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AGENDA DA GERER

1º BIMESTRE
2022
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Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
Subsecretaria de Ensino
Coordenadoria de Educação Integral e Extensão Curricular
Gerência de Relações Étnico-Raciais

Ficha Técnica

Gerente Revisão
Joana Elisa Costa Oscar Fernanda Nascimento Crespo
Luciana Guimarães Nascimento
Assistente
Luciana Guimarães Nascimento
Pesquisa e Elaboração
Supervisão Joana Elisa Costa Oscar
Luciana Guimarães Nascimento Fernanda Nascimento Crespo
Luan Ribeiro da Silva
Design
Pedro Vitor Guimarães Rodrigues Vieira Luciana Guimarães Nascimento
Rachel Nascimento da Rocha Rachel Nascimento da Rocha
Renata Francis Teodoro
Diagramação
Thayssa Menezes e Silva
Rachel Nascimento da Rocha

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SUMÁRIO
TEXTO INSPIRADOR ...........................................................................5
APRESENTAÇÃO .................................................................................6
INTRODUÇÃO ......................................................................................8
PARA COMEÇAR.................................................................................12

FESTAS POPULARES
1. Carnaval.........................................................................13
2. Festas Religiosas: aspectos socioculturais...............19
3. Folia de Reis..................................................................25
4. Festas Juninas..............................................................30
5. Jongo ............................................................................35
6. Rodas de Samba ..........................................................40
7. Afoxés............................................................................46
8. Cirandas.........................................................................51
9. Festas do 20 de Novembro...........................................57
10. Feiras e Bailes ..............................................................63
NOSSAS INSPIRAÇÕES......................................................................70
FIQUE DE OLHO………........................................................................72
CONTATOS ………...............................................................................73

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Prezadas equipes,

Iniciamos mais um ano letivo e, com ele, renovam-se as


expectativas para desenvolvermos uma educação inclusiva,
equitativa e de respeito às identidades que se encontram em
nossos espaços escolares. Diante disso, permanece o desafio
de construirmos um currículo integrado, envolvente e que
abarque as demandas do cotidiano, facilitando o
desenvolvimento das nossas alunas e dos nossos alunos a
partir do oferecimento de metodologias didático-pedagógicas
acolhedoras, respeitosas e valorizadoras das diversidades que
nos constituem.
Sendo assim, a Gerência de Educação das Relações Étnico-
Raciais dá prosseguimento à Agenda da GERER, um material
que objetiva facilitar o trato pedagógico das relações étnico-
raciais no cotidiano escolar, amparado no Art.26-A da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9.394/96,
que institui o estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena nos currículos, agindo pela garantia da inclusão de
saberes multiétnicos e pluriculturais que constituem o país, em
debates tecidos no cotidiano das escolas.

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Dessa vez, ressaltaremos a importância da cultura nacional,
hoje estruturada em tradições e crenças fortemente
influenciadas por saberes de origens afro e indígenas, para
evidenciarmos a força da cultura popular na construção sócio
identitária da população brasileira, exaltando as
ressignificações que as manifestações festivas, a partir de
suas origens, desenvolveram nesse território ao longo da
nossa história.
Almejamos, com isso, ressaltar uma narrativa de prestígio ao
popular, por entendermos que essa é a matriz epistemológica
das relações que se desenham no cotidiano da maioria dos
grupos que dão vida e movem o Brasil.
Acreditamos que, através da Agenda “Festas Populares:
histórias, culturas e territorialidades”, possibilitaremos o
reconhecimento das potências que forjam a(s) cultura(s) no
Brasil, oportunizando a desconstrução de narrativas
preconceituosas que rondam o imaginário social quando se
trata do conceito de popular e de tudo que dele deriva.
Vamos (re)contar essa história!

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O trabalho com a educação para as relações étnico-raciais
não pode estar desvinculado da valorização das diferentes
culturas que formam o Brasil, e que se encontram no espaço
escolar. Compreendendo que não é possível definirmos uma
“cultura nacional”, vide a multiplicidade de indivíduos que
compõem a população brasileira, valorizar as diferentes
culturas coaduna com pressupostos inclusivos, e favorecem a
busca pelo fortalecimento das diferentes identidades,
sobretudo aquelas que ao longo dos séculos são
estigmatizadas, a partir de uma hierarquização que
menospreza saberes não ocidentais.
Diante disso, cabe à educação comprometida com a inclusão
social dos indivíduos historicamente subalternizados em
espaços de saberes formais, resgatar valores positivos sobre
as diferentes existências, percebendo que as variadas formas
de saber, entender e agir no mundo é que constituem
tradições, formando crenças, costumes e modos de ser que
definem determinados territórios. Não podemos negligenciar a
exaltação da diversidade étnico-racial como marca da
trajetória histórico-social brasileira.

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Nesse sentido, o tema da Agenda da GERER desse primeiro
bimestre, evoca as culturas que caracterizam o Brasil híbrido,
rememorando tradições significativas para os sortidos grupos
que formam a população brasileira, e que estão nas
comunidades escolares.
Ao destacarmos as festas populares como caminho para a
efetivação de uma educação para as relações étnico-raciais,
convidamos as comunidades escolares a explorarem a
positividade da diversidade, enobrecendo saberes que
comumente são categorizados como inferiores, ou mesmo
marginalizados. Explorar a história, a memória das diferentes
manifestações culturais que se apresentam em forma de festa,
requer atenção aos significados construídos em uma dinâmica
de circularidade de saberes que apontam para movimento e
renovação, em um processo coletivo no qual a energia
positiva é que deve sobressair.
Desse modo, convidamos vocês a mergulharem nesse
compromisso com a elevação do popular, entendendo que a
estigmatização desse grupo social gera preconceitos e

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discriminações que ofuscam a caminhada dos nossos/das
nossas estudantes.
O entendimento crítico de que o popular é marcado por
propriedades de grupos étnico-raciais historicamente
excluídos e, também por isso é alvo de preconceitos, permite
defender a urgência dessa pauta no currículo, rompendo com
hierarquizações e alinhando um modelo educativo para a
equidade.
A partir das multifacetadas manifestações festivas no território
brasileiro, em especial no território carioca, esperamos que o
trato pedagógico das relações étnico-raciais seja aprimorado,
compreendendo que as festas simbolizam a ressignificação de
práticas culturais de diferentes origens, influenciadas por
nossa ancestralidade indígena e afrodescendente, base para
a formação do popular .
Desejamos que as equipes pedagógicas aprofundem essa
pesquisa e desenvolvam um rico trabalho com as
comunidades escolares, avançando para o combate à
segregação de identidades.
Bom trabalho!

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.

Nas páginas a seguir, você encontrará em destaque


algumas das festas populares que marcam a identidade da
cidade do Rio de Janeiro.

Aprofunde a pesquisa sobre essas festas com seus alunos e


alunas, e explore outras, sempre valorizando as características
do território no qual sua Unidade Escolar está inserida.

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.Para começar…

Cidade e festas populares

“As festas deixaram de ser somente manifestação cultural ou


artística e conquistaram espaço no rendimento econômico das
cidades. Como elas influenciam a vida das pessoas no lugar em
que acontecem? Convidados: Luís Felipe Ferreira, professor do
Instituto de Artes e coordenador do Centro de Referências do
Carnaval da UERJ; e Luzimar Paulo Pereira, antropólogo e
pesquisador do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ”.

Clique para assistir:


http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/assista/tv/7115-cidade-e-festas-populares

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CARNAVAL 13
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

CARNAVAL

Foto: http://www.multirio.rj.gov.br/

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" Apesar de o carnaval ser um período festivo em que o Brasil
ritualiza e festeja sua identidade, ainda é, na mesma medida, o

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tempo em que as diferenças de raça, classe e gênero gritam aos
nosso olhos. Combater os abismos sociais que a festa nos revela é
fundamental para a construção de um país mais igualitário“.
(Vinícius Natal)

.
O Carnaval do Brasil é uma das festas mais conhecidas
do mundo. No Rio de Janeiro, onde representa a maior
festa popular, a população vive a celebração de
diferentes formas, sempre com muita alegria e
animação, exaltando a multiplicidade do festejo,
configurando uma manifestação diversa, agregadora e
multifacetada. O carnaval carioca tem características
próprias, acontecendo não apenas nos dias oficiais,
mas se estendendo por um calendário alternativo,
geralmente, nos meses que antecedem o festejo nos
dias principais, movido por ensaios de blocos e escolas
de samba. Quando o prefeito entrega as chaves da 14
cidade ao Rei Momo, é oficializada a festa.

No entanto, além de festejo, o carnaval carioca é uma


manifestação cultural, com características expressivas
da sua população, funcionando também como um
atrativo para muitos turistas, fomentando um impacto
econômico significativo, já que promove a indústria
criativa e o turismo na cidade. Essa indústria envolve
profissionais, de diferentes áreas, não apenas durante a
festa, mas no decorrer do ano, com pessoas de
diferentes profissões atuando nos barracões, quadras

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das escolas de samba, nas oficinas de costura, e em
rede de apoio como seguranças, profissionais da

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limpeza, vendedores ambulantes. Dessa forma, o
carnaval também é considerado um setor gerador de
empregos.

