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Carol Pimentel

O REINVENTOR DO UNIVERSO MATEMÁTICO,


FÍSICO E ASTRONÔMICO

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


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Galileu Galilei

“Quanto mais meios usamos para


imitar algo, mais diferente esse
algo se torna da coisa imitada,
e mais maravilhosa é a imitação.”

Galileu Galilei

Carol Pimentel possui graduação em Licenciatura em Ciências Exatas - Física - pela


Universidade de São Paulo. Tem experiência de mais de dez anos na área de Astrono-
mia. Durante a graduação foi bolsista no Observatório Astronômico da USP - CDA/
CDCC, trabalhou para a Sociedade Brasileira para o Ensino da Astronomia - SBEA,
realizou palestras na área de Astronomia da Campus Party Brasil em 2008, 2009 e 2011.
Foi pesquisadora na área de História da Ciência compreendendo melhor as especifici-
dades e tessituras científicas da eletricidade no Século XVIII. Ainda hoje atua como
professora convidada nos programas Sala de Professor e Acervo na TV Escola - MEC.
Índice
08 Capítulo 1 54 Capítulo 7
HISTÓRIA DA CIÊNCIA ALGUNS CONCEITOS
ASTRONÔMICOS

12 Capítulo 2
Galileu Galileu 78 Capítulo 8
OS ÚLTIMOS ANOS
DE GALILEU
16 Capítulo 3
Carreira Acadêmica
82 Capítulo 9
MISSÕES GALILEU
20 Capítulo 4
Achados Controversos
86 Capítulo 10
DETALHES ESTRUTURAIS
26 Capítulo 5 DE JÚPITER
Telescópio

92 Capítulo 11
44 Capítulo 6 10 COISAS QUE VOCÊ NÃO
AS OBSERVAÇÕES DE GALILEU SABIA SOBRE GALILEU GALILEI

“Nunca conheci um
homem tão ignorante
que me fosse impossível
aprender algo dele.”
Galileu Galilei
PREFÁCIO

E
“Mais fácil me foi ste livro que está em suas mãos
não pretende cobrir, em hipótese
encontrar as leis
alguma, toda a gama de produção
com que se movem científica feita por este incrível matemático,
os corpos celestes, físico e astrônomo. Para tal necessitaríamos
que estão a milhões de infinitas páginas para discutir apenas par-
te de seus tratados. No entanto, podemos nos
de quilômetros,
ater a partes de suas publicações e aprender
do que definir as um pouco mais sobre os conceitos básicos de
leis do movimento astronomia por ele propostos, para que você
da água que escoa também aprenda a olhar para o céu de outra
maneira. Assim, faremos um apanhado geral
frente aos meus da vida e obra de Galileu, suas principais des-
olhos.” cobertas, breves explicações sobre suas obras
e alguns apontamentos sobre conceitos astro-
Galileu Galilei nômicos práticos.
Galileu Galilei

h istória
da Ciência

Capítulo

8
1
9

“A ciência humana de maneira nenhuma


nega a existência de Deus. Quando
considero quantas e quão maravilhosas
coisas o homem compreende, pesquisa
e consegue realizar, então reconheço
claramente que o espírito humano é
obra de Deus, e a mais notável.”

Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Q
uando fui convidada a participar
deste projeto fiquei particularmente
intrigada sobre como resolver algu-
mas questões que resvalam entre minha vida
acadêmica e a parte prática da astronomia e,
mais especificamente de Galileu. Fiquei preo-
cupada em ferir os ensinamentos dos pesqui-
sadores de História da Ciência, que são profis-
sionais cautelosos no resguardo da história e de
seus fatos, para que sejam narrados, discutidos,
aprofundados e registrados com o maior cui-
dado - e veracidade - o possível.
Existem inúmeros grupos por todos os paí-
ses que se dedicam a estudar os fatos científicos
que hoje nos são apresentados de forma sim-
plista nas disciplinas escolares. Vemos a “ciência
Capítulo que deu certo” e pensamos na ciência como in-

1
críveis “gênios” que, de repente, tiveram a mais
incrível das ideias; como num passe de mágica
e voilá. Mas o que nem todos sabem - ou o que
quase nunca é divulgado - é que as ideias não
surgem do nada! Sim, caro leitor! Não se sinta
diminuído por não ter tido uma ideia incrível
e publicado algo inusitado em sua tenra juven-
tude. Alguns conceitos se fazem necessários e,

10
11
Existem diversos
grupos de pes-
quisa de História
da Ciência que se
dedicam a desven-
dar a história dos
grandes marcos de
nossa sociedade.
Dentre eles pode-
mos citar:
History of Science Society
para tal, tomei a liberdade de inserir estes pa- (fundada em 1924, sediada
rágrafos, que são necessários para a compreen- nos Estados Unidos);
são geral da ciência. Alguns institutos como o British Society for the History
Grupo de História, Teoria e Ensino de Ciên- of Science (fundada em 1947,
cias (GHTC) da Unicamp é um dos institutos no Reino Unido).
que se dedica a estudar e se aprofundar neste
empolgante universo de descobertas! No Brasil, temos:
O trabalho de um historiador da ciência Grupo de História, Teoria e
pode, em termos bem simples - e peço licença Ensino de Ciências - GHTC
a meus colegas da área por simplificar o nosso (fundado em 1991, na cidade
árduo trabalho - mas que pode ser comparado de Campinas/SP)
ao de um arqueólogo. São horas de pesquisa Sociedade Brasileira de His-
debruçados sobre manuscritos e livros nas mais tória da Ciência - SBHC
variadas línguas para se extrair um pequeno (fundada em 1983 na cidade
fragmento de conteúdo histórico que traz à luz de São Paulo)
um novo mundo de descobertas. Alguns fatos
marcantes, como a pipa empinada por Benja- E algumas associa-
min Franklin não ocorreram exatamente como ções específicas por
alguns livros divulgam... áreas:
Por outro lado acredito em todas as for- Sociedade Brasileira de His-
mas de divulgação e acho que devemos pu- tória da Matemática (SBH-
blicar em todos os periódicos que pudermos Mat) e a
para que todas as formas de conhecimento se- Associação Brasileira de Fi-
jam transmitidas e para que novos universos losofia e História da Biologia
se abram diante de nossos olhos! (ABFHiB)

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Capítulo

2 Galileu
Galileu

12
13

“Não me sinto obrigado a acreditar


que o mesmo Deus que nos dotou de
sentidos, razão e intelecto, pretenda que
não os utilizemos.”

Galileu Galilei
Galileu Galilei

Caio Plínio Segundo


(1923 – 1979)

E
m se tratando de uma sequência não
Capítulo abordarei aqui as citações feitas no li-

2
vro anterior desta série, embora algumas
alusões se façam necessárias. Para começar, não há
como não olhar rapidamente a biografia de Galileu
em curtos e singelos parágrafos.
Galileu Galilei nasceu em 15 de fevereiro de
1564, em Pisa no Ducado de Florença, Itália. Ele foi
o primeiro dos seis filhos de Vincenzo Galilei, um
músico e teórico da música muito aclamado, e Giu-

14
15

A profissionalização
da História da Ciência
ocorreu no século XX,
mas é difícil dizer quando
ela surgiu exatamente.
Segundo o Professor Dr.
Roberto de Andrade Mar-
tins, diversos “gêneros”
de História da Ciência
podem ser notados desde
trabalhos muito antigos
e encontram correspon-
dentes em produções
atuais. Se pensarmos no
costume existente desde
a Antiguidade de estudar
lia Ammannati. Em 1574, a família mudou- os precedentes históricos
-se para Florença, onde Galileu começou sua de um assunto com a fina-
educação formal no mosteiro Camaldolese lidade de proceder a sua
em Vallombrosa. pesquisa, é possível dizer
Em 1583, Galileu entrou na Universida- que Aristóteles (no século
de de Pisa para estudar medicina. Munido de IV a.C.) teria sido um dos
certa predisposição e talento, ele logo tornou- primeiros a adotar essa
-se fascinado por muitos assuntos, dentre eles, atitude. Na obra História
podemos destacar a matemática e a física. Du- Natural, de Plínio, o Ve-
rante sua estada em Pisa, Galileu foi exposto à lho (23-79 d.C.), encon-
visão aristotélica do mundo, até então a prin- tramos também outra for-
cipal autoridade científica e o único sanciona- ma de História da Ciência
do pela Igreja Católica Romana. Em princí- muito antiga: o registro
pio, Galileu apoiou esta posição, como qual- de quem fez o quê, des-
quer outro intelectual de seu tempo e estava cobertas, datas e autores.
prestes a se tornar um professor universitário. Esse gênero nos remete à
No entanto, devido a dificuldades financeiras, História da Ciência costu-
Galileu deixou a universidade em 1585, antes meiramente apresentada
mesmo de concluir seus estudos. nos livros didáticos.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Capítulo

C
16
3 arreira
Acadêmica
17

“O grandíssimo livro da natureza está


escrito em língua matemática e os
caracteres são os triângulos, círculos
e outras figuras geométricas (...) sem as
quais se estará vagueando em vão por um
obscuro labirinto.”

Galileu Galilei

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Galileu Galilei

Imagem do tratado “La


Bilancetta” publicado
postumamente em 1644

G
Capítulo alileu continuou a estudar matemática,

3
sustentando-se com posições de ensino
menores. Durante este tempo ele come-
çou seu estudo que seria concluído em duas décadas
sobre objetos em movimento e em seu tratado “La
Bilancetta”, descreve os princípios hidrostáticos de
pesagem de pequenas quantidades e a criação de sua
balança hidrostática. Isso lhe rendeu um cargo de
professor na Universidade de Pisa, em 1589.

18
19

A profissionalização
da História da Ciência
ocorreu no século XX,
mas é difícil dizer quando
ela surgiu exatamente.
Segundo o Professor Dr.
Foi lá que Galileu teve a oportunidade Roberto de Andrade Mar-
de realizar suas tão conhecidas experiências tins, diversos “gêneros”
com a queda de objetos e produziu seu ma- de História da Ciência
nuscrito “De Motu” (Sobre o Movimento), podem ser notados desde
baseando-se nas observações de Aristóteles trabalhos muito antigos
sobre o movimento e queda de objetos. Com e encontram correspon-
suas experiências de movimento de esferas dentes em produções
em planos inclinados Galileu se aproximou atuais. Se pensarmos no
do que seria mais tarde conhecido como a costume existente desde
primeira lei de Newton. Suas descobertas a Antiguidade de estudar
sobre o movimento tiveram uma abordagem os precedentes históricos
matemática profunda que serviu de base usa- de um assunto com a fina-
da para analisá-las. A abordagem matemática lidade de proceder a sua
se tornaria a marca registrada da física dos sé- pesquisa, é possível dizer
culos XVII e XVIII e por esta razão Galileu que Aristóteles (no século
seria chamado o “pai da física matemática”,
IV a.C.) teria sido um dos
mas suas críticas estridentes aos trabalhos de
primeiros a adotar essa
Aristóteles o deixaram isolado de seus discor-
atitude. Na obra História
dantes colegas. Em 1592, o seu contrato com
Natural, de Plínio, o Ve-
a Universidade de Pisa não foi renovado.
Galileu rapidamente encontrou uma nova lho (23-79 d.C.), encon-
posição na Universidade de Pádua, o ensino de tramos também outra for-
geometria, mecânica e astronomia. A nomea- ma de História da Ciência
ção foi uma sorte, pois seu pai havia morrido muito antiga: o registro
em 1591, deixando Galileu sob seus cuidados, de quem fez o quê, des-
seu irmão caçula Michelagnolo. Ao longo de cobertas, datas e autores.
18 anos na Universidade de Pádua, ele deu au- Esse gênero nos remete à
las incomuns que acabaram atraindo grandes História da Ciência costu-
multidões de seguidores e aumentando ainda meiramente apresentada
mais sua fama. nos livros didáticos.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

A chados
Controversos
Capítulo

20
4
21

“A verdade é filha do tempo


e não da autoridade, mas a dúvida
é o começo da sabedoria.”

Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

E
m 1604, Galileu publicou As Ope-
rações do Compasso Geométrico e
Militar, revelando suas habilidades
com experiências e diversas aplicações tecno-
lógicas práticas. Ele também construiu uma
balança hidrostática para medir pequenos ob-
jetos. Esta evolução trouxe acresceu muito ao
Capítulo conhecimento da civilização humana. Nesse

4
mesmo ano, Galileu se aprofundou em suas
teorias sobre o movimento e os objetos que
caem, e desenvolveu a lei da queda dos corpos
a que todos os objetos do universo obedecem.
Na época de Galileu acreditava-se que
corpos mais pesados caíam mais rápido que
os leves. Que a Terra era imóvel e ocupa-
va o centro do universo. O Sol, a Lua, os

22
23

Aristóteles acreditava
que havia quatro principais
elementos, ou compostos,
que modelavam a Terra: ter-
ra, ar, água e fogo; cada um
desses elementos possuía seu
lugar próprio. O elemento
Terra (sólido) ficava em bai-
xo - a terra está no chão, as-
sim como as pedras e sempre
que as tiramos desse lugar
elas voltam para ele.
O Ar a que Aristóteles se
refere é um ar puro - diferente
do ar que respiramos compos-
to por diversos elementos quí-
planetas e as estrelas giravam em torno da micos e que se encontra na at-
mosfera terrestre. Aristóteles
Terra com um movimento perfeito: o mo-
também declarou que todo o
vimento circular uniforme. Estas concep- céu e cada fração de matéria
ções faziam parte do paradigma Aristoté- pertencente ao universo eram
lico imposto dogmaticamente pela igreja formados a partir de um quin-
católica cujo questionamento acarretava to elemento, chamado por
em severas penas impostas pela Inquisição - ele de “aether” (transliterado
torturas, confinamentos, fogueira etc. Uma como éter) ou “quintessência”,
elemento este que era leve e
das grandes contribuições de Galileu para “incorruptível”.
o pensamento moderno foi a demolição de Os seres humanos se-
alguns desses paradigmas. riam constituídos por todas
Com relação à queda dos corpos, Aristó- as substâncias, com exceção
teles imaginava que os corpos mais pesados do éter, mas a proporção re-
deveriam cair com maior velocidade. Fato ex- lativa entre os elementos era
única e exclusiva de cada pes-
plicado pela doutrina dos quatro elementos - soa, não havendo nenhuma
Terra, água, ar e fogo até então utilizada. quantidade padrão para elas.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Hans Lippershey
1570-1619

Portanto, para Aristóteles os objetos


sólidos dirigem-se, naturalmente, para baixo
enquanto que os mais leves sobem e, portanto
os objetos mais pesados chegam primeiro.
Muitos pensadores questionavam a
validade de tal hipótese. Galileu propôs a
Em 2 de outubro de 1608, realização de uma experiência para resolver
Lippershey solicitou uma definitivamente o conflito - o lançamento
patente de invenção. A pa- de esferas de diferentes pesos. O interesse de
tente foi negada porque Galileu por explicações científicas para alguns
considerou-se que o disposi- fenômenos antes discutidos só aumentou com
tivo não poderia ser manti- o passar dos tempos. Aos poucos, Galileu
do em segredo, uma vez que começou a expressar abertamente seu apoio
no decorrer do ano 1608 à teoria de Copérnico de que a Terra e os
planetas giravam em torno do Sol. Desafiando
Lippershey fabricou vários
assim a doutrina de Aristóteles e da ordem
telescópios binoculares para
estabelecida pela Igreja Católica.
os Estados Gerais (Holan-
Em julho de 1609, Galileu ouviu falar
da) para uso militar, e foi
sobre um telescópio simples, construído por
muito bem pago por seus
um fabricante de óculos dos países baixos,
serviços.

24
25

“Não há poder
de controle
sobre o
universo
maior do
que o poder
que nos
controla.”

Galileu Galilei

e ao compreender o funcionamento das lentes, Galileu desenvolveu um


dos seus próprios. Acredita-se que Hans Lippershey, construiu em 1608 o
primeiro instrumento para a observação de objetos à distância: o telescópio.
Lippershey desenvolveu esse instrumento - tubo com lentes - para fins bélicos
e não para observações do céu.
A notícia da construção do tubo com lentes por Lippershey espalhou-se
rapidamente e chegou até os ouvidos do astrônomo italiano Galileu Galilei,
que, em 1609, apresentou várias versões do aparelho feitas por ele mesmo a
partir de alguns testes e polimento de vidro. Ao conseguir um bom alinhamento
das lentes, Galileu logo apontou o telescópio para o céu noturno e passou a
ser considerado o primeiro homem a usar o telescópio para investigações
astronômicas. O telescópio de Galileu é, na verdade uma luneta.
Antes de continuarmos, você sabe qual a diferença entre um telescópio
e uma luneta? Como dissemos, este livro não trará apenas os conteúdos
referentes à vida e obra de Galileu, mas também uma série de conceitos
para ajuda-lo a se tornar um astrônomo amador. Então, comecemos com as
diferenças entre os objetos e os seus diferentes usos.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Telescópio

Capítulo

26
5
27

“Permanecer calado não me ofereceu


vantagem alguma, pois meus inimigos,
tão desejosos de me atrapalhar,
chegaram a atribuir-me as obras
dos outros escritores; e, tendo-
me atacado à base destes textos,
chegaram a fazer coisas que, a meu
parecer, pertencem claramente a
ânimos fanáticos e sem raciocínio.”

Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Em 1609, Galileu
Galilei apresentou o seu
primeiro telescópio para
Venetian Senado.

Capítulo

5
m telescópio possui uma lente ou
um espelho que são os responsáveis
por captar a luz emitida ou refletida
pelo objeto que se pretende observar. No pri-
meiro caso (com apenas uma lente e idêntico
ao que Galileu produziu), a lente provoca des-
vios (pequenas refrações) na luz que chega até
ele e esse é o motivo deste tipo de telescópio ser
chamado de refratores.

28
29

Os telescópios refletores (desenvolvidos por Newton) têm como objetiva


(o elemento que capta a luz) um espelho, inicialmente produzido de bronze
polido e depois de vidro, cuja qualidade foi sendo aprimorada ao longo dos
anos e, hoje em dia conseguimos substituí-los por centenas de espelhos rela-
tivamente pequenos que alinhados corretamente produzem o mesmo efeito
de espelhos com dezenas de metros de diâmetro.

A grande maioria dos telescópios inverte as imagens, detalhe que pode ser
alterado introduzindo mais uma lente no percurso da luz dentro do telescó-
pio. Como na maioria das primeiras observações, o astrônomo amador é um
principiante, essa diferença passa despercebida dada a impossibilidade de o
observador ter visto o objeto de observação anteriormente a olho nu. Com
exceção da Lua, que facilmente se vê invertida no telescópio relativamente ao
que os olhos que a veem diretamente.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

5.1. LUNETA
Assim como o telescópio, a luneta também
permite observar objetos longínquos. A lune-
ta nada mais é que um telescópio refrator, que
possui restrições em comparação com o teles-
Das diversas característi- cópio refletor. Enquanto os telescópios refra-
cas de um telescópio, o que
mais motiva as pessoas que se tores usam lentes como objetivas, os refletores
interessam por estes objetos é utilizam espelhos como vimos anteriormente.
descobrir “quantas vezes é que Os refratores produzem uma aberração cromá-
ele amplia?”. Geralmente, os te- tica, isto é, a imagem não apresenta boa defini-
lescópios têm possibilidade de ção, afinal, cada cor que observamos tem um
variar a sua ampliação, através comprimento de onda diferente e, portanto
da simples operação de mudar a
ocular. Com isso, é possível ver, têm distâncias focais diferentes. Já os espelhos
por exemplo, duas ou três crate- não produzem essa distorção.
ras da Lua ou um aglomerado Sinto se vou decepcioná-lo com minhas
de estrelas inicialmente muito próximas palavras, mas não é possível ver
“próximas” umas das outras e, à um planeta ou cometa distante com tanta
medida que se troca a ocular por nitidez quanto vemos nas imagens disponí-
outra que permita ampliação
maior. A sensação que temos veis na internet. Essas imagens foram feitas,
é de que as crateras e as estre- em sua esmagadora maioria, pelo telescópio
las afastam-se umas das outras espacial Hubble em órbita e com tempo de
conforme mudamos as oculares, exposição favorável, sem poluição ou pro-
como se estivéssemos nos apro- blemas na atmosfera.
ximando delas. Assim, ampliar é O que vale ressaltar é que você deve apren-
como que “ver mais perto”, o que
é o mesmo que “ver maior”. der a observar e isso requer tempo e paciên-
Mas o que devemos nos lem- cia! Vivemos em um mundo abarrotado de
brar é que quando ampliamos tecnologia e com a informação ao alcance de
mais e mais chegamos ao ponto nossas mãos e os primeiros astrônomos não
de a objetiva do telescópio não possuíam computadores, televisões ou sequer
poder mais captar luz; chegamos imaginaram a internet, a simples contempla-
assim ao máximo do que o seu di-
âmetro permite e, por isso, a partir ção de um céu estrelado é algo de tirar o fô-
de certo “tamanho” da imagem ela lego e deve ser feita de maneira confortável e
perde a qualidade. No caso das ne- aprendida aos poucos.
bulosas, uma ampliação progressi- Antes de mais nada, proteja-se! Quanto
va faz com que a maior parte das mais confortável você estiver, melhor e mais
estrelas “saia” do campo do teles- longa será sua noite de contemplação. Como o
cópio, deixando de ser vista então
pelo observador. céu é mais limpo no inverno por ser uma esta-

30
31

Em 1609, Galileu Galilei apresentou o seu primeiro telescópio para Venetian Senado.

ção mais seca e não ter tanta formação de nuvens, as temperaturas estão mui-
to baixas e ao longo da noite elas podem cair ainda mais. Por isso você deve se
agasalhar; cobertores, casacos bem quentes, cachecóis, gorros e luvas (aquelas
sem as pontas dos dedos) são a melhor pedida. Não se esqueça também de
levar cadeiras para se sentar de vez em quando, de preferência alguma que
possa ser molhada (por conta do sereno) e, por que não uma garrafa térmica
com chá ou café quente para lhe fazer companhia?
O telescópio foi um dos principais instrumentos do que ficou conhecido
como a revolução científica do século XVII. Ele possibilitou a observação de
fenômenos nunca antes imaginados no céu, e teve uma profunda influência

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

sobre a polêmica entre os seguidores da astrono-


mia geocêntrica tradicional e favoreceu o siste-
ma heliocêntrico de Copérnico. Foi a primeira
extensão de um dos sentidos do homem, e de-
monstrou que os observadores comuns podiam
ver as coisas que o grande Aristóteles não tinha
sequer imaginado! E, portanto, ajudou a mudar
a autoridade na observação da natureza dos ho-
mens com o uso de instrumentos. Em suma, ele
foi o protótipo de instrumentos científicos mo-
dernos que nos trazem infinitas possibilidades
de estudo e de investigação do céu profundo.
Mas o telescópio não foi invenção de cientis-
tas, engana-se quem pensa isso; foi o produto
de artesãos. Por essa razão, grande parte de sua
origem é inacessível para nós, pois os artesãos
eram, em sua esmagadora maioria, analfabetos
e, portanto, não há registros sobre suas primei-
ras fabricações.
Embora o aumento e a diminuição por meio
de objetos transparentes convexos e côncavos
já fossem conhecidos na Antiguidade as lentes
como as conhecemos, foram introduzidas no
Ocidente no final do século XIII. Vidro de qua-
lidade razoável tinha se tornado relativamente
barato e comum nos principais centros de fabri-
cação de vidro - Veneza e Florença – e técnicas
de produção e polimento de vidro tinham atin-
gido um alto grau de desenvolvimento.
A palavra óculos surgiu com o termo Agora, um dos eternos problemas enfren-
ocularium, na Antiguidade Clássica. tados pelos estudiosos do envelhecimento po-
O termo era utilizado para designar deria ser resolvido. Com a idade, o olho perde
os orifícios das armaduras dos solda- progressivamente o seu poder de se acomodar
dos da época, que serviam para per- que, nada mais é que mudar o foco de objetos
mitir que enxergassem. distantes para os próximos. Esta condição, co-

32
33

nhecida como presbiopia, torna-se perceptível


para a maioria das pessoas em seus quarenta
anos, quando elas já não podem mais focar
facilmente nas letras de um texto a uma dis-
tância confortável do olho. Lupas tornaram-se
comuns no século XIII, mas estas não são con-
fortáveis para uso prolongado, especialmente
quando se está escrevendo. Os artesãos de Ve-
neza começaram a fabricar pequenos discos de
vidro, convexos em ambos os lados e que pode-
riam ser usados em uma moldura - óculos.

Modelo de um
dos primeiros óculos

“A condição
natural dos
Por estes pequenos discos terem a forma
corpos não é o
de lentilhas, ficaram conhecidos como “len-
tilhas de vidro”, ou (do latim) lentes. As pri- repouso, mas o
meiras ilustrações de óculos datam de cerca movimento.”
de 1350, e óculos logo vieram a ser símbolos
de aprendizagem. Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Esses óculos se tornaram então, óculos de leitura. Quando alguém tinha


dificuldade em ler, ele procurava um fabricante de óculos ou um vendedor
ambulante de óculos e encontrava um par adequado por tentativa e erro em
inúmeras experimentações. Eles eram, em geral, feitos de vidros velhos. Os
óculos para os jovens, lentes côncavas, que corrigem o erro refrativo conhe-
cido como miopia foram fabricados pela primeira vez (também na Itália) no
meio do século XV. Então, por volta de 1450 todos os “ingredientes” para
fazer um telescópio estavam lá. O efeito telescópico pode ser alcançado por
várias combinações de espelhos e lentes côncavas e convexas. Por que o teles-
cópio não foi então inventado no século XV? Não há nenhuma boa resposta
para esta pergunta, exceto, que talvez, as lentes e espelhos apropriadas não
estavam disponíveis até mais tarde.
O telescópio foi revelado na Holanda. Em outubro de 1608, os Esta-
dos Gerais (o governo nacional), em Haia discutiu os pedidos de paten-
tes primeiros de Hans Lipperhey de Middelburg, e, em seguida, de Jacob
Metius de Alkmaar, por um dispositivo
para “ver as coisas distantes como se es-
“Duas verdades nunca se tivessem nas proximidades.” O objeto
podem contradizer.” consistia em uma lente convexa e côn-
cava afixadas no interior de um tubo, e
Galileu Galilei
esta combinação ampliava entre três ou
quatro vezes. Os avalistas acreditavam
que este dispositivo era muito fácil de ser
copiado e então concederam a patente e um pequeno prêmio para Metius
enquanto que Lipperhey fez várias versões binoculares do instrumento,
pelo qual foi muito bem pago.
Vale ressaltar que nenhuma grande descoberta acontece por acaso.
A maioria das pessoas está voltada para a solução de um problema, ou
em busca de algo que favoreça as necessidades econômicas ou sociais de
uma nação; e é este espírito inovador que motiva os artesãos e cientistas
a produzirem novos objetos ou campos de pesquisa. Então, ao olharmos
para o passado e percebermos que outros tiveram “a mesma ideia” é algo
bastante comum para os historiadores da ciência.
E com as lunetas não foi diferente. Parece que outro cidadão de Mi-
ddelburg, Sacharias Janssen também havia produzido um telescópio
mais ou menos ao mesmo tempo em Frankfurt na Alemanha, onde ele
tentou vendê-lo.

