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INTRODUÇÃO

À PROFISSÃO:
EDUCAÇÃO FÍSICA

Cristiano Lozada
Tracy Freitas
Revisão técnica:

Hans Gert Rottmann


Mestre em Educação
Especialista em Educação Física: Ênfase em Esportes
Licenciado e Bacharel em Educação Física
Técnico de Voleibol Nível III pela Confederação
Brasileira de Voleibol

L925i Lozada, Cristiano.


Introdução à profissão: educação física / Cristiano
Lozada, Tracy Freitas; [revisão técnica: Hans Gert
Rottmann]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
138 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-260-7

1. Educação Física. I. Freitas, Tracy. II.Título.


CDU 796:37

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

Introducao Educacao Fisica BOOK.indb 2 31/10/2017 08:22:16


Atividades privativas
do curso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer o início histórico da profissão de educação física.


 Definir a formação do profissional de educação física.
 Descrever as atividades privativas que competem ao profissional de
educação física.

Introdução
Desde sempre, a atividade física esteve presente na vida do homem,
tanto é verdade que é possível elencar alguns aspectos dessa atividade,
como ser natural, utilitário, guerreiro, recreativo e religioso, pois todos
esses aspectos trazem, em cada um dos seus cernes, características de
algum tipo de atividade física diferenciada em seus objetivos, sejam eles
iniciais ou finais de cada um deles.
Nesse sentido, é correto afirmar que as práticas de atividades físicas
sempre estiveram presentes na vida do homem. Com o passar do tempo,
porém, é possível perceber que junto com o desenvolvimento da huma-
nidade, as atividades físicas também foram se modificando. É evidente
que o homem ainda caminha, corre, salta e se desloca, mas, atualmente, a
gama diferenciada de exercícios físicos, danças, esportes e diferentes tipos
de treinamento que visam ao desenvolvimento das capacidades físicas é
maior. Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao desenvolvimento
da ciência e da tecnologia e a sua relação com o estilo de vida e as prá-
ticas diárias do homem pós-moderno. Com o advento da melhoria dos
aparelhos e dos utensílios, como o controle remoto, as escadas rolantes
e uma infinidade de jogos eletrônicos, por exemplo, parece que estes
fazem com que o homem de hoje se movimente cada vez menos. Ao
mesmo tempo, enquanto os sujeitos de hoje parecem ser cada vez mais

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sedentários, também há uma corrida para academias de ginástica, onde,


a cada verão, surgem novas modalidades de treinamento físico.
Neste texto, você vai estudar um pouco sobre a história do profissional
de educação física e a sua evolução ao longo do tempo, irá identificar a
formação de um profissional de educação física e quais são os conheci-
mentos necessários para que ele possa desenvolver sua atividade profis-
sional. Além disso, aprenderá quais são as atividades que são privativas
e competem somente ao profissional de educação física.

A história das atividades físicas e o surgimento


da profissão de educação física
Para melhor entender a relação do homem com a prática de atividade física, é
necessário elencar algumas situações de épocas passadas que contribuíram para
a relação que existe hoje entre os homens e as atividades físicas. Nesse sentido,
podemos lembrar das práticas de atividade física realizadas pelos militares,
das danças ou das manifestações míticas ou religiosas ou ainda das primeiras
manifestações de desempenho atlético. Tais atividades aconteceram em priscas
eras e encontradas nas mais diferentes regiões do planeta e em diferentes tipos
de cultura, sempre com finalidades ou objetivos diferentes uns dos outros.
Pode-se iniciar na sociedade pré-colombiana, onde registros históricos
destacam a existência dos chasquis (corredores profissionais do Império
Inca, que tinham por objetivo levar e trazer notícias, transportar objetos que
não tivessem um grande volume, pois faziam, por meio do revezamento, suas
atividades, ou seja, eram o correio da época).
Já em outra parte do mundo, em outro momento histórico e com a necessi-
dade de fazer com que a comunicação fosse mais efetiva em seus domínios, o
conquistador Alexandre III (356–323 a.C.) instituiu a chamada Rota do Rei, cuja
distância compreendia 2.683 km, distribuindo, ao longo desse percurso, 100
corredores, os quais se revezavam na tarefa de entregar as mensagens do rei.
Em outra época, na antiga China, Kung-Fu-Tze (551–479 a.C.), mais co-
nhecido no ocidente como Confúcio, deu sua contribuição considerando a
atividade física de maneira disciplinada e sendo uma virtude, podendo ser
compreendida como um caminho para o alcance do domínio espiritual sobre
si. Para ele, mente e corpo não são opostos, mas uma energia que comunga
para um bem-estar do homem ao qual ele chamou de ch’i.
Entre os filósofos, podemos elencar Pitágoras (570–490 a.C.), que possuía
um porte atlético que fascinava os indivíduos que viviam ao seu redor, utilizada

