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Promotoria de Justiça

da Comarca de
Conceição do Mato
Dentro

AO JUÍZO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE CONCEIÇÃO DO


MATO DENTRO

Autos nº 5000341-58.2023.8.13.0175

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,


por meio do Promotor de Justiça signatário, vem, respeitosamente, no
uso de suas atribuições legais, expor e requerer o que se segue:

I – RELAÇÃO DE FAMÍLIAS

Diante da impugnação da Executada (ID 9849938070, págs. 25/26),


o Ministério Público vem requerer a juntada de nova lista com a relação
de famílias levantada pela ATI 39 NACAB (data do levantamento, nome
do representante legal do núcleo, coordenadas geográficas tanto quanto
possível). Ressalta-se que, no Ofício 105/2023, a ATI deixa claro se tratar
de um piso de famílias localizadas, dada a presença de imóveis fechados
e de outro tanto de imóveis cujos moradores se recusaram a responder
aos cadastradores.

II – PROPOSTA DE PLANO DE REASSENTAMENTO REALIZADO


PELAS COMUNIDADES

Na audiência de conciliação ocorrida no dia 04.05.2023, ficou


estabelecido que o Ministério Público apresentaria uma contraproposta
ao plano de reassentamento apresentado pela executada. Assim, o
exequente vem requerer a juntada da contraproposta, elaborada pela ATI

Número do documento: 23080209185000100009877350069


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NACAB em conjunto com as comunidades, fazendo alguns


esclarecimentos a respeito dela:

1) Inicialmente, é feita uma minuciosa análise dos motivos pelos


quais o Plano de Negociação Opcional (PNO) não tem sido suficiente para
atender aos anseios das comunidades, o que justifica a recusa à sua
adesão pelas comunidades (págs. 04/11). Com efeito, já existem fortes
elementos que atestam a insuficiência dos reassentamentos rurais
(Piraquara e Simão Lavrinha) promovidos pela Executada, notadamente:
i) pela ausência de registro de propriedade das famílias (página 6); ii)
pela não observância das relações de compadrio e vizinhança como é
preciso em um reassentamento coletivo (págs. 8/9 e 49); iii) pela
escassez de água (pág. 50); e iv) por deficiências no processo de
reestruturação produtiva (atestadas em outros documentos).

2) Na sequência, são abordadas algumas premissas que devem


balizar o processo de reassentamento: i) compromisso com o
desenvolvimento sustentável dos reassentamentos; ii) compromisso com
a proteção de direitos; iii) participação social significativa das
comunidades; iv) reparação integral; v) centralidade das coletividades e
seus modos de vida; vi) princípio do reconstruir melhor; vii)
transparência e acesso à informação.

3) Em seguida, realizado o planejamento da elaboração do plano de


reassentamento: i) pactuação da governança do processo: a Executada
apresenta informações sobre as obras do reassentamento, com
cronograma de todas as etapas envolvidas no processo (como aquisições
e processos construtivos), juntamente com previsão de conclusão e
entrega, a qual será levada às comunidades, que poderão fazer as suas
considerações; eventuais alterações não poderão exceder ao prazo de 15
dias sem haver justificativa para as partes e nem nova pactuação. ii)
Levantamento e cadastramento do público-alvo: a serem incluídos todos
os que sejam proprietários de imóveis (residentes ou não) e posseiros de

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árias das três comunidades, Água Quente, Passa Sete e São José do
Jassém, bem como de suas localidades que guardem relação
socioterritorial com as comunidades. Com o objetivo de auxiliar esse
trabalho, apresenta-se a relação de famílias feita pela ATI NACAB que
também segue anexa à presente petição; iii) decisão sobre as formas de
reassentamento: desde já, sugerindo-se as formas do “reassentamento
coletivo”, com a realocação das pessoas para outras áreas com a
restituição dos bens e ambientes de uso coletivo, e o “auto-
reassentamento familiar isolado em ativos de terceiros”, por meio da
apresentação de um banco de imóveis pela Executada e indicações por
parte dos atingidos, que serão considerados em grupos de interesse com
base, no mínimo, em um dos seguintes critérios: laços de parentesco
ampliado, proximidade física, territorial ou afetiva atuais; iv) elaboração
do Plano de Desenvolvimento Territorial (PDT) e Plano de
Desenvolvimento Familiar (PDF): o PDF a ser utilizado para as famílias
que não encontrem amparo no PDT; v) Negociações sobre a origem e a
escolha dos destinos: Tal como as demais etapas, a escolha dos destinos
deverá ser feita com a participação dos atingidos, incluída aqui a
compensação por todo o transtorno de ter que sair de suas terras para
outras;

4) Ao final, foram elaborados um total de 69 diretrizes e critérios


para o reassentamento das três comunidades (síntese consta das páginas
85 a 89), que envolvem aspectos físicos e ambientais das casas em seus
aspectos físicos, ambientais, sociais, econômicos e culturais, dos terrenos
domésticos em seus aspectos físicos, ambientais, sociais, econômicos e
culturais. Elenca-se, na oportunidade, os principais critérios e diretrizes:
i) acesso a águas superficiais, fontes de captação e distribuição de água
por gravidade para o atendimento de todas as finalidades (abastecimento
humano, produção doméstica, dessedentação animal, lazer e cultura); ii)
similaridade, tanto quanto possível, das características físicas e
ambientais entre os locais de origem e de reassentamento; iii) local não

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isolado de acesso a serviços públicos (transporte, saúde, internet,


telefonia celular); iv) regularização do registro de propriedade dos
reassentados; v) área mínima de edificação de 120m², com no mínimo
quatro dormitórios de 16 m² cada; vi) participação da família na escolha
do material e do projeto das residências; vii) área dos terrenos rurais de
no mínimo um módulo fiscal, assegurados 10 Ha para cada filho
residente no mesmo imóvel e 1 Ha para filhos e herdeiros não residentes;
viii) área dos terrenos urbanos de 3.000 m²; ix) reassentamento que
guarde laços de parentesco, compadrio e trabalho; x) aporte financeiro
nos termos específicos da diretriz nº 69, para o plano de reestruturação
produtiva.

Por fim, é esclarecida a metodologia utilizada para a construção da


proposta de reassentamento, validada pelas três comunidades, tendo sido
deixado claro que todo conteúdo exposto no presente documento reflete,
de modo direto e legítimo, os pedidos das comunidades de Água Quente,
Passa Sete e São José do Jassém para o reassentamento futuro, através
de uma construção coletiva, pautada no diálogo, na transparência e
acessibilidade das informações (págs. 90/95).

III – REQUERIMENTOS

Pelo exposto, o Ministério Público requer:

1) O deferimento da prova pericial nos termos requeridos na


petição de ID 9798204573;
2) A juntada dos documentos anexos e a abertura de vista à
Executada para que apresente contraproposta, conforme
determinado na decisão de ID 9798626452, pág. 2.

Conceição do Mato Dentro, 2 de agosto de 2023.

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Caio Dezontini Bernardes

Promotor de Justiça

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Promotoria de Justiça de Conceição
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Ofício n.º 157/2023/PJ/CMD


Ref.: processo de autos nº 5000341-58.2023.8.13.0175
Assunto: Solicitação (Faz)

Conceição do Mato Dentro, 24 de julho de 2023.


A Sua Senhoria, o Senhor
José Ignácio
Advogado do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab)
Rua Capitão Miguel Safe, 180 CS, Bairro Santana
CEP 35860-000 – Conceição do Mato Dentro – MG

Ilmo. Sr. Advogado,

Considerando que, nos autos nº 5000341-58.2023.8.13.0175, houve


impugnação à relação de moradores (ID 9849938070, págs. 25/26) apresentadas pelo
Ministério Público no ID 9798204574, SOLICITO à ATI 39 NACAB, no prazo de 10 dias,
nova relação das famílias integrantes das comunidades beneficiárias, conforme determinado
na ata de ID 9798626452, pág. 2, dessa vez com as seguintes informações:
1) Data do levantamento realizado;
2) Nome do representante legal do núcleo familiar, assim como a quantidade de
pessoas do núcleo familiar;
3) Dados que contribuam com a identificação dos imóveis, tais como coordenadas
geográficas e tipologias (residências, comércio, igreja, escola, etc.);
4) Quaisquer dados adicionais que se considere relevantes para o fornecimento.
Informa o Ministério Público que, por se tratar de dados relevantes para o
exercício regular de direitos em processo judicial, encontra-se autorizado o compartilhamento
de referidos dados com fulcro no art. 7º, VI, ou do art. 11, II, "d", ambos da LGPD.

Atenciosamente,

Caio Dezontini Bernardes


Promotor de Justiça

Rua Daniel de Carvalho, 189 – Bairro Centro, Conceição do Mato Dentro/MG. CEP: 35860-000
Telefone: (31) 3868-1688. E-mail: pjcmatodentro@mpmg.mp.br. www.mpmg.mp.br

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OFÍCIO 105/2023/ATI 39/NACAB
Conceição do Mato Dentro, 1° de agosto de 2023.

Ao Exmo. Dr. Caio Dezontini Bernardes.


Promotor de Justiça da Comarca de Conceição do Mato Dentro – MPMG;

Assunto: Resposta ao Ofício nº 157/2023/PJ/CMD.

Exmo. Senhor,

A Assessoria Técnica Independente ATI 39/NACAB, vinculada à Condicionante 39


do Licenciamento (LP+LI) da Anglo American S. A., legitimamente escolhida pelas
comunidades atingidas pelo empreendimento minerário, situadas em Conceição do Mato
Dentro, Dom Joaquim e Alvorada de Minas, vem, por meio deste, responder, tempestivamente,
ao Ofício nº 157/2023/PJ/CMD, encaminhado por V. Exa. em 24/07/2023, solicitando à ATI
39/NACAB, no contexto do Processo nº 5000341-58.2023.8.13.0175, e no prazo de 10 dias, as
seguintes informações, in verbis:
1) Data do levantamento realizado;
2) Nome do representante legal do núcleo familiar, assim como a quantidade de
pessoas do núcleo familiar;
3) Dados que contribuam com a identificação dos imóveis, tais como coordenadas
geográficas e tipologias (residências, comércio, igreja, escola, etc.);
4) Quaisquer dados adicionais que se considere relevantes para o fornecimento.

Informamos que na tabela anexa, intitulada “Cadastro ZAS - ATI39-NACAB Resposta


MPMG”, encontram-se, no todo, as informações solicitadas nos itens “1”, “2” e “4”, e, em
parte, as informações solicitadas no item “3”, considerando que o cadastro realizado pela ATI
39/NACAB foi das famílias/residências do território ZAS, não tendo sido contempladas outras
tipologias (comércio, igreja, escola etc.).
Todavia, a título de complementação, encaminhamos também o Ofício 054.2023,
enviado à SUPRAM-JEQ, contendo o Relatório Técnico - Análise Socioambiental - Água
Quente Passa Sete São José do Jassém – Qualitativo, no qual estão contidas outras informações
que robustecem aquelas contidas no cadastro.

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Faz-se mister destacar que o cadastro do NACAB não deve ser utilizado como referência
"absoluta" ou limitação de público-alvo do reassentamento, eis que muito embora a entidade
tenha conseguido cadastrar um número deveras representativo de imóveis e pessoas do território
da ZAS, as informações não contemplam 47 imóveis que estavam fechados ou vazios e 21
residências nas quais as pessoas se recusaram a responder os cadastradores, num total de 68
domicílios (31,62%do total de 215 imóveis).
Se se considerar que nos 100 imóveis nos quais as pessoas responderam as entrevistas
residiam 302 pessoas (considerando as respondentes, totalizando uma média de 3,02 pessoas
por domicílio), pode-se esperar, com razoabilidade, a presença de cerca de 205 pessoas a mais
(68 X 3,02, que é a média de pessoas por domicílio nos 100 imóveis em que se respondeu ao
questionário).
Além disso, há que se considerar a possibilidade de nossa equipe não ter encontrado
todas as residências durante o cadastro. Deste modo, o recomendável é tratar os domicílios
encontrados pelo NACAB como um piso ou referência mínima, levando-se em consideração
que: a) Há 302 pessoas ao certo; b) Pode haver até 507 pessoas no total (considerando os 100
domicílios cadastrados e os 68 imóveis fechados, vazios ou que se recusaram a responder) e c)
da possibilidade desse número ter aumentado nos últimos 12 meses, considerando que faz parte
da tradição local filhos e netos construírem imóveis nos terrenos de parentes (pais, avós, sogros,
sogras etc.), e sobretudo porque durante o cadastro foram observadas casas em construção,
principalmente na comunidade de Jassém. Não é sabido o estado desses imóveis hoje, o que
pode significar que novas famílias estejam residindo por lá.
Logo, recomenda-se, respeitosamente, que os cadastros não sirvam de limitação ao
público-alvo total, mas que eventual reassentamento seja ofertado a todas as famílias que
sejam proprietárias ou posseiras de terras nas comunidades da ZAS.
Por outro lado, concordamos com o E. Ministério Público “[...] que, por se tratar de
dados relevantes para o exercício regular de direitos em processo judicial, encontra-se
autorizado o compartilhamento de referidos dados com fulcro no art. 7º, VI, ou do art. 11, II,
"d", ambos da LGPD”, razão pela qual compartilham-se os dados com o Parquet sem nenhuma
técnica de anonimização, considerando a condição do MPMG de substituto processual das
pessoas atingidas no que tange aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.

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Continuamos à disposição do E. Órgão para quaisquer esclarecimentos que se façam
necessários e aproveitamos a oportunidade para renovar nossos votos de elevada estima e
distinta consideração.

Cordialmente,

Wander Torres Costa


Coordenador Geral – ATI 39/NACAB

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Número de moradores na residência
CADASTROS DATA DA COLETA ID NOME_RESPO UTM_X UTM_Y TIPO ID_COMUNID TERRITORIAL LOCALIDADE
contando com o entrevistado
1 02/05/2022 10:02 60005 Irlene Maria Alves Silva 676594 7912850 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 2
2 60006 N/A 676599 7912840 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
3 04/05/2022 14:02 60007 Maria da Conceição Marques 676613 7912840 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 2
4 27/04/2022 15:43 60008 Geraldo Alexandrino da Lomba 676630 7912850 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 2
5 60009 N/A 676652 7912850 Recusa São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
6 60010 N/A 676585 7912830 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
7 18/05/2022 09:54 60011 Alexsa Conceição Carvalho Silva 676574 7912820 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
8 60012 N/A 676566 7912820 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
9 60013 N/A 676554 7912810 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
10 60014 N/A 676542 7912810 Recusa São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
11 60015 N/A 676517 7912800 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
12 27/04/2022 14:02 60016 Jardel Deodato da Silva 676508 7912800 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 3
13 60017 N/A 676497 7912790 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
14 60018 N/A 676473 7912790 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
15 25/04/2022 09:20 60019 Valdirene Ferreira da Lomba 676434 7912800 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 2
16 60020 N/A 676445 7912780 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
17 60021 N/A 676443 7912750 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
18 60022 N/A 676448 7912740 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
19 60023 N/A 676456 7912750 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
20 60024 N/A 676502 7912750 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
21 60025 N/A 676475 7912770 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
22 25/04/2022 13:58 60026 Sebastião Alves Neves 676491 7912780 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 2
23 60027 N/A 676508 7912780 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
24 60028 N/A 676547 7912790 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
25 60029 N/A 676522 7912780 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
26 02/05/2022 14:52 60030 José Odair 676487 7912790 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 2
27 09/05/2022 15:03 60031 Maria de Lourdes Pimenta 676586 7912800 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
28 60032 N/A 676599 7912800 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
29 60033 N/A 676607 7912780 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
30 25/04/2022 16:04 60034 José Maria da Silva 676612 7912770 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
31 60035 N/A 676618 7912760 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
32 27/04/2022 16:10 60036 Fabrício Pacífico 676600 7912700 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
33 60037 N/A 676663 7912670 Recusa São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
34 60038 N/A 676640 7912660 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
35 60039 N/A 676654 7912620 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
36 02/05/2022 09:43 60040 Gleidney Magalhães da Silva 676660 7912590 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 3
37 28/04/2022 14:59 60041 Dionei Magalhães da Silva 676640 7912600 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
38 60042 N/A 676632 7912570 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
39 28/04/2022 13:59 60043 Carla de Jesus 676604 7912530 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
40 28/04/2022 16:45 60044 Nilson Peixoto de Carvalho 676592 7912530 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 3
41 60045 N/A 676582 7912530 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
42 04/05/2022 15:41 60046 Mariana Eliza Rodrigues Neves 676570 7912520 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 3
43 25/04/2022 15:35 60047 Gleyson José da Silva 676561 7912520 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
44 26/04/2022 15:30 60048 Maria da Conceição Batista 676554 7912530 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
45 60049 676542 7912510 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
46 28/07/2022 17:44 60050 Ronivon Peixoto de Carvalho 676441 7912460 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
47 60051 N/A 676568 7912480 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
48 60052 N/A 676559 7912470 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
49 27/04/2022 16:47 60053 Maria Pacífico da Silva 676592 7912500 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
50 60054 N/A 676607 7912500 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
51 28/04/2022 15:25 60055 Joaquim Faustino da Cruz 676626 7912510 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 5
52 28/04/2022 16:23 60056 Valmir Pacífico da Silva 676650 7912490 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 5
53 03/08/2022 16:39 60057 Claudineia Aparecida da Silva 676656 7912460 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 3
54 02/08/2022 17:39 60058 Marco Aurélio Alexandrino da Lomba 676722 7912450 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
55 06/05/2022 10:40 60059 Tadeu José Alexandrino da Lomba 676712 7912450 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
56 18/05/2022 14:58 60060 Clóvis Pacífico Neves 676694 7912460 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
57 60061 N/A 676677 7912470 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
58 26/04/2022 14:21 60062 Adenis Aparecida Pimenta ( Denise) 676672 7912490 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 6
59 12/05/2022 13:49 60063 Janaína Iris Da Silva 676666 7912510 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
60 12/05/2022 14:37 60064 Blenda Silva Marçal 676660 7912530 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 8
61 18/05/2022 11:33 60065 Maria Aparecida Pacifica 676686 7912570 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 1
62 04/05/2022 14:31 60066 Antônia Geralda de Jesus 676679 7912580 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 6
63 18/05/2022 10:45 60067 Maria das Dores Lomba Santos 676846 7912680 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 2
64 60068 N/A 676709 7912820 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
65 60069 N/A 676227 7912820 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
66 60070 N/A 676346 7912390 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
67 18/05/2022 13:45 60071 Terezinha Alixandrina da Lomba 676213 7911930 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 2
68 10/08/2022 13:10 60072 Antônio Marcos da Lomba 676220 7911850 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 1
69 18/05/2022 13:58 60073 Geralda Alves 676281 7911360 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 3
70 09/05/2022 13:56 60074 Marilene Pacífico da Cruz 676652 7912660 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
71 60075 N/A 675779 7912430 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Córrego Peão
72 60076 N/A 675668 7912190 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Córrego Peão
73 60077 N/A 675649 7912160 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Córrego Peão
74 60078 N/A 675592 7912130 Recusa São José do Jassém ZAS Córrego Peão
75 60079 N/A 677676 7912850 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Adjacências Jassém
76 60080 N/A 675096 7912710 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Córrego Peão
77 15/08/2022 14:22 60081 Mauro Múcio Simões 674602 7911450 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 4
78 03/05/2022 15:03 60082 Solange Rodrigues da Silva 674806 7910320 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 3
79 60083 N/A 674657 7911420 Recusa São José do Jassém ZAS Córrego Peão
80 03/05/2022 14:12 60084 Maria Correia da Silva 674843 7910250 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 6
81 03/05/2022 15:04 60085 Priscila da Silva Araujo 674841 7910220 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 3
82 20/05/2022 10:27 60086 Eli Peixoto de Carvalho 674741 7910080 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 1
83 10/08/2022 17:41 60087 Rebson Aparecido de Castro Carvalho 674474 7909910 Cadastrada São José do Jassém ZAS Córrego Peão 1
84 60088 N/A 674439 7909920 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Córrego Peão
85 60089 N/A 674407 7909930 Recusa São José do Jassém ZAS Córrego Peão
86 03/08/2022 13:11 60090 Aloísio Rodrigues Silva 676112 7913980 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 3
87 60091 N/A 675631 7913570 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Saraiva
88 60092 N/A 676446 7912720 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
89 26/04/2022 15:38 60093 Alan neves da silva 676560 7912500 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 3
90 11/05/2022 13:54 60094 Maria Inês Pacífico de Carvalho 675485 7913990 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 4
91 11/05/2022 13:58 60095 Daniela Firmina de Oliveira Carvalho 675518 7914010 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 5
92 11/05/2022 14:45 60096 Ana Faustina Cruz de Carvalho 675484 7914040 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 5
93 11/05/2022 16:16 60097 Maria Dalva Paula Gomes 675442 7914120 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 2
94 11/05/2022 15:23 60098 Andreia Gomes de Carvalho 675406 7914120 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 5
95 01/08/2022 15:38 60099 Gilsonei Vieira da Silva 675271 7914100 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 4
96 60100 N/A 675114 7914180 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Saraiva
97 60101 N/A 676484 7912790 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
98 13/05/2022 11:43 60102 Wellington Pacífico de Carvalho 675002 7914220 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 3
99 13/05/2022 12:25 60103 Maura Pereira da Silva 675021 7914280 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 4
100 13/05/2022 11:46 60104 Paulo Antônio Pacífico de Carvalho 674972 7914270 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 3
101 60105 N/A 676486 7912830 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
102 27/04/2022 14:23 60106 Maria das Dores Alves Gomes 674729 7914630 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 5
103 27/04/2022 14:27 60107 Maria Francisca Alves Neves 674721 7914680 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 3
104 13/05/2022 10:27 60108 José do Porto da Silva 674753 7914730 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 2
105 13/05/2022 10:40 60109 Cecilia da Silva 674788 7914760 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 2
106 27/04/2022 16:14 60110 Maria Alice Soares de Carvalho 674849 7914750 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 2
107 01/06/2022 14:34 60111 Daniel Soares de Carvalho 674850 7914730 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 3
108 60112 N/A 674712 7915480 Recusa São José do Jassém ZAS Saraiva
109 26/05/2022 14:14 60113 Angelina Carvalho Santos 674706 7915500 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 3
110 60114 N/A 674208 7915490 Recusa São José do Jassém ZAS Saraiva
111 06/05/2022 09:47 60115 Nivaldo São Pedro Machado 676699 7912490 Cadastrada São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém 4
112 31/05/2022 15:34 60116 Bento Aécio Simões 674651 7917260 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 2
113 60117 N/A 676649 7912500 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
114 15/06/2022 10:06 60118 Maria das Graças Peixoto Simões 673291 7917220 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 9
115 60119 N/A 676648 7912500 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
116 60120 N/A 675599 7910280 Recusa São José do Jassém ZAS Córrego Peão
117 60121 N/A 676645 7912510 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
118 60122 N/A 676644 7912530 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
119 60123 N/A 676664 7912520 Fechadas/Vazias São José do Jassém ZAS Núcleo Jassém
120 11/05/2022 14:56 60124 Saiury Emanoele Ferreira dos Santos 675396 7914100 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 2
121 11/05/2022 16:07 60125 Tainara Reis Carvalho 675423 7914120 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 4
122 13/05/2022 09:42 60126 Lucimara Marcela Peixoto da Silva 674804 7914750 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 4
123 13/05/2022 11:28 60127 Geraldo Edinei da Silva 674793 7914760 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 4
124 27/04/2022 16:05 60128 Joaquim Luiz Alves Neves 674828 7914770 Cadastrada São José do Jassém ZAS Saraiva 1
125 10/05/2022 11:36 60129 Rosângela Oliveira Simões Gonçalves 678607 7912440 Cadastrada São José do Jassém ZAS Adjacências Jassém 1
126 60132 N/A 674776 7909239 Recusa São José do Jassém ZAS Adjacências Jassém
127 70001 N/A 671169 7913970 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
128 70002 N/A 671383 7913640 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
129 70003 N/A 671370 7913620 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
130 70004 N/A 671328 7913550 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
131 70005 N/A 671366 7913520 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
132 70006 N/A 671365 7913520 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
133 70007 N/A 671407 7913590 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo

Número do documento: 23080209185300400009877350072


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23080209185300400009877350072
Assinado eletronicamente por: CAIO DEZONTINI BERNARDES - 02/08/2023 09:17:14 Num. 9881262153 - Pág. 1
134 70008 N/A 671437 7913560 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
135 70009 N/A 671497 7913590 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
136 70010 N/A 671546 7913610 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
137 70011 N/A 671453 7913670 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
138 70012 N/A 671509 7913680 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
139 70013 N/A 671534 7913660 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
140 70014 N/A 671552 7913670 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
141 70015 N/A 671642 7913680 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
142 70016 N/A 671705 7913670 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
143 70017 N/A 671721 7913680 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
144 70018 N/A 671720 7913660 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
145 70019 N/A 671735 7913670 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
146 70020 N/A 671756 7913680 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
147 70021 N/A 671759 7913670 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
148 70022 N/A 671747 7913660 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
149 70023 N/A 671773 7913660 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
150 70024 N/A 671792 7913660 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
151 70025 N/A 671806 7913670 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
152 70026 N/A 671848 7913650 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
153 70027 N/A 671841 7913660 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
154 70028 N/A 671835 7913670 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
155 70029 N/A 671831 7913680 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
156 70030 N/A 671863 7913660 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
157 70031 N/A 671929 7913760 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
158 70032 N/A 671857 7913630 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
159 70033 N/A 671849 7913600 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
160 70034 N/A 671854 7913580 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
161 70035 N/A 671912 7913510 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
162 70036 N/A 671915 7913320 Descaracterizada Água Quente ZAS Núcleo
163 70037 N/A 672385 7914260 Descaracterizada Água Quente ZAS Goiabeiras
164 23/08/2022 14:45 70038 Robertina Pereira Santos 671989 7914840 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 2
165 16/08/2022 16:19 70039 Adriana Pires do Santos 672066 7914970 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 3
166 23/08/2022 17:07 70040 Diego Winston dos Santos 672059 7914990 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 1
167 23/08/2022 17:43 70041 Lourrany Stefani Dos Santos 672054 7915000 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 2
168 70042 N/A 672038 7915010 Recusa Água Quente ZAS Teodoro
169 23/08/2022 19:00 70043 Edinéia Costa Santos 672048 7915030 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 2
170 16/08/2022 18:44 70044 Maria Ferreira dos Santos 672052 7915060 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 2
171 08/06/2022 14:14 70045 Benedita Carvalho dos Reis 672041 7915140 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 10
172 70046 N/A 672007 7915170 Descaracterizada Água Quente ZAS Teodoro
173 11/08/2022 15:42 70047 Vantuil Coelho dos Santos 672027 7915200 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 5
174 70048 N/A 672383 7914220 Descaracterizada Água Quente ZAS Goiabeiras
175 15/08/2022 16:41 70049 Iratã Simões 672498 7915070 Cadastrada Água Quente ZAS Goiabeiras 2
176 70050 N/A 670834 7913070 Descaracterizada Água Quente ZAS Faustinos
177 70051 N/A 670864 7913070 Recusa Água Quente ZAS Faustinos
178 09/08/2022 18:14 70052 José Ronaldo da Silva Teixeira 670848 7913060 Cadastrada Água Quente ZAS Faustinos 1
179 70053 N/A 670835 7913050 Descaracterizada Água Quente ZAS Faustinos
180 70054 N/A 670816 7913080 Recusa Água Quente ZAS Faustinos
181 11/08/2022 17:35 70055 Betonio Madureira Duque 670356 7912560 Cadastrada Água Quente ZAS Quatis 4
182 70056 N/A 670046 7912200 Descaracterizada Água Quente ZAS Quatis
183 70057 N/A 670028 7911840 Recusa Água Quente ZAS Quatis
184 10/08/2022 20:07 70058 Flávia Lilian Santos Costa Barroso 671545 7912940 Cadastrada Água Quente ZAS Quatis 4
185 70059 N/A 670827 7913030 Descaracterizada Água Quente ZAS Faustinos
186 16/08/2022 18:46 70060 Ana Lúcia Pereira dos Santos Lima 671992 7914830 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 5
187 16/08/2022 19:32 70061 Flaviana Maria Pereira dos Santos 671980 7914830 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 1
188 16/08/2022 20:35 70062 Eva Coelho dos Santos 672026 7915210 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 3
189 16/08/2022 18:36 70063 Carlos Henrique Pereira Santos 672012 7915250 Cadastrada Água Quente ZAS Teodoro 4
190 25/08/2022 16:18 70064 Djanira de Oliveira Simões 673804 7914350 Cadastrada Água Quente ZAS Fazenda Mumbaça 5
191 80001 N/A 669846 7914650 Recusa Passa Sete ZAS Núcleo
192 80002 N/A 669863 7914620 Recusa Passa Sete ZAS Núcleo
193 80003 N/A 669873 7914610 Recusa Passa Sete ZAS Núcleo
194 80004 N/A 669901 7914580 Recusa Passa Sete ZAS Núcleo
195 80005 N/A 669918 7914560 Recusa Passa Sete ZAS Núcleo
196 11/07/2022 14:08 80006 Silmara Marcelina Silva 670788 7914270 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 2
197 80007 N/A 670699 7914240 Recusa Passa Sete ZAS Núcleo
198 16/08/2022 16:58 80008 Fabiele Oliveira Silva 670790 7914210 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 1
199 19/05/2022 14:26 80009 Maria da Consolação Silva 670717 7914180 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 2
200 18/05/2022 09:33 80010 Maria das Merces Barbosa e Silva 670038 7914340 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 2
201 80011 N/A 670736 7914170 Descaracterizada Passa Sete ZAS Núcleo
202 27/05/2022 13:42 80012 Creonilda Antônia de Oliveira 670767 7914210 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 3
203 80013 N/A 670788 7914300 Recusa Passa Sete ZAS Núcleo
204 09/08/2022 19:08 80014 Marcilio Santos 669842 7915020 Cadastrada Passa Sete ZAS Graminchá 3
205 04/08/2022 08:54 80015 Creuza da Silva Moreira Rodrigues 670297 7914010 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 1
206 21/07/2022 10:02 80016 Darcília Pires de Sena 670008 7913730 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 2
207 80017 N/A 669675 7914040 Descaracterizada Passa Sete ZAS Núcleo
208 80018 N/A 669699 7914050 Descaracterizada Passa Sete ZAS Núcleo
209 30/05/2022 18:09 80019 Plabiano Pacífico de Carvalho 669711 7914030 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 3
210 09/08/2022 16:12 80020 Jassira Pacífico do Santos Araújo 669877 7915070 Cadastrada Passa Sete ZAS Graminchá 6
211 80021 N/A 670185 7915850 Descaracterizada Passa Sete ZAS Graminchá
212 26/07/2022 14:22 80022 Ilda Soares Pimenta 670757 7915440 Cadastrada Passa Sete ZAS Graminchá 1
213 03/08/2022 15:49 80023 Renilde Pimenta dos Santos 670930 7915240 Cadastrada Passa Sete ZAS Graminchá 3
214 08/08/2022 16:06 80024 Elizete Pires de Sena 670010 7913710 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 1
215 21/07/2022 11:13 80025 Fernando Pires de Sena 669998 7913750 Cadastrada Passa Sete ZAS Núcleo 1
100 COLETAS EM 5 DIFERENTES
TOTAL N/A 100 RESPONDENTES 215 LATITUDES 215 LONGITUDES 215 IMÓVEIS 3 COMUNIDADES 1 TERRITÓRIO - ZAS 11 LOCALIDADES 302 PESSOAS POR RESIDÊNCIA
MESES DE 2022

