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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

UNIDADE ACADÊMICA DE ARTE E MÍDIA


ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO E PRODUÇÃO CULTURAL

ROMÉRIO HUMBERTO ZEFERINO NASCIMENTO

ZABELÊ:
caminhos e conquistas de uma política cultural que surge

Campina Grande, Paraíba


Julho de 2014
ROMÉRIO HUMBERTO ZEFERINO NASCIMENTO

ZABELÊ:
caminhos e conquistas de uma política cultural que surge

Monografia submetida à Pós-Graduação de Gestão e


Produção Cultural da Universidade Federal de Campina
Grande, em atendimento parcial aos requisitos para o grau
de Especialista em Gestão e Produção Cultural.

Professor Orientador: Msc. Vinícius Ramos Bezerra

Campina Grande, Paraíba


Agosto de 2014
ROMÉRIO HUMBERTO ZEFERINO NASCIMENTO

ZABELÊ:
caminhos e conquistas de uma política cultural que surge

Monografia submetida à Pós-Graduação de Gestão e


Produção Cultural da Universidade Federal de Campina
Grande, em atendimento parcial aos requisitos para o grau
de Especialista em Gestão e Produção Cultural.

Aprovada em 02 de setembro de 2014 pela banca examinadora, sendo atribuída a nota 10.

BANCA EXAMINADORA
A todas as Companheiras e os Companheiros que pensam a vida a
partir de atitudes de partilhas.
Dedico.
AGRADECIMENTOS

Três instituições foram essenciais para que pudesse concluir esse trabalho, às
quais agradeço:
- A Universidade Federal de Campina, através do Curso de Especialização em
Gestão e Produção Cultural, especialmente o Professor Vinícius Ramos, que, além de ter a
ideia de fundar o curso e gerenciá-lo, acompanhou cada parte desta monografia, a partir de
sua orientação.
- A Prefeitura Municipal de Zabelê, na pessoa da Prefeita Íris de Sousa Henrique,
que foi muito presente na compreensão e no estímulo para que eu pudesse concluir este
trabalho.
- O Coletivo Atissar, em especial o amigo Almir Joaquim, que colaborou de modo
intenso com suas leituras, indagações e proposições durante a construção do texto desta
monografia.
Para as demais estruturas sociais e pessoas, fundamentais para a construção da
minha existência, fragmento o meu agradecimento ao dizer que, se os religiosos do mundo,
em vez de venerarem seus deuses, o fizessem com as boas qualidades atribuídas aos mesmos,
talvez hoje vivêssemos num mundo mais justo, mais generoso.
Neste momento, aproveito este espaço para agradecer mais do que aos sujeitos.
Agradeço às qualidades das inúmeras pessoas que estiveram presentes na minha vida e
colaboraram para que eu chegasse onde cheguei e seja o que sou no momento.
Agradeço aos que cultivaram em mim:
- A bondade.
- A esperança.
- A felicidade.
- A generosidade.
- A lealdade.
- A liberdade.
- A sagacidade.
- A verdade.
- O carinho.
- O companheirismo.
- O desapego.
- O sentido de justiça.
O que foi construído neste trabalho teve uma pitada de cada qualidade acima
apontada.
Continuemos juntos!
“Pediram-me que escrevesse sobre a descentralização na história
e me descubro olhando para a escuridão onde pequenas luzes
brilham como vaga-lumes durante um segundo, desaparecendo e
voltando a brilhar [...].”
George Woodcock
RESUMO

Nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de muitas políticas de cultura apoiadas e
desenvolvidas pela Sociedade Civil, pelos Governos e pelo Setor Privado. O trabalho em
questão aponta para uma reflexão sobre as Políticas Culturais a partir do panorama nacional e
do entorno organizacional local do Coletivo Atissar. Este Grupo tem como base de ação a
cidade de Zabelê, na microrregião do Cariri paraibano do Nordeste brasileiro. Utiliza como
método condutor de suas práticas a vida compartilhada em prol do bem comum, tendo nas
atividades culturais locais, nas relações entre os seus membros e na apresentação de suas
ações os meios pelos quais agenciam, gerenciam e produzem cultura. O que se tem aqui é um
estudo de caso no qual se poderá perceber formas de Gestão Cultural interligadas tanto a
antigas quanto a novas condutas de vida coletiva ante a sociedade informacional que, cada dia
mais, se apresenta como definidora de nossa época. O objeto é tratado sob diversas óticas, a
fim de descrevê-lo na mesma correspondência de suas complexidades.

Palavras-chave: Gestão Cultural. Política Pública. Gestão Social. Colaborativo.


RESUMEN

En los últimos años, Brasil ha sido el escenario de muchas acciones políticas de cultura
apoyadas y desarrolladas por la Sociedad Civil, por los Gobiernos y por el Sector Privado.
Este trabajo apunta a una reflexión sobre las Políticas Culturales a partir del panorama
nacional yel contexto organizacional local del Colectivo Atissar. Este Grupo tiene como base
de acción la cuidad de Zabelê, en la micro-región del Caririen el Estado de Paraíba en el
nordeste brasileño. Utiliza como método conductor de sus prácticas la vida compartida en pro
del bien común, donde las actividades culturales locales, las relaciones entre sus miembros y
la presentación de sus acciones son los medios por los cuales agencian, gestionan y producen
cultura. Este es un estudio de caso en cual se podrá percibir formas de Gestión Cultural inter-
ligadas tanto a antiguas como a nuevas conductas de vida colectiva delante de la sociedad de
información, que a cada día más se presenta como definidor de época. El objeto es tratado
desde diversas ópticas afín de describirlo en la misma correspondencia de sus complexidades.

Palabras Claves: Gestion Cultural. Politica Pública. Gestion Social. Sistema Nacional de
Cultura.Colaborativo.
ABSTRACT

During the last few years, Brazil has staged many actions of cultural policies that have been
supported and developed by the civil society, Governments and the private sector. This study
aims to reflect upon cultural policies within the national panorama and the local
organizational context of the Atissar Collective. This group has its action base in the small
town of Zabelê in the micro-region of Cariri in the State of Paraíba in Northeastern Brazil.
The conducting method used in its practices is to share ones lives in favor of the common
good, where the cultural activities, the relations between its members and the presentation of
its actions are the means by which the group represents, directs and produces culture. This is a
case study where one can perceive forms of cultural management linked to old and new
practices of collective life before the information society that increasingly presents itself as
the sign of the times. The study object is treated from different angles in order to describe it in
correspondence with its complexities.

Key words: Cultural Management. Public policies. Social Management. Collaborative.


National System of Culture.
ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA I – Zabelê: Localização do município no estado da Paraíba. 25


FIGURA II – GT da Cultura em atividade no Curso de Antropologia (2006). 27
FIGURA III – Apresentação da cantora Sandra Belê na Virada Cultural em São Paulo. Ao
fundo, o americano, diretor musical e baterista Gregg Mervine. 28
FIGURA IV – Apresentação do Reisado de Zabelê na cidade de Olímpia. São Paulo. 30
FIGURA V – Calendário de apresentações mensais do Reisado em Zabelê. 31
FIGURA VI – Logotipo da Associação Cultural de Zabelê. 35
FIGURA VII – Logos de algumas atividades e instituições de Zabelê 36
FIGURA VIII – GT da Cultura: formação em 2005 37
FIGURA IX – Coletivo Atissar: atual formação. 38
FIGURA X – O cantor Chico César no Novos Palcos e Plateias 44
FIGURA XI – Fazenda Santa Clara, local onde ocorre o Novos Palcos e Plateias.44
FIGURA XII – Estrutura Organizacional do Coletivo Atissar. 48
FIGURA XIII – PLANEJAMENTO 2014 50
FIGURA XIV - Número de participações no Google Groups dos membros 53
do Coletivo Atissar (março de 2010 a agosto de 2014). 53
FIGURA XV: Número de participações no Google Groups dos membros 54
do Coletivo Atissar. (01 a 26 de agosto de 2014) 54
FIGURA XVI: Estatísticas de Postagens e Tópicos de Trabalho 55
FIGURA XVII – COMPACTO.TEC 56
FIGURA XVIII – Coletivo Atissar e Colaboradores – Carnaval 2013 – São João da Coroa
Grande-PE 58
FIGURA XIX – Intersetoriedade na Gestão Governamental, Social e Privada. 60

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 01 - Estimativa de acesso e participação no Google Groups dos membros do Coletivo


Atissar, de outubro de 2010 a agosto de 2014) 54
Tabela 02 – Estimativa de acesso e participação no Google Groups dos membros do Coletivo
Atissar, mensal. (01 a 26 de agosto de 2014) 55
Sumário

Prefácio i
INTRODUÇÃO 1
1. PANORAMA ESTRUTURAL DA PESQUISA 9
1.1 Sistemas de Cultura 9

1.2 Arena Cultural: caminhos para Gestores, Produtores e Agentes 12

1.3 Cadeia Organizacional entre Sociedade Civil e Governos 14

1.4 Cultura, focos e trajetórias 18

2. Contextualizando cenários, cenas e atores 24


2.1 Cultura, Redesenhando Destinos 31

2.2 A Imagem na Política Cultural de Zabelê 34

3. Caminhos de uma gestão cultural 37


3.1 Relações Interpessoais e Institucionais 38

3.2 Princípios para a Participação no Coletivo 45

3.3 Estrutura organizacional do Coletivo Atissar 48

3.3.1 Coletivo Atissar.............................................................................................................49


3.3.2 Imersão.........................................................................................................................49
3.3.3 Núcleos.........................................................................................................................51
3.3.3.1 Encontros Presenciais e Virtuais...................................................................................51
3.3.4 Campo de Ação.............................................................................................................57
3.3.5 Membros do Coletivo..........................................................................................................59
3.3.6 Pontos Parceiros e Ações.....................................................................................................59
4 CONCLUSÃO 62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 67
Anexo I 72
Anexo II 74
Anexo III – Produções em audiovisual 76
1) Projeto Novos Palcos e Plateias 76

2) Produções em audiovisual pelo Coletivo Atissar 78

3) Produções em audiovisual pelos Parceiros 80


Anexo IV – MATÉRIAS SOBRE SANDRA BELÊ81
Anexo V – MATÉRIAS SOBRE O REISADO DE ZABELÊ 84
Anexo VI – LINHA DO TEMPO DA CULTURA 91
PREFÁCIO

Este trabalho não se inicia aqui. Vem de uma trajetória mais distante, da qual
fizeram parte outros atores e cenas que não estão mais comigo, mas que foram fundamentais
para que eu chegasse onde cheguei. É de suma importância apresentar alguns deles para chegar
o mais próximo possível das motivações que me levaram a participar de um trabalho
colaborativo no município de Zabelê ao longo desses 13 anos.
Passei minha infância viajando com minha família para a cidade de São Sebastião
do Umbuzeiro e para o então distrito de Zabelê, onde moravam muitos parentes e amigos dos
meus pais. Como tudo que é vivido com prazer na infância deixa um certo saudosismo e apego,
aquela região ficou cravada na minha memória e nas minhas emoções. A vegetação, o carro-de-
boi, os cavalos, os vaqueiros, o cheiro da jurema, a paisagem da caatinga, o candeeiro, o
lampião, os forrós nos sítios, as festas de padroeiro, as bandas de pífano, os pastoris, as bandas
filarmônicas, o namoro nas praças e tudo mais de comum nos anos 1970 e 80 naquelas
pequenas localidades do Cariri Ocidental paraibano foram a fonte geradora de sentimentos para
que eu, mais adiante, voltasse e passasse a fazer parte desta comunidade.
Mas a história desta minha infância e adolescência no Cariri paraibano sofreu uma
interrupção quando, em 1988, fui selecionado para a Escola Agrícola Federal Vidal de
Negreiros, da cidade de Bananeiras, Paraíba. Logo no primeiro ano, fui desenvolvendo meu
sentido coletivo ao ter que morar num galpão com quatro vãos (quartos), onde em cada espaço
ficavam hospedados cerca de 27 alunos com idade entre 13 e 25 anos. Um espaço que
oportunizava a todos o treino de ter que ouvir, falar, de modo a manter o respeito dentro do
grupo. Isto nem sempre acontecia. O que pensar de cerca de 108 estudantes dormindo,
descansando, lanchando, estudando, conversando, namorando (que este segredo fique por aqui,
pois só eram admitidos neste ambiente pessoas do sexo masculino), discutindo, brigando ou
fazendo reuniões de organização estudantil? Era tudo muito intenso em termos de relações
humanas. Imaginemos como era a convivência de jovens urbanos e rurais, da capital e do
interior mais longínquo, filhos de agricultores e de fazendeiros, de trabalhadores domésticos e
de médicos, todos convivendo em um mesmo espaço.
Havia estudantes que, por morarem em cidades muito distantes e por terem um
baixo poder aquisitivo, passavam até seis meses sem voltar pra casa. Era uma verdadeira
maratona dar conta tanto das relações pessoais desenvolvidas no campo “doméstico” da Escola,
quanto das relações institucionais de estudos e de negociação constantes com os professores e
alunos mais antigos. Estes últimos eram chamados de “doutores”.
ii

Estávamos numa época de um Brasil que acabava de dar adeus a um governo


militar, mas que tinha deixado um número alto de pessoas covardes, medrosas ou com um
discurso socialista mais afeito ao de uma esquerda autoritária, herdeira dos países totalitários
comunistas.
A Escola tinha duas formas de organização dentro da política estudantil: uma
Cooperativa Agrícola Escolar e um Grêmio Estudantil. Ambos eram muito bem estruturados, a
partir de uma organização política advinda dos tempos da ditadura, e com um ranço de
estrutura ruim, viciada, em que seus Diretores se utilizavam dos cargos para proveito próprio –
refiro-me tanto ao financeiro das instituições quanto às benfeitorias que podiam ganhar junto
aos professores. Por outro lado, também existiram estudantes que lutaram para tornar a política
da Cooperativa ou do Grêmio mais séria diante de um país que se reconstruía, principalmente
no âmbito social. Estes estudantes ou eram reprovados em matérias escolares estratégicas,
como física e matemática, até terem que sair da Escola, ou tiveram que se calar de vez para não
serem reprovados e poderem terminar o curso. Evidente que houve exceções, mas o cotidiano
dos embates institucionais assumia essa configuração.
Fiz parte tanto da Cooperativa quanto do Grêmio. Depois de muitas perdas
individuais e coletivas com a realização de reuniões, atos públicos e chamadas de imprensa
para apresentar os descasos da Direção da Escola para com o dia a dia dos alunos – tanto no
que dizia respeito a uma alimentação e uma higienização saudáveis quanto em relação ao
verdadeiro papel da Cooperativa para com a vida de todos –, fui enfraquecendo nesta luta
política e percebendo que, nesta arena, as armas para se lutar deveriam ser outras e não mais
aquelas comumente utilizadas pelos ativistas políticos de esquerda através de atos públicos, que
mais expunham as suas estratégias e fragilidades como ativistas.
Em 1989, conheci os índios Fulni-ô do município de Águas Belas, Pernambuco.
Visitei-os e passei a conhecer outra forma de organização social, que em nada parecia com o
que eu já tinha vivenciado. Em 1993, já como estudante de Educação Artística da Universidade
Federal da Paraíba, iniciei um trabalho de iniciação científica com os índios Fulni-ô, com a
professora e antropóloga Otília Storni, do Departamento de Ciências Sociais. Em 1995,
ingressei no Mestrado em Etnomusicologia pela Universidade Federal da Bahia, sendo o meu
objeto de estudo um aspecto da música dos índios Fulni-ô, trabalho que conclui em 1988.
No início dos anos 90, fui também voluntário no trabalho com meninos e meninas
que viviam nas ruas de Campina Grande, Paraíba. Como era um trabalho muito solitário, fui
algumas vezes agredido por policiais, e passei noites com as crianças nas praças tomando chá
com bolacha, vendo-as sair com punhais à caça de suas vítimas. Vi meninas que eram
iii

violentadas pelos próprios colegas e exploradas pelos taxistas noturnos. Ao fim desta década,
fui trabalhar no Lar do Garoto, uma instituição carcerária (dita educativa) para menores que
cometeram alguma infração. Mais uma vez, estava diante de uma instituição covarde da
sociedade, que pouco se importava com os seus filhos. Adolescentes, culpados ou vitimados,
que eram colocados num mesmo espaço para trocarem experiências diversas, monitoradas por
alguns adultos que só os viam como marginais.
No início dos anos 2000, desenvolvi um trabalho de consultoria cultural no
município de Zabelê. Esse momento serviu para lapidar as características de agente público que
já se construíam em mim ao longo dos últimos 12 anos. Passei a conviver – inicialmente como
Consultor Cultural e, depois, como Secretário de Cultura, Turismo e Meio Ambiente (até o
momento) – em um mesmo espaço com políticos, empresários, fazendeiros, agricultores,
contadores, garis, professores, advogados, médicos, pedreiros, artesãos, músicos, marceneiros e
muitos outros personagens que compõem a sociedade do Semiárido nordestino. A princípio,
admirei a convivência, sobretudo naquela cidade. Era como se os papéis sociais só tivessem
importância enquanto atividade. O poder econômico ou político não se importava com a
construção das relações humanas ali existentes.
Não demorou muito e passei a perceber que os papéis em Zabelê eram bem
distribuídos. O indivíduo com bom poder aquisitivo valia tanto quanto o indivíduo com mais
envolvimento político com os cidadãos. Era como se um completasse o outro, mas a parceria
não era igualitária. E, embora um gari pudesse sentar à mesa com seu superior ou patrão, era o
seu papel ouvir o pensamento ou acatar as ordens do seu dirigente.
Assim, com esta compreensão do local, passei a encarar a vida por ali de modo
mais objetivo. Passei a melhor identificar cada personagem social e a encarar a verdade de um
ambiente não tão inocente assim; de fato, era muito mais permissivo para com certas mazelas
sociais comuns em ambientes com uma história construída a partir de muita pobreza social e
econômica.
Parece que a geografia das cidades do Semiárido nordestino, somada à dificuldade
econômica que a grande maioria da população sofre, faz com que todos cresçam,
confraternizem, estudem e presenciem os problemas ou avanços do outro. As casas são muito
próximas, os corpos são muito próximos. Talvez seja isto o que faz com que muitas vezes todos
ceiem juntos.
Como estava tudo tão junto, entendi que o trabalho de gestão ali era possível e
passei a dedicar a minha vida àquele plano de partilhar com a população zabeleense o
iv

conhecimento que havia adquirido entre estudantes, professores, moradores de rua, índios e
outros segmentos da sociedade.
Iniciamos a ceia! Muitos foram os que não aceitaram o convite, outros saíram da
mesa por não congregarem de mesmas perspectivas ou até mesmo por não quererem partilhar
do seu. Com os que ficaram, passamos a ter uma vida de construção colaborativa. E
aprendemos a etiqueta da vida em grupo e das negociações com os diversos agentes e setores
da sociedade de Zabelê e, principalmente, de fora do município.
O interesse particular era que todos os envolvidos ficassem prontos para negociar.
Para isto, precisei que as minhas vontades individuais se tornassem coletivas e passamos a
realizar a incrível tarefa do aprendizado mútuo dos mecanismos necessários para que
pudéssemos avançar numa gestão pública e social nunca antes vista na região do Cariri
paraibano. Partilhamos nossos lares, nossas festas, nossos sonhos, nossas viagens. Tudo que
pudemos, em prol de uma meta maior, que era a preparação humana e social de cada indivíduo
para que fosse possível a sua atuação em conjunto, através de uma gestão voltada para a cultura
e com uma visível melhora na qualidade de vida de cada indivíduo envolvido.
INTRODUÇÃO

As políticas culturais que envolvem as atividades de gestão, produção e


agenciamento da cultura têm passado por mudanças diversas, principalmente quando se
referem a questões relacionadas às Leis de Estado que as referenciam formalmente junto à
sociedade. Neste meio-tempo, têm surgido pequenos fragmentos sociais que possibilitam uma
ressignificação do papel colaborativo diante desta nova sociedade informacional que vigora no
final do século XX. Instituições diversas da sociedade civil – cujo papel é o fortalecimento das
sociabilidades locais, da memória social, das formações individuais a partir do domínio dos
diversos códigos de linguagens presentes na história da humanidade – têm sido formadas como
modo de ao menos diminuir a velocidade de uma sociedade paradoxal que tem seus membros
agrupados para fortalecer uma prática e um pensamento reducionistas e, portanto, superficial.

Nesse mundo de mudanças confusas e incontroladas, as pessoas tendem a reagrupar-se


em torno de identidades primárias: religiosas, étnicas, territoriais, nacionais. O
fundamentalismo religioso – cristão, islâmico, judeu, hindu e até budista (o que parece
uma contradição de termo) – provavelmente é a maior força de segurança pessoal e
mobilização coletiva nestes tempos conturbados. (CASTELLS, 2008, p. 41).

Em outubro de 2002, foi criada, no Cariri paraibano, a Associação Cultural de


Zabelê (ASCUZA, ver anexo I), que, com a ação dos seus membros, impulsionou a criação, em
2003, da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente do Município de Zabelê (ver anexo
II) e do Grupo de Trabalho da Cultura (GT da Cultura).
O GT da Cultura passa a existir com a reunião dos membros da ASCUZA e da
SECULT de Zabelê, que já vinham atuando juntos desde a criação desta última. De modo
formal, em 2007, o GT passa a fazer parte do Estatuto da ASCUZA como órgão consultivo e
deliberativo da Associação. Em 2012, com a inserção do GT no Movimento Fora do Eixo, o
mesmo foi rebatizado com o nome de Coletivo Atissar1, pelo fato da sigla GT (ou seja, Grupo
de Trabalho) ser genérica demais, sem muita força conceitual. O nome Atissar foi escolhido
pelos membros do próprio Coletivo porque todos compreenderam que as ações do Grupo
sempre tiveram um provocativo, pois trabalhar política cultural em municípios como o de
Zabelê era realmente algo desafiador.
O ato de criar formalmente uma organização da sociedade civil, a ASCUZA, e logo
depois uma Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente, juntando ambos no Coletivo
Atissar, foram as ações mais urgentes para que se iniciasse o diálogo com instituições
1
A ortografia correta seria “atiçar”, mas os membros do Coletivo acharam por bem tirar o “ç” e acrescentar o “ss”
como forma de evitar problemas de pronúncia e grafia na internet.
2

apoiadoras da sociedade civil e governos. Desse modo, preencheu-se tanto uma lacuna de
aquisição de recursos a que o Governo Municipal não tinha acesso quanto se tornou possível
que pessoas da sociedade civil se unissem a instituições governamentais para gerar ações
compartilhadas em prol da cultura.
Zabelê tem um dos menores territórios e uma das menores populações2 do estado da
Paraíba. Situa-se numa região de baixíssima pluviosidade, com uma história social construída a
partir de uma forte pobreza, irrigada com o assistencialismo político que só dificulta que a
sociedade crie os seus próprios caminhos.3
Infelizmente, há certa contradição entre o que se debate e o que se faz com relação
à política cultural no Brasil. As discussões no último decênio têm avançado, mas a efetivação
das políticas voltadas para a cultura tem andado a passos lentos.
As proposições para a cultura no Brasil historicamente sofrem a imposição de
agentes externos aos interesses da cultura. Os agentes que fazem parte do cenário interno –
gestores, produtores e articuladores – muitas vezes ficam de fora das decisões e por vezes são
levados a acatar o que foi decidido externamente. Os dirigentes públicos que pouco conhecem
as questões de políticas culturais quase sempre acham que podem solucionar os problemas dos
participantes da cultura; daí, propõem e realizam ações, mas, ao fim, dirigentes e sociedade
civil não conseguem encontrar sustentação para a manutenção dos processos, devido à
considerável complexidade que este setor possui.
O Brasil tem uma história social, principalmente em regiões como a do Nordeste,
construída a partir de mandantes e mandados, com uma falsa impressão de convívio pacífico
entre ambos.
A história de mandonismo, protecionismo e dependência que atravessou a trajetória da
sociedade brasileira, conduziu ao mutismo em substituição ao diálogo, a um
funcionamento reflexivo, orientados por uma autoridade externa. Resultante da
conjugação dos traços concentração de poder e paternalismo, a postura como
espectador conduz a características de pouca iniciativa e transferência de
responsabilidade.
Suas principais características são o medo de mudança, aceitação passiva da realidade,
baixo espírito combativo, inércia em relação a eventos externos, transferência de
responsabilidade, crença em soluções generalizadas e mágicas e baixo sentimento de
coletividade em relação ao domínio público. Na perspectiva do comportamento
empreendedor, destacam-se a atitude introspectiva das práticas empresariais,
supervalorização do talento e da improvisação, e baixa capacidade de assumir riscos.
(FONTES FILHO, 1989, p. 4).

