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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 026.

157/2020-9

GRUPO II – CLASSE V – Plenário

TC 026.157/2020-9 [Apenso: TC 034.036/2020-2]


Natureza: Relatório de Acompanhamento.
Órgão: Ministério do Turismo.
Interessado: Tribunal de Contas da União – TCU.

SUMÁRIO: PROGRAMA COOPERA. PROCESSO DE


ACOMPANHAMENTO DAS AÇÕES EMERGENCIAIS PARA
ENFRENTAMENTO DOS EFEITOS DA PANDEMIA NA
ÁREA CULTURAL (LEI 14.017/2020, LEI ALDIR BLANC).
ACÓRDÃO 1.118/2021 – PLENÁRIO FIXOU ENTENDIMENTO
DE QUE OS RECURSOS REPASSADOS PARA
ENFRENTAMENTO DOS EFEITOS DA PANDEMIA NA
ÁREA CULTURAL, POR SE TRATAREM DE
TRANSFERÊNCIAS OBRIGATÓRIAS DA UNIÃO, PODEM
SER UTILIZADOS ATÉ O FINAL DE 2021, MESMO QUE NÃO
TENHAM SIDO EMPENHADOS OU INSCRITOS EM RESTOS
A PAGAR, ALÉM DE IDENTIFICAR RISCOS E EFETUAR
RECOMENDAÇÕES E DETERMINAÇÕES AOS GESTORES.
POSTERIOR PROMULGAÇÃO DA LEI 14.150/2021, EM
CONSONÂNCIA COM O ENTEDIMENTO DO TCU.
PROSSEGUIMENTO DO ACOMPANHAMENTO.
SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÕES PELA PRESIDENTE DA
COMISSÃO DE CULTURA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS,
ACERCA DO CUMPRIMENTO DO SUBITEM 9.5. DO
ACÓRDÃO 1.118/2021. A AUTOEXECUTORIEDADE DA LEI
14.150/2021, A SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA NO COMBATE
AOS EFEITOS DA PANDEMIA, NO SETOR CULTURAL, E O
EXÍGUO PRAZO PREVISTO NA LEGISLAÇÃO PARA
APLICAÇÃO DOS RECURSOS DA LEI ALDIR BLANC
EVIDENCIAM O PERICULUM IN MORA E O FUMUS BONI
IURIS QUE EMBASAM A ADOÇÃO DE MEDIDA
CAUTELAR, INAUDITA ALTERA PARS, PARA
VIABILIZAR O IMEDIATO EMPREGO DOS RECURSOS
DESTINADOS AO SETOR CULTURAL. DETERMINAÇÃO.
OITIVAS.

RELATÓRIO

Trata-se de Acompanhamento com o objetivo de avaliar as ações desenvolvidas pela


Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, ou por outros órgãos e entidades, voltadas à
implementação das medidas emergenciais destinadas ao setor cultural, no âmbito da Lei 14.017/2020
(Lei Aldir Blanc), com vistas a minimizar a possibilidade de ocorrência de fraudes ou pagamentos
irregulares, bem como verificar a transparência na divulgação de informações aos beneficiários e à
sociedade em geral.
2. Após a reestruturação organizacional ocorrida no TCU a partir deste ano de 2021, o
presente acompanhamento ficou a cargo da Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e
do Desporto – SecexEducação, que deu continuidade à estratégia de acompanhamento inicialmente

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estabelecida pela Secretaria de Controle Externo do Trabalho e Entidades Paraestatais –


SecexTrabalho.
3. Na primeira fase do acompanhamento, este Tribunal proferiu o Acórdão 1.118/2021 –
Plenário firmando entendimento quanto ao fato de os recursos repassados para enfrentamento dos
efeitos da pandemia na área cultural, por se tratarem de transferências obrigatórias da União, poderem
ser utilizados até o final de 2021, mesmo que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a
pagar em 2020, à luz da jurisprudência do TCU (em especial o Acórdão 4.074/2020 – Plenário) e do
que estabelece o parágrafo único do art. 8º da LC 101/2000 – LRF, bem como efetuando as
determinações a seguir transcritas:
“9.5. determinar à Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo que, com
fundamento no art. 4º, inciso II, da Resolução-TCU 315/2020, no prazo de 30 (trinta) dias a
contar da ciência da deliberação:
9.5.1. oriente os Estados, o Distrito Federal e os Municípios quanto à possibilidade de uso
dos recursos da Lei Aldir Blanc no exercício de 2021, com a devida adequação
orçamentária, nos casos em que não tenham ocorrido o empenho e a inscrição em restos a
pagar, da seguinte forma:
9.5.1.1. em relação aos Municípios:
9.5.1.1.1. no que se refere a recursos programados até 14/1/2021 que não tenham sido
empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, façam constar, em conformidade com o
previsto no § 4º do artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação específica destinada a esse fim na
lei orçamentária anual do exercício em curso, garantindo sua aplicação até 31/12/2021;
9.5.1.1.2. calculem o montante estritamente necessário para a liquidação dos valores inscritos em
restos a pagar em 2020, garantindo o empenho, a liquidação e o pagamento das ações incluídas
na lei orçamentária de 2021, em conformidade com o subitem 9.5.1.1.1 acima, providenciando,
nos termos do parágrafo único do art. 3° da Lei Aldir Blanc, a reversão para os Estados do valor
correspondente à diferença entre o saldo financeiro existente e o valor calculado;
9.5.1.2. em relação aos Estados:
9.5.1.2.1. no que se refere a recursos não executados, recebidos da União ou oriundos de
reversão, e que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, façam
constar, em conformidade com o previsto no § 4º do artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação
específica destinada a esse fim na lei orçamentária anual do exercício em curso, garantindo sua
aplicação até 31/12/2021;
9.5.1.2.2. adotem a mesma medida em relação a recursos oriundos de reversões futuras;
9.5.1.2.3. priorizem, na aplicação de recursos oriundos das reversões, a implementação de ações
em benefício do setor cultural dos municípios que efetuaram essas reversões;
9.5.1.3. em relação ao Distrito Federal:
9.5.1.3.1. no que se refere aos recursos não executados e que não tenham sido empenhados e
inscritos em restos a pagar em 2020, faça constar, em conformidade com o previsto no §4º do
artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação específica destinada a esse fim na lei orçamentária
anual do exercício em curso, garantindo sua aplicação até 31/12/2021.
9.5.2. com apoio da Dataprev e do Banco do Brasil no que couber:
9.5.2.1. solucione as inconsistências verificadas entre os pagamentos identificados nos extratos
bancários e o indicador de ‘indício de pagamento indevido’ no sistema Dataprev;
9.5.2.2. procure alternativas para o processamento, pela Dataprev, de todos os CPF e CNPJ que
receberam recursos da Lei Aldir Blanc, e não apenas aqueles listados nos requerimentos
encaminhados pelos entes federativos, propiciando a disponibilização do resultado do
processamento aos aludidos entes para que adotem as providências cabíveis, alertando-os acerca
da possibilidade de responsabilização prevista no art. 2º, § 9º do Decreto 10.464/2020;
9.5.2.3. busque um mecanismo que permita a identificação precisa do saldo dos valores pagos a
cada beneficiário da Lei Aldir Blanc.” (grifos acrescidos)

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4. Consoante demonstrado pela documentação acostada aos autos (peças 91 a 95), em