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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

PLANO COMUNITÁRIO DE
REASSENTAMENTO
Proposta das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do
Jassém

Alvorada de Minas e Conceição do Mato Dentro, MG

Julho/2023

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 3
1. PREMISSAS................................................................................................................... 12
2. PARÂMETROS GERAIS ................................................................................................ 19
2.1. Planejamento .......................................................................................................... 19
2.2. Realização............................................................................................................... 43
2.3. Monitoramento ........................................................................................................ 44
3. DIRETRIZES E CRITÉRIOS .......................................................................................... 47
3.1. TERRITÓRIOS (COLETIVIDADES) ....................................................................... 47
Aspectos físicos e ambientais ........................................................................................ 50
Aspectos sociais, econômicos e culturais ...................................................................... 53
2
3.2. CASAS .................................................................................................................... 59
Aspectos físicos e ambientais ........................................................................................ 64
Aspectos sociais, econômicos e culturais ...................................................................... 67
3.3. TERRENOS DOMÉSTICOS ................................................................................... 69
Aspectos físicos e ambientais ........................................................................................ 71
Aspectos sociais, econômicos e culturais ...................................................................... 75
4. SÍNTESE DA PROPOSTA ............................................................................................. 78
ANEXOS ................................................................................................................................ 90
ANEXO I – SOBRE A CONSTRUÇÃO DA PROPOSTA ................................................... 90
ANEXO II – SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................. 96

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

INTRODUÇÃO

Este documento apresenta o conjunto de propostas para reassentamento das


comunidades Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém, construídas de
maneira coletiva entre os dias 05 de maio de 2023 e 03 de julho de 2023. As propostas
contaram com o apoio técnico do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas
por Barragens (NACAB), enquanto Assessoria Técnica Independente (ATI
39/NACAB) escolhida pelas mesmas no contexto de cumprimento da Condicionante
39 do licenciamento ambiental do Projeto Minas-Rio, step 3 “Expansão da Mina do
3
Sapo”, de responsabilidade da empresa Anglo American.

A proposta tem como origem o pedido de tutela provisória de urgência de natureza


antecipada e cautelar formulado na Ação Civil Pública nº 5000129-42.2020.8.13.0175,
proposta pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por meio da Promotoria
de Justiça da Comarca de Conceição do Mato Dentro/MG, em face do Estado de
Minas Gerais e da Anglo American.

A decisão do Juízo de primeira instância da Comarca de Conceição do Mato


Dentro/MG, proferida em 11 de novembro de 2020, determinou que a Anglo American
apresentasse, no prazo de 60 dias, um plano de reassentamento coletivo das
comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém, sob pena de multa
de R$ 50.000,00 por dia de atraso.

A Anglo American apresentou Recurso de Agravo de Instrumento contra a decisão do


Juízo de primeira instância, e levou a decisão liminar sobre a obrigatoriedade de
apresentação de um plano de reassentamento coletivo para o Tribunal. Ato contínuo,
o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, negou provimento ao recurso, e decidiu, em 22
de novembro de 2022, pela manutenção da determinação do reassentamento.

O entendimento dos desembargadores foi que, tratando-se de tutela de natureza


coletiva, é necessário garantir a produção de um resultado prático, justo e efetivo,
visando à segurança social, pessoal e ambiental de todos os moradores das

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

comunidades da Zona de Autossalvamento (ZAS), uma vez que não é possível afirmar
sobre a inexistência de dano, e considerando que “nossa sociedade está cansada de
ver vidas se resumirem a números em tragédias repetidas e quase nunca, para não
dizer jamais, sanadas”1.

Mantida a decisão de apresentação do plano de reassentamento, o Ministério Público


da Comarca de Conceição do Mato Dentro ajuizou cumprimento provisório de
sentença, em trâmite sob os autos de nº. 5000341-58.2023.8.13.0175. Neste processo
a Anglo American apresentou proposta inicial de “Plano de Reassentamento Coletivo”
e foi designada audiência de conciliação, mas não houve acordo entre Ministério 4

Público e mineradora.

Diante deste fato, as comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do
Jassém decidiram pela construção coletiva de proposta de Plano de Reassentamento.
Este documento, portanto, é construído a partir do momento em que as comunidades
não concordam com os termos do “Plano de Reassentamento Coletivo” apresentado
pela Anglo American no processo judicial.

A instalação da barragem de rejeitos provocou nos territórios a jusante o “cotidiano de


medo”2, que impõe amplos constrangimentos às suas vidas. Tem-se, dentre outros: o
medo da barragem romper; o esvaziamento territorial, decorrente desse medo; a falta
ou escassez dos serviços públicos essenciais nas comunidades esvaziadas; péssimo
estado de conservação das estradas de acesso às comunidades; e impossibilidade
de manutenção dos modos de vida, uma vez que os vizinhos com quem,
habitualmente, faziam parcerias, não estão mais no local3.

1
BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (3ª Câmara Cível). Agravo de Instrumento nº
1.0000.20.584540-7/001. Relator: Desembargador Jair Varão, 10 de novembro de 2022.
2
PRATES, Clarissa. Efeitos derrame da mineração, violências cotidianas e resistências em Conceição
do Mato Dentro-MG. 2017. 123 f. Dissertação (Mestrado em Sociedade, Ambiente e Território) –
Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros,
2017.
3
Exposto de maneira mais aprofundada em: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÁS
COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Relatório de análise socioeconômica,
socioambiental, sociocultural e psicossocial das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José
do Jassém, localizadas no entorno do Projeto Minas-Rio. Conceição do Mato Dentro, abril de 2023.

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Por isso, manifestam a necessidade coletiva de restabelecimento de seus locais de


moradia e vida através de reassentamento. Contudo, tecem críticas e demonstram
insatisfação com as propostas existentes de reassentamento para famílias atingidas
pelo Projeto Minas-Rio, através do Programa de Negociação Opcional (PNO)4.

Os dados do Cadastro Socioambiental realizado pela ATI 39/NACAB com as famílias


hoje incorporadas aos ativos da Anglo American para reassentamentos chamados
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha demonstram que, ao contrário do que
afirma a Anglo American no “Plano de Reassentamento” apresentado no processo
judicial, o avanço do PNO não se deu por simples “adesão” de caráter voluntário, mas 5

pelo medo da barragem romper e receio de viver em isolamento. O gráfico abaixo


sintetiza as respostas dadas pelas famílias, admitindo mais de uma razão de resposta
para a incorporação ao PNO.

Figura 1 - Motivos para "negociar" reassentamento no PNO.

20 19
18
16
14 12
12
10
8
6
4 2 2 2 1 1
2
0
Medo da Esvaziamento Expectativa de Impactos da Insegurança Pressão da Não sabe o
barragem de territorial vida melhor mineração em por não ver equipe da motivo
rejeitos geral alternativas Anglo
American

Fonte: ATI 39/NACAB5.

É importante destacar que as experiências recentes de rompimento de barragens em


Minas Gerais, uma delas próximo à região, e o disparo da sirene da Anglo American
em janeiro de 2020 que aterrorizou a comunidade de Água Quente, sobretudo o
núcleo central, são as razões para que as famílias que ainda resistiam a viver na
comunidade se viram constrangidas a “aceitar negociar” o PNO.

4
ANGLO AMERICAN. Programa de Reestruturação Produtiva. Expansão da Mina do Sapo. 2021.
5
Fonte: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia
adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais –
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha.

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Em tese, as famílias que são atendidas pelo PNO concluem os trâmites como
proprietárias de novos terrenos, adquirindo imóveis de terceiros ou propriedades dos
reassentamentos construídos pela Anglo American. Na prática, saem das
negociações com a promessa de casas funcionais que se mostram problemáticas
depois, com pouco dinheiro e condições para investir na retomada das atividades
produtivas, e sem conhecimento sobre o entorno. Até hoje as famílias na Fazenda
Piraquara e na Fazenda Simão Lavrinha encontram-se sem os títulos de propriedade:
pagaram, e ainda não receberam o que compraram6.

Acrescente-se que o PNO não foi construído em conjunto com essas comunidades, 6

tendo sido um programa criado para outro contexto e outras comunidades e


posteriormente estendido pela Anglo American sem prévia consulta ou mesmo
quaisquer ajustes que o deixassem em conformidade com a realidade e
especificidades das comunidades da ZAS. Ocorre que o referido programa foi criado
para ofertar uma opção de reassentamento opcional para pessoas que desejassem
se mudar e não mais conviver com os impactos do empreendimento, o que difere em
grande medida da realidade das comunidades da ZAS. De fato, estas comunidades
passarão por processo de reassentamento compulsório, por força de lei, por estarem
expostas ao risco advindo de barragem de rejeitos situada à montante das
comunidades.

Em suma, os territórios são atingidos pelas atividades de mineração na região de


origem e pelo próprio PNO. Não é razoável chamar “negociações” nesses termos
como “opcionais”. Aliás, isto contraria as diretrizes de responsabilidade social
corporativa da Anglo American, que em seus documentos internos afirma que “como
salvaguarda, considera todos os reassentamentos como involuntários”7.

6
Exposto de maneira mais aprofundada em: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS
COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Análise de situação socioeconômica,
socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia adequada em famílias estabelecidas
nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais – Fazenda Piraquara e Fazenda Simão
Lavrinha.
7
ANGLO AMERICAN. Social Way Toolkit – Sobre o acesso à terra, deslocamento e reassentamento.
Disponível em: <Sobre o acesso à terra, deslocamento e reassentamento – Anglo American Social Way
toolkit>. Acesso em 20 de junho de 2023.

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Outro programa que tem relação com a inefetividade dos ativos da Anglo American
para reassentamentos é o Programa de Reestruturação Produtiva, que, atualmente,
é operado em interlocução com o PNO. De maneira sintética, podemos destacar as
seguintes críticas apresentadas pelas comunidades para os dois programas:

▪ As ações de capacitação dos agricultores abordam temas sem consultar as


perspectivas das comunidades, além de que a realização dos cursos de
capacitação ofertados por instituições parceiras não fornece apoio
continuado para garantir a efetividade do conhecimento adquirido;
▪ Não é traçado com as comunidades um roteiro de visitas e planejamento 7
para a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), para o levantamento
das expectativas, demandas e planejamento conjunto das ações;
▪ As ações da ATER abordam apenas as temáticas relacionadas a produção
agropecuária, sem levar em consideração outras aptidões e desejos das
comunidades;
▪ O fomento dos insumos agrícolas é fornecido de maneira aleatória nos
reassentamentos, não acompanhando um calendário agrícola e
desconsiderando a época de plantio e preparo do solo, e os saberes para
os diversos tipos de cultivo;
▪ Não é disponibilizada alimentação animal, o que seria primordial até o
reestabelecimento da produção de forragens e grãos para as famílias nos
reassentamentos. Isto é particularmente dramático para aquelas que
resistem em ficar e assegurar sua vida diante contextos territoriais
amplamente transformados, como, por exemplo, a diminuição no volume de
água disponível e a insegurança sobre a sua qualidade;
▪ A previsão de acompanhamento para as famílias que optam pelo PNO é de
apenas 36 meses, desconsiderando o ciclo produtivo dos cultivos, como no
caso de frutíferas que demandam um tempo maior para produção. Além
disso, no reassentamento, as famílias podem demandar um tempo maior
para a retomada produtiva, sendo necessária avaliação e monitoramento
para verificação de prorrogação do prazo;

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

▪ As benfeitorias não reprodutivas das famílias realocadas não têm sido


restituídas, o que inviabiliza a retomada da produção e gera ônus para a
implantação por conta própria;
▪ Não é realizada uma avaliação das condições socioeconômicas das
famílias antes do encerramento do fornecimento da cesta básica e cartão
alimentação após 24 meses, concedido às famílias como um acessório do
pacote de benefícios. Além disso, não é efetuado reajuste anual do valor do
cartão alimentação, desconsiderando a inflação de preços;
▪ No monitoramento dos programas, não está previsto metodologias
envolvendo as famílias para analisar a efetividade do reestabelecimento das 8

atividades produtivas e dos modos de vida, ocorrendo o encerramento do


programa sem as condições socioeconômicas serem restabelecidas e sem
a anuência de uma auditoria isenta e externa8.

Sobre os ativos rurais da Anglo American na Fazenda Piraquara e na Fazenda Simão


Lavrinha, ainda que no PNO de 2021 conste que “deve ser observada, ainda, a
manutenção das relações de compadrio e vizinhança, se assim for decidido pelos que
optarem pela realocação de forma coletiva”9, as negociações têm sido feitas “caso a
caso”, isto é, com as famílias em separado.

Também não há construção coletiva sobre diretrizes, critérios ou mesmo


planejamento específico para as formas de alocação e usos do terreno com as
comunidades de origem, em diálogo aos seus laços culturais e modos de vida
(tradicionalidades e territorialidades). Nem há quaisquer provimentos e disponibilidade
de infraestruturas e serviços pensados para os territórios como um todo, nem bens e

8
Apontamentos similares são encontrados em: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÁS
COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Nota Técnica nº 07/2023. Bases para reativação
econômica em reassentamento coletivo da comunidade Passa Sete – piscicultura. Conceição do Mato
Dentro, maio de 2023 e NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR
BARRAGENS. Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de
direito à moradia adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para
reassentamentos rurais – Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha.
9
ANGLO AMERICAN. Programa de Reestruturação Produtiva. Expansão da Mina do Sapo, 2021.

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

espaços de uso cultural coletivo, em uma perspectiva de promoção de laços


comunitários e desenvolvimento sustentável local integrado10.

Este quadro obriga a reconhecer que a Fazenda Piraquara e a Fazenda Simão


Lavrinha não podem ser compreendidos como reassentamentos coletivos,
diferentemente ao que foi afirmado no “Plano de Reassentamento” apresentado pela
Anglo American. Trata-se de terrenos ou ativos rurais da empresa para a alocação de
reassentamentos familiares negociados e estabelecidos de maneira fragmentada e
descoordenada – em cada lote, e em uma perspectiva territorial como um todo11.
9

10
Sobre reassentamentos coletivos, sugere-se: KINSEY, B.; BINSWANGER, H. Characteristics and
performance of resettlement programs: a review. World Development, Vol. 21, Issue 9, September
1993; OTSUKI, K. Making justice the subject of resettlement planning. Antipode, Vol. 53, Issue 6,
November 2021; HUSEYNOVA, S.; RUMYANTSEV, S. New life in old boots: making one’s home in a
new village after Collective Resettlement. Laboratorium: Russian Review of Social Research, 2, 1, May
2010; FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Nota Técnica: Parâmetros a serem respeitados em todas as
modalidades de reparação do direito à moradia no contexto de rompimento da barragem do Fundão:
um estudo de caso do Reassentamento Coletivo de Gesteira. Projeto Rio Doce, Abril 2021; GAIO, Ana
Paula. O reassentamento coletivo e a indenização justa das populações atingidas e expropriadas por
barragens. XXII Congresso Nacional do Ministério Público. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2017; CDDPH
– CONSELHO DE DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA HUMANA. Relatório final. Comissão especial
“atingidos por barragens”, resoluções nºs 26/06, 31/06, 01/07, 02/07, 05/07. Brasília/DF, 2010; BRASIL.
Projeto de Lei PL 2788/2019. Institui a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por
Barragens (PNAB); discrimina os direitos das Populações Atingidas por Barragens (PAB); prevê o
Programa de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PDPAB); estabelece regras de
responsabilidade social do empreendedor; revoga dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943; e dá outras providências. Situação
atual: em tramitação, Senado Federal. Disponível em: < PL 2788/2019 - Senado Federal>, acesso em
20 de junho de 2023.
11
Vale dizer também que a Anglo American nunca seguiu os elementos do Acordo de Irapé,
diferentemente do que havia sinalizado em momentos anteriores. A mineradora também desconsidera
as lições trazidas pelos problemas na aplicação do PNF. Sobre críticas ao PNF, sugere-se: DUARTE,
Lívia. Da terra arada à terra arrasada – um estudo sobre a lógica costumeira das relações de terra e
trabalho e a luta por direitos do campesinato de Conceição do Mato Dentro – MG. Dissertação
(mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal de Minas Gerais.
Belo Horizonte, 2022. Sobre os compromissos constitucionais com a reparação e o reassentamento
coletivo como modalidade preferencial, sugere-se: GAIO Ana Paula. O reassentamento coletivo e a
indenização justa das populações atingidas e expropriadas por barragens. XXII Congresso Nacional do
Ministério Público. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2017; CDDPH – CONSELHO DE DEFESA DOS
DIREITOS DA PESSOA HUMANA. Relatório final. Comissão especial “atingidos por barragens”,
resoluções nºs 26/06, 31/06, 01/07, 02/07, 05/07. Brasília/DF, 2010.
Quanto às considerações sobre o PNO e o PRP, a síntese das percepções das comunidades e a
análise técnica da ATI NACAB sobre os temas em tela podem ser encontradas em: NACAB – NÚCLEO
DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Análise da situação
socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia adequada das
famílias estabelecidas em ativos da Anglo American para reassentamentos rurais – Fazenda Piraquara
e Fazenda Simão Lavrinha. Conceição do Mato Dentro, março de 2023.

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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Diante do exposto, os atingidos das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São
José do Jassém decidiram construir e apresentar novas Premissas, Parâmetros
Gerais, e Diretrizes e Critérios para o seu reassentamento12.

A proposta, sistematizada neste documento, organiza-se em:

1. PREMISSAS, que as comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José


do Jassém entendem como compromissos necessários e inegociáveis para o
andamento adequado de todas as tratativas envolvendo as negociações,
planejamento, realização e monitoramento dos reassentamentos; 10

2. PARÂMETROS GERAIS, que abrange as preocupações gerais das


comunidades sobre o planejamento, execução e monitoramento dos
reassentamentos; pois, de aplicação da proposta;

3. DIRETRIZES E CRITÉRIOS PARA REASSENTAMENTO DAS


COMUNIDADES ÁGUA QUENTE, PASSA SETE E SÃO JOSÉ DO JASSÉM,
organizados em três eixos temáticos, sendo interdependentes entre si. Visam
identificar, de maneira didática, as dimensões materiais e imateriais nas áreas
de origem e destino, isto é, os modos e experiências de vida em mudança, e a
oferta de condições para qualidade de vida e bem-estar nos respectivos
destinos. São eles:

i. TERRITÓRIOS (COLETIVIDADES), abrangendo aspectos da vida coletiva


nas áreas de origem e necessários aos locais destinados ao
reassentamento, considerados tanto em seus elementos internos quanto às
potencialidades e desafios externos a serem atentados para plena
disposição de condições à efetiva inserção regional das pessoas, famílias e
comunidades, e sua adequação aos modos de vida e territorialidades
vigentes (respeito aos modos de vida) e desejados.

12
Sobre todo o esforço realizado e seu contexto, sugere-se conferir ANEXO I e II do presente
documento.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

ii. CASAS, abrangendo tanto a infraestrutura física da casa, quanto as


seguridades hídrica, alimentar e nutricional, jurídica e socioeconômica, o
seu conforto ambiental, a sua adequação cultural e demais condições
mínimas para respeito do direito à moradia adequada;

iii. TERRENOS DOMÉSTICOS, abrangendo os apontamentos relativos aos


lotes de terra urbana e rural destinados a usos domésticos, tanto para a
subsistência familiar quanto para a sua adequação cultural em termos
estéticos, econômicos e sociais.
11
Ao final, o documento dispõe de SÍNTESE, com o conjunto dos apontamentos feitos
ao longo da exposição. A síntese pretende ser subsídio prático para as tratativas
futuras envolvendo as negociações, o planejamento, a realização e o monitoramento
do desenvolvimento sustentável dos reassentamentos. Buscou-se reunir os aspectos
comuns entre as comunidades, sem perder de vista ou invisibilizar eventuais
especificidades históricas ou experiências econômicas, ambientais e culturais de cada
uma delas. O ANEXO I apresenta detalhes sobre o processo de construção coletiva
adotados na interlocução entre as comunidades e a ATI 39/NACAB. O ANEXO II
registra a contextualização histórica que deu origem ao presente produto, quanto ao
processo judicial. 

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

1. PREMISSAS

As premissas são as ideias fundamentais que devem balizar todo o processo de


reassentamento, desde o seu planejamento, até o monitoramento do desenvolvimento
e autonomia das pessoas e famílias no novo local de moradia e vida.

Elas estavam sempre presentes em muitas falas e apontamentos feitos pelas


comunidades ao longo das atividades de construção desta proposta. É importante
ressaltar que as premissas são consideradas ideais inegociáveis e irredutíveis para
12
as comunidades, refletindo suas necessidades e demandas essenciais.

Também foi apontado que as premissas dispostas no PNO, ainda que muitas delas
fossem, no papel, pertinentes e adequadas, mostravam-se pouco funcionais na
prática.

Nesse sentido, trata-se aqui de dispor guias do que deve sempre ser alcançado, a
partir de fundamentação conceitual clara: os reassentamentos têm que ser
planejados, executados e monitorados sob direitos e compromissos fundamentais,
que devem ser atendidos permanentemente, e base para a revisão de rotas e acordos.

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Desenvolvimento
sustentável dos
reassentamentos

Transparência
Proteção de
e acesso à
direitos
informação

Participação
Princípio do
social
reconstruir melhor
significativa
13

Centralidade das Perspectiva da


coletividades reparação integral

A. Compromisso com o desenvolvimento sustentável dos reassentamentos.


O desenvolvimento sustentável, como agenda global de um “futuro comum”
para o presente e para o futuro, significa o compromisso em assegurar, de
maneira interdependente, o desenvolvimento social e econômico sem o
comprometimento do meio ambiente para as gerações atuais e futuras. Os
reassentamentos passarão a ser, uma vez realizados, a vida das famílias, e,
portanto, não podem resultar em processos de vulneração social, econômica
ou ambiental. Além disso, as comunidades de Água Quente, Passa Sete e São
José do Jassém não desejam a “dependência” da mineradora, nem causarem
prejuízos socioeconômicos, socioambientais, socioculturais ou psicossociais
às comunidades, territórios e eventuais municípios anfitriões, e, para isso,
entende-se como compromisso fundamental que os reassentamentos sejam
pensados tendo como norte o desenvolvimento sustentável das pessoas,
famílias e comunidades13.

13
O que vai ao pleno encontro das recomendações internacionais no tema. Sugere-se: BANCO
MUNDIAL. Manual de Políticas Operacionais 4.12., Reassentamento Involuntário. Banco Mundial,
Dezembro 2001; IFC – INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION. Padrões de desempenho sobre
Sustentabilidade Socioambiental. 1º de janeiro de 2012; IFC – INTERNATIONAL FINANCE
CORPORATION. Nota de orientação 5 – Padrão de Desempenho 5 – Aquisição de terra e

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B. Compromisso com a proteção de direitos. Trata-se da plena observância e


proteção de Direitos Humanos fundamentais nos trâmites gerais de
planejamento, execução e monitoramento do desenvolvimento dos
reassentamentos, bem como às negociações com as pessoas, famílias e
comunidades atingidas. Isto inclui, em contexto de reassentamentos, o
atendimento: do direito à moradia adequada, considerando as suas condições
mínimas14; da prevenção e da precaução ao desencadeamento de processos
de degradação ambiental e vulneração social; e do respeito e inclusão da
diversidade cultural, com tratamento isonômico de todas as pessoas atingidas, 14

sem prejuízo à atenção especial necessária a elementos sociais e


interseccionais (raça, gênero, idade, ou outros marcadores sociais de
diferença) que podem se relacionar a desigualdades, e, pois, cujas ações
possam significar a sua reprodução ou aprofundamento.

C. Participação social significativa das comunidades. O International Finance


Corporation (IFC) aponta que, atualmente, “o termo ‘participação dos
interessados’ está surgindo como um meio de descrever um processo mais
amplo, mais inclusivo e contínuo entre uma empresa e aqueles potencialmente
impactados que engloba uma gama de atividades e abordagens e se estende
por todo o ciclo do projeto”, de modo que a participação seja significativa para

reassentamento involuntário. IN: IFC – INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION. Padrões de


desempenho sobre Sustentabilidade Socioambiental. 1º de janeiro de 2012. E também nas linhas
gerais de responsabilidade social corporativa da empresa, em específico, naquelas relacionadas no
chamado “Plano de Mineração Sustentável” – que expõe ter como Propósito da empresa “reimaginar a
mineração para melhorar a vida das pessoas”. Sobre este: < conheca-nosso-plano-de-mineracao-sustentavel.pdf
(angloamerican.com)>, acesso em 21 de junho de 2023. O compromisso com a sustentabilidade ambiental,
econômica e social do reassentamento também é orientado pelas preocupações que estão presentes em diversos
dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, tais como: seguridade a saúde e o bem-estar
(ODS 3); promoção da igualdade de gênero (ODS 5); garantia de acesso à água potável e saneamento (ODS 6);
promoção de cidades e comunidades sustentáveis (ODS 11); incentivo ao consumo e a produção responsáveis
(ODS 12); erradicação da pobreza (ODS 1); e ação climática (ODS 13).
14
As condições mínimas para o atendimento do direito à moradia adequada são: segurança da posse;
disponibilidade de serviços, materiais, instalações e infraestrutura; economicidade; habitabilidade;
acessibilidade; localização; adequação cultural. Sobre o assunto, sugere-se: BRASIL. Direito à moradia
adequada – por uma cultura de direitos humanos. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República – SDH/PR, Brasília, 2013. Disponível em: < sdh_direito-a-moradia-adequada_2013.pdf
(presidencia.gov.br)>, acesso em 20 de junho de 2023; e UNITED NATIONS (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS). The right to adequate housing. UN-HABITAT. Fact Sheet nº 21. Disponível em: <
Right to adequate housing.pdf (unhabitat.org)>. Acesso em 20 de junho de 2023.

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todos os envolvidos, tornando-a eficaz. Para tanto, devem ser observados os


seguintes princípios-chave: i) Fornecer informações significativas em formato e
linguagem que sejam prontamente compreensíveis e adaptadas às
necessidades do(s) grupo(s) de interessados alvo; ii) Fornecer informações
antecipadamente de atividades de consulta e tomada de decisões; iii) Divulgar
informações em formatos e locais acessíveis aos participantes; iv) Respeitar
tradições, linguagens, cronogramas e processos de tomada de decisões locais;
v) Diálogo bilateral que dê a ambos os lados a oportunidade de trocar pontos
de vista e informações, escutar, e ver seus problemas ouvidos e solucionados;
vi) Inclusão na representação de pontos de vista, incluindo mulheres, grupos 15

vulneráveis e/ou minoritários; vii) Processos livres de coerção ou intimidação;


viii) Mecanismos claros de resposta às preocupações, sugestões e queixas das
pessoas; e ix) Incorporar um feedback ao desenho do projeto ou programa, e
apresentar relatório aos interessados15.

