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Defensoria Pública da Comunidade Jurídica do Rio Guamá

Defensoria pública - Comarca de Belém


Rua Adelino Ramos, 129, Reduto, Belém/PA -CEP 66003-270

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA SUPREMA CORTE DE JUSTIÇA DA


COMUNIDADE DO RIO GUAMÁ

Ação Civil Pública


Processo n°: 0057341-50.2022.401.0102

Trópico Energia S/A (TESA) e a UNIÃO , já qualificadas, assistidas pela Defensoria Pública
da Comunidade Jurídica do Rio Guamá, por meio de seus defensores:

Andrei Victor da Silva Araújo


Gisele Gama Dias Ferreira
Jéssica Isabelly Costa Cunha
Laura Pinheiro Rufino Rego
Luiza Helena Andre Maciel

Juntamente com seus assistentes:

Ana Júlia Teixeira Souza


Bernardo Arouck Lorenço Tavares
Jamile Elke Duarte de Ataide
Nicole Ferreira Alves
Paulo Henrique Pinheiro Bahia
Warley Ovilio Gavinho de Alburquerque Junior

endereço encontra-se no cabeçalho da presente onde recebe as intimações, nos autos do processo
que lhe move o Ministério Público da Comunidade Jurídica do Rio Guamá (MP - CJRG),
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já qualificado, vem à presença de Vossa Excelência, oferecer CONTESTAÇÃO, pelos motivos
de fato e de direito que a seguir expõe:

1 - DOS FATOS:
Trata-se de contestação à Ação civil pública (ACP), na qual se acusa de irregularidades, a
pessoa jurídica Trópico Energia S/A (TESA), após ganhar licitação, em janeiro de 2012, para
construção e administração de uma usina hidrelétrica nomeada Tucunaré, na grande curva do Rio
Guamá, na qual as obras começaram em abril de 2014. Em suma, as alegações se referem a
supostas irregularidades humanitárias, fiscais e ambientais contras as populações originárias.
Contudo, a acusação apresenta inúmeros erros de direito, processuais e inverossimidades,
constantes nos autos, entre os fatos alegados e as provas. Conforme descritos nas linhas
seguintes:

