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B
rasil, Amazônia, estado do Este artigo tratará do projeto de
Pará. O governo federal dá construção da usina hidrelétrica
início aos trabalhos para cons- (UHE) de São Luiz do Tapajós. Ao
truir um complexo hidrelétrico de que tudo indica, o processo repete
grande porte em um dos maiores os vícios que se fizeram presentes
afluentes do rio Amazonas. Movi- em Belo Monte, sobretudo a ausên-
mentos sociais, sociedade local, cia de consulta aos povos interes-
organizações não governamentais, sados. No entanto, após constantes
comunidade acadêmica e Ministé- mobilizações dos povos indígenas,
rio Público alertam para debilida- em especial dos Munduruku, e de
des nos estudos técnicos e para os parciais vitórias junto ao Poder Judi-
graves impactos socioambientais ciário, o governo federal deu início
que o projeto acarretaria. Povos in- ao processo de consulta prévia, livre
dígenas serão os principais impac- e informada em março de 2013.
tados pelo empreendimento, que Buscaremos discutir se essa con-
ameaça suas atividades tradicio- sulta reúne as condições mínimas
nais, como pesca, caça e transporte para que seja considerada prévia,
fluvial. A despeito disso, o licen- livre, informada e de boa-fé, como
ciamento tem início sem consulta determinam os padrões interna-
prévia, livre e informada, como cionais. O objetivo é concluir se o
manda a Convenção 169 da Orga- caso representa um divisor de águas
nização Internacional do Trabalho na relação entre Estado e povos in-
(OIT). dígenas no cenário da construção
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1. Processo nº3883- de grandes projetos ou se apenas Várias fases do planejamento e do
98.2012.4.01.3902. reproduz erros do passado, sem licenciamento ambiental da usina
2. “[…] Art. 1º - possibilitar a real participação dos foram ultrapassadas sem que os po-
Indicar os seguintes indígenas. vos interessados fossem consulta-
Aproveitamentos
Hidrelétricos [AHE] dos. Os estudos de inventário foram
como projetos de Antecedentes do processo realizados entre os anos de 2006 e
geração de energia
de consulta: a mobilização 2008, sem sequer indicar as terras
elétrica estratégicos,
de interesse público, Munduruku e a atuação judicial indígenas (TIs) afetadas. Em maio de
estruturantes e com do Ministério Público Federal 2011, o Conselho Nacional de Políti-
prioridade de licitação e
implantação: O Ministério Público Federal (MPF) ca Energética (CNPE) editou a Reso-
I - AHE São Luiz do ingressou em 2012 com uma ação ci- lução nº3, que determina a adoção
Tapajós, localizado no
vil pública (ACP) contra o Instituto de providências para a implantação
Rio Tapajós, Estado do
Pará; Brasileiro do Meio Ambiente e dos da UHE São Luiz do Tapajós2.
II - AHE Jatobá, Recursos Naturais Renováveis (Iba- Os estudos iniciais apontaram as
localizado no Rio
Tapajós, Estado do Pará; ma), Agência Nacional de Energia unidades de conservação (UCs) que
III - AHE Jardim do Elétrica (Aneel), Centrais Elétricas seriam afetadas pelos reservatórios
Ouro, localizado no Rio
Jamanxim, Estado do
Brasileiras S.A. (Eletrobras) e Cen- das usinas planejadas para a bacia
Pará; e trais Elétricas do Norte do Brasil do Tapajós. Nesse quadro, a solução
IV - AHE Chacorão,
S.A. (Eletronorte), com o intuito de encontrada pelo governo federal
localizado no Rio
Tapajós, Estados do suspender o licenciamento da UHE foi reduzir os limites das UCs – al-
Amazonas e Pará. São Luiz do Tapajós1, primeira hi- gumas contíguas a TIs – através da
Art. 2º - Determinar
que sejam adotadas
drelétrica a ser construída no rio Medida Provisória (MP) nº558/20123,
todas as providências, Tapajós, tendo potência nominal ato contestado pelo MPF no Supre-
no âmbito do Poder
estimada oficialmente em 8.040 mo Tribunal Federal (STF)4.
Executivo Federal, a fim
de concluir os estudos megawatts e área de inundação de Diante das notícias em veículos
necessários para a 722 quilômetros quadrados. A ação de imprensa relatando as preten-
licitação e implantação
dos mencionados questiona, dentre outras ilegalida- sões do governo federal de iniciar
Aproveitamentos des, a falta de consulta prévia, livre os estudos para a construção da
Hidrelétricos.
e informada aos povos indígenas e UHE São Luiz do Tapajós, os povos
Art. 3º - Fica assegurado
que os custos populações tradicionais indígenas na região, especificamen-
relativos à eventual te os Munduruku, divulgaram carta
construção de obras
de navegabilidade, localizados na área de influência do pública, em 24 de fevereiro de 2012,
bem como os custos de empreendimento São Luiz do Tapa- solicitando reunião com o Ministé-
operação e manutenção
jós e afetados pelas medidas admi- rio de Minas e Energia (MME):
das instalações
associadas não serão nistrativas e legislativas já execu-
imputados ao vencedor tadas no âmbito do licenciamento Nós indígenas Munduruku não en-
da licitação
ambiental. tendemos o que é hidrelétrica, quais