Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
- Centro Regional de Perícia 5 -
REFERÊNCIA PA 1.26.005.000007/2015-12
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
examine as possíveis repercussões no seio da Comunidade Fulni-ô caso o referido TAC seja
concluído”, necessário devido à “complexidade do objeto do presente feito”.
O mesmo despacho elenca os quesitos que devem ser respondidos neste estudo,
os quais reproduzo a seguir:
a) quais os possíveis impactos (territoriais, políticos, socioculturais e
similares) causados no grupo indígena Fulni-ô em razão da existência das
2
Para que tais questionamentos sejam satisfatoriamente respondidos, foram
realizadas pesquisas bibliográficas e documentais diversas sobre a comunidade indígena
Fulni-ô, como também foram consultados os autos do presente Procedimento Administrativo e
do Inquérito Civil nº 1.26.000.000716/2004-87, já arquivado, que versava sobre o mesmo
objeto, além de pesquisa de campo realizada entre os dias 8 a 12 de maio do corrente. Nesse
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
trabalho de campo, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com representantes de
diversos setores da comunidade indígena Fulni-ô, em especial aqueles diretamente envolvidos
na questão ora tratada, além de lideranças (em especial o cacique e o pajé), servidores da
Funai local (também indígenas Fulni-ô) e alguns outros membros da comunidade não
vinculados explicitamente à questão tratada aqui. Também realizei visitas a vários pontos da
Terra Indígena Fulni-ô e da Fazenda Peró por onde passam as linhas de transmissão da Chesf,
onde estive acompanhado, em ocasiões distintas, de indígenas que manifestam diferentes
2. TERRITÓRIO FULNI-Ô
2 Embora este seja o número atualizado mais confiável que se pode obter, já que virtualmente todos os indígenas
Uma série de circunstâncias históricas, locais, regionais e nacionais, fizeram
com que esta Terra Indígena adquirisse características sui generis, que, somadas, a torna
particularmente distinta de todas as outras Terras Indígenas no Brasil hoje. Elas são,
principalmente: a) a divisão da Terra Indígena em lotes numerados, em sua maioria de
usufruto particular de indivíduos e famílias indígenas; b) a presença do arrendamento de
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
terras, em diversas modalidades (na maioria das vezes a não-índios), como prática usual e
prolongada; e c) a presença da sede do município de Águas Belas no interior da Terra
Indígena.
Para entender a sua formação com tais características, retomo a seguir os fatos
históricos mais relevantes relativos ao seu território. Segundo Schroder, após a expulsão dos
holandeses de Pernambuco, no século XVII, “os esforços de aldear grupos indígenas nos
sertões nordestinos foram aumentados pelos portugueses” (2003: 37). Aldear significava,
residentes em Águas Belas possuiriam cadastro no Siasi (Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena), é
preciso dizer que com frequência declara-se que ele está subdimensionado, e que seriam na realidade cerca de 7
mil. Contudo, não temos outra fonte segura para confirmar tal informação. Dados obtidos em
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3667#demografia, acesso em 7/2/2017.
4
das áreas pertencentes às missões, é bastante impreciso, e há várias dúvidas e questionamentos
sobre como tais terras seriam demarcadas. Há indicações de que ele “teria variado segundo os
lugares e as épocas em que foi aplicado, e, ainda, segundo as intenções e manipulações de
interesses contraditórios” (Agostinho, 2003:1, apud Schroder, 2003: 41). No entanto, o exame
de alguns documentos do período indicam que “essas terras eram demarcadas a partir de um
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
'pião' central (…), um ponto de referência a partir do qual eram marcadas linhas de rumo, que
viriam a definir e delimitar o polígono a ser concedido”. Assim, vê-se que, ao contrário do que
o conceito faz pensar, tais terras não formariam um quadrado, mas sim um octógono.
Tais informações são relevantes para que se entenda o formato atual da Terra
Indígena, como ficará explícito mais adiante.
De todo modo, um Decreto de 1755 determinou a transformação das aldeias de
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
demarcado sua área atual, assim como realizado o loteamento. Não há, entretanto, nenhum
documento que corrobore esta versão.
O que se sabe é que, provavelmente como consequência da supracitada lei de
1860, que permitiu o aforamento e a venda das terras antigas aldeias achadas abandonadas, em
1875 o Governo Imperial publicou outra lei, que declarava extintos os diversos aldeamentos
em Pernambuco (idem: 49). No mesmo ano, foi formada a Comissão de Medição de Terras
6
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 05975B68.EDC3BDE1.E642E9A3.E3E55B05
Figura 1 – Mapa da Terra Indígena Fulni-ô, segundo demarcação realizada pela Comissão de Medição de Terras
Públicas, em 1876-1878. Vê-se aqui também os 427 lotes então criados pela mesma comissão. Reproduzido de
Pinto, 1956: 15)
De todo modo, como já expus acima, é certo que a demarcação como feita pela
comissão responsável por demarcar a Terra Indígena Fulni-ô não corresponde à área “doada”
durante o período colonial, pelos argumentos apresentados anteriormente sobre as dúvidas que
pairam sobre a “légua em quadra” e a localização e os limites exatos da missão. De toda
maneira, ainda que correspondesse, tal “doação” não respeitou a territorialidade e a
especificidade da comunidade, sendo antes feita unilateralmente pela Coroa portuguesa.
Esta demarcação, em lugar de pacificar qualquer dúvida que poderia persistir
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
sobre a propriedade e usufruto da terra, intensificou a relação conflituosa dos Fulni-ô com os
moradores não-indígenas no município. Estes contestaram continuamente a demarcação, com
a Câmara de Vereadores local pedindo sua anulação e a legalização dos posseiros que se
encontravam dentro da Terra Indígena. As pressões sobre a terra indígena e o esbulho contínuo
permaneciam. A situação se agravou com a Constituição de 1891, cujo artigo 64 deu margem
a interpretações de que as terras indígenas eram devolutas, e assim pertenceriam às províncias.
Com a emancipação de Águas Belas, em 1893, e a elevação à categoria de cidade, em 1903, as
8
Justamente nesse período, o SPI ampliava um modelo de ação e controle de
recursos fundiários, “aplicado como dispositivo de resolução de conflitos agrários e de
controle de populações não-indígenas estabelecidas em terras reivindicadas por indígenas”
(idem: 57, a partir de Peres, 1992). Tal modelo, que predominou em regiões que já tinham
sofrido fluxos de colonização passados, caracterizadas por “uma intricada trama de direitos
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
territoriais muitas vezes justapostos e conflitantes”, teve como “procedimento paradigmático
de negociação com autoridades governamentais estaduais” o arrendamento de terra (Peres,
199:55, apud Schroder, idem: 57-58). Além da função mediadora, o arrendamento de terras
indígenas ainda representava uma fonte financeira para seu sustento, já que recolhiam uma
parcela da renda anual, e cumpria o objetivo assimilacionista em voga, procurando
transformar os povos indígenas em pequenos agricultores através do contato cotidiano com a
população rural não-indígena (idem: 58).
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
encarregados do Posto Indígena se manifestaria contrário à prática em relatórios na década de
1940 (Schroder: 2003: 63). Ainda assim, ela perduraria até os dias atuais.
Depois do decreto de 1928, o poder público só viria a se ocupar com a TI
Fulni-ô em 1971, quando a Funai supostamente realizou uma demarcação física da área.
Supostamente porque as informações sobre tal ato são imprecisas, e não restaram documentos
que comprovem sua efetiva realização. Em 1985 foi determinada a realização de um
3 Embora não seja o relatório final, constando ainda algumas lacunas e poucos trechos ainda não definitivos no
texto (a maioria dependendo de informações que seriam levantadas por outros membros do GT), ele é uma
importante fonte de informações sobre os Fulni-ô, devido à extensa pesquisa documental e bibliográfica, além
das informações relevantes e bem sistematizadas colhidas em campo.
10
não há, propriamente falando, qualquer artigo doando ou concedendo as
terras do antigo aldeamento aos índios Fulniô. Ao contrário, a concessão é
presumida pelo art. 1º do decreto, que transfere apenas a administração da
área ao MAIC/SPI para que nela residam os descendentes de índios
Carnijós. Por outro lado, em seu último artigo, o decreto revela a convicção
de que as terras por ele mencionadas seriam de domínio estadual (2000: 59)
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Ainda sobre a incerteza do estatuto jurídico atual, embora algumas fontes
classifiquem a Terra Indígena Fulni-ô como dominial, isso é contestável. A própria Funai, em
seu site, apresenta dois registros: o de reserva indígena regularizada e o de tradicionalmente
ocupada em estudo4. Chama a atenção, no entanto, o fato de que a proposta territorial da área
em estudo incluiria, a princípio, a área entendida como regularizada, o que lança a dúvida de
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
que consta o campo “20% de percentagem p/ caixa de idenizações (sic)”. Como já foi dito,
esse valor era, ao menos em parte, revertido para a manutenção do próprio Posto, mas Ferreira
(idem) indica que não há clareza sobre seu destino, embora haja registros, na Funai, de
inúmeros projetos de desenvolvimento comunitário na área, que poderiam ser derivados desse
repasse.
Ferreira também nota que o órgão indigenista controlava de perto todas estas
transações. Segundo levantamento realizado por ele em 1996, foram encontrados então os
5 Referidos usualmente pelos Fulni-ô e pela própria Funai como “livro dos lotes” ou “livros de registros dos
lotes”. Assim, emprego tais expressões, sem aspas, como equivalentes ao longo deste parecer.
6 Utilizo o termo “proprietários” sem aspas ao longo do texto, para tornar a leitura mais fluida e por ser
empregado correntemente pelos Fulni-ô. Contudo, deve-se manter em mente que não o são no sentido estrito do
termo, já que não têm a propriedade de suas áreas, mas apenas a posse ou o direito ao usufruto. Um ex-
coordenador local da Funai, inclusive, diz que em sua gestão não permitia que ele fosse utilizado, mas apenas
“usufrutuário”.
12
como um de seus principais objetos de disputa questões relativas ao território – daí a
necessidade de um levantamento da situação de então e da cadeia dominial de cada lote.
Paralelamente aos livros, vários recibos foram sendo produzidos documentando
transações envolvendo as partes. Em geral, embora sejam intitulados Termo de Doação ou
Termo de Transferência, as transações registradas ali envolviam pagamentos (em espécie ou
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
em bens), o que é confirmado por vários indígenas. É provável que tenham sido
documentados assim para evitar alguma interpretação conflitante com o estabelecido pelo
Decreto nº 637, que estabelecia que a emissão dos títulos de posse tinha “a condição de não
fazer sobre essa propriedade nenhuma transação”. Embora algumas das informações dos
recibos tenham sido também registradas nos livros, muitas delas não foram atualizadas. Com
o fim da produção de livros novos, os recibos tornaram-se a única fonte de informação sobre
transações de terra entre os Fulni-ô. O problema é que não há critérios nem procedimentos
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
terrenos – hoje está na casa de 170 reais. Os índios declaram que boa parte dos moradores
paga esse valor regularmente, mas não têm o que fazer para cobrá-los quando se negam.
Outro problema surgiu quando a Prefeitura Municipal começou a oferecer
serviços urbanos nessas residências, como ligação de energia elétrica e água. Como
contrapartida, passou a cobrar IPTU dessas casas, e os moradores deixaram de pagar o chão de
casa aos indígenas. Hoje, a prefeitura considera que tais áreas foram incorporadas à cidade,
enquanto os índios ainda declaram que, mesmo urbanizadas, ainda pertencem a eles. A
14
território, isto é, espaço geográfico ligado indissoluvelmente à sua história e
sua cultura, suporte de sua identidade étnica. Assim, todo a área, incluindo
os lotes, é vista como pertencente exclusivamente aos Fulni-ô, devendo
permanecer sob seu domínio, sem que lotes ou trechos deles sejam jamais
desvinculados ou retirados do território. Contudo, em paralelo, a terra
também é vista como meio de produção e exploração econômica; com a
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
vigência da divisão em lotes e de seu arrendamento, tais aspectos passaram a
ser vistos unicamente como circunscritos aos indivíduos ou às famílias, e
não mais como de interesse coletivo. Assim, cabe exclusivamente ao
'proprietário' de um lote a decisão do quê e como produzir ou construir no
lote que lhe pertence, assim como é permitido vendê-lo para outros Fulni-ô
(ainda que isso nem sempre seja declarado) [ou arrendar para brancos], e é
decisão exclusivamente individual para quem e por quanto (…) O problema
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
contestada. A segunda é que o ritual é marcado por um segredo que permeia todos os aspectos
vinculados a ele, e seu acesso é estritamente vedado a quem quer que seja – mesmo esposas,
maridos e parceiros dos indígenas desconhecem por completo o que se passa. Não se pode ver,
ouvir, nem saber quase nada sobre o que acontece durante o ritual. Sabe-se apenas que lá há
uma divisão do espaço, com uma área pública, onde ficam as casas e circulam as mulheres e
crianças durante todo o período, e um espaço comum reservado exclusivamente aos homens.