1.1 DA REALIDADE DOS FATOS


Inicialmente, pelo dever de defender as acusadas e pela indignação pelos erros presentes
no processo, solicitamos o desentranhamento dos anexos IV, V, IX, XI, XIII, XIV, XVI e XVIII
pelo fato de fazerem referência a usina hidrelétrica de Belo Monte e não a presente parte, além
de estas não terem força jurídica para fundamentar as acusações alegadas pelo Ministério
Público, conforme o ANEXO 1 deste documento.
Fica evidente, portanto, o completo desleixo do parquet na produção de sua acusação
com a anexação de provas estranhas ao processo (várias fazem referência a usina de Belo
Monte), o que já seria suficiente para pôr em dúvida suas alegações, porém, além disso, estão
anexados DOCUMENTOS ADULTERADOS, sem fontes confiáveis ou oficiais (ANEXO 2) –
conforme apresentado nos parágrafo anteriores – descredibilizado as alegações e colocando em
xeque a idoneidade dos acusadores.
Outrossim, desde antes do período de construção da Usina Hidrelétrica de Tucunaré
(UHE Tucunaré) a TESA priorizou o desenvolvimento de uma comunicação de natureza pacífica
e conciliatória com os povos que ali ocupavam, de maneira que, a partir da data 20/05/2012 foi
iniciada a primeira de diversas reuniões com as lideranças dos povos tradicionais que seriam
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atingidos pelo empreendimento. Nessa data, foi eleito como representante e mediador por meio
de consenso entre as lideranças, o senhor Ganga Goray, responsável pela comunidade
quilombola Barreiros, e que já desenvolvia há mais de dez anos ações de integração e resistência
com a população da área. De maneira que, chegou-se a um acordo entre a empresa acima citada e
o representante das populações que ali viviam, de que haveria indenização e realocação a essas
famílias, respeitando seu estilo de vida cultural. (ANEXO 3)
Essa indenização monetária acordada nos autos das atas, proferidas nas reuniões entre as
comunidades, foi realizada de acordo com as partes, que chegaram a conclusão do valor final de
indenização R$ 432.000.000,00 (quatrocentos e trinta e dois milhões) distribuídos de maneira
parcelada, por se tratar de uma grande quantia, além de ser um processo complexo quanto a
organização das diversas comunidades locais (ANEXO 4). Nesse intuito de satisfazer as
necessidades e a colaboração dessas pessoas, perante a construção da UHE Tucunaré a empresa
mostra-se bem envolvida ao prestar contas de maneira positiva aos envolvidos, cumprindo como
acordado com o Sr Ganga Goray, conforme o ANEXO 3.
Diante disso, o pagamento das parcelas foi liberado até o período em que a parte contrária
cumpriu com o combinado de se realocar para um local que atenderia o acordado pelas partes,
deixando o restante do parcelamento congelado (ANEXO 5), até o adimplemento da cláusula.
Nesse referido espaço de tempo, esse entrave do descumprimento contratual prejudicou não
apenas a empresa como os indígenas, deixando-os sem o apoio financeiro que a referida empresa
Tesa disponibiliza a eles através do representante Ganga Goray.
Por isso, é inverídico afirmar que não estavam patentes, nas cláusulas contratuais, as
opções das formas de reassentamento, indenização em dinheiro ou relocação assistida - sendo
que naquele primeiro foram acatados diversos pedidos feitos pelo senhor Ganga Goray, como a
preferência por reassentamentos próximas aos rios, tanto que foram compradas, em 2014, terras
destinadas ao reassentamento rural, como supramencionado (ANEXO 06). Sob esse prisma, não
houve má-fé por parte da TESA, uma vez que o relatório do Atendimento à População Atingida,
elaborado pela FUNAI, aponta que apenas 15 por cento, das 1500 famílias atingidas, não
assentiram ao acordo proposto para o empreendimento da UHE Tucunaré. Desse modo, a própria
Comissão Interamericana de Direitos Humanos reconhece (OEA, 2010), na Jurisprudência
relacionada à propriedade comunitária das terras indígenas, segundo a qual, “os membros dos
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povos indígenas que, por causas alheias a sua vontade, tem saído ou perdido a posição das suas
terras tradicionais mantêm direito de propriedade sobre as mesmas, ainda que sem título legal,
salvo quando as terras tenham sido legitimamente transmitidas a terceiros de boa-fé”. O que
torna lúcido que se houve o intenso diálogo, das cláusulas contratuais e condicionantes, entre o
empreendedor e as comunidades envolvidas, não havendo coação, é falaciosa a premissa de que
se sobrepôs a torpeza no contrato.
Ademais, vale ressaltar os impactos positivos gerados pela construção do
empreendimento como o aumento de mão de obra, as quais foram contratadas para trabalhar na
construção de estradas, alojamentos, canteiros, residências dos trabalhadores, barragens,
estruturas da usina e montagem de equipamentos. Nesse viés, o desenvolvimento social já está
sendo evidenciado, como a abertura de novas estradas existentes, ou mesmo a abertura de novos
acessos até os locais onde estarão sendo construídas as obras da UHE Tucunaré, melhorando
então as condições de acesso à região. Em consequência disso, outros impactos positivos, como a
facilidade de acesso aos serviços públicos, também estão sendo vistos, como o aumento da
produção agropecuária, tendo em vista que, o acesso a essas áreas fez diminuir os preços desses
produtos e do transporte, em consequência da melhoria das estradas. Para além, a UHE
Tucunaré reafirma seu comprometimento com a comunidade a partir da parceria com a
Universidade Federal do Pará, a qual recebeu milhões de reais durante os anos decorridos para
investimento em pesquisas e apoio a recuperação da biodiversidade da área atingida, somado ao
financiamento de medidas afirmativas que favorecem indígenas, quilombolas e ribeirinhos
(ANEXO 7).
Nesse sentido, Programas de Infraestrutura Rural, Programa de Recomposição das
Atividades Produtivas Rurais, com apoio à agricultura familiar de áreas remanescentes;
Programas de Recomposição/ Adequação da Infraestrutura e Serviços de Saúde; são apenas
alguns dos exemplos que escancaram o desenvolvimento social oferecido pela construção da
Usina. O objetivo é fazer com que haja mais impactos positivos do que negativos a esses
moradores. Portanto, é possível inferir que é falaciosa a colocação de que houve um completo
descaso, como insiste o MP, no tocante aos povos originários e as famílias que mantinham
alguma forma de subsistência na área necessária ao empreendimento, já que o Plano de
Atendimento à População Atingida (PAPA) foi elaborado, com significativa acuidade, e
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publicado em 2014 (ANEXO 8). É nítido, assim, que o suposto senso de capitalismo predatório e
a pretensa indiferença com as famílias atingidas pela construção da usina são REFUTÁVEIS. É
concreta a melhoria que essas pessoas estão gozando, como comprova o Relatório feito pela
FUNAI. (ANEXO 9)
Portanto, mesmo com alguns dos impactos negativos em consequência da construção da
UHE Tucunaré, já era visto um estado miserável de condições de vida nas redondezas do rio
Guamá, como, por exemplo, a contaminação com substâncias tóxicas, como o arsênico, que
gerou uma mortandade desenfreada de peixes naquela região, tornando a alimentação e o
comércio um perigo de saúde e até mesmo um risco de vida para quem os consumisse. É válido
ressaltar, ainda, que foi constatado a presença de madeireiros e grileiros, que exploravam as
terras da região e, consequentemente, violavam brutalmente os direitos das comunidades que ali
residiam, antes mesmo da construção da hidrelétrica. Ademais, o Estatuto dos povos indígenas
ainda aponta, em seu artigo 20, que as terras indígenas podem sofrer intervenções da União,
argumento esse, também colocado pelo MP, “para a realização de obras públicas que interessem
o desenvolvimento nacional” (1º parágrafo, alínea d). Tal disposição, que PODE ser usada para
legitimar a obra, encontra em seu parágrafo 3º, porém, uma condição para tal intervenção:
“Somente caberá a remoção de grupo tribal quando de todo impossível ou desaconselhável a sua
permanência na área sob intervenção, destinando-se à comunidade indígena removida área
equivalente à anterior, inclusive quanto às condições ecológicas”. Esta argumentação reitera a
injustiça embebida na acusação de que, o empreendimento em questão, banalizou práticas
etnocidas e que não trouxe benefício algum aos povos aqui discutidos, uma vez que o local
estava em situação de risco e a contaminação fluvial que já consumia o solo impossibilitava,
mesmo que silenciosamente, o modo de vida tradicional dessa população, como comprova o
Relatório de Impactos Ambientais (ANEXO 10).
É hediondo e lastimável que a estrutura social tenha martirizado e atacado de inenarráveis
formas os povos tradicionais. Diversas etnias indígenas e tantas outras comunidades ribeirinhas e
quilombolas lutam contra a herança massacrante colonial, herança ainda vista na fala do MP ao
se dirigir aos povos indígenas como ‘’índios’’, em que tal palavra carrega no título os resquícios
de uma discriminação, desconsiderando a pluralidade étnica. Esses grupos vulneráveis cultivam
o sentimento cultural por sua terra, pelos conhecimentos hereditários e por sua ancestralidade. É
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nessa conjuntura, que muitas Jurisprudências estão a discutir a temática de que a Natureza é
sujeito de direitos, de que a “Mãe Terra” reivindica a proteção de seus filhos indígenas,
quilombolas e ribeirinhos. Diante disso, a discussão recai sobre a pluralidade jurídica, no sentido
de que mesmo que somente os indígenas possuam um Estatuto formal, os demais povos
tradicionais também devem ter a sua causa justificada. Em vista disso, encarando a dura
realidade nas redondezas do Rio Guamá, após a apresentação da proposta de construção da
Usina, foi proposto o Projeto Direito e Natureza, a fim de mitigar ao máximo os eventuais
impactos negativos à cultura desses povos, ao mesmo tempo que a qualidade de vida e os direitos
fundamentais desses moradores fossem materializados.
Além do mais, o relatório ambiental de impactos ambientais, divulgado no ano de 2012,
feito por parte da Secretaria de Meio Ambiente do estado do Pará em conjunto com a União,
constatou por meio de estudos antrópicos na região a existência de 8 ETNIAS INDÍGENAS,
sendo elas conhecidas como Caiapó; Pariquis; Surios; Rononos; Kurinos; Karapu; Tembé
Tenetehara e Xenhos, as quais SE DIVIDIAM EM 20 ALDEIAS PELA REGIÃO, assim
como a existência de 4 comunidades quilombolas, denominadas de Barreiros; Chapada das
Araras; Novo Jambeiro e Bacabal, e a identificação de dois troncos linguísticos utilizados na
região estudada, sendo um desses o Tupi, o qual é utilizado por 12 aldeias e apresenta uma
ramificação em dois subgrupos, e o Macrô- jê, que não apresenta uma subdivisão e é utilizado
por 8 aldeias. Tais troncos linguísticos utilizados na região, são considerados os dois maiores
troncos do País (ANEXO 11), o que comprova mais um erro do Parquet que não conhece a
população que pretende defender.
Outra acusação levantada foi em relação às formas de indenizações e remanejamento.
Nesse contexto, o MP acionou uma Ação Civil Pública contra a TESA e a FUNAI , na qual foi
prolatada, numa decisão em 2016, a obrigatoriedade de efetivar a compra de terras indígenas que
supostamente estavam inadimplentes. Assim, a TRÓPICO ENERGIA S/A, orientada pela
FUNAI, concretizou o pagamento em 2017. (ANEXO 12)
Nessas Circunstâncias, transitado em julgado, é inconstitucional- tendo em vista que a
TESA já realizou a liquidação em juízo- e até mesmo duvidosa a acusação de que cerca de 700
famílias indígenas ainda estejam sem nenhuma indenização ou reassentamento, haja vista que a
pretensa prova anexada pelo Parquet não apresenta nem mesmo a data de publicação da
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manchete, quando, na verdade, a notícia em análise consta de maio 2015 (ANEXO 13), que foi
posteriormente sanada com o pagamento em questão. Logo, se as terras já estavam teoricamente
compradas (2017), nesta petição em andamento (2022), é calunioso afirmar que a TESA e a
FUNAI estão inadimplentes, já que a coisa julgada não pode mais ser retomada, consoante ao
artigo 502 do CPC.
Com essas constatações, é perceptível, além do mais, que o gráfico fornecido pelo MP
sobre um pretenso mapeamento sobre qual seria “a medida solicitada pelo assistido” ou “ a
percepção do assistido a respeito da quantia a título de indenização”, evidenciam uma “narrativa
genérica”, com informações insuficientes. Posto isso, porcentagens são dispostas de maneira
tendenciosa, tendo em vista que o gráfico em questão não foi elaborado por órgãos competentes,
tampouco traz informações oficiais que comprovem alguma veracidade. O que vai de encontro
ao Relatório oficial de Atendimento à População Atingida, elaborado pela FUNAI e já exposto
anteriormente.
Quanto à acusação do desvio de verbas baseadas no superfaturamento da empresa, o
Ministério Público faz acusações descabidas, apenas com informações superficiais, sem levar em
conta o desempenho financeiro, estrutural e desenvolvimentista da empresa ao longo dos anos. O
custo inicial da empresa como mencionado era de R$31,2 bilhões. Entretanto, foram claramente
aplicados investimentos, abatido desse referido valor, nos estudos ecológicos na universidade, na
restituição de áreas já afetadas ambientalmente e na indenização destinada aos povos indígenas,
quilombolas e ribeirinhos, conforme já mencionado desde o início, sempre visando reparar
qualquer dano realizado pela hidrelétrica.
A empresa contou durante esses anos com uma ampla equipe técnica de extrema
competência para a evolução da empresa, que apesar dos fundos financeiros de reserva estarem
presentes, a estabilidade da empresa não contava com a drástica situação inflacionária presente
no ano de 2015, ficando em 10,67% desde 2002, e 4,26% em comparação ao ano anterior. Esse
cenário caótico criou uma esfera de instabilidade na empresa, que mesmo diante desses
empecilhos socioeconômicos a empresa se recuperou em razão de sua inquestionável
competência e posteriormente, o reajuste contratual requerido pela companhia em 2016 e
aprovado pelo Tribunal de Contas da União perante seus minuciosos critérios de homologação,
no qual a mencionada, sociedade TESA passou. Portanto, o anexo XXII proposto pelo
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Ministério Público com justificativa de acusar a TRÓPICO ENERGIA S/A de um
superfaturamento de 3,79 bilhões, é incabível visto que a mesma tem argumentos completamente
plausíveis para o aumento nos custos. (ANEXO 14)
Ademais, podemos mencionar ainda, que esse episódio de 2015 proporciona certos atrasos
no andamento da obra, de maneira totalmente diferente do atraso ocorrido em 2020, o ano da
conhecida pandemia do covid-19, em que houve a paralisação parcial das obras junto à sua
atividade. Vale salientar, que sempre ocorreu um controle interno sobre a TESA, permitindo
estar sempre dentro das regularidades financeiras e administrativas frente, novamente, a mais um
ano conturbado e instável (ANEXO 15) .Diante de todo esse cenário, é compreensível o atraso
das obras junto ao reajuste sofrido, analisando também, o prejuízo monetário da empresa nesses
períodos de crises econômicas mundiais, de que todo o mercado ainda tenta se reestabelecer,
bem como a TRÓPICO ENERGIA S.A, com a sua constante dedicação para a geração de
energia e estabilidade financeira. (ANEXO 16)
Por fim, quanto à distribuição de energia ficou estipulado que 70% da produção
energética será destinada ao Norte/Nordeste e o restante, ou seja 30%, será voltada ao sudeste,
porém pelo fato de a obra estar finalizada em 75% e também pela crise hídrica no sudeste o
maior contingente energético atual recai na região sudeste, algo que irá se subverter com a
completude da obra ( ANEXO 17).

