óleo de cozinha desenvolvido pela Recóleo®.
Através desse sistema, é possível aquecer o óleo a gordura em diferentes temperaturas. Após a formação
das duas fases, o óleo e a gordura animal são bombeados para tanques de armazenamento específicos.
Foto: RMPC. 255

Fig. 10.14 - Existe uma variedade de diferentes tipos de óleos de fritura usados. Além dos teores de unidade e de
sólidos, a acidez, os níveis de peróxido e os teores de gordura animal podem variar amplamente. Cabe a
empresa recicladora realizar um monitoramento constante e adequar o produto às reais necessidades de
cada tipo de cliente. Foto Fraga (2008).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 10.5 - Composição média do óleo de cozinha usado, após ser tratado na Recóleo. Análises feitas nos laboratórios
da Granol, em Anápolis, Goiás, com amostra enviada pela Recóleo no dia 2 de março de 2009.

Parâmetro Valor
Acidez 2,22%
Umidade 1,88%
Impureza 0,70%
Sabões 30 PPM
Glicerol 0,04%
Óleos Vegetais

Ind. Iodo 90,50 CgI²/g

A próxima fase do processo é a ultra filtragem que, no caso da Recóleo, é feita em um


equipamento exclusivo da empresa (Fig. 10.15), também em vias de ser patenteado. Após a
filtragem, o óleo é bombeado para os tanques de armazenamento (Fig. 10.16)

256

Fig. 10.15 - Sistema de ultra-filtração do óleo de cozinha usado


desenvolvido pela Recóleo®. Foto: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O final do processo consiste na lavagem das bombonas a fim de que elas sejam novamente
distribuídas para os clientes coletores. As bombonas são numeradas e gravadas com o nome
da empresa, em alto relevo. As bombonas são lavadas com água pressurizada, à quente (Fig.
10.16). O excesso de gordura é removido com a adição de um desengraxante industrial. Á água
de lavagem é transferida para um sistema especial de caixas de gordura que retém o excesso de
gorduras e óleos (Fig. 10.16). Esse resíduo é coletado e enviado periodicamente para o aterro
sanitário ou para uma empresa de compostagem.

Separação das fases

Óleos Vegetais
óleo (sup.) e gordura (inf.)

257

Fig. 10.16 - Área de estocagem de óleo e gordura. Notar a nítida separação das fases “gordura animal” e “óleo”. A direita
em cima, um detalhe de um tanque com a caixa de contenção que evita que eventuais vazamentos cheguem
à rua. No detalhe, abaixo e a esquerda, o setor de lavagem de bombonas antes de serem novamente
enviadas aos clientes. Essa lavagem é feita com água pressurizada a quente e com desengraxante industrial.
No detalhe, a direita em baixo, as caixas de gordura especialmente desenhadas para recolher todo o óleo da
lavagem das bombonas evitando, assim, um maior comprometimento da rede de esgotos. Abaixo e a direita,
um aspecto do laboratório de análises físico-químicas (Icatu Meio Ambiente) que atende exclusivamente å
Recóleo®. Foto: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O óleo usado pode apresentar grandes variações de quantidade dependemdo do tipo de


uso ao qual foi submetido. As frituras de empanados ou à milanesa, por exemplo, produzem um
óleo com teores muito elevados de sólidos em suspensão. O óleo usado para se fritar o frango
terá um elevado teror de gorduras animais.

Outro fator importante a ser considerado é o tempo de estocagem do produto final. Se o


óleo usado ficar muito tempo armazenado, inicia-se um processo de decomposição bacteriana,
um processo basicamente de natureza anaeróbica que irá gerar uma série de subprodutos
Óleos Vegetais

indesejáveis tais como ácidos e peróxidos. A acidez do óleo, ao lado dos teores de umidade e de
sólidos, são os principais parâmetros a serem considerado no seu monitoramento final.

A reciclagem do óleo de fritura usado pode melhorar sensivelmente a qualidade do óleo


através de processos tais como peneiragem bruta, decantação, lavagem, separação da gordura
animal, filtragem fina, correção de pH. Todo esse processo deve ser continuamente monitorado
de modo a garantir uma qualidade final que atenda às especificações de cada tipo de cliente.

10.5 - Mercado do óleo reciclado


258
Um dos pré-requisitos para o sucesso de qualquer tipo de empresa de reciclagem é a
perfeita compreensão tanto dos processos de manufatura, comercialização e dos diversos tipos
de uso do produto primário antes de ser reciclado. O mercado do óleo de fritura usado depende
de vários fatores associados à produção de óleo de soja no Brasil. Os fluxogramas abaixo (Figs.
10.17 e 10.18) procuram ilustrar a diversidade de atores e a complexidade da interdependência
entre eles.

O mercado do óleo de soja irá depender das condições climatológicas nas áreas de
cultivo, do preço dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas, da existência de crédito para o
financiamento da próxima safra. As oscilações nos segmentos da extração e do processamento
(oscilações climáticas, tensões trabalhistas) bem como as relações de oferta e demanda de soja
e dos seus produtos no mercado interno e externo são fatores a considerar. O somatório desses
fatores irá influenciar o preço do óleo de soja no mercado doméstico. Na segunda metade de
2009, com o agravamento da crise internacional, e principalmente devido à queda na demanda
de compra de soja pela China, levou a uma queda no preço da commodity que permanece até
os dias atuais (abril de 2009).

Após ser consumido nas residências ou nos restaurantes e cozinhas industriais, o óleo de
soja usado irá entrar na cadeia da reciclagem (Fig. 10.18). Naturalmente, o preço de mercado
para o óleo de soja usado irá também ser afetado por todos os fatores descritos para ambas as
cadeias. Os outros tipos de óleos vegetais usados no Brasil (canola, girassol, oliva, etc) tem um
consumo muito menor e, portanto, interferem muito pouco no preço do óleo usado.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Produtor de grãos

Extração / Processamento

Óleos Vegetais
Produtor / Importador

Vendedor (atacado / varejo)

Consumidor
259
Fig. 10.17 - O fluxograma acima ilustra os principais agentes da cadeia produtiva do óleo de soja. Observar que entre o
produtor e o consumidor final, uma série de agentes atuam nessa cadeia. Modificado de Fraga (2008).

Consumidor de óleo (PF/PJ)

Coletor

Reciclador / Revendedor

Consumidor de óleo reciclado (PF/PJ)

Fig. 10.18 - O fluxograma acima ilustra os principais agentes da cadeia produtiva da reciclagem de óleos vegetais.
Observar que essa cadeia é delimitada por diferentes tipos de consumidores de diferentes estágios do
mesmo produto, o óleo de soja. O papel do reciclador aqui é de grande importância para que a qualidade
final do óleo seja a melhor possível. Modificado de Fraga (2008).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

É grande o universo de compradores em potencial do óleo de fritura reciclado (Tab. 10.6).


Com essa matéria prima pode-se fazer sabão, sabonete, massa de vidro, aditivo para concreto,
tijolos e telhas, emulsificante para defensivos agrícolas, biodiesel, etc. Diversas indústrias químicas
também fazem uso desse óleo. Finalmente, existe ainda a possibilidade de que o óleo vegetal
reciclado possa também vir a ser usado como insumo de ração animal.

Tab. 10.6 - Clientes potenciais do óleo reciclado.



Clientes Potenciais
Óleos Vegetais

Sabão e sabonetes (uso doméstico)


Massa de vidro
Aditivo na fabricação de concreto, tijolos e telhas
Aditivo para a fabricação de pneus
Indústrias químicas e petroquímica.
Fábrica de ração animal (*)
Biocombustíveis (biodiesel)

260 (*) O uso do óleo de fritura usado (caso esteja reprocessado, purificado e isento de contaminações) poderá
ser homologado para a manufatura de ração animal. Essa homologação depende ainda de uma autorização e
regulamentação a ser feita pelo Ministério da Agricultura (MAPA).

10.6 - Comparando duas cadeias de


reciclagem: óleo de fritura e
lubrificantes automotores
Os óleos automotivos usados contém, além de todas substâncias que formam o óleo novo,
uma série de produtos de degradação que os tornam verdadeiros vilões ambientais. Dentre esses
produtos, pode-se citar os hidrocarbonetos leves provenientes do combustível não queimado,
as partículas carbonosas formadas devido ao coqueamento dos combustíveis e do próprio
lubrificante e, ainda, vários metais de desgaste dos motores tais como o chumbo, o cromo, o
bário e o cádmio. Além desses produtos de degradação, inúmeros aditivos estão presentes no
óleo usado os mesmos que foram adicionados no processo de formulação de lubrificantes.

É muito grande o potencial de poluição dos diversos tipos de óleos e lubrificantes


automotores quando eles são descartados de forma inadequada no meio ambiente. A poluição
gerada pelo descarte de apenas uma tonelada de óleo lubrificante usado para o solo ou em cursos
d’água equivale ao descarte de esgoto doméstico de 40 mil habitantes (Ambiente Brasil, 2009).
A queima indiscriminada do óleo lubrificante usado, sem tratamento prévio de desmetalização,
gera emissões significativas de óxidos metálicos, além de outros gases tóxicos, tais como a
dioxina e óxidos de enxofre (SOx).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tendo em vista o elevado poder de contaminação dos óleos lubrificantes bem como dos
resíduos gerados em sua reciclagem, a Agência Nacional do Petróleo (ANP, 2009) baixou uma
série de portarias (125, 126, 127, 128 e 129 de 1999) que normatizam o mecanismo de coleta
de óleos lubrificantes usados. Recentemente, uma resolução do CONAMA procura aperfeiçoar
ainda mais as normas sobre o descarte, tratamento e reciclagem de óleos lubrificantes no país
(Resolução 362 de 22 de julho de 2005) (MMA, 2009). Esse é o arcabouço legal que estabelece
as normas para o gerenciamento da reciclagem de óleos automotores no Brasil.

O selo abaixo (Fig. 10.19) é um exemplo do processo de regulamentação que já vem


sendo aplicado a vários anos no Brasil. No caso dos óleos vegetais usados, há uma necessidade
urgente de que todo esse processo da coleta e reciclagem do óleo vegetal usado passe a ser

Óleos Vegetais
também regulamentado pelo governo.

261

atenção
o óleo lubrificante após seu uso é um
resíduo perigoso

O óleo lubrificante usado quando é descartado


no meio ambiente provoca impactos ambientais
negativos, tais como: contaminação dos corpos de
água, contaminação do solo por metais pesados.
O produtor, importador e revendedor de
óleo lubrificante usado, são responsáveis pelo seu
recolhimento e sua destinação.
Senhor consumidor: retorne o óleo lubrificante
usado ao revendedor.
O não cumprimento da Resolução CONAMA
acarretará aos infratores as sanções previstas na Lei
nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 e no Decreto
nº 3.179 de 22 de setembro de 1999.

Fig. 10.19 - Sinal de alerta, formatado segundo a resolução do CONAMA 362, que deve
ser afixado nos pontos de revenda de óleos lubrificantes em todo o país.
Original: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A importância da ação de regulamentação e de fomento do governo pode ser vista ao


compararmos as cadeias de reciclagem de lubrificantes automotores com a cadeia da reciclagem
do óleo de fritura (Tab. 10.7 A e B). Embora os volumes consumidos nas duas cadeias sejam muito
mais expressivos para os óleos vegetais, a cadeia de lubrificantes está muito mais consolidada e
devidamente regulamentada pelo governo. Cerca de 12% do óleo lubrificante automotor usado
no país já é reciclado atualmente (ANP, 2009). Entretanto, inexistem estatísticas oficiais sobre
as atividades de coleta e reciclagem do óleo vegetal usado no Brasil. Outro aspecto importante
é que a legislação brasileira ainda não atribui qualquer responsabilidade do custo da reciclagem
ambiental aos produtores de óleo vegetal no país.

A maioria das empresas que atuam no setor de reciclagem de óleo vegetal atua de modo
Óleos Vegetais

não articulado já que não existem normas claras a serem seguidas por essas empresas. Não
existem, por exemplo, protocolos oficiais para a avaliação e monitoramento da qualidade do
óleo vegetal usado no Brasil. Não existem leis e normas que orientem os recicladores no que
diz respeito a quem pode consumir e comprar o óleo reciclado. Não existe uma regra para o uso
desse tipo de insumo para a fabricação de ração animal. O setor espera, por exemplo, que o
Ministério da Agricultura e do Abastecimento possa regulamentar e normatizar o uso do óleo de
fritura usado em formulações de rações para aves, suínos e peixes. O tratamento e a disposição
final dos resíduos da reciclagem do óleo vegetal ainda aguardam um instrumento legal para
serem devidamente regulamentados. Não existe nenhum instrumento legal que procure induzir
os produtores de óleos vegetais a uma maior responsabilidade ambiental. É importante ressaltar
262 que esse tipo de compromisso empresarial com o meio ambiente é previsto pela lei 6.938 de 31
de agosto de 1981 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (inciso IV do artigo
terceiro).

Tab. 10.7 - Tabela comparativa das cadeias de reciclagem de lubrificantes veiculares e do óleo de cozinha usado.
(parte A).

Óleos Lubrificantes Óleos Vegetais

Consumo (x 10 6 ton) 0,9 3,7

Reciclagem (%) 12 < 1 (*)

Variabilidade materiais Pequena Media

Gerador / local Pequeno Imenso

Responsabilidade/produtor Sim Não

Mercado Consolidado A construir

Recicladores Poucos Moderado

Coletores Poucos Muitos

Observação: (*) estimativa feita pelo Prof. Dr. Antônio Carlos Fraga, Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Modificado de Fraga (2008).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 10.7 - Tabela comparativa das cadeias de reciclagem de lubrificantes veiculares e do óleo de cozinha usado.
(parte B).

Óleos Lubrificantes Óleos Vegetais


Coleta / logística Definida A definir
Coleta / complexidade Simples Complexa
Pontos de coleta Poucos Muitos
FEAM, IBAMA, Prefeituras,
Reciclador (registro) ANP/FEAM
MAPA, …
Processo do re-refino Definido Em construção

Óleos Vegetais
Resíduos do re-refino Definido Indefinido
Exigências para as empresas Muitas Poucas
Legislação Definida Em construção
Fonte: Fraga (2008).

