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Bernardo Minelli Rodrigues et al.

Influência de sessões de alongamento sobre os níveis de


flexibilidade de idosos sedentários
Bernardo Minelli Rodrigues*, Rodrigo Almeida Aguiar**, Gabriela Rezende de Oliveira Venturini*** ,
Dihogo Gama de Matos****, Felipe José Aidar*****, Mauro Lúcio Mazini Filho******

Resumo
O envelhecimento é um fenômeno fisio- da amostra mediante o teste de Shapiro
lógico que afeta drasticamente todo o or- Wilk e o teste t para amostras pareadas
ganismo, principalmente as qualidades (p < 0,05), sendo utilizado o SPSS® for
físicas: força, flexibilidade, indicadores Windows 15.0. Foram registradas diferen-
antropométricos e cardiorrespiratórios. O ças estatísticas significativas, evidencian-
objetivo deste estudo foi analisar a treina- do um ganho considerável na amplitude
bilidade da flexibilidade em idosos subme- articular do quadril após a utilização das
tidos a sessões de alongamentos. Partici- sessões de alongamentos na região coxo-
param do estudo dez indivíduos (n = 10) femoral. No pré-teste, foi encontrada uma
do gênero masculino, escolhidos aleato- média de 39,80 ± 7,8 graus na articulação
riamente, com idade entre 62 e 68 anos, do quadril. No final das doze semanas
que não tivessem participado de progra- de aplicação do alongamento (pós-teste),
mas com exercícios de alongamento. As observou-se média de 55,80 ± 7,3 graus.
intervenções ocorreram ao longo de doze Concluiu-se que houve um ganho signifi-
semanas, duas vezes por semana, tendo cativo na amplitude articular dos partici-
cada sessão de exercícios duração de 30 pantes, evidenciando que a realização de
a 45 minutos. O IPAQ (classificação como exercícios de alongamento reflete em be-
sedentários) e liberação médica foram uti- nefícios à amplitude angular e melhora nos
lizados como critério de inclusão. Foram níveis de flexibilidade.
realizados o pré e o pós-teste por meio da
avaliação de goniometria coxofemoral. Palavras-chave: Idosos. Envelhecimento.
Foi feita a verificação da homogeneidade Flexibilidade.

*
Docente do curso de Ed. Física das Faculdades Sudamérica, Cataguases - MG e docente da Funita,
Itaperuna - RJ. Endereço para correspondência: Rua Edson Barbosa Resende, 49, Esteves, CEP:
36700-000, Leopoldina – MG. E-mail: bernadimmr@yahoo.com.br.
**
Discente do curso de Pós-Graduação em Personal Trainer e prescrição de exercícios para grupos
especiais pelo Centro Universitário de Volta Redonda - UNIfoa - Unidade IF.
***
Discente do curso de Bacharel em Educação Física pela Faculdade de Minas - Faminas, Murié - MG.
****
Mestre em Educação Física e Desporto, Doutorando em Ciências do Desporto pela Universidade
Trás-os-Montes e Alto Douro, UTDA - Portugal.
*****
Doutor em Ciências do Desporto pela Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal. Docente
do curso de Educação Física pela Universidade Presidente Antônio Carlos, Unipac, Uberlândia - MG e
docente do curso de Educação Física pelo Centro Universitário do Triângulo, Unitri, Uberlândia - MG.
******
Mestre em Educação Física e Desporto, doutorando em Ciências do Desporto pela Universidade
Trás-os-Montes e Alto Douro, UTad, Portugal. Docente do curso de Educação Física das Faculdades
Sudamérica, Cataguases - MG, do curso de Educação Física da Presidente Antônio Carlos, Fapac,
Leopoldina - MG. Docente das Faculdades Integradas de Cataguases, FIC/UNIS, Cataguases - MG.
doi:10.5335/rbceh.2012.022

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Influência de sessões de alongamento sobre os níveis de flexibilidade de idosos sedentários

