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ARTIGO ORIGINAL

Efeito de atividades físicas


combinadas na autonomia funcional,
índice de massa corporal e pressão
arterial de mulheres idosas
The combined effect of physical activity on functional autonomy,
body mass index and blood pressure in older women

Mauro Lúcio Mazini Filho1,4, Bernardo Minelli Rodrigues2,


Gabriela Rezende de Oliveira Venturini3,4, Felipe José Aidar1,
Dihogo Gama de Matos1, Jorge Roberto Perrout de Lima1,3

Recebido em 29/6/10 RESUMO


Aceito em 20/8/10
Objetivo: Verificar o efeito de atividades físicas combinadas, que contemplaram a prática de alongamentos, exer-
cícios localizados, caminhada e equilíbrio, por um período de 16 semanas, em mulheres idosas, e sua relação com a
autonomia funcional, o índice de massa corporal e a pressão arterial. Métodos: 54 idosas foram divididas em dois
grupos: experimental (GE) (n = 33), com 68,93 ± 6,83 anos, que participou das atividades propostas, e de controle
(GC) (n = 21), com 66,55 ± 6,00 anos. Resultados: Na autonomia funcional, o GE apresentou escores de tempo
sempre menores em todos os cinco testes avaliados, o que mostra os benefícios advindos de atividades físicas
combinadas. C10M (10,4 ± 4,5 para 7,9 ± 2,3), LPDV (7,9 ± 4,3 para 6,2 ± 3,6), LCLC (63,8 ± 16,5 para 55,8 ± 12,3)
e VTC (18,9 ± 8,7 para 15,6 ± 6,9), porém eles ainda continuaram classificados como fracos, com exceção do teste
LPS, que passou a ser classificado como regular (12,4 ± 4,3 para 10,5 ± 3,0). O GC praticamente se manteve com
valores semelhantes aos do pré-teste. Para o IMC, o GE apresentou diferença após o treinamento (29,0 ± 5,2 para
28,4 ± 5,1), enquanto o GC não obteve diferenças. Em relação à PA, o GE obteve diferença após o treinamento na
PAS (145,3 ± 4,3 para 136,2 ± 10,9) e PAD (95,8 ± 8,6 para 85,9 ± 8,6), enquanto o GC apresentou diferenças apenas
na PAS (147,8 ± 12,2 para 140,1 ± 12,8). Conclusão: As atividades físicas combinadas exerceram importante papel
na melhoria dos itens avaliados em 16 semanas de treinamento para mulheres idosas.
Palavras-chave: Envelhecimento, atividades físicas combinadas, autonomia funcional, índice de massa corporal,
pressão arterial.

ABSTRACT
1
Universidade Trás-os- Objective: To investigate the combined effect of physical activity that included the practice of stretching localized
Montes e Alto Douro exercises, walking and balances for a period of 16 weeks in elderly women and its relationship with functional
(UTAD), Portugal. autonomy, the body mass index and the pressure. Methods: 54 elderly women were divided into two groups, experi-
2
Laboratório mental (EG) (n = 33) with 68,93 ± 6,83 years who participated in the activities proposed and control (CG) (n = 21) with
de Biociências 66,55 ± 6,00 years. Results: The functional autonomy the GE had consistently lower scores in all five tests evaluated
da Motricidade which show the benefits from physical activity combined. C10M (10,4 ± 4,5 to 7,9 ± 2,3), LPDV (7,9 ± 4,3 to 6,2 ± 3,6),
Humana (LABIMH) LCLC (63,8 ± 16,5 to 55,8 ± 12,3) and VTC (18,9 ± 8,7 to 15,6 ± 6,9), but they still remained classified as weak with the
da Universidade exception of LPS test now be classified as regular (12,4 ± 4,3 to 10,5 ± 3,0). The CG remained almost similar values
Castelo Branco (UCB), with the pre-test. For BMI, the GE was different after training (29,0 ± 5,2 to 28,4 ± 5,1), while the CG received no
Rio de Janeiro. differences. For BP, GE obtained difference in SBP after training (145,3 ± 4,3 to 136,2 ± 10,9) and DBP (95,8 ± 8,6 to
3
Departamento de 85,9 ± 8,6) while GC showed differences only SBP (147,8 ± 12,2 to 140,1 ± 12,8). Conclusion: That physical activity
Educação Física (DEF) combined exerted important role in improving the items valued at 16 weeks of training for older women.
da Universidade Federal
Keywords: Aging, physical activity combined, functional autonomy, body mass index, blood pressure.
de Juiz de Fora (UFJF).
4
Centro Universitário
de Volta Redonda Endereço para correspondência: Bernardo Minelli Rodrigues • Rua Dom Pedro I, 73, bloco B, ap. 1306,
(UniFOA), Brasil. Santa Cruz – 23510-010 – Rio de Janeiro, RJ • E-mail: Bernadimmr@yahoo.com.br
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INTRODUÇÃO eficazes8,9. Exercícios resistidos, de flexibilidade, de


