Você está na página 1de 72

Alfabetização e

Letramento

EDUCAÇÃO SUPERIOR
Modalidade Semipresencial
Denise Jarcovis Pianheri

Alfabetização
e Letramento

São Paulo
2017
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL

P643a
Pianheri, Denise Jarcovis
Alfabetização e letramento. / Denise Jarcovis Pianheri. São Paulo:
Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual, 2017.
72 p.

Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-8456-201-5

1. Educação. 2. Alfabetização. I. Cruzeiro do Sul Educacional.


Campus Virtual. II. Título
CDD 370.19

Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.

Autoria: Denise Jarcovis Pianheri

Revisão textual: Selma Aparecida Cesarin

2017 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual.


www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais
Plano de Aula

Alfabetização e Letramento

SUMÁRIO
9 Unidade I – A Escrita: Surgimento e Evolução

17 Unidade II – Alfabetização e Letramento

29 Unidade III – Métodos de Alfabetização

Unidade IV – AAlfabetização
39 Leitura no Processo de
e Letramento

49 Unidade V – A Escrita no Processo de Alfabetização

61 Unidade VI – A Alfabetização e Jovens e Adultos


PLANO DE
AULA

Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem Conserve seu
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua material e local de
formação acadêmica e atuação profissional, siga estudos sempre
algumas recomendações básicas: organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
Assim: de se alimentar
e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da hidratado.
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário
fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.

6
Objetivos de aprendizagem
A Escrita: Surgimento e Evolução
Unidade I

» Nesta Unidade, o nosso tema será: “A escrita: surgimento e evolução”, na qual apresentaremos um panorama
simplificado de como surgiu a escrita e das mudanças pelas quais ela passou, o que é importante para entendermos
o processo de aprendizagem. Abordaremos alguns tipos de sistema de escrita e algumas características significativas
para o nosso estudo.

Alfabetização e Letramento
Unidade II

» Nesta Unidade, o nosso tema será: “Alfabetização e Letramento”, na qual apresentaremos seus conceitos, um pouco
da história do surgimento do termo “Letramento” e a importância de entendermos seu significado no processo de
ensino e aprendizagem das crianças e até mesmo dos adultos. Também iremos contextualizar resumidamente como a
Alfabetização aparece nos índices de pesquisa em nosso país.
Unidade III

Métodos de Alfabetização
» Nesta unidade, nosso tema será: “Métodos de Alfabetização”, na qual veremos o significado de método e quais são os
tipos utilizados pelos educadores. Também abordaremos a questão das hipóteses da escrita e a importância da leitura
no processo de aprendizagem da leitura e da escrita.

A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento


Unidade IV

» Nesta Unidade, o nosso tema será: “A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento”. Abordaremos a questão da
leitura na alfabetização, a importância da leitura por prazer e de como a prática da leitura colabora na aprendizagem da
criança ou do indivíduo que está sendo alfabetizado.

A Escrita no Processo de Alfabetização


Unidade V

» Nesta Unidade, estudaremos sobre “A escrita no processo de Alfabetização”. Qual é o papel da escrita e sua função.
» Também abordaremos o papel do aluno e do professor nesse processo e a importância de ter um ambiente alfabetizador.

A Alfabetização e Jovens e Adultos


Unidade VI

» Nesta Unidade, o nosso tema será: “A Alfabetização de Jovens e Adultos”, em que apresentaremos alguns pontos que
acreditamos ser importantes como: qual o perfil dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, qual a importância
da volta desses adultos aos estudos e principalmente quem foi Paulo Freire e a importância de seus estudos na
alfabetização dos Jovens e Adultos.

7
I
A Escrita: Surgimento e Evolução

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
A Escrita: Surgimento e Evolução
UNIDADE
I
Contextualização
Para começarmos a Unidade, que tal refletirmos um pouco:
A linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos.
É o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento,
seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade, seus atos.
Instrumento ao qual ele influencia, e é influenciado, a base mais profunda
da sociedade humana (HJELMSLEV, apud SERGIO, 2010.)

Após a leitura da citação, reflita sobre a importância da linguagem em sua


vida, mais especificamente, qual a importância da escrita. Pense a respeito de
como a utilizamos, de porque a utilizamos e quais as vantagens ao sabermos nos
comunicar adequadamente em várias situações com as quais nos deparamos em
nosso dia a dia.

Essa reflexão é importante para começarmos a pensar a respeito do tema


desta Unidade.

10
Introdução
Nesta Unidade, estudaremos a respeito do surgimento e da evolução da escrita,
mas para melhor compreendermos quando falamos de Alfabetização e Letramento,
ainda surgem dúvidas a respeito de conceitos e definições,

A complexidade dos termos é natural, devido às várias mudanças e


transformações de ideias e práticas pedagógicas que vêm surgindo há algum tempo,
podemos até afirmar que essas mudanças vem ocorrendo há algumas décadas.

Sabemos que os conteúdos que as crianças aprendem na Escola não se fazem


apenas por memorização. Hoje, vivemos em uma Sociedade que requer mais;
exige-se aprender a interpretar, a questionar, a escrever textos e a compreendê-los,
ou seja, a refletir sobre a sua própria escrita.

É claro que há a necessidade da memorização das letras e sílabas para se poder


ter condições de escrever, mas hoje se espera muito mais do educando e a reflexão
sobre o funcionamento da linguagem é parte integrante de um bom desenvolvimento
da aprendizagem da criança.

Percebemos que há um desafio para o educador, como declara Maria Fernandes:


O desafio do educador é organizar as atividades de sala de aula a partir
dos estudos e pesquisas atuais na área da linguagem, possibilitando uma
aprendizagem da língua oral e escrita de acordo com as características da
época que está vivendo (FERNANDES, 2008).

Para tentarmos superar o desafio proposto pela autora Maria Fernandes, iremos
começar pela história da escrita, ou seja, seu surgimento e sua evolução, para
iniciarmos a compreensão do processo da língua escrita.

Há conhecimento de que o homem passou a fazer


os seus registros há milhares de anos e que foi na
antiga Mesopotâmia, localizada no Oriente Médio e
considerada o berço das civilizações.

Então, continuando, nessa região é que foram


encontrados os primeiros indícios do surgimento
da escrita, mas não podemos afirmar que a escrita
surgiu apenas em uma civilização porque há registros
de outros povos como os egípcios e os chineses, que
também desenvolveram seus sistemas de escrita. Fonte: iStock/Getty Images

Assim, podemos perceber que os povos primitivos tiveram a necessidade de


registrar seus acontecimentos e seus feitos, como se verifica nas marcas que foram
e ainda são encontradas em inúmeras cavernas, com representações variadas por
meio de traços e imagens.

11
A Escrita: Surgimento e Evolução
UNIDADE
I
O sistema de escrita mais antigo de que se tem registro foi criado na Suméria,
aproximadamente 4.000 anos a.C., em que foram encontradas peças feitas
de argila com sinais que são chamados de pictográficos, ou seja, sinais que são
baseados em desenhos que representam coisas reais.
Com o tempo, esse sistema foi evoluindo, dando-se a ele o nome de sistema
cuneiforme.
Por que cuneiforme?
A palavra cuneiforme origina-se do próprio objeto que os homens da época
utilizavam para escrever, que é chamado de cunha.
Nesse sistema, cada palavra era representada especificamente por um signo.
Como dito anteriormente, não foram apenas os sumérios que desenvolveram
um sistema de escrita; os egípcios, bem próximos à época dos sumérios, também
criaram seu sistema, conhecido como hieróglifo.
Era uma escrita considerada sagrada, pois somente os sacerdotes e os membros
da realeza conheciam os sinais. Por esse motivo, a escrita do hieróglifo também
era considerada uma arte.
Algo bastante interessante a respeito desse sistema é que com os vários
estudos e pesquisas em torno dele, descobriu-se que os hieróglifos representavam
também sons e, mais tarde, depois dessas descobertas, foi possível decifrar os
sinais representados.
Com as informações anteriores, temos uma ideia de como a escrita surgiu e
podemos afirmar que com o tempo começou a haver transformações e mudanças
nesses sistemas de escrita.

Os avanços de cada sociedade vão surgindo


e com isso aparecem também as necessidades
de os povos irem se adaptando e fazendo com
que mudanças ocorram e, assim, desenvolvam-
se outros meios de escrita, o que irá facilitar a
vida dessas sociedades.

Fonte: Wikimedia Commons

Para melhor compreendermos, vamos definir alguns sistemas de escrita:


· Sistema logográfico – È um sistema que representa uma palavra; esse
sistema não representa os sons. Algo interessante para salientarmos é que
a China utiliza-se dele até hoje. Outros povos também fizeram uso dele,
mas não até os dias atuais. Alguns exemplos de sinais logográficos que
utilizamos em nossos dias são:

$ que representa o “dinheiro”;

@ que significa “em”;

12
· Sistema ideográfico – É um sistema que representa palavras completas
ou, podemos até dizer, que representa uma ideia, ou seja, são imagens que
para compreendermos precisamos de conhecimento cultural e contextual.
Por exemplo, uma placa de trânsito é uma linguagem ideográfica.
· Sistema silábico – É um sistema que, no Brasil, por exemplo, é
representado na combinação de sons de consoantes e vogais, que formam
uma sílaba. Agora, no Japão, no sistema silábico, cada sinal realizado
representa uma sílaba;
· Sistema alfabético – É um sistema que conhecemos e utilizamos no
Brasil. Nesse sistema, cada letra corresponde a um som individual.

Esses são alguns tipos de sistema de escrita; existem outros, como o Sistema
Braile, utilizado por deficientes visuais, no qual a leitura é feita por pontos em
relevo, que representam as letras; mas os sistemas citados são suficientes para
percebermos a importância do desenvolvimento da escrita.

No processo de aprendizagem da escrita, as crianças, num primeiro momento,


começam a entender as ideias por meio das representações feitas por desenhos ou
figuras; com o tempo, vão descobrindo as letras e seus significados e começam a
fazer as combinações, criando, aos poucos, as palavras, as frases e os textos que
irão representar o mundo no qual elas vivem.

É claro que esse movimento não acontece num período curto; isso irá depender
de um longo processo que a criança inicia com seus rabiscos; com o tempo, parte
para suas combinações aleatórias e depois com junções mais elaboradas, dando-se
aos poucos a oportunidade de conhecer realmente o mundo letrado.

