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Violência

obstétrica
O que é violência obstétrica?
É o desrespeito à mulher, à sua autonomia, ao seu corpo e aos seus processos
reprodutivos, podendo manifestar-se por meio de violência verbal, física ou sexual
e pela adoção de intervenções e procedimentos desnecessários e/ou sem
evidências científicas. A mulher perdeu sua autonomia e passou a sujeitar-se a
intervenções desnecessárias capazes de lhe trazer consequências danosas.
O que se encaixa em violência obstétrica?
● Xingamentos, humilhações, comentários constrangedores em razão da cor,
raça, da etnia, da religião, da orientação sexual, da idade, da classe social, do
número de filhos, etc.;
● Episiotomia (“pique” no parto vaginal) sem necessidade, sem anestesia ou sem
informar à mulher;
● Ocitocina (“sorinho”) sem necessidade;
● Manobra de Kristeller (pressão sobre a barriga da mulher para empurrar o
bebê);
● Lavagem intestinal durante o trabalho de parto;
● Raspagem dos pêlos pubianos;
● Amarrar a mulher durante o parto para impedi-la de se movimentar;
● Cirurgia cesariana desnecessária e sem informar à mulher de seus riscos.
O que se encaixa em violência obstétrica:
● Não permitir que a mulher escolha sua posição de parto, obrigando-a a parir
deitada com a barriga para cima e pernas levantadas;
● Impedir a mulher de se alimentar e beber água durante o trabalho de parto;
● Negar anestesia no parto normal;
● Toques realizados muitas vezes, por mais de uma pessoa sem o
esclarecimento e consentimento da mulher;
● Dificultar o aleitamento materno na primeira hora;
● Impedir o contato imediato, pele a pele do bebê com a mãe, após o
nascimento sem motivo esclarecido à mulher;
● Proibir o acompanhante que é de escolha livre da mulher;
Como prevenir a violência obstétrica?
● Visite a maternidade/hospital antes do parto. É um direito da gestante e com
isso ela já se informa sobre as práticas adotadas pela instituição hospitalar.
● Entregue (protocole) na maternidade/hospital com antecedência, seu plano
de parto, que é um documento com indicações daquilo que a mulher deseja
para o seu parto recomendado pela Organização Mundial da Saúde. O ideal é
que a mulher construa seu plano de parto juntamente com os profissionais de
saúde que a atendem porque é uma forma de estabelecer o diálogo sincero e
transparente entre as partes envolvidas.
● Tenha sempre um(a) acompanhante, pois a presença de outra pessoa, sem
dúvidas previne a violência obstétrica. E é um direito garantido pela lei!
O nascimento e a história da assistência
obstetrícia
● O nascimento apesar de ser uma ato biológico e natural irá depender da
cultura a qual a mulher estará inserida para defini-lo.
● Antigamente as mulheres ao perceber que estavam pra ganhar o bebe
se isolavam para parir sozinhas.
● Até o séc. XII o nascimento era realizado em um ambiente
exclusivamente feminino, com a ajuda de parteiras ou paradeiras.
● Os médicos só eram chamados somente em caso de complicações no
parto.
A figura do médico e a obstetrícia enquanto
especialidade médica
● Entre os séculos XVII e XIX, a figura do médico cirurgião começa aparecer de
forma constante no momento do parto, são usadas técnicas como a do
fórceps. O momento do parto em que antes era exclusivamente feminino
agora trás a figura de um homem.
● As parteiras são deixadas de lado, por serem consideradas como produto de
superstições.
● Enquanto antigamente os médicos só eram chamados quando houvesse
complicações, agora são eles quem acompanha o processo todo da gestação.
● Mesmo que complicações fossem mais raras nesse momento o médico se
encontra presente a todo o processo gestacional, desde o embrião até o
nascimento e inclusive após com cuidado com o recém nascido.
● A mulher é vista como um corpo biológico, inclusive frágil e o médico obstetra
é quem irá socorrer em todos os momentos.
O momento do parto no hospital

● Devido a estar em um ambiente hospital a mulher perde sua autonomia,


precisa seguir regras para facilitar o parto, fica isolada de sua família.

● A Mulher não é mais protagonista de seu parto, se vê passiva diante de


tantas ordens médicas

● O parto acaba virando um evento médico.


