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Galileu Galilei
Galileu Galilei
12 Capítulo 2
Galileu Galileu 78 Capítulo 8
OS ÚLTIMOS ANOS
DE GALILEU
16 Capítulo 3
Carreira Acadêmica
82 Capítulo 9
MISSÕES GALILEU
20 Capítulo 4
Achados Controversos
86 Capítulo 10
DETALHES ESTRUTURAIS
26 Capítulo 5 DE JÚPITER
Telescópio
92 Capítulo 11
44 Capítulo 6 10 COISAS QUE VOCÊ NÃO
AS OBSERVAÇÕES DE GALILEU SABIA SOBRE GALILEU GALILEI
“Nunca conheci um
homem tão ignorante
que me fosse impossível
aprender algo dele.”
Galileu Galilei
PREFÁCIO
E
“Mais fácil me foi ste livro que está em suas mãos
não pretende cobrir, em hipótese
encontrar as leis
alguma, toda a gama de produção
com que se movem científica feita por este incrível matemático,
os corpos celestes, físico e astrônomo. Para tal necessitaríamos
que estão a milhões de infinitas páginas para discutir apenas par-
te de seus tratados. No entanto, podemos nos
de quilômetros,
ater a partes de suas publicações e aprender
do que definir as um pouco mais sobre os conceitos básicos de
leis do movimento astronomia por ele propostos, para que você
da água que escoa também aprenda a olhar para o céu de outra
maneira. Assim, faremos um apanhado geral
frente aos meus da vida e obra de Galileu, suas principais des-
olhos.” cobertas, breves explicações sobre suas obras
e alguns apontamentos sobre conceitos astro-
Galileu Galilei nômicos práticos.
Galileu Galilei
h istória
da Ciência
Capítulo
8
1
9
Galileu Galilei
Q
uando fui convidada a participar
deste projeto fiquei particularmente
intrigada sobre como resolver algu-
mas questões que resvalam entre minha vida
acadêmica e a parte prática da astronomia e,
mais especificamente de Galileu. Fiquei preo-
cupada em ferir os ensinamentos dos pesqui-
sadores de História da Ciência, que são profis-
sionais cautelosos no resguardo da história e de
seus fatos, para que sejam narrados, discutidos,
aprofundados e registrados com o maior cui-
dado - e veracidade - o possível.
Existem inúmeros grupos por todos os paí-
ses que se dedicam a estudar os fatos científicos
que hoje nos são apresentados de forma sim-
plista nas disciplinas escolares. Vemos a “ciência
Capítulo que deu certo” e pensamos na ciência como in-
1
críveis “gênios” que, de repente, tiveram a mais
incrível das ideias; como num passe de mágica
e voilá. Mas o que nem todos sabem - ou o que
quase nunca é divulgado - é que as ideias não
surgem do nada! Sim, caro leitor! Não se sinta
diminuído por não ter tido uma ideia incrível
e publicado algo inusitado em sua tenra juven-
tude. Alguns conceitos se fazem necessários e,
10
11
Existem diversos
grupos de pes-
quisa de História
da Ciência que se
dedicam a desven-
dar a história dos
grandes marcos de
nossa sociedade.
Dentre eles pode-
mos citar:
History of Science Society
para tal, tomei a liberdade de inserir estes pa- (fundada em 1924, sediada
rágrafos, que são necessários para a compreen- nos Estados Unidos);
são geral da ciência. Alguns institutos como o British Society for the History
Grupo de História, Teoria e Ensino de Ciên- of Science (fundada em 1947,
cias (GHTC) da Unicamp é um dos institutos no Reino Unido).
que se dedica a estudar e se aprofundar neste
empolgante universo de descobertas! No Brasil, temos:
O trabalho de um historiador da ciência Grupo de História, Teoria e
pode, em termos bem simples - e peço licença Ensino de Ciências - GHTC
a meus colegas da área por simplificar o nosso (fundado em 1991, na cidade
árduo trabalho - mas que pode ser comparado de Campinas/SP)
ao de um arqueólogo. São horas de pesquisa Sociedade Brasileira de His-
debruçados sobre manuscritos e livros nas mais tória da Ciência - SBHC
variadas línguas para se extrair um pequeno (fundada em 1983 na cidade
fragmento de conteúdo histórico que traz à luz de São Paulo)
um novo mundo de descobertas. Alguns fatos
marcantes, como a pipa empinada por Benja- E algumas associa-
min Franklin não ocorreram exatamente como ções específicas por
alguns livros divulgam... áreas:
Por outro lado acredito em todas as for- Sociedade Brasileira de His-
mas de divulgação e acho que devemos pu- tória da Matemática (SBH-
blicar em todos os periódicos que pudermos Mat) e a
para que todas as formas de conhecimento se- Associação Brasileira de Fi-
jam transmitidas e para que novos universos losofia e História da Biologia
se abram diante de nossos olhos! (ABFHiB)
2 Galileu
Galileu
12
13
Galileu Galilei
Galileu Galilei
E
m se tratando de uma sequência não
Capítulo abordarei aqui as citações feitas no li-
2
vro anterior desta série, embora algumas
alusões se façam necessárias. Para começar, não há
como não olhar rapidamente a biografia de Galileu
em curtos e singelos parágrafos.
Galileu Galilei nasceu em 15 de fevereiro de
1564, em Pisa no Ducado de Florença, Itália. Ele foi
o primeiro dos seis filhos de Vincenzo Galilei, um
músico e teórico da música muito aclamado, e Giu-
14
15
A profissionalização
da História da Ciência
ocorreu no século XX,
mas é difícil dizer quando
ela surgiu exatamente.
Segundo o Professor Dr.
Roberto de Andrade Mar-
tins, diversos “gêneros”
de História da Ciência
podem ser notados desde
trabalhos muito antigos
e encontram correspon-
dentes em produções
atuais. Se pensarmos no
costume existente desde
a Antiguidade de estudar
lia Ammannati. Em 1574, a família mudou- os precedentes históricos
-se para Florença, onde Galileu começou sua de um assunto com a fina-
educação formal no mosteiro Camaldolese lidade de proceder a sua
em Vallombrosa. pesquisa, é possível dizer
Em 1583, Galileu entrou na Universida- que Aristóteles (no século
de de Pisa para estudar medicina. Munido de IV a.C.) teria sido um dos
certa predisposição e talento, ele logo tornou- primeiros a adotar essa
-se fascinado por muitos assuntos, dentre eles, atitude. Na obra História
podemos destacar a matemática e a física. Du- Natural, de Plínio, o Ve-
rante sua estada em Pisa, Galileu foi exposto à lho (23-79 d.C.), encon-
visão aristotélica do mundo, até então a prin- tramos também outra for-
cipal autoridade científica e o único sanciona- ma de História da Ciência
do pela Igreja Católica Romana. Em princí- muito antiga: o registro
pio, Galileu apoiou esta posição, como qual- de quem fez o quê, des-
quer outro intelectual de seu tempo e estava cobertas, datas e autores.
prestes a se tornar um professor universitário. Esse gênero nos remete à
No entanto, devido a dificuldades financeiras, História da Ciência costu-
Galileu deixou a universidade em 1585, antes meiramente apresentada
mesmo de concluir seus estudos. nos livros didáticos.