As comunidades devem ter direito à participação social significativa, que deve


ser compreendida como o acesso à informação e o poder deliberativo nos
processos de planejamento, execução e monitoramento do desenvolvimento
dos reassentamentos urbanos e rurais e demais termos de negociação. Para
que isso ocorra, deve haver tanto a construção de soluções culturalmente
adequadas (padrões mínimos para as casas, por exemplo) quanto, na medida
do caráter da especificidade envolvida, soluções customizadas (equipamentos
de acessibilidade à deficiência física, por exemplo) e mecanismos que
busquem, permanentemente, maior efetividade nas ações (tais como,
conforme contido nesta proposta, um espaço compartilhado de governança e
para a resolução de conflitos). Trata-se também de assegurar a participação
plenamente esclarecida, o que exige de todas as partes envolvidas
transparência no acesso à informação e sua adequação às territorialidades
locais (estratégias distintas e didáticas de divulgação, por exemplo). Dessa
forma, a participação social assegura efetivamente que as decisões tomadas

15
IFC - INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION. Participação dos interessados: manual de
melhores práticas para fazer negócios em mercados emergentes. Washington DC, 2007. Disponível
em: <StakehldrText2_PT_F_Ben.qxd (ifc.org)>. Acesso em 20 de junho de 2023.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

levem em consideração os interesses e necessidades das comunidades


atingidas, promovendo um processo mais justo e inclusivo.

D. Perspectiva da reparação integral. Deve-se considerar que a situação


socioeconômica, socioambiental, sociocultural e psicossocial das comunidades
atualmente é também resultado de alterações causadas ou em afinidade à
presença do Projeto Minas-Rio, sobretudo, quanto aos impactos negativos. Em
particular, viver a jusante da barragem significa problemas tanto para quem
resiste em ficar, e se vê em progressivo isolamento territorial, quanto a quem
assume para si inúmeros prejuízos materiais e imateriais ao sair de onde 16
sempre se viveu. Portanto, os processos de negociação, deslocamento e
estabelecimento dos reassentamentos precisam incorporar critérios de
valoração econômica (monetária) e não-econômica (não-monetária) das vidas
domésticas e coletivas, e soluções nos reassentamentos que busquem mitigar
ou restituir tais incômodos, problemas ou impactos, em uma perspectiva de
reparação integral.

E. Centralidade das coletividades e seus modos de vida. As comunidades de


Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém entendem que o seu
reassentamento deve ser compreendido considerando não apenas as unidades
residenciais familiares de maneira isolada, pois: há a dimensão
comunitária/coletiva que têm parte significativa nos modos de vida locais; há
laços de solidariedade e parentesco ampliados que constituem seu tecido
sociocultural; e há bens coletivos que exprimem a história, memória e vivência
coletivas. Isto significa que as negociações, o planejamento, a realização e o
monitoramento dos reassentamentos devem acompanhar o que caracteriza as
coletividades, isto é: os modos tradicionais de uso, atribuição de sentido e
circulação dos territórios; as relações sociais intra e entre as comunidades,
localidades e propriedades dispersas; e as formas de reprodução física e
sociocultural locais, que tanto têm sido desestabilizadas pelo Projeto Minas-

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Rio16. Toma-se, pois, como premissa, que os reassentamentos devem ser


pensados e realizados considerando a dimensão coletiva dos modos de vida
das comunidades, tanto em aspectos territoriais (domiciliares-urbanísticos)
quanto nas balizas gerais de negociação, planejamento, realização e
monitoramento dos reassentamentos: busca-se a garantia do direito à
realocação a todas as famílias que compõem os territórios, respeitando os seus
modos de vida.

F. Princípio do reconstruir melhor. Observância do princípio internacional do


build back better – “reconstruir melhor”17 e do direito da melhoria contínua das 17

condições de vida, que já é um direito consagrado – ao contexto de


reassentamento, uma vez que: se trata de comunidades a jusante da barragem
de rejeitos da mineração e, pois, sob constante medo e pressão; que os
impactos ambientais e sociais do Projeto Minas-Rio, somados àqueles relativos
aos processos de deslocamento e estabelecimento de reassentamentos nestes
contextos envolvem perdas materiais e imateriais por vezes incomensuráveis,
continuados e, pois, em uma perspectiva de direitos humanos não faz sentido
mera observância à “situação atual”; que reassentamentos se tratam da
recuperação das condições adequadas de moradia e, enquanto tal, devem ser
centradas nas pessoas; que as pessoas atingidas devem ter direito a acessar

16
Ampla produção técnica e científica explora este assunto, dentro e para além do licenciamento
ambiental do Projeto Minas-Rio. Sugere-se: GESTA/UFMG – UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS
GERAIS. Transformações socioambientais e violações de direitos humanos no contexto do
empreendimento Minas-Rio em Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim, Minas
Gerais. Estudo Preliminar - Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de
Minas Gerais (GESTA/UFMG), Grupo de Pesquisa Política, Economia, Mineração, Ambiente e
Sociedade (PoEMAS), Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular, Movimento pela Soberania
Popular na Mineração (MAM), Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos/as Atingidos/as do Projeto
Minas-Rio da Anglo American (REAJA). Outubro de 2018. Disponível em: <
EstudoPreliminar_Out2018_Web.pdf (coletivomargaridaalves.org)>, acesso em 21 de junho de 2023;
H&P – HERKENHOFF & PRATES. Estudo dos elementos de tradicionalidade. Estudo Técnico sobre
as características de tradicionalidade de comunidades. Relatório Final – Produto 4, Contrato
4600173353. Instituto de Tecnologia e Desenvolvimento de Minas Gerais, Herkenhoff & Prates, junho
de 2019. PRATES, Clarissa. Efeitos derrame da mineração, violências cotidianas e resistências em
Conceição do Mato Dentro – MG. Dissertação (mestrado) – Mestrado Interinstitucional em Sociedade,
Ambiente e Território – Universidade Federal de Minas Gerais, 2017; NACAB – NÚCLEO DE
ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Relatório parcial de situação
socioeconômica, socioambiental, sociocultural e psicossocial de Água Quente, Passa Sete e São José
do Jassém, situadas no entorno do Projeto Minas-Rio. Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais, 2023.
17
Sobre o princípio de Building back better, sugere-se introdução em: <What does ‘build back better’
really mean? One of the world’s top CEOs give us his take | UN News>. Acesso em 20 de junho de
2023.

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benefícios do projeto de desenvolvimento18. Aponta-se assim que a


reconstrução melhor deva ser uma premissa das tratativas, entendendo pelo
termo, neste contexto, e como mínimo, que: i) a política de recuperação
habitacional apoie a recuperação das condições de vida; ii) o processo de
recuperação inclua o envolvimento dos residentes na tomada de decisões; e iii)
concebam-se casas cujo projeto e construção atendam às necessidades dos
moradores19.

G. Transparência e acesso à informação. Refere-se à premissa geral de


transparência do processo de negociação e implementação dos 18

reassentamentos, e da sua adequação às realidades históricas e territoriais das


comunidades. Trata-se de assegurar a participação plenamente esclarecida, o
que exige de todas as partes envolvidas plena transparência e acesso à
informação. É necessário que a mineradora garanta o uso de uma linguagem
falada e escrita que seja compreensível às comunidades atingidas e
realocadas, considerando que em algumas pessoas das comunidades
possuem baixo nível de escolaridade e outras não são alfabetizadas; e que as
pessoas tenham pleno acesso a documentos, laudos, ou outras fontes de
informação que considerem necessárias, sem obstáculos ou atrasos. A
comunicação deve ser realizada de forma clara e acessível, utilizando
estratégias distintas e didáticas de divulgação, levando em conta as
particularidades das territorialidades locais.

18
MALY, Elizabeth. Rethinking “Build Back Better” in housing reconstruction: a proposal for “People
Centered Housing Recovery’. IOP Conf. Series: Earth and Environmental Science 56 (2017). Disponível
em: <Rethinking_Build_Back_Better_in_housing_reconstruc.pdf>. Acesso em 20 de junho de 2023.
19
MALY, Elizabeth. Rethinking “Build Back Better” in housing reconstruction: a proposal for “People
Centered Housing Recovery’. IOP Conf. Series: Earth and Environmental Science 56 (2017). Disponível
em: <Rethinking_Build_Back_Better_in_housing_reconstruc.pdf>, p. 2. Acesso em 20 de junho de
2023. Sobre reassentamentos e o compromisso de que as pessoas acessem os benefícios dos projetos
de desenvolvimento, sugere-se: BANCO MUNDIAL. Manual de Políticas Operacionais 4.12.,
Reassentamento Involuntário. Banco Mundial, Dezembro 2001; BANCO MUNDIAL. Involuntary
resettlement sourcebook: planning and implementation in development projects. Washington DC: World
Bank Group, 2004. Disponível em:
<openknowledge.worldbank.org/server/api/core/bitstreams/c1454604-7bf7-534f-9530-
afb8a66c9c99/content>. Acesso em 20 de junho de 2023. Também pode ser incluído aqui as linhas
gerais de responsabilidade social corporativa da empresa, com respeito ao “Plano de Mineração
Sustentável” (ver nota de rodapé 9).

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2. PARÂMETROS GERAIS

Os parâmetros gerais se referem a pontos que, a princípio, mais preocupam as


comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém para a condução
do processo de reassentamento. Eles se organizam como etapas de aplicação do
Plano de Reassentamento, e envolvem: i) Planejamento (antes de organizar e
construir os novos territórios e a mudança); ii) Realização (a mudança, a construção;
o estabelecimento inicial nos reassentamentos); e iii) Monitoramento (assegurar a
efetividade do processo como um todo, de modo que os reassentamentos forneçam
19
condições reais para o bem-estar das comunidades e seu desenvolvimento
sustentável).

2.1. Planejamento

1. Pactuação da
2. Levantamento e
governança do
cadastramento
processo

5. Negociações
3. Decisão sobre as
4. Elaboração de sobre a origem e
formas de
PDT e PDF escolha dos
reassentamento
destinos

2.1.1. Pactuação da governança do processo

Deve-se garantir formas de governança centralizadas nas comunidades em todas as


etapas do processo de reassentamento, de modo que o resultado prático que se busca
alcançar com o plano de reassentamento, já apontado nas Premissas, seja cumprindo
de maneira efetiva, legítima e atendendo às necessidades das pessoas atingidas.

Para tanto, faz-se necessária a formação de grupos de trabalho interdisciplinares


pelas partes para tratar de maneira uniforme os reassentamentos, coletivos e auto-
reassentamentos familiares isolados, bem como convite a Secretaria de Estado de

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Desenvolvimento Econômico (SEDE), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente


(SEMAD), as comunidades atingidas, a ATI 39/NACAB, aos município de Alvorada de
Minas e Conceição do Mato Dentro, e a outros órgãos e municípios, entes estaduais
e de desenvolvimento regional (secretarias estaduais, consórcios intermunicipais,
Comitês de Bacia Hidrográfica, por exemplo) que se considere necessário para o
aprimoramento da efetividade de pactuações sobre as responsabilidades do Poder
Público.

Deverá ser garantida a participação efetiva de caráter deliberativo das famílias e


comunidades atingidas, incluindo garantia de acesso prévio a todas as informações 20

referentes às etapas do processo de construção dos reassentamentos coletivo ou


auto-reassentamentos familiares isolados. Isto inclui cronogramas, projetos, empresa
responsável pela etapa, materiais, dentre outros; visitas periódicas in loco aos
terrenos e obras; e poder de interferência e deliberação no caso de descumprimento,
devidamente constatado, das decisões pactuadas com os atingidos.

O conhecimento popular das pessoas atingidas não poderá ser tratado de maneira
inferior a outras fontes de conhecimento, sendo base legítima e isonômica para o
processo de caracterização de problemas e deliberação de soluções. Da mesma
forma, os meios de acesso à informação deverão estar adequados às realidades de
acesso, circulação e tempo de apropriação das informações nas comunidades,
considerando a sua diversidade territorial presente e futura, e as respectivas
condições de acesso presencial ou por meios tecnológicos.

No que tange ao cronograma que deverá ser apresentado pela Anglo American, este
deverá trazer informações sobre as obras do reassentamento, com cronograma com
as todas as etapas envolvidas no processo, como aquisições e processos
construtivos, e a previsão de conclusão e entrega. O cronograma deverá ser pactuado
com as comunidades, e demais partes envolvidas na governança.

Na perspectiva de celeridade e efetividade de ações, eventuais alterações não


poderão exceder o prazo de 15 dias corridos ao previsto sem haver justificativa para
as partes, e a sua anuência, para nova pactuação. Para isso, deve-se dar explicações

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

claras às comunidades, que terão, em última instância, o poder de veto às alterações,


se considerarem que as razões são injustificáveis.

Em caso de atraso, deverá ser paga uma multa diária, revertida em favor da
comunidade, a ser aplicada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais,
através da Promotoria de Justiça da Comarca de Conceição do Mato Dentro, que é a
Instituição que representa os atingidos na Ação Civil Pública e que detém legitimidade
para buscar garantir direitos coletivos difusos e individuais homogêneos.

21
A forma de representatividade das comunidades nos espaços de governança poderá
ser pactuada, desde que, em última instância, signifique poder deliberativo e de veto
às comunidades. Essa instância ainda deverá contar com mecanismos de controle
para garantia de representatividade e legitimidade, podendo ser revista e reconvocada
pelas próprias comunidades.

Ainda como instituição que representa os atingidos na Ação Civil Pública, o Ministério
Público do Estado de Minas Gerais, através da Promotoria de Justiça da Comarca de
Conceição do Mato Dentro, deverá fazer o acompanhamento trimestral sobre o
cumprimento de todos os acordos pactuados no presente documento, inclusive para
fins de aplicação de multas em caso de descumprimento.

Ademais, a concessão de novas licenças ambientais à Anglo American deverá ser


condicionada à realização de avaliações dos resultados dos reassentamentos
implantados, levando em consideração parâmetros socioeconômicos,
socioambientais, socioculturais e psicossociais, cabendo os custos da mineradora,
sendo a avaliação aferida por equipe técnica do Ministério Público ou empresa por ele
indicada.

As pessoas atingidas têm o direito assegurado de contar com o apoio da ATI


39/NACAB para o acompanhamento e/ou comparecimento nas instâncias ou
momentos de deliberação e debate que entenderem pertinentes, independentemente
de qualquer avaliação acerca da vulnerabilidade do comunitário.

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

A Anglo American deverá comunicar previamente à ATI 39/NACAB qualquer fase de


negociação, reunião, visita ou tratativa com atingidos para que as próprias pessoas
atingidas possam livremente optar pelo auxílio da assessoria técnica, devendo
observar essa diretriz em todo o processo (reassentamento, indenização e demais
medidas).

É importante também estabelecer um método participativo e não burocrático para a


resolução dos conflitos que possam sobrevir no decorrer do processo, e que seja
acessível e efetivo para as comunidades. Para isso, não basta a disponibilização de
um número de “0800” que se mostra “frio e distante” da realidade e reais necessidades 22

dos atingidos no dia a dia.

Assim, o espaço de governança deverá também prever, considerando as Premissas


e Parâmetros Gerais apresentados nesta proposta, mecanismos de acolhimento e
resolutividade efetiva de queixas e conflitos sobre o processo, que possam trazer
subsídios úteis e funcionais à efetividade das ações sobre a realização e
monitoramento dos reassentamentos. Este mecanismo deverá ser construído no
âmbito da governança, e ser mantido ao longo de todo o processo, desde o
planejamento até o monitoramento do desenvolvimento dos reassentamentos.

A governança deverá ter por propósito assegurar a efetividade das ações. Para tanto,
deve-se pautar e se organizar por uma gestão adaptativa do processo20, sendo
permeável a mudanças nas realidades vividas ao longo do processo, ao acolhimento
de novas informações ou propostas para a correção de rumos, e capaz de respondê-
las, sem perder de vista as premissas e demais diretrizes e critérios assumidos nesta
proposta, e das pactuações assumidas ao longo do processo em si.

20
Sobre a gestão adaptativa, sugere-se: MELO, M.A.; AGOSTINHO, M. Gestão Adaptativa: uma
proposta para o gerenciamento de redes de inovação. Rev. Adm. Contemp., 11 (2), jun 2007. Disponível
em: <SciELO - Brasil - Gestão Adaptativa: uma proposta para o gerenciamento de redes de inovação
Gestão Adaptativa: uma proposta para o gerenciamento de redes de inovação>, acesso em 20 de junho
de 2023; e MORETO et. al.. Gestão Adaptativa na Etapa de Acompanhamento da Avaliação de Impacto
Ambiental. Híbridos do conhecimento II, Estudos Avançados 35 (103), sep-dec 2021. Disponível em:
<SciELO - Brasil - Gestão Adaptativa na Etapa de Acompanhamento da Avaliação de Impacto
Ambiental Gestão Adaptativa na Etapa de Acompanhamento da Avaliação de Impacto Ambiental>,
acesso em 20 de junho de 2023.

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2.1.2. Levantamento e cadastramento de público-alvo

O levantamento e cadastramento de público-alvo deverá abranger as comunidades


de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém, bem como as localidades e
eventuais propriedades dispersas que guardam relação socioterritorial com as
comunidades21. Este cadastro objetiva identificar o público-alvo para o qual será
ofertado o direito ao reassentamento, além de colher as informações e elementos
necessários a subsidiar o futuro reassentamento.

Nesse sentido, além de todas as pessoas que integram diretamente as comunidades, 23


também deverá ser reconhecido o direito ao reassentamento a pessoas físicas e
entidades familiares que ficarão isoladas devido à remoção das famílias vizinhas, o
que implicaria em desestruturação das relações sociais, afetivas e produtivas. De
igual maneira, o direito ao reassentamento deverá ser assegurado àqueles afetados
pela desativação dos serviços básicos atualmente disponíveis, como escolas, postos
de saúde, cemitérios, igrejas, espaços de lazer, acessos e telefonia.

Ainda a título de compreensão do público-alvo, devem ser incluídos todos que sejam
proprietários de imóveis (residentes ou não), as pessoas que possuam terras e/ou
residências a qualquer outro título ou ainda guardem outro tipo de relação (direta ou
indireta) com imóveis e glebas de terra nas áreas indicadas. Desta forma, não deverá
haver discriminação negativa entre famílias que sejam proprietárias e as que tenham
condição de posseiras para fins de reassentamento e reparação do direito à moradia,
inclusive garantindo-se a escolha da modalidade de restituição.

Para compreensão dos “posseiros” que nesta condição serão incluídos no programa
e devem ter garantida reparação nos moldes deste programa, devem ser
considerados pelo menos – mas não se limitando – as seguintes condições de relação
com a terra: meeiros e grupo familiar (residentes ou não); posseiros em terras

21
Como referência, pode-se sugerir os resultados obtidos pela ATI39/NACAB com o seu Cadastro
Socioambiental, e ofertados em: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES
ATINGIDAS POR BARRAGENS. Relatório de análise da situação socioeconômica, socioambiental,
sociocultural e psicossocial das comunidades Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém,
localizadas no entorno do Projeto Minas-Rio. Conceição do Mato Dentro, abril 2023.

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particulares, de bolo, de santo e de uso comum (residentes ou não); inquilinos e


arrendatários de imóveis (residentes ou não); parceiros por meia, terça, quarta, ou
outra; trabalhadores rurais regulares ou sem contrato e usuários de imóveis cedidos.

Ademais, será reconhecido o direito ao reassentamento a todas a pessoas físicas e


entidades familiares que estiverem obrigadas a realizar deslocamento físico
compulsório devido a condições de inabitabilidade - descumprimento das condições
mínimas de habitabilidade (saneamento, acabamento, iluminação, ventilação,
estrutural etc), balizadas por normas, como a NBR 15575 - Edificações Habitacionais
(Desempenho) e a NBR 9050 - Acessibilidade a Edificações; e pelos riscos de 24

desastres naturais ou tecnológicos e impossibilidade de manutenção dos métodos


tradicionais de produção.

O cadastramento envolverá o levantamento de informações de ordem material e


imaterial que se relacionam às tradicionalidades, territorialidades, e demais aspectos
territoriais dos modos de vida intra e entre comunidades de Água Quente, Passa Sete
e São José do Jassém e as suas localidades. Isto porque, conforme ampla produção
técnico-científica, as comunidades compõem vasto tecido sociocultural compartilhado
que, nos últimos anos, tem sido atingido pelo Projeto Minas-Rio22. As informações
obtidas com o levantamento e o cadastramento devem subsidiar a composição das

22
Pode-se sugerir, sem exaurir o tema, entre produção feita no âmbito do licenciamento ambiental e
outras de origem acadêmica externa: ARCADIS. Diagnóstico de impactos no patrimônio cultural da
região afetada pelo empreendimento Minas-Rio. 2017; CARVALHOSA, Natália. “Fora daqui não sei
andar”: movimentos de roça, transformações sociais e resistência da honra em comunidades rurais de
Minas Gerais. 2016. 153 f. Dissertação (mestrado em sociologia com concentração em antropologia) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016; DIVERSUS. Comunidades negras rurais
em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, Minas Gerais, Brasil – Caracterização preliminar.
Belo Horizonte, 2008; FERREIRA, Luciana da Silva Sales. Etnografia de documentos e de práticas
estatais: análise da atuação do Ministério Público do Estado de Minas Gerais durante a instalação do
empreendimento minerário em Conceição do Mato Dentro/MG. 2018. 186 f. Dissertação (Mestrado em
Antropologia Soial) – Universidade de Brasília, Brasília, 2018.; GESTA – GRUPO DE ESTUDOS EM
TEMÁTICAS AMBIENTAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Transformações
socioambientais e violações de direitos humanos no contexto do empreendimento Minas-Rio em
Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim, Minas Gerais – Estudo Preliminar.
Outubro de 2018; H&P – HERKENHOFF & PRATES. Estudo dos elementos de tradicionalidade. Estudo
Técnico sobre as características de tradicionalidade de comunidades. Relatório Final – Produto 4,
Contrato 4600173353. Instituto de Tecnologia e Desenvolvimento de Minas Gerais, Herkenhoff &
Prates, junho de 2019; PRATES, Clarissa; ANTONIETTI, Yasmin; LEITE, Luciana. Mineração,
territorialidade e luta pelo reconhecimento: o caso das comunidades abaixo da barragem de rejeitos do
empreendimento Minas-Rio. In: CONGRESSO EM DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 6., 2018, Montes
Claros. Anais... Montes Claros: PPGDS – Universidade Estadual de Montes Claros, agosto de 2018. p.
1661-1673.

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coletividades para os processos negociais e o planejamento, realização e


monitoramento do reassentamento em sua dimensão territorial.

O cadastramento envolverá o levantamento e valoração econômica e não-econômica


dos incômodos e prejuízos socioeconômicos, socioambientais, socioculturais e
psicossociais causados ou em afinidade à instalação e operação do Projeto Minas-
Rio, e, em particular, aqueles relacionados às transformações na qualidade de vida e
bem-estar impostos pela barragem de rejeitos.

O escopo abrange o território como um todo, englobando não apenas as moradias e 25

os vínculos sociais, mas também aspectos econômicos, como benfeitorias


reprodutivas e não reprodutivas, e os seus serviços ecossistêmicos, com a aplicação
de distintas metodologias de valoração econômica, em favor da reparação integral.

Além disso, são considerados aspectos não-econômicos dos territórios, tais como as
relativos às belezas cênicas, às identidades e inspirações culturais e espirituais, aos
lazeres familiares e coletivos, ou demais serviços ecossistêmicos culturais, bem como
demais referências culturais materiais ou imateriais importantes para as famílias e
comunidades atingidas, por meio de sua valoração não-monetária para caracterização
e priorização de medidas de reparação. Estas informações deverão ser incorporadas
às negociações e se concretizar em ações efetivas. Compreende-se as historicidades,
materialidades e imaterialidades consideradas importantes ou representativas das
coletividades.

Outros elementos que deverão ser considerados são os estabelecimentos comerciais


das pessoas afetadas e outras atividades econômicas que possuam relação
socioterritorial com as comunidades atingidas. As informações aí levantadas devem
subsidiar os processos negociais, assegurando às comunidades a sua restituição e/ou
indenização, bem como o planejamento, realização e monitoramento dos
reassentamentos em sua dimensão territorial.

O cadastramento envolverá o levantamento, sobre cada indivíduo ou núcleo familiar,


de informações qualitativas e quantitativas que abranjam, na sua especificidade, as

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preocupações sinalizadas neste documento. As informações levantadas devem


subsidiar os processos negociais e o planejamento, realização e monitoramento dos
reassentamentos, considerando as especificidades socioeconômicas,
socioambientais, socioculturais ou psicossociais das famílias, sem prejudicar a
liberdade de associação e as particularidades das coletividades. Essas informações
também devem ser consideradas no planejamento territorial, levando em conta o
ambiente e as comunidades envolvidas. Além disso, é necessário identificar os grupos
vulneráveis: portadores de deficiência, doentes crônicos, idosos e crianças, bem como
os serviços e garantias para que não haja ruptura social dos vínculos de solidariedade
que ajudam diminuir vulnerabilidades. 26

De maneira objetiva, durante o processo de cadastramento deverão ser levantadas,


ao menos, informações referentes aos seguintes aspectos:

1. Lucro Cessante de Plantações e Criações Animais:


a. Avaliação do potencial econômico das culturas agrícolas e das criações animais
existentes na propriedade, levando em conta o valor de mercado das colheitas e
produtos, bem como a estimativa de perdas futuras devido à remoção ou interferência
no cultivo/criação23;

b. Consideração de aspectos como sazonalidade, ciclo de produção das


culturas/criações de animais e possíveis interrupções no fornecimento de alimentos e
renda para as famílias.

2. Terras:
a. Avaliação da qualidade do solo, sua capacidade produtiva e potencial agrícola,
considerando fatores como textura, fertilidade, drenagem, topografia, posicionamento
quanto insolação, acessibilidade às estradas de escoamento, acesso a água e
presença de recursos naturais no subsolo (por exemplo, reservas minerais);

23
Em caso de múltiplos valores encontrados, o critério adotado é a seleção do valor mais alto,
visando beneficiar as pessoas atingidas.

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b. Valoração da extensão e localização geográfica da propriedade, levando em conta


aspectos como proximidade de mercados, logística de transporte e potencial de
valorização futura.

3. Recursos hídricos:
a. Avaliação da disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos na propriedade,
incluindo fontes de água superficiais (rios, córregos) e subterrâneas (poços,
aquíferos);

b. Consideração do uso da água para irrigação, criação de animais e consumo 27


humano, bem como sua importância para a manutenção dos ecossistemas e a
sustentabilidade das atividades produtivas.

4. Aspectos Paisagísticos e Estéticos:


a. Valoração das características paisagísticas distintas da propriedade, como vistas
panorâmicas, áreas de beleza cênica, relevância para o turismo ou potencial para
atividades de lazer;

b. Consideração do valor estético e emocional associado à paisagem, levando em


conta o bem-estar psicológico das famílias e sua conexão com o ambiente natural.

5. Patrimônio Cultural e Arqueológico:


a. Avaliação de possíveis sítios arqueológicos, áreas de valor histórico ou cultural,
como remanescentes de ocupação indígena ou quilombola, vestígios de antigas
construções ou relevância para o patrimônio cultural, com construção coletiva de
caracterização, avaliação e eventuais medidas de acautelamento ou outras de
proteção, conservação ou uso sustentável, resgate e/ou valorização;

b. Caracterização e valoração de referências culturais das comunidades,


considerando os seus elementos materiais e imateriais para possíveis medidas de
proteção, conservação, resgate e/ou valorização.

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6. Benfeitorias Rurais:
a. Avaliação das estruturas construídas na propriedade, como residências, galpões,
paióis, cercas, estábulos, currais, galinheiros, pocilgas, silos, entre outros,
considerando seu estado de conservação, funcionalidade e valor de reposição;

b. Valoração das benfeitorias em termos de seu potencial de uso, importância para as


atividades produtivas, conforto das famílias e valor agregado à propriedade.

7. Infraestrutura:
a. Avaliação da infraestrutura existente na propriedade, como estradas, pontes, redes 28
de água e esgoto, sistemas de eletricidade e telecomunicações;

b. Consideração do valor e qualidade dessas infraestruturas, sua adequação às


necessidades das famílias e a necessidade de possíveis melhorias ou adaptações.

8. Edificações e Equipamentos Familiares:


a. Valoração de construções específicas relacionadas às atividades familiares,
observância dos materiais construtivos (incluindo materiais de acabamento e
estruturantes), sistemas de energia renovável (solar, eólica), entre outros;

b. Avaliação da residência e outros recursos utilizados pelas famílias em suas


atividades cotidianas.

9. Aspectos Culturais e Identitários:


a. Caracterização dos aspectos culturais, históricos e simbólicos dos territórios,
incluindo tradições, práticas culturais, celebrações, patrimônios imateriais e históricos
que possam ser afetados pelo reassentamento;

b. Consideração da importância desses aspectos para a construção de propostas que


observem as suas implicações e potencialidades para a identidade e a coesão social,
bem como para a preservação ou valorização de sua memória e herança cultural nos
locais de origem e destino.

