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CONCORDÂNCIA ENTRE DOIS CRITÉRIOS DE SAÚDE ESTABELECIDOS PARA A

FLEXIBILIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Gustavo Aires de Arruda (PIBIC/Fundação Araucária), Mathias Roberto Loch,


Dartagnan Pinto Guedes, Márcia Greguol Gorgatti, Humberto José Cardoso Pianca, Arli
Ramos de Oliveira (Orientador). E-mail: guga5000_uel@yahoo.com.br

Universidade Estadual de Londrina/Centro de Educação Física e Esporte – Londrina – PR

Palavras-chave: Flexibilidade, Critérios de Saúde, Crianças e adolescentes.

Resumo: O objetivo do presente estudo foi verificar a concordância entre dois critérios
de saúde estabelecidos para a flexibilidade de crianças e adolescentes. A amostra foi
composta por 73 indivíduos, com idades entre oito e 16 anos, sendo 39 meninos e 34
meninas, provenientes de uma mesma escola estadual de Londrina, Paraná,
participantes do Projeto Perobal, desenvolvido no Centro de Educação Física e Esporte
da Universidade Estadual de Londrina. Para a coleta dos dados foi utilizado o Teste de
“Sentar-e-Alcançar” e oTeste de “Sentar-e-Alcançar” Alternado através de um banco
com dimensões específicas. Os critérios de classificação utilizados foram o do Physical
Best e Fitnessgram respectivamente. A concordância percentual entre as proposições
foi de aproximadamente 80 e 88%. Os resultados indicam uma concordância de regular
a boa entre os critérios, mas a proporção de indivíduos que atendem aos critérios foi
menor com o uso do Physical Best. Entretanto ambas as proposições parecem viáveis
para a sua utilização em crianças e adolescentes.

Introdução
O reconhecimento da necessidade de obtenção de informações quanto ao
desempenho motor de crianças e adolescentes é evidenciado através dos inúmeros
estudos que já procuraram desenvolver baterias de testes para sua avaliação e
acompanhamento (1, 2, 3, 4). Na análise das capacidades motoras referentes à aptidão
física relacionada à saúde, algumas baterias têm obtido destaque, como a Physical
Best proposta pela American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and
Dance (2) e a Fitnessgram (4) proposta pelo Cooper Institute for Aerobics Research,
sendo que ambas apresentam a característica peculiar de proposição de critérios de
saúde.
Uma das variáveis do desempenho motor avaliada nestas baterias é a
flexibilidade. Uma boa flexibilidade é indicada independente da idade, pois uma melhor
condição de mobilidade possibilita movimentos com maior segurança através da
extensão completa do movimento (5). Um dos aspectos de fundamental importância
para a saúde é a manutenção adequada da flexibilidade na região lombar e posteriores
da coxa, pois debilidades nestas regiões tornam os indivíduos mais suscetíveis à
ocorrência de lombalgias (6). Com o encurtamento dos músculos isquiotibiais, a carga

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na coluna vertebral se torna maior, propiciando o início da lombalgia (7).
Aproximadamente 80% destes distúrbios lombares ocorrem devido aos músculos
fracos e/ou tensos (2).
Na análise das condições de saúde, as avaliações referenciadas por critério têm
sido utilizadas para o estabelecimento de condições adequadas à cada indivíduo.
Porém, não parece haver evidências suficientes que justifiquem o uso de um critério em
detrimento de outro. E pouco se sabe quanto ao nível de concordância entre distintas
proposições de critérios de saúde para a aptidão física. Logo, o objetivo do presente
estudo foi verificar a concordância entre dois critérios de saúde estabelecidos para a
flexibilidade de crianças e adolescentes.