2
População estimada em 2.169 habitantes, com uma área territorial de 109 km² (IBGE – 2013).
3
É difícil pensar uma gestão pública nos pequenos municípios do Semiárido brasileiro que não esteja fadada ao
assistencialismo, pois, além de existir um baixo índice de investimento financeiro, ou quase nenhum, de empresas,
o potencial humano para o desenvolvimento deste território ainda é muito baixo. No que os seus munícipes
alcançam alguma notoriedade como profissionais, quase sempre são aproveitados por outras localidades mais
avançadas em termos econômicos.
3

Cada ação, cada plano, cada estratégia e cada projeto público deve ser construído a
partir de uma Gestão Governamental e Social,4 e não partindo apenas da primeira, como quase
sempre é feito, para então atingir também o setor Privado.
Por exemplo, os primeiros órgãos a serem criados para que os demais órgãos
constituintes do SNC (Sistema Nacional de Cultura), do SEC (Sistema Estadual de Cultura) ou
do SMC (Sistema Municipal de Cultura) sejam efetivados, enquanto Leis, deveriam ser os
Conselhos, tudo deveria partir formalmente deste ponto. No entanto, a tendência tem sido o
atropelo dos processos. Como por exemplo o que propõe o manual para a criação dos SMC:

O prefeito ou a prefeita devem encaminhar à Câmara de Vereadores um projeto de lei


criando o Sistema Municipal de Cultura. Essa lei define a estrutura e os principais
objetivos dos cinco componentes obrigatórios do sistema: plano municipal de cultura,
conferência municipal de cultura, conselho municipal de política cultural, e sistema
municipal de financiamento à cultura. No texto devem estar também os conceitos,
princípios e objetivos da política cultural da cidade. (BRASIL (A), 2013, p. 15).

Em vez de pensar que a formulação da Lei deve ser feita paritariamente com a
sociedade, estas cartilhas5 deixam brechas nos seus textos e terminam propondo relações
verticais de decisão entre Governos e Sociedades Civis, o que implicará fatalmente no descaso
destes últimos às propostas vindas dos primeiros.
Historicamente, as atividades, quase sempre focadas na organização e na
compreensão de como deveriam se dar os processos de Gestão e Produção das potencialidades
da cultura local, pouco avançavam nas discussões acerca de políticas voltadas para a cultura no
país e, mais ainda, no Nordeste brasileiro. Quando acontecia algo, era muito inclinado para um
turismo cultural que tinha como meta o desenvolvimento econômico para a região. Então,
pensar a cultura a partir dela mesma, para a formação humana e o fortalecimento dos diversos
modelos de sociedade, pretendendo-se tanto o resguardo de memórias quanto de novas ações
artísticas da atualidade para o desenvolvimento criativo do indivíduo, era um desafio não muito
comum nos meios onde se faziam gestões públicas até o início dos anos 2000.
Diante desse cenário de descompasso, pretende-se afunilar o foco de observação
para um micro social que, apesar de geograficamente localizado em uma das regiões de menor
pluviosidade do Semiárido nordestino e vivendo basicamente do Fundo de Participação dos
Municípios, conseguiu avançar numa ação colaborativa rumo à efetivação de uma política

4
Sobre definições e interfaces da Gestão Governamental, Gestão Social e Gestão Privada, ver Renato Dagnimo
(2011).
5
No tópico sobre Referências Bibliográficas, apresento quatro cartilhas do Ministério da Cultura que auxiliam
estados e municípios na implantação dos seus sistemas.
4

voltada para a cultura com uma participação mais que paritária entre Governo e Sociedade
Civil.6
É preciso compreender como jovens conseguiram chegar tão longe no fazer gestão
e produção cultural diante de um quadro social que só levava a crer no contrário, na
impossibilidade de se “fazer” e de se “pensar” cultura numa região tão necessitada de questões
básicas como saúde, recursos hídricos, lazer, educação ampla de qualidade e recursos
financeiros para a aquisição de alimentos.
Se o termo empreender pode ser compreendido como uma habilidade de identificar
as oportunidades, o Atissar pode ser percebido como um coletivo que empreende
culturalmente. Não num sentido de mercado, mas tendo como parâmetro de mensuração da
produtividade a FIB (Felicidade Interna Bruta).

[...] a FIB surge enquanto indicador social, entendendo-se que o desenvolvimento


deve promover a felicidade coletiva, assim como traz a noção de que o principal
objetivo de uma sociedade não deve estar voltado para o crescimento econômico, mas
sim para a combinação do desenvolvimento material com o bem-estar psicológico,
vitalidade comunitária, educação, saúde, segurança, dentre outros aspectos do viver
bem. Ao acrescentar um conjunto de variáveis que descreve e analisa a verdadeira
situação de uma população, esses indicadores permitem a formulação, o planejamento
e a aplicação de políticas públicas direcionadas especificamente para determinado
aspecto da sociedade, com a finalidade de se alcançar um grau satisfatório de bem-
estar do conjunto da população. (SILVA, 2014, p. 6).

Tornar as pessoas capazes de ver muito além do que está ao seu redor, como
também de voltar os olhos para si mesmas, para seus ethos, e assim cultivarem
concomitantemente o respeito pelo outro e a admiração por suas próprias existências, é o que
pode ser percebido com a postura de gestão deste Coletivo. Postura esta que não proporcionou
às forças políticas locais um ganho político e econômico imediato. Quando isto não ocorre, as
ações voltadas para a cultura estarão colocadas à margem dos processos de discussões tanto de
diversas administrações públicas quanto de muitas organizações da sociedade civil, que só
conseguem ver a cultura como algo de significância “folclórica”.
Apesar desta conjuntura, este mesmo município possui outros aspectos sociais,
típicos da região em que está inserido, que em muito influenciam o surgimento de ideias
importantes para ações voltadas ao fortalecimento histórico e social da comunidade. Em se

6
Existe, na pasta da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Zabelê, um total de três cargos públicos:
Secretário, Diretor de Cultura e Auxiliar de Cultura. Atualmente, o Coletivo Atissar possui um total de doze
membros. Deste modo, são nove os representantes da Sociedade Civil ligados diretamente à ASCUZA, os quais
discutem juntamente com os representantes do Governo municipal os caminhos que devem trilhar para as ações
voltadas para a cultura.
5

tratando de uma gestão cultural, foram algumas matrizes culturais, bem como o viver diário dos
cidadãos zabeleenses, os principais impulsionadores de tais ações.7
A vivência dos cidadãos nas ruas, nas calçadas e a inter-relação dos mesmos com as
suas casas, confundindo muitas vezes onde começa um e onde termina o outro, é um forte
estímulo para a “romantização” da comunidade à primeira vista por parte do visitante. 8 Zabelê é
a típica cidade pequena do Semiárido nordestino, onde os mais velhos ainda levam suas
cadeiras para as calçadas, as crianças brincam nas praças e os jovens e adultos param para
namorar, jogar ou conversar.9 As vivências das pessoas quase sempre são interligadas por
muitas gerações a partir das relações de trabalho, de escola, de religiosidade, de eventos
(culturais, esportivos, de lazer, institucionais etc) e de famílias. Esse tipo de sociabilidade gera
um sentido de vida compartilhada, “cuidada” por todos, configurando, de modo hipotético, um
terreno fértil para a formalização de atividades institucionais baseadas na coletividade.
Outro ponto também fundamental para o início de um trabalho nas áreas de gestão e
produção cultural em Zabelê foi o período de efervescência social e cultural em que se
encontrava todo o Cariri paraibano a partir do começo dos anos 2000, capitaneado pelo
SEBRAE através do programa Pacto Novo Cariri.10
Por fim, as culturas de Reisado, de tocadores de gaita (realejo), de músicos
populares locais, de grupos de dança, de grupos de Capoeira, de rezadeiras, de cantadeiras de
incelenças, de aboiadores, de eventos tradicionais (como pega de boi, festa do jegue, festa de
padroeira, entre outras) foram fundamentais para se ver que o terreno era bom e valeria toda
forma de esforço para serem apresentados ao mundo. Mais adiante, outros eventos passaram a
fazer do calendário cultural da cidade, como o Realiza Cultura (Encontros de Reisados) e o
Novos Palcos e Plateias.

7
É importante ressaltar que, no segundo semestre de 2000 e no primeiro semestre de 2001, eu e a pedagoga
Terezinha Medeiros apresentamos à Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Maria Bezerra da Silva,
de Zabelê, o Projeto intitulado Ensinar Cantando (ver vídeo do projeto em https://www.youtube.com/watch?
v=xwm-22nBtus), que deveria concorrer ao edital do Programa Crer Para Ver da Fundação Abrinq, financiado
pela Natura Cosmético. Este Projeto foi aprovado e, a partir deste momento, iniciou-se uma série de ações
pedagógicas na Escola voltadas para a elaboração de projetos didáticos, tendo como elementos norteadores a
cultura musical local e regional.
8
Para uma melhor compreensão dos universos sociais do povo brasileiro, ver DAMATTA, Roberto. A Casa e a
Rua: Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.
9
Esse aspecto de vivência social nas calçadas tem a cada ano diminuído, tanto com o fim das gerações vindas da
primeira metade do século 20, quanto com a audiência cada vez maior das telenovelas noturnas. A exemplo disso,
é grande a dificuldade que as instituições locais têm de fazer reuniões com a comunidade durante o período
noturno, pois as pessoas quase sempre estão assistindo às novelas.
10
O Pacto Novo Cariri foi uma parceria firmada a partir de 2001 até o final desta década entre os municípios do
Cariri paraibano (Ocidental e Oriental), coordenado pelo SEBRAE/PB, que teve como proposta organizar
colaborativamente todas as ações em prol do desenvolvimento sustentável da região, com ênfase no turismo, na
cultura e na economia rural.
6

É de suma necessidade, para que outros caminhos sejam partilhados ou formados,


entender o caminho que um Coletivo Cultural trilhou para avançar no fortalecimento de grupos
folclóricos locais, na realização de diversos documentários em audiovisual, na gravação de CDs
de produções locais, na aprovação de projetos em diversos editais estaduais e nacionais, nas
ligações fortes com o setor privado, na parceria formada com Universidades Públicas, na
formação intelectual dos seus membros, na realização de eventos para a produção de artistas
regionais e até internacionais, no fortalecimento das culturas matrizes 11 através de eventos de
cunho regional e na ligação a um dos maiores movimentos de cultura do mundo que é o Fora
do Eixo12.
Após 13 anos de trabalhos, com avanços e declínios em termos de ações para a
cultura em Zabelê, este trabalho busca apresentar as articulações entre os diversos aspectos
pertencentes a essa organização colaborativa que lá se instaurou. Mais ainda, tenta vislumbrar
que essa pode ser uma solução em Políticas Culturais de municípios ou localidades socialmente
e economicamente vulneráveis, tomando como base as ações colaborativas.
Diferente da pesquisa baseada na observação participante, cujo pesquisador é
alguém de fora que passa a participar do cotidiano, buscando agregar a experiência do contato
ao universo em que o objeto está inserido, a pesquisa, neste caso, ocorreu a partir da
participação observante, que tem como princípio a realização de quem está dentro, implicando
numa postura de estranhamento do pesquisador dos entornos que compõem o objeto de
pesquisa, para assim obter respostas reais do problema suscitado. O que ocorreu foi a
transformação do familiar no exótico, tarefa que foi talvez a mais difícil durante toda a
construção do trabalho.13
Desse modo, tem-se dois marcos para o início desta pesquisa. Um relacionado ao
momento em que se decide buscar o objeto para a construção desta monografia, o que ocorreu
nos dois primeiros meses de 2014, e um outro fragmentado nos processos de construção de
textos para cursos, projetos e divulgações diversas das ações do Coletivo. Neste último caso,
muitas vezes os textos ou foram propostos pelo pesquisador em questão, por outro membro do

11
As culturas matrizes são formas sociais que têm a função de dar representatividade de origem identitária a
pessoas de um determinado meio social. Quase sempre estão interligadas a práticas culturais ancestrais, adquiridas
através do repasse de conhecimento entre as pessoas de um certo ethos social.
12
O Fora do Eixo é um movimento cultural que surgiu em Cuiabá (MT) em meados dos anos 2000. Atualmente,
tem representatividade em todos os estados brasileiros e em outros países. Uma das ideias que chama a atenção
neste movimento é a partilha de tecnologias e metodologias visando à ação colaborativa entre os inúmeros
segmentos culturais existentes. Mais sobre o Fora do Eixo em http://foradoeixo.org.br/historico/. Para se entender
o seu modo de organização e atuação, ver: http://issuu.com/foradoeixo/docs/cfe_apresenta__o_3.
13
Embora seja atraído constantemente pela minha própria reflexão em torno da vivência pessoal com os
zabeleenses, tenho que constantemente “me afastar de mim mesmo” para tentar responder ao problema por mim
formulado nesta pesquisa.
7

Coletivo, ou foram construídos de modo colaborativo, porém sempre apontando para uma
narrativa que proporcionasse uma leitura do que o Grupo fazia ou pretendia fazer por parte de
quem estava do “lado de fora”, não indicando assim a localização de algum objeto.
Os textos existentes antes do início da construção do objeto foram utilizados na
pesquisa como parte dos dados para a construção da mesma. Desse modo, buscaram-se os
dados numa linha temporal que ia desde as primeiras ações voltadas para a reorganização do
Grupo do Reisado de Zabelê (2001), perpassando a fundação da ASCUZA, da Secretaria de
Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Zabelê, até a participação do Coletivo nas fundações de
outras instituições como Fóruns e Associações na região do Cariri Paraibano. Tudo isso,
concretizado na participação do próprio pesquisador nas ações citadas a partir da feitura de
atas, ofícios, cartas, projetos, panfletos, banners, cartazes, vídeos, CDs, convites, conversas
informais, entrevistas e muitas outras formas de comunicação para a formação de uma política
pública voltada para a cultura.
É importante ressaltar que a coleta de dados está relacionada à procura de
informações em que muitas vezes o próprio pesquisador foi participante ativo das ações que
envolveram a formação e a manutenção do próprio Coletivo, levando a uma organização dos
dados presentes em textos e registros em áudio e imagens, de modo que se pudesse chegar à
resposta do problema. Cabendo ao pesquisador buscar as informações em seus locais de origem
quando necessário.
As reuniões do Coletivo, cujo papel era sempre de estruturação do Grupo, tanto no
relacionado a práticas coletivas quanto a questões individuais, foram fundamentais para a
compreensão de como se deu a organização do grupo. Até 2010, a comunicação interna era
feita praticamente através de reuniões presenciais, telefones e e-mail. As reuniões presenciais
ocorriam através de Assembleias Extraordinárias para prestação de contas e eleição dos
membros da ASCUZA, nivelamento das ações referentes ao Reisado e de tudo que envolvia as
etapas de planejamento do Coletivo. O telefone a que o grupo tinha acesso foi inicialmente o da
Prefeitura ou da residência de alguns membros do Coletivo. O celular se tornou acessível a
todos concomitantemente ao que ocorreu em toda a sociedade brasileira. Os e-mails foram
utilizados a partir da segunda metade da década de 2000.
No segundo semestre de 2010, o Coletivo conectou seus membros dentro de um
grupo virtual, o Google Groups, passando a ter suas ações acompanhadas virtualmente. Em
2012, a partir do curso Interatividade Social na Web, realizado pelo ativista cultural Hans
Ponto, o Grupo passou a ter todas as suas atividades e histórias partilhadas na internet,
8

facilitando assim a comunicação com os membros que já tinham migrado para outras cidades
para cursarem a universidade.
Com essa nova estruturação do grupo, grande parte das informações referentes ao
mesmo agora podem ser encontradas no Facebook, no Youtube, no Google Groups, no Google
Drive, no Dropbox e em outras plataformas, sites ou blogs. Nesses espaços virtuais, pode-se
acessar produções textuais, em audiovisual e grande parte das estratégias utilizadas pelos
membros do Coletivo para auxiliar na organização. Neste caso, é importante chamar a atenção
para a ferramenta de organização de nome Compacto.Tec (ver p. 57), que é alimentada
constantemente com informações fundamentais para se entender como o grupo constrói a sua
organização.
Por outro lado, os textos de autores como Antonio Albino Canelas Rubim, Isaura
Botelho e Selma Santiago, conhecedores profundos de políticas voltadas para cultura, de
Tomás R. Villasante e Paulo Daniel Barreto Lima, os quais fazem descrições pormenorizadas
das gestões dos setores Governamental, Social e Privado, bem como algumas posições
libertárias presentes em autores clássicos como Piotr Kropotkin, Mikhail Bakunin, ou mais
contemporâneos, como Jorge Silva, entre outros, foram utilizados para proporcionar uma
reflexão mais assertiva deste trabalho.
Aqui não é utilizado um campo teórico específico para conduzir a discussão, mas
sim um processo de trazer respostas ao objeto da pesquisa, que é o perfil da política cultural de
Zabelê, a partir das necessidades para descrevê-lo. Essa busca ao pensamento de alguns
pesquisadores acontece numa complexidade de assuntos pari passu com os mesmos aspectos
que foram sentidos durante a construção dessa monografia.
A escolha das fotografias, a montagem de gráficos e organogramas, a utilização de
tecnologias das redes sociais captadas na forma de imagens retiradas da internet e entrevistas
realizadas com membros do Coletivo Atissar foram introduzidas a partir da necessidade de
acrescer mais informações aos textos correlacionados.
Por fim, as vivências e anotações das aulas de cada disciplina do curso de
Especialização em Gestão e Produção Cultural, construídas com o uso de citações, paráfrases,
fotografias, vídeos, visitação in loco de espaços culturais para análise de patrimônios materiais
e imateriais, além da reflexão junto aos professores sobre a situação em que se encontra a
política cultural foram essenciais para o acúmulo e a organização das informações adquiridas
no campo deste trabalho.
1. PANORAMA ESTRUTURAL DA PESQUISA

1.1 SISTEMAS DE CULTURA


Concomitante a um movimento cultural que ocorria em Zabelê no início dos anos
2000, o Brasil também estava dando os primeiros passos para uma política clara de gestão
voltada para a cultura, tendo este quadro mudado bastante a partir das Conferências de
Cultura realizadas no último decênio. No entanto, quando se trata do setor público, as
políticas públicas ainda não se efetivaram enquanto política de Estado, apenas de Governo.
Quando se trata do setor privado, as políticas são sempre dependentes dos editais que as
próprias empresas desenvolvem. Já o setor social sempre fica dependente dos governos ou
empresas privadas, tentando insistentemente se apropriar de recursos de curto prazo para a
manutenção de suas ações.14 A gestão cultural de Zabelê ficou nesse entremeio, ora partindo
de uma narrativa de governo ora de uma narrativa de sociedade civil, porém sempre em busca
dos mesmos objetivos de desenvolver um campo de ação que proporcionasse a realização do
planejamento desenvolvido pelo Coletivo.
A ação construída de maior ênfase dentro deste novo cenário político nacional foi a
aprovação da lei de criação do Sistema Nacional de Cultura (SNC), o qual foi instituído pela
Emenda Constitucional de nº 71, de 29 de novembro de 2012, que acrescentou o art. 216A à
Constituição Federal de 1988.

O SNC propõe um pacto federativo entre as três instâncias: federal, estadual e


municipal, estabelecendo mecanismos de gestão e responsabilidades compartilhadas.
O trabalho conjunto garante um melhor aproveitamento dos investimentos em
cultura, não deixando de lado a autonomia de cada ente nas escolhas e prioridades
para o desenvolvimento de suas políticas de cultura. (BRASIL (A), 2013, p. 12).

Esta lei é um bom indicativo de que já se caminhou bastante nas políticas culturais do
Brasil. No entanto, muito mais se tem por fazer. O Brasil é um país em que, quase sempre, as
leis vêm antes que as ações.

Segundo João Camilo de Oliveira Torres, “o fato realmente espantoso é que no


Brasil o Estado precedeu fisicamente ao povo.” Segundo Faoro: “desde o primeiro
século de nossa história, a realidade se faz e se constrói com decretos, alvarás e

14
Alguns programas direcionados para a cultura: No MINC: o Procultura, o Vale Cultura, os Pontos de Cultura,
o Programa de intercâmbio e Difusão Cultural, Programa Cultura Viva, Prêmio Viva leitura, Programa Cultura e
Pensamento, PROEXT Cultura, Prêmio Culturas Indígenas, Concurso Cultural GLBT, Prêmio Inclusão Cultural
da Pessoa Idosa, Prêmio Capoeira Viva, Prêmio Culturas Populares (Ibram); na PETROBRAS: Programa
Petrobras Cultural – Artes Cênicas, Programa Petrobras Cultural – Música, Programa Petrobras Cultural –
Preservação e Memória, Programa Petrobras Cultural – Formação, Programa Petrobras Cultural – Artes Cênicas,
Edital Petrobras de Festivais de Música; no BNDS: Programa de Apoio a Projetos de Preservação de Acervos,
Patrimônio Histórico e Arqueológico; na CAIXA ECONOMICA: Programa Caixa de Adoção de Entidades
Culturais, Festivais de Teatro e Dança. No BNB: Programa BNB de Cultura.
10

ordens régias”. Tristão de Athayde arremata: “Fomos um país formado às avessas,


que teve Coroa antes de ter povo; parlamentarismo antes de eleições; escolas
superiores antes de alfabetização; bancos antes de ter economias.” (LIMA, 2007, p.
26).

Existe um abismo gigante entre o que é escrito e o que é realizado. Isto é fácil de
perceber quando vemos uma sociedade civil, acompanhada de seus governos estaduais e
municipais, alheia às discussões e regulamentações acerca do SNC. Foram milhares de
Conferências de Cultura ocorridas a partir da I Conferência Nacional de Cultura em 2005, que
resultaram na formulação do documento que deu origem ao SNC, com todas as suas
peculiaridades.15
São muitos os municípios no país que se cadastraram ao SNC, 16 desde aqueles que já
têm os seus Sistemas Municipais de Cultura (SMC) implantados, até aqueles em que nenhuma
atividade foi feita ainda ou em que há alguma diligência. 17 No entanto, isto pouco significa se
o intuito é o de que a política cultural seja apreendida pela sociedade como um todo, pois não
adianta apenas que os municípios sigam uma ordem superior e simplesmente criem leis para a
instauração dos seus SMC. Pelo contrário, a simples inclusão dentro do SNC, através do
cadastro de cada município com o desfecho da criação dos SMC, sem a devida articulação por
parte da sociedade, proporcionará um atraso nas mudanças que deveriam ocorrer com a
implantação dos mesmos. Agindo assim, muitos indivíduos e organizações diversas
continuarão desacreditando das posturas vindas de governos ou instituições articuladoras da
própria sociedade. As palavras de Villasante acerca das articulações, através de inúmeras e
extensas reuniões feitas dentro dos setores sociais, explicam essa relação entre as bases e as
pessoas que chegam até elas.