Capítulo
C
16
3 arreira
Acadêmica
17
Galileu Galilei
G
Capítulo alileu continuou a estudar matemática,
3
sustentando-se com posições de ensino
menores. Durante este tempo ele come-
çou seu estudo que seria concluído em duas décadas
sobre objetos em movimento e em seu tratado “La
Bilancetta”, descreve os princípios hidrostáticos de
pesagem de pequenas quantidades e a criação de sua
balança hidrostática. Isso lhe rendeu um cargo de
professor na Universidade de Pisa, em 1589.
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19
A profissionalização
da História da Ciência
ocorreu no século XX,
mas é difícil dizer quando
ela surgiu exatamente.
Segundo o Professor Dr.
Foi lá que Galileu teve a oportunidade Roberto de Andrade Mar-
de realizar suas tão conhecidas experiências tins, diversos “gêneros”
com a queda de objetos e produziu seu ma- de História da Ciência
nuscrito “De Motu” (Sobre o Movimento), podem ser notados desde
baseando-se nas observações de Aristóteles trabalhos muito antigos
sobre o movimento e queda de objetos. Com e encontram correspon-
suas experiências de movimento de esferas dentes em produções
em planos inclinados Galileu se aproximou atuais. Se pensarmos no
do que seria mais tarde conhecido como a costume existente desde
primeira lei de Newton. Suas descobertas a Antiguidade de estudar
sobre o movimento tiveram uma abordagem os precedentes históricos
matemática profunda que serviu de base usa- de um assunto com a fina-
da para analisá-las. A abordagem matemática lidade de proceder a sua
se tornaria a marca registrada da física dos sé- pesquisa, é possível dizer
culos XVII e XVIII e por esta razão Galileu que Aristóteles (no século
seria chamado o “pai da física matemática”,
IV a.C.) teria sido um dos
mas suas críticas estridentes aos trabalhos de
primeiros a adotar essa
Aristóteles o deixaram isolado de seus discor-
atitude. Na obra História
dantes colegas. Em 1592, o seu contrato com
Natural, de Plínio, o Ve-
a Universidade de Pisa não foi renovado.
Galileu rapidamente encontrou uma nova lho (23-79 d.C.), encon-
posição na Universidade de Pádua, o ensino de tramos também outra for-
geometria, mecânica e astronomia. A nomea- ma de História da Ciência
ção foi uma sorte, pois seu pai havia morrido muito antiga: o registro
em 1591, deixando Galileu sob seus cuidados, de quem fez o quê, des-
seu irmão caçula Michelagnolo. Ao longo de cobertas, datas e autores.
18 anos na Universidade de Pádua, ele deu au- Esse gênero nos remete à
las incomuns que acabaram atraindo grandes História da Ciência costu-
multidões de seguidores e aumentando ainda meiramente apresentada
mais sua fama. nos livros didáticos.
A chados
Controversos
Capítulo
20
4
21
Galileu Galilei
E
m 1604, Galileu publicou As Ope-
rações do Compasso Geométrico e
Militar, revelando suas habilidades
com experiências e diversas aplicações tecno-
lógicas práticas. Ele também construiu uma
balança hidrostática para medir pequenos ob-
jetos. Esta evolução trouxe acresceu muito ao
Capítulo conhecimento da civilização humana. Nesse
4
mesmo ano, Galileu se aprofundou em suas
teorias sobre o movimento e os objetos que
caem, e desenvolveu a lei da queda dos corpos
a que todos os objetos do universo obedecem.
Na época de Galileu acreditava-se que
corpos mais pesados caíam mais rápido que
os leves. Que a Terra era imóvel e ocupa-
va o centro do universo. O Sol, a Lua, os
22
23
Aristóteles acreditava
que havia quatro principais
elementos, ou compostos,
que modelavam a Terra: ter-
ra, ar, água e fogo; cada um
desses elementos possuía seu
lugar próprio. O elemento
Terra (sólido) ficava em bai-
xo - a terra está no chão, as-
sim como as pedras e sempre
que as tiramos desse lugar
elas voltam para ele.
O Ar a que Aristóteles se
refere é um ar puro - diferente
do ar que respiramos compos-
to por diversos elementos quí-
planetas e as estrelas giravam em torno da micos e que se encontra na at-
mosfera terrestre. Aristóteles
Terra com um movimento perfeito: o mo-
também declarou que todo o
vimento circular uniforme. Estas concep- céu e cada fração de matéria
ções faziam parte do paradigma Aristoté- pertencente ao universo eram
lico imposto dogmaticamente pela igreja formados a partir de um quin-
católica cujo questionamento acarretava to elemento, chamado por
em severas penas impostas pela Inquisição - ele de “aether” (transliterado
torturas, confinamentos, fogueira etc. Uma como éter) ou “quintessência”,
elemento este que era leve e
das grandes contribuições de Galileu para “incorruptível”.
o pensamento moderno foi a demolição de Os seres humanos se-
alguns desses paradigmas. riam constituídos por todas
Com relação à queda dos corpos, Aristó- as substâncias, com exceção
teles imaginava que os corpos mais pesados do éter, mas a proporção re-
deveriam cair com maior velocidade. Fato ex- lativa entre os elementos era
única e exclusiva de cada pes-
plicado pela doutrina dos quatro elementos - soa, não havendo nenhuma
Terra, água, ar e fogo até então utilizada. quantidade padrão para elas.
Hans Lippershey
1570-1619
24
25
“Não há poder
de controle
sobre o
universo
maior do
que o poder
que nos
controla.”
Galileu Galilei
Telescópio
Capítulo
26
5
27
Galileu Galilei
Em 1609, Galileu
Galilei apresentou o seu
primeiro telescópio para
Venetian Senado.
Capítulo
5
m telescópio possui uma lente ou
um espelho que são os responsáveis
por captar a luz emitida ou refletida
pelo objeto que se pretende observar. No pri-
meiro caso (com apenas uma lente e idêntico
ao que Galileu produziu), a lente provoca des-
vios (pequenas refrações) na luz que chega até
ele e esse é o motivo deste tipo de telescópio ser
chamado de refratores.
28
29
A grande maioria dos telescópios inverte as imagens, detalhe que pode ser
alterado introduzindo mais uma lente no percurso da luz dentro do telescó-
pio. Como na maioria das primeiras observações, o astrônomo amador é um
principiante, essa diferença passa despercebida dada a impossibilidade de o
observador ter visto o objeto de observação anteriormente a olho nu. Com
exceção da Lua, que facilmente se vê invertida no telescópio relativamente ao
que os olhos que a veem diretamente.