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10. Impacto Psicossocial:


a. Análise dos possíveis impactos emocionais, psicológicos e sociais causados pela
necessidade de reassentamento involuntário, considerando o vínculo das famílias
com o local atual de moradia;

b. Avaliação dos efeitos do reassentamento na saúde mental, na qualidade de vida,


nas relações sociais e na sensação de pertencimento da comunidade.

Durante o processo de cadastramento, é essencial que sejam levantadas, no mínimo,


informações abrangendo os aspectos anteriormente citados. Essas informações são 29
fundamentais para subsidiar o processo de valoração dos bens e danos, que deve
seguir parâmetros científicos reconhecidos e ser realizado de forma transparente e
imparcial.

Caso existam múltiplas metodologias de avaliação disponíveis, a escolha será


pautada naquela que seja mais favorável aos atingidos, visando garantir uma
negociação justa e equitativa. Além disso, é imprescindível que todo o processo seja
acompanhado da ATI 39/NACAB para assegurar a qualidade, a idoneidade e a
conformidade com as diretrizes estabelecidas.

Para compreensão da porção territorial mínima, relativa aos territórios comunitários


impactados que serão reassentados, propõe-se que seja observada a delimitação das
microbacias hidrográficas que sustentam as espacialidades dos arranjos familiares e
comunitários. Isso implica identificar a distribuição espacial das famílias que compõem
as comunidades, levando em consideração suas relações com os elementos naturais
e simbólicos presentes nas microbacias hidrográficas.

Conforme proposta mínima, verifica-se que os territórios são espacializados segundo


figura a seguir:

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Figura 2: Proposta para entendimento dos territórios comunitários da ZAS.

30

Fonte: ATI39/NACAB

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Referente à distribuição espacial das famílias autodeclaradas atingidas pela barragem


de rejeitos do Projeto Minas – Rio, a ATI 39/NACAB subsidiará o processo de
levantamento de informações disponibilizando, mediante consentimento familiar,
dados geoespacializados do Cadastro Socioambiental realizado junto as
comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém.
31
O levantamento censitário realizado pela ATI 39/NACAB em novembro de 2022
constatou a existência de três territórios comunitários dinâmicos e interrelacionados,
compostos por um núcleo comunitário bem definido, que é o caso de São José do
Jassém, e um núcleo comunitário desmantelado devido negociações no PNO 2021
(Água Quente e Passa Sete, que se apresentam com propriedades individuais de
forma mais esparsa).

Além desses agrupamentos principais, foi observada a presença de localidades


compostas por número menor de famílias, mas que apresentam estritas relações de
parentesco, compadrios, de produção e cultural. Nesse sentido propõe-se que o
reconhecimento dos territórios a jusante da barragem de rejeitos, seja no mínimo,
compreendido por:

Tabela 1 - Número de famílias e estruturas familiares identificadas nos territórios comunitários, Cadastro
Socioambiental ATI 39/NACAB

Fonte: ATI 39/NACAB.

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Tabela 2 - Número de famílias e estruturas classificadas segundo status de presença no território no período de
realização da pesquisa do Cadastro Socioambiental ATI 39/NACAB

32

Fonte: ATI 39/NACAB.

2.1.3. Decisão sobre as formas de reassentamento

As comunidades de Passa Sete, Água Quente e São José do Jassém propõem as


seguintes formas de reassentamento, em ordem de priorização:

1. Reassentamentos coletivos, compreendido pelo termo os processos de


remanejamento e negociação envolvendo coletividades de famílias para outras
áreas, com a restituição de bens e ambientes de uso coletivo (naturais e
construídos) que constituem a vida familiar e social nas comunidades de
origem;

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2. O auto-reassentamento familiar isolado em ativos de terceiros por meio da


apresentação de um banco de imóveis pela Anglo American e indicações por
parte dos atingidos.

Na perspectiva de atender às premissas anteriormente dispostas, sem prejuízo à


liberdade individual de cada família em ter as suas próprias visões sobre como 33
reconstruir melhor, a proposta sugere que o processo negocial se dê inicialmente por
meio de resolução negociada com grupos de interesse identificados pelas
comunidades, seguindo pelo menos um dos seguintes critérios: laços de parentesco
ampliado (consanguinidade, aliança matrimonial ou de descendência formal e fictícia
- adoções); proximidade física (vizinhança), territorial (comunitária) ou afetiva atuais;
e vínculos ou aspirações de ordem produtivo-econômicas, para potenciação do seu
desenvolvimento sustentável.

Cada família poderá se consorciar a outras famílias para a composição de soluções


coletivas na elaboração do desenho geral do seu reassentamento, na perspectiva de
conservação de laços de solidariedade social e produtivo-econômica e eventuais
aspirações da mesma ordem na nova área. Trata-se de priorizar soluções coletivas
para a composição territorial dos reassentamentos, por meio de grupos de famílias
próximas por laços de vizinhança, parentesco, produção e/ou sua própria afinidade
de vida.

As comunidades manifestam preocupação em não serem espalhadas e


fragmentadas, algo que vai ao encontro das principais recomendações
internacionais com respeito à proteção de populações em situação similar 24. Ao
mesmo tempo, pretende-se não impor prejuízo a aspirações individuais ou familiares
de reconfiguração espacial intracomunitária.

24
Dentre outras referências importantes, sugere-se: BANCO MUNDIAL. Manual operacional do Banco
Mundial: Políticas Operacionais, OP 4.12, Reassentamento Involuntário. Dezembro de 2001; THE
INSPECTION PANEL. Involuntary resettlement. Emerging lessons nº1. The World Bank Inspection
Panel, April 2016. BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO. 1998. Involuntary
resettlement – operational policy and background paper. Nº IND-103, OP-710, Washington DC, October
1998; INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION. Padrão de desempenho 5: Revisão 0.1. Aquisição
de Terra e Reassentamento Involuntário, 2012; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA
(IPEA). Metodologia para o diagnóstico social, econômico e cultural dos atingidos por barragens.
Coordenação: Eduardo Luiz Zen. Brasília: IPEA, 2014.

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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

A opção pelo auto-reassentamento familiar isolado em ativos de terceiros é, assim,


apontada como opção secundária, e apenas disponível uma vez que os
reassentamentos coletivos sejam iniciados em construção. Ela se caracteriza pela
possibilidade de auto-reassentamento (aquisição assistida por carta de crédito) de
forma individualizada ou familiar isolada. Trata-se de não impor prejuízo ou restrição 34
a pontuais aspirações individuais de afastamento das coletividades.

Entende-se que, para eventuais distinções entre as famílias no que tange ao tamanho
total das terras e características das propriedades individuais, as modalidades de
reassentamento poderão combinar, além da prioridade do reassentamento e das
condições para a reinserção econômica das famílias, a pecúnia como forma de
compensação parcial.

A decisão sobre a forma de reassentamento ditará os termos coletivos – e


eventualmente individuais – abrangendo as negociações sobre os territórios de
origem, considerando seus aspectos materiais e imateriais ou patrimoniais
significativos para cada coletividade. Por sua vez, a realização dos reassentamentos
e seu monitoramento, na perspectiva de atendimento das premissas apresentadas,
será baseado na confecção de Planos de Desenvolvimento Territorial e Planos de
Desenvolvimento Familiares.

Ao longo da construção do Plano Comunitário de Reassentamento, algumas pessoas


manifestaram, ainda que informalmente, o interesse em maiores informações sobre a
possibilidade de negociação exclusivamente financeira – ou seja, a troca direta do seu
local de moradia e vida por valor em dinheiro. Buscando sempre respeitar a autonomia
da vontade dos atingidos, e considerando que o Plano Comunitário de
Reassentamento deve se pautar no diálogo claro e acessível para todos e expressar
a diversidade, entende-se que esse seja também um direito individual de escolha.

Contudo, tem-se aqui também o dever da ATI 39/NACAB em prestar informações


qualificadas e técnicas. Neste ponto, a ATI 39/NACAB manifesta às partes a sua não
recomendação pela opção, e pede espaço específico para explicá-la. As razões para

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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

esta recomendação foram expostas no BOX 1, bem como observações mínimas para
as pessoas que eventualmente mantenham o desejo de negociação exclusivamente
financeira direta no BOX 2.

Box 1 - Por que a ATI 39/NACAB não recomenda negociação exclusivamente financeira?

1. Os critérios não são claros. A modalidade de negociação exclusivamente financeira 35


pode gerar prejuízos para os atingidos tendo em vista que os critérios de avaliação do
imóvel, terreno e benfeitorias na origem não são claros e prévios, passando pelo crivo
unilateral do empreendedor. Assim, faz-se necessário a exposição clara, direta e
acessível, conforme tratado no Tópico 2. Parâmetros Gerais/ 2.1 Governança do
Processo/ 2.3 Monitoramento, do presente documento, sobre quais são os parâmetros
de avaliação dos bens na origem, e quais são as formas paritárias de negociação sobre
os valores. Em caso de discordância dos atingidos com os valores apresentados, deverá
ser aplicado o disposto nos tópicos supracitados para a resolução do conflito.
2. Aprendizados a partir da experiência histórica nacional e internacional em
contextos similares. É de notório conhecimento, com amplo volume de estudos
científicos ao longo do histórico brasileiro e mundial com respeito a processos de
deslocamento forçado decorrentes da implementação ou operação de grandes
empreendimentos (como o caso do Projeto Minas-Rio) que a opção de remoção de casas
em troca única e exclusiva por dinheiro é especialmente problemática. Além de expor às
pessoas à situação de perda de moradia, não são garantidos os demais direitos a ela
associada. Amplos estudos sobre remoções e reassentamentos abordam o chamado
empobrecimento multidimensional, que se refere à deterioração das condições de vida
em todos os seus aspectos. No caso de negociações exclusivamente financeiras, isto é
particularmente agravado, porque dificilmente as pessoas conseguem usar e gerir o
dinheiro para recuperar tudo o que perdem, desde as fontes de renda até às relações de
vizinhança que fazem a vida ser mais agradável. Trata-se de danos à segurança
econômica, alimentar, e à saúde física e mental, dentre outros de ordem econômica,
social e cultural, em nível individual e comunitário, que muitas vezes as pessoas só vão
perceber quando não tem mais volta; além disso, e principalmente, sobre direitos
coletivos, que por vezes não são observados quando das negociações exclusivamente
financeiras. Nesse contexto, é preciso estar ciente de que, optando por essa “modalidade
de negociação”, o atingido não tem acesso a indenizações/ compensações de cunho
coletivo, seja por bens materiais e/ou imateriais.
3. As exceções não são a regra. No caso do Projeto Minas-Rio, há certa mistificação sobre
o período de negociações do PNF, como se todo mundo que negociou na época “saiu
rico”. É possivelmente verdade que, naquele contexto, algumas pessoas ou famílias
tenham “saído ricas” das negociações; mas, ainda que não tenhamos objetivamente
claro como essas pessoas estão hoje em dia – e infelizmente as informações não são
necessariamente positivas -, o que se sabe é que: “sair rico” não é a regra. Muito menos
nas negociações com famílias e comunidades “no entorno do empreendimento”.
Considerando o Programa de Negociação vigente, é possível realizar uma negociação
exclusivamente financeira, desde que o atingido possua outro imóvel. Contudo, nesse
caso, o comunitário não teria direito a alguns benefícios, que apenas são concedidos
para os que optam pela modalidade de reassentamento. Sendo assim, até mesmo no
programa vigente, optar pela negociação apenas em pecúnia significa menos direitos.

Nesse sentido, o motivo desta não recomendação não é por qualquer interesse específico ou
não transparente da ATI em favor de reassentamentos, mas, conforme conversado também
nas atividades com as comunidades, trata-se de assegurar direitos. É a mesma preocupação
que motivou, por exemplo, a construção do TAC de Irapé.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Box 2 - Considerações mínimas para atenção em negociação exclusivamente financeira (não recomendada pela
ATI 39/NACAB)

1. Somente negocie com auxílio profissional, preferencialmente assistido por um advogado


em quem confie, conheça os trabalhos anteriores e demonstre experiência na área. Em
caso de dúvidas, os órgãos de classe, como a OAB/MG podem auxiliar.
2. O dinheiro acaba, mas sua vida segue. Busque o auxílio de profissionais para realizar o 36
planejamento e gestão das suas finanças. Sempre que preciso, solicite ajuda de um
familiar ou pessoa de sua confiança.
3. Desconfie sempre de ofertas muito rápidas e simples, uma vez que as negociações
sempre envolvem tratativas formais, reuniões, elaboração de contratos e assinatura de
termos, e de “intermediários”. Dessa forma, nunca assine qualquer documento sem
saber exatamente sobre o seu conteúdo. Em caso de dúvidas, recorra sempre a um
profissional de sua confiança.
4. Avalie atentamente se o Plano Comunitário de Reassentamento não atende a nenhuma
das suas preocupações e desejos. Ainda que não, e, caso celebre um acordo
diretamente com o empreendedor, utilize as Premissas e Parâmetros do presente
documento como parte integrante do acordo, tendo em vista que tais Premissas e
Parâmetros expostos garantem uma gama de direitos para os atingidos, inclusive
prevendo hipóteses de não cumprimento dos acordos pactuados pela empresa.
5. Observe se contrato prevê o direito de arrependimento ou eventual reabertura da
negociação em caso de fatos/ informações novas. Como se tata de uma negociação, é
possível que o atingido solicite a inclusão dessas cláusulas. Depois de negociado, fica
difícil rever a situação, uma vez que dependeria da previsão contratual. Sendo assim,
sempre pondere bem antes de qualquer negociação e procure saber claramente sobre
os valores de bens materiais e imateriais. Em caso de dúvidas no momento de uma
reunião, encerre a mesma e busque orientação profissional.
6. Fique atento no momento da avaliação do imóvel de origem, uma vez que tudo deve ser
considerado: casa, terreno, benfeitorias.... Após a realização da avaliação, solicite uma
cópia do laudo de avaliação e analise atentamente se todos os itens foram
contemplados. Em caso de dúvida, peça ajuda a um profissional. Da mesma forma, muita
atenção se o seu terreno possui alguma condição “especial”, como nascentes, bicas,
algum potencial mineral, etc... O valor da avaliação deve considerar tais circunstâncias.
7. Avalie as formas de pagamento da negociação. Se o pagamento for parcelado, analise
em quantas parcelas será realizado o pagamento, e veja se o contrato prevê a correção
monetária das parcelas.
8. Tenha todas as tratativas documentadas, em relação a todos as questões que forem
conversadas. Dessa forma, mesma que seja uma “conversa informal”, solicite a sua
transcrição, com data e assinatura dos responsáveis. Guarde bem todos os documentos
relacionados a negociação, pois eles são a garantia caso algo não seja cumprido.

Além das opções de reassentamentos coletivos e auto-reassentamento familiar isolado, há a


possibilidade de que algumas pessoas decidam permanecer no território de origem em Água
Quente, Passa Sete ou São José do Jassém. Nesse sentido, compreende-se que a decisão
de não sair do território é um direito das pessoas atingidas e, como tal, deve ser respeitado e
devidamente considerado para fins de outras formas de compensação e reparação de danos.

Com efeito, nesses casos de permanência, deverá ser de responsabilidade da empresa


mineradora garantir o acompanhamento contínuo e adequado a essas famílias, assegurando

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

o atendimento de suas necessidades e preservando a sua segurança. Ademais, considerando


o eventual esvaziamento do território e comprometimento das relações sociais de vizinhança,
deverão ser estabelecidas medidas compensadoras e mitigatórias adequadas.

O acompanhamento das famílias que optarem por permanecer no território envolve a


implementação de medidas de mitigação de danos e riscos, monitoramento ambiental,
37
fornecimento de assistência técnica, ATER, serviços de saúde e educação, além da garantia
do acesso a recursos básicos, como água potável, saneamento, luz, telefonia e acesso à
internet. A empresa mineradora deverá assumir o compromisso de prover suporte integral às
famílias residentes, respeitando sua decisão de permanecer na região impactada.

Desta forma, a empresa mineradora deverá se comprometer a respeitar essa escolha e


oferecer assistência técnica e social para que essas famílias possam manter sua qualidade
de vida e exercer plenamente seus direitos, dentro de um ambiente seguro e saudável.

2.1.3. Elaboração dos Planos de Desenvolvimento Territorial (PDT) e Planos de


Desenvolvimento Familiar (PDF)

O planejamento, realização e monitoramento dos reassentamentos terá por base a


elaboração e execução de Planos de Desenvolvimento Territorial (PDT). Este plano
contemplará, de maneira aderente às realidades de cada coletividade, os pontos
apresentados nesta proposta, abrangendo os eixos temáticos voltados aos territórios,
às casas e aos terrenos domésticos.

Para situações residenciais familiares específicas, que não encontrem amparo no


Plano de Desenvolvimento Territorial sem prejuízo à liberdade de associação, será
elaborado um Plano de Desenvolvimento Familiar (PDF), de modo a contemplar tais
especificidades, no âmbito específico de suas casas e terrenos domésticos. Eventuais
opções pelo auto-reassentamento familiar isolado em ativos de terceiros estarão tão
somente atendidas pelo PDF, uma vez que se renuncia às possibilidades associadas
às coletividades.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Terrenos
domésticos Terrenos
(geral) domésticos (pontos
específicos)
Territórios (por
PDT PDF
coletividade)

Casas (pontos 38
específicos)
Casas (geral)

A construção dos PDT e PDF devem tomar como estrutura lógica mínima aquela
comum às referências internacionais na construção de Planos de Ação de
Reassentamento (PAR, ou Resettlement Action Plan, no inglês), e demais disposições
e recomendações nacionais e internacionais referentes ao tema25.

Por sua vez, a construção do seu conteúdo contemplará as premissas, parâmetros


gerais e diretrizes e critérios dispostos nesta proposta, isto é: segundo a governança
acordada; os dados de levantamento e cadastramento; e, pois, os contextos e
aspirações das coletividades e famílias a serem reassentadas.

2.1.4. Negociações sobre a origem e a escolha dos destinos

Entende-se o reassentamento das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São


José do Jassém como uma forma de resguardar direitos e garantir segurança ante a
instalação da barragem de rejeitos, sem prejuízo à reparação integral dos demais

25
Para referência às partes, sugere-se, sem exaurir o assunto, os seguintes: : BANCO MUNDIAL.
Manual de Políticas Operacionais 4.12., Reassentamento Involuntário. Anexo A – Instrumentos do
reassentamento involuntário. Banco Mundial, Dezembro 2001; BANCO MUNDIAL. Involuntary
Resettlement Sourcebook: planning and implementation in development projects. World Bank, 2004;
THE INSPECTION PANEL. Involuntary resettlement. Emerging Lessons nº1. The World Bank
Inspection Panel, April 2016.BANCO MUNDIAL. Involuntary resettlement in Brazil: a review of policies
and practices. Washington DC: The World Bank, 2011; INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION.
Handbook for preparing a Resettlement Action Plan. Washington DC, 2002. PROGRAMA DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Project-level standards – Standard 5: displacement
and resettlement. Guidance Note. Disponível em: <info.undp.org/sites/bpps/SES_Toolkit/SES
Document Library/Uploaded October 2016/UNDP SES S5 Displacement and Resettlement
GN_rev_July2022.pdf>. Acesso em 21 de junho de 2023.

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danos, perdas e impactos pessoais (materiais e morais) e ambientais ocasionados


pelo Projeto Minas-Rio às comunidades. Isto inclui os efeitos negativos do PNO na
precarização das condições para a reprodução física e social das famílias e
coletividades remanescentes e os problemas conhecidos dos reassentamentos hoje
existentes, que, longe de tornar as famílias independentes e seguras dos incômodos
com a mineração, mostram-se também problemáticos26. 39

Nesse sentido, esse plano não pretende que os reassentamentos sejam concebidos
como simples negociações de compra e venda, em que direitos violados ou danos,
prejuízos e demais impactos pessoais e ambientais ocasionados pelo Projeto Minas-
Rio (dentre eles, o PNO nos territórios) sejam ignorados ou subestimados. Em
verdade, objetiva-se que o reassentamento sirva para compensação e reparação
integral dos danos e impactos experimentados.

Para que essa reparação integral ocorra e para que o processo de reassentamento
não seja, ele mesmo, fonte de novos prejuízos, é necessário que se estabeleçam
mecanismos de compensação e reparação para todos os impactos negativos aos
aspectos materiais e imateriais observados no cadastramento. Para tanto, sugere-se
que a negociação contemple ao menos três dimensões:

1. Compensações e reparações que não envolvem pagamento direto: podem


ocorrer com assunção de obrigações de fazer pela mineradora que sirvam para
reparar ou mitigar as perdas culturais, de relacionamento, históricas, dentre
outras. Destaca-se que eventuais formas de compensação inicialmente não
previstas neste plano não servirão, a princípio, para elidir outras obrigações

26
Exposto de maneira mais aprofundada em: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS
COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Análise de situação socioeconômica,
socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia adequada em famílias estabelecidas
nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais – Fazenda Piraquara e Fazenda Simão
Lavrinha; NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Manifestações patológicas construtivas - reassentamento bairro Jardim Bouganville; NACAB –
NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Apontamentos
sobre o Reassentamento Piraquara: Patologias construtivas e reestruturação produtiva; NACAB –
NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Reassentamento
espaço coletivo Simão Lavrinha. Nota técnica N° 04/2023. Conceição do Mato Dentro, 2023; NACAB –
NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Reassentamento
espaço coletivo Piraquara. Nota técnica N° 05/2022. Conceição do Mato Dentro, 2022.

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previstas para a Anglo American. Neste aspecto, pode-se citar como exemplos
a construção de um centro de memória das comunidades, salão comunitário de
uso múltiplo, centros de informática, ou quaisquer outras medidas do gênero a
serem estabelecidas na negociação e contempladas no PDT.

2. Indenização financeira às famílias por aspectos materiais: durante o 40


cadastro deve ocorrer a valoração do imóvel de origem segundo critérios
objetivos pré-estabelecidos, de maneira a identificar o valor a ser pago a título
de indenização por danos materiais a cada família. Destaca-se que esta
indenização será paga em compensação pela perda do imóvel de origem e não
impedirá ou se confundirá com o recebimento do novo imóvel, que é obrigação
inerente ao processo de reassentamento. A indenização, portanto, será paga
cumulativamente ao recebimento do novo imóvel. Ademais, as condições e
parâmetros mínimos da propriedade de destino devem ser garantidos em
qualquer caso, independente da valoração da propriedade de origem.

3. Indenização pelas perdas imateriais: haverá indenização a ser paga por


pessoa, com acréscimo percentual para idosos e pessoas em situação de
vulnerabilidade (conforme apresentado no item 2.1.2). O valor da indenização
deverá ser definido em conjunto, antes do término da etapa de planejamento,
pelo Ministério Público, comunidades a serem reassentadas e Anglo American.
Esse pagamento deverá levar em conta todos os aspectos imateriais aferidos
no cadastramento das comunidades, devendo a indenização considerar, ao
menos, os impactos a: manifestações culturais; laços e relações comunitárias;
usos tradicionais da água e do solo; relação psicológica e emocional com a
comunidade de origem; entre os outros anteriormente apontados.

No que se refere à valoração das propriedades de origem, as comunidades


apresentam os seguintes preços de referência, considerando as negociações a serem
realizadas no ano de 2023, com base no mês de junho. É importante ressaltar que, a
fim de evitar perdas decorrentes da variação do índice inflacionário, os valores devem
ser ajustados anualmente, considerando os respectivos acréscimos acumulados com
base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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Terra Precificação
Hectare em área rural R$ 70.000,00 (setenta mil reais) 27
Metro quadrado de área construída R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais)
A ser obtido através de avaliação imobiliária a ser
contratada pela Anglo American, devendo ser
Avaliação de terra nua em área urbana considerado como pelo menos 150% do valor
41
médio do lote na região de Conceição do Mato
Dentro/MG.

Conforme mencionado anteriormente, esta precificação é proposta como uma


metodologia para compensar as perdas econômicas e não econômicas dos aspectos
domésticos e coletivos dos terrenos de origem. Esclarece-se ainda que, como esses
valores destinam-se à compensação financeira indenizatória pelos elementos
materiais do terreno de origem e é independente do recebimento da propriedade de
destino, ela deverá ser paga em qualquer modalidade de reassentamento escolhida
pela família. Por óbvio, como as diretrizes e critérios aqui previstos constituem mínimo
obrigatório, a propriedade de destino poderá ter valor superior à de origem, o que não
configurará dever do reassentado em ressarcir a Anglo American ou mesmo
enriquecimento sem causa.

Por sua vez, as áreas a serem escolhidas deverão, pois, ter congruência com os PDT
desenhados para as coletividades. Para tanto, atenderão, de maneira
interdependente, o que está apresentado nesta proposta, incluindo as observações
extraídas do cadastramento e do processo de valoração econômica e não econômica:
as premissas; e as diretrizes e critérios sobre os territórios, casas e terrenos
domésticos a serem implementados.

Assim, o planejamento do reassentamento deve seguir essas cinco etapas básicas,


que podem ser sintetizadas da seguinte forma:

27
Partiu-se da precificação fixa praticada pela Anglo American no Programa de Negociação Fundiária
de R$35.000 em 31 agosto de 2010 (versão do PNF com a Revisão a partir de Condicionante 91, que
estabeleceu a inclusão do TAC de Irapé como referência), até 31 de agosto de 2022, com a correção
monetária baseada no IPCA. O resultado preciso foi R$ 71.876,32, em cálculo realizado com a
Calculadora do Cidadão - BCB - Calculadora do cidadão.

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Pactuação da governança

Direito das comunidades à


Mecanismo de resolução de
Equipe multidisciplinar Paridade de tratamento Assessoria Técnica Gestão adaptativa
queixas e conflitos efetivo
Independente

42

Levantamento e cadastramento

Comunidades, localidades e Inclusão dos problemas causados Inclusão da situação atual das
Inclusão das tradicionalidades e
propriedades dispersas sem ou em afinidade ao Projeto Minas- famílias e comunidades, com
territorialidades, observando as
discriminação de direitos à terra e Rio, com valoração monetária e valoração monetária e não-
bacias hidrográficas
moradia não-monetária monetária

Decisão sobre as formas de reassentamento

Prioridade aos reassentamentos coletivos:


coletividades de famílias por laços de Auto-reassentamento familiar isolado em ativos Realização a partir de Planos de
parentesco ampliado, proximidade física, de terceiros apenas após efetivação dos Desenvolvimento Territorial (PDT) e Planos de
territorial ou afetiva, vínculos ou aspirações coletivos Desenvolvimento Familiar (PDF)
econômicas

Elaboração de PDT e PDF

Contemplação da proposta (premissas, e diretrizes e critérios) com Planos Plano de Desenvolvimento Familiar (PDF) para eventuais especificidades
de Desenvolvimento Territorial (PDT), por coletividades de unidade residencial, sem prejuízo à associação

Negociações sobre a origem e escolha dos destinos

Incorporação dos problemas


Precificação de referência, com Concretização dos destinos com
Dimensões de referência para causados ou em afinidade ao
proteção a perdas por variação respeito aos PDT e PDF, e demais
negociação Projeto Minas-Rio em dimensão
inflacionária linhas da proposta
familiar e coletiva

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2.2. Realização

A realização dos reassentamentos se refere às ações relacionadas ao processo de


mudança e construção dos reassentamentos em si, bem como à oferta de condições
para o estabelecimento das famílias e comunidades nos novos territórios. Ou seja, a
43
efetividade de ações tendo em vista o atendimento das premissas, os avanços
construídos ao longo do planejamento, e a aplicação das diretrizes e critérios contidos
nesta proposta - o que significa dispor as condições territoriais (coletivas) e familiares
(casas e terrenos domésticos) para a mudança, e adaptação ao(s) novo(s) território(s).

As instruções gerais para a realização dos reassentamentos deverão, assim, seguir


os termos ditados nas negociações sobre a origem e destino, nos PDT e PDF, e do
monitoramento do seu processo como um todo. A efetivação dos reassentamentos
também deverá observar as pactuações no âmbito da governança e promover ajustes
a partir do monitoramento e eventuais acordos firmados ao longo do processo. Além
da realização dos reassentamentos em si, a responsabilidade logística, técnica e
financeira da mudança deverá ser assumida pela empresa.

As obras de infraestrutura do reassentamento deverão estar finalizadas e em pleno


funcionamento antes da mudança dos núcleos familiares, a fim de garantir que as
pessoas reassentadas tenham acesso a serviços essenciais e condições adequadas
de vida desde o início da sua nova localização.

A mudança não poderá perder de vista as especificidades de cada família, e o respeito


e efetivação das ações previamente pactuadas (no âmbito do desenho dos PDT e
PDF, e das negociações e escolha de áreas) neste tema. Assim, deverá haver
pactuação com cada família e coletividade, buscando soluções que não agridam a
memória e experiências de vida familiar e comunitária nos territórios de origem.

Isto significa, fazer, no mínimo:


I) pactuação do que fazer com os imóveis das casas e demais edificações ou
bens externos considerados importantes pelas pessoas, como animais de

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criação e estimação e plantas com significado histórico, cultural ou econômico


próprio;
II) a orientação de cada família sobre o aproveitamento e formas de coleta,
conserva e transporte;
III) a pactuação com as famílias e coletividades no âmbito da governança sobre as
destinações e usos futuros dos territórios de origem (como, por exemplo, a 44
conservação de lugares de memória ou a restrição ao cercamento das áreas
para acesso coletivo com fins de lazer e circulação tradicional);
IV) a participação deliberativa das coletividades no aproveitamento desses bens e
usos dos territórios no planejamento dos territórios de destino.