Até que se vejam os resultados é difícil que os setores de base se convençam de que
a coisa é séria. São tantas as vezes que se tem falado de participação e de
democracia sem que os resultados sejam vistos, que logicamente a gente desconfia.
Por isso, a melhor forma de difusão de uma programação é sua própria realização
nos tempos previstos, ainda que seja pouca coisa, o importante é mostrar coerência
entre o dito e o feito. Mesmo que o que faça não nos pareça tão acertado como
quiséramos, se é tal ao que foi decidido pelas pessoas que participaram do processo,
isto é o que mais vale. (VILLASANTE, 2002, p. 154).

15
No programa estruturante do SNC, como Plano, Conselho, Fundo, o que mais chama a atenção pelo seu caráter
informativo é o Sistema Nacional de Indicadores de Índice Cultural (SNIIC), que proporciona o cadastro de
todas as atividades relacionadas à cultura no Brasil a partir da localização geopolítica de seus fazedores.
16
Mais informações sobre a situação dos municípios brasileiros com relação ao SNC, em
http://www.cultura.gov.br/documents/10907/0/Situa%C3%A7%C3%A3o+dos+munic
%C3%ADpios.16.07.pdf/3e76f501-d2fc-4756-8ede-a5d7003da0f3.
17
“Diligência documental, ocorre quando a documentação física está incompleta ou com preenchimento
incorreto. É enviado email para os contatos indicados no formulário de Solicitação de Integração solicitando
reenvio do acordo corrigido e/ou dos documentos pendentes federados. O processo somente federado terá
continuidade após o atendimento da diligência.” Ver: http://blogs.cultura.gov.br/snc/files/2012/11/Detalhamento-
das-situa%C3%A7%C3%B5es-Para-Blog.pdf-2.pdf.
11

Há de se supor que as Conferências Nacionais e Estaduais têm causado uma falsa


impressão da ação de articulação das políticas públicas voltadas para a cultura, pois, para se
chegar à etapa nacional, parte-se inicialmente da Conferência Municipal e depois da Estadual.
No entanto, não existe uma percepção visível do que é decidido no âmbito menor até se
chegar ao maior. Durante as Conferências Estaduais e Nacional, as proposições não são
organizadas de modo que se saiba bem onde nasceu tal decisão. É tudo muito obscuro e
decidido muitas vezes pelas pessoas ou organizações que mais têm habilidade na arena de
discussão e representam alguns segmentos da cultura ou mesmo de regiões ou estados com
mais avanços dentro das políticas públicas de cultura.
Por outro lado, desejar algo mais avançado, não homogêneo, em um país
continental como o Brasil, com tal diversidade social, talvez seja uma utopia. Além do que, e
apesar das motivações em prol do desenvolvimento de políticas socialistas, a nação encontra-
se mergulhada em um estado capitalista, o qual

[...] é, então, a expressão político-ideológica da agenda produzida pela relação social


que garante a reprodução e naturalização de uma ordem social necessária à
acumulação de capital. De acordo com essa visão, as políticas públicas são formas
de interferência do Estado, visando à manutenção das relações sociais de
determinada formação social. O Estado é o viabilizador da implantação de um
projeto de governo hegemônico, por meio da criação, formulação e implantação de
políticas (programas, projetos e ações) voltadas para satisfazer os interesses de
determinadas classes sociais. (DAGNIMO, 2011, p. 362).

A política, como requerimento básico para a sua realização, solicita de seus


fazedores o entendimento mínimo de que, para agir com ela de modo assertivo, precisa-se ser
profundo na compreensão dos inúmeros agrupamentos sociais humanos existentes. Estes, se
por um lado se distanciam destes agrupamentos devido ao grau de conteúdo distinto de cada
um, por outro lado se emaranham no envolvimento profundo que muitas vezes só age sob a
necessidade daqueles apresentados. Encontrar as pontas dos fios que os constituem para
separá-los e juntá-los a partir da necessidade dada é o segredo de uma gestão de boa
qualidade.
Com a política cultural não é diferente. É preciso estar ciente da existência das
instituições presentes no jogo, na arena, e partir para a utilização de mecanismos que
colaborem para que as metas sejam atingidas.

1.2 ARENA CULTURAL: CAMINHOS PARA GESTORES, PRODUTORES E AGENTES


A cultura está presente na sociedade humana assim como o respirar é vital para
que todos existam. Todos os humanos socialmente formados dependem da cultura para se
12

apresentarem como tais. O ato de sorrir, tocar, degustar, maquiar, referenciar, odiar, rir,
partilhar, roubar, enganar, ensinar, aprender, assistir, escutar, discursar, mentir, dançar,
meditar, mediar e muitos outros são atributos da cultura humana. Perceber criticamente cada
linguagem humana de modo individual ou partilhado proporcionará um repertório denso nas
ações voltadas para a cultura.
Ao afirmar que a “segunda metade do século XX evidenciou que não se cria
desenvolvimento sem [se] considerar a perspectiva cultural”, MARTINELL (2003, p. 93)
indica a necessidade de se pensar a cultura para além dos universos elitistas do fazer artístico.
Mais ainda, como diz Rubim: “Este elitismo se expressa, em um plano macrossocial, no
desconhecimento, perseguição e aniquilamento de culturas e na exclusão cultural a que é
submetida parte significativa da população.” (RUBIM, 2007, p. 10-11).
É necessário entender que a cultura vai muito além das questões referentes à
ludicidade e, consequentemente, do “desperdício” de dinheiro, como muitos insistem em
pensar (BOTELHO, 2001, p. 73). Qual a ação de muitos governos diante da cultura quando
seus países entram em recessão? Eliminar os recursos financeiros para a mesma, pois a
cultura, para grande parte da sociedade e dos governos, não representa algo vital para a
existência da humanidade. Ledo engano desses entes sociais. A cultura precisa sim de um
olhar especial dentro das políticas públicas. E nada de ficar comparando ou medindo
importância com os outros setores da sociedade, como por exemplo a educação e a saúde, as
quais recebem um valor maior do recurso público para o fortalecimento das ações voltadas
para as mesmas.
A maior parte das cidades brasileiras, que são pequenas e de baixo índice de
desenvolvimento social, mantém as práticas de valorizar áreas que recebem mais
recursos financeiros (como a educação e a saúde) do governo federal estabelecidos
por leis, relegando o tema de cultura a segundo ou terceiro plano [...]. (SANTIAGO,
2013, p. 25).

O que se necessita é a compreensão urgente de que a cultura tem que ocupar o seu
local devido no plano social, isto incluindo a melhora do montante e a aplicação dos recursos
públicos para o seu fortalecimento, pois, “[...] considerar as questões culturais como fatores
para o impulso social ainda é uma inovação na gestão pública municipal” (SANTIAGO, 2013,
p. 23).
É de suma importância que gestores e produtores culturais entendam o seu papel
dentro da sociedade: seguir para a compreensão conceitual do seu campo de trabalho, já tão
desenvolvida por muitos pesquisadores das ciências sociais. Como são muitos os conceitos,
com variantes dadas a partir do campo de pesquisa de cada estudioso, a inclinação aqui é por
13

pensamentos que colaborem com a reflexão da cultura nos campos das políticas públicas.
Botelho (2001, p. 74), por exemplo, apresenta dois caminhos para a conceituação da cultura:
um a partir de um viés antropológico, em que ela é “tudo que o ser humano elabora e produz,
simbólica e materialmente falando”, e outro por um prisma sociológico, em que a cultura
“refere-se a um conjunto diversificado de demandas profissionais, institucionais, políticas e
econômicas, tendo, portanto, visibilidade em si própria.”
Há uma necessidade urgente, agora mais do que nunca, de se entender que as
ações voltadas para a cultura devem ser compartilhadas não apenas entre a Sociedade Civil,
mas também entre Governos, pois os programas e recursos do Governo Federal brasileiro se
encontram nas portas querendo entrada.

O cenário atual demanda do gestor público um marco de referência analítico-


conceitual, metodologias de trabalho e procedimentos qualitativamente muito
diferentes daqueles que se encontram disponíveis no meio em que ele atua. O
conteúdo a ser incorporado às políticas, fruto de um viés não mais conservador e sim
progressista, transformador, irá demandar um processo sistemático de capacitação.
(DAGNIMO, 2011, p. 392).

Associado ao plano técnico-conceitual necessário aos gestores e produtores


culturais, é importante parar de continuar pensando e agindo de modo descompassado entre
governo e sociedade civil. Isto impossibilitará que se chegue a uma política cultural que atinja
o plano do cotidiano. Para se conseguir isto, deve-se levar em consideração:

1) O interesse e militância da própria sociedade e daí puxando o poder público a


uma ação incisiva, isso só é possível a partir de uma articulação das pessoas
diretamente interessadas, unindo, pelos laços de solidariedades, demandas dispersas
em torno de objetivos comuns, formalizando-as de modo a dar essa visibilidade
impalpável, em torno de associações de tipos diversos.
2) E pela ação governamental, em que se pese a articulação efetiva de todas as áreas
da administração, uma vez que alcançar o plano do cotidiano requer o
comprometimento e a atuação de todas elas de forma orquestral, já que está se
tratando, aqui, de qualidade de vida. (BOTELHO, 2001, p.75)

Para se fazer política pública de qualidade, deve-se ir muito mais além de simples
ações isoladas e aleatórias, que quase sempre são motivadas por “pressões políticas e
conjunturais.” (BOTELHO, 2001, p. 78) Neste caso, as pressões advindas dos partidos
políticos e da própria sociedade são os casos mais comuns. No Nordeste brasileiro, por
exemplo, as bandas de forró eletrônico ou estilizado, conhecidas como bandas de Sex Music18,
e que hoje estão inseridas nas festividades públicas a partir de acordos entre governos e

18
Termo utilizado pelo jornalista e ativista cultural pernambucano Anselmo Alves na primeira década dos anos
2000, quando as bandas de “forró eletrônico” chegaram no seu auge de apelações eróticas em suas apresentações
em praças públicas, utilizando grande parte do dinheiro público.
14

produtores, bem como por exigência do próprio eleitorado, são um bom exemplo da origem
destas pressões.
O jogo dentro desta arena da política cultural vai muito mais além das relações
que devem ser estabelecidas entre os agentes, os produtores e os gestores culturais dos setores
privado, público ou social. Para se jogar aqui, precisa-se antes de mais nada da preparação de
um time multidisciplinar, com formação técnica de cada indivíduo, de planejamentos e, por
último, de se gerir a operacionalização do time em relação ao que foi planejado.
Isso quer dizer que só planejar não basta, pois ações ocorrerão antes e depois do
próprio planejamento, a partir de todo o processo de gestão.

Gerenciar um processo significa planejar, desenvolver e executar as suas atividades,


e avaliar e melhorar seus resultados, proporcionando melhor desempenho à
organização. A gestão de processos permite a transformação das hierarquias
burocráticas em redes de unidades de alto desempenho. (LIMA, 2007, p. 70).

É sempre importante lembrar que “uma política pública exige de seus gestores a
capacidade de saber antecipar problemas para poder prever mecanismos para solucioná-los”
(BOTELHO, 2001, p. 78). Embora o planejamento indique o grau de importância que os
gestores dão a um determinado setor, ele não será o fim de tudo; fazer uma gestão com
definições particulares sentidas no percurso será um bom caminho para que a política cultural
ocorra de modo mais assertivo.

Não se pode tratar somente da execução planejada previamente, sem saber


reconduzir as novas situações que se apresentam, monitorar as dificuldades não
previstas, e estar em situação de avaliar e corrigir constantemente os processos. Para
isto, há que se favorecer de uma série de instrumentos e técnicas organizacionais
comunicativas capazes de questionar um cronograma, que por mais que tenha sido
bem estabelecido, sempre tem que estar aberto a correções frente aos imprevistos
destas situações complexas. (VILASSANTE, 2002, p. 141).

1.3 CADEIA ORGANIZACIONAL ENTRE SOCIEDADE CIVIL E GOVERNOS


Quando a ação ocorre a partir de um único núcleo da sociedade – como uma ação
meramente governamental, por exemplo –, as decisões dificilmente passarão do campo do
gabinete, da pesquisa, da oficina, da reunião, ou da “vontade”. Do outro lado das bancadas
governamentais está a sociedade civil, que, nesse processo de gestão, precisa estar inserida no
que diz respeito aos lançamentos e resoluções dos problemas. Partindo deste contexto, não
comportando um marco inicial ou metodologia específica para se fazer política cultural, as
pessoas envolvidas podem agir a partir da sua rua, do seu bairro, de sua família, de sua cidade,
do seu país, do próprio globo. As políticas culturais atuais mostram que o público deve estar
15

alinhado com as práticas públicas, o que se traduz em se fazer presente em assembleias,


fóruns e atos públicos, além de terem que ser aptas para as feituras de atas, relatórios, cartas,
convites, anúncios, ofícios, memorandos e muitos outros textos que surgem nos processos
organizacionais coletivos. É preciso que todos aprendam a conversar, a partilhar universos e
objetivos, somando habilidades para chegar a metas comuns.
É preciso criar ligas, redes de laços solidários, trabalhar e somar com o outro,
apontando sempre para um capital social. Tudo isto, com processos ininterruptos de reuniões
para chegar a resultados de formações contínuas para que as ações possam de uma vez por
todas fazer parte de uma política pública dentro da sociedade.
Com isto, deve-se levar em consideração a criação de marcos legais que gerem
cobranças aos governos enquanto agentes fomentadores, fiscalizadores, financiadores e
preservadores. Paralelo a isto, é de fundamental importância entender quais os interesses
presentes na arena política no que tange à cultura, para não se cair na armadilha daquelas
reuniões “sem pé e sem cabeça”, as quais têm vitimado inúmeros setores e agentes da
sociedade que lidam com cultura.

Fazemos longos e caros exercícios de reflexão estratégica e paramos na confecção


de belos e inférteis documentos e quadros pendurados nas paredes.
Um trabalho assim produz papel, remunera consultores, fomenta o turismo de
negócios, mas, infelizmente, agrega pouco ou nenhum valor à gestão e ao cidadão,
quando não causa desmotivação e descompromisso ao se perceber que nada além de
eventos e documentos aconteceram. (LIMA, 2007, p. 142).

A política cultural prevê decisões tomadas a partir de uma relação horizontal entre
os seus participantes, ao menos no início das negociações. E nesta horizontalidade surge a
possibilidade da fruição de inúmeras formas de compartilhamentos, incluindo a própria saída
de um ambiente de relações planas para outro de múltiplas direções, sempre a partir do que a
necessidade de organização política dita no processo colaborativo, no caso, voltado para a
cultura.
Se há verticalidade, transversalidade ou horizontalidade nas relações dentro das
organizações que lidam com políticas culturais, isto deve ocorrer com mudanças constantes
dos indivíduos que se posicionam diante dos outros, para que não se gere uma dependência
coletiva de alguns sobre poucos.

O que se impõe é a construção imediata de espaços libertários, tanto mais que, como
somos, na maioria, materialistas, não esperamos ter outra oportunidade existencial
de viver prazerosamente e de acordo com nossos ideais a não ser nesta curta e
efêmera vida que o acaso nos permitiu viver, associarmo-nos, criarmos,
produzirmos, abdicando das regras hierárquicas e autoritárias. (SILVA, 2000, p. 120).
16

O que se deve ter são mudanças de posturas conjunturais a partir de condutas


individuais e sociais dentro dos macros e micros organismos que compõem as práticas e
discussões acerca de cultura. Além do que,

Se não formos capazes de materializar, no presente, instituições livres e autogeridas


a um nível micro-organizacional e entre afins, não temos sequer condições éticas de
propor tais propostas a grupos mais amplos ou a toda uma sociedade, onde as
contradições sociais e interpessoais fazem de qualquer mudança profunda um
problema bem mais complexo. (SILVA, 2000 p. 120).

Muito se tem dito sobre a importância das culturas para a formação das
sociedades.19 Quando se busca gerenciar processos culturais, relacionados a uma política, seja
de Governo ou de Sociedade Civil, há uma confusão constante em perceber a cultura como
importante em si mesma. Ela não necessita de ser resgatada ou salva de algum “dinamismo”
cultural que insiste muitas vezes em aniquilá-la enquanto peça fundamental da manutenção de
memórias e sociabilidades, incluindo geração de renda através de uma Economia Criativa. Na
verdade, se a cultura pudesse pedir algo, não seria para ser resgatada, mas sim para ser
rememorada, reconduzida, repensada etc.
É preciso se chegar ao necessário para que ocorra segurança na produção, na
condução e no consumo da cultura com ganhos simbólicos e materiais para a construção de
uma sociedade com mais acesso a diversas formas de conhecimentos. Neste caso, embora a
cultura deva estar associada a toda e qualquer produção humana, seja material ou simbólica,
deve-se pensar também para onde esta produção deve ser encaminhada e que tipo de política
deve estar direcionada à cultura a fim de que efetivamente se chegue a melhores dias para a
mesma.

Ter um planejamento de intervenção num determinado setor significa dar


importância a ele, e não, como parecem acreditar alguns, cometer uma ingerência
nos conteúdos da produção. Significa, isto sim, o reconhecimento, por parte dos
governantes, do papel estratégico que a área tem no conjunto das necessidades da
nação. O Estado fomentador é aquele que vê com clareza os problemas que afetam a
área cultural em todos os elos da cadeia da criação – produção, difusão, consumo.
(BOTELHO, 2001, p. 78, grifos nossos).

A partir das conferências, a sociedade foi convidada para conversar e, assim, se


colocar como figura ativa na construção do país. Muitas categorias da sociedade – entre
empregadas domésticas, pescadores, agricultores, estivadores e tantas outras – são chamadas

19
Teóricos que podem ser consultados para um aprofundamento maior sobre conceitos que envolvem a cultura:
Claude Lévi-Strauss, Néstor García Canclini, Roberto DaMatta, Rubens Booal, Loïc Wacquant, José Jorge de
Carvalho, Carlos Rodrigues Brandão, Roque de Barros Laraia, entre outros.
17

para discutir políticas públicas. Com relação à cultura não foi diferente, porém a grande
maioria ficou sem saber por onde caminhar na discussão. Tudo estava muito ainda por se
descobrir. Por outro lado, o que Villasante acrescenta conduz a um pensamento avançado da
participação de todos na arena das discussões sobre políticas públicas voltada para a cultura:

O que produz um bom ambiente geral entre os setores não organizados da sociedade
é um estímulo muito importante, não somente para a própria democracia, mas para o
sentimento geral de pertencer ao movimento que a estimula. A implicação cidadã
ampla, mesmo que seja com comentários superficiais, é um caldo de cultivo
excelente para a criatividade social. O sentimento de que qualquer um pode opinar,
mesmo que seja sem um fundamento grande, é algo que estimula uma sorte de
“chuva de ideias” entre toda a população, e vai se produzindo na rua, nas casas, nos
bares ou mercados, um clima que acaba por repercutir nos grupos e pessoas
organizados, que vão se sentir mais estimulados que em situações normais. A tarefa
dos grupos há de ser, muitas vezes, preparar sistemas de difusão, celebrações de
obras, consultas, várias atividades, nas quais se reflete não somente propaganda, mas
também atenção ao que dizem as pessoas que atenderam às convocatórias.
(VILLASANTE, 2002, p. 154).

A política cultural, pelo menos no Brasil, está num processo de construção. Na


verdade, a política é um exercício de negociação entre partes que nem sempre objetivam os
mesmos fins, e isto dificulta o jogo. Esse aperfeiçoamento não é tão inclusivo como deveria
ser. Os envolvidos não têm aprendido a participar de toda a cadeia organizacional que
antecede as práticas culturais. Neste caso, a cadeia organizacional vai desde as primeiras
reuniões internas, locais, até as assembleias e grandes encontros de produtores e de gestores
culturais. Talvez esta apreensão não tenha ocorrido ainda, porque estamos em um país em que
as políticas públicas existem a partir de uma relação de assimetria entre os envolvidos.

A relação chefe-subordinado reproduz o papel de pai como protetor, ora atendendo


ao que esperam dele os subordinados (patriarcalismo) ora impondo sua vontade
(patrimonialismo). O preenchimento de cargos ocorre prioritariamente por confiança
ou relações pessoais. A hierarquia é vista como necessária para se saber quem tem
autoridade, como consequência da expectativa do brasileiro em um comando forte e
centralizado, e não um poder difuso e despersonalizado. (FONTES FILHO, s/d, p. 6)

O poder público ou a iniciativa privada são os detentores e controladores dos


recursos, que quase sempre publicam seus editais e aguardam uma reação da sociedade civil.
Esta, por sua vez, quando apenas espera que as informações cheguem a seu endereço, sem
procurar previamente pelas mesmas, fica atrás no alcance a verbas direcionadas para a cultura.
Evidentemente, nos últimos anos algumas tentativas governamentais têm ocorrido
para socializar com a sociedade civil os recursos para a cultura, como, por exemplo, o
programa governamental dos Pontos de Cultura, porém, tudo ainda num momento histórico
de aprendizado do governo, com mais erros do que acertos. O que não quer dizer que os erros
18

sejam negativos para a construção do processo, mas indicam o quão historicamente o país
estava distante de uma política cultural eficaz.
É o estar na arena da política cultural que faz com que os envolvidos desenvolvam
questões cruciais para que se avance para ações mais sólidas, como, por exemplo: por que o
dinheiro das empresas privadas proveniente de isenções fiscais não vai diretamente para as
políticas culturais propostas por sociedade civil e governo? Por que é a empresa que escolhe
onde e como vai investir o percentual da isenção fiscal, já que o recurso originariamente é
público? Por que não existem cotas distribuídas proporcionalmente às necessidades de cada
Região do Brasil? Isto é conjuntura política. Não basta estar nos bastidores, nas plateias. E
mais ainda: “[...] as vontades e confianças devem sustentar os programas, e não o inverso.
Construir as programações a partir dos atores e não aos atores desde os programas que melhor
nos acomodam.” (VILLASANTE, 2002, p. 151).
Tem acesso à arena política em Brasília quem está localizado nas regiões mais
próximas da capital. Isto faz com que grande parte das decisões ocorram muitas vezes de
modo arbitrário para o restante do país. A implantação do Vale Cultura é um bom exemplo da
arbitrariedade imposta pelos grandes centros ao resto do país. Este programa, se necessário,
deveria fazer parte de algumas localidades que realmente tivessem equipamentos e empresas
que dessem conta do mesmo. É sem dúvida benéfico, mas precisa ser reconfigurado para
atender às diversidades sociais, geográficas e econômicas dos municípios do país.

1.4 CULTURA, FOCOS E TRAJETÓRIAS

Apesar desta quase inexistência de ações coletivas rumo a uma vida social diversa
e rica de informações, muito se tem feito para avançar nas políticas voltadas para a cultura no
último decênio. Na verdade, o tema desenvolvimento humano, social e ambiental tem sido
pauta em todo o mundo, principalmente depois do fim de muitas ditaduras militares nas
últimas décadas do último século.
Rubim faz um breve histórico das políticas estatais voltadas para a cultura no Brasil:

O setor da cultura esteve inscrito no Ministério de Educação e Saúde (1930) até


passar a compor o Ministério de Educação e Cultura, em 1935. Foram precisos mais
32 anos para a independência e autonomia da cultura em um ministério singular
(1985) e sua implementação foi deveras complicada. A sua implantação durante os
governos Sarney (1985-1989), Collor (1990-1992) e Itamar (1992-1993) é um
exemplo contundente desta tradição de instabilidade: criado em 1985; desmantelado
por Collor e transformado em secretaria em 1990; novamente recriado em 1993 por
Itamar Franco. Além disto, foram dez dirigentes responsáveis pelos órgãos nacionais
19

de cultura em dez anos (1985-1994): cinco ministros (José Aparecido, Aloísio


Pimenta, Celso Furtado, Hugo Napoleão e novamente José Aparecido) nos cinco
anos de Sarney; dois secretários (Ipojuca Pontes e Sérgio Paulo Rouanet) no período
Collor, e três ministros (Antonio Houaiss, Jerônimo Moscardo, Luiz Roberto
Nascimento de Silva) no governo Itamar Franco. Por mais brilhantes que fossem os
escolhidos – e nem sempre foi este o caso –, a permanência média de um dirigente
por ano, com certeza, cria uma considerável instabilidade institucional para com um
organismo que está em processo de formação. (RUBIM, 2007, p. 7-9).

