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Vol.

ISSN9 1413-3555
No. 2, 2005 Equações de Referência para o Teste de Caminhada (TC6) em Idosos 165
Rev. bras. fisioter. Vol. 9, No. 2 (2005), 165-171
©Revista Brasileira de Fisioterapia

AVALIAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE REFERÊNCIA PARA PREDIÇÃO DA


DISTÂNCIA PERCORRIDA NO TESTE DE CAMINHADA DE SEIS
MINUTOS EM IDOSOS SAUDÁVEIS BRASILEIROS

Barata, V. F.,1 Gastaldi, A. C.,2 Mayer, A. F.2 e Sologuren, M. J. J.2


1
Fisioterapeuta
2
Centro Universitário do Triângulo, UNITRI, Uberlândia, MG, Brasil
Correspondência para: Ada Clarice Gastaldi, Av. Nicomedes Alves dos Santos, 4545, Bairro Gávea,
CEP 38.411-106, Uberlândia, MG
Recebido: 23/11/2004 – Aceito: 28/5/2005

RESUMO
Objetivo: O objetivo deste estudo foi comparar as distâncias percorridas por idosos brasileiros no teste de caminhada de seis minutos
(TC6) com as distâncias previstas pelas equações de Enright & Sherrill,9 de Troosters et al.10 e de Enright et al.8 Método: 38 idosos
saudáveis com idade entre 64 e 82 anos realizaram o TC6 duas vezes. A pressão arterial, as freqüências cardíaca e respiratória e
a saturação de oxigênio foram mensuradas antes e ao final do teste. A análise estatística empregou o coeficiente de correlação de
Pearson, sendo considerado significativo p < 0,05. Resultados: Os homens percorreram uma distância de 410,5 metros e as mulheres,
de 371,0 metros. As distâncias previstas pelas equações de Enright & Sherrill 9 e Troosters et al.10 correlacionaram-se com as distâncias
caminhadas pelas mulheres (r = 0,7), não apresentando correlação estatisticamente significativa com as distâncias percorridas pelos
homens. As distâncias previstas pela equação de Enright et al.8 correlacionaram-se com as distâncias percorridas por homens (r = 0,6)
e mulheres (r = 0,7). Conclusões: Os resultados demonstram que houve grande variação entre as distâncias percorridas por idosos
brasileiros e as previstas pelas equações, sendo necessária a realização de estudos adicionais para confirmar a aplicabilidade dessas
equações para a população idosa brasileira.
Palavras-chave: teste de caminhada de seis minutos, idosos, saudáveis.

ABSTRACT

Evaluation of the reference equations for predicting walking


distances during six-minute walk tests among healthy elderly Brazilian subjects
Objective: To compare the distances walked by elderly Brazilian subjects in the six-minute walk test with the walking distances
predicted by the reference equations of Enright & Sherrill, Troosters et al and Enright et al. Method: Thirty-eight healthy elderly
subjects aged 64-82 years participated in the trial twice. Arterial blood pressure, heart rate, respiratory rate, and oxygen saturation
were measured before and at the end of the test. The statistical analysis utilized Pearson correlation coefficients, and p < 0.05 was
considered significant. Results: The elderly men achieved longer walking distances than did the women (410.5 m vs. 371.0 m).
The walking distances predicted by the equations from Enright & Sherrill and Troosters et al. showed good correlations (r = 0.7;
p < 0.001) with the distances walked by the women, but not with the distances walked by the men. The walking distances predicted
by the equation from Enright et al. showed good correlations with the distances walked by men (r = 0.6; p < 0.05) and by women
(r = 0.7; p < 0.001). Conclusion: The results demonstrate that there is a large difference between the distances walked by elderly
Brazilian subjects and the distances predicted by the equations. Therefore, additional studies are needed in order to confirm the
applicability of these equations to elderly people in Brazil.
Key words: Six-minute walk test, healthy people, elderly people.