2.3. Monitoramento

O monitoramento se refere tanto à realização dos reassentamentos quanto ao seu


desenvolvimento, na perspectiva da inserção regional das famílias e seu bem-estar.
Relaciona-se, também, a toda e qualquer estrutura interligada ao reassentamento, e
que, por esse motivo, compõe o conceito de bem-estar e satisfação dos núcleos
familiares, como: estradas de acesso; obras para fornecimento luz e sinal de internet
para as moradias; estruturas funcionais e perenes para tratamento de água e esgoto
(como, por exemplo, estações de tratamento); construções de bens coletivos, como
igrejas, quadras de esportes, áreas verdes e praça, espaços recreativos e centros
comunitários, escola, postos de saúde, creche(s) e outros equipamentos coletivos e
serviços que promovam a qualidade de vida e o bem-estar das comunidades
reassentadas. Essas estruturas e serviços, portanto, precisam ser mantidas e
garantidas pela mineradora.

Por outro lado, o monitoramento também deve se referir a aspectos imateriais,


verificando a adequação das medidas adotadas para reestruturação produtiva e
desenvolvimento da qualidade de vida dos reassentados.

Desta forma, para assegurar que os reassentamentos forneçam condições para o


bem-estar das comunidades e seu desenvolvimento sustentável ao longo do tempo,

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entende-se como fundamental o direito à participação social significativa dos


atingidos. Para tanto, deve-se garantir o acesso à informação e o poder deliberativo
em todos os processos de planejamento e execução, bem como a avaliação
continuada do desenvolvimento dos reassentamentos por prazo suficiente após a sua
implantação.
45
Os mecanismos de monitoramento do desenvolvimento dos reassentamentos
deverão ser pactuados no âmbito da governança, incluindo, sem exaurir o tema, os
seguintes:
I) A realização de diagnósticos e indicadores que tenham afinidade com as
questões reais dos territórios, com escopo e métricas qualitativas e
quantitativas que incluam as experiências das pessoas, famílias e
comunidades na caracterização e interpretação de problemas e construção de
soluções, considerando os diversos aspectos da vida nos reassentamentos por
elas levantado – a serem definidos pelas próprias comunidades, ou motivados
pelo espaço de resolução de conflitos;
II) O apoio de ATI 39/NACAB às comunidades;
III) A gestão adaptativa da avaliação e monitoramento, isto é, a possibilidade
permanente de realização de novos diagnósticos (socioeconômicos,
socioambientais, socioculturais e psicossociais) para o ajuste de rotas e
redefinição de ações, bem como a eventuais metodologias e parâmetros para
a “emancipação” de cada família ou coletividade perante as demais partes;
IV) A efetividade dos mecanismos de resolução de conflitos, na perspectiva das
comunidades.

Portanto, propõe-se que se estabeleça mecanismo para resoluções de quaisquer


pendências advindas dos reassentamentos coletivos e auto-reassentamentos
familiares isolados, que seja baseado no atendimento presencial, com funcionamento
diário em horário comercial e plantões noturnos, na cidade onde o atingido estiver
reassentado, com linguagem acessível e prazo fixo a ser pactuado com os
comunitários para as respostas das solicitações. Além disso, a atividade de
monitoramento deverá ser realizada por uma equipe especializada multidisciplinar e

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multimétodo, incorporando diversas áreas do conhecimento e indicadores qualitativos


e quantitativos.

Em caso de pendências não resolvidas diretamente entre as pessoas reassentadas e


a Anglo American no prazo fixado de maneira paritária entre empresa e atingido, o
Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por meio da Promotoria de Justiça de 46
Conceição do Mato Dentro, como representante das comunidades da ZAS na Ação
Civil Pública, dará a palavra final sobre o assunto, ou levará para deliberação do Poder
Judiciário.

Persistindo o não cumprimento dos acordos pactuados, o Ministério Público buscará


a aplicação de multas diárias à mineradora até a completa solução da pendência. Os
valores das multas deverão ser dosados pelo Poder Judiciário, considerando os
parâmetros legais, e, também, considerando tratar-se de acordos assumidos pela
empresa no bojo da Ação Civil Pública.

Ademais, a concessão de novas licenças ambientais à Anglo American deverá ser


condicionada à realização de avaliações dos resultados dos reassentamentos
implantados, levando em consideração parâmetros socioambientais, cabendo os
custos ao empreendedor; sendo a avaliação aferida por equipe técnica do Ministério
Público ou empresa por ele indicada.

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3. DIRETRIZES E CRITÉRIOS
Apresenta-se nesta seção as diretrizes e critérios construídos de maneira coletiva com
as comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém, com
assessoramento técnico da ATI 39/NACAB.
47

As diretrizes são organizadas a partir dos territórios, pois, das coletividades, também
identificando aspectos específicos relativos às casas e terrenos domésticos a serem
atendidos.

Territórios

Terrenos
Casas
domésticos

3.1. TERRITÓRIOS (COLETIVIDADES)

Conforme preconizou o TAC de Irapé (2002), utilizado como uma das fontes deste
plano, a atenção às perdas dos laços comunitários deve ser objeto central do Plano
de Reassentamento. Esse cuidado, entre outros, visa garantir o direito ao
reassentamento a todas as famílias que compõem o território impactado, inclusive
aquelas que residem nas adjacências do núcleo comunitário. Conforme o documento:

Parágrafo segundo: Será reconhecido o direito ao reassentamento a


pessoas físicas ou entidades familiares que, embora não atingidas
diretamente pela implantação do empreendimento, ficarão isoladas,
seja devido à remoção das famílias vizinhas — implicando
desestruturação de relações sociais, afetivas e produtivas — seja em
razão da desativação de serviços básicos hoje existentes (escola,
posto de saúde, acessos, telefonia, dentre outros) (TAC IRAPÉ, 2002,
p. 15).

A partir dos dados levantados através do estudo do licenciamento ambiental do


Projeto Minas-Rio, compreende-se que as comunidades a jusante da barragem de

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rejeitos possuem muitas características comuns de provisão de recursos e reprodução


da vida. As relações de parentesco, uso e interação com os recursos naturais, fazem
parte da produção agrícola a partir das atividades de “meias” e “terça”; além disso
tem-se que as relações culturais e econômicas combinam-se a usos compartilhados
dos territórios e das infraestruturas básicas.
48
Essas relações são atreladas a paisagem local e conformam assim territórios e
territorialidades comuns e interdependentes, tendo como marca a história e presença
negra; trata-se de territórios comunitários tradicionais (DIVERSUS, 2008) que são
afetados pelos impactos da barragem de rejeitos do Projeto Minas-Rio.

As comunidades de Passa Sete, Água Quente e São José do Jassém estão


localizadas em uma região abundante em recursos naturais, destacando-se a
presença de uma extensa área de floresta de Mata Atlântica, solo fértil28 e água
disponível. Esses recursos desempenham um papel crucial no desenvolvimento de
atividades produtivas e econômicas dessas comunidades, especialmente na
agricultura, produção animal e produção artesanal agroindustrial, que é essencial
tanto para a subsistência quanto para a geração de renda das famílias.

Além de suprir as necessidades das famílias, essas atividades também são


direcionadas para a comercialização, trocas e doações, fortalecendo as relações
sociais e econômicas entre os membros da comunidade.

Antes dos impactos advindos do Projeto Minas-Rio, a água era abundante e utilizada
para diversas finalidades, como produção, dessedentação animal, recreação, pesca
e atividades domésticas. Desse modo, ao escolher uma região para o
reassentamento, é de extrema importância priorizar a disponibilidade de água em
quantidade e qualidade adequadas, pois sem isso, não é possível retomar as
atividades produtivas e os modos de vida das famílias.

28
As classes de solo da região são: predomínio do LATOSSOLO VERMELHO distrófico típico, textura
muito argilosa e relevo forte ondulado; CAMBISSOLO HÁPLICO distrófico latossólfico, textura muito
argilosa e relevo forte ondulado; e ARGISSOLO VERMELHO distrófico típico, textura argilosa e relevo
forte ondulado. Fonte: MINAS GERAIS. Infraestrutura de Dados Espaciais – IDE-SISEMA. Meio
Ambiente, 2021. Disponível em: <https://idesisema.meioambiente.mg.gov.br/webgis>. Acesso em: 12
mar. 2021.

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Nas comunidades reassentadas rurais atuais (Fazenda Piraquara e Fazenda Simão


Lavrinha), tem sido observado um impacto negativo na vida das famílias devido à
perda dos laços socioeconômicos e culturais. Essa situação é agravada pela ausência
de espaços de lazer e áreas coletivas de convivência. Além disso, a região dos
reassentamentos atualmente ofertados há uma escassez significativa de 49
estabelecimentos comerciais e serviços disponíveis, o que dificulta o suprimento das
necessidades diárias das famílias, que agora precisam se deslocar por maiores
distâncias e por conta própria, já que não há transporte coletivo disponível.

Os obstáculos para a produção e escoamento são agravados pela falta de um


planejamento individual e coletivo com as famílias, além da dificuldade para se
contratar mão de obra, considerando também a dificuldade de estabelecimento de
vínculos entre os moradores dos reassentamentos.

As estradas locais nos dois reassentamentos não são pavimentadas e apresentam


danos que dificultam o deslocamento, especialmente para pessoas com mobilidade
reduzida, como idosos e pessoas com deficiência. Outra questão é a gestão
inadequada de resíduos sólidos nos reassentamentos, onde muitas famílias recorrem
a queimadas ou enterramento do lixo. O escoamento de esgoto também é um
problema, onde metade das famílias possuem fossas rudimentares evidenciando a
ineficiência dos reassentamentos em fornecer infraestrutura ambientalmente
responsável.

As diretrizes a seguir têm como objetivo pensar em um reassentamento que englobe


os aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais das comunidades de origem,
além do provimento de infraestruturas, serviços e equipamentos necessários que
garantam qualidade de vida aos moradores. Buscou-se ainda prever condições que
corrijam ou atenuem os problemas observados nos atuais reassentamentos.

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Aspectos físicos e ambientais

1. Deverá ser garantida a existência de fontes de captação de água superficial


perene e de vazão suficientes em quantidade e qualidade adequadas a atender as
necessidades familiares e comunitárias, garantindo os diferentes usos (doméstico,
agricultura, dessedentação animal, lazer, cultural etc.) a fim de manter os modos 50

tradicionais de expressão e produção das comunidades.

2. Os novos territórios devem ter como referência e guardar, no que for possível,
as características físicas e ambientais similares aos de origem, especialmente nos
seguintes aspectos e sem prejuízo de outros trazidos por normas técnicas vigentes:
I) topografia, tamanho e aptidão agrícola ou capacidade de uso da terra;
II) observação das relações de vizinhança, comunitárias, territoriais ou por outros
vínculos sociais;
III) acesso a fontes naturais de captação e uso de água, e demais serviços
ecossistêmicos (provisão, suporte, regulação, culturais) significativos aos
territórios atuais, tais como similaridades de clima, paisagens naturais,
proximidade a córregos, rios, mananciais e cachoeiras que propiciem o contato
primário, o lazer e uso religioso dos recursos. A sua oferta deverá ter base
técnica multicritérios referentes ao meio físico, biótico, socioeconômico e
cultural.

3. A área escolhida para o reassentamento rural comunitário deverá ser


equivalente ou superior a atual com relação as características e aspectos ambientais
das microbacias hidrográficas, sendo priorizadas as áreas próximas às serras e áreas
de recarga hídrica, garantindo a presenças de corpos d’água de primeira ordem,
nascentes e olhos d’água perenes.

As diretrizes acima foram construídas para que a garantia de água em quantidade e qualidade
seja uma prioridade nos reassentamentos, visto que nos atuais reassentamentos rurais,
diante da indisponibilidade de água nos reassentamentos Fazenda Piraquara e Fazenda
Simão Lavrinha, as famílias tem sido abastecidas por meio de galões de água mineral e
caminhões-pipa, o que limita o uso doméstico, impossibilita a irrigação dos plantios e
compromete a dessedentação de animais, principalmente os de grande porte. Somado a isso,

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contaminação da água de poços artesianos e custos com energia elétrica para operar esses
sistemas, são desafios enfrentados pelas famílias29.

4. A(s) área(s) escolhida(s) deverá(ão) possuir um montante de área verde


equivalente em tipo e estágios sucessionais, igual ou superior aos presentes nos
territórios atuais. É importante assegurar o uso e manejo sustentável dessas áreas
verdes para práticas culturais e tradicionais, como a colheita de plantas medicinais e 51
a extração de lenha, seguindo princípios sustentáveis.

5. A(s) área(s) escolhida(s) deverá(ão) conter áreas de pastagens em quantidade


e qualidade suficientes para a divisão entre as famílias e sem prejuízos a reprodução
das atividades agrícolas e pecuárias de cada uma.

6. Deve ser garantida a presença de área de reflorestamento com eucalipto


(Eucalyptus grandis), para uso e benefício da comunidade, garantida a oferta de
madeira de reflorestamento para os diversos usos em benefício da comunidade.

7. Os reassentamentos deverão incluir projetos específicos de paisagismo, os


quais serão submetidos à aprovação das comunidades envolvidas. Essas iniciativas
visam aprimorar as condições de conforto ambiental e devem ser implementadas
simultaneamente aos projetos habitacionais destinados às famílias.

8. As terras deverão ter uma avaliação de capacidade de uso entre as classes I e


II observadas na distribuição entre as classes, os parâmetros e as proporções
estabelecidas pelo Manual Brasileiro para Levantamento da Capacidade de Uso da
Terra — ETA — Brasil/Estados Unidos, Terceira Aproximação. Pretende-se assim, a
continuidade das atividades produtivas, considerados os moldes em que são
realizadas atualmente.

29
Fonte: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia
adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais –
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha; NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS
COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Ofício 094/2022/ATI39/NACAB. Nota Técnica nº
003/2022 – situação dos poços artesianos no reassentamento do Piraquara/Farinha Fina. Conceição
do Mato Dentro, Minas Gerais, agosto de 2022; NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS
COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Ofício 053/2023/ATI39/NACAB.Nota Técnica n°
05/2023 - situação atual dos poços artesianos no reassentamento Simão Lavrinha, abril 2023.

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9. Serão consideradas para o processo de escolha da nova área as grandes e


médias propriedades, nesta ordem, de forma a reduzir ao máximo os impactos sociais
da aquisição, bem como assegurar condições para que sejam conservadas as
relações sociais existentes nas comunidades atingidas.

52
10. Deverão ser restituídos:
I) a configuração das estradas e os acessos dos antigos núcleos comunitários
no(s) novo(s) reassentamento(s);
II) os elementos construtivos de ambiente históricos e tradicionais das
comunidades, tais como: cemitérios, chafarizes, cruzes, cruzeiros, oratórios,
capelas e templos, além de outros equipamentos ou edificações de domínio
público ou uso coletivo (espaço verde e praça, escolas, espaços
recreativos/centros comunitários, creche(s), postos de saúde, por exemplo) e
outros elementos simbólicos que possam vir a ser identificados no processo de
levantamento do patrimônio material e imaterial dos antigos territórios.

11. As vias internas dos reassentamentos devem ser pavimentadas e possuir boas
condições de uso, a fim de favorecer a trafegabilidade de veículos e pessoas, sem
comprometer a preservação ambiental dos territórios. A Anglo American será
responsável pela manutenção preventiva e corretiva das vias por um prazo de cinco
anos. Antes do término desse prazo, a empresa mineradora deverá estabelecer
convênio com o poder público local para assegurar a continuidade da manutenção e
a qualidade das vias nos anos seguintes.

12. A(s) área(s) escolhida(s) deverá(ão) possuir serviços básicos comuns e


adequados aos usos territoriais propostos, tais como: rede de energia elétrica
estabelecida e com capacidade para atender todas as propriedades e respectivas
atividades produtivas e coletivas; iluminação nas vias para veículos e pedestres;
sistema confiável e adequado para o tratamento de água e esgoto, de formas
adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente, com adoção de métodos,
técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais, regionais e sejam
capazes de atender as necessidades familiares e o padrão de direitos humanos;

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disponibilidade de lixeiras e coleta regular dos resíduos sólidos. Elas deverão estar
em funcionamento adequado em tempo à mudança das famílias.

13. Durante o processo de aquisição das áreas para reassentamento, a Anglo


American deverá informar sobre a existência e o grau de exposição ao risco
de desastres naturais e tecnológicos, bem como o levantamento de potenciais para 53
mineração ou outras atividades de significativo impacto potencial, a partir de dados
públicos e oficiais disponibilizados pela Defesa Civil e/ou outros órgãos e fontes de
notório saber no tema.

Aspectos sociais, econômicos e culturais

14. O reassentamento deverá preferencialmente, conforme escolha das


comunidades, ser realizado nos municípios de origem das famílias reassentadas e/ou
que recebam a Compensação Financeira por Exploração Mineral (CFEM) paga pela
Anglo American. Essa medida se faz necessária para o fomento à recomposição da
renda familiar, acesso a serviços públicos e outros direitos referentes a comunidades
atingidas pela mineração.

15. Deverá ser garantido transporte público e escolar (porta-porta) que atenda a
todas as famílias dos reassentamentos, com boas condições de vias para garantir a
trafegabilidade de veículos pelas ruas, estradas e acessos durante todo o ano. Além
disso, devem ser disponibilizados pontos de ônibus adequados para a população.

16. Os reassentamentos deverão ter boa localização, com proximidade à oferta de


comércios e serviços (público e privado), favorecendo também o acesso ao mercado
de trabalho e disponibilidade de mão de obra local.

17. Perante reconhecimento de que as comunidades detêm saber e a prática da


produção artesanal e tradicional do queijo da região do Serro, o terreno escolhido para
o reassentamento coletivo das famílias deverá ser abrangido por tal reconhecimento,
segundo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

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18. O reassentamento deverá ocorrer em regiões próximas às demais


comunidades negras, sem prejuízos as anfitriãs, no intuito de aproximar e ampliar as
redes e trocas culturais e de saberes tradicionais.

19. Deverão ser restituídos os elementos simbólicos de cada comunidade,


54
garantido aparência e feição que contribuam para o reconhecimento e aproximação
das famílias com a nova paisagem, propiciando a reconstituição dos laços de
pertencimento das famílias com o novo lugar e consequentemente a reconstituição
das territorialidades e territórios comunitários. Isto inclui o respeito e inclusão nas
ações de recuperação econômica dos saberes tradicionais de produção de cada
grupo e oferecer condições para o desenvolvimento de novas atividades.

20. Deverão ser implantados, equipados e assistidos espaços e equipamentos


para o resguardo e incentivo à cultura local atual, como Centro Cultural, Centro de
Memória e Registro do patrimônio material e imaterial das comunidades. O fomento e
registro da memória, cultura e saberes das famílias reassentadas deverá ter apoio
técnico independente.

21. A Anglo American deverá se responsabilizar por todo o processo de aquisição


e de regularização dos terrenos onde serão construídos os reassentamentos, desde
que viável, bem como pelo parcelamento da área e a sua regularização fundiária,
entregando a cada núcleo familiar reassentado os registros referentes ao seu imóvel
antes da mudança, envolvendo também as esferas do poder público, arcando com
todas as despesas do processo.

22. A Anglo American deverá inserir as famílias no seu Programa de Priorização


de Mão de Obra para inclusão no mercado de trabalho, além de ofertar capacitações
que auxiliem na retomada das atividades produtivas e econômicas de acordo com as
vocações e aptidões das pessoas atingidas, com temas definidos pelas próprias
famílias.

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23. Deverá existir estrutura técnica, financeira e programática30 condizente para a


retomada dos modos de vida em comunidade, à escolha da própria comunidade ou
coletividades de famílias. A Anglo American proverá as condições para a reprodução
física e socioeconômica das famílias, por meio do fornecimento de subsídios
necessários para a implementação de atividades econômicas coletivas e individuais
com base nas aptidões e vocações produtivas de cada coletividade (PDT) e eventuais 55
especificidades familiares (PDF), até a autonomia de produção.

24. Para as atividades produtivas e econômicas nos reassentamentos rurais e


urbanos, respeitando as regulamentações municipais para a implantação do PDT e
PDF em área urbana:

I) Durante o período de oito anos, a Anglo American deverá realizar o preparo


do solo dos terrenos, garantindo para cada família um mínimo de 30 horas
anuais de preparo por meio de trator agrícola, conduzido por tratorista
devidamente qualificado, sendo acompanhado por implementos e
equipamentos para o preparo do solo (como por exemplo roçada, aração,
gradagem, subsolagem, escarificação, aplicação de calcário e adubos), além
de demais insumos fornecidos de acordo com o planejamento da produção;

II) Fomento de atividades agrícolas pautadas na groecologia, com o fornecimento


de insumos para produção como adubos, calcário, mudas (hortaliças e
frutíferas), sementes, deverão ser fornecidos pela Anglo American para a
implementação dos projetos coletivos e individuais com base em calendário
agrícola construído com as famílias, considerando a diversificação da
produção, a fim de promover segurança alimentar, trocas e renda através da
comercialização dos produtos;

III) Fornecer alimentação animal in natura ou em pecúnia, à escolha da família,


levando em consideração o número, espécie e categoria dos animais, assim

30
Existem diferentes modelos de instituições que podem abarcar os diferentes elementos necessários
para o fornecimento de estrutura adequada ao novo reassentamento e que podem inspirar a empresa
mineradora: organizações não governamentais (ONGs); instituições de microcrédito ligadas a centros
de assistência técnica e extensão rural; e programas específicos de desenvolvimento local.

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como suas necessidades nutricionais, até que as condições do solo sejam


restauradas e permitam a produção de forragens e/ou grãos;

IV) No prazo de oito anos, a Anglo American fornecerá anualmente até 10


inseminações artificiais em bovinos para cada família reassentada que trabalha
com bovinocultura; 56

V) Acesso à ATER para o(s) reassentamento(s) pelo período de oito anos a partir
da mudança para os reassentamentos, baseado em plano de atividade
individual e coletivo, tecnicamente viável e sustentável, a ser elaborado e
executado por instituições ou profissionais qualificados, oferecidos pela Anglo
American ou de escolha dos atingidos, devendo a mineradora arcar com as
despesas referentes à retomada das atividades agrossilvopastoris e reativação
econômica das famílias31;

VI) Realização de cursos, oficinas e atividades práticas que incentivem práticas


agrícolas sustentáveis, promovendo a autonomia na produção agrícola
agroecológica principalmente para produção de adubos, outros insumos e
alimentação animal, por exemplo;

VII) Auxílio na formalização, regularização e fortalecimento de associações e


cooperativas, bem como fomento a pequenas e microempresas.

VIII) Promover o acesso dos produtores aos mercados privados e institucionais para
a comercialização de sua produção, por meio de cursos e interlocução
institucional para conhecimento e ampliação de circuitos socioeconômicos e
formais e informais nos novos territórios, como mercados imersos, e de práticas
e saberes culturais comuns ao entorno.

31
A Proposta foi inspirada no TAC de Irapé onde foi previsto assistência por um período de oito anos,
em todas as etapas: fase projetiva, de implantação e de consolidação, através de convênio com a
EMATER/MG, respeitando a tradição de cultivo de cada grupo e oferecendo condições para o
desenvolvimento de novas atividades.

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IX) Apoio à reinserção econômica e produtiva das pessoas e famílias com vista à
sua empregabilidade nas cidades, por meio de:
a. formação continuada em vocações ou aspirações para o mercado de
trabalho;
b. apoio à inserção no mercado de trabalho, com a incorporação prioritária
de pessoas e famílias reassentadas nas atividades da Anglo American 57
(aprimoramento do Programa de Priorização de Mão-de-Obra32) e
parcerias com entes públicos e privados para programas continuados de
ensino, aprendizagem e estágio-aprendiz (aquisição de experiência, em
diálogo às formações continuadas);
c. monitoramento da efetividade do processo de incorporação das
coletividades ao mercado de trabalho na nova região;

Nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais e urbanos atuais, há dificuldades
na adaptação cultural ao novo contexto socioecológico e territorial, além da dificuldade em
produzir alimentos e produtos processados, que antes garantiam a subsistência e a renda
das famílias. Quase metade das famílias reassentadas vivem atualmente em situação de
pobreza. O programa de Reestruturação Produtiva tem um prazo limitado de 3 anos, o que
não é suficiente para que as famílias recuperem a segurança alimentar e a autonomia
produtiva e econômica. O Programa de Priorização de Mão-de-Obra mostra-se pouco efetivo
para as comunidades atingidas. Não há planejamento da produção e o fornecimento de
insumos é limitado, dificultando ainda mais as atividades, juntamente com a falta de
oportunidades e canais para a comercialização dos produtos. Os cursos para
empregabilidade são descontínuos, não têm planejamento ou coordenação entre si, nem
observam as experiências e aspirações locais.

25. A implantação inicial dos projetos produtivos deverá contar com a mão de obra
da Anglo American, até que os reassentados tenham condições de condução por
conta própria em termos coletivos (desenvolvimento territorial) e domésticos
(desenvolvimento familiar).

26. A Anglo American deverá fornecer, uma cesta básica com composição
sugerida pelas famílias ou cartão alimentação, com atualização dos valores de acordo
os parâmetros do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE), durante o período de cinco anos. Para além da cesta
básica, deverão ser fornecidas frutas e legumes à escolha das famílias, visto à demora

32
Sugere-se, como fonte para aprimoramento do Programa de Priorização de Mão-de-Obra: NACAB –
NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Nota Técnica nº
15.2022. Análise da efetividade dos indicadores dos programas socioeconômicos – Programa de
Priorização de Mão-de-Obra. Conceição do Mato Dentro, novembro 2022.

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do restabelecimento da produção, principalmente das espécies frutíferas no


reassentamento.

Essa medida visa atender às necessidades alimentares das famílias de forma adequada e
personalizada. Ao permitir que as famílias escolham a composição da cesta básica ou os
itens adquiridos com o cartão alimentação, garante-se que elas tenham acesso aos alimentos
que melhor se adequem às suas preferências e necessidades nutricionais. A atualização dos
valores com base em dados socioeconômicos confiáveis e reconhecidos contribui para uma 58
abordagem justa e equilibrada.

27. A Anglo American deverá destinar recursos a entidades e órgãos públicos para
custeio de programas de assistência social e de saúde mental voltada ao atendimento
da população reassentada, bem como ativar linha específica de atuação do Programa
de Saúde para o cuidado com os processos de adaptação das coletividades nos novos
territórios. O escopo dos programas e atuação dos profissionais deve ser construída
e aprovada pelas pessoas atingidas.

28. Revisão do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural, com a incorporação


de linha específica para o reconhecimento, preservação e valorização do patrimônio
cultural das comunidades a serem deslocadas. Trata-se de levantar, identificar e
documentar manifestações e bens culturais que se constituem como patrimônio
cultural (material e imaterial) das comunidades atingidas. Deve-se fazer apontamentos
sobre formas de acautelamento, reconhecimento, preservação e valorização desse
patrimônio, bem como as perdas e prejuízos causados ou em afinidade a este tema
em decorrência do Projeto Minas-Rio, com a sua respectiva valoração econômica
(monetária) e não econômica (não monetária). Os apontamentos terão fins
indenizatórios e orientação de priorizações para eventuais desejos das coletividades
em favor do seu resgate ou valorização cultural nos novos territórios. No tocante aos
bens de natureza imaterial, toma-se como fundamento as seguintes categorias:
I) Saberes e modos de fazer enraizados no cotidiano;
II) Celebrações, festas e folguedos que marcam espiritualmente a vivência do
trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;
III) Linguagens musicais, iconográficas e performáticas, bem como manifestações
literárias;
IV) Espaços em que se produzem as práticas culturais. O Programa subsidiará a
elaboração dos Planos de Desenvolvimento Territorial.

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29. A Anglo American deverá oferecer cursos de capacitação e especialização


profissional, alinhados com as habilidades e interesses das pessoas atingidas, que
serão selecionadas e validadas por elas mesmas, ao longo de um período de cinco
anos.

59
30. As pessoas atingidas escolherão o local de instalação dos novos comércios.
Caso seja manifestado o desejo de receber em pecúnia pelo estabelecimento
comercial, a Anglo American deverá garantir uma indenização justa e adequada pelos
imóveis, os materiais e equipamentos comerciais, bem como à atividade em si (lucro
cessante enquanto se faz a mudança, custo de reposição à nova atividade comercial,
custo de oportunidade diante o processo de reassentamento, dentre outras razoáveis
no âmbito da sua valoração econômica);

31. Anglo American deverá indenizar Microempreendedores Individuais (MEI) em


um valor correspondente a pelo menos seis anos de arrecadação anual no limite
máximo. Essa mesma abordagem será aplicada aos comércios não registrados. Além
disso, as microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) também serão
beneficiadas pelos mesmos critérios de indenização.

