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Material Teórico
História Cultural do Futebol
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
História Cultural do Futebol
• Introdução;
• O Futebol Nascente e as Transformações
Culturais e Sociais;
• O Futebol Chega ao Brasil;
• O Futebol Chega ao Profissionalismo.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer o caldo cultural que originou o futebol, as práticas corporais e sua introdução
nas escolas. O futebol como prática esportiva amadora.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE História Cultural do Futebol
Introdução
Nesta Unidade, veremos como uma prática corporal, ou diferentes tipos de prá-
ticas corporais, vão se incorporando, se condensando e se transformando em ou-
tras. As diferentes pessoas, os diferentes grupos, com diferentes interesses, vão
produzindo uma coisa nova a partir do emaranhado cultural a que estão ligados.
Veremos ainda como uma prática corporal, que ganha importância cultural e
social, vai se moldando aos diversos cenários sociais em que é exposta e, ao mesmo
tempo, influenciando essa paisagem e promovendo alterações na vida social.
O Futebol Nascente e as
Transformações Culturais e Sociais
O futebol não foi uma simples invenção, não saiu da cabeça de uma pessoa. Essa
importante manifestação contemporânea da cultura humana, praticada hoje em qua-
se todos os rincões do planeta, é resultado de variadas práticas corporais que marca-
ram a cultura dos povos britânicos, e dos povos que constituíram os povos britânicos.
Fonte: https://bit.ly/2Id35dZ
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Entre várias tentativas de nomear os povos da América estão nativo americano,
indígena e índio. Porém, até hoje ainda não se sabe como estes povos chegaram ao
continente. As teorias são diversas, mas, a de maior aceitação indica que eles chega-
ram pelo Estreito de Bering, localizado ao Norte da Ásia. Esta faixa de terra faz uma
divisão entre os E.U.A. e a Rússia. Na época da movimentação dos povos até a Amé-
rica, o mar estava em um nível mais baixo graças à glaciação. Desta forma, uma
passagem de gelo natural foi formada entre a América e a Ásia, pela qual esta popu-
lação chegou à América. [...] Outra hipótese indica que os povos ameríndios tenham
chegado atravessando o oceano Pacífico. Assim, teriam vindo de partes da Ásia e
da Oceania. De acordo com alguns historiadores, os primeiros povos da América
teriam feito a migração há aproximadamente 70 mil anos e, devido à grande quanti-
dade de pessoas, não poderiam ter utilizado apenas um caminho.
A questão da origem desse elemento da cultura corporal não pode ser deter-
minada como se tivesse vindo diretamente das práticas corporais bretãs. Há con-
trovérsias quanto a isso. Os italianos, por exemplo, chamam essa manifestação da
cultura corporal de Calcio, como podemos observar pela imagem a seguir, da Copa
do Mundo de 1934.
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
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UNIDADE História Cultural do Futebol
Para os italianos, as práticas corporais que deram início ao que hoje chamamos
de futebol, teve origem a partir de uma manifestação da cultura corporal presente
entre a população do Império Romano chamada de Calcio. Essa prática teria sido
levada por todo o Império, por seus soldados e colonos em suas ocupações, os quais
ocuparam os mais distantes locais do território europeu, inclusive a Grã-Bretanha.
Existem raízes históricas que explicam isso: o futebol, o rúgbi e o futebol americano
evoluíram de um mesmo jogo de bola – de regras variáveis ao longo do tempo e de
lugar para lugar – que teve seu primeiro registro com o nome de football na Escócia
do século 15, segundo o dicionário etimológico de Douglas Harper. [...] Harper acres-
centa que, por volta de 1630, aquele football primitivo tinha virado febre na Inglaterra.
A primeira sistematização de regras foi feita na universidade de Cambridge em 1848,
mas sua validade expirou em menos de duas décadas. Logo ocorria uma cisão funda-
mental para o panorama esportivo como o conhecemos. Aquilo que logo ficaria conhe-
cido como rugger (gíria formada a partir de Rugby, nome de uma cidade inglesa que se
distinguia nessa modalidade) foi para um lado, com sua bola oval e sua permissão do
uso das mãos, enquanto soccer (palavra composta com uma das sílabas de association,
“associação”) passava a nomear informalmente o jogo da turma que aderiu à Football
Association, a liga dos pés.
