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TREMENDO COM O CRAVO: TERRITORIALIDADE FESTIVA NA

VILA DO CRAVO - CONCORDIA DO PARÁ/PA

INTRODUÇÃO
A pesquisa se desenvolve na em uma comunidade camponesa, Nossa Senhora das
Graças Vila do Cravo (também conhecida como Ccomunidade do Cravo e Vila do Cravo),
localizada no KM 35 da Rodovia PA-140, nordeste paraense, entre os municípios de Bujarú e
Concórdia do Pará, atualmente fazendo parte da jurisdição do município de Concórdia, desde
1988. Trata-se de É uma comunidade camponesa com que tem forte influência religiosa e
festiva forte ligação com o roçado, além de grande atividade festiva que podendom ser ligadas
a prática religiosa ou não. Além disso, verificamos intima relação com o roçado para a
produção, de vários produtos agrícolas, mas especialmente para o cultivo da mandioca e o
preparo da farinha. O Cravo é conhecido sabido nas comunidades vizinhas por seu calendário
festivo distribuído por todo o ano.

Esta A pesquisa se propõe analisar o circuito de festas realizados na e pela da


comunidade. Isso é um objetivo!!! Lá na frente tem outro.... cuidado!!!

Entedemos que essas atividades ligadas a festa conformam , conforma-se uma


trajetória de práticas e saberes estruturando toda uma dimensão simbólica no cotidiano da
comunidade. da comunidade. De certa forma, aA conformação de um calendário festivo
exclusivo do Cravo acaba envolvendo o conjunto de vilas próximas e os municípios vizinhos,
a exemplo dde Concórdia do Pará, Bujarú e Acará e outros. A territorialidade que se
estabelece a partir diante desseo calendário de festas do Cravo é uma forma de retratar as
dinâmicas que ocorrem no meio rural a partir desses sujeitos. Explicar isso!

Mapa 01: Localizando o lócus da pesquisa


F
onte:IBGE
Pesquisa de campo 2017
Execução: Anízio C. Guimarães ( não está correta a referencia do mapa) além disso, esse mapa tem que
apresentar os municípios vizinhos e mesmo as vilas.... usem um mapa que tenho acho que “ Novos projetos.........

A pesquisa tem por objetivo analisar a territorialidade das festas (não religiosas) da
comunidade do Cravo, tendo em vista que faz parte do modo de vidas dos sujeitos. Colocando
em questão de que maneira a festa se estabelece como elemento constitutivo desse território?.
Vejam que aqui está o objetivo e problema da pesquisa...isso é bom mas na pag anterior tem
um objetivo
Para conhecer e vivenciar um pouco da representatividade desse calendário festivo
para a comunidade tomou-se o trabalho de campo como principal meio para conhecer a
comunidade e suas especificidades. O, o trabalho de campo se torna fundamental para
participar ativamente do cotidiano dos sujeitos e não apenas observar o que nos interessa
como pesquisadores. Desta forma, , o campo precisa ser vivido e compreendido muito além
doe apenas observado. Ao longo da pesquisa Ffoi necessário definir critérios para a escolha
dos sujeitos chave, baseado no objetivo da pesquisa. Optamos Defini-se então pelosos
participantes que tem forte envolvimento com a dinâmica festiva da vila: donos de bares e
balneários, festeiros, DJs, vendedores, moradores mais antigos, os mais jovens, presidente da
associação quilombola da comunidade (ARQUIC) e os frequentadores das festas, equipes,
galeras, seguidores. É necessário fazer um planejamento, e essa delimitação de sujeitos
precisa ser definida antes de iniciar o campo, mesmo com a possibilidade de mudança a partir
do contato com a comunidade.

ONosso trabalho de campo começoua nao final do mês de abril e se estendeu até o
começo do mês de maio de 200..., Ssendo o mês da padroeira estede maio é inteiramenteo
dedicado a sua festividade, envolvendo desde as visitas as casas com a imagem da santa até a
sua coroação no dia 31. atividades religiosas da Igreja De Nossa Senhora Das Graças, Nesse
período, participamos da primeira novena, e observamos a movimentação da comunidade no
período de 30 de abril a 3 de maio. Como nosso interesse eram as festas não religiosas
Rretornamos ndo no mês de julho, onde é o mês de maior fluxo dase festas de aparelhagem e
carretinha. Nesse período ocorre , tendo o objetivo de participar das duas maiores festas do
mês e contam com que levara duas aparelhagens de grande porte. , observando o antes,
durante e depois da festa. No período de 07 a 11 de julho participamos da, para a festa com a
da aparelhagem POP SOM. Nesse mesmo momento tivemos a, tendo a oportunidade de
também participar da festa da carretinha Chopp Sound. Retornamos ainda para a comunidade
E novamente no período de 21 a 25 de julho, para a festa da aparelhagem Carroça da Saudade.

Utlizamos a técnica da Seguindo através da observação participante nas festas


consideradas mais importantes pelos residentes da vila. Nesse interim, fomos nos inteirando
da relação entre festa esse território. Na pratica fomos aprendendo a nos portar e perceber o
tempo de cada um na pesquisa, em particular dos sujeitos envolvidos, respeitando o seu tempo
e o seu cotidiano. , esta que demanda tempo e cuidado com o território e sujeitos pesquisados,
cuidado com o como se portar enquanto pesquisador, entender os momentos de abertura
frente aos sujeitos pesquisados e respeitar o tempo e o cotidiano dos mesmos. LLongas
conversas com base em entrevistas aberta, estruturadas e semi estruturadas contribuíram
grandemente com a coleta de dados durante as idas a campo nos períodos mais importantes do
calendário de festa da Vila. É necessário durante esse tipo de metodologia extrair informações
através do que fora ouvido, visto e percebido durante o tempo de vivencia. MARCO (2006,
p.106) “É preciso olhar com profundidade e observar, sobretudo aquilo que não havíamos
considerado antes de sair para campo”, à pesquisa que trás na sua metodologia a observação
participante, prima em sua essência, conhecer a fundo a comunidade pesquisada, historias,
interagir de fato com o cotidiano para ter alguma fala estabelecida, entendendo um pouco
daquilo que foi estudado, o campo e a pesquisa participante aprofundam o conhecimento
sobre o lócus escolhido e sobre o objeto de estudo, o entrosamento, a interação, o passe livre
na comunidade requer tempo e esforço, deve ser conquistado, com muito cuidado, nunca
perdendo a posição de pesquisador. Aprendendo a olhar para além do que se vê, é um
compromisso que deve ser assumido pelo pesquisador. Valadares (2007) ainda apresenta a
responsabilidade do pesquisador com algum retorno e/ou resultado da pesquisa para o lócus
estudado. , Éé o mínimo que podemos fazer pela comunidade em agradecimento.

Aliado a isso temos a pesquisa bibliográfica, indispensável para a análise das


dinâmicas percebidas, principalmente em pensar a comunidade como território em disputa, a
partir dos múltiplos conflitos que se forjam, conflitos que fazem parte do cotidiano, muito
presente na fala dos entrevistados, principalmente os moradores mais antigos, o conflito entre
festa tradicional e carretinha. Entende-se que cada festa tem seu papel diante da dinâmica de
vida dos sujeitos, sendo assim, alterar essa dinâmica é quebrar o que já fora estabelecido em
anos de tradição. Reescrever pontuação

Diante do contexto estabelecido pelas festas da comunidade do Cravo percebe-se a


territorialidade criada pela conformação do seu calendário exclusivo, a declaração da
territorialidade pode ser aplicada por tempo limitado, como uma forma de interação espacial
que influenciam outras interações e requer ações não territoriais (SACK, 2011). Então Lê – se
a ação da territorialidade sendo a festa em si, o tempo da territorialidade é o antes, o durante e
o depois da festa e as ações não territoriais para essa territorialidade é a festa enquanto ação
cultural vista como lócus de sociabilidade e momento de lazer para os frequentadores,
conformando uma trajetória de práticas e saberes estruturando uma dimensão simbólica no
cotidiano da comunidade. Através da relação que os moradores estabelecem com a festa e
toda a preparação e expectativa criada para esse momento nota-se que “territorialidade, dessa
forma, significa relações sociais simétricas ou dissimétricas que produzem historicamente
cada território.” (SAQUET, 2015, p.75), ou seja, o território é uma construção comunitária e
multidimensional, com diferentes territorialidades.

A territorialidade pode atender diferentes escalas, e para o trabalho adota-se a


dimensão cultural, voltada para o simbolismo, identificação, socialização e influencia da festa
para o Cravo, Saquet (2015):

“a territorialidade efetiva-se em distintas escalas espaciais e varia no tempo através


das relações de poder, das redes de circulação e comunicação, da dominação, das
identidades, entre outras relações sociais realizadas entre sujeitos e entre estes com
seu lugar de vida, tanto econômica como política e culturalmente.” (SAQUET,
2015, p. 83)
Pode – se compreender para o trabalho, a territorialidade como mediação simbólica,
cognitiva e prática que a materialidade dos lugares exercita nas ações sociais.

Quais foram os maiores desafios e as dificuldades para a realização da pesquisa..?.


Descrever por ultimo como o texto está escrito......

Contar como tiveram contato com esse campo e a que se deveu a escolha por ele...la
no inicio

1. APRESENTANDO O CAMPO DA PESQUISA

As primeiras comunidades rurais de Bujarú e Concórdia do Pará tiveram seu


inicioinício àas margens do Rio Bujarú, tendo no final do século XVIII a freguesia de
Sant’anna, como primeira sede do município de mesmo nome. Bujarú, Llocalizada a margem
esquerda desse rio, a freguesia foi como o ponto inicial dae ocupação,. Esse este processo se
deu por intermédio da concessão das Cartas de Dattas de Sesmarias1. , Aa partir de então vê-
se a construção de engenhos, fazendas e pequenas propriedade camponesas ao longo do Rio
Bujarú e seus igarapés, a expansão dessas propriedades fomentou as atividades agrícolas e
estabilizando o povoamento dessa região (SOUZA e MACEDO, 2011) A formação da
comunidade do Cravo surge a partir da freguesia de Sant’anna, tendo sua gênese as margens
do igarapé Cravo, ambas aparecem como as primeiras comunidades, destacado a importância
no processo de ocupação do município de Bujarú nos séculos XVIII e XIX.

O ponto alto da formação da Comunidade do Cravo foi à construção da primeira


capela ao final da década de 1950, a capela de Nossa Senhora das Graças, ao final da década
de 1950, possibilitando que a realização das celebrações e rituais eucarísticos acontecesse sem
a necessidade de se deslocar para Freguesia de Sant’anna 2, o que outrora era realizado lá. A
partir desse momento a comunidade tem autonomia para a porpôr em pratica seus
compromissos religiosos. A capela agrega características socializadoras que dinamiza as
atividades na comunidade por meio de cultos dominicais, pastorais, catequese, dízimo,
celebrações eucarísticas. E também de recreação e lazer, tendo em vista que as festas de santo
e demais festividades religiosas agora poderiam ser realizadas ali, permitindo a extensão da

1
Concessão da coroa portuguesa para ocupação do território amazônico e implantação de projetos agrícolas.
2
A comunidade do Cravo surge a partir da Freguesia de Sant’anna e muito embora apresentem temporalidade
diferente possuem a mesma dinâmica de ocupação.
relação de sociabilidade, materializada na convivência durante as orações, celebrações e/ou
nas festas religiosas.

“A capela foi construída no terreno do primeiro campo de futebol da comunidade,


alterando substancialmente o arranjo espacial da vila com esta mudança. O que antes
era um simples espaço de lazer passou a ser um ponto de referência para os
moradores das margens do igarapé, trecho agora transformado em arraial, isto é,
praça central, dotada de sentido festivo-religioso. Aliás, além de ser comumente
nomeada a comunidade de Igarapé Cravo, ela passou a ser chamada também de
Arraial após a construção da capela, principalmente por ser o lugar da ocorrência da
festividade da padroeira” (COSTA e MACEDO, 2010, p.111-112)

Defini-se para o trabalho que Vila do Cravo sintetiza o primeiro momento de


formação da comunidade, como a área do patrimônio, arraial do Cravo e citada no trabalho
também como território da santa, é onde se encontra a igreja, o cruzeiro, o posto de saúde e a
escola. Porém com a construção da capela o conjunto da população passa a se reconhecer
enquanto Comunidade do Cravo, já exercendo ações comunitárias nas atividades relacionadas
a terras e a religiosidade, “a formação do Cravo tem sua gênese a partir do momento que os
moradores se identificaram dentro de um grupo social, com o mesmo modo de vida,
erguendo-se por meio da família, da terra e do trabalho que, conjuntamente com o fator
religioso construíram a comunidade rural”. (SOUZA E MACEDO, 2011, p. 122) mais a
frente trataremos com profundidade a importância do território da área do patrimônio para a
formação da territorialidade local, voltados para o aspectolado festivo ou não.

Diante da dimensão que a instituição igreja católica representa na comunidade,


sobretudo aA partir da década de 1970 com a chegada de padres e missionários católicos na
comunidade, se implanta chegam as Comunidade Eclesiais de Base (CEB’s) que apresentam
na sua centralidade se fazendo presente na comunidade a partir de os grupos de
evangelização3. E, estes grupos tem atuação política e foram importantes para o
reconhecimento do conjunto da população enquanto comunidade. ,P para Santana (2010) Essa
relação política e religiosa se dadá a partir das CEB’s, em Bujarú seguindo as orientações de
padre e missionários que assumiram a paróquia do município estimulando a sua constituição.