2 - DAS PRELIMINARES:
Antes de adentrar no mérito, faz-se necessário apontar algumas defesas em sede preliminar:
A) INEXISTÊNCIA DE CITAÇÃO, inciso I do artigo 337 do CPC:
Preliminarmente, o contestante roga pela inexistência de citação do órgão FUNAI na
petição inicial apresentada pelo reclamante. A inexistência de citação inicial implica na
violação ao devido processo legal e a ampla defesa, declara-se-á nulidade dos atos
processuais que resultarem na prolação da sentença que impliquem a referida entidade.

B) INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL, inciso IV do artigo 337 do CPC:


No presente caso, deixou o Autor de indicar adequadamente os documentos citados nos
tópicos grupo 1 e 3 da Petição de Desentranhamento (ANEXO 1), de modo que não
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foram disponibilizados na íntegra para a defesa, somado a falta de fontes, de força
jurídica para contextualização como evidência, como foi destacado no anexo referido,
uma violação clara aos artigos 439 e 440 do CPC, inviabilizando o contraditório e a
ampla defesa. Afinal, todo e qualquer elemento necessário para a resolução do litígio são
inerentes à petição inicial. No mesmo sentido, o CPC exige que a petição inicial
apresente os documentos necessários para a compreensão do litígio. Art. 320 : “A petição
inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.”
Assim, ausentes informações indispensáveis à ação, a extinção do processo é medida que
se impõe, conforme precedentes sobre o tema.