24/05/2021, os responsáveis foram devidamente notificados sobre o teor do Acórdão 1.118/2021 –
Plenário.
5. Em 06/07/2021, foi acostada a este processo a solicitação efetuada pela Deputada Alice
Portugal (peça 106), Presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, de esclarecimentos
sobre o item 9.5 Acórdão 1.118/2021 – Plenário, tendo em vista que após sua publicação houve a
superveniência da Lei 14.150, de 12 de maio de 2021, que permitiu a execução do saldo remanescente
por meio da alteração da Lei Aldir Blanc (Lei 14.017/2020), sendo clara ao autorizar a utilização dos
recursos até 31 de dezembro de 2021, conforme artigos 14-A e 14-B. Todavia, em posicionamento
divergente ao previsto na deliberação do TCU e nessa nova legislação, em 15/06/2021, a Secretaria
Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural publicou o Comunicado 5/2021, solicitando
que os gestores responsáveis pela Lei Aldir Blanc nos Estados, Distrito Federal e Municípios
mantivessem os saldos nas contas e não efetuassem movimentações financeiras até a publicação da
nova versão de Decreto regulamentador da Lei Aldir Blanc.
6. Transcrevo, a seguir, com os ajustes de forma pertinentes, excerto da instrução do Auditor
Federal de Controle Externo da SecexEducação (peça 111), que analisou o teor dessa solicitação e dos
documentos que a acompanham (peças 106 a 110), cuja proposta de encaminhamento contou com a
anuência do corpo diretivo daquela unidade técnica (peça 112):
“7. A Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo foi comunicada do Acórdão
1.118/2021 – Plenário por meio do Ofício 27114/2021-TCU/Seproc (peça 86), de 21/5/2021, que
foi recebido em 24/5/2021, conforme Termo de Ciência de Comunicação à peça 93.
8. Assim, o prazo para a Secretaria Especial de Cultura adotar as medidas determinadas no
subitem 9.5 do Acórdão 1.118/2021 – Plenário expirou em 25/6/2021.
9. Em 13/5/2021, dia seguinte à prolação do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, foi publicada
a sanção da Lei 14.150/2021, com veto parcial pelo Presidente da República dos dispositivos que
prorrogavam o prazo para a utilização dos recursos da Lei Aldir Blanc pelos entes subnacionais,
pelos motivos expostos na Mensagem Presidencial 199 (peça 108), de 12/5/2021.
10. Na sequência, em 11/6/2021, o Congresso Nacional manteve todos os artigos da Lei
14.150/2021 vetados pelo Presidente República, alterando os prazos previstos para utilização dos
recursos da Lei Aldir Blanc para até 31/12/2021.
11. Após a conclusão das comunicações processuais, o processo retornou à unidade técnica,
trazendo, além da petição que ora se analisa, o Ofício 1060/2021/AECI (peça 101), da Assessoria
Especial de Controle Interno do Ministério do Turismo, acompanhado de diversas comunicações
realizadas no âmbito daquela pasta para atendimento do Acórdão 1.118/2021 – Plenário e de
duas minutas de Decreto (peças 102 e 104), que, conforme se depreende, buscam alterar o
Decreto 10.464, de 17 de agosto de 2020, que regulamenta a Lei Aldir Blanc.
EXAME TÉCNICO
12. Com a adoção do isolamento social, essencial para evitar a propagação da Covid-19, o setor
cultural foi um dos primeiros a paralisar suas atividades. Apesar disso, o setor foi o último a ser
contemplado com medidas que mitigassem os efeitos da pandemia, com a promulgação da Lei
14.017, de 29 de junho de 2020, carinhosamente chamada de Lei Aldir Blanc, em homenagem ao
grande poeta e compositor que, infelizmente, veio a falecer em razão da Covid-19, como mais de
500 mil pessoas no país, até o momento.
13. Em que pese a Lei Aldir Blanc ter sido promulgada em 29/6/2020, sua regulamentação só
ocorreu em 17 de agosto, com a edição do Decreto 10.464/2020.
14. Além disso, após a regulamentação, foi necessário um conjunto de medidas para viabilizar a
descentralização dos recursos e sua utilização pelos entes subnacionais, tendo o último lote de
descentralização de recursos ocorrido em 13/11/2020, conforme Comunicado 7/2020 da
Secretaria Especial de Cultura (peça 59).

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15. Todos esses percalços comprometeram a utilização dos recursos no curto espaço de tempo
entre o seu recebimento e o termo legal estabelecido pelo Decreto Legislativo 6/2020 para fim da
calamidade pública (31/12/2020), ocasionando significativo saldo financeiro nas contas dos entes
subnacionais
16. O problema não passou despercebido pelo Tribunal e pelo Congresso Nacional, que
adotaram as medidas de sua alçada para sua solução.
17. No âmbito do Tribunal, a matéria foi tratada nos presentes autos e resultou no Acórdão
1.118/2021 – Plenário, por meio do qual o Tribunal, em relação à matéria suscitada no
documento em análise, decidiu:
‘9.2. fixar o entendimento, com fulcro no art. 16, inciso V, do Regimento Interno do TCU, de
que os recursos repassados para enfrentamento dos efeitos da pandemia na área cultural, por se
tratar de transferências obrigatórias da União, podem ser utilizados até o final de 2021, mesmo
que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, à luz da jurisprudência
do TCU (em especial o Acórdão 4.074/2020 – Plenário) e do que estabelece o parágrafo único do
art. 8º da Lei Complementar 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal;
9.3. comunicar a Casa Civil da Presidência da República e o Ministério do Turismo sobre a
possibilidade de utilização dos recursos da Lei Aldir Blanc pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios em 2021, ainda que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em
2020, bem como acerca da necessidade de alterar a regulamentação da Lei Aldir Blanc, retirando
os dispositivos que colidem com o entendimento desta Corte de Contas e readequando o prazo
previsto para apresentação do relatório de gestão final;
(...)
9.5. determinar à Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo que, com fundamento
no art. 4º, inciso II, da Resolução-TCU 315/2020, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência
da deliberação:
9.5.1. oriente os Estados, o Distrito Federal e os Municípios quanto à possibilidade de uso dos
recursos da Lei Aldir Blanc no exercício de 2021, com a devida adequação orçamentária, nos
casos em que não tenham ocorrido o empenho e a inscrição em restos a pagar, da seguinte forma:
9.5.1.1. em relação aos Municípios:
9.5.1.1.1. no que se refere a recursos programados até 14/1/2021 que não tenham sido
empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, façam constar, em conformidade com o
previsto no § 4º do artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação específica destinada a esse fim na
lei orçamentária anual do exercício em curso, garantindo sua aplicação até 31/12/2021;
9.5.1.1.2. calculem o montante estritamente necessário para a liquidação dos valores inscritos em
restos a pagar em 2020, garantindo o empenho, a liquidação e o pagamento das ações incluídas
na lei orçamentária de 2021, em conformidade com o subitem 9.5.1.1.1 acima, providenciando,
nos termos do parágrafo único do art. 3° da Lei Aldir Blanc, a reversão para os Estados do valor
correspondente à diferença entre o saldo financeiro existente e o valor calculado;
9.5.1.2. em relação aos Estados:
9.5.1.2.1. no que se refere a recursos não executados, recebidos da União ou oriundos de
reversão, e que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, façam
constar, em conformidade com o previsto no § 4º do artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação
específica destinada a esse fim na lei orçamentária anual do exercício em curso, garantindo sua
aplicação até 31/12/2021;
9.5.1.2.2. adotem a mesma medida em relação a recursos oriundos de reversões futuras;
9.5.1.2.3. priorizem, na aplicação de recursos oriundos das reversões, a implementação de ações
em benefício do setor cultural dos municípios que efetuaram essas reversões;
9.5.1.3. em relação ao Distrito Federal:
9.5.1.3.1. no que se refere aos recursos não executados e que não tenham sido empenhados e
inscritos em restos a pagar em 2020, faça constar, em conformidade com o previsto no §4º do

