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PRESCRIÇÃO DE

EXERCÍCIOS PARA GRUPOS


ESPECIAIS

autor
WAGNER SANTOS COELHO

1ª edição
SESES
rio de janeiro 2019
Conselho editorial roberto paes e gisele lima

Autor do original wagner santos coelho

Projeto editorial roberto paes

Coordenação de produção andré lage, luís salgueiro e luana barbosa da silva

Projeto gráfico paulo vitor bastos

Diagramação bfs media

Revisão linguística bfs media

Revisão de conteúdo regina braga de moura e ercole da cruz rubini

Imagem de capa kzenon | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019.

Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento


Av. das Américas, 4.200 – Barra da Tijuca
Campus Tom Jobim – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22640-102
Sumário
Prefácio 5

1. Introdução à Epidemiologia e atividade física 7


Introdução à Epidemiologia 9
Indicadores e coeficientes de saúde 11
Saúde e qualidade de vida 13
Teoria da transição epidemiológica 15
Doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) 19
Epidemiologia, atividade física e saúde 21

2. Atividade física e doenças metabólicas 27


Síndrome metabólica 29

Etiologia da síndrome metabólica 30

Resistência à insulina 30
Disfunção das células β-pancreáticas 34
Obesidade 35
Inflamação crônica 36
Papel do exercício na síndrome metabólica 37

3. Atividade física e doenças cardiovasculares 47


Doenças cardiovasculares 49
Benefícios do exercício físico 58

4. Atividade física e doenças respiratórias 67


Função respiratória 69
Ventilação pulmonar 71
Troca gasosa 73

Distúrbios do sistema respiratório 75


Insuficiência respiratória 77
Asma brônquica 78
Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) 80

Benefícios do exercício físico 81


O exercício como intervenção terapêutica 83

5. Atividade física e o sistema imunológico 89


Visão geral do sistema imunológico 91

Doenças associadas ao sistema imunológico e exercício físico 94


Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) 95
Tolerância imunológica e autoimunidade 100

Respostas do sistema imunológico ao exercício físico 102


Prefácio

Prezados(as) alunos(as),
Este livro foi concebido como uma ferramenta para você tomar conhecimento
de alguns aspectos fundamentais da ciência da prescrição de exercícios direcionada
a alguns grupos especiais. Gostaríamos de convidá-lo a estudar e aprender por
meio deste material.
A prescrição de exercícios para grupos especiais deve partir do conhecimento
dos quadros de doenças e suas complicações para o corpo humano. Em seguida, é
fundamental que você conheça de que forma as intervenções com exercício físico
podem contribuir para a prevenção, no controle da evolução e até mesmo na re-
versão ou cura da doença.
Em um primeiro momento, você tomará conhecimento de dados epidemio-
lógicos relevantes, como a transição epidemiológica marcada pelas mudanças ob-
servadas ao longo do século passado que modificaram as incidências e prevalências
das principais causas de morte, as quais nos dias de hoje são principalmente asso-
ciadas a doenças cardiovasculares e estão diretamente relacionadas aos hábitos de
vida, incluindo a inatividade física.
Neste cenário, ao longo do livro, você será conduzido a construir uma visão
ampla e integrada sobre o papel do exercício físico e suas possibilidades de apli-
cação e benefícios relacionadas às doenças metabólicas, cardiovasculares, respira-
tórias e do sistema imunológico. Ao final deste passeio pela ciência da prescrição
do exercício, você poderá reunir um repertório de informações relevantes para
compreensão das principais doenças destes sistemas fisiológicos e principalmente,
reconhecer o papel do profissional de Educação Física como ator indispensável
nas abordagens preventivas e terapêuticas, além de conhecer as ferramentas básicas
para sua atuação profissional nestes quadros clínicos.

Bons estudos!

5
1
Introdução à
Epidemiologia e
atividade física
Introdução à Epidemiologia e atividade física
Esse capítulo tem como propósito apresentar os conceitos básicos em
Epidemiologia e suas relações com a atividade física. Neste capítulo, você será
apresentado, por meio de uma breve perspectiva histórica da epidemiologia, à de-
finição de saúde e seus indicadores; junto a isso você será conduzido a compreen-
der os principais coeficientes e índices que explicam a prevalência, incidência,
morbidade e mortalidade dos agravos à saúde.
A transição epidemiológica é um conceito muito interessante ao qual você
será apresentado neste primeiro capítulo. Você irá compreender que nos países em
desenvolvimento como o Brasil, esse fenômeno se dá em função da inversão entre
as principais causas de morte. No início do século passado, as principais causas de
morte na população brasileira eram atribuídas às doenças infecciosas, no entan-
to, atualmente, essa causa está relacionada às doenças crônico-degenerativas não
transmissíveis (DCNT’s), como as doenças cardiovasculares.
Dessa forma, você irá perceber que as doenças mais prevalentes nos dias de
hoje estão diretamente associadas ao estilo de vida, tendo o sedentarismo como
fator determinante para o surgimento destes quadros de comprometimento da
saúde, portanto, por esse motivo existe uma relação direta entre a atividade física
e muitos fatores epidemiológicos. Esses aspectos serão introduzidos neste capítulo
e aprofundados ao longo deste livro.
Sendo assim, logo neste primeiro capítulo você será conduzido a perceber a
relevância que o profissional de Educação Física tem perante toda a sociedade. Por
consequência direta dessa importância, é também fundamental que você perceba
que à medida que você ganha espaço e importância, você também deve assumir
maior responsabilidade, sendo assim o embasamento teórico e prático será de fun-
damental para que a sua atuação profissional seja plena e atenda as necessidades da
sociedade de forma ética, responsável e eficaz.

OBJETIVOS
• Definir conceitos básicos de epidemiologia e saúde;
• Identificar os principais indicadores de saúde;
• Reconhecer as principais doenças crônico-degenerativas não transmissíveis;

capítulo 1 •8
• Correlacionar o sedentarismo ao surgimento desenvolvimento das doenças crônico-dege-
nerativas não transmissíveis;
• Compreender a teoria da transição epidemiológica.

Introdução à Epidemiologia

A Associação Internacional de Epidemiologia (IEA) define a epidemiolo-


gia como o estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das
doenças nas sociedades humanas. A epidemiologia se ocupa de compreender os
problemas de saúde em grupos populacionais, em geral em estudos envolvendo
populações com grande número de pessoas. Esse eixo da saúde pública identifica
fatores e ações para a prevenção ou profilaxia, fornece indicadores para o diagnós-
tico de doenças transmissíveis e não transmissíveis e avalia o grau de correlação e
casualidade entre diversos fatores e o surgimento das doenças.
Os principais objetivos da epidemiologia, segundo a IEA são:
• Descrever a distribuição e o impacto dos problemas de saúde nas popula-
ções humanas.
• Organizar bases de dados que sirvam para planejamento, execução e ava-
liação de ações preventivas, controle e tratamento de doenças e identificação de
prioridades nas intervenções.
• Reconhecer e identificar fatores que originam as doenças e a característica
de evolução das mesmas no organismo humano.

Neste sentido, um epidemiologista estuda a distribuição da morbidade repre-


sentada pela quantidade de portadores de determinada doença em relação à po-
pulação total estudada e mortalidade. Esta, por sua vez, refere-se à quantidade de
pessoas mortas em determinada população, realiza testes de eficácia e inocuidade
de vacinas, desenvolve a vigilância epidemiológica e analisa fatores ambientais e
socioeconômicos envolvidos diretamente como fatores de casualidade de doenças.
Um modelo de estudo tradicionalmente utilizado nos estudos epidemiológi-
cos é o da “tríade epidemiológica” em que a inter-relação entre o agente, o ambien-
te e o hospedeiro (ser humano) é investigada. Neste modelo, o ambiente influen-
cia o agente e o hospedeiro, e também a via de transmissão do agente a partir de
uma origem para o hospedeiro.

capítulo 1 •9
A origem histórica da epidemiologia é atribuída da Hipócrates, em que se
especula que os seus escritos sobre as distribuições e ocorrências das enfermidades
e relações com as epidemias fundamentam o raciocínio epidemiológico. Se você
der um salto na história para meados do século XIX, para a cidade de Londres
na Inglaterra, vai ver que existem relatos de uma grande epidemia de cólera, pro-
movendo a reunião dos membros da Sociedade Epidemiológica de Londres. A
primeira associação conhecida, organizada em 1850, verificou que a mortalidade
por essa doença era diferente nas diferentes áreas da cidade.
Essa observação permitiu levantar a suspeita de que a doença poderia ser trans-
mitida pela água, e a condução de estudos epidemiológicos demostrou que a taxa
de mortalidade estava diretamente relacionada às companhias de abastecimento
de água, que captavam água de diferentes partes do Rio Tamisa, com diferentes
níveis de poluição. Essa descoberta levou a criação de uma lei na época que aper-
feiçoou a retirada de água por parte das companhias de abastecimento. Perceba
que a aplicação do raciocínio de Hipócrates serviu para identificar a origem da
epidemia, mesmo antes de se conhecer o agente causador da cólera; o Vibrio
cholerae que só foi identificado em 1883 e ainda pôr em prática uma estratégia de
prevenção da doença.
Já no final do século XIX, os estudos de Louis Pasteur permitiram correla-
cionar a ação de micro-organismos como agentes causadores de diferentes en-
fermidades infecciosas e agentes envolvidos em epidemias, cunhando o conceito
de “germe” que perdurou até meados do século XX. A descoberta de Pasteur e,
posteriormente, o desenvolvimento dos antibióticos e das vacinas serviram de
norteadores para as ações de saúde, que eram feitas principalmente por meio do
isolamento para conter as epidemias, o uso dos antibióticos para o tratamento e o
emprego de vacinas como forma de prevenção de doenças.
Um dos casos mais emblemáticos em epidemiologia na história recente se
relaciona ao consumo do tabaco como fator causador do câncer de pulmão. A
produção e o consumo de tabaco caíram no gosto da população mundial ainda
no século XVIII e o consumo de cigarros e charutos aumentou drasticamente ao
longo do tempo. No início do século XX, a população americana, por exemplo,
consumia cerca de 3,5 bilhões de cigarros e 6 bilhões de charutos por ano, atingin-
do um consumo médio, no ano de 1853, de 3500 cigarros por pessoa.
Alguns anos antes, pesquisadores ingleses fizeram um alerta sobre uma inespe-
rada epidemia que surgia lentamente ao identificarem que a incidência de câncer

capítulo 1 • 10
de pulmão tinha aumentado quase quinze vezes nas duas décadas anteriores. A
partir desse alerta, um bioestatístico inglês, Bradford Hill, conduziu um estudo
para identificar o fator de risco de câncer de pulmão. Neste estudo, os pesquisa-
dores tiveram acesso aos hábitos de fumar, em relação à frequência, quantidade e
outras informações, de mais de 40 mil indivíduos, entre fumantes e não fumantes.
Essas pessoas foram acompanhadas por 29 meses, entre outubro de 1951 e março
de 1954 e dentre os participantes deste estudo, foram registrados 789 mortes, das
quais trinta e seis foram atribuídas ao câncer de pulmão. Quando os pesquisadores
distribuíram essas mortes entre fumantes e não fumantes, a correlação saltou aos
olhos, porque todas essas 36 mortes ocorreram entre fumantes, demonstrando de
forma clara a relação de causa e efeito entre o tabagismo e o câncer de pulmão.
A partir dessa breve história da epidemiologia, você pôde perceber a impor-
tância dessa ciência e desses métodos de observação na identificação de fatores,
variáveis e agentes causadores de doenças. Ao se estabelecer a relação de causa e
efeito, também fica clara a possibilidade de desenvolver estratégias que possam
reduzir os riscos à saúde, a morbidade e mortalidade, além de promover melhorias
na qualidade de vida da população.

Indicadores e coeficientes de saúde

Você deve perceber que, o levantamento de dados e, a partir destes, a geração


de informações são fundamentais para a compreensão da situação da saúde para
que se estabeleçam estratégias de vigilância epidemiológica. Esses dados podem
ser registrados de forma contínua, como nos casos de óbitos e nascimentos; de
forma periódica, por meio de estudos de recenseamento da população ou de forma
ocasional, por meio de estudos com objetivos específicos que visem, por exemplo,
identificar a prevalência de doenças em certos grupos populacionais.
Dentre os dados mais relevantes para fins epidemiológicos destacam-se in-
formações gerais sobre a população, dados socioeconômicos, ambientais, sobre
os serviços de saúde, informações sobre morbidade e sobre eventos vitais como o
número de nascidos e de óbitos.
Neste sentido, indicadores de saúde são medidas que contêm informações re-
levantes sobre o estado do sistema de saúde e sobre a população. A produção e uti-
lização destes indicadores são de responsabilidade de órgãos como o Sistema Único
de Saúde (SUS) no âmbito municipal, estadual e federal, o IBGE, instituições de

capítulo 1 • 11
ensino e pesquisa, ONGs, setores de administração pública que produzem dados
de interesses para a saúde e associações técnico-científicas.
Já o controle dos indicadores é feito pela Rede Interagencial de Informações
para a Saúde (RIPSA), que dentre seus propósitos, visa estabelecer dados e indi-
cadores consistentes, atualizados, abrangentes e de amplo acesso. A RIPSA ainda
se propõe a aperfeiçoar a produção de dados e informações, por meio da articula-
ção de instituições, promovendo o consenso sobre conceitos, métodos e critérios
de utilização das bases de dados, muitas vezes disponíveis on-line para consul-
ta pública.
Os indicadores podem ser de dois tipos. Indicadores absolutos referem-se
a números específicos, como o total de pacientes com determinada doença ou
o número de óbitos. Já os indicadores relativos indicam coeficientes e índices.
Geralmente os coeficientes são taxas que representam o risco de determinado
evento acontecer em uma população. Dentre esses coeficientes, você deve com-
preender alguns indicadores que podem ser calculados, em alguns casos, como a
prevalência, incidência e letalidade, que podem ser inferidas de diferentes manei-
ras, como indicado a seguir:
• Prevalência = número total de casos / população exposta.
• Incidência = número de casos novos / população exposta.
• Prevalência = incidência × duração da doença
• Letalidade = número de mortes para determinada doença / número de indi-
víduos acometidos por essa mesma doença (mede a gravidade da doença).

Para calcular o coeficiente de mortalidade geral (CMG), você pode usar dife-
rentes formas, dependendo do tipo de informação que se quer extrair. A fórmula
básica pode ser feita da seguinte forma:
Número de óbitos todas as causas em um ano X lugar Y
CMG = x1000
População ano X lugar Y

Existem outros coeficientes de mortalidade, como o coeficiente de mortalida-


de infantil ou de mortalidade por causas ou índices importantes como o índice de
mortalidade infantil que leva em consideração o número de óbitos de crianças com
menos de um ano de idade, frente ao número total de óbitos de uma população.

capítulo 1 • 12
Finalmente agora, você poderá compreender o significado e diferenciar es-
ses conceitos tão importantes na área da saúde. Repare que a morbidade mede a
quantidade de indivíduos doentes em um determinado local e ano e a prevalência
significa a frequência absoluta de casos, ou seja, o total de casos existentes de um
quadro. Perceba assim que para efeitos de comparação e avaliação de risco, você
deve usar o coeficiente de prevalência. Este permite medir a frequência de todos
os casos da doença registrados, sejam ainda em tratamento ou que acabaram de ser
diagnosticados, como novos casos em relação à população exposta.
Neste sentido, um maior número de novos casos diagnosticados, a imigração
de doentes e a diminuição da mortalidade por doenças crônicas são fatores que
aumentam a prevalência. Em contrapartida, o aumento no número de óbitos, do
percentual de cura e a emigração promovem efeito contrário e reduz a prevalência
de certo agravo à saúde.

Você saberia dizer quem morre mais, ao compararmos homens e mulheres?


Apesar de nascerem mais crianças do sexo masculino no Brasil, a partir da adolescência a
sobre mortalidade dos homens se torna um dado marcante que responde a essa pergun-
ta, indicando que os homens morrem mais que as mulheres, em todas as faixas etárias.
Vários fatores explicam esses dados, dentre eles os altos índices de mortalidade devido a
causas violentas da população masculina, que estão relacionadas, por exemplo, a mortes
por acidentes de trânsito, além disso, há maior incidência de doenças cardiovasculares em
homens. Esses dados indicam que os homens são mais vulneráveis sob o ponto de vista
biológico e social, quando assumem comportamento mais arriscado.

Saúde e qualidade de vida

A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi criada pela Organização das


Nações Unidas (ONU) com o objetivo de elevar os padrões mundiais de saúde.
Dentre as ações da OMS, há a tentativa de possibilitar a centralização de temas
abrangentes; incluindo a qualidade de vida e a saúde, assuntos impossibilitados de
serem independentes entre si. A OMS, por meio do Programa de Saúde Mental,
propôs a criação de um instrumento, através de um questionário (WHOQoL)
que permite avaliar diferentes aspectos que influenciam diretamente a saúde e a
qualidade de vida.
Com base neste instrumento, você já se perguntou o quão satisfeito você está
com a sua saúde? Responda a essa pergunta atribuindo: 1 para muito insatisfeito,
2 para insatisfeito, 3 nem insatisfeito, nem satisfeito, 4 para satisfeito e 5 para
muito satisfeito. E ai, qual é a sua percepção sobre sua própria saúde?

capítulo 1 • 13
Essa pergunta figura no WHOQoL da OMS. Mas afinal, você saberia definir
o que é saúde?
Para que você compreenda a dimensão dessa pergunta, primeiro podemos
dizer que a percepção da saúde é algo subjetivo. De maneira simplificada, a saúde
pode ser definida como a ausência de doença e neste sentido, a boa saúde está di-
retamente relacionada à manutenção do equilíbrio de parâmetros fisiológicos que
possam garantir o bom funcionamento de todos os órgãos, sistemas e tecidos de
um organismo, garantindo que todas as funções vitais ocorram adequadamente.
Assim, a saúde de um indivíduo é influenciada pela própria biologia humana.
Em contrapartida, segundo a OMS “a saúde pode ser definida não apenas
como a ausência de doença, mas também inclui o bem-estar social, psicológico,
ambiental, físico e mental” e assim a saúde não é influenciada apenas por fatores
biológicos, mas também por variáveis ambientais, sociais e relativas ao estilo de
vida. Você deve saber que a boa alimentação, a prática regular de exercícios físicos
orientados e o bem-estar emocional são fatores determinantes para a manutenção
do equilíbrio do estado de saúde. Já a falta de acesso a serviços básicos de saúde,
a exposição a situações precárias, como a falta de saneamento básico e acesso à
água potável podem influenciar negativamente a saúde de um indivíduo ou de
uma comunidade.
Portanto, fica claro que uma boa saúde promove diretamente uma melhor
qualidade de vida. Ainda sobre o questionário da OMS (WHOQoL), em uma
escala de 1 a 5, sendo 1 muito ruim e 5 muito boa, como você avaliaria a sua qua-
lidade de vida? A resposta a essa pergunta é ainda mais subjetiva, pois a percepção
da qualidade de vida pode variar muito entre as pessoas. Para você, ter uma boa
qualidade de vida pode estar associado a viver em um ambiente calmo como em
uma cidade do interior, e já para outras pessoas, pode ser que justamente a agita-
ção de um grande centro, represente uma boa qualidade de vida. Neste sentido,
fica ainda mais difícil termos uma definição única para a qualidade de vida.
O conceito de qualidade de vida sofre constantemente modificações de acordo
com a época, o contexto social, a nação, cultura e crenças, de modo que não há
definição que abranja suficientemente sua multidimensionalidade e seu conceito
subjetivo, que inclui elementos de avaliação tanto positivos quanto negativos. A
OMS, por meio do WHOQoL group, define a qualidade de vida como sendo “a
percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto cultural e dos sistemas
de valores nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, suas expectativas, seus
padrões e suas preocupações, bem como o bem-estar biopsicossocial e espiritual,

capítulo 1 • 14
abrangendo quatro grandes dimensões, que incluem os domínios físico, psicológi-
co, ambiental e de relações sociais”.
Desse modo, a preocupação com qualidade de vida advém do próprio concei-
to de saúde. Com isso, você pode concluir que apesar da subjetividade em alguns
aspectos da saúde e qualidade de vida, a melhoria de qualquer fator relacionado a
esses dois parâmetros irá impactar diretamente o outro, de forma também positiva.
Você ainda pode perceber de forma clara que a escolha de um estilo de vida
mais saudável que inclua a prática regular de exercícios físicos com adequada
orientação, a escolha por hábitos alimentares mais saudáveis que garantam o con-
trole do peso corporal, o acesso à assistência de saúde para avaliação periódica cer-
tamente acarretará benefícios na prevenção de problemas de saúde, promovendo
assim não só a boa saúde como também uma melhor qualidade de vida.

Teoria da transição epidemiológica

Neste tópico, você será apresentado à transição do cenário epidemiológico


brasileiro, que sofreu importantes modificações no último século. Um indicador
conveniente para avaliar as condições de vida e o modelo de desenvolvimento de
uma população é o perfil de morbidade e mortalidade e, a partir deste perfil, uma
importante teoria foi proposta por Omran em 1971, conhecida como teoria da
transição epidemiológica e classificada em três estágios sucessivos da mudança dos
padrões de morbidade e mortalidade: a “idade das pestilências e fome”, a “idade
das pandemias reincidentes” e, finalmente, a “idade das doenças degenerativas”.
Neste sentido, a transição epidemiológica pode ser compreendida como as
mudanças ocorridas ao longo do último século nos padrões de mortalidade, mor-
bidade e invalidez para determinada população e é geralmente acompanhada
por modificações em padrões socioeconômicos, tecnológicos, demográficos de
uma sociedade.
Em um levantamento realizado em 2003, Buchalla, Waldman e Laurenti,
listaram as principais causas de morte na cidade de São Paulo em diferentes pe-
ríodos. Para que você tenha ideia, em 1901, a diarreia e a enterite representavam
cerca de 20% das causas de óbito, sendo as principais responsáveis pelas mortes
na cidade de São Paulo, seguidas pela bronquite aguda, representando 8,4%; a
pneumonia responsável por 6,9% dos casos de óbitos e da tuberculose que corres-
pondia a 6% dos óbitos.

capítulo 1 • 15
No ano de 1930, as doenças infectocontagiosas eram responsáveis por 46%
dos casos de óbito na população brasileira e, a partir de então, se verificou uma
redução progressiva na frequência relativa de casos de óbito decorrentes a esse tipo
de doença. Em contrapartida, houve um aumento gradual na incidência e na taxa
de mortalidade de doenças cardiovasculares, que representavam apenas 12% dos
casos, em 1930. Na cidade de São Paulo, no ano de 1960, as principais causas de
morte passaram a ser atribuídas às neoplasias malignas, respondendo por 12% dos
casos, seguidas das doenças arteriais e degenerativas do coração, correspondendo a
10% dos óbitos; 7,7% dos casos eram decorrentes de lesões vasculares no sistema
nervoso central e, em seguida, aparecendo a pneumonia e as disenterias represen-
tando 7,2% e 6,2% dos casos de morte, respectivamente.
Se você observa esse cenário no ano 2000, a principal causa de morte na cida-
de de São Paulo passa a ser o infarto agudo do miocárdio, sendo 9,2% dos casos,
seguida da agressão por disparo de arma de fogo representado por 5,3% dos casos,
posteriormente aparece a pneumonia, responsável por 4,7% dos óbitos, o diabetes
melito representando 3,4% das mortes e, em quinto lugar, as mortes por doença
isquêmica crônica do coração, com cerca de 3%. Ao comparar as principais causas
de morte em três momentos distintos do último século, na maior cidade do Brasil,
você pôde notar uma tendência clara a mudança no perfil das principais causas de
morte. Ao fazermos uma comparação, no início do século passado as doenças
cardiovasculares correspondiam a 12% dos casos de morte e são, atualmente, as
principais causas de morte em todas as regiões brasileiras, respondendo por quase
um terço dos óbitos.
O reconhecimento da transição epidemiológica no Brasil não é necessaria-
mente algo novo. Em um estudo publicado em 1992 e recentemente republicado,
foi reportado que até a década de 1940 havia um predomínio de mortes associadas
a doenças infecciosas e parasitárias como principal causa de morte, representando
43,5% do total de óbitos e, já em 1986, as doenças do aparelho circulatório atin-
giam 33,5% dos casos de morte em comparação com os 14,5% dos casos de morte
reportados nos anos de 1940, como ilustrado na figura 1.1.

capítulo 1 • 16
100,0

Percentual de óbitos 80,0

60,0

40,0

20,0

0,0
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1986
Outras
causas 21,3 19,8 29,4 29,2 30,8 24,5 16,7
Causas
externas 2,6 2,4 3,3 4,8 7,5 7,7 14,8
Neoplasias
malígnas 2,7 3,9 5,7 8,1 9,7 11,2 11,9
Aparelho
diges�vo 4,4 3,8 2,4 2,5 2,5 4,3 4,7
Aparelho
respiratório 11,5 12,1 9,1 8,0 9,0 10,1 10,3
Aparelho
circulatório 11,8 14,5 14,2 21,5 24,8 30,8 33,5
Infecções
parasitas 45,7 43,5 35,9 25,9 15,7 11,4 8,0

Figura 1.1 – Distribuição das mortes por grupos de causas. Brasil


e capitais – 1930-1986. Araujo, in memorian, 2012.

