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ZABELÊ:
caminhos e conquistas de uma política cultural que surge
ZABELÊ:
caminhos e conquistas de uma política cultural que surge
ZABELÊ:
caminhos e conquistas de uma política cultural que surge
Aprovada em 02 de setembro de 2014 pela banca examinadora, sendo atribuída a nota 10.
BANCA EXAMINADORA
A todas as Companheiras e os Companheiros que pensam a vida a
partir de atitudes de partilhas.
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Três instituições foram essenciais para que pudesse concluir esse trabalho, às
quais agradeço:
- A Universidade Federal de Campina, através do Curso de Especialização em
Gestão e Produção Cultural, especialmente o Professor Vinícius Ramos, que, além de ter a
ideia de fundar o curso e gerenciá-lo, acompanhou cada parte desta monografia, a partir de
sua orientação.
- A Prefeitura Municipal de Zabelê, na pessoa da Prefeita Íris de Sousa Henrique,
que foi muito presente na compreensão e no estímulo para que eu pudesse concluir este
trabalho.
- O Coletivo Atissar, em especial o amigo Almir Joaquim, que colaborou de modo
intenso com suas leituras, indagações e proposições durante a construção do texto desta
monografia.
Para as demais estruturas sociais e pessoas, fundamentais para a construção da
minha existência, fragmento o meu agradecimento ao dizer que, se os religiosos do mundo,
em vez de venerarem seus deuses, o fizessem com as boas qualidades atribuídas aos mesmos,
talvez hoje vivêssemos num mundo mais justo, mais generoso.
Neste momento, aproveito este espaço para agradecer mais do que aos sujeitos.
Agradeço às qualidades das inúmeras pessoas que estiveram presentes na minha vida e
colaboraram para que eu chegasse onde cheguei e seja o que sou no momento.
Agradeço aos que cultivaram em mim:
- A bondade.
- A esperança.
- A felicidade.
- A generosidade.
- A lealdade.
- A liberdade.
- A sagacidade.
- A verdade.
- O carinho.
- O companheirismo.
- O desapego.
- O sentido de justiça.
O que foi construído neste trabalho teve uma pitada de cada qualidade acima
apontada.
Continuemos juntos!
“Pediram-me que escrevesse sobre a descentralização na história
e me descubro olhando para a escuridão onde pequenas luzes
brilham como vaga-lumes durante um segundo, desaparecendo e
voltando a brilhar [...].”
George Woodcock
RESUMO
Nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de muitas políticas de cultura apoiadas e
desenvolvidas pela Sociedade Civil, pelos Governos e pelo Setor Privado. O trabalho em
questão aponta para uma reflexão sobre as Políticas Culturais a partir do panorama nacional e
do entorno organizacional local do Coletivo Atissar. Este Grupo tem como base de ação a
cidade de Zabelê, na microrregião do Cariri paraibano do Nordeste brasileiro. Utiliza como
método condutor de suas práticas a vida compartilhada em prol do bem comum, tendo nas
atividades culturais locais, nas relações entre os seus membros e na apresentação de suas
ações os meios pelos quais agenciam, gerenciam e produzem cultura. O que se tem aqui é um
estudo de caso no qual se poderá perceber formas de Gestão Cultural interligadas tanto a
antigas quanto a novas condutas de vida coletiva ante a sociedade informacional que, cada dia
mais, se apresenta como definidora de nossa época. O objeto é tratado sob diversas óticas, a
fim de descrevê-lo na mesma correspondência de suas complexidades.
En los últimos años, Brasil ha sido el escenario de muchas acciones políticas de cultura
apoyadas y desarrolladas por la Sociedad Civil, por los Gobiernos y por el Sector Privado.
Este trabajo apunta a una reflexión sobre las Políticas Culturales a partir del panorama
nacional yel contexto organizacional local del Colectivo Atissar. Este Grupo tiene como base
de acción la cuidad de Zabelê, en la micro-región del Caririen el Estado de Paraíba en el
nordeste brasileño. Utiliza como método conductor de sus prácticas la vida compartida en pro
del bien común, donde las actividades culturales locales, las relaciones entre sus miembros y
la presentación de sus acciones son los medios por los cuales agencian, gestionan y producen
cultura. Este es un estudio de caso en cual se podrá percibir formas de Gestión Cultural inter-
ligadas tanto a antiguas como a nuevas conductas de vida colectiva delante de la sociedad de
información, que a cada día más se presenta como definidor de época. El objeto es tratado
desde diversas ópticas afín de describirlo en la misma correspondencia de sus complexidades.
Palabras Claves: Gestion Cultural. Politica Pública. Gestion Social. Sistema Nacional de
Cultura.Colaborativo.
ABSTRACT
During the last few years, Brazil has staged many actions of cultural policies that have been
supported and developed by the civil society, Governments and the private sector. This study
aims to reflect upon cultural policies within the national panorama and the local
organizational context of the Atissar Collective. This group has its action base in the small
town of Zabelê in the micro-region of Cariri in the State of Paraíba in Northeastern Brazil.
The conducting method used in its practices is to share ones lives in favor of the common
good, where the cultural activities, the relations between its members and the presentation of
its actions are the means by which the group represents, directs and produces culture. This is a
case study where one can perceive forms of cultural management linked to old and new
practices of collective life before the information society that increasingly presents itself as
the sign of the times. The study object is treated from different angles in order to describe it in
correspondence with its complexities.
ÍNDICE DE TABELAS
Prefácio i
INTRODUÇÃO 1
1. PANORAMA ESTRUTURAL DA PESQUISA 9
1.1 Sistemas de Cultura 9
Este trabalho não se inicia aqui. Vem de uma trajetória mais distante, da qual
fizeram parte outros atores e cenas que não estão mais comigo, mas que foram fundamentais
para que eu chegasse onde cheguei. É de suma importância apresentar alguns deles para chegar
o mais próximo possível das motivações que me levaram a participar de um trabalho
colaborativo no município de Zabelê ao longo desses 13 anos.
Passei minha infância viajando com minha família para a cidade de São Sebastião
do Umbuzeiro e para o então distrito de Zabelê, onde moravam muitos parentes e amigos dos
meus pais. Como tudo que é vivido com prazer na infância deixa um certo saudosismo e apego,
aquela região ficou cravada na minha memória e nas minhas emoções. A vegetação, o carro-de-
boi, os cavalos, os vaqueiros, o cheiro da jurema, a paisagem da caatinga, o candeeiro, o
lampião, os forrós nos sítios, as festas de padroeiro, as bandas de pífano, os pastoris, as bandas
filarmônicas, o namoro nas praças e tudo mais de comum nos anos 1970 e 80 naquelas
pequenas localidades do Cariri Ocidental paraibano foram a fonte geradora de sentimentos para
que eu, mais adiante, voltasse e passasse a fazer parte desta comunidade.
Mas a história desta minha infância e adolescência no Cariri paraibano sofreu uma
interrupção quando, em 1988, fui selecionado para a Escola Agrícola Federal Vidal de
Negreiros, da cidade de Bananeiras, Paraíba. Logo no primeiro ano, fui desenvolvendo meu
sentido coletivo ao ter que morar num galpão com quatro vãos (quartos), onde em cada espaço
ficavam hospedados cerca de 27 alunos com idade entre 13 e 25 anos. Um espaço que
oportunizava a todos o treino de ter que ouvir, falar, de modo a manter o respeito dentro do
grupo. Isto nem sempre acontecia. O que pensar de cerca de 108 estudantes dormindo,
descansando, lanchando, estudando, conversando, namorando (que este segredo fique por aqui,
pois só eram admitidos neste ambiente pessoas do sexo masculino), discutindo, brigando ou
fazendo reuniões de organização estudantil? Era tudo muito intenso em termos de relações
humanas. Imaginemos como era a convivência de jovens urbanos e rurais, da capital e do
interior mais longínquo, filhos de agricultores e de fazendeiros, de trabalhadores domésticos e
de médicos, todos convivendo em um mesmo espaço.
Havia estudantes que, por morarem em cidades muito distantes e por terem um
baixo poder aquisitivo, passavam até seis meses sem voltar pra casa. Era uma verdadeira
maratona dar conta tanto das relações pessoais desenvolvidas no campo “doméstico” da Escola,
quanto das relações institucionais de estudos e de negociação constantes com os professores e
alunos mais antigos. Estes últimos eram chamados de “doutores”.
ii
violentadas pelos próprios colegas e exploradas pelos taxistas noturnos. Ao fim desta década,
fui trabalhar no Lar do Garoto, uma instituição carcerária (dita educativa) para menores que
cometeram alguma infração. Mais uma vez, estava diante de uma instituição covarde da
sociedade, que pouco se importava com os seus filhos. Adolescentes, culpados ou vitimados,
que eram colocados num mesmo espaço para trocarem experiências diversas, monitoradas por
alguns adultos que só os viam como marginais.
No início dos anos 2000, desenvolvi um trabalho de consultoria cultural no
município de Zabelê. Esse momento serviu para lapidar as características de agente público que
já se construíam em mim ao longo dos últimos 12 anos. Passei a conviver – inicialmente como
Consultor Cultural e, depois, como Secretário de Cultura, Turismo e Meio Ambiente (até o
momento) – em um mesmo espaço com políticos, empresários, fazendeiros, agricultores,
contadores, garis, professores, advogados, médicos, pedreiros, artesãos, músicos, marceneiros e
muitos outros personagens que compõem a sociedade do Semiárido nordestino. A princípio,
admirei a convivência, sobretudo naquela cidade. Era como se os papéis sociais só tivessem
importância enquanto atividade. O poder econômico ou político não se importava com a
construção das relações humanas ali existentes.
Não demorou muito e passei a perceber que os papéis em Zabelê eram bem
distribuídos. O indivíduo com bom poder aquisitivo valia tanto quanto o indivíduo com mais
envolvimento político com os cidadãos. Era como se um completasse o outro, mas a parceria
não era igualitária. E, embora um gari pudesse sentar à mesa com seu superior ou patrão, era o
seu papel ouvir o pensamento ou acatar as ordens do seu dirigente.
Assim, com esta compreensão do local, passei a encarar a vida por ali de modo
mais objetivo. Passei a melhor identificar cada personagem social e a encarar a verdade de um
ambiente não tão inocente assim; de fato, era muito mais permissivo para com certas mazelas
sociais comuns em ambientes com uma história construída a partir de muita pobreza social e
econômica.
Parece que a geografia das cidades do Semiárido nordestino, somada à dificuldade
econômica que a grande maioria da população sofre, faz com que todos cresçam,
confraternizem, estudem e presenciem os problemas ou avanços do outro. As casas são muito
próximas, os corpos são muito próximos. Talvez seja isto o que faz com que muitas vezes todos
ceiem juntos.
Como estava tudo tão junto, entendi que o trabalho de gestão ali era possível e
passei a dedicar a minha vida àquele plano de partilhar com a população zabeleense o
iv
conhecimento que havia adquirido entre estudantes, professores, moradores de rua, índios e
outros segmentos da sociedade.
Iniciamos a ceia! Muitos foram os que não aceitaram o convite, outros saíram da
mesa por não congregarem de mesmas perspectivas ou até mesmo por não quererem partilhar
do seu. Com os que ficaram, passamos a ter uma vida de construção colaborativa. E
aprendemos a etiqueta da vida em grupo e das negociações com os diversos agentes e setores
da sociedade de Zabelê e, principalmente, de fora do município.
O interesse particular era que todos os envolvidos ficassem prontos para negociar.
Para isto, precisei que as minhas vontades individuais se tornassem coletivas e passamos a
realizar a incrível tarefa do aprendizado mútuo dos mecanismos necessários para que
pudéssemos avançar numa gestão pública e social nunca antes vista na região do Cariri
paraibano. Partilhamos nossos lares, nossas festas, nossos sonhos, nossas viagens. Tudo que
pudemos, em prol de uma meta maior, que era a preparação humana e social de cada indivíduo
para que fosse possível a sua atuação em conjunto, através de uma gestão voltada para a cultura
e com uma visível melhora na qualidade de vida de cada indivíduo envolvido.
INTRODUÇÃO
apoiadoras da sociedade civil e governos. Desse modo, preencheu-se tanto uma lacuna de
aquisição de recursos a que o Governo Municipal não tinha acesso quanto se tornou possível
que pessoas da sociedade civil se unissem a instituições governamentais para gerar ações
compartilhadas em prol da cultura.