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artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação específica destinada a esse fim na lei orçamentária
anual do exercício em curso, garantindo sua aplicação até 31/12/2021.’
18. No Voto que fundamentou o Acórdão, o Relator Ministro-Substituto Marcos Bemquerer
Costa deixou assente:
‘78. Portanto, é imprescindível que sejam ampliados os prazos inicialmente previstos para
emprego dos recursos da Lei Aldir Blanc na finalidade prevista, de modo que se faz adequada a
determinação sugerida pela equipe de fiscalização, bem como é necessário que este Tribunal
firme entendimento no sentido de que os recursos repassados para enfrentamento dos efeitos da
pandemia na área cultural, por se tratarem de transferências obrigatórias da União, podem ser
utilizados até o final de 2021, mesmo que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a
pagar em 2020, à luz da jurisprudência do TCU (em especial o Acórdão 4.074/2020 – Plenário) e
do que estabelece o parágrafo único do art. 8º da LC 101/2000 – LRF.’
19. Após a prolação do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, o Presidente da República sancionou
a Lei 14.150, vetando, todavia, os dispositivos que prorrogavam o prazo para a utilização dos
recursos da Lei Aldir Blanc pelos entes subnacionais.
20. Porém, com a derrubada dos vetos, em 11/6/2021, pelo Congresso Nacional, a Lei Aldir
Blanc, em relação aos temas relacionados com o documento em análise, passou a ter a seguinte
redação:
‘Lei 14.017, de 29 de junho de 2020
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural a serem adotadas
em decorrência dos efeitos econômicos e sociais da pandemia da Covid-19. (Artigo com redação
dada pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021, vetado pelo Presidente da República, mantido pelo
Congresso Nacional e publicado no DOU de 11/6/2021).
Art. 2º A União entregará aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em parcela única,
no exercício de 2020, o valor de R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais) para aplicação, pelos
Poderes Executivos locais, em ações emergenciais de apoio ao setor cultural por meio de:
I - renda emergencial mensal aos trabalhadores e trabalhadoras da cultura;
II - subsídio mensal para manutenção de espaços artísticos e culturais, microempresas e
pequenas empresas culturais, cooperativas, instituições e organizações culturais comunitárias que
tiveram as suas atividades interrompidas por força das medidas de isolamento social; e
III - editais, chamadas públicas, prêmios, aquisição de bens e serviços vinculados ao setor
cultural e outros instrumentos destinados à manutenção de agentes, de espaços, de iniciativas, de
cursos, de produções, de desenvolvimento de atividades de economia criativa e de economia
solidária, de produções audiovisuais, de manifestações culturais, bem como à realização de
atividades artísticas e culturais que possam ser transmitidas pela internet ou disponibilizadas por
meio de redes sociais e outras plataformas digitais.
§ 1º Do valor previsto no caput deste artigo, pelo menos 20% (vinte por cento) serão destinados
às ações emergenciais previstas no inciso III do caput deste artigo.
§ 2º (VETADO).
§ 3º Ficam os Municípios autorizados à reabertura dos instrumentos relacionados nos incisos II e
III do caput deste artigo durante o período previsto no caput do art. 12 desta Lei. (Parágrafo
acrescido pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021, vetado pelo Presidente da República, mantido pelo
Congresso Nacional e publicado no DOU de 11/6/2021)
Art. 3º Os recursos destinados ao cumprimento do disposto no art. 2º desta Lei serão executados
de forma descentralizada, mediante transferências da União aos Estados, aos Municípios e ao
Distrito Federal, preferencialmente por meio dos fundos estaduais, municipais e distrital de
cultura ou, quando não houver, de outros órgãos ou entidades responsáveis pela gestão desses
recursos, devendo os valores da União ser repassados da seguinte forma:

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I - 50% (cinquenta por cento) aos Estados e ao Distrito Federal, dos quais 20% (vinte por cento)
de acordo com os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal
(FPE) e 80% (oitenta por cento) proporcionalmente à população;
II - 50% (cinquenta por cento) aos Municípios e ao Distrito Federal, dos quais 20% (vinte por
cento) de acordo com os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e
80% (oitenta por cento) proporcionalmente à população.
§ 1º (Revogado pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021).
§ 2º Os recursos que não tenham sido objeto de programação publicada até 31 de outubro de
2021 pelos Municípios serão automaticamente revertidos ao fundo de cultura do respectivo
Estado ou ao órgão ou entidade estadual responsável pela gestão desses recursos. (Parágrafo com
redação dada pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021)
(...)
Art. 14. Para as medidas de que trata esta Lei poderão ser utilizados como fontes de recursos:
I - dotações orçamentárias da União, observados os termos da Emenda Constitucional nº 106, de
7 de maio de 2020;
II - o superávit do Fundo Nacional da Cultura apurado em 31 de dezembro de 2019, observado o
disposto no art. 3º da Emenda Constitucional nº 106, de 7 de maio de 2020;
III - outras fontes de recursos.
§ 1º O repasse do valor previsto no caput do art. 2º desta Lei aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios deverá ocorrer na forma e no prazo previstos no regulamento. (Parágrafo
acrescido pela Medida Provisória nº 986, de 29/6/2020, convertida na Lei nº 14.036, de
13/8/2020)
§ 2º Os recursos repassados na forma prevista nesta Lei que não tenham sido objeto de
programação publicada pelos Estados ou pelo Distrito Federal até 31 de dezembro de 2021 serão
restituídos à União na forma e no prazo previstos no regulamento. (Parágrafo acrescido pela
Medida Provisória nº 986, de 29/6/2020, convertida na Lei nº 14.036, de 13/8/2020, e com nova
redação dada pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021)
§ 3º A aplicação dos recursos prevista nesta Lei pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos
Municípios, observado o disposto no § 1º do art. 2º desta Lei, mesmo em relação à renda
emergencial prevista no inciso I do caput do art. 2º e ao subsídio mensal previsto no inciso II do
caput do art. 2º desta Lei, fica limitada aos valores entregues pela União nos termos do art. 3º
desta Lei, ressalvada a faculdade dos entes federativos de suplementá-los por meio de outras
fontes próprias de recursos. (Parágrafo acrescido pela Medida Provisória nº 986, de 29/6/2020,
convertida na Lei nº 14.036, de 13/8/2020)
Art. 14-A. Os Estados e o Distrito Federal estão autorizados a utilizar até 31 de dezembro de
2021 o saldo remanescente das contas específicas que foram criadas para receber as
transferências da União e dos Municípios e gerir os recursos.
Parágrafo único. O saldo remanescente de que trata o caput deste artigo deverá ser utilizado para
executar ações emergenciais previstas nos incisos I e III do caput do art. 2º desta Lei. (Artigo
acrescido pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021, vetado pelo Presidente da República, mantido pelo
Congresso Nacional e publicado no DOU de 11/6/2021)
Art. 14-B. Os Municípios e o Distrito Federal estão autorizados a utilizar até 31 de dezembro de
2021 o saldo remanescente das contas específicas que foram criadas para receber as
transferências da União e gerir os recursos.
Parágrafo único. O saldo remanescente de que trata o caput deste artigo deverá ser utilizado para
executar ações emergenciais previstas nos incisos II e III do caput do art. 2º desta Lei. (Artigo
acrescido pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021, vetado pelo Presidente da República, mantido pelo
Congresso Nacional e publicado no DOU de 11/6/2021)
Art. 14-C. Os Estados estão autorizados a transferir aos respectivos Municípios os recursos que
receberam oriundos da reversão dos Municípios que não cumpriram o disposto no § 2º do art. 3º