Embalado por ritmos variados, o carnaval carioca tem o


samba como estilo musical de maior destaque,
especialmente na versão de samba-enredo, contando e
recontando histórias que embalam os desfiles das
Escolas de Samba, ícone do carnaval na cidade.
Atualmente, os desfiles das Escolas de Samba (na
Avenida Marquês de Sapucaí - Sambódromo e na
Estrada Intendente Magalhães), os bailes (clubes e
ruas), os blocos e bandas (ruas e clubes), além das
festas nas praças, organizadas em torno dos
tradicionais coretos, fazem do carnaval do Rio de
Janeiro um dos maiores do Brasil. 15
Embora sua origem milenar, europeia e de cunho
cristão, a evolução do carnaval no Rio de Janeiro
acompanhou a história da cidade, e hoje apresenta
características bem peculiares que configuram a
identidade da festa. Do entrudo às sociedades
carnavalescas; dos cordões e ranchos aos blocos; dos
desfiles da “Deixa Falar” (atual Estácio de Sá) e “Vai
como Pode” (atual Portela) na Praça Onze à
grandiosidade dos desfiles na Marquês de Sapucaí; dos
pierrôs aos mascarados bate-bolas; das bandas às
baterias de Escolas de Samba. O carnaval resistiu, e

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resistem suas origens populares, marcando gerações,

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construindo a História da cidade, recontando o passado
e projetando o futuro com a irreverência típica que faz
dessa a maior festa popular carioca.

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CURIOSIDADES:
O carnaval é festejado por todo o Brasil, sempre
exaltando as características locais.
Embora os desfiles de escolas de samba das cidades do
Rio de Janeiro e de São Paulo sejam os mais conhecidos,
também há desfiles de agremiações em Porto Alegre
(RS), em Fortaleza (CE), em Vitória (ES), em Estância
(SE) e João Pessoa (PB), com fortes marcas da
população local.
Os blocos carnavalescos também se espalham pelo
Brasil, arrastando foliões com muita animação, como nos

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casos dos blocos de Olinda (PE), com seus bonecos

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gigantes embalados pelo frevo, maracatu e afoxés; os
blocos em Salvador (BA), cujos trios elétricos tem no axé
o principal ritmo, porém sem deixar a variedade de ritmos
musicais de lado; os blocos de Ouro Preto, que celebram
diferentes ritmos da música nacional e internacional em
carros de som e palcos espalhados pela cidade.

❖ Que tal investigar com seus alunos e alunas


os aspectos culturais, históricos e de
territorialidade que o carnaval movimenta?
Aprofunde essa pesquisa com seus alunos!

● Não temos dúvida de que os campos de


experiência e objetos de conhecimento
presentes no Currículo Carioca podem ser
trabalhados através desse tema.

✔ Dica: Visite a Agenda da GERER de Tema


TERRITÓRIO, páginas: 24, 26, 61, 71 e 142
para expandir o olhar sobre o Carnaval
17
carioca.
COSTA, Haroldo. 100 anos de carnaval no Rio de Janeiro. São Paulo, SP: Irmãos Vitale,
2001.
DINIZ, André. Almanaque do carnaval: a história do carnaval, o que ouvir, o que ler, onde
curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
FERNANDES, Fernanda. Enredo do Salgueiro inspira projeto sobre a importância da
mulher negra na História. Disponível em: https://bit.ly/3urnpAp
KASAHARA, Ivan. A história dos desfiles das escolas de samba. Disponível em:
https://bit.ly/3GvXObK
RODRIGUES, Neusa; OLIVEIRA, Alex. Tequinho e o Ensaio da Bateria. Rio de Janeiro:
Rovelle, 2011.
THEODORO, Helena. Os ibejis e o carnaval. São Paulo: Pallas, 2009.
VILA, Martinho. A Rainha da Bateria. São Paulo: Lazuli Editora, 2000.
______. Entrevista com a Professora Helena Theodoro: O verdadeiro significado do
carnaval não aparece na televisão. Disponível em: https://bit.ly/3oPSHxl

- Sites:
Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro: http://liesa.globo.com/
Sebastiana – Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa
Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
http://www.sebastiana.org.br/
Folia Carioca – Associação Carioca de Blocos e Bandas
https://www.foliacarioca.com.br/
Museu do Samba: http://visit.rio/que_fazer/museu-do-samba/

- Vídeos/Documentários:
Um Rio de Histórias - A história do carnaval https://bit.ly/3sjpbkl
A ESCOLA DO CACHORRO SAMBISTA - https://bit.ly/3soNHjW
O samba que Mora em Mim – Documentário - https://bit.ly/3ow9tBn
Bate-bolas: a tradição do subúrbio carioca agora tem rosto de mulher -
https://bit.ly/3GAVnom
Escola de Bamba - https://bityli.com/hsbqD
Blocos de carnaval do Rio (1) - https://bityli.com/CZMoo
Marchinhas de carnaval retratam o Rio de Janeiro - https://bityli.com/xBCrs 18
FESTAS RELIGIOSAS
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HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

FESTAS RELIGIOSAS

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Foto reprodução: https://www.youtube.com/watch?v=fb-lhd3IIdo

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por

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sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o
seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
jamais extinta”.
(Nelson Mandela. Livro "Long Walk to Freedom", 1995)

De acordo com o censo demográfico realizado em 2010,


pelo IBGE, as autodeclarações apontam para uma
diversidade religiosa no Brasil:

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Segundo a constituição de 1988, o Estado Brasileiro é
laico e garante a todo cidadão o direito de professar sua
fé, independente do seu teor e de seus ritos, contanto que
sejam praticados em ambientes privados.
Não existe uma hegemonia religiosa no Brasil,
exatamente por termos diversas influências em nossa
formação. As crenças e as sabenças dos povos
originários, dos povos africanos, dos europeus e outros
que chegaram ao país, constituem essa multiplicidade de
ligações com o Divino. Fato é que, o domínio de novas
terras pelos europeus se deu também no campo religioso,
já que os povos oprimidos foram obrigados a professar a

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fé dos colonizadores. No Brasil, o catolicismo fez parte da

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estratégia de dominação do país, que previa a catequese
dos povos originários. Posteriormente, o processo de
apagamento da memória ancestral dos negros trazidos
forçadamente de várias regiões do continente africano,
considerados pelos portugueses como sem alma,
batizando-os e dando-lhes novos nomes de origem
europeia. Em ambos os casos, a fé desses indivíduos
subjugados não fora respeitada.
No caso dos povos africanos, um dos meios utilizados
para que conseguissem continuar manifestando suas
crenças, sem punição, foi associar os Orixás aos Santos
da Igreja Católica. Como consequência desse hibridismo
religioso, houve o fortalecimento de festas religiosas que
passaram a receber influências culturais do povo negro,
algumas colocando-os em lugar de protagonismo, já
outras, colocado-os à margem.
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Algumas festas religiosas na cidade do Rio de
Janeiro:

● Festa de São Jorge- Todos os anos, no feriado de


23 de abril, o bairro de Quintino, na zona norte do
Rio de Janeiro, assiste a peregrinação de uma
multidão de devotos que chegam bem cedo ao
local, ainda na alvorada, e permanecem durante
todo o dia espalhados pelas ruas com suas
barracas de comidas, bebidas e a tradicional
feijoada. Para os católicos, São Jorge é símbolo da
força de Deus na luta em favor dos excluídos e
marginalizados. Na Umbanda e no Candomblé, ele

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é hibridizado a Oxóssi e a Ogum, respectivamente

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orixás representativos da caça e da guerra.

● Festa da Penha- A Festa da Penha já foi a segunda


festa mais popular do Rio de Janeiro, perdendo
apenas para o Carnaval.
Conforme a narrativa popular, enquanto os ricos
comerciantes subiam até o templo, seus
escravizados, que nesta época eram proibidos de
subir até o Santuário, ficavam embaixo festejando à
sua maneira. Aqueles que tinham permissão de
seus "bondosos" donos, vendiam desde comidas a
trabalhos manuais.Ao que tudo indica, foi assim que
as tradicionais barraquinhas que enfeitam a Festa
da Penha teve seu nascimento. Mais tarde, a festa
foi incrementada com as Baianas e as Rodas de
Batuques. 22
CURIOSIDADES:
No Brasil, de acordo com a lei nº 7.716, de 5 de
janeiro de 1989, a intolerância religiosa é considerada
um crime de ódio inafiançável e imprescritível.

1) Foi numa Festa da Penha, no ano de 1917, que


aconteceu o 1º Concurso de Músicas
Carnavalescas.
2) Os anos 80 e 90 foram o auge da Festa da Penha,
onde era muito comum a presença de sambistas
como: Arlindo Cruz, Sombrinha e integrantes do
Grupo Fundo de Quintal.