equilíbrio e aeróbicos devem constar em programas
Os últimos dados das Pesquisas Nacionais por Amos- de prescrição de atividades para idosos5, entretanto
tra de Domicílio (PNADs), realizadas no início deste não se sabe ao certo o quão beneficente é a combina-
século, encontraram quedas consideráveis nos níveis ção dessas capacidades físicas numa mesma sessão de
de fecundidade das mulheres no Brasil. Assim, as pro- treinamento com intensidade moderada em indiví-
jeções do IBGE para o ano 2050 são de que a po- duos idosos.
pulação com mais de 60 anos passará de 14,5 para Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi ve-
64 milhões, com a expectativa de vida variando entre rificar os efeitos de 16 semanas de atividades físicas
62,97 a 73,59, superando o grupo etário constituído combinados sobre a autonomia funcional, a pressão
de crianças e adolescentes até 14 anos1. arterial (PAS e PAD) e o índice de massa corporal
De acordo com a OMS2, a proporção do cresci- (IMC) de idosas.
mento populacional de pessoas com 60 anos ou mais
é muito maior do que as de qualquer outra faixa etária.
A perspectiva desse aumento gira em torno de 223%, Métodos
ou de 694 milhões, no número de idosos entre 1970
e 2025. A estimativa é de que até 2050 haverá 2 bi- Participaram deste estudo 54 mulheres idosas, vo-
lhões, 80% nos países em desenvolvimento; e o Brasil luntárias, que foram divididas de forma aleatória em
será o sexto país em idosos no mundo. Diante dessa grupo controle (GC) e grupo experimental (GE), não
realidade de envelhecimento constante na população existindo diferença significativa (p > 0,05) para todas
de nosso país, é de suma importância que a população as variáveis estudadas em ambos os grupos. O GC foi
senescente tenha qualidade de vida, além de expec- composto por 21 voluntárias (66,55 ± 6,0 anos) e o
tativa maior, como autonomia funcional, atividade GE, por 33 voluntárias (68,93 ± 6,8 anos). As volun-
intelectual, o bom estado de saúde e independência tárias leram e assinaram o termo de consentimento
econômica e social3. livre e esclarecido (TCLE), depois de informadas so-
bre os testes de autonomia funcional, a mensuração
O enfraquecimento musculoesquelético tem sido da PA e a medida do IMC, os exercícios físicos e os
apontado como a causa relevante dessa incapacidade procedimentos a serem realizados durante o estudo.
na população senescente, elevando o risco de que-
das. O sedentarismo, associado às doenças crônico- Todas as participantes tiveram liberação médica
degenerativas e a hábitos de vida inadequados, como para que ocorressem três visitas ao laboratório. A pri-
tabagismo e má alimentação, resulta no decréscimo meira visita ficou por conta de uma anamnese deta-
dos níveis de força, da resistência muscular, da fle- lhada, das avaliações físicas e da mensuração da PA,
xibilidade e da capacidade aeróbica, promovendo a realizadas sempre pelo mesmo avaliador; a segunda,
queda da capacidade funcional nas atividades diárias3. da familiarização do teste de autonomia funcional; e
As atividades físicas para o idoso devem ter como a terceira, da real coleta de dados da autonomia.
objetivos o fortalecimento muscular, o equilíbrio, a Para avaliação dos parâmetros antropométricos,
potência aeróbica e os movimentos corporais totais e utilizou-se uma balança (Filizola®, Brasil) para aferir
deve tentar associar essas atividades a uma mudança o peso em quilogramas (kg), com precisão de 0,1 kg,
nos hábitos de vida4,5. e um estadiômetro (Sanny®, Brasil) para verificação
A perda de flexibilidade, de velocidade, dos níveis da estatura, e para essa medida (cm) a precisão foi
de captação máxima de oxigênio (VO2máx), de massa regulada em 0,1 cm. O IMC foi determinado pelo
óssea (osteopenia), além da redução na massa muscular quociente massa corporal/estatura (m)2, sendo a mas-
(sarcopenia), devida ao comprometimento nas fibras sa corporal expressa em quilogramas (kg) e a estatura,
tipo IIb, que têm características anaeróbicas e hiper- em centímetros (cm). As variáveis antropométricas de
tróficas, é um efeito deletério do envelhecimento3. massa corporal e estatura foram coletadas seguindo as
recomendações sugeridas pela WHO10.
Um programa de exercícios de flexibilidade e aeró-
bicos para idosos é capaz de melhorar o perfil lipídico, Para avaliação dos parâmetros hemodinâmicos,
a pressão arterial, a flexibilidade e o condicionamen- a PA foi aferida com esfigmomanômetro aneroide
to cardiorrespiratório6, além de melhorar a sociabili- (Tycos®, USA) e estetoscópio (Littemann Quality®,
dade e a saúde geral7. Para atingir maior melhora da Alemanha). A aferição da PA foi realizada com os vo-
autonomia funcional, exercícios resistidos são os mais luntários assentados e no braço esquerdo, observando
Efeito de atividades físicas combinadas para idosos 71

