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MEDEIROS, Abda de Souza. Cosmologias do Rock em Fortaleza.

“Nos anos 1980, na falta e espaços sociais mais adequados que permitissem a expressão das
relação estabelecidas no espaço simbólico por eles construído, os ‘metaleiros’ começaram,
então, a ocupar em bairros ‘populares’ da cidade de Fortaleza clubes como o Secai e o Círculo
Operário onde se configuraram os primeiros shows de rock que na época não se definiam
como ‘punks’ nem como ‘metaleiros’. Quem transitava por esses locais assistia a ‘competições’
onde os participantes imitavam cantores e bandas como Robert Plant e Ramones, e recebiam
como prêmio guitarras de papelão, conforme relata Amaudson Ximenes, presidente da ACR.
Assim, os principais protagonizadores eram bandas covers, como por exemplo, a banda
Ramortes (cover da banda Punk americana Ramone). (P21)

“[...] a Associação do Rock surge em Fortaleza agregando vários grupos de rock, entre eles os
‘metleiros’, como também inspirando na formação de bandas e construindo uma plateia
significativa que, nos shows, parecem assustar e/ou desprtar por mio de elementos que,
posteriormente agregados de forma a constituírem uma totalidade, caracterizam a figuração
simbólica e social que vivenciam.” (p21)

“[...] Na pesquisa anterior, cujo recorte foi o estilo corporal apresentado pelos ‘metaleiros’ da
ACR, constatei que o corpo é elemento imprescindível nas apresentações. O uso da cor preta,
dos longos cabelos, das correntes de metal e dos movimentos que realizam (tanto as bandas
como a plateia) se configuram como símbolos de identificação e diferenciação do grupo em
relação a outros grpos juvenis. Há uma atenção especial na caracterização do corpo nos shows.
Talvez ele seja um dos elementos mais visíveis nos shows (Medeiros, 2004) pelo fato de que é
pelo corpo que se atingem as sensações e o extase que as vivencias grupais proporcionam”
(p28)

“[...] seja participando como plateia ou como banda, os eventos de Metal não podem ser
compreendidos por si mesmo, mas, explicam-se muito mais por aquilo que eles proporcionam
para cada individuo que os frequentam.” P. 36)

“As trocas efetuadas no momento dos intervalos têm suas teias de significados construídas a
partir de um olhar que não seja exclusivamente financeiro. A troca simbólica é aqui, muito
mais relevante para os frequentadores, pois, por meio dela, eles conhecem novos lançamentos
no universo Metal, estabelecem contatos com organizadores, integrantes de bandas e lojista
que integram o circuito do rock na cidade e, além disso, os participantes que visitam a
‘banquinha’ reforçam para si mesmos os laços indentitários que estabelecem com o estilo de
vida pelo qual fizeram opção (Maus, 1974).” (P46)

“[...]A questão é que o que move essa relação de consumo e trocas que não se encontra fora
do modo capitalista, mas também não o segue à risca, é que a estrutura de funcionamento
para produção, divulgação e consumo nos shows é buscada dentro da visão de que o universo
por eles criado, denominado underground, é um meio (...) onde se negocia ‘ espaços e sentidos
no campo da luta cultural, entendida como uma luta pela manutenção/conquista da
hegemonia, entre classes dominantes e subordinadas [...]” (p46-47)

“[...] o underground é a opção de produção, divulgação e consumo nos eventos onde a


intensidade do círculo produtivo não se dá de acordo com as regras de investimento e
obtenção de lucro, sugeridas pelo modo de produção capitalista.” (p37)
“[...] algumas instituições que realizam shows de Metal pela cidade, como a ACR, por exemplo,
sentiram-se prejudicadas com a baixa frequência do público em seus eventos e o desprestígio
para com as bandas locais, formando-se, assim, uma frente contra os shows covers por meio
de mensagens críticas que eram divulgadas em seus eventos, conforme presenciei em shows
realizados pela Associação do Rock na cidade.” (p57)

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