3.2. CASAS

As habitações nas comunidades da ZAS são exemplos típicos das casas rurais em
Minas Gerais, combinando simplicidade e beleza que se integram à paisagem. Cada
propriedade, possui um conjunto de edificações que refletem a vida no campo, com
foco nas atividades agrícolas, criação de animais e na residência em si.

A posição das casas e das construções relacionadas ao uso rural nessas


comunidades é cuidadosamente planejada para garantir uma boa exposição ao sol e
ventilação. Os moradores dessas comunidades possuem um conhecimento prático
que os orienta a posicionar cada construção e sistema produtivo em locais que
promovam seu bom funcionamento.

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Nos terrenos é possível observar edificações que são utilizadas para fins residenciais,
agrícolas e pecuários. Essas edificações incluem casas, currais, estábulos, depósitos,
paióis, galinheiros, pocilgas, canis e outras estruturas relacionadas à agricultura e
criação de animais. Além disso, existem benfeitorias adicionais, como cercas, muros
e estradas, que agregam valor e são necessárias para a realização das atividades
cotidianas nas propriedades rurais. 60

As construções apresentam uma variedade de sistemas construtivos, que vão desde


técnicas tradicionais utilizadas desde o período colonial até métodos contemporâneos
mais convencionais. Essas técnicas tradicionais foram complementadas ao longo do
tempo com materiais e técnicas mais modernas, proporcionando conforto e
durabilidade ao longo dos anos de uso. Embora as edificações nas comunidades
tenham sido construídas em diferentes períodos, é possível observar semelhanças
nos sistemas construtivos e nas tipologias arquitetônicas.

A maioria das construções possuem características simples, sendo de um único


pavimento e com planta quadrada ou retangular. Muitas delas possuem uma estrutura
autoportante, telhados de telhas cerâmicas e uma forma externa prismática, além de
uma organização interna semelhante. Geralmente, a entrada principal está localizada
na frente do terreno, e o acesso é feito através da sala, que se conecta aos quartos e
à cozinha. Esses espaços estão frequentemente conectados a um quintal produtivo e
a edificações acessórias, como galinheiros, chiqueiros e depósitos.

É comum encontrar nas casas uma área dedicada ao fogão a lenha, o que facilita o
manuseio da lenha e evita que a fumaça entre na residência. A cozinha possui uma
tradição forte e desempenha um papel importante na história de Minas Gerais, sendo
parte integrante da identidade e cultura local. O fogão à lenha pode ser encontrado de
diversas formas nas residências. Em algumas, ele está integrado à cozinha ou a uma
varanda, compartilhando espaço com o tanque e a área de serviço. Em outros casos,
é construída uma estrutura externa específica próxima à casa para abrigar o fogão.
Em parte das residências, o fogão foi executado de tijolos maciços assentados com

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argamassa e possui uma fornalha onde a lenha queima, com uma chapa de ferro
(trempe) para colocar as panelas33.

Muitas vezes, ao lado do fogão, é instalado um sistema de aquecimento de água


chamado "serpentina". Além de ter um valor cultural, o fogão a lenha representa uma
economia significativa para as famílias, pois elas geralmente coletam lenha em seus
61
próprios terrenos ou nas matas próximas. Isso significa que elas não dependem
exclusivamente do gás de cozinha, pois têm acesso fácil à lenha no dia a dia nas
comunidades34.

A maioria das construções foi realizada por meio de autogestão. Isso significa que os
próprios moradores assumiram a responsabilidade pela gestão dos processos
construtivos, sendo a construção gradual ocorre de acordo com a disponibilidade
financeira e de tempo da família35.

Na autogestão, os materiais e a mão de obra podem ter valores mensuráveis ou não.


Os materiais podem ser obtidos por meio de trocas, reaproveitamento ou produção
própria, utilizando técnicas vernaculares. A mão de obra pode ser fornecida pela
família ou por remuneração a terceiros. Portanto, tanto a mão de obra quanto os
materiais empregados possuem valores agregados que envolvem as relações
pessoais e sociais necessárias para obtê-los.

É importante ressaltar que não se pode presumir que as moradias autoproduzidas


tenham gastos financeiros menores do que as moradias produzidas pelo mercado
formal, o que resultaria em uma avaliação de custos reduzida. Ao avaliar esses bens,
é necessário considerar a incorporação de todas as atividades realizadas pelos
agentes envolvidos, tanto na concepção quanto na execução.

É válido destacar que, nos processos de autoprodução do espaço, os materiais são


frequentemente adquiridos em pequena escala, gradualmente, sem os descontos

33
LADEIRA, Isabela; PEREIRA, Rafael; FERREIRA, Ana. É na beira do fogão a lenha que a vida
acontece. Mariana território atingido. Mariana, 2022. Disponível em:
http://www.territorioatingido.com.br/#/conteudostematicos/culturaalimentar/beiradofogao. Acesso em:
21 jun, 2023.
34
LADEIRA, Isabela; PEREIRA, Rafael; FERREIRA, Ana. op.cit.
35
KAPP, S.; BALTAZAR DOS SANTOS, A.P.; VELLOSO, R.C.L. Morar de outras maneiras: pontos de
partida para uma investigação da produção habitacional. Topos, v.4, p.34-42, 2006.

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obtidos por construtoras em compras em grande escala. Além disso, as horas de


trabalho dedicadas às atividades de projeto, gestão, planejamento e logística são
realizadas pela própria família, seguindo um cronograma de trabalho não
convencional, que muitas vezes excede as horas tradicionais de trabalho e, portanto,
devem ser contabilizadas. Além do valor agregado pela autoprodução, elementos
como a localização e a inserção urbana também podem ser considerados. 62

A implantação das construções é avaliada de acordo com as demandas específicas


da família, a liberdade de decisão ao longo da obra (não apenas no processo de
projeto) e a possibilidade de individualização das moradias.

Ao contrário das conveniências do mercado, o terreno pode ter sido adquirido pela
própria família, obtido por doação, troca, herança ou usucapião. Dessa forma, na
autoprodução, estão envolvidos valores imateriais inerentes ao processo de
construção e uso desses bens.

Após o início das operações da mineradora diversos têm sido os impactos às


edificações das comunidades, como o surgimento de manifestações patológicas
construtivas como fissuras, trincas e rachaduras, com indícios de serem causados
devido aos efeitos combinados de vibrações advindas do aumento do tráfego de
veículos pesados, operação do mineroduto e explosões no desmonte de rochas na
mina.

Além disso, a desvalorização dos imóveis e receio de desastres sociotécnicos pela


proximidade há um megaempreendimento afetam consideravelmente a qualidade de
vidas dos habitantes e têm sido cruciais para perpetuar o desejo dos moradores pela
saída das comunidades de origem.

Atualmente, como tentativa de amenizar os problemas e única forma de intermédio,


as famílias têm negociado com a mineradora através do PNO. Tomando como base
as questões relativas às edificações, nessa modalidade, os núcleos familiares não têm
a opção de desenvolver projetos arquitetônicos personalizados de acordo com suas
especificidades.

Em vez disso, a Anglo American oferece modelos padronizados de casas que são
replicados nos terrenos, desconsiderando as características e diversidades das

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composições familiares, como por exemplo o número e área dos dormitórios


adequados ao número de moradores.

Há diversos relatos das famílias já reassentadas nos ativos da Anglo American através
do PNO de que as condições de moradia em seus locais de origem eram melhores do
que as atuais nos reassentamentos. Além disso, em diversas casas observa-se o
63
surgimento e evolução de manifestações patológicas construtivas, como fissuras,
trincas, rachaduras, infiltração, bolor, mofo, desplacamento de revestimentos
cerâmicos, problemas nas instalações elétricas, hidrossanitárias, entre outros.

A Anglo American tem demorado a realizar os devidos reparos nas casas das famílias,
mesmo estando dentro do período legal de garantia da obra. Além disso, em diversos
casos são realizados reparos de forma paliativa, que pouco tempo depois retornam.

O fogão à lenha está sendo instalado na área de serviço das casas dos
reassentamentos rurais, que não possui aberturas suficientes para uma ventilação
adequada do ambiente. Como resultado, há um acúmulo significativo de fumaça no
interior da edificação, tornando impossível o uso adequado do fogão.

Como solução, muitas famílias estão construindo por conta própria coberturas e novos
fogões a lenha no exterior da casa, o que acarreta um aumento nos custos familiares.
Como um agravante, nos reassentamentos urbanos não são executados os fogões a
lenha, o que dificulta a retomada do modo de vida e aumenta os custos com a compra
de gás de cozinha.

As famílias não participam do processo de construção de suas casas e desconhecem


as técnicas e materiais de construção utilizados. Na maioria dos casos, elas também
não receberam cópias dos projetos arquitetônico, elétrico, estrutural e hidrossanitário,
o que dificulta a realização adequada de obras de manutenção ou ampliação pela
própria família.

Em paralelo, as famílias mencionam que as casas em suas áreas de origem eram


maiores, com maior número de cômodos, que se adequavam melhor às
especificidades da vida familiar. Por exemplo, elas contavam com características
comuns ao meio rural, como varandas que circundavam as edificações e áreas
destinadas ao fogão a lenha, proporcionando espaços de convívio e encontro.

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Portanto, vislumbrando um reassentamento que preze por uma moradia adequada,


compreende-se que, para a reparação integral das famílias, deve-se considerar para
além do valor dos materiais investidos, do preço do terreno ou da mão de obra
empregada. É necessário considerar todos esses aspectos e valorizar as relações
humanas e sociais envolvidas no processo de construção das edificações, bem como
os aspectos culturais e históricos que as tornam parte essencial da identidade das 64
comunidades rurais afetadas pela mineração.

Diante deste cenário, foram elaboradas as seguintes diretrizes para evitar que esses
problemas se repitam:

Aspectos físicos e ambientais

32. A área mínima da edificação nos reassentamentos será de 120m². Deverá


possuir no mínimo quatro dormitórios com área aproximada de 16m² cada. Caso a
edificação na área de origem seja maior, sua área deverá ser considerada como
parâmetro para restituição. Nos casos em que a família possuir um maior número de
membros familiares, a edificação deverá ser compatível em número de
cômodos/dormitórios que atenda às necessidades da composição familiar, com
aprovação prévia da referência familiar. Ou seja, poderá haver acréscimo de área
construída para adequação aos padrões mínimos de habitação e moradia digna.

Trata-se de fornecer uma estimativa de área que possa garantir uma moradia adequada para
acomodar as necessidades e estilos de vida da população advinda das áreas rurais e
urbanizadas. É importante ressaltar que, como observado nos territórios de origem é comum
que as famílias possuam residências com um maior número de cômodos e área, a fim de
atender às particularidades e modo de vida doméstico. Além disso, para se estimar a área
proposta, considerando uma compensação em decorrência do deslocamento forçado, foi
realizada uma aproximação da área total (86,84m² + 40m²=126m²) descrita no Programa de
Negociação Fundiária da Anglo American (2015)36.

36
Lá diz que: “Todos os proprietários e posseiros de terras que vierem a escolher esta modalidade de
negociação terão direito à construção de uma nova casa na propriedade de destino com 86,84m²,
podendo ser este tamanho aumentado se a casa ocupada pela família na ADA tiver dimensão superior
a esta. Nessa situação, a família terá direito a uma nova moradia com as mesmas dimensões da
residência anterior. Acrescenta-se que a dimensão mínima de 86,84m² será garantida mesmo nas
situações em que a moradia anterior não apresente condições de infraestrutura suficientes para abrigar
seus moradores. Adicionalmente, em qualquer situação o tamanho da casa a ser construída poderá
ser aumentado em até 40m² caso o número de pessoas residentes torne esta medida necessária. Esse

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33. Nos reassentamentos, caso seja de desejo da pessoa atingida, a Anglo


American destinará verba específica, com detalhamento da composição dos custos
para execução das obras das edificações e benfeitorias a partir da autogestão de cada
núcleo familiar.

65
34. No caso de reassentamento em terreno de terceiros, deverá ser garantido ao
núcleo familiar a opção entre:
I) a compra de imóvel com edificações e benfeitorias sem a necessidade de
reformas; ou
II) a compra de imóvel com edificações e benfeitorias com necessidade de
reformas que deverão ser realizadas pela Anglo American; ou
III) a compra do terreno e posterior construção das edificações e benfeitorias que
deverão ser realizadas pela Anglo American ou pelo modelo de autogestão a
partir da escolha de cada núcleo familiar.

35. As edificações nos reassentamentos deverão possuir um fogão a lenha


moldado in loco, desenvolvido em conjunto com a família, quando assim for o seu
desejo.

36. No processo de elaboração dos projetos das edificações, todos os materiais


construtivos e de acabamentos deverão ser escolhidos e aprovados pelos membros
de cada núcleo familiar.

37. Os projetos das residências e benfeitorias não reprodutivas deverão ser


elaborados em conjunto com os membros da família e um arquiteto da Anglo
American, para que sejam atendidas as especificidades de cada núcleo familiar. As
famílias terão participação deliberativa em todo o processo.

acréscimo será avaliado por especialista do Programa de Negociação Fundiária e discutido com o
representante do núcleo familiar na negociação”. ANGLO AMERICAN. Programa de Negociação
Fundiária. Plano de Controle Ambiental (PCA). Projeto de Extensão da Mina do Sapo. Ferreira Rocha,
setembro de 2015.

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Visa-se, assim, evitar a padronização dos projetos arquitetônicos, considerando as


necessidades específicas de cada família, como número de dormitórios e área dos ambientes.
Contribuindo também para uma paisagem do território mais diversificada e agradável37.

38. As famílias deverão ser informadas de forma clara no momento de elaboração


do projeto sobre detalhes importantes para utilização da residência como
posicionamento de ralos, número de pontos de tomada nos ambientes, presença de
66
taludes, aclives/declives, muros de contenção etc.

39. Cada família poderá fazer quantas alterações entenderem necessárias nos
projetos das moradias, sem limitações, até o envio do projeto aos órgãos municipais
competentes para aprovação e obtenção de alvará, caso necessário. Cabe ao atingido
escolher quando o projeto será encaminhado aos órgãos municipais competentes
para aprovação, sendo que o encaminhamento poderá ocorrer após o término da
terraplenagem e a visita ao local a ser edificado no terreno do reassentamento, a
critério do atingido. Deverá ser garantido ao atingido a possibilidade de visitar o lote /
gleba de terra onde será reassentado com as devidas demarcações dos locais onde
será construída cada edificação, antes de encaminhar o projeto individual para
aprovação dos órgãos municipais competentes, caso necessário.

40. As edificações e áreas coletivas deverão ser garantidas com condições


mínimas de habitabilidade (saneamento, acabamento, iluminação, etc.), balizadas por
normas, como a NBR 15575 - Edificações Habitacionais e a NBR 9050 -
Acessibilidade a Edificações, respeitado o modo de vida familiar e comunitário.

Os atuais reassentamentos oferecidos pelo Programa de Negociação Opcional (PNO) adotam


um modelo de casas padronizadas, que são replicadas para diferentes famílias. No entanto,
é evidente que essa padronização não atende adequadamente às necessidades dos
moradores idosos, com mobilidade reduzida ou deficiências. Eles enfrentam dificuldades no
deslocamento e nas atividades diárias tanto dentro das casas quanto nas áreas comuns dos
reassentamentos. Isso ocorre porque esses espaços não estão em conformidade plena com
a NBR 9050 (2015), que trata da acessibilidade em edificações, mobiliários, espaços e
equipamentos urbanos.
Além disso, observa-se uma notável falta de investimento em equipamentos e serviços que
promovam a acessibilidade nas áreas comuns dos reassentamentos. Problemas como vias
internas inadequadas e deficiências na iluminação pública são comuns nessas áreas.

37
Fonte: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia
adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais –
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha, 2023.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Portanto, é necessário repensar os projetos dos reassentamentos, a fim de garantir o direito


de acessibilidade para todos os moradores. É fundamental que as casas e as áreas comuns
sejam projetadas levando em consideração as necessidades específicas dos idosos, pessoas
com mobilidade reduzida e aqueles que possuem deficiências. Isso contribuirá para uma
melhor qualidade de vida e inclusão dessas pessoas nos reassentamentos38.

41. A Anglo American deverá arcar com a reparação de vícios de construção de


todas as estruturas construídas pela mineradora (ou suas contratadas), e se 67
responsabilizar por todas as manifestações patológicas que comprometam a
segurança e a solidez das edificações construídas nos termos da legislação e Normas
Técnicas vigentes.

O Código Civil - e também o Código de Defesa do Consumidor - ao serem criados conduziram


para a garantia de uma melhor qualidade dos serviços e produtos oriundos da indústria da
construção civil, contribuindo para a garantia e efetividade dos direitos dos usuários39. Além
disso, a norma NBR15575-1 (2013), desenvolvida por comissões de estudo compostas por
especialistas na área, estabelece os prazos de garantia geralmente utilizados no setor da
construção civil. Esses prazos correspondem ao período de maior probabilidade de
ocorrência de problemas em cada sistema, componente e instalação de uma edificação40.
Isso significa que o construtor é responsável pelo que é entregue, ou seja, a edificação deve
estar em perfeitas condições de uso, de acordo com as normas técnicas e completamente
finalizada.

Aspectos sociais, econômicos e culturais

42. A Anglo American deverá se responsabilizar pela entrega ao núcleo familiar de


toda documentação referente aos novos imóveis sem gerar quaisquer ônus
financeiros aos mesmos, antes da entrega das chaves. Dessa forma, a Anglo
American deverá se responsabilizar por todo o processo de aquisição e de
regularização dos terrenos onde serão construídos os reassentamentos, bem como

38
Fonte: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia
adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais –
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha.
39
Na lei diz que: O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador
respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Fonte: BRASIL. Lei n. 8.078 - 1990. Código
de defesa do consumidor.
40
Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1: edificações
habitacionais: desempenho: parte 1: requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.

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pelo parcelamento da área, entregando a cada núcleo familiar reassentado os


registros referentes ao seu imóvel, sem quaisquer ônus financeiros aos mesmos.

43. O projeto arquitetônico, estrutural, hidrossanitário, elétrico e estudo do solo da


moradia, edificações acessórias e benfeitorias não reprodutivas, deverão ser
fornecidos ao atingido antes da execução da obra.
68
44. Deverão ser implementados sistemas de combate a incêndio para garantir a
proteção contra incêndios das residências. Além disso, a Anglo American deverá
promover o treinamento das famílias para utilizar os sistemas e garantir a manutenção
deles por um prazo de cinco anos.

45. Os tributos e despesas com água, energia elétrica e IPTU do reassentamento


de cada núcleo familiar e equipamentos públicos deverá ser de responsabilidade
da Anglo American pelo período de cinco anos.

Atualmente, tanto nas comunidades rurais quanto nas áreas mais urbanizadas da ZAS, as
famílias não são submetidas ao pagamento de taxas de água. Isso ocorre porque a água
utilizada nessas regiões é proveniente de fontes naturais. Além disso, não são exigidos
impostos como o IPTU, visto as características de modo de vida rural de todas as
comunidades.

46. A Anglo American deverá arcar com todas as despesas referentes à mudança
(transporte de bens móveis, plantas, animais e outros) do imóvel onde o núcleo
familiar mora até o novo imóvel no reassentamento coletivo ou individual familiar.

47. Os projetos de moradia deverão contar com sistemas de captação e


armazenamento de água de chuva, sistemas fotovoltaicos e acesso aos
equipamentos coletivos a fim de assegurar a sustentabilidade econômica e ambiental
das moradias. A Anglo American se responsabilizará por um prazo de cincos anos na
manutenção dos sistemas e promoverá o treinamento das famílias para a sua
utilização cotidiana.

Ao adotar essas medidas, os projetos habitacionais proporcionam benefícios tanto para a


sustentabilidade econômica, reduzindo os custos de água e energia para as famílias, quanto
para a sustentabilidade ambiental, preservando os recursos naturais e diminuindo as
emissões de gases de efeito estufa. Essas ações contribuem para a formação de
comunidades mais resilientes e conscientes em relação ao uso dos recursos, resultando em
vantagens de longo prazo para o meio ambiente e para a qualidade de vida das pessoas41.

41
VISINTAINER, Michael; CARDOSO, Larriê; VAGHETTI, Marcos. Habitação popular sustentável:
sustentabilidade econômica e ambiental. Seminário Nacional de Construções Sustentáveis IMED.

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TERRENOS DOMÉSTICOS

As famílias que vivem na ZAS possuem terrenos diversos, muitos localizados em


áreas planas que favorecem a agricultura e a criação de animais. É comum encontrar
quintais produtivos ao redor das casas, com hortas próximas às cozinhas e pomares
com uma variedade de árvores frutíferas. Geralmente, há algum corpo hídrico nas 69

terras, e as casas são construídas próximas a ele para atender às necessidades


domésticas e para as demais atividades rurais, como irrigar e fornecer água para os
animais.

Os quintais são utilizados para a produção de alimentos, convívio familiar, trabalho,


lazer e outras atividades. Eles desempenham um papel central na agricultura familiar
praticada pelos moradores das comunidades atingidas. Revelam as particularidades
das práticas produtivas, experiências sociais e formas de organização do trabalho
familiar.

Além disso, as práticas de cultivo e cuidado com os quintais demonstram a riqueza


dos conhecimentos transmitidos entre gerações. É possível identificar o cultivo de
roças que complementam a variedade de alimentos disponíveis. A diversidade de
espécies cultivadas nos terrenos contribui para uma dieta saudável e variada,
suprindo parte das necessidades nutricionais das famílias.

É comum observar a troca, doação e comercialização dos alimentos produzidos entre


vizinhos, familiares e amigos nas comunidades. Além disso, há uma variedade de
plantas medicinais que são utilizadas para tratar diferentes problemas de saúde,
muitas vezes seguindo tradições e conhecimentos transmitidos ao longo das
gerações. Também é comum encontrar uma diversidade de plantas ornamentais que
são cuidadas diariamente pelos membros das famílias, contribuindo para a beleza dos
espaços.

Passo Fundo, 2012. Disponível em: https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/434/2020/08/ARTIGO-


IMED-FINAL.pdf. Acesso em: 26 jun. 2023.

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No entanto, com a chegada da mineração aos territórios, a vida das comunidades foi
significativamente alterada. A contaminação dos corpos hídricos, a dificuldade de
manter as produções agrícolas e a criação de animais foram alguns dos impactos
enfrentados. Anteriormente, era possível observar a pesca nos rios, a coleta de lenha,
plantas medicinais e madeira nas florestas. Essas práticas foram inviabilizadas pela
contaminação das águas e aquisição de terras nos territórios pela mineradora, 70
resultando em uma alteração nos modos de vida das comunidades atingidas e na
perda de sua autonomia.

Atualmente, parte das famílias negociaram com a Anglo American por meio do PNO.
Em ambos os locais de reassentamento rural disponibilizados pela mineradora,
observam-se características semelhantes em vários aspectos: os terrenos destinados
às famílias foram divididos em parcelas de aproximadamente 3 hectares para cada
núcleo familiar. No entanto, a divisão das áreas não levou em consideração as
dimensões dos terrenos originais, as relações de vizinhança, nem a restituição de
benfeitorias não reprodutivas, como galinheiros, currais, baias, pocilgas, entre outros.

A escassez de água nos terrenos também tem dificultado a realização das atividades
tradicionais das famílias, principalmente as relacionadas à produção agrícola e a
criação de animais. Outra situação é que as áreas onde as famílias incorporadas ao
PNO foram realocadas eram fazendas ocupadas por pastagem, que em geral, exige
um alto investimento em corretivos e adubação no solo, aspecto pouco trabalhado
pelo Programa de Reestruturação Produtiva, e exige muito desprendimento de tempo
e trabalho para erradicar a braquiária do local. Essa combinação de fatores tem levado
a uma diminuição na produção agrícola, além de aumentar os gastos com
investimentos na produção e aquisição de alimentos, resultando na redução da renda
familiar das famílias reassentadas.

Além disso, as estradas e vias de acesso às localidades não são pavimentadas, e


parte dos terrenos possui topografia acidentada. É evidente uma intervenção abrupta
na paisagem, com a inserção repetitiva de unidades habitacionais modulares em meio
a pastagens sem matas nativas ou qualquer vegetação arbórea significativa. Também
se percebe que a maioria das propriedades possui produções agrícolas em estágio

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inicial, diferentemente dos territórios de origem, onde as famílias já tinham cultivos em


fase avançada de produção.

No caso dos reassentamentos urbanos, a situação é ainda mais preocupante, pois os


terrenos têm aproximadamente 300m², o que inviabiliza o cultivo de alimentos e a
criação de animais. Consequentemente, as famílias são forçadas a depender cada 71
vez mais de produtos alimentícios adquiridos em mercados e estabelecimentos
comerciais, o que resulta em um aumento significativo nos custos de vida. Essa
mudança nos padrões alimentares pode ter impactos negativos tanto na saúde das
famílias quanto na sua autonomia.

Aspectos físicos e ambientais

48. A área de cada terreno rural familiar deverá ser a partir de um módulo fiscal,
definido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e vigente
no município de destino, sendo: Conceição do Mato Dentro e Congonhas do Norte o
módulo fiscal de 20 hectares; e Alvorada de Minas 30 hectares. Ainda sobre o tema,
fica estabelecido:
I) Para os filhos residentes no mesmo imóvel, serão garantidos 10 hectares de
terras para cada;
II) Para filhos e herdeiros não residentes, será garantido um módulo fiscal,
definido pelo INCRA e vigente no município de destino para divisão entre todos.
Havendo pluralidade de filhos/herdeiros não residentes, será garantido, no
mínimo, três hectares a cada filho/herdeiro, de maneira a respeitar a Fração
Mínima de Parcelamento (FMP) definida na Instrução Especial nº 5, de 29 de
Julho de 2022 do INCRA;
III) Para os casos de mais de um núcleo familiar identificados e residentes na
moradia de origem, deverá ser garantido um módulo fiscal a cada família
identificada.

Trata-se de fornecer uma estimativa de área que possa garantir uma moradia adequada para acomodar
as necessidades e estilos de vida da população advinda das áreas rurais. Á área proposta busca

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assegurar condições adequadas para criação de animais e produção agrícola. Esta diretriz tomou como
base o texto descrito no PNF da Anglo American (2015)42.

49. A área mínima para os terrenos em áreas urbanas deverá ser de 3.000m² (três
mil metros quadrados). Isso possibilitará a reprodução do modo vida como nas áreas
de origem, que possui características rurais com a criação de animais e produção
agrícola. Nos casos em que a área do terreno de origem for maior, a mesma deverá
72
ser considerada como parâmetro. Em caso de impossibilidade de restituição de
terreno com a área equivalente, o núcleo familiar deverá ser indenizado ou
compensado, a depender de sua escolha.

Mesmo nas comunidades atingidas um pouco mais urbanizadas, as populações ainda


mantêm práticas agrícolas, criação de animais, cocção de alimentos em fogões a lenha e
produção de quitandas, o que reflete um estilo de vida rural. Além disso, os terrenos nessas
comunidades costumam ser mais espaçados e menos densamente ocupados. Portanto,
nesta diretriz, é proposto um aumento na área em comparação ao PNO que é ofertado
atualmente, a fim de permitir que as pessoas atingidas possam reproduzir parte das
características do seu modo de vida no ambiente urbano. Isso contribuirá para a autonomia
alimentar e redução de custos na nova moradia.

50. Os terrenos domésticos rurais e urbanos deverão respeitar os modos de vida e


aspirações familiares, incluindo as famílias em seu planejamento, realização e
monitoramento para assegurar seu desenvolvimento sustentável e autonomia.

51. Os novos terrenos domésticos devem guardar características similares ou


superiores aos terrenos de origem - especialmente nos seguintes aspectos e sem
prejuízo de outros trazidos por normas técnicas vigentes:
I) topografia, tamanho e aptidão agrícola ou capacidade de uso da terra;
II) dimensões e testada igual ou superior à original, garantindo o mínimo de 15m;

42
Lá diz que: “A porção de terra a que todos os que optarem por esta modalidade terão direito ser fixa,
de 20 hectares, independente do tamanho da propriedade de origem, excepcionalmente nos casos
previstos no item 9.3.1.1.1. O proprietário ou posseiro de terra que escolher esta modalidade de
negociação e tiver acréscimo de área em razão da condição de filhos maiores, e/ou casados, residentes
e/ou não residentes, poderá converter parte em dinheiro, desde que a porção de terras remanescentes
a receber no local de destino seja de pelo menos 20 hectares. Em qualquer situação, à porção de terra
que será de direito aos optantes pela venda e compra da área com reassentamento incorpor-se-ão
outros 10ha por cada filho residente na propriedade que tenha 18 anos ou mais de idade e/ou seja
casado. Adicionalmente, caso o núcleo familiar dos proprietários e posseiros atingidos possua filhos
com 18 anos e mais de idade e/ou casados que não residam na propriedade, lhe será acrescentada à
área um total de 20ha de terra, único e não cumulativo segundo o número de filhos não residentes”.
ANGLO AMERICAN. Programa de Negociação Fundiária. Plano de Controle Ambiental (PCA). Projeto
de Extensão da Mina do Sapo. Ferreira Rocha, setembro de 2015.

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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III) observação, quando de interesse da coletividade, das relações de vizinhança


e comunitárias;
IV) acesso a fontes naturais de captação e uso de água para fins de consumo,
atividades econômicas ou recreativas domésticas, de lazer e cultural.

