Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN9 1413-3555
No. 2, 2005 Equações de Referência para o Teste de Caminhada (TC6) em Idosos 165
Rev. bras. fisioter. Vol. 9, No. 2 (2005), 165-171
©Revista Brasileira de Fisioterapia
RESUMO
Objetivo: O objetivo deste estudo foi comparar as distâncias percorridas por idosos brasileiros no teste de caminhada de seis minutos
(TC6) com as distâncias previstas pelas equações de Enright & Sherrill,9 de Troosters et al.10 e de Enright et al.8 Método: 38 idosos
saudáveis com idade entre 64 e 82 anos realizaram o TC6 duas vezes. A pressão arterial, as freqüências cardíaca e respiratória e
a saturação de oxigênio foram mensuradas antes e ao final do teste. A análise estatística empregou o coeficiente de correlação de
Pearson, sendo considerado significativo p < 0,05. Resultados: Os homens percorreram uma distância de 410,5 metros e as mulheres,
de 371,0 metros. As distâncias previstas pelas equações de Enright & Sherrill 9 e Troosters et al.10 correlacionaram-se com as distâncias
caminhadas pelas mulheres (r = 0,7), não apresentando correlação estatisticamente significativa com as distâncias percorridas pelos
homens. As distâncias previstas pela equação de Enright et al.8 correlacionaram-se com as distâncias percorridas por homens (r = 0,6)
e mulheres (r = 0,7). Conclusões: Os resultados demonstram que houve grande variação entre as distâncias percorridas por idosos
brasileiros e as previstas pelas equações, sendo necessária a realização de estudos adicionais para confirmar a aplicabilidade dessas
equações para a população idosa brasileira.
Palavras-chave: teste de caminhada de seis minutos, idosos, saudáveis.
ABSTRACT
Foi solicitado aos participantes que comparecessem ao a saturação de oxigênio. A medida da saturação de oxigênio
local do teste utilizando seu calçado habitual. O TC6 foi realizado foi feita por oxímetro de pulso da marca Nonin Medical Inc,
sempre no período da tarde, em uma pista de 40 metros de modelo Onyx 9500, com o sensor posicionado no terceiro
comprimento e um metro de largura, com marcações a cada dedo da mão direita, sendo a leitura determinada após a
metro de distância, em local fechado, silencioso, bem luminado estabilização do sinal. No mesmo momento obtinha a
e arejado. Antes de realizar o teste da caminhada, o idoso a ser freqüência cardíaca e posteriormente a respiratória. A pressão
avaliado foi instruído sobre como ele seria realizado e que, caso arterial foi aferida por esfigmomanômetro da marca Tycos
apresentasse desconforto respiratório muito grande, dor no peito e estetoscópio da marca Littmann, modelo Classic II. O peso
ou dor muscular intensa, poderia diminuir a velocidade e até e a altura dos participantes foram obtidos em balança de
mesmo parar. Caso isso acontecesse, o cronômetro permaneceria consultório da marca Filizola, modelo 31.
acionado. O participante foi instruído a andar o mais rápido Foi considerada a maior distância percorrida para
possível e incentivado pelo examinador, por estímulo verbal, comparação com as distâncias previstas utilizando as
a cada 30 segundos, com as frases “Você está indo bem” e “Equações de referência para distância caminhada em seis
“Continue, seu trabalho está bom”, conforme protocolo minutos em adultos saudáveis” propostas por Enright &
empregado por outros autores.10, 12 Durante a realização do teste, Sherrill,9 a “Equação de predição para distância percorrida
o examinador caminhava discretamente atrás e não ao lado de em seis minutos em idosos saudáveis” proposta por Troosters
cada participante, para evitar influenciar a velocidade de marcha et al.10 e as “Equações de referência para distância caminhada
selecionada pelo idoso. Ao final de seis minutos, a distância em seis minutos” propostas por Enright et al.8 (Figura 1).
percorrida foi registrada. Os resultados estão expressos como média e desvio-
Ao início e ao término do teste foram monitorizadas padrão. Para avaliação de correlação foi utilizado o coeficiente
a pressão arterial, as freqüências cardíaca e respiratória e de Pearson, considerando como significativo p < 0,05.