A Língua Portuguesa
Vamos conhecer um pouco da nossa Língua!

A nossa Língua Portuguesa é falada por aproximadamente mais de 200 milhões


de falantes nativos. É considerada a sexta língua materna mais falada no mundo.

Existem vários países que falam a Língua Portuguesa além do Brasil. Também
falam a nossa Língua: Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Angola,
Guiné-Bissau, Cabo-Verde e Timor-Leste.

A Língua Portuguesa originou-se do Latim, mas, como toda Língua, sofreu


influência dos povos e foi modificando-se em cada região em que era imposta.

Com as grandes viagens feitas pelo povo português, aproximadamente entre os


séculos XIV e XVI, a Língua Portuguesa foi sendo influenciada por várias expressões
das línguas originadas de diferentes regiões.

13
A Escrita: Surgimento e Evolução
UNIDADE
I
Pode-se perceber essas influências na Língua Portuguesa falada no Brasil. No
início da colonização, a Língua sofreu influência do Tupi; com o passar do tempo e
as mudanças ocorridas pela escravidão, isto é, com os negros sendo trazidos como
escravos da África, a língua também recebeu a contribuição da influência africana.

E as influências não pararam, pois ocorreram mais tarde as invasões de outros


povos em terras brasileiras, como os holandeses e os franceses e aos poucos a
língua foi se enriquecendo com os novos vocábulos.

Também recebemos influências por meio dos imigrantes que se estabeleceram


em algumas regiões específicas do país.

Para visualizar, veja alguns exemplos que foram incorporados à língua portuguesa
do Brasil, citados por Maria Fernandes (2008, p. 15):
· tupi: Iracema, Copacabana, Ubatuba, tatu, arara, maracujá, andiroba,
mandioca, pipoca etc.
· línguas africanas: fubá, moleque, samba, acarajé, caçula;
· francês: paletó, boné, batom, crepe, matinê;
· alemão: gás, níquel;
· italiano: macarrão, piano, partitura, bandido;
· espanhol: bolero, castanhola;
· japonês: camicase, sushi, sashimi;
· inglês: hambúrguer, deletar, show, sanduíche.

Um ponto bem interessante em relação à Língua Portuguesa no Brasil é que


além das variadas influências dos diferentes povos, há uma variação interna da
língua. Isto é, há mudanças na língua nas diversas regiões do país em relação, por
exemplo, ao vocabulário e à pronúncia. E essa variedade nas regiões ocorre por
diversos fatores como geográficos, socioeconômicos e de faixa etária, entre outros.

Por esse motivo observamos e percebemos as diferentes falas das pessoas nas
variadas regiões de nosso país.

14
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
História da Escrita - do papiro ao computador - parte 1
Para aprofundar seus conhecimentos assista ao vídeo disponível no link a seguir, que
conta a história da escrita, desde o papiro até o computador
https://youtu.be/r7yeiRtc1fA

15
A Escrita: Surgimento e Evolução
UNIDADE
I
Referências
FERNANDES, Maria. Os segredos da alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008.

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1990.

SERGIO, Ricardo. Os Sistemas de Escritas. 2010. Disponível em: <http://www.


recantodasletras.com.br/gramatica/370335>. Acesso em: 12 jan. 2013.

16
II
Alfabetização e Letramento

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Alfabetização e Letramento
UNIDADE
II
Contextualização
Para começarmos a Unidade, que tal refletirmos um pouco? Vamos ler a citação
de Paulo Freire sobre ser analfabeto ou não:

“Ninguém é analfabeto por eleição, mas como


consequência das condições objetivas em que se
encontra. Em certas circunstâncias, ‘o analfabeto é o
homem que não necessita ler’, em outras, é aquele ou
aquela a quem foi negado o direito de ler” (FREIRE
apud VALE, 2005, p. 28).
Fonte: Wikimedia Commons

Após a leitura da citação, pense e reflita sobre o que é ser analfabeto.

Será que podemos considerar analfabeto aquele que não sabe ler e escrever? E
aquele que não sabe ler e escrever, mas faz uso das práticas sociais, consideramos
analfabeto ou não?

Essa reflexão é importante para iniciarmos o assunto sobre Alfabetização e


Letramento que iremos estudar nesta Unidade.

18
Alfabetização e Letramento
Nesta Unidade, estudaremos os conceitos a respeito dos termos “Alfabeti-
zação” e “Letramento”. Vamos conhecer um pouco da história da Alfabetização,
de como surge o Letramento, o porquê da importância desse termo para os pes-
quisadores e, principalmente, para os professores alfabetizadores.

Para iniciarmos, vamos entender os vocábulos pelas definições que encontramos


no dicionário.

As primeiras palavras que precisamos conhecer um pouco melhor são:


analfabetismo, analfabeto, Alfabetização e alfabetizar. Assim, teremos maior
clareza de como surge o vocábulo Letramento e de sua significação no processo
de Alfabetização.

Vejamos as definições no dicionário Aurélio:


· Analfabetismo – De analfabeto + -ismo: estado ou condição de
analfabeto; falta absoluta de instrução;
· Analfabeto – Do grego analphábetos, “aquele que não conhece nem o
alfa nem o beta”, em latim analphabetus. Que não conhece o alfabeto;
que não sabe ler e escrever. Absolutamente ou muito ignorante. Que
desconhece determinado assunto ou matéria. Indivíduo analfabeto;
indivíduo ignorante sem nenhuma instrução;
· Alfabetização – De alfabetizar + -ação; ação de alfabetizar;
· Alfabetizar – De alfabeto + -izar; ensinar a ler; dar instrução primária a;
aprender a ler por si mesmo.

Também temos os termos que são fundamentais e colaboram na compreensão


dos termos estudados nesta Unidade.

Temos:
· Letrado – Do latim literratu; versado em letras; erudito; indivíduo letrado;
literato;
· Iletrado – Do latim illiteratu; que ou aquele que não tem conhecimento
literário; ilteratu; analfabeto ou quase analfabeto.

Agora, o termo “Letramento”, não pudemos encontrar no dicionário Aurélio.


Entretanto, outro dicionário, o Houaiss, apresenta o vocábulo:
· Letramento – Representação da linguagem por meio de sinais; escrita;
incorporação funcional das capacidades a que conduz o aprender a ler e
escrever. Condição adquirida por quem o faz.

19
Alfabetização e Letramento
UNIDADE
II
Quando pontuamos esses termos pelo dicionário, temos uma visualização e uma
ideia dos significados, facilitando nossa compreensão no processo de inserção da
palavra Letramento no mundo da Educação. E também percebemos a diferença
entre alfabetizar e letrar.

Ao falarmos da história da Alfabetização, praticamente direcionamos os


métodos utilizados durante as décadas em que visualizamos as mudanças ocorridas
nos processos de Alfabetização.

A autora Onaide Schartz Mendonça, no artigo “Percurso histórico dos métodos


de Alfabetização”, apresenta um resumo dessas mudanças.

Seguindo a pesquisa da autora, a história da Alfabetização pode ser dividida em


quatro períodos. O primeiro tem início na Antiguidade e se prolonga até a Idade
Média. Nessa época, o método utilizado foi o de soletração.

O segundo momento vai dos séculos XVI e XVIII até a década de 1960. Nesse
período, começam a criar novos métodos sintéticos e analíticos e já nessa época
foram criadas as cartilhas.

O terceiro período tem início por volta da década de 1980, tendo como
divulgação a teoria da Psicogênese da língua escrita.

E o quarto momento, considerado o atual, muitos pesquisadores denominam de


“reinvenção da Alfabetização”.

É nesse período que surge a preocupação mais pontual e aparecem os índices


que demonstram o fracasso da Alfabetização no nosso país.

Os resultados do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) no período


2011-2012, pesquisado pelo Instituto Paulo Montenegro, mostram que apenas
26% da população são considerados alfabetizados. Os conhecidos como
analfabetos funcionais representam 27% e 47% da população possuem nível
de Alfabetização básico.

O INAF – Indicador de Alfabetismo Funcional: É um indicador que mede os níveis de


Explor

alfabetismo funcional da população brasileira adulta. O objetivo do INAF é oferecer à sociedade


informações sobre as habilidades práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros entre
15 e 64 anos de idade, de modo a fomentar o debate público, estimular iniciativas da sociedade
civil e subsidiar a formulação de política nas áreas de educação e cultura.

O Brasil apresenta avanço nos níveis de Alfabetização comparado a épocas


anteriores, mas ainda não tivemos progresso considerável referente ao pleno
domínio das habilidades de leitura e escrita para o mundo letrado.

20
Como podemos verificar na pesquisa, o percentual da população alfabetizada
funcionalmente foi de 61% em 2001 e em 2011 a porcentagem foi de 73%, ou
seja, para cada quatro brasileiros, apenas um domina plenamente as habilidades
de leitura e escrita. O resultado da pesquisa aponta que o avanço se dá pela
“universalização do acesso à Escola e do aumento do número de anos de estudo.”

Com essa pesquisa, conseguimos visualizar o andamento da Alfabetização no Brasil.

Outro ponto importante revelado pelo INAF são os níveis de alfabetismo, que
são divididos em quatro:
1. Analfabetos: não são capazes de realizar nem mesmo tarefas simples em
relação à leitura;
2. Alfabetizados rudimentares: conseguem identificar pequenas informações
em textos curtos e também leem e escrevem números que utilizam no
cotidiano;
3. Alfabetizados básicos: têm capacidade de leitura e compreendem textos
de média extensão, leem números e resolvem operações simples e têm noção
de proporcionalidade;
4. Alfabetizados plenos: conseguem ler textos longos, analisam, interpretam,
relacionam, fazem inferências e diferenciam fato de opinião. Resolvem
problemas com porcentagem, proporções e cálculos; também conseguem
interpretar tabelas, mapas e gráficos.

Ao observarmos e analisarmos os resultados da pesquisa, verificamos que, hoje,


o Letramento já está inserido no processo de aprendizagem da leitura e da escrita,
ou seja, não basta alfabetizar, é necessário letrar. A Alfabetização e o Letramento
não podem ser apresentados separadamente, precisam caminhar juntos.

Alfabetização: É a ação de alfabetizar, que consiste em tornar o indivíduo capaz de ler e


Explor

escrever, ou seja, tornar-se alfabeto.


