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Patrícia Lessa 1
Resumo Abstrat
As Teorias Feministas discutem a The feminist theories discuss the
desnaturalização dos corpos, a denaturalization of the bodies, the
performatividade dos gêneros, a performativity of the species, the
sexualização das identidades e a sexualization of the identities, and the
biologização do feminino, em diversas biologization of feminine characteristic,
áreas do conhecimento. A Educação in several areas of knowledge. Physical
Física vêm produzindo conhecimentos Education has been producing
sobre a participação feminina nos knowledge on both the female
esportes e a corporeidade feminina. Meu participation in sports and feminine
texto procura relacionar os estudos corporality. My text has the purpose of
sobre mulheres e esportes na produção relating the studies on women and
teórica da Educação Física ao atual sports in what concerns the Physical
debate feminista sobre corporeidade, Education theoretical production to the
sexualidade e identidade, buscando os current feminist debate on corporality,
pressupostos teóricos e conceituais que sexuality and identity, searching the
fundamentam este debate. Utilizo como theoretical and conceptual purposes
1
Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá.
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História, na área de Estudos Feministas da
Universidade de Brasília, sob orientação da profª Drª Tânia Navarro-Swain.
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fonte de análise textos publicados pela that give support to this debate. Texts
Revistas Brasileira de Ciências do Esporte published by the Revista Brasileira de
e Revista Motrivivência. Ambas foram Ciências e Esportes magazine and
escolhidas por sua abrangência e Motrivivência magazine are used as an
servirão como referencia para outras analysis source. These magazines were
publicações. chosen due to the fact of being
Palavras-chave: Corporeidade feminina, including, and they will be a reference
Esportes, Teorias Feministas. for other publications.
Keywords: Feminine corporality, Sports,
Feminist theories.
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Ver: ROSEMBERG, F. A educação física, os esportes e as mulheres: balanço da bibliografia brasileira.
ROMERO, E. (Org.) Corpo, mulher e sociedade. São Paulo: Papirus, 1995.
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paro físico e moral de um corpo belo deveriam ser tomados com as sol-
e saudável sem pretensões compe- teiras, pois sua ameaça à “represen-
titivas. Os livros “Educação Physica tação dominante de feminilidade”,
Feminina”, de Orlando Rangel So- é também, de ordem social já que
brinho de 1930 e “Cultura Physica concorre com os homens no merca-
Feminina”, da professora Lotte do de trabalho. Para a autora essa
Kretzchmar de 1932, ambos publi- ameaça é combatida com represen-
cados no Rio de Janeiro são analisa- tações de estereótipos da lésbica, da
dos por Goellner como parte da mulher feia e da feminista histérica.
construção de uma imagem de fe- Seu texto faz referencia ao
minilidade, que segundo a autora feminismo lembrando que ele foi
fazem parte da vigilância sobre o responsável, em parte, por atitudes
corpo e o comportamento das mu- que podem desestabilizar a ordem
lheres. Diz a autora: culturalmente construída, como a
reivindicação pelo voto feminino, a
No contexto da valorização da fa-
inserção no mercado de trabalho e
mília, da higienização dos corpos outras das conquistas, parcialmen-
e do fortalecimento da raça, ser te, reconhecidas no social.