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3) Estas festas religiosas são alguns exemplos da

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influência colonial e do sincretismo religioso no
Brasil:
● Círio de Nazaré - Festa tradicional de Belém/PA.
● Festa do Bonfim - Festa tradicional de
Salvador/BA.
● Congadas- Festa tradicional em Minas Gerais,
● Festa da Boa Morte - Festa tradicional de
Cachoeira/BA
Que tal investigar com seus alunos e alunas os
aspectos culturais, históricos e de territorialidade
que as festas religiosas movimentam?

Sem dúvidas muitos dos campos de experiência e


objetos de conhecimento presentes no Currículo
Carioca podem ser trabalhados através desse
tema.

Dica: Visite a Agenda da GERER de Tema:


Territórios, na seção Sugestões de livros da 4a
23
CRE.
ABREU, Martha. O Imperio do Divino - Festas Religiosas e Culura
Popular no Rio de Janeiro, 1830-1900. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
2008.
DINIZ, André. Almanaque do Carnaval: a história do carnaval, o que
ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância religiosa. São Paulo: Pólen, 2020.
(Coleção Feminismos Plurais).
RODRIGUES, Léo. Cariocas festejam São Jorge e apontam sua
conexão com a cultura do Rio. Disponível em:
https://bityli.com/WbRVr
SIMAS, Luiz Antonio. Almanaque Brasilidades - Um inventário do Brasil
popular. rio de janeiro: Bazar do tempo, 2018.
SOUZA. Leonardo Vieira de. O princípio da laicidade na Constituição
Federal de 1988. Disponível em: https://bityli.com/FxeVh
TINHORÃO, José Ramos. As festas no Brasil Colonial. São Paulo:
Editora 34, 2000.
CURADO, João Guilherme da T.; CAMARGO,Marcos Cezar
T..Festa de São Sebastião. Disponível em: https://bityli.com/sMVWE

Sites:

● Festividades religiosas: fique por dentro das principais


do Brasil - https://bityli.com/qOQpz
● Presente à Iemanjá 2021 Sepetiba RJ - https://bityli.com/qdLNk
● Fotos! Devotos participam de cortejo de Presente à Iemanjá
no Centro do Rio - https://bityli.com/taOik
● Festas Religiosas: Festa de São Cosme e São Damião -
https://bityli.com/zSqZP
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FOLIA DE REIS
25
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

FOLIA DE REIS

AGENDA DA GERER
Foto: https://www.flickr.com/photos/pit_thompson/88431244

1º BIMESTRE 2022
“Dê a paz a sua casa pra nossa folia
Em nome dos santos reis
E do santo filho de Maria”
(Roque Augusto Ferreira)

.
A Folia de Reis é uma manifestação cultural que
comemora e louva os três Reis Magos: Gaspar,
Melchior - ou Belchior- e Baltazar. Eles que visitaram
Jesus Cristo dias depois do seu nascimento, segundo
os católicos. Essa festividade acontece todo dia 6 de
Janeiro, vindo depois dos reisados, que ficam em festa
entre os dias 24 de dezembro e dia 5 de janeiro,
representando o tempo de andança dos reis.
De origem europeia, a Folia de Reis chegou ao Brasil
junto com os Portugueses durante o período da
colonização.
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A história bíblica conta que, após Jesus nascer, os três
reis foram avisados por uma estrela cadente que o
Messias havia chegado. Apesar de não terem datas
historicamente marcadas, os católicos colocaram a data
de 6 de Janeiro como o dia que eles conheceram o
menino Jesus.
Tradicionalmente esse folguedo é formado pelo mestre,
os três reis, o festeiro, o coro, o bandoleiro e os
palhaços que fazem malabarismos e recitam versos, as
"chulas". O mestre entoa toadas em que sua voz chama
a resposta de outras vozes. Os festejos são

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organizados por devoção ou pagamento de promessa,

1º BIMESTRE 2022
que duram sete anos. No Estado do Rio, o ciclo de
peregrinação da Folia de Reis é chamado giro ou
jornada.
Nascida no morro da Mangueira, a Sagrada Família da
Mangueira é uma das últimas remanescentes dos
tradicionais reisados nas favelas. Todos os anos, a
Folia percorre com cantorias e rezas as ruas e casas de
várias comunidades do Rio. Seus 13 integrantes,
liderados pelo mestre Hevalcy Silva, atravessam a
cidade de ônibus, paramentados de uniformes e de
instrumentos na mão.
Mestre Hevalcy brinca em folias desde os oito anos e,
além de cantar e tocar violão, ele rege os músicos com
um apito. Assim como os colegas, está na folia porque
teve uma graça alcançada.
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CURIOSIDADES:
O grupo Folclórico de “Folia de Reis Flor do Oriente” é
uma das folias mais antigas do Brasil em atividade.
Criado na década de 70, em Minas Gerais, e com sede
no bairro Vila Rosário, em Duque de Caxias, tem o
compromisso de manter viva essa tradição. Tombada em
2016 como Patrimônio Cultural e Imaterial do município
de Duque de Caxias.
Outras cidades da Baixada Fluminense, como São João
de Meriti, Mesquita, Belford Roxo, Guapimirim e
Queimados, também possuem folias. Em São João de

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Meriti, mestre Pedro, da Folia de Reis Estrela do Oriente

1º BIMESTRE 2022
Deus é o Nosso Guia – único grupo da cidade –, tem a
responsabilidade de garantir a manutenção desse
folguedo na cidade vizinha.
Todo ano, em 06 de Janeiro a Flor do Oriente e suas
irmãs ganham as ruas da Baixada Fluminense, cantando,
dançando e rezando a folia dos Santos Reis.

❖ Que tal investigar com seus alunos e alunas


os aspectos culturais, históricos e de
territorialidade que essa festa movimenta?

● Não temos dúvida de que os campos de


experiência e objetos de conhecimento
presentes no Currículo Carioca podem ser
trabalhados através desse tema.

✔ Dica: Assista ao curta “Especial Folia de


Reis” com seus alunos, através do link:
https://www.youtube.com/watch?v=LpQgSe7
28
Pem8
FUNARI, Pedro Paulo e PELEGRINI, Sandra C. A. O Patrimônio
Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

CASCUDO, Luis Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 7.ed. Belo


Horizonte – Rio de Janeiro: Editora Itatiaia, 1993.

CASTRO, Zaíde Maciel de e COUTO, Aracy do Prado. Folia de Reis.


Cadernos de Folclore nº 16. Rio de Janeiro: Arte-FUNARTE,
Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1977.

MAGNO. Marluce Reis. Folia de Reis - Uma tradição popular


com raízes no catolicismo . Disponível em: https://bityli.com/yDtLi.
Acesso em: 04/02/21.

MARRONE. Alves. Reisado Flor do Oriente mantém viva tradição da


Folia de Reis na Baixada. Disponível em: https://bityli.com/SrEwe .
Acesso em: 04/02/21.

OLIVEIRA, Ana Cláudia. Festejo para louvar os três reis magos.


Disponível em: https://bityli.com/YgUiH . Acesso em: 04/02/21

- FOLIA DE REIS SAGRADA FAMÍLIA DA MANGUEIRA -


https://bityli.com/TlgWQ

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FESTAS JUNINAS
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HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

FESTAS JUNINAS

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https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anarri%C3%AA..._(3676662708).jpg

“Vou passar o mês de Junho nas ribeiras do sertão

1º BIMESTRE 2022
/Onde dizem que a fogueira ainda aquece o coração
/Pra dizer com alegria, mas chorando de saudade/
Não mudei, nem São João, quem mudou foi a
cidade”
(Luiz Gonzaga)

. os festejos juninos aportam no contexto


No Brasil, se
dos imperativos colonizadores portugueses,
apropriações populares e o cruzo entre as referências
culturais diversas, que nos formam enquanto
sociedade, seguiram dando a tônica dos folguedos.
Para povos nativos da América, esse é o período dos
rituais de colheita do milho, base de quitutes servidos
em festas juninas até hoje. Entre culturas religiosas de
matrizes africanas, o tempo é de acender fogueiras
para Xangô, que também iluminam e aquecem os que
se conectam com seus sagrados celebrando São João,
Santo Antonio, São Pedro, e São Paulo; e os que, 31
livremente ao seu redor, dançam, comem, bebem,
contam e ouvem histórias nos meses de inverno.
Hoje, na cidade do Rio de Janeiro, o Centro de
Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga, em São
Cristóvão, é uma grande referência para os festejos
juninos. Reduto de encontros, memórias e histórias de
migrantes nordestinos, sua programação reúne
gastronomia, artesanato, música, cordel e
apresentações de quadrilhas juninas, uma tradição do
“São João carioca”. Coração de Palha, de Campo

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Grande; Amanhecer do Sertão, da Ilha do Governador e