C) COISA JULGADA, inciso VII do artigo 337 CPC:


A acusação retoma a lide ocorrida no ano de 2017, já caracterizada como coisa julgada,
além de se aproveitar de anexos de reportagens falaciosas desenvolvidas sobre o mérito
ao seu tempo para tentar encobrir a falta de fatos que suportem suas alegações de direitos.
É ressaltada aqui a clara violação do princípio no bis in idem, tendo assim, violado
também a suposta segurança jurídica brasileira. Nesses termos, faz-se necessária a
exclusão de acusações veiculadas ao litígio já findado por meio do judiciário para que
haja o restabelecimento da dignidade remanescente da justiça, da lei e do que
compreende a doutrina. Faz-se aqui um parêntese para a descrição do doutrinador Tércio
Sampaio Ferraz Júnior: “ A decisão jurídica (a lei, a norma consuetudinária, a sentença
do juiz etc.) impede a continuação de um conflito: ela não o termina através de uma
solução, mas o soluciona pondo-lhe um fim. Pôr-lhe um fim não quer dizer eliminar a
incompatibilidade primitiva, mas trazê-la para uma situação, onde ela não pode mais ser
retomada nem levada adiante (coisa julgada”.

D) ARGUIÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA, inciso XI do artigo 337 do CPC:


A partir das alegações da petição inicial, é percebido que as acusações ligadas aos anexos
XIII,XVIII, XIX e XXIII que se referem a deslegitimidade de licença ambiental,
descumprimento de medidas previstas no RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) que
supostamente levaram os indígenas a condições “indignas” (XIII), suposto desvio dos
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cursos de água e morte dos afluentes (XVIII e XIX), e acusamento de superfaturamento
em obras (XXIII) , como descritos no tópico 2 e 3 referente aos grupo b e c (ANEXO 1) e
corroborável a partir dos próprios documentos descritos, são relativos UHE de Belo
Monte, portanto, não dizem respeito ao Complexo Hidrelétrico de Tucunaré, de forma
que tais documentos e toda a arguição de factoides construída em cima desses não produz
efeito jurídico sobre nenhum dos réus apontados no processo segundo o princípio
constitucional da intranscendência da pena (Art 5º, XLV, CF). Dessa forma, deve ser
extinta a ação sem julgamento do mérito, conforme precedentes sobre o tema.

E) INCIDENTE DE FALSIDADE:
Foi juntado pelo reclamante o suposto pedido do Tribunal de Contas da União (TCU)
para a investigação da obra de Tucunaré, nomeado como Anexo XXIII, com o objetivo
de comprovar o superfaturamento da obra e seus atrasos. Ocorre que referido documento
apresenta alguns detalhes notórios que indicam que o mesmo não é verdadeiro em sua
essência, tais como a inconformidade entre o título (o qual menciona a UHE Tucunaré) e
seu conteúdo que faz integralmente menção apenas a UHE de Belo Monte. Além dos
alegados não condizem com a veracidade dos fatos da UHE de Tucunaré. No presente
caso, as evidências da falsidade são inequívocas, uma vez que a alteração do cabeçalho
de documento oficial não pode ser derivada apenas de uma imperícia. Trata-se de conduta
atentatória à boa fé esperada que deve conduzir ao imediato reconhecimento da falsidade,
com todos os reflexos legais, em especial à condenação por LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.

3 - DO MÉRITO:
Superadas as preliminares, tampouco no mérito prosperará as demandas propostas pelo
autor e a parte ré solicita a desconsideração dos argumentos, pelos seguintes motivos
3.1 Do estudo de impacto ambiental clandestino e das cláusulas de sigilo - improcedente
O Ministério Público acusa a TESA no segundo parágrafo “Dos fatos” em sua ação civil
pública de desenvolver pesquisas para construção de Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
desde o ano de 2011, prática essa que não é considerada ilícita. Entretanto, como afirmado no
mesmo documento, o réu venceu o processo licitatório apenas no ano de 2012, o que torna a
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acusação anacrônica devido a falta de qualquer relação e tipo de interesse que a empresa poderia
possuir sobre a área citada. O referido estudo, mencionado pelo MP a partir da declaração de
fonte desconhecida, suposto membro do povo Tembé Tenetehara, atribuído por ele a TESA, faz
referência, na verdade, a uma pesquisa vinculada e sob total responsabilidade da UNIÃO com
fins de compreender a situação ambiental, cultural e socioeconômica da área, cujo faz parte de
sua competência. O estudo iniciou no ano de 2010 e se estendeu até o ano de 2012 , quando foi,
enfim, disponibilizado para o público e, simultaneamente, para a TESA.
Somada a essa acusação, o MP discorre sobre a “descoberta” de contrato contendo
cláusula de confidencialidade entre a TESA e “empreiteiras responsáveis pelo desenvolvimento
da pesquisa”, porém, além do contrato anexado como evidência ter sido assinado por apenas uma
empreiteira, MEIRELLES CONSTRUTORA E CIA, nele não consta qualquer obrigação
relacionada ao desenvolvimento de pesquisa de qualquer tipo, mas sim obrigações relacionadas
ao processo de construção civil da UHE Tucunaré. Para adicionar mais uma declaração de
inépcia dos acusadores, das incontáveis que serão exibidas durante o atual processo, o contrato
juntado como “Anexo I” é datado do dia 17 de outubro de 2013, dois anos após o provável relato
que o MP diz ter tido acesso. No que tange a cláusula 14ª do contrato anexado, é frisado aqui que
tal mecanismo é lícito e abarcado a partir do reconhecimento da aplicação dos direitos da
personalidade (dispostos no código civil do artigo 11 ao 21) em pessoas jurídicas, o que assegura
a TESA os direitos a honra, reputação, nome, marca e símbolos, à identidade, propriedade
intelectual, ao segredo e ao sigilo, e privacidade. Reunidos esses fatos, ressalta-se aqui que em
momento algum, de acordo como disposto em lei, a confidencialidade indispensável para
segurança da TESA, seus trabalhadores e associados, isenta a empresa de prestar contas perante
os órgãos de controle competentes, ou seja, caracterizam-se os fatos expostos nos últimos cinco
períodos como mero exercício de direitos dos quais o réu tem licença de usufruir, não
configurando qualquer violação.

