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REDE PARA LEITURA E AVALIAÇÃO. NÃO CIRCULAR.

Etiqueta de refrigeradores revisada. O Inmetro finalizou a revisão da etiquetagem de


refrigeradores com a recente publicação da nova Portaria. As principais mudanças podem
ser vistas aqui (https://kigali.org.br/refrigeradores/). Essa revisão veio fechar o seu longo e
preocupante hiato de 15 anos sem atualização, com consequências sobre o consumidor e o
país.

Atuação da Rede Kigali. Nossa atuação é consistente com nossos propósitos independente
do aparelho ou do equipamento cujas políticas estejam sendo revisadas. Evidentemente que
cada aparelho possui suas particularidades tecnológicas e de atores que imprimem uma
dinâmica própria, embora isso de forma alguma altere a consistência dos propósitos de nossa
atuação.

Com a revisão da etiquetagem de refrigeradores não foi diferente. Cumprimos com nosso
papel de contribuir com informações técnicas e análises críticas levadas de forma
transparente e fundamentada à sociedade, aos consumidores e aos tomadores de decisão.
A Rede Kigali foi o único ator do processo de revisão que elaborou e tornou público um estudo
de impacto com diversos cenários para subsidiar o debate público.

PBE fundamental. A Rede Kigali considera o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE),


coordenado pelo Inmetro, como uma peça de fundamental importância para que
consumidores possam fazer escolhas informadas, ter disponível eletrodomésticos e
equipamentos mais econômicos no consumo de energia e incentivar a inovação tecnológica
do parque fabril de equipamentos e de componentes instalados no país (Qual o objetivo do
Programa Brasileiro de Etiquetagem - PBE?).

Importância de um PBE funcional. Porém, hiatos na revisão como esse são mortais para a
função do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), como foi o caso para refrigeradores e
ares-condicionados: o consumidor não consegue mais diferenciar os produtos mais e menos
eficientes, pois a grande maioria disponibilizada no mercado é “A”, e aprofundou-se a
defasagem de eficiência dos equipamentos disponibilizados no mercado brasileiro em relação
aos existentes em outros países.

Avanços importantes da nova portaria… A nova Portaria do Inmetro para refrigeradores


trouxe três avanços importantes: (1) A atualização da norma de desempenho desses
equipamentos, o que permitirá melhor determinar o consumo de eletricidade e sua eficiência
energética e trazer mais segurança ao dificultar jeitos de burlar os resultados durante os
testes de desempenho; (2) Traz uma lógica de previsibilidade para todos agentes; (3) e
baseia-se em uma meta de eficiência energética para a categoria “A” mais alinhada às
recomendações para países em desenvolvimento (United for Efficiency da ONU).

… Mas nasce defasada. No entanto, o período de transição para passar a vigorar tal meta
no Brasil é de 10 anos. Isso significa que os equipamentos vendidos aos consumidores
brasileiros como mais eficientes (“A”) já estarão com um padrão defasado em relação ao resto
do mundo em 2031. Para ter uma ideia, essa meta para daqui a 10 anos para o “A” é
atualmente a categoria “C” da etiqueta europeia.
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Compromisso com o diagnóstico. De forma geral, a maioria dos refrigeradores vendidos


como eficientes no Brasil (“A”) possuem tecnologia de compressores, os principais
responsáveis pelo seu consumo de eletricidade, de 20 a 25 anos atrás. A falta de revisão da
sua etiquetagem e as decisões empresariais tomadas pelos fabricantes de refrigeradores no
país, ambas inter-relacionadas, colaboraram decisivamente para o aumento da defasagem
tecnológica em relação ao resto do mundo e para o aumento milionário dos benefícios fiscais
ao longo dos anos que deveriam ser direcionados apenas para a fatia dos refrigeradores mais
eficientes e não irrestritamente como vem acontecendo.

O tamanho dessa defasagem tecnológica significa que os refrigeradores brasileiros que estão
no patamar da categoria mais eficiente (“A”) não podem ser vendidos no Quênia, México ou
Estados Unidos, porque nesses mercados são considerados ineficientes 1.

Essa defasagem se inter-relaciona com a involução da indústria brasileira de refrigeradores,


uma vez que há dez anos atrás o Brasil possuía a maior indústria de fabricação de
refrigeradores das Américas e a quinta maior do mundo. Desde então ela diminuiu 25%,
permitindo que países como o México e a Indonésia superassem o Brasil na produção desses
equipamentos. Na direção oposta, tem-se o exemplo mexicano que se harmonizou com as
políticas de eficiência energética dos Estados Unidos, fazendo com que as exportações
desses aparelhos aumentassem mais de 12 vezes entre 2000 e 2019, de 401 milhões de
dólares para 5 bilhões. Essas exportações não vão apenas para os EUA e Canadá, mas
também para outros mercados da América Latina, especialmente América Central e Caribe.
É importante destacar que as duas principais multinacionais que dominam o mercado
brasileiro de refrigeradores, considerado como de baixa eficiência energética pelos
fabricantes de compressores, também possuem fábricas no México2.

