Abstract: In this article, I discuss the process of emergence and the huge
spreading of Tecnobrega. I also analyze its cultural and territorial
expansion, its interference in “traditional” local music and the
debates in news and artistic media caused by this coming out.
Finally, I characterize Tecnobrega as part of a large popular old mass
culture, originating in the socio-cultural hyper-margin of Belém do
Pará.
Esse panteão musical, que também tem uma história muito complexa
e remonta a debates anteriores sobre música popular no Pará, poderia ser
variável, dependendo da perspectiva do crítico que o descrevia. 16 Dentro
desse conjunto, algumas vezes, mesmo a música vista como “brega”
Territorialidades do tecnobrega
Esse modelo sem dúvida faz do tecnobrega, pelo menos na maior parte
da sua produção, uma música “marginal” dentro do cenário musical local
e brasileiro. Ora, se há o domínio de uma indústria cultural local,
NOTAS
controle (uma “nave”, como comumente se fala), um ou mais DJs, caixas amplificadas
muito potentes e de altíssimo volume, recursos variados de iluminação, adereços
tecnológicos e telões. São normalmente usadas para sonorizar as festas da periferia de
Belém, sobretudo as festas de tecnobrega ou simplesmente “festas de aparelhagens”.
Gozam de grande popularidade e os nomes das principais aparelhagens são bastante
conhecidos e cultuados pelos frequentadores dessas festas, ocorrendo inclusive o
aparecimento de fãs clubes. Nas últimas décadas a popularidade dos DJs de
aparelhagens os levou a apresentarem programas de TVs e rádios, assim como a se
tornarem celebridades conhecidas em toda a região. Para um detalhamento do
aparecimento das primeiras “rádios de subúrbio”, ainda em 1941, e suas
transformações históricas que derivaram no aparecimento das atuais aparelhagens,
verificar: COSTA, Tony Leão da. Música de subúrbio: cultura popular e música popular
na hipermargem de Belém do Pará. Tese (Doutorado em História Social) – Instituto
de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de
Janeiro, 2013. Para uma excelente análise do “circuito bregueiro” paraense e da cada
vez mais estreita associação entre “festas de aparelhagens” e o gênero musical
tecnobrega, conferir: COSTA, Antonio Maurício Dias da. A festa na cidade: o circuito
bregueiro de Belém do Pará. 2 ed. Belém: EDUEPA, 2009.
3 Ofício de Roberto Camelier, Diretor-gerente da Rádio Clube do Pará, dirigido ao
anterior publicado no site Ponto Zero, em 2011. Conferir: COSTA, Tony Leão da.
“Tecnobrega: crítica e preconceito”. Disponível em:
<http://www.pontozero.net.br/>. Acesso em: 17 mai. 2011.
disso, houve e há ainda um amplo debate que envolve muitos artistas dessa vertente
e o público em geral. Para certos grupos a palavra “brega” representaria um entrave,
uma dificuldade, para que se chegasse ao sucesso desse gênero musical em termos
nacionais. A forma que a lei foi redigida em certa maneira expressa esse debate:
preferiu-se o termo tecnomelody ao tecnobrega. Meus objetivos neste artigo não me
permitem adentrar nesse assunto, mas é necessário que se diga que há uma série de
termos utilizados pelos próprios “bregueiros” para se autodefinirem. Isso é verificável
inclusive pela criação de um “glossário bregueiro” escrito pelo guitarrista lambadeiro
e produtor cultural Manoel Cordeiro, pelo cantor e compositor Tonny Brasil e pelo
autodenominado pesquisador de música brega Carlos Alberto Aguiar. Tal glossário
apresenta os vários nomes possíveis de serem encontrados no mundo tecnobrega e
naquilo que é visto como subgêneros do mesmo como, por exemplo, “Eletro
Melody”, “Brega Melody”, “Brega Dance”, “Brega Calipso”, “Brega Pop” e assim por
diante. Sobre essa questão, conferir: AGUIAR, Carlos Alberto; CORDEIRO, Manoel;
BRASIL, Tonny. “Glossário bregueiro - 1990-2013”. Disponível em:
<http://www.bregapop.com/servicos/historia/314-glossario/34-glossario-
bregueiro-carlos-alberto-aguiar-manoel-cordeiro-e-tonny-brasil>. Acesso em: 15 abr.
