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coNSumo mÁXImo de oXIgêNIo e FAtoReS

oRIgINAl

de RISco cARdIoVASculAR em AdultoS


JoVeNS

Recebido: 08/07/2009 RÔmulo ARAÚJo FeRNANdeS1, JAmIle SANcHeS codogNo1, eduARdo


Re-submissão: 19/08/2009
Aceito: 24/08/2009 ZAPAteRRA cAmPoS2, eduARdo QuIeRotI RodRIgueS3, SeRgIo de SouSA3
PedRo BAlIKIAN JÚNIoR3, ISmAel FoRte FReItAS JÚNIoR3
1
Departamento de Educação Física - Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Rio Claro (SP),
Brasil; 2Departamento de Fisioterapia - Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Presidente
Prudente (SP), Brasil; 3Departamento de Educação Física - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
- Presidente Prudente (SP), Brasil.

ReSumo

Objetivos: Analisar a interação do consumo máximo de oxigênio com diferentes indicadores de risco cardiovascular entre
adultos jovens do sexo masculino e sem histórico prévio de doenças. Métodos: Estudo transversal realizado com universi-
tários. A amostra foi composta por 32 adultos jovens do sexo masculino e sem histórico prévio de doenças. Foram adotados
como indicadores de risco: peso corporal, circunferência de cintura, percentual de gordura, glicemia em jejum, pressão arte-
rial sistólica e diastólica. O consumo máximo de oxigênio foi avaliado de maneira direta em teste de esteira. A análise de va-
riância e teste qui-quadrado analisaram os dados. Resultados: Menor consumo máximo de oxigênio associou-se com maior
excesso de peso (p= 0,005), mas não com hipertensão (p= 0,059). Além disso, o mesmo associou-se com a menor ocorrência
de riscos cardiovasculares. Conclusão: O consumo máximo de oxigênio é um indicador de risco mesmo entre adultos jovens
sem diagnóstico prévio de doenças.
Palavras-Chave: Adultos, fatores de risco, aptidão física

ABSTRACT

mAXImum uPtAKe oXYgeN coNSumPtIoN ANd cARdIoVASculAR RISK FActoRS IN YouNg AdultS
Objectives: To analyze the relationship between maximum oxygen uptake and cardiovascular risk factors among young
male adults with no previously detected disease. Methods: Cross-sectional study with undergraduate subjects. The sample
was composed by 32 young male adults without previously detected disease. Body weight, waist circumference, percentage
body fat, fasting glucose, systolic and diastolic blood pressure were utilized as cardiovascular risk factors. Maximum oxy-
gen uptake was assessed through treadmill test. Analysis of variance and chi-square test analyzed the data. Results: Lower
maximum oxygen uptake was associated with higher overweight (p= 0,005), but not with arterial hypertension (p= 0,059).
Moreover, the maximum oxygen uptake was also associated with lower occurrence of cardiovascular risk. Conclusion: The
maximum oxygen uptake is an indicator of higher risk even among young adults without previously detected disease.
Key word: Adults, risk factors, physical fitness