Essa mudança no padrão de mortalidade é determinada por vários fatores,


desde a modificação demográfica, passando pelo avanço tecnológico e científico
que apoiam a clínica médica, a assistência à saúde e a prevenção de doenças, mas
também por mudanças no estilo de vida e nos hábitos de saúde. A cidade de São
Paulo, por exemplo, teve aumento de sua população em 36 vezes entre o ano de
1901 e o ano 2000, decorrente a um grande fluxo migratório e um amento de 23
vezes no número de nascidos. Somado a isso, o coeficiente de mortalidade infantil

capítulo 1 • 17
diminuiu 2,6 vezes neste mesmo período, além do aumento na expectativa de vida
ao nascimento e do envelhecimento da população.
Outros fatores explicam essa transição, como modificações socioeconômicas,
o nível de escolaridade da mãe, o acesso ao saneamento básico e a disponibilidade
de água de qualidade, medidas no cuidado básico de higiene e assistência à saúde e
nutrição. Além disso, a profusão da vacinação com ampla distribuição à população
foi responsável por notáveis mudanças nos perfis relevantes de óbitos. Estima-se
que, só para o sarampo, o papel preventivo da vacinação foi responsável por evitar
cerca de um milhão de mortes no mundo, por ano, na última década do século
XX. A evolução da mortalidade proporcional no Brasil, entre 1930 e 2003, de
acordo com as causas pode ser observada na figura 1.2.

50
Infecciosas e
40 Parasitárias
Neoplasmas
30 Aparelho
Circulatório
20 Extremas
10

0
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1988 2000 2003

Figura 1.2 – Evolução da mortalidade no Brasil – 1930-2003.


Barbosa et al., 2003 apud BRASIL, Ministério da Saúde, 2005.

Em resumo, é importante que você perceba que, de acordo com a teoria da


transição epidemiológica, há uma evolução progressiva na mudança do perfil de
mortalidade, em que no início do século passado, as altas taxas de mortalidade
eram atribuídas às doenças infecciosas e ao final deste século, as causas de óbitos
predominantes passam a ser as doenças cardiovasculares, as neoplasias, as causas
externas e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT’s).
Apesar de esse padrão ser observado nos países desenvolvidos e em muitos
países em desenvolvimento, no Brasil essa transição apresenta perfil peculiar, em
que novos e velhos problemas de saúde coexistem com destaque para as doenças
crônico-degenerativas, porém ainda com grande incidência de doenças infecciosas
em função da reintrodução de doenças como dengue, febre amarela e cólera, e a
persistência de quadros como malária, tuberculose e hanseníase. Isso sugere que

capítulo 1 • 18
no Brasil não ocorre transição epidemiológica propriamente dita e sim uma sobre-
posição de diferentes contextos epidemiológicos.

Doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs)

A partir da abordagem anterior, você deve imaginar que um dos grandes de-
safios de saúde para esta e as próximas décadas são as doenças crônicas não trans-
missíveis (DCNT’s). Elas representam uma grande ameaça para a qualidade de
vida de indivíduos em todo o globo, causam enormes gastos no sistema de saúde
e apresentam altos índices em morbidade e mortalidade.
As DCNT’s foram agrupadas deste modo pela característica multifatorial e as-
sociação com fatores de risco modificáveis, como sedentarismo, tabagismo, abuso
de bebidas alcoólicas, sobrepeso e obesidade (IMC > 25 kg/m2), as dislipidemias,
além dos fatores de risco não modificáveis, como hereditariedade, sexo, idade e
etnia. As principais DCNT’s que apresentaram grande aumentode incidência e
prevalência no mundo globalizado e industrializado incluem as doenças metabó-
licas como o diabetes melito (DM), as doenças cardiovasculares (DCV), doenças
respiratórias crônicas, neoplasias e doenças musculoesqueléticas.
O diabetes melito (DM) tipo II é considerado hoje uma epidemia mundial,
ocorrendo paralelamente à epidemia de obesidade e do sedentarismo, e represen-
tando um grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo, afetando a
qualidade e a expectativa de vida, devido a diversas complicações funcionais. No
Brasil, estima-se que 45,7% da população acima dos 45 anos de idade referem ter
DM II. Nos indivíduos assintomáticos com mais de 40 anos e sem outros fatores
de risco, o rastreamento para DM II deve ser realizado por meio da dosagem dos
níveis de glicemia em jejum, podendo ocorrer a cada três anos.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o maior fator de risco para a DCV,
estando diretamente correlacionada ao aumento da incidência de infarto agudo
do miocárdio e acidentes vasculares. Estima-se que, no ano de 2008, 63% das
mortes no mundo se deveram às DCNT’s, e dentro dessa realidade as doenças
cardiovasculares apresentam a maior prevalência, respondendo por 48% de todas
as DCNT’s. O número total de mortes atribuído as DCNT’s para o ano de 2008
foi de cerca de 36 milhões de óbitos. Em adultos brasileiros, com mais de 40 anos,
tem-se encontrado uma prevalência de HAS de 35%. Estudos epidemiológicos
aliados à utilização de exames de rastreio permitem a detecção precoce da HAS e,

capítulo 1 • 19
assim, favorecem o início do tratamento adequado ou medidas profiláticas, pro-
movendo grande redução na morbidade e mortalidade.
As neoplasias também apresentam destaque neste cenário, os casos de câncer,
no ano de 2008, foram responsáveis por 21% dos óbitos decorrentes às DCNT’s.
Estimativas em escala mundial indicam que no ano de 2012, foram referidos 14,1
milhões de novos casos de câncer com 8,2 milhões de óbitos. As maiores taxas
de incidência ocorreram em países desenvolvidos, incluindo países da Europa
Ocidental e da América do Norte, mas à medida que a transição epidemiológica
ocorre nos países em desenvolvimento, como o Brasil, esse cenário tende a se tor-
nar mais incidente.
Para o Brasil, estima-se a ocorrência de 600 mil novos casos de câncer para
cada ano no biênio 2018-2019. Os cânceres mais frequentes serão o de próstata
no caso dos homens, com estimativa de 68 mil novos casos, representando 31%
de todos os cânceres, seguido do câncer de pulmão, representando 8,7% dos casos.
Já para as mulheres a maior incidência será decorrente do câncer de mama, com
60 mil casos novos, uma proporção de 29,5% dos casos de câncer seguidos pelo
câncer de intestino que correspondem a 9,4% dos novos casos.
Esses tipos de neoplasias são enfermidades que apresentam correlação direta
com o estilo de vida, em que a atividade física insuficiente, o tabagismo e os
maus hábitos alimentares estão intimamente ligados ao desenvolvimento destes
quadros. A distribuição proporcional dos dez tipos mais incidentes de neoplasias
estimados para 2018 estão ilustrados na figura 1.3.

Localização Primária Casos %


Próstata 68.220 31,7% Homens
Traqueia, Brônquis e Pulmão 18.740 8,7%
Cólon e Reto 17.380 8,1%
Estômago 13.540 6,3%
Cavidade Oral 11.200 5,2%
Esôfago 8.240 3,8%
Bexiga 6.690 3,1%
Faringe 6.390 3,0%
Leucemias 5.940 2,8%
Sistema Nervoso Central 5.810 2,7%

Figura 1.3 – Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais


incidentes estimados para 2018, por sexo, exceto pele não melanoma,
número arredondados para múltiplos de 10. INCA, 2017.

capítulo 1 • 20
Epidemiologia, atividade física e saúde

A partir do conhecimento da prevalência dos fatores de risco para as DCNT’s,


você deve ter percebido um grande componente de natureza comportamental que
explica o surgimento desses agravos à saúde, incluído a dieta, o tabagismo, o abuso
de bebidas alcoólicas, drogas lícitas e ilícitas e o sedentarismo. Perceba também
que, devido à natureza diversificada dos fatores de risco, há a necessidade mul-
tidisciplinar nas ações preventivas que podem ter grande eficácia, impactando a
prevalência destes quadros, bem como a redução dos custos dos sistemas de saúde.
Neste sentido, a atividade física adequada, orientada por profissionais capa-
citados representa um meio de promoção da saúde. Muitos estudos, nas últimas
décadas têm demonstrado, de forma consistente, que a boa aptidão física e níveis
adequados de atividade física estão associados à redução no risco de doença arterial
coronariana, DM, HAS e câncer.
Portanto, os benefícios da atividade física para a promoção da saúde são bem
estabelecidos e além de reduzir o risco da doenças mencionadas anteriormente, a
atividade física ainda é capaz de promover efeitos positivos sobre a saúde mental
e retardar o desenvolvimento de quadros de demência, além de auxiliar na manu-
tenção adequada da massa ou do peso corporal.
Tendo em vista a estreita relação entre a prática regular de atividades físicas
e a promoção da saúde, a Organização Mundial da Saúde e os países-membros,
incluindo o Brasil, concordaram em promover ações e políticas direcionadas para
a redução da inatividade física, em pelo menos 10%, dentre a prevalência de se-
dentarismo em cada país, até o ano de 2025.
Apesar de parecer ser consenso na sociedade que a prática regular de atividades
físicas de forma orientada e adequada pode levar a efeitos positivos sobre vários
aspectos da saúde, o sedentarismo ainda é um grande problema. Você prova-
velmente pode achar isso um contrassenso, porém em um estudo publicado em
2018, no qual foram abordadas 358 pesquisas de 168 países, incluindo 1,9 milhão
de sujeitos dentre esses estudos, o que representa 96% da população mundial,
ficou demonstrado que a prevalência da prática insuficiente de atividade física
atinge 27,5% da população mundial, um dado alarmante. Os estudos utilizados
nesta pesquisa representaram um levantamento de dados referentes ao período
entre os anos 2001 e 2016.

capítulo 1 • 21
Nesta pesquisa, os autores ressaltam que uma fração maior do que um quarto
da população adulta no mundo (27,5%) encontrou-se insuficientemente ativo
no ano de 2016, e em comparação com o ano 2001, pôde-se observar que houve
uma redução discreta no sedentarismo no mundo que era de 28,5% naquele ano.
O quadro atual coloca mais de 1,4 milhão de indivíduos na idade adulta em um
quadro de sedentarismo e, consequentemente, com risco aumentado de desenvol-
vimento de doenças associadas à inatividade física.
Na comparação entre homens e mulheres, as mulheres apresentaram-se mais
sedentárias que os homens, com uma diferença de 6% na comparação entre os
dois sexos, ocorrendo uma prevalência de sedentários de 25,5% e 31,5% para
homens e mulheres, respectivamente.
Com base nessas informações, fica evidente que a meta de redução da preva-
lência do sedentarismo no mundo estabelecida pela OMS não está sendo alcan-
çada. Contudo, deve-se destacar que neste período o problema do sedentarismo
tornou-se ainda mais grave nos países ocidentais desenvolvidos e nos países em
desenvolvimento, incluindo as nações da América do Sul e do Caribe. Nestas re-
giões, a prevalência do sedentarismo aumentou em mais de cinco pontos percen-
tuais na comparação entre os anos 2001 e 2016. Na América Latina e no Caribe, a
prevalência do sedentarismo passou de 33,4% em 2001 para 39,1% em 2016, ou
seja, você se encontra em uma região em que a inatividade física tem prevalência
maior do que a média mundial.
Para o Brasil, esse estudo revelou alguns dados nada animadores nesse cenário.
Brasil, Alemanha, Bulgária e Cingapura estão entre os países em que houve maior
aumento da prevalência a inatividade física no mundo, para as comparações entre
os anos de 2001 e 2016. A prevalência da atividade física insuficiente no Brasil
foi estimada em aproximadamente 45% para a população masculina e em mais de
50% da população feminina, um resultado muito grave. Tomando em conjunto
os números de homens e mulheres, esse estudo revelou que quase metade da po-
pulação brasileira encontra-se insuficientemente ativa, uma situação que definiti-
vamente deve deixar você assustado.
Dentre os fatores que podem explicar esses dados, é apontada a rápida ur-
banização de países como Brasil, Argentina e Colômbia e um crescimento das
cidades que não é acompanhado com infraestrutura adequada para estimular a
população à prática de atividades físicas. Vale ressaltar que a mensuração dos níveis
de atividade física na população inclui, além da prática orientada e controlada de
exercícios, por meio de programas de treinamento, adesão a práticas formais de

capítulo 1 • 22
exercícios físicos, mas também as atividades físicas associadas às atividades laborais
que tendem à redução na medida em que a urbanização, aliada ao desenvolvimen-
to tecnológico, ocupa o lugar do ambiente rural e de atividades de trabalho que
exijam esforço físico.
É justamente neste cenário que diferentes políticas públicas devem ser pen-
sadas e colocadas em prática, como a construção de ciclovias, infraestrutura ade-
quada para caminhada e corrida, parques e estações que estimulem a prática de
exercícios nos espaços públicos, nas comunidades e nos ambientes de trabalho,
ampliando as oportunidades para a prática de atividade física e melhorando as
condições de mobilidade urbana.
Nos próximos capítulos deste livro, você será conduzido através de um
aprofundamento a compreender o papel da atividade física regular, da opção por
um estilo de vida fisicamente ativo e, portanto, da relação direta entre a prática de
exercícios físicos na promoção de saúde, prevenção e tratamento não farmacológi-
co de DCNT’s.

REFLEXÃO
Agora que você foi apresentado aos principais indicadores, coeficientes em estudos epi-
demiológicos, bem como à evolução da incidência dos diferentes tipos de doenças, é muito
importante você perceber que os agravos a saúde prejudicam a qualidade de vida da popu-
lação e representam altos custos aos sistemas de saúde que predominam na atualidade.
Estes indicadores são em muitos casos evitáveis a partir da adoção de um estilo de vida mais
ativo, com melhores escolhas alimentares e até com um comportamento social de menor
exposição ao risco.
Nesse cenário, fica evidente que o sedentarismo representa um comportamento que
eleva significativamente o risco de aquisição de muitas DCNT’s, e assim você pode associar
de forma clara que os profissionais de Educação Física passam a ter papel extremamente
relevante com agentes de transformação, prevenção e controle de quadros de saúde, promo-
vendo a manutenção e até a melhoria da qualidade de vida da população geral, independen-
temente do sexo ou da faixa etária.
A inatividade física ou o sedentarismo é o principal fator de risco para DCNT se exerce
efeito negativo sobre a saúde metal e a qualidade de vida. Uma vez que as estimativas de
prevalência de sedentarismo estão na ordem de 27,5% no mundo e de 47% para o Brasil,
fica evidente que ainda existe muito que ser feito para mudar essa situação, desde políticas

capítulo 1 • 23
públicas de incentivo à prática desportiva, até pequenas ações dos profissionais de Educação
Física, que devem se apropriar da responsabilidade de contribuir para alterar esse cenário.
Apesar de ser muito alarmante o fato de quase metade da população brasileira ser se-
dentária, você pode olhar para essa situação com outro ponto de vista. Com base nessa
realidade, a sua responsabilidade e o seu papel diante da sociedade na promoção de hábitos
de vida mais ativos passam a ser ainda mais relevantes. Somado a isso, podemos ainda as-
sumir que, por questões de mercado, você, enquanto futuro profissional de Educação Física,
tem uma grande fração da população brasileira como cliente em potencial e assim espaço e
mercado de trabalho.

ATIVIDADES
Agora que você fez a leitura de todo o texto, responda às questões para refletir sobre o
que foi apresentado até aqui e consolidar pontos que foram apresentados ao longo deste
capítulo.

01. (Faculdade de Medicina do ABC) Sabendo-se que a prevalência e incidência são medi-
das de frequência, é correto afirmar que
a) a prevalência representa o número de casos presentes (novos e antigos) em deter-
minada comunidade em um período de tempo especificado; a incidência, o número de
casos novos.
b) a incidência representa o número de casos presentes (novos e antigos) em determinada
comunidade em um período de tempo.
c) a prevalência representa o risco de ocorrência (casos novos) de doença na população,
sendo assim uma medida estática.
d) prevalência e incidência são números de dados presentes em determinada comunidade
e um período de tempo especificado e representa o risco de ocorrência em função do
tempo.

02. (Santa Casa de Misericória – EMESCAM, 2009). Um novo tratamento para uma doença
não infecciosa, capaz de evitar a morte, mas não de levar a cura, ocasionará, no comporta-
mento desta doença
a) aumento da prevalência. d) redução da incidência.
b) redução da prevalência. e) não haverá alteração.
c) aumento da incidência.

capítulo 1 • 24
03. (Fundação João Goulart – FJG-RJ, 2011) Vários indicadores são utilizados para avaliar
o comportamento da doença. Dentre eles, o mais adequado para avaliar a agressividade de
uma doença é a sua
a) morbidade.
b) letalidade.
c) incidência.
d) mortalidade.
e) nenhuma das respostas anteriores.

04. (Centro Educacional Serra dos Órgãos – UNIFESO, 2007) Qual é a taxa que mede o
risco de se adquirir uma doença?
a) Letalidade
b) Mortalidade por determinada doença
c) Incidência
d) Prevalência
e) Nenhuma das respostas anteriores

05. O sedentarismo ou inatividade física representa uma condição que está diretamente
relacionada ao surgimento de diversas doenças, como as doenças cardiovasculares, o diabe-
tes, e os diferentes tipos de câncer, como o câncer de mama e de colo de intestino, além de
favorecer a dislipidemia, a obesidade e o desenvolvimento de quadros cognitivos que afetam
a saúde mental. Diante deste cenário, a Organização Mundial da Saúde, traçou uma meta
ambiciosa para reduzir o sedentarismo, na qual todos os países-membros concordaram em
atingir essa meta até o ano de 2025. Essa meta de redução é da ordem de?
a) 5% c) 30% e) 100%
b) 10% d) 50%

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capítulo 1 • 25
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capítulo 1 • 26
2
Atividade física
e doenças
metabólicas
Atividade física e doenças metabólicas
Nesse capítulo você irá aprender as principais características fisiopatológicas da
síndrome metabólica e, em seguida, será apresentado às principais recomendações
de prescrição da atividade física para os indivíduos que manifestam essa condição.
O termo “síndrome” tem origem da palavra grega syndromé cujo significado é
“reunião”. Dessa forma, este termo, bastante usado para definir determinada con-
dição fisiopatológica, designa um conjunto de fatores, sinais e sintomas que po-
dem ter origem comum ou independente, conhecida ou desconhecida, mas que,
tomadas em conjunto, definem as manifestações clínicas do quadro patológico.
A síndrome metabólica é caracterizada pela manifestação de pelo menos três
de cinco achados clínicos, sendo eles obesidade central, hipertensão arterial, au-
mento dos níveis de triglicerídeos plasmáticos, redução nos níveis plasmáticos da
lipoproteína de alta densidade (HDL) e a resistência à insulina. Todavia, é agora
que você, futuro profissional de Educação Física em todo seu espectro, deve re-
conhecer a importância de sua atuação profissional na medida em que diversos
estudos demonstram que a prática regular e adequada de exercícios físicos, super-
visionada por profissionais habilitados, pode promover efeitos importantes sobre
esse conjunto de fatores, reduzindo ou até revertendo-os.
Assim, a atividade física representa uma estratégia essencial na prevenção e no
tratamento desse quadro patológico. A seguir, você será conduzido a compreender
justamente como a síndrome metabólica se desenvolve; você será apresentado aos
principais fatores de risco deste quadro e mais importante de tudo, é fundamental
que você, por meio do estudo deste capítulo, aprenda a estabelecer as relações en-
tre o estilo de vida sedentário que está tão presente na nossa sociedade atual, como
visto no capítulo anterior, com o surgimento destas doenças. Finalmente, não
deixe de reconhecer a responsabilidade que o profissional de Educação Física deve
assumir perante esse cenário, na promoção de hábitos de vida saudáveis, em um
estilo de vida ativa que possa reverter e prevenir, evitando assim que a síndrome
metabólica se desenvolva.

OBJETIVOS
• Compreender a etiologia da síndrome metabólica;
• Identificar os fatores de risco da síndrome metabólica;

capítulo 2 • 28
• Correlacionar o estilo de vida sedentário ao quadro patológico.;
• Reconhecer o papel do exercício físico.

Síndrome metabólica

De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, a síndrome metabólica


é definida pela manifestação em conjunto de três alterações metabólicas dentre
cinco fatores de risco que incluem a observação de obesidade central, elevação da
pressão arterial, considerando pressão arterial sistólica ≥ 130 mmHg ou pressão
arterial diastólica ≥ 85 mmHg, elevados níveis plasmáticos de triglicerídeos acima
de 150 mg/dL, níveis reduzidos de lipoproteínas de alta densidade (HDL), abaixo
de 40 mg/dL em homens e menores que 50 mg/dL em mulheres, além de resistên-
cia à insulina, determinada por níveis de glicemia em jejum ≥ 100 mg/dL. Esses
critérios estão reunidos na tabela 1, a seguir.
FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DIABETES (2009)
Critério Obesidade(CA) Glicemia Triglicerídeos HDL-C Pressão Arterial
Três de < 40 mg/
> 102 cm ≥ 130/85
cinco dL (ho-
(homens) ≥ 100 ≥ 150 mmHg ou
fatores mens) <
> 88 cm mg/dL mg/dL terapia
de 50 mg/dL
(mulheres) anti-hipertensiva
risco (mulheres)
Tabela 2.1 – Critérios clínicos da síndrome metabólica de acordo
com a Federação Internacional de Diabetes. CA, circunferência
abdominal. HDL-C, lipoproteína de alta densidade – colesterol.

A prevalência da síndrome metabólica em todo o mundo está estimada em


mais de 20% da população adulta. No Brasil, estudos indicam uma prevalência
de 18% para homens e 30% em mulheres, aumentando conforme a idade. Dessa
forma pode-se dizer que é uma doença mais incidente em mulheres e idosos.
A obesidade central ou abdominal, dentre os cinco fatores de risco, se apresen-
ta como o fator mais predominante. A obesidade, que é determinada pelo índice
de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30, é descrita como uma pandemia
global e estima-se que até 2030, 50% da população adulta será obesa.
O acúmulo de gordura abdominal, mais do outros depósitos de gordura está
diretamente correlacionado a um aumento no risco de quadros de inflamação sis-
têmica, hiperlipidemia, resistência à insulina e doenças cardiovasculares. De fato

capítulo 2 • 29
existe, um debate se a obesidade ou a resistência à insulina são as características
centrais na etiologia da síndrome metabólica. Perceba então, por conta desses fa-
tores que a parcela da população que se enquadra nos critérios de diagnóstico da
síndrome metabólica é três vezes mais propensa a desenvolver doenças cardiovas-
culares além de terem cinco vezes mais chance de desenvolver diabetes tipo II.