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desta Lei e dos Municípios que não realizaram os procedimentos referentes à solicitação da
verba dentro dos prazos estabelecidos pela União.
Parágrafo único. Os recursos transferidos pelos Estados nos termos do caput deste artigo
deverão ser utilizados pelos Municípios para executar ações emergenciais previstas nos incisos II
e III do caput do art. 2º desta Lei. (Artigo acrescido pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021, vetado
pelo Presidente da República, mantido pelo Congresso Nacional e publicado no DOU de
11/6/2021)
Art. 14-D. Encerrado o exercício de 2021, o saldo remanescente das contas específicas que
foram criadas para receber as transferências e gerir os recursos será restituído até 10 de janeiro
de 2022 pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios à conta única do Tesouro
Nacional por meio da emissão e do pagamento de Guia de Recolhimento da União eletrônica.
(Artigo acrescido pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021)
Art. 14-E. As prestações de contas das ações emergenciais de que trata esta Lei deverão ser
encerradas:
I - até 30 de junho de 2022, para as competências de responsabilidade exclusiva de cada Estado
ou Município ou do Distrito Federal;
II - até 31 de dezembro de 2022, para os deveres de Estados, de Municípios e do Distrito Federal
em relação à União. (Artigo acrescido pela Lei nº 14.150, de 12/5/2021, vetado pelo Presidente
da República, mantido pelo Congresso Nacional e publicado no DOU de 11/6/2021)’
21. Pelo exposto percebe-se que, tanto o Acórdão 1.118/2021 – Plenário, quanto a nova redação
da Lei Aldir Blanc, trazida pela Lei 14.150/2021, não deixam dúvidas quanto à autorização para
utilização dos recursos pelos Estados, Distrito Federal e Municípios até o final de 2021. O
Acórdão, inclusive, além de fixar o entendimento de que ‘os recursos repassados para
enfrentamento dos efeitos da pandemia na área cultural, por se tratar de transferências
obrigatórias da União, podem ser utilizados até o final de 2021, mesmo que não tenham sido
empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020 (...)’, determina, em seu subitem 9.5, de
forma precisa, as medidas que devem ser adotadas pela Secretaria Especial de Cultura para
viabilizar essa utilização pelos entes subnacionais.
22. Tampouco restam dúvidas de que os dispositivos trazidos pela Lei 14.150/2021 que tratam
da possibilidade de utilização dos recursos até o final de 2021 não carecem de qualquer
regulamentação, pois apenas os §§ 1º e 2º do art. 14 daquela lei preveem essa necessidade e esses
parágrafos não guardam relação com a prorrogação. O § 1º do art. 14 trata do repasse de recursos
pela União, que já foi totalmente concluído. O § 2º do art. 14, por sua vez, traz a necessidade de
regulamentação no que se refere à restituição de recursos não aplicados até 31/12/2021, mas não
impõe qualquer condição à utilização dos valores desde já. Assim, os demais dispositivos têm
eficácia plena.
23. Apesar da clareza do Acórdão 1.118/2021 – Plenário e da Lei 14.150/2021, a Secretaria
Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural do Ministério do Turismo expediu o
Comunicado 5/2021 (peça 110), de 15/6/2021, que, em sua parte final, solicita aos Gestores
responsáveis pela Lei Aldir Blanc nos Estados, Distrito Federal e Municípios que ‘mantenham os
saldos nas contas e não promovam movimentações financeiras até que seja publicada a nova
versão do Decreto, considerando o risco existente pela aplicação de recursos fora do que
determinará o regulamento, bem como as legislações correlatas’.
24. Na sequência, a Secretaria Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural do
Ministério do Turismo expediu o Comunicado 6/2021(peça 109), de 1/7/2021, que, apesar de já
trazer orientações iniciais que preparam os municípios para a utilização dos recursos no presente
exercício, reforça ‘a necessidade de aguardar a publicação das alterações no Decreto nº
10.464/2020, considerando a necessidade de disciplinar a forma de distribuição dos recursos de
reversão de forma isonômica entre os Municípios interessados’.

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25. A orientação para não utilização dos recursos até que seja expedido novo decreto colide com
os comandos expressos no Acórdão 1.118/2021 – Plenário e na Lei 14.150/2021. Claro que o
Poder Executivo pode exercer seu poder regulamentar, mas apenas em relação aos pontos que
careçam expressamente de regulamentação e/ou para viabilizar uma melhor compreensão da
norma, sem, contudo, inviabilizar, com sua demora, a plena eficácia da norma legal e da decisão
de mérito do TCU, como está ocorrendo.
26. Para solucionar a questão, poder-se-ia aventar a utilização do comando previsto no art. 251
do Regimento Interno do TCU:
‘Art. 251. Verificada a ilegalidade de ato ou contrato em execução, o Tribunal assinará prazo de
até quinze dias para que o responsável adote as providências necessárias ao exato cumprimento
da lei, com indicação expressa dos dispositivos a serem observados, sem prejuízo do disposto no
inciso IV do caput e nos §§ 1º e 2º do artigo anterior.
§ 1º No caso de ato administrativo, o Tribunal, se não atendido:
I – sustará a execução do ato impugnado;
II – comunicará a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
III – aplicará ao responsável, no próprio processo de fiscalização, a multa prevista no inciso VII
do art. 268.’
27. Porém, a expedição dos Comunicados, por si só, não é suficiente, a partir dos elementos
presentes nos autos, para caracterizar a ocorrência de ato ilegal.
28. Mesmo que, até o momento, não esteja caracterizada a ilegalidade, os Comunicados
expedidos podem trazer grave lesão ao interesse público (inviabilizando a adoção de uma
política pública que busca socorrer o setor cultural brasileiro) e/ou risco de ineficácia da decisão
de mérito proferida pelo TCU (Acórdão 1.118/2021 – Plenário), cabendo, assim, a adoção da
medida cautelar prevista no art. 276, caput, do Regimento Interno do TCU:
‘Art. 276. O Plenário, o relator, ou, na hipótese do art. 28, inciso XVI, o Presidente, em caso de
urgência, de fundado receio de grave lesão ao erário, ao interesse público, ou de risco de
ineficácia da decisão de mérito, poderá, de ofício ou mediante provocação, adotar medida
cautelar, com ou sem a prévia oitiva da parte, determinando, entre outras providências, a
suspensão do ato ou do procedimento impugnado, até que o Tribunal decida sobre o mérito da
questão suscitada, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992.’
29. As alterações trazidas pela Lei 14.150/2021 e o entendimento fixado pelo TCU, por meio do
Acórdão 1.118/2021 – Plenário, asseguram aos entes subnacionais a utilização dos recursos até
31/12/2021, o que caracteriza a fumaça do bom direito. A utilização dos recursos restantes pelos
entes subnacionais é mais que urgente e necessária para mitigar os efeitos da pandemia sobre o
setor cultural, caracterizando o perigo da demora. Assim, estão presentes os pressupostos para
adoção da medida cautelar.
30. Mesmo já estando presentes os pressupostos para a cautelar, como os Comunicados não se
insurgem diretamente contra a decisão do Tribunal e contra os comandos da Lei 14.150/2021,
entendemos cabível, por cautela, a realização da oitiva prevista no § 2º do art. 276 do Regimento
Interno, para que, no prazo de 5 dias úteis, a Secretaria Especial de Cultura do Ministério do
Turismo se manifeste sobre:
30.1. os fatos apontados pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, especialmente
quanto à expedição dos Comunicados 5 e 6 da Secretaria Nacional da Economia Criativa e
Diversidade Cultural do Ministério do Turismo, que solicitaram aos Gestores responsáveis pela
Lei Aldir Blanc nos Estados, Distrito Federal e Municípios que ‘mantenham os saldos nas contas
e não promovam movimentações financeiras até que seja publicada a nova versão do Decreto’,
medidas que colidem com as alterações trazidas pela Lei 14.150/2021 e com o entendimento
fixado pelo TCU, por meio do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, principalmente considerando que
os dispositivos da Lei 14.150/2021 que tratam da prorrogação de prazo para utilização dos
recursos não carecem de qualquer regulamentação infralegal para a sua plena eficácia e que a