3.2 Dos prejuízos fluviais (redução de cardumes, eutrofização e prejuízo no modo de vida
ribeirinho, secagem dos rios) - improcedente
Dos prejuízos ambientais referidos nos Anexos XVIII e XIX, tratam-se de alegações
completamente improcedentes, afinal, ambos os Anexos fazem referência a Usina Hidrelétrica de
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Belo Monte, sendo provas completamente estranhas ao processo, por isso, solicitamos o
desentranhamento destas do presente caso e impossibilidade de utilização dos argumentos que
delas viriam. Por fim, é perceptível que o Parquet cometeu diversos erros no presente processo
sem a devida atenção à verdade.
Outrossim, se tratando dos prejuízos abordados com relação à mortalidade de cardumes
de peixes em seus anexos VII e VIII, se torna refutavel a argumentação do órgao acusador já que,
estudos propostos no Relatório Ambiental de regiões periféricas feitopelo IBAMA com parceria
da União (ANEXO IBAMA) deixa explícita a que essa situação já existia antes dos
planejamentos da construção da UHE, já que entre os meses iniciais de 2011 foram encontrados
diversos cardumes de peixes infectados e mortos devido ao mercúrio gerado pelo garimpo ilegal
e pela eutrofização crescente causada pelo despejo de canais e lixo impróprios no rio em questão,
além de refutar o também argumento de que isso teria prejudicado a atuação econômica de
subsistência pois por conta das infecções as atividades econômicas advindas da venda dos peixes
teriam sido abaladas.
Entrando no âmbito da preservação dos peixes endêmicos relatados pelo Parquet, a
empresa, em seu RIMA (Relatório de Impactos Ambientais) apresenta fatos para a comprovação
de que espécies de peixes considerados em perigo por sua biodiversidade foram devidamente
selecionados e adicionados com parceria a universidade para que haja a preservação adequada.

3.3 Da fragilidade do licenciamento do IBAMA - improcedente


O órgão acusador afirma ter havido licenciamento ambiental frágil por parte do IBAMA,
entretanto, como demonstrado pelo próprio parquet, o licenciamento foi realizado por órgão
estadual responsável, e o pedido por parte do MP para transferência de competências indeferido
pelo judiciário por falta de mérito que justificasse essa transferência. Como foi replicado pelo
próprio IBAMA, o critério definido na constituição para definição de competência é o alcance
dos impactos, sendo um dano localizado, não havendo qualquer perspectiva de impactos diretos
que ultrapassem as fronteiras do Estado do Pará não compete a este o mérito .
Apesar desse fato, houve visita do IBAMA nas obras da UHE Tucunaré e o lançamento
de um parecer suportando as análises de regularidade apresentadas inicialmente, como anexado
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(XII) por parte do próprio MP. Ou seja, deixando o empreendimento com adimplência Estadual e
Federal no quesito de desenvolvimento sustentável.

3.4 Do parecer da FUNAI em relação ao estado de calamidade indígena - improcedente


O Ministério Público também atribui a FUNAI suposto parecer técnico ,denominado
“Anexo XIII” que indicaria, se fizesse menção a UHE Tucunaré, arbitrariedades que foram
responsáveis por alterar severamente o modo de vida, cultura e dignidade dos povos indígenas.
Novamente é feita menção a improcedente remoção desses povos para áreas de periferia, o que
eles apresentam como razão causadora dessas mudanças , entretanto, como foi anunciado nos
períodos anteriores, o documento anexado, apesar de verdadeiro em seu conteúdo, não diz
respeito à matéria tratada neste processo por ser relacionado a acusações contra a UHE de Belo
Monte. Dessa forma, a TESA reforça que não tem ligação com tal empreendimento e portanto,
não pode responder por qualquer atividade lícita ou ilícita desenvolvida por ele, mais adiante,
também reafirmamos o nosso compromisso com os povos tradicionais e seus direitos. Portanto, é
preciso que todas as acusações e pedidos relacionados a esse tópico sejam redirecionados a quem
o diz respeito e excluídos completamente dos autos do processo por serem caracterizados como
estranhos a ele.

