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FACULDADE DE TECNOLOGIA DO IPIRANGA

NOME DO CURSO

NOME DO DISCENTE

EVENTOS COMO PROMOTORES CULTURAIS DA CIDADE DE SÃO PAULO:


CULTURA SOUND SYSTEM

SÃO PAULO
2023
SUMÁRIO

TEMA...........................................................................................................................3
JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 4
OBJETIVOS................................................................................................................ 5
REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................................6
METODOLOGIA DO ESTUDO.................................................................................15
CRONOGRAMA........................................................................................................16
TEMA

As cidades são consideradas como sendo espaços onde há a prevalência de


encontro da diversidade, sendo assim a apresentação da possibilidade de encontro
de diversos agentes sociais e códigos/normas que num determinado cenário
permitem que ocorram processos de construção, desconstrução e reconstrução.
Isso porque num mesmo espaço urbano há uma série de cidades sendo
construídas, estando algumas mais ou menos visíveis a uma determinada parcela
da comunidade nos arredores e projetos que, por vezes se mostrem antagônicos, se
complementam e influenciam na reprodução e no processo ocorrido na vida
cotidiana da região (MOREIRA NETO, 2011).
Os coletivos culturais são, há tempos, expressões efervescentes dos
movimentos sociais que acompanham a contemporaneidade, onde termos ainda não
possuíam definições consensuais mas propunham que o coletivo cultural fosse um
movimento independente e desierarquizado. Nesse condicionamento, a formação de
grupos por pessoas unidas por interesses comuns desenvolvem ações de cultura de
oposição através de suas afinidades, como no caso da cultura Sound System.
A cultura Sound System nasceu na Jamaica em meados da década de 1950,
onde eram realizados encontros nas ruas a fim de partilharem o consumo de várias
vertentes do reggae, onde acabaram por tornar-se uma alternativa para os que não
tinha condições de acessarem festas em clubes fechados dada a vulnerabilidade
econômica e social observadas. Embora trate-se de músicas que possuem vieses
positivos, são canções e letras que trazem não só amor, mas também protesto sobre
as desigualdades e as discrepâncias observadas, sendo um movimento que se
espalhou e enraizou-se em muitos locais, sendo o Brasil um dos grandes
representantes e focos da disseminação da cultura (D’ANDREA, 2013).
JUSTIFICATIVA

A análise da influência da Cultura Sound System vai além da criação de uma


vertente musical, mas também à representatividade trazida pelos grupos e pelos
adeptos do movimento. Além de serem responsáveis pela solidificação de
determinados grupos musicais e pela criação de outras tantas vertentes, o seu papel
é muito mais social do que musical, já que a sua popularização fez com que
houvesse fornecimento de voz e expressividade à quem era silenciado e excluído de
uma série de ações e condicionamentos dada as condições de vulnerabilidade
passadas. Sendo assim, o movimento fez com que houvesse a união e o surgimento
de um novo grupo pautado nessa ideologia e na criação de uma identidade.
OBJETIVOS

O objetivo do estudo consiste em analisar o surgimento e a disseminação da


Cultura Sound System, tendo como objetivos específicos:

 Identificar o contexto da criação do movimento com base na relação


histórica entre a vulnerabilização das comunidades e os movimentos sociais de
ascensão e promoção da cultura na sociedade;
 Analisar o contexto da expansão do movimento e o rompimento de
barreiras e a influência ao longo da história.
 Analisar as questões mercadológicas que envolvem os eventos e os
impactos gerados na criação, no público e nos próprios eventos.
REVISÃO DA LITERATURA

Os primeiros sound systems surgiram no fim da década de 1950 onde, à


época, as festas e bailes eram dominadas por bandas que faziam apresentações de
outros estilos como o R&B americano ou o mento, que foi o primeiro ritmo jamaicano
registrado (D’ANDREA, 2013). Assim que o formato em questão passou a ser
inviável aos produtores por conta das questões econômicas, novos foram surgindo
para o suprimento da demanda.
Sound System pode ser compreendido como um processo de aparelhagem
sonora, podendo ela ser caseira ou profissional, originada na Jamaica e que possui
significância que vai além dos equipamentos. Como descrito pela Dubdem (2022, p.
02):