Introdução mesmos autores demonstraram o quão


benéfico é para a pessoa idosa a combi-
O Instituto Brasileiro de Geografia nação das valências físicas numa mesma
e Estatística (IBGE, 2004) afirma que, sessão de treinamento, conforme aborda
entre 1950 e 2025, a população de idosos o presente experimento.
crescerá 16 vezes, enquanto a população Os exercícios de alongamento, em-
total aumentará somente 5 vezes. bora não previnam diretamente a ocor-
O corpo humano requer uma postura rência de lesões (VAUGHAN; DAVIS;
estável e balanceada com suporte para O’CONNOR, 1993; ANDERSEN, 2005),
exercer seus movimentos coordenados e auxiliam no aumento e na manutenção
suas diversas funções. (CAÇADO, 1999). da amplitude de movimentação articular
O envelhecimento é um fenômeno fisio- (ALTER, 1999; GRAHAM, 2000; MATOS
lógico que afeta drasticamente todo o or- et al., 2012), podendo diminuir a limi-
ganismo, principalmente as qualidades tação mecânica causada por alterações
físicas: força, flexibilidade, indicadores nas características viscoelásticas da
antropométricos e cardiorrespiratórios. muscula­tura em atividades dinâmicas.
(PAPALEO NETTO, 2002; MAZINI FI- (VIEL, 2001). Contudo, ainda se perce-
LHO et al., 2006). bem algumas lacunas na literatura, pelo
Mazini Filho et al. (2010) e Zakas fato de haver poucos trabalhos tratando
et al. (2001) demonstraram que as dos alongamentos relacionados aos adul-
modificações sofridas no processo do tos e idosos na população brasileira. Sen-
envelhecimento estão diretamente re- do assim, o objetivo do presente estudo
lacionados à diminuição da autonomia foi analisar alterações na flexibilidade de
e da independência funcional dos indi- idosos antes e depois de serem submeti-
víduos, o que acaba por comprometer dos a sessões de alongamentos durante
as capacidades físicas dos idosos. Pro- doze semanas.
gramas de exercícios físicos de alonga-
mento e flexibilidade são contemplados
e tendem a permitir que essas pessoas Materiais e métodos
apresentem nível funcional relativamen-
te melhor, oferecendo maior proteção Amostra
contra diversas patologias e fatores de
Participaram do estudo dez volun-
risco, particularmente os relacionados
tários (n = 10) do gênero masculino
ao sistema osteomioarticular. (SCHU-
com idade entre 62 e 68 anos (± 2,3
BACK; HOOPER; SALISBURY, 2004;
anos), que não estavam engajados em
MATOS et al., 2012). Atividades de força
outros programas de atividades físicas
muscular e exercícios aeróbicos também
sistematizadas, a não ser caminhadas
fazem parte de estratégias que visam à
esporádicas.
independência funcional e à manutenção
das capacidades físicas dessa população.
(MAZINI FILHO et al., 2010). Esses

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Tabela 1 - Dados antropométricos dos indivíduos.

N Idade (anos) Peso (kg) Estatura (cm) IMC (kg.m-2)