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sempre roupas branca e possuía uma dieta rigorosa, como, por exemplo, não
comer carne. Foi o fundador de uma escola com normas rigorosas, que regra-
vam vestuário, alimentação, dormir e despertar e determinava a ocupação de
cada hora do dia dos seus alunos, que, dentro dessas rotinas, incluía estudos
de geometria, musicologia, astronomia, geografia, meteorologia, anatomia,
fisiologia e medicina e também um momento que chamava de cultura do
corpo, incluindo massagens, ginástica e atividades de atletismo.
Um grande movimento, e um dos mais importantes, iniciou na Grécia e
o seu precursor foi Antístenes (440–336 a.C.), que foi sucedido por seu dis-
cípulo – Diógenes (400–323 a.C.). A grande importância do exercício físico
estava em confirmar que o treinamento e o desenvolvimento de aptidões
atléticas eram questões básicas e necessárias para a virtude do homem e que,
para obter um efeito satisfatório, deveria ser um hábito obrigatório de todos.
Antístenes dizia que, para se tornar um homem de virtude, é preciso exercitar
o corpo com exercício físico e a alma com exercício de raciocínio. A Grécia
ainda nos brindou com a criação dos Jogos Olímpicos, em 776 a.C., ano em
que foram relatados os primeiros registros de vencedores dos jogos, quando
se tornava o ápice da perfeição atlética ser um vitorioso olímpico, ápice este
que se mantém até os dias atuais.
Questões importantes dessa época e ainda no povo grego, como a condição
social, a capacidade econômica e a extrema supremacia militar, contribuíram
efetivamente para o desenvolvimento de práticas esportivas que perduram até
hoje. Os gregos possuíam como meta de educação do homem o kalos kagathos,
que significava ser belo e valoroso, orientando seus jovens a receber uma
instrução educacional de acordo com uma pirâmide com as seguintes pontas:
literária, musical e esportiva.
Um fato de extrema importância nessa fase é que os exercícios físicos que
eram desenvolvidos para os jovens gregos tinham como meta a higiene e a esté-
tica do corpo e eram sempre ministrados pelos pedótribas, que eram chamados
de treinadores de garotos sobre uma supervisão do gymnasíarkhos, que era
chamado de mestre da ginástica. Percebe-se, assim, os primeiros movimentos
efetivos da figura de treinador ou professor efetivamente direcionado ao trato
do desenvolvimento de atividades corporais que se tem registro.
Organizações esportivas iniciavam a concepção de estruturas mais com-
plexas, integrando indivíduos com diferentes responsabilidades de funções,
como árbitros destinados somente às competições, massagistas, encarregados
de supervisão de provas de atletismo, técnicos e preparadores físicos, que
são figuras marcantes da época, aprimoraram-se e se tornaram essenciais
até os dias atuais.