Na Jamaica, sound system é um evento cultural de rua, clubes, praias ou


qualquer lugar onde seja possível ligar as caixas de som e tocar música,
principalmente o reggae. Como um samba de roda brasileiro em que amigos
se juntam numa mesa de bar e sai som até com caixa de fósforo. No reggae
é um pouco diferente e a festa não é exatamente com banda, mas uma
discotecagem que é conduzida pelas equipes de som, com
o selector (seletor das músicas); DJs e MCs, que animam a pista de dança
e improvisam no microfone quando entra um dub (versão instrumental);
além da colaboração de toda equipe de técnicos.

O seu surgimento ocorreu de modo natural nas celebrações que ocorriam nas
periferias da capital jamaicana Kingston, sendo tido como um movimento subversivo
que prezava pela condicionalidade e emancipação no viés artístico das expressões
de arte popular vindas de raízes africanas (MOREIRA NETO, 2011). Já em meados
da década de 1970, a cultura do gueto era tida como uma ameaça à sociedade
dadas as vulnerabilidades e demonização de uma parcela da população, que
buscou meios de reivindicar seus direitos e agrupar seus semelhantes em prol de
um mesmo ideal.
O reggae, que era um dos ritmos mais marginalizados, chegou a ter sua
reprodução proibida, sendo proibido nas rádios já que possuía caráter de
potencialização do que estava sendo reivindicado, fazendo com que a Sound
System se tornasse não só a voz do ritmo mas de uma parcela da população que viu
nessas festas a possibilidade de manifestação de seus ideais, ainda com as
represálias pelas autoridades policiais nos atos (D’ANDREA, 2013). Com o
crescimento visto, o ritmo foi se consolidando como a música popular no pais,
buscando assim meios de se estabelecer e, após a internacionalização do reggae
através de artistas como Jimmy Cliff e Bob Marley por exemplo, os movimentos e o
ritmo em si ganharam notoriedade e rompeu barreiras ao redor do mundo.
No Brasil, mais especificamente em São Paulo onde houve o início do
movimento, foi possível observar um rápido e expressivo desenvolvimento da cultura
sound system, tendo alcançado um espaço cultural com maior expressividade em
meados de 2010 através da participação popular e do fomento à cultura dos
municípios mais periféricos da cidade. As equipes de sound system da região
passaram então a fortalecerem-se e iniciarem suas expansões nas periferias das
cidades, assim fazendo com que ocorresse uma territorialização (PRESTA, 2015).
Os indivíduos que participavam dessas festas de sound system deslocavam-
se entre as comunidades/favelas a fim de participarem dessas reuniões,
compartilhando o momento e seus conceitos e ideais com outros que tinham a
mesma vertente de reivindicação que eles. A promoção do som é uma das variáveis
mais relevantes nesse processo, já que, por meio de ferramentas e redes sociais,
por exemplo, é possível encontrar uma grande quantidade de páginas e grupos
relacionados aos sistemas de som compostos no sound system, bem como a
promoção desse som e dos ideais que estes carregam (D’ANDREA, 2013).
Uma outra condição que deve ser considerada dá conta do trabalho
colaborativo incorrido entre essas equipes, sendo esse trabalho conjunto um dos
pilares e das mais genuínas manifestações do reggae e do movimento em si, sendo
celebrado não só através desses atos conjuntos mas também, como já citado, na
visitação e na integração entre as comunidades na realização desses eventos. O
público que busca e visita esses eventos percorre toda a cidade até chegar às
comunidades aos quais na data em questão será realizado o evento (D’ANDREA,
2013).
A migração pendular, que é uma condição característica do movimento,
expressa qual a produção desse espaço e qual a modulação de reconhecimento dos
participantes de tais eventos. Presta (2015, P. 11) elucida que:

