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História da Ciência

Material Teórico
A Farsa na Ciência: O Homem de Piltdown

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
A Farsa na Ciência:
O homem de Piltdown

• Introdução;
• Fraude nas Ciências: Relato de Caso, o Homem de Piltdown;
• Considerações Finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar um recorte de caso sobre a farsa na ciência utilizando
como exemplo o caso do homem de Piltdown, uma das farsas mais
duradouras em ciência.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Farsa na Ciência: O Homem de Piltdown

Introdução
Nesta Unidade, apresentaremos um recorte de caso sobre a farsa na ciência
utilizando como exemplo o caso do homem de Piltdown, uma das farsas mais dura-
douras da história científica. A farsa do homem de Piltdown durou mais de 40 anos
e muitos pesquisadores estiveram envolvidos com ela.

Piltdown a fraude interdisciplinar é um texto que traz uma perspectiva histórica


a respeito da fraude de um hominídeo descoberto na região de Piltdown por Charles
Dawson, um antropólogo amador. Juntamente com Dawson, vários personagens
estiveram envolvidos nesse episódio, como o jesuíta Teilhard de Chardin.

Fraude nas Ciências: Relato de Caso,


o Homem de Piltdown
Estudo da arcada dentária de neandertais traz 2 evelações que impressionam cientistas:
Explor

https://goo.gl/VhH1Pr

Para entender melhor sobre o que aqui pretendemos descrever sobre fraude
científica, nada mais pertinente do que iniciar por um vídeo demonstrativo sobre a
história da evolução humana que gera polêmica na área científica.

Um documentário que retrata o contexto do início da humanidade a partir


de estudos de arqueólogos e paleontólogos que descrevem o desaparecimento
dos Neandertais. Se os Neandertais desapareceram, como teriam dado origem
ao homem?
Explor

O documentário pode ser visto no seguinte link: https://youtu.be/C09mb4BOTsM

Quando observamos como a ciência é construída, nos deparamos com variáveis


extracientíficas, questões religiosas, políticas que interferem na produção do
conhecimento científico. Uma variável interessante presente na ciência é a farsa.

Utilizaremos como exemplo de caso o achado de alguns ossos de um suposto


hominídeo antigo que ficou conhecido como o homem de Piltdown. Piltdown é o

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nome de um vilarejo localizado no condado de East Sussex, Inglaterra. Exatamente
essa região serviu como palco de uma das maiores farsas que podemos apresentar
aos interessados por História da Ciência.

Figura 1
Fonte: talkorigins.org

No começo do século XX, entre 1908 e 1915, foram encontrados pelo arque-
ólogo amador Charles Dawson os primeiros fragmentos ósseos de um suposto
hominídeo bem antigo. Os primeiros achados pareciam pertencer a uma nova
espécie de hominídeo. O fóssil era constituído de um crânio semelhante ao de um
homem moderno e a mandíbula semelhante à de um símio. Juntamente, foram
encontrados ossos e dentes de mamíferos plio-pleistocênicos extintos, incluindo
dentes de mastodonte, hipopótamo anão da ilha de Malta, rinoceronte, castor,
veado e cavalo (VIEIRA, 1995, p. 43).

Charles Dawson e Arthur Woodward, paleontólogos do British Museum, comu-


nicaram à sociedade científica a natureza e a importância dos achados em dezem-
bro de 1912.

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UNIDADE A Farsa na Ciência: O Homem de Piltdown

Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons

O fóssil apresentava a mandíbula fraturada em alguns pontos que excluíam o


queixo e o côndilo para a articulação temporomaxilar (VIEIRA, 1995).

A mandíbula também era constituída por dentes molares gastos e, após alguns
estudos de reconhecimento do fóssil realizados pelo anatomista Arthur Keith e
o neuroanatomista Grafton Elliot Smith, tal fóssil foi denominado Eoanthropus
dawsoni, em homenagem a Charles Dawson, seu descobridor. (VIEIRA, 1995;
GOULD, 2004).

Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons

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Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), jesuíta com conhecimento em geologia
e paleontologia, defendia a importância do homem de Piltdown (NEVILLE, 1969).
Contudo, desde o início, diversos anatomistas e antropólogos refutaram essas des-
cobertas, pois alguns achados de fósseis de hominídeos contrariavam o achado de
Piltdown, como os fósseis encontrados por Alvan Marston.

Os achados de Dawson, dada a sua importância, foram guardados para se evi-


tar que fossem danificados. Os especialistas deveriam se contentar em estudar os
moldes das peças originais. Em 1915, Dawson disse então ter encontrado um
novo fragmento de crânio e um dente molar, com essa nova descoberta, até os
mais céticos aceitaram a validade do fóssil como uma nova espécie de hominídeo
(VIEIRA, 1995).

O que foi validado pela comunidade científica como uma nova espécie de homi-
nídeo, o Eoanthropus dawsoni, não passava de uma farsa em que se uniu o crânio
de um homem moderno com a mandíbula de um orangotango. Os dentes foram
desgastados para simular um desgaste humano e o conjunto fóssil foi colorido qui-
micamente (VIEIRA,1995; GOULD, 2004).

Kenneth Page Oakley demonstrou que o fóssil era uma composição de três es-
pécies distintas: partes do crânio humano da idade medieval, parte inferior de uma
mandíbula de um orangotango e dentes fósseis de chimpanzé desgastados para se
parecerem com dentes de hominídeos antigos.