10.7 - Informalidade na reciclagem


263
Os desafios para a consolidação dessa atividade no Brasil são vários: tecnológicos,
educacionais, ambientais, sociais e políticos. Apesar de se conhecer os principais atores da
cadeia da reciclagem do óleo de fritura, existe ainda uma grande necessidade de que o governo
regulamente a atividade. É grande o número de empresas ou mesmo pessoas físicas que atuam
nesse setor na completa informalidade. Muitas empresas não estão sequer cadastradas na
junta comercial, não possuem CNPJ muito menos licenças ambientais e vistorias do Corpo de
Bombeiros. Essas empresas funcionam literalmente em fundos de quintais.

Um dos maiores problemas com as empresas de reciclagem de óleo e isso vale também
para todo tipo de empresa de reciclagem, é a informalidade. Esse tipo de empresa é caracterizado
por todo tipo de pequenas ilegalidades. Elas não pagam os impostos e taxas devidas e não tem
qualquer tipo de alvará de funcionamento ou mesmo licença ambiental. Contrariando a premissa
básica da sustentabilidade ambiental que é um dos pilares do funcionamento de qualquer
empresa de reciclagem, essas empresas informais contribuem para o aumento da poluição em
geral ao invés de diminuí-la. Não há uma preocupação, por exemplo, com o tratamento dos
resíduos sólidos gerados que via de regra são descartados em lotes vagos ou mesmo enterrados,
ou ainda pior, queimados ao final de cada dia. Como os processos de reciclagem são primitivos e
o pessoal que atua nessas empresas não tem treinamento adequado uma grande parte do óleo
irá parar mesmo na rede pluvial.

A informalidade na reciclagem é muito prejudicial para todos os atores do processo da


reciclagem. Esse tipo de empresa não possui contratos com os clientes e, em alguns casos, elas
chegam até mesmo a usar os uniformes ou bombonas de outras empresas para dominar fatias do
mercado, especialmente quando o preço do óleo usado está nas alturas como durante o primeiro
semestre de 2008. No seu conjunto, o somatório de inconformidades e condutas inadequadas
dessas empresas acaba por transmitir uma imagem negativa do setor para a sociedade. São
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

empresas que não tem comprometimento social, não tem responsabilidade ambiental e somente
se aproveitam dos momentos quando o preço do óleo usado sobe muito para obterem um lucro
fácil e imediato.

10.8 - Óleo de fritura usado e o biodiesel


A produção do biodiesel a partir da reciclagem do óleo de fritura usado permite implantar
um programa sustentável, promovendo a inclusão social de setores menos favorecidos da
sociedade (catadores, coletores, recicladores), abre o caminho para interações com a escola
através de programas de educação ambiental, além de estimular o desenvolvimento de novas
Óleos Vegetais

tecnologias de produção e comercialização de um combustível com aceitação já reconhecida


pelo mercado (Fig. 10.20).

Biodiesel

264
Meio Ambiente

Sociedade

Mercado

Base Tecnológica

Fig. 10.20 - Principais atributos da sustentabilidade da cadeira produtiva do biodiesel. A produção do biodiesel a partir
do óleo de fritura deve ser vista, inicialmente, sob a ótica do mercado, de sua viabilidade econômica.
Entretanto, a possibilidade de inclusão social e de mobilização de grandes contingentes de mão de obra
não qualificada e a questão da sustentabilidade ambiental, podem, em alguns casos (como, por exemplo,
em cidades acima de 1 milhão de habitantes com muitas favelas), serem fatores ainda mais importantes
do que as regras do mercado. Espera-se que o governo possa reconsiderar as políticas públicas voltadas à
cadeia do biodiesel com mais atenção aos fundamentos da sustentabilidade ambiental. Original. RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O biodiesel é obtido a partir da reação química de óleos ou gorduras, de origem animal ou


vegetal, com um álcool na presença de um catalisador (reação conhecida como transesterificação).
Por meio dessa reação química é possível a separação da glicerina do óleo vegetal. As moléculas
dos óleos vegetais em questão são formadas por três ésteres ligados a uma molécula de glicerina,
ou seja, são triglicerídios.

O biodiesel pode ser fabricado a partir de diversos tipos de óleos vegetais ou gorduras
animais em reatores químicos a partir da reação química desses compostos com um álcool
na presença de um catalisador (reação conhecida como transesterificação). Pode ser obtido
também pelos processos de craqueamento e esterificação (Santos & Pinto, 2009) (Fig. 10.21).

Óleos Vegetais
265

Fig. 10.21 - Obtenção de combustíveis líquidos a partir de ácidos graxos e triglicérides através das reações de (i) craqueamento de
óleos e gorduras; (ii) craqueamento de ácidos graxos; (iii) transesterificação de óleos e gorduras e (iv) esterificação de
ácidos graxos. Notar que as equações não estão balanceadas. Original: Paula P. Coelho.

O Brasil apresenta um alto potencial para a produção de biodiesel principalmente


considerando a elevada diversidade regional em termos de produtos cultivados a partir dos quais
se pode fabricar o combustível (Tab. 10.8). No entanto, é preciso ter em mente que a maioria
desses produtos agrícolas está submetida a fortes oscilações de preço que por sua vez estão
atrelados ao mercado internacional. Isso é particularmente verdadeiro para a soja, o algodão,
o amendoim e o girassol. O caso da mamona é ainda mais crítico. Esse produto, embora seja
um dos mais indicados para se produzir o combustível, tem preços de mercado muito elevados
e estáveis o que praticamente inviabiliza o uso desse insumo na produção de biodiesel pelo
menos na escala em que se pretende para o país. O pinhão manso, o nabo forrageiro e o dendê
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

aparentemente estão entre os tipos de cultivos mais promissores para fomentar a cadeia do
biodiesel, mas ainda não existe escala na comercialização desses produtos. Portanto, é preciso
se investir muito em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para que se possa efetivamente
concretizar essas potencialidades. O fato é que, hoje, a soja é a principal matéria prima que
sustenta a maior parte da produção do biocombustível no país (GRANOL, 2009).

A fabricação de biodiesel tem um perfil totalmente diferente da fabricação do álcool anidro.


Enquanto que a produção de álcool se baseia quase que exclusivamente no cultivo da cana de
açúcar, o que se vê no panorama das minidestilarias de biodiesel é bem diferente. A literatura
oferece uma série de alternativas para o uso de diferentes insumos para a produção do biodiesel,
que por sua vez, pode ser misturado em proporções ao óleo diesel mineral, com bons resultados
Óleos Vegetais

finais (Maia et al. 2009).

Os administradores das usinas de biodiesel têm então diferentes alternativas para o uso
de insumos. Eles têm que avaliar continuamente qual será a melhor combinação de insumos que
lhes garanta a melhor razão custo:benefício. Uma hora é o óleo degomado de soja, outra hora
é o sebo bovino ou mesmo o óleo de cozinha usado. Até outros produtos tais como o óleo de
vísceras de aves vem sendo usado. É pouco provável que essa situação mude e, nesse contexto,
o óleo de fritura usado deveria merecer uma política de governo específica para o seu fomento
no Brasil.

266
Tab. 10.8 - Matérias primas comumente usadas para a fabricação do biodiesel. O dendê e o pinhão manso possuem
os maiores rendimentos expressos em toneladas de óleo por hectare plantado. No entanto, a soja é a
matéria prima mais usada na produção do biodiesel no Brasil.

Produtivi- Rendi-
Perc. Ciclo Regiões Tipo De mento
Espécie dade
(Ton/ha)
De Óleo De Vida Produtoras Cultura (Ton Óleo/
ha)

Algodão 0,9-1,4 15 Anual MT,GO, BA Mecanizada 0,1-0,2


Amendoim 1,5-2,0 40-43 Anual SP Mecanizada 0,6-0,8
M.O.
Dendê 15,0-25,0 20 Perene BA, PA 3,0-6,0
intensiva
GO, MS, SP,
Girassol 1,5-2,0 28-48 Anual Mecanizada 0,5-0,9
RS, PR
M.O.
Mamona 0,5-1,5 43-45 Anual Nordeste 0,5-0,9
intensiva
Pinhão Nordeste, M.O.
2,0-12,0 50-52 Perene 1,0-6,0
manso MG intensiva
MT,PR, RS,
Soja 2,0-3,0 17 Anual GO, MS, MG, Mecanizada 0,2-4,0
SP
Fontes: Parente (2005); Meirelles (2003).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em veículos (ônibus,


caminhões, tratores, camionetas, automóveis, etc.), ou em motores estacionários (geradores de
eletricidade, calor, etc.).

Matéria prima

Óleos Vegetais
Óleo ou gordura

Catalizador Etanol
Transesterificação
NaOH - KOH Metanol

Separação de fases 267

Desidratação
do álcool

Recuperação Recuperação
do catalizador Reator do álcool (E)

Destilação Purificação dos


da glicerina ésteres

Residuo glicérico Glicerina destilada BIODIESEL

Fig. 10.22 - Fluxograma com as principais etapas para a produção do biodiesel. Fonte: Parente, 2005, modificado por RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O esquema acima (Fig. 10.22) é uma síntese das principais etapas que são cumpridas
em uma usina de produção de biodiesel. O óleo sofre inicialmente um preparo que consiste
basicamente na sua purificação (decantação, lavagem, centrifugação e filtragem). A seguir, ele
vai sofrer um processo de transesterificação. Esse processo consiste na remoção da glicerina
dos ésteres que irão formar o biocombustível. Esse processo é normalmente feito a quente,
com adição de um agente catalítico que pode ser o etanol ou o metanol muito embora existam
vários outros tipos de agentes catalíticos que podem ser empregados. A seguir, o óleo é obtido
Óleos Vegetais

através de um processo muito simples de separação de fases, onde a fase pesada, a glicerina,
é retirada por gravidade.

A fase leve contendo óleo e etanol ou metanol é submetida a um novo processo de


separação onde o agente catalítico é recuperado para ser novamente usado no processo. A fase
final consiste na purificação dos ésteres que irão compor o que se convencionou chamar de
biodiesel.

O biodiesel é um combustível mais limpo que o diesel obtido do refino do petróleo


(Tab. 10.9). Os teores de enxofre, por exemplo, um dos principais causadores da poluição
268 atmosférica, são uma ordem de grandeza inferiores no biodiesel obtido a partir do óleo de
fritura reciclado. Outras características distintivas importantes entre os dois combustíveis são
os menores índices de carbono e de aromáticos do biodiesel. Embora o diesel tenha um ponto
inicial de destilação muito menor, ambos os combustíveis apresentam praticamente o mesmo
ponto final de destilação.

O índice de cetano ou cetanagem é o equivalente para os motores a diesel ao grau de


octanagem para os motores ciclo Otto. O índice médio de cetanos é bastante aproximado para
os dois combustíveis e indica que o biodiesel queima tão bem quanto o próprio óleo diesel
mineral.

Apesar do valor calórico do biodiesel ser menor, as diferenças de potência e torque são
pequenas e somente são mensuráveis a partir de uma mistura superior a 30% de biodiesel
no óleo diesel comum. Outro ponto importante a ser considerado é que emissão de fumaça é
sensivelmente menor principalmente quando o motor está em altas rotações.

As vantagens do biodiesel sobre o diesel comum podem ser sumarizadas na tabela (Tab.
10.10). O biodiesel, em essência, polui menos e tem um rendimento calórico muito próximo
do diesel. A cadeia do biodiesel pode gerar riquezas nos estados e municípios contribuindo
para a distribuição de riquezas e diminuindo a presença dos monopólios de energia na região,
reforçando assim a economia local.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 10.9 - Características do óleo diesel e do biodiesel obtido a partir do óleo de fritura usado.

Biodiesel
Variável Óleo Diesel Us – 2d
(Óleo de Frituras)

Densidade (15ºC, Kg.m -3) 0,849 0,888

Óleos Vegetais
Ponto Inicial de Destilação (ºC) 189 307

10% 220 319

20% 234 328

80% 299 337

269
90% 317 340

Ponto Final de Destilação (ºC) 349 342

Aromáticos (%, v/v) 31,5 n.d.

Carbono (%) 86,0 77,4

Enxofre (%) 0,3 0,03

Índice de Cetano 46,1 44,6

Número de Cetano 46,2 50,8

Valor Calórico 42,30 37,50

Observação: óleo diesel com especificação to tipo US-2D. Fonte: Costa-Neto et al. (1999).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 10.10 - Tabela comparativa descrevendo as principais vantagens do biodiesel em relação ao óleo diesel convencional.

Características Propriedades
Teores de enxofre são baixos.
Químicas Alto número de cetanos.
Boa lubricidade e facilmente diluível.
Não tóxico e biodegradável.
Baixa emissão de fumaça (partículas de carbono), SOx e aromáticos.
Ambientais Alta sustentabilidade ambiental já que o CO2 emitido é novamente
fixado nas plantações de soja e de outras plantas usadas na sua pro-
Óleos Vegetais

dução.
Tecnologia disponível.
Baixo investimento para instalação de miniusinas.
Econômicas Pode ser adicionado ao diesel em diferentes proporções.
Reforça a economia regional e alivia a presença dos monopólios de
energia na região.
Valoriza os produtos regionais.
Regionais
Aumenta a arrecadação de ICMS nos estados.
Cria empregos nos Cria uma nova alternativa para os agricultores da região.
municípios. Pode ser acoplado a programas de reciclagem de óleo de frituras.
270
Fonte: adaptado e modificado de Costa-Neto et al. (1999).

Embora seja um processo simples, a fabricação do biodiesel envolve muitas dificuldades


de ordem financeira e ambiental. A energia necessária para o aquecimento, as perdas de agente
catalítico (metanol ou etanol, por exemplo) e o potencial de impacto ambiental das mini-
destilarias (principalmente em termos de efluentes líquidos) são variáveis importantes e que
devem ser muito bem balanceadas em função do preço final do produto. O biodiesel somente
torna-se viável se os custos de produção forem realmente competitivos e o impacto ambiental
gerado possa ser efetivamente gerenciado de modo adequado.

Biodiesel (2005-2007)
7500

6000
Mio m 3 /ano

4500

3000

1500

0
U.E. USA Brasil

Produção Biodiesel Países/Regiões

Fig. 10.23 - Produção mundial de biodiesel (2005 – 2007) da Fonte: SEBRAE (2007).
União Européia, Estados Unidos e Brasil.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Apesar de todas as dificuldades envolvidas, o Brasil já se destaca como um dos maiores


produtores mundiais dessa importante commodity (Fig. 10.23).