1º BIMESTRE 2022
as sexagenárias Show de Ramos e Quadrilha do
Sampaio são exemplos de grupos que passam de uma
centena, se somados aos do Grande Rio, e seguem
promovendo a difusão dos saberes brincantes do arraiá
e o fortalecimento dos laços entre as comunidades de
diversos bairros.
Além de iniciativas independentes, entidades como a
“Federação de Quadrilhas” (FIGDQUERJ), “Liga de
Quadrilhas” (Liquabaferj) e “Festrilha do Rio” têm
promovido festas juninas em ruas e outros espaços
populares como o Guadalupe Country Clube; o Clube
CRIR, dos industriários de Realengo; a quadra da
Escola de Samba São Clemente, na Cidade Nova; do
Arrastão de Cascadura; e do Grêmio Esportivo de
Rocha Miranda, por exemplo.
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CURIOSIDADES:
Evidência da pluralidade dos festejos de junho, no Rio
de Janeiro, é o Brilho de Lucas, bumba-meu-boi
fundado por migrantes maranhenses entre as décadas
de 1970 e 80 na zona norte da cidade. Promovida há
mais de 30 anos na casa da família Silva Costa sempre
no sábado mais próximo do 24 de junho - dia de São
João Batista - a festa em torno da lenda da morte e
ressurreição do boi já chegou a reunir por volta de mil
brincantes no bairro de Parada de Lucas, segundo a

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pesquisadora Aline Ferreira Paes (2014).
Geralmente associado às regiões norte e nordeste, o

1º BIMESTRE 2022
bumba-meu-boi está presente em diversas partes do
país e, desde 2012 integra a lista de Patrimônio Cultural
do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).

❖ Que tal investigar com seus alunos e


alunas os aspectos culturais, históricos e
de territorialidade que essas festas
movimentam?

● Não temos dúvida de que muitos dos


campos de experiência e objetos de
conhecimento presentes no Currículo
Carioca podem ser trabalhados através
desse tema.

✔ Dica: Visite o Portal MultiRio e acesse a


matéria “Patrimônio Imaterial do Rio -
Feira de São Cristóvão” em:
https://bityli.com/wkSOg
33
ARAGÃO, Helena. Casal celebra 60 anos dançando em quadrilha
junina em Ramos, no Rio. TAB UOL, Rio de Janeiro, 09 de junho de
2021. Disponível em: https://bityli.com/yFzcd

CARLA, Denise. História. Quadrilha do Sampaio: Desde 1956,


Orgulho e Tradição Folclórica do Estado do Rio de Janeiro. Disponível
em: https://quadrilhadosampaio.blogspot.com/p/release.html. Acesso
em 04 de fevereiro de 2022.

Mapa Quadrilhas do Estado do Rio de Janeiro. Cultura Junina do Rio


de Janeiro. Disponível em: https://www.culturajunina.com.br/. Acesso
em 04 de fevereiro de 2022

MENDONÇA, Alba Valéria. Quadrilhas juninas resistem e mantêm a


tradição de fazer a festa nos ‘arraiás’ do Rio e da Baixada Fluminense.
G1 Rio, Rio de Janeiro, 14 de junho de 2019. Disponível em
https://bityli.com/tKBPo Acesso em 04 de fevereiro de 2022.

PAES, Aline Ferreira. UM BUMBA-BOI CARIOCA: Memória e


Identidade Maranhense em Parada de Lucas - Rio de Janeiro. TCC,
Graduação em Produção Cultural, UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE, Niterói, 2014.

PIMENTEL, Marcia. Tradições juninas: festas, fogueiras, quitutes,


quadrilhas e Bumba-meu-boi. Multirio: a mídia educativa da cidade. 30
de junho de 2021. Reportagens. Disponível em:
https://bityli.com/PMYLA. Acesso em 04 de fevereiro de 2022.

34
JONGO 35
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

JONGO

AGENDA DA GERER
Foto: Roda de jongo no quintal da casa de Tia Maria. Foto e acervo Alcinoo Giandinoto. Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/

“Ê, ê,ê, me Salve todos jongueiros!

1º BIMESTRE 2022
Ó Deus nos Salve o Cruzeiro das Almas
Meu povo Bantu.”
(Lazir Sinval)

O Jongo, também conhecido como Caxambu, Batuque


e Tambu é uma manifestação cultural presente no
sudeste do Brasil, predominantemente no estado do Rio
de Janeiro, e reconhecido como Patrimônio Cultural
Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) , desde novembro de 2005,
por reivindicação formalizada pelas comunidades
jongueiras.
Com origem no século XIX, através das referências
trazidas pelos povos africanos do Congo-Angola, de
tronco etnolinguístico banto, sequestrados e trazidos ao
Brasil, o Jongo é considerado uma complexa forma de
expressão artístico-cultural que se utiliza de dança e 36
cantos coletivos regido por tambores, que cultuam os
antepassados, e trazem em seus versos metáforas,
códigos e mistérios que fazem o jogo dançado se tornar
uma importante estratégia de confraternização,
comunicação e organização de fugas, subversão e
resistência da população negra escravizada pelos
portugueses. Antigamente, somente os mais velhos
dançavam, hoje é permitido que pessoas de todas as
idades participem e grupos como o Afrolaje e Jongo da
Lapa mantém e fazem circular essa tradição.
Embora necessitasse da autorização dos senhores e da
polícia - sendo tolerado ou reprimido, dependendo da

AGENDA DA GERER
conjuntura em diversos momentos históricos - o Jongo

1º BIMESTRE 2022
era dançado e cantado nos terreiros das fazendas e
entoado durante o trabalho nas lavouras. Essa
manifestação cultural é um dos fios de manutenção
histórico-cultural da população negra e tem grande
contributo para a difusão do pensamento abolicionista
brasileiro.
Na década de 1960, o Jongo da Serrinha, levado pelas
mãos do mestre Darcy Monteiro, construiu um caminho
que ganhou os palcos teatrais, dando visibilidade à
comunidade, seguindo uma trajetória de cooperação
iniciada com o teatro iniciada tempos antes. Arte e
política, no sentido amplo de engajamento para o
fortalecimento social, se unem nessa manifestação que
hoje é composta por comunidades jongueiras
tradicionais e grupos populares diversos.
37
CURIOSIDADES:
O Jongo influenciou o nascimento do Samba e, as
similaridades entre os dois são inegáveis A umbigada,
presente no Jongo, na língua quimbundo chama-se
“semba”, termo que, possivelmente, originou o nome
samba.
O Jongo da Serrinha é uma importante organização
tradicional que há 60 anos se dedica à manutenção das
tradições jongueiras, importante referência de difusão
cultural, construção crítica e de movimentação da
economia local. É um dos participante da Rede de Jongo
e Caxambu da qual participam cerca de 12 comunidades

AGENDA DA GERER
jongueiras somente no Rio de Janeiro. Fica localizada no

1º BIMESTRE 2022
bairro de Madureira, na favela da Serrinha.
Na nossa Rede Municipal de Educação, homenageamos
algumas referências jongueiras como Patronos das
escolas. Duas delas são: Escola Municipal Mestre Darcy
do Jongo e Creche Municipal Tia Maria do Jongo ambas
na 5ª CRE, em Madureira.

❖ Que tal investigar com seus alunos e


alunas os aspectos culturais, históricos e
de territorialidade que essa festa
movimenta?

● Não temos dúvida de que muitos dos


campos de experiência e objetos de
conhecimento presentes no Currículo
Carioca podem ser trabalhados através
desse tema.

✔ Dica: Visite a Agenda da GERER de Tema:


38
TERRITÓRIO na página 70, 73, 74.
CULTNE Acervo: Jongo. Disponível em:https://bityli.com/ZTXta Acesso em:
18/01/2022.

CULTNE TV. Disponível em: https://cultne.tv/. Acesso em: 18/01/2022.

Jongo da Serrinha. Disponível em: http://jongodaserrinha.org/ . Acesso em:


19/01/2022.

JONGO NO SUDESTE, Brasília: IPHAN, 2007 (Dossiê IPHAN 05). Disponível


em: http://portal.iphan.gov.br//uploads/publicacao/PatImDos_jongo_m.pdf .
Acesso em: 18/01/2022.

ALTOÉ, Larissa. Jongo, expressão da cultura afro-brasileira. 2016. Portal


MultiRio. Disponível em: https://bityli.com/nVMhk Acesso em: 18/01/ 2022.

Observatório do Patrimônio Cultural do Sudeste. Disponível em:


https://bityli.com/fDgCE .Acesso em: 19/01/2022.

ABREU, Martha; XAVIER, Giovana; MONTEIRO, Lívia; e BRASIL, Eric


(Orgs.). Cultura negra vol. 1: festas, carnavais e patrimônios negros. Niterói:
Eduff, 2018.

FREITAS, Rosana. Tia Maria do Jongo e a conservação da cultura ancestral.


Disponível em:https://bityli.com/ZoYpz . Acesso em: 25/01/2022.

RUFINO, Joel. Ah, meu filho, o Jongo tem suas mumunhas!: um estudo com
os jongueiros e suas narrativas. Dissertação. Disponível em:
https://bityli.com/kEkKU. Acesso em: 25/01/2022.