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demora no início da execução dos referidos recursos pode trazer as mesmas dificuldades
operacionais observadas em 2020 e que levaram à não execução plena da Lei em benefício de
seu público-alvo;
30.2. a não adoção das medidas determinadas por meio do subitem 9.5 do Acórdão 1.118/2021 –
Plenário, cujo prazo para implementação se expirou em 25/6/2021.
31. Quando da realização da oitiva, a Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo
deve ser alertada quanto à possibilidade de o Tribunal, caso não seja apresentada manifestação
ou esta não seja acolhida, a) adotar a medida cautelar prevista no art. 276, caput, do Regimento
Interno do TCU, suspendendo os atos questionados, até que se decida sobre o mérito da questão
suscitada, nos termos do art. 45 da Lei 8.443/1992 ou b) fixar prazo de até quinze dias para que o
responsável adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, nos termos do art. 45
da Lei 8.443/1992 e do art. 251 do Regimento Interno do TCU.
(...)
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
36. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
36.1. conhecer da documentação encaminhada pela Presidente da Comissão de Cultura da
Câmara dos Deputados como petição incidental nos autos do TC 026.157/2020-9;
36.2. com fundamento no previsto no § 2º do art. 276 do Regimento Interno do TCU, realizar a
oitiva da Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo, para que, no prazo de 5 dias
úteis, manifeste-se sobre:
36.2.1. os fatos apontados pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, especialmente
quanto à expedição dos Comunicados 5 e 6 da Secretaria Nacional da Economia Criativa e
Diversidade Cultural do Ministério do Turismo, que solicitaram aos Gestores responsáveis pela
Lei Aldir Blanc nos Estados, Distrito Federal e Municípios que ‘mantenham os saldos nas contas
e não promovam movimentações financeiras até que seja publicada a nova versão do Decreto’,
medidas que colidem com as alterações trazidas pela Lei 14.150/2021 e com o entendimento
fixado pelo TCU, por meio do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, principalmente considerando que
os dispositivos da Lei 14.150/2021 que tratam da prorrogação de prazo para utilização dos
recursos não carecem de qualquer regulamentação infralegal para a sua plena eficácia e que a
demora no início da execução dos referidos recursos pode trazer as mesmas dificuldades
operacionais observadas em 2020 e que levaram à não execução plena da Lei em benefício de
seu público-alvo;
36.2.2. a não adoção das medidas determinadas por meio do subitem 9.5 do Acórdão 1.118/2021
– Plenário, cujo prazo para implementação se expirou em 25/6/2021;
36.3. alertar a Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo que o Tribunal, caso não
seja apresentada manifestação ou esta não seja acolhida, poderá a) adotar a medida cautelar
prevista no art. 276, caput, do Regimento Interno do TCU, suspendendo os atos questionados,
até que se decida sobre o mérito da questão suscitada, nos termos do art. 45 da Lei 8.443/1992 ou
b) fixar prazo de até quinze dias para que o responsável adote as providências necessárias ao
exato cumprimento da lei, nos termos do art. 45 da Lei 8.443/1992 e do art. 251 do Regimento
Interno do TCU.”
É o Relatório.

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VOTO

Trata-se de Acompanhamento com o objetivo de avaliar as ações desenvolvidas pela


Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, ou por outros órgãos e entidades, voltadas à
implementação das medidas emergenciais destinadas ao setor cultural, no âmbito da Lei 14.017/2020
(Lei Aldir Blanc), com vistas a minimizar a possibilidade de ocorrência de fraudes ou pagamentos
irregulares, bem como verificar a transparência na divulgação de informações aos beneficiários e à
sociedade em geral.
2. Após a reestruturação organizacional ocorrida no TCU a partir deste ano de 2021, o
presente acompanhamento ficou a cargo da Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e
do Desporto – SecexEducação, que deu continuidade à estratégia de acompanhamento inicialmente
estabelecida pela Secretaria de Controle Externo do Trabalho e Entidades Paraestatais –
SecexTrabalho.
3. Na primeira fase do acompanhamento, este Tribunal proferiu o Acórdão 1.118/2021 –
Plenário que apontou a necessidade de serem ampliados os prazos inicialmente previstos para emprego
dos recursos da Lei Aldir Blanc na finalidade prevista, de tal forma que foram expedidas
determinações nesse sentido, além ter sido firmado entendimento quanto ao fato de os recursos
repassados para enfrentamento dos efeitos da pandemia na área cultural, por se tratarem de
transferências obrigatórias da União, poderem ser utilizados até o final de 2021, mesmo que não
tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, à luz da jurisprudência do TCU (em
especial o Acórdão 4074/2020 – Plenário, de relatoria do Ministro Bruno Dantas) e do que estabelece
o parágrafo único do art. 8º da LC 101/2000 – LRF.
4. Na mesma data em que foi prolatado o Acórdão 1.118/2021 – Plenário, 12 de maio de
2021, foi promulgada a Lei 14.150/2021 que, após a derrubada do veto presidencial, adotou o
entendimento desta Corte de Contas quanto à possibilidade de utilização dos recursos da Lei Aldir
Blanc, por Municípios, Distrito Federal e Estados, até 31 de dezembro de 2021, mesmo que tais
recursos não tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020.
5. Consoante demonstrado pela documentação acostada aos autos (peças 91 a 105), os
órgãos/entidades especificados no subitem 9.8 do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, dentre eles a
Secretaria Especial da Cultura e a Secretaria-Executiva do Ministério do Turismo, foram devidamente
notificados sobre o teor da aludida deliberação.
6. Em 06/07/2021, foi acostada a este processo a solicitação efetuada pela Deputada Alice
Portugal (peça 106), Presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, de esclarecimentos
sobre o cumprimento do subitem 9.5 Acórdão 1.118/2021 – Plenário, tendo em vista a ocorrência de
dois fatos supervenientes à deliberação deste Tribunal: a) a promulgação da Lei 14.150/2021 que
autorizou a utilização dos recursos da Lei Aldir Blanc até 31 de dezembro de 2021, conforme artigos
14-A e 14-B; b) os comunicados expedidos pela Secretaria Nacional da Economia Criativa e
Diversidade Cultural com solicitações aos gestores responsáveis pela aplicação dos recursos da Lei
Aldir Blanc nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, para que mantivessem os saldos nas
contas e não efetuassem movimentações financeiras até a publicação da nova versão de Decreto
regulamentador da Lei Aldir Blanc.
7. A unidade técnica, ao analisar a aludida solicitação de comissão do Congresso Nacional,
ponderou que, apesar de a expedição dos comunicados pela Secretaria Nacional da Economia Criativa
e Diversidade Cultural não ser suficiente para caracterizar ilegalidade, tais comunicados podem “trazer
grave lesão ao interesse público (inviabilizando a adoção de uma política pública que busca socorrer o
setor cultural brasileiro), e/ou risco de ineficácia da decisão de mérito proferida pelo TCU (Acórdão
1.118/2021 – Plenário), cabendo, assim, a adoção da medida cautelar prevista no art. 276, caput, do
Regimento Interno do TCU”.
8. Contudo, por considerar que os aludidos comunicados não se insurgem diretamente contra
a decisão desta Corte de Contas e os comandos da Lei 14.150/2021, a SecexEducação propõe que não