Vendas de Biodiesel no Brasil (2006)

600.000

500.000

Óleos Vegetais
400.000
Reais (R$)

300.000

200.000

100.000

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
271
Vendas Meses

Fig. 10.24 - Vendas de biodiesel no Brasil em 2006 (SEBRAE, 2007; ANP (2009)).

O ano de 2006 pode ser considerado um ano histórico para o biodiesel no Brasil (Fig.
10.24). No entanto, considerando a experiência do programa brasileiro do etanol, o Pró-álcool,
lançado em 1976, que somente se consolidou como uma alternativa energética factível a partir
de 2001 com o advento dos automóveis “flex”, devemos esperar ainda alguns anos para que
possamos ver, de fato, o biodiesel se firmar como uma alternativa viável.

No início do pró-álcool, muitas alternativas para a produção de álcool foram tentadas, a


maioria delas sem sucesso. A Petrobrás, por exemplo, financiou uma grande destilaria de álcool
feito a partir da mandioca em Curvelo, MG que apesar de ter funcionado, foi desmontada por ser
inviável sob o ponto de vista econômico. A tecnologia dos primeiros veículos movidos a álcool
também deixava muito a desejar. Quem não se lembra o quanto era difícil dar a partida em um
dos primeiros motores movidos a álcool na década de setenta, em uma manhã bem fria?

É interessante notar que, apesar de todas as dificuldades para que se implante de fato
a cadeia produtiva do biodiesel no Brasil, pouco se falou sobre o potencial do uso do óleo de
fritura usado para a produção deste biocombustível. As experiências de alguns países europeus,
particularmente da Alemanha e da Áustria, mas também dos EUA, sugerem que a reciclagem
de óleo de fritura doméstico pode ser uma boa alternativa para a produção de biodiesel,
principalmente em programas onde a questão da sustentabilidade, dos conflitos urbanos ou da
inclusão social seja uma das prioridades.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Se considerarmos um consumo médio mensal de 300 ml de óleo de fritura por habitante e


um universo de consumidores de óleo de uma grande cidade brasileira tal como o Rio de Janeiro,
com seus 6,05 milhões de habitantes (IBGE, 2009), chegamos a conclusão de que o potencial
em termos de biocombustível fabricado apenas com a coleta de óleo de fritura usado não é nada
desprezível. Essa cidade tem portanto um potencial para reciclar 1,815 x 10 6 litros por mês de óleo
de fritura usado. Mesmo considerando uma perda de 20% no processo de fabricação do óleo
diesel a partir do óleo de fritura, uma frota de mais de 400 ônibus urbanos, rodando cerca de 300
km.dia -1 a um consumo médio de 2,4 km.l -1 (ao consumo médio para ônibus coletivos movidos
com motores Mercedes Benz, da nova geração a diesel tipo eletrônicos, segundo informações do
Grupo Omnibus, Viação Nova Suíça, Belo Horizonte) estaria rodando na cidade do Rio de Janeiro
de modo permanente, usando apenas o biodiesel feito a partir do óleo de fritura usado.
Óleos Vegetais

10.9 - O potencial da reciclagem de óleo


de fritura para o meio ambiente
A cidade de Belo Horizonte, por exemplo, conta com 10.000 estabelecimentos que
se dividem entre bares, restaurantes e lanchonetes (ABRASEL, 2009). Se considerarmos um
consumo médio por estabelecimento de apenas 2,0 litros por dia, então o potencial de descarte
de óleo usado nesses estabelecimentos pode chegar a 520.000 litros.mês -1.
272
O óleo, por ser uma substancia hidrofóbica, exerce um grande impacto nos diferentes tipos
de ambientes. No solo, ele atua como impermeabilizante dificultando a drenagem e as trocas
gasosas com a atmosfera. No meio aquático, ele forma uma película na superfície da água que
impede a troca gasosa com a atmosfera. Esse efeito aumenta o déficit de oxigenação das águas
e pode, por exemplo, causar a morte de peixes, o aumento dos gases formadores de odores
fétidos e a proliferação de vários tipos de organismos indesejáveis.

Em recente pesquisa, o laboratório de Gestão Ambiental do ICB/UFMG fez uma avaliação


dos teores de óleos e graxas encontrados na entrada dos principais tributários na represa da
Pampulha (coletas realizadas em abril de 2008). Em pelo menos quatro tributários, notou-se
concentrações elevadas de óleos e graxas, com valores acima de 10,0 mg.l -1 (Tab. 10.11).

Tab. 10.11 - Teores de óleos e graxas na represa da Pampulha, em amostras de água tomadas em 12 de abril de
2008. Análises realizadas pela mestranda Ludmila Brighenti e pelo biólogo Cid Antônio Morais Jr.,
Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios, ICB, UFMG.

Pontos de Coletas Óleos e Graxas (mg.l -1)


Mergulhão 2,0
Tijuco 5,0
Ressaca/Sarandi 7,5
Água Funda 12,5
Braúnas 20,5
AABB 18,5
Céu Azul 21,5
Barragem 22,0
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A mesma pesquisa foi realizada em um pequeno lago natural, a Lagoa Santa (população de
47.200 habitantes segundo o IBGE) situado na cidade do mesmo nome na região metropolitana
de Belo Horizonte (sede do município está a 35 km de Belo Horizonte). Essa é uma pequena
lagoa cárstica que já foi um importante centro de turismo de toda a região metropolitana da
capital mineira em décadas passadas (Fig. 10.25).

Óleos Vegetais
273

Fig. 10.25 - Diferentes aspectos da Lagoa Central, localizada no município de Lagoa Santa. Braço onde houve maior
concentração de residências e condomínios (à esquerda, em cima). Região próxima ao vertedouro
artificial construído para alterar o nível da lagoa (à direita, em cima). Região da lagoa onde é mais visível
o assoreamento e também onde as concentrações de óleos e graxas foram mais elevadas (em baixo, à
esquerda). A atividade de pesca é intensa e a tilápia é o peixe que é capturado em maior quantidade (à
direita, em baixo). Fotos: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Ao longo das últimas duas décadas, a crescente degradação de suas águas afastou
gradualmente os turistas e acabou por criar um quadro de eutrofização acentuada do ambiente.
Mudanças na drenagem da lagoa, entrada de esgotos não tratados e de sedimentos, peixamentos
com espécies exóticas (tilápias) e a falta de um planejamento mais criterioso na ocupação
humana na bacia de captação do lago são as principais causas dessa situação. Assim como a
represa da Pampulha, são claros os indícios de contaminação com óleos e graxas em Lagoa Santa.
Os estudos do LGAR sugerem que há fontes pontuais de contaminação da lagoa (Fig. 10.26).
Óleos Vegetais

274

Fig. 10.26 - Teores de óleos e graxas na Lagoa Santa, MG (Brighenti, 2009).

Vários fatores podem estar influenciando a contaminação de óleos e graxas nesses dois
ambientes. Embora as fontes ligadas ao descarte indevido de óleo mineral seja sempre uma
hipótese a ser testada, é igualmente possível que os valores de óleos e graxas observados nesses
ambientes sejam também um reflexo do descarte indevido do óleo de fritura na rede de esgotos
ou até mesmo na rede pluvial em ambos os ambientes estudados.

Considerando a beleza cênica da lagoa central e de toda a região que inclui várias lagoas,
inúmeras grutas e sítios arqueológicos, bem como a relevância da área em termos históricos,
científicos e paleontológicos, a região do entorno do município foi incluída em uma unidade de
conservação, a APA Carste de Lagoa Santa. Trata-se de uma unidade de conservação de uso
sustentável, criada através do Decreto Federal de número 98.881/1990. Apesar da criação dessa
unidade de conservação, pouca coisa mudou até o momento (fevereiro de 2009), o que levou
o LGAR da UFMG a iniciar uma série de estudos limnológicos na região. Esses estudos já estão
Ricardo Motta Pinto-Coelho

embasando um plano de recuperação do lago e de seu entorno a ser brevemente implantado


pela Prefeitura Municipal de Lagoa Santa.

O descarte de óleo de cozinha junto ao lixo doméstico causa uma série de problemas
ambientais. Em primeiro lugar, pode haver derramamento de óleo nas vias públicas decorrente
das condições precárias de acondicionamento do lixo em sacos plásticos que quase sempre
se rompem antes mesmo da coleta ser efetivada (vide cap. 04). Uma vez que o óleo consiga
chegar ao aterro sanitário, o seu excesso pode causar um considerável atraso no processo de
compostagem. Isso porque, o óleo exige enzimas especiais para a sua completa decomposição,
as lípases. Essas enzimas, muitas vezes, não são sintetizadas pelos micro-organismos presentes
no processo de compostagem nas quantidades necessárias para degradas todo o óleo presente

Óleos Vegetais
no lixo.

10.10 - A reciclagem e a mobilização


social
Um dos principais pré-requisitos de qualquer atividade ligada à reciclagem é a mobilização
de segmentos consideráveis da população no sentido de favorecer a mudança de hábitos e
também criar um terreno mais propício à atuação das pequenas empresas de reciclagem. Uma
das melhores maneiras de atingir essa meta é através do uso de campanhas de educação 275
ambiental. Essas campanhas devem ser formatadas de modo a atingir determinados tipos de
público-alvo. Um bom exemplo desse tipo de ação são os projetos de reciclagem realizados
com os alunos do ensino fundamental. Para que esse tipo de ação possa chegar aos objetivos
propostos, é necessária a formulação de um bom projeto de ensino, a formação de uma
equipe de tutores bem treinada, devidamente coordenada por um professor coordenador, o
comprometimento da direção da escola no sentido de possibilitar a inserção da campanha no
planejamento pedagógico e nos programas de ensino em curso no estabelecimento. Outro ponto
essencial é que a campanha conte com material didático de suporte, tais como
web-sites interativos, brochuras, cartilhas, cartazes, folders e vídeos. No caso da Recóleo®, toda
uma série de ferramentas didáticas está sendo desenvolvida e aperfeiçoada a partir de vários
projetos de reciclagem envolvendo alunos do primeiro e segundo graus e ainda comunidades de
voluntários em igrejas e templos especialmente em áreas carentes da periferia da grande BH. A
empresa também vem obtendo bons resultados a partir de projetos envolvendo comunidades
de catadores de lixo, associações de bairro e em grandes conjuntos habitacionais. Todas essas
ações são baseadas em projetos de educação ambiental, formatados dentro das diretrizes acima
descritas.

A Recóleo, juntamente com o Laboratório de Gestão Ambiental, sediado no Instituto de


Ciências Biológicas da UFMG, vem desenvolvendo uma série de produtos que tem por objetivo
central promover a educação ambiental e o conceito da reciclagem nas escolas de primeiro e
segundo graus (Fig. 10.27). A Recóleo acredita que o sucesso de qualquer programa baseado
na adoção de novos procedimentos de reciclagem doméstica (óleo de cozinha, vidros, plásticos,
papel, etc) depende de uma campanha bem sucedida de educação ambiental nas escolas que
promova uma mudança de comportamento na sociedade.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Óleos Vegetais

276

Fig. 10.27 - Livreto sobre coleta e reciclagem de óleo de fritura usado em diversas
campanhas de educação ambiental promovidas pela Recóleo em associação
com o Laboratório de Gestão Ambiental, ICB, UFMG. Essa cartilha pode ser
obtida diretamente pela internet. Fonte: Freitas et al. (2008).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Uma série de vídeos, todos disponíveis, a partir da web site http://recoleo.com.br tem
sido distribuídos como material de suporte em palestras rotineiramente realizadas nas escolas
do ensino fundamental da rede pública e privada. Nesses vídeos um personagem-mascote nos
ensina que a reciclagem do óleo de cozinha não é uma tarefa trivial. Afinal, é preciso contar com
a ajuda de um super-herói para que a reciclagem dê certo (Fig. 10.28).

Óleos Vegetais
277

Olá.
Eu sou o Recolito e vou lhe
ensinar o que fazer com o óleo
que sobra das frituras.
Você vai aprender a importância
de reciclar este óleo e contribuir
com o meio ambiente.

Fig. 10.28 - Recolito, o mascote que hoje é um dos ícones dos programas de educação ambiental promovidos pela
empresa Recóleo em várias escolas da região norte de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Fonte: Freitas et al. (2008).
Ricardo Motta Pinto-Coelho
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

água 11.0
Produção,
Consumo e Reciclagem
de água no Brasil

11.1 - Introdução
11.2 - Padrões de consumo humano da água
11.3 - A Reutilização da água no ambiente doméstico
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

11.1 - Introdução
A água é um recurso natural que ocupa uma posição central praticamente em todos
os aspectos da civilização humana, desde o desenvolvimento agrícola e industrial aos valores
culturais e religiosos. É um recurso natural essencial, seja como componente bioquímico de seres
vivos, como meio de vida de várias espécies vegetais e animais. Trata-se de um recurso que
consolida ainda mais os valores sociais, culturais e paisagísticos de qualquer grupo social além
de ser um fator estratégico para a produção de todos os alimentos e de quase todos os bens de
consumo existentes.

Cerca de setenta por cento da superfície do nosso planeta é ocupada pelas águas (GEMS-
WATER, 2006 e 2008). Desse total, a maior parte é ocupada pelos mares. Toda a vida na terra
depende fundamentalmente da água. Os mares regulam os climas e a sua produção primária fixa
grande parte do carbono nos devolvendo o oxigênio.
Água

A Terra possui 1,38 bilhões de quilômetros cúbicos de água, mas apenas 2,61% desse
total é devido às reservas de água doce (Tab. 11.1).

Tab. 11.1 - Principais compartimentos do ciclo da água.

280
Compartimento Volume (km 3 ) Percentual (%)

Oceanos 1,348 x 10 9 92,40

Gelo 2,270 x 10 8 2,01

Água subterrânea 8,060 x 10 6 0,58

Lagos e rios 2,250 x 10 5 0,02

Atmosfera 1,300 x 10 4 0,001

Fonte: Meindarcus (1928) e Hoinkes (1968).

Os rios, lagos e reservatórios de onde a humanidade retira grande parte da água que
consome correspondem a 0,02% desse percentual. Daí a necessidade de preservação dos
recursos hídricos. Em todo mundo, 10% da utilização da água vai para o abastecimento público,
23% para a indústria e 67% para a agricultura (Fig. 11.1)
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Usos da água pelo homem

10%

23%

67%

Abastecimento Público Indústria Agricultura

Água
Fig. 11.1 - Proporções de gastos de água devido às diferentes atividades humanas. Fonte: Moss & Moss (2009).