Zabelê tem um dos menores territórios e uma das menores populações2 do estado da
Paraíba. Situa-se numa região de baixíssima pluviosidade, com uma história social construída a
partir de uma forte pobreza, irrigada com o assistencialismo político que só dificulta que a
sociedade crie os seus próprios caminhos.3
Infelizmente, há certa contradição entre o que se debate e o que se faz com relação
à política cultural no Brasil. As discussões no último decênio têm avançado, mas a efetivação
das políticas voltadas para a cultura tem andado a passos lentos.
As proposições para a cultura no Brasil historicamente sofrem a imposição de
agentes externos aos interesses da cultura. Os agentes que fazem parte do cenário interno –
gestores, produtores e articuladores – muitas vezes ficam de fora das decisões e por vezes são
levados a acatar o que foi decidido externamente. Os dirigentes públicos que pouco conhecem
as questões de políticas culturais quase sempre acham que podem solucionar os problemas dos
participantes da cultura; daí, propõem e realizam ações, mas, ao fim, dirigentes e sociedade
civil não conseguem encontrar sustentação para a manutenção dos processos, devido à
considerável complexidade que este setor possui.
O Brasil tem uma história social, principalmente em regiões como a do Nordeste,
construída a partir de mandantes e mandados, com uma falsa impressão de convívio pacífico
entre ambos.
A história de mandonismo, protecionismo e dependência que atravessou a trajetória da
sociedade brasileira, conduziu ao mutismo em substituição ao diálogo, a um
funcionamento reflexivo, orientados por uma autoridade externa. Resultante da
conjugação dos traços concentração de poder e paternalismo, a postura como
espectador conduz a características de pouca iniciativa e transferência de
responsabilidade.
Suas principais características são o medo de mudança, aceitação passiva da realidade,
baixo espírito combativo, inércia em relação a eventos externos, transferência de
responsabilidade, crença em soluções generalizadas e mágicas e baixo sentimento de
coletividade em relação ao domínio público. Na perspectiva do comportamento
empreendedor, destacam-se a atitude introspectiva das práticas empresariais,
supervalorização do talento e da improvisação, e baixa capacidade de assumir riscos.
(FONTES FILHO, 1989, p. 4).
2
População estimada em 2.169 habitantes, com uma área territorial de 109 km² (IBGE – 2013).
3
É difícil pensar uma gestão pública nos pequenos municípios do Semiárido brasileiro que não esteja fadada ao
assistencialismo, pois, além de existir um baixo índice de investimento financeiro, ou quase nenhum, de empresas,
o potencial humano para o desenvolvimento deste território ainda é muito baixo. No que os seus munícipes
alcançam alguma notoriedade como profissionais, quase sempre são aproveitados por outras localidades mais
avançadas em termos econômicos.
3
Cada ação, cada plano, cada estratégia e cada projeto público deve ser construído a
partir de uma Gestão Governamental e Social,4 e não partindo apenas da primeira, como quase
sempre é feito, para então atingir também o setor Privado.
Por exemplo, os primeiros órgãos a serem criados para que os demais órgãos
constituintes do SNC (Sistema Nacional de Cultura), do SEC (Sistema Estadual de Cultura) ou
do SMC (Sistema Municipal de Cultura) sejam efetivados, enquanto Leis, deveriam ser os
Conselhos, tudo deveria partir formalmente deste ponto. No entanto, a tendência tem sido o
atropelo dos processos. Como por exemplo o que propõe o manual para a criação dos SMC:
Em vez de pensar que a formulação da Lei deve ser feita paritariamente com a
sociedade, estas cartilhas5 deixam brechas nos seus textos e terminam propondo relações
verticais de decisão entre Governos e Sociedades Civis, o que implicará fatalmente no descaso
destes últimos às propostas vindas dos primeiros.
Historicamente, as atividades, quase sempre focadas na organização e na
compreensão de como deveriam se dar os processos de Gestão e Produção das potencialidades
da cultura local, pouco avançavam nas discussões acerca de políticas voltadas para a cultura no
país e, mais ainda, no Nordeste brasileiro. Quando acontecia algo, era muito inclinado para um
turismo cultural que tinha como meta o desenvolvimento econômico para a região. Então,
pensar a cultura a partir dela mesma, para a formação humana e o fortalecimento dos diversos
modelos de sociedade, pretendendo-se tanto o resguardo de memórias quanto de novas ações
artísticas da atualidade para o desenvolvimento criativo do indivíduo, era um desafio não muito
comum nos meios onde se faziam gestões públicas até o início dos anos 2000.
Diante desse cenário de descompasso, pretende-se afunilar o foco de observação
para um micro social que, apesar de geograficamente localizado em uma das regiões de menor
pluviosidade do Semiárido nordestino e vivendo basicamente do Fundo de Participação dos
Municípios, conseguiu avançar numa ação colaborativa rumo à efetivação de uma política
4
Sobre definições e interfaces da Gestão Governamental, Gestão Social e Gestão Privada, ver Renato Dagnimo
(2011).
5
No tópico sobre Referências Bibliográficas, apresento quatro cartilhas do Ministério da Cultura que auxiliam
estados e municípios na implantação dos seus sistemas.
4
voltada para a cultura com uma participação mais que paritária entre Governo e Sociedade
Civil.6
É preciso compreender como jovens conseguiram chegar tão longe no fazer gestão
e produção cultural diante de um quadro social que só levava a crer no contrário, na
impossibilidade de se “fazer” e de se “pensar” cultura numa região tão necessitada de questões
básicas como saúde, recursos hídricos, lazer, educação ampla de qualidade e recursos
financeiros para a aquisição de alimentos.
Se o termo empreender pode ser compreendido como uma habilidade de identificar
as oportunidades, o Atissar pode ser percebido como um coletivo que empreende
culturalmente. Não num sentido de mercado, mas tendo como parâmetro de mensuração da
produtividade a FIB (Felicidade Interna Bruta).
Tornar as pessoas capazes de ver muito além do que está ao seu redor, como
também de voltar os olhos para si mesmas, para seus ethos, e assim cultivarem
concomitantemente o respeito pelo outro e a admiração por suas próprias existências, é o que
pode ser percebido com a postura de gestão deste Coletivo. Postura esta que não proporcionou
às forças políticas locais um ganho político e econômico imediato. Quando isto não ocorre, as
ações voltadas para a cultura estarão colocadas à margem dos processos de discussões tanto de
diversas administrações públicas quanto de muitas organizações da sociedade civil, que só
conseguem ver a cultura como algo de significância “folclórica”.
Apesar desta conjuntura, este mesmo município possui outros aspectos sociais,
típicos da região em que está inserido, que em muito influenciam o surgimento de ideias
importantes para ações voltadas ao fortalecimento histórico e social da comunidade. Em se
6
Existe, na pasta da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Zabelê, um total de três cargos públicos:
Secretário, Diretor de Cultura e Auxiliar de Cultura. Atualmente, o Coletivo Atissar possui um total de doze
membros. Deste modo, são nove os representantes da Sociedade Civil ligados diretamente à ASCUZA, os quais
discutem juntamente com os representantes do Governo municipal os caminhos que devem trilhar para as ações
voltadas para a cultura.
5
tratando de uma gestão cultural, foram algumas matrizes culturais, bem como o viver diário dos
cidadãos zabeleenses, os principais impulsionadores de tais ações.7
A vivência dos cidadãos nas ruas, nas calçadas e a inter-relação dos mesmos com as
suas casas, confundindo muitas vezes onde começa um e onde termina o outro, é um forte
estímulo para a “romantização” da comunidade à primeira vista por parte do visitante. 8 Zabelê é
a típica cidade pequena do Semiárido nordestino, onde os mais velhos ainda levam suas
cadeiras para as calçadas, as crianças brincam nas praças e os jovens e adultos param para
namorar, jogar ou conversar.9 As vivências das pessoas quase sempre são interligadas por
muitas gerações a partir das relações de trabalho, de escola, de religiosidade, de eventos
(culturais, esportivos, de lazer, institucionais etc) e de famílias. Esse tipo de sociabilidade gera
um sentido de vida compartilhada, “cuidada” por todos, configurando, de modo hipotético, um
terreno fértil para a formalização de atividades institucionais baseadas na coletividade.
Outro ponto também fundamental para o início de um trabalho nas áreas de gestão e
produção cultural em Zabelê foi o período de efervescência social e cultural em que se
encontrava todo o Cariri paraibano a partir do começo dos anos 2000, capitaneado pelo
SEBRAE através do programa Pacto Novo Cariri.10
Por fim, as culturas de Reisado, de tocadores de gaita (realejo), de músicos
populares locais, de grupos de dança, de grupos de Capoeira, de rezadeiras, de cantadeiras de
incelenças, de aboiadores, de eventos tradicionais (como pega de boi, festa do jegue, festa de
padroeira, entre outras) foram fundamentais para se ver que o terreno era bom e valeria toda
forma de esforço para serem apresentados ao mundo. Mais adiante, outros eventos passaram a
fazer do calendário cultural da cidade, como o Realiza Cultura (Encontros de Reisados) e o
Novos Palcos e Plateias.
7
É importante ressaltar que, no segundo semestre de 2000 e no primeiro semestre de 2001, eu e a pedagoga
Terezinha Medeiros apresentamos à Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Maria Bezerra da Silva,
de Zabelê, o Projeto intitulado Ensinar Cantando (ver vídeo do projeto em https://www.youtube.com/watch?
v=xwm-22nBtus), que deveria concorrer ao edital do Programa Crer Para Ver da Fundação Abrinq, financiado
pela Natura Cosmético. Este Projeto foi aprovado e, a partir deste momento, iniciou-se uma série de ações
pedagógicas na Escola voltadas para a elaboração de projetos didáticos, tendo como elementos norteadores a
cultura musical local e regional.
8
Para uma melhor compreensão dos universos sociais do povo brasileiro, ver DAMATTA, Roberto. A Casa e a
Rua: Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.
9
Esse aspecto de vivência social nas calçadas tem a cada ano diminuído, tanto com o fim das gerações vindas da
primeira metade do século 20, quanto com a audiência cada vez maior das telenovelas noturnas. A exemplo disso,
é grande a dificuldade que as instituições locais têm de fazer reuniões com a comunidade durante o período
noturno, pois as pessoas quase sempre estão assistindo às novelas.
10
O Pacto Novo Cariri foi uma parceria firmada a partir de 2001 até o final desta década entre os municípios do
Cariri paraibano (Ocidental e Oriental), coordenado pelo SEBRAE/PB, que teve como proposta organizar
colaborativamente todas as ações em prol do desenvolvimento sustentável da região, com ênfase no turismo, na
cultura e na economia rural.
6
11
As culturas matrizes são formas sociais que têm a função de dar representatividade de origem identitária a
pessoas de um determinado meio social. Quase sempre estão interligadas a práticas culturais ancestrais, adquiridas
através do repasse de conhecimento entre as pessoas de um certo ethos social.
12
O Fora do Eixo é um movimento cultural que surgiu em Cuiabá (MT) em meados dos anos 2000. Atualmente,
tem representatividade em todos os estados brasileiros e em outros países. Uma das ideias que chama a atenção
neste movimento é a partilha de tecnologias e metodologias visando à ação colaborativa entre os inúmeros
segmentos culturais existentes. Mais sobre o Fora do Eixo em http://foradoeixo.org.br/historico/. Para se entender
o seu modo de organização e atuação, ver: http://issuu.com/foradoeixo/docs/cfe_apresenta__o_3.
13
Embora seja atraído constantemente pela minha própria reflexão em torno da vivência pessoal com os
zabeleenses, tenho que constantemente “me afastar de mim mesmo” para tentar responder ao problema por mim
formulado nesta pesquisa.
7
Coletivo, ou foram construídos de modo colaborativo, porém sempre apontando para uma
narrativa que proporcionasse uma leitura do que o Grupo fazia ou pretendia fazer por parte de
quem estava do “lado de fora”, não indicando assim a localização de algum objeto.
Os textos existentes antes do início da construção do objeto foram utilizados na
pesquisa como parte dos dados para a construção da mesma. Desse modo, buscaram-se os
dados numa linha temporal que ia desde as primeiras ações voltadas para a reorganização do
Grupo do Reisado de Zabelê (2001), perpassando a fundação da ASCUZA, da Secretaria de
Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Zabelê, até a participação do Coletivo nas fundações de
outras instituições como Fóruns e Associações na região do Cariri Paraibano. Tudo isso,
concretizado na participação do próprio pesquisador nas ações citadas a partir da feitura de
atas, ofícios, cartas, projetos, panfletos, banners, cartazes, vídeos, CDs, convites, conversas
informais, entrevistas e muitas outras formas de comunicação para a formação de uma política
pública voltada para a cultura.