a relação entre a largura do manguito e o diâmetro do alizando, assim, um aquecimento, além de trabalhar
braço do avaliado. Foram realizadas três aferições com a atenção; 15 minutos de exercícios de alongamento
intervalo de 10 minutos entre elas, sendo utilizada a passivo estático, com o estímulo de 10 a 15 segundos
mediana para cada voluntário. Todas as aferições fo- em cada movimento composto de três séries, alter-
ram realizadas pelo mesmo avaliador. nando os hemisférios corporais em cada movimento
O instrumento utilizado para a avaliação da e com intervalo de 30 segundos entre os movimentos;
autonomia funcional foi o protocolo proposto pelo 15 minutos de exercícios localizados resistidos com
Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para duas séries de 12 repetições com intensidade mode-
Maturidade (GDLAM)11, composto pelos testes de rada, utilizando halteres e caneleiras; 5 minutos com
caminhar 10 m (C10M), em que a avaliada deveria exercícios de equilíbrio no solo e estático, além de 25
caminhar 10 m na maior velocidade possível, sem minutos de exercícios aeróbicos; neste caso uma cami-
correr; levantar da posição sentada (LPS), em que a nhada moderada, concomitante com a recuperação.
avaliada parte da posição sentada e deve levantar e Para o controle da intensidade do exercício físico, foi
assentar cinco vezes consecutivas no menor tempo; utilizada a escala de OMNI-RES, devidamente trei-
levantar da posição em decúbito ventral (LPDV), em nada e familiarizada, na qual a numeração de 3 a 5 foi
que a avaliada parte da posição deitada em decúbito a intensidade programada para este estudo. A escala
ventral e, ao sinal acordado, deve ficar de pé no menor de OMNI-RES apresenta ilustrações com levanta-
tempo; levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa mento de peso, para que o indivíduo avaliado faça
(LCLC), em que a avaliada parte da posição sentada associações com o esforço percebido12,13.
sem o apoio dos pés no chão e, ao sinal previamente
Para a verificação da normalidade das variáveis, foi
estabelecido, deve circular um cone a quatro metros
utilizado o teste de Shapiro-Wilk. Para a verificação
atrás da cadeira e três metros ao lado direito, voltando
de possíveis diferenças entre o pré e o pós-teste, foi
à posição inicial, e imediatamente repetir o mesmo
utilizada a ANOVA (two way), seguida do teste post-
trajeto para o lado esquerdo, estando também a qua-
hoc de Tuckey. Foi considerado um p < 0,05, sendo
tro metros de distância atrás da cadeira e três metros
à esquerda, voltando imediatamente à posição inicial. utilizado para a análise dos dados o programa SPSS
Nesse teste, a avaliada deve repetir o percurso duas for Windows, versão 15.0.
vezes para cada lado, finalizando na posição inicial, O presente trabalho atende às Normas para
vestir e tirar uma camisa (VTC). Esse teste inicia com Rea­lização de Pesquisa em Seres Humanos, Reso-
a avaliada em pé segurando uma camisa com uma das lução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de
mãos e, ao sinal acordado, deve vestir e tirar a camisa 10/10/1996, e foi submetido ao Comitê de Ética em
no menor tempo. Pesquisa envolvendo seres humanos, da Universidade
O GC manteve seus afazeres diários normais, em Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, sob o
todo o período do estudo, respeitando-se aqueles número 0284.0.180.000-08.
que costumavam fazer suas caminhadas matinais. Os
participantes dele se comprometeram a não fazer ne-
nhuma atividade física sistematizada que envolvesse RESULTADOS
trabalhos de força e/ou de flexibilidade, durante as 16
semanas de experimento até a realização do pós-teste. A tabela 1 apresenta os resultados no pré e no pós-
teste da PA e do IMC obtidos por grupo.
O GE foi submetido a 16 semanas de exercícios
físicos, e o programa contemplou a prática de cami- Para a PA, verifica-se que no GE a PAS e PAD
nhada, exercícios de flexibilidade, exercícios localiza- apresentaram decréscimo (PAS pré-teste: 145,3 ±
dos, exercícios de equilíbrio e jogos lúdicos. 14,3 e pós-teste: 136,2 ± 10,9), já para o GC não
houve melhora significativa dos valores da PAD (92,1
As aulas aconteceram três vezes por semana em ± 7,5 para 91,0 ± 8,1), porém a PAS apresentou que-
dias alternados, sempre nos mesmos horários, e tive-
da (147,8 ± 12,2 para 140,1 ± 12,8).
ram duração de 60 a 70 minutos cada, com intensi-
dade moderada. Cada sessão foi composta de cinco Quando avaliados os resultados do GE em relação
minutos de aquecimento, de forma lúdica, com ati- ao GC, observou-se que houve diferenças (PAS do
vidades de baixa intensidade, em que as voluntárias GC no pós-teste 140,1 ± 12,8 e do GE 136,2 ± 10,9 e
deveriam passar duas bolas de plástico para qualquer PAD do GC no pós-teste 91,0 ± 8,1, enquanto o GE
participante do estudo no menor tempo possível, re- apresentou o seguinte valor: 85,9 ± 8,6).
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Para o IMC, antes e após o treinamento, houve DISCUSSÃO


