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A hora e a vez da

EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA
Uma publicação conjunta de:

International Energy Initiative


Brasil Rodolfo Gomes

Fórum de Energias Renováveis


Rosilene Oliveira Maia
Frederico Peiró
Alexandre Henklain

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor


Clauber Leite
Arthur Baiochi
Priscila Arruda
Munir Soares
Clara Barufi
Luciano Silva

Mitsidi Projetos
Vinicius Vidoto
Alexandre Schinazi
Hamilton Ortiz
Rosane Fukuoka

Projeto Hospitais Saudáveis


Erick Pelegia
Vital Ribeiro

Coordenação Instituto Clima e Sociedade


Kamyla Borges
Amanda Ohara

Revisão
José Goldemberg
Luis Barata
Roberto Kishinami

SETEMBRO 2021
SUMÁRI
Sumário Executivo..............................................................................4

Introdução...........................................................................................6

1. Brasil na contramão do mundo.....................................................8

2. Medidas estruturantes................................................................. 12
2.1 Reformulação da governança das políticas de eficiência
energética......................................................................................13
2.2 Reestruturação do PEE e do PROCEL..........................................14
2.3 Atualização dos MEPS, etiquetagem e Selo PROCEL................15

3. Medidas para enfrentamento da crise energética................... 18


3.1 Atualização imediata dos MEPS e campanha massiva
junto ao consumidor....................................................................19
3.2 Horário de verão...........................................................................19

4. Medidas de resiliência ao sistema elétrico................................ 22


4.1 Inclusão da eficiência energética e da geração
distribuída no leilão de capacidade............................................23
4.2 Leilão de Eficiência Energética....................................................23
4.3 PEE - Projeto Prioritário de Hospitais.........................................24
4.4 Planos municipais de energia......................................................25

Considerações finais......................................................................... 28

Referências........................................................................................ 30
SUMÁRIO
EXECUTIVO

A hora e a vez da eficiência energética | 4


A
sensação de déjà vu que acomete eficiência energética. Paralelamente, uni-
o Brasil diante de uma das piores ficação dos padrões mínimos de eficiência
crises hídricas de todos os tempos energética (MEPS), etiquetagem INMETRO
traz a percepção de que não aprendemos e Selo PROCEL num único programa de efi-
com os erros do passado. Mesmo depois
ciência energética de equipamentos, má-

de enfrentarmos outras duas situações se-


quinas e edificações, incluindo a obrigato-

melhantes, em 2001 e 2014, continuamos


riedade da etiquetagem.

reagindo com as mesmas medidas que se


• Criação de um Fundo Gestor desses pro-

mostram tanto inefetivas quanto altamente


gramas, a ser mantido com os recursos

onerosas para o bolso do consumidor. Ao


que as concessionárias de distribuição des-
tinam para o PEE/ANEEL/PROCEL/Eletro-
longo desses 20 anos, pouco ou nada avan- bras, além das verbas orçamentárias que
çamos em ações estruturais, notadamente, hoje são usadas para manter os demais
a eficiência energética. programas.

Certamente, a situação de crises elétrica e


econômica poderia ter sido outra se o governo [2] Medidas Emergenciais
tivesse levado a cabo políticas consistentes de
eficiência energética. Diferentemente de outros • Atualização imediata dos MEPS para ar-
países, o Brasil negligenciou suas políticas de -condicionado e refrigerador, associada a
uso racional de energia, contribuindo para uma uma campanha massiva de engajamento
situação atual de baixa eficiência energética e do consumidor. O ar-condicionado ganha-
produtiva. Quem perde não é apenas o consu- rá importância no consumo ao longo dos
midor de energia elétrica, mas toda a cadeia próximos verões, o que torna urgente ní-
produtiva do país, cada vez menos competitiva. veis mínimos de eficiência compatíveis
com os melhores padrões mundiais.
E como a eficiência energética pode ajudar
o Brasil a enfrentar esta e as próximas crises • Retomada do horário de verão. Essa medida,
hídricas? acompanhada de campanha para a redução
do consumo, pode resultar em economia da
Este documento apresenta um conjunto de ordem de 5% do consumo total, suficiente
medidas que deveriam ser adotadas pelo go- nesse momento para manter o risco de apa-
verno. As medidas estão na seguinte ordem: gões na faixa (histórica) abaixo de 5%.
primeiro, as que são fundamentais para defi-
nir a eficiência energética como prioridade nas
políticas públicas; segundo, as que reduzem a [3] Aumento da resiliência do sistema
demanda no curto prazo, contribuindo para o elétrico
enfrentamento da atual crise hidroenergética; • Inclusão da eficiência energética e da ge-
por fim, as com potencial maior de economia ração distribuída nos próximos leilões de
de energia e que exigem mais tempo de plane- capacidade.
jamento e desenvolvimento.
• Realização de leilões de eficiência energé-
tica, especialmente o de Roraima que está
[1] Prioridade à Eficiência Energética planejado há três anos.

A reestruturação das políticas públicas exis- • Execução do Projeto Prioritário de Hospi-


tentes, inclusive sua governança, é passo fun- tais, proposto para o PEE/ANEEL.
damental. Hoje, prevalece uma realidade de po- • Elaboração de Planos Municipais de Ener-
líticas desagregadas, que não conversam umas gia, compreendendo gestão energética,
com as outras e que acabam pouco efetivas. A critérios de eficiência nas compras e aqui-
racionalização dessas políticas depende da: sições públicas, inclusão de códigos de
• Unificação do PEE/ANEEL e do PROCEL/Ele- energia nas posturas e códigos de obras
trobras em um só programa nacional de municipais.

A hora e a vez da eficiência energética | 5


INTRODUÇÃO

A hora e a vez da eficiência energética | 6


O
investimento em eficiência ener- ligue um ponto de luz. Além de inócua, essa
gética tem como resultados o au- medida escamoteia o real potencial da eficiên-
mento da segurança dos sistemas cia energética. Potencial este que, para ser efe-
elétricos, a redução de emissões de gases tivamente aproveitado, demanda planejamento
de efeito estufa (GEE) e a melhoria das con-
e um olhar estruturante.

dições de produtividade e competitividade Este documento busca trazer à luz a impor-


da economia. Por esses efeitos positivos e tância da eficiência energética como medida
cumulativos, ela é central na transição ener- estrutural de aumento da resiliência do sistema
gética limpa e justa, promovida por governos elétrico e de ganho de produtividade econômi-
de vários países ao redor do mundo. ca. Para tanto, explicita as lacunas e problemas
históricos e estruturais que precisam ser en-
Esta não é a realidade do Brasil, como mos- frentados e evidencia o enorme potencial que
tra o comportamento do governo frente aos deveria fazer da eficiência energética a primeira
efeitos da crise hídrica sobre o sistema elétrico. fonte de energia.
Na contramão dos demais países emergentes,
continuamos a negligenciar a eficiência energé- As medidas de eficiência energética aqui pro-
tica, enxergando o sistema elétrico unicamente postas foram apresentadas na seguinte ordem:
como fonte (inesgotável?) de oferta de energia,
• primeiro, as medidas de maior relevância,
desconhecendo “a outra ponta do fio”: o quem,
fundamentais para a estruturação da efi-
onde, para que e como essa mesma energia é
ciência energética como prioridade;
consumida e perdida1.
• segundo, aquelas medidas que podem
A fala do presidente Bolsonaro, em live
contribuir para a redução da demanda no
do dia 26 de agosto, pedindo que a popula-
curto prazo, contribuindo para o enfrenta-
ção apagasse um ponto de luz é emblemática
mento da crise hídrica e energética atual, a
neste sentido. Além de inócua, ela esconde o
despeito de proverem um potencial menor
real potencial da eficiência energética para
de economia de energia comparativamen-
maior resiliência do sistema elétrico às crises
te a outras;
hídricas. Crises que, como indica o Grupo de
Trabalho de Ciências do 6º Relatório de Reco-
• por fim, as medidas de cunho mais estrutu-
mendações do IPCC, já são mais frequentes,
ral, cujo potencial de economia de energia
duradouras e profundos no território brasilei-
é maior, mas que precisam de tempo de
ro (IPCC, 2021).
planejamento e desenvolvimento.
Certamente, a situação de crise por que
passa o setor elétrico e a economia nacional
poderia ter sido outra se o governo tivesse le-
vado a cabo políticas consistentes de eficiência
energética. Diferentemente de outros países, o
Brasil negligenciou suas políticas de uso racio-
nal de energia, contribuindo para uma situação
atual de baixa eficiência energética e produti-
va. Quem perde não é apenas o consumidor de
energia elétrica, mas toda a cadeia produtiva do
país, cada vez menos competitiva.