Fonte: https://bit.ly/2VnHVNK
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
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O primeiro jogo de futebol disputado entre universidades se deu entre as de
Princeton e Rutgers:
Realizado em um grande campo com 25 jogadores de cada lado, os
pontos eram marcados quando os jogadores colocavam a bola dentro
de uma baliza. Correr com a bola na mão, como no rúgbi, era proibido.
Havia muitos rapazes praticando futebol na década de 1860, portanto,
precisava-se estabelecer uma regulamentação. (MURRAY, 1999, p. 19)
Como se pode ver, em cada canto havia uma forma de se jogar. Essas formas podiam
variar conforme o tamanho do campo, o número de jogadores, entre outras coisas.
Foi em 1863, em Londres, que surgiu o primeiro código que procurava regula-
mentar essa prática esportiva, tentando, assim, criar a possibilidade de unificar as
regras para que os times pudessem participar de torneios. Essa prática esportiva veio
a ser chamado de Association Football. É da expressão Association Football que o
termo Soccer, como é chamado nos Estados Unidos, é derivado (MURRAY, 1999).
Apenas em 1871, oito anos mais tarde, o rúgbi, que se originou das mesmas
manifestações da cultura corporal que o futebol, e que guardou certas características
daquelas práticas, como o correr com a bola nas mãos, tem suas regras estabelecidas.
Antes que Walter C. Camp definisse as regras finais para um único fute-
bol americano, esse esporte evoluiu das regras do soccer às do rúgbi. Em
1866, no estado de Vitória, na Austrália, uma outra forma de futebol foi
regulamentada e logo criou raízes. Por isso, a confusão sobre a “primei-
ra” forma de futebol é compreensível. (MURRAY, 1999, p. 20)
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Os jogos disputados antes nas zonas rurais, em campos abertos, vão sendo
adaptados para as características da nova zona urbana, com suas ruelas e pequenos
terrenos. O tempo de não-trabalho da população trabalhadora, antes fixado pelo
sol, pelas estações do ano e pelas obrigações feudais, é agora entendido como
tempo de lazer, mais limitado e agora determinado pela luz artificial e pelas neces-
sidades de seus patrões (MURRAY, 1999).
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O futebol, no período de sua regulamentação, ainda estava dividido entre a
Association Football e o rúgbi. Assim, como nos Estados Unidos, as regras foram
determinadas por estudantes de universidades e faculdades que desejavam jogar
entre si e precisavam dessa padronização (MURRAY, 1999).
As maiores dificuldades para a definição final das regras dessa prática corporal
se referiam ao uso da mão e ao jogo violento. Alguns representantes desejavam
manter a violência, alegando que, ao aboli-la do futebol, ameaçavam a essência
dessa prática: a virilidade. Diziam que a sua supressão transformaria o esporte
em uma prática para afeminados, deixando, assim, o esporte mais apropriado aos
franceses (MURRAY, 1999).
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Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
Em 1871, o jogo violento foi banido do rúgbi, mas carregar a bola com a mão
tornou-se sua característica principal. Nessa mesma época, foram proibidas as pou-
cas situações em que o toque de mão ainda era permitido pelas primeiras regras da
Association Football de Londres.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o futebol americano desenvolvi-
do por Walter Camp triunfava sobre todas as outras formas de futebol.
Na Inglaterra, a regulamentação do rúgbi enfrentava a crise similar à do
futebol, envolvendo questões ligadas à adoção do profissionalismo e ao
controle do esporte pelos amadores do sul do país, o que levou à cisão
de 1895 e à fundação da Liga do Rúgbi, que começou a desenvolver um
jogo significativamente diferente. (MURRAY, 1999, p. 23)
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Além da Association Football, havia outra organização localizada em Sheffield,
que também desenvolveu normas para sua prática. Os times das diferentes associa-
ções jogavam entre si e um acordo geral entre os clubes, acertando definitivamente
uma norma para todos os clubes de futebol, deu-se em 1877.
Parte do fascínio das pessoas pelo futebol se deve à própria natureza do jogo.
Por ser difícil se marcar um gol, times mais fracos, mas com determinação e orga-
nização tática, podem dificultar a vida de adversários mais fortes.