Etiologia da síndrome metabólica

A origem da síndrome metabólica é uma história muito bem conhecida por


todos nós. Você com certeza conhece alguém que é sedentário por muito anos ou
que começou a ganhar peso, incluindo acúmulo de gordura na região abdominal.
Essas mudanças envolvem fatores ambientais e genéticos e simultaneamente se
observa uma dificuldade na ação da insulina sobre os tecidos, o que leva uma ten-
dência de hiperglicemia em jejum; o que vem primeiro? Embora muitos estudos
tenham sido feitos nas últimas décadas, sua origem exata não está completamen-
te compreendida.
A ciência não sabe ao certo, e talvez essa não seja a principal pergunta. Apesar
disso, você deve ter percebido que são vários os fatores e mecanismos envolvidos
no quadro, incluindo; além da resistência a insulina, fatores como disfunções no
tecido adiposo, inflamações crônicas, estresse oxidativo, disrupção do ciclo circa-
diano, microbiota, fatores genéticos, dentre outros.
A seguir, você terá oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre alguns
destes principais fatores relacionados à origem da síndrome metabólica.

Resistência à insulina

Você deve tomar conhecimento que a síndrome metabólica também pode ser
conhecida como síndrome de resistência à insulina, devido ao importante papel
que a resistência a esse hormônio provoca no desenvolvimento desse quadro. Essa
terminologia é adotada pelo Grupo Europeu de Estudos em Resistência à Insulina
e pela Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos em detrimento ao ter-
mo síndrome metabólica.
O quadro de resistência à insulina é o que caracteriza a doença conhecida
como diabete melito tipo II, Essa doença é responsável por cerca de 90% de todos
os casos de diabetes. Neste caso, não há destruição das ilhotas pancreáticas nem
tampouco um quadro autoimune como observado no diabetes tipo I. Outro fato

capítulo 2 • 30
que deve ser ressaltado é que 80% dos diabéticos do tipo II apresentam algum
grau de obesidade, principalmente com um perfil androgênico, devido ao acúmu-
lo de gordura abdominovisceral. É importante, entretanto que você saiba que a
obesidade não é causada pelo diabetes; o diabetes na verdade tende a provocar o
emagrecimento, por um lado é a obesidade que tem participação central no de-
senvolvimento da resistência à insulina. Por outro lado, nem todos os obesos com
acúmulo de gordura abdominal se tornam diabéticos, isso porque existem fatores
genéticos que predispõem ao desenvolvimento do diabetes do tipo II.
O desenvolvimento dessa doença é progressivo e crônico; à medida que a
resistência à insulina aumento, maior será a hiperglicemia e mais as células β-pan-
creáticas se tornam disfuncionais, formando um círculo vicioso. Em uma fase
precoce, o pâncreas consegue aumentar a produção de insulina, mas após vários
anos da doença fora de controle, muitos diabéticos tipo II passam a apresentar
deficiência quase absoluta na secreção deste hormônio. Em contrapartida, você
precisa saber que todo esse processo pode ser contido ou até revertido, princi-
palmente se tratado precocemente, e uma medida fundamental é a correção do
peso corporal, revertendo a obesidade. Dessa forma, fica evidente, a importância
da sua atuação, como profissional de Educação Física na promoção da saúde da
população em geral.
Para que você possa compreender a resistência à insulina, é importante re-
lembrar os principais mecanismos de ação e de sinalização deste hormônio. Em
uma situação normal, o aumento da glicemia decorrente da ingestão de alimentos
estimula a liberação de insulina pelas células β-pancreáticas (figura 1) e dentre os
principais efeitos, a insulina estimula a captação de glicose nas células musculares
e no tecido adiposo, levando a um efeito hipoglicemiante (figura 2). Além disso, a
insulina ainda exerce efeitos que promovem a síntese de glicogênio no fígado e nos
músculos esqueléticos, bem como a síntese de ácidos graxos e triglicerídeos que
são estocados no tecido adiposo e a supressão da gliconeogênese.

capítulo 2 • 31
Figura 2.1 – Anatomia do pâncreas (a) – anatomia macroscópica. (b) Células da ilhota
de Langerhans, que constituem o pâncreas endócrino. Silverthorn, 2017. Adaptado.

Gluc
ago
n
Oxidação da glicose
Insu Síntese de glicogênio
lina
Síntese de gordura
Síntese de proteínas

Figura 2.2 – O controle do metabolismo se dá pela razão insulina/glucagon, em que


as ações da insulina predominam no estado alimentado. Silverthorn, 2017. Adaptado.

Todos esses efeitos fisiológicos, ocorrendo de forma integrada, levam a efei-


tos sinérgicos que somados, reduzem os níveis plasmáticos de glicose para níveis
normais. O passo limitante para o efeito de redução da glicemia pela insulina
recai sobre a ativação dos transportadores de glicose (GLUT4) nos músculos e no
tecido adiposo, cujo mecanismo é dependente da ação da insulina, que é capaz de
provocar o deslocamento do GLUT4 do citosol para as membranas dessas células,
garantindo a entrada da glicose nas células (figura 3).

capítulo 2 • 32
Líquido
extracelualar Glicose

Receptor de insulida

Músculo
esquelé�co Vesícula
em repouso ou secretória
célula adiposa
Proteína
transportadora
GLUT 4

1 A insulina Glicose
liga-se ao
receptor

4 A glicose
3 Exocitose entra na célula

2 Cascata de
transdução
de sinal

GLUT 4

Figura 2.3 – Mecanismo de ação da insulina, em tecidos


dependentes de insulina. Silverthorn, 2017. Adaptado.

Em uma situação anormal, com a resistência à insulina, é observada em uma


primeira fase, a perda da secreção inicial de insulina em resposta a elevação da gli-
cemia após a dieta, resultando em hiperglicemia pós-prandial. Em seguida, ocor-
re uma segunda fase, caracterizada por uma secreção exagerada de insulina, oca-
sionando hiperinsulinemia crônica. Com isso, tecidos dependentes da insulina,
como o músculo e o tecido adiposo não conseguem ser sensibilizados pela insulina
e, portanto não respondem adequadamente à ação deste hormônio.
Dessa forma, você deve imaginar que os efeitos mediados pela insulina, como
a captação de glicose, a ativação da glicólise no tecido adiposo e a síntese de gli-
cogênio ficam comprometidos. Com o passar do tempo, a resistência à insulina

capítulo 2 • 33
se agrava, e as células β-pancreáticas gradualmente ficam estressadas e entram em
apoptose, representada pela morte celular programada, e dessa forma podem per-
der completamente suas funções. Sem a ação da insulina, a hiperglicemia irá per-
sistir; com isso a fase tardia da diabetes tipo II é semelhante ao diabético tipo I,
que passa a depender da injeção de insulina para controlar a glicemia.
Neste cenário, a adição de intervenções por meio da adequação da dieta e
da prática de exercícios pode amenizar a resistência à insulina ou as funções das
células β-pancreáticas.

Disfunção das células β-pancreáticas

Estudos indicam que a disfunção das células β-pancreáticas está altamente


correlacionada à severidade da síndrome metabólica independentemente de outros
fatores. Portanto, a recuperação da função normal destas células é uma importante
estratégia para amenizar o quadro. Neste sentido, é importante ressaltar a sugestão
do aumento do condicionamento cardiorrespiratório está associado positivamente
com a recuperação da função das células β-pancreáticas em indivíduos com sín-
drome metabólica, independentemente da composição corporal e outros fatores
de risco. Em anos recentes, abordagens visando ao condicionamento cardiovas-
cular têm recebido mais atenção. Em uma meta análise que abordou a relação
do condicionamento físico e do índice de massa corporal com a mortalidade, foi
demonstrado que indivíduos sedentários, com baixos níveis de condicionamento
cardiorrespiratório apresentam o dobro do risco de mortalidade, independente-
mente do índice de massa corporal.

PERGUNTA
Você saberia dizer qual é o significado metabólico do termo resistência à
insulina?
Para respondermos a essa questão, é necessário aprofundarmos o assunto, e relem-
brarmos questões bioquímicas e metabólicas. Você deve se lembrar de que, normalmente,
a insulina se liga ao seu receptor (IR), uma proteína de membrana plasmática para exercer
seus efeitos. Essa ligação ativa a função enzimática de receptor, resultando na fosforilação
de resíduos de tirosina dessa proteína. Na sequência, as proteínas que atuam como substra-
tos do IR (IRS) são recrutadas e fosforiladas, desencadeando uma cascata de comunicação
celular que leva à transferência de grupos fosfato para diferentes proteínas intracelulares,

capítulo 2 • 34
resultando na ativação de várias rotas de sinalização e, consequentemente, diferentes res-
postas metabólicas, incluindo o deslocamento do GLUT4 para a membrana, a ativação da
síntese de glicogênio, proteínas e a lipogênese.
Em um quadro de resistência à insulina, as vias de sinalização que dependem da transfe-
rência de grupos fosfato ficam comprometidas, resultando na redução da expressão e deslo-
camento do GLUT4, reduzindo a captação de glicose supressão das reservas de glicogênio
e da síntese de proteínas. Essa deficiência na sinalização celular da insulina ainda leva a
disfunções no controle de expressão gênica, resultando na síntese de VLDL. Os mecanismos
da resistência a insulina ainda não estão completamente compreendidos, mas já se sabe que
é a maior causa de obesidade associada ao sistema nervoso central por alterar o apetite e o
comportamento alimentar. No tecido adiposo, a resistência à insulina leva à hiperlipidemia e
inflamação, no tecido hepático, está associada à hiperglicemia, no coração, pode levar à insu-
ficiência cardíaca. A resistência à insulina impacta a regeneração das células β-pancreáticas,
apresenta efeitos sobre o endotélio vascular promovendo hipertensão. A ausência dos efei-
tos da insulina sobre os músculos esqueléticos e tecido ósseo compromete a homeostase
glicêmica; em conjunto, esses fatores encurtam o tempo de vida.

Obesidade

A obesidade é diretamente associada a uma variedade de doenças crônicas,


como doenças cardiovasculares, diabetes melito tipo II, esteatose hepática e dife-
rentes tipos de cânceres. A combinação do sedentarismo com a má alimentação
contribui para o desequilíbrio energético em que o excesso de calorias supera o
gasto energético diário, promovendo acúmulo de gordura corporal e obesidade.
Nestes casos, quase sempre se observa elevação dos níveis plasmáticos de triglice-
rídeos, que representa um importante fator de risco para o desenvolvimento da
resistência à insulina e de um quadro inflamatório.
O tecido adiposo é hoje reconhecido como um tecido endócrino capaz de
secretar várias adipocinas, que são fatores hormonais produzidos pelos adipócitos,
com capacidade de atuar em outros órgãos ou tecidos do corpo. Um exemplo
muito interessante é o do hormônio leptina. A leptina é um hormônio produzido
e liberado pelo tecido adiposo e que atua no hipotálamo, promovendo um efeito
de saciedade, reduzindo a fome e, consequentemente, a ingestão de alimentos.
Com base nessa informação, você então poderia se perguntar, por que as pes-
soas obesas sentem fome? Acontece que em indivíduos obesos os níveis de leptina

capítulo 2 • 35
são sim mais elevados, mas de forma parecida à resistência a insulina, estes sujeitos
também apresentam resistência à ação da leptina, acarretando uma condição em
que a saciedade não ocorre.
Adicionalmente, com o aumento do tecido adiposo durante o desenvolvimen-
to da obesidade, ocorre um grande aumento na expressão do angiotensinogênio,
precursor da angiotensina I e II, vasoconstrictores, que por sua vez aumentam a
atividade do sistema nervoso simpático e, consequentemente, promovem um au-
mento da pressão arterial, outro importante fator de risco da síndrome metabólica.

Inflamação crônica

Em quadros de obesidade, diabetes tipo II, doenças cardiovasculares e outros


fatores de risco associados à síndrome metabólica, têm sido observado algum grau
de inflamação crônica decorrente aos efeitos desses distúrbios metabólicos sobre o
sistema imunológico.
Como você viu anteriormente, o tecido adiposo não é meramente um local de
depósito de gordura; hoje a ciência já demonstrou que esse tecido é um poderoso
órgão autócrino, parácrino e endócrino, na medida em que é capaz de produzir e
secretar diversos fatores químicos. Em circunstâncias de acúmulo de massa gorda,
durante o desenvolvimento da obesidade, várias substâncias que ativam a infla-
mação como interleucinas, TNFβ, são secretadas. Esses fatores criam um círculo
vicioso, ao promover a ativação de macrófagos do tecido adiposo que, por sua vez,
produz mais citocinas pró- inflamatórias exacerbando o quadro de inflamação
sistêmica que está associado à resistência a insulina.
Um quadro de inflamação crônica ainda está associado à formação de placas
de ateroma, um quadro conhecido como aterosclerose, que acomete o endotélio,
ou seja, a camada mais íntima das artérias de grande e médio calibre, ocorren-
do principalmente nas bifurcações das artérias, em que o fluxo de sangue é mais
turbulento. A combinação da hipertensão com o quadro inflamatório representa
uma agressão ao endotélio vascular, que por sua vez leva a uma disfunção dessas
células que se tornam mais permeáveis aos LDL. As lipoproteínas que já estão au-
mentadas no sangue que acabam sendo oxidadas e desencadeando uma sequência
de eventos que começa com a adesão de leucócitos, monócitos, linfócitos e o acú-
mulo de gordura; finalmente células do músculo liso modificadas produzem ma-
terial fibroso que caracterizam a placa de ateroma. Essa placa irá atrapalhar ou até
mesmo se desprender e obstruir o fluxo de sangue para alguma região do corpo.

capítulo 2 • 36
Papel do exercício na síndrome metabólica

Agora que você conhece os fatores de risco da síndrome metabólica e sua asso-
ciação à inatividade física deve perceber a relevância de se traçarem estratégias para
reverter ou controlar esse quadro. Muitos dos fatores de risco podem ser contro-
lados ou revertidos com terapia farmacológica. A medicina conta com uma gama
muito grande de medicamentos específicos que podem ser prescritos para esses
sujeitos. Em contrapartida, simples mudanças no estilo de vida, especialmente
por meio da adoção de uma vida fisicamente ativa, podem ter grande impacto na
saúde dessas pessoas.
Muitos estudos têm demonstrado uma forte relação entre obesidade e seden-
tarismo, além disso, a síndrome metabólica está associada à inatividade física e ao
baixo condicionamento cardiovascular. Em um estudo prospectivo, realizado em
2015 por Greer e colaboradores, envolvendo 930 homens, foi demonstrado que
os sujeitos com comportamento altamente sedentários apresentam um aumento
em 76% no risco de desenvolver a síndrome metabólica. O acúmulo de gordura
abdominal é uma condição reversível e a sua redução pode levar a efeitos exce-
lentes, ao reduzir o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e da
síndrome metabólica.
Muitos estudos demonstram efeitos do exercício sobre os fatores de risco.
Estudos observando adultos obesos ou com sobrepeso demonstram melhoria do
condicionamento cardiovascular como efeito do exercício. Evidências indicam
que o exercício é capaz de reduzir significativamente os níveis de lipoproteínas e
colesterol; esses efeitos ainda parecem ser mais importantes à medida que a inten-
sidade do exercício aumenta, controlando assim a dislipidemia.
Adicionalmente, vários estudos também reportam que o exercício pode levar
à redução do acúmulo de gordura abdominal, que é um indicador de saúde mais
importante do que o total de gordura corporal pelo fato de estar mais associado
aos quadros inflamatórios. De fato, o treinamento tem sido visto como uma estra-
tégia que leva à melhoria do quadro inflamatório, mesmo sem provocar redução
do peso corporal. Fatores como a redução da hipóxia ao tecido adiposo, devido à
melhoria do fluxo sanguíneo combinado com diminuição do estresse oxidativo,
representam os efeitos anti-inflamatórios do exercício físico. Apesar disso, nem
todos os estudos reportam evidências dos efeitos do exercício sobre marcadores
de inflamação e, portanto não está completamente compreendido se esses efeitos

capítulo 2 • 37
ocorrem de forma independente à perda de peso ou dependem da perda de peso
promovida pelo exercício físico.
Você pode estar se questionando então sobre o tipo e a dose de exercício que
devem ser prescritos. Neste sentido, não existe um consenso para casos de infla-
mação sistêmica, porém o Colégio Americano de Medicina Esportiva dispõe de
recomendações de programas de exercício para o controle do peso e melhoria do
status geral de saúde, indicando entre 150-250 minutos de exercício com inten-
sidade moderada a alta por semana como ideal, embora outros autores sugerirem
a prática de 30 a 60 minutos de atividades diárias como requisito para provocar
mudanças positivas.
De fato, estudos indicam que exercícios de maior duração e intensidade são
mais efetivos na redução da inflamação sistêmica, indicando efeito dose resposta
do exercício. Em contrapartida, estudos recentes também revelam que programas
de treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) reduzem o risco da sín-
drome metabólica. Sessões de HIIT, realizadas entre 2-3 vezes por semana, com
intensidade de cerca de 80% do limiar aeróbio podem reduzir em cerca de 30% a
prevalência da síndrome metabólica após nove meses de acompanhamento.
Um estudo realizado para comparar diferentes intensidades de exercício, uti-
lizou 75 sujeitos que foram divididos em três grupos com diferentes programas
de treinamento; um programa de 10 mil passos diários, outro de caminhada de 1
hora diária por 12 meses ou um programa de condicionamento com intensidade
superior a 75% do VO2 de pico. Vários efeitos metabólicos e vasculares positivos
foram observados em todos os grupos, incluindo redução do índice de massa cor-
poral, diminuição da circunferência abdominal, controle da glicemia, redução da
resistência à insulina e controle de lipídeos plasmáticos. Contudo, os efeitos mais
marcantes foram observados no grupo submetido ao programa de maior intensi-
dade, acima de 75% do VO2 de pico.
Em contrapartida, foi publicada uma revisão sistemática em 2017 por Ostman
e colaboradores, em que o objetivo foi de investigar se o exercício físico promove
melhorias em aspectos clínicos em indivíduos com síndrome metabólica. Neste es-
tudo, os autores reuniram 16 estudos com um total de 800 participantes abordan-
do os efeitos do exercício sobre diferentes variáveis metabólicas e demonstraram
que o treinamento aeróbio é capaz de produzir efeitos discretos sobre hiperglice-
mia em jejum, já a combinação do exercício aeróbio com o treinamento de resis-
tência é capaz de levar a uma redução de 13% nos níveis de triglicerídeos. Esses

capítulo 2 • 38
efeitos são discretos, porém quando combinados à melhoria da aptidão cardiovas-
cular e controle da pressão arterial levam a efeitos expressivos na redução de risco.
Contudo, neste estudo, os autores não encontraram diferenças significativas
nos efeitos observados em decorrência ao exercício de intensidade moderada em
comparação com o exercício vigoroso ou de alta intensidade e indicam a neces-
sidade de mais investigações aplicando programas de exercícios para grupos com
diagnóstico de síndrome metabólica e, dessa forma, sugerem que essa população
siga as recomendações da prescrição de exercícios indicada para sujeitos portado-
res de diabetes. Em linhas gerais, os autores concluem que diferentes programas
de exercícios podem promover mudanças positivas na composição corporal, na
capacidade cardiovascular e nas alterações metabólicas observadas em indivíduos
portadores dessa síndrome.
Em resumo, você pode assumir que programas de exercícios produzem mu-
danças benéficas na composição corporal, no condicionamento cardiovascular e
em marcadores metabólicos de sujeitos com síndrome metabólica, representando
assim uma estratégia não só interessante, mas também fundamental para o con-
trole deste quadro clínico.

REFLEXÃO
No cenário atual, especialmente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento como o
Brasil, observa-se um aumento do estilo de vida sedentário associado à obesidade, que são
indicados como os principais fatores para o aumento da incidência da síndrome metabólica.
Existem muitas evidências que suportam a ideia de que programas de exercício podem
reverter esse quadro, embora a intensidade ótima ou o melhor tipo de exercício ainda não es-
tejam esclarecidos, a adesão a um estilo de vida ativo é reconhecido em toda a comunidade
cientifica na área da saúde como estratégia fundamental para controle e prevenção desse
quadro patológico.
Uma reflexão importante que podemos fazer sobre a síndrome metabólica pode ser ba-
seada no fato deste quadro ser caracterizado pela combinação de vários fatores de risco.
Neste sentido, de que adiantaria controlar a obesidade sem controlar a hipertensão, ou con-
trolar a resistência à insulina sem controlar a dislipidemia?
A medicina já dispõe de muitas estratégias farmacológicas para prescrever medicamen-
tos capazes de atuar sobre aspectos metabólicos que controlam muitos desses fatores. No
entanto, simples mudanças dos hábitos de vida, assumindo uma vida fisicamente ativa, com
volume, intensidade e combinação de treinamentos adequados associado com dieta balan-

capítulo 2 • 39
ceada, têm grande potencial e efeitos, levando a alterações positivas da maioria desses fato-
res de risco. O exercício contribui para o controle da massa corporal, controle da dislipidemia
e do quadro inflamatório, aliviando a resistência à insulina além de contribuir para o controle
da pressão arterial.
Neste sentido, o papel do rofissional de Educação Física é fundamental, oferecendo
produtos e serviços que solucionem ou amenizem esses quadros, atuando como agente de
transformação que deve fazer parte dos programas ou protocolos de reversão deste quadro.
Neste cenário, um desafio destes profissionais ainda inclui a necessidade de garantir a ade-
são e fidelização destes indivíduos a programas de treinamentos não só adequados, mas
também atrativos. Mais uma vez, você deve reconhecer sua futura responsabilidade diante da
sociedade na promoção da saúde e qualidade de vida. Entenda que com tamanha relevância,
o profissional de Educação Física também deve assumir grande responsabilidade.

ATIVIDADES
Agora que você foi apresentado aos principais conceitos da síndrome metabólica e suas
relações com a prática regular e exercícios físicos, aproveite os exercícios e atividades a se-
guir para rever o conteúdo que foi discutido até aqui. Sempre que necessário, volte e consulte
o texto para que você possa transformar e consolidar o seu conhecimento.

01. Uma mulher, 55 anos chega ao ambulatório, solicitando avaliação para iniciar dieta e
prática de exercícios visando à perda de peso. Ao exame, ela apresenta estatura de 1,62 m,
massa corporal de 68 kg, circunferência abdominal de 92 cm, PA de 136 × 88 mmHg, FC
de 92 bpm. Os exames laboratoriais revelam glicemia de 98 mg/dL, colesterol total de 250
mg/dL, triglicerídeos de 145 mg/dL e HDL-colesterol igual a 46 mg/dL. De acordo com as
diretrizes para síndrome metabólica, pode-se afirmar que, nesta mulher
a) já existem critérios para definir síndrome metabólica.
b) o valor do colesterol total auxilia na definição de síndrome metabólica.
c) os níveis de PA ainda não contribuem para o diagnóstico de síndrome.
d) se no próximo exame, o HDL-colesterol estiver abaixo de 40 ml/dL, haverá mais um
critério para síndrome metabólica.

02. Uma mulher, 54 anos, matricula-se para iniciar a pratica de exercícios físicos com o
objetivo de perder peso e no momento da anamnese, durante a avaliação relata que trouxe
seus exames clínicos. Apresenta glicemia de jejum de 121 mg/dL, triglicerídeos de 175 mg/

capítulo 2 • 40
dL, HDL igual a 41 mg/dL, LDL de 188 mg/dL. Durante a avaliação, você calculou um IMC
de 32, mensurou a circunferência abdominal de 91 cm e aferiu a pressão arterial: 145 × 87
mmHg. Qual dos parâmetros dessa aluna não é definido como critério para a síndrome me-
tabólica?
a) Glicemia de jejum d) Circunferência abdominal
b) HDL e) LDL
c) Pressão arterial

03. (Enem 2013) Adolescentes: mais altos, gordos e preguiçosos


A oferta de produtos industrializados e a falta de tempo têm sua parcela de responsabili-
dade no aumento da silhueta dos jovens. “Os nossos hábitos alimentares, de modo geral, mu-
daram muito”, observa Vivian Ellinger, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia (SBEM), no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que, aqui no Brasil, estamos
exagerando no sal e no açúcar, além de tomar pouco leite e comer menos frutas e feijão.
Outro pecado, velho conhecido de quem exibe excesso de gordura por causa da gula, surge
como marca da nova geração: a preguiça, “Cem por cento das meninas que participam do
Programa não praticavam nenhum esporte”, revela a psicóloga Cristina Freire, que moni-
tora o desenvolvimento emocional das voluntárias. Você provavelmente já sabe quais são
as consequências de uma rotina sedentária e cheia de gordura. “E não é novidade que os
obesos têm uma sobrevida menor”, acredita Cláudia Cozer, endocrinologista da Associação
Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Mas, se há cinco anos os
estudos projetavam um futuro sombrio para os jovens, no cenário atual as doenças que viriam
na velhice já são parte da rotina deles. “Os adolescentes já estão sofrendo com hipertensão
e diabete”, exemplifica Cláudia.