De nada adianta, neste momento, o presi-


dente Bolsonaro suplicar à população que des-

1
No Sistema Interligado Nacional (SIN) as perdas técnicas e
comerciais somam 19,4% do total ofertado, segundo o Anuário
de Energia (EPE, 2021).

A hora e a vez da eficiência energética | 7


CAP 1.
BRASIL NA
CONTRAMÃO
DO MUNDO

A hora e a vez da eficiência energética | 8


E
ficiência energética é medida ga- O Brasil avança a passos de tartaruga vis-à-
nha-ganha. O investimento em efi- -vis outros países em desenvolvimento. Ao in-
ciência energética é uma das poucas vés de apostar na eficiência energética como
medidas que contribuem cumulativamente caminho para a segurança do sistema elétrico
para a resiliência e segurança dos sistemas
e como vetor de uma política industrial volta-

elétricos, para a redução de emissões de gases


da para os ganhos de produtividade, o governo

de efeito estufa (GEE) e para a melhoria das


brasileiro mantém uma postura inerte, empur-
rando a passos de tartaruga programas que
condições de produtividade e competitivida- se revelam pouco efetivos. O maior retrato do
de da economia, razão pela qual ela é coloca- descaso do país com a eficiência energética
da como central nos processos de transição pode ser visto pela pífia evolução da intensi-
energética limpa e justa. Em níveis globais, a dade energética, um indicador usado em todo
eficiência pode contribuir com 35% das redu-
mundo para avaliar a relação entre a energia

ções cumulativas de CO2 até 2050, segundo a


consumida para produzir riqueza. A intensidade

Agência Internacional de Energia (IEA, 2018).


energética cruza os dados de consumo de ener-
gia com o PIB dos países, dando uma boa medi-
da da relação entre energia/produção. Quanto
Não só a economia de energia e as reduções
menor a intensidade energética, maior é a efi-
de emissões de GEE justificam a inclusão da efi-
ciência de um país em transformar seu consu-
ciência energética em muitos dos pacotes de
mo energético em riqueza. O Brasil é o único
recuperação econômica verde apresentados
entre as economias emergentes cujo consumo
por alguns países, como também os ganhos de
de energia cresceu, nos últimos vinte anos, a
produtividade na economia (Carbonbrief, 2021).
taxas acima da produção econômica, indicando
Eficiência energética significa, ao fim e ao cabo,
que vem demandando mais energia para pro-
redução de custos de produção. Além disso, tra-
duzir o mesmo montante de riqueza do que ou-
ta-se de um setor que emprega muita gente e
tros países, o que é sinal de baixa eficiência e
apresenta um potencial importante de expan-
baixa produtividade (ver Gráfico 2). O país tam-
são. Estudo conduzido pela Mitsidi Projetos para
bém figura em 20º lugar no ranking dos países
o Ministério de Minas e Energia estimou que o
que mais avançaram em políticas de eficiência,
ganho de eficiência energética em 10% até 2030
ficando atrás do México, Indonésia, Índia e Chi-
pode demandar a geração adicional de 450 mil
na (ACEEE, 2018).
empregos diretos (Gráfico 1) (MME, 2019).

GRÁFICO 1 | Empregos criados pela produção de bens e serviços vinculados ao setor de efi-
ciência energética.
1.400.000
1.277.663
1.200.000
Número de empregos

1.000.000
871.117

800.000

600.000
482.478
413.108
400.000

200.000 389.385
271.834
128.099 159.460
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030

Diretos Indiretos Induzidos


Fonte: MME, 2019.

A hora e a vez da eficiência energética | 9


GRÁFICO 2 | Comparação da variação da intensidade energética entre países selecionados.

Variação da intensidade energética entre 2010 e 2015

10,00%
6,20%
5,00%

México EUA Índia China


0,00%
Brasil
-5,00%

-6,90%
-10,00%
-10,90% -11,60%
-15,00%

-20,00%

-22,10%
-25,00%

Fonte: baseado em ACEEE (2018)

Fatores econômicos estruturais, como uma


base industrial energointensiva e oscilações re-
correntes da economia, contribuem para uma
intensidade energética crescente ou estacio-
nária, mas não justifica a tímida evolução des-
se indicador no país. Basta ver que, no mesmo
período, o resto do mundo industrializado re-
duziu a intensidade energética. Como mostra o
Instituto E+ Transição Energética (2020), países
como China e Índia, apesar de terem ampliado
sua indústria energointensiva nos últimos anos,
apresentaram quedas sucessivas nas suas in-
tensidades energéticas, fruto da priorização de
políticas e medidas de eficiência energética2.

O setor produtivo perde competitividade


e as famílias sofrem para pagar a conta de
luz. Quem paga a conta, e cara, da inércia do chega a 26% no setor de alimentos e bebidas,
governo em relação às políticas de eficiência é a quase 40% no setor têxtil e 30% na indústria
a economia brasileira e as famílias. A proporção química3. A tarifa elétrica ao consumidor resi-
da eletricidade nos custos diretos de produção dencial mais do que duplicou nos últimos 10
anos (ver Gráfico 3).
2
A Empresa de Pesquisa Energética desenvolveu um indica-
dor próprio para avaliar a evolução da eficiência energética, 3
Esses dados foram obtidos cruzando os dados de demanda
chamado ODEX. Embora o ODEX tente separar os efeitos con- elétrica desses segmentos produtivos do Balanço Energético
junturais da economia da eficiência propriamente dita, é um Nacional de 2020 com as informações da Pesquisa Industrial
indicador que não permite comparações com outros países. Anual (PIA) do IBGE de 2020. E referem-se ao ano de 2019.

A hora e a vez da eficiência energética | 10


GRÁFICO 3 | Evolução da tarifa média ao consumidor residencial por tipo de custo (R$/MWh)

7,36 7,57 2,79 0,23 0,26 0 0


17,9 18,1
36,3 70,1 60,3 71,7
38,4 42,6 84,8 68,8
94,5 96,1

110,1
105,9 157,9
148,7 171
124,3 133,1
119,9 117,6 190,2
123,3 128,5
11,8
8,3 32,3 30,6
39,1 13,9 30,2 39,1
23,6 30 12,2 55,1 57,3 44
44,2 45,5
22,9 23,1 54,5
31,2 41,3
54,9
27 27,2

137,4 176,5
202,7 201 242,1 251,1 241
136,8 179,2 247,5
114,4 115,1

-1,18 -0,44 -1,1 -2,3


-23,95
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Energia Perdas Transmissão Distribuição Encargos Outros

Fonte: ANEEL, 2021.

Medida estruturante e emergencial. In- fonte. Primeiramente, explicitamos as ações es-


vestir em eficiência energética, melhorando truturais, sem as quais a eficiência energética
e reformulando as políticas públicas existen- pouco ou nada avançará no país. Cientes de
tes, deve ser entendido não apenas como uma que essas medidas pressupõem um aprofun-
ação estruturante para o setor elétrico e para a damento da discussão e até mesmo mudanças
economia nacional, como também medida que legislativas, o que leva tempo, propomos um
pode minimizar os impactos da atual crise hí- conjunto de ações que podem contribuir para o
drica, dada a perspectiva de que estes fatores enfrentamento da atual crise hídrica, desde que
continuem reverberando ao longo de 2022. implementadas imediatamente. Esse segundo
conjunto de medidas foi listado numa ordem
Pensando nisso, propomos, nos itens a se- que prioriza as ações que podem mais rapida-
guir, um conjunto de medidas que poderiam en- mente gerar economias reais de energia, ainda
fim elevar a eficiência energética como primeira que em montantes menores.