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INTRODUÇÃO são influenciados principalmente por variáveis como sexo,


peso, altura e idade.8, 9, 10 Moreira et al.11 e Soares et al.12
O teste de caminhada de seis minutos (TC6) é um teste utilizaram a equação proposta por Enright & Sherrill9 em
simples, barato, seguro e fácil de administrar, que utiliza indivíduos brasileiros e sugeriram cuidado na utilização dessas
uma atividade habitual do dia-a-dia e que tem sido comumente fórmulas.
empregado para avaliação do desempenho físico em pesquisas Para a população idosa têm sido empregadas as
clínicas.1,2 O teste mede a distância percorrida enquanto o equações de Enright & Sherrill 9 e de Troosters et al. 10
indivíduo é instruído a caminhar o mais rápido que consiga Recentemente, Enright et al.8 propuseram uma nova equação
em seis minutos. Ele avalia as respostas global e integrada para idosos saudáveis. Para a população idosa brasileira
dos sistemas envolvidos durante o exercício, incluindo os não foram encontrados trabalhos que avaliassem a
sistemas cardiovascular e respiratório, as circulações sistêmica aplicabilidade dessas equações, o que gerou a necessidade
e periférica, o sangue, as unidades neuromusculares e o deste estudo, que avalia e compara as distâncias previstas
metabolismo muscular, porém, não fornece informações pelas equações referidas com a distância percorrida por
específicas sobre a função de cada sistema envolvido no idosos saudáveis.
exercício ou sobre o mecanismo de limitação, o que é possível
por meio dos testes de desempenho máximo.3 METODOLOGIA
Para a maioria dos indivíduos, o TC6 é um teste
submáximo da capacidade funcional, pois a pessoa escolhe Trinta e oito idosos saudáveis (13 homens e 25
sua própria intensidade de exercício, sendo permitido que mulheres), não institucionalizados e com idade entre 64 e
pare e descanse durante sua execução. Grande parte de nossas 82 anos (Tabela 1), realizaram o TC6 duas vezes, com
atividades da vida diária é realizada em níveis submáximos, intervalo de 15 minutos entre os testes. Os participantes foram
sendo assim, o TC6 reflete bem a capacidade funcional para recrutados por meio de busca ativa em centros de convivência
as atividades de vida diária.3 para a terceira idade e em uma academia de hidroginástica
O desempenho no TC6 tem sido usado como uma e incluídos após a assinatura do termo de consentimento.
medida da capacidade cardiovascular ao exercício, As atividades desenvolvidas pelos idosos eram a dança ou
principalmente em indivíduos com insuficiência cardíaca a hidroginástica, com duração máxima de 90 minutos por
congestiva ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).2,4 semana, e atividades domésticas, sendo considerados
Recentemente, tem-se reconhecido que o TC6 pode ser um sedentários.
indicador da capacidade física global e da mobilidade em Este estudo é parte integrante de um projeto de mestrado
idosos e não apenas uma medida específica da capacidade já aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas em Humanos
cardiovascular.5 Duncan et al.6 relataram que o desempenho do Centro Universitário do Triângulo – UNITRI.
no TC6 difere significativamente entre homens idosos com Foram incluídas pessoas maiores de 60 anos, sendo
diferentes níveis de prejuízo à mobilidade e Harada et al.7 considerados saudáveis os idosos portadores das condições
relataram correlações moderadas entre o TC6 e as medidas crônicas do envelhecimento, mas sem incapacidades
de mobilidade, incluindo equilíbrio em pé, velocidade da relacionadas a essas condições.13 Os critérios de exclusão
marcha e força muscular de membros inferiores em pessoas foram: presença de sinais e sintomas de agudização das
de 65 anos ou mais, podendo ser usado como indicador da doenças crônicas do envelhecimento e/ou instabilidade clínica;
capacidade de deambulação na comunidade. necessidade de auxílio à marcha; alterações visuais, auditivas
Algumas equações têm sido propostas para predizer ou cognitivas importantes que impossibilitassem a
a distância percorrida no TC6, sendo que os valores esperados participação no teste; e recusa do idoso em realizar o teste.