Também há restrições para o consumo de bebida alcoólica e qualquer contato sexual.
16
declaram ter sido uma época de difícil relação com os brancos – um informante declarou que
“o Ouricuri foi 3 vezes mudado. Mas não é do tempo da gente. O primeiro mesmo, há 200
anos pra lá, é aí onde tá. Aí houve uma epidemia, que aí acabou a parte dos índios, aí eles se
espalharam, passara 20 anos sem se juntarem”. No entanto, não é possível saber como e
porquê escolheram o local atual.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
O fato é que, em alguma data incerta do século XX, foram resguardados 9
dentre os 427 lotes para o Ouricuri. Embora esta informação seja confirmada por todos os
indígenas com os quais conversei, não foram encontrados registros desse ato em documentos.
Diz-se que alguns dos lotes vizinhos (três em uma das laterais e um na entrada), embora nos
livros do posto estivessem registrados com nomes de proprietários, na prática eram
“intocáveis”, deixados pra reserva, não podendo ser explorados. Em certo momento – segundo
um informante, por volta do final da década de 1960 e início de 1970; segundo outro, teria
Figura 2 – Recorte do mapa elaborado em 1995 pela Funai, indicando os lotes do Ouricuri. Reproduzido de
Schroder, 2003: 69
18
bastante relevantes. Além dos arrendamentos rurais e dos chãos de casa, a presença de alguns
empreendimentos, obras, imóveis e outras atividades nos lotes privados ou coletivos ensejou a
mobilização por parcelas da comunidade por algum tipo de compensação/indenização pela sua
presença e usufruto de parte do território. Alguns atingem a terra indígena incidentalmente,
outros passam por ali para atender à sede do município. O fato é que vários deles atingem a
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
área diretamente, como é o caso das duas estradas estaduais (PE-244 e PE-300), de uma
estrada federal (BR-423), das linhas de transmissão da Chesf e da Celpe, da tubulação e da
captação de água dentro do território pela Compesa, além de alguns imóveis construídos pela
Prefeitura, a torre da Companhia Telefônica Oi (em área cuja propriedade é alvo de
controvérsia) assim como um posto de gasolina, um motel e alguns estabelecimentos
comerciais às margens da BR-423, e atualmente a adutora do agreste, que está sendo
construída também pela Compesa, dentre outros.
8 A partir de 2009, com a reestruturação da Funai, os antigos Postos Indígenas passaram a se chamar
Coordenações Técnicas Locais. Contudo, a antiga denominação continua a ser utilizada amplamente pelos
indígenas e não-indígenas, e por vezes pela própria Funai. Assim, nesse parecer utilizo os dois termos como
equivalentes.
possa registrar o lote em nome do(a) branco(a), ele(a) pode adquiri-lo e registrar em nome do
cônjuge (Ferreira, 2000: 47). Isso abre espaço para que pessoas não-pertencentes à
comunidade, mas que contam com um poder aquisitivo maior, acabem usufruindo de suas
terras e concentrando renda.
De uma forma ou de outra, o fato é que vários autores têm notado esta flagrante
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
desigualdade entre os Fulni-ô, e geralmente creditado esta situação à concentração de renda e
de terras, bastante associadas.
Assim, Schroder, por exemplo, declara:
a prática dos arrendamentos formalmente institucionalizada pelo SPI em
1928 teve como um de seus efeitos produzir, em longo prazo, diferenciações
sociais e econômicas consideráveis dentro da sociedade Fulni-ô, e com isso,
Ferreira (2000: 47-48 e 50) chega a ligar o processo faccional que teve seu auge
na década de 90 à escassez de terras disponíveis. Carla Siqueira Campos, em seu artigo sobre
a organização econômica entre os Fulni-ô, reforça as conclusões de Schroder, e declara que o
loteamento e o arrendamento chega a comprometer “atividades como, por exemplo, o
artesanato, a agricultura e a pesca” (2011: 159).
Outro artigo publicado na mesma coletânea apresenta uma pesquisa que buscou
levantar dados quantitativos sobre a distribuição de terra, renda familiar e uso dos recursos
produtivos entre os Fulni-ô (Albuquerque Gerum e Doppler, 2011). Os dados são bastante
representativos. Ao comparar a terra disponível por família entre os Fulni-ô, os Kambiwá e o
Xukuru (também grupos indígenas em Pernambuco), os autores verificaram que entre os
primeiros o total era de 13,83ha, enquanto entre os dois últimos eram respectivamente, de
2,8ha e 2,58ha – ou seja, substancialmente maior. Não obstante, também verificaram que entre
os Fulni-ô “apenas 37% da terra disponível por família foi utilizada para cultivos (Tabela 1),
enquanto para os Kambiwá e Xukuru esse número foi de praticamente 100%” (idem: 168).
Mais adiante, eles afirmam: “o não-cultivo de parte (ou o total) da terra disponível deve-se ao
fato de que as famílias não possuem condições financeiras para fazer face à copra de insumos
e implementos ou por falta de mão-de-obra familiar ativa” (idem: 169). Os autores também
notam que os Fulni-ô são um raro grupo indígena em que há registro de sem-terras, quando
entre os Xukuru e Kambiwá o tamanho das terras que cada família possui varia pouco, sem
registro de famílias sem-terra. Segundo dados de alguns autores, mais da metade dos Fulni-ô
hoje não possuem terras próprias, dependendo de terras alheias ou de outras fontes de renda.
Outro dado relevante é relativo à quantidade de terra em posse de arrendatários.
Segundo Schroder (2003), relatórios da Funai produzidos na década de 1980 e 1990 indicam
20
que a grande maioria das áreas rurais estavam em posse de não-índios – o que é corroborado
pelos próprios indígenas, em visitas anteriores realizadas por mim. Há, contudo, um aspecto
interessante referente em relação ao arrendamento de terras. Ao contrário do que pode-se
pensar, muitas vezes arrenda-se terra não porque é uma boa fonte de renda, mas porque, como
já disseram Albuquerque Gerum e Doppler, os indígenas não têm condições financeiras de
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
adquirir insumos e materiais agrícolas para investir na própria terra. A estiagem da área muitas
vezes também não permite que o plantio seja mais abundante.
Um indígena me relatou, contudo, que em anos recentes vários proprietários
estariam reassumindo a posse de seus lotes, diante da diminuição de interesse dos
arrendatários. Não pude confirmar tal informação.
Pudemos perceber, portanto, ao longo desse tópico, como a Terra Indígena
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
artigo 231 da Constituição Federal. Dito de outra forma, a reivindicação apresentada pelo
Fulni-ô Eduardo, tem como pressuposto demandar uma solução pessoal, acreditando
que o objeto, a LT, gera prejuízos apenas para as propriedades nas quais incide. [grifos
meus] (…) trata-se de uma realidade (ou uma deformação dela) diante dos pressupostos e
instrumentos legais e em desconformidade com a atuação do CGPIMA, que sempre trata os
aspectos de compensação, danos e recuperação ambiental, em decorrência de
empreendimentos incidentes em Terra Indígena, amparados no direito coletivo, ou seja, para
22
PR/PE, que havia pedido informações detalhadas sobre as torres. Consta ali informações
fundamentais:
a) levantamento planimétrico das redes da Chesf, com o mapa das propriedades
atingidas, uma a uma;
b) manifestação do cacique, em que diz que “não há interesse na retirada das
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
linhas de transmissão de nossa área indígena; há interesse de tratar de forma pacífica todas as
questões relacionadas à presença da Chesf em nossa área”. Sugere a promoção de uma reunião
ou audiência pública na comunidade, com a presença do MPF, Funai, Chesf e Fulni-ô, “para
que possamos discutir todas as questões referentes ao assunto em pauta e na oportunidade, a
comunidade Fulni-ô apresentará sua proposta”;
c) quantitativo de torres por propriedade, no total de 75; e
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
de compensá-los. Eles narram a visita de um indigenista à Terra Indígena, que teria declarado
que a Chesf “deverá estruturar o pagamento em duas partes: uma parte em dinheiro a ser paga
aos proprietários dos lotes atingidos pelas Linhas de Transmissão e outra parte em ações que
venham beneficiar toda a comunidade indígena”. Também diz que “existem dois grupos
divergentes na comunidade indígena Fulni-ô: um grupo liderado pelo cacique que aceita uma
solução coletiva para o problema e o outro grupo, liderado pelo pajé, que defende a solução
individual, com o valor da indenização sendo pago totalmente aos proprietários dos lotes
24
otimista.
Entre as conclusões do relatório da empresa contratada pela Chesf, destaca-se
aquela que diz que “as linhas de transmissão (…) não podem ser caracterizadas como o
grande causador dos impactos culturais provocados no decorrer dos últimos 50 anos na
reserva indígena Fulni-ô”.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
A Funai, por sua vez, responde novamente, defendendo sua metodologia de
cálculo, e recalculando o valor para um período de 10 anos. Também reafirma que não levou
em conta o patrimônio cultural (anexo I, volume 2/4).
Traz como anexos dois quadros: em ambos, consta a área de cada lote
(reproduzindo a informação prestada pela Funai anteriormente, já citada, às fls. 52-72 do auto)
e valor que cada um teria direito a receber como compensação, segundo seu método de
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
ponto de apoio aos Fulni-ô) e a parte dos proprietários em dinheiro, diretamente, sem a
interveniência da Funai, com acompanhamento do MPF. Seguem mais de 20 folhas com
assinaturas.
Em reunião ocorrida em 23 de maio de 2006 – sem a participação do MPF
tampouco do cacique ou do pajé, importante notar –, contando com a Chesf, Funai,
Procuradoria Federal Especializada da Funai e representantes dos proprietários, a Chesf
propôs 2,5 milhões de reais à comunidade. O Procurador Federal Especializado, Cláudio
26
Segue então uma tabela com a relação dos proprietários, números do lote, a
área e o valor correspondente que seria pago para cada um, segundo o seu tamanho,
reproduzindo a informação já encaminhada pela Funai em 2004 e constante também no
segundo relatório da Funai – embora não citem a fonte, a área exata de cada lote e a ordem
dos nomes são idênticas em todas estas listas, que denunciam sua origem. Por fim, declaram:
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
“esclarecemos ainda que qualquer posição contrária as nossas decisões, estão ferindo
seriamente os direitos originais de nossa organização social e religiosa interna já reconhecida
constitucionalmente” (fls. 144-5).
Dessa vez, assinam pajé, cacique e proprietários.
Em 30 de junho, o Procurador Federal da Funai lotado em Recife encaminha
ofício à Procuradoria-Geral da Funai em Brasília, pedindo resposta com relação a vários
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Fulni-ô, em que diz:
os lotes de nºs353, 354, 355, 374, 375, 376, 392, 393 e 394, totalizando
26,7350 há, localizados na área do Ouricuri e as duas áreas com 16,1418
há e 5,6797 ha, localizados na área denominada “Fazenda Peró”, esta
ainda não loteada, pertence a Comunidade Fulni-ô, sendo de total
responsabilidade dos seus representantes legais – o Cacique JOÃO
28
direitos sobre as terras indígenas de forma livremente estabelecida pela
comunidade a Convenção 169 da OIT (...).
Por fim, esta Procuradoria solicita que seja realizada audiência pública com
toda comunidade para deliberação formal sobre a indenização e a forma de
sua aplicação, com participação obrigatória do Ministério Público Federal.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
As questões e decisões colocadas no memorando em referência devem
ter um respaldo da comunidade como um todo e suas lideranças, para
que se evite uma responsabilização futura da Funai sobre eventual
desentendimento ou não concordância entre a comunidade. (grifos meus)
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
má distribuição dos recursos auferidos em nome da comunidade junto aos órgãos públicos, em
especial a Funai”, também refletiria na concentração de renda, já que “internamente esses
recursos são apropriados por algunmas famílias, e, desse modo, não chegam à coletividade
como um todo (fl. 265). Todo esse processo histórico, somado às suas relações interétnicas,
impactou o modo de vida tradicional Fulni-ô (fl. 266).
