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S729f
Souza, Jonas Gordilho (org).
Fundamentos Básicos em Geriatria / Organizadores: Jonas Gordilho Souza
e Débora Fontenele Alves.– 1. ed.– Salvador, BA : Editora Sanar,
2021.
512 p.; 16x23 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-89822-12-7.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SOUZA, Jonas Gordilho; ALVES, Débora Fontenele (org.). Fundamentos
Básicos em Geriatria. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2021.
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846
Capítulo 1
Abordagem do idoso: Avaliação Geriátrica Ampla
Caso clínico
Introdução e epidemiologia
Histórico da Geriatria
Avaliação Geriátrica Ampla
Evidências do uso da AGA
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 2
Síndrome de fragilidade no idoso
Caso clínico
Definição
Fenótipo de fragilidade
Escala de Rockwood
Epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico e abordagem diagnóstica
Tratamento
Medidas não farmacológicas
Tratamento medicamentoso
Prognóstico
Considerações finais
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 3
Polifarmácia e princípios da prescrição medicamentosa no
idoso
Caso clínico
Introdução
Epidemiologia
Idosos e o metabolismo dos fármacos
Absorção
Distribuição
Metabolismo
Excreção
Adesão ao tratamento
Reações adversas a medicamentos
Uso inadequado de medicações
Princípios gerais da prescrição e desprescrição
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 4
Iatrogenia
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Fatores de Risco
Classificação
Distanásia
Prevenção
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 5
Doença de Alzheimer e outras síndromes demenciais
Caso clínico
Introdução e epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
História clínica
Testes para rastreio diagnóstico
Testes laboratoriais
Neuroimagem
Punção lombar
Biópsia
Tratamento
Prevenção
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 6
Delirium
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Fisiopatologia
Fatores de risco
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
Prevenção
Tratamento
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Versão em português do Confusion Assessment Method (CAM)8
Referências bibliográficas
Capítulo 7
Depressão
Introdução e epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
Peculiaridades no diagnóstico da depressão no idoso
Tratamento
Medidas não farmacológicas
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 8
Transtornos do movimento
Caso clínico
Doença de Parkinson Breve histórico e epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
Diagnóstico diferencial
Tratamento não farmacológico
Tratamento farmacológico
Terapias cirúrgicas para doença de Parkinson
Prognóstico
Tremor essencial
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 9
Instabilidade postural e quedas
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Classificação
Fatores de Risco
Abordagem diagnóstica
Prevenção e tratamento
Consequências
Conclusões
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 10
Síndrome da imobilização
Caso clínico
Introdução
Definição
Epidemiologia
Etiologia
Quadro clínico e abordagem diagnóstica
Complicações da síndrome de imobilização
Manejo clínico
Prevenção
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 11
Incontinência urinária
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
Diário de micção
Questionários validados
Exame Físico
Teste de esforço
Exames laboratoriais e de imagem
Exames urodinâmicos
Tratamento não farmacológico
Tratamento farmacológico
Dispositivos e cirurgia
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 12
Abordagem social no paciente idoso
Caso clínico
Introdução
Políticas Públicas voltadas ao idoso
Relações familiares
Insuficiência familiar
Institucionalização do idoso
Condições sociais
Violência contra o idoso
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 13
Distúrbios do sono em idosos
Caso clínico
Introdução
Fisiologia do sono
Insônia
Síndrome da Apneia/Hipopneia Obstrutiva do Sono
Síndrome das Pernas Inquietas
Transtorno comportamental do sono REM
Sono e comorbidades
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 14
Exames de rastreamento no paciente idoso
Caso clínico
Introdução
Rastreio de doenças não oncológicas
Rastreio de doenças oncológicas
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 15
Abordagem do idoso em cuidados paliativos
Caso clínico
Introdução e conceitos
Princípios fundamentais dos cuidados paliativos
Conhecendo o paciente geriátrico
Principais condições clínicas
Indicações de cuidados paliativos
Aspectos éticos em cuidados paliativos
Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV)
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 16
Hipertensão arterial em idosos
Caso clínico
Definição e epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
Tratamento
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 17
Diabetes no idoso
Caso clínico
Introdução e epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico e exame físico
Abordagem diagnóstica
Metas glicêmicas no idoso
Fatores associados à hipoglicemia
Tratamento não farmacológico
Tratamento farmacológico
Acompanhamento
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 18
Osteoporose
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Fisiopatologia
Fatores importantes ao crescimento ósseo
Quadro clínico e abordagem diagnóstica
Tratamento
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
Capítulo 19
Manejo da perda de peso no idoso
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Fisiopatologia
Etiologia
Abordagem diagnóstica
História
Exame clínico
Exame laboratorial
Tratamento
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referência bibliográficas
Capítulo 20
Manejo da anemia no idoso
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Etiologia
Fisiopatologia e classificação
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
Tratamento
Prognóstico
Comentários sobre o caso clínico
Referências bibliográficas
PREFÁCIO
Coordenadores
Jonas Gordilho Souza
e Débora Fontenele Alves
1. ABORDAGEM DO IDOSO: AVALIAÇÃO
GERIÁTRICA AMPLA
CASO CLÍNICO
MCV, sexo feminino, 76 anos, viúva, natural e procedente de Sobral/CE,
mora com a irmã, Isabela, 73 anos. Foi conduzida ao departamento de
Emergência após ter escorregado no banheiro durante a madrugada. Após a
admissão hospitalar, uma fratura de colo de fêmur foi identificada, sendo
indicada para a intervenção cirúrgica, de onde, posteriormente, seguiria para
a enfermaria, na qual receberia os cuidados de reabilitação. Isabela relatou
que a paciente era independente em suas atividades, controlava seus
remédios e o dinheiro, ia à missa todos os domingos e saía para conversar
com os amigos na praça diariamente. Há cinco dias começou a ingerir
“remédio para dormir”, por conta própria, pois não conseguia dormir à
noite, desde o falecimento do marido, há dois meses. Dado o exposto,
responda:
INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
O envelhecimento populacional é um fenômeno que tem sido observado
mundialmente, em meio a uma redução das taxas de mortalidade e
natalidade.8 44 Em 2050, estima-se que o número global de pessoas idosas
alcançará 2,1 bilhões. Dados epidemiológicos da Organização das Nações
Unidas (ONU) também demonstram que a população com 60 anos ou mais
cresce a uma taxa de 3% ao ano, mais rápido que os grupos etários
jovens.45 No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
estima que, em 2060, 25% dos habitantes terão 65 anos ou mais, o
equivalente a 58,2 milhões de indivíduos. Apesar desse processo de
transição demográfica ocorrer universalmente, não é homogêneo, uma vez
que sofre influência dos ambientes habitados e das circunstâncias sociais
vivenciadas.7 46 51
Diante do aumento global no número de idosos, alguns conceitos
precisam ser esclarecidos, a fim de não considerar toda alteração associada
ao envelhecimento como algo patológico. Enquanto senescência se refere a
um processo fisiológico, que envolve alterações no organismo de um
indivíduo — cabelos brancos e pele enrugada, por exemplo —, senilidade
compreende processos patológicos que interferem na qualidade de vida e
capacidade funcional, ou seja, na independência para realizar atividades
diárias (AVDs).13 A autonomia é um outro conceito importante de ser
descrito, que está relacionado à capacidade do indivíduo de tomar suas
decisões e gerenciar sua vida (cognição).
Tendo em vista a heterogeneidade observada entre os idosos,
instrumentos destinados para avaliá-los de forma individualizada tornam-se
necessários, permitindo assim um atendimento multidimensional e integral.
Nesse contexto, a AGA é uma ferramenta fundamental para guiar os
processos de diagnóstico e formulação de planos de cuidado.7
HISTÓRICO DA GERIATRIA
No início do século XX, o norte-americano Ignatz L. Nascher foi um
dos primeiros autores a sugerir uma abordagem médica focada no paciente
idoso, recebendo o nome de Geriatria, pela junção das palavras gregas
geronto (idoso) e iatro (médico/medicina). No entanto, foi apenas na década
de 1930 que a especialidade passou a ganhar visibilidade, quando, no Reino
Unido, Marjory Warren elaborou um plano de cuidados e reabilitação
individualizado para os pacientes crônicos do Hospital West Middlesex.
Antes, esses idosos eram vistos como pacientes enfermos, sem previsão de
melhora. No entanto, após a intervenção proposta, muitos deles puderam ser
reabilitados e alguns receberam alta para o domicílio. A partir de então,
ficou clara a importância de uma abordagem multidisciplinar,
individualizada, servindo como pilar para o desenvolvimento da AGA.17 28 41
AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA
A AGA é um processo diagnóstico, frequentemente multidisciplinar e
sempre multidimensional, cujo objetivo é traçar um plano de cuidados e
assistência ao idoso a médio e longo prazo. Inicialmente, são coletados
dados sociodemográficos e, em seguida, outros domínios importantes são
avaliados, como capacidade funcional, cognição, humor, estado nutricional,
equilíbrio, marcha, suporte social, visão e audição. Em diversos serviços, o
processo de avaliação multidimensional se dá por um time, que pode ser
composto por médico (geriatra), enfermeira, assistente social e outros
profissionais — entre eles terapeutas ocupacionais, farmacêuticos,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, educadores físicos, nutricionistas e
dentistas.16
Avaliação da Funcionalidade:
A capacidade funcional diz respeito ao potencial que os idosos têm para
atuar independentemente em suas vidas. Uma vez que a senilidade é um
processo que pode culminar com perda funcional, um dos principais
objetivos da abordagem geriátrica é preservar ou reduzir essa perda de
independência.23
Existem diversas escalas sugeridas para a avaliação de AVDs. No
entanto, as mais comumente utilizadas nos serviços de atendimento ao
idoso são as escalas de Lawton e Katz, para avaliação de atividades
instrumentais e básicas de vida diária, respectivamente.38 39
Escore: 6 pontos (independência para AVDs); 4 pontos (dependência parcial para AVDs);
2 pontos (dependência importante).
Sem ajuda 3
Sem ajuda 3
Sem ajuda 3
Sem ajuda 3
Sem ajuda 3
6. O(a) Sr.(a) consegue fazer os
Com ajuda 2
trabalhos manuais domésticos,
como pequenos reparos?
Não
1
consegue
7. O(a) Sr.(a) consegue tomar os Sem ajuda 3
seus remédios na dose certa e
no horário correto? Com ajuda 2
Não
1
consegue
Sem ajuda 3
Avaliação da Cognição
Cognição é definida como o processo que permite aquisição de
conhecimento. Entre seus componentes estão inclusos a atenção, raciocínio,
memória, juízo, abstração, linguagem, pensamento, percepção, associação.4
47
MEEM
É um dos testes de triagem cognitiva mais utilizados mundialmente. Ele
avalia diversas funções: orientação temporal, orientação espacial, memória
imediata, atenção e cálculo, memória de evocação e linguagem. É
importante, no entanto, que os resultados sejam avaliados de forma crítica,
levando em consideração a escolaridade de cada indivíduo, além da relação
entre os domínios afetados e a provável etiologia da demência. Existem
diferentes pontos de corte, corrigidos para o nível educacional, sugeridos na
literatura, a exemplo da classificação de Brucki et al. (2003): analfabetos
(20); escolaridade de 1 a 4 anos (25); escolaridade de 5 a 8 anos (26,5);
escolaridade de 9 a 11 anos (28); escolaridade superior a 11 anos (29) —
(Quadro 3).11
1. Ano
Orientação
2. Mês
temporal
3. Dia do mês 5 pontos
(Qual é o...
4. Dia da semana
?)
5. Hora
1. Local específico
Orientação
2. Local genérico
espacial
3. Bairro ou rua próxima 5 pontos
(Onde
4. Cidade
estamos?)
5. Estado
Memória de
Repetir os 3 objetos nomeados antes. 3 pontos
evocação
Copiar o desenho
1 ponto
MOCA:
Trata-se de uma ferramenta de rastreio cognitivo, que se destaca pela
sua sensibilidade em identificar indivíduos com Comprometimento
Cognitivo Leve (CCL) e estágios iniciais da demência, uma vez que avalia
funções como memória, orientação, planejamento, linguagem, praxia e
função visuoespacial. Neste teste, um escore acima de 26 é considerado
normal. Sua aplicabilidade, no entanto, é mais limitada em indivíduos de
baixa escolaridade, como uma grande parte dos idosos em nosso país
(Figura 1).27
Fluência verbal:
Esse teste é de fácil aplicação, em especial nos indivíduos com baixa
escolaridade. Ele avalia a função executiva, a linguagem e a memória
semântica, envolvendo a capacidade de gerar o máximo de palavras em 1
minuto. Existem diversas formas de aplicação, entre elas a semântica e a
fonêmica. A primeira é relacionada à geração de palavras pertencentes a
certa classe semântica, por exemplo à categoria “animal”. Já a fonêmica se
dá pela evocação de palavras que começam com certa letra, por exemplo, a
F. Para analfabetos, o ponto de corte é 9, já para indivíduos com mais de 8
anos de escolaridade, o ponto de corte é 13. 10, 52
Teste do relógio
Trata-se de uma ferramenta de fácil e rápida aplicação, que consiste em
solicitar que o paciente desenhe um relógio com números e ponteiros,
marcando determinado horário como 11 horas e 10 minutos. No entanto, em
alguns pacientes, o seu uso pode ser mais limitado, uma vez que o
desempenho no teste depende do grau de escolaridade. Tendo em vista essa
limitação, recomenda-se realizar o teste naqueles com escolaridade superior
a quatro anos. Além da utilização como ferramenta diagnóstica, o teste do
relógio também pode ser útil para acompanhamento da evolução do quadro
demencial. Atualmente, existem diversas pontuações sugeridas na literatura,
sendo a de Sunderland et al. (1989), uma das mais utilizadas — Quadro 4.3
62
Avaliação do desenho
Avaliação do Humor
O humor, ou estado de ânimo, é definido como o tônus afetivo do
indivíduo, seu estado basal em um determinado momento. Alterações no
humor de idosos, por vezes, passam despercebidas por cuidadores, médicos
e familiares, levando a um risco de desfechos negativos. Portanto, é crucial
que a equipe de saúde realize uma busca ativa desses sintomas, que podem
inclusive estar mascarados em queixas somáticas.15
Um instrumento amplamente utilizado e de fácil aplicação é o Geriatric
Depression Scale (GDS). Trata-se de um questionário com respostas
dicotômicas com 30 questões associadas ao estado de humor, com um ponto
de corte de 10 pontos para o diagnóstico de depressão. Existem também
versões reduzidas de 15 e 4 itens com pontos de corte de 5 e 1
respectivamente. Essas versões permitem uma aplicação em menor tempo,
o que facilita seu uso na prática diária. O GDS também é uma excelente
ferramenta para o monitoramento da resposta ao tratamento
medicamentoso.2 No Quadro 5 está demonstrada a escala na versão de 15
itens.
Total
TRIAGEM
A. O consumo de E. Problemas
alimentos diminuiu nos neuropsicológicos:
últimos 3 meses devido à 0 = demência ou depressão
perda de apetite, grave
problemas digestivos, 1 = demência leve
dificuldades para 2 = sem problemas
mastigar ou deglutir? psicológicos
0 = diminuição severa da
ingesta.
1 = diminuição moderada
da ingesta.
2 = sem diminuição da
ingesta.
AVALIAÇÃO GLOBAL
AVALIAÇÃO SENSORIAL
A deficiência auditiva/visual, comumente, é desvalorizada pela maioria
dos cuidadores e pelos próprios idosos, sendo associada a perdas naturais
do envelhecimento. Entretanto, esses deficits podem culminar em
dificuldade para execução de atividades diárias básicas, além de interferir
na comunicação, fundamental para a vida em comunidade.60 Cabe ao
geriatra rastrear alterações visuais e auditivas e, caso seja identificado
deficiências, encaminhar para um especialista.
VISÃO
No idoso, a perda da acuidade visual tem sido associada a risco de
quedas, perda de capacidade funcional, isolamento e depressão. Existem, no
entanto, possíveis maneiras do médico generalista rastrear essa perda.
Inicialmente, deve ser realizada uma avaliação subjetiva, através da
anamnese, escutando as queixas do idoso a respeito de dificuldade para
enxergar. O médico também pode usar estratégias como perguntar
ativamente se tem problemas em atividades cotidianas — como assistir
televisão — ou dificuldade para enxergar quando alguém o cumprimenta de
longe.7
Uma ferramenta amplamente usada para triagem é o teste de Snellen,
que é realizado com o paciente situado a uma distância de cinco metros de
um quadro contendo letras do alfabeto. Cada olho é testado separadamente,
com ou sem o uso de lentes corretivas. De acordo com o teste, as seguintes
pontuações definem alterações: 0,1 - 20/200 (cegueira); 0,5 - 20/40 (perda
visual importante); 0,8 (demanda investigação complementar com
oftalmologista). O uso alternativo de símbolos como a figura “E” é
importante no contexto da avaliação de pacientes de baixa escolaridade, já
que costumam ter dificuldades em identificar as letras do alfabeto.33
AUDIÇÃO
A perda da audição também está envolvida com a funcionalidade do
idoso, podendo contribuir inclusive para um maior isolamento social,
depressão e alteração cognitiva. É necessário questionar o paciente sobre
dificuldades para escutar, se certificar de estar em um ambiente sem ruídos,
falar de forma clara e simples, além de fazer testes objetivos, como o teste
do sussurro, que se configura como um bom método de triagem para
detecção de presbiacusia.7,36 Para a realização do teste, o avaliador deve se
colocar fora do campo visual do participante, a uma distância de 0,6 metros,
com o braço estendido tocando em seu ombro. Após a oclusão do ouvido
contralateral, são sussurrados uma combinação de três números e letras
intercalados. Para aqueles incapazes de repeti-los corretamente, a avaliação
deve ser repetida com a utilização de outros três números e outras letras.
Em caso de alteração no teste, é necessário avaliar o conduto auditivo, em
busca de obstruções, como o cerume e, caso permaneça alterado, o idoso
deve ser encaminhado para o otorrinolaringologista.60 63
SUPORTE SOCIAL
O apoio social é definido como grupo de pessoas com as quais o
indivíduo tem algum vínculo. Ele constitui um elemento importante para a
manutenção do bem-estar do indivíduo idoso, tendo impacto positivo sobre
a aderência às condutas terapêuticas, funcionalidade e diminuição da
mortalidade. Para que o médico possa entender toda rede social do
indivíduo, é necessário que, durante a consulta, o paciente seja questionado
a respeito das pessoas que moram na mesma residência, presença de
familiares ou vizinhos que possam dar qualquer tipo de suporte. Muitas
vezes nos deparamos com idosos de baixa escolaridade, alteração cognitiva,
limitações de comunicação ou motoras, sozinhos em consulta. Isso traz
diversas dificuldades, uma vez que pacientes com tais características
necessitam de uma rede de apoio.6 18
Em busca de um instrumento capaz de avaliar o apoio social em todas as
suas dimensões, Sherbourne CD et al., 1991, desenvolveram o Medical
Outcomes Study (MOS), um questionário que avalia cinco aspectos do
suporte social — ajuda física, suporte afetivo, emocional, informativo e
interação social — por meio de 19 perguntas, com respostas graduadas que
variam de 1 (nunca) a 5 (sempre). O escore final fornece um valor entre 0 e
95, sendo que não há ponto de corte proposto na literatura. Tal instrumento
também já foi validado no Brasil por Griep et al., 2005, o que permite seu
uso em nossa população.22 29 56
Uma outra ferramenta utilizada é o APGAR da família e dos amigos,
que representa o seguinte acrônimo da língua inglesa: A, adaptation
(adaptação); P, partnership (companherismo); G, growth
(desenvolvimento); A, affection (afetividade); R, resolve (capacidade
resolutiva). Esse instrumento está demonstrado no Quadro 7.57 58 59
DEFINIÇÃO
A fragilidade constitui um quadro sindrômico que se apresenta, em
geral, em pacientes com mais de 65 anos, levando a uma condição de
vulnerabilidade que interfere, sobremaneira, na autonomia e na qualidade
de vida da pessoa idosa. É uma condição multifatorial, no qual mudanças
fisiológicas e relacionadas à senilidade, em diferentes sistemas, levam a
alterações homeostáticas significativas a ponto de interferir no equilíbrio do
organismo.4 Entre os sistemas e fatores envolvidos na fragilidade, pode-se
destacar o envelhecimento celular, alterações no sistema osteomuscular,
com destaque para a sarcopenia, no sistema endócrino e no sistema
imunológico, resultando em uma apresentação fenotípica considerada
característica.25
O idoso considerado frágil vivencia a diminuição gradativa e mais
acentuada de suas reservas fisiológicas, quando comparado a um indivíduo
não frágil, com aumento do risco de perda da capacidade funcional, além de
outros desfechos adversos, como será visto adiante. Há um
comprometimento da força muscular, do desempenho locomotor,
dificuldade no enfrentamento dos diversos insultos orgânicos aos quais o
idoso é suscetível e, com frequência, o comprometimento cognitivo, entre
outros aspectos.
Conforme proposto por Fried et al., a fragilidade pode ser reconhecida
clinicamente por características que compõem um conjunto de sinais e
sintomas, conhecidos como o “modelo do fenótipo da fragilidade”. Essas
características representam, de alguma maneira, a tradução clínica da
vulnerabilidade do indivíduo, cujo organismo reage de forma
desproporcional aos estressores aos quais é exposto. O modelo do fenótipo
surgiu em 2001, quando Linda Fried e colegas analisaram numa população
de idosos, prospectivamente, a relação existente entre determinadas
características clínicas hipoteticamente representativas da fragilidade e
desfechos, como a incidência de doença, hospitalizações, quedas, perda da
capacidade funcional e morte. Os resultados corroboraram a hipótese e os
indivíduos com dois ou mais, dentre os cinco sinais propostos (considerados
frágeis), apresentaram maior prevalência dos desfechos analisados. Fried e
colegas embasaram, desde então, o conceito de fragilidade a partir de uma
rede complexa e interligada, descrita como ciclo da fragilidade, exposto na
Figura 1 e que será detalhado ao longo deste capítulo.13 A Figura 1 traz o
modelo conceitual proposto por Linda Fried, que mostra a fragilidade como
uma complexa rede sistêmica de desequilíbrio homeostático.
FENÓTIPO DE FRAGILIDADE
O modelo do fenótipo é representado por cinco características clínicas,
que podem ser facilmente identificadas. O paciente será considerado frágil
caso sejam identificados três ou mais dos cinco critérios. Se um ou dois dos
sinais estiverem presentes, o indivíduo será classificado como pré-frágil.13
ESCALA DE ROCKWOOD
O índice de fragilidade por acúmulo de deficit é representado por uma
ferramenta em que o paciente é classificado de acordo com o conjunto de
deficit que ele apresenta, que basicamente se traduz em funcionalidade.
Foram elencadas nove categorias, baseadas no quadro clínico do paciente,
em que ele pode ser classificado entre robusto (saudável e não frágil) e em
condição de fragilidade terminal, cujo prognóstico traduz a proximidade
com a morte.24
FISIOPATOLOGIA
A síndrome de fragilidade tem fisiopatologia complexa e resulta da
perda da homeostase do organismo ao longo do tempo em que o paciente se
expõe a fatores de desgaste orgânico, psíquico e social. O estado de
fragilidade leva o indivíduo a apresentar uma resposta desproporcional aos
estresses aos quais é submetido, gerando um ciclo no qual um fator de
exposição leva a outro. Diferentes sistemas estão sabidamente envolvidos
no quadro sindrômico, principalmente o osteomuscular, endócrino,
imunológico e nervoso.25 A seguir, serão detalhadas as alterações presentes
em cada um deles.
Sistema muscular
A sarcopenia é compreendida como o elemento-chave e principal
desencadeante da fragilidade. Ela é definida como diminuição de massa,
bem como alterações qualitativas nas fibras musculares. Isso pode resultar
em redução de força, com repercussões no desempenho motor, prejudicando
a capacidade funcional.4 Nesse contexto, ocorre uma substituição do tecido
muscular por tecidos de reparo, como tecido fibrótico, ou por tecido de
reserva.9 Entre os tecidos musculares acometidos, o de contração rápida,
tipo IIB, é o que sofre maiores perdas via morte celular por apoptose e
estresse oxidativo.22 A sarcopenia pode ainda ser classificada em primária e
secundária, de acordo com sua etiologia, sendo a primeira relacionada
especificamente ao processo de envelhecimento fisiológico e a sarcopenia
secundária resultante de quadros clínicos concomitantes.
Além das alterações teciduais propriamente ditas, outros fatores podem
estar envolvidos e favorecerem o aparecimento e a perpetuação da
sarcopenia. A seguir, serão descritos mais detalhadamente.
• Sedentarismo: a perda de massa muscular é um processo natural do
envelhecimento. Nesse sentido, a falta de prática de exercícios
físicos, especialmente os resistidos, interfere de forma negativa na
atenuação da perda fisiológica da massa magra, na manutenção da
força e da resistência muscular.9
• Ação das citocinas: no desenvolvimento da sarcopenia o papel
inflamatório assume relevante importância pela elevação de
interleucinas e fatores de lesão celular. Entre os marcadores
inflamatórios, os níveis de proteína C-reativa (PCR), de IL-6 e de
IL-10 encontram-se aumentados em idosos, além de fatores de
necrose tumoral, como o TNF-a. Dessa forma, ocorre uma
exacerbação do processo oxidativo e da lesão de tecidos saudáveis
pelo sistema imunológico.14
• Deficit nutricional: a ingestão insuficiente de calorias e proteínas
pode levar à perda mais acentuada de massa magra no idoso,
contribuindo de maneira relevante na gênese e na perpetuação da
sarcopenia.9 No contexto do envelhecimento, o equilíbrio nutricional
exerce função essencial na homeostase corpórea. A diminuição na
ingesta alimentar deve-se, de uma forma global, entre outros fatores,
à redução da necessidade de reposição nutricional frente a uma
lentificação metabólica, além das frequentes perdas sensoriais,
afetando visão, olfato e paladar, e diminuindo a percepção e o prazer
em comer. Também são frequentes problemas relacionados à saúde
bucal, como dentição precária e/ou ausente.