Tabela 1. Caracterização da amostra.

Total Homens Mulheres


Número 38 13 25
Idade (anos) 71,4 (5,4) 73,3 (5,5) 70,3 (5,2)
IMC (kg/m2) 26,7 (4,1) 26,5 (3,6) 27,1 (4,3)
Dados referentes à idade e IMC expressos como média e (desvio-padrão).

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Foi solicitado aos participantes que comparecessem ao a saturação de oxigênio. A medida da saturação de oxigênio
local do teste utilizando seu calçado habitual. O TC6 foi realizado foi feita por oxímetro de pulso da marca Nonin Medical Inc,
sempre no período da tarde, em uma pista de 40 metros de modelo Onyx 9500, com o sensor posicionado no terceiro
comprimento e um metro de largura, com marcações a cada dedo da mão direita, sendo a leitura determinada após a
metro de distância, em local fechado, silencioso, bem luminado estabilização do sinal. No mesmo momento obtinha a
e arejado. Antes de realizar o teste da caminhada, o idoso a ser freqüência cardíaca e posteriormente a respiratória. A pressão
avaliado foi instruído sobre como ele seria realizado e que, caso arterial foi aferida por esfigmomanômetro da marca Tycos
apresentasse desconforto respiratório muito grande, dor no peito e estetoscópio da marca Littmann, modelo Classic II. O peso
ou dor muscular intensa, poderia diminuir a velocidade e até e a altura dos participantes foram obtidos em balança de
mesmo parar. Caso isso acontecesse, o cronômetro permaneceria consultório da marca Filizola, modelo 31.
acionado. O participante foi instruído a andar o mais rápido Foi considerada a maior distância percorrida para
possível e incentivado pelo examinador, por estímulo verbal, comparação com as distâncias previstas utilizando as
a cada 30 segundos, com as frases “Você está indo bem” e “Equações de referência para distância caminhada em seis
“Continue, seu trabalho está bom”, conforme protocolo minutos em adultos saudáveis” propostas por Enright &
empregado por outros autores.10, 12 Durante a realização do teste, Sherrill,9 a “Equação de predição para distância percorrida
o examinador caminhava discretamente atrás e não ao lado de em seis minutos em idosos saudáveis” proposta por Troosters
cada participante, para evitar influenciar a velocidade de marcha et al.10 e as “Equações de referência para distância caminhada
selecionada pelo idoso. Ao final de seis minutos, a distância em seis minutos” propostas por Enright et al.8 (Figura 1).
percorrida foi registrada. Os resultados estão expressos como média e desvio-
Ao início e ao término do teste foram monitorizadas padrão. Para avaliação de correlação foi utilizado o coeficiente
a pressão arterial, as freqüências cardíaca e respiratória e de Pearson, considerando como significativo p < 0,05.

Enright & Sherrill

Homem:

Distância prevista = (7,57 × altura cm) – (5,02 × idade) – (1,76 × peso kg) – 309 m

Mulher:

Distância prevista = (2,11 × altura cm) – (2,29 × peso kg) – (5,78 × idade) + 667 m_________

Troosters et al.

Homem:

Distância prevista = 218 + (5,14 × altura cm – 5,32 × idade) – (1,80 × peso kg + 51,31)

Mulher:

Distância prevista = 218 + (5,14 × altura cm – 5,32 x idade) – (1,80 × peso kg)____________

Enright et al.

Homem:

Distância prevista = 493 + (2,2 × altura cm) – (0,93 × peso kg) – (5,3 × idade) + 17 metros

Mulher:

Distância prevista = 493 + (2,2 × altura cm) – (0,93 × peso kg) – (5,3 × idade)____________

Figura 1. Equações de referência propostas para cálculo da distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos – Enright & Sherrill,
Troosters et al., Enright et al.