34
35

5.2. TELESCÓPIOS
DE GALILEU
A notícia desta nova invenção se espalhou
rapidamente pela Europa. Por volta de abril de
1609 três telescópios mecânicos podiam ser
comprados em lojas especializadas de vidraria
em Pont Neuf, em Paris, e quatro meses mais
tarde em várias lojas especializadas na Itália.
Sabemos que Thomas Harriot observou a Lua
com um instrumento parecido no início de
agosto de 1609. Mas foi Galileu, que tornou este
instrumento famoso. Ele construiu sua primeira
luneta em junho ou julho de 1609 e apresentou
um instrumento com um sofisticado conjunto
de lentes para o Senado de Veneza, em agosto, e
apontou o objeto para o céu de Veneza em outu-
bro ou novembro do mesmo ano.
Com este instrumento ele observou a Lua,
descobriu quatro satélites de Júpiter, e perce-
beu manchas nebulares em estrelas. Ele pu-
blicou o tratado Sidereus Nuncius (traduzido
como Mensageiro Sideral) em março de 1610.
Verificar as descobertas de Galileu era di-
fícil inicialmente. Na primavera de 1610 nin-
guém tinha telescópios de qualidade para po-
der ver os satélites de Júpiter com nitidez sufi-
ciente, embora muitos tivessem instrumentos
mais fracos com os quais poderiam ver alguns
dos detalhes lunares que Galileu havia descrito
em Sidereus Nuncius. Passaram-se aproxima-
damente seis meses antes que outros pudessem
produzir ou obter instrumentos bons o sufi-
ciente para ver as luas de Júpiter. No primeiro
semestre de 1611 outros astrônomos puderam
verificar as fases de Vênus e a liderança de Gali-
leu na utilização do telescópio para observação Tratado que contém o estudo detalhado
celeste tinha quase que desaparecido. A próxi- de Galileu sobre a Lua

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Galileu Galilei

ma descoberta, de manchas solares desta vez, foi feita por vários observado-
res, de forma independente, inclusive por Galileu.
Um telescópio típico como o que Galileu observou as luas de Júpiter foi
construído da seguinte forma. Tinha uma objetiva plana-convexa com uma
distância focal de cerca de 30-40 polegadas. E uma ocular plano-côncava
com uma distância focal de cerca de 2 centímetros.

Por dentro do telescópio de Galileu

A ocular era um pequeno tubo que podia ser ajustada para focar melhor.
A lente objetiva foi reduzida para uma abertura de 0,5 a 1 polegada e o cam-
po de visão possuía cerca de 15 minutos de arco (cerca de 15 polegadas de
100 metros). O vidro estava cheio de pequenas bolhas e tinha uma coloração
esverdeada (causada pelo teor de ferro no vidro); a forma das lentes eram
razoavelmente boas perto de seus centros, mas ruins nas bordas (daí a neces-
sidade de uma abertura restrita). O fator limitante deste instrumento foi o
seu campo de visão pequeno - cerca de 15 minutos de arco - o que significa
que apenas um quarto da Lua Cheia podia ser acomodada no campo de visão.
Ao longo das próximas décadas, as técnicas de corte e polimento de lentes
foram melhorando gradualmente e passaram se ser um ofício especializado
de fabricantes de telescópio lentamente desenvolvido.
Como mencionado acima, o efeito de um telescópico pode ser consegui-
do com diferentes combinações de lentes e espelhos. No início de 1611, em
seu tratado chamado Dioptrice, Johannes Kepler demonstrou que um teles-
cópio também pode ser feito através da combinação de uma objetiva convexa
e uma ocular convexa. Ele ressaltou que tal combinação produziria uma ima-
gem invertida, mas que a adição de uma terceira lente convexa faria a imagem
voltar ao seu estado “natural” (em pé).

36
37

CUIDADO!
Nunca observe o Sol di-
retamente a olho nu ou com
Tratado Dioptrice de Johannes Kepler qualquer tipo de telescópio,
lunetas ou binóculos! Isso o
No entanto, essa sugestão não foi utilizada cegará imediatamente! Exis-
por astrônomos. Somente depois de Christoph tem técnicas corretas para se
observar o Sol que requerem
Scheiner — um padre jesuíta que se dedicou aos o uso de lentes especiais ou
estudos das ciências naturais e astronomia - pu- anteparos em que a imagem
blicar seu tratado Rosa Ursina em 1630 que esta será projetada. Popularmen-
forma de telescópio começou a se espalhar. Em te divulga-se que usar filme
seu estudo sobre as manchas solares, Scheiner de Raios-x são suficientes
tinha experimentado observar com telescópios para proteger os olhos e ob-
servar um eclipse solar, mas
que tinham oculares convexas, a fim de tornar a isso é errado e pode prejudi-
imagem do Sol projetada através do telescópio car sua visão. Algo que é po-
em um anteparo fixo. pularmente fácil de encon-
Mas, quando ele passou a exibir um objeto trar e mais recomendado se-
diretamente através de um instrumento desse riam lentes de soldador, mas
ainda assim com ressalvas!

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Galileu Galilei

tipo, ele descobriu que, embora a imagem fosse invertida, era muito mais bri-
lhante e o campo de visão muito maior do que em um telescópio de Galileu.
Uma vez que para observações astronômicas uma imagem invertida não é
um grande problema, as vantagens do que ficou conhecido como o telescó-
pio astronômico levou à sua aceitação geral na comunidade astronômica até
meados do século XVII.
O telescópio de Galileu poderia ser utilizado para fins terrestres e ce-
lestes alternadamente. Essa regra não valia para o telescópio astronômico,
pois a sua imagem era invertida. Astrônomos evitaram a terceira lente
convexa necessária para fazer com que a imagem voltasse ao normal, por-
que quanto mais lentes acrescentamos a um conjunto de lentes, mais de-
feitos ópticos aparecem. Na segunda metade do século XVII o telescópio
de Galileu foi substituído - para fins terrestres - pelo “telescópio terres-
tre”, que continha quatro lentes conve-
xas: objetiva, ocular, lentes refratoras e
uma lente de campo (que ampliava ain-
“A verdade não da mais o campo de visão).
resulta do número dos Com a aceitação do telescópio astro-
que nela creem.” nômico, o limite de ampliação causada
pelo pequeno campo de visão do telescó-
Galileu Galilei
pio de Galileu foi temporariamente sus-
penso, e uma “corrida” para desenvolver
o melhor telescópio começou. Por causa
de defeitos ópticos, a curvatura das lentes
tinham de ser minimizada e, portanto, (uma vez que a ampliação de um te-
lescópio simples é dada aproximadamente pela razão das distâncias focais da
objetiva e da ocular) maior ampliação teve de ser conseguida ao aumentar-
mos o comprimento focal da objetiva.
Começando nos anos 1640, o comprimento dos telescópios come-
çou a aumentar. A partir do telescópio de Galileu típico de 5 ou 6 me-
tros de comprimento, os novos telescópios astronômicos passaram a
medir cerca de 15 ou 20 metros de comprimento por meio do século.
Uma montagem de telescópio astronômico típico foi feita por Chris-
tiaan Huygens, em 1656. Ele tinha 23 metros de comprimento e sua
objetiva tinha uma abertura de vários centímetros, que permitia uma
ampliação de cerca de 100 vezes, e seu campo de visão possuía cerca de
17 minutos de arco.

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39

Huygens
Em física, Huygens é
bastante lembrado por seus
estudos sobre luz e cores,
percepção do som, estudo
da força centrífuga, o enten-
Telescópio de 23m de Christiaan Huygens dimento das leis de conser-
vação de energia, o estudo
da dupla refração no cristal
Os novos telescópios tinham atingido ago- da Islândia, e a teoria on-
ra a capacidade de ampliação que seria restrita dulatória da luz – que toma
pelo campo de visão do instrumento. Desta por base a concepção de
vez, um outro dispositivo óptico, a lente de que a luz seria um pulso não
campo veio para resolver este novo problema. periódico propagado pelo
Adicionando uma terceira lente convexa - de éter. Através dela Christiaan
Huygens explicou satisfato-
comprimento focal adequado, e no lugar cer- riamente fenômenos como a
to - o campo de visão aumentaria de forma propagação retilínea da luz,
significativa, permitindo assim um aumento a refração e a reflexão. Ele
maior do objeto observado. Por isso, a corri- também explicou na época o
da para a construção de telescópios continuou recém-descoberto fenôme-
inabalável e seus comprimentos aumentaram no da dupla refração. Seus
estudos podem ser consulta-
exponencialmente. No início dos anos 1670, dos em seu mais conhecido
Johannes Hevelius tinha construído um teles- trabalho sobre o assunto, o
cópio de 140 metros de comprimento! Tratado sobre a luz.

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Galileu Galilei

Telescópio de
Johannes Hevelius

Mas esses telescópios longos eram inúteis para a observação: era quase
impossível manter as lentes alinhadas e qualquer vento causava vibração o
suficiente para desalinhar o instrumento. Depois do ano de 1675, os astrôno-
mos não continuaram a produzir telescópios com tubos. As objetivas eram
montadas sobre um edifício ou poste utilizando uma espécie de articulação
esférica e movimentadas por meio de uma sequência de ajustes; a imagem foi
encontrada por tentativa e erro; e a ocular composta (por uma lente de cam-
po e uma ocular) foi então posicionada para receber a imagem projetada pela
objetiva. Esses instrumentos eram chamados de “telescópios aéreos”.
Embora algumas descobertas tenham sido feitas com esses instrumentos
extremamente longos, esta forma de telescópio tinha atingido os seus limites.
Até o início do século XVIII telescópios muito longos eram raramente mon-
tados, e novas e poderosas formas de aumento, começaram nas primeiras dé-
cadas de 1730, a partir de uma nova forma de telescópio, o telescópio refletor.
Uma vez que o efeito de um telescópico ficou conhecido ao se utilizar uma
variedade de combinações de lentes e espelhos, uma série de cientistas espe-
culou sobre combinações que envolvessem diversos espelhos. Grande parte
dessa especulação foi alimentada pelo estudo teórico cada vez mais refinado
do telescópio. Em seu ensaio chamado La Dioptrique, anexo ao seu Discurso
sobre o Método de 1637, René Descartes abordou o problema da aberração
esférica, apontado por outros cientistas contemporâneos.

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41

Em uma lente esférica fina, nem todos os


raios do infinito - que incidem paralelos ao
eixo óptico - se unem em um único ponto.
Aqueles mais distantes dos eixos ópticos vêm
para um foco mais próximo da parte traseira
da lente, diferentemente dos mais próximos
ao eixo óptico. Descartes ou tinha aprendido
a lei do seno de refração de Willebrord Snell
(Lei de Snell), ou a tinha descoberto de forma
independente, e isso foi o que lhe permitiu a
quantificar a aberração esférica.
René Descartes
A fim de eliminá-lo, Descartes mostrou
(1596-1650)
que a curvatura da lente deve ser plana-hiper-
boloide ou esférica-elipsoidal. Sua demonstra-
ção levou muitos a tentar construir objetivas
plana-hiperboloide, um esforço que es-
tava fadado ao fracasso pelo estado da arte da
moagem da lente. Outros começaram a con-
siderar as virtudes de um espelho parabólico
côncavo como receptor primário: conhecido
desde a Antiguidade onde um espelho traria
raios incidentes paralelos para o foco em um
único ponto.

5.3. TELESCÓPIO REFLETOR


DE NEWTON (1671)
O segundo desenvolvimento teórico sobre
aperfeiçoamento de lentes e telescópios veio
quando Isaac Newton publicou a “Nova Teoria
sobre Luz e Cores” publicado no Philosophical
Transactions of Royal Society of London em 1672.
Newton mostrou que a luz branca é uma com-
posição de luz: cada cor tinha o seu próprio grau
de refração. O resultado foi que nenhuma lente
curva iria decompor a luz branca nas cores do Willbrord Snell
espectro, pois cada qual incide em determinado (1570-1619)
foco num ponto diferente sobre o eixo óptico.