2013. Tendo em vista que a palavra tecnobrega me parece a mais popular aos
apreciadores e detratores do gênero em Belém, e é, portanto, o termo nativo mais
recorrente, faço uso dela para me referir a esse conjunto mais complexo e amplo da
música popular.
12 PINTO, Lúcio Flávio. “A poluição tecnobrega”. Disponível em:
<http://www.lucioflaviopinto.com.br/?p=622>. Acesso em 10 jan. 2011.
relação com a música bossanovista e a MPB, conferir: COSTA, Tony Leão da. Música
do Norte: intelectuais, artistas populares, tradição e modernidade na formação da
“MPB” no Pará (anos 1960 e 1970). Dissertação (Mestrado em História Social da
Amazônia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do
Pará, Belém, 2008.
17 Essa observação tem por base não exclusivamente os artigos citados aqui, mas
1.
34 JURANDIR, Dalcídio. Belém do Grão-Pará. Belém: EDUFPA; Rio de Janeiro:
muito mais uma categoria atribuída por agentes externos às populações rurais e
periféricas urbanas da Amazônia. Não se trata propriamente de um termo de
autorreconhecimento por partes das populações locais. Apesar disso, o usarei aqui de
maneira genérica para me referir aos moradores mestiços do campo, das cidades
interioranas e das periferias urbanas de Belém. Para detalhes sobre os usos dessa
categoria, conferir: LIMA, Deborah M. “A construção histórica do termo caboclo:
sobre estruturas e representações sociais no meio rural amazônico”. Novos Cadernos
NAEA, Belém, v. 2, n. 2, p. 5-32, dez. 1999. RODRIGUES, Carmem I. “Caboclos
na Amazônia: identidade na diferença”. Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 9, n. 1, p.
119-130, jun. 2006.
40 SALLES, Vicente. O negro na formação da sociedade paraense. Belém: Paka-Tatu, 2004;
tecnobrega, por indivíduos que não apreciam esse tipo de música. É um termo correto,
que faz parte do cotidiano da cidade.
46 A FUNTELPA (Fundação de Telecomunicação do Pará) é a rede de TV e rádio
em: COSTA. A festa na cidade; COSTA. “Notas sobre o ‘brega’ no Pará”; e, COSTA.
Música de subúrbio. Para mais detalhes sobre o documento conferir: NEVES, Júnior.
Brega: de 1980 a 2005: do Brega Pop ao Calypso do Pará. Disponível em:
<http://www.bregapop.com/servicos/historia/327-jr-neves/58-do-brega-pop-ao-
calypso-do-para-jr-neves>. Acesso em: 3 abr. 2010.
50 Já citei acima alguns desses autores e seus respectivos trabalhos sobre a música
brega. Outras produções ainda não citados aqui são: AMARAL, Paulo Murilo
Guerreiro de. Estigma e Cosmopolitismo no Tecnobrega de Belém. Disponível em:
<http://www.overmundo.com.br/overblog/estigma-e-cosmopolitismo-no-
tecnobrega-de-belem-2>. Acesso em: 15 abr. 2013; e, COSTA, Tony L. “Carimbó
e brega: indústria cultural e tradição na música popular do norte do Brasil”. Revista
Estudos Amazônicos, Belém, v. VI, n. 1, p. 149-177, 2011.
51 Depoimento de Felipe Cordeiro, Belém, 6 nov. 2012.
52 Idem.
53 É importante considerar que essas mediações entre os mundos da cultura massiva
apenas nas apresentações ao vivo, pois o grupo ainda precisava da autorização dos
autores para que o fragmento fosse definitivamente incluído em uma gravação final.
56 Conheço duas versões da música: uma ao vivo gravada em uma apresentação no
bar Coisa de Negro em 2013 e uma gravação de estúdio, a mim cedida por Rodrigo
Ethnos, um dos vocalistas da banda. Obviamente que a versão ao vivo apresenta
algumas variações. Nela as guitarras são mais evidentes e no fim da música o
andamento do tecnobrega se transforma em um quase punk rock. Segundo Rodrigo
Ethnos a autoria da música é coletiva, sua com a participação dos demais integrantes
da banda. Para a versão ao vivo, conferir: Guamá sound system. Disponível em:
<https://soundcloud.com/lauvaitepenoso/guam-sound-system>. Acesso em: 10
jan. 2014.