39
RODAS DE SAMBA
40
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

RODAS DE SAMBA

AGENDA DA GERER
Foto: https://diariodorio.com/250-rodas-de-samba-sao-legalizadas-pela-prefeitura-do-rio-ate-o-fim-do-ano/

“Samba,

1º BIMESTRE 2022
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro”
(Nelson Sargento)

.
“A roda é o início de tudo − estava presente antes mesmo
de o samba ser samba, é anterior a ele. Sua característica
mais evidente é o clima doméstico, familiar”, define Roberto
Murcia Moura em No princípio, era a roda: um estudo sobre
samba, partido-alto e outros pagodes. As primeiras rodas
surgiram nas moradias festivas das tias baianas na Praça
Onze - destruídas com a construção da Avenida Presidente
Vargas. É neste contexto social e cultural que o século XX
começa no Rio: a então capital da nova República,
receptora de milhares de negros que migravam da Bahia,
serviu de catalisadora de diversos movimentos artísticos e
manifestações culturas africanas. 41
Eram os primeiros anos após o fim da escravidão
(1888), os artistas dessa época, proibidos pela polícia
de mostrar sua música em público, buscavam refúgio
nas casas das tias baianas, mulheres que ganhavam a
vida vendendo sua culinária ou costura. Após
celebrações de rituais do Candomblé , e posteriormente
da Umbanda, se reuniam para, entre versos e batuques,
criar, resistir e forjar o samba carioca.
A segunda e definitiva fase do samba carioca acontece
anos depois, no final dos anos 20. No bairro Estácio,
nas proximidades da Praça Onze e ao pé do Morro de
São Carlos, surge uma geração de artistas dispostos a

AGENDA DA GERER
mudá-lo completa e definitivamente. Eram tempos de

1º BIMESTRE 2022
Ismael Silva, Bide, Brancura, Nilton Bastos e muitos
outros. "O samba carioca é de Ismael Silva. Foi uma
coisa de vanguarda, planejada. O samba que o Zeca
Pagodinho e o Martinho da Vila fazem, nasceu com o
Ismael Silva. Assim como a bossa nova tem dono, a
jovem guarda tem dono e a Tropicália tem dono, o
samba carioca também tem dono.” frisa Paulo Lins,
autor de Cidade de Deus e Desde que o samba é
samba.
Com o passar dos anos, o samba foi se modificando,
ganhando outros arranjos e personagens no cenário,
mas a roda de samba esteve sempre presente e até os
dias atuais, elas continuam sendo um espaço de
divertimento, de reverência aos ancestrais e aos mais
velhos que fizeram muito para que o samba figurasse
42
como marca registrada da cultura carioca.
Por fim não podemos deixar de mencionar a tradicional
roda de samba do Cacique de Ramos, que há pelo
menos 50 anos se mantém ativa. É simplesmente o
local de origem do grupo Fundo de Quintal, a referência
maior em grupos de samba na história do gênero.

As rodas hoje
Nos dias atuais, existem muitas rodas de samba
espalhadas pela cidade, com atrativos e públicos
distintos. Uns são mais tradicionais, dão ênfase ao
samba raiz e as canções que não são tão radiofônicas,

AGENDA DA GERER
já outras rodas apostam na mescla com o pagode,
atraindo multidões, saindo um pouco do teor intimista,

1º BIMESTRE 2022
de quintal das rodas de outrora. Abaixo vamos listar
duas rodas que são sucesso atualmente e possuem
propostas diferentes, porém o fator comum entre elas é
a exaltação da cultura negra e a celebração do ritmo.
● Samba da Feira - Surgiu na casa de Mário
Castilho, em Piedade, zona norte carioca.
Começou como uma brincadeira, que virou um
dos eventos de samba e pagode mais conhecidos
e populares do Rio. Cresceu tanto, que desde o
dia 3 de dezembro de 2016, passou a acontecer
nos Armazéns do Engenhão, localizados na parte
externa do Estádio Nilton Santos, no Engenho de
Dentro.
● Awurê - Há dois anos, quatro amigos se reuniram
para produzir uma roda que reafricanizasse o 43
samba, tão embranquecido ao longo de sua história
e, mais que isso, um evento que fosse referência de
cultura negra. Assim, o Awurê — termo iorubá que
significa um desejo de boa sorte — ganhava a cara
que tem hoje. Se no início foi difícil e eles chegaram
a ter público de apenas 20 pessoas, hoje a roda, que
é mensal, atrai de 600 a 700 de diversos cantos da
cidade.

CURIOSIDADES:

- No dia 2 de dezembro, Dia Nacional do

AGENDA DA GERER
Samba, a Central do Brasil e também Oswaldo

1º BIMESTRE 2022
Cruz, se transformam para receber o grande
evento. O Trem do Samba. A roda de samba
nos vagões.

❖ Que tal investigar com seus alunos e


alunas os aspectos culturais, históricos
e de territorialidade que essas festas
movimentam?

● Não temos dúvida de que muitos


campos de experiências e objetos de
conhecimento presentes no Currículo
Carioca podem ser trabalhados
através desse tema.

✔ Dica: Visite a Agenda da GERER de


Tema: TERRITÓRIO na página 56 .

44
ALTOÉ, Larissa. Rodas de samba: onde nasce e se mantém o
ritmo afro-brasileiro. Multirio, Rio de Janeiro, 02 de dezembro de
2019. Disponível em: https://bityli.com/mkBbx

BETIM, Felipe. Rio de Janeiro, a origem do samba como gênero


musical brasileiro. El País, Rio de Janeiro, 06 fevereiro de 2016.
Cultura. Disponível em: https://bityli.com/YRLbh

MOURA, R. M. . No princípio, era a roda. Rio de Janeiro: Editora


Rocco, 2004. 320p .

RAMOS, Cacique de. Nossa História. Disponível em:


https://bityli.com/dRYjp. Acesso em: 31 de janeiro de 2022.

VIOLA, Kamille. Awurê, o quilombo urbano que atrai público à


Zona Norte do Rio. Uol Urban Taste, Rio de Janeiro, 15 de fevereiro
de 2020. Rio Adentro. Disponível em: https://bityli.com/SrTLg

Site RIOTUR: http://visit.rio/evento/trem-do-samba

45
AFOXÉS 46
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

AFOXÉS

AGENDA DA GERER
Foto: Reprodução Wikimedia

“Filhos de Gandhi, badauê


Ylê ayiê, malê debalê, otum obá

1º BIMESTRE 2022
Tem um mistério
Que bate no coração
Força de uma canção
Que tem o dom de encantar”
(Edmilson De Jesus Pacheco)

.
Nas culturas de matrizes africanas e indígenas a
oralidade, mesmo não sendo a única linguagem, é central
para mobilização e continuidade da história e tradições. A
palavra afosè, de origem iorubá, remete-se ao poder de
realização através da fala, do canto, da enunciação.
Teóricos da análise do discurso pautam, a partir da
década de 1960, o que as culturas dos povos tradicionais
preconizam há séculos: a palavra dá sentido, organiza,
situa e até produz mundos. Nos apropriando da palavra
afosè, trazida por nossos antepassados, Afoxé passou a
denominar blocos de rua que partiram dos terreiros de
religiões de matrizes africanas para ganhar a rua em 47
cortejos ao ritmo do Ijexá. Além disso, algumas pessoas
também chamam por afoxé o próprio ritmo do Ijexá. Afoxé
também nomeia um instrumento musical cuja rede de
contas envolve uma cabaça.
Estima-se que a origem provável dos Afoxés venha da
festa “Domurixá”, celebrada em passado remoto no
reino Iorubá, na cidade de Lagos, Nigéria. Esta
celebração homenageia Oxum, Deusa da nação Ijexá.
Em 1895, sete anos após a abolição oficial da
escravatura, na cidade de Salvador (BA), a primeira
capital do Brasil, chamada à época de “São Salvador da
Baía de Todos os Santos”, mostrou ao mundo o

AGENDA DA GERER
primeiro grupo de afoxé chamado “Pândegos da Folia”.

1º BIMESTRE 2022
Os Afoxés levaram o Ijexá para as ruas, para o carnaval
e para o gosto da Música Popular Brasileira (MPB),
tendo músicas gravadas por vários artistas. Algumas
das músicas criadas no ritmo Ijexá foram popularizadas
como sambas.
Através da saudação ritualística aos Orixás, os cortejos
mantém e difundem a cultura de matrizes africanas e
afrobrasileiras, levantam a questão do racismo religioso e
pedem paz. Um exemplo disso é o Bloco Afoxé Filhos de
Gandhi, fundado por estivadores portuários de Salvador
no dia 18 de fevereiro de 1949 e, no Rio de Janeiro
fundado em 1951, com sede ao lado do Jardim
Suspenso do Valongo, na Pequena África, sendo
considerado o Afoxé mais Antigo e Tradicional do Rio
de Janeiro.
48
CURIOSIDADES:
Além de Salvador, os Afoxés estão presentes no
carnaval brasileiro em diversas cidades como Recife,
Olinda, Ribeirão Preto, São Paulo, Rio de Janeiro, Juiz
de Fora, Belo Horizonte, entre outras.
No Rio de Janeiro, alguns dos Afoxés dos quais
temos conhecimento são:
Filhos de Gandhi
Agbara Dudu
Afoxé estrela D'Oiá

AGENDA DA GERER
Filhos da Paz
Oju Obá Axé

1º BIMESTRE 2022
Raízes Africanas
Iê Zambi Aiê
Zimbauê
Águas de Oxalá
Afoxé Ilê Alá

❖ Que tal investigar com seus alunos e


alunas os aspectos culturais, históricos e
de territorialidade que essas festas
movimentam?