diferença significativa entre o pré e o pós-teste para
o GE (29,0 ± 5,2, passando para 28,4 ± 5,1), não O presente estudo encontrou melhorias nos parâmetros
ocorrendo o mesmo para o GC (29,3 ± 4,2, passando analisados, resultado esse encontrado por causa do trei-
para 29,3 ± 4,3). namento, que consistia da prática de atividades combi-
Quando avaliados os resultados do GE com o GC, nadas monitoradas pela escala de OMNI-RES12,13.
observou-se que houve diferença no pós-teste (28,4 ±
Para autonomia funcional, o GE apresentou me-
5,1 para o GE e 29,3 ± 4,3 para o GC) no que se
lhoras significativas em comparação com o pré-teste
refere ao IMC após a intervenção.
e com o GC, mesmo assim continuou com classifica-
A tabela 2 apresenta os resultados no pré e no pós- ção de fraco, com exceção do teste LPS, que passou à
teste de autonomia funcional. Para o GE, verifica-se classificação de regular. O GC se manteve muito pró-
que houve melhora em todos os testes do protocolo ximo dos valores iniciais, sem diferenças, continuan-
de GDLAM, o que não ocorreu no GC. Quando ava- do todos na mesma classificação do GE no pré-teste.
liados os resultados do GE com o GC, observou-se Quando apresentados os resultados de acordo com
que houve diferença (p < 0,05) em todos os testes do os achados do estudo, pôde-se perceber claramente
GDLAM. a explicação anterior, visto que a divisão dos testes
A tabela 3 traz os resultados originais do protocolo de autonomia funcional proposta pelo protocolo de
de GDLAM e nela se podem comparar os resultados. GDLAM facilita esse entendimento. No teste C10m

Tabela 1. Média e desvio-padrão dos resultados obtidos no pré e pós-teste para PA e IMC
Grupo controle Grupo experimental
Variável Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
PAD (mmHg) 92,1 ± 7,5 91,0 ± 8,1 95,8 ± 8,6 85,9 ± 8,6*†
PAS (mmHg) 147,8 ± 12,2 140,1 ± 12,8* 145,3 ±14,3 136,2 ± 10,9*†
IMC 29,3 ± 4,2 29,3 ± 4,3 29,0 ± 5,2 28,4 ± 5,1*†
PAD: pressão arterial diastólica; PAS: pressão arterial sistólica; IMC: índice de massa corpórea.
*: diferença significativa (p < 0,05) para o pré-teste no mesmo grupo; †: diferença significativa (p < 0,05) para o grupo de controle no mesmo momento.