Homem:
Distância prevista = (7,57 × altura cm) – (5,02 × idade) – (1,76 × peso kg) – 309 m
Mulher:
Distância prevista = (2,11 × altura cm) – (2,29 × peso kg) – (5,78 × idade) + 667 m_________
Troosters et al.
Homem:
Distância prevista = 218 + (5,14 × altura cm – 5,32 × idade) – (1,80 × peso kg + 51,31)
Mulher:
Distância prevista = 218 + (5,14 × altura cm – 5,32 x idade) – (1,80 × peso kg)____________
Enright et al.
Homem:
Distância prevista = 493 + (2,2 × altura cm) – (0,93 × peso kg) – (5,3 × idade) + 17 metros
Mulher:
Distância prevista = 493 + (2,2 × altura cm) – (0,93 × peso kg) – (5,3 × idade)____________
Figura 1. Equações de referência propostas para cálculo da distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos – Enright & Sherrill,
Troosters et al., Enright et al.
Figura 2. Correlação entre a distância percorrida e as distâncias previstas pelas equações de Enright & Sherrill, Troosters et al. e Enright et
al. em homens e em mulheres.
Tabela 2. Desempenho no teste de caminhada de seis minutos e coeficiente de correlação de Pearson entre distâncias percorrida e prevista
pelas equações de Enright & Sherrill, Troosters et al. e Enright et al.
Homens Mulheres
Distância Percorrida 410,5 ± 72,7 371,0 ± 86,1
Enright & Sherrill
Distância prevista 452,5 ± 49,1 438,6 ± 45,7
Distância prevista – distância percorrida 41,9 ± 66,2 67,6 ± 64,0
% Distância prevista 90,9 ± 13,8 84,0 ± 16,5
NS
r 0,5 0,7**
Troosters et al.
Distância prevista 601,1 ± 41,8 517,5 ± 58,7
Distância prevista – distância percorrida 190,6 ± 62,6 146,5 ± 65,2
% Distância prevista 68,2 ±10,2 71,4 ± 14,0
NS
r 0,5 0,7**
Enright et al.
Distância prevista 418,8 ± 33,3 398,3 ± 38,2
Distância prevista – distância percorrida 8,3 ± 60,4 27,3 ± 65,5
% Distância prevista 97,8 ± 14,0 92,5 ± 18,2
r 0,6* 0,7**
NS: não significativa; *p < 0,05; **p < 0,001.
Foi encontrada forte correlação entre as distâncias porcentual entre homens e mulheres pelas três equações, uma
percorridas e as previstas pela equação proposta por Enright vez que elas são corrigidas para o sexo.
et al.,8 que é uma equação nova proposta especificamente Enright & Sherrill9 e Enright et al.8 realizaram o TC6
para idosos, prevendo valores menores que os previstos por apenas uma vez, enquanto neste estudo e no de Troosters
outros autores9,10 e que ainda não tinha sido aplicada à et al.10 foram realizados dois testes adotando a maior distância
população brasileira. Os participantes do estudo de Enright percorrida para análise. Já foi demonstrado que se o teste
et al. eram da raça branca e negra, sendo relatado que os for repetido da mesma maneira, com estímulo verbal
idosos negros caminharam em média 40 metros a menos que padronizado, a distância percorrida no TC6 não deve ser
os outros participantes. As distâncias percorridas por homens alterada significativamente após o segundo teste.14
e mulheres nos dois estudos são muito semelhantes. Apesar Segundo recomendação da American Toracic Society,3
do grande número de participantes (437 mulheres e 315 o examinador não deve caminhar junto ao paciente. Neste
homens) no estudo de Enright et al.,8 a equação proposta estudo optou-se pelo examinador caminhar discretamente
determina apenas 20% da variabilidade na distância percorrida atrás de cada idoso para dar-lhe maior segurança na execução
no TC6. do teste sem, contudo, interferir em sua velocidade. Há
O desempenho porcentual do previsto para os homens variação na padronização do estímulo verbal e freqüência
foi de 90,9%, 68,2% e 97,8%; e para as mulheres de 84,0%, do mesmo durante a execução do TC6, assim como no
71,4% e 92,5% pelas equações de Enright & Sherrill,9 Troosters intervalo entre os testes.3, 8, 9, 10 Neste estudo adotamos
et al.10 e de Enright et al.,8 respectivamente. As diferenças no protocolos já utilizados por outros autores.10, 12
desempenho porcentual do previsto entre homens e mulheres É importante considerar que se trata de um estudo de
foram maiores pelas equações de Enright et al.8 (97,8% × caráter transversal e que utilizou idosos voluntários como
92,5%) e de Enright & Sherrill9 (90,9% × 84,0%) do que pela participantes, o que pode ter gerado viés de seleção. A amostra
equação de Troosters et al.10 (68,2% × 71,4%). Em uma foi pequena para determinar valores normais, motivo pelo
mesma amostra não se esperaria diferença no desempenho qual não foi realizado o cálculo de uma equação de referência.