52. A Anglo American deverá realizar o mapeamento dos cursos d'água e a análise 73
da água de todas as fontes de captação dos terrenos, garantindo a participação e o
acompanhamento dos atingidos, bem como a presença da ATI 39/NACAB, e
compartilhar os seus resultados.

53. As áreas com restrição legal (preservação permanente, reserva legal,


resguardo ao patrimônio cultural e histórico, áreas espeleológicas, servidão legal,
dentre outras) poderão ser incorporadas ao imóvel novo, porém não serão
computadas na área a ser restituída ao núcleo familiar.

Nos reassentamentos rurais, encontram-se núcleos de vegetação densa, de modo a atender


a legislação ambiental relativa aos terrenos como um todo (APP, Reserva Legal). Contudo,
diante o parcelamento do solo para o estabelecimento dos reassentamentos, a distribuição
dessas áreas se encontra desigual entre cada terreno familiar: há famílias cujo lote alcança
boa parte dessa vegetação, e outras não. Isto provoca percepções distintas sobre a qualidade
ambiental dos terrenos familiares, e conflitos internos e com a empresa, pois existe entre
algumas famílias, o desejo de poder realizar “maior desmate” para ter espaço no terreno para
produção, o que lhes é impossibilitado por serem áreas protegidas de cada propriedade como
um todo; outras se deparam com terra nua, e passam a investir tempo, força e dinheiro para
ter alguma cobertura vegetal que traga diversidade e conforto ambiental aos seus terrenos43.

54. Deverá ser garantido acesso das casas e terrenos domésticos, de maneira
isonômica, a águas superficiais, fontes de captação e distribuição de água por
gravidade, garantindo o uso tradicional e gratuito da água em quantidade e qualidade,
assegurando aptidão aos usos diversos, tais como; abastecimento humano, produção
doméstica, dessedentação animal, lazer, cultural e religioso).

Atualmente, nos reassentamentos oferecidos pela Anglo American através do PNO, há uma
escassez de água tanto em quantidade quanto em qualidade nos terrenos. Além disso, foi

43
Fonte: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia
adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais –
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha

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comprovado que parte da água proveniente dos poços artesianos destinados ao uso das
famílias reassentadas está contaminada. Como resultado, a mineradora fechou todos os
poços e agora a água é fornecida por meio de galões de água mineral e caminhões-pipa. No
entanto, essa situação compromete a autonomia e a qualidade de vida das pessoas que
dependem de grandes quantidades de água diariamente para uso em suas residências,
irrigação de cultivos e cuidados com os animais. Além disso, é notório os riscos para a saúde
das pessoas que consumiram essa água contaminada44.

74
55. Deverá ser resguardada a possibilidade de escolha entre diferentes opções de
terrenos a cada família reassentada. Deverão ser resguardado opções de terrenos em
locais diferentes dos atuais ativos oferecidos pela Anglo American: Fazenda Simão
Lavrinha, Fazenda Piraquara e bairro Jardim Bougainville.

56. Os terrenos familiares deverão ser bem localizados e acessíveis o ano todo,
inclusive nos períodos chuvosos, garantido a qualidade na trafegabilidade de suas
estradas e acessos aos veículos populares e de tração animal. A Anglo American se
responsabilizará pela manutenção preventiva e corretiva das vias de acesso nos
reassentamentos por um prazo de cinco anos. Após este prazo deverão ser firmados
convênios entre o município e mineradora para dar continuidade ao processo de
conservação e manutenção das vias.

57. Independentemente da configuração territorial, a disponibilidade para novos


terrenos deve incluir observância de acesso a serviços de saúde, educação, lazer,
cultura e religião, disponibilidade de conexão com internet e telefonia celular.

44
Fonte: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia
adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais –
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha.

NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Ofício


094/2022/ATI39/NACAB. Nota Técnica nº 003/2022 – situação dos poços artesianos no
reassentamento do Piraquara/Farinha Fina. Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais, agosto de 2022.

NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS. Ofício


053/2023/ATI39/NACAB. Nota Técnica n° 05/2023 - situação atual dos poços artesianos no
reassentamento Simão Lavrinha, abril 2023.

Número do documento: 23080209185500600009877350074


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Plano Comunitário de Reassentamento –
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58. Os terrenos de destino devem garantir aptidão agrícola ao cultivo de lavouras


de culturas anuais, perenes, semi-perenes e forrageiras;

59. Deverá ser garantido no novo terreno a restituição das benfeitorias não
reprodutivas, tais como: pocilgas, galinheiros, currais, paióis, fornos de quitandas etc.,
a ser definido pelas famílias a partir de seu planejamento futuro. 75

Nos reassentamentos as benfeitorias não são restituídas. Os valores irrisórios do PNO


impossibilitam as famílias reconstruírem por conta própria. Além disso, a reconstrução dessas
benfeitorias requer tempo, materiais e mão de obra especializada, o que desestimula sua
reconstrução e as atividades de produção animal45.

60. Os terrenos devem possuir topografia e qualidade de solo adequados para a


criação de animais de grande, médio e pequeno porte, segundo as experiências e
aspirações das famílias.

Aspectos sociais, econômicos e culturais

61. A Anglo American deverá realizar a transferência das famílias, porém


permitindo a colheita das culturas temporárias na propriedade na comunidade de
origem, e o início das novas culturas nas terras do reassentamento, de modo a não
haver perdas ou interrupção das atividades.

62. Após identificada e com o aval das famílias, deverá ser garantido o
reassentamento guardando os laços de parentesco, compadrio, trabalho etc.,
possibilitando assim, a manutenção dos laços comunitários e de vizinhança entre as
famílias reassentadas.

63. As áreas totais aptas à produção, segundo culturas e atividades produtivas e


modos de produção do núcleo familiar, deverão ser de tamanho igual ou superior às

45
Fonte: NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR BARRAGENS.
Análise de situação socioeconômica, socioambiental, sociocultural, psicossocial e de direito à moradia
adequada em famílias estabelecidas nos ativos da Anglo American para reassentamentos rurais –
Fazenda Piraquara e Fazenda Simão Lavrinha.

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áreas originais, respeitando o tamanho mínimo do terreno do reassentamento na área


rural ou urbana.

64. A Anglo American deverá viabilizar a liberação de créditos do Programa de


Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) ou linha de crédito especial para as
famílias reassentadas. 76

65. Antes de implantar culturas agrícolas e pastagens nos reassentamentos, a


Anglo American deverá realizar análise do solo dos terrenos e fornecer os resultados
às famílias. Além disso, realizará as correções necessárias e adubação,
prioritariamente agroecológica, visando melhorar a fertilidade do solo.

66. Em casos em que não seja possível a restituição de terrenos equivalentes ao


terreno de origem, que seja garantida a compensação pelo tamanho e qualidade do
terreno de origem.

67. A compensação financeira deverá seguir parâmetros estabelecidos com as


comunidades e compatível com momento da negociação, garantindo uma negociação
com valores atualizados.

68. Todas as benfeitorias reprodutivas e não reprodutivas existentes na


propriedade original deverão ser restituídas nos reassentamentos.

69. Para aportes financeiros dedicados ao apoio à recuperação das atividades


econômicas no novo território:

i) A Anglo American fornecerá um aporte financeiro de R$ 60.000,00


(sessenta mil reais) às famílias envolvidas na criação de gado de leite e/ou
corte, seja para o início ou aprimoramento da criação no reassentamento
coletivo ou individual;
ii) A Anglo American concederá um aporte financeiro de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais) às famílias que atuam com suinocultura, visando apoiar a
aquisição de animais e impulsionar a produção;

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

iii) A Anglo American fornecerá aporte financeiro de R$ 100.000,00 (cem mil


reais) para cada família que possuía produção artesanal de alimentos e/ou
bebidas, a fim de dar continuidade às atividades, tais como a fabricação de
doces, lácteos, quitandas, cachaça etc.;
iv) A Anglo American fornecerá um aporte financeiro de R$ 10.000,00 (dez mil
reais) a cada família para implantação de hortas no reassentamento, seja 77
ele coletivo ou auto-reassentamento individual;
v) A Anglo American fornecerá um auxílio financeiro no valor de R$ 100.000,00
para cada família atingida, a fim de apoiar sua adaptação no contexto do
reassentamento.

Box 3 - Piscicultura

vi) No caso específico de Passa Sete, realizar acordo nas ações civis públicas
00207095720158130175 e 0009300- 7920188130175 para custear os projetos de piscicultura bem
como medidas de repovoamento da ictiofauna nativa do córrego Passa Sete. Para situações
similares, também se sugere:
- Aporte financeiro de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) para cada família, destinado à
implementação da piscicultura no reassentamento;
- Destinação de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) para a criação de uma cooperativa, que será
responsável pela venda dos peixes produzidos, bem como outros produtos provenientes das
comunidades reassentadas. Essa cooperativa terá como objetivo promover uma marca associada
aos reassentados.

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4. SÍNTESE DA PROPOSTA

A Síntese a seguir apresenta os apontamentos feitos pelas comunidades de Água


Quente, Passa Sete e São José do Jassém para o seu reassentamento, resgatando,
de maneira esquemática:
78

As 7 PREMISSAS, compreendendo linhas gerais de compromissos e pactuações a


serem assumidas pelas partes;

Os 5 PARÂMETROS GERAIS para guiar os processos de planejamento dos


reassentamentos, e apontamentos para a sua realização e monitoramento;

As 69 DIRETRIZES E CRITÉRIOS propostos para o reassentamento das famílias de


Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

LISTA DE DIRETRIZES E CRITÉRIOS

TERRITÓRIOS

TERRITÓRIOS - ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS

1. Deverá ser garantida a existência de fontes de captação de água superficial perene e


de vazão suficientes em quantidade e qualidade adequadas a atender as necessidades
familiares e comunitárias, garantindo os diferentes usos (doméstico, agricultura, 79
dessedentação animal, lazer, cultural etc.) a fim de manter os modos tradicionais de
expressão e produção das comunidades.

2. Os novos territórios devem ter como referência e guardar, no que for possível, as
características físicas e ambientais similares aos de origem - especialmente nos seguintes
aspectos e sem prejuízo de outros trazidos por normas técnicas vigentes: i) topografia,
tamanho e aptidão agrícola ou capacidade de uso da terra; ii) observação das relações de
vizinhança, comunitárias, territoriais ou por outros vínculos sociais; iii) acesso a fontes naturais
de captação e uso de água, e demais serviços ecossistêmicos (provisão, suporte, regulação,
culturais) significativos aos territórios atuais, tais como similaridades de clima, paisagens
naturais, proximidade a córregos, rios, mananciais e cachoeiras que propiciem o contato
primário, o lazer e uso religioso dos recursos. A sua oferta deverá ter base técnica
multicritérios referentes ao meio físico, biótico, socioeconômico e cultural.

3. A área escolhida para o reassentamento rural comunitário deverá ser equivalente ou


superior a atual com relação às microbacias hidrográficas, sendo priorizadas as áreas
próximas às serras e áreas de recarga hídrica, garantindo a presenças de corpos d’água de
primeira ordem, nascentes e olhos d’água perenes.

4. A(s) área(s) escolhida(s) deverá(ão) possuir um montante de área verde igual ou


superior aos presentes nos territórios atuais. É importante assegurar o uso e manejo
sustentável dessas áreas verdes para práticas culturais e tradicionais, como a colheita de
plantas medicinais e a extração de lenha, seguindo princípios sustentáveis.

5. A(s) área(s) escolhida(s) deverá(ão) conter áreas de pastagens em quantidade e


qualidade suficientes para a divisão entre as famílias e sem prejuízos a reprodução das
atividades agrícolas de cada uma.

6. Deve ser garantida a presença de área de reflorestamento, para uso e benefício da


comunidade, garantida a oferta de madeira de reflorestamento para os diversos usos em
benefício da comunidade.

7. Os reassentamentos deverão incluir projetos específicos de paisagismo, os quais


serão submetidos à aprovação das comunidades envolvidas. Essas iniciativas visam
aprimorar as condições de conforto ambiental e devem ser implementadas simultaneamente
aos projetos habitacionais destinados às famílias.

8. As terras deverão ter uma avaliação de capacidade de uso entre as classes I e II,
observadas na distribuição entre as classes, os parâmetros e as proporções estabelecidas
pelo Manual Brasileiro para Levantamento da Capacidade de Uso da Terra — ETA -
Brasil/Estados Unidos, Terceira Aproximação. Pretende-se assim, a continuidade das
atividades produtivas, considerados os moldes em que são realizadas atualmente.

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9. Serão consideradas para o processo de escolha da nova área as grandes e médias


propriedades, nesta ordem, de forma a reduzir ao máximo os impactos sociais da aquisição,
bem como assegurar condições para que sejam conservadas as relações sociais existentes
nas comunidades atingidas.

10. Deverão ser restituídos: i) a configuração das estradas e os acessos dos antigos
núcleos comunitários no(s) novo(s) reassentamento(s); ii) os elementos construtivos de
ambiente históricos e tradicionais das comunidades, tais como: cemitérios, chafarizes, cruzes,
cruzeiros, oratórios, capelas e templos, além de outros equipamentos ou edificações de 80
domínio público ou uso coletivo (espaço verde e praça, escolas, espaços recreativos/centros
comunitários, creche(s), postos de saúde, por exemplo) e outros elementos simbólicos que
possam vir a ser identificados no processo de levantamento de informações dos antigos
territórios.

11. As vias internas dos reassentamentos devem ser pavimentadas e possuir boas
condições de uso, a fim de favorecer a trafegabilidade de veículos e pessoas, sem
comprometer a preservação ambiental dos territórios. A Anglo American será responsável
pela manutenção preventiva e corretiva das vias por um prazo de cinco anos. Antes do término
desse prazo, o empreendedor deverá estabelecer convênio com o poder público local para
assegurar a continuidade da manutenção e a qualidade das vias nos anos seguintes.

12. A(s) área(s) escolhida(s) deverá(ão) possuir serviços básicos comuns e adequados
aos usos territoriais propostos, tais como: rede de energia elétrica estabelecida e com
capacidade para atender todas as propriedades e respectivas atividades produtivas e
coletivas; iluminação nas vias para veículos e pedestres; sistema confiável e adequado para
o tratamento de água e esgoto, de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio
ambiente, com adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades
locais, regionais e sejam capazes de atender as necessidades familiares e o padrão de
direitos humanos; disponibilidade de lixeiras e coleta regular dos resíduos sólidos. Elas
deverão estar em funcionamento adequado em tempo à mudança das famílias.

13. Durante o processo de aquisição das áreas para reassentamento, a Anglo American
deverá informar sobre a existência e o grau de exposição ao risco de desastres naturais e
tecnológicos, bem como o levantamento de potenciais para mineração ou outras atividades
de significativo impacto potencial, a partir de dados públicos e oficiais disponibilizados pela
Defesa Civil e/ou outros órgãos e fontes de notório saber no tema.

TERRITÓRIOS - ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS

14. O reassentamento deverá preferencialmente, conforme escolha das comunidades, ser


realizado nos municípios de origem das famílias reassentadas e/ou que recebam a
Compensação Financeira por Exploração Mineral (CFEM) paga pela Anglo American. Essa
medida se faz necessária para o fomento à recomposição da renda familiar, acesso a serviços
públicos e outros direitos referentes a comunidades atingidas pela mineração.

15. Deverá ser garantido transporte público e escolar (porta-porta) que atenda a todas as
famílias do reassentamento, com boas condições de vias para garantir a trafegabilidade de
veículos pelas ruas, estradas e acessos durante todo o ano. Além disso, devem ser
disponibilizados pontos de ônibus adequados para a população.

16. Os reassentamentos deverão ter boa localização, com proximidade à oferta de


comércios e serviços (público e privado), favorecendo também o acesso ao mercado de
trabalho e disponibilidade de mão de obra local.

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17. Perante reconhecimento de que as comunidades detêm saber e a prática da produção


artesanal e tradicional do Queijo da região do Serro, o terreno escolhido para o
reassentamento coletivo das famílias deverá ser abrangido por tal reconhecimento, segundo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

18. O reassentamento deverá ocorrer em regiões próximas às demais comunidades


negras, sem prejuízos as anfitriãs, no intuito de aproximar e ampliar as redes e trocas culturais
e de saberes tradicionais. 81
19. Deverão ser restituídos os elementos simbólicos de cada comunidade, garantido
aparência e feição que contribuam para o reconhecimento e aproximação das famílias com a
nova paisagem, propiciando a reconstituição dos laços de pertencimento das famílias com o
novo lugar e consequentemente a reconstituição das territorialidades e territórios
comunitários. Isto inclui o respeito e inclusão nas ações de recuperação econômica dos
saberes tradicionais de produção de cada grupo e oferecer condições para o desenvolvimento
de novas atividades.

20. Deverão ser implantados, equipados e assistidos espaços e equipamentos para o


resguardo e incentivo à cultura local atual, como Centro Cultural, Centro de Memória e
Registro do patrimônio material e imaterial das comunidades. O fomento e registro da
memória, cultura e saberes das famílias reassentadas deverá ter apoio técnico independente.

21. A Anglo American deverá se responsabilizar por todo o processo de aquisição e de


regularização dos terrenos onde serão construídos os reassentamentos, desde que viável,
bem como pelo parcelamento da área e a sua regularização fundiária, entregando a cada
núcleo familiar reassentado os registros referentes ao seu imóvel antes da mudança,
envolvendo também as esferas do poder público, arcando com todas as despesas do
processo.

22. A Anglo American deverá inserir as famílias no seu Programa de Priorização de Mão
de Obra para inclusão no mercado de trabalho, além de ofertar capacitações que auxiliem na
retomada das atividades produtivas e econômicas de acordo com as vocações e aptidões das
pessoas atingidas, com temas definidos pelas próprias famílias.

23. Deverá existir estrutura técnica, financeira e programática condizente para a retomada
dos modos de vida em comunidade, à escolha da própria comunidade ou coletividades de
famílias. A Anglo American proverá as condições para a reprodução física e socioeconômica
das famílias, por meio do fornecimento de subsídios necessários para a implementação de
atividades econômicas coletivas e individuais com base nas aptidões e vocações produtivas
de cada coletividade (PDT) e eventuais especificidades familiares (PDF), até a autonomia de
produção.

24. Para as atividades produtivas e econômicas nos reassentamentos rurais e urbanos,


respeitando as regulamentações municipais para a implantação do PDT e PDF em área
urbana:

I) Durante o período de oito anos, a Anglo American deverá realizar o preparo do


solo dos terrenos, garantindo para cada família um mínimo de 30 horas anuais de
preparo por meio de trator agrícola, conduzido por tratorista devidamente
qualificado, sendo acompanhado por implementos e equipamentos para o preparo
do solo (como por exemplo roçada, aração, gradagem, subsolagem, escarificação,

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aplicação de calcário e adubos), além de demais insumos fornecidos de acordo


com o planejamento da produção;

II) Fomento de atividades agrícolas pautadas na groecologia, com o fornecimento de


insumos para produção como adubos, calcário, mudas (hortaliças e frutíferas),
sementes, deverão ser fornecidos pela Anglo American para a implementação dos
projetos coletivos e individuais com base em calendário agrícola construído com
as famílias, considerando a diversificação da produção, a fim de promover
segurança alimentar, trocas e renda através da comercialização dos produtos; 82

III) Fornecer alimentação animal in natura ou em pecúnia, à escolha da família,


levando em consideração o número, espécie e categoria dos animais, assim como
suas necessidades nutricionais, até que as condições do solo sejam restauradas
e permitam a produção de forragens e/ou grãos;

IV) No prazo de oito anos, a Anglo American fornecerá anualmente até 10


inseminações artificiais em bovinos para cada família reassentada que trabalha
com bovinocultura;

V) Acesso à ATER para o(s) reassentamento(s) pelo período de oito anos a partir da
mudança para os reassentamentos, baseado em plano de atividade individual e
coletivo, tecnicamente viável e sustentável, a ser elaborado e executado por
instituições ou profissionais qualificados, oferecidos pela Anglo American ou de
escolha dos atingidos, devendo a mineradora arcar com as despesas referentes à
retomada das atividades agrossilvopastoris e reativação econômica das famílias;

VI) Realização de cursos, oficinas e atividades práticas que incentivem práticas


agrícolas sustentáveis, promovendo a autonomia na produção agrícola
agroecológica principalmente para produção de adubos, outros insumos e
alimentação animal, por exemplo;

VII) Auxílio na formalização, regularização e fortalecimento de associações e


cooperativas, bem como fomento a pequenas e microempresas;

VIII) Promover o acesso dos produtores aos mercados privados e institucionais para a
comercialização de sua produção, por meio de cursos e interlocução institucional
para conhecimento e ampliação de circuitos socioeconômicos e formais e informais
nos novos territórios, como mercados imersos, e de práticas e saberes culturais
comuns ao entorno;

IX) Apoio à reinserção econômica e produtiva das pessoas e famílias com vista à sua
empregabilidade nas cidades, por meio de:

a. formação continuada em vocações ou aspirações para o mercado de


trabalho;
b. apoio à inserção no mercado de trabalho, com a incorporação prioritária de
pessoas e famílias reassentadas nas atividades da Anglo American
(aprimoramento do Programa de Priorização de Mão-de-Obra) e parcerias
com entes públicos e privados para programas continuados de ensino,
aprendizagem e estágio-aprendiz (aquisição de experiência, em diálogo às
formações continuadas);

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c. monitoramento da efetividade do processo de incorporação das coletividades


ao mercado de trabalho na nova região.

25. A implantação inicial dos projetos produtivos deverá contar com a mão de obra da
Anglo American, até que os reassentados tenham condições de condução por conta própria
em termos coletivos (desenvolvimento territorial) e domésticos (desenvolvimento familiar).

26. A Anglo American deverá fornecer, uma cesta básica com composição sugerida pelas 83
famílias ou cartão alimentação, com atualização dos valores de acordo os parâmetros do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), durante o
período de cinco anos. Para além da cesta básica, deverão ser fornecidas frutas e legumes à
escolha das famílias, visto à demora do restabelecimento da produção, principalmente das
espécies frutíferas no reassentamento.

27. A Anglo American deverá destinar recursos a entidades e órgãos públicos para custeio
de programas de assistência social e de saúde mental voltada ao atendimento da população
reassentada, bem como ativar linha específica de atuação do Programa de Saúde para o
cuidado com os processos de adaptação das coletividades nos novos territórios. O escopo
dos programas e atuação dos profissionais deve ser construída e aprovada pelas pessoas
atingidas.

28. Revisão do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural, com a incorporação de linha


específica para o reconhecimento, preservação e valorização do patrimônio cultural das
comunidades a serem deslocadas. Trata-se de levantar, identificar e documentar
manifestações e bens culturais que se constituem como patrimônio cultural (material e
imaterial) das comunidades atingidas. Deve-se fazer apontamentos sobre formas de
acautelamento, reconhecimento, preservação e valorização desse patrimônio, bem como as
perdas e prejuízos causados ou em afinidade a este tema em decorrência do Projeto Minas-
Rio, com a sua respectiva valoração econômica (monetária) e não econômica (não
monetária). Os apontamentos terão fins indenizatórios e orientação de priorizações para
eventuais desejos das coletividades em favor do seu resgate ou valorização cultural nos novos
territórios. No tocante aos bens de natureza imaterial, toma-se como fundamento as seguintes
categorias:
i) Saberes e modos de fazer enraizados no cotidiano;
ii) Celebrações, festas e folguedos que marcam espiritualmente a vivência do trabalho,
da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;
iii) Linguagens musicais, iconográficas e performáticas, bem como manifestações
literárias;
iv) Espaços em que se produzem as práticas culturais. O Programa subsidiará a
elaboração dos Planos de Desenvolvimento Territorial.

29. A Anglo American deverá oferecer cursos de capacitação e especialização


profissional, alinhados com as habilidades e interesses das pessoas atingidas, que serão
selecionadas e validadas por elas mesmas, ao longo de um período de cinco anos.

30. As pessoas atingidas escolherão o local de instalação dos novos comércios. Caso seja
manifestado o desejo de receber em pecúnia pelo estabelecimento comercial, a Anglo
American deverá garantir uma indenização justa e adequada pelos imóveis, os materiais e
equipamentos comerciais, bem como à atividade em si (lucro cessante enquanto se faz a
mudança, custo de reposição à nova atividade comercial, custo de oportunidade diante o
processo de reassentamento, dentre outras razoáveis no âmbito da sua valoração
econômica);

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31. A Anglo American deverá indenizar Microempreendedores Individuais (MEI) em um


valor correspondente a pelo menos seis anos de arrecadação anual no limite máximo. Essa
mesma abordagem será aplicada aos comércios não registrados. Além disso, as
microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) também serão beneficiadas pelos
mesmos critérios de indenização.

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CASAS

CASAS - ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS

32. A área mínima da edificação nos reassentamentos será de 120m². Deverá possuir no
mínimo quatro dormitórios com área aproximada de 16m² cada. Caso a edificação na área de
origem seja maior, sua área deverá ser considerada como parâmetro para restituição. Nos
casos em que a família possuir um maior número de membros familiares, a edificação deverá
ser compatível em número de cômodos/dormitórios que atenda às necessidades da 85
composição familiar, com aprovação prévia da referência familiar. Ou seja, poderá haver
acréscimo de área construída para adequação aos padrões mínimos de habitação e moradia
digna.

33. Nos reassentamentos, caso seja de desejo da pessoa atingida, a Anglo American
destinará verba específica, com detalhamento da composição dos custos para execução das
obras das edificações e benfeitorias a partir da autogestão de cada núcleo familiar.

34. No caso de reassentamento em terreno de terceiros, deverá ser garantido ao núcleo


familiar a opção entre: i) a compra de imóvel com edificações e benfeitorias sem a
necessidade de reformas, ou ii) a compra de imóvel com edificações e benfeitorias com
necessidade de reformas que deverão ser realizadas pela Anglo American, ou iii) a compra
do terreno e posterior construção das edificações e benfeitorias que deverão ser realizadas
pela Anglo American ou pelo modelo de autogestão a partir da escolha de cada núcleo
familiar.

35. As edificações nos reassentamentos deverão possuir um fogão a lenha moldado in


loco, desenvolvido em conjunto com a família, quando assim for o seu desejo.

36. No processo de elaboração dos projetos das edificações, todos os materiais


construtivos e de acabamentos deverão ser escolhidos e aprovados pelos membros de cada
núcleo familiar.

37. O Os projetos das residências e benfeitorias não reprodutivas deverão ser elaborados
em conjunto com os membros da família e um arquiteto da Anglo American, para que sejam
atendidas as especificidades de cada núcleo familiar. As famílias terão participação
deliberativa em todo o processo.

38. As famílias deverão ser informadas de forma clara no momento de elaboração do


projeto sobre detalhes importantes para utilização da residência como posicionamento de
ralos, número de pontos de tomada nos ambientes, presença de taludes, aclives/declives,
muros de contenção etc.

39. Cada família poderá fazer quantas alterações entenderem necessárias nos projetos
das moradias, sem limitações, até o envio do projeto aos órgãos municipais competentes para
aprovação e obtenção de alvará, caso necessário. Cabe ao atingido escolher quando o projeto
será encaminhado aos órgãos municipais competentes para aprovação, sendo que o
encaminhamento poderá ocorrer após o término da terraplenagem e a visita ao local a ser
edificado no terreno do reassentamento, a critério do atingido. Deverá ser garantido ao
atingido a possibilidade de visitar o lote / gleba de terra onde será reassentado com as devidas
demarcações dos locais onde será construída cada edificação, antes de encaminhar o projeto
individual para aprovação dos órgãos municipais competentes, caso necessário.

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40. As edificações e áreas coletivas deverão ser garantidas com condições mínimas de
habitabilidade (saneamento, acabamento, iluminação, etc.), balizadas por normas, como a
NBR 15575 - Edificações Habitacionais e a NBR 9050 - Acessibilidade a Edificações,
respeitado o modo de vida familiar e comunitário.

41. A Anglo American deverá arcar com a reparação de vícios de construção de todas as
estruturas construídas pela mineradora (ou suas contratadas), e se responsabilizar por todas
as manifestações patológicas que comprometam a segurança e a solidez das edificações
construídas nos termos da legislação e Normas Técnicas vigentes. 86

CASAS - ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS

42. A Anglo American deverá se responsabilizar pela entrega ao núcleo familiar de toda
documentação referente aos novos imóveis sem gerar quaisquer ônus financeiros aos
mesmos, antes da entrega das chaves. Dessa forma, a Anglo American deverá se
responsabilizar por todo o processo de aquisição e de regularização dos terrenos onde serão
construídos os reassentamentos, bem como pelo parcelamento da área, entregando a cada
núcleo familiar reassentado os registros referentes ao seu imóvel, sem quaisquer ônus
financeiros aos mesmos.

43. O projeto arquitetônico, estrutural, hidrossanitário, elétrico e estudo do solo da


moradia, edificações acessórias e benfeitorias não reprodutivas, deverão ser fornecidos ao
atingido antes da execução da obra.

44. Deverão ser implementados sistemas de combate a incêndio para garantir a proteção
contra incêndios das residências. Além disso, a Anglo American deverá promover o
treinamento das famílias para utilizar os sistemas e garantir a manutenção deles por um prazo
de cinco anos.