Essa farsa perdurou por mais de 40 anos, consumindo muito trabalho dos pesqui-
sadores para encaixarem o homem de Piltdown na árvore genealógica dos humanos.
Até hoje, restam dúvidas sobre a autoria da “brincadeira”, provavelmente uma peça
pregada nos cientistas da época, só não se imaginava que isso duraria tanto tempo.

Rigor e Integridade nas Pesquisas Científicas


Visto que nem todas as pesquisas divulgadas no âmbito acadêmico e científico são
completamente idôneas, é recomendável sempre se atentar às fontes, revistas cientí-
ficas, instituições acadêmicas e centros de pesquisas renomados, bem como pesqui-
sadores íntegros e comprometidos com a seriedade e o avanço do conhecimento.

Nesse sentido, vale destacar que a confiança é o pilar da atividade de qualquer


pesquisa. Se os pesquisadores e estudantes não tiverem a confiança de que seus
colegas levantaram dados e informações de forma minuciosamente cuidadosa, utili-
zaram técnicas e métodos apropriados, reportaram os resultados de forma correta,
ética e manusearam com respeito o trabalho de outros pesquisadores, todo o traba-
lho será em vão, colocando em dúvida o maior norteador da contemporaneidade:
o conhecimento científico. Daí a importância de seus métodos, experimentações e
comprovações para que à pesquisa científica se atribua confiabilidade.

Quando esses padrões são violados e a confiança rompida, não são afetados
apenas os pesquisadores diretamente envolvidos, mas a própria base da atividade
de pesquisa.

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UNIDADE A Farsa na Ciência: O Homem de Piltdown

Explor
Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990 e
Decreto no 5.839, de 11 de julho de 2006, consideram que a ética é uma construção humana,
portanto, histórica, social e cultural. Consideram a existência do sistema dos Comitês de
Ética em Pesquisa e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa no Brasil. A lei pode ser
acessada no seguinte link: https://goo.gl/peCD3K

É importante salientar que os resultados do trabalho científico têm repercussões


importantes na vida social. Alguns deles podem afetar a saúde e o bem-estar dos
indivíduos e o conhecimento histórico, que acaba sendo reproduzido nas escolas
e universidades de forma duvidosa se os critérios de ética e rigor na produção do
conhecimento científico não forem respeitados.

Comitê de Ética em Pesquisa (CEP):


é um colegiado brasileiro inter-
disciplinar e independente, com
munus público, devendo existir em
qualquer instituição que realiza
pesquisas envolvendo seres hu-
manos no Brasil. O CEP, criado para
defender os interesses dos sujeitos
em sua integridade e dignidade e
para contribuir no desenvolvimen-
to da pesquisa dentro dos padrões
éticos (Normas e Diretrizes Regu-
lamentadoras da Pesquisa Envol-
vendo Seres Humanos – Resolução
CNS 196/96, II.4).

Ainda no que diz respeito às pesquisas que envolvem seres humanos,


Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apre-
ciação de um Comitê de Ética em Pesquisa e cabe à instituição onde se
realizam as pesquisas a constituição do CEP. O CEP contribui para a
qualidade das pesquisas e para a valorização do pesquisador que recebe o
reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada. (Resolução
CNS 196/96. Disponível em: https://goo.gl/CiZdwR.

A Sociedade espera e merece que os resultados da pesquisa científica sejam


realizados com honestidade. É importante também que a sociedade reflita sobre
como o trabalho dos cientistas está sendo realizado. O apoio do pesquisador muitas
vezes vem de investimentos governamentais, de empresas privadas e universidades
e por isso mesmo esses investidores dependem da confiança na sua boa conduta e
dos responsáveis pelo acompanhamento da atividade de pesquisa.

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Considerações Finais
Caro aluno, você estudou a importância da ética na pesquisa para que se evite
fraudes históricas como a farsa do homem de Piltdown, que durou mais de 40
anos. Muitos pesquisadores estiveram envolvidos nessa que é considerada uma
das maiores farsas da ciência.

No Brasil, o CEP é responsável pela avaliação e o acompanhamento dos aspec-


tos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos. Esse papel está bem
estabelecido nas diversas diretrizes éticas internacionais (Declaração de Helsinque,
Diretrizes Internacionais para as Pesquisas Biomédicas envolvendo Seres Humanos
– CIOMS) e Brasileiras (Resolução CNS 196/96 e complementares), diretrizes es-
sas que ressaltam o rigor e a necessidade de revisão ética e científica das pesquisas
envolvendo seres humanos.

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UNIDADE A Farsa na Ciência: O Homem de Piltdown

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Ensino de ciências: pontos e contrapontos
https://goo.gl/G1skPy

 Vídeos
Piltdown Man – Documentário em inglês (1973)
https://youtu.be/2Kb_FAu8Uc0

 Leitura
Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
https://goo.gl/fYKggr
Rigor e Integridade na Condução da Pesquisa Científica - Guia de Recomendações de Práticas Responsáveis
https://goo.gl/tDktKk

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Referências
GOULD, Stephen Jay. O Polegar do Panda: Reflexões sobre história natural. 2.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 297 p.

NEVILLE, R. C. Nine Books By And About Teilhard. Journal of the American Academy
of Religion, Oxford, v. 37, n. 1, p. 71-82, mar. 1969. Disponível em: <http://www.
jstor.org/action/doBasicSearch?Query=Nine+Books+By+And+About+Teilhard>.
Acesso em: 07 jun. 2018.

VIEIRA, A. B. Ensaios sobre a evolução do homem e da linguagem. Lisboa:


Ed. Fim de século, 1995. p. 20-21.

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