QUEM PAGA A CONTA DA INÉRCIA DO GOVERNO EM


RELAÇÃO ÀS POLÍTICAS DE EFICIÊNCIA É A ECONOMIA
BRASILEIRA E AS FAMÍLIAS. A TARIFA ELÉTRICA AO
CONSUMIDOR RESIDENCIAL MAIS DO QUE DUPLICOU
NOS ÚLTIMOS 10 ANOS.

A hora e a vez da eficiência energética | 11


CAP 2.
MEDIDAS
ESTRUTURANTES

A hora e a vez da eficiência energética | 12


O
primeiro passo para que a efi- • o segundo, instituído pela Lei 9.991/2000 e
ciência energética possa assu- reformulado pela Lei 13.280/2016, é com-
mir seu papel de forma com- posto pelo PEE e pelo PROCEL. Ambos
petitiva é a reestruturação das políticas destinam-se ao fomento de projetos de

públicas existentes, inclusive no que toca


eficiência energética e têm como fonte,

à sua governança. Para que o Brasil saia da


respectivamente, 0,4% e 0,1% das receitas
operacionais líquidas anuais das conces-
inércia, as políticas públicas, notadamente os sionárias de distribuição.
programas de eficiência energética de equi-
pamentos, o Programa de Eficiência Energé-
• Como mostra a Figura 1, cada uma das
políticas mencionadas – PEE, PROCEL, PBE
tica (PEE) coordenado pela Agência Nacional e MEPS, é coordenada por um órgão dife-
de Energia Elétrica (ANEEL), e o Programa rente. Ainda que essas políticas, excluindo
Nacional de Conservação de Energia Elétrica o PBE, estejam sob o guarda-chuva geral
(PROCEL), coordenado pela Eletrobras, preci- do Ministério de Minas e Energia (MME), na
sam ser reformulados. prática, são geridas de forma desagrega-

2.1 Reformulação da go- FIGURA 1 | Estruturas institucionais responsáveis pela


vernança das políticas de governança das políticas de eficiência energética
eficiência energética

No Brasil, há dois grandes MME


blocos de políticas de eficiência
energética:
PEE ANEEL
• o primeiro, institucionaliza-
do pela Lei 10.295/2001, a ELETROBRAS1
Lei de Eficiência Energética,
e que contempla os progra-
CGEE MME
mas de eficiência energética MCTI
de equipamentos e máqui- ANEEL
nas, sendo eles os padrões
PROCEL ELETROBRAS
CNI
mínimos de eficiência ener- ABRADEE
gética ou máximos de con- ABRACE

sumo elétrico (conhecidos


como MEPS), o Programa
Brasileiro de Etiquetagem MME
CGIEE
(PBE) e o Selo PROCEL. Os MCTI
MEPS estabelecem o nível MEPS M. Economia
ANEEL
mínimo de eficiência que os ANP
equipamentos e máquinas 2 representantes da
sociedade civil,
devem ter para que possam
especialistas em
ser comercializados no país. energia
O PBE informa ao consu-
midor o nível de eficiência
energética em que o equi-
pamento se enquadra, auxi- M. ECONOMIA
liando-o na sua decisão de PBE
compra. E o Selo PROCEL é INMETRO
concedido para os modelos
que atendem aos melhores
níveis de eficiência, como [1] A MP da Eletrobras, convertida na Lei 14.182/2021 transfere o PROCEL para uma em-
presa pública a ser criada para gerir os ativos remanescentes do governo e, caso este

um prêmio.
órgão não seja instituído, determina que o PROCEL fique à cargo da Eletronuclear.
Fonte: elaboração própria

A hora e a vez da eficiência energética | 13


da. O caso dos programas voltados para a manter os demais programas. O fundo
eficiência de equipamentos e máquinas é o poderia ter uma estrutura de governança
mais gritante – em tese, os MEPS, a etique- semelhante àquela originalmente estabe-
tagem e o Selo PROCEL deveriam ser dese- lecida pelo Fundo Amazônia, refletida em:
nhados, desenvolvidos e implementados de
• Um comitê orientador multisetorial, com
forma 100% coordenada, porque, ao fim e
a finalidade de estabelecer as diretrizes e
ao cabo, compõem uma mesma estratégia
critérios de aplicação dos recursos dos pro-
de eficiência– os MEPS estabelecem os mí-
gramas, zelar pela integração e sintonia en-
nimos de eficiência, a etiquetagem informa
tre os programas e aprovar as informações
os níveis de eficiência em classes, e o Selo
sobre a aplicação dos recursos. Este comi-
PROCEL premia os mais eficientes. Porém,
tê seria composto por representantes do
não há coordenação entre como o INME-
MME, Ministério da Economia (ME), do Meio
TRO conduz o PBE, o PROCEL gerencia o
Ambiente (MMA), e da Ciência e Tecnologia
Selo PROCEL e o CGIEE estabelece os MEPS.
(MCTI), além do BNDES, Empresa de Pesqui-
Essa mesma nebulosidade na integração
sa Energética (EPE), INMETRO, ANEEL e ANP.
entre as políticas é vista entre o PEE e o
E também por representantes da sociedade
PROCEL – ANEEL e Eletrobras tocam esses
civil, tais como CNI, ABRADEE, ABRACE, as-
programas de forma totalmente autônoma,
sociações de consumidores e cadeiras rota-
e o resultado é, muitas vezes, sobreposição
tivas para organizações da sociedade civil.
de iniciativas em alguns casos e ausência de
cobertura dos programas, em outros. • BNDES, como órgão responsável pela
aplicação dos recursos do programa
Esse nível de desagregação institucional,
unificado PEE/PROCEL;
além de dificultar a integração entre os diversos
programas, gera burocracias e sobreposição de • Empresa de Pesquisa Energética
normas, processos e procedimentos, que resul- (EPE), responsável pela coleta, siste-
tam em demora na tomada de decisão e custos matização e análise de dados afetos à
evitáveis para o alcance dos objetivos dessas eficiência energética e pelo contínuo
políticas públicas, ou seja, acabem sendo eles monitoramento e avaliação das duas
mesmos ineficientes. políticas públicas.
• Secretaria Executiva, a ser exercida
Vale reforçar que, nos países que mais avan-
pelo MME.
çaram em eficiência energética, foram criadas
estruturas de governança unificadas com rela- Em paralelo com a reestruturação da gover-
tiva independência para execução das políticas. nança, é preciso considerar também a reformu-
Destaca-se o CONUEE no México, a Agência de lação dos dois conjuntos de políticas menciona-
Sustentabilidade Energética no Chile, a NRDC dos, conforme a seguir detalhado.
na China, BAFA, DENA e KfW na Alemanha, além
do Bureau of Energy Efficiency (BEE) da Índia 2.2 Reestruturação do PEE e do PROCEL
(Ix, 2021).
O orçamento anual do PEE gira em torno de
Como alternativa de encaminhamento
R$600 milhões, o que, somado a mais cerca de
dos problemas identificados, propõe-se:
R$150 milhões do PROCEL, resulta em R$750 mi-
• a unificação do PEE com o PROCEL em um lhões/ano de recursos públicos que obrigatoria-
só programa nacional de eficiência ener- mente devem ser destinados à eficiência ener-
gética, assim como a unificação dos MEPS, gética no Brasil. Porém, falta ao PEE critérios que
etiquetagem e Selo PROCEL num único dêem prioridade à destinação dos recursos.
programa de eficiência energética de equi-
As regras estabelecidas pela ANEEL são
pamentos, máquinas e edificações.
majoritariamente procedimentais e silenciam
• a criação de um Fundo gestor desses pro- em relação a uma diretriz clara e objetiva que
gramas, a ser mantido com os recursos aponte prioridades. O que se vê, então, é uma
que as concessionárias de distribuição des- abundância de projetos que beneficiam as dis-
tinam para o PEE/PROCEL, além das verbas tribuidoras de alguma forma, deixando bura-
orçamentárias que hoje são usadas para cos em áreas que, da perspectiva da demanda