A partir de 1994, o cenário para a cultura começa a mudar de cara. Embora muito
mais inclinado para uma lógica de mercado, será nos oito anos de governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso que a cultura receberá uma atenção mais prolongada, com poucas
mudanças dos gestores no Ministério da Cultura. O que será enfatizado em âmbito nacional é
a Lei de Incentivo direcionada exclusivamente às isenções fiscais de imposto de renda.
No entanto, em 2002, com a saída de um governo baseado numa política
neoliberal20, chega outro com uma postura mais direcionada às políticas sociais, o que mudará
o cenário das discussões e das ações. Inicia-se, agora, no governo do presidente Lula, uma
série quase que ininterrupta de encontros, reuniões, cursos, eventos, fóruns e conferências,
gerais e setoriais, para se chegar a decisões mais objetivas no campo do acesso à cultura.
É muito importante lembrar que as ações entre a Federação, o Estado e o
Município devem ter sempre como propulsor este último, devido à maior proximidade que
este tem com o cotidiano dos fazedores culturais. Mesmo com uma política cultural como
nunca vista antes, os recursos orçamentários no Brasil para a cultura ainda são muito parcos e
isto tem impulsionado os setores artísticos e culturais a criarem novas formas de associação,
como modo de compartilharem ações mesmo sem a tutela do Estado.
Deste modo, faz-se necessário compreender que uma política cultural eficaz deve
seguir num caminho do micro para o macro, isto é, pensar atitudes que partam do Município
para o Estado e deste para o Governo Federal. Botelho expõe bem este problema:

Chama-se a atenção, ainda, para um aspecto de ordem estrutural: se é possível


afirmar que a cultura, do ponto de vista antropológico, é a expressão das relações
que cada indivíduo estabelece com seu universo mais próximo, em termos de uma
política pública, ela solicita, por sua própria natureza, uma ação privilegiadamente
municipal. Ou seja, a ação sociocultural é, em sua essência, ação micro que tem no
município a instância administrativa mais próxima desse fazer cultural. Embora esta
deva ser preocupação das políticas de todas as esferas administrativas, o
distanciamento que o Estado e a Federação têm da vida efetiva do cidadão dificulta
suas ações diretas. No entanto, é claro que não as impede. Em primeiro lugar, seu
apoio as legitima politicamente. Em segundo, estas duas instâncias podem ter ações

20
“A visão hegemônica, baseada na concepção de Estado pluralista ou liberal, e mais ainda na neoliberal, vê as
políticas ‘econômicas’ e as políticas sociais como se estas não estivessem articuladas e fossem independentes,
como se não fossem elaboradas no âmbito de um Estado capitalista.” (DAGNIMO, 2011, p. 370).
20

diretas, mas sempre em parceria com o nível municipal – que deve ser sempre o
propulsor de qualquer ação conjunta. (BOTELHO, 2001, p. 75).

Um olhar e uma atitude ainda mais direcionados para o foco, em que o problema
ou a meta estão situados, podem proporcionar uma ação mais eficaz com relação a uma
política cultural individualizada. No entanto, se ficar apenas no local as possibilidades da
cultura se transformar em política pública será impossível. Um olhar e uma atitude ainda mais
direcionados para o foco, em que o problema ou a meta estão situados, podem proporcionar
uma ação mais eficaz com relação a uma política cultural individualizada. No entanto, se ficar
apenas no local as possibilidades da cultura se transformar em política pública será
impossível.

As políticas culturais, isoladamente, não conseguem atingir o plano do cotidiano.


Para que se consiga intervir objetivamente nessa dimensão, são necessários dois
tipos de investimento. O primeiro é de responsabilidade dos próprios interessados
e poderia ser chamado de estratégia do ponto de vista da demanda. Isto significa
organização e atuação efetivas da sociedade, em que o exercício real da cidadania
exija e impulsione a presença dos poderes públicos como resposta a questões
concretas e que não são de ordem exclusiva da área cultural. Somente através dessa
militância poder-se-á “dar nome” – no sentido mesmo de dar existência organizada –
a necessidades e desejos advindos do próprio cotidiano dos indivíduos, balizando a
presença dos poderes públicos. (BOTELHO, 2001, p. 75, grifo nosso).

A existência dos Sistemas Federal, Estadual e Municipal de Cultura possibilita


que se avance no sentido de tornar a cultura não apenas acessível à sociedade, mas também
que a cultura seja o motivo pelo qual esta sociedade poderá se tornar protagonista de sua
própria história.
É difícil pensar um Sistema dentro de um esquema social distante das discussões e
razões que levaram à existência do mesmo Sistema. Evidentemente, não há nada fácil aqui na
solução do problema. Mas perder esta grande oportunidade ou mesmo aniquilá-la diante da
pouca ou nenhuma formação da sociedade seria perder a chance histórica de tornar a cultura
uma política social de suma importância para a construção de uma sociedade com mais
direitos ao conhecimento e à manutenção de suas memórias.
Ainda falta formação de base, principalmente relacionada à gestão cultural, aos
“próprios interessados”. Pode-se pensar mesmo, sem nenhum receio, nas bases dentro das
periferias, dos espaços rurais ou ribeirinhos que sobrevivem neste Brasil de poderes
hegemônicos, quase sempre analisado, teorizado e gerido por uma intelectualidade débil que,
em vez de criar estratégias e metas para ouvir e traduzir quem realmente tem guardado ou
21

criado memórias criativas no país, passa a fazer suas interpretações diversas sobre sonhos e
anseios alheios.

Trata-se de desenvolver organismos para a democracia participativa, que, por


exemplo, se responsabilizem por programações e gestões específicas, não a partir de
competências jurídicas regulamentadas, mas desde o hábito de que os órgãos do
governo se responsabilizem em proporcionar os meios e as propostas oportunas, e
deleguem estas funções a sistemas participativos que sejam mais ágeis e eficientes
dos pontos de vista dos próprios cidadãos implicados em cada processo concreto.
(VILLASANTE, 2002, p. 153).

Neste momento, faz-se necessário parar os passos largos da necessidade


quantitativa, balizada, quase sempre, na lógica partidária do voto. Diminuí-los mesmo! É mais
eficaz perceber o tamanho e a velocidade das “pernas” dos municípios para que assim se
possa traçar uma estratégia mais eficaz para a implantação do SMC. Mas qual seria o início e
o meio para a formulação ou aplicação do referido sistema? Segue uma resposta:

[...] políticas culturais implicam, dentre outros requisitos, em, pelo menos:
intervenções conjuntais e sistemáticas; atores coletivos e metas. [...] noções de
política e de cultura; formulações e ações; objetivos e metas; atores; públicos;
instrumentos, meios e recursos humanos, materiais, legais e financeiros; interfaces
com áreas afins; além de possuir um caráter sistemático e envolver diferentes
momentos da cultura: criação, invenção e inovação; difusão, divulgação e
transmissão; circulação, intercâmbios, trocas e cooperação; análise, crítica, estudo,
investigação, pesquisa e reflexão; fruição e consumo; conservação e preservação;
organização, legislação, gestão e produção. (RUBIM, 2001, p. 2).

Existe uma pressão, sem endereço certo, ocorrendo no âmbito da cultura com o
número cada vez maior de: 1) Editais: ações do primeiro, segundo ou terceiros setores
baseadas no repasse de recursos financeiros para os diversos setores culturais a partir da
inscrição e análise de projetos. O setor governamental tem se destacado bastante, com relação
aos outros setores, nessa forma de repasse de recursos, devido à grande demanda oferecida
nos últimos anos; 2) Convênios: uma forma de contrato entre organizações da sociedade civil
com instituições governamentais. Ocorre quando algum setor público, seja ligado diretamente
aos governos (municipal, estadual ou federal) ou às autarquias, percebe que alguma
organização civil pode realizar determinada função ou executar determinada ação de interesse
coletivo. Deste modo, há um repasse de recursos ou condições diversas para que uma
determinada instituição possa realizar o trabalho pretendido; e 3) Leis de Incentivo:
legislação que permite a pessoas físicas ou jurídicas repassarem um percentual de seu imposto
devido a projetos culturais que julguem interessantes. Assim, parte do que seria pago ao
governo é destinado diretamente aos projetos culturais.
22

Com este novo impulso nas articulações sociais, as discussões acerca do


financiamento para a cultura através das Leis de Incentivo têm se ampliado cada vez mais, e a
sociedade vem se apoderando de recursos voltados para a cultura, embora as Leis de Incentivo
quase sempre beneficiem produtores de grande porte. E ainda: além da empresa sempre ter
como princípio a divulgação de sua marca atrelada a grandes nomes, ela quase sempre
direciona que tipo e forma de arte os produtores devem trazer para ela.
É nesse contexto que a compreensão da história possibilitará que se tome
consciência nas decisões e, por fim, se aponte para a qualidade do futuro necessária para
colocar a política cultural no seu local devido. O que isto quer dizer? Que os motivos que
levam a uma determinada decisão serão fundamentais para se acertar no que se deve chegar
em termos de boa qualidade.
Para se tomar decisões, é preciso ir além da própria história dos envolvidos, pois
todos têm que entender o trajeto de si próprio mas também o do “outro”, conversar com o
diferente, com o estranho, para que o campo de visão e negociação seja sempre ampliado. Ao
fazer isto, elimina-se um “conservadorismo que pode ser rude, brutal, repressivo, como
também pode ser sofisticado, sutil, liberal. Pode ter uma ação contundente ou uma ação
emoliente.” (KONDER, 2005, p. 169). Esta última é muito mais perigosa, pois esconde, atrás
de uma máscara de “bom mocismo”, forças excludentes e hipócritas de uma política de
mercado que insiste em dizer que, para que ocorra cultura, será necessário submetê-la a
determinadas possibilidades de ganho monetário.

Aqui, tem-se um aspecto mais grave e que incide sobre a qualidade do trabalho
artístico: projetos que são concebidos, desde seu início, de acordo com o que se crê
que irá interessar a uma ou mais empresas, ou seja, o mérito de um determinado
trabalho é medido pelo talento do produtor cultural em captar recursos – o que na
maioria das vezes significa se adequar aos objetivos da empresa para levar a cabo o
seu projeto – e não pelas qualidades intrínsecas de sua criação. (BOTELHO, 2001,
p. 78).

Talvez já seja chegada a hora da política cultural do Brasil ter como modelo
direcionador:
países que criam associações especificamente para o desenvolvimento de um
mecenato empresarial responsável, visando o estabelecimento de uma relação entre
patrocinador e patrocinado que ultrapasse aquelas de natureza comercial. Nesse
caso, o objetivo é que a empresa, sem abrir mão de seu investimento em imagem,
promova uma política cultural própria, pelo menos em médio prazo. (BOTELHO,
2001, p. 69).

É preciso que os diversos segmentos da sociedade e governos entendam a função


única da cultura na sociedade, principalmente no que diz respeito aos seus agentes
23

articuladores, os quais têm toda uma forma, muitas vezes orgânica, de perceber socialmente o
que dificilmente seria aprendido nas escolas. O que isto quer dizer? Que a apreensão da
cultura, seja no âmbito da produção, da gestão ou da execução, deve estar situada,
inicialmente, no local em que a mesma é gerada.
2. CONTEXTUALIZANDO CENÁRIOS, CENAS E ATORES

A tela está na mesa. As mãos nos lápis e nos pincéis para que a imagem seja
formada e assim possa ser apresentada a forma pela qual jovens têm tornado a vida mais
colaborativa e reflexiva diante de uma sociedade que insiste em ser individual, privada,
deslocada da construção em grupo e voltada para um pensamento massivo.
A presença de um Coletivo Cultural que se posicionou fortemente diante de
inúmeras situações contrárias a uma prática cultural compartilhada faz com que sejam
observados os detalhes da formação ambiental e social dentro das quais o Atissar foi gerado.
Zabelê21 é um município22 com práticas ainda ancestrais nas divisões de atividades social,
econômica e política. Com o surgimento recente de trabalhadores no seguimento privado,
tendo os seus direitos respeitados a partir da lei vigente,23 Zabelê mais parece uma sociedade
pós-feudal, que, após passar por um “portal mágico”, reapareceu em uma sociedade de
economia globalizante e informacional.
Localiza-se em um espaço cravado numa das regiões mais secas do Semiárido
brasileiro, na microrregião do Cariri Ocidental paraibano, com uma pluviosidade média de
581 mm/ano e com uma população de pouco mais de dois mil habitantes numa área de 109
km², a 324 km da capital paraibana.24

FIGURA I – Zabelê: Localização do município no estado da Paraíba.

21
Zabelê é uma ave brasileira da família dos tinamídeos, com nome cientifico de Crypturellus noctivagus zabelê.
Mede entre 33 a 36 cm. Habita principalmente as matas de Minas Gerais e do Nordeste do Brasil. Essas aves
ocupavam áreas onde havia água e frutos. Uma referência sobre a presença do pássaro no município de Zabelê
pode ser encontrado no documentário “Memórias dos Nossos Avós: umas e outras histórias”
(https://www.youtube.com/watch?v=9gJE5MJS6xo e https://www.youtube.com/watch?v=Zoh4tHYYr30, e
também no livro de RIETVIELD, Na sombra do Umbuzeiro: história da paróquia de São Sebastião do
Umbuzeiro. Este dedica um capítulo para descrever a história de formação de Zabelê.
22
Inicialmente, Zabelê-PB foi criado com a denominação de distrito, pela lei estadual nº 2.776, de 16 de janeiro
de 1962, pertencente ao município de São Sebastião do Umbuzeiro-PB. Só em 29 de abril de 1994, Zabelê passa
à condição de município, através da Lei Estadual nº 5.919 da mesma data, desmembrando-se do município de
São Sebastião do Umbuzeiro.
23
Em 31 de julho de 2013, foi criada a primeira Fábrica Zabelê Confecções de Roupas, formalmente constituída.
24
Ver SILVA, Almir Cléydison Joaquim da. & SILVA, Beatriz Batinga e. A ORGANIZAÇÃO
SOCIOECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE ZABELÊ-PB. Monografia apresentada à disciplina de Economia
Paraibana do Curso de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). João Pessoa – PB, 2013.
Orientador: Professor Ivan Targino Moreira. Este trabalho analisa o desenvolvimento socioeconômico do
município de Zabelê-PB, relacionando-o às principais atividades que compõem o seu PIB – Produto Interno
Bruto, bem como a dados referentes à evolução e ao desenvolvimento da população do município. Apresenta
também aspectos geográficos que compõem o território, bem como a sua evolução histórica.
25

Fonte: Wikipédia, 2012

Nesta região, a manifestação cultural majoritária está interligada à cultura de


massa que trata da “homogeneização da informação, veiculada pelos meios de massa, em uma
faixa repertorial que é nivelada para um receptor médio abstrato” (SANTAELLA, 2007, p.
124), e sempre ligada aos gigantes de eventos da grande mídia, que tem sido uma grande
“pedra no sapato” para gestores e produtores culturais comprometidos como uma política
pública eficaz, mais diversificada culturalmente.
Nesse universo de produção massiva, o consumidor, ou público-espectador,
responsável direta ou indiretamente pela contratação pública ou privada de muitos setores da
cultura, passa a ter poucas opções na cena de formação humana a partir da cultura. Muitas
vezes, não encontrando na cultura de massa quaisquer elementos que possibilitem um
fortalecimento das comunidades com os seus espaços sociais.
Nesse caso, Zabelê é envolvido por aspectos culturais massivos muito
semelhantes aos que se apresentam em outros municípios do território brasileiro. De modo
mais enfático, tem-se como exemplo as tradicionais Festas do Jegue e da Padroeira (Nossa
Senhora das Dores), em que são disponibilizados para as mesmas a maior parte dos recursos
rubricados para a cultura através da Lei Orçamentária Anual, com uma forte atenção da
população para estes eventos. Tanto um quanto o outro têm, como núcleos estimuladores da
26

participação da população, bandas ou artistas ligados a uma produção musical massiva que
em nada estimula uma economia criativa local.25
Paradoxalmente, apesar da entrada avassaladora da cultura de massa em espaços
antes desprovidos de tal linguagem, dando a municípios como Zabelê características sociais
híbridas, ora de identidade local ora de identidade massiva, muitos aspectos interioranos ainda
podem ser percebidos no dia a dia da população, os quais foram fundamentais para a ação
coletiva realizada entre os anos de 2001 e (início de) 2014 neste município.
Esta potencialidade orgânica de agremiação de pessoas trouxe o entendimento de
que era necessário algo mais para que o processo colaborativo com vistas à efetivação de uma
política cultural fosse realizado solidamente, como: 1) a presença de pessoas abertas para
ações colaborativas dentro do universo da cultura; 2) espaços físicos e virtuais para
aglutinação coletiva; 3) produtos culturais passíveis de produzir ganho monetário, advindos
de doações, prêmios ou cachês; e 4) um poder público governamental que dialogasse e
disponibilizasse um mínimo de recursos financeiros e humanos para a geração de atividades
para a sociedade civil. Todas essas características locais ajudaram para que fosse estabelecido
um conjunto de ações fundamentais para Zabelê ser um dos principais municípios
fomentadores de cultura no estado da Paraíba.26

FIGURA II – GT da Cultura em atividade no Curso de Antropologia (2006).

25
Esses eventos são realizados paralelamente à Gestão Cultural de Zabelê. O Coletivo Atissar atualmente não
tem nenhum gerenciamento sobre estes eventos. Os motivos que o levam a tal posição são os seguintes: 1)
questões referentes à política administrativa local, baseada numa postura de centralização das pessoas que
tradicionalmente realizam os tais eventos; 2) os eleitores exigem da gestão pública municipal bandas ou artistas
que fazem parte do sucesso musical regional, bem presentes em outros eventos de rua das cidades nordestinas; e
3) o próprio Coletivo Atissar escolheu não se envolver, por entender que os estes eventos funcionam como
elementos que fragilizam a economia local e pouco agregam na respeitabilidade do local pelo público externo.
26
A partir da importância da própria história de Zabelê, bem como da nova gestão de cultura, que surgia no
início dos anos 2000, muitos olhares de escritores passaram a se voltar para Zabelê, entre os quais podemos citar:
MORAES, Carla Gisele Macedo S. M; SILVA, Luciano de Souza e. 2012; SEVERINO, José Roberto.
VENERA, José Isaías. 2010. CHAVES, Marrara Xavier. SILVA, Almir Cléydison Joaquim da. 2012.
RIETVIELD, João Jorge. 1999; SOUSA, Ronildo Cabral. 2009. PAES, Daniella Lira Nogueira. 2013;
AZEVEDO, Lizziane. 2013; BARTABURU, Xavier. 2007.
27

Fonte: Acervo da Associação Cultural de Zabelê – ASCUZA Zabelê. Ano 2006.

Os resultados alcançados pela gestão de cultura em Zabelê têm possibilitado uma


discussão mais ampla sobre o associativismo. Por meio dele, é possível fortalecer as ações
culturais colaborativas já desenvolvidas no local em suas diversas áreas, como: políticas
públicas; responsabilidade e mobilização social, com atividades de formação humana e
técnica, trabalho colaborativo, intercâmbio cultural, fortalecimento e manutenção das
memórias coletivas, utilização dos ciberespaços, articulação entre produtores e gestores
culturais e formação de plateia; ações educativas, através de cursos nas áreas de
interatividade social na web, audiovisual, antropologia e datilografia; planejamento de
atividades; integração de saberes, numa geração de ambientes de mútuo aprendizado;
patrimônio imaterial, em atividades de fomento junto ao Reisado de Zabelê, ao artesanato e
aos trabalhos desenvolvidos pela cantora Sandra Belê; patrimônio material, nas atividades
de manutenção junto ao conjunto arquitetônico da Fazenda Santa Clara, construção do século
XIX; práticas em projetos como Novos Palcos e Plateias, Realiza Cultura, exposições,
audiovisual e Gestão de Lazer; e comunicação com estímulo à informação das atividades
desenvolvidas, através das ações intra e intergrupal.

FIGURA III – Apresentação da cantora Sandra Belê na Virada Cultural em São Paulo.
Ao fundo, o americano, diretor musical e baterista Gregg Mervine.
28

Fonte: Patricia Ribeiro. Ano 2014.

Inicialmente, a gestão, tanto de Governo quanto de Sociedade Civil, trouxe o


entendimento, local e externo,27 de que havia muitas possibilidades culturais no município.
Isso, acompanhado da necessidade urgente de se fortalecer as manifestações culturais locais,
bem como de se utilizar as mesmas como elemento agregador pedagógico dos professores do
ensino infantil e fundamental I da Escola Municipal Maria Bezerra da Silva, através do
Projeto Ensinar Cantando, em que foram trabalhadas as inter-relações dessas potencialidades,
tanto culturais quanto educacionais.
A receita aparentemente dava certo: educação mais cultura ocupando os mesmos
espaços de discussões e ações para a formação de educadores, alunos, brincantes, poetas,
artesãos, músicos, dançarinos etc, em espaços ora iguais ora diferentes. Um verdadeiro

27
No segundo semestre de 2000, eu e a pedagoga Terezinha Medeiros elaboramos, aprovamos e coordenamos o
Projeto “Ensinar Cantando”, do Programa Crer Para Ver da Fundação Abrinq, patrocinado pela Natura
Cosméticos. O Projeto teve início no município em agosto de 2001, encerrando-se em dezembro de 2002.
Impulsionou previamente a pesquisa das potencialidades artísticas, culturais e humanas dentro do município de
Zabelê. Os pontos fortes observados foram a existência de uma memória de manifestações culturais de Reisado,
Ciranda (mais à frente entendido como Siriri), Aboio e uma produção bastante diversificada de artesanato. Ver
vídeo do Projeto Ensinar Cantando: https://www.youtube.com/watch?v=xwm-22nBtus.
29

trabalho intersetorial, como mandam as “cartilhas” direcionadas às gestões públicas de


qualidade ou mesmo presentes nos diversos discursos de intelectuais cujos espaços de suas
salas e gabinetes são o bastante para a reflexão de ideias e teorias.
No entanto, a gestão do projeto errou em desconsiderar tanto o pedido e a
necessidade local, quanto ao não criar formas corretas de observação e de diálogo com a
gestão escolar, seja coordenação, supervisão, direção e Secretaria de Educação. Mais uma
vez, o erro básico, pois, apesar de tantas discussões e reflexões “paulofreinianas”, ainda há
uma insistência em desconsiderar as realidades locais. Intelectuais que chegam nas
comunidades com um pensamento salvacionista e “metem a cabeça na parede”, visto que
muitas de suas ideias não se adequam à realidade local, não são compreendidas ou mesmo são
rejeitadas por problemas das políticas educacionais ou partidárias locais.

[...] que joguem com a complexidade como um elemento de maior potência e não
um peso, que se abram à verificação da própria ação em cada momento, e que
contem com a participação dos sujeitos implicados para poder tomar decisões ao
longo do processo. Não nos interessa, neste sentido, tanto aonde vamos chegar com
precisão, mas como estamos construindo o caminho em cada caso, de acordo com
um campo e uns objetivos prévios bastantes amplos. (VILLASANTE, 2002, p. 146).

