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Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro

Departamento de Nutrição Social

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Prof. Ursula Viana Bagni | 2020.2

Indicadores para o diagnóstico da


composição corporal
PARTE I
DEFININDO O DIAGNÓSTICO DA COMPOSIÇÃO
CORPORAL

Após selecionar o(s) método(s) mais apropriado(s) para avaliação da


composição corporal do paciente e coletar todas as medidas necessárias, o
profissional precisará analisar e interpretar essas informações, a fim de
determinar o diagnóstico nutricional.

Conforme abordamos anteriormente, os indicadores nutricionais podem


ser provenientes da análise e interpretação de medidas isoladas (como, por
exemplo, o perímetro da cintura) ou de medidas agrupadas formando um
índice (como, por exemplo, o índice de massa corporal).

Quando encontramos, em nossa avaliação, valores acima ou abaixo dos


pontos de corte, isto é, fora do intervalo considerado “normal” no contexto
de uma população sadia, podemos interpretar que há grande probabilidade
desse valor “atípico” ou “inesperado” refletir uma alteração do estado
nutricional (Barros et al, 2013).

Figura 1. Comparação dos dados individuais com valores de referência de


uma população sadia para definir o diagnóstico nutricional.

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Os pontos de corte da maioria dos indicadores nutricionais são definidos
com base na distribuição normal da curva de Gauss, e são expressos na
forma de percentis e/ou escore-z. Por isso é fundamental saber o que
significam e sua correspondência. A quantidade de pontos de corte e as
suas posições na curva normal podem variar conforme o indicador.

Probabilidade em
cada porção da curva

Desvio padrão

Percentual acumulado
Percentil

Escore-z

Figura 2. Correspondência de Percentil e Escore-z na curva normal

O percentil indica qual é o percentual de pessoas na população com valores


maiores ou menores do que aquele que o profissional de saúde observou
na sua avaliação.
Exemplo: um menino de 4 anos com 97,6 centímetros de comprimento está no
Percentil 5 do índice estatura-para-idade, indicando que somente 5% das
crianças da população apresentam peso inferior ao dele, e 95% das crianças da
população possuem peso superior ao dele.

O escore-z indica quanto o valor que o profissional de saúde observou na


avaliação se desvia da média da população, em número de desvios padrão.
Exemplo: um menino de 4 anos com 97, 6 centímetros de comprimento está no
Escore-z -1,6 do índice estatura-para-idade, indicando que na curva normal ele
está posicionado 1,6 unidades de desvio padrão abaixo da média da população.

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Podemos traçar diagnósticos relacionados às diferentes dimensões da
composição corporal: reserva proteico-energética, reserva muscular,
reserva adiposa, e crescimento linear por aumento da massa óssea.

Figura 2. Dimensões para as quais são definidos os diagnósticos da


composição corporal.

A seguir são apresentados os indicadores antropométricos, as equações de


predição, os valores de referência e os pontos de corte para cada uma
dessas dimensões avaliadas nas diferentes faixas etárias.

Considerando o grande número de indicadores nutricionais existentes, o


profissional deverá selecionar aqueles que forem mais apropriados para
avaliar cada paciente. Para isso, deve considerar o público alvo (sadio x
enfermo), a queixa principal (motivo da consulta), o tipo de consulta
(primeira consulta x retorno), o tempo para a avaliação, os equipamentos
disponíveis, as potencialidades e limitações das medidas corporais e
indicadores nutricionais, etc.

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RESERVA PROTEICO-ENERGÉTICA

1. ADEQUAÇÃO DO PESO À ESTATURA

1.1 Índice de Massa Corporal IMC)

Índice de Massa Corporal (IMC) = Peso (kg)


Estatura2 (m)

Classificação do IMC para adultos

IMC (kg/m2) Classificação


<16,0 Magreza ou Baixo peso III
> 16,0 e < 17,0 Magreza ou Baixo peso II
> 17,0 e < 18,5 Magreza ou Baixo peso I
> 18,5 e < 25,0 Eutrofia (Normalidade)
> 25,0 e < 30,0 Sobrepeso
> 30,0 e < 35,0 Obesidade I
> 35,0 e < 40,0 Obesidade II
> 40,0 Obesidade III
Fonte: WHO 1995, 2000; Brasil 2008, 2011.

Classificação do IMC para idosos

IMC (kg/m2) Classificação


<22,0 Baixo peso
> 22,0 e < 27,0 Eutrofia (Normalidade)
> 25 Sobrepeso
Fonte: Brasil 2008, 2011.