• Alterações endócrinas: com o envelhecimento e a fragilidade podem
ocorrer algumas alterações hormonais no organismo, a exemplo da
redução nas concentrações do hormônio do crescimento (GH) e o
fator de crescimento insulina-símile (IGF-1). Esses hormônios estão
relacionados com a regulação das reservas energéticas, estruturais e
com a síntese proteica, afetando, desse modo, processos anabólicos.
Além desses, a insulina, a vitamina D e o paratormônio também
estão envolvidos na manutenção da estrutura muscular e podem
sofrer alterações ao longo do desenvolvimento da fragilidade.4
Sistema imunológico
No envelhecimento fisiológico do sistema imune, o desequilíbrio da
função de defesa associado a uma predisposição ao estado inflamatório
constitui um dos mecanismos de dano às próprias células e estruturas,
predispondo ao desenvolvimento de infecções oportunistas e defesas
imunes muitas vezes erráticas e insuficientes. A esse processo de declínio e
comprometimento das funções imunológicas no envelhecimento normal dá-
se o nome de imunossenescência.14 No idoso frágil ocorre, entre outros
fatores, redução da resposta imune inata, que constitui a defesa
prioritariamente oferecida ao organismo. Entre esses mecanismos de defesa
primária encontramos a função de barreira, geralmente exercida pela pele e
pelos seus anexos. Dessa forma, fatores como a desidratação e a queda da
função sebácea, muito comum em pacientes com neuropatia diabética, por
exemplo, tornam esse tecido mais propenso a uma perda de continuidade
por um trauma mecânico, facilitando, assim, infecções cutâneas que podem
ter repercussões sistêmicas. Ademais, as células da imunidade inata também
sofrem declínio em suas funções biológicas; entre elas, as células
apresentadoras de antígenos, que são essenciais para a ativação da resposta
imunológica adaptativa. Além disso, ocorre comprometimento dos
neutrófilos, amplamente envolvidos em infecções bacterianas, como
determinados tipos de pneumonias, assim como células NK, o que
predispõe a proliferação de agentes microbianos, como fungos. A resposta
imune inata, mediada por linfócitos T e células B, também apresentam
desordens. Em relação às respostas mediadas por linfócitos, tornam-se mais
comuns, em idosos, processos autoimunes que levam a lesões de células do
próprio organismo, causando assim, declínio das funções orgânicas. Além
disso, a resposta contra organismos intracelulares é prejudicada pela
diminuição da produção de plasmócitos pelas células B. Em indivíduos
frágeis, constata-se uma cronicidade e exacerbação do estado inflamatório
basal, com elevação de interleucinas, a exemplo da IL-6, e fatores de
necrose tumoral, TNF-α.4 Além de comprometer a resposta imune às
infecções, esse processo alimenta o ciclo do acometimento muscular, uma
vez que também está presente na fisiopatogenia da sarcopenia, como visto
anteriormente.4 14
Sistema nervoso
Na fragilidade, a redução da força muscular também se relaciona a
alterações juncionais neuromusculares e nos neurônios motores. Além
disso, evidências da literatura mostram que pacientes frágeis têm maior
acometimento nas áreas da cognição, o que embasa o conceito de
“fragilidade cognitiva” e justifica a maior prevalência de síndromes
demenciais nesses pacientes.4 Isso pode ser observado no estudo FIBRA,
em que idosos frágeis apresentaram menores pontuações no miniexame do
estado mental, quando comparados aos pré-frágeis ou normais.10 Na
fisiopatologia da perda cognitiva na fragilidade, deve-se ponderar fatores de
risco e comprometimento cerebral, como doenças cerebrovasculares. Além
disso, causas endócrino-metabólicas, como aumento de níveis de cortisol,
parecem guardar relação com a neurodegeneração na região do
hipocampo.21
QUADRO CLÍNICO E ABORDAGEM
DIAGNÓSTICA
A fragilidade é multifatorial, complexa e desafiadora para toda equipe
envolvida, incluindo a própria família e cuidadores. Além do mais,
representa um contexto de elevado risco para o paciente idoso e um desafio
ao sistema de saúde, dada a grande possibilidade desse indivíduo necessitar
de tratamentos de longa duração ou de permanência em instituições de
cuidados especiais. O reconhecimento do quadro de pré-fragilidade e de
fragilidade é tão importante quanto estimar o risco de desenvolvê-la.
Conforme já mencionado, a fragilidade dificilmente pode ser revertida e o
diagnóstico precoce é essencial, pois possibilita melhores intervenções
preventivas e terapêuticas.18 Existem diferentes modelos que vêm sendo
utilizados na prática clínica e que, apesar de serem instrumentos não
completamente precisos para o diagnóstico, são os que mais se aproximam
em acurácia e estimam o grau de fragilidade do indivíduo. Vale ressaltar
que as manifestações relacionadas à mobilidade e à função
musculoesquelética são as mais representativas e emblemáticas do quadro
sindrômico.
Em 2013, foi publicado um consenso composto por especialistas que se
reuniram em prol de uniformizar os critérios diagnósticos e a abordagem
diagnóstica e terapêutica. De acordo com esse consenso, em idosos acima
de 70 anos e/ou que tenham apresentado perda maior que 5% do seu peso
no último ano por doença crônica recomenda-se o rastreio, ou uma busca
ativa pela identificação da fragilidade ou da pré-fragilidade. Isso será
importante para o planejamento diagnóstico e terapêutico, para se prever
desfechos e estimar o prognóstico, frente a uma condição de base, bem
como a abordagem da fragilidade propriamente dita.19
Dentre os instrumentos recomendados, os critérios do modelo do
fenótipo, conhecido como modelo de Linda Fried, é um dos mais
conhecidos na prática clínica. No entanto, requer instrumental para
avaliação: dinamômetro para medida de preensão palmar, espaço físico e
tempo para medida de velocidade de marcha. Além disso, não prevê obter
informações sobre a etiologia dos problemas apresentados pelo paciente, o
que poderia permitir uma abordagem direcionada a um problema
específico, sem que necessariamente houvesse a condição de fragilidade
como pano de fundo. Por exemplo, perda de peso e marcha mais lenta
poderiam significar uma determinada doença, para qual haveria necessidade
de procedimentos diagnósticos e terapêuticos específicos.13
A Escala Clínica de Fragilidade foi outro instrumento recomendado,
com vantagem de se tratar de uma abordagem mais abrangente, mas que,
por sua vez, requer a aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Esse
tipo de abordagem necessariamente demanda tempo e aplicação de escalas
de avaliação funcional para classificar o indivíduo quanto ao grau de
dependência.24
Como forma de facilitar o diagnóstico de fragilidade na prática clínica,
outros autores sugeriram instrumentos de rastreio mais simples. Ensrud e
colegas, com base no “Study of Osteoporotic Fracture” em 2018,
desenvolveram escore que consiste em 3 questões: 1) presença de perda
ponderal não intencional maior que 5% no último ano; 2) inabilidade
para sentar e levantar da cadeira cinco vezes sem apoio; 3) perda de energia,
definida pela pergunta: “Você se sente cheio de
energia?”. Os indivíduos que apresentarem dois dos três critérios podem ser
definidos como idosos frágeis, com acurácia semelhante aos critérios
fenotípicos de Linda Fried.10 Outro instrumento de fácil aplicação além das
escalas mencionadas acima, baseia-se em um questionário, simples, com
perguntas ligadas à mobilidade, força, presença de comorbidades e perda de
peso. Trata-se do mnemônico FRAIL, que refere-se aos termos em inglês:
fatigue, resistance, aerobic, illnesses, loss of weight. Ele possibilita uma
avaliação prática e factível, que pode ser realizada mesmo na ausência do
paciente, com informações de terceiros (Quadro 3).18
TRATAMENTO
A abordagem terapêutica da fragilidade segue a perspectiva multifatorial
do quadro sindrômico. Estratégias nutricionais e exercícios são os dois
principais pilares da abordagem, na intenção de minimizar as consequências
de ser frágil.
MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS
Abordagem nutricional
Em idosos com fragilidade, sobretudo naqueles que possuem desordens
musculares esqueléticas, como a sarcopenia, é interessante e quase sempre
necessária a prescrição de dietas de reposição proteica e calórica, com
suplementos especiais para essa finalidade. De acordo com uma publicação
em 2013, do grupo de estudos PROT-AGE, composto por várias
sociedades, recomenda-se maiores quantidades de proteína na dieta de
indivíduos idosos, suprindo a perda fisiológica de massa muscular
relacionada ao envelhecimento. Nesse mesmo consenso, para idosos
portadores de doenças crônicas, o aporte de proteína na dieta deverá ser
ainda maior. A única restrição seria a doença renal crônica com clearance
de creatinina < 30 mL/min.2
Exercício físico
A prática de exercício físico é de grande importância para a manutenção
ou ganho de capacidade funcional de um idoso. Além do mais, é
sabidamente importante no controle das doenças cardiovasculares e do
diabetes. Na sarcopenia, os exercícios podem ser a arma fundamental tanto
na prevenção da perda quanto na recuperação da massa muscular. Em
indivíduos frágeis da comunidade e nos idosos institucionalizados, os
trabalhos mostram que o exercício melhora a mobilidade, a força muscular
e a velocidade de marcha, principalmente através de treinos de resistência e
equilíbrio aliados ao exercício aeróbico. Dentre os obesos, os exercícios
aeróbicos assumem importância ainda maior. Junto a isso, a prática de
exercício físico está positivamente relacionado com a eficiência da terapia
nutricional, considerando que a absorção e o anabolismo muscular
proporcionado pelo aporte proteico é potencializado pelo exercício.28 29
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
Em muitos casos, além dos exercícios e da ingesta proteica, outras
medidas podem ser interessantes, mas infelizmente poucas são as
evidências em relação à eficácia de medicamentos ou substâncias, como
reposições hormonais, por exemplo.
Testosterona
É comprovado que a reposição de testosterona melhora a massa
muscular em homens idosos, mas está indicada em casos de hipogonadismo
confirmado por quadro clínico e exames laboratoriais. Os estudos não
mostraram benefícios na melhora muscular em pacientes com diagnóstico
de fragilidade e sarcopenia, principalmente se considerar como desfecho a
redução de quedas e melhora na performance motora.7 Por outro lado, a
reposição de testosterona está relacionada a eventos adversos importantes,
como acidentes vasculares — maior risco de IAM e AVC, e morte. Além do
mais, caso o paciente tenha câncer de próstata in situ ou subclínico, a
reposição hormonal poderá fazer com que a doença progrida de forma
indesejada.
Deidroepiandrosterona (DHEA)
A DHEA está relacionada com a maior expressão de IGF-1 no
organismo, auxiliando assim na manutenção do anabolismo muscular, além
de regular outros hormônios sexuais envolvidos na homeostase desse
tecido. Entretanto, a reposição desse hormônio, de 50 a 100 mg/dia, não
apresenta efeitos esperados, tanto em relação ao volume quanto à força
muscular, além de causar efeitos colaterais significativos, como resistência
à insulina e dislipidemias.7
Vitamina D
A hipovitaminose D em pacientes idosos está relacionada a quedas,
fraturas e mortalidade, secundário à redução da força muscular. Há
suficiente evidência para que seja recomendada suplementação de vitamina
D nos muito idosos pré-frágeis e frágeis com níveis séricos < 30.20
PROGNÓSTICO
A fragilidade, comprovadamente e de acordo com os inúmeros estudos
já existentes sobre o tema, está intrinsecamente relacionada aos desfechos
mais indesejados para a população idosa: quedas, hospitalizações, mais
agravos em situações agudas, iatrogenias, declínio funcional, perda de
independência, de autonomia e morte. Uma vez instalada, a fragilidade
tende a ser irreversível, o que vale dizer que é uma síndrome de prognóstico
adverso, e por isso deve ser essencialmente prevenida, quando não
diagnosticada precocemente. Mas a característica de irreversibilidade não
deve frustrar a intenção de intervir terapeuticamente, implementando
estratégias, principalmente relacionadas ao sistema osteomuscular.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fragilidade é uma condição clínica que merece a melhor abordagem
possível no diagnóstico, na prevenção e no manejo da condição já instalada.
Ela representa ameaça à funcionalidade, à saúde física, à qualidade de vida
e tem consequências socioeconômicas tanto no plano individual quanto
populacional. É preciso incorporar, na prática clínica, a busca pelo
diagnóstico correto e precoce, principalmente naqueles idosos pré-frágeis,
na intenção de instituir as medidas corretas para evitar as perdas e
consequências que a fragilidade traz para o indivíduo.
A. Após analisar o caso clínico, você acredita que deva ser prescrito uma nova
medicação de imediato?
B. O que deve ser conversado com a paciente em relação ao uso dos
medicamentos?
C. De acordo com os critérios de BEERS, existe alguma medicação inapropriada
na prescrição da paciente?
INTRODUÇÃO
Diante do cenário mundial de envelhecimento populacional, tem sido observado
um crescimento na prevalência de doenças crônicas. Consequentemente, esse
fenômeno leva a um aumento no número de pacientes que necessitam fazer uso de
múltiplos medicamentos para o tratamento de suas patologias.27 A polifarmácia pode
ser definida como o uso de cinco ou mais fármacos, ou como a prescrição de um
número de medicamentos maior do que o clinicamente indicado. 11 17
Sabemos que a polifarmácia em idosos tem uma forte associação com reações
adversas a medicações (RAM), que podem ocorrer mais nesse grupo, principalmente
quando os medicamentos são prescritos de forma inadequada. Além disso, os idosos
são mais propícios a sofrer uma condição chamada de cascata medicamentosa, que
ocorre quando um medicamento é prescrito para tratamento de evento adverso de
outro, levando a um ciclo vicioso com alto potencial de trazer danos.5 16
Por isso que, no cuidado ao idoso, o profissional deve ter um alto grau de
suspeição relacionado ao surgimento de novos sintomas e sempre pesquisar
possíveis reações adversas como fator etiológico. Este processo está esquematizado
na Figura 1.
Dessa forma, entende-se que a prescrição no idoso deve ser realizada sempre
com cautela e embasamento científico, levando em consideração individualidades de
cada paciente, de forma a evitar possíveis danos. Logo, compreender as ferramentas
discutidas neste capítulo será de fundamental importância para as boas práticas de
prescrição medicamentosa nesse grupo.2
EPIDEMIOLOGIA
Evidências apontam que, entre os indivíduos norte-americanos da comunidade
acima de 65 anos, cerca de 40% fazem uso de mais de cinco medicações e
aproximadamente 12% usam mais de dez medicações.13 Dados brasileiros do Estudo
Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (SABE) demonstraram uma prevalência
semelhante de 36% de polifarmácia em pacientes idosos.3
Em uma instituição de longa permanência (ILPI) em São Paulo observou-se que
27% das prescrições continham pelo menos um medicamento inapropriado para
idosos.1 Nos Estados Unidos, outro estudo concluiu que a prevalência de
polifarmácia entre os residentes de uma ILPI foi 40%, entre as classes
medicamentosas mais prescritas estavam laxativos, antidepressivos, antipsicóticos e
analgésicos.6
Segundo publicação realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 30%
das consultas de emergência são derivadas de problemas relacionados ao uso de
medicamentos.29 Um estudo conduzido por Passarelli et al mostrou que, de 186
pacientes hospitalizados, 115 (61,8%) apresentaram pelo menos uma reação
medicamentosa adversa, sendo essa a causa da hospitalização em 11,3% da
população do estudo.22
Em algumas ocasiões, no entanto, a polifarmácia nem sempre é evitável, uma
vez que a presença de doenças como diabetes, hipertensão, dislipidemia,
osteoartrose e depressão necessitam de múltiplas medicações para seguimento.
Entretanto, isso não deve justificar a prescrição irracional de medicamentos sem que
haja uma individualização do cuidado. Mira et al. em 2017 constataram que apenas
32,5% dos pacientes eram questionados pelos médicos a respeito das medicações em
uso, o que demonstra que em uma boa porcentagem dos pacientes a polifarmácia
não é avaliada com a devida importância.18
ABSORÇÃO
Com o envelhecimento, existem diversas mudanças farmacocinéticas nessa fase,
a exemplo da redução na superfície de absorção, aumento do pH gástrico, redução
do fluxo sanguíneo esplâncnico na mobilidade gastrointestinal. Felizmente, isso não
costuma ter repercussão clínica na grande maioria dos pacientes. No entanto, isso
pode ser potencializado naqueles que fazem uso de medicamentos que atuam na
motilidade gastrointestinal e que interagem entre si.2 26
DISTRIBUIÇÃO
Após ser absorvido, o fármaco é distribuído para a circulação sistêmica. Na
população idosa, no entanto, encontramos algumas alterações que afetam esse
processo, como: proporção de gordura/massa magra aumentada, redução de água
corporal total, diminuição da albumina sérica.
Nesse contexto, as medicações hidrofílicas, como a digoxina, podem ter maiores
níveis séricos e risco de toxicidade. Por outro lado, as medicações lipossolúveis,
como diazepam, têm volume de distribuição aumentado, o que leva a um
prolongamento da sua meia-vida. Por fim, a redução da albumina sérica pode levar a
um aumento da fração livre de medicamentos que se ligam a proteínas com
consequente aumento no risco de toxicidade, a exemplo da varfarina.2 26
METABOLISMO
Com o processo de envelhecimento é observado um declínio da fase I, na qual os
medicamentos são convertidos em metabólitos ativos ou inativos por meio de
reações de oxidação e redução no citocromo P450. No entanto, o metabolismo de
fase II, importante para a conjugação dos fármacos, tornando-os mais polares e
fáceis de serem eliminados, geralmente não é alterado pela idade.2
EXCREÇÃO
Após os 40 anos, a função renal tende a sofrer alterações, ocorrendo uma
redução progressiva na filtração glomerular e função tubular. Esse declínio da
função renal está associado com uma taxa maior de eventos adversos
medicamentosos, mesmo com valores de creatinina sérica normais, considerando a
diminuição da massa muscular em idosos.2 No Quadro 1 estão resumidas todas as
alterações farmacocinéticas que podem ser observadas com o envelhecimento.
Quadro 1. Síntese das alterações farmacocinéticas comumente encontradas em pacientes idosos.
Concentração
aumentada de
Água total corporal
fármacos que se
diminuída.
distribuem em
Distribuição Massa magra diminuída.
fluidos.
Aumento da gordura
Maior meia-vida
corporal.
de fármacos
lipossolúveis.
Diminuição de albumina
sérica.
Ligação proteica Aumento da
alterada. fração livre no
Metabolismo Massa hepática reduzida. plasma de
Redução do fluxo fármacos com alta
sanguíneo hepático. ligação proteica.
Diminuição da fase 1 do
metabolismo.
Alterações no número de
receptores.
Pacientes podem
Alterações na afinidade
ser “mais
Sensibilidade dos receptores.
sensíveis” ou
tecidual Alterações nos segundos
“menos sensíveis”
mensageiros.
aos fármacos.
Alterações das respostas
celulares e nucleares.
Adaptado de Beyth et al., 2002.2
ADESÃO AO TRATAMENTO
A adesão, segundo a OMS, pode ser definida como em até que ponto o
comportamento de uma pessoa — tomar medicação, seguir uma dieta, e/ou executar
mudanças no estilo de vida — corresponde às recomendações estabelecidas por um
profissional de saúde. Dados epidemiológicos demonstram que, nos países
desenvolvidos, as taxas de não adesão para o tratamento de doenças crônicas
correspondem a cerca de 50%, sendo que esse índice pode ser ainda maior nos
países em desenvolvimento.30
Esse é um importante foco de discussão, uma vez que o controle adequado das
patologias depende em grande parte dos fatores que envolvem a adesão, como:
fatores sociais e econômicos, fatores relacionados à terapia medicamentosa, fatores
relacionados ao paciente, fatores relacionados à doença em questão e fatores
relacionados ao sistema de saúde. Portanto, entender cada uma dessas dimensões se
torna necessário para uma melhor abordagem ao paciente idoso, que muitas vezes
pode ter problemas tipo comprometimento cognitivo, baixo alfabetismo em saúde,
suporte social inadequado, perda de capacidade funcional e polifarmácia. 30
Na prática clínica, existem diferentes métodos que podem ser utilizados para
avaliar a adesão do paciente ao tratamento. Um deles é o método direto, que é
realizado por meio de técnicas analíticas, como a identificação de metabólitos ou
marcadores químicos. O outro consiste no método indireto, que inclui dados obtidos
durante a avaliação clínica, como contar quantos comprimidos o paciente tem na
cartela, por exemplo. Apesar desse método indireto ter uma menor sensibilidade,
uma vez que os pacientes podem não passar informações de forma adequada, é o
mais aplicável na rotina médica, por ser simples e de baixo custo.15
Podemos também classificar a não adesão em diversos tipos: 1) não adesão
primária, que ocorre quando a prescrição é realizada, no entanto a medicação não é
iniciada ou o tratamento não é completado; 2) desistência, que ocorre quando o
paciente decide parar a medicação depois de ter começado, sem consultar o médico;
3) não condizente, que corresponde a um conceito mais amplo que inclui diversas
formas nas quais as medicações não são usadas corretamente (pular doses, horários
incorretos de uso e doses incorretas).
Portanto, monitorar a adesão do paciente durante as consultas de seguimento é
essencial. Após identificar possíveis causas de não adesão, a equipe de saúde deve
traçar estratégias individualizadas de forma a trazer maiores benefícios para o
paciente.30
Quadro 2. Drogas potencialmente inapropriadas e classes que devem ser evitadas em idosos, de acordo
com os critérios de Beers 2019.
Categorias Racional
Recomendação
e fármacos teórico
Anticolinérgicos
Anti-histamínicos de
primeira geração
• Forte efeito
Dexclorfeniramina anticolinérgico,
• Difenidramina clearance reduzido em
idades mais avançadas, Evitar uso.
• Meclizina risco de confusão
mental, boca seca,
• Hidroxizina constipação.
• Prometazina e
outros
Antiespasmódicos
• Escopolamina Forte efeito
Evitar uso.
• Atropina anticolinérgico.
• Propantelina
Categorias Racional
Recomendação
e fármacos teórico
Antitrombóticos
Existem alternativas
Ticlopidina Evitar uso.
mais seguras.
Antibióticos
Risco de toxicidade
pulmonar, Evitar uso em
hepatotoxicidade, indivíduos
Nitrofurantoína
neuropatia periférica, com clearance
principalmente com < 30 ml/min.
uso prolongado.
Cardiovascular
Potente inotrópico
negativo, podendo
induzir insuficiência
Disopiramida cardíaca, forte efeito Evitar uso.
anticolinérgico.
Melhores alternativas
disponíveis.
Evitar em
indivíduos com
Piores desfechos
fibrilação atrial
relatados em
permanente,
indivíduos com
Dronedarona insuficiência
fibrilação atrial ou
cardíaca severa
insuficiência cardíaca
com
severa.
descompensação
recente.
Risco de hipotensão e
Nifedipina de
miocardiopatia Evitar uso.
liberação rápida
isquêmica.
Antidepressivos de
primeira, tricíclicos e
outros
Forte efeito
• Amitriptilina anticolinérgico,
Evitar uso.
• Clomipramina sedação, hipotensão
postural.
• Nortriptilina
• Paroxetina
Categorias Racional
Recomendação
e fármacos teórico
Risco de dependência,
Barbitúricos intoxicação mesmo em Evitar uso.
doses baixas.
Categorias Racional
Recomendação
e fármacos teórico
Efeitos colaterais
semelhantes aos
benzodiazepínicos em
idosos: delirium,
Hipnóticos não
deficit cognitivo,
benzodiazepínicos Evitar uso.
quedas. Maior risco de
Zolpidem
idas à emergência,
hospitalização,
acidentes
automobilísticos.
Hormônios
Evitar uso de
reposição oral e
Potencial
adesivo. Uso
carcinogênico para
tópico vaginal é
mama e endométrio.
Estrógenos com ou aceitável para
Ausência de efeito
sem progestágenos tratamento de
cardioprotetor e
dispareunia,
proteção cognitiva em
infecção urinária
mulheres idosas.
baixa e secura
vaginal.
Efeito sobre a
composição corporal é
Evitar uso, exceto
pequeno e está
em casos de
associado a efeitos
Hormônio de reposição
colaterais como:
crescimento hormonal após
edema, artralgia,
ressecção da
síndrome do túnel do
pituitária.
carpo, ginecomastia e
alteração glicêmica.
Evitar uso,
principalmente a
utilização isolada
de insulina de
Insulina em doses Alto risco de
ação rápida para
variáveis hipoglicemia.
corrigir
hiperglicemia, na
ausência de
insulina basal.
Sulfonilureias de
longa duração Risco de hipoglicemia
em idoso.
• Clorpropamida Risco de secreção
Evitar uso.
inapropriada do
• Glibenclamida hormônio antidiurético
com clorpropamida.
• Glimeperida
Sistema gastrointestinal
Risco de efeitos
Evitar uso, exceto
extrapiramidais,
Metoclopramida em casos de
discinesia tardia,
gastroparesia.
quedas.
Risco de pneumonite
aspirativa. Existem
Óleo mineral Evitar uso.
outras alternativas
mais seguras.
Categorias Racional
Recomendação
e fármacos teórico
Analgésicos
Baixa eficácia em
doses comumente
Evitar uso,
usadas para uso oral,
especialmente em
alto risco de
Meperidina indivíduos com
neurotoxicidade e
doença renal
delirium. Existem
crônica.
alternativas mais
eficazes e seguras.
Categorias Racional
Recomendação
e fármacos teórico
Sangramento digestivo
e úlcera péptica, com
Anti-inflamatórios maior risco nos
não hormonais seguintes indivíduos:
• Aspirina > 325 idade acima de 75
anos, uso de
mg/dia
corticoide,
• Diclofenaco antiagregantes
Evitar uso, exceto
plaquetários e
quando outras
• Ibuprofeno anticoagulantes. O uso
alternativas forem
de inibidor de bomba
• Ácido de prótons e
ineficazes e se o
paciente fizer uso
mefenâmico misoprostol de prótons
de protetor
reduz o risco, porém
• Meloxicam não elimina.
gástrico.
• Ciclobenzaprina fraturas.
Quadro 3. Drogas potencialmente inapropriadas e classes que devem ser evitadas em idosos com
determinadas doenças e sintomas que possam ser exacerbados pela droga, de acordo como os critérios de
Beers 2019.