É importante ressaltar que a coleta de dados está relacionada à procura de
informações em que muitas vezes o próprio pesquisador foi participante ativo das ações que
envolveram a formação e a manutenção do próprio Coletivo, levando a uma organização dos
dados presentes em textos e registros em áudio e imagens, de modo que se pudesse chegar à
resposta do problema. Cabendo ao pesquisador buscar as informações em seus locais de origem
quando necessário.
As reuniões do Coletivo, cujo papel era sempre de estruturação do Grupo, tanto no
relacionado a práticas coletivas quanto a questões individuais, foram fundamentais para a
compreensão de como se deu a organização do grupo. Até 2010, a comunicação interna era
feita praticamente através de reuniões presenciais, telefones e e-mail. As reuniões presenciais
ocorriam através de Assembleias Extraordinárias para prestação de contas e eleição dos
membros da ASCUZA, nivelamento das ações referentes ao Reisado e de tudo que envolvia as
etapas de planejamento do Coletivo. O telefone a que o grupo tinha acesso foi inicialmente o da
Prefeitura ou da residência de alguns membros do Coletivo. O celular se tornou acessível a
todos concomitantemente ao que ocorreu em toda a sociedade brasileira. Os e-mails foram
utilizados a partir da segunda metade da década de 2000.
No segundo semestre de 2010, o Coletivo conectou seus membros dentro de um
grupo virtual, o Google Groups, passando a ter suas ações acompanhadas virtualmente. Em
2012, a partir do curso Interatividade Social na Web, realizado pelo ativista cultural Hans
Ponto, o Grupo passou a ter todas as suas atividades e histórias partilhadas na internet,
8
facilitando assim a comunicação com os membros que já tinham migrado para outras cidades
para cursarem a universidade.
Com essa nova estruturação do grupo, grande parte das informações referentes ao
mesmo agora podem ser encontradas no Facebook, no Youtube, no Google Groups, no Google
Drive, no Dropbox e em outras plataformas, sites ou blogs. Nesses espaços virtuais, pode-se
acessar produções textuais, em audiovisual e grande parte das estratégias utilizadas pelos
membros do Coletivo para auxiliar na organização. Neste caso, é importante chamar a atenção
para a ferramenta de organização de nome Compacto.Tec (ver p. 57), que é alimentada
constantemente com informações fundamentais para se entender como o grupo constrói a sua
organização.
Por outro lado, os textos de autores como Antonio Albino Canelas Rubim, Isaura
Botelho e Selma Santiago, conhecedores profundos de políticas voltadas para cultura, de
Tomás R. Villasante e Paulo Daniel Barreto Lima, os quais fazem descrições pormenorizadas
das gestões dos setores Governamental, Social e Privado, bem como algumas posições
libertárias presentes em autores clássicos como Piotr Kropotkin, Mikhail Bakunin, ou mais
contemporâneos, como Jorge Silva, entre outros, foram utilizados para proporcionar uma
reflexão mais assertiva deste trabalho.
Aqui não é utilizado um campo teórico específico para conduzir a discussão, mas
sim um processo de trazer respostas ao objeto da pesquisa, que é o perfil da política cultural de
Zabelê, a partir das necessidades para descrevê-lo. Essa busca ao pensamento de alguns
pesquisadores acontece numa complexidade de assuntos pari passu com os mesmos aspectos
que foram sentidos durante a construção dessa monografia.
A escolha das fotografias, a montagem de gráficos e organogramas, a utilização de
tecnologias das redes sociais captadas na forma de imagens retiradas da internet e entrevistas
realizadas com membros do Coletivo Atissar foram introduzidas a partir da necessidade de
acrescer mais informações aos textos correlacionados.
Por fim, as vivências e anotações das aulas de cada disciplina do curso de
Especialização em Gestão e Produção Cultural, construídas com o uso de citações, paráfrases,
fotografias, vídeos, visitação in loco de espaços culturais para análise de patrimônios materiais
e imateriais, além da reflexão junto aos professores sobre a situação em que se encontra a
política cultural foram essenciais para o acúmulo e a organização das informações adquiridas
no campo deste trabalho.
1. PANORAMA ESTRUTURAL DA PESQUISA
Esta lei é um bom indicativo de que já se caminhou bastante nas políticas culturais do
Brasil. No entanto, muito mais se tem por fazer. O Brasil é um país em que, quase sempre, as
leis vêm antes que as ações.
14
Alguns programas direcionados para a cultura: No MINC: o Procultura, o Vale Cultura, os Pontos de Cultura,
o Programa de intercâmbio e Difusão Cultural, Programa Cultura Viva, Prêmio Viva leitura, Programa Cultura e
Pensamento, PROEXT Cultura, Prêmio Culturas Indígenas, Concurso Cultural GLBT, Prêmio Inclusão Cultural
da Pessoa Idosa, Prêmio Capoeira Viva, Prêmio Culturas Populares (Ibram); na PETROBRAS: Programa
Petrobras Cultural – Artes Cênicas, Programa Petrobras Cultural – Música, Programa Petrobras Cultural –
Preservação e Memória, Programa Petrobras Cultural – Formação, Programa Petrobras Cultural – Artes Cênicas,
Edital Petrobras de Festivais de Música; no BNDS: Programa de Apoio a Projetos de Preservação de Acervos,
Patrimônio Histórico e Arqueológico; na CAIXA ECONOMICA: Programa Caixa de Adoção de Entidades
Culturais, Festivais de Teatro e Dança. No BNB: Programa BNB de Cultura.
10
Existe um abismo gigante entre o que é escrito e o que é realizado. Isto é fácil de
perceber quando vemos uma sociedade civil, acompanhada de seus governos estaduais e
municipais, alheia às discussões e regulamentações acerca do SNC. Foram milhares de
Conferências de Cultura ocorridas a partir da I Conferência Nacional de Cultura em 2005, que
resultaram na formulação do documento que deu origem ao SNC, com todas as suas
peculiaridades.15
São muitos os municípios no país que se cadastraram ao SNC, 16 desde aqueles que já
têm os seus Sistemas Municipais de Cultura (SMC) implantados, até aqueles em que nenhuma
atividade foi feita ainda ou em que há alguma diligência. 17 No entanto, isto pouco significa se
o intuito é o de que a política cultural seja apreendida pela sociedade como um todo, pois não
adianta apenas que os municípios sigam uma ordem superior e simplesmente criem leis para a
instauração dos seus SMC. Pelo contrário, a simples inclusão dentro do SNC, através do
cadastro de cada município com o desfecho da criação dos SMC, sem a devida articulação por
parte da sociedade, proporcionará um atraso nas mudanças que deveriam ocorrer com a
implantação dos mesmos. Agindo assim, muitos indivíduos e organizações diversas
continuarão desacreditando das posturas vindas de governos ou instituições articuladoras da
própria sociedade. As palavras de Villasante acerca das articulações, através de inúmeras e
extensas reuniões feitas dentro dos setores sociais, explicam essa relação entre as bases e as
pessoas que chegam até elas.
Até que se vejam os resultados é difícil que os setores de base se convençam de que
a coisa é séria. São tantas as vezes que se tem falado de participação e de
democracia sem que os resultados sejam vistos, que logicamente a gente desconfia.
Por isso, a melhor forma de difusão de uma programação é sua própria realização
nos tempos previstos, ainda que seja pouca coisa, o importante é mostrar coerência
entre o dito e o feito. Mesmo que o que faça não nos pareça tão acertado como
quiséramos, se é tal ao que foi decidido pelas pessoas que participaram do processo,
isto é o que mais vale. (VILLASANTE, 2002, p. 154).
15
No programa estruturante do SNC, como Plano, Conselho, Fundo, o que mais chama a atenção pelo seu caráter
informativo é o Sistema Nacional de Indicadores de Índice Cultural (SNIIC), que proporciona o cadastro de
todas as atividades relacionadas à cultura no Brasil a partir da localização geopolítica de seus fazedores.
16
Mais informações sobre a situação dos municípios brasileiros com relação ao SNC, em
http://www.cultura.gov.br/documents/10907/0/Situa%C3%A7%C3%A3o+dos+munic
%C3%ADpios.16.07.pdf/3e76f501-d2fc-4756-8ede-a5d7003da0f3.
17
“Diligência documental, ocorre quando a documentação física está incompleta ou com preenchimento
incorreto. É enviado email para os contatos indicados no formulário de Solicitação de Integração solicitando
reenvio do acordo corrigido e/ou dos documentos pendentes federados. O processo somente federado terá
continuidade após o atendimento da diligência.” Ver: http://blogs.cultura.gov.br/snc/files/2012/11/Detalhamento-
das-situa%C3%A7%C3%B5es-Para-Blog.pdf-2.pdf.
11
apresentarem como tais. O ato de sorrir, tocar, degustar, maquiar, referenciar, odiar, rir,
partilhar, roubar, enganar, ensinar, aprender, assistir, escutar, discursar, mentir, dançar,
meditar, mediar e muitos outros são atributos da cultura humana. Perceber criticamente cada
linguagem humana de modo individual ou partilhado proporcionará um repertório denso nas
ações voltadas para a cultura.
Ao afirmar que a “segunda metade do século XX evidenciou que não se cria
desenvolvimento sem [se] considerar a perspectiva cultural”, MARTINELL (2003, p. 93)
indica a necessidade de se pensar a cultura para além dos universos elitistas do fazer artístico.
Mais ainda, como diz Rubim: “Este elitismo se expressa, em um plano macrossocial, no
desconhecimento, perseguição e aniquilamento de culturas e na exclusão cultural a que é
submetida parte significativa da população.” (RUBIM, 2007, p. 10-11).
É necessário entender que a cultura vai muito além das questões referentes à
ludicidade e, consequentemente, do “desperdício” de dinheiro, como muitos insistem em
pensar (BOTELHO, 2001, p. 73). Qual a ação de muitos governos diante da cultura quando
seus países entram em recessão? Eliminar os recursos financeiros para a mesma, pois a
cultura, para grande parte da sociedade e dos governos, não representa algo vital para a
existência da humanidade. Ledo engano desses entes sociais. A cultura precisa sim de um
olhar especial dentro das políticas públicas. E nada de ficar comparando ou medindo
importância com os outros setores da sociedade, como por exemplo a educação e a saúde, as
quais recebem um valor maior do recurso público para o fortalecimento das ações voltadas
para as mesmas.
A maior parte das cidades brasileiras, que são pequenas e de baixo índice de
desenvolvimento social, mantém as práticas de valorizar áreas que recebem mais
recursos financeiros (como a educação e a saúde) do governo federal estabelecidos
por leis, relegando o tema de cultura a segundo ou terceiro plano [...]. (SANTIAGO,
2013, p. 25).
O que se necessita é a compreensão urgente de que a cultura tem que ocupar o seu
local devido no plano social, isto incluindo a melhora do montante e a aplicação dos recursos
públicos para o seu fortalecimento, pois, “[...] considerar as questões culturais como fatores
para o impulso social ainda é uma inovação na gestão pública municipal” (SANTIAGO, 2013,
p. 23).
É de suma importância que gestores e produtores culturais entendam o seu papel
dentro da sociedade: seguir para a compreensão conceitual do seu campo de trabalho, já tão
desenvolvida por muitos pesquisadores das ciências sociais. Como são muitos os conceitos,
com variantes dadas a partir do campo de pesquisa de cada estudioso, a inclinação aqui é por
13
pensamentos que colaborem com a reflexão da cultura nos campos das políticas públicas.
Botelho (2001, p. 74), por exemplo, apresenta dois caminhos para a conceituação da cultura:
um a partir de um viés antropológico, em que ela é “tudo que o ser humano elabora e produz,
simbólica e materialmente falando”, e outro por um prisma sociológico, em que a cultura
“refere-se a um conjunto diversificado de demandas profissionais, institucionais, políticas e
econômicas, tendo, portanto, visibilidade em si própria.”
Há uma necessidade urgente, agora mais do que nunca, de se entender que as
ações voltadas para a cultura devem ser compartilhadas não apenas entre a Sociedade Civil,
mas também entre Governos, pois os programas e recursos do Governo Federal brasileiro se
encontram nas portas querendo entrada.
Para se fazer política pública de qualidade, deve-se ir muito mais além de simples
ações isoladas e aleatórias, que quase sempre são motivadas por “pressões políticas e
conjunturais.” (BOTELHO, 2001, p. 78) Neste caso, as pressões advindas dos partidos
políticos e da própria sociedade são os casos mais comuns. No Nordeste brasileiro, por
exemplo, as bandas de forró eletrônico ou estilizado, conhecidas como bandas de Sex Music18,
e que hoje estão inseridas nas festividades públicas a partir de acordos entre governos e
18
Termo utilizado pelo jornalista e ativista cultural pernambucano Anselmo Alves na primeira década dos anos
2000, quando as bandas de “forró eletrônico” chegaram no seu auge de apelações eróticas em suas apresentações
em praças públicas, utilizando grande parte do dinheiro público.