A hora e a vez da eficiência energética | 14


GRÁFICO 4 | Total de projetos contemplados entre 2008 e 2017 pelo PEE por tipologia.
300

250

200

150

100

50

0
Poder
público

Baixa
renda

Comércio
e serviços

Serviços
públicos

Residencial

Aquecimento
solar

Rural

Gestão
energética
municipal

Projeto
piloto

Iluminação
pública

Pelo lado
da oferta
Educacional

Industrial

Fonte: ANEEL, 2021.

elétrica, deveriam ser priorizadas. Por exemplo, Para as distribuidoras, o PEE é um fardo, e
como mostra o Gráfico 5, o setor industrial pra- o resultado vem na forma de projetos desen-
ticamente não foi contemplado no PEE, apesar volvidos apenas com finalidade de cumprir a
de responder por 37% do consumo total de ele- obrigação legal, levando a atrasos recorrentes
tricidade do país (gráfico 4). no uso do recurso. Basta lembrar que havia, em
2020, mais de R$ 2,5 bilhões de recursos do PEE
A mesma realidade é vista no caso do PRO-
parados nos caixas das distribuidoras, os quais
CEL, apesar de a Lei 13.280/2016 ter criado o Co-
foram “tomados” por força da MP 998/2020
mitê Gestor de Eficiência Energética (CGEE) com
(depois transformada na Lei 14.120/2021) para
a finalidade de definir diretrizes e ter atrelado o
o socorro ao setor elétrico face à pandemia.
uso dos recursos a planos anuais de aplicação
Acresce-se a isso a dificuldade da ANEEL de
de recursos. Mas essa sistemática só criou ain-
coordenar e fiscalizar o PEE. Além de equipe re-
da mais burocracia e não endereçou a necessi-
duzida, a ANEEL tem de lidar com uma enorme
dade de conexão entre o uso desses recursos a
burocracia que engessa o programa.
prioridades pautadas em critérios objetivos.
A reestruturação do PEE e do PROCEL deve
O governo federal até ensaiou trazer crité-
mirar a definição de critérios de priorização do
rios para o PEE e o PROCEL, ao bancar o desen-
investimento público em eficiência energética,
volvimento de um plano decenal de eficiência
associada a metas periódicas de eficientização.
energética que, uma vez operacional, serviria
Para além disso, é preciso repensar a estrutura
de referência para as políticas de eficiência. Po-
de governança, como já proposto.
rém, o resultado desse primeiro esforço é tão
sem foco quanto o PEE e o PROCEL. O relató-
2.3 Atualização dos MEPS, etiquetagem
rio final apresentado propõe um total de mais
e Selo PROCEL
de 30 medidas e recomenda a criação de gru-
pos de trabalho para continuar discutindo cada Apesar de inspirados nas melhores práticas
uma delas (Ix, 2021). internacionais, os MEPS, o PBE e o Selo PROCEL

A hora e a vez da eficiência energética | 15


têm dificuldade de manter atualizados os pa- Os problemas de condução dessas políticas
râmetros de eficiência energética adotados. resultam em prejuízos para todo o país. Os im-
Como evidenciado na Tabela 1, excluindo-se pactos nacionais são sentidos na forma do au-
poucos produtos, como condicionador de ar e mento do custo do sistema elétrico, pela neces-
refrigeradores, a maior parte dos equipamen- sidade de construir e manter infraestrutura de
tos contemplados nesses programas está há geração, transmissão e distribuição, para o aten-
mais de 7 anos sem atualização, o que é te- dimento de um consumo evitável de eletricida-
merário lembrando da velocidade com que a de. Segundo dados da EPE, o setor de edificações
tecnologia desses produtos avança. A mesma responde por 52% de todo o consumo de eletri-
Tabela evidencia que os MEPS, o PBE e o Selo cidade do país, sendo que esse consumo vem
PROCEL ainda estão restritos a poucos equipa- basicamente do acionamento de equipamentos,
mentos. conforme evidencia o Gráfico 5 (EPE, 2021).

TABELA 1 | Datas de atualização dos parâmetros de eficiência energética adotados nos pro-
gramas voltados a equipamentos e máquinas

Última atualização MEPS ETIQUETAGEM SELO PROCEL


Refrigeradores domésticos 2018 2021 2015 e 2016
Refrigeradores comerciais Não foi regulado Não foi regulado Não foi regulado
Máquina de lavar roupas - 2005 2010
TV 2017
Ventiladores de teto 2017 2008 2010
Lâmpadas fluorescentes compactas
2010 2010 2012
(LFC)
Lâmpadas incandescentes 2010 2010
Transformadores de distribuição em
2018 2010 -
líquido isolante
Motores elétricos trifásicos 2017 2010 2019
Sistema de energia fotovoltaica - 2011 2010
Micro-ondas - 2012 2013
Sistemas e equipamentos para aque-
cimento solar de água (PBE Solar – - 2012 2010
coletores e reservatórios)  
Ventiladores de mesa, de parede e
2017 (teto) 2012 2010
circuladores de ar
Aquecedores de água a gás 2011 2012 -
Lâmpadas LED - 2014 2016
Condicionadores de ar do tipo janela
2018 2020 2020
e split
Sistemas centrais de ar-condicionado Não foi regulado Não foi regulado Não foi regulado
2021 (C)
Edificações - 2020
2012 (R)
Lâmpada vapor de sódio a alta pressão 2010 (reatores) 2010 2012
Bombas e motobombas centrífugas - 2010 2011

Fonte: elaboração própria

A hora e a vez da eficiência energética | 16


GRÁFICO 5 | Consumo elétrico residencial por uso final

100%
90%
10% 10%
11% 10%
80%
70% 12% 18% 26% 27%
60%
50%
40%
30%
66% 61% 56% 55%
20%
10%
0%
2005 2010 2018 2019

Condicionamento de ar Iluminação Aquecimento de água Equipamento elétricos Cocção de alimentos

Fonte: EPE, 2021

O consumidor, por sua vez, acaba tendo de ce entre um modelo e outro. Estudo recente do
arcar por anos a fio com contas de energia cres- Instituto Escolhas mostra que os brasileiros po-
centemente altas. No caso das geladeiras, por deriam economizar R$101 bilhões até 2030 em
exemplo, 16 anos transcorreram entre a última suas contas de luz se já possuíssem geladeiras
atualização do PBE (agora em 2021) e a anterior com níveis de eficiência alinhados com as me-
(em 2006), e ainda assim os novos parâmetros lhores práticas internacionais (Escolhas, 2021).
adotados passam longe das melhores práticas
internacionais. Ao longo desses anos, pratica- Vale reforçar que a melhoria da eficiência
mente 100% dos refrigeradores vendidos passa- energética de equipamentos caminha junto
ram a ser classificados com a etiqueta “A”, que com inovação e competitividade, razão pela
indica os níveis mais eficientes, mesmo apre- qual precisa ser pensada também na perspec-
sentando diferenças de até 40% na performan- tiva de garantir competitividade ao mercado
brasileiro. Mas a realidade é que as políticas de
eficiência e as de desenvolvimento industrial
parecem dar as costas umas às outras. Este é
o caso do ar-condicionado: 100% da produção
desse equipamento se dá na Zona Franca de
Manaus, porém, as regras específicas para pro-
dução dentro deste regime ignoram a eficiên-
cia energética como critério para concessão
dos benefícios fiscais, e, pior, cria, por conta
das exigências de conteúdo nacional, barreiras
à adoção de componentes mais eficientes4 (Es-
Foto: Marcos Cavalcante/UFU

colhas, 2020).