Medicações
Doença ou
ou classes Racional Recomendação
síndrome
de fármacos
Cardiovascular
• Anti-inflamatórios
não hormonais e
inibidores da COX-
2.
• Bloqueadores do
canal de cálcio não
diidropiridínicos
Risco de
(verapamil e
Insuficiência retenção
diltiazem). Evitar Evitar uso.
cardíaca hídrica e piora
apenas se fração de
clínica.
ejeção baixa.
• Tiazolidinedionas
(pioglitazona,
rosiglitazona)
• Cilostazol
• Dronedarona
Medicações
Doença ou
ou classes Racional Recomendação
síndrome
de fármacos
• Inibidores da
acetilcolinesterase
• Bloqueadores
alfa-1 periféricos
(doxazosina, Risco de
prazosina). hipotensão
Síncope Evitar uso.
• Antidepressivos postural e
bradicardia.
tricíclicos.
• Clorpromazina.
• Tioridazina.
• Olanzapina.
Sistema nervoso central
Medicações
Doença ou
ou classes Racional Recomendação
síndrome
de fármacos
• Anticolinérgicos.
Evitar uso.
• Antipsicóticos. Maior risco de
Os antipsicóticos
delirium em
• idosos com
atípicos só devem
ser usados no
Benzodiazepínicos. fatores
transtorno
predisponentes.
• Corticosteroides. Antipsicóticos
comportamental
associado à
Delirium
• Antagonistas H2 estão
associados com
demência quando
(ranitidina, houver falha com
maior risco de
cimetidina, tratamento não
doença
famotidina). farmacológico e o
cerebrovascular
paciente trazer
• Meperidina. em idosos com
risco para ele ou
demência.
terceiros.
• Hipnóticos
sedativos.
Evitar uso.
Os antipsicóticos
Podem levar a atípicos só devem
• Anticolinérgicos. uma piora ser usados no
cognitiva. transtorno
• Antipsicóticos comportamental
Demência e
Benzodiazepínicos. estão associados associado à
disfunção
com maior risco demência quando
cognitiva • Hipnóticos não de doença houver falha com
benzodiazepínicos. cerebrovascular tratamento não
• Antipsicóticos. em idosos com
demência.
farmacológico e o
paciente trazer
risco para ele ou
terceiros.
Medicações
Doença ou
ou classes Racional Recomendação
síndrome
de fármacos
•
Anticonvulsivantes.
• Antipsicóticos.
•
Benzodiazepínicos. Evitar uso, exceto
em casos de
• Hipnóticos não alternativas mais
benzodiazepínicos. seguras não
Risco de ataxia, disponíveis.
Quedas e • Antidepressivos piora Evitar
fraturas tricíclicos. locomotora. anticonvulsivantes,
• Inibidores de exceto em casos de
convulsão ou
recaptação da
alteração de
serotonina.
humor.
• Inibidores de
recaptação da
serotonina e
noradrenalina.
• Opioides.
• Todos os
antipsicóticos
exceto quetiapina, Antagonistas
clozapina e dopaminérgicos
Parkinson Evitar uso.
pimavanserina. podem piorar
sintomas.
• Metoclopramida.
• Prometazina.
Medicações
Doença ou
ou classes Racional Recomendação
síndrome
de fármacos
Sistema gastrintestinal
Sistema geniturinário
Doença renal
crônica Risco de piora
estágio 4 ou • Anti-inflamatórios da função Evitar uso.
clearance não hormonais. renal.
< 30 ml/min
Estrógenos orais e
transdérmicos (exceto
Incontinência de uso vaginal). Risco de
urinária em Bloqueadores alfa-1 eventos Evitar uso.
mulheres periféricos adversos.
(doxazosina,
prazosina).
Maior risco de
• Aspirina para sangramento em
Usar com
prevenção idosos. Evidências
cuidado em
primária de inconclusivas
pacientes com
doença quanto aos
idade maior ou
cardiovascular e benefícios para
igual a 70 anos
câncer colorretal prevenção
primária.
Risco de
• Prasugrel sangramento em
idosos.
• Inibidores de
receptação de
serotonina e
noradrenalina
• Tramadol
Risco de
hipercalemia Usar com
quando usado em cuidado em
• Sulfametoxazol e associação com pacientes com
trimetoprima inibidor da ECA e redução da taxa
antagonistas do de filtração
receptor da glomerular.
angiotensina 2.
Antiarrítmico — disopiramida
Antieméticos — prometazina.
Clordiazepóxido
Escopolamina.
Propantelina.
Antiparkinsonianos.
Além dos critérios de Beers, existem outras diretrizes que buscam guiar boas
práticas de prescrição nos idosos. Entre eles destacamos o Screening Tool of Older
Person’s Prescriptions (STOPP) e Screening Tool to Alert doctors to Right
Treatment (START), que avaliam medicações que devem ser evitadas em idosos e
medicações que não podem deixar de ser prescritas em determinadas condições
clínicas, respectivamente.
Os critérios de STOPP incluem 65 itens que são subdivididos em sistemas
fisiológicos, de forma que a visualização dos critérios é simplificada. Isso faz com
que esses critérios sejam amplamente utilizados e venham ganhando destaque. De
igual forma, os critérios de START são representados por 22 itens, também divididos
em sistemas fisiológicos.10 23
No Brasil, em 2017, foi publicado pela Geriatrics, Gerontology and Aging, o
Consenso Brasileiro de Medicamentos Inapropriados. Por meio da técnica Delphi
modificada, tendo como base os critérios de Beers 2012 e Stopp 2008, foi verificada
a relação de medicamentos inapropriados no Brasil.20
O uso de medicações potencialmente inapropriadas continua sendo um grande
desafio para a prática médica; por esse motivo, é crucial que existam listas
padronizadas, de forma a guiar a prescrição medicamentosa, sem, entretanto,
restringi-la ou substituir o julgamento clínico. O processo de prescrição é dinâmico,
envolve o paciente como um todo, desde as suas múltiplas comorbidades, até seu
contexto social. Essas listas existem para tentar garantir uma maior segurança para o
paciente, de forma que devem ser utilizadas em conjunto, sempre que possível, e
levando em conta as aspirações do paciente, sua condição atual e as perspectivas do
tratamento.19 20
Monitorar o paciente.
PROGNÓSTICO
Uma análise adequada da prescrição, avaliando polifarmácia, medicamentos
inapropriados e risco de reações adversas é um dos pontos mais importantes na
avaliação multidimensional do idoso. Dados da literatura já demonstram que a
polifarmácia está associada a uma maior mortalidade intra-hospitalar, maior retorno
ao serviço de emergência em 30 dias e readmissão hospitalar, sendo preditivo de
mortalidade em seis meses.
Baseado nos princípios aqui discutidos, existem diversas medidas que podem ser
tomadas, baseadas em princípio de boa prática farmacológica, de forma a
proporcionar um melhor cuidado ao idoso.
A. Após analisar o caso clínico, você acredita que deva ser prescrito uma nova
medicação de imediato?
RESPOSTA: Sabemos que a paciente não faz uso das suas medicações de forma
correta, sendo necessário avaliar se algum sintoma apresentado não pode ser
originado de uma condição clínica preexistente e não tratada ou de uma reação
adversa. Além disso, é fundamental que a paciente entenda sua conduta e você deve
ser o mais claro possível sobre os objetivos dela, envolvendo as expectativas da
paciente e seu contexto social.
B. O que deve ser conversado com a paciente em relação ao uso dos
medicamentos?
RESPOSTA: Lembrar que parte importante da prescrição é a adesão do paciente ao
tratamento. É necessário esclarecer a gravidade das condições clínicas, reforçar a
importância do tratamento e seus impactos positivos, assim como as consequências
da não adesão, que pode culminar em eventos relacionados à perda de
funcionalidade e ao óbito, por exemplo. Além disso, averiguar o horário que as
medicações estão sendo tomadas, para que sejam avaliados possíveis ajustes que
melhorem a qualidade de vida da paciente. Lembrar que o uso de levotiroxina de
forma intermitente não é o correto; nesse caso, a condição clínica subjacente,
hipotireoidismo, não está sendo tratada. Parte da conduta pode envolver a família,
que mora com a paciente, para checar se as medicações estão sendo ingeridas nos
horários corretos e da forma correta.
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4. IATROGENIA
CASO CLÍNICO
Paciente M.A.N., 87 anos, masculino, sem comorbidades prévias,
admitido no pronto-socorro com quadro de agitação psicomotora e
desorientação havia 2 dias. Feita suspeita diagnóstica de delirium hiperativo
secundário à ITU, e iniciada antibioticoterapia venosa com ceftriaxone,
além de prescrição de haloperidol 5 mg via intramuscular para a agitação.
Evoluiu nas 12 horas seguintes com sonolência e baixa aceitação da dieta
oral, sendo necessária sondagem nasoenteral. Em episódio de agitação
subsequente, paciente retirou a sonda, que foi novamente posicionada após
contenção mecânica no leito. Foi encaminhado para unidade de terapia
intensiva por necessidade de monitorização contínua, onde foi obtido
cateter venoso central em veia subclávia direita. A radiografia de tórax de
controle evidenciou pneumotórax hipertensivo pós-punção, com
necessidade de drenagem torácica. Evoluiu nos dias seguintes com
constipação intestinal sem resposta satisfatória ao uso de laxativos, sendo
necessário o uso de solução de glicerina via retal. Durante a permanência
hospitalar, realizou tomografia de tórax e abdome com contraste para
elucidação diagnóstica por outras complicações. Após uso do contraste,
apresentou redução do débito urinário e elevação de escórias nitrogenadas,
sendo tratado conservadoramente com hidratação venosa e diuréticos sem
necessidade de terapia de substituição renal. Recebeu alta hospitalar após
14 dias, com melhora clínica e laboratorial, mas ainda apresentando lesão
por pressão em região sacral grau 2, além de perda ponderal evidente e
dificuldade na deambulação, necessitando de apoio bilateral. Entregue ao
familiar receita de quetiapina 50 mg para uso à noite e orientado curativo da
lesão sacral.
DEFINIÇÃO
Iatrogenia vem do grego iatros, relacionando-se à Medicina e ao
médico, e gen, relacionando-se a efeitos adversos ou resultados — positivos
ou negativos — provocados pela conduta médica. Atualmente, o termo já
possui sentido mais amplo e está inserido também no contexto de impactos
causados pela conduta de outros profissionais da saúde, como
fisioterapeutas, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas e cuidadores,
mesmo que a atitude seja considerada correta ou justificável, mas que cause
consequências negativas à saúde do paciente e que esses efeitos não sejam
resultados da história natural da doença. Além disso, também pode estar
associada ao uso crescente de tecnologias avançadas de diagnóstico e ao
estímulo crescente do uso excessivo de testes e tratamentos múltiplos.2 12 22
Quando um médico ou qualquer outro profissional de saúde, por meio
de um tratamento, de um diagnóstico ou até mesmo de uma falha de
comunicação, acarreta outras doenças ou perturbações, esse profissional
está realizando uma conduta iatrogênica. Tais efeitos indesejáveis incluem
problemas físicos, como doenças e deformidades, ou psíquicos
(psicoiatrogenia), medos, dúvidas etc.4 22
Idosos geralmente estão mais propensos a episódios de iatrogenia,
devido às modificações ocorridas no processo de envelhecimento com
consequente diminuição de suas reservas fisiológicas, além de possuírem
maior número de comorbidades e, por consequência, frequentemente
estarem expostos à polifarmácia. Em decorrência de eventos iatrogênicos,
os idosos podem ter comprometidas sua independência e autonomia, e, em
casos extremos, maior risco de morbimortalidade.16
Solicitação de muitos
exames ao paciente, sem
Angústia excessiva causada
indicação precisa, com
ao paciente por conta de
achados incidentais que
uma má notícia dada pelo
exigem novas
profissional da saúde.
investigações sem contexto
clínico.
EPIDEMIOLOGIA
Iatrogenia é um tema complexo e com diagnóstico muitas vezes de
difícil identificação, devido às suas variedades de formas e possibilidades.
Em decorrência disso, não há epidemiologia rica sobre o assunto em todas
as classificações que o permeiam, principalmente no que tange à
psicoiatrogenia.18
Dentro desse contexto, estima-se que de 3,7% a 17% de todos os
pacientes que deram entrada no hospital sofreram algum tipo de iatrogenia e
cerca de 7% de todas as admissões hospitalares têm causas iatrogênicas.15
Carvalho Filho et al, 1988, observaram uma frequência ainda maior de
complicações iatrogênicas em pacientes internados que variou de 19,5% a
35,6%.3 Nos Estados Unidos, ocorrem, por ano, em torno de 12.000 mortes
por cirurgias desnecessárias, 7.000 mortes por erros nas medicações, 80.000
mortes por infecções nosocomiais e 10.6000 mortes por efeitos adversos de
medicações. Com isso, somam-se mais de 250.000 mortes anuais em
decorrência de iatrogenias.27 Vale ressaltar que esses estudos envolvem
somente pacientes hospitalizados e que também não incluem os efeitos
adversos dos procedimentos em pacientes que sobreviveram. Dessa forma,
a partir desses dados, a iatrogenia é elencada como a terceira maior causa
de morte nos Estados Unidos, ficando atrás somente das doenças cardíacas
e do câncer.27
Em 2017, no Brasil, morreram, por consequência de eventos
iatrogênicos, 148 pessoas por dia em hospitais públicos e privados. No final
desse mesmo ano, totalizaram-se 54.076 pacientes que perderam suas vidas
no país em decorrência de iatrogenia.7 Na população idosa, a prevalência é
cerca de duas vezes maior, além de contar com implicações mais
importantes, quando se compara com pacientes entre 16 e 44 anos.13
FATORES DE RISCO
As alterações ocorridas no processo de envelhecimento influenciam
diretamente — em maior ou menor grau — o aumento das chances de o
paciente passar por eventos iatrogênicos. A diminuição da reserva
fisiológica, as alterações neuroendócrinas e inflamatórias, o maior número
de comorbidades, associados ao grande número de procedimentos
diagnósticos e terapêuticos e ao elevado número de medicações, fazem com
que essa população esteja mais suscetível aos eventos adversos. Por isso,
não se deve abordar o paciente idoso como qualquer paciente adulto, sendo
imprescindível que o cuidado seja ofertado levando em consideração as
mudanças decorrentes do processo de senescência e senilidade.9
Quanto maior o número de doenças crônicas e sua complexidade, maior
o número de intervenções para tratá-las. Dessa forma, os tratamentos de
algumas patologias podem influenciar negativamente a evolução de outras,
a exemplo do uso de diuréticos no tratamento da hipertensão arterial ou da
insuficiência cardíaca, provocando ou piorando a incontinência urinária.9
Além disso, muitos estudos também associam o tempo de internação
com iatrogenia em idosos: documentou-se que pacientes internados por
mais de 10 dias tiveram risco elevado em até quatro vezes de sofrer eventos
iatrogênicos, e o tempo de internação de pacientes que sofreram
complicações iatrogênicas foi em média duas vezes maior do que os que
não tiveram esse tipo de complicação. Tal fator pode estar relacionado com
o maior risco de adquirir infecções hospitalares, além de reações
transfusionais, sem desconsiderar o papel da modificação da rotina, maior
restrição da mobilidade e modificações do padrão alimentar, provocados
pelo internamento.24 28
Idade
Tempo de internação
Funcionalidade prévia
Número de comorbidades
Polifarmácia
CLASSIFICAÇÃO
Iatrofarmacogenia
Estima-se que 23% da população brasileira é responsável por consumir
cerca de 60% da produção de medicamentos do país, destacando-se as
pessoas com mais de 60 anos de idade.25
Gnjidica et al. (2012) afirmaram que o uso de cinco ou mais medicações
seria o suficiente para definir polifarmácia, relacionando-se a eventos
adversos importantes como maior risco de fragilização, incapacidades,
mortalidade, institucionalização e quedas.7 Comorbidades múltiplas,
somadas à elevação proporcional do número de medicamentos necessários
para o seu tratamento, propiciam maior número de reações adversas e de
interações medicamentosas. Além disso, o acompanhamento realizado por
mais de um profissional que atende um mesmo paciente é fator importante
na ocorrência desse tipo de iatrogenia.8
Os prejuízos causados por reações adversas de muitos medicamentos
são bem documentados e estudados. Por isso, muitos fármacos são
considerados inapropriados para uso em idosos, já que os benefícios
trazidos pelo seu uso não justificam os efeitos negativos associados.
Existem listas amplamente aceitas pelas sociedades de Geriatria e
Gerontologia que elencam esses medicamentos.
Os Critérios de Beers, desenvolvidos pela Sociedade Americana de
Geriatria (SAG), compõem os critérios mais amplamente aceitos e contam
com revisões e atualizações a cada três anos, a última em 2019. A lista
conta com medicações potencialmente inapropriadas (MPI) para idosos,
explicitando medicamentos cuja prescrição deve ser evitada na maioria das
situações ou em casos específicos.29
A tabela abaixo exemplifica algumas drogas elencadas de acordo com
os Critérios de Beers, que será discutido com maior aprofundamento em
outro capítulo deste livro.
Quadro 3. Medicamentos que são potencialmente inapropriados na maioria dos idosos.
Medicamentos Justificativa
Antiespamódicos (como
atropina, exceto a Alta atividade
oftálmica, Escopolamina, anticolinérgica.
Metilescopolamina).
Sulfonilureias de ação
Aumentam risco de
prolongada (Glimepirida,
hipoglicemia prolongada
Glibenclamida,
em idosos.
Clorpropamida).
Aumentam risco
cardiovascular e maior
índice de declínio
Antipsicóticos de primeira
cognitivo e mortalidade em
(Clorpromazina,
portadores de demência.
Haloperidol, Flufenazina) e
Evitar, exceto em pessoas
segunda geração
com esquizofrenia, com
(Olanzapina, Paliperidona,
desordem bipolar, ou para
Quetiapina, Risperidona).
uso de curto prazo como
antiemético durante a
quimioterapia.
Procedimento Complicação
Acesso venoso
Flebite.
periférico.
Atraso na realização
Internação prolongada.
de cirurgias.
Sonda vesical de
Infecções urinárias de repetição.
demora.
Hemorragia, deiscência
anastomótica, hematoma na
Cirurgia.
ferida cirúrgica, delirium, infarto
agudo do miocárdio.
Intubação
Parada cardiorrespiratória.
orotraqueal.
Flebotomia. Anemia.
Iatrogenia da palavra
A iatrogenia da palavra acontece quando a comunicação do profissional
de saúde causa impactos negativos na relação médico-paciente, ou mesmo
na saúde mental do indivíduo. É exemplo de iatrogenia da palavra uma má
notícia dada sem a devida preparação, que inclui o ambiente, o
esclarecimento das dúvidas e a linguagem adequada ao nível de formação
do receptor.14
A comunicação de uma má notícia pode propiciar altos níveis de
estresse ao paciente e seus familiares, prejudicando a receptividade de um
eventual tratamento e até mesmo colaborando para o desenvolvimento ou
agravamento de doenças mentais, como depressão e ansiedade.11 23
Assume-se, então, que é essencial manter uma postura ética e respeitosa
diante do sofrimento do paciente e de sua família no momento de
compartilhar uma má notícia, que deve ser transmitida com uma linguagem
simples, de forma empática e, se necessário, deixando clara a existência de
serviços de apoio disponíveis.14
DISTANÁSIA
O termo distanásia pode ser entendido como “obstinação terapêutica”,
ou seja, atitudes que prolongam a vida a todo custo, a despeito de uma
condição irreversível e que submetem o paciente a situações de sofrimento,
sem benefício. Com o desenvolvimento de tecnologias e a supervalorização
da capacidade médica de curar em detrimento de cuidar, impõem-se sobre o
profissional a ideia de que deve usar todos os meios possíveis para manter
um paciente vivo, independentemente do prognóstico e do sofrimento
gerado, admitindo que a sobrevida é mais importante do que o conforto do
paciente.21
PREVENÇÃO
Pela importância do tema no paciente geriátrico, é de suma importância
que se construam mais meios para prevenção de condutas iatrogênicas. Para
isso, é necessário que haja uma rígida observação e análise dos tipos de
iatrogenia e dos fatores de risco que os predispõem.
• Avaliar de forma criteriosa o uso dos medicamentos prescritos;
• Optar por fármacos cujo limiar de concentração da dose terapêutica
seja distante do limiar de concentração da dose tóxica;5
• Estar atento às terapias não farmacológicas complementares; 2
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5. DOENÇA DE ALZHEIMER E OUTRAS
SÍNDROMES DEMENCIAIS
CASO CLÍNICO
Paciente M.P.J, sexo masculino, 75 anos, trabalha como vendedor de
frutas em uma barraca próxima de sua casa, mora com a esposa, natural e
procedente de Sobral/CE, procura o posto de saúde por solicitação dela.
Durante a entrevista o paciente diz estar “esquecido”, pois tem apresentado
dificuldade em organizar o dinheiro das vendas em sua barraca, e por isso
sua esposa pediu que procurasse o médico. Sua cônjuge afirma que ele está
toda hora “trocando as ideias” no momento de falar os nomes das coisas,
esquecendo objetos em lugares estranhos dentro de casa e esquecendo
avisos corriqueiros. O paciente acha seu esquecimento “normal” para sua
idade e diz ser exagero da esposa.
INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
O envelhecimento da população traz à tona a relevância do
entendimento das patologias que são mais comuns nos idosos, destacando-
se as demências. Elas são caracterizadas pelo prejuízo em diversos
domínios cognitivos, como memória, orientação, compreensão, cálculo,
função executiva e linguagem, que levam a um comprometimento na
independência do indivíduo.4 14 15
Dentre as etiologias que compõem o grupo de síndromes demenciais, a
doença de Alzheimer (DA), as demências vasculares (DV) e mistas (quando
existe a coexistência entre a doença de Alzheimer e demência vascular), são
as mais prevalentes, com grande relevância epidemiológica e clínica.4
Outras causas incluem: demência associada a doença de Parkinson e
Parkinson-plus, demência por corpúsculos de Lewy (DCL), demência
frontotemporal (DFT), hidrocefalia de pressão normal (HPN), alterações
cognitivas relacionadas ao uso de drogas, álcool e de medicamentos,
neurossífilis, HIV, tireoidopatias, deficiência de vitamina B12, doença de
Creutzfeldt-Jakob, hipoxemia crônica, tumores, hematoma subdural, assim
como distúrbios psiquiátricos. Em um estudo realizado no Brasil, com base
na análise clínico-patológica de cérebros de pacientes idosos, foi observado
que dentre os pacientes acometidos por demência, a maior prevalência foi
de DA, com 35,4%, seguida pela demência vascular, com 21,2% dos casos.
A prevalência de demência mista nessa amostra foi de 13,3%.44 56
A compreensão epidemiológica desse tema é extremamente relevante,
uma vez que no cenário atual de envelhecimento populacional há um
aumento do número de pessoas com demência em nível global. Estudos
indicam que aproximadamente 35,6 milhões de pessoas viviam com
demência em 2010, e as previsões mostram que esse número pode chegar
até 65,7 milhões em 2030 e 115,4 milhões em 2050. Além disso, dados
demonstram que em 2010, 58% das pessoas com demência viviam em
países de média a baixa renda, e essa proporção pode chegar a 71% até
2050.70
Em relação à associação entre prevalência das demências e idade,
estudos nacionais apontam para uma frequência de 0,12% até 4,1% em
indivíduos de 65 a 69 anos, podendo chegar até 33,07% a 77,80% em
idosos de 90 a 94 anos.14 Da mesma forma, existe uma associação com
outros fatores de risco não modificáveis (sexo feminino e histórico familiar
da doença)46, assim como fatores modificáveis (baixo nível educacional,
hipertensão arterial, obesidade, perda auditiva, depressão em idade idosa,
diabetes, sedentarismo, tabagismo e isolamento social). É importante
ressaltar que esses fatores de risco para os diversos tipos de demência
interagem entre si de diferentes maneiras, ou seja, riscos cardiovasculares
não aumentam apenas o risco de demência vascular, mas também podem
estar relacionados a um maior risco de desenvolvimento da DA.58
Neste capítulo serão abordadas as principais síndromes demenciais (DA,
DV e demência mista), assim como demência na doença de Parkinson,
DCL, demência frontotemporal (DFT), e outras demências rapidamente
progressivas e potencialmente reversíveis.
FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da DA e outras síndromes demenciais envolvem
processos complexos, sendo que muitos ainda não foram totalmente
elucidados, apesar dos grandes avanços das pesquisas nas últimas décadas.
A seguir, serão discutidos dados relevantes sobre esses processos e algumas
peculiaridades para os diferentes tipos de demência.
Primariamente, na DA há uma degeneração sináptica e morte neuronal
em regiões-chave para o desempenho de funções cognitivas, como córtex
cerebral, hipocampo, córtex entorrinal e estriado ventral. Dentre os achados
anatomopatológicos mais característicos da doença destacam-se as placas
senis e os novelos neurofibrilares (NFT). Segundo a hipótese da cascata
amiloide, as placas senis têm como origem o acúmulo de restos celulares
formados por uma substância chamada peptídeo beta-amiloide (Aβ).7 23 75
Esse composto é derivado da clivagem patológica da proteína precursora de
amiloide (APP) que, quando realizada por meio das enzimas β-secretase e
γ-secretase, origina diferentes tipos de AB, como os Aβ1-42, que são mais
amiloidogênicos.32 Já os NFT são compostos por filamentos helicoidais
provenientes da hiperfosforilação da proteína tau, que em condições
normais atua na estabilização de microtúbulos dos neurônios, mas quando
hiperfosforilada compromete a sua estabilidade, contribuindo para o
desenvolvimento da DA e outras síndromes demenciais.32 75 Associado a
esses achados de depósitos amiloides e emaranhados neurofibrilares
existem mecanismos, como a ação direta de espécies reativas de oxigênio,
nitrogênio e radicais livres levando a uma neurodegeneração. Ocorre
também uma neuroinflamação que se dá pela resposta de células como
astrócitos e células da micróglia que liberam citocinas pró-inflamatórias
como interleucinas, prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos. Dentro
desse processo fisiopatológico uma das hipóteses mais estudadas é a de que
uma disfunção do sistema colinérgico contribua para as manifestações
clínicas da doença. Essa teoria se sustenta na ação da fosfolipase A2
(PLA2) que está reduzida na DA, o que leva a um declínio na síntese de
acetilcolina. Outra associação que vem sendo investigada ao longo dos anos
é a relação entre a DA e altos níveis de colesterol. Isso parece ser
especialmente relevante, pois ressalta a importância de medidas de
prevenção básica que podem contribuir para um envelhecimento saudável,
como o controle dos níveis de colesterol ao longo da vida. Além disso, a
carga genética também pode ter uma importante contribuição,
principalmente para aqueles pacientes de apresentação precoce, que podem
estar associados a mutações autossômicas dominantes como da presenilina
1 e 2, assim como dos genes para APP. Por isso, observamos que pacientes
com trissomia do cromossomo 21 têm risco elevado de desenvolver DA.