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Havia outros especialistas dependendo do tipo de jogo, como, por exemplo,


especialistas para jogos com bola, dardo, esgrima e indivíduos com respon-
sabilidades gerais no sentido de prestar atendimentos médicos de primeiros
socorros caso houvesse lesões por parte dos atletas, ou seja, uma estrutura
que percebemos cada vez mais aprimorada hoje em dia.
Com o surgimento desses especialistas, gradualmente aconteceram outros
aprimoramentos no processo da preparação para competições esportivas que
começaram a fazer parte, também, da evolução dos atletas, como dieta, exer-
cícios diários, técnicas de respiração, massagens, táticas nas disputas, além
da criação de uma periodização do treinamento efetivamente dito.
Nessa linha de técnicos que foram famosos e fizeram a diferença, pode-
-se falar de Teógenes de Tasos, que era um dos mais bem pagos, pois os
atletas que ficavam sob sua supervisão tinham a rotina básica de dormir,
treinar, alimentar-se e estudar a filosofia, ou seja, a finalidade primária
do trabalho do técnico era a melhora efetiva da saúde dos atletas como
um todo, mas, principalmente, orientar o que era certo a fazer dentro dos
treinos propostos.
Nessa época, a preparação do técnico esportivo era rigorosa e intensa,
tanto em aspectos teóricos quanto nos práticos. Entre as disciplinas práti-
cas que faziam parte de sua preparação, estavam algumas, como corrida
atlética, corrida com armas, corrida de tochas, dardo, boxe, luta, natação,
remo, salto, disco, equitação e lançamento do dardo em cima do cavalo.
No âmbito das disciplinas teóricas, permeavam temas como constituição,
fisiologia e retórica.
Nota-se, assim, que era dada uma grande importância à formação integra-
lizada do futuro técnico, ou seja, do futuro docente, pois entendiam que, além
das aptidões físicas, deveriam ter aptidões que tornassem esses docentes em
cidadãos que formariam atletas, mas também em futuros cidadãos, perpetu-
ando, assim, uma cultura forte de corpo e de mente.
Com o passar do tempo, foi possível perceber como as funções, o trabalho
e a formação de técnicos esportivos ou professores ligados às atividades físicas
(hoje conhecidos como professores de educação física) sofreram modificações.
Aliás, a gama enorme de esportes, atividades físicas e exercícios existentes hoje
acaba até exigindo, desses profissionais, variados tipos de formação e atuação.
Atualmente existem especialistas com diversos conhecimentos específicos
sobre diferentes atividades físicas e esportes: nutrição, fisiologia, mecânica do
movimento humano, psicologia, preparação física e assim por diante. É possível
elencar ainda outras áreas ou profissionais que surgiram com o tempo e que
possuem relação direta com questões que envolvem as práticas esportivas ou o

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desenvolvimento de atividades físicas. Muitas delas se desenvolveram tanto que


causaram melhorias significativas no desempenho dos esportistas, assim como
de pessoas comuns em suas práticas diárias de esportes ou atividades físicas.

Platão, filósofo clássico da Grécia (472–347 a.C.), acreditava que o técnico esportivo
deveria ter um preparo pedagógico, preconizando a paciência, buscando utilizar a
maior parte do tempo com os atletas que tinham uma maior carência de talento,
tendo como foco o desenvolvimento harmonioso do corpo do atleta como um todo
e sugerindo, ainda, o treinamento diário para o melhor desenvolvimento de valências
físicas e psíquicas.

A formação do profissional
de educação física
Uma formação adequada de um profissional de educação física deve estar
calcada em uma formação humanística, com competências técnica, sistê-
mica, reflexiva e crítica, que são capazes de interagir nos diferentes espaços
e ambientes, fundamentados no espírito científico, respeitando o contexto
sócio-histórico-cultural e educacional da região em prol de uma sociedade
mais igualitária em todos os níveis.
Ao entender a educação para a saúde como uma ação voltada para a promo-
ção da saúde e para a prevenção de doenças, independentemente do local onde
essa prática é realizada, o profissional de educação física deve, ao final de um
curso, estar preparado para atuar profissionalmente por meio das diferentes
manifestações da cultura corporal do movimento e do esporte, com o objetivo
de aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente
ativo e saudável, a partir de vertentes educativas, agindo de forma integrada
e cooperativa em equipes multiprofissionais.
A formação profissional deverá proporcionar ao futuro profissional de
educação física ser proativo, atualizado, criativo, competente, ético e, princi-
palmente, responsável no seu fazer profissional, a fim de cumprir a sua função
como educador e promotor da saúde.
Segundo Delors et al. (2004), existem quatro níveis de aprendizagens
fundamentais destinados aos profissionais da educação e que são também
importantes para os profissionais ligados à educação física. Tais princípios

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podem ser considerados como pilares de sustentabilidade profissional. São


eles: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender
a viver com os outros e aprender a ser.