Letramento: É a condição do indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas também faz uso
competente da leitura e da escrita e de suas práticas sociais.

Continuando!

O termo Letramento não surge aleatoriamente. É um vocábulo novo que aparece


nos estudos de Educação e das Ciências Linguísticas, nos anos de 1980.

A palavra Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa


literacy, que significa “a condição de ser letrado”, e da palavra literate, um adjetivo
que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita.

21
Alfabetização e Letramento
UNIDADE
II
Para Magda Soares, com a palavra literacy, implicitamente está inserida a ideia
de que
A escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas,
cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzido,
quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. Em outras palavras: do ponto
de vista individual, o aprender a ler e escrever – alfabetizar-se, deixar
de ser analfabeto, tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler
e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita (...)
(SOARES, 2001, p. 17-8).

É nesse sentido que damos o significado para o “Letramento”, ou seja, é “o


resultado da ação de aprender a ler e a escrever.”
Vivemos em uma sociedade em que o saber ler e escrever não basta. O adequado
e o que se espera é que as pessoas possam saber fazer uso da leitura e da escrita nas
diferentes práticas sociais em que o indivíduo está inserido e que serão dele exigidas.
Percebe-se a exigência da habilidade nas práticas sociais até mesmo no critério
das pesquisas para saber sobre a quantidade de analfabetos e alfabetos no país.
Anteriormente, definia-se uma pessoa como analfabeta ou não se ela, indivíduo,
era capaz de escrever seu próprio nome. Hoje, quando são feitas as pesquisas
relacionadas à Alfabetização, a pergunta fundamental para definir se a pessoa é
alfabetizada ou não é se ela é capaz de ler e escrever um bilhete simples.
Já existe a preocupação de avaliar o nível de Letramento das pessoas. Em alguns
países como Estados Unidos e alguns outros, o objetivo dessa avaliação não é o
mesmo que no Brasil.

Magda Soares comenta a respeito:


[...] Não basta denunciar, como se costuma crer no Brasil, um alto
número de pessoas que não sabem ler e escrever (fenômeno a que nos
referimos nós, brasileiros, quando denunciamos o nosso ainda alto índice
de analfabetismo), mas estão denunciando um alto número de pessoas
que evidenciam não viver em estado ou condição de quem sabe ler e
escrever, isto é, pessoas que não incorporam os usos da escrita, não se
apropriaram plenamente das práticas sociais de leitura e de escrita: em
síntese, não estão se referindo a índices de Alfabetização, mas a níveis de
Letramento (SOARES, 2001, p. 22-3).

Outro ponto interessante é que uma determinada pessoa pode ser analfabeta,
ou seja, não saber ler e escrever, mas poderá ser considerada letrada.

Como isso pode acontecer?


O indivíduo que tem o acesso aos materiais de leitura e escrita e que faz uso
indiretamente desse material, de certa forma, é letrado. Melhor dizendo, a pessoa
que pede para alguém ler uma carta, por exemplo, não saber ler e escrever, mas
sabe e compreende a funcionalidade dessa prática social, ou também aquele que se
interessa em ouvir uma história.

22
Magda Soares exemplifica muito bem essa questão em seu livro “Letramento:
um tema em três gêneros” e não podemos deixar de citar o trecho em que ela
explica sobre a criança que não sabe ler e escrever, mas que pode ser considerada
letrada.

A autora afirma:
Da mesma forma, a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia
livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas,
está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, essa criança
é ainda “analfabeta”, porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já
penetrou no mundo do Letramento, já é de certa forma, letrada (SOARES,
2011, p. 24).

Portanto, o Letramento pode ter vários níveis e isso irá depender dos estudos e
pesquisas que já pensam em como medir esses níveis. Mas, o importante é termos
clareza do significado desse termo, que cada vez mais está presente entre nossos
pesquisadores, teóricos, professores e profissionais da área.

Também no livro da autora, que já mencionamos, a pesquisadora cita um poema


feito por uma estudante norte-americana, chamada Kate M. Chong, que define o
que é Letramento para ela.

Leia e veja que interessante!


Letramento não é um gancho

em que se pendura cada som enunciado,

não é treinamento repetitivo

de uma habilidade,

nem um martelo quebrando blocos de gramática.

Letramento é diversão

é leitura à luz de vela

ou lá fora, à luz do sol.

São notícias sobre o presidente,

o tempo, os artistas da TV

e mesmo Mônica e Cebolinha

nos jornais de domingo.

23
Alfabetização e Letramento
UNIDADE
II
É uma receita de biscoito,

uma lista de compras, recados colados na geladeira,

um bilhete de amor,

telegramas de parabéns e cartas

de velhos amigos.

É viajar para países desconhecidos,

sem deixar sua cama,

é rir e chorar

com personagens, heróis e grandes amigos.

É um atlas do mundo,

sinais de trânsito, caças ao tesouro,

manuais, instruções, guias,

e orientações em bulas de remédios,

para que você não fique perdido.

Letramento é, sobretudo,

um mapa do coração do homem,

um mapa de quem você é,

e de tudo que você pode ser.

(apud Soares, 2001, p. 41)

Ao ler o poema, conseguimos perceber claramente os exemplos citados pela


escritora e, assim, enxergarmos como o Letramento faz parte de nosso cotidiano.
Ou seja, utilizamos a leitura e a escrita praticamente o tempo todo, como no
trabalho, na Escola, no lazer e, é claro, em casa.

O que precisamos ter consciência é que a Alfabetização e o Letramento não são


temas que irão ser estudados e utilizados separadamente. Eles precisam “caminhar”
juntos, mas a compreensão dos conceitos de cada termo precisa estar claro porque,
nos dias de hoje, em que a sociedade espera muito mais de cada pessoa em relação
à leitura e à escrita, ou melhor, exige-se que o indivíduo não só saiba ler e escrever,
mas que faça o uso coerente da leitura e da escrita.

24
Por isso é necessário engajamento por parte dos profissionais da área da
Educação, porque, sem dúvida, esses educadores e pesquisadores são os primeiros
que precisam entender, compreender e, o principal, fazer uso da Alfabetização
e do Letramento de maneira coerente, que possa levar os educandos também
à compreensão do uso da leitura e da escrita no seu dia a dia, ou seja, em suas
práticas sociais.

25
Alfabetização e Letramento
UNIDADE
II
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Alfabetização - Telma Weisz (1ª parte)
Acesse o link a seguir para saber mais sobre Alfabetização:
https://youtu.be/2wK9lw2cehI

26
Referências
FERNANDES, Maria. Os segredos da Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio. Século XXI: o dicionário


da Língua Portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

HOUAISS, Antonio; VELLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua


Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed. Belo Horizonte:


Autêntica, 2001.

VALE, Maria José. Paulo Freire, educar para transformar: almanaque histórico.
São Paulo: Mercado Cultural, 2005.

27
III
Métodos de Alfabetização

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Métodos de Alfabetização
UNIDADE
III
Contextualização
Leia a citação de Maciel (2010):
O método é um conjunto relativo a determinados princípios diretivos
provenientes de uma das ciências fundamentais da Educação. Os métodos
no Brasil foram, infelizmente, durante muitos anos, atrelados a produções
de livros didáticos (cartilhas, pré-livros). Desta forma, a concepção de
método ficou restrita às orientações metodológicas, melhor dizendo, às
técnicas de aplicação descritas no manual do professor (...) (MACIEL apud
Perez, 2011, p. 45).

Após a leitura da citação, pense e reflita sobre os métodos de Alfabetização.

É possível afirmar que um único método é o correto?

O que entendemos por método?

Reflita para iniciarmos nosso estudo.

30
Conteúdo Teórico
Nesta Unidade, veremos alguns métodos de Alfabetização que já foram utilizados
e que ainda fazem parte das estratégias de ensino de vários alfabetizadores.

Para iniciar, existem alguns questionamentos que sempre perpassam por


educadores e profissionais na área da Educação.

Os questionamentos que surgem no dia a dia do professor e de outros da área da Educação são:
Explor

• Afinal! O que é Método?;


• É possível afirmar que existe um único método eficaz?;
• O que precisamos para poder alfabetizar?;
• Existe uma idade para se alfabetizado?
Pensem a respeito dessas perguntas, algumas delas responderemos nessa unidade.

De acordo com o dicionário Aurélio, método é: “Maneira de dizer, de fazer, de


ensinar uma coisa, segundo certos princípios e em determinada ordem, maneira de
agir; obra que reúne de maneira lógica os elementos de uma ciência, de uma arte.”
Ao entendermos o conceito literal do vocábulo “Método” fica mais fácil a
compreensão de quando ele está inserido no processo de aprendizagem.
Para deixar mais claro, vejamos os tipos de métodos de Alfabetização que já
foram utilizados e que ainda fazem parte do ensino.

Os métodos podem ser divididos em sintéticos e analíticos:

Os sintéticos são: Os analíticos são:


Método Alfabético Método da Palavração
Método Fônico Método Sentenciação
Método Silábico Método Global

Os métodos sintéticos são definidos por iniciarem o ensino pelos elementos


menores, por exemplo, a letra, o fonema ou a sílaba. Assim, partem da unidade
mínima para chegar ao todo.
Muitos educadores defendem os métodos sintéticos, como podemos verificar
com a autora Emília Ferreiro, em seu livro “Psicogênese da língua escrita”, em que
explica a respeito:
Quaisquer que sejam as divergências entre os defensores do método
sintético, o acordo sobre esse ponto de vista é total: inicialmente, a
aprendizagem da leitura e da escrita é uma questão mecânica; trata-se
de adquirir a técnica para o decifrado do texto. Pelo fato de se conceber
a escrita como a transcrição gráfica da linguagem oral, como sua
imagem (...) ler equivale a decodificar o escrito em som. É evidente que
o método será tanto mais eficaz quanto mais o sistema da escrita estiver
de acordo com os princípios alfabéticos, isto é, quanto mais perfeita seja
a correspondência som-letra (FERREIRO, 1999, p. 22).

31
Métodos de Alfabetização
UNIDADE
III
Já os métodos analíticos iniciam das partes maiores para as menores, ou seja,
da palavra ou texto, e depois passam para as sílabas e letras.