5.1. LUNETA
Assim como o telescópio, a luneta também
permite observar objetos longínquos. A lune-
ta nada mais é que um telescópio refrator, que
possui restrições em comparação com o teles-
Das diversas característi- cópio refletor. Enquanto os telescópios refra-
cas de um telescópio, o que
mais motiva as pessoas que se tores usam lentes como objetivas, os refletores
interessam por estes objetos é utilizam espelhos como vimos anteriormente.
descobrir “quantas vezes é que Os refratores produzem uma aberração cromá-
ele amplia?”. Geralmente, os te- tica, isto é, a imagem não apresenta boa defini-
lescópios têm possibilidade de ção, afinal, cada cor que observamos tem um
variar a sua ampliação, através comprimento de onda diferente e, portanto
da simples operação de mudar a
ocular. Com isso, é possível ver, têm distâncias focais diferentes. Já os espelhos
por exemplo, duas ou três crate- não produzem essa distorção.
ras da Lua ou um aglomerado Sinto se vou decepcioná-lo com minhas
de estrelas inicialmente muito próximas palavras, mas não é possível ver
“próximas” umas das outras e, à um planeta ou cometa distante com tanta
medida que se troca a ocular por nitidez quanto vemos nas imagens disponí-
outra que permita ampliação
maior. A sensação que temos veis na internet. Essas imagens foram feitas,
é de que as crateras e as estre- em sua esmagadora maioria, pelo telescópio
las afastam-se umas das outras espacial Hubble em órbita e com tempo de
conforme mudamos as oculares, exposição favorável, sem poluição ou pro-
como se estivéssemos nos apro- blemas na atmosfera.
ximando delas. Assim, ampliar é O que vale ressaltar é que você deve apren-
como que “ver mais perto”, o que
é o mesmo que “ver maior”. der a observar e isso requer tempo e paciên-
Mas o que devemos nos lem- cia! Vivemos em um mundo abarrotado de
brar é que quando ampliamos tecnologia e com a informação ao alcance de
mais e mais chegamos ao ponto nossas mãos e os primeiros astrônomos não
de a objetiva do telescópio não possuíam computadores, televisões ou sequer
poder mais captar luz; chegamos imaginaram a internet, a simples contempla-
assim ao máximo do que o seu di-
âmetro permite e, por isso, a partir ção de um céu estrelado é algo de tirar o fô-
de certo “tamanho” da imagem ela lego e deve ser feita de maneira confortável e
perde a qualidade. No caso das ne- aprendida aos poucos.
bulosas, uma ampliação progressi- Antes de mais nada, proteja-se! Quanto
va faz com que a maior parte das mais confortável você estiver, melhor e mais
estrelas “saia” do campo do teles- longa será sua noite de contemplação. Como o
cópio, deixando de ser vista então
pelo observador. céu é mais limpo no inverno por ser uma esta-
30
31
Em 1609, Galileu Galilei apresentou o seu primeiro telescópio para Venetian Senado.
ção mais seca e não ter tanta formação de nuvens, as temperaturas estão mui-
to baixas e ao longo da noite elas podem cair ainda mais. Por isso você deve se
agasalhar; cobertores, casacos bem quentes, cachecóis, gorros e luvas (aquelas
sem as pontas dos dedos) são a melhor pedida. Não se esqueça também de
levar cadeiras para se sentar de vez em quando, de preferência alguma que
possa ser molhada (por conta do sereno) e, por que não uma garrafa térmica
com chá ou café quente para lhe fazer companhia?
O telescópio foi um dos principais instrumentos do que ficou conhecido
como a revolução científica do século XVII. Ele possibilitou a observação de
fenômenos nunca antes imaginados no céu, e teve uma profunda influência
32
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Modelo de um
dos primeiros óculos
“A condição
natural dos
Por estes pequenos discos terem a forma
corpos não é o
de lentilhas, ficaram conhecidos como “len-
tilhas de vidro”, ou (do latim) lentes. As pri- repouso, mas o
meiras ilustrações de óculos datam de cerca movimento.”
de 1350, e óculos logo vieram a ser símbolos
de aprendizagem. Galileu Galilei
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5.2. TELESCÓPIOS
DE GALILEU
A notícia desta nova invenção se espalhou
rapidamente pela Europa. Por volta de abril de
1609 três telescópios mecânicos podiam ser
comprados em lojas especializadas de vidraria
em Pont Neuf, em Paris, e quatro meses mais
tarde em várias lojas especializadas na Itália.
Sabemos que Thomas Harriot observou a Lua
com um instrumento parecido no início de
agosto de 1609. Mas foi Galileu, que tornou este
instrumento famoso. Ele construiu sua primeira
luneta em junho ou julho de 1609 e apresentou
um instrumento com um sofisticado conjunto
de lentes para o Senado de Veneza, em agosto, e
apontou o objeto para o céu de Veneza em outu-
bro ou novembro do mesmo ano.
Com este instrumento ele observou a Lua,
descobriu quatro satélites de Júpiter, e perce-
beu manchas nebulares em estrelas. Ele pu-
blicou o tratado Sidereus Nuncius (traduzido
como Mensageiro Sideral) em março de 1610.
Verificar as descobertas de Galileu era di-
fícil inicialmente. Na primavera de 1610 nin-
guém tinha telescópios de qualidade para po-
der ver os satélites de Júpiter com nitidez sufi-
ciente, embora muitos tivessem instrumentos
mais fracos com os quais poderiam ver alguns
dos detalhes lunares que Galileu havia descrito
em Sidereus Nuncius. Passaram-se aproxima-
damente seis meses antes que outros pudessem
produzir ou obter instrumentos bons o sufi-
ciente para ver as luas de Júpiter. No primeiro
semestre de 1611 outros astrônomos puderam
verificar as fases de Vênus e a liderança de Gali-
leu na utilização do telescópio para observação Tratado que contém o estudo detalhado
celeste tinha quase que desaparecido. A próxi- de Galileu sobre a Lua
ma descoberta, de manchas solares desta vez, foi feita por vários observado-
res, de forma independente, inclusive por Galileu.
Um telescópio típico como o que Galileu observou as luas de Júpiter foi
construído da seguinte forma. Tinha uma objetiva plana-convexa com uma
distância focal de cerca de 30-40 polegadas. E uma ocular plano-côncava
com uma distância focal de cerca de 2 centímetros.
A ocular era um pequeno tubo que podia ser ajustada para focar melhor.
A lente objetiva foi reduzida para uma abertura de 0,5 a 1 polegada e o cam-
po de visão possuía cerca de 15 minutos de arco (cerca de 15 polegadas de
100 metros). O vidro estava cheio de pequenas bolhas e tinha uma coloração
esverdeada (causada pelo teor de ferro no vidro); a forma das lentes eram
razoavelmente boas perto de seus centros, mas ruins nas bordas (daí a neces-
sidade de uma abertura restrita). O fator limitante deste instrumento foi o
seu campo de visão pequeno - cerca de 15 minutos de arco - o que significa
que apenas um quarto da Lua Cheia podia ser acomodada no campo de visão.