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Galileu Galilei

Newton e o experimento com prisma para estudos da Luz

Este efeito ficou conhecido como a aber-


ração cromática e resultava em uma imagem
central de, por exemplo, um planeta, cercado
por círculos de cores diferentes. Newton ti-
nha desenvolvido sua teoria da luz vários anos
antes de publicar seu artigo, quando ele então
volta sua atenção para a melhoria do telescó-
pio ele já havia perdido a esperança de nunca
livrar o objetivo deste tipo de defeito! Assim,
ele decide usar um espelho, mas ao contrário
de seus antecessores, ele foi capaz de colocar
sua ideia em prática. Ele fez um espelho de
duas polegadas do espéculo de metal (basi-
camente cobre com um pouco de estanho) e,
triturou-o em curvatura esférica. Colocou-o
no fundo de um tubo e travou os raios refle-
tidos sobre um espelho secundário inclinado
em 45° que refletia a imagem para uma lente
ocular convexa do lado de fora do tubo. Ele
Telescópio de Newton enviou este pequeno instrumento para a Royal

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43

Royal Society
of London
É uma instituição desti-
Por dentro do telescópio de Newton nada à promoção do conhe-
cimento científico que foi
Society, causando grande impacto; Newton ha- fundada em 28 de novem-
via desenvolvido o primeiro telescópio refletor. bro de 1660, por Robert
Outros foram incapazes de moer espelhos de Boyle, John Evelyn, Robert
curvatura regular e para adicionar ao problema, Hooke, William Petty, John
Wallis, John Wilkins, Tho-
o espelho manchado devia ser novamente po-
mas Willis e Sir Christo-
lido dentro de poucos meses, com o perigo de pher Wren. Ela ainda existe
causar sérios danos à curvatura. e continua a promover e
Durante décadas o telescópio refletor per- incentivar o desenvolvimen-
maneceu como uma inovação quase que im- to de pesquisas por todo o
possível de ser reproduzida. Na segunda e ter- mundo.
Em 2010, a Sociedade
ceira décadas do século XVIII, no entanto, o
adquiriu o Chicheley Hall,
telescópio refletor tornou-se uma realidade nas em Buckinghamshire, Lon-
mãos de James Hadley e, em seguida, de tantos dres. O edifício foi transfor-
outros. Em meados do século diversos telescó- mado no The Royal Society
pios refletores com espelhos primários de até em Chicheley Hall, lar da
seis centímetros de diâmetro tinham sido cons- Kavli Royal Society Inter-
national Centre que forne-
truídos. Verificou-se que por razões de grande
cerá um prestigiado centro
abertura (a razão entre o comprimento focal do residencial nos arredores de
espelho primário até a sua abertura, tal como a Londres para a realização de
razão f em câmeras fotográficas modernas, por conferências científicas in-
exemplo), f/10 ou mais, a diferença entre os es- ternacionalmente significa-
pelhos esféricos e paraboloides foi insignificante tivas e que oferece oportuni-
dades para as mais variadas
no desenvolvimento do telescópio. Na segunda
reflexões acadêmicas. Quer
metade do século XVIII, James Short e depois saber mais? Visite o site: ht-
William Herschel, passaram a utilizar telescó- tps://royalsociety.org/visit-
pios refletores com espelhos parabólicos. -us/london/

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A S
OBSERVAÇÕES
Galileu Galilei

DE GALILEU

Capítulo

44
6
45

“Se raciocinar fosse como carregar


pesos, então vários raciocinadores
seriam melhor do que um. Mas
raciocinar é como uma corrida... Onde
um único cavalo galopante supera
facilmente uma centena de cavalos
puxando carroças.”

Galileu Galilei

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Galileu Galilei

G
alileu, utilizando seu instrumento
óptico, descobriu diversos fenôme-
nos celestes, dentre eles: as manchas
solares, as crateras e o relevo lunar, as fases de
Vênus, os principais satélites de Júpiter, e a
natureza da Via Láctea formada pela concen-
tração de incontáveis estrelas, iniciando assim
uma nova fase da observação astronômica na
qual o telescópio passou a ser o principal ins-
trumento, relegando ao esquecimento os me-
lhores instrumentos astronômicos da Antigui-
dade (astrolábios, quadrantes, sextantes, esfe-
ras armilares etc.). As descobertas de Galileu
forneceram evidências muito fortes aos defen-
sores do sistema heliocêntrico de Copérnico.

Capítulo

46
6
47

6.1 A LUA DE GALILEU


Quando Galileu apontou seu telescópio para a Lua pela primeira vez, ele
não tinha ideia de que ele estava prestes a ver algo que lançaria dúvidas sobre
as crenças seculares. Na época de Galileu, a ciência ainda se baseava nos en-
sinamentos de Aristóteles. Segundo Aristóteles, a Terra era o centro do uni-
verso. Todos os corpos celestes, incluindo a Lua, eram esferas perfeitas que se
moviam ao redor da Terra com movimentos circulares (ou combinações de
movimentos circulares), e a Terra era a única fonte de imperfeição no univer-
so. As manchas escuras na Lua que sempre foram visíveis ao homem ao longo
dos tempos eram explicadas como partes da Lua que absorviam e emitiam luz
de forma diferente das outras partes, pois acreditava-se que a própria superfí-
cie do astro era perfeitamente lisa.
No entanto, em novembro de 1609
Galileu apontou seu telescópio melho-
rado com ampliação de 20x à Lua pela
primeira vez. Ele decidiu fazer um es-
tudo aprofundado da Lua. De 30 de
novembro até 18 de dezembro do mes-
mo ano, ele examinou, desenhou a Lua
e descreveu sua investigação detalhada
em seu tratado chamado Sidereus Nun-
cius (O Mensageiro das Estrelas), pri-
meiro relato da utilização do telescópio
em astronomia de que se tem registro.
As observações de Galileu o leva- Desenhos da superfície da Lua feitos por Galileu
ram a concluir que a superfície da Lua
não era nada perfeita. Com seu telescópio, ele percebeu pequenas manchas
escuras, que nunca tinham sido vistas antes na parte iluminada da superfície
da Lua, Galileu percebeu também que estas imperfeições também se repe-
tiam nas áreas escuras. A partir dessas e de muitas outras observações, Galileu
concluiu que a superfície da Lua era formada por vales, planícies e monta-
nhas, algo muito parecido com a superfície da Terra (Sidereus Nuncius p 48-
49). As manchas escuras são sombras projetadas por estas montanhas e vales,
assim que a luz do Sol incide sobre eles.
Esta conclusão de Galileu foi um choque para toda a comunidade cien-
tífica da época, pois a Lua era um corpo celeste, imperfeito e esférico; e isso
ia de encontro a tudo o que se acreditava até então. Estas observações levan-

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Galileu Galilei

taram uma série de dúvidas como: se a Lua é


imperfeita, haveria outros corpos celestes im-
perfeitos também? Se corpos celestes podem
ser imperfeitos, por que a Terra não é um corpo
celeste? As conclusões de Galileu sobre a Lua
não abriram o caminho para a eventual aceita-
ção da teoria Copernicana.

Nicolau Copérnico (1473-1543)

Em 1543 o astrônomo polonês Ni- Sistema Heliocêntrico proposto por Nicolau Copérnico
colau Copérnico (1473-1543), em
seu livro chamado De Revolutioni- Galileu começou a reunir um conjunto de
bus Orbium Coelestium (Das Revo- provas que apoiaram a teoria de Copérnico e
luções dos Mundos Celestes) propôs contradiziam a de Aristóteles e, consequente-
uma visão mais assertiva sobre o Sis- mente a doutrina aceita pela Igreja. A reação da
tema Solar: Copérnico formulou a Igreja contra a nova teoria galileana foi rápida,
teoria heliocêntrica, que viria a subs- e Galileu foi chamado a Roma. Os processos
tituir a então aceita teoria ptolomai- da Inquisição duraram de setembro 1632 a ju-
ca. No sistema de Copérnico, o Sol lho de 1633. Durante a maior parte deste tem-
para de se mover ao redor da Terra e po, Galileu foi tratado com respeito e nunca
permanece fixo, imóvel no centro do foi preso. No entanto, em uma última tentativa
universo, e todos os outros astros gi- de fazê-lo revogar suas descobertas, Galileu foi
ram em torno dele. ameaçado de tortura, e ele finalmente admitiu

48
49

que apoiava a teoria de Copérnico, mas não pôde


assumir que suas declarações estavam corretas. Ele
foi condenado por heresia e passou seus últimos
anos em prisão domiciliar. Embora tivesse recebido
ordens expressas para não receber visitantes, nem
ter qualquer de suas obras impressas fora da Itália,
Galileu ignorou ambas. Em 1634, uma tradução
francesa de seu estudo das forças e seus efeitos sobre
a matéria foi publicada e, um ano mais tarde, cópias
deste diálogo foram publicados na Holanda. En-
quanto esteve na prisão domiciliar, Galileu conti-
nuou a trabalhar e a produzir manuscritos de gran- Manchas Solares observadas por Galileu
de importância para o desenvolvimento científico,
um deles foi um resumo do trabalho de sua vida sobre a ciência do movimen-
to e a resistência dos materiais que foi impresso na Holanda em 1638. Nesta
época, Galileu perdeu a visão e enfrentou uma série de problemas de saúde.

6.2. AS MANCHAS SOLARES


Em 1613, Galileu publicou suas observações sobre manchas solares, que
refutaram ainda mais a doutrina aristotélica de que
o Sol era perfeito. Nesse mesmo ano, Galileu es-
creveu uma carta a um aluno para explicar como a
teoria de Copérnico não contradizia passagens bí-
blicas, afirmando que as escrituras sagradas foram
escritas a partir de uma perspectiva terrena.
A carta se tornou pública e membros da Inqui-
sição declararam então a teoria de Copérnico como
herege. Em 1616, Galileu foi condenado a não
apoiar, ensinar ou defender teoria de Copérnico (so-
bre o movimento da Terra) sob quaisquer aspectos.
Galileu obedeceu à ordem durante sete anos, em
parte para tornar sua vida um pouco mais fácil e em
parte por ser um católico devoto.
Galileu foi um dos primeiros europeus a observar
as manchas solares, embora Kepler as tenha observa-
do involuntariamente em 1607 e as confundiu com Discurso sobre as manchas solares
um trânsito de Mercúrio. Ele também reinterpretou observadas por Galileu

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Galileu Galilei

a observação de manchas solares desde o tempo


de Carlos Magno, que anteriormente tinham sido
atribuídas a uma passagem de Mercúrio. A exis-
tência de manchas solares foi outro problema para
Galileu, pois novamente contradizia a perfeição
imutável dos céus como postuladas na física aris-
totélica celestial ortodoxa. E as variações anuais
dos movimentos ‘manchas solares, descobertos
por Francesco Sizzi e outros em 1612-1613, era
um argumento poderoso tanto contra o sistema
de Ptolomeu quanto ao sistema de Tycho Brahe.
Christoph Scheiner A disputa pela propriedade na descoberta de man-
(1573-1650)
chas solares, e em suas interpretações renderam a
Galileu uma longa e amarga rivalidade com o jesuíta Christoph Scheiner. Em
1611, Scheiner observou manchas solares e em 1612, ele publicou as Apelles
Letters em Augsburg, Alemanha. Elas foram uma das muitas razões para a de-
sagradável indisposição entre Scheiner e Galileu Galilei.

6.3. AS FASES DE VÊNUS


Em setembro de 1610, Galileu observou que Vênus exibia um completo
conjunto de fases semelhante à da Lua. O modelo heliocêntrico do Sistema
Solar desenvolvido por Nicolau Copérnico previu que todas as fases seriam
visíveis, pois a órbita de Vênus em torno do Sol apresentaria seu hemisfério
iluminado para a Terra quando ele estivesse do lado oposto do Sol. No mo-
delo Ptolomaico, a órbita de Vênus fora colocada inteiramente no lado mais
próximo do Sol, onde ele exibiria somente
as fases crescente e nova. Em seguida, Vênus
também foi colocado inteiramente no lado
mais distante do Sol, e assim, ele poderia exi-
bir apenas as fases minguante e cheia. Após
observações de Galileu das fases crescente,
minguante e cheias de Vênus, este modelo
Ptolomaico tornou-se insustentável.
A descoberta das fases de Vênus de Ga-
lileu foi sua maior contribuição empírica e
prática para a transição de dois estágios do ge-
Desenhos das fases de Vênus feitos por Galileu ocentrismo completo para o heliocentrismo.

