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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

LAIZA DA ROCHA ARAÚJO


705.103.294-11

LAZER E SOCIEDADE: UM OLHAR PARA AS REPRESENTAÇÕES DE EVENTOS


SOCIOCULTURAIS NOS CLUBES AROEIRENSES (1990-2004)

LINHA DE PESQUISA I – CULTURA E CIDADES

Projeto de pesquisa apresentado ao


Programa de Pós-Graduação em História
para seleção do curso de mestrado em
História, na linha de pesquisa Cultura e
Cidades.

Campina Grande – PB
2020
Resumo: O projeto que segue para pesquisa tem por objetivo analisar como
configuravam-se as festas acontecidas em dois clubes da cidade de Aroeiras/PB, o
Centro Cultural Recreativo Aroeirense e o Clube Municipal, no período que vai de 1990
a 2004. Busca-se avaliar primordialmente as relações socioculturais, entendendo estes
espaços como lugares de sociabilização da cidade, pensando quem frequentava, quem
realizava, como se davam estes eventos. Dessa forma é válido que esse estudo seja
embasado no conceito de representação, de forma coletiva para o individual, de Roger
Chartier, compreendendo a representação como algo que pode ser criado/elegido,
seletivo e assim excludente, que através das narrativas, escolhe o que faz parte da
História. Metodologicamente, trabalharemos com oralidade que intimamente ligada a
memória individual, tratará desse conceito de representação, fotografias dos eventos
como extensão da memória falada, documentos de criação dos clubes.
Palavras-chave: Aroeiras; Sociabilidade; Memória.

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1. INTRODUÇÃO

As práticas cotidianas de um lugar, quando analisadas, podem nos dizer muito


sobre as organizações de uma sociedade recortada em tempo e espaço geográfico,
através do trabalho, das vestimentas, da arquitetura das casas e prédios públicos, assim
como as tradições que se fixam, podemos absorver e conhecer os sistemas que moldam
e que tornam esse lugar único no seu modo de ser. Assim nosso objeto de pesquisa pode
ser definido em: clubes da cidade de Aroeiras entre 1990 e 2004 e suas práticas
socioculturais.
A narrativa é a ferramenta que possibilita que esses fatos cotidianos e singelos
ganhem vida, mesmo depois de sua “morte”. Os acontecimentos sejam eles de qualquer
espécie, através da narrativa, podem ser notados, conhecidos em grande escala, seja
um objeto, seja um fato, através da história narrada o poder de alcance de algo, agora
registrado, é maior do que aquilo que está presente na memória de um pequeno grupo
de pessoas, ou em um arquivo isolado.
Assim as vivencias socioculturais diárias da cidade, quando problematizadas
como objeto de pesquisa, investigadas e assim escritas, podem receber um
reconhecimento maior, pois evidenciamos os personagens populares, os eventos
cotidianos/simples, que regem as organizações mais complexas.
O que teremos no cotidiano aroeirense para além do trabalho e das preocupações
corriqueiras? Os divertimentos, as formas de sociabilização, de juntar pessoas de um
mesmo patamar social, ou de poder aquisitivo diferente. Em qualquer configuração social
teremos a presença de eventos festivos, que se desdobram de variadas formas: pagãos,
religiosos, sincréticos, mas mantendo sempre pontos em comum: juntar
grupos/indivíduos, ser local de distração, encontros, diálogos.
Para entendermos esses divertimentos precisamos fazer alguns questionamentos
acerca de sua existência, quem eram os responsáveis (qual o seu lugar de origem), onde
se localizam estes espaços de sociabilização, quais as classes sociais que compõem o
espaço da cidade que estes eventos atingiam, quais os motivos que levaram estes
eventos ao declínio e esquecimento popular. Através destas perguntas podemos
narrar/registrar um novo olhar para a história da cidade, que ainda não foi

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questionado/escavado. Pois analisando os trabalhos desenvolvidos sobre a cidade de
Aroeiras, nos deparamos com poucas e raras obras escritas, podemos citar Gomes,
2012, que tratará de analisar a construção do espaço urbano entre 1920-1960.
Pela falta de material escrito, que não é visto como empecilho, sobre essas
representações do cotidiano aroeirense nasce a inquietação de escolher algo “novo”,
ainda não abordado na cidade, com relatos de populares e da “elite” (entendemos essa
elite vinda da vida política e comercial da cidade) e com registros fotográficos (que
sozinhos já falam muito) possibilitando assim traçar este olhar para a memória e o
patrimônio que a cidade de Aroeiras possui, acordando as lembranças que estão
adormecidas/silenciadas.