 Aprender a conhecer: este tipo de aprendizagem visa não só à aquisi-


ção de saberes codificados, mas o domínio dos próprios instrumentos
do conhecimento, sendo assim, um meio e uma finalidade da vida
humana. Meio porque se pretende que o futuro profissional aprenda a
compreender o mundo que está à sua volta, para viver e desenvolver as
capacidades profissionais. Finalidade, pois a educação deve estimular
o prazer de compreender, de conhecer e de descobrir. Esses saberes
favorecem o despertar da curiosidade intelectual, estimulando o senso
crítico mediante a aquisição de autonomia e capacidade de discernir.
Ainda se pode dizer que aprender a conhecer seria um aprender a
aprender, pois exercita a memória e o pensamento. No que diz respeito
à “ciência e produção de conhecimento” e “educação e tecnologia”, o
aprender a conhecer está relacionado com disciplinas voltadas ao co-
nhecimento científico-tecnológico, ao criativo e inovador, às propostas
por meio de conteúdos voltados à inovação e ao empreendedorismo
e que estimulam a produção de projetos e produtos inovadores em
educação física.
 Aprender a fazer: o aprender a conhecer e o aprender a fazer são
indissociáveis, mas a aprendizagem do fazer está voltada à questão
profissional, ou seja, ensinar o futuro profissional a pôr em prática
os seus conhecimentos. A aprendizagem, sob uma abordagem de
qualificação e competência, deve possibilitar qualidades como a
capacidade de se comunicar, de trabalhar com os outros e de gerenciar
e resolver conflitos.
 Aprender a viver juntos e aprender a viver com os outros: esta
é uma aprendizagem que consiste em um dos maiores desafios da
educação, mediante a violência do mundo. A ideia de ensinar a não
violência é elogiável, mesmo que seja um instrumento para lutar
contra os preconceitos estabelecidos pela sociedade, os geradores
de conflitos. Além disso, é importante estabelecer a competição
de forma sadia e não simplesmente visando ao sucesso individual.
Com isso, fala-se em educar para conhecer o outro e para participar
de projetos comuns.
 Aprender a ser: a educação deve contribuir para o desenvolvimento
total da pessoa, do espírito, do corpo, da inteligência, da sensibilidade,

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do sentido estético, da responsabilidade pessoal e da espiritualidade. O


ser humano deve ser preparado para elaborar pensamentos autônomos
e críticos e para formular seus próprios valores, que levem a decisões
por si mesmo e em diferentes circunstâncias da vida. Contudo, o de-
senvolvimento tem por objetivo a realização completa do ser humano,
na sua complexidade e nas suas expressões, dos seus compromissos
como sujeito, como membro de uma família e de uma comunidade,
como cidadão e produtor, como inventor de técnicas e também como
criador de sonhos.

Percebe-se, assim, que o profissional deverá ter uma formação integral em


seu aprendizado, buscando desenvolvê-la de maneira íntegra, moralmente e
tecnicamente, pois só assim conseguirá ampliar e disseminar os seus conhe-
cimentos aos que estarão sendo beneficiados pelos seus serviços.
Nesse sentido, as resoluções do CNE/CP 1 e 2 buscaram auxiliar a forma-
ção de professores, dando orientações que pudessem melhorar a objetividade
dos conteúdos de aprendizagem desses profissionais, buscando coerência e
continuidade permanente dos futuros docentes, que relatam basicamente:

 garantir a formação dos especialistas por área de conhecimento ou dis-


ciplina, colocando um foro no trabalho mais aprofundado de conteúdos
que deverão ser desenvolvidos;
 propor uma prática como dimensão do conhecimento, em momentos
reflexivos ou no momento das práticas profissionais.