3.5 Da acusação de desvio de verbas - improcedente


Ao analisar o anexo XXIII e XIII, verificou-se uma grave inconsistência no conteúdo da
prova citada, o documento se refere a outra empresa, a UHE Belo Monte, porém, mais grave do
que provas estranhas ao processo percebe-se claros sinais de adulterações nos documentos, dos
anexos acima citados, pois numa hora traz em seu cabeçalho em outra no corpo de seu texto o
nome de nossa empresa ou de nossa UHE, contudo, são documentos originalmente destinados à
Belo Monte, afinal, não há outro motivo para que esta esteja nas provas apresentadas. Vale
ressaltar que, esse delito se classifica como falsificação documental de modo que os autores
agiram de má fé durante a confecção da referida petição, para prejudicar a Trópicos
Energia-Tucunaré, por meio de anexos fraudulentos correspondentes ao parecer técnico da
FUNAI acerca da condição de vida dos indígenas e ao pedido do Tribunal de Contas da União
para a investigação da obra de Tucunaré, acerca de superfaturamento da obra e seus atrasos,
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respectivamente. Nesses anexos estão sendo dirigidos a empresa Norte Energia de Belo Monte, e
com isso, as alegações e informações são direcionadas a ela, e não a Trópicos Energia nas provas
supracitadas, não sendo, assim, de nossa competência. Por fim, o ato ilegal descrito compromete
a veracidade dos fatos citados de todo o processo vigente.
Para mais, com base nos anexos XXII, XVII e XXIV e as respectivas descrições feitas
em sua inserção, primeiramente é apontado que houve superfaturamento na obra, contudo, o
Ministério Público não analisou todo o contexto e condições de construção, e em uma tentativa,
falha, de tentar comprovar essa alegação se utiliza do anexo XVII que nada prova. Visto que,
desde o momento da licitação da obra em 2012 até 2022, houveram diversos empecilhos que
justificam plenamente o aumento do valor total da obra e o atraso na sua construção, além dos
investimentos em pesquisa na área ambiental, conforme ANEXO 7.
Acerca disso, o processo da Lava-Jato iniciado em 2014, ao investigar erroneamente os
principais esquemas de corrupção do país, foi responsável subsidiariamente pela quebra de boa
parte das grandes empreiteiras a nível nacional, impedindo o bom andamento da construção da
hidrelétrica Tucunaré, dessa forma paralisando a obra demandando tempo e investimento
monetário sem precedentes, o que ocasionou os gastos acima do planejado. Ademais, é alegado
que baseado em um contrato entre a TESA e Meirelles Construtora e CIA foi ajuizada uma Ação
Civil Pública (ACP), que como descrito na petição, foi motivada por dúvidas "quanto à
legalidade da operação". Entretanto, mais adiante o próprio peticionário afirma que os a ação foi
indeferida, tal processo foi extinto e não cabe mais trazê-lo à tona, justamente porque a decisão
representa o fim do conflito em si, assim afirma Tércio Sampaio Ferraz Júnior em seu livro "
Introdução Ao Estudo Do Direito" mais especificamente no capítulo do Direito enquanto Teoria
da Decisão.
Além disso, outra fator ainda mais grave para a finalização da obra, foi o início da
pandemia do COVID-19, que caracterizou um período de crise generalizada em todo o globo e
ocasionou o retardo em incontáveis obras cotadas para serem finalizadas nesse período, sendo a
hidrelétrica Tucunaré uma dessas, sem contar a crise dos container pois com o aumento das
transações de importação e exportação em todo o mundo, os navios passaram a ser mais
demandados, e o número de containers não está sendo suficiente para suprir toda a demanda.
14
Assim, encarecendo ainda mais a compra e transporte da infinidade de materiais necessários para
a constituição total de uma hidrelétrica.
Por isso, fica claro e evidente que não houve superfaturamento, mas sim, uma alocação
monetária maior para lidar com adversidades durante o longo período da obra, algo que se fez
muito útil, diante de todas as problemáticas mencionadas e excitadas anteriormente. Outrossim,
foi alegado que entre a Tesa e o consórcio de empreiteiras há uma dívida a ser paga em royalties,
entretanto, este débito não caracteriza crime e, portanto, cabe às partes, antes citadas, a resolução
amigável do débito e não ao autor da acusação. Por fim, foi alegado que as empreiteiras "foram
citadas em esquemas de corrupção passiva", vale ressaltar que a mera citação em processo
judicial não significa dizer que eles cometeram tal delito, isto porque, elas não são citadas como
acusadas, autoras ou co-autores, mas única e singelas citadas no processo, destarte, fica clara a
tentativa desesperada por parte do Ministério Público de realizar acusações com base no caso
Lava-Jato, sendo esse um caso extremamente fraudulento e que não segue os conformes do
devido processo legal, conforme o Art.394, I do CPC; a utilização deste caso apenas demonstra o
modelo inquisitorial, para o qual, os acusadores estão inclinados.

3.6 Das faltas de comunicação e atendimento aos povos tradicionais - improcedente


De acordo com alegações feitas pelo MP, apresentadas em sua petição, é afirmado que " o
Plano de Mitigação de Impacto que foi negligenciado pelo Estado e flexibilizado, corrompido e
reescrito unilateralmente pela concessionária TESA, sem seguir as devidas tramitações legais de
um Plano Básico Ambiental (PBA), como descrito na lei (Artigo 225, parágrafo 1º, IV da
Constituição Federal). Nesse plano, havia a previsão de consulta dos diversos povos nativos da
região, ação que foi executada de maneira deformada e insuficiente". Tal afirmativa é embasada
pelo Anexo III, no qual se é denominado como o Relatório de Impactos Ambientais da Empresa
TESA, todavia, documento anexado na verdade é a presente cartilha de projetos para programas
futuros com a construção da empresa, este que está presente no, de fato, Relatório de Impactos
Ambientais, que também refuta a argumentação do Órgão Acusador de que o RIMA da empresa
foi supostamente corrompido e reescrito ilegalmente, sem seguir a tramitação legal do PBA já
que no próprio relatório se tem as informações a respeito da tramitação seguida e como o mesmo
foi desenvolvido, deixando de forma explícita o desenvolver e as consultas presentes com os
15
povos afetados. Outrossim, é cabível afirmar uma contradição no Anexo V da petição do MP,
haja vista que alega em uma manchete de jornal que "indígenas são expulsos há cerca de três
décadas (1998) para a construção da hidrelétrica" de Tucunaré- o que não apresenta coerência-
haja vista que se tal notícia aparentemente foi publicada em 2018, e a UHE Tucunaré só obteve
a licitação em 2012, sendo assim, apenas a partir dessa data a empresa foi legitimada a fazer
qualquer tipo de modificação naquela área.

3.7 Da não possibilidade de realocamento próximo a área fluvial - improcedente


Anexo XIV não cita fonte de origem e representa apenas uma pesquisa não oficial de
opinião sem nenhum aspecto de controle qualitativo.
XV- referente a indenização monetária (não relacionado ao realocamento) - Foram
oferecidas, às comunidades e famílias que mantinham algum vínculo com as áreas necessárias à
construção da usina, para a escolha, quatro principais formas de indenização: reassentamento
rural, reassentamento em áreas remanescentes, relocação assistida ou indenização em dinheiro.
Diante disso, o Relatório elaborado pela FUNAI demonstra que de todas as famílias em análise,
somente 12% optaram pela indenização completa em dinheiro, sendo que, dessa parcela, a
maioria dos indivíduos não eram naturais da região. Por outro lado, quantitativa parte dos povos
tradicionais, em especial os ribeirinhos, optou pelo reassentamento em áreas remanescentes,
quantitativo equivalente a 45%. É pertinente rememorar que na Ata de Reunião, o representante
dessas comunidades, o senhor Ganga Goray, elucidou quais seriam as condicionantes para um
possível reassentamento e, a principal condição exigida, foi áreas com condições equivalentes às
originais, sobretudo, localizadas próximas a rios. Assim foi feito, quando a TESA comprou terras
em 2014 para esse fim. Dessa forma, é capcioso afirmar que não estava explícito e nem proposto
no contrato aquela forma de indenização, acusação falaciosa que é escancarada quando o MP cita
somente uma suposta parte tendenciosa do contrato, fora do contexto.