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51

6.4 O PLANETA JÚPITER


Ao longo de oito semanas, de 7
janeiro - 2 março de 1610, Galileu es-
boçou 64 observações das posições
dos quatro satélites de Júpiter. Galileu
observou com seu telescópio o que ele
descreveu na época como “três estrelas
fixas, totalmente invisíveis por seu ta-
manho diminuto”, todas próximas de
Júpiter, e que encontravam-se em um
Notas de Galileu sobre a observação dos satélites de Júpiter
mesmo plano através dele.
Observações sobre noites subsequentes mostraram que as posições dessas
“estrelas” em relação a Júpiter estavam mudando de uma maneira que teria
sido inexplicável se elas realmente fossem estrelas. Em 10 de janeiro, Galileu
observou que uma delas tinha desaparecido. Ele explicou este desapareci-
mento com ao fato dela estar escondida atrás de Júpiter.
Em poucos dias, Galileu concluiu que elas estavam na órbita de Júpiter
e que, na verdade, ele tinha descoberto três dos quatro maiores satélites
(luas) de Júpiter. Ele descobriu o quarto em 13 de janeiro do mesmo ano.
Galileu nomeou o grupo de quatro estrelas Médici, em homenagem ao seu
patrono futuro, Cosimo II de Médici, grão-duque da Toscana, e os três
irmãos de Cosimo. Astrônomos posteriores, no entanto, renomearam os
satélites de Galileu em homenagem a
seu verdadeiro descobridor. Estes sa-
télites são agora chamados Io, Europa,
Ganimedes e Calisto.
Suas observações sobre os satélites
de Júpiter causaram grande revolu-
ção na astronomia: um planeta com
pequenos planetas orbitando-o não
estava em conformidade com os prin-
cípios da cosmologia aristotélica, que
declarava que todos os corpos celestes
deviam orbitar a Terra, muitos astrô-
nomos e filósofos inicialmente recusa-
ram-se a acreditar que Galileu poderia
ter descoberto uma coisa dessas. Imagem das quatro luas de Júpiter e seus nomes atuais

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Suas observações foram confirmadas pelo observatório de Christopher


Clavius e ele foi recepcionado como um verdadeiro herói em sua visita a
Roma em 1611. Galileu continuou a observar os satélites ao longo dos 18
meses que seguiram suas descobertas, e em meados de 1611, ele havia obtido
estimativas notavelmente precisas de seus períodos; um feito que Kepler ti-
nha acreditado ser impossível.

6.5 SATURNO
Galileu observou o planeta Saturno e, a princípio confundiu seus anéis
com planetas, pensando que era um sistema de três corpos. Quando ele ob-
servou o planeta mais tarde, os anéis de Saturno estavam diretamente orien-
tados para a Terra, levando-o a pensar que dois dos corpos tinham desa-
parecido! Os anéis reapareceram quando ele observou o planeta em 1616,
confundindo-o ainda mais.

Primeiras anotações de Galileu sobre Saturno

6.6 NETUNO
Galileu também observou o planeta Netuno em 1612. Ela aparece em
seus cadernos como uma das muitas estrelas fracas e banais; Galileu não o
percebeu como um planeta. Galileu percebeu o seu movimento em relação às
estrelas, mas logo o perdeu de vista por conta de seu movimento.

52
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6.7 A VIA LÁCTEA


Galileu observou a Via Lác-
tea, que antes era tida como
uma nebulosa, e descobriu que,
na verdade ela era composta
por uma infinidade de estrelas
tão densamente condensadas
que da Terra pareceria ser uma
nuvem. Ele localizou muitas es-
Anotações de Galileu sobre Netuno
trelas, tão distantes que era im-
possível observá-las a olho nu. Galileu chegou a observar uma estrela dupla
- Mizar - na constelação da Ursa Maior em 1617. No livro Mensageiro das
Estrelas, Galileu informou que, quando observadas por um telescópio, as es-
trelas parecem meros pontos de luz, essencialmente inalterados na aparência,
e contrastou-as com os planetas, que no telescópio revelaram-se como discos.
Essa segunda observação foi contestada por ele mesmo, pouco tempo depois,
em suas cartas sobre as manchas solares, onde ele relatou que o telescópio
revelou as formas, tanto das estrelas quanto dos planetas como objetos “bem
redondos”. Daqui em diante, ele continuou a relatar que telescópios mostra-
vam as estrelas em formas deveras arredondadas, e que estrelas vistas através
do telescópio mediam apenas alguns segundos de arco em diâmetro.
Galileu também desenvolveu um método para medir o tamanho aparente
de uma estrela sem um telescópio. Conforme descrito em seu Diálogo Sobre
os Dois Máximos Sistemas do Mundo, o seu método consistia em segurar
uma corda fina em seu ângulo de visão da estrela e medir a distância máxima
a partir do qual ela desaparecia por completo. A partir de suas medições e da
largura da corda, ele poderia calcular o ângulo subtendido pela estrela em seu
ponto de visão. Em seu diálogo, ele relatou que havia encontrado o diâmetro
aparente de uma estrela de primeira grandeza e que esta não media mais do
que 5 segundos de arco, e que estrelas de sexta magnitude não passavam de
cerca de 5/6 segundos de arco.
Como a maioria dos astrônomos de sua época, Galileu não reconhece que
os tamanhos aparentes de estrelas que ele mediu eram falsos. Essa diferença
foi causada por difração e distorção atmosférica e não representavam os ver-
dadeiros tamanhos de estrelas. No entanto, os valores de Galileu eram muito
menores do que as estimativas anteriores dos tamanhos aparentes das estrelas
mais brilhantes, como as feitas por Tycho Brahe.

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Galileu Galilei

A LGUNS
CONCEITOS
ASTRONÔMICOS
Capítulo

54 7
55

“É vaidade imaginar que se pode


introduzir uma nova filosofia ao
refutar um ou outro autor. Primeiro, é
necessário ensinar a reforma do espírito
humano, e torná-lo capaz de distinguir
a verdade da falsidade..., o que só Deus
pode fazer!”

Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

P
ara que possamos continuar, mais
uma pausa deve ser feita na astro-
nomia de Galileu e alguns conceitos
básicos de astronomia devem ser apresentados
para que a sua compreensão seja ainda melhor
aos fatos e descobertas de Galileu.

7.1 PARALAXE
Paralaxe é um deslocamento ou a diferença
na posição aparente de um objeto visto ao lon-
go de duas posições diferentes de vista, e é me-
dida pelo ângulo ou semi-ângulo de inclinação
entre as duas linhas. O termo é derivado da pa-
lavra grega παράλλαξις (Parallaxis) que signifi-
ca “alteração”. Objetos próximos têm paralaxe
maior do que objetos mais distantes, quando
observados a partir de posições diferentes, as-
sim a paralaxe pode ser usada para determinar
distâncias.
Astrônomos usam o princípio da paralaxe
para medir distâncias das estrelas mais próxi-
mas. Aqui, o termo paralaxe é o semi-ângulo de
Capítulo inclinação entre duas linhas de visão da mesma

7
estrela, como observado quando a Terra está
em lados opostos do Sol em sua órbita. Essas
distâncias formam o degrau mais baixo do que
é chamado de “a escada cósmica distância”, o
primeiro de uma sucessão de métodos pelos
quais os astrônomos determinam as distâncias
de objetos celestes e que serve como base para
outras medidas de distância em astronomia.

56
57

A paralaxe também afeta os instrumen-


tos ópticos, como miras de rifles, binóculos,
microscópios e câmeras refletoras de lentes
duplas que veem objetos a partir de ângulos
ligeiramente diferentes. Muitos animais, in-
cluindo humanos, têm dois olhos que causam a
sobreposição de campos visuais e, nós usamos a
paralaxe para termos noção de profundidade;
este processo é conhecido como estereoscopia.

7.2 TAMANHO APARENTE


O diâmetro angular ou tamanho aparente
é uma medida angular que descreve o quão
grande uma esfera ou círculo é a partir de um Faça um teste rápido para
determinado ponto de vista. entender melhor o conceito
Em astronomia os tamanhos de objetos de paralaxe. Estique seu bra-
no céu muitas vezes são dados em termos de ço e feche sua mão deixando
seu diâmetro angular, vistos a partir da Terra, apenas o dedo indicador le-
vantado. Posicione seu dedo
ao invés de seus tamanhos reais. Uma vez que
indicador à frente de algum
estes diâmetros angulares são tipicamente pe- objeto no fundo, pode ser
quenos, é comum para apresentá-los em segun- um ponto em um quadro, um
dos de arco. Um segundo de arco é 1/3600 de furo na parede, uma paisagem
um grau, e um radiano é a razão entre o com- ao fundo da janela etc. Feche
primento de um arco e o seu raio. Radiano é o olho esquerdo e olhe com
a unidade padrão de medida angular utilizada o olho direito para sua unha.
Agora, sem mover o braço,
em muitas áreas da matemática, o que equivale feche o olho esquerdo e abra
a de cerca de 206.265 segundos de arco. o direito. Faça isso várias vezes
seguidas e perceba como há
O diâmetro angular da órbita da Terra em uma pequena variação em re-
torno do Sol, equivale a distância de um par- lação à imagem de fundo que
sec, é 1” (um segundo de arco). você escolheu. Percebeu?

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Galileu Galilei

A tabela abaixo apresenta algumas medidas que poderão auxiliá-lo a com-


preender melhor este conceito na prática:

Objeto Celeste Tamanho Aparente


6RO ಿದಿ
/XD ಿದಿ
0HUF¼ULR ೀದೀ
9¬QXV ೀದೀ
0DUWH ೀದೀ
-¼SLWHU ೀದೀ
6DWXUQR ೀದೀ
8UDQR ೀದೀ
1HWXQR ೀದೀ
3OXW¥R ೀದೀ
6LULXV ೀ
*Estrela mais próxima da Terra depois do Sol

7.3 MAGNITUDE
A magnitude aparente (m) de um corpo celeste é a medida do seu brilho
como visto por um observador na superfície da Terra, ajustado para o valor
que teriam na ausência da atmosfera. Quanto mais brilhante o objeto pare-
ce menor o valor de sua magnitude. Geralmente o espectro visível (vmag) é
usado como uma base para o valor aparente, mas outras regiões do espectro,
como a banda-J do infravermelho próximo, também são utilizados. No es-
pectro visível Sirius é a estrela mais brilhante do céu visível (depois do Sol
é claro!), enquanto que na banda-J do infravermelho próximo, Betelgeuse
(estrela da constelação de Órion) é a mais brilhante.

58
59

Visível ao olho Magnitude Aparente


humano




Sim 






Não


Sirius nesta escala tem Magnitude Aparente de 1,47 e Júpiter -2,94.

7.4 AS ESTRELAS
Estes conceitos parecem um tanto quanto óbvios, mas não custa olhar um
pouco mais a fundo as particularidades das definições. Não é de hoje que sa-
bemos que uma estrela é uma esfera luminosa de plasma condensada pela gra-
vidade, ou a definição mais simples que aprendemos no Ensino Fundamental
onde repetimos infinitas vezes que “estrela é um corpo que tem luz própria”.
Mas vejamos um pouco mais de perto estas definições.
As estrelas se formam dentro das regiões de maior densidade inte-
restelar, embora a densidade seja menor do que a que temos no interior
de uma câmara de vácuo. Estas regiões - conhecidas como nuvens mo-
leculares - são constituídas principalmente de hidrogênio, com cerca
de 23 a 28 por cento de hélio e um pequeno percentual elementos mais
pesados. Um exemplo deste tipo de região de formação de estrelas é a
Nebulosa de Orion.

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Galileu Galilei

Todas as estrelas passam a maior par-


te de sua existência como estrelas da se-
quência principal, impulsionadas prin-
cipalmente pela fusão nuclear do hidro-
gênio em hélio dentro de seus núcleos.
No entanto, estrelas de diferentes massas
têm propriedades muito diferentes em
vários estágios de seu desenvolvimento.
O destino final das estrelas mais maciças
é diferente das de menos massivas para
as de grande massa, assim como sua lu-
Nebulosa de Órion minosidade e o impacto que eles têm so-
bre o meio ambiente. Assim, os astrônomos agrupam as estrelas em relação à
sua massa. E como a estrela mais próxima de nós é a que nos dá mais informa-
ção e que nos permite afirmar com mais certeza nossas convicções é o Sol, as
demais estrelas serão sempre comparadas a ele com o símbolo M que indica
a massa do nosso Sol (M = 1,9891 x 1030Kg). Assim, em linhas gerais temos:
Estrelas com massas inferiores a 0,5 x M evoluem diretamente para anãs brancas;
Estrelas de baixa massa (incluindo o Sol), com uma massa de cerca de 0,5 x
M acima e cerca de 1,8-2,2 x M abaixo (dependendo da composição) de-
senvolvem um núcleo de hélio que aos poucos perde a capacidade de fusão
e se condensam abruptamente;
Estrelas de massa intermediária submetem a fusão do hélio e desenvolvem
um núcleo de carbono-oxigênio;
As estrelas maciças têm uma massa mínima de 7-10 x M , mas isso pode
ser tão baixo quanto 5-6 x M . Essas estrelas são capazes de fundir carbono
e suas vidas terminam em uma explosão
de supernova com colapso de núcleo;
Hoje em dia sabemos que as estrelas
possuem composição diferente e conse-
quentemente cores e tamanhos diferen-
tes. Você sabia que a idade de uma estrela
está diretamente ligada à sua cor? Pois é,
quanto mais nova a estrela, mais clara a
sua cor e mais quente a sua temperatura!
O Diagrama de Hertzsprung Russell,
Evolução Estelar também conhecido como diagrama HR,

60
61

foi esquematizado pelo dinamarquês


Ejnar Hertzsprung (1873-1967), em
1911, e pelo americano Henry Norris
Russell (1877-1957), em 1913, como
uma relação existente entre a lumino-
sidade de uma estrela e sua tempera-
tura superficial.
Assim, vemos que as estrelas mais
jovens, são as mais quentes (brancas)
em seu primeiro estágio e conforme
“envelhecem” elas perdem massa e sua
coloração tende ao vermelho. Então,
quando você estiver observando a
constelação do Escorpião, por exem-
plo, e vir Antares, você sabe que ela
é uma estrela bem mais velha do que
Spica da constelação de Virgem. Diagrama HR

Constelação da Virgem

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Galileu Galilei

Outra informação que você também terá é em


relação ao tamanho de cada uma das estrelas, que
obedece esta escala proposta no Diagrama de HR.
Veja aqui alguns exemplos de estrelas comparadas
com outras estrelas mais massivas e com planetas.