Sobre a relação entre os hábitos da população adolescente e as suas condições de saú-


de, as informações apresentadas no texto indicam que
a) a falta de atividade física somada a uma alimentação nutricionalmente desequilibrada
constituem fatores relacionados ao aparecimento de doenças crônicas entre os ado-
lescentes.
b) a diminuição do consumo de alimentos fontes de carboidratos combinada com um maior
consumo de alimentos ricos em proteínas contribuíram para o aumento da obesidade
entre os adolescentes.
c) a maior participação dos alimentos industrializados e gordurosos na dieta da população
adolescente tem tornado escasso o consumo de sais e açúcares, o que prejudica o
equilíbrio metabólico.

capítulo 2 • 41
d) a ocorrência de casos de hipertensão e diabetes entre os adolescentes advém das con-
dições de alimentação, enquanto na população adulta os fatores hereditários são pre-
ponderantes.
e) a prática regular de atividade física é um importante fator de controle da diabetes entre a
população adolescente, por provocar um constante aumento da pressão arterial sistólica.

04. (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – Enade, Educação Física – INEP
2013). Síndrome metabólica é o termo empregado para designar um conjunto de fatores de
risco de origem metabólica que estão associados à mortalidade por diversas causas. Embo-
ra a síndrome metabólica seja caracterizada por grande variedade de fatores, há consenso
na literatura sobre os seguintes componentes: intolerância à glicose, hipertensão arterial,
dislipidemia e obesidade central. Esses problemas de saúde, por sua vez, estão relaciona-
dos diretamente a distúrbios alimentares e sedentarismo. Programas de exercícios físicos,
associados a mudanças de hábitos alimentares, têm apresentado resultados satisfatórios no
tratamento da síndrome metabólica. O esquema a seguir apresenta o conjunto de alterações
decorrentes da prática de exercícios físicos.

Redução da
gordura
corporal

Baixa perda Aumento do


da massa V02 Máx
magra

Combate à
síndrome
metabólica

Redução do
colesterol LDL Diminuição da
e aumento do hipertensão
HDL arterial

Melhorar da
sensibilidade
à insulina

ACSM’s guidelines for exercise testing and prescription, 8th ed,


Lippincott, Willians & Wilkins, inc., USA, 2010. Adaptado.

capítulo 2 • 42
O tipo de treinamento que promove as adaptações descritas anteriormente e a sequên-
cia na qual estas adaptações ocorrem são, respectivamente,
a) aeróbio de intensidade moderada combinado com resistido; aumento do VO2 máximo,
redução do colesterol LDL e aumento do HDL, redução da gordura corporal, baixa perda
de massa magra, melhora da sensibilidade à insulina e diminuição da hipertensão arterial.
b) aeróbio de intensidade leve; melhora da sensibilidade à insulina, aumento do VO2 máxi-
mo, redução do colesterol LDL e aumento do HDL, redução da gordura corporal, baixa
perda de massa magra e diminuição da hipertensão arterial.
c) aeróbio de alta intensidade combinado com resistido; redução da gordura corporal, baixa
perda de massa magra, melhora da sensibilidade à insulina, diminuição da hipertensão
arterial, aumento do VO2 máximo, redução do colesterol LDL e aumento do HDL.
d) resistido de intensidade moderada; redução da gordura corporal, baixa perda de massa
magra, melhora da sensibilidade à insulina, diminuição da hipertensão arterial, aumento
do VO2 máximo, redução do colesterol LDL e aumento do HDL.
e) resistido de alta intensidade; melhora da sensibilidade à insulina, diminuição da hiper-
tensão arterial, aumento do VO2 máximo, redução da gordura corporal, baixa perda de
massa magra, redução do colesterol LDL e aumento do HDL.

05. (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – Enade, Educação Física – INEP
2013) Indivíduo do sexo masculino, 22 anos de idade, sedentário, procurou uma academia
onde submeteu-se a avaliações com o objetivo de iniciar um programa de atividade física. Na
avaliação clínica, não foram encontrados quadros que impedissem a prática de exercícios. Na
avaliação física, alguns testes realizados forneceram os seguintes resultados:
Índice de massa corporal: 16 kg/m²
Porcentagem de gordura corporal: 7,8%
Consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.): 35,5 mL · kg · min–1

TABELA 1 - CLASSIFICAÇÃO DE PESO EM ADULTOS POR IMC


Classificação de peso Classe de obesidade IMC (kg/m²)
Abaixo do normal <18,5
Normal 18,5 a 24,5
Acima do normal 25,0 a 29,9
Obesidade I 30,0 a 34,9
II 35,0 a 39,9
Obesidade extrema III ≥ 40

capítulo 2 • 43
TABELA 2 - NÍVEL RECOMENDADOS DE GORDURA CORPORAL
Não recomendado Inferior Central Superior Obesidade
Adultos Jovens <18 8 13 22 >25
Adultos de Meia-idade <10 10 18 25 ≥25
Idoso <10 10 16 23 ≥23

TABELA 3 - CLASSIFICAÇÃO DO VO2máx. PARA HOMENS DE FUNÇÃO DA


IDADE. (ml/km/mim-1)
20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos
Muito bom ≥ 48,2 ≥ 47,0 ≥ 45,3 ≥ 41,0
Bom <48,2 – 44,1 <47,0 – 42,4 <47,3 – 41,0 <41,0 – 36,7
Regular <44,1 – 41,0 <42,4 – 38,5 <41,0 – 36,7 <36,7 – 33,0
Fraco <41,0 – 36,7 <38,5 – 35,2 <36,7 – 33,0 <33,0 – 29,4
Muito fraco <36,7 <35,2 <33,0 <29.4

Analisando os resultados obtidos nos testes e as tabelas apresentadas, constata-se que


o programa que melhor se adapta à melhoria e à manutenção das condições gerais de saúde
do indivíduo avaliado deverá apresentar
a) exercícios aeróbios e anaeróbios combinados que utilizem carboidratos como fonte
energética, com frequência semanal diária, e dieta que supra as necessidades diárias
de calorias.
b) atividade aeróbia de duração que leve à utilização de lipídeos como fonte energética,
com frequência mínima de três vezes por semana, e dieta balanceada e hipocalórica.
c) atividade anaeróbia de longa duração, buscando a formação de lactato para a produção
de energia, com frequência mínima de quatro vezes por semana, e dieta balanceada
e hipercalórica.
d) exercícios de musculação combinados com atividades aeróbias, trabalhando grupos
musculares em dias alternados, e dieta hipercalórica com alta taxa de proteínas e car-
boidratos.
e) atividades de longa duração e alta intensidade que leve à depleção dos estoques de
glicogênio, em dias alternados, e dieta rica em proteínas e carboidratos.

capítulo 2 • 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 2 • 45
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capítulo 2 • 46
3
Atividade física
e doenças
cardiovasculares
Atividade física e doenças cardiovasculares
Nesse capítulo você será apresentado às principais características fisiopatoló-
gicas das doenças arteriais coronarianas e à hipertensão arterial sistêmica. Você
terá a oportunidade de compreender quais são os principais fatores de risco para o
desenvolvimento desses quadros e irá perceber a grande relação dessas disfunções
com o estilo de vida.
Como você viu no primeiro capítulo, a partir da transição epidemiológica
que ocorreu nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo o Brasil,
as doenças cardiovasculares passaram a figurar entre as principais causas de morte
na sociedade atual e representam um desafio para os sistemas públicos e privados
de saúde.
A reabilitação cardíaca é complexa e requer intervenção multidisciplinar com
atenção individualizada para que as ações sejam adequadas a cada caso, que po-
dem ter diferentes graus de comprometimento das funções cardíacas bem como
serem provenientes de diferentes doenças como isquemias cardíacas, insuficiência
cardíaca, infarto do miocárdio ou em sujeitos que foram submetidos a diferentes
procedimentos como a angioplastia coronariana ou a cirurgia de revascularização
do miocárdio.
Várias organizações de saúde, incluindo a American Heart Association (AHA),
American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation (AACVPR)
e a Agency for Health Care Policy and Research, apontam que um programa de
reabilitação cardíaca deve conter componentes específicos para reduzir o risco car-
diovascular, além de encorajar modificações para um estilo de vida saudável e ati-
vo. Dessa forma, focando em aconselhamento nutricional, controle de diferentes
fatores como peso, pressão arterial, nível de lipídeos plasmáticos, interrupção do
tabagismo além de orientação adequada à prática de atividades físicas e treinamen-
to desportivo.
Perceba que, mais uma vez o exercício e, portanto o papel do profissional de
Educação Física está inserido como agente de transformação e de promoção da
saúde. Assim, neste capítulo você também terá a oportunidade de compreender os
riscos, os benefícios e as principais recomendações sobre a prescrição do exercício
para esse grupo de indivíduos.

capítulo 3 • 48
OBJETIVOS
• Compreender a etiologia das doenças cardiovasculares;
• Reconhecer os fatores que levam à aterosclerose;
• Reconhecer os fatores que promovem a hipertensão arterial;
• Identificar as principais recomendações de prescrição de exercício para portadores de
doenças cardiovasculares;
• Correlacionar o papel do profissional de Educação Física a esses quadros clínicos.

Doenças cardiovasculares

As doenças cardiovasculares são um conjunto de doenças que comprometem


o funcionamento do coração e dos vasos sanguíneos, incluindo a doença coro-
nariana que acomete os vasos que irrigam o coração; doença cerebrovascular as-
sociada a disfunções nos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro, doença arterial
periférica, relacionada aos vasos que irrigam os membros superiores e inferiores,
cardiopatia congênita, com origem genética que está associada a malformações
em estruturas do coração e geralmente se manifesta desde o nascimento, além da
trombose profunda e embolia pulmonar que pode ser desencadeada a partir da
formação de coágulos sanguíneos nas veias das pernas podendo se deslocar para o
coração ou para os pulmões.
Os ataques cardíacos, ou infarto agudo do miocárdio, além dos acidentes vas-
culares encefálicos (AVEs) são eventos agudos que podem ser ocasionados pela
obstrução dos vasos sanguíneos que irrigam o coração e o encéfalo. Esse bloqueio
impede a oferta adequada de oxigênio, nutrientes além da remoção de metabóli-
tos, comprometendo as funções destes órgãos. O principal motivo que leva a esse
quadro é o acúmulo gradual de gordura na parede interna dos vasos que irrigam
essas regiões, um quadro conhecido como aterosclerose, que resulta na formação
de placas de ateroma. A ocorrência desses eventos ainda está associada a uma
combinação de outros fatores de risco que incluem tabagismo, sedentarismo, dieta
inadequada, obesidade, resistência à insulina, hipertensão e dislipidemia.

capítulo 3 • 49
Atualmente, as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no
mundo, representando cerca de 30% dos casos de morte em nível global. No
Brasil, o número de mortes por ano, provocado por doenças cardiovasculares está
estimado em aproximadamente 300 mil indivíduos, correspondendo a uma morte
a cada dois minutos. Dentre as ocorrências mais comuns, os casos de AVE apa-
recem como os mais frequentes com cerca de 100 mil casos, seguido por 85 mil
casos de infarto e em terceiro lugar aparecem os problemas decorrentes da hiper-
tensão arterial, com aproximadamente 45 mil casos. As mulheres são as principais
vítimas de infarto, representando 60% dos casos.
Repare que mais uma vez o estilo de vida apresenta relação direta com as
manifestações clínicas. Você deve ficar atento e perceber que os fatores compor-
tamentais mais relevantes são evitáveis e fáceis de controlar com orientação ade-
quada. Muitas evidências apontam que a interrupção do tabagismo, a redução
do sódio na dieta, o aumento do consumo de frutas e vegetais e a adoção de um
estilo de vida fisicamente ativo reduzem os riscos associados ao surgimento desses
quadros. Em muitos casos, o tratamento farmacológico da hipertensão arterial, do
diabetes e da hiperglicemia contribui com a redução do risco.

Aterosclerose

A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica, de origem múltipla e que


acomete a camada mais interna, conhecida como íntima, de artérias de grande e
médio calibre, incluindo a artéria aorta e as artérias coronárias. As bifurcações ar-
teriais são regiões mais propensas ao desenvolvimento desse quadro. Nesses locais,
o fluxo sanguíneo é mais turbulento, aumentando a chance de lesões no endotélio
vascular e levando à formação das placas de ateroma. As placas de ateroma repre-
sentam a principal característica dessa condição: são depósitos que apresentam
interior lipídico, associadas a células inflamatórias mononucleares como os monó-
citos e linfócitos e células musculares lisas produtoras de colágeno.
O primeiro passo para o surgimento da doença é a agressão ao endotélio vas-
cular. A hipertensão arterial sistêmica é um importante fator de risco para o desen-
volvimento dessa doença, com o aumento da pressão sanguínea essas regiões apre-
sentam fluxo sanguíneo ainda mais turbulento e propenso a lesões. Em seguida

capítulo 3 • 50
ocorre a oxidação de moléculas de LDL, lipoproteínas de baixa densidade, que por
sua vez promovem a adesão de leucócitos na parede do endotélio. Esses leucócitos
atuam como “fitas adesivas” e capturam monócitos e linfócitos. Além disso, o
próprio endotélio passa a produzir citocinas que também atraem monócitos para o
espaço subendotelial. Esses monócitos se diferenciam em macrófagos e começam a
capturar as LDL oxidadas e mudam suas características, passando a ser chamados
de células espumosas.
O acúmulo de lipídeos e de células espumosas na camada íntima caracteriza
estrias gordurosas. Até essa etapa, a formação das estrias gordurosas não representa
risco importante e é bastante comum, inclusive sendo observada em adolescentes
e adultos jovens, entre 15 e 35 anos. No entanto, após os 30 anos esse processo
tende a progredir quando é combinado com outras morbidades como a hiperten-
são arterial, o diabetes e a dislipidemia, levando à formação das placas de ateroma
e lesões mais extensas e importantes.
O agravamento das estrias gordurosas se dá a partir da ação das citocinas libe-
radas pelos próprios vasos e fatores de crescimento liberados pelos leucócitos, esses
agentes inflamatórios promovem a atração de células de músculo liso da camada
média que migram para a íntima dos vasos sanguíneos. Essas células de múscu-
lo liso modificadas, também conhecidas como monócitos modificados produzem
tecido fibroso que passa a envolver o cerne de lipídeos, caracterizando a placa de
ateroma. O quadro de desenvolvimento da placa de ateroma está ilustrado na
figura 3.1.

capítulo 3 • 51
Figura 3.1 – Visão geral das etapas de desenvolvimento da
placa de ateroma. Silverthorn, 2017. Adaptado.

capítulo 3 • 52
As placas de ateroma podem ser estáveis ou instáveis. As placas estáveis não se
rompem, mas podem crescer até provocar o entupimento de uma artéria podendo
levar a uma isquemia. As placas instáveis apresentam atividade inflamatória mais in-
tensa e podem se romper; quando isso ocorre há a formação de um trombo que é res-
ponsável pelos quadros mais graves da doença, como o infarto agudo do miocárdio.
Você já sabe que quanto mais fatores de risco um sujeito apresentar, maior será
a chance de desenvolver doenças cardiovasculares. Os diferentes tipos de doenças
ateroscleróticas estão relacionados preferencialmente a fatores de risco específicos.
O fator de risco mais importante para o tipo da doença que acomete os vasos do
encéfalo é a hipertensão, já para a doença arterial periférica, o tabagismo e o dia-
betes são os fatores mais determinantes. A doença arterial coronariana está for-
temente associada a problemas na coagulação sanguínea, e o envelhecimento é um
fator de risco para todos os quadros de doenças cardiovasculares.
Vale destacar que existem fatores não modificáveis como idade e histórico
familiar e fatores que podem ser modificados como o tabagismo. A associação
entre o fumo e as doenças cardiovasculares é tão importante que essas doenças são
três a quatro vezes mais comuns entre os tabagistas e, após dois anos após parar
de fumar, a chance de desenvolver doença coronariana passa a ser semelhante à de
não fumantes. Os fatores de risco estão listados no quadro a seguir.
FATORES DE RISCO PARA ATEROSCLEROSE
Não modificáveis
• Idade (homens ≥ 45 anos, mulheres ≥ 55 anos)
• Histórico familiar precoce (em parente de primeiro grau; homens < 55 anos; mulheres
< 65 anos)
Modificáveis
• Hipertensão arterial • Obesidade
• Dislipidemia • Resistência à insulina
• Tabagismo • Sedentarismo
• Diabetes melito
Marcadores bioquímicos e hematológicos
• Fatores inflamatórios: proteína C-reativa
• Fatores pró-trombóticos: plasminogênio, fibrinogênio, inibidor do PAI-1
• Hiper-homocisteinemia
• Lipoproteína
• Infecção

capítulo 3 • 53
Hipertensão arterial sistêmica

Você viu no tópico anterior que a aterosclerose representa a condição fisiopa-


tológica por trás das doenças cerebrovascular, coronariana, arteriopatia periférica e
patologias da artéria aorta e, somadas, essas doenças representam as grandes causas
de morbimortalidade da atualidade. Com isso, é fundamental que você também
fique atento aos fatores de risco que levam à aterosclerose e, dessa forma, o estudo
e o conhecimento desses fatores são chave para o entendimento das relações do
exercício físico com prevenção e tratamento dessas condições.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o fator de risco mais prevalente para
a aterosclerose e mortalidade por doenças cardiovasculares. A mortalidade por
doenças cardiovasculares aumenta proporcionalmente com a elevação da pressão
arterial a partir de 115 × 75 mmHg e explica aproximadamente 40% das mortes
por AVE e 25% por infarto. A grande prevalência, a tendência de aumento da in-
cidência e o baixo controle da hipertensão a torna uma doença de grande interesse
para os sistemas públicos de saúde. Estima-se que cerca de 1 bilhão de pessoas
sejam hipertensas no mundo e dessa população, dois terços vivem em países em
desenvolvimento como o Brasil.
Os estudos epidemiológicos no Brasil não são precisos, mas alguns trabalhos
sugerem uma prevalência média de 32,5% com uma tendência de que a incidên-
cia da doença aumente nos próximos anos. Esse aumento na incidência se deve
principalmente ao aumento no número de pessoas obesas e no envelhecimen-
to da população. Somado a isso, estima-se que apenas 20-30% dos hipertensos
sejam controlados, representando um baixo controle dos indivíduos portadores
deste quadro. Dessa forma, você pode deduzir que um indivíduo que sustenta
níveis pressóricos mais elevados, também apresenta maior risco de complica-
ções cardiovasculares.
O conceito da hipertensão arterial sistêmica é muito simples, como o próprio
nome já diz, esse quadro é caracterizado pela presença de níveis de pressão arterial
elevados. O processo natural de envelhecimento por si só já promove elevação da
pressão arterial, com maior efeito em homens do que em mulheres. Em contra-
partida, a partir dos 55 anos a pressão arterial diastólica começa a diminuir e a
redução é mais importante em homens, com isso, em idosos, os níveis de pressão
arterial tendem a ser discretamente maiores nas mulheres do que nos homens.
A origem da doença pode ser primária ou essencial, representando 90-95% dos
casos e secundária com cerca de 5-10% dos casos, sendo a doença parenquimatosa

capítulo 3 • 54
renal a principal causa secundária da HAS. A hipertensão arterial dita primária
também é conhecida com idiopática e a causa está relacionada à combinação com-
plexa de diversos fatores ambientais e genéticos. Na grande maioria das vezes é
assintomática, dificultando a descoberta da doença para o adequado tratamento
e orientação.

Conversa afiada!
Você saberia dizer se todo indivíduo com pressão alta é hipertenso?
Certamente a resposta para essa pergunta é um sonoro não! No dia a dia, várias circuns-
tâncias podem elevar a pressão arterial como mecanismo de adaptação fisiológica às
condições. A atividade física é um ótimo exemplo de situação fisiológica que promove o
aumento dos níveis de pressão arterial, que também podem variar em função do estresse
no trânsito ou no trabalho, da atividade sexual dentre outros fatores associados ao siste-
ma nervoso simpático que deflagra uma resposta de “luta ou fuga”. Para que a HAS seja
diagnosticada, é necessário que sejam observados níveis de pressão sustentadamente
elevados, ou seja, crônicos ao ponto que representem risco de eventos cardiovasculares
fatais ou não fatais.

A maioria dos sujeitos com hipertensão não apresentam origem definida da


doença e, em geral, temos a participação de dois fatores de risco principais. De
um lado existe o fator genético, que são condições que a ciência ainda está inves-
tigando para melhor compreensão e que podem envolver mutações em diversos
genes que estão sendo mapeados e, por outro lado, existem os fatores ambientais
que incluem a obesidade, resistência à insulina, aumento prolongado da ingestão
de sódio e ingestão inadequada de cálcio e potássio. Os principais fatores de risco
estão descritos no quadro a seguir.

FATORES DE RISCO PARA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA


• Idade (diretamente proporcional, com prevalência maior de 60% para idades acima de
65 anos).
• Sexo (mais elevada em homens até 50 anos, invertendo-se após os 55 anos).
• Etnia (negros apresentam HAS mais precoce e grave).
• Sobrepeso e obesidade.
• Sedentarismo.
• Elevada ingestão de sódio, álcool e baixo consumo de cálcio e potássio.
• Fatores socioeconômicos (maior prevalência quanto menor a escolaridade).
• Fatores genéticos.

capítulo 3 • 55
O resultado do conjunto desses fatores de risco é o desenvolvimento de me-
canismos fisiopatológicos que levam ao desenvolvimento e à manutenção da HAS
incluindo o aumento da atividade do sistema nervoso simpático; a redução de
agentes vasodilatadores; alterações estruturais e funcionais nos vasos sanguíneos; o
aumento da atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona, aumentando a
rigidez vascular e lesão renal.
O sistema renina-angiotensina-aldosterona é um intrincado sistema de inte-
gração da função de diversos órgãos para exercer controle hídrico, tônus vascular,
ajustes de humor entre outras ações, promovendo o controle da pressão arterial. A
visão geral deste sistema está resumida na figura 3.2.

Figura 3.2 – Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona. Visão geral do


controle da secreção de aldosterona e das ações a angiotensina II (ANGII)
no controle da pressão arterial. Silverthorn, 2017. Adaptado.

capítulo 3 • 56
Dislipidemias

As dislipidemias são distúrbios do metabolismo de lipídeos que acarretam al-


terações nos níveis plasmáticos desses compostos. Para uma melhor compreensão,
é importante que você revise conceitos básicos sobre esses processos metabólicos.
Para começar, é importante você saber que os lipídeos podem ser de origem
exógena, quando provenientes da dieta ou de origem endógena, quando produzi-
dos pelo metabolismo celular. Podem ser representados pelos triglicerídeos, ácidos
graxos, fosfolipídeos e colesterol. O fato de os lipídeos serem compostos hidro-
fóbicos determina que sejam transportados por proteínas no plasma sanguíneo,
formando as lipoproteínas.
As lipoproteínas podem ser de diferentes tipos, com composição e funções
distintas, variando assim principalmente a densidade do composto. O quilomi-
crom é a lipoproteína menos densa, formada no intestino após o período alimen-
tar, tendo aproximadamente 85% de sua composição formada por triglicerídeos.
Sua função principal é transportar os lipídeos da dieta para o fígado e outros teci-
dos extra-hepáticos. Já as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) trans-
portam lipídeos endógenos, principalmente triglicerídeos produzidos no fígado
após o período alimentar, para outros tecidos, como o tecido adiposo para que os
triglicerídeos possam ser armazenados. O VLDL é composto por 65% de triglice-
rídeos, 15% colesterol, 15% fosfolipídeos e 10% de proteínas.
A produção do VLDL é favorecida pela ingestão de carboidratos e é estimula-
da pela insulina. As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) também são transpor-
tadoras de lipídeos endógenos produzidos no fígado para outros tecidos, mas têm
em sua composição um teor maior de colesterol, perfazendo 45% de sua compo-
sição, somado a 22% de fosfolipídeos, 23% de proteínas e 10% de triglicerídeos.
Por fim, as lipoproteínas de alta densidade (HDL) são sintetizadas pelo fígado e
são compostas por 50% de proteína, 30% de fosfolipídeos, 18% de colesterol e
2% de triglicerídeos. O HDL tem o papel de captar o excesso de colesterol de
tecidos periféricos e transportar ao fígado, evitando assim o acúmulo de colesterol
em tecidos periféricos. Lembre-se de que os lipídeos podem fazer lesão tecidual e
que o colesterol é um componente das placas de ateroma.
Alterações plasmáticas de lipídeos fora das faixas de referência caracterizam as
dislipidemias. As dislipidemias podem ser classificadas como primária, representa-
da por condições genéticas e raras; ou secundária, que são de maior frequência e se
associam ao estilo de vida sedentário. Agora que você revisou alguns aspectos do

capítulo 3 • 57
transporte plasmático, é importante que perceba que a dieta, assim como outros
aspectos do estilo de vida, incluindo a prática regular de atividade física, pode
exercer efeito direto na concentração das lipoproteínas encontradas no sangue.

