Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n1-688
Marilene Biavatti
Graduação em Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas - UEPG
Endereço: Av. General Carlos Cavalcanti, 4748, Uvaranas, Ponta Grossa-PR, Brasil
E-mail: marybiavatti@gmail.com
RESUMO
No presente trabalho são apresentados elementos introdutórios à compreensão do estresse
oxidativo, como conceitos relativos a radicais livres (RL), espécies reativas de oxigênio
(ERO), antioxidantes, possibilidades de biomarcadores e algumas doenças em que o
ABSTRACT
In the present work, we presente introductory elements usefull to oxidative stress
understanding, such as concepts related to free radicals (RL), reactive oxygen species
(ROS), antioxidants, possibilities of biomarkers and some diseases in which oxidative
stress participates. RL and ROS are physiologically important for normal cell functions,
but they can promote tissue damage and harm health when in excess, favoring oxidative
stress. Endogenous and ingested antioxidants act to protect against oxidative stress.
Different molecules that participate in the generation of RL and ROS or that act to fight
the damage they promote can be used in the evaluation of oxidative stress. Different
diseases have oxidative stress as one of the elements involved. In this paper, informations
about some of them is cited and further details can be found in several articles in the
scientific literature, taking our work as a starting point.
1 INTRODUÇÃO
Radicais livres (RL) são constantemente produzidos no organismo e são átomos
ou moléculas que contém um ou mais elétrons desemparelhados na sua última camada, o
que lhes confere sua característica reatividade (KUMAR; PANDEY, 2015; RADI, 2018).
A produção dos radicais livres ocorre em diferentes vias e situações, como, por exemplo,
no metabolismo mitocondrial, na via do ácido úrico (enzima xantina oxidase), nos
peroxissomos, na inflamação e em fagócitos, no processo de isquemia e nos exercícios
físicos. Fatores externos (como tabagismo, poluição, radiação, medicamentos, pesticidas,
solventes industriais dentre outros) influenciam nos níveis de radicais livres. Quando
presentes em excesso, os radicais livres levam ao estresse oxidativo, causando prejuízos
ao organismo (KUMAR; PANDEY, 2015; GUAN; LAN, 2018). Alguns dos radicais
livres são espécies reativas derivadas do oxigênio (ERO), instáveis e altamente reativas,
que são resultantes do processo metabólico aeróbico tradicional, mas tornam-se
prejudiciais quando seus níveis se encontram elevados. Tal desequilíbrio é denominado
Vitamina E e a Coenzima Q10 (PHILLIPS et al, 1994; STEINER, 2008). Além disso, por
conta de sua atividade biológica contra oxidantes, chamam a atenção os flavonóides,
presentes em diversos grupos alimentares (BRAVO, 1998).
Há diferenciação em relação ao mecanismo de combate às ERO, podendo os
antioxidantes serem classificados em primários (atuando como doadores de prótons e
impedindo o processo inicial de ação dos radicais livres) e secundários, que agem na
decomposição dos peróxidos e hidroperóxidos, transformando-os nas formas inativas
com o auxílio de agentes redutores que bloqueiam a cascata de reações através da
captação dos intermediários reativos (DONNELI; ROBINSON, 1995). Assim, as
atividades dos antioxidantes, favorecem a manutenção metabólica e o equilíbrio orgânico
dos sistemas afetados pelas ERO sendo importantes na prevenção de doenças
desencadeadas pelos radicais livres, além de colaborar para melhor qualidade de vida dos
indivíduos.
hidroxil, por exemplo, induzem a perda da integridade das membranas celulares causam
rigidez e deformidades (RAMOS et. al, 2000).
Outra condição em que o estresse oxidativo se faz presente é a aterosclerose, uma
das doenças arteriais mais comuns atualmente. Ela é decorrente do acúmulo de colesterol
e aumento de células musculares lisas no interior das artérias, e estas, por sua vez,
modificam as túnicas íntima e média (camadas arteriais), resultando em diversos
problemas circulatórios (ROSS, 1999; DZAU, 2004). O aumento nos níveis de LDL-
colesterol (LDL) deixa as partículas inflamatórias presentes no vaso suscetíveis à
oxidação, formando o composto LDLox, que é tóxico e lesivo às células endoteliais
(GROYER, 2006). No estresse oxidativo, a geração de citocinas pela alteração lipídica
pode levar ao aumento de moléculas de adesão, como a VCAM-1 (OSBORN, 1989). Essa
e outras moléculas de adesão após a ativação dos leucócitos vão participar do processo
inflamatório (BEVILACQUA, 1993).