“a dimensão política desta mesma comunidade religiosa aparece quando, nos


próprios encontros religiosos nas casas dos camponeses ou na igreja, além dos
momentos de oração, também são discutidos os problemas que as famílias
vivenciam e são buscadas as soluções para os mesmos” (SANTANA, 2010, p.139)

Foto 01: Igreja de Nossa Senhora das Graças


3
Os grupos de evangelização surgem na década de 1970, na diocese de Abaetetuba, e se torna um meio de reunir
as famílias por intermédio de encontros semanais. Os grupos são formados por pessoas leigas que recebem
treinamento para evangelizar a população leiga nas comunidades sem a presença do clero, indo ao encontro das
pessoas dentro das comunidades. (MALCHER e SOUZA, 2011)
Foto: SEIXAS, L. B. (maio/2017)

Ao longo da sua trajetória a Comunidade do CravoLocalizada em um dos afluentes do


Rio Bujarú, a Vila do Cravo fortaleceu o processo de ocupação da região, e sua construção
territorial tem como núcleo a família, a terra, a vizinhança e a religiosidade, assim, tendo forte
influência das relações de parentesco. Ao longo do tempo essas relações se intensificaram
estabeleceram maior vínculo entre as vilas vizinhas. A, assim, verificam-se laços estreitos
com outras comunidades ao seu entorno, entre as quais: São Judas, Curuperé, Curuperezinho,
Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Nova esperança, Km-35, Km-40, entre outras. Sendo
essa relação mantida por integração baseada em igarapés, no Rio Bujarú ou mesmo na
rodovia. Atualmente esse vínculo se estabelece por uma relação mais voltada para o lazer e
sociabilidade concretizada nas festas que o Cravo promove.

Uma característica marcante do Cravo é a sua forte ligação com a religiosidade, que
prevalece até os dias atuais, a intensa relação de familiaridade e religiosidade se estreitam
com as festas de santo, encontros semanais, formação de mutirões. Além disso, a relação
terra-trabalho , e o valor que tem a terra e o trabalho é a liga do vinculo entre os s moradores.
O mutirão tem um papel socializador muito importante na comunidade.

“O mutirão consiste essencialmente na reunião de vizinhos, convocados por um


deles, a fim de ajudá-lo a efetuar determinado trabalho: derrubada, roçada, plantio,
limpa, colheita, malhação, construção de casa, fiação etc. Geralmente os vizinhos
são convocados e o beneficiário lhes oferece alimento e uma festa, que encerra o
trabalho. Mas não há remuneração direta de espécie alguma, a não ser a obrigação
moral em que fica o beneficiário de corresponder aos chamados eventuais dos que o
auxiliam” (CANDIDO, 1979. p.68)
Essas comunidades que nesse momento têm como “estrada” o Rio Bujarú e seus
afluentes, elas surgem conectadas fortemente com a dinâmica dos rios e igarapés da região.
Essa conexão com o rio vai enfraquecendo gradativamente após a construção da malha
rodoviária de integração dos municípios do nordeste paraense com a capital. , que Nna década
de 1970 a construção da Rrodovia da PA-140 marca as mudanças na relação sociedade –
natureza. , Aa rodovia integra os municípios de Concórdia do Pará e Bujarú com a capital do
estado, como consequência a quando ocorre gradativamente à mudança no modo de vida na
relação da comunidade com o igarapé, parte fundamental na mobilidade da vida camponesa
no Cravo até inicioinício do século XXI. , Até meados do século XXonde por meio da Foz do
igarapé Cravo se constituiu no principal eixo de circulação de pessoas e de mercadorias da
comunidade do Cravo para Belém. Mesmo após a abertura da rodovia, os igarapés mantêm a
sua importância para a vida, porém agora são usados principalmente como espaços de lazer e
sociabilidade. Como mostra Macedo (2015):

“num primeiro momento, transfere-se para a estrada apenas o transporte de pessoas


e, em menor proporção, o transporte de mercadorias (farinha de mandioca, milho,
feijão de corda, frutas e outros) que permanecem, até fins da década de 1980,
alternando-se entre o rio e rodovia. De forma efetiva, a suplantação do transporte
fluvial pelo transporte rodoviário ocorreu apenas em meados da década de 1990.”
(MACEDO, 2015, p.186)

A comunidade do Cravo passa a fazer parte do município de Concórdia do Pará em


19884. As décadas de 1970 e 19805 marcam no Cravo um processo de saída dos moradores em
direção a cidade, tendo como principais motivos: a escassez de terra e a falta de infraestrutura.
, Nnesta época acredita-se que o bem viver está na cidade, existindo uma negação do rural e a
busca pelo progresso na cidade (MACEDO...). Ainda na década de 1980 os camponeses do
Cravoa Vila começam a receber titulação individual de terras, expedida pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária -– INCRA. E, esse fato marca o inicioinício da
discussão presente vivida até hoje sobre a titulação coletiva de terras após a comunidade ser
reconhecida como remanescente de quilombo, essa questão será discutida a seguir.

AJá a década de 1990 é marcada pelo o retorno dos mesmos para a comunidade, visto
que a cidade ofereceu para eles, a periferia, e a mesma falta de estrutura já conhecidavivida de

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Em 10 de maio de 1988, mediante a promulgação da Lei nº 5.442, estatuída pela Assembléia Legislativa do
Estado, Concórdia do Pará, foi reconhecido como município, adquirindo a sua emancipação política de Bujarú e
configurando a sua área patrimonial.
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Em 10 de maio de 1988, mediante a promulgação da Lei nº 5.442, estatuída pela Assembléia Legislativa do
Estado, Concórdia do Pará, foi reconhecido como município, adquirindo a sua emancipação política de Bujarú e
configurando a sua área patrimonial.
onde haviam saído. e por isso o retorno, Eesse fluxo migratório que mais se apresenta como
um movimento de ir e vir foi uma das pontes por onde se fez o transito da relação campo -
cidade (MACEDO e COSTA, 2016). Em meados da mesma década a Vila recebe a chegada
de energia elétrica e a água encanada, esses elementos, junto a outros que se estabeleceram,
configuram a mudança na dinâmica da vida dos sujeitos. Discutir um pouco mais isso.

1.1- A EMERGÊNCIA DA QUESTÃO QUILOMBOLA NA


COMUNIDADE

Ao final do século XX evidenciou-se na Comunidade do Cravo a discussão sobre


territorialidade quilombola. Esse tema , as conversas começaram a tomouar conta das rodas de
conversas e se espalhou por toda a a partir das Comunidades Eclesialais de Base., Nno
inicioinício da década de 1980 o debate e ganha consistência com a promulgação da Carta
Magna e, em particular com odiante do artigo 686 da Constituição Federal de 1988 do ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que possibilita o reconhecimento e
titulação definitiva das terras de remanescente de quilombo, atribuindo ao Estado o papel do
reconhecimento dos direitos de propriedade e de posse sobre as terras tradicionalmente
ocupadas e utilizadas por tais grupos. Vê-se força na resistência pelo território camponês
através do reconhecimento da comunidade como território quilombola 7. Diante desse debate
foi criada a Associação dDas Comunidades Remanescentes de Quilombo Nova Esperança de
Concórdia do Pará (ARQUINEC) em 2001, abrangendo as comunidades: Cravo, Curuperé,
Campo Verde, Dona, Ipanema e Santo Antônio. Também em 2001 nasce a Associação 8 das
Comunidades Remanescentes de Quilombo Oxalá de Bujarú (ARQUIOB) reúne as
comunidades de São Judas, Bom Sucesso e Sagrada Família no Município de Bujarú.

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Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
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No contexto das mobilizações acerca do artigo 68, nasce no final da década de 1980 no Pará, o mapeamento
das comunidades rurais negras, inicialmente pelo Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA) e
posteriormente pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Diante da necessidade do reconhecimento das terras
quilombolas em 1989 a Constituição do Estado do Pará lança o artigo 322, que garantiu o que está disposto no
artigo 68. E somente ao final de 1995 se efetivou a titulação de terras do Pará e do Brasil emitido pelo INCRA, a
comunidade Boa Vista, no município de Oriximiná. (SANTANA, 2010)
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A associação tem como objetivo administrar as terras ocupadas e de propriedade das famílias das comunidades
e representá-las nos seus interesses. Estas terras, depois do reconhecimento, não poderão ser vendidas,
arrendadas ou loteadas deverão ser utilizadas pelos associados para que produzam para o seu auto-consumo de
forma auto-sustentável, sendo que podem ser utilizadas pelos associados por moradores de outras comunidades
remanescentes de quilombos desde que autorizados pela associação e desde que seja respeitado o seu estatuto
(INCRA, 2005)
No Cravo mais recentemente em 2011 surge a Associação dos Remanescentes
Quilombolas do Cravo (ARQUIC), representando a Comunidade e mais três: o Km-35, Km-
40 e Castanhalzinho, todas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares (FCP). Tendo sua
certidão expedida em 16 de novembro de 2006 pela FCP, até fins de 2017 a comunidade do
Cravo ainda não havia sido titulada, estagnada no processo da auto-identificação como
quilombola e longe do consenso, pois instalou-se na comunidade discursos que colocavam em
dúvida o beneficiobenefício da titulação coletiva. Dentre os, diante de alguns motivos
colocados pelo posicionamento contra tem-se: o medo de perder o controle sobre a terra,
principalmente para aqueles que possuem a titulação individual, a idéiaideia de que se o
titulotítulo fosse aceito quem ficaria como proprietária das terras seria a associação.

“A auto-identificação foi classificada como um processo positivo, pelo menos para a


grande maioria da população do Cravo e comunidades adjacentes. Porém, os
impasses com relação à titulação das terras, uma vez que muitos tinham seus
“pedaços” de terras já demarcados, como vimos no início do capítulo, por isso a
idéia de unir toda a terra do Cravo e fazer uma única demarcação não foi bem aceita
por todos os envolvidos. Alguns relatam também naquele contexto de 2005/06 o
“medo” de a então associação ARQUINEC ficar como “dona” das terras do
Cravo.”(PINHEIRO e SANTOS, 2017, p.13)

De acordo com Pinheiro e Santos (2017) o Sindicato dos trabalhadores rurais (STR) de
Concórdia do Pará, que tinha grande influência no Cravo, disseminou esses discursos em
2005, no período da reunião da ARQUINEC com a comunidade tendo o objetivo de discutir e
apresentar esclarecimentos sobre a titulação das terras remanescentes de quilombos,
“Notamos que desde a origem da ARQUINEC, o STR de Concórdia do Pará atuou como uma
força contrária em relação à ampliação do território quilombola.” (PINHEIRO E SANTOS,
2017). Percebe-se nesta trajetória da luta pelo território quilombola, que todo esse processo
constituiu um campo político e organizacional intermediado pelas associações.

A discussão sobre a titulação coletivas gera discordância entre os moradores que não
achavam viável perder a titulação individual concedida pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária na década de 1980, o debate foi mais efervescente na Vila do
Cravo e comunidades vizinhas, em virtude da influência dos grupos de evangelização. A
titulação coletiva se mostrou conflituosa e teve grande resistência. (MALCHER, 2011).
Aiainda hoje os moradores mais antigos mantêm o posicionamento contra a titulação coletiva,
mas o que se observa é que a questão quilombola vem hganhando cada vez mais adeptos.

diante dos mesmos motivos, se efetiva uma identidade quilombola a partir de 1988
quando se tem a formação dos movimentos sociais na luta pela questão quilombola, de posse
do titulo individual cria-se uma incerteza, sabendo que a titulação coletiva se tornaria uma
relação desconhecida com a terra, o que é o uso coletivo da terra para esses sujeitos? Talvez
se pratique, porém soa diferente ao parecer que os titulados individualmente vão perder a
legalidade da posse de suas terras, em parte foram os primeiros fundadores da Vila que se
mostraram resistente quanto a titulação, os mais jovens estariam abertos para essa nova
dinâmica em relação à terra.

A emergência da questão quilombola desencadeou uma busca para a compreensão


sobre o funcionamento do processo de titulação quilombola, e troca de conhecimento sobre a
luta para regularização fundiária. Os lideres das comunidades junto as lideranças camponesas
do Movimento de Pequenos Produtores (MPA)9 e Comissão Pastoral da Terra (CPT)-
Guajarina tiveram grande participação nos “círculos de cultura10”.

Os círculos de cultura funcionaram como instrumento de articulação das comunidades


de Bujarú e Concórdia para a mobilização, formação e propagação da informação acerca da
titulação coletiva de terras quilombola, reconhecimento e garantia de direitos em áreas
remanescentes de quilombo.

Nesse contexto, a Fundação cultural Palmares atua no processo de registro de auto-


declaração enquanto quilombolas e o INCRA segue responsável pelos outros processos até a
titulação.

