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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Carlos Eduardo Do Nascimento Henriques Dos Santos


Douglas Maues Correa
Jorge Luiz Da Mota Figueira
Leandro Gonçalves Costa
Pablo Henrico De Sousa Queiroz

Música e Juventude

BELÉM

2022
Introdução

Nesta pesquisa foram levantadas diversas referências bibliográficas acerca da música


regional e a sua presença na juventude paraense, tanto na construção da sua identidade
enquanto uma categoria histórica e socialmente construída, quanto no processo de
educação, que é uma parte significativa da construção da identidade dos indivíduos,
levando em conta o contexto regional e suas particularidades. As principais referências e
seus respectivos temas estarão expostos de forma resumida a seguir.

1. Música, Juventude e Identidade


No artigo “Práticas musicais de jovens e vida cotidiana: socialização e identidades em
movimento” das autoras Jusamara Souza e Maria de Fatima Quintal de Freitas, publicado
no periódico “Música em Perspectiva”, torna-se notável a influência que a música exerce
em seus ouvintes no que concerne a identidade e a socialização dos mesmos. As autoras
delimitam algumas das principais pontuações e abordagens sobre esse tema de estudo
durante o trabalho, tornando mais acessível a capacidade de entendimento da relação
entre música, identidade e juventude.
É colocado como uma das questões fundamentais para o desenvolvimento da relação
entre música e ouvintes um mediador (que pode ser descrito até mesmo como um
catalisador) que fez essa relação se aproximar cada vez mais, que foi a tecnologia. Esta
trouxe mudanças no comportamento e práticas das diferentes “juventudes”, os quais uma
tem mais acesso, e talvez mais influência do que outra, como explicam Souza e Freitas
(2014, p. 63) “ Considerando que as juventudes pertencem a contextos específicos, por
certo a análise das práticas musicais não poderá se eximir de analisar as condições em que
essas práticas acontecem.”.
Com o passar do tempo, a relação da juventude com a música foi para além do
entretenimento, e isso foi analisado de forma mais ferrenha, como explicam Souza e
Freitas (2014, p. 64):

“Vários tem sido, nos últimos anos, estudos e pesquisas que ao tomarem
como foco central a juventude, deparam-se, também, com os aspectos
culturais e artísticos como sendo mais uma dimensão, não apenas
valorizada pelos jovens em seus depoimentos, mas também dotada de
sentidos e valores que emergem do cotidiano das pessoas.”
Além disso, a música tem papel fundamental também para a socialização da juventude nos
diferentes espaços sociais que ela está inserida, tendo tanta influência quanto outras instituições
sociais no pensamento crítico, nos gostos, costumes e tudo o que pode vir a caracterizar o que é a
socialização. Dentro disso, cabe ressaltar também que as identidades são diversas dentro desses
meios, musicais e midiáticos como um todo.

Levando em consideração os auxílios de outras referências acerca desse tema e experiências


compartilhadas com o grupo sobre o Rap, entendemos que tudo o que compõe a oralidade desse
gênero musical, ou seja, o repertório é construído de conhecimentos e vivências não valorizadas
pelo padrão escolar, considerando-o como um gênero sem credibilidade, empobrecido e sem
qualidade. Destacando a distância e falta de diálogo entre diferentes culturas. A partir dessa e de
outras referências observamos algumas vertentes importantes em que a musicalidade presente
auxilia no desenvolvimento de jovens e adolescentes, dentre essas, a ajuda na socialização dessa
mocidade.
Arroyo (2007, p. 15), afirma que: “A interação juventude e música popular tem sido foco de
interesse de diversas áreas tais como psicologia social da música, estudos de música popular,
história cultural, sociologia da música, entre outros”. Isso desde os anos 1950, período no qual a
indústria cultural iniciou sua rápida expansão.
Algumas vivências e pesquisas acerca destes pontos, afirmam que a musicalidade entre jovens e
adolescentes se dá pela forma de representatividade e reconhecimento das letras que as compõem
o que, segundo Grinspun (2007), se cria como relações mais igualitárias entre os jovens, que as
estabelecidas com os pais, a música tem esse papel de aproximação e, até mesmo, unificação de
grupos específicos.