Respondendo diretamente às perguntas encaminhadas pelo Procurador da
República, ele conclui que:
30
titulares dos lotes estiverem arrendando, quem sofre é o arrendatário, e não os indígenas.
Também fala a possibilidade de aumento da desigualdade, concentração de renda e de terra.
Possibilidade de criação de precedente para futuras indenizações que alijariam parte
significativa da população Fulni-ô, que não possui terra, dos benefícios decorrentes.
Por fim, declara que,
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
não obstante ser questionável do ponto de vista técnico, a divisão e a
respectiva possa da terra foi escolhido como critério para aplicação de maior
parte da indenização. Nesse sentido é recomendável observar se esse critério
tem legitimidade dentro da comunidade. Para tanto, é interessante a proposta
da Procuradoria da Funai em submeter tal decisão a uma audiência pública.
Para referendar sua posição, citam casos da Compesa e da Celpe, cujas obras e
usufruto de parcelas de lotes dentro da área indígena ensejaram pagamento de indenizações.
No primeiro caso, segundo Termo de Ajuste em anexo entre Funai e Compesa, de 1981, o
pagamento era referente às culturas e benfeitorias, assim como pelas terras. A Compesa
também se comprometeu a construir um reservatório elevado de 75m3, “para uso exclusivo do
referido grupo indígena no aldeamento e no Ouricuri”, e a fornecer diária e gratuitamente “um
volume d'água total de 75m3”. Este Termo ainda estabelece que as indenizações citadas
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
seriam efetuadas de acordo com documento anexo, mas este não foi juntado aos autos.
Segundo os índios, contudo, o pagamento foi feito diretamente aos proprietários dos lotes
afetados, sem a intermediação ou reversão de qualquer valor ou parcela à comunidade.
Quanto ao caso da Celpe, foram encaminhados dois “recibos de indenização de
benfeitorias”, datados de 2002, nos quais é apresentado um cálculo financeiro dos danos
causados pela instalação das linhas de transmissão de energia elétrica da concessionária nas
benfeitorias existentes nas propriedades de dois indígenas, com a comprovação do
32
rapidamente abandonada. De acordo com representantes dos proprietários, em reunião
realizada na PRM-Garanhuns, “não são realizadas sessões” ordinárias do Conselho de
Família, o que inviabilizaria a ideia. Em seu lugar, foi proposta uma votação pelos indígenas
Fulni-ô de quesitos relacionados ao tema, que seriam elaborados pelo MPF em conjunto com
a Funai. Os votos seriam secretos, e a eleição seria organizada por uma comissão da Funai.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Tal ideia, no entanto, tampouco prosperou. Pouco depois os proprietários se
manifestaram novamente, ainda em janeiro de 2007, declarando que
nada impede que recebamos diretamente da Chesf, uma vez que outras
etnias já receberam diretamente das empresas (…) ficou determinado que a
comunidade e os proprietários dos lotes não aceitam a eleição proposta pela
Procuradoria, na pessoa do dr. Fábio Luiz de Oliveira Bezerra. Pois, nunca
houve eleição na nossa comunidade para escolher como iríamos viver (sic;
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
não conste nas atas de reuniões anteriores sobre o tema, ou em qualquer manifestação das
partes. Também não se menciona a proposição de que a maior parte do montante seja
revertido em favor da comunidade. Pelo contrário: embora boa parte dos presentes (em
especial os proprietários) tenha mostrado insatisfação com a possibilidade de receberem
através de uma associação, e não diretamente e individualmente, como desejavam, procuram
justificá-la declarando que “foi a melhor forma encontrada para receber”, e que “os
proprietários iam ter preferência em apresentar seus projetos”. Ao fim, todos concordam e
34
O TAC ainda estabelece o seguinte nos respectivos itens:
5.1 – a utilização dos recursos financeiros está sujeita à fiscalização por parte da Funai, do
MPF e a PFE-Funai.
5.2 – a comissão da Funai deverá acompanhar e fiscalizar a execução de cada projeto, bem
como a aplicação dos recursos.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
5.3 – a comissão elaborará um relatório trimestral para cada projeto, descrevendo a execução e
andamento, “o que deverá ser instruído com fotos, cópias de documentos, planilhas”, etc.
5.4 e 5.5 – a associação encaminhará à comissão extrato bancário, que serão autenticadas
pelos seus membros da comissão.
5.6 e 5.7 – a comissão encaminhará ao MPF e à PFE cópias de cada projeto, e cópias dos
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
individuais, ora pleiteando outros que deveria ser a grande parte partilhada entre os detentores
dos lotes prejudicado”, sem contudo indicar que parcela seria essa e qual sua
representatividade. Parece-me que o fato dessa discordância não ter sido formalizada tem dois
motivos possíveis: um, que apesar de discordarem, não cabia a eles opinar, já que haveria um
reconhecimento tácito da legitimidade dos lotes individuais pelos órgãos públicos, por conta
de outras negociações que envolveram a Terra Indígena Fulni-ô, além do fato desta
negociação ser levada a cabo com o acompanhamento de órgãos públicos – se estes estavam
36
portanto, parece que há aqui uma contradição não-resolvida relativa à forma de distribuição e
aplicação do valor total. De acordo com os informantes, entretanto, o fato de o TAC
mencionar “indivíduos e famílias” como beneficiários dos projetos e ações foi o que garantiu
que eles concordassem com a redação final.
A assinatura do TAC assinado, portanto, encerrou enfim as negociações, e
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
iniciou-se então uma nova etapa: a elaboração e execução dos projetos financiados pela
indenização a ser paga pela Chesf. Os problemas, contudo, não terminaram: seguiram-se
tempos em que acusações, denúncias e conflitos envolvendo suposta malversação dos
recursos, desvio de finalidade dos projetos e apropriação provada dos recursos destinados à
comunidade foram frequentes, além de muitas dificuldades e problemas envolvendo a
execução dos projetos e ao caminho previsto para sua apresentação e execução.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
vir de um em um me pressionando, fazendo chantagem para ser beneficiado pensado que eu
estou com medo de dar explicação à comunidade”. Não fica claro em momento algum quem
faz parte desses grupos aos quais eles está se referindo, tampouco quantos são e quais são suas
reivindicações exatas.
De todo modo, uma voz se levanta desde o início contra Eduardo, como consta
nos autos: é a de Marco Antônio Albuquerque dos Santos, filho do cacique e servidor da
Funai. Além de ter sido responsável pelas primeiras representações contra Eduardo, também
38
produziu outras duas atas: a da Funai, que foi anexada ao relatório, e uma outra com mais de
trezentas assinaturas, onde consta ao fim do texto a inscrição “o povo Fulni-ô”. Essas duas
atas trazem mais elementos, não registrados no Termo de Audiência, que revelam o nível de
tensão e as reivindicações do grupo que fazia oposição a Eduardo. Elas registram que diante
das “inúmeras denúncias de mau (sic) aplicação dos recursos da Associação” por vários
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
indígenas, e diante da ausência de respostas e argumentos plausíveis, além de uma suposta
“agressividade”, “falta de consideração” e “respeito” de Eduardo com a comunidade (fls. 427-
428), solicitam, além de uma auditoria e paralisação de qualquer movimentação financeira dos
recursos, que Eduardo e a Associação que preside estão proibidos de representar e falar em
nome da comunidade diante de qualquer órgão, público ou privado, e a Associação deve ser
banida de todas as ações relacionadas ao TAC; também pedem, entre outros itens, que “todos
os recursos sejam destinados em prol de toda a nossa Comunidade de maneira geral, sem
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
decisão da comunidade, como apresentada na ata da reunião do dia 17 de outubro.
Em nova carta, Eduardo reitera algumas das acusações contra Marco Antônio e
também acusa o próprio cacique de apropriação indevida de bens e recursos que chegariam
para a comunidade, além de dizer que estava sendo ameaçado e que Marco usa a influência do
pai e do seu cargo para pressionar.
Embora o conflito tenha se concentrado em torno destas duas figuras,
40
conta das circunstâncias.
Outro elemento que faz parte dessa história, cuja atuação não está registrada
nos autos, deve ser também mencionado: o conselho comunitário Fulni-ô. Em meu trabalho
de campo, pude entrevistar dois dos seus representantes. Em seus depoimentos, eles
descrevem sua participação na dinâmica de apresentação, aprovação, encaminhamento e
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
execução dos projetos oriundos dos recursos da Chesf. Dizem que foram convidados para
formar o conselho apenas quando a negociação estava encerrada e os recursos garantidos.
Declaram que inicialmente não estava claro qual seria o papel do Conselho. Tinham como
referência apenas o Conselho Local de Saúde Indígena, no qual um desse conselheiros já
trabalhava. Este é um conselho que tem o fim de discutir problemas, possíveis soluções e
encaminhamentos a serem feitos ao conselho distrital de saúde indígena do DSEI-Pernambuco
(Distrito Sanitário Especial Indígena de Pernambuco). Quando alguns de seus membros
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
documentos, planilhas”, etc., segundo o item 5.3 do TAC, e enviados ao MPF até 10 dias
depois de elaboradas (item 5.7). Há apenas o já citado relatório sobre os projetos realizados
até então (do nº 1 ao nº 20), cuja elaboração deveu-se por conta de reunião realizada em
função das denúncias contra Eduardo, e não como cumprimento dos termos do TAC. Depois
desse, não há registro de nenhum acompanhamento por parte da Funai do andamento e
execução dos projetos.
42
estabeleceu-se, em primeiro lugar, que dos recursos destinados “ao Ouricuri/comunidade”
uma parcela total de R$30 mil seria utilizada para liberação do lote para construção da escola
indígena. Depois, faz-se referência a um montante de R$523.100,00, sem que se especifique
se desse valor já foi descontada essa parcela ou não. De todo modo, desse valor seria abatido
mais uma quantia para construção do galpão do Ouricuri, e outra para “material de uso do
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Ouricuri”. O restante seria dividido meio a meio entre as duas maiores lideranças, sendo que o
pajé utilizaria sua metade para “despesas exclusivas do Ouricuri”, enquanto o cacique propõe
para sua metade alguns projetos comunitários, quais sejam: “1. Hospital; 2. reforma e
construção de casas; 3. saneamento básico e calçamento da aldeia; 4. tirar o box do meio da
aldeia; 5. ginásio de esportes.”
Conforme alguns informantes indígenas, o pajé teria assumido uma disposição
maior de ter controle direto sobre sua metade do que o cacique, que teria mantido a postura
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
para fins burocráticos, já que ela teria sido adquirida para si, como parte da parcela que lhe
cabia. Em carta enviada em maio de 2008 (fl. 545) Eduardo ainda mencionaria a caçamba,
dizendo que “repasso também a caçamba para a Funai, para que não venha a acontecer o que
já aconteceu com outros veículos destinados a comunidade”. Justo ou não, cabe lembrar,
contudo, que no seu item 9.2 o TAC declara que “é vedado aos dirigentes da Associação o
recebimento de comissão ou outro benefício dos fornecedores e contratados”.
O último e polêmico projeto apresentado para benefício comunitário, que seria
44
chama atenção para a cláusula do TAC que estabelece que “os recursos da indenização
devem ser utilizados em benefício exclusivo da comunidade indígena Fulni-ô, em projetos
e ações que beneficiem a comunidade, indivíduos e famílias, preferencialmente para sua
auto-sustentação econômica e de maneira coletiva” (grifos no original). Cita também a
reunião em que foi definido um rateio na aplicação da indenização, sendo pouco mais de 500
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
mil por restrição ao uso da terra, que seria destinado aos proprietários, e quase 2,5 milhões
pelos demais danos, “cuja aplicação é caráter coletivo”. E conclui:
houve concentração maior de recursos para 41,6% das famílias beneficiadas (…)
esses parâmetros revelam a desigualdade na distribuição ou alocação dos recursos
(…) constata-se que não houve eficácia na alocação dos recursos, pois o sr. Eduardo
João dos Santos Neto investiu 36,73% dos recursos disponíveis para beneficiar
11,73% das famílias existentes na comunidade indígena
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
bens que se podem desfazer facilmente, o que os tornam difíceis de serem verificados
posteriormente, justamente para fugir de qualquer fiscalização.