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seja adotada medida cautelar antes da oitiva da Secretaria Especial de Cultura do Ministério do
Turismo, consoante previsto no § 2º do art. 276 do Regimento Interno/TCU, para que, no prazo de 5
dias úteis, manifeste-se sobre:
8.1. os fatos apontados pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, especialmente
quanto à expedição dos Comunicados 5 e 6 da Secretaria Nacional da Economia Criativa e
Diversidade Cultural do Ministério do Turismo, que solicitaram aos gestores responsáveis pela Lei
Aldir Blanc nos Estados, Distrito Federal e Municípios que “mantenham os saldos nas contas e não
promovam movimentações financeiras até que seja publicada a nova versão do Decreto”, medidas que
colidem com as alterações trazidas pela Lei 14.150/2021 e com o entendimento fixado pelo TCU, por
meio do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, principalmente considerando que os dispositivos da Lei
14.150/2021, que tratam da prorrogação de prazo para utilização dos recursos não carecem de qualquer
regulamentação infralegal para a sua plena eficácia, e que a demora no início da execução dos
referidos recursos pode trazer as mesmas dificuldades operacionais observadas em 2020, as quais
levaram à não execução plena da Lei em benefício de seu público-alvo;
8.2. a não adoção das medidas determinadas por meio do subitem 9.5 do Acórdão
1.118/2021 – Plenário, cujo prazo para implementação expirou em 25/6/2021.
9. Manifesto minha anuência a grande parte da argumentação trazida pela unidade técnica
deste Tribunal, discordando apenas no tocante ao encaminhamento proposto, por considerar ser
necessário que este Tribunal adote medida cautelar no presente caso, não sendo possível esperar a
realização de oitiva prévia, diante da urgência em se garantir o imediato cumprimento tanto da Lei
14.150/2021 quanto do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, consoante os motivos que passo a expor.
II - Da Constatação de que há fumus boni iuris para adoção de medida cautelar.
10. Segundo a ementa da Lei 14.150, de 12 de maio de 2021, o intuito do legislador era apenas
alterar “a Lei 14.017, de 29 de junho de 2020 (Lei Aldir Blanc), para estender a prorrogação do auxílio
emergencial a trabalhadores e trabalhadoras da cultura e para prorrogar o prazo de utilização de
recursos pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios”.
11. Tem-se, portanto, que a Lei 14.150/2021 é autoexecutável e, portanto, não necessita de
regulamentação para ser aplicada, bastando manter os critérios já adotados para emprego dos recursos
da Lei Aldir Blanc, sendo necessários apenas ajustes no tocante aos prazos inicialmente pactuados para
que os recursos possam ser aplicados em 2021, nos exatos moldes que essa mesma verba foi executada
em 2020.
12. Nesse sentido, cito alguns fragmentos da doutrina acerca da autoexecutoriedade das leis:
“Há leis que independem de regulamentos para a sua aplicação. Diz-se leis auto-
executáveis. Salvo dispositivo em contrário, nesta categoria estão as que conferem poderes,
estabelecem garantias e prescrevem proibições. Outras, no entanto, necessitam de
regulamento para tornar possível a sua aplicação. A falta deste impede a sua execução. Por
vezes, apenas parte dela se sujeita à regulamentação. Então, a que dela não precisa passa a ter
eficácia desde logo, da data da vigência”.
(Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, na obra “Princípios Gerais de Direito Administrativo”,
Vol. I, Editora Malheiros, 3ª edição, 2007, pág. 320)
“A expressão do poder regulamentar – que a Constituição confere ao Presidente da República – é
o regulamento, ato administrativo normativo, tendo por pressuposto a existência da lei e [o]
cabimento técnico desta regulamentação. É a lei, pois, um prius necessário e insubstituível.
Mas, não basta sua simples existência, para que se justifique o exercício desta faculdade. É
ainda exigido que a lei comporte ou exija regulamentação.”
(Geraldo Ataliba em publicação da Revista de Direito Público, intitulada “Poder Regulamentar
no Executivo”, n. 57-58, São Paulo,1981, p. 26/27).

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“O regulamento (sempre veiculado por decreto) só existe quando haja lei prévia, exigente de
regulamentação. Em segundo lugar, conforme o conteúdo desta, pode não haver matéria
nenhuma a ser regulamentada”.
(Geraldo Ataliba em publicação da Revista de Direito Público, intitulada “Poder Regulamentar
no Executivo”, n. 57-58, São Paulo,1981, p. 24). (grifos acrescidos)
13. Contudo, apesar de a Lei 14.150/2021 não depender de regulamentação para a sua
aplicação, segundo o Comunicado 5/2021 (peça 110) encaminhado, em 15/06/2021, pelo Secretário
Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural, os gestores responsáveis pela Lei Aldir Blanc
nos Estados, Distrito Federal e Municípios deveriam manter-se inertes e deixar os saldos nas contas,
não promovendo movimentações financeiras até que fosse publicada a nova versão do Decreto que
regulamenta a Lei Aldir Blanc, considerando o alegado “risco existente pela aplicação de recursos
fora do que determinará o regulamento”.
14. Tal comunicado impede que prevaleça a vontade do legislador ao ser promulgada a Lei
14.150/2021, além de ser contrário ao entendimento jurisprudencial desta Corte de Contas contido no
Acórdão 1.118/2021 – Plenário, pois não há que se falar em risco na aplicação dos recursos se o
legislador não estabeleceu a necessidade de regulamentação prévia, conforme bem ponderado pelo
próprio Poder Legislativo, por meio da documentação encaminhada ao TCU pela Presidente da
Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados (peça 106).
15. Acrescente-se que, quanto à devida adequação orçamentária para utilização de recursos
remanescentes da Lei Aldir Blanc em 2021, nos casos em que não tenham ocorrido o empenho e a
inscrição em restos a pagar, o Acórdão 1.118/2021 – Plenário já detalhou todos os procedimentos a
serem adotados pelos gestores, consoante especificado no subitem 9.5 daquela deliberação:
“9.5. determinar à Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo que, com
fundamento no art. 4º, inciso II, da Resolução-TCU 315/2020, no prazo de 30 (trinta) dias a
contar da ciência da deliberação:
9.5.1. oriente os Estados, o Distrito Federal e os Municípios quanto à possibilidade de uso
dos recursos da Lei Aldir Blanc no exercício de 2021, com a devida adequação
orçamentária, nos casos em que não tenham ocorrido o empenho e a inscrição em restos a
pagar, da seguinte forma:
9.5.1.1. em relação aos Municípios:
9.5.1.1.1. no que se refere a recursos programados até 14/1/2021 que não tenham sido
empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, façam constar, em conformidade com o
previsto no § 4º do artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação específica destinada a esse fim na
lei orçamentária anual do exercício em curso, garantindo sua aplicação até 31/12/2021;
9.5.1.1.2. calculem o montante estritamente necessário para a liquidação dos valores inscritos em
restos a pagar em 2020, garantindo o empenho, a liquidação e o pagamento das ações incluídas
na lei orçamentária de 2021, em conformidade com o subitem 9.5.1.1.1 acima, providenciando,
nos termos do parágrafo único do art. 3° da Lei Aldir Blanc, a reversão para os Estados do valor
correspondente à diferença entre o saldo financeiro existente e o valor calculado;
9.5.1.2. em relação aos Estados:
9.5.1.2.1. no que se refere a recursos não executados, recebidos da União ou oriundos de
reversão, e que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, façam
constar, em conformidade com o previsto no § 4º do artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação
específica destinada a esse fim na lei orçamentária anual do exercício em curso, garantindo sua
aplicação até 31/12/2021;
9.5.1.2.2. adotem a mesma medida em relação a recursos oriundos de reversões futuras;
9.5.1.2.3. priorizem, na aplicação de recursos oriundos das reversões, a implementação de ações
em benefício do setor cultural dos municípios que efetuaram essas reversões;
9.5.1.3. em relação ao Distrito Federal:

