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relacionam principalmente com as alterações dos músculos esqueléticos e do sistema respiratório,
como consequência fisiopatológica da IC5.
A forte relação entre IC e disfunção do sistema respiratório ocorre por serem órgãos
intimamente ligados4. Vários estudos vêm demonstrando que as alterações hemodinâmicas
provocadas pela diminuição do débito cardíaco, refletem em disfunções respiratórias
caracterizadas por fraqueza da musculatura esquelética, principalmente relacionada ao músculo
diafragma e diminuição de volumes e capacidades pulmonares6.
Embora pareça estar claro o que as pesquisas trazem quanto ao comprometimento desse
sistema na IC, é importante reconhecer essas alterações através de avaliações específicas e
relacioná‐las a possíveis limitações funcionais que esses indivíduos possam apresentar, servindo
assim como embasamento para a fundamentação de programas de reabilitação.
OBJETIVO
Investigar as alterações pulmonares, força dos músculos respiratórios e a resistência
muscular inspiratória e relacioná‐los com alterações físicas disfuncionais em indivíduos com
insuficiência cardíaca.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado no ambulatório do Hospital Regional de Presidente
Prudente (SP), que está vinculado ao atendimento de pacientes pelos alunos do curso de
Fisioterapia (Disciplina de Fisioterapia em Pneumologia) e de Medicina (Disciplina de Cardiologia),
da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), Presidente Prudente, Brasil.
Foram avaliados 9 pacientes (5 mulheres e 4 homens), portadores de IC esquerda (com
diagnóstico clínico por meio de ecocardiograma), com estabilidade hemodinâmica, fora dos
critérios de contra‐indicação para a realização de espirometria e manovacuometria7, não tabagista
e sem histórico de doença pulmonar. Todos os indivíduos avaliados foram atendidos e
acompanhados por médico cardiologista no ambulatório do Hospital Regional de Presidente
Prudente (SP).
Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Oeste Paulista
e teve sua aprovação segundo a Resolução 196/96, com protocolo de número 1123, todos os
indivíduos concordaram em participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Para caracterização da população e avaliação da estabilidade hemodinâmica, os indivíduos
foram submetidos a, (1) mensuração da pressão arterial, de acordo com as VI Diretrizes Brasileiras
de Hipertensão Arterial8, por meio de método não invasivo e uso de estetoscópio e
esfigmomanômetro (BD®), (2) Verificação da frequência cardíaca (FC) e da saturação de oxigênio
(SpO2) por meio de oxímetro de pulso não‐invasivo (NONIN®); (3) Ausculta cardíaca nos focos
aórtico, pulmonar, mitral e tricúspide com o uso de estetoscópio, (4) Avaliação antropométrica
medindo altura e peso em balança e estadiômetro (Filizola®).
Posteriormente foi realizado o teste espirométrico com Espirômetro Micromedical modelo
MK8®, utilizando os critérios descritos no Consenso Brasileiro sobre Espirometria7. Foram
realizadas três curvas espirométricas, com paciente sentado, sendo que em cada uma delas ele
realizou inspiração máxima e posterior expiração forçada, realizando a curva da capacidade vital
forçada (CVF) que é suficiente para obter o laudo espirométrico, por meio da avaliação da CVF,
Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e as relações Fluxo médio expiratório
forçado pela CVF (FEF 25‐75%/CVF) e a relação VEF1/CVF7.
A manovacuometria foi realizada para mensurar a força dos músculos respiratórios através
das pressões inspiratória máxima (Pimáx) e expiratória máxima (Pemáx). Foi utilizado o
Manovacuômetro SPV modelo M12®. Para determinar a Pimáx,o paciente, sentado, executou
esforço inspiratório máximo após uma expiração passiva onde foi ocluída a válvula do aparelho.
Para determinar a Pemáx, o paciente realizou inspiração máxima com o fisioterapeuta ocluindo a
válvula do aparelho, solicitando ao paciente que realizasse força para expirar. Após esse
procedimento foi aplicado uma carga linear pressórica com o aparelho threshold (IMT), por 2
minutos, graduado com 30% da Pimáx. Então, verificou‐se novamente, a Pimáx para avaliar a
resistência muscular inspiratória (endurance). Valores da relação Pimáx pós / Pimáx pré aplicação
de carga linear pressórica menores que 0,8, confirma baixa resistência dos músculos inspiratórios9.
Houve repouso de 15 minutos entre espirometria e manovacuometria, assim como os mesmos
foram aleatorizados.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Foi feita análise estatística descritiva, com resultados expressos em frequência e
proporções em gráficos e tabelas. Para todas as variáveis, o cálculo da média e desvio padrão, foi
realizado através do programa Microsoft Excel 2007.
RESULTADOS
As características gerais dos 9 indivíduos estão expostas na tabela 1, entre elas a idade,
índice de massa corpórea, pressão arterial, FC, SpO2 e fração de ejeção do ventrículo esquerdo
(FEVE).
Tabela 1. Característica antropométrica, clínica e cardiorrespiratória da amostra clínica expressos
em média e desvio padrão.