Outro marcador genético relevante para a DA esporádica é o alelo do gene
apolipoproteína E (apoE) do tipo 4. A apoE é codificada por um gene
localizado no cromossomo 19, que apresenta três alelos comuns
responsáveis por gerar isoformas distintas da apoE (E2, E3 e E4). A apoE
E4 é uma proteína plasmática envolvida no transporte do colesterol e outras
moléculas hidrofóbicas que possui relação positiva com alterações
anatomopatológicas das DA.75
Outros tipos de demência também possuem peculiaridades em seu
desenvolvimento e fisiopatologia. A DV, por exemplo, tem como marcador
a ocorrência de lesões cerebrovasculares com diferentes perfis, como
infartos extensos, múltiplas lesões tromboembólicas ou lesões únicas em
territórios estratégicos. A topografia dessas lesões é particularmente
importante para determinar o curso dos sintomas, já que pode atingir
diferentes áreas cerebrais como tálamo, gânglios da base, substância branca,
áreas corticais e subcorticais límbicas ou paralímbicas. Enquanto
determinadas áreas estão associadas à manifestação cognitiva e
comportamental, outras estão relacionadas à manutenção da memória
(hipocampo-núcleo, mamilar-tálamo e amígdalo-tálamo-frontal).29 Devido à
gama de alterações vasculares que podem ocasionar esse quadro, é preciso
estar atento aos fatores de risco que podem aumentar a ocorrência desses
fenômenos, como hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, alcoolismo,
doença cardíaca prévia, aterosclerose, dislipidemia e obesidade.76 A DCL
tem como achado histopatológico a presença dos corpúsculos de Lewy,
estruturas de localização intracitoplasmática, esféricas e eosinofílicas que
estão presentes em diferentes regiões cerebrais de pacientes acometidos,
levando ao desenvolvimento de sintomas. Assim como a DV, a topografia
cerebral das lesões encontradas na DCL é importante para definir sua
expressão sintomática. Áreas na via nigroestriatal estão ligadas a
manifestações extrapiramidais; já os gânglios autonômicos, estão ligados ao
desenvolvimento de hipotensão postural; o acometimento do córtex límbico
está associado ao desenvolvimento de psicose, enquanto o neocórtex está
mais ligado ao declínio cognitivo.80 A expressão da demência em pacientes
com doença de Parkinson, por sua vez, está ligada aos neurotransmissores
já envolvidos no desenvolvimento dessa doença. Acredita-se que a perda de
inervação colinérgica, dopaminérgica e noradrenérgica sejam os principais
elementos envolvidos na patogênese dessa doença.16 A DFT também é um
tipo peculiar de demência, uma vez que está relacionada ao acometimento
das estruturas cerebrais nas regiões que dão o seu nome, com lesões em
córtices frontal, pré-frontal e temporal anterior. Acredita-se que a
hiperfosforilação da proteína tau seja um importante componente na sua
fisiopatologia.68
Além das etiologias já mencionadas, existem algumas características
peculiares para cada tipo de demência que vão além do objetivo deste
capítulo. No entanto, todas elas têm em comum uma via final de dano
estrutural ou funcional em regiões do sistema nervoso associadas com a
função cognitiva.40 42 67
QUADRO CLÍNICO
Doença de Alzheimer
A DA possui um curso insidioso e lentamente progressivo. Diante disso,
é importante identificar seus possíveis sintomas através da anamnese com
paciente e familiares, assim como avaliar o desempenho cognitivo e
capacidade funcional. A doença usualmente inicia com o acometimento da
formação hipocampal, evoluindo com comprometimento progressivo de
áreas corticais associativas, com relativa preservação dos córtices
primários. Por conta disso, a DA comumente está associada a alterações de
campo cognitivo e comportamental, mas com relativa preservação de
funções motoras.86 Na maioria das vezes, o declínio da memória é o
primeiro sintoma clinicamente significativo, em especial a memória
episódica, voltada para fatos recentes. Esse deficit pode vir acompanhado
de outros comprometimentos, como linguagem, orientação, gnosia, praxia,
funções executivas e visuoespaciais, além de outros sintomas psicológicos e
comportamentais, como agitação, agressividade, delírios, alucinações,
transtornos de humor, apatia, desinibição e perturbações do sono.59 60 86
O curso da DA é dividido em três fases e costuma se estender em um
período de 8 a 12 anos, mas que podem variar de 2 até 25 anos. Na primeira
fase, o paciente apresenta perdas de funções cognitivas que levam a
dificuldades na realização de atividades instrumentais de vida diária, como
cuidar das finanças, medicamentos, realizar trabalhos domésticos, perda da
localização espacial com dificuldade de deslocamento em trajetos
conhecidos. A sintomatologia predominante envolve perdas de memória de
curto prazo — com queixas como dificuldade para recordação de datas,
compromissos, nomes e fatos recentes —, assim como perda da
flexibilidade do pensamento e perda do pensamento semântico. Pacientes
nesse estágio também podem apresentar perda de concentração, iniciativa,
retraimento social, abandono de antigos hábitos, apatia, alterações de humor
— como a depressão (importante diagnóstico diferencial, que pode simular
ou mascarar o desenvolvimento de uma síndrome demencial) —, assim
como outras manifestações psicológicas e comportamentais. Na segunda
fase, a perda cognitiva torna-se mais intensa, com diminuição da memória
remota e da capacidade de aprendizado. Podem ainda ocorrer afasia,
apraxia, agnosia, alterações visuoespaciais, dificuldades de nomeação, de
leitura, escrita com empobrecimento do vocabulário e limitações na
comunicação. Nessa fase, o paciente tende a evoluir com comprometimento
de atividades básicas de vida diária, como vestir-se, alimentar-se, tomar
banho, realizar higiene pessoal adequada, transferência e continência. A
fase mais avançada da DA é caracterizada pelo comprometimento de
diversas funções, com perdas graves na memória, fazendo com que o
indivíduo não reconheça familiares e objetos utilizados no dia a dia,
comprometimento severo da linguagem, com perda progressiva para
atividades básicas de vida diária até se tornar totalmente dependente de
cuidados. É importante destacar, no entanto, que essa fase é muito
heterogênea, uma vez que pode incluir desde idosos que deambulam e ainda
têm um certo grau de comunicação, até indivíduos com fragilidade
importante, acamados, com disfagia, contraturas, dupla incontinência e
úlceras de pressão, quando não forem cuidados adequadamente.33 59
Demência frontotemporal
A DFT, que tem início insidioso e curso progressivo, costuma acometer
indivíduos em idade mais jovens. Normalmente cursa com um menor
comprometimento da memória, porém com fortes alterações no
comportamento que podem ser manifestadas como isolamento social,
apatia, desinibição, irritabilidade, inflexibilidade mental, sintomas
depressivos, preocupações somáticas e alterações na linguagem com
redução da fluência verbal, estereotipias e ecolalia.86 É comum que os
pacientes neguem ou não demonstrem preocupação com seus sintomas, que
normalmente são relatados pelo acompanhante.68 A distinção entre DFT e
DA pode ser difícil, a depender do estágio clínico da doença, uma vez que o
declínio da memória episódica pode ocorrer de forma similar a pacientes
com DA. Além disso, algumas variantes da DA podem ter sintomas
semelhantes com a DFT.47
Outras demências rapidamente progressivas
As demências rapidamente progressivas constituem um conjunto de
doenças que têm uma evolução mais rápida, com o comprometimento
cognitivo em um a dois anos — ou até menos. Nesse grupo são incluídas
demências neurodegenerativas (doença de Creutzfeldt-Jakob, algumas
variantes da DA, DV, DCL, DFT, paralisia supranuclear progressiva,
degeneração corticobasal), demências imunomediadas (encefalopatia
límbica, encefalopatia de Hashimoto, encefalopatias associadas a diversas
doenças autoimunes), vasculites, encefalites, neuroinfecções como HIV,
neurossífilis e outras. Devido à potencial severidade dessas condições e a
possibilidade de tratamento curativo em alguns casos, é importante que
esses pacientes tenham uma avaliação adequada, com diagnóstico precoce.30
42
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA
A avaliação de um idoso que potencialmente está desenvolvendo uma
síndrome demencial requer uma anamnese detalhada, acompanhada de
ferramentas de avaliação de desempenho cognitivo, exame físico, incluindo
neurológico, exames laboratoriais e de imagem.41 50 51 53
HISTÓRIA CLÍNICA
A história clínica do paciente pode ser narrada por ele mesmo. No
entanto, o ideal é que o médico também possa contar com a ajuda de
membros da família ou pessoas próximas para confirmação dos dados. A
anamnese deve abordar todo o histórico de doenças, que inclui passado de
sintomas neuropsiquiátricos, mudanças do padrão cognitivo e
comportamento. O uso de medicações também precisa ser investigado, pois
algumas drogas com efeito anticolinérgico podem gerar comprometimento
cognitivo.17 19 41 51
Na DA, a perda de memória costuma ser a alteração mais marcante na
história clínica, no entanto ela não está presente em 100% dos casos, uma
vez que existem variantes da DA e outros tipos de demência que podem
levar a deficit em diferentes domínios cognitivos. Além disso, o avaliador
também precisa procurar ativamente alterações comportamentais, como
agitação, agressividade, perambulação, apatia, delírios e outras que possam
auxiliar no diagnóstico.48 É essencial que também seja realizado diagnóstico
diferencial de transtornos de humor, uma vez que podem levar a alterações
cognitivas reversíveis.
Uma característica necessária para que o paciente receba o diagnóstico
de uma síndrome demencial é a perda de desempenho para exercer
atividades de vida diária (AVD). Em fases iniciais é comum observar perda
de atividades instrumentais de vida diária, mais complexas, como
organização de finanças e trabalhos domésticos, que podem ser avaliadas
pela escala de Lawton. Com a evolução do quadro clínico, o paciente passa
a apresentar dependência em atividades básicas de vida diária, como
continência, transferência e alimentação, que podem ser avaliadas pela
escala de Katz. Esses instrumentos estão descritos no capítulo de Avaliação
Geriátrica Ampla. Caso o paciente apresente alterações cognitivas que não
levem à perda de capacidade funcional, ele recebe o diagnóstico de
transtorno cognitivo leve e precisa ser observado ao longo do tempo, uma
vez que existe um maior risco de desenvolver demência no futuro.2 41 50 51 52
55
Perda de memória.
Dificuldades na linguagem.
Declínio do julgamento.
Dificuldades com pensamentos abstratos.
Mudanças de comportamento.
Mudanças de personalidade.
Perda de iniciativa.
1. Ano.
Orientação 2. Mês.
5
temporal (qual é 3. Dia do mês.
pontos.
o...?) 4. Dia da semana.
5. Hora.
1. Local específico.
Orientação 2. Local genérico.
5
espacial (onde 3. Bairro ou rua próxima.
pontos.
estamos?) 4. Cidade.
5. Estado.
Copiar o desenho:
1 ponto.
TESTES LABORATORIAIS
Exames laboratoriais são importantes para identificar quadros
potencialmente reversíveis que podem estar contribuindo para o
comprometimento cognitivo; em especial, deve-se destacar a dosagem dos
níveis de vitamina B12, TSH, T4 livre, função renal, função hepática e
distúrbios eletrolíticos. O rastreio de outras doenças infecciosas que podem
resultar em sintomatologia neuropsiquiátrica, como sífilis ou HIV, também
devem ser realizados quando a história clínica sugerir um risco aumentado
de exposição a esses agentes infecciosos.53
NEUROIMAGEM
Os exames de neuroimagem estrutural são essenciais para que sejam
afastadas condições como hematoma subdural, acidente vascular cerebral,
hidrocefalia, tumores e outras alterações.42 Os métodos mais empregados
são a tomografia computadorizada (TC) e o exame de ressonância
magnética (RM) de crânio. Alguns achados em exames de imagem, como
atrofia e neurodegeneração do sistema nervoso central, podem ser
observados — apesar de serem inespecíficos como marcador de DA. No
sistema nervoso central, geralmente os primeiros locais a serem acometidos
são a via hipocampal — córtex entorrinal, hipocampo e córtex cingulado
(Figura 1). Posteriormente, áreas do neocórtex temporal, parietal e frontal
são acometidas.39
Os exames de neuroimagem funcional como a tomografia por emissão
de pósitrons (PET) ou a tomografia por emissão de fóton único (SPECT)
também são ferramentas diagnósticas úteis e são amplamente disponíveis.13
Atualmente, já existem marcadores de depósito amiloide e proteína tau,
como o PET amilóide e o PET FDDNP, respectivamente. No entanto, esses
marcadores ainda são pouco acessíveis no Brasil, sendo restritos para
ambientes de pesquisa. O uso da neuroimagem funcional ajuda a corroborar
o diagnóstico de demência e risco para evolução do quadro, no entanto, a
sua aplicação para diferenciar os diferentes tipos de demência ainda não
está bem estabelecida, podendo ser útil para sugerir algumas etiologias
específicas DFT — (Figura 2).48 71
PUNÇÃO LOMBAR
A avaliação do líquido cefalorraquidiano, que normalmente é utilizada
para a investigação de patologias com perfil infeccioso, inflamatório ou
neoplásico no sistema nervoso central, pode ser realizada a fim de dosar
marcadores como peptídeo beta-amiloide AB42 e a proteína tau total e
fosforilada. Mesmo que não seja recomendado para um diagnóstico de
rotina, acredita-se que a utilização desses biomarcadores pode favorecer o
diagnóstico precoce da doença. Espera-se, portanto, que nesses pacientes
exista uma diminuição dos níveis de peptídeo beta-amiloide AB42 e
aumento dos níveis de proteína tau (total e fosforilada). É importante
ressaltar que eles não permitem diferenciar diferentes tipos de demências;
no entanto, são muito úteis no contexto de pesquisa clínica, uma vez que
ajudam a fornecer informações sobre pacientes de maior risco para
desenvolver DA, que potencialmente se beneficiam de novas terapias.27 28 52
53 61
BIÓPSIA
Apesar de sua utilidade para auxiliar no diagnóstico diferencial das
demências, trata-se de um exame invasivo em que o paciente está sujeito a
diferentes complicações com possíveis sequelas, e por isso a prática clínica
acaba sendo pouco utilizada com esse intuito.81
TRATAMENTO
Tratamento não medicamentoso
Estudos sugerem que abordagens não farmacológicas em pacientes com
DA leve a moderada contribuem para uma melhora geral da qualidade de
vida, impactando positivamente no prognóstico. A combinação de
intervenções que incluem treinamento cognitivo, exercícios físicos
direcionados, terapia ocupacional e outros estímulos para realizar atividades
cotidianas pode contribuir para uma melhora global na funções cognitivas e
capacidade funcional.43 83 85 Outras técnicas, como terapia com animais,
musicoterapia e aromaterapia acompanhada de programas de massagem
podem ser úteis para reduzir sintomas como agitação.64 77 A indicação
dessas terapias não farmacológicas deve ser feita de forma individualizada,
considerando as peculiaridades e gostos de cada idoso.
Tratamento medicamentoso
O tratamento medicamentoso para a doença de Alzheimer é constituído
pelos inibidores da acetilcolinesterase e antagonistas do receptor do
glutamato.
Os inibidores da acetilcolinesterase (donepezila, rivastigmina e
galantamina) atuam aumentando a transmissão colinérgica em pacientes ao
inibir a enzima acetilcolinesterase (Quadro 4).38 49 As evidências atuais
suportam que a atuação desses fármacos pode reduzir a progressão da
doença, mesmo que não levem a uma resolução completa do quadro no
longo prazo. Os efeitos colaterais mais frequentes resultam de uma
hiperativação colinérgica periférica, como: náuseas, vômitos, diarreia, dor
abdominal, sialorreia, síncope, arritmia, bradicardia, tonturas, cefaleia,
agitação, insônia entre outros. Em geral são bem tolerados.34 38
Outro fármaco disponível para o tratamento da doença de Alzheimer é a
memantina, cujo mecanismo de ação envolve o antagonismo nos canais e
N-metil-d-Aspartato (NMDA).32 Estima-se que o estímulo excessivo de
receptores NMDA possa induzir um quadro de isquemia que leva à
neurotoxicidade. Dessa forma, a memantina tem como mecanismo de ação
o bloqueio da ativação patológica desses receptores, configurando seu perfil
neuroprotetor. A memantina também possui um perfil seguro, com baixa
incidência de efeitos colaterais, que normalmente são bem tolerados. O
tratamento com memantina está reservado para pacientes em fases
moderada e moderadamente graves de doença.5 25 26 54 62 72 Evidências
também demonstram que o uso combinado de um inibidor da colinesterase
e a memantina seja capaz de melhorar o desempenho cognitivo de pacientes
com doença de Alzheimer moderada a severa (quando comparado à
monoterapia com a segunda classe).21
Atualmente, qualquer uma dessas medicações pode ser utilizada para o
tratamento da demência de Alzheimer, demência vascular e demência
associada à doença de Parkinson. Em algumas demências, como a demência
frontotemporal, as evidências para o uso dessas drogas é menor.
Correção para
Medicamento Dose
função renal
PREVENÇÃO
Além da intervenção farmacológica e do uso de terapias não
farmacológicas, muito se discute sobre o impacto da prevenção em
diferentes populações, o que contribuiria para uma diminuição dos riscos de
síndromes demenciais em idosos. As evidências mais recentes apontam
fatores de risco modificáveis, como menor acesso à educação, hipertensão,
comprometimento auditivo, uso de cigarro, obesidade, depressão, diabetes,
pouco contato social, poluição do ar, traumas cranianos e consumo
excessivo de álcool. A importância de reconhecer esses fatores reside no
fato de que através de medidas públicas (como melhor acesso à educação)
ou pessoais (hábitos de vida mais saudáveis) pode-se trabalhar em prol da
manutenção da saúde e diminuição dos riscos de desenvolvimento de uma
síndrome demencial.57 74
PROGNÓSTICO
No manejo do idoso com síndrome demencial é importante um
diagnóstico adequado, a fim de que sejam identificadas causas
potencialmente reversíveis de forma precoce. Já as síndromes demenciais
não reversíveis são caracterizadas por terem um curso progressivo,
independentemente do tratamento farmacológico. Ainda assim, devido a
todo progresso científico e estudos voltados para essa área, hoje existem
terapias cada vez mais promissoras, que embora não representem uma cura
definitiva para a doença, são capazes de melhorar a qualidade de vida de
pacientes e familiares envolvidos.14 15 20 38 77 Estudos apontam que
aproximadamente um terço das pessoas acima dos 60 anos de idade chegam
ao óbito sendo portadoras de síndromes demenciais, e as taxas de sobrevida
após o diagnóstico da doença variam entre 3,3 a 11,7 anos. Ainda assim, é
estimado que apenas um quarto das pessoas que morrem com demência
estão na fase avançada da doença.8 Atualmente observa-se que
determinadas populações como mulheres, minorias étnicas e social têm
maior risco de chegar ao óbito em estado severo de demência. Acredita-se
que esses indivíduos comumente possuem menos acesso à educação ao
longo de suas vidas, o que contribuiria para uma “carga cognitiva”
reduzida. Além disso, as mulheres, em geral, possuem uma expectativa de
vida maior do que os homens, o que também contribuiria para um maior
tempo de vida “disponível” para a progressão dos sintomas para uma fase
severa da doença.8 As estatísticas também revelam que existe um aumento
das taxas de mortalidade em grupos cada vez mais idosos, uma vez que é
estimado que grupos nas faixas etárias de 70 a 74 anos apresentam um
aumento de 9,5% de mortalidade, podendo chegar a um aumento de até
84% em pacientes com 85 anos ou mais.57 74 Por fim, demais fatores podem
contribuir para um aumento da mortalidade na DA e outras demências,
como comorbidades e desnutrição. Por isso a identificação e manejo desses
fatores modificáveis torna-se, então, uma peça-chave para uma melhora do
prognóstico dos pacientes, o que envolve a atuação conjunta de equipes de
saúde e cuidadores.22
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6. DELIRIUM
CASO CLÍNICO
MJFS, 75 anos, foi levada ao pronto-socorro pela neta, após ser
encontrada caída no chão durante a madrugada. Ao chegar na emergência,
identificou-se uma fratura de colo de fêmur, sendo então realizado cirurgia
e, em seguida encaminhada para a unidade de terapia intensiva. Paciente
apresentava um histórico de diabetes, hipertensão, depressão e fazia uso
domiciliar de metformina, carvedilol, nifedipino, amitriptilina e diazepam
(sendo esse último sem prescrição médica). Durante a evolução da
internação, a paciente apresentou confusão mental, confundiu os
enfermeiros com seus netos, não sabia onde estava e tentava
constantemente sair do leito. O médico plantonista receitou risperidona e foi
realizada a contenção no leito. Após algumas horas a paciente ainda
apresentava confusão mental, no entanto, estava mais hipoativa.
DEFINIÇÃO
O delirium é uma síndrome neuropsiquiátrica aguda caracterizada
primariamente por deficit na atenção e no nível de consciência, de forma
flutuante, associado a prejuízo na cognição. Entre os domínios cognitivos
que podem ser afetados destacamos a memória, orientação, linguagem,
habilidade visuoespacial e percepção. Ele também não pode ser explicado
por outra desordem neurocognitiva preexistente, necessitando de evidências
clínicas e laboratoriais de que o distúrbio é causado por uma condição
médica, efeito colateral de medicação, intoxicação por substância ou
abstinência.4
Podemos classificar o delirium em dois grupos, de acordo com sua
apresentação. O delirium hipoativo é marcado por lentificação psicomotora,
letargia e pouca responsividade, sendo a forma mais comum encontrada em
pacientes idosos. O delirium hiperativo, por outro lado, é caracterizado por
agitação psicomotora, inquietação, labilidade emocional. Em grande parte
dos pacientes podem ser observadas ambas apresentações, que flutuam ao
longo do dia, sendo nesses casos classificados como delirium misto.52
EPIDEMIOLOGIA
O delirium é uma síndrome frequentemente observada em idosos,
principalmente quando hospitalizados. Em idosos de comunidade, as taxas
de delirium situam-se em torno de 2%, chegando a 14% para aqueles com
idade acima de 85 anos.22 52 Nos pacientes internados, por outro lado, a
incidência de delirium se aproxima de 30%17, atingindo até 50%14 dos
idosos em pós-operatório e até 80% dos internados em unidades de terapia
intensiva.16 36 Essa taxa parece ser maior em instituições que não realizam
medidas preventivas adequadas, conforme será discutido no escopo deste
capítulo.
FISIOPATOLOGIA
Apesar de o delirium ser conhecido há milênios, a sua fisiopatologia não
está bem esclarecida, nem há um consenso sobre os fatores envolvidos no
seu desenvolvimento. Entretanto, sabe-se que o estado confusional agudo é
a via final de vários fatores que culminam em disfunção cerebral.
Os mecanismos mais aceitos envolvem aumento de citocinas
inflamatórias, hipóxia, alterações na permeabilidade da barreira
hematoencefálica e estresse oxidativo, ativação do eixo hipotálamo-
hipófise-adrenal, alterando a síntese de neurotransmissores.44 Embora
muitos neurotransmissores estejam implicados, as alterações mais
comumente descritas incluem deficiência de acetilcolina e/ou melatonina e
excesso de dopamina, norepinefrina e/ou glutamato, com destaque para o
efeito direto das alterações na via colinérgica e dopaminérgica.32 52 Na
Figura 1 estão demonstrados os principais componentes fisiopatológicos do
delirium.
FATORES DE RISCO
Os fatores de risco para o desenvolvimento do delirium são divididos
em fatores predisponentes e fatores precipitantes. Os fatores predisponentes
se referem a condições preexistentes individuais de cada paciente,
geralmente não modificáveis, enquanto os fatores precipitantes se
relacionam aos gatilhos que podem contribuir para o desenvolvimento do
delirium (Quadro 1).16
Admissão em emergência e
Idade > 75 anos
unidade de terapia intensiva.
Demência Trauma.
Comprometimento
Sepse e outras doenças agudas.
visual
Comprometimento
Imobilização.
auditivo
Doença
Desnutrição e desidratação.
cerebrovascular
Medicações e outras
Uso de álcool
iatrogenias.
Multimorbidades Cirurgias.
Distúrbios metabólicos e
Delirium prévio
hidroeletrolíticos.
Abuso ou abstinência de
Depressão
substâncias.
QUADRO CLÍNICO
Para diferenciar o delirium de outras situações clínicas, é importante
estar atento ao curso agudo característico da síndrome, destacando que o
paciente idoso pode apresentar flutuação do estado mental, fazendo-o
transitar entre estados hipoativos e hiperativos, caracterizando o delirium
misto. O deficit de atenção é comumente encontrado e, somado ao
pensamento desorganizado, dificulta a comunicação. Outros sintomas que
podem ser observados são: alterações no ciclo do sono-vigília, depressão,
medo, inquietação, euforia, agressividade, alucinações e delírios.