4
No final de 2020, o Ministério da Economia (ME) chegou a co-
locar em consulta pública uma proposta de Processo Produtivo
Básico (PPB) para ar-condicionado em que inseria a eficiência
energética como um dos critérios para a obtenção dos incen-
tivos fiscais da Zona Franca de Manaus. Porém, o ME cancelou
essa consulta sem qualquer justificativa dos motivos que o le-
varam a tanto.

A hora e a vez da eficiência energética | 17


CAP 3.
MEDIDAS PARA
ENFRENTAMENTO
DA CRISE
ENERGÉTICA

A hora e a vez da eficiência energética | 18


P
rocuramos detalhar, a seguir, algu- te das fabricantes desses equipamentos. Como
mas medidas de adoção imediata sinalizam um diferencial na briga dos fabrican-
para aliviar a pressão da crise hídrica tes por vendas, já têm sido adotadas por muitos
sobre o sistema elétrico brasileiro, principal- deles, inclusive.
mente considerando que esta deve perdurar
ao longo de 2022.
O consumidor precisa ser amplamente infor-
mado sobre essas recentes mudanças da eti-
quetagem do INMETRO e, para além disso, pre-
3.1 Atualização imediata dos MEPS e cisa ser estimulado a já adotar como referência
campanha massiva junto ao consumidor as novas etiquetas.

Enquanto a estruturação de uma sistemá- Há, naturalmente, uma dificuldade de esti-


tica de revisão periódica dos MEPS, PBE e Selo mar o impacto da implementação casada das
PROCEL, conforme proposto no item 2.3, não duas ações propostas, principalmente por conta
é estabelecida, propõe-se acelerar os proces- da dificuldade de prever o real comportamento
sos de atualização desses programas para dois do consumidor. Mas, apenas como um exercí-
dos equipamentos de maior consumo elétrico cio para termos uma noção geral desse impac-
em edificações - geladeiras e condicionadores to, buscamos estimar qual seria a economia de
de ar. Vale destacar que, com a proximidade energia, ao final de 1 ano do início dessas me-
do verão, os condicionadores de ar tendem didas, e, para tanto, consideramos como base o
a pesar nos picos de carga no meio da tarde, total de vendas de geladeiras e de condiciona-
bem como a forçar o aumento da demanda no dores de ar do tipo split ocorridos em 2020. Se
período noturno, o que os coloca como alvo esse número de vendas se replicar para o perío-
prioritário em qualquer medida emergencial do de um ano e se todos esses equipamentos
de eficiência energética. atenderem ao nível “A” da etiquetagem do IN-
METRO tanto para split quanto para geladeiras,
Especificamente, propõe-se duas ações com- teríamos uma economia média de 3,68 TWh,
plementares. A primeira é a revisão imediata dos quais 2,83TWh relativos aos condicionado-
dos MEPS para ar-condicionado e geladeira, e, res de ar e 0,85TWh às geladeiras.
no caso desta última, também a atualização do
Selo PROCEL. Os MEPS atualmente em vigor
3.2 Horário de verão
desses equipamentos foram estabelecidos em
2018, porém, adotando metodologias de cál- O horário de verão tem como premissa bá-
culo da eficiência energética já ultrapassadas e sica aproveitar o tempo mais longo de ilumina-
em patamares muito aquém das melhores prá- ção natural ao final do dia para gerar economia
ticas internacionais. de energia. Um segundo objetivo de sua ado-
ção é evitar sobrecargas no sistema elétrico
A segunda ação é uma campanha massiva
interligado, já que, com o atraso de uma hora
de comunicação instruindo o consumidor a ob-
do início da iluminação noturna, ocorre a dis-
servar as novas etiquetas do PBE estabelecidas
persão dos picos de demanda (Petterini et al.,
tanto para ar-condicionado quanto para ge-
2018). A adoção dessa prática no contexto na-
ladeira. Depois de anos de atraso, o INMETRO
cional teve início em 1931, passou por diversas
revisou a etiquetagem desses equipamentos,
descontinuações e reconduções, até ser extinta
respectivamente, em 2020 e em 2021. E o PRO-
em 2019, por meio de um decreto presidencial.
CEL atualizou os critérios do Selo PROCEL para
ar-condicionado. As novas regras aprovadas O padrão de consumo de energia elétrica do
tornam-se obrigatórias somente entre 2022 e brasileiro mudou ao longo dos anos, apresen-
20235, MAS, já são de adoção voluntária por par- tando um aumento no uso de aparelhos de ar-
-condicionado que, consequentemente, alterou
o horário de demanda máxima da rede. O pico
5
A nova etiquetagem do INMETRO será obrigatório para ar
condicionado a partir de 31/12/2022 e para geladeira a partir de consumo, que acontecia apenas no período
de 30/06/2022. O novo Selo PROCEL para ar-condicioando en-
tra em vigor em outubro de 2022.
noturno, passou a ocorrer também nos perío-

A hora e a vez da eficiência energética | 19


dos matutino e vespertino (MME, 2019). Embo- A partir dos resultados apresentados no grá-
ra o horário de verão tenha gerado economia fico 9, a Nota Técnica conclui que no intervalo
considerável em função da redução do consu- noturno a iluminação natural reflete em econo-
mo de energia no início da última década, esse mia de energia, mas que ao longo da madruga-
montante vinha sendo cada vez menor (eco- da a elevação do consumo de energia elétrica é
nomia de 160; 405; 278; 162 e 145,5 milhões de causada “possivelmente pelo aumento da tem-
reais de 2012 a 2016, respectivamente6). peratura a que a população fica exposta em seu
período de descanso noturno e, consequente-
Um dos argumentos que embasaram a deci- mente, pelo aumento do consumo de energia
são de extinguir o horário de verão foi o de que, pela maior utilização de aparelhos de refrige-
em 2018/2019, a adoção dessa medida gerou ração, em especial o ar-condicionado” (MME,
um aumento de 0,7% no consumo de energia, 2019). Omite-se, entretanto, informações re-
apresentado na Nota Técnica nº 5/2019/CGDE/ ferentes à temperatura. Provavelmente, o au-
DMSE/SEE (MME, 2019). Entretanto, um olhar mento no consumo de energia ao longo da ma-
mais detalhado para metodologia utilizada su- drugada está muito mais relacionado a noites
gere que essa análise deveria ser revisitada, mais quentes, que aconteceriam independente
uma vez que ela considera apenas as curvas de da adoção – ou não – do horário de verão, do
carga nos 30 dias antecedentes e posteriores que ao horário em si.
ao início do horário de verão daquele ano (04
de novembro de 2018). A Nota Técnica traz a Todavia, fica claro que o horário de verão de
justificativa que essa metodologia visa “restrin- fato aliviou a demanda no período de pico, algo
gir eventuais tendências de variação sazonal que fica evidenciado na área verde do gráfico 9
da carga de energia elétrica que poderiam ser e que é um dos grandes objetivos dessa medida.
percebidas na adoção de um intervalo temporal Em 2019/2020, uma segunda análise foi feita por
longo”. O resultado do estudo é apresentado meio da Nota Técnica nº 8/2020/CGDE/DMSE/SEE
no gráfico 6 a seguir: (MME, 2020). A metodologia foi a mesma, olhan-

GRÁFICO 6 | Comparação das curvas de carga anterior e posterior ao horário de verão de


2018/2019

55.000

50.000
MW médios

15.000

40.000

35.000

30.000
0:00
1:00
2:00

3:00

4:00

5:00

6:00

7:00

8:00

9:00

10:00

11:00

12:00

13:00

14:00
15:00

16:00

17:00

18:00

19:00

20:00

21:00

22:00

23:00

Anterior Posterior

Fonte: MME, 2019.

