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Universidade Federal Do Mato Grosso - Campus Cuiabá

Instituto De Ciências Exatas E Da Terra

Departamento De Química

Disciplina: IPQ

Docente: Prof. Dr. Ailton José Terezo

Discente: Leilane Natsumi Alves Kanbara

FICHAMENTO BIBLIOGRÁFICO
YANG, C. S. et al.. Antioxidants: Differing Meanings in Food Science and Health
Science. Journal of Agricultural and Food Chemistry, p. 3063-3068, v. 66, 2018.
O artigo é uma revisão que explora os diferentes conceitos e implicações dos
antioxidantes nas ciências dos alimentos e biomédicas. Ele destaca a importância dos
sistemas de defesa antioxidante celular e utiliza ilustrações para demonstrar os efeitos
benéficos, a falta deles e até mesmo as toxicidades de certos antioxidantes.
Os antioxidantes são moléculas que reduzem e neutralizam as espécies reativas
de oxigênio (ROS), presentes em diversos processos químicos e bioquímicos,
incluindo também espécies reativas de nitrogênio. Esses compostos são encontrados
em uma variedade de materiais vegetais e animais, desempenhando funções vitais na
manutenção da vida e na preservação da qualidade dos alimentos.
Embora frequentemente associados a benefícios para a saúde, como a
prevenção de doenças (incluindo câncer, doenças cardiovasculares e
envelhecimento), os efeitos dos antioxidantes nem sempre são consistentemente
comprovados. As ROS estão envolvidas em processos patológicos, como a oxidação
do DNA e a promoção de doenças. Isso levou à crença de que a redução dos níveis de
antioxidantes nutricionais, como a vitamina E e o selênio, aumentaria o risco de
doenças, enquanto a suplementação poderia prevenir tais condições.
Apesar de alguns estudos em modelos animais e humanos tenham demonstrado
efeitos preventivos, ensaios em larga escala, como o Estudo de Saúde da Mulher e o
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Estudo de Prevenção do Câncer com α-Tocoferol e β-Caroteno (ATBC), não


conseguiram confirmar esses benefícios. No Estudo de Saúde da Mulher, a
suplementação com acetato de α-tocoferol não protegeu contra câncer ou doenças
cardiovasculares, enquanto no ATBC, a suplementação com β-caroteno aumentou a
incidência de câncer de pulmão em fumantes finlandeses.
A oxidação é uma reação comum nos sistemas alimentares, especialmente nos
lipídios insaturados. Ela leva à deterioração durante o processamento, armazenamento
e distribuição de alimentos, resultando na perda de nutrientes e no desenvolvimento
de sabores indesejáveis ou substâncias potencialmente tóxicas. Existem três
principais mecanismos de oxidação lipídica: autoxidação, fotoxidação e oxidação
enzimática, sendo a autoxidação mediada por radicais livres em três estágios:
iniciação, propagação e término.
Os óleos vegetais, ricos em ácidos graxos poli-insaturados, são particularmente
vulneráveis à peroxidação lipídica. Para prevenir isso, eles contêm antioxidantes
como tocoferóis e tocotrienóis. A adição de antioxidantes é uma abordagem eficaz,
conveniente e econômica para prevenir a oxidação durante o processamento de
alimentos. Essas substâncias retardam ou previnem a oxidação do substrato em baixas
concentrações, incluindo eliminadores de radicais livres, agentes redutores e
quelantes de metais.
Na indústria alimentícia, antioxidantes sintéticos como BHA, BHT e galato de
propila são amplamente utilizados. No entanto, alguns desses compostos
demonstraram efeitos tóxicos em altas doses. Por esse motivo, há um crescente
interesse em antioxidantes naturais, como tocoferóis, extratos de alecrim e chá verde,
devido à sua alta atividade antioxidante. Embora muitos desses extratos tenham sido
estudados, barreiras legais limitam seu uso no mercado. Além disso, esses compostos
também têm sido investigados por seus potenciais aplicações biomédicas.
O oxigênio molecular é essencial para o metabolismo oxidativo dos animais.
No entanto, ele também gera espécies reativas de oxigênio (ROS) em excesso, o que
pode causar danos celulares. Três ROS relevantes são o superóxido, o peróxido de
hidrogênio e o radical hidroxila. Enzimas antioxidantes, como a superóxido
dismutase (SOD) e a catalase, neutralizam essas ROS. Além das enzimas, as
vitaminas C e E e o selênio atuam como antioxidantes, protegendo contra danos
oxidativos. Outros compostos, como os polifenóis, também têm propriedades
antioxidantes. Certos compostos, como isotiocianatos e triterpenoides, podem induzir
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enzimas antioxidantes por meio do fator de transcrição Nrf2, oferecendo proteção