Apesar do projeto não ter tido continuidade, durando um pouco mais de um ano,
ele deixou um rastro de condutas que foram essenciais na mudança das práticas dos docentes
nos anos seguintes. Possibilitou também o surgimento e a manutenção de uma gestão voltada
para a cultura que traria uma visibilidade externa ao município a partir das práticas e
atividades do Coletivo Atissar.
No entanto, foi na reapropriação do folguedo do Reisado em 2001, a partir da
vontade do então brincante Abel Martins de tornar o grupo ativo na própria comunidade, visto
o mesmo ter ficado em latência por mais de 30 anos, que possibilitou o início de discussões
sobre formas associativistas para a organização de alguns setores culturais de Zabelê.28 O
“novo” Reisado exigia de todos articulações diversas para poder ter novamente função

28
Em 2001, já existia, em Zabelê, a Associação das Produtoras de Arte de Zabelê (APAZ). Formalmente
constituída, esta organização foi criada para dar suporte produtivo às pessoas que fazem a Renda Renascença em
Zabelê. Como neste município, existem outras instituições com iguais funções nos municípios de Camalaú, São
João do Tigre, Monteiro e São Sebastião do Umbuzeiro.
30

enquanto folguedo.29 Em meio a esta articulação estava o apoio da então gestão municipal de
2001, sem a qual seria praticamente impossível que o grupo retornasse às suas atividades.

FIGURA IV – Apresentação do Reisado de Zabelê na cidade de Olímpia. São Paulo.

Fonte: Coletivo Atissar. Ano 2012.

29
De acordo com os brincantes mais antigos do Reisado, o grupo está na terceira formação. As duas primeiras
formações eram feitas com homens adultos. Esta última é composta de crianças, adolescentes, jovens, adultos e
velhos. Todas as faixas etárias são do sexo masculino e feminino. Outro fator também importante no grupo é a
presença de brincantes que fazem cursos universitários e são fundamentais nas negociações do grupo com o
mundo externo e a comunidade. Isto faz com que sejam reestabelecidas novas funções e articulações dentro do
grupo. Este caso do Reisado de Zabelê pode servir a novos estudos sobre a formação e a ressignificação de
folguedos populares, pois o seu retorno e manutenção têm se dado com muitas formas de articulações.
31

FIGURA V – Calendário de apresentações mensais do Reisado em Zabelê.

Fonte: Coletivo Atissar. Ano 2012.

1.5 CULTURA, REDESENHANDO DESTINOS


O que se pretende aqui é apresentar os caminhos percorridos para se chegar a uma
política cultural, cujo princípio norteador foi a ajuda mútua, com ênfase na prática de
agenciamento, produção e gestão cultural. A cultura foi um importante referencial para
desenvolver práticas coletivas, principalmente diante de uma sociedade que tem seus jovens
excluídos da vida econômica, tanto por falta de empregos quanto pelo fato de não possuírem
uma escolaridade digna, ou ainda por não terem experiências sociais que os preparem para
concorrer a um mercado de trabalho de médio ou grande porte.
O que dizer de uma sociedade que, com exceção dos idosos, tem gerações
construídas a partir de um modelo político assistencialista, em que quase sempre a vida das
pessoas é decidida por um pequeno grupo e a comunidade não discute quaisquer questões das
políticas sociais da região, tampouco do país e do mundo? Estas discussões quase sempre se
reduzem à brevidade das campanhas eleitorais, principalmente para o executivo e legislativo
municipal. As novas gerações, que na sua grande maioria não conseguem, por motivos
econômicos, transpassar os municípios fronteiriços, têm seus conhecimentos quase sempre
reduzidos a questões locais superficiais ou correlacionados com a grande mídia vigente
através de suas telenovelas e show business.
32

A gestão de cultura em Zabelê nasce num contexto sociopolítico em que muitas


das instituições da sociedade civil da região são utilizadas para o favorecimento político de
grupos específicos, para a captação de recursos advindos dos poderes executivos e de
instituições internacionais, ou mesmo para o benefício econômico de famílias ou de
indivíduos, mas sempre privilegiando uns em detrimentos de outros. A nova proposta de
trabalho colaborativo foi a de andar na contramão dessa tendência.

Uma das características do privilégio e de todas as posições privilegiadas é aniquilar


a mente e o coração dos homens. O homem privilegiado, seja prática ou
economicamente, é um homem que tem o coração e a mente corrompidos. Esta é
uma lei social que não admite exceções, tão aplicável a nações, quanto a classes,
corporações e indivíduos (BAKUNIN, 1981, p. 287).

A ideia foi a de “redesenhar” o destino dos jovens, colocando-os em práticas que


os deixassem o mais distante possível deste contexto. A estratégia utilizada para a diluição
deste modelo político-social oligárquico e assistencialista, o qual consiste na manutenção de
privilegiados e que existe há muitas décadas dentro das populações do Semiárido nordestino,
foi o movimento contrário a tudo isto, contrário a toda uma política social em que as pessoas
com menor poder aquisitivo aprendem na família, na escola e na igreja que o certo é ouvir e
nunca responder, nunca demonstrar suas opiniões.
Diante disso, as ações que agregassem, valorizassem e dessem sentido aos
aspectos sociais e culturais importantes para o fortalecimento de indivíduos colaborativos,
independentes de sua posição econômica na sociedade, foram sendo trabalhadas
concomitantemente à formação do Coletivo, através da criação de uma Associação Cultural
de Zabelê (ASCUZA), da formalização da gestão de governo voltada para a cultura com a
criação da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente e por um diálogo constante entre
os setores e indivíduos que trabalhavam com cultura dentro de Zabelê.
Com as interações entre setores, feitas muitas vezes sem saber onde se
encontravam os representantes do governo, da sociedade civil ou mesmo de grupos culturais
envolvidos, percebeu-se que a descentralização de ideias, condutas e decisões era
fundamental. Caminhar de forma colaborativa, isto é, contrariamente à ordem estabelecida
por uma sociedade herdeira da relação vertical tão presente antes mesmo do seu início em
formas de governo, nas religiões, nas escolas e relações familiares, como atesta Woodcock:

À medida que as nações começaram a se formar, no fim da Idade Média, o ataque


contra a descentralização começou a ser dirigido não apenas pelos monarcas e
ditadores que criaram nações altamente organizadas como a França dos Bourbon e a
Inglaterra de Cromwell, mas também pela Igreja e especialmente pelas ordens
monásticas mais poderosas, que em suas sedes estabeleciam regras de
33

comportamento uniformes e uma contabilidade rígida sobre os atos dos seres


humanos que antecipava o ataque iminente às liberdades e à independência regionais
e, na prática, determinava a extinção do sistema de ajuda mútua. (WOODCOCK,
1981, p. 312).

Então, como fazer com que pessoas, outrora crianças sem vozes, tornem-se jovens
e adultos senhores de si, com responsabilidade social e como protagonistas da história da qual
fazem parte? Portanto, o movimento contrário foi justamente fazer com que as pessoas
falassem e se expusessem diante uns dos outros, de modo que todos se ouvissem e tirassem de
suas declarações um novo aprendizado, o que suscitaria novas propostas para o coletivo.
Desta maneira, forma-se uma estratégia singular, em que se trabalha uma gestão colaborativa
com normas próprias para a perpetuação do grupo, dentro de uma proposta libertadora, como
bem atesta Bakunin:

A liberdade do homem consiste, exatamente, no fato de que ele obedeça às leis


naturais porque ele próprio as tenha reconhecido como tal, não porque lhe tenham
sido impostas por qualquer espécie de meios ou vontade extrínseca, seja ela divina
ou humana, coletiva ou individual. (BAKUNIN, 1981, p. 286).

Além do que, o processo de informatização em que vive a humanidade, com a


grande velocidade tanto na produção de conhecimentos quanto na aquisição de novas formas
de consumo, não permite que as pessoas encontrem apenas na organização familiar, nas
instituições de ensino ou nos espaços religiosos o necessário para a aglutinação social numa
perspectiva criativa. Novas formas de agregar pessoas são inventadas.

A família, tal como existia na antiguidade, tendo como base uma origem comum,
está em desintegração. Mas como o homem não consegue viver sozinho, começam a
surgir uma série de elementos que vão dar origem a novos grupos sociais, integrados
por pessoas que vivem no mesmo lugar, têm interesses comuns e perseguem os
mesmos objetivos. E o desenvolvimento desses novos grupos só poderá ser
apressado quando ocorrer algum tipo de mudança capaz de provocar o aumento da
dependência mútua ou um maior sentimento de igualdade entre os membros das
comunidades. (KROPOTKIN, 1981, p. 337-338).

Em Zabelê, algumas pessoas viram na cultura um importante referencial para


desenvolver práticas coletivas rumo ao desenvolvimento cognitivo dos envolvidos com o
processo associativista. Com a pressão advinda das ações que agregavam, valorizavam e
davam sentido aos aspectos sociais e culturais de Zabelê, o poder público local e alguns
indivíduos que compunham a sociedade civil passaram a participar do diálogo e das ações
voltadas para a cultura, dando início a uma série de discussões para que as ações pretendidas
fossem otimizadas.
34

Diante disso, é bom lembrar que aspectos sociais e culturais locais sempre são
bem aceitos, principalmente quando a própria comunidade é protagonista do processo na qual
está inserida. E ainda: para “que um grupo se forme, é necessário que haja uma razão para
estar juntos, objetivos para os quais este grupo se dirige e ações que organizem e justifiquem
a convivência.” (DÓRIA, 2002, p. 20, grifos nossos).

1.6 A IMAGEM NA POLÍTICA CULTURAL DE ZABELÊ


Os gestores culturais têm que sair do envoltório social que lhes é peculiar e
habitar outros espaços sociais, em que sejam vivenciados outros tipos culturais, diferentes dos
que lhe são habituais.
É necessário ter cada vez mais um número maior de armas em punho, que façam
dos gestores, produtores e agentes culturais as peças fundamentais na busca de ações que
gerem soluções para as políticas voltadas para a cultura, num país que insiste em fechar seus
olhos para a importância de suas memórias para a construção de sociabilidades sólidas, rumo
a mentes mais criativas.
As principais armas citadas acima são as tecnologias do século XX e XXI, que
proporcionam a capacidade de grandes velocidades de deslocamento, tanto físico quanto
virtual. E mais ainda: proporcionam a capacidade de ubiquidade (“eu ajo aqui e lá ao mesmo
tempo”, duas espacialidades para um mesmo ser), de conexões múltiplas e relações nômades
(“nós estamos transitando por diversas realidades sociais”).
Três ações foram essenciais para o processo inicial da gestão cultural em Zabelê:
1) o concurso da logotipo da ASCUZA, que teve como participantes crianças,
adolescentes e jovens da comunidade, inclusive os próprios organizadores do concurso, sendo
a escolha feita por dois profissionais da cidade paraibana de Campina Grande. 30 Foi o início
fundamental para a construção da identidade visual do Coletivo. Evidentemente que muito
focada, neste início, no fortalecimento de uma organização da sociedade civil 31 voltada
exclusivamente para a cultura, o que até então inexistia naquela microrregião. Quem ganhou o
concurso foi Elisandra Romério da Silva (Sandra Belê), membro do Coletivo, que passou, a
partir deste momento, a criar grande parte dos logotipos que envolviam as instituições de
Zabelê. A marca recebeu poucas modificações, apenas ligadas ao aprimoramento dos traços.

30
O designer Sérgio Melo e o jornalista e poeta Carlos Perê.
31
No momento em que a ASCUZA foi criada, existiam, nos municípios de Zabelê, Camalaú, São João do Tigre,
São Sebastião do Umbuzeiro e Monteiro, cinco associações, com CNPJs distintos, voltadas exclusivamente para
o artesanato, principalmente da Renda Renascença. O objetivo dessas associações, somado aos objetivos focados
das mesmas no artesanato, fez com que as pessoas de Zabelê dessem início a uma nova organização cultural.
35

FIGURA VI – Logotipo da Associação Cultural de Zabelê.

1) Logotipo mais antiga 2) Logotipo Recente

Fonte: Acervo da Associação Cultural de Zabelê

2) a formatação e a diagramação de todo o material de expediente utilizado para a


inscrição dos sócios e para os documentos formais da ASCUZA. Neste caso, a identidade
visual passa a ser apresentada a partir, principalmente, da redação e do envio de ofícios, cartas
e convites, com a aplicação da logotipo da imagem anterior a pessoas estratégicas para o
fortalecimento dos associados;
3) a exposição “Rumo à Cor da Terra”, que apresentou, para a comunidade de
Zabelê e alguns formadores de opinião da cidade de Campina Grande/PB, principalmente nas
áreas da comunicação, o papel da Associação na Região. A exposição do foto-documentarista
Antônio Ronaldo32 compunha-se de retratos do Reisado de Zabelê, de pessoas da comunidade
nas suas atividades diversas e de aspectos que envolveram o meio ambiente local.
Assim como a ASCUZA, outros logotipos já tinham sido criados, como o da
Prefeitura Municipal de Zabelê, ou passaram a existir, como o do Reisado, do Coletivo
Atissar e de eventos como o Realiza Cultura e o Novos Palcos e Plateias. Outros setores da
Gestão Governamental e Social também passaram a solicitar logos da designer do Coletivo.

FIGURA VII – Logos de algumas atividades e instituições de Zabelê

32
Evento Realiza Cultura
O Sr. Antônio Ronaldo esteve fazendo os primeiros ensaios fotográficos do Reisado de Zabelê a partir de
janeiro de 2002, quando o jornal Correio da Paraíba enviou uma equipe para fazer um documentário sobre o
grupo que, havia seis meses, retomara suas atividades. Após este primeiro momento de visita, o jornalista viajou
duas vezes com o Reisado para o Festival de Folclore de Olímpia, em São Paulo, e realizou muitos outros
registros fotográficos na microrregião do Cariri Ocidental, como: pegas de boi, comunidades tradicionais, as
flores da primavera do Cariri, o artesanato etc. Atualmente está com uma exposição há mais de dois anos da pega
de boi de Zabelê, no Restaurante Mororó, na cidade de Campina Grande. Tem divulgado muitas imagens
documentadas em Zabelê em várias partes do mundo através de catálogos, feiras e exposições.
36

Prefeitura Municipal de Zabelê

Associação Zabelê Bambino

Conselho Municipal de Direitos da Criança e do


Adolescente de Zabelê

Projeto Novos Palcos e Plateias

Coletivo Atissar
Fonte: Associação Cultural de Zabelê e Prefeitura Municipal de Zabelê

Pode-se notar que a imagem, enquanto elemento de (auto)reconhecimento das


instituições em Zabelê, foi o ponto fundamental para haver, por parte da comunidade, o
empoderamento de um trabalho organizado voltado para a cultura, além do que, proporcionou
um melhor registro cognitivo da presença da Associação na comunidade por parte da mesma
como também dos seus próprios sócios.
3. CAMINHOS DE UMA GESTÃO CULTURAL

A utilização de espaços e a contratação de pessoal 33 pela Prefeitura Municipal de


Zabelê, além da aquisição de equipamentos e a formação de equipes, proporcionadas pela
formação da ASCUZA, culminando na apresentação de Zabelê para o mundo a partir de seus
aspectos culturais, proporcionou uma forte ligação entre estas duas instituições, muitas vezes
sem clareza dos limites do campo de atuação e representatividade de governo e de sociedade
civil. Essa forte relação de ações compartilhadas entre sociedade civil e governo proporcionou
a formação de um Coletivo, denominado atualmente como Coletivo Atissar.

FIGURA VIII – GT da Cultura: formação em 2005

Fonte: Acervo da Associação Cultural de Zabelê – ASCUZA – Zabelê – 2005.

33
Fui contratado pela Prefeitura de Zabelê como Consultor de Cultura entre 2001 e 2004. Ainda em 2004, após
um ano de criação da SECULT de Zabelê, tomei posse como Secretário de Cultura, Turismo e Meio Ambiente
de Zabelê.
38

FIGURA IX – Coletivo Atissar: atual formação.

Fonte: Acervo da Associação Cultural de Zabelê – ASCUZA – S.J. da Coroa Grande/PE. Fevereiro de 2013.

1.7 RELAÇÕES INTERPESSOAIS E INSTITUCIONAIS


É evidente que o ponto fundamental para que todos se aglutinassem em torno de
ideias coletivas foi a série de reuniões ocorridas ao longo desses 12 anos de trabalho coletivo,
que, dependendo dos eventos nos quais os colaboradores estavam envolvidos, chegavam a
acontecer duas vezes ao dia. Quintaneiro lembra que

[...] as ideias que congregam os homens devem ser periodicamente revificadas, a fim
de que não se debilitem. Isso acontece nos momentos em que os homens se
aproximam por meio de relações frequentes, movimentos coletivos, evoluções,
enfim, de reforço exuberante da vida social [...] (QUINTANEIRO, 1995, p. 23).

Acerca das relações interpessoais, a proposta do Coletivo Atissar é a preocupação


com o bem-estar do outro. Essa estratégia de convivência proporcionou um ganho
compartilhado sem muitas perdas na individualidade, e isto, por mais óbvio que parecesse,
não era percebido na mentalidade dos zabeleenses. Ao que tudo indica, também em grande
parte da população brasileira que insiste em chegar nos fins sem cuidar dos personagens e
caminhos.
Um dos principais fatores da guerra entre os partidos, as classes e os diversos grupos
sociais, é a ausência de liberdade de associação e de aquisição dos elementos
39

necessários ao desenvolvimento de uma organização de caráter econômico,


instrutivo ou recreativo.
Somente com essas liberdades é possível constituir alguma coisa que possa ter
caráter social. (CARVALHO, 1914, p. 52).

É preciso desfazer algumas posturas verticais, muito comuns no modelo piramidal


da sociedade e propor algo que equilibre num mesmo peso o conhecimento, a prática social e
a vivência individual de cada um. Isto é, a percepção hierárquica absoluta tem que ser banida
num pensamento colaborativo. Esse foi um forte desafio.
Os Artigos 53 e 54 do Código Civil (CC – L-010.406-2002 – Capítulo II Das
Associações) corrobora a afirmação do parágrafo anterior, ao apresentar o seguinte texto:

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para
fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Alterado
pela L-011.127-2005)
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução;
VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
(Acrescentado pela L-011.127-2005)34

Aparentemente, parece que existe um campo aberto para a formação do estatuto


de cada associação, não implicando que a mesma tenha que funcionar partindo de uma ideia
centralizadora por parte dos seus diretores, pois apenas informa sobre a necessidade de se
formar uma “gestão administrativa”. Além do que, conforme o Código Civil, “Constituem-se
as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. Só que
existem princípios universais em que a burocracia estatal e de mercado, que lida muito mais
no âmbito econômico do que com o social, não deixa evidente aqui, pois, no cotidiano de
relações com os diversos setores administrativos, as associações culturais deverão se adequar
34
Lei nº 11.127, de 28 de junho de 2005.
Altera os arts. 54, 57, 59, 60 e 2.031 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, e o
art. 192 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e dá outras providências.
O Presidente da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
“Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral:
I - destituir os administradores;
II - alterar o estatuto.
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido
deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no
estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores.” (NR)
“Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um
quinto) dos associados o direito de promovê-la.” (NR)
“Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem
como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007.”
40

à Lei da Sociedade Anônima ou Limitada, isto é, se adequar a uma normativa que deixa claro
que cada organização deverá ter um órgão composto de no mínimo um Presidente (ou
Diretor) e um Tesoureiro, com seus respectivos suplentes para representar a mesma.
Então, o que fazer com um estatuto que tem, na hierarquia, um modelo a ser
seguido, com uma diretoria executiva composta de Presidente, Vice-Presidente e Tesoureiro,
levando, deste modo, a uma postura centralizadora entre os seus sócios? A solução: a
Associação manteve a estrutura formal para as negociações externas (bancos, governos,
instituições da sociedade civil e outros modelos institucionais que partilham com esta
formação) e, para as decisões internas, formou um grupo de pessoas ávidas por novos
conhecimentos e ações colaborativas e que tinham igual poder de decisão.
Em Zabelê, as pessoas que ocupam as frentes da gestão de cultura com referência
à produção audiovisual, às comunicações midiáticas, às relações interinstitucionais, à
elaboração e à gestão de projetos, à coordenação de grupos tradicionais, ao acompanhamento
e gestão do planejamento, entre outras, são parte tanto do governo (Secretaria de Cultura,
Turismo e Meio Ambiente) quanto da sociedade civil (ASCUZA), o que implicou na
necessidade de um grupo de trabalho, originalmente chamado de GT da Cultura, depois vindo
a ser denominar Coletivo Atissar. O Coletivo traz à tona a ideia associativista.

Pessoas que são parte de um grupo que possuem em comum “ideias, sentimentos e
ocupações” são atraídas umas em direção às outras, procuram-se, entram em relação,
associam-se e acabam por constituir um grupo especial do qual vem a desprender-se
uma vida moral, um sentimento do todo. (QUINTANEIRO, 1995, p. 44).

É bom salientar que a Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente foi criada
pelo Governo Municipal de Zabelê em 15 de abril de 2003, através da Lei Ordinária
Municipal de nº 100/2003, para que a gestão de cultura avançasse nas negociações com os
diversos setores da sociedade, pois a ASCUZA, ente da sociedade civil, muitas vezes limita-
se apenas ao setor social. Desse modo, o problema de uma gestão colaborativa que ocupava
apenas o universo da ASCUZA passa também a ser repensado com a existência de uma
Secretaria, que, embora nomeada para cobrir a cultura, o turismo e o meio ambiente, teve
como ênfase o primeiro segmento, a cultura.
O entendimento que se tem com essas duas estruturas organizacionais é o de que
elas devem existir para resolver problemas mais externos da comunidade, relacionados a
captações de recursos e também de discussões públicas através de conferências, reuniões,
encontros e fóruns que, muitas vezes, podiam exigir a presença mais de uma do que de outra.
Internamente, a diferença entre ambas se deu a partir do montante de recursos conseguido por
41

ambas e do domínio de espaços e pessoal, que implicaram na diferenciação das mesmas.


Outro ponto, também importante, é que a Secretaria funciona como uma instituição
intermediadora entre o poder executivo com a sociedade civil no que diz respeito aos eventos
realizados e aos bens culturais locais.
Mas, e se todos tiverem que escolher mais de uma decisão e ocorrer discordâncias
entre os seus membros? O pensamento do grupo foi o de realizar discussões exaustivas, até
que predomine, ou ao menos se indique, o melhor para todos.