6
Fonte: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/04/11/horario-de-verao-perdeu-razao-de-existir-no-brasil-ou-ainda-vale-
-a-pena.ghtml> Acesso em: 27 de agosto, 2021

A hora e a vez da eficiência energética | 20


do apenas para as curvas de carga, e não para de consumo de ar condicionado na madruga-
a temperatura. Como no período de 2019/2020 da. Além disso, nota-se que o alívio de carga
não houve horário de verão, os 30 dias anterio- no final do dia foi bem menos expressivo em
res e posteriores foram com relação à data em 2019/2020 (sem o horário de verão) do que
que ele iniciaria caso não houvesse sido extinto em 2018/2020 (com horário de verão). Dessa
(03 de novembro de 2019). Os resultados da aná- forma, seria importante rever as análises, que
lise são apresentados no gráfico 7 a seguir: têm um escopo muito fechado (30 dias antes e
depois do início do horário de verão, olhando
A partir dos resultados, chegou-se à conclu- apenas para as curvas de carga), e tiram con-
são de que a diferença de carga foi nula, e que clusões a partir de fatores que podem não ter
“o aumento da carga de energia com a aplica- influência direta da alteração de horário.
ção do Horário de Verão que ocorria com a apli-
cação do Horário de Verão estava relacionado De fato, o horário de verão vinha trazendo
principalmente ao aumento de consumo duran- impactos cada vez menores e, em períodos de
te a madrugada, derivado do aumento da tem- normalidade, a tendência histórica indicava
peratura a que a população ficava exposta em que em algum momento ele deixaria de ser
seu período de descanso noturno, com maior relevante. A grande questão é que, hoje, o
utilização de aparelhos de climatização, o que Brasil está vivenciando uma crise hídrica. Se
deixou de ocorrer com a descontinuidade dessa há alguns anos uma economia de 2% a 3%7 no
política pública” (MME, 2020). consumo poderia ser tímida e pouco repre-
sentativa, hoje ela pode fazer a diferença, ali-
Entretanto, não existe nenhuma correlação viando um pouco a demanda em um de seus
comprovada entre horário de verão e aumento horários de pico.

GRÁFICO 7 | Comparação das curvas de carga anterior e posterior ao horário de verão de


2019/2020 simulado

60.000

55.000
MW médios

50.000

45.000

40.000

35.000
0:00
1:00
2:00

3:00

4:00

5:00
6:00
7:00

8:00

9:00

10:00
11:00
12:00

13:00

14:00

15:00

16:00
17:00

18:00
19:00

20:00
21:00

22:00

23:00

Anterior Posterior

Fonte: MME, 2020.

7
Fonte: <https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2021/07/10/horario-de-verao-os-motivos-por-tras-dos-apelos-pela-volta.htm>
Acesso em: 27 de agosto, 2021

A hora e a vez da eficiência energética | 21


CAP 4.
MEDIDAS DE
RESILIÊNCIA
AO SISTEMA
ELÉTRICO

A hora e a vez da eficiência energética | 22


4.1 Inclusão da eficiência energética e além de mais baratos do que as fontes térmi-
da geração distribuída no leilão de ca- cas, os projetos de eficiência energética e de
pacidade GD são de rápida implementação e poderiam
somar uma economia de energia que se faz ur-
Está prevista a realização de um leilão de gente no cenário crítico de crise, a se alastrar
reserva de capacidade em dezembro de 2021. por todo 2022
Em agosto de 2021, o MME editou a Portaria
20/2021 com as regras específicas deste certa- Importante destacar também que para os
me, definindo a contratação de potência elétrica projetos de eficiência energética não se apli-
e de energia associada, a partir de empreendi- cam os limites para escoamento que os proje-
mentos de geração termelétricos, novos e exis- tos de geração estão submetidos. Ao contrário,
tentes, com início de suprimento de potência a os projetos de eficiência energética liberam
partir de julho de 2026 e de energia a partir de capacidade nas redes de distribuição e trans-
janeiro de 2027. missão. Seus resultados podem ser avaliados e
medidos, mediante metodologias consagradas
As diretrizes apresentadas pelo MME para de Medição e Verificação (M&V), tais como as
esse leilão de capacidade se evidenciam na con- previstas no protocolo EVO (Efficiency Valuation
tramão do que se era de esperar de um governo Organization).
comprometido com o enfrentamento da crise
hídrica e alinhado com uma transição energéti- A inclusão da eficiência energética e da ge-
ca renovável e justa. A energia a ser contratada ração distribuída de base renovável já tem sido
virá exclusivamente de termelétricas que abre implantada em outros países, como supridores
espaço para novas térmicas a combustíveis fós- de capacidade para o sistema elétrico, partici-
seis, por exemplo. Além disso, o início de su- pando em igualdade de condições com as fon-
primento será só em 2026 e, portanto, de nada tes de geração convencionais e mesmo renová-
contribui para a ação emergencial diante da cri- veis. Pode-se citar como exemplos de sucesso a
se que ora se deflagra no setor elétrico brasilei- PJM e a New England ISO (Thymos, 2019).
ro. Vale lembrar que essas novas contratações
de termelétricas adicionarão ainda mais custos 4.2 Leilão de Eficiência Energética
ao sistema elétrico.
Uma das medidas mais promissoras para a
Por isso, insistimos que as diretrizes desse inserção competitiva da eficiência energética no
leilão precisam ser revistas de modo a incluir sistema elétrico é o leilão de eficiência energéti-
projetos de eficiência energética e de geração ca, por sua capacidade de viabilizar economias
distribuída (GD). No caso específico da GD, sua de energia em escala a partir da mobilização de
grande composição é de painéis fotovoltaicos, um mercado de eficiência energética.
uma fonte intermitente. Há uma visão errônea
que a geração intermitente fornece apenas No cenário internacional, a realização de lei-
energia e não capacidade ao sistema elétrico e lões de eficiência energética é um recurso am-
é nesta visão que se ancora a Portaria 20/2021. plamente utilizado. Em alguns mercados de
Isto está errado e ignorar a contribuição de po- eletricidade, a eficiência energética concorre
tência das fontes intermitentes as desvaloriza em igualdade de condições com fontes de ener-
artificialmente em relação as fontes despachá- gia convencionais ou renováveis. Exemplos não
veis térmicas e promove uma expansão do se- faltam. No programa da PJM, em Filadélfia, nos
tor contrária à descarbonização da matriz elétri- EUA, o mercado de capacidade teve uma oferta
ca. Como visto em Amado et al. (2021), as fontes de 2.832MW de projetos de eficiência energética
eólica e fotovoltaica (seja em geração centrali- para serem entregues em 2021/2022. No último
zada ou em GD) fornecem, além de energia, leilão de capacidade da New England ISO, 12%
capacidade ao SIN. Isto deveria ser considera- do contratado foi de ofertas do lado da deman-
do no desenho dos leilões de capacidade para da. No Missouri, a concessionária local fez leilão
promover uma competição com neutralidade onde as indústrias competem por recursos a
tecnológica em relação às fontes. Finalmente, fundo perdido para diagnóstico e financiamento

A hora e a vez da eficiência energética | 23


de parte do investimento. Em Ohio, os consumi-
dores participam em leilão reverso por recursos
para diagnóstico e investimento em eficiência.
Na Suíça, foi realizado leilão para subsidiar in- A REALIZAÇÃO DO LEILÃO DE
vestimentos aos melhores projetos de eficiência EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM
energética. Portugal tem programas bianuais,
RORAIMA PODE SER UM GRANDE
LABORATÓRIO DE EFICIÊNCIA
onde distribuidoras, comercializadoras, associa-

