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Contextos Históricos e
Profissionais
Carine Ferreira da Costa
Wagner José Nogueira
Educação Física: Contextos
Históricos e Profissionais
Introdução
Olá,
Os objetivos desse conteúdo são entender o que é a Educação Física, as bases para
ser reconhecida como profissão e a evolução histórica até a contemporaneidade.
Além de conhecer como a Educação Física pode atuar junto aos departamentos de
saúde, as definições de saúde, a importância do acompanhamento profissional no
combate ao sedentarismo, o que é a política nacional de promoção de saúde e como
funcionam os núcleos de assistência à saúde da família. Você também irá aprofundar
os conhecimentos sobre possibilidades de atuação profissional, na licenciatura e
bacharelado em Educação Física.
Bons estudos!
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Noções Gerais da Profissão
Segundo Barbanti (s.d.) as pessoas costumam confundir o termo Educação física e
não sabem exatamente o que ela é, ou o que os profissionais que nela atuam fazem.
O autor citado define a Educação Física como um campo de ações onde o interesse
é o movimento humano, mas que também se preocupa com áreas relacionadas ao
desenvolvimento mental, social e emocional, isto é, muito além do aspecto físico.
Por mais que a Educação Física se manifeste pela ação do corpo, a prática não pode
ser analisada apenas pela evidencia corporal, pois o ser humano é um organismo
completo e consciente ou inconsciente, o profissional atua sobre o organismo todo, por
isso, Educação Física não é apenas cultura, pois há uma percepção que a concepção de
cultura é muito abrangente, é comportamento aprendido e nesse sentido a Educação
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Física é apenas uma parte de um todo, pois há outros elementos a serem aprendidos
pelo ser humano, que vão além dos conteúdos da Educação Física.
O que é necessário para considerar qualquer atividade humana uma profissão? Você
já se questionou quais fatores são considerados para definir o que é uma profissão?
Para aprofundar esta discussão é necessário reconhecer as características que fazem
de uma atividade uma profissão e verificar se a Educação Física se enquadra nesses
aspectos. Por isso, vamos visitar a partir de agora os argumentos que tornam possível
classificar se determinada atividade é uma profissão e analisar se Educação Física
pode ou não ser considerada.
Para uma atividade ser considerada profissão Barbanti (s.d.) enumera sete critérios
que foram baseados em princípios sugeridos por Lieberman e Flexner, são eles:
Segundo Faria Junior (1999), a formação no campo da Educação Física está concentrada
em uma capacidade reflexiva, crítica e intelectual e é uma característica positiva, no
entanto, se exige que o profissional contextualize o saber na prática (a chamada de
práxis), para que a formação permita conquistar espaços profissionalmente.
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identificadas como a base intelectual, o uso prático, a organização profissional, a
capacidade de organização, a dedicação altruísta e a existência de um código de ética
são características que reafirmam isso. Entretanto, avanços na pesquisa e um olhar
intelectual um pouco mais profundo contribuiria substancialmente para a solidificação
da Educação Física como profissão.
Curiosidade
Depois da graduação, um profissional de educação física deve
ter como característica o comprometimento. Um profissional
deve ser comprometido com a sua área de atuação e isso o
torna um membro genuíno de uma profissão. Ser um profissional
traz responsabilidades como servir o outro e assegurar que a
intervenção seja baseada em boas evidências. (BARBANTI, [s./d.]).
Mais à frente, Ramos (1982) alega que com a chegada dos escravos a terras brasileiras,
surgiu também a capoeira, uma atividade que tinha relação com a dança, as lutas e
muita criatividade por parte de quem praticava, que era os escravos. Sendo assim, o
autor enfatiza que neste período de Brasil colônia, as atividades culturais naturais dos
povos indígenas e dos escravos refletiram os primeiros passos da Educação Física
em terras brasileiras.
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O período imperial ficou marcado pelo aparecimento dos primeiros acordos que
instituía a prática no Brasil. Gutierrez (1972) relata que em 1823 Joaquim Antônio
Serpa, escreveu um Tratado que falava sobre a Educação Física e a moral. Segundo o
autor, esse tratado pregava que a Educação física deveria cuidar da saúde e do espirito,
portanto era separado em duas categorias: exercícios para o corpo e exercícios para
a memória.
Neste mesmo período, surgiu ainda a Educação Física escolar, outro marco da época.