A planificação de problemas parte essencialmente de uma seleção de qual deles


abordar prioritariamente a partir dos sintomas detectados, e abre-se em duas direções
ou momentos: por um lado, à apreciação das redes de atores e suas motivações e
estratégias, no meio das quais iremos planejar as propostas, e também à elaboração
dos conteúdos e das propostas mesmo que priorizem intervir nos pontos críticos de
cada cadeia causal. De qualquer forma que se combine os passos anteriores é na
ação prática onde as correções acontecerão à medida do desenvolvimento do
processo, assim como a avaliação do que verdadeiramente vá dando resultado.
(VILLASANTE, 2002, p. 141)

Quando se vivencia uma proposta de decisões coletivas, os apontamentos que se


referem ao bem-estar individual sobre o da coletividade não são aceitos, buscando-se
dissolvê-lo na discussão. Evidentemente, o alinhamento de informações é algo constante em
processos como esses e quem está com a informação tem o dever de partilhá-la com os
demais, de modo que todos, ou quase todos, consigam acompanhar o desenvolvimento das
ações coletivas.
Partindo desta relação entre Gestão Pública e Gestão Social, o Coletivo, a partir da
relação e da articulação entre seus membros, conseguiu aprovar diversos projetos, formar
parcerias e obter prêmios junto a instituições públicas e mistas, ora utilizando-se do CNPJ do
Governo Municipal, ora da ASCUZA. Seguem aqui os principais:
1. Em 2003/2004/2005: obtenção de recursos para a compra de equipamentos de
audiovisual (ilha de edição, câmera de vídeo, entre outros), gravação do CD e
SVCD do Reisado de Zabelê e gravação do CD Nordeste Valente, da cantora
Sandra Belê.
2. Em 2004: apoio pelo Programa Concessão de Passagens do Ministério da Cultura,
em que foram disponibilizadas 72 passagens aéreas (Campina Grande–Ribeirão
Preto e Ribeirão Preto–Campina Grande) para o grupo de Reisado de Zabelê
participar do Festival de Folclore de Olímpia, na cidade de Olímpia/SP.
42

3. Em 2005: aprovação do Projeto Polindo Potencialidades pelo Fundo de Incentivo


à Cultura do Estado da Paraíba. 35
4. Em 2005: A Presidente da ASCUZA, Elisandra Romeria da Silva (Sandra Belê),
recebeu “Prêmio Banco Mundial de Cidadania, Experiências Sociais Inovadoras”,
durante evento “Voz Mulher – Encontro Nordeste”, realizado nos dias 21, 22 e 23
de junho.
5. Em 2006:
a. Participação de Sandra Belê na Microssérie Global “A Pedra do Reino”.
b. Prêmio Mestre das Artes pela Lei Canhoto da Paraíba ao Mestre do
Reisado de Zabelê, Abel Martins. Este Prêmio disponibiliza dois salários
mínimos vitalícios a mestres de grupos de tradição da Paraíba.
6. Em 2007: Realização de um curso de Antropologia, tendo como tema “O
Artesanato da Cultura: Um diálogo entre Antropologia e ASCUZA”. 36
7. Em 2008: Inserção da ASCUZA no Programa “Brasil Memória em Rede”, ligado
ao Museu da Pessoa, São Paulo-SP. 37
8. Em 2010: Aprovação de três projetos e de uma premiação. Os dois primeiros projetos
referem-se à produção de dois documentários que contam a história do município
através de relatos de seus primeiros moradores, enquanto o terceiro refere-se à
implantação de um cineclube. A seguir, os projetos:
a. Projeto “Na Memória dos Meus Avós: umas histórias”, através do BNB
Cultural.
b. Projeto “Na Memória dos Meus Avós: outras histórias”, através do
programa Microprojetos Mais Cultura do MINC.
c. Cine Mais Cultura: obtenção de equipamentos e capacitações para a
implantação do Cine Pra Q V de Zabelê.
d. Prêmio “Inezita Barroso” ao Mestre Abel. No entanto, o recurso para o
Mestre do Reisado de Zabelê, por questões institucionais do MinC, não foi
pago.

35
Este projeto teve como meta a realização, com jovens e crianças zabeleenses, de oficinas de capoeira,
artesanato (reciclagem, macramê e cerâmica) e dança.
36
Curso que durou cerca de seis meses, sob a orientação do professor doutor em Ciências Sociais Rogério
Humberto Zeferino Nascimento e da professora doutora em Ciências Sociais Mércia Rejane Rangel
Batista, ambos da Universidade Federal de Campina Grande. Estiveram presentes também alguns bolsistas
dos dois professores.
37
Este Programa tinha como princípio o arquivo do maior número possível das memórias sociais do Brasil e
utilizava uma metodologia própria de entrevistas e publicações.
43

9. Em 2012:
a. Aprovação do Projeto “Encarnado azul” pelo Fundo de Incentivo à Cultura
do Estado da Paraíba.
b. Aprovação de recursos dentro do Programa “Concessão de Passagens” do
Ministério da Cultura para viagem do grupo do Reisado de Zabelê para o
Festival de Folclore da cidade Olímpia, SP.
10. Em 2012/2013/2014: Participação da cantora Sandra Belê como apresentadora do
Programa “Arraiá Itararé”. Este Programa é realizado pela TV Itararé (Campina
Grande/PB), afiliada da TV Cultura.
11. Em 2013:
a. Prêmio ao Reisado de Zabelê pelo Programa Culturas Populares do
Ministério da Cultura, edição “100 anos de Mazzaropi”.
b. Aprovação do projeto do Novos Palcos e Plateias na Lei Rouanet. No entanto,
a captação de recursos não foi possível por questões como falta de técnicos
contábeis especialistas na Lei Rouanet e o desinteresse por parte das empresas
locais em investir nessa modalidade de Incentivo à Cultura.
12. Em 2014:
a. Participação da cantora Sandra Belê na Virada Cutural de São Paulo.
b. A ASCUZA ganhou o Prêmio Nacional Rodrigo Melo de Franco Andrade, que
visa premiar as ações de preservação do patrimônio cultural brasileiro. 38

38
Ver no Anexo VI a Linha do Tempo elaborada pelo Coletivo, que posiciona uma cronologia de dados que o
grupo entende como os principais acontecimentos ocorridos a partir da ação de uma Gestão voltada para a
cultura, de 2001 até 2012.
44

FIGURA X – O cantor Chico César no Novos Palcos e Plateias

Fonte: Acervo da Associação Cultural de Zabelê – ASCUZA. Dezembro 2013.

FIGURA XI – Fazenda Santa Clara, local onde ocorre o Novos Palcos e Plateias.
13.

Fonte: Truta Lucas. Ano 2013.


45

1.8 PRINCÍPIOS PARA A PARTICIPAÇÃO NO COLETIVO

Um ponto fundamental, que levou ao acúmulo das informações para a construção


desta pesquisa foram os motivos que levaram as pessoas a participarem ou saírem do
Coletivo, que atualmente conta com membros naturais de outras localidades.
A primeira ação formal para organizar um grupo para a formação do Coletivo está
agregada à fundação da ASCUZA. Neste momento, foram reunidas 14 pessoas, 5 das quais
ficaram participando ativamente das reuniões e ações do Grupo, sendo que duas sem nenhuma
ligação familiar com Zabelê. Por volta de 2005/2006, o grupo passa a receber novos membros
e apenas dois do grupo inicial se mantêm (um dos membros faleceu em 5 de janeiro de 2005 e
os outros dois que não eram zabeleenses saíram do Coletivo). A partir de 2005, começa a
surgir novos membros da própria comunidade, quase todos com uma idade entre 13 e 16 anos.
Se por um lado a idade desses jovens facilitava no processo de aprendizado, pois todos
sempre estavam muito instigados com as atividades do Coletivo, por outro lado tinha-se muita
dificuldade na operacionalização da gestão, pois nem a ASCUZA, nem a Secretaria de
Cultura, Turismo e Meio Ambiente podiam contar com esses jovens para ações externas, nem
para participar como funcionários comissionados da Prefeitura, nem como membros da
Diretoria ou Conselho Fiscal da ASCUZA. Uma verdadeira maratona no processo de
formação humana que só o tempo poderia resolver.
Com a eleição de 2008 para Prefeito e Vereadores, o Coletivo recebeu um forte
impacto negativo, pois parte dos membros apoiou um dos grupos políticos que perdeu a
eleição, vindo a sair do comando da Prefeitura de Zabelê. Os membros que se posicionaram
contra a gestão do então prefeito voltaram em 2009 a ocupar os espaços e alguns cargos
comissionados da Prefeitura. Os membros do Coletivo que perderam estavam, anteriormente,
ligados a algum tipo de contrato com a Prefeitura e, com a chegada da nova gestora, perderam
seus cargos. Alguns deles foram residir em outras cidades, como Campina Grande e São
Paulo.39
Até o final desta pesquisa, o Atissar estava com 12 membros, sendo 3 residentes
em Zabelê/PB, 3 em Campina Grande/PB, 3 em João Pessoa/PB, 1 em Areia /PB, 1 no
Crato/CE e 1 em Santos/SP.

39
Atualmente, grande parte dos membros que fizeram parte do Coletivo a partir de 2005 e saíram por motivos
diversos se encontra com uma certa estabilidade financeira. Ao conversar com eles, os mesmos se disseram
eternamente gratos pelo aprendizado obtido no Coletivo, o qual refletiu positivamente tanto na carreira
acadêmica (para quem passou a cursar a universidade) quanto profissional dessas pessoas.
46

Em linhas gerais, o que se percebe é que as motivações que levaram à participação


dessas pessoas no Coletivo estão atreladas à mudança econômica, ao acesso a novos
conhecimentos, à participação em processos sociais a que os indivíduos normalmente não têm
acesso no seu dia a dia e à boa relação afetiva que se vivencia dentro do Atissar. Todos estes
apontamentos valem tanto para os membros do Coletivo que são naturais de Zabelê como
para os que nasceram fora. Os que não ficaram no grupo sempre foram motivados a esta
posição por não se alinharem a algumas dessas causas.
O número ilimitado de pessoas para fazer parte de sua estrutura conduz a um
pensamento libertário de organização. No entanto, para que novas pessoas venham compor
parte das frentes de trabalho do grupo, essas precisam ser convidadas pelos atuais membros a
dele participarem tendo em vista a sua contribuição social dentro ou fora da comunidade. Isto
porque em Zabelê quase sempre o contato entre as pessoas é intenso e, desta forma, as que são
percebidas como possuidoras de sentimento e ações associativistas são convidadas para o
grupo. Outro fator também percebido, neste caso de agremiação, foi a indicação de pessoas
através do chefe do executivo municipal, a partir de uma solicitação dos familiares dos
próprios jovens para que os mesmos pudessem ter condições de receber benefícios
econômicos pela Prefeitura, e de pessoas brincantes do Reisado de Zabelê que se destacavam
nas viagens como pessoas com fortes tendências colaborativas. A situação mais recente de
agremiação foi a entrada de pessoas sem qualquer ligação familiar com o município de
Zabelê, sendo duas da cidade de Campina Grande-PB e uma da cidade do Crato-CE. Essas
pessoas foram convidadas pelo fato de fazerem parte de projetos executados pelo Coletivo,
como colaboradoras, e chamarem a atenção pelo seu intenso grau de envolvimento.

Outro critério é a avaliação do que vamos fazendo pelo grau de implicação dos
setores aos quais nos dirigimos. A intenção não é acolher muita gente numa primeira
reunião, caso contrário como vai se incorporando pessoas ou grupos às diversas
tarefas de (1) difusão das ideias e atividades, (2) consultas à população, (3)
autoformação dos grupos (4) comissões ou reuniões para a tomada de decisões e
grupos de trabalhos. Isto é algo para ir se fazendo desde um primeiro momento,
porém aberto no tempo. São processos que não somente dependem da vontade ou do
saber de um grupo, mas também dos outros, dos contextos em que nós vivemos.”
(VILLASANTE, 2002, p. 147).

Ao fazer parte, quase sempre, o recém-chegado ao Coletivo tem, como primeira


atividade, a realização do curso de datilografia, que mais funciona como um “rito de
passagem” que dará condições para que todos os membros tornem-se hábeis no processo de
47

digitação e, consequentemente, na produção de textos. Alves (25 anos, 24 de set. 2007)40 diz
que “o curso de digitação é o primeiro passo [...]. Meu primeiro contato com o computador foi
com o curso de digitação. Então foi muito bom o aprendizado. E a gente usa pra vida toda, é o
primeiro passo, o primeiro degrau.”
Ao concluir o curso de datilografia, o membro do Coletivo tem acesso aos demais
programas de computação, que em muito auxiliam no processo de confecção de projetos. Tem
acesso a programas relacionados a planilhas, à produção de textos, à edição de vídeos, à
edição de imagens, à apresentação de trabalhos ou mesmo de design de diversos tipos. Todos
de suma importância para que as imagens e as ações da gestão sejam percebidas.
Outro exercício partilhado por todos é a correção verbal dos “erros” gramaticais
muito comuns no falar local, coloquial. Tal exercício é praticado pela necessidade constante
que o Coletivo tem de manter contato com instituições externas, além de possibilitar um
ganho em conhecimento, o crescimento da autoconfiança e o ajuste nas composições literárias
que cada um deve dominar no processo de organização. Ao “corrigir” 41, cada um exercita a
habilidade no trato com o outro, pois não estão em jogo questões como idade, função no
grupo ou de gênero, apenas as questões relacionadas a um maior domínio com relação ao falar
e ao escrever. Sousa Filho (17 anos, 24 de set. 2007) dá o seguinte depoimento: “Tive receio
no início de corrigir e ser repreendido, talvez no início. Mas, após a experiência com o
Coletivo, percebi que eu tinha total liberdade de corrigir outras pessoas mais velhas do que
eu.”
Por outro lado, muitos membros também deixaram o grupo. Os motivos podem
ser os mais diversos, porém o que mais chama a atenção é a autoanálise do próprio indivíduo
de que não se habituou aos processos colaborativos. Neste caso, nada mais oportuno do que o
pensamento de Silva, de que

Entre nós, nunca foram válidos aqueles velhos argumentos jesuítico-estalinistas de


que o “fim justifica os meios” ou “olha para o que eu digo, não olhes para o que
faço”. Por isso, personagens essencialmente autoritários autoexcluem-se dos círculos
libertários, não sendo sequer necessários rituais inquisitoriais de depuração,
expulsão ou penitência, até porque ninguém, entre nós, está credenciado para
exercer ofício de inquisidor na defesa dos princípios. (SILVA, 2000, p. 117).

Com a maior visibilidade dos aspectos culturais locais de Zabelê às instituições e


comunidades externas, as articulações para a obtenção de recursos ou mesmo de parcerias
40
No segundo semestre de 2007, realizei entrevistas com alguns membros do Coletivo para entender as
percepções dos mesmos sobre alguns aspectos estruturantes do grupo. Os resultados eram utilizados para o
alinhamento das ações e para o melhoramento das narrativas textuais dentro de projetos e arquivos que viessem a
ser elaborados.
41
Esta ação ocorre apenas entre os membros do grupo. Normalmente, as pessoas que dele não fazem parte não
presenciam as correções.
48

passaram a ocorrer de modo mais objetivo, com a definição cada vez mais clara dos papeis de
Governo – representado pela SECULT de Zabelê – e da Sociedade Civil – representada pela
ASCUZA – diante das instituições ou pessoas presentes no outro lado da arena da política
cultural. No entanto, sendo ambas instituições representadas por um único grupo, por um
único Coletivo: o Atissar.

3.3 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO COLETIVO ATISSAR


Com o intuito de compreender a estrutura organizacional do Coletivo Atissar, em
que o mesmo é o núcleo de toda a gestão política voltada para a cultura, a qual envolve a ação
compartilhada entre Governo e Sociedade Civil, apresenta-se a seguir um Organograma 42 para
posterior descrição.
FIGURA XII – Estrutura Organizacional do Coletivo Atissar.

FIGURA XII –

Fonte: NASCIMETO, R.H.Z, e SILVA, E.R. da, 2014

Na estrutura do Organograma acima, pode ser percebida uma inter-relação entre


cada item que indica uma proposta colaborativa entre os envolvidos. É importante salientar
que essa figura deve ser observada do centro para as bordas, irradiando ações e pessoas a
42
O formato deste organograma foi baseado na estrutura utilizada pelo Circuito Fora do Eixo. Para maiores
informações, acessar http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-
BR&sl=en&u=http://issuu.com/&prev=/search%3Fq%3Dissuu.com%26sa%3DX%26biw%3D1093%26bih
%3D499
49

partir de um centro coletivo. Além do que, a proposta pode proporcionar relações muito mais
planas entre os envolvidos.
Entenda-se, então, o significado dos itens expostos:

3.3.1 Coletivo Atissar


É a peça chave na força matriz e motriz do fazer política voltada para a cultura em
Zabelê. É a partir dele que Zabelê tem suas sociabilidades e culturas apresentadas para o
mundo como também para a própria sociedade que a forma, ativando assim novas
perspectivas de vida, novos sonhos e, acima de tudo, o compromisso de tornar a vida mais
viável a partir da prática da afetividade gerada tanto em contextos colaborativos quanto de
necessidades individuais.

3.3.2 Imersão
Termo criado pelo Movimento Fora do Eixo, utilizado também pelo Coletivo
Atissar como modo de participação de uma agenda global de imersões do FDE. Consiste
numa reunião anual em tempo integral que o Coletivo realiza, em média, durante três dias e
meio43 num espaço fora da cidade de Zabelê para nivelamento das ações individuais, análise
da realização das ações do ano que passou e planejamento do ano a ser vivenciado.
Estamos frente a processos que necessariamente devem abrir novos diferentes
cenários, onde novas decisões devem ser tomadas de acordo com a necessidade do
processo, e onde mais tarde tratamos de estimular formas de criatividade social
inovadoras. Todo ele nos deve levar a formas muito ágeis para podermos retificar
equívocos ou para retroalimentar algumas partes dos processos concretos. Por ele,
todas essas tarefas que estamos propondo devem estar entre si articuladas dentro de
um cronograma, para que o certo caos que pode aparecer não desdobre os objetivos
centrais que foram propostos. (VILLASANTE, 2002, p. 155).

O nivelamento tem um caráter formativo. Em círculo, todos os participantes têm


suas ações e posturas de vida narradas por cada membro. Após isto, o indivíduo analisado
devolve a todos a sua percepção sobre o que foi dito sobre ele. Esta reunião dura cerca de oito
horas ininterruptas. Tem sido fundamental pelo fato de ser algo que agrega relações, que
fortalece a liga grupal, e também por tornar cada vida presente consciente de suas posturas em
relação tanto ao todo social quanto a si mesma.
É evidente que, na Imersão, o cuidado com a fala, seja de quem analisa como de
quem é motivo de análise, é observado por todo o grupo. Caso alguém se sinta agredido ou
agrida, será rapidamente remediado por alguém do círculo. O fato é que a afetividade se faz
43
Durante a realização da imersão uma cozinheira, contratada pelo Coletivo, faz o almoço.
50

sempre necessária, é fundamental saber até onde o “outro” pode ouvir, ter sua vida interferida
por um pensamento coletivo ou individual, para que não se provoquem danos antes não
existentes.
Os resultados se veem, em grande parte das vezes, na mudança de atitudes
individuais com uma reverberação coletiva bem acentuada. Quando as atitudes negativas são
repetidas, elas deverão ser citadas durante as reuniões realizadas no decorrer do ano.
A análise daquilo que foi vivenciado durante o ano é outro tópico desenvolvido,
em que, com a utilização de um projetor multimídia, gerando imagens dos documentos e
registros criados durante o ano corrente, todos acompanham cada atividade proposta para a
avaliação e o monitoramento: 1) daquilo que foi planejado e operacionalizado para a cultura;
2) do que está sendo realizado; 3) do que foi expirado; e 4) do que ainda poderá ser realizado
pelo grupo. Cada atividade, com seus respectivos responsáveis, é minuciosamente detalhada,
a fim de que, num pensamento único, se consiga amadurecer para o planejamento do ano
seguinte.
Após os dois momentos, o encontro é finalizado com a construção do
planejamento do ano a ser vivenciado.

FIGURA XIII – PLANEJAMENTO 2014

Fonte: Google Drive do Coletivo Atissar, 2014

Neste caso, utilizam-se tabelas e gráficos contendo as atividades a ser


desenvolvidas por seus respectivos responsáveis. Todos disponibilizados no Google para o
acompanhamento do grupo.
51

3.3.3 Núcleos
Para a continuidade do Coletivo, mesmo com o distanciamento de grande parte
dos seus membros do local de origem, a ação mais recente foi a formação e o fortalecimento
de subgrupos do Atissar, denominados de “núcleos”, os quais estão situados na cidade de
Zabelê, de Campina Grande e de João Pessoa. O membros de cada núcleo devem estabelecer
relações intensas entre si pelo fato de estarem próximos geograficamente e se
autoestimularem para a realização das metas presentes no planejamento. Todos os núcleos
deverão se encontrar periodicamente para que o sentido colaborativo tenha continuidade.44
A formação desses núcleos proporciona um certo desligamento geográfico da
cidade de Zabelê. No entanto, todas as narrativas são construídas a partir dos projetos
culturais ligados à localidade, pelo menos até o momento, indicando que a formação do
Coletivo está intimamente ligada ao seu local de origem. É difícil conceber a existência deste
Coletivo apenas com a ligação afetiva entre os seus membros sem a devida conexão com suas
matrizes sociais e familiares. Mesmo os três membros do Coletivo que não têm nenhuma
ligação familiar com Zabelê tendem a estar ligados cognitiva e afetivamente à cidade de
Zabelê por conta dos projetos culturais e demandas sociais existentes no município, que muito
aproximam o “estrangeiro”.

3.3.3.1 Encontros Presenciais e Virtuais


Ocorrem sempre que alguma questão é considerada de relevância por parte de
algum membro do grupo, o qual aciona um ou outro membro para a verificação do tópico em
questão e, por consequência, apresenta a situação dentro do grupo virtual, convocando todos
para se apresentarem na reunião presencial.
Evidentemente que, de acordo com a dinâmica do grupo, tenta-se fugir de
processos engessados, acontecendo muitas vezes microrreuniões entre os membros do
Coletivo a partir da necessidade e do local onde os mesmos se encontram.
Diante da distância física, ocasionada principalmente pela saída dos antigos
membros do Coletivo para ingressarem em cursos universitários em cidades distantes de

44
Atualmente, dois membros do Coletivo não fazem parte de nenhum dos núcleos, pelo fato de residirem em
locais distintos dos demais. Um, Anael Neves, com residência na cidade de Santos, no estado de São Paulo,
fazendo mestrado pela UFSP em Nutrição; e outro, concluinte do curso de Agronomia pela UFPB e já aprovado
no Mestrado de Agronomia pela Universidade de Jabuticabal, também em São Paulo. Nesses casos, há uma
necessidade ainda maior da conexão dos mesmos com os demais membros do Coletivo pelo uso do telefone e da
internet. Outro ponto fundamental para a ligação permanente desses membros é que continuem ativas as
demandas do Coletivo no que diz respeito a projetos, reuniões, práticas afetivas entre os membros e
aproveitamento máximo de encontros presenciais.
52

Zabelê45, a comunicação virtual se tornou uma estratégia indispensável para a manutenção das
atividades.
O grupo partiu para a utilização da internet como meio de comunicação que
proporcionasse essa aproximação, mesmo que virtual. As ferramentas utilizadas foram o
Google Groups, o Google Drive, o Dropbox, o Facebook, o Youtube, o Hangout e o Skype.
O Google Groups é uma ferramenta para a interação através de grupos de lista de
discussão via e-mails utilizados para a atualização, proposição, seleção, discussão e apoio de
atividades. Desse modo, arquivos em diversos formatos e links são colocados no grupo para o
compartilhamento de informações e ações. Esta ferramenta tem uma função de “termômetro”
da participação de cada um no universo colaborativo. Se o grupo está desenvolvendo pouca
atividade, haverá momentos em que nenhum e-mail aparecerá na lista; caso contrário, a lista
ficará abarrotada de e-mails com tópicos diversos de discussões. Esta última situação mostra
que existe algum projeto em execução ou que algo de grande importância para todos está
ocorrendo.
Esta ferramenta também possibilita perceber o nível de participação de cada um
no processo de discussão. Caso alguém, por algum motivo, não se apresente nos tópicos
opinando ou levantando questões, o mesmo será em algum momento advertido por membros
mais atinados com a participação de cada um. No Google Groups, há uma janela que
proporciona o acesso à quantidade de participação dos dez membros do grupo no mês em
questão e também desde a criação do grupo virtual.
A tabela abaixo apresenta a participação individual dos membros do Coletivo no
Google Groups desde o início da criação deste grupo virtual. No entanto, como alguns
membros tiveram problemas em suas contas de e-mail, tendo que criar uma nova conta, e
como surgiram membros após a criação da mesma, as contagens não seguem uma ordem
fidedigna, o que não implica na invalidade da mesma, pois ela serve muito bem para que
todos acompanhem as suas participações neste grupo virtual.