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Introdução diz respeito a ações de prevenção primária.
Dessa forma, definiu-se como objetivo, anali-
Na literatura científica, uma maior prática de sar a interação do consumo máximo de oxigênio
atividades físicas tem sido identificada como im- com diferentes indicadores de risco cardiovascular
portante agente de prevenção e melhora do estado entre adultos jovens e sem histórico prévio de do-
geral de saúde, agindo em diferentes indicadores, enças.
caso da pressão arterial, glicemia e perfil lipídi-
co1,2. Proper e colaboradores3 em recente pesquisa Métodos
comprovaram a existência de efeito “dose-respos-
ta” na interação entre maior atividade física e me- Amostra
lhor estado geral de saúde. Além disso, os mesmos Estudo descritivo/analítico de delineamento
autores salientam que este efeito é mediado pela transversal, no qual foram analisados 32 estudantes
intensidade da atividade física, onde, aquelas de universitários do sexo masculino que, após tomar
maior intensidade parecem potencializar esta dose- conhecimento do projeto (anúncios no campus),
resposta. manifestaram interesse em participar do estudo
Nesse sentido, partindo de estudos prévios que e, que por sua vez, preenchiam os critérios de in-
indicam relação significativa entre atividade física clusão previamente estabelecidos: (i) Ser do sexo
habitual e consumo máximo de oxigênio1,4, onde, masculino (ii) Estar devidamente matriculado na
novamente, aquelas de maior intensidade parecem instituição de ensino superior em questão; (iii) Não
exercer maior impacto sobre esta variável1,4, pa- apresentar nenhuma necessidade especial / doen-
rece aceitável inferir que o consumo máximo de ça cardíaca que interferira no teste; (iv) Assinar o
oxigênio represente importante indicador de saúde Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; (v)
na população. declarar não ter nenhuma doença crônica previa-
O consumo máximo de oxigênio pode ser re- mente diagnostica. O estudo seguiu as diretrizes
sumidamente definido como a capacidade do orga- e normas que regulamentam a pesquisa com seres
nismo de retirar oxigênio do ambiente, transpor- humanos (lei 196/96) e foi aprovado pelo Comitê
tá-lo até a musculatura ativa e utilizá-lo durante de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos
o exercício físico. De fato, entre adultos, baixos que está vinculado a Universidade Estadual Pau-
valores de consumo máximo de oxigênio estão lista Campus de Presidente Prudente (Processo
associados à maior ocorrência de doenças crôni- 280/2008).
co-degenerativas. Confirmando isso, Laaksonen
e colaboradores1 identificaram que adultos com Coleta dos Dados
elevados valores de consumo máximo de oxigênio Os dados apresentados neste estudo foram co-
apresentam menor chance de serem portadores da letados em dois laboratórios vinculados ao Depar-
síndrome metabólica. Assim, esta relação do con- tamento de Educação Física da instituição de nível
sumo máximo de oxigênio e indicadores de risco superior responsável pela pesquisa. Inicialmente,
cardiovascular é bem conhecida entre pessoas com todos avaliados compareceram ao primeiro labora-
alguma patologia, porém, não está bem definida tório, onde, em temperatura controlada (22° C), fo-
entre pessoas sem histórico prévio de doenças. ram efetuadas as avaliações referentes à glicemia
Em decorrência de sua metodologia ser de em jejum, impedância bioelétrica, antropometria
aplicação inviável em estudos populacionais, a uti- (peso corporal, estatura e circunferência de cintu-
lização da medida direta do consumo máximo de ra) e pressão arterial (em repouso). Após esta ava-
oxigênio é pouco explorada na literatura nacional e liação inicial, os avaliados efetuaram uma refeição
seu uso, frequentemente, envolve pessoas portado- leve (suco natural de frutas e pão integral com ge-
ras de alguma patologia ou atletas. Criando assim, léia de frutas. Ambos à vontade e sendo obrigató-
uma lacuna no que diz respeito à interação desta rio o consumo) e, após período de repouso (45 a 60
variável com indicadores de risco cardiovascular minutos), foram encaminhados ao segundo labo-
em populações sem histórico prévio de doenças e, ratório, no qual foi efetuado o teste de esteira para
por sua vez, limitando possíveis inferências no que determinar o consumo máximo de oxigênio.