“A partir do Decreto 4883/03 ficou transferida a Fundação Cultural Palmares,


entidade vinculada ao Ministério da Cultura, instituída pela Lei Federal de nº 7.668,
de 22 de agosto de 1988, expedir a declaração de auto-reconhecimento e ao Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), criado pelo Decreto nº
1.110, de 9 de julho de 1970, ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário é
responsável do procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação,
demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes de quilombos”
(MALCHER, 2011, p.91,92)

O Cravo possui a sua territorialidade cheia de elementos desagregadores e pouco


unânimes, contudo é possível observar que a dificuldade de consenso sobre a titulação

9
“No ano de 2002, muitas lideranças das comunidades quilombolas nestes municípios integraram o movimento
de lideranças camponesas do MPA – Movimento dos Pequenos Produtores, orientado para o uso de diferentes
modalidades de titulação de terras, no entanto, mesmo no seio do MPA, a questão de titular terras “quilombolas”
era algo novo. No mesmo limear, a CPT- Guajarina que já havia desenvolvido estudos sobre a regularização
fundiária na categoria quilombola nas mesmas comunidades tendo como base a Cartilha “Nossa Terra” que trata
dos procedimentos legais sobre titulação de terras quilombolas.” (MALCHER, 2011)
10
“já existiam trabalhos anteriores, como os círculos de cultura, principalmente nas comunidades do Cravo,
Santo Antônio, Igarapé Dona, Campo Verde e Ipanema. Estes encontros denominados “círculos de cultura”,
tinham por objetivo “alfabetizar para a vida”. Nestes encontros, muitos elementos da história das comunidades
São Judas e Cravo ganharam espaço nas conversas cotidianas.” (MALCHER, 2011,)
coletiva parte de uma preocupação dos titulados individuais para com a sua família, a
responsabilidade tomada sobre a disponibilidade de terras para a sobrevivência de seus entes,
e, sobretudo o reconhecimento do valor da terra para a subsistência.

1.2- CONHECENDO OS SUJEITOS DA PESQUISA


Ao longo da trajetória de formação territorial da comunidade, a festa e os momentos
festivos estão presentes. Porém, como na vida em sociedade, vislumbram-se transformações
que marcam a incorporação de novos elementos, ou mesmo a negação de outros. No caso das
festas religiosas foram muitas as transformações desde as datas da festa, até a sua
composição, a exemplo do círio que foi incorporado as festividades da comunidade a menos
de uma década. No que tange as festas não religiosas, a grande novidade é a presença das
aparelhagens, das carretinhas e do transito intenso de pessoas, o que tem gerado um certo
atrito entre os fundadores da comunidade e os moradores mais jovens.
Assim, apesar do Cravo ter Sabe-se que a Vila do Cravo tem a sua tradição festiva
desde seu o processo de formação da comunidade, vem sendo modificando o seu modo de
festejar concomitante as transformações ocorridas naà medida que a mudança de dinâmica
territorial e/ou socioespacial desse território. acontecem na Vila .
Na Comunidade a festa é tomada como uma manifestação social significante junto aos
eventos de rituais eucarísticos ou de trabalho na roça, sendo um fato social importante na
manutenção da sociabilidade, quase na mesma perspectiva das cerimônias religiosas, estas
sempre andando juntas, esses eventos mantêm preservadas as relações sociais (COSTA,
2007).
“A definição da festa como suspensão da vida social ordinária em que se possibilita
uma espécie de “renovação moral” que fortalece os laços da solidariedade grupal
está na base de quase todas as reflexões e estudos subseqüentes sobre o sentido de
festa.” (COSTA, 2007, p. 98)

Nota-se através das entrevistas e da vivência em campo que a festa, seja ela de
qualquer seguimento, é um acontecimento importante e que marca a comunidade. A, as falas,
recolhidas em campo vem acompanhadas prenhes depor recordações nostálgicas sobre as
festas que aconteciam no passado, em comparação as festas de atualmente. O divertimento, as
trocas, as conversas, os motivos, e o esforço para dar uma festa sempre são citados. Muitos
dos aspectos da festa desde do “passado”, as tradições que se criam nesses festejos alguns
foram sendo transmitidas e ressignificadassão trazidas até nas festa atuais. Na fala de Dona
Andreza, agricultora aposentada e moradora da Vila, percebe-se a comparação

“Aqui no Cravo, antigamente, era festa pra tudo, festa pra plantar, festa pra colher,
festa pra roçar, às vezes era só pra reunir o pessoal pra dançar, uma brincadeira para
comemorar. Não é igual agora essas festas sem motivo, se tu vier aqui qualquer hora
agora ta tendo festa, virou uma bagunça” (entrevista concedida em maio de 2017)

Dona Andreza representa a fala da maioria dos moradores mais antigos que insinuam
que a festa tem que ter um motivo, uma finalidade, não festejar por festejar. Acostumados
com os motivos já citados e com o modo de festejar diferente do atual, a. A constituição da
memória dos moradores/devotos mais antigos, com relação às festividades religiosas,
converge para uma valorização do tempo passado (COSTA e MACEDO, 2010)

“A nostalgia dos relatos dos agricultores aposentados sobre as “festas do passado”


descortina a significância das transformações identificadas nas festas do presente.
As referências memorialísticas tendem a cotejar, especialmente, eventos dos anos
1940 e 1950 com os ocorridos nos anos 1990 diante, até os dias de hoje.” (COSTA e
MACEDO, 2010, p.117)

Diferente de antigamente, leia-se década de 1950/60, os moradores realizavam seus


festejos na própria residência de um dos moradores, porém no decorrer do tempo foram
surgindo lugares específicos para festejar, longe do lugar comum de vivência cotidiana, como:
o salão de festas da igreja, por exemplo, as sedes dos clubes, os bares, os balneários.

Nesse interim, foram sendo criados novos espaços da/para a festaConheçamos os


espaços criados para a realização das festas, destacam-se o cravo possui quatro bares, sendo
três deles no formato de balneário. Trata-se de, estes são bares que possuem igarapé, podem
funcionamr como ponto de aquecimento para as festas tradicionais 11 ou como o local da festa,
quando no caso da carretinha12. Estes também podem ser o ponto de encontro e também de
divulgação informal da festa. Durante o trabalho de campo não houve um dono de bar que não
nos falasse sobre a maior festa tradicional que aconteceria no mês de julho.

Muito embora o calendário de festas seja amplo e a ocorrência de festas de


aparelhagem13 se dê em dois momentos, soubemos em campo que a maior festa tradicional

11
As festas consideradas tradicionais pela comunidade são aquelas que possuem calendário já estabelecido e
trazem como atração principal uma aparelhagem, que de preferência, esteja fazendo sucesso no estado.
12
As carretinhas consistem em pequenas ou médias estruturas de som que são acopladas a carros particulares, e
sua função se assemelha a da aparelhagem, que é a de ser atração da festa.
13
No sentido estrito, aparelhagem é o equipamento sonoro sendo composto por uma unidade de controle, seu
operador (DJ) e as enormes caixas de som. (COSTA, 2007)
que a comunidade considera é a que ocorre no final no mês de julho. Sai daqui pq quebra
a ideia,,,,,

O primeiro bar se localiza a aproximadamente 500 m dam após a área do patrimônio.


É , o Bar da Dona Edina, não foi possível ver o nome do bar, pois a placa de divulgação da
festa do mês de julho estava encobrindo, tamanha é a importância do evento. Dona Edina nos
conta que seu empreendimento tem seu funcionamento aos finais de semana, com exceção
dos sábado e no período da quaresma, demonstrando seu respeito em relação à igreja e ao
costume católico da comunidade. Possuindo a sua própria estrutura de som, que segue o
modelo de uma mini-aparelhagem, dona Edna não depende de outrem para animar as
atividades realizadas em seu bar.é o seu aparelho que anima as atividades do bar. Chamou nos
atenção, o fato dessa proproetariaUma característica que nos leva a refletir sobre o
funcionamento do bar que interromper as suas atividades do bar em um período religioso e
no outro (horário de culto, por exemplo) não. EDiante dessa indagação em conversa com um
dos moradores mais antigos da vila, Seu Noé Macedo, ele afirma que isso tem relação haver
com o respeito religioso, o que segundo ele vem se perdendo. , na ótica de Seu Noé, Para ele,
de nada adianta fechar na quaresma e abrir na hora do culto, mas para dona Edina, fechar na
quaresma já é o suficiente.

Foto 02: o bar da dona Edina

Foto:
SEIXAS, L. B. (maio/2017)
Seguindo por mais 400m, encontra-se o balneário São Lucas, este se apresenta como
um empreendimento familiar. , Cconstruído na propriedade da família Borges, o balneário é
também o lugar de morada da residindo no terreno a família da proprietária do local, a Sra.
Antonina Borges e seus filhos, que fizeram a nossa recepção, Sr. Lucas Borges e o Sr. Elias
Borges. Em grande medida, , tendo eles uma a vida econômicada família extensa que gira em
torno do funcionamento desse estabelecimento de lazer. O local dispõe de uma certa
infraestruturaEste com caráter mais particular, possuindo uma infraestrutura que dispõe de
cerca, bilheteria, bar, lanchonete, e o igarapé com iluminação, aparatos que permitem a
facilidade na recepção de festas de grande porte com aparelhagem. É neste balneário que
acontece a primeira festa do mês de julho a qual participamos.

Diferente dos outros dois bares, o Bar do Betinho (Filho de Antonina) e o bBar do
Pedro, apesar de estarem à margem do igarapé e da rua, possuem apenas a estrutura da pista
de dança coberta, esses tem a opção de promover apenas festas abertas ao som das
carretinhas. Soubemos que Muito embora o Sr. Pedro Braga se mostrasse resistente a
idéiaideia de promover festas de carretinha em seu bar, suas permissões seriam apenas para
festas de aniversarioaniversário, desde que animadas pelo seu som. OO oposto de seu Pedro,
oo Sr. Roberto e da Sra. Darcy Pantoja proprietários do bBar do Betinho, tem preferencia
pelas festas onde ocorrem às festas de carretinha, as mais freqüentadasfrequentadas, n do
Cravo. Geralmente atendem a um publico mais jovem que tem preferencia pelas carretinhas
oriundas , eles atendem ao pedido do seu publico mais jovem, levando ao Cravo as carretinhas
da preferência. Geralmente são as oriundas da região metropolitana de Belém.

Foto 03: Balneário aberto


Foto:
SEIXAS, L. B. (julho de 2017)
A esquerda está o bar do Betinho e ao fundo o Bar do Seu Pedro Braga

O Casarão do Popó funciona também como sede de festa, localizado a


aproximadamente 2 km antes da área do patrimônio, realiza em sua maioria, festas de
carretinha, levando aparelhagens apenas em ocasiões especiais. , Ssoubemos em campo que o
mês de maio é período o de maior funcionamento, acontecendom festas de carretinhas durante
todos os finais de semana. do referido mês, Oos relatos nos levam a entender que talvez seja
uma maneira de aproveitar o fluxo grande de pessoas que buscam a Vila para as novenas.
Inclusive já estaria marcada a festa que encerraria maio para dia 28 de maio de 2017,
ultimoúltimo domingo do mês.
As sedes dos clubes de futebol da comunidade funcionam como local de festas,
inclusive dotado de estrutura especialmente para essa finalidade, são duas: a sede do Bom
Jesus, fundada em 1949, que dispõe de um campo de futebol e um espaço amplo com salão
designado justamente para realização de festas. A sede, possui ainda a estrutura de um bar,
sanitários e pista de dança de chão cimentado ao centro. A Sede do Bragantino possui a
mesma estrutura. Ambas tem ligação com os clubes da comunidade, pois as festas aconteciam
após os torneios de futebol, sendo estes usados como formar de atrair maior publicopúblico
para as festas. , Aaprofundaremos a discussão da importância dos torneios de futebol no
segundo capítulo.

Ainda como local de festa, porém voltado somente para festividades religiosas, a
comunidade dispõe da chamada “barraca da Santa” que é o salão de festas da igreja,
localizado logo ao lado da capela (foto 01). Nele se realizam os eventos promovidos pela
igreja, como: festas de santo, bingos, novenas. A principal festividade promovida pela igreja é
a festa dea santa, Nossa Senhora das Graças, padroeira da comunidade e que dá nome a
mesma. o nome da comunidade se da em homenagem a padroeira, é aA festa que se origina
ali a partir da construção da capela, atraindo pessoas das vilas vizinhas que se formaram as
margens da rodovia. , Eesse evento religioso possui características próprias, o mês inteiro de
maio é dedicado a realização de novenas, a Santa sai em visita à casa dos moradores. São 30
noites de novena e o encerramento acontece dia 31 de maio, com a festa. Faz-se leilões,
bingos, as famílias se reúnem, moradores das comunidades ao redor também participam, é
festa na Vila do Cravo.

Colocar uma foto

Uma característica que evidencia a proporção do simbolismo relacionado ao pelo


território da santa é quando, após apresentarmos o campo de pesquisa, se observa quandoe a
área do patrimônio dispõe apenas de lanchonete e mercadinho, que apesar de venderem
bebidas alcoolicasvendem dentre outras coisas, diversas bebidas alcoólicas, entretanto não
não são ambientes existe a presença de bares propriamente ditos, ou ambientes exclusivos
para o consumo de bebidas alcoólicas, pelo contrário, o consumo de bebidas nesses ambiente
é visto pelos moradores da Vila como transgressor.. Ou seja, a imposição deste território é
muito forte na comunidade. A área do patrimonio seria espaço para outras práticas e
sociabilidades, particularmente aquelas ligadas ao ccalendáio religioso.

Diante dos sujeitos e espaços festivos é necessário entender que grande parte da
população do Cravo possuía um já havia se acostumado com o modo especifico de festejar
estabelecido anteriormentes na construção da rodovia PA-140 e, que consistia nas festas de
antigamente, segundo a perspectiva de Macedo e Costa (2010). Nnos relatos memoriais,
apresentados se revela uma percepção do espaço geográfico dotado de um tributo cultural.