celular contra o estresse oxidativo. Esses mecanismos são essenciais para manter o
equilíbrio redox das células e a integridade do organismo.
Os antioxidantes não nutricionais têm sido extensivamente estudados, porém
suas atividades antioxidantes e de prevenção de doenças in vivo geralmente são
menores do que as previstas por estudos in vitro, o que é conhecido como "o
paradoxo dos antioxidantes". Em doses mais altas, muitos antioxidantes podem
produzir ROS ao reagir com o oxigênio molecular e ativar enzimas antioxidantes
reguladas por Nrf2.
Em concentrações ainda mais altas, muitos antioxidantes podem produzir
grandes quantidades de ROS, que podem sobrecarregar as enzimas citoprotetoras,
gerando estresse oxidativo e causando citotoxicidade. Essas reações complexas são
ilustradas com exemplos nas seções seguintes.
Embora o ácido ascórbico (vitamina C) seja conhecido por suas propriedades
antioxidantes, estudos também demonstraram sua capacidade pró-oxidante,
especialmente em doses mais elevadas. Por outro lado, o EGCG (polifenol
encontrado no chá verde), apesar de amplamente reconhecido como antioxidante,
pode atuar como pró-oxidante em certos contextos, gerando espécies reativas de
oxigênio (ROS) e contribuindo para o estresse oxidativo.
Esses exemplos ressaltam a complexidade das interações entre antioxidantes e
o corpo humano, onde as mesmas substâncias podem ter efeitos diferentes
dependendo das condições e doses. Além disso, o papel do Nrf2, um fator de
transcrição que regula a expressão de enzimas antioxidantes, é fundamental para os
efeitos citoprotetores do EGCG, evidenciando uma via importante na defesa celular
contra o estresse oxidativo. Compreender essas interações é crucial para o
desenvolvimento de estratégias terapêuticas e dietéticas eficazes na prevenção e
tratamento de condições associadas ao estresse oxidativo e à inflamação.
A relação entre antioxidantes e câncer é complexa e ainda está sendo estudada.
Enquanto os antioxidantes são esperados para prevenir doenças devido ao seu papel
na neutralização de espécies reativas de oxigênio (ROS), os resultados variam. Por
exemplo, estudos com sulforafano mostraram aumento das vias de desintoxicação de
aflatoxina B1 e poluentes ambientais, potencialmente reduzindo o risco de câncer. No
entanto, em estudos recentes como o SELECT, altas doses de α-tocoferol e L-
selenometionina não demonstraram efeitos preventivos contra o câncer de próstata, e
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até aumentaram o risco em alguns casos.


A eficácia dos antioxidantes pode depender da suficiência nutricional
antioxidante da população-alvo. Em áreas com deficiências de nutrientes
antioxidantes, como vitamina E e selênio, a suplementação mostrou benefícios na
redução da mortalidade por câncer. Por outro lado, em populações com nutrição
antioxidante adequada, a suplementação pode não ser benéfica e, em alguns casos,
pode até ser prejudicial.
Além disso, embora alguns antioxidantes naturais, como o chá verde, tenham
demonstrado prevenir o câncer em modelos animais e em alguns estudos humanos,
doses elevadas desses produtos podem causar toxicidade. Por exemplo, casos de
toxicidade hepática foram associados ao consumo de suplementos dietéticos à base de
extrato de chá verde, comumente usados para perda de peso.
O uso de antioxidantes como adjuvantes na terapia do câncer ainda é objeto de
estudo. Enquanto alguns estudos sugerem que antioxidantes podem melhorar a
eficácia da quimioterapia ou radioterapia e reduzir seus efeitos colaterais, outros não
encontraram evidências claras de benefício. A questão continua complexa devido à
variabilidade nos tipos e dosagens de antioxidantes, nos medicamentos terapêuticos
usados e nas características biológicas do câncer e do paciente.
Portanto, embora os antioxidantes tenham o potencial de serem úteis na
prevenção e tratamento do câncer, é necessária mais pesquisa para entender melhor
como eles interagem com diferentes tipos de câncer e terapias, e como sua eficácia
pode ser afetada pelo estado nutricional e biológico individual.
Assim, é concluído que o termo antioxidante é amplamente utilizado na
ciência de alimentos, onde essas substâncias desempenham um papel crucial na
proteção contra a deterioração dos alimentos causada pela oxidação. No entanto,
quando se trata da saúde humana, a aplicação dos antioxidantes é mais complexa.
Embora os suplementos antioxidantes sejam frequentemente promovidos como
benéficos para a saúde, poucos deles demonstraram melhorar significativamente o
bem-estar humano. A eficácia de um antioxidante na saúde depende de sua
biodisponibilidade no organismo e de sua capacidade de cumprir suas funções
esperadas. Além disso, muitos antioxidantes dietéticos são menos eficazes em
combater as ROS do que os sistemas enzimáticos antioxidantes naturais presentes no
corpo.
É importante destacar que, embora as ROS sejam geralmente consideradas
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prejudiciais, elas também desempenham funções fisiológicas essenciais, como a


eliminação de bactérias infecciosas e a sinalização celular. Portanto, a manutenção da
saúde requer um equilíbrio adequado entre a produção de ROS e os sistemas
antioxidantes do organismo. O uso de suplementos antioxidantes deve ser feito com
cautela, pois altas doses podem levar à toxicidade devido a atividades pró-oxidantes.
Para os cientistas interessados nos efeitos dos alimentos na saúde, é crucial
considerar não apenas as capacidades antioxidantes, mas também outros parâmetros
relevantes. Além disso, a avaliação dos efeitos na saúde deve ser realizada em
modelos animais e humanos, com colaborações multidisciplinares para uma
compreensão abrangente dos impactos dos antioxidantes na saúde humana.

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