ENERGÉTICA, REPLICÁVEL EM
ções empresariais e empresas concorrem com
projetos por recursos governamentais para in-
vestimento em eficiência energética. TODO O PAÍS, CUJO MECANISMO
DE MERCADO TRAZ UM NOVO E
Os modelos são diversos, mas sempre na di- ATRATIVO MODELO DE NEGÓCIO.
reção de utilizar mecanismos de mercado. Estes
têm se mostrado os mais eficazes como meio
de promoção da eficiência energética. Em um
relatório de 2018 da Agência Internacional de Em números, a expectativa é que o montante
Energia Elétrica (IEA) denominado “Energy Ef- de energia a ser poupada em Roraima, estimado
ficiency 2018 – Analysis and Outlook to 2040”, em 4 MW (equivalente a 35,06 GWh/ano), propor-
é recomendado o uso de instrumentos basea- cione uma economia de R$ 41 milhões por ano
dos em mercado para encorajar investimentos em óleo diesel, R$ 26 milhões por ano na conta
e inovação nos modelos de negócio (IEA, 2018). do contribuinte, além da redução de 300 tone-
ladas por ano de CO2 equivalente, considerando
Apesar de leilões de eficiência energética já se- somente a poluição emitida pelos motores.
rem realidade em outros países, ainda não foram
implantados no Brasil. Desde 2017, a ANEEL tra- 4.3 PEE - Projeto Prioritário de Hospitais
balha num piloto a ser realizado no estado de Ro-
raima, que culminou no Leilão nº 4/2020-ANEEL, Em 2019, a ANEEL abriu uma consulta públi-
denominado Leilão de Eficiência Energética, mas ca para um programa prioritário voltado para
que nunca chegou a ser levado a cabo. o setor de hospitais. Porém, desde então, não
se tem notícia da evolução dessa iniciativa. Res-
Roraima foi escolhido para esse Projeto Pi- gatar o programa prioritário de hospitais pelo
loto por várias razões que demandam atenção PEE, neste momento de crise sanitária, tem um
especial, como por exemplo, ser um sistema duplo significado: primeiro, há um grande po-
isolado, o único estado não conectado ao SIN, tencial de ganhos de eficiência energética na
dependente quase que exclusivamente de ter- melhoria da infraestrutura hospitalar; segun-
moelétricas caras que oneram substancialmen- do, a redução de custos associados à energia
te os consumidores de todo o país por meio da e à manutenção e operação dessas edificações
CDE e que, nem por isso, tem uma política de- libera recursos que podem ser destinados ao
finida de redução de consumo de energia sim- fortalecimento das condições de atendimento
plesmente pelo uso eficiente. do sistema de saúde.

A realização desse Leilão em Roraima pode Como é possível verificar no Gráfico 8, ex-
ser um grande laboratório de Eficiência Energé- cluindo o uso de equipamentos e aparelhos
tica, replicável em todo o país, cujo mecanismo hospitalares, o maior consumo elétrico em hos-
de mercado traz um novo e atrativo modelo de pitais advém dos sistemas de climatização, se-
negócio em que o Agente deve garantir resul- guido por iluminação e refrigeração8.
tados efetivos quanto à redução do consumo
de energia nas unidades consumidoras por ele
atendidas, ao tempo em que um fundo garanti-
dor, derivado do PEE, permite que o Agente re- 8
Fonte: Mitsidi/PHS, 2021. Estudo realizado pelo Projeto Hos-
ceba monetariamente na mesma proporção em pitais Saudáveis (PHS) em conjunto com Mitsidi Projetos, que
identificou os principais vetores de consumo elétrico e avaliou
que economizou no uso da energia. o potencial de eficiência energética em 33 hospitais brasileiros,
distribuídos em quase todas as macrorregiões do país.

A hora e a vez da eficiência energética | 24


GRÁFICO 8 | Distribuição do consumo de energética para edificações públicas, este De-
energia elétrica para cada tipo de equipa- creto restringiu essas medidas aos órgãos da
mento (kWh/ano). administração pública federal. Além disso, esta-
beleceu que tanto as CICEs quanto as metas são
AC Central
Expansão Direta
emergenciais, valendo somente até 2022. 
8%
AC Unitario AC Central
15% Expansão Indireta O Decreto 10.779/2021 perdeu uma grande
18% oportunidade de ampliar a obrigatoriedade
Fluorescente
Refrigeração das CICEs e das metas de economia de energia
Unitário
3% Ar-Condicionado
42% 3% elétrica para todas as edificações públicas, in-
Led
Iluminação Refrigeração
9% 4%
cluindo as estaduais e municipais. Há respaldo
6% Refrigeração legal para tanto, conforme reza o art.4o da Lei
Outros
45% Central
2% 10.295/2001.

Recomenda-se, portanto, revisar esse Decre-


Outros to. E, para tanto, trazemos alguns elementos
45% que comprovam o enorme potencial, particu-
larmente nas instâncias municipais. 
Fonte: Mitsidi/PHS, 2021.
O planejamento energético municipal con-
Apenas a título de evidenciar os benefícios densa um conjunto de medidas. Em primeiro
desse programa, fizemos algumas estimativas a lugar, pressupõe uma coordenação municipal,
partir de dados obtidos de projeto coordenado semelhante às CICEs propostas no Decreto. A
pelo Projeto Hospitais Saudáveis em parceria essa coordenação municipal caberia  gerir o
com a Mitsidi Projetos, o qual avaliou o poten- consumo das edificações públicas, centralizar
cial de eficiência energética de uma amostra de o monitoramento dos consumos de eletricida-
33 hospitais. Extrapolamos este potencial para de dos prédios públicos, gerir mais facilmente
um universo de 6.702 hospitais9 e consideramos as ações de manutenção predial, e coordenar
que apenas metade do potencial de economia programas de eficiência energética e geração
de energia projetado seria efetivado. Chega- distribuída de fonte renovável. 
mos a uma economia estimada no setor hos-
pitalar de cerca de 2 TWh/ano, o que equivale A estruturação de uma coordenação munici-
a aproximadamente 5% da geração de energia pal, contudo, é apenas o primeiro passo diante
média anual projetada para Usina Belo Monte de uma realidade que aponta para a prevalên-
- PA. Mesmo retratando um cenário muito am- cia de edificações municipais sem qualquer ges-
bicioso, este número é útil para dar a dimensão tão de energia e operando com equipamentos
do potencial de eficiência energética no setor com alto consumo de energia como geladeiras
hospitalar brasileiro. antigas, aparelhos de ar-condicionado e ilumi-
nação ineficientes. 
4.4 Planos municipais de energia10 Para além disso, é preciso incluir tanto o
estabelecimento de critérios de eficiência
Recentemente, o governo editou o Decreto
energética para as compras e aquisições mu-
10.779/2021 como uma das medidas de enfren-
nicipais de equipamentos, quanto a imple-
tamento da crise hídrica. Embora traga aspec-
mentação de códigos municipais de energia
tos positivos, como a obrigatoriedade de cria-
complementares ao código de obras para edi-
ção das comissões internas de conservação de
ficações, com requerimentos para eficiência
energia (CICE) e a fixação de metas de eficiência
energética e energia renováveis aplicáveis às
edificações da cidade. 
9
O número de hospitais foi obtido no relatório de nome “Cená-
rio dos Hospitais no Brasil” da Federação Brasileira de Hospi-
tais em 2019. Os valores dessa extrapolação possuem margem Esta iniciativa é de médio prazo uma vez que
de erro de 14,3% e margem de confiança de 90%. requer decisão de qual código usar, como rea-
10
Este subcapítulo foi elaborado com a colaboração do Conse-
lho Brasileiro de Construção Sustentável. lizar sua implementação e verificação. A imple-