Benefícios do exercício físico

Agora que você já tomou conhecimento dos fatores de risco associados às


doenças cardiovasculares deve ter percebido que muitos destes fatores são mo-
dificáveis com mudanças no estilo de vida, tais como o sedentarismo, a dieta e a
obesidade. Dessa forma, fica claro que a prática regular de exercícios físicos pode
representar uma poderosa estratégia na prevenção das doenças cardiovasculares.
Além disso, o exercício físico ainda pode ser usado como estratégia não farmaco-
lógica durante a reabilitação cardíaca.

Papel do exercício físico na prevenção de doenças cardiovasculares

Repare que os fatores de risco para doenças cardiovasculares também estão


associados ao desenvolvimento da resistência à insulina e, nesse sentido, vale des-
tacar que as doenças cardiovasculares também representam a principal causa de
mortalidade e morbidade em indivíduos diabéticos, tanto no diabetes tipo I quan-
to do tipo II. Dessa forma, muitos estudos já demonstram que, em populações
com comprometimento no teste de tolerância à glicose, o exercício associado à
dieta pode retardar ou até mesmo prevenir o diabetes tipo II e os fatores de risco
para as doenças cardiovasculares.
Em uma meta-análise publicada em 2017, Zhang e colaboradores revisaram
79 artigos, compreendendo uma população total de 15.618 participantes tendo
o pré-diabetes como fator de risco. Eles descreveram que em 57 estudos as inter-
venções no estilo de vida, como a inclusão de exercício físico, dieta ou a combi-
nação das duas mudanças provocou efeitos positivos e significativos, melhorando
fatores como a pressão arterial sistólica, diastólica, redução dos níveis plasmáticos
do colesterol total, do LDL e dos triglicerídeos, além de promover aumento da
fração de HDL em comparação com grupos de indivíduos submetidos apenas
ao tratamento convencional, sem mudanças nos hábitos de vida. Esses estudos
ainda demostraram que 12 meses de intervenção representam tempo suficiente
para observar efeitos positivos das mudanças do estilo de vida sobre os fatores de
risco cardiovascular.

capítulo 3 • 58
Muitos desses efeitos positivos do exercício também são observados em in-
divíduos com diabetes tipo I, que é uma doença que surge como um quadro
autoimune caracterizado pela produção insuficiente de insulina em decorrência
da destruição das células β-pancreáticas produtoras de insulina, dificultando o
controle glicêmico. O controle da glicemia está diretamente correlacionado às
doenças cardiovasculares e é fundamental no gerenciamento do diabetes. Em uma
revisão sistemática, publicada em janeiro de 2019, Wu e colaboradores apontaram
que nestes indivíduos, o exercício não promove efeitos significativos no controle
da glicemia.
Estes pesquisadores relatam que essa observação pode ser relativa ao número
reduzido de participantes nos estudos. Em contrapartida, marcadores do controle
da glicemia no longo prazo, como a hemoglobina glicada são significativamente
influenciados pelo exercício e, dessa forma, os autores reforçam a ideia da impor-
tância do exercício regular para o controle da glicemia e ainda destacam que esse
controle é fundamental para reduzir o risco cardiovascular.
A prática de exercício combinada à dieta com restrição calórica potencializa os
efeitos sobre a captação tecidual de glicose, repercutindo no controle da glicemia,
além de reduzir marcadores de inflamação, resistência à insulina regular o perfil
lipídico e o IMC. Adicionalmente vários estudos já reportaram que a redução do
comportamento sedentário por meio da prática de exercícios físicos é fundamen-
tal para controle e redução dos riscos cardiovasculares oferecendo amplos efei-
tos benéficos, resultando em condicionamento da capacidade cardiorrespiratória,
melhoria da saúde vascular e endotelial e promovendo melhorias na qualidade
de vida.
É importante você notar que a capacidade aeróbia está correlacionada de for-
ma inversamente proporcional ao risco de doenças cardiovasculares. Em estudos
conduzidos com indivíduos diabéticos do tipo I, submetidos a programas de exer-
cícios, já foi demostrado aumento significativo da ordem de 3 mL · kg · min–1 no
VO2 máx. mesmo em indivíduos sem alterações no IMC, sugerindo a capacidade
de programas de treinamento desportivo em aprimorar a saúde cardiovascular de
forma independente a mudanças na composição corporal e assim reduzir o risco
de doenças cardiovasculares.
Estudos revelam que cada aumento no equivalente metabólico (MET) pode
estar associado a uma redução de 25% nas causas de mortalidade associadas a
doenças cardiovasculares. Essas mudanças são observadas principalmente em in-
tervenções que incluem exercícios aeróbios, com grande frequência semanal ou
sessões de longa duração.

capítulo 3 • 59
Você deve observar que esses estudos e resultados são de extrema relevância,
uma vez que demonstram a importância do exercício físico regular na prevenção
das doenças cardiovasculares.

Reabilitação cardíaca

A reabilitação cardíaca é um processo complexo e multidisciplinar e nesse


contexto os profissionais de Educação Física possuem papel muito relevante. As
intervenções devem ser individualizadas para atender a diferentes condições pa-
tológicas como infarto, doenças isquêmicas, insuficiência cardíaca ou sujeitos que
tenham sido submetidos a intervenções como angioplastias, dentre outras ações.
Os objetivos da reabilitação cardíaca incluem limitar os estresses fisiológicos
e psicológicos das doenças cardiovasculares, reduzir o risco de mortalidade secun-
dária às doenças cardiovasculares, aprimorar as funções cardíacas auxiliando os
indivíduos a melhorar a qualidade. Esses objetivos, quando alcançados, resultam
na melhoria das capacidades e funções cardíacas gerais, a reversão da aterosclerose,
além do aumento da confiança do indivíduo na busca pelo bom condicionamento
físico. Além desses objetivos, programas de reabilitação também apresentam res-
trições e contraindicações, que incluem a angina instável, arritmias ventriculares,
hipertensão pulmonar severa, estenose aórtica, dentre outras condições.
Várias organizações como a AHA sugerem que o foco da reabilitação cardía-
ca deve incluir aconselhamento nutricional, controle ou perda de peso, controle
da pressão arterial, controle dos níveis plasmáticos de lipídeos, orientação para a
prática de exercícios físicos e o condicionamento físico por meio do treinamento
desportivo. Veja mais uma vez como fica clara a importância dos profissionais de
Educação Física na composição das equipes multidisciplinares e o potencial que a
correta prescrição de exercícios pode ter para beneficiar essa população específica.
Neste sentido, diferentes estratégias de treinamento são empregadas durante a
reabilitação cardíaca.
A reabilitação pode ser dividida em três fases. A fase clinica é a primeira fase e
deve ser iniciada logo após o evento cardíaco, consistindo nas avaliações do nível
de condicionamento do indivíduo, com a inclusão de atividades ainda no leito
para reduzir o impacto do destreinamento durante a hospitalização. A segunda
fase se inicia a partir do momento em que o indivíduo está estável e recebe alta
e pode ter duração em média de seis a doze semanas. Nesta fase, é importante
avaliar as limitações e as capacidades físicas, orientar e aconselhar para promover

capítulo 3 • 60
a independência e o retorno gradual às atividades da vida diária. A terceira fase é
aquela em que o profissional de Educação Física tem maior parcela de responsa-
bilidade. Nesta etapa, os principais objetivos incluem ganho de força muscular,
flexibilidade e condicionamento aeróbio.
Você deverá controlar as variáveis cardiovasculares e promover mudanças no
estilo de vida por meio da prescrição e orientação do treinamento desportivo. Em
geral, essas fases podem promover aumento do VO2 máx., aprimorar a função
endotelial e o fluxo sanguíneo coronariano, bem como promover a redução do
tabagismo, o controle de peso, da dislipidemia e da pressão arterial.
O treinamento contra resistência ou o treinamento de força é uma estraté-
gia central durante a reabilitação cardíaca. Em uma meta-análise, Yamamoto e
colaboradores (2016) compararam o emprego do treinamento contra resistência
com o tratamento convencional ou a combinação de treinamento contra resistên-
cia com o treinamento aeróbio em comparação com a aplicação do treinamen-
to aeróbio isolado. Os estudos investigados compreenderam uma população de
1.095 participantes e revelaram que o treinamento de força promoveu aumento
nos níveis de força dos membros inferiores e superiores, aumento do VO2 máx. e
redução do peso corporal. Estes efeitos foram observados tanto nos participantes
jovens quanto nos idosos, que ainda apresentaram melhoria da mobilidade em
comparação com os grupos controle.
Em outra revisão sistemática, Anderson e colaboradores (2016) revisaram 63
estudos, totalizando 14.486 participantes. Nesta revisão, foram avaliados os efei-
tos de diferentes programas de exercícios usados como estratégia de reabilitação
cardíaca em comparação com a reabilitação sem a prática de exercícios físicos. Os
protocolos foram aplicados por no mínimo seis meses, com sessões de exercício
com duração entre 20 e 90 minutos, com frequência de 1 a 7 vezes por semana e
intensidades variadas, entre 50%-80% da frequência cardíaca máxima, 50%-95%
do VO2 máx. ou escore da escala de Borg entre 11 e 15 pontos.
Em resumo, os autores concluíram que as estratégias com base em exercícios
apresentam importantes benefícios para a reabilitação semelhantes àqueles descri-
tos anteriormente e destacam que esses benefícios promovem menores índices de
hospitalização, redução da mortalidade e melhoria da saúde associada a qualidade
de vida.
Quando o exercício intervalado de alta intensidade (HIIT) é comparado com
atividades de intensidade moderada, os estudos evidenciam melhores resultados
sobre o VO2 de pico para os sujeitos submetidos ao HIIT. Essa estratégia, no

capítulo 3 • 61
entanto não leva a efeitos significativamente melhores sobre os diferentes domí-
nios físico, emocional, psicológico e social da qualidade de vida.

REFLEXÃO
A essa altura da nossa conversa, você já deve estar ficando cansado de perceber as
relações entre os quadros e disfunções patológicas e o papel do profissional de Educação
Física. Você deve estar achando cada vez mais óbvia essas relações e em se tratando das
doenças cardiovasculares não é diferente. Inicialmente porque o desenvolvimento dessas
doenças está diretamente relacionado a um estilo de vida sedentária; é claro que outros
fatores podem estar envolvidos, mas os hábitos de vida apresentam papel muito relevante
neste cenário.
Uma reflexão importante que você deve fazer neste momento do livro, refere-se à per-
cepção de que as doenças cardiovasculares representam um fator de risco para a síndrome
metabólica e são as maiores causas de mortalidade em indivíduos com estes quadros e,
dessa forma, as correlações que estão sendo apresentadas e discutidas ao longo deste livro
ficam ainda mais evidentes e intrincadas. Veja você que os sistemas fisiológicos são como
engrenagens, todas conectadas. Assim, uma disfunção em um sistema pode acabar acarre-
tando comprometimento e prejuízo fisiológico em outros sistemas.
Finalmente, mais uma vez você compreende que o papel do Profissional de Edu-
cação Física tem relevante destaque e é peça chave na prevenção e no tratamento, nas
diferentes fases da reabilitação cardíaca. Através da prática de exercícios físicos regulares é
possível promover saúde preventiva e garantir uma recuperação ótima a fim de amenizar os
danos a saúde e promover todos os aspectos da qualidade de vida. Você será no futuro,peça
fundamental nesse processo.

ATIVIDADES
Depois de todo esse estudo, você pode resolver as atividades a seguir para consolidar as
informações apresentadas na forma de conhecimento.

01. Várias intervenções podem provocar redução da pressão arterial sistólica. Dentre as
ações descritas a seguir, qual delas é mais eficiente?
a) Praticar exercício físico regularmente. d) Dieta pobre em sódio.
b) Redução do peso corporal. e) Moderação no consumo de álcool.
c) Dieta rica em fibras alimentares e frutas.

capítulo 3 • 62
02. A aterosclerose é uma doença inflamatória que pode levar anos para se desenvolver
e, no entanto representa o principal motivo que leva à obstrução dos vasos sanguíneos e,
consequentemente, às complicações da obstrução do fluxo de sangue, podendo ocasionar
infartos do miocárdio ou acidentes vasculares encefálicos. Existem vários fatores de risco
para o desenvolvimento desse quadro, alguns não são modificáveis, outros, ao contrário, po-
dem ser modificados. Dentre os fatores de risco listados a seguir, qual deles não representa
um fator de risco modificável?
a) Hipertensão arterial d) Obesidade
b) Histórico familiar e) Sedentarismo
c) Dislipidemia

03. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o fator de risco mais prevalente para a ateros-
clerose e mortalidade por doenças cardiovasculares, portanto, a mortalidade por doenças
cardiovasculares aumenta proporcionalmente com a elevação da pressão arterial e explica
aproximadamente 40% das mortes por AVE e 25% por infarto.
a) A primeira afirmativa é verdadeira e a segunda é falsa
b) A primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira.
c) Ambas as afirmativas são falsas.
d) Ambas as afirmativas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.
e) Ambas as afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não justifica a primeira.

04. Dentre os objetivos da reabilitação cardíaca, podemos incluir todas as alternativas des-
critas a seguir com exceção da alternativa:
a) Limitar os estresses fisiológicos das doenças cardiovasculares.
b) Reduzir o impacto psicológico das doenças cardiovasculares.
c) Reverter o processo de envelhecimento.
d) Reduzir o risco de mortalidade secundária.
e) Aprimorar as funções cardíacas para promover qualidade de vida.

05. (Enade 2016) O sedentarismo na adolescência aumenta a incidência de doenças car-


diovasculares na vida adulta, sendo a prática de exercícios físicos aeróbios indicada para
o combate das doenças hipocinéticas, desde que orientadas por profissionais da área de
Educação Física.
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Diretrizes do ACSM para os testes de
esforço e sua prescrição. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2014. Adaptado.

capítulo 3 • 63
Caracteriza-se como efeito do treinamento aeróbio em adolescentes
a) a elevação da frequência cardíaca de repouso.
b) a redução do consumo de oxigênio máximo (VO2 máx.).
c) a redução da velocidade de corrida no início do acúmulo de lactato.
d) o aumento do recrutamento das fibras musculares tipo II, o que pode causar hiperplasia
ou hipertrofia mitocondrial.
e) o aumento da diferença entre a freqUência cardíaca máxima e a frequência cardíaca
de repouso.

06. De acordo com o que você estudou acerca neste capítulo quanto aos objetivos da reabi-
litação cardíaca, analise as afirmativas a seguir e escolha a alternativa verdadeira.
I. Limitar os estresses fisiológicos da doença.
II. Reduzir o risco de mortalidade primária.
III. Aprimorar as funções cardíacas auxiliando os indivíduos a melhorar a qualidade de vida.
a) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
b) Apenas a afirmativa II é verdadeira.
c) As afirmativas I e III são verdadeiras.
d) As afirmativas II e III são verdadeiras.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

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capítulo 3 • 65
capítulo 3 • 66
4
Atividade física
e doenças
respiratórias
Atividade física e doenças respiratórias
Você chegou ao capítulo quatro, no qual terá a oportunidade de estudar sobre
as relações da atividade física e as doenças respiratórias. Inicialmente, você será
apresentado a uma breve visão da função respiratória, por meio de uma revisão
sobre aspectos básicos da ventilação pulmonar, incluindo a mecânica ventilatória,
os conceitos sobre volumes e capacidades pulmonares e a troca gasosa, também
conhecida como hematose.
Em seguida, você estudará os assuntos específicos deste capítulo, com a apre-
sentação de definições, dados epidemiológicos, características clínicas e inter-
venções terapêuticas de diferentes doenças respiratórias. É importante que você
compreenda que a insuficiência respiratória é representada pela incapacidade de
os pulmões executarem sua função básica, que é a troca gasosa, pela captação de
O2 e da eliminação do CO2. Em uma visão geral, vários quadros clínicos podem
acarretar a insuficiência respiratória por meio de modificações distintas sobre o
sistema respiratório.
Dessa forma, você será apresentado a algumas condições clínicas, incluindo a
asma-brônquica, a asma induzida pelo exercício e a doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC) e assim poderá desenvolver uma boa base de informações sobre
a fisiopatologia e as estratégias de tratamento para esses quadros, bem como terá
a possibilidade de perceber as relações destes quadros com a atividade física, os
programas de exercícios adequados e o papel do profissional de Educação Física
nestes contextos.
Finalmente, você conhecerá alguns dos mecanismos que levam aos benefícios
promovidos pelo exercício sobre as funções respiratórias; em que através de pro-
gramas de exercícios físicos adequados é possível induzir o fortalecimento de mús-
culos envolvidos na ventilação e levar a ajustes cardiovasculares que melhoram a
fisiologia respiratória. Neste escopo, é muito importante que você compreenda as
relações entre volume, intensidade e características dos estímulos físicos, uma vez
que como contraponto aos benefícios; o exercício em alta intensidade, influencia-
do por um ambiente de clima frio e seco pode induzir quadros agudos de bronco
espasmo mesmo em indivíduos saudáveis.
Assim, você terá uma visão geral das estratégias, possibilidades e também
limitações das competências do profissional de Educação Física no cenário da
Fisiologia Respiratória.

capítulo 4 • 68
OBJETIVOS
• Compreender os aspectos básicos da função respiratória;
• Compreender a etiologia das doenças respiratórias;
• Identificar as principais recomendações de prescrição de exercício para portadores de
doenças respiratórias;
• Correlacionar o papel do profissional de Educação Física a esses quadros clínicos.

Função respiratória

Você provavelmente já deve saber que a respiração é uma função vital para o orga-
nismo, cuja principal ação é realizar a troca gasosa, também conhecida como hemato-
se, promovendo a captação de oxigênio (O2) e a eliminação de gás carbônico (CO2).
Nos pulmões, são encontrados cerca de 480 milhões de alvéolos; uma estru-
tura microscópica em forma de saco de ar que pode ser ventilada com ar atmos-
férico e que representa uma grande superfície para a troca gasosa. Os alvéolos
encontram-se ao final da árvore brônquica que começa na traqueia, bifurcando-se
em dois brônquios principais que, por sua vez, irão se subdividir várias vezes em
brônquios lobares que dão origem aos brônquios segmentares. A traqueia e os
brônquios são sustentados por uma estrutura cartilaginosa e são revestidos inter-
namente por um epitélio contendo células ciliadas, caliciformes e glândulas pro-
dutoras de muco. Após diversas subdivisões sucessivas, os brônquios dão origem
aos bronquíolos e em cada região terminal desta estrutura, se forma um ácino que
representa a unidade funcional respiratória.
O ácino é composto por estruturas ricas em alvéolos. O bronquíolo terminal
se ramifica, formando brônquios respiratórios, contendo alguns alvéolos em sua
parede. O bronquíolo respiratório, em seguida, origina os ductos alveolares, que
finalmente terminam nos sacos alveolares, estruturas cujas paredes são formadas
exclusivamente por alvéolos que, por sua vez, são envolvidos por uma ampla rede
de capilares sanguíneos, garantindo assim a interface de troca gasosa. Assim, os
ácinos se reúnem em três a cinco unidades formando uma estrutura anatômica
conhecida como lóbulo pulmonar.
A parede alveolar é composta pelo epitélio alveolar, pela membrana basal e
pelo endotélio capilar. O epitélio alveolar tem 95% da sua constituição formada

capítulo 4 • 69
por pneumócitos do tipo I e 5% por pneumócitos do tipo II, responsáveis pela
produção de surfactante pulmonar, uma substância fundamental para manter o
lúmen alveolar aberto, ao reduzir a tensão superficial da parede alveolar, impedin-
do o colabamento dos alvéolos.
Agora, que você conhece a descrição da arquitetura pulmonar, reveja os pon-
tos e observe a figura 4.1, na qual os detalhes estão ilustrados. Em seguida, vamos
passar para os próximos pontos. Nesta próxima divisão, vamos separar a função
respiratória em dois componentes: ventilação pulmonar e troca gasosa pulmonar.

Figura 4.1 – Estrutura anatômica da árvore brônquica. Silverthorn, 2017. Adaptado.

capítulo 4 • 70
Ventilação pulmonar

A ventilação pulmonar é dividida em duas fases distintas, a inspiração e a


expiração que representa o processo de entrada e saída de ar dos pulmões. Esse
processo é uma ação mecânica determinada pela contração dos músculos respira-
tórios e, dessa forma, você pode assumir que a ventilação é um processo mecânico.
A figura 4.2 ilustra a mecânica da ventilação com ênfase no movimento do dia-
fragma. O painel (a) ilustra o diafragma em repouso, relaxado comprimindo os
pulmões, no painel (b) você pode observar o efeito da contração do diafragma
expandindo o espaço da caixa torácica, permitindo assim a inspiração e no painel
(c) observa-se novamente o efeito do relaxamento do diafragma.

Figura 4.2 – Movimento do diafragma durante a inspiração


e expiração. Silverthorn, 2017. Adaptado.

A musculatura respiratória sofre controle neural pela inervação dos nervos in-
tercostais, vago e frênico e o controle é realizado de forma espontânea por centros
de controle localizados no bulbo e na ponte. O centro bulbar sofre influência das
concentrações de CO2 e O2 no sangue arterial e no líquor, além de mecanismos de
automatismo intrínseco e arco-reflexo mecânico e assim controla de forma invo-
luntária a ventilação. Apesar desse controle involuntário, a sua ação também pode
incidir controle voluntário sobre a ventilação.
Durante a inspiração, o movimento do diafragma para baixo e a ação
dos músculos intercostais externos que movem as costelas para cima e para fora
aumenta o espaço interno da caixa torácica, criando uma pressão negativa e assim
permite a entrada do ar. Devido ao fato de a inspiração requerer a contração do
diafragma, principal músculo envolvido, e dos músculos intercostais, você deve
assumir que a inspiração é um processo ativo. Já a expiração em repouso é um pro-
cesso passivo, quando a partir da recuperação elástica do diafragma, dos pulmões e
da caixa torácica, retornando à posição de repouso e expirando o ar ao longo deste
processo.

capítulo 4 • 71
Durante a ventilação em repouso, em cada ciclo ventilatório, o volume que
entre e sai dos pulmões é denominado volume-corrente e representa um volume
da ordem de 500 mL em um adulto de peso médio. O produto da multiplicação
desse volume em função da frequência respiratória define o volume-minuto, que
representa a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões em um período de um
minuto. Assumindo uma frequência respiratória normal de 12 a 16 ciclos inspi-
ratórios por minuto, o volume minuto normal está em torno de 7 L/min; deste
volume, cerca de 70% chega efetivamente aos alvéolos e o restante representa o
volume no espaço morto.
Durante o exercício físico, tanto o volume ventilado quanto a frequência de
incursões ventilatórias aumentam para atender às necessidades do exercício; a fre-
quência respiratória pode aumentar de 12 para 35 a 45 incursões por minuto. Já
o volume corrente pode chegar a 2 litros, provocando uma elevação na ventilação/
minuto para 100 litros ou mais, o que representa um aumento de cerca de vinte
vezes aquele observado no repouso; portanto, perceba que é possível alterar esses
volumes para atender as demandas metabólicas. Esses ajustes são possíveis graças
ao volume de reserva inspiratória que é da ordem de 3000 mL para homens e
1900 mL para mulheres e do volume de reserva expiratória, observado em uma
expiração forçada que é de 1100 mL e 700 mL para homens e mulheres, respecti-
vamente. Os volumes e as capacidades pulmonares estão ilustrados na figura 4.3.