Ao longo das próximas décadas, as técnicas de corte e polimento de lentes
foram melhorando gradualmente e passaram se ser um ofício especializado
de fabricantes de telescópio lentamente desenvolvido.
Como mencionado acima, o efeito de um telescópico pode ser consegui-
do com diferentes combinações de lentes e espelhos. No início de 1611, em
seu tratado chamado Dioptrice, Johannes Kepler demonstrou que um teles-
cópio também pode ser feito através da combinação de uma objetiva convexa
e uma ocular convexa. Ele ressaltou que tal combinação produziria uma ima-
gem invertida, mas que a adição de uma terceira lente convexa faria a imagem
voltar ao seu estado “natural” (em pé).
36
37
CUIDADO!
Nunca observe o Sol di-
retamente a olho nu ou com
Tratado Dioptrice de Johannes Kepler qualquer tipo de telescópio,
lunetas ou binóculos! Isso o
No entanto, essa sugestão não foi utilizada cegará imediatamente! Exis-
por astrônomos. Somente depois de Christoph tem técnicas corretas para se
observar o Sol que requerem
Scheiner — um padre jesuíta que se dedicou aos o uso de lentes especiais ou
estudos das ciências naturais e astronomia - pu- anteparos em que a imagem
blicar seu tratado Rosa Ursina em 1630 que esta será projetada. Popularmen-
forma de telescópio começou a se espalhar. Em te divulga-se que usar filme
seu estudo sobre as manchas solares, Scheiner de Raios-x são suficientes
tinha experimentado observar com telescópios para proteger os olhos e ob-
servar um eclipse solar, mas
que tinham oculares convexas, a fim de tornar a isso é errado e pode prejudi-
imagem do Sol projetada através do telescópio car sua visão. Algo que é po-
em um anteparo fixo. pularmente fácil de encon-
Mas, quando ele passou a exibir um objeto trar e mais recomendado se-
diretamente através de um instrumento desse riam lentes de soldador, mas
ainda assim com ressalvas!
tipo, ele descobriu que, embora a imagem fosse invertida, era muito mais bri-
lhante e o campo de visão muito maior do que em um telescópio de Galileu.
Uma vez que para observações astronômicas uma imagem invertida não é
um grande problema, as vantagens do que ficou conhecido como o telescó-
pio astronômico levou à sua aceitação geral na comunidade astronômica até
meados do século XVII.
O telescópio de Galileu poderia ser utilizado para fins terrestres e ce-
lestes alternadamente. Essa regra não valia para o telescópio astronômico,
pois a sua imagem era invertida. Astrônomos evitaram a terceira lente
convexa necessária para fazer com que a imagem voltasse ao normal, por-
que quanto mais lentes acrescentamos a um conjunto de lentes, mais de-
feitos ópticos aparecem. Na segunda metade do século XVII o telescópio
de Galileu foi substituído - para fins terrestres - pelo “telescópio terres-
tre”, que continha quatro lentes conve-
xas: objetiva, ocular, lentes refratoras e
uma lente de campo (que ampliava ain-
“A verdade não da mais o campo de visão).
resulta do número dos Com a aceitação do telescópio astro-
que nela creem.” nômico, o limite de ampliação causada
pelo pequeno campo de visão do telescó-
Galileu Galilei
pio de Galileu foi temporariamente sus-
penso, e uma “corrida” para desenvolver
o melhor telescópio começou. Por causa
de defeitos ópticos, a curvatura das lentes
tinham de ser minimizada e, portanto, (uma vez que a ampliação de um te-
lescópio simples é dada aproximadamente pela razão das distâncias focais da
objetiva e da ocular) maior ampliação teve de ser conseguida ao aumentar-
mos o comprimento focal da objetiva.
Começando nos anos 1640, o comprimento dos telescópios come-
çou a aumentar. A partir do telescópio de Galileu típico de 5 ou 6 me-
tros de comprimento, os novos telescópios astronômicos passaram a
medir cerca de 15 ou 20 metros de comprimento por meio do século.
Uma montagem de telescópio astronômico típico foi feita por Chris-
tiaan Huygens, em 1656. Ele tinha 23 metros de comprimento e sua
objetiva tinha uma abertura de vários centímetros, que permitia uma
ampliação de cerca de 100 vezes, e seu campo de visão possuía cerca de
17 minutos de arco.
38
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Huygens
Em física, Huygens é
bastante lembrado por seus
estudos sobre luz e cores,
percepção do som, estudo
da força centrífuga, o enten-
Telescópio de 23m de Christiaan Huygens dimento das leis de conser-
vação de energia, o estudo
da dupla refração no cristal
Os novos telescópios tinham atingido ago- da Islândia, e a teoria on-
ra a capacidade de ampliação que seria restrita dulatória da luz – que toma
pelo campo de visão do instrumento. Desta por base a concepção de
vez, um outro dispositivo óptico, a lente de que a luz seria um pulso não
campo veio para resolver este novo problema. periódico propagado pelo
Adicionando uma terceira lente convexa - de éter. Através dela Christiaan
Huygens explicou satisfato-
comprimento focal adequado, e no lugar cer- riamente fenômenos como a
to - o campo de visão aumentaria de forma propagação retilínea da luz,
significativa, permitindo assim um aumento a refração e a reflexão. Ele
maior do objeto observado. Por isso, a corri- também explicou na época o
da para a construção de telescópios continuou recém-descoberto fenôme-
inabalável e seus comprimentos aumentaram no da dupla refração. Seus
estudos podem ser consulta-
exponencialmente. No início dos anos 1670, dos em seu mais conhecido
Johannes Hevelius tinha construído um teles- trabalho sobre o assunto, o
cópio de 140 metros de comprimento! Tratado sobre a luz.
Telescópio de
Johannes Hevelius
Mas esses telescópios longos eram inúteis para a observação: era quase
impossível manter as lentes alinhadas e qualquer vento causava vibração o
suficiente para desalinhar o instrumento. Depois do ano de 1675, os astrôno-
mos não continuaram a produzir telescópios com tubos. As objetivas eram
montadas sobre um edifício ou poste utilizando uma espécie de articulação
esférica e movimentadas por meio de uma sequência de ajustes; a imagem foi
encontrada por tentativa e erro; e a ocular composta (por uma lente de cam-
po e uma ocular) foi então posicionada para receber a imagem projetada pela
objetiva. Esses instrumentos eram chamados de “telescópios aéreos”.
Embora algumas descobertas tenham sido feitas com esses instrumentos
extremamente longos, esta forma de telescópio tinha atingido os seus limites.
Até o início do século XVIII telescópios muito longos eram raramente mon-
tados, e novas e poderosas formas de aumento, começaram nas primeiras dé-
cadas de 1730, a partir de uma nova forma de telescópio, o telescópio refletor.