No processo de reconhecimento de um mesmo código pelos indivíduos em


relação ao espaço-símbolo, o território torna-se: suporte e produto de
formação de identidades individuais e coletivas, despertando sentimentos,
de pertencimento e de especificidade. As representações sociais, imagens,
símbolos e mitos projetam-se e materializam-se no espaço, transformando-
se em símbolos geográficos, fornecendo referências e modelos comuns nos
atores sociais e cristalizando uma identidade territorial.

A potencialização do sound system segue a reflexão identificada na cidade de


São Paulo e a construção dos conceitos e características das periferias. Isso porque
em grande parte das comunidades há códigos culturais e simbólicos específicos
para o trato entre os pertencentes àquela região ou grupo, possibilitando que nesses
eventos haja o intercâmbio de culturas e da economia das próprias favelas já que,
desde o início, por se tratar de um baile com acesso gratuito, a receita é conquistada
através da comercialização de, por exemplo, bebidas ao longo do trecho de
realização da festa (MOREIRA NETO, 2011)

Surgimento do Ritmo

Como elucidado por Santos (2005), a primeira vez que o reggae apareceu no
Brasil foi através da canção de Caetano Veloso, obra gravada no período de exílio
vivido pelo cantor na época da Ditadura Militar. Ao voltar ao Brasil e se dirigir à uma
apresentação, foi impedido pela fiscalização e obrigado a explicar a origem e o
significado do termo reggae utilizado na canção e, na condição em questão, a
palavra não constava em qualquer dicionário, sendo assim uma dificuldade para o
cantor provar que o termo não significava algo obsceno ou então subversivo.
A origem do reggae enquanto ritmo musical surgiu na Jamaica, país
conhecido por ser um dos precursores das lutas anticolonialistas e, como descreve
Casteels (2006), à época da colonização, o país possuía um exército revoltoso que
pressionaram para o fim da escravidão nas Antilhas e, diferentemente dos
quilombolas brasileiros, obteve-se sucesso. Santos (2005, p. 22) cita que:

O episódio de Palmares só teve equivalente na I Guerra Maroon da Jamaica


(1655-1739) e na Guerra dos Saramaca no Suriname (1685-1762). Nesses
dois casos, entretanto, os quilombolas conseguiram vencer as tropas
repressoras, forçando autoridades e senhores a reconhecerem a liberdade
dos grupos revoltosos.

Enquanto um movimento criado, o pan-africanismo possuía estratégias


voltadas ao progresso da raça negra, cuja radicalização e universalização dessa
unidade pan-africana englobou todo o mundo. Através desse movimento, foi
possível a criação de uma Associação Universal para o Melhoramento Negro com a
intenção de gerarem a concretização do ideal de retorno coletivo junto ao continente
africano, cuja associação esteve presente em dezenas de países, chegando assim a
atingir milhões de colaboradores com o movimento.
Conforme descreve Casteels (2006), na década de 1960 a Jamaica pode
observar um grande alvoroço relacionado ao surgimento e busca de valorização da
cultura e da consciência política, atingindo a sua independência com uma incipiente
industrialização e o êxodo rural, onde as favelas passaram a se formar no centro,
cuja população rural passou a trazer consigo os elementos da cultura do campo e,
através da assimilação das ondas de rádio, o jazz passou, desde o início do século
em questão, a misturar-se com outras obras de origem caribenha visando criar seu
próprio ritmo. Sobre essa condição, Santos (2005, p. 33) cita que:

A mistura do Mento com o ritmo blues, temperada pelas influências


deixadas pelos tambores dos tempo da escravidão, originou ska durante a
década de 60. Com instrumental Alegre agitado, as bandas de ska
animavam os navios de turistas que visitavam a Jamaica.