Foi possível entender, portanto, os vários problemas que surgiram na etapa
posterior à assinatura do TAC, que provocaram desentendimentos, atritos e acusações que
produzem efeitos ainda hoje, dez anos depois.
Percebo que ao menos parte desses problemas podem ser atribuídos a um
46
b) o modelo proposto, de que os projetos deveriam ser propostos pela
associação, julgados por um conselho local, para então ser encaminhados a uma comissão da
Funai, claramente foi fracassado – e me refiro aqui tanto a esta dinâmica quanto aos efeitos
dos projetos. Logo de início é preciso notar que a elaboração de projetos necessita de um
assessoramento técnico, pessoas com expertise que podem avaliar quais podem trazer os
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
efeitos desejados (neste caso, segundo o TAC, a auto-sustentação econômica) de acordo com
as características, potencialidades, especificidades e necessidades locais. Tal elaboração
necessita também de intensa participação dos envolvidos, e de algum acompanhamento e
orientações ao longo de sua execução.
No caso em tela, porém, vimos que alguma avaliação técnica só ocorria com o
projeto já pronto, pela comissão da Funai. Ainda assim, mesmo que sua atribuição fosse
avaliar a viabilidade técnica e financeira dos projetos, não há notícias de que algum projeto
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
destino final dos recursos pagos. A Associação também parece ter tido muitas dúvidas e
problemas na proposição dos projetos e prestação de contas, sem saber ao certo para quem e
como tinha que encaminhar os projetos (se para a Funai ou o MPF), porque novos projetos
não estavam sendo deliberados e quais falhas ou omissões constavam nas prestações. Parece
ter havido uma desinformação geral, enquanto boa parte da comunidade indígena não estava a
par dos acontecimentos.
d) Por fim, parece-me que a fiscalização foi falha, sem a apresentação dos já
48
Fulni-ô na sua maioria e à um grupo privilegiado de 17 pessoas que
recebem a maior parte dos recursos de indenizações, como se tratasse
de uma propriedade particular, sendo a terra indígena uma área
coletiva a que todos os índios tem direitos hereditários.
Também dizem que nada foi feito em benefício da comunidade, e pedem ajuda
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
do MPF para investigar o que declaram ser desvios desses recursos.
Em julho de 2016, um grupo de indígenas também encaminha às 23 a Vara
Federal de Garanhuns um documento intitulado “Manifesto de membros jovens da
comunidade indígena Fulni-ô”, no qual, em texto similar, narram o seu descontentamento com
o processo de negociação da Chesf com a comunidade Fulni-ô, requerendo a intervenção do
Juiz Federal, declarando que um grupo que se autodenomina “proprietários da faixa de terra”
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Pouco depois, os mesmos proprietários afirmam que um indígena chamado
José Araújo (conhecido como Dedo) teria feito ameaças de atear fogo às torres da Chesf, e
negam qualquer tipo de relação com ele, além de temer que tais ameaças impeçam a
continuidade das negociações.
Essas declarações revelam que, ao contrário da primeira negociação, cujo pleito
apresentado pelos proprietários não contou com oposição clara e manifesta por nenhum grupo
50
enviado em fevereiro, às fls. 164-164v diz que foi procurada por “grupos representativos da
comunidade Fulni-ô, com vistas a negociação de nova indenização”. Mas declara que “há
dissenso entre dois grupos: os auto-intitulados proprietários, e os representantes da
comunidade, que dizem que foram prejudicados na distribuição dos recursos na ocasião
anterior”.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Afirma ainda que “há indícios que os recursos foram repassados diretamente
aos índios, ao contrário do que se previa no TAC”, e que isso “gerou conflitos internos que
estão dificultando a negociação”. Ademais, cacique e pajé estariam em campos opostos, um se
alinhando aos interesses dos “representantes da comunidade”, enquanto o outro se alinharia
aos dos proprietários. Por fim, declara que “a participação do MPF é imprescindível em uma
reunião que deseja marcar em Garanhuns com os grupos interessados”.
9 Página 40 da Seção 2 do Diário Oficial da União (DOU) de 12 de Junho de 2015, acessado através do
endereço https://www.jusbrasil.com.br/diarios/93784124/dou-secao-2-12-06-2015-pg-40, em 10/7/2017.
houve pouquíssimos benefícios coletivos, somados às suspeitas e acusações que sempre
rondaram os pagamentos desses recursos, além de outros conflitos e divergências que podem
ter surgido no período.
De toda maneira, Marco Antônio teve presença ativa no coro dos descontentes
nas duas ocasiões. Desta vez, talvez se valendo de sua posição como coordenador da Funai
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
local (além de ser, como já notamos, filho do cacique), o que lhe conferia certo poder, e
sabendo do sentimento de insatisfação de boa parte da comunidade, ele esteve à frente do
início da mobilização em oposição aos proprietários. Reuniu-se, acompanhado de um grupo
de indígenas (não nomeados nos autos), com a Chesf e a Coordenação Regional da Funai em
Paulo Afonso, ocasiões em que teriam afirmado que representam “toda” ou boa parte da
comunidade, e que desejavam uma outra forma de pagamento dos recursos.
10 Página 34 da Seção 2 do Diário Oficial da União (DOU) de 28 de Abril de 2016, acessado através do
endereço https://www.jusbrasil.com.br/diarios/114200851/dou-secao-2-28-04-2016-pg-34, em 10/7/17.
52
injustos. Depois disso, afirma, preferiu se afastar das negociações.
Com o tempo, o grupo que se apresenta como representante das seiscentas
famílias passou a ter uma participação cada vez maior na negociação, marcando presença em
reuniões e representando contra os proprietários – o que pode ser consequência do vazio
deixado pelo afastamento de Marco Antônio, embora esse possa ter continuado a agir nos
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
bastidores, como afirmam os proprietários.
Esses afirmam também que houve fraude e má-fé na coleta das assinaturas do
documento supracitado, declarando que ali constariam nomes de crianças e assinaturas falsas.
Também dizem – o que foi confirmado por outros indígenas – que para obter tais assinaturas
fizeram várias promessas falsas ou que não tinham como garantir seu cumprimento, como a
distribuição de cartões para o pagamento de valores mensais às famílias indígenas que
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
destinado à comunidade, foi indevidamente subtraído pela Associação, por vezes levantando
suspeitas também sobre a Funai;
4 – declaram que a área do Ouricuri afetada pelas torres é muito maior do que a
considerada nos estudos apresentados. Duas causas possíveis para o equívoco são aventadas
por eles: a primeira, uma falha na contabilização de torres e linhas de transmissão presentes na
área indígena como um todo e especificamente na área do Ouricuri; a segunda é a alegada
54
pela demora em se chegar a uma solução. Seu objetivo seria, na realidade, ter controle sobre
os recursos. Acrescentam que alguns deles já receberam recursos para executar projetos
comunitários, que foram malsucedidos e julgados irregulares. Citam em especial o caso de
Elídio, que, segundo documentos apresentados, recebeu recursos do Programa Estadual de
Apoio ao Produtor Rural – PRORURAL, objetivando “reformar e equipar um prédio para
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
instalar um laboratório fitoterápico e implantar uma horta com irrigação”. De fato, nos
mesmos documentos apresentados consta a decisão do Tribunal de Contas do Estado de
Pernambuco de julgar irregular a prestação de contas relativa ao projeto (anexos 3 e 4).
Cabe ainda tecer algumas palavras sobre a relação destes com as duas maiores
lideranças indígenas Fulni-ô, o cacique e o pajé. Esse último se concentra principalmente em
um ponto, no que é referendado pelos proprietários: reafirma que as os dois são as únicas
lideranças indígenas que têm legitimidade para falar em nome da comunidade, o que implica
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
contudo, não é possível aceitar que a comunidade receba menos de 50% do valor total, já que
recebeu perto de nada no pagamento anterior. O pagamento dessa vez, portanto, não seria
apenas referente à área, mas uma espécie de compensação pela ausência de benefícios à
comunidade na ocasião anterior. Um terceiro, por sua vez, alega que, se não for totalmente
coletivo, é preferível que estes recursos nem sejam pagos, já que estão sendo objeto de
discórdia e conflito na comunidade. Essas opiniões foram manifestas em mais de uma ocasião
ao longo desse período, o que parece demonstrar que não houve sucesso em uma unificação
b) Fazenda Peró
56
Em paralelo a isso, segundo contam, os Fulni-ô já vinham se incomodando há
algum tempo com uma propriedade vizinha à Terra Indígena, próxima à reserva do Ouricuri,
chamada Fazenda Peró, de 206 hectares. À época, a propriedade pertencia a José Rufino. Dois
motivos os perturbavam em especial: o maior deles era a proximidade com a aldeia do
Ouricuri (segundo levantamento realizado por servidores da Funai, “o limite da Fazenda com
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
a Terra Indígena fica a 1.200m do Ouricuri”, sem indicar se está é a distância até a aldeia do
Ouricuri ou até o limite dos lotes da reserva (apud Secundino e Souza, 1999: 11)), e a
possibilidade de quem estivesse por lá ver ou ouvir o que se passava durante o Ouricuri. A
visão era possível porque em certo ponto da fazenda há uma elevação, próxima ao limite com
a Terra Indígena, de onde se avista, com alguma distância, as casas da aldeia. A visão era
especialmente clara quando havia algum tipo de desmatamento na fazenda, e durante o
período de seca.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Terra Indígena Fulni-ô, por consequência, reconhece também, a nulidade e a
extinção dos efeitos jurídicos do mencionado ato de aquisição da
propriedade e seu registro imobiliário respectivo (“Escritura Pública de
Declaração de Reconhecimento de Terra Indígena, de seu domínio pela
União e de sua posse e usufruto indígenas (...)” – anexo 6).
58
Quando foi paga a indenização da Chesf, anos depois, inicialmente a parcela
referente área impactada da Fazenda Peró foi registrada como sendo de responsabilidade da
comunidade, e que seriam, como tal, objeto de deliberação de seus dois representantes
máximos, cacique e pajé. Este entendimento consta, por exemplo, na ata da reunião ocorrida
na comunidade indígena, com ampla participação dos envolvidos, em que se acordou como
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
seria a distribuição dos recursos. Entre as decisões tomadas, consta a de que
os recursos na ordem de R$995.195,00 (…) correspondente à área do
Ouricuri e Peró, deverá ser creditado em favor da AER-Recife, após
pagamento será discutido a forma de aplicação na comunidade, conforme
gerenciamento das lideranças e comunidade” (grifos meus) (citar fls.).
Também foi registrada em manifestação do chefe do Posto Indígena, que diz
que os lotes na área do Ouricuri e “ as duas áreas com 16,1418 há e 5,6797
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
paga, alguns dos ex-participantes do movimento haviam falecido. Ainda assim, parentes
próximos – viúvas e filhos –, ainda que não tenham participado da retomada nem possuam ou
explorem terras na fazenda, receberam sua parte. Do mesmo modo, aqueles que haviam
transacionado suas terras também receberam seu quinhão. Por outro lado, os que atualmente
possuem, ocupam ou exploram a terra, mas não participaram da retomada, não têm direito a
receber – mesmo que a terra que possuem, ocupem ou explorem seja debaixo das linhas de
transmissão. Isso, contudo, não é ponto pacífico. Alguns dos atuais proprietários, como
60
próprio parecer antropológico encomendado então pela Funai questiona, no final: “como
encaminhar administrativamente a regularização da fazenda Peró se não foi formalizado um
estudo que identifique a área em que se encontra como tradicional ou não?”. A Funai,
contudo, aparentemente ignorou as ponderações do relatório – que, aliás, condenou a atuação
da Funai em todo esse processo, negociando com o fazendeiro antes mesmo que o estudo
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
fosse concluído.