CONCLUSÃO 5. Lord RS, Menz HB. Physiologic, psychologic, and health pre-
dictors of 6-minute walk performance in older people. Arch
Os resultados demonstram que houve grande variação Phys Med Rehabil 2002; 83: 907-911.
entre as distâncias percorridas por idosos brasileiros e as 6. Duncan PW, Chandler J, Studenski S, et al. How do physiologi-
previstas entre as equações e não houve correlação entre as cal components of balance affect mobility in elderly men? Arch
distâncias percorridas e previstas pelas equações de Enright Phys Med Rehabil 1993; 74: 1343-1349.
& Sherrill9 e de Troosters et al.10 para os homens deste estudo. 7. Harada ND, Chiu V, Stewart AL. Mobility-related function in
As equações de referência propostas por Enright et al.8 e older adults: assessment with a 6-minute walk test. Arch Phys
por Enright & Sherrill9 fornecem valores de referência Rehabil 1999; 80: 837-841.
menores que a equação proposta por Troosters et al.10 O 8. Enright PL, McBurnie MA, Bittner V, Tracy RP, McNamara
desempenho expresso em porcentual pela equação de R, Arnold A, et al. The 6-min walk test – a quick measure of
Troosters et al.10 é semelhante para homens e mulheres, functional status in elderly subjects. Chest 2003; 123: 387-398.
sugerindo melhor adequação dessa equação de referência 9. Enright PL, Sherrill DL. Reference equations for the six-minute
em relação ao sexo da pessoa. Sendo assim, torna-se walk in healthy adults. Am J Respir Crit Care Med 1998; 158:
1384-1387.
necessária a realização de estudos adicionais para confirmar
a aplicabilidade dessas equações para a população idosa 10. Troosters T, Gosselink R, Decramer M. Six minute walking
distance in elderly subjects. Eur Respir J 1999; 14: 270-274.
brasileira.
11. Moreira MAC, Moraes MR, Tannus R. Teste de caminhada de
seis minutos em pacientes com DPOC durante programa de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS reabilitação. J Pneumol 2001; 27(6): 295-300.
1. Hamilton DM, Haennel RG. Validity and reliability of the 6- 12. Soares CPS, Pires SR, Britto RR, Parreira VF. Avaliação da
minute walk test in a cardiac rehabilitation population. JCR aplicabilidade da equação de referência para estimativa de
2000; 20(3): 156-164. desempenho no teste de caminhada de seis minutos em
indivíduos saudáveis brasileiros. Rev Soc Cardiol Estado de
2. Solway S, Brooks D, Lacasse Y, Thomas S. A qualitative sys-
São Paulo 2004; 1(supl A):1-8.
tematic overview of the measurement properties of functional
walk tests used in the cardiorespiratory domain. Chest 2001; 13. Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável
119: 25-270. em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São
Paulo. Cad Saúde Pública 2003; 19(3): 793-798.
3. ATS statement: guidelines for the six minute walk tests. ATS
Comitee on Proficiency Standards for Clinical Pulmonary 14. Guyatt GH, Sullivan MJ, Thompson PJ, Fallen EL, Pugsley SO,
Function Laboratories. Am J Respir Crit Care Med 2002; 166 Taylor DW. The six-minute walk: a new measure of exercise
(1): 111-117. capacity in patients with chronic heart failure. Can Med Assoc
J 1995; 132: 919-923.
4. Enright PL. The six-minute walk test. Respir Care 2003; 48
(8): 783-785.