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CENTRO UNIVERSITÁRIO BRASILEIRO – UNIBRA

CURSO DE FISIOTERAPIA
DISCIPLINA DE FISIOPATOLOGIA CLÍNICA EM GERONTOGERIATRIA

Teorias Biológicas do Envelhecimento


Humano

Profa. Sarah S. Mendonça


Fisioterapeuta
AULA 3
Especialista em Saúde Pública na Atenção Básica (UNICAP)
Mestre em Saúde Coletiva (UFPE)
ssmendonca@gmail.com
Nessa aula veremos:

▪ Porque envelhecemos?
▪ Como envelhecemos?
▪ Teorias estocásticas
▪ Teorias sistêmicas
Porque envelhecemos?
Todo organismo multicelular possui um tempo limitado de vida, que se
divide três fases:
FASES CARACTERÍSTICAS
FASE DE CRESCIMENTO E Desenvolvimento e crescimento dos órgãos
DESENVOLVIMENTO especializados, o organismo cresce e
adquire habilidades funcionais que o
tornam apto a se reproduzir.
FASE REPRODUTIVA Capacidade de reprodução do indivíduo,
garantindo a sobrevivência, perpetuação e
evolução da própria espécie.
FASE DE SENESCÊNCIA OU Caracterizada pelo declínio da capacidade
ENVELHECIMENTO funcional do organismo.
Como envelhecemos?
• O envelhecimento é causado por alterações moleculares e celulares,
que resultam em perdas funcionais dos órgãos e do organismo como
um todo.

• Esse declínio se torna perceptível ao final da fase reprodutiva, muito


embora as perdas funcionais do organismo comecem a ocorrer muito
antes.

• O envelhecimento é variável entre os indivíduos e entre os sistemas


de um mesmo indivíduo.
As alterações que ocorrem no
envelhecimento devem ser...
▪ Deletérias
▪ Reduzem a funcionalidade.
▪ Progressivas
▪ Se estabelecem gradualmente.
▪ Intrínsecas
▪ Características do próprio indivíduo. O ambiente tem forte influência sobre o
aparecimento e velocidade dessas mudanças.
▪ Universais
▪ Dentro de uma mesma espécie.
Como envelhecemos?

▪ Homeostase
▪ Tendência normal do organismo de manter a estabilidade interna, ajustando
processos metabólicos e fisiológicos em resposta as agressões.
▪ Doença:
▪ Perda da adaptabilidade ao estresse interno e externo (perda da homeostase)
→ Aumento da susceptibilidade à doenças.
▪ Morte:
▪ Ocorre quando o organismo não consegue mais restabelecer o equilíbrio
funcional.
Teorias do envelhecimento humano

▪ Teorias Biológicas;
▪ Teorias Estocásticas
▪ Teorias Sistêmicas
▪ Teorias Sociais;
▪ Teorias Psicológicas.
Teorias estocásticas
Teorias biológicas do envelhecimento
Teorias estocásticas
Estocástico: processo que se dá ao acaso, aleatoriamente, acidentalmente.
As teorias de cunho estocástico sugerem que danos moleculares, que ocorrem
ao acaso, provocariam os declínios encontrados no processo de
envelhecimento.

▪ Teoria de uso e desgaste;


▪ Teoria das mutações somáticas;
▪ Teoria das proteínas alteradas;
▪ Teoria do erro catastrófico;
▪ Teoria da desdiferenciação celular;
▪ Teoria do dano oxidativo e radicais livres;
▪ Teoria da lipofucina e acúmulo de detritos;
▪ Teoria das mudanças na pós-tradução de proteínas.
Teorias estocásticas
Teoria do uso e desgaste
▪ A teoria afirma que o envelhecimento ocorre como resultado do uso normal do
corpo e sistemas corporais. Com a idade, os sistemas se desgastam e não agem
com a totalidade de sua capacidade.

▪ O envelhecimento e a morte seriam resultado da constante exposição dos


tecidos à injúrias ambientais no dia-a-dia (infecções, inflamações, ferimentos,
agressões, etc.), ocasionando a diminuição da capacidade do organismo em
recuperar-se totalmente.

Trata-se de uma teoria superada.

▪ Exemplo:
Animais criados em ambientes livres de patógenos ou de ferimentos envelhecem,
porém, não apresentam qualquer aumento em sua longevidade máxima.
Teorias estocásticas
Teoria das mutações somáticas
▪ De acordo com essa teoria, o envelhecimento seria causado pelo acúmulo
de mutações após longa exposição a radiação e outros agentes
ambientais durante toda a vida.
▪ Ocorrem alterações em proteínas específicas que controlam o ciclo celular,
diminuindo a capacidade de reparação das lesões no DNA durante o
envelhecimento.
▪ Essa hipótese originou-se da observação de que os danos celulares
induzidos por radiação em cobaias, assemelham-se a algumas
características da senescência (atrofia do tecido e neoplasias).
Porém, observou-se que a morte precoce dos roedores submetidos a
radiações teria ocorrido devido ao câncer e não ao envelhecimento acelerado.
Teorias estocásticas
Teoria das proteínas alteradas
Estabelece que ocorrem mudanças em moléculas proteicas após a tradução
e que essas são dependentes do tempo. Tratam-se de alterações
conformacionais (no formato e na função da molécula):

Alteração na atividade enzimáticas → Acúmulo de proteínas anormais →


Comprometimento da eficácia das células

O acúmulo das proteínas anormais ao longo do tempo causaria danos ainda


maiores às células. A capacidade de remover estas proteínas alteradas está
comprometida nas células envelhecidas, contribuindo, assim, para a sua
progressiva acumulação.
Teorias estocásticas
Teoria do erro catastrófico
Os erros que ocorrem na síntese de proteínas são reparados e as moléculas
consideradas com defeito são substituídas para manter o equilíbrio entre a
síntese e a degradação proteica.