A influência escocesa no desenvolvimento do futebol é de suma impor-
tância, não só na Inglaterra, onde os escoceses entravam livremente sem
abandonar seu sentimento anti-inglês, mas em todas as possessões co-
loniais britânicas e nos outros países em que os interesses comerciais e
industriais britânicos estavam estabelecidos. Os ‘professores escoceses’
mudaram a natureza do futebol, substituindo o jogo de dribles pelo de
passes. Antes, a estratégia de jogo era o time ficar atrás do jogador que
detinha a posse da bola e avançar em massa, tentando levar a bola ao
gol. Os escoceses perceberam que a bola pode se deslocar mais rápida e
eficientemente que um homem; desse modo, deslocaram mais jogadores
para a defesa, espalharam os atacantes (incluindo dois pontas) e ensi-
naram a importância da troca de passes precisos, desdenhando a tática
baseada no chutão e na corrida para alcançar a bola. ‘Dar chutão e cor-
rer’ é um insulto que o futebol europeu mais habilidoso frequentemente
dirige à estratégia britânica. Assim, o estilo escocês, passe curto, troca
de posições frequentes e bola rolando na grama, acabou influenciando os
outros times europeus. (MURRAY, 1999, p. 27)
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UNIDADE História Cultural do Futebol
Ao final da década de 1870, um jogo entre dois clubes locais, realizado durante
a semana, podia paralisar uma fábrica (MURRAY, 1999). Esse problema não era
exclusivo da Inglaterra ou da Grã-Bretanha, ocorria também em outros lugares do
mundo em que as empresas inglesas se instalavam e para onde levavam certo con-
tingente de técnicos e trabalhadores, que levavam junto o material para a prática
do futebol. No fim da década de 1920, alguns empregadores na América do Sul já
percebiam a dificuldade para fazer com que seus operários trabalhassem em dias
de jogos importantes, só restava o consolo de que a produção melhorava quando
o time local ia bem.
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também caindo nas graças da população trabalhadora, que passava a utilizar de
terrenos vazios para a construção dos seus campos de futebol.
A difusão dos mais variados esportes pelo mundo tem relação com o empreen-
dedorismo do Império Britânico. Os jovens britânicos, ao saírem mundo afora a
trabalho, levam junto as novas práticas culturais, os novos esportes. E há também
os filhos de britânicos já estabelecidos em outros países, como no Brasil, que vão
estudar na Inglaterra e, ao regressarem ao seu país de origem, trazem junto os
elementos da cultura bretã.
Charles Miller, em São Paulo, Oscar Cox, no Rio de Janeiro, José Zuza Ferreira,
na Bahia, Vitor Serpa, em Minas Gerais, e Guilherme de Aquino Fonseca, em
Pernambuco, após concluírem seus estudos na Inglaterra, difundiram o futebol nos
seus estados, organizando as competições e fundando ligas.
Neste sentido, os nomes trazidos têm a ideia de apresentar o seguinte
contexto: há uma percepção que jovens da elite europeia, principalmente
inglesa, de pais radicados no Brasil, entraram em contato com o futebol
sistematizado e burocratizado, trazendo esta nova prática à luz dos docu-
mentos oficiais. O que não impede de perceber que marinheiros ingleses,
entre outros, poderiam já praticar o futebol de forma não sistematizada,
porém distante dos holofotes de jornalistas e de pessoas que escreveram
o cotidiano do fim do século XIX e começo do XX. (ALMEIDA;
FERREIRA, 2013, p. 14).
Os clubes esportivos tiveram uma relação muito íntima com os fatores acima
mencionados, mas outro fator de grande importância foi o fato da cidade de São
Paulo ser cortada por rios que serviam para a prática de lazer, de esportes aquá-
ticos, para banhos e brincadeiras, espe-
cialmente os rios Tietê e Pinheiros, onde
hoje são acompanhados pelas avenidas
Balneabilidade é a capacidade
marginais. O rio Tamanduateí também foi que um local tem de possibilitar o
significativo neste processo, mas menos banho e as atividades esportivas
por sua balneabilidade, e mais pela exten- em suas águas, ou seja, é a qualida-
de das águas destinadas à recrea-
são de sua várzea, especialmente na zona ção de contato primário. A balnea-
do Carmo, região onde se encontra hoje bilidade é determinada a partir da
o Parque Dom Pedro, onde proliferaram quantidade de bactérias do grupo
coliforme presentes na água.