Tabela 2. Média e desvio-padrão dos resultados obtidos no pré e pós-teste para autonomia funcional
Grupo controle Grupo experimental
Variável Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
C 10m (S) 11,3 ± 5,2 11,2 ± 5,5 10,4 ± 4,5 7,9 ± 2,3*†
LPS (S) 13,4 ± 5,0 12,9 ± 5,2 12,4 ± 4,3 10,5 ± 3,0*†
LPDV (S) 8,1 ± 4,5 8,3 ± 5,2 7,9 ± 4,3 6,2 ± 3,6*†
LCLC (S) 62,8 ± 17,2 63,8 ± 17,4 63,8 ± 16,5 55,8 ± 12,3*†
VTC (S) 17,8 ± 8,3 17,3 ± 8,2 18,9 ± 8,7 15,6 ± 6,9*†
C 10m: caminhar 10 metros; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição de decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se
pela casa; VTC: vestir e tirar uma camisa.
*: diferença significativa (p < 0,05) para o pré-teste no mesmo grupo; †: diferença significativa (p < 0,05) para o grupo controle no mesmo momento.

Tabela 3. Padrão de avaliação da autonomia funcional proposta pelo protocolo GDLAM


Testes C10m LPS LPDV VTC LCLC
Classif. (seg) (seg) (seg) (seg) (seg)
Fraco + 7,09 + 11,19 + 4,40 + 13,14 + 43,00
Regular 7,08-6,34 11,18-9,55 4,40-3,30 13,13-11,62 43,00-38,69
Bom 6,33-5,71 9,54-7,89 3,29-2,63 11,61-10,14 38,68-34,78
M. Bom < 5,71 < 7,68 < 2,63 < 10,14 < 34,78
Efeito de atividades físicas combinadas para idosos 73