Voluntários 10 66,2 ± 10,8 55 ± 6 165 ± 8 18 ± 5

Como critério de inclusão no estudo,


Instrumentos
estabeleceu-se a liberação médica. Além
disso, os participantes deveriam ser do
gênero masculino e ter ida­de superior a Flexibilidade
60 anos por ocasião do início da pesqui- Foi utilizado o protocolo de gonio-
sa. Os pesquisados que apresentaram metria proposto pelo Labifie (DANTAS;
alguma patologia somente foram acei- CARVALHO; FONSECA, 1997), para
tos no programa estando clinicamente verificação da capacidade máxima de
estáveis. Foram incluídos no estudo amplitude articular, em graus, no mo-
apenas os su­jeitos classificados como vimento de flexão da articulação coxo-
insuficientemente ativos ou sedentários. femoral (quadril) unilateralmente nos
Como critérios de exclusão, utilizou- voluntários. O goniômetro utilizado para
-se: problemas osteomioarticulares que tomada das medidas de flexibilidade foi
comprometessem a execução das ativi- o Lafayette® (USA), que registra uma
dades ou que apresentassem poten­cial amplitude articular de 360°. A flexibili-
risco de agravamento pelo programa de dade foi mensurada de maneira passiva,
exercícios físicos propostos; intervenção e a escolha da articulação deu-se pelo
cirúrgica para revascularização; reposi- fato de o processo deletério do envelhe-
ção hormonal; uso de qualquer tipo de cimento acometer principalmente as
ergogênico ilícito. O estudo não controlou fibras de contração rápida, promovendo
a dieta dos participantes, nem foi utili- diminuição da flexibilidade dos membros
zado como critério de exclusão o uso de inferiores, o que acarreta dificuldades
fármacos de forma continuada ou não, na deambulação. (MAZINI FILHO et
uso este devido a problemas crônicos ou al., 2006).
agudos, principalmente em decorrência
de problemas em consequência do enve- Antropometria
lhecimento.
Para as variáveis antropométricas,
O presente trabalho atende às Nor-
todos os indivíduos foram medidos e
mas para Realização de Pesquisa em
pesados descalços, trajando roupas le-
Seres Humanos, Resolução 196/96, do
ves numa balança Filizola Brasil® com
Conselho Nacional de Saúde, e foi sub-
precisão de 100 g. A medida de estatura
metido ao Comitê de Ética em Pesquisa
foi realizada em estadiômetro da marca
da Universidade Federal de Juiz de Fora,
Sanny® com precisão de 1 cm. O avalia-
Minas Gerais, Brasil, obtendo aprovação
do foi posicionado no estadiômetro com
sob o número 0284.0.180.000-08. braços estendidos ao longo do corpo, pés

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unidos e centralizados, cabeça, nádegas e por semana, porém de maneira


calcanhares encostados na parede e com insuficiente para ser classificado
os olhos mantidos no plano horizontal como ativos. Para classificar os
(plano de Frankfört). Com base nessas indivíduos nesse critério, são so-
medidas, o índice de massa corporal madas a duração e a frequência
(IMC) foi determinado pelo quociente dos diferentes tipos de atividades
de massa corporal/(estatura), sendo a (caminhadas + moderada + vigo-
massa corporal expressa em quilogramas rosa). Essa categoria divide-se em
(kg) e a estatura, em metros (m). dois grupos:
– ativo: cumpre as seguintes re-
Nível de atividade física comendações: a) atividade física
Para a verificação do nível de ativi- vigorosa – > 3 dias/semana e > 20
dades físicas, foi utilizado o Internatio­nal minutos/sessão; b) moderada ou
Physical Activity Questionnaire (IPAQ), caminhada – > 5 dias/semana e
na versão curta, contendo perguntas em > 30 minutos/sessão; c) qualquer
relação à frequência e à duração das atividade somada: > 5 dias/semana
atividades físicas. Os indivíduos foram e > 150 min/semana;
classificados como muito ativos, ativos, – muito ativo: cumpre as seguintes
irregularmente ativos e sedentários, com recomendações: a) vigorosa – > 5
base em respostas a questões fechadas. dias/semana e > 30 min/sessão;
As pergun­t as do questionário estão b) vigorosa – > 3 dias/semana e
relacionadas às atividades realizadas > 20 min/sessão + moderada e ou
na semana anterior à sua aplicação. Os caminhada 3 a 5 dias/semana e >
participantes tiveram seus dados tabu- 30 min/sessão.
lados, avaliados e foram posteriormente Procedimentos
classificados de acordo com a orientação
do próprio IPAQ. O questionário visa à Intervenção
classificação dos indivíduos quanto à
Os voluntários foram submetidos a
prática de atividades físicas, sendo divi-
avaliação médica e, após a liberação para
dido desde sedentários até muito ativos,
a prática da atividade física, foi realizada
conforme a classificação a seguir:
a avaliação do nível de atividade física
Classificação do IPAQ por meio do IPAQ, por um único avalia-
dor com experiência mínima de 20 testes,
– sedentário: não realiza qualquer somente tendo sido aceitos no programa
atividade física por pelo menos os classificados como sedentários.
10 minutos contínuos durante a Após a inclusão no programa, os
semana; voluntários realizaram sessões de alon-
– insuficientemente ativo: consiste gamento por doze semanas, com a frequ-
em classificar os indivíduos que ência de duas vezes semanais e duração
praticam atividades físicas por de 30 a 45 minutos. Cada sessão envolveu
pelo menos 10 minutos contínuos alongamentos passivos na região coxofe-