45. Os tributos e despesas com água, energia elétrica e IPTU do reassentamento de cada
núcleo familiar e equipamentos públicos deverá ser de responsabilidade da Anglo American
pelo período de cinco anos.

46. A Anglo American deverá arcar com todas as despesas referentes à mudança
(transporte de bens móveis, plantas, animais e outros) do imóvel onde o núcleo familiar mora
até o novo imóvel no reassentamento coletivo ou individual familiar.

47. Os projetos de moradia deverão contar com sistemas de captação e armazenamento


de água de chuva, sistemas fotovoltaicos e acesso aos equipamentos coletivos a fim de
assegurar a sustentabilidade econômica e ambiental das moradias. A Anglo American se
responsabilizará por um prazo de cincos anos na manutenção dos sistemas e promoverá o
treinamento das famílias para a sua utilização cotidiana.

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TERRENOS DOMÉSTICOS

TERRENOS DOMÉSTICOS - ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS

48. A área de cada terreno rural familiar deverá ser a partir de um módulo fiscal, definido
pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e vigente no município de
destino, sendo: Conceição do Mato Dentro e Congonhas do Norte o módulo fiscal de 20
hectares; e Alvorada de Minas 30 hectares. Ainda sobre o tema, fica estabelecido: 87
i) Para os filhos residentes no mesmo imóvel, serão garantidos 10 hectares de terras
para cada.;
ii) Para filhos e herdeiros não residentes, será garantido um módulo fiscal, definido
pelo INCRA e vigente no município de destino para divisão entre todos. Havendo
pluralidade de filhos/herdeiros não residentes, será garantido, no mínimo, 3
hectares a cada filho/herdeiro, de maneira a respeitar a Fração Mínima de
Parcelamento (FMP) definida na Instrução Especial nº 5, de 29 de Julho de 2022
do INCRA;
iii) Para os casos de mais de um núcleo familiar identificados e residentes na moradia
de origem, deverá ser garantido um módulo fiscal a cada família identificada.

49. A área mínima para os terrenos em áreas urbanas deverá ser de 3.000m² (três mil
metros quadrados). Isso possibilitará a reprodução do modo vida como nas áreas de origem,
que possui características rurais com a criação de animais e produção agrícola. Nos casos
em que a área do terreno de origem for maior, a mesma deverá ser considerada como
parâmetro. Em caso de impossibilidade de restituição de terreno com a área equivalente, o
núcleo familiar deverá ser indenizado ou compensado, a depender de sua escolha.

50. Os terrenos domésticos rurais e urbanos deverão respeitar os modos de vida e


aspirações familiares, incluindo as famílias em seu planejamento, realização e monitoramento
para assegurar seu desenvolvimento sustentável e autonomia.

51. Os novos terrenos domésticos devem guardar características similares ou superiores


aos terrenos de origem - especialmente nos seguintes aspectos e sem prejuízo de outros
trazidos por normas técnicas vigentes:
i) topografia, tamanho e aptidão agrícola ou capacidade de uso da terra;
ii) dimensões e testada igual ou superior à original, garantindo o mínimo de 15m;
iii) observação, quando de interesse da coletividade, das relações de vizinhança e
comunitárias;
iv) acesso a fontes naturais de captação e uso de água para fins de consumo,
atividades econômicas ou recreativas domésticas, de lazer e cultural.

52. A Anglo American deverá realizar o mapeamento dos cursos d'água e a análise da
água de todas as fontes de captação dos terrenos, garantindo a participação e o
acompanhamento dos atingidos, bem como a presença da ATI 39/NACAB, e compartilhar os
seus resultados.

53. As áreas com restrição legal (preservação permanente, reserva legal, resguardo ao
patrimônio cultural e histórico, áreas espeleológicas, servidão legal, dentre outras) poderão
ser incorporadas ao imóvel novo, porém não serão computadas na área a ser restituída ao
núcleo familiar.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

54. Deverá ser garantido acesso das casas e terrenos domésticos, de maneira isonômica,
a águas superficiais, fontes de captação e distribuição de água por gravidade, garantindo o
uso tradicional e gratuito da água em quantidade e qualidade, assegurando aptidão aos usos
diversos, tais como; abastecimento humano, produção doméstica, dessedentação animal,
lazer, cultural e religioso).

55. Deverá ser resguardada a possibilidade de escolha entre diferentes opções de


terrenos a cada família reassentada. Deverão ser resguardado opções de terrenos em locais
diferentes dos atuais ativos oferecidos pela Anglo American: Fazenda Simão Lavrinha, 88
Fazenda Piraquara e bairro Jardim Bougainville.

56. Os terrenos familiares deverão ser bem localizados e acessíveis o ano todo, inclusive
nos períodos chuvosos, garantido a qualidade na trafegabilidade de suas estradas e acessos
aos veículos populares e de tração animal. A Anglo American se responsabilizará pela
manutenção preventiva e corretiva das vias de acesso nos reassentamentos por um prazo de
cinco anos. Após este prazo deverão ser firmados convênios entre o município e mineradora
para dar continuidade ao processo de conservação e manutenção das vias.

57. Independentemente da configuração territorial, a disponibilidade para novos terrenos


deve incluir observância de acesso a serviços de saúde, educação, lazer, cultura e religião,
disponibilidade de conexão com internet e telefonia celular.

58. Os terrenos de destino devem garantir aptidão agrícola ao cultivo de lavouras de


culturas anuais, perenes, semi-perenes e forrageiras;

59. Deverá ser garantido no novo terreno a restituição das benfeitorias não reprodutivas,
tais como: pocilgas, galinheiros, currais, paióis, fornos de quitandas etc., a ser definido pelas
famílias a partir de seu planejamento futuro.

60. Os terrenos devem possuir topografia e qualidade de solo adequados para a criação
de animais de grande, médio e pequeno porte, segundo as experiências e aspirações das
famílias.

TERRENOS DOMÉSTICOS: ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS

61. A Anglo American deverá realizar a transferência das famílias, porém permitindo a
colheita das culturas temporárias na propriedade na comunidade de origem, e o início das
novas culturas nas terras do reassentamento, de modo a não haver perdas ou interrupção
das atividades.

62. Após identificada e com o aval das famílias, deverá ser garantido o
reassentamento guardando os laços de parentesco, compadrio, trabalho etc.,
possibilitando assim, a manutenção dos laços comunitários e de vizinhança entre as
famílias reassentadas.

63. As áreas totais aptas à produção, segundo culturas e atividades produtivas e modos
de produção do núcleo familiar, deverão ser de tamanho igual ou superior às áreas originais,
respeitando o tamanho mínimo do terreno do reassentamento na área rural ou urbana.

64. A Anglo American deverá viabilizar a liberação de créditos do Programa de


Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) ou linha de crédito especial para as famílias
reassentadas.

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

65. Antes de implantar culturas agrícolas e pastagens nos reassentamentos, a Anglo


American deverá realizar análise do solo dos terrenos e fornecer os resultados às famílias.
Além disso, realizará as correções necessárias e adubação, prioritariamente agroecológica,
visando melhorar a fertilidade do solo.

66. Em casos em que não seja possível a restituição de terrenos equivalentes ao terreno
de origem, que seja garantida a compensação pelo tamanho e qualidade do terreno de origem.

67. A compensação financeira deverá seguir parâmetros estabelecidos com as 89


comunidades e compatível com momento da negociação, garantindo uma negociação com
valores atualizados.

68. Todas as benfeitorias reprodutivas e não reprodutivas existentes na propriedade


original deverão ser restituídas nos reassentamentos.

69. Para aportes financeiros dedicados ao apoio à recuperação das atividades


econômicas no novo território:

i) A Anglo American fornecerá um aporte financeiro de R$ 60.000,00 (sessenta mil


reais) às famílias envolvidas na criação de gado de leite e/ou corte, seja para o
início ou aprimoramento da criação no reassentamento coletivo ou individual;
ii) A Anglo American concederá um aporte financeiro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais)
às famílias que atuam com suinocultura, visando apoiar a aquisição de animais e
impulsionar a produção;
iii) A Anglo American fornecerá aporte financeiro de R$ 100.000,00 (cem mil reais)
para cada família para implementação de produção artesanal de alimentos e/ou
bebidas, como por exemplo, a produção de doces, lácteos, quitandas, cachaça
etc.;
iv) A Anglo American fornecerá um aporte financeiro de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
a cada família para implantação de hortas no reassentamento, seja ele coletivo ou
auto-reassentamento individual;
v) A Anglo American fornecerá um auxílio financeiro no valor de R$ 100.000,00 para
cada família atingida, a fim de apoiar sua adaptação no contexto do
reassentamento.

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ANEXOS

ANEXO I – SOBRE A CONSTRUÇÃO DA PROPOSTA

Metodologia aplicada junto às comunidades para construção coletiva das 90


propostas de reassentamento

Em atenção à determinação judicial, imposta ao Ministério Público, para que


apresentasse, em até 60 dias, um Plano de Reassentamento das comunidades de
Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém, os moradores se organizaram com
assessoramento da ATI 39/NACAB, para a formulação de suas propostas. O objetivo
fundamental foi a construção de diretrizes através de metodologias participativas e
que pudessem alcançar todos os moradores que assim desejassem, bem como levar
informação qualificada para aqueles moradores que tinham pouco ou nenhum
conhecimento sobre a ação judicial.

Nesse intuito, na semana seguinte à realização da audiência de conciliação,


foram realizadas visitas individuais a vários núcleos familiares das três comunidades
que compõem a ZAS, para consultar os moradores sobre os formatos de reuniões que
as comunidades desejavam nesse momento, bem como sobre a disponibilidade de
dias, horários e locais. Com essa atividade, buscou-se entender como as
comunidades gostariam de promover a construção participativa de propostas e
fornecer maiores informações sobre o caso.

Portanto, as metodologias aplicadas são resultado de um processo de escuta


dos moradores ao longo das três semanas seguintes a realização da audiência de
conciliação – dia 08 de maio até 26 de maio de 2023. Além das consultas familiares,
através de visitas individuais e ligações telefônicas, foi necessário realizar um
procedimento de validação com todos os núcleos sobre a metodologia, bem como
divulgar os retornos dessas consultas para os comunitários.

Paralelamente às visitas individuais, na semana do dia 22 a 26 de maio de


2023, uma equipe específica ficou responsável pela mobilização dos moradores da
ZAS para as reuniões coletivas agendadas para a próxima semana (29 de maio a 02

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de junho de 2023). Visando garantir maior efetividade à mobilização, foram utilizados


vários métodos, conforme a disponibilidade do núcleo familiar, sinal de internet e
telefonia. Assim, as atividades de mobilização ocorreram através de ligações
telefônicas, mensagens pelo aplicativo WhatsApp e visitas domiciliares. Foram
utilizados recursos audiovisuais para garantir a acessibilidade de todos os
comunitários ao conteúdo. 91

Em atendimento a manifestação unânime dos núcleos familiares consultados,


as reuniões ocorreram em conjunto com as comunidades de Água Quente, Passa
Sete e São José do Jassém. A primeira reunião aconteceu no dia 30 de maio de 2023,
na escola Municipal de São José do Jassém, às 18h30min. Os temas discutidos no
dia foram: Diretrizes Gerais, Modalidades de Reassentamento e Terrenos. A
metodologia aplicada no dia foi a conhecida como “Café Mundial”.

A metodologia participativa Café Mundial (ou World Café) foi criada por Juanita
Brown e David Isaacs, em 1995 na Califórnia/EUA, sendo um recurso de conversa em
grupo bastante utilizada em todo o mundo. A técnica aplicada é muito útil para
estimular a criatividade, explorar temas relevantes para o grupo e criar um espaço
para que a inteligência coletiva possa emergir, através do acesso às inteligências
individuais dos participantes. Dessa forma, direcionando a inteligência coletiva para
um dado contexto, é possível utilizá-la para gerar muitas ideias criativas no processo
de busca por soluções para as questões mais difíceis e desafiadoras.

Na primeira reunião conjunta entre as três comunidades, realizada no dia 30 de


maio de 2023, inicialmente foi realizada uma plenária com todos os participantes com
a finalidade de contextualizar a Ação Civil Pública e o procedimento de elaboração
das diretrizes pela comunidade. Após essa abertura, os moradores foram distribuídos,
de forma aleatória, em três grupos, conforme os temas que seriam debatidos no dia
(Diretrizes Gerais, Modalidades de Reassentamento e Terrenos).

Assim, dentro de cada sala, os grupos formados discutiam sobre o tema


proposto, elaboravam dúvidas, contribuições e apontamentos para que constassem
no Plano de Reassentamento. Após cerca de 40 a 50 minutos, os grupos trocavam de
sala, de forma que todos os participantes pudessem transitar em todas as salas e
participar integralmente das discussões. Ao final, foi realizada uma plenária de

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encerramento para avaliação da metodologia e escolha da data e local para a próxima


reunião. Como encaminhamento, ficou decido que a próxima reunião ocorreria dia 02
de junho de 2023, no mesmo local e horário.

Conforme decido na reunião anterior, no dia 02 de junho de 2023 às 18h30min,


na Escola Municipal de São José do Jassém, ocorreu a segunda reunião com as
92
comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém. Tendo em vista a
avaliação positiva da metodologia do Café Mundial aplicada anteriormente, a mesma
foi replicada com os seguintes temas: Edificações e benfeitorias não reprodutivas,
Reestruturação produtiva e benfeitorias reprodutivas, Valoração e Público-alvo.

Após a conclusão do segundo dia de reunião com as comunidades, ficou


validado coletivamente que as propostas levantadas passariam pelo processo
minucioso de sistematização, considerado todo o trabalho de escuta e diálogo com as
pessoas atingidas. Finalizado esse momento, as três comunidades se reuniriam
novamente, em uma assembleia final para a ciência e validação de todas as diretrizes.

Mosaico de registros fotográficos - construção do Plano Comunitário de Reassentamento

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Em complementação às atividades propostas para a construção conjunta das


diretrizes do Plano de Reassentamento, fui sugerido por alguns comunitários,
especialmente moradores de Água Quente, a realização de um Seminário que
contasse com a participação de pesquisadores, apoiadores e instituições parceiras
93
relacionadas à temática. O seminário foi realizado no dia 14 de junho de 2023, no
formato virtual, devido à indisponibilidade dos participantes de comparecerem
presencialmente em Conceição do Mato Dentro. A metodologia utilizada para a
atividade foi a roda de conversas através de uma mesa de debates sobre o Plano de
Reassentamento.

Os debatedores presentes, conforme sugestão de convite da comunidade e


disponibilidade, foram: Ana Flávia Moreira (GESTA/UFMG), Natália Carvalhosa
(Antropóloga/UFRJ), Rafael Prosdocimi Bacelar (FUMEC), Gustavo Gazinelli (Ativista
ambiental e jornalista), Vera Magalhães e Janine Medeiros (Cáritas de Conceição do
Mato Dentro) e Júlia Costa (Cáritas de Mariana). Todos os convidados ressaltaram,
inicialmente, como a trajetória individual de cada um perpassa o contexto do
empreendimento Minas-Rio na cidade de Conceição do Mato Dentro/MG.

Em um segundo momento, os debatedores puderam dialogar com os atingidos


sobre os desafios e estratégias para a construção de um plano de reassentamento,
principalmente para as comunidades da ZAS. Ademais, foi aberto um espaço para
que os atingidos pudessem formular perguntas sobre alguns pontos complexos do
plano de reassentamento, e os convidados explanaram sobre as formas de atuação e
possíveis caminhos para seguir nesses casos.

Acrescente-se ainda que além das assembleias de 30/05/2023 e 02/06/2023 e


o seminário acima mencionado, foram realizados momentos de discussão e
conversas individuais com atingidos para coleta de percepções, apresentação de
propostas e solução de dúvidas. Ademais, a construção da proposta também contou
com aportes de ideias e elementos advindos de contatos prévios da Assessoria
Técnica Independente com as pessoas no campo, considerando que a ATI-39 /

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NACAB encontra-se em trabalho contínuo com essas comunidades desde o ano de


2021.

Por fim, no dia 27 de junho de 2023, na Escola de São José do Jassém, foi
realizada uma última reunião coletiva, em formato de Assembleia, para validação das
Premissas, Parâmetros Gerais, Diretrizes e Critérios para o reassentamento das 94
comunidades. Foi garantida a participação efetiva de carácter deliberativo de todos os
atingidos sobre cada tópico do documento, procedendo a votação sobre os temas e
manifestando com o aceite e manutenção, ou a discordância e retirada do tópico.

Para a realização da Assembleia do dia 27 de junho de 2023, a equipe da ATI


39/NACAB realizou um minucioso procedimento de mobilização dos atingidos das três
comunidades da ZAS, buscando contactar todos os núcleos familiares para informar
e convidar para a Assembleia. Além disso, a assessoria ofereceu transporte e lanche
para todos os atingidos.

Em relação às fontes consultadas para aporte de ideias, diretrizes e elementos


técnicos, vale mencionar que os atingidos com maior conhecimento do processo de
licenciamento ambiental manifestaram o desejo de que se utilizasse o TAC de Irapé46,
bem como o Programa de Negociação Fundiária da Anglo American47. Essas fontes
se mostraram adequadas em virtude de sua anterior aplicação pela Anglo American
no contexto do empreendimento Minas-Rio e também por se referirem a
reassentamentos compulsórios ou involuntários, o que se aproxima mais da realidade
das comunidades do que o atual Programa de Negociação Opcional (PNO) ofertado
pela mineradora.

46
Termo de acordo celebrado entre Ministério Público Federal, Estado de Minas Gerais, companhia
Energética de Minas Gerais (CEMIG) e a Fundação Estadual do Meio Ambiental, com a intervenção da
Associação Quilombola Boa Sorte e da Comissão de Atingidos pela Barragem de Irapé, objetivando a
adoção de medidas que visem à melhoria da qualidade do meio ambiente, a reconstituição de direitos
das populações atingidas pela barragem de Irapé e o consequente encerramento da Ação Civil Público
nº. 2001.38.0043661-9.
47
ANGLO AMERICAN. Programa de Negociação Fundiária. Plano de Controle Ambiental (PCA).
Projeto de Extensão da Mina do Sapo. Ferreira Rocha, setembro de 2015.

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Sendo assim, todo conteúdo exposto no presente documento reflete, de modo


direto e legítimo, os pedidos das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São
José do Jassém para o reassentamento futuro, através de uma construção coletiva,
pautada no diálogo, na transparência e acessibilidade das informações.

95

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ANEXO II – SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO

Introdução
As comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém,
localizadas nos Municípios de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas estão
96
localizadas à jusante da barragem de rejeitos do empreendimento minerário Minas
Rio, da Anglo American. Devido a uma determinação judicial, ditas comunidades
conquistaram o direito de elaborar um plano de reassentamento. Dessa forma, o
objetivo do presente documento é apresentar, por meio das diretrizes construídas de
forma coletiva, as propostas das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São
José do Jassém, que consubstanciam o direito a um processo justo de
reassentamento das famílias que fazem parte da ZAS.

A comunidade de Passe Sete possui um histórico recente de negociações com


a Anglo American através de reuniões com o Comitê de Convivência formado em
novembro de 2021, através da solicitação da comunidade. Atualmente, as reuniões
com o Comitê de Convivência para tratar de assuntos relativos aos critérios de
negociação estão suspensas por determinação da empresa. Contudo, a temática
sobre melhorias do plano de negociação vigente sempre foi a pauta prioritária para os
moradores.

No que tange as comunidades de Água Quente e São José de Jassém, não


existe nenhuma instância contínua de diálogo entre a empresa e os atingidos.
Especificamente na comunidade de Água Quente, após o acionamento da sirene no
dia 03 de janeiro de 2020, ocorreu uma saída em massa dos moradores. Tal fato
resultou na propositura de uma Ação Civil Pública pelo Ministério Público de
Conceição do Mato Dentro, sendo que Anglo American foi condenada ao pagamento
de uma indenização de dois milhões de reais a título de danos coletivos para os
atingidos das três comunidades que compõem a ZAS.

Por fim, a comunidade de São José do Jassém, que em um passado recente


foi considerada como integrante da ZAS pela Anglo American, (através do laudo
emitido pela consultoria Pimenta de Ávila, contratada para elaboração do PAEBM da
barragem de rejeitos do Empreendimento Minas-Rio), hoje convive com o medo e a

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incerteza sobre o direito ao reassentamento, embora sofra todos os impactos de ter


uma barragem de rejeitos à jusante de suas casas. Ademais, o isolamento social e o
difícil acesso aos serviços públicos essenciais devido ao esvaziamento das
comunidades de Água Quente e Passa Sete, aumentam os efeitos causados pelo
empreendimento.
97

Contextualização da Ação Civil Pública

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por meio da Promotoria de


Justiça da Comarca de Conceição do Mato Dentro/MG ajuizou a Ação Civil Pública
com pedido de tutela provisória de urgência de natureza antecipada e cautelar em
face do Estado de Minas Gerais e da Anglo American Minas Rio Mineração S/A em
03 de março de 2020, recebendo o nº 5000129-42.2020.8.13.0175 no ato da
distribuição eletrônica.

Referida Ação Civil Pública tem como objeto a declaração de nulidade do ato
administrativo, emitido pelo Estado de Minas Gerais, que concedeu a licença
ambiental de operação relativa à atividade de alteamento da barragem do
empreendimento Minas Rio, em razão do descumprimento da regra legal prevista no
artigo 12 da Lei 23.291 de 25 de fevereiro de 2019 – Lei Mar de Lama Nunca Mais.

O inovador diploma legal revela-se como um verdadeiro arcabouço jurídico que


contempla uma política de prevalência das normas ambientais mais protetivas, com o
objetivo de resguardar as comunidades que convivem com atividades minerárias, bem
como o meio ambiente, sobretudo em virtude do interesse público na prevenção de
riscos, principalmente após os desastres crimes ocorridos em Mariana e Brumadinho,
uma vez que o principal bem tutelado pelo ordenamento jurídico é a VIDA. Nesse
sentido, o Artigo 12 da Lei 23.291/2019 prevê que:

Art. 12 – Fica vedada a concessão de licença ambiental para


construção, instalação, ampliação ou alteamento de barragem em
cujos estudos de cenários de rupturas seja identificada comunidade
na zona de autossalvamento.
§ 1º – Para os fins do disposto nesta lei, considera-se zona de
autossalvamento a porção do vale a jusante da barragem em que não

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haja tempo suficiente para uma intervenção da autoridade competente


em situação de emergência.
§ 2º – Para a delimitação da extensão da zona de autossalvamento,
será considerada a maior entre as duas seguintes distâncias a partir
da barragem:
I – 10km (dez quilômetros) ao longo do curso do vale;
II – a porção do vale passível de ser atingida pela onda de inundação 98
num prazo de trinta minutos.
§ 3º – A critério do órgão ou da entidade competente do Sisema, a
distância a que se refere o inciso I do § 2º poderá ser majorada para
até 25km (vinte e cinco quilômetros), observados a densidade e a
localização.

Em se tratando de Direito Ambiental, o entendimento majoritário da doutrina e


jurisprudência pátrios é que:

1) não há direito adquirido em se tratando de licenciamento ambiental;


2) sobrevindo legislação ambiental sobre o tema, sua aplicabilidade é imediata,
sendo imperiosa a necessidade de adequação à realidade legislativa e
submissão ao comando da lei posterior, sob pena de vulneração da supremacia
do interesse público. Logo, não existe razão para se aguardar a renovação de
quaisquer atos autorizativos, em sede administrativa, para a incorporação das
novas exigências legais, devendo haver a regularização das atividades em
funcionamento.

Nessa linha, reconhece-se a aplicabilidade imediata da Lei 23.291/2019, já que


é ela quem acobertará as consequências jurídicas e concretas dos fatos ocorridos sob
a égide da lei anterior. Ademais, em se tratando da consecução de medidas para
assegurar a estabilidade de barragens com rejeitos de mineração, devem prevalecer
os Princípios da Prevenção e da Precaução, norteadores do Direito Ambiental. Além
disso, o direito ao meio ambiente equilibrado é previsto na Constituição Federal, em
seu artigo 225, vejamos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

Outrossim, a Lei 12.334/2010 que instituiu a Política Nacional de Segurança de


Barragens (PNSB), passou a prever a exigência de reassentamento da população
identificada em comunidade nas zonas de autossalvamento:

99

Art. 18-A. (...)

§ 1º No caso de barragem em instalação ou em operação em que seja


identificada comunidade na ZAS, deverá ser feita a
descaracterização da estrutura, ou o reassentamento da
população e o resgate do patrimônio cultural, ou obras de reforço que
garantam a estabilidade efetiva da estrutura, em decisão do poder
público, ouvido o empreendedor e consideradas a anterioridade da
barragem em relação à ocupação e a viabilidade técnico-financeira
das alternativas. (Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)

Apesar de toda a legislação aplicável e fundamentações jurídicas, a Anglo


American interpôs o Recuso de Agravo de Instrumento contra a decisão da Juízo de
Primeira Instância da Comarca de Conceição do Mato Dentro, argumentando que a
Lei 23.291/2019 – Lei Mar de Lama Nunca Mais – não seria admissível para o caso,
uma vez que trata-se de um empreendimento já construído e instalado, cujas licenças
prévia e de instalação nº 001/2018 se configuraram sob a égide da lei vigente ao
tempo em que se efetuaram, e que tal ato conferiu a empresa o direito de pleitear a
licença de operação nos termos e condições já estabelecidas nas etapas anteriores.

No julgamento da decisão em segunda instância, o Tribunal de Justiça do


Estado de Minas Gerais negou provimento ao recurso interposto pela Anlgo American
e determinou a manutenção da decisão do Juízo de Conceição do Mato Dentro/MG
que prevê o reassentamento das comunidades de Água Quente, Passa Sete e
Jassém. No julgamento, ficou entendido que existe o perigo de dano de natureza
coletiva, portanto, faz-se necessárias medidas práticas, justas e efetivas para
assegurar a vida dos moradores da ZAS.

Dessa forma, a Promotoria de Justiça da Comarca de Conceição do Mato


Dentro/MG propôs a Ação de Cumprimento Provisório de Decisão, com o objetivo de
fazer cumprir a decisão datada de 11 de novembro de 2020, onde se determinou que

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Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

a Anglo American apresentasse, no prazo de 60 dias, um plano de reassentamento


coletivo das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém, sob
pena de multa de R$ 50.000,00 por dia de atraso.

Ato contínuo foi designada uma Audiência de Conciliação, que ocorreu no dia
04 de maio de 2023, no Fórum de Conceição do Mato Dentro, com a participação de
100
uma comissão de atingidos das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São
José do Jassém, além de representantes da ATI 39/NACAB. Como não foi possível a
composição das partes através da conciliação, foi determinado pelo juízo:

A) que a Anglo American se manifeste, no prazo de 30 dias, sobre os destinatários


da decisão, considerando as localidades que compõem as comunidades;
B) que o Ministério Público apresente, no prazo de 60 dias, propostas para o plano
de reassentamento das três comunidades da ZAS.

Portanto, em atendimento a decisão judicial proferida na Audiência de


Conciliação do dia 04 de maio de 2023, e por não concordarem com o Plano de
Reassentamento Coletivo apresentado judicialmente pela Anglo American, as
comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém decidiram, em
assembleia, aprovar as propostas de Premissas, Parâmetros Gerais, Diretrizes e
Critérios para o reassentamento apresentadas no presente documento.

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Plano Comunitário de Reassentamento –
Água Quente, Passa Sete, São José do Jassém

FICHA TÉCNICA

PLANO COMUNITÁRIO DE REASSENTAMENTO


- Proposta das comunidades de Água Quente, Passa Sete e São José
do Jassém 101

Elaboração:
COMUNIDADE DE ÁGUA QUENTE
COMUNIDADE DE PASSA SETE
COMUNIDADE DE SÃO JOSÉ DO JASSÉM
ATI 39/NACAB – NÚCLEO DE ASSESSORIA ÀS COMUNIDADES ATINGIDAS POR
BARRAGENS (ASSESSORIA TÉCNICA INDEPENDENTE – CONDICIONANTE 39)

Equipe técnica do NACAB:


• Bruno Neres Bastos - Analista Multidisciplinar/Cientista Social
• Christiene Karine Ferreira - Educadora Social/Engenheira Florestal
• Cláudia Cortes Abdo de Paula - Analista Multidisciplinar/Assistente Social
• Gabriel Matheus Silva leite - Analista Multidisciplinar/Engenheiro Civil e Arquiteto
• Geovane Assis da Rocha - Coordenador Técnico de Campo/Engenheiro Agrônomo
• Hellen Margarida Silva - Coordenadora da Equipe Territorial da ZAS/Advogada
• Higor de Jesus Lacerda - Analista Multidisciplinar/Geógrafo
• José Ignácio Esperança da Fonseca - Coordenador Jurídico/Advogado
• Juliana Reis Sampaio - Coordenadora Técnica de Produções/Engenheira Florestal
• Paôla da Conceição Campos Malta - Analista Multidisciplinar/Engenheira Agrônoma
• Roberta Esteves Ferreira - Analista Multidisciplinar/Advogada

Minas Gerais: Alvorada de Minas e Conceição do Mato Dentro, 2023.

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