para o GE, os resultados após a intervenção contaram pessoas com idades avançadas, melhorando com isso
com uma diminuição no tempo para a realização dele as possibilidades de independência, fazendo com que
de aproximadamente 2,5 segundos (s), enquanto para essa população consiga ter longevidade com qualida-
o GC não foram obtidas diferenças. de e autonomia para suas atividades cotidianas, indo
Em relação ao teste LPS, o GE teve uma queda na mesma direção dos resultados apresentados nesta
aproximada de 2,0 s, enquanto o GC, de 0,5 s. Para pesquisa.
o teste LPDV, o GE apresentou uma queda de 1,7 s, Em relação à PA, ficou evidenciado que ocorreram
enquanto o GC praticamente não obteve diferen- melhoras significativas na PAS e PAD no GE com a
ças. No teste LCLC, o GE apresentou uma queda de prática de atividades físicas combinadas, enquanto o
aproximadamente 8 s, enquanto o GC teve um leve GC apenas apresentou tal diferença na PAS.
aumento de 1 s. No teste VTC, o GE teve uma queda
Monteiro et al.6 investigaram os efeitos de um pro-
de 3,3 s, enquanto o GC apresentou uma queda de
0,5 s. Tendo esses valores em vista, ficou evidenciada a grama de condicionamento físico em mulheres hiper-
importância das atividades realizadas no experimento tensas sobre perfil metabólico e níveis de pressão, do
quanto à diminuição dos tempos para realização dos qual participaram 16 mulheres hipertensas sob trata-
testes propostos pelo protocolo de GDLAM. Ficou mento farmacológico regular, sendo submetidas a qua-
evidenciado também que o GC não obteve diferenças tro meses de um programa de exercícios aeróbicos e de
significativas em seus resultados, sendo que pequenas alongamento (3 sessões/semana, 90 min/sessão, 60%
alterações encontradas podem ser explicadas talvez de VO2máx); diversas variáveis físicas e metabólicas
pela familiarização com os testes. foram comparadas antes e depois de 4 meses de treina-
mento. O treinamento diminuiu significativamente a
As atividades neuromusculares, aeróbicas e de pressão arterial sistólica (PAS – 6%); melhorou o con-
equilíbrio trabalhadas numa mesma sessão de treino se dicionamento cardiorrespiratório (+42%), a flexibilida-
mostraram efetivas na diminuição do tempo para reali- de (+11%) e o conteúdo de glicose plasmática (-4%).
zação dos testes propostos pelo protocolo de GDLAM IMC e percentual de gordura não tiveram diferenças
e consequentemente em possíveis melhoras das ativi- significativas. Além de modificar o perfil metabólico,
dades de vida diária (AVD), mostrando que a regula- observou-se que o treinamento apresentou correlações
ridade de uma vida ativa tende a ser uma ferramenta significativas entre os valores iniciais individuais de nível
positiva para um envelhecimento bem-sucedido8,9. de colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade
No estudo de Lyra et al.14, em que se comparou a (HDL-C) e lipoproteína de baixa densidade (LDL-C)
autonomia funcional de idosos praticantes e não pra- e suas respostas após exercício. Assim, os programas
ticantes de treinamento combinado, encontraram-se de exercício podem ser personalizados para pacientes
resultados significativamente superiores no grupo ati- hipertensos e confirmam a efetividade do exercício so-
vo, em que foi verificado que os dois grupos de idosos bre a PA, o condicionamento físico, a flexibilidade e o
conseguiram realizar os testes propostos, sendo que o perfil lipídico em pacientes hipertensos. A redução ex-
teste LPDV foi realizado em menor tempo por ambos pressiva de PA em sujeitos hipertensos sugere que essa
os grupos. Os resultados de todos os testes apresenta- intervenção de exercícios deve ser enfatizada.
ram diferenças significativas nos tempos de execução, No estudo de Mattos Pinto et al.18, foi verificado
diferenciando a classificação entre os grupos. O grupo que o exercício físico tem sido aceito como estratégia
praticante obteve a classificação “muito bom” nos tes- complementar no tratamento da hipertensão arterial.
tes LPDV e VTC, bom no LPS e regular no C10m e Foram investigados os efeitos de dois programas não
LCLC. Os não praticantes apresentaram desempenho formais de exercício sobre a pressão arterial, apti-
muito bom no teste VTC, regular no LPDV e fraco dão física e perfil bioquímico sanguíneo de adultos
no C10m, LPS e LCLC. Esses resultados mostraram hipertensos. Foram acompanhados por 18 meses
a importância do treinamento combinado e sua rela-
participantes de um programa de exercícios não su-
ção positiva com as AVD.
pervisionado e outro de tipo comunitário. As variá-
Verificou-se que os resultados do presente estudo veis analisadas foram medidas trimestralmente e os
apontaram para melhoras significativas nas AVD, cor- resultados encontrados indicaram que ambos os pro-
roborando outros experimentos que demonstraram a gramas tiveram efeitos positivos, principalmente na
melhora15,16. De acordo com Buckwater17, a ativida- composição corporal. Para PA, apesar de identifica-
de física regular consegue frequentemente retardar dos estatisticamente os resultados, estes se revelaram
ou reverter o decréscimo de mobilidade, decréscimo menos consistentes e não houve efeitos importantes
esse que contribui para doenças e incapacidades em sobre o perfil bioquímico sanguíneo.
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Em idosos, a realização de atividades ocupacionais, sendo verificadas melhoras na autonomia funcional,


