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3065

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE GUARULHOS
FORO DE GUARULHOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
Rua dos Crisântemos, 29, 17º andar, sala 1703, Vila Tijuco - CEP
07091-060, Fone: ., Guarulhos-SP - E-mail: guarulhos1faz@tjsp.jus.br
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

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SENTENÇA

Processo Digital nº: 0085312-39.2009.8.26.0224


Classe - Assunto Ação Civil Pública - Meio Ambiente
Requerente: Ministerio Publico do Estado de São Paulo
Requerido: Município de Guarulhos e outros

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RODRIGO TELLINI DE AGUIRRE CAMARGO, liberado nos autos em 17/10/2023 às 17:15 .
Juiz(a) de Direito: Dr.(ª) Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo

Vistos.

Trata-se de AÇÃO CIVIL PÚBLICA proposta pelo MINISTÉRIO


PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO contra o MUNICÍPIO DE
GUARULHOS, da FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO e
RECILIX AMBIENTAL LTDA.

Aduz o autor que, em 10 de julho de 2008, os assistentes técnicos do


Ministério Público do Estado de São Paulo constataram que, no imóvel objeto das
matrículas 2.533, 72.972, 72.973 e 72.974 do 2° Cartório de Registro de Imóveis de
Guarulhos, localizado na Estrada Dona Ana Diniz, bairro Cabuçu nesta Comarca, de
propriedade da correquerida RECLIX AMBIENTAL LTDA., estava ocorrendo
degradação ambiental de grande magnitude em trechos de planície aluvionar (várzea)
do Rio Cabuçu, gerada pela disposição de resíduos diversos.

Conforme relatado, a RECLIX AMBIENTAL LTDA., visando à


implantação de um aterro de resíduos sólidos, obteve aprovação da Prefeitura

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Municipal de Guarulhos de um projeto de intervenção na área por meio do processo
administrativo 3.850/2001. Afirmou que foram firmados diversos termos de
compromisso com a Secretaria Municipal de Guarulhos. No entanto, eles não foram

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implementados tendo em vista que a requerida perpetuou as atividades degradadoras
no imóvel em questão, mediante o aterro de planície aluvionar e supressão de
vegetação em área de preservação permanente.

Alegou que a omissão do MUNICÍPIO DE GUARULHOS foi decisiva


para a degradação ambiental no referido imóvel (fls. 5/31).

Juntou documentos às fls. 32/114.

Os procedimentos administrativos mencionados na exordial foram


juntados nos autos a fls. 130/545 o PA 3.850/2001, a fls. 546/813, o PA 5.377/2001, a
fls. 814/853 o PA 25.845/2007, a fls. 855/935 o PA 3.707/1997 e a fls. 936/950 o PA
38.311/2008, além da juntada dos autos do Inquérito Civil nº130/08-MA.

Foi concedida a liminar (fls. 1795/1797).

O autor emendou a petição inicial (fls. 1799), com seu recebimento a


fls. 1800.

Citado, o MUNICÍPIO DE GUARULHOS informou, a fls. 1819/1820,


que o imóvel em questão está embargado e sob constante fiscalização.

Em sede de contestação, a RECILIX AMBIENTAL LTDA. (fls.


1826/1830) aduziu que a degradação ambiental apurada não está situada em área de
sua propriedade. Alegou que os laudos do CAEX tratam da vistoria da área que faz
divisa com a sua propriedade, pertencente à empresa MADEVILA. Afirmou, também,
que possui alvará, apenas, para o nivelamento topográfico (terraplanagem), o que
justifica o fato de não ter licença da CETESB e que, na área, não há qualquer
construção, apenas uma floresta de árvores preservadas. Juntou documentos às fls.

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1831/1892.

O MUNICÍPIO DE GUARULHOS contestou a demanda, arguindo a


sua ilegitimidade passiva ante a ausência de competência para fiscalizar atos de

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competência estadual. Sustentou, também, que não possui responsabilidade pelos
danos ambientais noticiados (fls. 1895/1915). Juntou documentos às fls. 1916/1982.
Às fls. 2447/2467, juntou documentos a fim de comprovar o cumprimento da liminar.