Assim, o reggae tem relação direta com a resistência da população jamaicana


às condições observadas e sofridas, uma vez que o governo jamaicano exerceu
uma forte pressão sobre as rádios e, como forma de fuga do período de repressão,
os proprietários das lojas de discos passara, então a montar sistemas de som em
veículos com a intenção de promover a arte criada e vinda sobretudo das regiões de
Nova Orleans e Miami, disseminando a música através de encontros realizados com
grandes quantidades de pessoas reunidas e, mercados ou quintais de residências
na região. Os sons jamaicanos, os sound systems, foram os impulsionadores do
ritmo dentor e fora do país, estabelecendo-se em pouco tempo e virando parte da
cultura da Ilha.
Com o passar do tempo, as influências do rhythm e do blues americano foram
sendo deixadas de lado, e as batidas de ska passaram a dar origem a novas
influências rítmicas e assimiladas, nascendo assim um novo ritmo, denominado de
Rocksteady (MOREIRA NETO, 2011). Esse ritmo, que já pode ser tido como mais
urbano que os demais, tinha a oportunidade de apresentar os artistas jamaicanos e
fazer com que houvesse a possibilidade de mostrara consciência social e política
desses artistas, já que as letras possuíam um cunho social e político muito claro,
onde os artistas mostrava, a realidade jamaicana como a fome e a miséria em partes
da comunidade, onde o desemprego e as perseguições sofridas pela população
negra por parte da política eram incisivas, sobretudo nas regiões das favelas.
A primeira vez que o termo reggae surgiu no país foi no ano de 1967, sendo
considerado um vocábulo de origem caribenha que possuía um significado
relacionado à vida do povo mas que admitia, por exemplo, a exemplificação de alfo
relacionado à raiva ou desigualdade, ainda que não haja qualquer conclusão acerca
do assunto (MOREIRA NETO, 2011). Assim, diferentemente do que havia sido
pensado no período de ditadura brasileiro, não havia significado específico ou
tradução literal do tempo, conforme descreve Santos (2005, p. 10):

É no reggae, portanto, que se encontra toda a expressão social, cultural e


política da Jamaica, através de seus compositores e cantores que se
tornaram profetas, críticos sociais e líderes espirituais do país,
transformando-a numa espécie de movimento messiânico

Territorialidade do movimento em São Paulo

O desenvolvimento da cultura Sound System teve uma rápida progressão no


estado e, por consequência, o movimento avanço e permitiu a obtenção de mais
espaço na cultura a partir do ano de 2010. Por meio da participação e das
conquistas dos programas de incentivo à cultura, as equipes de sound system se
fortalecem-se no seu aumento de volume e assim buscam a expansão ante as
periferias da cidade, gerando assim uma territorialização do movimento (MOREIRA
NETO, 2011)
Essa condição pode ser observada por conta da caracterização dos sistemas
tidos como as periferias da cidade, onde boa parte delas tem a construção de
adoção dos mesmos códigos, culturas e simbologias, como descrito por Santos
(2005, p. 33)

No processo de reconhecimento de um mesmo código pelos indivíduos em relação


ao espaço-símbolo, o território torna-se: suporte e produto de formação de
identidades individuais e coletivas, despertando sentimentos, de pertencimento e de
especificidade. As representações sociais, imagens, símbolos e mitos projetam-se e
materializam-se no espaço, transformando-se em símbolos geográficos, fornecendo
referências e modelos comuns nos atores sociais e cristalizando uma identidade
territorial.