Materiais e Métodos
A amostra foi composta por 73 indivíduos, com idades entre oito e 16 anos, sendo 39
meninos e 34 meninas, todos provenientes de uma mesma escola estadual de
Londrina, Paraná, e participantes do Projeto Perobal, desenvolvido no Centro de
Educação Física e Esporte (CEFE) da Universidade Estadual de Londrina. Para a
participação no presente estudo todos os sujeitos receberam e entregaram assinado
por eles e pelos seus pais ou responsáveis um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, no qual constavam todos os procedimentos a serem realizados no estudo,
bem como as formas de contato com o pesquisador caso ocorressem possíveis
dúvidas.
As variáveis antropométricas avaliadas foram: massa corporal e estatura. Para
análise da flexibilidade foram utilizados os Testes de “Sentar-e-Alcançar” (SA) (2) e
“Sentar-e-Alcançar” Alternado para o hemicorpo direito (SA-D) e esquerdo (SA-E) (4),
sendo utilizada uma caixa de madeira com dimensões específicas (2,4). Todos os
participantes foram submetidos primeiramente ao Teste de SA, e após um período de
aproximadamente uma semana, ao Teste de SA Alternado.
A análise estatística utilizou o Teste de Kolmogorov Smirnov e o Teste de
Shapiro Wilk’s para verificação da normalidade, de acordo com a divisão dos grupos;
estatística descritiva para caracterização da amostra, e o Teste “t” de Student para
amostras independentes visando comparar as características dos grupos. A
comparação da proporção de indivíduos para o atendimento dos critérios foi averiguada
pelo teste de McNemar e a concordância no atendimento por meio do Índice Kappa. O
nível de significância adotado foi de p<0,05.

Resultados e Discussão
Na Tabela 1 é apresentada análise descritiva e comparativa dos indivíduos que fizeram
parte da amostra, e na Tabela 2 a proporção de indivíduos que atenderam ao critério,
comparação das proporções e a concordância entre os critérios.
Não foi verificada diferença significativa para o Teste de SA entre meninas e
meninos, ocorrendo o mesmo para idade, peso e estatura. Porém, foi encontrada

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diferença significativa para SA-D e a diferença no SA-E entre os sexos, apesar de não
ter sido significativa (p=0,06), não pode ser menosprezada (Tabela 1). A diferença na
proporção de indivíduos que atendeu aos critérios de saúde foi estatisticamente
significativa entre SA e SA-D e apresentou uma concordância regular. Entre SA e SA-E
a diferença também foi significativa, e a concordância foi boa (Tabela 2).

Tabela 1. Valores médios, desvios-padrão (DP) e comparação entre sexo da idade,


peso, estatura, “Sentar-e-Alcançar” (SA), “Sentar-e-Alcançar” Alternado para o
hemicorpo Direito (SA-D) e hemicorpo esquerdo (SA-E).

Geral (n=73) Meninos (n=39) Meninas (n=34)


Média DP Média DP Média DP Sig.
Idade (anos) 12,46 1,55 12,66 1,56 12,23 1,52 0,233
Peso (Kg) 44,43 13,07 42,21 13,22 46,97 12,60 0,121
Estatura (m) 150,12 8,96 149,84 9,82 150,45 7,99 0,775
SA (cm) 28,29 7,93 27,44 7,94 29,26 7,93 0,329
SA-D (cm) 28,63 6,93 27,10 7,25 30,38 6,18 0,043*
SA-E (cm) 27,14 7,54 25,59 7,94 28,91 6,73 0,060
*p<0,05

Tabela 2. Coeficiente de Concordância dos critérios de saúde estabelecidos para


flexibilidade pelo Physical Best e Fitnessgram, apresentação da concordância do
atendimento (Sim), do não atendimento (Não), Coeficiente de Concordância total e os
valores obtidos no Índice Kappa para análise da concordância entre os critérios de
saúde da flexibilidade.
Teste Teste de “Sentar-e-Alcançar”
Coeficiente de Concordância Índice Kappa
Sim Não Total Sig. Sig.
“Sentar-e-Alcançar” % 64,4 15,1 79,5
0,000* 0,486 0,000*
Direita n 47 11 58
“Sentar-e-Alcançar” % 64,4 23,3 87,7
0,004* 0,709 0,000*
Esquerda n 47 17 64
*p<0,05