Frequentemente, esses sintomas duram poucas horas e têm rápida
resolução; contudo, se não identificado e tratado adequadamente, o delirium
pode persistir por semanas ou meses.7 27
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA
Dada a grande prevalência dos casos de delirium nas unidades de saúde
e o impacto que essa síndrome pode causar nos idosos, os conhecimentos
sobre seu diagnóstico têm grande importância para a prática clínica e devem
ser conhecidos por todos os médicos, não só especialistas geriatras. Além
disso, ela pode representar o único sinal de uma doença grave e indicar
risco de vida22; contudo, o subdiagnóstico ainda é comum, principalmente
quando ela se apresenta em sua forma hipoativa. Portanto, o delirium
normalmente é um indicador de outras enfermidades — considerando que
muitas vezes as doenças apresentam sinais e sintomas atípicos na população
geriátrica. Um recente estudo de coorte demonstrou que o delirium era
identificado em 28% dos idosos com COVID-19 que adentravam as
emergências; em 37% desses casos os pacientes não apresentavam sintomas
típicos da infecção pelo vírus Sars-CoV-2.26
O diagnóstico do delirium se baseia na avaliação clínica criteriosa e na
utilização de instrumento de rastreio, destacando-se o Confusion Assesment
Method (CAM), que está disponível anexo no final do capítulo.15 A
aplicação das escalas de rastreio pode ainda ser complementada pela
avaliação dos critérios diagnósticos do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM 5), conforme demonstrado no Quadro 2.4
Corticosteroides.
Anticonvulsivantes.
Propantelina, atropina.
Relaxantes musculares.
O exame físico deve focar na análise dos sinais vitais e achados clínicos
que possam indicar possíveis etiologias como baixa saturação de oxigênio,
febre, taquicardia, hipotensão, dor, alterações na ausculta, assim como
achados neurológicos que possam justificar outra doença do sistema
nervoso central.
Existem também diversos exames complementares que podem ser
realizados de forma a auxiliar no diagnóstico, que devem ser solicitados de
forma individualizada, levando em consideração a apresentação clínica de
cada paciente (Quadro 4). Nesse contexto, é preferível inicialmente realizar
exames mais acessíveis e menos invasivos, de forma a prevenir iatrogenias.
A depender do quadro clínico e gravidade, podem ser necessários exames
mais complexos.22 30
Quadro 4. Principais exames que podem ser realizados na investigação etiológica do delirium.
Eletrólitos.
Ureia e creatinina.
Glicemia.
Hemograma.
Sumário de urina.
Culturas.
Avaliação da tireoide.
Vitamina B12.
Efeitos diurnos,
Flutuante com
tipicamente piora pela
Curso nas 24h exacerbação Estável.
manhã; menos flutuações
noturna.
do que delirium.
Memória prejudicada;
Globalmente Globalmente ilhas de memórias
Cognição prejudicada. prejudicada. intactas; pensamentos
negativos.
Frequentemente
prejudicadas; Frequentemente Seletivamente
Orientação flutua em prejudicada. prejudicada.
gravidade.
Frequentemente
visuais ou Frequentemente Ausentes, exceto em
Alucinações visuais e ausentes. casos graves.
auditivas.
Dificuldade em
Frequentemente
encontrar
Linguagem incoerente, lenta
palavras e
Normal.
ou rápida.
perseverança.
PREVENÇÃO
Tanto a prevenção quanto o tratamento do delirium são baseados nos
seguintes princípios: 1) evitar fatores agravantes a exemplo da polifarmácia,
desidratação, imobilização, comprometimento sensorial e interrupção do
ciclo sono-vigília; 2) identificar e tratar a doença subjacente; 3) fornecer
cuidados de suporte para prevenir piora do comprometimento cognitivo e
físico; 4) na presença de agitação que pode levar a agravos ou risco de
remoção de dispositivos, usar agentes farmacológicos de curta ação e em
baixa dosagem. Portanto, as medidas preventivas se assemelham, dessa
forma, ao tratamento não farmacológico, que será detalhado mais à frente
no Quadro 3.
As evidências atuais demonstraram que as medidas de prevenção não
farmacológica multidisciplinar constituem o fator de maior impacto na
redução da incidência de delirium, conforme será abordado mais adiante.
Essas medidas preventivas parecem ser mais eficazes em um grupo
selecionado de idosos hospitalizados com maior número de fatores
predisponentes e precipitantes. Entre esses, se destacam pacientes com
alterações metabólicas e infecciosas, cirúrgicos, pacientes admitidos por
trauma e indivíduos internados em unidades de terapia intensiva.1 24 33
Em relação à prevenção farmacológica, as medicações antipsicóticas
não são recomendadas, devido à ausência de benefícios e risco de efeitos
colaterais.28 Alguns estudos apontam para a suplementação de agonistas de
receptores da melatonina com essa finalidade, porém o tema ainda se
mantém controverso, com uma sugestão para o uso de ralmeteona 8mg, na
prevenção do delirium.10 21 52 Quanto à melatonina, existe uma maior
heterogeneidade entre os estudos, com uma variação entre doses
sugeridas.11 51
TRATAMENTO
Manejo não farmacológico
Até o momento, as evidências na literatura sugerem que as medidas não
farmacológicas multicomponentes são os fatores de maior impacto no
tratamento do delirium, sendo que o uso de medicamentos é restrito para
controle de sintomas refratários, de forma individualizada. No Quadro 3
estão sugeridas as principais medidas não farmacológicas.
Deambulação precoce
Manejo farmacológico
As evidências atuais sugerem que o uso da maioria dos fármacos não é
eficaz em reduzir a incidência e tempo de delirium. Porém, em casos de
sintomas hiperativos refratários a medidas não farmacológicas que tragam
risco de danos, o tratamento farmacológico pode ser indicado.
Entre as classes de medicamentos que têm sido estudados no tratamento
do delirium hiperativo destacam-se: os neurolépticos, dexmedetomidina,
benzodiazepínicos, agonistas dos receptores da melatonina, analgésicos e
tiamina.
Os neurolépticos constituem o grupo de medicamentos mais utilizados
na prática clínica. Apesar disso, os estudos indicam que eles não têm efeito
significativo na redução da duração do delirium, assim como na
mortalidade.40 41 Além disso, seu uso tem sido associado a eventos adversos,
como: prolongamento de intervalo QT, parkinsonismo e risco de morte
súbita.6 34 Atualmente, nenhum deles está aprovado pela Food and Drug
Association (FDA) para o tratamento do delirium, portanto o uso desses
agentes nesse contexto deve ser individualizado, dando preferência ao uso
de doses mais baixas, por período curto, quando possível.18 42 No Quadro 4
estão demonstradas as particularidades de cada antipsicótico, que auxiliam
na tomada de decisões. Essa escolha deve levar em conta aspectos
farmacocinéticos e farmacodinâmicos, via de administração e os possíveis
efeitos adversos. Atualmente, o fármaco mais utilizado é o haloperidol, pois
apresenta menos efeitos sedativos e tem experiência clínica mais longa.
Quadro 4. Neurolépticos mais utilizados na prática clínica para o tratamento do delirium.
Dose diária
Medicamento Dose
máxima Vantagens Desvantagens
neuroléptico inicial
recomendada
50 mg VO
(alguns Menos efeito
autores extrapiramidal.
12,5 a 25 Efeito
Quetiapina sugerem 100 Fácil titulação
mg VO. anticolinérgico.
a 200 para pela meia-vida
atingir efeito de 6 horas.
antipsicótico).
Sedação, efeito
Melhora
anticolinérgico,
2,5 a 5 mg apetite e peso
Olanzapina 20 mg VO. difícil titulação
VO. em pacientes
pela meia-vida de
com caquexia.
30 horas.
PROGNÓSTICO
A ocorrência de delirium está associada a um pior prognóstico, uma vez
que pode levar a um aumento do tempo de internação, risco de
institucionalização, aumento da mortalidade durante a internação e no ano
seguinte a ela.48
É importante salientar que os sintomas do delirium podem ter uma
duração prolongada, estendendo-se por várias semanas no período pós-
agudo, mesmo após correção dos fatores desencadeantes e patologia
subjacente. Estudos atuais já sugerem que as alterações cognitivas podem se
perpetuar por períodos maiores que um ano e, em alguns casos, o delirium
pode levar a danos permanentes na autonomia, funcionalidade e perda da
qualidade de vida.8 12 25 32 46 50
Isso demonstra a importância das estratégias de prevenção com o
objetivo de reduzir o risco de delirium em idosos, assim como diagnóstico
precoce e manejo adequado. Por isso, é essencial que esses conhecimentos
sejam disseminados para todos os profissionais de saúde que prestam
cuidados ao paciente idoso.
2. Distúrbio da atenção*
A. O paciente teve dificuldade em focalizar sua atenção, por exemplo
distraiu-se facilmente ou teve dificuldade em acompanhar o que estava
sendo dito?
• Ausente em todo o momento da entrevista.
• Presente em algum momento da entrevista, porém de forma leve.
• Presente em algum momento da entrevista, de forma marcante.
• Incerto.
B. Se presente ou anormal, este comportamento variou durante a
entrevista, isto é, tendeu a surgir e desaparecer ou aumentar e diminuir
de gravidade?
• Sim.
• Não.
• Incerto.
• Não aplicável.
C. Se presente ou anormal, descreva o comportamento.
3. Pensamento desorganizado
O pensamento do paciente era desorganizado ou incoerente, com a
conversação dispersiva ou irrelevante, fluxo de ideias pouco claro ou
ilógico, ou mudança imprevisível de assunto? quadrado.png
7. Distúrbios de percepção
O paciente apresentou sinais de distúrbio de percepção, por exemplo
alucinações, ilusões ou interpretações errôneas (pensando que algum objeto
fixo se movimentava)? quadrado.png
8. Agitação psicomotora
Parte 1: durante a entrevista, o paciente apresentou aumento anormal da
atividade motora, como agitação, beliscar de cobertas, tamborilar com os
dedos ou mudança súbita e frequente de posição? quadrado.png
Parte 2: durante a entrevista, o paciente apresentou diminuição anormal
da atividade motora, como letargia, olhar fixo no vazio, permanência na
mesma posição por longo tempo, ou lentidão exagerada de movimentos?
quadrado.png
*As perguntas listadas abaixo deste tópico foram repetidas para cada
item, quando aplicáveis.
Fonte: retirada do artigo “Validity and reliability of the Portuguese version of the confusion
assessment method (CAM) for the detection of delirium in the elderly”.15
fluxograma delirium
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7. DEPRESSÃO
CASO CLÍNICO
JPS, sexo masculino, 71 anos, aposentado, mora com sua esposa e um
neto, natural e procedente de Sobral/CE. Paciente com antecedente de
hipertensão, vem em consulta de rotina com seu cardiologista para ajuste de
tratamento. Chega ao consultório acompanhado da esposa e neto. Durante a
consulta o paciente demonstra pouco interesse em responder as perguntas
do entrevistador, mantendo os olhos baixos e respondendo sempre de forma
lenta. Sua esposa se incomoda com sua participação na consulta e se queixa
que seu marido “não está normal”, pois não está comendo direito, está
constantemente reclamando, “não sai da cama” e ultimamente tem pedido
ajuda para realizar a auto-higiene pois alega estar “sempre cansado”; ela
pergunta se isso não pode ser “efeito do remédio” que ele está tomando para
hipertensão (losartana 50 mg). Quando perguntado sobre sua condição geral
e bem-estar, o paciente revela uma profunda insatisfação com a vida,
saudade de seu antigo emprego (trabalhava como barbeiro), tem dificuldade
para dormir e que não sente mais prazer nas suas atividades diárias. Durante
a entrevista, seu neto o interrompe e alega que isso é “normal para velhice”
de seu avô, embora reconheça que ele tenha piorado nos últimos meses.
A. Diante do caso apresentado, quais elementos podem indicar um
comprometimento do estado de humor do paciente?
FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da depressão no idoso inclui fatores psicossociais,
ambientais, hormonais, genéticos e disfunção de neurotransmissores que,
em conjunto, contribuem para o desenvolvimento da doença.42 Conforme já
discutido, diversas condições pré-existentes podem contribuir para quadros
depressivos, a exemplo das endocrinopatias, neoplasias, doenças
neurológicas, cardiovasculares, desordens metabólicas como deficiência de
vitamina B12 e desnutrição. Alguns fármacos e substâncias podem também
atuar como fatores de risco, a exemplo da metildopa, benzodiazepínicos,
propranolol, reserpina, antiparkinsonianos, cimetidina, clonidina,
hidralazina, tamoxifeno, álcool e outros.3 6 26
Atualmente, atribui-se com um dos principais componentes dessa
fisiopatologia o complexo balanço entre as substâncias que compõem os
sistemas monoaminérgicos, dentre elas a norepinefrina, serotonina,
dopamina e acetilcolina. É creditado a esses neurotransmissores a regulação
de atividades como apetite, sono, atividade psicomotoras e, por fim, o
humor. A partir da observação da ação de fármacos inibidores da
monoamina oxidase (MAO), aumentando as concentrações de
noradrenalina e serotonina através da inibição da recaptura sináptica de
monoaminas, pode-se embasar a “hipótese catecolaminérgica” que atribuía
os sintomas depressivos a uma baixa dessas substâncias. Ainda assim, é
sabido que os efeitos das drogas antidepressivas costumam se manifestar
somente após algumas semanas — duas a três, dependendo da literatura —,
embora os níveis de norepinefrina e serotonina sejam elevados após poucas
horas de ação do fármaco. Diante disso, foi necessário formular hipóteses
que justificassem esse fato. Atualmente, as pesquisas mais recentes
apontam para a função dos receptores pré e pós-sinápticos como peça-chave
para entender a fisiopatologia da depressão. A hipótese de dessensibilização
dos receptores levanta uma proposta de que o atraso na resposta de
medicações antidepressivas está associado a uma alteração da sensibilidade
dos receptores monoaminérgicos. Essa linha de investigação propõe que
exista uma superssensitividade de receptores beta-adrenérgicos. Ainda
assim, não há provas concretas que possam demonstrar que a
hiperssensibilização ou subssensibilização expliquem com exatidão a ação
dos efeitos terapêuticos desses fármacos.42
QUADRO CLÍNICO
As alterações presentes nos idosos com depressão podem ser
semelhantes às encontradas em outras faixas etárias, no entanto, muitas
vezes são observados quadros atípicos.34 Existem também diferentes tipos
de apresentações, que são classificadas de acordo com características
específicas, conforme demonstrado no Quadro 1.
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA
O diagnóstico da depressão é eminentemente clínico, e por isso é
preciso que, durante a anamnese, o entrevistador procure por sintomas
sugestivos, conforme já descrito no parágrafo anterior.26 Também é crucial
investigar o uso de medicações e outras substâncias, para que se afaste a
possibilidade de depressão induzida por fármacos, a exemplo do
propranolol, metildopa e drogas. Por fim, é necessário a realização de
exames laboratoriais e, eventualmente de imagem, para afastar condições
orgânicas que podem confundir o diagnóstico de transtornos de humor.3 6
Atualmente existem diversos critérios que podem ser utilizados para o
auxílio diagnóstico. Neste capítulo será descrito o Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Doença Mental (DSM), atualmente em sua quinta edição, de
autoria da Associação Americana de Psiquiatria (Quadro 2).
PECULIARIDADES NO DIAGNÓSTICO DA
DEPRESSÃO NO IDOSO
É importante ressaltar que, nos idosos, os quadros de depressão podem
não se apresentar de forma clara, com sintomas mascarados, que passam
despercebidos durante o atendimento. Por exemplo, é comum a presença de
sintomas como menor resposta afetiva, lentificação psicomotora, fadiga e
outros sintomas somáticos, o que dificulta o diagnóstico de acordo com os
critérios do DSM 5, em alguns casos. Além disso, é comum observarmos
idosos em fase de luto patológico. Portanto, muitos podem ter sintomas
depressivos clinicamente significativos, com impacto na saúde e qualidade
de vida e, mesmo assim, serem subdiagnosticados.62 Atualmente, existem
ferramentas que auxiliam o rastreio e acompanhamento da depressão nesse
grupo, e dentre essas destaca-se a Escala de Depressão Geriátrica (EDG),
elaborada por Yesavage e colegas, em 1983. A versão original do
instrumento incluía 30 itens, sendo que, posteriormente, foram validadas
versões mais curtas, como a de 15 itens, com ponto de corte a partir de 5
para definição de pacientes potencialmente depressivos, o que facilita a
aplicação na prática clínica. Conforme demonstrado no Quadro 3, a EDG
também contempla alguns sintomas mais específicos da população
geriátrica, não abordados no DSM 5.59 72 87
Quadro 3. Escala de Depressão Geriátrica,
versão de 15 itens.
TRATAMENTO
Recomendações gerais
O perfil multifatorial dos transtornos depressivos no idoso requer do
clínico uma abordagem ampla de seus sintomas, comorbidades, contextos
sociais e familiares.78 Antes de iniciar qualquer tratamento é importante que
sejam revistas algumas questões, como: a presença de ideação suicida,
assim como histórico de tentativas;19 avaliar medicações que podem induzir
depressão, assim como abuso de álcool;6 26 procurar por outras condições
clínicas que possam justificar o desenvolvimento desse quadro depressivo,
por exemplo, endocrinopatias, tireoidopatias e doenças cerebrovasculares;3
averiguar se o episódio é o primeiro que o paciente está experimentando, ou
se é uma recorrência;6 enfim, investigar sintomas prévios que possam
sugerir a presença de um transtorno bipolar, uma vez que um tratamento
inadequado pode desencadear uma crise de mania.1
A escolha do tratamento é influenciada por diversos aspectos, como
severidade dos sintomas, tipo de depressão, cronicidade do episódio, risco
de eventos adversos, custo, adesão e preferências do paciente, uma vez que
não existe uma grande diferença na resposta a diferentes classes de
antidepressivos.53 61 Para casos leves, a psicoterapia pode ser usada de
forma isolada, com a mesma evidência de benefício quando comparado ao
tratamento medicamentoso. Já para casos moderados a severos, o
tratamento medicamentoso é sempre recomendado.61 78 Durante todo esse
processo é importante que familiares e pessoas próximas estejam
envolvidas, uma vez que podem ajudar a melhorar a adesão, observar o
andamento do tratamento e apontar sinais de melhora ou não resposta do
paciente.3 57 76
Tratamento farmacológico
Normalmente, medicações antidepressivas possuem um tempo de
latência de duas a quatro semanas até que haja uma resposta significativa.85
Indivíduos idosos, por outro lado, podem apresentar uma latência ainda
maior, chegando a até oito semanas.77 Ainda assim, pacientes que com
quatro semanas de tratamento não demonstraram nenhum sinal de melhora
possuem uma menor tendência de exibir melhoras significativas nas
próximas semanas de tratamento.54
O tratamento com fármacos antidepressivos pode ser dividido em etapas
de fase aguda (6 a 12 semanas), fase de continuação (4 a 9 meses) e fase
preventiva (um ano ou mais). É importante que sempre seja buscada a
remissão dos sintomas, portanto, mesmo que o paciente apresente alguma
resposta ao tratamento, se ainda tiver sintomas residuais, deve ter seu
tratamento otimizado. Após o desaparecimento dos sintomas, o paciente
ainda está sujeito a recaídas. Depois de um período de quatro a seis meses
após o fim dos sintomas, esse paciente pode ser considerado como
“recuperado”, e a partir desse ponto a ocorrência de novos sintomas
depressivos o colocará em estado de recorrência.30 Além disso, nos idosos, a
fase de continuação pode durar por anos ou a vida toda, principalmente
quando os fatores desencadeantes não puderem ser tratados, ou em caso de
múltiplas recorrências.78 Outra questão relevante no manejo farmacológico
da depressão em indivíduos com idade mais avançada é que, nesse grupo,
comumente se inicia o tratamento com pequenas doses, seguido de titulação
progressiva, com monitoramento constante de possíveis efeitos colaterais.57
A seguir serão discutidas peculiaridades de cada classe de antidepressivos
mais utilizadas, que estão resumidas no Quadro 4.
Antidepressivos atípicos
Essa classe inclui a mirtazapina, bupropiona e agomelatina, que
possuem diferentes mecanismos de ação.
A mirtazapina é um antidepressivo que atua através de um aumento da
atividade central noradrenérgica e serotoninérgica, por meio de
antagonismo alfa-2 nos neurônios pré-sinápticos, antagonismo dos
receptores de serotonina e histamina, sendo particularmente útil para o
tratamento de idosos com depressão associada à perda de peso e transtornos
do sono. Seus principais efeitos colaterais estão relacionados ao bloqueio de
receptores histamínicos, podendo levar a quadros de sedação excessiva e
ganho ponderal. É uma opção com boa resposta para o tratamento de
pacientes com disfunção sexual induzida por antidepressivos.7 17 46
A bupropiona é um fármaco que age inibindo a recaptação da dopamina
e serotonina, sendo uma alternativa para o tratamento de abstenção ao
tabagismo. É também indicado em associação com outros antidepressivos,
para aqueles idosos com episódios mais graves ou refratários. Como efeito
colateral mais relevante destacam-se crises convulsivas, e por isso deve ser
usado com mais cautela em indivíduos com epilepsia ou histórico de
traumatismo cranioencefálico. Apresenta também a vantagem de estar
menos relacionado à disfunção sexual.25 31 38 40 80
A agomelatina é um antidepressivo com ação agonista dos receptores de
melatonina e tem como principal vantagem sua atuação na melhora da
qualidade do sono, assim como na facilidade de iniciar o sono. Como efeito
colateral mais relevante destaca-se o risco de hepatotoxicidade, sendo,
portanto, contraindicada em indivíduos com doença hepática grave.36 81 88
Moduladores de serotonina
A trazodona e nefazodona são os representantes dessa classe que atua
por meio de antagonismo dos receptores de serotonina pós-sinápticos, além
de inibir a recaptação da serotonina. Eles se diferem dos IRSS, pois inibem
fracamente os receptores pré-sinápticos de serotonina. Atualmente, essa é
uma classe pouco utilizada para o tratamento da depressão, uma vez que
tem risco de hipotensão postural e interação medicamentosa. Tem sido
muito usada em doses baixas para tratamento de distúrbios de sono, com
indicação individualizada. Outra vantagem é que não causa disfunção
sexual.20 45 79
Multimodais
A vortioxetina é um fármaco mais recente, que atua por múltiplos
mecanismos, através da inibição da recaptação de serotonina (5-HT), efeito
agonista no receptor 5-HT1A, efeito antagonista no receptor 5-HT3. Seu
uso tem sido associado a uma melhora do desempenho cognitivo de
pacientes com depressão. Além disso, também não causa disfunção
sexual.43 48
Correção para
Medicamento Dose
função renal
Tricíclicos
10-150 mg/dia
Nortriptilina dividida em 1 a 3 Não.
doses.
Se taxa de filtração
glomerular < 30
Desvenlafaxina 50-100 mg/dia.
mL/min não passar de
50 mg ao dia.
Atípicos
Se taxa de filtração
glomerular < 40
Mirtazapina 15-45 mg/dia.
mL/min não passar de
30 mg/dia.
Modulador da serotonina
Drogas multimodais
Fonte: Autor.
Procedimentos de neuromodulação
Alguns pacientes com depressão não respondem ao tratamento
farmacológico e psicoterapia. Nesses casos, podem ser oferecidos
procedimentos de neuromodulação. Atualmente, existem diversas técnicas
em estudo; no entanto, neste capítulo serão descritas algumas mais
utilizadas na prática clínica.
A eletroconvulsoterapia (ECT) é a forma mais antiga de
neuromodulação indicada, especialmente em pacientes com quadros mais
graves, refratários, assim como na presença de sintomas psicóticos ou alto
risco de suicídio. Evidências demonstraram que trata-se do tratamento mais
efetivo para a depressão unipolar e tem tolerância semelhantes entre jovens
e idosos. No entanto, é importante ter conhecimento dos eventos adversos
associados ao procedimento, a exemplo de complicações cardiovasculares e
deficit cognitivo, que normalmente é transitório. Além disso, é um
procedimento que necessita de anestesia, e por isso a indicação deve ser
realizada de forma individualizada após avaliação de todos os potenciais
riscos e benefícios.18 58 68 82 83
Além da ECT existem outras técnicas, como estimulação magnética
transcraniana repetitiva — do inglês, repetitive transcranial magnetic
stimulation (rTMS) e a estimulação transcraniana por corrente contínua —
do inglês, transcranial direct current stimulation (tDCS).67 A TMS
repetitiva é uma forma já conhecida de estimulação que ajuda a modular a
atividade cortical. Sua técnica consiste no uso de um aparelho que gera uma
corrente elétrica pulsante que passa por uma bobina, gerando um campo
magnético alternado. Trata-se de uma opção para o tratamento de pacientes
com depressão resistente, sendo considerada uma técnica segura e eficaz.
Apesar de ser menos adversa, quando comparada à ECT, por não necessitar
de anestesia, nem induzir convulsões, alguns pacientes podem apresentar
cefaleia, parestesias em couro cabeludo e face, assim como lacrimação
ipsilateral.41 66 67 Já a tDCS consiste no uso de dois eletrodos em esponjas
imersas em uma solução salina que são posicionados na cabeça do paciente.
Sua técnica utiliza correntes baixas (1 a 2 mA) em um fluxo constante entre
um eletrodo e outro. Evidências sugerem sua eficácia no tratamento da
depressão, apesar da necessidade de novos estudos. É uma técnica segura,
que no entanto pode levar a alguns eventos adversos como lesões ou
queimaduras na pele, cefaleia, parestesia, fadiga e náusea.12 13 67
Exercício físico
A prática de exercícios físicos em idosos deve ser estimulada, uma vez
que as evidências suportam que pode levar a uma redução dos sintomas
depressivos, principalmente no curto prazo. Os efeitos no humor ao longo
prazo ainda precisam ser melhor estabelecidos, no entanto, sabemos que a
prática de exercícios físicos também está associada a diversos benefícios
para a saúde, como uma redução do risco de doenças cardiovasculares,
tratamento da obesidade, melhora da capacidade funcional e tratamento da
sarcopenia. É importante que essa prática seja associada ao tratamento
farmacológico e à psicoterapia, de forma a melhorar a adesão do paciente a
uma rotina de exercícios mais regular.16 33 75
Prognóstico
Sabemos que a depressão no idoso pode levar a condições como
agravamento de condições patológicas com perda de autonomia e
capacidade funcional, aumentando hospitalizações e custos pela utilização
de serviços de saúde.59 Conforme já descrito, da mesma maneira que nos
pacientes mais jovens, também existe um maior risco de suicídio. Quando
comparado a esse grupo, as evidências demostram que, apesar da incidência
de suicídio em idosos ser um pouco menor, eles são mais bem-sucedidos
em suas tentativas.9 44 Além disso, a mortalidade em idosos com depressão é
elevada não apenas pelos casos de suicídio decorrentes e sim pelas outras
doenças concomitantes, que podem ser subdiagnosticadas e subtratadas.22 64
Levando em consideração a importância epidemiológica da depressão
no idoso, assim como os impactos das complicações, é crucial que essa
condição seja adequadamente rastreada e manejada.