11.2 - Padrões de consumo humano da água 281

A água doce utilizada pelo homem vem das represas, rios, lagos, açudes, reservas
subterrâneas e, em certos casos, ela vem do mar após ser tratada por um processo chamado
dessalinização. A água para o consumo é armazenada em reservatórios de distribuição e depois
enviada para grandes tanques e caixas d’água de casas e edifícios. Após o uso, a água segue pela
rede de captação de esgotos. Antes de voltar à natureza, ela deve ser novamente tratada, para
evitar a contaminação de rios e reservatórios.

Pesquisas realizadas pela Comissão Mundial de Água e de outros órgãos ambientais


internacionais (GEMS-WATER, 2008; WICOS, 2009) afirmam que 1,6 milhões de pessoas
morrem anualmente por falta de água, 90% delas são crianças com menos de 5 anos de idade
e portadoras de doenças que não existiriam se a água fosse tratada de modo adequado (Último
Segundo, 2009).

As atividades humanas estão afetando drasticamente a qualidade e a disponibilidade de


água. As principais formas de impacto humano são: assoremanto, eutrofização, poluição térmica,
acidificação, contaminação microbiana, salinização, contaminação com metais traços, pesticidas
e outras toxinas não metálicas e a introdução de espécies exóticas (GEMS-Water, 2008). Hoje,
cerca de três bilhões de habitantes em nosso planeta estão vivendo sem o mínimo necessário
de condições sanitárias. Cerca de um bilhão de pessoas nesse planeta não tem acesso à água
potável. Em razão desses graves problemas, espalham-se diversas epidemias de doenças como
diarréia, cólera, leptospirose, esquistossomose, hepatite e febre tifóide. Portanto, é possível prever
que, muito em breve, a falta de água irá gerar conflitos e guerras entre povos e nações.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O homem, assim como a maioria dos vertebrados terrestres, necessita de água doce para
sobreviver. Apenas 2,6% de toda a água do planeta encontra-se sob a forma de água doce (Tab.
11.1). Os recursos hídricos são, de longe, aqueles que se encontram mais ameaçados pelas
atividades do homem em todo o planeta (WICOS, 2009; GEMS-WATER, 2008). Assim como
as florestas tropicais, as águas interiores sofrem uma contínua agressão pelo homem. Além
disso, essa agressão não se limita apenas a depauperar os mananciais. A atividade do homem,
além de exaurir as nossas reservas naturais de água doce, nos devolve uma água contaminada,
eutrofizada, com uma biodiversidade depauperada ou, ainda, modificada pelas introduções de
espécies exóticas (GEMS-WATER, 2008).

A construção de reservatórios, ao longo dos principais rios do Brasil, pode ser vista como
um dos mais típicos exemplos de modificações de nossos recursos hídricos. A biodiversidade
dos peixes nesses lagos artificiais é hoje apenas uma fração do que existia originalmente nos
rios (Vono, 2002). Os reservatórios estão se eutrofizando rapidamente, estão se infestando
de cianobactérias com cepas tóxicas para o homem e os animais domésticos inclusive o gado.
Água

Pesquisas recentes têm revelado o grande potencial desses ecossistemas artificiais em emitir
gases formadores do efeito estufa, particularmente o metano (Pinto-Coelho et al. 2005;
Fearnside, 2008).

Em várias partes do mundo, já existe um elevado comprometimento dos recursos hídricos


devido às atividades do homem. Segundo a FAO (FAO, 2009), as regiões mais críticas estão no
282 norte da África, Ásia Central e Austrália. Embora ainda exista uma grande abundância de recursos
hídricos na América do Norte, essa região também se destaca pelos altos valores de consumo
per capta de água (Fig. 11.2).

ND

Fig. 11.2 - Os gastos per capta de água pelo homem (incluindo os gastos com a agricultura, usos domésticos e
industriais) em metros cúbicos por ano e por habitante. Ano base 2001.
Fonte: FAO (2009).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O Brasil concentra em torno de 12% da água doce do mundo disponível em rios e abriga
o maior rio em extensão e volume do Planeta, o Amazonas (ISA, 2009a). Além disso, mais de
90% do território brasileiro recebe chuvas abundantes durante o ano e as condições climáticas
e geológicas propiciam a formação de uma extensa e densa rede de rios, com exceção do
Semiárido. Essa água, no entanto, é distribuída de forma irregular, apesar da abundância em
termos gerais.

Na Amazônia, por exemplo, estão as mais baixas concentrações populacionais do Brasil. Ali,
no entanto, concentram-se 78% da água superficial existente no país. No entanto, é importante
ter em vista que a evapotranspiração das florestas da Amazônia gera vapores de água que fluem
para o sudeste do Brasil através das correntes da baixa atmosfera. Toda essa água contribui assim
para a recarga dos aqüíferos de praticamente todas as principais bacias hidrográficas do Brasil
(Fearnside, 2004). Enquanto isso, no Sudeste, essa relação se inverte: a maior concentração
populacional do país tem disponível 6% do total da água. E com o aumento populacional e
das cidades já é notável a pressão que existe sobre os recursos hídricos nessa região do Brasil

Água
(Fig. 11.3). O mapa da figura abaixo sugere que já é grande o comprometimento das bacias
hidrográficas das regiões sudeste e do sul do Brasil para fins de abastecimento público.

283

Fig. 11.3 - Regiões hidrográficas e uso dos recursos hídricos do sudeste e sul do Brasil para o abastecimento doméstico.
No Brasil, 82,1% da população urbana é assistida por redes de abastecimento.
Fonte: ANA (2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Na região metropolitana de São Paulo (RMSP), por exemplo, as demandas da enorme


população dessa área são cobertas por oito sistemas produtores de água que produzem entre
3,4 e 5,8 bilhões de litros de água por dia (39 a 67 m3 .s -1). A RMSP importa mais da metade da
água que consome da Bacia do Rio Piracicaba, através do Sistema Cantareira que está a mais
de 70 Km do centro de São Paulo e conta com seis represas interligadas por túneis. O restante
da água é produzida pelos mananciais que ainda restam na região, em especial as represas
Billings, Guarapiranga e pelas cabeceiras do rio Tietê. Esses mananciais sofrem intenso processo
de ocupação. A despeito da lei de proteção aos mananciais estar em vigor desde 1975 (ISA,
2009b), a quantidade de água produzida para abastecimento na grande São Paulo está muito
próxima da disponibilidade hídrica máxima dos mananciais existentes. A pequena folga coloca a
região em uma situação frágil, onde um período de estiagem mais prolongado pode resultar em
racionamento de água para grande parte da população. E, em pouco tempo, a região precisará de
mais água. Porém, novas fontes de água dependem de construção de represas, que demandam
áreas para serem alagadas, tempo e recursos financeiros que são pouco acessíveis atualmente, o
que reforça a necessidade de preservação e uso adequado dos mananciais existentes.
Água

É importante destacar que existem estatísticas que apontam para um desperdício de 50


a 70% da água distribuída aos consumidores domésticos das grandes cidades. Na cidade de
São Paulo, por exemplo, os diversos sistemas de abastecimento de água da cidade bombeiam
diariamente pelo menos 3,4 bilhões de litros (39 m3 .s -1) para os consumidores da cidade. Estima-
se que cerca de 30,8% do volume bombeado diariamente seja perdido ou desperdiçado na
284 cidade (ISA, 2009c).

11.3 - A Reutilização da água no ambiente


doméstico
O reaproveitamento ou reuso da água é o processo pelo qual a água, tratada ou não, é
reutilizada para o mesmo ou outro fim com o objetivo de reduzir o desperdício de água tratada. A
reutilização ou o reuso de água não é um conceito novo e tem sido praticada em todo o mundo
há muitos anos. Entretanto, o tema ainda não é tratado com profundidade pelos atores que
comandam o cenário político-econômico-acadêmico voltado às questões ambientais no Brasil.
Existem relatos de sua prática na Grécia Antiga, com a disposição de esgotos e sua utilização na
irrigação. No entanto, a demanda crescente por água tem feito do reuso planejado da água um
tema atual e de grande importância.

O reuso reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da água


potável por uma água de qualidade inferior. Essa prática, atualmente muito discutida, posta em
evidência e já utilizada em alguns países é baseada no conceito de substituição de mananciais.
Tal substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso específico.

Águas de chuva
No Brasil, excetuando-se algumas áreas do semiárido nordestino, mais de 1,5 metros de
água caem do céu a cada ano em cada metro quadrado da superfície do país, em média. Isso
significa que em um lote convencional (algo como 360 metros quadrados) podemos recolher até
Ricardo Motta Pinto-Coelho

500.000 litros de água de chuva todos os anos. Essa água não é potável e, em alguns grandes
centros urbanos, como São Paulo, por exemplo, pode estar severamente contaminada por
diversos tipos de poluentes. No entanto, ainda assim, ela pode ter diversos usos. Em alguns casos
poderemos mesmo reusar a água e ainda contribuir para despoluir e filtrar essa água, devolvendo-
a ao meio ambiente com uma qualidade superior à da própria água da chuva. Existem diversos
métodos já consolidados para o aproveitamento da água da chuva. Em alguns países tais como
o Japão, Alemanha ou os Estados Unidos existem leis e normais municipais que regulamentam o
seu uso e linhas de financiamento bancário que facilitam os moradores a instalarem os sistemas
de captação, tratamento e distribuição da água da chuva nas residências.

O aproveitamento da água da chuva é indicado especialmente para o meio rural, mas pode
ser usado, sem maiores problemas, em chácaras, condomínios ou mesmo residências unifamiliares
localizadas em áreas urbanas. No nordeste do Brasil, uma metodologia barata está acabando com
o coronelismo e a “indústria da seca”: são as cisternas alimentadas com água de chuva. Esses
sistemas constituem-se em uma solução barata para os longos períodos de estiagem, oferecendo

Água
ao consumidor rural e mesmo aqueles de pequenas vilas e cidades uma água barata e de boa
qualidade que pode ser usada para todas as necessidades domésticas. Ela pode até mesmo ser
usada para beber, após uma cloração e filtração de rotina. Existem cloradores especialmente
desenvolvidos pela Embrapa (EMBRAPA, 2009) ou clorador tipo Venturi automático que são
largamente usados.

Nos últimos três anos, o Brasil conseguiu construir mais de 100 mil cisternas, capazes de 285
armazenar cerca de 1,5 bilhão de litros de água, na região em que ela mais faz falta, o semiárido
brasileiro. A idéia é simples: coletar a água da chuva depois que cai nos telhados e armazená-la
em grandes caixas de água feitas de cimento para usar no período da seca (Fig. 11.4). A meta
dos brasileiros envolvidos nesse projeto é construir 1 milhão de cisternas até o ano de 2010
(Montoia, 2009).

Fig. 11.4 - Cisterna com captação de água: uma solução vitoriosa contra o coronelismo e a “indústria da seca” no
nordeste do Brasil. Uma das práticas mais comuns do coronelismo nordestino é a cobrança pela água muitas vezes
distribuída em caminhões pipa adquiridos com dinheiro público ou provenientes de poços financiados por programas
de governo. Fonte: RMPC (original).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A água de chuva também pode ser utilizada também para irrigação paisagística em
parques, condomínios, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de autoestradas, campi
universitários, cinturões verdes, gramados residenciais. Ela também pode ser usada para a
irrigação de campos para cultivos.

Á água de chuva pode ainda ter usos industriais na refrigeração, alimentação de caldeiras,
água de processamento. Outros usos urbanos seriam: combate ao fogo, descarga de vasos
sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos de
ônibus, etc.

Existem modos muito simples para se aproveitar a água que se desperdiça regularmente
em todo domicílio: no chuveiro, é comum que as pessoas deixem a água escorrer até que a
temperatura da água seja ideal. Uma opção seria já na construção instalar um registro de retorno
da água ou simplesmente adotar o hábito de colocar um balde no chuveiro, coletando a água de
modo que não seja desperdiçada. Essa água pode ser usada para cozinhar, regar o jardim, etc.
Água

O reaproveitamento eficiente da água da chuva não tem mistérios, mas são necessários
alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais seguros e de fácil manutenção. A seguir,
fornecemos algumas orientações a serem seguidos na montagem do sistema de reaproveitamento
da água (Aquastock, 2009):
286
1) Dimensionamento do Sistema
O primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da água da chuva é o dimensionamento
do sistema ideal para cada caso, a partir das necessidades e objetivos do usuário, da área de
captação e das características da construção. A definição do tamanho e localização do reservatório
é particularmente importante, pois este é o item mais oneroso do projeto e sua especificação
correta pode representar uma importante economia.

2) Modelo do Sistema
O segundo passo é definir o modelo do sistema de reciclagem, que pode ser feito de
várias formas diferentes, dependendo da empresa contratada (Fig. 11.5). Eles podem variar
desde linhas que utilizam cisternas e filtros subterrâneos e apresentam soluções mais completas
de reciclagem de água de chuva, às linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixas
d’água acima do nível do solo.

Fig. 11.5 - Sistema de co-


leta, tratamento e distri-
buição de água de chuva
para residências. A água
da chuva após ser filtrada
(filtros de descida, clo-
ração e filtro flutuante)
pode ser usada para irri-
gação do jardim, descarga
de WC, lavagem de roupa
e do carro.
Fonte: RMPC (original).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

3) Fornecimento de Componentes
Com base no dimensionamento e na definição dos objetivos e características do sistema a
ser implantado, o fornecedor especifica, integra e fornece os diversos componentes necessários.
O principal componente a ser especificado nesta etapa será o filtro por onde a água passará antes
de ir para o reservatório (Fig. 11.6).

Água
287

Fig. 11.6 - Um dos principais componentes do sistema de coleta de água de chuva são os filtros de descida (esq.) que
funcionam por gravidade, sem gasto de energia. Esse tipo de filtro é capaz de retirar folhas, galhos e detritos
maiores do que 0,3 mm da água antes que ela chegue ao reservatório. Os filtros de subida (dir.) são usados
no momento que se vai usar a água armazenada. Eles ficam flutuando dentro do reservatório e são acopla-
dos à uma mangueira que dá acesso a bomba elétrica de sucção da água. Fonte: Aquastock (2009).