2. OBJETIVO GERAL

 Analisar através das narrativas individuais, assim como por meio de registros
fotográficos, as memórias acerca dos eventos sediados nos clubes (Centro
Cultural Recreativo Aroeirense e o Clube Municipal) da cidade de Aroeiras/PB nos
anos de 1990 a 2004 e assim entender suas configurações e importância como
lugares de sociabilidade.

3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Contextualizar a importância da oralidade e da memória, para a escrita de uma


história sociocultural da cidade de Aroeiras, que ainda não é abordada.
 Entender os espaços de sociabilidade que a cidade dispunha, como estes clubes
funcionavam, qual o público que atingiam, quais os eventos eram realizados, e
assim compreender a importância material que eles representam como prédios
ainda presentes na cidade, através dos relatos orais.
 Abordar as localizações dos clubes, que divergem quanto à centralidade e periferia
da cidade, buscando assim analisar o público que era selecionado para os
eventos, e entender como nosso objeto histórico foi produzido. Assim como

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examinar os motivos que levaram o desuso destes espaços e problematizar estes
esquecimentos e suas representações.

4. JUSTIFICATIVA

Durante o início da graduação a necessidade de ler uma História de Aroeiras, já


inquietava, mas uma História que revele as faces da cidade, de modo que cidadãos
“comuns” sejam vistos, assim como signos de uma identidade aroeirense. O
contentamento com as primeiras obras sobre a cidade, feitas por memorialistas, nunca
veio, além de uma história escrita para a elite e por uma elite, ela não é acessível, o que
dificulta ainda mais essa disseminação de informações. Assim como a busca por um
tema ainda não falado também inquietava, sempre esbarrando no problema ‘fonte’.
Então já que o problema aqui sempre foi à fonte escrita, precisamos escrevê-las.
Clio precisa ser exposta em todas as suas vertentes, possibilidades e especificações.
Analisando sempre (no trajeto diário de práticas pessoais do cotidiano) os prédios, a
configuração da cidade, o olho passa a enxergar aquilo que sempre esteve lá, mas de
uma maneira diferente, aquele “clube velho” (o clube municipal), como carinhosamente
ficou conhecido no rol do esquecimento, agora passa a ser um objeto de estudo, que já
sentiu e foi palco de tantas histórias, já ouviu tantas músicas e conversas, já presenciou
tantas práticas e desenvolturas da elite e dos populares que lhes cercam, pode nos contar
muito sobre a história de Aroeiras.
Entende-se dessa forma que a narrativa historiográfica que pretende-se fazer, traz
consigo uma carga positiva aos estudos da cidade de Aroeiras, pois ela será
complementar as pesquisas que já foram desenvolvidas, que seguem outras linhas, mas
que mantém sua importância na discussão e compreensão da sociedade que temos.
Então a história de Aroeiras contada através dos clubes que sediaram festas de
carnavais (GOMES, 2012), festas de padroeira, festas de formaturas, ou festas de “rua”
no geral, de acordo com os relatos de quem participava e de quem era deixado de fora,
para contar como essas representações coletivas foram criadas, como essas memórias
foram incentivadas e por quem foram impulsionadas, parece-me um bom início de
caminho para a narrativa de Clio, num viés sociocultural.

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Ao que se refere o recorte cronológico da pesquisa (1990-2004) tivemos incentivo
do ano de construção do Clube Municipal (periférico) que ocorreu em fevereiro de 1992
(Aroeiras, 2003, p. 127), e antes dessa construção a cidade já dispunha do Centro
Cultural Recreativo Aroeirense (central), assim como o ano “final” de nossa pesquisa que
se mistura com os anos finais que este clube municipal sediou festas públicas, que agora
tem um retorno as ruas do centro da cidade, como eram feitas antes da existência destes
espaços.
Desse modo a pesquisa debruçada sob um ângulo que ainda não foi narrado da
história de Aroeiras, mostra e frisa sua importância e necessidade para o entendimento
de como esses espaços foram sendo constituídos, por quem foram construídos e para
quem usá-los, como essas práticas do cotidiano e suas representações foram
formuladas, pois entendemos que por trás delas existe um incentivo de um grupo
específico, de elite, que impõem a sociedade o que ela precisa ser, o que é querido por
essa classe seleta que detém o poder de escolha e “sugestão”.
Assim sendo e tendo em vista a importância dessa narrativa ainda não feita da
cidade de Aroeiras, entende-se que a Linha I do Programa de Pós-Graduação em História
da Universidade Federal de Campina Grande, será o local certo para desenvolver esse
projeto entendendo a história cultural nos espaços da cidade, como a ascensão e declínio
destes espaços modificaram Aroeiras e seu cotidiano, suas relações de poder através
das representações sociais e dos discursos dos indivíduos.