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RESULTADOS para mulheres na equação de Troosters et al.10 e 20% na


equação proposta por Enright et al.,8 também para homens
O teste de caminhada foi bem tolerado pelos e mulheres.
participantes. Não houve alteração significativa dos Neste estudo não foi observada correlação entre as
parâmetros monitorados após o teste ou ocorrência de eventos distâncias percorridas e as previstas pela equação de Enright
inesperados durante sua realização, os idosos atingiram 61,1% & Sherrill9 para os homens. Um total de 117 homens e 173
da freqüência cardíaca máxima, demonstrando ter sido esse mulheres, ambos da raça branca, foram incluídos no grupo
um teste submáximo. A média da distância percorrida foi saudável do estudo de Enright & Sherrill,9 sendo excluídas
de 410,5 metros para os homens e de 371,0 metros para as pessoas maiores de 80 anos. Neste estudo havia 3 idosos
mulheres (Tabela 2). com mais de 80 anos e indivíduos caucasianos e negros. Além
Quando aplicamos a equação de predição da distância disso foi observado que os critérios para considerar os
percorrida no TC6 proposta por Enright & Sherrill,9 as mulheres participantes como saudáveis foi diferente entre os dois
apresentaram desempenho médio de 84,0% do previsto e os estudos. Neste não foram excluídos os idosos que utilizavam
homens, de 90,9%. Pela equação de predição proposta por diuréticos ou que tinham história prévia de acidente vascular
Troosters et al.,10 as mulheres apresentaram desempenho médio cerebral, desde que estivessem estáveis em sua condição
de 71,4% e os homens, de 68,2% do previsto. Utilizando a clínica e que não apresentassem seqüelas, diferentemente
equação proposta por Enright et al.,8 as mulheres apresentaram do estudo de Enright & Sherrill.9 Esses fatores podem
desempenho médio de 92,5% e os homens, de 97,8% do responder pelas diferenças encontradas entre as distâncias
previsto (Tabela 2). percorridas e as previstas pela referida equação.
A análise de correlação entre as distâncias percorridas Moreira et al.11 avaliaram pacientes portadores de DPOC
e as previstas foi realizada para homens e mulheres em programa de reabilitação pulmonar e sugeriram que a
separadamente. equação proposta por Enright & Sherrill9 subestima valores,
As distâncias previstas pela equação de Enright & uma vez que as distâncias previstas para adultos saudáveis
Sherrill9 e pela de Troosters et al.10 correlacionaram-se às não diferiam das distâncias percorridas por seus pacientes
distâncias caminhadas entre as mulheres (r = 0,7; p < 0,05), antes de iniciar o treinamento.
não apresentando, no entanto, correlação com as percorridas Num estudo realizado por Soares et al.,12 avaliando a
pelos homens. As distâncias previstas pela equação de Enright aplicabilidade da equação proposta por Enright & Sherrill9
et al.8 apresentaram correlação com as distâncias percorridas em indivíduos saudáveis brasileiros, não foi encontrada
pelas mulheres e pelos homens (r = 0,7/0,6 respectivamente, correlação entre as distâncias percorridas e as previstas para
p < 0,05) (Tabela 2 e Figura 2). as mulheres. Esses autores também relatam distância, em média,
40 metros maior para os homens e uma porcentagem de 59%
DISCUSSÃO da freqüência cardíaca máxima para as mulheres e de 66%
para os homens, dados esses semelhantes aos nossos.
O TC6 demonstrou ser um bom indicador da capacidade Utilizando a equação proposta por Troosters et al.,10
funcional entre os idosos e um método seguro de avaliação. foram observadas correlações significativas entre as distâncias
Equações para cálculo de valores de referência para percorridas e as previstas para as mulheres, o que não foi
a distância caminhada começaram a ser publicadas recente- observado para os homens. Os critérios de seleção nos dois
mente. Neste trabalho foram utilizadas as equações de estudos foram semelhantes, exceto pelo fato de não termos
referência propostas por Enright & Sherrill,9 por Troosters utilizado a função pulmonar. Avaliando os porcentuais das
et al.10 e por Enright et al.,8 as quais são disponíveis para distâncias previstas, a equação proposta por Troosters10 prediz
indivíduos caucasianos e negros e que abrangem a faixa etária valores bem maiores que o atingido pelos participantes deste
avaliada neste estudo. Os resultados do TC6 podem ser melhor estudo, no estudo de Troosters et al.10 havia participantes
interpretados e comparados se expressos como porcentagem mais jovens (50-85 × 64-82 anos, respectivamente) e talvez
de um valor previsto,10 por isso é de extrema importância o fato de os idosos europeus apresentarem melhores condições
uma equação que forneça valores de referência confiáveis socioeconômicas e de saúde possa ser uma explicação para
para a população estudada. essa diferença. Outro ponto a ser ressaltado é que no estudo
Enright & Sherrill9 encontraram correlações de 0,42 de Troosters et al.10 a amostra foi pequena e a participação,
e 0,38 para homens e mulheres, respectivamente, mostrando voluntária, segundo os próprios autores, esses fatores devem
que as variáveis sexo, idade, peso e altura na equação de ser considerados ao se utilizar a referida equação, princi-
predição determinam 42% e 38% da variabilidade na distância palmente quando a população estudada for de indivíduos
percorrida no TC6. Essas mesmas variáveis determinam 66% mais velhos, pois ela pode superestimar a distância percorrida
da distância percorrida no TC6 tanto para homens quanto em decorrência de possível viés de seleção.