lazer e participação grupal demonstrou ser importan- na PA e no IMC.
te para o tratamento da hipertensão arterial19. O estudo em questão é de grande relevância, visto
A diminuição do peso corporal e consequente- que a população vem envelhecendo rapidamente. Para
mente do IMC mostra-se um bom preditor de lon- que estejamos preparados a oferecer maiores possibi-
gevidade e qualidade de vida20-22. Na avaliação da lidades de um envelhecimento bem-sucedido, com
antropometria, as voluntárias foram submetidas às se- saúde, qualidade de vida e diminuição dos gastos dos
guintes avaliações: peso, estatura e cálculo do IMC. cofres públicos, atividades físicas combinadas tendem
a ser uma importante ferramenta no combate aos
Em nosso estudo, os valores médios encontram-se efeitos deletérios do envelhecimento. Recomenda-se,
acima dos recomendados pela OMS10, que deve ficar portanto, trabalhar o máximo das capacidades físicas
abaixo de 25 kg/m². Acima desse valor, pode haver possíveis, para evitar maiores problemas e aumentar a
indícios de relação com o surgimento de doenças. Os expectativa de vida com qualidade.
valores finais da pesquisa foram de 28,40 ± 5,16 para
o GE e de 29,35 ± 4,30 para o GC, o que ainda ficou
acima do recomendado pela OMS. Mas com a inter- REFERÊNCIAS
venção da prática regular de atividades físicas com-
binadas, em que foram trabalhadas as capacidades 1. Parahyba MI, Simões CCS. A prevalência de incapacidade funcio-
físicas sugeridas pelos posicionamentos científicos23, nal de idosos no Brasil. Cienc Saude Colet. 2006;11(4):967-74.
o GE teve uma queda se comparado com ele mesmo 2. World Health Organization. Health Evidence Network. What are the
main risk factors for disability in old age and how can disability be
no início do experimento e com o GC, o mesmo não prevented. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2004.
ocorrendo com o GC. Nesse aspecto, verificou-se a 3. Mazini Filho ML, Ferreira RW, César EP. Os benefícios do treina-
eficiência de um programa de exercícios para idosos mento de força na autonomia funcional do indivíduo idoso. Rev
no que diz respeito à diminuição do IMC e seus be- Educ Fís. 2006;134:57-68.
nefícios diretamente obtidos com tal processo. 4. Matsudo SM, Matsudo VKR, Barros Neto TL. Impacto do envelhe-
cimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabó-
Matsudo et al.24 afirmaram que, com o passar dos licas da aptidão física. Rev Bras Cienc Mov. 2000;8(4):21-32.
anos, o idoso tem uma perda de massa muscular, po- 5. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão MB, Lazzoli JK,
rém um aumento de gordura corporal, o que repercute Nahas RM, et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira
de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e
no ganho ou perda de peso. Entretanto, evidencia-se Gerontologia: atividade física e saúde no idoso. Rev Bras Med
que a atividade física regular pode ser um componen- Esporte. 1999;5(6):207-11.
te fundamental no processo de controle do peso e da 6. Monteiro HL, Rolim LMC, Squinca DA, Silva FC, Ticianeli CCC,
gordura corporal durante o envelhecimento20-22. Amaral SL. Efetividade de um programa de exercícios no condi-
cionamento físico, perfil metabólico e pressão arterial de pacien-
Uma possível limitação para o presente estudo foi tes hipertensos. Rev Bras Med Esporte. 2007;13(2):107-12.
a falta de controle do uso de fármacos e a parte nutri- 7. Arent SM, Landers DM, Etnier JL. The effects of exercise on
mood in older adults: a meta-analytic review. J Aging Phys Act.
cional dos voluntários nos dois grupos apresentados 2000;8:407-30.
(GE e GC). Mas essa falta de controle não influencia 8. Vale RGS, Barreto ANG, Novaes JS, Dantas EHM. Efeitos do
nos resultados encontrados neste estudo, pois um pro- treinamento resistido na força máxima, na flexibilidade e na au-
grama de atividade física também é capaz de mostrar tonomia funcional de mulheres idosas. Rev Bras Cineantropom
resultados positivos sobre os parâmetros metabólicos e Desempenho Hum. 2006;8(4):52-8.
antropométricos25. Para resultados mais satisfatórios, 9. Vale RGS, Novaes JS, Dantas EHM. Efeitos do treinamento de
força e de flexibilidade sobre a autonomia de mulheres senes-
um trabalho multidisciplinar tende a ser promissor em centes. Rev Bras Cienc Mov. 2005;13(2):33-40.
pesquisas futuras com as mesmas verificações realizadas 10. World Health Organization. Obesity: preventing and managing
no presente estudo, bem como a realização do mesmo the global epidemic. Report of the WHO Consultation on Obesity.
experimento por períodos mais prolongados e maiores Geneva: World Health Organization; 1998.
níveis de intensidade na prescrição dos exercícios. 11. Vale RGS, Pernambuco CS, Dantas EHM. Protocolo GDLAM de
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CONCLUSÃO
13. Robertson RJ, Goss FL, Rutkowski J, Lenz B, Dixon C, Timmer J, et
al. Concurrent validation of the OMNI perceived exertion scale of
Conclui-se que, por meio dos resultados desta pes- resistance exercise. Med Sci Sports Exerc. 2003;35:333-41.
quisa, atividades físicas combinadas exerceram im- 14. Lyra RGS, Ramiro L, Nunes Junior PC, Santos Filho SD. Com-
portante papel na melhoria geral de saúde de idosas, paração da autonomia funcional de idosos praticantes e não
Efeito de atividades físicas combinadas para idosos 75

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