5. REFERÊNCIAL TEÓRICO

O discurso memorialista, ao estabelecer uma versão que se pretende


dignificadora do passado de sua classe social, tenta uniformizar os diferentes
grupos sociais que frequentavam a festa. A própria presença dos populares é tida
e lida aí como uma parte importante da realidade, sem a qual o discurso de
harmonia não pode se estabelecer. (SOUZA, 2012, p. 31).

A relação dos discursos de memória com os fatos reais dos eventos ocorridos pode e
deve diferir de grupo para grupo, de um indivíduo para outro, pois as memórias serão
guardadas de acordo com o senso de pertencimento de cada um deles, com aquilo que
é julgado como pertinente em suas práticas diárias, ou seja, a memória é ligada aquilo

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que importa para o nosso telespectador que presencia a festa, mas que vai capturar dela
apenas o que lhe é essencial.
Neste sentido a memória e o esquecimento serão possibilitados na mesma medida, o
que pode ser significativo para alguém, pode ter passado totalmente despercebido para
outro, isto dentro de qualquer sistema de coletividade, pois memória e esquecimento,
quando não manipuladas, são individuais.

A narrativa comporta necessariamente uma dimensão seletiva. Alcançamos,


aqui, a relação estreita entre memória declarativa, narratividade, testemunho,
representação figurada do passado histórico. Como notamos então, a
ideologização da memória é possibilitada pelos recursos de variação que o
trabalho de configuração narrativa oferece. (RICOEUR, 1913, p. 455).

Para estabelecer esse trabalho historiográfico em cima de memórias individuais,


em uma escrita de algo que foi do cotidiano coletivo, de classes divergentes, precisamos
entender como essas memórias foram cultivadas e por quem foram cultivadas, pois como
o Clube Municipal está desativado, e apenas o Centro Cultural Recreativo (ligado a uma
administração particular) sedia poucos e restritos eventos, é necessário fazer uma
investigação quanto esse desuso do espaço que comportava as festas públicas, e quais
os eventos que ainda são realizados no clube central e para quem são destinados.
Assim como as memórias podem ser narradas ou esquecidas, devemos atentar
para o referencial central que possibilitará nossa pesquisa, que são os usos e desusos
de práticas sociais e suas representações, pois “o modo como em diferentes lugares e
momentos uma realidade social é construída, pensada e dada a ler.” (CHARTIER, 1990,
p.17) através da criação de nosso objeto histórico, podemos entender que ele foi gerado,
e isso não é feito de uma forma neutra, quem cria realidades/representações impõe suas
vivencias (identificamos aqui relações de poder), e através da história cultural, é possível
ao historiador ter essa prática de releitura do que está estampando como cidade suas
percepções/representações.

[...] de início, o trabalho de classificação e de recorte que produz configurações


intelectuais múltiplas pelas quais a realidade é contraditoriamente construída
pelos diferentes grupos que compõem uma sociedade; em seguida, as práticas
que visam a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria
de ser no mundo, a significar simbolicamente um estatuto e uma posição; enfim,

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as formas institucionalizadas e objetivadas em virtude das quais “representantes”
(instâncias coletivas ou indivíduos singulares) marcam de modo visível e
perpétuo a existência do grupo, da comunidade ou da classe. (CHARTIER, 1991,
p. 183).