Por fim, a consequente concentração dos refrigeradores vendidos no Brasil nos últimos anos
na etiqueta “A” por causa da falta de sua revisão tem causado custos milionários aos cofres
públicos em renúncia fiscal. Estima-se que apenas em 2021 essa renúncia será de R$ 420
milhões. Com a nova portaria do Inmetro, o prazo de cinco anos de vigência das novas faixas
A, A+, A++ e A+++ causarão uma renúncia fiscal de R$ 2,35 bilhões no acumulado de 2021
a 2025 (uma média de R$ 470 milhões por ano)3.

Solução na dimensão do diagnóstico. É possível antecipar essas metas da Portaria do


Inmetro para apoiar um renascimento da indústria brasileira de refrigeradores, de forma que
conjugue equipamentos mais eficientes com preços acessíveis aos consumidores. Para
tanto, é necessário que fabricantes e instituições competentes de governo possam costurar

1
Relatório “Alinhando a política brasileira de eficiência energética de refrigeradores com as melhores
práticas internacionais: opções e impactos”, de fevereiro de 2021, da Clasp. Pode ser baixado em
português aqui: https://kigali.org.br/wp-content/uploads/2021/05/Estudo_Clasp_refrigeradores.pdf
2
Artigo “Como revigorar a indústria de geladeiras do Brasil”, de 23 de abril de 2021. Acesso:
https://epocanegocios.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/04/como-revigorar-industria-de-
geladeiras-do-brasil.html
3
Estimativas realizadas pelo Instituto Escolhas em seu relatório “O impacto econômico da eficiência
energética no Brasil: refrigeradores”, que pode ser acessado aqui:
https://www.escolhas.org/wp-content/uploads/Relatorio_geladeiras.pdf
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e negociar uma política com tal fim. A Rede Kigali fez publicamente esse convite para os
fabricantes e associações e irá atuar para fazer esse debate.

Oportunidade e sua urgência. Há uma janela de oportunidade para isso com a revisão do
padrão máximo de consumo de refrigeradores que se avizinha. Porém, é preciso agilidade
para construir e pactuar um plano ambicioso, coerente e articulado. O tempo urge, mas é
possível.

Nosso propósito
Nosso propósito. A Rede Kigali possui um propósito muito claro: promover a eficiência
energética como um instrumento para atingir múltiplos benefícios para a sociedade brasileira
e para o consumidor.

A Rede Kigali trata a eficiência energética, o que inclui as políticas e os mecanismos que a
promovem, não como um fim em si mesma, mas como um meio. Um meio com diversos
objetivos.

Um meio com o objetivo de oferecer para os consumidores aparelhos mais baratos e mais
econômicos no consumo de eletricidade. Um meio com o objetivo de dinamizar os setores
econômicos envolvidos com a realização de investimentos em inovações tecnológicas,
geração de emprego, aumento da produtividade e competitividade. Um meio com o objetivo
de adicionar valor à economia nacional e de reduzir a pressão da demanda e das perdas
associadas sobre a cadeia do setor elétrico nacional e local. Um meio de reduzir os impactos
socioambientais locais dessa pressão pela exploração de recursos naturais e os impactos
globais pelas emissões de gases de efeito estufa. Esses são propósitos bastante claros para
a Rede.

A atuação da Rede Kigali é consistente com esses propósitos independente do aparelho ou


do equipamento cujas políticas estejam sendo revisadas. Evidentemente que cada aparelho
possui suas particularidades tecnológicas e de atores que imprimem uma dinâmica própria,
embora isso de forma alguma altere a consistência dos propósitos de nossa atuação.

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Passando alguns pontos a limpo


Posicionamento sobre esses pontos trazidos pelo Inmetro na Nota técnica4 e na própria
reunião final.