Como foi baseada nos mesmos procedimentos da demarcação de Terra
Indígena, essa anulação da propriedade privada da área, portanto, registra o reconhecimento
do “domínio exclusivo da citada terra como pertencente à União”, e que “a posse direta e o
domínio exclusivo das riquezas naturais e de todas as suas utilidades em favor da
Comunidade Indígena Funi-ô (sic)”. Embora tenha sido solicitado à Funai cópia da
documentação e do processo envolvendo a aquisição da Fazenda Peró (fls. 597-598), até a
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
formado em contraposição à organização tradicional decidiu, por conta própria (e
independente da posição das lideranças), dividir as terras entre si, assim como os recursos
vinculados à sua posse. Caso sem precedentes entre os Fulni-ô, a distribuição da terra para
aquelas famílias parece não ter provocado maiores reações no início – até porque a
comunidade ainda estava dividida, e as lideranças chegaram a declarar que desejavam que
aquela terra fosse considerada à parte do restante, sem ser anexada à Terra Indígena.
62
Identificação e Delimitação. Nela, diz-se que a Terra Indígena Fulni-ô denominada
“Comunidade Indígena Peró”, ocupada pela comunidade de mesmo nome, foi adquirida com o
intuito de “garantir a vida e a reprodução física e cultural das famílias do povo Fulni-ô que
ocuparam a partir de 1998 (…). A comunidade Peró ocupa uma área de cerca de 206 hectares
(…) ela tem sido dirigida pelas cerca de 90 famílias que ocupavam a área no período de sua
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
aquisição e designação como reserva indígena”. Diz, por fim, que “em relação ao usufruto, ao
trânsito e as relações entre as duas Terras Indígenas vizinhas, com diferentes modelos de
criação, elas não deve ser regidas pela Funai, mas a partir do diálogo e entendimento das
populações das duas Terras, segundo sua organização social, usos, costumes e tradições”.
Parece-me que esta informação técnica está equivocada ou se confunde em
vários pontos. Em primeiro lugar, ela trata da Fazenda Peró como se fosse uma Terra Indígena
à parte, intitulada “Comunidade Indígena Peró”. Embora não cite a fonte dessa informação,
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
como solicitaram na ocasião anterior, querem receber os recursos diretamente da Chesf, sem
intermediação da Funai ou aprovação prévia, e, também como pleiteado originalmente,
querem receber em dinheiro, e não via projetos, preferencialmente em depósitos bancários
individuais – embora tenham considerado a hipótese de receber também via associação (a já
existente, que precisaria ser regulamentada, ou então numa nova, a ser criada), com um
porém: querem que o pagamento da parte que lhes cabe seja feito em separado da parcela
64
famílias mais amplas e a agregados, como irmãos, pais, filhos, cunhados, sobrinhos, entre
outros. Com isso, querem dizer que não seriam tão poucos os beneficiários da indenização
paga (os atuais 19 proprietários), mas um número razoavelmente maior. Há que se concordar
com esse argumento. Mesmo assim, a grande maioria da comunidade ainda estaria fora do seu
círculo imediato de relações.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Por fim, há que se lembrar que, assim como na primeira negociação, são os
proprietários os mais ativos e presentes na negociação, tendo nomeado três advogados para
acompanhar o caso, além de realizar constantes ligações e viagens a fim de obter novas
informações e cobrar encaminhamentos sobre o assunto – o que deixa claro que eles são os
maiores interessados.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Assim, contesta se esse grupo realmente representa quem declara representar.
Também acusa, como os proprietários, alguns membros desse grupo de terem
sido responsáveis, como proponentes ou gestores, por projetos comunitários dos quais não se
sabe o resultado – deixando uma suspeita no ar de que teriam se apropriado dos recursos ou de
seus benefícios.
Não obstante, entende que a preocupação de muitas pessoas com esse acordo
66
Por fim, uma última observação: uma acusação frequente daqueles que querem
que o recurso seja distribuído igualmente a toda a comunidade é a de que o pajé é muito novo
e influenciado pela opinião de seu pai, um dos líderes da Fazenda Peró. Por isso, dizem, ele
assume uma postura favorável aos proprietários e à fazenda. O perfil do pajé, um pouco mais
contido e reservado, favorece essa interpretação. Para que ele se sentisse mais à vontade de
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
expressar sua opinião, e para afastara qualquer suspeita de pressão ou influência causada pela
presença de outrem, ouvi o pajé sozinho, em sua casa.
e) o cacique
Antes de mais nada, é preciso dizer que João Francisco dos Santos Filho, mais
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
entregue “a cada um seu direito”. E cita o documento que enviou à “justiça”, no qual teria dito
que “a justiça resolvesse” a questão, e que apoiaria a decisão que fosse tomada.
Cabe explicar melhor essa passagem. Aqui o cacique se refere à sua
manifestação juntada à fl 231 dos autos, entregue por seu filho, Marco Antônio, em uma das
primeiras reuniões sobre o assunto nesse Parquet federal. O seu ponto principal é o suposto
pedido do cacique para que a questão seja judicializada.
68
declara que a “Funai errou” nessa questão, sem que fique exatamente claro a quê se referia.
Em seguida, contudo, diz que “essas coisas não gosto de me envolver”, indicando que prefere
não se posicionar a esse respeito.
Questiono também sobre as histórias de que partes do Ouricuri foram
apropriadas pelos proprietários vizinhos, e cito em especial o lote onde fica a barragem do
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Cariri, próxima à reserva. Ele diz que esse lote tem proprietário, mas que “antigamente aquilo
era reserva”, sem dar maiores detalhes. Também confirma a história de que, originalmente,
eram nove lotes destinados ao Ouricuri, e que hoje seriam doze (na realidade, treze, somado
ao da entrada). Afirma que alguns lotes vizinhos à reserva foram trocados por lotes em outros
locais, o que confirma as informações de outros indígenas, embora não tenha indicado quais e
quando isso ocorreu.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
gerenciá-los) são parte da organização social Fulni-ô, lembrar outras negociações de
pagamento de indenizações feitas exclusivamente aos proprietários dos lotes diretamente
afetados, e declarar temer o risco de “consequências trágicas” para a comunidade caso haja
mudanças nessa organização.
Passo, agora, aos quesitos encaminhados pelo Procurador da República.
70
estavam a permissão irrestrita para que funcionários da companhia entrem na Terra Indígena,
sem autorização prévia, para fazer qualquer manutenção, construção ou inspeção necessária,
assim como podar ou cortar as árvores que fossem consideradas prejudiciais para o
funcionamento das referidas linhas e impedir plantações que ultrapassem três metros de altura
na faixa de servidão, como também construções de qualquer tipo.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Tais acordos foram realizados em um período pré-Constituição Federal de
1988, que inaugurou uma nova política indigenista no país. Esse fato, somado à ausência de
informações a respeito de estudos de impacto ou algum tipo de diálogo com a comunidade
Fulni-ô a respeito das obras, faz co que seja fácil imaginar que não houve então preocupação
alguma sobre os possíveis efeitos que a execução das obras e a permanência das linhas de
transmissão pudesse ter sobre a comunidade e seu território, quanto menos tentativas de
mitigá-los ou compensá-los de alguma maneira – exceto, como já vimos, com o pagamento de
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
crescimento de árvores e arbustos, que poderia aumentar o risco de choques elétricos. Essas
máquinas também impediriam o usufruto integral da área, ao submeter as lavouras ao risco de
serem derrubadas.
Já quanto aos choques elétricos, o temor de sua ocorrência aumenta quando há
um longo período sem corte de árvores e arbustos pela Chesf. O usufruto da barragem do
Cariri nesses períodos, que está na faixa de servidão das linhas e é fonte de lazer e de pesca
quando está cheia, eleva ainda mais esse temor.
72
especial por conta das máquinas da Chesf, além da falta de chuva e de interesse de exploração,
teria diminuído sua utilização. Ademais, já há algum tempo há uma orientação de que seja
preservada a mata de todos os lotes pertencentes ao Ouricuri, tanto porque a caatinga fechada
é importante para a realização do ritual, quanto para protegê-lo do olhar e dos ouvidos de
pessoas estranhas à comunidade.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
É em boa parte por conta da importância atribuída pelos Fulni-ô aos cuidados
para manutenção do segredo de todos os aspectos ligados ao seu ritual que há uma certa
preocupação com a presença das linhas de transmissão da Chesf ali. Mesmo que os lotes do
Ouricuri impactados pelas linhas estejam a uma certa distância do local do ritual, sua
existência exige o desmatamento da faixa de servidão – deixando a área mais “desprotegida”
ao olhar dos intrusos – e a sua manutenção periódica por funcionários da Chesf, expondo seu
ritual à presença próxima de pessoas de fora.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
ficou consideravelmente mais próximo ao que a companhia se dispunha a pagar do que aquele
avaliado pelo órgão indigenista.
3 – a falta de avaliação prévia dos projetos, assistência técnica para sua
elaboração e acompanhamento de sua execução fizeram com que eles se tornassem, ao fim,
fracassados, sem cumprir o objetivo estabelecido pelo TAC. Ademais, a falta de clareza sobre
a destinação dos recursos pagos pela Chesf fez com que inúmeras acusações, suspeitas,
conflitos e desconfianças brotassem na comunidade, que ainda se fazem sentir e que têm
74
recursos sejam pagos, para depois então definir como aplicá-los. Em teoria, isso garantiria que
se chegasse mais rápido a um acordo para a assinatura do TAC, deixando o tema mais
delicado para um segundo momento, numa discussão que prescindiria da Chesf, que já teria
cumprido sua obrigação de fazer o pagamento.
Na prática, contudo, os obstáculos para um acordo surgiram da mesma
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
maneira, ao menos para os indígenas. Mesmo que o TAC evitasse tratar da forma de
pagamento, essa permaneceu sendo a maior preocupação tanto dos proprietários e do pajé
quanto dos representantes das seiscentas famílias, que continuaram na expectativa de uma
definição, ainda no âmbito dessa rodada de negociação, preferencialmente no próprio texto do
TAC: afinal, o pagamento será feito nos mesmos moldes do anterior ou não? Se houver
mudança, qual será ela? O único item que trata do assunto na atual minuta, o já citado 2.3,
virou alvo de controvérsia: do lado dos proprietários, desejam que fosse incluída no texto uma
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
tais lideranças. Por vezes isso acontece levando-se em conta seus conhecimentos rituais, sua
articulação política ou capacidade de mobilização, ou critérios diversos e até desconhecidos,
vedados a estranhos – como é o caso dos Fulni-ô. De todo modo, elas agem orientadas pela
estrutura social onde estão inseridas, e de acordo com as expectativas coletivas depositadas
sobre os detentores destes cargos, cujo cumprimento que lhes dá legitimidade. Embora as
mudanças históricas e a personalidade dos ocupantes possam influenciar essa atuação, ainda
existirá uma estrutura social na e pela qual exercem suas atribuições, e ainda existirão as
76
mas das quais não há informações que tenham sido cumpridas ou executadas de fato. A
garantia de seu cumprimento e execução é fundamental para que os índios não sejam
prejudicados.
Quanto às obrigações da Chesf, não há nenhuma informação sobre o
cumprimento dos itens g (que estabelece que a Chesf deve “apresentar à Funai a relação dos
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
empregados que ingressarão na Terra Indígena Fulni-ô para efetuar a manutenção das linhas
de transmissão”), do item i (que constitui como obrigação da Chesf “orientar regularmente os
índios Fulni-ô, por meio de palestras e cursos, acerca de questões ligadas à segurança, saúde e
preservação ligadas às linhas de transmissão de energia elétrica”) e do item j (que implanta um
Plano de Gestão Ambiental no corredor das cinco linhas de transmissão, detalhando seus
programas).
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
De todo modo, pode-se argumentar que, novamente, representantes de todas as
partes da comunidade Fulni-ô estavam presentes na reunião e concordaram com a proposta, e
deve-se respeitar a sua autonomia de tomar estas decisões. Embora seja verdade, é possível
questionar, em primeiro lugar: que possibilidades foram apresentadas então aos Fulni-ô?
Havia alternativas, foram feitos novos estudos, a Funai se manifestou sobre o valor final? Ou
seja, entre uma proposta concreta ou nenhuma, eles preferiram a primeira opção. Em segundo
lugar, retomo o assunto já tratado anteriormente: quais instrumentos, meios, informações os
78
decisão por conta própria, sem informação, suporte ou alternativas, pode também terminar
fracassado.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Como já expus anteriormente, há atualmente alguns modelos ou formas de
partilha dos valores da indenização da Chesf sendo pleiteados por diferentes membros ou
grupos da comunidade Fulni-ô. Podemos dividir tais propostas, grosso modo, em duas
categorias: uma, a que pretende manter, em linhas gerais, o mesmo formato acordado antes da
assinatura do primeiro TAC, com a distribuição de acordo com a área afetada de cada lote pela
faixa de servidão das linhas de transmissão; e outra, a que pretende modificar tal modelo, em
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
como representantes da comunidade, teriam direito de determinar ou orientar seu uso) seja
paga preferencialmente através de projetos, pois prefere evitar que seja diretamente
responsável pelos recursos.