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Índice de Massa Corporal e Variáveis Hemodinâmicas
Circunferência de Cintura Para a aferição da pressão arterial foi utilizado
A massa corporal foi aferida com a utiliza- aparelho oscilométrico da marca Omron modelo
ção de balança mecânica da marca Filizola, com HEM-742 validado para adultos e adolescentes9,10.
precisão de 0,1kg e capacidade máxima de 150 Como não foi necessário efetuar modificação algu-
kg. A estatura foi aferida com a utilização de um ma quanto ao tamanho do manguito, utilizou-se o
estadiômetro fixo de madeira com precisão de de tamanho padrão para adultos em todos os ava-
0,1cm e extensão máxima de dois metros. O ín- liados. A pressão arterial foi aferida no braço di-
dice de massa corporal (IMC) foi calculado por reito com os indivíduos sentados após pelo menos
meio da divisão da massa corporal pelo valor da 5 minutos de descanso. Padronizou-se dois minu-
estatura ao quadrado e foi expresso como kg/ tos de intervalo entre cada uma das três medidas
m2. O valor da circunferência de cintura (CC) da pressão arterial e os valores de pressão arterial
foi adotado como indicador de excesso de tecido sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foram estima-
adiposo abdominal, sendo as medidas tomadas dos pela média das três avaliações. Valores de PAS
em duplicata na mínima circunferência entre a ≥130 mmHg e ou de PAD ≥85 mmHg foram consi-
crista ilíaca e a última costela, com a utilização derados indicadores de hipertensão arterial11.
de fita metálica antropométrica com precisão de
0,1 cm. Valores de IMC ≥25 e <30 kg/m2 e ≥30 Glicemia em Jejum
kg/m2 foram adotados como risco para excesso A obtenção da glicemia de jejum foi realizada
de peso e risco para obesidade, respectivamente. pelo pesquisador responsável pelo projeto, sendo
Todas as medidas antropométrica foram efetua- que, para a realização das análises foi respeitado
das seguindo recomendações da literatura5,6. jejum de 10-12 horas. A dosagem foi realizada
através de aparelho portátil da marca Johnson &
Análise de Impedância Bioelétrica Johnson modelo One Touch Ultra 2, com lancetas
A resistência e a reatância corporal (ohm) fo- One Touch UltraSoft descartáveis e tiras reagentes
ram aferidas com a utilização de analisador portá- One Touch Ultra. Anteriormente a coleta, houve
til de composição corporal (BIA Analyzer -101Q, assepsia da superfície da pele com a utilização de
RJL Systems, Detroit, EUA). Em cada dia de um algodão banhado em álcool. Valores de glice-
avaliação, o aparelho foi calibrado antes das ava- mia em jejum ≥110 mg/dl foram considerados ele-
liações com o uso de resistor de 500ohm, provi- vados11.
denciado pelo próprio fabricante. A análise de im-
pedância bioelétrica (BIA) foi realizada somente Escore de Risco Cardiovascular
após o esvaziamento da bexiga. Os procedimentos Os indicadores de risco cardiovascular adota-
foram realizados com o indivíduo deitado em uma dos no estudo foram: IMC, CC, %GC – BIA, PAS,
maca de superfície plana de material não condu- PAD e Glicemia sendo os valores individuais orde-
tor de eletricidade e após a retirada de calçados, nados do maior para o menor e subdividido em ter-
meias e qualquer tipo de metal unido ao corpo. Os cil. Posteriormente, analisando conjuntamente to-
eletrodos transmissores foram colocados na super- dos os indicadores de risco envolvidos no estudo,
fície posterior da mão direita, na falange distal do foi computado o número de vezes que cada indiví-
terceiro metacarpo e na superfície anterior do pé duo esteve situado no tercil mais alto e, dessa for-
direito, na falange distal do segundo metatarso, e ma, construiu-se um “escore de risco” específico
ao menos de 5cm de distância dos eletrodos recep- para este estudo que variou de 0 (mais baixo risco
tores que foram colocados entre o processo estilói- [nenhuma vez]) a 6 (mais alto risco). Para viabili-
de do rádio e da ulna e entre os maléolos medial e zar a análise categórica, o escore de risco criado
lateral do tornozelo7. O percentual de gordura cor- foi dividido em dois grupos: (i) não apresentar ne-
poral (%GC-BIA) foi calculado pelo uso de equa- nhum fator de risco e (ii) apresentar ao menos um
ção específica para o sexo masculino elaborada por fator de risco.
Sun e colaboradores8.

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Consumo Máximo de Oxigênio Para estabelecer comparações de acordo com
O teste para medida direta do consumo máximo o consumo máximo de oxigênio, os valores do
de oxigênio foi realizado em esteira ergométrica da mesmo foram ordenados do mais alto para o mais
marca Inbrasport. As variáveis ventilatórias foram baixo e, posteriormente, divididos em quartil: Q4
captadas a cada vinte segundos pelo analisador de (mais alto), Q3, Q2 e Q1 (mais baixo). Posterior-
gases VO2000, para tanto, foi utilizada máscara de mente, para melhor visualização das diferenças ob-
silicone acoplada ao analisador. Anteriormente ao servadas, os dois grupos intermediários foram uni-
aquecimento, à máscara de silicone foi colocada dos formando um grupo com 16 sujeitos (Q2-3).
no sujeito e o mesmo permaneceu em repouso pas-
sivo para que o valor da taxa de troca respiratória Análise Estatística
(RER) alcançasse valor entre 0.70 e 0.90. O teste de Komolgorov-Smirnov (K-S) indicou
Após a estabilização da RER, deu-se inicio que todas as variáveis numéricas se enquadraram
ao aquecimento de 3 minutos na esteira com ve- no modelo Gaussiano de distribuição, apresen-
locidade de 5 km∙h-1. Após este aquecimento, deu- tando dessa forma, distribuição normal. Assim,
se início ao teste incremental, que começou com a estatística descritiva foi composta por valores
velocidade inicial de 6 km∙h-1, cada estágio teve a de média e desvio-padrão. A análise de variância
duração de um minuto e, ao final de cada um dos ANOVA one-way (post hoc de Tukey) estabeleceu
mesmos, houve incremento na velocidade de 1 comparações entre os valores médios dos grupos
km∙h-1. Não houve aumento da inclinação durante formados. O teste qui-quadrado comparou propor-
a realização do teste. ções. Valores de P inferiores a 5% foram consi-
O consumo máximo de oxigênio foi definido derados estatisticamente significativos e todas as
como o valor mais alto de consumo de oxigênio análises foram realizadas no software estatístico
alcançado no último estágio completo pelo avalia- SPSS 13.0.
do. Os critérios de interrupção do teste foram (i)
exaustão voluntária; (ii) freqüência cardíaca má- Resultados
xima atingida (estimada pela fórmula FCmáx= 220
- idade); (iii) RER igual à 1,15. Durante o teste os A idade do grupo analisado variou de 18 a 32
sujeitos receberam estimulação verbal por parte anos (média= 22,6 ± 3,8). A Tabela 1 apresenta,
dos avaliadores. estratificados de acordo com os diferentes grupos
formados para consumo máximo de oxigênio, ida-