os campos de futebol, que passaram a ser
chamados de Futebol de Várzea. Fonte: https://bit.ly/2Ueaxg2
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Fonte: https://bit.ly/2HYHYwu
Por essa forte influência cultural inglesa, trazida por estudantes brasileiros ou
trabalhadores ingleses das indústrias inglesas, oriundos das camadas sociais médias
ou altas, conforme o caso, o início da prática do futebol não contava com a partici-
pação das camadas mais pobres da população. Entretanto, o processo social vivido
na época, como o fim do regime escravocrata, em 1888, o advento da República
um ano depois e o rápido desenvolvimento econômico e urbano criaram um clima
psicossocial favorável a certo arejamento da própria sociedade, e o futebol conquis-
taria até a década de 1910 a simpatia das camadas trabalhadoras, que passaram a
jogar e a prestigiar o novo esporte (ARAÚJO Apud ALMEIDA; FERREIRA, 2013).
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ligada ao café e às estradas de ferro. Teve também forte carreira politica,
chegando a ser prefeito de São Paulo. O terreno onde foi construído o
Velódromo era da mãe de Prado, Veridiana de Almeida Prado, ou sim-
plesmente “Dona Veridiana”. Ficava onde hoje e a Praça Roosevelt, e
nas redondezas jogava-se pelota basca. Na época, o ciclismo era moda
em São Paulo, e a ideia era ter um lugar fechado onde a elite paulistana
pudesse exercitar-se - ao local afluíam os amigos da família Prado; mais
tarde, surgiria ali o Clube Athlético Paulistano. Em 1901, foi adaptado
para receber jogos de futebol. (GUTERMAN, 2010, p. 17-18)
Os primeiros clubes a jogar futebol na cidade de São Paulo foram aqueles que
representavam os setores economicamente privilegiados da sociedade paulistana,
como: o São Paulo Athletic Club (SPAC), que tinha como sócios os diretores da
São Paulo Railway, além de outros membros da colônia inglesa; a Associação Atlé-
tica Mackenzie College de São Paulo, que passou a se dedicar à prática do futebol;
o S.C. Savoia de Sorocaba; a Associação Atlética Ponte Preta de Campinas; e o
Clube Atlético Paulistano de São Paulo (ALMEIDA; FERREIRA, 2013).
O rio Tietê possibilitou tudo isso, além do extrativismo de pedras e areia para o
desenvolvimento da cidade. Ponte Grande era o nome da velha ponte de madeira,
demolida em 1940, durante a gestão do prefeito Francisco Prestes Maia, que ligava o
bairro de Santana ao centro da cidade, onde hoje é a ponte das Bandeira (NICOLINI
Apud ALMEIDA; FERREIRA, 2013). Essa região, entre o centro da cidade, mais es-
pecificamente do Bom Retiro, até a zona Norte, onde passa o rio Tietê, era formada
por chácaras, como a Chácara Floresta e a Chácara Couto de Magalhães.
A Chácara Floresta era uma propriedade rural composta por figueiras e
coqueiros, onde frequentemente eram realizados passeios e piqueniques,
considerada um local de lazer onde se encontravam quiosques e o restau-
rante de Baptista Peyroncelli. Por ser extremamente arborizada, foi um
dos locais mais cobiçados para a instalação dos clubes esportivos de São
Paulo. No final do século XIX, a Chácara Floresta deu o primeiro passo
rumo ao futuro título de celeiro de clubes, abrigando o Clube Esperia
Società Italiana. (ALMEIDA; FERREIRA, 2013, p. 21)
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O Sport Club Corinthians Paulista, um dos clubes mais populares do país, teve
uma origem também popular, furando o bloqueio social que limitava o futebol
apenas aos grupos sociais mais afortunados. Foi fundado em primeiro de setembro
de 1910, por uma iniciativa de um grupo de trabalhadores e operários do bairro
do Bom Retiro, formado por pintores de paredes, um motorista, um trabalhador
braçal, um sapateiro e mais oito jovens, tendo como seu primeiro presidente um
alfaiate chamado Miguel Bataglia (ALMEIDA; FERREIRA, 2013).