4
Nota Técnica nº 84/2021/Divet/Dconf-Inmetro. Assunto: Parecer às contribuições recebidas na
consulta pública para o PBE para Refrigeradores - texto base para a reunião de consolidação do
texto definitivo.
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Passando pontos a limpo 1. O Inmetro e fabricantes instalados no país alegam que não dá
para comparar os refrigeradores brasileiros com os do México, Quênia e EUA porque os
congêneres brasileiros são testados a 43 °C (classe tropical) e que as normas são diferentes,
dizendo que a comparação é “indevida” e que é uma “falsa conclusão”. Infelizmente
precisamos voltar a esse assunto para reiterar a informação e esclarecer tecnicamente que
o teste de consumo de energia brasileiro é o mesmo do Quênia e que ambos utilizam a
mesma temperatura ambiente de 32 °C. O México e os EUA utilizam um método ligeiramente
diferente e a uma temperatura ligeiramente maior de 32,2 °C, o que produziria um consumo
de eletricidade ligeiramente maior do que o método utilizado no Brasil, o que significa que,
quando comparadas, a regulação brasileira leva vantagem.

Sobre o requerimento dos refrigeradores brasileiros atenderem o teste de temperatura de


classificação tropical (43 °C), isso de fato é diferente do Quênia, México e EUA. Esse
requerimento é importante para garantir que o compartimento de mais baixa temperatura do
equipamento seja capaz de mantê-la quando está em um ambiente de 43 °C. Entretanto,
mesmo onde isso não é necessário, vários refrigeradores atendem a classificação tropical. O
exemplo queniano é um deles de acordo com dados de testes realizados em diversos
refrigeradores ali comercializados.

Por fim, a esse respeito, é importante reiterar que a base de comparação que utilizamos com
outros países é o valor do patamar “A” dos refrigeradores brasileiros para justamente mostrar
que está muito aquém do que deveria ser para ser considerado o patamar de mais alta
eficiência. Além disso, o atraso na revisão da etiquetagem permitiu ter diferenças de até
metade do consumo de eletricidade entre refrigeradores dentro da própria classe “A”, o que
não permite ao consumidor diferenciá-los sendo ambos “A”. Essa é a razão pela qual o
Inmetro está subdividindo a categoria A em A, A+, A++ e A+++ (além de também ser uma
forma de não mexer com o benefício fiscal do IPI).

Passando pontos a limpo 2. O Inmetro questiona etiquetas muito rigorosas quanto à


disponibilidade de produtos mais eficientes no mercado. Traz alguns exemplos, como do
Quênia e Índia. É importante fazer alguns esclarecimentos. Primeiramente, o MEPS queniano
é menos ambicioso do que o proposto pela U4E e, mesmo assim, o MEPS do Quênia é mais
rigoroso do que o A+++ da nova portaria do Inmetro. Em segundo lugar, não é de nosso
conhecimento que alguém tenha recomendado usar a classe 5 estrelas do Quênia no Brasil.
A grande maioria do mercado queniano estando nas faixas de 1 e 2 estrelas ainda traz para
seus consumidores produtos mais eficientes do que a etiquetagem brasileira trará para os
brasileiros nos próximos 5 anos.

Em relação à Índia, as classes de 2 e 3 estrelas possuem a intenção de representarem a


eficiência média do mercado. Essa é a razão de ser da classificação intermediária. A classe
5 estrelas tem a função de identificar os produtos mais eficientes para que os consumidores
possam escolher se querem um produto ineficiente (1 estrela), um produto mediano (2 ou 3
estrelas), um produto muito eficiente (4 estrelas) ou um produto super eficiente (5 estrelas).
Atualmente há refrigeradores em todas essas categorias para venda na Índia, mas a maioria
das vendas estão nas classes de 2 e 3 estrelas. É importante notar que a classe 1 estrela é
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um pouco mais rigorosa do que a A++. Ter a maioria dos refrigeradores nas classes 2 e 3
indianas seria uma melhoria dramática em eficiência energética comparada com o atual
mercado brasileiro.

Portanto, as propostas feitas não são para uma etiqueta “super rigorosa” como o Inmetro quis
deixar a entender, já que a proposta que a Rede Kigali fez baseia-se na recomendação para
países em desenvolvimento elaborada por programa da ONU, que contou com contribuições
de multinacionais fabricantes de refrigeradores.

Passando pontos a limpo 3. O Inmetro dá a entender que as críticas ao estabelecimento


das subclasses afirmavam que elas não possuíam eficácia. Até onde sabemos,
desconhecemos que alguém tenha alguma vez feito essa afirmação. Ela, de fato, avançou a
eficiência energética dos produtos, muito mais do que o mercado brasileiro. O argumento foi
de que os formuladores de política e fabricantes europeus determinaram que as subclasses
confundiam mais e que eram menos efetivas do que um reescalonamento completo e, dessa
forma, se desfizeram dela.

Se demorou 10 anos é uma questão repleta de condicionantes que se relacionam com o fato
da União Europeia não ser um país, mas um conjunto de mais de 25 Estados-membros.
Porém, já nos três primeiros anos fabricantes e instituições da União Europeia já reconheciam
a necessidade de revisão pelos motivos acima.

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