14
produtores, bem como por exigência do próprio eleitorado, são um bom exemplo da origem
destas pressões.
O jogo dentro desta arena da política cultural vai muito mais além das relações
que devem ser estabelecidas entre os agentes, os produtores e os gestores culturais dos setores
privado, público ou social. Para se jogar aqui, precisa-se antes de mais nada da preparação de
um time multidisciplinar, com formação técnica de cada indivíduo, de planejamentos e, por
último, de se gerir a operacionalização do time em relação ao que foi planejado.
Isso quer dizer que só planejar não basta, pois ações ocorrerão antes e depois do
próprio planejamento, a partir de todo o processo de gestão.
É sempre importante lembrar que “uma política pública exige de seus gestores a
capacidade de saber antecipar problemas para poder prever mecanismos para solucioná-los”
(BOTELHO, 2001, p. 78). Embora o planejamento indique o grau de importância que os
gestores dão a um determinado setor, ele não será o fim de tudo; fazer uma gestão com
definições particulares sentidas no percurso será um bom caminho para que a política cultural
ocorra de modo mais assertivo.
A política cultural prevê decisões tomadas a partir de uma relação horizontal entre
os seus participantes, ao menos no início das negociações. E nesta horizontalidade surge a
possibilidade da fruição de inúmeras formas de compartilhamentos, incluindo a própria saída
de um ambiente de relações planas para outro de múltiplas direções, sempre a partir do que a
necessidade de organização política dita no processo colaborativo, no caso, voltado para a
cultura.
Se há verticalidade, transversalidade ou horizontalidade nas relações dentro das
organizações que lidam com políticas culturais, isto deve ocorrer com mudanças constantes
dos indivíduos que se posicionam diante dos outros, para que não se gere uma dependência
coletiva de alguns sobre poucos.
O que se impõe é a construção imediata de espaços libertários, tanto mais que, como
somos, na maioria, materialistas, não esperamos ter outra oportunidade existencial
de viver prazerosamente e de acordo com nossos ideais a não ser nesta curta e
efêmera vida que o acaso nos permitiu viver, associarmo-nos, criarmos,
produzirmos, abdicando das regras hierárquicas e autoritárias. (SILVA, 2000, p. 120).
16
Muito se tem dito sobre a importância das culturas para a formação das
sociedades.19 Quando se busca gerenciar processos culturais, relacionados a uma política, seja
de Governo ou de Sociedade Civil, há uma confusão constante em perceber a cultura como
importante em si mesma. Ela não necessita de ser resgatada ou salva de algum “dinamismo”
cultural que insiste muitas vezes em aniquilá-la enquanto peça fundamental da manutenção de
memórias e sociabilidades, incluindo geração de renda através de uma Economia Criativa. Na
verdade, se a cultura pudesse pedir algo, não seria para ser resgatada, mas sim para ser
rememorada, reconduzida, repensada etc.
É preciso se chegar ao necessário para que ocorra segurança na produção, na
condução e no consumo da cultura com ganhos simbólicos e materiais para a construção de
uma sociedade com mais acesso a diversas formas de conhecimentos. Neste caso, embora a
cultura deva estar associada a toda e qualquer produção humana, seja material ou simbólica,
deve-se pensar também para onde esta produção deve ser encaminhada e que tipo de política
deve estar direcionada à cultura a fim de que efetivamente se chegue a melhores dias para a
mesma.
19
Teóricos que podem ser consultados para um aprofundamento maior sobre conceitos que envolvem a cultura:
Claude Lévi-Strauss, Néstor García Canclini, Roberto DaMatta, Rubens Booal, Loïc Wacquant, José Jorge de
Carvalho, Carlos Rodrigues Brandão, Roque de Barros Laraia, entre outros.
17
para discutir políticas públicas. Com relação à cultura não foi diferente, porém a grande
maioria ficou sem saber por onde caminhar na discussão. Tudo estava muito ainda por se
descobrir. Por outro lado, o que Villasante acrescenta conduz a um pensamento avançado da
participação de todos na arena das discussões sobre políticas públicas voltada para a cultura:
O que produz um bom ambiente geral entre os setores não organizados da sociedade
é um estímulo muito importante, não somente para a própria democracia, mas para o
sentimento geral de pertencer ao movimento que a estimula. A implicação cidadã
ampla, mesmo que seja com comentários superficiais, é um caldo de cultivo
excelente para a criatividade social. O sentimento de que qualquer um pode opinar,
mesmo que seja sem um fundamento grande, é algo que estimula uma sorte de
“chuva de ideias” entre toda a população, e vai se produzindo na rua, nas casas, nos
bares ou mercados, um clima que acaba por repercutir nos grupos e pessoas
organizados, que vão se sentir mais estimulados que em situações normais. A tarefa
dos grupos há de ser, muitas vezes, preparar sistemas de difusão, celebrações de
obras, consultas, várias atividades, nas quais se reflete não somente propaganda, mas
também atenção ao que dizem as pessoas que atenderam às convocatórias.
(VILLASANTE, 2002, p. 154).
sejam negativos para a construção do processo, mas indicam o quão historicamente o país
estava distante de uma política cultural eficaz.
É o estar na arena da política cultural que faz com que os envolvidos desenvolvam
questões cruciais para que se avance para ações mais sólidas, como, por exemplo: por que o
dinheiro das empresas privadas proveniente de isenções fiscais não vai diretamente para as
políticas culturais propostas por sociedade civil e governo? Por que é a empresa que escolhe
onde e como vai investir o percentual da isenção fiscal, já que o recurso originariamente é
público? Por que não existem cotas distribuídas proporcionalmente às necessidades de cada
Região do Brasil? Isto é conjuntura política. Não basta estar nos bastidores, nas plateias. E
mais ainda: “[...] as vontades e confianças devem sustentar os programas, e não o inverso.
Construir as programações a partir dos atores e não aos atores desde os programas que melhor
nos acomodam.” (VILLASANTE, 2002, p. 151).
Tem acesso à arena política em Brasília quem está localizado nas regiões mais
próximas da capital. Isto faz com que grande parte das decisões ocorram muitas vezes de
modo arbitrário para o restante do país. A implantação do Vale Cultura é um bom exemplo da
arbitrariedade imposta pelos grandes centros ao resto do país. Este programa, se necessário,
deveria fazer parte de algumas localidades que realmente tivessem equipamentos e empresas
que dessem conta do mesmo. É sem dúvida benéfico, mas precisa ser reconfigurado para
atender às diversidades sociais, geográficas e econômicas dos municípios do país.
Apesar desta quase inexistência de ações coletivas rumo a uma vida social diversa
e rica de informações, muito se tem feito para avançar nas políticas voltadas para a cultura no
último decênio. Na verdade, o tema desenvolvimento humano, social e ambiental tem sido
pauta em todo o mundo, principalmente depois do fim de muitas ditaduras militares nas
últimas décadas do último século.
Rubim faz um breve histórico das políticas estatais voltadas para a cultura no Brasil:
A partir de 1994, o cenário para a cultura começa a mudar de cara. Embora muito
mais inclinado para uma lógica de mercado, será nos oito anos de governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso que a cultura receberá uma atenção mais prolongada, com poucas
mudanças dos gestores no Ministério da Cultura. O que será enfatizado em âmbito nacional é
a Lei de Incentivo direcionada exclusivamente às isenções fiscais de imposto de renda.
No entanto, em 2002, com a saída de um governo baseado numa política
neoliberal20, chega outro com uma postura mais direcionada às políticas sociais, o que mudará
o cenário das discussões e das ações. Inicia-se, agora, no governo do presidente Lula, uma
série quase que ininterrupta de encontros, reuniões, cursos, eventos, fóruns e conferências,
gerais e setoriais, para se chegar a decisões mais objetivas no campo do acesso à cultura.
É muito importante lembrar que as ações entre a Federação, o Estado e o
Município devem ter sempre como propulsor este último, devido à maior proximidade que
este tem com o cotidiano dos fazedores culturais. Mesmo com uma política cultural como
nunca vista antes, os recursos orçamentários no Brasil para a cultura ainda são muito parcos e
isto tem impulsionado os setores artísticos e culturais a criarem novas formas de associação,
como modo de compartilharem ações mesmo sem a tutela do Estado.
Deste modo, faz-se necessário compreender que uma política cultural eficaz deve
seguir num caminho do micro para o macro, isto é, pensar atitudes que partam do Município
para o Estado e deste para o Governo Federal. Botelho expõe bem este problema:
20
“A visão hegemônica, baseada na concepção de Estado pluralista ou liberal, e mais ainda na neoliberal, vê as
políticas ‘econômicas’ e as políticas sociais como se estas não estivessem articuladas e fossem independentes,
como se não fossem elaboradas no âmbito de um Estado capitalista.” (DAGNIMO, 2011, p. 370).
20
diretas, mas sempre em parceria com o nível municipal – que deve ser sempre o
propulsor de qualquer ação conjunta. (BOTELHO, 2001, p. 75).
Um olhar e uma atitude ainda mais direcionados para o foco, em que o problema
ou a meta estão situados, podem proporcionar uma ação mais eficaz com relação a uma
política cultural individualizada. No entanto, se ficar apenas no local as possibilidades da
cultura se transformar em política pública será impossível. Um olhar e uma atitude ainda mais
direcionados para o foco, em que o problema ou a meta estão situados, podem proporcionar
uma ação mais eficaz com relação a uma política cultural individualizada. No entanto, se ficar
apenas no local as possibilidades da cultura se transformar em política pública será
impossível.
criado memórias criativas no país, passa a fazer suas interpretações diversas sobre sonhos e
anseios alheios.
[...] políticas culturais implicam, dentre outros requisitos, em, pelo menos:
intervenções conjuntais e sistemáticas; atores coletivos e metas. [...] noções de
política e de cultura; formulações e ações; objetivos e metas; atores; públicos;
instrumentos, meios e recursos humanos, materiais, legais e financeiros; interfaces
com áreas afins; além de possuir um caráter sistemático e envolver diferentes
momentos da cultura: criação, invenção e inovação; difusão, divulgação e
transmissão; circulação, intercâmbios, trocas e cooperação; análise, crítica, estudo,
investigação, pesquisa e reflexão; fruição e consumo; conservação e preservação;
organização, legislação, gestão e produção. (RUBIM, 2001, p. 2).
Existe uma pressão, sem endereço certo, ocorrendo no âmbito da cultura com o
número cada vez maior de: 1) Editais: ações do primeiro, segundo ou terceiros setores
baseadas no repasse de recursos financeiros para os diversos setores culturais a partir da
inscrição e análise de projetos. O setor governamental tem se destacado bastante, com relação
aos outros setores, nessa forma de repasse de recursos, devido à grande demanda oferecida
nos últimos anos; 2) Convênios: uma forma de contrato entre organizações da sociedade civil
com instituições governamentais. Ocorre quando algum setor público, seja ligado diretamente
aos governos (municipal, estadual ou federal) ou às autarquias, percebe que alguma
organização civil pode realizar determinada função ou executar determinada ação de interesse
coletivo. Deste modo, há um repasse de recursos ou condições diversas para que uma
determinada instituição possa realizar o trabalho pretendido; e 3) Leis de Incentivo:
legislação que permite a pessoas físicas ou jurídicas repassarem um percentual de seu imposto
devido a projetos culturais que julguem interessantes. Assim, parte do que seria pago ao
governo é destinado diretamente aos projetos culturais.
22
Aqui, tem-se um aspecto mais grave e que incide sobre a qualidade do trabalho
artístico: projetos que são concebidos, desde seu início, de acordo com o que se crê
que irá interessar a uma ou mais empresas, ou seja, o mérito de um determinado
trabalho é medido pelo talento do produtor cultural em captar recursos – o que na
maioria das vezes significa se adequar aos objetivos da empresa para levar a cabo o
seu projeto – e não pelas qualidades intrínsecas de sua criação. (BOTELHO, 2001,
p. 78).