4) Instalação do Sistema
Normalmente, esses sistemas usam a rede de calhas coletoras de água de chuva que
chega ao telhado das residências. Antes de chegar ao reservatório, a água passa por um filtro
de descida. A água fica então armazenada. Antes de voltar a circular, água sofre uma segunda
filtração (filtro flutuante) (Fig. 11.6). Dependendo da região onde forem instalados os sistemas,
outras adaptações serão necessárias tanto no telhado, bem como cortes seletivos na vegetação
do entorno.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O aproveitamento das águas domésticas pode ir mais longe ainda. Uma outra alternativa
consiste em tratar a água dos esgotos e novamente usá-la em atividades tais como irrigação de
jardim, lavagem de carro e passeios. Já existem sistemas completos de tratamento da água do
esgoto de residências. Esse tipo de sistema, no entanto, além de exigir altos custos para a sua
instalação requer uma série de ações de manutenção (Fig. 11.7).
Água

288

Fig. 11.7 - Sistema completo de tratamento de esgotos domésticos. Esse sistema é composto de um filtro preliminar
(caixa gradeada), uma ou duas caixas de gordura, uma fossa séptica, um filtro biológico anaeróbico, uma
caixa para cloração e um reservatório final. Original: RMPC.

Um outro método de reuso de água para residências é desviar a água do ralo do chuveiro
para um reservatório passando por filtros e tratamentos para depois reutilizar essa água nos vasos
sanitários. Uma estimativa da viabilidade econômica desse projeto e também a real economia
de água obtida com esse sistema foi objeto de um artigo recentemente publicado por Mota et
al. (2008). O projeto consiste de um reservatório subterrâneo destinado a receber a água do
chuveiro equipado com uma peneira com sistema de filtro de areia para retirar a sujeira da água,
uma bomba centrifuga de água de ¼CV, bivolt que eleva a água para o reservatório superior e
este por sua vez interligado ao vaso sanitário (Fig. 11.8). O custo de implantação desse sistema
seria de R$ 1.200,00 (a preços de 2008) e o tempo de retorno do investimento, medido em
diminuição de gastos na conta de água seria em torno de 50 meses. O sistema possibilitaria uma
economia mensal da ordem de 50 metros cúbicos de água.

O reuso e conservação da água doce são hoje palavras-chaves da gestão dos recursos
hídricos em todo o mundo. Contudo, a prática de reuso de água ainda espera ser institucionalizada
e integrada aos planos de proteção e desenvolvimento de bacias hidrográficas no Brasil. É
importante destacar que nenhuma agência reguladora ou fornecedora de água no Brasil orienta
ou incentiva as atividades de reuso da água no ambiente doméstico. Cada um de nós pode
adotar uma série de pequenas atitudes em nossa vida cotidiana que podem levar a uma grande
economia de água (Tab. 11.2).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Água
289

Fig. 11.8 - Sistema de reaproveitamento da água do chuveiro para uso em sistemas de descarga de privadas em um
banheiro doméstico. Original: RMPC.

Tab. 11.2 - Lista de pequenas e grandes atitudes na vida cotidiana e outros planos de médio e longo prazo que podem
levar a uma grande economia no uso da água nas residências e condomínios.

Atividades
Conserte as torneiras que costumam ficar pingando.
Feche a torneira ao ensaboar as louças.
Não escove os dentes com a torneira aberta.
Diminua o tempo do seu banho.
Não use água para limpar a calçada.
Reaproveite toda a água que puder.
Procure ter o conhecimento preciso dos gastos com água em seu condomínio e os compare
com os seus próprios gastos.
Em condomínios, insista com o síndico para a implantação dos medidores individuais de con-
sumo de água.
Imagine uma maneira de aproveitar a água de chuva para ser usada na lavagem do carro ou
na irrigação do jardim em sua residência.
Implante um sistema de aproveitamento de água de chuva em sua residência.
Ricardo Motta Pinto-Coelho
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

construção civil 12.0


A Reciclagem
de Materiais na
Construção Civil
no Brasil
12.1 - Introdução
12.2 - Problemas ambientais na construção civil
12.3 - Padrões internacionais de controle ambiental
na construção civil
12.4 - Programas de ação
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

12.1 - Introdução
Construção civil é um conceito que engloba obras voltadas a construção de casas,
edifícios, pontes, barragens, fundações, estradas ou aeroportos. Nesses empreendimentos,
participam arquitetos e engenheiros civis e outros profissionais juntamente com técnicos de
outras disciplinas, grande número de mestres em alvenaria (pedreiros), marcenaria, pintura e
instalações hidráulicas (bombeiros) e elétricas (eletricistas). Uma das principais características do
setor, é o emprego de uma vasta quantidade de trabalhadores pouco qualificados que irão atuar
como serventes, os peões (Tab. 12.1).
Construção Civil

Tab. 12.1 - Principais categorias profissionais (nível primário e secundário) atuantes na construção civil no Brasil e os
níveis salarias em janeiro de 2009, segundo o IBGE. (Valores em hora de trabalho).

Valores em Reais (R$)


Categorias Profissionais Rio de Minas Rio Grande
São Paulo Paraná
Janeiro Gerais do Sul
Armador 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82
Bombeiro hidráulico 4,38 4,41 3,54 3,16 3,82
Carpinteiro de esquadrias 4,20 4,41 3,54 3,16 3,82
292 Carpinteiro de formas 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82
Eletricista 4,20 4,41 3,54 3,35 3,82
Ladrilheiro 4,20 4,41 3,54 3,58 4,87
Mestre 14,56 9,86 11,85 7,59 8,51
Pedreiro 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82
Pintor 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82
Servente 3,25 2,98 2,28 2,15 2,73
Fonte: IBGE (2009).

Os termos construção civil e engenharia civil são originados de uma época em que só
existiam apenas duas classificações para a engenharia sendo elas civil e militar. Com o tempo,
a engenharia civil, que englobava todas as outras áreas, foi se dividindo e hoje conhecemos
várias divisões: elétrica, mecânica, química, naval. Exemplos como engenharia naval dão origem
a construção naval, mas ambas eram agrupadas apenas na grande área da Engenharia Civil.

No Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) regulamenta as normas e o


CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) fiscaliza o exercício da profissão
e a responsabilidade civil dos engenheiros e arquitetos. Toda obra de construção civil deve ser
previamente aprovada pelos orgãos municipais competentes, e sua execução acompanhada por
engenheiros ou arquitetos registrados no CREA de seus respectivos estados.

A base legal para o gerenciamento dos resíduos das obras de construção civil está prevista
no Estatuto das Cidades que é o que dispõe a Lei Federal Nº 10.257 de 10/06/2001. Essa lei
determina novas e importantes diretrizes para o desenvolvimento sustentado dos aglomerados
Ricardo Motta Pinto-Coelho

urbanos. Uma das políticas setoriais previstas nesse instrumento é aquela que trata da gestão
dos resíduos sólidos urbanos. A recente aprovação da resolução N° 307, de 05/07/02, pelo
conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA obriga todos os municípios e o Distrito Federal
a implantação de planos integrados de gerenciamento de resíduos da construção civil (MMA,
2009).

12.2 - Problemas ambientais na


construção civil

Construção Civil
A reciclagem dos resíduos da construção e demolição já vem sendo feita desde os
tempos remotos da antiguidade (John & Agopyan, 2003). Ela se desenvolveu muito no período
pós-guerra (1939-1945), principalmente nos países mais afetados pelo conflito tais como a
Alemanha, Holanda, Itália e Japão (Tab. 12.2) . No Brasil, já existem alguns centros de pesquisas
em universidades muito ativos no estudo do aproveitamento dos resíduos de construção, como
por exemplo, o Departamento de Engenharia da Escola Politécnica da USP em São Paulo (John
& Agopyan, 2003). No entanto, são ainda comuns nas cidades brasileiras cenas como a da
Fig. 12.1 que sugerem ainda um atraso na gestão dos resíduos da construção civil.

293

Fig. 12.1 - Construção de um prédio apartamento dentro do programa de urbanização da Vila São José, financiado
pelo Governo Federal. A construção está localizada no início da Avenida Tancredo Neves, zona norte de
Belo Horizonte, MG. Uma cena comum nos canteiros de construção em toda a cidade de Belo Horizonte
é o descaso a princípios básicos de gestão de residuos sólidos e uso de lotes vagos e terrenos baldios ao
lado da obra para o armazenamento mesmo que temporário de entulhos. Foto: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Alguns municípios brasileiros já fazem a reciclagem dos entulhos. E não se trata de uma
quantidade desprezível, já que o total de entulho produzido em uma cidade de grande porte
pode chegar a 70% da massa total de resíduos sólidos (Pinto,1999). As estimativas para a
produção de entulhos variam muito entre os diferentes países.

Numa amostra com países europeus, norte-americanos e asiáticos, esse valor oscilou
entre 100 e 3000 kg.hab.ano -1 (Tab. 12.2). A produção de entulho varia bastante no Brasil. Em
um estudo englobando a produção de entulho em oito cidades de porte médio e grande do
Brasil, Pinto (1999) encontrou valores oscilando entre 230 e 760 kg.hab -1.ano -1, com um valor
médio de 510 kg.hab -1.ano -1.
Construção Civil

Tab. 12.2 - Produção de entulho provenitente de construção civil em alguns países europeus, Japão e EUA,
comparada a do Brasil.

País 10 6 ton.ano -1 Kg.habitante -1


Alemanha 79,0 – 300,0 963 - 3658
Holanda 12,8 - 20,2 820 - 1300
Japão 99,0 785
Itália 35,0 – 40,0 600 - 690
EUA 136,0 - 171,0 463 - 584
294 Dinamarca 2,3 - 10,7 440 - 210
Portugal 3,2 325
Brasil n.d. 230 - 760
Suécia 1,2 - 6,0 136 - 680

Fonte: John & Agopyan (2003).

Embora os resíduos de construção e de demolição sejam considerados como inertes pela


NBR 10004, muitas vezes, verifica-se que essa condição não é confirmada após uma análise mais
detalhada do material tido como “entulho”. A presença de material orgânico tais como madeiras,
plásticos, papéis, solventes, tintas, óxidos de metais e de umidade em teores muito variáveis pode
mudar drasticamente o caráter inerte desses resíduos.

O descarte indevido de entuhos é um problema comum na maioria das cidades brasileiras.


A reciclagem de materiais originários da construção civil normalmente está inserida nos programas
de coleta seletiva de materiais que, no caso específico do Brasil, está sob a responsabilidade das
prefeituras. Pinto (1999) estima que os custos para a remoção desse material podem chegar a US$
15,0 por tonelada de entulho removida das vias e outras áreas públicas.

Uma das iniciativas pioneiras no Brasil foi o estabelecimento de um programa de coleta seletiva
na gestão da prefeita Luíza Erundina em São Paulo (1989-1992). A prefeita chegou a inaugurar uma
estação de reciclagem de entulhos com capacidade para processar 1800 toneladas por dia localizada
no aterro de Itatinga (Jacobi & Viveiros, 2006). Esse programa, no entanto, foi sendo gradualmente
abandonado nas administrações subsequentes devido a uma série de problemas admninistrativos
inerentes ao sistema adotado nessa cidade. Deve-se também considerar a difícil convivência entre o
cartel de empreiteiras que controlam o sistema de limpeza pública e coleta de lixo e os programas
de coleta seletiva nas cidades onde ambos sistemas coexistem (vide cap 02).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A prefeitura de Belo Horizonte, através da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU,


2009) vem mantendo, com sucesso, um programa de coleta seletiva de entulho. As unidades
de recebimento de pequenos volumes (URPV) estão aparelhadas para receberem entulhos de
obras até o limite diário de 2,0 m3.dia -1.obra -1. O material é recebido gratuitamente. O entulho
é, em seguida, encaminhado para estações de reciclagem de entulho, onde grande parte desse
material será reciclado em um tipo de agregado reciclado que poderá ser então reintroduzido
na cadeia da construção civil (SLU, 2009). No entanto, apesar dessa iniciativa da PBH, é fácil
constatar que existe ainda um longo caminho a percorrer na reciclagem de entulhos da capital
mineira e, provavelmente, na grande maioria das cidades do Brasil.

Construção Civil
Na foto acima (Fig. 12.1), pode-se perceber o grande acúmulo de entulho em área anexa
à construção. O descuido no trato desse tipo de material que, em geral, é caracterizado pela alta
concentração de partículas finas pode causar, dentre outras coisas, um aumento da emissão de
poeira nos meses de seca e um carreamento de sólidos em suspensão nas enxurradas durante
as chuvas o que sobrecarrega a rede pluvial tendo como consequência a ocorrência de enchentes
e o asosreamento de corpos de água na bacia hidrográfica em questão.

A atividade da construção civil sempre foi um dos “motores” da economia brasileira. No


gráfico abaixo, pode-se ver o ritmo de oferta, vendas, lançamentos imobiliários e velocidade
de vendas de imóveis na cidade de Belo Horizonte no período 1996-2008. Pode-se observar,
inicialmente, que o mercado dessa cidade vem sendo caracterizado por uma constante queda
na oferta de imóveis. Essa queda na oferta vem sendo contrabalançada por intensos aumentos
nos lançamentos de imóveis novos e nas vendas. É interesante notar que a velocidade média de 295
venda de um imóvel na cidade mais do que dobrou de 2006 para 2008. Isso revela um mercado
aquecido e que apresenta uma grande demanda reprimida. Podemos esperar um aumento
considerável na atividade de contrução de moradias em Belo Horizonte nos próximos anos. A
crise econômica parece ainda não ter atingido o setor que tem se destacado na cidade pelo
grande incremento na oferta de imóveis voltados à classe média baixa (Fig. 12.2).

Construção civil em Belo Horizonte (1996-2008)


50 50000 8000 6000

45000
5000
Velocidade de vendas (%)

40
40000 6000
4000
Lançamentos

30
Ofertas

Vendas

35000

3000
4000
30000
20
2000
25000

10 2000
1000
20000

0 15000 0
1994 1996 1998 1999 2000 2001 2006 2008 2010
Ano
Unidades vendidas Unidades lançadas Velocidade de vendas Unidades ofertadas

Fig. 12.2 - Oferta, vendas, lançamentos e velocidade de vendas no mercado imobiliário de Belo Horizonte, no período
1996-2008 (dados consolidados até outubro de 2008). Fonte: IPEAD/UFMG e SINDUSCOM-MG.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A intensificação do ritmo da construção de moradias na cidade de Belo Horizonte irá


causar uma intensificação dos problemas ambientais associados a atividade de construção civil
nessa cidade. É possível que cenários semelhantes se repitam para outras cidades brasileiras.