De acordo com Ramos (1982), ela foi instituída por meio da reforma Couto Ferraz, mas
somente em 1882 que Rui Barbosa oficializou um parecer em que a Educação Física
era reconhecida como conteúdo para a formação de jovens.
Sobre este parecer, Darido e Rangel (2005) sustentam que o propósito era instituir a
prática de Educação Física nas escolas para todos os gêneros, já que na época não era
obrigatória para o gênero feminino, além disso, o intuito era inserir a Educação Física
na escola como matéria de estudo em períodos como o recreio e após a aula para
dar notoriedade aos professores de Educação Física e para que ela fosse equiparada
a outras disciplinas. Entretanto, a Educação física foi implementada somente em
algumas instituições escolares localizadas no Rio de Janeiro (Capital da Republica na
época) e em instituições escolares de domínio militar.
Logo após a revolução, ou seja, na segunda fase, Ramos (1982) cita a criação do
Ministério da Educação e Saúde, assim, nesse período a Educação Física começou
a se destacar, pois foi enquadrada na constituição e surgiram, portanto, as primeiras
regras na legislação que a tornaram obrigatória nas escolas. Ao mesmo tempo,
houve a sistematização, que visava implantar junto ao ensino da Educação Física os
primeiros métodos baseados em escolas advindos da Suécia, da Alemanha e da França
(DARIDO e RANGEL, 2005). Métodos esses que, segundo os autores, se baseavam no
aprimoramento físico e moral, ou seja, um período conhecido como “higienismo”, e
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também preparava os indivíduos para o combate militar. Este período ficou conhecido
como militarismo.
Para nos inteirar com a área no período atual temos que ter o discernimento
que a Educação Física passou e vem passando por constantes transformações.
Recentemente, o entendimento é de que pela complexidade e amplitude da atuação do
profissional de Educação Física, as diretrizes profissionais deveriam ser específicas,
isto é, atualmente o entendimento do Conselho Federal de Educação Física – CONFEF
e os Conselhos Regionais de Educação Física – CREF é que a atuação profissional
deve considerar duas distintas formações: uma atuante no ambiente escolar, com
uma proposição pedagógica: 1) Licenciatura em Educação Física. E a outra atuante
no ambiente não escolar, para atender as demandas do mercado: 2) Bacharel em
Educação Física (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2018).
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A Profissão Dentro da Área da Saúde
Conforme descrito por Coelho e Burini (2009), a prática regular de exercícios pode
prevenir o desenvolvimento de doenças agudas e crônicas, melhorando assim,
componentes de saúde que permeiam as esferas da saúde biológica e mental, além
de contribuir significativamente para o bem estar social. Um fator epidemiológico
vem chamando a atenção de pesquisadores que analisam a quantidade de atividade
física que as pessoas realizam no seu cotidiano, que é o comportamento sedentário.
Este comportamento, segundo Hallal (2007), está crescendo e nas últimas décadas
vem mostrando índices alarmantes, de que uma significativa parcela da população
não consegue realizar atividades físicas diárias que sejam suficientes para garantir
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o mínimo de benefícios para a saúde. Por isso, há a necessidade tão urgente de
profissionais para mudar esse grave quadro.
O primeiro ato para que a Educação Física recebesse a chancela para atuar na área
da saúde, foi receber o reconhecimento como uma área de atuação profissional e isso
aconteceu com a regulamentação da profissão Educação Física com a lei nº 9.696, de
1 de setembro de 1998, que dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação
Física e a criação do Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física
(BRASIL, 1998).
Na ocasião, definiu-se que o exercício das atividades de Educação Física era prerrogativa
do Profissional que possuía diploma em curso de Educação Física registrados nos
conselhos regionais de Educação Física, além disso, segundo artigo terceiro:
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participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar
informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades
físicas e do desporto (BRASIL, 1998).
No entanto, o reconhecimento da profissão não permitia uma atuação contundente
na área da saúde, mas em 2008, foi aprovada a Portaria nº 154/2008 que criava os
Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) e o profissional de Educação Física foi
incluído na lista de profissões que passariam a trabalhar nesses Núcleos (BRASIL,
2008).