Uma vez que o efeito de um telescópico ficou conhecido ao se utilizar uma
variedade de combinações de lentes e espelhos, uma série de cientistas espe-
culou sobre combinações que envolvessem diversos espelhos. Grande parte
dessa especulação foi alimentada pelo estudo teórico cada vez mais refinado
do telescópio. Em seu ensaio chamado La Dioptrique, anexo ao seu Discurso
sobre o Método de 1637, René Descartes abordou o problema da aberração
esférica, apontado por outros cientistas contemporâneos.
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Royal Society
of London
É uma instituição desti-
Por dentro do telescópio de Newton nada à promoção do conhe-
cimento científico que foi
Society, causando grande impacto; Newton ha- fundada em 28 de novem-
via desenvolvido o primeiro telescópio refletor. bro de 1660, por Robert
Outros foram incapazes de moer espelhos de Boyle, John Evelyn, Robert
curvatura regular e para adicionar ao problema, Hooke, William Petty, John
Wallis, John Wilkins, Tho-
o espelho manchado devia ser novamente po-
mas Willis e Sir Christo-
lido dentro de poucos meses, com o perigo de pher Wren. Ela ainda existe
causar sérios danos à curvatura. e continua a promover e
Durante décadas o telescópio refletor per- incentivar o desenvolvimen-
maneceu como uma inovação quase que im- to de pesquisas por todo o
possível de ser reproduzida. Na segunda e ter- mundo.
Em 2010, a Sociedade
ceira décadas do século XVIII, no entanto, o
adquiriu o Chicheley Hall,
telescópio refletor tornou-se uma realidade nas em Buckinghamshire, Lon-
mãos de James Hadley e, em seguida, de tantos dres. O edifício foi transfor-
outros. Em meados do século diversos telescó- mado no The Royal Society
pios refletores com espelhos primários de até em Chicheley Hall, lar da
seis centímetros de diâmetro tinham sido cons- Kavli Royal Society Inter-
national Centre que forne-
truídos. Verificou-se que por razões de grande
cerá um prestigiado centro
abertura (a razão entre o comprimento focal do residencial nos arredores de
espelho primário até a sua abertura, tal como a Londres para a realização de
razão f em câmeras fotográficas modernas, por conferências científicas in-
exemplo), f/10 ou mais, a diferença entre os es- ternacionalmente significa-
pelhos esféricos e paraboloides foi insignificante tivas e que oferece oportuni-
dades para as mais variadas
no desenvolvimento do telescópio. Na segunda
reflexões acadêmicas. Quer
metade do século XVIII, James Short e depois saber mais? Visite o site: ht-
William Herschel, passaram a utilizar telescó- tps://royalsociety.org/visit-
pios refletores com espelhos parabólicos. -us/london/
DE GALILEU
Capítulo
44
6
45
Galileu Galilei
G
alileu, utilizando seu instrumento
óptico, descobriu diversos fenôme-
nos celestes, dentre eles: as manchas
solares, as crateras e o relevo lunar, as fases de
Vênus, os principais satélites de Júpiter, e a
natureza da Via Láctea formada pela concen-
tração de incontáveis estrelas, iniciando assim
uma nova fase da observação astronômica na
qual o telescópio passou a ser o principal ins-
trumento, relegando ao esquecimento os me-
lhores instrumentos astronômicos da Antigui-
dade (astrolábios, quadrantes, sextantes, esfe-
ras armilares etc.). As descobertas de Galileu
forneceram evidências muito fortes aos defen-
sores do sistema heliocêntrico de Copérnico.
Capítulo
46
6
47
Em 1543 o astrônomo polonês Ni- Sistema Heliocêntrico proposto por Nicolau Copérnico
colau Copérnico (1473-1543), em
seu livro chamado De Revolutioni- Galileu começou a reunir um conjunto de
bus Orbium Coelestium (Das Revo- provas que apoiaram a teoria de Copérnico e
luções dos Mundos Celestes) propôs contradiziam a de Aristóteles e, consequente-
uma visão mais assertiva sobre o Sis- mente a doutrina aceita pela Igreja. A reação da
tema Solar: Copérnico formulou a Igreja contra a nova teoria galileana foi rápida,
teoria heliocêntrica, que viria a subs- e Galileu foi chamado a Roma. Os processos
tituir a então aceita teoria ptolomai- da Inquisição duraram de setembro 1632 a ju-
ca. No sistema de Copérnico, o Sol lho de 1633. Durante a maior parte deste tem-
para de se mover ao redor da Terra e po, Galileu foi tratado com respeito e nunca
permanece fixo, imóvel no centro do foi preso. No entanto, em uma última tentativa
universo, e todos os outros astros gi- de fazê-lo revogar suas descobertas, Galileu foi
ram em torno dele. ameaçado de tortura, e ele finalmente admitiu
48
49
50
51
6.5 SATURNO
Galileu observou o planeta Saturno e, a princípio confundiu seus anéis
com planetas, pensando que era um sistema de três corpos. Quando ele ob-
servou o planeta mais tarde, os anéis de Saturno estavam diretamente orien-
tados para a Terra, levando-o a pensar que dois dos corpos tinham desa-
parecido! Os anéis reapareceram quando ele observou o planeta em 1616,
confundindo-o ainda mais.
6.6 NETUNO
Galileu também observou o planeta Netuno em 1612. Ela aparece em
seus cadernos como uma das muitas estrelas fracas e banais; Galileu não o
percebeu como um planeta. Galileu percebeu o seu movimento em relação às
estrelas, mas logo o perdeu de vista por conta de seu movimento.
52
53
A LGUNS
CONCEITOS
ASTRONÔMICOS
Capítulo
54 7
55
Galileu Galilei
P
ara que possamos continuar, mais
uma pausa deve ser feita na astro-
nomia de Galileu e alguns conceitos
básicos de astronomia devem ser apresentados
para que a sua compreensão seja ainda melhor
aos fatos e descobertas de Galileu.
7.1 PARALAXE
Paralaxe é um deslocamento ou a diferença
na posição aparente de um objeto visto ao lon-
go de duas posições diferentes de vista, e é me-
dida pelo ângulo ou semi-ângulo de inclinação
entre as duas linhas. O termo é derivado da pa-
lavra grega παράλλαξις (Parallaxis) que signifi-
ca “alteração”. Objetos próximos têm paralaxe
maior do que objetos mais distantes, quando
observados a partir de posições diferentes, as-
sim a paralaxe pode ser usada para determinar
distâncias.
Astrônomos usam o princípio da paralaxe
para medir distâncias das estrelas mais próxi-
mas. Aqui, o termo paralaxe é o semi-ângulo de
Capítulo inclinação entre duas linhas de visão da mesma
7
estrela, como observado quando a Terra está
em lados opostos do Sol em sua órbita. Essas
distâncias formam o degrau mais baixo do que
é chamado de “a escada cósmica distância”, o
primeiro de uma sucessão de métodos pelos
quais os astrônomos determinam as distâncias
de objetos celestes e que serve como base para
outras medidas de distância em astronomia.