Também citando Ferreiro em relação aos métodos analíticos, ela afirma:


Para os defensores dos métodos analíticos, pelo contrário, a leitura é um
ato “global” e “ideovisual” (...) O prévio, segundo o método analítico,
é o reconhecimento global das palavras ou das orações; a análise dos
componentes é uma tarefa posterior. Não importa qual seja a dificuldade
auditiva daquilo que se aprende, posto que a leitura é uma tarefa
fundamentalmente visual (FERREIRO, 1999, p. 22).

Assim, percebemos que há uma variedade de métodos, uns defendendo a


questão auditiva e outros mais preocupados com a questão visual.

Na verdade, o que realmente precisa ser levado em consideração no processo de


Alfabetização e Letramento é em relação à competência linguística da criança e a
capacidade de conhecimento que ela possui, antes mesmo de saber ler e escrever.

A criança já traz muito do entendimento da escrita, ou seja, ela conhece sua


língua materna e faz uso dela sem saber que o está fazendo.

Na Alfabetização, o método que utilizamos é muito importante para auxiliar em


todo o processo, mas não podemos ficar “presos” aos métodos e esquecer-se de
outros pontos significativos para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno.

Esses outros pontos, que são fundamentais para o progresso do educando são:
· Reconhecer e utilizar os conhecimentos prévios do aluno;
· Observar e acompanhar a aprendizagem do aluno;
· Observar e identificar o progresso do aluno;
· Proporcionar atividades que abordam situações comunicativas;
· Incentivar e aplicar a leitura em sala de aula;
· Proporcionar os variados gêneros textuais para o aluno.

Os métodos, sem dúvida, são um caminho que podemos seguir para dar
andamento no processo da Alfabetização, mas não é necessário apenas seguir o
caminho do método que adotamos. É importante refletir e fazer uso dos pontos
mencionados anteriormente.

Como, por exemplo, reconhecer e utilizar os conhecimentos prévios do aluno.


Não podemos supor que a criança ou o adulto que está sendo alfabetizado venha
para a sala de aula sem nenhum conhecimento.

O indivíduo, mesmo não reconhecendo os códigos linguísticos, traz outros


conhecimentos porque a criança, por exemplo, faz uma leitura por meio das
imagens. Ela pode não saber determinadas letras, mas reconhece um produto,
local ou brinquedo por meio das imagens que são feitas para representá-los.

32
Outro ponto fundamental no processo de Alfabetização e Letramento é incentivar
e aplicar a leitura em sala de aula.

Segundo Maria Fernandes (2008):


A leitura é um processo pelo qual o leitor realiza um trabalho ativo da
construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, do
conhecimento que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe
sobre a língua. (FERNANDES, 2008, p. 38).

Então, proporcionar a leitura em sala de aula é importante para o desenvolvimento


da aprendizagem da criança. Cabe ao professor também dar oportunidades de
situações comunicativas para que o aluno possa aos poucos se familiarizar com os
diversos gêneros textuais.

Fernandes (2008) cita, ainda, outro ponto que precisa ser levado em consideração:
Os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma conquista
capaz de dar autonomia e independência. Estar confiante para enfrentar o
desafio da leitura é “aprender fazendo” (FERNANDES, 2008, p.39).

Assim sendo, a criança faz várias hipóteses em relação a sua leitura; ela vai
construindo sua leitura, por meio das ideias e das concepções que ela possui em
relação ao que compreende sobre o código linguístico.

A leitura é uma parte essencial no desenvolvimento da linguagem escrita, e


novamente pontuamos que o professor precisa proporcionar para o aluno variados
materiais escritos, como: revistas, livros, gibis, bilhetes, embalagens, nomes de ruas,
placas, nomes dos colegas e outros materiais que fazem parte do cotidiano do aluno.

É claro que também se faz necessário apresentar para a criança materiais aos
quais provavelmente ela não poderá ter acesso, como, por exemplo, algum tipo de
texto ou livro que não faz parte do seu mundo letrado.

Dessa maneira, a criança, para aprender a ler e escrever, terá de compreender o


código linguístico da sua língua e o uso funcional da linguagem que utiliza.

O educando, por sua vez, precisa compreender esses dois pontos por meio
das hipóteses linguísticas, que são os estudos feitos por Emília Ferreiro e Ana
Teberosky, que nos auxiliam no entendimento em relação sobre como a criança
compreende a escrita.

As hipóteses podem ser definidas em quatro níveis ou fases:


· Pré-silábico;
· Silábico;
· Silábico-alfabético;
· Alfabético.

33
Métodos de Alfabetização
UNIDADE
III
É por meio dessas hipóteses que são realizadas as sondagens.

Mas o que é Sondagem?

A “Sondagem” da escrita é exatamente uma maneira de observar e investigar


sobre a escrita da criança, permitindo ao professor atuar no processo de ensino e
aprendizagem de forma eficaz, ou seja, mediando, de acordo com as dificuldades
da criança.

Fernandes (2008) afirma que:


A sondagem não é uma avaliação. É uma observação das características
do pensamento dos alunos. O objetivo é verificar como o aluno pensa
para poder planejar as intervenções da professora (FERNANDES,
2008, p. 130).

A autora também dá uma sugestão importante:


Pode-se realizá-la usando lista de palavras do mesmo campo semântico
(animais, roupas, comida etc.) ou uma escrita espontânea. Se for uma
lista, deve ter palavras polissílabas, trissílabas, dissílabas e monossílabas,
nessa ordem. Pede-se que as crianças escrevam do jeito que souberem. É
bom não dizer que é um ditado ou exercício, mas que é uma brincadeira
de escrever. As palavras não devem ser pronunciadas silabadas, e sim
inteiras (FERNANDES, 2008, p.130).

Vejamos os níveis!

Pré-silábico
Nesta fase, a criança registra as chamadas garatujas, desenhos que não têm
definição tão clara. Aos poucos, ela passa a fazer desenhos com traços mais
definidos, mas não fáceis de decifrar.

Se a criança tem incentivo para a leitura e para materiais escritos, ela também
começa a misturar letras ou as chamadas pseudoletras, os rabiscos.

Então, em um primeiro momento, ainda nessa fase, a criança não consegue


diferenciar letras de números e sua grafia parece não tão definida.

Ainda no nível pré-silábico, a criança pode ter o segundo momento, no qual ela
consegue colocar uma quantidade significativa de caracteres em relação à palavra
dita para ela, mas, mesmo assim, sua escrita ainda não é tão compreensível.

Dessa forma, no nível pré-silábico, temos a ausência de relação entre a escrita


e os sons da fala.

34
Silábico
Neste nível, a criança já consegue estabelecer as relações entre o som e as letras.
Então, quer representar cada letra por um símbolo e vai utilizar também letras,
pseudoletras e números.

A criança define as partes das palavras, ou seja, a sílaba, mas, nessa fase, ela
representa não a sílaba por completo; algumas vezes, irá colocar mais letras do que
necessário, pois acredita ser o correto.

O grande desafio para a criança são as palavras monossílabas, porque para ela
representar uma palavra, como por exemplo, “mãe”, ela acredita que irá precisar
de mais letras do que realmente possui a palavra ditada.

Vamos dar um exemplo!

Ditamos para uma criança que se chama Camila a palavra “giz”, monossílaba, e
ela pode representar da seguinte forma: XiAL.

Nesse exemplo, a criança, acreditando não serem suficientes as letras, acaba


utilizando outras que, no caso, fazem parte do nome dela, isto é, são letras de seu
conhecimento e que, dessa maneira, para ela, fazem a escrita ter mais sentido.

O silábico pode ser dividido em: silábico com valor e silábico sem valor.

Silábico sem valor tende a estabelecer correspondência sistemática entre a


quantidade de letras utilizadas e a quantidade de sílabas que se deseja escrever, sem
o valor sonoro correspondente.

No silábico com valor, as letras utilizadas pertencem realmente, em todas as


ocasiões, à sílaba que se tenta representar.

Silábico-alfabético
Nesta fase, a criança utiliza dois níveis, o silábico e o alfabético, ao mesmo
tempo. Esse momento é o que chamamos de transição.

Nesse nível, a criança começa a acrescentar letras em algumas sílabas, como,


por exemplo, ditar a palavra CAVALO; a criança poderá escrever da seguinte
maneira: CAViO ou também KVALO. A escrita irá variar porque dependerá do
conhecimento linguístico de cada criança.

Nesse nível, a escrita apresenta sílabas completas e sílabas representadas por


uma só letra.

35
Métodos de Alfabetização
UNIDADE
III
Alfabético
É o nível em que se pode dizer que a criança já está compreendendo o sistema
linguístico e como ele se organiza. Nessa fase, ela já consegue ler e representa
graficamente as palavras e pequenas frases.

Conhecer esses níveis é fundamental para um bom desenvolvimento no


processo de Alfabetização, porque a partir das sondagens realizadas, pode-se
refletir a respeito do pensamento da criança, ou seja, entender como ela vê a
escrita, permitindo, assim, identificar as dificuldades e as necessidades de cada uma
e proporcionar a elaboração de atividades diversificadas, que irão ser utilizadas na
reelaboração das hipóteses das crianças, fazendo com que elas se apropriarem da
escrita convencional.

Nesse nível, as escritas são construídas com base em uma correspondência entre
fonemas (sons) e grafemas (letras).

Portanto, esses níveis irão auxiliar no processo de aprendizagem das crianças


ou de adultos, porque por meio das sondagens conseguimos compreender como
o aluno consegue entender a escrita e dessa maneira o educador pode fazer as
intervenções necessárias.

36
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Simulador Revista Escola — Faça o teste de interpretação de hipótese de escrita
http://goo.gl/FPseko

37
Métodos de Alfabetização
UNIDADE
III
Referências
FERNANDES, Maria. Os segredos da Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008.

FERREIRO, F. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

PEREZ, I. L. Alfabetização e Letramento. São Paulo: UNICID, 2011.

38
IV
A Leitura no Processo de
Alfabetização e Letramento

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento
UNIDADE
IV
Contextualização
Vamos refletir um pouco!

Leia a citação a seguir, de Italo Calvino (1923-1985):


Ler significa preparar-se para capturar uma voz que vai surgir quando
você menos espera. Uma voz que se deixa ouvir de um lugar inesperado,
para além do livro, além do autor, além da escrita: ela vem do que foi
dito, daquilo que o mundo ainda não fez a si mesmo porque ele não tinha
palavras para dizê-lo.