O ESTADO DE SÃO PAULO contestou a fls. 1984/1993, arguindo sua


ilegitimidade para compor o polo passivo, aduzindo que a responsável pelo dano
ambiental é, apenas, “a pessoa que causou diretamente o dano, no caso, a corré
Recilix”. Juntou documentos às fls. 1994/2417. Interpôs agravo às fls. 2471/2478.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO


manifestou-se em réplica a fls. 2425/2434.

A decisão de fls. 2468 afastou a preliminar de ilegitimidade passiva dos


corréus.

Foi deferido o pedido de fls. 2479 para a inclusão da CETESB no polo


passivo a fls. 2481 e a fls. 2520/2535 a CETESB contestou, arguindo a sua
ilegitimidade passiva.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO


apresentou nova réplica a fls. 2557/2560.

A fls. 2572/2575, o autor noticiou que a o representante legal da


RECILIX AMBIENTAL LTDA. informou que, em abril de 2015, terceira pessoa
invadiu o imóvel em questão e passou a utilizá-lo como aterro. Por este motivo,
ingressou com ação de reintegração de posse (processo n°
1013620-50.2015.8.26.0224). Relatou que o representante legal da requerida
compareceu à Promotoria de Justiça para informar que o descarte irregular de resíduos

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sólidos na referida área ocasionou o desmoronamento do talude em direção ao Rio
Cabuçu, com o consequente lançamento de terra e entulho no curso d'água. Em razão
de tal evento; a Polícia Militar Ambiental compareceu ao local e realizou apreensões e

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autuações, além de proceder a interdição da área. Juntou documentos às fls.
2576/2652.

O MUNICÍPIO DE GUARULHOS, a fls. 2654, informou que, no


imóvel em questão, foi instalado um canteiro de obras do RODOANEL. Juntou
registros fotográficos a fls. 2655/2662.

A fls. 2673/2674, a DERSA esclareceu que os imóveis correspondentes


às matrículas nos 2.553, 72.972, 72.973 e 72.974 foram desapropriados parcialmente
para a execução das obras do Rodoanel Trecho Norte. A DERSA foi incluída ao polo
passivo nos termos da decisão de fls. 2822. Contestou a demanda a fls. 2882/2902.

A CETESB prestou esclarecimentos a fls. 2763/2765. Juntou


documentos a fls. 2766/2816. A decisão de fls. 2822 extinguiu o feito sem resolução
de mérito em relação à CETESB. Contra tal decisão, foi interposta apelação pela
RECILIX AMBIENTAL LTDA. a 2827/2836.

A fls. 2959 foram acolhidas as preliminares de ilegitimidade passiva


arguidas pela CETESB e pelo DERSA.

É o relatório.

Fundamento e decido.

O Município de Guarulhos, a fls. 3045/3046, suscita relevância da


suposta desapropriação de parte dos imóveis objeto desta demanda. Contudo, na
decisão de fls. 2959 a questão foi analisada. De todo modo, é importante ressaltar que
a desapropriação só acontece após o pagamento da indenização, o que não ocorreu. Só
foi deferida a imissão provisória na posse, o que não altera a propriedade sobre o

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imóvel. Ainda que tivesse acontecido, como já afirmado na mencionada decisão, a
desapropriação é forma originária de aquisição da propriedade, assim, o expropriante
não assume ônus anterior, que se sub-roga ao preço.

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Deixo de analisar a manifestação do DERSA de fls. 3049/3052, uma
vez que já foi excluído do polo passivo na decisão de fls. 2959.

As provas constantes dos autos, especialmente as manifestações


técnicas do Município de Guarulhos e trabalho pericial realizado pelo CAEX, são
suficientes para analisar as questões de fato objeto desta demanda. Destarte, é o caso
de julgamento antecipado do mérito, nos termos do art. 355, I, do CPC.

Portanto, indefiro o pedido de produção de prova pericial formulado


pela corré Recilix a fls. 3054/3063 com fulcro no art. 472 do CPC, diante das
informações técnicas já produzidas nos autos e com oportunidade de manifestação das
partes sobre elas.

Além disso, não houve controvérsia

Procede o pedido.

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de todos (art.