▪ A teoria propõe que pode ocorrer o acúmulo de erros aleatórios nas


proteínas que sintetizam o DNA ou outras moléculas, comprometendo a
síntese proteica. Esse acúmulo de erros diminuiria a funcionalidade desse
processo e estabeleceria um feedback positivo, transmitindo esses erros
para as novas proteínas produzidas.

▪ Haveria, então, um subsequente acúmulo de proteínas contendo erros


que resultaria em um "erro-catastrófico“, no comprometimento da
renovação celular e, em longo prazo, a função de órgãos e sistemas
inteiros, incompatível com a vida.
Teorias estocásticas
Teoria da desdiferenciação celular

▪ Essa teoria postula que células adultas, já diferenciadas (quando se


especializam para exercer determinadas funções, por exemplo, se
tornam uma célula cardíaca ou hepática ou renal), regridem para um
estágio indiferenciado sendo capaz de originar novos tipos de
células.

▪ Dessa forma, as novas células produziriam proteínas e outros


produtos celulares desnecessárias para aquele tecido, reduzindo a
eficácia celular.
Teorias estocásticas
Teoria do dano oxidativo e radicais livres
▪ Essa teoria postula que os declínios fisiológicos característicos de
mudanças relacionadas com a idade podem ser atribuídos aos danos
intracelulares produzidos pelos radicais livres.

Radicais livres: moléculas ou átomos instáveis e altamente reativos formados


durante o metabolismo que reagem com membranas celulares, proteínas,
gorduras, carboidratos e até o DNA, podendo danificá-los.

▪ Os danos provocados pelos radicais livres (estresse oxidativo) se acumulam


com a idade, eles têm sido associados à artrite, catarata, câncer, diabetes e
transtornos neurológicos como o mal de Parkinson. Porém, há necessidade
de evidências mais diretas para afirmar a ação dos radicais livres como
papel central no envelhecimento.
Teorias estocásticas
Teoria do dano oxidativo e radicais livres
Teorias estocásticas
Teoria do dano oxidativo e radicais livres

▪ Estresse oxidativo:
Desequilíbrio entre a produção de radicais
livres e a capacidade do organismo de
eliminá-los (antioxidantes).
Teorias estocásticas
Teoria da lipofuscina ou acúmulo de detritos

▪ A teoria propõe que o envelhecimento da célula é causado pelo


acúmulo intracelular de produtos do metabolismo que não podem
ser destruídos, exceto pelo processo de divisão celular.

Lipofuscina: detritos (pigmentos insolúveis) que se acumulam nas células


geralmente como resultado da auto-oxidação induzida por radicais livres.

▪ Nenhuma evidência sugere que a Iipofuscina em si seja danosa. Mas


podem prejudicar, pelo espaço tomado, a função celular.
Teorias estocásticas
Teoria da lipofuscina ou acúmulo de detritos
Teorias estocásticas
Teoria das mutações pós-tradução de proteínas

▪ Mudanças em macromoléculas importantes (colágeno e elastina)


comprometeriam as funções de tecidos e reduziriam a eficiência
celular.
Um terço do conteúdo total de proteínas de um mamífero é composto por
colágeno.

▪ Repercussões importantes sobre praticamente todos os aspectos


morfológicos e fisiológicos do organismo (senescência da pele, tecido
cardíaco e outros tecidos).
Teorias sistêmicas
Teorias sistêmicas
Consideram uma abordagem genética para analisar o envelhecimento,
admitindo, em diferentes graus, a modulação ambiental no
envelhecimento e longevidade.

▪ Teorias metabólicas;
▪ Teoria da taxa de vida
▪ Teoria do dano mitocondrial
▪ Teoria genética;
▪ Apoptose;
▪ Fagocitose;
▪ Teoria neuroendócrina;
▪ Teoria imunológica.
Teorias sistêmicas
Teorias metabólicas
▪ Sabe-se que animais maiores apresentam longevidade maior do que
animais menores, e que a taxa metabólica seria inversamente proporcional
ao peso do corpo.

▪ A ligação entre esses dois fatos levou à ideia de que a longevidade e o


metabolismo estariam unidos em uma relação causal.
Teorias sistêmicas
Teorias metabólicas
Em alguns organismos, alterações da taxa metabólica induzidas por
temperatura e/ou dieta produziriam mudanças correspondentes na
longevidade;

▪ Dados consistentes mostram que a taxa metabólica tende a declinar


com a idade avançada.