Talvez já seja chegada a hora da política cultural do Brasil ter como modelo
direcionador:
países que criam associações especificamente para o desenvolvimento de um
mecenato empresarial responsável, visando o estabelecimento de uma relação entre
patrocinador e patrocinado que ultrapasse aquelas de natureza comercial. Nesse
caso, o objetivo é que a empresa, sem abrir mão de seu investimento em imagem,
promova uma política cultural própria, pelo menos em médio prazo. (BOTELHO,
2001, p. 69).
articuladores, os quais têm toda uma forma, muitas vezes orgânica, de perceber socialmente o
que dificilmente seria aprendido nas escolas. O que isto quer dizer? Que a apreensão da
cultura, seja no âmbito da produção, da gestão ou da execução, deve estar situada,
inicialmente, no local em que a mesma é gerada.
2. CONTEXTUALIZANDO CENÁRIOS, CENAS E ATORES
A tela está na mesa. As mãos nos lápis e nos pincéis para que a imagem seja
formada e assim possa ser apresentada a forma pela qual jovens têm tornado a vida mais
colaborativa e reflexiva diante de uma sociedade que insiste em ser individual, privada,
deslocada da construção em grupo e voltada para um pensamento massivo.
A presença de um Coletivo Cultural que se posicionou fortemente diante de
inúmeras situações contrárias a uma prática cultural compartilhada faz com que sejam
observados os detalhes da formação ambiental e social dentro das quais o Atissar foi gerado.
Zabelê21 é um município22 com práticas ainda ancestrais nas divisões de atividades social,
econômica e política. Com o surgimento recente de trabalhadores no seguimento privado,
tendo os seus direitos respeitados a partir da lei vigente,23 Zabelê mais parece uma sociedade
pós-feudal, que, após passar por um “portal mágico”, reapareceu em uma sociedade de
economia globalizante e informacional.
Localiza-se em um espaço cravado numa das regiões mais secas do Semiárido
brasileiro, na microrregião do Cariri Ocidental paraibano, com uma pluviosidade média de
581 mm/ano e com uma população de pouco mais de dois mil habitantes numa área de 109
km², a 324 km da capital paraibana.24
21
Zabelê é uma ave brasileira da família dos tinamídeos, com nome cientifico de Crypturellus noctivagus zabelê.
Mede entre 33 a 36 cm. Habita principalmente as matas de Minas Gerais e do Nordeste do Brasil. Essas aves
ocupavam áreas onde havia água e frutos. Uma referência sobre a presença do pássaro no município de Zabelê
pode ser encontrado no documentário “Memórias dos Nossos Avós: umas e outras histórias”
(https://www.youtube.com/watch?v=9gJE5MJS6xo e https://www.youtube.com/watch?v=Zoh4tHYYr30, e
também no livro de RIETVIELD, Na sombra do Umbuzeiro: história da paróquia de São Sebastião do
Umbuzeiro. Este dedica um capítulo para descrever a história de formação de Zabelê.
22
Inicialmente, Zabelê-PB foi criado com a denominação de distrito, pela lei estadual nº 2.776, de 16 de janeiro
de 1962, pertencente ao município de São Sebastião do Umbuzeiro-PB. Só em 29 de abril de 1994, Zabelê passa
à condição de município, através da Lei Estadual nº 5.919 da mesma data, desmembrando-se do município de
São Sebastião do Umbuzeiro.
23
Em 31 de julho de 2013, foi criada a primeira Fábrica Zabelê Confecções de Roupas, formalmente constituída.
24
Ver SILVA, Almir Cléydison Joaquim da. & SILVA, Beatriz Batinga e. A ORGANIZAÇÃO
SOCIOECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE ZABELÊ-PB. Monografia apresentada à disciplina de Economia
Paraibana do Curso de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). João Pessoa – PB, 2013.
Orientador: Professor Ivan Targino Moreira. Este trabalho analisa o desenvolvimento socioeconômico do
município de Zabelê-PB, relacionando-o às principais atividades que compõem o seu PIB – Produto Interno
Bruto, bem como a dados referentes à evolução e ao desenvolvimento da população do município. Apresenta
também aspectos geográficos que compõem o território, bem como a sua evolução histórica.
25
participação da população, bandas ou artistas ligados a uma produção musical massiva que
em nada estimula uma economia criativa local.25
Paradoxalmente, apesar da entrada avassaladora da cultura de massa em espaços
antes desprovidos de tal linguagem, dando a municípios como Zabelê características sociais
híbridas, ora de identidade local ora de identidade massiva, muitos aspectos interioranos ainda
podem ser percebidos no dia a dia da população, os quais foram fundamentais para a ação
coletiva realizada entre os anos de 2001 e (início de) 2014 neste município.
Esta potencialidade orgânica de agremiação de pessoas trouxe o entendimento de
que era necessário algo mais para que o processo colaborativo com vistas à efetivação de uma
política cultural fosse realizado solidamente, como: 1) a presença de pessoas abertas para
ações colaborativas dentro do universo da cultura; 2) espaços físicos e virtuais para
aglutinação coletiva; 3) produtos culturais passíveis de produzir ganho monetário, advindos
de doações, prêmios ou cachês; e 4) um poder público governamental que dialogasse e
disponibilizasse um mínimo de recursos financeiros e humanos para a geração de atividades
para a sociedade civil. Todas essas características locais ajudaram para que fosse estabelecido
um conjunto de ações fundamentais para Zabelê ser um dos principais municípios
fomentadores de cultura no estado da Paraíba.26
25
Esses eventos são realizados paralelamente à Gestão Cultural de Zabelê. O Coletivo Atissar atualmente não
tem nenhum gerenciamento sobre estes eventos. Os motivos que o levam a tal posição são os seguintes: 1)
questões referentes à política administrativa local, baseada numa postura de centralização das pessoas que
tradicionalmente realizam os tais eventos; 2) os eleitores exigem da gestão pública municipal bandas ou artistas
que fazem parte do sucesso musical regional, bem presentes em outros eventos de rua das cidades nordestinas; e
3) o próprio Coletivo Atissar escolheu não se envolver, por entender que os estes eventos funcionam como
elementos que fragilizam a economia local e pouco agregam na respeitabilidade do local pelo público externo.
26
A partir da importância da própria história de Zabelê, bem como da nova gestão de cultura, que surgia no
início dos anos 2000, muitos olhares de escritores passaram a se voltar para Zabelê, entre os quais podemos citar:
MORAES, Carla Gisele Macedo S. M; SILVA, Luciano de Souza e. 2012; SEVERINO, José Roberto.
VENERA, José Isaías. 2010. CHAVES, Marrara Xavier. SILVA, Almir Cléydison Joaquim da. 2012.
RIETVIELD, João Jorge. 1999; SOUSA, Ronildo Cabral. 2009. PAES, Daniella Lira Nogueira. 2013;
AZEVEDO, Lizziane. 2013; BARTABURU, Xavier. 2007.
27
FIGURA III – Apresentação da cantora Sandra Belê na Virada Cultural em São Paulo.
Ao fundo, o americano, diretor musical e baterista Gregg Mervine.
28
27
No segundo semestre de 2000, eu e a pedagoga Terezinha Medeiros elaboramos, aprovamos e coordenamos o
Projeto “Ensinar Cantando”, do Programa Crer Para Ver da Fundação Abrinq, patrocinado pela Natura
Cosméticos. O Projeto teve início no município em agosto de 2001, encerrando-se em dezembro de 2002.
Impulsionou previamente a pesquisa das potencialidades artísticas, culturais e humanas dentro do município de
Zabelê. Os pontos fortes observados foram a existência de uma memória de manifestações culturais de Reisado,
Ciranda (mais à frente entendido como Siriri), Aboio e uma produção bastante diversificada de artesanato. Ver
vídeo do Projeto Ensinar Cantando: https://www.youtube.com/watch?v=xwm-22nBtus.
29
[...] que joguem com a complexidade como um elemento de maior potência e não
um peso, que se abram à verificação da própria ação em cada momento, e que
contem com a participação dos sujeitos implicados para poder tomar decisões ao
longo do processo. Não nos interessa, neste sentido, tanto aonde vamos chegar com
precisão, mas como estamos construindo o caminho em cada caso, de acordo com
um campo e uns objetivos prévios bastantes amplos. (VILLASANTE, 2002, p. 146).
Apesar do projeto não ter tido continuidade, durando um pouco mais de um ano,
ele deixou um rastro de condutas que foram essenciais na mudança das práticas dos docentes
nos anos seguintes. Possibilitou também o surgimento e a manutenção de uma gestão voltada
para a cultura que traria uma visibilidade externa ao município a partir das práticas e
atividades do Coletivo Atissar.
No entanto, foi na reapropriação do folguedo do Reisado em 2001, a partir da
vontade do então brincante Abel Martins de tornar o grupo ativo na própria comunidade, visto
o mesmo ter ficado em latência por mais de 30 anos, que possibilitou o início de discussões
sobre formas associativistas para a organização de alguns setores culturais de Zabelê.28 O
“novo” Reisado exigia de todos articulações diversas para poder ter novamente função
28
Em 2001, já existia, em Zabelê, a Associação das Produtoras de Arte de Zabelê (APAZ). Formalmente
constituída, esta organização foi criada para dar suporte produtivo às pessoas que fazem a Renda Renascença em
Zabelê. Como neste município, existem outras instituições com iguais funções nos municípios de Camalaú, São
João do Tigre, Monteiro e São Sebastião do Umbuzeiro.
30
enquanto folguedo.29 Em meio a esta articulação estava o apoio da então gestão municipal de
2001, sem a qual seria praticamente impossível que o grupo retornasse às suas atividades.
29
De acordo com os brincantes mais antigos do Reisado, o grupo está na terceira formação. As duas primeiras
formações eram feitas com homens adultos. Esta última é composta de crianças, adolescentes, jovens, adultos e
velhos. Todas as faixas etárias são do sexo masculino e feminino. Outro fator também importante no grupo é a
presença de brincantes que fazem cursos universitários e são fundamentais nas negociações do grupo com o
mundo externo e a comunidade. Isto faz com que sejam reestabelecidas novas funções e articulações dentro do
grupo. Este caso do Reisado de Zabelê pode servir a novos estudos sobre a formação e a ressignificação de
folguedos populares, pois o seu retorno e manutenção têm se dado com muitas formas de articulações.
31
Então, como fazer com que pessoas, outrora crianças sem vozes, tornem-se jovens
e adultos senhores de si, com responsabilidade social e como protagonistas da história da qual
fazem parte? Portanto, o movimento contrário foi justamente fazer com que as pessoas
falassem e se expusessem diante uns dos outros, de modo que todos se ouvissem e tirassem de
suas declarações um novo aprendizado, o que suscitaria novas propostas para o coletivo.
Desta maneira, forma-se uma estratégia singular, em que se trabalha uma gestão colaborativa
com normas próprias para a perpetuação do grupo, dentro de uma proposta libertadora, como
bem atesta Bakunin:
A família, tal como existia na antiguidade, tendo como base uma origem comum,
está em desintegração. Mas como o homem não consegue viver sozinho, começam a
surgir uma série de elementos que vão dar origem a novos grupos sociais, integrados
por pessoas que vivem no mesmo lugar, têm interesses comuns e perseguem os
mesmos objetivos. E o desenvolvimento desses novos grupos só poderá ser
apressado quando ocorrer algum tipo de mudança capaz de provocar o aumento da
dependência mútua ou um maior sentimento de igualdade entre os membros das
comunidades. (KROPOTKIN, 1981, p. 337-338).
Diante disso, é bom lembrar que aspectos sociais e culturais locais sempre são
bem aceitos, principalmente quando a própria comunidade é protagonista do processo na qual
está inserida. E ainda: para “que um grupo se forme, é necessário que haja uma razão para
estar juntos, objetivos para os quais este grupo se dirige e ações que organizem e justifiquem
a convivência.” (DÓRIA, 2002, p. 20, grifos nossos).
30
O designer Sérgio Melo e o jornalista e poeta Carlos Perê.
31
No momento em que a ASCUZA foi criada, existiam, nos municípios de Zabelê, Camalaú, São João do Tigre,
São Sebastião do Umbuzeiro e Monteiro, cinco associações, com CNPJs distintos, voltadas exclusivamente para
o artesanato, principalmente da Renda Renascença. O objetivo dessas associações, somado aos objetivos focados
das mesmas no artesanato, fez com que as pessoas de Zabelê dessem início a uma nova organização cultural.
35
32
Evento Realiza Cultura
O Sr. Antônio Ronaldo esteve fazendo os primeiros ensaios fotográficos do Reisado de Zabelê a partir de
janeiro de 2002, quando o jornal Correio da Paraíba enviou uma equipe para fazer um documentário sobre o
grupo que, havia seis meses, retomara suas atividades. Após este primeiro momento de visita, o jornalista viajou
duas vezes com o Reisado para o Festival de Folclore de Olímpia, em São Paulo, e realizou muitos outros
registros fotográficos na microrregião do Cariri Ocidental, como: pegas de boi, comunidades tradicionais, as
flores da primavera do Cariri, o artesanato etc. Atualmente está com uma exposição há mais de dois anos da pega
de boi de Zabelê, no Restaurante Mororó, na cidade de Campina Grande. Tem divulgado muitas imagens
documentadas em Zabelê em várias partes do mundo através de catálogos, feiras e exposições.