Com a o passar do tempo, mudança das dinâmicas territoriais e socioespaciais,


introdução da energia elétrica, as pequenas aparelhagens passaram a fazer parte das festas
tradicionais da comunidade, o Cravo, aparelhos de som da própria comunidade começaram a
entrar na dinâmica festiva não religiosa. , Eem discursos carregados de lembranças
comparativas as “festas de antigamente”, percebe-se maisa maior valorizadasção, já que o
modelo festivo da época era diferente do atual, visto que os frequentadores iriam com a
finalidade de dançar, apreciar a música e as pessoas, inclusive os moradores mais antigos
denominam como festas “só de barulho”, as festas de aparelhagem (MACEDO e COSTA,
2010)

As festas de aparelhagem de hoje, são promovidas por empresas de sonorização


voltadas especialmente para a realização de festas de brega, possuem uma grande estrutura
com luzes e sons de alta potência, e não são oriundas da comunidade. Essas estruturas
colossais de som vêm de fora, normalmente da cidade de Belém do Pará e são, no mínimo,
duas carretas que fazem o transporte de toda a aparelhagem. Quem promove este evento e traz
a festa para a comunidade é o festeiro.

O festeiro é um personagem importante para a realização da festa, em suma ele é o


promotor deste evento, tem a responsabilidade de negociar o local e a aparelhagem que vai
tocar, seja ela de médio ou grande porte, é quem vai também definir o preço do ingresso. Este
agente promotor da festa é assume também a divulgação por redes sociais, distribui cortesias,
em prol de atrair mais pessoas. A promoção do evento pode ser feita em sociedade, tendo um
contrato, que pode ser formal ou informal, sobre divisão dos lucros, podendo ser divido os
lucros da portaria e do bar entre o festeiro e o dono do local onde ocorre a festa.

Em trabalho de campo no mês de julho de 2017, conversamos com Gilson Amaral,


que prefere ser mencionado como “Gilson Lanches”, este foi o festeiro do evento promovido
no dia 09 do referido mês, no balneário São Lucas. Gilson levou como atração principal a
aparelhagem do POP SOM. , A aparelhagem, que virara uma empresa, existe há mais de 30
anos e já teve inúmeras denominaçõesvariações, entre elas: Pop Som: o águia de fogo, Pop
Som 1, 2, 3 e 4, Super Pop: o peso do som, Super Pop: o águia de fogo, oO Águia de Fogo
Super Pop: oO Arrasta Povo. Esta aparelhagem O Pop Som nasceu foi criada entre os anos
1986 e 1987. Tendo a maioria delstas já se apresentado na Vila. depois da entrada desse tipo
de festa.

De acordo com Segundo o festeiro do Pop Som, é importante que grandes


aparelhagens, como a do Pop Som, entrem na comunidade como forma de promover a
divulgação da Vila e dos DJs das carretinhas locais. Isto por sua vez, já mencionadas
anteriormente, aumentaria aumentando assim o fluxo de pessoas e consequentemente a renda
dos próprios moradores do Cravo e das vilas vizinhas. Gilson afirma:

“Eu promovo evento não só aqui (vila do Cravo) tem a festa tradicional que a gente
faz que é o “Sábado de Aleluia” no castanheiro que é Bujarú, é na cidade de Bujarú,
agora no Círio provavelmente será “O Sideral” com algumas carretinhas “local”.
Sempre colocando atrações locais que é pra dá oportunidade também pra essa galera
do “Metrô” Gil som, que é uma aparelhagem nossa, se apresentar e mostrar seu
trabalho e seu potencial também, que hoje em dia é local, daqui. Sempre a minha
intenção foi essa, trazer atrações grandes, a nível Estadual, até as vezes nacional e dá
oportunidade para os artistas daqui local que tem talento e quem sabe um dia um DJ
que ta tocando numa carretinha pode ta tocando numa aparelhagem dessa como: o
Pop Som, Super Pop, Crocodilo enfim...” Entrevista concedida em julho de 2017

Entretanto, não basta pensar somente na festa pela festa, algo avulso ou aleatório, é
importante entender a época do ano que ocorre e torná-la mais uma festa tradicional, fazendo
parte do calendário festivo das festas não religiosas existentes na comunidade. O festeiro
precisa analisar e considerar uma série de fatores que sirvam também de atração para esse
aumento de fluxo tanto de capital quanto de pessoas, o período de férias, de grandes feriados,
datas comemorativas locais etc. A união desses fatores faz Gilson pensar na festa da seguinte
forma:

“Como é o período de férias, é uma tradição, uma cultura que já existia e a gente tá
resgatando aqui na vila do cravo porque é Concórdia e a gente pretende resgatar essa
cultura e todo ano dá esse ponta pé inicial no mês de julho, na verdade é uma
programação que começa hoje e todo domingo (do mês de julho) vai ter uma atração
diferente.” – entrevista concedida em julho de 2017.

O processo de divulgação da festa também é feito em grande parte pelo festeiro,


através das redes sociais via internet, com o objetivo principal de que atinja o maior número
de pessoas. Porém não é somente o festeiro que faz todo o trabalho de divulgação, o conjunto
de parceiros que apóiam o evento, os seguidores da aparelhagem em questão (equipes, fã
clube, galeras, famílias)14. Tanto a empresa quanto os colaboradores em conjunto com o
festeiro fazem a divulgação da festa. Neste caso a empresa Super Pop tem a sua forma de
promove a divulgação15.

Cd as fotografias da divulgação???? E as faixas???? Cd as fotos?????

Em grande medida, é dessa forma que No caso do Gilson, também é desta forma que
funciona a divulgação, entretanto enquanto a empresa da festa de aparelhagem divulga na
capital ou em cidades mais distantes, devido sua grande influência, o festeiro que possui laço
mais próximo com a comunidade e as vilas vizinhas é responsável para fortificar a divulgação
local do evento.

14
Todos funcionam como forma de sociabilidade dentro do circuito bregueiro, porém cada um com sua
especificidade.
15
“A empresa faz vinhetas para a televisão, que tem como único objetivo anunciar a data, o preço e local das
festas. Todas as vinhetas possuem imagens dos shows passados, que geralmente não demonstram a verdadeira
imagem do local e do estilo da festa que irá acontecer. Outros meios de divulgação que são frequentes são o
rádio, o carro-som, outdoors e faixas.” (RODRIGUES, AGUIAR, RAMOS, OLIVEIRA, CEZAR, 2010, p.5)
“Como todo evento que a gente vai fazer, a gente depende parceiros, pessoas que
nos ajudam a promover, uma pessoa só não consegue desenvolver isso aqui. O
piquenique é uma coisa pra ti explorar (no sentido de conhecer) a localidade. A
pessoa de fora vem, pessoas que querem conhecer o lugar e não tem oportunidade,
uma atração dessa, a pessoa vem e conhece uma localidade diferente”. Entrevista
concedida em julho de 2017

Depois de criar um calendário festivo, promover a festa e divulgá-la, os responsáveis


por coordenar a festa e fazer a diversão da galera, são os DJs, eles fazem a seleção das
músicas que serão tocadas na festa, animam a galera com vinhetas, anunciam os nomes dos
colaboradores e amigos no palco, que no caso do Pop Som é uma estrutura de ferro em
formado de uma águia. , Eeste formato se deve ao fato do nome da aparelhagem: Pop Som: O
Águia de Fogo. Essa estrutura é enfeitada com luzes e também possui movimentos mecânicos.
Além disso, , essa estrutura da nave do som é toda trabalhada no lúdico( o que quer dizer???),
isso chama a atenção do público.

“O DJ se destaca na festa como o “astro” representante da aparelhagem,


selecionando as musicas a serem tocadas, acionando as vinhetas que fazem
propaganda da própria aparelhagem entre e durante as músicas, anunciando a
presença de pessoas ilustres, dos fãs-clubes e de seus amigos na festa e animando o
publico a dançar musicas, incitando a sua participação de intensa na festa.”
(COSTA, 2007, p.88)

Tivemos a oportunidade de conversar com os DJs responsáveis pela festa do Pop Som,
sendo dois da aparelhagem e um convidado, em conjunto iriam animar e selecionar o
repertório da primeira festa de julho da Vila. São eles Fábio Soares, Janderson Barroso e
Felipe Furtado, com exceção do último, os outros dois primeiros eram contratados efetivos da
aparelhagem POP SOM que por sua vez podem convidar outros DJs para fazer pequenas
participações. Os DJs procuram tocar todos os ritmos e buscando agradar o publicopúblico da
comunidade, com das músicas mais antigas até as mais atuais, as variações vão de tecno
melody para forró, reggae, trance, pop internacional, pop rock nacional entre outros, sendo o
melody o o ritmo mais tocado na festa dessa aparelhagem. DJ Fábio afirma:

“A sequência varia muito, tipo, de uma comunidade pra outra. É comunidades, tipo
cidade, a gente tá aqui em Bujarú, então a gente procura saber o que acontece, o que
as pessoas gostam do ritmo de: funk, músicas marcantes, do tecno melody atual,
toca de tudo um pouco: forró, mas varia muito de acordo com as comunidades”.
Entrevista concedida em julho de 2017

O segundo DJ, também contratado da aparelhagem, DJ Janderson, que compartilha da


mesma forma de fazer festa, com maior experiência em tocar na capital, onde o estilo de
música também varia bastante. Para ele, é importante, procura atender e se adequar ao gosto
do publicopúblico da comunidade, mixando musicasmúsicas antigas e atuais. A agitação do
publicopúblico é o termômetro para os DJ definirem a duração da festa, junto também aos
pedidos de músicas e das anunciações dos amigos e colaboradores.

De acordo com o DJ Janderson, a época do ano é um fator importante para promoção


da festa, uma vez que, diante de fatores naturais, que influenciam no deslocamento da
aparelhagem para o interior e na assiduidade do publicopúblico. Assim temos uma dinâmica
diferenciada no modo como se organiza as festas na cidade e no interior., portanto Aao falar
de calendário festivo ele afirma Janderson:

“Varia muito em determinada época, a gente no começo do ano, no primeiro


semestre, que é quando tem o período chuvoso, a gente toca mais em Belém, devido
não ter muita festa no interior nessa época. Quando chega no mês de julho em diante
a gente começa a abranger mais aí o nosso interior, onde a galera gosta de curtir
nosso ritmo, porque a gente toca de tudo, o slogan da nossa aparelhagem já diz tudo:
É o “Tudão”. E a gente toca de tudo pra todos”. Entrevista concedida em julho de
2017. Tem que homogeneizar isso... toda entrevista deve trazer essa data

As festas de grande porte vieram para comunidade e trouxeram consigo uma nova
organização do espaço. O, o presidente da Associação Remanescente do Quilombo do Cravo
ARQUIC, Elias Borges, fala sobre as pessoas que se deslocam para o Cravo em busca de
lazer, dos piqueniques16, na maioria das vezes são os parentes e filhos dos moradores locais
que retornam a comunidade no período férias buscando lazer e a mantençãor dos laços
familiares. , CONFUSO...(..que segundo Macedo e Costa (2010) os chamados “filhos do
Cravo que moram em Belém só vem nas festas de aparelhagem”, reforçando a idéia de que o
calendário festivo da comunidade coincide com o calendário da reunião familiar.) ou arruma
ou tira esse trecho está sem sentido

O presidente da associação tem foco na mobilização que as festas desse porte fazem na
Vila, e reforça a oportunidade dos moradores de obterem uma renda, fazendo fluir uma
dinâmica econômica que envolve, lanche, bebidas e outros produtos de vendedores
ambulantes locais e das vilas vizinhas. Assim Elias afirma:

“A princípio vale ressaltar que com a saída dos próprios moradores do Cravo indo
para cidade, o chamado êxodo rural, é esse próprio pessoal no mês de julho sempre
voltava pra cá, e aproveitando o potencial que são os lindos Igarapés que nós temos
na região, as pessoas querem fazer um piquenique. E hoje essa tradição vem
passando de geração em geração até o dia atual até o nosso cotidiano gente foi
verificando a grande potencialidade que a comunidade do cravo tem que representar
a região [...] Pessoas que moram aqui na comunidade e as pessoas também que vêm
de outros municípios de Belém do Pará também aqui para comunidade o turismo,
16
Os piqueniques aparecem como uma importante estratégia para a mobilização de pessoas de fora para as festas
da comunidade e será tratado no segundo capitulo.
com certeza aí é bom para comunidade ele desenvolve a visibilidade da comunidade
a comunidade ela se torna conhecida no Estado do Pará e a nível internacional na
comunidade do cravo é uma comunidade muito conhecida, através dos lindos
Igarapés que nós temos nome da comunidade isso traz desenvolvimento emprego e
renda para as pessoas que depende desse momento como está acontecendo aqui no
Balneário São Lucas aí tem venda de churrasco da região com isso gerando emprego
e renda para ajudar no desenvolvimento financeiro local.” Entrevista concedida em
julho de 2017

Observa-se nessa fala a preocupação atual com tornar a Comunidade um ponto


atrativo, que estabeleça uma dinâmica exclusiva que atraia pessoas, em prol da geração de
emprego e renda para os moradores. Acho que isso aqui tem que ser discutido... ao mesmo
tempo que ele se preocupa em atrair pessoas para a vila, outros moradores se opõem a essas
atividades, exatamente pq isso gera muitas inquietações na comunidade... a visão dele é
conflitante....
No próximo capitulo apresentaremos uma geografia da festa na comunidade, buscando
analisar como a festa se estabeleceu enquanto elemento constitutivo desse território.

2. GEOGRAFIA DA FESTA NO CRAVO – Não seria o território da


festa?