56
57
7.3 MAGNITUDE
A magnitude aparente (m) de um corpo celeste é a medida do seu brilho
como visto por um observador na superfície da Terra, ajustado para o valor
que teriam na ausência da atmosfera. Quanto mais brilhante o objeto pare-
ce menor o valor de sua magnitude. Geralmente o espectro visível (vmag) é
usado como uma base para o valor aparente, mas outras regiões do espectro,
como a banda-J do infravermelho próximo, também são utilizados. No es-
pectro visível Sirius é a estrela mais brilhante do céu visível (depois do Sol
é claro!), enquanto que na banda-J do infravermelho próximo, Betelgeuse
(estrela da constelação de Órion) é a mais brilhante.
58
59
7.4 AS ESTRELAS
Estes conceitos parecem um tanto quanto óbvios, mas não custa olhar um
pouco mais a fundo as particularidades das definições. Não é de hoje que sa-
bemos que uma estrela é uma esfera luminosa de plasma condensada pela gra-
vidade, ou a definição mais simples que aprendemos no Ensino Fundamental
onde repetimos infinitas vezes que “estrela é um corpo que tem luz própria”.
Mas vejamos um pouco mais de perto estas definições.
As estrelas se formam dentro das regiões de maior densidade inte-
restelar, embora a densidade seja menor do que a que temos no interior
de uma câmara de vácuo. Estas regiões - conhecidas como nuvens mo-
leculares - são constituídas principalmente de hidrogênio, com cerca
de 23 a 28 por cento de hélio e um pequeno percentual elementos mais
pesados. Um exemplo deste tipo de região de formação de estrelas é a
Nebulosa de Orion.
60
61
Constelação da Virgem
Constelação do Escorpião
7.5 CONSTELAÇÕES
As estrelas são “os pontos” coloridos que os astrônomos “ligam” para dar
origem a uma constelação. Mas a definição de constelação vai um pouco além
disso, em astronomia, uma constelação é uma área específica da esfera celeste,
tal como definido pela União Astronômica Internacional (IAU). Essas áreas
tiveram suas origens em asterismos ocidentais e a partir daí é que as conste-
lações receberam seus nomes. Há 88 constelações reconhecidas oficialmen-
62
63
te, cobrindo todo o céu. Quando os astrônomos dizem que um objeto está
em uma determinada constelação, significa que ele está dentro dos limites de
uma dessas áreas definidas do céu.
A imagem abaixo apresenta um pedaço do céu onde as linhas azuis de-
marcam as áreas à qual cada constelação pertence. A linha amarela é a fa-
mosa Eclíptica e a linha vermelha é conhecida como Equador Celeste. Não
se preocupe, você não perdeu nenhum conceito importante ainda e estes
dois nós definiremos logo mais. A concepção de constelações que utilizamos
é a greco-romana, mas vale ressal-
tar que povos diferentes enxergam,
ou melhor, projetam no céu outros
símbolos de seu cotidiano e aspira-
ções culturais locais.
Tomemos como exemplo a
constelação do Escorpião. Para
os gregos ele é o animal enviado
por Diana para matar o gigante
caçador Órion por tê-la traído
com uma de suas ninfas. Para os
Malaios, ela é um anzol utiliza-
do por um gigante que pescou Constelações
o arquipélago das ilhas de Maui. E esta mesma constelação, para os índios
Tukano do Alto Rio Negro na bacia do Amazonas é a representação de uma
Jararaca gigantesca que vem abocanhar os peixes do rio em uma determinada
época do ano.
Este exemplo da constelação do
Escorpião ou do Anzol e da Jarara-
ca é apenas um de infinitos outros
que acontecem com todas as cons-
telações. Outro tópico importante
que merece destaque é sobre as
diferentes concepções artísticas
que podemos encontrar em uma
mesma constelação. Por se tratar de
uma representação artística, geral-
mente temos mais de um desenho
para a mesma constelação. Constelação do Escorpião, do Anzol e da Jararaca
Cuidado! Não estou mudando a configuração das estrelas, mas sim os de-
senhos que são aplicados sobre elas. Uns são mais ricos em detalhes e outros
nem tanto, como é o caso do exemplo abaixo:
Constelação de Órion 4
Constelação de Órion 3
Acho que estas imagens ilustram bem o que estamos tentando explicar.
Em algumas delas vocês veem Órion segurando a pele de um leão em uma
das mãos, enquanto que em outras ele tem um escudo, mas em todas elas é
possível ver a clava e a posição das estrelas no mesmo lugar. Não há como
dizer que uma imagem está certa ou errada em relação à outra, elas foram
concebidas através de relatos variados e carregam em si as aspirações e visu-
alizações do artista.
64
65
Cada povo projeta no céu suas crenças e costumes e como dizer que certo
povo está correto em relação a outro? Em se tratando de astronomia, ou me-
lhor de Etnoastronomia, devemos estar atentos a todas estas manifestações
de conhecimento, pois elas são de grande valor para a compreensão da hu-
manidade de uma forma muito mais abrangente e direta. O céu, não é só dos
poetas, dos astrônomos ou dos gregos! Ele é um patrimônio da humanidade,
ele é o guardião de sonhos de incontáveis aspirações, desejos e medos de infi-
nitos seres que caminharam por este planeta.
7.7 DECLINAÇÃO
A declinação (δ) de um astro é o arco do meri-
diano do objeto de observação compreendido entre
o plano do equador celeste e o astro. Mede-se de 0º
a 90º para Norte ou para Sul, sendo muitas vezes re-
Projeções terrestres na Esfera Celeste
presentado com um valor entre + 90º e − 90º (posi-
tivo representando o Norte e negativo o Sul).
É um dos valores angulares utilizados para definir a posição de um astro
num sistema de coordenadas equatoriais, o outro sendo o ângulo horário ou a
ascensão reta. A declinação é a nossa latitude do sistema geográfico terrestre.
7.9 ECLÍPTICA
A eclíptica é a projeção sobre a esfera celeste da trajetória aparente do
Sol observada a partir da Terra. A razão do nome provém do fato de que os
eclipses somente são possíveis quando a Lua está muito próxima do plano
que contém a eclíptica.
66
67
7.11 ZÊNITE
Zênite em astronomia é o termo técnico que designa o ponto (imaginá-
rio) interceptado por um eixo vertical (também imaginário) traçado a partir
da cabeça de um observador (localizado sobre a superfície terrestre) e que se
prolonga até a esfera celeste.
68
69
7.12 NADIR
Em astronomia Nadir é o ponto inferior da esfera celeste, segundo a pers-
pectiva de um observador na superfície do planeta. Nadir é a projeção do
alinhamento vertical que está sob os pés do observador, como se “um furo”
varasse o outro lado do planeta e chegasse até a esfera celeste.