Constelação do Escorpião

Quadro comparativo de tamanho

7.5 CONSTELAÇÕES
As estrelas são “os pontos” coloridos que os astrônomos “ligam” para dar
origem a uma constelação. Mas a definição de constelação vai um pouco além
disso, em astronomia, uma constelação é uma área específica da esfera celeste,
tal como definido pela União Astronômica Internacional (IAU). Essas áreas
tiveram suas origens em asterismos ocidentais e a partir daí é que as conste-
lações receberam seus nomes. Há 88 constelações reconhecidas oficialmen-

62
63

te, cobrindo todo o céu. Quando os astrônomos dizem que um objeto está
em uma determinada constelação, significa que ele está dentro dos limites de
uma dessas áreas definidas do céu.
A imagem abaixo apresenta um pedaço do céu onde as linhas azuis de-
marcam as áreas à qual cada constelação pertence. A linha amarela é a fa-
mosa Eclíptica e a linha vermelha é conhecida como Equador Celeste. Não
se preocupe, você não perdeu nenhum conceito importante ainda e estes
dois nós definiremos logo mais. A concepção de constelações que utilizamos
é a greco-romana, mas vale ressal-
tar que povos diferentes enxergam,
ou melhor, projetam no céu outros
símbolos de seu cotidiano e aspira-
ções culturais locais.
Tomemos como exemplo a
constelação do Escorpião. Para
os gregos ele é o animal enviado
por Diana para matar o gigante
caçador Órion por tê-la traído
com uma de suas ninfas. Para os
Malaios, ela é um anzol utiliza-
do por um gigante que pescou Constelações
o arquipélago das ilhas de Maui. E esta mesma constelação, para os índios
Tukano do Alto Rio Negro na bacia do Amazonas é a representação de uma
Jararaca gigantesca que vem abocanhar os peixes do rio em uma determinada
época do ano.
Este exemplo da constelação do
Escorpião ou do Anzol e da Jarara-
ca é apenas um de infinitos outros
que acontecem com todas as cons-
telações. Outro tópico importante
que merece destaque é sobre as
diferentes concepções artísticas
que podemos encontrar em uma
mesma constelação. Por se tratar de
uma representação artística, geral-
mente temos mais de um desenho
para a mesma constelação. Constelação do Escorpião, do Anzol e da Jararaca

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Galileu Galilei

Cuidado! Não estou mudando a configuração das estrelas, mas sim os de-
senhos que são aplicados sobre elas. Uns são mais ricos em detalhes e outros
nem tanto, como é o caso do exemplo abaixo:

Constelação de Órion 1 Constelação de Órion 2

Constelação de Órion 4

Constelação de Órion 3

Acho que estas imagens ilustram bem o que estamos tentando explicar.
Em algumas delas vocês veem Órion segurando a pele de um leão em uma
das mãos, enquanto que em outras ele tem um escudo, mas em todas elas é
possível ver a clava e a posição das estrelas no mesmo lugar. Não há como
dizer que uma imagem está certa ou errada em relação à outra, elas foram
concebidas através de relatos variados e carregam em si as aspirações e visu-
alizações do artista.

64
65

Cada povo projeta no céu suas crenças e costumes e como dizer que certo
povo está correto em relação a outro? Em se tratando de astronomia, ou me-
lhor de Etnoastronomia, devemos estar atentos a todas estas manifestações
de conhecimento, pois elas são de grande valor para a compreensão da hu-
manidade de uma forma muito mais abrangente e direta. O céu, não é só dos
poetas, dos astrônomos ou dos gregos! Ele é um patrimônio da humanidade,
ele é o guardião de sonhos de incontáveis aspirações, desejos e medos de infi-
nitos seres que caminharam por este planeta.

7.6 ESFERA CELESTE


Em astronomia e navegação, a esfera celeste é uma esfera imaginária de
raio arbitrariamente grande, concêntrica com um corpo celestial particular,
no caso, o planeta Terra. Todos os objetos no céu do observador podem ser
pensado como se estivessem sendo projetados sobre a superfície interior da
esfera celeste. A esfera celeste é uma ferramenta prática para a astronomia es-
férica, permitindo que os observadores possam traçar as posições de objetos
no céu quando as distâncias são desconhecidas ou irrelevantes.
Estes conceitos são importantes
para a compreensão dos sistemas
de referência celestes, os métodos
em que as posições dos objetos
no céu são efetivamente medidas.
Determinadas linhas de referência
e planos sobre o corpo celestial,
quando projetadas na esfera celes-
te, formam as bases dos sistemas de
referência. Estes incluem o equa-
dor celeste, eixo e órbita. Em suas
interseções com a esfera celeste,
formam o equador celeste, os polos
norte e sul celestes e da eclíptica,
respectivamente. Como a esfera
celeste é considerada infinita de
raio, todos os observadores veem o
equador celeste, os polos celestes e
a eclíptica no mesmo local contra
as estrelas de fundo. Esfera Celeste

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Galileu Galilei

Para sabermos exatamente onde está determi-


nado objeto no céu devemos quantificá-los através
da construção de sistemas de coordenadas como os
que temos e conhecemos aqui na Terra. A partir des-
sas bases de sistemas de coordenadas semelhantes à
longitude e latitude terrestre, o sistema equatorial
de ascensão reta e declinação especifica posições em
relação ao equador celeste e polos celestes.

7.7 DECLINAÇÃO
A declinação (δ) de um astro é o arco do meri-
diano do objeto de observação compreendido entre
o plano do equador celeste e o astro. Mede-se de 0º
a 90º para Norte ou para Sul, sendo muitas vezes re-
Projeções terrestres na Esfera Celeste
presentado com um valor entre + 90º e − 90º (posi-
tivo representando o Norte e negativo o Sul).
É um dos valores angulares utilizados para definir a posição de um astro
num sistema de coordenadas equatoriais, o outro sendo o ângulo horário ou a
ascensão reta. A declinação é a nossa latitude do sistema geográfico terrestre.

7.8 ASCENSÃO RETA


A ascensão reta é uma coordenada azimutal do
sistema de coordenadas equatoriais que equivale ao
arco, medido no equador celeste, entre os círculos
horários que tradicionalmente passam pelo Ponto
Vernal e pelo astro, respectivamente, no sentido anti-
horário quando visto desde o polo norte celeste.
Pode-se fazer uma analogia ao conceito de longi-
tude terrestre. Seu valor é expresso normalmente em
horas (0h a 24h), mas também pode ser expresso em
Declinação graus (de 0° a 360°).

7.9 ECLÍPTICA
A eclíptica é a projeção sobre a esfera celeste da trajetória aparente do
Sol observada a partir da Terra. A razão do nome provém do fato de que os
eclipses somente são possíveis quando a Lua está muito próxima do plano
que contém a eclíptica.

66
67

Ao definirmos Eclíptica deve-


mos abrir um parênteses para mos-
trar qual a relação entre AstroNO-
MIA e AstroLOGIA. A astronomia
é filha da astrologia, por assim dizer.
Pois as primeiras observações fei-
tas pelo homem primitivo eram em
relação ao claro e escuro (dia e noi-
te) e com o passar do tempo elas se
aprimoraram para que a plantação e
as colheitas pudessem ser realizadas
nos períodos corretos.
O Sol permeia as constelações
zodiacais em um bamboleio eterno Eclíptica
e, este “movimento” é o que dá origem aos estudos astrológicos sobre as in-
fluências dos signos do zodíaco nos seres humanos. Não nos cabe julgar se há
ou não este tipo de influência, mas sim mostrar como este movimento influi
diretamente na astronomia.
Na astronomia, solstício é o momento em que o Sol, durante seu movi-
mento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, me-
dida a partir da linha do equador. Os solstícios ocorrem duas vezes por ano:
em dezembro (Solstício de Verão no hemisfério sul) e em junho (Solstício
de Inverno no hemisfério sul). Devido à órbita elíptica da Terra, as datas nas
quais ocorrem os solstícios não dividem o ano em um número igual de dias.
Na astronomia, equinócio é definido como o instante em que o Sol, em
sua órbita aparente cruza o plano do equador celeste, mais precisamente é o
ponto no qual a eclíptica cruza o equador celeste.
A palavra equinócio vem do latim, aequus (igual) e nox (noite), e significa
“noites iguais”, são as ocasiões em que o dia e a noite duram o mesmo tempo.
Ao medir a duração do dia, considera-se que o nascer do Sol (alvorada) é o
instante em que metade do círculo solar está acima do horizonte, e o pôr do
Sol (crepúsculo ou ocaso) o instante em que o círculo solar está metade abai-
xo do horizonte. Com esta definição, o dia e a noite durante os equinócios
têm igualmente 12 horas de duração.
Os equinócios ocorrem nos meses de março (Equinócio de Outono no
hemisfério sul) e setembro (Equinócio de Primavera no hemisfério sul)
quando definem as mudanças de estação.

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Galileu Galilei

7.10 PONTO VERNAL


O Ponto Vernal é o ponto da esfera celeste determinado pela posição do
Sol quando esse, movendo-se pela eclíptica, cruza o equador celeste - em proxi-
midade ou no dia 21 de março - determinando o equinócio de primavera para
o hemisfério norte e o de outono para o hemisfério sul. Apesar de localizar-se
hoje, devido à precessão dos equinócios, na constelação de Peixes, é também
conhecido como Primeiro Ponto de Áries ou ainda como ponto gama (γ).

7.11 ZÊNITE
Zênite em astronomia é o termo técnico que designa o ponto (imaginá-
rio) interceptado por um eixo vertical (também imaginário) traçado a partir
da cabeça de um observador (localizado sobre a superfície terrestre) e que se
prolonga até a esfera celeste.

68
69

7.12 NADIR
Em astronomia Nadir é o ponto inferior da esfera celeste, segundo a pers-
pectiva de um observador na superfície do planeta. Nadir é a projeção do
alinhamento vertical que está sob os pés do observador, como se “um furo”
varasse o outro lado do planeta e chegasse até a esfera celeste.

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Galileu Galilei

7.13 NEBULOSAS
Nebulosa é uma nuvem interestelar de poeira, hidrogênio, hélio e outros
gases ionizados que podemos chamar de “berçário de estrelas”. Originalmen-
te, nebulosa era um nome para qualquer objeto astronômico difuso, incluin-
do galáxias além da Via Láctea. Como vimos anteriormente Galileu, antes de
observar a Via Láctea com um telescópio acreditava que aquela mancha no
céu era uma nuvem.
A maioria das nebulosas é gigantesca atingindo tamanhos de até cen-
tenas de anos-luz de diâmetro. Embora elas sejam muito mais densas do
que o espaço que os permeia, a maioria das nebulosas são muito menos
densas do que qualquer vácuo criado num ambiente terrestre, isso quer
dizer que uma nebulosa trazida para as dimensões da Terra pesaria ape-
nas alguns quilogramas.
As nebulosas possuem diferentes aspectos e cores e foram cataloga-
das por um astrônomo francês chamado Charles Messier com a coau-
toria de Pierre Méchain, de seu catálogo de objetos de céu profundo,
uma lista de 110 objetos astronômicos como nebulosas, aglomerados
estelares e galáxias.

Nebulosa de Hubble Nebulosa do Olho de Gato Nebulosa da Águia

Nebulosas são muitas vezes regiões de formação estelar, como a Nebulosa


da Águia. Esta nebulosa é retratada em uma das imagens mais famosas da
NASA, como os “Pilares da Criação”. Nestas regiões, as formações de gás,
poeira e outros materiais se condensaram para formar massas maiores, que
atraem ainda mais a matéria, e, eventualmente, agrupam massa suficiente
para formar estrelas.