A deficiência da G6PD (glicose-6-fosfato desidrogenase) está estreitamente
relacionada à ocorrência de hemólise in vivo. A G6PD é uma enzima presente na via das
pentoses que catalisa a conversão de nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP)
na sua forma reduzida (NADPH) e mantem a glutationa no seu estado reduzido (GSH), o
que, desta forma, protege as células de danos oxidativos no microambiente
(CAPPELLINI; FIORELLI, 2008; ZHANG et.al., 2016).
Doenças metabólicas também estão relacionadas ao estresse oxidativo. O estado
hiperglicêmico de indivíduos diabéticos, por exemplo, é uma condição que favorece a
formação de espécies reativas de oxigênio (EROS) devido à auto-oxidação das moléculas
de glicose (GOMES; ACCARDO, 2019). Sabe-se que esses danos oxidativos podem
atingir, de forma inespecífica, proteínas, material genético e outras moléculas (CHONG
et al., 2017).
A obesidade é considerada uma condição inflamatória crônica, caracterizada pelo
acúmulo de tecido adiposo e com envolvimento das citocinas pró-inflamatórias, tais como
TNF-alfa (fator de necrose tumoral alfa), IL-6 (interleucina 6), IL-1 (interleucina 1) e
MCP-1 (proteína quimiotratora de macrófagos) (ENGIN, 2017). Matuzik et.al. (2015)
concluíram que, em crianças obesas, os níveis de lipoproteína de baixa densidade oxidada
(LDLox) estava elevado, enquanto a atividade da glutationa peroxidase (GPx)
encontrava-se reduzida.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença com múltiplos fatores
associados, tais como como obesidade, diabetes, distúrbios dos níveis de colesterol e
radicais livres, espécies reativas de oxigênio e resposta inflamatória com o vírus SARS-
CoV. Alguns genes mitocondriais e sanguíneos, como FOS, FTH1 e PRDX1
apresentaram resposta positiva em ambientes de estresse oxidativo, além de outros genes
que foram expressos de forma muito elevada, como IFDR1 e citocina IL-1B,
corroborando com a hipótese dessa relação entre o estresse oxidativo e a resposta
inflamatória na presença do vírus (SHAO et al., 2006).
Em doenças neurodegenerativas, o estresse oxidativo também parece ter um papel
relevante. O estresse oxidativo em elementos celulares como proteínas, lipídeos e ácidos
nucléicos são, em parte, responsáveis pela patogênese da doença de Alzheimer (DA).
Além disso, o consumo elevado de oxigênio e escassez de substâncias antioxidantes faz
com que os neurônios se tornem alvos primários dessa condição (AHMAD et.al., 2017).
Bradley-Whitman et.al. (2014) destacam que o dano oxidativo é precoce em DA, porém
não é exclusivo dessa doença neurodegenerativa.
O estresse oxidativo também foi observado na doença de Crohn, caracterizada por
ser uma doença inflamatória crônica que afeta a mucosa intestinal (PATLEVIČ, et.al.,
2016). A participação das ERO na patogenicidade da doença se correlaciona com a
intensa proliferação de células de defesa e liberação de citocinas (ALZOGHAIBI, 2013).
Beltrán et.al. (2010) avaliaram o estresse oxidativo em pacientes com doença de Crohn
no estado inicial e após remissão e encontraram altas concentrações circulantes de
malondialeído e 8-oxo-desoxiguanosina de forma permanente, o que corrobora com o
papel do estresse oxidativo na patogênese da doença.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo reúne informações sobre RL, ERO, antioxidantes e moléculas
relacionadas, bem como seus envolvimentos no estresse oxidativo. Este trabalho
possibilita a introdução de conceitos e informações relativas a um universo vasto de uma
interessante área de pesquisa com potencial relação com diferentes aspectos da vida dos
seres humanos. É importante destacar que as informações aqui apresentadas estão longe
de representar todo o conteúdo conhecido sobre o assunto, mas ilustram diferentes
elementos e condições relativas ao estresse oxidativo, possibilitando a introdução a esta
área do conhecimento e uma base para aprofundamento na mesma.