225 da CF) e isso impõe obrigações ao Poder Público (art. 255, § 1°, da CF). Nesse
sentido, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente estabelece o licenciamento
ambiental como um de seus instrumentos (art. 9°, IV, da Lei 6.938.1981). Por meio do
licenciamento, é possível que o Poder Público analise a potencialidade da prática de
atividades na causação de danos ambientais e a permita com ou sem ressalvas ou não.

É uma forma de expressão do princípio da prevenção, que impõe a


mitigação ou o impedimento de impactos ambientais cientificamente certos e
previstos, e do princípio da precaução, segundo o qual “quando houver ameaça de
danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza cientifica absoluta não será

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utilizada como razão para o adiamento de medidas efetivas eficazes e economicamente
viáveis para prevenir a degradação ambiental” (princípio 15 da Declaração do Rio).

Nenhuma das partes defendeu a validade dos atos administrativos

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praticados pelo Município no processo administrativo 3850/2001 e pelo Estado de São
Paulo nos processos administrativos 65.519/1998 e 68.411/2002. Com efeito, restou
incontroversa a sua invalidade, na forma suscitada pelo autor em sua petição inicial,
uma vez que os réus não se desincumbiram de seu ônus de impugnação específica (art.
336 do CPC).

A responsabilidade ambiental é tratada na Constituição Federal, a qual


impõe que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (art. 225, § 3°).

Nesse sentido, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente defini


poluidor como o responsável direta ou indiretamente por atividade causadora de
degradação ambiental (art. 3°, IV), impondo-lhe a obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados (art. 4°, VI).

A jurisprudência ainda entende que essa obrigação é ambulatória ou


propter rem, conforme fixado no enunciado 623 da Súmula do Superior Tribunal de
Justiça (As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível
cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor).
Sem prejuízo, esse entendimento foi positivado no art. 2° do Código Florestal.

Merecem destaque também o enunciado 652 da Súmula do Superior


Tribunal de Justiça com a seguinte redação: “A responsabilidade civil da
Administração Pública por danos ao meio ambiente, decorrente de sua omissão no
dever de fiscalização, é de caráter solidário, mas de execução subsidiária”.

Logo, é possível afirmar que a omissão da Administração Pública na

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fiscalização também é uma forma de causação do dano ambiental.

No caso dos autos, os danos ambientais foram muito bem identificados


no detalhado estudo realizado pelo CAEX (fls. 36/111). Nos anexos do referido estudo

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foi apresentada imagem aérea com as indicações das áreas degradadas (fls. 39/41), as
quais correspondem ao imóvel da corré Recilix, como pode-se notar das imagens
apresentadas por ela em sua contestação (fls. 1840/1845).

Além disso, a fls. 236, na manifestação de setor técnico do Município


de Guarulhos exarada em 31/1/2002 no processo administrativo em que foi requerido
o alvará para terraplanagem é esclarecido que “em parte da Área de Preservação
Permanente I, foi realizado um aterro irregular com uma distância inferior a 5 m
(cinco metros) do Rio Cabuçu, que compromete a integridade do projeto apresentado”.

Desse modo, conclui-se que não tem razão a corré Recilix ao afirmar
que danos ambientais não teriam sido efetivados em seu imóvel, mas em imóvel de
terceiro. Também fica evidenciado que houve uma degradação ambiental em seu
imóvel, de onde exsurge sua obrigação em reparar e/ou indenizar os danos ambientais
correspondentes.

Ademais, é inequívoco que o Município tinha conhecimento dos atos


de degradação ambiental, assim como foram firmados diversos termos de
compromisso entre os corréus Recilix e Estado de São Paulo, como mesmo afirmou
este último em sua contestação (fls. 1988). Contudo, ambos não agiram de forma
eficiente a impedir sua continuidade ou mesmo a reparação dos danos já perpetrados.

As obrigações impostas na Constituição Federal ao Poder Público,


especialmente a de proteger a fauna e a flora (art. 225, VII), exigem atuação mais
enérgica do que simplesmente firmar acordos com poluidores ou reduzir suas
competências ao licenciamento ambiental. É exigível do Poder Público o exercício do
poder de polícia ambiental, com efetiva intervenção em casos de degradação, seja com
a cassação de licenças, interdição de obras e atividades, apreensão de instrumentos

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utilizados nas atividades, entre outros atos administrativos com vistas a proteção
efetiva da fauna e da flora.