70
71
Charles Joseph
Messier
(26 de junho de 1730 –
12 de abril de 1817)
7.14 GALÁXIAS Foi um astrônomo francês
Uma galáxia é um sistema ligado gravita- que ficou amplamente conhe-
cionalmente e constituído por estrelas, restos cido pela compilação e publica-
estelares, gás e poeira interestelar e matéria ção, com a coautoria de Pierre
escura. A palavra galáxia é derivada da palavra Méchain, de seu catálogo de ob-
grega galaxias (γαλαξίας) que quer dizer lite- jetos de céu profundo, uma lista
de 110 objetos astronômicos
ralmente “leitoso”, uma referência a Via Láctea como nebulosas, aglomerados
(ou Caminho de Leite). estelares e galáxias são conheci-
As galáxias têm sido historicamente classifi- dos como os Objetos Messier.
cadas de acordo com sua morfologia visual, in- Messier desejava auxiliar a si
cluindo elíptica, espiral, espiral barrada, irregular, mesmo e a outros astrônomos e
e starburst. Acredita-se que muitas galáxias pos- observadores a investigar come-
tas e assim passou a listar todos
suam buracos negros ativos em seus centros. O objetos que pôde identificar e
buraco negro central da Via Láctea, conhecido que poderiam ser facilmente
como Sagitário A, tem massa estimada em quatro confundidos com cometas tran-
milhões de vezes do que a massa do nosso Sol. sientes, mas que, na realidade,
tinham naturezas completamen-
te diferentes e eram fixos no céu
noturno. Assim, Messier, sem
intenção, catalogou alguns dos
astros mais interessantes para a
atual astronomia amadora!
O catálogo de Messier foi
expandido e se tornou o New
General Catalogue (NGC), ou
Galáxia Espiral M88 - da cons- Galáxia espiral M74 - da Catálogo de Objetos NGC que é
telação Cabeleira de Berenice constelação de Peixes um dos catálogos de objetos do es-
paço profundo mais conhecido e
detalhado de todos os tempos. Ele
foi compilado na década de 1880
por John Dreyer que se valeu das
observações de William Herschel
e John Herschel. Originalmente o
catálogo possuía muitos erros que
só foram corrigidos nas revisões
Galáxia espiral barrada na Galáxia irregular Barnard - feitas mais recentemente. Atual-
constelação da Fornalha NGC 6822na constelação de mente o catálogo NGC contém
Sagitário ao todo, 7840 objetos.

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Galileu Galilei

Há aproximadamente 170 bilhões de galáxias no univer-


so observável. A maioria são de 1.000 a 100.000 parsecs de
diâmetro e, geralmente, separadas por distâncias da ordem
de milhões de parsecs (ou megaparsecs). O espaço entre ga-
láxias é preenchido com um gás tênue de densidade média
inferior a um átomo por metro cúbico! A maioria das galá-
xias são gravitacionalmente organizadas em associações co-
Galáxia do Charuto - M82 nhecidas como grupos de galáxias e aglomerados, as quais,
na constelação da Ursa Maior
por sua vez, formam superaglomerados maiores. Em maior
escala, essas associações são geralmente organizadas em fo-
lhas ou filamentos, que são cercadas por uma imensidão de espaço vazio.

Aglomerado de galáxias na constelação da Cabeleira de Berenice, todos os objetos


visto nesta imagem são galáxias

7.15 AGLOMERADOS
Aglomerados de estrelas ou nuvens de estrelas são agrupamentos de es-
trelas e, existem dois tipos de aglomerados: os aglomerados globulares e os
aglomerados abertos.
Os aglomerados globulares são grupos apertados de centenas ou milhares
de estrelas muito velhas que estão gravitacionalmente ligadas.

72
73

Os aglomerados abertos são grupos não tão con-


densados de estrelas e geralmente contêm menos de
algumas centenas de estrelas muito jovens.
Os aglomerados abertos se desfazem ao longo do
tempo pela influência gravitacional de nuvens mole-
culares gigantes que se movem através da galáxia, mas
alguns membros dos aglomerados continuarão próxi-
mos mesmo que eles já não estejam mais gravitacio-
nalmente ligados; eles serão, em seguida, conhecidos
como uma associação estelar ou como um grupo em Aglomerado Globular - M69
movimento. na constelação Sagitário
Alguns aglomerados de estrelas são visíveis a olho
nu, como é o caso das Plêiades, Híades e o Aglomerado
do Presépio.

Aglomerado Aberto - Caixi-


nha de Joias NGC 4755

Aglomerados das Plêiades e Híades da


Híades constelação do Touro

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Galileu Galilei

Plêiades Aglomerado do Presépio -


M44 na constelação de Câncer

7.16 PLANETAS
Um planeta que do grego significa astro errante (pois ele se move) é um
objeto astronômico que orbita uma estrela ou um remanescente estelar e é
grande o suficiente para ser arredondado por sua própria gravidade, mas não
grande o suficiente para promover fusão termonuclear.
O termo planeta é antigo e tem ligações com a história, ciência, mitologia
e religião. Vários planetas do Sistema Solar podem ser vistos a olho nu. Estes
foram considerados por muitas culturas precocemente como algo divino, ou
como emissários de divindades. Como o conhecimento científico avançado,
a percepção humana dos planetas mudou, incorporando uma série de objetos
díspares. Em 2006, a União Astronômica Internacional (IAU) adotou ofi-
cialmente uma resolução definindo os planetas no Sistema Solar. Esta defini-
ção é controversa porque exclui muitos objetos de massa planetária com base
em onde ou o que eles orbitam.
Embora oito dos corpos planetários descobertos antes de 1950 permane-
çam “planetas”, segundo a definição moderna, alguns corpos celestes, como
Ceres, Palas, Juno, Vesta (cada um, um objeto no cinturão de asteroides solar)
e Plutão (o primeiro objeto descoberto depois de Netuno) e que já foram
considerados planetas pela comunidade científica, hoje em dia já não são
aceitos como tal.
Os planetas foram “concebidos” por Ptolomeu como objetos que orbi-
tavam a Terra em movimentos deferente e epiciclo. Embora a ideia de que
os planetas orbitavam o Sol tivesse sido sugerida diversas vezes, não foi até o
século 17 que esta visão foi apoiada pela evidência das primeiras observações
astronômicas telescópicos, realizadas por Galileu Galilei.

74
75

Sistema Ptolomaico de ciclos e epiciclos

Pela análise cuidadosa dos registros de observação, Johannes Kepler des-


cobriu que as órbitas dos planetas não eram circulares, mas elípticas. Como
ferramentas observacionais foram se aprimorando com o passar do tempo, os
astrônomos viram que, assim como a Terra, os planetas giravam em torno de
eixos inclinados, e compartilhavam outras características tais como calotas
de gelo e as estações. Desde o alvorecer da Era Espacial, que permitiu a ob-
servação de planetas por sondas espaciais descobriu-se que a Terra e os outros
planetas compartilham de muito mais características do que se imaginava;
como vulcanismo, furacões, tectônicas e até mesmo hidrologia.
Os planetas são geralmente divididos em dois grandes grupos: os gigantes
gasosos e os terrestres rochosos menores. De acordo com as definições da
IAU, há oito planetas do Sistema Solar. Em ordem crescente de distância do
Sol, eles são os quatro terrestres, Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, em seguida,
os quatro gigantes gasosos, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Seis dos plane-
tas são orbitados por um ou mais satélites naturais.
Engana-se quem pensa que o Sistema Solar termina por aqui. Existem,
possivelmente, várias dezenas de milhares de objetos grandes o suficiente
para terem sido arredondados por sua própria gravidade. Tais objetos são

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Galileu Galilei

classificados como planetas anões. Os planetas anões identificados incluem


o asteroide Ceres, Plutão e Eris. Existem ainda várias populações de corpos
pequenos incluindo cometas, asteroides e poeira interplanetária que viajam
livremente entre as mais afastadas regiões do Sistema Solar.
O vento solar, plasma flui para fora do Sol criando uma bolha no meio
interestelar conhecida como heliosfera. A heliopausa é o ponto em que a
pressão do vento solar é igual à pressão de oposição do vento interestelar. A
nuvem de Oort, o lar dos cometas de longa periodicidade fica em uma distân-
cia aproximadamente mil vezes mais distante do que a heliosfera e, esse sim é
o fim do Sistema Solar.

Mapa do Sistema Solar incluindo a Nuvem de Oort e a estrela


mais próxima de nós, Alpha do Centauro.

Outra ideia que não condiz com a realidade é a de se pensar que o Sistema
Solar está no centro da Via Láctea! Na verdade nós estamos localizados no
Braço de Órion a 26.000 anos-luz do centro da Via Láctea.

76
77

Nossa localização na Via Láctea

Mais de mil planetas em torno de outras estrelas (planetas extrassolares


ou exoplanetas) foram descobertos na Via Láctea: em 28 de março de 2015
estamos com aproximadamente 1.906 planetas extrassolares conhecidos em
1202 sistemas planetários (incluindo 480 múltiplos sistemas planetários),
variando em tamanho, algo um pouco maior que a Lua e outros gigantes ga-
sosos com cerca de duas vezes o tamanho de Júpiter. Em 20 de dezembro
de 2011, a equipe do telescópio espacial Kepler anunciou a descoberta dos
primeiros planetas extrassolares do tamanho da Terra, Kepler-20E e Kepler-
20F, que orbitam uma estrela semelhante ao nosso Sol, Kepler-20. Um estu-
do realizado em 2012, analisando dados de microlente gravitacional, estima
uma média de pelo menos 1,6 planetas orbitando cada estrela na Via Láctea.
Cerca de uma em cada cinco estrelas semelhantes ao nosso Sol pode ter um
planeta do tamanho da Terra e na condição de zona habitável.
Se Galileu não tivesse apontado seu telescópio para a Lua em 1609, talvez
outros o tivessem feito, mas ele foi o grande responsável por todo esse desenca-
deamento de pesquisas e aprimoramentos ópticos e tecnológicos que hoje nos
possibilita sonhar em levar a civilização humana a outro nível de existência.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

O S ÚLTIMOS
ANOS DE
GALILEU

Capítulo

78
8
79

“Não se pode ensinar tudo a alguém,


pode-se apenas ajudá-lo a encontrar o
caminho por si mesmo.”

Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

E
m 1623, um amigo de Galileu, o
cardeal Maffeo Barberini, foi eleito
como o Papa Urbano VIII. Ele per-
mitiu que Galileu prosseguisse com seu traba-
lho sobre astronomia e até mesmo o encorajou
a publicá-lo, com a condição de que fosse obje-
tivo e não defendesse a teoria de Nicolau Co-
pérnico. Em 1632, Galileu publicou o Diálogo
Sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo
que contém uma discussão entre três pessoas:
uma que apoia a teoria heliocêntrica de Co-
pérnico sobre o universo, uma que argumenta
contra ele, e a terceira que é imparcial perante
aos sistemas apresentados. Embora Galileu ale-
gasse que o Diálogos Sobre os Dois Máximos
Sistemas do Mundo fosse neutro, era evidente
que não. O defensor da crença aristotélica sur-
ge como um personagem simplório e constan-
Capítulo temente pego em seus próprios argumentos.

8
Galileu morreu em Arcetri, perto de Flo-
rença, na Itália, em 8 de janeiro de 1642, de-
pois de sofrer de uma febre altíssima e de pal-
pitações cardíacas. Mas com o tempo, a Igreja
não podia negar a verdade e os fatos revelados
pela ciência. Em 1758, ela retirou a proibição
da maioria das obras que apoiavam a teoria de
Copérnico, e por volta de 1835 sua oposição

80
81

ao heliocentrismo caiu por completo. No sé- GALILEU, O PAI


culo 20, vários papas reconheceram a grande DA CIÊNCIA
obra de Galileu, e em 1992, o Papa João Paulo MODERNA
A contribuição de Galileu
II expressou pesar sobre como o caso Galileu
Galilei para a compreensão
foi tratado. A contribuição de Galileu para a do universo foi significa-
nossa compreensão do universo foi significati- tiva, não apenas pelas suas
va, não só em suas descobertas, mas também descobertas, mas também
nos métodos desenvolvidos por ele e no uso pelos métodos que de-
da matemática como ferramenta e linguagem senvolveu e pela coragem
de defender suas ideias,
para defendê-los. Galileu desempenhou um
descobertas e conceitos em
papel importante na revolução científica e, tempos de obscurantismo.
merecidamente, ganhou o apelido de “o pai da Galileu foi fundamental
ciência moderna”. na revolução científica —
expressão criada em 1939,
VIDA PESSOAL pelo filósofo Alexandre
Koyré — iniciada a partir
Em 1600, Galileu conheceu Marina Gam- do século XVI.
ba, uma mulher de Veneza, que lhe deu três
filhos fora do casamento: duas meninas Virgí-
nia e Livia, e um menino Vincenzo. Ele nunca
se casou com Marina, possivelmente devido a
preocupações financeiras e, em grande parte
por temer que seus filhos ilegítimos ameaças-
sem sua posição social. Ele se preocupava com
o fato de que as duas meninas nunca se casaria
bem, e assim que elas atingiram a maturidade
foram enviadas para um convento. Já Vincenzo
tornou-se um músico de sucesso.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

M ISSÕES
GALILEU

Capítulo

82
9
83

“É certamente prejudicial para


as almas tornar uma heresia acreditar
no que é provado.”
Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

A
té agora a única sonda a orbitar Jú-
piter recebeu o nome de Galileu em
homenagem ao pai da ciência mo-
derna. Entrou em órbita ao redor de Júpiter
em 7 de dezembro de 1995.
A sonda orbitou o planeta por mais de
sete anos, realizando constantes aproxima-
ções às luas Galileanas e a Amalteia. A sonda
também testemunhou o impacto do cometa
Shoemaker-Levy 9 quando este se aproximava
de Júpiter em 1994, permitindo que nós pu-
déssemos ver com exclusividade este evento
único. Embora as informações obtidas sobre
o sistema de Júpiter através da sonda Galileu
tenha sido extensa, sua capacidade projetada
originalmente era limitada pela implantação
falha de sua antena radiotransmissora.