● Não temos dúvida de que muitos campos


de experiência e objetos de
conhecimento presentes no Currículo
Carioca podem ser trabalhados através
desse tema.

✔ Dica: Visite a Agenda da GERER de Tema:


49
TERRITÓRIO na página 25 à 30.
CULTNE - Afoxé Filhos de Gandhi no Cais do Valongo - RJ.
Disponível em: https://bityli.com/EDFTI . Acesso em: 31/01/2022.

DINIZ, André. Almanaque do Carnaval: A História do carnaval, o


que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editora, 2008.

GUIMARÃES, Roberta Sampaio. Os sentidos da Pequena África:


políticas patrimoniais e conflitos urbanos no rio de janeiro. In:
TAMASO, Izabela et al (org.). A antropologia na esfera pública:
patrimônios culturais e museus. Goiânia: Editora Imprensa
Universitária, 2019. p. 1-481. Disponível em: https://bityli.com/thrOT
Acesso em: 27 jan. 2022.

Ikeda, A. T. (2016). O ijexá no Brasil: rítmica dos deuses nos


terreiros, nas ruas e palcos da música popular. Revista USP,
(111), 21-36. Disponível em: https://bityli.com/PJJZf

Afoxé é Cortejo, é Ritual, é Festa, Afoxé é Carnaval (reedição do


Samba-Enredo de 1979). Disponível em: https://bityli.com/tjMWc
Acesso em: 31/01/2022.

50
CIRANDAS 51
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

CIRANDAS

AGENDA DA GERER
Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ciranda_Final_(16124070017).jpg

“Minha ciranda não é minha só

1º BIMESTRE 2022
Ela é de todos nós
A melodia principal quem guia
É a primeira voz.”
(Lia de Itamaracá)

A ciranda é uma manifestação cultural popular e está


.
presente em diversos campos da nossa sociedade, nos
processos educativos, na tradição indígena e nos
movimentos sociais. No entanto, sua origem não é
consenso entre os pesquisadores. Acredita-se que
tenha surgido em Portugal. O nome teria vindo do
espanhol “zaranda”, um instrumento usado para
peneirar farinha.
Típica da região litorânea do Brasil, especialmente
Pernambuco, onde os primeiros estudos sobre o tema
foram realizados por volta da década de 60. Estes
apontam que o marco inicial no país teria ocorrido por
52
volta do século XVIII, sobretudo na região Nordeste.
Segundo Sanfilippo (2015)
“A ciranda é a manifestação de
agradecimento. À beira-mar, de mãos
dadas, pessoas celebram a pesca farta e
agradecem, inclusive, pela volta do
pescador com vida. Levantando os braços,
pés indo e vindo como as ondas do mar,
canta-se e dança-se a vida da comunidade
[...]”(p.8).
As cirandas eram praticadas por trabalhadores rurais,

AGENDA DA GERER
pescadores e operários de construções, na beira do

1º BIMESTRE 2022
mar, nas ruas e nos terreiros. Sua composição emerge
de uma interação entre o canto e a dança. Os temas
das letras não eram fixos. Em geral, versavam sobre a
agricultura, o campo, a natureza, o amor, as praias e
regionalismos. Isso fez com que fossem associadas às
camadas populares e caracterizadas como uma
expressão genuína do povo.
A partir da década de 1970, enquanto dança de roda de
adultos, a ciranda conquistou grandes cidades, como
Recife e Olinda. E começou a se tornar um produto
turístico: foram criados, por exemplo, festivais de
ciranda.
Danças de roda estão presentes em diferentes países e
são marca da cultura popular de diversos estados
brasileiros. Em cada local, possuem especificidades,
características, conotações e sentidos particulares. 53
Já no Rio de Janeiro, existem inúmeros grupos de
danças populares que tecem saberes corporais e
educativos sobre as Cirandas e as demais danças
circulares. Grupos e coletivos que ganham os espaços
urbanos tecendo as ruas de movimento, ancestralidade
e conhecimentos através do rodar de suas saias.
Na tradicional Feira do Rio Antigo, popularmente
conhecida como Feira da Lavradio, que acontece todo o
primeiro sábado do mês, é possível encontrar o Grupo
Dandalua. Eles apresentam um repertório de danças

AGENDA DA GERER
populares como Ciranda, Jongo, Coco e Maracatu

1º BIMESTRE 2022
numa experiência múltipla e diversa no coração da
Cidade.
Numa das mais renomadas Universidades do Brasil, a
Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi concebida a
Companhia Folclórica do Rio-UFRJ, constituída por
professores, funcionários e alunos das suas diversas
unidades. Tendo como intuito pesquisar e divulgar a
cultura popular brasileira, esse grupo artístico, produz
espetáculos de música, danças e folguedos brasileiros,
promovendo atividades e eventos científicos e culturais,
além de cursos de extensão e educação continuada.
Sendo assim, fomentando a valorização do patrimônio
imaterial ao oferecer vários cursos de formação
profissional da UFRJ e para o público em geral.

54
CURIOSIDADES:
Em 12 de janeiro de 1944 nascia Maria Madalena Correia
do Nascimento, uma das maiores lideranças cirandeiras
do país, na Ilha de Itamaracá em Pernambuco.
Cantava ciranda desde os 12 anos e, aos 19, já se
apresentava em teatros e praças. Também foi cozinheira
de um restaurante na ilha e merendeira de uma escola
estadual, profissão que seguiu exercendo em paralelo à
carreira artística.
Lia de Itamaracá, foi o nome social pelo qual ela ganharia
reconhecimento e o título de Rainha da Ciranda pelas

AGENDA DA GERER
grandes mídias locais de Recife e pelo resto do Brasil,

1º BIMESTRE 2022
com a ajuda da canção “Essa ciranda quem me deu foi
Lia...”.
Em 2005, Lia de Itamaracá recebeu o título de Patrimônio
Vivo de Pernambuco.
Em entrevista ao jornal Brasil de Fato Lia diz:
“Na ciranda me batizei e estou aqui com a ciranda no
meio do mundo”.
❖ Que tal investigar com seus alunos e alunas
os aspectos culturais, históricos e de
territorialidade que essas festas
movimentam?

● Não temos dúvida de que muitos campos de


experiência e objetos de conhecimento
presentes no Currículo Carioca podem ser
trabalhados através desse tema.

✔ Dica: Visite o Portal MultiRio e acesse a


matéria “Ciranda: histórias e origens” em
55
https://bityli.com/EMBRn
BERNARDES, José Eduardo; SOUZA, Marina Duarte de. Entrevista |
Lia de Itamaracá e a "ciranda no meio do mundo". Disponível em:
https://bityli.com/EvQpc . Acesso em: 02/02/21.

GIFFONI, Maria Amália Corrêa. Danças Folclóricas Brasileiras e suas


Aplicações Educativas. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1964

SANFILIPPO, Lucio Bernard. Manifestações Culturais Populares e


Educação - O Corpo que Tece Conhecimentos. In: SEMINÁRIO
REDES - As Redes Educativas e as Tecnologias: Movimentos Sociais
e Educação, 2015, Rio de Janeiro. Redes Educativas, Cotidianos e
Práticas Culturais, 2015.

SIMAS, Luiz Antonio. Pedrinhas Miudinhas: ensaios sobre ruas,


aldeias e terreiros. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2013.

Sites:
Centro nacional de Folclore e Cultura Popular.
https://bityli.com/MWfpV
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
https://bityli.com/tdfYR

56
FESTAS DO
20 DE NOVEMBRO 57
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

FESTAS DO
20 DE NOVEMBRO

AGENDA DA GERER
Foto: https://www.youtube.com/watch?v=yfowRIlDw4E

“Parece que eu sou

1º BIMESTRE 2022
Zumbi dos Palmares quando sambo
O príncipe herdeiro
Dos quilombos do Brasil”
(Paulo César Feital / Altay Veloso)

Preservar a memória é uma das formas de construir a


história. Deste modo, .foi instituída pela Lei de número
12.519, no dia 10 de Novembro de 2011, a data de 20 de
novembro como o “Dia Nacional da Consciência Negra”.
A proposta de pautar 20 de novembro como uma data a
celebrar a consciência negra partiu da iniciativa de
Antônio Carlos Côrtes, Oliveira Silveira, Vilmar Nunes e
Ilmo da Silva, fundadores do grupo Palmares, em Porto
Alegre (RS), em 1971, e virou uma bandeira do
Movimento Negro desde então. Através do trabalho das
organizações negras, essa proposta ganhou visibilidade
nacional e, gradativamente passou a ser reconhecida
58
pela grande mídia e pela sociedade.
As diversas frentes ligadas à questão racial têm esta
data como um ponto de convergência para
manifestações e reflexões sobre suas formas de luta e
atuação por uma sociedade que esteja apta a respeitar,
contemplar e congregar as diferenças.
Portanto, essa data homenageia e resgata as raízes da
comunidade negra, sendo celebrada no Rio de Janeiro
e, em quase todas as partes do país, durante todo o
mês de novembro com feiras, festejos e batuques, entre
outras manifestações ligadas à história e à resistência

AGENDA DA GERER
da cultura afro-brasileira.