Na outra categoria, que deseja modificar o modelo anterior, revertendo uma
parte maior à comunidade do que aquela anteriormente paga, estão incluídos os representantes
das seiscentas famílias e o cacique. Em comum, todos eles entendem que a comunidade
80
para os proprietários – reconhece assim, em suas palavras, o “direitos dos proprietários”, mas
considera que os recursos foram destinados à comunidade, e que “quando vem alguma coisa
em nome da comunidade é pra ser dividido entre todos”. Criticando a falta de união entre os
Fulni-ô, pede que os índios olhem “para seu irmão” para defender a idéia de que a maior parte
dos benefícios seja coletiva. Contudo, por fim, recomenda que se não se chegar a um
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
consenso, que “a justiça resolva” - considerando aqui o Ministério Público Federal como parte
da ideia de “justiça” aqui veiculada, como já apontei.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
sempre concordaram com ele, como atesta o documento citado na nota de rodapé 6.
Importante dizer também que, embora existentes, não há garantia de que os foros eram
efetivamente pagos antes da presença do SPI na área, quanto menos que chegassem aos
indígenas, principalmente depois da Lei de Terras de 1850.
Analisando o tema em seu parecer sobre o chão de casa entre os Fulni-ô, Jorge
Bruno Souza, a partir de uma ideia de “prática tradicional” como “aquela cuja existência é
reconhecida pelo grupo como parte do seu modo de vida, consolidada pela sua continuidade
Peter Schroder, por sua vez, também nota que “foi imposto aos Fulni-ô um
modelo de terra indígena totalmente estranho à sua territorialidade [referindo-se à demarcação
de 1878, com a divisão em lotes]” (2003: 52). Ele também cita Coutinho Jr. e Melo, que em
seu artigo (2000) declaram que “a conveniência ou necessidade da permanência do
arrendamento como instituição socioeconômica aparenta ser uma unanimidade entre os Fulni-
11 Dantas (2010: 100, apud Souza, 2017) registra a existência de um abaixo-assinado dos Fulni-ô ao Diretor
Geral das Aldeias da província de Pernambuco, de 1860, em que manifestam insatisfação com o fato do diretor
parcial da aldeia por esse não respeitar o acordo no qual apenas parte das terras seria aforada (isto é, arrendando
uma parte maior).
82
ô, seja qual for a facção a que pertençam” (2000: 62) – lembrando que sua análise baseiam-se
somente em informações disponíveis na literatura, já que estes autores não realizaram trabalho
de campo. Schroder, contudo, contesta essa conclusão, já que, ao menos durante seu período
entre os Fulni-ô, constatou que “surgiram diversas vozes que criticam a prática dos
arrendamentos em termos gerais, propondo alternativas econômicas para uma terra
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
indígena ampliada” (88; grifos meus).
Marco Paulo Schettino, em seu parecer, também declara (novamente, lembro
que baseando-se apenas em informações obtidas através da bibliografia) a respeito da divisão
da Terra Indígena em lotes:
pode-se afirmar que ela foi incorporada como uso pelo grupo a partir de uma
imposição decorrente do contato interétnico, chegando, portanto, a se
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
cito novamente as opiniões dos autores que se manifestaram sobre o assunto – geralmente
tratando sobre arrendamento, mas cujas conjecturas cabem no presente caso. Schroder, na
conclusão de seu relatório, embora note que o loteamento da terra indígena “produziu graves
distorções sociais e econômicas dentro da Terra Indígena Fulni-ô” e que “os arrendamentos
(…) assumiram dimensões cada vez maiores que exigem soluções limitativas imediatas”
(2003: 109), afirma ao final que, quanto à demarcação,
Souza, por sua vez, ao imaginar os efeitos que uma possível interdição do
arrendamento poderia provocar na Terra Indígena, declara que
é possível que a simples vedação do arrendamento tenha impacto na
qualidade de vida de segmento da população Fulni-ô, que tem no
arrendamento sua principal fonte de renda.
É também possível que essa medida venha a instigar conflitos tanto internos
quanto externos, visto que as atuais lideranças serão chamadas tanto pelos
“proprietários” quanto pelos que desejam mudanças na estrutura fundiária
da terra indígena a se posicionar, abrindo caminho para a reemergência das
disputas faccionais, sempre muito presentes no contexto Fulni-ô (...).
84
pergunta: quais os possíveis efeitos para os Fulni-ô de cada modelo de divisão dos recursos da
Chesf proposto pelos integrantes da comunidade?
Como já afirmei, entendo que tanto o arrendamento quanto o pagamento de
indenizações individuais estão assentados em um mesmo princípio atualmente vigente na
Terra Indígena Fulni-ô: o de que a terra, enquanto meio de produção e possuidora de valor
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
econômico, é vista como espaço privado, e, portanto, é privado também qualquer rendimento
ou benefício que lhe diz respeito. Tal princípio se concretiza no reconhecimento dos lotes
privados e de suas transações. Mesmo levando-se em conta que esse sistema foi imposto ao
Fulni-ô, e que produz efeitos negativos que têm se intensificado no período recente – e ainda
que se reconheça que os arrendamentos deveriam ser limitados ou controlados, como
sugeriram alguns –, é inegável esse princípio ainda norteia a concepção da terra entre os
Fulni-ô.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Alguns dos representantes dessas famílias já declararam que não aceitarão de modo algum que
a comunidade seja prejudicada dessa vez.
Ainda assim, reitero que mudanças como essa devem ser feitas com cautela,
segurança e devem ter efeitos amplos. Modificar um aspecto já tão arraigado (mesmo
considerando seus vários aspectos negativos) da organização fundiária Fulni-ô dessa maneira,
e apenas com respeito à indenização da Chesf, parece abrir um precedente complicado e um
tanto arbitrário.
86
periodicamente, e que a deliberação da proposta ficaria prejudicada (fls. 295-297 do PA
1.26.000.000716/2004-87).
Na realidade, de acordo com as informações coletadas em campo e as consultas
bibliográficas, o que existe não é exatamente um órgão colegiado que delibera periodicamente
sobre questões diversas e comunica suas decisões, como se poderia esperar. Ferreira (2000:
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
47-48) declara que eles são como conselheiros do cacique, “líderes políticos (…) que tem
como principal função auxiliar o cacique em suas decisões”. Se Ferreira relaciona suas
funções ao cargo de cacique, Schroder, por sua vez, diz apenas que há “um número não
revelado de conselheiros”, e que “tampouco se revela aos não-indígenas quem integra o
conselho”.
Em meu trabalho de campo, percebi que há uma resistência ou reserva sobre
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
acompanhamento constante. De todo modo, surpreende constatar que, até minha entrevista
com ele, não havia clareza, para os Fulni-ô e para sua própria família, segundo declararam,
quanto à sua posição sobre o assunto, já que até então sua única manifestação foi o ofício que
registrou o seu pedido pela “judicialização” do caso, assunto já abordado aqui.
Embora surpreenda que até aquele momento não tivesse tornada pública sua
proposta, essa postura do cacique parece condizer com seu perfil. Vimos que na primeira
negociação ele preferiu manter-se com relativa distância das tratativas, evitando assumir uma
88
passada, e é um dos líderes da Fazenda Peró. Seu perfil um pouco mais reservado parece ter
estimulado essa interpretação. Contudo, na entrevista individual que realizei com ele, essa
mesma posição foi mantida.
Divergências como essas são bastante prejudiciais a um acordo, já que criam
incertezas e paralisam o prosseguimento da negociação, diante da insegurança e do risco de se
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
deslegitimar uma liderança ao adotar o modelo proposto pela outra. Entendo que isso ocorreu
neste caso principalmente pelas atuais circunstâncias envolvendo as duas maiores lideranças
Fulni-ô, que dificultaram um diálogo e um discurso único de ambas: de um lado, o cacique
idoso, com a saúde frágil e sem condições de acompanhar de perto os desdobramentos das
tratativas (e, provavelmente, pouco disposto a isso, como anteriormente); de outro, um pajé
jovem, com pouca experiência, filho de uma liderança conhecida e cuja presença levanta
suspeitas sobre a independência da posição do pajé. Talvez essa situação tenha criado uma
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
possuem há anos. Segundo eles, estes lotes sempre mantiveram os mesmos limites, durante o
todo período em que estão sob sua posse e nos períodos anteriores, fato amplamente
reconhecido pelos proprietários dos lotes vizinhos, sem registro de contestação alguma por
parte deles ou da comunidade.
Para tentar averiguar se há elementos que possibilitam que se confirme ou
rejeite a narrativa sobre a apropriação, em primeiro lugar, visitei alguns dos lotes vizinhos aos
do Ouricuri em duas ocasiões, primeiramente acompanhado pelos proprietários, e uma
90
informações encaminhadas pela Funai, podemos identificar algumas omissões e lacunas sobre
aspectos importantes, que lançam dúvidas e deixam espaço para questionamentos, fazendo
com que as contestações como aquelas aqui tratadas não possam ser respondidas de imediato.
Entre elas, estão as seguintes:
1 – não há esclarecimentos sobre o método utilizado para produzir os mapas
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
nem localizar as linhas de transmissão e as torres;
2 – não declaram como foram identificados os limites dos lotes: foram
utilizados dados da Funai? Quais? Houve medição in loco, ou os dados sobre a localização
das torres e das linhas foram apenas sobrepostos aos mapas dos lotes já existentes? Se houve
medição, dados pré-existentes foram considerados como referência, ou alguém informou seus
limites? Quem? Se foram levados em conta indicações dos próprios proprietários, tais
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Terra Indígena Fulni-ô com o mesmo formato e numeração de hoje – copiado e juntado aos
autos de forma fracionada, o que dificulta sua visualização integral (fls. 215-236). De todo
modo, essa planta, trazida como anexo à carta s/nº de indígenas Fulni-ô (fl. 214), conta com
anotações à mão em cada um dos lotes, que informam o nome do sítio em que cada um está
localizado. Isso porque os Fulni-ô identificam as áreas de seu território não só por lotes, mas
por sítios, que se sobrepõem àqueles, unidades com nomes próprios e que podem abarcar
alguns ou vários lotes ou trechos do território. É delicado utilizar as informações dessas
92
1 – lotes que foram incorporados posteriormente:
Lote nº 332: de fato, nos livros de 1971 e 1972 há registro de arrendamento
nesse lote, o que indica que não era reservado então para o Ouricuri. Não há registros nos
demais. Em 1995, Ferreira, registra que, segundo os índios, embora proprietários já tivessem
sido registrados em livros anteriores, àquela data ele pertenceria à reserva do Ouricuri.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Lote nº 352: registros de proprietários em 1971, 1977, e 1983. Em 1987 e 1988
há registro também de arrendatários. Não obtive cópia referente a esse lote do levantamento
de Ferreira.
Lote nº 373: não obtive informações sobre este lote nos livros antigos. No
estudo de Ferreira, há apenas a informação de que faz parte daqueles reservados ao Ouricuri –
com a mesma observação quanto ao registro de proprietários em livros anteriores.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
nove lotes, e isso parece confirmar que nunca houve usufruto privado dessas terras – isto é,
que de fato sempre foram reservados para a comunidade, para a prática do seu ritual.
Quanto aos lotes que teriam sido incorporados posteriormente, o registro de
arrendatários nos lotes 332 e 352 em alguns dos livros antigos comprovam que nem sempre
teriam sido parte da área coletiva. Contudo, em 1995 já eram reconhecidos como parte dela,
segundo Ferreira.
94
Figura 3 – mapa dos lotes do Ouricuri, com a indicação dos marcos visitados.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 05975B68.EDC3BDE1.E642E9A3.E3E55B05
Foto 1 – local do marco 1. Ele teria sido arrancado para construção da cerca.
96
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 05975B68.EDC3BDE1.E642E9A3.E3E55B05
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 05975B68.EDC3BDE1.E642E9A3.E3E55B05
Foto 2 – a pedra na base da cerca seria o marco 2.