Portanto, diante da omissão ou ao menos da negligência do Município

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de Guarulhos e do Estado de São Paulo, também devem ser considerados poluidores e
responsáveis pelos danos ambientais noticiados na petição inicial. Consequentemente,
têm dever solidário na recuperação e indenização dos mencionados danos.

Com efeito, deve ser promovida a demolição de edificações e obras do


empreendimento que causem dano ambiental.

Nos termos do art. 12, II, do Código Florestal o imóvel da corré Recilix
deve manter 20% de sua área com cobertura vegetal nativa a título de reserva legal. O
dever de averbação da referida área advém do quanto previsto no art. 16, § 8°, da Lei
4.771/1965, o antigo Código Florestal, que se aplica neste caso, pois este feito foi
proposto em sua vigência (STJ. REsp n. 1.681.074/SP, Relator Min. NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, Relator para acórdão Min. BENEDITO GONÇALVES,
Primeira Turma, j. em 25/5/2021).

Ante o exposto, resolvo mérito, nos termos do art. 485, I, do CPC, e


julgo procedentes os pedidos formulados pelo autor para:

..1. confirmar a liminar concedida, tornando definitivas as medidas nela


determinadas;

..2. anular os atos administrativos praticados pelo Município de Guarulhos no


processo administrativo 3.850/2001 e pelo Estado de São Paulo nos processos
administrativos SMA 65.519/1998 e 68.411/2002;

..3. condenar os réus solidariamente, observando a subsidiariedade da execução


em relação ao Município de Guarulhos e ao Estado de São Paulo, a:

..3.1. não promover qualquer ato que conduza ou fomente a implantação ou

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fls. 3073

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funcionamento de aterro de resíduos sólidos ou qualquer outra
atividade danosa ou potencialmente lesiva ao meio ambiente no
imóvel objeto desta demanda antes da elaboração de EIA/RIMA;

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..3.2. reparar os danos ambientais causados no imóvel objeto desta demanda
pelos meios que se mostrarem necessários; observo que esta obrigação
não depende de liquidação, bastando que os réus identifiquem os
meios necessários à reparação dos danos ambientais e os execute;

..3.3. indenizar os danos que não puderem ser reparados, diante da


possibilidade de conversão das obrigações de fazer em indenização
(art. 536 do CPC); O valor da indenização deverá ser liquidado;

..4. condenar RECILIX AMBIENTAL LTDA. à obrigação de averbar a reserva


legal de 20% da área de seu imóvel a margem das respectivas matrículas.

..5. fixo multa a RECILIX AMBIENTAL LTDA. em caso de descumprimento


das obrigações no valor de R$ 5.000,00 por mês de atraso, limitado ao valor de R$
100.000,00. Não imponho multa ao Município de Guarulhos e ao Estado de São Paulo
porque a experiência tem demonstrado que essa medida não tem coercibilidade em
relação às Fazendas Públicas uma vez que a execução dos valores na forma prevista na
Constituição demora, o que faz com que os efeitos econômicos não mais tenham
contemporaneidade com a omissão. Sem prejuízo, na fase de cumprimento de
sentença poderão ser fixadas medidas apropriadas e considerando quais as obrigações
especificamente se exigem.

Esta sentença está sujeita ao reexame necessário. Assim, decorrido o


prazo para interposição de recurso voluntário, remetam-se os autos ao Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Sem condenação em custas e despesas processuais, bem como


honorários advocatícios, nos termos do art. 18 da Lei 7.347/1985, aplicável por

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simetria (STJ. REsp 1796436/RJ, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma,
j. em 9/5/2019).

Por fim, de modo a evitar o ajuizamento de embargos de declaração,

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registre-se que ficam preteridas as demais alegações, por incompatíveis com a linha de
raciocínio adotada, observando que o pedido foi apreciado e rejeitado nos limites em
que foi formulado.

Ficam as partes advertidas, desde logo, que a oposição de embargos de


declaração fora das hipóteses legais e/ou com postulação meramente infringente lhes
sujeitará a imposição da multa prevista pelo artigo 1026, § 2º, do Novo Código de
Processo Civil. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se.

Guarulhos, 17 de outubro de 2023

P.I.

Guarulhos, 17 de outubro de 2023

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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