Tabela 1
Características gerais de acordo com o consumo de oxigênio.

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de cronológica, antropometria e os diferentes in- ximo de oxigênio e os outros cinco (55,6%) no Q4.
dicadores de risco cardiovascular analisados. Os Do restante da amostra ([n= 23] 71,9%), apenas
valores observados indicaram que os indivíduos três estiveram situados no grupo Q4 para consumo
situados no quartil mais baixo para consumo máxi- máximo de oxigênio.
mo de oxigênio, quando comparados com os dois
grupos de maior desempenho no teste de esfor- Discussão
ço, apresentaram os maiores valores de IMC, CC
e %GC-BIA. Os valores de peso corporal e PAS Estudo de delineamento transversal, que en-
em repouso diferiram apenas entre os dois grupos volveu adultos jovens sem histórico prévio de do-
mais extremos para o consumo máximo de oxigê- ença e identificou que, mesmo sem a presença de
nio. A média do escore de risco criado também foi patologias, houve significativo impacto do maior
significantemente mais elevada no grupo de mais consumo máximo de oxigênio na diminuição dos
baixo consumo máximo de oxigênio. escores observados em diferentes indicadores de
A ocorrência de hipertensão arterial e excesso risco cardiovascular.
de peso foi observada em 18,8% (n=6) e 31,3% (n= No presente estudo detectou-se que os gru-
10) da amostra analisada, respectivamente. Apenas pos com maiores valores de consumo máximo de
6,3% (n=2) da amostra apresentaram valores ele- oxigênio apresentaram menores valores de IMC,
vados de glicemia em jejum e excesso de gordu- %GC e CC. Este resultado está em linha com acha-
ra corporal. No que se refere ao excesso de peso, dos prévios de um estudo conduzido com adultos
houve associação significativa com desempenho chineses saudáveis (ambos os sexos e idade entre
no teste de esforço, já para a hipertensão arterial 20 e 64 anos), no qual, para o sexo masculino, o
não houve associação significativa (Figura 1). consumo máximo de oxigênio foi inversamente
A Figura 2 apresenta a associação entre o con- relacionado com a massa de gordura (r= -0,52),
sumo máximo de oxigênio e a ocorrência de apre- sendo que no mesmo estudo, este relacionamento
sentar ao menos um fator de risco. Houve associa- ocorreu independente do gênero12. OrakZai e cola-
ção significativa entre apresentar maior consumo boradores13 analisando adultos jovens e sem histó-
máximo de oxigênio e menor ocorrência de fatores rico prévio de doença coronariana, ao estratificar
de risco. Apenas nove sujeitos (28,1%) não apre- o grupo em tercil de acordo com a aptidão física
sentaram nenhum fator de risco aumentado (escore (teste indireto em esteira), indicaram resultados se-
de risco= 0), sendo que quatro destes (44,4%) esti- melhantes para IMC e CC (maiores valores para o
veram situados no grupo Q2-3 para consumo má- grupo de menor aptidão).

Excesso de peso= IMC ≥25 kg/m2


Hipertensão arterial= PAS≥130 mmHg e ou PAD ≥85mmHg

Figura 1
Associação do consumo máximo de oxigênio com hipertensão e excesso de peso.

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Figura 2
Associação do consumo máximo de oxigênio com o escore de risco cardiovascular criado.