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Figura 2. Correlação entre a distância percorrida e as distâncias previstas pelas equações de Enright & Sherrill, Troosters et al. e Enright et
al. em homens e em mulheres.

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Tabela 2. Desempenho no teste de caminhada de seis minutos e coeficiente de correlação de Pearson entre distâncias percorrida e prevista
pelas equações de Enright & Sherrill, Troosters et al. e Enright et al.

Homens Mulheres
Distância Percorrida 410,5 ± 72,7 371,0 ± 86,1
Enright & Sherrill
Distância prevista 452,5 ± 49,1 438,6 ± 45,7
Distância prevista – distância percorrida 41,9 ± 66,2 67,6 ± 64,0
% Distância prevista 90,9 ± 13,8 84,0 ± 16,5
NS
r 0,5 0,7**
Troosters et al.
Distância prevista 601,1 ± 41,8 517,5 ± 58,7
Distância prevista – distância percorrida 190,6 ± 62,6 146,5 ± 65,2
% Distância prevista 68,2 ±10,2 71,4 ± 14,0
NS
r 0,5 0,7**
Enright et al.
Distância prevista 418,8 ± 33,3 398,3 ± 38,2
Distância prevista – distância percorrida 8,3 ± 60,4 27,3 ± 65,5
% Distância prevista 97,8 ± 14,0 92,5 ± 18,2
r 0,6* 0,7**
NS: não significativa; *p < 0,05; **p < 0,001.