36
Coletivo Atissar
Fonte: Associação Cultural de Zabelê e Prefeitura Municipal de Zabelê
33
Fui contratado pela Prefeitura de Zabelê como Consultor de Cultura entre 2001 e 2004. Ainda em 2004, após
um ano de criação da SECULT de Zabelê, tomei posse como Secretário de Cultura, Turismo e Meio Ambiente
de Zabelê.
38
Fonte: Acervo da Associação Cultural de Zabelê – ASCUZA – S.J. da Coroa Grande/PE. Fevereiro de 2013.
[...] as ideias que congregam os homens devem ser periodicamente revificadas, a fim
de que não se debilitem. Isso acontece nos momentos em que os homens se
aproximam por meio de relações frequentes, movimentos coletivos, evoluções,
enfim, de reforço exuberante da vida social [...] (QUINTANEIRO, 1995, p. 23).
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para
fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Alterado
pela L-011.127-2005)
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução;
VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
(Acrescentado pela L-011.127-2005)34
à Lei da Sociedade Anônima ou Limitada, isto é, se adequar a uma normativa que deixa claro
que cada organização deverá ter um órgão composto de no mínimo um Presidente (ou
Diretor) e um Tesoureiro, com seus respectivos suplentes para representar a mesma.
Então, o que fazer com um estatuto que tem, na hierarquia, um modelo a ser
seguido, com uma diretoria executiva composta de Presidente, Vice-Presidente e Tesoureiro,
levando, deste modo, a uma postura centralizadora entre os seus sócios? A solução: a
Associação manteve a estrutura formal para as negociações externas (bancos, governos,
instituições da sociedade civil e outros modelos institucionais que partilham com esta
formação) e, para as decisões internas, formou um grupo de pessoas ávidas por novos
conhecimentos e ações colaborativas e que tinham igual poder de decisão.
Em Zabelê, as pessoas que ocupam as frentes da gestão de cultura com referência
à produção audiovisual, às comunicações midiáticas, às relações interinstitucionais, à
elaboração e à gestão de projetos, à coordenação de grupos tradicionais, ao acompanhamento
e gestão do planejamento, entre outras, são parte tanto do governo (Secretaria de Cultura,
Turismo e Meio Ambiente) quanto da sociedade civil (ASCUZA), o que implicou na
necessidade de um grupo de trabalho, originalmente chamado de GT da Cultura, depois vindo
a ser denominar Coletivo Atissar. O Coletivo traz à tona a ideia associativista.
Pessoas que são parte de um grupo que possuem em comum “ideias, sentimentos e
ocupações” são atraídas umas em direção às outras, procuram-se, entram em relação,
associam-se e acabam por constituir um grupo especial do qual vem a desprender-se
uma vida moral, um sentimento do todo. (QUINTANEIRO, 1995, p. 44).
É bom salientar que a Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente foi criada
pelo Governo Municipal de Zabelê em 15 de abril de 2003, através da Lei Ordinária
Municipal de nº 100/2003, para que a gestão de cultura avançasse nas negociações com os
diversos setores da sociedade, pois a ASCUZA, ente da sociedade civil, muitas vezes limita-
se apenas ao setor social. Desse modo, o problema de uma gestão colaborativa que ocupava
apenas o universo da ASCUZA passa também a ser repensado com a existência de uma
Secretaria, que, embora nomeada para cobrir a cultura, o turismo e o meio ambiente, teve
como ênfase o primeiro segmento, a cultura.
O entendimento que se tem com essas duas estruturas organizacionais é o de que
elas devem existir para resolver problemas mais externos da comunidade, relacionados a
captações de recursos e também de discussões públicas através de conferências, reuniões,
encontros e fóruns que, muitas vezes, podiam exigir a presença mais de uma do que de outra.
Internamente, a diferença entre ambas se deu a partir do montante de recursos conseguido por
41
35
Este projeto teve como meta a realização, com jovens e crianças zabeleenses, de oficinas de capoeira,
artesanato (reciclagem, macramê e cerâmica) e dança.
36
Curso que durou cerca de seis meses, sob a orientação do professor doutor em Ciências Sociais Rogério
Humberto Zeferino Nascimento e da professora doutora em Ciências Sociais Mércia Rejane Rangel
Batista, ambos da Universidade Federal de Campina Grande. Estiveram presentes também alguns bolsistas
dos dois professores.
37
Este Programa tinha como princípio o arquivo do maior número possível das memórias sociais do Brasil e
utilizava uma metodologia própria de entrevistas e publicações.
43
9. Em 2012:
a. Aprovação do Projeto “Encarnado azul” pelo Fundo de Incentivo à Cultura
do Estado da Paraíba.
b. Aprovação de recursos dentro do Programa “Concessão de Passagens” do
Ministério da Cultura para viagem do grupo do Reisado de Zabelê para o
Festival de Folclore da cidade Olímpia, SP.
10. Em 2012/2013/2014: Participação da cantora Sandra Belê como apresentadora do
Programa “Arraiá Itararé”. Este Programa é realizado pela TV Itararé (Campina
Grande/PB), afiliada da TV Cultura.
11. Em 2013:
a. Prêmio ao Reisado de Zabelê pelo Programa Culturas Populares do
Ministério da Cultura, edição “100 anos de Mazzaropi”.
b. Aprovação do projeto do Novos Palcos e Plateias na Lei Rouanet. No entanto,
a captação de recursos não foi possível por questões como falta de técnicos
contábeis especialistas na Lei Rouanet e o desinteresse por parte das empresas
locais em investir nessa modalidade de Incentivo à Cultura.
12. Em 2014:
a. Participação da cantora Sandra Belê na Virada Cutural de São Paulo.
b. A ASCUZA ganhou o Prêmio Nacional Rodrigo Melo de Franco Andrade, que
visa premiar as ações de preservação do patrimônio cultural brasileiro. 38
38
Ver no Anexo VI a Linha do Tempo elaborada pelo Coletivo, que posiciona uma cronologia de dados que o
grupo entende como os principais acontecimentos ocorridos a partir da ação de uma Gestão voltada para a
cultura, de 2001 até 2012.
44
FIGURA XI – Fazenda Santa Clara, local onde ocorre o Novos Palcos e Plateias.
13.
39
Atualmente, grande parte dos membros que fizeram parte do Coletivo a partir de 2005 e saíram por motivos
diversos se encontra com uma certa estabilidade financeira. Ao conversar com eles, os mesmos se disseram
eternamente gratos pelo aprendizado obtido no Coletivo, o qual refletiu positivamente tanto na carreira
acadêmica (para quem passou a cursar a universidade) quanto profissional dessas pessoas.
46
Outro critério é a avaliação do que vamos fazendo pelo grau de implicação dos
setores aos quais nos dirigimos. A intenção não é acolher muita gente numa primeira
reunião, caso contrário como vai se incorporando pessoas ou grupos às diversas
tarefas de (1) difusão das ideias e atividades, (2) consultas à população, (3)
autoformação dos grupos (4) comissões ou reuniões para a tomada de decisões e
grupos de trabalhos. Isto é algo para ir se fazendo desde um primeiro momento,
porém aberto no tempo. São processos que não somente dependem da vontade ou do
saber de um grupo, mas também dos outros, dos contextos em que nós vivemos.”
(VILLASANTE, 2002, p. 147).
digitação e, consequentemente, na produção de textos. Alves (25 anos, 24 de set. 2007)40 diz
que “o curso de digitação é o primeiro passo [...]. Meu primeiro contato com o computador foi
com o curso de digitação. Então foi muito bom o aprendizado. E a gente usa pra vida toda, é o
primeiro passo, o primeiro degrau.”
Ao concluir o curso de datilografia, o membro do Coletivo tem acesso aos demais
programas de computação, que em muito auxiliam no processo de confecção de projetos. Tem
acesso a programas relacionados a planilhas, à produção de textos, à edição de vídeos, à
edição de imagens, à apresentação de trabalhos ou mesmo de design de diversos tipos. Todos
de suma importância para que as imagens e as ações da gestão sejam percebidas.
Outro exercício partilhado por todos é a correção verbal dos “erros” gramaticais
muito comuns no falar local, coloquial. Tal exercício é praticado pela necessidade constante
que o Coletivo tem de manter contato com instituições externas, além de possibilitar um
ganho em conhecimento, o crescimento da autoconfiança e o ajuste nas composições literárias
que cada um deve dominar no processo de organização. Ao “corrigir” 41, cada um exercita a
habilidade no trato com o outro, pois não estão em jogo questões como idade, função no
grupo ou de gênero, apenas as questões relacionadas a um maior domínio com relação ao falar
e ao escrever. Sousa Filho (17 anos, 24 de set. 2007) dá o seguinte depoimento: “Tive receio
no início de corrigir e ser repreendido, talvez no início. Mas, após a experiência com o
Coletivo, percebi que eu tinha total liberdade de corrigir outras pessoas mais velhas do que
eu.”
Por outro lado, muitos membros também deixaram o grupo. Os motivos podem
ser os mais diversos, porém o que mais chama a atenção é a autoanálise do próprio indivíduo
de que não se habituou aos processos colaborativos. Neste caso, nada mais oportuno do que o
pensamento de Silva, de que
passaram a ocorrer de modo mais objetivo, com a definição cada vez mais clara dos papeis de
Governo – representado pela SECULT de Zabelê – e da Sociedade Civil – representada pela
ASCUZA – diante das instituições ou pessoas presentes no outro lado da arena da política
cultural. No entanto, sendo ambas instituições representadas por um único grupo, por um
único Coletivo: o Atissar.
FIGURA XII –
partir de um centro coletivo. Além do que, a proposta pode proporcionar relações muito mais
planas entre os envolvidos.
Entenda-se, então, o significado dos itens expostos:
3.3.2 Imersão
Termo criado pelo Movimento Fora do Eixo, utilizado também pelo Coletivo
Atissar como modo de participação de uma agenda global de imersões do FDE. Consiste
numa reunião anual em tempo integral que o Coletivo realiza, em média, durante três dias e
meio43 num espaço fora da cidade de Zabelê para nivelamento das ações individuais, análise
da realização das ações do ano que passou e planejamento do ano a ser vivenciado.
Estamos frente a processos que necessariamente devem abrir novos diferentes
cenários, onde novas decisões devem ser tomadas de acordo com a necessidade do
processo, e onde mais tarde tratamos de estimular formas de criatividade social
inovadoras. Todo ele nos deve levar a formas muito ágeis para podermos retificar
equívocos ou para retroalimentar algumas partes dos processos concretos. Por ele,
todas essas tarefas que estamos propondo devem estar entre si articuladas dentro de
um cronograma, para que o certo caos que pode aparecer não desdobre os objetivos
centrais que foram propostos. (VILLASANTE, 2002, p. 155).
sempre necessária, é fundamental saber até onde o “outro” pode ouvir, ter sua vida interferida
por um pensamento coletivo ou individual, para que não se provoquem danos antes não
existentes.
Os resultados se veem, em grande parte das vezes, na mudança de atitudes
individuais com uma reverberação coletiva bem acentuada. Quando as atitudes negativas são
repetidas, elas deverão ser citadas durante as reuniões realizadas no decorrer do ano.
A análise daquilo que foi vivenciado durante o ano é outro tópico desenvolvido,
em que, com a utilização de um projetor multimídia, gerando imagens dos documentos e
registros criados durante o ano corrente, todos acompanham cada atividade proposta para a
avaliação e o monitoramento: 1) daquilo que foi planejado e operacionalizado para a cultura;
2) do que está sendo realizado; 3) do que foi expirado; e 4) do que ainda poderá ser realizado
pelo grupo. Cada atividade, com seus respectivos responsáveis, é minuciosamente detalhada,
a fim de que, num pensamento único, se consiga amadurecer para o planejamento do ano
seguinte.
Após os dois momentos, o encontro é finalizado com a construção do
planejamento do ano a ser vivenciado.