Tabela 01 - Estimativa de acesso e participação no Google Groups dos membros do


Coletivo Atissar, de outubro de 2010 a agosto de 2014)
Total absoluto de Total relativo (%) de
Nome do Membro
emails postados emails postados
Romério Zeferino 4.734 21,29%
Anael Neves 3.226 14,51%
45
Com a mudança de parte dos membros do Coletivo para as cidades de Campina Grande, João Pessoa, Areia e,
por último, São Paulo, as reuniões com todos os membros estão cada vez mais esparsas. Os encontros
presenciais ocorrem com mais frequência entre as pessoas presentes nos núcleos de cada cidade.
53

Almir Joaquim 1* 2.578 11,60%


Almir Joaquim 2 2.504 11,26%
Iago Henrique 2.253 10,13%
Sandra Belê 1.968 8,85%
Anaely Neves 1.371 6,17%
Jefferson Willian** 1.261 5,67%
Joel Cabral** 1.180 5,31%
Falbênia Monteiro* 1.158 5,21%
TOTAL 22.233 100%
Fonte: Elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo Google Groups do Coletivo Atissar.

* Este membro substituiu a conta do seu e-mail.


** Atualmente estes membros não fazem parte do Coletivo Atissar.

FIGURA XIV - Número de participações no Google Groups dos membros


do Coletivo Atissar (março de 2010 a agosto de 2014).

Fonte: Google Groups do Coletivo Atissar, 2014


54

Tabela 02 – Estimativa de acesso e participação no Google Groups dos membros do


Coletivo Atissar, mensal. (01 a 26 de agosto de 2014)
Total absoluto de Total relativo (%) de
Nome do Membro
emails postados emails postados
Iago Henrique 51 17,96%
Almir Joaquim 45 15,85%
Romério Zeferino 35 12,32%
Sandra Belê 32 11,27%
Anaely Neves 28 9,86%
Dianne Ferreira 27 9,51%
Alan Leonardo 23 8,10%
Raphael Rio 20 7,04%
Anael Neves 13 4,58%
Lucas Leite 10 3,52%
Total 284 100%
Fonte: Elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo Google Groups do Coletivo Atissar.

FIGURA XV: Número de participações no Google Groups dos membros


do Coletivo Atissar. (01 a 26 de agosto de 2014)

Fonte: Google Groups do Coletivo Atissar, 2014

Também é possível visualizar um gráfico que apresenta as estatísticas das


postagens e dos tópicos de trabalhos sugeridos pelo grupo durante os doze meses do ano.
55

FIGURA XVI: Estatísticas de Postagens e Tópicos de Trabalho

Fonte: Google Groups do Coletivo Atissar, 2014

O Google Drive é uma ferramenta com alta capacidade de armazenamento, que é


utilizada para o compartilhamento e a edição de arquivos de fotografias, vídeos, tabelas e
textos, os quais podem ser utilizados de modo interativo no processo de construção de ofícios,
projetos, relatórios etc. A partir do acúmulo de estratégias utilizadas pelo Movimento Fora do
Eixo (FDE), que usa diversos modelos de tabelas para a organização das ações coletivas, o
Atissar tem aplicado no seu processo organizacional muitas destas tabelas, as quais têm sido
fundamentais para a gestão de planejamento, projetos e atividades em geral.
A tabela a seguir, denominada de Compacto.Tec do Coletivo Atissar, tem a
função de informar a todos os membros a estrutura organizacional do Coletivo. Pode ser
alimentada constantemente por qualquer membro do grupo e acessada por todos, de modo que
o processo de compartilhamento de informações ocorre de modo fluido.
56

FIGURA XVII – COMPACTO.TEC

Fonte: Google Drive do Coletivo Atissar, 2014


57

O Dropbox, de modo semelhante ao Google Drive, funciona como um espaço de


compartilhamento de arquivos. No entanto, neste caso os arquivos compartilhados são
“duros”, “engessados”, impossibilitando a interatividade na construção. Eles são colocados e
recebidos prontos. Alguns membros do Coletivo utilizam este serviço como um espaço mais
enxuto de compartilhamento.
Com fins colaborativos dentro do Atissar, o Facebook é utilizado como sala de
bate-papo e divulgação de ações. Estas últimas se caracterizam muitas vezes por seu caráter
informativo (ligado a editais ou a produções audiovisuais) e também de mercado cultural.
Aqui, o carro-chefe tem sido as produções da cantora Sandra Belê.
O Youtube é o principal espaço de compartilhamento das produções audiovisuais
do Coletivo, podendo haver vídeos nos canais dos próprios membros do grupo e também no
de outras pessoas ou instituições que produzem material relacionado ao universo sociocultural
de Zabelê. Serve também de “termômetro” para que se saiba como as produções estão sendo
acessadas por outras pessoas.
O Hangout e o Skype são espaços de reuniões com o uso do vídeo. Ambos têm a
mesma função, sendo utilizados a partir da velocidade de compartilhamento do momento.
Têm sido muito importantes para aproximar mais os membros do grupo a partir da
possibilidade de ver e ouvir o outro, como também para alinhar as ações coletivas de
planejamento, principalmente quando alguns membros se encontram distantes do local das
reuniões presenciais.
Atualmente, o Coletivo começou a utilizar o WhatsApp como ferramenta para a
interação social e o compartilhamento de informações. Algumas plataformas, como a do
Toque no Brasil (TNB), também têm sido utilizadas para auxiliar na divulgação e no
desenvolvimento das atividades do Coletivo.

3.3.4 Campo de Ação


Este item está ligado ao que os membros do Coletivo colocam em seus
Planejamentos sob o nome de “metas” ou “projetos”, motivo principal para a geração das
ações, em que estas estão correlacionadas a algum projeto, evento ou ação a ser executada
pelo Coletivo. Aqui podem ser destacados os projetos do Realiza Cultura e do Novos Palcos e
Plateias, as produções do Folguedo do Reisado e da cantora Sandra Belê, e os Encontros de
Lazer, os quais fazem parte de uma agenda presente no Planejamento do Coletivo, tais como:
Carnaval, Festas Juninas e Reveillón.46 A produção de audiovisual também é um forte
46
Ver mais informações nos links:
58

elemento que compõe o quadro de organização e negociação do Coletivo tanto entre os seus
pares como também com outras instituições. (ANEXO III)

FIGURA XVIII – Coletivo Atissar e Colaboradores – Carnaval 2013 – São João da


Coroa Grande-PE

Fonte: Acervo da Associação Cultural de Zabelê / Coletivo Atissar

Os resultados alcançados pelo Coletivo possibilitam uma discussão mais ampla


sobre o associativismo em meios sociais e ambientais com muita ingerência do poder público.
No entanto, percebe-se que a produção audiovisual é outro campo de ação que tem uma das
posições mais objetivas ante a organização do Atissar, pois redimensionou o papel de cada um
de seus membros a partir da necessidade de uma determinada ação, sempre bem definida com
relação à pré-produção, à produção, à “desprodução” e à pós-produção. Entretanto, tudo parte
de algo mais profundo, mais visceral, em que,

[...] para fazer parte de um grupo, é preciso aprender a se relacionar com as pessoas,
a respeitar seus limites e as regras coletivas. Para participar de um grupo, é preciso
também se engajar nas atividades propostas. É preciso ainda aprender a negociar,
saber conceder ou se impor conforme a situação. (DÓRIA, 2002, p. 30).

3.3.5 Membros do Coletivo


São todos que participam de modo ativo do grupo e têm a função de realizar as
propostas estabelecidas a partir do interesse compartilhado pelo próprio grupo.

https://www.facebook.com/RealizaCultura?fref=ts (Realiza Cultura);


https://www.facebook.com/NovosPalcos?fref=ts (Novos Palcos e Plateias);
https://www.facebook.com/ReisadoDeZabele?fref=ts (Reisado de Zabelê);
https://www.facebook.com/pages/Sandra-Bel%C3%AA/260633260614942?fref=ts (Sandra Belê).
https://www.facebook.com/coletivoatissar?fref=ts (Coletivo Atissar). Neste, pode-se ver (tanto em vídeos como
em fotografias) uma série de imagens que mostram momentos lúdicos do Coletivo.
59

3.3.6 Pontos Parceiros e Ações


Centenas de ofícios, projetos, cartas, convites e documentos diversos foram feitos
com o nome da ASCUZA ou da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Zabelê
para inúmeras instituições ou indivíduos que potencialmente poderiam ser Parceiros
(apoiadores, patrocinadores ou colaboradores) dos campos de ação do Atissar. Porém, embora
os “destinatários” fossem diferentes, o endereço dos “remetentes” era o mesmo. Tudo sempre
era feito para um único fim, uma única meta, sem quaisquer ideias de separação entre o que
era governo e o que era sociedade civil. É comum se observar, na fala de muitos membros do
Coletivo, um discurso confuso entre o que é ou não Prefeitura e ASCUZA.
Esta relação de setores sociais, comumente divergente no cenário da sociedade,
conduz ao entendimento claro de que este Coletivo conseguiu avançar no campo das
negociações políticas para atingir os seus campos de ação. Seus membros se pensam ora como
Governo, ora como Sociedade Civil, ou mesmo como ambos. Tudo depende de quais
jogadores estarão em campo. É a arena em questão que definirá quais as “armas” que serão
utilizadas.
Os pontos parceiros têm se apresentado ora como governos diversos, legislativos,
iniciativa privada, instituições mistas, autarquias e outras organizações também da sociedade
civil. A forma de lidar com cada um requer ações específicas de que o Coletivo foi se
conscientizando com a participação em fóruns, congressos, reuniões, agendas, editais,
conferências e muitas outras formas de inter-relações institucionais, de modo a torná-los
pontos parceiros do Atissar.47
A partir das negociações vivenciadas com os diversos segmentos, a compreensão
do papel de cada setor, com seus fins dentro da sociedade, foram cada vez mais sendo
percebidas pelo Coletivo e novas estratégias foram sendo construídas à medida que as ações
se consolidavam. Neste caso, foi necessário um acompanhamento minucioso das metas
propostas a partir das definições de agentes e ações bem articuladas para não se correr o velho
risco das instituições engessadas de governo ou sociedade que amontoam um sem-fim de
propostas e não conseguem sair delas. Neste caso, o que deve ser percebido é a forma como
cada jogador se comporta no jogo, para que se possa utilizar as medidas certas para atingir os
objetivo propostos pelo grupo. Lima traça um bom caminho para a compreensão dos diversos
setores presentes na arena da gestão em que a cultura está envolvida:

47
Faz-se necessária uma análise minuciosa dos documentos e das narrativas dos membros do Coletivo, ou que
são de algum modo ligadas a ele, para se entender como se deram as estratégias para se conseguir atingir as
metas ao longo dos anos. No entanto, o trabalho em questão não suporta tal estudo, visto requerer um olhar bem
mais prolongado.
60

A gestão privada não precisa da dimensão social, à medida que sua finalidade é o
lucro financeiro, componente natural do campo administrativo. A gestão pública tem
sua finalidade na geração do bem comum, no ganho social e este, embora seja objeto
da gestão pública, não pertence à administração, mas à política.
É prática comum nas grandes organizações públicas definir visão de futuro e
objetivos estratégicos, mediante a aplicação de sofisticadas e caras metodologias. A
crítica não está nessa prática em si, mas no que se tem feito com o resultado dela:
nada que agregue valor.
Tudo não passa de um ritual burocrático (seminários, oficinas, consultorias,
publicações etc.), que acaba em um belo documento bem encadernado e em um
conjunto de lâminas para apresentações e palestras.
O pensamento contínuo sobre o futuro e sobre o papel que a organização deseja
desempenhar nele (visão) praticamente inexiste, pois não é utilizado para dar
coerência ao processo decisório, para dar direção ao caminho traçado no plano e,
muito menos, para aferir os resultados que verdadeiramente interessam: os ganhos
sociais. (LIMA, 2007, p. 12).

Evidentemente, a busca aqui foi a interseção existente entre o setor público, social
e privado no que diz respeito às soluções e às condições para se atingir os objetivos gerados
no campo da cultura pelo Coletivo. Como a relação Governo e Sociedade Civil estava muito
mais próxima devido, principalmente, à responsabilidade social que ambos partilham, a
interseção presente entre os dois setores sempre teve um campo maior de partilhamento de
ações e metas, como pode ser visto na imagem a seguir, a qual tenta traduzir visualmente o
nível de relacionamento entre estes setores:

FIGURA XIX – Intersetoriedade na Gestão Governamental, Social e Privada.

Fonte: Elaboração própria.

É importante ressaltar que, no caso específico de Zabelê, o Setor Social é formado


pela SECULT e pela ASCUZA, o que gera um certo paradoxo, pois, via de regra, ambos são
historicamente separados pela formação de poderes que as constitui. Neste caso, um
61

retroalimenta o outro de modo a se produzir uma força comum em prol do desenvolvimento


de políticas cultura.
Por outro lado, a relação do Setor Privado sempre teve uma interseção menor,
ficando para o Setor Social uma relação menor ainda com o Privado, diferentemente do Setor
Governamental, que estabelece, embora timidamente, uma relação maior com o Privado
devido ao grau de relações de compra e venda estabelecido entre ambos.
4. CONCLUSÃO

Neste trabalho, percebe-se muito mais um método de observação do que uma


apresentação teórica. O objeto foi apresentado e explicado a partir de uma vertente vinculada
ao social, à gestão e à política.
É importante ter em mente que este trabalho, mais do que um indicativo para
grupos ou pessoas que desejam se engajar no universo do associativismo, deve possibilitar
discussões acerca de experiências coletivas para o acúmulo de estratégias dentro da política e
da gestão cultural. Percebe-se claramente que o que ocorre no Coletivo é a busca da
descentralização de ações dentro deste minúsculo universo social, tendo sempre a consciência
de que “uma organização descentralizada deve procurar deitar raízes no presente, atendendo
às necessidades dos seres humanos que dela participam, em vez de manter os olhos presos
num futuro utópico” (WOODCOCK, 1981, p. 313).
Antes de somar as habilidades para se chegar a objetivos únicos, o Coletivo teve
que formar pessoas capazes e hábeis com tecnologias e com algum pensamento crítico. A
preparação de cada um dos seus membros no que diz respeito ao domínio da língua
portuguesa e de todo um vocabulário necessário para a execução de projetos e documentos
diversos relacionados à cultura tem proporcionado um aproveitamento bastante visível dos
espaços e dos movimentos que a sociedade disponibiliza dentro da política cultural. Mais do
que a capacitação dos envolvidos, precisou-se tornar os seus membros respeitados e
admirados por muitos, tanto em Zabelê quanto em outros locais externos a este município, a
partir de ações e conhecimentos específicos adquiridos pela participação colaborativa em
trabalhos muitas vezes cansativos, mas acima de tudo regados a muita afetividade.
Isso quer dizer que as relações são geradas a partir do compartilhamento de ações,
de ideias e da colaboração do indivíduo para o coletivo, promovendo neste último um retorno
orgânico para com o indivíduo a partir das próprias dinâmicas sociais estabelecidas entre os
envolvidos. O que se tem é a construção e a consolidação da prática e do pensamento
coletivos, com vistas à ação de uma cadeia produtiva através de atitudes colaborativas
voltadas para a cultura, de modo a formar humanos aptos a compreender e a agir diante dos
inúmeros setores da sociedade a partir de uma lógica sociocultural.
Tudo isso faz com que as pessoas redesenhem os seus destinos, trabalhando
práticas socioculturais colaborativas que as mantêm o mais distante possível do universo
oligárquico e assistencialista a que tantos modelos de gestão pública aderiram ao longo da
formação do Nordeste brasileiro.
63

O que ocorreu em Zabelê foi a formação de um grupo que conseguiu criar


maneiras próprias de articulação para uma gestão e produção cultural dentro de um município
com poucas possibilidades de crescimento. A falta de agentes culturais, públicos ou da
sociedade civil, foram os primeiros grandes entraves, mas isso foi visto como um campo
aberto para a atuação do Grupo.
A utilização do audiovisual, seja correlacionado à fotografia, às apresentações
musicais, aos vídeos documentários, aos videoclipes ou às matérias de jornais e revistas,
principalmente de Sandra Belê e do Reisado de Zabelê (ANEXOS IV e V), têm sido o carro-
chefe para se atingir tanto a opinião pública local quanto a opinião pública externa a Zabelê.
O fato da mídia, mais precisamente a do audiovisual, possuir uma linguagem comunicável a
um grande contingente social, com diferentes micros universos, faz dela uma “instituição” de
maior amplitude comunicacional na contemporaneidade. O que não implica dizer que seus
usuários sejam eficazes na reelaboração das informações adquiridas. “Embora cresça o
número de indivíduos com acesso às redes telemáticas, é pequeno o percentual daqueles que
podem usá-las como instrumento de promoção social, econômica e intelectual.” (RUDIGER ,
2007, p. 85).
Os membros do Atissar têm encontrado no viver compartilhado formas de agregar
mais conhecimentos às suas formações individuais. Ao serem também produtores de vídeo,
eles passam a utilizar a nova linguagem adquirida como um modo de domínio e, então, grande
parte do que o Coletivo produz está registrado em audiovisual (ANEXO III), proporcionando-
lhe desse modo um sem-fim de conexões com o mundo através da rede mundial de
computadores. É, se é possível assim dizer, uma “venda” constante de produtos e sensações
culturais através do uso do audiovisual, bem ao modo do que diz Castells (2008, p. 40): “As
redes interativas de computadores estão crescendo exponencialmente, criando novas formas e
canais de comunicação, moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela.”
Desde o seu início, houve uma preocupação com a imagem – enquanto sentido de
reconhecimento do grupo – por parte de todos que o compunham. O exemplo maior foi a
criação de logotipos para a ASCUZA, para a Secretaria de Cultura, Turismo e Meio
Ambiente, para o Reisado e para o Coletivo Atissar. Todos como uma forma de tornar
concreta a imagem abstrata de cada uma dessas instituições.
Para além dessas ações, é importante ressaltar que, paralelamente ao surgimento
do Coletivo em Zabelê, ocorrem no Brasil diversos movimentos nacionais, os quais
culminaram, no segundo semestre de 2012, com a Lei de criação do SNC, atraindo assim um
64

conjunto de ações entre estados (SEC) e municípios (SMC) em prol da organização da


política cultural em todo o país.
A implantação do SMC de Zabelê está presente no cronograma de ação do
planejamento do Coletivo para o ano de 2014. E esta ação deve ser feita com uma certa
urgência, pois o que se percebe é que a manutenção do Coletivo ainda está ligada ao apoio da
Prefeitura Municipal enquanto grupo político. Mudando o grupo político, provavelmente o
Coletivo passará por momentos difíceis, pois ele ainda utiliza uma série de equipamentos,
estruturas e benefícios que a estrutura pública disponibiliza. Provavelmente a estrutura do
SMC proporcionará discussões mais amplas com a sociedade, o governo e o legislativo,
fundamentais para que seja possível o apoio a ações do Coletivo.
É possível que o Atissar avance bastante na implantação, junto com a sociedade
zabeleense, do SMC, devido ao alto grau de percepção e formação de sua gestão cultural, sem
a necessidade de repetir modelos estratégicos existentes em outros municípios.

Copiar o resultado de outra cidade tem, ademais, o péssimo efeito de não construir o
próprio processo: não estabelece uma governança compartilhada entre o público, o
privado e a sociedade civil; não constrói laços colaborativos entre os agentes
criativos; leva uma cidade a achar que o reflexo no espelho da outra é seu e, via de
regra, ainda incorre em custos vultosos de consultoria e projetos arquitetônicos de
grande magnitude. Enfim, em vez de aprender a pescar, ao se copiar a solução dos
outros, compra-se um peixe que, além de tudo, pode ser muito indigesto. (REIS,
2009, p. 206).

Outro fator crucial para a manutenção do grupo é a ligação que os membros


devem ter entre si, conseguida através de encontros presenciais (festas, conferências, reuniões,
passeios, participação nos projetos individuais) e contatos virtuais para nivelamento de ações
e comunicações diversas tanto sobre ações individuais quanto coletivas. O problema, neste
caso, é a saída de muitos para estudar e exercer suas profissões fora do município. Isto faz
com que seja criada novamente uma série de ações para que os membros possam se manter
conectados, independentemente da distância física que os separam. Como bem lembra Almir
Joaquim,
Antes nós lutávamos pelo processo virtual e hoje estamos lutando pelo processo
presencial. Temos que pensar em que atividades cada um de nós devemos nos
encaixar. Devemos pensar algo específico para os meninos de Zabelê. Com o grupo
espalhado, devemos melhorar nossas estratégias e pensar o que o Coletivo fará em
termos de atividades. É necessário pensar nossa reconfiguração a partir da
distribuição geográfica do Coletivo. (SILVA, 29 de junho de 2014, Reunião de
Nivelamento em Campina Grande-PB)

Se por um lado a independência financeira dos membros do Coletivo proporciona


um desligamento financeiro do universo socioeconômico de Zabelê, por outro lado esta
65

mesma independência faz com que estas pessoas se afastem do local de origem para a
realização de outras ações, causando um certo enfraquecimento no grupo. Neste caso, é
importante ressaltar que, para a manutenção do grupo, o ponto de partida para todo o processo
colaborativo foi a ligação com Zabelê. Este local conota a função de nascente de um rio, e é
dali que parte toda a substância que gerará forças e motivações para o trabalho do Coletivo.
Pensar o grupo sem pensar Zabelê é algo dificilmente possível no processo de aglutinação de
todos na atualidade. Zabelê funciona como o centro aglutinador de sociabilidades que geraram
organicamente toda uma metodologia de trabalho fundamental para a formação do atual
Coletivo.
Fala-se constantemente em laços de afetividades entre os seus membros a partir da
preocupação com o bem-estar de cada um em prol de um bem-estar coletivo, ou vice-versa.
Mas também se fala na manutenção e no fortalecimento dos membros do Coletivo que
residem no município de Zabelê como forma de movimentar e dar continuidade ao Grupo
diante de um quadro em que a maior parte dos membros se encontram fora de Zabelê,
procurando independência financeira através de cursos universitários e trabalhos ligados às
áreas das artes.
Esta é uma gestão coletiva que utiliza como metodologia o associativismo, o
trabalho compartilhado entre os seus membros e os que se envolvem com ele. Que utiliza,
para atingir os seus objetivos, tanto ferramentas da rede mundial de computadores e
equipamentos tecnológicos como câmeras filmadoras, celulares e projetores de imagens,
quanto de meios mais antigos, como o papel, o lápis, borracha e bilhetes.
A cidade de Zabelê, enquanto representada pelo Coletivo Atissar (ASCUZA e
SECULT de Zabelê), possui um desenvolvimento histórico em políticas culturais que
corrobora a complexidade das ações solicitadas por instâncias superiores, como o Sistema
Nacional de Cultural e os Conselhos Estaduais. Essa potencialidade representativa só foi
conseguida porque atores e instituições locais se organizaram em prol de um bem maior: a
cultura.
Percebe-se que, ao trabalhar as bases políticas da sociedade, principalmente com a
formação intelectual humana e com a vivência no que diz respeito às ações colaborativas, o
Atissar possibilitou que quaisquer programas, projetos, prêmios, editais e, principalmente, o
cadastro do SNC por parte de Zabelê e a implantação SMC no mesmo município fosse
possível.
No entanto, o horizonte para a manutenção de Coletivos dessa natureza ainda é
turvo, de pouca visibilidade. O que se percebe é que seus membros têm procurado caminhos
66

diversos para sair da crise que se lhes apresenta com uma sociedade e governos instáveis
política, social e economicamente.
No primeiro semestre de 2014, o Coletivo passou por uma crise “existencial” e foi
convocada uma reunião geral por alguns dos membros (incluindo Anael Neves, que
atualmente reside em Santos-SP, o qual deveria estar conectado virtualmente). Embora ele
tenha se ausentado deste encontro devido a problemas na internet, ao ver a fotografia do
grupo se reunindo, retornou com o seguinte texto dentro do grupo Coletivo Atissar do
aplicativo WhatsApp:

Que lindo, gente, vê-los reunidos, não sei os caminhos tomados nessa reunião, o que
foi pautado e os resultados por problemas na nossa comunicação [...] Fato é que fico
feliz em ver esses registros, ainda há o sentido vivo de coletivo, tudo que
construímos foi real, concreto e significativo. Todo orgulho do mundo por ser parte
desse coletivo de organização tão complexa e tão difícil de ser caracterizado,
definido ou rotulado, só vivendo esta experiência, pois expressa como fazemos,
como pensamos, é das tarefas mais difíceis, sempre acho que algum elemento deixa
de ser dito para transmitir todo o sentido dessa que é a verdadeira vida colaborativa.
Toda gratidão do mundo e vontade de que continuemos de alguma maneira. (Anael
Neves, Santos, SP, Whatsapp, Grupo Coletivo Atissar, 29 de Julho de 2014, 5h 21’)
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70

WOODCOCK, George (Introdução e Seleção). Os Grandes Escritos Anarquistas. 2.


ed. Porto Alegre: L&PM Editores, 1981.
71

ANEXOS
72

ANEXO I
73

ANEXO II
74

ANEXO III – PRODUÇÕES EM AUDIOVISUAL

1) PROJETO NOVOS PALCOS E PLATEIAS

Ano 01 - 2010

Agosto. Campina Grande/PB.