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RESERVA PROTEICO-ENERGÉTICA

1.2 Índice de Massa Corporal para Idade

Fonte: https://www.who.int/tools/child-growth-standards/standards

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RESERVA PROTEICO-ENERGÉTICA

1.2 Índice de Massa Corporal para Idade

Fonte: https://www.who.int/tools/growth-reference-data-for-5to19-years/indicators

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RESERVA PROTEICO-ENERGÉTICA

1.3 Índice Peso para Estatura

Fonte: https://www.who.int/tools/child-growth-standards/standards

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RESERVA PROTEICO-ENERGÉTICA

1.4 Índice Peso para Idade

Fonte: https://www.who.int/tools/child-growth-standards/standards

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RESERVA PROTEICO-ENERGÉTICA

1.4 Índice Peso para Idade

Fonte: https://www.who.int/tools/growth-reference-data-for-5to19-years/indicators

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

Classificação dos índices antropométricos de crianças e adolescentes

Fonte: Brasil, 2008

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

2. ADEQUAÇÃO DO PESO AO IDEAL

Percentual de adequação do peso atual = peso atual x 100


em relação ao peso ideal peso ideal

Classificação do percentual de adequação do peso ideal

% Peso Ideal Classificação


< 60% Depleção grave
60 a 80% Depleção moderada
81 a 90% Depleção leve
91 a 110% Eutrofia (Normalidade)
111 a 120% Sobrepeso
>120% Obesidade
Fonte: Adaptado de Blackburn & Thornton, 1979; Blackburn et al. 1977, 1979.

2.1 PESO IDEAL (OU TEÓRICO) CONSIDERANDO O IMC IDEAL

Peso Ideal = Estatura2(m) x IMC ideal (kg/m2)

IMC ideal para adultos


Sexo IMC Ideal
Homens 22kg/m²
Mulheres 20,8kg/m²
Fonte: FAO, 1985

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

2.2 PESO IDEAL (OU TEÓRICO) CONSIDERANDO O BIOTIPO

Classificação da compleição óssea (biotipo) segundo perímetro do pulso

Compleição Óssea = Estatura (cm) .


Perímetro do pulso (cm)

Compleição Óssea
Classificação
Pequena Média Grande
Homens 10,4 9,6 a 10,0 <9,5
Mulheres 11,0 10,1 a 11,0 <10,1
Fonte: Grant, 1980.

Classificação da compleição óssea (biotipo) segundo diâmetro do úmero


Compleição Óssea
Classificação
Pequena Média Grande
Percentil < P25 P25-P75 > P75

Fonte: Distribuição do NHANES III https://www.cdc.gov/nchs/data/series/sr_11/sr11_249.pdf

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

Fonte: Distribuição do NHANES III https://www.cdc.gov/nchs/data/series/sr_11/sr11_249.pdf

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

Classificação da compleição óssea (biotipo) segundo diâmetro do úmero

Compleição Óssea = Diâmetro do úmero (mm) x 100


Estatura (cm)

Fonte: Frisancho, 1990

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

Peso ideal segundo compleição óssea e estatura


HOMENS MULHERES
Estatura Compleição Compleição Compleição Estatura Compleição Compleição Compleição
(cm) Pequena Média Grande (cm) Pequena Média Grande
155 50,0 53,6 58,2 142 41,8 45,0 49,5
156 50,7 54,3 58,8 143 42,3 45,3 49,8
157 51,4 55,0 59,5 144 42,8 45,6 50,1
158 51,8 55,5 60,0 145 43,2 45,9 50,5
159 52,2 56,0 60,5 146 43,7 46,6 51,2
160 52,7 56,4 60,9 147 44,1 47,3 51,8
161 53,2 56,8 61,5 148 44,6 47,7 52,3
162 53,7 57,2 62,1 149 45,1 48,1 52,8
163 54,1 57,7 62,7 150 45,5 48,6 53,2
164 55,0 58,5 63,4 151 46,2 49,3 54,0
165 55,9 59,5 64,1 152 46,8 50,0 54,5
166 56,5 60,1 64,8 153 47,3 50,5 55,0
167 57,1 60,7 65,6 154 47,8 51,0 55,5
168 57,7 61,4 66,4 155 48,2 51,4 55,9
169 58,6 62,3 67,5 156 48,9 52,3 56,8
170 59,5 63,2 68,6 157 49,5 53,2 57,7
171 60,1 63,9 69,2 158 50,0 53,6 58,3
172 60,7 64,4 69,8 159 50,5 54,0 58,9
173 61,4 65 70,5 160 50,9 54,5 59,5
174 62,3 65,9 71,4 161 51,1 55,3 60,1
175 63,2 66,9 72,3 162 52,1 56,1 60,7
176 63,8 67,5 72,9 163 52,7 56,8 61,4
177 64,4 68,2 73,5 164 53,6 57,7 62,3
178 65,0 69 74,1 165 54,5 58,6 63,2
179 65,9 69,9 75,3 166 55,1 59,2 63,8
180 66,8 70,9 76,4 167 55,7 59,8 64,4
181 67,4 71,7 77,1 168 56,4 60,5 65,0
182 68,0 72,5 77,8 169 57,3 61,4 65,9
183 68,6 73,2 78,6 170 53,2 62,2 66,8
184 69,8 74,1 79,8 171 58,8 62,8 67,4
185 70,9 75,0 80,9 172 59,4 63,4 68,0
186 71,5 75,8 81,7 173 60,0 64,1 68,6
187 72,1 76,6 82,5 174 60,9 65,0 69,8
188 72,7 77,3 83,2 175 61,0 65,8 70,9
189 73,3 78,0 83,8 176 62,4 66,5 71,7
190 73,9 78,7 84,4 177 63,0 67,1 72,5
191 74,5 79,5 85,0 178 63,6 67,7 73,2
Fonte: Grant 1980.