Mesmo tendo como parte do mito corinthiano a ideia de clube operário,
ele só se consolidou por ter se aliado com nomes fortes da sociedade
paulista, que durante um processo histórico muito particular em que
era importante para o mercado de votos ter um clube que representasse
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a região operária de Bom Retiro, Brás, Barra Funda, local de forte
influência da imigração. Alcântara Machado tinha uma relação especial
com estes bairros, seu livro mais conhecido era Brás, Bexiga e Barra
Funda (1928) onde discute a cultura destes territórios. (ALMEIDA;
FERREIRA, 2013, 31)
O Corinthians tinha por vocação ser um time formado por trabalhadores. Os es-
tatutos do clube previam que ele seria aberto a todos, não se observando nacio-
nalidade, religião ou política – o que não era comum. Do ponto de vista político,
social e cultural, foi um grande avanço, considerando-se o período em que ocorreu.
Esse momento da história de São Paulo coincide com a organização política dos
trabalhadores, que, nessa década, mais precisamente no ano de 1917, organizam
uma das mais significativas greves ocorridas na cidade (GUTERMAN, 2010, p 49).
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A presença do negro no futebol profissional brasileiro foi bastante conturbada.
Clubes como a Sociedade Esportiva Palmeiras só aceitaram negros no final dos
anos de 1960. O Clube de Regatas Vasco da Gama foi dos primeiros clubes a acei-
tar negros em suas equipes.
Ironicamente, foi o traço negro brasileiro, aquele de sua mãe menospreza-
da pela historiografia, que distinguiu Fried. Deu-se então que Fried era um
“mulato de olhos verdes”, na descrição de Mario Filho. O mulato jogava
bola como nenhum outro de sua época, enquanto os olhos verdes e o
sobrenome alemão eram o passaporte para o mundo dos brancos. Como
muitos meninos na sua época, Fried conheceu um futebol ainda em estado
bruto. A bola era de bexiga de boi, substituta comum para as caríssimas
bolas europeias, que não eram afinal muito melhores. Embora tenha tido
chances raras para um mulato, graças ao dinheiro e a alvura germânica do
pai, foi um estudante medíocre. (GUTERMAN, 2010, p. 43)
Fried foi um dos dois mestiços a jogar pela seleção brasileira no campeonato
Sul-americano de 1919. Ele foi o autor do gol no primeiro título internacional da
seleção brasileira. Como disse o jornalista Mário Filho, “Nem branco nem mulato,
sem cor, acima dessas coisas” (RODRIGUES, 2003).
A partir desse gol de Fried, o Brasil notou que seus negros e seus pobres
(o que quase dava no mesmo) podiam ter algum valor. O país, inebriado
pela conquista inédita, enamorado de seu craque exótico e já com sin-
tomas evidentes de estar tomado pela febre do futebol, concedeu que
esse esporte havia transbordado as muralhas dos clubes de ricos brancos,
ainda que estes não suportassem essa ideia, resistindo a ela o quanto po-
diam. Equipes já estavam se formando em todos os cantos, o que foi con-
siderado uma heresia pelos clubes pioneiros, conforme registra o Estado
de S. Paulo em 1912: São Paulo transformou-se num vasto campo de
futebol. Há sociedades por todos os cantos. Os clubes da Liga acolheram
em seu seio rapazes da várzea. Fizeram bem? Achamos muito justo que
os operários, os humildes, participem das refregas, mas os operários e
humildes que compreendem seus deveres de sportsmen. (GUTERMAN,
2010, p. 46)
Como se pode observar em nosso percurso até aqui, o futebol, como qualquer
outra manifestação da cultura brasileira, está imbricado em todo o jogo político,
econômico, social e cultural que marca todas as sociedades. Ao mesmo tempo em
que o futebol é influenciado por todas as relações de poder presentes na sociedade,
ele também traz novos elementos e torna a sociedade ainda mais complexa.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
A origem do futebol
Matéria do programa Esporte Espetacular.
https://bit.ly/2K4mlNa
Filmes
1958: rumo à vitória
Documentário.
Futebol: origens brasileiras
Documentário.
Leitura
Histório do esporte no cenário internacional: uma visão geral
https://bit.ly/2VkUWaU
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Referências
ALMEIDA, Marco A. Bettine; FERREIRA, Renata. Os clubes de futebol e o pro-
cesso de urbanização, Recorde: Revista de História do Esporte, v. 6, n. 1, p. 1-38,
jan./jun. 2013.
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