Figura 4.3 – Volumes e capacidades pulmonares. Os volumes e capacidades referem-


se a um homem de 70 kg e uma mulher de 50 kg. Silverthorn, 2017. Adaptado.

capítulo 4 • 72
Troca gasosa

A troca gasosa, também denominada hematose, ocorre entre os alvéolos e os


capilares. O sangue que circula nos capilares que irrigam os alvéolos chega aos
pulmões por meio da circulação pulmonar e apresenta uma pressão parcial de
CO2(PCO2) da ordem de 46 mmHg, que é maior do que aquela encontrada no
ar atmosférico que ventila os alvéolos que é de 40 mmHg. Além disso, a pressão
parcial de O2(PO2) é maior no conteúdo alveolar, equivalente a 100 mmHg ao
nível do mar, em relação ao sangue dos capilares que é de 40 mmHg.
Perceba que existe uma diferença de concentração destas moléculas entre os
dois ambientes. Uma vez que tanto o CO2 quanto o O2 são permeáveis às mem-
branas biológicas, esse gradiente de concentração determina a troca gasosa, pro-
movendo a difusão dos gases sempre a favor do gradiente de concentração em um
transporte passivo por difusão simples.
O transporte destes gases na corrente sanguínea, no entanto, é diferente. O
CO2, que é produzido nos tecidos em diferentes processos do metabolismo ener-
gético, é prioritariamente transportado na forma de íons bicarbonato (HCO3–),
correspondendo a 70% do total, enquanto 23% reagem com a hemoglobina e 7%
estão diluídos no plasma. Já o O2 é dependente da hemoglobina para ser trans-
portado pela corrente sanguínea, para você ter uma ideia, 98% do O2 encontrado
no sangue, estão ligados à hemoglobina nos eritrócitos.
A hemoglobina é uma proteína, encontrada nos eritrócitos, cuja principal
função é justamente transportar o O2 por meio da circulação sanguínea. Dessa
forma, para manter os níveis adequados de O2 no plasma sanguíneo, é necessário
que o conteúdo de hemoglobina no sangue esteja 90% saturada com o O2(SaO2).
Um resumo das trocas gasosas e do transporte plasmático de gases está ilustrado
na figura 4.4.

capítulo 4 • 73
Ar seco = 760 mmHg
Po2 = 160 mmHg
Pco2 = 0,25 mmHg

Alvéolos

Po2 = 100 mmHg


Pco2 = 40 mmHg
CO2 O2
Sangue arterial
Transporte de CO2
HCO3- = 70% Po2 = 100 mmHg
Hb•CO2 = 23% Circulação Pco2 = 40 mmHg
CO2 dissolvido = 7% pulmonar

Transporte de CO2
Hb•CO2 = 98%
O2 dissolvido < 7%
(~Po2)
Sangue venoso
Po2 = 40 mmHg
Pco2 = 46 mmHg
Circulação
sistêmica

CO2 O2

Células

Po2 < 40 mmHg


Pco2 > 46 mmHg

Figura 4.4 – Resumo do transporte e da troca de O2 e CO2. Silverthorn, 2017. Adaptado.

Existem algumas situações em que a afinidade entre a hemoglobina e o oxigê-


nio diminui, incluindo situações de estresse, em quadros de acidose metabólica;
hipercapnia, a elevação de CO2 no plasma; hipertermia, dentre outras circunstân-
cias, influenciando assim a concentração de O2 no plasma sanguíneo.
Em situações fisiológicas, o sangue que atinge os capilares em nível alveolar apre-
senta uma SaO2 da ordem de 75% e se a troca gasosa estiver preservada, este san-
gue alcançará as veias pulmonares com SaO2 equivalente a 98%. Contudo, vários
quadros clínicos podem levar à hipoxemia; para uma oxigenação ideal, cada um dos
480 milhões de alvéolos de ter uma ventilação equivalente à sua perfusão capilar. Se

capítulo 4 • 74
a ventilação alveolar for mal distribuída, levando a regiões alveolares com ventilação
precária, o sangue que irriga estas regiões não é adequadamente saturado com o O2, o
que acarreta uma redução na SaO2. Quanto maior o número de alvéolos mal saturados,
maior será o efeito de hipoxemia. Diversas condições patológicas cursam com esse dis-
túrbio, sempre decorrentes da má distribuição da ventilação pelos alvéolos pulmonares
e pode ser observado nas crises asmáticas, na DPOC e na pneumonia grave.
Em resumo, podemos assumir que o conteúdo total de O2 no sangue arte-
rial é influenciado pela composição do ar inspirado, pela ventilação alveolar, pela
difusão entre os alvéolos e o sangue e pela perfusão adequada dos alvéolos. Esses
fatores determinam o percentual de saturação da hemoglobina com o O2 que é
também resultado do número total de sítios de ligação, ou seja, da expressão, do
conteúdo de hemoglobina nos eritrócitos.

Distúrbios do sistema respiratório

Os distúrbios do sistema respiratório podem ter diferentes origens, ou seja, as


causas são variadas, contudo as consequências em geral envolvem a redução da ca-
pacidade de realizar a hematose, ocasionando uma redução da PO2, levando a al-
terações em parâmetros da homeostase, como o pH e comprometendo as funções
fisiológicas normais. Nas figuras 4.5, você pode observar uma comparação entre
o pulmão normal e outras condições clínicas que incluem o enfisema, a doença
fibrótica do pulmão, o edema pulmonar e a asma.

(A) PULMÃO NORMAL

PO2
normal

PO2 normal

capítulo 4 • 75
(B) ENFISEMA
Destriução dos Alvéolos reduz a área de superficie para trocar dos gases.

PO2
normal ou
baixa

PO2 baixa

(C) DOENÇAS FIBRÓTICA DO PULMÃO


O espessamento da membrana alveolar reduz a velocidade da difusão dos gases. A perda
da complacência pulmonar pode diminuir a ventilação alveolar.

PO2
normal ou
baixa

PO2 baixa

(D) EDEMA PULMONAR


o Líguido no espaço intersticial aumenta a distância de difusão. A PCO2 arterial pode ser
normal devido á soluilidade mais alta do CO2 na água

Super�cie
PO2 de troca
normal normal

Aumento da
distância de
difusão
PO2 baixa

capítulo 4 • 76
(E) ASMA
O aumento da resistência das vias aérias diminui a ventilação alveolar.

Constrição
dos
PO2 bronquíolos
baixa

PO2 baixa

Figura 4.5 – Condições patológicas que reduzem a ventilação


alveolar e as trocas gasosas. Silverthorn, 2017. Adaptado.

Insuficiência respiratória

A insuficiência respiratória (IR) é a incapacidade de os pulmões executarem


a troca gasosa, que representa a função básica do sistema respiratório pela capta-
ção de O2 e da eliminação de CO2. Nem sempre o comprometimento da troca
gasosa é simultâneo, ou seja, a captação de O2 e a eliminação de CO2 podem ser
comprometidas de forma independente. Como você viu anteriormente, a função
respiratória é dividida em dois componentes: a ventilação pulmonar e a troca
gasosa nas unidades alveolares e, dessa forma, podem-se observar dois tipos de
IR, uma associada à hipoxemia e outra à insuficiência ventilatória que leva a um
quadro de hipercapnia.
A hipercapnia é a retenção de CO2 e ocorre como consequência da insuficiên-
cia ventilatória. Durante a uma hipoventilação, o ar nos alvéolos não é adequada-
mente renovado, impedindo a troca gasosa entre o sangue e os alvéolos no sentido
da eliminação do CO2. Esse acúmulo de CO2 nos capilares provoca um aumento
da PCO2 que, por sua vez, provoca acidose metabólica.
Adicionalmente, durante a hipoventilação, a concentração de O2 nos alvéolos
também não é renovada acarretando neste caso, uma redução na PO2, caracteri-
zando uma hipoxemia ocasionada pela hipoventilação.
Diversos fatores podem levar à insuficiência respiratória, as causas incluem
problemas no controle involuntário da ventilação pulmonar; problemas de origem

capítulo 4 • 77
medular, nos nervos frênicos ou intercostais; problemas na musculatura respirató-
ria; na caixa torácica que pode impedir a expansão dos pulmões ou nas vias aéreas
superiores, que podem estar obstruídas. Esses exemplos representam quadros de
insuficiência respiratória extrapulmonar.
No caso da insuficiência respiratória hipoxêmica, representada pela redução
dos níveis de O2, a troca gasosa encontra-se gravemente comprometida, apesar
de o volume corrente poder estar normal ou até aumentado. Em função da má
distribuição da ventilação alveolar ou até pela perda total da ventilação em alguns
alvéolos, a hipoxemia e, dessa forma, o sangue que irriga esses alvéolos não é oxi-
genado e quando se mistura a fração de sangue enriquecido com O2 ocasiona um
quadro de hipoxemia.
Esse tipo de insuficiência respiratória pode ser decorrente de quatro causas,
primeiro pela própria hipoventilação, como discutido antes. Outra causa é obser-
vada em locais de altitude elevada ou em incêndios a partir da composição do ar
atmosférico que se apresenta rarefeito e leva a uma baixa fração inspirada de O2.
O distúrbio mais comum, no entanto, é decorrente do distúrbio relacionado à
ventilação alveolar ser incompatível com a perfusão capilar.
Cada um dos 480 milhões de alvéolos deve ter uma ventilação (V) equivalente
à perfusão capilar (Q) e quando a ventilação alveolar é mal distribuída, um grupo
de alvéolos recebe menos ar, apesar de continuar contando com uma perfusão ca-
pilar adequada, levando ao distúrbio V/Q. Esse distúrbio pode ser observado em
quadros de crise asmática, DPOC e pneumonia.
Por fim, a quarta causa é denominada shunt arteriovenoso pulmonar e ocorre
quando, como fruto de algumas pneumopatias há acúmulo de líquido ou edema
nos pulmões, literalmente encharcando os alvéolos fazendo não ocorrer a ven-
tilação nos alvéolos e apesar de haver perfusão sanguínea nos capilares, não há
troca gasosa.

Asma brônquica

Você com certeza já ouviu muito falar em asma, mas sabe do que se trata? A
asma é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por uma resposta excessiva
das vias aéreas inferiores e por limitação ao fluxo aéreo.
Os dados epidemiológicos da asma indicam que é uma doença muito comum
em todo mundo e apresentou um aumento nas últimas três décadas como fruto da
urbanização. No Brasil, a asma representa a quarta causa de internação hospitalar

capítulo 4 • 78
no SUS com mortalidade estimada em 1,52 óbito para cada 100 mil habitantes.
A prevalência mundial está estimada em torno de 10-12% dos adultos e 15% das
crianças. No Brasil, estima-se que existam cerca de 20 milhões de asmáticos.
Esse quadro é mais comum de ser apresentado na infância uma vez que 75%
dos casos são diagnosticados até os 7-10 anos de vida. Felizmente, em até 50%
destes sujeitos pode ser observada regressão espontânea da doença na idade adulta.
Em contrapartida, entre os 50 e 70 anos é observado outro pico de incidência da
doença na população.
Dentre os fatores de risco, destaca-se a atopia, um quadro em que o sistema
imunológico cria anticorpos contra antígenos comuns no meio ambiente, oca-
sionando uma resposta alérgica. O tabagismo também representa um importante
fator de risco para o desenvolvimento da asma.
Esse quadro é caracterizado por uma inflamação crônica das vias aéreas infe-
riores, cuja intensidade pode variar ao longo do tempo, incluindo a via aérea pro-
ximal e distal, mas em geral sem afetar os alvéolos. Esta inflamação é a causa da hi-
per-reatividade brônquica, desse modo infecções, contato com agentes alérgenos,
mudanças climáticas, estresse emocional ou o exercício físico podem levar a uma
obstrução aguda das vias aéreas inferiores, que você conhece como crise asmática.
Durante essas crises são observados efeitos de broncoespasmo, representado pela
contração da musculatura brônquica, edema da mucosa e formação exagerada de
muco, contribuindo para a redução aguda do calibre da via aérea.

PERGUNTA
Você sabia que o exercício pode induzir a asma?
A asma induzida pelo exercício ocorre como efeito de uma broncoconstricção ou bronco
espasmo e pode acometer tanto indivíduos asmáticos quanto pessoas que não têm asma.
Atualmente, esse quadro é conhecido como broncoconstricção induzida pelo exercício sua
prevalência é de 5 a 20% na população geral, no entanto, a prevalência em pacientes as-
máticos está estimada em aproximadamente 90%. Fatores ambientais como temperatura e
umidade do ar podem deflagrar essa condição e a inalação de ar úmido e com temperatura
ambiente previne o quadro. Essa condição representa um quadro agudo de estreitamento
das vias aéreas e pode ocorrer durante ou após a atividade física, com sintomas que in-
cluem dispneia, chiado, tosse, aperto no peito, produção excessiva de muco ou sensação de
perda de condicionamento físico. É um quadro reversível que geralmente ocorre entre 3 a
5 minutos após o exercício, com pico dos sintomas aos 10 minutos e resolução após cerca

capítulo 4 • 79
de 60 minutos. Essa condição apresenta um forte impacto negativo na qualidade de vida
desses sujeitos.
Os mecanismos dessa condição não são totalmente compreendidos, contudo a teoria
osmótica é a mais aceita e sugere que o aumento da ventilação nas vias aéreas leva à desi-
dratação da superfície pulmonar que, por sua vez, provoca a contração da musculatura lisa
dos brônquios, o que induz a degranulação de mastócitos que acabam liberando prostaglan-
dinas, leucotrienos e histamina. Esses agentes alergênicos irão mediar a contração do mús-
culo liso e aumentar a produção de muco, sendo reconhecidos como os principais fatores
que irão induzir o bronco espasmo e a formação de edema pulmonar.

Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) pode ser definida como uma
síndrome que tem como característica a obstrução crônica difusa das vias aéreas
inferiores. É um quadro irreversível, que se desenvolve com a degradação progres-
siva do parênquima pulmonar. Dentre as doenças que se enquadram nesta condi-
ção, incluem-se a bronquite obstrutiva crônica e o enfisema pulmonar.
A prevalência do DPOC vem aumentando em toda a população mundial, nas
últimas décadas, especialmente na população feminina. O envelhecimento é um
fator preponderante neste quadro, na medida em que vemos uma maior incidên-
cia dessa doença a partir da quinta e sexta década de vida e a sua mortalidade vem
aumentando progressivamente, sendo atualmente a quarta causa de morte nos
Estados Unidos.
Entretanto, é fundamental que você saiba que o principal fator de risco para o
desenvolvimento da DPOC é o tabagismo. Estima-se que no Brasil, aproximada-
mente 30% da população adulta seja fumante. Para você ter uma ideia da impor-
tância do tabagismo no desenvolvimento deste quadro, estima-se que em 90% dos
casos, os pacientes foram fumantes. Estima-se ainda que, 15% dos fumantes de
1 maço/dia e 25% daqueles que consomem 2 maços/dia terão DPOC no futuro,
caso mantenham o hábito de fumar.
A ação das diversas substâncias tóxicas do tabaco provoca várias alterações
nas vias aéreas incluindo uma estimulação na produção de muco e hipertrofia
das glândulas submucosas; reduzem ou bloqueiam o movimento ciliar das células
epiteliais, atrapalhando a remoção do muco; induzem a ativação de macrófagos al-
veolares com consequente ativação de neutrófilos, que passam a produzir enzimas

capítulo 4 • 80
proteolíticas que irão degradar proteínas importantes que garantem a complacên-
cia dos alvéolos como a elastina.
Apesar de o tabagismo representar o principal fator de risco, outros fatores,
incluindo o tabagismo passivo, a poluição atmosférica, mesmo aquela dentro de
casa, como a fumaça de um fogão a lenha, a exposição ocupacional do trabalho em
minas de carvão são considerados fatores de risco. O tabagismo passivo ainda pode
acarretar uma situação muito alarmante, quando se trata de uma mãe fumante; o
tabagismo materno, inclusive durante a gestação, expõe a criança a um risco sobre
o desenvolvimento pulmonar, frequentemente acarretando crescimento pulmonar
reduzido, o que será um fator de risco para a DPOC no futuro. Adicionalmente,
outro fator de risco bem estabelecido para a DPOC é o baixo nível socioeconô-
mico; provavelmente por um conjunto de fatores, que incluem o baixo peso ao
nascimento, a maior exposição a poluentes e uma maior incidência de infecções
respiratórias na infância.
A fisiopatologia da DPOC passa por dois achados patológicos que incluem
bronquite obstrutiva crônica e enfisema pulmonar, uma vez que a maioria dos pa-
cientes com DPOC apresenta esses componentes, que são altamente relacionados
ao tabagismo.
Na bronquite obstrutiva crônica ocorrem alterações como a hipertrofia e hi-
perplasia das glândulas submucosas, criando uma condição de hipersecreção de
muco, além da redução do lúmen das vias aéreas distais, devido ao espessamento
da parede brônquica por fibrose e edema. Já enfisema pode ser definido pelo alar-
gamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos, estimulado pela degradação
progressiva dos septos alveolares. O enfisema provoca obstrução crônica das vias
aéreas distais ao perder o tecido elástico de sustentação da parede brônquica, redu-
zindo o lúmen, principalmente na fase expiratória.

Benefícios do exercício físico

Os benefícios do exercício físico ao sistema respiratório estão diretamente re-


lacionados ao sistema cardiovascular e músculo-esquelético. Como você aprendeu
anteriormente, a ventilação é um processo mecânico e, dessa forma, dependente
de um conjunto de músculos esqueléticos, principalmente do diafragma para o
seu bom desempenho.
Uma vez que o exercício físico pode promover o fortalecimento dos músculos
intercostais, abdominais, escalenos e outros músculos envolvidos na ventilação,

capítulo 4 • 81
você pode assumir que o bom condicionamento físico favorece a mecânica venti-
latória. Neste sentido, várias modalidades podem proporcionar esse tipo de bene-
fício, incluindo o exercício contrarresistência, atividades que envolvam o fortaleci-
mento dos músculos do core, como o treinamento funcional, o pilates e a ioga, que
ainda conta com vários exercícios que educam a adequada dinâmica ventilatória.
O exercício físico para pessoas que sofrem de asma brônquica promove bene-
fícios significativos no condicionamento aeróbio e nas capacidades pulmonares,
quando a prescrição em relação ao volume e intensidade, são adequados. Reveja o
boxe Conversa afiada para revisar os efeitos do exercício de alta intensidade sobre
o desenvolvimento de crises de broncoespasmo, característicos da asma.
Como discutido, a hiperventilação, especialmente de ar frio pode induzir o
broncoespasmo além de promover a liberação celular de mediadores inflamatórios
que atuam neste cenário, agravando o quadro. Neste sentido, é muito importante
o conhecimento, por meio da anamnese do histórico de quadros clínicos respira-
tórios do praticante de exercícios para que a prescrição seja adequada.
As atividades aquáticas são reconhecidamente benéficas para o controle de
quadros asmáticos e em geral são indicadas como atividades adequadas. A natação
está associada à menor incidência e gravidade de broncoespasmo induzido pelo
exercício quando comparada à corrida ou ao ciclismo em mesma intensidade. A
umidade relativa do ar em uma piscina coberta é de aproximadamente 60% com
uma temperatura média de 27 oC. Essa umidade e a temperatura do ar ventilado
pelas pessoas neste ambiente favorecem a menor incidência de broncoespasmo e
de crises asmáticas.
Além disso, a pressão hidrostática decorrente da imersão representa uma so-
brecarga para os músculos ventilatórios e dessa forma, promove o fortalecimento
dos mesmos melhorando as capacidades pulmonares, um benefício atribuído di-
retamente às atividades aquáticas. Durante a atividade aquática, o nadador ainda
experimenta uma retenção do CO2 atribuída à hipoventilação e ao controle da
respiração durante a fase submersa que auxilia o relaxamento brônquico.
Entretanto, existe uma contraposição aos benefícios das atividades aquáticas
de que você precisa tomar conhecimento. O método mais comum para desinfetar
usado no tratamento de águas de piscinas emprega o cloro. As diferentes substân-
cias na composição química dos produtos para limpeza de piscina, incluindo o
hipoclorito de sódio e o hipoclorito de cálcio têm ação alvejante e são capazes de
eliminar bactérias e impedir o crescimento de contaminantes na água. Contudo,
quando esses compostos derivados do cloro entram em contato com compostos

capítulo 4 • 82
orgânicos eliminados pelo corpo do próprio nadador, ocorrem reações químicas
que formam substâncias, algumas vezes, extremamente tóxicas.
Desde a década de 1950 essas substâncias são reconhecidas como causadores
de respostas alérgicas como irritações na pele, nos olhos e nas vias aéreas.
O sistema respiratório é particularmente sensível a essas substâncias, que po-
dem levar à irritação aguda da mucosa induzindo uma hiperatividade dos brôn-
quios que pode ser acompanhada de tosse, dispneia, lacrimação e congestão e
inflamação nasal. As crianças são ainda mais suscetíveis a esses quadros em compa-
ração com os adultos. Adicionalmente, os benefícios associados às atividades aquá-
ticas estão relacionados a um ambiente com umidade relativa do ar de 60% e tem-
peratura de 27 oC, especialmente observados em piscinas cobertas. Infelizmente,
essa realidade está longe de ser regra na sociedade e no mercado fitness no Brasil;
estando esse ambiente restrito a poucos clubes, escolas e academias, principalmen-
te frente à demanda e a dimensão populacional do país; de modo que a prática de
natação ou outras atividades aquáticas em ambientes inadequados podem, antes
de promover benefícios, agravar ou induzir quadros alérgicos agudos que acome-
tem o sistema respiratório e prejudicam a saúde.
Em um estudo populacional desenvolvido na Suécia envolvendo 1652 crian-
ças entre 11 e 12 anos, foi demonstrado que as crianças que frequentam a piscina
mais do que uma vez por semana são mais suscetíveis a sofrer de asma brônquica
do que as crianças com menos frequência. Em outro estudo conduzido com 847
adolescentes foi evidenciado que a participação em atividades em piscinas tratadas
com cloro aumenta a concentração no plasma de imunoglobulinas (IgE) associa-
das a respostas alérgicas.
Estes achados indicam que estratégias alternativas de tratamento de água po-
dem ser indicadas para reduzir a incidência dessas respostas, entretanto, as alter-
nativas para tratamento em geral representam aumento no custo de manutenção e
normalmente não são adotadas como forma de desinfecção da piscina.