1º BIMESTRE 2022
No Centro da Cidade do Rio de Janeiro acontece
tradicionalmente um evento em homenagem ao Dia da
Consciência Negra, no monumento Zumbi dos
Palmares, localizado na Avenida Presidente Vargas. A
lavagem da estátua de Zumbi dos Palmares já faz parte
dos festejos da data, assim como a capoeira, dança
música e também as mais variadas homenagens à
comunidade negra.
Os festejos de 20 de Novembro estão ligados à história
de um tradicional clube carioca, localizado no bairro do
Andaraí, e que é ponto de encontro para a resistência
negra, o Renascença Clube. Criado em 1951, por um
grupo de homens negros de classe média que não
conseguiam acesso a outros clubes sociais da região
devido a sua cor, o clube hoje pode ser definido como
59
templo da resistência negra na Zona Norte da cidade
por promover a celebração da negritude e sua história.
O Renascença nasceu como um berço de resistência e,
tradicionalmente oferece ao seu público a famosa
feijoada de Zumbi, com direito a roda de samba e
outras manifestações culturais negras.
Na zona oeste, a festa que já virou tradição acontece
no Ponto Chic, em Padre Miguel, onde um palco é
montado em frente a estátua de Zumbi dos Palmares. A
comemoração ao Dia da Consciência Negra conta com

AGENDA DA GERER
apresentações de grupos folclóricos da cidade e das

1º BIMESTRE 2022
baterias das escolas de samba do bairro, Mocidade
Independente de Padre Miguel e Unidos de Padre
Miguel.
No texto A Festa e a Cidade, de Marcos Felipe Sudré
Souza, o autor destaca a importância do debate sobre
as festas para as cidades a partir do seguinte ponto:
“discutir a Festa como forma de experimentação da
cidade, do espaço urbano vivo, tão necessário para o
homem”. (SOUZA, 2010, p. 9). O que nos leva a refletir
que é imprescindível experienciarmos a cidade a partir
de suas dimensões culturais, seus símbolos e
significados, para então, analisarmos as manifestações
culturais a partir de uma lógica de pertencimento,
identidade e inclusão.

60
CURIOSIDADES:
Do outro lado da Baía de Guanabara, na cidade de
Niterói, acontece o Festival Viva Zumbi, onde é
celebrado o Dia da Consciência Negra. O Festival, que
já conta com mais de 10 edições, é organizado pelos
movimentos sociais da cidade e o pelo poder público,
sendo iniciado com a Caminhada da Consciência
Negra, seguida pela lavagem da Estátua de Zumbi,
embalada pelo som dos berimbaus da capoeira, além
de literatura e debates, destacando a ancestralidade e a

AGENDA DA GERER
cultura da população negra.
A programação inclui também uma feijoada, servida

1º BIMESTRE 2022
gratuitamente, tendas temáticas com oficinas artísticas
e shows com a central dos Ogãs, e as baterias das
escolas de samba da cidade. A entrada é franca.

❖ Que tal investigar com seus alunos e


alunas os aspectos culturais, históricos e
de territorialidade que essas festas
movimentam?

● Não temos dúvida de que muitos


campos de experiência e objetos de
conhecimento presentes no Currículo
Carioca podem ser trabalhados através
desse tema.

Dica: Visite a Agenda da GERER de Tema:


TERRITÓRIO na página 104.

61
BRASIL. LEI Nº 12.519 DE 10 DE NOVEMBRO DE 2011. INSTITUI O
DIA NACIONAL DE ZUMBI E DA CONSCIÊNCIA NEGRA. D.O.U. DE
11/11/2011, P. 7. Disponível em: https://bityli.com/NaxTh Acesso em:
07 Fev. 2021.

DINA, Beatriz. Viva o 20 de novembro. Fundação Cultural Palmares.


Disponível em: https://www.palmares.gov.br/?p=43642. Acesso em:
05/02/21

SODRÉ, Muniz. O Terreiro e a Cidade. Petrópolis: Vozes, 1988.

SOUZA, Marcos Felipe Sudré. A Festa e a Cidade. Belo Horizonte:


Escola de Arquitetura da UFGM, 2010.

Matérias:

Cariocas celebram o Dia da Consciência Negra no monumento


Zumbi dos Palmares, no Rio: https://bityli.com/QrLvf.

Festival Viva Zumbi celebra o Dia da Consciência Negra em


Niterói:https://bityli.com/xMatE

"Novembro Negro" tem cursos, rodas de samba e bailes de black


music no RJ: https://bityli.com/ZlaQB

Dia da Consciência Negra será comemorado com festa e samba em


Padre Miguel: https://bityli.com/MKqoO
62
FEIRAS E BAILES
63
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES

FEIRAS E BAILES

AGENDA DA GERER
Foto: https://rederiohoteis.com/feiras-de-artesanato-no-rj/

“Nas miudezas, num certo amiudamento dos

1º BIMESTRE 2022
fazeres, na prática da rua, na prática das
comunidades, a gente pode começar a reconstruir
uma ideia mais generosa de país.”
FEIRAS: (Luiz Antonio Simas)

.
As primeiras referências às feiras aparecem em meio ao
comércio e às festividades religiosas. A própria palavra
latina feria, que deu origem à portuguesa feira, significa dia
santo, feriado.
No Brasil, o costume veio com os portugueses e há
registros de feiras desde a época colonial. Existia a
presença das populares quitandas, ou feiras africanas, que
eram mercados em locais preestabelecidos que
funcionavam ao ar livre. Vendedoras negras negociavam
produtos da lavoura, da pesca e mercadorias feitas em
casa. Do mesmo modo, uma grande variedade de produtos
que chegavam de navio era comercializada informalmente
na Praça XV, no Rio de Janeiro. Até que em 1711, o
64
Marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, oficializou-as.
Dentre as milhares de feiras que traduzem a sociabilidade
dos cariocas, destacamos três que são muito importantes,
pois recebem pessoas de outros bairros e até municípios
vizinhos. A Feira de Acari, a Feira das Yabás e a Feira do
Rio Antigo (Lavradio).

Feira de Acari - A Favela de Acari, localizada na Zona


Norte do Rio de Janeiro, é uma favela com pelo menos
cinco décadas de existência, e quase 30 mil habitantes
atualmente. E é lá que ocorre, todo domingo, uma das
feiras mais famosas do estado: a Feira de Acari. Tema
de clássico do funk, e citada em música de Jorge Ben, a

AGENDA DA GERER
feira ocorre há décadas e garante o sustento de muitas

1º BIMESTRE 2022
famílias de moradores. “Tem de tudo, é um mistério”,
como dizia Jorge Ben.

Feira das Yabás - A cada segundo domingo do mês o


bairro de Oswaldo Cruz, contíguo a Madureira, recebe
grande público sedento pela boa mesa e boa música. É
o recanto das Yabás, ou Tias, que oferecem ali as
comidas tipicamente brasileiras, com um toque africano.
Ao todo são 16 barracas, cada uma delas com sua
especialidade. Rabada, mocotó, abóbora com camarão e
a onipresente feijoada são algumas das opções. Para
completar, cerveja gelada e uma grande atração musical
a cada edição.

Feira do Rio Antigo ( Lavradio) - Todos os sábados a


65
Rua do Lavradio recebe a Feira do Rio Antigo.O evento,
apesar de gratuito, funciona como uma ode às compras.
Centenas de barracas oferecem produtos diversos, de
móveis a roupas, de acessórios a objetos de decoração.
Sair de lá de mãos vazias é quase impossível.

Bailes
Baile Charme- Os bailes charme e suas manifestações
têm origem na zona norte do Rio. O termo "Charme" foi
cunhado pelo DJ Corello em um baile no clube
Mackenzie, nos anos 1980, localizado no Méier. Antes
de chegar em Madureira, o Charme circulou e ganhou
fama em bairros como Marechal Hermes e Abolição. Em

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1990 inicia a história do maior Baile Charme do Brasil e,

1º BIMESTRE 2022
mais ou menos nessa época, foi oficialmente
inaugurado o espaço Rio Hip Hop Charme, embaixo do
Viaduto Negrão de Lima, em Madureira (que tinha como
nome de batismo “Projeto Charme na Rua”). Todos os
sábados, salvo exceções, o público está lá marcando
presença. A estimativa de público em uma noite de baile
já chegou a 1500 pessoas. Desde 2013 a festa ganhou
o título de Patrimônio Imaterial Cultural da Cidade. Além
dos bailes, hoje nesse espaço acontecem oficinas, tanto
de Charme quanto de stiletto, no projeto Rio Charme
Social, que foi criado a pedido dos frequentadores do
baile. Cada oficina tem a duração de 3 meses.