Após a leitura da citação, pense e reflita sobre o processo de leitura na vida


escolar da criança ou do adolescente e até mesmo do adulto.

Como será que consideramos a leitura? É importante ou não?

Reflita para iniciarmos nosso estudo.

40
A leitura no processo de alfabetização
e letramento
Nesta Unidade, nosso foco central será “A Leitura no Processo de Alfabetização
e Letramento”.

Um dos pontos fundamentais para a aprendizagem na Alfabetização da criança


é o desenvolvimento da linguagem oral.

A construção da linguagem oral da criança está vinculada ao contato com as


falas dos adultos.

Nesse processo, as crianças fazem uso de tentativas, brincadeiras e interações


que realizam com os adultos e, dessa maneira, aos poucos, vão construindo sua
linguagem oral de forma gradativa.

Outros meios que as crianças utilizam no desenvolvimento de sua linguagem


falada são os gestos, os sinais e a linguagem corporal. Segundo Maria Fernandes
(2008, p. 22): “A aprendizagem se dá por meio de reflexão, pensamento,
explicitação de atos, sentimentos, sensações e desejos.”

Por meio do convívio com os adultos, as crianças vão adquirindo experiência


e conhecimentos sobre a linguagem oral. Assim, imitam as pessoas em várias
situações de comunicação, memorizam músicas, parlendas etc., também imitam
as entonações, expressões e diálogos que vivenciam e, dessa forma, ampliam sua
capacidade oral e aos poucos se familiarizam com a linguagem escrita.

Agora, qual a importância da leitura?


Uma das atividades mais importantes que é proporcionada na vida escolar das
crianças é a aprendizagem da leitura.

Luiz Carlos Cagliari (2003, p.148), a respeito da importância da aprendizagem


de leitura na Escola, afirma: “A leitura é a extensão da Escola na vida das pessoas.
A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido por meio da
leitura fora da Escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma”.

Um dos pontos a respeito do qual devemos ser conscientes é que as pessoas


acabam tendo problemas em seus estudos durante os anos que passam devido a
não terem desenvolvido a prática da leitura de maneira adequada.

Por exemplo, muitos alunos não sabem resolver problemas de Matemática não
porque não saibam solucionar as equações que precisam ser desenvolvidas na
atividade, mas porque não sabem ler o enunciado do problema.

41
A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento
UNIDADE
IV
Outro ponto fundamental é que alguns alunos sabem ler, ou melhor, fazem a
leitura automática, conhecem as palavras, mas não conseguem compreender aquilo
que lêem; é o que podemos chamar de pessoa não letrada. Isto é, o aluno conhece
os códigos linguísticos, faz a leitura, mas não consegue assimilar o significado do
que lê; não faz a interpretação de determinado texto.

A leitura é essencial para o bom desenvolvimento da aprendizagem da escrita.


Ela enriquece, fortalece a compreensão e o entendimento dos códigos linguísticos.

Citando novamente Cagliari (2003, p. 150):


Há um dito popular que diz que a leitura é o alimento da alma. Nada mais
verdadeiro. As pessoas que não leem são pessoas vazias ou subnutridas de
conhecimento. É claro que a experiência da vida não se reduz à leitura. A
vida como tal é a grande mestra. Algumas pessoas analfabetas conseguem,
às vezes, se sair bem economicamente, mas nem por isso deixam de ser
pessoas vazias. Têm a riqueza externa, sabem se virar na sociedade, mas
são pobres culturalmente, porque só a experiência da vida, por mais rica
que possa ser, não é suficiente para fornecer uma cultura sólida e geral.

Um fator importante para o desenvolvimento da leitura é ensinar as crianças


desde bem cedo o gosto pela leitura. A perda do prazer de ler ou não ter aprendido
o prazer de ler é um ponto que irá afetar a criança pelo resto de sua vida.

Daniel Pennac (1995), em seu livro Como um Romance, aborda essa questão
da leitura por prazer.

No livro, ele destaca o porquê da perda do gosto da leitura, ou seja, o autor


declara que a preocupação de muitos, especialmente da Escola, irá tornar a leitura
algo obrigatório para o aluno. O prazer da leitura é apagado pela obrigação e,
assim, o aluno começa a pensar na questão do número de páginas, que sempre é
muito mais do que imagina; a classificação quanto ao gênero, nunca é o livro que
ele gostaria de ler; a solicitação de resumos ou análises referentes ao texto, sendo
sempre algo imposto pelo professor.

Como Pennac (1995) menciona, o livro passa a ser visto não mais como
passagem para outros mundos, mas como um “objeto contundente”, algo que
pode ferir.

Então, um ponto a salientar, é que o adulto tem um papel fundamental no


desenvolvimento da leitura na criança e uma das coisas importantes a serem
ensinadas é o prazer da leitura.

Daniel Pennac esclarece essa questão do papel do adulto no processo de


aprendizagem da leitura de maneira maravilhosamente clara.

42
Ele afirma:
Ele é, desde o começo, o bom leitor que continuará a ser se os adultos
que o circundam alimentarem seu entusiasmo em lugar de pôr à prova
sua competência, estimularem seu desejo de aprender, antes de lhe impor
o dever de recitar, acompanharem seus esforços, sem se contentar de
esperar na virada, consentirem em perder noites, em lugar de procurar
ganhar tempo, fizerem vibrar o presente, sem brandir a ameaça do
futuro, se recusarem a transformar em obrigação aquilo que era prazer,
entretendo esse prazer até que ele se faça um dever, fundindo esse dever na
gratuidade de toda aprendizagem cultural, e fazendo com que encontrem
eles mesmos o prazer nessa gratuidade (PENNAC, 1995, p. 55).

A leitura é um processo complexo, em que o leitor precisa realizar um trabalho


ativo no ato de ler porque irá construir o significado do texto.

Essa construção se dá pelo que o leitor está buscando em relação ao texto;


também se leva em consideração o conhecimento prévio sobre o assunto que
é tratado no texto; as informações sobre o autor colaboram na construção dos
sentidos que o leitor busca e a própria linguagem trazida pelo texto que será lido.

Podemos afirmar que existe uma idade ideal para ler?

Na realidade, não existe idade ideal para o aprendizado da leitura. O que leva
a criança a ler é a participação nas atividades de leitura e escrita, e também é
importante fazer com ela tenha acesso a vários materiais impressos, como: revistas,
livros, jornais, gibis, embalagens etc. que irão proporcionar o conhecimento dos
códigos linguísticos e, é claro, tudo junto, com a participação dos adultos que
dominam esse conhecimento. É fato que o exemplo dado pelo adulto em relação à
leitura e a escrita é fundamental para a aprendizagem da criança.

As crianças, no processo da aprendizagem, elaboram hipóteses de leitura da


mesma forma como fazem na aprendizagem da escrita, com as hipóteses da escrita.

E o que são hipóteses de leitura?


As hipóteses de leitura são as concepções ou ideias que as crianças têm referentes
ao que está escrito e do que se pode ler, é o que consideramos natureza conceitual.

Portanto, a criança irá se desenvolver ou irá fazer suas hipóteses de


leitura a partir daquilo que for apresentado para ela, ou seja, com as diversas
oportunidades de situações de leitura no entendimento da relação entre a
oralidade e os segmentos gráficos.

43
A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento
UNIDADE
IV
Maria Fernandes (2008) aponta o que o professor pode fazer:
Oferecer textos que os alunos saibam de cor (músicas, parlendas, poesias
etc.) e solicitar que acompanhem a leitura indicando onde estão as
palavras lidas. É uma oportunidade para os alunos pensarem sobre o que
está escrito e como está escrito. Solicitar que procurem algumas palavras
pode ser uma boa intervenção do professor;

- realizar o trabalho com listas (animais, comidas, brincadeiras etc.)


também é adequado na fase inicial de alfabetização, pois esse tipo de
texto permite que as crianças antecipem o significado de cada item
(FERNANDES, 2008, p.39).

O professor precisa proporcionar várias situações de aprendizagem em que a


criança possa ouvir, pensar e refletir sobre a leitura. É muito importante, também,
oferecer textos trabalhados impressos. O contato tanto com a leitura quanto com a
escrita fará com que a criança desenvolva de forma eficaz sua aprendizagem e sua
compreensão em relação ao mundo letrado.

Outro ponto relevante na aprendizagem da leitura são as estratégias de leitura,


que não podem ser confundidas com as hipóteses de leitura.

O que são estratégias de leitura?


São os recursos utilizados tanto por leitores iniciantes quanto por leitores fluentes
para compreender o texto, ou seja, dar sentido ao que está sendo lido.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, pode-se dizer que estratégia de leitura:


Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação,
inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o
uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo
lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão,
avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas
(BRASIL,1998, p.69-70).

O que é cada uma dessas estratégias?

Temos quatro estratégias: antecipação, seleção, inferência e verificação e segundo


Maria Fernandes (2008), as estratégias de leitura podem ser definidas como:
- antecipação: hipóteses que tornam possível prever o que ainda está por
vir com base nas informações explícitas e suposições (...);

- seleção: ações que permitem que o leitor se atenha apenas ao que é útil
para a compreensão, desprezando itens irrelevantes (...);

- inferência: permite captar o que não está dito no texto de forma


explícita. É o complemento que o leitor fornece ao texto a partir de seus
conhecimentos prévios (...);

44
- verificação: torna possível confirmar ou não as expectativas levantadas,
controlando a eficácia das demais estratégias. Essa checagem é inerente
à leitura e leva o leitor a repensar as hipóteses levantadas, retomar partes
anteriores e fazer as devidas correções (FERNANDES, 2008, p. 65-6).

É claro que no início do processo de aprendizagem da leitura, o leitor não irá


fazer o uso de todas as estratégias citadas; por isso os textos mais adequados como
música, parlendas e embalagens, como mencionado anteriormente, colaboram e
possibilitam ao leitor iniciante formular suas hipóteses, ou seja, ouvir, pensar e
refletir sobre a leitura, utilizando, também, outros recursos, como as imagens que o
texto pode trazer para, assim, fazer sua interpretação e compreender o texto dado.
Alguns fatores são fundamentais para as práticas da leitura. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais afirmam que: “Formar leitores é algo que requer condições
favoráveis, não só em relação aos recursos materiais disponíveis, mas, principalmente,
em relação ao uso que se faz deles nas práticas de leitura” (BRASIL, 1998, p. 71).