3.8 Do processo de realocamento


Segundo as alegações do MP a acusada teria "tomado" para si as terras dos povos
indígenas sem nenhum tipo de conversa ou acordo sobre as terras em questão, o que foi
desmentido conforme o ANEXO III, afinal, desde 2012 a TESA tem não apenas conversado com
16
as etnias como também entrou em acordo por meio de seu representante Ganga Goray. Diversas
alegações do Parquet, conforme apresentadas no tópico 3.3, não fazem parte desse processo,
motivo pelo qual estamos pedindo o desentranhamento desta, o que contaminou as provas
produzidas pelo órgão acusador trazendo diversos dados em desacordo, pois, primeiramente, as
alegações são "Dentre os seus afluentes, os rios Acará; Capim e Moju, nos quais coexistem 4
comunidades quilombolas, 20 etnias indígenas de 2 troncos linguísticos e inúmeros
agrupamentos ribeirinhos no decorrer do fluxo das águas ao longo de 6 municípios", e,
posteriormente, esta se contradiz". Assim, dentre as 20 aldeias consultadas, somente 7
concordaram com a venda de suas propriedades na condição de um realocamento decente e ainda
próximo à corrente fluvial. As demais ainda impõe resistência dentro da argumentação
cultural/religiosa supracitada.". Percebe-se que o Ministério Público não tem o domínio da
veracidade dos fatos, por isso, nós como Defensoria apresentamos à luz de Vossa Excelência os
dados adequados ao presente caso.
Quanto aos povos indígenas e sua diversidade na região, se possuem 20 aldeias, com 8
etnias de 2 troncos linguísticos, e destas 7 etnias concordaram com as medidas tomadas pela
empresa, conforme o ANEXO 8.
Ademais, quanto às alegações dos casos tramitando em julgado, fica evidente que há um
erro quanto cronologia dos fatos, uma vez que, conforme comprovado pelo Anexo 12, a alegação
baseia-se em algo que já transitou em julgado, o que se confirma pelo fato de nenhuma prova
estar anexada quanto a esta alegação.

3.9 Do Realocamento em áreas periféricas - improcedente


O argumento aludido pelo Parquet não está fundamentado em nenhuma evidência, ou
seja, não passa de alegações vazias que estão de desacordo com os documentos oficiais anexados
nos autos pela Defensoria, serve apenas para descredibilizar a visão do Excelentíssimo Juiz
quanto à índole plácida da empresa. Dessa forma, de como reforçado pela doutrina apresentada
no capítulo “Teoria da Decisão” do livro “A Ciência do Direito”, de autoria de Tercio Sampaio
Ferraz Junior, o uso do Onus Probandi, regulado pelo artigo 373 do CPC, de forma defeituosa
pelo MP, incapaz de suportar as alegações expostas, recai sobre o inevitável reconhecimento do
“In dubio contra auctorem”.
17
Destaca-se aqui que a TESA, no projeto em questão, não trabalha com nenhuma espécie
de realocação ou reassentamento urbano, de maneira que, se o desejo do atingido for por tal
modalidade, é aconselhada a indenização monetária. A partir da expressa declaração de vontade
por essa forma de indenização, e o pagamento realizado pela empresa, é findada qualquer
obrigação que a TESA possa ter com o indenizado, e qualquer outra responsabilidade em relação
às escolhas que o mesmo possa fazer. Ainda mais, a Trópico Energia S/A com a preocupação do
destino dessa população, integrou diversos artifícios indenizatórios como, inicialmente, a criação
do PAPA (Plano de Atendimento à População Atingida) e posteriormente o próprio Relatório do
Atendimento à População Atingida, apontando todas as medidas tomadas pela TESA para com
essas pessoas. Portanto, solicitamos a impossibilidade de utilização da acusação
supramencionada e de qualquer alegação ligada a ela pelo Ministério Público, além do
reconhecimento do abuso de direito (Artigo 187 CC), a partir do artigo 41, inciso V, da Lei
Orgânica Nacional do Ministério Público.

3.10 Das acusações de promoção à prostituição e ao estupro de vulnerável - improcedente


É aludido, em mais de uma ocasião, a inverídica participação da TESA na promoção por
meio de terceiros da prostituição e ao estupro de vulneráveis, no decorrer da petição inicial
apresentada pelo Ministério Público. Primeiramente, a empresa em questão deseja manifestar o
desconhecimento sobre qualquer fato que possa ter gerado essa vil acusação, além de assegurar
sua falta de ligação e concomitante inocência sobre o tópico. Em seguida, faz-se necessário fazer
alusão a falta de robustez do “fundamento” utilizado por parte do MP para introduzir acusação
gravíssima que fere profundamente a honra da Trópico Energia S/A. Trata-se de uma manchete
contida no denominado “anexo XVI” que anuncia: “ Grandes obras como Tucunaré incentivam e
formentam o mercado de sexo no Brasil”, o que oferta uma relação de mera comparação com
outros grandes empreendimentos, não apresentando nenhuma prova que ligue diretamente a
UHE Tucunaré com a infeliz realidade de quem sofre os abusos supracitados. Vale ressaltar
também a incompetência da empresa para responder pela incriminação construída pelo MP, já
que como sabido, e muito bem, pelo órgão, não existe a possibilidade dentro do ordenamento
brasileiro de uma empresa responder por processo criminal, devendo qualquer acusação desse
18
tipo ser endereçada à pessoa física, além de estar de acordo com os princípios constitucionais de
intranscendência e individualização da pena.
Nesse contexto, é percebido que tal acusação tem caráter meramente protelatório que
objetiva tumultuar o processo, o qual deve ser lido em concordância com o artigo 187 do CC,
que dispõe: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes", de forma que seja caracterizada postura do MP sobre a matéria citada como um abuso
do artigo 41, inciso V, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Para além dessa análise,
a Defensoria Pública da Comunidade do Rio Guamá, como um dos entes responsável por
garantir o zelo pela justiça e a defesa da infância, adolescência e da dignidade da pessoa humana,
questiona a falta de denúncia oficial sobre as violações das quais o MP anuncia estar seguro de
existirem, e reafirma a necessidade do combate a violência em todas suas formas