Nos meses de janeiro e fevereiro de 2009, o Laboratório de Gestão Ambiental, ICB, UFMG
realizou uma pesquisa em dezenas de canteiros de obras em vários estágios situados na região
norte de Belo Horizonte. Os bairros visitados foram: Castelo, Ouro Preto, Santa Terezinha e
Bandeirantes. A pesquisa revelou claramente que há uma necessidade urgente para que as
autoridades ambientais do município direcionem uma maior atenção à questão ambiental junto
aos canteiros e obras de engenharia na região estudada. Constatou-se, inicialmente, que os
Construção Civil

operários não tinham qualquer tipo de qualificação que pudesse ser comprovada em relação a
medidas que deveriam se tomadas no tocante a proteção do meio ambiente e muito menos na
questão de gerenciamento de resíduos.

O bairro do Castelo, está localizado na região norte do município de Belo Horizonte. A


região apresenta uma notável taxa de novos lançamentos imobiliários e prédios de apartamentos
em construção. A seguir, passamos a considerar algumas das mazelas frequentemente observadas
nos canteiros visitados. (Fig. 12.3).

296

Fig. 12.3 - Problemas ambientais associados à construção civil em obras localizadas no bairro Castelo, região da bacia do
reservatório da Pampulha, Belo Horizonte, MG. Na parte superior, à esquerda, vê-se uma série de materiais a
granel necessários para a obra sem nenhuma contenção contra as águas das chuvas; na foto superior, à direita,
caçambas usadas para o recolhimento de “entulho” contendo vários ítens que poderiam estar sendo reciclados
com grande facilidade; na foto inferior, uma terraplanagem recente feita sem considerar o impacto da água da
chuva. Na foto inferior, à direita, o nítido transporte de areia em direção à rede pluvial. Fotos: RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Em primeiro lugar, é muito frequente depararmos com cenas de terraplanagem onde não
foram tomadas quaisquer medidas para a contenção da erosão superficial. O resultado que se
vê é o imediato transporte de grande quantidade de sedimentos para a rede pluvial situada logo
abaixo da obra. Belo Horizonte é uma cidade cheia de pequenos morros e muitas obras estão
em ruas íngremes onde o transporte de sólidos via drenagem na época das chuvas é ainda mais
grave. O resultado desse descaso pode ser visto na foto da Fig. 12.4.

Construção Civil
297

Fig. 12.4 - Assoreamento da represa da Pampulha que é uma das principais causas da degradação ambiental desse cartão
postal da cidade. A atividade de construção de pequenos prédios de apartamentos e residências usando
técnicas primitivas de gerenciamento de resíduos sólidos certamente foi uma das principais causas desse
quadro desolador. A Prefeitura de Belo Horizonte fica então obrigada a ordenar obras muito dispendiosas
visando a dragagem do lago.
Foto: SUDECAP

Em segundo lugar, são poucas as obras que realmente se preocupam com a disposição
dos materiais que são entregues na obra, principalmente a areia, brita, pedras e madeiras.
Muitas vezes, vários metros cúbicos de areia e brita são dispostos sem qualquer proteção contra
as fortes chuvas o que também causa uma enorme pressão sobre a rede pluvial da cidade
(Fig. 12.3).

Em terceiro lugar, há sinais de que o sistema de coleta seletiva de resíduos sólidos gerados
nas obras não está funcionando. As caçambas de entulho são muito usadas, mas recebem
literalmente de tudo, inclusive os entulhos (Fig. 12.3). Não foi constatada nenhuma obra com coleta
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

seletiva de materiais. Não pudemos localizar nenhuma obra com um sistema de aproveitamento
da água de chuva ou ainda algum empreendimento que use sistemas alternativos de energia tal
como o aquecimento solar para uso do pessoal da obra. Em várias obras, foi possível identificar
o uso do fogo para a queima de lixo incluindo certos tipos de materiais cuja queima pode gerar
produtos tóxicos, tais como plásticos, amianto, PVC, etc.

O caso acima assinalado em relação a represa da Pampulha merece uma análise mais
detalhada. O Laboratório de Gestão de Reservatórios do setor de Ecologia, da UFMG- LGAR tem
realizado uma série de estudos sobre a hidrobiologia e ecologia da represa da Pampulha. Um dos
estudos mais importantes desse grupo foi uma pesquisa de longa duração que acompanhou, por
Construção Civil

quase 10 anos, a evolução do estado trófico do reservatório (Pinto-Coelho, 1998). Esse e outros
estudos realizados pelo LGAR demonstraram a importância de informações atualizadas sobre a
batimetria dos reservatórios. Foi exatamente isso que a dissertação do mestrando Rafael Resck
objetivou. O levantamento realizado nesse trabalho possibilitou identificar e quantificar com
grande precisão o avanço do assoreamento no reservatório bem como quais os tributários eram
os maiores contribuintes desse aporte de sedimentos (Fig. 12.5). Hoje, o reservatório apresenta
dois compartimentos bem claros sendo que a zona rasa do reservatório está constantemente
ameaçada pela entrada de sedimentos na represa.

Dos quase 300 hectares de área inundada, restam, hoje, apenas 196,8 hectares. A
profundidade média está por volta de 5,08 metros enquanto que na região da barragem ela
298 ainda chega a 16,1 metros. O volume inicial de água acumulada da represa que era por volta de
18 x 10 6 m3 hoje é de apenas 10 x 10 6 de metros cúbicos (Resck, 2008).

Batimetria
em visão 3D

Fig. 12.5 - Estudo batimétrico da represa da


Pampulha realizado em 2007 e que ilustra
o avanço do assoreamento no reservató-
rio (Resck et al., 2008). O estudo avaliou
ainda as obras de dragagem recentemente
realizadas pela Prefeitura de Belo Horizon-
te e elenca uma série de medidas a serem
tomadas para a reversão do quadro.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O estudo realizado na represa da Pampulha revela a importância de um maior


comprometimento da cadeia produtiva da construção civil na questão ambiental seja na cidade de
Belo Horizonte. A publicação da análise do ciclo de vida do reservatório, com o cálculo do passivo
ambiental ali existente expresso em valores atualizados na base monetária corrente, poderia ser
um forte argumento no sentido a convencer os atores da cadeia produtiva da construção civil
a melhorarem significativamente a gestão ambiental e ecológica de seus empreendimentos na
cidade.

Há sinais de desperdício ou uso inadequado de materiais na maioria das obras, especialmente


a madeira (Fig. 12.6) o que, além de contribuir para o aumento dos custos finais de produção do

Construção Civil
imóvel ainda contribui para o aumento do lixo a ser coletado pelo sistema tradicional de coleta de
lixo urbano. Esses sinais são mais evidentes principalmente com a madeira, mas também podem
ser vistos com tijolos, ladrilhos e lajotas, PVC além de diversos outros itens de acabamento. O
mau estado de conservação de gruas e betoneiras certamente também deve contribuir para o
aumento dos gastos com energia elétrica.

299

Fig. 12.6 - Sobras de madeiras, um item usado intensivamente principalmente para o escoramento de vigas e formas
de concreto em obras localizadas no bairro Castelo, região norte de Belo Horizonte. O uso de lotes vagos,
anexos às obras, para a deposição de todo tipo de entulho é uma prática comum. Fotos tomadas em
fevereiro de 2009. Fotos: RMPC.

É interessante notar que essa situação contrasta com as orientações das associações
de classes envolvidas na questão da construção civil em Belo Horizonte já que elas contém
orientações nesse sentido (ex: CREA-MG, 2009). Assim, pode-se concluir que são ainda muito
baixos os níveis de comprometimento dos principais atores dessa cadeia produtiva, pelo menos
na região norte da cidade de Belo Horizonte (fevereiro de 2009).

Obviamente, os fatos aqui apresentadas não constituem-se em uma amostra representativa


que possa ser generalizável a outras partes cidade de Belo Horizonte e obviamente ainda menos
para o Brasil como um todo. Os dados acima apresentados indicam, no entanto, que a questão
do assoreamento na represa da Pampulha em Belo Horizonte pode estar associada às mazelas
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

ambientais da construção civil. Devemos lembrar que o bairro do Castelo situa-se numa das sub-
bacias que compõem a grande bacia de acumulação desse reservatório.

Apesar dos problemas apontados na gestão dos resíduos da construção civil da cidade
de Belo Horizonte, essa cidade é frequentemente apontada como um modelo a ser seguido no
restante do país. Isso decorre do fato de que foi nessa cidade onde se deu início o funcionamento
de uma das primeiras usinas para a reciclagem de entulho no país. Essa foi uma iniciativa foi da
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. A usina teve o mérito principal de demonstrar para o setor
da construção civil da cidade o potencial econômico da atividade de reciclagem do entulho.
Construção Civil

As novas matérias primas e os novos produtos gerados pelo processo tem sido usados em
uma série de obras na cidade (Fig. 12.7). É interessante destacar que prefeitura vem apoiando
outras iniciativas do gênero junto à iniciativa privada. O esquema abaixo ilustra o processo de
reciclagem de entulho que já é adotado em outras empresas do gênero na cidade de Belo
Horizonte.

Reciclagem de entulho de
300
construção civil

Fig. 12.7 - Fluxograma operacional de uma usina de reciclagem de entulho. Esquema baseado em uma visita a
uma usina de reciclagem de entulho na região metropolitana de Belo Horizonte. Original. RMPC.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

A reciclagem de entulho é uma atividade que pode ser facilmente implementada pela
iniciativa privada já que as experiências em Belo Horizonte sugerem que os investimentos serão
pagos em apenas três anos de operação da usina. John & Agopyan (2003) estimam que o
negócio potencial de coleta e reciclagem de resíduos da construção civil para cidade de São
Paulo (SP) pode chegar a R$ 101 milhões mensais.

O método inicia-se com a inspeção visual e triagem do entulho. Normalmente, as empresas


aceitam o entulho quando os outros materiais não ultrapassam 10% do volume total do material
a ser entregue. Uma vez estando o entulho dentro dessas especificações, é feita uma triagem
inicial que visa separar a matéria orgânica, os plásticos e os papéis. Numa segunda, etapa é feita

Construção Civil
a separação dos metais. Os materiais separados e retirados do entulho são enviados para outras
empresas de reciclagem.

A seguir, o entulho passa por uma série de britadores e separadores. Ao final, são gerados
areia e dois tipos de britas que podem ter uma infinidade de novas aplicações (Fig. 12.8). O
material cerâmico e outros elementos inadequados para a reciclagem são enviados para um
aterro sanitário. Todo o processo é mecânico e não gera nenhum tipo de efluente líquido. O
principal impacto é a geração de poeira que deve ser monitorada e estar de acordo com normas
específicas da ABNT para esse tipo de atividade. A figura abaixo (Fig. 12.8) ilustra uma das
possibilidades de aplicação do material reciclado dos entulhos.

301

Fig. 12.8 - Blocos manufaturados com material reciclado do entulho originado na construção civil no município de
Belo Horizonte. Foto: RMPC.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Deve ser observado, no entanto, que a reciclagem do entulho não soluciona totalmente
a questão da gestão dos resíduos sólidos nas construções. Muitos outros problemas aguardam
soluções adequadas (Tab. 12.3).

Tab. 12.3 - Principais impactos ambientais esperados com o aumento da atividade de construção civil na cidade de
Belo Horizonte.

Impacto Ambiental

Carreamento de sólidos para a rede pluvial e esgotos da cidade com possibilidade de causar o
Construção Civil

aumento nas taxas de assoreamento da lagoa da pampulha.

Aumento dos conflitos entre moradores causados pela disposição inadequada de entulhos e
restos de construção nas vias públicas.

Aumento dos níveis de poluição sonora.

Aumento dos riscos de acidentes de tráfego nas imediações das obras.

Aumento nos níveis de emissão de CO 2, NOx e partículas finas oriundos de maquinário de


terraplanagem, compactação, betoneiras, bombas e geradores movidos à diesel usados em
obras.
302 Aumento dos casos de infestações de pragas tais como insetos, baratas e ratos associados ao
excesso de lixo e entulho nas obras.

Aumento dos casos de dengue e de outras doenças associadas ao acúmulo de lixo, entulho e
de água parada nas construções.

Poluição visual causada pelos canteiros de obras com má gestão de resíduos sólidos e líqui-
dos.

Aumento da temperatura média na cidade associada aos maiores índice de verticalização urba-
na com o conseqüente aparecimento das “ilhas” de calor.

Aumento dos problemas de tráfego causados pelo aumento da densidade populacional na


cidade.

Aumento nos índices de criminalidade associados ao aumento da migração populacional.

12.3 - Padrões internacionais de controle


ambiental na construção civil
A Suíça é um pequeno país europeu, de relevo bastante acidentado e com uma enorme
densidade populacional. Além de ser um importante centro turístico, industrial e de negócios, a
Suíça é um país abençoado se considerarmos a exuberância dos recursos naturais de que dispõe,
particularmente se olharmos para os seus recursos hídricos. O país conta com lagos fascinantes
tais como o Genfersee, Zurichsee ou o Bodensee. É na Suíça que nasce um dos rios mais
Ricardo Motta Pinto-Coelho

importantes para a Europa: o rio Reno (Der Rhein). A qualidade geral das águas da Suíça está
melhorando (ao invés de piorar) ao longo das últimas décadas. Um exemplo dessas melhoras
pode ser visto no programa internacional visando a recuperação do Bodensee, um dos maiores
lagos europeus, localizados nas fronteiras da Alemanha, Suíça e Áustria (Pinto-Coelho, 1991).
Os suíços já reconheceram, há bastante tempo, os diversos problemas ambientais associados à
construção civil: erosão, assoreamento, poluição da água, solo e do ar, poluição sonora, dentre
outros impactos (Stämpfli, 2004). Portanto, podemos esperar a regulamentação ambiental desse
país seja muito eficaz.

A construção civil, na Suíça, está submetida a uma normatização de procedimentos para a

Construção Civil
fiscalização ambiental de obras de construção civil que pode ser um modelo a ser considerado
por outros países (AWEL, 2009a; AWEL, 2009b; AWEL, 2009c; AWEL, 2009d). Não se trata
de um modelo necessariamente muito rigoroso. As exigências ambientais são flexibilizadas em
função do volume dos investimentos totais realizados pelo empreiteiro, da área total construída
e, principalmente, pela relevância ambiental da área onde se encontra a obra. As áreas mais
relevantes são aquelas localizadas em bacias hidrográficas usadas como mananciais de
abastecimento público, áreas de amortecimento de reservas ambientais ou na zona de influência
de lagos e reservatórios, por exemplo (Fig. 12.9).