A porcentagem de indivíduos que atenderam ao critério estabelecido no Teste de


SA foi muito similar à encontrada em estudos anteriores em participantes do mesmo
projeto, onde aproximadamente 65% dos indivíduos atenderam ao critério (12).
Estudos indicam que o Teste de SA apresenta alta confiabilidade e moderada
validade para predição da flexibilidade nas articulações que envolvem os músculos
ísquiotibiais, mas pobre correlação com a flexibilidade lombar (8,9). Porém, o

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movimento de flexão de tronco parece apresentar uma correlação moderada com o
movimento de flexão de quadril tanto para o hemicorpo direito como para o esquerdo
(10). Deste modo, o teste de SA é utilizado como indicador da flexibilidade da região
posterior da coxa e lombar, mas a influência da região lombar parece ter algumas
inconsistências de acordo com o sexo (11).
Conclusões
Uma concordância de regular a boa foi verificada entre os critérios, mas a proporção de
indivíduos que atendem aos critérios de saúde foi menor com o uso do Physical Best,
indicando que este pode ser mais rigoroso e ter maior aplicabilidade. No entanto, as
proposições parecem viáveis para utilização. Estudos posteriores devem especificar o
atendimento percentual e concordância separadamente, de acordo com o sexo e faixa
etária, devido aos diferentes pontos de corte da Fitnessgram.
Agradecimentos
Ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica da Fundação Araucária.
Referências
1. ROSS, J.G.; GILBERT, G.G. National Children and Youth Fitness Study – NCYFS:
Summary of Findings. JOPERD, v.56, n.1, p.45-50, 1985.
2. AMERICAN ALLIANCE FOR HEALTH, PHYSICAL EDUCATION, RECREATION
AND DANCE. Youth Fitness Test Manual. AAHPERD, 1988.
3. YOUNG MEN’S CHRISTIAN ASSOCIATION. Youth Fitness Test Manual. YMCA,
USA: Human Kinetics, 1989.
4. COOPER INSTITUTE FOR AEROBICS RESEARCH. The Prudential
FITNESSGRAM Test Administration Manual. Dallas, TX: 1999.
5. ADAMS, K.; O´SHEA, P.; O´SHEA, K.L. Aging: Its Effects on Strength, Power,
Flexibility and Bone Density. Strength and Conditioning Journal, v.21, n.2, p.65-67,
1999.
6. MATHEWS, D.K. Medidas e Avaliação em Educação Física. 5ª. Ed. Rio de Janeiro,
1980.
7. KLEIN, A.B.; SNYDER-MACKLER, L.; Roy, S.H.; DeLUCA, C.J. Comparison of
spinal mobility and isometric trunk extensor forces with electromyographic spectral
analysis in identifying low back pain. Physical Therapy, v.71, p.445-454, 1991.
8. CORNBLEET, S.L.; WOOLSEY, N.B. Assessment of hamstring muscle length in
school-aged children using the sit-and-reach test and the inclinometer measure of hip
joint angle, Physical Therapy, v. 76. n.8, p.850-855, 1996.
9. BALTACI, G.; UN, N.; TUNAY, V.; BESLER, A.; GERCEKER, S. Comparison of three
different sit and reach tests for measurement of hamstring flexibility in female university
students, British Journal of Sports Medicine, v.37, n.1, p.59-63, 2003.
10. ARRUDA, G.A.; GUARIGLIA, D.A.; GALVÃO, J.S.; CYRINO, E.S.; OLIVEIRA, A.R.
Influência do treinamento com pesos na flexibilidade de tronco e quadril em mulheres.
In: Anais do XVI EAIC, Ponta Grossa, 2006, CD-Rom.

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11. JACKSON, A.; LANGFORD, N.J. The criterion-related validity of the sit-and-reach
test: Replication and Extension of Previous Findings. Research Quarterly For Exercise
And Sport, v.60, n.4, 1989.
12. ARRUDA, G.A; FERNANDES. R.A.; CHRISTÓFARO, D.G.D.; GONÇALVES,
C.G.S.; OLIVEIRA, A.R. Análise da flexibilidade em crianças de baixo nível
sócioeconômico: uma avaliação referenciada por critério. In: Anais do XVI EAIC,
Máringa, 2007, CD-Rom.

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