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X - Potencializar as manifestações culturais locais e o conhecimento popular na
construção de alternativas individuais e coletivas que favoreçam a promoção da
saúde; e
O artigo 5º desta portaria revela que este programa deve contar com um grupo de
apoio para compartilhar a gestão e a organização das atividades. Nesse sentido, as
atividades propostas seriam:
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Critérios da Educação Física para a Área da Saúde
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17. A responsabilidade social das organizações da iniciativa privada na Prevenção e
Promoção da Saúde está compreendida nos valores que elas representam nas relações
que mantêm com seus públicos internos, meio-ambiente, clientes, comunidades,
governos, e sociedades que envolvem, e que os conflitos destas relações se sucedem
e aumentam o risco, que precisa ser enfrentado na procura de novos equilíbrios nestas
responsabilidades coletivas (CONSELHO FEDERAL DE EEDUCAÇÃO FÍSICA, 2006).
A carta destaca entre outros fatores a importância da atividade física para a prevenção
da saúde:
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Curiosidade
A atividade física e o Esporte quando orientados de forma
adequada, formativa, educativa, qualificada e ética, ou seja, por um
profissional de Educação Física habilitado, atraem as pessoas e
são considerados por todos os segmentos e profissionais da área
da Saúde como excelentes meios para minimizar e facilitar a busca
de saídas e soluções para os problemas crescentes da sociedade
(CARTA BRASILEIRA DE PREVENÇÃO INTEGRADA NA ÁREA DA
SAÚDE, 2006).
Neste tópico vamos conhecer a Política Nacional de Promoção da Saúde, sobre o que
se trata os Núcleos de Assistência à Saúde da Família e quais as recomendações para
a intervenção do profissional de Educação Física neste contexto, relacionada a saúde
dentro do âmbito nacional.
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e construam um convívio social saudável (ZIONI e WESTPHAL, 2007). Os autores
destacam que é importante promover o movimento, de preferência durante um período
significativo diário (aproximadamente trinta minutos), com uma frequência de pelo
menos cinco dias durante a semana.
Para além da formação, o profissional ou futuro profissional tem que se engajar com
a população buscando a constante promoção da qualidade de vida, uma vez que
esses aspectos contribuem substancialmente para isso: a abordagem interdisciplinar
e a incorporação de atitudes que favorecem os valores humanos (FAZENDA, 2002).
Sobre esta estratégia, Nicolescu (2005) destaca a importância de adotar posturas
transdisciplinares, ou seja, propondo uma ampla visão do “cuidar”, pois o ser humano
não pode ser separado em diferentes disciplinas. O autor enfatiza que a promoção da
saúde depende dessa visão integrada dos profissionais, que encontrarão diferenças
culturais e precisam superar para entregar um serviço de qualidade.
Por fim, Spagnuolo e Guerrini (2005) sugerem que os profissionais que atuam na
promoção da saúde precisam desenvolver habilidades que permitam a constante troca
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de experiências entre os profissionais de outras áreas, a produção de conhecimentos,
difusão de um olhar humano, a transdisciplinaridade e o constante aprimoramento.
Áreas de Atuação
É importante que a formação do profissional o capacite a preparar aulas, sessões de
treinamento e diversificadas estratégias que sejam adequadas para seus alunos. Para
isso, Dourado (2015) e Conselho Federal de Educação Física (2015) recomendam
que, além de conhecer métodos científicos recomendados para elaborar as aulas
ou sessões de exercícios físicos seguros e eficazes, pensar nas aulas com um
olhar pedagógico e ajustar os estágios de desenvolvimento dos seus alunos, seja
ministrando uma atividade particular ou para um grande número de alunos.
O profissional que faz pesquisa não é o que atua estritamente em institutos de pesquisas
e Universidades. Pode ser pesquisador todo profissional de uma determinada área
que encontra uma dúvida ou um problema para solucionar e consegue articular e
encontrar informações relevantes em fontes de caráter científico para responder a
sua demanda.
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Áreas de Atuação Profissional
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em 1.600 (mil e seiscentas) horas referenciais, e os graduandos terão acesso a
conhecimentos específicos das opções em bacharelado ou licenciatura.
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Este documento destaca que a Etapa Específica para a formação do Bacharel em
Educação Física deve qualificar o profissional para a intervenção em diferentes
campos e destaca-se: o treinamento esportivo, a orientação de atividades físicas, a
preparação física, a recreação, o lazer, a cultura em atividades físicas, a avaliação
física, postural e funcional, a gestão relacionada com a área de Educação Física, além
de outras áreas associadas às práticas de atividades físicas, recreativas e esportivas.
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Conclusão
Neste conteúdo, você teve a oportunidade de:
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Referências
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