A geografia explica através de seus conceitos as modificações do espaço realizadas


pelo homem, dentre esses conceitos temos o território, que por possuir várias definições
reproduz em uma forma de pensar o espaço e como as memórias culturais feitas no meio, seja
ela no passado ou presente, estabelecem uma relação espacial e a sociedade Confusoexistente
nela. Para Saquet:
“O território é considerado produto histórico de mudanças e permanências ocorridas
num ambiente no qual se desenvolve uma sociedade. Território significa apropriação
social do ambiente; ambiente construído com múltiplas variáveis e relações
recíprocas” (SAQUET, 2011, p. 77)

Desta forma, quando pensamos em território e suas definições, observamos que


possui uma relação em comum, a fixação de uma forma de pensar, uma espécie de poder
ideológico que perpassa as dimensões espaciais e se vincula com quaisquer formas de
dominação com o ambiente e as relações sociais. Para Fabrinni (2011) o território possui uma
noção diversa e unificadora dos diferentes agentes sociais, a forma como se é construída uma
ligação com o meio e os laços culturais que se fazem cada vez mais presente em um modo de
vida, permite que o sujeito se vê mais parte do próprio espaço do que da classe ou categoria
pertencente.
É preciso entender as linhas temporais que fazem parte da dimensão territorial que
constroem uma idéia, e a festa, assim como qualquer outra manifestação social tem o poder de
agregar os costumes e sentimentos vividos numa época e que pode passar ao longo dos anos
fortalecendo ou enfraquecendo os vínculos territoriais. Tudo irá depender da dinâmica
existente no local e como esta irá enraizar-se com os costumes e as práticas dos sujeitos
sociais. São importantes, por exemplo, as festividades e os rituais religiosos para integrar e
fortificar os laços entre esses sujeitos, que podem a vir se enfraquecer ao longo dos anos
(VIANNA, 1987).

Portanto a festa é um elemento constitutivo do território, que influencia os sujeitos em


uma determinada forma de pensar e edificar territórios. Mas não quer dizer que não haja
mudanças durante a realização das práticas culturais, não podemos determinar ou subjugar a
formação de um território tendo em vista apenas um elemento constitutivo, e sim, o conjunto
de fatores elementares formadores de um território. Faz-se necessário também entender as
territorialidades, que para Sack:

“Pode-se dizer que territorialidade envolve a tentativa por parte de um indivíduo ou


grupo de influenciar ou afetar as ações de outros incluindo não humanos. É esse
efeito importante, mas geral, que deve ser enfatizado e que está aqui elaborado na
definição formal de territorialidade. [...] territorialidade será definida como a
tentativa, por indivíduo ou grupo, de afetar, influenciar, ou controlar pessoas,
fenômenos e relações ao delimitar e assegurar seu controle sobre certa área
geográfica. Essa área será chamada de território.” (SACK, 1986, p. 76)

A formação da comunidade pela dimensão territorial, elementos naturais e relações


de parentesco e de vizinhança são questões chave para pensar a territorialidade festiva da
comunidade do Cravo. E, em noções temporais podemos também estabelecer a mudança da
perspectiva de festa, hora vista pelos mais antigos, hora vista pelos mais jovens que provém
de outra forma de pensar e gozam de uma dinâmica diferenciada dos costumes construídos
outrora. Não cabe a nós aqui julgarmos uma maneira correta ou apropriada de pensar em uma
territorialidade festiva, e sim, entender como essas mudanças ocorridas ao longo da trajetória
desses sujeitos implica em formas distintas de conceber a festa, as praticas festivas e mesmo o
território e a territorialidade ali constituídas. acarreta no modo de vida camponesa dos sujeitos

O Cravo sendo reconhecido pelas outras comunidades pelo seu calendário festivo tem
a festa (de modo geral) como elemento constitutivo do seu território. , pPercebe-se que há
festejos importantes da comunidade existentes trazidos desde as décadas de 1940, 1950,
religiosos ou não, mas que compoemunham o cotidiano da comunidade., tendo em vista que
havia e/ou se criara vários motivos para se festejar.

As principais festas da comunidade, datada de antigamente, são as festas de cunho


religioso: festas de santo, de casamento, de aniversário, batizado, estas tendo características
próprias de festejar que, além de marcar suas respectivas épocas, deixaram registrada a sua
peculiaridade que é reproduzida até os dias de hoje, como a presença de bingos, leilões e
bailes dançantes nas festividades religiosas. Esse tipo de festa previa um acontecimento
especial e marcante para os agricultores, o mutirão para a derrubada de roça, plantio ou
colheita. É nesses acontecimentos que se reforça a ligação forte com a festa, tanto em
momentos que envolvem a terra, quanto em momentos voltados à igreja. Nele se reafirma
também a relação de sociabilidade, reforçando os laços de vizinhança, parentesco e amizade,
que são fortíssimos na comunidade.

Dentre as festas que foram citadas, em visita a Escola João Braga de cristo 17, emna
entrevista, a coordenadora nos citou inúmeras festas da década de 1980 que aconteciam no
Cravo, como funcionavam e por que acabaram. São elas: festa da bicharada, festa da pimenta,
festa da fruta.

A festa da bicharada consistia em uma comemoração relacionada à igreja na qual se


colocava os animais arrecadados como o prêmio de um bingo, como: boi, porco, galinha,
dentre outros animais que faziam parte da criação dos fiéis e que doavam para a igreja no
intuito de que o dinheiro arrecadado se voltasse em beneficiobenefício para a igreja. A, a
festividade contava com música ao vivo e liberação de bebida alcoólica.

A festa da fruta se dava no mesmo sentido, tsendo como premiação do bingo com
premiação de frutas da época. De acordo com a entrevistada, Aambas foram enfraquecendo
até que acabaram por conta da proibição do consumo de bebida alcoólica no território da
santa. nas festas promovidas pela igreja. Aos poucos eEstas festividades foram saindo do
calendário da igreja devido o dissenso sobre como elas deveriam ocorrer. Assim, , sendo
proibido o consumo de bebida alcoólica e os bailes dançantes foram sendo empurrados para
fora dentro da área do patrimônio. Soubemos em campo que havia umo desconforto na
população da Vila, quando do acontecimento de festa com venda de bebida alcoolica, o que
era considerado um desrespeito ao território da santa. causado na população sob a ótica de

17
Nota apresentando a escola rapidamente
uma falta de respeito diante do território da santa, principalmente nos moradores da Vila, foi
outro fator forte para que essas festas chegassem ao fim.

No passado as Esta, assim como outras festas, animava o Cravo, a exemplo tem-se as
apresentações de boi bumbá, cordões e pássaros e de bichos, animavam a Vila. eEstas
ocorriam em meados de 1950 voltadas para um sentido mais lúdico. No entanto, havia as
festividades religiosas, essas tomavam uma dimensão que envolvia maior fluxo econômico e
de pessoas de outras comunidades. Como já mencionado, o Cravo tem uma forte influencia
religiosa, e essas festividades tem características próprias, que não necessariamente seja o de
festejar com baile dançante.

“A ocorrência de festas religiosas enseja uma série de outros eventos específicos


associados: bingos, leilões, bailes dançantes, dentre outros. O núcleo festivo
composto por procissão/reza/liturgia implica na existência combinada de outras
atrações festivas não exatamente religiosas. Estas demais atividades somam-se ao
foco central do evento na atração de devotos de dentro e de fora da comunidade,
produzindo uma movimentação de romeiros que vem a Vila do Cravo, mas que
podem se deslocar para as festas das comunidades próximas. Cria-se desse modo um
circuito de participação em festas religiosas que tende a envolver com maior
eficácia, os moradores das comunidades situadas a margem da rodovia PA-140 e de
alguns igarapés da bacia do rio Bujarú.” (COSTA e MACEDO, 2010, p.112)

A tradição de anunciar as festas, seja religiosa ou não, foi trazida das festas de
santos da comunidade, “em eventos como a festa da padroeira da vila (N. Sra. Das Graças,
festejada em maio), os padres passaram a ser trazidos de casco, sendo a chegada anunciada,
via de regra com foguetório.” (COSTA e MACEDO, 2010). Hhá a continuação da tradição
da queima de fogos na alvorada como forma de anunciar que vai ter festa, essa tradição é
usada tanto para celebrações da igreja, quanto para as festas de aparelhagem. As 5h da manhã
é feito a queima de fogos no dia da festa ou celebração, no caso da festa de aparelhagem a
anunciação é feita em dois momentos, as 5h da manhã tradicionalmente, e na hora em que
chega as carretas que trazem a estrutura do som.

Decerto, a festa não religiosa mais presente na memória dos moradores antigos da
comunidade é a festa de rabeca, segundo Macedo e costa (2010) essas festas aconteciam aos
sábados, na casa de um dos moradores da comunidade, com a presença de dança, esta seria
ocasionada por outra festa chamada de “festa da irmandade”, este tipo de festejo teria
instituído um modelo festivo para a comunidade, “Fala-se de festas que aconteciam todos os
sábados na casa de um dos moradores da comunidade, em que os casais dançavam
“agarrados” e que “iam até altas horas da noite”, das 7 da noite às 7 da manhã.” (COSTA e
MACEDO, 2010) tanto é verdade que estas festas estabeleceram o padrão estabelecido, que
nota-se na fala de Dona Edina, dona de bar e moradora da Vila:

“Essas festa de hoje nem se vê clarear o dia, ninguém dança, só querem saber de
comprar bebida de monte, ninguém paquera, não se brinca mais como antigamente”
(entrevista concedida em maio de 2017)

Percebe-se duas coisas na fala de Dona Edina, a primeira é a afirmação de que foi nas
festas de antigamente que se constituiu o modelo festivo que permanece na memória dos
moradores mais antigos da comunidade, e que esse resgate nostálgico surge o tempo todo em
comparação ao padrão de festa que se instalou nas últimas décadas . E segundo, foi constatado
que aderiu-se a ostentação na festa. Essa ostentação pode ter relação com os frequentadores
das festas oriundos de Belém, que pode ser um antigo morador do Cravo, mas que vive em
Belém ou um visitante.

“Tudo isso indica que as representações que estes jovens fazem no seu cotidiano –
mostrando que são “por dentro” da moda, que têm condições de consumir muita
cerveja e frequentar uma festa mesmo quando o ingresso é caro, ostentando bens e
artefatos que oficialmente não condizem com sua capacidade de renda ou mesmo
adorando ídolos e ícones de uma cultura musical cosmopolita – são idealizações
para atender às expectativas que eles crêem que a sociedade impõe a eles.”
(VILHENA, 2015, p.14)

A ostentação nas festas funciona da seguinte maneira, reúne várias pessoas que podem
ser de equipe18 ou não e faz-se coleta para comprar o maior numeronúmero de pacotes de
cerveja, isso é uma forma de obter status na festa, é a busca do prestigio por meio do
consumo., Aa ostentação também te cobra estar o mais perto possível da aparelhagem e ser
anunciado variasvárias vezes no decorrer da festa.

Diante das novas características que as festas na comunidade assumiramiu, percebe-se


que muito foi absorvido dos costumes das comemorações que se dão na periferia de Belém,
no final do século XX, e se modificam ta qual acontece lá.

“O circuito das festas de aparelhagem extrapola o espaço da festa em si. Ele remonta
a uma compreensão maior, de todos os elementos simbólicos que fazem parte da
festa: participar da festa, conhecer as músicas, conhecer os locais onde elas se
realizam, saber os passos de dança, formar grupos, conhecer as bandas e os DJs e,
também, vestir-se conforme as tendências que apreciam no momento. Tais práticas
evidenciam padrões coletivos de comportamento e de pensamento destes jovens,
fazendo que as festas adquiram um significado sociocultural que vai muito além do
seu ambiente específico.” (VILHENA, 2015, p. 11)

18
As “equipes” funcionam como uma nova forma de sociabilidade dentro do circuito das festas de aparelhagem
que fortalece e consolida a relação dos jovens com a festa (Costa, 2007)
Percebe-se que a comunidade também apresenta seus suportes, têm suas equipes, as
sedes têm seus amigos, patrocinadores e apoiadores do evento, esse laço da festa com os
“amigos” apoiadores é tão importante, que na festa que acontece na sede do Bragantino, estas
não são apenas anunciadas pelos DJs a todo o momento, como também tem um lado do muro
dedicado apenas aos agradecimentos a eles. Entre os amigos tem: bares, oficinas, equipes,
professores, lideranças políticas, deposito de bebidas, sedes e DJs. Isso está ligado ao que
Vilhena (2015) fala sobre o ser “considerado”, “Ter uma imagem de prestígio e ser um
considerado são construções influenciadas pelo viés do consumo”.

Foto 04: Muro de agradecimentos na sede do Bragantino

Foto: GUIMARÃES, A.C (Julho2017)


Diante de uma variedade de festejos que foram sendo criados e acabados, cria-se um
calendário, este se constrói gradativamente e percorre o caminho das modificações que se
passam na comunidade. , lLeia-se a construção da PA-140, achegada de energia elétrica,
assim como a saída e retorno de alguns moradores do cravo para a capital, o assalariamento de
alguns agricultores. Cada modificação na dinâmica da vida desses sujeitos contribuiu para se
chegar aos moldes de atualmente.

2.1 – OS ESPAÇOS DE FESTAS

Os campeonatos de futebol tiveram um papel importantíssimo para a chegada da festa


de aparelhagens na comunidade, eles eram/são a atração de gente de fora para a comunidade.
As festas que ocorrem nas sedes dos clubes vem acompanhadas da realização de torneios
durante o dia, funcionava da seguinte maneira, marcava-se o torneio de futebol, eram
convocados diversos times de vários lugares, cada time vinha de seu lugar em ônibus,
acompanhados de amigos e/ou família para apreciar o campeonato e ao final dos jogos tinha-
se a festa. De acordo com entrevistas, os torneios apresentavam inicialmente times das
comunidades dos arredores do Cravo, posteriormente com a dimensão que foi tomando,
tinham-se times oriundos de Belém e região metropolitana, Santa Isabel dentre outros
municípios do nordeste paraense.