REFERÊNCIAS
Alzoghaibi MA. Concepts of oxidative stress and antioxidant defense in Crohn's disease.
World Journal of Gastroenterology, 2013; 19(39):6540–6547.
https://doi.org/10.3748/wjg.v19.i39.6540
Aratani Y. Myeloperoxidase: Its role for host defense, inflammation, and neutrophil
function. Archives of Biochemistry and Biophysics. 2018. 640: 47-52.
https://doi.org/10.1016/j.abb.2018.01.004
Bailey AE. Bailey's Industrial Oil and Fat Products, 5th ed., John Wiley: New York, 1996,
vol. 3.
Beltrán B, Nos P, Dasí F, Iborra M., Bastida G, Martínez M., O'Connor JE, Sáez, G,
Moret I, Ponce J. Mitochondrial dysfunction, persistent oxidative damage, and catalase
inhibition in immune cells of naïve and treated Crohn's disease. Inflammatory bowel
diseases, 2010; 16(1):76–86. https://doi.org/10.1002/ibd.21027
Bradley-Whitman MA, Timmons MD, Beckett TL, Murphy MP, Lynn BC, Lovell MA.
Nucleic acid oxidation: a nearly feature of Alzheimer's disease. Journal of
Neurochemistry. 2014; 128(2):294-304. https://doi.org/10.1111/jnc.12444
Brieger K, Schiavone S, Miller FJ, Krause KH. Reactive oxygen species: from health to
disease. Swiss Medical Weekly. 2012; 142:w13659.
https://doi.org/10.4414/smw.2012.13659
Chakraborty S, Singh OP, Dasgupta A, Mandal N, Das HN. Correlation between lipid
peroxidation-induced TBARS level and disease severity in obsessive-compulsive
disorder. Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry. 2009.
33(2):363–366. https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2009.01.001
Donnelly JK, Robinson DS. Invited Review Free radicals in foods. Free Radical
Research. 1995; 22(2):147-176. https://doi.org/10.3109/10715769509147536
Dzau V.J. Markers of malign across the cardiovascular continuum: interpretation and
application. Circulation 2004; 109(supplement1): IV1-2.
https://doi.org/10.1161/01.CIR.0000133445.78855.AA
Fernandes SM, Cordeiro PM, Watanabe M, Fonseca CD, Vattimo MFF. The role of
oxidative stress in streptozotocin-induced diabetic nephropathy in rats. Arch. Endocrinol
Metab. 2016. 60: 443-449. https://doi.org/10.1590/2359-3997000000188
Ferreira ALA, Matsubara LS. Radicais livres: conceitos, doenças relacionadas, sistema
de defesa e estresse oxidativo. Revista da Associacao Médica Brasileira. 1997; 43(1):61–
68. https://doi.org/10.1590/s0104-42301997000100014
Filippin LI, Vercelino R, Marroni NP, Xavier RM. Influência de Processos Redox na
Resposta Inflamatória da Artrite Reumatóide. Rev Bras Reumatol. 2008; 48(1):17-24.
https://doi.org/10.1590/S0482-50042008000100005
Finaud J, Lac G, Filaire E. Oxidative stress: relationship with exercise and training. Sports
Medicine. 2006;36(4):327-358. https://doi.org/10.2165/00007256-200636040-00004
Fletcher C, Peto R. The natural history of chronic airflow obstruction. Br Med J. 1977;
1(6077):1645-8. https://doi.org/10.1136/BMJ.1.6077.1645
Gechev TS, Van Breusegem F, Stone JM, Denev I, Laloi C. Reactive oxygen species as
signals that modulate plant stress responses and programmed cell death. BioEssays : news
and reviews in molecular, cellular and developmental biology 2006; 28(11):1091–1101.
https://doi.org/10.1002/bies.20493
Halliwell B, Cross CE. Oxygen-derived species: their relation to human disease and
environmental stress. Environ. Health. Perspective. 1994; 102(2):5–12.
https://doi.org/10.1289/ehp.94102s105
Harrison DG, Guzik TJ, Lob H, Madhur M, Marvar PJ, Tabhet S, Vinh A, Weyand C,
Inflammation, Immunity, and Hypertension. Hypertension. 2011; 57:132-140.
https://doi.org/10.1161/HYPERTENSIONAHA.110.163576
Harrison DG, Marvar PJ, Titze JM. Vascular inflammatory cells in hypertension.