Classificação das Obras - Controle Ambiental


303

Grau de relevância

Grau de relevância ambiental ++ Classe I Classe II > 20 milhões de francos


suíços

Grau de relevância ambiental + Classe II Classe II < 20 milhões de francos


suíços
Planejamento

Controle final

Pouca relevância Classe III Classe III < 3000 m 2


Construção
Aprovação

Tempo

Fig. 12.9 - Classificação das obras em vigor no Cantão de Berna na Suiça. As classes das obras são definidas em função
do valor total da obra, da área construída e do grau de relevância ambiental da região onde se localiza a obra.
Dependendo da classe, há variações nas exigências ambientais bem como no número de visitas dos fiscais
ambientais que serão necessárias durante as três fases do empreendimento (planejamento, aprovação e
construção). As obras mais caras e com maiores áreas construídas e que localizam em áreas de grande
relevância ambiental são aquelas que irão receber mais atenção da fiscalização.
Fonte: AWEL (2009c).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A indústria suíça fornece máquinas e equipamentos para a construção civil especificamente


estudados e com um design ecológico que minimiza o impacto ambiental do equipamento
sem, contudo, diminuir a eficácia de suas funções elementares (Stämpfli, 2006). Abaixo, temos
um bom exemplo do uso mini contâineres para o armazenamento de granéis em construções
tais como a areia e a brita. Essas estruturas, de fácil construção e manuseio podem evitar
o carreamento de sólidos para os rios e lagos, contribuindo para a melhoria das condições
ambientais nas construções (Fig. 12.10).

Além de normas definidas (e flexíveis) de controle de qualidade ambiental nas obras,


existem na Suíça vários programas de capacitação de todos os agentes da construção civil. Esses
Construção Civil

programas incluem, por exemplo, visitas programadas dos empreiteiros e membros dos corpos
dirigentes das indústrias ligadas à construção civil aos institutos de Limnologia e de Ecologia
Aplicada (a Limnologia é a ciência que trata da hidrobiologia e do estudo da ecologia dos rios e
lagos) das Universidades. Existe uma série de cursos de atualização em Fundamentos de Ecologia,
Limnologia e Ecodesenvolvimento voltada para engenheiros e arquitetos. Uma terceira linha de
cursos e programas de capacitação técnica na área ambiental está voltada para os operários
menos qualificados da cadeia da construção civil. Como na Suíça existem muitos imigrantes,
muitas vezes esses minicursos são dados nas línguas dos países de origem dos trabalhadores.

304

Fig. 12.10 - Mini containers usados para o armazenamento de granéis (areia, brita, etc.) em canteiros de obras.
O uso dessas estruturas simples pode impedir o transporte de sólidos para a rede pluvial e para os
mananciais que drenam a obra.
Fonte: Stämpfli (2006).
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Uma série de variáveis ambientais são constantemente monitoradas nos canteiros de obras.
Dentre elas, os parâmetros mais importantes a serem observados estão o grau de emissão de
partículas em suspensão no ar, grau de contaminação do lençol freático e de impermeabilização
do solo, a poluição sonora, a coleta seletiva de materiais, o gerenciamento de óleos e combustíveis
e a drenagem de água pluvial. A figura abaixo contém reproduções de avisos que são afixados
em locais estratégicos nas obras e que visam a lembrar os operários dos principais pontos de
controle ambiental a serem levados em consideração (Fig. 12.11).

Construção Civil
305

Fig. 12.11 - Avisos colocados nas obras no Cantão de Berna, Suíça, alertando e orientando os funcionários da obra para
a redução da emissão de ruídos (em cima, à esquerda); para aderirem ao programa de coleta seletiva de
materiais dentro da obra (em cima, à direita); para não derramarem óleo ou combustível no solo e, no
caso de haver algum derramamento, chamar a polícia ou o corpo de bombeiros (em baixo, à direita) e para
observarem as boas práticas no sentido de evitar o excesso de impermeabilização do solo, impedindo a
drenagem adequada da água pluvial (em baixo, à direita). Fonte: Stämpfli (2006)
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

12.4 - Programas de ação


Os problemas associados à má gestão de resíduos nos canteiros de obra no Brasil são graves
e exigem a adoção imediata de várias medidas de controle ambiental nas obras. Isso não pode
ser feito sem a existência de um plano estratégico de gestão ambiental que envolva não somente
o imediato comprometimento de toda a cadeia produtiva visando uma melhoria das condições
ambientais na construção civil em todo o país. Essa melhoria passa pelo desenvolvimento de
novos produtos oferecidos pela indústria, pelo treinamento de engenheiros e arquitetos, mestres
e toda a mão de obra empregada.
Construção Civil

Os programas de ação devem contar com o desenvolvimento de uma estratégia visando


a implantação de todas inovações e melhoramentos. Por outro lado, é preciso que o governo
também contribua, aperfeiçoando a base legal existente na questão do gerenciamento de resíduos
sólidos no país. Nas duas tabelas, a seguir, são dadas algumas sugestões contendo tópicos
a serem incluídos em um programa de melhoramento da qualidade ambiental nos canteiros
de obras e uma proposta de agenda que inclui o envolvimento de todos os atores na cadeia
produtiva da construção civil no Brasil (Tabs. 12.4 e 12.5).

Tab. 12.4 - Estratégias e programas de ação a serem adotados pelos agentes envolvidos na atividade de construção civil.

306
Estratégias de Ação

Buscar parcerias com entidades e fabricantes da cadeia produtiva para implementar ou


melhorar a eficácia da gestão ambiental nas empresas de construção civil no Brasil;

Desenvolver programas de treinamento e capacitação voltados ao desenvolvimento


sustentável na construção civil;

Buscar o equacionamento da gestão dos resíduos de construção priorizando a não geração


e sim o reuso, a triagem correta dos materiais a serem descartados e sua correta destinação;
priorizar a reciclagem;

Participar na elaboração de novas políticas ambientais, incluindo leis, decretos e resoluções


ambientais que envolvam o gerenciamento de resíduos na cadeia produtiva da construção
civil.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 12.5 - Temas prioritários na questão ambiental dentro da atividade da construção civil.

Agenda Ambiental da Construção Civil

Aproveitamento da água da chuva e uso racional da água da torneira nos canteiros de


obra.

Construção Civil
Uso racional de energia elétrica ou a adoção de outras formas de energia (ex: energia
solar) para aquecimento da água na obra, principalmente nos banheiros dos funcionários.

Adotar usos mais racionais para a madeira, areia, brita e dos demais materiais causadores
de impactos ambientais.

Estabelecer programas para contenção do carreameto de areia, brita e demais sólidos à


granel (cal, cimento, etc.), para a rede de drenagem evitando o entupimento de bueiros e
a degradação dos sistemas lóticos e lênticos à jusante. 307

Prevenção das doenças tropicais nos canteiros de obras.

Prevenção da contaminação de água e do solo com metais (cobre, zinco, chumbo) e


outros poluentes tais como solventes, tintas, cimento e cal.

Capacitação e treinamento de pessoal em Ecologia, Legislação e Gestão Ambiental.

Adoção da coleta seletiva e da reciclagem de materiais nos canteiros (madeira, vidro,


plásticos, embalagens, etc.)

Comprometimento dos empreiteiros e administradores da obra com a questão da


sustentabilidade ambiental.

Ações de educação ambiental para os funcionários da obra, fornecedores e toda a


comunidade afetada (associações de bairro, consumidores, etc.).
Ricardo Motta Pinto-Coelho
Ricardo Motta Pinto-Coelho

C A P Í T U LO

Desenvolvimento
Sustentável 13.0
Reciclagem e
Desenvolvimento
Sustentável.

13.1 - Introdução
13.2 - Avaliando a eficiência da reciclagem: a análise
do ciclo de vida dos materiais.
13.3 - Outros benefícios sociais e econômicos da
reciclagem
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

13.1 - Introdução
A preocupação com a reciclagem, de um modo geral, não é um tema novo. Nos Estados
Desenvolvimento Sustentável

Unidos, por exemplo, existe, desde o final da década de 1960, uma política nacional para a
gestão e reciclagem de resíduos sólidos, a Resource Conservation and Recovering Act (RCRA).
Infelizmente, no Brasil o Programa Nacional de Reciclagem ainda não saiu do papel (John &
Agopyan, 2003).

A reciclagem baseia-se no axioma “Tudo o que é novo tem algo de velho”. A reciclagem
pressupõe a reutilização, o reuso, a volta ao que era antes. A reciclagem certamente é um dos
pressupostos do conceito do desenvolvimento sustentável, que por sua vez, está hoje embasado
nas dimensões econômicas, sociais, ecológicas e culturais do progresso humano (Fig. 13.1).
Afinal, como já foi dito no primeiro capítulo, a teoria dos ciclos biogeoquímicos dos elementos é
um dos pilares da ciência ecológica.

Sustentabilidade

Economicamente
viável Economicamente
viável
310
Socialmente Culturalmente Socialmente Culturalmente
justo aceito justo aceito

Ecologicamente
Ecologicamente correto
correto

Fig. 13.1 - Articulação das dimensões sociais, econômicas, ecológicas e culturais para a formação do conceito de sus-
tentabilidade. Original, RMPC.

A forte interdependência das diferentes dimensões da sustentabilidade não somente é


uma característica do conceito, mas, muitas vezes, também pode explicar porque é muito difícil
para os povos e as nações modernas atingirem esse patamar mais avançado de desenvolvimento
humano.

Pode-se dizer que os últimos dez anos constituíram-se em um período histórico para a
reciclagem ambiental no Brasil. Houve, nesse período, uma mudança de paradigma no país em
relação à reciclagem de materiais. No início dos anos 90, a reciclagem ambiental simplesmente
não estava na agenda dos principais agentes políticos, econômicos e sociais dessa nação. Essa
era uma situação de grande atraso, principalmente tendo em vista o avanço que os países
industrializados fizeram nesse setor ao longo das últimas décadas, principalmente os países
europeus.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

O que aconteceu para que houvesse essa mudança? A crescente degradação do meio
ambiente certamente contribuiu para que essa nova postura se implantasse no país. Houve
também consideráveis avanços no campo da legislação e, ainda, os sistemas de gestão ambiental
nas empresas, principalmente aqueles decorrentes do processo de certificação ambiental

Desenvolvimento Sustentável
(norma ISO 14001) certamente também contribuíram para essa mudança de postura. Entretanto,
qualquer análise sobre a questão da reciclagem ambiental no Brasil seria falha caso não fosse
feita devidamente embasada nas estatísticas existentes.

Empresas de reciclagem no Brasil


Número de Empresas

1400

1050

700

350

0
Norte Centro-oeste Nordeste Sudeste Sul
Regiões
Recicladores Cooperativas Sucateiros Rec. & Sucateiros 311

O mapa da reciclagem no Brasil

Fig. 13.2 - Distribuição das empresas de reciclagem por regiões no Brasil. Fonte: CEMPRE (2009).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Segundo o CEMPRE (2009), existiam em 2007, mais de duas mil e trezentas empresas
no Brasil que dedicam ao ramo da reciclagem. A maior parte dessas empresas está localizada
nas regiões sudeste e sul. É interessante destacar o pequeno número dessas empresas nas
regiões norte, centro-oeste e nordeste, principalmente na região nordeste que tem uma elevada
Desenvolvimento Sustentável

densidade populacional e grandes cidades tais como Recife, Salvador e Fortaleza (Fig. 13.2). Outro
ponto que se destaca é o elevado número de sucateiros nessa lista que deve ser comparado com
os níveis ainda baixos da reciclagem do aço no Brasil (ver adiante).

A pergunta que se coloca nesse momento é a seguinte: a reciclagem está se desenvolvendo


bem no país? O gráfico abaixo (Fig. 13.3) nos dá algumas pistas bem coerentes do que pode estar por
trás dos avanços e dos tropeços da reciclagem ambiental no Brasil nessas últimas duas décadas.

Comecemos por observar duas tendências opostas: a reciclagem do aço e a reciclagem das
latinhas de alumínio. Após a leitura dos capítulos da reciclagem ambiental dessas duas matérias
podemos tentar fazer uma análise comparativa entre essas duas modalidades de reciclagem. Em
primeiro lugar, vamos mencionar alguns fatores que são similares a ambos os negócios. Ambos
tratam de metais que podem ser praticamente reciclados de modo contínuo quase sem limites.
Ambos os materiais (aço e alumínio) são commodities com preços razoavelmente estáveis e que
apresentam uma boa demanda para serem prontamente reciclados. O processo de reciclagem
de ambos os materiais já está bem estabelecido, há muitas décadas, de modo que não existem
limitações de caráter tecnológico que impeçam o sucesso do negócio da reciclagem em ambos
312 os casos, como no caso do óleo de fritura, por exemplo. E ainda devemos lembrar que não
existem políticas públicas que estimulem a reciclagem tanto das latinhas de alumínio quanto das
sucatas de aço. Então porque existem tantas diferenças? No caso do alumínio, os percentuais de
reciclagem no país passaram de 61% em 1996 para 96,5% em 2007. Nesse mesmo período, a
reciclagem do aço passou de 18% para 28%, com grandes oscilações no período.

As diferenças entre essas duas modalidades de reciclagem não estão ligadas aos aspectos
tecnológicos da reciclagem, ou ao preço final dos produtos ou ainda às características físico-
químicas dos materiais ou, ainda, à (falta de) ação do governo. Talvez, a principal diferença
esteja ligada ao apelo ecológico que a mídia, o meio acadêmico e, principalmente, a indústria
da produção do alumínio repassaram para a comunidade estimulando decididamente a sua
reciclagem. Enquanto que a reciclagem do aço permanece sendo feita nos mesmos moldes
segundo os quais ela vinha sendo feita há décadas, toda a sociedade está reciclando latinhas
de alumínio: as escolas estão envolvidas, as igrejas estão envolvidas, há gente defendendo
dissertações de mestrado e de doutorado sobre a reciclagem de alumínio nas universidades.
Todos viram a rápida resposta dos setores empresariais envolvidos com a reciclagem do alumínio.
Talvez possamos destacar alguns aspectos essenciais da reciclagem no Brasil:

(a) ausência de políticas públicas não impede necessariamente o sucesso de uma nova
cadeia produtiva no ramo da reciclagem;
(b) o sucesso de um programa de reciclagem não depende exclusivamente de variáveis
econômicas;
(c) existe um potencial para uma rápida resposta da comunidade quando ela é
corretamente estimulada a reciclar;
(d) não temos capacidade instalada no pais para a formação profissional de
recicladores no país.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

No entanto, como toda e qualquer atividade produtiva, a reciclagem ambiental está inserida
nas leis do mercado. Desse modo, iremos centrar esse capítulo em uma análise comparativa das
diferentes cadeias de reciclagem tendo por base a questão de sua viabilidade econômica como

Desenvolvimento Sustentável
todo negócio e ainda tendo um outro balizador fundamental na atividade: a sustentabilidade
ambiental. Acreditamos que o pilar da sustentabilidade ambiental é o mais importante fator que
regula o sucesso da atividade. A Fig. 13.3 abaixo, no entanto, mostra que, a partir de 2000, houve
um notável incremento nas taxas de reciclagem de vários materiais no país com destaque para
o alumínio e o PET.