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moral, contendo 10 segundos por série, ducação postural global (RPG). O goni-
para ganho de amplitude articular e alon- ômetro foi colocado em seu eixo central
gamento muscular. Foram realizados três ao nível do trocanter maior do fêmur,
exercícios de alongamento, alternando os com uma haste fixa na parte lateral do
hemisférios. Contudo, o programa ainda tronco sobre o prolongamento da linha
contava com um aquecimento com ativa- axilar, e a outra, na face externa da coxa
ção cardiocirculatória aeróbica (5 min); em sua linha mediana, aplicando-se duas
exercícios de resistência adaptados (10 avaliações.
min); atividades de coordenação (15-20 Na primeira avaliação realizada,
min); exercícios respiratórios e de rela- estabilizou-se o membro contralateral
xamento (5-10 min); e hidratação em dois na tentativa de se evitar possíveis in-
momentos distintos (25 minutos após o terferências nos resultados da região
início e ao final da sessão). Vale ressal- coxofemoral. Os resultados obtidos da
tar que a prática sistematizada entre medida de cada voluntário foram regis-
os exercícios realizados foi escolhida de trados em uma ficha de avaliação para
acordo com as sugestões de Mazini Filho posterior reavaliação.
et al. (2010), que abordaram exercícios Ao término do período de aplicação
físicos combinados para verificação de va- das sessões de alongamentos na região
riáveis físicas e fisiológicas. No presente coxofemoral, foi realizado um pós-teste
experimento, optou-se apenas por men- na amostra, utilizando o mesmo proto-
surar a capacidade física flexibilidade. É colo (DANTAS; CARVALHO; FONSE-
possível que a soma dos exercícios físicos CA, 1997) do pré-teste para registrar a
realizados exerça potenciais resultados amplitude articular atual do quadril de
finais em nossa variável investigada, todos os voluntários.
podendo essas outras atividades pres- Os resultados da reavaliação foram
critas ser consideradas como limitações cuidadosamente analisados e compara-
de nosso estudo, uma vez que não foram dos com os da avaliação inicial, obtendo-
controlados grupos que praticaram -se, assim, conclusões expressivas. Todas
apenas atividades de alongamentos na as avaliações no pré e pós-teste foram
região coxofemoral. realizadas em laboratório climatizado
As medidas foram tomadas antes do com temperatura ambiente mantida
início do programa e após 12 semanas entre 16 e 20 oC e obedeceram a uma
de intervenção, sempre pelo mesmo reprodutividade parecida, sendo reali-
pesquisador, respeitando, também, os zadas no período da tarde, às 16h. No
mesmos horários. dia da avaliação, conforme orientação
recebida, nenhum voluntário havia
Flexibilidade praticado qualquer atividade física, para
Para o teste de flexibilidade do qua- evitar ganhos ou perdas nos resultados
dril com o grupo de idosos, a medida foi encontrados entre os testes.
feita com cada voluntário deitado em
decúbito dorsal em uma maca de ree-

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Influência de sessões de alongamento sobre os níveis de flexibilidade de idosos sedentários