Buscando elaborar um cruzamento entre diretrizes e currículos dos cursos


superiores, os quais deverão formar o futuro profissional de educação física,
pode-se ressaltar que uma prática pedagógica deverá refletir a futura prática
profissional a ser efetivamente exercida.
Tardif (2002) buscou organizar os saberes para o melhor desenvolvimento
do ensino e, principalmente, para o entendimento dos alunos de educação
física, dessa forma:

 A formação profissional: abrange as ciências da educação e a ideologia


pedagógica. Deverá contemplar o conjunto de saberes, os quais são
proporcionados pela instituição que irá formar o futuro profissional
e que deverão ser incorporados a estes, ou seja, é o saber que deverá
vir das ciências da educação, dando um caráter clássico e científico,

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apresentando doutrinas e concepções sobre a prática educativa de


forma reflexiva.
 Os componentes disciplinares: correspondem à diversificação dos
campos de conhecimentos existentes nas universidades que deverão
ser integrados e, ao mesmo tempo, divididos em forma de disciplinas
para uma melhor assimilação do aluno, ou seja, é a tradição cultural
específica de cada curso.
 Os componentes curriculares: deverão corresponder à seleção de
conteúdo, métodos, técnicas e estratégias que deverão ser aplicados
para o melhor desenvolvimento do ensino e da aprendizagem.
 As práticas experiências: deverão ser a experiência da prática profis-
sional dos docentes, no sentido de ensinar suas experiências aos alunos
e aos futuros profissionais.

A estruturação desses conhecimentos e saberes deverá apontar uma pers-


pectiva de conteúdos, com base sólida, de maneira a ser sistematizada dentro
de cada um dos saberes e com o intuito de qualificar o profissional, que deve
ter na formação:

 Profissional: quando as dimensões culturais, sociais, políticas e eco-


nômicas se referirem à cultura geral do futuro profissional, além dos
conhecimentos pedagógicos com os valores de uma sociedade democrá-
tica, gerando assim o próprio desenvolvimento profissional do indivíduo.
 Disciplinar: refere-se aos conteúdos das áreas específicas do conheci-
mento, sendo o objeto de ensino e socialização do conteúdo e o aper-
feiçoamento do/no processo de investigação científica.
 Curricular: quando se refere à socialização do conhecimento pedagógico.
 Experiencial: refere-se ao conhecimento provido das experiências.

A Resolução CNE nº 7, de 31 de março de 2004, no Artigo 7º, descreve:

Caberá à Instituição de Ensino Superior, na organização curricular do curso


de graduação em Educação Física, articular as unidades de conhecimento
de formação específica e ampliada, definindo as respectivas denominações,
ementas e cargas horárias em coerência com o marco conceitual e as com-
petências e habilidades almejadas para o profissional que pretende formar.
§ 1º A formação ampliada deve abranger as seguintes dimensões do conhecimento:
a) Relação ser humano-sociedade;

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Atividades privativas do curso 85

b) Biológica do corpo humano;


c) Produção do conhecimento científico e tecnológico.
§ 2º A formação específica, que abrange os conhecimentos identificadores
da educação física, deve contemplar as seguintes dimensões:
a) Culturais do movimento humano;
b) Técnico-instrumental;
c) Didático-pedagógico.

Portanto, essas estruturas, esses conhecimentos, saberes e todos os com-


ponentes descritos acima deverão fazer parte da formação de um profissional
de educação física, não basta apenas prever um agrupamento de disciplinas
desportivas ou de treinamento, mas, sim, componentes que proporcionem o
desenvolvimento de um futuro professor pensante e que possa criar e inovar nos
seus ensinamentos, buscando sempre o desenvolvimento de futuros cidadãos
com uma maior percepção de vida humanitária e saudável.