Índices de reciclagem de materiais no Brasil

120

100
Percentual (%)

80

60

40

20
313
0
1996 1997 1998 199 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano

Lata de Alumínio Aço PET Vidro Longa Vida

Fig.13.3 - Índices de reciclagem dos principais materiais presentes no lixo Fontes: ABRALATAS, ABAL, ABEAÇO,
doméstico no Brasil. Período: 1996-2007. APIPET, ABIVIDRO e Tetrapak®.

Ao consideramos as estatísticas do processo de coleta seletiva no Brasil, fica claro que o


vidro, o alumínio e as garrafas PET são importantes constituintes do material recebido.

Recentemente, têm surgido na literatura especializada estudos detalhados enfocando


aspectos quantitativos dos ciclos de vida (ACV) de algumas das principais matérias que podem
ser recicladas. No caso de uma garrafa PET, por exemplo, esse estudo considera todas as variáveis
envolvidas desde a produção até a sua reciclagem. No caso da ACV aplicada às garrafas PET
são estudadas as seguintes fases de sua produção: extração e refino do petróleo, fabricação
do polímero e sua moldagem (por assopro), os processos da produção da garrafa, do rótulo e
da tampa. Em cada uma dessas etapas, são contabilizados os gastos com energia elétrica, com
combustíveis fósseis (aquecimento de caldeiras e transporte, por exemplo), o consumo de água,
as emissões de gases formadores do efeito estufa (CO 2, CO e CH 4, dentre outros) e de partículas
sólidas em suspensão na atmosfera, a produção de efluentes líquidos (aumento de turbidez, da
demanda bioquímica de oxigênio – DBO e química de oxigênio - DQO, do aporte de fósforo e
nitrogênio e metais traços, por exemplo), resíduos sólidos (lamas e rejeitos minerais, embalagens
e resíduos de outros insumos industriais e rejeitos inertes).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

13.2 - Avaliando a eficiência da reciclagem:


a análise do ciclo de vida dos materiais.
Desenvolvimento Sustentável

A seguir, iremos comentar brevemente alguns dos padrões do ciclo de reciclagem das garrafas
PET, do vidro e do alumínio. Em relação ao consumo de água, o vidro foi a cadeia de reciclagem
que apresentou as maiores taxas de consumo de água que parece não ser afetada por percentuais
crescentes de reciclagem. O alumínio é o recurso que mais água exige para a sua produção. No
entanto, a medida que os percentuais de reciclagem evoluem, o consumo de água decresce em taxas
quase que exponenciais (Fig. 13.4). É interessante notar também que o consumo de água se inverte
nas cadeias do alumínio e das garrafas PET, á medida que crescem os índices de reciclagem. A partir
de uma taxa de 50% de reciclagem, as garrafas PET consomem menos água para a sua reciclagem.

Consumo de água
700

560

420
Kg

280
314
140

0
0 10 50 85 100
Percentual de Reciclagem
PET Alumínio Vidro

Produção de resíduos líquidos


250

200

150
Kg

100

50

0
0 10 50 85 100
Percentual de Reciclagem
PET Alumínio Vidro

Fig. 13.4 - Efeitos de diferentes taxas de reciclagem em três materiais diferentes (vidro, alumínio e garrafas PET) sobre
o gasto de água e produção de efluentes líquidos. Para esses cálculos, considerou-se todos os gastos de
insumos necessários para o envase de 1000 litros para cada tipo de matéria prima.
Fonte: Valt (2004)
Ricardo Motta Pinto-Coelho

De um modo geral, o gasto de energia para se produzir um recipiente de 1,0 litro de


alumínio, PET ou vidro tende a sofrer um decréscimo com o aumento das taxas de reciclagem.
Uma vez mais, podemos observar que os percentuais crescentes de reciclagem do vidro não

Desenvolvimento Sustentável
afetam muito os gastos de energia, enquanto que a reciclagem do alumínio é a que mais se
beneficia quando se considera a questão energética. Padrão semelhante é observado para as
emissões de gases GEE (Fig. 13.5).

Gasto de energia
20000

16000

12000
MJ

8000

4000

0
0 10 50 85 100
Percentual de Reciclagem
315
PET Alumínio Vidro

Emissões atmosféricas
50

40

30
Kg

20

10

0
0 10 50 85 100
Percentual de Reciclagem
PET Alumínio Vidro

Fig. 13.5 - Efeitos de diferentes taxas de reciclagem de três materiais diferentes (vidro, alumínio e garrafas PET de 1,0
litro de capacidade) sobre o gasto de energia e sobre a produção de gases formadores do efeito estufa. Para
esses cálculos, considerou-se todos os gastos de insumos necessários para o envase de 1000 litros para
cada tipo de matéria prima.
Fonte: Valt (2004).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Enquanto a maior parte da emissão de gases acontece na produção do PET, no ciclo do


vidro acontece durante o transporte. Sem nenhuma reciclagem, o alumínio é o material que mais
Desenvolvimento Sustentável

contribui para o aquecimento global, se considerarmos todas as fases da obtenção do metal. Por
outro lado, a maior parte de emissão de gases acontece na produção do PET, no ciclo do vidro
este tipo de impacto acontece no transporte.

Em termos de deplecionamento dos recursos naturais, o uso do alumínio não reciclado


é o que mais afeta as reservas dos recursos naturais. Afinal, a mineração da bauxita é uma
das atividades essenciais do homem que maiores impactos ambientais produz. No entanto,
com o acréscimo dos índices de reciclagem, todas as três cadeias chegam a patamares muito
semelhantes de comprometimento de recursos naturais.

Os níveis de comprometimento dos recursos naturais e a geração de resíduos sólidos


são altas tanto para o alumínio quanto para as garrafas PET quando são baixos os índices de
reciclagem (Fig. 13.6).

Podemos sumarizar os resultados acima, dizendo que cada um dos três recursos analisados
apresenta diferenças bem marcantes em termos de usos de recursos naturais, gastos de energia
e geração de efluentes líquidos e sólidos. O vidro poderá ser a melhor solução em regiões
316 com abundância de água enquanto que a garrafa PET é imbatível quando se considera centros
urbanos dotados de um eficiente sistema de coleta seletiva e que são associados a programas
de reciclagem. Os dados acima também mostram que a estratégia da indústria de alumínio em
apoiar a reciclagem foi uma questão de sobrevivência da própria atividade como um todo.

A Análise do Ciclo de Vida (ACV) de um produto é capaz de mostrar os impactos ambientais


de cada etapa do processo de sua produção e eventual reciclagem, possibilitando assim o
aperfeiçoamento dos sistemas de gestão ambiental da cadeia produtiva envolvida. Para alguns
materiais a reciclagem é a melhor saída, uma vez que a grande concentração de agentes que
causam distúrbios na natureza está concentrada na produção do bem primário, como no caso
do alumínio. Para outros materiais, a reciclagem deve ser vista sobretudo como uma alternativa
para se diminuir a produção de resíduos sólidos já que ela não resulta em grandes economias
nos gastos de energia ou recursos usados. Outro aspecto importante é que os resultados de
uma análise do tipo ACV têm sempre uma forte componente regional. Assim, é importante que
estudos dessa natureza sejam realizados em diferentes regiões do Brasil.

Existem ainda outros aspectos ambientais que, muitas vezes, podem estar incorporados
apenas parcialmente na ACV. Um deles é o uso do solo associado à produção de um determinado
tipo de material. Os principais tipos de uso do solo praticados na agricultura e silvicultura estão
representados na tabela abaixo (Tab. 13.1). Duas importantes cadeias produtivas foram analisadas
nessa obra: a produção de soja e a de celulose. Observamos que a área plantada destinada ao
cultivo da soja é de 20,5 milhões de hectares ao passo que a atividade de produção de celulose
compromete 1,7 milhão de hectares no Brasil.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

Desenvolvimento Sustentável
Uso de recursos naturais
250

200

150

100

50

0
0 10 50 85 100
Percentual de Reciclagem
PET Alumínio Vidro

317

Produção de resíduos sólidos


250

200

150

100

50

0
0 10 50 85 100
Percentual de Reciclagem
PET Alumínio Vidro

Fig. 13.6 - Efeitos de diferentes taxas de reciclagem de três materiais diferentes (vidro, alumínio e garrafas PET de 1,0
litro de capacidade) sobre o uso de recursos naturais e na produção de resíduos sólidos. Para esses cálculos,
considerou-se um recipiente padrão de 1,0 litro de capacidade.
Fonte: Valt (2004).
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 13.1 - Usos do solo associados a produção de alguns tipos de alimentos e fibras vegetais do Brasil.
Desenvolvimento Sustentável

Potencial de Área Plantada


Produto Cadeia Produtiva
Reciclagem (milha)

Soja Alimento e rações Óleo, água 20581

Milho Alimento e rações Água 13177

Biocombustível e Energia (biomassa),


Cana de açúcar 6587
açúcar água

318 Café Alimento Água 2318

Silvicultura Papel, Energia


Celulose e papel 1715
(Eucalipto e Pinus) (biomassa) e água

Algodão Fibras Água e tecidos 1047

Fumo Cigarro Água 473

Fonte: Fonte: Ministério da Agricultura/MDIC/SECEX/CONAB/IBGE (2007).

As análises do tipo ACV, como exposto acima, ainda deixam a desejar na quantificação
de alguns aspectos sociais importantes. Qual é o impacto da reciclagem na criação de novos
empregos? Quais são as melhoras, nos índices ambientais que podemos associar a implantação
de programas de coleta seletiva e de reciclagem no curto prazo? Muitas pessoas sem emprego
formal (com carteira registrada) estão buscando trabalho neste ramo e conseguindo renda para
manterem suas famílias. Cooperativas de catadores de papel e alumínio, por exemplo, já são
comuns nas grandes cidades do Brasil.
Ricardo Motta Pinto-Coelho

13.3 - Outros benefícios sociais e


econômicos da reciclagem

Desenvolvimento Sustentável
A reciclagem pode gerar uma série de importantes benefícios sociais. Em primeiro lugar,
trata-se de um comportamento que aumenta a consciência ecológica na comunidade despertando
os cidadãos para mudanças de atitudes em prol do meio ambiente. A reciclagem pode começar
por simples ações tais como a de entrar em um programa voluntário de coleta seletiva de
lixo. Normalmente, quem começa a reciclar um dado material logo irá adotar a reciclagem de
outros materiais. Um importante benefício da reciclagem é a possibilidade de inclusão social
das classes menos favorecidas já que ela pode empregar de imediato um exército de mão de
obra não qualificada. As entidades assistenciais podem e devem exercer um papel importante
na implantação da reciclagem ambiental em diferentes comunidades. Assim, as igrejas, as
associações de bairro e as escolas são vetores muito importantes na implantação de qualquer
programa de reciclagem ambiental.

A reciclagem também gera benefícios diretos na economia local já que ela, além de gerar
empregos, ainda corrobora para a injeção de recursos na economia local. Isso tudo aliado ao
fato de que a maioria das empresas que atuam no ramo da reciclagem não necessita de grandes 319
investimentos. A reciclagem pode contribuir para a diminuição da poluição da água, para o
aumento dos índices de economia de energia elétrica e ainda estimula uma série de outros
negócios já que as empresas recicladoras também demandam produtos e serviços de apoio.

Inúmeros benefícios políticos podem ser obtidos por uma administração que apóia a
reciclagem. Por se tratar de uma atividade que não exige altos investimentos e mão de obra
qualificada, ela normalmente apresenta um rápido retorno dos investimentos desde que haja um
apoio inicial seja em treinamento seja em linhas de financiamento e outros benefícios tais como
a concessão de áreas e lotes específicos para a atividade. É interessante notar, por exemplo,
que na região metropolitana de Belo Horizonte, já existem algumas áreas onde se concentra
um grande número de empresas de reciclagem. Na região central de Belo Horizonte, ao longo
da Av. Contorno, existe uma concentração de empresas dedicadas à reciclagem de papel que
se instalaram ao redor da iniciativa pioneira da ASMARE (2009). Assim, os administradores
poderão ter um reconhecimento público de sua gestão através do apoio a diferentes atividades
de reciclagem. A criação de distritos de reciclagem poderia ser uma alternativa para apressar os
negócios e para que os resultados sejam mais visíveis para toda a comunidade.

Como a reciclagem contribui para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida


em geral, a sociedade tende a valorizar qualquer administração que apóie a reciclagem de modo
claro e determinado. Por ser uma atividade que atrai a simpatia da opinião pública, ela pode estar
associada a uma série de eventos culturais, esportivos e religiosos. A reciclagem é também uma
atividade que envolve uma grande quantidade de pessoas. Assim trata-se de uma ferramenta
que permite a rápida transmissão de idéias e conceitos associados a essa atividade a um grande
público em pouco tempo.
Ricardo Motta Pinto-Coelho
Ricardo Motta Pinto-Coelho

bibliografia
Reciclagem e
Desenvolvimento
Sustentável
no Brasil.
Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Bibliografia
Observação inicial: a lista bibliográfica abaixo traz, além do título e autor(es) da obra,
sempre que possível, o link de internet que seria a forma mais fácil de acessar a informação
citada por via eletrônica (seja através do acesso à web site ou ao texto no formato *.PDF que
pode ser lido pelo Adobe Acrobat®). No caso das inúmeras autarquias públicas, associações de
classe ou mesmo as empresas citadas, procurou-se, na medida do possível, informar além do seu
respectivo portal de internet, o endereço da instituição.
Bibliografia

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Créditos

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