feminina é ser, também, saudável e A autora mostra que os ar-
bela para cumprir os desígnios de gumentos científicos advindos da
seu sexo: casamento e procriação. biologia, servem para orientar os
Razão pela qual a mulher solteira, comportamentos femininos em prol
ainda que não considerada tão de uma imagem de feminilidade. É
anormal quanto a histérica e a pros- interessante notar a preocupação
tituta, por exemplo, merece aten- com a moderação, cita o exemplo da
ção e cuidado visto que, ao não dança, de caráter construído como
cumprir sua função social, pode feminino, ela é indicada com ressal-
também, vivenciar de forma equi- vas porque apesar de proporcionar
vocada a sua sexualidade, porque graça e leveza de movimentos,
celibatária ou excessiva pode, por outro lado, despertar pai-
(GOELLNER, 2001, p.45). xões secretas, despertar a lascívia
(GOELLNER, 2001). Diz Goellner
No jogo dos opostos a (2001, p.49): “nem viragos, nem lin-
imagem da mulher maternal é das flores débeis diz a educação fí-
referencia na construção da imagem sica. Nem excesso de competição
da mulher doentia, nessa imagem nem inatividade física, mas beleza,
estão representadas as histéricas, as saúde, graça, harmonia de movi-
masoquistas, as prostitutas, as frí- mentos, leveza, vigor físico, energia
gidas, as lésbicas. Muitos cuidados e delicadeza”.
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Diz Simões (2003, p. 27): “os estudos de Matsudo definem o sentido dado às chances de se
encontrar outras mulheres com o potencial atlético e a capacidade de explosão da jogadora de
basquetebol Hortência: que é de ‘0,00000001%’ – o mesmo ocorrendo com suas características
biofísicas entre a população brasileira ‘0,0000000000072%’ (Veja, p. 52)”.
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tistas, cantoras e atrizes famosas que tas, que foi escrita às custas de mui-
recorrem ao trabalho com pesos para ta resistência e luta, encontramos
manter um corpo delineado, com for- um número cada vez maior de mu-
ça muscular e definição das formas. lheres que buscam uma modalida-
Mesmo ao longo da História encon- de desportiva, sejam lutas marciais,
tramos ilustres exemplos de mulhe- boxe, musculação ou mesmo jogos
res que praticavam exercícios de for- de quadra, como investimento pro-
ça para exibição publica, como é o fissional, para suprir seus desejos de
caso de Minerva, uma americana que beleza, como momento de lazer ou
entrou para o Guinness Book, em 1895, mesmo por prescrições médicas ou
ao levantar do solo uma plataforma fisioterápicas.
de madeira onde estavam 23 homens Em um artigo sobre a
pesando o total de 1.650 quilos. E o corporalidade feminina, Aldeman
exemplo de Sandwina, que recebeu (1999), aborda a discussão das mu-
o título de Iron Queen (rainha do peso) lheres nos esportes, mais especifi-
pelo jornal alemão Woven Man camente, no vôlei e no hipismo, uti-
Spricht. Ela nasceu em Viena, em lizando Bordo e Butler como refe-
1884, adquiriu popularidade nos pri- rência nas discussões de gênero e
meiros anos do século XX, quando corpo. O texto é fruto de um traba-
em um pequeno clube em Nova lho de pesquisa, cuja hipótese diz
Iorque venceu Eugene Sandow, em que a participação das mulheres nos
um desafio de levantamento de peso, esportes pode apresentar-se como
no qual ela ergueu 300 libras acima resistência ao modelo de feminilida-
da cabeça, superando seu adversário, de, que “pode ser entendida como
que com o mesmo peso chegou so- uma ‘estética da limitação’”
mente a altura do peito, seu nome (ALDEMAN, 1999, p. 5). Assim como
artístico foi dado em função desse pode ser resistência, a pesquisa de-
feito, pois, Sandow já era popular na monstra que algumas atletas repro-
Europa e nos Estados Unidos duzem o discurso do estereótipo
(GOELLNER, 2004). feminino, como nas seguintes falas
Durante alguns anos os das jogadoras de vôlei,
esportes de força foram condenados
para as mulheres que eram vistas Várias das quais se empenharam em
como frágeis e vulneráveis em fun- defender a ‘feminilidade’ da sua
ção de sua capacidade reprodutora. atividade esportiva, comparando-
Hoje com os avanços da ciência, das a com outros esportes praticados
ciências do esporte e, principalmen- em equipe, como o basquete, o
te, pela história das mulheres atle- handebol e o futebol: ‘Nunca gostei
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