Estatística Discussão
A verificação da homogeneidade da No presente estudo, constatou-se
amostra foi feita por meio do teste de que todos os indivíduos apresentaram
Shapiro Wilk. Diante da normalidade, melhoras significativas na flexibilidade,
procedeu-se ao teste t para amostras da ordem de 39,80 ± 7,8 graus para 55,80
pareadas. Adotou-se como nível de ± 7,3 graus. O programa de atividade
significância p<0,05, utilizando para a física proposto, associado à utilização
análise o programa SPSS® for Windows das sessões de alongamentos na região
versão 15.0. coxofemoral, mostrou-se eficiente em ga-
nhos de amplitude de movimento dessa
Resultados articulação nos idosos participantes.
Segundo Shephard (1998), durante a
A análise e a comparação dos dados
vida ativa, adultos tendem a perder cer-
coletados no pré e pós-teste evidencia-
ca de 8 a 10 centímetros de flexibilidade
ram diferenças estatísticas relevantes,
na região lombar e no quadril, quando
assinalando um ganho considerável na
medidos por meio do teste de alcance
amplitude articular do quadril após a
máximo “sit and reach”. Os fatores que
utilização das sessões de alongamentos
contribuiriam para essa perda seriam
na região coxofemoral dos idosos me-
a maior rigidez de tendões, ligamentos
diante a intervenção proposta (Figura 1).
e cápsulas articulares, devido a defi-
ciências no colágeno. O mesmo autor
menciona que a restrição na amplitude
do movimento das grandes articulações
progride de forma mais enfática com
o envelhecimento, e, muitas vezes, a
independência funcional acaba por ser
diminuída. Assim, uma das estratégias
para conservar a flexibilidade consiste
Figura 1 – Avaliação da amplitude articular,
na realização de movimentos em toda a
em graus, no movimento de flexão amplitude das principais articulações.
da articulação coxofemoral. Geraldes et al. (2008) investigaram
* diferença significativa p<0,0001 pré e pós-teste. a relação entre a amplitude articular
da flexão e extensão das articulações
No pré-teste, foi encontrada uma glenoumerais (GU) e coxofemorais (CF)
média de 39,80 ± 7,8 graus na articula- e o desempenho funcional (DF) em 22
ção do quadril. No final das 12 semanas idosas funcionalmente independentes e
de aplicação do alongamento (pós-teste), fisicamente ativas. Os autores consta-
observou-se média de 55,80 ± 7,3 graus, taram correlações significantes (p<0,05)
o que mostrou a eficiência da prescrição entre a flexibilidade ativo-assistida de
das atividades no presente experimento. CF e alguns testes específicos de DF.

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Nenhuma relação foi identificada para melhorar com os exercícios de alonga-