Evidentemente os códigos e símbolos, bem como a formação da localidade


que levou a nomenclatura de periferia comum no imaginário ´paulistano já estavam
pré-estabelecidos, sobretudo pela cultura hip-hop que passou a fazer parte da
industrial cultural que já estava estabelecida, fazendo com que a cultura sound
system se aproveitasse e também herdasse o território. Esse território, sob a ótica
da identidade, permitiu que se analisasse com tais identidades e as suas formações
ante do complexo processo de vida urbana que as populações que sofre segregação
passam (CASTEELS, 2006).
O movimento sound system, então, aproveitou-se dessa maximização e
dessa condição segregada para que fortificasse seu discurso e seu posicionamento
de luta contra o colonialismo, bem como a expansão e maximização de movimentos
culturais tidos como adjacentes a cultura do país, como o hip-hop e agora o reggae
se mostravam (MOREIRA NETO, 2011). Assim, é possível identificar a condição de
construção de um padrão de comportamento e cultura dentro das periferias da
cidade, permitindo que haja a circulação efetiva de pessoas e, sob esses códigos,
aquele envolvido na cultura é reconhecido pelo direito de pertencer e
usufruir/colaborar com esse território.
Conforme descreve Casteels (2006), num determinado momento da história a
auto atribuição de indivíduos periféricos passou a ser usado com maior frequência
pela classe trabalhadora, fundamentalmente formada pelos jovens moradores da
periferia. Essa condição possui relação direta com a auto estima do indivíduo que
está na periferia, sendo essa uma questão observada dentro do movimento sound
sustem, já que os frequentadores não estão limitados somente ao movimento
formado/alocado em seu bairro, mas sim sendo indivíduos transitórios, fazendo com
que o território se torne pertencente a diversos grupos e diversos bairros, tornando
assim uma comunidade que rompe as barreiras geográficas e de localização.
Conforme descrição de Santos (2005), é possível que se indique três principais
características nos indivíduos que estão alocados na periferia, sendo a condição de
que o indivíduo se assume como periférico, tem orgulho de sua condição e age
politicamente conforme essa sua condição.
As leis de movimentos resultaram na formação e propagação do sound
system que, após sua organização e estruturação, passou a agir de modo mais
organizado e ordenado, tendo a sua fundamentação pautada na condição de
fomento a cultura dentro do estigma e perfil periférico criado. Porém, é possível
identificar uma condição contraditória relacionada ao movimento do Estado
relacionado à disseminação de distintas opiniões a respeito do movimento e de seus
adjacentes (MOREIRA NETO, 2011).
Se numa face há uma parcela do orçamento cultural que deve ser destinado à
cultura sound system e que está enraizada na periferia das cidades, por outro
observa-se ações do Estado com a intenção e as ações de repressão a esse
movimento ante essas áreas excluídas, muito em razão da sua condição de crítica
política (CASTEELS, 2006). Segundo relatos de frequentadores, não raramente
observa-se ações de truculência por parte do Estado na figura da polícia, mostrando
que o sistema pode se apresentar cruel por obrigar uma classe artística a mobilizar-
se na periferia e receber do Estado os fomentos ao mesmo tempo em que ele busca
controlar essa cultura, refletindo assim na forma que o movimento adquiriu e nas
observações de violência e truculência que o Estado aplica acerca das regiões
periféricas.

O lugar do Sound System

As festas realizadas nas periferias só ocorrem graças aos laços de


socialização tecidos entre as relações cotidianas dos bairros populares e a
integração de movimentos e culturas. Se a territorialidade do movimento sound
system é marcado pelo que é vivido e pela sua simbologia, a mobilização do coletivo
se faz necessária para que haja a realização das festas ou para a formação de um
coletivo que se alinha à vivência cotidiana e ao conceito de lugar onde, conforme
Santos (2005, p. 33) elucida:

As relações de vizinhança constituem um caso particular de “redes do


cotidiano”. Elas são ainda muito condicionadas pelas diferenças entre
classes sociais. Nos bairros populares, a limitação de oportunidades, a
pobreza e o isolamento relativos, a insegurança e o medo acabam por
fortalecê-las e torná-las parte fundamental da trama de relações familiares.
Nos bairros de classe média, as relações entre vizinhos são mais seletivas e
pessoais e, na maior parte dos casos, o maior poder aquisitivo faz diminuir a
necessidade de ajuda mútua e aumentar a necessidade individual de
espaço.