3.3.3 Núcleos
Para a continuidade do Coletivo, mesmo com o distanciamento de grande parte
dos seus membros do local de origem, a ação mais recente foi a formação e o fortalecimento
de subgrupos do Atissar, denominados de “núcleos”, os quais estão situados na cidade de
Zabelê, de Campina Grande e de João Pessoa. O membros de cada núcleo devem estabelecer
relações intensas entre si pelo fato de estarem próximos geograficamente e se
autoestimularem para a realização das metas presentes no planejamento. Todos os núcleos
deverão se encontrar periodicamente para que o sentido colaborativo tenha continuidade.44
A formação desses núcleos proporciona um certo desligamento geográfico da
cidade de Zabelê. No entanto, todas as narrativas são construídas a partir dos projetos
culturais ligados à localidade, pelo menos até o momento, indicando que a formação do
Coletivo está intimamente ligada ao seu local de origem. É difícil conceber a existência deste
Coletivo apenas com a ligação afetiva entre os seus membros sem a devida conexão com suas
matrizes sociais e familiares. Mesmo os três membros do Coletivo que não têm nenhuma
ligação familiar com Zabelê tendem a estar ligados cognitiva e afetivamente à cidade de
Zabelê por conta dos projetos culturais e demandas sociais existentes no município, que muito
aproximam o “estrangeiro”.
44
Atualmente, dois membros do Coletivo não fazem parte de nenhum dos núcleos, pelo fato de residirem em
locais distintos dos demais. Um, Anael Neves, com residência na cidade de Santos, no estado de São Paulo,
fazendo mestrado pela UFSP em Nutrição; e outro, concluinte do curso de Agronomia pela UFPB e já aprovado
no Mestrado de Agronomia pela Universidade de Jabuticabal, também em São Paulo. Nesses casos, há uma
necessidade ainda maior da conexão dos mesmos com os demais membros do Coletivo pelo uso do telefone e da
internet. Outro ponto fundamental para a ligação permanente desses membros é que continuem ativas as
demandas do Coletivo no que diz respeito a projetos, reuniões, práticas afetivas entre os membros e
aproveitamento máximo de encontros presenciais.
52
Zabelê45, a comunicação virtual se tornou uma estratégia indispensável para a manutenção das
atividades.
O grupo partiu para a utilização da internet como meio de comunicação que
proporcionasse essa aproximação, mesmo que virtual. As ferramentas utilizadas foram o
Google Groups, o Google Drive, o Dropbox, o Facebook, o Youtube, o Hangout e o Skype.
O Google Groups é uma ferramenta para a interação através de grupos de lista de
discussão via e-mails utilizados para a atualização, proposição, seleção, discussão e apoio de
atividades. Desse modo, arquivos em diversos formatos e links são colocados no grupo para o
compartilhamento de informações e ações. Esta ferramenta tem uma função de “termômetro”
da participação de cada um no universo colaborativo. Se o grupo está desenvolvendo pouca
atividade, haverá momentos em que nenhum e-mail aparecerá na lista; caso contrário, a lista
ficará abarrotada de e-mails com tópicos diversos de discussões. Esta última situação mostra
que existe algum projeto em execução ou que algo de grande importância para todos está
ocorrendo.
Esta ferramenta também possibilita perceber o nível de participação de cada um
no processo de discussão. Caso alguém, por algum motivo, não se apresente nos tópicos
opinando ou levantando questões, o mesmo será em algum momento advertido por membros
mais atinados com a participação de cada um. No Google Groups, há uma janela que
proporciona o acesso à quantidade de participação dos dez membros do grupo no mês em
questão e também desde a criação do grupo virtual.
A tabela abaixo apresenta a participação individual dos membros do Coletivo no
Google Groups desde o início da criação deste grupo virtual. No entanto, como alguns
membros tiveram problemas em suas contas de e-mail, tendo que criar uma nova conta, e
como surgiram membros após a criação da mesma, as contagens não seguem uma ordem
fidedigna, o que não implica na invalidade da mesma, pois ela serve muito bem para que
todos acompanhem as suas participações neste grupo virtual.
elemento que compõe o quadro de organização e negociação do Coletivo tanto entre os seus
pares como também com outras instituições. (ANEXO III)
[...] para fazer parte de um grupo, é preciso aprender a se relacionar com as pessoas,
a respeitar seus limites e as regras coletivas. Para participar de um grupo, é preciso
também se engajar nas atividades propostas. É preciso ainda aprender a negociar,
saber conceder ou se impor conforme a situação. (DÓRIA, 2002, p. 30).
47
Faz-se necessária uma análise minuciosa dos documentos e das narrativas dos membros do Coletivo, ou que
são de algum modo ligadas a ele, para se entender como se deram as estratégias para se conseguir atingir as
metas ao longo dos anos. No entanto, o trabalho em questão não suporta tal estudo, visto requerer um olhar bem
mais prolongado.
60
A gestão privada não precisa da dimensão social, à medida que sua finalidade é o
lucro financeiro, componente natural do campo administrativo. A gestão pública tem
sua finalidade na geração do bem comum, no ganho social e este, embora seja objeto
da gestão pública, não pertence à administração, mas à política.
É prática comum nas grandes organizações públicas definir visão de futuro e
objetivos estratégicos, mediante a aplicação de sofisticadas e caras metodologias. A
crítica não está nessa prática em si, mas no que se tem feito com o resultado dela:
nada que agregue valor.
Tudo não passa de um ritual burocrático (seminários, oficinas, consultorias,
publicações etc.), que acaba em um belo documento bem encadernado e em um
conjunto de lâminas para apresentações e palestras.
O pensamento contínuo sobre o futuro e sobre o papel que a organização deseja
desempenhar nele (visão) praticamente inexiste, pois não é utilizado para dar
coerência ao processo decisório, para dar direção ao caminho traçado no plano e,
muito menos, para aferir os resultados que verdadeiramente interessam: os ganhos
sociais. (LIMA, 2007, p. 12).
Evidentemente, a busca aqui foi a interseção existente entre o setor público, social
e privado no que diz respeito às soluções e às condições para se atingir os objetivos gerados
no campo da cultura pelo Coletivo. Como a relação Governo e Sociedade Civil estava muito
mais próxima devido, principalmente, à responsabilidade social que ambos partilham, a
interseção presente entre os dois setores sempre teve um campo maior de partilhamento de
ações e metas, como pode ser visto na imagem a seguir, a qual tenta traduzir visualmente o
nível de relacionamento entre estes setores:
Copiar o resultado de outra cidade tem, ademais, o péssimo efeito de não construir o
próprio processo: não estabelece uma governança compartilhada entre o público, o
privado e a sociedade civil; não constrói laços colaborativos entre os agentes
criativos; leva uma cidade a achar que o reflexo no espelho da outra é seu e, via de
regra, ainda incorre em custos vultosos de consultoria e projetos arquitetônicos de
grande magnitude. Enfim, em vez de aprender a pescar, ao se copiar a solução dos
outros, compra-se um peixe que, além de tudo, pode ser muito indigesto. (REIS,
2009, p. 206).
mesma independência faz com que estas pessoas se afastem do local de origem para a
realização de outras ações, causando um certo enfraquecimento no grupo. Neste caso, é
importante ressaltar que, para a manutenção do grupo, o ponto de partida para todo o processo
colaborativo foi a ligação com Zabelê. Este local conota a função de nascente de um rio, e é
dali que parte toda a substância que gerará forças e motivações para o trabalho do Coletivo.
Pensar o grupo sem pensar Zabelê é algo dificilmente possível no processo de aglutinação de
todos na atualidade. Zabelê funciona como o centro aglutinador de sociabilidades que geraram
organicamente toda uma metodologia de trabalho fundamental para a formação do atual
Coletivo.
Fala-se constantemente em laços de afetividades entre os seus membros a partir da
preocupação com o bem-estar de cada um em prol de um bem-estar coletivo, ou vice-versa.
Mas também se fala na manutenção e no fortalecimento dos membros do Coletivo que
residem no município de Zabelê como forma de movimentar e dar continuidade ao Grupo
diante de um quadro em que a maior parte dos membros se encontram fora de Zabelê,
procurando independência financeira através de cursos universitários e trabalhos ligados às
áreas das artes.
Esta é uma gestão coletiva que utiliza como metodologia o associativismo, o
trabalho compartilhado entre os seus membros e os que se envolvem com ele. Que utiliza,
para atingir os seus objetivos, tanto ferramentas da rede mundial de computadores e
equipamentos tecnológicos como câmeras filmadoras, celulares e projetores de imagens,
quanto de meios mais antigos, como o papel, o lápis, borracha e bilhetes.
A cidade de Zabelê, enquanto representada pelo Coletivo Atissar (ASCUZA e
SECULT de Zabelê), possui um desenvolvimento histórico em políticas culturais que
corrobora a complexidade das ações solicitadas por instâncias superiores, como o Sistema
Nacional de Cultural e os Conselhos Estaduais. Essa potencialidade representativa só foi
conseguida porque atores e instituições locais se organizaram em prol de um bem maior: a
cultura.
Percebe-se que, ao trabalhar as bases políticas da sociedade, principalmente com a
formação intelectual humana e com a vivência no que diz respeito às ações colaborativas, o
Atissar possibilitou que quaisquer programas, projetos, prêmios, editais e, principalmente, o
cadastro do SNC por parte de Zabelê e a implantação SMC no mesmo município fosse
possível.
No entanto, o horizonte para a manutenção de Coletivos dessa natureza ainda é
turvo, de pouca visibilidade. O que se percebe é que seus membros têm procurado caminhos
66
diversos para sair da crise que se lhes apresenta com uma sociedade e governos instáveis
política, social e economicamente.
No primeiro semestre de 2014, o Coletivo passou por uma crise “existencial” e foi
convocada uma reunião geral por alguns dos membros (incluindo Anael Neves, que
atualmente reside em Santos-SP, o qual deveria estar conectado virtualmente). Embora ele
tenha se ausentado deste encontro devido a problemas na internet, ao ver a fotografia do
grupo se reunindo, retornou com o seguinte texto dentro do grupo Coletivo Atissar do
aplicativo WhatsApp:
Que lindo, gente, vê-los reunidos, não sei os caminhos tomados nessa reunião, o que
foi pautado e os resultados por problemas na nossa comunicação [...] Fato é que fico
feliz em ver esses registros, ainda há o sentido vivo de coletivo, tudo que
construímos foi real, concreto e significativo. Todo orgulho do mundo por ser parte
desse coletivo de organização tão complexa e tão difícil de ser caracterizado,
definido ou rotulado, só vivendo esta experiência, pois expressa como fazemos,
como pensamos, é das tarefas mais difíceis, sempre acho que algum elemento deixa
de ser dito para transmitir todo o sentido dessa que é a verdadeira vida colaborativa.
Toda gratidão do mundo e vontade de que continuemos de alguma maneira. (Anael
Neves, Santos, SP, Whatsapp, Grupo Coletivo Atissar, 29 de Julho de 2014, 5h 21’)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Lizziane. Mais Cultura: Projeto Novos Palcos e Plateias. In: Boca
Escancarada Revista de Literatura e Arte. Monteiro: sem editora, 2013, ano 01, n. 01,
jan/abr. p. 38-39.
BRANCO, Sérgio & PARANAGUÁ, Pedro. Direitos Autorais. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2009.
BRASIL (B) Ministério Da Cultura - MINC. Como Fazer um Plano de Cultura. São
Paulo: Instituto Via Pública, 2013.
obtenção de nota referente à terceira avaliação sob orientação da Prof.ª Maria Meriane
Vieira Rocha. João Pessoa, 2012.
DÓRIA, Roberto (Org.). ONG: espaço de convivência. 3. ed. São Paulo: CENPEC,
2002.
MARCO, Kátia de; REIS, Ana Carla Fonseca. Economia da Cultura: ideias e
vivências. Rio de Janeiro: Publit, 2009.
PAES, Daniella Lira Nogueira. Sob os signos das boiadas: da pesquisa à Educação
Patrimonial. TOLENTINO, Átila Bezerra (org.). Educação Patrimonial: educação,
memórias e identidades. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN). João Pessoa: IPHAN, 2013, (Caderno Temático, 3).
69
SEVERINO, José Roberto; VENERA, José Isaías. Brasil Memória em Rede: um novo
jeito de conhecer o país. São Paulo: Museu da Pessoa; Itajaí, SCÇ Editora asa Aberta,
2010.
SILVA, Almir Cléydison Joaquim da; LIMA, Ana Flávia; RAPOSO, Jaciara Gomes;
FARIA, Maurício Sardá; BATINGA, Beatriz Batinga. Desenvolvimento Territorial e
Indicadores Sociais: um estudo do Banco Comunitário de Desenvolvimento Jardim
Botânico. Minas Gerais: UNIMONTES, 2014, 32 p.