2. Música, Juventude e Educação


Observando a formação cultural do jovem na sociedade sobre a relevância e a influência
da musicalidade dentro dessa formação, nota-se que é imprescindível para a construção
desses sujeitos o contato com a cultura da qual fazem parte por meio de tradições que
perpassam gerações, visto que a música como instrumento que estimula a criatividade e
implica na resistência de características, costumes e do próprio dialeto regional torna-se
impossível que repetições de músicas popular influírem somente na composição de novos
ritmos e canções, mas abrangendo também para a constituição de memórias, que através
dessas se tornam capaz de delimitar um marco ou uma vivência da época da qual foram
compostas.
Relacionando a observação da construção desses sujeitos inseridos no espaço regional
paraense é de priori conhecer os ritmos populares e regionais que compõem a música
paraense e como esses fazem parte do cotidiano dos jovens. O carimbó, o brega pop, o
tecnobrega e a guitarrada sendo gêneros musicais paraenses estão presentes desde sempre
nas mídias regionais, entretanto em âmbito pedagógico é comumente explorado o
carimbó por ser um ritmo que é considerado como manifestação folclórica do estado, o
brega pop ainda que visto juntamente com o tecnobrega dentro das abordagens didáticas
de formas parecidas pouco se é realmente exposto no do âmbito escolar, sendo
solidificados em locais de lazer, festas e meios midiáticos. Em relação a isso podemos
perceber a forma como a educação aborda ritmos de certa forma recentes mesmo que
reconhecidos como música regional ficam na maior parte do tempo distante da indagação
educacional. Como o artigo “A questão do popular na música da Amazônia paraense da
primeira metade do século XX” de Antônio Maurício Dias Da Costa, em que elucida a
dificuldade do reconhecimento de novos gêneros que por sua vez são marginalizados e
pouco submetidos a estudos tendo uma aproximação diferente aos jovens como discentes.

3. A Música Regional Paraense

O termo “cultura” mudou de forma significativa com o passar do tempo. Em sua


primeira definição do ponto de vista antropológico, feita por Edward Tylor, reunia de
uma só forma, a relação espiritual das comunidades e as realizações materiais, apontando
para todas as realizações humanas. Com as culturas, mudam também os processos de
identificação e o indivíduo que anteriormente tinha contato somente com uma forma de
cultura, com os avanços tecnológicos de imagem e comunicação têm um maior alcance o
que ocasiona a expansão de suas relações interpessoais do dia a dia ou através do
ciberespaço e a identidade surge ocupando os meios eletrônicos e com a globalização, a
comunicação da vida urbana.
O brega carrega essa evolução e seus intérpretes procuram manter sua essência, que traz
ritmos como o carimbó, siriá e guitarradas. No entanto, vários elementos são incluídos
nesse processo evolutivo e o que antes era um ritmo musical muito tocado na década de
70-80 como uma espécie de “pop romântico” tem que manter-se atual e para isso seus
artistas usam símbolos que transmitem a essência paraense, o ritmo e elementos cheios de
significados em seus figurinos, composições e etc. O avanço tecnológico possibilitou uma
conexão entre ritmos de diferentes culturas, que foram acrescentados ao brega
contemporâneo que recebeu influência caribenha e que dessa forma alcança um maior
número de pessoas através de plataformas que possibilitam sua reprodução de diferentes
locais do Brasil.
Com a evolução tecnológica pode-se dizer que as barreiras culturais foram ultrapassadas
e as informações sobre cultura, ritmo e música agora são disseminadas com maior
rapidez e de forma eficaz permitindo que a cultura nortista exerça influência em diversos
estados e até em outros países, colocando em evidência os ritmos que compõem a cultura
paraense. Com o acesso às redes sociais, plataformas e tecnologias pelas quais se
desenvolve coloca-se em evidência a subjetividade do indivíduo uma vez que a influência
do controle coletivo cai, em decorrência dos avanços dos meios de comunicação, por
exemplo.
No mais, as influências decorrentes do sistema capitalista em que a sociedade está
inserida são: o consumo exacerbado de produtos e serviços, anúncios e lançamentos no
mercado a todo o tempo, faz com que se obtenha grande poder de influência sobre as
pessoas e suas identidades. Ex: Tik Tok, Spotify, etc. Logo, o brega que antes era um
ritmo exclusivo do Pará, recebe as influências da evolução tecnológica e deixa de ser um
ritmo retrógrado para se tornar contemporâneo com a adição de novos elementos, sem
perder sua influência, tornando-se popular e sendo representado por artistas que trazem
em seus figurinos e canções sua cultura, dando notoriedade à música paraense.