De inicioinício tocara nessas festas as aparelhagens locais como o Minisom tendo


como proprietário o Sr. José Maria da Costa e o Som liberal, tendo como proprietário o Sr.
Manoel Fernandes Albernás, conhecido na comunidade como Beca ,que emigrou para Belém
na década de 1960, no Jurunas com o Som Liberal., bBeca começou a investir os ganhos em
aprimoramento do som, e retorna para animar as festas das décadas de 1980 e 1990 na
comunidade do Cravo. Na década de 1990 o Som Liberal faz parte lista de aparelhagens de
médio porte mais importantes de Belém. E esse fato configura no inicioinício do processo de
ocorrência de festas de aparelhagem de grande porte no Cravo, aos moldes das realizadas na
periferia de Belém. (COSTA, 2007)

A significância das festas de antigamente ultrapassa o espaço da festa em si. Ela


remete a uma compreensão maior, de todos os simbolismos que a antecedem: um mutirão, um
plantio, uma colheita, um Santo (a). Essas práticas demonstram padrões que foram
estabelecidos coletivamente para o acontecimento festivo, fazendo que a festa tome um
significado sociocultural que transpõe as barreiras temporais.

Os espaços de festas passam a se nutrir com a popularidade e a tradição de ter


anualmente atividades que envolvam dança, bebida e interação de pessoas de dentro e fora da
comunidade. Esses espaços constituídos por territórios festivos não-religiosos não estão
localizados em qualquer dimensão, os mesmos precisam estar fora de outro território
consolidado na comunidade, a área do patrimônio. Porém a demarcação desses espaço para
festa e de território sagrado estão bem definidos, há respeito por todos da comunidade com
relação ao arraial, que corresponde às proximidades da igrejigreja., Ddiante desse território há
uma seriesérie de situações que demonstram a força dessa “demarcação religiosa”, a exemplo
são as igrejas protestantes, que são situadas distantes do dito território. Assim como também,
Em 2015, fora construído um Balneário chamado Senzala, espaço amplo e dotado de boa
infra-estrutura, bar, piscinas infantis, deck molhado, malocas e o igarapé, muito bem
estruturado para atender grandes festejos que ali seriam realizados. No entanto, o Balneário
era localizado próximo a igreja, o que causou estranhamento e desaprovação dos moradores
da comunidade, principalmente os moradores mais antigos.

Pudemos observar não somente pela proximidade do balneário com a igreja, como
também com a Escola João Braga de Cristo gerou o desconforto, uma vez que eram realizadas
festas durante as segundas-feiras e muitos alunos da escola participavam da mesma e, por
consequência, faltavam aula. Segundo a coordenadora da escola, em entrevistada em maio de
2017, muitos alunos vinham de suas comunidades no ônibus escolar, no entanto não iam para
a escola, participavam da festa no balneário e voltavam para suas casas no ônibus.
Para Sack (2013, p. 76), territorialidade é a “tentativa, por indivíduo ou grupo, de
afetar, influenciar, ou controlar pessoas, fenômenos e relações, ao delimitar e assegurar seu
controle sobre certa área geográfica”. Partindo do exposto entendemos que a territorialidade
do balneário afetou o modo de vida dos moradores mais antigos, principalmente por
desrespeitar o “território da santa” (a área geográfica), território este carregado de simbolismo
e parte da identidade da parcela de moradores que exercem a fé católica. O Balneário fechou
as portas no final de 2016, após várias reclamações de moradores e da própria escola.
Principalmente após uma festa com uma cantora de brega famosa de Belém, onde ocorreram
confusões dentro do balneário, o que fora visto como forte desrespeito ao território da santa.
Foto 05: Balneário Senzala

F
oto: SEIXAS, L. B. (Maio/2017)

Comentar a foto. Não pode acabar a sessão assim

2.2 – FESTAS DE APARELHAGEM E FESTA DE CARRETINHA

A festa tradicional, que citamos ao longo do texto, definida como uma categoria nativa
é a festa que tem período do ano e sede já estabelecidos, sendo obrigatório que a atração
principal das mesmas seja de uma aparelhagem de grande porte. Aparelhagens são grandes
estruturas sonoras de alta tecnologia, normalmente controlada por dois DJs, que prima por
usar do lúdico em suas estruturas, com telões de LED, iluminação e “naves” no formato
referente à sua proposta. A festa tradicional com presença de aparelhagens sonoras quer seja
de grande ou pequeno porte, é datada de meados da década de 1990 em diante e mesmo sendo
teoricamente recente, é mais bem aceita pelos moradores mais antigos da vila do que as festas
de carretinha.

Até hoje, esse tipo de festa mantêm o status de festa tradicional, e a festa mais
marcante e presente nos relatos memorialísticos de moradores/frequentadores assíduos dessas,
se reporta a julho de 2003, a festa se realizaria na quadra do Bragantino, tendo como atração
principal a aparelhagem “Luxuoso Jackson”, na ocasião da festa havia-se feito uma
“raspagem19” no ramal e em decorrência de chuva a estrada ficou quase intrafegável, o que
gerou a idéia de que não iam conseguir ir a festa. Eis que para a solução do problema alguém
deu a idéia de ir descalço com uma garrafa de água e na frente da festa lavasse os pés e se
calçassem. Foi a solução para chegar até a festa. Percebe-se nesse relato concedido por um
grupo de moradores em conversa informal, a importância simbólica que tem a festa para os
sujeitos.

A carretinha consiste em pequenas ou médias estruturas de som que são acopladas a


carros particulares. Sua facilidade de locomoção e baixo custo (comparado a uma
aparelhagem) viabilizam essa rapidez em fazer festa. As festas de carretinha acontecem sem
calendário pré-estabelecido e sem lugar fixo, nas entrevistas feitas com moradores mais
antigos da comunidade é dito que esse tipo de festa acontece todos os dias, e que a qualquer
momento pode iniciar uma festa. O que faz esse tipo de festa ser mal visto pelos moradores
mais idosos é a ocorrência de atividades que perturbam a tranqüilidade do local, e ainda a
preocupação com a possibilidade de enfraquecer a quantidade de publico na festa tradicional,
visto que o publico da festa é um número que os moradores, frequentadores assíduos da festa
tradicional, usam como indicativo para medir a qualidade e a proporção que da festa tomou.

As carretinhas chegam ao Cravo em 2010, facilitando os donos de bares e balneários o


oferecimento uma atração aos seus clientes, o baixo custo já citado, facilita a assiduidade das
mesmas na comunidade. Abaixo segue a tabela das carretinha que tem regularidade nas suas
apresentações em bares e sedes do Cravo e o seu lugar de origem.

19
Espécie de regulação do solo em estrada de terra batida
TABELA 01: CARRETINHAS DE PREFERENCIA

Carretinha De onde
CHOPP SOUND Interlan/Bujarú
NEGA VIGARISTA Marituba
MAL CRIADA Alça Viária
PAREDÃO FORÇA BRUTA Bujarú
METRO LIGTH Concórdia

Diferente da festa tradicional, a festa de carretinha traz aos moradores uma


preocupação, tanto com a insegurança, no sentido de que as pessoas que frequentam esta são
“desconhecidos”, pela frequência de jovens menores de idade nesse tipo onde frequentemente
ônibus de passeio, oriundos de Belém e região metropolitana, que acompanham as carretinhas
até a comunidade. Novamente a forte ligação com a religiosidade leva os moradores a se
incomodarem com a regularidade que essa festa assumiu na comunidade, não respeitando os
dias sagrados como os domingos, os horários de culto, o 1º dia de novena que dá início à
festividade da santa padroeira, os dias de quaresma. Esses fatores geram incomodo aos
moradores. As festas de carretinha são realizadas com frequencia muito grande e por isso não
possuem um calendário fixo, como já citado anteriormente, a facilidade de transporte e o
baixo custo são fatores inegáveis para a regularidade das festas.
Os mais jovens são o público que comparecem nessas festas e tem preferência por
carretinhas oriundas da região metropolitana Belém. Outro fator que faz a carretinha cair no
desgosto dos moradores mais antigos, é que de acordo com eles, esse tipo de festa prejudica
as Festas Tradicionais, quando realizadas no mesmo dia.
Isto se deve, de acordo com os festeiros Pelo seguinte motivo: as festas de carretinhas
seremão realizadas nos balneários, e com sua facilidade de montar o equipamento, começam
antes das festas com aparelhagens, uma vez que para montar as superestruturas das
aparelhagens leva-se quase metade do dia, então o público passa a consumir bebidas
alcoolicas primeiramente nas carretinhas e acabam não participando, ou não consumindo
muito, nas festas tradicionais. Para tanto, o festeiro trouxe para a festa de Julho de 2017 três
carretinhas, que iniciaram suas apresentações apenas depois da apresentação da aparelhagem,
ou seja, as carretinhas se fazendo presente e se territorializando na festa tradicional.
Analisamos essa atitude como estratégia para que não houvesse uma queda de
publicopúblico no horário da festa.
Em determinadas situações ocorre de datas comemorativas (aniversário, casamento,
batizados e etc) utilizarem o mesmo aparato das festas de aparelhagem?, para fazer há o
anuncio do festejo, a contratação do som, e a comercialização de cerveja e comida. No
entanto, esse tipo de festejo não é realizado por qualquer morador, isto se reserva aos
moradores que tem ligação com sedes de festa ou balneários, os que têm algum tipo de
relação com as pessoas de festas, utilizando essas datas comemorativas como mais uma
estratégia de comércio.Aos poucos essa pratica Nem sempre acontece, porém tornou-se
comum a partir das festas de aparelhagem.vem se popularizando.

EmDiante de conversa com moradores sobre suas relações com a festa de


aparelhagem, nota-se em suas falas a importância doe como tal evento repercutiria nas
comunidades do entorno, assim as festas eram medidas pelaor quantidade de público pagante
e o porte do som. Na fala de João Macedo, morador do Cravo e frequentador das festas de
antigamente, observa-se a preocupação sobre em qual sede houve a melhor festa:

“A melhor festa que teve aqui no Cravo foi em 2007, na quadra do bragantino, teve
1350 pagantes, foi na aparelhagem do Rubi, que naquela época tava estourado em
Belém, não tinha espaço naquele lugar, e não parava de chegar “caboco”, tinha gente
de tudo quanto era lugar ao redor do Cravo, foi a maio festa daqui, deu o que falar
em todas as comunidades daqui de perto, e eu tava la” (entrevista realizada em julho
de 2017)

Nessa fala se estabelece as preocupações sobre a repercussão da festa nas outras


comunidades, visto que as festas da comunidade mobilizam pessoas dos municípios de
Bujarú, Acará, Concórdia e Belém, além das comunidades vizinhas: Curuperé,
Curuperezinho, Foz do Cravo, Castanhalzinho, Km-35, Km-39, Km-40. A festa tradicional de
julho de 2017 chegou a mobilizar gente dos municípios de Santa Izabel, Marituba e Alça
Viária, estes compõe a região metropolitana de Belém, por conta de um campeonato de
futebol que fora marcado para anteceder a festa.
A preocupação do entrevistado em ressaltar o número de pagantes se dá
principalmente por estas festas primarem o lucro, como nos apresenta Costa e Macedo (2015,
p. 115):

“Poucos são os que conseguem cortesias para entrada gratuita, caso de algumas
poucas pessoas ligadas à organização do evento. Isso ocorre porque estas festas
visam o lucro, a ser repartido entre o pagamento da aparelhagem e dos trabalhadores
que prestaram serviço durante o evento (policiais, seguranças particulares,
bilheteiros, garçons, dentre outros).” (COSTA e MACEDO, 2015, p. 115)
A mobilização da comunidade diante da festa chama a atenção. Para a festa mais
importante de Julho a divulgação foi feita desde Maio, em todos os bares, mercadinhos e
balneários havia uma placa indicando a festa tradicional daquele período, a divulgação do
evento também foi feito pelas rádios locais, de Concórdia e Bujarú, sites da aparelhagem que
tocara na festa (a carroça da saudade nesse caso) e a disposição de faixas com o anúncio das
festas no porto da balsa em Bujarú e no decorrer da rodovia PA-140 sentido Bujarú –
Concórdia do Pará, neste caso a rodovia se apresenta como o ponto de interface entre as
comunidades, é diante dessa divulgação que as outras comunidades tomam conhecimento de
onde vai ter festa.
Foto 06: As placas

F
oto: SEIXAS, L. B (Julho2017) Foto: GUIMARÃES, A. C. (Julho2017)

Percebemos em campo que há uma preparação para o acontecimento do grande evento


que se torna a festa, e durante conversa informal, os moradores relataram que faz parte dos
preparativos para a festa o direcionamento de parte do dinheiro, seja recebido com roça ou
com qualquer outro serviço, para o vestuário e consumação na mesma. Percebe-se também,
que nesse momento o calendário festivo da comunidade se torna também o calendário de
reuniões em família, à medida que essas datas festivas se tornam a data de reencontro para
fortalecer os vínculos com os familiares, pessoas da comunidade e participar da festa.
Reforçando que esta é lócus de sociabilidade e que muitos esperam por esse evento.