Assim, pontuaremos algumas dessas condições:


1. A escola precisa disponibilizar uma biblioteca contendo variados gêneros
textuais, sendo para consulta ou empréstimos, além de revistas, gibis, jornais
e outros;
2. A sala de aula também deve conter materiais para leitura, com a preocupação
de proporcionar um acervo diversificado para que os alunos obtenham
variadas situações de leitura;
3. O professor tem o papel de proporcionar e organizar os momentos de leitura,
tanto feito por ele próprio como pelos alunos, para que possam trocar ideias,
sugestões e experiências;
4. O professor também deve proporcionar atividades de leitura regularmente;
5. Cabe o professor permitir a escolha das leituras pelos próprios alunos, assim,
ensinando o prazer da leitura;
6. A Escola como um todo tem o dever de planejar um projeto relacionado
à leitura, envolvendo a todos. Não deve pensar que apenas o professor de
Língua Portuguesa tem de trabalhar a leitura; todo o professor é responsável
por esse processo.

O papel do professor, juntamente com a Escola, é de extrema importância


para o crescimento da criança ou do adolescente. O professor tem por obrigação
proporcionar essas variadas condições de ensino e aprendizagem para seu aluno,
possibilitando-o desenvolver suas capacidades e habilidades, tanto de leitura
como de escrita.

Pensando em atividades sobre leitura, vá até o Material Complementar e


veja um tipo de atividade que pode se desenvolvido com as crianças nas séries
iniciais para o desenvolvimento da aprendizagem da leitura. É uma sugestão da
Revista Nova Escola.

45
A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento
UNIDADE
IV
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Como um romance
PENNAC, D. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. Exemplo de atividade.
http://goo.gl/PzaU0k

46
Referências
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
MEC/SEF, 1998.

CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 2003.

FERNANDES, Maria. Os segredos da alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008.

PENNAC, D. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

47
V
A Escrita no Processo de Alfabetização

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
A Escrita no Processo de Alfabetização
UNIDADE
V
Contextualização
Explor

Para iniciarmos a nossa conversa, assista ao vídeo “Educação e Vida”.


Disponível em: https://youtu.be/mNlgV5i7um4

O vídeo possibilita refletirmos sobre o processo de aprendizagem entre as


pessoas, o que cada um pode fazer para ajudar o outro, como o professor pode
ajudar e qual o seu papel no processo de ensino na Alfabetização.

Assista! Pense! Reflita!

50
Introdução
Nesta Unidade, o foco central será o papel da escrita no processo de Alfabetização.

A escrita é algo em que tanto a criança como os jovens e adultos estão sempre
envolvidos, seja de maneira direta ou indireta.

Mas o que é interessante é que muitas vezes os professores estão mais


preocupados em como as crianças escrevem do que exatamente com a escrita em
si. Por exemplo, preocupam-se mais em ensinar a letra cursiva, que para muitos
é o jeito “correto”, em vez de utilizar inicialmente a letra bastão, com a qual a
criança tem mais facilidade para escrever, porque a coordenação motora não está
tão desenvolvida.

Mas nem todos pensam assim, causando mal estar entre os alunos por algumas
vezes não conseguirem realizar as atividades propostas pelo professor, ficando,
dessa forma, frustrados com a escrita.

Dessa maneira, perdem o interesse, a vontade, o desejo de aprender a escrever.


Estamos acostumados aos vários tipos de letras e não percebemos que a criança
que está aprendendo a ler e a escrever desconhece esse mundo dos tipos variados
de letras, ou seja, a primeira letra do alfabeto pode aparecer para o aluno de várias
formas, como:

Como afirma Luiz Carlos Cagliari:


Para nós, adultos, qualquer A é A, seja ele escrito como for. Quando a
criança começa a aprender a escrever, ninguém lhe diz isso e, muitas
vezes, ela fica admirada diante das coisas que a professora (e os adultos)
fazem com as letras. Com o tempo, acaba aprendendo indiretamente
o que a escola pretende. O grande problema nesse caso é que a escola
ensina a escrever sem ensinar o que é escrever, joga com a criança sem
lhe dizer as regras do jogo (CAGLIARI, 2003, p.97).

Essa questão da letra cursiva ou bastão é apenas um ponto que leva a criança a
ter interesse pela escrita ou não.

Não podemos deixar de pensar que a escrita é um dos objetivos mais importantes
da Alfabetização, juntamente, é claro com a leitura, e não podemos desvincular
uma da outra.

Segundo Cagliari, a escrita tem como objetivo principal permitir a leitura. E a


leitura nada mais é do que a interpretação da escrita, ou seja, consiste na tradução
dos símbolos escritos na fala.

51
A Escrita no Processo de Alfabetização
UNIDADE
V
“Ninguém escreve ou lê sem motivo, sem motivação” (Cagliari, 2003, p.102). É
preciso proporcionar para as crianças os variados tipos de materiais impressos; já
falamos sobre isso na unidade anterior.

O aluno precisa ter acesso à linguagem escrita de diversos tipos, como jornais,
livros, revistas, placas de trânsito ou ruas, painéis, bilhetes etc.; todo material que seja
possível apresentar para as crianças é válido, por dois pontos a serem levantados.

O primeiro é que muitas crianças não terão esse conhecimento, ou melhor,


só terão esse contato com os materiais impressos por meio do que é dado para
elas na Escola. E o segundo ponto, é mostrar para o aluno e fazer com que ele
possa descobrir “o aspecto funcional da comunicação escrita”, fazendo com que
ele tenha curiosidade, levando-o a refletir sobre a escrita e, assim, ele irá aprender
sobre o significado da escrita.

Agora, refletindo a respeito de como as crianças pensam sobre a escrita,


precisamos retomar as questões das hipóteses da escrita.

Lembrando!

O que são hipóteses de escrita?

De acordo com Emília Ferreiro e Ana Teberosky, as crianças elaboram diversas


hipóteses demonstrando o funcionamento do sistema de escrita.

O professor poderá verificar, por meio das hipóteses realizadas pelas crianças,
como elas entendem a escrita ou como elas veem esse processo.

Então, vejamos as definições de cada nível.

Pré-silábico
A criança, nessa fase, registra as chamadas garatujas, desenhos que não têm
uma definição tão clara. Aos poucos, ela passa a fazer desenhos com traços mais
definidos, mas não fáceis de decifrar. No nível pré-silábico, temos a ausência de
relação entre a escrita e os sons da fala.

52
Silábico
Nesse nível, a criança já consegue estabelecer as relações entre o som e as
letras; então, quer representar cada letra por um símbolo e vai utilizar também
letras, pseudoletras e números.

A criança define as partes das palavras, ou seja, a sílaba, mas nessa fase ela
representa não a sílaba por completo; algumas vezes irá colocar mais letras do que
necessário, pois acredita ser o correto.

Silábico sem valor

Silábico com valor

Silábico-alfabético
Nessa fase, a criança utiliza dois níveis, o silábico e o alfabético, ao mesmo
tempo. Esse momento é o que chamamos de transição. Nesse nível, a criança
começa a acrescentar letras em algumas sílabas, como, por exemplo, ao ditar
a palavra CAVALO, a criança poderá escrever da seguinte maneira: CAViO ou
também KVALO. A escrita irá variar porque dependerá do conhecimento linguístico
de cada criança.

Nesse nível, a escrita apresenta sílabas completas e sílabas representadas por


uma só letra.

53
A Escrita no Processo de Alfabetização
UNIDADE
V

Alfabético
É o nível no qual se pode dizer que a criança já está compreendendo o sistema
linguístico e como ele se organiza. Nessa fase, ela já consegue ler e representar
graficamente palavras e pequenas frases.

Nesse nível, as escritas são construídas com base em uma correspondência entre
fonemas (sons) e grafemas (letras).

É importante salientar que conhecer o valor sonoro convencional é conhecer a


letra, ou seja, o nome, e perceber sua relação com o som. Fazer a correspondência
entre o fonema (som) e o grafema (letra). Pode-se dizer que quando isso ocorre, a
criança está conseguindo entender o processo da escrita e está entendendo que há
uma relação entre a fala e a escrita.

54
Outro ponto importante é fazer questionamentos para a criança sobre o que ela
escreve e anotar as respostas, para depois perceber o desenvolvimento da criança.

E como podemos iniciar o processo de Alfabetização? Ou é apropriado partir da


aprendizagem por meio dos textos?

Maria Fernandes salienta que:


Isso leva a uma mudança na prática pedagógica. Iniciar a Alfabetização
pelas vogais ou sílabas simples, organizadas numa determinada sequência,
em lugar de facilitar, pode dificultar a aprendizagem dos alunos, pois
essa escolha desconsidera que, no início do processo de reflexão sobre a
escrita, as crianças acreditam que palavras com poucas letras não podem
ser lidas.

É caminhar na contramão do processo dos alunos. Mais real é apresentar


todo alfabeto e permitir que os alunos pensem, comparem, analisem textos
e palavras para que percebam o funcionamento do sistema linguístico e
possam compreender as partes (letras e palavras) no todo (texto) e o todo
(texto) com suas partes (letras e palavras) (FERNANDES, 2008, p.129).

Há uma variedade de textos e os educadores precisam proporcionar para os


alunos os diversos tipos e, principalmente, trabalhar com eles as funções que cada
texto possui e isso deve acontecer na Escola.

Na maioria das vezes, a preocupação maior é com a memorização e o que


realmente precisa ser levado em consideração e é o mais importante é a compreensão
dos significados dos textos.

Inicia-se com o contato com a leitura, com a interpretação e com a escrita


espontânea dos alunos, preocupando-se em proporcionar para eles situações reais
de comunicação.

A interação com os mais variados tipos de textos é importante, porque se


acredita que mesmo aquela criança que não saiba ler convencionalmente, por meio
dessa interação, aprenderá as características da linguagem.

Ao disponibilizar diversos tipos de materiais: livros de história, gibis, revistas,


jornais, folhetos de propaganda, embalagens e outros materiais que sejam
de interesse do aluno, é importante lembrar que as atividades preparadas pelo
professor devem ser desafiadoras, aquelas que tragam situações problema, ou seja,
devem ser atividades nas quais os alunos precisam pensar, refletir, argumentar, usar
todo o conhecimento que possuem para assimilar aquilo que ainda não sabem.