7.13 NEBULOSAS
Nebulosa é uma nuvem interestelar de poeira, hidrogênio, hélio e outros
gases ionizados que podemos chamar de “berçário de estrelas”. Originalmen-
te, nebulosa era um nome para qualquer objeto astronômico difuso, incluin-
do galáxias além da Via Láctea. Como vimos anteriormente Galileu, antes de
observar a Via Láctea com um telescópio acreditava que aquela mancha no
céu era uma nuvem.
A maioria das nebulosas é gigantesca atingindo tamanhos de até cen-
tenas de anos-luz de diâmetro. Embora elas sejam muito mais densas do
que o espaço que os permeia, a maioria das nebulosas são muito menos
densas do que qualquer vácuo criado num ambiente terrestre, isso quer
dizer que uma nebulosa trazida para as dimensões da Terra pesaria ape-
nas alguns quilogramas.
As nebulosas possuem diferentes aspectos e cores e foram cataloga-
das por um astrônomo francês chamado Charles Messier com a coau-
toria de Pierre Méchain, de seu catálogo de objetos de céu profundo,
uma lista de 110 objetos astronômicos como nebulosas, aglomerados
estelares e galáxias.
70
71
Charles Joseph
Messier
(26 de junho de 1730 –
12 de abril de 1817)
7.14 GALÁXIAS Foi um astrônomo francês
Uma galáxia é um sistema ligado gravita- que ficou amplamente conhe-
cionalmente e constituído por estrelas, restos cido pela compilação e publica-
estelares, gás e poeira interestelar e matéria ção, com a coautoria de Pierre
escura. A palavra galáxia é derivada da palavra Méchain, de seu catálogo de ob-
grega galaxias (γαλαξίας) que quer dizer lite- jetos de céu profundo, uma lista
de 110 objetos astronômicos
ralmente “leitoso”, uma referência a Via Láctea como nebulosas, aglomerados
(ou Caminho de Leite). estelares e galáxias são conheci-
As galáxias têm sido historicamente classifi- dos como os Objetos Messier.
cadas de acordo com sua morfologia visual, in- Messier desejava auxiliar a si
cluindo elíptica, espiral, espiral barrada, irregular, mesmo e a outros astrônomos e
e starburst. Acredita-se que muitas galáxias pos- observadores a investigar come-
tas e assim passou a listar todos
suam buracos negros ativos em seus centros. O objetos que pôde identificar e
buraco negro central da Via Láctea, conhecido que poderiam ser facilmente
como Sagitário A, tem massa estimada em quatro confundidos com cometas tran-
milhões de vezes do que a massa do nosso Sol. sientes, mas que, na realidade,
tinham naturezas completamen-
te diferentes e eram fixos no céu
noturno. Assim, Messier, sem
intenção, catalogou alguns dos
astros mais interessantes para a
atual astronomia amadora!
O catálogo de Messier foi
expandido e se tornou o New
General Catalogue (NGC), ou
Galáxia Espiral M88 - da cons- Galáxia espiral M74 - da Catálogo de Objetos NGC que é
telação Cabeleira de Berenice constelação de Peixes um dos catálogos de objetos do es-
paço profundo mais conhecido e
detalhado de todos os tempos. Ele
foi compilado na década de 1880
por John Dreyer que se valeu das
observações de William Herschel
e John Herschel. Originalmente o
catálogo possuía muitos erros que
só foram corrigidos nas revisões
Galáxia espiral barrada na Galáxia irregular Barnard - feitas mais recentemente. Atual-
constelação da Fornalha NGC 6822na constelação de mente o catálogo NGC contém
Sagitário ao todo, 7840 objetos.
7.15 AGLOMERADOS
Aglomerados de estrelas ou nuvens de estrelas são agrupamentos de es-
trelas e, existem dois tipos de aglomerados: os aglomerados globulares e os
aglomerados abertos.
Os aglomerados globulares são grupos apertados de centenas ou milhares
de estrelas muito velhas que estão gravitacionalmente ligadas.
72
73
7.16 PLANETAS
Um planeta que do grego significa astro errante (pois ele se move) é um
objeto astronômico que orbita uma estrela ou um remanescente estelar e é
grande o suficiente para ser arredondado por sua própria gravidade, mas não
grande o suficiente para promover fusão termonuclear.
O termo planeta é antigo e tem ligações com a história, ciência, mitologia
e religião. Vários planetas do Sistema Solar podem ser vistos a olho nu. Estes
foram considerados por muitas culturas precocemente como algo divino, ou
como emissários de divindades. Como o conhecimento científico avançado,
a percepção humana dos planetas mudou, incorporando uma série de objetos
díspares. Em 2006, a União Astronômica Internacional (IAU) adotou ofi-
cialmente uma resolução definindo os planetas no Sistema Solar. Esta defini-
ção é controversa porque exclui muitos objetos de massa planetária com base
em onde ou o que eles orbitam.
Embora oito dos corpos planetários descobertos antes de 1950 permane-
çam “planetas”, segundo a definição moderna, alguns corpos celestes, como
Ceres, Palas, Juno, Vesta (cada um, um objeto no cinturão de asteroides solar)
e Plutão (o primeiro objeto descoberto depois de Netuno) e que já foram
considerados planetas pela comunidade científica, hoje em dia já não são
aceitos como tal.
Os planetas foram “concebidos” por Ptolomeu como objetos que orbi-
tavam a Terra em movimentos deferente e epiciclo. Embora a ideia de que
os planetas orbitavam o Sol tivesse sido sugerida diversas vezes, não foi até o
século 17 que esta visão foi apoiada pela evidência das primeiras observações
astronômicas telescópicos, realizadas por Galileu Galilei.
74
75
Outra ideia que não condiz com a realidade é a de se pensar que o Sistema
Solar está no centro da Via Láctea! Na verdade nós estamos localizados no
Braço de Órion a 26.000 anos-luz do centro da Via Láctea.
76
77
O S ÚLTIMOS
ANOS DE
GALILEU
Capítulo
78
8
79
Galileu Galilei
E
m 1623, um amigo de Galileu, o
cardeal Maffeo Barberini, foi eleito
como o Papa Urbano VIII. Ele per-
mitiu que Galileu prosseguisse com seu traba-
lho sobre astronomia e até mesmo o encorajou
a publicá-lo, com a condição de que fosse obje-
tivo e não defendesse a teoria de Nicolau Co-
pérnico. Em 1632, Galileu publicou o Diálogo
Sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo
que contém uma discussão entre três pessoas:
uma que apoia a teoria heliocêntrica de Co-
pérnico sobre o universo, uma que argumenta
contra ele, e a terceira que é imparcial perante
aos sistemas apresentados. Embora Galileu ale-
gasse que o Diálogos Sobre os Dois Máximos
Sistemas do Mundo fosse neutro, era evidente
que não. O defensor da crença aristotélica sur-
ge como um personagem simplório e constan-
Capítulo temente pego em seus próprios argumentos.