Das periferias de Belém, já estabelecidas com o desenvolvimento da metrópole


promovendo um contraste social, e a partir do brega, gênero regional, inicia-se seu
subgênero denominado de “tecnobrega,” sua trajetória e características socioculturais
serão dissertadas no artigo intitulado “Por entre os palcos da ‘Festa de Aparelhagem’:
performances corporais, objetos tecnológicos e identidades juvenis ‘bregueiras” de
Miguel de Nazaré Brito Picanço e Rodrigo Marques Leistner, que para além de seus
conceitos técnicos de perfomance cultural e relações entre humanos e não-humanos
dentro das aparelhagens também irá tecer uma linha de pensamento e crítica
antropológica sobre a influência de tal gênero em relação ao público jovem, não somente
ao público da época que vivenciou as mudanças significativas de um gênero pra um
subgênero, mas ao público jovem dos tempos atuais que consomem essa produção
musical.
Para os autores, além de toda a relevância sociocultural local do tecnobrega, o que mais
tarde seria reconhecido nacionalmente, é relevante entender a partir de que meios se
iniciou o processo de influencia sobre o público que o consumia. Suas características
como: o uso de sons tecnológicos na melodia, as mensagens passadas pela letra, o modo
de dançar e de se vestir, estavam e estão ligados com esse processo, no qual o mesmo se
intensificou com o uso dos programas de rádio locais e a presença de tais músicas no
cotidiano do cidadão belenense, permeando assim todos os espaços sociais de Belém,
estabelecendo o tecnobrega como um gênero regional influenciador para o público que
consome e artistas que produzem e introduzem o mesmo em seus trabalhos musicais.

Referências

ARAÚJO, Antonio Aprígio Fernandes de. A argumentação no discurso de sujeitos aluno


do Ensino Fundamental: a construção da identidade regional mediada pelo gênero canção
nos estilos Música Popular Paraense e Tecnobrega. Orientador: Marcos André Dantas da
Cunha. 2019. 105 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional) -
Instituto de Letras e Comunicação, Universidade Federal do Pará, Belém, 2019.

ARROYO, Margarete. Escola, Juventude E Música: Tensões, Possibilidades E


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COELHO, Daniele. Juventude e educação: A música como influência no


desenvolvimento escolar e a utilização de fones de ouvidos entre jovens de 15 e 17
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COSTA, Antonio Maurício Dias da. A Questão do popular na música da Amazônia


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GUILHERME, João. RAP: A formação da juventude de periferia através das letras.


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MACHADO, Marcus Gabriel Magalhães. Juventude E A Produção De Sentidos: Uma


Análise De Recepção De Mensagens Musicais Na Juventude Paraense. Puçá: Revista de
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PICANÇO, M. D. N. B., & Lopes, J. R. "Os outsiders do brega: corporeidade, estilo de


vida e identidade bregueira em Belém, Pa." Urdimento, v. 2, n. 27, p. 136-153,
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PICANÇO, Miguel de Nazaré Brito; LEISTNER, Rodrigo Marques. Por entre os palcos
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SOUZA, Jusamara; DE FREITAS, Maria de Fatima Quintal. "Práticas musicais de jovens


e vida cotidiana: socialização e identidades em movimento." Música em perspectiva, v.
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