Jaelson Farias.
https://www.youtube.com/watch?v=CS4V29T9eq8
Setembro. Campina Grande/PB.
Coral da UFCG
Não publicado na rede. Não Permitido.
Outubro. João Pessoa/PB.
Quinteto de Sax.
https://www.youtube.com/watch?v=zFcFd9c15Fc
Novembro. Monteiro/PB
Osmando Silva.
https://www.youtube.com/watch?v=QtkkF8XyDBI
Dezembro. Zabelê/PB
Sandra Belê.
https://www.youtube.com/watch?v=8Hr7_qLdwNg

Ano 02 - 2011

Agosto. São Paulo/SP


Socorro Lira
https://www.youtube.com/watch?v=kjYD1ircITs
Setembro. Campina Grande/PB.
Jampakoto e Tatakinan
https://www.youtube.com/watch?v=vu8ZCqB-pYs
Outubro. João Pessoa/PB.
Draylton Siqueira
https://www.youtube.com/watch?v=obRk0gLDQSg
Novembro. Monteiro/PB
Across the Beatles
https://www.youtube.com/watch?v=D-zyy_ytC2Y
Dezembro. Zabelê/PB
Carlos Zens
https://www.youtube.com/watch?v=4s-_5wELgXg
75

Ano 03 - 2012

Agosto. Campina Grande/PB


Eloisa Olinto
https://www.youtube.com/watch?v=UizfUiC6YwE
Setembro. Campina Grande/PB.
Angela Perazzo e Jorge Ribas
https://www.youtube.com/watch?v=NWx5nCYuswQ
Outubro. Recife-Triunfo/PE.
Leda Dias e André Vasconcelos
https://www.youtube.com/watch?v=kdW9y_hRDMY
Novembro. Campina Grande-Zabelê/PB
Jaelson Farias e João Batista
https://www.youtube.com/watch?v=gVTB-wnxMJ4
Dezembro. Campina Grande/PB
Canto Andino
https://www.youtube.com/watch?v=yivk7UGTLs4

Ano 04 - 201348

Troça Harmônica Agosto. João Pessoa/PB


Em edição
Setembro. Buenos Aires/Argentina
Alejandro Yaques
Em edição
Outubro. Olinda/PE
Mahatma Costa
Em edição
Novembro. João Pessoa/PB.
Camerata Filipéia
Em edição.
Dezembro. Catolé do Rocha/PB
Chico César
Em edição.

48
Neste quarto ano do Projeto, o Coletivo conseguiu uma parceria com a UFCG, o IFPB e a
SEBRAE/PB. Neste momento, avança-se bastante no campo de captação de imagens, iluminação e
edição.
76

2) PRODUÇÕES EM AUDIOVISUAL PELO COLETIVO ATISSAR

Na Memória dos Meus Avós, umas histórias – Projeto audiovisual contemplado pelo
Ministério da Cultura e BNB. Idosos do município de Zabelê, Cariri Ocidental
paraibano, relatam como se deu o processo de povoamento do então município.
2010/2011. https://www.youtube.com/watch?v=9gJE5MJS6xo.

Na Memória dos Meus Avós, outras histórias – Projeto audiovisual contemplado pelo
Ministério da Cultura e BNB. Idosos do município de Zabelê, Cariri Ocidental
paraibano, relatam como se deu o processo de povoamento do então município.
2010/2011. https://www.youtube.com/watch?v=Zoh4tHYYr30.

Reisado de Zabelê (CD) – Realizado pela Associação Cultural de Zabelê, através do


Governo do Estado da Paraíba (COOPERAR) e do Banco Mundial, para o grupo
Tradição Oral Reisado de Zabelê. 2004.

Reisado de Zabelê (SVCD) – Realizado pela Associação Cultural de Zabelê, através do


Governo do Estado da Paraíba (COOPERAR) e do Banco Mundial, para o grupo
Tradição Oral Reisado de Zabelê. 2004.
https://www.youtube.com/watch?v=lRjtAJhrh3U

Pega de Boi – Registro audiovisual da Pega de Boi que ocorre anualmente na Fazenda
Macaxeira, em Zabelê, Cariri Ocidental paraibano. Realização da Associação Cultural
de Zabelê. 2006.
https://www.youtube.com/watch?v=Z2emnWR4MBg&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw.

Pega de Boi, entre arbustos, árvores e caatinga – Registro audiovisual da Pega de Boi
que ocorre anualmente na Fazenda Macaxeira, em Zabelê, Cariri Ocidental paraibano.
Realização da Associação Cultural de Zabelê. 2007.
https://www.youtube.com/watch?v=yKW6_vGOuOA&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw.

Rapadura é doce, mas não é mole não – Audiovisual realizado por membros da
Associação Cultural de Zabelê durante o curso de Antropologia realizado por dois
professores da Universidade Federal de Campina Grande. Trata de relatos de pessoas da
cidade de Zabelê, expondo as suas labutas diárias. 2007.
https://www.youtube.com/watch?v=L9iBdC-FoKI

O Escuro – Registro audiovisual realizado pela Associação Cultural de Zabelê,


narrando o modo de vida do último sítio do município de Zabelê que ainda não possuía
energia elétrica. 2005.
https://www.youtube.com/watch?v=1X3yQesu2M0&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw&index=68.
77

Se Incomode Não – 2º CD de carreira da artista e cantora Sandra Belê, natural da


cidade de Zabelê e membro da Associação Cultural de Zabelê. Nele estão contidas 12
faixas com forró, xote, baião e arrasta-pé. 2009.

Hino Nacional – Gravação do Hino Nacional em ritmo nordestino, pela artista cantora
Sandra Belê, realizada para o empresário Marcos Lopes. 2012.
https://www.youtube.com/watch?v=fN8D73Fi8Pc

Encarnado azul - 3º Cd de carreira da artista e cantora Sandra Belê, natural da cidade


de Zabelê e membro da Associação Cultural de Zabelê. Nele estão contidas 10 faixas
com referência em músicas de pastoril. Foi disponibilizado para venda. 2010.

Cantando Para o Eterno – Audiovisual contendo ressignificações de cantos fúnebres


(Incelenças). O projeto é fruto do trabalho de conclusão de curso de graduação da artista
e cantora Sandra Belê. Nele, a cantora traz 12 incelenças musicalizadas com bases
eletrônicas. 2013. Exibido no programa Diversidade da TV Itararé. Campina Grande,
2014.
https://www.youtube.com/watch?v=9ahvhKVSuto

Sandra Belê canta Zé do Norte – Registro audiovisual do show Sandra Belê canta Zé
do Norte, realizado pelo projeto 7 Notas do Sesc da cidade de Campina Grande,
Paraíba. 2008.

Pife, a fé no toque – Registro da Banda de Pífano Juá do município de São Sebastião


do Umbuzeiro, realizado na cidade de SS do Umbuzeiro em 2006.
https://www.youtube.com/watch?v=iODNNzzAUoI&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw

Projeto Ensinar Cantando – Documentário do projeto realizado na Escola Maria


Bezerra do Município de Zabelê, entre 2001 e 2002.
https://www.youtube.com/watch?v=a7TDUyd2URw&index=54&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw.

Reisado de Zabelê, uma viagem para Olímpia I – Relato em vídeo-documentário da


viagem do Reisado de Zabelê para o Festival de Folclore de Olímpia.
https://www.youtube.com/watch?v=DUl4arctjcs

Reisado de Zabelê, uma viagem para Olímpia II – Relato em vídeo-documentário da


viagem do Reisado de Zabelê para o Festival de Folclore de Olímpia.
https://www.youtube.com/watch?v=GxBfvRDa7cs&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw&index=67

O Relógio – Ficção que trata de questões relacionadas as questões homofóbicas.

Baú de Saudades (Vídeo) – Série de vídeos como parte do show Baú de Saudades, da
cantora Sandra Belê.
https://www.youtube.com/watch?v=nQZlYKpRiNA&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw
https://www.youtube.com/watch?v=ZGY4FFtJ8Ow&list=UUbuD7een9-
sRO6UuKQo8VTw&index=35
78

https://www.youtube.com/watch?
v=RO5VJYk2TP8&index=36&list=UUbuD7een9-sRO6UuKQo8VTw
https://www.youtube.com/watch?
v=McQIOWNnJU0&index=37&list=UUbuD7een9-sRO6UuKQo8VTw.
https://www.youtube.com/watch?v=c34lBOcTqVE
https://www.youtube.com/watch?v=EJFGrkJPpGo
https://www.youtube.com/watch?v=ekzfMFjiDm8
https://www.youtube.com/watch?v=1QJ-wgLDdj8
https://www.youtube.com/watch?v=Kb288Ivbtyw

Prisma – 1º EP da artista cantora Sandra Belê, Contém 4 faixas com músicas de


compositores paraibanos e de domínio público. Foi disponibilizado para venda e para
download. 2013.
http://sandrabele.tnb.art.br/

3) PRODUÇÕES EM AUDIOVISUAL PELOS PARCEIROS

Tesouros do Cariri – Documentário realizado por poeta Marco de Aurélio sobre a


cantora Sandra Belê. 2012.
https://www.youtube.com/watch?v=3QqkEGtUrwM

Eternamente Luiz – CD da artista cantora Sandra Belê, realizado para o empresário


Marcos Lopes. Contém 18 músicas que foram cantadas pelo artista Luiz Gonzaga. O
CD não foi disponibilizado para a venda. 2013.

Reisado de Zabelê (DVD) – Documentário realizado pela ABD Paraíba (Associação


Brasileira de Documentaristas) do grupo Tradição Oral Reisado de Zabelê. 2009.

Zabelê – Vídeo-documentário que tem como fio condutor a visita do músico, cantor e
compositor Sivuca à cidade de Zabelê no segundo semestre de 2004.
https://www.youtube.com/watch?v=x56aF7l6ZXM
79

ANEXO IV – MATÉRIAS SOBRE SANDRA BELÊ


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ANEXO V – MATÉRIAS SOBRE O REISADO DE ZABELÊ


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5. ANEXO VI – LINHA DO TEMPO DA CULTURA

2001
- I FESTA DO JEGUE DE ZABELÊ
- APROVAÇÃO DO PROJETO “ENSINAR CANTANDO”
- REATIVAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ
- SANDRA SILVA (SANDRA BELÊ) CANTA MÚSICAS DO CANCIONEIRO
REGIONAL NORDESTINO
- I FESTIVAL DE ABOIADORES DE ZABELÊ
- I FESTIVAL DE VIOLEIROS DE ZABELÊ

2002
- FUNDAÇÃO DA ASCUZA
- PUBLICAÇÃO DE ARTIGO DO REISADO DE ZABELÊ NO CORREIO DA
PARAÍBA
- I VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP
- PRODUÇÃO DE VÍDEO DOCUMENTÁRIO: “PROJETO ENSINAR
CANTANDO”
- EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA “RUMO À COR DA TERRA”
- PRODUÇÃO DE VÍDEO DOCUMENTÁRIO: O QUE É ZABELÊ?

2003
- APROVAÇÃO DE PROJETO PARA REISADO DE ZABELÊ E SANDRA BELÊ
NO PROJETO COOPERAR
- EMISSÃO DO CNPJ DA ASCUZA
- CRIAÇÃO DA SECRETARIA DE CULTURA (15/04/2003 - LEI 100/2003)
- PROJETO O ECLÉTICO VIOLÃO (JAELSON FARIAS)
- II VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP

2004
- EXPOSIÇÃO DE ORATÓRIOS NA FESTA DO JEGUE
- III VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP (PROGRAMA DE
CONCESSÃO DE PASSAGENS DO MINC)
- POSSE DO SECRETÁRIO DE CULTURA
- APROVAÇÃO DO PROJETO POLINDO POTENCIALIDADE (FIC)
- GRAVAÇÃO DO 1º CD DO REISADO DE ZABELÊ
- GRAVAÇÃO DO 1º CD DE SANDRA BELÊ

2005
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- GRAVAÇÃO DO SVCD (DOCUMENTÁRIO) DO REISADO DE ZABELÊ


- EXECUÇÃO DO PROJETO POLINDO POTENCIALIDADE (FIC)
- LANÇAMENTO DO CD E SVCD DO REISADO DE ZABELÊ
- PRÊMIO VOZ MULHER (CEDIDO PELO BANCO MUNDIAL À ASCUZA POR
SER PRESIDIDA POR UMA MULHER)
- TÉRMINO DA GRAVAÇÃO DO CD DE SANDRA BELÊ
- SANDRA BELÊ RECEBE O PRÊMIO MULHER FORTE - ANAÍDE BEIRIZ
(existe um livro de tal momento)
- IV VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP
- PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO: VIVER ZABELÊ
- PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO: CATANDO LIXO OU CANTANDO
CIRANDA (COM PENHA CIRANDEIRA)
- PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO: A VISITA (VISITA DA UNIVERSIDADE
FACISA)
- PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO: O ESCURO
- FORMAÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO DA CULTURA
- PROCESSO DE CRIAÇÃO DE ROTEIRO
- PRODUÇÃO DE VÍDEO DOCUMENTÁRIO: V CORRIDA DE JEGUE

2006
- CURSO DE ANTROPOLOGIA: ARTESANATO DA CULTURA: UM DIÁLOGO
ENTRE ANTROPOLOGIA E A ASCUZA (UFCG-ASCUZA)
- IV VIAGEM DO REISADO DE ZABELÊ PARA OLÍMPIA/SP
- DOCUMENTÁRIO PEGA DE BOI I
- DOCUMENTÁRIO PÍFANOS A FÉ NO TOQUE
- PARTICIPAÇÃO DE SANDRA BELÊ NA MICROSSÉRIE GLOBAL A PEDRA
DO REINO
- PRÊMIO MESTRE DAS ARTES LEI CANHOTO DA PARAÍBA (MESTRE
ABEL)
- REVEILLÓN DO GT DA CULTURA EM CAMBOINHA – CABEDELO/PB

2007
- O ARTESANATO DA CULTURA: UM DIÁLOGO ENTRE ANTROPOLOGIA E
A ASCUZA
- DOCUMENTÁRIO RAPADURA É DOCE, MAS NÃO É MOLE NÃO
- DOCUMENTÁRIO PEGA DE BOI: ENTRE ARBUSTOS, ÁRVORES,
CAATINGA
- PARCEIRA DA ASCUZA COM O ZABELÊ BAMBINO
- EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DA PEGA DE BOI
- PUBLICAÇÃO DE “MESTRE ABEL: O DONO DA FESTA” NA REVISTA OS
CAMINHOS DA TERRA
- REISADO DE ZABELÊ EM LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO FUNDAMENTAL
(EDITORA MODERNA – SÃO PAULO)
- PARTICIPAÇÃO DE SANDRA BELÊ EM COLETÂNEAS DA SOM LIVRE E
ESQUINA BRASIL

2008
91

- I FESTA DE REIS DE ZABELÊ


- INSERÇÃO DA ASCUZA NO BRASIL MEMÓRIA EM REDE

2009
- II FESTA DE REIS
- INSERSÃO DE NOVOS MEMBROS NO GT DA CULTURA
- GRAVAÇÃO DO VÍDEO-DOCUMENTÁRIO REISADO DE ZABELÊ – ABD
PARAÍBA, BMR, ASCUZA E PREFEITURA DE ZABELÊ
- LANÇAMENTO DO VÍDEO-DOCUMÉNTARIO REISADO DE ZABELÊ
- REISADO DE ZABELÊ E ALCIMAR MONTEIRO CANTAM JUNTOS NA
FESTA DO JEGUE
- I CONFERÊNCIA DE CULTURA DE ZABELÊ
- CONFECÇÃO DE PROJETOS PARA O BNB, MICROPROJETOS MAIS
CULTURA E CINE MAIS CULTURA
- ELIMINATÓRIA DO SANFONA FEST (FESTIVAL PARAIBANO DE
SANFONEIROS) NO SÃO PEDRO DE ZABELÊ
- PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NO ENCONTRO DOS POVOS DO
CARIRI
- PARTICIPAÇÃO DA ASCUZA NO ENCONTRO DOS POVOS DO CARIRI -
EXPOSIÇÃO DE VÍDEOS-DOCUMENTÁRIOS DO CARIRI PARAIBANO
- SANDRA BELÊ REPRESENTA A PARAÍBA NO FESTIVAL DO NORDESTE
EM BRASILIA
- GRAVAÇÃO DO SEGUNDO CD DE SANDRA BELÊ “SE INCOMODE NÃO”
- PARTICIPAÇÃO DE MEMBROS DO GT EM NATAL/RN NO FESTIVAL DO
AUDIO VISUAL GOIAMUM

2010
- APROVAÇÃO DOS PROJETOS ENVIADOS AO BNB, MICROPROJETOS MAIS
CULTURA E CINE MAIS CULTURA
- AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS E PRODUÇÃO DOS DOC’S (REALIZAÇÃO
DOS PROJETOS APROVADOS)
- III FESTA DE REIS (PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE CARAÍBAS)
- CURSOS: (ANIMAÇÃO, ROTEIRO, ...)
- FORMALIZAÇÃO DO PROCESSO DE ENTRADA NO GT (PROCESSO
SELETIVO).
- ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO DA CULTURA
- FORMAÇÃO DA BANDA DE PIFI PERFUMADO
- INSCRIÇÃO DO FESTIVAL DE LONDRINA/PR (REISADO DE ZABELÊ)
- FORMAÇÃO DO CINE PRA Q V, CRIAÇÃO DO CINE CLUBE “CINE PRA Q V”
- BALAIO DO PATRIMÔNIO: TRILHAS DO CARIRI: MONTEIRO
- VIAGEM DO GT DA CULTURA PARA MACEIO/AL
- AGREMIAÇÃO DOS NOVOS MEMBROS DO GT DA CULTURA.
- FESTIVAL ZABÉ DA LOCA (REISADO DE ZABELÊ E SANDRA BELÊ);
MONTEIRO.
- I CICLO DE APRESENTAÇÃO DO REISADO NO MUNICIPIO DE ZABELÊ
- AQUISIÇÃO DE MATERIAL GRÁFICO.
92

- PREMIO INEZITA BARROZO “MESTRE ABEL”


- DIA INTERNACIONAL DA ANIMAÇÃO.
- GRAVAÇÃO DO III CD “ENCARNADOAZUL” DE SANDRA BELÊ
- PLANEJAMENTO DA CULTURA 2012
- I FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOLCLÓRICO DE MONTEIRO (REISADO
DE ZABELÊ)
- ADESÃO DO CINE MAIS CULTURA
- EDITAL DO LIVRO DO REISADO
- PROJETO NOVOS PALCOS E PLATEIAS
- PROJETO GT DA CULTURA (SEBRAE)
- MICROTERRITÓRIO DAS ONÇAS: LEVANTAMENTO CULTURAL,
TURÍSTICO E AMBIENTAL DA CULTURA.
- VIAGEM DO GT DA CULTURA PARA O SÃO JOÃO DE CAMPINA GRANDE
- ENCONTRO DOS MICRO PROJETO DA PARAÍBA: SOUZA

2011
- IV FESTA DE REIS
- PARTICIPAÇÃO DE ZABELÊ NO FESTIVAL DE ARTES DE AREIA/PB
- VIAGEM DO GT DA CULTURA PARA JACUMÃ/PB
- V VIAGEM DO REISADO PARA OLIMPIA/SP
- PLANEJAMENTO DA CULTURA 2011
- LANÇAMENTO DO DOCUMENTÁRIO “NA MEMORIA DOS MEUS AVÔS
UMAS E OUTRAS HISTÓRIA”
- PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NA FESTA DAS NEVES EM JOÃO
PESSOA/PB
- BOLSA PARA OS MEMBROS DO GT
- PROJETO NOVOS PALCOS E PLATEIAS 2011
- II CICLO DE APRESENTAÇÕES DO REISADO DE ZABELÊ NO MUNICÍPIO
DE ZABELÊ, AQUISIÇÃO DE MATEIRAL GRÁFICO.
- PARTICIPAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SANDRA BELÊ NA FEIRA DE MÚSICA
FORTALEZA/CE
- II FESTIVAL ZABÉ DA LOCA HOMENAGEM A ILMAR CAVALCANTE
(SANDRA BELÊ) EM MONTEIRO.
- PARTICIPAÇÃO DO PRESIDENTE DA ASCUZA NO ENCONTRO DE
CINECLUBISMO.
- PATICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NO DIRREPENTE BEAT SUMÉ/PB
- VIAGEM DO GT DA CULTURA PARA SÃO SEBASTIÃO DO UMBUZEIRO/PB
- PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NO SÃO JOÃO EM JOÃO
PESSOA/JP- FUNJOPE

2012
- REALIZA CULTURA 2012 - V FESTA DE REIS

- CURSO INTERATIVIDADE SOCIAL NA WEB


- PLANEJAMENTO DA CULTURA 2012 – S.S. UMBUZEIRO
- SHOW DE SANDRA BELÊ EM HOMENAGEM A LUIZ GONZAGA ABRE AS
HOMENAGENS DO CENTENÁRIO DE LUIZ GONZAGA EM CAMPINA
93

GRANDE;
- REISADO DE ZABELÊ PARTICIPA DO XXXVIII FESTIVAL DE CULTURA DE
LARANJEIRAS
- CARNAVAL EM S.S. UMBUZEIRO - GT DA CULTURA

- AULAS DE VIOLÃO – E.M.E.F.M. MARIA BEZERRA DA SILVA

- ELABORAÇÃO/REORGANIZAÇÃO DO PROJETO NOVOS PALCOS E


PLATEIAS

- PROJETO “UMA AULA COM O REISADO” PROMOVE DURANTE TODO O


ANO ENCONTRO DAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL E ESTADUAL DE
ZABELÊ COM O REISADO DE ZABELÊ
- DEFINIÇÃO DA SEDE DO CINE PRA Q V
- GRAVAÇÃO DO CURTA-METRAGEM “A HORA”

- SOLICITAÇÃO DE ANTENA GESAC - FAZENDA/FUNDAÇÃO JOÃO JOSÉ

- CD “ENCARNADOAZUL” DE SANDRA BELÊ É SUCESSO DE CRÍTICA.

- ARRAIÁ DA BELÊ.

- PARTICIPAÇÃO DO REISADO DE ZABELÊ NO FESTIVAL DE FOLCLORE DE


OLÍMPIA/SP

2013
REISADO DE ZABELÊ - CENTRO CULTURAL DO BANCO DO NORDESTE DO
BRASIL

IMERSÃO DA MICRORREGIONAL 'NORDESTE DO MEIO

CARNAVAL EM SJ DA COROA GRANDE

REISADO DE ZABELÊ NO SEMINÁRIO: PARAÍBA, DESERTIFICAÇÃO,


AGROTECNOLOGIA E DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE EM CAMPINA
GRANDE
REALIZA CULTURA 2013

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