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8. TRANSTORNOS DO MOVIMENTO
CASO CLÍNICO
M.A.D, sexo masculino, natural de Massapê, no Ceará, 69 anos, pardo,
ensino fundamental incompleto. Apresentou-se no ambulatório da Santa
Casa de Misericórdia de Sobral, acompanhado de familiar. O acompanhante
relatou que o paciente apresenta tremor nas mãos há cerca de seis anos (em
padrão contagem de moedas nos dedos) e que por volta de um ano acomete
também os membros inferiores. No exame físico encontrava-se lúcido,
orientado em tempo e espaço, perda de mímica facial, afebril, acianótico,
anictérico, eupneico, frequência cardíaca, pressão arterial 120/82 mmHg
deitado e 90/60 mmHg em pé. Exame cardiorrespiratório, abdominal e de
extremidades sem alterações. Ao exame neurológico, observou-se tremor de
repouso maior à direita, rigidez em roda denteada assimétrica e bradicinesia
assimétrica também maior em membro superior direito. Marcha com passos
alargados, com lentidão e com perda de balanço dos braços, postura com
anteroflexão do tronco.
FISIOPATOLOGIA
Ainda no século XX, outros pesquisadores descreveram uma associação
com perda de neurônios na substância negra e depleção de dopamina nos
gânglios da base com a doença de Parkinson.29 Atualmente, apesar da causa
ainda não ser completamente elucidada, sabemos que parece existir uma
interação entre diversos fatores ambientais e genéticos, a exemplo de
afecções mitocondriais, estresse oxidativo, intoxicação por substâncias
endógenas e exógenas, disfunção do sistema proteossomal e da ubiquitina,
que levam à acumulação de proteínas tóxicas, resultando na morte desses
neurônios dopaminérgicos da substância negra.65
Conforme citado anteriormente, a inclusão de corpos de Lewis é
característica do parkinsonismo primário. Eles são corpúsculos
arredondados, eosinofílicos, feitos majoritariamente de alfa-sinucleínas,
ubiquitina, mas também contém calbindina, proteínas do complemento,
subunidade de microfilamento, tubulina proteína associada a microtúbulos 1
e 2 e Pael-R.31 32 33 42 52
Com a despigmentação da substância negra, a perda de dopamina resulta
em uma deficiência no controle do processamento das informações pelos
gânglios da base — substância negra, estriado (caudado e putâmen), globo
pálido, núcleos subtalâmicos e tálamo — dificultando a atividade das áreas
motoras do córtex cerebral, prejudicando a regulação de movimentos
voluntários. Além disso, ocorre perda de células do núcleo do pedúnculo-
pontino e aumenta-se a inibição do mesmo, desinibição das vias retículo-
espinhal e vestíbulo-espinhal, acarretando contrações excessivas dos
músculos posturais, essa relacionada a um deficit colinérgico.59
Nos Quadro 1 e Figura 1 estão demonstradas as diversas estruturas
afetadas na doença de Parkinson e sintomatologias referentes em cada
situação. Por conta do comprometimento do número elevado de áreas do
encéfalo e do tronco, podem ocorrer também manifestações não motoras,
incluindo distúrbios do sono, alterações de olfato, de cognição e sintomas de
humor.8
A fim de mascarar esses efeitos da depleção dopaminérgica, existem
mecanismos compensatórios que ocorrem a partir do aumento da síntese de
dopamina pelos neurônios restantes, além de um aumento das aferências
para os dendritos dos neurônios dopaminérgicos. Entretanto, esses
mecanismos são ineficazes com a progressão da doença.
1
• Núcleo motor dorsal • Constipação
do intestinal
nervo vago
• Distúrbios do
• Formação reticular sono
• Hiposmia
• Núcleo olfatório
anterior
• Sinais
motores
• Substância negra clássicos
3
• Núcleos basais do • Alterações
prosencéfalo cognitivas
• Distúrbios do
sono
• Bradifrenia
• Mesocórtex temporal • Apatia
4 • Amígdala • Sonolência
diurna
• Núcleos da Rafe excessiva
• Depressão
5
• Áreas pré-frontais • Desatenção
e hipomnésia
• Neocórtex sensitivo
• Ínsula • Agnosia e
apraxia
• Giro do cíngulo
• Demência
• Áreas pré-motoras • Disfunções
sensitivo-
6 • Área motora primária motoras
• Áreas de associação • Demência
sensitiva grave
QUADRO CLÍNICO
Entre as diversas manifestações clínicas da doença de Parkinson,
destacam-se a bradicinesia, tremor e rigidez, inicialmente assimétricos.
Alguns autores trazem também a instabilidade postural como um dos sinais
cardinais da doença. Abaixo, será mostrado um quadro resumindo os sinais
cardinais e logo a seguir serão descritas mais detalhadamente cada uma
delas.
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA
O diagnóstico de doença de Parkinson deve ser baseado em uma
anamnese e um exame físico minuciosos, associado a testes laboratoriais e
estudos de imagem. Os testes laboratoriais e de imagem usualmente são
utilizados para afastar outros diagnósticos, no entanto, ultimamente temos
visto exames de medicina nuclear ganharem espaço no auxílio diagnóstico.
Inicialmente é essencial identificar a presença de bradicinesia mais tremor
ou rigidez, que são os sintomas cardinais mais frequentes na apresentação
inicial da síndrome. O segundo passo é identificar possíveis condições que
podem cursar com outras formas de parkinsonismo, conforme será discutido.
Além disso, uma resposta positiva à terapia dopaminérgica é um importante
sinal para o diagnóstico, enquanto a ausência de respostas ao tratamento em
altas doses (levodopa > 1000 mg/dia) torna o diagnóstico improvável para
parkinsonismo primário.50 Nos Quadro 3 e Figura 2 estão demonstrados os
critérios da International Parkinson and Movement Disorder Society e
fluxograma para diagnóstico:
Bandeiras vermelhas
Critérios de sustentação
Bloqueadores
do canal de Flunarizina, cinarizina.
cálcio
Degeneração
corticobasal
• Transtorno de movimento assimétrico
raro.
• Inicialmente acomete um membro
com diversas combinações, que
incluem: acinesia, rigidez, distonia,
mioclonia, apraxia ideomotora, mão
alienígena.
• Alterações cognitivas são comuns
(disfunção executiva, afasia, apraxia,
alteração de comportamento, alteração
visuoespacial, com memória episódica
relativamente preservada).
• Início assimétrico, como no
parkinsonismo primário.
Paralisia
supranuclear
• Síndrome parkinsoniana incomum que
progressiva73 pode parecer com a doença de
Parkinson nas fases iniciais.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Até o momento, não existem tratamentos que evitem a progressão do
processo neurodegenerativo da doença de Parkinson. Dessa forma, a
abordagem terapêutica baseia-se no controle dos sintomas e deve ser iniciada
quando essas manifestações interferirem negativamente nas atividades de
vida diária. A seguir, serão discutidas as principais classes de medicamentos
utilizados.14
Classe Dose
PROGNÓSTICO
O prognóstico da doença de Parkinson é muito variável, não havendo
sinais da doença que possam indicar precisamente como será o curso da
doença de cada indivíduo. No entanto, com a evolução do quadro clínico,
uma parcela dos pacientes tende a evoluir com limitações funcionais e perda
de autonomia. Em um estudo realizado com pacientes, entre 1949 até 1964,
verificou-se que 25% desses desenvolveram sérios sintomas debilitantes ou
morte. Com o aumento de 5 para 9 anos, essa porcentagem aumentou para
67%, enquanto de 10 a 14 anos, para 80%. Apenas um pequeno grupo de
pacientes teve progressão lenta da doença, mantendo estabilidade postural
por mais de dez anos e ausência de deficiências graves por mais de 20
anos.28 Em um outro estudo multicêntrico realizado em Sydney, 100
pacientes com doença de Parkinson foram acompanhados por 20 anos, sendo
observado após o período de seguimento uma mortalidade de 74%, e dos que
sobreviveram 83% evoluíram com demência.27
TREMOR ESSENCIAL
Uma vez que se trata de um importante diagnóstico diferencial da doença
de Parkinson, iremos discutir um pouco sobre o tremor essencial. Sabemos
que é a principal causa de tremor de ação em adultos, acometendo cerca de
5% das pessoas com mais de 60 anos, sendo observada a presença de
histórico familiar de 30% a 70% dos casos. Ele ocorre frequentemente nas
extremidades, manifestando-se como um tremor de alta frequência,
bilateralmente ocorrendo durante a movimentação ou sustentação de postura.
Pode também afetar a voz e, raramente, os membros inferiores, tronco e
face.9 38 O tremor dos pacientes costuma aumentar gradualmente com o
tempo, além de poder ser exacerbado com ansiedade ou quaisquer outras
situações de estimulação adrenérgica. Normalmente, os pacientes só
apresentam o tremor de ação como sintoma, mas em alguns casos o quadro
pode ser mais intenso, levando à dificuldade para realização de atividades de
vida diária.10
Os critérios diagnósticos, de acordo com a International Parkinson and
Movement Disorder Society (IMPDS), definem o tremor essencial de acordo
com quatro fatores: tremor bilateral dos membros superiores (ação e
postural) sem outras anormalidades motoras, pelo menos três meses de
duração, com presença ou não em outros locais (cabeça, voz, membros
inferiores, por exemplo), e ausência de outros sinais neurológicos, como
distonia, ataxia ou parkinsonismo.10
A decisão do tratamento medicamentoso deverá levar em consideração o
grau de interferência que os sintomas possam estar causando para a
realização das tarefas cotidianas, uma vez que as medicações podem causar
efeitos colaterais. Entretanto, alguns pacientes sentem necessidade de serem
medicados por questões estéticas, mesmo que não tenham nenhum prejuízo
funcional com a doença.51 Atualmente existem duas medicações que podem
ser utilizadas no tratamento do tremor essencial. O propranolol, um
betabloqueador que atua no controle dos sintomas; no entanto, é preciso ficar
atento às contra indicações, como bradicardia, bloqueios atrioventriculares
significativos, broncoespasmo e doença arterial periférica. Por atravessar a
barreira hematoencefálica, também há uma associação do seu uso com
sintomas neuropsiquiátricos como delirium e depressão. Uma outra opção de
medicamento é a primidona, um anticonvulsivante que atua no controle dos
sintomas de tremores. Para seu uso com segurança é preciso titular a dose
lentamente, a fim de controlar efeitos colaterais como sedação e quedas.
Neste contexto o tratamento deverá sem ser individualizado, pesando riscos
e benefícios.
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9. Instabilidade postural e quedas
Caso clínico
Definição
Epidemiologia
Classificação
Frequência
Tipos de consequências
Lesões
Fratura, trauma cranioencefálico, luxação.
graves
Lesões
Abrasões, cortes, escoriações, hematomas.
leves
Prolongado 15 a 20 minutos.
Fatores de Risco
A análise de todos os fatores que possam contribuir para a
ocorrência de quedas é essencial, a fim que seja planejado uma
intervenção adequada no paciente idoso2 29; desse modo, eles são
divididos em fatores intrínsecos e extrínsecos.
Abordagem Diagnóstica
Primeiramente, é necessário interrogar o histórico de quedas no
último ano, assim como investigar todo o contexto no qual ocorreu
determinada queda, através de uma anamnese detalhada, conforme
descrito no Quadro 2. Em seguida, é importante realizar uma
avaliação geriátrica ampla, focando em capacidade funcional,
cognição, humor, multimorbidades, deficiências sensoriais,
polifarmácia e dificuldade de marcha, que leva a necessidade do
uso de dispositivos auxiliares de marcha, como andadores e
bengalas.
Lugar?
Tipo de calçado?
O que sentiu previamente à queda (tontura, fraqueza dos membros
etc.)?
fig02
fig01
Prevenção e tratamento
Uma condição que tem sido cada vez mais observada é a dos
idosos que moram sozinhos. Nesse caso, é importante que exista
alguma forma de monitorização. Diversas empresas já oferecem
dispositivos de alarme que podem ser acionados caso o indivíduo
sofra uma queda e não consiga se levantar. Tal ferramenta auxilia
no atendimento rápido ao paciente, reduzindo complicações, uma
vez que após sofrer uma queda muitos não conseguem se levantar
sozinhos e permanecem no chão por um período prolongado.
Suplementar vitamina D.
Consequências
Outra questão que merece destaque é que 32% daqueles que caem
têm medo de cair novamente, o que pode gerar problemas
importantes, já que esses indivíduos tendem a limitar mais suas
atividades, se tornando mais dependentes, e que pode também
servir de gatilho para isolamento social e transtornos de humor.17
30 Tal situação pode também acometer idosos que nunca sofreram
uma queda, mas que apresentem fatores de risco para o evento.20
Por último, é importante ressaltar que as quedas trazem prejuízos
do ponto de vista econômico, tanto com custos diretos (custos
médicos e não médicos, relacionados ao tratamento, recuperação e
reabilitação do paciente), quanto indiretos (perda de produtividade
advinda do problema de saúde).17
Conclusões
Referências bibliográficas
Introdução
Definição
Epidemiologia
Etiologia
Alterações sensoriais
Repouso 7 a 10 dias.
Imobilização 10 a 15 dias.
Sistema musculoesquelético
Sistema tegumentar
SISTEMA TEGUMENTAR
Sistema cardiovascular
Sistema endócrino
Sistema gastrointestinal
Sistema geniturinário
Sistema respiratório
Manejo clínico
Prevenção
Geriatria_10_07
Prognóstico
Referências Bibliográficas
Definição
Epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico
Delirium
Infecção
Restrição de mobilidade
Medicamentos
Impactação fecal
Distúrbios psiquiátricos
Diário de micção
O diário de micção é uma ferramenta útil, já que fornece, durante
um período contínuo de 24 horas, informações sobre o tipo e a
quantidade de ingestão de líquidos, frequência e padrões de
micção, vazamentos de urina, assim como atividade realizada
durante o vazamento. Durante a realização do diário também deve
ser anotado os medicamentos em uso, assim como sintomas. É
indicado que o paciente realize o diário por dois a três dias para
uma avaliação adequada (Quadro 2).12
Líquidos Volume
Horário Perdas Fator desencadeante
ingeridos urinário
0:00–3:00
3:00–6:00
6:00–9:00
9:00–12:00
12:00–15:00
15:00–18:00
18:00–21:00
21:00–24:00
Total
24 horas
Questionários validados
1. No último mês,
quantas vezes
você teve a
sensação de não
esvaziar 0 1 2 3 4 5
completamente a
bexiga após
terminar de
urinar?
2. No último mês,
quantas vezes
você teve de
urinar novamente 0 1 2 3 4 5
em menos de 2
horas após ter
urinado?
3. No último mês, 0 1 2 3 4 5
quantas vezes
você observou
que, ao urinar,
parou e
recomeçou várias
vezes?
4. No último mês,
quantas vezes
você observou que 0 1 2 3 4 5
foi difícil conter a
urina?
5. No último mês,
quantas vezes
você observou que 0 1 2 3 4 5
o jato urinário
estava fraco?
6. No último mês,
quantas vezes
você teve de fazer 0 1 2 3 4 5
força para
começar a urinar?
Nenhuma 2 3 4 5
1 vez
vez vezes vezes vezes vezes
7. No último mês, 0 1 2 3 4 5
quantas vezes em
média você teve
de se levantar à
noite para urinar?
2. Uma vontade
urgente e Quase Um O
Nada Muito Muitíssimo
desconfortável de nada pouco suficiente
urinar?
3. Uma vontade
repentina ou
urgente de urinar Quase Um O
Nada Muito Muitíssimo
com pouco ou nada pouco suficiente
nenhum aviso
prévio?
4. Perdas
acidentais de
Quase Um O
pequenas Nada Muito Muitíssimo
nada pouco suficiente
quantidades de
urina?
6. Acordar durante
Quase Um O
a noite porque teve Nada Muito Muitíssimo
nada pouco suficiente
que urinar?
7. Uma vontade
Quase Um O
incontrolável e Nada Muito Muitíssimo
nada pouco suficiente
urgente de urinar?
8. Perda de urina
associada a uma Quase Um O
Nada Muito Muitíssimo
vontade enorme de nada pouco suficiente
urinar?
6. Você tem que correr para o banheiro porque você tem uma
súbita, forte necessidade de urinar?
Exame Físico
Um exame físico adequado direcionado pode auxiliar na
investigação diagnóstica dos pacientes com IU. Inicialmente, o
exame abdominal deve ser realizado na busca de massas, dor ou
bexigoma. Nos homens, o toque retal é importante para a avaliação
de doenças da próstata. Já nas mulheres, o exame da região
geniturinária, com palpação bimanual, ajuda a identificar alterações
anatômicas como prolapso de órgãos, neoplasias e sinais de
infecção. O exame neurológico também ajuda a complementar a
investigação. Ele inclui uma avaliação cognitiva adequada, assim
como busca de alterações motoras e sensitivas, incluindo o
períneo.35
Teste de esforço
Exames urodinâmicos
Tratamento
1) Perda de peso.
2) Interrupção do tabagismo.
3) Tratamento da constipação.
Tratamento farmacológico
Anticolinérgicos
Atuam inibindo a ação muscarínica da acetilcolina, reduzindo a
frequência das contrações vesicais não inibidas do detrusor e
aumentando a capacidade vesical. Existem cinco tipos de
receptores muscarínicos conhecidos (M1, M2, M3, M4 e M5),
sendo os receptores M2 e M3 encontrados na bexiga e o M3 o mais
importante na contração do músculo detrusor.42 Conforme já
descrito, os medicamentos antimuscarínicos devem ser indicados
de forma individualizada e evitados nos idosos, principalmente
naqueles frágeis e com risco cognitivo.42 48 50 51 Atualmente,
existem quatro medicamentos dessa classe disponíveis no mercado:
oxibutinina, tolterodina, darifenacina e solifenacina, sendo que a
oxibutinina é a que tem mais efeitos colaterais por ter menor
seletividades com os receptores muscarínicos específicos da bexiga
(Quadro 6).42
Corrigir para
Medicamento Corrigir para função
Dose função
(apresentação) renal
hepática
7,5 mg em
7,5 a 15
Darifenacina (7,5 e Child B. Não
mg uma Não
15 mg) usar em Child
vez ao dia
C.
5 mg ao dia se taxa
5 a 10 mg 5 mg em Child
Solifenacina (5 e de filtração
uma vez B. Não usar
10 mg) glomerular < 30
ao dia em Child C.
mL/min
Bloqueadores A-adrenérgicos
Agonistas beta-adrenérgicos
Antidepressivos tricíclicos
Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, clomipramina,
imipramina e nortriptilina) têm um efeito anticolinérgico, que induz
o relaxamento do músculo detrusor.42 Apesar do potencial
benefício no controle da IU, são classificadas como medicações
inapropriadas para o uso em idoso de acordo com os critérios de
Beers, em função dos seus efeitos adversos, que incluem: risco de
arritmias, xerostomia, turvação visual e agudização de glaucoma,
constipação, retenção urinária, delirium e deficit cognitivo.48
Toxina botulínica
Pessários
Neuromodulação
Prognóstico
Referências bibliográficas
Introdução
Relações familiares
Institucionalização do idoso
Condições sociais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
Com o processo de envelhecimento, ocorrem diversas mudanças
fisiológicas no organismo, que interferem no padrão de sono e no ciclo
circadiano. Os idosos apresentam mais dificuldades relacionadas ao sono
que os jovens, e o tempo que gastam dormindo tende a ser menor.62 No
entanto, é importante diferenciar modificações relacionadas ao
envelhecimento de distúrbios vinculados ao adormecimento.
Mais de 50% dos idosos apresentam queixas sobre seu sono, sendo
comuns relatos de cochilos matinais, despertares noturnos, eficácia do sono
diminuída e despertar precoce.26 Tais problemas podem estar relacionadas,
dentre outros fatores, a uso de medicamentos, alterações cognitivas e
distúrbios associados ao sono, como insônia, síndrome da apneia obstrutiva
do sono, síndrome das pernas inquietas e transtorno comportamental do
sono REM.
Portanto, levando em consideração a relevância na abordagem do
assunto, este capítulo tem o objetivo de discutir os principais distúrbios
relacionados ao sono, bem como o impacto que estes acarretam na
qualidade de vida do indivíduo idoso.
›
FISIOLOGIA DO SONO
Antes de abordar os distúrbios relacionados ao sono, é relevante
apresentar alguns conceitos básicos de sua fisiologia. Ele é dividido em
duas etapas: a fase sem movimentos rápidos dos olhos (NREM) e a fase
com movimentos rápidos dos olhos (REM), sendo aquele composto por três
estágios, que variam de um sono leve — estágios N1 e N2 — a um sono
profundo — estágio N3.75
Em idosos, ocorre uma diminuição da eficiência do sono, produzindo
dificuldades na iniciação e manutenção do sono sem despertar.34 Tal
situação pode ser explicada pela ocorrência de alterações nas durações das
fases, havendo redução da duração da fase REM e do estágio N3, bem
como aumento dos estágios de sono leve. Dessa forma, após despertar
facilmente por algum estímulo externo, o indivíduo pode demorar a
adormecer novamente.84
Outra modificação está na diminuição na duração total do sono com o
envelhecimento, já que indivíduos jovens exigem uma média de 9-10 horas
de sono por noite, enquanto idosos exigem cerca de 7 horas.84 Entre a meia-
idade e os 80 anos, há uma redução aproximada de 27 minutos de sono a
cada dez anos entre homens.79
Por fim, pode-se citar também a alteração nos níveis de melatonina,
hormônio relacionado à regulação do sono que é secretado pela glândula
pineal a partir de estímulos do núcleo supraquiasmático do hipotálamo.75
INSÔNIA
Definição e epidemiologia
Ainda não há consenso na conceituação da insônia, entretanto duas
definições são abordadas na 5ª edição do Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders (DSM) e na 3ª edição do International Classification of
Sleep Disorders. O primeiro defende que a insônia é marcada por uma
constante dificuldade de iniciar e manter o sono em, pelo menos, três dias
por semana durante três meses, em que o indivíduo desperta cedo e
apresenta prejuízos devido à baixa qualidade e/ou quantidade de sono, sem
haver outro motivo claro para que isso ocorra, como abuso de substâncias.6
Para o segundo, a insônia é definida como uma frequente dificuldade em
adormecer, manter o sono ou dormir com qualidade, mesmo em contextos e
circunstâncias adequadas para isso, havendo prejuízos durante as manhãs.66
Ao observar os casos de insônia, é possível perceber a relevância do
sexo do indivíduo, sendo a prevalência superior entre mulheres, existindo
estudos que confirmam esse fato.26
Abordagem diagnóstica
Ao analisar o sono do idoso, é importante verificar suas características.
Para isso, utiliza-se um diário do sono (Quadro 1), que registra horários em
que o indivíduo foi para a cama, o tempo total de duração do sono e o
momento em que despertou.84 Além disso, é importante questionar se as
condições ambientais em que o indivíduo se encontra são favoráveis, se ele
possui algum outro problema clínico que pode favorecer a insônia, como
depressão, se apresenta histórico familiar de insônia e se utiliza
medicamentos que interferem no sono (Quadro 2).62 75
O profissional também deve questionar se o idoso tem o hábito de tirar
cochilos diurnos, uma vez que, dependendo da duração deles, as horas de
sono durante a noite podem ser reduzidas. Cochilos que duram até 1 hora
não tendem a impactar, mas aqueles que duram cerca de 2-3 horas devem
ser evitados por prejudicar a qualidade do sono noturno.84
Quanto tempo
demorou até você
dormir?
Quantas vezes
você acordou, sem
levar em
consideração o
despertar final?
No total, esses
despertares duram
quanto tempo?
Se sim, quanto
tempo antes?
No total, você
dormiu por quanto
tempo?
Quantas vezes
você cochila?
No total, você
cochila por quanto
tempo?
Quantas bebidas
alcoólicas você
tomou?
Quantas bebidas
contendo cafeína
você tomou?
Comentário (se
houver)
Tratamento
Ao buscar solucionar ou amenizar os problemas de insônia em idosos, é
fundamental priorizar o tratamento não farmacológico, que consiste em
promover higiene do sono, terapia cognitivo-comportamental, controle de
estímulos, restrição do sono, fototerapia com luz brilhante e exercícios
físicos.34 87
Entre os diversos fatores que podem ser realizados para garantir a
higiene do sono, pode-se citar a importância de:75
• Manter um ambiente de sono adequado, controlando a temperatura,
luminosidade e os barulhos do local.
• Evitar o consumo de alimentos e bebidas com cafeína, ingerindo-os
até, no máximo, quatro horas antes de dormir.
Prognóstico
A presença de insônia em idosos está associada a:62
• Diminuição na qualidade de vida;
• Aumento do risco de quedas;
• Ocorrência de complicações físicas e psicológicas;
• Admissão em instituições de longa permanência;
• Aumento da mortalidade.