Variáveis Média ± Desvio padrão (n=9)
Idade (anos) 77,55 ± 8,38
IMC (Kg/m2) 25,55 ± 3,95
PAS (mmHg) 121,11 ±19
PAD (mmHg) 72,22 ± 9,71
FC (bpm) 68,44 ± 12,66
SpO2% 96,44 ± 2,29
FEVE (%) 62,65 ± 7,49
IMC = índice de massa corporal, PAS = pressão arterial sistólica, PAD = pressão arterial diastólica, FC = frequência
cardíaca, SpO2= saturação de oxigênio, FEVE= fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Além dos dados descritos anteriormente, na ausculta cardíaca 44,44% dos pacientes
apresentaram bulhas rítmicas normofonética em 2 tempos e sem sopro, 33,33% apresentaram
bulhas arrítmicas, 22,22% bulhas hipofonéticas e 11,11% com sopro.
Os resultados da avaliação da força dos músculos inspiratórios (Pimáx) e expiratórios
(Pemáx), além dos parâmetros espirométricos (CVF, VEF1, VEF/CVF e FEF25‐75%/CVF) estão
apresentados na tabela 2.
Tabela 2. Valores medidos e a %previstos para as variáveis de força muscular respiratória e função
pulmonar, expressos em média e desvio padrão.
Variáveis da força e função Medido % Previsto
respiratória
Pimáx, cmH2O 77,77 ± 28,95 95,70 ± 36,04
Pemáx, cmH2O 40,33 ± 18,22 50,46 ± 24,16
VEF1 % 1,49 ± 0,46 62,29 ± 15,19
CVF % 2,10 ± 0,62 66,47 ± 11,09
VEF1/CVF % 68,78 ± 11,38 77 ± 1,11
FEF25‐75%/CVF /s 58,22 ± 24,54 83,83 ± 33,53
Pimáx= Pressão inspiratória máxima, Pemáx= pressão expiratória máxima, VEF1= Volume expiratório forçado no
primeiro segundo, CVF= Capacidade vital forçada, VEF1/CFV= índice de Tiffeneau, FEF25‐75%/CVF= Fluxo médio
expiratório forçado por segundo.
Com a mensuração dos parâmetros espirométricos foi possível observar que 11,11% desta
população apresentou espirometria normal. Os outros 88,89% apresentaram alterações do padrão
ventilatório, sendo que destes, 50% apresentaram distúrbio inespecífico (caracterizado por
diminuição da VEF1 e CVF com VEF1/CVF normais), 25% distúrbio obstrutivo moderado, 12,5%
distúrbio obstrutivo severo e 12,5% distúrbio restritivo leve. (figura 1)
Figura 1. Resultados espirométricos dos pacientes que apresentaram alterações do padrão
ventilatório através da espirometria.
Os indivíduos avaliados foram classificados de acordo com a Classificação da New York
Heart Association (NYHA). (figura 2)
Figura 2. Classificação da New York Heart Association (NYHA).
O teste de endurance muscular inspiratória aplicado nestes pacientes, a partir do protocolo
de Chang e cols, apresentou um valor médio de 0,98 ± 0,39, não indicando, portanto, diminuição
da resistência desses músculos9.
DISCUSSÃO
Os achados desta pesquisa mostraram que os individuos apresentaram classe funcional I, II
e III de acordo com a (NYHA). A média de idade foi superior a 60 anos, constituindo assim uma
população idosa, mostrando compatibilidade com os dados encontrados na literatura1. Em relação
ao IMC esses indivíduos foram classificados com sobrepeso, sendo que 44,44% apresentaram peso
acima do normal10. De acordo com Gomes Fernando, esta condição pode‐se relacionar com uma
maior predisposição a doenças cardiovasculares11.
Já a FEVE nesta população foi considerada normal, sendo que 100% dos pacientes
apresentaram FE > 50%, demonstrando uma função contrátil do ventrículo esquerdo preservada.
Roscane e cols, estudando a FE normal na IC, relatam que isso ocorre preferencialmente em
idosos e obesos12. Portanto, este dado observado está de acordo com a amostra da nossa
população e, embora a FE esteja preservada, a maioria deles apresentam intolerância aos
esforços, representado pela dispnéia aos pequenos esforços, caracterizada pela classe funcional
III, demonstrando que o principal fator na IC não se relaciona a funcionalidade ventricular, mas
sim as limitações clínicas disfuncionais. Um dos fatores que pode levar a essas limitações
funcionais são as alterações da musculatura respiratória5.
No presente estudo, observou‐se normalidade na força dos músculos inpiratórios (Pimáx).
Apesar da liberação de mediadores da inflamação e redução da capacidade aeróbica dos músculos
respiratórios, já observada em outro estudo13,14, não houve sensibilidade nos testes empregados
neste estudo, para ratificar o exposto. Mesmo com a aplicação do teste de endurance dos
músculos inspiratórios, a capaciadade aeróbica foi mantida, não havendo redução da resistenca
muscular inspiratória.
Ao avaliar o comportamento da força dos músculos expiratórios (Pemáx) nota‐se que há
redução significante, sob o ponto de vista clinico‐disfuncional. Este grupo de músculos da
expiração pode ter sofrido maior influencia na liberação de mediadores da inflamação o que,
provavelmente, levou a diminuição da Pemáx13,14.
A redução da Pemáx pode justificar a incidência de 50% de distúrbios ventilatórios
inespeficificos e 12,5% de disturbios ventilatóros restritivos, pois ambos apresentaram redução da
CVF mas, congestão vascular pulmonar e a consequente infiltração de liquido na parede das vias
aérias, também podem ser percusoras da diminuição na CVF15.
CONCLUSÃO
Os pacientes portadores de IC esquerda avaliados apresentaram alta incidência na redução
da Pemáx e alteração na função pulmonar, com normalidade na Pimáx e na resistência muscular
respiratória e diminuição da capacidade funcional caracterizada pela NYHA.
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