Frontiers Research Foundation. 2012; 3(7):1-11.
https://doi.org/10.3389/fphys.2012.00128
Hellman N, Gitlin J. Ceruplasmin: Metabolism and function. Ann. Rev. Nutr. 2002. 22:
439: 458. https://doi.org/10.1146/annurev.nutr.22.012502.114457
Huang C, Wang Y, Li X, Ren L, et al. Clinical features of patients infected with 2019
novel coronavirus in Wuhan, China. Lancet 2020; 395:497-506.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30183-5
Johns Hopkins University. Coronavirus COVID-19 Global Cases by the Center for
Systems Science and Engineering (CSSE) at Johns Hopkins University (JHU).
Disponível em: https://coronavirus.jhu.edu/map.html. Acesso em: 29 de Nov. de 2020.
Khomich OA, Kochetkov SN, Bartosch B, Ivanov AV. Redox biology of respiratory viral
infections. Viruses 2018; 10(8):392. https://dx.doi.org/10.3390%2Fv10080392
Kumar S, Pandey AK. Free Radicals: Health Implications and their Mitigation by
Herbals. Journal of Advances in Medicine and Medical Research. 2015; 7(6):438-457.
https://doi.org/10.9734/BJMMR/2015/16284
Malecki C, Hambly BD, Jeremy RW, Robertson EN. The Role of Inflammation and
Myeloperoxidase-Related Oxidative Stress in the Pathogenesis of Genetically Triggered
Thoracic Aortic Aneurysms. Int. J. Mol. Sci. 2020. 21:76-78.
https://doi.org/10.3390/ijms21207678
Molina B, Del Carmen M, Cunha RS, Herknhoff LF, Mill JG. Hipertensão arterial e
consumo de sal em população urbana. Rev. Saúde Pública, 2003; 37(6):743-750.
https://doi.org/10.1590/S0034-89102003000600009
Nandi A, Yan LJ, Jana CK, Das N. Role of Catalase in Oxidative Stress- and Age-
Associated Degenerative Diseases. Oxidative Medicine and Cellular Longevity. 2019;
9613090. https://doi.org/10.1155/2019/9613090
Prieto MA, Biarnés X, Vidossich P, Rovira C. The Molecular Mechanism of the Catalase
Reaction. J. AM. CHEM. SOC. 2009. 131(33):11751–11761.
https://doi.org/10.1021/ja9018572
Radi R. Oxygen radicals, nitric oxide, and peroxynitrite: Redox pathways in molecular
medicine. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of
America. 2018; 115(23):5839–5848. https://doi.org/10.1073/pnas.1804932115
Ramos VA, Ramos PA, Dominguez MC. Papel do estresse oxidativo na manutenção da
inflamação em pacientes com artrite reumatóide juvenil. Jornal de Pediatria. 2000;
76(2):125-32. Disponível em: http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-02-125/port.pdf.
Acesso em: 30 de Nov. de 2020.
Rickli C, Borato DCK, Silva AJM, Schuinski AFM, Vilela GHF, Vellosa JCR. Serum
Myeloperoxidase, C-reactive Protein and α1-acid Glycoprotein: Insights about
Cardiovascular Risk in End-stage Renal Disease. Exp Clin Endocrinol Diabetes.
2020;128(11):731-736. https://doi.org/10.1055/a-0895-5138
Sies H. Oxidative stress: introductory remarks. In: Oxidative Stress. London: Academic
Press. 1985; p.1-8. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-642760-8.50005-3
Sousa CMM, Rocha e Silva H, Vieira-Jr GM, Ayres MCC, Costa CLS, Araújo DS,
Cavalcante LCD, Barros EDS, Araújo PBM, Brandão MS, Chaves MH. Fenóis totais e
atividade antioxidante de cinco plantas medicinais. Química Nova. 2007; 30(2):351-355.
https://doi.org/10.1590/S0100-40422007000200021
Zani HP, Sousa AG, Borges GHI, Zendron IM, Moreira JM, Braga NCC. A relação entre
a doença pulmonar obstrutiva crônica e a função muscular esquelética: revisão de
literatura. Brazilian Journal of Dvelopment. 2019; 5(9):13780-13788.
https://doi.org/10.34117/bjdv5n9-011