A apropriação do movimento sound system por meio da juventude paulista,


em certo ponto, demonstra que o diálogo entre o global e o local são possível e
permissíveis onde a rua, enquanto ambiente público, pode destacar-se no processe
de apropriação, aproximação e maximização do movimento (MOREIRA NETO,
2011). A solidariedade, a sociabilidade e o estreitamento de laços de vizinhança
nesses bairros possuem o objetivo de potencializar a realização dos eventos e a
formação/fortificação do coletivo, já que:

"Parece, no entanto, que ‘lugares’ existem e persistem nas ‘brechas’


metropolitanas, sobretudo nas áreas populares da cidade” (SERPA, 2011a,
p.23). Nos bairros populares das metrópoles capitalistas são os moradores
os verdadeiros agentes de transformação do espaço. Eles se articulam em
“rede”, não em uma rede única, mas em redes superpostas" (SERPA,
2011b, p.98)

Por meio desse local e da consciência relacionada ao pertencimento deste


local é que os jovens de periferia, quando ingressam no movimento, tendem a
adquirir uma maior consciência de mundo. Os fatores históricos e culturais possuem
uma grande parcela de contribuição nesse fenômeno, sendo fundamentados nas
experiências marcadas pela prática do cotidiano e sobre os vínculos afetivos que
cada lugar apresenta e, ainda que a periferia paulistana tenha “a mesma linguagem”,
cada coletivo se articula e se orienta de um modo, expressando-se nos espaços
ocupados pelas festas e adquirindo suas próprias raízes.

A propagação da indústria musical e dos eventos

Com a chegada dos meios digitais e formas de propagação da música e da


informação, as mídias e as festas foram se expandindo e ganhando espaço nas
comunidades, atingindo cada vez mais uma parte do público que, em condições
gerais, não teriam conhecimento e acesso a esse tipo de som e de evento. Isso se
deu muito em função da distribuição digital das músicas e da produção cultural como
um todo, como as plataformas de streaming de áudio e vídeo, além das redes
sociais para a melhoria da comunicação (D’ANDREA, 2013).
Com a internet e a utilização dos bancos de dados e formação de algoritmos
nas plataformas a decisão sobre o que escutar passou a ser do próprio consumidor
e, através de uma forte divulgação em mídias sociais, a busca por artistas e pelos
eventos dessa natureza aumentaram consideravelmente (PRESTA, 2015). Segundo
essa condição, D’Andrea (2013, p. 17) traz a respeito do mercado aberto:

A descoberta ocasional pode acontecer a qualquer hora e frequentemente


surpreende o ouvinte. É provável que aconteça de forma passiva, ao
escutar um artista desconhecido, uma playlist nova, ou até mesmo no dia a
dia, ao ouvir na rua, no rádio ou na televisão. Este fenômeno é chamado de
serendipidade (Merton; Barber, 2006), termo que descreve a sensação
agradável de fazer descobertas bemsucedidas por acidente ou acaso – que,
na verdade, não acontecem por acaso, mas são condicionadas pelo
algoritmo e por ações passadas do utilizador.

Com os meios digitais, a regra passou a se alterar na cena musical analisada,


gerando assim uma expansão do conceito e conhecimento ante a cultura e sobre os
eventos e toda a trajetória. (Presta, 2015, p. 10) cita que:

Tudo tem espaço para exposição na Rede, sem limite de prateleiras para os
80% restantes. Como a navegação entre as páginas acontece de forma não
linear – através de um site de busca chega-se direto no produto interessado
– também não existem regras para vitrines. Os produtos de nicho começam
a ganhar relevância e a lógica dos 80/20 se inverte. O mercado de nicho
favorece o artista e a comunidade independente que representa a maior
parte da produção musical do país, mas não ganhava relevância pela
limitação de distribuição geográfica. Em uma plataforma digital, ele soma
pela primeira vez público descentralizado que antes não teria como alcançar