SILVA, Jorge. Cultura Libertária e Mudança Social. Revista UTOPIA. Lisboa, Gráfica
2000 – Cruz Quebrada, 11/12, Outono-Inverno, 2000.
ANEXOS
72
ANEXO I
73
ANEXO II
74
Ano 01 - 2010
Ano 02 - 2011
Ano 03 - 2012
Ano 04 - 201348
48
Neste quarto ano do Projeto, o Coletivo conseguiu uma parceria com a UFCG, o IFPB e a
SEBRAE/PB. Neste momento, avança-se bastante no campo de captação de imagens, iluminação e
edição.
76
Na Memória dos Meus Avós, umas histórias – Projeto audiovisual contemplado pelo
Ministério da Cultura e BNB. Idosos do município de Zabelê, Cariri Ocidental
paraibano, relatam como se deu o processo de povoamento do então município.
2010/2011. https://www.youtube.com/watch?v=9gJE5MJS6xo.
Na Memória dos Meus Avós, outras histórias – Projeto audiovisual contemplado pelo
Ministério da Cultura e BNB. Idosos do município de Zabelê, Cariri Ocidental
paraibano, relatam como se deu o processo de povoamento do então município.
2010/2011. https://www.youtube.com/watch?v=Zoh4tHYYr30.
Pega de Boi – Registro audiovisual da Pega de Boi que ocorre anualmente na Fazenda
Macaxeira, em Zabelê, Cariri Ocidental paraibano. Realização da Associação Cultural
de Zabelê. 2006.
https://www.youtube.com/watch?v=Z2emnWR4MBg&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw.
Pega de Boi, entre arbustos, árvores e caatinga – Registro audiovisual da Pega de Boi
que ocorre anualmente na Fazenda Macaxeira, em Zabelê, Cariri Ocidental paraibano.
Realização da Associação Cultural de Zabelê. 2007.
https://www.youtube.com/watch?v=yKW6_vGOuOA&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw.
Rapadura é doce, mas não é mole não – Audiovisual realizado por membros da
Associação Cultural de Zabelê durante o curso de Antropologia realizado por dois
professores da Universidade Federal de Campina Grande. Trata de relatos de pessoas da
cidade de Zabelê, expondo as suas labutas diárias. 2007.
https://www.youtube.com/watch?v=L9iBdC-FoKI
Hino Nacional – Gravação do Hino Nacional em ritmo nordestino, pela artista cantora
Sandra Belê, realizada para o empresário Marcos Lopes. 2012.
https://www.youtube.com/watch?v=fN8D73Fi8Pc
Sandra Belê canta Zé do Norte – Registro audiovisual do show Sandra Belê canta Zé
do Norte, realizado pelo projeto 7 Notas do Sesc da cidade de Campina Grande,
Paraíba. 2008.
Baú de Saudades (Vídeo) – Série de vídeos como parte do show Baú de Saudades, da
cantora Sandra Belê.
https://www.youtube.com/watch?v=nQZlYKpRiNA&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw
https://www.youtube.com/watch?v=ZGY4FFtJ8Ow&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw&index=35
78
https://www.youtube.com/watch?
v=RO5VJYk2TP8&index=36&list=UUbuD7een9-sRO6UuKQo8VTw
https://www.youtube.com/watch?
v=McQIOWNnJU0&index=37&list=UUbuD7een9-sRO6UuKQo8VTw.
https://www.youtube.com/watch?v=c34lBOcTqVE
https://www.youtube.com/watch?v=EJFGrkJPpGo
https://www.youtube.com/watch?v=ekzfMFjiDm8
https://www.youtube.com/watch?v=1QJ-wgLDdj8
https://www.youtube.com/watch?v=Kb288Ivbtyw
Zabelê – Vídeo-documentário que tem como fio condutor a visita do músico, cantor e
compositor Sivuca à cidade de Zabelê no segundo semestre de 2004.
https://www.youtube.com/watch?v=x56aF7l6ZXM
79
2001
- I FESTA DO JEGUE DE ZABELÊ
- APROVAÇÃO DO PROJETO “ENSINAR CANTANDO”
- REATIVAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ
- SANDRA SILVA (SANDRA BELÊ) CANTA MÚSICAS DO CANCIONEIRO
REGIONAL NORDESTINO
- I FESTIVAL DE ABOIADORES DE ZABELÊ
- I FESTIVAL DE VIOLEIROS DE ZABELÊ
2002
- FUNDAÇÃO DA ASCUZA
- PUBLICAÇÃO DE ARTIGO DO REISADO DE ZABELÊ NO CORREIO DA
PARAÍBA
- I VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP
- PRODUÇÃO DE VÍDEO DOCUMENTÁRIO: “PROJETO ENSINAR
CANTANDO”
- EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA “RUMO À COR DA TERRA”
- PRODUÇÃO DE VÍDEO DOCUMENTÁRIO: O QUE É ZABELÊ?
2003
- APROVAÇÃO DE PROJETO PARA REISADO DE ZABELÊ E SANDRA BELÊ
NO PROJETO COOPERAR
- EMISSÃO DO CNPJ DA ASCUZA
- CRIAÇÃO DA SECRETARIA DE CULTURA (15/04/2003 - LEI 100/2003)
- PROJETO O ECLÉTICO VIOLÃO (JAELSON FARIAS)
- II VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP
2004
- EXPOSIÇÃO DE ORATÓRIOS NA FESTA DO JEGUE
- III VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP (PROGRAMA DE
CONCESSÃO DE PASSAGENS DO MINC)
- POSSE DO SECRETÁRIO DE CULTURA
- APROVAÇÃO DO PROJETO POLINDO POTENCIALIDADE (FIC)
- GRAVAÇÃO DO 1º CD DO REISADO DE ZABELÊ
- GRAVAÇÃO DO 1º CD DE SANDRA BELÊ
2005
90
2006
- CURSO DE ANTROPOLOGIA: ARTESANATO DA CULTURA: UM DIÁLOGO
ENTRE ANTROPOLOGIA E A ASCUZA (UFCG-ASCUZA)
- IV VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP
- DOCUMENTÁRIO PEGA DE BOI I
- DOCUMENTÁRIO PÍFANOS A FÉ NO TOQUE
- PARTICIPAÇÃO DE SANDRA BELÊ NA MICROSSÉRIE GLOBAL A PEDRA
DO REINO
- PRÊMIO MESTRE DAS ARTES LEI CANHOTO DA PARAÍBA (MESTRE
ABEL)
- REVEILLÓN DO GT DA CULTURA EM CAMBOINHA – CABEDELO/PB
2007
- O ARTESANATO DA CULTURA: UM DIÁLOGO ENTRE ANTROPOLOGIA E
A ASCUZA
- DOCUMENTÁRIO RAPADURA É DOCE, MAS NÃO É MOLE NÃO
- DOCUMENTÁRIO PEGA DE BOI: ENTRE ARBUSTOS, ÁRVORES,
CAATINGA
- PARCEIRA DA ASCUZA COM O ZABELÊ BAMBINO
- EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DA PEGA DE BOI
- PUBLICAÇÃO DE “MESTRE ABEL: O DONO DA FESTA” NA REVISTA OS
CAMINHOS DA TERRA
- REISADO DE ZABELÊ EM LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO FUNDAMENTAL
(EDITORA MODERNA – SÃO PAULO)
- PARTICIPAÇÃO DE SANDRA BELÊ EM COLETÂNEAS DA SOM LIVRE E
ESQUINA BRASIL
2008
91
2009
- II FESTA DE REIS
- INSERSÃO DE NOVOS MEMBROS NO GT DA CULTURA
- GRAVAÇÃO DO VÍDEO-DOCUMENTÁRIO REISADO DE ZABELÊ – ABD
PARAÍBA, BMR, ASCUZA E PREFEITURA DE ZABELÊ
- LANÇAMENTO DO VÍDEO-DOCUMÉNTARIO REISADO DE ZABELÊ
- REISADO DE ZABELÊ E ALCIMAR MONTEIRO CANTAM JUNTOS NA
FESTA DO JEGUE
- I CONFERÊNCIA DE CULTURA DE ZABELÊ
- CONFECÇÃO DE PROJETOS PARA O BNB, MICROPROJETOS MAIS
CULTURA E CINE MAIS CULTURA
- ELIMINATÓRIA DO SANFONA FEST (FESTIVAL PARAIBANO DE
SANFONEIROS) NO SÃO PEDRO DE ZABELÊ
- PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NO ENCONTRO DOS POVOS DO
CARIRI
- PARTICIPAÇÃO DA ASCUZA NO ENCONTRO DOS POVOS DO CARIRI -
EXPOSIÇÃO DE VÍDEOS-DOCUMENTÁRIOS DO CARIRI PARAIBANO
- SANDRA BELÊ REPRESENTA A PARAÍBA NO FESTIVAL DO NORDESTE
EM BRASILIA
- GRAVAÇÃO DO SEGUNDO CD DE SANDRA BELÊ “SE INCOMODE NÃO”
- PARTICIPAÇÃO DE MEMBROS DO GT EM NATAL/RN NO FESTIVAL DO
AUDIO VISUAL GOIAMUM
2010
- APROVAÇÃO DOS PROJETOS ENVIADOS AO BNB, MICROPROJETOS MAIS
CULTURA E CINE MAIS CULTURA
- AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS E PRODUÇÃO DOS DOC’S (REALIZAÇÃO
DOS PROJETOS APROVADOS)
- III FESTA DE REIS (PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE CARAÍBAS)
- CURSOS: (ANIMAÇÃO, ROTEIRO, ...)
- FORMALIZAÇÃO DO PROCESSO DE ENTRADA NO GT (PROCESSO
SELETIVO).
- ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO DA CULTURA
- FORMAÇÃO DA BANDA DE PIFI PERFUMADO
- INSCRIÇÃO DO FESTIVAL DE LONDRINA/PR (REISADO DE ZABELÊ)
- FORMAÇÃO DO CINE PRA Q V, CRIAÇÃO DO CINE CLUBE “CINE PRA Q V”
- BALAIO DO PATRIMÔNIO: TRILHAS DO CARIRI: MONTEIRO
- VIAGEM DO GT DA CULTURA PARA MACEIO/AL
- AGREMIAÇÃO DOS NOVOS MEMBROS DO GT DA CULTURA.
- FESTIVAL ZABÉ DA LOCA (REISADO DE ZABELÊ E SANDRA BELÊ);
MONTEIRO.
- I CICLO DE APRESENTAÇÃO DO REISADO NO MUNICIPIO DE ZABELÊ
- AQUISIÇÃO DE MATERIAL GRÁFICO.
92
2011
- IV FESTA DE REIS
- PARTICIPAÇÃO DE ZABELÊ NO FESTIVAL DE ARTES DE AREIA/PB
- VIAGEM DO GT DA CULTURA PARA JACUMÃ/PB
- V VIAGEM DO REISADO PARA OLIMPIA/SP
- PLANEJAMENTO DA CULTURA 2011
- LANÇAMENTO DO DOCUMENTÁRIO “NA MEMORIA DOS MEUS AVÔS
UMAS E OUTRAS HISTÓRIA”
- PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NA FESTA DAS NEVES EM JOÃO
PESSOA/PB
- BOLSA PARA OS MEMBROS DO GT
- PROJETO NOVOS PALCOS E PLATEIAS 2011
- II CICLO DE APRESENTAÇÕES DO REISADO DE ZABELÊ NO MUNICÍPIO
DE ZABELÊ, AQUISIÇÃO DE MATEIRAL GRÁFICO.
- PARTICIPAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SANDRA BELÊ NA FEIRA DE MÚSICA
FORTALEZA/CE
- II FESTIVAL ZABÉ DA LOCA HOMENAGEM A ILMAR CAVALCANTE
(SANDRA BELÊ) EM MONTEIRO.
- PARTICIPAÇÃO DO PRESIDENTE DA ASCUZA NO ENCONTRO DE
CINECLUBISMO.
- PATICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NO DIRREPENTE BEAT SUMÉ/PB
- VIAGEM DO GT DA CULTURA PARA SÃO SEBASTIÃO DO UMBUZEIRO/PB
- PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NO SÃO JOÃO EM JOÃO
PESSOA/JP- FUNJOPE
2012
- REALIZA CULTURA 2012 - V FESTA DE REIS
GRANDE;
- REISADO DE ZABELÊ PARTICIPA DO XXXVIII FESTIVAL DE CULTURA DE
LARANJEIRAS
- CARNAVAL EM S.S. UMBUZEIRO - GT DA CULTURA
- ARRAIÁ DA BELÊ.
2013
REISADO DE ZABELÊ - CENTRO CULTURAL DO BANCO DO NORDESTE DO
BRASIL