98
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 05975B68.EDC3BDE1.E642E9A3.E3E55B05
cerca.
Foto 6 – marco 6. Segundo os indígenas, este também teria sido arrancado para a construção da
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 05975B68.EDC3BDE1.E642E9A3.E3E55B05
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 05975B68.EDC3BDE1.E642E9A3.E3E55B05
Foto 7 – marco 7, já no limites da Terra Indígena, com três testemunhas, não visíveis na foto.
Aqui são três, em lugar de quatro, porque indicam apenas a divisa entre dois lotes e os limites da Terra Indígena,
e não entre quatro lotes.
100
Além de indicar a localização dos marcos, os proprietários trouxeram para a
visita alguns indígenas mais velhos que nos acompanharam, confirmando a identificação dos
nove lotes originais do Ouricuri, a propriedade particular dos lotes vizinhos, e declarando que
os limites entre eles, assim como os marcos divisórios, correspondem àqueles que sempre
foram reconhecidos.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Com os representantes das seiscentas famílias percorri as mesmas áreas,
também acompanhado de indígenas mais velhos. Segundo sua narrativa, vários dos lotes
circunvizinhos seriam parte da área coletiva. Estariam incluídos aí ao menos os lotes onde
está a barragem do Cariri e além, somados aos lotes que estão atrás da área do Ouricuri, já na
fronteira da Terra Indígena – aqueles com área menor que 30 hectares, chamados muitas vezes
de “sobras” pelos indígenas, por serem menores que os lotes “completos”.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
verificando a correspondência entre os mapas disponibilizados e o reconhecimento de fato
pelos indígenas. Embora tenha tratado do tema aqui em termos gerais, uma abordagem mais
específica e aprofundada ultrapassa os objetivos e o alcance do presente parecer, limitado
também pelo tempo e ausência de informações.
Em suma, mesmo que os dados obtidos não permitam que se chegue a
conclusões definitivas, há diversos elementos que apóiam a tese de que a reserva do Ouricuri
se restringe aos lotes constantes no mapa aqui reproduzido, que corresponderia, em teoria, à
102
apenas àqueles que participaram ativamente do movimento, e se arriscaram para obtê-la. Na
época, segundo textos sobre o assunto, cacique e pajé Fulni-ô, mesmo que concordassem com
aquilo que os motivou – a proteção do Ouricuri – chegaram a sugerir que essa área não fosse
incorporada à Terra Indígena, mas destinada exclusivamente a esse grupo. De todo modo,
quando enfim regularizada, distribuiu-se o direito a uma gleba de terra da fazenda, do mesmo
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
tamanho padrão, para todos os participantes do movimento, e de tamanho maior para seus
líderes, como já vimos.
Quanto aos impactos diretos produzidos pelas torres e linhas de transmissão da
Chesf, estes são basicamente os mesmos daqueles produzidos no restante do território
indígena, com uma importante diferença: como a ocupação dessa área só aconteceu em 1998,
não deveriam ser considerados aqueles impactos anteriores a essa data (ou seja, desde a
instalação das torres que atravessam a área), já que, para os indígenas, eles só passariam a
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
posses nem transferências ou transações. Desde sua “aquisição”, aliás, a Funai parece não ter
intervindo na área em nenhuma ocasião.
Por isso, foram adotadas as providências que foram julgadas justas e
apropriadas por aqueles que estavam à frente da retomada, tomadas à medida que as situações
surgiam. Como os Fulni-ô estavam divididos no período, mesmo que a comunidade como um
todo se beneficiasse da expulsão dos brancos da fazenda, o movimento foi visto como algo
que dizia respeito apenas ao “grupo”, e não à comunidade. Quando tiveram sucesso em sua
104
povo enquanto coletividade – resguardadas suas formas próprias de transmissão de
propriedade e organização territorial. Talvez por isso alguns dos vinculados à Fazenda Peró
ressaltem que a ideia original era que a área fosse registrada em nome de uma Associação
criada por eles, o que não teria sido possível por conta de inadimplências ou irregularidades
em seu registro. Sabe-se, contudo, que qualquer área indígena demarcada é de propriedade da
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
União, e não de pessoas físicas ou jurídicas – ou seja, a não que eles adquirissem a área
segundo uma noção civil da propriedade (em cujo caso provavelmente não haveria
envolvimento da Funai), esse registro não seria possível. De todo modo, foi reconhecida a
tradicionalidade da área na escritura, e não houve compra, mas anulação dos títulos de
propriedade.
Assim, alguns indígenas atestam ou se perguntam se a área não deveria ser
coletiva, ou ao menos os recursos relativos a elas, já que formalmente foi adquirida com esse
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
Ele apresenta três questões distintas envolvendo terras suas.
A primeira é relativa ao lote 379. Segundo ele, metade do lote pertenceria a
dois herdeiros, José Caroba Neto e sua irmã, Irailda Feitosa Ribeiro (por vezes também
registrada como Railda Pereira da Silva, anexos 11, 12 e 13), cada qual com 7,5 hectares.
Contudo, não teriam sido delimitados, no terreno, as glebas de cada um, ficando apenas
registrado formalmente o direito de usufruto ou posse de uma área no tamanho indicado. Em
106
No entanto, outros proprietários, cujas terras estão distantes das linhas e torres, estariam à
frente da negociação. Portanto, assim como Vicente, interpreta que deveria receber uma
parcela proporcional ao tamanho de sua terra, seguindo o mesmo critério aplicado no restante
da Terra Indígena, modificando o modelo anterior. Também encaminhou na ocasião relação de
outros indígenas “representantes da Fazenda Peró” que não teriam participado da indenização
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
anterior (anexo 22).
O último indígena que relatou seu caso foi Manoel Ribeiro de Sá. Esse, na
realidade, já é um caso antigo, reeditado por conta da nova indenização: nas negociações do
TAC anterior, Manoel já havia encaminhado seu pleito. Em suma, ele reivindica parte da
indenização relativa ao lote 378, relativa aos danos passados. Tal lote lhe pertencia até 2003,
quando o vendeu a Eduardo – justamente o ano em que este deu início à sua reivindicação por
indenização pelas linhas de transmissão da Chesf no território Fulni-ô. Como o TAC de 2007
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
A segunda: registro novamente a solicitação dos advogados dos proprietários e
representantes da Fazenda Peró para que conste nos termos do TAC que seus honorários
advocatícios sejam pagos diretamente a eles, e que seus nomes sejam incluídos expressamente
no texto. Encaminham instrumentos procuratórios de todos os indígenas que os constituíram
como seus representantes (fls. 402-441).
É o parecer.
108
RELAÇÃO DE ANEXOS
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
ANEXO 3 – Processo 0202972-8, do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, com
julgamento da prestação de contas de repasse realizado à comunidade Fulni-ô, em nome de
Elídio de Freitas, presidente do Grupo Jovem da Tribo Fulni-ô.
ANEXO 4 – Detalhes do processo 0000100-06.2004.8.17.0150, da Justiça Estadual de
Pernambuco, sobre o repasse de verbas indicado no anexo anterior.
ANEXO 5 – Manifestação dos representantes da Fazenda Peró à Funai, em 1998.
ALBUQUERQUE, Áurea Fabiana A. de. & DOPPLER, Werner. Distribuição da terra, renda
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
familiar e uso dos recursos produtivos: o caso Fulni-ô. In: SCHRÖDER, P. . Cultura,
identidade e território no Nordeste indígena: os Fulni-ô. 1. ed. Recife: Editora Universitária da
UFPE, 2012. v. 1. 262p .
COUTINHO, Walter. J. & MELO, Juliana G. Reflexões sobre a questão fundiária Fulni-ô. In:
Marco Antonio do Espírito Santo (Org.), Política indigenista: Leste e Nordeste brasileiros: 55-
64. Brasília: Funai, 2000.
FERREIRA, Ivson. Relatório: grupo indígena Fulni-ô. Relatório para a Funai. Recife, 1996.
SECUNDINO, Marcondes de Araujo & PAIVA e SOUZA, Vânia Fialho de. História
110
Acontecida, História Vivida: considerações sobre a incorporação da fazenda Peró à Terra
Indígena Fulni-ô. 2000 (Relatório para a Funai).
SIQUEIRA, Otávio Rocha de. Parecer Técnico 1/2015. Parecer elaborado no âmbito do
Inquérito Civil n. 1.00.000.014458/2013-13.
Assinado com certificado digital por OTAVIO ROCHA DE SIQUEIRA, em 03/08/2017 16:22. Para verificar a autenticidade acesse
SOUZA, Jorge Bruno. Parecer Técnico nº 252/2017 – SEAP. Parecer elaborado no âmbito do
Procedimento Administrativo nº 1.26.005.000031/2014-62.
TERMO DE DECLARAÇÕES
Aos 6 dias do mês de junho de 2016, compareceu nesta Procuradoria da República no
Município de Garanhuns o indígena Fulni-ô Vicente Pereira da Cunha, RG nº 2.804.827 FUNAI,
CPF nº 892.051.704-53, tel: (87) 99915-5553, residente e domiciliado na Aldeia Indígena Fulni-ô,
em Águas Belas/PE, para noticiar os seguintes fatos:
QUE, como consta nos anexos 1, 2 e 3, adquiriu em 2007 duas glebas de terra nas quais
passam as torres de alta tensão da CHESF, uma no lote 379, e outra na Fazenda Peró, medindo
respectivamente 7,5 hectares e 25,5 hectares;
QUE, no caso da Fazenda Peró, procurou recentemente o proprietário anterior da área
que adquiriu, para tratar do recebimento de sua parcela da indenização da CHESF, já que as torres
atravessam as suas terras, ao que recebeu a resposta que não tinha direito a nada;
QUE as 180 famílias que participaram da retomada da Fazenda Peró em 1996, embora
em grande parte já tenham vendido as suas terras e saído do local, receberam suas parcelas da
indenização paga em 2007 pela CHESF;
QUE, durante a negociação para aquisição destas terras, nunca conversaram sobre o
pagamento da indenização pela CHESF;
QUE, quanto à sua parcela do lote 379, por onde também passam as torres da CHESF,
também procurou os outros herdeiros proprietários do restante do lote, ao que responderam que o
declarante nunca receberia nada;
QUE já procurou o coordenador técnico local da Funai, assim como cacique e pajé, para
tratar do assunto, e que nada foi resolvido;
QUE como já declarou a esta Procuradoria, através do Termo constante à fl. 116, quanto
ao lote 382, que pertencia a seu pai, e que possui 10 herdeiros (um deles sendo sua mãe, que
adquiriu as terras de um dos filhos), não foi paga a parcela devida da indenização anterior da
CHESF (dos 1O mil que deveriam ter sido pagos a cada um, foi pago apenas 6 mil), assim como não
é pago o valor do arrendamento destas terras.
Assim, solicita a intervenção deste Parquet Federal para que suas reivindicações
referentes às três situações acima descritas sejam levadas em conta na ocasião de pagamento de uma
nova indenização pela CHESF.
MINJSTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria da República no Município de Garanhuns
Av. Idelfonso Lopes, 174, Heliópolis - 55296-230 - Garanhuns - PE
Pabx (87) 3761-1266
Lt :f.Q,\i.u d4. e�
Vicente Pereira da Cunha
Documentos anexos:
EXTENSÃO 30 ha
••
PROPRIETfi.rUO/OCUPANTE {J.9 88) - · l\di 1 ton Zeferino dos San tos 15 ha
José Caroba Neto e
Railda Pereira da Silva 15 ha
ARRENDATÃRIOS - 1988 - 01
1995 - Sem informação
,.1 �;"'"
"nlropólogo 1/1'
Po,, 641 , o. 105.8
J-,.!-clO
,bo1r
PH ••ld-1o J3a fui,.. 11
• e
aciqu•
.V\c
� e,1a1- P�
• 1
souza
Lucio �obrinho
\
................. . ., .. . , • • •........ ,1' &
•·.a.a-.&.�•·-· .a-..,a'"a."-' .._.,,_ .. ,......_ . , •_ ., ...__,1,a.