Como denunciar casos de violência obstétrica?
A denúncia pode ser feita no próprio hospital, clínica ou maternidade em
que a vítima foi atendida; é possível também ligar para o disque 180, disque 136 ou
para 08007019656 da Agência Nacional de Saúde Suplementar para reclamar
sobre o atendimento do plano de saúde.
Em regra, aquela que sofreu um dano em razão da prática da violência
obstétrica, tem o prazo de 03 (três) anos contados da data dos fatos para
promover ação judicial buscando a reparação.
Começo da violência obstétrica:
O debate em torno da violência obstétrica no Brasil iniciou-se
aproximadamente a partir de 2010. Segundo Diniz em (2015), o tema já havia sido
abordado em algumas publicações pontuais anteriormente, mas foi a partir daquele
ano que tomou vulto para ser melhor compreendido e mereceu ações voltadas
para sua prevenção e, inclusive, para denúncias.
Consequências emocionais devido a violência
obstétrica:

Segundo o estudo de Maia (2018), o linguajar desrespeitoso e intervenções


desnecessárias da equipe de saúde direcionado à mulher tem uma grande
probabilidade de gerar medo, insegurança, impotência, angústia e
constrangimento, além da dor desnecessária que favorece o estabelecimento do
sentimento negativo, traumas e possíveis transtornos emocionais. A dificuldade da
mulher em se expressar diante da violência e de denunciá-la diminui por conta do
sentimento de coação.
Consequências emocionais devido a violência
obstétrica:
Maia (2018), também descreve os sentimentos de medo da morte, de perda do
filho, raiva, impotência, vergonha, frustração, incompetência, medo de uma nova
gestação e parto, rejeição ao bebê e amamentação como resultados da violência
obstétrica. Além disso, outras consequências psicológicas podem surgir, como
transtornos alimentares e do sono, transtornos de ansiedade (pânico, fobias,
transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), e estresse pós-traumático, esses
transtornos podem favorecer o aparecimento de algumas consequências na fase
puerperal, como a disforia puerperal, psicose puerperal e depressão pós-parto.
Todos esses danos emocionais causados pela violência obstétrica se manifestam de
forma leve até a mais grave, aumentando demais a morbimortalidade
materno-infantil.
Quais pessoas praticam, que pode ser
considerada com violência obstétrica ?
A violência obstétrica é praticada por quem realiza a assistência obstétrica.

● Médicos(as);
● Enfermeiros(as);
● Técnicos(as) em enfermagem;
● Obstetrizes ou qualquer outro profissional que preste em algum momento
esse tipo de assistência.
Violência obstétrica no Brasil:
A Fundação Perceu Abramo e SESC fizeram uma pesquisa que apontaram que
uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto.

Mas de, 25% das mulheres que deram à luz afirmam ter sido desrespeitadas na
gestação ou no parto; 71% não tiveram direito de acompanhantes; 73% não tiveram
acesso a medicamentos para alívio das dores; 75% não receberam alimentos
durante o trabalho de parto.
A importância do psicólogo nessa situação:
Considerando a importância do psicólogo diante dessa realidade que, além de
ser um problema da saúde pública e social, atinge a maior parte das mulheres
brasileiras, causando-lhes danos físicos e emocionais, deve-se relevar o tema e
estimular a produção de trabalhos científicos por esses profissionais.

Com base no artigo ECOS, realizado por psicólogos, podemos perceber a


gravidade dos danos físicos e emocionais causados na mulher pela violência
obstétrica e a importância do papel do psicólogo, seja na prevenção desta
violência, no papel de orientar mulheres, casais e outros entes familiares, seja no
de orientar profissionais da saúde para que cumpram melhor a assistência à
mulher e à sua família e diálogo com as equipes de saúde.
Papel do Psicólogo :
● O profissional de psicologia é fundamental, para prevenção, atendimento e
orientação à mulher e diálogo com as equipes de saúde. Para isso, precisa ter
domínio do assunto, ressalte-se especializações como perinatal e hospitalar,
reitera-se também a importância de produção científica sobre o assunto.
● O sofrimento vivenciado pelas mulheres tendo em vista que a violência
obstétrica consiste em violação dos direitos sexuais e reprodutivos, já se
justifica a relevância da participação do psicólogo na assistência à mulher em
todas as fases do ciclo gestacional e puerpério.
Papel do Psicólogo:
● Desconstruir a visão “clinicista”, inclusive dos profissionais de saúde quanto ao
seu papel, no caso na maternidade, os profissionais de psicologia costumam
ser chamados apenas quando há um transtorno instalado. A desconstrução de
rotinas e hábitos nos profissionais que favorecem as situações de sofrimento
também possibilitam realmente humanizar a assistência ao parto.

● É necessário ampliar o olhar sobre o papel do psicólogo diante da violência


obstétrica, não limitando apenas ao atendimento clínico, deve ser tratado
como assunto de saúde pública, garantindo a cidadania, assistência de saúde
de qualidade e a preservação dos direitos humanos.
Referências:
● https://www.as.saude.ms.gov.br
● https://www.mpsc.mp.br/campanhas/violencia-obstetrica
● Artigo “Violência obstétrica: produção científica de psicólogos sobre o tema”
Ecos volume 9

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