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9.5.1.3.1. no que se refere aos recursos não executados e que não tenham sido empenhados e
inscritos em restos a pagar em 2020, faça constar, em conformidade com o previsto no §4º do
artigo 10 do Decreto 10.464/2020, dotação específica destinada a esse fim na lei orçamentária
anual do exercício em curso, garantindo sua aplicação até 31/12/2021. (grifei)
16. O que se observa é que os comunicados expedidos pelo Secretário Nacional da Economia
Criativa e Diversidade Cultural prejudicam o cumprimento da Lei n. 14.150/2021, pois provocam uma
inibição nos gestores que deixam de utilizar os saldos remanescente da Lei Aldir Blanc, de tal forma
que aquela legislação fica desvirtuada com uma redução injustificada no prazo para sua aplicação, o
que pode até inviabilizar que seja alcançado seu objetivo maior, que é garantir a implementação de
ações emergenciais destinadas ao setor cultural em 2021, amortecendo-se os efeitos do
recrudescimento da pandemia de covid-19 no setor criativo.
III - Da caracterização do periculum in mora.
17. Os dados obtidos em pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, intitulada “Pesquisa de percepção dos impactos da COVID-
19 nos setores cultural e criativo do Brasil”, que teve como organizadores Rodrigo Correia do
Amaral, Pedro Afonso Ivo Franco e André Luiz Gomas Lira, dão a dimensão do impacto da pandemia
nas receitas auferidas por aqueles que trabalham com cultura. Nesse sentido, transcrevo o trecho a
seguir:
“Os participantes responderam sobre os impactos do isolamento social em suas receitas durante
os meses de março a julho de 2020, e sobre suas expectativas para o segundo semestre do ano.
Entre os meses de março e abril, 41% dos respondentes perderam a totalidade de suas
receitas, e entre maio e julho, essa proporção aumentou para 48,88%. Em segundo lugar,
vêm aqueles que perderam mais da metade de suas receitas (23,72% entre março e abril, e
21,34% entre maio e julho). Somente 17,8% não tiveram alteração na receita durante
março e abril, diminuindo para 10% nos meses de maio a julho. As artes cênicas foram as
mais afetadas, com a perda total de receita para 63% dos respondentes. Nesse setor
cultural, a maioria dos que atuam na área de circo (77%), em casas de espetáculo (73%) e
no teatro (70%) perderam a totalidade de suas receitas entre maio e julho.”
(https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375069?posInSet=13&queryId=341e9048-f941-
45cf-8445-efdb43251ed0)
18. Diante desse quadro preocupante em que grande parte dos artistas perdeu perto da
totalidade de suas rendas, entendo que este Tribunal tem o dever de garantir a urgência na aplicação
dos recursos da Lei Aldir Blanc.
19. Destarte, é importante ressaltar que, consoante o disposto nos arts. 14-A e 14-B, da Lei
14.150/2021, o gestor que tinha 233 dias corridos (da data de sua publicação, em de 12 de maio de
2021, até o prazo final especificado na Lei, em 31 de dezembro de 2021), para empregar a verba
federal repassada para implementação de ações emergenciais destinadas ao setor cultural, terá na data
desta Sessão Plenária apenas 162 dias corridos, tendo perdido quase um terço desse prazo, por ter se
mantido inerte em decorrência dos Comunicados 5 e 6 enviados pelo Secretário Nacional da Economia
Criativa e Diversidade Cultural.
20. Acrescente-se que a situação é ainda mais complicada para os Municípios, tendo em vista
que o § 2º do art. 3º da Lei 14.150/2021 prevê que aqueles entes federados só têm até 31 de outubro de
2021 para publicar a programação da utilização dos recursos remanescentes da Lei Aldir Blanc, de tal
forma que, do prazo inicialmente previsto de 173 dias corridos, só sobraram 102 dias corridos a partir
da data desta Sessão Plenária.
21. Há que se destacar, ainda, que se for realizada a oitiva prévia proposta pela unidade técnica
para só depois esta Corte de Contas adotar alguma providência, a previsão mais otimista,
considerando-se que não haverá concessão de prorrogação de prazo, é que demore em torno de 30 dias
para este processo voltar a ser submetido a julgamento, somando-se o prazo para notificação da
Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo, os cinco dias úteis concedidos pela
4