A hora e a vez da eficiência energética | 25


mentação de um código de energia federal se- pensar em economias de mínimo 10% do con-
ria mais rápida e poderia facilitar a adoção por sumo nas edificações municipais com estra-
estados e municípios. tégias de fácil aplicação, o que representaria
uma economia de 729,58 MWh ou R$620 mil ao
O código de energia para edificações é a fer- ano para o município (considerando o custo da
ramenta que mais pode impactar o consumo energia em 2019). 
nas edificações comerciais e residenciais (25%
dos edifícios até 2030, reduzindo até 60% do seu No que tange a todos os edifícios no mu-
consumo). Requerimentos estabelecem desem- nicípio, foi elaborado como parte do projeto,
penhos mínimos para diferentes áreas de uma uma proposta para implementação de “Re-
edificação, como: envoltória, sistemas de ilumi- querimentos de eficiência energética como
nação, de condicionamento de ar, equipamen- política pública para edificações” da cidade,
tos e aquecimento de água. Igualmente podem para ser complementar ao código de obras e
apoiar a adoção de energia renovável pelas outras políticas de gestão energética, na ideia
edificações. Um código de energia para edifí- de um código de energia, o qual previu cená-
cios multifamiliares e comerciais de maior área rios de redução de consumo energético nas
poderia ser implementado em menor prazo em edificações da cidade e tomou como base nor-
todos os municípios com grande impacto.   mativas nacionais. Os requerimentos atingem
pelo menos 50% das edificações das tipologias
O trabalho realizado pelo Conselho Brasilei- residencial, comercial e de serviços. Os cená-
ro de Construção Sustentável (CBCS) na cidade rios previstos consideram a redução no consu-
de Florianópolis, no âmbito do Projeto Cidades mo tanto pelo impacto das ações previstas de
Eficientes com o Programa Floripa Cidade Efi- eficiência energética na envoltória das edifica-
ciente - mostrou que uma gestão integrada do ções, quanto pela incorporação de energia re-
portfólio de edifícios municipais propicia opor- novável, seja para aquecimento de água como
tunidades de eficiência energética, economias para geração de eletricidade, com previsão
financeiras potenciais significativas, sinergias para adoção de 25%, 50% ou 100% de energias
operacionais e ganhos ambientais. Foi levan- renováveis nas edificações aplicáveis. Estimou-
tado um consumo anual de energia elétrica de -se que com a adoção dos critérios nos Reque-
47.232,48 MWh da administração municipal de rimentos e políticas públicas adicionais suge-
Florianópolis em 2019, correspondendo a R$23 ridas, e considerando os diferentes cenários
milhões. A parcela correspondente aos edifícios de inserção de energias renováveis nas novas
municipais foi estimada em 7.295,83 MWh no edificações e reformas, pode-se reduzir o con-
mesmo ano (13% do consumo total da Prefeitu- sumo de energia esperado para 2030 do setor
ra) representando um custo de R$6,2 milhões. residencial de 796 GWh para 722 GWh no cená-
A maior parcela do consumo de energia munici- rio que considera adoção de 25% de energias
pal é devido à iluminação pública, 39.449 MWh renováveis, para suprir o consumo de energia
(66% do consumo total da Prefeitura). Duas Gin- das edificações. Em um cenário de 50% de in-
canas energéticas foram realizadas em edifícios serção de renováveis o consumo estimado se-
administrativos da prefeitura que identificaram ria de 679 GWh e no cenário mais otimista (de
ações de baixo custo e alto benefício, várias de- 100% de renováveis), a redução seria para 593
las ligadas à operação das edificações. As eco- GWh em 2030. Para o setor comercial e de ser-
nomias previstas foram de 14% a 28% anuais no viços, há o potencial de se reduzir de 545 GWh
consumo das edificações representando ambas (consumo estimado para 2030) para 475 GWh
as edificações economias de R$116.191,00 no no cenário de 25% de renováveis, ou 436 GWh
ano e valor presente líquido de R$544.813,00. no cenário de 50% de inserção de renováveis,
Além disso, foram realizadas 8 auditorias ener- chegando até 358 GWh no cenário mais otimis-
géticas em escolas que mostraram o impacto ta (100% de renováveis). Os resultados podem
de estratégias como substituição de refrigera- ser observados nas figuras para as tipologias
dores e iluminação existentes por mais eficien- residencial e comercial/serviços, onde foram
tes, resultando em um potencial de economia estimados para 2030 com relação ao consumo
de 11% a 25%. Dessa forma, mostrou-se viável de 2005, considerando a tendência de cresci-

A hora e a vez da eficiência energética | 26


mento de consumo energético observado até Por razões de ganhos para a população e
2019. As reduções máximas estimadas no me- baixo custo para o governo, a implementação
lhor cenário (cenário 3) no ano de 2030 foram de códigos de energia em estados e municípios
de 25% para o setor residencial e de 34% para é sem dúvida uma das mais importantes ações
o setor comercial e serviços, conforme mostra de eficiência energética que pode ser imple-
o Gráfico 9. mentada no curto e médio prazo.

GRÁFICO 8 | Projeções de redução do consumo de energia (GWh) em diferentes cenários de


implementação de critérios de eficiência energética para edificações residenciais, comer-
ciais e serviços.
Residencial

900

800
Consumo de Energia anual (GWh)

700

600

500

400

300

200

100

-
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
2025
2026
2027
2028
2029
2030
CENÁRIO 1 (25%) CENÁRIO 2 (50%) CENÁRIO 3 (100%) BASELINE

Comercial e Serviços

900

800
Consumo de Energia anual (GWh)

700

600

500

400

300

200

100

-
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
2025
2026
2027
2028
2029
2030

CENÁRIO 1 (25%) CENÁRIO 2 (50%) CENÁRIO 3 (100%) BASELINE

Fonte: CBCS, Projeto Cidades Eficientes, 2021.

A hora e a vez da eficiência energética | 27


CONSIDERAÇÕES
FINAIS

A hora e a vez da eficiência energética | 28


Procuramos sintetizar nossas recomendações no quadro a seguir:

ENERGIA
MEDIDA DETALHE ECONOMIZADA
EM 1 ANO (GWh)
MEDIDAS ESTRUTURAIS
Reestruturação da governança Unificação de todos os programas e políticas sob
da eficiência energética a governança de um único órgão federal que te-
-
nha independência. Uma sugestão é a criação de
-
um fundo de eficiência energética nos moldes
do modelo original do Fundo Amazônia
Reestruturação do PEE e do Unificação do PEE e do PROCEL num único pro-
PROCEL grama, estabelecendo critérios objetivos para a -
definição do destino dos recursos e metas pe- -
riódicas de eficiência energética
Reestruturação dos MEPS, PBE Unificação desses programas numa única po-
e Selo PROCEL lítica, estabelecendo sistemática que garanta -
atualização periódica dos parâmetros de efi- -
ciência energética
MEDIDAS DE ALÍVIO DA CRISE HÍDRICA
Revisão dos MEPS para ar- Revisão, pelo CGIEE, dos MEPS de ar-condicio-
-condicionado e geladeira com nado e geladeira associada a uma ampla e mas-
massiva campanha de engaja- siva campanha de informação e engajamento
mento do consumidor do consumidor sobre as novas etiquetas de efi-
ciência energética aprovadas pelo INMETRO
Reavaliar o horário de verão Refinar a estimativa dos impactos do horário
de verão, que pode ter um papel no alívio da Não foi possível
demanda de energia no horário de pico de con- mensurar
sumo noturno
MEDIDAS QUE CONTRIBUEM PARA RESILIÊNCIA DO SISTEMA NO MÉDIO E LONGO PRAZOS
Inclusão de eficiência energé- Inclusão, no leilão de capacidade previsto para
Não foi possível
tica e geração distribuída nos dezembro de 2021, da possibilidade de projetos
mensurar
próximos leilões de capacidade de eficiência energética e de geração distribuída
Leilão de Eficiência Outro projeto parado no PEE. Leilão de eficiên- 35,06 GWh consi-
cia permitiria a negociação de energia econo- derando só o piloto
mizada de Roraima
Projeto Prioritário de Hospitais Efetivação de chamada pública feita pela 2.000 GWh conside-
ANEEL no âmbito do PEE, com ajustes que per- rando um universo
mitam aproveitar os melhores potenciais de amplo do setor
eficientização hospitalar brasieiro
Planos municipais de energia Estabelecimento de planos de gestão energé- Economias médias
tica para prefeituras e de códigos de energia anuais de 84 GWh
para edificações urbanas no cenário de 25%
de inserção de
renováveis ou 128
GWh no cenário de
50% de inserção
de renováveis até
2030 para o poten-
cial de um muni-
cípio do porte de
Florianópolis

A hora e a vez da eficiência energética | 29


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A hora e a vez da eficiência energética | 31


Realização

IDEC

A hora e a vez da eficiência energética | 32

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