Atividades privativas que competem


ao profissional de educação física
Em perspectiva global, as mudanças nos mercados de trabalho normalmente
são afetadas por diversas forças que estão interconectadas. Os rápidos avan-
ços tecnológicos que são introduzidos em escala mundial fazem com que
se aumente o comércio e os investimentos, intensificando, dessa forma, a
concorrência nos mais diversos mercados de trabalho.
Essas forças podem desencadear transformações importantes em diversos
sistemas. Nesse cenário, é importante que os profissionais do futuro possam
estar atentos e se moldarem conforme as exigências do novo mercado.
Nessa linha, alguns aspectos poderão ser fortes influentes, como a glo-
balização e a expectativa de vida mais elevada, que poderão criar uma gama
enorme de oportunidades nas mais diversas profissões e, em alguns casos,
profissões que ainda nem existem atualmente.
Para que seja possível atender aos aspectos de uma profissão que deseja ser
respeitada e busca seu espaço com qualidade profissional, a educação física
também possui leis que a regem e a fazem cumprir a necessidade básica de
atendimento de regras para o bem da sociedade.
Os conselhos federais e regionais de educação física são os responsáveis
por regular e controlar a atividade dos profissionais dessa área no âmbito
nacional e regional de cada parte do país.

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Essas entidades de classe, por meio de resoluções, regulamentos e códigos,


são responsáveis por normatizar as atividades específicas e a intervenção
do profissional de educação física. A Lei 9696/98 regulamenta a profissão
de educação física e, ao criar tais conselhos regionais de educação física,
estabelece um novo patamar para a área.
Tal lei traz segurança e uniformidade para a profissão, bem como a segu-
rança de um serviço de qualidade à sociedade que irá contratar esses profis-
sionais que estarão no mercado.

Para ler a Lei nº 9696/98 na íntegra, acesse o link ou o


código a seguir.

https://goo.gl/ZZO4gT

Pensando em regular a profissão, o Conselho Federal de Educação Física,


no uso de suas atribuições, regulamenta em seu estatuto, no Capítulo 2º, o
campo de atuação do profissional de educação física, que dispõe como res-
ponsabilidades privativas o que descreve o Quadro 1.

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Atividades privativas do curso 87

Quadro 1. Responsabilidades privativas do profissional de educação física.

Artigo Conteúdo

Estatuto do É atribuição privativa, e exclusivamente do profissional de


CONFEF - Art. 8º educação física, coordenar, planejar, programar, prescrever,
supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, orientar, ensinar,
conduzir, treinar, administrar, implantar, implementar,
ministrar, analisar, avaliar e executar trabalhos, programas,
planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria,
consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados,
participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e
elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos
nas áreas de atividades físicas, desportivas ou similares.

Estatuto do O profissional de educação física é especialista em


CONFEF - Art. 9º atividades físicas, nas suas diversas manifestações –
ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas,
capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas,
expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação,
reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga,
exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano
e outras práticas corporais –, sendo da sua competência
prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da
educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/
ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho
e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários,
visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida,
da consciência, da expressão e da estética do movimento,
da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas
posturais, da compensação de distúrbios funcionais,
contribuindo ainda para a consecução da autonomia,
da autoestima, da cooperação, da solidariedade, da
integração, da cidadania, das relações sociais e também
para a preservação do meio ambiente, observados os
preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade
técnica e ética no atendimento individual e coletivo.

Estatuto do O profissional de educação física intervém segundo


CONFEF - propósitos de prevenção, promoção, proteção,
Art. 10º manutenção e reabilitação da saúde, da formação
cultural e da reeducação motora, do rendimento físico-
esportivo, do lazer e da gestão de empreendimentos
relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas.

Fonte: adaptado de Brasil (2010).

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88 Atividades privativas do curso

Com base nessa lei, pode-se afirmar que o profissional de educação física
deve conhecer profundamente seu campo de atuação, pois assim ele poderá
aplicar seu conhecimento com a maior qualidade possível aos seus futuros
alunos. Da mesma forma, poderá, também, ajudar a fiscalizar práticas de
pessoas desqualificadas que por ventura estejam atuando nesse campo de
maneira irregular, pois, como em toda profissão, sempre haverá os bons
profissionais e os não tão bons assim.