As movimentações nas redes sociais e nas plataformas serviram como


termômetros para o fomento do mercado gerado pela cultura sourd system, que traz
direta relação com as questões sociais e de busca pela expansão e quebra de
barreiras. Quanto ao papel da internet, D’Andrea (2013, p. 13) menciona que:

O avanço da internet e a popularização da banda larga possibilitaram uma


revolução nos modelos tradicionais de varejo, podendo oferecer uma
variedade e quantidade de produtos de forma muito mais ampla, através da
distribuição digital, o que culminaria em uma “economia de abundância”, ao
contrário da “economia da escassez”, limitada pelo espaço físico nas
prateleiras. Esse fenômeno é denominado cunhado “Cauda Longa”, no livro
homônimo de Chris Anderson. Esta obra trata do “afastamento do foco em
alguns hits pouco numerosos (produtos e mercados de tendência
dominante), no topo da curva de demanda, e avanço em direção a uma
grande quantidade de nichos na parte inferior ou na cauda da curva de
demanda. Numa era sem as limitações do espaço físico nas prateleiras e de
outros pontos de estrangulamento da distribuição, bens e serviços com
alvos estreitos podem ser tão atraentes em termos econômicos quanto os
destinados ao grande público” (ANDERSON, 2006). A limitação do espaço
nas prateleiras do varejo físico obrigaria os varejistas a manter, em seus
estoques, apenas os produtos que vendam mais, os chamados hits.

Com relação aos festivais, a oferta dessas opções e o fomento desse


mercado servem de filtro para que grandes gravadoras e patrocinadores, além de
empresas interessadas no meio musical possam gerar a identificação dos
potenciais, além do fomento do comércio na realização desses eventos,
beneficiando toda a comunidade e envolvidos (D’ANDREA, 2013). Assim, tanto
artistas quanto a comunidade possuem capacidade e escalonar cadeias comerciais
através de novas oportunidades de negócios, seja na comercialização em eventos
ou no caso dos artistas na possibilidade de aumento das oportunidades de
demonstração do trabalho, sendo assim caracterizados pelas entradas de novos
players no segmento do mercado cultural geral.

METODOLOGIA DO ESTUDO

O estudo em questão será realizado através de levantamento bibliográfico


com o desencadeamento de pesquisa descritiva de caráter qualitativo. Pesquisas
descritivas têm como característica realizar a análise de dados e acontecimentos do
meio físico sem a intervenção ou participação do pesquisador, como as pesquisas
de opinião ou relacionadas ao mercado, seja ele financeiro ou de consumo. Dessa
forma, sendo determinado o objeto de estudo de população ou fenômeno ou, então,
o estabelecimento de relações entre variáveis. São incluídas nesse grupo as
pesquisas que tem como objetivo levantar as opiniões e atitudes de uma população.
CRONOGRAMA

ATIVIDADES Jul Ago Set Out Nov Dez


Entrega de
anteprojeto X
Levantament
o de dados X X
Orientação e
elaboração X X
Orientação e
Revisão X X
Prévia da
apresentação X
Entrega das
03 cópias X
Apresentação
X
REFERÊNCIAS

DUBDEM. Sound System: essências, potências e resistências. Disponível em:


https://dubdem.com.br/soundsystem. Acesso em: 08 jul. 2022

D’ANDREA, T. A formação dos sujeitos periféricos: cultura e política na periferia de


São Paulo. Tese (doutorado em sociologia). São Paulo, Universidade de São Paulo,
2013a.

PRESTA, Gustavo Antoniuk. Transgressão e Resistência nas estéticas do


Rastafári. Revista Ciclos, Florianópolis, V.2, N. 4, Ano 2, Fevereiro de 2015.

MOREIRA NETO, Euclides Barbosa. O poder simbólico das radiolas de reggae


na cultura maranhense. Dissertação (Mestrado em Comunicação), 2011.

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