Como esses clubes ficaram na memória da cidade de Aroeiras, numa memória


adormecida, vai de encontro dos modos como essa sociedade vivia, o que usavam, o
que consumiam, e por quem toda essa relação era imposta, de onde surgiu esses lugares
de sociabilização, qual era sua emergência, como a sociedade se comportava antes
deles e como passou a agir após a criação destes lugares. Essa relação ainda se
estenderá a outro ponto: centro e periferia da cidade, pois os dois clubes estão
localizados nestes dois extremos, assim o público consumidor de cada espaço poderá
divergir, ou ter memórias destoantes quanto as festividades que lhes cercavam. “Nas
sociedades, a distinção do presente e do passado (e do futuro) implica essa escalada na
memória e essa libertação do presente [...], para, além disso, a instituição de uma
memória coletiva, a par da memória individual.” (Le Goff, 1924 p.181).
Mas, sobretudo, a cidade foi, desde cedo, reduto de uma nova sensibilidade. Ser
citadino, portar um ethos urbano, pertencer a uma cidade implicou formas,
sempre renovadas ao longo do tempo, de representar essa cidade [...]. Às
cidades reais, concretas, visuais, tácteis, consumidas e usadas no dia-a-dia,
corresponderam outras tantas cidades imaginárias, a mostrar que o urbano é
bem a obra máxima do homem, obra esta que ele não cessa de reconstruir, pelo
pensamento e pela ação, criando outras tantas cidades, no pensamento e na
ação, ao longo dos séculos. Cidades sonhadas, desejadas, temidas.
(PESAVENTO, 2007, p. 11).

Para trabalharmos a memória da cidade de Aroeiras precisamos entender, e


faremos isso com Pesavento, 2007, como essas cidades são geradas, elas e suas
representações são pertencentes a um período, que analisado, nos faz entender como
se configuravam, como as diferenças estão dispostas e impostas nas narrativas (aqui
tratadas como diferenças sociais nos espaços de sociabilidade).
Assim sabemos que, tal como a escrita de narrativas históricas e as perspectivas
das cidades, estes eventos incluem e excluem pessoas, os grupos que detém a
organização dessas festas possuem “poder” para isso, pois encontram-se em uma
situação economicamente abastada, restando-nos as leituras dessas inclusões e
exclusões, dessas diferenças sociais, evidenciando qual era o papel do “outro” nestas
festividades.

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As lutas de representações têm tanta importância como as lutas econômicas para
compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua
concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio.
(CHARTIER, 1990, p.17)

Entendemos essas representações motivadas por grupos e de acordo com as


necessidades de cada período, necessidades sociais de expor o que se tinha, assim
atentamos para o fato de que essas construções possibilitam novos estudos para a
historiografia cultural, consentindo aqui nossa busca em compreender o movimento da
cidade através das festas que aconteciam em seus clubes, que também eram
possibilitadas e movidas por interesses e grupos sociais, onde todo esse processo foge
de qualquer resquício de neutralidade.
Os dois lugares de sociabilização se encontram dividindo o espaço geográfico com
residências próximas, e este é mais um ponto que deve ser destacado, como essa
vizinhança enxergava os espaços, quais as memórias e como sua realidade foi afetada
de forma positiva ou não pelo surgimento destes locais e de suas felizes e agitadas
aglomerações, pois entendemos que “[...] há um sentido social mais profundo para cada
um dos espaços coletivamente construído. E estes sentidos podem ser de lazer, prazer
ou dor, dependendo de como cada um consome a cidade”. (SOUZA, 2012, p. 50).
Essa abertura possibilitada pela História Cultural nos permite tornar visível o que
está adormecido nas cidades, manifestando-se em redes de discursos, sensibilidades e
memórias desses lugares sociais que são produzidos e que passam a produzir nossa
contemporaneidade, [...] considerando não haver prática ou estrutura que não seja
produzida pelas representações contraditórias e em confronto, pelas quais os indivíduos
e os grupos dão sentido ao mundo que é o deles. (CHARTIER, 1991, p. 177). Apoiamo-
nos assim em trabalhos voltados para o lazer nas cidades (SOUZA, 2012) e suas
características/implicações, quais as práticas, os interesses e desinteresses das classes
que estão por trás desses movimentos socioculturais, encontrando no conceito de
representação de Chartier aporte para essas criações de identidades e narrativas para a
cidade, todas elas empregadas sem neutralidade.
Em suma, pretendemos utilizar Jatahy Pesavento para pensarmos as relações
sobre cidades, bem como Roger Chartier para o conceito de representação, e para
pensar especificamente Aroeiras teremos Gomes e Andrade.