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

3. ADEQUAÇÃO DO PESO AO USUAL (OU HABITUAL)

Percentual de adequação do peso atual = peso atual x 100


em relação ao peso usual (habitual) peso usual

Classificação do percentual de adequação do peso usual

% Peso Usual Classificação


< 60% Depleção grave
60 a 80% Depleção moderada
81 a 90% Depleção leve
> 90% Eutrofia (Normalidade)
Fonte: Adaptado de Blackburn & Thornton 1979, Blackburn et al. 1977, 1979

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

4. GRAVIDADE DA PERDA DE PESO INVOLUNTÁRIA

Percentual de perda de peso = (peso usual - peso atual) x 100


peso usual

Classificação do percentual de perda de peso involuntária

Tempo de perda Perda significativa Perda grave


1 semana 1-2 % >2 %
1 mês 5% >5 %
3 meses 7,5 % >7,5 %
6 meses 10 % >10 %
Fonte: Blackburn et al 1977

Gráfico para classificação do percentual de perda de peso involuntária

Fonte: Blackburn et al. 1979

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

5. PERÍMETRO DO BRAÇO (PB)

Classificação do PB para avaliações de triagem

Adultos, Idosos e Crianças**


Classificação
adolescentes*
Baixo peso ≤ 23 cm < 11,5 cm
Eutrofia > 23 cm ≥ 11,5 cm
Fonte: *USAID, 2013, **WHO/UNICEF, 2009.

Classificação do percentual de adequação do PB

Percentual de adequação do PB = PB atual x 100


PB P50

% de adequação Classificação
< 60% Depleção grave
60 a 80% Depleção moderada
81 a 90% Depleção leve
91 a 110% Eutrofia (Normalidade)
111 a 120% Sobrepeso
>120% Obesidade
Fonte: Adaptado de: Blackburn & Thornton 1979, Blackburn et al. 1977, 1979

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

Classificação do PB em idosos

Valor do PB Classificação
≤ P5 Depleção
> P25 Eutrofia
Fonte: Kuczmarski et al. 2000.

Fonte: NHANES III (1988- 1994); Kuczmarski et al. 2000

Classificação do PB

Valor do PB Classificação
<P5 Baixo peso
P5 – P15 Abaixo da média
P15 – P85 Média (Adequado)
P85 – P95 Acima da media
> P95 Excesso de peso
Fonte: Frisancho, 1990

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

Fonte: Frisancho, 1990

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

Fonte: https://www.who.int/tools/child-growth-standards/standards

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RESERVA PROTÉICO ENERGÉTICA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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e Nutricional – SISVAN na assistência à saúde. Brasília: Ministério da
Saúde, 2008. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolo_sisvan.
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Brasil. Ministério da Saúde. Orientações para a coleta e análise de dados


antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasília: Ministério da Saúde,
2011. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/orientacoes_cole
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Blackburn & Thornton. Medical Clinics of North America 1979, 63(5):1101-


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FRISANCHO, A. R. Anthropometric standards for assessement of growth


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Grant, J. P. Handbook of Total Parenteral Nutrition. Philadelphia: WB.
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Kuczmarski et al. J. Am. Diet. Assoc. 2000;100:59–66.

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WHO/UNICEF. WHO Child Growth Standards and the Identification of


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