Foi encontrada forte correlação entre as distâncias porcentual entre homens e mulheres pelas três equações, uma
percorridas e as previstas pela equação proposta por Enright vez que elas são corrigidas para o sexo.
et al.,8 que é uma equação nova proposta especificamente Enright & Sherrill9 e Enright et al.8 realizaram o TC6
para idosos, prevendo valores menores que os previstos por apenas uma vez, enquanto neste estudo e no de Troosters
outros autores9,10 e que ainda não tinha sido aplicada à et al.10 foram realizados dois testes adotando a maior distância
população brasileira. Os participantes do estudo de Enright percorrida para análise. Já foi demonstrado que se o teste
et al. eram da raça branca e negra, sendo relatado que os for repetido da mesma maneira, com estímulo verbal
idosos negros caminharam em média 40 metros a menos que padronizado, a distância percorrida no TC6 não deve ser
os outros participantes. As distâncias percorridas por homens alterada significativamente após o segundo teste.14
e mulheres nos dois estudos são muito semelhantes. Apesar Segundo recomendação da American Toracic Society,3
do grande número de participantes (437 mulheres e 315 o examinador não deve caminhar junto ao paciente. Neste
homens) no estudo de Enright et al.,8 a equação proposta estudo optou-se pelo examinador caminhar discretamente
determina apenas 20% da variabilidade na distância percorrida atrás de cada idoso para dar-lhe maior segurança na execução
no TC6. do teste sem, contudo, interferir em sua velocidade. Há
O desempenho porcentual do previsto para os homens variação na padronização do estímulo verbal e freqüência
foi de 90,9%, 68,2% e 97,8%; e para as mulheres de 84,0%, do mesmo durante a execução do TC6, assim como no
71,4% e 92,5% pelas equações de Enright & Sherrill,9 Troosters intervalo entre os testes.3, 8, 9, 10 Neste estudo adotamos
et al.10 e de Enright et al.,8 respectivamente. As diferenças no protocolos já utilizados por outros autores.10, 12
desempenho porcentual do previsto entre homens e mulheres É importante considerar que se trata de um estudo de
foram maiores pelas equações de Enright et al.8 (97,8% × caráter transversal e que utilizou idosos voluntários como
92,5%) e de Enright & Sherrill9 (90,9% × 84,0%) do que pela participantes, o que pode ter gerado viés de seleção. A amostra
equação de Troosters et al.10 (68,2% × 71,4%). Em uma foi pequena para determinar valores normais, motivo pelo
mesma amostra não se esperaria diferença no desempenho qual não foi realizado o cálculo de uma equação de referência.

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CONCLUSÃO 5. Lord RS, Menz HB. Physiologic, psychologic, and health pre-
dictors of 6-minute walk performance in older people. Arch
Os resultados demonstram que houve grande variação Phys Med Rehabil 2002; 83: 907-911.
entre as distâncias percorridas por idosos brasileiros e as 6. Duncan PW, Chandler J, Studenski S, et al. How do physiologi-
previstas entre as equações e não houve correlação entre as cal components of balance affect mobility in elderly men? Arch
distâncias percorridas e previstas pelas equações de Enright Phys Med Rehabil 1993; 74: 1343-1349.
& Sherrill9 e de Troosters et al.10 para os homens deste estudo. 7. Harada ND, Chiu V, Stewart AL. Mobility-related function in
As equações de referência propostas por Enright et al.8 e older adults: assessment with a 6-minute walk test. Arch Phys
por Enright & Sherrill9 fornecem valores de referência Rehabil 1999; 80: 837-841.
menores que a equação proposta por Troosters et al.10 O 8. Enright PL, McBurnie MA, Bittner V, Tracy RP, McNamara
desempenho expresso em porcentual pela equação de R, Arnold A, et al. The 6-min walk test – a quick measure of
Troosters et al.10 é semelhante para homens e mulheres, functional status in elderly subjects. Chest 2003; 123: 387-398.
sugerindo melhor adequação dessa equação de referência 9. Enright PL, Sherrill DL. Reference equations for the six-minute
em relação ao sexo da pessoa. Sendo assim, torna-se walk in healthy adults. Am J Respir Crit Care Med 1998; 158:
1384-1387.
necessária a realização de estudos adicionais para confirmar
a aplicabilidade dessas equações para a população idosa 10. Troosters T, Gosselink R, Decramer M. Six minute walking
distance in elderly subjects. Eur Respir J 1999; 14: 270-274.
brasileira.
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seis minutos em pacientes com DPOC durante programa de
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