Sabemos que o aprendiz é o protagonista para a construção de seu conhecimento,


ele irá utilizar todo o seu conhecimento para aprender. O professor tem o papel
de transmitir, mediar, orientar e fazer as intervenções necessárias no processo
de aprendizagem, mas será o aluno que irá receber as diversas informações e
transformá-las em conhecimento.

55
A Escrita no Processo de Alfabetização
UNIDADE
V
Vamos contextualizar?

Observe a seguinte sugestão de atividade com texto.

Carta Enigmática

Crianças cuidem de seu

Crinque com ele de

Não deixe de dar

de dar

e, principalmente, de dar

56
Trabalhar com carta enigmática é interessante porque a criança terá contato
com as imagens e também com a escrita. Isso facilita para a criança as relações que
fará para o entendimento do texto.

É claro que quando for dado esse tipo de texto para as crianças que não sabem
ler, ou seja, no início da Alfabetização, a intervenção do professor na interpretação
do texto é fundamental.

Outro tipo de atividade que pode ser feita com crianças que ainda não sabem
escrever é contar histórias. Assim, pode-se pedir para as crianças contarem as
histórias e o professor faz a transcrição. Além de fazer os registros, pode-se
armazenar as histórias para que as crianças possam observar e fazer as relações
entre elas e, principalmente, relacionar o texto oral com o escrito.

Como produto final da atividade das crianças contarem histórias, pode-se


propor que elas montem um livro com as histórias produzidas por elas. Isso motiva
e dá incentivo maior na aprendizagem delas, porque elas conseguem visualizar
concretamente aquilo que construíram. É um estímulo para a produção de textos.

O importante é incentivar as crianças a escreverem espontaneamente, como


afirma Cagliari:
Elas precisam escrever o mais livremente possível. Podem-se programar as
atividades, por exemplo, pedir que recortem alguma fotografia de revista
e escrevam uma história a partir dela. O que não se deve fazer é pedir
que contem uma história de cinco linhas, usando só palavras conhecidas,
e respondam a perguntas do tipo: quem, quando, onde, como, por que
etc. Esse tipo de camisa-de-força é altamente inconveniente, pois quebra
a iniciativa da própria criança e limita sua reflexão pessoal. Tende a
padronizar a expressão individual literária, com prejuízo futuro para o
aprendizado da escrita e da leitura (CAGLIARI, 2003, p.129).

A escrita espontânea é essencial e não deve ser deixada de lado nessa fase
de desenvolvimento da aprendizagem da escrita da criança, que precisa ser algo
prazeroso, ou seja, a brincadeira precisa fazer parte do processo. Devem ser
utilizadas brincadeiras, atividades com música, jogos que possam utilizar letras e
palavras etc.

Assim, a aprendizagem torna-se algo bom, em que a criança irá ter cada vez
mais o desejo de aprender e descobrir o mundo da escrita.

O professor tem algo para acrescentar para seus alunos; ele é o parceiro no
processo de aprendizagem.

José Juvêncio Barbosa (1994) expõe que:


O papel do professor nos primeiros momentos da aprendizagem não
se resume a transmitir conhecimento; seu papel é o de criar situações
significativas que deem condições à criança de se apropriar de um
conhecimento ou de uma prática (BARBOSA, 1994, p.128)

57
A Escrita no Processo de Alfabetização
UNIDADE
V
E como fazer para o professor realmente proporcionar situações de
aprendizagem significativas?

Um ponto fundamental para o trabalho do professor nesse processo é ter um


ambiente alfabetizador.

E o que é um ambiente alfabetizador?


É aquele em que há o Letramento ou cultura letrada, como alguns teóricos
preferem chamar, tenha livros, revistas, painéis, uma variedade de textos escritos
que circulam na Sociedade, ou seja, textos que os alunos possam ter experiências
com situações reais de uso da leitura e da escrita.
O contato com esses materiais faz com que a criança aprenda mais rápido, tanto
a ler quanto a escrever.
Fazer com que a sala de aula se torne um ambiente alfabetizador dependerá
muito do professor porque sem dúvida ele precisa de muita dedicação, criatividade
e inovação na construção desse ambiente.
Algo importante é que os materiais estejam sempre ao alcance das crianças.
O educador tem um papel fundamental de tornar suas aulas desafiadoras e
interessantes, que promovam pesquisas e descobertas:
Ao professor compete ajudá-la a conquistar esse comportamento. Essa
ajuda concretiza-se através de um ambiente rico e variado, que favoreça
o aparecimento ou o desenvolvimento daquela aprendizagem e através
de momentos precisos de organização do conhecimento adquirido
(BARBOSA, 1994, p. 129).

A aprendizagem acontece de maneira eficaz quanto mais a criança tiver acesso


a esses materiais e a situações de usos da leitura e da escrita e, dessa maneira, ela
será levada à construção de seu conhecimento.

Nesse sentido, Barbosa afirma:


É desse modo que a escola proporciona uma experiência rica de situações de
uso da escrita, favorecendo especialmente aquelas crianças que não tiveram a
oportunidade de viver estas experiências em seu meio social e familiar.

As crianças que provêm de ambientes povoados de livros e de leitores


encontram maiores facilidades de êxito na aprendizagem da leitura e da
escrita, justamente por causa dessas experiências prévias com o mundo
da escrita (BARBOSA, 1994, p.129).

Portanto, o aluno tem papel importante na construção de seu conhecimento,


porque é ele que irá transformar as informações dadas em conhecimento. Mas, não
deixa de ser fundamental a participação do professor no processo de aprendizagem
da leitura e da escrita; isso porque é o educador que irá planejar, organizar,
proporcionar e oferecer as diversas situações de usos da leitura e da escrita.

58
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Ambiente Alfabetizador
Para ampliar seus conhecimentos, consulte, sobre o ambiente alfabetizador
http://goo.gl/RiCm2A

59
A Escrita no Processo de Alfabetização
UNIDADE
V
Referências
BARBOSA, J. J. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1994.

CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 2003.

FERNANDES, Maria. Os segredos da Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008.

FERREIRO, F. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas


Sul, 1999.

60
VI
A Alfabetização e Jovens e Adultos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
A Alfabetização e Jovens e Adultos
UNIDADE
VI
Contextualização
Para começarmos a Unidade, que tal refletirmos um pouco?

Vamos ler citação a seguir:


Não devemos chamar o povo à escola para receber instruções, postuladas,
receitas, ameaças, repreensões e punições, mas para participar
coletivamente da construção de um saber, que vai além do saber de
pura experiência feita, que leve em conta as suas necessidades e o torne
instrumento de luta, possibilitando-lhe transformar em sujeito de sua
própria história (FREIRE, 2001, p.16).

Após a leitura da citação, reflita um pouco a respeito do que é realmente ser


alfabetizado?

Qual o papel da Escola?

62
A alfabetização e jovens e adultos
Nesta Unidade, abordaremos “A Alfabetização de Jovens e Adultos”. Pontos
que iremos discutir: qual o perfil dos alunos da Educação de Jovens e Adultos
(EJA); qual a importância desses jovens e adultos que retornam aos estudos, quem
foi Paulo Freire e como é o seu método.

Para iniciarmos, vejamos um breve histórico de como surge a Educação de


Jovens e Adultos; não iremos detalhar, será apenas um panorama geral para
conseguirmos entender como a EJA que conhecemos hoje surgiu no decorrer
dos tempos.

Não iremos nos aprofundar. Assim, no ano de 1967, surge o MOBRAL


(Movimento Brasileiro de Alfabetização). O objetivo do MOBRAL era mais funcional,
os adultos adquiriam tecnicamente os processos de leitura, escrita e cálculo.

Já nos anos 1970, a Educação de Jovens e Adultos foi instaurada como Ensino
Supletivo e assim passou a fazer parte da Legislação brasileira.

Mas é em 1988 que a Educação de Jovens e Adultos passa a ter o direito


garantido à educação básica e a ser gratuita.

Mais tarde, temos, com a LDB 9394/96, a mudança da nomenclatura, que


passa de Ensino Supletivo para EJA e com o Parecer CEB/CNE 11/2000 que se
baseou na Resolução do CNE de Diretrizes Curriculares.

Assim, começam a surgir os fóruns de debates em relação à EJA. Estudiosos,


professores e profissionais da área querem e percebem a necessidade de discussões
para ajuda e passam a se aprofundar nas questões do educar dos jovens e adultos
do nosso país.
Explor

Para você ter melhor visão do panorama da EJA com outros detalhes, observe a linha do
tempo que pode ser visualizada no link: http://goo.gl/SMcpyK

Essas discussões são importantes até hoje, porque ainda há dúvidas em relação
à Educação de Jovens e Adultos.

Um dos pontos que precisa ser levado um consideração quanto às particularidades de


cada educando, suas necessidades e suas dificuldades é considerar e trazer para a sala de
aula os conhecimentos prévios desses alunos, que são ricos em história e cultura.

As pessoas envolvidas na EJA não podem ser preconceituosas ou tratar a


Educação de Jovens e Adultos como um ensino indiferente; é preciso enxergar
a EJA como uma oportunidade para aqueles que, por algum motivo, não tiveram
condições de ter acesso à Educação.

63
A Alfabetização e Jovens e Adultos
UNIDADE
VI
Pensando nesses jovens e adultos, como definimos o perfil do aluno da EJA?

A grande parte dos alunos da EJA são homens e mulheres trabalhadoras, pobres,
desempregados, moradores de periferias, normalmente pessoas com condições
sociais e culturais precárias em relação a outras pessoas da Sociedade.

São pessoas que nunca frequentaram um ambiente escolar ou tiveram apenas


um único contato e por vários motivos não voltaram à Escola. Também são pessoas
com autoestima muito baixa por serem, de certa maneira, excluídas na Sociedade
em que vivem, por não fazerem uso da leitura e da escrita em suas vidas.