66
Baile Funk - Os bailes funks surgiram na década de 80
herdando elementos dos bailes black da década de 70
como: moda característica, música em alto som,
danças criativas e público de maioria negra. No início
da década de 90, nasce o estilo conhecido como o
funk carioca e entram em cena os bailes de galera.
Como em um LP, o baile se dividia entre lado A e lado
B. Os “raps” como Endereço dos Bailes, dos MCs
Júnior e Leonardo, Rap da Cidade de Deus, de Cidinho
e Doca e Rap do Salgueiro, de Claudinho e Buchecha,
entre outras, são exemplos de músicas marcantes

AGENDA DA GERER
deste período.
Nos anos 2000, o protagonismo que antes pertencia

1º BIMESTRE 2022
aos clubes, passa para as favelas cariocas. Em
especial, a Cidade de Deus. Outro legado importante
para o funk nessa época foi o ‘tamborzão’, base
marcante que sintetiza muito bem a união entre os
gêneros eletrônicos norte-americanos e traços da
música afro-brasileira. Apesar deste protagonismo, o
baile da Cidade de Deus era apenas mais um em meio
a centenas que ocorriam em favelas cariocas. Alguns
dos mais famosos eram o baile do Buraco Quente (na
Mangueira), Chatuba (no Complexo da Penha), e
Árvore Seca (no Lins),
Em meados de 2015, o 150 BPM chega para
revolucionar o funk carioca. O ritmo acelerado das
batidas ganha instantaneamente as favelas da cidade
para depois conquistar o asfalto. 67
Pouco tempo depois das primeiras experimentações
no andamento, o DJ Polyvox criou a primeira base
originalmente produzida em 150bpm.
O título de principal centro irradiador do funk carioca
foi concedido ao baile da Gaiola, onde outros DJs,
como Rennan da Penha, também tratavam de
aperfeiçoar as produções em 150bpm. O Baile da
Gaiola tornou-se um fenômeno entre a juventude
carioca e contribuiu para que o funk produzido no Rio
de Janeiro retomasse a relevância no cenário
nacional.

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CURIOSIDADES:

1º BIMESTRE 2022
- O primeiro baile charme do Viaduto de Madureira foi
realizado com equipamentos emprestados do DJ
Marlboro.
- Antes do Viaduto, o baile charme mais famoso da
cidade era o do Disco Voador, em Marechal
Hermes.
- Os bailes da Furacão 2000 chegaram a mobilizar
mais de 150 mil pessoas por final de semana no Rio
de Janeiro.

❖ Que tal investigar com seus alunos e alunas os


aspectos culturais, históricos e de
territorialidade que essas festas movimentam?

● Não temos dúvida de que muitos objetos de


conhecimento presentes no Currículo Carioca
podem ser trabalhados através desse tema.

● Dica: Visite a Agenda da GERER de Tema: 68


TERRITÓRIO na página 22, 23, 62,69,80
AGUIAR, Buba. “É, sim, lá em Acari”: conheça a feira mais famosa da
Zona Norte. Agência de Notícias das Favelas, Rio de Janeiro, 25 de
novembro de 2016. Disponível em: https://bityli.com/yZGOo Acesso em:
31/01/2022.

FACINA, Adriana; NOVAES, Dennis. Baile Funk. Wikifavelas. Rio de


Janeiro, 9 de julho de 2021. Disponível em: https://bityli.com/RUAyI
Acesso em: 30 de janeiro de 2022.

GUIMARÃES, Camila. A feira livre na celebração da cultura popular.


2010. São Paulo. 17f. Gestão Cultural e Organização de Eventos.
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

MESQUITA, Clívia. Baile Charme completa 30 anos no Viaduto de


Madureira (RJ). Brasil de Fato. Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 2020.
Disponível em: https://bityli.com/pStLg. Acesso em: 30 de janeiro de
2022

RAMÃO, Thayse. Baile charme: um estudo de observação


sociocultural de festas urbanas e étnico-raciais. 2019. 50 f. Escola
de Educação Física, Fisioterapia e Dança – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2019.

VIEIRA, Juliana Lessa. “De baile em baile”. Uma história social do


funk carioca (1989-2000). 2020. 387 f. História Social da Cultura –
PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2020.

Matérias/Sites:

RIOTUR - Feira das Yabás: https://bityli.com/lWByo

RIOTUR - Feira do Rio Antigo: https://bityli.com/wwnMP 69


NOSSAS
INSPIRAÇÕES

Mãe Beata de Iemanjá


Beatriz Moreira Costa, conhecida como Mãe Beata de Iemanjá,
foi Iyalorixá do Candomblé, escritora, atriz e artesã brasileira,
ativista na defesa e preservação do meio ambiente, dos direitos
humanos, educação, saúde e combate ao sexismo, LGBTfobia,
destacando-se na luta contra o racismo e a intolerância religiosa,
sendo nomeada pela ONU como Embaixadora da Paz. Entre as
dezenas de títulos recebidos por Mãe Beata recebeu a Medalha
de Mérito Cívico Afro-Brasileiro, conferida pela Universidade da
Cidadania Zumbi dos Palmares de São Paulo; e o Prêmio de
Direitos Humanos conferido pelo Programa Nacional de Direitos
Humanos da Presidência da República. Em 2007, Mãe Beata
recebeu o diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, do Senado
Federal, em sessão solene do Congresso Nacional.

Luiz Antônio Simas


É mestre em História Social pela UFRJ, professor de História no
Ensino Médio e Babalaô no culto de Ifá. Pesquisador das culturas e
religiões de matriz africana, escolas de samba do Rio de Janeiro e
suas comunidades, cultura popular , publicou livros como O corpo
encantado das ruas, Coisas Nossas, Almanaque Brasilidades,
Arruaças, Umbandas, entre outros, Recebeu o Prêmio Jabuti, em
parceria com Nei Lopes, pela obra Dicionário da História Social do
Samba. 70
Helena Theodoro
Bacharel em Direito e pedagoga, mestre em Educação, doutora
em Filosofia e pós-doutora em História Comparada.
Pesquisadora da história e da cultura afro-brasileira e professora
da UFRJ. É autora dos livros: Mito e Espiritualidade: Mulheres
Negras(1996); Os Ibéjis e o Carnaval (2009); Caderno de
Cultura Afrobrasileira(2009); Iansã, rainha dos ventos e
tempestades (2010); e, Martinho da Vila - Reflexos no Espelho
(no prelo). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase
em Teorias da Aprendizagem; Atua principalmente nos
seguintes temas: identidade - valores, religião, comunidade -
ritos - sexualidade, - educação - processos culturais -
comportamento, comunidade- e cidadania - direitos humanos -
comportamento sexual.

Haroldo Costa
Ator, produtor, diretor, estudioso e comentarista de
carnaval, Haroldo Costa nasceu no Rio de Janeiro, em
1930. Tambémn foi jurado de programas de auditório.
Tem sete livros publicados: “Fala Crioulo”, “100 Anos de
Carnaval no Rio de Janeiro”, “Salgueiro: Academia do
Samba”, “Na Cadência do Samba”, “Salgueiro: 50 Anos
de Glória”, “As Escolas de Lan” e “Ernesto Nazareth:
Pianeiro do Brasil”.

Marta Abreu
Martha Abreu é professora adjunta do Departamento de
História da Universidade Federal Fluminense. Historiadora
(UFRJ), mestre em História pela Universidade Federal
Fluminense (1987) e doutora em História pela Universidade
Estadual de Campinas (1996), atua nas áreas de História do
Brasil e História da Diáspora Africana nas Américas,
desenvolvendo trabalhos nas temáticas: cultura popular,
música negra, patrimônio cultural, pós-abolição, memória da
escravidão e relações raciais, séculos XIX e XX - pesquisa e
ensino de História. É consultora do Pontão de Cultura
71 do

Jongo e do Museu Casa do Pontal (Arte Popular Brasileira).


Fique de olho!
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Não perca tempo!
Acesse o site, a partir do App Rioeduca em Casa, e
explore um ambiente cheinho de dicas e orientações
sobre Educação das Relações Étnico-Raciais, como os
fascículos anteriores da Agenda da GERER e muito mais.
Bom trabalho!

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Você também pode acessar o site da GERER através do QR Code acima. Para isso, basta
apontar a câmera do seu celular em direção a ele, para que a página do site seja identificada.
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Gerência de Relações Étnico-Raciais


gerer.sme@rioeduca.net
Telefone: 2976-2315

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