Capítulo

9
Concepção artística da Sonda chegando em Jupiter

Uma sonda atmosférica de titânio pesando


aproximadamente 340 kg foi lançada a partir
de uma nave espacial em julho de 1995, prepa-
rada para adentrar a atmosfera de Júpiter em
7 de dezembro do mesmo ano. Ela abriu seu

84
85

paraquedas a aproximadamente 150 km da atmosfera de Júpiter a uma velo-


cidade de cerca de 2.575 km/h e colheu dados por 57,6 minutos antes de ser
esmagada pela pressão atmosférica (cerca de 23 vezes a pressão da Terra nas
condições normais de temperatura e pressão - CNTP e temperatura local de
153°C). Sendo derretida e possivelmente vaporizada. A própria sonda Ga-
lileu experimentou uma versão mais rápida, mas com o mesmo destino, ao
ser deliberadamente conduzida para o planeta em 21 de setembro de 2003,
a uma velocidade de mais de 50 km/s, para evitar qualquer possibilidade de
colidir e possivelmente contaminar Europa - uma lua galileana de Júpiter que
tem grandes chances de abrigar vida.
Os dados desta missão revelaram que o hidrogênio compõe até 90% da
atmosfera de Júpiter enquanto que as temperaturas registradas foram supe-
riores a 300° C e a velocidade do vento medida era de mais de 644 milhas por
hora antes de as sondas serem vaporizadas.

9.1 SONDAS FUTURAS


A NASA tem uma missão em curso para estudar Júpiter em detalhes a
partir de uma órbita polar. A sonda, agora nomeada Juno foi lançada em
agosto de 2011, e chegará ao gigante gasoso no final de 2016. A próxima
missão planejada para o sistema de Júpiter será da Agência Espacial Europeia
(AEE) - Jupiter Icy Moon Explorer ( JIMO), que deve ser lançada em 2022.

9.2 MISSÕES CANCELADAS


Devido à possibilidade de existir oceanos líquidos abaixo da superfície
das luas Europa, Ganimedes e Calisto de Júpiter, tem havido grande interesse
em estudar as luas geladas em mais detalhes. Porém, dificuldades de financia-
mento atrasaram o progresso destas missões. A sonda JIMO da NASA teve
sua missão cancelada em 2005.
A proposta subsequente para uma missão de parceria entre AEE e NASA,
chamada EJSM / Laplace (Europa Jupiter System Mission / Laplace), foi de-
senvolvida com uma data de lançamento provisória para meados de 2020.
EJSM / Laplace seria liderada pelo Jupiter Europa Orbiter da Nasa, e pelo Ju-
piter Ganimedes Orbiter da AEE. No entanto, até abril de 2011, a AEE encer-
rou, oficialmente a parceria com a agência americana ao alegar problemas de
orçamento da NASA que geraram os atrasos no calendário da missão. Assim,
a AEE planeja seguir em frente com uma missão exclusivamente europeia
para completar sua seleção L1 da Cosmic Vision.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

D ETALHES
ESTRUTURAIS
DE JÚPITER

Capítulo

86
10
87

“A filosofia encontra-se escrita neste


grande livro que continuamente se abre
perante nossos olhos.”
Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

J
úpiter tem 67 satélites naturais
confirmados. Desses, 51 têm me-
nos de 10 quilômetros de diâme-
tro e só foram descobertos a partir de 1975.
As quatro maiores luas deste planeta podem
ser vistas da Terra com o auxílio de binó-
culos em uma noite clara e são conhecidas
como os luas galileanas.
As órbitas de Io, Europa e Ganimedes, os
maiores satélites naturais do Sistema Solar, for-
mam um padrão conhecido como ressonância
de Laplace; para cada quatro órbitas que Io faz
em torno de Júpiter, Europa faz exatamente
duas órbitas e Ganimedes faz exatamente uma.
Esta ressonância faz com que os efeitos gravi-
tacionais das três grandes luas distorçam suas
órbitas em formas elípticas, uma vez que cada
lua recebe um “empurrão” extra vindo de suas
vizinhas, sempre no mesmo ponto em cada ór-
bita que realiza. A força de maré de Júpiter, por
outro lado, se sobrepõe e mantém as órbitas
circulares das luas.
A excentricidade de suas órbitas causa
um achatamento regular nas formas destas
três luas. A gravidade de Júpiter “estica-as”
à medida que elas se aproximam do gigante
gasoso mas, por outro lado, essa periodicida-
de lhes permite retomar suas formas esféri-
Capítulo cas. Esta flexão das marés aquece os interio-
res das luas através do efeito de fricção. Isto

10
é visto de forma mais dramática na atividade
vulcânica extraordinária de Io (que está su-
jeito a forças de maré mais avassaladoras),
e em menor grau na superfície de Europa
graças a sua formação geológica mais recen-
te que apresentou modificações recentes na
superfície desta lua.

88
89

Júpiter é um planeta gigante gasoso que tem sua atmosfera composta prin-
cipalmente por gás de hidrogênio e hélio, assim como o nosso Sol. A superfície
do planeta é coberta de espessas nuvens vermelhas, marrons, amarelas e brancas.

Planeta Júpiter

Uma das características mais famosas de Júpiter é a Grande Mancha Ver-


melha. É uma tempestade gigante girando, semelhante a um furacão. No seu
ponto mais largo, a tempestade é cerca de três vezes e meia o diâmetro da
Terra. Júpiter é um planeta com ventos fortíssimos e de velocidade diferente
em cada uma de suas camadas. A velocidade dos ventos varia entre 308 Km/h
até cerca de 650 Km/h.

O Furacão de Júpiter

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Essa grande mancha já atingiu 40.000km de comprimen-


to e 14.000km de largura, grande o bastante para conter três
planetas iguais a Terra. Seu tamanho varia de tempos em
tempos ao que tudo indica, pois fortíssimos ventos impelem
a rotação deste gigantesco tornado. Giovanni Domenico
Cassini foi, provavelmente, o primeiro astrônomo a observá-
la, em 1665. Há quase 400 anos é possível contemplar este
violento fenômeno em Júpiter.
Júpiter, assim como todos os gigantes gasosos tem anéis.
Os jupterianos são bem finos e nada vistosos como os de Sa-
turno. Eles foram descobertos em 1979 pela sonda Voyager
Giovane Domenico Cassini 1 da NASA. Anéis de Júpiter são compostos principalmente
1652 - 1712 de pequenas partículas de poeira.

Anéis de Júpiter

90
91

Sistema Solar com destaque aos anéis dos gigantes gasosos

Júpiter gira, ou revoluciona, mais rápido do que qualquer outro planeta. Uma
rotação é igual a um dia. Dia de Júpiter é de aproximadamente 10 horas terrestres.
Sua órbita é elíptica e leva 12 anos terrestres para Júpiter para dar uma volta em
torno do Sol, portanto, um ano em Júpiter é igual a 12 anos na Terra.
A temperatura nas nuvens de Júpiter é de cerca de menos 145 graus Cel-
sius. A temperatura perto do centro do planeta é muito, muito mais quente.
A temperatura do núcleo pode ser de cerca de 24 mil graus Celsius! Muito
mais quente do que a superfície do Sol!
Se uma pessoa pudesse ficar sobre as nuvens no topo da atmosfera de Jú-
piter, a força da gravidade que ele ou ela sentiria seria de cerca de 2,4 vezes a
força da gravidade na superfície da Terra. Uma pessoa que pesa 50 kg na Terra
pesaria cerca de 120 kg em Júpiter.
Júpiter tem um campo magnético extremamente poderoso que funciona
como um ímã gigante. Abaixo das nuvens de Júpiter acredita-se haver um
enorme oceano de hidrogênio metálico líquido. Como Júpiter revolve muito
rapidamente, todo esse oceano de metal líquido gira com ele e cria o campo
magnético mais forte do Sistema Solar. No topo das nuvens (dezenas de mi-
lhares de quilômetros acima, de onde o campo é criado) o campo magnético
de Júpiter é 20 vezes mais forte do que o campo magnético da Terra.
Você sabia que os dias da semana foram nomeados em homenagem aos
planetas visíveis do Sistema Solar? Pois é, isso funciona para a maioria das
línguas, com exceção do português que adotou o “feria” do latim por tradi-
ções religiosas.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


10 Galileu Galilei

COISAS QUE
VOCÊ NÃO SABIA
SOBRE GALILEU
GALILEI
Capítulo

11
92
93
“A maior sabedoria que existe é a de
conhecer-se a si próprio.”
Galileu Galilei

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

. Dizem que Galileu jogou duas bolas de ca-


1 nhão de massas diferentes, do alto da torre
inclinada de Pisa para demonstrar que a sua ve-
locidade de descida não dependia da sua massa.
Muitas pessoas acreditam que esta história seja
falsa, uma vez que não há relatos e a única fonte
a confirmar o fato foi secretário de Galileu.

. Galileu nunca se casou e teve todos os


2 seus filhos fora do casamento com Marina
Gâmbia, a quem ele conheceu em uma viagem
para Veneza.

. Enquanto muitos se lembram do con-


3 fronto de Galileu com a igreja, muitos se
esquecem de que ambas as suas filhas se junta-
ram ao convento de San Matteo em Arcetri e
permaneceram lá até o fim de suas vidas. Gali-
leu foi pessoalmente ajudar a reparar o conven-
to, além de algumas janelas ele certificou-se de
que o relógio convento estava em ordem.

. Joseph Nicolas Robert-Fleury foi o artis-


4 ta que pintou o quadro “Galileu antes do
Santo Ofício”, uma representação do cientista
Capítulo falando perante o clero, que atualmente está
em exposição no Museu de Luxemburgo.

11
. Galileu foi um alaudista bem sucedido
5 que aprendeu a arte com seu pai, Vincenzo
Galilei, um compositor e músico teórico.

. Enquanto Galileu acreditava firmemente


6 na teoria de Copérnico de que a Terra não

94
95

era o centro do universo, ele não acreditava na “Acredito que


teoria de Kepler de que a Lua era responsável os filósofos
pelos efeitos de marés. voam como as
águias e não
. No último ano de sua vida, Galileu estava como pássaros
7 totalmente cego e projetou um mecanismo
de escape para um relógio de pêndulo que fi-
pretos. É bem
verdade que
cou conhecido como escapamento de Galileu. as águias, por
serem raras,
. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht oferecem
8 escreveu uma peça sobre Galileu inti-
tulada Vida de Galileu, que apareceu pela
pouca chance
de serem vistas
primeira vez na Broadway em 1947 com e muito menos
Charles Laughton como o personagem de serem
principal. Brecht trabalhou de perto com ouvidas, já
Laughton e ensaiou incansavelmente a ver- os pássaros
são final da peça com ele. A peça foi adapta- pretos voam
da para as telas em 1975 com Chaim Topol em bando,
(creditado apenas como Topol), como ator param em
principal e Sir John Gielgud no papel do todos os
cardeal Inquisidor. O mais recente renasci- cantos
mento da peça data de 2012, uma produção enchendo o
que conta com F. Murray Abraham no pa- céu de gritos
pel principal. e rumores,
tirando o
. A música “Galileo” é o maior hit do grupo sossego do
9 folclórico Indigo Girls. A canção é sobre
reencarnação através de um olhar historiográ-
mundo.”
fico sobre a importância do papel de Galileu na Galileu Galilei
revolução científica.

. O dedo médio da mão direita de Ga-


10 lileu está atualmente em exposição no
Museo Galileo em Florença, Itália.

O GRANDE MESTRE DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


Galileu Galilei

Sites interessantes
Grupo de História, Teoria e Ensino de Ciências: http://www.ghtc.usp.br
Grupo de Pós-Graduação e Mestrado em História da Ciência da Pontifícia Uni-
versidade Católica: http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/
historia-da-ciencia
Sociedade Brasileira de História da Ciência: http://www.sbhc.org.br/
Catálogo Messier: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_objetos_Messier
Catálogo NGC: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_NGC_objects
Observatório da USP de São Carlos: http://www.cdcc.usp.br/cda/
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP de São Paulo:
http://www.iag.usp.br/
NASA: http://www.nasa.gov/
Agência Espacial Europeia: http://www.esa.int/ESA

96
“A condição natural dos corpos não é o repouso, mas o movimento.”
Galileu Galilei

As descobertas de Galileu contribuiu Depois de aprimorar A contribuição


Galileu sobre o para o pensamento o telescópio, de Galileu para
movimento tiveram moderno ao Galileu construiu a compreensão
uma abordagem demolir o seus próprios do universo foi
matemática profunda paradigma que instrumentos fundamental,
e se anteciparam colocava a Terra ópticos e com merecendo o
à primeira lei como centro do eles desvendou epíteto de ‘pai da
de Newton. Universo. os astros. ciência moderna’.

O
pai da ciência moderna nos deixou um
legado que ainda carece de estudos e
constatações para ser um pouco me-
lhor compreendido. Neste volume nos aprofun-
damos mais no seu legado astronômico e em suas
contribuições a esta incrível área, de modo que
você desvele o céu que ele começou a nos revelar
de maneira tão polêmica, desde suas primeiras
verificações e relatos.

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