A relação entre maior consumo máximo de gação dos fatores de risco que a compõem. Nos-
oxigênio e maior prática de atividades físicas, sos resultados indicaram que, mesmo entre adultos
principalmente aquelas de intensidade modera e jovens saudáveis, o escore de risco cardiovascular
vigorosa, é bem documentada na literatura1,4. Des- criado para este estudo apresentou-se menor para
sa forma, o fato do consumo máximo de oxigênio o grupo de mais alto consumo máximo de oxigê-
se relacionar com estes indicadores de adiposidade nio, bem como a maior ocorrência de nenhum fa-
pode ter sua explicação na possível maior prática tor elevado nos indivíduos de maior consumo de
de atividades físicas do grupo com maiores valores oxigênio.
de consumo máximo. Resultado semelhante foi observado por Laak-
Este efeito redutor do exercício físico de cará- sonen e colaboradores1, onde, adultos portadores
ter aeróbio sobre a gordura corporal pode, por sua da síndrome metabólica apresentaram menor pro-
vez, mediar à relação desta com outros indicadores babilidade de apresentar valores mais elevados de
de risco cardiovascular, caso de glicemia sanguí- consumo máximo de oxigênio. Estes resultados fo-
nea e pressão arterial. No presente experimento, ram semelhantes também aos observados em adul-
observou-se diferenças entre os grupos no que diz tos sem histórico prévio de doenças, onde, Orakzai
respeito aos valores de PAS. Tais informações se e colaboradores13 utilizando o Framinghan risk
assemelham a outros resultados de pesquisas pre- score, também observaram resultados similares ao
viamente disponibilizados na literatura2,13,14. comparar este escore de acordo com o tercil para
No que diz respeito aos valores de PAS, outros aptidão física (o tercil de maior aptidão apresentou
mecanismos, que não apenas a relação entre adipo- o menor escore).
sidade corporal e prática de atividades físicas, po- Nosso estudo apresenta pontos positivos (mé-
dem explicar este possível efeito depressor. Assim, todos sofisticados), caso da medida direta do con-
outros fatores associado a maior prática de ativi- sumo máximo de oxigênio e utilização de impe-
dades físicas, caso da menor atividade simpática dância bioelétrica. Porém suas limitações precisam
e maior liberação de oxido nítrico15, podem cons- ser apresentadas, assim, a limitação principal deste
tituir estas vias adicionais pelas quais o exercício estudo reside em seu delineamento transversal, o
físico e, consequentemente o consumo máximo qual não possibilita estabelecer relações de causa-
de oxigênio, é benéfico na redução dos valores de lidade entre as variáveis analisadas. Adicionalmen-
pressão arterial em repouso. te, o tamanho reduzido do grupo analisado bem
Em quadro patológico avançado, a síndrome como algumas de suas características (estudantes
metabólica representa importante fator de risco ao universitários) merecem especial destaque e, dessa
desenvolvimento de desfechos cardiovasculares de forma, cuidados quanto à possível generalização
graves conseqüências, dada à tendência de agre- destes resultados devem ser tomados.

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Conclusão sem histórico prévio de doenças, seja de maneira
isolada ou agregada, o baixo consumo máximo de
Em resumo, o presente estudo conclui que na oxigênio foi associado de maneira importante com
amostra analisada composta por adultos jovens e reconhecidos indicadores de risco cardiovascular.

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PoteNcIAl coNFlIto de INteReSSeS
Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.

FoNteS de FINANcIAmeNto
O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

AgRAdecImeNtoS
Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pelas bolsas de doutorado e mestrado concedidas aos
pós-graduandos Rômulo Araújo Fernandes e Jamile Sanches Codogno, respectivamente.

coNtRIBuIção doS AutoReS


Rômulo Araújo Fernandes, Jamile Sanches Codogno, Eduardo Zapaterra Campos, Eduardo Quieroti
Rodrigues e Sergio de Sousa participaram das coletas, idealizaram o trabalho e confeccionaram o docu-
mente. Pedro Balikian Júnior e Ismael Forte Freitas Júnior foram responsáveis pela revisão do trabalho
e contribuíram para a confecção do mesmo.

coRReSPoNdêNcIA
Rômulo Araújo Fernandes
Instituto de Biociências – UNESP – Rio Claro. Av. 48A, 915 casa 16 – Rio Claro (SP), Brasil. CEP: 13506-900
e-mail: romulo_ef@yahoo.com.br

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