▪ Essas e outras observações similares levaram à hipótese segundo a


qual a longevidade pode ser mais bem entendida como função do
declínio metabólico.
Teorias sistêmicas
Teoria da taxa de vida

▪ Estabelece que a longevidade seria inversamente proporcional à taxa


metabólica.

Taxa Metabólica é a quantidade mínima de energia (calorias) necessária para


manter as funções vitais do organismo em repouso.

▪ Sugere que o corpo pode trabalhar até certo ponto, isto é, quanto
mais rápido ele trabalha, mais energia ele usa e mais rápido o
desgaste. Assim, a velocidade do metabolismo, ou o uso da energia,
determinaria o tempo de vida.
Teorias sistêmicas
Teoria da taxa de vida

MacGay (1934): Experimento com restrição calórica em ratos.

▪ Grupo I: Desenvolveram-se, envelheceram e morreram em 3 anos;


▪ Grupo II: Parada do crescimento, não envelheceram, morreram em 6
anos.

A restrição calórica em 30% a 40% levou ao aumento da longevidade


máxima em ratos.
Teorias sistêmicas
Teoria da taxa de vida

▪ Restrição calórica:

Produção de radicais livres;


Dano oxidativo;
Alterações oxidativas de proteínas.

▪ Reduz a mortalidade, aumenta a expectativa de vida, retarda o


envelhecimento.
Teorias sistêmicas
Teoria do dano mitocondrial

▪ Sugere que os danos cumulativos do oxigênio (oxidação) sobre a


mitocôndria levariam ao declínio no desempenho fisiológico das
células durante o envelhecimento.

Mitocôndria: organela citoplasmática membranosa, cuja principal função é a


geração de energia através da síntese de adenosina trifosfato (ATP).

▪ A produção de energia seria comprometida devido à lesão das


estruturas da membrana mitocondrial pelo dano oxidativo. Isso
explicaria as baixas taxas metabólicas observadas em células
envelhecidas.
Teorias sistêmicas
Teoria genética

▪ Partem do princípio que a taxa de envelhecimento corporal é


determinada pela hereditariedade.

▪ É proposto que o processo de envelhecimento está programado nos


genes, e eventos como a puberdade, a menarca ou a menopausa são
regulados por relógios biológicos celulares.

▪ Caracterização de doenças genéticas humanas associadas ao


envelhecimento prematuro (Ex: Progéria, Síndrome de Werner).
Teorias sistêmicas
Teoria genética

Progéria: expectativa de vida entre 13 e 20 anos


Teorias sistêmicas
Apoptose

▪ A apoptose, conhecida como “morte celular programada” ou de


“suicídio” de certas células, é um tipo de “auto-destruição celular”
geneticamente programada induzida por fatores extracelulares, e que
se relaciona com a manutenção da homeostase e com a regulação
fisiológica do tamanho dos tecidos.

▪ A falha em reprimir ou em induzir a apoptose provavelmente é


responsável por diversas doenças. Contudo, o papel da apoptose no
envelhecimento não-patológico ainda não foi esclarecido.
Teorias sistêmicas
Fagocitose

▪ Células senescentes apresentariam proteínas de membrana que as


identificariam como alvo para a destruição por outras células, tais
como os macrófagos.

Fagocitose: é o englobamento e digestão de partículas sólidas e micro-


organismos por fagócitos ou células amebóides.

▪ Essa teoria Já foi comprovada experimentalmente, mas sua ação é


muito restrita, como ocorre com as células vermelhas do sangue.
Teorias sistêmicas
Teoria neuroendócrina

▪ Postulam que a falência progressiva de células do sistema endócrino com


funções integradoras específicas levaria ao colapso da homeostase
corporal, à senescência e à morte.

Células integradoras: fazem relação entre os sistemas neurológico e endócrino e


desses com outros sistemas.

▪ Algumas investigações mostram que genes envolvidos em funções


neuroendócrinas podem ser qualitativamente alterados com a idade e que
a frequência dessas mutações pode ser modulada pela exposição crônica a
determinados hormônios.
Teorias sistêmicas
Teoria imunológica

▪ Nesta teoria, afirma-se que o envelhecimento ocorre como resultado


de uma redução na atividade do sistema imune, representada pela
redução quantitativa e qualitativa de linfócitos, que pode se dar pela
involução e envelhecimento do timo.
Timo: sofre involução durante os primeiros 50 anos de vida com perda de
95% de sua massa na velhice.

▪ Maior incidência de doenças infecciosas, neoplásicas e autoimunes.


Teorias sistêmicas
Teoria imunológica
Considerações gerais

▪ Ainda falta muita investigação para se chegar a um consenso sobre os


conceitos básicos que possam definir o processo de envelhecimento.
▪ Muito provavelmente, nenhuma das teorias aqui expostas esteja
completamente correta.
▪ Talvez todas contenham a explicação de alguma parte do mosaico,
mas muitas pesquisas ainda serão necessárias para que se tenha uma
explicação unificada desse fenômeno instigante que é o
envelhecimento dos seres vivos.
Obrigada!

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