8
Galileu morreu em Arcetri, perto de Flo-
rença, na Itália, em 8 de janeiro de 1642, de-
pois de sofrer de uma febre altíssima e de pal-
pitações cardíacas. Mas com o tempo, a Igreja
não podia negar a verdade e os fatos revelados
pela ciência. Em 1758, ela retirou a proibição
da maioria das obras que apoiavam a teoria de
Copérnico, e por volta de 1835 sua oposição
80
81
M ISSÕES
GALILEU
Capítulo
82
9
83
A
té agora a única sonda a orbitar Jú-
piter recebeu o nome de Galileu em
homenagem ao pai da ciência mo-
derna. Entrou em órbita ao redor de Júpiter
em 7 de dezembro de 1995.
A sonda orbitou o planeta por mais de
sete anos, realizando constantes aproxima-
ções às luas Galileanas e a Amalteia. A sonda
também testemunhou o impacto do cometa
Shoemaker-Levy 9 quando este se aproximava
de Júpiter em 1994, permitindo que nós pu-
déssemos ver com exclusividade este evento
único. Embora as informações obtidas sobre
o sistema de Júpiter através da sonda Galileu
tenha sido extensa, sua capacidade projetada
originalmente era limitada pela implantação
falha de sua antena radiotransmissora.
Capítulo
9
Concepção artística da Sonda chegando em Jupiter
84
85
D ETALHES
ESTRUTURAIS
DE JÚPITER
Capítulo
86
10
87
J
úpiter tem 67 satélites naturais
confirmados. Desses, 51 têm me-
nos de 10 quilômetros de diâme-
tro e só foram descobertos a partir de 1975.
As quatro maiores luas deste planeta podem
ser vistas da Terra com o auxílio de binó-
culos em uma noite clara e são conhecidas
como os luas galileanas.
As órbitas de Io, Europa e Ganimedes, os
maiores satélites naturais do Sistema Solar, for-
mam um padrão conhecido como ressonância
de Laplace; para cada quatro órbitas que Io faz
em torno de Júpiter, Europa faz exatamente
duas órbitas e Ganimedes faz exatamente uma.
Esta ressonância faz com que os efeitos gravi-
tacionais das três grandes luas distorçam suas
órbitas em formas elípticas, uma vez que cada
lua recebe um “empurrão” extra vindo de suas
vizinhas, sempre no mesmo ponto em cada ór-
bita que realiza. A força de maré de Júpiter, por
outro lado, se sobrepõe e mantém as órbitas
circulares das luas.
A excentricidade de suas órbitas causa
um achatamento regular nas formas destas
três luas. A gravidade de Júpiter “estica-as”
à medida que elas se aproximam do gigante
gasoso mas, por outro lado, essa periodicida-
de lhes permite retomar suas formas esféri-
Capítulo cas. Esta flexão das marés aquece os interio-
res das luas através do efeito de fricção. Isto
10
é visto de forma mais dramática na atividade
vulcânica extraordinária de Io (que está su-
jeito a forças de maré mais avassaladoras),
e em menor grau na superfície de Europa
graças a sua formação geológica mais recen-
te que apresentou modificações recentes na
superfície desta lua.
88
89
Júpiter é um planeta gigante gasoso que tem sua atmosfera composta prin-
cipalmente por gás de hidrogênio e hélio, assim como o nosso Sol. A superfície
do planeta é coberta de espessas nuvens vermelhas, marrons, amarelas e brancas.
Planeta Júpiter
O Furacão de Júpiter
Anéis de Júpiter
90
91
Júpiter gira, ou revoluciona, mais rápido do que qualquer outro planeta. Uma
rotação é igual a um dia. Dia de Júpiter é de aproximadamente 10 horas terrestres.
Sua órbita é elíptica e leva 12 anos terrestres para Júpiter para dar uma volta em
torno do Sol, portanto, um ano em Júpiter é igual a 12 anos na Terra.
A temperatura nas nuvens de Júpiter é de cerca de menos 145 graus Cel-
sius. A temperatura perto do centro do planeta é muito, muito mais quente.
A temperatura do núcleo pode ser de cerca de 24 mil graus Celsius! Muito
mais quente do que a superfície do Sol!
Se uma pessoa pudesse ficar sobre as nuvens no topo da atmosfera de Jú-
piter, a força da gravidade que ele ou ela sentiria seria de cerca de 2,4 vezes a
força da gravidade na superfície da Terra. Uma pessoa que pesa 50 kg na Terra
pesaria cerca de 120 kg em Júpiter.
Júpiter tem um campo magnético extremamente poderoso que funciona
como um ímã gigante. Abaixo das nuvens de Júpiter acredita-se haver um
enorme oceano de hidrogênio metálico líquido. Como Júpiter revolve muito
rapidamente, todo esse oceano de metal líquido gira com ele e cria o campo
magnético mais forte do Sistema Solar. No topo das nuvens (dezenas de mi-
lhares de quilômetros acima, de onde o campo é criado) o campo magnético
de Júpiter é 20 vezes mais forte do que o campo magnético da Terra.
Você sabia que os dias da semana foram nomeados em homenagem aos
planetas visíveis do Sistema Solar? Pois é, isso funciona para a maioria das
línguas, com exceção do português que adotou o “feria” do latim por tradi-
ções religiosas.
COISAS QUE
VOCÊ NÃO SABIA
SOBRE GALILEU
GALILEI
Capítulo
11
92
93
“A maior sabedoria que existe é a de
conhecer-se a si próprio.”
Galileu Galilei
11
. Galileu foi um alaudista bem sucedido
5 que aprendeu a arte com seu pai, Vincenzo
Galilei, um compositor e músico teórico.
94
95
Sites interessantes
Grupo de História, Teoria e Ensino de Ciências: http://www.ghtc.usp.br
Grupo de Pós-Graduação e Mestrado em História da Ciência da Pontifícia Uni-
versidade Católica: http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/
historia-da-ciencia
Sociedade Brasileira de História da Ciência: http://www.sbhc.org.br/
Catálogo Messier: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_objetos_Messier
Catálogo NGC: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_NGC_objects
Observatório da USP de São Carlos: http://www.cdcc.usp.br/cda/
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP de São Paulo:
http://www.iag.usp.br/
NASA: http://www.nasa.gov/
Agência Espacial Europeia: http://www.esa.int/ESA
96
“A condição natural dos corpos não é o repouso, mas o movimento.”
Galileu Galilei
O
pai da ciência moderna nos deixou um
legado que ainda carece de estudos e
constatações para ser um pouco me-
lhor compreendido. Neste volume nos aprofun-
damos mais no seu legado astronômico e em suas
contribuições a esta incrível área, de modo que
você desvele o céu que ele começou a nos revelar
de maneira tão polêmica, desde suas primeiras
verificações e relatos.