3.11 Das irregularidades nas formas indenização aos atingidos - improcedente


Anexo XX/ XXI + acusações de não entrega de cartas de crédito imobiliário, pagamento
indenizatório insuficiente e reassentamento precário flora também não observaram todos os
aspectos presentes quanto aos cardumes de peixes, a eutrofização e contaminação do rio
(conforme o tópico 3.2), além disso, sobre o referente aos Povos Originários, comunidades
Quilombolas e Ribeirinhas, em suma, é apresentado que o principal meio de subsistência dessa
população advêm do rio, o que é verdade, todavia, como exposto pelos anexos acima referidos
este se tornou um perigo às suas vidas e dos compradores de seus produtos muito antes do início
das obras, e que na conduta da Tesa em relação à realocação dessas populações, foram realizadas
- por respeito à ancestralidade, cultura e relação com o local deste povos - reuniões (ANEXO 3)
visando o melhor interesse destes, no que nos foi possível, oferecendo uma renda mínima,
emprego na construção da Usina Hidrelétrica de Tucunaré e ambientes adequado de moradias a
esse populações (conforme o PAPA), a denúncia de que a parte defendida teria remanejado
famílias às regiões periféricas de Belém é improcedente, além do que, não tem nenhuma prova
que a fundamente.
Em última análise, sobre o anexo XVI (apresentado na petição), a TESA desconhece as
acusações e indica ao Ministério Público fazer uma denúncia formal no âmbito penal e terá o
19
auxílio da empresa no que lhe couber; em relação à atividade de madeiras e grileiros nas
proximidades da construção da Usina Hidrelétrica não se trata de uma responsabilidade da Tesa e
esperamos, portanto, que o Ministério Público junto de outros órgãos estaduais atuem fortemente
quanto a esta atividade ilegal.

3.12 Da acusação de desvio de energia para região sudeste - improcedente


Conforme exposto durante toda a contestação, a usina hidrelétrica Tucunaré tem por
objetivo a produção de energia destinada, em sua maioria, às regiões Norte e Nordeste, por isso,
com a conclusão das obras a UHE Tucunaré produzirá 11.233 Megawatts de energia, com 70%
desta destinada às regiões anteriormente citadas e 30% destinada à região sudeste. Contudo, o
Parquet mais uma vez cometeu equívocos nas alegações feitas em sua petição, expondo seu
desconhecimento sobre os reais fatos do presente caso, uma vez que, alegou que com o atual
estágio da construção, isto é 75%, a Usina estaria produzindo 40% da sua energia total, o que é
uma informação completamente enganosa, as alegações do Ministério Público não se
fundamentam, nem mesmo provas foram anexadas diante das presentes alegações. Portanto, a
Defensoria impelida pela verdade trás à luz do processo os dados reais de produção e
distribuição de energia elétrica.
A energia produzida pela hidrelétrica atualmente é equivalente a 75% de sua capacidade
total, infelizmente os 25% da construção que estão pendentes são os que são responsáveis pela
maior parte da produção destinada às regiões Norte e Nordeste, o que explica o fato de a maior
parte da energia está sendo destinada a região sudeste, evidente que, as recentes secas que
afligem a região também motivaram essa distribuição um pouco maior. Conforme os estudos do
EPE, dados oficiais, os 75%, acima citados, equivalem a 8424,75 MW, e 5.054,85 MW é
destinado ao sudeste, enquanto que, 3.369,9 MW é destinado às regiões Norte e Nordeste,
porém, com a conclusão da obra a quantidade de energia destinada por região estará dentro do
planejado. Por fim, é evidente que há um abismo entre os dados apresentados pelo MP e a
realidade dos fatos, presentes nos dados oficiais, por isso a defesa solicita à Vossa Excelência a
desconsideração da alegação dos acusadores e a impugnação, uma vez que, pela falta de
evidências não deveriam ter feitas tais alegações.
20
4 - DOS PEDIDOS:

Pelo exposto, requer:

a) O acolhimento das preliminares arguidas com a imediata extinção do processo sem


resolução de mérito, nos termos dos arts. 354 e 485 do CPC.

b) Caso não seja deferido o pedido supracitado, requer-se o deferimento da petição de


desentranhamento apreciada nos autos devido às irregularidades nela citada, além do
caráter mais prejudicial que probatório.

c) A impossibilidade de utilização pelo Ministério Público de argumentos fruto de acusação


genérica e que não foram devidamente provados, conforme apresentado nos
subtópicos 3.5, 3.6, 3.9 e 3.12.

d) A demanda seja julgada TOTALMENTE IMPROCEDENTE, devido à falta de provas


robustas que suportem acusações severamente graves.

e) O reconhecimento do uso de má-fé por parte da acusação ao anexar documentos que não
fazem jus ao caso e, principalmente, a adição de documento público adulterado. O qual
deve ser seriamente investigado gerar consequências cíveis e, posteriormente, penais.

f) A Impossibilidade de utilização pelo parquet dos processos transitados em julgado, de


acordo com o princípio no bis in idem.

g) Seja deferida a produção de provas em direito, admitidas declaração de testemunhas para


fim comprobatório (cujo rol segue anexo para fins de audiência de justificação prévia, se
for o caso).
21
5 - ROL DE TESTEMUNHAS:

1. Alexa Azevedo Nascimento, brasileira, casada, Dra. em engenharia, portadora do CPF


n° 071.908.163-33, residente e domiciliada na Rua Wanderley Andrade, Bairro Canudos,
Belém/PA, CEP 66070-171;
2. Ganga Goray, brasileiro, solteiro, representante das comunidades e etnias, portador do
CPF n° 202.206.140-10, residente e domiciliado na Gleba do Loteamento Barreiros, n°
59, Benevides/PA CEP 68795-091;
3. Herbert Richard Fonseca Cardoso, brasileiro, casado, representante da Universidade
Federal do Pará, portador do CPF n° 080.070.402- 20, residente e domiciliado na Rua
Van Maher, n° 50, bairro Reduto, Belém/PA, CEP 66053-777.
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6 - PROVAS

ANEXO 1
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ANEXO 2
25
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27
ANEXO 3
28
29
30
ANEXO 4
31
ANEXO 5

Anexo 6
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33
34
ANEXO 7
35

O restante do documento pode ser acessado na íntegra no link da Última página.


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ANEXO 8
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O restante do documento pode ser acessado na íntegra no link da Última página.


38

ANEXO 9
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O restante do documento pode ser acessado na íntegra no link da Última página.


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ANEXO 10
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O restante do documento pode ser acessado na íntegra no link da Última página.


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ANEXO 11
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O restante do documento pode ser acessado na íntegra no link da Última página.


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ANEXO 12
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ANEXO 13

Este Anexo tem como objetivo apenas apresentar a data da reportagem.


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Anexo 14

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48
Anexo 15
49
50

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Anexo 16
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52
53

Anexo 17
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55
Link referente às provas acima apresentadas:
https://drive.google.com/drive/folders/1a_zEr9yQuvLuz94Ylt6Co0BceOHVQYey?usp=sharing.
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