DF e GU. mento, interferindo diretamente, ainda,
De acordo com Cristopoliski et al. nas atividades da vida dos idosos.
(2008), o processo do envelhecimento Farinatti e Lopes (2004) verificaram
seria caracterizado pela redução grada- a associação de amplitude e cadência
tiva da eficiência do aparelho locomotor, do passo com componentes da aptidão
que ocorre pela diminuição na flexibili- muscular (flexibilidade, força e resis-
dade, dentre outros fatores. Ao verificar tência muscular de membros inferiores),
o efeito de uma sessão de exercícios de avaliando 25 mulheres de 60 a 86 anos
alongamentos dos músculos extensores de idade (média = 79 ± 7 anos). Os re-
e flexores do quadril sobre a marcha de sultados indicaram que a flexibilidade
indivíduos idosos, foram avaliadas cinco tem relação direta com a amplitude da
idosas (67,0 ± 3,8 anos; 1,59 ± 0,07 m; passada.
64,3 ± 15,3 Kg). A marcha dos sujeitos foi Matos et al. (2012), ao estudarem a
analisada antes e depois dos exercícios flexibilidade de mulheres de meia-idade,
de alongamentos. O protocolo consistiu compararam dois grupos que realizaram
em uma sessão de três séries de exer- treinamento em dois dias semanais e
cícios de alongamentos de 30 segundos outro que os realizou em três dias sema-
com o método estático, feitos para os nais. Verificaram que o grupo que mais
músculos flexores e extensores da ar- treinou obteve melhoras superiores ao
ticulação do quadril. Após a sessão de que menos treinou. Vale ressaltar que
flexibilidade, a marcha das participantes o instrumento aplicado pelos autores
apresentou menor pico de inclinação se diferencia do empregado na presente
anterior da pelve, maior pico de exten- investigação, pois naquele caso o teste
são e amplitude total de movimento da de sentar e alcançar foi o recurso utili-
articulação do quadril, maior amplitude zado, enquanto neste optou-se pelo uso
de movimento do joelho com maior ân- do goniômetro. Outra diferença está
gulo de flexão durante a fase de balanço relacionada ao gênero, pois o trabalho
médio e maior altura de separação do pé de Matos et al. (2012) teve como foco as
ao solo (aumento este de 28,6%). mulheres, ao passo que nesta investi-
Resultado semelhante foi encontrado gação os avaliados são homens. Outra
por Geraldes et al. (2007), que verifica- diferença a ser levada em consideração
ram a relação entre a flexibilidade mul- é que os autores realizaram um estudo
tiarticular e o desempenho funcional de por um período de 15 meses, enquanto
30 idosas (68 ± 1 anos) funcionalmente neste experimento adotou-se o período de
independentes e fisicamente ativas, 12 semanas apenas. Porém, em ambas
sendo constatadas correlações entre a as investigações, resultados satisfatórios
flexibilidade e atividades como amarrar foram encontrados na capacidade física
o sapato, bem como entre a flexibilidade flexibilidade.
e o desempenho funcional. Os autores A despeito de nossos achados, Ueno
concluíram que a flexibilidade tende a et al. (2000) demonstraram que 12 se-

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Influência de sessões de alongamento sobre os níveis de flexibilidade de idosos sedentários

manas de trabalho de alongamentos não study included 10 subjects, randomized, (n


seriam suficientes para o aumento da = 10), aged between 62 and 68 year old
flexibilidade em idosos. Assim, uma vez male, who had not participated in progra-
ms with stretching exercises. Were done 12
que a literatura ainda não é conclusiva weeks of intervention by stretching exerci-
no que se refere a tempo de intervenção ses performed twice a week, lasting betwe-
e modelos específicos de treinamento, en 30 and 45 minutes each session. The
mais investigações com o maior con- IPAQ (classified as sedentary) and medical
trole possível de variáveis devem ser release was used as criteria for inclusion.
Was performed pre and post test by evalu-
rigorosamente empreendidas, mediante
ating coxofemural goniometry. Was made
utilização de instrumentos e avaliações to verify the homogeneity of the sample
de populações de idosos ativos e inativos, through the Shapiro Wilk, t test for paired
para que sejam traçados resultados para samples, p<0.05, by using the spss for Win-
essa capacidade física de um modo geral. dows 15.0. Statistically significant differen-
ce was recorded, showing a considerable
gain in amplitude of the hip after the use of
Conclusão stretching sessions in the hip region. In the
pre-test found an average of 39.80 ± 7.8
Por meio da intervenção que con- degrees in the hip joint. At the end of 12
templou exercícios físicos combinados weeks of application of stretch (post-test),
numa mesma sessão de treinamento, there was an average of 55.80 ± 7.3 degre-
foi possível concluir que campos da uti- es. It was concluded that there was a sig-
nificant gain in joint range of participants,
lização de alongamentos específicos para
showing that the achievement of stretching
a região coxofemoral influenciaram de exercises, is beneficial with respect to am-
forma positiva no ganho de amplitude de plitude and angular improvement in levels
movimento dessa articulação por parte of flexibility.
dos idosos participantes. A realização
de outras pesquisas na mesma linha de Keywords: Elderly. Aging. Flexibility.
raciocínio seria altamente enriquecedora
para esclarecer algumas lacunas que Referências
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