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6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A busca por fontes como afirma GOMES, 2012, nos impõe barreiras, no que se
refere a material escrito, pois teremos apenas dois memorialistas, através de uma história
“oficial” que narraram os passos de Aroeiras de sua “descoberta” até os avanços tidos
como modernos de nossa cidade.
Assim, e no sentido da pesquisa voltar-se para as representações coletivas,
nos debruçaremos a ouvir relatos de memórias individuais, como fonte principal de
nossos estudos, entendendo que esses relatos/testemunhos serão ricos em diferenças,
ajudando a compreendermos como se davam essas diferenças também nas festas dos
clubes e na sociedade aroeirense deste período.

Justamente uma das características mais destacadas do modero progresso da


utilização da documentação histórica é a concepção cada vez mais disseminada
de que “fonte para a história” pode ser, e de fato é, qualquer tipo de documento
existente, qualquer realidade que possa aportar um testemunho, vestígio ou
relíquia, qualquer que seja sua linguagem. (ARÓSTEGUI, 2006, p. 489).

Essas novas possibilidades de pesquisa para a narrativa que o despedaçamento


de Clio nos proporciona, reflete na maior viabilidade de escritas de narrativas que ainda
não foram feitas, ou pouco comentadas, como é o caso de nosso objeto de estudo em
Aroeiras. Além dos relatos orais dos encontros e desencontros nas festas, o que seria
possível encontrarmos como fonte na década de 90? As imagens. Que por si só, já nos
garantem um emaranhado de informações, que através de gestos, roupas, acessórios,
já nos fornecem uma análise concisa das configurações sociais presentes naquele
instante de tempo paralisado e perpetuado como história.

O uso da imagem, da iconografia e das representações gráficas pelo historiador


vem propiciando a apresentação de trabalhos renovadores e, também, instigando
novas reflexões metodológicas. [...] é importante sublinhar que a imagem não se
esgota em si mesma. [...] Para o pesquisador de imagem é necessário ir além da
dimensão mais visível ou mais explícita dela. (PAIVA, 2006, p. 19).

Como fonte escrita, para entender a sociedade que estamos trabalhando,


usaremos os livros dos memorialistas Aroeiras, 2003 e Andrade, 1981 assim como a
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narrativa historiográfica de Gomes, 2012, que mesmo as três obras abordando sentidos
diferentes de nossa pesquisa, são essenciais para o entendimento dos comportamentos
da sociedade, antes da construção destes espaços de memória e de um modo completo
do que encontramos em Aroeiras nestes períodos, ou do que quem escreve queria que
pensássemos a cidade como boa e importante, pois sabemos que para cada dito,
encontramos uma série de não ditos (FERRO, 1989), ou para cada obra escrita, uma
série de eventos e indivíduos são deixados à margem das histórias de cidade.
A pesquisa também contará com buscas por documentos na Câmara Municipal de
criação do clube do município, assim como documentos de fundação do clube central
com os seus respectivos e atuais responsáveis, com quem, vale frisar, já temos contato,
no intuito de identificar os objetivos de criação e as figuras responsáveis por esses
espaços, identificando suas origens socioeconômicas na cidade.
Dentro desse contexto já será possível colher relatos orais, assim como registros
fotográficos, tendo em vista que esses serão apenas uma parcela dos relatos da
pesquisa, que se pretende fazer com indivíduos do centro da cidade, das áreas mais
periféricas e de indivíduos da zona rural de Aroeiras, para entender quem eram os
consumidores desses lazeres/espaços, vendo quem estava presente ou não, para que a
narrativa não seja excludente. Através dos relatos orais coletados, pretende-se encontrar
pontos que sejam contrários à ideia de lazer (crimes, mortes, desavenças), e assim
possibilitar a busca por novas fontes, que possam ter sido registrados nos meios judiciais
do período.
Desse modo a pesquisa pretende desenvolver-se dentro das possibilidades de
fontes que a cidade dispõe sobre o tema: quase nenhuma escrita. O que não é visto
como empecilho, pois em algum momento essas narrativas precisam ser registradas,
deixando de existir apenas em memórias individuais/fotográficas, enfatizando mais uma
vez a importância de nossa abordagem de escrita.

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7. CRONOGRAMA

2021 2022

Etapas M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

Revisão X X X X
Bibliográfica

Coleta de X X X X X
fontes

Transcrição de X X
fontes orais

Submissão ao X X X X X
comitê de ética

Elaboração do X X X X X X X X
projeto para
qualificação

Qualificação X
do Projeto

Finalização da X X X
dissertação

Defesa do X
projeto

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8. REFERÊNCIAS

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