O exercício como intervenção terapêutica

Atualmente, é consenso na comunidade científica internacional que o exercí-


cio deve fazer parte da reabilitação de diferentes quadros clínicos do sistema respi-
ratório. Um círculo vicioso de deterioração das capacidades físicas, da capacidade
ventilatória, ansiedade e isolamento social acompanham os sujeitos com DPOC e
a prática de exercício pode quebrar esse círculo.

capítulo 4 • 83
A diminuição da força muscular é a maior causa de redução das capacidades
físicas associadas à independência funcional, e evidências indicam que a massa
magra em sujeitos portadores de DPOC pode ser cerca de 15% menor quando
comparadas a sujeitos saudáveis sedentários de mesma faixa etária.
Uma meta-análise publicada em 2015, incluindo 3822 participantes revelou
que a maioria dos programas de reabilitação envolvendo duração de 8 a 12 sema-
nas promoveu melhorias em quatro importantes domínios da qualidade de vida,
incluindo os escores para dispneia, fadiga, funções emocionais e independência.
Os pesquisadores ainda reportaram aumentos na capacidade máxima de consumo
de oxigênio (VO2 máx.), levando a menores índices de hospitalização em indiví-
duos envolvidos nos programas de exercícios.
Um estudo comparou os efeitos da caminhada ou pedalada a 80% do VO2
máx. com exercícios calistênicos e revelou que as atividades de alta intensidade
promoveram melhoras significativas no condicionamento físico aeróbio e o trei-
namento contrarresistência levou a um aumento no tônus muscular; além disso
ambos os programas melhoraram os quadros de dispneia. Os pacientes com o
diagnóstico de DPOC em geral apresentam dispneia que restringe o engajamento
nesses programas de reabilitação, entretanto, muitas evidências indicam que o
treinamento aeróbio de endurance como parte da intervenção terapêutica melhora
as capacidades físicas associadas à saúde e qualidade de vida.
O exercício físico não é capaz de promover melhorias na função respiratória
de pacientes com DPOC, na verdade, os mecanismos dos efeitos positivos ob-
servados estão relacionados à melhoria do condicionamento cardiovascular por
meio de efeitos musculares e cardíacos. Pacientes com DPOC apresentam níveis
de TNF-β elevados, levando a um quadro inflamatório que compromete a síntese
de proteínas musculares e leva à caquexia, e o treinamento pode ter um efeito de
controle desses processos deletérios.
Neste momento você deve estar se perguntando como prescrever o exercício,
quanto ao tipo, ao volume e à intensidade. A resposta dessa indagação, com base
na literatura especializada, sugere que inicialmente a pratica de exercícios físicos
deve ser supervisionada, preferencialmente de forma individualizada e incluindo
uma combinação de exercícios aeróbicos e de força. Os exercícios aeróbicos que
podem ser a caminhada ou o ciclismo devem atingir intensidades entre 70-85%
do VO2 máx. por períodos acima de 6 semanas.
Quando o quadro clínico envolve a asma brônquica, o exercício físico re-
presenta uma contradição que você deve prestar grande atenção. Por um lado,

capítulo 4 • 84
o exercício por si só pode ser um problema já que, especialmente em pessoas as-
máticas, ele pode levar a reações agudas de broncoespasmo, particularmente com
crianças. Por outro lado, a grande importância do exercício para o desenvolvimen-
to motor e social das crianças faz com que você tenha foco em ensinar a criança
asmática, como o exercício pode ser adaptado à condição dela. A asma induzida
por exercício pode ser prevenida com um aquecimento adequado antes da ativida-
de e da adição de estratégias farmacológicas contra a asma.
Em uma revisão sistemática, foram reunidos vinte e um estudos com o total
de 722 indivíduos asmáticos acima de oito anos de idade engajados em programas
de exercícios com pelo menos 20 minutos de duração, duas vezes por semana ao
longo de pelo menos quatro meses. O estudo concluiu que as atividades propos-
tas, em geral, devem iniciar com aquecimento de baixa intensidade com duração
de pelo menos 15 minutos e, em seguida, incluir estímulos aeróbicos de intensi-
dade moderada a alta, garantindo a boa tolerância e o não agravamento dos qua-
dros de asma brônquica. Para esses indivíduos, a contraindicação da prescrição de
exercícios inclui atividades de alta intensidade e em caso de exacerbação aguda do
quadro, a interrupção do exercício é recomendada.

REFLEXÃO
Agora que você chegou ao fim de mais um capítulo e foi apresentado a novas e im-
portantes evidências da relevância e responsabilidade do profissional de Educação Física,
você deve perceber mais uma vez que o papel desse profissional é muito relevante para a
sociedade em geral. No que tange ao sistema respiratório não poderia ser diferente, as inter-
venções desses profissionais são fundamentais na prevenção e na reabilitação de quadros
patológicos relacionados às funções respiratórias.
Neste cenário fica claro que você deve assumir a responsabilidade e participar como
agente de transformação em cada etapa, desde a prevenção até o tratamento. Infelizmente,
o mercado de trabalho e a sociedade ainda não reconhecem adequadamente o papel do
exercício físico como estratégia terapêutica para várias dessas condições e, com isso, esse
espaço ainda é negligenciado e não é completamente aproveitado tanto pelos profissionais
envolvidos quanto pela sociedade de modo geral.
Contudo, uma reflexão importante que você deve fazer está fundamentada no reconheci-
mento de que a prática de exercícios físicos também apresenta suas limitações, uma vez que
determinados quadros clínicos respiratórios, como é o caso da asma induzida pelo exercício,
podem ser agravados caso a prescrição de exercícios não seja adequada. Esse é um aspecto

capítulo 4 • 85
ao qual você deve dar muita atenção, para que não cair no erro de achar que o exercício físico
pode ser benéfico em qualquer circunstância.
Dessa forma, fica evidente a grande responsabilidade dos profissionais de Educação Física
em estar bem informados e preparados para assumir adequadamente o seu papel diante da so-
ciedade, a fim de que você possa ocupar um espaço profissional que compete à Educação Física.

ATIVIDADES
Depois de todo esse estudo, você pode resolver as atividades a seguir para consolidar as
informações apresentadas na forma de conhecimento.

01. Quanto ao DPOC, assinale a alternativa correta.


a) Cerca de 70% dos fumantes entre 35 e 59 anos de idade tem bronquite crônica.
b) É comum o aparecimento dos sintomas de DPOC em tabagistas de 5 maços por ano.
c) A prevalência tem diminuído em todo mundo devido à evolução da ciência.
d) O baixo nível socioeconômico é um fator de risco para a DPOC.
e) É uma síndrome que leva à obstrução das vias aéreas superiores.

02. A capacidade pulmonar total estimada para um homem adulto de aproximadamente 70


kg e 28 anos é de 5,8 L. Essa capacidade refere-se à combinação de quais volumes pulmo-
nares?
a) É representada pela combinação do volume corrente e do volume residual.
b) É a soma dos volumes de reserva inspiratório e expiratório.
c) É a combinação de todos os volumes pulmonares.
d) É apenas o volume de reserva inspiratório.
e) É o volume que um indivíduo atinge durante o exercício máximo.

03. A asma induzida pelo exercício é um quadro agudo que pode acometer tanto pessoas
asmáticas quanto pessoas saudáveis. Analise as afirmativas a seguir e escolha a alternati-
va correta.
I. O ambiente seco e frio é recomendado para evitar o surgimento desse quadro.
II. Esse quadro é fruto de uma reação alérgica que leva ao broncoespasmo.
III. A sua prevalência chega a 90% em pessoas asmáticas.

capítulo 4 • 86
a) As três afirmativas são verdadeiras
b) Todas as afirmativas são falsas.
c) Apenas a afirmativa II é verdadeira
d) As afirmativas I e II são verdadeiras.
e) As afirmativas II e III são verdadeiras.

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capítulo 4 • 88
5
Atividade física
e o sistema
imunológico
Atividade física e o sistema imunológico
Parabéns, você chegou ao quinto e último capítulo da nossa história. Esse
capítulo é dedicado à discussão das relações entre a atividade física e as respostas
do sistema imunológico. Nesse capítulo, você irá aprender as principais caracterís-
ticas do sistema imunológico, suas relações com a atividade física e com diferentes
quadros patológicos como a síndrome da imunodeficiência adquirida e o câncer.
A principal função do sistema imunológico está relacionada à manutenção
da homeostase do corpo humano. Sua atuação envolve um intrincado conjunto
de órgãos, tecidos e moléculas, que são capazes de combater ameaças potenciais
à saúde do organismo. Diversos componentes e mecanismos desse sistema apre-
sentam funções integradas e representam a primeira linha de defesa do organismo
contra vários tipos de agentes infecciosos, promovendo o controle destes agentes e
garantindo, quando a resposta é adequada, homeostase.
A infecção com o vírus HIV pode promover a síndrome da imunodeficiên-
cia adquirida e representa um problema de saúde pública no Brasil atualmente.
Essa infecção acomete macrófagos e principalmente linfócitos T que expressam a
glicoproteína CD4, alterando de forma importante a resposta imunológica, que
fica suprimida e abre uma janela de oportunidade para outras doenças infecciosas.
Dentre as várias estratégias de tratamento, muitas levam a efeitos colaterais que
alteram a composição corporal e a qualidade de vida; e neste cenário o exercício
físico pode ter papel relevante como estratégia de promoção de saúde e qualidade
de vida.
Finalmente, você será apresentado a correlações entre as alterações positivas
promovidas pela prática regular de exercícios físicos que podem estar associadas
ao envelhecimento saudável e à menor incidência de diferentes tipos de câncer na
população ativa, destacando os possíveis mecanismos de ação.

OBJETIVOS
• Compreender as funções do sistema imunológico;
• Correlacionar os efeitos do exercício físico sobre as respostas do sistema imune;
• Compreender os aspectos básicos da síndrome da imunodeficiência adquirida e suas rela-
ções com a atividade física;
• Reconhecer os conceitos de tolerância imunológica e autoimunidade.

capítulo 5 • 90
Visão geral do sistema imunológico

A partir deste tópico, você será apresentado às funções do sistema imunológi-


co. Essas funções são divididas em dois conjuntos de resposta, conhecidas como
resposta imune-inata ou resposta imune-adaptativa.
O sistema imunológico com resposta inata envolve respostas rápidas e padro-
nizadas a partir da ação de barreiras físicas, químicas, biológicas e células especiali-
zadas. Essa característica está presente em todos os indivíduos independentemente
de estímulos prévios. Sendo assim, é importante que você perceba que por ser uma
resposta inata, isso significa que o organismo humano já dispõe de mecanismos,
que são geneticamente programados para responder a essas ameaças. No entanto,
esse sistema não pode sofrer adaptações para se ajustar a padrões que não sejam ge-
neticamente programados, com isso a diversidade das respostas é baixa e limitada.
Os mecanismos envolvidos na ativação das repostas inatas envolvem o reco-
nhecimento de estímulos específicos decorrentes de estruturas moleculares, in-
cluindo lipopolissacarídeos e pequenos carboidratos como resíduos de manose
que estão presentes na superfície dos agentes patogênicos ou agressores e não ocor-
rem em humanos.
Dessa forma, as células de defesa expressam proteínas conhecidas como recep-
tores de reconhecimento de padrões e outros tipos de receptores que permitem
identificar e reconhecer agentes externos ao organismo humano que possam re-
presentar ameaças e iniciam processos de eliminação destes fatores. Esses recep-
tores estão presentes tanto na membrana quanto no citoplasma de macrófagos,
neutrófilos e células natural killers (NK). O reconhecimento ativado por esses
receptores ativa respostas inflamatórias e processos de fagócitos, promove a libera-
ção de citocinas, quimiocinas e representa os principais agentes e mecanismos da
resposta inata.
Como você estudou em Fundamentos de Biologia Celular, a fagocitose é um
processo que ocorre a partir da regulação mediada por receptores que induzem a
formação de estruturas celulares de vesículas conhecidas como fagossomos. Eles
serão fundidos aos lisossomos celulares que, por meio da ação de enzimas diges-
tivas ácidas, irão degradar as estruturas moleculares e assim eliminar o patógeno.
Contudo, o sistema imune adaptativo depende da ação de linfócitos.
Os linfócitos são as principais células envolvidas nessa resposta e são células es-
pecializadas em produzir moléculas solúveis frente à exposição aos agentes poten-
cialmente patogênicos. Dentre as moléculas solúveis produzidas pelos linfócitos

capítulo 5 • 91
podem-se mencionar citocinas, quimiocinas e também um componente do sis-
tema imunológico que você certamente já ouviu muito falar, os anticorpos. Nas
figuras 5.1 e 5.2 você pode observar melhor detalhes dos anticorpos.
Sí�o Sí�o
de ligação de ligação
ao an�geno ao an�geno
NH3+ Sí�o H3N+
H3N+ de hidróse pela NH3+
VH papaína VH

VL VL
CH1 CH1
Fab
CL S– –S– CL
–S– S–
-OOC
–S–S–
–S–S– COO-

CH2 CH2

Fc

CH3 CH3

-OOC COO-

C = domínio constante
V = doménio variável
H,L = cadeias pesadas e leves

Figura 5.1 – Imunoglobulina G. (a) Pares de cadeias leves e pesadas da proteína se


combinam para formar uma molécula com formato da letra Y. Dois sítios de ligação
ao antígeno são formados. (b) Um modelo em fita da primeira molécula completa de
IgG cristalizada e com a estrutura 3D analisada. Nelson e Cox, 2011. Adaptado.

An�geno

An�corpo Complexo an�geno–an�corpo

Figura 5.2 – Ligação de IgG a um antígeno. Os sítios de ligação do IgG estão sujeitos
a sofrer pequenas modificações de forma para assumir uma estrutura complementar
ao antígeno e gerar um encaixe perfeito. Nelson e Cox, 2011. Adaptado.

capítulo 5 • 92
Graças à programação específica, frente a estímulos na produção destas mo-
léculas, as respostas do sistema imune adaptativo apresentam como características
uma alta especificidade e diversidade de reconhecimento, memória, especialização
de resposta, autolimitação e tolerância ao próprio organismo. Na figura 5.3, você
pode observar a ação de um macrófago, realizando a fagocitose de um vírus após
o mesmo ter sido reconhecido e ligado a anticorpos.
Região Fc da IgG

Receptor Fc Vírus coberto por IgG

Macrófago

fagocitose

Figura 5.3 – Processo de fagocitose de um vírus ligado ao IgG, mediada


pela ação de um macrófago. Nelson e Cox, 2011. Adaptado.

Em conjunto com as células mencionadas até aqui, que recebem destaque


principal como os macrófagos e linfócitos; as respostas do sistema imunológico
são resultados de uma rede de integração de respostas muito mais complexa, que
envolve a participação de outras células como os neutrófilos, eosinófilos, basófilos,
linfócitos B, células NK e célula dendrítica cujas linhagens têm origem comum, a
partir de células-tronco pluripotentes e que, no indivíduo adulto, são produzidas
por processos de diferenciação celular na medula óssea. Os principais componen-
tes do sistema imunológico estão destacados no tabela 5,1.

COMPONENTE IMUNIDADE INATA IMUNIDADE ADQUIRIDA


Tempo de
Rápido: minutos ou horas Lenta: dias
resposta
Específico apenas para Altamente específico! É capaz de
moléculas e padrões mole- discriminar agentes patogênicos
Especificidade culares associados a patóge- de estruturas não patogênicas e
nos genéricos ou partículas a partir de minúsculas diferenças
estranhas. estruturais.

capítulo 5 • 93
COMPONENTE IMUNIDADE INATA IMUNIDADE ADQUIRIDA
Fagócitos (células dendríticas,
macrófagos e neutrófilos) Linfócitos T, B e NK/T
Células Células natural killers (NK) Células dendríticas ou apresenta-
Mastócitos, basófilos e dores de antígenos (APCs)
eosinófilos
Complemento
Anticorpos
Moléculas Proteína de fase aguda
Citocinas
solúveis Citocinas
Quimiocinas
Quimiocinas
A memória imunológica pode
Memória ser utilizada para a recorrência
Nenhuma
imunológica de respostas ou em infecções
subsequentes.
Limitada: os receptores
usados são padronizados e Altamente diversificado: pode ser
Diversidade e reconhecem apenas antíge- customizado por meio de combi-
customização nos-padrão. Nenhum novo re- nações genéticas para reconhe-
ceptor é formado para adaptar cer características de antígenos.
à resposta imune.

Tabela 5.1 – Quadro comparativo entre a imunidade inata e a


imunidade adquirida. Cruvinel et al., 2010. Adaptado.

Por meio de uma visão geral, perceba que o sistema imunológico baseia-se
em sua capacidade para atuar e defender o organismo de “invasores” estranhos
e potencialmente nocivos ou patogênicos para a saúde. Essas ameaças incluem
micro-organismos como bactérias, vírus e fungos; parasitas como vermes; células
cancerígenas e até órgãos ou tecidos transplantados. Qualquer substância reco-
nhecida como estranha é chamada de antígeno e quando reconhecidas, provocam
respostas do sistema imunológico.
As respostas adequadas deste sistema envolvem o reconhecimento do antíge-
no, seguidas de uma capacidade de ativar e mobilizar ações contra esse invasor,
atacar, controlar e finalmente eliminar o antígeno e, assim, a ameaça.

Doenças associadas ao sistema imunológico e exercício físico

Os distúrbios do sistema imunológico podem ocorrer em diferentes circuns-


tâncias. Uma das premissas básicas para o sucesso e a atuação adequada do siste-
ma imunológico está fundamentada na capacidade de distinguir entre aquilo que

capítulo 5 • 94
pertence ao corpo, ou seja, o próprio corpo e o que não pertence ao organismo,
reconhecido como algo estranho. Essa capacidade é conhecida como tolerância
imunológica e quando perdida leva ao surgimento de uma doença autoimune,
na qual o sistema imunológico reconhece estruturas do próprio organismo como
ameaças e passa a gerar uma resposta imunológica contra si mesmo.
Outro tipo de distúrbio pode estar relacionado a quadros em que o organismo
passa a apresentar comprometimento na capacidade de gerar respostas adequadas
às diferentes ameaças. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) ou
AIDS é uma doença provocada por um vírus que leva ao comprometimento dos
linfócitos T em produzir respostas adequadas para combater todo tipo de infec-
ção, promovendo assim uma imunodeficiência.
Até mesmo uma resposta alérgica é uma resposta imunológica excessiva, mui-
tas vezes contra agentes inofensivos, mas que acaba levando a prejuízos em tecidos
normais. A partir de agora, você será apresentado a uma breve visão sobre alguns
distúrbios do sistema imunológico.

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)

A AIDS foi reconhecida no ano de 1981 a partir de um número grande de


sujeitos em geral homens e homossexuais que apresentavam comprometimento
do sistema imune. O dia mundial contra a AIDS é lembrando sempre no dia 1o
de dezembro e completou 30 anos em 2018. Neste dia foi publicado um infor-
mativo com dados estatísticos epidemiológicos em relação a essa doença em todo
o mundo. Este relatório revela que em 2017, 36,9 milhões de pessoas viviam com
a doença no mundo e desses indivíduos, cerca de 60% tiveram acesso à terapia
retroviral. Estima-se em 1,8 milhão de novos casos para o ano de 2017, com uma
mortalidade estimada de 940.000 mortes, o que representa 2,54% do número
total de casos.
O vírus causador da doença foi isolado pela primeira vez em 1983 e no ano
de 1986 este vírus foi denominado Human Immunodeficiency Virus ou Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV), que são divididos em dois tipos, o HIV-1 e
o HIV-2. Este vírus é classificado como um retrovírus, que apresenta genoma
de RNA e requer uma enzima conhecida como transcriptase reversa que é ca-
paz de transcrever essa cópia de RNA que o vírus carrega para o DNA da célula

capítulo 5 • 95
hospedeira, por meio de um mecanismo contrário àquele observado na transcrição
gênica e, com isso, o RNA do vírus passa a integrar o DNA da célula infectada.
Ambos os vírus são capazes de infectar linfócitos T por meio de receptores CD4.
O conhecimento das etapas do ciclo vital do HIV em células humanas para a
multiplicação dos vírus em um hospedeiro infectado é fundamental para desen-
volver estratégias terapêuticas. Até o momento, existem apenas duas classes de me-
dicamentos liberados para o tratamento, sendo eles os inibidores da enzima trans-
criptase reversa, que inibe uma enzima-chave da replicação do vírus e diminui sua
capacidade de infecção e fármacos que inibem enzimas proteases – fundamentais
na última etapa de formação dos novos vírus e assim reduzem a carga viral. Dessa
forma, essas estratégias atuam sobre duas etapas do ciclo viral e representam uma
maneira de controlar e combater a infecção.
As principais formas de transmissão da doença são por via sexual; sanguínea,
por meio de transfusão, uso de drogas injetáveis ou de forma vertical, passando
de mãe para filho durante a gestação ou amamentação. Existem ainda casos de in-
fecção ocupacional relacionada a acidentes de trabalho. Neste sentido, fica muito
claro quais são as melhores formas de prevenção, em que pela promoção do uso
de preservativos, agulhas e seringas esterilizadas e descartáveis, controle do sangue
manipulado em hospitais e clínicas e cuidados na manipulação de contaminantes
representam estratégias eficazes de prevenção.
A evolução clínica da doença é dividida em quatro fases. A infecção aguda
ou primária, é a primeira fase, ocorre em cerca de 50-90% dos infectados e se
caracteriza por uma produção de vírus ou viremia elevada com diminuição rápi-
da dos linfócitos T CD4+ que provoca sintomas de infecções virais que podem
variar e incluem quadros de gripe, febre, faringite, mialgia, cefaleia, ulcerações
cutâneas e de mucosas, dentre outros sintomas que duram em média 14 dias e
são transitórios. Após a evolução da fase aguda, ocorre a estabilização da viremia.
Em seguida, o indivíduo passa por uma fase assintomática, na qual a preocupação
é principalmente preventiva e as ações se concentram na realização de exames de
sangue periódicos para acompanhamento de diversos parâmetros hematológicos,
sobretudo o perfil imunológico e a carga viral que permitem acompanhar a evo-
lução da doença.

capítulo 5 • 96
A terceira fase é determinada pelo surgimento dos sintomas e é chamada de
fase sintomática inicial em que as queixas mais comuns incluem a sudorese no-
turna, a fadiga ao final do dia ou associada à prática de atividades físicas, perda
de peso, diarreia, gengivite, herpes além de alterações no metabolismo de lipí-
deos promovendo aumento do risco cardiovascular. A quarta fase é caracterizada
pela presença de doenças ou infecções oportunistas, determinando a Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) propriamente dita, pois essas doenças são
ocasionadas por micro-organismos que normalmente não são patogênicos, mas
que, com a baixa imunidade do sujeito infectado, elas podem se tornar agressivas
e graves e podem ser causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários e alguns
tipos de neoplasias.
Em resumo, o ciclo de vida do HIV consiste na infecção dos linfócitos T
CD4+, produção de uma cópia de DNA do RNA viral e sua integração ao ge-
noma da célula hospedeira, seguida da expressão dos genes virais e, finalmente, a
produção de partículas virais (figura 4). Dessa forma, a patogênese da AIDS é de-
senvolvida gradualmente ao longo de anos quando o HIV latente se torna ativado
e destrói principalmente os linfócitos T CD4+ comprometendo a resposta imune.
Desde a introdução da terapia antirretroviral (ART), a expectativa de vida das
pessoas infectadas aumentou muito, com isso o tratamento transformou o quadro
agudo de infecção por HIV em uma doença crônica. Para que você tenha uma
noção clara, desde a descoberta da ART, o número de pessoas infectadas convi-
vendo com a doença em qualquer estágio triplicou no mundo. Como resultado,
passou-se a observar essas pessoas ao longo da sua vida adulta por muitas décadas.
O aumento da expectativa de vida é um grande avanço, contudo o uso crônico
dos medicamentos para controlar a doença e a própria infecção, no longo prazo,
apresenta vários efeitos colaterais. A maioria dos efeitos adversos observados está
enquadrada em anormalidades metabólicas que incluem dislipidemia, lipodistro-
fia, acúmulo de gordura abdominal e perda da capacidade aeróbia. Repare que
todas essas mudanças estão diretamente relacionadas aos fatores de risco cardio-
vascular e o câncer; e naturalmente você pode assumir que o exercício físico pode
ter papel central no gerenciamento do quadro clínico dos pacientes portadores
da AIDS.

capítulo 5 • 97
Vírion HIV

Vírion ligado
ao CD4 e ao
receptor de Novo
quimiocinas víron HIV
Fusão da membrana
do HIV com a
membrana da célula;
entrada do genoma
Membrana viral do citoplasma
plasmá�ca
Citocina
HIV
gp120/
Receptor da CD4 gp41
quimiocina
Genoma de
RNA do HIV

Síntese do DNA Citoplasma Expressão de


pró-viral mediada pela gp120/gp41 na
transcriptase reversa super�cie de
célula; brotamento
A�vação da célula pela da par�cula
citocina; transcrição do viral madura
Integração do genoma do HIV,
transporte dos RNAs Estrutura
provírus no processados e não central do HIV
genoma da célula processados para
o citoplasma
Síntese das proteínas do
DNA do HIV; montagem da estrutura
provírus do HIV central do víron
Núcleo Transcrito do
RNA do HIV Proteínas do HIV

Figura 5.4 – Ciclo de reprodução do HIV. Teixeira et al., 2019. Adaptado.