Um profissional de educação física, como qualquer outro profissional, deverá prestar


um serviço de qualidade ao seu aluno/cliente, pois, caso contrário, ele poderá ser
penalizado por força de Lei, caso seu aluno/cliente tenha se sentido prejudicado.

1. No que se refere ao início da b) aprender a fazer.


história da profissão de educação c) aprender a viver junto.
física, é correto afirmar que a d) aprender a ser.
figura de técnico/professor e) aprender a viver com o outro.
surgiu com maior força na: 3. A partir da organização dos saberes,
a) sociedade pré-colombiana. proposta por Tardif, o conceito
b) época das conquistas de corresponder à diversificação
de Alexandre III. dos campos de conhecimento
c) antiga China. existentes nas Universidades deverá
d) Renascença. ser integrado e ao mesmo tempo
e) Grécia. dividido em forma de disciplinas
2. Entre os conceitos estruturados para a melhor assimilação do
por Delors, temos o que fala de aluno. Ou seja, a tradição cultural
uma aprendizagem que visa específica de cada curso se
não só à aquisição de saberes refere a qual componente:
codificados, mas ao domínio a) disciplinar.
dos próprios instrumentos do b) profissional.
conhecimento, sendo assim, c) curricular.
um meio e uma finalidade da d) experiencial.
vida humana é referente a: e) pedagógico.
a) aprender a conhecer. 4. Em conformidade com a resolução

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Atividades privativas do curso 89

CNE nº 07, de 31 de março de equipes multidisciplinares e


2004, é coreto afirmar que caberá interdisciplinares e elaborar
à Instituição de Ensino Superior, informes técnicos, científicos
na organização curricular do e pedagógicos, todos nas
curso de graduação em Educação áreas de atividades físicas,
Física, articular as unidades de desportivas ou similares.
conhecimento de formação b) planejar, organizar, coordenar,
específica. Das dimensões a seguir, executar e avaliar serviços
qual faz parte de tal formação? de enfermagem.
a) Relação ser humano-sociedade. c) indicar e executar intervenção
b) Técnico-instrumental. cirúrgica e prescrição de
c) Biológica do corpo humano. cuidados médicos pré
d) Produção do conhecimento e pós-operatórios.
científico e tecnológico. d) planejar, organizar, supervisionar
e) Formação ampliada. e avaliar serviços de
5. Nas atividades privativas do alimentação e nutrição.
curso, é correto afirmar que são e) praticar todos os atos pertinentes
atribuições exclusivas de um à odontologia que são
profissional de educação física: decorrentes de conhecimentos
a) realizar treinamentos adquiridos em curso regular ou
especializados, participar de em cursos de pós-graduação.

BRASIL. Conselho Nacional de Educaçao. Parecer CNE/CES nº 7, 31 de março de 2004.


Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação
Física, em nível superior de graduação plena. Brasília, DF, 2004. Acesso em: <http://
portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces0704edfisica.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017.
BRASIL. Conselho Federal de Educação Física. Estatuto do Conselho Federal de Edu-
cação Física. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 237, seção 1, p. 137-143, 13 dez. 2010.
Disponível em: <http://www.confef.org.br/confef/conteudo/47>. Acesso em: 15 set. 2017.
BRASIL. Lei nº 9.696, de 1 de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da
Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos
Regionais de Educação Física. Brasília, DF, 1998. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L9696.htm>. Acesso em: 15 out. 2017.
DELORS, J. et al. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da
Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 9. ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2004.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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90 Atividades privativas do curso

Leituras recomendadas
ANTONELLI, P. E. A educação física dos novos tempos. Revista CONFEF, Rio de Janeiro,
n. 4, p. 13, 2002
FIGUEIREDO, Z. C. C. Formação profissional em educação física e o mundo do trabalho.
Vitória: Gráfica da Faculdade Salesiana, 2005.
GRIFI, G. História da educação física e do esporte. Porto Alegre: D. C. Luzzato, 1989.
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