“(...) a definição de festa como suspensão da vida social ordinária em que se


possibilita uma espécie de “renovação moral” que fortalece os laços da solidariedade
grupal está na base de quase todas as reflexões e estudos subseqüentes sobre os
sentidos da festa” (COSTA, 2007 p. 98)

Mesmo não sendo consenso, a festa tradicional é mais bem vista pelos moradores da
comunidade do que as festas de carretinhas. A Festa Tradicional carrega memória, uma vez
que acontece desde meados de 1990. João Macedo e André da Silva nos relatam com
nostalgia sobre as festas tradicionais que traziam as mais famosas aparelhagens da época,
como o Rubi, Luxuoso Jackson e Pop Som, relatam também a importância do Igarapé nestas
festas, onde, após o término da festa (pela manhã do dia posterior ao início da festa) a
“ressaca” era curada às margens do Igarapé do Cravo. Através do que fora exposto, nos
permite citar sobre a importância simbólica e material do Igarapé, os laços com os igarapés
hoje são voltados quase que exclusivamente para o lazer, mesmo no começo da década de
2000, sem as estruturas atuais dos balneários, os igarapés faziam parte do final da festa.

As festas tradicionais também são marcadas pelo reencontro das gerações, onde há a
participação de moradores que varia, de jovens aos idosos e, ainda, os filhos do Cravo que,
atualmente, residem fora e retornam para a Vila nos dias das grandes festas.
Após vivenciar um pouco do cotidiano festivo do lócus da pesquisa através do
trabalho de campo, observamos que a dinâmica festiva dessa comunidade tem um papel
socializador, para Costa (2007)

“A festa, percebida em sua dimensão histórica e social, é uma prática que está inserida
no campo dos conflitos e negociações desenvolvidas na sociedade. A festa popular, na
sociedade urbana e industrial, é um fenômeno complexo que abarca mediações
econômicas (empreendimentos, oferecimento de bens culturais) e políticas (sistemas
de troca de interesses, conflitos por poder e prestígio). Por conta disso, ela não pode
ser considerada unicamente como expressão da alienação de um ou vários grupos
sociais ou, num pólo oposto, como meramente um mecanismo de “resistência” à
indústria cultural ou a esta entidade opaca que é a “cultura dominante”. Trata-se de
uma experiência cultural mutante ligada às diversas esferas da vida social, cuja
reprodução está condicionada à multiplicidade de interesses de agentes internos e
externos ao evento.” (COSTA, 2007, p.75)

O próximo capitulo trataremos sobre as territorialidades a partir das festas que


participamos, trazendo os elementos que fazem a festa se estabelecer como elemento
constitutivo desse território.
3. AS FESTAS DE APARELHAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES NA
CONSTRUÇÃO DA TERRITORIALIDADE DA COMUNIDADE DO CRAVO

Desde as festas existentes antes das transformações socioespaciais na comunidade do


Cravo, o calendário festivo sempre fez parte do modo de vida das pessoas que vivem ali, e por
isso nosso objetivo é analisar de que maneira a festa se torna elemento constitutivo desse
território. Quando pensamos nos sujeitos locais que participam do evento, logo buscamos
entender o que move essas pessoas a estar em tal momento e de que forma isso influência na
vida de cada uma. Toda a vida em sociedade é formada pelo cumprimento de deveres seguida
de direitos, e por isso, necessitamos da busca ao lazer.
Quando os filhos do Cravo retornam à comunidade, em meados a década de 1990,
acontece de chegarem carregados dos costumes adquiridos fora, e que naturalmente
começariam a fazer parte e se misturar com as relações culturais tradicionais existentes desde
criação da comunidade, essas características começam a entrar em conflito cultural, entre os
costumes dos mais velhos com os novos, colocando em questão um grande choque cultural
com a instalação de uma nova territorialidade festiva, observando que os modos entre a festa
tradicional antiga e a nova forma de festejar dos moradores vão de encontro.

Diante do surgimento das festas de aparelhagem, que juntam o que Costa (2007)
denomina de circuito bregueiro20 com os costumes tradicionais do Cravo no que se refere ao
lazer, ergue-se uma economia voltada ao entretenimento que renova as relações pessoais de
dentro e fora do Cravo. É importante ressaltar, que o calendário festivo sempre se fez presente
no modo de vida dos sujeitos dessa comunidade, entretanto, com as mudanças históricas e
socioespaciais que ao longo do tempo vão se consolidando, ocorre também as mudanças na
forma de festejar. A festa de aparelhagem de grande porte passa a ser um elemento
constitutivo desta nova territorialidade festiva, um grande evento que dará lugar ao
entretenimento que antes não usufruía das estruturas espaciais que a comunidade comporta
atualmente, à medida que essas estruturas vão sendo construídas novas formas de aproveitar
os festejos surgem também, como percebe-se na preparação que acontece com a espera da
montagem do som, entre uma serie de elementos que aparecem no sentido de modificar a
forma de promover eventos.

3.1. TERRITORIALIDADE DA FESTA

Como já vimos, as territorialidades são constituídas a partir de sujeitos ou grupos que


emanam influência em um determinado território. Podemos observar essas relações de
dominação dentro do ambiente da festa de aparelhagem, que consiste em vários agentes
trabalhando para que o evento ocorra e atinja o efeito desejado do público consumidor. Essas
relações vão desde o festeiro até o proprietário/a da barraca que vende lanche dentro do local
da festa, junto com os vendedores de tabuleiro, os churrasquinhos, pessoas que tiram foto e
revelam na hora para os frequentadores, o bar e as equipes, todos coexistem em um mesmo
espaço festivo e fazem parte das relações de consumo e tradição da festa de aparelhagem.

Quando o festeiro promove a festa, o lazer, é o principal elemento constituinte deste


território, porém o mesmo não se faz somente com apenas com um fator, e sim, o conjunto
20
Ver “festa na cidade: o circuito bregueiro de Belém do Pará” (Costa, 2007)
deles. Então se faz necessário que haja um acordo entre os grupos de diferentes objetivos para
que um em comum se faça presente, o ganho de todas as partes por meio da festa, o lucro para
o festeiro e seus colaboradores, a renda dos vendedores ambulantes e a satisfação dos
consumidores participantes.

Para que tudo ocorra como o planejado, entendamos a importância da divulgação da


festa, a influência com que as placas ao longo da estrada têm, anunciando a festa, é uma das
maneiras de criar territorialidade, uma vez que essas placas posicionadas em pontos
estratégicos na rodovia permitem que mais interlocutores tenham acesso a informação, e
assim fazer parte do evento. Além do rádio, televisão, carros de som e redes sociais, as placas
de serapilheira21 desenhadas a mão ou impressas são um dos elementos constitutivos de
demarcação de um território festivo, estabelecendo uma forma propagação de ideia e levando
não somente o anuncio da festa, mas o local e todo o potencial existente na vila.

Normalmente a placa carrega o dia da festa, o nome da aparelhagem de grande porte


e/ou carretinha e seus “slogans”22,o preço da cerveja, o nome dos DJs e do festeiro, local do
evento, patrocinadores . Uma característica muito importante a ser retratada nas placas, é o
fato de que faz uma grande diferença cada dado e nome exporto nela, pois a influência da
aparelhagem chama a atenção dos transeuntes e moradores locais, que muitas vezes já tem
conhecimento sobre a aparelhagem e deseja comparecer a festa. Quando a placa anuncia uma
aparelhagem de grande porte, as atrações secundárias, como as carretinhas, assumem o dever
de atrair o seu publico, que no caso é a nova geração da comunidade, tendo também a
oportunidade de conquistar e se divulgar aos que não conhecem, a partir da atração principal.
Então podemos perceber que cada nome divulgado na placa ao longo da rodovia, é importante
para estabelecer um vinculo com os diferentes públicos, através da relação de poder e
território de influência, que passam a fazer parte da festa.

Foto 07: A placa da festa tradicional da Sede do Bragantino em 23/07/2017

21
Material das sacas de farinha de mandioca
22
“O uso do slogan constitui uma estratégia de publicidade da aparelhagem, ressaltando uma qualidade que a
acompanha em todas as apresentações e que lhe fornece identidade. apesar disso, é comum que os slogans sejam
trocados ao longo do tempo. Em geral essa mudança acompanha a “evolução” da aparelhagem, de modo a
representar uma nova etapa marcada pela acentuação de uma nova qualidade.” (COSTA, 2007, p.142)
Foto: SEIXAS, L. B. (Maio/2017)

A comunidade do Cravo possui suas territorialidades festivas também a partir do


espaço, as sedes, bares e o balneário, são espaços que exercem poder quando falamos de festa
de aparelhagem, A mudança da realização da festa de um espaço para outro faz toda a
diferença, no sentido de estabelecer uma dinâmica festiva diferente de acordo com o espaço
em que acontece a festa.

Tivemos a oportunidade de acompanhar duas festas em espaços diferentes, a primeira


acontece no balneário e por isso tem sua movimentação durante o dia inteiro, o movimento da
comunidade estava voltado para o balneário, um fluxo enorme de pessoas no local específico
da festa. Diferente da segunda festa que aconteceu na sede do Bragantino, ao final do
campeonato de futebol não havia movimento nenhum no espaço onde ocorreria a festa, todo o
fluxo de pessoas estava divido entre os balneários.

Nestas encontramos o produto mais consumido da festa, a cerveja, e por isso é tão
importante o preço delas divulgadas nas placas. Existe uma diferença quase que determinante,
do ponto de vista do público, quando caracterizamos esses espaços e notamos que sua
configuração natural modifica a forma como se festeja.

Os bares, por exemplo, são espaços mais acessíveis, onde a cerveja é mais em conta,
as carretinhas costumam fazer seu público ali, em meio ao som automotivo e espaço aberto,
uma festa não tradicional e bem rotativa, quando se trata de atração, que ocorre nos finais de
semana, tem em seu potencial uma territorialidade que se apresenta até nos dias de grandes
festas, o “aquecimento” antes da festa principal. Mesmo em espaços diferentes, os bares dos
locais de festas grandes tradicionais coexistem e se conciliam quando se trata da dinâmica
festiva da vila.

O balneário é um espaço maior e mais reservado, podemos perceber a predominância


de famílias, crianças e parentes aproveitam o espaço enquanto os pais consomem no bar do
local, também é atração para muitas carretinhas e piqueniques (esta estratégia inicialmente
favorecia a vinda dos filhos do Cravo residentes de Belém afim de participar das grandes
festas e reunir com a família, porém atualmente de acordo com Dona Darcilene, seu bar
recebe piquenique oriundos das comunidades do entorno do Cravo e dos municípios, ou seja,
uma estratégia que se aperfeiçoou favorecendo o turismo e gerando renda para os donos de
bares) e seu espaço ainda é palco para festas de grande porte devido sua dimensão e
privacidade. O balneário São Lucas, por exemplo, constrói um ambiente amistoso e propício
para a festa de aparelhagem, na observação de campo, pudemos perceber que a montagem da
estrutura de som se torna um evento e o balneário fornece artifício para a atração da carretinha
que tocar durante a montagem, permitindo e, de certa maneira, incentivando que o público já
inicie o consumo, principalmente de bebidas alcoólicas, até o momento da festa principal, que
virá a acontecer pela parte da noite.

Durante este período de montagem, começam a se instalar barracas de comidas que


irão durar a festa toda, o bar começa a se abastecer com baldes e gelo, pacotes de cervejas são
organizadas e colocadas dentro de freezers, vendedoras de tabuleiros que vendem bombons,
cigarros e outros objetos que possam acrescentar em acessórios estéticos começam a procurar
um local para não atrapalhar a transição dos sujeitos durante a festa, algumas tem até espelho,
Naiana Bastos, moradora de Bujarú que estava como vendedora nas duas festas, procurou
inovar nas sua venda, seu carrinho possui de atrativo dois espelhos, que chamam atenção dos
frequentadores, Naiana trabalha nas festas de grande porte abrangendo o município de Bujarú
e Concórdia, de quinta a domingo.

Em nossa observação de campo, a primeira festa do mês de julho foi com a


aparelhagem do Pop som: “O águia da Amazônia”, e podemos notar algumas características
que se tornaram determinantes acerca das suas territorialidades.

A festa acontece no dia 09 de julho de 2017, no Balneário São Lucas, o movimento já


começa antes da festa principal, por volta do meio dia os fogos de artifício anunciam a
chegada do som, a sua montagem é acompanhada por curiosos e apreciadores da aparelhagem
que comem e bebem durante o processo, todas as luzes, autofalantes e a estrutura no formato
de uma águia, o mascote da aparelhagem, já são elementos importantes para a caracterização
de uma influência festiva no território do balneário. Também durante a montagem as
carretinhas convidadas fazem o som ambiente, sempre anunciando os nomes dos amigos e
colaboradores e a festa do Pop Som que está por vir. Alguns chegam a se recolher antes de
fecharem os portões e começarem a cobrar ingresso, outros ficam direto e ganham a vantagem
de não serem cobrados por já estarem no local. As mesas e cadeiras não são organizadas por
garçons, mas os próprios consumidores que se configuram para que haja espaço para os
baldes e os pequenos círculos de danças que rolam no chão de terra do balneário, o importante
é ver a estrutura montada, suas luzes, a musica e a cerveja no balde com gelo. O festeiro
“Gilson lanches”, como citado anteriormente, deseja tornar essa festa de grande porte no
balneário São Lucas, um evento tradicional de verão do mês de julho.

Foto 08: POP SOM: O ÁGUIA DA AMAZÔNIA

FOTO: GUIMARÃES, A. C (Julho/2017)


A festa começou e todos os agentes estão presentes e fazendo parte da configuração do
espaço construindo seus territórios. Um exemplo são as equipes, que se juntam ao redor de
duas ou três mesas onde colocam seus baldes de cervejas e curtem a festa, normalmente são
membros que acompanham as festas de aparelhagem em vários municípios e comunidades e
criam uma influência no meio através do nome e da divulgação feita, “Enquanto os fã-clubes
mantêm uma relação de devoção com seus artistas, as equipes, embora também tenham por
eles grande admiração, voltam-se mais para “dentro” de suas relações.” (VILHENA, 2015).