Adicionalmente, as pessoas convivendo com o quadro viral apresentam alte-


rações fisiológicas e psicológicas que impactam negativamente no bem-estar e na
qualidade de vida. Frequentemente, esses fatores estão associados à progressão e
ao agravamento da doença, perda das capacidades funcionais, menor adesão ao
tratamento farmacológico, aumento das alterações psicológicas, como a ansiedade
e depressão.
Neste cenário, fica fácil para que você perceba onde o profissional de Educação
Física se enquadra. Muitos estudos na literatura reportam o uso do exercício físico
como estratégia para promover a redução dos fatores de risco e doenças crônicas
associadas à infecção viral. Em geral, vários estudos longitudinais apontam bene-
fícios tanto do exercício aeróbio, contrarresistido ou a combinação de ambos de
forma semelhante.
As melhorias publicadas demonstram de forma consistente modificações fisio-
lógicas de parâmetros clínicos de saúde como a redução do IMC, da circunferên-
cia de cintura, o controle nos níveis séricos de lipídeos, aumento da força muscular

capítulo 5 • 98
e do condicionamento cardiorrespiratório. Esses achados são fruto de estudos que
empregaram prescrição do treinamento de forma muito semelhante aquela para
população geral, e relatam efeitos positivos após 24 semanas de treinamento aeró-
bio, com variação de intensidade moderada a intensa, frequência semanal de três
sessões de treinamento, e intensidades que variaram de 50% a 85% do VO2 máx.
Repare que as variáveis volume e intensidade referentes à prescrição do treina-
mento desportivo são muito semelhantes ao da população geral. Verifique na tabe-
la 5,2 o resumo dos principais achados de alguns estudos que utilizaram diferentes
modelos de prescrição de exercício como estratégia terapêutica para indivíduos
portadores de HIV.

SUJEITOS INTERVENÇÃO
GÊNERO TIPO (FREQUÊNCIA):
AUTORES RESULTADO
(N) INTENSIDADE
Treinamento de força progres-
↑ da área de sec-
Grinspoon sivo, 60-80% 1 RM e Aeróbio
Homens (43) ção transversa do
et al., 2000 (20 min, 60-70% FCmáx.). (3x/
músculo e do HDL.
semana/12 semanas)
Smith Homens (41) Aeróbio (3x/semana, 30 min, ↑ do tempo de
et al., 2001 Mulheres (8) 12 semanas) 60-80% VO2 máx. fadiga ↓ do IMC
Neidig Homens (22) Aeróbio (3x/semana, 30 min,
↓ da depressão
et al, 2003 Mulheres (8) 12 semanas) 60-80% VO2 máx.
Aeróbio (30 min): 60-75%
FC máx. ↑ VO2 máx., resistên-
Dolan Mulheres
Treinamento de resistência cia, força e massa
et al., 2006 (40)
(2x semana, 3-4 séries, 10 muscular
repetições, 70% 1 RM).
Aeróbio (3x/semana, 30 min):
↑ da função car-
Filipas 60-75% FCmáx. Resistência (3
Homens (40 diorrespiratória e
et al., 2006 séries, 10 repetições, 60-80%
da função cognitiva
1 RM)
Treinamento de força progres-
Respostas agudas:
Dudgeon sivo, 60% 1 RM e Aeróbio
Homens (40) ↑ GH, IL-6, TNFrII
et al., 2010 (30 min, 60% VO2 pico). (2x/
↓ Cortisol
semana/6 semanas)

Tabela 5.2 – Resultados de intervenções de exercício em indivíduos portadores


de HIV. Abreviações: 1 RM – uma repetição máxima, HDL – lipoproteína de alta
densidade, IL-6 – interleucina6, FCmáx. – frequência cardiaca máxima, TNFrII –
receptor do fator de necrose tumoral solúvel. Jaggers e Hand, 2016. Adaptado.

capítulo 5 • 99
Em resumo, repare que essas evidências indicam que, de forma independen-
te do estágio da doença, os indivíduos portadores do HIV podem se beneficiar,
apresentando diversas melhorias em aspectos da saúde em curto e médio prazo, de
forma muito semelhante à população geral, tanto em relação aos modelos de pres-
crição de exercício quanto aos desfechos observados em função do engajamento
nos programas de treinamento.

Tolerância imunológica e autoimunidade

O sistema imune em seu funcionamento normal apresenta uma característica


espetacular, representada pela capacidade de reagir com uma enorme variedade de
micro-organismos, mas não contra os antígenos do próprio organismo. Essa capa-
cidade é conhecida como tolerância imunológica, garantindo uma característica
fundamental do sistema imune que é a capacidade de discriminar entre os antí-
genos próprios. Na falha desta capacidade, o sistema imune pode atacar células
e tecidos do próprio indivíduo em um quadro chamado de autoimunidade, que
provoca uma série de doenças denominadas doenças autoimunes. Além disso, o
sistema imune ainda é capaz de discriminar e não atacar uma série de micro-or-
ganismos que convivem em simbiose com o nosso corpo, incluindo as bactérias
digestivas que compõem a flora intestinal.
Vários fatores podem estar envolvidos no desenvolvimento de doenças au-
toimunes e, dentre os principais, se destaca a herança genética que interfere no
funcionamento dos linfócitos e leva à formação de células autorreativas. Além dis-
so, fatores ambientais e infecções podem ativar respostas autoimunes que desen-
cadeiem esses quadros clínicos. Atualmente, estima-se que as doenças autoimunes
afetem entre 2-5% da população nos países desenvolvidos e tem-se observado
um aumento de sua prevalência. Dentre os quadros de origem autoimunes mais
comuns estão o diabetes mellitus tipo I, a esclerose múltipla, a psoríase, artrite
reumatoide ou lúpus eritomatoso sistêmico, a doença celíaca, dentre outros.
A artrite reumatoide, por exemplo, é caracterizada pela perda de capacidades
funcionais, dores, fadiga e alterações na composição corporal que podem impac-
tar as capacidades físicas do indivíduo. Vários estudos trazem evidências que in-
dicam que o aumento da atividade física e a prática regular de exercícios físicos
podem, simultaneamente, melhorar os sintomas quanto reduzir os efeitos sistêmi-
cos da doença. Apesar disso, infelizmente, os sistemas de saúde não contam com

capítulo 5 • 100
estrutura e profissionais adequados para uma intervenção eficaz, devido ao grau de
complexidade e especificidade das intervenções.
A artrite idiopática juvenil é outra doença autoimune, com grande incidência
entre crianças e adolescentes, acometendo cerca de uma para cada 1000 crian-
ças. Neste quadro, a doença autoimune se caracteriza por uma inflamação nas
articulações que podem levar a danos nas cartilagens e nos ossos. Geralmente,
esses indivíduos apresentam baixos níveis de condicionamento físico e tolerância
à atividade física, devido aos processos inflamatórios que causam dores articulares,
criando um círculo vicioso em que com o afastamento das atividades físicas ocorre
um declínio progressivo das capacidades funcionais, redução da massa muscular e
aumento dos níveis de dor.
Os estudos da literatura ainda não deixam claro quais são os modelos de trei-
namento mais adequados nestes casos; no entanto muitos estudos já empregaram
diferentes estratégias e muitos levaram a melhorias em vários índices relacionados
à melhoria dos sintomas e da evolução da doença. Em geral, a literatura propõe
que programas de exercícios empregando tanto atividades aeróbias ou o treina-
mento de força, podem ser seguros e adequados, na promoção da saúde e atenua-
ção dos sintomas da artrite idiopática juvenil.
Além disso, os múltiplos subtipos e graus de desenvolvimento das doenças in-
dicam a necessidade de um trabalho especializado, multidisciplinar e individuali-
zado para a adequação da prescrição de exercícios. Existem várias contraindicações
para o engajamento em atividades físicas, e essas crianças não devem participar de
atividades físicas em estado febril, mantendo as atividades abaixo dos níveis de
dor, ou atividades que promovam grandes sobrecargas articulares.
Dessa forma, as recomendações têm base em exercícios cardiorrespiratórios
que tenham períodos de aquecimento e volta à calma longos, de baixo impacto
articular, como atividades aquáticas e exercícios de resistência que se mantenham
dentro dos limites da dor e amplitudes de movimento que não aumentem as dores
articulares, especialmente com cargas iniciais próximas de 60% da carga máxima
que gradualmente progrida até 75% de 1 RM, com frequência semanal de 2 a 3
sessões e com aproximadamente 15 repetições. O treinamento de flexibilidade
também é indicado para esses sujeitos e podem incluir sessões de alongamento,
ioga, pilates e outras atividades.

capítulo 5 • 101
RECOMENDAÇÕES PARA PRESCRIÇÃO DE
EXERCÍCIOS NAS DOENÇAS REUMATOLÓGICAS
• Inclusão de aquecimento e volta à calma adequada para reduzir o risco de lesões.
• Permitir variações nos exercícios de acordo com a atividade da doença e status das ar-
ticulações.
• Os exercícios devem ser seguros, confortáveis e de simples execução.
• Oferecer o mínimo estresse mecânico a uma articulação afetada.
• Promover postura e alinhamento articular corretos durante a execução dos movimentos.
• Não induzir dor ou atividade durante ou imediatamente após a sua execução.
• Permitir o uso de splints e outras medidas de proteção articular.
• Não aumentar ou induzir desproporções musculares em determinadas articulações.
• Almejar a intensidade e a duração do exercício recomendado para o condicionamen-
to físico.
• Oferecer uma forma barata, conveniente e disponível de exercícios.
• Promover a socialização do praticante.

Schvartsman e Maluf Jr. 2010. Adaptado.

Respostas do sistema imunológico ao exercício físico

Ao longo dos últimos anos, os avanços científicos permitiram reconhecer que


o sistema imune é mediador de muitos efeitos do exercício e que as respostas do
sistema imune decorrentes do exercício são controladas pelos sistemas nervoso e
hormonal.
O paradigma tradicional da imunologia do exercício é o conceito de “janela
de oportunidade”, circunstância em que ocorre uma imunossupressão durante a
recuperação de um esforço intenso. Neste cenário, é proposto que algumas variá-
veis imunológicas como o número de linfócitos e a produção de anticorpos que
se encontram reduzidas. Como resultado, uma “janela de oportunidades” se abre
para a ação de vários agentes microbianos, em particular os vírus, que podem in-
fectar o hospedeiro e provocar um quadro de doença.
Esse quadro pode ser agravado com o aumento da intensidade do estímulo
físico ou com uma recuperação inadequada e um novo estímulo quando o orga-
nismo ainda está se recuperando do estímulo anterior. Um atleta que treina inten-
samente por mais de duas semanas, por exemplo, pode experimentar um estado de
over reaching funcional, que está associado a declínio temporário do desempenho

capítulo 5 • 102
seguido de uma melhoria do desempenho, quando a compensação é suficiente
para promover melhoras.
No entanto, o exercício intenso por períodos mais longos pode levar a uma
disfunção das capacidades fisiológicas que frequentemente está associada à fadiga
persistente, perda de desempenho, dores musculares e disfunção hormonal que
pode ter duração de semanas a meses, que pode ser diagnosticado como síndrome
do overtraining ou supertreinamento.
Uma única sessão de treinamento pode ter efeitos profundos sobre o número
e a composição dos leucócitos plasmáticos. Todas as populações de leucócitos ten-
dem a aumentar em número durante o exercício físico de maneira dependente da
intensidade. Ao contrário do que se observa após o exercício, quando o período é
marcado por uma redução no número de neutrófilos e linfócitos.
A concentração de linfócitos é rapidamente reduzida após o exercício e é res-
taurada após cerca de 4-6h de recuperação do exercício. Em sessões de longa du-
ração, a contagem de células natural killers pode chegar a 40% mais baixa do que
a faixa de referência por até 7 dias após o treinamento.
Você pode imaginar que essa redução no número das células do sistema imune
representa uma preocupação, contudo esses dados são controversos e ainda não
são totalmente compreendidos. Uma das contrapropostas sugere que a redução
de linfócitos e monócitos ocorre devido à migração dessas células do sangue para
os tecidos periféricos. Os monócitos mobilizados pelos tecidos periféricos, em
função do exercício, podem infiltrar as fibras musculares, se diferenciarem em
macrófagos para facilitar o reparo e a recuperação tecidual, especialmente após o
exercício extenuante que ocasione grande dano tecidual.
Estudos sugerem que o exercício agudo pode mobilizar células T angiogênicas
que podem facilitar a remodelação vascular do músculo na recuperação, além de
o exercício também ser capaz de mobilizar células satélites hematopoiéticas, que
podem ter participação no reparo e na recuperação do tecido muscular.
Além disso, a fase de recuperação, especialmente após exercícios extenuantes
ou de alta intensidade, é marcada por modificações da capacidade funcional de
várias populações de leucócitos. Dessa forma, perceba que as repostas do sistema
imune durante a recuperação têm a tendência de serem pequenas ou até mesmo
melhorarem as funções imunológicas após a atividade moderada a intensa, e ao
contrário, o esforço intenso e prolongado reduz a função normal da maioria das
células do sistema imune.

capítulo 5 • 103
Esses achados podem sugerir que atletas estão mais sujeitos a infecções e quadros
de doenças durante a recuperação dos treinamentos intensos ou das competições.
As alterações do sistema imune que estão associadas com o over reaching in-
cluem modificações em repouso como a degranulação de neutrófilos, a redução
na contagem de linfócitos e na produção de anticorpos e no overtraining os atletas
apresentam frequentemente infecções de vias aéreas superiores, com redução da
concentração de IgA salivar, baixa produção de citocinas por monócitos, neutró-
filos e células dendríticas. Apesar disso, os estudos com atletas que descreveram os
marcadores do overtraining não apresentam grande consistência nas respostas do
sistema imune, cujas alterações que permanecem controversas e são fontes contí-
nuas de novos estudos.
As inconsistências destes achados estão sendo questionadas por novos estudos
que sugerem que a hipótese da “janela de oportunidade” deve ser desconsiderada,
assumindo que mesmo sessões isoladas de exercício de alta intensidade e longa du-
ração, apesar de modificarem marcadores do sistema imune, não comprometem a
competência das funções imunológicas. As principais fundamentações contrárias
a essa hipótese sugerem que as fundamentações carecem de comprovação e repro-
dução científica e que mudanças em vários marcadores como o IgA salivar e a con-
tagem de linfócitos não refletem uma redução na capacidade do sistema imune.
Adicionalmente, evidências epidemiológicas indicam que a atividade física re-
gular reduz o risco e a incidência de doenças crônicas ao longo do envelhecimento,
incluindo doenças ocasionadas por infecções virais e bacterianas além de diferen-
tes tipos de cânceres e doenças inflamatórias. Neste sentido, os benefícios de um
estilo de vida ativo implicam que a prática regular de atividade física aprimora a
competência e a função do sistema imunológico.
Este cenário sugere que a ciência ainda tem um longo caminho até uma com-
preensão mais clara das alterações do sistema imune frente ao exercício e suas
relações com a manutenção da saúde.

REFLEXÃO
Mais uma vez a principal reflexão que você deve fazer está relacionada ao papel do
Profissional de Educação Física como agente de promoção da saúde. A atuação deste pro-
fissional vai muito além do ambiente do fitness e da preparação física e também apresenta
um papel muito relevante durante a reabilitação e como intervenção terapêutica no controle
da evolução de várias doenças.

capítulo 5 • 104
No cenário das doenças que afetam o sistema imunológico é fundamental perceber a
grande especificidade desses quadros clínicos e neste sentido há a necessidade de especia-
lização dos profissionais envolvidos, intervenção multidisciplinar e altamente específica para
cada caso de cada doença, permitindo, assim, alcançar efeitos desejáveis na promoção e na
manutenção da saúde e qualidade de vida.
Neste capítulo você pôde constatar que alguns dos efeitos negativos associados às
doenças imunológicas são os mesmos observados em decorrência da inatividade física, que
levam ao declínio da massa magra e, consequentemente, à deterioração de várias funções
físicas.
Além disso, é comum ser observado alterações associadas à composição corporal, pro-
movendo o ganho de peso e o acúmulo de gordura. Como você viu anteriormente, essas
modificações favorecem o desenvolvimento de distúrbios metabólicos e, portanto o aumento
dos fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares.
Finalmente, a última reflexão que você deve se ocupar de fazer pode ser resumida com
um ditado popular que diz: “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose!”. Esse ditado
popular parece se aplicar também à prática de exercícios físicos. Em doses exageradas, o
exercício pode ser deletério à saúde e em doses pequenas, pode não ter efeito.
Agora é com você! O seu papel como futuro profissional de Educação Física é de
grande responsabilidade como você certamente percebeu. A atuação junto à sociedade exi-
girá que você tenha sensibilidade, discernimento e conhecimento adequado para transformar
a prescrição do exercício sempre em um “remédio”!
Bom trabalho!

ATIVIDADES
Agora que você fez a leitura de todo o texto, responda às questões para rever o conteúdo
que foi discutido até aqui e transformar o seu conhecimento.

01. Qual das afirmativas a seguir representa o conceito de tolerância imunológica?


a) É a capacidade de reagir com qualquer antígeno.
b) É a capacidade de tolerar as vacinas.
c) É uma capacidade adquirida a partir da vacinação.
d) É a capacidade de não reagir contra antígenos do próprio corpo.
e) É a capacidade de tolerar órgãos transplantados.

capítulo 5 • 105
02. A AIDS é uma doença ocasionada por uma infecção viral que atualmente pode ser con-
trolada com uso de estratégias farmacológicas que são extremamente eficientes em garantir
a sobrevida dos pacientes infectados, porém levam a vários efeitos colaterais. Dentre esses
efeitos, alguns podem ser reduzidos, melhorando a qualidade de vida, por meio da prática de
exercícios. Dentre as alternativas a seguir, qual delas não representa um efeito do exercício
nestes indivíduos?
a) Manutenção da massa magra. d) Redução da contagem de vírus no sangue.
b) Aumento dos níveis de força muscular. e) Controle da dislipidemia.
c) Redução do risco cardiovascular.

03. A síndrome do overtraining pode ser observada, especialmente em atletas como fruto
do excesso de exercícios em relação ao repouso inadequado, desencadeando uma série
de sinais e sintomas. Qual alternativa não representa um sinal ou sintoma da síndrome do
overtraining?
a) Fadiga crônica. d) Redução da contagem de linfócitos.
b) Redução do desempenho físico. e) Aumento de quadros infecciosos.
c) Aumento da produção de anticorpos.

04. A imunidade humoral é um tipo de imunidade adaptativa que resulta na produção de


fatores na circulação sanguínea. Dentre as alternativas indicadas a seguir, qual é o produto
deste sistema?
a) Antígenos c) Eosinófilos e) Anticorpos
b) Macrófagos d) Células natural killers

05. Qual das alternativas a seguir não representa uma das três principais células que apre-
sentam antígenos?
a) Células dendríticas c) Células natural killers
b) Linfócitos B d) Macrófagos

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capítulo 5 • 106
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GABARITO
Capítulo 1

01. A.
Revise os conceitos e conclua que a opção correta é a letra A. Já que a prevalência
representa o número de casos novos e antigos em uma comunidade, a incidência está expli-
cada apenas pelo número de novos casos.

02. A.
Se há redução das mortes, mas não há cura, ocorre aumento no número de casos, logo
há aumento da prevalência.

03. B.
A letalidade é o indicador que representa a agressividade da doença que acomete um in-
divíduo.

04. São as taxas ou coeficientes que medem o risco de adquirir certa doença, a medida de
incidência representa a maneira mais conveniente para avaliar o risco de se adquirir alguma
doença, pois só leva em consideração casos novos da população exposta.

capítulo 5 • 108
05. B.
A meta da OMS para a redução do sedentarismo foi estabelecida em 10% para o ano
de 2025. Contudo, diante da atual situação observada em muitos países, essa meta parece
estar distante de ser alcançada.

Capítulo 2

01. A.
Neste caso, como foi relatada circunferência abdominal > 88 cm; PA > que 130 ×
85 mmHG e HDL < 50 mg/dL, o quadro de síndrome metabólica está confirmado.

02. E.
Embora a elevação dos níveis de LDL seja critério complementar para caracterizar as dis-
lipidemias, esse parâmetro não é determinante para o diagnóstico da síndrome metabólica.

03. A.
A alternativa correta confirma a relação entre a origem de doenças crônicas e a obesi-
dade no adolescente como apontado no texto, indicando tanto os maus hábitos alimentares
e a inatividade física.

04. A.
O conjunto de alterações decorrentes ao treinamento aeróbio de intensidade moderada
combinado com o treinamento resistido descrito na letra A representa a alternativa correta.

05. D.
O melhor programa que se adapta à melhoria no quadro geral de saúde descrito nesta
questão está apontado na alternativa D.

Capítulo 3

01. B
A redução de 10 kg no peso corporal pode levar à redução de até 20 mmHg na pressão
arterial sistólica. O exercício físico com frequência de 3 a 5 vezes por semana e intensidade
moderada pode levar a uma redução de 4 a 9 mmHg. A redução da ingestão de sódio e a
moderação na ingestão de álcool promovem respectivamente uma redução de 2 a 8 mmHg
e 2 a 4 mmHg.

capítulo 5 • 109
02. Dentre os fatores de risco listados, o único que não pode ser modificado é o histórico
familiar, pois está associado a fatores genéticos.

03. D
A elevação na pressão arterial a partir de 115 × 75 mmHg é o fator mais prevalente na
aterosclerose e explica aproximadamente 40% das mortes por AVE e 25% por infarto.

04. O envelhecimento é um processo lento, progressivo, crônico e também cronológico.


Dessa forma, não existe intervenção antienvelhecimento, não é possível reverter esse pro-
cesso. Podemos reduzir seus efeitos, sobretudo com a manutenção da saúde, mas ainda não
podemos impedir ou reverter esse processo natural.

05. E
Quando com a prática de exercícios físicos regulares, os ajustes do sistema cardiovascu-
lar permitem o aumento da frequência cardíaca máxima e a redução da frequência cardíaca
de repouso decorrente a maior eficiência cardiovascular.

06. C.
Dentre os objetivos da reabilitação cardíaca, podemos destacar a possibilidade de se
limitar os estresses fisiológicos e psicológicos decorrentes da doença, reduzir o risco de
morte por causas secundárias ao evento cardíaco e aprimorar as funções cardiovasculares,
melhorando a qualidade de vida.

Capítulo 4

01. D
O baixo nível socioeconômico, provavelmente por um conjunto de fatores, que incluem o
baixo peso ao nascimento, a maior exposição a poluentes e uma maior incidência de infec-
ções respiratórias na infância.

02. C
A capacidade pulmonar total é fruto do somatório de todos os volumes pulmonares, o
volume-corrente, mais os volumes de reserva inspiratória e expiratória e o volume-residual,
sendo estimada em 5,8 L e 4,2 L em um homem de 70 kg e uma mulher de 50 kg, respec-
tivamente.

capítulo 5 • 110
03. D
Neste caso, o ambiente frio e seco é justamente aquele que induz o broncoespasmo que
pode estar presente em 90% dos casos de pessoas asmáticas como fruto de uma reação
alérgica aguda.

Capítulo 5

01. D
O sistema imune, em seu funcionamento normal, apresenta uma característica espeta-
cular, representada pela capacidade de reagir com uma enorme variedade de micro-organis-
mos, mas não contra os antígenos do próprio organismo.

02. D
O uso crônico da terapia antirretroviral tem como efeitos colaterais uma série de modifi-
cações que aumentam o risco cardiovascular, bem como a inatividade física. Dessa forma, a
prática de exercício pode garantir a manutenção da massa magra e assim dos níveis de força,
bem como de fatores de risco associados a doenças cardiovasculares como a dislipidemia.
No entanto, apenas as terapias farmacológicas são capazes de modular a carga viral, redu-
zindo a contagem de vírus no sangue.

03. C
Dentre as alterações negativas do excesso de exercício podemos destacar uma menor
capacidade de produção de anticorpos, justamente levando a um maior risco de infecção,
como postulado pela hipótese da “janela imunológica”.

04. Os anticorpos são os compostos produzidos pelo sistema imunológico adaptativo em


resposta à exposição de ameaças em potencial.

05. D
Os macrófagos não representam uma das principais células que apresentam antígenos
do sistema imune.

capítulo 5 • 111
ANOTAÇÕES

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