TERMO DE POSSE
DETERMINA:
.,
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Fundação Nacional do Índio - FUNAI
Posto Indígena Fulni-ô
de junho de 2009
QUERQUESANTOSBARROS
• HEFE DO POSTO INDÍGENA FULNl-Õ
TERMO DE DOAÇÃO
TEST.EMú1.UIAS :
/
� 1
2- --.Jt�l.z.9:-�:rL.1 aA�}./.s../:..i ---....JP�j,"'io&J.C
(/V::::;., '/l
.wltO:a._·,..
e..:i=;,/V� ..;;A�--- ....v:;...·_5i/�'..:.· �4'--/....;{;...A_/__
-· '-",,.f_...;;di;..;;;..;;�
HOSANA RODRI�S DA SILVA - Doméstica da doadora.
N9 DO LOTE - 382
EXTENSÃO - 30 ha
ARRENDATÃRIOS - 1988 - 03
1995 - Sim
OBS - Foi informado que está ocupado por José Pereira da Cunha.mais
hercl.ei ros.
\
,-
\
'"º" '�"""
Antropólo go t,')!.
Por, t-0 1 o. .XIS.B
osiFrederico da Silva
'·
.1
Manoel M. de Souza
,., ll,,o,lddo /3a,IH,,a
,.,, (e.,r,•lo r�•:• �116clo
CACIQUE fULNl-0 Vice Ceelqu. Fulnl·O
- PF Ãau• Bela, • PE
IGUAS 8ELA5
r '
\.
I l
f,•.
Eloi
Declaracão J,
,
desta venha tomar conhecimento, a partir d�.ta data.
( dfP
./
VJJ.._ __,· � r·1,1,, .�_,,_,.
Valdemir Guilherme dos San tos
,>.., �Y"'"' , )
I
/'
���i.:.L---,.J,C::.. = �·��h
À
e dos Sm d:os
(IYIe da: >o o:J
bff
:�., .. R:·. ·� · .. ··· �::�; :-:, ',,, �-h) DA :-,.s_\;,-., Sapé, 06 de Ag< sto de 2007.
:·:ür·.![: �H.3) ��;··; ,.. L341
\),e" ------ ..___ - . -_....- ..... -- -
(� 0,-. ::·"J'.f'; Y'jo\!� ;,(�:�,�� r\
.-��: ,·:"'.'''·'"!Li:··--�����......_ �· I': � •. ,• • r � N,, \d ., � ,..,
.-,.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Funda<:ão Nacional do lndio- FUNAI
Posto Indígena Fulni-ô
DECLARAÇÃO
O Quantitativo de Herdeiros é num total de 10 (dez) filhos, ficando D. ITACI com os 3 (trê!)
hectares de terra. 1,.i. J1
E, para firmar, assino a presente declaração em 03 (três} vias de igual teor para uri1 só
efeito
�FRANCISCO RIBEIRO
��
ÍNDIO(a) FULNI-Ô/DOADOR(a)
RG.: 3851874
CPF: 576948184-68
TESTEMUNHAS:
'
347m
TOTAL DA ÁREA MEDIDA EM M2
= 381.522,5 M1
= 38.152,25 HECT.
768m
455 m
= 241.40S,5 M2 395
436m
= 24.140,5'5 HECT.
707m
TERMO DE DOAÇÃO
TESTEMUNHAS: 1/v:
01) ,,C(LJ
r
02)---f'Mt/!B �:mo�
,'
Figura da área:
8m
30m
57m 386 m
OBS: Com todos os cálculos feitos da área medida ficou constatado que a mesma
contém no seu total 30.567 m2 de área, o que corresponde a 3.056,7 hectares de
terra. Sendo utilizada pela CHESF, toda a área.
am
lsn es�
,Á;JlJ_���
.��r� Ferreira Pontes
Técnico responsável Técnico acompanhante FUNAI
• • 4
,, I
,,,
I'
!· !
.'
,
;
' J .
TERMO DE DECLARAÇÕES
;,
Mup.icípio 'de Garaqhuns o indígena Fulni-ô ·José Ribeiro da Silva Neto, RG nº 3966089 SSP-PE,
CPF nº ,9.7454r24�04-72 . tel: (87�5=5553, ·�esidente e dotniciliadd na Aldeia Indígena Fulni-ô,
1 · ! ., '
em Águas Belas/PE, para noticiar os.seguintes fatos: '·
. 1
QUE. ele e seu pai participaram· da retomada da Fazenda Peró, mas apenas seu pai
1:
recebeu a indenização paga pela CHESF em 20Q7;
' QUE &eu pai d�ou recentemente. suas terras a elê, conforme. Temip de Doação anexo
'
,� . '
(anexo 1);
. .
QUE; hoje apenas quatro:. ocupantes da Fazenda Peró têm suas terras diretamente
afetadas pJlas linhas de transm1ssão tla CHI;:SF,. estando o 1ecl��te entre e,l�s;
1 ', '
1
· Q�E, não obstãnte,: outr�s ocupantes cujas terras não são afetadas pelas linhas de
1
transmissão da.CHESF, como o �ai .do pajé, Cildo, estão à frente das negociações da indenização
quanto à Fazenda Peró;
QUE� em conversa com o advogado dr. Dimas,• que representa as famílias da Fazenda
l !
Peró, este teria dito' .ao declarante que fizesse uma lista das faln:ílias ligadas·�. ele, dentre as 180 que
participaram da retomada, para eventual participação em novo pagamento de indenização pela
CHfSF;
'' l
! 1
QUE, no entanto, posteriormente bimas teria dito que não teria ·nenhum poder de 1
'
.
1
listadas no .do7umeµto anexo recebam
. as devidas parcelas da in,denização a ser paga pela CHESF.
· Nada m foi na· portunidad� acrescentado, no. que foi ncerrada essa representação,
1
sendo por mim, �......,..='---lo�--'.._,���"".::.._---' Otávio Rocha de Siqueira, Analista do
1
MPU/Perícia/Antropologia, PRM-Garanhuns/PE, mat. nº,21.890, assinada, e pelos declarantes.
! '
1 '!
1.
f •• :.
•• 1. '. , ,l
••
I f :•
tl
1•
1 1
1 ,.
Documentos anexos:
l
1•,
; •
• 1
•. •
i 1r• .· , í ..•
-Termo de!doação;'
- Lista dfüi,f�lií1fi ligadas ao de�larFte que pleiteiam parcew d.a indenizaç�? :?A CHESF quanto à
Fazenda Peró. · ·· · ' ' •. ..·l . ' l,' · , . 1 1
� J,• .,
)',J
. 'l�
l;,
t
'·
.
r:: �. . t. · •
1
., '
1
1
1 ·1! :1 1 ' ' • ·.r
1 ·�
,: ,j 1
·!
1 • .,
1
,. I,!. •• 1 ·., i
, ,! !'',
., ' 11j•J I
!1 1
'.t •I
1
,, 1
1,
./
j''
j•,
.,1 •• •
,,., ,,,..
,.,.,
,,.,,,...
1 ••
:'• ·�
....,,,. •" � j1' -1·J 1
.,:IJ
.1!
u.1;� '
1
4
1 l1t
1
\ .
1•' ,I' 1 1t:
11
')I
'
1. · � .. j,') �·,., ' .,! j:·'
1 •
•• • 1! �
I• 1
,, \"' •ljh :
,, 1 ,:
1
1
•( . • l1 •
;.,1.
1
•I
<
1'' ,;
1i( r
. ,. "
Í I
•• !1
J I,� I
il ,• l,
'1
-·. i 1 .. ,,
•
1
.,
I' 1 '• ..!
'!,
,
• t 1 ,,,
,:
.. .,,,..
... .
\. ,i
1
•1
,
, 1
�.
• t
� ... ,
1
I'
. ,, ,, '•· ··,
,,
J · I ' ( '
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Fundação Nacional do Índio
Coordenação Técnica local
DECLARAÇÃO
1/
1 /
/
/ (
AO MINISTÉRIO PÚBLICO DE GARANHUNS/PE
COORDENAÇÃO DE PAULO AFONSO/BA
�:: ......
:., ,
., l'
FUNAI
Aollm�
Sr. Dr. Otávio
MD. PROCURADOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Senhor Procurador,
MANOdL RIBEIRO SÁ
Ifdio Fulni-ô
Eu, MANOEL RIBEIRO DE SÁ, CPF nº 135730124-34, lndio da Etnia
Fulni-ô, venho através deste abaixo assinado, comprovar junto a quem possa e
interessa, Ministério Público Federal, CHESF e FUNAI em resposta ao Oficio nº
192/PGF/PFE/FUNAI/Recife/2006, aqui assinado por Lideranças e lndigenas da
Etnia Fulni-0. O qual concordamos por de direito e bom senso:
� .....
.. -- -
ADYOCACJA.Gl!ltAL DA UNIÃO-AGU
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL..PGF
Pnx.uradorta Fedenll EepeoialJucla - FUNAI
Av. JoAo de a.no., n• 668 - Boa "-ta - Reclfe/PE - T.W.X (81) 3221.6117
Ao Senhor
1'1ANOEL BARROS SOBRINHO
Administrador Executivo Regional
Fundação Nacional do Índio - FUNAI
Administração Executiva Regional de Recife
Senhor Administrador,
- -
l>,,,n - -P
·- _. ·•
-· _ - a,-1
Carta S/Nº Águas Belas, 10/09/07.
Ao
Ministério Público Federal
Caruaru / Garanhuns.
Cordialmente,
dio Fulni-ô.
Eu, MANOEL RIBEIRO DE SÁ, CPF nº 135730124-34, indio da Etnia
Fulni-õ, venho através deste abaixo assinado, comprovar junto a quem possa e
interessa, Mlniat8rlo Público Federal, CHESF e FUNAI em resposta ao Oficio nº
1921PGF/PFEIFUNAURecifel2006, aqui assinado por lideranças e lndigenas da
Etnia Fulni-õ. O qual concordamos por de direito e bom senso:
Eu, MANOEL RIBEIRO DE SÁ, CPF nº 135730124-34, indio da Etnia
Fulni-ô, venho através deste abaixo assinado, comprovar junto a quem possa e
interessa, Ministério Público Federal, CHESF e FUNAI em resposta ao Oficio nº
192/PGF/PFE/FUNAI/Recife/2006, aqui assinado por lideranças e lndfgenas da
Etnia Fulni-ô. O qual concordamos por de direito e bom senso:
fc:,� kÍi � 5 6
l)�(rv-lh. oL,.. JC. � )Md� b
'11f\o,� _,,Uv\Jj � � �
fftrJA(v' UI ff (Í) f �
5éf3//57íÁ,v/t
tJ1 BlrÍ /o
fao_ fc-<J/Cc-J< 1"< cL" �6�
,-
ew1
JA-� s��
,,. � �O./"\,{°' �
�º�µ
��
/}}i_n.a;ti.Cl � cl � �{;CA.
º
�).�� "- 'hl\�
��
��·
1 •
Eu, MANOEL RIBEIRO DE SÁ, CPF nº 135730124-34, fndio da Etnia
Fulni-ô, venho através deste abaixo assinado, comprovar junto a quem possa e
interessa, Ministério Público Federal, CHESF e FUNAI em resposta ao Oficio nº
192/PGFIPFE/FUNAI/Rec . , a ui assinado por Lideranças e lndlgenas da
ul
�l �/
J
1,;tlY'�ff, �� 'Z/
am
qual conco� r de di
!IK. �
e bom senso:
�-r. ,
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO-AGU
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL-PGF
Procuradoria Federal Espeçlallzada- FUNAJ
Av• .João de Barros, nº 668- Boa Vista - Reclfe/PE -Telefax (81) 3221.5117
PA o.º 070/PFE/FUNAI/RECIFE/2005
Procurador Federal
L
Aldeamento Indigena Fulni-ô
Declaração
a de Oliveira Lllm
/vson FeitosAd
A7L,/
Junte-se aos autos. Técnico mmistrativc
�1 ��at 1585�-<1
-
1
�J)L.��tu Piif».
eab
P.
cy,
,«,/ M-tT
w�"" f2.lo
�:V��� do .,rw,í0
I
r-d.
I
Nesta CONCLUSÃO
,
ri
data faço conclusos os presentes autos
r • a)
mJ" l da Repúbica
� ..;
. ·. o presente. ?E para oonstar, lavro
� e asS110
Gnnhuns, 22.JJ21..J.JlL
JUNTADA
Nesta data. juntei aos presentes autos o (a)
v,,, lo. I
IA: ,ng 4N/�h3/Ulr. �
�
·.it-5 O,,';)%\.
EM.. J.rf/_J�· �