TABELA 02: EQUIPES PARTICIPANTES DAS DUAS FESTAS


EQUIPES LUGAR

Equipe Nova Geração Comunidade do Cravo

Equipe Baila Bujarú

Equipe os DG Bujarú

Galera do Big Brother Concórdia do Pará

Galera da Mídia Comunidade do Cravo

Os vendedores de comida variam o cardápio, o que diminui a competitividade de


mercado dentro da festa, apenas um vendedor de cada coisa. Os preços são determinados
antes da festa e mantidos até o final, cada vendedor também presta conta com o dono do
balneário pela disponibilidade do espaço, o que é caso do Sr. Roberto Alves, comerciante de
um carrinho que vende churrasco, morador do Km 35, pede permissão ao proprietário para
estabelecer uma relação comercial, coexistindo com o bar e os vendedores de tabuleiros.
Existem também aqueles que acompanham a aparelhagem em grande parte das viagens para o
interior, o que é o caso da dona Denise de Sousa e sua filha Maria Do Socorro de Souza,
vendedoras de tabuleiro, montam a sua pequena barraca para vender cigarros e bombons elas
acompanham as festa da aparelhagem Pop Som, e nessa ocasião estavam pela primeira na
Comunidade do Cravo. Essas pessoas constituem seus territórios de venda e independente de
sua origem, seja ela da comunidade de alguma vila próxima ou que acompanhe o som, estas
convivem em um mesmo espaço de influência atingindo seus objetivos de comércio e
consumo para os participantes.

TABELA 03: ATIVIDADES QUE MOVIMENTAM A ECONOMIA

Festa no Balneário São Lucas – 09/07/17 Festa no Bragantino – 23/07/17

Roberto Alves, morador do Km-35,


castanhalzinho, é vendedor de
Idem
churrasquinho e tabuleiro, com a permissão
do dono do local, no caso o Sr. Lucas
Borges, mediante pagamento de uma taxa.
Comparece para vender nas festas de
qualquer porte.

Marlison Saraiva, morador da Vila do


Patrícia Lopes, moradora de Concórdia do
Cravo, estava vendendo churrasquinho e
Pará, vendedora de comidas regionais na
guloseimas, porém o bar era do balneário
festa, vatapá, tacacá, sopa. Pediu permissão
sendo os donos responsáveis.
para o Sr. Albino, responsável pela festa na
ocasião.
Denise de Souza e Maria do Socorro de
Souza, moradoras de Belém, vendedoras de Foto na hora, de Belém com a empresa
tabuleiro, primeira vez na Vila do Cravo, Badalasom
vendedoras pelo Pop som, todas as festas.

Naiana Bastos da Silva, moradora de Bujarú,


vendedora de tabuleiro, trabalha no
perímetro Bujarú/Concórdia aos fins de Idem
semana nas festas. Por ser conhecida na
região é isenta de taxas.

Os DJs fazem a festa, mixando as músicas e anunciando os nomes das pessoas que
fazem parte da festa e seus lugares de origem, neste momento temos a construção ideológica
da formação de território na festa. A divulgação do nome do sujeito e sua cidade ou vila se
torna uma forma de influência, passando a criar novas relações de “poder”, qual lugar está
mais presente na festa? Qual equipe tem mais membros? Até os famosos rivais futebolísticos
do Estado do Pará: Remo e Paysandu, são anúncios chaves para a construção de uma
territorialidade diversa, porém integrador em sua essência festiva. O público consta, nesta
festa, com a presença predominante de casais mais jovens, o som atende também um estilo
moderno como o ritmo eletrônico e as músicas pops internacionais a dança é um elemento
importante, porém não é o único, apreciar as músicas e beber ao lado do/a acompanhante,
amigo já é o gosto de grande parte das pessoas da festa.

O ambiente festivo está formado e por ser em um meio rural as leis da cidade não se
aplicam quando se diz respeito à interrupção do som, por isso a festa costuma ser finalizada
por volta das 03h00min da manhã, na primeira festa de julho os consumidores se juntaram em
volta de um carro com som de grande potência e continuou a tocar até amanhecer. Ali se
encontram, o dono do local, algumas equipes e amigos que, por terem uma relação mais
amistosa com o proprietário, o mesmo permitiu que a festa continuasse independente do Pop
som ter finalizado sua apresentação. Novas territorialidades são formadas e os sujeitos que
antes eram só participantes da festa de aparelhagem, passam a comandá-la com o seu som
automotivo, as relações se estreitam e novos vínculos são formados a partir das amizades que
restaram e das mesas que se juntam no final.

As sedes possuem uma estruturação diferente, um espaço coberto no meio do campo,


nos indica uma maneira diferenciada de agregar valor a aquele território, na sede Bom Jesus,
por exemplo, temos um calendário de festas não religiosas nos meses de janeiro e setembro.
Construídas pelos moradores, as sedes não possuem um igarapé na sua extensão e isso irá ser
um fator determinante para mudança do modo de festejar que veremos mais adiante. As sedes
do Bom Jesus e Bragantino fazem parte dos espaços de festas não religiosas e sua tradição no
território festivo marca importância no calendário de festas na comunidade do Cravo.

Em nossa terceira observação de campo foi ao final do mês de julho na festa


tradicional que ocorre na sede do Bragantino, em 23/07/2017

A sede do Bragantino fica fora do território da santa, já explicamos anteriormente,


sendo organizada e responsável por sua manutenção o Sr. Albino Braga, líder da associação
de futebol da comunidade, vai ser o festeiro desde evento que já é tradição desde 2000 com
aparelhagens de brega, porém a partir de 2008 começou a levar aparelhagem voltadas para
“baile da saudade”, nesta ocasião a atração foi a aparelhagem “A Carroça da Saudade do
Búfalo do Marajó”. Esta aparelhagem faz parte da empresa “três eventos” que é responsável
por outras aparelhagens de grande porte também, como é o caso do “Badalasom o Búfalo do
Marajó”, ambas além de trazerem consigo toda uma estrutura de som e luz, elas possuem uma
característica bastante peculiar. Sua estrutura da mesa do som e também onde ficam os DJs,
são no formato do mascote, na Carroça da saudade um pequeno palco é colocado na frente
desta estrutura e o local é semelhante a uma carroça com um boi na frente, mais tarde iremos
perceber que não existe somente um fator estético ali, e sim mais um instrumento para a
atração principal que está por vir.
FOTO 09: A CARROÇA DA SAUDADE

Foto: GUIMARÃES, A. C. (Julho//2017)

A festa aconteceu no domingo, junto com o campeonato de futebol realizado com


times da comunidade e de Santa Isabel, o campo ao lado da sede vai ser palco dessas disputas,
como forma de entretenimento e lugar de sociabilidade. Muitas famílias acompanham o
torneio, tanto da própria comunidade quanto de fora, vindo em vans, ônibus e micro-ônibus,
todos unem o lazer do esporte e acompanham os parentes e amigos o campeonato se inicia no
domingo de manhã começa e segue amistosamente até por volta das 14:00 horas, ao mesmo
tempo as carretinhas são organizadas dentro da sede.

Diferente do que aconteceu na primeira festa, as carretinhas não iniciaram sua


apresentação no decorrer da montagem da estrutura da carroça da saudade, semelhante à
forma que ocorreu no balneário São Lucas. As três carretinhas fizeram parte do evento:
“Paredão força bruta: o toca tudo do Pará”, de Bujaru, a “Carreta malcriada: a respeitada da
alça viária” e a “Nega vigarista: Kamikaze 5.0”, de Marituba. Iniciando suas apresentações
apenas após o fim da atração principal.

Por isso percebe-se que o território do Bragantino fez com que a dinâmica mudasse, ao
terminar o jogo, todas as famílias, jogadores e amigos, se direcionaram para os bares e
balneários que se localizam perto dos igarapés, não tornando a montagem do som um pré-
evento, como no caso do Super pop no balneário São Lucas. Isso deve a dinâmica territorial e
a configuração do espaço que se diferenciam, entre o balneário e a sede. A chegada das
carretas com as estruturas da Carroça da saudade também foi anunciada com fogos de artificio
e grande movimentação da vila. A montagem começa, e a presença de alguns curiosos e
apreciadores existe, mas não contempladas com apresentações das carretinhas. Homens,
mulheres e crianças assistem os operários da aparelhagem organizar tudo e enquanto isso o
“aquecimento” da festa que será à noite, está acontecendo longe dali, e não existindo o
consumo e a movimentação que existente na festa anterior.

Tudo preparado por volta das 20:00 horas, a festa começa, músicas do passado sendo
tocadas pelo DJ Wellington Franginha, as barraquinhas de lanches e vendedores de tabuleiro
estão postos em seus lugares, construindo a mesma configuração territorial da festa anterior.
Percebe-se um maior número de pessoas que não param de chegar, o estacionamento na frente
do Bragantino começa a lotar, com grande movimentação de motos e carros na frente do
evento, os seguranças e flanelinhas compõem o cenário na frente da sede mantendo a ordem e
organização. Um dos grandes diferenciais da festa da sede do Bragantino comparado a do
balneário São Lucas, é que a primeira já é tradicional há mais de 15 anos, já a segunda não.
Essa diferença influencia bastante na presença da comunidade na festa. Nota-se grande parte
do público são de casais mais velhos e de moradores locais, contagiados predominantemente
pelas músicas do passado que tocam a festa toda, dando sentido ao nome da mesma. O baile
segue com as danças que é um elemento muito importante, no centro da sede uma estrutura
coberta cria uma territorialidade do baile, onde todos se juntam e dançam as musicas do
passado, seus passos únicos e mostrando bastante habilidade e experiência, os participantes da
festa constroem um território em cima da dança, música e tradição.

A atração principal da aparelhagem ainda está por vir, por volta da 01h00min da
manhã, o DJ Toninho assume o palco e comanda a estrutura mencionada anteriormente que
ganha vida através de movimentos mecânicos e limitados. O público se diverte com a atração
e o DJ agita com os bordões da festa e interagindo com todos, o show de luzes, a maquina do
búfalo em movimento e as musicas marcantes, constroem um cenário festa com um ar
diferenciado. Ao final da festa a aparelhagem encerra sua atividade, mas ainda existem
aqueles que querem que a festa continue, então as carretinhas que não tiveram a sua
oportunidade antes do evento principal, passam a ter no final, sai a aparelhagem de grande
porte e entra em cena o som das miniaparelhagens, permitindo que a festa se prolongue até de
manhã.

TABELA 04: COMPARAÇÃO DAS FESTAS

Festa no Balneário São Lucas – 09/07/17 Festa no Bragantino – 23/07/17


APARELHAGEM POP SOM APARELHAGEM A CARROÇA DA
SAUDADE
Lugares participantes Lugares participantes

Acará Belém
Bujarú Santa Isabel
Concórdia do Pará Americano/Santa Isabel
Barubá Bujarú
Foz do Cravo Concórdia do Pará
KM-29 Km-35
KM-39 Km-40
KM-40 Km-29
Km-25
Castanheirinho
Curuperé
Curuperezinho
Santana
São Judas
EQUIPES E GALERAS -– LUGAR EQUIPES E GALERAS - LUGAR
Equipe Nova Geração – Vila do Cravo Equipe Os DG – Bujarú
Equipe Baila – Bujarú Galera do Big Brother – Concórdia
Galera da Mídia – Vila do Cravo
Os elementos culturais que constituem uma comunidade não podem ser pensados
desarticulados do seu modo de vida, ou seja, eles se forjam a partir de elementos cotidianos,
que fazem parte da vivência e de elementos simbólicos que permitiram a construção
identitária daquele grupo, “tratar o território entende que o local se ergue como elemento
importante na construção da resistência e luta” (FABRINI, 2007, p.23). Sendo assim, é
importante pensar tais elementos na comunidade do Cravo, onde na última década houve suas
modificações socioespaciais que acarretaram na modificação do lazer festivo, entendemos que
é imprescindível discutir as ações locais e modo de vida seja ele ligado ao roçado, à
religiosidade ou festas, ou estes três juntos.
Os elementos culturais que constituem uma comunidade não podem ser pensados
desarticulados do seu modo de vida, ou seja, eles se forjam a partir de elementos cotidianos,
que fazem parte da vivência e de elementos simbólicos que permitiram a construção
identitária daquele grupo, “tratar o território entende que o local se ergue como elemento
importante na construção da resistência e luta” (FABRINI, 2007, p.23). Sendo assim, é
importante pensar tais elementos na comunidade do Cravo, onde na última década houve suas
modificações socioespaciais que acarretaram na modificação do lazer festivo, entendemos que
é imprescindível discutir as ações locais e modo de vida seja ele ligado ao roçado, à
religiosidade ou festas, ou estes três juntos.
Perseguindo um pouco mais o tema... (Considerações finais)

Retomar pontos importantes destacados ao longo do texto

Sinalizar para uma possibilidade de leitura desse tipo de festa em uma comunidade camponesa....
quais as afirmações que vcs podem fazer a partit dos dados empícos.... Pensar !!!!!!!! Apesar da festa
ser resultado de trajetórias sociais e suas representações de vida, a exemplo do transito entre o
campo e a cidade... aos poucos a festa na comunidade vai apresentando nuances da festa na cidade,
ainda assim, a festa é de certa forma também moldada pelas territorialidades que se forjam no
território da santa,

Bibliografia----- não deixem passar nada!!

O texto precisaria de uma boa revisão gramatical e ortográfica.... cuidado com a pontuação!!!

No mais,,,, Bom trabalho!!!

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