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 026.157/2020-9

deliberação do TCU e o tempo para análise da argumentação apresentada, de tal forma que, quando for
decidido o mérito da questão tratada nestes autos, o gestor municipal terá perdido quase a metade do
prazo indicado na Lei 14.150/2021 para aplicar os recursos da Lei Aldir Blanc.
22. Tem-se, portanto, que o quadro delineado indica periculum in mora evidente, o qual
ampara a adoção imediata de providências por parte desta Corte de Contas para garantir que toda a
verba federal liberada, por meio da Lei Aldir Blanc, alcance o seu público-alvo, de tal forma que as
ações emergenciais previstas sejam realizadas, amenizando-se o enorme impacto da pandemia no setor
cultural.
IV - Conclusão
23. A autorização para utilização do saldo remanescente da Lei Aldir Blanc em 2021 já foi
dada por meio da Lei 14.150/2021 e o Tribunal de Contas da União já firmou entendimento, por meio
do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, no sentido de que “os recursos repassados para enfrentamento dos
efeitos da pandemia na área cultural, por se tratarem de transferências obrigatórias da União, podem
ser utilizados até o final de 2021, mesmo que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a
pagar em 2020”.
24. Diante desse contexto, não há que se falar em risco para o gestor que utilizar esses recursos
na finalidade prevista, minimização do impacto da pandemia de Covid-19 no setor cultural, pois
qualquer decreto do Poder Executivo que vier a ser editado não poderá fazer restrições que a Lei
14.150/2021 não contemplou, consoante bem ponderado pelo documento encaminhado a esta Corte de
Contas pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados.
25. Ademais, a Lei 14.150/2021 possui autoexecutoriedade e poderia ter sido aplicada desde a
data de sua publicação, em 12 de maio de 2021, tendo em vista que apenas estendeu os prazos
previstos na Lei Aldir Blanc, sendo que a regulamentação anterior que foi adotada para emprego, em
2020, dos recursos que já foram repassados na sua integralidade a Estados e Municípios, pode ser
adotada também em 2021, fazendo-se ajustes apenas no tocante aos prazos indicados na nova
legislação.
26. Acrescente-se, ainda, que a inércia dos gestores, em decorrência dos Comunicados 5 e 6
enviados pelo Secretário Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural, provocou substancial
redução nos prazos previstos na Lei 14.150/2021 para utilização do saldo remanescente de recursos
federais da Lei Aldir Blanc.
27. Todo o quadro delineado nestes autos indica que há periculum in mora e fumus boni
iuris a embasar a pronta adoção de providências por parte deste Tribunal, de tal forma que, para se
garantir a eficácia da decisão de mérito proferida pelo TCU (Acórdão 1.118/2021 – Plenário) e o
adequado cumprimento da Lei 14.150/2021, deve, nos termos do art. 276, caput, do Regimento
Interno/TCU, ser adotada medida cautelar, inaudita altera pars, com determinação à Secretaria
Especial de Cultura do Ministério do Turismo com vistas à suspensão imediata dos Comunicados 5 e
6/2021 da Secretaria Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural, até que este Tribunal se
manifeste conclusivamente a respeito das questões tratadas no bojo deste processo, tendo em vista que
a Lei 14.150/2021 possui autoexecutoriedade, não necessitando de prévia regulamentação.
28. Outrossim, com fundamento nos arts. 276, § 3º, e 250, inciso V, do RI/TCU, deve ser
realizada a oitiva da Secretaria Especial de Cultura/MTur acerca dos fatos apontados pela Comissão de
Cultura da Câmara dos Deputados e das providências adotadas para cumprimento da determinação
contida no subitem 9.5 do Acórdão 1.118/2021 – Plenário, cujo prazo para implementação expirou em
25/6/2021.
Com essas considerações, voto por que seja adotada a Deliberação que ora submeto à
apreciação deste E. Plenário.
T.C.U., Sala das Sessões, em 21 de julho de 2021.

MARCOS BEMQUERER COSTA


Relator
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ACÓRDÃO Nº 1754/2021 – TCU – Plenário

1. Processo: TC-026.157/2020-9.
1.1. Apenso: TC-034.036/2020-2.
2. Grupo: II; Classe de Assunto: V - Relatório de Acompanhamento.
3. Interessado: Tribunal de Contas da União.
4. Órgão: Ministério do Turismo.
5. Relator: Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto –
SecexEducação.
8. Representação legal: não há

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos do Acompanhamento, previsto nos artigos 241
e 242 do Regimento Interno do TCU, com o objetivo de avaliar as ações desenvolvidas pela Secretaria
Especial da Cultura do Ministério do Turismo, ou por outros órgãos e entidades, voltadas à
implementação das medidas emergenciais destinadas ao setor cultural, no âmbito da Lei 14.017/2020
(Lei Aldir Blanc), especialmente no que tange à aplicação e ao controle dos créditos extraordinários
abertos, no valor de R$ 3 bilhões, pela Medida Provisória 990/2020.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da documentação encaminhada pela Presidente da Comissão de Cultura da
Câmara dos Deputados, Deputada Federal Alice Portugal (peça 106), como petição incidental no
âmbito destes autos do TC 026.157/2020-9;
9.2. com fundamento no art. 276, caput, do Regimento Interno/TCU, determinar,
cautelarmente, sem oitiva prévia, objetivando garantir a eficácia da decisão de mérito proferida pelo
TCU (Acórdão 1.118/2021 – Plenário) e o adequando cumprimento da Lei 14.150/2021, à Secretaria
Especial de Cultura do Ministério do Turismo a suspensão imediata dos Comunicados 5 e 6/2021 da
Secretaria Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural, até que este Tribunal se manifeste
conclusivamente a respeito das questões tratadas no bojo deste processo, tendo em vista que a Lei
14.150/2021 possui autoexecutoriedade, não necessitando de prévia regulamentação;
9.3. com fulcro nos arts. 276, § 3º, e 250, inciso V, do Regimento Interno/TCU, realizar a
oitiva da Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo, para que, no prazo de 15 (quinze)
dias, manifeste-se sobre:
9.3.1. a informação trazida pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados (peça 106)
quanto à expedição dos Comunicados 5 e 6 pela Secretaria Nacional da Economia Criativa e
Diversidade Cultural, solicitando aos gestores responsáveis pela Lei Aldir Blanc nos Estados, Distrito
Federal e Municípios que se mantivessem inertes e deixassem os saldos nas contas, não promovendo
movimentações financeiras, até que fosse publicada a nova versão do Decreto que regulamenta a Lei
Aldir Blanc, ressaltando, ainda, nos expedientes encaminhados, que haveria “risco existente pela
aplicação de recursos fora do que determinará o regulamento”, apesar de a Lei 14.150/2021 possuir
autoexecutoriedade e não necessitar de prévia regulamentação para ser aplicada, e do entendimento
firmado por este Tribunal mediante o subitem 9.2 do Acórdão 1.118/2021 – Plenário;
9.3.2. as medidas adotadas para o cumprimento da determinação contida no subitem 9.5 do
Acórdão 1.118/2021 – Plenário, cujo prazo para implementação expirou em 25/6/2021;
9.4. alertar a Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo de que este Tribunal
pode aplicar aos responsáveis a multa prevista no art. 58, § 1º, caso haja descumprimento injustificado

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das determinações contidas no subitem 9.5. do Acórdão 1.118/2021 – Plenário e no subitem 9.2. desta
deliberação;
9.5. enviar cópia deste Acórdão à Presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos
Deputados, Deputada Federal Alice Portugal, ao Ministério do Turismo, à Câmara dos Deputados, ao
Senado Federal, ao Gabinete Integrado de Acompanhamento à Epidemia do Coronavírus-19 (GIAC-
COVID-19), coordenado pela Procuradoria-Geral da República, e à Coordenação de Operações do
Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da COVID-19 (CCOP), a cargo da
Casa Civil da Presidência da República, informando que as partes integrantes que fundamentam a
deliberação podem ser acessadas por meio do endereço eletrônico www.tcu.gov.br/acordao;
9.6. restituir os autos à Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do
Desporto (SecexEduc) para adoção das providências a seu cargo.

10. Ata n° 27/2021 – Plenário.


11. Data da Sessão: 21/7/2021 – Telepresencial.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1754-27/21-P.
13. Especificação do quórum:
13.1. Ministros presentes: Ana Arraes (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler,
Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e Bruno Dantas.
13.2. Ministros-Substitutos convocados: Augusto Sherman Cavalcanti e Marcos Bemquerer Costa
(Relator).
13.3. Ministros-Substitutos presentes: André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


ANA ARRAES MARCOS BEMQUERER COSTA
Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral

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