SÍNDROME DA APNEIA/HIPOPNEIA
OBSTRUTIVA DO SONO
Definição e epidemiologia
A síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) é um
distúrbio respiratório em que ocorrem recorrentes episódios de inibição
total (apneia) ou parcial (hipopneia) da respiração durante o sono,
produzindo despertares e, consequentemente, dificultando a restauração do
indivíduo. Cada um desses eventos duram, pelo menos, dez segundos e
ocorrem várias vezes durante a noite, tornando possível calcular o índice de
apneia e hipopneia (IAH), que registra a quantidade de apneia/hipopneia
por hora de sono, confirmando o diagnóstico de SAHOS caso resulte em
uma valor de no mínimo 5.34 84 Tais eventos ocorrem devido à obstrução do
trato respiratório superior, resultante de alterações anatômicas, obesidade e
ativação reduzida de músculos relacionados às vias aéreas, e provocam
redução da ventilação e dessaturação de oxigênio.62 84
Entre os idosos, a presença de SAHOS pode variar de 38% a mais de
60%, e é mais prevalente entre homens do que mulheres.7 43 Quanto à
obesidade, se o indivíduo apresentar um índice de massa corporal ≥ 30
kg/m2 e uma circunferência do pescoço de ≥ 43 cm, no caso de homens, ou
≥ 37 cm no caso de mulheres, há 70% de chance de ser diagnosticado com
SAHOS.84
Fisiopatologia
Alterações do funcionamento da musculatura relacionadas ao trato
respiratório superior estão diretamente relacionadas a obstruções das vias
aéreas durante o sono. A resposta do músculo genioglosso à hipóxia
encontra-se reduzida, e a sensibilidade de reflexo das vias aéreas superiores
também está diminuída, facilitando a ocorrência de colapso nessas
regiões.41 42 82 Vale ressaltar que a maior possibilidade de colapso pode estar
associada a um aumento da resistência faríngea e a uma redução do lúmen
das vias aéreas superiores.17 47 69 Quanto a isso, alterações do funcionamento
da musculatura da faringe e dos reflexos das vias aéreas superiores podem
ser resultados de um processo de desnervação e neuropatia faríngea.45 A
obesidade é outro fator importante quanto ao colapso das vias aéreas
superiores, já que, além de ocasionar redução das dimensões do trato
respiratório superior, os níveis de leptina — um hormônio que está
relacionado ao controle neuromecânico das vias aéreas superiores — podem
estar alterados em indivíduos obesos, contribuindo para a ocorrência de
SAHOS.44
Quadro clínico
Os principais sinais e sintomas da SAHOS são:34 62 84
• Roncos;
• Sonolência diurna excessiva;
• Obstrução das vias aéreas durante o sono;
• Insônia;
• Fragmentação do sono;
• Sono não restaurador;
• Irritabilidade;
• Fadiga;
• Cefaleia.
Abordagem diagnóstica
Para realizar o diagnóstico de SAHOS, é necessário promover a
anamnese adequada do paciente e a abordagem do parceiro de cama ou do
cuidador sobre o comportamento do idoso durante o sono, bem como
realização de exame físico a fim de observar alterações nas vias aéreas ou
de confirmar obesidade.62
O diagnóstico é então confirmado pela polissonografia que é realizada
em laboratórios especializados, sendo possível verificar os estágios do sono,
eletrocardiograma, eletroencefalograma, o eletrooculograma,
eletromiograma, a oximetria, o fluxo de ar nasal, os roncos, a excursão do
tórax e do abdome, posição do corpo e os movimentos dos membros.44, 84 A
partir desse exame, torna-se também possível classificar gravidade através
do índice de apneia-hipopneia (IAH). Se o resultado for de 5-15, o
indivíduo apresenta SAHOS leve; se 16-30, moderada, e, se maior que 30,
grave.62
Por fim, também pode ser utilizada a Escala de Sonolência de Epworth
(Quadro 3) para verificar a ocorrência de sonolência excessiva diurna, que é
um sintoma comum no idoso com SAHOS. Case sejam observados
pontuações de acima de 10, considera-se que o paciente tem alta
probabilidade diagnóstica.84
Chance de cochilar:
Nunca cochilaria (0)
Qual a probabilidade de você cochilar ou dormir, e
Pequena
não apenas se sentir cansado, na(s) seguinte(s)
probabilidade de
situação(ões). Considere o modo de vida que você
cochilar (1)
tem levado recentemente; mesmo que não tenha
Média probabilidade
feito alguma destas coisas recentemente, tente
de cochilar (2)
imaginar como elas o afetariam. Escolha o número
Grande
mais apropriado para responder cada questão.
probabilidade de
cochilar (3)
Sentado e lendo
Assistindo à TV
Total
Adaptada de Johns MW. 1991.36
Tratamento
O tratamento para a SAHOS consiste em métodos não farmacológicos.
A principal abordagem, especialmente em casos graves, é a utilização de
aparelhos de pressão aérea positiva, podendo ser do tipo contínuo (CPAP)
ou do tipo automático (APAP), que mantêm as vias aéreas abertas por meio
de uma pressão de ar positiva.84 Tais aparelhos estão associados a uma
melhora da sonolência diurna excessiva e do funcionamento diurno.49, 59
Alguns pesquisadores acreditavam que o uso de CPAP era benéfico e
eficaz na prevenção de desfechos cardiovasculares. No entanto, para que
isso seja uma realidade é preciso que os pacientes também tenham uma boa
adesão a medidas preventivas farmacológicas e não farmacológicas, como
mudança do estilo de vida, uma vez que as evidências atuais sugerem que o
uso do CPAP isoladamente não anula esse risco.44, 52
Outro método utilizado, principalmente nos casos em que o idoso não se
sente confortável com o uso do aparelho de pressão positiva, é a adoção de
dispositivos orais, como aparelhos para projeção mandibular.62 A utilização
de tais instrumentos objetiva ampliar as vias aéreas superiores durante o
sono, reduzindo o risco de colapso dessas vias em pacientes com SAHOS.48,
73
Prognóstico
A SAHOS está associada a diversas complicações, conforme descrito
abaixo:
• Doenças cardiovasculares, como fibrilação atrial, hipertensão
arterial, doenças coronarianas, infarto do miocárdio e insuficiência
cardíaca44
• Hipertensão pulmonar 44
• Disfunções cognitivas 63
• Acidentes de trânsito 31
• Aumento da mortalidade 44
Quadro clínico
Na síndrome das pernas inquietas, o indivíduo sente uma sensação de
formigamento, dor, prurido ou estiramento geralmente abaixo do joelho,
fazendo-o movimentar a perna na tentativa de aliviar o desconforto. A SPI é
caracterizada por:84
• Necessidade de movimentar as pernas, geralmente causada por
sensações desconfortáveis;
• Piora dos sintomas durante o repouso;
• Diminuição do desconforto ao movimentar a perna;
• Piora dos sintomas ao anoitecer.
Abordagem diagnóstica
Para realizar o diagnóstico da SPI, é essencial registrar as queixas de
desconforto do paciente, bem como verificar o histórico familiar do idoso.
Recomenda-se também avaliar os parâmetros sistêmicos de ferro, como
ferritina sérica e saturação de transferrina, e averiguar a presença de fatores
de risco associados, como neuropatia periférica, distúrbios renais, doença
de Parkinson, entre outros.30 Por fim, pode-se utilizar a International
Restless Legs Syndrome (RLS) Rating Scale, que está representada no
Quadro 4.80
Leve (0-10)
Moderado (11-20)
Resultados Total:
Grave (21-30)
Muito grave (31-40)
Tratamento
O principal método terapêutico para a SPI está relacionado ao uso de
medicamentos dopaminérgicos, como pramipexol e ropinirol.84 Outros
fármacos utilizados, apesar de menos comuns, são levodopa, gabapentina,
pregabalina e opióides.75 84 Acerca do uso de agonistas da dopamina, deve-
se lembrar que alguns de seus efeitos colaterais são náuseas, cefaleia,
transtornos do controle de impulsos e sonolência súbita, que pode aumentar
o risco de acidentes.30 Diante disso, é recomendada uma avaliação das
possíveis complicações provenientes do uso de dopaminérgicos a cada seis
meses, principalmente no uso a longo prazo, uma vez que o medicamento
pode exacerbar os sintomas de SPI progressivamente.30 É importante o
profissional de saúde estar atento para tal fato, podendo realizar as
seguintes perguntas ao paciente com SPI:29
• Os sintomas de SPI vêm aparecendo mais cedo em comparação ao
início do tratamento?
• Há necessidade de doses crescentes do medicamento ou antecipação
do horário da administração para otimizar o controle dos sintomas
em relação à abordagem terapêutica original?
• A intensidade dos sintomas piorou desde o início do uso da
medicação?
• Surgiram sintomas em outras partes do corpo, como braços, desde o
início do uso da medicação?
Para minimizar o risco de exacerbação dos sintomas de SPI, recomenda-
se utilizar a menor dose dopaminérgica possível e mantê-la pelo menor
período de tempo necessário.
O profissional de saúde também deve estar atento quanto ao uso de
medicamentos que pioram os sintomas de SPI, como os apresentados no
Quadro 5.30
Antipsicóticos.
Fisiopatologia
Ainda não há tantos estudos sobre a fisiopatologia do TCSR, no entanto,
acredita-se que esse distúrbio pode estar relacionado ao núcleo subcerúleo
glutamatérgico/núcleo dorsal sublateral, ao locus cerúleo noradrenérgico, ao
núcleo tegmental pedunculopontino colinérgico, ao núcleo tegmental
dorsolateral, à formação reticular magnocelular medular, ao hipotálamo, ao
tálamo, à substância negra, ao prosencéfalo basal, ao sistema límbico e ao
córtex frontal.37 38 65 Além disso, também tem sido relacionado ao gene do
microtúbulo associado à proteína tau (MAPT) e à quinase 2 rica em leucina
(LRRK2).10 28
Abordagem diagnóstica
O diagnóstico é feito, principalmente, pela história do paciente, pelo
relato do parceiro de cama e pela polissonografia.71 75 Nesse teste, é possível
verificar comportamentos motores ou vocais complexos e perda da atonia
muscular durante o sono REM.71 Em alguns casos, é possível observar
machucados ocasionados pela movimentação do indivíduo enquanto está
dormindo.51 58 67 É necessário confirmar se tais comportamentos não são
decorrentes de outros distúrbios, como síndrome SAHOS.71
Alguns instrumentos de diagnóstico, como o Mayo Sleep Questionnaire
(Quadro 6), podem ser utilizados nos casos em que a polissonografia está
indisponível ou quando o sono REM não é observado durante esse teste.12 13
Perguntas Respostas
Sim Não — se
Você mora com o paciente? “Não”, termine o
questionário aqui.
quadrado.png Antes
de 6h da noite
b) Quando essas sensações parecem ser pior?
quadrado.png Após
6h da noite
4. O paciente já andou pelo quarto ou pela casa quadrado.png Sim
enquanto dormia? quadrado.png Não
quadrado.png Sim
5. O paciente já se engasgou acordado?
quadrado.png Não
quadrado.png 0
quadrado.png 4
quadrado.png 8
quadrado.png 1
8. Classifique o nível de alerta do paciente nas
quadrado.png 5
últimas três semanas de 0 a 10 (0 = dorme o dia
quadrado.png 9
todo e 10 = totalmente e normalmente
quadrado.png 2
acordado).
quadrado.png 6
quadrado.png 10
quadrado.png 3
quadrado.png 7
Tratamento
Os principais tratamentos farmacológicos para o TCSR são o
clonazepam e a melatonina. Nesse contexto, o primeiro medicamento é
efetivo em, aproximadamente, 90% dos casos, porém não deve ser utilizado
por pacientes com SAHOS, pois tal distúrbio pode ser exacerbado pelo
fármaco.75 Além disso, os benzodiazepínicos devem ser evitados em idosos,
uma vez que têm sido associados a diversos eventos adversos conforme já
descrito neste capítulo.
A melatonina tem demonstrado redução na latência do sono, de
despertares noturnos e de movimentos durante o sono, com boa tolerância
em idosos, tendo seu uso recomendado nos casos em que não é possível
utilizar o clonazepam.50 71
Ademais, a fim de promover a segurança do paciente durante o sono,
deve-se remover os objetos potencialmente perigosos do quarto, colocar um
colchão no chão e cobrir superfícies pontiagudas de móveis.71 Em alguns
casos, recomenda-se que o parceiro de cama durma em um quarto separado
para evitar lesões.71 75
SONO E COMORBIDADES
Para muitos indivíduos, as alterações relacionadas ao sono estão
vinculadas a outros problemas, como demência, depressão, doença de
Parkinson, doenças cardiovasculares e doença do refluxo gastroesofágico.
Sabe-se que a fragmentação do sono, a duração do sono, os distúrbios
respiratórios do sono e a hipoxemia promovem prejuízos cognitivos.11 83
Nesse contexto, cerca de 90% das pessoas que possuem demência com
corpos de Lewy ou demência por doença de Parkinson apresentam algum
tipo de distúrbio do sono.33 No caso de indivíduos com doença de
Alzheimer, estudos associam tal problema a distúrbios diurnos e noturnos
do sono, ocorrendo aumento da irritabilidade diurna, diminuição da
atenção, redução da motivação e piora do desempenho cognitivo.20
A insônia e a SAHOS são consideradas fatores de risco para demência,
principalmente para a doença de Alzheimer.34 Nesse caso, o gene da
apolipoproteína E (APOE), que está associado à ocorrência de doença de
Alzheimer, também tem sido vinculado ao desenvolvimento de distúrbios
respiratórios do sono, como SAHOS; no entanto; uma metanálise
demonstrou que essa associação é fraca.32 38 78 Já a demência com corpos de
Lewy tem sido associada ao transtorno comportamental do sono REM e à
insônia.53 56
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14. Exames de rastreamento no
paciente idoso
Caso clínico
Introdução
Sociedade
Brasileira de SBD
Diabetes50 e (2019) Pacientes com 45 anos ou mais, com
intervalo de 3 a 4 anos. Na presença de pré-
American ADA diabetes, o rastreio deve ocorrer anualmente.
Diabetes (2020)
Association4
Hipotireoidismo/hipertireoidismo
Perda Auditiva
Perda Visual
Osteoporose
*Consenso indica que essa decisão deve ser discutida entre médico
e paciente, se baseando na história familiar, presença de fatores de
risco (aneurismas prévios, doença arterial coronariana, doença
cerebrovascular, aterosclerose, hipercolesterolemia e hipertensão),
histórico médico e valores do paciente.
Deficiência de vitamina D
Sociedade
Brasileira
de
endocrinologia e 2014
metabologia23 Recomendam a mensuração do valor
sérico de 25(OH)vitamina D em pacientes
Endocrine 2011 com risco para a hipovitaminose.*
Society Clinical
Practice
Guideline21
Câncer de mama
Mulheres com
alto risco para o
desenvolvimento
da doença
devem iniciar o
rastreio aos 40
anos.
Mamografia
anual em
mulheres de 45 a
54 anos.
Mamografia
bienal em
mulheres ≥ 55
anos, enquanto
expectativa de
vida > 10 anos.
Mamografia
bienal para
mulheres de 50 a
70 anos.
Para mulheres a
Instituto Nacional do Câncer26 2015 partir de 70
anos, a
recomendação é
contrária à
realização de
mamografia de
rastreio.
Para mulheres
de alto risco, o
rastreio deve
iniciar antes dos
40 anos.
Câncer de pulmão
Instituto
Nacional Não há recomendações para a realização de
do 2018 rastreio, devendo ser uma decisão individual entre
Câncer5 o paciente e o médico.
15
Câncer de tireoide
Instituto Nacional
Rastreio em pessoas acima de 50 anos
do Câncer13 e
2019 com pesquisa de sangue oculto nas
Organização
fezes.
Mundial da Saúde58
Referências bibliográficas
Introdução E conceitos
FIGURA 1
FIGURA 2
FIGURA 3
Adaptado do Manual da Residência de Cuidados Paliativos, 2018.5
FIGURA 4
figura 5
Declínio cognitivo
2 Queixas subjetivas.
associado à idade.
Transtorno
3 Deficit em ambiente de trabalho.
neurocognitivo leve.
Incontinência urinária.
Incontinência fecal.
Doença de
7 Perda da capacidade de deambular.
Alzheimer grave.
1 a 3 kg. 2
Mobilidade:
Normal. 2
Problemas neuropsicológicos:
< 19. 0
≥ 19 e < 21. 1
≤ 21 e < 23. 2
≥ 23. 3
F Sim.
0
Não.
1
Pior.
0
G
Não sabe informar. 0,5
Igual.
1
Melhor. 2
Idade em anos:
≥ 85. 0
H
80 a 85. 1
≤ 80. 2
Escore total ≤ 14/17 é considerado anormal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Quadro clínico
Abordagem diagnóstica
Hipertensão PAS entre 160 e 179 mmHg e PAD entre 100 e 109
estágio 2 mmHg.
HAS HAS
HAS
PAS estágio 2: estágio 3:
estágio 1:
130-139 PAS 160- PAS ≥
ou PAS PAS 140-159
179 ou 180 ou
85-89 ou PAD 90-
PAD 100- PAD ≥
99
109 110
Presença de LOA,
Risco Risco
DVC, DRC ou Risco alto. Risco alto.
alto. alto.
DM.
Tratamento
3. Tratamento farmacológico
Diuréticos tiazídicos
Diuréticos de alça
São diuréticos que atuam na alça de Henle inibindo o íon
transportador NaK2Cl. Seus representantes são a furosemida e
bumetanida, sendo o primeiro mais amplamente utilizado. Seu uso
pode estar associado a efeitos colaterais como desidratação,
insuficiência renal aguda pré-renal, hipernatremia, incontinência
urinária e hipotensão. Em virtude do risco de eventos adversos, sua
indicação é mais restrita para pacientes com HAS hipervolêmica e
insuficiência renal (com taxa de filtração glomerular < 30 mL/min),
síndrome nefrótica, pacientes portadores de insuficiência cardíaca e
doença crônica parenquimatosa do fígado com ascite.5
Betabloqueadores
Inibidores de renina
Vasodilatadores diretos
Essa classe, que exerce uma ação vasodilatadora direta nos vasos, é
representada pelo minoxidil e a hidralazina, sendo o segundo mais
utilizado na prática clínica. Normalmente seu uso é mais restrito
para pacientes com HAS de difícil controle. Entre os efeitos
colaterais mais comuns destaca-se a taquicardia reflexa, daí a
importância do uso associado de medicação para controle da
frequência cardíaca.5
MEDICAMENTOS
DE
DOSE USO NA DISFUNÇÃO RENAL
APRESENTAÇÃO
ORAL
Diuréticos tiazídicos
12,5 a
Não recomendado se TFG < 10
Clortalidona 100
mL/minuto.
mg/dia
Inibidores da ECA
Se TFG de 10 a 50 mL/minuto,
25 a 150
Captopril fazer 75% da dose, se TFG < 10
mg/dia
ml/minuto fazer 50% da dose.
Se TFG de 10 a 50 mL/minuto,
2,5 a 40
Enalapril fazer 50% da dose, se TFG < 10
mg/dia
mL/minuto fazer 25% da dose.
Nifedipino retard 10 a 40
mg/dia
2,5 a 10
Felodipino
mg/dia
20 a 40
Nitrendipino
mg/dia
2,5 a 5
Levanlodipino
mg/dia
10 a 20
Manidipino
mg/dia
Betabloqueadores
40 a 160
Propranolol
mg/dia
Metoprolol Tartarato
100 a 400
mg/dia
Succinato
25 a 400
mg/dia
Se TFG de 10 a 30 mL/minuto
25 a 100
Atenolol fazer até 50mg; se TFG < 10
mg/dia
mL/minuto fazer até 25mg.
Alfabloqueadores
2a8
Doxazosina Sem ajuste.
mg/dia
Vasodilatadores diretos
100 a 300
Hidralazina Sem ajuste.
mg/dia
500 a
Se TFG < 10 mL/minuto, fazer a
Metildopa 2000
cada 12 a 24 horas.
mg/dia
Prognóstico
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Introdução e epidemiologia
Fisiopatologia
_Geriatria_book_20210427_IMPRESSAO-420
Tratamento farmacológico
Biguanidas
Sulfonilureias
Glinidas
Inibidores da α-glucosidase
Contraindicado se Cr
Acarbose 50-300 mg/dia, 3x/dia.
> 2,0.
Tiazolidinedionas
Antagonistas SGLT2
Dapagliflozina 5-10 mg, 1x/dia. < 45 (não usar).
30-50 (experiência
10 mcg por 2 semanas, 20
Lixenatida limitada), < 30 (não
mcg na 3ª semana, 1x/dia.
usar).
Atraso no
Iniciar com 0,75 mg esvaziamento
Dulaglutida 1x/semana. Depois 1,5 mg gástrico pode reduzir
1x/semana. a absorção das
medicações VO.
Rápida
Ultrarrápida
Lispro
5-15
Asparte 60-90 minutos 3-4 horas
minutos
Glulisina
Intermediária
Pico menos
Detemir 2 horas 6-24 horas
pronunciado
Acompanhamento
Prognóstico
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Definição
Epidemiologia
O crescente envelhecimento populacional traz como consequência
o aumento da prevalência da OP. Ao considerar a faixa etária mais
avançada, o subgrupo de mulheres pós-menopausa merece
destaque, uma vez que estudos demonstram que as fraturas de
baixo impacto são mais comuns na população feminina, chegando
a ser de duas a três vezes mais frequentes em mulheres após os 50
anos do que em homens. Esses, por sua vez, apresentam a perda de
massa óssea mais tardiamente que as mulheres.27
Caucasianos e asiáticos.
Presença de escoliose.
Cafeína.
Sedentarismo.
Nuliparidade.
Amenorreia.
Menarca tardia.
Menopausa precoce.
Imobilização prolongada.
Fisiopatologia
A estrutura do tecido ósseo é dividida em: tecido ósseo
esponjoso/trabecular e tecido ósseo cortical/compacto. Além disso,
existem células que exercem papéis cruciais no metabolismo ósseo,
a exemplo dos osteoblastos e osteoclastos, que desempenham
funções relacionadas à formação e reabsorção óssea,
respectivamente.24 Esse processo dinâmico de remodelamento
ocorre de forma constante durante toda a vida adulta. No entanto,
quando ocorre um desequilíbrio que conduz a uma prevalência de
reabsorção óssea sobre a formação, gera perda de massa óssea e da
qualidade óssea. Isso pode acontecer por alguns motivos, como
redução da ação dos osteoblastos no processo de formação óssea,
aumento da ação dos osteoclastos na reabsorção, além da questão
da influência de fatores, como estado hormonal, idade, sexo,
alimentação, estilo de vida. 36
Acuidade visual;
Equilíbrio, tonturas;
Deambulação, marcha;
Quedas recentes;
Uso de medicações que causem sedação, tontura ou
hipotensão postural (benzodiazepínicos, sedativos, ansiolíticos
e diuréticos);
Incontinência urinária;
Deficiência de 25-hidroxi-vitamina D.
De forma geral, o diagnóstico da osteoporose é estabelecido através
da densitometria óssea, uma técnica de absorciometria por emissão
de raios x, que permite avaliar a distribuição mineral por área. A
partir de então, o resultado da densidade óssea em pelo menos dois
sítios diferentes é avaliado através do T-score, que representa
desvio padrão se comparado com indivíduos adultos jovens durante
o pico de massa óssea.23 25 A Organização Mundial de Saúde
(OMS) propõe que o diagnóstico de osteoporose pode ser feito em
mulheres na menopausa ou homens > 50 anos com base nos
resultados do T-score em qualquer um dos sítios — fêmur proximal
(colo femoral ou fêmur total), coluna lombar (L1-L4) e rádio 33%
distal. Dessa forma, é possível estabelecer três categorias: T-score ≤
-2,5 (osteoporose); T-score entre -1,0 e -2,5 (osteopenia); T-score ≥
1,0 (normal).15
Afastar causas
Metabolismo mineral Homens com
secundárias se
ósseo osteoporose
história sugerir
Perfil de cálcio Hemograma; Testosterona
completo: cálcio Velocidade de total;
total, fósforo, hemossedimentação; Hormônio
calciúria de 24 Proteína C-reativa; luteinizante
horas, magnésio; Creatinina, ureia; (LH);
Fosfatase alcalina; Transaminases; Hormônio
Albumina; Função tireoidiana. folículo-
Vitamina D; estimulante
Paratormônio (FSH);
(PTH). Globulina
ligadora de
hormônios
sexuais
(SGBG).
figura 1 (2)
Tratamento
Tratamento adjuvante
Tratamento medicamentoso
Bisfosfonatos
Denosumabe
Teriparatida
Calcitonina
Raloxifeno
Prognóstico
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DEFINIÇÃO
A perda de peso não intencional em idosos pode ser uma consequência
do processo de senilidade, levando a uma diminuição da massa corpórea, e
deve ser considerada relevante durante a avaliação do paciente, pois quando
ocorre de forma significativa está associada à morbimortalidade nesse grupo
etário.3
Desse modo, embora não haja consenso no âmbito científico quanto aos
parâmetros utilizados para definir perda de peso involuntária significativa, é
recomendado que o profissional de saúde esteja atento a perdas de 5% da
massa corporal em um mês, 5% ou mais em um período de três meses e 10%
em seis meses.7
EPIDEMIOLOGIA
A prevalência de desnutrição em idosos depende da população estudada,
variando de acordo com geografia, distribuição etária e situação de vida. A
perda de peso não intencional ocorre em 15% a 20% das pessoas com mais
de 65 anos.3
Em uma meta-análise de 2016 sobre desnutrição em vários locais de
assistência à saúde (principalmente na Europa), que incluía dados de 240
estudos e mais de 110.000 pessoas, as taxas de desnutrição foram: pacientes
ambulatoriais, 6%; hospital, 22%; nursing home, 17,5%; unidade de
cuidados prolongados, 28,7%; e unidades de reabilitação/tratamento
subagudo, 29,4%.13
Dados da literatura evidenciam aumento da mortalidade em idosos de
comunidade com a perda de apenas 5% do peso em um período de três anos,
podendo aumentar de 9% a 38% em um intervalo de um a dois anos e meio
após a perda de peso.6 42 52 56
FISIOPATOLOGIA
Ao analisar a diminuição da massa corporal do idoso é possível
identificar algumas ocorrências que podem ter relação com essa redução.
Entre essas situações, pode-se citar a redução do paladar e do olfato, a menor
eficiência da mastigação, a diminuição da velocidade de esvaziamento
gástrico, o aumento de colecistoquinina — responsável pela sensação de
saciedade — e alterações de citocinas, como interleucina-1, interleucina-6 e
fator de necrose tumoral.15 57 65 68 69 70 Vale ressaltar ainda que a alteração da
massa corporal pode estar associada a condições clínicas importantes, como
sarcopenia, caquexia e anorexia.