Mas muitas delas decidem mudar, como Solange Gomes da Fonseca comenta
em seu artigo:
Ao escolherem o caminho da escola, esses alunos optam por uma vida
propicia para promover o seu desenvolvimento pessoal e levantar sua
autoestima, mesmo dentro da vida cotidiana na sua vivência social, familiar
e profissional. Suas visões de mundo estão mais relacionadas ao “ver” e ao
“fazer”, uma visão de mundo apoiada numa adesão espontânea e imediata
às coisas. Essa atitude de “maravilhamento” com o conhecimento é
extremamente positiva e precisa ser cultivada e valorizada pelo professor,
porque representa a “porta” de entrada para exercitar o raciocínio lógico,
a reflexão, a análise, a abstração e, assim construir outro tipo de saber: o
conhecimento científico.
Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2124388

Portanto, essas pessoas, assim como as crianças quando ingressam na Escola,


precisam do apoio dos familiares, dos amigos e, especialmente, do professor,
porque é ele que levará o jovem ou o adulto a descobrir o fascinante mundo letrado.

É o educador que passa as informações para o aluno e o leva a transformá-las


em conhecimento, mas também é o professor que conversa, auxilia, orienta, faz
as intervenções necessárias, colabora e é parceiro no processo de aprendizagem
desses alunos que estão à procura do conhecimento que tanto faltou em suas vidas.

Agora! Um dos grandes educadores na Educação de Jovens e Adultos foi Paulo


Freire, que se destacou por sua prática didática, inovando com seu método de
alfabetização para adultos.

Algo interessante é que seu pensamento pedagógico era de cunho político. Isto
é, seus pensamentos em relação à Educação foram inovadores para a época, por
isso continuaram por tanto tempo e até hoje, em nossos dias, aprendemos com
suas experiências, sua maneira de alfabetizar e com suas ideias, que encontramos
em um vasto repertório literário que ele deixou.

Vamos conhecer um pouco mais sobre Paulo Freire, com a breve biografia a
seguir.

64
Paulo Freire nasceu em 1921, em Recife, numa família de classe média. Com o
agravamento da crise econômica mundial, iniciada em 1929, e a morte de seu
pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas.
Formou-se em Direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional
para o Magistério. Suas ideias pedagógicas se formaram da observação da cultura
dos alunos – em particular o uso da linguagem – e do papel elitista da Escola.
Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas
em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde
coordenava o Plano Nacional de Alfabetização, do presidente João Goulart. Freire
passou 70 dias na prisão antes de se exilar. Em 1968, no Chile, escreveu seu livro
mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e
na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em
1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos
Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São
Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor honoris
causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20
idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.

Fonte: http://goo.gl/tnX2oC

Com o pouco que pudemos conhecer de Paulo Freire, sabemos que sua proposta
de ensino consiste na alfabetização de adultos. O educador foi um inovador na época
em que viveu e algo importante em seu ponto de vista é que ele não acreditava no
método tradicional que se aplicava nas escolas: o uso das cartilhas para a didática
no ensino da leitura e da escrita.

O método que Paulo Freire propunha é exatamente utilizar palavras que fazem
parte do vocabulário dos alunos, as chamadas Palavras Geradoras. Elas precisam
ter um significado, um sentido na vida dos educandos, ou seja, o aluno faz uso delas
no meio em que vive.

Outro ponto importante que Freire abordava em seu método era a valorização
da cultura do aluno. É o que ele chamou de Temas Geradores, em que o educador
e o educando trocam experiências, aprendem juntos com o conhecimento um do
outro. Isso faz com que as aulas sejam mais dinâmicas, envolventes e despertam o
interesse dos alunos.

Quando se trabalham os temas geradores, as aulas passam a ter significado, pois


o educando aprende aquilo em que ele tem interesse, que faz parte da sua realidade.

Vejamos!

Como é o Método Paulo Freire?

O método tem três etapas ou momentos e cinco fases de aplicação.

65
A Alfabetização e Jovens e Adultos
UNIDADE
VI
As etapas do método são:

1ª Etapa: Investigação Temática: nessa etapa, o professor, com os alunos,


busca o seu universo vocabular e também a comunidade onde vivem;

2ª Etapa: Tematização: nesse momento, procuram-se os temas geradores e as


palavras geradoras e se faz uma seleção;

3ª Etapa: Problematização: nessa etapa, é papel do professor desafiar o aluno


a superar sua visão, que primeiramente é ingênua, e fazer com que ele passe a ter
uma visão crítica, ou seja, tenha uma postura consciente.

Depois que é feita a investigação de conhecimento do que o aluno traz em sua


“bagagem”, é importante lembrar que a seleção das palavras geradoras deve seguir
alguns critérios:
a) Elas devem necessariamente estar inseridas no contexto social dos
educandos.
b) Elas devem ter um teor pragmático, ou melhor, as palavras devem abrigar
uma pluralidade de engajamento numa dada realidade social, cultural,
política etc...
c) Elas devem ser selecionadas de maneira que sua sequência englobe todos
os fonemas da língua, para que com seu estudo sejam trabalhadas todas as
dificuldades fonéticas.

A seleção das palavras precisa ser em conjunto, mas cabe ao professor fazer
uma seleção gradual, em que os fonemas possam ser trabalhados, e fazer o aluno
perceber a relação das letras e sílabas com o som que é transmitido; fazer com que
o educando registre as palavras que vai aprendendo e desafiá-lo a construir novas
palavras e levar o aluno a compará-las com as que ele já conhece, observando as
semelhanças e as diferenças entre elas.

Vejamos agora as fases de aplicação do método.

A aplicação é proposta em cinco fases:


1ª Fase: levantamento do universo vocabular dos grupos com quem
se trabalhará. Essa fase se constitui num importante momento de pesquisa e
conhecimento do grupo, aproximando educador e educando numa seleção mais
informal e, portanto mais carregada de sentimentos e emoções. É igualmente
importante para o contato mais aproximado com a linguagem, com os falares
típicos do povo.

66
2ª Fase: escolha das palavras selecionadas do universo vocabular
pesquisado. Como já afirmamos anteriormente, esta escolha deverá ser feita sob
os critérios: a) da riqueza fonética; b) das dificuldades; c) do teor pragmático da
palavra, ou seja, na pluralidade de engajamento da palavra numa dada realidade
social, cultural, política etc...
3ª Fase: criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai
trabalhar. São situações desafiadoras, codificadas e carregadas de elementos que
serão descodificados pelo grupo com a mediação do educador. São situações locais
que discutidas abrem perspectivas para análise de problemas regionais e nacionais.
4ª Fase: elaboração de fichas-roteiro que auxiliem os coordenadores de
debate no seu trabalho. São fichas que deverão servir como subsídios, mas sem
uma prescrição rígida a seguir.
5ª Fase: elaboração de fichas com a decomposição das famílias fonéticas
correspondentes aos vocábulos geradores. Esse material poderá ser confeccionado
na forma de slides, stripp-filmes (fotogramas) ou cartazes.
A proposta de metodologia abordada por Paulo Freire para os Jovens e Adultos
foi inovadora; além de não seguir um método mecânico, ele utilizou outros tipos
de linguagens, mais especificamente, as linguagens multimídia, com gravuras e
materiais audiovisuais, que colaboram no desenvolvimento da aprendizagem.
Paulo Freire não concordava em chamar seus ensinamentos de método. Dizia
o seguinte:
Eu preferia dizer que não tenho método. O que eu tinha, quando muito
jovem, há 30 anos ou 40 anos, não importa o tempo, era a curiosidade de
um lado e o compromisso político do outro, em face dos renegados, dos
negados, dos proibidos de ler a palavra, relendo o mundo. O que eu tentei
fazer e continuo hoje, foi ter uma compreensão que eu chamaria de crítica
ou de dialética da prática educativa, dentro do qual, necessariamente, há
certa metodologia, certo método, que eu prefiro dizer que é método de
conhecer e não um método de ensinar.

Apesar de Paulo Freire não gostar de utilizar a expressão “Método Paulo Freire”,
ela passou a ser utilizada e a ser uma referência na prática educativa e a expressão
acabou se fixando nos discursos de professores e estudiosos da área e, na realidade,
passou a ser chamada de método por seguir etapas e fases, que dão a ideia de um
caminho a ser seguido.
O “Método Paulo Freire” contém três etapas ou momentos que são essenciais
para se construir o conhecimento sobre a realidade dos educandos e cinco fases em
que o professor consegue trabalhar com essa realidade em sala de aula.

67
A Alfabetização e Jovens e Adultos
UNIDADE
VI
Como o próprio Paulo Freire afirma, sua metodologia não é um método de ensino, mas sim
um método de conhecimento.
Portanto, Paulo Freire fez com que todos os profissionais da área da Educação pudessem
pensar na Alfabetização de Jovens e Adultos de forma diferenciada, pensar em uma alfabetização
libertadora, preocupada em conscientizar os educandos sobre sua realidade para que eles se tornem
autores de sua própria história.
E não podemos deixar de lembrar que o “Método Paulo Freire” continua até os nossos dias e está
sempre evoluindo entre os que trabalham com as ideias do educador.
É importante enfatizar, também, que é preciso recriar constantemente a prática educativa, ou
seja, recriar o método, pois cada grupo de alunos irá trazer novas ideias, experiências, vivências
e, consequentemente, novos conhecimentos.

68
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Instituto Paulo Freire
https://www.paulofreire.org/

69
A Alfabetização e Jovens e Adultos
UNIDADE
VI
Referências
BIOGRAFIA. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-
pedagogica/mentor-educacao-consciencia-423220.shtml?page=3>. Acesso em:
28 mar.2013.

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1990.

FONSECA, Solange Gomes. O perfil do aluno da Educação de Jovens e Adultos


(EJA). Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2124388>.
Acesso em: 28 mar.2013.

FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 16.

MÉTODO Paulo Freire. Disponível em: <http://educampoparaense.org/site/


media/biblioteca/pdf/18O_METODO_PAULO_FREIRE.pdf>. Acesso em: 28
mar. 2013.

70
Os cursos da Cruzeiro do Sul Virtual promovem formação de alta qualidade
para o estudante que aspira a uma carreira de sucesso. Na modalidade
Semipresencial, com a inclusão de aulas presenciais, todos aqueles que
buscam pela Graduação têm flexibilidade e autonomia de horário, sem abdicar
da convivência universitária.

O conteúdo desta Disciplina proporciona


conhecimento essencial para que o futuro
profissional torne-se qualificado para atender
o mercado de trabalho e realizar as tarefas
correlatas à sua função com maestria,
destacando-se na área escolhida.

www.cruzeirodosulvirtual.com.br

Você também pode gostar