A sarcopenia é uma doença — CID-10 M62.5 — caracterizada por uma
perda progressiva e generalizada de massa muscular esquelética, força e
função muscular, estando relacionada à redução de fibras musculares tipo II
e ao acúmulo de gordura no tecido muscular — mioesteatose.16 51
Atualmente, uma característica-chave da sarcopenia é a baixa força
muscular; assim, se utiliza a detecção de baixa quantidade e qualidade
muscular para confirmar o diagnóstico da doença e identifica-se o baixo
desempenho físico como indicativo de sarcopenia grave.17
A prevalência desse problema é de 6% a 22% em pessoas com mais de
65 anos, podendo ser de até 50% em idosos com mais de 80 anos, como
mostram estudos.18 37 48 Entretanto, a sarcopenia não tem sido mais vista
apenas como uma consequência do processo de envelhecimento, pois
diversos fatores presentes ao longo da vida do indivíduo podem favorecer o
seu surgimento, não estando limitado à idade.24 63 64 Vale ressaltar que tal
doença está relacionada ao aumento de quedas, fraturas, incapacidade física
e mortalidade.17
Com o envelhecimento, a perda de massa muscular fica mais evidente.
Sob essa lógica, até os 70 anos de idade é possível verificar uma redução de
8% da musculatura a cada dez anos; após essa idade, o indivíduo passa a
perder 15% a cada década.31 Nesse contexto, a sarcopenia está associada a
diversos fatores, como:16 19 33
• Alteração do nível de hormônio do crescimento;
• Alteração do nível de fator de crescimento semelhante à insulina tipo
1 (IGF-1);
• Diminuição de testosterona ou de estrógenos;
• Alterações relacionadas a corticosteroides;
• Diminuição dos níveis sanguíneos de vitamina D;
• Perda de neurônios motores;
• Resistência à insulina;
• Aumento dos níveis de fator de necrose tumoral alfa, interleucina-6,
interleucina-1 e proteína C-reativa;
• Má absorção de nutrientes;
• Inatividade física;
• Redução do número de células satélites
• Ingestão inadequada de proteínas.
A caquexia é definida como um distúrbio metabólico vinculado a outras
condições clínicas, como doenças crônicas, que é caracterizado por perda de
massa muscular e peso, podendo apresentar redução do tecido adiposo.27 Tal
problema está relacionado a um desequilíbrio entre os processos de
anabolismo e catabolismo, em que há uma redução do fator de crescimento
semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1), dos níveis de andrógenos e da
proliferação de células satélites e um aumento de processos catabólicos,
como disfunção mitocondrial, apoptose, autofagia e via da miostatina.11 35 54
55 62 76
• Alterações de citocinas. 4 25
ETIOLOGIA
A perda de peso não intencional pode ocorrer devido à diminuição da
oferta de nutrientes, à intensificação do metabolismo e à perda calórica
demasiada.40 Tais aspectos podem estar relacionados a várias causas, que
serão apresentadas, didaticamente, em três categorias: orgânicas,
psicossociais e socioeconômicas.
Entre as causas orgânicas, pode-se citar as neoplasias, principalmente as
de origem gastrointestinal, doenças não malignas (problemas
gastrointestinais, endócrinos e orais) e efeitos colaterais de drogas, que
podem ser observados no Quadro 1.1 12 34 43
9 Ds Meals on wheels
Doença
aguda ou N: Falta de dinheiro (no money).
crônica
Abordagem diagnóstica
O diagnóstico de perda de peso não intencional em idosos baseia-se em
coletar a história do paciente, realizar exame clínico e avaliar exames
laboratoriais.
HISTÓRIA
A coleta de informações relacionadas ao cotidiano, ao histórico médico e
às mudanças na vida do idoso é essencial para estipular o momento em que
ele começou a perder peso e para delimitar alguma causa para a ocorrência
dessa redução.34 Desse modo, o médico deve questionar quando o paciente
começou a perceber as alterações em sua massa corporal.34 Sob essa lógica, é
importante ressaltar que alguns idosos subestimam ou não reconhecem a
perda de peso, sendo extremamente relevante a presença de familiares ou
cuidadores que possam alertar o profissional sobre essa modificação
corpórea, durante a abordagem médica.34
Com efeito, são fundamentais informações sobre os hábitos alimentares
do paciente, o aporte calórico, de macro e micronutrientes, a disponibilidade
e a qualidade nutricional dos alimentos ingeridos e o uso de suplementos
nutricionais.34
Acrescenta-se ainda a importância de averiguar o histórico médico do
idoso, devendo ser coletadas informações acerca de doenças
gastrointestinais, além de problemas cardíacos, hepáticos, renais e
respiratórios, de infecções e de doenças psiquiátricas.34 Com isso, o
profissional deve questionar o paciente sobre a ocorrência de dores
abdominais, de refluxo e de dispepsia e de disfagia.34 Também, é essencial
verificar os medicamentos utilizados pelo idoso, mantendo em mente os
possíveis efeitos colaterais que podem estar associados à redução da massa
corporal.34
Outra medida que deve ser executada é a análise de informações sobre o
histórico social do idoso. Nesse sentido, o médico deve questionar sobre o
consumo prévio e/ou atual de bebidas alcoólicas e sobre o tabagismo.43
Ademais, é interessante avaliar o contexto socioeconômico em que o
paciente se encontra, perguntando, por exemplo, sobre as condições de
moradia e de renda, o cotidiano, a relação com parentes e cuidadores, a
perda de algum ente querido e o estado funcional.43
No caso de idosos que se encontram em instituições de longa
permanência, o médico deve estar atento às condições ambientais e à
qualidade de serviço que esses locais oferecem. Desse modo, o profissional
pode questionar sobre o ambiente em que o idoso realiza as suas refeições,
uma vez que locais com ruídos podem comprometer a ingestão alimentar,
principalmente de pacientes com demência.34 Além disso, também pode ser
avaliada a rotatividade dos funcionários da instituição e os intervalos de
tempo destinados às refeições, pois isso pode afetar o consumo calórico do
idoso.34
EXAME CLÍNICO
Levando em consideração a diversidade etiológica relacionada à perda de
peso em idosos, é interessante que o paciente seja submetido a uma
avaliação clínica multifatorial, na qual seja abordado por médicos, dentistas,
nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, por
exemplo.
Sob essa perspectiva, é importante verificar a cavidade oral do idoso à
procura de possíveis fatores complicadores durante o processo de
mastigação e ingestão.43 Além disso, o profissional deve atentar para a
presença de massas e tumores palpáveis e de linfadenomegalias durante a
avaliação do paciente.43 A investigação de prováveis problemas
gastrointestinais, respiratórios e cardiovasculares também é essencial para
eliminar doenças importantes relacionadas a esses sistemas.43 Acrescenta-se
ainda a necessidade de avaliar alterações cognitivas e humorais, o que pode
ser feito por meio do Mini Exame do Estado Mental e da Escala de
Depressão Geriátrica, respectivamente, se o profissional perceber possíveis
alterações, mencionadas ou não pelo paciente ou familiares.43
O profissional de saúde também deve estar atento a indicadores de
desnutrição, como alopecia, glossite, edema e alterações cutâneas e deve
avaliar se o paciente apresenta desidratação.20 Outro fator bastante
importante durante o exame físico é a realização da avaliação antropométrica
do paciente. Dados que servirão para avaliação da massa corporal, como a
velocidade de perda de peso (VPP), o índice de massa corporal (IMC) e a
circunferência do braço, são fundamentais.29 Para estimativa da massa
muscular, pode ser usada a circunferência da panturrilha.29 A força de
preensão manual é recomendada para avaliação da força muscular: esta
medida de força pode ser feita com o auxílio de um dinamômetro.29 A
bioimpedância também pode ser utilizada para avaliação da composição
corporal. Ademais, deve-se realizar o cálculo de velocidade de perda de peso
(VPP):29
Esse cálculo é utilizado para verificar a gravidade da perda ponderal, podendo ser classificada de
acordo com os resultados da Tabela 1:7
1 mês 5 >5
Triagem
C) Mobilidade:
0 = restrito ao leito ou à cadeira de rodas.
1 = deambula, mas não é capaz de sair de casa.
2 = normal.
D) Passou por algum estresse psicológico ou doença
aguda nos últimos três meses?
0 = sim.
2 = não.
E) Problemas neuropsicológicos:
0 = demência ou depressão grave.
1 = demência leve.
2 = sem problemas psicológicos.
Nenhuma = 0
Quanta dificuldade você
Alguma = 1
Força tem para levantar e
Muita ou
carregar 5 kg?
incapaz = 2
Nenhuma = 0
Quanta dificuldade você Alguma = 1
Auxílio para
tem para atravessar um Muita, usa
caminhar
cômodo? apoios, ou
incapaz = 2
Nenhuma = 0
Quanta dificuldade você
Levantar-se Alguma = 1
tem para levantar de
de uma Muita ou
uma cadeira ou de uma
cadeira incapaz sem
cama?
ajuda = 2
Nenhuma = 0
Quanta dificuldade você
Alguma = 1
Subir escadas tem para subir um lance
Muita ou
de 10 degraus?
incapaz = 2
Nenhuma = 0
Uma a três vezes
Quantas vezes você caiu
Quedas =1
no último ano?
Quatro ou mais
vezes = 2
Hemograma
Proteína C-reativa
Ureia e eletrólitos
Glicose
Desidrogenase láctica
Exame de urina
Radiografia de tórax
Velocidade de hemossedimentação
Cálcio e fósforo
Albumina
Pré-albumina
Transferrina
Baciloscopia
Ferro
Vitamina B12
Quadro 6. Medicamentos que podem ser utilizados no tratamento de perda de peso não
intencional.
PROGNÓSTICO
Como dito anteriormente, a perda de peso não intencional em idosos está
relacionada a um aumento da mortalidade. Além disso, também está
associada a:14 26 40 43 52
• Maior risco de incapacidade funcional;
• Aumento de internações;
• Maior tempo de internação;
• Maior risco de fraturas, principalmente do quadril;
• Maior grau dependência;
• Maior risco de complicações hospitalares;
• Maior admissão em instituições de longa permanência;
• Prejuízo na qualidade de vida.
A. A partir do que foi apresentado, cite os exames que devem ser
solicitados inicialmente.
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20. MANEJO DA ANEMIA NO IDOSO
CASO CLÍNICO
Paciente AMT do sexo feminino, 80 anos, negra, analfabeta,
aposentada, natural e procedente de Sobral, no interior do Ceará, solteira,
mora sozinha. Procurou atendimento ambulatorial com queixa de cansaço
para realizar as atividades habituais, como limpeza do lar, falta de apetite e
perda de 2 kg há cerca de dois meses. Na história pregressa, a paciente
apresentava hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2 controlada, em
uso de metformina. Nega cirurgias anteriores, tabagismo e etilismo. Na
história familiar, pais falecidos sem causa conhecida pela paciente. Possui
irmã de 75 anos com doença renal crônica há dois anos, em tratamento
dialítico. Não apresenta queixas cognitivas e é independente para atividades
de vida diária. Ao exame físico, a paciente apresenta-se em estado geral
regular, mucosas hipocoradas ++, anictérica, acianótica, afebril, frequência
cardíaca 80 batimentos por minuto, pressão arterial 130/80 mmHg. No
aparelho respiratório, apresenta-se eupneica e presença de murmúrios
vesiculares distribuídos. No aparelho cardiovascular, bulhas normofonéticas
em dois tempos com ausência de sopros. No exame abdominal, abdome
normotenso com ausência de massas palpáveis. Extremidades bem
perfundidas, com edema +.
DEFINIÇÃO
A anemia é uma doença comum na população idosa, caracterizada pela
redução da hemoglobina e do hematócrito, com consequente diminuição da
oferta e transporte de oxigênio aos tecidos, prejudicando as atividades
fisiológicas.4 É definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
níveis de hemoglobina menores do que 13 mg/dl em homens e menor do
que 12 mg/dl em mulheres.
EPIDEMIOLOGIA
Após os 50 anos, a prevalência de anemia aumenta progressivamente
conforme o avanço da idade, sendo mais frequente entre idosos frágeis. De
acordo com dados da Third National Health and Nutrition Examination
Survey (NHANES III), aproximadamente 10% da população idosa é
diagnosticada com anemia e, após 85 anos de idade, essa frequência
ultrapassa 20%. Além disso, essa condição é mais comum no homem do
que na mulher após os 75 anos (Figura 1).10 14
Categorias
FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO
Deficiência nutricional
Essa categoria inclui a deficiência de ferro, de vitamina B12 e de folato.
O deficit de ferro é uma das causas mais conhecidas de anemia, e no grupo
dos idosos essa carência é desencadeada principalmente por alterações do
trato gastrointestinal (TGI), que levam a sangramentos, muitas vezes
ocultos. Alguns indivíduos podem também apresentar deficiência de ferro
por baixa absorção, no entanto, isso é incomum na prática clínica e,
geralmente, ocorre nos pacientes com desnutrição mais intensa, síndromes
disabsortivas ou pós-operatório de cirurgia bariátrica.11 22 O ferro está
distribuído entre as proteínas, como a mioglobina, a transferrina e a
ferritina, que estoca esse íon. O ferro plasmático é absorvido pelos
enterócitos no TGI, sobretudo na região do duodeno e jejuno, e em seguida
pode seguir diferentes trajetos, por exemplo, sendo utilizado pelas células
do enterócito, armazenado como forma de ferritina ou levado para outros
locais do organismo através da transferrina. Isso ocorre pela ação da
hepcidina, que é uma molécula produzida pelo fígado e que controla a
ferroportina. Esta tem ação semelhante a uma “porta” contida na membrana
de células, permitindo entrada e saída do ferro para armazenamento como
ferritina ou para liberação no sangue, respectivamente.20 A hepcidina é
inibida ou ativada de acordo com o ferro sérico. O idoso, quando em um
estado de desnutrição, apresenta baixos níveis de ferro sérico, acarretando
inibição da hepcidina, provocando ativação da ferroportina, e assim
permitindo a utilização do ferro armazenado na forma de ferritina — este é
liberado na circulação na forma iônica, sendo transportado pela
transferrina.5
A deficiência de vitamina B12 e de folato, diferentemente da descrita
previamente, pode causar a anemia megaloblástica. A vitamina B12 é
encontrada em alimentos, principalmente de origem animal, como carnes,
leite e ovos. Ao ser ingerida, é degradada por proteases, ligando-se ao fator
intrínseco, que se acopla a um receptor no íleo terminal, sendo então
absorvida. Ela está envolvida na formação de substratos que darão origem à
mielina, na ativação do folato (de forma que este possa ser utilizado pelo
organismo) e na formação do heme. Entre as doenças que podem levar à
deficiência de vitamina B12 nos idosos, destacamos: gastrite atrófica,
anemia perniciosa com deficiência de fator intrínseco e outras condições
que levam a uma diminuição da acidez gástrica. Alguns medicamentos
como metformina e inibidores de bomba de prótons podem contribuir com
esse processo.22 Raramente observamos deficiência de B12 em indivíduos
com baixa ingestão, uma vez que os estoques orgânicos costumam durar
anos; porém, indivíduos com síndromes disabsortivas e dietas restritivas
prolongadas — principalmente vegetarianas — podem também evoluir com
deficit nos estoques. A deficiência de folato, por outro lado, é menor, uma
vez que muitos alimentos na atualidade são enriquecidos com esta vitamina.
Alguns fatores como abuso de álcool e uso de medicamentos — a exemplo
dos anticonvulsivantes — podem também colaborar para o aparecimento
desse quadro.22 O folato é importante na produção de purinas e pirimidinas,
que são utilizadas na formação do ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido
ribonucleico (RNA). Dessa forma, as deficiências de vitamina B12 e folato
podem prejudicar a hematopoese, causando uma anemia megaloblástica.5
Anemia inexplicada
Esse tipo de anemia é denominada como inexplicada por não se
encaixar nas outras subclassificações, porém estudos demonstram teorias e
possíveis componentes relacionados, como: 1) a deficiência endócrina
relacionada à falta de eritropoietina; e 2) inflamação crônica, que aumenta
os níveis de citocinas inflamatórias que influenciam na ação da hepcidina.
Como possível componente endócrino tem-se a deficiência de androgênio,
que tem relação com o declínio de testosterona com o avanço da idade,
alteração renal e síndrome mielodisplásica.6 16
QUADRO CLÍNICO
O início dos sintomas acontece de forma silenciosa, visto que algumas
apresentações, como astenia, são tidas como próprias da idade e muitos
sintomas são inespecíficos, não sustentando relevância na prática clínica.
Além disso, o metabolismo do idoso procura se adequar ou compensar esse
quadro, permitindo que a anemia evolua de forma insidiosa. Assim,
corriqueiramente, o diagnóstico ocorre ao realizar exames de rotinas. É
relevante, entretanto, compreender a apresentação clínica e quais os
possíveis sinais ou sintomas que os pacientes idosos podem apresentar na
consulta ambulatorial (Quadro 2).
Em geral, a anemia tem grande importância clínica no idoso, em virtude
dos múltiplos prejuízos desencadeados. Essa condição pode gerar
comprometimento cognitivo, pois atua reduzindo o estado de alerta, humor,
atenção e concentração.21 Além disso, o idoso anêmico se torna menos ativo
e menos interessado nas atividades cotidianas, o que pode gerar um declínio
na capacidade funcional, contribuindo também para o desenvolvimento da
síndrome da fragilidade em decorrência do sedentarismo.
Fadiga
Dispneia
Cefaleia
Intolerância ao exercício
Irritabilidade
Disfagia
Diarreia
Insuficiência cardíaca
Anorexia
Alterações neurológicas
Palidez conjuntival
Exames
Exames para
específicos na
Exames gerais avaliação de Outros
suspeita de
iniciais inflamação e exames
deficit
doença crônica
nutricional
» Hemoglobina •
• Transferrina tireoidiana
hematimétricos
• Saturação de hepática
de
hemoglobina
transferrina
» Plaquetas • Bilirrubina •
» Leucócitos • Capacidade sérica Eletroforese
total de
» RDW ligação do • de proteína
• Reticulócitos
ferro (TIBC) Desidrogenase • Dosagem
• lática (DHL); de
haptoglobina
Concentração
do receptor
solúvel de
transferrina
• Vitamina
B12
• Ácido fólico
•
Homocisteína
• Ácido
metilmalônico
Adaptado de Ershler et al., 2019; Gualandro et al., 2010; Stauder et al., 2018.6 8 22
Quadro 4. Níveis séricos para diferenciação entre anemia ferropriva e anemia de doença
crônica.
ANEMIA
DE ANEMIA AMBAS
VARIÁVEL
DOENÇA FERROPRIVA CONDIÇÕES
CRÔNICA
Saturação da
Reduzido Reduzido Reduzido
transferrina
Receptor
Reduzido a
solúvel de Normal Aumentado
aumentado
transferrina
Receptor
solúvel de Reduzido (< Aumentado (> Aumentado
transferrina/log 1) 1) (> 1)
da ferritina
TRATAMENTO
Após realizar o diagnóstico e classificar a etiologia do quadro anêmico,
deve-se realizar o tratamento direcionado. Quando existe deficiência de
ferro, recomenda-se iniciar a reposição por via oral, que é a forma mais
simples e acessível. Para alguns casos selecionados pode ser indicada a
reposição por via parenteral.20 22 Atualmente existem diversas apresentações
de compostos ricos em ferro no mercado. O sal ferroso, representado pelo
Sulfato Ferroso, é o mais disponível na rede básica de saúde. Para uma
absorção adequada deve-se orientar o paciente a ingerir a medicação de
estômago vazio e evitar o uso concomitante de medicações que aumentem o
pH do estômago, como os inibidores de bomba de prótons. Há também uma
sugestão de que o uso concomitante de vitamina C pode ajudar a otimizar
sua absorção. Nos idosos, em específico, há um risco maior de efeitos
colaterais gastrointestinais, e por isso muitos deles não conseguem aderir ao
tratamento de forma adequada. Para esses indivíduos, uma alternativa é o
uso de sais férricos que costumam causar menos eventos adversos. Eles são
representados pelo ferro quelato e o ferro sacarato. Além disso, eles sofrem
menos interferência dos alimentos em sua absorção. Em relação à dose para
uso, é recomendado administrar diariamente 100 a 200 mg de ferro
elementar, sendo que a forma de uso irá depender do composto utilizado.15
Em pacientes com idade mais avançada as atuais evidências não permitem
estabelecer uma dose padrão, no entanto, alguns autores sugerem que
baixas doses de ferro oral ou menor frequência da dose contribuem para
reduzir os efeitos colaterais e, consequentemente, melhoram a adesão.19
Após o início do tratamento oral já é esperado uma melhora nos níveis de
hemoglobina e ferritina após 6 a 8 semanas do tratamento oral e a reposição
deve durar 3 a 6 meses após normalização, para que o estoque corporal seja
restabelecido.11
Para aqueles idosos com intolerância ao uso oral, ou com condições que
reduzem a absorção gastrointestinal, é recomendado o uso de ferro
parenteral. Atualmente se indica o sacarato de hidróxido férrico, que pode
ser administrado por via intravenosa ou intramuscular. Existem fórmulas
sugeridas que permitem o cálculo do deficit a ser reposto, levando em
consideração o peso do paciente e a meta de hemoglobina a ser alcançada.
Historicamente, o uso de ferro parenteral era associado com elevados
índices de efeitos adversos, uma vez que até a década de 1990 o dextran de
alto peso molecular era a única apresentação disponível. No entanto, com o
passar dos anos e o desenvolvimento de novas fórmulas como gluconato e o
sacarato de ferro, esses efeitos colaterais têm sido cada vez menos
frequentes. Ainda assim, é indicado que a reposição parenteral seja
realizada em um ambiente com estrutura hospitalar e sempre sob supervisão
médica.15
Na deficiência de vitamina B12 pode ser realizada a reposição por via
oral, parenteral (intramuscular) ou sublingual, apresentação mais recente
disponibilizada no mercado.11 22 Porém, para garantir a adequada reposição,
a via parenteral é a preferencial. De acordo com a avaliação posterior do
paciente, se os valores da vitamina estiverem normais pode-se dispensar o
uso do medicamento. Entretanto, em alguns idosos com dificuldades
permanentes de absorção da vitamina B12, como na anemia perniciosa,
opta-se por manter o uso do medicamento ao longo da vida. Em relação ao
uso do ácido fólico, pode ser realizada administração por via oral na dose
de 1 a 5 mg/dia por um período de 1 a 4 meses.11 15
O tratamento da anemia gerada por doença renal crônica é baseado na
administração do agente estimulador da eritropoiese (AEE) por via
intravenosa ou subcutânea. Antes de iniciar o tratamento, deve-se avaliar as
reservas de ferro com o objetivo de descartar deficiência nutricional e
também causas por inflamação.11 18 22 Nesse contexto, caso as reservas de
ferro estejam esgotadas, faz-se primeiro a reposição e depois inicia a terapia
com o AEE. Dentre as várias formulações produzidas, existe a primeira
geração, que inclui a alfapoetina, betapoetina e zetapoetina, as quais são
seguras e têm meia-vida curta. A segunda geração inclui a darbepoetina
alfa, que tem maior estabilidade metabólica e meia-vida mais longa. A
terceira geração inclui o ativador contínuo de receptor da eritropoetina
(CERA), que possui uma meia-vida maior do que a primeira e a segunda
gerações. No Brasil, a formulação disponível é a alfapoetina, que tem
liberação restrita aos pacientes renais crônicos.1 Já para os pacientes com
anemia de doença crônica sem insuficiência renal importante é
recomendado tratar adequadamente a doença de base. Na grande maioria
dos quadros esses indivíduos apresentam anemia mais leve. Para esses
casos, o uso do AEE é mais restrito, uma vez que o benefício não é claro e
que pode estar associado a eventos adversos, como tromboembolismo,
hipertensão arterial, acidente vascular encefálico, infarto agudo do
miocárdio — principalmente quando os níveis de hemoglobina estão acima
de 13 g/dl. Além disso, ainda há um impacto desconhecido no crescimento
de células tumorais.2 13
Para os idosos com anemia inexplicada não existe um tratamento
específico disponível, visto que os mecanismos fisiopatológicos ainda não
são bem conhecidos.11 Porém, assim como em todas as outras anemias, a
transfusão de concentrado de hemácias pode ser indicada em situações
específicas. Sabemos que nos pacientes com anemia ainda existe uma certa
controvérsia quanto à indicação de transfusão, visto que alguns estudos
indicam benefícios e outros não, principalmente para os casos em que a
queda dos níveis de hemoglobina é lenta.16 No geral, pode ser indicada
quando os valores de hemoglobina estão abaixo de 7 a 8 g/dl, sendo
considerados níveis ainda maiores para aqueles indivíduos com doença
aterosclerótica, insuficiência cardíaca e quando os pacientes são
sintomáticos ou apresentam instabilidade hemodinâmica. No entanto, não
deve ser indicada em indivíduos com níveis de hemoglobina acima de 10
g/dl.
PROGNÓSTICO
A anemia nos idosos é uma condição prevalente, a qual possui causas
multifatoriais e pode levar a complicações como quedas, perda de
capacidade funcional, hospitalização e diminuição da qualidade de vida.
Além disso, essa condição está associada a uma maior mortalidade.4 9 14
Desta maneira, é importante o rastreio da doença nessa população, com o
intuito de definir a causa base e realizar o tratamento adequado, sempre
avaliando os riscos e benefícios das intervenções de forma individualizada.
Com o advento e melhorias tecnológicas, as técnicas investigativas têm se
tornado mais flexíveis e acessíveis, facilitando a abordagem desses
indivíduos.
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Table of Contents
Capa
Créditos
COORDENADORES
AUTORES
Sumário
Prefácio
1. Abordagem do idoso: Avaliação Geriátrica Ampla
2. Síndrome de fragilidade no idoso
3. Polifarmácia e princípios da prescrição medicamentosa no
idoso
4. Iatrogenia
5. Doença de Alzheimer e outras síndromes demenciais
6. Delirium
7. Depressão
8. Transtornos do movimento
9. Instabilidade postural e quedas
10. Síndrome da imobilização
11. Incontinência urinária
12. Abordagem social no paciente idoso
13. Distúrbios do sono em idosos
14. Exames de rastreamento no paciente idoso
15. Abordagem do idoso em cuidados paliativos
16. Hipertensão arterial em idosos
17. Diabetes no idoso
18. Osteoporose
19. Manejo da perda de peso no idoso
20. Manejo da anemia no idoso